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REV STA

— DA

SOCIÍ E BRASIL D GGRAFIÃ


DIRETOR RESPONSÁVEL

CARLOS DOMINGUES

TOMO MU — 194(3

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Basílic de Magalhães —r Os novo? Territórios! J ^V- 3
Sâladino de Gusmão,— Atncriqua
J. S. da Fonseca,Hermes —"O- Barão âg Rio-BirnndO^v^fcJL ...... • ^\. y
L. M. de Burros Fouvniev — Qb-advento do hoi ic*ia>.. ^rtk ?V 20
Gerson de Macedo Soares -^ O papel da marinha d&^que^a JbrasHeira na
segunda guerra mundial ... .) . frri. f ...7\><A.\..:.. 33
João Ribcieo Mendes *~ Instruções de: Aléxaridrç RodriyuosNPefrcira plkfã a
viagem filosófica ^rfT^c.6,,.... À . • 7TX< ^O 46
]. S. dar Fonseca Hermes — Como íoíffundida a Sociedade de Geogr 53
X Congresso Brasileiro de Geografia^Í]/^|;jl\.\. .. aX. \. 57
"Prêmio fltóri • * • <<¦

Josc Bpifeux" — Medalhas outorgadas pelo X. Congresso. 1. • • • * «• 71


Curso de aperfeiçoamento
"lodio para Professores secundários--.-—' ,t.. ...... . . . 74
A serrana do ,...,......:. .C.^ Ll^ l\.. u. \.\. ./ij. \.fT.^?. 79
Mensagens dé cordialidade do Instituto de Estudos Geográficos da ^Àwn-
; tina (G.E.A7f:¥=:?=:?7:£^^ 81
Inaugtiração do'rctrato de S.À.R. a Senhor Conde d'Eu., — O PrincipefD.,Pedro,
Gastão^ de Orleans e Bragança, Sócio de Honra---. .;.,.... j. .;. jC ..'?% . %3
Homenagem ao Conselheiro Manuel Francisco Correia — Discurso do Comam
, danteT, A. de. Oliveira Bello .., \^ • fl • « • •
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ftr •' %*$*

À memória dos Gonsócios Sousa Docca e Aurélio Port( 90


Discursc\ de posse do Dr. João Guimarães Rosa/\,. ..j
DiscursoXdè' posse do Dr. Francisco Pedro Carneiro da Cunha.
Y. . » •nK^T •

96
98
Discurso Me "posse do Dr. Valério -Caldas Magalhães «
103
%Jm k • •

Reforma dos Estatutos T|iqp~7Tnp]l^T. ,yf. 108


^... 4
Eleições para, o biênio 1945-1946. -j^- -JL-V; 114
Posse da Diretoria do Conselho Diretor e dás Çoniissóes eleitas'para o
biênio 194546 ^^>^^Ms^^ .m . /. 118
Anistia >v •f• •; • • • • ¦* • •-*r' ;/• 123
Estimativa da população %• y* r*%;*Tr
do Brasil em 1.° de/Janeiro de 1945yí\ 125
Relatório das atividades da Sociedade em 1944:. 126
Relatório das atividades da Sociedade• em 1945.. 7.
"""«^i»
131
vmimimmms»'*''

PRAÇA DA REPÚBLICA 54 — SOB .


RIO DE JANEIRO BRÁS I L
'*

.*

ADMINISTRAÇÃO PARA O BIÊNIO 1945/1946


DIRETORIA

Presidente, Embaixador José Carlos de Macedo Soares


1* Vice-Presidente, Ministro João Severiano da Fonseca Hermes
29 Vice-Presidente, Almirante Jorge Dodsworth Martins
¦

39 Vice-Presidente, Professor Everardo Backheuser


•'
Secretário Geral, Professor Mário C. Rodrigues de Sousa
P Secretário, Coronel Frederico Augusto Rondon
29 Secretário, Professor Sílvio Fróis de Abreu
Tesoureiro, Comandante Luís Alves de Oliveira Bello
Orador-Oficial, Professor Francisco de Sousa Brasil

CONSELHO DIRETOR

Almirante Raul Tavares ,


Ministro Bernardino José de Sousa
Dr, Taciano Acioli Monteiro
General Emílio Fernandes de Sousa Docca
:•',¦<
.
Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto
I ¦- r
General José Vieira da Rosa
General Artur Pinheiro da Silva
Dr. Herbert Canabarro Reichardt
Professor Fernando Antônio Raja Gabaglia
Comandante César Feliciano Xavier
Ministro José Matoso Maia Forte
Dr. João Ribeiro Mendes
Dr. Epitácio Monteiro Pessoa
Dr. Alberto Couto Fernandes
[V Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos
Dr. José Wanderley de Araújo Pinho
Dr. Paulo José Pires Brandão

COMISSÃO DE REDAÇÃO DA REVISTA


Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Coronel Luís Mariano de Barros Fournier
Dr. Leopoldo Feijó Bittencourt
Dr. José Antônio da Rosa
'¦'-,

Dr. Antônio Santos Oliveira Jr.


;',; :;-r..!'"

COMISSÃO DE CONTAS
Dr. Alberto Couto Fernandes
General Heliodoro de Miranda
Dr. Randolfo Fernandes das Chagas
fev
Dr. José Joaquim da Trindade Filho
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
¦ ••¦>¦¦•..¦
REV STA
DA

SOCIEDADE BRASILEIRA BE GEOGRAFIA


DIRETOR RESPONSÁVEL

CARLOS DOMINGUES

TOMO LIII-1946

ÍNDICE 3
I Basílio de Magalhães — Os novos Territórios ?
Saladino de Gusmão — Àmeriqua 9
— do Rio-branco 2Q
/. S. da Fonseca Hermes —O Barão "'i
I M de Barros Foumier O advento do homem... • • ' ''':' na ^
- O papel da marinha de guerra brasileira
Gerson te Macedo Soares
' 'Àiexancire
de' Regues' Ferreira' para ^
João RlbeirMenf^pSL 'foi' 'a
S. daVrWcaHe°rmeaS - Como fundada Sociedade de Geografia..... 53
J. •. - • •• ?{
Conqresso Brasileiro de Geografia •
X"Prêmio
- Medalhas outorgadas pelo X Congresso "
José Boiteux"
Curso de aperfeiçoamento para Professores secundários "da 'a^
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MenTagem Validade' do instituía de" Esiudos' Geográfico;

dÍÜ éeSM o Senhor Conde d'£- O piincipe b. Pedro.


Inauguração de Honra. y •• — ••
Gastão de Orleans e Bragança, Sócio
Correia - Discurso do Coman- ^
Homenagem ao Conselheiro Manuel Francisco 90
dante L. A. de Oliveira Bello............
Aurélio Porto
À memória dos Consócios Sousa Docca e Rosa
Discurso de posse do Dr. João Guimarães da Cunha g
Discurso de posse do Dr. Francisco Pedro Carneiro ••••••• jQ8
Discurso de posse do Dr. Valério Caldas Magalhães
Reforma dos Estatutos • 114
das Comissões' eleitas' Para"o ^
W^MW"Ê^:Wr^
biênio 1945-46 '........ 123
"l>" 'l945'.'.'.'.'.".
doJBmsii em de W. J25
inStiva/da'poPuÍação ^Janeiro
Vm 133
Relatório das atividades da Sociedade em
Relatório das atividades da Sociedade em Wtt

DA REPÚBLICA 54 — SOB.
PRAÇA
BRASIL
RIO DE JANEIRO
OS NOVOS TERRITÓRIOS

BASÍLIO DE MAGALHÃES,
Sócio Efetivo

Quando se discutiu, em 1925, a reforma em conta de tendencioso, pois que só existia


constitucional — cuja finalidade precípua no Brasil o território do Acre e a nessa Lei
(conformo pes.soalmente me declarou meu das leis nos vedava conquistas além da que
preclaro amigo Artur Bernardes, então Pre<- o artigo 4? da Constituição de 24 de fevereiro
sidente da República) era dotar o Executa de 1891, mantido pela reforma Bernardes,
vo de maior soma de poderes, a fim de habi-
permitia aos Estados o desmembramento,
litá~lo a impedir a infiltração de doutrinas mediante acordos para a formação de outros
extremistas em nosso país, — Augusto de Estados, que não para a de territórios.
Lima, José Bernardino Júnior e eu fomos
é'
os que tomamos mais ativa parte nos deba- Longe estava eu de imaginar que ha-
tes da Câmara Federal. víamos de ter um governo capaz de conse-
guir, com o justo apoio e o sincero aplauso
E, como eu perseverasse em ferir a tecla dos patriotas esclarecidos a remodelação
dos defeitos de redação do projeto, Hercula- periférica do mapa do Brasil, fazendo nele
no de Freitas (atendendo conforme surgir nada menos de cinco sub-organismos
presumo,
a uma sugestão de Pires do Rio), nomeou novos.
"uma comissão
extra-regimental, da qual fui
convidado a fazer parte, a fim de serem es- Acertada e inadiável providência, aten-
clarecidas de vez todas as questões susci- de ela, simultaneamente, não só ao impera-
tadas em plenário àquele propósito. Sob a tivo. da defesa nacional, que deve ser
posta
sempre em primeiro plano, como também
presidência do brilhante político e jurista, a às aspirações de alguns dos nossos mais cia*
quem coube a liderança da reforma da nossa rividentes antepassados.
primeira magna-carta republicana, reunimo-
nos por duas ou três vezes num dos salões Em 1822, quando a nossa pátria, entãc
da própria Câmara, tendo sido, reino, se separou dos dois outros reinos de
porém, secre- Portugal e Algarves, pertencentes à coroa
tas as sessões, mercê das
quais concorremos lusitana, e se constituiu em Império, con-
para pacificar e liquidar as referidas contro-
vérsias. Tendo viajado para o eterno-além tava ela 19 províncias, das quais seis anos
Herculano de Freitas e Solidônio Leite, só depois perdeu urna, a Cisplatina, por força
Gilberto Amado e eu (êle ainda moço e eu da convenção preliminar de paz de 27 de
apenas com uns farrapos de vida anciã) agosto de 1828, da qual resultou a formação
somos as testemunhas supérstites da amisto- do Estado Oriental do Uruguai, «Estado-
sa e desinteressada tarefa tampão», entre o Brasil e a Argentina, e cuja
que todos os qua- independência e neutralidade foram então
tro então realizamos.
clausuladas pelas duas maiores potências da
De quantos discutiram o citado América do Sul.
fui o único a tratar do artigo projeto,
que atribuía ao Em meiados do século fií*do, ao tempo
Congresso da União a faculdade
privativa de dois fortes e operosos gabinetes, o do
de «legislar sobre os territórios nacionais».
Visconde (depois Marquês) de Olinda
E debaterei a respeito desse (29
plural, que pus de setembro de 1848 a 11 de maio de 1852),
HEVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

estradas aproxima-
e o do Visconde (depois conde e marquês) província e sua rede de
de Paraná, terminado sob a presidência do riam do oceano mais de 100.000 habitantes
Marquês (depois Duque) de Caxias (6 de do norte de Minas, facilitariam o roteamen-
setembro de 1853 a 4 de maio de 1857) fo- to de extensíssimas matas e dariam um porto
ram criadas: a Província do Amazonas, for- de mar e uma grande parte da província (de
mada pela antiga comarca de São José do Minas), que não pode continuar em toda a
Rio Negro, desmembrada do Grã-Pará (lei sua vasta extensão, dependente da Alfânde-
de 5 de fevereiro de 1850), e a Província do ga do Rio de Janeiro».
Paraná, formada pela antiga comarca de Ainda antes do ocaso da monarquia,
Curitiba, desmembrada da terra dos bandei- um político paulista Joaquim Floriano de Go-
rantes (lei de 29 de agosto de 1853). Esta dói, que colocava o civismo acima do bair-
última bem pudera ter sido logo batizada rismo e tinha o mesmo espírito pragmático
com o lindo e sugestivo nome de Araucária dos intrépidos conquistadores do sertão dos
làndia que lhe deu depois em livro recente quais descendia, levantou verdadeira
celeu-
o sábio e filólogo F. Hoehne, cujo cérebro ma na imprensa do país por motivo do pro-
aninha uma alma de poeta. do Império,
jeto, que apresentou ao Senado
área des-
Foi pena que não se houvesse converti- para que, formada por uma extensa
do em realidade, no mesmo ano em que se membrada de São Paulo e Minas Gerais, se
criou a Província do Paraná, o projeto do criasse a Província do Rio Sapucaí. A tena-
egrégio maranhense Cândido Mendes de cidade e dialética, que pôs de manifesto em
su-
Almeida, que planejou a criação de uma pro- prol da sua relevante e indeslembrável
três se-
víncia, com a denominação de Oiapóquia, a gestão acham-se comprovadas pelos
cerca
qual teria a capital em'Macapá, entre os rios guintes escritos (dois dos quais com
Nhamundá e Amazonas, o oceano Atlântico de 300 páginas cada um), que deu sucessiva-
e os limites setentrionais do Império. O ilus- mente a lume: A Província do Rio Sapucaí
tre brasileiro, vinte anos depois, ainda con- — Ao jornalista da Província de São Paulo,
tinuava na defesa de sua feliz sugestão lem- adversário da criação da mesma» (Rio,
brando, todavia, mais sonoro nome para 1883), Projeto de lei para a criação da Pro-
aquele novo sub-organismo administrativo, víncia do Rio Sapucaí, (Rio, 1887), e A Pro-
como se vê da bem fundamentada monogra- víncia do Rio Sapucaí e o jornalismo da pro-
fia (hoje bastante rara), que publicou então. víncia de S. Paulo, (Rio, 1888) .
- Pinzônia ou elevação do território se- A Suíça brasileira, finalmente, logo após
tentrionál da província do Grã-Pará, a cate* o advento da primeira República, esteve a
goria de província, com a mesma denomina- pique de ser dividida em duas porções, de-
ção (Rio, 1873). nominadas Minas do Norte e Minas do Sul
No malogrado movimento, cujo berço foi a
Seguiu-se-lhe a iniciativa do grande li- cidade de Campanha estiveram envolvidos
beral mineiro, cuja memória ficou perpetua- alguns dos mais insignes filhos da terra do
da na cidade que êle fundou com o nome de Tiradentes.
Filadélfia (hoje Teófilo Otoni) quando o
seu dinamismo de excelso visionário o arrojou Estou certo de que todos quantos acom-
à audaciosa bandeira de meados do século panharam a minha atividade parlamentar (e
XIX, qual foi a empresa de Mucuri, Chris- entre esses figurou o atual timoneiro supremo
tiano Otoni, seu digno irmão, na Biografia do Brasil) atestarão haver eu cogitado ex-
de Teófilo Otoni (página 29), assim narra clusivamente dos problemas vitais da marcha
o episódio: — «Fez nascer e tornou pratica- ascencional da nossa nacionalidade, porquan-
vel uma idéia política, aceita pelo Marquês to dos vários projetos que apresentei e dos
de Paraná, advogada por vários deputados, do índio e do negro, não fez mais do que
mui bem acolhida pelas populações a quem muitos discursos que proferi nos dois triê-
interessava, e para resumir tudo em uma nios de 1923 a 1928, nenhum teve por mira
só palavra, medida de vantagem intuitiva. interesses pessoais, de ordinário subalternos,
Tratava-se de criar uma nova província con- mesquinhos e inconfessáveis. E isso é que
(tendo a comarca do Jequitinhonha e parte me coage a esta manifestação de inequívoco
das do Serro e São Francisco, em Minas, a aplauso ao Sr. Getúlio Vargas, pelos patrió-
de São Mateus, no Espírito Santo, e as de ticos Decretos-leis de 13 e 14 de outubro do
Caravelas e Porto Seguro, na Bahia» A nova ano em curso.
OS NOVOS TERRITÓRIOS

