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Estudos selecionados em interpretação profética

Esta correlação nos fornece um ponto cronológico fixo que nos habilita a inter-
pretar a história profética de Daniel 11. 346-2'Ù4-3(-%%23
3
Quando esse ponto fixo é utilizado, pode ser visto que as atividades do chi-
fre pequeno, conforme descritas no capítulo 8, não aparecem no capítulo 11 até 4%68)
o verso 31, ou algum tempo histórico depois do ministério terrestre e da morte
de Cristo. Essas relações são reforçadas pela identificação da perseguição de
Daniel 11:32-34 com a perseguição conduzida pelo chifre pequeno, ou Roma
medieval, em Daniel 7. Sendo que Antíoco IV Epifânio reinou brevemente em
Selêucia no segundo século a.C., e as atividades antitemplo do chifre pequeno
de Daniel 8 não deveriam ser executadas até algum tempo depois da morte de
Esboço do capítulo
Cristo, Antíoco IV não pode ser esse chifre pequeno.
1. Introdução
2. Linhas gerais da evidência
6)*)6Ü2'-%7 3. Linhas de evidência mais específicas
4. Linhas de evidência muito específicas
BALDWIN, J. G. Daniel: an introduction and commentary. Downers Grove: Intervasity, 1978. 5. Resumo

FROOM, L. E. The prophetic faith of our fathers. Washington: Review and Harold, 1946-1954. v. 3-4.

72 HARTMAN, L. F.; DI LELLA, A. A. The book of Daniel. New York: Doubleday, 1978. (Anchor Bible, 23).

LENGLET, A. La structure littéraire de Daniel 2-7. Biblica, n. 53, 1972. -2863(9Þß3


NICHOL, F. D. (Ed.). The seventh-day Bible commentary. Washington: Review and
Comentaristas de duas das três
Herald, 1955. v. 4. principais escolas de interpretação
das profecias apocalípticas de Daniel
ROWLEY, H. H. Darius the mede and the four kingdoms. Cardiff: University of Wales Press, 1935. e Apocalipse, preteristas e futuristas,
interpretam os elementos de tempo
SHEA, W. H. An unrecognized vassal king of Babylon in the early achaemenid period. Andrews dessas profecias como tempo literal.
University Seminary Studies, v. 9-10, n. 1-2, 1971-1972. Os comentaristas historicistas, por
outro lado, têm interpretado essas
. A profecia de Daniel 9:24-27. In: HOLBROOK, F. B. (Ed.). Setenta semanas: referências como representando
levítico e a natureza da profecia. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2010. (Santuário e profecias
simbolicamente períodos mais lon-
apocalípticas, 3).
gos de tempo histórico.
Os historicistas defendem que
esses períodos devem ser interpre-
tados segundo o princípio de que
um “dia profético” representa um
“ano” de tempo real do calendário,
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

estendendo-se através dos eventos históricos em que eles foram cumpridos. A interpretação futurista da profecia apocalíptica apresenta um problema
Esse princípio dia-ano provê uma diferença diagnóstica básica entre a escola semelhante. Também deixa a maior parte da história da era cristã sem a direção
historicista de interpretação que emprega esse princípio e as escolas preterista e de Deus, exceto em termos espirituais gerais. Depois desse longo vácuo históri-
futurista, que não o empregam. co e profético, os futuristas então veem outra vez a voz profética demonstrando
Outra escola de interpretação profética menos conhecida, embora considere os uma preocupação pelos últimos sete anos da história terrestre.
períodos de tempo apocalípticos como simbólicos (como os historicistas), trata-os Do ponto de vista da escola histórica “contínua” de interpretação profé-
em termos muito gerais. Ela afirma-se que os períodos de tempo não representam tica, as profecias de Daniel e Apocalipse proveem uma visão geral descritiva
qualquer extensão de tempo histórico literal. Este ponto de vista é encontrado par- e divinamente inspirada, e uma avaliação de alguns dos eventos teologica-
ticularmente entre alguns intérpretes amilenialistas. A diferença entre esta opinião mente mais significativos desta era. A era cristã é vista como estando em
de simbolismo geral para os elementos de tempo na profecia apocalíptica e a opinião continuidade com a descrição histórica e avaliação profética dos eventos dos
mais especificamente determinada de tempo simbólico, conforme defendida pelos tempos do Antigo Testamento. O mesmo Deus tem ativado de modo semel-
intérpretes historicistas, é considerada na terceira grande seção deste capítulo. hante em ambas as dispensações.
Portanto, é de interesse para qualquer avaliação da posição historicista de- Esta visão mais clara da interação de Deus com a história humana traz con-
terminar se este princípio foi estabelecido através de interpretações razoáveis sigo o corolário de que as declarações acerca do tempo, encontradas nessas pro-
das Escrituras. A argumentação de que esse princípio tem base bíblica divide-se fecias, cobrem uma área extensa da história, ao contrário do que propõe uma
em três principais linhas de evidência: interpretação puramente literal.

1. Evidência geral: sugere que longos períodos de tempo literal estavam envolvidos 8)303+-%(374)6Ù3(37()8)143463*Ý8-'37
no cumprimento dessas profecias.
Doze profecias de tempo ocorrem nas narrativas históricas e nos profetas
74 2. Evidência mais específica: indica que seus elementos de tempo devem ser inter-
clássicos do Antigo Testamento. Mais de doze também aparecem em Daniel e 75
pretados simbolicamente em vez de literalmente.
3. Evidência muito específica: indica que seus elementos simbólicos de tempo de- Apocalipse. O volume de material indica que esta espécie de visão profética era
vem ser interpretados à base de um dia para um ano. importante para o Deus que revelou estas mensagens.
A fim de determinar o que é particularmente significativo a respeito das
profecias de tempo, pode ser notado que, em geral, o que acontece durante esses
períodos pode ser avaliado como adverso ou mau do ponto de vista humano.
0-2,%7+)6%-7()):-(Ü2'-% Em seu final ocorre uma mudança de eventos mais favorável. Assim, estas pro-
fecias de tempo parecem delimitar períodos durante os quais circunstâncias
*-0373*-%(%,-78Ô6-% adversas, ou males, prevalecem por permissão divina.
A opinião preterista das profecias apocalípticas e seus elementos de tempo deixa Exemplos desta espécie de atividade nas narrativas históricas e profetas clás-
toda a era cristã, com exceção de uma fração inicial muito pequena, sem qualquer sicos do Antigo Testamento podem ser encontrados nos casos dos 120 anos em
avaliação histórica ou profética direta de Deus sobre esse período. que a impiedade humana foi limitada antes do Dilúvio (Gn 6:3), dos 400 anos
Tal perspectiva está em assinalado contraste com a opinião vétero-testa- profetizados para a opressão dos descendentes de Abraão no Egito (Gn 15:13),
mentária de história em que os poderosos atos de Deus em favor do seu povo dos 7 anos de seca e fome profetizados por José (Gn 41:27), dos 3 anos e meio
são relatos ao longo da história bíblica de Abraão a Esdras. A história do Antigo de seca e fome profetizados por Elias (1Rs 17:1), e dos 70 anos de exílio do povo
Testamento envolve uma narração desses eventos e uma avaliação profética do de Deus profetizados por Jeremias (Jr 25:11).
seu caráter. A mesma abordagem da história da era cristã é encontrada, ante- Nas profecias apocalípticas encontramos os 3 tempos e meio – 42 meses –
cipadamente, nos livros apocalípticos de Daniel e Apocalipse, quando eles são 1260 dias – para a perseguição do povo de Deus mencionados duas vezes em
interpretados nos termos historicistas, não nos preteristas. Daniel (7:25; 12:7) e cinco vezes em Apocalipse (11:2, 3; 12:6, 14; 13:5). Outro
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

período de perseguição que dura dez dias é mencionado em Apocalipse (2:10). Se, porém, os períodos de tempo na profecia apocalíptica são também in-
Homens deveriam ser afligidos por cinco meses sob a quinta trombeta de Apoc- terpretados como literais, o mesmo princípio de justiça no grande conflito não
alipse (9:5), e outros seriam mortos por um período de tempo mais longo sob parece operar. O grande patrocinador desses males poderia, razoavelmente, se
sua sexta trombeta (9:15). As testemunhas de Deus deveriam ficar mortas nas queixar de que não lhe foi dado tempo suficiente para demonstrar a superiori-
ruas por 3 dias e meio antes da sua ressurreição (Ap 11:9), e deveria ser per- dade do seu programa se os 3 dias e meio, 10 dias, 3 tempos e meio, e outros
mitido à abominação da desolação manter o domínio por 1.290 dias (Dn 12:11). exemplos da profecia apocalíptica, fossem apenas unidades de tempo literais.
Igualmente, na conclusão de cada um destes períodos de tempo, as condições A melhor maneira de resolver esta disparidade teológica entre o signifi-
adversas para o povo de Deus deveriam ser revertidas. cado do tempo literal na profecia clássica e interpretar o tempo na profecia
Lembrar estes eventos não quer dizer que todas as profecias de tempo apocalíptica como literal, é interpretar as unidades de tempo na última como
se referem a algo mau ou adverso conforme ocorrendo com as épocas que simbólicas em vez de literais.
elas delimitam. Os sete anos de fartura na profecia de tempo dada a Faraó é
um exemplo de um período de prosperidade (Gn 41:26, 29). Embora certos 343283*-2%0(%7463*)'-%7
eventos horrendos fossem previstos para acontecer durante a profecia das Os períodos de tempo que ocorrem nos dois tipos de profecias discutidos
setenta semanas (Dn 9:24-27), alguns fatos muito positivos também ocor- acima contrastam em geral com respeito à sua extensão, se eles são todos in-
reriam durante esse período. terpretados como tempo literal. As profecias de tempo encontradas nas nar-
Entretanto, mesmo nestes dois exemplos, o bem está junto com o menos rativas históricas e profetas clássicos do Antigo Testamento atingem até 400
benéfico. Os sete bons anos eram preparação para os sete anos de fome seguintes. anos (Gn 15:13). O outro extremo se encontra na profecia apocalíptica, em
A reação negativa do povo ao Messias era vista como resultando em terríveis que uma profecia de tempo se estende por apenas 3 dias e meio (Ap 11:9).
consequências para a nação. Deste modo, quando todo o conjunto das profecias O mais longo período de tempo da profecia apocalíptica se estende por ap-
76 de tempo é levado em consideração, pode ser visto que em geral elas delimitam
77
enas 6 anos e meio, no caso dos 2.300 dias de Daniel 8:14 serem avaliados como
períodos de condições adversas. tempo literal; e alguns comentaristas (incorretamente) cortam esse período em
Este exemplo é semelhante ao caso maior de toda a economia do pecado dois. Duas dessas contrastantes profecias de tempo, longas e curtas, ocorrem no
através da história da raça humana. Isto também será finalmente delimitado e mesmo capítulo de Daniel 9. Neste capítulo, a oração de Daniel para o cumpri-
concluído quando Deus puser um fim à história humana como agora a conhec- mento dos 70 anos de Jeremias é respondida com outra profecia acerca das 70
emos. Desse modo, a história humana pode ser considerada como um período semanas, ou apenas um ano e meio, se está envolvido tempo literal.
de provação durante o qual a operação do mal é permitida. Mas Deus logo Um detalhe importante a ser notado aqui é quanto ao ponto final destes
intervirá e dará um fim a este período de provação. dois diferentes tipos de profecia de tempo. Nas profecias encontradas nas nar-
Do mesmo modo, mas em uma escala menor, estas profecias de tem- rativas históricas ou profetas clássicos do Antigo Testamento, os períodos de
po parecem ter delimitado experiências semelhantes em vários pontos no tempo estão geralmente ligados com pessoas que, ou são contemporâneas, ou
transcurso da história humana. O fato de que Deus pôs um fim a esses episódios imediatamente sucessivas ao tempo do profeta.
temporários de ascendência do mal em tempos profeticamente indicados é um As profecias apocalípticas, por outro lado, não falam somente para o con-
penhor ou sinal de que Ele também levará a cabo conclusão toda a economia do texto histórico imediato do profeta, mas também para tempos mais distantes,
pecado no tempo indicado (At 17:31). mesmo até ao fim dos tempos, quando o reino escatológico de Deus será es-
Os períodos literias de tempo presentes nas profecias das narrativas tabelecido. Assim uma diferença em foco, relativamente ao tempo, está aqui
históricas e profetas clássicos eram amplos para as operações dos propósitos envolvida. A profecia clássica se concentra na visão do tempo de curto alcance,
do mal. Isto é verdade para os 120 anos até o Dilúvio, os 400 anos de opressão ao passo que a apocalíptica inclui a visão de longo alcance.
dos israelitas no Egito, e os 70 anos em que eles foram levados do seu país Estas diferenças representam um paradoxo. Os períodos de tempo na profecia
durante o exílio babilônico. clássica que se concentra na visão de curto alcance são mais longos do que aqueles
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

que ocorrem na profecia apocalíptica que focaliza a visão de longo alcance (isto é, 8)143(3*-1
se os elementos de tempo da apocalíptica são interpretados como literais). Em sua declaração inicial da explicação de Daniel 8, Gabriel disse ao profeta
A maneira mais razoável de resolver o paradoxo e restaurar o paralelis- que a visão que lhe fora dada era para o “tempo do fim” (hebraico: µHtTƝú v. 17).
mo e equilíbrio dessa equação é interpretar os períodos de tempo da profe- Sua explanação então começou com o primeiro elemento, o carneiro persa (v. 20),
cia apocalíptica como simbólicos e representando períodos consideravelmente e continuou até o seu último elemento: o fator tempo das “tardes e manhãs” (v. 26).
mais longos de tempo histórico real. A inferência óbvia da explanação de Gabriel é que o elemento tempo apresentado
nesta visão, leva o intérprete na direção daquele “tempo do fim” da história humana.
1%+2-89()(37):)2837)2:30:-(37 O mesmo ponto é salientado na explanação desta visão dada em Daniel
Os eventos descritos nas profecias apocalípticas não são periféricos para o 11 e 12. As atividades finais do rei do Norte são descritas como ocorrendo
mundo político e a história da salvação. Daniel esboça o surgimento e queda no “tempo do fim” (11:40). Naquele tempo, Miguel se levanta e livra os seus
das grandes potências que deveriam dominar as áreas do Mediterrâneo e do santos vivos e ressuscita os seus fiéis mortos (12:1-2). Aqui, a referência é ao
Oriente Próximo desde seus dias até o fim dos tempos. Não entramos ainda no estabelecimento do reino final de Deus, e isto ocorre no final do “tempo do
reino final de Deus que deverá ser estabelecido no fim, mas muitos séculos já fim”. Dentro do mesmo “tempo do fim”, as profecias de Daniel deveriam ser
se passaram desde o tempo de Daniel. Pôr estes tipos de eventos em uma escala abertas, estudadas e compreendidas (12:4, 9).
de tempo significa que, mais do que tempo simbólico está sendo usado, quando Estas referências de Daniel 11:40 e 12:4, 9 indicam que o “tempo do fim”
tais elementos são expressos em pequenos números nas visões proféticas. deveria ser um período de tempo, e que os períodos de tempo proféticos men-
Além disso, parece haver uma progressão neste esquema conforme expresso em cionados em Daniel 8:14, 26 e 12:7, 11 conduzem até aquele período final.
Daniel 7, sendo que o quarto animal ou animal romano é descrito como mais esp- Sendo que as profecias de Daniel 7 a 8 e 10 a 12 levam até o “tempo do
antoso, terrível e destrutivo do que qualquer dos animais precedentes. Conquanto fim”, que deve ser seguido pelo estabelecimento do reino final de Deus, os
78 a dominação política seja o alvo do animal, conforme expresso nesta passagem, o 79
períodos de tempo mencionados nestas profecias deveriam naturalmente
chifre pequeno que saiu dele tem se concentrado mais em assuntos religiosos, tais ser vistos como se estendendo ao longo da história até àquele “tempo do
como falar palavras arrogantes contra o Altíssimo e perseguir seus santos. fim”. Na extensão da história descrita nestas profecias que se estende desde o
De todas as entidades proféticas descritas neste capítulo, o chifre pequeno profeta no sexto século a.C. até o nosso tempo e além, os períodos de tempo
se destaca como a que está em mais direta oposição a Deus. Sendo este o caso, literais de apenas 3 anos e meio a 6 anos e meio não são capazes de alcançar
pode ser feita a indagação: esta profecia realmente quer dizer que a luta entre nem de longe este final do tempo do fim. Portanto, estes períodos de tempo
o chifre pequeno e o Altíssimo seria resolvida em apenas três anos e meio lit- proféticos devem ser vistos como simbólicos e representando períodos de
erais? Dado o desígnio abrangente da história da salvação tratado nessa pro- tempo consideravelmente mais longos do tempo histórico real que se es-
fecia, tal número parece um período de tempo insuficientemente curto para tende até o tempo do fim.
concluir eventos de tamanha importância.
Algo semelhante pode ser dito acerca da reutilização do mesmo período de
tempo em Apocalipse 12, no qual os 3 tempos e meio ou 1.260 dias (v. 6, 14)
delimitam um período específico durante o qual a Igreja de Cristo (represen-
0-2,%7()):-(Ü2'-%1%-7)74)'Ù*-'%7
tada pela mulher) deveria ser perseguida pelo dragão, ou Satanás, operando
por meio das suas instrumentalidades humanas. Uma concessão de apenas 3 '328)<837-1&Ô0-'3
anos e meio literais faz justiça a estas declarações que são postas no contexto Na narrativa histórica de Gênesis 15 a profecia foi dada a Abraão de que
grandioso do grande conflito entre Cristo e Satanás (v. 7-12)? A magnitude dos seus descendentes literais de carne e sangue deveriam ser oprimidos em um
eventos envolvidos neste contexto aponta preferivelmente para a natureza sim- país estrangeiro, isto é, o Egito, por 400 anos literais (vs. 13). Isto se cumpriu
bólica dos 3 tempos e meio, a fim de adaptar-se à sua realização. nestes mesmos termos (compare Êx 12:40).
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

A profecia clássica de Jeremias 25 predisse que Judá seria conquistada por intencionalmente simbólica foi aqui usada, e essas unidades simbólicas devem ser
um rei literal, Nabucodonosor; seus habitantes seriam exilados em seu país interpretadas para determinar o período de tempo real pretendido pelo escritor.
da Babilônia por 70 anos literais (v. 8-12). Estes eventos também deveriam se O uso de unidades de tempo incomuns que não eram ordinariamente empre-
cumprir nos termos em que foram profetizados (compare 2Rs 25; Ed 1). gadas para a computação do tempo, tais como “tardes e manhãs”, “tempos”, e até
Estas profecias e outras semelhantes a elas nas narrativas históricas e pro- certo ponto “semanas”, empresta apoio à ideia de que algo mais do que mero tempo
fetas clássicos do Antigo Testamento, são preditas em termos de personagens, literal está aqui envolvido. Unidades incomuns como estas combinam melhor com
ações e tempos literais. E são cumpridas nestes termos. o tempo simbólico e provavelmente foram escolhidas para enfatizar este ponto.
A profecia apocalíptica, por outro lado, geralmente faz maior uso de símbolos
que a profecia clássica. A profecia de Daniel 2, por exemplo, não prediz diretamente 2Î1)637(38)1437-1&Ô0-'3
a vinda de um reino literal da Grécia. Ela o faz preferivelmente através do veículo Mesmo que alguém aceite as excepcionais “tardes e manhãs” de Daniel 8:14
simbólico do ventre e coxas de bronze da imagem. Os símbolos zoomórficos das como uma unidade padrão com que medir o tempo, 2.300 delas não é ainda a
profecias de Daniel 7 e 8 são ainda mais impressionantes que os metais de Daniel 2. maneira normal para determinar a sua quantidade. Alguém poderia de prefer-
Os períodos de tempo de Daniel estão ligados a essas figuras simbólicas e ência ter se referido ao período como 6 anos, 3 meses e 20 dias em vez de 2.300
suas ações. As de Daniel 12:7, 11 se referem aos tempos ou ações já descritas dias. O mesmo é verdade das 70 semanas de Daniel 9 que constituiriam um ano
com símbolos em Daniel 7:25 e 8:11-13. Assim, os três tempos e meio de Daniel e 4 meses e meio em uma base literal.
7:25 pertencem originalmente, por exemplo, a um chifre simbólico, não a uma A maneira normal de ter dado os 1.290 dias de Daniel 12:11 teria sido como
pessoa ou pessoas descritas primariamente como tais. 3 anos e 7 meses; os 1.335 dias do verso seguinte teriam saído como um período
O mesmo pode ser dito acerca dos contextos simbólicos dos períodos de tem- respectivamente mais longo (compare a expressão de tempo de Jesus e Tiago
po mencionados em Apocalipse. Esses esmerados contextos simbólicos sugerem em Lc 4:25; Tg 5:17). Os três tempos e meio também não são uma numeração
80 contundentemente que devemos tratar suas unidades de tempo como simbólicas. de tempo normal, sendo que a expressão é entendida literalmente como “um 81
Quando os períodos de tempo na profecia apocalíptica acompanham figu- tempo, dois tempos e metade dum tempo”.
ras simbólicas executando ações simbólicas, é natural esperar que esses perío- Assim, nenhum dos períodos de tempo das profecias de Daniel é expresso
dos de tempo sejam também de natureza simbólica. do modo como teria sido se tivesse sido usado para expressar tempo literal da
maneira normal. A maneira incomum pela qual esses períodos proféticos são
92-(%()7()8)1437-1&Ô0-'%7 expressos, com respeito às unidades de tempo e aos numerais usados com elas,
Não somente os períodos de tempo da profecia apocalíptica aparecem sugere mais uma vez que tempo simbólico em vez de literal está envolvido.
em contextos simbólicos, mas eles são expressos ocasionalmente em uni- Em contraste com as declarações acerca do tempo nas profecias clássicas,
dades de tempo incomuns. a profecia apocalíptica emprega números simbólicos com unidades de tem-
As “tardes e manhãs” de Daniel 8:14 apresentam um exemplo disto. Esta po simbólicas em contextos simbólicos. Estes fatores convergem para indicar
unidade composta não aparece em outra parte do Antigo Testamento como que estas referências devem ser compreendidas como representando tempo
uma unidade pela qual o tempo era em geral contado numericamente. Pro- simbólico e não literal.
vavelmente, foi selecionado para esta profecia porque era especialmente apro-
priado para a atividade do santuário e o simbolismo envolvido com ela. l(-%7z()(%2-)0)1+)6%0
Igualmente, os 3 e meio µLGGƗQ ou “tempos” de Daniel 7:25 não são as ex- Daniel não apresenta um modelo simples e direto de dias obviamente lit-
pressões normais dos escritores da Bíblia para denotar unidades de tempo. erais nas passagens históricas (1:12-15; 8:27; 10:3) e naquelas que são ou literais
Embora alguns comentaristas defendam que este termo é simplesmente outra ou simbólicas nas passagens proféticas. O padrão é mais complexo do que isto, e
palavra para “anos”, não há nenhuma evidência léxica de fontes bíblicas ou ex- esta complexidade provê um espectro de uso que se mescla com dias simbólicos
trabíblicas para apoiar tal alegação. O essencial é que uma unidade de tempo no fim profético desse espectro.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Nas narrativas históricas, a palavra para “dias” poderia ser usada para es- As maneiras mais gerais e figurativas em que a palavra para “dias” tem sido usada
pecificar um número geral de anos que haviam se passado. Por exemplo, Daniel em Daniel para representar períodos mais longos de tempo histórico real foram aqui
e seus amigos comparecem diante do rei “no fim dos dias” quando sua educação examinadas. Este tipo de utilização já está presente nas narrativas históricas do livro.
completara três anos (1:5, 18). Nabucodonosor recobrou sua sanidade “no fim Continua em declarações não-numéricas acerca de tempo nas profecias do livro.
daqueles dias” (4:34) [31] quando o período envolvido cobriu sete tempos (4:25) Sete dessas declarações proféticas foram aqui revistas. Nem uma delas contém
[22] ou anos, como esta unidade é provavelmente melhor interpretada. “Dias” é um caso em que a palavra para “dias” foi usada no sentido normal de dias literais.
também usada em uma narrativa histórica para uma passagem de um período Pode-se referir a este tipo de utilização como figurativo ou simbólico, mas não literal.
de tempo no passado. A referência que retorna aos “dias” de Nabucodonosor em Portanto, com base nesta utilização antecedente, poder-se-ia esperar, em
Daniel 5:11 referia-se a eventos que tinham ocorrido mais de meio século antes. exemplos onde unidades de tempo como “dias” são enumeradas nas profecias,
Uma espécie de utilização semelhante pode ser vista nas profecias de Daniel onde que elas também se refiram a períodos de tempo figurativos ou simbólicos.
a palavra para “dias” ocorre sem ser somada numericamente. Por exemplo, o sonho A tipologia correta do espectro de uso do termo “dias” em Daniel parece
do capítulo 2 revelou a Nabucodonosor o que viria nos últimos “dias”, não nos últi- prosseguir logicamente de dias literais para dias figurativos em narrativas
mos “anos” (2:28). O fim da imagem do sonho deveria acontecer nos “dias” dos reis históricas, para dias não-numéricos figurativos ou simbólicos nas profecias e
que haveriam de dominar o reino dividido de ferro e barro (2:44). Uma referência se- para dias numéricos simbólicos nas profecias.
melhante é encontrada em Daniel 8:26 onde é dito a Daniel que selasse a visão porque
se referia a “dias” ainda mui distantes, mesmo ao tempo do fim. O mesmo tipo de 4)6Ù3(37()8)143)74)'-%01)28)'96837
coisa é expresso outra vez em Daniel 10:14. Igualmente, Daniel deverá estar em sua Como regra geral, pode-se dizer que quanto mais curto é o período de tem-
sorte no “fim dos dias”, isto é, ele deve ser ressuscitado no fim dos tempos (12:13). po na profecia apocalíptica, menos provável é que se refira a tempo literal. Há
O aspecto de Deus na utilização desta palavra encontra-se em seu título três casos apropriados: a última das 70 semanas (Dn 9:26, 27), os 10 dias de
82 como “o Ancião de dias” (7:9-13). O termo descreve sua existência passada, que tribulação (Ap 2:10), e os 3 dias e meio em que as duas testemunhas deveriam 83
não é medida em dias ou anos literais, mas em eras. Ele é também soberano sobre estar mortas e insepultas nas ruas (Ap 11:9).
todos os “dias” históricos e proféticos examinados neste livro. É possível que tudo em Daniel 9:26, 27 pudesse ter ocorrido em uma
Na profecia final de Daniel é feita referência ao período de “poucos dias”, semana literal estendendo-se, por exemplo, de domingo a sábado?
em seguida ao qual o “exator de tributo” (11:20) deveria ser destruído. Sendo Se os 10 dias fossem literais, durante os quais a igreja de Esmirna deveria
que ele não poderia ter coletado muito tributo em poucos dias literais, dias figu- experimentar a tribulação, por que então era mesmo necessário salientar pro-
rativos ou simbólicos devem estar aqui envolvidos que se referem à sua carreira feticamente este fato? Dez dias literais não parecem um período muito longo
como cobrindo alguns anos. durante o qual suportar perseguição. Por outro lado, quando esse período de
A mesma coisa pode ser dita acerca da perseguição do povo de Deus men- tempo é interpretado segundo o princípio dia-ano, ele se ajusta muito bem à
cionada em Daniel 11:33, que declara que eles cairiam “pela espada e fogo, pelo perseguição de Diocleciano de 303 a 313 d.C.
cativeiro e roubo, por [...] dias” (RSV). Que esses dias devem ser compreendi- Em tempos de guerra e fome corpos têm jazido nas ruas por três dias ou
dos de forma quantitativa parece provável pelo fato de que esta referência en- mais sem sepultamento, como as duas testemunhas de Apocalipse 11. Assim, tal
contra-se no mesmo lugar em sua corrente profética como os 3 tempos e meio ocorrência não é sem paralelo. O que é incomum no tocante às duas testemu-
ou 1.260 dias de Daniel 7:25. O vínculo entre estas duas passagens é confirmado nhas é que elas são identificadas como “as duas oliveiras e os dois candeeiros”;
por Daniel 12:7, que aplica o período de tempo de Daniel 7:25 à perseguição de nenhum deles é sepultado. No final dos três dias e meio eles são ressuscitados
Daniel 11:32-35. Como é notado na próxima seção sob o título de “Períodos de e levados para o Céu. A linguagem simbólica empregada para esses persona-
tempo especialmente curtos”, uma perseguição medida em termos de alguns gens e as atividades simbólicas ligadas a eles enfatizam a probabilidade de que
dias literais não teria sido muito significativa, de sorte que um período de tem- o período de tempo relacionado também deve ser interpretado simbolicamente
po histórico mais longo medido de preferência em anos deve estar em vista aqui. como representando um período mais longo de tempo histórico real.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Períodos curtos de tempo profético como estes exemplos apoiam a ideia apenas se as unidades de tempo mencionadas com essas trombetas fossem construí-
de que, em geral, os períodos de tempo na profecia apocalíptica são de caráter das como simbólicas, significando períodos mais longos do tempo histórico real.
simbólico, na medida em que estes três exemplos fazem muito melhor sentido
quando são interpretados em uma base simbólica em vez de literal. 4)6Ù3(37()8)14359)86%274Ð)16)-237
Independente do exato ponto de partida cronológico escolhido para elas,
8631&)8%7)46%+%7 as 70 semanas de Daniel 9 devem se iniciar em algum tempo no período persa,
Como observa Kenneth Strand (1975) em seu artigo “A estrutura literária sendo que, de acordo com Esdras e Neemias, foi sob um ou outro dos reis per-
do livro de Apocalipse”, “os paralelos entre as sete trombetas de Apocalipse 8-9 sas que começou a reconstrução da cidade de Jerusalém. O decreto deveria ser
(e 11:15) e as sete taças da cólera de Apocalipse 16 [...] são muito óbvios e há o ponto de partida para o período de tempo indicado pela profecia.
muito tempo têm sido reconhecidos”. Strand (1976, p. 47) esquematizou estas O príncipe Messias deveria aparecer 69 semanas depois disso. Essa figura
relações com mais detalhes em seu livro Interpreting the Book of Revelation. profética tem sido identificada correta e historicamente com Jesus Cristo. Ele foi
morto, como predisse a profecia. Soldados de Roma o crucificaram.
Trombetas Objeto Pragas Deste modo, os dois eventos históricos que delimitam o período profético de 69
semanas ocorreram respectivamente nos períodos persa e romano, independente-
8:7 Terra 16:2 mente das datas exatas escolhidas para eles. Isto significa que aquelas 69 semanas
abrangeram parte da história do Império Persa, transcorreram contemporanea-
8:8 Mar 16:2
mente com a história dos reinos helenísticos da Síria e do Egito, e se estenderam, no
8:12 Rios 16:4 mínimo, até o período romano da história como o tempo da crucifixão de Cristo.
Um ano e meio (o equivalente aproximado de 70 semanas literais) poderia apenas
84 9:2 Sol 16:8 85
sobrepor dois desses reinos: ou o persa e grego, ou o grego e romano. Uma ou outra
9:2 Trevas 16:10 dessas transições poderia ser coberta cronologicamente apenas durante o ano em que
o último finalmente venceu o primeiro. Um período de tempo literal tão limitado não
9:14 Eufrates 16:12
poderia alcançar tão longe quanto o início ou o fim dos eventos descritos na profecia.
11:15 Está feito 16:17 As “semanas” deste período de tempo profético devem, portanto, ser de na-
tureza simbólica e não literal. (Para o fato de que a palavra hebraica neste exemplo
A série de trombetas e a série de pragas ocorrem em lados opostos do suporte significa “semanas” e não algo mais, veja “Ezequiel 4:6” abaixo). O período de
literário no centro da estrutura quiástica de Apocalipse, a qual Strand analisou tanto tempo de Daniel 8 (2.300 dias) provê outro exemplo de um elemento de tempo
em seu artigo quanto em seu livro. Segundo sua análise estrutural, as trombetas profético que abrange mais do que um reino. Também se inicia nos tempos persas
ocorrem na série histórica (primeira parte de Apocalipse) e as pragas na série es- e se estende além da conclusão das 70 semanas a um ponto muito além da queda
catológica (última parte de Apocalipse). do Império Romano (veja abaixo “Semanas e anos em Daniel 9”).
As profecias dadas sob a quinta e a sexta trombetas contêm referências ao tempo,
ao passo que seus membros correspondentes na série de pragas não contêm. A pronta
explicação para isto é que as pragas vêm no final do tempo; enquanto que as trombetas, 0-2,%7()):-(Ü2'-%19-83)74)'Ù*-'%7
por outro lado, parecem profetizar uma série de eventos que abrangem o precedente
contínuo da história que conduz até àquelas pragas finais. Desse modo, os períodos de
tempo sob as trombetas devem conduzir ao fim do tempo em que ocorrem as pragas. 2%66%8-:%7,-78Ô6-'%7
Todavia, a fim de se estenderem tão longe, a quinta e a sexta trombetas requerem Existe nas narrativas históricas do Antigo Testamento um reconhecimento
um período de tempo substancial para o seu cumprimento. Este poderia ser o caso de um tipo específico de relação entre “dias” e “anos” que transcende a mera
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

