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O JUIZ COMO UM TERCEIRO MANIPULADO NO PROCESSO PENAL? UMA CONFIRMACAO EMPIRICA DOS EFEITOS PERSEVERANCA E ALIANGA'? LINTRODUCGAO, O conceito de direito da etnologia juridica, de modo francamente diverso do conceito proposto por Max Weber,’ faz referencia ao uso de regras na comunicagao piblica. Haver direito, assim, onde houver uma disputa entre duas partes litigantes, que ocorre publicamente em um grupo ou uma tribo, disputa essa que, em sociedades acéfalas, serd organizada e moderada por um terceiro.* Até mesmo esse papel jé significa que existe um «terceiro mais pode- roso» (Ubermiichtiger Dritter), e, em sociedades constitufdas na forma de um estado, &s quais se aplica 0 conceito de direito de Max Weber, o poder desse terceiro sera ampliado para compreender a decisio oficial e, se necessario, ‘mesmo coervitiva, da disputa. Segundo as convicgGes de justica das sociedades Tad. Luts Greco. * Versio revista © ampliada do relatério de minha pesquisa in: BreksRaveR/GOTTWALD/ BrnaReiEn-SrantsenaeR (coords.), Verfahrensgerechtigheit ~ Rechtspsychologische Forsch ungsbeitrige fr die Justizoraxs, Dr. Otto Schmidt KG, Koln, p. 215 ess 2M, Wenex, Wirtschaft und Gesellschaft, 5. ed., 1980, 1 parte, i.* capitulo, § 6; = (1D=M,) Rechtssoziologie, 2. ed., 1967, p. 71 e passim, * Hourwick-Matizen, Der ibermaichige Dritte, 1985, passim; sobre aimportincia disso para ‘ problema da punicdo dos crimes do nacional-socialismo e da Repablica Democritica Alema, cf-Scuowzaans, in: Pawrowsk/RoELiecke (coords ), Der Universalititsanspruch des demokra- tischen Rechtsstaates, ARSP-Beiheft 65, 1996, p. 97 e ss. (112 ss.); sobre mais concepgies fundadas em Weber, cf. Wesex, Frlhformen des Rechts in vorstatichen Gesellschaft, 1985, p 67 €84.326. 1 aut = PO 206 BernpscHonemann — fis modernas, € um pressuposto indispensdvel para a legitimagao desse papel que //. © terceiro mais poderoso seja estranho & disputa, isto é, estritamente neutro + » tement € imparcial. Isso é em regra amplamente garantido pelo direito positivo, por papéis, exemplo pela instituigdo do juiz. natural (art. 101 da Lei Fundamental), pela asua fo incompatibilidade entre o papel de parte € o papel de juiz.¢ pela possibilidade simples de recusar um juiz. pela suspeigdo (§§ 41 e ss. ZPO; §§ 22 e ss. StPO). E a decis ccurioso que, na Europa continental, seja justamente na justica criminal, que éncia e impoe as mais brutais de todas as sangOes, e que antigamente era denominada, que neg com uma expresso menos eufemistica, de «jurisdigao do pescogo» (Hals- é gerichtsbarkeit), que se tenha podido por muito tempo ignorar essa ideia do juiz. como um terceiro imparcial, e que até no direito moderno ela s6 esteja Tealizada de uma maneira um tanto estranha, em parte mutilada, em parte s6 sivame; aparente. Afinal, no chamado proceso inquisitério, que vigorou na Alemanha contém até 0 séc. XIX, 0 juiz se identificava com o inquisidor.’ O entdo introduzido Enquan proceso penal reformado® atribuiu, de um lado, a conducao da investigagio recondi ao recém-criado promotor de justica, que assumiu o papel de acusador,” me esf ‘mas, justamente no que diz respeito & audiéncia de instrugdo e julgamento, soriame que € 0 centro decis6rio do processo penal, nada mudou em comparagio & cogniti €poca do antigo processo inquisitério. Segundo 0 Cédigo de Processo Penal sottais, alemio atualmente vigente, a acusacio retira do promotor e transfere ao juiz reprodt ‘© dominio sobre 0 proceso, que recebe em suas mios a totalidade dos autos relatar da investigagao preliminar, com base nos quais teré de decidir se ha suspeita simulay suficiente/justa causa contra 0 acusado, ou seja, se hé uma alta probabilidade da inte de condenagio.' Se for esse 0 caso, o juiz proferiré decisto de recebimento saber, 1 da deniincia (§ 203 StPO) ¢ realizar4, entdo, a audiéncia de instrugao € julga- origina mento, o que é feito da seguinte maneira: ele produzird oralmente as provas presentes nos autos da investigagao, cuidard de que elas sejam completadas (§ 244 TI StPOY’ e, em seguida, proferiré a sentenga definitiva. O promotor e 0 °° Expo acusado, junto com o seu defensor técnico, contribuem nessas atividades, mas der de: eles possuem uma fungao apenas supletiva, que nfo coloca xeque & fungi 1971, p inquisitorial de dominio de um juiz que tanto dirige a coleta de provas, quanto (izes decide em cardter final. bites Scat 2 sae logical p.stle * Es, Scimaor, Einfhrung in die Geschichte der deutschen Strafrechspflege, 3. ed, 1965, "NT. P. 70... 187 esse também em NIW 69, p. 1137 es; ROX, Strafverfahrensrecht, 35. ed, do ing: 1998, p. 525. © Sev © Roxmy, Strafverfahrensrect...p. S28; Acuennack, OLG Oldenburg-Festschrift, 1989, p. cemtstehu ess. zur Reck Roxin, DRIZ 1997, p.114 ess; Wontens, Enstehung und Funktion der Staatsanwaltschaft, (coords. 1994. Baxout ¥ (NT) CE aIntrodugéo, TV. 2.) ce) (1). 1988, * (NT) Trat-se do dispostivo que prevé o dever do juzo de apurar os fatos por iniciativa as propria, cf. a Introduglo, II 3 (inclusive com tradugio do teor literal do dispositivo). fimbito ais jae vont sse papel que /J mente neutro + 2 positive, por mental), pela possibilidade ss. StPO). E criminal, que denominada, coco» (Hals- essa ideia do cla 36 esteja em parte 6 na Alemanha 0 introduzido investigacao de acusador,” 2 julgamento, somparagdo & rocesso Penal asfere a0 juiz ade dos autos se ha suspeita probabilidade + recebimento ‘Fugdo e julga- ite as provas ompletadas (§ promotor e 0 ividades, mas aque & fungdo vrovas, quanto ge, 3. ed, 1965, ensrecht, 25.04, aschrifi, 1989, p. satsanwaltschaft, {tos por iniciativa >sitivo). PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 207 Tanto a ciéncia processual quanto os advogados criminalistas frequen- temente relevam que essa cumulagdo de papéis acaba gerando um confit de papéis,"° 0 que, contudo, os juizes veemer ite desmentem, reportando-se 4 sua formacao profissional, comprometida com a objetividade. Dito de modo simples, tatasede saber se juz porseu.conheciienia dos avs; Por Dn a decisaio de recebimento da dentincia, por sua atividade inquisitéria na audi- éncia e por ocupar, de facto, a posigao de parte contréria diante do acusado que nega os fatos, ita esta impedido de realizar uma avaliagao imparcial, isto 6, de processar as informagoes de Forma adequada, ou se, pelo COnEFATTO, esse juiz nao acaba preso & rota tracada nos autos da investigagdo preliminar, os {quais foram construfdos em regra de modo unilateral, porque quase que exclu- sivamente pela policia, com pouquissima influéncia da defesa,!' e que por isso contém uma imagem dos fatos que reflete a perspectiva e 0 enfoque da policia. Enquanto, nos anos 70, eu tentei demonstrar a plausibilidade dessa hip6tese, reconduzindo-a a um modelo da teoria da informagio,” na década de 80" eu me esforcei em reformular essa hipstese do pré-julgamento,'* como, provi- soriamente, quero denomind-la, com base na chamada Teoria da dissonancia cognitiva, ¢ em testé-la por meio de uma série de expefiencias de ciéncias is, nas quais as circunsténcias do processo penal alemao deveriam ser reproduzidas tio fidedignamente quanto possivel.'* No que se segue, pretendo relatar sobre a mais extensa dessas experiéncias, que trabalhava com uma simulagio informatizada da audiéncia de instrugao ¢ julgamento, e, no ambito da interpretacio de seus resultados, discutir investigagbes complementares, a saber, uma ulterior experiéncia e uma andlise de documentos (exame de autos originais de processos criminais).'* © Exposigio detalhada dessa discusslo, & travada no séc. XIX em Hexnmann, Die Reform der deutschen Hauptverhandlung nach dem Vorbild des anglo-amerikanischen Strafverfahren, 1971, p-55.€ 8. 75 © s8. 361 e ss.; mais referéncias em Scuonemasn, GA 1978, p. 161 ss. (162 e's); Rox, Strafverfahrensrecht..., p- 354; Sessar, ZStW 92, 1980, p. 698 e ss. (701 € ss), "©" Barron, Mindestandards der Strafverteidigung, 1994; bem, StV 1984, p. 394 e ss. "2 Scuweaann, GA 1978, p. 161 € ss. ° Estimulad, entre outros, pelo trabalho de Tamsaut/WaLxen, Procedural Justice: A Psycho logical Analysis, 1975; Tupavt/WaLKeR, A Theory of Procedure, California Law Review 1978, p. 541 e-.; Halscu, Archiv fr Psychologie 1977, p. 161 es. F(N-T.) No original, Vorurteilshypothese, O termo alemdo Vorurteil, assim como o prejudice, do inglés, tem também o significado de pré-juizo, pré-julgamento. °S ScxGNEMANN, in: Keesen/KuRy/SESSAR (Coords.), Deutsche Forschungen zur Kriminaitats- cenistehung und Kriminalitatskontrolle, 1983, p. 1109 e ss; 1bem, in: Las (coord,), Beitrége ‘ur Rechisanthropologie, ARSP-Beiheft22, 1985, p. 68 e $8. eM, in: Kalsex/KURY/ALBRECIT Gcoords.), Kriminologische Forschung in den 80er Jahren, 1988, p. 265 e ss.; SCHONEMANN! Banovtia, in: Wecenes/Lose1/Haiscn (coords), Criminal Behavior and the Justice System, 1989. p. 181 ess. Scutematey, Zetschrif fr Sozialpsychologie 17 (1986), p. 50 es. AS investigagées foram financiadas pela «Deutsche Forschungsgemeinschaft» no Ambito «Empirische Sanktionsforschung - Genese und Wirkung von Sanktionsnormen 208 BERND SCHUNEMANN Il. AEXPERIENCIA INFORMATIZADA SOBRE A AUDIENCIA DE INSTRUGAO E JULGAMENTO: HIPOTESES E PLANO DE INVESTIGAGAO. 1. Hipéteses {ot 0 juiz alemao diferencia-se, por exemplo, do jéri norte-americano por i {seu conhecimento dos autos da investigacio preliminar e por seu papel inqui- 4u¥ stro, isto, de busca ativa de informagdes no curso da audiéncia.” Segundo ‘a teoria da dissondncia cognitiva, formulada por Festinger, na versao de Irle,"* {oda pessoa procura um equillprioem seu sistema cognitivo istoé, uma relagio nao contraditéria entre seu conhecimento € suas opinides. No caso de uma dissondncia cognitiva, surge para 0 sujeito um motivo no sentido no sentido de reduzi-la e de restaurar a consonancia, isto é, de fazer desaparecer as contra- digdes Disso decorrem, principalmente, dois efeitos: por um lado, segundo © chamado efeito_inércia ou perseveranga (mecanismo de auto-confirmagao de hipoteses),"® as informagées que Confirmam uma hipétese que, em algum momento anterior fora considerada correta, so sistematicamente superesti- madas, enquanto as informagSes contrérias so sistematicamente menospre- zadas. Por outro lado, segundo o principio da busca seletiva de informacées, procugam-se, predominantemente, informagdes que confirmam a hipétese que, em algum momento prévio, fora aceita («a Tora aceita («acolhida pelo ego»), tratem-se elas de informagées Consoantes, ou de informagdes dissonantes, desde que, contudo, sejam facilmente refutdveis, de modo que elas acabem tendo um efeito igualmente confirmador.” Aplicando essas consideragdes & posigdo e & fungao do juiz alemio na audiéncia de instrugao ¢ julgamento: uma vez que a leitura dos autos faz surgir no juiz uma imagem do fato, € de se supor que, tendanclalente, 9 jiz 2 ela se apegara de modo que ele tentaré confirmé- la na audiéncia, isto €, tendencialmente devera superestimar as informagdes ® ‘consoantes e menosprezar as informagGes dissonantes. Daf podem ser dedu- zidas as seguintes hipéteses: lund Sanktionen» e operacionalizada por Wolfgang Bandilla (doutorado) e por Volker Gro8 (formado em psicologia), a quem aqui sinceramente agradego. 7” Henamat, Die Reform... p. 389 € ss, 397 e ss; Rox, Sirafverfahrensrecht....p. 94 €. ' Fesrioen, A Theory of Cognitive Dissonance, 1957; eM, Theorie der kognitiven Dissonanz, 1978; Frey, in: Frey (coord.), Kognitive Theorien der Sozialpsychologie, 1978, p. 243 © 88: Inte, Kursus der Sozialpsychologie, Tomo Il, 1978, p. 304e ss; Inus/Montwann, in: Festinger (coord), Theorie der kognitiven Dissonanz, 1978, p. 274 ¢s, Sobre isto, em pioneira experiéncia de laborat6rio, Kozieecn, International Congress of Psychology, Moskau, Symposium 25, 1966; para 0 processo penal: ScHONEMAN, in: Keven KuayiSessar.. p. 1131 ess 2 Faey/Gaska in: FRev/laie (coords), Theorien der Sozialpsychologie, Tomo 1, Kognitive Theorien, 2.ed., 1993, p. 295s. H1-Se autos, eles cor mento. Esse € prova H2-Ex mais erros no que no caso en H3-A cimento dos at sujeitos da pro H4-Bxi mais pergunta conhecimento. As duas fato retirada d ‘Ges que estio terceira hipéte de informag elevada por im cuida da mais fato j4 existent que, devido & mais intensa & samento das in 2. Design da f Para testa como varidvei tente) © 05 «d testemunhas: de estimulo fo crime de libert de um process: erro técnico, t receberam, po preliminar, en tador, e — 0 qu 0 participante informagies. t 2 Apontei para core de forma it ‘olker Gro8 ~p-94 es. "Dissonanz. 2.243 e ss. 1: Festinger Congress of in: Keres! 1, Kognitive PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL 209 111 ~Se 0s juizes penais, antes da audiéncia,tiverem connecime™y dos autos, eles condenardo com maior frequéncia que juizes so Ose conheci ant. Esse efeito & reforgado pela possiilidade de inguirr oS sujeitos da prova. 12 Existindo conhecimento dos autos, seréo cometidos ma audiéncia ais erros no armazenamento das informagoes ave contradizem os autos do {que no caso em que inexista esse conhecimento. WL} A menor quantidade de erros no caso de inexisténcia de conhe- cimento dos autos serd ainda menor se o juiz puder inquiit pessoalmente os sujeitos da prova. T14_ Existindo conhecimento dos autos, sero formuladas ne audiéncia ais perguntas aos sujitos da prova do que no caso em due inexista esse conhecimento. “As das primeiras hipéteses tratam, assim, da persisténcit ‘da imagem do fato etirada dos autos e da maior apercepglo e armazenarnen’s das informa- Bes que estdo de acordo com essa imagem isto & a0 sho redundantes." A sella hipétese, por sua vez, parte da melhor apercepgao © armazenamento tle informagies, que decorteria da circunstancia de que & atengio do juiz seria tlevada por inquirir ele pessoalmente os sujeitos de proce ‘A quarta hipotese cya da mais intensiva busca de informagdes que confirman imagem do fato jéexistente. Em conjunto com a segunda hipatese a dda suposigao de que, devido & sua unilateralidade, a busca de informagGes quantitativamente an Geensa de modo algum traz consigo uma melhora qualitativa no proces- samento das informagoes, 2. Design da pesquisa ara testr essas hipSteses, optou-se por estruturar a experiencia tomando como varidveis independentes 0 «conhecimento dos autos (existente/inexis- fonts) ¢ os direitos de inquirigfo na audiencia» (possibilidade de inquirir tee) Saas: simv/nao), que foram alterados sistematicamente. ‘material lde estimulo foi desenvolvido com base em um process ‘criminal real pelo ae eaeide livertagao de preso (Gefangenenbefreiung, § 120 SIGB): watavre dle um processo que estava absolutamente em aberto, no qual era possivel, sem ce omvenico, tanto absolver, quanto condenar. Os participantes da pesquic® cergberam, por escrito, uma versio concentrada dos autos da investigagao preliminar, enquanto a ata da audiéncia foi apresentada na tela do compu- vigor, eo que é de todo decisivo para a comparagao dos resultados = todos 1s participantes da pesquisa tiveram o idéntico acesso 20 contetido total das fnformagdes. Unicamente a forma de apresentagao foi variada, a depender 2 ponte para esta preferéacia plas infomagSes edundantes em GS 1978. P 10ess. Ela scone fe forma independente do efeito inércia, que por ela éfortalecdo, BERND SCHUNEMANN 210 idade de inquirir as testemunhas. 4, Resultad de se 0 participante tinha ou nao a possi Onde existia essa possibilidade, foi primeiramente apresentado o depoimento da testemunha, o chamado relato, € © participante tinha a possibilidade de A prin formular perguntas & testemunha, que também respondia na propria tela, pois iar, concre o condutor da experiéncia produzia a resposta com base no pool de perguntas do conhecir ¢ respostas armazenadas no computador. Quando o pasticipante conclufa sua sentengas « inquirigdo, todas as perguntas nao formuladas e respondidas ainda presentes nesse pool eram apresentadas na tela como depoimentos testemunhais de Outros envolvidos no processo. Enquanto isso, aos participantes que no tinham possibilidade de formular perguntas apresentava-se desde 0 inicio dessa forma todo o pool de perguntas ¢ respostas. Com isso, assegurava-se {que todos 0s participantes na pesquisa tivessem uma base de avaliagao de Conteiido idéntico, de modo que sentenas discrepantes nao pudessem mais As a ser explicadas por diferengas na base fética, mas apenas pelo diferente papel audinen dos participantes. A estrutura da experiéncia diferia de uma real audiéncia de ‘Apenas adi instrugdo e julgamento unicamente pelo fato de que a oralidade fora substi- jelgamenio tufda pelo cardter escrito. Ainda assim, no desenrolar concreto da experiéncia, [Ar abeotvigi observou-se que a finalidade da simulagao fora alcangada de modo ideal, pois a 6 participantes comunicavam-se com total naturalidade com as testemunhas Pode- da tela do computador, chegando mesmo a ter ataques de raiva diante de condenarat respostas demasiado renitentes. comportar Durante a execugao da experiéncia, registrou-se o niimero de perguntas vezes. Ess formuladas pelos participantes 2s testemunhas. Ao final da audiéncia de a experién instrugio e julgamento, devia ser proferida uma sentenca, que devia também munhas». ser fundamentada. Em seguida, testava-se, por uma série de perguntas deter- do autos © ‘minadas, com que preciso os participantes haviam apreendido e armazenado juizes sem ‘© contetido da audiéncia de instrugio e julgamento, que, segur em um nf outros rest . ea ainda ‘Como participantes atuaram 58 juizes criminais e promotores de diversas de inguit regides da Alemanha Federal, que foram, com base em um critério aleat6rio, cimento submetidos as diferentes condigdes da experiéncia. A estrutura da experiéncia eva o jus pode ser visualizada nas tabelas abaixo. que suger Otes este efetc cimento ¢ —— 3. Participantes da experiéncia ‘Tabela 1: Distribuigdo dos jufzes criminais e promotores ‘Enisténcia da possbilidede | Inexsténcia da possibiidade de inquirir testemunhas | de inquirir testemunhas ipesiponsininte Tie it 6pomtee) | Osi Some) = gc audignea de instru jlgamento ‘pens aca dinero e gos satin sno 119.16 pomtos)_ | 17 ie Spm) vento doe as testemunhas. Jo 0 depoimento possibilidade de or6pria tela, pois ‘ool de perguntas inte conelufa sua + ainda presentes testemunhais de ipantes que néo desde 0 inicio 6, assegurava-se de avaliagdo de » pudessem mais 0 diferente papel real audiéneia de Jade fora substi- oda experiéncia, modo ideal, pois a.as testemunhas raiva diante de ero de perguntas da audiéncia de ae devia também perguntas deter- doe armazenado nores de diversas xtitério aleatério, rada experiéncia &s 5 promotres) es 6 promoteres) PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 21 4, Resultados da pesquisa A primeira hipétese sobre 0 comportamento do juiz criminal ao senten- ciar, concretamente, sobre a perseveranga do juizo provis6rio de culpa surgido do conhecimento dos autos foi testada por meio de uma comparagao entre as sentengas «absolvigao ou condenago». O resultado encontra-se na tabela 2. Tabela 2: Sentengas proferidas Esténcia da posibtidade | Inexisténcia da possbildade ‘ie inguiri testemunhas | de inquiri testemunhas Toes | Promorores | Jotaes | Promovores ‘Autos da investigago preliminar © so) 20 90) re) ‘nudiéncia de instrugaoe julgamento | (a) +0 ow aw _| ‘Apenas audiéncia de insrugioe 30 ro) 30 1 julgamento er) 5) 20a) 51a) ‘Rr absovigio; C:condenagio Pode-se ver que todos 0s 17 jufzes que conheciam os autos também condenaram, enquanto os juizes que nao estavam dotados desse conhecimento comportaram-se de modo ambivalente, condenando oito ¢ absolvendo dez vezes. Essa diferenga alcanga 0 nivel de significancia mais elevado quando ‘a experiéncia é realizada sob a condigao da « reduziu consi- + comretas contra 90 de juizes que Jade de inguirir \6dia de 9,25 das ‘memorizagao. quantidade de 4a experiéncia e 0s reproduzidos weles que conde- ‘enor parte pelos eeste subgrupo, poomaior nivel zperguntas teve aquantidade de le informagdes sco da hipotese agies. isténcia ou PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 213 II INVESTIGAGOES SOBRE 0 EFEITO ALIANCA” Antes que se passe & avaliagdo dos resultados, relatem-se, de forma bem sucinta, as conclusdes de duas outras investigagdes empfricas, que foram realizadas para testar e aperfeicoar a experiéncia principal. 1. A experiéncia: «dentincia versus decisio de recebimento da denincia» A atitude pouco critica especialmente dos jufzes em face do contetido dos autos da investigac4o preliminar, que ficou evidenciada nos resultados acima relatados, levou a suposigo de que os jutzes na audiéncia de instrugio ¢ julgamento simplesmente confiam em que o promotor jé examinara os resul- tados da investigacdo preliminar e os considerara suficientes para provar a culpa do acusado. Segundo a teoria dos processos de comparagao social," 0 comporta- mento do juiz pode ser explicado também simplesmente pelo fato de que, diante de uma situagao obscura, ele se orienta segundo uma prévia avaliagio oriunda de uma pessoa por ele aceita como competente. Para testar esta hip6- tese, tomamos autos originais de uma investigacao pelo crime de estelionato (§ 263 StGB), cujo contetido era, mais uma vez, ambivalente, isto é, poderia, sem erro técnico, fundamentar tanto 0 oferecimento € 0 recebimento da dentincia, quanto a sua nao oferta e 0 seu nao recebimento. Os autos foram, entio, apresentados aos participantes da experiéncia, promotores ¢ jufzes criminais. Metade deles tinha de decidir sobre 0 oferecimento da deniincia, a outra metade, que recebia também uma dentincia jé oferecida pelo minis- tério puiblico, tinha de decidir sobre o recebimento da dentincia. Ambas as decisdes tém, segundo a lei, de ser tomadas com base no mesmo critério: a probabilidade da futura sentenga condenat6ria.