Creio poder afirmar que no parlamento çu, é pois um desenvolvimento do que eu


nacional ninguém versou mais do que eu parcialmente já havia lembrado. Foi pena
em tão curto período de atividade política que se não criasse também mais um territó-
tantas questões atinentes ao patrimônio e à rio na extensa região toda ela legitimamente
segurança armada do Brasil. Fazendas na- nossa, porém, da qual o rei da Itália Vitor
cionais, modernização dos nomes de postos Manuel III, salomônicamente entregou a me-
do exército e da marinha, colônias e presí- tade de mão beijada à Grã-Bretanha, me-
dios militares, registro civil, para efeito do diante o laudo de 6 de junho de 1904. O
recrutamento, melhoria da situação dos sub- território de Tumucumaque (ou de Roruí-
oficiais, divisão do litoral em setores para ma), já lembrado pelo General Rondon,
industrialização da pesca e transformação viria acautelar uma não pequena zona fron-
de cada pescador em parte alíquota da teiriça do Brasil setentrional contra intrusões
defesa nacional — tudo isso foi objeto de e invasões senão contra a desnacionalizante
meus constantes e carinhosos estudos. E ain- influência dos colonos da Guiana Inglesa.
da me cumpre recordar que um dos meus dis- A decisão do presidente da Confe-
cursos ia deixando de sair no Diário Oficial deração Helvética Walter Hauser, a l9 de
porque nele eu fizera referência a nossa dezembro de 1900, assegurou-nos a posse
trouée de Palmas, aproveitando-me de um definitiva de 260.000 quilômetros quadra-
trecho desse erudito egresso da faida, que é dos. Mas o governo da União em vez de
de livro de Alberto Rangel. assumir imediatamente a direta responsabi-
Quando me embrenhei no aranhol dos lidade administrativa do Amapá ou, então
latifúndios da União o que mais me inquie- autonomizá-lo «entregou uma fronteira, em
tou foi o verificar o abandono em que jaziam cujo solo já correu, em defesa da integrida-
as fazendas nacionais na zona fronteiriça. As de e da honra da pátria o generoso sangue
do Rio Branco (São José, São Marcos e São brasileiro, a um Estado indefeso, como é o
Bento), ricas de minérios (sobretudo ouro Pará, e de cuja sede dista centenas de lé-
e diamantes) de balata e de pastagens, com guas», como bem ponderou o Desembar-
uma área global de cerca de 38.000 quilo- gador Manuel Buarque da Rocha Pedregu-
metros quadrados, maior portanto do que a lho, à pág. 21 de seu opúsculo sobre «O
da Bélgica ou a da Holanda, obrigaram-me Amapá» (Belém do Pará, 1925).
a muitas árduas pesquisas e até à tradução O novo território do Iguaçu era uma
(ainda inédita) de alguns capítulos às mes- necessidade imperiosa, por motivos que dei-
mas concernentes, da extensa e magnífica xei explícitos em meu discurso de 30 de se-
obra de Koch-Grunberg, Von Roruima zum tembro de 1926 (o tal que só veiu a ser
Orinoco. A de Casalvasco («vinte léguas de publicado depois que recorri da decisão da
testada por doze de fundo»), sita nas lindes mesa da Câmara, sem perda de tempo à au-
de Mato Grosso com a Bolívia, levou-me toridade do Presidente da República). En-
igualmente a sérios esforços, dos quais resul- tretanto, na mencionada peça oratória deixei
tou o haver eu obtido um precioso documen- de fazer referências a assuntos correlatos,
to, devidamente autenticado sobre a conces- que eram do meu conhecimento, sobre a lenta
são, feita pelo governo matogrossense a uma e perigosa inversão de capitais argentinos
empresa argentina, de um milhão de hecta- nos confins do sudoeste brasileiro, a pre-
res entre o rio Nabileque e a serra de Bo- texto de aquisições e exploração de hervais.
doquena, isto é, em zona estratégica do nosso Contrário, como sempre doutrinàriamen-
te fui, ao Estado Providência (automatiza-
país, (esse papel de grave importância acha-
se em mãos da embaixatriz intelectual do ção ou escravização do indivíduo a qual cons-
Brasil, Rosalina Coelho Lisboa, depois de titui o sublime e inefável ideal do fascismo
lido por mim alguns anos atrás em con- e do nazismo), externei do alto da tribuna
ferência no Centro Matogrossense, à qual da Câmara dos Deputados quanto convinha
compareceram, afora muitos outros compa- pôr-se termo à União «fazendeira» e «estan-
triotas meus, o General Rondon e Virgílio cieira». Que lucro tira ela dos imóveis imen-
sos que possui encravados em diversos pon-
Correia Filho).
tos do território brasileiro? As fazendas na-
O que o Sr. Getúlio Vargas acaba de cionais do Piauí, por exemplo, mais de vinte
fazer com a criação dos Territórios de Ama- latifúndios oriundos da atividade do reinol
pá, Rio Branco, Guaporé, Ponta Porã e Igua- Domingos Afonso Mafrense (agnominado
REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

de «Sertão» pelos nossos cronistas e da bra- devem fazer pelo nosso país o respectivo
vura do paulista Domingos Jorge Velho, no comércio de trânsito e pelo modo que aca-
final do século XVII, desde muito que de^ bo de indicar, serão dentro em pouco exclu-
veriam ter sido entregues não a título pre- sivos fregueses do parque industrial bra-
cario mas definitivamente, ao governo da- sileiro.
quele Estado, a fim de serem imediatamen- Em nossa imensa e privilegiada terra, a
te divididas em lotes e convenientemente co- marcha da civilização obedeceu, como em
Ionizadas. E assim também deveria proce- toda parte, à «lei do menor esforço». O ele-
der-se com a do Chumbo, em Minas Gerais, mento colonizador procedente da Península
e com algumas outras em idênticas condi- Ibérica e tirando o suor e sangue do lombo
ções, como ainda com as áreas enormes, de do índio e do negro, não fêz mais do que
todo abandonadas, das antigas colônias e «andar arranhando a orla altântica, a exem-
presídios militares.
pio dos caranguejos», como bem observou,
O Sr. Getúlio Vargas, si se resolver a por essas ou con-símiles palavras, o nosso
pôr por obra essa excelente medida, certa- primeiro historiógrafo, frei Vicente do Sal-
mente tornará extensiva a tais bens a dis- vador.
posição do artigo 15 e respectivo parágrafo, Aos paulistas — que conquistaram a
constantes do decreto-lei que dispôs sobre
a organização e administração dos cinco ter- vastíssima região do ouro de betas e vieiros
ritórios recém*criados, Desejo que o decreto- (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás), de-
lei n<? 893, de 27 de novembro de 1938, traga pois dê haverem descoberto e povoado a do
ouro de lavagam (Paraná e Santa Catarina),
para o nosso país os mesmos salutares re- e pela caça ao índio, terem avassalado os rin-
sultados daquele modelo de sabedoria poli-
tico-[urídico, qual foi a lei n? 601 de 18 de cões meridionais, já fora da linha de Tor-
desillas (Rio Grande do Sul). — coube a
setembro de 1850 (a chamada «lei de ter-
ras»). primazia da expansão não-longitudinal, que,
pela aplicação do uti~possidetis ao tratado de
Permita-se-me todavia acrescentar que Madrid de 1750, devido ao gênio e ao pátrio-
ainda uma providência não menos importante tismo de Alexandre de Gusmão, deu origem
resta a ser tomada pelo governo do Brasil, ao grande Brasil de oito e meio milhões de
para a defesa dos seus mais altos interesses quilômetros quadrados do qual nos orgu-
nessa parte do continente colombiano. lhamos.
Não é somente pela criação de territó- Os novos territórios determinados pelos
rios que o Brasil cuidará melhor de suas Decretos-leis de 13-14 do mês há pouco findo
fronteiras e cimentará a sua hegemonia na hão de, sem dúvida, exercer imprescindível
América do Sul. Cabe ainda a nossa pátria
papel de baluartes da nossa extensa zona
a solução de um magno problema, benfazejo fronteiriça e de sentinelas-avançadas da ei-
a todos os aspectos por que seja considerado: vilização brasileira, na sua avante e fecun-
desinsular o Paraguai e a Bolívia (as úni- da «marcha para o oeste».
cas nações não-marítimas desta porção me- De par com a carência de instinto gre-
ridional do Novo Mundo), e subtraí-las ao
açambarcamento platino, o que o Brasil só gário, falta-me o hábito da lisonja. Mas,
virá a alcançar mediante uma estrada de fer- pelo que acabo de compridamente expor, não
ro (qual a Noroeste) que ligue Assunción podia eu fugir à obrigação moral desta es-
a Santos ou a São Francisco do Sul e pontânea e pública expressão do meu louvor
que, ao atual guieiro dos destinos do Brasil, pela
conjugada, ou não, com a fácil via fluvial oportunidade, sabedoria e critério com que
do Paraguai, atinja, pelo menos, a Santa solucionou um dos mais difíceis e urgentes
Cruz de Ia Sierra. Os dois aludidos
povos problemas da nossa evolução política.

Resumo en Esperanto — LA NOVAJ TERITORIOJ

la disme™brigo de Ia du komarkoj São Tose do Rio Negro


(ei orovfnlfri~ÍntrS^h-Str?rilnKreS.T0n pri P,lul0)' kiuí tiam farifis la Pr°vincoj Amazonas (1850)
SiSáVãsa k11Wlb^el Braslho Pr™°

d.e Magalhães laudas la kreor, per dekretoj-legoj de la krin
naciaj reritorio]0f --
naciai íeril - 1S%hlst°nisto
Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta-Porã kaj Iguaçu,
sugestojn kiujn oni faris, prialiaj dismembri&oj,
*.iuj ne suK,esis,
kiuj sed e^tu^ tre konvenaj, laft ekonomia.an^^jn
sukeesk°Seíelrífwme-T^°raS kaj sócia vidpunkto.
AMERIQUA
SALADINO DE GUSMÃO
Sócio Efetivo

O achado de documentos da Idade Mé- tales Nicarágua, notável pelo ouro que en-
dia, trancados durante séculos nos arquivos cerra em seu seio e privilegiada situação,
secretos, vem revelando que, antes da aven- intermedia aos grandes mares Atlântico e
tura consciente de Christovam Colombo, Pacífico, descortinados duma mesma posi-
o velho continente reencontrado já era visi- ção.
tado pelos europeus. O mapa de Ptolomeu : Christovam Colombo teria permaneci-
— Orbis typus universalis juxta hydrogra* do, de 16 a 24 de Setembro de 1502, na ai-
phorum depicta, Lyon, 1599, segundo se lê deia Cariai (ou Cariay), situada em praia
no Dr. Girgois, regista o nome de Amerri- próxima, calafetando suas embarcações e,
QUA pelo qual era conhecida a comprida fai- então, recebido as caravanas que desciam das
xa de terra, que veiu a ser considerada Novo encostas trazendo ouro para trocar por des-
Mundo. valorizadas quinquilharias européias. Os cro-
Amerriqua é termo maya, puro, o idio- nistas do descobrimento chamaram a esses
ma desse povo valoroso que se espalhou por vendedores — «Homens dos espelhos de ou~
todo o setentrião e desceu até o Panamá. Ori- ro», porque desse metal eram os que traziam
ginàriamente Amerriskin, significa «Terra em troca, os colares, os brincos, os artelhos
dos ventos fortes» ou «País onde o vento e as pulseiras.
sopra com força». Outros lhe dão o signifi- Seduzidos pela riqueza, teriam deserta-
cado de «Terra do Sol brilhante», querendo do alguns marinheiros da expedição, inter-
acentuar a natureza da região ensolarada,, nando-se no desconhecido. Depois de nove
que reflete em chispas o ouro espalhado pelo meses de ansiedade de seus companheiros,
solo. apresentaram-se na ilha Hispanhiola os de no-
Leplongeon, profundo conhecedor dos mes Fiesco e Mendez, fazendo maravilhosas
velhos idiomas americanos diz que a termi- narrativas de Amerriqua. A notícia foi le-
nação ique, ic, ike, comumente encontrada vada para a Europa nos fins de 1503; a fama
nos nomes de lugares dos tempos indianos da das riquezas divulgou-se imediatamente, des-
América Central, significa elevado, grande, pertando ambições.
proeminente. O continente foi batizado oficialmente
Esta notícia foi fornecida por Jules com seu próprio nome Amerrique ou Ame-
Marcou, em publicação feita no Boletim da rica, no ano de 1507, por indicações do clé-
Sociedade de Geografia de Paris, Junho de rigo, poeta e editor Jean Basin, editor do li-
1875 e parece a mais aceitável, pela justifi- vro de Martinus Hylacomylos (Waldzee
cação que ampara. * Müller) intitulado Cosmographie intro-
ductio Inauper Quaatuor Amereci Ves-
O grande navegador Alonso de Ho- pucci Navigationes, S. Deodatus, 1507. Êle
JEDA, na célebre viagem de 1499, que assi- foi o primeiro a imprimir em Saint Dié, Vos-
nala seu desembarque no cabo Santa Maria ges, France, os prenomes Amerige e Ame-
de Ia Consolación, tendo entrado em contacto ricus.
com os naturais da costa da Cumará, teria O cosmógrafo ter-se-ia deixado influir
ouvido o nome de Amerriqua, Amerrica ou pelas jaetâncias de Emerigo Vespuch, já a
mesmo America, então dado a todo o con- esse tempo modificado para Américo Ves-
tinente, pois que eles não tinham noção da pucci, levadas em correspondência epistolar,
medida de extensão. nos anos de 1502, 1503, e 1504 para René ii,
Em verdade o nome Amerriqua provém Duque de Lorraine et Du Bar; Lorenzo di
de uma pequena serra da cadeia dos Andes, Píer, Francesco di Medici; Hercules de
entre Jarigalpa e Libertad, província de Chon- ste, Duque de Ferrara e ao gonfaloneiro
8 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Soderini. A região ocidental, que veio a ser moriais com o nome de Brasil e anunciado
o Novo Mundo, foi assinalada como «Terra como uma das muitas ilhas errantes, que ate-
de Américo», em vez de «Terra de América», morizavam os navegadores.
A não ser o Diário de Navegação de
que deveria ser.
O Diário de Navegação de Alonso de Hojeda, nem um outro documento oficial foi
Hojeda (1499), consigna entre as pessoas encontrado, que registrasse sua passagem
que se achavam a bordo a de nome Amerigo pelo Novo Mundo; seus incalculados desço-
Vespuch, que nas célebres cartas dirigidas brimentos e desembarques não passaram de
aos seus amigos, assinou-se Alberigo na de jactâncias!... Examinadas suas cartas, de
1503 e Emerigo na de 1504. Também se lhe que aliás só existem cópias e cujos originais
atribuem os nomes: Amerigo, Morigo, Al- não foram encontrados, o almirante lusitano
merigo e Aberigo; nem um deles oferece Gago Coutinho encontrou erros crassos de
raís para o nome America. Geografia e Cosmografia, denotando abso-
Tirar o nome de America de qualquer luta falta de conhecimentos dessas ciências
dos nomes que se atribui o florentino, teria- levando o Dr. Duarte Leite, professor das
mos, então, Emerijia ou Amerijia, Ameri- disciplinas na Universidade de Coimbra, a
gonia ou Morijia; por outro lado, a regra considerar o florentino como — astrônomo
tem sido aproveitar o sobrenome e não o pre- improvizado e charlatão.
nome. Humboldt, a princípio seu grande entu-
Emerigo Vespuch teria ensaiado suas siasta, por fim reconheceu:
jactâncias nas rodas de Sevilha, no ano de «... peZa sua jaetância, pelas suas
1502, depois vasadas em missivas a amigos mentiras interessantes, fez com que o ho~
de Itália, dizendo de si mesmo; Navigandi mem obscuro, criado do Duque de Lor**
disciplina magis collebam que omnes naueieri raine, chamado Waldzee Müller, bati*
totus orbisl Em carta de 3 de Setembro desse zasse por Terra de Américo na sua Geo-
ano e desse lugar, Rondinelli ridicularizou a grafia. Pela jaetância manifestada em
impostura ... seus escritos, infelizmente chamou sõ-
A princípio, agente comercial em Se- bre si próprio mais do que merecia, a
vilha, dos Mediei, de Florença, passou de- atenção da posteridade!»
pois a servir o rico armador Gianotto Be- D'Avezac, sem dúvida o maior pane-
rardi, cuja confiança lhe valeu ser escolhido
gerista de Vespuch, não hesitou em admitir
para seu testamenteiro. No interesse do es-
«... não serem isentas de inexactidões
pólio, teria viajado até as Antilhas no ano de
1497, quando ouviria narrativas dos desço- suas narrativas».
brimentos, despertando-lhe ambições e a co- A tentativa de Bandini, Canovai e Ber-
ragem de ser êmulo de Christovam Colom- tolozzi, escritores italianos dos fins do
BO/ ' XVIII século, não teve sucesso, pretendendo
Bem cedo foi conhecida sua audácia; já arrancar de Colombo a glória que lhe é tri-
no ano de 1508 a Geografia de Ptolomeu butada.
assinalou as viagens dos portugueses ao lon- John Lubock em «Notes on Rio de Ja~
go da costa oriental americana, como se vê neiro and the southern parts of Brazil, Lon-
no mapa de Rhuysch que a acompanha e dres, 1820, atribuindo a origem do termo
que a designa por «Terra Santa Crucis sive America a Maricá, em inglês pronunciado
Mundus Novus». No ano de 1520, o globo Mérica e Constâncio em sua História do
de Shoner designa-a por América vel Bra* Brasil, atribuindo a Amerigaia, terra muito
silia sive Papagaia Terra. A verdade é que remota, de ultramar, não têm razão. A opi-
o continente era conhecido desde épocas ime- nião de Jules Marcou está bem apoiada.