ideia de que os últimos eram constituídos dos primeiros. Nesses exemplos, a registrados é: “X viveu tantos anos e gerou a Y. E viveu X depois que gerou a Y tantos
palavra “dias” (sempre na forma plural) era realmente usada para representar anos e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de X tantos anos, e morreu.”
“anos”. Esta utilização ocorre em três sentidos gerais: Uma importante relação entre dias e anos e profecia tem sido derivada do uso des-
1. O termo “dia” era usado para representar um ”ano” quando um evento tas duas unidades de tempo na terceira sentença da genealogia de Gênesis 5. Refer-
anual era mencionado. Por exemplo, a páscoa deveria ser observada, literalmente indo-se à impiedade dos antediluvianos, disse Deus: “O meu Espírito não agirá para
“de dias em dias”, isto é, de ano em ano, ou anualmente (Êx 13:10). Falava-se de sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos” (Gn 6:3).
um sacrifício anual como o “sacrifício dos dias” (1Sm 20:6). Ana levava as vestes O tempo aqui mencionado transmite uma profecia acerca de um futuro
que ela havia feito para Samuel uma vez cada ano (literalmente, “de dias em dias”, período de prova. Durante esse tempo, Noé deveria pregar e esforçar-se para
1Sm 2:19). Ela as levava na mesma ocasião em que seu marido Elcana subia a Siló persuadir aquela geração pecaminosa a aceitar o divino oferecimento de mis-
para oferecer seu “sacrifício dos dias”, isto é, seu “sacrifício anual” (1Sm 1:21). ericórdia enquanto perdurava o tempo de provação. Portanto, já em Gênesis 6,
Juízes 11:40 fala acerca da cerimônia de luto que era observada pela filha de encontramos uma profecia acerca de uma quantidade de tempo futura nitida-
Jefté “de dias em dias”, isto é, anualmente. Esta passagem é especialmente instru- mente delimitada. E nesta primeira profecia de tempo da Escritura os termos
tiva sendo que também declara que o luto era observado por quatro dias cada “dias” e “anos” estão ligados direta e simultaneamente.
ano (ãƗQƗK). Portanto, a equação entre “dias” (de dias em dias) e “ano” (ãƗQƗK) Da breve pesquisa acima pode ser visto que a relação que veio a ser estabel-
é feita diretamente através dos termos empregados neste verso. ecida entre os termos para “dia” e “ano” forma o uso linguístico geral e modelo
2. O termo “dias” era às vezes usado para especificar diretamente um período de pensamento do qual uma posterior e mais específica relação quantitativa bro-
de tempo equivalente a um ano. Por exemplo, é declarado (em termos literais) que taria nos textos proféticos. É evidente que o princípio dia-ano não surgiu subita-
Davi e seus homens habitaram na terra dos filisteus “dias e quatro meses” (1Sm mente em profecia sui generis. Quando ele apareceu no cenário de atividades, foi
27:7). É evidente que é pretendido um período de um ano e quatro meses, e esta extraído de uma relação mais geral que já era uma parte do pensamento hebraico.
86 é a maneira como os tradutores da Bíblia têm geralmente lidado com esta frase. 87
Números 9:22 é parte de uma passagem que discute a peregrinação de Israel %43)7-%(3%28-+38)78%1)283
no deserto. As tribos partiam somente quando a coluna de nuvem se erguia A literatura poética do Antigo Testamento não nos fornece o princípio dia-ano
do tabernáculo. De outra forma elas permaneciam acampadas “por dois dias com que interpretar os períodos de tempo da profecia. Apresenta-nos, porém, exemp-
[forma dual em hebraico], ou um mês [singular], ou [dias].” A progressão lógica los (como aqueles da narrativa histórica em prosa citada acima) em que estas duas uni-
de unidades de tempo descrita aqui deveria prosseguir de dias para um mês, de dades de tempo são usadas lado a lado em uma relação especialmente íntima. Neste
um mês para um ano. De sorte que a segunda ocorrência da palavra para “dias” tipo de literatura, a relação surge do emprego pelo poeta de um artifício literário con-
neste verso (como de costume na forma plural) deve ser considerada como sig- hecido como paralelismo. Assim, a poesia hebraica nos fornece outros exemplos de
nificando um ano, que é a maneira como as versões geralmente a traduzem. modelos de pensamento dos quais naturalmente se desenvolveu o princípio dia-ano.
3. O termo “dias” é frequentemente usado em igualdade com os anos da
vida de um indivíduo. Por exemplo, 1 Reis 1:1 declara que o “rei Davi era velho O livro de Jó provê vários exemplos em que “dias” e “anos” ocorrem como uma
e avançado em anos” [RSV] (literalmente, “nos dias”). dupla poética: São os teus dias como os dias do mortal ou são os teus anos como
É especialmente no livro de Gênesis que encontramos esta espécie de de- os anos de um homem? (Jó 10:5). Todos os dias o perverso é atormentado no
claração de tempo em sua forma mais completa. Por exemplo, Jacó faz a seguinte curto número de anos que se reservam para o opressor (Jó 15:20). Dizia eu: Fa-
declaração a Faraó: “Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trin- lem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria. (Jó 32:7). Se o ouvirem e o
servirem, acabarão seus dias em felicidade. E os seus anos em delícias (Jó 36:11).
ta anos; poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida e não chegaram aos
dias dos anos da vida de meus pais, nos dias das suas peregrinações” (Gn 47:9).
Este tipo de pensamento parece encontrar suas raízes na genealogia de Gênesis O poema “litígio da aliança” de Deuteronômio 32 provê outro exemplo de
5. A fórmula que é repetida mais de dez vezes para os patriarcas antediluvianos ali paralelismo hebraico que liga simultaneamente estas duas unidades de tempo:
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Lembra-te dos dias da antiguidade, atenta para os anos de gerações e gerações 0):Ù8-'3
pergunta a teu pai, e ele te informará, aos teus anciãos, e eles te dirão (Dt 32:7). Este é o texto bíblico mais antigo em que o princípio dia-ano é refletido.
Nesta parte da legislação levítica, uma instituição que veio a ser designada como
Um par de exemplos pode ser citado dos Salmos: o ano sabático foi estabelecida para a economia agrícola israelita. Por seis anos
o agricultor israelita era instruído a semear seus campos, podar seus vinhedos
Penso nos dias de outrora, trago à lembrança os anos de passados tempos (Sl 77:5).
e guardar a colheita em seus celeiros e armazéns. Mas no sétimo ano ele era in-
Pois todos os nossos dias se passam na tua ira. Acabam-se os nossos anos como um
breve pensamento. Os anos da nossa vida (RSV) [literalmente, “os dias de nossos struído a deixar a terra em repouso ou inativa e as vinhas e pomares sem serem
anos”] sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor podados. O que crescia por si mesmo poderia ser comido como alimento por
deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos (Sl 90:9-10). qualquer um – o estrangeiro, o pobre, o escravo, bem como pelo proprietário;
mas não devia ser colhido e armazenado.
Esta lista de textos não é citada como um catálogo exaustivo de tais ocorrên- O ano sabático era assinalado como o sétimo ou último ano em um pe-
cias; é meramente ilustrativa. O paralelismo apresentado nestes exemplos não em- ríodo de sete anos. A legislação foi introduzida com estas palavras: “Quando
prega “dias” para se referir a curtos períodos de tempo e “anos” para longos perío- entrardes na terra que vos dou, então, a terra guardará um sábado ao Senhor”
dos. Os termos se referem aos mesmos períodos, mas são ajustados em unidades (v. 2). O “sábado” mencionado neste exemplo, porém, não era o sábado do
mais curtas e mais longas. Esta é a mesma maneira de pensar que se encontra nas sétimo dia semanal, mas o “sábado” de cada sétimo ano. Uma tradução literal
profecias de tempo, mas ali a equivalência foi feita mais numericamente específica. da frase seria: “a terra sabatizará um sábado a Jeová”.
Em cada caso citado acima, “dias” é sempre a palavra A que ocorre primeiro, Quando o mandamento é outra vez repetido no verso 4, ele é declarado de
e “anos” é sempre a palavra B que aparece na segunda posição. Estas palavras uma maneira ligeiramente diferente: o sétimo ano deveria ser “um sábado [...]
provavelmente seguem esta ordem por causa da progressão lógica em pen- para a terra, um sábado ao Senhor”. Foi também adicionado o comentário de que
88 89
samento de “dias” para “anos”. Portanto, quando nos deparamos com a ocor- ele deveria ser um “sábado de descanso solene (ãDEEDtãDEEƗt{Q)”. Quando esta
rência da palavra “dias” nas profecias de tempo, um antigo semita cuja mente última frase é repetida no verso 5, a palavra para “ano” ocorre na mesma posição
estivesse impregnada desse tipo de pensamento paralelístico naturalmente teria que a palavra para “sábado”. Assim, as duas declarações mencionam o sétimo ano:
feito uma associação de “anos” com os “dias” encontrados em um contexto sim-
bólico, assim como ele naturalmente teria identificado “anos” como a palavra “haverá sábado de descanso solene para a terra” (v. 4)
“ano de descanso solene será para a terra” (v. 5)
B que seguiria a palavra A “dias” em sua ocorrência como parte de uma bem
conhecida dupla paralela.
O paralelismo gramatical torna a enfatizar a identificação daquele ano como
A íntima e especial relação entre “dias” e “anos” que é encontrada na prosa e
um sábado para a terra e para Jeová.
na poesia do Antigo Testamento provê uma base para a aplicação mais especí-
âDEEƗt{Q (descanso solene), a segunda palavra hebraica que ocorre nestas
fica desse tipo de pensamento nas profecias de tempo apocalípticas.
frases, obviamente deriva da palavra-raiz para “sábado” (ãDEEƗW). Ela é comu-
A declaração poética de Isaías 61:2 apresenta um exemplo incomum da or-
mente traduzida por “descanso solene” ou uma expressão semelhante. Andreas-
dem inversa dos elementos de tempo “dia” e “ano”. O “ano aceitável do Senhor”
en (1972, p. 113) tem constatado esta palavra
é seguido pelo “dia da vingança do nosso Deus.” O conceito específico do qual
este uso da palavra “dia” deriva é o “dia do Senhor”, uma expressão usada pelos
para descrever aquilo que realmente caracteriza o sábado, ou qualquer outro
dos profetas para descrever um tempo final de julgamento para Israel ou Judá, dia que tem qualidades sabáticas. Neste sentido ele tem sido denominado um
ou para nações ao redor do povo de Deus, ou para reinos e povos vistos na verbal-abstractum [abstrato verbal], significando “guarda do sábado”. Concluí-
profecia como surgindo no futuro. Assim, há um motivo teológico específico, mos, portanto, que ãDEEƗt{Qao descrever o conteúdo do sábado, por exemplo,
porque a ordem mais comum [dia-ano] tem sido aqui invertida. É a exceção é uma abstração de “guarda do sábado”.
para este motivo, e não a regra.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

