Galeano, “(...) nos tempos da rainha Vitória, o futebol já era unânime não só
como vício plebeu, mas também como virtude aristocrática”6. Para os
populares, ele aparecia como um espaço de integração social, identidade e
solidariedade coletiva, pois possibilitava a criação de novas relações de
parentesco7. Segundo a interpretação de Eduardo Galeano sobre o futebol na
Inglaterra na segunda metade do século XIX, havia um considerado oficial,
legislado, praticado nas universidades, que era feito para as elites e excluía a
participação de pobres; e havia outro popular, praticado pelas camadas
subalternas, geralmente nas ruas ou em outros espaços improváveis; com
poucas regras e muita ação e diversão.
A popularidade alcançada pelo futebol em todo mundo nos dias atuais é
impressionante. A FIFA8, órgão máximo que gere o futebol em todo mundo,
tem mais filiados do que a própria ONU 9, mostrando que para além de um
esporte que possibilita intensas relações de sociabilidade, o futebol possibilita
uma análise da própria política mundial, analisando-o principalmente junto à
questão da globalização, pois esta vem impondo uma série de elementos que
antes eram inimagináveis no cenário futebolístico. O capitalismo, a
globalização e a transformação do futebol em um show business acabou por
diluir uma série de tradições no futebol, principalmente aquelas ligadas a
identidade.
Para entender melhor a questão da globalização e as tradições no
futebol, vejamos esta interpretação de Stuart Hall. Tentando compreender a
identidade cultural numa sociedade de mudança constante, rápida e
permanente, onde descontinuidades e deslocamentos são constantes, em que
existem evidentes fragmentações e rupturas, Hall nos revela que a identidade é
algo formado ao longo do tempo, não sendo algo acabado, mas sim um
processo em andamento. Sendo assim, propõe uma nova visão sobre a
6
Ver melhor em GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre:
L&PM, 2004. p. 41.
7
Ver melhor em SEVCENKO, Nicolau. “Futebol, metrópoles e desatinos”
In: Revista USP: Dossiê Futebol. Número 22, 1994.
8
http://pt.fifa.com/
9
http://www.istoe.com.br/reportagens/81846_UM+RETRATO+DA+COPA acesso
em 05/09/2010 às 10:30.
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identidade nacional, afirmando que estas não são fechadas e centradas, mas
híbridas e em transformação. A compressão do tempo e do espaço permite
uma nova relação entre os homens e uma difusão cultural constante. Em
síntese, o indivíduo não está preso a uma única identidade dada, pronta, pré-
estabelecida e imutável, mas variável, diversa, híbrida e que está em constante
transformação10.
A interpretação de Hall sobre as mudanças ocorridas na sociedade
atual, pode ser claramente observadas no mundo do futebol. Se antes do
futebol ter se transformado em um espetáculo mercadológico mundial o que
valia para jogadores, torcedores e dirigentes era a identificação com os clubes,
com a região, com a cultura, agora o que vale é o capital, sendo poucos os
atores que se recusam a fazer parte do show. No futebol espetáculo crianças e
adolescentes de países em desenvolvimento são tirados de suas casas e
levados para os grandes centros europeus na esperança de se tornarem ídolos
mundiais e ganharem enormes quantias de dinheiro para mudarem a realidade
se suas famílias e muitas vezes e das comunidades onde nasceram.
Jogadores se naturalizam para defender seleções de países com pouca
tradição no futebol, mas com muito dinheiro nos cofres. A questão da
identidade no futebol, parece está cada vez mais fluída como a identidade
pensada por Stuart Hall.
Segundo Eduardo Galeano "O jogo se transformou em espetáculo, com
poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo
se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo, que não é
organizado para ser jogado, mas para impedir que se jogue. A tecnocracia do
esporte profissional foi impondo um futebol de pura velocidade e muita força,
que renuncia à alegria, atrofia a fantasia e proíbe a ousadia"11. A opinião de
Eduardo Galeano se refere as transformações ocorridas no futebol,
principalmente devido ao esporte ter se tornado um produto do capitalismo.
10
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A
editora, 2003.
11
Ver melhor em GALEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre:
L&PM, 2004. p. 14.
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12
Ver melhor em http://educacao.uol.com.br/historia/futebol-e-nazi-
fascismo-esporte-serviu-propaganda-de-mussolini-e-hitler.jhtm acesso
em 09/09/2010 às 11:45.
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14
Ver melhor em DOUGAN, Andy. Futebol & Guerra: resistência,
triunfo e tragédia do Dínamo na Kiev ocupada pelos
nazistas. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
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15
Ver melhor em RIBEIRO, Luiz Carlos. Brasil: futebol e identidade
nacional. Ponencia presentada en el IV Encuentro Deporte y Ciencias
Sociales, Buenos Aires, noviembre de 2002 http://www.efdeportes.com/
Revista Digital - Buenos Aires - Año 8 - N° 56 - Enero de 2003.;
RIBEIRO, Luiz Carlos. Futebol e Globalização. Jundiaí: Fontoura, 2007.
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seu sonho era conquistar o necessário para adquirir uma camisa do Livorno,
seu time de coração.
Ao longo de sua breve história, o futebol sempre esteve ligado com
questões políticas. O interessante é perceber de que forma o futebol se
relacionou e se relaciona com a política, para percebemos que o este esporte
está para além de um entretenimento ou um produto puramente econômico da
sociedade capitalista, e para que possamos entender os diversos sentidos que
o esporte pode ter, para cada grupo social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: