Você está na página 1de 9

1 I

'
GENTIL!, P. (1996). "Neoliberalismo e educação: Manual do usuário". ln: SILVA, T.T.
e GENTIL!, P. Escola SA. Brasília: CNTE.

GIMENO SACRJSTÁN, J. (1997). Docencia y cultura escolar: Refonnas y modelo


educativo. Buenos Aires: Lugar Editorial.

POPKEWI1Z, T.S. ( 1997). Refonna educacional: Uma política sociológica. Porto Ale-
gre: Artes Médicas.

PUIGRÓS, A. (1997). La otra refonna. Buenos Aires: Galena.

TORRES, R.M. (1996). "Melhorar a qualidade da educação básica? As estratégias do


Banco Mundial". ln: TOMAS!, L. de; W ARDE, M. e HADDAD, S. O Banco
Mundial e as políticas educacionais. São Paulo: Cortez.

3
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS:
A FALÁCIA DE SEUS TEMAS TRANSVERSAIS

Elizabeth Fernandes de Macedo

Retomando um velho problema?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo MEC


corno guia curricular para o ensino fundamental brasileiro, trouxeram à discus-
são a idéia de ternas transversais. Embora não se trate propriamente de uma
novidade, as comunidades escolares entraram em clima de perplexidade, tendo
surgido aqui e ali inúmeras dúvidas sobre o que seriam os tais temas transversais,
sobre corno seria possível trabalhá-los, sobre a diferença entre temas transver-
sais, interdisciplinaridade e trabalho por projetos. O documento do MEC pouco
ajuda na elucidação dessas questões. Ao mesmo tempo em que é excessivamente
diretivo nos volumes dedicados às disciplinas clássicas, deixa inúmeras lacunas
ao tratar dos temas transversais.
Os PCN nos põem de novo diante de um problema antigo na área do
currículo: as disciplinas tradicionais não dão conta de um conjunto de guestões

42
43
postas pela realidade vivida pelos alunos. Segundo o documento, os fundamen- plinas escolares clássicas com a suposição de que essa integração permitiria uma
tos básicos da educação escolar devem estar relacionados à constituição de um melhor apreensão da realidade. Os PCN propõem que a integração se faça por
Estado democrático definido como "uma forma de sociabilidade que penetra temas transversais, que perpassariam o conjunto das disciplinas. Assim, a ética,
em todos os espaços sociais" (Brasil 1997a, p. 19). Nesse sentido, a noção de um dos temas propostos, seria tratada, tanto em português quanto em matemá-
democracia amplia o conceito de cidadania para o de cidadania ativa, que "tem tica, sempre que o conteúdo trabalhado nessas disciplinas permitisse. Idem para
como ponto de partida a compreensão do cidadão como portador de direitos e meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e orientação sexual. O documento
deveres, mas que também o vê como criador de direitos participando da gestão assume, ainda, que determinados temas transversais têm mais afinidade com
pública" (ibidem, p. 20). certas disciplinas e, por isso, devem ser mais explorados por elas. Além da
O compromisso com a formação do cidadão ativo faz com que a pergunta mais óbvia, que os PCN deixam sem resposta, sobre o como integrar'
escolarização assuma alguns princípios básicos, elencados pelos PCN: dignida- os temas transversais com as diferentes disciplinas, restam-nos ainda outras
de da pessoa humana, igualdade de direitos, participação eco-responsabilidade dúvidas: como fazer para que temas transversais e disciplinas ocupem o "mesmo
na vida social. A escola precisa, segundo o documento, preocupar-se em tratar lugar de importância" no currículo se a lógica que preside a estruturação
tanto valores quanto conhecimentos que "permitam desenvolver as capacidades curricular continuará sendo a estabelecida pelas diferentes disciplinas? Ou
necessárias para a participação social efetiva" (ibidem, p. 23). ainda: que sentido fazem as disciplinas se os temas candentes da vida em
sociedade são tratados como temas transversais?
Definidas as responsabilidades da escola, reaparecem velhas questões.
São as disciplinas escolares clássicas incapazes de desenvolver tais capacidades Obviamente, não pretendemos neste texto responder a todas essas ques-
l necessárias para a participação social efetiva? Na literatura pedagógica, foi tões, mas tentaremos refletir sobre elas, buscando entender por que as formula-
mos ao ler o documento do MEC. Defendemos que esse entendimento pode nos
sempre uma constante a preocupação de trazer a realidade para dentro da escola.
Essa preocupação gerou inúmeras respostas, mas ainda nos deixa a questão sem ser útil para o encaminhamento de algumas respostas e para a construção de
solução. Em qualquer escola de ensino fundamental, pode-se ouvir pelos outras perguntas.
, corredores, e mesmo nas salas de aula, alunos questionando a utilidade dos O núcleo central da argumentação do MEC fundamenta-se na incapaci- 1
conhecimentos que aprendem na escola. Seria isso uma demonstração da dade _da educação escolar de lidar com a formação do cidadão ativo. Essa
dificuldade da atual estruturação disciplinar do currículo para lidar com os Jncapacidade é entendida como algo inerente à estruturação disciplinar do 1
problemas postos pela realidade? Alguns defendem que sim, outros negam de currículo, para a qual o antídoto é a constituição de espaços não disciplinares
forma veemente, outros ainda buscam alternativas. chamados temas transversais. Para entender essa proposta do MEC, julgamos
Os PCN assumem uma postura aparentemente alternativa. Baseado em ser fundamental problematizar algumas questões: a idéia de currículo discipli-
autores conteudistas, o documento aponta a importância das disciplinas para nar, sua suposta incapacidade de dar conta da realidade pluridimensional, a
que os alunos dominem o saber socialmente acumulado pela sociedade. Por necessidade de criação de mecanismos integradores das diferentes disciplinas
outro lado, "há questões urgentes que devem necessariamente ser tratadas, como ou a própria superação desse tipo de estruturação curricular.
a violência, a saúde, o uso de recursos naturais, os preconceitos, que não têm
sido diretamente contemplados por essas áreas" (ibidem, p. 23). Poderíamos,
então, perguntar: se o saber socialmente acumulado não dá conta de entender a As disciplinas não dão conta da realidade
realidade e seus problemas mais urgentes, por que ele é tão importante e central
na escola? Por que deveria ser mantido nessa posição de centralidade? Os PCN
não nos respondem, apenas nos apresentam mais um conjunto de temas que Grande parte dos estudos que hoje questionam a fronteira disciplinar das
deveria ser tratado pela escola, "ocupando o mesmo lugar de importância" ciências assume, como argumento central, que a disciplinarização do mundo é
(ibidem, p. 23) das disciplinas clássicas, mas sem se configurar em disciplinas. o reflexo, no campo do conhecimento, do modo de produção capitalista. À
divisão do trabalho industrial corresponderia a divisão do conhecimento em
Essa resposta também nos é familiar. Inúmeras tentativas vêm sendo
compartimentos estanques; o processo de produção favorecido pela industriali-
feitas ao longo dos anos para integrar, de formas diversas, as diferentes disci-

