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CHUANG TZU E A BORBOLETA

SWAMI KAVYAN
CONTOS E LENDAS
 
 
Conheço bem o sonho de Chuang Tzu.
 
Talvez você não saiba o que aconteceu nas outras duas noites e dois dias após aquele
sonho.
 
Se me permite vou lhe contar:
 

Chuang Tzu, ficou muito mobilizado com o sonho em que era borboleta e com o fato de ao
acordar pensar se não seria uma borboleta sonhando ser Chuang Tzu.
 
Na verdade isto incomodou tanto Chuang Tzu durante o dia todo que, quando chegou a noite ele
decidiu que não iria sonhar mais.Assim desde que escureceu Chuang Tzu, começou a repetir um
mantra: -Eu não vou sonhar, eu não vou sonhar. E assim continuou durante todo o tempo até
deitar e mesmo antes de adormecer, continuou repetindo:- Eu não vou sonhar, eu não vou
sonhar. E assim dormiu. Na manhã seguinte ao acordar, se deu conta que passou a noite toda
sonhando que repetia o mantra: -Eu não vou sonhar, eu não vou sonhar.
 
Chuang Tzu ficou desesperado, e chegou a conclusão de que a única forma de não sonhar era
não dormir. Passou o dia todo repetindo o mantra:-Eu não vou dormir, eu não vou dormir.
Chegou a noite. Chuang Tzu não deitou. Sentou-se em posição de Lótus e continuou repetindo o
Mantra:
 
- Eu não vou dormir, eu não vou dormir.
 
Quando se deu conta de si, já era de manhã. Chuang Tzu então percebeu que havia dormido
sentado e que sonhou que passou a noite toda acordado, repetindo  o Mantra: - Eu não vou
dormir, eu não vou dormir!
 
Foi assim que Chuang Tzu compreendeu que o que o pertubava era o desejo tolo de dormir sem
sonhar, de estar sempre acordado sem dormir.
 
Chuang Tzu percebeu que o encontro de opostos é o próprio Tao.
 
E escreveu:
 
Todos no mundo reconhecem o belo como Belo e, desta forma, sabem o que é o Feio.
 
Todos no mundo reconhecem o bem como o Bem e, desta forma, sabem o que é o Mal.
 
Assim, o ser e o não-ser geram-se mutuamente.
 
O longo e o curto se delimitam; O alto e o baixo se inclinam
 
O tom e o som se harmonizam; O antes e o depois seguem-se um ao outro.
 
Assim o sábio executa suas tarefas sem agir e transmite ensinamentos sem usar palavras.
 
Todas as coisas agem, e ele não lhes nega auxílio.
 
Produz sem apropriar-se de coisa alguma.
 
Realiza sua tarefa e não pede gratidão e é justamente porque não se apega que o mérito jamais o
abandona e suas obras meritórias subsistem.

Obtido em http://contoselendas.blogspot.com/2004/11/chuang-tzu-e-borboleta.html~

Quem sou eu?

O foco, quer estejamos em uma busca espiritual ou material é sempre na


meta, no problema, não é?
A meta do regozijo espiritual, da Iluminação, do despertar, de alcançar
Deus, ou...
A questão de como resolver o mistério da vida.
Ao invés do problema, ou da meta, nós raramente imaginamos quem é este,
que busca o deleite espiritual, a Iluminação ou Deus.
Quem é que está em miséria?
Quem é esse que está em busca de algo?
Quem é o "buscador"?O foco está sempre no problema ou na meta e no
debate na eficácia de vários meios, escolas de pensamento, correntes
filosóficas, ou o Guru X, ou Y, Mestre P ou Q , e assim por diante, na
intenção de resolver o problema, de atingir a meta.
Isso não seria, muito semelhante à indagar se uma miragem em forma de
lago, é quente ou fria?
E debater, como fazer pra medir sua temperatura ?Qual é a realidade
existencial do buscador de si mesmo?
Qual é a realidade existencial da identidade a qual você assumiu que é você?
Qual é a verdade disso?
Quem sou eu?Antes de entrar nisso, o que quer dizer "realidade
existencial"?
O que é Verdade?
Realidade Existencial ou Verdade seria "Isso" que não precisa do "outro",
que não depende do "outro", para sua própria existência.
De forma que isso se sustenta completamente por si mesmo.

Agora, vamos dar uma olhada nos ícones típicos que normalmente se assume
com sendo o "si mesmo":
-Um nome
-Um aglomerado de conhecimento profissional, conhecimento, habilidades,
por exemplo - eu sou um diretor numa companhia multinacional, ou eu sou
garçonete no bar da esquina.
-Um esposa, um marido, um filho, um pai, uma mãe, uma filha, uma pessoa
respeitada na vizinhança, um cidadão de um país.