A palavra ãDEEƗt{Q ocorre apenas em Êxodo e Levítico, e nestes livros ela sete sábados de anos, sete vezes sete anos, e para vós os dias dos sete sábados de
ocorre em dez passagens. É aplicada ao sábado semanal (Êx 16:23; 31:15; 35:2; anos serão quarenta e nove anos”.
Lv 23:3), ao dia da expiação (Lv 16:31; 23:32), à Festa das Trombetas (Lv 23:24), A explanação da primeira expressão numérica, conforme dada na segunda
e ao primeiro e último dias da festa dos tabernáculos (Lv 23:39), além dos seus frase da mesma cláusula, indica que um “sábado de anos” deve ser compreendi-
dois exemplos em conexão com o ano sabático considerado acima (Lv 25:4, 5). do como um período de sete anos. O sábado era o sétimo dia da semana. Nesta
Sendo que os dias festivos (festa das trombetas, dia da expiação, primeiro e passagem, o sétimo dia foi tomado para representar um sétimo ano. Como o
último dias da festa dos tabernáculos) poderiam cair em outros dias além do séti- sétimo e último dia da semana, o sábado foi tomado aqui para representar o
mo dia da semana, é evidente que a palavra ãDEEƗt{Q podia também ser usada para sétimo ano de um período de sete anos. Assim, cada dia das “semanas” que ter-
outros dias além do sábado semanal. Todavia, é evidente que o sábado semanal minam com esses “sábados” no ciclo do jubileu representa um ano.
tem sido o modelo e que o seu significado especial foi estendido àqueles dias fes- Que a terminologia do “sábado” tinha em vista representar “semanas”
tivos. É a sua qualidade de dia de sábado que os torna sábados de descanso solene. é evidente da fraseologia paralela dada dois capítulos antes. Ali é feita
Mais importante para a nossa discussão é a evidência de que ãDEEƗt{Q (fora referência à festa das semanas ou pentecostes sendo celebrada depois de
da nossa passagem de Levítico 25:1-7) jamais é aplicada a mais de um dia de uma sete “semanas inteiras”, literalmente, “sete sábados, inteiros” (ãDEEƗt{t
só vez. O dia da festa das trombetas e o dia da expiação eram dias individuais WHPvPǀW, Lv 23:15). Sendo que se deve contar mais do que “dias” de sába-
que caíam no primeiro e décimo dias do sétimo mês. Não era toda a festa dos do inteiros para se chegar ao quinquagésimo dia designado para a cel-
tabernáculos um ãDEEƗtãDEEƗt{Q, mas apenas o primeiro e o oitavo dias daquela ebração de pentecostes, é evidente que “sábados” aqui significa “sema-
festividade se qualificavam para esta especial designação. Assim, os outros empre- nas”, do mesmo modo como é comumente traduzido nas várias versões
gos desta palavra se referem a dias simples ou individuais. De maneira semelhante, da Bíblia. Esta fraseologia paralela pertencente ao pentecostes indica que
em Levítico 25:4, 5 a palavra tem sido absorvida e aplicada a anos simples ou in- os “sábados” mencionados em Levítico 25:8 com referência ao período do
90 dividuais. Desse modo, uma palavra que tem conexões mais específicas com dias jubileu deve também significar “semanas”. 91
individuais foi aplicada, por analogia, em Levítico 25 a anos individuais. Assim, o dia de sábado e os seis dias que o precediam vieram a ser usados
Está claramente subentendido em Levítico 25:1-7 que o ano sabático é modelado como o modelo pelo qual a ocorrência do ano jubilar era calculada segundo
pelo dia sabático, isto é, pelo sábado semanal. Seis dias de trabalho eram seguidos orientações divinas. Cada um desses dias-anos deveria se estender para o futuro
pelo descanso do sábado do sétimo dia; seis anos de cultivo do solo deveriam ser se- desde o início daqueles ciclos para marcar a vinda do ano do jubileu.
guidos por um sétimo ano de descanso sabático para a terra. O sábado do sétimo dia Na profecia, este uso do princípio dia-ano corresponde mais direta-
deveria ser um sábado de “descanso solene” (Lv 23:3); e o sétimo ano, o ano sabático, mente a Daniel 9:24-27. Uma palavra diferente (ãƗE€ǥD) é usada nesta pro-
deveria ser, igualmente, um sábado de “descanso solene” para a terra (Lv 25:4, 5). fecia, mas significa a mesma coisa que os “sábados” significam em Levítico
Portanto, há uma relação direta entre o “dia” e o “ano”, sendo que a mesma ter- 25:8, isto é, “semanas”. A aplicação do princípio dia-ano aos períodos de
minologia foi aplicada a ambos, e o último ano sabático foi modelado segundo o tempo de Daniel 9:24-27 é, portanto, especialmente evidente da construção
primeiro dia sabático. Esta relação torna-se mais clara quantitativamente quando se paralela da instrução levítica sobre o ano do jubileu. Poder-se-ia quase dizer
considera a próxima legislação em Levítico 25, pertencente ao período do jubileu. que o período de tempo envolvido em Daniel 9:24-27 foi amoldado seg-
undo a legislação do jubileu.
0):Ù8-'3 Sendo que é legítimo aplicar o princípio dia-ano aos dias das semanas de
Embora esta seja uma passagem legislativa, o princípio dia-ano opera aqui Levítico 25 para calcular o tempo no futuro para o próximo jubileu, é também
do mesmo modo que em Daniel: o uso de “dias” (estendendo-se para o futuro) legítimo aplicar este mesmo princípio dia-ano aos dias das semanas de Daniel
é para assinalar os “anos” do futuro. 9 para calcular o tempo no futuro desde o início do seu ciclo. Por extensão, este
A passagem tem a ver com instrução para a observância do ano do jubileu. mesmo princípio pode ser também razoavelmente aplicado aos “dias” das out-
Uma tradução literal da cláusula de abertura de Levítico 25:8 diz: “Vós contareis ras profecias de tempo de Daniel.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

2Î1)637 Sua utilização ainda posterior em Daniel realmente retrocede ao seu uso
A terceira utilização bíblica específica do princípio dia-ano encontra- mais antigo – aquele que se encontra em Levítico 25 – como já foi salientado.
se em Números 14:34. Aqui, o princípio é empregado de forma um pouco Assim, o espectro desta utilização pode ser visto como contínuo, e não descon-
diferente de Levítico 25. tínuo. De forma precisa, assim como a utilização linguística de “dias” unida com
Em Números 14, os “dias” usados para marcar os “anos” são derivados de even- “anos” nas passagens poéticas e em prosa do Antigo Testamento forma uma base
tos do passado histórico imediato: os 40 dias que os espias israelitas gastaram em para o desenvolvimento do princípio, aquelas passagens em que o princípio dia-
sua exploração de Canaã. O povo do acampamento aceitou o relatório negativo ano é empregado de maneiras diferentes proveem uma base para a aplicação
dado pela maioria dos espias, contrário à intenção divina. Como consequência, específica que é feita dele na profecia apocalíptica.
Deus os sentenciou a vaguear no deserto por 40 anos: “Segundo o número dos dias
em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis so- )>)59-)0
bre vós as vossas iniquidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado”. Ezequiel 4 descreve uma parábola dramatizada com três pontos principais:
Desse modo, a sorte da geração que deveria vaguear no deserto estava pre- o significado da pantomima; o elemento de tempo profético envolvido; e o an-
vista aqui na forma de um julgamento profético, um julgamento profético regu- tecedente histórico para o elemento de tempo.
lado em função do princípio dia-ano. O contexto deixa claro que o objetivo da parábola era representar o cerco e
Quando se chega à interpretação de um “dia por um ano” na profecia conquista de Jerusalém e o exílio do seu povo. Os 430 anos (390 + 40), dos quais
apocalíptica, é evidente que o “dia” profético é usado para um “ano” históri- os 430 dias foram derivados para que o profeta se deitasse primeiro sobre um lado
co de um modo ligeiramente diferente do que é usado aqui. Neste exemplo, e depois sobre o outro, parece se referir à condição progressivamente pecaminosa
um dia passado representa um ano futuro; na profecia apocalíptica um dia da sociedade israelita sob a monarquia hebraica dividida. Os dias durante os quais
futuro representa um ano futuro. o profeta devia levar esses pecados correspondem ao tempo que Deus tomaria
92 para julgar o seu povo no templo conforme está descrito em Ezequiel 1, 9 e 10. 93
Isto não significa, porém, que estas duas operações são necessariamente
desvinculadas. Com duas espécies de profecias de tempo diferentes (clássicas/ Os elementos de tempo desta profecia autoriza comparação com aqueles en-
apocalípticas), mas que mantêm relação, era de se esperar que alguns elementos contrados em Números 14:34. Quando tal comparação é feita, surgem similari-
encontrados no primeiro tipo fossem transformados e usados no último tipo de dades distintas entre as duas passagens. A seguinte é uma tradução um tanto literal.
uma maneira um pouco diferente. Números 14:34 - “Segundo o número dos dias [EHPLVSDUKD\\ƗPvP] em
Isto não significa que o princípio dia-ano encontrado em ambos é de que vós espiastes a terra, quarenta dias [ٔDUEƗµvP \{P], dia por ano, dia por
origem independente. Significa simplesmente que foi adaptado e transformado ano [\{PODããƗQƗK\{PODããƗQƗQ], levareis vossa maldade [WLãٔXµaZ{QǀtrNHP]
para seu uso específico na última espécie apocalíptica de profecia de tempo. quarenta anos [ٔDUEƗµvPãƗQƗK].”
As duas classes de profecia de tempo podem ainda ser vistas como relaciona- Ezequiel 4:6 - “O número dos dias [PLVSDUKD\\ƗPvP] tu te deitarás sobre
das; a primeira (clássica) ainda confirma a natureza da última (apocalíptica). teu lado, e tu levarás sua maldade [WLããƗٔ µaZ{QƗQ]. Eu tenho dado a vós os
A profecia apocalíptica não tem de usar os dias proféticos da profecia clássica anos da vossa maldade [ãHQrٔaZ{QƗP] segundo um número de dias [OHPLVSDU
precisamente do mesmo modo como fez a profecia clássica; mas o uso posterior \ƗPvP], trezentos e noventa dias, e tu levarás a maldade da casa de Israel. [...]
da profecia apocalíptica de tais elementos de tempo é ainda extraído do modelo e tu levarás a maldade [QƗĝƗٔtƗٔaZ{P] da casa de Judá quarenta dias [ٔDUEƗǥvP
básico provido pela profecia clássica. \{P], dia por ano, dia por ano [\{PODããƗQƗK\{PODããƗQƗK] eu te tenho dado”.
Isto já é verdade da divergência entre a natureza da operação do princípio Vários aspectos da língua original nestas duas passagens se correspondem
dia-ano em Levítico e a maneira como ele é usado aqui em Números. É tam- diretamente. Tanto o ato de “levar” quanto a “maldade” levada são expressos
bém verdade quanto ao próximo caso discutido, o de Ezequiel 4:6, em que o do mesmo modo. Ambos são introduzidos com a mesma frase que se refere ao
mesmo princípio foi aplicado de uma maneira ainda diferente de sua aplicação “número dos dias”, e ambos expressam a ideia de “cada dia por um ano” com a
em Números 14 e Levítico 25. mesma frase reduplicada: “dia por ano, dia por ano”.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Destas comparações pode ser visto que o último destes dois textos (Ez 4) é é visto como um dia profético que representa um ano histórico. Esta é a abord-
diretamente dependente do primeiro de Números de várias maneiras significa- agem seguida pela escola historicista de pensamento.
tivas. Portanto, o princípio dia-ano encontrado em Ezequiel 4-6 é, linguistica- A segunda abordagem é traduzir esta palavra como “setes, setenados,
mente, o mesmo que aquele que se encontra em Números 14:34. héptadas, hebdômadas” ou semelhantes. Desta espécie de tradução puramente
Ainda que o princípio envolvido nestas duas passagens seja o mesmo, há numérica é então mantido que ãƗE€ǥD leva consigo “anos” diretamente implíci-
uma diferença significativa na maneira como o princípio tem sido aplicado. to, isto é, ela é levada a significar “setes (de anos)”, tempo literal e não-simbólico.
Os “dias” profeticamente futuros de Ezequiel são derivados de “anos” historica- Desse modo, o passo interveniente por meio do qual aqueles “anos” teriam sido
mente passados. Este é o inverso da situação em Números, onde os “anos” de derivados dos “dias” das “semanas” proféticas é evitado pelo intérprete. Esta é a
juízo seguem os “dias” de pecaminosidade. Em Números, portanto, temos a abordagem seguida pelas escolas de pensamento preterista e futurista.
aplicação de um dia por um ano, ao passo que em Ezequiel temos a situação de Um motivo para esta abordagem na tradução é separar a profecia das 70
um ano por um dia. Mas o princípio envolvido em ambos estes exemplos é o semanas de Daniel 9 das outras profecias de tempo do livro e colocá-la em uma
mesmo, como se evidencia das precedentes comparações linguísticas entre eles. classe distinta por si mesma. O efeito disto é tornar fracas as implicações do
Ezequiel não diz “ano por dia” quando Números diz “dia por ano”. A última fra- princípio dia-ano defendido pelo sistema historicista de interpretação.
seologia (“dia por ano, dia por ano”) aparece em ambas as passagens, declarada do mes- Se é assim negado ao princípio dia-ano sua função na interpretação de Dan-
mo modo. Não há diferença entre elas a este respeito, embora sua aplicação histórico- iel 9:24-27, então preteristas e futuristas igualmente estão na liberdade de negar
cronológica se diferencie. Este fato demonstra a peculiaridade de que o mesmo princípio sua aplicação às outras profecias de tempo. Por outro lado, se é válido aplicar
dia-ano poderia ser empregado de diferentes maneiras em ocasiões diferentes. o princípio dia-ano aos “dias” das semanas em Daniel 9, então é lógico aplicar
Os “dias” simbólicos presentes na profecia apocalíptica se referem a eventos o mesmo princípio aos “dias” das profecias de tempo encontradas em outros
que deveriam ocorrer no futuro a partir do tempo do profeta. Portanto, a apli- lugares em Daniel bem como aos escritos apocalípticos do Apocalipse.
94 cação do mesmo princípio dia-ano desses “dias” simbólicos pode simplesmente ser Assim, uma maneira preeminente pela qual se tenta evitar a ênfase desta con- 95
vista como mais uma maneira em que este princípio poderia ser aplicado. A com- clusão lógica tem sido traduzir ãƗE€ǥD como “setes” em vez de “semanas”. Portan-
paração de Ezequiel com Números e de Números com Levítico já abriu esta pos- to, em qualquer discussão do princípio dia-ano das profecias de tempo de Daniel
sibilidade demonstrando as diferentes maneiras em que este princípio era usado. é importante um exemplo da maneira como esta palavra deve ser traduzida.
A palavra hebraica para “semana”, ãƗE€ǥD, foi derivada da palavra para “sete”,
7)1%2%7()(%2-)0 šeba. Contudo, esta foi derivada como um termo especializado a ser aplicado
Todos os comentaristas sobre Daniel concordam que os eventos profetizados somente à unidade de tempo que consiste de sete dias, isto é, a “semana”. Uma
em Daniel 9:24-27 poderiam não ter sido concluídos dentro de 70 semanas literais vocalização diferente foi utilizada para esta especialização. Esta diferença é evi-
ou um ano e cinco meses. Sendo que este período de tempo profético representa dente mesmo em textos hebraicos não acentuados (consoantes hebraicas es-
simbolicamente um período mais longo do tempo histórico real, é importante de- critas sem vogais) sendo que a letra hebraica ZƗZ era consistentemente escrita
cidir precisamente como a extensão desse período mais longo deve ser determinada. como a letra vogal “u” nesta palavra específica (compare Dn 9:27).
Decisiva aqui é a palavra ãƗE€ǥD, que ocorre seis vezes em suas formas sin- Esta ortografia é consistente na Bíblia bem como em todos os seis dos
gular e plural nestes quatro versos. Sendo que esta palavra provê os períodos textos de Qumran em que apareceu esta palavra. Portanto, dar a esta palavra
básicos da profecia, sua tradução desempenha um papel importante na maneira apenas um valor numérico em Daniel 9 confunde sua origem etimológica
pela qual o intérprete os deriva. com sua derivada forma e função.
Duas abordagens importantes, mas significativamente diferentes, têm sido A desinência plural masculina desta palavra em Daniel 9, em contraste com
seguidas em relação a este assunto. A primeira é traduzir a palavra como “sema- sua desinência plural feminina em outro lugar no Antigo Testamento, é signifi-
nas” e derivar os períodos de tempo da profecia dos “dias” que as compõem. O cativa somente ressaltando que é um dos muitos substantivos hebraicos com
cálculo é feito com base no princípio dia-ano. Assim, cada dia dessas “semanas” gênero dual (MICHEL, 1977, p. 34-39; BEN-ASHER, 1978, p. 9).
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

