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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ENERGIA

BABAÇU – ASPECTOS ECONÔMICOS, AMBIENTAIS (EMISSÕES) E SOCIAIS

Relatório apresentado ao
departamento de Engenharia Energia
da Universidade Federal do ABC,
como parte dos requisitos de
avaliação da disciplina Engenharia de
Biosdiesel.

Nomes e registros acadêmicos dos autores: 07/05/2020

1. André Rodriguez Spirim - 11113316


2. Djarra Ortolam Batista da Silva - 11020414

Santo Andre
2020
INTRODUÇÃO

O Babaçu (Attalea speciosa) é uma planta da família das Arecaceae nativa da


região sul da floresta amazônica que é atualmente encontrada nos estados das regiões
Norte e Nordeste do país, principalmente no Maranhão (que conta atualmente com mais
de 90% da produção de Babaçu no Brasil).[1]

A planta apresenta um ciclo de crescimento de aproximadamente 12 anos para


iniciar a produção de frutos, cuja maturação demora nove meses. Apesar disso, por ser
uma planta perene, a planta produz nos anos subsequentes à sua maturação.

Hoje o babaçu se encontra crescendo numa área de 17 milhões de hectares,


sendo proveniente de ocorrências naturais, ocorrendo esporadicamente em regiões
propensas a seu crescimento e formando florestas no seu período de crescimento.[1]
Consequência disso é, pela atual falta de conhecimento no crescimento e produção da
planta, no alto preço de produção do fruto, sendo comercializado a preços em torno de
700 dólares por tonelada.[2]

Como produto para a produção do biodiesel, o babaçu é interessante pela


presença de 60% de óleo nas amêndoas do coco [2], significando uma produção de
cerca de 120kg de óleo por hectare plantado, no período de coleta da planta que vai de
Julho a Dezembro.[3]

O calendário completo do ciclo anual de uma planta adulta de babaçu foi


registrado pelo ministério de Agricultura e se encontra disposto na tabela abaixo:

Tabela 1 – Ciclo anual de uma planta adulta de babaçu

Fonte: [3]

Apesar do alto teor de óleo nas amêndoas, apenas 7% do fruto corresponde às


mesmas, tornando a fração total de óleo do coco de babaçu apenas 4%, de forma que
a espécie não é considerada oleaginosa. [2]

A palmeira de babaçu, além do fruto com alto conteúdo de óleo, pode ser
utilizada para outros fins, sendo possível aproveitar a planta inteira: das sementes pode-
se extrair óleo, o resto fruto pode ser usado para alimentação animal e a casca pode
ser utilizada como biomassa para queima e produção de energia. [1]

As múltiplas utilidades que se encontra para o fruto do babaçu é uma das razões
pelas quais comunidades se formam em torno das florestas de babaçu e são capazes
de sobreviverem através da coleta manual, sendo importantíssimo para o
agroextrativismo familiar em diversas regiões, principalmente no Maranhão. [4]
ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

Historicamente, o babaçu é utilizado na produção de óleo desde séculos atrás,


sendo mais de 300 mil famílias beneficiadas pela extração e quebra manual do coco de
babaçu, muitas vezes servindo como principal fonte de renda a retirada e venda da
amêndoa de babaçu. Além disso, o fruto do coco é queimado durante a noite para a
produção de carvão e a casca da palmeira de babaçu também é queimada para a
produção de fumaça, que repele os insetos. [5]

Além de diversos usos para as próprias palmeiras de babaçu, há a possibilidade


de se produzir o babaçu em consórcio com culturas rasteiras como feijão, amendoim,
soja e girassol, tornando ainda mais atraente para produções em multicultura e até
mesmo agroflorestais, habilitando a produção de babaçu uma expansão ao longo de
regiões reflorestadas.[2]