-Uma mulher, um homem


-Um ser humano em oposição a um animal ou a um caracol.
-Uma entidade que detêm profundas realizações, valores, convicções,
compreensões espirituais - um buscador espiritual.
-Um organismo humano, que está vivo, com um senso de volição, livre
arbítrio para fazer ou não fazer...
Estes não são os típicos ícones, com os quais pintamos nossa própria
identidade?
Veja qualquer um desses ícones.
Nenhum deles pode existir, por si mesmo. Imagine a si mesmo como o único
sobrevivente de uma catástrofe global.
Além de você, nada mais, ninguém mais sobreviveu.
Você sai caminhando por ai, e não tem ninguém mais em vista, nada mais.
sem o "outro", seu nome tem algum significado, alguma relevância?
sem o "outro" seu conhecimento profissional, suas habilidades de garçonete
no bar da esquina, o trabalho espiritual no qual você está engajado, tem
algum significado, alguma relevância?
sem o "outro", as identidades que você assumiu, de esposa, de mãe, de filha,
de respeitado (ou desrespeitado) membro da sociedade, ou sei lá o que, tem
algum significado, alguma relevância?
Sem o "outro" a sua situação de ser fêmea, tem algum significado, alguma
relevância?
sem o "outro", alguma de suas convicções, valores, conclusões, realizações,
satoris, compreensões espirituais às quais você se apega, tem algum
significado, alguma relevância?
sem um "outro" sua convicção de ser um organismo humano, com livre-
arbítrio, tem algum significado, alguma relevância?
sem o "outro", como é que você ia pelo menos ter certeza de que você
sobreviveu à uma catástrofe global e está de fato "vivo"?

sem o "outro", a "vida" e a "morte", essas convicções que te movem, tem


algum significado, alguma relevância?De forma que, algumas dessas coisas
pode conter a realidade de sua existência?
Ou definir a verdade da sua existência?
Como é que você sabe que você realmente existe?
Só porque, você está nesse momento sentado em frente da tela de um
computador, lendo alguns símbolos estranhos na tela?
Só porque você come, faz um cocô de manhã, vai pra o trabalho, faz amor,
conversa com as pessoas, vê outras pessoas vivas, ou mortas...
Tudo isso poderia estar acontecendo num sonho.Num sonho, você está vivo,
você come, você faz isso ou aquilo, você tem discussões profundas, você
sente medo, faz amor, ou atos cruéis, ou atos profundos.
E no sonho, você não sabe, que você está sonhando.
Se um outro personagem sonhado viesse até você no seu sonho, ou enviasse
uma mensagem sonhada através de um conexão à internet também sonhada,
indicando que você é um personagem de um sonho, você iria rir, ou ficaria
preocupado, ou não acreditaria, ou se você estivesse com muita raiva você ia
pregar ele na cruz, ou queima-la.
Enquanto você está sonhando, parece tão real para você, que muitas vezes,
você sua frio, grita, ri, chora, tudo isso enquanto...

...está adormecido.
não é assim?Então o que te dá à convicção firme de que você não é um
personagem sonhado no sonho de um mosquito, e que você vai evaporar,
quando o mosquito acordar, do seu sonho de 10 segundos?O tempo?Você
nunca teve um sonho, no qual uma vida inteira de 89 ou 90 anos passasse em
flash, em seus mínimos detalhes, num sonho de um par de horas?
Se não, saiba que, isso já aconteceu com muitas pessoas.

Séculos atrás o Mestre Taoísta Chuang-Tzu colocou a mesma questão....


Se o Chuang Tzu pode sonhar, que virou uma borboleta, indo de flor em flor,
por que não é possível que a borboleta sonhe que é Chuang Tzu fazendo
discursos espirituais?Então, quem é você?Essa premissa não deveria ser
bem estabelecida antes de proceder em qualquer busca?

 Obtido em http://www.the-covenant.net/Portuguese/PortPou01.htm

“Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta e não sabia, ao acordar, se era um
homem que tinha sonhado ser uma borboleta, ou uma borboleta que agora
sonhava ser um homem”
Herbert Allen Giles, Chuand Tzu (1889)

Chuang-Tzu

Chuang Tzu (Wade-Giles) ou Zhuāngzǐ (pinyin) (chinês: 庄子 (caracteres


simplificados) 莊子 (caracteres tradicionais)) foi um famoso filósofo taoísta (daoísta)
chinês do Século IV a.C. Seu nome significa literalmente "Mestre Zhuang" e é usado
também referindo-se a uma coletânea de seus textos. Sua filosofia foi muito influente no
desenvolvimento do budismo Zen, que evoluiram incorporando seus ensinamentos. Seu
nome aparece grafado também das seguinte formas: Chuang Tsu, Chuang Tse, Zhuang
Tzu, Zhuang Tze, Zhuang Tse, Zhuang Tsu, Chouang-Dsi.

VIDA

Zhuangzi viveu supostamente durante os reinados dos reis Hui de Liang e Xuan de Qi,
num período de 370 a 301 aC. Ele era da cidade de Meng (蒙城, Méng Chéng) no
estado de Song (atualmente Shāngqiū 商邱, Henan). Seu nome de batismo era Zhou (周,
Zhōu). Era também conhecido como Meng Oficial, Meng Zhuang e Meng o Ancião (蒙
吏, Méng Lì; 蒙莊, Méng Zhuāng e 蒙叟, Méng sǒu, respectivamente).

FILOSOFIA DE ZHUANGZI

Trechos do seu livro

Existe um livro antigo com o seu nome e acredita-se que pelo menos os seus primeiros 7
capítulos foram realmente escritos por ele.

Cap. III,2 - O Segredo do Crescimento

O cozinheiro do príncipe Wen Hui estava a trinchar um boi. Os movimentos da mão, os


jeitos de ombro, os movimento dos pés, o atirar do joelho, o som da carne a apartar-se e
ser cortada e o zumbido da faca todos estavam num ritmo perfeito, como se fosse uma
dança ou uma sinfonia.