44 45
zação exigiria uma maior especialização, que pudesse atender à nova divisão que as dificuldades enfrentadas pelo saber disciplinar na compreensão do / ,,--
material do trabalho. Com essa argumentação, defende-se que, com o processo mundo são, na verda~e, dificuldades postas à concepção positivista de conhe- "
de globalização econômica e com as novas formas de produção, substituindo as cimento. Portanto, entendemos que a superação fundamental não é a da matriz
linhas por ilhas de produção, o mundo estaria exigindo uma nova configuração disciplinar, e sim, a do paradigma positivista.
do conhecimento. Toma-se, então, fundamental que também o conhecimento A valorização extremada da definição clara dos problemas a serem
se globalize, passe a integrar diferentes campos, sob o risco de se tomar inútil. estudados, a preocupação com a precisão da delimitação dos objetivos e a
Gostaríamos de matizar o quadro acima traçado para discordar da imposição de determinadas metodologias de pesquisa como as únicas científicas
conclusão óbvia de que devemos abandonar a compreensão disciplinar da favoreceram a especialização do conhecimento. Com isso, foi sendo criado um
realidade em razão da globalização do mundo. A realidade sempre foi entendida número cada vez maior de disciplinas científicas, com seus objetos, seus
como algo complexo e sua apropriação por intermédio de diferentes disciplinas métodos e suas técnicas, propondo-se a analisar a realidade de forma mais
constituiu um mecanismo analítico. Claro está que tal mecanismo reflete e precisa. O custo dessa maior precisão do conhecimento produzido pelo positi-
engendra formas de poder e controle, não sendo uma ferramenta neutra de vismo era a perda de sua relevância. A realidade era de tal forma compartimen-
apreensão da realidade. talizada para que se pudesse construir um conhecimento científico sobre ela que
o conhecimento produzido acabava por se fazer inútil. A pouca importância
A cultura, ao longo dos séculos, foi-se diferençando progressivamente e
conferida pelo positivismo às dimensões ética e sociopolítica associadas ao
assim as técnicas, os saberes e as linguagens que a comunicavam foram aos
desenvolvimento do conhecimento científico estabelecia o quadro facilitador
poucos se especializando e se fechando em núcleos específicos. O processo de
para a superespecialização disciplinar (Adorno e Horkheimer 1983).
divisão do conhecimento é um processo no qual diferentes âmbitos de saber
vão-se destacando e configurando em especialidades. Algumas dessas especia- Se a lógica interna do próprio positivismo contribuiu para a discipli-
lidades vão constituir disciplinas científicas, ficando outras no espaço destinado narização cada vez mais acentuada do conhecimento com a criação de
à não-ciência. O que será aceito como disciplina relaciona-se, assim, aos limites inúmeras subespecialidades, o processo social de manutenção dessas disci-
impostos à própria~efinição do que é ciência. A disciplinarização do conheci- plinas não pode ser desvalorizado. Disciplinas científicas não representam
1
mento corresponde, portanto, a um processo de seleção de dados considerados apenas campos do saber d~finl_dos por pressupostos epistemológicos. São
significativos e de rejeição de outros tidos como não pertinentes, agrupando-se ~os de poder instituídos, nos quais diferentes atores .§Ociais_buscam

