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DIREITO PENAL

TEORIA DO TIPO
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Sumário
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................3
1.1 CONCEITO.........................................................................................................................................3
1.2 ESTRUTURA LEGAL DO TIPO..............................................................................................................3
1.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO TIPO PENAL................................................................................4

2 CRIME DOLOSO/CULPOSO/PRETERDOLOSO..............................................................................6
2.1 CRIME DOLOSO.................................................................................................................................6
2.1.1 Teorias sobre o solo.......................................................................................................................6
2.1.2 Espécies de dolo.............................................................................................................................6
2.2 CRIME CULPOSO...............................................................................................................................9
2.2.1 Punibilidade da culpa.....................................................................................................................9
2.2.2 Conceito de crime culposo.............................................................................................................9
2.2.3 Elementos do crime culposo..........................................................................................................9
2.2.4 Espécies de culpa.........................................................................................................................11
2.2.5 Graus de culpa.............................................................................................................................12
2.2.6 Compensação de culpas...............................................................................................................12
2.2.7 Concorrência de culpas................................................................................................................12
2.2.8 Caráter excepcional do crime culposo/princípio da excepcionalidade do crime culposo (art. 18,
parágrafo único, do CP)...............................................................................................................................13
2.2.9 Exclusão da culpa.........................................................................................................................13
2.3 CRIME PRETERDOLOSO...................................................................................................................13

3 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO............................................................................14


4 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA........................................................................................................14
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ATUALIZADO EM 09/12/20171

TEORIA DO TIPO

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONCEITO

O conceito de tipo é doutrinário. Tipo é o modelo genérico e abstrato formulado pela norma penal,
descritivo da conduta criminosa (tipos incriminadores ou legais) ou da conduta permitida (tipos permissivos ou
justificadores). Quando fala tipo legal é incriminador.

Os tipos incriminadores estão previstos na parte especial do Código Penal e na legislação extravagante,
não há tipos incriminadores na parte geral. Os tipos permissivos ou justificadores são as causas de exclusão da
ilicitude, o legislador autoriza a prática de um fato típico.

Não se pode confundir tipo e tipicidade. Zaffaroni diz que tipo é uma figura que resulta da imaginação
do legislador, enquanto que o juízo de tipicidade é a averiguação que sobre uma conduta se efetua para saber
se apresenta os caracteres imaginados pelo legislador.

Funções da tipicidade: garantista para o cidadão, fundamentadora do direito de punir, função


indiciária da ilicitude (gera presunção da ilicitude), função diferenciadora do erro (delimitar as circunstâncias
que devem ser conhecidas pelo autor, sob pena de erro de tipo), função seletiva.

1.2 ESTRUTURA LEGAL DO TIPO

Todo tipo incriminador tem um núcleo (verbo do tipo penal). O núcleo é o ponto de partida da
construção do tipo incriminador. Ao núcleo, o legislador acrescenta elementos ou elementares para a perfeita
descrição da conduta criminosa. Esses elementos podem ser objetivos/descritivos, subjetivos ou normativos.

 Os elementos objetivos ou descritivos são aqueles que revelam um juízo de certeza e que podem
ser compreendidos por qualquer pessoa (exemplo: “alguém” no art. 121, CP).
 Os elementos subjetivos dizem respeito ao aspecto anímico do agente, se referindo a uma
especial finalidade buscada pelo agente (exemplo: art. 155, CP – subtrai para não devolver mais,
ânimo de assenhoramento definitivo).
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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 Os elementos normativos são aqueles cuja compreensão reclama um juízo de valor. Ex. mulher
honesta no crime de rapto. Elementos normativos jurídicos ou impróprios (são aqueles que
contêm conceitos da área do Direito. Exemplo: conceito de documento, conceito de funcionário
público) e elementos extrajurídicos, culturais ou morais (aqueles cujos conceitos se relacionam a
outras áreas, que não o direito. Ex. ato obsceno).

