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Introdução

O trabalho tem como tema: “Reformas no Egipto” parte-se do pressuposto de que Egipto e um
território norte africano sob contacto constante com outros povos do mundo, o povo egípcio
viveu uma história social, política, económica e cultural influenciada pelos povos de outros
cantos, caso específico da Ásia, onde se situava o império otomano.

Objectivo Geral:

 Compreender o processo de reforma no Egipto;

Objectivos Especificos :

 Identificar os factores da reforma no Egipto;


 Caracterizar a reforma no Egipto;
 Explicar a importancia da reforma no Egipto em todos os aspectos.
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Antecedentes das Reformas

Segundo ALMEIDA at al (1996:168). Em 1516 e 1517, o sultão Selim I derrotou os Mamelucos


e o Egipto transformou-se numa província do Império Otomano, governada por um novo paxá
nomeado a cada ano. Refere-se que a autoridade do Império Otomano era pouca e os paxás
tomavam frequentemente decisões à margem dos desejos do sultão, que se alegrava em receber o
tributo, apenas exigindo que as fronteiras fossem vigiadas para evitar qualquer tipo de invasão.
Outrossim, salientar que as antigas elites mamelucos conseguiram burlar as estruturas
administrativas e continuar a governar o Egipto. Embora colaborassem com os otomanos muitas
vezes desafiavam o seu poder. Este período corresponde a um declínio económico e cultural.

No decorrer do século XVII desenvolveu-se uma elite de mamelucos que usava o título de "bey",
ao mesmo tempo que as guerras entre duas facções de mamelucos acabavam com o país. No
século XVIII, Ali Bey e o seu sucessor, Muhammad Bey, conseguiram fazer do Egipto um
território independente do Império Otomano. Por outro lado, a abertura da rota Europa-Extremo
Oriente, por meio do Cabo da Boa Esperança acabou com o monopólio que o Egipto detinha
sobre essa rota de comércio e iniciou um período de declínio económico, no qual a população
conheceu um período de penúria e fome.

Segundo MALEK (2010:378).O século XVIII egípcio aparece como o laboratório do que será o
Egipto renascente. Primeiramente, a unidade nacional, ou seja, a redução dos diferentes feudos
mantidos pelos mamelucos tanto no delta como no Baixo Egipto, foi tentada por ‘Alī Bey
al-Kabīr”.

Com o facto relatado pelo autor supracitado, de um Egipto fraco, a França e a Inglaterra
começaram a alimentar ambições em relação ao território. Em 1798 o general Napoleão
Bonaparte invadiu o país para tentar abalar o comércio inglês na região.

Segundo MALEK (2010:378) A ocupação francesa melhorou a situação moral da classe baixa,
dos revendedores, carregadores, artesãos, carroceiros, cavalariços, proxenetas e “prostitutas”: em
suma, a escória da população beneficiava-se da liberdade recém-adquirida; mas a elite e a classe
média vivenciaram todo tipo de problemas, já que as importações e as exportações estavam
suspensas.
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Autor supracitado refere ainda que houve duas revoltas do Cairo: a primeira, de 21 a 24 de
outubro de 1798, com seus prolongamentos nas cidades e na área rural, em torno dos shaykh e
notáveis do Cairo: dois mil mortos, dez shaykh decapitados, a suspensão do Dīwān consultivo;
por outro, a segunda revolta, bem mais dura, de 20 de março a 21 de abril de 1800, conduzida
pelos paxás ainda ligados a Porta e pelos shaykh de al- Azhar, que provocou uma repressão
generalizada muito dura.

Igualmente, referir que a condição do Egipto em 1805, era a de uma wilāya, uma província do
Império Otomano. A situação geopolítica do país limitava estreitamente sua margem de
manobra. Todavia, o essencial já estava a postos: um poder de Estado, baseado em uma força
militar, certamente reduzida, porém eficaz, e, sobretudo, sobre uma verdadeira delegação, um
consenso nacional dos notáveis, ‘ulamā’, e dos comerciantes da época, apoiados pelo povo das
cidades e das grandes aglomerações provinciais. Tratar-se-ia, desde logo, de manobrar dentro
dos limites estreitos da geopolítica, isto é, de compreender o “espírito do local topográfico”.
(Idem).