Resumo en Esperanto — AMERIQUA


Profesoro Saladino de Gusmão, per erudiciaj citajoj, sercas klarigi Ia veran originon de Ia vorto "America",
kmn donis en 1507 Ia germana geo-kartografiisto Waldzee Muller ai Ia kontinento eltrovita de Christovam
Colombo.
Laautoro subtenas, kiel plej akcepteblan, Ia opinion kiun liveris Ia franca verkisto
Jules Marcou en Ia
eno de Geografia Societo de Paris (Junio 1875). Ia eltrovo de mezepokaj dokumentoj montras ke autaü
l a vojagoj de Colombo kaj Américo Vespuci jam estis vizitata Ia kontinento kiu estis nomita Ameriqua,
nomo devenanta el laTingvo de Ia antikva amerika popolo Mava.
O BARÃO DO RIO-BRANCO

J. S- DA FONSECA HERMES
'1.° Vice-Presidente

Conferência realizada na sessão solene do dia 24 de maio de 1945, em homenagem à


memória do Barão do RicBranco, por ocasião do centenário do seu nascimento.
No auditòrium do Ministério da Educação»

O dia 20 de Abril de 1945 assinalou a Por tais circunstâncias, a Sociedade não


passagem do primeiro centenário do nasci- figurou no ciclo oficial das conferências do
mento do Barão do Rio Branco, Sócio Cor- Itamarati.
respondente e Presidente de Honra, que foi, Entretanto, em cumprimento à resolução
da nossa Sociedade. adotada, a Sociedade realizou, no dia 24 de
Em Junho de 1944 a Comissão encarre- Maio de 1945, uma Sessão Solene em ho-
gada de indicar os acontecimentos e fatos menagem à memória do seu Presidente de
de que se deve ocupar a Sociedade, já recor- Honra.
dava essa efeméride e sugeria várias provi- Essa sessão se verificou no «Auditòrium»
dências. (*) do Ministério da Educação sob a presidên-
Organizado, pelo Ministério das Relações cia do Embaixador José Carlos de Macedo
Exteriores, o programa oficial das comemo- Soares.
rações, foi a Sociedade de Geografia incluída Para orador, foi escolhido o Ministro
em segundo lugar, logo depois do Instituto João Severiano da Fonseca Hermes Jr., que
Histórico e Geográfico Brasileiro, no ciclo dissertou profunda e brilhantemente sobre
das conferências a serem pronunciadas. a personalidade de Rio Branco, encarando-a,
Convidado pelo Conselho Diretor, o Em- não só, dos pontos de vista histórico e poli-
baixador José Carlos de Macedo Soares, tico, mas e sobretudo, sob os aspectos geo-
continuador de Rio Branco em dois postos gráficos e geopolíticos, que mais caracteris-
~~ Presidente ticamente marcaram a luminosa trajetória do
de Honra da Sociedade e Mi- Barão no cenário internacional.
nistro de Estado das Relações Exteriores —',
para fazer a conferência em nome da Socie- O vasto auditório do Ministério da Edu-
dade, S. Ex. se viu constrangido, por seus cação estava repleto, destacando-se, entre os
muitos afazeres, a não aceitar o encargo, presentes, o representante do Presidente da
sendo, então, designado o nosso prezado e República, o Ministro das Relações Exterio-
Benemérito Consócio Ministro Bernardino res, grande número de diplomatas estrangei-
ros, representantes de todos os Ministros
José de Sousa que, devido ao precário estado
de sua saúde, no momento, tão pouco poude de Estado, do Arcebispo D. Jaime Câmara,
desempenhar-se de tão honrosa missão. do Governador da Cidade, do Chefe de Po-
lícia, autoridades, altos funcionários do Ita-

Ver o parecer da Comissão in Tomo LI marati e várias pessoas da família do Barão,
(*)
1944 ; pgs. 93-95 — da nossa Revista. entre as quais suas duas filhas.
10 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

A Sociedade compareceu, por via de Dos bancos escolares e universitários saíra ri-
sonho e altaneiro, acolhendo, despreocupado, os pri-
Comissões especialmente nomeadas, a todas meiros afagos da lisonja e dos triunfos fáceis.
as comemorações e solenidades organizadas Efêmeros e variantes iam sendo os seus postos
e
pelo Ministério das Relações Exteriores e responsabilidades, como que a provar um pouco
resolveu, ainda, dedicar o Tomo LII da nossa de tudo, fosse para tentear a vocação, fosse para
Revista, correspondente a 1945, ano do cen- constituir-se em herdeiro e continuador das tradi-
ções familiares, posto que seu Pai o destinava, à
tenário do seu nascimento, exclusivamente política.
ao Barão do Rio Branco. Faz um passeio à Europa aos 22 anos. No
. Reproduzimos, na íntegra, a conferência ano seguinte ocupa, por três meses e interinamente,
a cátedra de Corografia e História no Colégio Pe-
do Ministro Fonseca Hermes : dro II (de 23 de Abril a 18 de Julho de 1868);
interinamente exerce, logo depois e por 49 dias
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
(de 24 de Dezembro de 1868 a 12 de Fevereiro de
reune-se hoje, não para prestar uma homenagem 1869), a magistratura, como Promotor Público da
ao Barão do Rio Branco, seu Presidente de Hon- então Comarca de Nova Friburgo. Na qualidade
ra, mas para cumprir o estrito e elevado dever de secretário particular, acompanha o seu pai quando,
de reverenciar, uma vez mais, a memória daquele em Missão Especial e como Ministro dos Negócios
que, com mão firme, sábia e prudente, traçou o Estrangeiros, vai ao Rio da Prata e ao Paraguai
gigantesco perfil do nosso país.
para ajustar com os Aliados U Argentina e Uruguai
Ao referir-me ao gigantesco perfil do nosso — a instalação de um Governo nacional paraguaia
país fi-lo de mente objetiva, porque não quis refe- em Assunção, três meses escassos (de 1 de Fevereiro
rir-me apenas à vasta moldura que enquadra a sobe- a 25 de Abril de 1869); logo a seguir acompanha
rania nacional, por êle reconstituída em toda a novamente o Visconde, na Missão Especial que
sua grandeza e intangibilidade. volta às Repúblicas do Sul para negociar as bases
O gigantesco perfil do nosso país, que Rio do Tratado de Paz com o Paraguai, essa viagem
Branco delineou e fixou, não se adstringe tão dura 4 meses (de 12 de Outubro de 1869 a 20 de
somente à fisionomia geográfica, expressão prima- Fevereiro de 1870). Deputado Nacional pela Pro-
ria, por isso que material, da nacionalidade bra- víncia de Mato Grosso, de 1869 a 1875, apenas se
sileira. interessou, quiçá por injunção paterna, pela questão
Desde o dia em que assumiu a direção do Mi- do ventre livre.
nistério das Relações Exteriores, Rio Branco teve, Apesar das formas exteriores, que revestiam
frente à realidade, a noção exata do que era o a política no Império, formas calcadas no parla-
Brasil, que êle conhecia de longe, através dos mentarismo britânico, e de salutares efeitos no que
profundos estudos que vinha realizando, da história se refere à educação, preparação, tirocínio, tradição
e da geografia pátrias. e herança familiar para a formação de uma escola
A concepção que o Barão teve do que o Brasil política e constituição de uma elite de parlamenta-
res e estadistas, sistema que tanto brilho emprestou
podia e devia ser começou, talvez, por um sonho ao regime monárquico, o Brasil oferecia o contraste
longínquo, indefinível, irrealizável, em sua imagi-
nação povoada das sensações do que o Brasil fora, da grande ilustração de uma pequena escol e de um
do que o Brasil havia de ser, para se traduzir nos parlamentarismo elegante e culto ao lado do obs-
anseios permanentes, que moveram os seus atos, ten- curantismo a dominar quase todo o resto do País.
dentes, todos, ao fortalecimento da nacionalidade, José Maria da Silva Paranhos Júnior, como
pelo maior prestígio e exaltação dos potenciais, que a ressentir-se da verdade de uma situação falsa,
latentes ou esmorecidos, que, em construtora ativi- teria percebido a necessidade de fugir ao destino
dade, formam o todo harmônico de uma verdadeira que lhe era imposto e aos fulgores dos reflexos pa-
Nação. ternos para se criar uma personalidade própria e
autônoma, fora do clima político, que tanto o teria
Do âmbito desordenado, que reinou sempre nos desiludido, para se dedicar inteiramente à vocação
seus gabinetes de trabalho, é dado inferir o tumul-
tuar incessante e multiforme daquele espírito privi- por que se sentia irresistivelmente atraído.
legiado em busca constante de encaminhamento e Procura obter um posto no estrangeiro, pleiteia
solução para os problemas em que se debatia o o Consulado em Liverpool, mas o austero Imperante,
Brasil e que êle queria, com ânimo decidido e cau- conhecedor de alguns aspectos de sua vida privada,
teloso, sem ambições pessoais, fossem resolvidos recusa-se a acceder aos prementes pedidos que, nesse
integralmente para que o Brasil adquirisse a estatura sentido, lhe endereçavam personalidades as mais in-
moral e material indispensável para que defensor, fluentes.
efetivo e cioso, se fizesse do vasto império territorial Aproveitando-se da ausência de Pedro II, os
cuja guarda o destino lhe confiara. amigos de Paranhos Júnior açodem à Princesa Regen-
te, que logo o nomeia para o ambicionado cargo
(27 de maio de 1876).
Rio Branco não pretendeu o Consulado de Li-
verpool para exercer as burocráticas funções de
Aos 31 anos de idade, vivera já Rio Branco agente comercial, notário ou despachante de navios,
todas as gamas da ilusão, da realidade e do de- por isso que tais encargos bem longe estavam de
sengano. sua cerebração e mais ainda de suas cogitações.
Embriagara-se de orgulho e vaidade aos pri- Era um pretexto para viver na Europa, um
meiros triunfos da juventude alerta e esperançosa. emprego para atender à sua subsistência, uma sinc
O BARÃO DO RIO BRANCO 11
cura que viria facilitar a realização de sua verda- Grave foi a responsabilidade daquele
deira e única ambição: ~ as buscas nos arquivos que, em
tão feliz hora, soube e pôde impor ao Governo o
e bibliotecas, a História c a Geografia. nome do desconhecido Jucá Paranhos.
Bem haja esse destino que, algumas vezes,
guia Poucos, bem poucos eram aqueles que, no Brasil,
tortuosamente os passos de certos homens
conduzi-los mais diretamente ao pináculo para sabiam dos estudos, dos trabalhos e das verdadeiras
que lhes ocupações de Rio Branco, que lhe conheciam os
estava, desde sempre, assinalado.
Mais tarde (20 de Junho de 1891) solicita ou pendores e a dedicação de pesquisador, que tinham
entrado cm contacto com a sua inteligência
aceita, do Ministério da Agricultura, a aparente- legiada, com a sua magnífica cerebração. privi-
mente absurda comissão de Superintendente Geral
do Serviço de Emigração na Europa, com sede em E não seriam, por certo, suas obras de caráter
Paris, continuando titular do Consulado em Liver- burocrático, como o relatório sobre o comércio e
pool. a navegação pelo porto de Liverpool, nem sobre a
Um escrúpulo, talvez; queria justificar suas Exposição de São Petersburgo, até onde fora a
pas-
constantes e prolongadas ausências do seio, como Delegado do Brasil, em 1884, como tão
posto, acau-
telar-se ainda, quem sabe?, contra os pouco a sua colaboração anônima ou sob pseudo-
possíveis e nimo na «Grande Encyclopédie», de Emile Le-
prováveis reparos dos republicanos ortodoxos. Barão,
monarquista, exilado voluntário, alvo vasseur, em «Esquisse de 1'Histoire du Brésil», ou
grande
as investidas dos puritanos ou dos candidatos para na monografia «Dom PedroII, Empereur du Brésil»,
síveis ao ambicionado posto que detinha. po^- assinada por Benjamin Mossé, ou as Efemérides, e
Foi na Europa, exercendo, esporádica e fugaz- muito menos os seus trabalhos de juventude
que
mente, as funções de Cônsul em Liverpool, poderiam justificar, no meio brasileiro, aos olhos
Kio Branco pôde freqüentar detidamente, que do Governo, em toda a sua vastidão, os conheci-
pesquisar mentos profundos e particularíssimos
e esmiuçar os armários e as estantes da Torre que Rio Bran-
Tombo, do Arquivo de Simancas, da Biblioteca
do co tinha dos antecedentes do litígio com a "Repú-
Na- blica Argentina.
cional de Paris e da de Lisboa, em sua Seção
Ul-
tramanna, onde foi encontrando messes «O Barão do Rio Branco, pode-se dizer, era
de documentos e cartas geográficas, preciosas
gue ia estu- até ontem mais conhecido em nosso país
dando e anotando, reproduzindo ou copiando pelo refle-
com xo do nome paterno do que pelo que êle mesmo
o vago intuito de escrever, um dia, a mais já tinha feito. O laudo do Presidente Cleveland é
vasta,
completa e erudita História do nosso que o veio colocar na primeira fila dos nossos ho-
país.
O destino que, tantas vêzest mens^ públicos», escrevia o Jornal do Comércio, em
com os ho- "Gazetilha"
mens, umas para bem, outras para joga mal, em sua ine- sua do dia 9 de Fevereiro de 1895, pela
xoravcl e absurda cegueira, no
que se refere a Rio pena, talvez, de Joaquim Nabuco.
Branco, fez com que o curso de sua vida mudasse Ao falecer repentinamente,
de rumo ferindo de morte o Barão Aguiar em Washington,
d'An- Aguiar d'Andrada, faltavam menos de cinco meses
drada.
para a entrega, ao Árbitro, da Exposição e dos do-
A pena de Rio Branco não chegou a escrever a cumentos por parte dos Advogados de ambos os
História do Brasil com que ele sonhara, litigantes.
o destino queria que a sua inteligência, a sua porque
cul- Rio Branco não ignorava tal circunstância e,
tura e o seu patriotismo inscrevessem na História
as mais belas páginas da vida ao aceitar a responsabilidade da defesa dos direi-
pacífica e pacifica- tos do Brasil, sabia que contava com a desconfian-
dora do Brasil.
ça de uns e a má vontade de outros. Sentia ainda
Páginas que o Brasil de hoje contempla,
o Brasil de ontem escreveu e o de amanhã lera que que em jogo estavam e entre suas mãos o prestígio
e a integridade da Pátria; e pressentia a repercussão
com orgulho e desvanecimento,
porque nelas estão que a derrota teria sobre a memória, para êle sa-
inscritas vitórias sem guerra, vitórias sem cortejo
de viúvas, de órfãos, de luto, de dores, de lágrimas, grada, do seu Pai.
nem destruições, vitórias As pesquisas, os estudos e os trabalhos,
que não criaram irredentis- lizara, levaram-no à certeza de que que rea-
mos, nem anseios de despique, vitórias ganharia a causa
caram a confiança, consagraram o direito, que intensifi- do Brasil.
cultua-
ram a justiça, vitórias
que tiveram por guias a E' a mesma «Gazetilha» do «Jornal do Comer-
razão e a inteligência e
por escopo a paz e a con- cio», se bem post facta, que o afirma :
córdia.
«Em uma memória que tinha escrito, baseava
a nossa causa sobre fundamentos diversos dos até
então justificada. Mesmo que êle puzesse, como
sabemos que se ofereceu a fazê-lo, todo o seu con-
A 5 de Abril de 1893 Rio Branco é nomeado, curso^ e o seu arquivo particular ao serviço da
com surpresa geral, para substituir Aguiar dAn- Missão Especial, quem nos diz que outro advogado
drada na Chefia da Missão Especial que preparava compreenderia, o nosso direito como êle e se
em Washington, a defesa dos direitos do Brasil taria a apresentá-lo nos mesmo termos? pres-
no litígio com a República Argentina.
Para êle a difícil questão não encerrava incóg-
Quem teria indicado o nome desse desconhe- nita alguma, ao chamado do Governo estava
cido? desse vago Cônsul em Liverpool que, ao mes- pre-
parado para tratá-la com o conhecimento profundo
mo tempo, superintendia, em Paris, a corrente emi-
que dela tinha, como de fato tem de todas as outras
gratória para o Brasil? questões brasileiras de caráter histórico».
12 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