Alguns autores, minoritariamente, falam ainda em elementos modais. Os elementos modais seriam
aqueles relacionados ao tempo e ao lugar do crime e também ao modo de execução (exemplo: art. 123, CP –
“durante o parto ou logo após”).

O núcleo do tipo mais os elementos forma o tipo fundamental ou básico. O tipo fundamental é aquele
que descreve a modalidade simples do crime. Em regra, os tipos fundamentais estão previstos no caput. Existe
alguma exceção no Código Penal? Sim, art. 316, §1º.

Excesso de exação: § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:  
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.  § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:

Em alguns crimes, o legislador também prevê circunstâncias. Quando temos circunstâncias, surge o
tipo derivado (matar alguém por motivo torpe). Circunstâncias são os dados que se agregam ao tipo
fundamental para aumentar ou diminuir a pena. São, portanto, as qualificadoras, as figuras privilegiadas, as
causas de aumento e de diminuição da pena.

1.3 CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO TIPO PENAL

 Tipo incriminador x Tipo permissivo

 Tipo fundamental x Tipo derivado. O derivado é autônomo

 Tipo normal (neutro, acromático ou avalorado) x Tipo anormal: Tipo normal é o que contém somente
elementos objetivos (matar – núcleo; alguém – elemento objetivo). Tipo anormal é o que contém
elementos subjetivos e/ou normativos.
No finalismo penal todo tipo é anormal porque o dolo (elemento subjetivo) e a culpa (elemento
normativo) estão no fato típico e fazem parte do tipo.
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 Tipo fechado (cerrado) x Tipo aberto: Tipo fechado é aquele que apresenta uma descrição minuciosa,
detalhada da conduta criminosa. Tipo aberto é aquele que não apresenta uma descrição completa,
pormenorizada da conduta criminosa. Os tipos abertos precisam se complementados por um juízo de
valor no caso concreto (exemplo: ato obsceno).
A norma penal em branco é complementada por lei ou ato administrativo, enquanto que o tipo aberto é
complementado por um juízo de valor do operador do Direito.

 Tipo congruente x Tipo incongruente: Tipo congruente é aquele em que há perfeita congruência entre a
vontade do agente e o fato legalmente descrito (exemplo: crimes dolosos consumados). Tipo
incongruente é aquele em que não há coincidência entre a vontade do agente o fato por ele praticado
(exemplo: os crimes tentados, os crimes culposos, preterdoloso).

 Tipo preventivo: essa nomenclatura foi recentemente usada pelo STJ no HC 211.823 (Informativo 493).
No crime obstáculo, o legislador antecipa a tutela penal, incriminando de forma autônoma atos
preparatórios de outro crime. O STJ ao falar de tipo preventivo se referia ao porte ilegal de arma de fogo
(o legislador antecipa a tutela penal).

 Tipo simples x Tipo misto: Tipo simples é aquele que contém somente um núcleo. Tipo misto é aquele
que contém dois ou mais verbos, dois ou mais núcleos. O tipo misto pode ser alternativo ou cumulativo. O
tipo misto alternativo é chamado de crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado. Se o agente praticar
dois ou mais deles contra o mesmo objeto material, só vai responder por um crime. São ações sucessivas.
Ex. adquirir veículo roubado e levar para sua casa (art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006). O tipo misto
cumulativo é aquele em que existe dois ou mais núcleos e se o sujeito praticar dois ou mais deles,
responderá por todos os crimes em concurso material (art. 244, CP).

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito)
anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes
proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente,
gravemente enfermo.

#OBS.: não confundir com crimes de condutas conjugada. Só há um núcleo e várias condutas relacionadas a ele.
Se cometer mais de um ocorre o concurso de crimes.

Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou
vigilância:
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I - Frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;


II - Frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de
igual natureza;
III - Resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV - Mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:

2 CRIME DOLOSO/CULPOSO/PRETERDOLOSO

2.1 CRIME DOLOSO

2.1.1 Teorias sobre o dolo

Teoria da representação/da possibilidade: para esta teoria, para que exista o dolo, basta a previsão do
resultado – trata na verdade da culpa consciente. Para esta teoria haverá dolo eventual se o agente admitir,
conscientemente, a possibilidade da ocorrência do resultado. 2

Teoria da vontade: para esta teoria não basta a previsão do resultado. O agente deve ter a vontade de
produzi-lo.