No entanto, a expansão dos negócios de grandes produtores agrícolas nos


arredores causam conflitos de interesses que por diversas vezes geram conflitos reais.
Grandes produtores desejam expandir suas terras, desmatando as florestas de babaçu
no processo. As famílias que dependem do babaçu para seu sustento lutam contra os
avanços dos grileiros representando esses latifundiários. [5]

Um dos maiores focos desses conflitos agrários é a mesorregião do Bico do


Papagaio, compreendendo parte dos estados de Tocantis, Pará e Maranhão, como
mostra a figura abaixo:
Figura 1

Fonte: [6]

A região é rica em babaçuais e nota-se grande quantidade de conflitos e outros


tipos de interferência externa na flora local, como mostram as figuras abaixo, onde as
regiões coloridas em verde claro representam as áreas de ocorrência de babaçuais:
Figura 2

Figura 3

Com isso pode-se concluir que no eventual uso de babaçu para a produção de
biodiesel é importante levar em consideração a grande quantidade de pessoas que
dependem da extração do mesmo para sobrevivência, sendo necessário considerar
cautelosamente como se dará a produção para suprir a alta demanda excedente gerada.

A questão técnica também é importante e deve ser levada em conta, pois não
há hoje nenhuma forma de se extrair o coco do babaçu exceto pela extração manual,
de forma que não só as famílias dependem da extração e quebra do coco de babaçu
para sobreviver, mas a própria extração do babaçu, hoje, depende das famílias
extrativistas da região.

O desenvolvimento de políticas públicas específicas para a região e


fortalecimento das políticas públicas existentes para incentivar o agronegócio familiar e
principalmente sua participação no que diz respeito à produção de biomassa para o
biodiesel serão fundamentais no desenvolvimento da produção de babaçu.

Por esses motivos, é de se crer que o incentivo da produção do babaçu -


podendo ser através do seu uso para a produção de biodiesel - tem grande potencial de
revitalizar a região reduzindo a pobreza e, potencialmente, os conflitos na região.[5]

Ironicamente, em função da difícil mecanização no plantio, cultivo e coleta do


Babaçu, ele vem perdendo espaço para a maior matéria prima para produção de
biodiesel no Brasil, a soja, através da apropriação ilegal de terras por grandes empresas
e monocultores, ameaçando as famílias que dependem do extrativismo do coco de
Babaçu.

Apesar de tudo, o Babaçu ainda se mantém como um recurso marginal, em


função disso, surgiu o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
(MIQCB), que integra as quebradeiras de coco babaçu desses quatro Estados
brasileiros, sediado em São Luis e com seis outras unidades regionais espalhadas.

Desde que surgiu nos anos 1980 junto a uma série de outras organizações na
região, com o retorno da democracia, esse movimento tem mobilizado diversos
segmentos sociais e instituições governamentais na luta por melhores condições de vida
e trabalho com desenvolvimento sustentável em toda a região, sendo também uma
minoria étnica. [5]

Os conflitos na região vem desde os anos 60, e só foram se agravando ao longo


dos anos subsequentes. As políticas implementadas durante o período da ditadura não
auxiliaram em nada as questões dos conflitos, agindo na verdade como um agravante,
onde os habitantes da região sofriam repressão ao ter sua liberdade de ir e vir limitada,
além de violência e medo.

O surgimento se deu em função do choque de duas estratégias diferentes de


ocupação dos territórios, oriundas de distintos atores sociais, e de dois diferentes
conjuntos de normas, fundamentadas a partir de lógicas diferentes. A primeira,
correspondente ao mercado e o estado, que através de grandes investimentos e
projetos de modernização da agricultura, procurando consolidar o avanço da fronteira
agrícola na região, com créditos subsidiados e com incentivos fiscais, estabeleceu como
eixo do desenvolvimento de uma agricultura moderna, o latifúndio e a pecuária
extensiva, momento em que usavam a grilagem como instrumentos para a abertura de
novas áreas.