Reformas Políticas

Uma terra de asilo que mais era um ponto de encontros, de trabalho e de criação intelectuais,
apoiado no único Estado moderno do Oriente dotado de uma infraestrutura material, técnica e
econômica avançada. A luta empreendida pelo Egipto depois do advento de Muhammad ‘Alī
para fundar um Estado moderno, superar quatro séculos de decadência e dotar se de uma
economia avançada apoiada em um exército eficiente e poderoso – luta esta retomada, em
condições infinitamente mais rigorosas, por Ismā‘īl – provocou uma fermentação de ideias e de
movimentos sociais e políticos de grande intensidade:

A imprensa árabe-egípcia e sírio-libanesa, oficial e privada-vivia então em um ambiente


privilegiado de exaltação do sentimento nacional, propício a renovação cultural e ao cruzamento
de ideias. Foi isso, nos parece, mais do que o único fato de ter sido o lugar de asilo preferido a
época no seio do Império Otomano, que constituiu a contribuição fundamental do Egipto ao
progresso do ensino, da imprensa e da publicação das luzes no mundo árabe islâmico de então
durante este período que apareceria, mais tarde, como tendo sido aquele da gestação da
revolução e do renascimento nacionais (idem).
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A imitação do Ocidente era vista, com alegria, como uma operação de superfície-um espelho do
ser possível, já que não podia se tratar de um possível atualizável: a vestimenta; o urbanismo; a
música sob a forma de ópera, mas também de composições militares; o teatro, sobretudo;
esboços de romance.

Segundo MALEK (2010:402) Obviamente que os salões não poderiam mascarar o essencial, isto
é o ressurgimento do Estado nacional. Eles não conseguiriam mais atenuar, nem que fosse por
um momento, a voz do país profundo. Esta, tal como a expressam os ditados, os provérbios e os
costumes, era impregnada por um sentimento de usurpação não no imediato, mas através e no
final de uma história milenar; porém, uma usurpação impensável, tao profundo era o
enraizamento de cada um na gleba imemorial. A sensibilidade popular viria a tona através de
moldes e de fórmulas expressando a necessidade de mediações viáveis.

Reformas na Economia

O primeiro ponto a sublinhar é que Muhammad `Alī criou uma economia nacional em vez de
uma simples economia local, como era o caso na maioria dos países orientais desta época.

Segundo MALEK (2010:389) ” A economia autárquica desejada por Muhammad ‘Alī serviria ao
seu propósito de fundar um Estado nacional egípcio moderno no coração do seu império. Apesar
da interrupção de 1840, Ismā‘īl poderia retomar a via de Muhammad ‘Alī”.

A pressão, depois a penetração do grande capital internacional, enfim a ocupação do Egipto em


1882 acresceriam a este primeiro factor dois outros de importância: de um lado, a criação de um
mercado nacional unificado, particularmente graças as grandes obras empreendidas por Ismā‘īl;
depois, de outro lado, a integração económica egípcia no circuito da economia internacional pelo
viés de empréstimos e, sobretudo, pela monocultura do algodão.

Segundo MALEK (2010:392). Muhammad ‘Alī considerava a economia como o fundamento da


política a razão pela qual este sutil oficial albanes alçou o posto de estadista. O Estado que ele
tentava edificar, na ocorrência, estava concebido no início, em 1805, como uma formação étnica
centrada em torno de um exército poderoso e eficaz, apoiando - se ele próprio em uma economia
moderna e autárquica.
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Refere-se que de 1818 a 1830, ele criou as grandes unidades industriais: as fábricas de armas e
de canhões da Cidadela, que atingiu seu apogeu em 1828 sob Adham Bey; a fábrica de canhões
do Arsenal; a fábrica de fuzis de al- Hūd al- Marsūd (1821), as cinco fábricas de pólvora
produzindo 15.874 kantār (1 kantār = 45 quilos) em 1833; o arsenal marítimo de Alexandria,
criado por Lefébure de Cerisy em 1829, o qual substituiu um mestre artesão genial, Hadjdj
‘Umar; depois a doca seca construída por Mougel, em 1844. De toda esta infraestrutura, o
marechal Marmon e Clot Bay seriam os observadores admiradores e surpresos. No plano da
indústria “civil’’, trinta fábricas de fiacção e tecelagem de algodão foram criadas, tanto no Baixo
Egito como no Alto Egito; as fábricas do Cairo forneciam as provinciais as máquinas, as
ferramentas, as peças sobressalentes, os materiais de construção e os técnicos para a manutenção
das instalações (Idem).