O mesmo fenômeno pode ser demonstrado para a ocorrência desta pa- no hebraico extrabíblico e em línguas semíticas cognatas, todas indicam que
lavra nos textos hebraicos mishnaicos, hebraicos de Qumran, aramaicos de esta palavra deve ser traduzida como “semanas”. Nenhum apoio pode ser
Qumram e também siríacos e etiópicos posteriores. Além disso, se o mascu- obtido de qualquer destas fontes para traduzir a palavra de qualquer outro
lino plural em Daniel 9:24 tinha em vista ser compreendido numericamente, a modo que não seja “semanas”.
frase consonantal de ãEµ\PãEµ\P deveria ser traduzida como “setenta seten- Uma conclusão semelhante pode ser tirada do grego da Septuaginta (comu-
tas”, não como “setenta setes”. mente designada como LXX, tradução da Bíblia Hebraica para o grego durante
A palavra ãƗE€µD ocorre 13 vezes no Antigo Testamento fora de Daniel 9. a última parte do período intertestamental antes de Cristo).
Praticamente todas as versões da Bíblia estão de acordo na tradução destes ex- O numeral cardinal “sete” ocorre mais de trezentas vezes na LXX e é con-
emplos como “semanas”. Se ela é “semanas” em qualquer outro lugar no Antigo sistentemente representado por hepta e suas formas derivadas (HATCH; RED-
Testamento, então, à base de comparativa evidência linguística, ela deve ser tra- PATH, 2005, v. 1). O numeral ordinal “sétimo” ocorre umas 110 vezes na LXX e
duzida por “semanas” em Daniel 9. é coerentemente representado por hebdomos e suas formas derivadas (HATCH;
Sete dessas ocorrências fora de Daniel 9 estão ligadas à “festa das semanas” ou REDPATH, 2005, v. 1, p. 361-362).
“pentecostes”. É claro, esta é a “festa das semanas”, não a “festa dos setes”. Em 17 dos 19 exemplos em que ãƗE€µa ocorre no hebraico do Antigo
Pode ser tirada a mesma conclusão de Daniel 10:2-3, onde a palavra ocorre Testamento, a LXX a traduz como o coletivo feminino hebdomas e suas for-
duas vezes como uma referência a um período de três “semanas”, durante o qual mas derivadas (os dois outros exemplos não apresentam nenhuma ideia so-
Daniel pranteou e jejuou pela sorte do seu povo. A palavra é modificada nesta bre o uso deste termo, visto que as “duas semanas” de Levítico 12:5 são tra-
passagem pela palavra qualificativa “dias”. Por causa disto alguns têm argumen- duzidas por “duas vezes sete dias” e o grego de Jeremias 5:24 está um tanto
tado que a expressão deveria ser traduzida como “semanas de dias”, subenten- distante do texto hebraico).
dendo, deste modo, que a profecia de Daniel 9:24 deveria ser compreendida Não há nenhuma sobreposição na utilização da LXX entre hebdomas para
96 como significando “semanas (de anos)”. Mas o argumento compreende mal o 97
“semanas” por um lado e hobdomos e hepta para “sétimo” e “sete” por outro.
idiomatismo hebraico presente nesta expressão.
Se 11 referências a hebdomas fora de Daniel 9 devem ser traduzidas como “se-
Quando uma unidade de tempo tal como semana, mês ou ano é seguida
manas” em vez de “setes”, então outra vez, à base do uso comparativo da LXX,
pela palavra para “dias” no plural, o idiomatismo deve ser compreendido
elas também devem ser traduzidas deste modo em Daniel 9.
como significando unidades “plenas” ou “completas”. Assim, a expressão
Portanto, pode-se concluir, tanto das fontes semíticas quanto da LXX, que a
“um mês inteiro” ou “um mês completo” menciona literalmente no hebraico
melhor evidência linguística atualmente disponível apoia a tradução de ãƗE€µa
“mês dias”, ou “mês de dias”. Veja Gênesis 29:14, Números 11:20-21 e Juíz-
como “semanas” em Daniel 9:24-27. Assim, esta palavra leva consigo o princí-
es 19:2 (neste último exemplo a palavra para “dias” precede o termo para
pio dia-ano na profecia das 70 semanas. Além disso, sua aplicação ali pode ser
“mês”). A expressão “anos completos” menciona literalmente “anos dias” (ver
razoavelmente estendida às outras profecias de tempo em Daniel.
Gn 41:1, Lv 25:29 e 2 Sm 13:23; 14:28).
Assim, a expressão hebraica em Daniel 10:2-3, a saber, “três semanas dias”,
significa, segundo este idiomatismo, “três semanas completas”, ou “três sema- 7)1%2%7)%237)1(%2-)0
A oração de Daniel no capítulo 9 começa com um apelo a Deus para o re-
nas inteiras”. Linguisticamente, este idiomatismo impede que se tire a con-
torno do seu povo ao seu país baseado nos 70 anos profetizados por Jeremias
clusão de que “semanas de dias” em contraste com “semanas (de anos)” está
quanto à duração do seu exílio em Babilônia (v. 2; compare Jr 25:12; 29:10). Em
implícita nesta passagem.
resposta à sua oração, Gabriel assegurou a Daniel que eles voltariam e recon-
É muito arbitrário, portanto, traduzir ãƗE€µa como “sete” ou “setes” em
struiriam o templo e a capital. Fazendo isto, Gabriel também delimitou outro
Daniel 9:24-27 e traduzi-la como “semanas” três versos depois em Daniel
período de tempo profético: 70 semanas. Durante esse período ocorreriam out-
10:2, 3, como a traduz a New International Version no conjunto do seu texto.
ros eventos, além dos anteriormente mencionados (Dn 9:24-27).
Utilizações em outra parte de Daniel, em outro lugar no Antigo Testamento,
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Sendo que esses eventos não poderiam ter sido realizados em 70 semanas Um perído sabático Um perído jubilar
literais, é evidente que esse último período de tempo deveria ser compreendido Lv 25:1-7 = 7 anos Lv 25:8-17 = 7 semanas de anos x 7 (49)
simbolicamente. A semana de sete dias proveu o modelo sobre o qual as uni- Dn 9:2 = 7 anos x 10 (70) Dn 9:24 = 7 semanas de dias x 7 x 10 (490)
dades simbólicas desse período de tempo foram baseadas. Assim, encontramos (Aplicar o princípio dia-ano)
dois períodos de tempo proféticos nesta narrativa de Daniel 9 – os 70 anos no
seu início e as 70 semanas no seu final; um é literal, o outro simbólico. Qual é a A terminologia do ano sabático foi aplicada pelo cronista à predição de Jer-
relação entre estes dois períodos de tempo? emias dos 70 anos de cativeiro babilônio: “Para que se cumprisse a palavra do
Uma relação entre eles pode ser vista no fato de que ambos são de natureza Senhor, por boca de Jeremias, até que a terra se agradasse dos seus sábados;
profética, e o último é dado em resposta à oração acerca do primeiro. todos os dias da assolação repousou [ou guardou o sábado], até que os setenta
Uma relação entre eles pode também ser sugerida à base de sua localização em anos se cumpriram” (2Cr 36:21, grifo nosso). Sendo que a terra repousava cada
posições semelhantes na estrutura literária da narrativa. Essa estrutura pode ser de- sétimo ano, é evidente que o escritor inspirado viu os setenta anos de cativeiro
lineada como A:B:C: :A’:B’:C’, em que A e A’ representam os versos introdutórios 1 e como a soma de dez períodos de anos sabáticos.
20-23; B e B’ representam os 70 anos e as 70 semanas; e C e C’ representam respecti- Na medida em que o período de 70 anos (mencionado por Daniel no verso 2
vamente o restante da oração de Daniel e o restante da profecia de Gabriel. pouco antes da sua oração) era compreendido como se relacionando com a legis-
O fato de que a profecia dos versos 24 a 27 começa com um elemento de lação do ano sabático (Lv 25:1-7), podia-se esperar que o período de 70 semanas
tempo (70 semanas) em vez de terminar com ele (como é mais comum nas (no final de sua oração) estaria relacionado com o período do jubileu. Esta é a se-
outras profecias de Daniel; compare 7:25; 8:14; 12:7, 11-12), tem o efeito de quência em Levítico 25:1-17 (ano sabático/jubileu). Assim, as 70 semanas, ou 490
aproximar o período das 70 semanas com o que o precede, isto é, a oração de anos (aplicando-se o princípio dia-ano), podem ser vistas como dez períodos de
Daniel e o período de 70 anos que ele menciona como motivando sua oração. jubileus, assim como os 70 anos foram vistos como dez períodos de anos sabáticos.
98 Outra maneira pela qual estes dois períodos de tempo estão ligados é por Esta relação já era evidente para os essênios de Qumran no primeiro século 99
meio do seu uso comum do número 70. Isto não é uma escolha de números a.C. Quando escritores entre eles vinham interpretar as 70 semanas de Daniel,
ao acaso. O último foi modelado diretamente conforme o primeiro. O último eles se referiam mais comumente a elas como dez jubileus. Mas jubileus só po-
período de tempo (as 70 semanas) é simbólico. O primeiro (o período de 70 dem consistir de anos. Portanto, é evidente que eles aplicavam o princípio dia-
anos) é literal. Portanto, quando uma unidade de tempo literal é procurada ano a esta profecia de tempo, embora todas as ocorrências da palavra ãƗE€µD
para interpretar os “dias” simbólicos das “semanas”, a relação direta entre estes que têm aparecido nos Rolos do Mar Morto publicados até aqui indicam que a
dois períodos de tempo sugere que “anos” do primeiro podem ser seleciona- palavra para eles significava apenas “semanas”.
dos para servir a esta função. Apoio suplementar para estas relações ano sabático-jubileu para as 70
Estas duas profecias de tempo também estão relacionadas pelo fato de que semanas de Daniel pode ser encontrado no fato de que elas foram cumpri-
ambas são múltiplos de sete. Quando as 70 semanas são multiplicadas por suas das historicamente por meio de eventos que ocorreram em anos sabáticos
unidades individuais, descobre-se que elas contêm sete vezes mais unidades pós-exílicos. Os anos 457 a.C. e 27 e 34 d.C. foram anos sabáticos (WA-
simbólicas do que as unidades literais dos 70 anos (70 anos: 490 dias-anos). CHOLDER, 1973, p. 153-196).
Além disso, quando as unidades simbólicas das 70 semanas são inter-
pretadas de acordo com as unidades literais dos 70 anos, é produzida uma Resumo
relação que é semelhante à relação entre o período do jubileu e o período do Internamente, os 70 anos e as 70 semanas de Daniel 9 se relacionam en-
ano sabático (Lv 25:1-9). Pode ser lembrado (compare Lv 25:1-7 acima) que tre si de cinco maneiras: (1) ambos são proféticos; (2) ambos estão ligados em
os anos do jubileu eram também contados em termos de “semanas” na legis- uma sequência de pergunta e resposta; (3) ambos estão localizados em posições
lação dada sobre eles em Levítico 25:8. A relação entre Levítico 25 e Daniel similares na estrutura literária do capítulo; (4) ambos são especificamente para
9 pode ser esquematizada como segue: os judeus; e (5) ambos usam o número 70 e sua base de sete.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