acima de
E' êle mesmo quem nô-lo confirma, pelo depoi- qual, Mapa, o rio limite estava colocado
outro o Uruguai-Pitán, no certificado solene, exarado
» {

mento de Graciliano de Azambuja (Anais do Estado de se não achar


do Rio Grande do Sul — 1896): pelos próprios demarcadores de 1759
o rio reconhecido como Pepirí-Guaçú na latitude
«O nosso Governo quis que êle (Barão) apre- nem no lugar, relativamente ao Uruguai-Pitán, em
sentasse um Memorandum, que lhe foi ou seria reme- que o Mapa do Tratado o colocava.
tido pronto, feito na nossa secretaria de relações Os depoimentos, as afirmações, os protestos
exteriores. O Barão do Rio Branco recusou-se pe- dos demarcadores espanhóis, lançados em 1789, fo-
remptòriamente a obedecê-lo, declarando que se a ram, por mais de um século afora, se desenvolvendo,
isso fosse forçado, resignaria antes o cargo. foram sendo repetidos, aceitos, propalados, susten-
«Tive necessidade então de fazer-me pedante» tados por técnicos e historiadores, pelos Ministros
continuou êle <— «e de mostrar ao nosso Go- das Relações Exteriores da Argentina, Vitorino de
vêrno que estava bem preparado para a missão La Plaza em 1883 e Estanislau Zeballos em 1892,
que aceitara». sem que o Brasil, os seus estadistas, diplomatas ou
Nomeado quando faltavam apenas 127 dias para técnicos jamais provassem o contrário.
a entrega da defesa ao Árbitro, Rio Branco, que A tese brasileira, traçada com brilho político
jamais tratara especificamente do assunto, não se e fino tato diplomático no Memorandum do Viscon-
lembra de solicitar prorrogação do prazo preesta- de do Rio Branco, documento elaborado para escla-
belecido. recer a negociação do Tratado de limites de 1857,
O Delegado argentino, porém, vem a falecer com a Confederação Argentina, e fundamento his-
em Paris, a 4 de Maio, quando se aprestava para tórico da nossa orientação positiva e geral em
embarcar com destino a Washington, e Estanislau questões de limites com todos os países colindantes,
Zeballos sucede imediatamente a Nicolas Calvo. O sustentava :
novo Plenipotenciário argentino, se bem viesse tra-
tando do assunto desde 1889, como Ministro que, «O Governo de Sua Magestade o Imperador
por duas vezes, fora das Relações Exteriores e en- do Brasil, reconhecendo a falta de direito escrito
tusiasta polemista na questão, solicita a ampliação para a demarcação de suas raias com os Estados
do prazo previsto por mais seis meses, ao que o vizinhos, tem adotado e proposto as únicas bases
Brasil accede — Protocolo de 10 de Junho de 1893 razoáveis e equitativas que podem ser invocadas:
alegando, entretanto: Uti possidetis, onde este existe, e as estipulações
«O falecimento do Sr. Aguiar d'Andrada não do Tratado de 1777, onde elas se conformam ou não
vão de encontro às possessões atuais de uma e outra
paralisava nem retardava a ação da Missão bra- Parte Contratante».
sileira, porque cada um dos dois Enviados que a
compunham estava pela credencial comum autori- Tese unilateral, que fez dizer a todas as Chan-
zado para proceder por si só na falta do outro. celarias dos nossos confrontantes que o Brasil sus-
Pareceu-nos porém que devíamos dar ao Go- tentava o Tratado de 1777 onde e quando este res-
vêrno argentino uma prova de simpatia e deferência pondia aos seus interesses, para abandoná-lo, decla-
accedendo ao seu pedido». rando-o nulo e de nenhum efeito, pela superveniên-
Como aqueles que têm ampla notícia dos an- cia da guerra de 1801, onde e quando contrariava as
tecedentes do litígio e da maneira como Rio Branco usurpações a êle posteriores e anteriores.
conduziu a defesa dos nossos direitos perante o Ár- E, para maior confusão na afirmação dos nos-
bitro, podemos, sem temor a restrições, afirmar: ^ sos direitos, o Governo do Rio de Janeiro alegava»
não fora Rio Branco, não foram os seus estudos, na 12* conclusão do seu arrazoado:
trabalhos, pesquisas e conhecimentos, o território de «Provada como está a anulação do Tratado
Palmas, muito provavelmente, teria sido, por inape- de 1777, em que o Governo argentino funda o seu
lável sentença arbitrai, anexado à República Ar- direito, é a questão resolvida pelo uti possidetis,
gentina. como fato anterior ao Tratado de 1750 nele reconhe-
cido e respeitado naquele outro», ao que Zeballos
retruca, com marcado mau humor :
O litígio versava sobre a identificação dos ver-
dadeiros Pepirí-Guaçú e Santo Antônio, pelos quais «! Que serie de contradieciones!
devia correr a divisória. «Si el Tratado de 1777 estaba conforme con
O Brasil sustentava serem, esses, os rios iden- el de 1750 y si este debe regir el caso, ? Porque
tificados e aceitos pelos demarcadores de 1758-59, rechaza un concordante, un igual de 1777?
a Argentina pretendia fossem o Chapecó e o Jan- Rio Branco, apesar da veneração que votava
gada (1), descobertos quando da demarcação de- ao seu ilustre Pai, prescinde do critério polemista
corrente do Tratado de 1777. até então seguido, para focalizar a questão dos
Desde a demarcação de 1788-91 até à presença pontos de vista exclusivamente histórico, geográfico
dos litigantes ante o Árbitro, a defesa dos direitos e técnico.
argentinos se apoiava nas características da boca «A questão da nulidade ou validade do Tra-
do rio limite, nas Instruções que fixavam essas ca- tado de 1777 não tem interesse prático no pre-
racterísticas, no Mapa das Cortes, guia e base para sente debate».
a demarcação conseqüente ao Tratado de 1750, no
declara o Barão para cortar, uma vez por todas a
(1) Os demarcadores espanhóis de 1789 e, posteriormente,
polêmica teórica, política, diplomática e tradicio-
o Governo argentino, estavam na crença de que o Chopim era nal.
o contravertente do Chapecó, até que, em 1888, quando do
levantamento do território litigioso, verificou-se que o verda- Era o abandono, o repúdio da política seguida
deiro concabeçante daquele era o Jangada. e sustentada até então e que tantas suspicácias havia
O BARÃO DO RIO BRANCO 13

suscitado, contra o Brasil Império, na América rcpu- «Diz que os monarquistas, que hoje dão batalha
blicana. à República, neste terreno, por duas vezes estive-
Pela orientação que Rio Branco imprimiu à de- ram a ponto de fazer a transação. Afirma que
fesa dos direitos do Brasil ao território de Palmas, todos os conselheiros de Estado, que hoje o negam,
o Barão, mirabilc dictu, deu novo rumo à diplo- opinaram pela transação e que o Sr. Rodrigo Silva
macia brasileira, isto é, desprendeu-sc dos moldes teve até dia marcado para ir a Buenos Aires assinar
seguidos no Império, para reduzir o litígio a uma o tratado que dividia o território com grave detri-
questão puramente técnica, a ser esclarecida em face mento do Brasil, porque abria mão de zona habita-
de argumentos positivos, fundados em documentos da por brasileiros.
históricos e geográficos. «O Imperador era manifestamente favorável à
À fina argúcia de Zeballos não escapara, por transação, tanto que o Sr. Moreno (Ministro da
certo, o fator psicológico. Argentina no Brasil), levou a Buenos Aires uma
Seguro estava, o inteligente advogado argen- proposta feita pelo Sr. Rebouças que estaria hoje
transformada em tratado se não fosse a revolução».
tino, de que o Barão Aguiar d'Andrada, primeiro, e
o Barão do Rio Branco, mais tarde e com mais (Jornal do Comércio) .
fortes razões, derivadas da tradição e da revê- Pela pouca confiança que o Brasil tinha nos
rência filial, não deixariam de seguir as normas e seus direitos ao território cm litígio, os seus esta-
os métodos, a política e a diplomacia que o Impe- distas eram levados a se apoiar na habilidade di-
rio havia consolidado e que tanto prestígio deram plomática, na fina dialética, na tradição, no uti
ao Brasil durante o decorrer de quase todo o sé- possidetis.
culo XIX. A confiança da República Argentina decorria
Nessa crença, Zeballos sustentou que a rejeição de documentos decisivos, tais como os Tratados de
do Tratado de partilha, por êle assinado em Mon- 1750 e de 1777, as respectivas Instruções para a
tevideu com Quintino Bocaiúva, fora obra da maio- demarcação, o protesto e os depoimentos dos de-
ria monárquica na Câmara republicana dos Depu- marcadores espanhóis, o Mapa das Cortes, a Ata
tados brasileiros, chegando a invocar : e o Diário de Demarcação de 1759, e o silêncio dos
demarcadores portugueses, do Governo de Lisboa e
«El mismo partido (monárquico) afirmo que dos historiadores, políticos, diplomatas e técnicos
ei tratado había sido arrancado por ei Gobierno de Portugal e do Brasil, que ladeavam, estes últi-
Argentino, bajo Ia promesa de acudir con ias armas mos, a argumentação argentina.
argentinas á apoyar ei nuevo Gobierno y consolidar O uti possidetis, que sustentávamos, era igual-
ia República». (Mómoria —1892). mente invocado pela Argentina, porque, fixado pelo
e a sustentar: Tratado de 1750, fora confirmado pelo de 1777,
respeitadas as intrusões e conquistas realizadas por
«El asunto viene, pues, ante ei Arbitro con ei ca-
portugueses e brasileiros para além das linhas de
racter de una cuestión eminentemente política entre Tordesilhas e de Saragoça.
tendências tradicionales monárquicas y republicanas
irreconciliables. Nós sustentávamos esse uti possidetis reconhe-
cendo, ao mesmo tempo, a anulação dos Tratados
La Dictadura misma dei Brasil ha tenido que que o haviam proclamado em favor de Portugal.
acreditar ante ei Arbitro representantes dos veces Verdade é que esse uti possidetis, para ser reco-
elegidos, entre Ias personalidades proeminentes dei nhecido pelos Tratados de Madrid e de San Ildefon-
Partido Monárquico, y que continuaron honrando su so, a eles era anterior, como admiràvelmente ficou
tradición política, después de Ia caida dei Império». definido na Conclusão brasileira de n. 4, convindo,
(Exposição) . porém, salientar que foi a argúcia e o talento de
Zeballos contava com essa tradição, porque era Alexandre de Gusmão que o fizeram patente, que
a tradição intrínseca à diplomacia brasileira. levaram o Monarca espanhol a reconhecê-lo nesses
O Tratado Quintino-Zeballos, porém, não podia Tratados:
ter sido rejeitado pela maioria monárquica pelo «O Tratado de 12 de Fevereiro de 1761 anulou
simples fato de que nem minoria organizada tinham, o de 1750, mas não podia anular o fato das posses
na Câmara, os adeptos do regime decaído.
portuguesas, que dele não nascera, porque lhe era
Se os Barões do Império — como Ladário, Ca- anterior, e cuja existência nele fora reconhecida;
panema e outros — combateram o Tratado de Mon- esse fato ficou subsistindo».
tevidéu, que dividia o território litigioso, de lembrar Mas o território sobre o qual devia, no
é que, na Monarquia, várias foram as negociações caso, incidir o direito de posse estava delimitado
levadas a efeito no mesmo sentido e com critério pelos rios do Trtado de 1750, rios que foram con-
ainda mais prejudicial para o Brasil. firmados pelo de 1777.
.Quintino Bocaiúva, Ministro das Relações Ex- Os demarcadores espanhóis de 1788/91 sustenta-
teriores, na sessão secreta do dia 6 de agosto de ram, porém, que os seus colegas de 1758/59 se haviam
1891, em que a Câmara dos Deputados discutiu o equivocado na identificação do rio limite — o Pepirí-
Tratado de 25 de janeiro: Guaçú — pelo qual o Brasil pretendia corresse a divi-
sória.
«Diz que sente não ter a mesma confiança que
outros têm no nosso direito e não sabe como há Varela y Ulloa, Primeiro Comissário espanhol,
quem afirme que êle é claro e positivo. Por
sua sustenta, em 1789, que os demarcadores de 1759
haviam escolhido um rio, que denominaram Pepirí-
parte, declara que tem dúvidas muito profundas.
Se confiasse no nosso direito a ponto de não temer Guaçú, a jusante do Uruguai-Pitán, quando o Mapa
o arbitramento, seria o primeiro a pedir a rejeição do Tratado o coloca a montante deste; eo2? Comis-
do tratado, cuja sorte, entretanto, não o preocupa. sário, Diego de Alvear, alega que o Pepirí-Guaçú era
14 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