Referir que a produção era suficiente para as necessidades do país e permitia, ao mesmo tempo,
substituir as importações por produções locais e obter lucros da ordem de 100% para o Tesouro
Público. Três fábricas de tecelagem de la foram fundadas em Būlāk, Damanhūr e Fuwwa, assim
como uma grande fábrica de seda em Khurunfish (1816) e numerosas fábricas de linho através
do país; Três refinarias de açúcar; dezessete fábricas de índigo; duas grandes fábricas de vidro; o
curtume de Rosette (1827) e a fábrica de papel do Cairo (1834); seis fábricas de salitre instaladas
por um francês, Haim. O ponto fraco já era o que frearia a industrialização um século mais tarde:
falta de minerais essenciais, o ferro e o carvão, e a dificuldade de obter uma força motriz
suficiente.

Reformas na agricultura

Segundo MALEK (2010:392) “A própria agricultura ocupou, muito naturalmente, o primeiro


lugar nas reformas econômicas. No final do século XVIII, todas as terras, exceto as wakf, se
encontravam repartidas entre os multazim, cuja tarefa principal era “coletar e enviar a receita
devida por sua vila ou suas vilas ao Tesouro, central ou provincial”.

Os dois milhões de faddān (1 faddān = 0,56 hectares) que constituíam a superfície cultivável do
Egito, em 1805, se repartiam em seis categorias: as terras ab ‘ādiyya, shflik ou jiflik, isto é,
200.000 faddān distribuídos por Muhammad ‘Alī aos membros de sua família, aos dignitários e
aos comandantes militares, terras isentas de impostos; as terras dos mamelucos, na Cidadela
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(1811), em seguida, sua liquidação no Alto Egipto (1812) para converte-las em terras awsiya,
100.000 faddān dados em compensação aos mamelucos, a fim de nao privar suas família de
todos os recursos; as terras dos shaykh, ou masmūh al- mashāyekhwal- masāteb 4% da superfície
cultivável de cada vila, em um total de 154.000 faddān dados aos ‘ulamā’ que ocupavam
igualmente as funções de multazim; as terras rizka, 6.000 faddān isentos de impostos dados de
presente aos especialistas estrangeiros trabalhando no Egito; as terras athar, as quais
permaneciam disponíveis foram dadas aos fallāhin; finalmente, as terras dos ‘erbān, nas quais
Muhammad ‘Alī desejava que os beduínos se fixassem. Refere-se ainda que dada esta política de
repartição das terras, o Vice-Rei apareceu a seus contemporâneos “como o agressor dos direitos
adquiridos, o destruidor das casas prósperas, o homem que toma o que está nas mãos de outrem e
lhe tira os seus meios de subsistência (Idem).

Salientar que foi Muhammad ‘Alī que diversificou as lavouras e, sobretudo, intensificou a
lavoura de algodão, desde 1821, sob o conselho de Jumel, o qual deu seu nome a uma nova
variedade de algodão de fibra longa. Esta, bem como o algodão do tipo americano “Sea Island”,
forneceu ao Estado, detentor do monopólio sobre o comércio exterior, receitas apreciáveis, já que
a colheita de 1845 atingiu 424.995 kantār, produzidos em 212.473 faddān, isto é um aumento de
400% em vinte anos; um máximo de 80.000 kantār foram para as fiações egípcias; restando por
volta de 344.995 kantār para a exportação.

Os especialistas concordam em louvar a política de modernização agrícola do Vice - Rei, como


refere RIVLIN(2010:393)

Além de tudo, ele forneceu o capital indispensável para transformar a economia


agrícola egípcia, de uma economia de subsistência para uma economia de lavouras
comerciais e o fez sem sacrificar a produção de cereais sobre a qual a economia
agrícola egípcia baseara- se desde sempre.

Reforma social e cultural

Uma nova era começava, aquela da reconquista da identidade, objetivo das civilizações da fase
“nacionalitária”. Ela se faria em um quadro nacional, com a ajuda do pensamento radical e da
crítica dupla do patrimônio nacional e das contribuições estrangeiras, de modo que “a pátria seja
o local de nossa felicidade comum, que construiremos pela liberdade, pelo pensamento e pela
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fábrica”. Sua obra mestre, Manāhedj al albābal Missriyyafī mabāhedj al ādābal‘asriyya (As
vozes dos corações egípcios rumo as alegrias dos costumes contemporâneos), marcou, em 1869,
a junção entre o pensamento nacional e a abertura para o socialismo.