de forma coerente um conjunto de objetos de estudo sob a rubrica de uma construir sua hegemonia. Wallerstein (1990) define politicamente as disci-
disciplina. Trata-se de um processo histórico que se realiza nos limites de plinas como "organizações com limites, estruturas e pessoal para defender
determinados paradigmas. seus interesses coletivos e garantir sua reprodução" (p. 400) .. A territoriali-
z~ão do conhecimento é,_portanto, uma forma de poder, na qual diferentes
A hegemonia do pensamento positivista definiu no século XIX os limites
especialistas delimitam rituais de iniciação para que o "estrangeiro" possa
entre ciência e senso comum e constituiu o chão sobre o qual se edificou o
participar de suas áreas. Esse.s rituais envolvem o domínio não apenas do
conceito de disciplina com o qual operamos na modernidade. Para que um corpo
conhecimento, mas de uma linguagem que diferencia o especialista dos
de conhecimentos pudesse ser chamado de disciplina, deveria preencher um
não-iniciados. Essa linguagem se toma cada vez mais específica, de modo a
conjunto de requisitos que envolvia três tipos de elementos (Boisot citado por
continuar atuando como instrumento de diferenciação. Tanto as associa-
Santomé 1998): "I) objetos observáveis e/ou formalizados, ambos manipulados
ções de classe quanto a própria universidade têm uma atuação decisiva
por meio de métodos e procedimentos; 2) fenômenos que são a materialização
nessa política.
da interação entre esses objetos; 3) leis que dêem conta dos fenômenos e
permitam prever sua operação" (p. 56). O mundo atual vem mostrando cada dia mais a impropriedade da extrema
especialização para a análise dos problemas científicos e sociais. Disciplinas
Tais elementos estão na base não apenas do conceito de disciplina, mas
científicas tradicionais tomam-se incapazes de atuar isoladamente, levando à
do conhecimento científico segundo o ideário positivista. Nesse sentido, argu-
criação de novas especialidades híbridas, menos restritas. Ao mesmo tempo, as
mentamos que discutir os limites do saber disciplinar envoJve, em realidade,
"' \ questionar o estatuto de científicidade do conhecimento positivo. Defendemos
fronteiras entre as ciências naturais e sociais e entre conhecimento científico e

46 47
senso comum vêm sendo constantemente questionadas. As promessas não As disciplinas entram no currículo
cumpridas do iluminismo positivista alimentam as críticas, que passam a buscar
redefinir o conceito de conhecimento.
Santos ( 1989), ao criticar a concepção positivista de conhecimento, À disciplinariz'!_Ção do conhecimento corresponde a construção de uma j.tl
contrapõe ao ideário da modernidade a necessidade de uma dupla ruptura escola também disciplinar, mas a forma como são concebidas e construídas as
epistemológica, ou seja, de uma ruptura com a ruptura moderna entre conheci- disciplinas escolares tem especificidades que precisam ser pensadas. Os estudos
mento científico e senso comum. O autor advoga a favor de uma concepção em história das disciplinas escolares vêm mostrando que essas d isciplinas não
pragmática de ciência baseada na transformação do conhecimento científico em são, em todos os casos, o reflexo, na escola, de campos do saber legitimados em
senso comum, transformação essa que permitirá a própria transformação do outras instâncias da sociedade.
senso comum. Em última instância, Santos estabelece que, mais do que proble- Existem casos de disciplinas escolares que, ao surgir, colaboram para a
matizar a validade do conhecimento, a ciência hoje precisa questionar o sentido constituição de um campo, exigindo que a universidade crie especialidades até
do conhecimento no mundo contemporâneo. então inexistentes. Essas especialidades acabam por gerar uma nova comparti-
mentalização do conhecimento científico, com a fo rmação de um corpo de
Para Santos, a justificativa da prática científica se estabelece pelas
conseqüências que é capaz de produzir tanto na sociedade quanto na comu- profissionais, de associações de classe, com o estabelecimento de um discurso
próprio e de linhas demarcatórias entre si e as demais.
nidade científica. Trata-se de uma concepção exteriorizante da ciência, em
que a verdade é "o efeito de convencimento dos vários discursos de verdade Por outro lado, nem todos os campos de saber em que se subdivide o
em presença e em conflito" (p. 149). Nela, o saber científico associa-se a conhecimento científico têm lugar nos currículos escolares, mesmo nos currí-
outros saberes, propiciando a ruptura com a ruptura entre ciência e senso culos de cursos profissionais. Com o surgimento de novas doenças, por exem-
comum. Na visão de Santos, essa dupla ruptura epistemológica é a estratégia plo, a medicina cria espaços profissionais especializados; no entanto, a alteração
da transição paradigmática entre a modernidade e a pós-modernidade. Em dos currículos de formação dos médicos não acompanha imediatamente a
outras palavras, o autor afirma: criação da nova especialidade.
Os currículos escolares do ensino fundamental são constituídos de um
Na presente fase de transição, não se pode prescindir de um conhecimento conjunto de disciplinas, sendo alguns Cª1:!1.POS do saber representados e outros
científico autônomo, mas é cada vez menos sustentável que essa forma de não. Quais os critérios para que existam disciplinas ligadas ao conhecimento
conhecimento prescinda, por sua vez, da sua superação no seio de outros saberes
e de outras comunidades de saber com vistas à constituição de urna pflronesis,
matemático, às ciências naturais, ao estudo da língua, à geografia e à história?
urna sabedoria de vida. (p. 149) Por que o privilégio dessas áreas do conhecimento em detrimento das ciências
sociais, da filosofia, da geologia, por exemplo? Os critérios para a seleção dos 1,
A concepção de ciência defendida por Santos, em contraposição ao campos do saber representados no c~rrículo escolar não são científicos. Poder- 1
paradigma positivista, repousa sobre a idéia de que a separação entre verdade se-ia argumentar sobre a obviepade da importância do conhecimento matemá-
tico e científico, assim como da língua materna. Se voltarmos, porém, aos anos
epistemológica e verdade sociológica é insustentável. Assim, na medida em que
a pós-modernidade assuma um conceito pragmático de ciência, cada disciplina 30, veremos que essa obviedade é uma construção histórica. A luta dos pioneiros
científica passa a buscar compreender e transformàr o mundo, assim como da educação nova para criar espaços curriculares para as ciências naturais e para
dissolver as fronteiras entre o saber científico e o senso comum. A disciplinari- maximizar o ensino da matemática mostra o quanto se modificam os nossos
currículos ao longo dos anos. Quais os critérios dessas mudanças?
zação deixaria de ser, então, um empecilho ao compromisso da ciência com o
mundo cotidiano. Goodson (1993) vem dedicando-se a sistematizar o conhecimento obtido
em estudos que identificam a gênese das disciplinas escolares e a sua entrada e
legitimação nos currículos. Seus trabalhos definem hipóteses experimentais
com as quais têm sido realizados estudos no campo da história das disciplinas
escolares.