Teoria do assentimento/consentimento/anuência: esta teoria complementa a teoria da vontade. Para


ela, o dolo existe não apenas quando o agente tem vontade, mas também quando o agente assente com o
resultado.

O Código Penal brasileiro adotou as duas últimas teorias. A teoria da vontade diz respeito ao dolo direto,
enquanto que a teoria do assentimento, do dolo eventual. A teoria da representação, em verdade, trata da
culpa consciente, não do dolo. O dolo é formado por consciência – elemento intelectual – e vontade – elemento
volitivo3.

2.1.2 Espécies de dolo

Dolo natural x dolo normativo: o dolo natural (independe da consciência da ilicitude) é o dolo do
finalismo, enquanto que o dolo normativo (consciência da ilicitude) é o dolo do sistema clássico.

#Já caiu! Promotor de Justiça (MPE PR)/2019


Em tema de Dolo Eventual, para qual das teorias abaixo nominadas basta que haja o conhecimento sobre a
possibilidade de ocorrência do resultado para estar presente esta figura dolosa: Teoria da Possibilidade.

CAIU NA DPEMET/2016: a semelhança entre culpa consciente e dolo eventual, que é a previsão do resultado.
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Dolo genérico x dolo específico: essa divisão existia no sistema clássico. Dolo genérico é o que
hoje, no finalismo, se chama de dolo, isto é, a intenção de realizar o núcleo do tipo. O antigo dolo específico é o
atual elemento subjetivo do tipo ou elemento subjetivo específico, ou seja, a especial finalidade buscada pelo
agente.

Dolus bonus x dolus malus: esta classificação está mais próxima do direito civil. No direito penal,
esta classificação diz respeito aos motivos do crime, para aumentar ou diminuir a pena. Torpe – malus.
Relevante valor social ou moral – bonus.

Dolo direto/determinado/imediato/intencional/incondicionado x dolo indireto: a vontade do


agente é voltada para um determinado resultado. Há uma direção fixa, única.

Já no dolo indireto, a vontade do agente não se dirige a um resultado preciso, determinado. Pode ser
dividido em:

a) Dolo alternativo: a vontade do agente se dirige, com igual intensidade, a produzir um ou outro
resultado. No dolo alternativo, o agente sempre responderá pelo crime mais grave, consumado ou
tentado. Ex. atira para matar ou ferir. No caso de tentativa responde por tentativa de homicídio,
pois o CP adotou a teoria da vontade. Se teve a vontade deve responder por ela.
b) Dolo eventual: o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo.

O alemão Reinhard Frank desenvolveu a teoria positiva do conhecimento, que serve para identificar o
dolo eventual. O agente pensa: “seja como for, der no que der, eu não deixarei de agir”.

O Código Penal equipara o dolo direto ao dolo eventual. A maioria dos crimes é compatível tanto com
o dolo direto como com o dolo eventual. Entretanto, alguns crimes somente admitem o dolo direto, a exemplo
do crime de receptação (art. 180, do CP)> coisa que SABE ser produto de crime. Denunciação caluniosa – de que
sabe inocente. STJ – o dolo eventual não é extraído da mente do autor, mas sim das circunstâncias. Há vários
casos de racha envolvendo dolo eventual. Casos e embriaguez ao volante – analisar caso concreto.

*#QUESTÃO #OUSESABER - O que é a teoria da cegueira deliberada ou teoria de Avestruz?