Enquanto a segunda, uma população dispersa de pequenos agricultores,


desmobilizada e pouco organizada, que foge da seca e da expropriação de suas terras
nos estados do Maranhão, Piauí, Pará, dentre outros, buscando se fixar nesse nova
região, onde foram obrigados a se organizar e instaurar regras de convivência e postura
com relação aos meios utilizados para de expropriação e a violência a qual estavam
sujeitos, os quais vieram a se tornar a base da resistência durante os conflitos. [6]
Com o intuito de enfrentar tal violência, os habitantes da região tomaram uma
série de atitudes, como o mutirão na roça, não trabalhar sozinho, a união com os demais
agricultores, associações e sindicatos, acarretando o fortalecimento do capital social na
região. Outra fonte de apoio e resistência para a luta foi o apoio da Igreja e da Comissão
Pastoral da Terra (CPT). O intermédio da Igreja, por meio da CPT, foi necessário para
possibilitar o acesso da população regional a outros meios que contribuíram para
ampliar e denunciar os fatos ocorridos na região.

No mês de fevereiro de 1980, foi divulgado pela pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) o relatório “Igreja e os problemas da terra”. No documento em
questão, a Igreja condena as políticas governamentais para a região e denuncia a
políticas de incentivos fiscais. A CPT buscava apoiar os grupos de agricultores
participantes nos conflitos, procurando estimulá-los a resistir na terra onde estavam
localizados. Uma das questões que dificultavam o direito por parte dos agricultores em
permanecer onde se instalavam era o problema de superposição de títulos.
Possibilitando ações de reintegração de posse, impetradas pelos grileiros contra os
posseiros.

Tal experiência vivenciada marca um processo em que os atores locais


fortalecem suas capacidades de construírem estratégias buscando a conquista de um
conjunto de recursos, como o fortalecimento de sua identidade regional, passando a
interagir por meio de redes locais, como os sindicatos e associações. [6]

Com o passar das décadas, temos o Maranhão sendo um dos estados do Brasil
com os maiores índices de conflitos envolvendo trabalhadores rurais. De 1964 até 1990,
houveram mais de 1630 pessoas assassinadas em função de relações com movimentos
sociais rurais, entre índios, lavradores, sindicalistas, religiosos e advogados. Tais
mortes eram usualmente executadas por pistoleiros a mando de proprietários de terra e
grileiros. Apesar de esses constantes conflitos sempre envolverem os fazendeiros
proprietários de terras e/ou os posseiros, constantemente haviam os interesses políticos
por trás.

Existem relatos de quebradeiras que sofreram agressões quando entravam nas


propriedades dos fazendeiros e eram vistas dentro das áreas de pastagens, coletando
coco. Tal realidade não se faz tão distante, ainda hoje há casos de violência física contra
as quebradeiras, nos quais gerentes das fazendas, vaqueiros ou encarregados
submetem as mulheres a surras e violência sexual.[7]

Com o intuito de não ceder à expropriação da terra onde estão localizados


babaçuais, as quebradeiras de coco passaram a se reunir procurando fomentar ações
de resistência contra essas ações, buscando controlar essa área onde se localiza a
floresta de babaçu. Nesse sentido, elas buscaram fortalecer o controle dessas áreas
onde existem os babaçuais, sua produção e beneficiamentos, garantindo a agregação
de valor aos produtos feitos artesanalmente e visando a entrada desses produtos no
mercado.