conhecido por características bem definidas: rio cau- vos» do Mapa original, chamado «das Cortes», de-
daloso, com uma ilha nemorosa frente à sua boca e senhado em Lisboa no ano de 1749, para orientar a
um grande recife defronte de sua barra. redação do Tratado de Madri e, posteriormente, a
Mais tarde, pelos depoimentos de Jurado, Requena, demarcação, é encontrado no Ministério dos Nego-
Oyarvide, Cabrera, Azara e da própria filha de cios Estrangeiros da França.
Alvear, de Ministros das Relações Exteriores da Alguns desses documentos eram inéditos ou des-
Argentina, de técnicos e escritores argentinos, essas conhecidos, outros haviam sido publicados em parte
características figuravam, segundo alguns, nas pró- ou com incorreções fundamentais.
prias Instruções Regias conseqüentes ao Tratado de Os defensores da pretensão argentina fundavam os
1750, características que correspondiam efetivamente seus direitos, sobre tais documentos, sem que jamais
à foz do Chapecó e não coincidiam com as do Pepirí- os houvessem lido nem visto.
Guaçú.
Ponto por ponto, Rio Branco vai tomando o de-
Acresce que na Ata de Demarcação, de 8 de senrolar das alegações e invocações apresentadas e
Março de 1759, os Comissários Alpoim e Argue-
das reconhecem o Pepirí-Guaçú como rio divisor que acumuladas vinham sendo por mais de um sé-
culo e, uma por uma, em arrazoado suave, analítico e
«sem embargo de se não achar a sua efetiva posição dedutivo, as vai destruindo, pulverizando, todas, tendo
conforme à que se dá no Mapa de Demarcação dado a testemunhar-lhe as afirmações: a solenidade da
pelas duas Cortes», ao mesmo tempo que registravam História e a veracidade da Geografia.
no Diário da Demarcação a diferença de Latitudes,
verificada entre a observada na foz do Pepirí-Guaçú Sob as vistas lisongeadas de Clio e de Urânia,
e a indicada no mesmo Mapa. uma por uma, vão ruindo as invenções e as crenças
O erro, pois, dos demarcadores de 1759, parecia que, em torno aos pedestais da História c da Geogra-
fia, se foram criando para adquirir foros de con-
evidente e por eles próprios ficara registrado em vicção, para, com esse caráter, penetrarem o coração
documento solene.
e o cérebro dos argentinos e de muitos brasileiros.
O direito de posse, portanto, não teria por limite
ex-vi dos Tratados de Madri e de San Ildefonso, o Por isso foi que Rio Branco, certo do que afir-
rio Pepirí ou Pequirí mas o Pepirí-Guazú ou Chapecó. mava, seguro de ganhar a causa que defendia, pôde
dizer, serena e solenemente, ao Árbitro:
Os argumentos e as afirmações hispano-argentinas
nunca haviam sido contestadas, jamais se demonstrara «O Governo argentino estava de boa-fé repetindo
a sua improcedência. o que diziam as Memórias adrede escritas por fun-
Assim é que Quintino Bocaiúva, como Ministro cionários espanhóis, em fins do século passado e
das Relações Exteriores, informado princípio do atual com o fim de confundir esta quês-
pela nossa Chan- tão de limites, de si tão simples».
celaria e por Cabo Frio, houve
por bem confessar Por isso Zeballos, que violentamente retrucara, em
à Câmara, na sessão secreta de 7 de agosto de 1891,
cem anos depois de surgida a controvérsia: Misiones, ao Barão de Capanema, sustentando que
«O árbitro que tiver de julgar a questão há de ler prova outra alguma poderia ser aduzida, que inva-
lidasse os direitos argentinos, houve de confessar,
tudo isto (referia-se aos documentos de uma e outra depois de ler a Exposição de Rio Branco: — haver
Parte) e, no meio das contradições de que está cheio deparado nesse trabalho com provas decisivas, intei-
o histórico da questão, dificilmente poderá formar ramente desconhecidas do Governo argentino, reconhe-
uma opinião decisiva em nosso favor». cendo ainda que, à vista das mesmas, o Árbitro
Esta era a situação de fato, política e diplomática, não podia deixar de dar a decisão que deu em favor
histórica e tradicional, geográfica e do Brasil.
psicológica que
Rio Branco encontra para sustentar direitos
que ja- Por isso Rio Branco sentiu-se feliz ao exclamar,
mais haviam sido esclarecidos.
exibindo a Instrução Regia de 27 de Julho de 1758,
Acresce que, no Brasil, a revolta estava em tão invocada pelos argentinos:
pleno
auge.
«Agora, nesta última e suprema instância do pleito
Só quem conhecesse os arquivos do Brasil e Por-
tugal, da Espanha e França poderia encarar a iniciado há mais de um século, e ultimamente resus-
analisá-la e reduzi-la aos termos exatos dequestão citado, ela aparece para fazer triunfar a causa da
uma verdade e da justiça e vingar a memória dos De-
realidade histórica e geográfica frente à
as marcadores portugueses e espanhóis de 1759».
opiniões, os critérios' a diplomacia e a arte qual
de bem
dizer se nulificariam para ceder o O inesperado triunfo do Brasil empolgou a opinião
passo aos títulos
e aos Mapas, documentos únicos e capazes de resta- pública e a intelectualidade de todo o país. Manifes-
belecer a verdade histórica e geográfica fazendo tações se organizavam, Comissões se constituíam
calar para
e_ desaparecer todos os demais argumentos
e aleqa- preparar calorosa recepção ao vitorioso defensor do
çoes que, neles, não encontrassem apoio e confir- prestígio e da integridade do Brasil, mas o frio e
mação. burocrático agradecimento do Governo deve ter cau-
Foi o que fêz o Barão do Rio Branco. sado profunda decepção no ânimo de Rio Branco,
que não quis vir ao Brasil colher os louros da vitória
Do Arquivo de Simancas extrai o texto espanhol con9uistada e que garantia ao Brasil mais de
das Instruções de 1758, e da Biblioteca de Lisboa ?nrÜn
30.600 quilômetros quadrados de seu território, além
o texto português dessas mesmas Instruções; no Ita- de elevar o seu prestígio no conceito internacional e
marati surge o Diário da Demarcação de 1758/59 perante a justiça mundial, porquanto patente se fize-
em sua versão portuguesa, sendo a espanhola en- ra o direito que o Brasil defendia sobre o território
contrada no Ministério de Assuntos Exteriores de em litígio.
Madri; as Instruções ¦ para a demarcação, decorrentes Um prêmio de elevado alcance foi, entretanto, dado
do Tratado de 1777, são achadas no Arquivo Público a Rio Branco, prêmio que, acima de
do Rio de Janeiro e um dos dois exemplares «primiti- qualquer outro,
deve ter-lhe afagado a patriótica vaidade: o Governo
O BARÃO DO RIO BRANCO 15

encarrega-o (5 de Julho de 1895) de preparar a Casas dos Habsburgos e dos Bourbons, representadas
documentação para a defesa dos direitos do Brasil sô- pelas da Áustria e da França respectivamente.
bre o território do Amapá, que a França nos disputava Luiz XIV pretende para seu netc — Duque d'Anjou
desde muito antes do Tratado de Utrecht. — a coroa de Espanha ao mesmo tempo que sua
Pede, então, Rio Branco demissão (30 de Dezem- diplomacia leva-o a ajustar com a Inglaterra — (3 de
bro de 1895) do cargo de Cônsul em Liverpool para Março de 1700) e com os Países Baixos (25 de
inteiramente se dedicar à nova tarefa, à qual se en- Março) os tratados de partilha da sucessão espa-
trega com a avidez própria aos pesquisadores voca- nhola.
cionais. Morto o Rei de Espanha (l9 de Novembro de
O Tratado entre o Brasil e a França, em virtude 1700) o Duque d'Anjou, em virtude do testamento
do qual o litígio seria submetido ao Juízo arbitrai do imposto por Luiz XIV a Carlos II, é proclamado
Presidente da Confederação Helvética, é de 10 de sucessor integral dos Reinos e direitos da Coroa
Abril de 1897, a troca das ratificações só se verificou, de Castela.
porém, a 6 de Agosto do ano seguinte. Luiz XIV havia fugido aos compromissos assumi-
Só então, a 22 de Novembro, é que Rio Branco dos pela aliança, provocando a reação de quase toda
pode ser nomeado oficialmente Ministro Plenipo- a Europa.
tenciário, em Missão Especial para defender, perante
-*, o Árbitro, os direitos do Brasil. Procura, então, atrair Portugal, vizinho da Es-
Não fora, esta vez, colhido de surpresa como em panha, e transforma em permanente, pelo Tratado
de Lisboa, de 18 de Junho de 1701, a neutralização
1893. do território guianense. No mesmo dia Portugal
A questão entre o Brasil e a França se oferecia ajusta o Tratado de aliança e garantia do testa-
menos complexa que a suscitada pela República Ar- mento de Carlos II, que levara ao trono espanhol
gentina, porquanto o Brasil, como Portugal sustentara o Duque d'Anjou, sob o título de Felipe V.
sempre que o rio limite era, acorde ao Tratado de
Utrecht, o Oiapoque ou Vicente Pinzon, que desem- Os triunfos militares da Áustria na Itália, sobre as
boca no Oceano entre 4 e 5 graus de Latitude Norte armas francesas, acentuam a desvantajosa posição
ao passo que a França fizera do rio divisor um rio de Luiz XIV, agravada logo, Setembro de 1701, pelo
turístico, que se transportava de um para outro lugar tratado de aliança entre a Áustria, a Inglaterra e os
Países-Baixos, cuja resultante é a entrada destes dois
segundo os fins políticos que a França colimava ou
últimos na guerra que a primeira vinha sustentando
conforme o resultado das guerras em que se em-
contra a França.
penhava.
A origem da questão remonta aos meados do século A situação de Portugal torna-se delicada; im-
XVII, com a fundação e falência de várias emprê- possibilitada a França de prestar-lhe os socorros que
sas francesas, que se propunham explorar, na Guiana pedia para a proteção do Brasil, aceita as condições
e no Norte do Brasil, madeiras colorantes e outros favoráveis que os aliados lhe ofereciam; abandona
a França e a 6 de Março de 1703 assina o Tratado
produtos tropicais. de aliança ofensiva e defensiva com a Áustria, a
O primeiro incidente, revelador do espansionismo Inglaterra e os Países-Baixos, em troca da promessa
francês na região amazônica, se verifica a 27 de de todo o território neutralizado.
Junho de 1688, quando Ferrolles invade o território
Terminada a guerra de sucessão espanhola, tiveram
português até ao forte de Santo Antônio, sobre o
Araguarí, exigindo do respectivo comandante aban- início, em Haia, as negociações da paz.
donasse o forte e todo o território guianense, até Até ao último momento, a França insistiu pela
ao Amazonas, sob a alegação de serem aquelas terras partilha do território. Fiéis, porém, à palavra empe-
propriedade do Rei de França. nhada, os aliados apoiaram a pretensão portuguesa.
O direito de Portugal, e, conseqüentemente, do O Tratado assinado em Utrecht, a 11 de Abril de
Brasil datava de 14 de Junho de 1637, quando Felipe 1713, definiu a divisória pelo rio Oiapoque ou Vi-
IV de Espanha e III de Portugal fizera doação a cente Pinzon.
Bento Maciel Parente da Capitania do Norte, que Reza o Artigo 89:
tinha por limite o rio Vicente Pinzon, onde começa-
vam as posses de Castela. «A fim de prevenir toda ocasião de discórdia,
Esse fato é lembrado a Ferrolles com o acréscimo que poderia haver entre os vassalos da Coroa de
de que, por ordem do Governo do Pará, novos fortes França e os da Coroa de Portugal, Sua Majestade
seriam levantados para além do Araguarí. Efetiva- Cristianíssima desistirá para sempre, como presente-
mente, logo depois, os portugueses construíram os de mente desiste por este Tratado pelos termos mais
Macapá (Camaú) e Paru. fortes, e mais autênticos, e com todas as cláusulas que
se requerem, como se elas aqui fossem declaradas,
Os incidentes se repetiam sem maior gravidade, assim em seu nome, como de seus Descendentes, Su-
até que as tropas do já Marquês de Ferrolles e Go-
vernador da Guiana tomam, em 1697, o forte de cessores e Herdeiros, de todo e qualquer direito, e
Macapá. pretensão que pode, ou, poderá ter sobre a proprie-
dade das Terras chamadas do Cabo Norte, e situadas
Portugal protesta energicamente contra tal violên- entre o rio das Amazonas, e o de Oiapoque, ou de
cia, o que levou o Governo francês à assinatura, em Vicente Pinzon, sem reservar, ou reter porção algu-
Lisboa, do Tratado Provisional de 4 de Março de ma das ditas Terras, para que elas sejam possuídas
1700, em virtude do qual o território litigioso era daqui em diante por Sua Majestade Portuguesa, seus
declarado «Provisoriamente neutralizado». Descendentes, Sucessores, e Herdeiros, com todos os
A eventualidade da morte de Carlos II, Rei de direitos de Soberania, Poder absoluto, e inteiro Do-
Espanha, à beira do túmulo e sem herdeiro direto, mínio, como parte de seus Estados, e lhe fiquem
suscitara na Europa ambições dinásticas entre as perpètuamente, sem que Sua Majestade Portuguesa,
16 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

seus Descendentes, Sucessores, e Herdeiros possam Pelo Artigo 79 dêsse ajuste, as declarações de Lucien
Ma- Bonaparte são confirmadas, o limite é fixado pelo
jamais ser perturbados na dita posse por Sua rio Araguarí.
jestade Cristianíssima, seus Descendentes, Sucessores,
e Herdeiros». A paz de Amiens tem pouca duração. Portugal,
Pelo Artigo 99, ficou Portugal livre de reconstruir aliado da Inglaterra, está contra a França.
os fortes do Araguarí e Camaú ou Macapá, que ha- Napoleão impõe a Carlos IV de Espanha o con-
viam sido desmantelados em execução do Tratado de vênio de Fontaineblcau, 27 de Outubro de 1807, pelo
4 de Março de 1700, assim como de construir todos qual Portugal e seu Império colonial seriam partilha-
aqueles que Sua Majestade Portuguesa julgasse con- dos entre a França e a Espanha.
venientes. «Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei
• Pelo Artigo IO9, a França reconheceu a proprie- da Itália, obriga-se a reconhecer e a fazer reconhecer
dade portuguesa sobre as duas margens do Amazo- a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha como
nas e renunciou a qualquer pretensão de navega- Imperador das duas Américas, quando tudo estiver
ção no mesmo rio. preparado para que Sua Majestade possa tomar esse
título, o que poderá ser na paz geral, ou o mais tardar
Já em 1725, porém, começou-se, em Caiena, a prè- dentro de três anos» (Artigo 129) .
tender que o Calsoene, que desemboca na baía de
Vicente Pinzon, era o rio deste nome, a que se referia Portugal seria dividido em três partes: a Lusitânia
o Tratado de Utrecht. setentrional, para o Rei da Etrúria, o Alentejo e os
Algarves seriam dados ao Príncipe da Paz — Godoy
As guerras conseqüentes à Revolução Francesa dão — e a Lusitânia Meridional ficaria para ter destino
início à variação dos limites da Guiana.
quando se fizesse a paz.
As vitórias de Bonaparte forçam Portugal a assi- Nesse mesmo ano, Portugal é invadido por Junot.
nar em Paris, no dia 10 de Agosto de 1797, o Tratado
de Paz e Amizade, em virtude do qual a divisória O Príncipe Regente, com toda a Corte, foge para
« o nome de Vicente Pinzon são transportados para o Brasil, onde, à sua chegada, lança o Manifesto de
o rio Calsoene, cuja boca se encontra cerca de 29 30' l9 de Maio de 1808, declarando nulos os Tratados
de Latitude Norte. que fora compelido a concluir.
Esse Tratado, convém lembrar, não foi ratificado Logo depois, D. João determina uma expedição
por Portugal e, se bem houvesse passado, na França, à Guiana francesa, cuja capital, Caiena, é ocupada
por todos os trâmites de legalização, foi declarado pelos portugueses.
nulo por decreto do Diretório, datado de 26 de Restaurados os Bourbons no trono de São Luís, a
Outubro de 1797. Grã Bretanha assina com a França o Tratado de 30
Portugal seguia a sorte da Inglaterra, assim é que de Maio de 1814, por cujo Artigo 109 se compromete
as vicissitudes da guerra levaram-no a firmar, em a obrigar Portugal a restituir a Guiana por êle ocupa-
Badajoz, o Tratado de 6 de Junho de 1801, pelo qual da, sem limitação alguma, e isso apesar do Acordo
o limite era recuado para o rio Araguarí, que se lança feito no Rio de Janeiro, a 19 de Fevereiro de 1810,
no Oceano abaixo do Cabo Norte, perto das Ilhas pelo qual a mesma Grã Bretanha prometia o restabe-
Nova e da Penitência, ai9 20', mais ou menos, de lecimento das estipulações do Tratado de Utrecht.
Latitude Norte. Reunido o Congresso de Viena, é assinado, a 22
O Primeiro Cônsul recusou aprovação a esse Tra- de Janeiro de 1815, entre o Príncipe Regente e o Rei
tado, que foi substituído pelo assinado em Madri, a Jorge III, um Tratado para a abolição do tráfico
29 de Setembro do mesmo ano, de acordo com o qual de escravos na África, juntamente com três artigos
o limite era fixado pelo rio Carapanatuba, que desem- separados e secretos, em virtude de cujo primeiro
boca no Amazonas, à altura aproximada de 09 20' de Portugal se obrigava a restituir a Guiana à França
Latitude Norte e acima do forte de Macapá. e a Grã-Bretanha, prometia a sua mediação para que
Ambas as Partes ratificam este ajuste. a França reconhecesse o limite do Tratado de Utrecht.
Vencida a Áustria, pacificada a Europa continen- Pelas notas reversais, de 11 e 12 de Maio de 1815,
tal pelo Tratado de Lunéville (9 de Fevereiro de os Plenipotenciários portugueses, Conde de Palmela
1801) Bonaparte podia impor esse Tratado a Portu- e Antônio Saldanha da Gama, e o Plenipotenciário
gal e oferecer a paz à Inglaterra. A l9 de Outubro francês, Príncipe de Taileyrand, concordaram:
os dois grandes rivais, França e Grã-Bretanha, assi-
nam o Tratado preliminar de Paz, acompanhado de l9 a restituição da Guiana à França.
4 Artigos secretos, pelo primeiro dos quais Portugal 29 a fixação da divisória pelo rio Oiapoque, cuja
se obrigava a pagar à República Francesa a soma desembocadura se encontra entre o 49 e o 59 grau de
de quinze milhões de Libras (tournois), a metade em Latitude Norte;
moeda e a outra parte em pedrarias; 39 ser esse o limite que Portugal sempre consi-
Os outros artigos regulavam as modalidades do derou como o fixado pelo Tratado de Utrecht;
pagamento. 49 uma Convenção especial determinará a data da
Em vista desses ajustes, o Plenipotenciário francês, entrega;
Embaixador em Madri, Lucien Bonaparte, no mo-
mento de proceder à troca das ratificações do Tratado 59 logo que fôr possível e amigavelmente, serão
de Madri, comunica ao seu colega de Portugal, que fixados definitivamente os limites das duas Guianas,
o rio limite nas Guianas passaria a ser, novamente, na conformidade do sentido preciso das estipulações
o Araguarí. do Artigo 89 do Tratado de Utrecht.
A 27 de Março de 1802 é assinado, em Amiens, o Finalmente, a 1,° de Junho é assinado a Ata Final
Tratado de Paz entre a França e a República Bátava, do Congresso de Viena, cujos Artigos 106 e 107,
de uma parte, e a Grã-Bretanha, de outra. reproduzindo os compromissos acima referidos, regu-
o barão do rio branco 17