R: A teoria da cegueira deliberada, também denominada teoria do avestruz, de origem norte-americana, está no
âmbito dos crimes de lavagem de capitais e visa à tornar típica a conduta do agente que tem consciência sobre a
possível origem ilícita dos bens ocultados por ele ou pela organização criminosa a qual integra, mas, mesmo
assim, deliberadamente, cria mecanismos que o impedem de aperfeiçoar sua representação acerca dos fatos. Ao
evitar a consciência quanto à origem ilícita dos valores, assume os riscos de produzir o resultado, daí porque
responde pelo delito de lavagem de capitais a título de dolo eventual.
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Dolo refletido/de propósito x dolo de ímpeto/repentino: o dolo refletido é o dolo dos crimes
premeditados, ou seja, é o dolo que resulta da reflexão do agente. O dolo repentino é o que ocorre a partir de
uma explosão de ânimo, como o que acontece nos crimes passionais, que são motivados por uma paixão
violenta.

Dolo presumido/in re ipsa: é aquele que não precisa ser provado no caso concreto. O Brasil não admite
o dolo presumido, porque ele levaria à responsabilidade objetiva.

Dolo de dano x dolo de perigo: dolo de dano é aquele presente nos crimes de dano, ou seja, é aquele
onde o agente quer ou assume o risco de efetivamente lesionar um bem jurídico. Já no dolo de perigo, presente
nos crimes de perigo, o agente se contenta em expor o bem jurídico a uma probabilidade de dano. Exemplo:
crime de perigo de contágio de doença venérea.

Dolo geral/por erro sucessivo: diz respeito ao meio de execução do crime. O agente produz o resultado
desejado, mas por uma forma diversa da inicialmente imaginada. O erro é irrelevante. Exemplo: jogar a vítima
de uma ponte para que ela morra afogada, mas ela morre em razão de uma pancada na cabeça ocorrida em um
choque com uma pedra. No dolo geral, uma única conduta é observada. Quanto à qualificadora, prevalece o
entendimento de que o meio de execução considerado de ser aquele que o agente queria utilizar - majoritária.
Contudo, existem entendimentos contrários, que consideram o meio de execução que efetivamente produziu o
resultado.

Dolo de primeiro grau x dolo de segundo grau/de consequências necessárias: No dolo de primeiro grau
é aquele em que o agente quer e persegue um único resultado, utilizando-se, para tanto, dos meios necessários.
Em verdade, esse dolo pode ser considerado como sendo o dolo direto. No dolo de segundo grau representa os
efeitos colaterais da conduta. Essa terminologia é da lavra de Claus Roxin. Exemplo: colocar uma bomba no
avião de Obama com a intenção de matá-lo (dolo de primeiro grau). Entretanto, é assumido o risco de matar as
outras pessoas que eventualmente estejam presentes no avião (dolo de segundo grau).

Dolo antecedente/atual/subsequente – antecedente é o suficiente para fixar a responsabilidade penal.


Ele não precisa perdurar por todos os atos executórios. Apropriação indébita – subsequente. Estelionato –
antecedente.

2.2 CRIME CULPOSO

No finalismo, a culpa é elemento da conduta. É um elemento normativo do tipo, isto é, elemento cuja
compreensão reclama um juízo de valor.

Destarte, é possível dizer que os crimes culposos, em regra, estão previstos em tipos penais abertos.
No entanto, existem algumas exceções à regra, como o caso da receptação qualificada (art. 180, §3º, do CP) e
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do art. 38, da Lei 11.343/2006. Tipos abertos precisam se complementados por um juízo de valor no caso
concreto.

2.2.1 Punibilidade da culpa

Fundamento:

O fundamento da punibilidade da culpa está no interesse público da proteção de bens jurídicos


indispensáveis ao individuo e à sociedade. A Escola Positiva falava em necessidade social. O homem seria
responsável porque vive em sociedade.

No crime doloso e no crime culposo é desvalor do resultado é o mesmo. Nada obstante, nos crimes
culposos, o desvalor da conduta é menor, e é por esse motivo que o legislador comina uma pena menor para
estes crimes.

2.2.2 Conceito de crime culposo

Crime culposo é o que se verifica quando o agente, deixando de observar o dever objetivo de cuidado,
por imprudência, negligência ou imperícia, realiza uma conduta voluntária, que produz um resultado
naturalístico não previsto nem querido, mas objetivamente previsível, e, excepcionalmente, previsto e querido,
que podia, com a devida atenção, ter evitado.
O Código Penal Militar traz, em seu art. 33, uma boa definição do que seria o crime culposo:
Art. 33. Diz-se o crime:
(...)
II - Culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou
especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.

