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Moraes-Ornellas
ISBN: 978-85-65362-16-0
Editor R. B. Ornellas
CNPJ: 14.764.463/0001-34
Tel.: (21) 99725-0211
Email: rbornellas@gmail.com
Sumário
Introdução
Desenvolvimento e aprendizagem
Introdução
1) Jean Piaget
1.a) Desenvolvimento da criança
1.b) Epistemologia Genética
2) Lev Vygotsky
2.a) Modelos de desenvolvimento
2.b) Zona de desenvolvimento proximal
3) Henri Wallon
4) David Ausubel
Conclusão
Referências
A Psicologia Escolar e Educacional
Introdução
1) Principais correntes teóricas
2) Diálogos com a LDB
2.a) Alguns elementos principais da LDB
2.b) Reflexões de profissionais da área
2.c) Alguns pontos fundamentais
3) A Psicologia e questões educacionais da atualidade
3.a) Dificuldade de aprendizagem, repetência e evasão escolar
3.b) Bullying (ou a violência nas escolas entre alunos)
3.c) Educação inclusiva
Conclusão
Referências
Concepções sóciofilosóficas de Educação
Introdução
1) As Pedagogias Não-Críticas da Educação
1.a) Tendência Liberal Tradicional
1.b) Pedagogia Renovada ou Escola Nova
1.b.1) Tendência Liberal Renovada Progressivista
1.b.2) Tendência Liberal Renovada não-Diretiva
1.c) Pedagogia Liberal Tecnicista
2) As Teorias Crítico-Reprodutivistas e as Pedagogias Críticas da
Educação
2.a) Pedagogia Libertadora
2.b) Pedagogia Libertária
2.c) Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos
Conclusão
Referências
Antropologia e Sociologia da Educação
Introdução
1) Antropologia da Educação
2) Sociologia da Educação
3) Mais diálogos da Antropologia com a Educação
3.a) Antropologia e Educação no Brasil
3.b) Antropologia da Criança e da Infância
Conclusão
Referências
A formação do professor de Ciências e Biologia
1) Educação Inclusiva
Referências
Conclusão
Introdução
O desenvolvimento da pessoa humana acontece através de
interações dela como agente ativo para com seu meio e do meio em
direção a ela. A pessoa humana é um conjunto de componentes
concretos (objetivos) e abstratos (subjetivos). O meio onde ela se
encontra inserida não é apenas composto por agentes biológicos.
Ele é também social, histórico e cultural. Jean Piaget desenvolveu
sua teoria baseado principalmente em como os mecanismos
biológicos do desenvolvimento interagem com aspectos psicológicos
da aprendizagem. A parte histórico-social de tal processo foi
enfatizada por Lev Vygostky, de modo que as teorias dos dois
autores são bem complementares. Ambas têm sido utilizadas por
muitos educadores que procuram compreender o construtivismo que
alguns percebem como algo intrínseco à cadeia de ensino-
aprendizagem.
Porém, nem todos concordam que Vygotsky seja construtivista.
Independente de serem ou não ambos construtivistas, Piaget vê a
ação individual como o principal fator de aquisição de conhecimento,
enquanto Vygostky entende que esta função cabe ao ambiente
social. Aqui se considera que os dois elementos são
interdependentes, pois as reorganizações internas do indivíduo
acontecem muitas vezes por causa de suas interações com o
contexto social. A sociedade por sua vez, desde um ponto de vista
weberiano, é o resultado das ações dos indivíduos. Portanto, tem-
se diferentes pontos de vista que, quando intercruzados, oferecem
uma visão muito mais esclarecedora do ensino e da aprendizagem
do que se seus processos forem observados apenas de maneira
reducionista.
Partindo de determinados intercruzamentos, estabeleceram-se
concepções sócio-filosóficas de Educação. Dependendo de como
cada época preferiu considerar a função dos diferentes agentes no
meio social, desenvolveram-se distintas maneiras de inserir os
alunos na sociedade. Seja com o objetivo de manter o estado das
coisas e/ou a ordem social, seja com o objetivo de transformar a
sociedade, os educandos são percebidos como agentes da
dinâmica social. Mas, não restam dúvidas que, dentre as
concepções de Educação que foram estabelecidas, as que
favorecem a aprendizagem transformadora são as que merecem ser
mais bem compreendidas. Afinal, é preciso haver o estabelecimento
de modelos educacionais que realmente contribuam para a
emancipação do ser humano.
Porém, o sistema educacional Brasileiro ainda está longe de
alcançar um estado equilibrado, que ultrapasse as limitações
impostas pelo modelo mais tradicional da Pedagogia Liberal. Resta
muito a se fazer para que palavras-chave da Educação, como
aprendizagem significativa, educação inclusiva, alfabetização
científica e epistemologia da infância, deixem de ser apenas objetos
de inspiração de mentes libertárias e libertadoras. Estes e outros
termos vêm sendo empregados com frequência pelos que desejam
ver o mundo transformando-se na medida em que as mentes que o
compõem se transformam.
Para que isto realmente aconteça, é necessário que se
repensem muitas fórmulas consideradas inequívocas por terem sido
aceitas sem se pensar no relativismo das opiniões que as
construíram. Afinal, mesmo o que um dia se considerou
comprovação em Ciência, agora se discute se de fato pode
continuar a ser considerado assim. A epistemologia revê as
maneiras de se pensar as certezas científicas, mostrando que o
conhecimento muitas vezes é algo provisório. Desta forma, o
processo de produção de inovações acadêmicas é bastante
dinâmico e deve ser compreendido como tal.
Franz Boas demonstrou que isto é verdade, quando, por meio de
muitas incursões ao mundo de sociedades diferentes da sua, pode
compreender que conceitos amplamente aceitos na sua época
poderiam estar precisando de reparos. Partindo de tal percepção,
ele então revisou o que se compreendia como raça, como cultura
(no singular) e como evolução. Seus achados antropológicos, bem
como sua maneira de estudar as culturas humanas (no plural)
precisam ser levados em consideração quando o que se deseja é
reformular a Educação para que ela se torne um mecanismo de
inclusão. No entanto, para que isto seja realmente realizado, deve-
se começar pela ampliação do que se compreende por Educação
Inclusiva. Para tanto, a Antropologia realmente tem muito a oferecer
à área da Educação.
A Antropologia da Criança e da Infância quer fazer perceber a
criança como um ser inteiro com seu ambiente, transformando-se e
sendo transformado. Ela é auto-organizante, assim como o adulto
também o é. No entanto, este auto-organizar-se se dá por meio do
que se é, e não obrigatoriamente do que se quer que a criança seja.
Por este motivo, Margareth Mead trabalhou uma antropologia
cultural que considerava os inadaptados. Tal conceito precisa ser
levado em consideração dentro do que se denomina Educação
Inclusiva. Muitos dos problemas em Educação contemporânea,
como dificuldade de aprendizagem, repetência, evasão escolar e
bullying, refletem as lacunas que ainda existem e que precisam ser
superadas.
A Psicologia da Educação tem muito a oferecer no que se refere
à superação de algumas destas lacunas. Ela pode contribuir
significativamente para a catalização de reflexões, a
conscientização dos papéis que cada ator tem a desempenhar no
processo educativo e a implantação de programas que visem o
aprimoramento do ensino e da aprendizagem. Cabe aos
profissionais das outras áreas do conhecimento aprenderem a
interagir tanto com os Psicólogos Escolares e Educacionais quanto
com o conhecimento acumulado pelos Sociólogos, Antropólogos e
demais Educadores. Os professores de Ciências e Biologia e os
formadores destes professores precisam, da mesma forma,
participar de tal processo interdisciplinar com consciência dos
papéis que têm a desempenhar. A sequência deste livro trata de tais
questões, expondo um raciocínio que, se for bem compreendido e
aprimorado através da prática, com certeza irá fortalecer a cadeia
de eventos do ensino e da aprendizagem.
Desenvolvimento e aprendizagem
Introdução
A aquisição de conhecimento é um elemento importante do
desenvolvimento humano, sendo objeto de estudo de vários ramos
da Ciência. Aqui há uma influência maior principalmente de dois
deles, a Psicologia e a Epistemologia. Além do que, porque ao se
falar de Educação, não há como ficar ausente de quatro autores -
Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon e David Ausubel -, eles são
abordados neste capítulo. Tais autores divergem em muitas de suas
opiniões, mas se complementam através de outras delas. Um foco
importante tanto de suas convergências quanto divergências é a
aprendizagem. Ela é compreendida por Piaget como um dos
diferentes modos de aquisição de conhecimento. Ferracioli (1999, p.
188) explica a percepção piagetiana sobre a aprendizagem estrito
sensu, que é conhecimento ou desempenho resultante da
experiência do tipo físico, ou do tipo lógico-matemática ou de
ambos.