48 49
A primeira diz respeito ao caráter não monolítico das disciplinas esco- de uma disciplina no currículo associa-se à utilidade prática imediata, sua
lares. Elas são, ao contrário, amálgamas cambiantes de subgrupos e tradições. manutenção depende da formalização do campo de estudos. Goodson mostra
Com essa hipótese, Goodson está apontando para o caráter histórico da seleção que algumas disciplinas escolares que não se relacionam a áreas academicamen-
de disciplinas que compõem o currículo, um currículo entendido como constru- te estabelecidas passam a ser as responsáveis pela criação dessas áreas e,
ção, mais ou menos coletiva, de um grupo de atores sociais que nele joga as suas ponanto, pela formalização do conhecimento no campo. Foi esse o caso da
crenças, as suas convicções e o seu trabalho. geografia que, uma vez introduzida como disciplina escolar, fez surgir uma
A segunda hipótese vem complementar essa primeira, apontando alguns especialidade acadêmica. Nos casos em que não ocorre a formalização da ,
determinantes que precisam ser considerados ao estudar a consolidação das disciplina criada com finalidades utilitárias, ela acaba por deixar de existir no
disciplinas no currículo escolar: a interpretação dos debates curriculares relati- currículo ou passa a ser relegada ao currículo dos cursos de menor status social.
vos às disciplinas curriculares precisa considerar as lutas por espaço, status e As conclusões de Goodson mostram que tanto a criação de disciplinas
recursos. escolares quanto sua manutenção no currículo repousam em tradições de 1
Goodson está argumentando que a gênese e a permanência de uma valorização de determinados campos de conhecimento escolar, relacionados à
disciplina no currículo são um processo de seleção e de organização do conhe- origem social e ao destino ocupacional da clientela: as classes média e alta são
cimento escolar para o qual convergem fatores lógicos, epistemológicos, inte- preparadas academicamente para a vida profissional, 1 ao passo que a escola
lectuais, rituais, interesses de hegemonia e de controle, conflitos culturais e destinada às classes baixas ministra um ensino vocacional ou ocupacional,
questões pessoais. freqüentemente mais utilitário. Essa separação cria um movimento de valoriza-
A terceira hipótese trabalhada pelo autor destaca uma certa regularidade ção social dos conhecimentos necessários à preparação para a vida acadêmica
acerca da criação e da consolidação das disciplinas no currículo escolar e se ou profissional, em detrimento do saber utilitário, mais relacionado a ocupações
relaciona diretamente à idéia de utilidade do conhecimento escolar para a vida não profissionais, nas quais trabalha a grande maioria das pessoas.
cotidiana dos alunos. Estudando disciplinas como a geografia, a biologia, os A tradição acadêmica conta com dois mecanismos de manutenção: de
estudos rurais, Goodson observou que a consolidação de uma disciplina no um lado, o componente ideológico presente no senso comum, de outro, os
2
currículo tende a envolver a passagem de uma orientação inicial mais pedagó- exames nacionais que desprestigiam o conhecimento utilitário. Esse movimen-
gica e utilitária para uma tradição mais acadêmica. Ou seja, ao ser criada, uma to rumo a um conhecimento menos relacionado ao mundo prático é, no entanto,
disciplina escolar busca resolver um problema imediato relacionado ao mundo contraditório. Em face das influências econômicas e industriais, a pressão por
cotidiano dos alunos. No entanto, para conseguir manter-se no currículo, precisa currículos utilitários permanece, historicamente, muito forte, a despeito de seu
legitimar-se como área de saber científico, transformando-se em uma disciplina status social inferior. Esse movimento faz com que o caráter utilitário dos
formal e distante da vida prática. currículos seja fortemente preconizado; contudo, sua aplicação acaba ficando
Essa conclusão é extremamente útil para a argumentação central deste restrita às classes sociais menos favorecidas. No Brasil, a profissionalização
artigo, uma vez que aponta para a relação entre a utilidade prática do conheci- proposta pela Lei 5.692/71 é um exemplo flagrante dessa realidade. Nela, a idéia
mento escolar, com sua capacidade de resolver problemas do dia-a-dia dos de utilidade foi apresentada como ponto fundamental da política educacional
alunos, e a organização disciplinar do currículo. Segundo os estudos históricos do Estado, mas não chegou a presidir a formação das elites.
sistematizados por Goodson, a maioria das disciplinas escolares estabelece-se Os estudos históricos de Goodson sugerem alguns pontos de reflexão.
no currículo não por constituir áreas científicas importantes na sociedade, mas Primeiramente, chamam a atenção para o fato de que as disciplinas escolares \.K
por se mostrar capaz de lidar com os problemas cotidianos da vida em sociedade. _não são mero reflexo das disciplinas científicas. Se algumas disciplinas escola-
Na Alemanha do pós-guerra, era fundamental a noção dos limites geográficos
da nação, passando a ser justificada a criação de um espaço curricular destinado 1. Referimo-nos à profissão como "atividade ou ocupação especializada, e que supõe determinado
ao seu estudo: a disciplina geografia. Da mesma forma, hoje, justificaríamos o preparo" (Aurélio 1995), diferenciando de ocupação, para a qual assume o sentido de ofício.
surgimento de espaços para o estudo do meio ambiente, das doenças sexual- 2. Vários países contam com a existência de exames nacionais que certificam a conclusão de
mente transmissíveis, das regras de trânsito. Ao mesmo tempo em que a entrada determinado ciclo de estudos. No Brasil, essa certificação é, em larga medida. operada pelos
exames vestibulares.