** E verdade que muitos que militam na pratica relatam que a decisio de recebimento da dentincia é tomada como uma mera questo de rotina;* com o contetido dos autos da investigagao preliminar utilizado no teste, mostrava-se com clareza aos participantes que jé a mera instauragdo do processo criminal importaria consequéncias extrema- 2 (NT) O termo original & «Schulterschlusseffeko». Schulterschluss, etimologicamente, significa jungdo de ombros; a origem do termo sugere, assim, algo como andar lado a lado, marchar. Na linguagem cotidiana, contudo, essa sugestio jé ndo ests mais presente, ¢ usa-se 0 termo Schulterschluss para designar o ato de jungio, coalisto, unigo. Optei, assim, pelo temo alianga. 2 Hiascw Frey, in: Frey (coord), Kognitive Theorien der Sozialpsychologie, 1978, p.75.€ 88; Stmotne, in: Frev/Gnusr (coords.)Sozialpsychologie, 4.ed., 1997, p. 330 ess. % Mower, KK StPO, 4.ed,, 1999, § 203 nm. 2; Kieinkvscir/MeveR-Gosner, StPO, 44, €d.,§ 170m. L ® Haut, in: HasodLonnencer (coords.), Beck'sches Formularbuch fr den Strafverteidiger, 3.ed., 1998, p.245; Wouter, SK StPO, vor §151 nm. 60s. 214 BERND SCHUNEMANN mente prejudiciais para 0 indiciado, de modo que essa decisto nao poderia ser tomada como algo rotineiro. Como nem todos os participantes do teste conseguiram realizar a tarefa esperada, uma vez que ela era extremamente trabalhosa, as células da tabela no puderam ser preenchidas com total uniformidade. Em razio do grande nimero de participantes, isso no foi, contudo, de maior relevancia, A distri- buigdo de células deriva da parte 1 da tabela 4. Como demonstra a parte 2 da tabela 4, os participantes do primeiro grupo negaram-se, por maioria de dois, tergos, a oferecer a dentincia, enquanto os participantes do segundo grupo, que tinham diante de si uma dentincia ja oferecida, decidiram-se, em grande maioria, por recebé-la. AA diferenga € significante e confirma a hipétese de que, ainda que idén- tica a base de informagdes, a mera orientagao segundo o jufzo de uma pessoa tida como competente, isto , segundo a existéncia de uma dentincia jé ofere- cida pelo promotor, ja leva a uma avaliagdo da «usta causa» negativa para 0 acusado. Tabela 4 Parte 1 | Decisio sobre oofeecimento da denincia | Devito sobre o recebimento da dendncie Sim io Sim Nao Promotores 6 19 20 7 Jules Criminals 13 18 I 2 1® Tneistncia de conbecimento de | Exisincia de conhecimento de Parte2 avaliagoprévia(deisto sobre 0 | uma avaliago préva (decisio ofereciment da denincia) | sobre orecebimento da denéncia) Deeisio: Justa eau 9 a sk: acide y s Observacio: oh 5.89; p15 Por fim, a tabela 5, que confronta os dados da célula superior esquerda e da célula inferior direita da tabela 4, parte 1, demonstra que as regras de avaliagdo seguidas por promotores ao oferecer a dentincia e por juizes crimi nais ao recebé-la so de todo diversas: enquanto os promotores de justica, por 19 a 6, foram predominantemente contra a dentincia, os juizes, no caso de dentincia jé oferecida, decidiram por 23 a 18 em favor do recebimento da deniincia, o que configura uma diferenca de alta significancia (p = 01). de modo diverso: quando 0 promotor, numa situagao ambivalente, toma uma decisdo duvidosa, o juiz.em regra ndo a corrige, mas Ihe da seguimento, Tes Ceiminais Observagto: ci? 2. A andlise Acexplic de comparac explicagio d criminals poe parte € pass aque também dominante ¢ juiz” IV. INTERF 1. Con gostaria, em efeito perse juiz tend pelos autos: inicial so mas frequet psicologia ¢ de informa, cialmente n juiz, se eles isso, de aw juiz se orie deserito po cado pela t Nios da dentine de recebim Quanto a Toes, ais cera ‘fo poderia ser vealizar a tarefa SJulas da tabela io do grande ancia, A distri- tra a parte 2 da maioria de dois segundo grupo, se, em grande ainda que idén- »de uma pessoa iincia ja ofere- negativa para 0 Jmento da denincia Nio 7 8 {conhecimento de So pevia (cist ‘mento da denincia) a 35 aperior esquerda que as regras de por juizes erimi- sores de justica, s juizes, no caso »recebimento da a(p = 01). Dito alente, toma uma eguimento. PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 215 Tabela 5 “usta causa sim ‘usta causa: no Promotes 6 9 Tulaes Criminals 2 [ 18 Observagio: ei? = 649; p<.001 ‘A anilise de autos sobre dosimetria da pena ‘Acexplicagao do comportamento do juiz. por meio da teoria dos processos de comparagio social se corrobora também em outro contexto, a saber: na explicagao da pena aplicada. A partir de uma andlise de autos de processos criminais péde-se verificar que a variago na pena aplicada pelo juiz em grande parte 6 passivel de explicagio pelo requerimento feito pelo promotor, de modo que também nesse mbito o comportamento do promotor tem uma influéncia dominante enquanto fator de orientago para 0 comportamento decisério do juiz” IV. INTERPRETAGAO DOS RESULTADOS 1. Como finalmente passo & avaliagdo das conclusdes das experiéncias, gostaria, em primeiro lugar, de afirmar que pudemos verificar quatro efeitos: 0 efeito perseveranca, 0 efeito redundancia, 0 efeito atencao ¢ 0 efeito alianca. ( juiz tendencialmente apega-se 2 imagem do fato que Ihe foi transmitida pelos autos da investigago preliminar; informagées dissonantes desta imagem inicial so no apenas menosprezadas, como diria a teoria da dissondncia, mas frequentemente sequer percebidas, 0 que pode ser explicado, segundo a psicologia da informagao, pela preferéncia de apercepcao e armazenamento de informagdes redundantes (ja conhecidas).® Isso traz. consequéncias espe- cialmente negativas sobre os resultados do processamento de informacao pelo juiz, se ele nao tiver possibilidade de formular pessoalmente perguntas e, com isso, de aumentar sua propria atengdo. Por tiltimo, pode-se verificar que o juiz se orienta segundo a avaliacio realizada pelo promotor, 0 que pode ser descrito por aquilo que quero chamar de efeito alianga, ¢ que pode ser expli- cado pela teoria dos processos de comparagio social Nao se objete que os juizes nao levam a sério a fase entre o oferecimento da dendincia e a instaurago da audiéncia (Zwischenverfahren) e que a decisio de recebimento da dentincia € tomada de forma rotineira. Afinal, depois que 0 2 Quanto a isso, aprofundadamente, ScHONEMANN, in: KaIseR/KURY/ALDRECIT.. P. 267, 271, 276es. 5 Mais deualhes em Scwowewavn, GA 1978, p. 171 216 BERND SCHUNEMANN percentual de absolvigdes caiu para menos de 4%.” parece evidente que no se pode questionar o efeito que deriva do conhecimento dos autos nessa fase intermediéria. 2. Esses resultados significam uma impressionante confirmagao, pela primeira vez realizada com os métodos experimentais das ciéncias sociais € com alto nfvel de significdncia, das experiéncias do cotidiano forense: 0 efeito perseveranga, 0 efeito redundancia e o efeito atengao refietem completamente ‘minha prépria experiéncia no processo penal a numerosos relatos aned6ticos que circulam entre os que militam na justica criminal. Faz parte do dia a dia do advogado criminalista que o resultado da audiéncia apresente consideravel divergéncia em comparagdo com 0 contetido dos autos da investigagdo preli- minar, uma vez que esse contetido € construido a partir da perspectiva da policia e no é em momento algum submetido a um questionamento critico, devido a inferioridade da defesa na fase da investigagao preliminar;” que, diante disso, 0 advogado se acredite, de sua perspectiva, capaz de prever fracasso da dentincia, ao passo que no juiz ndo surge uma diivida sequer; que, com isso, 0 principio in dubio pro reo seja na audiéncia posto faticamente de ponta-cabega, porque o advogado se vé incumbido de provar a incorrecao da deniincia, caso ele realmente queira conseguir uma absolvigao. Além do mais, faz parte das experiéncias do cotidiano forense que juiz e advogado vivenciem de modo completamente diverso 0 contetido dos depoimentos testemunhais e, posteriormente, os reproduzam também diversamente, 0 juiz de uma perspectiva incriminadora, 0 advogado, de uma perspectiva de defesa E, por fim, observa-se no dia a dia como a atengdo do juiz repentinamente diminui, to logo ele termine a sua inquirigao e 0 advogado dé inicio as suas erguntas, ¢ como as respostas dadas pelas testemunhas ds perguntas do advo- gado sequer aparecem na posterior sentenga. Por outro lado, talvez parecam surpreendentes a atitude mais critica dos promotores e a confirmacdo do efeito alianca — em primeiro lugar, porque © promotor, na audiéncia de instrugao e julgamento, nao tem mais qual- quer dominio sobre o proceso, sendo reduzido a uma figura periférica; em segundo lugar, porque a independéncia judicial, aos olhos dos préprios juizes, 6 uma das mais destacadas insfgnias da profissao; e, por fim, porque pode ser observado na audiéncia que promotor continua a requerer a condenagao, ™ Sransmiscues Bunbesaw, Rechispflege, Strafverfoleung, 1997, p. 42 ¢ s; Elsensero, Kriminologie, 4.04., 1995, p. 484.5, ® Cf. WuLe, Strafprozessuale und kriminalpraktische Fragen der polizilichen Beschul- digtenvernehmung auf der Grundiage empirischer Untersuchungen, 1984; Gunptact, Die Vernehmung des Beschuldigten im Ermittlungsverfahren, 1984; Baxscuexvs, Polizeiliche Vernehmung, Formen, Verhalten, Prototollierung, 1977. Sobre a sobrecarga psicol6gica que 0 ever de levantar os aspectos que servem para inocentaro suspeito gera para policia, que esta tentando incriming-lo, vide ScHONEMANN, Kriminalisti, 1999, p.74 e588. 148 6s ainda queas assim, as oc cotidianas. segundo o qt pelo promot ‘qual a ativid pelo promot apesar de su guia.” O fate ambivalentes dado do coti cujo enfoque a importanci suais € que, pode ser mer cantinas dos de processos ‘mento obstrt advogado cx serve de padi 3. a) Qt que a figura « dados é justa nem do alem direitos prép alemao tem « leigo inexisu sivas. A ex © CE Scare Strafprozessprey ® Bisewsena, 1997, p. 644, » Doce, NS {questdo em gera (NT) Boa p {ual hi, contudc apenas em grav: os togados. Na secretamente 20 A respeito, Rox ® Primeiras ten die Garantie in lungsfindung du dente que no tos nessa fase irmacdo, pela icias sociais rense: oefeito ompletamente tos anedéticos cdo dia a dia e considerdvel stigagao prel verspectiva da mento critico, iminar;” que, z. de prever 0 vida sequer: e to faticamente ra incorregao Jo. Além do 2 € advogado depoimentos amente, 0 juiz tiva de defesa. -pentinamente inicio as suas antas do advo- ais critica dos lugar, porque m mais qual- periférica; em roprios juizes, que pode ser : condenacao, e 5; Eisenanc, ilichen.Beschut Gunoiact, Die nus, Polizeiliche 2sicoldgica que 0 poliia, que esté PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 217 ainda que a sua causa esteja perdida, segundo a opiniao generalizada. . Mesmo assim, as conclusdes da pesquisa sio compatfveis com essas experiéncias cotidianas. © jogo que o juiz e 0 promotor encenam na dosimetria da pena, segundo o qual o juiz em regra sentencia a uma pena mais leve que a requerida pelo promotor, se reproduz, a0 que parece, na audiéncia como um todo, na ‘qual a atividade inquisitorial do juiz segue as pegadas da dendncia formulada pelo promotor, de modo que o promotor, segundo as regras dessa encenacio, apesar de sua posicao juridicamente débil, assume, faticamente, o papel de guia" O fato de que os promotores arquivem a maior parte das investigagdes ambivalentes e que, com isso, sejam mais criticos em seu trabalho, € mais um dado do cotidiano forense.* A perspectiva da dogmética processual penal, cujo enfoque é 0 juiz, provavelmente contribuiu para que se desconsiderasse a importincia fética do promotor, a qual é independente das normas proces- suais e que, também na audiéncia, continua enorme. Nesse contexto também pode ser mencionada a afirmativa, proferida por muitos jufzes ndo apenas nas cantinas dos tribunais, mas também em artigos cientificos, de que a enxurrada de processos e a sua excessiva demora so em parte causadas pelo comporta- mento obstrutivo dos advogados.® Nisso se observa como 0 juiz vé nao no advogado criminalista, mas apenas no promotor, a pessoa relevante que Ihe serve de padro de orientagao. 3. a) Quanto ao questio atinente & reforma processual, é de se afirmar que a figura de juiz que apresenta os melhores resultados no processamento de dados ¢ justamente uma que no ¢ tipica nem do modelo processual americano, nem do alemio, a saber: o juiz sem conhecimento dos autos, mas dotado de direitos proprios de inquirigdo. verdade que 0 juiz leigo do processo penal alemao tem exatamente esse status; sobre. influéncia e utilidade desse juiz leigo inexistem, contudo, investigagdes empiricas verdadeiramente expres- sivas. A experiéncia pratica insinua, contudo, que os juizes leigos fazem CE. Scwonexoe, im: Kaisee/Kurv/ALaRecir. StrafprozessBreform bis 2007, 1991, p. 56. © Eisenseno, Kriminologie, 4. ed., 1995, p. 366 e ss., 484; Goremctn, Kriminologie, 5.e4., 1997, p. 64. ® Dour, NSIZ 1993, p. 419 es. ¢, contra ele, SchONEMANN, StV 1993, p. 607 e ss: sobre a {questo em geral: Schonemann, Festschrift flr Gerd Pfeifer, 1988, p. 461 ¢ ss. (481 €s). # (N-T.) Boa parte dos juizos ¢ tribunais alemaes tem estrutura colegiada; a regra geral, da {ual hi, contudo, importantes excegdes, & a de que todo tribunal que decide sobre fatos e no apenas em grau de recurso especial apresentar4, como parte do colegiado, juies leigos a0 lado dos togados. Nao hi, contudo, a figura do tribunal do ju; juizes togados e leigos se redinem secretamente a final da audiéncia e depois anunciam a decisdo conjunta do érgio jurisdicional, A respeito, Roxn/ScHONENANN, Strafverfahrensrecht....§6 nm. 15 € ss. ® Primeiras tentativas em KeoweNsencer, in: Junc (coord. Alternativen zur Strafjustiz und die Garantie individueller Rechte der Betroffenen, 1989, p. 185 e ss.; ReNNiG, Die Enischei: ddungsfindung durch Schoffen und Berufsrichter in rechilicher und psychologischer Sicht, 1993, |p. 271, 276 e s.3 Wotrer, Aspelte einer 218 BERND SCHUNEMANN to pouco uso de seu direito de formular perguntas que eles no poderio ser usados como um teste sério do modelo de juiz que se acabou de mencionar. b) Pelo contririo, 0 modelo de juiz passivo (Passivrichtermodell), Proposto, com algumas diferengas nos pormenores, por Roxin e Schich, segundo qual o juiz competente para proferir a sentenca deixaria a colheita de provas primariamente nas maos do promotor e do advogado, ou a cargo de um juiz. condutor da audiéncia,*” nao eliminaria, mas apenas ocultaria os efeitos perseveranga e alianga, uma vez que a causa decisiva desses efeitos- © conhecimento dos autos- permaneceria intocada. Apenas a consequéncia advinda desse conhecimento, a saber, 0 processamento assimétrico de infor- mages, deixaria de ser reconhecfvel uma vez que o juiz recue & posigao de mero observador passivo, com o que se tomariam ainda piores as chances de a defesa contrabalancear essa situago.* Segundo as conclusdes de minha investigacao, se for mantido o conhecimento dos autos, seria até contraprodu- tivo introduzir 0 interrogatério cruzado ou a figura do condutor da audiéncia, Pela mesma razio, € de rechagar decididamente a tendéncia, cada vez mais difundida, de, contrariamente & posigdo tradicional da jurisprudéncia, reco- nhecer aos juizes leigos um direito de vista dos autos judiciais:” com isso, cairia por terra justamente a principal vantagem do juiz. leigo, que consiste em sua nio-vulnerabilidade para o efeito perseveranga desencadeado pelo conhecimento dos autos, 4, Essas conclusées representam também uma contribuigao para a discussio sobre a justiga procedimental (procedural justice).*° Nos trabalhos fundamentais de Thibaut e Walker, chegou-se & conclusio de que um modelo inquisitério ou «autocréticon, em que o responsivel pela deciséo também % (N-T.) Trata-se da figura do chamado Vexanouuncsternex, proposta especialmente por Es. Scrmior, NIW 1963, p. 1082. ss, 0 processualista mais inflente do pos-guerra slemo, que @ concebia como um juiz que, dotado do conhecimento dos autos da investigagao, colheria a Prova na audigncia, mas no integrariao jufzo que profere a sentenca, © Roxwy, Strafverfahrensrechu. p. 355, % isso me referi de forma especial em GA 1978, p. 178 es. extraindo como consequéncias uma demanda de reforma no sentido de melhorar a estrutura de comunicagao da audiéncia, 0 que nio foi sufcientemente levado em conta na réplica de Roxts, Strafverfahrensrecht... 356, ® Nesse sentido Ries, JR 1987, p. 389 e ss, (391 e ss); Tentionst, MDR 1988, p. 809 ¢ ss.; Scumeinen, Festschrif fir Welzel, 1974, p.941 ess. (956); Vox, Festschrif flr Disnnebier, 1982, p. 373 € ss, (382 es.) HiLLenkane, Festschrift fr Kaiser, 1998, p, 1437 ess.; diversamente, 8 Jrisprudéncia desde RGSt 69, 120 (124); BGHSt 5, 261 ¢ s: 13, 73¢ s mais restitivo, agora, BGHS¢ 43, 36 ess © (NT, Esse termo designa, principalmente, uma linha de investigayio sociolégica ¢ psicolégica, segundo a qual o fator fundamental para que o resultado de um processo seja aceito ¢ reconhecido pelos envolvidos esté no no fato de terem eles sido beneficiados, e sim 4a impressdo de terem sido tratados com respeito, Na sintese de ROH, ZARSoz 14 (1993), p. 1 € 3s. (9): «Sera mais import para as pessoas como eles foram traadas, do que o que eas controla a. refere & des € inferior ; proceso de 6, a0 mesm imental (¢ segundo ap Tidade do re a direitos f ‘mais se apt americano ¢ do adversa atributdos 5 garantia de tivizados, p uma disto em prejuizo uma garanti de instrugao 5. Pat iniciei meue 1no proceso respondé-la que ela suge sentido de q em muitos ¢ eral, mesm encenacao, psicologia s qual no proc de obter legi seria a mera constituem a © Chas acima © LinovTe, Rechissocologi (coords), Verfa © Woures, As Loman, Le io poderio ser se mencionar. srichtermodell), axin € Schéc aria a colheita do, ou a cargo nas ocultaria os desses efeitos a consequéncia séico de infor- ue A posigao de res as chances uses de minha wé contraprodu- srudéncia, reco- ais:” com isso, :©, que consiste encadeado pelo ‘buigdo para a Nos trabalhos que um modelo lecisio também xecialmente por Es, guerra alemio, que Stigasio, colheria a omo consequéncias ¢io da audiéncia, 0 exfahrenstecht. P. - 1988, p. $09 ¢ ss. ir Dunnebier, 1982, ss. diversamente, a nis restritivo, agora, sagio sociologica ¢ ie um processo seja "beneficiados, e sim RSor 14 (1993), p. 1 s, do que 0 que elas PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL. controla a colheita da prova, até alcanca os melhores resultados no que se refere a descoberta da verdade, mas, no que se refere & justica procedimental, é inferior a0 chamado adversary system, no qual 0 pr6prio caminhar do proceso depende do domfnio das partes.“! Em novos estudos, esse resultado 6, a0 mesmo tempo, relativizado € expandido, uma vez que a justiga proce- dimental (como o fator mais importante para a legitimidade de uma decisio segundo a perspectiva do afetado) passa a depender principalmente da neutra- lidade do responsével pela decisao, da confianga nele depositada e do respeito a direitos fundamentais.” E evidente que 0 modelo processual penal alemao. mais se aproxima do tipo ideal (Idealtypus) inquisit6rio, enquanto o modelo americano de processo penal é uma manifestagio quase perfeita do tipo ideal do adversary system. Segundo os resultados aqui relatados, até os méritos atribuidos por Thibaut ¢ Walker a0 modelo inquisitério, a saber, a maxima garantia de uma descoberta objetiva da verdade, devem ser fortemente rela- tivizados, porque os efeitos perseveranga, redundancia e alianga conduzem a uma distorgao sistemética do processamento de informagées na audiéncia, em prejuizo do acusado, de forma que nio se pode, de modo algum, falar em uma garantia méxima para uma descoberta objetiva da verdade na audiéncia de instrugao e julgamento alema. 5. Para concluir, gostaria de retornar & pergunta provocativa com que iniciei meu estudo: sea antiga figura do «terceiro mais poderoso» no se tomou, no processo penal alemdo, apenas um «terceiro manipulado». Nao quero respondé-la em caréter definitivo, mas apenas levar um pouco adiante aquilo que ela sugere, Muitas das conclusdes sugerem que a proclamacao da StPO no sentido de que a audiéncia de instrugdo ¢ julgamento seria 0 centro decis6rio em muitos casos tem apenas funcdo ideolégica, uma vez que o juiz, de modo geral, mesmo inconsciente, nao faz mais do que chancelar, numa dispendiosa encenagio, as conclusdes j4 adiantadas pelo promotor. Os resultados de Psicologia social aqui encontrados concretizariam e confirmariam, para a audiéncia processual penal, a tese sociolégica geral de Luhmann,** segundo a qual no processo nao se trata, primariamente, de descobrir da verdade, mas sim de obter legitimacio por meio da marginalizacdo do protesto. E também aqui seria a mera crenca na santidade e inviolabilidade dos principios juridicos que constituem a fachada do processo que possibilita esse efeito de legitimagio, © Cf.0s acima citados trabalhos de TriBavr & WALKER. © LivovTv.en, The Social Psychology of Procedural Justice, 1988; Tvuen, Zeitschrift fir Rechissoziologie, 1993, p. 47 e ss.; Lino, in: BrexaRaveR/GOTTWALD/BIRNBREIER-STANLAERER (coords.), Verfahrensgerechtigheit, 1995, p.3€ ss © Worten, Aspelie...,p. 56; ScHONEMARN, in: KAlseR/KuRY/ALaRECHT..., p: 276 € 88 “Lunas, Legitimation durch Verfahren, 2. ed. 1983, passim, BERND SCHUNEMANN 220 bem no sentido de Popitz.***6 Por outro lado, o contrapoder socialmente institu- ionalizado no papel do advogado criminalista foi aumentado pela sobrecarga da justiga em razdo da enxurrada de processos e de sua excessiva duragio,"” © que levou, como reacao justiga, a que se instaurasse um plea bargaining informal, isto é, a negociago do contetido da sentenga entre os envolvidos.