- É maravilhoso ver como conseguiste dominar a tua técnica ! - comentou o príncipe.

O cozinheiro pousou a sua faca e disse:

- Procuro agir de acordo com o Tao, a ordem natural das coisas. É algo que está para
além da mera técnica. Quando comecei a talhar, via à minha frente o boi todo. Mas,
depois de três anos de prática, já não os via como um todo. Via as distinções. E, agora,
os meus sentidos param de funcionar e é o espírito que me guia livremente. Sem um
plano, seguindo o instinto, sigo as fibras naturais deixando a faca encontrar o seu
caminho entre as muitas aberturas escondidas, tirando proveito do que lá está, sem tocar
nunca num ligamento ou tendão e muito menos numa articulação importante.

Um bom cozinheiro muda de faca uma vez por ano, porque sabe trinchar, enquanto um
cozinheiro medíocre tem que mudar de faca cada mês, porque só sabe cortar. Pois eu já
tenho esta minha faca há dezenove anos e trinchei milhares de bois com ela. E, no
entanto, a lâmina está tão fresca como quando saiu da pedra de afiar. Há espaços entre
as articulações. E a lâmina da faca, que quase não tem espessura, tem mais que espaço
para passar através desses espaços. E é por isso que, passados dezenove anos, a minha
lâmina está tão afiada como sempre.

É verdade que há articulações mais difíceis. Quando as sinto aproximar, avalio bem a
articulação que surgiu e olho-a com cuidado, mantendo sempre os olhos no que faço e
trabalhando devagar. E então, com um movimento muito suave da faca, trincho todo o
boi em dois. E ele desmancha-se como um torrão de terra ao cair no chão. Aí, retiro a
faca e fico parado, com a sensação de ter conseguido algo de muito importante. Depois,
limpo a lâmina e pouso a faca.

- É isso!, disse o príncipe. O meu cozinheiro mostrou-me como devo viver a minha
vida!

Comentário: Há um modo natural de fazer as coisas, há soluções naturais para os


problemas. Se agirmos de acordo com a natureza das coisas - o Tao -, conseguimos
fazer tudo melhor e sem que isso nos crie nenhum problema. Continuaremos sempre
frescos e afiados como a lâmina do faca do cozinheiro do príncipe Wen Hui. Perante
qualquer problema, devemos aceitar que as coisas sejam como são sem desejar que a
situação fosse outra, diferente do que na realidade é. Porque isso só iria criar resistência
e tensão. Devemos prestar atenção à ordem natural das coisas e trabalhar com ela em
vez de contra ela. E veremos que o trabalho prossegue mais rápida e facilmente se
pararmos de "tentar", se pararmos de pôr demasiado esforço extra, se pararmos de
procurar resultados rápidos. Há que simplesmente "dar uma ajuda" para que as soluções
naturais ocorram.

Cap. III,3

O faisão dos pântanos tem de dar dez passos para conseguir encher o bico com comida e
cem passos para encher o bico de água. Mas prefere isso a viver num galinheiro. Porque
embora pudesse ter tudo o que desejava à sua frente, nunca seria feliz. Nos pântanos, o
seu espírito é saudável e faz com que ele esqueça os males do corpo.

Cap. I,1 - O Caminhar feliz

Cada pessoa é o que devia ser e pode viver com igual felicidade enquanto viver ajustada
à sua própria natureza. Não há pessoas que sejam superiores e outras inferiores quanto a
isso.

Há pessoas cuja natureza os torna aptos a assumir cargos de chefia, outros cuja natureza
faz deles bons negociantes, bons artesãos ou bons funcionários. Há quem tenha vocação
para dedicar a sua vida a ajudar os outros e quem tenha jeito para pensar ou para
investigar tudo.

Desde que respeitem a sua natureza, todas as pessoas podem fazer o que têm a fazer,
com igual felicidade e sucesso no que fizerem.

Mas existe um limite próprio para cada uma a partir do qual tudo mais que possa ser
desejado apenas levará a lamentações. Quem quer mais do que lhe é dado sofre
inutilmente sem que ninguém o esteja a castigar. Quando nos prendemos demasiado às
coisas, sentimos perdas e ganhos; e a alegria e o sofrimento são o resultado de perdas e
ganhos. Só quem larga essas amarras se pode sentir verdadeiramente feliz. A única
liberdade a que os homens podem aspirar tem que estar inserida dentro dos limites
naturais da sua condição humana e da sua natureza. Só devemos tentar fazer o que
podemos realmente fazer. A nossa liberdade de acção tem limites.

Quem não gosta do que tem, porque pensa que podia ter melhor, é desagradecido e é
estúpido. Abdica da única liberdade que um Homem pode ter para optar em vez disso
pela ansiedade constante de tentar ter o que nunca vai ter. Quem não gosta do que é,
acabará por passar a sua vida frustrado, tentando ser o que nunca vai ser.

Aqueles que aceitam o curso natural das coisas ficam sempre tranquilos quer nas
ocasiões alegres quer nas tristes. Quem apenas gosta da felicidade, sofrerá com a
tristeza. Quem aceita com tranquilidade a inevitabilidade da morte, sabe tirar melhor
proveito da vida. De que serve não a aceitar? Querer ter o que se não pode ter é ficar
preso para sempre. Quem apenas gosta da vida, sofrerá com a morte. Quem apenas
gosta do poder, sofrerá com a sua perda.

