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1) PEDIR PARA O EDUARDO SE APRESENTAR

i. nome
ii. formação
iii. trajetória acadêmica
iv. trejetória profissional (que já introduz minha inserção no campo)

2) PEDIR PARA O EDUARDO FALAR DA SUA PESQUISA DE DOUTORADO


I. onde e desde quando eu faço campo
II. qual o tema da minha pesquisa
III. qual o meu problema de pesquisa e como eu cheguei até ele
IV. minhas percepções preliminares sobre as motivações das pessoas em entrarem para a
PMERJ e a relação com a atuação policial particularmente em favelas

3) PERGUNTAR SOBRE COMO ELE VÊ A ATUAÇÃO POLICIAL EM TEMPOS DE


COVID

INTRODUÇÃO

- Do ponto de vista das operações policiais no Rio de Janeiro, contexto atual é muito grave.
Gravidade se dá não só pela continuidade das operações estarem ocorrendo em meio a um
contexto de pandemia, quando os focos da ação das forças de segurança deveria ser apoiar a
proteção da vida das pessoas, mas justamente porque certos segmentos sociais estão sendo
duplamente vitimizados no contexto atual (fuzil + COVID-19).

- Mês de abril registou um aumento de 57% na letalidade das op. policiais quando comparado
com o mesmo mês de 2019. O problema é que 2019, o ano passado, já bateu o recorte de
operações policiais dos últimos 20 anos: 1.296 operações com 1810 mortos por intervenção
policial em todo o estado. 2019 é o ápice da “retomada” das chamadas “grandes operações
policiais” como sinônimo de políticas de “segurança pública” por parte do Estado, que tem
como marco o período pós “megaventos” esportivos;

- conexto da “intervenção federal”, a partir de 2018, agrava essa retomada em conjunto com a
eleição de Witzel. Não houve nenhuma mudança “legislativa” que explique o aumento da
letalidade, mas uma mudança simbólica no ideário da “segurança” com a ideia de “atirar na
cabecinha” ou o próprio governador participando de operações da polícia, como em Angra
dos Reis. Polícia se sentiu mais “livre” para matar;

MAS QUANDO AS OPERAÇÕES POLICIAIS VIRARAM UM PROBLEMA?

- Uso da polícia como corpo disciplinar a atuar na cidade do Rio de Janeiro remonta ao seu
surgimento em 1809. Todavia, o formato atual dessas operações policiais, que visam
fundamentalmente combater o “tráfico (varejo na real) de drogas” remonta aos anos 1980.
Tal década é fundamental para compreender como chegamos até aqui.
- Contexto internacional. Anos 1980 marcou a reta final da “Guerra Fria” e a mudança no
“inimigo externo” que pauta uma boa parte da política externa dos EUA na geopolítica
global (passagem do “comunismo” para o “tráfico de drogas” (war on drugs), eleição de
Ronald Reagan em 1981.
- Mudança do “inimigo” tem múltiplas implicações. No caso da América Latina, “combate ao
tráfico de drogas” serviu como forma de interferência na geopolítica de toda a região,
particularmente no caso da Colômbia (série “Narcos”, combate aos “cartéis” da cocaína nos
anos 1980). No Brasil, essa interferência se deu de maneira indireta, através de pressões
diplomáticas diretas dos EUA (ou indiretas via seus mecanismos de financiamento global
com o FMI ou o Banco Mundial) para que as forças de segurança pública (e mesmo as
FFAA) fossem usados primordialmente no combate ao tráfico de drogas (falar do Consenso
de Washington, 1989, novas diretrizes para a Am. Latina, fim dos exércitos nacionais e sua
aplicação somente para “segurança interna”).
- No contexto interno brasileiro, os anos 1980 vão ser importantes também por alguns
elementos que vão reforçar a geopolítica estadunidense para o continente na “war on drugs”.
Brasil passa a ser um importante entreposto nas rotas do tráfico internacional da cocaína (a
cocaína invade não só o “atacado”, mas o “varejo” das grandes cidades brasileiras
notadamente para sua população mais abastada.
- Num contexto onde a demanda por cocaína aumenta, quem opera a venda? Daí as favelas
entram no circuito da cocaína como um dos pontos de apoio logístico na distribuição. (bocas
de fumo são como camelôs. Eles estão na ponta de uma rede complexa de produção e
distribuição de drogas e, por isso, atuam no varejo). Vender drogas passa a ser um ótimo
negócio e, num contexto de crise social aguda como nos anos 1980, ir para o tráfico passa a
ser uma opção viável para uma série de quadrilhas que praticavam outros crimes, como
também para alguns moradores de favela.
- Se falamos de um mercado em expansão, você começa a ter disputas por esse mercado
entre diferentes grupos, o que leva a um processo de armamento espetacular por parte do
tráfico e uma resposta também por parte do Estado (maconha + pista vira cocaína + fuzil).
Polícias passam cada vez a serem usadas na repressão ao tráfico varejista. O mercado da
droga passa a gerar dividendos não só para as facções varejistas, como também para a
própria polícia, que se beneficia do tráfico para negociar diferentes “mercadorias políticas”
(ou seja, formas de policiamento que deveriam ser voltados para a segurança daquilo que é
“público” e são transformadas em “mercadorias” e vendidas pelos agentes de segurança em
troca de benefícios (informações privilegiadas, o “arrêgo”, o “passe”, mesmo drogas e armas
apreendidas, etc, etc.)
- No meio disso tudo, a dinâmica territorial do tráfico varejista leva a um aumento brutal da
violência letal por conta das disputas entre diferentes grupos e a própria repressão policial.
Fenômeno brasileiro, que se assemelha ao caso colombiano e hoje em dia mexicano da
“guerra às drogas”, causa um fenômeno curioso onde a repressão ao tráfico de drogas acaba
por matar mais do que as próprias drogas em si.