** Isso significa que todos os papéis tradicionais do processo penal tornaram-se Pouco claros, € que o juiz, até entéo apenas um terceiro inconscientemente manipulado pelos autos da investigacdo preliminar, numa virada espantosa, acabard chegando a um efeito alianca com a defesa, tao logo haja 0 risco de que © processo Ihe absorva mais do que os esforgos burocraticamente acei- taveis. Ainda que se observe, assim, uma «nova obscuridade»*” no processo penal, 0 fato de que em todos os processos que ainda sio realizados segundo 0 modelo cléssico existe um desmantelamento secreto do papel do juiz criminal alemio, que de terceiro poder superior foi reduzido a um terceiro manipulado, € uma descoberta metodologicamente confidvel da investigacdo da psicologia Juridica, descoberta essa dotada da maxima importancia politico-juridica. V. SINTESE A evolugao do direito, que passa da comunicagao piiblica sobre regras até © estabelecimento de uma ordem coativa estatalmente institucionalizada, no é imagindvel sem a figura de um «terceiro de poder superior», que, inicialmente, realizava uma mediacao entre as partes em conflito e, em momento posterior, Passou a decidir esse conflito em cardter oficial. Essa figura, no entanto, foi desnaturada no processo penal da Europa continental, que reuniu, na mesma Pessoa, as tarefas de investigagdo ¢ decisio. A restauragio do terceiro desin- ‘©. Porrz, Die Priventivwirkung des Nichtwissens, 1968, p. 15 € ss. “ (NT) Segundo o citado trabalho de Porrz, a eficécia preventiva do direto (e do direito eval) dependria,em bos parte, dofato de que a8 pessoas ignorariam 0 quo frequentemente © “Aprofundadamente sobre o papel do advogado, LR-LODERSSEN 24. ed., 1989, vor § 137 nm. Sess, © Quanto a isso, em todos os detalhes, ScHONEMANN, Absprachen im Sirafverfahren? Grundlagen, Gegenstande und Grenzen, Gutachten B zum 58, Deutschen Juristentag Munchen, 1990; Wouren, Aspetie... p. 65 € 88:; SCHONEMANN, Festschrift fir Jirgen Baumann, 199), . 361 © 5s.; De, StV 1993, p. 657 e ss. A mais recente eritica ao acordo, que toma em consideragdo ¢ leva adiante os meus citados trabalhos, encontra-se em Faisit, Der Verzicht auf Entschiidigung fur Stafverfolgungsmanahmen ~ zugleich ein Beitrag 2ur Problematik ‘stafprozessualer Absprachen, 1997, passim. Se a jurisprudéncia teré ou ndo sucesso em & sua tentativa de «domestica» 0s acordos, que claramente se inttucionalizaram contra legem (Como decisio fundamental, veja-se BGHSt 43, 195), continua duvidoso, porque, segundo {odos os relatos da realidad forense, a realidade do acordo permanece muito distante das regres formuladas pelos tribunss superiors e a terceira turma (Senat) do BGH ainda resiste em seguir linha da quartaturma (por tltimo, StV 1999, 407). “© (N-T.) Alusto a um termo cunhado por Hasexmas, Die neue Unibersichilichkeit, 1985 teressado. investigag mento, na a instancic estaria sot constante pela doutr adequado. autos de p trio te6ric cognitiva testaram-st preliminar de inform: ses, em § ser caracte: atengio e¢ totalidade investigaca 0 juiz tem dissonantes que Ihe ass de informa aperspecti: prevé a dor para uma r ‘um segund de papeis ¢ informal de te institu- sobrecarga duragao," sargaining volvidos.#* >maram-se ientemente espantosa, orisco de rente acei 0 processo segundo 0 izcriminal anipulado, psicologia tidica. regras até vada, no é cialmente, » posterior, tanto, foi na mesma iro desin- (€ do direito quentemente or §137 nm, afrerfahren? ag Munchen, mann, 1992, ue toma em Der Verzicht Problematik contra legem ie, segundo We das regras teem seguir 1, 1985, PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL teressado através da institucionalizagao do ministério piblico, como érgao de investigagio e acusago, parou as portas da audiéncia de instrugio de julga- ‘mento, na qual 0 juiz, com conhecimento dos autos, continua a operar como ‘a instncia que investiga e decide. A hipétese de que o papel do juiz penal estaria sobrecarregado e de que ele se orientaria segundo a imagem do fato constante nos autos da investigagio preliminar foi repetidamente aventada pela doutrina, mas até entiio ndo comprovada de modo metodologicamente adequado. Essa hipotese foi entdo testada em experiéncias e pesquisas de ‘autos de processos, aqui descritos, nas quais, fazendo-se uso do instrumen- trio tedrico da psicologia da informagao, em especial da teoria da dissonancia cognitiva e da teoria dos processos de comparagdo social, derivaram-se ¢ testaram-se hipéteses concretas sobre a influéncia dos autos da investigagao preliminar e do comportamento do juiz na audiéncia sobre 0 processamento de informagGes e sobre 0 comportamento do juiz ao sentenciar. As conclu- sbes, em substincia, estavam em conformidade com as hipéteses ¢ podem ser caracterizadas pelos termos efeito perseveranga, efeito redundancia, efeito atencao e efeito alianga. O processamento de informagées pelo juiz é em sua totalidade distorcido em favor da imagem do fato que consta dos autos da investigagdo e da avaliagio realizada pelo ministério pablico, de modo que 0 juiz tem mais dificuldade em perceber ¢ armazenar resultados probat6rios dissonantes do que consonantes, e as faculdades de formulacdo de perguntas {que lhe assistem so usadas nao no sentido de uma melhora do processamento de informagGes, e sim de uma autoconfirmagio das hipéteses iniciais. Segundo a perspectiva da psicologia social, o papel do juiz nao corresponde aquilo que prevé a dogmética processual. As consequéncias praticas que daqui derivam para uma reforma do processo penal estio, porém, ja hoje, sendo relegadas a um segundo plano pela mudanga ainda mais profunda de todo o arcabougo de papéis ¢ atribuigdes representada pela institucionalizagio da negociagao informal do contesido da sentenga.”” © CF. Scwunemann StV 1993, p. 657 € ss., com numerosas referéncias & discusséo até entio twavada. O fato de que 0s acordos, contariamente & tendéncia hagiogréfica presente na jé mmencionada decisio BGHSt 43, 195, nada tém em comum com a estrutura e a cultura do processo penal curopeu e, por isso, representam uma quebra mais profunda do que estabe- Fecimento do Processo Penal Reformado, de modo que eles s6 poderiam ser integrados em uma concepsto de processo penal fundamentalmente diversa, foi demonstrado por dltimo e em detalhe por Fareue, Verzicht.. passim, A modéstia com que esse tema, em regra, ¢ discutido na literatura manualista(paradigmético, por exemplo, Hetistann, StrafprozeBrecht, 1998, p. 210 e ss.), parece, a meu Ver, demonstrar que a aleatoriedade pés-moderna da cultura contem- porinea paralisou a capacidade de compreender 0s requisites minimos de um processo penal {arantistico-liberal como 0 da RStPO de 1877, que, em seus aspectos centais. permanece inalterado e ndo pode ser dispensado por uma mera mudanga de préticas judiciais. Em verdade, ceada época tem 0 processo penal que merece. AUDIENCIA DE INSTRUCAO E JULGAMENTO: MODELO INQUISITORIAL OU ADVERSARIAL? SOBRE A ESTRUTURA FUNDAMENTAL DO PROCESSO PENAL NO 3.° MILENIO' © fato de que jé tenha chegado 0 momento de, por meio da presente contribuigo cientifica, prestar a devida reveréncia ao conceituado colega de longa e carinhosa ligagdo afetiva, Juarez Tavares, por ocasidio de seus setenta anos, deve surpreender a todos aqueles que, como cu, puderam observar em varios encontros e conferéncias intemnacionais sobre direito ¢ processo penal a sua iniguakivel combinagao de perspicdcia cientifica, carisma pessoal e vigor inesgotavel. Escolhi para a presente reflexdo, em viva lembranga de nosso esforgo conjunto empreendido em Tuxtla Gutierrez hé cinco anos, um «tema eterno», diante do qual fracassar no seria motivo de vergonha, a saber: a pergunta pela estrutura ideal do processo penal. I. PANORAMA DO DESENVOLVIMENTO HISTORICO 1. O modelo de um proceso penal, no qual a audiéncia de instrugo € julgamento representa o tinico fundamento direto da sentenca; o devido escla- recimento dos fatos, guiado pelos principios da imediatidade ¢ da oralidade, ocorre exclusivamente na audiéncia de instrucao ¢ julgamento diante do juiz; € no qual o juiz baseia-se apenas no material obtido nessa audiéncia, imp6 -se no continente europeu, em substitui¢ao ao modelo puramente inquisito- riaF’ praticado nos séculos passados, apenas h4 pouco mais de dois séculos. © Trad, Alaor Leite 2 Es, Scusapr, Festschrift fur der Leipziger Juristenfakultat far Siber, 1941, p. 99 ess; DEM, Einfuhrung in die Geschichte der Strafrechtspfege, 3. e4., 1965, p. 185 e ss; HenkeL, Strafver- Jahrensrecht,2.e4.,p.33 es; SenueRr, Festschrift fr Scupin, 1983, p. 161 e ss; JEROUSCHEK, A inspiragio foi 0 ao tempo da Revol (Einzelstaaten) na p principal delas foi a do chamado proces formato mais puro. instrugio e julgame imediatidade e 0 da mais relevante princ isso quero referir-m sejam, a fungao de bung), de decidir de instrugao e julga meio de um veredic entre 0s varios st cléssica, a colheita defesa; 0s conflitos julgamento sao resc de jutzes (Richterbe ZS1W 104 (1992), .324 2002, p.4l ess: Koca, 3 Alendaem que sea «lho da revolugio» ( ‘mundo como meio de em razio da pesquisa Gosetze» oder «Organ a introducio do minis perseguia na Prissia af influgnci nos tribunais cconhada na gestio de ‘ommou rapidamente fn «sca da liv, no pas ‘ministério pblico ser von Liszt anunciow hi completamente: conti todos expressamente ( ‘Strafverfahrensrech,: + Asse respeito ver p. S2e ss lonor, Ge teoria da pena ver Ha, 171e ss. Fundamenta Miindlichkeit der Ger die Reform des deutse, prinzip, die Offentick deutschen Strafvrfah PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 23 A inspiragdo foi 0 processo penal inglés, que se espalhou pelo continente ‘a0 tempo da Revolugio Francesa e que representou nos estados alemaes (Einzelstaaten) na primeira metade do séc. XIX, com isoladas divergéncias (a principal delas foi a adogdo do modelo francés de ministério piblico’), a base do chamado processo penal reformado (reformierter Strafprozess).* Em seu formato mais puro, representado pelo chamado tribunal do jtri, a audiéncia de instrugao e julgamento é caracterizada por trés princfpios, o da oralidade, o da imediatidade ¢ o da publicidade e, de outro lado, surge como quarto e talvez ais relevante principio 0 da divisdo das forcas ou poderes processuais. Com {ENTO: isso quero referir-me & distribuigao das diversas fungdes processuais ~ quais, sejam, a fungao de organizar e realizar a colheita de provas (Beweiserhe- ARIAL? bung), de decidir conflitos entre as partes processuais durante a audiéncia \LDO de instrugdo e julgamento, de decidir sobre a culpabilidade ou inocéncia (por oO meio de um veredicto) e, no caso de uma condenaglo, de determinar da pena entre os virios sujeitos processuais. No tribunal do tri em sua conformagio cléssica, a colheita de provas é tarefa das partes, ou seja, da acusagdo da defesa; 0s conflitos surgidos entre as partes durante a audiéncia de instrugdo julgamento sao resolvidos pelo juiz togado (Berufsrichter) ou pelo colegiado de juizes (Richterbank); a decisio sobre a condenagao é do banco de jurados; sio da presente tuado colega de de seus setenta m observar em rocesso penal & ZSIW 104 (1992), p. 328 ess. Ionon, Geschichte des Strafprozesses in Deutschland 1532-1846, 2002, p. 41 e ss; Koch, Festschrf fir Ruping, 2008, p. 393 ess pessoal ¢ vigor + Allenda em que se acreditava até hd pouco tempo, segundo a qual 0 ministério pablico seria ranga de nosso «fiho da revolugdon (GoxTHER, Staatsanwaltschaft, Kind der Revolution, 1973), ou «veio 20 amos, um «tema ‘mundo como meio de libertagao dos cidadaos» (Roxin, DRiZ 1969, p. 985), foi desacreditada abe, a saber: @ fem razio da pesquisa em tomo dos arquivos da Prissia realizada por CoLun («Wachter der poate loca ie ere rere en a pe Secret aceeaeee Ln Ee ced oie Cae ee ere ceca oe oye nee , Sa ee eect nia de nso Ee re es atest ess 0 devido escla- ministério pablico seria «o érgio mais objetivo do mundo», na medida em que quando Franz e da oralidade, ‘von Liszt anunciou hé mais de cem anos essa mudanca, ele proprio a declarou, em sentido: » diante do juiz; ‘completamente contrétio, um ingénvo mal-entendidd, contra o qual ele mesmo alertava a idigncia, impbs Strafverfahrensrecht, 27. ed., 2012, § 9 am. 1). nente inquisito- + Acesse respeito ver Ea. Sconaot, Einfuhrung..., p. 284 e $s.; Henxex, Strafverfahrensrechf.. de dois séculos. p. 52€ ss.; lonor, Geschichte..., p. 147 ¢ ss.; para 0s fundamentos de teoria do Estado ¢ de Sn ta cd Peneeeae Lt oe aoa 224 BERND SCHONEMANN ea determinagio da pena em caso de condenagio é efetuada, novamente, pelo juiz togado ou pelo colegiado de juizes.* 2. Houve amarga batalha entre as forgas politicas alemis no séc. XIX em favor do tribunal do jari, na medida em que esse modelo, nisso havia dose de razo, era a melhor garantia para as liberdades dos cidadios diante dos abusos da autoridade nas monarquias, que inicialmente ainda eram absolutistas, mais tarde se tormaram constitucionais. Assim é que, a titulo de exemplo, 0 ministério piblico do Reino Bavaro no séc. XIX promoveu uma acusagdo contra os organizadores de uma festa popular concebida como uma manifestagao liberal e do movimento democratico e nacionalista diante do competente tribunal do jéri pelo delito de alta traigao (Hochverrat) — que previa pena de morte ~e outra acusagao, pelos mesmos fatos, por violacdo dos dispositivos que disciplinavam o direito de reuniao, agora diante do tribunal regional (Bezirksgericht), este ‘ltimo composto apenas por jufzes togados. tribunal do jiri absolveu os acusados € 0 tribunal regional condenou-os a varios anos de privagio de liberdade.’ Na primeira Constituigao democratica da Alemanha, a chamada Constituigdo da Igreja de Sao Paulo (Paulskirchen- -Verfassung) de 1849, o tribunal do jéri foi expressamente reconhecido como instituigdo (inciso VI Art. X § 179 item. 2). Na Constituigao do Império de 1871 essa garantia (como todas as outras garantias para os direitos funda- mentais dos cidadios) foi mantida, e 0 movimento liberal conseguiu ainda inserit no cédigo de processo penal do Império de 1877 o tribunal do jéri para processos penais mais graves,* enquanto que para a criminalidade menos grave triunfou a forma de organizagao exatamente oposta, sobre a qual logo ‘me manifestarei de forma mais detida. Trintae sete anos mais tarde, a previsio constitucional do tribunal do jtri foi abolida por meio de uma chamada portaria de excegio (Notverordnung) pelo entao ministro da justiga do Império oriundo *Braouey in: Beaney coo), Criminal Procedure ~ A Worldwide Study, 2. et, Not Caran, 2007, p S19 cas, 542 © Tro, Loungstonergenen trai Scndivergenet i detchen und US-ameitanschen Seraren, 2003, . 30s 3746s. BN LOT, nas les do Imp, o malo igs de tba do jn fo ncrporado apenas para casos pens expciamente graves Condo havin ma dockva mitaeoa produ de proves ra ‘conduzida essencialmente por aquele que presidia a audiéncia (Vorsitzenden) (§ 237 RStPO), Enquanto qe a acusagoe defer possulam dito de nguigoapens em cso de requis cote apn ei oem po els pos design Alm Sr presidente da audéncia pemancia com odode fontuarprgunasconplemestaes 238 RStPO). me ” 6 "Fuueenacn, Betracnugen dber das Geschvomengerich, 1813; Mrrranute, Die Mindlichet., . 358-¢ 48: Zacnash, Die Gebrchen. p. 299 ¢ sux Kostum, Der Wendepunk.. specimen p. 113s: Scnwnce Der Kampf um die Scheurgeree, 1926, p. ess: Eo. Sasa, Efihrangp 290 ss lonon, Geschichte. p. 2496 ¥"Tyatava-se da festa de Hambach,pontoalto do movimetio democratic nemo no pré-mago (anes da reveugso de margo de i848 sobre a prsecugo peal desees eases come com is detalesScnowewan Fess fr fr Lferena 1883p. 279 OB mle * §§ 79 ess, GVG. da Bavaria, processuais 1. OMOD NOTRI 1. Na desde 1924 (Gewaltent reunidas en decide segu decisses po Berufung 0 um juiz tog do chamad superior, a tres juizes, Landgerich leigos (a c provas, ing com o aux audincia. apenas sobr naga da pe das provas a sentenga mais juices condutora» direito de ve superior na tung), na tm Vt. de nosso am. 360 55:4 © Como o che " Ochamado © Comparar§ BGHSt2,7 Richer Sir "Comparer presidente re togados edo 4 novamente, pelo sms no séc. XIX ‘elo, e nisso havia 2s cidados diante nente ainda eram im € que, a titulo c. XIX promoveu tr concebida como sacionalista diante Hochverrat) - que s, por violagio dos. diante do tribunal ‘or juizes togados. nal condenou-os a tigdo democratica tulo (Paulskirchen- reconhecido como fo do Império de 0s direitos funda- 1 conseguiu ainda © tribunal do juiri iminalidade menos sobre a qual logo. ds tarde, a previso achamada portaria 40 Império oriundo de Study, 2. ed., North ‘atz Systemdivergenzen 374 e ss. Em 1877, ado apenas para casos produgdo de provas era enden) (§ 237 RStPO), sem caso de requsigao ignadas. Além disso, 0 tas complementares (§ 3; Mirrenwater, Die Ve ss: Kost, Der ‘Schwnurgerichte, 1926, =P-249 ess. “oalemfo no pré-mareo ses casos confer com BI n. let PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL 225 da Bavaria,’ e desde esses tempos a ideia de uma divisio das forgas ou poderes processuais foi, sem qualquer alarde, sepultada na Alemanha. Il. O MODELO ALEMAO ATUAL E AS FRAQUEZAS DO PROCESSO NO TRIBUNAL DO JURI 1. Na Alemanha, vige para a audiéncia de instrugao e julgamento desde 1924 o principio da acumulacao das poderes ou forcas processuais (Gewaltenhiiufung), isso significa: todas as fungdes da audiéncia esto reunidas em uma tinica mao, a saber, na mao daquele que a preside e que decide segundo sua discricionariedade sobre o exercicio destas fungdes. Essas decisdes podem ser revistas apenas por uma instncia superior (em apelagdo/ Berufung ou em recurso especial/Revision). O presidente do jutzo, sempre um juiz togado, compe, no nivel mais baixo da hierarquia judiciéria dentro do chamado Amtsgericht, 0 jufzo inteiro;!° enquanto no nivel imediatamente superior, ainda dentro do Amtsgericht, o jufzo € composto de um colegiado de tts jufzes, dos quais dois so jurzes leigos,"! enquanto no nivel dos chamados Landgerichte hd um colegiado de dois ou trés juizes togados e dois jutzes Ieigos (a chamada Sirafkammer). O presidente do juizo gere a colheita das provas, inquire as testemunhas e peritos, e decide também, eventualmente com 0 auxilio de juizes assistentes, sobre conflitos juridicos ocorridos na audiéncia. O juizo, sob sua presidéncia, profere uma sentenga que versa nao apenas sobre a culpabilidade do acusado, mas cuida igualmente da determi- nago da pena. Todas as fungies esto reunidas nas maos do juizo, ¢ a gesto das provas fica sempre a cargo do presidente, que também profere sozinho a sentenca em primeira instincia, e, mesmo quando o jufzo € composto por mais juizes, aquele que preside a audiéncia possui uma chamada «influéncia condutora» (richtungsgebenden Einfluss),"” a qual, mesmo existindo um direito de voto" formalmente igualitério, Ihe concede uma influéncia bastante superior na reunido que antecede ao proferimento da sentenga (Urteilsbera- tung), na medida em que o presidente deve fazer avaliages profissionais de > V. Huret, Der deutsche Strafprozess, 1941, p. 53 ess. («completa subversto da organizaglo de nossos tribunais»); Es. Scroabr, Binfdhrung.. p.418 e s.; Kone, LR-StPO, 26. ed,, Ein F fm. 36e ss; detalhadamente, Vora. Die Lex Emminger vom 4. Januar 1924, 1988. © Como o chamado juiz penal (Strafrichte), § 25 GVG. "© chamado tibunal de jurados ou juizesleigos (Schoffengericht), § 29 GVG. Comparar § 260 Hl, 1V S1PO. © BGHSt 2, 71 (73): 8, 17 (18); 25, $4 (56); eitico a esse respeito Sowaoa, Der gesetzliche Richter im Strafverfahren, 2002, p. 416 ¢s. "© Comparar § 196 I GVG. Havia excegio no § 196 IV GVG, segundo 0 qual 0 voto do presidente prevaleceria em caso de empate na votagio em um tribunal integrado por dois juizes togados e dois juizes leigo. 226 BERND SCHUNEMANN seus colegas, as quais terdo significado decisivo para a carreira e as chances de promogao destes."