---

Hui Tse disse a Chuang Tse: «O rei de Wei mandou-me algumas sementes de cabaça.
Plantei-as e elas deram um fruto de tal tamanho que podia conter cinco alqueires. Usei-a
para levar água, mas ela não era suficientemente sólida para aguentar tanto peso. Cortei
a cabaça em duas partes para fazer conchas mas estas ficaram com profundidade a
menos para levarem qualquer coisa de útil. Era uma coisa realmente enorme mas, como
era inútil, parti-a aos bocados.»

Chuang Tse respondeu «Porque não pensaste em usá-la para poderes com ela flutuar em
rios e lagos? Em vez disso, ficaste-te por te queixar que ela era inútil para levar alguma
coisa dentro dela. Acho que a tua mente é bastante confusa.»

---

Hui Tse disse a Chuang Tse: «Tenho uma árvore grande, a que chamam um ailanto. O
seu tronco é tão irregular e tem tantos nós que nem um carpinteiro o consegue medir
com uma linha. Os seus ramos são tão retorcidos que o esquadro e o compasso não
podem ser usados nele. Está à beira da estrada, mas nenhum carpinteiro olha para ela. »

Chuang Tse disse « Pois se tens uma árvore grande e ficas ansioso por pensares que ela
é inútil, porque não a plantas num terreno espaçoso, selvagem e árido? Poderás para
sempre passear à sua volta e dormir em paz debaixo dela. Porque nunca nenhum
machado lhe encurtará a vida. Como não tem nenhuma utilidade para os outros, nunca
correrá o perigo de que lhe façam mal. »

---

Cada pessoa, ou cada coisa, tem a sua Virtude. A sua utilidade ou inutilidade depende
do uso que se lhe dá. E a inutilidade pode trazer muitas vantagens!

Cap. IX,4 - A necessidade de ganhar

Quando um arqueiro faz tiro ao alvo,


sem nenhum objectivo,
emprega toda a sua perícia.
Mas se o objectivo é ganhar um prémio qualquer,
nem que seja uma taça sem valor,
fica nervoso.
E se o prémio é de ouro,
então fica meio cego ou vê dois alvos:
Fica fora de si !

A sua perícia não mudou.


Mas o prémio divide-o. Preocupa-se.
Pensa mais em ganhar do que em atirar.
E a necessidade de ganhar
impede-o de usar toda a sua perícia.

VEJA TAMBÉM

 Taoísmo
 Lao Zi

O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Chuang-Tzu.

LIGAÇÕES EXTERNAS

 Textos de Chuang Tse

Obtido em http://pt.wikipedia.org/wiki/Chuang-Tzu

A Amizade
o Tao é a espontaneidade natural

O taoismo filosófico não é materialístico, nem espiritualístico, nem científico, nem


místico, nem religioso. E, de certo modo, é isso tudo ao mesmo tempo porque
transcende essas diferenças de opinião sobre o modo como deve ser encarado o mundo e
a existência.

O Tao não transcende o mundo; o Tao é a totalidade da espontaneidade ou


«naturalidade» de todas as coisas. Cada coisa é simplesmente o que é e faz o que faz.
Por isso o Tao não faz nada; não precisa de o fazer para que tudo o que deve ser feito
seja feito. Mas, ao mesmo tempo, tudo que cada coisa é e faz espontaneamente é o Tao.
Por isso, o Tao «faz tudo ao fazer nada».

O Tao produz as coisas e é o Te que as sustenta. O Te é o que as coisas recebem do Tao.


As coisas surgem espontaneamente e agem espontaneamente. Cada coisa tem o seu
modo espontâneo e natural de ser. Se o Tao fosse a água, o Te seria a água que existe
em cada coisa (num rio, num lago, na chuva, nas plantas, nos seres vivos, etc.) Cada
coisa possui a sua Virtude, o seu Te, a sua própria natureza espontânea. E todas as
coisas são felizes desde que evoluam de acordo com a sua natureza. São as
modificações nas suas naturezas que causam a dor e o sofrimento.

Os homens, em geral, tentam modificar a natureza das coisas. E a sua intenção pode ser
boa. Mas o que uns consideram como bom pode não o ser para os outros. Homens
diferentes têm opiniões diferentes. O homem sábio coloca-se no «centro do círculo»;
não adere a nenhuma dessas opiniões, que considera a «música dos homens», e
transcende-as indo ao encontro da variedade infinita. «Segue por vários caminhos ao
mesmo tempo». Nenhuma opinião é má em si, todas as músicas são boas, desde que
surjam espontaneamente na cabeça dos homens. São todas músicas boas e correctas e
divertidas. O que acontece naturalmente é bom. Mas há que entender a sua relatividade.

Se o taoismo se opõe a instituições, regras, leis e governo, é porque estes impõem uma
ideia do que é Bom. Por isso, o melhor modo de governar o mundo é não o governar.

Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa
natureza e sem tentar fazer o que vai para além dela. Devemos usar o que é
naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa
natureza. E não tentar fazer aquilo que não podemos fazer ou tentar saber aquilo que
não podemos saber. A felicidade é essa «não-acção» perfeita.

Chuang Tse

o livro do TAO e do TE

o livro do Caminho e da sua Virtude

obtido em http://to-campos.planetaclix.pt/taoismo/Tao.htm

O Conto do Sábio Chinês


Raul Seixas
Composição: Raul Seixas

Era uma vez


Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...

