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03/06/2020 Cambirimbas | Coluna Aos Vivos | O POVO Online

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Colunas AOS VIVOS

22/05/2010 - 15h05

Cambirimbas

Tarcísio Matos

Fortaleza, década de 30. O senhor Estevam Emygdio, comerciante de café (futuramente o pai do hoje especialista em
Logística Internacional Marcos De Castro), é chamado a ``prestigiar`` o enterro da mãe de um conhecido, taxista.
Sepultamento no São João Batista.
Ligeira missa de corpo presente é rezada. Carpideiras capricham da ladainha. Chororô ouvido no Sétimo Céu. Seu
Estevam, um dos Irmãos Emygdio (os lendários ``Homens de Branco``), estava ao lado dos coveiros, em posição de
preparo do buraco (e fazer descer o caixão), quando ocorre marmota.
Um sujeito não-identificado irrompe do nada, sustando toda a movimentação funérea. Seria Willian Peter Bernard, poeta
baudeleriano da cidade nossa descalça de antanho, como sempre melado? Seria Tertuliano, metido em indumentária de
profeta, ele que se considerava um enviado de Deus?
Certo é que, dissoluto, o sujeito falou:
- Parai, coveiros!!!
Todos se entreolham, assustados. O intrometido audaz, mirando o céu e apontando para o taxista que perdera a mãe,
vizinhos que eram das Cambirimbas (bairro onde hoje está o Mercado São Sebastião), dispara:
- Esta nuvem que vai passando, meus amigos/ Não é nuvem, é um braço dum macaco/ A mãe deste nosso amigo, ontem
nas Cambirimbas/ Hoje neste buraco...
Centurião fí duma égua
Aproveitando a Semana Santa ainda outro dia, lembrei d´algumas tantas histórias da Paixão do Cristo segundo a
mundiça. Como aquela em que o locutor matuto, ao anunciar o espetáculo a céu aberto no Olho D-água, logo mais à
noite, berrava na radiadora:
- Não perdam, às sete horas, a Paxão de Cristo no Gináso Dão Pêdo! Vai ser chibata muita!!!
Outra, acontecida em Pereiro, terra do Falcão, ele mesmo presenciou. Quiseram dar ares de veracidade máxima ao
teatro. Tanto que a cena da crucificação foi feita nas barbas da multidão. Colaram o ator na cruz, com visgo, amarram-lhe
braços, tronco e pernas com corda.
Fingiram colocar pregos nas mãos do filho de Maria, e o mais sensacional: cavaram buraco, ao vivo e em cores, para ali
posicionar o madeiro infamante na vertical costumeira. O Cristo-ator, de rabo de olho, percebeu que a cova tava rasa. Deu
um toque pro centurião, baixinho, pra plateia não notar:
- Ei, macho! Cava mais uma coisinha! Senão eu caio com cruz e tudo!
O malvado comandante de centúria na Roma antiga não dá cabimento ao colega crucificado e o rebola ``apregado na
cruz`` no buraco de palmo e meio de fundura. O povo chora. Aí um vento fuleiro acha de soprar nos peitos do Cristo e a
cruz, por força também do peso do Messias-ator, vai derreando aos poucos pra trás. Temendo cair de costas, o Filho do
Homem grita desesperado:
- Centurião fela da gaita!!! Num falei que eu ia cair, macho!!!
E caiu... Com toda linha!

ESPAÇO DO LEITOR

EDIVAR CARVALHO 25/05/2010 20:18


Conterrâneo véi de guerra, sou fã dos seus contos.

PAULO CÉSAR SAMPAO 24/05/2010 08:37


24.05.2010 Tenho especial interêsse por estórias-cenários de décadas passadas. Voltei a usar chapéu, coisa que todos poderiam fazer, pois o sol aqui é de lascar! Coveiro
pode ganhar até 2 mil reais/mês, segundo reportagem recente de um periódico desta nossa província do Ceará. Tenho dito!
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