Como se observa no gráfico abaixo, entre as delegadas do MIQCB no V


Encontro Interestadual, 37% são assentadas, 10% são posseiras e 33% estão em
condições de sem terras, demonstrando a necessidade de uma reforma agrária,
principalmente nas áreas, em que se decorrem a grilagem de terras.
Figura 4

Com relação ao acesso ao coco dos babaçuais, 53% das entrevistadas


afirmaram não ter dificuldades de acesso. No entanto, 41% declararam que têm
dificuldades de recolher o coco, por este estar em ·áreas privadas ou ser recolhido pelo
catador. [8]

Figura 5

ASPECTOS AMBIENTAIS E SOBRE O BIODIESEL DE BABAÇU

Como óleo de origem vegetal, o biodiesel de babaçu não apresenta vantagens


diretas em relação ao biodiesel de outras fontes com relação a queima em motores de
combustão interna, emitindo poluentes semelhantes e volumes semelhantes, com uma
variação irrelevante, uma vez que o biodiesel utilizado no Brasil, embora tendo sua
origem principal na Soja, ele tem várias outras fontes também, como Dendê, Mamona,
Girassol, entre outros.

Entretanto, as vantagens do babaçu estão nas possíveis utilizações das demais


partes do coco, entre elas, a produção de álcool a partir da farinha do mesocarpo, ou
queima do restante do coco para produção tanto de metanol quanto etanol a partir do
gás de síntese, sendo esses insumos utilizados no processo de fabricação do Biodiesel,
principalmente o metanol em função de seu melhor rendimento em relação ao etanol, e
tem sua origem no refino do petróleo, o que levanta a questão de quão renovável
realmente o biodiesel é.

Além da possibilidade de usar o restante do babaçu para produzir insumos para


o processo de fabricação do biodiesel, existe uma infinidade de outros produtos. Existem
pelo menos outros 64 produtos produzidos a partir do babaçu, de cosméticos à óleos
comestíveis e ração a partir da torta restante após a extração do óleo, sendo totalmente
aproveitável.[10]

Como óleo de origem vegetal, o biodiesel de babaçu não apresenta vantagens diretas
em relação ao biodiesel de outras fontes com relação a queima em motores de
combustão interna, emitindo poluentes semelhantes e volumes semelhantes, com uma
variação irrelevante, uma vez que o biodiesel utilizado no Brasil, embora tendo sua
origem principal na Soja, ele tem várias outras fontes também, como Dendê, Mamona,
Girassol, entre outros.

Entretanto, as vantagens do babaçu estão nas possíveis utilizações das


demais partes do coco, entre elas, a produção de álcool a partir da farinha do
mesocarpo, ou queima do restante do coco para produção tanto de metanol quanto
etanol a partir do gás de síntese, sendo esses insumos utilizados no processo de
fabricação do Biodiesel, principalmente o metanol em função de seu melhor
rendimento em relação ao etanol, e tem sua origem no refino do petróleo, o que
levanta a questão de quão renovável realmente é o biodiesel.

Além da possibilidade de usar o restante do babaçu para produzir insumos


para o processo de fabricação do biodiesel, existe uma infinidade de outros produtos.
Existem pelo menos outros 64 produtos produzidos a partir do babaçu, de cosméticos
à óleos comestíveis e ração a partir da torta restante após a extração do óleo, sendo
totalmente aproveitável.[10]

Devido a presença de amido, o babaçu é a única palmeira no mundo passível


de ser utilizada na produção de etanol como matéria prima, e, apesar de o custo de
produção do etanol a partir babaçu seja elevado em função da necessidade de
transformação do amido em açúcar - para poder produzir o álcool - a qualidade do
mesmo extraído do babaçu é tamanha que este é utilizado até na produção de licores
finos. O fruto do babaçu, quando comparado com a cana-de-açúcar, possui um grande
potencial energético, e o desse aproveitamento passa pela utilização integral do fruto,
sem que ocorra o descarte do mesocarpo ou de qualquer outra parte do babaçu.