* 2. Certamente no é exagero algum descrever essa forma de audiéncia de instrugao ¢ julgamento como o «modelo alemao». Num primeiro olhar, a quebra da divistio das forgas processuais que o caracteriza e a substituigao por um dominio exclusivo do jufzo parece representar uma retomada do processo inquisitorial superado hé 200 anos. Em razio disso € que devo primeiramente avangar alguns argumentos em favor desse desenvolvimento tipicamente alemao, a saber: a posigao forte da defesa também e especialmente na audi- éncia de instrugZo ¢ julgamento inquisitorial alema e as evidentes fraquezas da audiéncia no modelo adversarial, em especial quando essa ocorre segundo ‘0s moldes de um tribunal do jt ) Seria um mal-entendido tentar comparar a acumulagao de poderes do Juiz alemio na audiéncia com aquela que possufa o monarca absoluto em uma monarquia ou com aquela do comité central (Politbiiro) nos antigos Estados socialistas. Dessa forma estar-se-ia fazendo vistas grossas & posigo excep- cionalmente forte que possui a defesa na audiéncia de instrugao e julgamento alema. Essa posigdo é até mesmo, de certa forma, mais forte do que aquela que ostenta o advogado no processo americano. Afinal, advogado alemio possui um direito de acesso aos autos (Akteneinsicht) (§ 147 StPO), bastante amplo e, a partir do término das investigagdes, impassivel de restri¢ao. Esse direito possui maior alcance do que 0 discovery do advogado americano:'* apesar de ambos serem funcionalmente equivalentes, a posigao do advogado alemao nio € desvalorizada por meio de uma correspondente discovery da acusagao contra o advogado."” Além disso, o advogado alemao pode interferir nna produgo probatéria duplamente, tanto por meio da apresentacio prépria de meios de prova presentes em audigncia (Selbsteinfidhrung priisenter Beweis- ‘mittel) nos termos do § 245 StPO,"* como por meio de requisigdes de prova ' Como paradigma pode ser apontada a atual discussio a respeito da nomeagio do juiz Bresiente da segunda ciara criminal do Bundesgerichshot. Sobre iso ver ScvHOMEMAN,ZIS .p. Less, " Detalhadamente KamisawLaFave/Iseag/Kino/KeRn, Criminal Procedure, 12. ed, Minnesota, 2008, p. 1196 ess. 1205 e ss. Mais brevemente Brabty, in: BRADLEY... p. $41 5 Da mesma forma ver Kawisar et ali, Criminal Procedure» p. 1213 ©. \" A carrera deste institut ilustra a permanente disputa entre as Forgas liberais e autortéras na formagio do proceso penal: 0 § 207 do projeto governamental do StPO previa origineriamente Que «0 juizo deve determinar a extensio da produgio probatéria, sem estar vinculado requisigGes, renincias ov anteriores decisbes». Logo na primeira sesso da comisslo decidiu-se xatamente pelo contrio, pois assim «a produgdo probatéra sria de se estender as testemnunhas € peritos jd anteriormente citados», o que remontava & proposigo do parlamentar Schwarze (Haim, Die gesamten Materialien zu den Reichs-Justizgesetzen, vol. 3 parte 1,2. ed., 1885, p. 847). A von Schwarze, que nesse meio tempo fora elevado a nobreza, incumbiu fundamentar ‘essa concepeao na qualidade de relator diante do plenério do parlamento (Rexcistac) na 2" sesso de 30.11.1876, aduzindo, entre outros argumentos, que o juizo, a quem jé assste a livre (Beweisantr. b) On duas debili manifestada moroso e di forma comp ‘enorme inc trial. Nesse da América, julgada pelo sancionada aceito pelo i valorapio dap Disso derivar de que as part funcionaria co de modo exag pelas partes e¢ presentadas 3 seria autorizad Tongo tempo, ( Reich, 12.ed do processo pe restrngir ~ se instrugao jul relevante a po de agora a re ‘bem mais amp ‘autonome Bew para recusar a Tequisigo fos A reforma acn da falta de con prova. Noutras ‘ou perio, atu espago de dis especialmente oqueem regr {do responsive termos das raz A despeito em razio da e Beweisantrag) mites), a ince processo penal Fimento nos para o indefer «de modo que a irae as chances aa de audiéncia rimeiro olhar, a substituicdo por ada do proceso »primeiramente Xo tipicamente mente na audi- entes fraquezas ocorre segundo > de poderes do >ssoluto em uma antigos Estados osigo excep- ioe julgamento do que aquela vogado alemao StPO), bastante restrigio. Esse fo americano:'* io do advogado te discovery da »pode interferir -agdo propria de isenter Beweis- sigdes de prova rnomeasio do juiz ‘ScHONEMAN, ZIS sedure, 12. ed ADLEY a P54 lise autoritérias na ia originariamente estar vinculado @ omisso decidiu-se derastestemunhas amentar Schwarze 21,2. ed, 1885, . ‘mbiu fundamentar Raicustac) na 21* mj assistea livre (Beweisantriige, § 244 StPO)."° PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 27 b) O tribunal do jiiri como modelo alternativo apresenta, por sua vez, duas debilidades centrais, que demonstram 0 quio problemitica é a estima manifestada mundialmente por esse modelo. Em primeiro lugar, ele € tio moroso e dispendioso que se torna simplesmente impossivel sancionar de! forma completa com o auxilio de um processo nos padrdes do tribunal do ji ‘© enorme indice de criminalidade existente em uma moderna sociedade indus- | trial. Nesse sentido, o exemplo mais contundente oferecem os Estados Unidos | da América, onde apenas uma baixa porcentagem da criminalidade existente 6 julgada pelo tribunal do juiri, enquanto que a esmagadora maioria dos casos é sancionada de outra maneira, a saber: 0 resultado das investigages policiai é aceito pelo indiciado e , por meio de um plea agreement, transmutado em uma valoragdo da prova, ndo podera, além disso, determinar (sto 6, restrngir) 0 alcance das provas. Disso derivaria que as partes teriam o dieito de aumentar os meios de prova. A necessidade de que as partes arquem com 0s custos de uma convocagio direta da testemunha (§ 219 StPO) funcionaria como «uma conveniente € produtiva inibiglo a que introduzam meios de prova ‘de modo exagerado> (Hav, pate II, p. 1900). Essa dstingao entre testemunhas convocadas Pelas partes © que devem, por isso mesmo, ser owvidas sem ulteriores avaliagdes, etestemunhas apresentadas apenas por ocesido da audiéncia de instugo e julgamento, cujaoitiva apenas seria autorizada por meio de uma requisicdo de prova, determinou a pratica judiciéria por um longo tempo, (ver RGSt 1, 198,297; Lowe/HeLwic, Die Strafprozessordnung fr das Deutsche Reich, 12.d., 1907, § 244 Anm. 2a), até que o legislador decidiu, por meio da lei de alteragio 4 processo penal confeccionada em 05, testringir ~ seria um exagero falar em instragdo e julgamento combatida pela 10.1978 c em vigor a partir de 1979 (BB. Ip. 1645), aboligfo ~ a posigdo forte da defesa na audiéncia de ‘maiotia liberal no parlamento (para a prtica no era relevante & posigdo isonémica que possuia o ministério public), na medida em que a parit de agora a requisicdo de oitiva de testemunhas presentes pode indeferida sob pressupostos bem mais amplos do que anteriormente (criticamente também KoueR, Inguistionsprinzip und ‘autonome Beweisfuhrung, 1979, p. 77 € ss. [N-T.: Até a mencionada reforma, as inieasrazdes Para recusar a requisigao de oitiva de testemunha ou perito jd presentes na audiéncia era essa ‘equisigdo fosseilcita ou feita com finalidade protelatria (Zweck det Prozessverschleppung). ‘A reforma acrescentou as razdes de que da falta de conexidade entre esse fato © 0 ‘© fato a ser provado seja notério ou jéesteja provado, objeto do processo da falta de idoneidade do meio de prova. Noutras palavras, antes a parte podia praticamente forga 0 juizo a ouvir uma testemunha 0u perito,atualmente o juizo pode recusar essa oitiva com base em critérios que Ihe abrem bom espaco de discricionariedade}). De qualquer forma, o § 245 StPO mantém sua importincia especialmente porque a defesa pode levar prito proprio na audiéncia de intrugio ¢julgamento, ‘© que em regra seria impossivel por meio de uma requisiglo de prova ocorrida depois da oitiva do responsivel pela perciajé elaborada, normalmente requisitada pelo ministério publico, nos termos das razées de recusa da requisiglo de prova dispostas no § 244 IV ? StPO. A despeito da ampliagao das possbilidades de manobras estratégicas por parte da defesa fem razio da existEncia da faculdade de escolha entre a requisigio normal de prova (normaler ‘Beweisantrag) ¢ a introdugéo de meios de prova existenes (Einfuhrung eines prisenten Beweis, ‘ittels) a incomensurdvel vantagem do direito de requisicao de prova alemao em relagio 20 Processo penal norte-americano reside na seguint situagdo: precisamente no caso de indefe- ‘imento nos termos do § 244 II ~ VI SiPO ¢ possfvel observar a partir da fundamentagdo dada para 0 indeferimento, a avaliaglo da producdo probatéria que o juizo fez até aquele momento, ‘de modo que a defesa esté em condigoes Preparar uma reaglo racional. \ ee naw sche |sentenca penal transitada em julgado.® Assim é ‘que se pode dizer que 0 proce- [bimens do ji € uma espécie de «propaganda enganosa» (Mogelpackung), na ‘medida em que se apresenta como modelo processual padrao, mas nio € quase nunca aplicado na prética. Em segundo lugar, esse modelo nao est em condi. %es de responder aos anseios pela investigacdo da verdade material, que representa o objetivo central e valor Miaior em qualquer process0 penal. Essa objetivo pode ser deduzido, apesar de um frequente mal-entendido,” dics mente da missio do processo penal, ue é a manutengao da validade da sangao ©, assim, a aplicagao e imposigao do direito material: 0 direito penal material & ultima ratio de protegao de bens juridicos, a qual ocorre por meio da eficacia Preventivo-geral da norma de conduta,cuja violagdo deve ser comprovada e Punida no processo penal para a imposigio da norma de sangaio; a inanedavel finalidade priméria do processo penal reside, assim, na comprovagio segura de que a norma de conduta foi Tealmente violada.” Uma condenagao sem comprovagie segura de que o acusado realizou culpayelmente um tipo penal Serviria ao interesse de ninguém. Além disso, € por mei do tipo penal que se estabelece normativamente e de forma cogente quais recortes da vealidede devem ser pesquisads no processo penal, de forma que o discurso por vezes aventado, segundo 0 qual nfo haveria uma, mas varias verdades,” acaba por ignorar que 0 contetido da finalidade do nesso é determinado pelo direito maga preamente ese onto eee so ‘Mente adversarial, apresenta fraquezas viscerais, que podem ser atribuldes ao modelo especifco do tribunal do ji. De fato, € comum escutar a tese de que € precisamente o modelo adversarial e sua institucionalizagdo de tese e contra- -tese que est em melhores condigées de fazer emergir a verdade como uina sintese. corre que esse argumento € evidentemente incorreto desde o ponte de vista da teoria e da psicologia da informagio, e isso pode ser demonstrado em trés niveis tintos. Tetalhada exposigio em Kan. Scuwann, Handel mit Gerechighet, 1977, p.73 e a3 Poa, Lasungshonvergencen... p. 146 € 885; KaMSARLAFavt/Istat./KING/KERE, Criminal Ss, £36 yechaPtet 22: WuesReAD/SLoecci, Criminal Procedure, 5. ed, New York, 7208, §26; ver também Scxoneaan, Absprachen im Strafverfahren?, Goiachon Ban oe pessectenJuristentag, 1990. . 27 es. 149s. com referéncasulteriores: oe, Festc hrf ur EGioE 2008; . 995 ess. (564 es.) (NT.2: Tratase do terceio estudo da Parte IV da precene oletinea, «Um olhar critico a0 modelo processual penal norte-americano®). Spano am Krauss, Festschrift fr Schafitein, 1975, p. 420 e su: Pacts, Festschrif fr Spendel, 1992, p. 690 ¢ ss; Vouk, Festschrif fir Salger, 1995, p. 413 e ss Gaaown 110 ie GA, 1998, p. 66 e 583 toem, Festchrf fir Meyer-Gofner, 2001, p. 208 ¢ 28, (216) Cpafere ours referéncias em SrosinceR, Das idealisierte Strafrecht, 2008 p. 391 ee, 2 Sobre essa dedugdo ver em dealhes Scudemann, Festschri fr Fezer.."p.S38ee pant Festschrift fr Sager, 195, p. 418; proximo, Knauss, Festschrf fr Schein. p.423 ess, Vorialhadamente Hexxwann, Die Reform der deutschen Haypwerhandlung nach dem Vorbild des anglo-amerikanischen Strafvefahrens, 171, p. 167 es. com mais reerereiag aa) as quais e guiam. mas por uma test nem a de No emtar verdade fora de r supde qu existent audiéncia entre est bb) hermenéu exclusiva Pré-comp dentro da uma diser iz, diser A Ginica p € a existe conterido juiz, no er Isso tanto indutivo-est ‘analytischen ideal de fala, fr W. Schul ed, 1990, p do descobrin Rechtsanthro ® Heoscos Methode. in Methodenvah égica da com segundo a qua contextos de ¢ Sozialpsycho 4a informagi Gremeneyen ‘no interrogatr sitwago fitica 7. ed, 2011, 8 in: Wionaien Bexven/Naci/ dizer que o proce- fogelpackung), na o, mas ndo é quase ado esté em condi- lade material, que ‘Dcesso penal. Essa entendido?* direta- avalidade da sangio cito penal material é por meio da eficéciz se ser comprovada e sangio; a inarredave: comprovago segure ma condenagao sex: mente um tipo pena €io do tipo penal que cortes da realidade o discurso por vezes erdades,® acaba por aminado pelo direite rte-americano, pura- em ser atribuidas ac sscutar a tese de que io de tese e contra- ‘verdade como uma orreto desde o ponto ade ser demonstrado eit, 1977, p. 73-€ ss: a/Kinc/Kenk, Criminal we, 5. ed., New York. 2, Gutachien B zum 58. es; ne, Festschrif fr sda Parte IV da presente ano). Pautus, Festschrift flr 1B e ss. Grasnice, 140 001, p. 208 e ss. (216). 2008, p. 391 es. eer P. SBS. chrf fir Schaftein... yerhandlung nach dem com mais referéncias PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 229 aa) A primeira causa da desorientagao est situada no plano das partes, as quais determinam tanto a amplitude como o contetido da colheita de provas guiam-se, para tanto, nao pela pura finalidade de descobrimento da verdade, mas por finalidades estratégicas préprias. E possivel, por exemplo, que haja uma testemunha relevante, mas ambivalente, e, em razio disso, nem a acusa¢o, nem a defesa a arrolem, temendo que ao final o depoimento as prejudique. No entanto, uma colheita incompleta de provas néo pode conduzir nunca 4 verdade material, na medida em que 0 conceito de verdade, se compreendido fora de relagdes explicaveis de forma exata pelas ciéncias da natureza, pres- supde que sejam levadas em consideracio todas as fontes de conhecimento ' existentes.”° Poder-se-ia nomear sa primeira e fundamental debilidadé’da audiéncia de instrugio e julgamento no modelo adversarial como o dilema' entre estratégia e descobrimento da verdade. bb) Num segundo nivel, trata-se do que gostaria de chamar de dile hermenéutic © sentido completo de uma pergunta ndo € deerminadd exclusivamente pelas palavras nela utilizadas, mas depende igualmente da pré-compreensio daquele que a formula, 0 qual interpreta também a resposta dentro da moldura desta pré-compreensio. Desse contexto € que exsurge uma discrepincia entre o horizonte de compreensio das partes e aquele do jiuiz, discrepincia essa que aumenta gradativamente no decorrer da audiéncia. ‘A tinica possibilidade de tornar reconhecivel e superdvel essa discrepancia €a existéncia de uma comunicacao entre os sujeitos participantes sobre do contetido da colheita de provas ¢ de suas compreensdes a esse respeito. Um juiz, no entanto, que, como os jurados, vivencia a colheita de provas como % Isso tanto de acordo com o chamado principio da méxima determinagiio nas explicagdes indutivo-estatisticas (Srecmouie, Probleme und Resultate der Wissenschafistheorie und ‘analytischen Philosophie, vol. 1, 1974, p. 664 € ss.), como nos termos da chamada situagio ideal de fala, pressuposta na teoria consensual da verdade (pioneiramente Hasenaas, Festschrift fir W. Schule, 1973, p. 220 e ss; ademais Auxv, Theorle der juristischen Argumentation, 2 ‘ed, 1990, p. 134 e ss,). A esse respeto e sobre os limites antropologicamente condicionados 4do descobrimento objetivo da verdade ver ScHUNEMANK, in: Lame (coord.), Beitrage zur Rechtsanthropologie, ARSP-Beiheft 22, 1985, p. 68 (73 ess.) % Hetoeacer, Sein und Zeit, 16. ed. 1986, § 63, p. 310 © ss; Ganaaer, Wahrheit und Methode, in:' Gesammelte Werke, vol. 1, 1986, p. 270 e ss.; Esser, Vorverstindnis und Methodenwahl in der Rechtsfindung. 1970, p. 40 € s., 50 € ss, 131 e ss. Na perspectiva da Jgica da conversagao (Konversationslogik) de Grice isso corresponde & méxima da relevancia, segundo a qual manifestagBes devem ser interpretadas & luz de anteriores manifestagtes e de ccontextos de conversacdo, ver FiEDLER/FREYTAG, in: BreRHore/FReY (coords.), Handbuch der Sozialpsychologie und Kommunitationspsychologie, 2006, p. 547 e ss. Sobre 0 processamento dda informagio conforme as expectativas ¢ também sobre a SELF-FULFILLING PROPHECY ver Grerremeves/Piscner/PREY, no mesmo volume, p. 336 € ss. Sobre o proceso de enegociaco» ‘no interrogatério desde a perspectiva da teoia da comunicagao e sobre a transformagao de uma situago fética lembrada em uma subsungio jutidica ver Eisenseeo, Beweisrecht der S1PO, 7. ed., 2011, nm. 732, 1332-1335; 08 aspectos tticos do interrogatério enfatizam Deckers, in: Wiowattk (coord), Minchener Anwaltshandbuch Strafvertedigung, 2006, § 44 nm. 52: Benpen/Nack/Taeuee, Tatsachenfeststellung vor Gericht, 3. ed., 2007, nm. 1011 ess. 230 BERND SCHUNEMANN ouvinte e espectador mudo, permanece fora desse circulo de comunicagio, de modo que sua compreensio passa a ser, cada vez mais, um incalculavel fator do acaso. cc) Num terceiro nivel, coloca-se 0 dilema de Lohengrin, em alusio & lenda existente e também 4 conhecida pera de Richard Wagner. E inevitével que a. um juiz comprometido com a descoberta da verdade, mas que no entanto acompania a audiéncia como mero ouvinte, ocorra uma série de perguntas que no poderdo ser formuladas em razo da correspondente proibigo de perguntas que o atinge. Fora de cursos explicdveis de forma exata pelas cién- cias da natureza, nao € possivel per definitionem encontrar a verdade caso aquele que a deva pesquisar tenha de deixar em aberto pontos de vista por ele considerados relevantes. Nada se altera nesse quadro em razdo da existéncia do juiz togado (judge ou bench), que apenas conduz a audiéncia, mas repassa a decisdo sobre a culpabilidade do acusado ao juiri. Ainda que ele esteja auto- rizado a formular perguntas complementares, permanece inalterado 0 fato ~ jé que ele nao pode decidir a pergunta sobre a culpabilidade — de que 0 juizo que decide sobre a culpabilidade nao possui o direito de formular perguntas. IIL MERITOS E DEFEITOS DO MODELO ALEMAO 1. Todas essas deficiéncia sao evitadas pelo modelo alemao. Fora dos limites dos métodos exatos das ciéncias empfricas, as quais englobam em regra no maximo um aspecto parcial dos fatos hist6ricos que devem ser inves- tigados no processo penal para que se realize a subsungdo, apenas € possivel falar em uma pesquisa da verdade material em um sentido pragmético-social caso esteja pressuposto que todas as fontes de conhecimento disponiveis estejam esgotadas. Esse pressuposto pode ser preenchido apenas no modelo inquisitorial, no qual o juiz que deve analisar essas fontes de conhecimento igualmente assuma e possa de fato cumprir com a responsabilidade de garantir © seu esgotamento. Contudo, esses méritos sao subitamente roubados em razio de um grave handicap, que os criadores do Cédigo de Processo Penal do Império jé haviam percebido ¢ tentado compensar, ainda no interior da estrutura inquisitorial. A organizagao de uma cotheita de provas completa nao € possfvel sem um acesso igualmente completo aos atos praticados na fase de investigagio, ¢ esse acesso aos autos da investigacao que possui o juizo é, por isso, 0 segundo elemento decisivo que distingue 0 modelo alemao do ameri- cano. Precisamente em raz3o disso, no entanto, ingressa na estrutura proces- sual uma inevitével dialética. Afinal, para que se chegue & verdade material na audiéncia de instrugdo e julgamento, 0 acesso aos autos da investigacdo por parte do juiz que deve produzir e avaliar as provas e, além disso, proferir a sentenga, é de um lado irrenuncivel, mas de outro também ameacador. Essa ameaga exerce seus efeitos exclusivamente em desfavor do acusado e coloca igualmente em perigo a fairness do processo. 2.Cor alemao, qu a) Os medida pel sede polici respeito da es nao € mneménic mas um rios piiblic influenciad contomnos Em razio inquirigao, sem.0 con! confirmar: veis pela i forma ince com a me 160 TI StP todo 0 pro descrito pe de provas da invest ocasiio do manifesta lidade de« anos ~€ 4 s6cio-psic ou de iné provas da na di assiméttc hipéteses ” Baxscu ess; Sowa (coords. Beschuldigt Fragen der 20085, nm. 3 * NTI le comunicagao, de rincalculavel fator agrin, em alusio a agner. E inevitével nas que no entanto série de perguntas lente proibigio de a exata pelas cién- wa verdade caso 1s de vista por ele azao da existéncia Sncia, mas repassa ue ele esteja auto- alterado 0 fato —jé de que o juizo que ar perguntas, alemio. Fora dos ais englobam em :devem ser inves- apenas € possivel pragmatico-social rento disponiveis penas no modelo de conhecimento lidade de garantir ate roubados em e Processo Penal da no interior da vas completa nao icados na fase de sui juézo €, por Jemao do ameri- estrutura proces- dade material na investigagao por disso, proferir a ameacador. Essa icusado e coloca PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL 231 2. Como se esté diante de um ponto fundamental na avaliago do modelo alemio, quero realizar uma anélise mais detida. a) Os autos da investigagdo sio normalmente compostos em grande medida pelos registros (Protokolle) das inquirigdes de testemunhas feitas em sede policial,JComo ja demonstraram uma série de pesquisas sociol6gicas a respeito das inquirigBes policiais de testemunhas, 0 registro dessas inquiri- ges nao é de nenhuma forma idé; 1a mera reprodugao do quadro mneménico da teste Gompardvel 8d descricao de uma fotografia), mas um 1idadeira produto da interagao entre testemunha ¢-o5 funcion’- ios ptiblicos encarregados da inquirigao © t; 7-Torie € massivamente influenciad iteses formuladas pelo policial a respeito dos supostos con ree Dee Policia avo suns Em razao desse maleabilidade do depoimento testemunhal, todo registro de inquirigo realizado exclusivamente pelos funcionérios da justia criminal, sem contrale peo advogado,é sistematicamente iendencigno ng sent de confirmar as hipéteses e conjecturas imaginadas pelos funcionérios responsé- veis pela inquirigao sobre o fato e sobre o seu autor. Esse fendmeno opera de forma inconsciente nos funciondrios da policia e nao é eliminavel, portato com a mera instituigdo de um dever de objetividade (Objekiivitdrspflicht — 160 II StPO). Essa assimetria em desfavor do acusado persiste ao longo A todo 0 processo, «como uma doenca perpétuan. A razio para tal reside no ja descrito papel processual que incumbe ao juiz alemao, que conduz a produgio. de provas a partir da base e da rota de marcha que Ihes so dadas pelos autos da investigagao preliminar, a respeito dos quais, ademais, ele proprio, por ocasitio do recebimento da dentincia e abertura do processo (§ 203 StPO), j4 se manifestara no sentido de-sua idone ‘para fundamentar uma alta probabi- lidade de condenagao.” Esse quadro produz um efeito por mim denunciado ha anos — e que portanto ndo repetirei nessa sede -, j4 confirmado por pesquisas s6cio-psicol6gicas, e que pode ser designado como efeito de perseveranca ou de inércia, em razio do qual o juiz analisa o resultado da produgio de provas da audiéncia de instrucdo e julgamento no mais-de forma neutra, mas na direcao das hipdteses da acusaco, de uma forma, portanto, desfigurada e a rica. Esse mecanismo, também designado Bastante cor hipéteses que se autgconfirmam, opera de forma inconsciente e néio pode, P Baxscuenus, Polizeiliche Vernehmung, Formen, Verhalten, Protokollierung, 1977, 207 ess; Scmarz, Taigeschchen, Zeugen und Polizei, 1978, p. 189 e ss.; oem, in: Kuee et alii (coords), Wissenschafliche Kriminalistik, 1983, 353, 356; Gunovact, Die Vernehmung des Beschuldigten im Ermittlungsverfahren, 1984; Wux, Strafprozessuale und kriminalpralaische Fragen der polizelichen Beschuldigienvernchmung, 1984; Eisenseno, Kriminologie, 6. e4., 2008, nm. 315 € ss. 4 (NT2) CE. sobre esses termos minha Introdugdo, LV. 2. c) ¢°) (I). 