Até que um dia acordou


E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...
Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...(2x)

Para expandir “mais ainda esta máxima”, como assim o deseja o caro André R.
precisamos entender a genealogia do famigerado “cogito, ergo sum”. A tal frase aparece
primeiramente em um livro chamado “Discurso do método para bem conduzir a própria
razão e procurar a verdade nas ciências” o título, aparentemente quilométrico, é a
substituição de (este sim, imenso), “Projeto de uma ciência universal que possa elevar a
nossa natureza ao seu mais alto grau de perfeição. Mais os Meteoros, a Dióptrica e a
Geometria, onde as mais curiosas matérias que o autor pôde escolher para dar prova da
ciência universal que ele propõe são tratadas de tal modo que mesmo aqueles que não
estudaram podem entendê-las”. (ufa! Isto é que é título...). O texto que entrou para o
cânone filosófico como “Discurso do método”, é na verdade apenas a parte introdutória
de uma obra que incluía três ensaios sobre os Meteoros, a Dióptrica (parte da física que
trata do estudo da refração da luz) e a Geometria. Sobre este texto algumas
particularidades: foi publicado em 1637 e foi escrito em francês, o que era uma
novidade em uma época na qual os textos filosóficos e científicos eram escritos em
latim. O “Discurso” é pequeno, tem apenas cerca de 44 páginas na edição dos
“Pensadores”, e está dividido em cinco partes. Na primeira parte, Descartes faz um
resumo da sua vida e formação até então, (estava com cerca de 23 anos), concluindo que
sempre teve o desejo de “distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro em minhas
ações e caminhar com segurança nesta vida”. Na segunda parte ele critica a diversidade
de opiniões existentes, faz uma comparação interessante entre as idéias e as cidades, que
é longa para repetir aqui, digamos apenas que Descartes resolve “derrubar” seus
conhecimentos atuais e construir um novo e fundamentado conhecimento. Na segunda
parte do “Discurso”, para substituir a Lógica, a Análise e a Álgebra, com a vantagem
dos três, mas sem seus defeitos, ele cria o seu famoso método: 1)Jamais aceitar algo
como verdadeiro se não fosse evidente; 2) Dividir cada uma das dificuldades em tantas
parcelas quanto possíveis; 3) Conduzir os pensamentos do simples para o complexo e 4)
Fazer enumerações e revisões completas sem esquecer de nenhuma. Na Terceira parte,
Descartes apresenta a sua “moral provisória”, também composta de quatro partes; 1)
Obedecer as leis do país; 2) Ser o mais firme e resoluto nas ações; 3) Procurar vencer
antes a si mesmo que a sorte e 4) Passar a ocupações em revista e escolher a melhor. Na
quarta parte aparece o “eu penso, logo existo”, como uma constatação isto é, uma
verdade evidente, todavia o raciocínio que conduz a esta conclusão, só será explicado
nas Meditações, publicadas em 1641. Não tenho espaço para explicar a genealogia do
“cogito”, é bem extensa, passa pela “dúvida hiperbólica”, o “gênio maligno”, a “idéia
do perfeito”, a armadilha do solipsismo e a existência de Deus. Recomendo a leitura das
Meditações, tem uma boa tradução em “Os Pensadores”.
Paz e saúde para todos.
Bjfranco
http://www.citador.pt/pensar.php?pensamentos=Existencia&op=9&theme=487

Existencialismo
(Tópicos para um debate)

Tendência filosófica que se desenvolveu na Europa entre as duas guerras mundiais


(1918-1939), centrando a sua análise na existência entendida como a realidade
individual mundana, repudiando todas as formas de alienação ou submissão ideológica.
Desenvolveu-se através de duas formas distintas: - o existencialismo ateu e o
existencialismo cristão. O filósofo Sócrates é considerado um precursor remoto do
existencialismo (humanismo socrático: conhece-te a ti mesmo). Os seus representantes
mais nootórios são: Kierkegaard, Heidegger (considerados fundadores do
existencialismo), Sartre, Gabriel Marcel, Karl Jaspers, Albert Camus...

        Principais ideias do Existencialismo

        Oposição à tradicional supremacia racionalista de interpretação da realidade,


segundo a qual a Essência precede sempre a Existência.  O existencialismo embora
aceite que no mundo das coisas assim é de facto (o modelo, projecto, ideia ou essência,
precede sempre a construção de qualquer artefacto), acredita que no caso do ser humano
(e só nesse caso) a Existência precede a Essência e não o contário! : "A liberdade é
infinita e surge do nada"( Kierkegaard). A existência humana é considerada como um
Projecto individual, totalmente autónomo, não determinado exteriormente por qualquer
modelo, ideia ou valor! O Sujeito está implicado vitalmente na sua própria reflexão,
sendo a sua existência irredutível e independente de qualquer sitema conceptual da
realidade. "Não à teoria e ao puro saber, sim à acção e à vida...; sempre a favor da
vida, contra a teoria" (Kierkegaard). As ideias de Projecto e de Liberdade são aqui
supervalorizadas em grau absoluto, sendo a própria pessoa total senhor do seu destino!

        Para o existencialismo ateu (Sartre) se Deus existisse destruiria a minha liberdade.
Não existindo Deus, desaparece o fundamento universal de moralidade (subjectividade
moral) levando ao aparecimento da angústia humana, resultante da acção livre e da
responsabilidade dum autoprojecto individual de existência. Para o existencialismo ateu
a existência de deus ou de uma ordem moral universal é antagónica com a minha
liberdade absoluta...