OPERAÇÕES POLICIAIS EM TEMPOS DE COVID-19

- nos dias atuais, como apontado anteriormente, vivemos uma atualização dramática do
fenômeno das operações por conta da pandemia. Falo de uma “atualização” pois a grande
maioria dessas operações se dá ainda pelo mesmo motivo que elas se davam nos anos 1980:
a repressão ao tráfico de drogas. Ou seja, ainda ela é operada dentro da dinâmica da “guerra
às drogas”, que mais do que combater as drogas, é um argumento geopolítico que legitima,
aos olhos de uma parte considerável da opinião pública e aos próprios policiais, invadir tais
territórios.

I. inicialmente, nas duas primeiras semanas da quarentena, que correspondem às duas últimas
semanas de março, houve uma redução de quase 40% nas operações em toda a região
metropolitana do Rio.

II. No entanto, nas duas semanas seguintes, já em abril, as operações experimentaram um


aumento de 63%, ou seja, ficando em um patamar um pouco acima do que no início da
quarentena
III. A partir de abril, operações voltam a ocorrer em ritmo muito semelhante aquele de antes da
pandemia. Situação de calamidade nas favelas não impactou no ritmo das operações.

IV. Colocadas no mapa, é possível ver que elas não ocorrem de maneira homogênea no
território da RM. Elas se concentram na capital e em parte dos municípios da RM, com
destaque para São Gonçalo. Falar da metodologia de construção dos dados do “Fogo
Cruzado”, o problema dos dados do ISP e os limites que o mapa também traz
(subnotificação, onde está a baixada?) Necessidade de diversificação e complementariedade
entre as fontes de dados

V. Descrição das áreas com maior ocorrência de confrontos. 14 áreas identificadas. Dessas, é
importante perceber que a grande maioria das operações ocorre em território do Comando
Vermelho. TCP fica em segundo lugar e nenhuma dessas áreas se constitui enquanto área de
milícia. Explicar o por quê disso, falar um pouco dos dados levantados na tese.

VI. Por quê as operações continuam a acontecer? Tentar explicar tal problema a partir de duas
hipóteses, baseado em dados construídos no mestrado e agora no doutorado. O problema da
PRODUTIVIDADE POLICIAL no plano institucional e na lógica dos MERCADOS
ligados à dinâmica das drogas ligadas às categorias nativas “arrêgo” e “passe”.

QUAL A RELAÇÃO DESSA PROBLEMÁTICA COM MINHA TESE E COM A


EDUCAÇÃO?

- Teses já muito consolidadas nas Ciências Sociais que criam diagnósticos sobre as polícias
e apontam o aprendizado do habitus policial principalmente nas escolas de formação das
polícias e na prática cotidiana nas ruas. Características da polícia que animam a
problemática as “operações policiais”, como a questão da “militarização”, poderiam ser
resolvidas pela mudança da formação policial, a partir de uma outra diretriz educacional.

- Todavia, o que eu venho estudando desde o início do meu doutorado não nega tais
diagnósticos por completo, mas chamada atenção para uma outra dimensão do problema. A
formação policial tem um papel importante mas, ao mesmo tempo, limitado sobre a
conformação dos “corações e mentes” dos policiais. Não se pode pensar o “problema das
polícias” sem pensar a própria sociedade na qual ela está inserida, ou seja, no tipo de
representação que a sociedade tem da polícia e como esses elementos levam milhares de
pessoas a buscarem a cada concurso pra PMERJ uma vaga como soldado da corporação.

- É desemprego, é também. Mas certamente não é só isso. Boa parte dos candidatos já têm
uma ideia considerável sobre do que se trata a vida na corporação, por eles terem parentes,
amigos, conhecidos ou colegas de trabalho que já são policiais. Esses caras já almejam,
antes de entrar, a partir dessas relações pessoalizadas, uma inserção diferenciada dentro da
corporação... nos “feudos” onde os seus “padrinhos” estão inseridos. Ou ainda muitos já são
oriundos das FFAA e possuem em si o tal do “ethos guerreiro”. Ele quer continuar “a vida
militar” perdida pela saída do quartel, e vê a entrada na PMERJ como uma ótima
oportunidade. Não é à toma que nas divisões de “combate” das polícias, como os GATs de
cada batalhão, a maioria dos policiais são oriundos das FFAA, e não por acaso essas
divisões são procuradas de antemão por boa parte dos candidatos. Para outros, o interesse
não é só por serem divisões de “combate”, mas por serem principalmente o local onde eles
podem se inserir de maneira mais plena na operação desses mercados ligados ao varejo da
droga.
- RELATIVIZAR também a ideia de que “a polícia é violenta porque a sociedade é
violenta”. A polícia sofistica certas práticas, atitudes, representações e valores que os
candidatos já trazem consigo. A entrada na polícia funciona como uma espécie de
“reafirmação” mais sofisticada de sua visão de mundo. NINGUÉM ou quase ninguém é
bobo de virar PM por acaso.

[INTERAGIR COM PERGUNTAS E COMENTÁRIOS DA AUDIÊNCIA]

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