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Cientistas descobrem planeta

gigante ‘que não deveria existir’


O planeta, semelhante a Júpiter, é
extraordinariamente grande em comparação com sua
estrela-mãe, desafiando as teorias da astrofísica
existentes.
Por Paul Rincon, BBC
23/09/2019 08h09  Atualizado há 2 meses

Os astrônomos descobriram um planeta gigante que, segundo eles, não deveria existir,
de acordo com as teorias atuais. — Foto: University of Bern

Os astrônomos descobriram um planeta gigante que, segundo eles, não


deveria existir, de acordo com as teorias atuais.
O planeta, semelhante a Júpiter, é extraordinariamente grande em comparação
com sua estrela-mãe, contradizendo um conceito amplamente aceito sobre a
forma como os planetas se formam.
A estrela, que fica a 284 trilhões de quilômetros de distância, é uma anã
vermelha do tipo M – o mais comum em nossa galáxia.
 A primeira imagem de um buraco negro
 Satélite da Nasa registra pela primeira vez o momento em que estrela é
'devorada' por buraco negro supermassivo
Uma equipe internacional de astrônomos relatou suas descobertas na revista
Science.
"É emocionante, porque há muito tempo nos perguntamos se planetas gigantes
como Júpiter e Saturno podem se formar em torno de estrelas tão pequenas",
diz Peter Wheatley, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, que não
participou do estudo mais recente.
 Um planeta gigante e duas estrelas anãs
 Mancha vermelha em Júpiter é um furacão do tamanho da Terra que
encolhe por razão ainda misteriosa
"Acho que a impressão geral foi de que esses planetas simplesmente não
existiam, mas não podíamos ter certeza porque as estrelas pequenas são
muito fracas, o que as torna difíceis de estudar, mesmo sendo muito mais
comuns que estrelas como o Sol", disse Wheatley à BBC News.
Pesquisadores usaram telescópios na Espanha e nos Estados Unidos para
rastrear as acelerações gravitacionais da estrela que podem ser estimuladas
por planetas em órbita.
A anã vermelha tem uma massa maior que seu planeta em órbita – chamado GJ
3512b. Mas a diferença entre seus tamanhos é muito menor do que entre o Sol e
Júpiter.
A estrela distante tem uma massa que é, no máximo, 270 vezes maior que o
planeta. Para comparação, o Sol é cerca de 1.050 vezes mais massivo que
Júpiter.

A estrela foi descoberta usando o observatório Calar Alto, na Espanha — Foto: Calar
Alto Observatory

Os astrônomos usam simulações de computador para testar suas teorias de


como os planetas se formam a partir das nuvens, ou "discos", de gás e poeira
orbitando estrelas jovens. Essas simulações preveem que muitos planetas
pequenos devem se reunir em torno de pequenas estrelas-anãs do tipo M.
"Em torno dessas estrelas só deve haver planetas do tamanho da Terra ou
super-Terras um pouco mais massivas", disse um dos coautores do estudo,
Christoph Mordasini, professor da Universidade de Berna, na Suíça.
Um exemplo da vida real de um sistema planetário que está de acordo com a
teoria é o de uma estrela conhecida como Trappist-1.
Esta estrela, situada a 369 trilhões de quilômetros (39 anos-luz) do Sol, abriga
um sistema de sete planetas, todos com massas aproximadamente iguais à da
Terra, ou ligeiramente menores.
"A GJ 3512b, no entanto, é um planeta gigante com uma massa cerca da
metade do tamanho de Júpiter e, portanto, pelo menos uma ordem de
magnitude mais massiva que os planetas previstos pelos modelos teóricos para
essa estrela tão pequena", disse o professor Mordasini.
A descoberta desafia a ideia amplamente difundida de formação de planetas,
conhecida como acreção.
Geralmente pensamos em planetas gigantes que começam a vida como um
núcleo de gelo, orbitando um disco de gás ao redor da estrela jovem e depois
crescendo rapidamente, atraindo gás para si", disse Wheatley.
"Mas os autores argumentam que os discos ao redor de pequenas estrelas não
fornecem material suficiente para que isso aconteça. Em vez disso, consideram
mais provável que o planeta tenha se formado repentinamente quando parte do
disco entrou em colapso devido a sua própria gravidade".
Os autores do artigo da Science propõem que esse colapso pode ocorrer
quando o disco de gás e poeira tem mais de um décimo da massa da estrela-
mãe. Sob essas condições, o efeito gravitacional da estrela se torna
insuficiente para manter o disco estável.
A matéria do disco é puxada para dentro para formar um aglomerado
gravitacional, que se desenvolve ao longo do tempo em um planeta. A ideia
prevê que esse colapso ocorra mais longe da estrela, enquanto os planetas
podem se formar por acúmulo de núcleo muito mais próximo.
Wheatley foi coautor de um estudo em 2017 que descreveu um gigante de gás
chamado NGTS-1b, encontrado em telescópios liderados pelo Reino Unido no
Chile. O NGTS-1b também é muito grande comparado ao tamanho de sua
estrela-mãe - outra anã vermelha do tipo M, que fica a 600 anos-luz (cinco
quatrilhões de quilômetros) de distância da Terra.
"A estrela-mãe é pequena, mas não tão pequena quanto este novo exemplo
(GJ 3512). Pode ser que a NGTS-1 represente a menor estrela que pode
formar planetas próximos por meio de acreção por núcleo, e que estrelas
menores apenas formam planetas gigantes mais distantes pelo modelo de
colapso gravitacional", disse Wheatley.
"Esses tipos de previsões são inestimáveis para direcionar futuras pesquisas,
permitindo testar esses modelos".
De fato, os autores do estudo na Science sugerem que o GJ 3512b deve ter
migrado por uma longa distância para sua posição atual abaixo de 1 unidade
astronômica (150 milhões de quilômetros).
Com sua órbita oval de 204 dias em torno da estrela, a GJ 3512b passa a
maior parte do tempo mais perto da anã vermelha do que a distância de
Mercúrio ao Sol. A órbita excêntrica do gigante gasoso aponta para a presença
de outros planetas gigantes que orbitam mais longe, o que poderia ter
distorcido sua órbita.
Um dos coautores do estudo, Hubert Klahr, do Instituto Max Planck de
Astronomia, na Alemanha, afirmou: "Até agora, os únicos planetas cuja
formação era compatível com as instabilidades do disco eram um punhado de
planetas jovens, quentes e muito massivos, longe de suas estrelas-mães.
"Com o GJ 3512b, agora temos um candidato extraordinário para um planeta
que poderia ter surgido da instabilidade de um disco em torno de uma estrela
com muito pouca massa. Essa descoberta nos leva a revisar nossos modelos",
diz Klahr.
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