     Já o existencialismo cristão (G.Marcel, K.Jaspers), recusando a visão ateista do


universo, reafirma o primado da existência individual, insistindo nos valores da
interpessoalidade, do amor e da solidariedade universal como meio de transcender a
moral subjetivista e relativista.
        Enquanto para Hegel, a vida avança através da superação dos contrários (método
dialéctico), num processo global e contínuo do Universo em que o sujeito fica perdido,
eliminando a decisão e responsabilidade do sujeito, para Kierkegaard a vida avança,
através de "saltos", por descontinuidade de situações individuais de exitência,
caracterizadas pela liberdade absoluta, pela angústia da decisão frente ao futuro
desconhecido.

        Consequências possíveis do existencialismo (negativas e positivas)

 Niilismo de Valores (na linha de Nietzsche, cujo pensamento influenciou não só


o Existencialismo mas também o Nazismo de Hitler). Destruição do
Intelectualismo ético de Sócrates e Platão.
 Desenvolvimento do conceito de Moral subjectiva e afirmação da Lei do mais
forte (Super-Homem - raça alemã...) com perigo de marginalização dos mais
fracos (perseguição dos Judeus e combate à religião judio-cristã, protectora dos
mais fracos)
 Perigos da não existência de uma ética Universal de relações
 Desenvolvimento das políticas mais humanistas e socializadoras
 Retorno ao Individualismo Romântico de J.Rousseau (Séc. XVIII):
 Movimento Hippie, Naturalismo e Anarquimo (Sec.XX), em oposição à
natureza Cultural e socialmente adquirida
 Maior atenção aos direitos humanos das minorias étnicas
 Desenvolvimento das Autonomias regionalistas e da descentralização em
prejuízo do poder centralista dos Estados
 Maior afirmação das Individualidades em todos os domínios (político, desporto,
cinema, mass media...) e aparecimento do conceito de Liderança no âmbito das
Organizações, para obtenção dos respectivos Ojectivos)
 Aumento de suicídios provenientes das situações de insucesso, angústia e
incerteza pelo futuro

        Tópicos para debate sobre o tema da Pessoa

 A perenidade da filosofia de Sócrates (Séc.V a.C.):- método do Diálogo e o


intelectualismo ético…na base da actual construção duma ordem universal de
valores (ONU, Declaração Universal dos Direitos Humanos...)
 Descartes (Séc.XVII):- O meu Eu, Sujeito Pensante (cogito, ergo sum) é
suportado e fundamentado por princípios lógicos e ideias inatas à minha própria
natureza...
 Existencialismo (Séc. XX):- O meu Eu como Projecto pessoal de existência,
totalmente livre e autónomo, rejeita qualquer princípio, ideia ou valor ao qual
tenha de se subjugar...
 A exaltação dos sentidos, da força institntiva, da voluptuosidade,  poderá levar a
um neo-paganismo...
 Origem etimológica da palavra Pessoa: Persona (máscara), representação de
papeis para os Outros...
 A necessidade da Alteridade (díade: Eu e o Outro). A consciência do Eu
desenvolve-se através da consciêncialização do Outro (Piaget - ontogénese),
pondo em questão alguns dos princípios do existencialismo...
 O respeito pela liberdade individual numa relação de Amor...
 O Amor como um Projecto de existência comum em oposição ao Projecto
individual...

Obtido em http://www.prof2000.pt/users/jlpinto/existencialismo.htm

René Descartes

René Descartes em pintura de Frans Hals

Nascimento

31 de Março de 1596
La Haye ketchu en Touraine (atualmente Descartes), Indre-et-Loire, França

Falecimento

11 de Fevereiro de 1650
Estocolmo, Suécia

Nacionalidade

Francesa
Ocupação

Filósofo, matemático, físico

Magnum opus

Discurso sobre o método

Escola/tradição

Cartesianismo, racionalismo, fundacionalismo

Principais interesses

Metafísica, Epistemologia, Matemática, Ciência

Idéias notáveis

Cogito ergo sum, dualismo cartesiano, dúvida metódica, sistema de coordenadas cartesiano, argumento ontológico para a existência
de Deus, considerado o fundador da Filosofia Moderna

Influências

Platão, Aristóteles, Sexto Empírico, Pirro, Agostinho, Aquino, Anselmo, Ockham, Francisco Sanches, Suárez, Scotus, Mersenne,
Montaigne

Influenciados

Leibniz, Spinoza, Malenbranche, Arnauld, Pascal, Locke, Kant, Husserl

René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de Março de 1596 — Estocolmo, 11 de


Fevereiro de 1650), também conhecido como Renatus Cartesius (forma latinizada), foi
filósofo, físico e matemático francês. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho
revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento
matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria
analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das
figuras-chave na Revolução Científica.

Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da


matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes
da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de
filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às
suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas
afirmam que a partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna -
enquanto que décadas mais tarde se assentaria nas Ilhas Britânicas, através de John
Locke e David Hume, principalmente, um movimento filósofico que de alguma forma é
oposto no qual se convencionou chamar de empirismo.

Cogito, ergo
sum.