Estas relações são fortalecidas pelas analogias externas entre a dupla 70 anos O período de 2.300 dias de Daniel 8:14 apresenta um quadro similar, porém
e as 70 semanas de Daniel 9 e a dupla ano sabático e jubileu de Levítico 25: mais amplo, sendo que ele também se inicia no período persa, abarca os perío-
1. Numéricas. Precisamente como o período de 70 semanas ou 490 dias- dos da Grécia e de Roma Imperial, mas se estende muito além no período após a
anos é sete vezes maior do que o período de 70 anos (490:70), assim é o período divisão do Império Romano. Isso já pode ser visto em Daniel 8 antes de qualquer
do jubileu sete vezes maior do que o período do ano sabático (49:7). conexão ser feita entre ele e Daniel 9. A evidência para isto provém da pergunta
2. Terminologia. A terminologia do ano sabático é aplicada ao perío- de Daniel 8:13 para a qual o período de tempo do verso 14 é dado em resposta.
do de 70 anos (Lv 25:1-7; 2Cr 36:21; Dn 9:2). Sendo que a terra “repousava” A primeira cláusula da pergunta composta é: “Até quando durará a visão?”
um sábado cada sete anos, é evidente que o período de 70 anos de cativeiro A pergunta é então qualificada por mais quatro frases que se relacionam com a
continha dez anos sabáticos. De maneira semelhante, a terminologia do obra do chifre pequeno. Estas envolvem (1) o WƗPvd, ou “diário/contínuo”, (2) a
jubileu está ligada às 70 semanas, porque um período de jubileu era tam- transgressão desoladora, (3) o pisar do santuário, e (4) o pisar do exército.
bém medido em termos de “semanas” (“sete semanas [sábados] de anos”, A sintaxe desta pergunta é um tanto incomum, pois não há nenhum vínculo
ou 49 anos). Portanto, as 70 semanas, ou, literalmente, os 490 anos, con- gramatical direto entre a cláusula inicial e as quatro frases sucessivas. Não há
tinham dez jubileus. nenhum verbo, preposição, ou objeto indicador entre eles. Eles não estão em
3. Qumran. Na medida em que o escritor bíblico (2Cr 36:21) via os 70 anos uma relação adjetival, e a presença aqui de uma cadeia constructa é excluída
de cativeiro como um período de dez anos sabáticos em que a terra guardava pelo uso do artigo com a última palavra da cláusula inicial e o primeiro substan-
o sábado, assim pode-se concluir que o período de 70 semanas ou 490 anos tivo das frases sucessivas (“até quando a visão do diário [...]”).
deveria ser visto como um período de dez jubileus. Sendo que os escritores de Pelo processo de eliminação, a relação sintática presente aqui deve ser in-
Qunram do primeiro século a.C. interpretavam as 70 semanas como dez jubi- terpretada como uma de aposição. Isto confere a esta pergunta o significado
leus, é evidente que eles conscientemente empregavam o princípio dia-ano. É de, “até quando é a visão, isto é, a visão em que as quatro obras seguintes do
100 também evidente que eles viam um vínculo definido entre as duplas de tempo chifre pequeno são vistas”? 101
de Daniel 9 e Levítico 25. É importante decidir qual visão é mencionada na cláusula inicial desta in-
4.Cronologia. As 70 semanas de Daniel 9 estão também relacionadas com terrogação, sendo que ela é a extensão daquela visão que é medida pelo período
os anos sabáticos de Levítico 25 por meio do seu cumprimento histórico nos de tempo dado em resposta a esta pergunta em Daniel 8:14. Há aqui duas alter-
conhecidos anos sabáticos pós-exílicos de 457 a.C., 27 e 34 d.C. nativas: ou a visão em questão é toda a visão que o profeta viu até este ponto (v.
À base destas relações internas e externas, é razoável interpretar o pe- 3-12), ou é apenas a parte da visão que tem a ver com o chifre pequeno (v. 9-12).
ríodo das 70 semanas pelas aferições providas pela profecia dos 70 anos que A interpretação adotada aqui é a de que a palavra “visão” na pergunta do
iniciou o capítulo de Daniel 9 e pelo período do jubileu. Ele estava ligado verso 13 se refere a toda a visão vista pelo profeta até este ponto, a visão que é
a ambos, e ambos indicam que o período deve ser interpretado simbolica- descrita no texto do verso 3 até o verso 12. As razões seguintes podem ser apre-
mente representando anos literais. sentadas em apoio a esta interpretação:
1. Os elementos da pergunta são narrados em uma ordem inversa da que
(-%7)1(%2-)0)%237)1(%2-)0 se encontra na descrição precedente. A ordem em Daniel 8:13 é: (a) WƗPvd + des-
Sob “períodos de tempo que transpõem reinos” acima (página 78), foi olação, (b) santuário, e (c) exército. Na descrição da visão nos versos 10 a 12 a or-
notado que os períodos de tempo proféticos que transpõem reinos devem ser dem é: (a) exército, (b) santuário, e (c) WƗPvd + desolação. A ordem inversa destes
compreendidos simbolicamenbte como significando períodos mais longos do elementos citados na pergunta naturalmente leva de volta àqueles elementos da
tempo real do calendário, a fim de que eles se estendam ao longo das épocas visão que não foram explicitamente citados na interrogação, e nesta presente
históricas daqueles reinos. O exemplo ali citado foi o da profecia de tempo posição a palavra para “visão” torna-se um sumário para todos eles.
de Daniel 9:24-27, que se iniciou no período persa, estendeu-se pelo período 2. Se alguém aplica a palavra “visão” de Daniel 8:13 apenas às atividades
grego, e chegou à sua conclusão no período romano. do chifre pequeno descritas iniciando com o verso 9, então alguém realmente
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

tem duas visões: uma visão acerca do carneiro, do bode e dos quatro chifres, e enquanto que as ocorrências em 10:14 e 11:14 provavelmente se referem à visão
outra visão a respeito do chifre pequeno. Sendo que não aparece no meio da do capítulo 8. Todas as cinco das ocorrências desta palavra no hebraico de Dan-
descrição desta visão nenhuma demarcação para apoiar tal divisão, e sendo que iel fora do capítulo 8 são também inclusivas com respeito à visão ou visões às
a visão é descrita em forma contínua dos versos 3 a 12, não há nenhuma base quais elas se referem. Nenhuma delas provê qualquer apoio para se interpretar
no texto para se fazer tão arbitrária divisão. esta palavra em 8:13 de tal maneira que fracione a visão precedente de 8:3-12 e
3. O uso da palavra “visão” (KƗ]{Q) em outras partes de Daniel 8 apoia a a aplique apenas aos versos 9-12.
ideia de que esta ocorrência no verso 17 se refere a toda a visão dos versos 3-12. Assim, todas as seis ocorrências desta palavra em Daniel 8 e todas as cinco
Esta palavra ocorre três vezes na introdução desta visão nos versos 1-2. É óbvio, ocorrências da mesma fora deste capítulo apoiam interpretá-la em 8:13 de uma
em todos os três exemplos, que ela se refere a toda a visão que foi vista desde maneira inclusiva que compreenda o todo da visão precedente de 8:3-12.
então. Esta palavra ocorre em seguida no verso 13, e em conjunção com as três 5. Este significado inclusivo da palavra “visão” em Daniel 8:13 é também
ocorrências iniciais, sua localização ali forma um inclusio em torno do corpo apoiado pelo contraste entre a maneira como esta pergunta foi feita e a maneira
da própria visão. O profeta então reagiu às cenas que haviam passado diante como uma resposta relacionada foi dada em 12:11.
dele declarando: “Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la” (v. 15). A primeira frase em seguida à pergunta inicial de 8:13 envolve o diário e
Toda a visão parece estar em vista aqui sendo que, em resposta à busca de com- a transgressão desoladora. Se alguém desejasse indagar por quanto tempo a
preensão por Daniel, a explanação de Gabriel começou com o carneiro persa (v. abominação desoladora deveria ser estabelecida e tirado o diário, poderia ter
20). Em suas outras referências à compreensão da visão (v. 17) e ao ato de selá-la perguntado diretamente acerca desses detalhes sem usar o termo “visão” como
(v. 26) Gabriel também parece referir-se a toda a visão dos versos 3-12. uma palavra qualificativa. Por exemplo, é feita uma declaração acerca desses
zEste ponto é ainda enfatizado pelo uso do artigo com KƗ]{Q na pergunta pontos em 12:11 em que 1.290 dias foram destinados para isto, mas o termo
(a visão). O artigo é também prefixado nas últimas três ocorrências da palavra qualificativo para “visão” está ausente.
102 neste capítulo, nos versos 15, 17 e 26, e tem sido assinalado com preposições no Sendo que a palavra qualificativa “visão” é a diferença básica entre estas duas 103
verso 2. É “a” (toda) visão que está em vista aqui, não apenas parte desta visão. declarações acerca do diário, esta qualificação parece prover a explanação para a
Em outro lugar eu discuti o uso de PDUٔHK, outra palavra também traduzida diferença entre estes dois períodos de tempo. O período maior, global e total de
por “visão” em Daniel 8:16, 26, 27 (SHEA, 1981, p. 235-239; 2010, p. 72-74). 2.300 dias é mais para a visão, ao passo que o número menor de 1.290 dias é mais
Minha conclusão daquela discussão é que a palavra PDUٔHK significava algo especificamente para o diário e a abominação da desolação. O último, que é mais
como “aparência”, isto é, a aparência do anjo mensageiro, ou a aparência e con- curto, deve estar subordinado ao primeiro, que é mais longo e mais inclusivo.
versação dos santos personagens; enquanto que KƗ]{Q é usada particularmente Pelos motivos revistos acima, parece razoável concluir que a palavra “visão” na
para a visão simbólica que o profeta viu. Esta distinção é especialmente impor- pergunta de Daniel 8:13 se refere a toda a visão precedente descrita nos versos 3-12.
tante para se estabelecer o vínculo entre as profecias de Daniel 8, 9 sobre a base Portanto, para se determinar o tempo para o início dos 2.300 dias dados
do uso de PƗUٔHK em Daniel 9:23. na resposta à pergunta, deve-se voltar ao início da visão total. Isto nos leva
Qualquer que seja o tom de significado da palavra PƗUٔHK, ele não afeta ma- de volta ao tempo do carneiro persa dos versos 3-4. Desta correlação pode-
terialmente a interpretação de KƗ]{Q em Daniel 8, onde este termo é aplicado a se concluir que os 2.300 dias começam algum tempo durante o período persa
tudo o que o profeta viu conforme descrito nos versos 3-12. (539-331 a.C.), o ano exato não está sendo especificado aqui. A dedução dessas
4. Este uso da palavra para visão pode também ser comparado com sua observações foi notada por comentaristas sobre Daniel já em 1684 e mais re-
utilização fora de Daniel 8. Em duas passagens das seções hebraicas de Dan- centemente em 1978, como indicam as seguintes citações:
iel ela ocorre como um coletivo amplamente inclusivo para as experiências
proféticas: uma vez no próprio caso de Daniel (1:17), e uma vez no caso dos A visão das 2.300 tardes e manhãs data mais exatamente, e precisamente, o
profetas posteriores (9:24). Em três outros exemplos ela se refere às visões pre- tempo do próprio início da monarquia persa ou o primeiro de Ciro para a
viamente vistas por Daniel: a ocorrência em 9:21 se refere à visão do capítulo 7, purificação do santuário, na nova Jerusalém, e a quebra do anticristo sem
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

mão, ou pela pedra cortada das montanhas sem mão, no reino de Cristo, Daniel 8
Daniel 8, 14, 25. Aqueles 2.300 não são o medidor do sacrifício diário ti- Figuras simbólicas Ações simbólicas Tempo simbólico
rado, mas de toda a visão, da monarquia persa, passando pela grega, até o Carneiro, bode, chifres Lançou por terra as Tardes e manhãs
fim da monarquia anticristã romana, e o reino de Cristo (BEVERLEY apud estrelas e as pisou
FROOM, 1948, v. 2, p. 583).
Figuras literais Ações literais Tempo literal
Rei do norte Vem contra seus Anos
Além disso, deve ser notado cuidadosamente que a pergunta não é Rei do Sul exércitos etc.

