Você está na página 1de 2

Pós-impressionismo

Longe de indicar um grupo coeso e articulado, o termo se dirige ao trabalho de pintores


que, entre 1880 e 1890, exploram as possibilidades abertas pelo impressionismo, em
direções muito variadas. A noção é cunhada pelo crítico britânico Roger Eliot Fry (1866-
1934) quando da exposição Manet e os pós-impressionistas, realizada nas Grafton
Galleries, em Londres, 1910, que incluía pinturas de Paul Cézanne (1839-1906), Vincent
van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903), considerados as figuras centrais da
nova atitude crítica em relação ao programa impressionista.

O movimento impressionista nunca fora homogêneo; tampouco foram homogêneas as


reações a ele. Se isso é verdade, as três exposições pós-impressionistas organizadas por
Fry (1910, 1912 e 1913) sugerem convergências estilísticas entre Cézanne, Van Gogh e
Gauguin ou, pelo menos, uma tentativa comum dos pintores de alargar o programa
impressionista, o que já havia sido tentado por Georges Seurat (1859-1891) e pelos
chamados neo-impressionistas. O naturalismo e a preocupação com os efeitos
momentâneos de luz, caros aos impressionistas, estão na base de boa parte das restrições
feitas ao movimento. Em Seurat e Paul Signac (1863-1935) o rompimento com as linhas
mestras do impressionismo verifica-se pelo acento colocado na pesquisa científica da cor,
que dá origem ao chamado pontilhismo. Aí, os trabalhos se orientam a partir de um
método preciso: trata-se de dividir os tons em seus componentes fundamentais. As
inúmeras manchas de cores puras que cobrem a tela são recompostas pelo olhar do
observador e, com isso, recupera-se a unidade do tom, longe do uso não sistemático de
cores. Um Domingo de verão na Grande Jatte de Seurat, exposta na última mostra
impressionista de 1886, anuncia o neo-impressionismo, explicitando divergências no
interior do movimento que reuniu Claude Monet (1840-1926), Pierre Auguste Renoir
(1841-1919), Edgar Degas (1834-1917) e tantos outros.

Cézanne, ausente da exposição de 1886, está à frente de uma outra via crítica que tem sua
ênfase colocada no estudo da estrutura pictórica. É verdade que Cézanne nunca se
inclinou às representações realistas e às impressões fugazes exploradas pelos
impressionistas. Sua opção recaiu sempre sobre a análise estrutural da natureza, por meio
de uma pintura que apela preferencialmente à mente e à consciência, e não à visão. O
conhecimento da realidade em Cézanne não é contemplação, mas pesquisa metódica, em
que as sensações visuais são filtradas pela consciência. Já em 1873, em A casa do
enforcado em Auvers, exibida na primeira mostra impressionista, o caráter original de sua
pintura começa a se revelar: a composição densa, os volumes recortados, a luz que produz
um efeito material na tela, sem brilhos nem transparências.
Gauguin descobre a novidade das obras de Cézanne e delas tira proveito particular.
Explora, como ele, um estilo anti-naturalista, mas o faz pelo uso de áreas de cores puras
e planas, já nas obras que realiza em Pont-Aven (por exemplo, A visão após o sermão-
Jacó e o anjo, 1888). A ida do pintor para o Taiti em 1891, abre suas pesquisas à cultura
plástica dos primitivos, o que se revela no uso de cores vibrantes e na simplificação do
desenho (Ta ma tete; mulheres taitianas sentadas num banco, 1892 e Te tamari no atua;
Natividade, 1896).

A convivência e colaboração estabelecida entre Gauguin e Van Gogh - sobretudo a partir


de 1888, quando o pintor holandês se instala em Arles - não impede a localização de
flagrantes diferenças existentes entre os seus trabalhos. As linhas e cores de Gauguin
parecem suaves diante do vigor expressivo dos coloridos de Van Gogh. As pinceladas em
redemoinho e a explosão de cores em telas como Trigal com ciprestes (1889) e Estrada
com ciprestes e estrelas (1890) - isso para não falar nos célebres Girassóis e Noite
estrelada, dessa mesma época - auxiliam a localizar o timbre expressionista da produção
de Van Gogh. As três principais figuras associadas ao pós-impressionismo estão na base
de distintos movimentos artísticos posteriores. A obra de Cézanne encontra-se na raiz do
cubismo de Picasso e Braque. Gauguin, por sua vez, influencia os nabis e o movimento
simbolista. Finalmente, Van Gogh marca as orientações expressionistas futuras.

Nos Estados Unidos, as várias correntes do pós-impressionismo são imediatamente


incorporadas por artistas como Maurice Brazil Prendergast (1859-1924) e Stuart Davis
(1894-1964). Entre nós, parece difícil falar em influências diretas, seja do impressionismo
- em alguma medida, localizável em telas de Castagneto (1851-1900) e Eliseu Visconti
(1866-1944) - ou do pós-impressionismo, embora a menção dos críticos aos pós-
impressionistas apareça de forma localizada, por exemplo, no acento construtivo da
pincelada de Milton Dacosta (1915-1988) (associada por alguns a Cézanne), ou nas cores
de Anita Malfatti (1889-1964), aproximadas em certas leituras dos tons de Van Gogh e
Gauguin. Como todo rótulo, pós-impressionismo auxilia a organizar e classificar as novas
tendências da pintura francesa oriundas da renovação estilística empreendida pelo
movimento impressionista. Tem a desvantagem, por outro lado, de sugerir convergências
e princípios partilhados.

PÓS-IMPRESSIONISMO . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura


Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo891/pos-impressionismo>. Acesso em: 12
de Jun. 2020. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

Você também pode gostar