50 51
res têm urna relação direta com campos de saber historicamente estabelecidos, meio ambiente, ética, educação sexual. Associada a essa alienação em relação
outras são criadas em razão de fatores diversos. Essa constatação estabelece um à sociedade, a disciplinarização define um certo padrão de escolarização, uma
conceito de disciplina escolar que não tem contrapartida necessária no conceito organiz~ão infle~ível que dificulta a realização de outras atividades que não as ..../.
!
de disciplina. Dessa forma, os mais diversos temas podem agrupar-se como
disciplinas escolares, sem que precisem partilhar critérios definidores de uma
aulas tradicionais. Essas aulas se sucedem umas após as outras sem nenhuma
associação, dificultando a aprendizagem, na medida em que os alunos são
f

disciplina científica. Esse procedimento efetivamente tem sido realizado em


inúmeros currículos de cursos superiores, especialmente nas áreas de humanas
confrontados com diferentes sistemas teóricos e obrigados a transitar entre eles f
em um curto espaço de tempo: da aula de geografia à de matemática, passando
e nos núcleos profissionais dos diferentes cursos, em que conteúdos são reunidos pelas ciências naturais e pela língua pátria em um espaço de cinco horas. Em
na rubrica de uma disciplina sem que haja relação direta com disciplinas todas elas, as experiênci~évias dos alunos são desvalorizadiis em favor de
científicas estabelecidas. uma lógica formalmente estabelecida j)Or e para cada campo do saber.
Da constatação de que não existe correspondência imediata entre disci- Essas críticas não são novas e sua superação vem constituindo um dos
plinas científicas e escolares deriva um segundo argumento fundamental: o mais fortes desafios da pedagogia. Ao longo dos anos, inúmeras tentativas de
critério utilidade é um dos mais potentes na criação de disciplinas escolares, articulação dos conhecimentos tratados pelas diferentes disciplinas escolares
embora não tenha a mesma força quando se trata de manter a disciplina dentro têm sido realizadas, segundo os mais diversos referenciais e recebendo nomes
do currículo. O processo de expulsão de disciplinas não formalizadas do variados. Essas tentativas vão desde o simples empréstimo, por uma disciplina,
currículo tende a transferi-las para currículos apl icados apenas a grupos de instrumentos analíticos ou de modelos teóricos de outro campo do saber até
socioeconomicamente menos favorecidos. as experiências que buscam superar os limites estabelecidos pelas fronteiras
Observamos que a idéia de utilidade do conhecimento, embora proclamada disciplinares.
como fundamental nos discursos sobre a escolarização, tende a não se transformar Um dos modelos mais simples de integração disciplinar assenta-se na
em realidade. Consideramos que isso não ocorre por acaso, por incompetência ou visão de que os problemas da realidade ultrapassam os limites de uma especia-
pelas amarras das disciplinas, mas porque o conhecimento formal dissocia@ da lidade. Dessa visão, decorrem modelos de articulação restritiva das disciplinas
1 prática constitui um poderoso elemento de diferenciação social. escolares, definidos por Piaget (1979) como multidisciplinaridade. Nela, um
mesmo terna é tratado por diferentes disciplinas, em um planejamento integrado.
Nesse processo, continua-se respeitando a lógica disciplinar dos diferentes
Fugindo da disciplina: Tentativas frustradas campos do saber, apenas selecionando-se um tema de interesse social que possa
ser tratado por um conjunto de disciplinas como tema fundamental. Um aspecto
difícil de equacionar nesse tipo de experiência é a tendência à valorização de 1:f
Ao mesmo tempo em que a organização disciplinar do conhecimento determinados campos do saber, freqüentemente aqueles de maior prestígio
escolar tem sido facilmente aceita pela escola ocidental moderna, são inúmeras social. Dessa forma, a integração é prejudicada pelo domínio de urna ou duas
1 as contestações ao caráter fragmentário dos currícul9s disciplinares. As disciplinas que passam a subjugar as demais a sua lógica de argumentação.
críticas à estruturação disciplinar dos currículos centram-se em aspectos Outros processos de integração se realizam não por um tema externo,
ligados ao interesse dos alunos, assim como nos limites do próprio conceito mas pelas próprias interseções entre diferentes campos do saber. Por exemplo,
l de conhecimento. a física e a biologia, a física e a quím!ca, a geografia e a física, a história e a
Argumenta-se que a divisão disciplinar do conhecimento escolar é a geografia, a psicologia e a pedagogia partilham espaços comuns que precisam
responsável pela pouca relevância que parece ter aquilo que é ensinado em ser tratados em conjunto. Dessas integrações acabam surgindo no vas disciplinas
nossas escolas. A disciplinarização define as questões que podem ser apresen- acadêmicas na área de interseção entre duas especialidades. Esse processo tem
tadas e equacionadas pela escola, confinando-as dentro de limites que as tornam sido cada dia mais comum, com o surgimento de novas especialidades interá-
pouco representativas. Dessa forma, o conhecimento escolar torna-se incapazf / reas. Nesse caso, a integração é feita pelas próprias disciplinas originais,
~ de ajustar-se às questões práticas e vitais para a sociedade de hoje, tais como '{ normalmente pelo compartilhamento de um mesmo objeto de estudo, criando

52 53
Afinal, que são os temas transversais?
uma nova disciplina que mescla teorias e métodos originários das disciplinas-
mãe. Essa integração foi denominada por Piaget (1979) de interdisciplinaridade,
e define um processo em que se efetiva uma verdadeira intercomunicação Os temas transversais propostos pelo MEC apresentam-se como mais
, • disciplinar. Não se ultrapassa, no entanto, o modelo disciplinar, uma vez que as uma tentativa de articulação entre as diferentes disciplinas que compõem o
interáreas criadas apresentam-se como novas disciplinas, estabelecendo-se
como tal.
Nos modelos até aqui apresentados, a articulação pressupõe a organiza-
currículo, tendo por justificativa a incapacidade dessas mesmas disciplinas de
dar conta da realidade social. A forma de articulação não está bem definida, o
que nos leva a imaginar que dificilmente se efetivará no currículo vivido das
l 1