Segundo MALEK (2010:399) Instrumentos de vanguarda, as missões escolares na Europa,


principalmente na França, seguida pela Inglaterra, pela Áustria, pela Itália, pelos Estados
alemães e, mais tarde, pelos Estados Unidos da América, não assegurariam, em si só, a estrutura
de um sistema pedagógico na escala de um país inteiro e de suas necessidades.

Refere-se também que os esforços aparecem, em retrospectiva e particularmente em comparação


com a acção executada pela ocupação britânica, como verdadeiramente imponentes. A
diferenciação estabeleceu - se entre os dois tipos de ensino, clássico tradicional e moderno, em
função do legado egípcio, de um lado, das exigências do Estado militar e do renascimento
cultural, do outro. A rede de escolas especiais superiores – única no mundo não ocidental a época
que caracterizava o reinado de Muhammad ‘Alī se duplicaria com a instituição de um verdadeiro
sistema de ensino nacional, sob Ismā‘īl, graças particularmente a ‘Alī Mubārak, após um
interlúdio que permitiria as missões religiosas europeias e americanas se implantarem, no
momento da penetração imperialista, apesar de uma oposição tenaz da Igreja cópta. O conjunto
destas iniciativas e desta reflexão dotaria o Egipto, em meio século, de uma só vez de um sistema
de ensino moderno e nacional, dos principais elementos de uma universidade de qualidade real,
de uma rede diversificada de instituições científicas e de um programa pedagógico baseado nos
valores humanistas, científicos e racionalistas modernos. Foi neste último campo que se
encontraram, naturalmente, as dificuldades mais sérias, tanto é verdade que é mais fácil
modificar as instituições do que remodelar as mentalidades.

A conjunção das missões escolares e da ascensão das novas elites do poder, assim como a
emergência de novas camadas sociais, particularmente nas cidades, graças a acção política e
militar do Estado, suscitariam um poderoso movimento de imprensa e editorial, no qual o
impulso e o controle estatais – a partir da criação de um diário oficial al-Wakā’i‘ al- Misriyya
(1828) permitiriam contudo uma margem para iniciativas privadas (al- Ahrām foi criado em
1876) (Ibidem:400).
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É preciso notar que foi o Egipto, a única entre todas as províncias do Império Otomano, que
ofereceu asilo aos intelectuais, pensadores, escritores e editores perseguidos pela Porta, na
realidade a terra de asilo privilegiado, em função de seu caráter oriental e islâmico, mas também
organicamente interligado ao movimento da Europa moderna.
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Conclusão

Com o trabalho intitulado Reformas do Egipto: antecedentes e Reformas de Muhammad Ali,


Percebe-se que em 1516 e 1517, o sultão Selim I derrotou os Mamelucos e o Egipto
transformou-se numa província do Império Otomano, governada por um novo paxá nomeado a
cada ano. A autoridade do Império Otomano era pouca e os paxás tomavam frequentemente
decisões à margem dos desejos do sultão, que se alegrava em receber o tributo, apenas exigindo
que as fronteiras fossem vigiadas para evitar qualquer tipo de invasão.

Percebe-se ainda que as antigas elites mamelucos conseguiram burlar as estruturas


administrativas e continuar a governar o Egipto. Embora colaborassem com os otomanos muitas
vezes desafiavam o seu poder. Este período corresponde a um declínio económico e cultural.
Neste contexto de um Egipto fraco, a França e a Inglaterra começaram a alimentar ambições em
relação ao território. Em 1798 o general Napoleão Bonaparte invadiu o país para tentar abalar o
comércio inglês na região.
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Bibliografia

ALMEIDA, Domingues de Almeida at al. Dicionário Breve de História. Editorial

Presença. Lisboa. 1996

MALEK, Anovar Abdel. O Renascimento do Egipto (185-1881) in: História Geral de

África VI. África do Século XIX à Década de 1880. Brasília. UNESCO. 2010.

http://viajeaqui.abril.com.br/estabelecimentos/italia-roma-atracao-basilica-di-san-pietro-basilica

de-sao-pedro , acesso em 02/03/2016.

Www.presidency.gov.eg = História_do_Egito" acesso em 02.03.2016.

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