Iam a questão do Amapá nos mesmos termos cm que O segundo triunfo de Rio Branco despertou a cons-
se encontrava consequüentcmente ao Tratado de 1713. ciência nacional; já não cabia à burocracia, a missão
de significar ao vencedor a gratidão de todo o país.
A Convenção prevista no Artigo 107 foi assinada
cm Paris, no dia 28 de Agosto de 1817, determinando O Congresso Nacional reconhece-lhe (31 de De-
o seu Artigo 29: zembro de 1900) o título de «Benemérito Brasileiro»,
concede-lhe uma dotação anual de 24 contos de réis
«a nomeação e a expedição de Comissários para com direito de transmissão aos seus filhos e filhas
fixar definitivamente os limites das Guianas Portu- enquanto viverem e mais o prêmio de 300 contos como
do Arti-
guesa c Francesa conforme o sentido preciso recompensa nacional, pelos relevantes serviços presta-
ao 8." do Tratado de Utrecht c as estipulações da Ata dos nas Missões Especiais de artbitramento de
Final do Congresso de Viena». Washington e Berna. Além disso, nomeado Ministro
Esse acordo não teve execução. Plenipotenciário efetivo, em Berlim, (31 de Dezem-
Essa a situação quando o Brasil se tornou inde- bro de 1900) o Congresso determina que sua antigui-
dade no quadro dos Ministros Plenipotenciários co-
pendente. mece a ser contada do dia 5 de Abril de 1893 d*£ »«
Muito posteriormente a todas as vicissitudes que-
assinalamos, recomeça a surgir a confusão, adrede que fora designado rarcl defender a causa do Brasil
no litígio com <x Argentina.
suscitada pela França, à qual se prestava a dualidade
dos nomes: Oiapoque e Vicente Pinzon, com que era fsJõo fora sua vitória no caso do Amapá, o reco-
indicado o rio limite. nhecimento nacional pelo seu triunfo no pleito com
a Argentina, teria caído no olvido.
O nome de Vicente Pinzon, que o Tratado de
Utrecht ligava ao de Oiapoqu» e que os franceses Rodrigues Alves ia confiar-lhe a direção da nossa
pretenderam atribuir, primeiro, ao Calsoene, por de- política exterior, pelo que, a 12 de Setembro de 1902,
sembocar na baía daquele nome, e, mais tarde, ao é Rio Branco chamado ao Brasil.
Araguarí, servia de base à pretenção francesa para • • •
que os limites corressem por este rio até à sua nas-
cente e, dali, por uma linha paralela ao curso do As vitórias de Rio Branco, nas questões de Palmas
Amazonas, até ao Rio Branco. e do Amapá, consagraram-no geógrafo e historiador,
Os incidentes se sucedem até que, por troca de demonstraram o seu profundo conhecimento das bi-
notas — 5 de Julho c 18 de Dezembro de 1841 — os bliotecas, mapotecas e arquivos europeus e brasileiros,
Governos do Brasil e da França concordam em neu- onde se escondia a mór parte dos episódios e fatos
tralizar o território litigioso. Voltávamos à situação que se relacionavam com a nossa história e geografia.
de 1700. Rio Branco revelou-se pesquisador incansável e ar-
As incursões, os incidentes, protestos e negocia- guto, argumentador sereno, dedutor incisivo de acon-
ções se desenvolvem até que, a 10 de Abril de 1897, tecimentos e textos, leitor perito de cartas e mapas
o Brasil e a França resolvem submeter a contro- antigos, abarcando e reduzindo a conclusões defini-
vérsia ao juízo arbitrai do Presidente da Confe- tivas e sintéticas as mais vastas e intrincadas contro-
deração Helvética. vérsias históricas e geográficas Contatenando argu-
Caetano da Silva havia estudado a questão e, por mentos favoráveis e contrários à própria tese e à do
tão erudita e notável, Rio Branco incorpora à sua adversário, Rio Branco tinha p dom de reduzir todos
defesa a Memória daquele ilustre patrício. os elementos de prova e contra-prova; de um proble-
ma, a uma equação fundamental, da qual as ilações
Rio Branco não deixou argumento, tese, doutrina, defluiam como simples conseqüências lógicas de uma
fosse política, histórica ou geográfica, que não anali-
proposição elementar.
sasse a fundo e à luz de vasta documentação car-
tográfica e de tal maneira convincente e exaustiva Suas frases e demonstrações se uniam, se prolon-
que o Presidente Hauser, impressionado pela verdade gavam e se coordenavam com a mesma clareza dos
e pela justiça de tudo quanto o Barão aduzia, fun- algarismos e sinais em uma fórmula matemática, e
damentou a sua sentença, quase toda, nos fatos e suas conclusões se apresentavam tão patentes como
estudos da defesa brasileira. as determinações das incógnitas.
As vitórias da guerra não devem criar direitos que
ferir possam os princípios da moral.
Para a História, a força só vence quando susten- Como se conduziria o geógrafo, o historiador, o
tada pelo direito. pensador dedutivo e analítico, o argumentador lógico
e matemático, à testa da nossa política internacional?
O tempo e a conciência dos homens acabam
sempre por tornar patente a causa da justiça e da Para logo se lhe depara a questão do Acre.
verdade. Foi no trato de tão intrincado problema que Rio
Foi o que o Barão do Rio Branco demonstrou, foi Branco revelou, em toda a amplitude e profundeza,
o que o Presidente da pequena e grande Suíça a sua intuição clarividente e admiràvelmente rápida no
proclamou, no caso histórico e geográfico da questão apreender, com vigor e certeza, os problemas políticos
do Amapá. e diplomáticos do Brasil e da América.
A coleção de Mapas e Cartas geográficas que Rio É que o geógrafo e o historiador estavam forrados
Branco recolheu e estudou, com esmero, cunho cientí- de todos os atributos do mais penetrante geopolítico.
fico e caráter histórico, para o exame pormenorizado Vinte e seis anos fora do meio brasileiro, ausente
da questão, constitui, hoje, o mais importante acervo do ambiente americano, vivendo, sentindo e pen-
cartográfico que a América possui, fonte preciosa de sando à européia, a Rio Branco se lhe defronta como
pesquisas e uma das Mapotecas mais objetivas, em primeiro problema a resolver, a complexa e delicadis-
seu caráter regional e espeífico. sima questão do Acre, dentro da qual, em torno à
qual se degladiavam interesses internacionais, ambi-
18 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Rio Branco sentia que, por muito tempo ainda,


rões da alta finança, projeções imperialistas, vaidades
orgulhos de personali- o Brasil não estaria, tão pouco, em condições de
pessoais, melindres regionais, na- oferecer um dique seguro às prováveis pretensões
dades proeminentes, prestígios e soberanias de e imposições que, de futuro, as nações patronas
e violências da
ções, rivalidades ancestrais, paixões do sindicato poderiam encontar-se na necessidade
revolução, conflito armado, ameaças de guerra. ou contingência de apresentar.
Data de então a concepção prática e real que Rio
E toda a sua vontade, patriótica e americanista.
Branco forma do verdadeiro Panamcricanismo em
se concentrou para evitar, fosse como fosse, a
todo o seu significado regional e alcance unificador.
Presente lhe estava na memória a origem e o desen- consumação de tão grave erro, cujas primeiras
volvimento do caso Ho Pirara e a sua argúcia pene- conseqüências já se traduziam no alçamento da
trou as conseqüências que adviriam para o Brasil, população brasileira, em ameaças imediatas de guer-
no co- ra entre os dois países.
para a Bolívia e para o Peru a incrustação Que o Brasil indenise o sindicato internado-
ração da América, nas extremas dos três países, a
cavaleiro sobre o Amazonas, de um poderoso sindi- nal, que o Brasil compense, com outros territórios
cato internacional tendo a respaldar-lhe as futuras mais necessários à Bolívia que aquele que ela ia
pretensões a proteção de giandes potências. ceder ao sindicato estrangeiro e que se lhe indenise
O seu patriotismo se alertou como alarmado se se a compensação não for bastante, que se lhe dê
lhe pôs o conceito que adquirira do veidadeiro acesso livre ao rio Paraguai e condomínio nas la-
panamericanismo. goas fronteiriças e se lhe mantenha também o
Plácido de Castro» o herói que defendia, pelas aceoco pelo Amazonas e pelo Brasil inteiro, mas
armas, os direitos dos acreanos brasileiros, o idea- que se evite, a qualquer preço, a admissão, no mais
lista que ressentido pelo abandono em que era fundo da América Meridional, de uma empresa es-
deixado pelo Governo do seu país, chegara a pro- trangeira, com direito, até, de posauh frota ? forca
clamar a independência do território, o patriota de- armada, que se resolva a questão com as vontades
siludido que, premeditada ou incientemente, fome- voltadas para a paz e para a consolidação da
cera ao Barão os motivos e circunstâncias para jus- amizade entre os dois países, proclamava Rio
tificar a intervenção diplomática na questão, Piá- Branco.
cido de Castro terá um dia, na nossa História, O acordo direto e amigável a que chegaram
as Chancelarias do Rio de Janeiro e de La Paz,
juntamente com seus antecessores na defesa dos
brasileiros acreanos, o lugar preeminente que o seu pelo Tratado de Petrópolis (17 de Novembro de
valor, idealismo e sentimento patriótico conquis- 1903) honra o Governo da Bolívia e constitui um
taram. dos maiores títulos de orgulho que a diplomacia
Rio Branco devia, como diplomata e poli- brasileira inscreveu nas páginas da nossa História
tico, reprovar ostensiva e oficialmente a atitude sob ditado de Rio Branco.
de Plácido de Castro, não podia reconhecer a pro- No estrito conceito da crítica, a solução da
cedência, justificar nem encampar o gesto do herói questão do Acre se avoluma, não pelo que ela
acreano. Para a causa do Brasil, da Bolívia e da encerra, em si mesma, de real e positivo, mas
paz, cumpria-lhe reivindicar os fundamentos da gê- pelo inventário insondável do que evitou, pela pro-
nese, do incidente, desaprovando as peripécias su- jeção política que não teve, pela suspensão de
pervenientes. conseqüências que se não verificaram, por um ne-
Não era de sustentar a soberania do Brasil gativismo permanente e perpétuo de tudo o que
sobre o- território do Acre, e sim demonstrar a aconteceria se Rio Branco não atalha o desenrolar
conveniência, a necessidade de anular a cessão feita fatal dos acontecimentos oferecendo solução inte-
ao sindicato estrangeiro desse território, situado no gral para todos os complexos e intrincados pro-
flanço de três nações americanas. blemas que, ao redor e dentro da questão, haviam
O equívoco ou desacerto político do Governo surgido.
de La Paz tinha de ser retificado por êle próprio É das profundezas dessa ausência ou não ocor-
em face dos imperativos que o Barão demonstraria rência de tudo o que o geopolítico percebeu acon-
existir, pendentes de cujo respeito estavam a paz teceria, de tudo o que foi evitado, de tudo o que
imediata e a tranqüilidade futura dessas extensas se não verificou, que devemos tirar as ilações da
e longínquas regiões e a integridade da soberania previsão política de Rio Branco, da sua arguta e
dos três países convergentes naquele ponto de tri- pronta capacidade no encarar os problemas futuros
junção. que os problemas, então presentes, haviam de criar.
O problema havia de ser encarado sob esse E quanto mais o espírito de análise se detém
aspecto, quaisquer outros, ao seu lado, se revê- no exame das conseqüências que teria qualquer
lariam mesquinhos e infundados; e o problema outra solução, mais se agranda a nossa admiração
cumpria fosse resolvido sob a égide de uma sábia pela visão do estadista que, sem se emocionar pelo
e previsora política, direta e cordialmente assenta- rumor das armas nem pela iminência de guerra,
da entre o Brasil e a Bolívia, e de acordo com conduziu serenamente acontecimentos e vontades,
o Peru. melindres e paixões à inteira compreensão e açei-
Rio Branco, que redigira, em 1897, a Memória tação da solução única que a todos se impunha. ...
apresentada a Lord Salisbury, por Souza Correia,
Muito mais ampla, em eficiência e alcance, se
nosso prestigioso Ministro em Londres, conhecia
os riscos das penetrações estrangeiras à beira dos nos afigura a solução da questão do Acre, em seu
nossos lindes. significado americanista e de boa vizinhança, do que
Sabia que a vizinha República seria impo- a concessão do condomínio da Lagoa Mirim feita,
tente para fazer valer futuramente os seus direitos também, pelo Barão à República Oriental do Uru-
e o cumprimento estrito das cláusulas concessionais guai.
frente ao natural espansionismo do sindicato, pre- Gesto de ampla repercussão e de compreensiva
posto, talvez, ou mais tarde eventual instrumento amizade sim, mas cujos efeitos, no tempo, em bem
de ambições estrangeiras, quiçá imperialistas. pouco se podem comparar ao aspecto geopolítico
O BARÃO DO RIO BRANCO 19