ção disciplinar do conhecimento escolar. Algumas propostas atuaram de forma diferentes escolas do país.
mais radical no sentido de propor a abolição da estruturação curricular via A base de estruturação do guia curricular do MEC é a disciplina, não a
disciplinas. A experiência mais conseqüente nesse sentido, idealizada por disciplina científic~, mas a disciplina escolar: língua portuguesa, matemática,
Kilpatrick (1918) com base na filosofia de Dewey (1933), ficou conhecida como ciências naturais, história, geografia, arte e educação física. Tomando por base
método de projetos. Ao longo dos anos, a idéia original de Kilpatrick foi sendo a idéia de que as disciplinas escolares não são mero reflexo de áreas de saber
abandonada em sua forma pura, mas inúmeras adaptações surgiram e alguns de definidas pelo conhecimento científico, a primeira pergunta que precisamos
seus princípios permanecem presentes ainda hoje. Os próprios PCN apontam fazer é: que critérios presidiram a definição dessas disciplinas? O documento
para o potencial do ensino por projetos no tratamento dos temas transversais. do MEC não apresenta tais critérios, ou melhor, não encontra motivos para
1
Para Kilpatrick, o método de projeto era, além de um método de trabalho apresentá-los, apenas define a importância das disciplinas na "construção de
didático, uma teoria de desenvolvimento curricular completa, na medida em que instrumentos de compreensão e intervenção na realidade em que vivem os
o currículo se constituía em uma série de projetos. Os projetos eram definidos alunos" (Brasil 1997b, p. 41). A não explicitação dos critérios de seleção das
como atividades potentes realizadas em um ambiente social. A diferença fun- disciplinas aponta uma possível resposta para nossa questão. As disciplinas
damental entre um projeto e qualquer outra atividade encontrava-se no propósito escolhidas são entendidas pelo documento como naturais, tradicionais e, por
da criança de resolver o problema planejado. Assim, a proposta era organizar o isso, não há necessidade de que sejam explicitados critérios de seleção.
currículo por meio de projetos que problematizariam temáticas candentes da Essa resposta nos remete a uma outra questão: como são tratadas essas
sociedade que tivessem interesse para o grupo. Uma vez problematizada uma disciplinas tradicionais? Em cada volume dos PCN, a "orientação técnica da
situação, os alunos buscariam analisá-la, utilizando os conhecimentos de dife- prática pedagógica" (ibidem) nas diferentes áreas é precedida de uma introdução
rentes campos do saber. A proposta de Kilpatrick diferencia-se da articulação em que, entre outros aspectos, são descritos os problemas específicos dessas
multidisciplinar do currículo, porque a lógica que preside o aprendizado no áreas. A disciplina escolar matemática apresenta, em sua evolução histórica,
método de projetos não tem relação necessária com a lógica dos diferentes uma problemática específica, assim como a língua portuguesa, as ciências
campos do saber. Dissolvem-se os princípios de linearidade do conhecimento, naturais, a história, a geografia, as artes e a educação física. Trata-se de /
ou seja, desfaz-se a idéia de pré-requisitos, devendo cada disciplina contribuir disciplinas isoladas com especificidades próprias que não são articuladas no
apenas com o necessário para o equacionamento do problema proposto. documento, a não ser naquilo em que naturalmente se articulam:
A utilização do modelo de KiJpatrick foi bastante significativa, especial-
mente em áreas que envolvem atividades de laboratório. As críticas ao modelo Ao trabalhar conteúdos de ciências naturais, os alunos buscam informações
são, em sua maioria, oriundas da rejeição do autor às disciplinas. Nesse aspecto, em suas pesquisas, registram observações, anotam e quantificam dados.
seu trabalho se afasta até mesmo do pensamento de Dewey, para quem o Portanto, utilizam-se de conhecimentos relacionados à área de língua
portuguesa, à de matemática, além de outras, dependendo do estudo em
currículo devia fundamentar-se na experiência da criança, culminando em questão. (Brasil 1997b, p. 44)
disciplinas organizadas. Os críticos apontam para a natureza fragmentada de um
currículo organizado por projetos e para o perigo de que conclusões gerais
Parece-nos incontestável a opção dos PCN por uma abordagem discipli- ,..
tiradas de um projeto sejam incorretamente generalizadas por falta de uma visão
• mais sintética do conhecimento.
nardo conhecimento escolar. Essa é sua estrutura fundamental , o eixo em tomo

55
54
do qual se desenvolve o desenho curricular. Esse núcleo é, então, atravessado lece o sentido da atividade científica. A próE_ria disci..Q_)ina científica abarcaria,
pelos temas transversais. Esses temas não são disciplinas, eles devem perpassar nessa perspectiva pragmática, o compromisso com a realidade social.
todas as disciplinas em razão de sua importância social. Os PCN estão propondo
Se a disciplinarização científica .!!_ão pode ser entendida como a grande
l
a manutenção da lógica das disciplinas e a introdução de temas transversais de
relevância social. A despeito dessa relevância, os temas transversais serão
responsável pela desarticulação entre conhecimento e realidade social._n_o
âmbito do currículo, essa linearidade é ainda mais questionável. As disciplinas'\.
introduzidos sempre que a lógica disciplinar permitir.
curriculares, como já abordamos, não representam necessariamente campos de
Nesse ponto, emerge uma questão fundamental: para que os temas saber cientificamente estabelecidos. São espaços curriculares criados com crij r
transversais funcionassem como eixo integrador das diferentes áreas do currí- térios específicos, alguns deles reproduzem esses campos de saber cientifica-
culo e deste com a realidade social seria necessária uma articulação entre as mente estabelecidos, outros buscam tematizar questões julgadas relevantes em
áreas e os temas transversais. Ou seja, a seleção e a organização do conheci- um dado momento histórico. Nesse sentido, temas transversais como meio
mento em cada área deveria ter por fundamento os temas transversais, defendi- ambiente, saúde, orientação sexual, embora não correspondam a disciplinas
dos pelo próprio documento como tendo uma importância inegável na formação formalmente estabelecidas pela comunidade científica, poderiam constituir
dos jovens. No entanto, os documentos das áreas buscam os critérios de seleção disciplinas escolares nas quais se garantiria o enfoque científico multidiscipli-
e organização de seus conteúdos nas próprias áreas, em uma suposta lógica nar. Essa opção não seria uma novidade, na medida em que existem inúmeras
interna das disciplinas. Os temas transversais devem ser posteriormente encai- disciplinas escolares desse tipo. A própria concepção da área de ciências!
xados nos espaços curriculares disciplinares em que se adaptam. Parte desse naturais reflete uma aglutinação de ciências que buscam refletir sobre a reali-
encaixe é apresentada pelo documento, a outra parte é deixada para o professor. dade natural.
l O que estamos argumentando é que os PCN não embutem, em sua lógica, Essa constatação nos obriga a buscar entender por que os critérios de
\ a centralidade que afirmam ter os temas transversais. Retomemos nossa questão relevância social do conhecimento estão ausentes da estruturação disciplinar
inicial: se os temas transversais expressam as temáticas relevantes para a dos PCN. Vimos defendendo até aqui que os temas transversais, apresentados
formação do aluno, por que não são eles os princípios estruturadores do como fundamentais para a atuação crítica do aluno na sociedade, são, na
currículo? Por que não fazer deles o núcleo central da estruturação curricular e realidade, postos em um patamar de importância inferior ao das disciplinas na
inserir "transversalmente" as diferentes áreas do conhecimento? organização do guia curricular. Defendemos, ainda, que fazer das disciplinas \
Não é possível responder a essas questões, mas julgamos fundamental escolares tradicionais o centro do currículo não é uma exigência do desenvol- !{
problematizá-las. Dois pontos emergem desses questionamentos: o primeiro diz vimento científico, mas uma opção por um determinado desenho curricular.
respeito ao caráter multidisciplinar da maioria dos temas transversais; o segundo Que desenho curricular é esse? Um desenho que privilegia o conheci-
aponta para o caráter seletivo dos currículos escolares. mento formalmente estabelecido em detrimento da ~licação social desse
Ao justificar a necessidade da abordagem transversal de algumas temá- mesmo conhecimento, a despeito da ênfase propalada nos temas transversais.
ticas, os PCN definem que é fundamental "contemplar as temáticas sociais em Os trabalhos de Goodson sobre as disciplinas escolares ajudam-nos a entender
sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área" (ibidem, que o hiato entre o discurso que justifica os temas transversais nos PCN e a
p. 42). A idéia de restrição supostamente imposta à abordagem de uma temática estruturação formal do currículo em disciplinas acadêmicas não se dá por acaso "-
social por uma área disciplinar não é específica da discussão curricular. Susten- ou pelas dificuldades mesmas da integração disciplinar do currículo. Ele faz/ , /
tamos que tal idéia se assenta em um conceito restritivo de ciência. Na perspec- garte de um processo de d ivisão social do conhecimento, no qual a ênfase no /{
tiva pragmática defendida por Santos (1989), que assumimos neste texto, o conhecimento formalmente organizado funciona como um poderoso instrumen-
conhecimento científico é parte integrante de uma prática intersubjetiva que to de diferenciação social. Nesse sentido, a inserção dos temas ttansversais nos
"tem a eficácia específica de se ajustar teoricamente e sociologicamente pelas PCN não altera a natureza seletiva da escola.
conseqüências que produz na comunidade científica e na sociedade em geral"
(p. 148). Portanto, ainda que no enfoque disciplinar, o compromisso da ciência
~ recortada em cada disciplina deve ser com a J?rática social concreta que estabe-