VIDA
René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye (hoje Descartes), no departamento
francês de Indre-et-Loire. Com oito anos, ingressa no colégio jesuíta Royal Henry-Le-
Grand em La Flèche. O curso em La Flèche durava um triénio, tendo Descartes sido
aluno do Padre Estevão de Noel, que lia Pedro da Fonseca nas aulas de Lógica, a par
dos Commentarii. Descartes reconheceu que lá havia certa liberdade, no entanto no seu
Discurso sobre o método declara a sua decepção não com o ensino da escola em si mas
com o baseado na cultura e tradição que era fundamentalmente escolástico cujo
conhecimento científico achava confuso, obscuro e nada prático. Em carta a Mersenne,
diz que "os Conimbres são longos, sendo bom que fossem mais breves. Crítica, aliás, já
então corrente, mesmo nas escolas da Companhia de Jesus"; Descartes esteve em La
Flèche uns nove anos (1606-1615) [1]. "Descartes não mereceu, como se sabe, a plena
admiração dos escolares jesuítas, que o consideravam deficiente filósofo"[2]. Prosseguiu
depois seus estudos graduando-se em Direito em 1616 pela Universidade de Poitiers.

No entanto, Descartes nunca exerce o Direito, e em 1618 alistou-se no exército do


Príncipe Maurício de Nassau com a intenção de seguir carreira militar. Mas se achava
menos um ator do que um espectador: antes ouvinte numa escola de guerra do que
verdadeiro militar. Conheceu então Isaac Beeckman que o influenciou fortemente e
compôs um pequeno tratado sobre música intitulado Compendium Musicae (Compêndio
de Música). É nessa época também que escreve Larvatus prodeo (Eu caminho
mascarado). Em 1619, viaja até a Alemanha onde no dia 10 de Novembro teve uma
visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Em 1622, ele retorna à
França passando os seguintes anos em Paris.

Em 1628 compõe as Regulae ad directionem ingenii (Regras para a Direção do Espírito)


e parte para os Países Baixos onde morou até 1649. Em 1629 começa a redigir o
Tratado do Mundo, uma obra de Física, a qual aborda a sua tese sobre o heliocentrismo.
Porém, em 1633, quando Galileu é condenado pela Inquisição, Descartes abandona seus
planos de publicá-lo. Em 1635 nasce Francine, filha de uma serviçal. Ela foi batizada no
dia 7 de Agosto de 1635 mas morre precocemente em 1640, o que foi um grande baque
para Descartes.

Em 1637, ele publicou três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os Meteoros e A


Geometria, mas o prefácio dessas obras é que faz seu futuro reconhecimento: o
Discurso sobre o método. Em 1641, aparece sua obra filosófica e metafísica mais
imponente: as Meditações Sobre a Filosofia Primeira, com os primeiros seis conjuntos
de Objeções e Respostas. Os autores das objeções são: do primeiro conjunto, o téologo
holandês Johan de Kater; do segundo, Mersenne; do terceiro, Thomas Hobbes; do
quarto, Arnauld; do quinto, Gassendi; e do sexto conjunto, Mersenne. Em 1642, a
segunda edição das Meditações incluía uma sétima objeção, feita pelo jesuíta Pierre
Bourdin, seguida de uma Carta a Dinet. Em 1643, o cartesianismo é condenado pela
Universidade de Utrecht e Descartes começou sua vasta correspondência com Isabel da
Boémia. Descartes publica então Os Princípios da Filosofia, onde resume seus
princípios filosóficos que formariam "ciência", e faz uma visita rápida a França em
1644, onde encontra o embaixador da França junto à corte sueca, Chanut, que o põe em
contato com a rainha Cristina da Suécia. Nesta ocasião, teria declarado que o Universo é
totalmente preenchido por um "éter" onipresente. Assim, a rotação do Sol, através do
éter, criaria ondas ou redemoinhos, explicando o movimento dos planetas, tal qual uma
batedeira. O éter também seria o meio pelo qual a luz se propaga, atravessando-o pelo
espaço desde o Sol até nós.
Em 1647 ele foi premiado com uma pensão pelo Rei da França e começou a trabalhar na
Descrição do Corpo Humano. Ele entrevistou Frans Burman em Egmond-Binnen em
1648, resultando na Conversa com Burman. Em 1649 ele foi à Suécia a convite da
Rainha Cristina, e seu Tratado das Paixões, que ele dedicou a Princesa Elizabete da
Boêmia (com quem tinha uma amizade afetuosa), fora publicado.

René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de Fevereiro, 1650 em Estocolmo,


Suécia, onde estava trabalhando como professor a convite da Rainha. Acostumado a
trabalhar na cama até meio-dia, por ter sofrido com as demandas da Rainha Christina,
começavam seus estudos às 5 da manhã. Como um católico num país protestante, ele foi
enterrado num cemitério de crianças não batizadas, em Adolf Fredrikskyrkan em
Estocolmo. Depois, seus restos foram levados para a França e enterrados na Igreja de
São Genevieve-du-Mont em Paris. Um memorial construído no século XVIII
permanece na igreja sueca.

Durante a Revolução Francesa seus restos foram desenterrados a fim de serem


deslocados para o Panthéon ao lado de outras grandes figuras da França. A vila no vale
do Loire onde ele nasceu foi renomeada La Haye-Descartes.

Em 1667, depois de sua morte, a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Index
Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos).

PENSAMENTO

O pensamento de Descartes é revolucionário para uma sociedade feudalista em que ele


nasceu, onde a influência da Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia uma
tradição de "produção de conhecimento". Para a sociedade feudal, o conhecimento
estava nas mãos da Igreja. Aristóteles tinha deixado um legado intelectual que o clero se
encarregava de disseminar.

Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre Protestantes e
Católicos na Europa. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes têm crenças
diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que numa região é tido por verdadeiro, é
achado como ridículo, disparatado, mentira, nos outros lugares.

Descartes viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural"


influenciam a forma como as pessoas pensam naquilo em que acreditam.

O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: todos pensamos tê-lo em
tal medida que até os mais difíceis de se contentar nas outras coisas não
costumam desejar mais bom senso do que têm.

O primeiro pensador "moderno"

Decartes é considerado o primeiro filósofo "moderno".A sua contribuição à


epistemologia é essencial, assim como às ciências naturais por ter estabelecido um
método que ajudou o seu desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras Discurso
sobre o método e Meditações - ambas escritas no vernáculo, ao invés do latim
tradicional dos trabalhos de filosofia - as bases da ciência contemporânea.

O método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - duvida-se de cada idéia que


pode ser duvidada. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam
que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser
etc., Descartes institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser
provado, sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca provar a
existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - cogito ergo sum,
penso logo existo) e de Deus.

Também consiste o método na realização de quatro tarefas básicas: verificar se existem


evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada; analisar, ou seja,
dividir ao máximo as coisas, em suas unidades de composição, fundamentais, e estudar
essas coisas mais simples que aparecem; sintetizar, ou seja, agrupar novamente as
unidades estudadas em um todo verdadeiro; e enumerar todas as conclusões e
princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.

Em relação a Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que influenciou muitos, até
ser passada pela metodologia de Newton. Ele mantinha, por exemplo, que o universo
era pleno e não poderia haver vácuo. Descartes acreditava que a matéria não possuía
qualidades inerentes, mas era simplesmente o material bruto que ocupava o espaço. Ele
dividia a realidade em res cogitans (consciência, mente) e res extensa (matéria).
Acreditava também que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo de moção
vertical e que funcionava deterministicamente sem intervenção desde então.

Matemáticos consideram Descartes muito importante por sua descoberta da geometria


analítica. Até Descartes, a geometria e a álgebra apareciam como ramos completamente
separados da Matemática. Descartes mostrou como traduzir problemas de geometria
para a álgebra, abordando esses problemas através de um sistema de coordenadas.

A Teoria de Descartes providenciou a base para o Cálculo de Newton e Leibniz, e


então, para muito da matemática moderna. Isso parece ainda mais incrível tendo em
mente que esse trabalho foi intencionado apenas como um exemplo no seu Discurso
Sobre o Método.

Não basta termos um bom espírito. O mais importante é aplicá-lo


bem.

GEOMETRIA

O interesse de Descartes pela matemática surgiu cedo, no “College de la Fleche”, escola


do mais alto padrão, dirigida por jesuítas, na qual ingressara aos oito anos de idade. Mas
por uma razão muito especial e que já revelava seus pendores filosóficos: a certeza que
as demonstrações ou justificativas matemáticas proporcionam. Aos vinte e um anos de
idade, depois de freqüentar rodas matemáticas em Paris (além de outras) já graduado em
Direito, ingressa voluntariamente na carreira das armas, uma das poucas opções
“dignas” que se ofereciam a um jovem como ele, oriundo da nobreza menor da França.
Durante os quase nove anos que serviu em vários exércitos, não se sabe de nenhuma
proeza militar realizada por Descartes. É que as batalhas que ocupavam seus
pensamentos e seus sonhos travavam-se no campo da ciência e da filosofia.

A Geometria analítica de Descartes apareceu em 1637 no pequeno texto chamado A


Geometria como um dos três apêndices do Discurso do método, obra considerada o
marco inicial da filosofia moderna. Nela, em resumo, Descartes defende o método
matemático como modelo para a aquisição de conhecimentos em todos os campos.

CITAÇÕES

O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: René Descartes.

"Descartes deseja ser ao nível da cognição um self-made-man. Ele é o Samuel Smiles


do empreendimento cognitivo" - Ernest Gellner, "Reason and Culture", Oxford 1992, p.
3. "Penso, logo existo!" - René Descartes

OBRAS IMPORTANTES

 Regras para a direção do espírito (1628?) - obra da juventude inacabada na qual o


método aparece em forma de numerosas regras
 O Mundo ou Tratado da Luz (1632-1633) - obra contém algumas das conquistas
definitivas da física clássica: a lei da inércia, a da refração da luz e, principalmente, as
bases epistemológicas contrárias ao que seria denominado de princípio da ciência
escolástica, radicada no aristotelismo.

 Discurso sobre o método (1637)

 Geometria (1637)

 Meditações (1641) - expande o método cartesiano exposto em "Discurso sobre o


método"

REFERÊNCIAS

1. ↑ Pinharanda Gomes, Os Conimbricenses, 1992, p. 118-119


2. ↑ Pinharanda Gomes, Os Conimbricenses, 1992, p. 119

Bibliografia
 António R. Damásio, O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano, São
Paulo, Companhia das Letras, 1996.
 SPINELLI, Miguel. "A Matemática como paradigma da construção filosófica de
Descartes". In: Revista Cadernos de História e Filosofia da Ciência. Unicamp, Campinas,
v.2, n.1, 1990, pp. 5-15.

Obtido em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes
 

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