que a solução do caso acreano apresenta em sua É em 1909 que se apresentam duas graves
projeção, séculos afora, por isso que, com um, crises, uma interna, outra externa, a primeira mo-
se prestou homenagem ao amigo, ao passo que, tivada pela sucessão presidencial, a segunda con-
com o outro, se evitaram atentados futuros à in- seqüente à derrota de Zeballos, pelo escândalo do
tegridade e à soberania de três nações americanas, telegrama n. 9.
vizinhas e amigas.
Rio Branco sempre sentiu a necessidade de asse-
Em todos os setores das nossas fronteiras, Rio
Branco não deixou um só caso a resolver c a todos gurar à orientação da política interna a maior tran-
deu solução amigável c definitiva, justa e em con- qüilidade e firmeza para que nossa diplomacia pu-
desse gozar de todo o prestígio no exterior.
cordância com a verdade histórica e geográfica,
inspirado sempre pelo mais nobre sentimento de Para esse efeito propende, sem definir-se os-
respeito aos nossos c aos direitos dos vizinhos. tensivamente, pela candidatura do Marechal Her-
Barão do Império, monarquista por tradição, mes, afastando a sua própria.
tradicionalista convicto, Rio Branco elevou ao mais O Brasil necessitava paz c segurança dentro
alto grau de eficiência o preceito constitucional do seu território e sobre as suas fronteiras. Em
republicano do arbritamento, ganhando pelo pro- ambos os horizontes condensavam-se nuvens es-
cesso da justiça internacional os litígios com a Ar- curas, que urgia se diluíssem.
gentina e a França e pactuando Tratados e Con- As ameaças internas se reduziram aos motins
venções de Arbritamento com 28 Nações indepen-
da marinhagem de alguns vasos de guerra e dos
dentes.
Rio Branco, como dissemos ao princípio, não soldados do Batalhão Naval, para logo sufocados.
se preocupou apenas em traçar o gigantesco perfil As que promanavam do exterior, se desfizeram
geográfico do nosso país, cuidou, com afán c ad- frente à realidade de uma política sincera, leal,
cifica, civil, desambicionada. pa-
mirável discreção, de todos os problemas correlatos
à nossa política de prestígio c segurança, para que Socegados os espíritos, serenados os ânimos,
o Brasil se tornasse em seguro guardião do vasto dissolvidas, aqui e além, as desconfianças, Rio
império territorial que o destino lhe atribuirá e Branco contempla, feliz, a transformação
que êle, Barão, delineara e fixara com mão segura, que se
ia operando no Brasil com as mais lisongeiras
sábia e prudente.
O serviço militar, na forma gradativa por que prespectivas de paz, progresso, ordem, prestígio
e bem-estar.
o imaginara o Marechal Hermes da Fonseca, en-
controu no apoio de Rio Branco o mais forte sus- Com sua política, Rio Branco impôs à opinião
tentáculo no seio do Governo e na opinião pública. pública do Brasil, da Argentina, da América me-
Para exemplo e estímulo aos demais brasileiros, ridional a convicção de que o Brasil e a Argentina
Rio Branco aconselha ao filho — Raul — seu não iriam à guerra e essa certeza cresceu na cons-
oficial de Gabinete e Primeiro Secretário de Le- ciência de todos com benéficas repercurssões sôbrc
gação, seja um dos primeiros a alistar-se como vo- os demais países da América, e uma disciplina,
juncário. nascida da segurança e da tranquüilidade, da con-
A Marinha deve-lhe, em grande parte, a sua fiança c da paz, se formou na mentalidade do
formidável remodelação com a encomenda dos su- povo brasileiro, disciplina que jamais tivéramos,
percouraçados Minas Gerais e São Paulo, dos disciplina que já se desvaneceu.
Scouts Bahia e Rio-Grandc-do-Sul, dos destroyers,
dos submarinos e do «tender» Ceará. A morte nô-lo arrebata a 10 de Fevereiro de
1912, em pleno apogeu de glórias e de triunfos, de
As estradas de ferro estratégicas, os portos, a carinho e de respeito, na serenidade tranqüila de •
remodelação e o saneamento de cidades, inclusive
da Capital, foram empreendimentos para cuja ini- quem havia feito muito, muito, muito por sua terra,
ciativa, execução e feliz termo Rio Branco con- pela América, pela paz.
correu, modestamente, sem alardes mas decisiva- Que a boa vontade dos homens, que a paz
mente. dos espíritos, que os enlêvos patrióticos, que a
Por inteiro alheiado da política militante, sôbrc desambição e a generosidade, que o bom senso e
ela tinha Rio Branco permanentemente fixos os a inteligência, que o dever e o saber se inspirem
seus olhos, orientando os homens que a dirigiam na memória de Rio Branco para exaurir daqueles
e os jornalistas sem que nenhum deles se aperce- sentimentos, daqueles anseios, daquela fé, daquela
besse de que muitas das suas iniciativas, atitudes confiança, daquela suavidade, daquela sobranceria,
e opiniões lhes haviam sido habilmente insinuadas que foram os apanágios da mentalidade de Rio
pela suavidade penetrante e convincente de Rio Branco, novas forças e novas determinações, para
Branco. que o Brasil se reintegre em si mesmo e retome,
É Rio Branco quem obtém o primeiro Car- altivo e generoso, o seu caminho pela estrada larga
dinalato para a América do Sul. por que Rio Branco o conduziu, um dia, para sua
Ê Rio Branco quem vai buscar Ruy Barbosa maior glória, para o seu maior prestígio, para feli-
para triunfar em Háya. cidade do nosso povo.

Resumo en Esperanío — B ARO NO RIO BRANCO.


En sólena kunsido okazinta honore ai Barono Rio Branco, pro Ia jarcenta datreveno de lia naskifo
Ministro J. S. da Fonseca Hermes faris notindan paroladon pri Ia supera personeco de tiu eminenta brazi-
lano, kun êusteco, justeco kaj precizeco.
La oratoro elstarigis Ia amason da grayegaj multspecaj servoj kiujn faris ai Brazilo Ia granda kance-
iero, jen kiel diplomato kaj geógrafo, jen kiel âtatisto, histoiiisto kaj politikisto.
O ADVENTO DO HOMEM

Coronel LUÍS MARIANO DE BARROS FOURNIER.


Sócio Efetivo

Conferência realizada na sessão do dia 4 de Outubro de 1945

O desejo de não fatigar a preclara as- verdade, porque a vida é a soma das vidas
sistência obrigou-me a prescindir comenta- dos milhões de células que figuram na cons-
rios em torno do que se disse e escreveu tituição dos organismos: de acordo com a
sobre a origem do Homem, no decurso dos conclusão de Bichat.
séculos. Do nada, da ausência absoluta de tud.'{:
Os grandes naturalistas, os antropólo- que poderia sair?
gos, os fisiologistas, que atingiram à imorta- Seria necessário conceber-se um nada
lidade pelos esforços dispendidos no sentido criador. ..
da solução do problema cujo interesse aqui
nos reúne, e os curiosos, como eu, que por aí E eu creio em Deus. Num Deus único,
faiscaram, têm aqui o tributo de minha res- que integra em sua personalidade divina to-
dos os atributos máximos da perfeição supre-
peitosa admiração. ma. Infinitamente sábio, porque legislou
Entretanto, as conclusões a que chega- abrangendo o Universo inteiro; e suas leis
ram inspiram novas interrogativas da inte- são eternas, inflexíveis e imutáveis, como o
ligência: próprio Deus. Poderoso, porque tudo dirige
Segundo Virchow, — «toda célula vem e tudo se Lhe subordina. Supremamente coe-
de outra célula preexistente». rente, justo e bom, como Se nos revela na
milagrosa harmonia de Sua obra divina.
E essa célula preexistente, de onde veio?
Poderieis perguntar-me: — -E esse
Segundo Harvey, — «tudo o que vive Deus, de onde veio ?
vem de um ôvo. E esse ôvo original, de onde
terá vindo? E eu responderia: — Se tivesse Ele,
vindo de alguma parte, ou de alguém, essa
LlNNEU, ClIVIER, QUATREFAGES e seus alguma parte, ou esse alguém, seria o Deus,
numerosos discípulos, consideram a espécie
como tipo imutável. E o tipo inicial, de onde porque seria o mais poderoso; donde con-
cluo que Ele sempre existiu e é a própria
terá surgido? Eternidade! Suprema Filosofia da suprema
Lamarck, Darwin, HaeCKEL, Vogt, Verdade!
Huxley e seus não menos numerosos adep- E Deus é Espírito, no conceito dos Evan-
tos, consideram as espécies de organização
superior como oriundas de espécies inferio- gelhos. Os Espíritos são núcleos eletromag-
néticos, com um cérebro de luz. Núcleos que
res diferentes. E subsiste o dilema. têm personalidade própria, adquirida na es-*
Parece-me que, sendo o ôvo uma cé- calada da energia para a perfeição, para a
lula fecunda, se encontrarmos a origem da energia divina. Penetro, pois, na recolhida
célula preexistente, ficaremos mais perto da meditação dos astrônomos e dos crentes, son-
O ADVENTO DO HOMEM 21

do as plagas ainda penumbrosas do revela- extra-nuclear aumenta ou diminue sua ve-


do, c encontro no imo dos paramos estrela- locidade de circular, ou salta de uma órbita
dos, rutilando dentro da música das esferas, para outra, liberta ou absorve energia, con-
o Sol dos sóis, a emanar ener*gia, vida e inte- forme a direção tomada seja centrífuga ou
ligência, no divino esplendor de Sua supe- centrípeta». (Dr. W. Hasenberg).
rabundante inesgotabilidade. E, assim como O ÁTOMO — Em presença dos cris-
do sol de nosso sistema planetário recebemos tais reconstituindo-se por si mesmos, dos me-
calor e luz, desse Sol, que nunca se apaga, tais criando certas resistências e dos fenô-
tudo recebemos. Dele, nos vem o sentimen- menos de seleção que as células realizam, já
to e é por Ele que se agitam os corações, se não recusa, hoje, o preceito segundo o
aspirando a vigência da verdade e do amor qual a vida está imanente na matéria. E o
puro, sob o palio da razão milagrosamente di- Dr. Werner Hasenberg diz: — «Toda vida,
vina do Amor, único, de Deus. no micro e no macrocósmo, obedece a um só e
Assim, é de Deus, que tudo vem, na res- único sistema, que tem início no movimento
trição gradativa da involução; assim, é que e sua expressão no eletrão, no foton ou no
tudo tende para Deus. na luminosa escalada neutrão».
da evolução. Ninguém é capaz de negar, ho- Gurwitsch e Frank identificaram, espe-
nestamente, a existência de uma inteligência troscòpicamente, com os raios ultra violetas
criadora e capaz de formular tão sábias leis, a radiação mitogenética das radicélas da ce-
como essas que presidem à harmonia do Uni- bola. Desde então, essas experiências foram
verso. retomadas por Gabor e Reiter, que confir-
maram a conclusão de que todos os tecidos
O HOMEM embrionários possuem, em alto grau, a facul-
dade de irradiação, tanto mais intensa, quan-
Lembremo-nos de que, em uma simples to mais rápido o crescimento, e mediram com
grama de Hidrogênio, encontram-se 600 quin- precisão o comprimento de onda da radiação
tilhões de átomos e de que o peso de um emitida, que é de 334 milionésimos de milí-
eletrônio é de 9 decisextilhões da grama. metro. Esses trabalhos mostraram que a ra-
(zero vírgula, 28 zeros, 9). diação vital se classifica entre as radiações
Lembremo-nos de que. todos os elemen- actínicas e daí nasceu a teoria das vitaminas,
tos encontrados como fundamentais do pro- cuja radiação é igual à radiação humana e o
toplasma, são encontrados, mais ou menos comprimento de onda radio elétrica corres-
abundantemente, na Terra. De que, sem ponde, igualmente, à onda radioelétrica da
água, que faculte a fase de dispersão dos co- vitalidade do homem.
lóides, não haveria possibilidade de vida ve- Cogitando, pois, da origem do homem,
getal, nem de vida animal. De que a Terra decorrente dos próprios elementos da Terra,
exala efluvios eletromagnéticos, e de que a é lícito repetirmos o que disse Gustavo Le
energia vital se hierarquiza na estrutura dos Bon: — «...toda fenomenalidade, nada
elementos vivos, porque, «tanto o valor atô- mais é do que transformação de equilíbrio.
mico, como também a freqüência vibratória, Quando as transformações de equilíbrio são
são determinados exclusivamente pela massa rápidas, chamamo-las de eltricidade, calor,
que representa a carga elétrica elementar do luz, etc; quando os equilíbrios são mais es-
núcleo. Qualquer alteração da massa deve, táveis, damos-lhes o nome de matéria. . . Tais
pois, causar uma diminuição, ou um aumen- perturbações nos sistemas planetários atô-
to do número de vibrações ou, por outras pa- micos, podem verificar-se, seja espontânea-
lavras, o período próprio do sistema é fun- mente, como para os corpos radioativos, quan-
ção característica da massa. Não é concebi- do, por causas diversas, chegaram a certo
vel que a característica fotônica da massa
grau de instabilidade, seja artificialmente,
íique isenta de influências, durante o pro- como para os corpos ordinários, quando sub-
cesso da divisão celular. O núcleo celular, metidos à influência de excitantes: calor, luz,
quando sofre variação construtiva, seja pela etc. Esses excitantes atuam, então, como a
perda de um eletrão nuclear, ou de um po- centelha sobre massa de pólvora, isto é, li-
sitrão, caso seja verosimil, perde subitamente bertando quantidades de energia, muito su-
seu equilíbrio vibratório, pois que transforma- periores à causa insignificante que determi-
se em um outro átomo. Quando um eletrão nou sua libertação. E, como a energia con-
22 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

densada no átomo é em quantidade imensa, União». Esta energia se forma na junção


resulta que, a uma perda insignificante de dos neutrônios e protônios. O Oxigênio, por
matéria, poderia corresponder a criação de exemplo, sua massa deveria ser de 16,136,
enorme quantidade de energia... Se, esten- mas seu peso atômico é somente de 16,00. A
dendo essas noções, quizéssemos aplicá-las energia de união é, pois, aí, de 0,136, pelo
às diferenças que apresentam os diversos que a fórmula de Einstein E=mc2, dá para o
corpos simples que a química estuda, di- Oxigênio 107.000.000 de Eletron-Volts.
ríamos que um corpo simples só difere de
Ao Hélio é atribuído o papel relativa-
outro, porque contém mais, ou menos, ener-
mente constitucional na radio-atividade e seu
gia interatômica do que esse outro». átomo tem 4 unidades por peso atômico e 2
Diz-se que um átomo é positivo, quan- unidades positivas, somente. O peso atô-
do a carga positiva do proton é maior do que mico é igual ao número de protônios e neu-
a carga negativa dos eletrônios que o cer- trônios do núcleo, e o número atômico indica
cam; que é negativo, quando esta carga é tanto o número de eletrônios satélites, tanto
maior do que a do proton; e que é neutro, as unidades de cargas positivas do núcleo.
quando essas duas cargas se equilibram.
Os corpos simples das casas 82 a 92 dos
Mas os eletrônios, que giram vertigino- números atômicos do sistema periódico, são
samente em torno do proton, nem sempre providos de radio-atividade, isto é, cada um
estão igualmente distantes desse centro de deles emana partículas positivas e negativas,
atração. Daí, a possibilidade dos mais afãs- bem como raios «Gama». As partículas
tados passarem-se de uns átomos para ou- posi-
tivas têm o nome de raios «Alfa» e nada
tros, modificando aquelas relações de car- mais são do que átomos de Hélio, e as
parti-
gas. Quando eletrônios de átomos neutros es- cuias negativas são representadas por eletrô-
capam para átomos positivos, como nas pilhas nios e denominadas raios «Beta». Os raios
elétricas, estes tornam-se neutros; mas os «Gama» são de natureza eletromagnética.
neutros que perderam de suas cargas nega-
tivas, tornam-se positivos, pelo que passam Sobre o fenômeno da radio-atividade,
a atrair eletrônios de outros átomos. Da diz o Sr. Dr. Werner Hasenberg, em «In-
per- trodução à Teoria Atômica»: — Constitue
manência dessas permutas resultam as cor-
rentes elétricas. uma desintegração de átomos,
pois, quando
um átomo perde uma partícula «Alfa», ou
A carga do eletrônio é de eletricidade
seja um átomo de Hélio, perde simultânea-
negativa e igual a 477 bilionésimos de uni-
mente duas cargas positivas e quatro unida-
dades ele^rostáticas.
des de peso. Quando, porém, a
Cerca de 99,95% da massa do átomo perda é de
_ um eletrônio, o número atômico aumenta de
estão contidos no proton, donde pode-se con- uma unidade, sem que se modifique o seu
cluir que o peso atômico é determinado peso, porque é somente a carga nuclear que
pela
massa do proton, quase não havendo influên- se enriquece de uma unidade positiva. Assim,
cia da massa do eltrônio satélite sobre o o corpo se transforma .em outro elemento!
peso
atômico. Essa massa é de cerca de 1.835 seja duas cargas para trás no sistema
vezes menor do que a massa do átomo de perió-
dico, seja uma carga para a frente, conforme
Hidrogênio, que por ser o mais simples, é a natureza da emanação.
denominado de «átomo elementar», sendo
constituído por um proton e um só eletrô- «Elementos que têm o mesmo
peso ato-
nio. E' por isso que se admite sejam todos mico, mas que diferem em cargas nucleares,
os corpos formados por múltiplos do átomo chamam-se ISÕTOPOS; são elementos
que!
do Hidrogênio, cujo peso atômico é o único no sistema periódico, têm o mesmo número
que não é representado por um número in- atômico, mas pesos diferentes. O rádio B,
teiro, pois que é de 1,008. A carga de seu o rádio D e o rádio G são isótopos do Chum-
proton é a unidade. bo, porque têm o mesmo número atômico, as
mesmas propriedades químicas do Chumbo,
O peso atômico é, realmente, um
pouco ocupam a mesma ordem na classificação
menor do que a soma das massas dos pe-
pro- riódica de Mendeleif.
tônios e neutrônios do núcleo, diferença essa porém diferem nos
atribuída a uma perda de certa pesos atômicos. O Hélio, o Hidrogênio, o
parte da Carbono, o Azoto, o Oxigênio, o Fluor, o
massa, que se transforma em «Energia de
Sódio, o Fósforo, o Enxofre, o Arsênico, o
O ADVENTO DO HOMEM 23