232 BERND SCHUNEMANN assim, ser superado através de um dever legal de objetividade.” As desfi- regredir 20 guragdes estruturais advindas dos registros das inquirigdes realizados fora femonstrei do contradit6rio manifestam-se até o momento da sentenga exclusivamente Também tratava-se da mal-aventuraa portaria de exceso Emminger (RGBI. 1924 I p. 15 8. impressa in Scum (coord.), Quellen zur Reform des Straf- und Strafprocefirechts vol Explcive 1V, 1969, p. 640 ss), que determinava em seu § 21 I: «A paricipagdo na abertara do processo aproximagso Judicial nfo configura causa de exclusto para epantcipagdo no processo judicial. E signif. que compen cativo que nenbuma das manifestagdes citadas &n, 8 se refira a essa fundamental mudanga de ALBRECHT orientagao Verfahrensge © (NAT) Trata-se da faculdade que possuio juz alemo, segundo a jurisprudéncia dominante, do primeira 4e confrontar o depoente com os registro de depoimento anterior que este prestara (referencias 10 ProcessoP em Roxn/Scutnenany, Straferfahrensrech..§ 46 nm. 25), » (N12) So % RoxiScnineuars, Siraeerfahrensrecht.. § 46. am. 25; Fezen, Strafproceirecht, BGH 43,2 Jaristischer Suatienturs, 2 ed, 1995, caso 13 nm. 43-46: etc, 1998, p. 55 am. 871 es om, 3, PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL As desfi- ‘esd cone Jo a ali esse contetido é, como jé ados fora smonstrel, InTEECo ps Por meio da praxis da sivamente Paes carTe UM CSpETE TE «aliangam,°"™ entre o juizo ¢ os Orgies da 1 primeira investing, qu pur 7 HCN St VETTES claro destavor / em 1876. do acusado. — de que 0 1) Outros defeitos entram em cena: o juz responsdvel pela inquiriclo, 6 ria ter sua recto Jodeverde preocupar-secom acondenagio do acusado culpado—tornar, lavia, essa -se, por uma necessi jcoldgica, 0 adversério do acusado, diante do qual 0 processo Joie ele formular perguntas desconTortaveis, procurar contradigoes e servit 5 aletamente dde uma tética de condenaga6 0 mais bem-sucedida possivel. A unificacdo dos sica entre poderes nas mios do juizo torna-se © ‘calcanhar de aquiles para o Estado aquele que de Direito no modelo processual pent yde inércia probat6ria nem por taquigrafialestenoprana {como nos BUA) e nem em video nstrugao € (como em varios outros paises). A producio probatria aparece apenas na tos. Nese descri¢ao/relatério escrito.na sentenca, taref relegada a0 proprio. juiz. Nao Vorhalt».” hé assim qualquer_garantia contra esquecingnis males sem amento do ‘mencionar o perigo de um proposital tedagao ‘cuidadosamente imune a qual- \ audiéncia quer recurso (revisionssicheres Nageln) da sentenga escrita. val a teste- 0, costuma 3, Se é verdade que, com isso, o modelo alemao evita as fraquezas apre- sentadas pelo modelo do tribunal do juri, também € verdade que acaba por scffer em raz2o de outros defeitos, que operam exclusivamente em desfavor Kriminalitts- 3 scusado e so, por isso mesmo, menos aceitéveis ainda. Daqui nie O° Bee sieett deve extrair a equivocada conclusao de que a solucdo é reviver © modelo nae see anal do jor, na medida em que este dtimo existe nos EUA, como i sychologie 17 sfhrmei, apenas no papel, e na realidade € praticado um processo puramene do da pate 1V policial ao qual se agrega a plea bargaining. A solugio deve ser procurada yea fem uma reforma do modelo alemao, capaz de superar suas, deficiéncias. Nesse acto sentido, existem duas posigdes diversas, intensamente discutidas no debate semitifico alemo sobre a reforma, mas até aqui ignoradas pelo legislador: & do parlamento alteragao do papel do juiz na audiéncia de instruglo ejulgamento, ov algurias Matrilien.. alteragdes na investigacio preliminar. Permitam-me discorrer sobre essas mma signif y 9 ena propostas de aprimoramento em separado. | 19241, p15 efirechis, vol. % Explicével através da teria dos processos de comparagbo social de forms que. ¢ ado processo apronimagto entre ues e promotoressio ainda mais foraleidas pela organizagso da ote ial, E signifi ar mpeeende ambos e pla caeias que se enzelagam. Vr Scuovenan in: Kalsen EUW” al madanca de Seer 265 ¢ so Det in: BisaRa eR GOTTWALDIBIRNBREIER-STANLBERGER (coords Verfuhrenagerechighet 195, p-223€83 1084, StV 2000p. 159¢ss. (162) (NT: Tet se cia dominant, Wertmelss estado da parte IV da presente coleines, «0 Juz.como um Tereiro Manipslado ara (referencias ‘no Processo Penal»). we INT.) Schulterschlussefe; fo estudo mencionado na nota imediatamente acima rafprozeprecht, 5 BGH 43,212; BGH NSIZ 1990, 35; OLG Brandenburg, NSCZ-RR 2009, 209; Hexneorn, 7: Beweisrecht 198, 9-35 est, i, Fess ir ‘Salger...p. 313 € 88; Mevex-Gosswen, StPO.... § 261 234 BERND SCHUNEMANN IV. REFORMAS PARCIAIS DA AUDIENCIA DE INSTRUCAO E JULGAMENTO? Poder-se-ia pensar em manter, de um lado, 0 acesso aos autos da investigagao ¢ 0 dever de esclarecimento dos fatos (Aufklarungspflicht — § 244 TI StPO) que possui o juiz se, de outro lado, 0 interrogatério sobre os fatos ¢ a producao probatéria na audiéncia de instrugio e julgamento ficasse ‘um primeiro momento a cargo, em exame cruzado (cross examination) da acusagao e da defesa. Ao juizo caberia formular perguntas complementares e, aso haja necessidade, realizar um interrogatério suplementar. Isso ocorreria nao mais no contexto do principio acusat6rio (Anklagekonzept), mas sim no quadro que se desenvolveu até aqui na audiéncia de instrugdo e julgamento (0 chamado «modelo do juiz passivo»).» Contra esse modelo argumenta-se que © «juz passivo», em razao de ainda possuir acesso aos autos da investigacio, Permaneceria submetido ao chamado efeito de perseveranga na sentenca, sem que isso fosse perceptivel e, em fungdo disso, corrigivel pelas partes Processuais.” O remédio seria fixar os depoimentos das testemunhas ainda na audiéncia por meio do registro de seus contetidos, e tomar a sua avaliacdo pelo juizo, em uma espécie statements sobre a valoracao da prova (Beweiswiirdi- gungs-Statements), reconhecivel e, com isso, também possibilitar um controle Comunicativo por parte da defesa, como, por exemplo, através de indicagdes de contradigao ou mal-entendido na avaliagdo da prova por parte do juizo.® Ocorre que, diante da estrutura do direito penal e criminalidade na moderna Sociedade industrial, ambas as propostas so bastante fracas para refrear a larga supremacia das investigagbes policiais, de resto observ4vel no mundo inteiro.*' No direito penal econémico, tributario e ambiental, como também €m varios casos que envolvem criminalidade organizada, 0 que se observa é ue os autos de investigagdo preliminar, extremamente extensos, prevalecem ™ Roxin, Probleme der Strafprovessreform, 1915,p. 2ess,:10eM, Festschrift Schmidt-Leichner, 1977p. 145 ess; Alterativ-Entwurf, Novelle zur StPO, Reform der Hauptverhandlung, 1985, ™ “‘Scuwewan, GA 1978, p. 161 e s.; similar, ScuvoctreR, Das Strafverfahren, 2. ed., 1983, 1am, 459; formulado om ScsunewanaBanow..a in: Wecenen/LOseL/Halsch...citScHUNEMANN, in: Brexsraven et alt. cit; 1oem, ZS¢W 114 (3002), p. less {sim jd Scionewann, Ga 1978, p. 161 € ss; pereebido nos dtimos tempos também por Konao, Festschrifi fr Friebertshduser, 1997, p. 211 es. *' Nao mantenho minha posigio enunciada em 1978 também porque a partir das minhas experiéncias préprias ~ limitadas quanttaivamente, é verdade, mas confirmadas em varias onversas com defensores criminais ~ a forga do efeito de inércia apenas aumentou nos jufzes alemies nos tikimos 35 anos, paralelamente ao desmonte (Abbau) dos elementos liberais da estrutura do processo penal por parte do legisladore da jurisprudéncia do BGH (amplamente (N-T.) Traduzo Parteiprozess como processo adversarial, sistema adversarial ou modelo adversarial de processo, em alusio 2 sua origem, o adversarial system nos paises de direito anglo-saxio, como nos Estados Unidos da América. E no direito norte-americano que 0 ‘adversarial system, adotado tanto no processo civil camo no pracesso penal, expressa-se se forma mais pura, O adversarial system & um sistema processual penal no qual incumbem fundamentalmente as partes processuais, endo ao juiz, as tarefas de produzir as provas (segundo ‘© modelo da Verhandlungsmaxime, ou Se, 20 principio dispositivo formal) e de determinar 0 torial! que que 0 mod por respei adequa-se emana de bem com erros nace de que as as que prc como ane jé na prin (reformie na Europ: entre o pr curso do pr cu Verfigw Portanto, no comadispo: a fundamen no 0 jut, term proc parece, € en eitos da caracterzad de diferens 20 juz), eg binémio ad por disposi ver Grivow jule-ago.se em especial © Ascii 5 Ep. Scan 201; Hive ed, 198! andlise abra 1940; lowe © Roxmy, § (ep. Stes Strafproces Strafverfah nach ihrer 1851, p. 32 1846, INAL General del Poder ontrarfamos diante ‘ssual penal norte- ticos: desde entio, ~americano, 0 plea ontinente europeu, matéria processual ada pelo desenvol- da América, 0 que sstionar acerca dos modelo adversariat 2 processo inguisi- ato penal americano == ‘al norte-americano m= », Consejo General de adversarial ou modelo ‘nos paises de dirito vomte-americano que © > penal, expressa-se so 2al no qual incumber=: tir as provas (segundo ‘mal ede determinaro PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 241 torial* que vigorou na América Latina até hé pouco tempo, ndo resta diivida Que 0 modelo adversarial apresenta considerdveis vantagens e, principalmente Por respeitar de forma maxima a posigdo de sujeito de direito do acusado,’ adequa-se de forma ideal @ concepgio de ser humano (Menschenbild) que emana de uma moderna constituigao de um estado democrético de direito, bem como ao ideal constitucional do processo justo (fair trial). Ambos os erros na construgio do velho modelo de processo inquisitorial - a saber, o fato de que as autoridades que conduzem a investigagio (Ermittlungsbehdrde) e as que proferem a sentenga (Verurteilungsbehorde) sejam as mesmas, assim como a negagao da posigo de sujeito de diteito do acusado - foram corrigidos jé na primeira metade do século XIX no chamado processo penal reformado (reformienter Strafprozess)* Ademais, ainda hé poucas décadas dominava nna Europa o entendimento de que 0 compromisso que assim se encontrara entre o puro modelo adversarial de processo penal ¢ o velho processo inqui- ‘curso do processo, podendo elas dispor do objeto do procesto (segundo a Dispositionsmasime (ou Verflgungsgrundsatz, ou seja, 0 principio da demanda ov principio dispositive material), Portanto, no adversarial system, 0 processo penal, uma vez instaurado, desenvolve-se de acordo ‘coma disposigio das partes. O modelo oposto,o inquisitorial system, €aquele em que as arefas estdo concentradas essencialmente nas mos do juiz. O termo alemio Parteiprozess reporta-se a fundamental caracteristica do adversarial system, qual seja, o fato de que sao as partes, © ‘no 0 juiz, quem tém o controle da condugio do processo; na doutrina nacional brasileira, 0 termo «processo de partes» (que corresponderia i traducdo literal de Parteiprozess) a0 que me parece, € empregado mais no sentido de salientar a posigSo da acusagdo e da defesa enquanto Sujeitos da relagdo juridica processual, a0 lado do juiz, e por isso usado enguanto expressa0, caracterizadora do sistema acusatGrio. A par da controvérsia doutrinria acerca do eritéio de diferenciago dos sistemas processuais penais (ou seja, se este critéio seria a existéncial inexisténcia da concentracio das tarefas de acusar, defender e julgar em um mesmo 6re0, ou Se seria, ao contrério, a iniciatva instrutGria € a possibilidade de gestio de provas conferidas 420 juiz), seguindo-se a terminologia usada por Ada Pellegrini Grinover, poder-se-ia taduzir 0 binémio adversarial-inqusizorial como sendo, respectivamente, «processo que se desenvolve Por disposicio das partes» © «processo de desenvolvimento oficialy. Para maiores detalhes, ver Guoven, A iniciativa instrutéria do Juiz no processo penal acusatério, Revista Forense, jul-ago-set. 1999, p. 3-10; Roxm/Scuonenarn, Strafverfahrensrecht, 27. ed, 2012, p. 65.95, em especial p. 64 es, {As tltimas reformas do processo penal no Peru e na Colémbia datam de 2004, 5 Es, Scns, Einflhrung in die Geschichte der deutschen Strafrechtspflege, 3. e4., 1965, § 201; Hens, Strafverfahrensrecht, 2. ed., 1968, § 9 1V 4, V (= p, 50e .), Peteks, StrafprozeS, 4. ed., 1985, § 11 IV (= p. 67); Roxin, Sirafverfahrensrecht, 25. ed., 1998, § 69 nm. 6, 10; anilise abrangente do modelo inquisitorial em Es. Scinaot, Inqusitionsprozess und Reseprion, 1940; loxor, Geschichte des Siafprozesses in Deutschland 132-1846, 2002 © Rox, Strafverfahrensreci.., § 10 (= p. 526 e ss.); Hens, Straferfahrensrecht... § 10 = p. 52. ss.); Perens, Strafprozep... § 11 TV (= p. 67); Von Kus, Lehrbuch des deutschen Strafprocessrechis, 1892, p. 60 e ss.; PLanck, Systematische Darstellung des deutschen Strafverfahrens, 1857; Mirtenuater, Die Gesetzgebung und Rechisbung liber Strafverfahren nach ihrer Fortbildung, 1856; Herrtea, Lehrbuch des gemeinen deutschen Strafrechts, 6. ed, 1857, p. 525 e ss; Zactanus, Die Gebrechen und die Reform des deuischen Strafverfahrens, 1846. 242 BERND SCHUNEMANN torial norte-americano era em grande medida um modelo superior.” Ha de existir, portanto, outros motivos para a atual «marcha triunfal» do modelo norte-americano de processo penal. Acredito (o que & primeira vista parece paradoxal) estarem estes motivos ancorados exatamente nas suas debilidades, nos seus deficits em relagdo aos mandames do estado de direito, pois que neste modelo, por trés da reluzente fachada de um modelo ideal ~ 0 adversarial ~, para mais de 90% dos casos vige algo bem diverso: uma prética de senten- ciamento acelerado, levada a cabo pelos érgaos de investigacdo sem qualquer controle judicial sério. Nao é sua conformidade com os valores do estado de direito, mas sao pelo contrério suas debilidades, que fazem hoje em dia o sistema norte-americano parecer tio atraente para os érgios de persecugdo penal europeus ¢ para a legislacdo por estes influenciada. Por esta mesma razio a critica fundamental do processualista Binder* contra o sistema inqui- sitorial, articulada em indmeras publicagdes, procede to somente em relac: ‘a0 velho proceso inquisitorial, mas nao em relago ao atual processo penal europeu. E seria, creio eu, um grande erro, caso se fizesse derivar das teses de Binder a conclusio, a ser aplicada as pendentes reformas do processo penal na China e América Latina” de que o sistema norte-americano deveria ser 0 modelo merecedor de incorporagdo. Pois que este sistema, por tras do disfarce do procedimento do tribunal do jéri, desgua na prética em nada mais, nada menos, do que no velho modelo de processo inquisitorial. Além disso, os seus A esse respeito comparar: Baner, NIW 1949, p. 738; Haxtunc, ZStW 64 (1952), p. 110: Hantuc, ZStW 73 (1961), p. 483; Scuonxe, DRZ 1950, p. 436; Es. Scimaor, NIW 1963, p. 1088; Es, Sciaor, MDR 1967, p. 81; assim como Henke, Strafverfahrensrecht... p. 111. 15 com informagées adicionais. CF. também os dados oferecidos por HexrMaw, Die Reform der deutschen Hauptverhandlung nach dem Vorbild des anglo-amerikanischen Strafverfahrens, 1971, p. des. * Bivpex, Justicia penal y Estado de Derecho, Buenos Aires, 1993, p. 180¢ ss.,204 ess. Dem, Ideas y materiales para ta reforma de la Justicia Penal, Buenos Aires, 2000, p. 26 € 73, 127 ess.;1pem, La fuerza dela InquisiciOn y la debilidad de la Replica, in: Ciencias Penales, Novembro de 2005, San José, Costa Rica, p. 38 ess, entre outros * Para uma visto geral sobre as reformas na América Latina, comparar: Gomez Covomes, in Gowtez CoLowen/GonzAuez Cussac (coords.), La reforma dela jusicia penal, Castellén, 1997, . 459 e ss; Mates/Amos/Worscionk (coords.), Las reformas procesales penales en América Latina, Buenos Aires, 2000; Bunoer, Ideas y materiales... p. 125, n. 2; Aunos/WoIsciik, ZS1W 13 (2001), p. 334 e ss.; Wo1scunnk, Untersuchungsrichier und Beschuldigtenrechte in “Argentinien, 2001; Auvansz, Revista Sistemas Judicales, 2002, n, 3; REYES MEDINAISOLANILLA Chavarso/Sousezoso Garaviro, Sistemas procesales y oralidad, Bogoté, 2003; BERNAL CueuianMonreatecae Lyverr, El Proceso penal, 5. éd., 2004; Goxziuiz. Ruz/Mexorera Jiwenez/Buscactia/Moneno Heknanez, El sistema de justicia penal y su reforma, Mexico, 2005, p. 288 ess; Revna Avraro, El proceso penal aplicado, Lima, 2006. Sobre a reforma na Repiilica Popular da China, ver Scxtweayn, Fudan Law Journal 2006, p. 65 e ss.; Mevus Xv, Chinese Law Science 2003, p. 12; em, Law Science and Social Development 2003, p. 138 ‘ess, Ronosino, Enhance the Judicial Reform and Insure the Implementation of the Criminal Procedure Law, in: China Legal Education ~ Striving for the World, Peking, 2001, p. 670 ess, substratos fundamen nics penal nort e julgame sta realizz primeiro | ‘com base de instruc no século acerca do experimer e sendo a é de relev ‘a0 modek necessidar ¢ julgame Europa. » probatérie sfrio com enviados j na estrutt advogado inguirinde da outrap vamente ¢ cconhece o formular} ” Chen 1990, p10: 1990, p. 66¢ "A saber, Seestejt por sorteo,, real possibil tum jurado, planeje as produgdo pe {nguisitorial segundo 0 8 togado eux superior.” Hé de fal» do modelo zira vista parece suas debilidades, ©, pois que neste adversarial - ‘tica de senten- %o sem qualquer res do estado de hoje em dia o 8 de persecugio Por esta mesma o sistema inqui- vente em relacdo proceso penal ivar das teses de processo penal 20 deveria ser 0 tras do disfarce aada mais, nada disso, os seus 64 (1952), p. 10; wr, NIW 1963, p. srecht...p. LI, sway, Die Reform n Strafverfahrens, 55,204.58 108M, 00, p. 26 ess. 73, Ciencias Penales, ez Covomes, in 4 Castell, 1997, enales en América Anos Wosscink, Iuldigtenrechte in Meprss/So.awi.ta 1, 2003; BenvaL 1 Ruw/Menouera reforma, Mexico, iobre areforma na 2.65 € sss Meuun ‘ment 2003, p. 138 oof the Criminal 2001, p. 610s PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL 243 substratos tedricos nao resistem a um exame critico. Gostaria de, em seguida, fundamentar brevemente esta tese. 0 Inicio minha andlise critica com o simulacro que € 0 modelo processual penal norte-americano, o qual se apoia em dois pilares: a audiéncia de instrugo e julgamento, regida pela oralidade ¢ levada a cabo pelo tribunal do jtiri, ¢ ‘sua realizacdo & luz do prinefpio adversarial (adversatorisches Prinzip).!° O rimeiro pilar ~ ou seja, a garantia de que a condenagao somente ocorrerd com base em uma produgao probatéria que fora realizada durante a audiéncia de instrugao e julgamento regida pela oralidade e publicidade — firmara-se jé no século XIX também no continente europeu."' Retomarei adiante a questo acerca do desenvolvimento quase paradoxal que justamente este alicerce vern experimentando durante os iltimos anos, tornando-se cada vez mais instavel € sendo amplamente derrubado nos Estados Unidos. A par deste paradoxo, € de relevancia para a resolugao da questo acerca da preferéncia conferida a0 modelo norte-americano um segundo aspecto, qual seja, 0 problema da necessidade de se conferir & estrutura adversarial da audiéncia de instrugZo ¢ julgamento uma prevaléncia sobre a estrutura inquisitorial dominante na Europa. Na estrutura inquisitorial, € o juiz quem decide sobre a producdo Probat6ria, realizando-a ele proprio, apés ter obtido 0 conhecimento neces- sério com base na leitura dos autos da investigacao preliminar, os quais lhe so enviados juntamente com a dentincia pelo ministério pablico. Diversamente, na estrutura adversarial, os meios de prova so eleitos pelo promotor ou pelo advogado do acusado, os quais realizam por si préprios a produgio probatoria, inquirindo as préprias testemunhas e formulando perguntas 3s testemunhas da outra parte (Kreuzverhér). Nesta estrutura, o juiz limita-se a assistir passi- vamente a produgio probatoria como um mero expectador. Portanto, ele no conhece os autos do inquérito policial, nem tampouco tem a possibilidade de formular perguntas complementares."? " Cf. entre outros, Kawtsaw/LaFave/Iseaet, Modern Criminal Procedure, 7. ed., Minnesota, 1990, p. 1048 ess. 1288 e ss; WarreareAn/Stoa0GN, Criminal Procedure, 3. ed., New York, 1990, p. 660 ¢ss., 711 ess "A saber, no seo do assim conhecido processo penal reformado, ver nota 6, ® Se este jutzo € composto por um juiz togado (BexurswuciTER) ou um por jurados escolhidos Por sortcio, trata-se de uma altemativa adicional, que todavia apresenta-sena prtica como uma real possibilidade somente para 0 modelo adversarial. Pois que & praticamente infactivel que ‘um jurado, leigo em matéria juriica, leia 0s autos em um primeiro momento, posteriormente Planeje as linhas gerais da audincia de instrueio e julgamento, e por fim dirija e realize a rou probatéria, Por este motivo, a audiéncia de instruglo e julgamento segundo o modelo {nguisitorial s6 pode ser dirigida por jufzes togados. Para a audiéncia de instrugdoe julgamento segundo o modelo adversarial, a0 contrrio, existem trésalterativas: o tribunal do ji, 0 juiz togado ¢ uma opgio mista, composta tanto por jufzes togados quanto por juizes leigos. 244 BERND SCHUNEMANN A decisio sobre qual dos dois principais modelos de audiéncia de instrugdo e julgamento deve prevalecer — o adversarial ou o inquisitorial — depende da maior ou menor aptidio de cada um em alcangar 0s objetivos do processo penal. A resolugdio desta questo representa um exemplo do método juridico da redugao meio-fim (Zweck-Mittel-Reduktion), com a ajuda do qual se pode deduzir de uma norma abstrata (como aquela concemente a0 objetivo que 0 processo penal deve perseguir) regras concretas (aqui: a estrutura processual mais apta a atingir este objetivo).'