Você está na página 1de 3

Quadro da Arquitetura no Brasil – Nestor Gourlart Reis Filho

Capítulo 01 – Lote Urbano e Arquitetura

A arquitetura vai sendo modificada de acordo com a época em que está sendo
produzida, relacionando-se também com a forma da estrutura urbana a qual está inserida. O
estudo da evolução da arquitetura, juntamente com o traçado urbano, auxilia a transformar
edifícios que, nos dias de hoje, funcionam de forma precária, uma vez que foram estruturados
em séculos passados.

É importante salientar que muitas casas compreendem características arquitetônicas


de modo que estas podem dialogar com o traçado urbano. No livro em questão, alguns
exemplos nos são proporcionados.
“As casas de frente de rua, do período colonial, cujas raízes remota às
cidades medievo-renascentista da Europa, ou as casas de Porão habitável
com jardins do lado, características do século XIX ou, ainda, os edifícios de
apartamento das superquadras de Brasília, são conjuntos tão coerentes, que
não é possível descrevê-los completamente sem fazer referência à forma de
sua implantação”

Analisando a citação acima percebemos que a arquitetura e o traçado urbano estão


interligados, formando uma ligação que gerou um reflexo de um para com o outro, para
formar, de forma final, a arquitetura e o traçado. É percebido que o lote urbano acaba por
corresponder ao tipo de arquitetura que irá receber, uma vez que não é temos como
desassociar os lotes amplos do século XIX e início do séc. XX às casas com jardins particulares,
por exemplo. Todavia, como ressalva, é notado que a arquitetura é mias facilmente adaptável
às modificações econômico-social do que ao lote urbano, uma vez que as alterações deste,
normalmente resultam em uma modificação do próprio traçado urbano. Portanto, os sinais de
evolução normalmente, senão sempre, são reconhecidos primeiramente no âmbito da
arquitetura, para então serem notados no urbanístico, devido a este ter uma adaptação mais
lenta. Isto explica a utilização de esquemas do século XIX em bairros novos das cidades
brasileiras, quando, em muitos países desenvolvidos, seu uso já é considerado um arcaísmo. A
arquitetura precisará aguardar a evolução dos modelos urbanísticos para, dessa forma, atingir
o pleno desenvolvimento das soluções arquitetônicas projetadas.

Assim, destaca-se a interdependência entre arquitetura e lote urbano, seja durante o


amadurecimento pelas tradições, de modo informal, ou quando são pensadas e planejadas
racionalmente.

Capítulo 02 – O Lote Urbano Colonial

A arquitetura colonial era baseada no trabalho escravo, devido a isto, é percebido a


precariedade tecnológica.

As vilas e cidades apresentavam um aspecto uniforme das ruas, com casas térreas e
sobrados construídos no alinhamento da rua e sobre os limites laterais do terreno. Durante
esse período, a arquitetura residencial estava com características bem definida. A cidades e
vilas eram inspiradas nas antigas tradições urbanísticas de Portugal. Não existia meio-termo,
ou as casas eram urbanas, ou as casas eram rurais (Não era concebido casas urbanas recuadas
e com jardim; os jardins que entendemos hoje foram introduzidos nas residências durante o
século XIX). Até mesmo os palácios dos governadores foram construídos como uma residência
comum.

Esse esquema ainda envolvia a ideia que se tinha de via pública. Pois as ruas, salvo
raras exceções, ainda não tinham calçamento, nem passeios. Não era possível imaginar uma
rua que não houvesse construções; uma rua sem construção, com muros ou cercas, era uma
estrada. A rua sempre existia como um traçado delimitado pelos prédios.

As ruas tenham uma aparência um pouco monótona, devido a produção bastante


semelhante de arquitetura, e, além disso, a falta de verde também proporcionava essa ideia de
monotonia. Os jardins, sejam domésticos ou públicos não existiam (o primeiro jardim público
surgiu do RJ no final do séc. 18).

As casas eram produzidas de maneira uniforme e, em certos casos, essa padronização


estava prevista na carta régia, ou em póstumas municipais. Coisas como quantidade e
dimensões das aberturas, altura dos pavimentos, alinhamento com as edificações vizinhas,
foram exigências correntes do século XVIII. Essas determinações tinham por objetivo trazer
para as cidades e vilas brasileiras uma aparência portuguesa. Essa padronização não ficava
apenas nas fachadas; as plantas, as quais eram deixadas ao gosto de cada proprietário,
também apresentavam uma monotonia. As aberturas frontais eram destinadas para as salas e
lojas, enquanto a dos fundos eram destinadas para ambientes de permanência das mulheres
(cozinhas, muitas vezes) e locais de trabalho. Entre estas partes, existiam as alcovas, as quais
dificilmente entrava iluminação natural. A circulação era realizada por um grande corredor
longitudinal, o qual normalmente ligava a porta da frente até o final da edificação, sendo este
apoiado, normalmente, em uma das paredes laterais, ou no centro da planta em casos com
maiores dimensões.

Como dito anteriormente, como a construção se dava por escravos, as técnicas


construtivas eram muito precárias. Assim, nos casos mais simples, as paredes eram de pau-a-
pique, adobe ou taipa de pilão, enquanto nas residências mais importantes, empregava-se
pedra e barro e, mais raramente, tijolos ou pedra e cal. O telhado era de duas águas, as quais
eram projetadas para a lançamento ser uma parte para a rua e outra parte para o quintal,
sendo a água absorvida pelo terreno. Assim, evitava-se o uso de calha ou quaisquer outros
sistemas de captação de água pluvial.

A arquitetura colonial tinha uma grande tinha uma grande abundância de mão-de-
obra, mas pouco aperfeiçoamento. Os exemplares mais ricos dessa arquitetura acentuavam
bastante essa tendência, uma vez que apresentavam maiores dimensões, maior quantidades
de peças, contudo, não chegava a caracterizar um tipo distinto de habitação. As construções
que apresentavam uma maior variação, eram as de esquina, as quais, por terem duas fachadas
para a rua, alteravam em parte o esquema de planta e telhado.

Os principais tipos de edificações eram as casas térreas e os sobrados, a diferença


entre estes se davam pelo tipo de piso, o qual era de chão batido e assoalho, respectivamente.
Estes também eram elementos que caracterizavam o status social, uma vez que habitar um
sobrado significava riqueza e habitar uma casa térrea de chão batido, significava pobreza.
Devido a isto, os pavimentos térreos dos sobrados, quando não usados para lojas, era
utilizados para a moradia dos escravos e animais ou ficavam quase vazios, não sendo utilizados
pelas famílias dos proprietários.
Outro tipo característico de edificação desta época, eram as chácaras. Estas eram
situadas nas periferias dos centros urbanos e conseguiam reunir às vantagens dessa situação
com as facilidades de abastecimento e dos serviços das casas rurais. As chácaras eram
residências características de famílias abastadas, que utilizavam as casas urbanas apenas em
ocasiões especiais. O afastamento do centro urbano era tido como uma medida de conforto,
não de desligamento.

Capítulo 03 – A implantação da arquitetura no século XIX

1800-1850

Você também pode gostar