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Modulo 1

Capitulo 4: -Anatomia e fisiologia termográfica.

Como já vimos no capítulo anterior a produção de calor pelo metabolismo


permanece constante dentro de um amplo limite de temperatura ambiente,
devido aos reflexos fisiológicos e aos mecanismos de distribuição de calor.

Estes reflexos vasculares podem alterar a imagem térmica, mas não tem
grande significado do ponto de vista de interpretação diagnóstica. O
diagnóstico em Termografia é baseado principalmente em assimetrias
térmicas entre metades paralelas do corpo e diferenças térmicas
localizadas em relação às áreas circunvizinhas.

A actividade metabólica de órgãos isolados pode afectar a temperatura do


corpo e reflectir-se na imagem termográfica. Um exemplo é a produção
metabólica de calor após as refeições denominada “termogénese pós –
prandial” e está relacionada com o aumento do metabolismo durante a
digestão.

As patologias viscerais também podem estimular o metabolismo. Bactérias


e pirógenos podem provocar um aumento de temperatura anormalmente
alta (febre), que provoca uma alteração no chamado ponto crítico do centro
hipotalâmico regulador de temperatura através da acção dos agentes
produtores da febre (toxinas bacterianas por exemplo). Há razões que
levam a acreditar que a acção dos agentes pirogénicos é regulada pelas
prostaglandinas.

O calor produzido pelo metabolismo visceral é transferido directamente


para o sangue que circula por esses órgãos. O calor produzido pela
actividade visceral é igualmente distribuído para a superfície corporal
para ser dissipado. Embora alguns autores afirmem que não pode ser
utilizado para diagnóstico termográfico outros principalmente da
escola russa provam precisamente o contrário.

Por exemplo as hipertermias na área do estômago ou do esófago que nos


indiciam patologias do tipo inflamatório como gastrite ou esofagite.
Fig. 1 ESOFAGITE Fig. 2 GASTRITE

Para além disso as doenças viscerais também podem ser detectadas


termograficamente em zonas específicas do tecido somático, denominadas
áreas secundárias de reflexo visceral da doença. Estes centros situam-se
nos núcleos neurovegetativos da medula espinal.

O aumento de calor devido ao excesso de actividade muscular pode ser


observado termograficamente e a não ser que este aumento de calor seja
devido a um processo patológico tem pouco significado para um
diagnóstico termográfico.

A actividade muscular porém pode ter significado diagnóstico


termográfico, é o caso dos chamados pontos miofasciais (trigger points)
que reflectem a actividade metabólica do músculo envolvido. Nestes
pontos o aumento do metabolismo devido à contínua contracção muscular
produzirá calor que será levado pelo sangue venoso, esta drenagem venosa
pode carregar o sangue aquecido verticalmente próximo à superfície do
corpo onde grande parte do calor é perdida para o meio.

Fig. 3 Fig. 4

As hipertermias cutâneas são porém normalmente causadas pelo bloqueio


do fluxo sanguíneo, pelo músculo em espasmo. Desta forma a temperatura
central é redireccionada em vasos colaterais da pele produzindo uma
imagem morna ao redor dos pontos miofasciais que estarão mais quentes.

Alguns autores principalmente da escola Russa identificam estes pontos


miofasciais, com os pontos dos meridianos de acupunctura, quanto a nós
ambas as abordagens são válidas. Se por um lado a abordagem dos “trigger
points” é uma abordagem fisiológica/mecanicista. A Dr.ª Travell em 1957
descobriu que os trigger points geravam e recebiam pequenas correntes
eléctricas. Isto demonstrou que os trigger points comunicavam com o
sistema nervoso e vice-versa. A medição destas correntes e a localização
exacta dos pontos pode fazer-se com um electromiografo. Esta teoria é
convergente com o modelo da acupunctura.

O modelo da acupunctura substitui o mecanicismo, por canais energéticos


onde existem pontos cujo distúrbio energético por excesso ou deficiência é
o causador da patologia. Se considerarmos que calor ou frio, não são mais
que formas de manifestação da energia então a existência de pontos/ áreas
quentes ou frias à superfície da pele podem ser estudadas segundo estes
modelos.

Vamos analisar o seguinte termograma sobrepondo os vários modelos:

Fig. 5

Na figura nº5 podemos observar 7 pontos quentes 3 formando uma linha


vertical, partindo do umbigo em direcção ao estômago, 2 verticais sobre a
área hepática e dois verticais na área esplénica. Para além destes pontos,
visualiza-se facilmente a área hipotérmica ao redor do umbigo e dois
pontos hipotermicos sobre a área do ovário esquerdo. Do lado esquerdo por
cima dos pontos quentes uma evidente hipotermia na área do estômago.

Utilizando o modelo clínico termográfico o relatório desta imagem seria:

1) Hipertermia umbilical indiciando distúrbios biliares.


2) Hipertermia difusa “ pontos quentes” em toda a região abdominal
indiciando irritação do cólon.
3) Hipotermia na área do estômago indiciando gastrite por hipoacidez.
4) Hipotermia na área supra púbica/ baixo-ventre indiciando
desbacteriose.

Utilizando o modelo miofascial o relatório teria de ter em conta os


sintomas que estes pontos podem causar:

“ Os trigger points abdominais causam dores externas e internas no


abdómen. Estas dores e sintomas abdominais são frequentemente
assumidos como tendo uma causa interna, no entanto isso é um erro
de diagnóstico comum. Muitos medicamentos são prescritos nesta base
sem quaisquer resultados. Milhares de pessoas são vitimas de cirurgia
abdominal, sem que a causa da sua doença (trigger points) seja
reconhecida e eliminada.
As dores nos pontos abdominais superiores podem ser facilmente
confundidas com hérnias do hiato, cálculos biliares, cancro de
estômago, úlceras pépticas, doenças cardíacas, ou indigestão (Fig.7.16).
Estes trigger points causam náuseas, vómitos, perda de apetite e
anorexia. Não existe forma de diagnóstico eficiente e séria enquanto
estes pontos não forem desactivados. Os trigger points do abdómen
médio provocam cólicas, cãibras de estômago e diarreia crónica
(Fig.7.17) Aerofagia, sensação de inchaço, enfartamento, e calor
abdominal são no geral causados pelos trigger points do abdómen médio
e superior. Quando um trigger point é activado no lado direito do
abdómen sobre a área do apêndice, pode dar uma indicação falsa de
apendicite, se não existir febre e as analises sanguíneas forem negativas,
dever-se-á procurar a razão do problema na parede abdominal.
Os pontos do baixo abdómen, quando activados podem ser confundidos
com hérnias inguinais, espasmos urinários, e podem causar dificuldades
quer de urinar, quer de reter a urina. Os pontos do baixo abdómen
também causam dores nos órgãos genitais, dores menstruais, de útero,
ovários, pénis e testículos. (Clair Davies, N.C.T.M.B).

No modelo da acupunctura teremos de fazer uma análise em relação


ao meridiano e pontos envolvidos.

Fig.6 Meridiano do estômago. Fig.7 Meridiano baço/ pâncreas


Fig.8 Meridiano do rim Fig.9 Meridiano ren mai

No meridiano do estômago (4 pontos quentes da área hepática e


esplénica) temos em hipertermia (excesso de energia) os pontos 25 e 27
do respectivo meridiano.

E25: Este ponto é empregue para o tratamento de disfunções intestinais,


dores abdominais, distúrbios no intestino grosso, desinteria, obstipação
(regula o funcionamento intestinal). Apendicite. Disfunções menstruais.

E27: Este ponto regula o comportamento dos esfíncteres urinários.


Hérnias abdominais.

No meridiano ren mai situado na linha vertical entre o perineum e o


lábio inferior encontramos na imagem, 3 pontos hipertermicos.

Ren8: situado no umbigo é usado no tratamento de insuficiência


urinária, diarreia, dores umbilicais, ascite, prolapso rectal.

Ren9: Harmoniza o sistema urinário, ascite, edemas, dores abdominais,


diarreia, gastroenterite.

Ren10: Este ponto é coincidente com o meridiano do baço. É indicado


no tratamento de doenças do baço, estômago, náuseas diarreia, cãibras
abdominais.
Finalmente no meridiano dos rins do lado esquerdo encontramos uma
hipotermia na área do R12. Este ponto é utilizado para normalizar a
função renal, regular a menstruação, disfunções sexuais e impotência,
prostatite, desordens ginecológicas, miomas, inflamação pélvica.

Como se pode verificar olhando para o mesmo termograma, usando


abordagens conceptuais muito diferentes se chega a conclusões muito
idênticas. Por este motivo para um bom diagnóstico ambos os modelos
devem ser bem estudados, pois a sua compreensão é uma excelente
ferramenta auxiliar e complementar no diagnóstico em termografia, que
permite o afinamento e a mestria na arte de diagnóstico. O diagnóstico em
termografia não é estrutural mas funcional, esta informação funcional
poderá sugerir a lesão estrutural que deverá ser confirmada por meios
radiológicos, anamnese ou outros.