56 57
Referências bibliográficas

ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. (1983). A dialética do esclarecimento. Rio de


Janeiro: Zahar.

BRASIL. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL (1997a). Parâmetros


Curriculares Nacionais: Apresentação dos temas transversais, ética. Brasília:
MEC/SEF.

____ (1997b). Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos Parâmetros


Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF.
DEWEY, J. (1933). How we think. Lexington: D.C. Heath & Company.

GOODSON, I. (1993). School subjecrs and the curriculum change. Londres: The Falmer
Press. 4
PLURALISMO CULTURAL EM POLÍTICAS
KlLPATRICK, W.H. (1918). The project method. Nova York: Teachers College.
DE CURRÍCULO NACIONAL'
PIAGET, J. ( 1979). "Laepistemología de las relaciones interdisciplinares". ln: APOSTEL,
L.; BERGER, G.; BRIGGS, A. e MICHAUD, G. (orgs.). lnterdisciplinaridad:
Proble1nas de la ensenanza y de la investigación en las universidades. México:
Asociación Nacional de Universidades e Institutos de Ensenanza Superior.
Alice Ribeiro Casimiro Lopes
SANTOMÉ, J.T. (1998). Globalização e interdisciplinaridade: O currículo integrado.
Porto Alegre: Artes Médicas.

SANTOS, B.S. (1989). Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro: Graal. Apresentação do problema

WALLERSTEIN, I. (1990). "Análisis de los sistemas mundiales". ln: GIDDENS, A. e


TUNER, J. (orgs.). La teoría social hoy. Madri: Alianza. O discurso em defesa do pluralismo cultural, do multiculturalismo/inter-
culturalismo ou, ainda, da diversidade cultural vem sendo reiteradamente in-
cluído em documentos referentes a políticas de currículo nacional de diferentes
países. Aparentemente, isso acontece de forma contraditória com o objetivo
dessas políticas de organizar padrões/parâmetros curriculares/conteúdos bási-
cos comuns e estratégias de avaliação centralizada nos resultados das escolas. 2

l. Uma primeira versão deste trabalho, analisando o tema transversal pluralismo cultural na
segunda versão dos PCN, foi apresentada no GT de Currículo, na XX Reunião Anual da
ANPEd, em Caxambu, em setembro de 1997, com o título "Pluralismo cultural e políticas de
currículo nacional". Uma versão sintética das idéias deste artigo também foi publicada em
Lopes (1997).
2. Como afirma Silva (Moreira e Silva 1995), a "nova" direita, triunfante em tantos países, coloca

59
58

Você também pode gostar