meramente: “Até quando o santuário será pisado a pés?”, mas “quanto du- Daniel 9
rará esta visão que culmina na terrível obra do chifre pequeno?” A visão
realmente começa com a Medo-Pérsia, e, assim, esperaríamos que o perí-
odo dos 2.300 dias devesse igualmente começar nos dias daquele império 8)78)46%+1ä8-'3()'9146-1)283,-78Ô6-'3
(FORD, 1978, p. 188). Sendo que o princípio dia-ano parece corretamente baseado nas Es-
crituras para as razões revistas acima, sua aplicação deve produzir alguns
Os 2.300 dias de Daniel 8:14 podem assim ser citados juntamente com as resultados interpretativos que poderiam ser confirmados por fontes extra-
70 semanas de Daniel 9:24-27 como um período de tempo que transpõe reinos bíblicas onde possível.
(compare “períodos de tempo que transpõem reinos” acima, página 74). A fim As 70 semanas de Daniel 9:24-26 proveem um bom exemplo para o exame.
de estender isto a longa distância no tempo, seus “dias” teriam de ser interpre- Elas deveriam começar com a saída do decreto para reconstruir Jerusalém. O
tados como simbólicos em vez de literais. decreto para o retorno dado a Esdras que iniciou aquela reconstrução (Ed 4:11-
Contudo, a aplicação do princípio dia-ano a este período de tempo pode ser 16) foi emitido no sétimo ano de Artaxerxes I (Ed 7:7-26). O sétimo ano de
104 elucidada ainda mais especificamente quando esses 2.300 dias são comparados Artaxerxes I pode ser fixado por meio dos historiadores clássicos do Cânon de 105
com as referências a “anos” em Daniel 11:6, 8 e 13. Ptolomeu, dos papiros de Elefantina e dos tabletes de contrato neobabilônios
Praticamente todos os comentaristas sobre Daniel concordam que a descrição em 458/457 a.C. Os judeus daquele tempo empregavam um calendário de ou-
literal de eventos históricos em Daniel 11 provê uma interpretação das figuras sim- tono a outono (Ne 1:1; 2:1), de sorte que as 70 semanas de Daniel começaram
bólicas e eventos descritos em Daniel 8. Os “anos” de 11:6 pertencem a Antíoco II; no ano que se estendia do outono de 458 ao outono de 457 a.C.
os anos de 11:13 pertencem a Antíoco III; e os “anos” de 11:8 pertencem a Ptolomeu As primeiras sete semanas ou 49 anos deste período foram requeridas para
III. Esses reis dominaram a Síria e o Egito respectivamente no período que se seguiu a reconstrução de Jerusalém. Não existe nenhum dado bíblico ou extrabíblico
à dissolução do império de Alexandre representado pelos quatro chifres sobre a relacionado com a conclusão deste período, e assim este ponto é historicamente
cabeça do bode grego em 8:8. neutro até onde diz respeito à demonstração do cumprimento desta profecia.
A conclusão para a discussão precedente da palavra “visão” em 8:13 in- As próximas 62 semanas, ou 434 anos, levam-nos ao tempo da vinda ou
dica que o abrangente período de 2.300 “tardes e manhãs” ou “dias” em 8:14 aparecimento do Messias. Isto foi cumprido por Jesus Cristo quando Ele ini-
abarcou o período ao longo do qual os reis selêucidas e ptolomeus reinaram. ciou o seu ministério público no décimo-quinto ano de Tibério César, ou 27
Portanto, o que foi descrito nas unidades de tempo simbólicas de 8:14 tem d.C. (Lc 3:1). Para o décimo-quinto ano de Tibério como 27 d.C. veja espe-
sido explicado nas literais unidades de tempo histórico de 11; 6, 8 e 13. A in- cialmente a discussão desta data por J. Finegan (1964, p. 259-274) em Hand-
terpretação e explicação das últimas proveem os “anos” com que interpretar book of Biblical Chronology.
os “dias” das primeiras. A morte do Messias que pôs fim ao significado do sistema sacrificial no
Esta relação entre Daniel 8 e 11, que aqui provê o princípio dia-ano e, por meio da última semana deveria ser datada historicamente na primavera de 30
extensão, às outras profecias de tempo de Daniel, pode ser esquematizada ou 31 d.C. Os dados cronológicos disponíveis não são ainda suficientemente
como na página seguinte: precisos para determinar qual destas datas deve ser preferida à outra.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

O apedrejamento de Estêvão tem sido razoavelmente considerado como um principais categorias cobrindo o espectro de pensamento das mais gerais ou
evento de suficiente significado para assinalar o final deste período profético. Esse menos específicas às razões mais específicas.
evento não é datado em Atos, mas sua data pode ser estimada à base da data da con- Na categoria das razões mais gerais foi notado que a interpretação histori-
versão de Paulo. A data mais comum para esse evento defendida por cronologistas cista destas profecias provê uma visão mais filosoficamente satisfatória da aten-
do Novo Testamento baseados em Gálatas 1 é 34 d.C. O apedrejamento de Estêvão ção de Deus a toda a história humana, e, assim, sua atenção profética à história
provavelmente ocorreu pouco antes da conversão de Paulo naquele mesmo ano. da era cristã requer períodos mais longos do que períodos de tempo literais
Este espectro de datas históricas para esses eventos proféticos se ajusta aos nessas profecias apocalípticas.
períodos de tempo desta profecia com exatidão suficiente, dada a presente Algo adverso ou mau para o mundo ou para o povo de Deus comumente
situação das fontes disponíveis para se afirmar que esta profecia foi cumpri- ocorreu durante esses períodos de tempo, e o inverso daquelas condições veio
da relativamente às datas preditas para seus eventos. O princípio dia-ano foi, em suas conclusões. Desse modo, eles proveram microcosmos da economia do
portanto, aprovado no teste pragmático para satisfazer os necessários cumpri- pecado durante a qual o grande conflito entre o bem e o mal tem operado. Se
mentos pontualmente neste caso. estes fossem meramente períodos de tempo literais não teriam provido muito
de um campo de provas para este conflito.
8)78)46%+1ä8-'3()97346)(-8-:3 As profecias apocalípticas apresentam uma visão de mais longo alcance da
No ano de 1689 d.C. um intérprete profético inglês chamado Drue Cressener história do que as profecias clássicas. Se, porém, seus períodos de tempo são
(1638-1718) publicou sua data predita para o final dos 1.260 dias de Apocalipse literais, eles seriam consideravelmente mais breves que os períodos de tempo
11-13. Esse período de tempo específico é dado de três diferentes maneiras nestes da profecia clássica. Este paradoxo é melhor resolvido interpretando-se os pe-
capítulos: 1.260 dias/42 meses/3 tempos e meio (Ap 11:2-3; 12:6, 14; 13:5). Ini- ríodos de tempo da profecia apocalíptica como representando simbolicamente
ciando o período profético no tempo de Justiniano, no sexto século d.C., e apli- períodos mais longos do real tempo histórico.
106 cando o princípio dia-ano a estes 1.260 dias, Cressener (apud FROOM, 1948, p. A importância dos eventos envolvidos nestas profecias apocalípticas na 107
595) chegou à conclusão de que “o tempo da Besta termina por volta do ano 1800”. história da salvação também enfatiza a sugestão de que períodos de tempo
Ele aplicou o símbolo da besta ao papado, e o papa foi realmente deposto em 1798. mais longos do que literais são necessários para sua realização. Além disso, a
Assim, a especificação de Cressener do ano para esse evento (e ele foi dado em ênfase sobre o “tempo do fim” em algumas das profecias de Daniel significa
termos aproximados) chegou dentro de dois anos do tempo em que ele realmente que seus períodos de tempo se estendem até o “tempo do fim” e o delimitam.
ocorreu. Isto ele predisse mais de um século antes, aplicando o princípio dia-ano ao Somente um tempo simbólico representando períodos mais longos de tempo
período de tempo desta profecia. Considerando o tempo em que esta interpretação histórico poderia chegar tão longe.
foi apresentada, esta foi uma predição notavelmente perceptiva. A extraordinária Na categoria intermediária de linhas de evidência um tanto mais específicas
exatidão cronológica com que a predição de Cressener encontrou seu cumprimen- em apoio do princípio dia-ano, a questão de tempo simbólico versus tempo
to confere apoio à ideia de que ele realmente empregou a correta ferramenta her- literal é tratada mais adiante. As profecias apocalípticas empregam números
menêutica com que interpretar esta profecia de tempo, o princípio dia-ano. simbólicos com unidades de tempo simbólicas em contextos simbólicos. Estes
fatores convergem para apoiar a ideia de que essas referências ao tempo devem
ser interpretadas como simbólicas, em vez de literais.
6)7913 No livro de Daniel há um espectro de utilização para a palavra “dias” que
leva logicamente ao seu uso simbólico quando são medidos em suas profecias.
Períodos de tempo especialmente curtos na profecia apocalíptica, tais como a
Neste estudo foram revistas vinte e três razões bíblicas validando a apli- septuagésima semana, três e meio, e dez dias, são melhor interpretados simboli-
cação do princípio dia-ano para os períodos de tempo das profecias apocalíp- camente sendo que proveem pouco sentido interpretativo em uma base literal.
ticas de Daniel e Apocalipse. Estas linhas de evidência foram divididas em três Há uma correspondência um tanto direta entre os conteúdos das profecias das
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (1ª parte)

trombetas e das pragas do Apocalipse. As primeiras contêm profecia de tempo, dias são comparados com os 70 anos de Jeremias no verso 2. Vários aspectos
enquanto que as últimas não. Estas são mais bem vistas como provendo perío- desta narrativa proveem vínculos um tanto diretos entre estes dois períodos de
dos de tempo simbólicos nas séries históricas das profecias das trombetas que tempo e os “anos” do primeiro e os “dias” do último.
conduzem à série de pragas escatológicas. Períodos de tempo que transpõem Pode-se tirar a mesma conclusão acerca das 2.300 “tardes e manhãs” ou
reinos, como aqueles de Daniel 8 e 9, exigem períodos de tempo mais longos “dias” de Daniel 8:14 quando elas são comparadas com os “anos” de Daniel 11:6,
do que aqueles de caráter literal a fim de se estenderem tão longe na história. 8 e 13. Eventos que ocorreram durante o abrangente período de tempo de Dan-
Para a categoria de evidência específica em apoio do tempo simbólico me- iel 8 são interpretados com mais detalhes em sua explanação em Daniel 11. Os
dido na profecia apocalíptica à base de um “dia” para um “ano”, algum material anos de 11:6, 8 e 13 se referem a eventos que ocorreram durante o período
básico do Antigo Testamento foi citado primeiro. helenístico. Eles são paralelos às simbólicas “tardes e manhãs” ou “dias” de 8:14
Há vários exemplos nas narrativas históricas do Antigo Testamento em que que se iniciaram no período persa e se estenderam ao longo desse mesmo pe-
a palavra hebraica para “dias” foi usada significando “anos”. Há também vários ríodo helenístico, assim como além dele. Desse modo, o livro de Daniel parece
exemplos na poesia do Antigo Testamento em que a palavra para “dias” está ensinar duas vezes o princípio dia-ano: uma vez no capítulo 9, e uma vez no
em paralelo com a palavra para “anos”. Ambas estas utilizações proveem uma capítulo 8 quando é comparado com sua explanação no capítulo 11.
base pronta para a espécie de pensamento que poderia se estender para a mais Finalmente, as aplicações feitas deste princípio foram examinadas para
específica aplicação quantitativa desta relação na profecia apocalíptica. ver quão bem ele tem funcionado. Isto foi feito por meio do exame de dados
Levítico 25:1-7 é a primeira passagem bíblica em que a equação dia-ano é históricos supridos por fontes extrabíblicas para os eventos da profecia de Dan-
aplicada. Neste exemplo, o dia de sábado com seus seis dias precedentes torna-se iel 9:24-27. Dentro dos limites providos pelas fontes disponíveis, elas parecem
o modelo para o ano sabático para o país. O período do jubileu por sua vez era integrar-se muito satisfatoriamente.
calculado à base dos dias em sete semanas de anos. O jubileu provê uma analogia Este princípio também tem sido empregado por comentaristas de Daniel e
108 especialmente apropriada para os períodos de tempo de Daniel 9:24-27. Apocalipse para predizer eventos que ainda estavam no futuro do seu próprio 109
A próxima utilização do princípio dia-ano encontra-se em Números 14:34, tempo. Em alguns exemplos, as predições feitas nesta base têm se cumprido de
onde dias passados foram usados para calcular anos futuros. O inverso disto é um modo notavelmente exato. O princípio dia-ano parece ter sido aprovado em
encontrado em Ezequiel 4:6, onde anos passados foram empregados para cal- ambos estes testes pragmáticos de maneira que confere mais apoio à sua validade.
cular dias futuros. Uma estrita comparação da fraseologia encontrada nestas Em resposta ao desafio proposto na introdução a este estudo, pode-se con-
duas passagens indica que elas fizeram uso do mesmo princípio dia-ano, mas o cluir, portanto, que a aplicação do princípio dia-ano para os períodos de tempo
aplicaram de maneiras diferentes. Elas diferem, por sua vez, do uso feito disto nas profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse foi estabelecido por meio de
em Levítico 25:1-8. Nesta base, alguém pode razoavelmente ver este mesmo razoáveis interpretações das Escrituras.
princípio estendido a ainda outro uso na profecia apocalíptica. Este outro uso
chega mais perto em caráter do seu mais antigo uso em Levítico 25:8. 6)*)6Ü2'-%7
Um ponto de especial importância para este princípio é a maneira como
a palavra usada para as unidades de tempo em Daniel 9:24-27 (ãƗE€µD) é tra- ANDREASEN, N. A. The Old Testament Sabbaths. Missoula: Society of Biblical Literature, 1972.
duzida. A evidência bíblica e extrabíblica atualmente disponível indica que esta (Dissertation Series, 7).
palavra deve ser traduzida especificamente como “semanas”.
Sendo que os eventos desta profecia não poderiam ter sido realizados den- BEN-ASHER, M. The gender of nouns in Biblical Hebrew. Semitics, v. 6, 1978.
tro de 70 semanas literais, estas semanas devem ser interpretadas como repre-
FINEGAN, J. Handbook of Biblical chronology. Princeton: Hendrickson Publishers, 1964.
sentando simbolicamente períodos mais longos do real tempo histórico. A ana-
logia de Levítico 25:8 provê “anos” para os “dias” daquelas semanas. A mesma FORD, D. Daniel. Nashville: Southern Association Publishing, 1978.
conclusão pode ser tirada dentro da própria narrativa de Daniel 9 quando esses
4
Estudos selecionados em interpretação profética

FROOM, L. E. The prophetic faith of our fathers. Washington: 1948. v. 2.