2.2.3 Elementos do crime culposo

Conduta voluntária: a conduta voluntária é penalmente lícita ou, mesmo quando ilícita, caracteriza um
crime diverso. O agente quer praticar a conduta, mas não quer o resultado.
A voluntariedade da conduta está atrelada à ação, não ao resultado.

Violação do dever objetivo de cuidado: dever objetivo de cuidado é o conjunto de regras impostas
para todas as pessoas para a vida em sociedade. Essa violação se concretiza a partir da imprudência, negligência
e imperícia (modalidades de culpa):
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a) Imprudência: é chamada, ainda, de culpa positiva ou culpa in agendo. Consubstancia-se no fazer algo
que a cautela não recomenda. A imprudência sempre se desenvolve paralelamente à conduta do
agente. Exemplo: dirigir com excesso de velocidade
b) Negligência: também chamada de culpa negativa ou culpa in omitendo. Negligenciar é deixar de fazer
algo que a cautela recomenda. A negligência é anterior à conduta do agente.
Exemplo: não trocar os pneus “carecas” do carro e, posteriormente, dirigir na chuva.
c) Imperícia: também chamada de culpa profissional. É desenvolvida no exercício de uma arte, profissão
ou ofício que o agente está autorizado a exercer, mas ele não reúne conhecimentos teóricos ou
práticos para tanto. Exemplo: médico formado e com registro no CRM, mas que não detém
conhecimentos necessários para o exercício da medicina. Nem toda culpa no meio profissional é
imperícia. Médico que troca nome do medicamento na receita – negligência. Médico que prefere usar
técnica mais arriscada e mata paciente – imprudência.

#OBS.: Não se pode confundir a imperícia com o erro profissional. Naquela, a falha é do agente, e ele responde
pelo crime culposo; neste, a culpa não é do agente, mas da própria ciência, dizendo respeito à falibilidade das
regras científicas. Não há culpa. Doença sem cura.

Qual a diferença entre inobservância de regra técnica (causa de aumento de pena no homicídio
culposo) ou imperícia (culpa profissional): na imperícia o sujeito está autorizado a exercer uma profissão, mas
não reúne conhecimentos teóricos para tanto. Ex. médico. A inobservância de regra técnica também ocorre no
contexto de uma profissão, mas o que a caracteriza é o desleixo do agente. Ele tem conhecimento para exercer
a profissão. Um bom médico, famoso, renomado, mas ele atua com desleixo. Ex. chega para trabalhar drogado.
É algo mais que a imperícia.

Resultado naturalístico involuntário: os crimes culposos são crimes materiais/causais, o que implica
dizer que a consumação depende do resultado naturalístico. Eles são, logicamente, incompatíveis com a
tentativa, a exceção da culpa imprópria , onde o resultado é voluntário.

Nexo causal: todo crime material tem o nexo causal entre a conduta e o resultado naturalístico.

Previsibilidade objetiva4: a previsibilidade é objetiva, porque ela é analisada de acordo com o juízo de
um homem médio (também chamado, pelo STF, de homem standard), que é uma figura hipotética
representativa da normalidade das pessoas. É o ser humano de inteligência e prudência medianas. Na análise do
caso concreto, o juiz deve, hipoteticamente, substituir o agente pela figura do homem médio e indagar-se se o
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CAIU NA DPEMT/2016: a imprevisibilidade NÃO é considerado um elemento do crime culposo.


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resultado poderia ser previsto por este. Para os institutos relacionados ao fato típico e à ilicitude, quando a
análise se circunscreve a critérios objetivos, a figura do homem médio deve ser utilizada. Por outro lado, o
homem médio é inaplicável aos institutos que dizem respeito à culpabilidade, quando a análise se volta para
questões de índole subjetiva.

Ausência de previsão: o resultado era objetivamente previsível para o homem médio, mas, no caso
concreto, o agente não previu.