Para além das abordagens focadas anteriormente, a escola Russa tem usado
com sucesso a visualização da palma da mão e seus pontos reflexos como
forma de diagnóstico, o mapa que se segue corresponde ao mapa térmico
da mão. Pela experiência só as situações realmente importantes se
evidenciam nesta projecção.

Fig.10
Como nas outras imagens na mão, podem aparecer zonas hiper e hipo
térmicas, cuja leitura terá significado idêntico à leitura na zona do corpo.
A captura de imagem em termografia recomenda que o paciente esteja em
equilíbrio com o meio ambiente de forma a se obter uma correcta imagem
térmica.
Considerações anatómicas

A termografia clínica utiliza a perda de calor para avaliar a fisiologia da


homeostase. Como já vimos nos capítulos anteriores a perda de calor é uma
função regulada fisiologicamente e controlada pela actividade vasomotora
da rede vascular cutânea. A termografia não detecta lesões estruturais, ela
regista a resposta vasomotora que ocorre secundariamente num
processo fisiológico anormal.

A imagem termográfica do fluxo sanguíneo cutâneo é baseada em diversos


estudos e especulações anatómicas e fisiológicas. Em primeiro lugar a
termografia é baseada no reconhecimento de que o corpo humano é
segmentado.

Esta segmentação é muito evidente no desenvolvimento embrionário


perde-se no adulto com algumas excepções. A segmentação miomérica
embrionária não é reconhecida na pele, musculatura ou vísceras do adulto,
porém permanece evidente na segmentação da coluna vertebral, medula e
nervos espinais.

Nervos espinais isolados com origem num único segmento podem ser
delineados em áreas de distribuição específicas do corpo. Apesar da área de
distribuição nervosa se possa sobressair em alguns graus as suas áreas de
distribuição anatómica e fisiológica têm sido bem estabelecidas.

A segmentação somática do adulto pode de facto ser extrapolada da


distribuição nervosa segmentar da medula espinhal.

Medula Espinhal:

A medula espinhal é a porção do sistema nervoso central que se situa no


canal raquidiano, é o lugar de passagem de todas as grandes vias do sistema
nervoso como as raízes medulares do nervo espinhal e as raízes
raquidianas. A medula espinhal tem uma função condutora de estímulos
nervosos dupla: A corrente sensitiva conduz os estímulos num sentido
ascendente até ao cérebro e a corrente motora que conduz os estímulos em
sentido descendente até aos órgãos, glândulas, etc.

Os nervos, formados pela união de muitas células nervosas, são uns


cordões delgados de substância nervosa que se ramificam por todo o
organismo. Existem várias categorias de nervos, os nervos motores que
transmitem impulsos nervosos desde o sistema nervoso central até aos
músculos, os nervos sensoriais e sensitivos encarregados de transmitir
todas as sensações recolhidas nos órgãos do corpo procedentes do exterior
até ao sistema nervoso central. Através dos nervos sensoriais estes
impulsos nervosos chegam ao cérebro, onde se transformam em sensações,
tais como a audição, visão, dor, etc.

O sistema nervoso periférico é formado pelos nervos espinhais ou


raquidianos, constituídos por 31 pares de nervos que saem da medula
espinhal. E 12 pares de nervos cranianos que saem do crânio por orifícios
existentes na base do crânio e se dirigem directamente a várias partes do
corpo com funções específicas.

Fig.11 Medula espinhal e ramificações nervosas.

O sistema nervoso autónomo ou vegetativo, é formado por dois importantes


pares o simpático e o parassimpático encarregado dos processos vitais e da
regulação autónoma, que não dependem da consciência (fome, sede,
produção de calor, funcionamento do coração, sexo, etc.).

O sistema nervoso simpático é antagónico do parassimpático. Em linhas


gerais o simpático é o nervo acelerador do organismo e o parassimpático o
retardador.

Os nervos sensitivos ou sensoriais nascem como corpos celulares dos


gânglios da raiz posterior ou dorsal. Eles enviam centralmente axônios para
as áreas laterais do corno dorsal da medula espinhal e distalmente para as
estruturas somáticas e viscerais. Os axônios sensitivos somáticos
projectam-se para a pele e musculatura através de nervos espinhais com
funções mistas e terminam em terminações nervosas livres na pele e nos
músculos. A distribuição cutânea desses neurónios sensitivos de um único
segmento espinhal, formam um mapa único na superfície corporal, o
dermatomo.