HATCH, E.; REDPATH, H. A. A concordance to the Septuagint. Grand Rapids: Baker


Academic, 2005. v. 1.
346-2'Ù4-3(-%%23
4%68)
MICHEL, D. Grundlegung einer hebräischen syntax. Vluyn: Neukirchener Verlag, 1977.

SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9. In:
WALLENKAMPF, A. V.; LESHER, R. The sanctuary and the atonement. Silver Springs:
Biblical Research Institute, 1981.

. A profecia de Daniel 9:24-27. In: HOLBROOK, F. B. (Ed.). Setenta semanas:


Esboço do capítulo
levítico e a natureza da profecia. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2010. (Santuário e profecias
1. Introdução
apocalípticas, 3). 72-74.
2. Sinopse
STRAND, K. A. Interpreting the book of revelation. S.l.: Ann Arbor, 1976.
3. Literatura judaico-helenística
4. Literatura de Qumran
. A estrutura literária do livro de apocalipse. In: 13º congresso da associação 5. Resumo
6. Intérpretes pós-Qumran
internacional para a história das religiões. Lancaster, agosto de 1975.
-2863(9Þß3
WACHOLDER, B. Z. The calendar of sabbatical cycles during the second temple and early rabbinic Tendo olhado para a evidência
110 period. Hebrew Union College Annual, v. 44, 1973. bíblica em busca da aplicação do princí-
pio dia-ano para a interpretação dos pe-
ríodos de tempo das profecias apocalíp-
ticas da Bíblia, agora nos volvemos para
a indagação sobre quando e onde este
princípio veio a ser aplicado na história
da interpretação profética. A discussão
seguinte investiga o mais antigo con-
junto de literatura que se relaciona com
esta matéria, a saber, os escritos judai-
cos do período intertestamental.
Os intérpretes judeus foram os
primeiros e os principais na aplicação
do princípio dia-ano às profecias. O
devido crédito deve ser dado a eles ao
examinarmos a história de sua inter-
pretação. Os intérpretes cristãos, é claro,
também têm seguido esse exemplo em
sua interpretação deste princípio.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (2ª parte)

7-2347) Neste exemplo, é evidente o uso do princípio dia-ano da maneira como a pa-
lavra para “semanas” (2 semanas x 7 dias = 14 dias [ = anos]) era usada em com-
binação com jubileus e anos.
Com base em pesquisas recentes de materiais judaicos do segundo século
a.C., tem se tornado evidente que o princípio dia-ano era conhecido e aplicado
por intérpretes judeus durante o segundo século até ao período pós-Qumran.
8)78%1)283()0):-
O Testamento de Levi é uma seção da obra intertestamental pseudepigráfica
Não é mais defensável afirmar que o princípio foi um fenômeno do nono século
conhecida como o Testamento dos doze patriarcas.
d.C. Contudo, para ser puramente objetivo, deve ser ressaltado que a descoberta
Um exame desse documento revela que seu sistema cronológico é com-
da aplicação do princípio dia-ano nas fontes extrabíblicas de materiais judaicos
posto de um abrangente período de tempo de 70 semanas que “Levi” prediz
pertinentes não “prova” que este método de interpretação profética tenha sido
que será um tempo de impiedade sacerdotal. É evidente que o autor pretendia
aplicado por Daniel, nem “prova” a correção de tal método. Mas indica uma uti-
dividir esse período em 10 jubileus (embora no documento ele discuta eventos
lização muito antiga por parte dos judeus. Antes de nos voltarmos para as fontes
somente até o final do sétimo jubileu). O sétimo jubileu é subdividido em sema-
de Qumran, examinaremos brevemente a relevante literatura judaico-helenísti-
nas (com ênfase na quinta e sétima).
ca previamente conhecida por eruditos antes das descobertas de Qumran.
Sendo que os jubileus podem se referir apenas a um período de anos, é evi-
dente que as “semanas” do período de 70 semanas, e da quinta e sétima semanas
do sétimo jubileu eram aceitas como compostas de dia-anos. Assim, é evidente
0-8)6%896%.9(%-'3,)0)2Ù78-'% que o autor empregou o princípio dia-ano quando compôs sua cronologia.

112 0-:63(37.9&-0)97 ‘)2359) 113


O Livro dos Jubileus não faz a equação específica: 10 jubileus = 70 semanas Nesta passagem podem ser notadas duas unidades de tempo: (1) os 70 perío-
= período de 490 anos. Contudo, nesse documento encontramos clara evidência dos de tempo – cada um governado por um pastor angélico – estendendo-se da
de um extenso uso do princípio dia-ano para assinalar os períodos históricos do monarquia dividida até o período dos Macabeus, e (2) as dez “grandes semanas”.
passado de Israel segundo o esquema ou arranjo do autor. Nessa obra, a palavra Ainda que estas unidades de tempo não empreguem o princípio dia-ano,
para “semanas” é especialmente instrutiva. Ocorre mais de 80 vezes. É claro que dois elementos – o número 70 e a unidade de semanas – foram extraídos
estas referências a “semanas” devem ser interpretadas à base do princípio dia-ano. de Daniel 9:24-27 e transformados pelo autor para apresentar uma con-
Na obra, o princípio é usado de várias maneiras. Um notável exemplo é a com- tagem totalmente diferente. Esta espécie de abordagem sugere que Daniel
putação da idade de Noé por ocasião de sua morte. Primeiramente é dada a sua foi escrito antes de 1º Enoque, que é datado do segundo século a.C. Além
idade como 950 anos. Então, é dada como 19 jubileus, duas semanas e cinco anos. disso, é reconhecido que essas unidades de 1º Enoque representam tempo
Consequentemente, temos a seguinte equação: simbólico, não literal.

{ 0-8)6%896%()5916%2
19 jubileus = 19 x 49 anos = 931 anos
+
950 anos = 2 semanas = 2 x 7 anos = 14 anos
+ 51)059-7)()59)
5 anos = 5 anos = 5 anos
Esse notável documento escatológico de Qumran provê informação relativa a
950 anos
um futuro personagem chamado Melquisedeque. A data do seu aparecimento é dada
em termos de uma cronologia profética baseada em anos sabáticos e anos jubileus.
Estudos selecionados em interpretação profética O princípio dia-ano (2ª parte)

Importantes eruditos têm concordado que o documento Melquisedeque 6)7913


baseia-se na profecia das 70 semanas de Daniel (Dn 9:24-27). Todavia, o pe- Resumindo, o princípio dia-ano pode ser visto em operação nesses anti-
ríodo de tempo das 70 semanas é reorganizado como dez jubileus, indicando gos escritos judaicos brevemente pesquisados. Quatro dos textos discutem um
claramente que as “semanas” eram vistas como semanas de anos. período de tempo profético da mesma extensão, quer dado em termos de 70
Esse documento provê evidência de que (no pensamento de Qumran) os semanas ou como 10 jubileus. Muito provavelmente os autores desses docu-
jubileus – que só podiam consistir de anos – deveriam ser subdivididos em mentos puseram a data para o início deste período profético em torno do final
semanas. Portanto, a interpretação de seus períodos de tempo exigia o uso do do sexto século a.C. Desse modo os 490 anos, ou aproximadamente cinco sécu-
princípio dia-ano, quer isto seja explicitamente declarado ou não, nas partes los que essas 70 semanas/10 jubileus cobririam, estender-se-iam até por volta
do texto que sobreviveram. O documento indica que o princípio era usado por do final do primeiro século a.C. Esses documentos reforçam assim a ideia geral
no mínimo alguns judeus de Qumran. de que o período de tempo entre o final do primeiro século a.C. e o início do
primeiro século d.C. foi, de fato, um tempo em que o Messias era esperado. A
547)9(3)>)59-)0 evidência para o uso do princípio dia-ano nesses documentos judaicos deriva-
Nesse documento encontramos evidência para 10 jubileus, ou 490 anos. se da maneira como os escritores usam a palavra “semanas”. A origem bíblica
Embora os jubileus de 490 anos muito provavelmente devessem ser de- desta prática (que esses escritores posteriores têm seguido) pode ser remontada
compostos em seus componentes menores, não há nenhuma evidência da a Daniel 9:24-27, porque aqui a mesma palavra é usada do mesmo modo.
parte sobrevivente desse texto de que fossem. Por outro lado, um jubileu
delimita um período apenas de anos. De sorte que podemos seguramente
inferir que onde quer que os jubileus sejam mencionados, suas semanas
deveriam ser divididas em sete anos individuais, quer isto seja explicita-
-28Ý646)8)74Ô75916%2
114 115
mente declarado ou não. .37)*3
Como o documento 11º Q Melquisedeque, esse documento fragmen- Josefo (Antiguidades judaicas. X. 275.276) aplicou o “chifre pequeno” de Daniel
tário não-publicado deriva seus elementos fundamentais das 70 semanas de 8 a Antíoco Epifânio. Ele considerava o elemento tempo da profecia como tempo lit-
Daniel, mas apresenta-as em uma forma reorganizada. Nas poucas linhas eral, declarando serem 1.296 dias (Josefo, Antiguidades Judicas. X.271). Este número
publicadas é notável observar a graduação específica de “uma semana de é evidentemente uma forma distorcida dos 1.290 dias designados em Daniel 12:11
anos”. Esta espécie de identificação é deixada não especificada na profecia para “a abominação da desolação” que ele substituiu pelas 2.300 tardes e manhãs
canônica de Daniel 9:24-27. (ou dias) originalmente na passagem de Daniel 8:14. Os 1.296 dias são aproximados
aos três anos literais em que o ritual do templo foi interrompido por Antíoco.
5%7)6%7(%'6-%Þß3 O uso aqui dos 1.290 dias por Josefo é evidência indireta, incidentalmente,
A segunda seção da passagem sobrevivente desse documento lida com um para o fato de que ele provavelmente compreendia as 2.300 tardes e manhãs como
período de 70 semanas. Durante este espaço de tempo o anjo maligno Azazel mais longas, não mais curtas que os 1.290 dias. Isto é, ele evidentemente com-
deveria levar Israel ao pecado e esquecimento dos mandamentos de Deus. preendia que elas não deveriam ser divididas pelo meio para formar 1.150 dias,
Embora o princípio dia-ano não seja declarado explicitamente, ele deve um procedimento que teria se ajustado melhor à sua interpretação se ele a tivesse
ser empregado a fim de fazer qualquer aplicação histórica das 70 semanas de aceitado como a unidade de tempo envolvida.Embora não esteja inteiramente
Azazel, não importando que alguém as date no meio do segundo milênio a.C. claro, parece que Josefo (Antiguidades judaicas. X. 276) compreendia Daniel 9:24-
ou na segunda metade do primeiro milênio a.C. Sem o princípio dia-ano esse 27 como contendo uma referência aos romanos e sua destruição de Jerusalém e
texto teria sido ininteligível para seus antigos leitores e, contudo, este princípio do templo por eles. Se é assim, tal opinião exigiria que ele interpretasse as 70 se-
não é declarado em suas partes sobreviventes e provavelmente não era declara- manas como simbólicas. Assim, a evidência para o seu uso de algo como o princí-
do no texto original quando era completo. pio dia-ano é indireta e poderia ser proposta apenas para esta passagem específica.
Estudos selecionados em interpretação profética

46-1)-637-28Ý646)8)76%&Ù2-'37
5
Quanto às primeiras fontes rabínicas mencionaremos apenas o Seder Olam,
documento atribuído ao Rabbi Jose ben Halafta (segundo século d.C.). Os .9Ù>3)1(%2-)0
capítulos 29-30 podem ser considerados como uma espécie de exposição sobre
Daniel 9:24-27. Todavia, o autor adapta a cronologia para abarcar o período
entre o incêndio do primeiro e do segundo templo. Em outras palavras, o autor
vê 10 jubileus = 70 ciclos sabáticos = 490 anos decorrendo desde a subversão
da nação e seu templo por Nabucodonosor até à conquista romana por Tito.
Expandir as 70 semanas de Daniel para se ajustar a essa significa julgar que as
“semanas” devem ser compreendidas como simbolizando períodos mais longos Esboço do capítulo
de tempo real sobre o esquema de um dia para um ano.
1. Introdução: Literatura recente
‘)7(6%7 2. Estrutura literária
Esse apocalipse pseudepigráfico de cerca de 100 d.C. faz uso da palavra para 3. Estrutura poética e exegese
“semana” como uma “semana de anos” à base do princípio dia-ano em duas pas- 4. Data do juízo em Daniel 7
sagens. A mais interessante se refere a um julgamento de sete anos de duração 5. Natureza do juízo em Daniel 7
que precederia o reino messiânico. “E sua duração será, por assim dizer, uma
semana de anos. Tal é o meu juízo e sua ordem prescrita” (4º Esdras 7:43).
116 Esse apocalipse emprega a palavra para “semana” como representando (por
meio dos sete dias da semana) um período de sete anos. Aqui, o princípio dia-
ano torna-se explícito, sendo que a “semana” é identificada como “de anos”.
-2863(9Þß3
0-8)6%896%6)')28)
%7')27ß3()13-7Ý7 Recentemente, importantes
Nesse documento, possivelmente do primeiro século d.C., é mencionado contribuições de dois eruditos ad-
um elemento de tempo que sugere que ele deve ser interpretado simbolica- ventistas do sétimo dia auxiliam a
mente, ao invés de em sentido literal. Moisés é citado como afirmando: “Desde compreensão de Daniel 7. Arthur
minha morte e ascensão até o advento de Deus haverá 250 tempos.” Segundo Ferch (1979)1 estuda a identidade
Charles, esses “tempos” provavelmente devem ser compreendidos como sema- do Filho do Homem (em Daniel
nas-anos. Assim, 250 tempos seriam iguais a 1 750 anos (250 x 7), que deveriam 7:13) e Gerhard Hasel considera a
se passar entre os dois eventos mencionados. De sorte que, se a morte de Moisés identidade dos santos do Altíssimo
fosse datada em torno da metade do segundo milênio a.C., o período de tempo (em Daniel 7:18, 21-22, 25, 27; ver
terminaria então no início da Era Cristã. HESEL, 1975, p. 176-185).

1
Alguns elementos importantes dessa tese
foram publicados em Ferch (1981, p. 4)
também apresentou o mesmo assunto em
uma forma mais popular em The Pre-Ad-
vent Judgment (1980, p. 4).

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