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Aula 06_Parte A - O Naturalismo de Rousseau e Pestalozzi no

Século XVIII

Temática: O Naturalismo de Rousseau e Pestalozzi no Século XVIII 

   

Finalizamos a aula anterior afirmando que a influência de Ratke e Comênio vai


se estender durante todo o século XVII e, posteriormente, no século XVIII. No
século XVIII vamos encontrar grandes filósofos e pensadores que também
ratificaram a ideia de educar a criança “naturalmente”. Lembre-se do
significado de naturalismo que está presente nesse período histórico.
Destacamos em aulas anteriores que a concepção de “naturalismo” que
circulava nos séculos XVII e XVIII defendeu a ideia de que a única forma de
conhecer a realidade é o método científico. Partia-se do pressuposto que todos
os fenômenos deveriam ser estudados pelo mesmo método.

Na aula anterior sinalizamos que o século XVII representou a infância como


inocência. Ariès (1978) destaca que no século XVIII a atribuição de inocência e
fraqueza dada à criança permanece, mas amplia-se a preocupação em relação
aos cuidados físicos da mesma. A concepção de infância, e da Educação, no
século XVIII foi construída com a colaboração das ideias do filósofo suíço Jean
Jacques Rousseau (1712-1778).

Na bibliografia educacional destaca-se o papel de Rousseau pela sua obra


Emilio ou Da educação (ROUSSEAU, 1979), porém em toda sua obra
podemos encontrar a discussão sobre a “desigualdade entre os homens”
(ROUSSEAU, 1989) e o papel da Educação para minimizar tais desigualdades.

“Nascemos fracos, precisamos de forças, nascemos desprovidos de tudo,


temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de
juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é-
nos dado pela educação. Essa educação nos vem da natureza ou dos
homens ou das coisas.” (ROUSSEAU, 1979, p.10)

A partir da citação anterior, podemos concluir que Rousseau também identifica


o processo de educação com o processo de humanização. Rousseau é um dos
expoentes do movimento conhecido como Iluminismo, para o qual a
humanidade, em seu uso da razão, pode tornar o mundo melhor mediante o
conhecimento científico e o engajamento político e social. O progresso da
humanidade depende da razão e com a razão seria possível construir a
sociedade ideal. Emilio ou Da educação (ROUSSEAU, 1979), é uma obra
muito mais voltada para as finalidades da Educação com conceitos e ideias
gerais sobre a humanidade, pois a educação de Emílio está voltada para
formar o “governante ideal” e resolver um dos maiores problemas sociais, a
desigualdade entre os homens, já que os vícios sociais “(...) não pertencem
tanto ao homem, mas fundamentalmente ao homem mal governado.”
(ROUSSEAU, 1989, p. 8)

Rousseau não deixou indicações precisas sobre o procedimento de ensinar.


Uma curiosidade a respeito de sua obra é o seu método para o ensino da
música para as crianças. Rousseau defendia a ideia de que as crianças
deveriam aprender melodias e canções que correspondessem aos seus
interesses A solmização, a aprendizagem da notação, da escrita musical, era
considerada por Rousseau como menos importante do que o canto, pois o
educador deveria enfatizar a produção de sons pela criança, o
desenvolvimento do ouvir, do senso rítmico e da criatividade em melodias
simples. Rousseau compôs inúmeras canções infantis e tratou de desenvolver
um método para a aprendizagem da Música. O método de Rousseau foi
ampliado e aperfeiçoado por Pierre Galin (1786-1820), matemático e músico
francês, que o denominou de “Metoplaste” e prescindia da notação musical
tradicional.

Rousseau vai reforçar a ideia de uma “ação natural” do educador. Devemos


lembrar, sempre, que essa ação natural fundamenta-se no naturalismo do
método científico e não em uma suposta espontaneidade por parte do
educador que se manifesta instintivamente, sem planejamento, sem
intencionalidade da sua ação. Para Rousseau, a “ação natural” do educador
tem que levar em conta os interesses da criança que vê, pensa e sente de um
modo peculiar. Rousseau é um dos primeiros filósofos a se preocupar com os
interesses da criança, com os interesses do educando. É por essa razão que,
ao final do século XIX e início do século XX, vai influenciar as correntes
pedagógicas que se centram nos interesses do educando e não nos interesses
do educador (NARADOWSKI, 1994).

Rousseau não colocou em prática suas ideias, nem chegou a elaborar uma
teoria sobre o ensino, apesar de ter contribuído para dar visibilidade aos
interesses do educando. Será Henrique Pestalozzi (1746–1827), o educador
suíço, quem procurará colocar em prática as ideias de Rousseau.

Pestalozzi, também defendeu a necessidade de uma educação em ambiente


mais natural possível, “em um clima de disciplina estrita, mas amorosa, e por
em ação o que a criança já possui dentro de si, contribuindo para o
desenvolvimento do caráter infantil”. (OLIVEIRA, 2002, p. 67). Também
encontramos no pensamento de Pestalozzi os princípios já enunciados por
Comênio, pois para ele a criança deveria ser educada pela intuição e o ensino
deveria priorizar coisas, não palavras. Sua pedagogia enfatiza “a necessidade
de a escola treinar a vontade e desenvolver as atitudes morais das crianças”.
(OLIVEIRA, 2002, p. 67) 

A partir das ideias de Rousseau, Pestalozzi privilegia as atividades de desenho,


escrita, canto, exercícios físicos, modelagem, cartografia e excursões ao ar
livre. Seus procedimentos de ensino estimulavam a observação e o raciocínio
sobre os fenômenos observados. Os procedimentos iniciados por Pestalozzi
serão mantidos e desenvolvidos por Friederich Froebel (1782 – 1852), fundador
do primeiro Jardim de Infância (Kindergarten), em 1837. Esses procedimentos
vão fundamentar as tendências pedagógicas denominadas de Escola Nova,
que vão se configurar no final do século XIX e início do século XX.

Para refletir:

As ideias de Rousseau, Pestalozzi e Froebel são fundamentais para a


concepção de infância e Educação Infantil que vão se consolidar no século XX.
Aqui propomos uma reflexão sobre a concepção de infância no século XXI. Em
seu livro Um país chamado infância, Moacyr Scliar discute a multiplicidade de
infâncias na contemporaneidade, deixando clara a construção histórica desse
conceito. Para esse autor, a ideia tão difundida da infância como um tempo de
felicidade não pode ser garantida para todos.

“Nem todas as crianças, contudo, podem viver no país da infância. Existem


aquelas que, nascidas e criadas nos cinturões de miséria que hoje rodeiam
as grandes cidades, descobrem muito cedo que seu chão é o asfalto hostil,
onde são caçadas pelos automóveis e onde se iniciam na rotina da
criminalidade. Para estas crianças, a infância é um lugar mítico, que
podem apenas imaginar, quando olham as vitrinas das lojas de brinquedos,
quando veem TV ou quando olham passar, nos carros dos pais, garotos da
classe media. Quando pedem num tom súplice – tem um trocadinho aí, tio?
– não é só dinheiro que querem; é uma oportunidade para visitar, por
momentos que seja, o país que sonham.” (Scliar, 1995, p. 4).

    

Para saber mais sobre o tema:

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8068, de 13/07/1990.


Brasília: Senado Federal,19991

PRIORE, Mary Del (org). História das Crianças no Brasil. São Paulo:


Contexto, 1999.

SCLIAR, Moacyr. Um país chamado infância. São Paulo: Ática, 1995.

SULZBACH, Liliana. A invenção da infância. Vídeodocumentário. 2000.

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