Ela difere da percepção e da compreensão instantânea por
evoluir no tempo, por inferências, as quais são construídas por
assimilações e acomodações, que constróem novos esquemas
cognitivos. Além da percepção e da compreensão imediata, para o
autor, outros modos de adquirir conhecimento são: indução,
coerência pré-operatória (ou equilibração) e dedução (Ferracioli
1999, p. 187). Piaget e Vygotsky desenvolveram teorias em torno da
interação da aprendizagem com o desenvolvimento humano.
Enquanto os estudos de Piaget acentuam os aspectos estruturais e
as leis essencialmente universais (de origem biológica) do
desenvolvimento, os de Vygotsky enfatizam os aportes da cultura, a
interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental
(Ivic 2010, p. 13).
Dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e
aprendizagem de Jean Piaget, tais conceitos se interrelacionam,
sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. Na
perspectiva piagetiana, o desenvolvimento das funções biológicas é
a base para os avanços na aprendizagem.
“Já na chamada perspectiva sócio-interacionista,
sócio-cultural ou sócio-histórica, abordada por L.
Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a
aprendizagem está atrelada ao fato de o ser
humano viver em meio social, sendo este a
alavanca para os dois processos (Rabello e Passos
2019, p. 4)”.
Baseado em suas compreensões, Piaget propôs um sistema de
fases do desenvolvimento das crianças, o que também foi feito por
Henri Wallon. No entanto, os autores divergem em muitas de suas
opiniões. Wallon desenvolve suas concepções teóricas dentro da
Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia Genética. Portanto,
é possível, apesar das divergências, encontrar aberturas para
associar algumas das ideias dele com as de Piaget e Vygotsky.
A teoria walloniana enfatiza bastante o papel da afetividade no
processo de ensino-aprendizagem, o que faz dela algo bem
peculiar. Já David Ausubel, desenvolveu sua abordagem teórica em
torno da aprendizagem significativa. Este texto apresenta as
principais propostas de cada um dos quatro autores, exemplos da
aplicação das mesmas no ensino de Ciências e Biologia e,
finalmente, algumas conclusões que as aproximam em algo
integrado e útil para a mente do educador. É importante conhecer as
teorias dos quatro autores e saber correlacioná-las de maneira
integrada. Seus conceitos e mecanismos propõem formas de se
pensar o ato educatico, ao expor aspectos da aprendizagem e do
desenvolvimento. Na sequência, são considerados alguns dos
principais destes aspectos.
1) Jean Piaget
Piaget (1896-1980), devido à sua formação inicial em Ciências
Naturais, considerava a inteligência tão natural como qualquer outra
estrutura orgânica, mais acreditava que ela fosse mais dependente
do meio do que qualquer outra. Por causa desta influência da
Biologia na sua formação, ele podia olhar para os processos da
mente a partir de um ângulo de visão orgânico. Porém, tendo
seguido uma trajetória inter e transdisciplinar, envolvendo a
Psicologia e a Epistemologia, Jean Piaget conseguiu perceber
mecanismos que não são apenas biológicos propriamente ditos,
embora também percebesse a contraparte biológica que os
causava. Ele é um excelente exemplo para os estudiosos das
Ciências Biológicas, pois, ao transpor às fronteiras deste campo do
conhecimento, pode fazer importantes achados, os quais são
relevantes para todos os profissionais da área educativa.
Munido de tal instrumental, com apenas 28 anos de idade, ele já
escrevia A Linguagem e o Pensamento da Criança (1924); e dois
anos depois, A Representação do Mundo na Criança. Nestes livros,
o autor tece importantes raciocínios em torno do desenvolvimento
da inteligência através da linguagem e da maneira de explicar
aspectos do mundo subjetivo. Seus raciocínios são ampliados ao
longo dos seus anos de atividades e sua obra torna-se muito
extensa. Seus escritos são complexos e muito elucidativos, mas
algumas pessoas consideram-nos de difícil leitura e/ou
compreensão. No que diz respeito à Psicologia, Piaget queria dar
uma explicação biológica para o conhecimento. Por este motivo, ele
pensou muito em adaptação das estruturas mentais ao meio. Isto
faz da sua obra um material muito rico para todo estudioso do
processo educativo, mas também para o praticante do ensino e da
aprendizagem.
Educadores de Ciências e Biologia podem aprender a aplicar
seus conhecimentos na aquisição de compreensões sobre como
aprender e ensinar, além de obterem preciosas explicações acerca
de como ensinar Ciências e Biologia mais especificamente. Quanto
à sua atitude e seu engajamento no campo da educação, sua
posição o levou naturalmente a reconhecer, desde o princípio de
sua participação ativa como estudante, o caminho privilegiado para
incorporar o método científico na escola. Portanto, ele propõe uma
escola sem coerção, na qual o aluno é convidado a experimentar
ativamente, para reconstruir por si mesmo, aquilo que tem de
aprender. Este é, em linhas gerais, o projeto educativo construtivista
de Piaget, conforme apresentado por Munari (2010), a partir do qual,
descreve-se aqui algumas linhas gerais acerca do desenvolvimento
da criança e da Epistemologia Genética.
1.a) Desenvolvimento da criança
Segundo Piaget (1999), a vida mental da criança evolui em
direção a um equilíbrio (o espírito adulto). O processo através do
qual ocorre o desenvolvimento é uma equilibração progressiva ou
“uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um
estado de equilíbrio superior” (p. 13). A equilibração promove uma
interação balanceada de três outros fatores do desenvolvimento -
hereditariedade (ou maturação), experiência física e transmissão
social. É preciso haver contato do sujeito com o meio para que haja
aprendizagem, a partir do que, as leis da equilibração regem os
processos de assimilação e acomodação.
O processo de equilibração pode ser definido como um
mecanismo de organização de estruturas cognitivas em um sistema
coerente que visa a levar o indivíduo a construção de uma forma de
adaptação à realidade. Haja vista que o objeto nunca se deixa
compreender totalmente, o conceito de equilibração sugere algo
móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do
conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos
constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los
(Terra 2019).
Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de
idéias já existentes (esquemas) podendo provocar uma
transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de
acomodação. Compreenda-se assimilação como o processo a partir
do qual, para compreender o mundo, o sujeito usa de seus
esquemas ou estruturas cognitivas, a fim de lançar hipóteses à
interpretação do que quer conhecer, partindo do que já conhece.
Quando algo novo exige mudança do sistema cognitivo, pois
contradiz hipóteses possíveis de interpretação a partir dos
esquemas ou estruturas congitivas anteriores, é preciso haver
acomodação. Valentini (2019, p. 6) descreve que
Guimarães, Eliane M.; Brito, Alberto G. de; Lira-Jr, Luiz A.; Silva,
Daylane R. S. da. Jardim zoológico e o ensino de Ciências: um olhar
a partir de Piaget. In: Guimarães, Elaine M.; Caixeta, Juliana E.
(Org.). Trilhas e Encontros: Mediações e Reflexões sobre o Ensino
de Ciências. 1.ed. Curitiba: CRV, p. 33-48, 2012.
Disponível em:
http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0103-1.pdf.
Acesso a 6/3/2019.
2 b) P d i Lib tá i
2.b) Pedagogia Libertária
Pretende ser uma forma de resistência à burocracia e à ação
dominadora do Estado. Trabalha o sentido de autogestão nos
alunos para a participação em mecanismos institucionais de
mudança (assembleias, conselhos, associações, etc). As matérias
são colocadas à disposição, mas não são exigidas. Os conteúdos
resultam das experiências vividas pelo grupo, a partir da
investigação cognitiva do real. A vivência grupal, por iniciativa do
próprio grupo, sem qualquer forma de poder, é seu método. O
progresso da autonomia dos educandos dá-se em um “crescendo”-
começa por contato de aberturas informais, segue por organização
do grupo (com diversas formas de participação e expressão) e então
há a execução.
A relação professor-aluno é não-diretiva e, dentro dela, o
professor é um catalizador e se mistura com o grupo. No entanto,
ele também tem liberdade como os alunos, até mesmo para não
responder a uma pergunta, se assim o desejar. A aprendizagem é
informal e o interesse em crescer dentro do grupo é autônoma. A
escola deve romper com as barreiras que a tornam um mecanismo
que delimita o ensino, o conhecimento e o saber, fazendo dela um
privilégio dos que conseguem alcançá-la e nela permanecer e/ou
avançar. O experimentado deve se tornar incorporado e utilizável
para ser apreendido, o que não tem um limite ou um ponto onde
precise terminar na vida. A pessoa é para sempre educanda, esteja
ela na função de professor em determinado momento ou de aluno.
Sendo assim, não há tentativas de avaliação. Ela é aplicada como
pedagogia anarquista e alguns autores importantes são: Cèlestin
Freinet, Francisco Ferrer y Guardia, Aida Vasquez e Fernand Oury.