Fig.11
Uma distribuição semelhante, tridimensional pode ser presumida para os
músculos (somátomos e miotomos), mas é menos caracterizada.
Muitos axônios sensitivos viscerais também têm os seus corpos celulares
dentro da raiz posterior do gânglio dorsal. Os axônios passam pela cadeia
ganglionar simpática por meio de ramos brancos e terminam como
terminações nervosas livres dentríticas dentro dos vários órgãos viscerais.
Os neurónios sensitivos somáticos transmitem informações nociceptivas
aferentes para o Sistema Nervoso Central para serem processadas, mas eles
também podem enviar ramos axônicos para vários gânglios simpáticos
onde formam uma sinapse com os neurónios pós ganglionares.

Fig.12

As fibras nervosas sensitivas simpáticas saem da coluna espinhal pela raiz


dorsal onde axônios pré ganglionares simpáticos saem de segmentos
medulares por raízes nervosas ventrais. Estes neurónios eferentes saem do
nervo espinal e fazem sinapse com nervos pós ganglionares simpática, ou
eles cruzam o gânglio para espinhal e fazem sinapse com as fibras pós
ganglionares nos gânglios pré vertebrais que regulam a actividade visceral.
Fig.13
Para além da segmentação neuro – anatómica, um segundo aspecto
importante em termografia, derivado da embriologia é a simetria anatómica
do corpo humano. Este aspecto não é válido para os órgãos viscerais que
têm distribuição assimétrica dentro das cavidades tóraxica e abdominal
como é óbvio.

Nas estruturas simétricas porém este padrão é muito importante pois


qualquer assimetria do padrão térmico pode reflectir uma alteração do
processo regulador secundário e desordens fisiopatológicas.
Considerações fisiológicas:

A regulação do fluxo vascular cutâneo e da radiação térmica cutânea é uma


função do sistema nervoso autónomo. O controlo vaso motor somático é
essencialmente regulado por ramos simpáticos.
Muitas fibras nervosas simpáticas misturam-se com os nervos espinhais
sendo responsáveis por cerca de 10% de todas as funções mistas nervosas
das estruturas somáticas periféricas.

Fig.14
Uma lesão em qualquer nervo periférico produz dor e alteração na
actividade vasomotora simpática. Uma lesão completa causa interrupção do
tónus simpático da musculatura lisa vascular, a área de enervação torna-se
hipertérmica com o aumento do fluxo sanguíneo central para a área
lesionada.
Uma actividade miogênica espontânea e a sensibilidade aumentada pela
presença de norepinefrina circulante podem causar vasoconstrição na
região afectada tornando-a hipotérmica. A irritação geralmente aumenta a
actividade simpática e causa vasoconstrição, apesar de que a resposta
imediata à lesão pode ser a vasodilatação pelo mecanismo descrito
anteriormente.

Fig.15 Fig.16
Compressão radicular L5 Lesão de nervo periférico/ hipertermia
Muitos sistemas activos têm sistemas antagónicos de forma a se manter um
estado de equilíbrio intermédio que permite o balanço homeostásico.

Por exemplo a estimulação sensitiva de fibras C aferentes produz dor e


sensações desagradáveis. A resposta a esta situação pode ser
vasoconstrição ou vasodilatação. A vasoconstrição pode ocorrer através de
reflexo medular pelo o aumento da actividade simpática na musculatura
lisa arteriolar. A vasodilatação pode ocorrer pela simples redução da
actividade simpática.

Do ponto de vista do diagnóstico prático em termografia o aspecto mais


importante a ter em conta será a nosso ver um bom conhecimento de toda a
estrutura medular, principalmente dos núcleos (somato-motor, somato
sensitivos, neuro- vegetativos, víscero motores e víscero sensitivos),
conhecer bem os reflexos da função somática. O domínio destas matérias
permitirá estabelecer rapidamente ligações se por exemplo uma
determinada área cutânea (dermatomo) estiver em hipertermia poderemos
imediatamente tentar descobrir qual a vértebra e órgãos associados a este
dermatomo e desta forma procurar o factor causal.

Por exemplo uma lesão lombar pode provocar uma inflamação na próstata,
mas o aumento volumétrico da próstata também pode causar uma lesão na
região lombar.(ver fig.13).

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