* Com isso, todavia, j4 se manifesta de antemao o seguinte problema: os objetivos processuais sto, até mesmo a nivel nacional, no ambito de cada um dos cédigos de processo penal, extremamente controversos e, portanto, seria de fato presungoso ¢ até mesmo ingénuo pretender-se que do direito natural pudesse ser derivado um objetivo do processo penal vélido para todas as ordens jurfdicas imaginaveis, Mas esta primeira impresséo engana. Em verdade, é possivel compor para todos os estados de tradigo ocidental, cujos sistemas juridicos so fundados nos principios do estado de direito democratico, liberal e social, a seguinte linha dedutiva: o direito penal material é a ultima ratio de protecio de bens juridicos, a qual se realiza através da eficacia preventivo-geral da norma de conduta;!* para que se garanta a aplicagao e imposigo da norma de sangio necessério que a violacio da norma de conduta seja comprovada e sancionada no processo penal; a primeira ¢ tiltima finalidade do processo penal consiste, destarte, na comprovagao segura de que a norma de conduta fora realmente violada; o processo penal deve ser entio assim estruturado, de forma a levar 0 esclarecimento da verdade material, ou seja, & segura determinagdo do fato supostamente praticado."® Assim, a aptidao para a descoberta da verdade "Um outro exemplo ilustrativo da interacio entre pontos de vista ontoldgicos ¢ normatives ‘em Scronewaan, FS Roxin, 2001, p. 31, “Neste contexto, a respeito da deducio deste principio dos fundamentos dltimos do direito « do estado, posso apenas me referir & minha prépria posiglo, defendida em uma discusséo ainda muito controversa, ver: ScHuNeMann, FS Roxin, 2001, p. 26 € $8; 1bEM, in: HEPENDEHL et alii (coords.), Die Rechtsgutstheorie, 2003, p. 133 ss: 10bm, in: v. Hinscu et aii (coords), Mediating Principles, 2006, p. 18e ss. De reso, para a dedugio do objetivo do processo penal, qual este texto faz referéncia, to somente se faz relevante a fungdo preventivo-geral do ireito penal enquanto tal. Mesmo que se siga a linha argumentativa do Tribunal Constitucional Federal, defendida na decisio de 26.02.2008 (2 BR 392/07) e no se admita que qualquer ‘motivo banal possa ser suficiente para justificar a intervengio penal (a respeito, eritico: Scnunemann, FS Amelung, 2009), deve-se convir que este motivo e sua banalidade teriam que ser reconhecidos de oficio pelo juiz ou tribunal, de modo que nada se modificaria em relagao 20 ‘objetivo do processo penal. '”Praurer, KK-StPO, 5.ed., 2003, Introdugdo (Ein), nm, $2: KMR/Escuex ach, 48" remessa, 2007, Introdugao (Ein), nm. 19 e ss; Kren, HK-StPO, 3° ed., 2001, Introdugio (Ein) am. 5: LR/Koine, 26. e4., 2006, ntrodugdo (EinL.), Secio (Abschn.) B, nm, 20 ess. O caro colega gui homenageado descreveu de forma congenial como primeiramente o Reichsgericht ¢ em Seguida o legislador puderam de forma exemplar transformar este principio, que na luta pelo estabelecimento dos tribunais do jr no século XIX fora ilégico e imensamente mal-entendido, ‘em um mero dogméticoinsttuto-gémeo (Zwillingsinstitut) do dever judicial de esclarecimento material do proce ow entra de efeite campo mudar a cognitv: atingird € aquilo Ges apr correspo & consin corrente penal en da capac possibili nao leva exigénci ximagao. investiga apto a ate prejudici Ten esperar p correntes ainda que Lc somente i qual se of vez que a tem relev: ideologia da norma, 2.Ep exatament qual reton os fats (ri de provas( © Vouk, BS Krauss, FS von Wahre final conc fe audigncia de © inquisitorial — gat 08 objetivos 1am exemplo do on), com a ajuda tela concernente moretas (aqui: a isso, todavia, j4 processuais so, 05 de processo resungoso e até ser derivado um 2as imagindveis. ‘el compor para ‘9 so fundados ocial, a seguinte rrotegdo de bens ral da norma de sma de sango & sda sancionada > penal consiste, 2 fora realmente se forma a levar leterminagao do serta da verdade Sgicas e normativos s tims do direito ‘em uma discussio ‘nt, in: Herevoen, sca et ali (coords), do processo penal, reventivo-geral do ‘unal Constitucional dita que qualquer ‘a respeito, critic: ‘alidade teriam que icariaem relagio 20 Aci, 48" remessa, ‘odugdo (Ein), nm 188. Ocaro colega Reichsgericht €em ‘io, que na luta pelo cente mal-entendido, 11de esclarecimento PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 245 ‘material ainda constitui 0 ponto arquimédico para todo ¢ qualquer instituto do processo penal, ao passo que os demais fins so deduzidos deste fim maior ou entram em cena de forma complementar apenas como medida preventiva de efeitos colaterais danosos. As controvérsias fundamentais levantadas no campo da filosofia acerca do conceito de verdade so tio pouco capazes de mudar algo nesta constatagdo, como o € a consciéncia de que a capacidade cognitiva do ser humano em geral, e em especial no processo penal, jamais atingird uma completa e absoluta correspondéncia entre aquilo que é afirmado aquilo que corresponde & realidade, sendo capaz de oferecer apenas solu- Ges aproximativas. Pois que a ~ aqui assim aludida — teoria da verdade como correspondéncia (Korrenzpondenctheorie der Wahrheit) equivale exatamente 8 construcao social da realidade, que ocorre nos dominios da linguagem corrente usada no dia a dia, e por isso se adequa plenamente ao processo penal enquanto fendmeno social. Ademais, a consciéncia sobre a limitagao da capacidade cognitiva humana e as dificuldades especificas advindas da possibilidade de se esclarecer um fato hist6rico somente apés sua ocorréncia nao Ievam ao enfraquecimento, mas, pelo contrério, ao fortalecimento da exigéncia de que se estabeleca uma estrutura processual cujo fim seja a apro- ximagiio da verdade material orientada ao maximo nos fatos, a assim chamada investigagao (Ermittlung). Caso contrério, o processo penal nio estaria ab ovo apto a atender as exigéncias do direito material, que figuram como questGes prejudiciais para 0 processo penal. ‘Tendo chegado a esta conclusdo eu poderia, ainda hé poucas décadas, esperar por ampla aceitagao, mas desde entio formaram-se trés influentes correntes criticas, em relago as quais devo aqui apresentar minha rejeigdo, ainda que brevemente: 1. Criticos afirmam que a verdade material néo existiria, ¢ sim to somente intimeras diferentes verdades, de acordo com a perspectiva a partir da ‘qual se observa a realidade.'® Trata-se, entretanto, de um erro categorial, uma vez que a questo a qual a critica se refere, a saber, qual recorte da realidade tem relevancia para a decisio judicial, ndo € um problema da filosofia ou da ideologia social, mas sim uma questdo jurédica, que sera solucionada através da norma jurfdico-penal a ser aplicada 2, Embora o modelo adversarial tenha sido legitimado nos Estados Unidos exatamente enquanto meio apropriado de descoberta da verdade (questio a qual retomarei em breve), poder-se-ia de forma ainda mais coerente ¢ conclu- os fatos (richterliche Aufidarungspfict)¢ do elaborado direito de requerimento de producto {e provas (Beweisantragsrecht). Ver: Fezes, FS 50 Jahre BGH, Tomo IV, 2000, p. 847 ess. "© Votx, FS Salger, 1995, p. 413 e s.; Graswcx, FS Meyer-Gotiner, 2001, p. 208 e ss. (216): Knauss, FS Schaffstein, 1975, p. 420 e ss; ef. também Gosset, Ermittlung oder Herstellung von Wahrheit im StrafprozeB, 2000, p. 9 ¢ ss; detalhadamente, porém sem um posicionamento final conclusivo: Srustvoen, Das idealisiere Strafrecht, 2008, p. 538 e ss. 246 BERND SCHUNEMANN dente sustenté-lo na ideia da auronomia das partes, ao se substituir a verdade material enquanto fundamento do processo penal pelo conceito de consenso. E exatamente esta tentativa que se observa atualmente entre propagandistas dos acordos no ambito do proceso penal (Urteilsabsprache)." Porém, este insti- tuto nao se deixa conciliar nem com o direito penal material, nem tampouco com os fundamentos de um estado de direito liberal. Uma comparagio com © processo civil deixa claro que os alicerces do modelo adversarial residem na autonomia da vontade dos cidadiios, que tém a liberdade de acordar entre si no tocante a suas relagdes de direito privado segundo sua propria vontade, ‘© que consequentemente também deve ser possivel dentro das estruturas do Processo civil. Uma vez que fica a cargo da discricionariedade de um cidada a decisdo sobre se ele efetua ou ndo um pagamento a outro cidadio, pode ele decidir-se de acordo com seu préprio arbitrio a se sujeitar ao cumprimento de uma obrigagdo pecunidria no ambito de um processo civil. A decisio acerca da imposicdo da pena estatal, em contraste, nao esta sujeita a livre vontade do cidadao, exceto quanto & sua decisao de realizar ou nio o tipo penal previsto em lei. Em virtude da natureza da pena enquanto um mal associado a uma reprovagao moral, capaz inclusive de destruir ou ao menos prejudicar seria- mente a existéncia fisica, mas sobretudo a existéncia social do individuo, faz-se impossivel que o estado imponha esta mais grave das graves consequ. éncias juridicas somente porque o individuo por sua livre vontade 0 queira. 3. A terceira e atualmente mais influente corrente critica na América Latina encontra suas origens em Binder, quem, fundamentando-se no principio da ultima ratio, defende que & Justica Penal incumbiria em primeira linha uma fungdo promotora da paz social (friedensstiftende Funktion)."“ Todavia, pot trés desta tese esconde-se uma impreciséo seméntica envolvendo dois aspectos distintos: o principio da ultima ratio deve ser realizado jé na esfera do direito penal material, de forma que, quando da realizagao de um tipo penal, a questo atinente A necessidade da intervencao estatal através da imposicao da pena ja fora decidida em seu cere. A alusio ao ideal social-filos6fico da promogio dda paz social induz a erro neste ponto, uma vez que 0 ordenamento juridico, Hermann, JuS 1999, p. 1162 (1167); Gatsanol, NSLZ 1987, p. 419 e ss. (420); Gat.anos, MDR 1987, p. 801 ess. (802); Craman, FS Rebmann, 1989, p. 148; Grasnicx, GA 1990, p. 483 € ss, (491); Lopenssen, StV 1990, p. 415 e ss, (419); Looenssen, Hassewer, FS Hamm, 2008, P. 171 ess., 419 ss; semelhante abordagem também em Eser, ZSIW 104 (1992), p. 361 ess (383); Tscnerwinka, Absprachen im StrafprozeB, 1995, p. 46 ¢ Sait, GA 2004, p. 415 € ss. (419); posigao eritica em Lizn, GA 2006, p. 129 es, (143); teat Z5eW 118 (2006), p. 437 ess. "* A qual, soba perspectiva do topos da paz juridica (Rechtsfrieden), também desempenha umm Papel no contexto da discussio alema acerca do objetivo do processo penal, mas que, acerta- ddamente, possui relevncia apenas para fins de legtimagio do insituto juridico do transito em Julgado, pois que © programa normativo do StGB, que se mostra vinculante para 6 processo penal leva em conta a paz jurica enquanto tal apenas excepcionalmente, como por exemplo ‘no Ambito dos crimes de agao penal publica condicionada (ANTRAGSDELIKTE). Bower, Ideas y materiales... p. 115. s., 130, 177; tM, Justicia penal... p. 61 € 58. em momen no pode st exige parat 1ndo 0s indi diante de w solucionadc prinefpio in estatais inc do cometim advém, em que a critics no maximo imposigao « relevanciac também de dirimido no parte do su presente, de modo qe vale com m audiéncia d obteve éxit constatado de que os 1 para a resot ser exigida, pressupde « acerca da c dicavel eng Dai resulta em todo ce verdade ma do modelo Todas aestrutura * Verdade é: por precaucao Instrumento d pode-se const através do arq aplicagdo do p ‘menos graves abstituir a verdade ‘ito de consenso. E ‘Topagandistas dos Porém, este insti al nem tampouco comparagao com Wersarial residem de acordar entre 2 propria vontade, das estruturas do ide de um cidadao cidadio, pode ele >cumprimento de A decisdo acerca a livre vontade do ipo penal previsto associado a uma. 3 prejudicar seria- 5 graves consequ- oatade 0 queira. ‘ica na América do-se no prinespio rimeira linha uma «9 Todavia, por indo dois aspectos vesfera do direito openal, a questo ‘sigo da pena jé fico da promogao ‘amento juridico, ss. (420); Gattanoy, we, GA 1990, p. 483 =, FS Hamm, 2008, (1992), p. 361 ess. GA 2004, p. 415 ess. 8.2006), p.437 es, sbém desemmpenha um snal, mas que, acerta dic do trnsito em ante para o processo te, como por exemplo sm) al... p.6L es. PARTE IV — DIREITO PROCESSUAL PENAL 247 em momento anterior, j4 tomara a decisio de que a ofensa ao bem juridico nao pode ser reparada através de meios s6cio-politicos, mas, pelo contrario, exige para tanto a intervencdo do direito penal. E so as instancias estatais —e nao 08 individuos envolvidos — que tém de decidir por si prOprias se se est diante de uma tal razdo imperiosa, que nao mais admite que o conflito seja solucionado no seio da sociedade por meio de seus pr6prios mecanismos. O principio inquisitivo (inguisitorisches Prinzip) — ou seja, a tarefa de os 6rgaos estatais incumbidos da persecucdo penal investigarem ex officio a suspeita do cometimento de um crime — € com isso uma consequéncia necesséria que advém, em dltima instancia, da instituigao do direito penal estatal, de forma que a critica central de Binder acaba por se mostrar improcedente. Pode haver no maximo campos de incerteza, nos quais a deciso sobre a necessidade da imposi¢ao da pena segundo o principio da ultima ratio depende da concreta relevncia do crime, e nao de pressupostos conceituais. Nesta zona cinzenta, € também de relevancia a questo acerca da possibilidade de que 0 conflito seja dirimido no seio da sociedade, por exemplo através da reparagao de danos por parte do suposto autor & suposta vitima.” Se uma tal zona cinzenta esté ou nao presente, é 0 estado por sua vez. quem tem de examinar de forma responsavel, de modo que também neste nivel o principio inquisitivo € irrenuncidvel. Isto vale com muito mais razio (e com isso chego ao meu verdadeiro tema) para a audiéncia de instrugao e julgamento no processo penal. Afinal, se 0 processo obteve éxito até este estégio, € preciso que em momento anterior tenha-se constatado que a ofensa ao bem juridico fora de tamanha gravidade, a ponto de que os mecanismos intrassociais no mais puderam se fazer suficientes para a resolugdo do conflito e, por isso, a imposicao da pena estatal houve de ser exigida. Uma vez que a imposigao da pena, por sua vez, necessariamente pressupde que 0 juiz, atuando pelo estado, possa estar e esteja convencido acerca da culpabilidade do acusado, 0 princfpio da verdade material é inab- dicavel enquanto principio norteador da audiéncia de instrucdo e julgamento. Daf resulta que a fungdo de promogao da paz social de Binder apresenta-se, em todo caso, como algo secundario em comparagio com o principio da verdade material, e no pode, destarte, pretender ser elemento caracterizador do modelo processual de audiéncia de instrugdo ¢ julgamento a ser seguido. ‘Todas as consequéncias que Binder pretende daf derivar a fim de rechagar a estrutura inquisitorial e reivindicar uma estrutura adversarial so, portanto, ™ Verdade é que o legislador, na esfera do direto penal material alemdo, concebera até entio por precausao 0 insituto da composigao autor-vitima (Tater-Opfer-Ausgleich) apenas como instrumento de diminuigéo de pena (8 46a StGB). Todavia, no ambito do processo penal, pode-se construir com base neste instituto um instrumento da diversio penal (Diversion) através do arquivamento do processo (Einstellung), o que pode ocorrer em todo o ambito de aplicagio do prinefpio da oportunidade (Opportunitdsprinzip) e com isso para todos 0s delitos menos graves (Vergehen), vera respeito § 153a1S. 2 Nr. 1,5 StPO. 248 BERND SCHUNEMANN inconsistentes e inconcludentes, porquanto no se pode acolher a premissa by ¢ sobre a qual se sustentam. designar tionamen ML formulac . que 0 for Assim, corrobora-se a tese de que 0 modelo processual de audiéncia de pengunta: instrugdo e julgamento, em primeira linha, deve ser escolhido com base na sua i gaa respectiva aptidio para o descobrimento da verdade. E neste sentido 0 modelo ensio da norte-americano, puramente adversarial, mostra profundas debilidades, que se a audién enraizaram ainda mais através da instituigd0 do modelo processual do tribunal elon do jr. participa 1. Por certo, escuta-se frequentemente a tese de que justamente 0 seus resp modelo adversarial, com a institucionalizagdo de tese e antitese por ele reali- presencic zada, o mais apto a permitir que a verdade venha a emergir enquanto sintese.”" mantém- Todavia, essa tese € equivocada, em termos da teoria ¢ da psicologia da infor- que seu magdo, 0 que pode ser comprovado em trés diferentes niveis. acaso. a) A primeira causa deste equivoco situa-se no nivel das partes, as quais, —2 no modelo adversarial norte-americano, determinam tanto a amplitude como o gostariac contetido da instrugdo probatéria, sem que se deixem para tanto conduzir pela tiva lend mera finalidade do descobrimento da verdade, mas sim por finalidades estraté- que um gicas proprias. Pode haver, a titulo exemplificativo, uma testemunha que seja que, no importante para 0 processo, mas que, por ser ambivalente e contradit6ria, nao por uma 6 arrolada nem pela acusago, nem pela defesa, em virtude de ambas temerem cular em 6 risco de que 0 depoimento acabe por prejudicé-las. Contudo, uma colheita Excetoe incompleta de provas nao pode jamais promover a descoberta da verdade cincias material, pois que, exceto para os acontecimentos e relagdes explicaveis com e280 aqu exatidao pelas ciéncias naturais, 0 conceito de verdade pressupde que todas consider as fontes de conhecimento existentes sejam levadas em consideragio.” Essa que tio s primeira e fundamental fragilidade da audiéncia de instrugao e julgamento em concerne sua conformagio adversarial poder-se-ia denominar de o dilema entre estra- fato, este 1tégia e descobrimento da verdade. uma vez das cont direito de 2 Como Hexnaai, Die Reform... p. 167 ess. com muitas ourasinformagbes. ne 2 sso € vilido tanto & luz do chamado principio da méxima determinagio nas explicagdes indutivo-estasticas (Prinzip der maximalen Bestimmtheit bei induktiv-statistischen de deseo Erkldrungen) (Sreowo..er, Probleme und Resultare der Wissenschafstheorie und analyfischen este mod Philosophie I, 1974, p. 668 ess), como também & luz da chamadasituaio ideal de fala (ideale Estados Kommunikationssituation), pretendida pela teoia consensual da verdade (Konsensustheorie competi der Wahrheit) (informagbes fundamentais a respeito em Haverwas, FS W. Scaurz, 1973, : p. 220 € ss; ademais, Attxy, Theorie der juristischen Argumentation, 2. ed., 1990, p. 134 ¢ $5), Reluvament esata ¢ Aue eee ames a desobimentoobetvo da — ‘erdade resultane da exsténcia de bareiras e limites de carder antropologico detalhadamen » Sica ait erin ces ce ams aha » Ana ».68, 73es5 aa aet a premissa toconduzir peta alidades estraté- emunha que seja sotraditéria, 0 ambas temerem 4o. uma colheita eta da verdade explicéveis com supe que todas ‘ideragio.” Essa 2julgamento em ma entre estra- ashes. so nas explicagdes ‘edkiv-statistischen rie und analytischen ideal de fla (ideale (Konsensustheorie W, Sew, 1973, ea, 1990, p. 134 ‘mento objetivo da seo, detalhadamente PBeiheft 22, 1985, PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL b) O segundo dos trés niveis diz respeito a algo que eu gostaria de designar como sendo 0 dilema hermenéutico. O sentido pleno de um ques- tionamento nao é estipulado exaustivamente pelos termos usados para sua formulacZo; pelo contrdrio, depende também da pré-compreensio do agente que o formula, quem, por sua vez, interpreta as respostas conferidas as suas perguntas dentro do seu proprio plano de referéncia, sua pré-compreensio. Daf resulta necessariamente uma discrepdncia entre horizonte de compre- enso das partes ¢ 0 do juiz, a qual aumenta gradativamente, & medida que ‘a audiéncia transcorre.® A tnica possibilidade de se perceber € com isso de se corrigir essa dissonincia consiste em uma comunicagdo entre os sujeitos participantes do processo acerca do contetido da instrugao probatéria ¢ de seus respectivos entendimentos quanto a este assunto. Todavia, um juiz que presencia a instrugio probat6ria como mero ouvinte ¢ mudo espectador, mantém-se excluido deste indispensdvel circulo de comunicagao, de forma que seu entendimento toma-se gradativamente um incomensuravel fator do ‘caso. ©) No terceiro nivel, agrega-se 0 dilema de Lohengrin, tal como eu gostaria de denominar este nivel de argumentacio em sutl referéncia a respec- tiva lenda e a renomada pera de Richard Wagner. E absolutamente inevitavel que um 6rgo decis6rio comprometido com a descoberta da verdade, mas {que, no entanto, acompanha a audiéncia como mero ouvinte, seja tomado por uma série de dlividas ¢ questionamentos, os quais ele néo poderd arti- ular em virtude da proibigao da formulacdo de perguntas imposta sobre ele. Exceto em relagdo a acontecimentos que so explicéveis de forma exata pelas ciéncias naturais, nenhuma verdade pode, per definitionem, ser encontrada, caso aquele que a deva descobrir tenhia de deixar em aberto aspectos por ele considerados relevantes. A existéncia do juiz togado (Berufsrichter / judge), que tio somente conduz a audiéncia, tendo assim que remeter ao jtiri a decisaio ‘concerente A culpabilidade do acusado, nao muda em nada esta situagao. De fato, este juiz € autorizado a formular perguntas complementares; no entanto, ‘uma vez que ele nao pode decidir sobre a culpabilidade, o que se tem no final idas contas € que 0 Srgio que decide sobre a culpabilidade (o jiri) nao tem direito de formular perguntas. 