A tecnologia necessária para geração de energia a partir do babaçu é a mesma


que a utilizada tendo a biomassa da cana-de-açúcar como fonte combustível, sendo
necessários apenas calibrações nas caldeiras. Além disso, o babaçu apresenta mais
uma vantagem, uma densidade 2,5 vezes maior que a biomassa cana-de-açúcar e um
teor de umidade inferior, de 15% a 17%, enquanto o teor de umidade do bagaço de
cana fica em torno de 50%. Além disso, o babaçu ocorre em abundância em áreas
onde normalmente a cana não se adapta, sendo esta uma cultura relativamente frágil.
A utilização do babaçu como um sistema de geração de energia trata-se de uma
opção ecologicamente correta em locais onde a cana não é uma boa opção ou mesmo
não se encontra disponível.[11]

A extração do óleo pode ser realizada por meio da extração mecânica, ou


através do uso de solvente, sendo que neste a extração é mais eficiente, em função
retira o teor residual de óleo na torta. O esmagamento do coco babaçu leva a
produção de dois tipos de óleos: um para fins comestíveis, e um segundo para fins
industriais (óleo láurico). O processo de extração mecânica compreende as fases de
limpeza, descascamento, moagem, cozimento, prensagem das sementes, filtração de
óleo e moagem da torta (massa).

O processo limpeza é a primeira operação necessária para a preparação da


matéria prima antes de extrair o óleo. Nessa fase, utilizam-se peneiras para separação
das sementes de materiais indesejados, como pedras, material orgânico, terra e etc.
Durante o descascamento das sementes, são utilizados alguns equipamentos para
retirada das cascas, como quebradores e peneiras múltiplas de separação, buscando
garantir que não se perca nenhuma semente. Nos casos das sementes com teores
elevados de óleo, pode-se dispensar a fase de moagem, que é utilizada para facilitar o
cozimento e a prensagem. No processo de cozimento, diversas câmaras cheias de
vapor saturado fazem com que ocorra a liberação das partículas de óleo contidas nos
invólucros celulares.

A prensagem pode ser feita de forma contínua ou descontínua, com o objetivo


de liberação do óleo. Nessa fase, é produzida uma massa residual denominada torta,
bastante rica em proteína, que posteriormente virá a ser moída. Para garantir a
qualidade do óleo extraído, o mesmo é filtrado utilizando-se filtros prensas, filtros de
placas verticais para retirar partículas presentes no óleo antes de destinar para
estocagem.

Durante o beneficiamento da amêndoa para obtenção do óleo são gerados


alguns resíduos, como: geração de particulados na etapa de limpeza; resíduos de
casca e poeira no descascamento das amêndoas; torta e demais resíduos ainda
presente no óleo proveniente das etapas de prensagem e filtração, respectivamente.

No processo de refino do óleo vegetal, procura-se separar substâncias


indesejáveis dos óleos brutos que podem vir a afetar as propriedades qualitativas do
óleo. O processo de refino é dividido em algumas etapas, as quais variam de acordo
com alguns aspectos e a aplicação que se deseja para o produto final. Na produção de
biodiesel as etapas básicas de refino são a degomagem e neutralização do óleo.
Geralmente o processo de degomagem é feito junto com a neutralização.

A fase de degomagem é caracterizada pela remoção das gomas (fosfatídeos


hidratáveis), ceras e substâncias coloidais. Enquanto que na neutralização ocorre a
remoção dos ácidos graxos livres com NaOH, remoção de fosfatídeos residuais (não
hidratáveis) e corantes (clorofila, carotenóides).

Já no processo de transesterificação, se dá a formação de glicerina residual e


os acilglicerídeos, álcool não reagido, substâncias sulfuradas e fosfáticas, ácidos
graxos livres, mono e diacilglicerídeos (produtos de reação parcial), resíduos de
catalisadores, água acidificada e parte do óleo que não foi convertido no processo. No
caso da indústria de produção de biodiesel, o principal resíduo acaba por ser a
glicerina bruta, tendo em vista que, o processo de produção de biodiesel gera cerca de
10% (base mássica) de tal resíduo.
Com os recentes incentivos governamentais e planos de implementação
futuros, o biodiesel tem alcançado larga escala de produção. Junto com o crescente
volume de produção, o fator preocupante nesse processo é o destino da glicerina
bruta excedente. Os mercados consumidores da glicerina bruta (indústrias de resina,
têxtil, cosméticos, etc.) apresentam capacidade de absorção limitada, principalmente
devido aos custos de purificação, pois esse é um processo indispensável para os
produtos finais desses potenciais compradores. [12]