2.2.4 Espécies de culpa

Culpa inconsciente/sem previsão/ex ignorantia x culpa consciente/com previsão/ex lascivia: na culpa


inconsciente, o agente não prevê o resultado objetivamente previsível, isto é, o resultado que era previsível
para o homem standard. Na culpa consciente, o agente prevê o resultado, mas acredita sinceramente que ele
não ocorrerá.

Não se pode confundir a culpa consciente com o dolo eventual. Para a culpa consciente, o Código Penal adota a
teoria da representação, ou seja, o agente prevê o resultado, mas não o quer, nem assume o risco de produzi-lo.
Agora, no dolo eventual, o Código Penal adota a teoria do consentimento, indicando que o agente prevê o
resultado e assume o risco de produzi-lo.

Culpa própria x culpa imprópria/por extensão/por equiparação/por assimilação: Na culpa própria, é a


culpa propriamente dita, quando o agente não quer o resultado, nem assume o risco de produzi-lo. Já na culpa
imprópria, o agente, após prever o resultado, e desejar a sua produção, realiza a conduta por erro inescusável -
evitável - quanto à ilicitude do fato. O agente supõe presente uma causa de exclusão da ilicitude, mas esta
suposição é equivocada. Se for inevitável exclui a tipicidade. Aqui se adota a teoria limitada da culpabilidade.

A culpa imprópria é uma figura híbrida, pois, na verdade, ela é um dolo, que o legislador decidiu punir como
culpa, por razões de política criminal. Ela está prevista no art. 20, §1º, do CP, e ocorre no contexto de uma
descriminante putativa (“situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”).   

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por
crime culposo, se previsto em lei.
Descriminantes putativas: § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias,
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva
de culpa e o fato é punível como crime culposo.

É a única hipótese de crime culposo que admite tentativa, pois que, em verdade, a culpa imprópria é
dolo.
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Culpa mediata/indireta: é aquela em que o agente produz o resultado indiretamente a titulo de culpa.
Vítima torturada dentro de veículo parado no acostamento. Ela foge e é atropelada.

Culpa presumida/in re ipsa: é aquela que decorre da simples inobservância de uma regra legal ou
regulamentar. Foi abolida do direito penal brasileiro, pois que a culpa deve sempre ser provada.

2.2.5 Graus de culpa

Não existem graus de culpa no direito penal. Neste, ou a culpa existe e o agente responde pelo crime
culposo, ou ela não existe e ele não responde.

2.2.6 Compensação de culpas

Eventual culpa da vítima não compensa ou exclui a culpa do agente. A culpa da vítima somente poderá
ser utilizada na dosimetria da pena base, conforme o art. 59, caput, do CP. Só ocorre a compensação no âmbito
privado.

Não se pode olvidar, contudo, que se a culpa é exclusiva da vítima, o agente não responderá por crime
algum.

2.2.7 Concorrência de culpas

É perfeitamente possível a concorrência de culpas no direito penal, hipótese em que duas ou mais
pessoas concorrem, culposamente, para a produção do resultado naturalístico.

Na hipótese, não se pode falar em concurso de pessoas, porque o vínculo subjetivo não se faz presente.

* #SELIGANADIVERGÊNCIA #UMPOUCODEDOUTRINA:

1ª Corrente (MAJORITÁRIA): A doutrina tradicional e a jurisprudência brasileira admitem a concorrência


coautoria na concorrência de culpas, mas não participação. Qualquer causação culposa importa em violação do
dever objetivo de cuidado, fazendo do agente autor e não partícipe. Ex: o passageiro está sendo tão negligente
quanto o motorista, sendo coautor.

2ª Corrente (Cleber Masson, LFG): Não admite nem coautoria, nem participação na concorrência de culpas em
face da ausência de vínculo subjetivo entre os envolvidos.

#SELIGA: Luiz Flávio Gomes entende que as situações em que se vislumbra a coautoria poderiam ser
solucionadas pelo instituto da autoria colateral.

