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Filosofia – 3A1B

Prof. Ottávio Rodrigues

– Intelectualismo Socrático

PLATÃO, Protágoras, 352b-353a

SÓCRATES: (…) Vamos, Protágoras, descobre-me também essa outra parte do teu pensamento.
Que opinião fazes do conhecimento? Ajuízas a esse respeito como os demais homens, ou por modo
diferente? A grande maioria dos homens pensa do conhecimento mais ou menos o seguinte: que não
é forte, nem capaz de guiar, nem de comandar; não cogitam dele nessas conexões, sendo, pelo
contrário, de parecer que muitas vezes, embora seja o homem dotado de conhecimento, não é
governado por ele, mas por qualquer outra coisa, ora pela cólera, ora pelos prazeres, ora pela dor,
algumas vezes pelo amor, e muito frequentemente pelo medo, e consideram o conhecimento mais
ou menos como um servo que se deixa arrastar por tudo. Pensas do mesmo modo a seu respeito, ou
julgas ser o conhecimento algo belo e capaz de governar o homem, de forma que, quando alguém
adquire a noção do bem e do mal, não se deixa dominar por nada e só faz o que o conhecimento lhe
ordena, por ser a inteligência bastante idônea para ajudar o homem?
PROTÁGORAS – Penso do conhecimento, Sócrates, me falou, justamente como acabaste de dizer,
pois fora vergonhoso para mim, mais do que para qualquer outra pessoa, negar que a ciência e a
sabedoria sejam o que há de mais elevado entre as coisas humanas.
SÓCRATES – Muito bem dito, respondi, e muito certo. Porém deves saber que a maioria dos
homens não é nem do meu parecer nem do teu, e que afirmam ter muita gente o conhecimento
perfeito do que é melhor, sem nunca pô-lo em execução, embora o pudessem, para se resolverem
por coisa muito diferente. E todas as pessoas a quem eu perguntei qual era a causa de semelhante
fato responderam que a causa de fazerem o que fazem é ficarem dominadas pelos prazeres, ou pela
dor, ou por qualquer das paixões a que há pouco me referi.
PROTÁGORAS – Sobre muitas coisas mais, Sócrates, respondeu, os homens também têm ideias
errôneas.
SÓCRATES – Então ajuda-se a convencer os homens e a informá-los a respeito da natureza dessa
condição denominada por eles “ser vencido pelos prazeres”, e que os leva a não fazer o melhor,
apesar de o conhecerem. É possível que lhes disséssemos: Amigos, estais enganados: não dizeis a
verdade!, eles nos retrucariam: Sócrates e Protágoras, se essa condição não consiste em ser vencido
pelo prazer, em que, então, consistirá e que presumis que ela seja? Dizei-nos.

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