Em estudos primários realizados pelo campus de Jaboticabal da Unesp, ao


avaliar as emissões através da opacidade da fumaça, verificou-se a redução da
mesma à medida que aumentou a quantidade de biodiesel de babaçu no tipo de
combustível, destacando-se biodiesel (B100) quando comparados ao diesel B S1800
(B0).

O estudo experimental foi inteiramente casualizado, num esquema fatorial 6 x


3, com 18 tratamentos e três repetições, somando 54 observações. Esses fatores
foram compostos por seis horários de execução no dia do ensaio (2 h, 6 h, 10 h, 14 h,
18 h e 22 h), junto com três tipos de combustível (diesel B S1800 (B0), 50% de
biodiesel adicionado ao diesel (B50) e biodiesel sem misturas (B100).

Tabela 2. Síntese dos valores da análise do teste de médias para variável


opacidade da fumaça.

Fonte [13]

Observa-se que, no caso da opacidade da fumaça, houve interação significativa entre


os tipos de combustíveis. Comparando, B0 com B50 e B100, a opacidade foi superior,
sendo ainda que a opacidade da fumaça reduziu à medida que aumentou a
quantidade de biodiesel utilizado, salientando (B100) com redução significativa.[13]
CONCLUSÕES

Pode-se inferir que o babaçu é uma fonte viável de matéria prima para a
produção do biodiesel nacional dada sua relevante parcela de óleo vegetal em suas
amêndoas e grande quantidade de plantas adultas disponíveis na natureza onde pode
se realizar a coleta do coco. Por outro lado, a falta de técnica para se realizar a coleta
dos frutos de babaçu (falta de maquinário e tecnologia adaptada para a planta em
conjunto com a falta de técnicas de plantio controlado - o babaçu só ocorre
naturalmente) torna o babaçu inviável como fonte única ou como principal fonte para a
produção de biocombustíveis, sendo sua participação apenas capaz de variar a matriz
de matérias primas.

As principais vantagens contidas no uso do babaçu são realmente sociais e


ambientais. Socialmente o fomento à coleta e cuidado do babaçu seriam capazes de
garantir renda e emprego à famílias que dependem do babaçu para subsistência, como
as tradicionais mulheres quebradeiras de coco de babaçu no Maranhão. A geração de
emprego e renda nessas regiões poderia melhorar a qualidade de vida da região e o
interesse nacional nessa matéria prima poderia garantir menor ação de grileiros e
possivelmente diminuir a violência na região. Adicionalmente, o fomento à agricultura
familiar, se realizado corretamente e de forma organizada, poderia garantir maior união
de grupos da região, aumentando a chance de que haja contribuição entre comunidades
na região e melhorando ainda mais a vida da população.

Ambientalmente, o uso do coco a partir de coleta manual ajudaria a preservar as


florestas de babaçu e todo o habitat que se forma pelas mesmas, incluindo outras
plantas e animais que vivem nelas. Além disso, todo o coco de babaçu pode ser
utilizado, não só as amêndoas, de forma que é uma fonte primitiva com produção
mínima de resíduos descartáveis em sua produção, ainda mais se comparado à soja ou
outras fontes de mesma natureza extensiva.

Concluindo, o babaçu é uma fonte interessante por diversos motivos,


principalmente sociais e ambientais. Caso houvesse investimento poderia ser uma fonte
viável de matéria prima e melhoraria a situação das regiões onde o babaçu cresce, que
hoje em dia são vítimas de altas taxas de violência e ação de grileiros.
BIBLIOGRAFIA

[1] BERGMANN, J.C; TUPINAMBÁ, D.D; COSTA, O.Y.A; ALMEIDA, J.R.M; BARRETO,
C.C; QUIRINO, B.F. Biodiesel production in Brazil and alternative biomass feedstocks.
Brasil: Elsevier, 2013.