2. O modelo adversarial é, por este motivo, um meio um tanto limitado de descobrimento da verdade. Sua atratividade reside justamente no fato de este modelo mostrar-se consentaneo com um senso de justiga peculiar dos Estados Unidos, de acordo com o qual o processo penal seria meramente uma competi justa entre dois adversdrios, entre os quais o melhor ha de se fazer 2 respeito, deforma minuciosa: ScHONEMANN, in: LaMFE... . 68, 73 e ss; sobre questBes dai derivadas atinentes 3 reforma do modelo de processo penal: ScHONewann, ZS1W 114 (2002), p. Less. (52€5);10eM, GA 1978, p. 16 ess. (177 es.) 250 BERND SCHUNEMANN vencedor.” Se a consequéncia juridica consistisse em que o perdedor, ou seja, © advogado, tivesse que arcar com as custas do processo ou fosse sancionado com um eventual rebaixamento em um possfvel ranking de qualificagao dos. advogados, nao haveria nada a objetar. Todavia, trata-se de imposi¢ao de pena no sobre um dos adversérios desta «batalha», mas sim sobre 0 acusado. O fato de que seu advogado fora o pior entre os competidores nao pode, indubita velmente, constituir o fundamento para uma legitimacao séria de sua punigfo. Daf resulta que 0 modelo adversarial nao € capaz de oferecer uma resposta satisfat6ria em relacdo ao principal objetivo da audiéncia de instrugao ¢ julga~ mento, ou seja, 0 descobrimento da verdade. Tendo em vista que 0 érgao decisério néo pode garantir a plenitude da produgdo probatéria e no esté autorizado a preencher lacunas nos interrogat6rios através da formulacao de suas préprias perguntas, o veredito no é capaz de constatar a verdade material dos fatos, mas tao somente a vit6ria de uma ou de outra das partes processuais. Com isso, ndo se pode alcangar de forma ideal o objetivo central do processo penal IV. Essa redugdo do fim processual do descobrimento da verdade a uma ‘mera constatago — compardvel & decisio do drbitro em uma luta de boxe ~ de qual dos adversérios vencera 0 «combate» € levada ao extremo através de uma outra peculiaridade do processo penal norte-americano: o instituto do guilty plea, que constituiu a base do plea bargaining, o qual atualmente domina 0 desenvolvimento do processo norte-americano. 1. Aum modelo adversarial de processo em sua forma mais radical deve estar associada a possibilidade, a ser garantida a cada uma das partes, de reco- mhecer j& de antemao a procedéncia da alegacdo jurfdica da parte contréria e, assim, tomar supérfluo um exame judicial do caso. Isso & absolutamente normal no ambito do processo civil: assim como por forga da autonomia da vontade cada cidadao pode se obrigar a0 cumprimento de uma prestacdo através da celebragio de um contrato, pode ele também, através do reconheci- mento do pedido do autor em uma causa cfvel, aceitar, por sua livre decisio, a pretensdo jurfdica do autor e, assim, sujeitar-se & consequente execugi % Como em Tapaur/Watxer, Procedural Justice: A Psychological Analysis, Hilsdale, 1975; tam, 66 Cal. L. Rev. 541, 1978; maiores detalhes em Hexeasan, Die Reform... p. 1528 ® De acordo com 0 § 278 ZPO, a resolugio amigavel do litigio (giliche Bellegung des Rechissrets) fora estabelecida entrementes enquanto fim processual dominante, Contra ela, tendo em vista o aspecto da autonomia privada das pares, nio haveria nada a se objetar, nio fosse 0 manifesto inconveniente de uma disfargada transagdo compulsiva realizada pelo juz, ‘que consegue somente com muito custo encobrir a agonia amplamente constatavel do processo civil (cuja funglo social consiste em esséncia apenas na satisfagio do exédito de fornecedores, vera respeito Row, Rechtssoziologie, 1987, p. 500 ss). Exatamente e: remonta a anti afinal, no se Com isso, pod causar sua pré realizar nenhw culpa ocorrera plea diferenci proceso pena rocesso, ou s diretamente meios de prov de outros mei minhas reflex. no inicio det processo pena processual, pc a aplicagio & mente porque cumprimento Portanto, o ins © processo per fundamento pi 2. O inst penal norte-ar sob a perspect revolugio doy tribunal do jaa acusado, que « nuiggo de per de substituigé 100 anos, noe Estados Unide 6s tiltimos 30 © principio » Uma vez que: Rules of Crimin deserever os fox ‘Modern Crimina 646. A respeito, de perdedor, ou seja, fosse sancionado 2 qualificagdo dos ‘mposicdo de pena wbre 0 acusado. O Zo pode, indubita- jade sua punigao. ‘weer uma resposta ‘nstrugdo ¢ julga- vista que 0 6rgi0 vat6ria e€ ndo esté da formulagio de averdade material vartes processuais. satral do proceso la verdade a uma luta de boxe ~ de no através de uma instituto do guilty almente domina 0 mais radical deve as partes, de reco- da parte contréria »€ absolutamente ‘da autonomia da Je uma prestacdo wvés do reconhe sua livre decisao, quente execugao.** alysis, ilsdale, 1975; form... IS2€8 iliche Beilegung des ‘ominante, Contra ela, ada ase objetar, ndo ‘arealizada pelo juiz, nstatével do processo Sito de fornecedores, PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL Exatamente esta possibilidade existe também no processo norte-americano € remonta a antigas instituigdes do processo no common law, no seio das quais, afinal, ndo se diferenciava claramente entre processo civil e processo penal. ‘Com isso, pode 0 acusado no inicio do processo confessar-se culpado e, assim, ‘causar sua propria condenacdo por parte do juizo, o qual nao esté obrigado a realizar nenhum exame adicional além da verificagao de que a confissio da culpa ocorrera sem os vicios do erro e da coergo.* O assim chamado guilty plea diferencia-se de forma decisiva do instituto da confissao do acusado no Proceso penal europeu, visto que implica uma disposigao sobre 0 objeto do Processo, ou seja, o reconhecimento da procedéncia da deniincia, o que leva diretamente & condenagao. A confissio, por sua vez, é somente um entre outros meios de prova, e no dispensa 0 ju‘zo de sua obrigagio de comprovar através de outros meios a fidedignidade das declaragées realizadas.”” Todavia, das minhas reflexdes acerca da relacio entre direito penal e processo penal tecidas no inicio de minha argumentacao, infere-se diretamente que a0 acusado no processo penal no deve ser conferida a possibilidade de dispor sobre o objeto rocessual, porque somente o estado pode decidir se os pressupostos para a aplicagdo da pena estio ou ndo preenchidos. Condenar alguém simples- ‘mente porque ele assim o deseja nao corresponderia & expectativa relativa 20 cumprimento da finalidade da pena e seria verdadeiramente um desprop6sito. Portanto, o instituto do guilty plea destréi o nexo legitimat6rio existente entre © processo penal e 0 direito penal material e por isso nao pode jamais servir de fundamento para uma justa imposicao da sango penal. 2. O instituto do guilty plea arruina com o ideal de justiga no processo penal norte-americano ndo apenas & luz de uma andlise te6rica, mas também sob a perspectiva da pritica processual. Afinal, ele resultou em uma radical revolucdo do processo penal: a audiéncia de instrugao e julgamento perante 0 tribunal do jtiri fora amplamente abolida e substitufda por um guilty plea do acusado, que dele é praticamente «comprado» através de uma suposta dimi- nuigao de pena. O método do guilty plea fora desenvolvido neste contexto de substituigdo da audiéncia de instrugdo e julgamento hé aproximadamente 100 anos, no entanto fora considerado durante muitas décadas até mesmo nos Estados Unidos como algo juridicamente bastante duvidoso. Somente durante 8 tiltimos 30 a 40 anos 0 guilty plea vem sendo declarado consentaneo com © principio constitucional do devido processo legal (due process of law) % Uma vez que a chamada factual basi de um guilty plea exigida pela Rule 11 ¢ das Federal Rules of Criminal Procedure, significa praticamente apenas que 0 acusado deve conseguir descrever os fatos que confessa, Para uma anise mais abrangente, cf. KaNasaR/LAFAVE/ISRAEL, ‘Modern Criminal Procedure... p. 1268 ess.; WutTeskeac/SLovocn, Criminal Procedure... p 646, A tespeito, deforma detalhada: Haver, Gestdndnis und Absprache, 2007, p. 188 ess. 252 BERND SCHUNEMANN pela Corte Suprema dos Estados Unidos.* Desde entdo, mais de 90% dos processos penais nos Estados Unidos so concluidos da seguinte forma: entre a acusagio e a defesa € acordado um guilty plea, cuja aceitagao por parte do acusado € «comprada» através de uma atenuacdo de sua pena. A tltima parte deste acordo global, qual seja, a realizagao de uma redugao de pena, foi, a propésito, a de mais complexa concretizagao sob o ponto de vista técnico, pois que 0 célculo da pena compete apenas ao juizo, 0 qual, por sua vez, esteve por longo perfodo de tempo amplamente vinculado as diretivas para 0 calculo de pena. Nao obstante, jé havia 4 época meios para 0 juizo se eximir de obedecer esta — assim pretendida pelo legislador —rigorosa vinculacao as dire- tivas, por exemplo através da estratégia de se admitir 0 guilty plea somente para um crime de gravidade menor do que a gravidade do delito cuja pratica fora de fato imputada ao acusado pelo ministério piiblico. H4 pouco tempo, © mais alto tribunal dos Estados Unidos declarou inconstitucional o efeito Vinculante destas diretivas, que se tornaram, entio, nulas e portanto carentes de efeitos juridicos,"" de forma que o juiz novamente passou a dispor de uma grande margem de discricionariedade no célculo de pena, o que Ihe facilita recompensar um guilty plea do acusado com a aplicagao de uma pena com 0 quantum reduzido, As objegdes em relacdo ao instituto processual do plea bargaining so de tamanha gravidade e amplitude, de modo que eu nao poderia expd-las exaustivamente nem ao menos em um artigo a parte. Crucial é a injustica perante aquele réu que luta por provar sua inocéncia. Patente também é a pressio exercida sobre 0 acusado, intolerdvel & luz do estado de direito. Por fim, nao hé de se omitir o not6rio dilema existente entre uma benevoléncia desproporcionalmente grande conferida a0 acusado e a mera simulacao de uma dréstica diminuigao de pena. a) Se 0 guilty plea € recompensado com uma redugdo da pena, isso significa que quem ser punido de forma consideravelmente mais severa € exatamente aquele que faz uso legitimo de seu direito a realizagio do processo penal ¢ luta por provar sua inocéncia. Afinal, o reverso da diminuigao da pena € 0 aumento da pena em caso de uma condenacao apés uma longa audiéncia de instrugdo e julgamento. Por conseguinte, 0 direito do acusado de perma- ® Minuciosa descrigo em Scnumann, Handel mit Gerechuigkeil, 1977, p. 73 e ss. Tac, Losungskonvergenzen trotz Systemsdivergenzen, 2003, p. 146 e $s; WateBREAD/SLOBOGD, Criminal... p. 625 € Ss; KawISARLAFAvelIseaet, Modem Criminal... p. 1204 e s8.; HADDABE Meven/ZAcel/StaRKMAN/BAUER, Criminal Procedure, 5. ed., New York, 1998, p. 1059 ess. ® (N.T.) As assim chamadas sentencing guidelines nos Estados Unidos da América, ® Sobre essas diretivas, por exemplo: WeiGeND, FS der Rechtswissenschaftichen Fakultat aw Koln, 1988, p. 579 ¢ ss.; Retcueer, Intersubjektvitar durch Strafeumessungsrichilinien. Ei Untersuchung mit Bezug auf die «sentencing guidelines» in den USA, 1999. 5A saber, nas seguintes decisdes da U. S, Supreme Court do ano de 2005: United States Booker, No. 04-104 e United States v. Fanfan, N. 04-108. nnecer em § ralmente2® b) Igu intolerével conscinci da audiéne punido con ©) Par prometida 4 pena que da audiénci raticos, qu eral, seria ena muito do direito valtuosa di entio toma induzindo- ) Por: violadora d frdgil, que p empiricos n ning depenc 0s interesse baixa no pr (public defe assim de fat ©) Cor bargaining do proceso acusado. Af do proprio « sado por sev ® Acertadam em Wesstaty p. 240s Fk * Detalhadar % Sobre ese Para apr aur, 2005, Essa partic sobre a priica mais de 90% dos guinte forma: entre itagdo por parte do ena. A tiltima parte 340 de pena, foi, a 2vista técnico, pois vor sua vez, esteve 5vas para o céleulo Juizo se eximir de Vinculagao as dire- uilty plea somente delito cuja pratica Hi pouco tempo, ditucional o efeito > portanto carentes vu dispor de uma © que Ihe facilita © uma pena com 0 ea bargaining sio » poderia expd-las cial € a injustica tente também € ido de direito, Por uma benevoléncia vera simulago de so da pena, isso ‘te mais severa & ago do proceso iminuigao da pena a longa audiéncia cusado de perma- 7, p. 13 ¢ ss Ta00, Wiaresecan/Stonoci, 1204 e 5s; HapDan/ 1998, p. 1059 ess. da América, taflichen Fakulat 2x sungsrichlinien. Eine ». 005: United States v, PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 253 necer em siléncio face as acusagGes levantadas contra ele é minado estrutu- ralmente.” ) Igualmente, € exercida sobre 0 acusado uma pressio, que se mostra intoleravel sob 0 ponto de vista do estado de direito, pois ele tem que ter consciéncia de que, em consequéncia de fazer valer seu direito a realizagao da audiéncia de instrugdo e julgamento, poder, na pritica, ser duplamente punido com um agravamento da pena.” ) Para que 0 acusado seja movido & realizagao de um guilty plea, a prometida atenuagdo de sua pena tem que ser considerdvel em comparacao A pena que seria de se esperar em caso de uma condenacao apés a realiza¢ao da audiéncia de instrugao ¢ julgamento. Isso significa, no entanto, em termos préticos, que a pena imposta serd ndo aquela que, por motivos de prevencao geral, seria necesséria para a protecdo dos bens juridicos, mas sim uma pena muito menor. Com isso, subverte-se a longo prazo a funcao protetiva do direito penal. Por outro lado, caso ao acusado seja apenas simulada uma vultuosa diminuigdo da pena se vier a declarar um guilty plea, 0 estado estard entio tornando-se culpado por ter fundamentalmente ludibriado 0 acusado, induzindo-o a erro, 0 que ndo pode ocorrer em um estado de direito.* 4) Por diltimo, 0 instituto do plea bargaining tem ainda outra consequéncia violadora do estado de direito: ele debilita ainda mais a posigao de um acusado frdgil, que possui baixo nivel social. A experiéncia de vida evidencia e estudos empiricos nos Estados Unidos comprovam que o desfecho de um plea bargai- ning depende essencialmente da intensidade com a qual 0 advogado defende os interesses de seu cliente. A discriminagao estrutural de membros da classe baixa no processo penal, que sdo defendidos apenas por um defensor piiblico (public defender), pouco comprometido com os interesses dessas pessoas, € assim de fato ainda mais acentuada. €) Como titima consequéncia deve-se ter em conta que com o plea bargaining vem a ser aniquilada uma das maiores conquistas evolutivas do processo penal reformado na Europa: a posigo de sujeito de direito do acusado. Afinal, o plea bargaining ocorre de um modo geral sem a presenca do proprio acusado, que nesse sentido acaba sendo completamente mediati- sado por seu advogado.* Para este, o plea bargaining significa muito frequen- ® Acertadamente, por virias vezes jd se alert para este aspecto, com detalhes por exemplo ‘em Wesstav, Das Konsensprinzip im Strafverfahren ~ Leitidee fur eine Gesamtreform?, 2002, p. 240 e88.; Haver, Gestdindnis... p. 269 ess. » ‘Detalhadamente e com numerosas informagbes: Haven, Gestiindnis... p. 319 ess. % Sobre este dilema, em detalhes: HaUER, Gestdndnis.. . 336 € $8. ® Para aprofundamento: Scwonewavs, Werterzeichen vom Untergang der deutschen Rechts: ultur, 2005, p.24 ess. > Essa partcularidade do plea bargaining norte-americano projetou-se inclusive sem rupturas sobte apritica alemi dos acordas, como os resultados de minha pesquisa de opinigo revelaram, 254 BERND SCHUNEMANN temente uma sobrecarga de sua funcSo, uma vez que a ele é conferida pelo ministério pablico a tarefa de mobilizar o seu cliente a aceitar o resultado do acordo, 0 que faz com que 0 advogado de certa forma atue como mero funcionério auxiliar do ministério piblico. 3. Com isso citei apenas as mais importantes objegies em relagdo a compatibilidade do plea bargaining com o principio do estado de direito. Muitas outras poderiam ser acrescentadas. Consequentemente, 0 motivo da instituigéo do plea bargaining nao esté na convicdo em seu especial compro- metimento com o estado de direito, mas puramente na situagio miserdvel ‘em que se encontrava a prética juridica 4 época de sua origem, que com lum moroso tribunal do jtiri ndo conseguia processar o grande ntimero de causas penais pendentes. Neste ponto faz-se notéria uma outra debilidade do processo adversarial realizado perante o tribunal do jiri. Este, por conta de seus inconvenientes ¢ suas complicagdes, exigiu do ponto de vista da praxis uma correcdo. O fato de que esta correcao conduzira de um modo geral a uma vasta aboligao da audiéncia de instrucdo e julgamento resultou no seguinte paradoxo: 0 modelo processual adversarial, considerado por muitos autores ‘um modelo especialmente comprometido com o estado de direito, nao mais conseguia responder as exigéncias da praxis, devido ao grande crescimento da criminalidade na moderna sociedade industrial, originando-se um resultado absolutamente oposto ao almejado, qual seja, a ampla extingdo da audiéncia de instrugao ¢ julgamento através da aceitagdo do resultado da investigacao preliminar por meio de um mero plea bargaining. v. 1, Como ja de inicio mencionado, foi exatamente este sedutor ~ mas do ponto de vista do estado de direito dibio ~ efeito do plea bargaining que originou a atratividade do processo norte-americano no contexto dos debates acerca da atual reforma processual penal na Europa. A Espanha vem expan- indo nos tiltimos anos seu instituto processual da conformidad, cuja apli- cabilidade era outrora muito limitada.” © mesmo vale para 0 pattegiamento italiano,® embora ha de se mencionar que 0 modelo adversarial, introduzido em: Scuowenany, Absprachen im Strafverfahren? Gutachten B zum 58. DIT, Tomo I, 1990, p. BISI Confer art 801 TI da LECrim espanhola [(N-T.) LECrim = Ley de Enjuiciamiento Criminal = Cédigo de Processo Penal espanhol); ArMexta Deu, Lecciones de Derecho Procesal Penal, 2.e4., Barcelona, 2004, p. 261 ess., especialmente p. 264 e s.; ver também Banonia Vita, in Gomez Coromen/GowzAuez Cussnc (coords), La reforma dela justicia penal, Castellén, 1997, p. 285 ess., com maiores informagtes. Sri, ZS1W 104 (1992), p.429e's.; Hover, ZStW 106 (1994), p.427 es. Festa, Absprachen Jim deutschen und italienischen Strafprozess, 2003; Wescuanoor, Das Konsensprinzip strafpro zessualer Absprachen ~ Zugleich ein Beitrag zur Reformdiskussion unter besonderer Beriick concomitante Ilia. A Fra: diivida forten © mesmo ace cacao do ins ‘Também na / uso cada vez em uma mist «que nos Estac na Alemanha com isso em verdadeirame dirige a audis fungdes para posteriormen desrespeito 3 acordo com ¢ 2. Mase nna Europa pe do desenvolv ancia de inst a qual const imposigao de fizeram-se pi audiéncia de modelo proc rele existent para tanto. A sichtigung der i através da Renauiieux, AJ ‘AJ Pénale 2003. © 0s acordos | Processo Penal reforma de 2003 Das drite deus Stiftung, Pornds ©" Confira. mia Wenterseichen © A controvées ¢ atingiu taman as paestra de Penal (Srnarns 938 ess. 0945. € conferida pelo ctitar 0 resultado \atue como mero estado de direito. ente, 0 motivo da Lespecial compro- ituagdo miserdvel origem, que com rande nimero de utra debilidade do 3ste, por conta de de vista da praxis modo geral a uma ultou no seguinte or muitos autores direito, no mais de crescimento da se um resultado icf da audiéncia > da investigagéo te sedutor ~ mas a bargaining que texto dos debates {nha vem expan- rnidad, cuja apli- © pattegiamento arial, introduzido ‘JT, Tomo I, 1990, p. siciamiento Criminal ‘cho Procesal Penal, im Baxona Via in nal, Catellén, 1997, ‘Festa, Absprachen sensprinzip strafpro- besonderer Berick PARTE LV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 255 concomitantemente com o pattegiamento, ainda hoje no funciona bem na Itélia. A Franca introduziu igualmente através de lei a possibilidade — sem diivida fortemente limitada ~ de um acordo sobre o resultado do proceso,” € ‘© mesmo aconteceu na Poldnia, onde entrementes as possibilidades de apli- cacao do instituto foram ampliadas por meio de uma reforma legislativa.° ‘Também na Alemanha os tribunais vinham fazendo, em desrespeito a lei, um uso cada vez mais abusivo da prética dos acordos, 0 que resultou inclusive em uma mistura peculiar de ambos os modelos processuais. Afinal, enquanto que nos Estados Unidos 0 ministério pablico é o parceiro do plea bargaining, na Alemanha é principalmente o juiz quem assume este papel, concentrando com isso em suas mos quatro diferentes fungdes processuais e ascendendo verdadeiramente ao posto de um prepotente déspota do processo penal.*' Ele dirige a audiéncia de instrucdo e julgamento e realiza a colheita de provas, fungdes para as quais é habilitado através de seu conhecimento dos autos; posteriormente, ele deve decidir a causa, proferindo a sentenga; e entéio, em desrespeito a lei, concentra em suas maos todo o poder para negociar um acordo com 0 advogado do acusado:* 2. A assimilagio do original plea bargaining norte-americano ocorrida na Europa permite que se identifique onde se situa a verdadeira forga motriz. do desenvolvimento global do processo penal, a saber, na aboli¢ao da audi éncia de instrugio e julgamento, piiblica e oral, enquanto centro decisério, a qual constituiu durante os ltimos 200 anos o fundamento tinico para a imposigao de uma sanco penal. Os Estados Unidos jé hé muitas décadas fizeram-se pioneiros neste processo (dominante na pritica) de extingdo da audiéncia de instrugao ¢ julgamento através do plea bargaining, porque seu modelo processual adversarial — juntamente com o instituto do guilty plea, nele existente ~ tinha & sua disposigao os instrumentos juridicos necessétios para tanto. Ademais, o grupo de acusados compunha-se, de forma ainda mais sichtigung der italienischen Regelung einvernehmlicher Verfahrensbeendigung, 2006, p. 189 través da lei n, 2004-204 de 9.3,2004, a respeito Céxé, Composition pénale, 2004; Cenél Reitteux, AJ Pénale 2003, p. 45; Grunva.o/Daner, La composition pénale, 2004; MOUs, ‘AJ Pénale 3003, p. 61; Paraboroutes, «Plaider coupable», 2004. ‘© Os acordos foram em 1997 pela primeira vez formalmente recepcionados no Cédigo de Proceso Penal polonés (ars. 335, 387 e ss.) e foram novamente ampliados por casio da reforma de 2003 (arts, 335, 343, 387); respeito, detalhadamente: KatoAs, in: Szwanc (coord), ‘Das drtte deutsch-japanisch-polnische Sirarechtskolloguium der Stipendiaten der Humboldt- Stiftung, Poznén, 2006, p.131 es. ©" Confira minha prOpria critica em; Scw0NEMAN, Absprachen..., p. $5 € 8, 119 € 8. 