3ª Corrente (Fernando Capez): É possível a coautoria e a participação em concorrência de culpas, sendo autor
aquele que realiza o núcleo do tipo doloso e partícipe aquele que concorre para isso, sem cometer o núcleo
verbal da ação.
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2.2.8 Caráter excepcional do crime culposo/princípio da excepcionalidade do crime culposo


(art. 18, parágrafo único, do CP)

O caráter excepcional significa que o crime culposo deve estar expressamente previsto em lei. Se o
legislador não previu expressamente a modalidade culposa, o crime somente poderá ser punido a titulo de dolo.
Exemplo: homicídio culposo (art. 121, §3º, do CP). Normalidade do dolo e excepcionalidade da culpa.
Nos crimes contra o patrimônio o único punido a título de culpa é o crime de receptação.

2.2.9 Exclusão da culpa

Caso fortuito e força maior: já foram vistos quando do estudo da conduta.

Erro profissional: já foi visto quando do estudo da imperícia.

Princípio da confiança: quem respeita as regras jurídicas e da vida em coletividade pode confiar que os
outros também respeitarão.

Risco tolerado: diz respeito às atividades perigosas imprescindíveis para o desenvolvimento da


sociedade. Testar aeronave pela primeira vez. Médico que opera em condições precárias.

2.3 CRIME PRETERDOLOSO

Essa palavra tem origem no latim praeter dolum, que significa “além do dolo”. Em outras palavras,
uma conduta dolosa produz um resultado culposo mais grave do que o desejado pelo agente. O resultado deve
ser ao menos previsível. A culpa no resultado tem que ser provada, pois não se admite o brocado versari in re
illicta – quem se envolve com coisa ilícita é responsável pelo resultado fortuito.

É por isso que se diz que no crime preterdoloso existe dolo no antecedente, e culpa no consequente. O
preterdolo é elemento subjetivo (dolo) - normativo (culpa – depende de juízo de valor). O exemplo mais
explícito do Código Penal é o da lesão corporal seguida de morte, tipificada pelo art. 129, §3º.

Todo crime preterdoloso é crime qualificado pelo resultado: um resultado culposo qualifica uma
conduta dolosa. Nada obstante, nem todo crime qualificado pelo resultado é preterdoloso. Deste modo, é
possível dizer que crime qualificado pelo resultado é um gênero, que tem quatro espécies:

a) Crime doloso qualificado pelo resultado culposo (preterdoloso);


b) Crime doloso qualificado pelo resultado doloso (ex.: latrocínio. O latrocínio pode ser preterdoloso, caso
o homicídio seja culposo);
c) Crime culposo qualificado pelo resultado culposo (ex.: incêndio culposo qualificado pela morte culposa –
art. 258, parte final, do CP);
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d) Crime culposo qualificado pelo resultado doloso (ex.: homicídio culposo qualificado pela omissão de
socorro dolosa).

#TABELASALVANDOVIDAS:
Conduta antecedente Conduta consequente Exemplos:
(resultado agravador)

Dolo na conduta Dolo no resultado agravador Latrocínio (art. 157, §3º, parte final,
CP).

#OBS: O latrocínio pode ser


preterdoloso, caso o homicídio seja
culposo.

Dolo na conduta Culpa no resultado APENAS este é o crime preterdoloso.


agravador Ex: Lesão seguida de morte (art. 129,
§3º, CP).

Culpa na conduta Culpa no resultado Formas qualificadas de perigo comum


agravador do art. 258, parte final, CP. Ex: incêndio
culposo com morte culposa.

Culpa na conduta Dolo no resultado agravador Lesão corporal culposa no trânsito (art.
303, par. único, do CTb).

#QUESTÃODEPROVA: Todo o crime preterdoloso é crime qualificado pelo resultado, sendo, inclusive, uma
espécie deste gênero. Todavia, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o crime qualificado pelo resultado
é preterdoloso.

3 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Código Penal Art. 18

4 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

- Anotações de aula

- Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1 – Cleber Masson

- Informativos STF e STJ (Dizer o Direito)

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