[2] PARENTE, Expedito José de Sá. BIODIESEL: Uma Aventura Tecnológica num País
Engraçado. Fortaleza: TecBio, 2003.

[3] MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, Secretaria De


Desenvolvimento Agropecuário E Cooperativismo. Série boas práticas de manejo para o
extrativismo sustentável orgânico: Babaçu (Attalea spp.MART.). Brasília, 2012.

[4] Floresta de Babaçu em Pé. Fundo Amazônia, 2020. Disponível em:


http://www.fundoamazonia.gov.br/pt/projeto/Floresta-de-Babacu-em-Pe/ . Acesso em:
24 de mar. 2020.

[5] Portal São Francisco. Disponível em:


https://www.portalsaofrancisco.com.br/alimentos/babacu . Acesso em: 24 de mar. 2020.

[6] CUNHA, Valdeir Vieira da; ALMEIDA, Valdinar; SOARES, Willians Muller Alves.
CONFLITOS AGRÁRIOS NA REGIÃO DO BICO DO PAPAGAIO: Levantamento
histórico e novas perspectivas. Reis da Geografia, 2012. Disponível em:
https://reisdageografia.blogspot.com/2012/01/conflitos-agrarios-na-regiao-do-bico-
do_12.html . Acesso em: 25 de mar. 2020.

[7] OLIVEIRA, Nilton Marques de; CRESTANI, Leandro de Araújo; STRASSBURG, Udo.
Conflitos Agrários no Bico do Papagaio, Tocantins. Brasil: Revista IDeAS, v.8, n2, 2014.

[8] HAGINO, Córa Hisae Monteiro Da Silva. QUEBRADEIRAS DE COCO BABAÇU:


Identidade, Conflito Sócio Ambiental E Subsistência. Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 2007.

[9] NASCIMENTO, Poliana de Sousa; LIMA, Luís Augusto Pereira. Projeto Nova
Cartografia Social da Amazônia Cartografia Social dos Babaçuais: Mapeamento Social
da Região Ecológica do Babaçu. Socio Ambiental, 2015. Disponível em:
https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.org/files/nsa/arquivos/mapa_
babacu_10.pdf . Acesso em: 25 mar. 2020.

[10] Coco babaçu pode ajudar na sustentabilidade como fonte de biodiesel. Jornal O
Girassol, 2010. Disponível em: https://www.biodieselbr.com/noticias/em-foco/coco-
babacu-ajudar-sustentabilidade-fonte-biodiesel-181010 . Acesso em: 8 mai. 2020.

[11] PUTTI, Fernando Ferrari; LUDWIG, Rafael; RAVAZI, Amanda Sanches. ANÁLISE
DA VIABILIDADE E RENTABILIDADE DO USO DO BABAÇU PARA A PRODUÇÃO DO
BIODIESEL. Brasil: VIII Fórum Ambiental da Alta Paulista, v. 8, n. 7, 2012.

[12] SILVA, Mitchell González Soares da; FERREIRA, Kerlen Jacqueline Nunes;
TEIXEIRA, Mayara Mondego; SILVA, Fernando Carvalho; MACIEL, Adeilton Pereira.
ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL DE
BABAÇU: UMA REVISÃO CRÍTICA. Brasil: Revista da Universidade Vale do Rio
Verde, Três Corações, v. 12, n. 2, 2014.

[13] MORETI, Thaisa Calvo Fugineri. BIODIESEL ETÍLICO DE BABAÇU X DIESEL B


S1800: Ensaio De Opacidade Da Fumaça Do Trator Agrícola Variando Os Horários Do
Dia. Jaboticabal: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP, 2015.

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