1DEM, Wetterzeichen... p24 € s.; bes, ZS:W 119 (2007), p. 945 (952). "A controversia na literatura em tomo acordas no proceso penal jé ganhou ares de batalha «ating tamanhas proporgses, a ponto de se fazer quase que initeligivel. Conferr a respeito fs palestras de IavoR, Mever-Gosswen e ScrONewavw no Congresso de Professores de Direito Penal (StaarnectTsLe1errAcuna) de Osnabrtick, publicadas na ZS1W 119 (2007), p.927 € ss. 938 ess. ¢ 945 ess; ver também FiscueR, NSLZ 2007, p. 433; wem, FS Hamm, 2008, p. 63 (72) 256 BERND SCHUNEMANN ostensiva do que na Europa, principalmente de individuos de cor, membros da classe baixa, cuja confianga no sistema juridico era to reduzida quanto sua competéncia social, de forma que eles no vislumbravam nenhuma vantagem ara si na opulenta e dispendiosa ceriménia que era a audiéncia de instrugao € julgamento perante o tribunal do jtiri. O fato de que este modelo conse- guira dominar a prética jurfdica na Europa, sem que para isso tenha existido qualquer fundamento no modelo processual europeu, deve-se & enorme sobre- carga da justica criminal, resultado do crescimento repentino da criminalidade has Ultimas décadas e, sobretudo, dos assim chamados processos-monstros (Monster-Verfahren), ou seja, duradouros e complexos processos envolvendo direito penal econémico, que se estendem frequentemente por meses, quica anos. Mas, por certo, a necessidade prética nao pode triunfar sobre a lei em um estado de direito, o que se mostra ainda mais repugnante e odioso quando fruto da atividade decis6ria de juizes criminais, que determinam 0 encarceramento, possivelmente por anos a fio, de individuos que violaram a lei. Em relagio a pratica alema dos acordos, para os quais 0 legislador até hoje ndo foi capaz de instituir uma legisla¢ao propria, trata-se portanto, muito evidentemente, de um exemplo da decadéncia da cultura juridica. A exposiga0 desta lamentavel situacdo, realizada sem quaisquer disfarces na contribuigao cientifica de um penalista alemao, causa de certa forma vergonha, mas por razbes de honestidade ¢ lealdade cientificas tem de ser levada a cabo. 3, Para a discuss concemnente a projetos de reforma do processo penal, deve com isso ter ficado claro que ndo se vai muito longe ao se fazer como sempre se fez, a saber, contrapor-se 0s antigos opostos - os modelos inquisi- (orial e adversarial de audiéncia de instrucao e julgamento —e se discutir sobre eles. Isto porque, se na maioria dos casos (nos Estados Unidos acima de 90%, na Alemanha seguramente acima de 50%*) a audiéncia de instrugao e julga- mento propriamente dita nao é mais realizada, a discussao acerca da reforma deve-se ocupar principalmente dos problemas que dominam o cotidiano da justia criminal. A questio decisiva é, portanto, a seguinte: como se pode © A respito deste motivo, em pormenores:ScHONENANN, FS Pfeiffer, 1998, p.461 es: sobre 8 origem dos acordos nos anos setenta do timo seule, ver Scntnesas, FS Heldich, 2005, p litres. * Lepislador este que, a despeto da suplicante © fervrosa exigéncia do Orgio Especial (Groper Siafsenat) em BGHS 50,40 (50 css), nio mas conseguir fzéto anda natal legislatura (NT) A vigéncia da mencioada legislatura fora de 2005 0 2008). Isto pore, por um lado, pratcamente ndo mais se discute acerea do comespondente anteprojeto dele apresentado enfaticamente pelo Ministerio da ustiga em mao de 2007 e. por outro lado, as aiseras propostasadvinda ds clase advocticia edo stor da acministraio jdicria, que se restrngram a corregGes minimas, no oferecem melhores solugbes. Ver Scrtwenann, ZRP 2006, p. 63; tee, 25 119 (2007, p. 953 ss; Scnowenatev Haver, AnwBI. 2006, p. 439: esc, NSCZ 2007, p. 433, “Os miimeros mais recentes podem ser encotrados em ALrewan/HAGeNExeNHANERL) Stawen, Die Praxis der Absprachen in Witschaftstrafverfahren, 2007.38 «88 no con » centre as penal fi forma: : final é audiénei process. seja qua Aatual que ocor que é ec ministér nao se p cias, ner inocenta velho pn deficiénc Deve-se, instalar¢ 195 de cor, membros reduzida quanto sua ‘nenhuma vantagem ddiéncia de instrugao este modelo conse- 2 sso tenha existido 2se 8 enorme sobre- ino da criminalidade rocessos-monstros ‘cessos envolvendo te por meses, quicé twiunfar sobre a lei 2pugnante e odioso que determinam 0 4uos que violaram a >legislador até hoje ‘ portanto, muito tidica. A exposig&o 2 na contribuicéo vergonha, mas por ada a cabo. do processo penal, a0 se fazer como 's modelos inquisi- ese discutir sobre dos acima de 90%, instrugao e julga- acerca da reforma am 0 cotidiano da fe: como se pode 998, p. 461 es. sobre SBS Heldrich, 2005, 28 do Orgio Especial Fazé-lo ainda na atual 8 2008), Isto porque, 1e anteprojeto de lei ©, por outro lado, as tnagdojudicidria, que cer Scuonenaan, ZRP AawBI. 2006, p. 439; ‘Hacewetee/Hanersy P.SSess, PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL. 257 legitimar um processo penal, que no fundo consiste to somente da investi- ago preliminar, ao final da qual 0 acusado € levado, através da proposta de ‘uma considerdvel diminuigdo da pena (proposta esta que tem como revés um substancial agravamento da pena caso a audiéncia seja realizada), a abdicar de uma real audiéncia de instrugdo e julgamento e a se submeter Aquela pena que fora considerada pelo ministétio piblico e pelo juiz como sendo a justa e correta? a) Primeiramente, parece-me evidente que ndo se pode explicar isso através do recurso a um suposto princfpio do consenso (Konsensprinzip), ainda que 0s defensores dos acordos frequentemente apelem para esta estratégia.“ Afinal, a denominacao plea agreement, usual nos Estados Unidos, ou a desig- nagao alema Urteilsabsprache, ou na Espanha conformidad, sio na verdade tum eufemismo, por tras do qual se oculta uma sujeicdo do acusado & medida de pena pretendida pelo promotor ou pelo juiz enquanto «resultado minimo», submissdo esta alcangada através de forte pressio por parte da justica criminal sobre 0 acusado. O prinefpio do consenso € entdo, de um ponto de vista Pratico, uma fic¢do e, em termos te6ricos, leva apenas & destruigéo do liame de conexio entre 0 proceso penal e o direito penal material. Este liame é 0 “inico substrato que permite uma condenago com base na verdade material, € ‘do com base em qualquer consentimento do acusado, ) Em vez disso, em minha opinio, dever-se-ia buscar um compromisso entre as necessidades da pratica ¢ as condigdes de legitimagao do processo penal fixadas pelo direito penal material, mais precisamente da seguinte forma: se em varios ou sequer na maioria dos processos penais o resultado final € derivado diretamente da investigagao preliminar, sem uma prévia audiéncia de instrugio e julgamento propriamente dita, entao aquela etapa processual tem que abarcar tantas garantias quantas sejam suficientes para que seja qualificada como um instrumento de descobrimento da verdade material. A atual investigago preliminar nos Estados Unidos, nao diferentemente do que ocorre na Europa ou na América Latina, no encerra estas garantias, pois que € conduzida unilateralmente pela policia e, quando muito, também pelo ministério piblico, ao passo que a posicao da defesa é tio débil, a ponto de no se poder falar de um controle da corretude das investigacdes e diligén- cias, nem tampouco de um equilibrio entre as tentativas de incriminar e as de inocentar 0 acusado. As investigagdes preliminares so no fundo idénticas a0 velho processo inquisitorial e softem portanto das mesmas unilateralidades e deficiéncias, as quais conduziram & reforma do processo penal ha 200 anos. Deve-se, por conseguinte, jé mesmo em sede de investigacio preliminar, instalar os mecanismos de controle ¢ contra-balanceamento que foram institu. “A respeito, cf as fontescitadas na nota 17. 258 BERND SCHUNEMANN cionalizados com a criagdo da audiéncia de instrugdo e julgamento regida pela publicidade e oralidade. pratica da mer eta em um re real da testem c) Nao poderei mais, ao final de meu artigo, explicar em pormenores pela inquirigac como isso deve acontecer. Ao contrario, terei de me ater a breves alusdes. Na Alemanha, discute-se atualmente sobre 0 modelo da investigagao preliminar vel o que dac participativa (partizipatorisches Ermittlungsverfahren), que tem como obje- reflete realmer tivo a introdugdo da estrutura adversarial da audiéncia de instrugao e julga- roduto de fon mento norte-americana j4 na inquiricdo de testemunhas em sede de investi- ‘Somente a gra mente ao advo de uma testem testemunha d: suas suposigg determinadas =, deve ser x testemunhas. I parte do advos gacdo preliminar.”” A policia e o judiciério, entretanto, rejeitaram claramente estas propostas, por temerem uma completa paralisagio das investigagées policiais, caso um advogado pudesse acompanhar jé desde 0 inicio todas as diligéncias e desta forma colocar-se em uma posicdo que o permitisse frustrar de antemao as medidas estratégicas da polfcia.“* Eu compartilho da opiniao de que em todos os casos mais complexos deve haver, em um primeiro momento, ‘uma investigagao preliminar sigilosa, caso ainda se queira de alguma forma obter um mfnimo de sucesso no esclarecimento dos fatos. Do contrario, ter- -se-ia seguramente, em especial no contexto do crime organizado, o fim de europe, send toda e qualquer justica criminal e com isso o fim da protego de bens juridicos Penal italiano. de a testemunt a ser realizada pelo estado.” Ao invés deste modelo da investigagao preli- minar participativa, vejo trés outras possibilidades de se estabelecer, ja na investigacao preliminar, um equilfbrio suficiente entre os interesses da perse- cugio penal e a possibilidade de controle por parte da defesa. Primeiramente, dever-se-ia criar para todas as investigagdes preliminares secretas uma nova instituig20, que nao poderia ser vinculada a0 ministério pablico ou & justiga criminal, mas que, pelo contrério, exercesse apenas a funcao de proteger os interesses da defesa do acusado. Em minhas propostas para a reforma do direito penal europeu mencionara para 0 exercicio desta atribuicao a figura do defensor europeu (Eurodefensor).® Em segundo lugar, todas as inquirigdes de testemunhas deveriam ser gravadas em video desde o inicio, pois que somente assim pode o advogado em momento posterior, apés ter obtido pleno acesso a0s autos, emitir um juizo acerca da credibilidade de um depoimento testemu- hal. Conforme j4 comprovado por iniimeras pesquisas empiricas, a hodierna que fica totaln somente atravé pode 0 advoga através da qua também a ing gravada em vi possam ser do Caso est poder-se-ia afi apta a julgar d sustentar a den sensato ¢ itil, pelo promotor e julgamento. no acarrete m: de minar sua b desconto de pe de instrugao e, © A respeito, as posigBes parcalmentecritcas de, por exemplo, Jaw, ZSYW 115 (2003), p 815 € ss; ScuUweMann, GS Vogler, 2004, p. 81 e ss; Wouexs, GA 2005, p. 11 e .; SarzceR, Chancen und Risiken einer Reform des Ermittungsverfahrens, Gutachten C fr den 65. DIT. ‘Tomo I, 2004, com intimeras informacdes adicionas. Motive pelo qual a investigagio preliminar partcipativa vivenciou seu «momento de Waterloo» no Congresso Alemio de Juristas (Deutscher Jurstentag, DIT) da cidade de Mainz « fora rejeitada pela maioria dos representantes do judicidrio, A respeito, ver as atas do 65° DIT, Tomo IV/., 2004, p. 0 89 ess. © Neste sentido, jé de antemiio: ScHONEMANN, GS Vogler, 2004, p. 81 €. A respeito: Sctwemann, ZStW 116 (2004), p.376 388. ss); ScuneMan, in: idem (coord), Alternativentwurf Europaische Strafverfolgung, 2004, p. 3 €s., 14. ss; SCAONEMANS, in: idem. (coord), Ein Gesamkonzep fr die Europaische Strafrechispflege, 2006, p. 49 € ss, 166 € ss. Nese sentido Soutnenan, 25H funcionam sem 4 Enmilungsverfa 8 Ver as refertac amento regida pela "ar em pormenores ‘reves alusdes. Na stigagdo preliminar uae tem como obje- 2 instrugio ¢ julga- am sede de investi- ieitaram claramente > das investigagdes de 0 inicio todas as permitisse frustrar irtilho da opinido de _primeiro momento, rade alguma forma s. Do contrério, ter- rganizado, o fim de fo de bens juridicos 1 investigagao preli- xe estabelecer, jé na vinteresses da perse- fesa. Primeiramente, 's secretas uma nova paiblico ou & justiga ng de proteger 0s s para a reforma do atribuigdo a figura do vdas as inquirigdes de io, pois que somente + obtido pleno acesso depoimento testemu- empiricas, a hodierna sk, ZSHW 115 (2003), p. 20085, p. 11 ess SaTzER, achten C fur den 65. DIT, enciou seu «momento de | DIT) da cidade de Mainz ‘speito, ver as atas do 65.° Bless. ‘oxen idem (Coord), ss SCHONEMANN in: idem "2006, p, 49 €55., 166€ ss. PARTE IV - DIREITO PROCESSUAL PENAL 259 pratica da mera documentagao escrita dos depoimentos de testemunhas acar- eta em um resultado artificial proveniente da mescla entre 0 conhecimento real da testemunha as hipdteses que orientam os funcionérios responsdveis pela inquirigao. Posteriormente, no é mais possivel averiguar de forma confi- vel 0 que daquilo que fora documentado no registro escrito do depoimento reflete realmente 0 conhecimento da testemunha, e o que € mera conjetura e produto de formulagdes pessoais dos funcionérios que realizaram a inquirigio. Somente a gravacio integral em formato 4udio-visual proporciona posterior- mente ao advogado a possibilidade de que este, por exemplo, no depoimento de uma testemunha da acusagao, diferencie o verdadeiro conhecimento desta testemunha daquilo que fora introduzido pelos policiais enquanto fruto de suas suposigées ¢ inferéncias." Em terceiro lugar ~ como atualmente, sob determinadas condigdes, j6 € possfvel no direito processual norte-americano =, deve ser resguardado ao advogado um direito & inquirigéo propria de testemunhas. De fato, semelhantes possibilidades de produgdo de prova por parte do advogado ja sao possiveis hoje em dia inclusive no processo penal europeu, sendo inclusive reguladas detalhadamente no Cédigo Processual Penal italiano. Todavia, ainda nao fora instituida juridicamente a obrigacao de a testemunha comparecer & inquiricZo a ser realizada pela defesa, de modo que fica totalmente a cargo de sua boa vontade se ela ira ou no depor. To somente através de um assegurado direito a prépria inquirigao de testemunhas pode o advogado alcancar uma paridade de armas na investigagao preliminar, através da qual o equilfbrio processual ¢ entao estabelecido. E evidente que também a inquirigao levada a cabo pela defesa deveria ser integralmente gravada em video, para que possiveis tentativas de influenciar a testemunha possam ser documentadas.* Caso esta tripla reforma da investigacéo preliminar fosse executada, poder-se-ia afirmar que, ao final da investigagdo preliminar, a defesa estaria apta a julgar de forma confivel se os resultados nela obtidos so capazes de sustentar a dentincia oferecida pelo ministério pablico ou, caso contrario, se & sensato e itil, para se abreviar o proceso, que s¢ aceite o resultado proposto pelo promotor ou pelo juiz sem a prévia realizacdo da audiéncia de instrugao e julgamento. A fim de que a respectiva proposta apresentada pela Justica nio acarrete na prética em uma inaceitavel pressao sobre 0 acusado, capaz de minar sua liberdade de autodeterminagdo, € sem diivida necessério que o desconto de pena, que se faz possfvel ao se abdicar da realizagao da audiéncia de instrucao e julgamento, seja estritamente limitado. Esse € 0 tinico modelo 5 Nesse sentido jé havia me manifestado em Scuonewann, ZSiW 114 (2002), p. 1 ess. (45); ‘Scuvweans, ZSIW 119 (2007), p. 957. A respeito do fato de que semelhantes meios tecnicos funcionam sem quaisquer problemas em outros pafses, ver Park, Die Wahrheitsindung im Ermittlungsverfahren, 2003, p.98 es. 5 Ver as referencias citadas na nota 51 260 [BERND SCHUNEMANN que estaria em harmonia com a dogmética da dosimetria da pena, uma vez que através dele poder-se-ia considerar a abreviagio do processo como uma pequena reparacdo perante & ordem juridica e, com isso, conferir legitimacao a0 desconto de pena, cuja amplitude deve ser bastante limitada.” Na pratica esse cendrio tomaria a seguinte forma: 0 ministério ptiblico apresentaria, talvez. juntamente com o oferecimento da dentincia, duas propostas distintas de medida de pena, quais sejam, uma para 0 caso de a audiéncia de instrugao julgamento ser realizada em sua integra, e outra para 0 caso de 0 acusado abrir ‘mio dela. Entre essas duas propostas ndo poderia haver uma diferenga maior do que 20-25 %. Caso 0 acusado, em razio das garantias processuais a cle asseguradas durante a investigacao preliminar (que poderiam ser aprimoradas com a adogo da tripla reforma da investigagao preliminar acima proposta), tiver se convencido de que praticamente nao tem chance de ser absolvido, ele iré renunciar & realizacdo da audiéncia de instrugio e julgamento e aceitaré a pena assim reduzida. Sua reniincia legitima-se nao por seu consenso enquanto tal, mas por sua conviccdo de que a investigacao preliminar ja acarretara por si s6 na descoberta da verdade material. Decidindo-se pela realizacao da audi- éncia de instrugao e julgamento e, logo, pela conducao do processo penal, 0 acusado estard, gracas & segunda proposta de medida de pena realizada pelo parquet, protegido do perigo de ter de suportar uma pena exorbitantemente alta como forma de «punicdo por sua teimosia processual». Portanto, a proposta do ministério pubblico que designe a pena mais alta deve estar necessariamente associada & proibicdo da reformatio in peius. O contrério poder-se-ia admitir apenas excepcionalmente, ou seja, para situagdes nas quais a audiéncia de instrugdo e julgamento contribuir decisivamente para a descoberta do cometi- mento de delitos graves, caso por exemplo se descubra na audiéncia que 0 fato ocorrido nao fora, como até entdo se acreditava, um mero delito de disparo proibido, e sim um homicidio qualificado, 4, Tratou-se aqui de breves mengdes, mas espero que com elas tenha-me logrado deixar bem claro ao menos o seguinte: a reforma global do processo penal deve comegar jé em sede de investigacao preliminar, através do contra- -balanceamento desta para seu melhor equilfbrio. A antiga e tradicional disputa entre a estrutura adversarial ¢ a estrutura inquisitorial da audiéncia de instrugdo e julgamento, ao contrério, possui uma importancia apenas secun- daria. ‘A reniincia & audiéncia de instrugdo e julgamento, praticada ampla- mente no processo penal norte-americano por trés da fachada do processo do tribunal do jtiri, ndio pode, em um estado de direito, ser vendida por um prato de lentilhas.* Pelo contrério, a enorme protecdo juridica, distintiva e constitutiva de um estado de direito, garantida pela audiéncia de instrugo ® Detalhadamente a respeito: Haver, Gestdndnis..p. 164 es. % Nesse sentido minha advertencia em SiraFo 2004, p. 293. Néo obstante, é exatamente nesta pritice de rendincia&realizaglo da audiéncia de instrugdo e julgamento que consiste atualmente julgamen € prestad: em sede « nas aborc riante aq) no estado principio do séculc pode mai saida des parece-m modelo f para 0s py a grande que, 20 fina 2am FS 4a pena, uma vez yeesso como uma afer legitimagio tada.** Na prética lico apresentaria, vropostas distintas xcia de instrugio e deo acusado abrir 1a diferenga maior processuais a ele mm ser aprimoradas + acima proposta), ser absolvido, ele mento e aceitard a sonsenso enquanto vr j@ acarretara por realizagio da audi- + processo penal, 0 cena realizada pelo rbitantemente alta sxtanto, a proposta ar necessariamente poder-se-ia admitir ais a audiéncia de ‘eoberta do cometi- audiéncia que 0 fato 0 delito de disparo ‘com elas tenha-me global do processo ; através do contra- niga e tradicional rial da audiéncia de incia apenas secun- >, praticada ampla~ achada do processo ser vendida por um uridica, distintiva cia de instrugdo € ante, é exatamente nesta que consisteatualmente PARTE IV ~ DIREITO PROCESSUAL PENAL 261 julgamento durante os dois iltimos séculos, tem de continuar a ser garantida prestada por outros mecanismos de prote¢do, que devem ser instaurados jé em sede de investigagao preliminar, para os quais propus algumas sugestes nas abordagens finais do presente artigo. Gerhard Fezer, estimado aniversa~ riante aqui homenageado, em seu inigualdvel arranjo entre firme convicco no estado de direito e objetividade pragmitica, observara na «conservagao do principio inquisit6rio no processo penal reformado do século XIX» no «final do século XX» um verdadeiro «beco sem safda», «de onde também nao se pode mais retomnar».’5 Se ainda € possivel — como eu acredito — achar uma safda deste beco, isto niio posso mais discutir aqui a fundo. Mas uma tese parece-me inequivoca ao final dessas linhas: de uma mera incorporacao do ‘modelo processual penal norte-americano nao se pode esperar uma solugao para os problemas que nos afligem. 1 grande tentagio para os representantes do grupo de interesse dos advogados criminalista, (Que, a0 final e a cabo, slo na nossa sociedade os tinicas defensores dos interesses do acusado. 3 Em; FS 50 Jahre BGH, Tomo IV, 2000, p. 881.

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