Césio e o Alumínio não têm isótopos; mas imenso poder dessa energia, temos flagrante
o Cloro, por exemplo, é constituído por uma testemunho recentíssimo.. .
mistura de isótopos de pesos atômicos 35 e As moléculas ocorrem para a formação
37, e o Brômo dá isótopos de pesos atômicos de todos os corpos e, dentre estes, a dos co-
79 e 81, sendo o Estanho constituído por lóides, que, por sua elasticidade, por sua fie-
uma mistura de, pelo menos, 8 isótopos. xibilidade e por sua permeabilidade, repre-
. . .Recentemente, conseguiu-se obter e utili- sentam os elementos fundamentais e indispen-
zar energia atômica, bombardeando certo isó- sáveis à possibilidade da vida orgânica. Sem
topo do Urânio, com neutrônios. . . .O estu- colóides, não existiriam vegetais, nem ani-
do da radio-atividade, deu-nos também uma mais, nem o Homem, daí sua máxima impor-
noção da idade do globo terrestre. Partin- tância em Biologia.
do-se do fato de que toda a desintegração
Os colóides apresentam as seguintes
do Urânio acaba em Chumbo, através de uma
série de isótopos e outros elementos, (Tório, propriedades :
Rádio, Bismúto), e, conhecendo-sc também a) não atravessam membranas per-
os semi-tempos de desintegração, calcula-se meáveis,
que o nosso planeta deve ter. a partir da b) são insolúveis nágua,
época ern que solidificou-se, uma vida de
entre 1.600 e 3.200 milhões de anos». c) não se cristalizam,
Segundo Epicuro, «o mundo é composto d) concentrados, dão colas ou geléias,
de uma multidão de átomos, dotados de cer- e) morrem, quando coagulados e, coa-
tos movimentos e que se reúnem entre si e guiados não mais revertem ao seu
se combinam uns com outros e não há outra estado coloidal.
coisa no mundo».
Os colóides são misturas de várias subs-
O átomo, em cada espécie mineral e em tâncias, simples e compostas; não são con-
identidade de condições, caracteriza-se pela ceito químico definido, pelo que as fórmu-
invariabilidade de sua massa e pela cons- las atribuídas a esses corpos são apenas apro-
tância de suas propriedades. ximadas. Entre seu estado de sol, isto é,
São conhecidos, hoje, átomos de 92 ele- quando as micélas são pequenas, espalhadas
mentos diferentes e que vão do Hidrogênio na fase dispersa e animadas de movimentos
ao Urânio, cujo peso atômico é de 238,14, permanentes, e o seu estado de gel, isto ê,
numa escala crescente das partículas que os quando as micélas são mais volumosas, em
constituem. Esses átomos são providos de estado de turgência, muito juntas e imóveis,
afinidades recíprocas e se associam para for- existem estados intermediários decorrentes
mar pequeníssimos agregados denominados das reações que se verificam na estrutura ce-
moléculas. Assim associados, distribuem-se lular. Essas reações são, justamente, o ca-
sempre ao redor de um centro de gravidade, racterístico da vitalidade. Ha colóides que
de modo a formarem um poliédro molecular, são atraídos pelo catódio e são, por isso, cha-
infinitamente pequeno, em cada vértice do mados positivos; outros são atraídos pelo
anódio, ou eletrodo positivo, pelo que são
qual se localiza um átomo. Esse poliédro é o
verdadeiro indivíduo mineral, isto é. caracte- chamados colóides negativos. Os colóides
riza sua espécie própria. Minerais da mesma positivos se distinguem por terem caráter ai-
espécie têm sempre poliédro molecular iden- calino, e os negativos, por seu caráter ácido.
tico. Se esse poliédro é constituído por áto- Essas cargas elétricas é que fazem com que
mos da mesma natureza, especifica um cor- as micélas se repilam mutuamente, obrigan-
do-as a não se aglomerar e a ficar uniforme-
po simples, se por átomos de naturezas di- mente distribuídas e em equilíbrio na fase
versas, especifica um corpo composto.
dispersa. Quase todos os sais tendem a coa-
Cada um é reservatório de forças colos- guiar os colóides e a precipitá-los, enquanto
sais e indómitas, pelo que o átomo é consi- que os citratos, embora sendo sais, tendem a
derado a mola propulsora dos mundos. A aumentar sua dispersão. A manutenção da
energia condensada em um átomo é tão gran- vida está na dependência da manutenção do
de que, segundo Einstein, Franz Peters, equilíbrio das substanciais coloidais da ma-
Fritz Paneth e outros, 15 gotas dágua po- teria viva, porque, quando esse equilíbrio se
derão levantar um milhão de toneladas. Do rompe, morre o protoplasma.
24 revista da sociedade de geografia

A VIDA mente grande. O éter é o veículo de todas


as energias latentes e ativas; é a pró-matéria
«Desde que hajamos concebido e inter- ideal da origem dos mundos e dos seres.
pretado o átomo, paralelamente concebere- Georges Lakhovsky, Nodon, Voro-
mos o movimento — desde o infinitamente nof, Cassamali e outros, comprovaram a
pequeno da matéria — à infinitamente gran- vigência de emanações radioativas e a in-
de manifestação da Energia Universal e Úni- fluência cósmica sobre as plantas, os animais
ca. Em tudo, uma soma; em todas as somas,
e o homem. E concluíram que a vida desper-
as parcelas reveladas ou latentes. E aí é que ta sob ondulações, é conseqüência de ondu-
a ciência analisa e sintetiza, para interpreta- lações e termina quando se quebra a harmo-
Ias, às leis universais que se vão manifestan- nia das oscilações. Para eles, o filamento nu-
do, à proporção que a matéria vai forne-
clear da célula é provido de auto-indução e
cendo, em sua evolução natural, condições de capacidade, como qualquer circuito osci-
necessárias ao advento do tangível e do in- lante. Todos os Metazoários são formados
tangível. O raciocínio domina e determina o
por milhões de células, que são osciladores
fato, a Razão analisa-o, e a inteligência o sin- elementares, e, assim concluíram que os seres
tetiza em lei, para ensinar a prever com se- vivos são assimiláveis a circuitos oscilantes
de
gurança. — «Saber, para prever, a fim de freqüências muito elevadas.
prover». (Antônio de Aquino) . A vida é trabalho, e não há trabalho sem
O proton é carga elétrica, os eletrônios energia que o produza. E, como a energia é
são cargas elétricas, o átomo é, pois, um nú- sempre da mesma natureza do trabalho que
cleo de eletricidade, mantido pela lei da atra-
produz, teremos, aí, a energia vital.
ção elétrica; e essa eletricidade latente am-
A energia vital, sendo parcela da ener-
plia-se na constituição da molécula.
gia universal e única, será, pois, uma força
Segundo Buffon, «a forma do orga- natural, ondulatória e de origem cósmica.
nismo é determinada pelas reações entre as E a vida será trabalho produzido por com-
condições externas e as atividades ineren-
ponentes dessa resultante biológica.
tes das moléculas orgânicas das quais ela é
composta». (Th. Huxley — «De Ia 5ío/o- A eletricidade cósmica atua sobre todos
os corpos e, aos animados comunicou a vida
gie»).
orgânica. Os seres filtram o fluido, que tem
Segundo Mayer, «A soma das energias todas as densidades, conforme a capacidade
do Universo é uma e única: a energia, como seletiva dos organismos. Ao Homem, organis-
tudo, se transforma, não se extingue». mo mais perfeito, o mesmo fluido, sob fre-
Segundo Maxwell, as vibrações trans- qüência correlativa, trouxe o advento de atri-
mitidas pelo éter formam uma escala muito buto mais amplo: — a Razão. Evidentemen-
extensa, diferindo entre si as vibrações, pelos te, a eletricidade que domina a pedra não
seus períodos próprios, pelas suas freqüên- pode ser a mesma que atua sobre o Homem.
cias. Lakhovsky considera o núcleo das cé-
Segundo Millikan, as ondas cósmicas lulas orgânicas como sendo a sede de cir-
são reduzidas pelas transformações de Hidro- cuitos oscilantes e supõe que estes circuitos
gênio em Hélio, nos espaços inter-astrais. tenham período próprio, de freqüência varia-
Essas ondas são 2.500 vezes mais curtas do díssima, visto serem, a indutância e a ca-
que as dos Raios X. pacidade próprias, de ordem de grandeza in-
Einstein demonstrou que todas as fôr- finitesimal.
ças do Universo, inclusive a inércia, são de Sou dos que pensam que a vida é ima-
natureza eletro-magnética. E, segundo sua nente na matéria, como é possível observar-
teoria da reversibilidade, massa e energia se nos cristais que se refazem e na capacida-
são modalidades de um mesmo fenômeno elé- de de certos metais criarem insólitas resis-
tricô, do qual o eletrônio é a partícula fun- têncías, sob a eterna vivacidade dos eletrô-
damental. nios de seus átomos.
O éter está em tudo e por toda parte, Sei que as parcelas da energia univer-
em todo o Universo, e a tudo interpenetra, sal e única se especificam sob períodos e fre-
desde o infinitamente pequeno até o infinita- qüências vibratórias próprias: — condensam-
O ADVENTO DO HOMEM 25

se, na involução, para chegarem a ser ma- Metais: Potássio, Sódio, Magnésio,
teria, e sutilizam-se, na evolução, para che- Cálcio, Ferro, que são normais, e Silício,
garem a reintegrar-se em seu manancial ines- Alumínio, Manganês e Cobre, que são su-
gotável. Nessa escalada, traçam a hierar- pervenientes.
— vida latente, vida vegetal,
quia de vidas: Metalóides: Hidrogênio, Cloro, Oxi-
vida animal, ou instintiva, vida inteligente e
vida divina, eterno principio e eterno fim da gênio, Enxofre, Azoto, Fósforo, Carbono,
que são normais, e Brômo, Iodo, Fluór, su-
vida dos seres e das coisas, aura do corpo
pervenientes.
infinito daquele que soube conceber e reali-
zar o Universo. O que conhecemos da vida Ao ultramicroscópio, revela-se como
terrestre é uma associação passageira e pre- uma mistura de colóides, cujos grânulos são
caria de dois termos que se revelam, de uma agitados de movimento browniano no líquido
parte, na energia vibratória e. de outra parte, que os tem em suspensão; outras vezes, é ho-
na matéria inerte, mas regressiva. mogêneo. O protoplasma se comporta como
colóide negativo: é precipitado pelos ácidos,
A CÉLULA — Segundo o Dr. Oscar enquanto que os álcalis dão-lhe aspecto ho-
de Sousa, «é uma porção de protoplasma, mogêneo. É incolor e de consistência vis-
centralizada por um núcleo». É formada por: cosa. Menos refringente do que a água, sen-
1) Membrana — que é considerada do as minúcias de sua estrutura visíveis sem
coloração, quando se examina em meio aquo-
como aquisição secundária, resultante da
so. É embebido dágua, mas esta água não é
condensação do ectoplasma e produto de
água de constituição. O calor coagula-o e tor-
adaptação ao meio. Nos vegetais, é de cons-
na-o quebradiço, determinando sua morte.
tituição ternária e, nos animais, é de consti-
tuição quaternária. É insolúvel em todos os Núcleo — É produto de diferenciação
reativos, exceto no oxido de cobre amonia- do protoplasma, conforme ao que revelou o
cal; semi-permeável aos líquidos, aos gases e estudo da Kariocinese, ficando estabelecida
às soluções cristalóides; órgão protetor da sua composição, isto é, que êle contém os
célula, é a sede da dupla corrente endo-exos- mesmos elementos da composição do pro-
mótica, feita à custa de sua permeabilidade. toplasma, sendo, porém, provido de Fósforo
e é reguladora das permutas entre o proto- em maior proporção, sendo que, segundo A.
plasma e o meio ambiente. Branca, «a estrutura do núcleo difere de um
2) Protoplasma — Segundo Huxley, elemento para outro e, em um mesmo ele-
é «a base física da vida»: para Claude-Ber- mento, nos diversos momentos de sua ativi-
nard, é «a base orgânica da vida»; para o dade. Essas diferenças entendem com o ta-
Professor F. Pizarro, «é o substratum mate- manho, com a forma e a constituição do nú-
rial da vida»; e para o Professor Prenant, «é cleo, com seu conteúdo e cromatina, que é
o substratum dos seres vivos e o agente dos sua substância característica, com as reações
fenômenos vitais». Para Max Verworn, «o histoquímicas dessa cromatina, etc.
protoplasma não é uma simples substância
química, mas uma soma. uma mistura de ele- O núcleo desempenha funções importan-
mentos morfológicos os mais diversos». tíssimas nos pontos de vista da nutrição e da
multiplicação das células e a êle é atribuído
Prenant diz: — «não há um protoplas-
ma banal, isto é, um protoplasma bom para papel de agente de transmissão dos caracte-
todos os seres vivos, há um protoplasma pró- res hereditários dos seres. No núcleoplasma
é que os químicos encontram os protídios es-
prio a cada ser, portanto milhares e milhões
de protoplasmas é o produto de uma longa peciais da matéria viva.
evoluão histórica». Nttcléolos — Sob este nome, são tidos
Nos protoplasmas estão reservadas subs- certos corpúsculos mais refringentes do que
tâncias minerais, protídios, glicídios, lipídios o resto do núcleo de algumas células. São
e, dentre os minerais, é preciso não esquecer- geralmente esféricos, distribuídos na área do
se a água. núcleo e formados pela pirenina. Sua pre-
Diversas análises revelaram que são 12 sença constante parece indicar que têm eles
os elementos encontrados no protoplasma, grande importância no mecanismo das elabo-
assim distribuídos: rações químicas intracelulares.
26 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Dissemos que a vida é trabalho, apre- terminando brusca variação de energia celu-
sentando modalidades de caracteres fisicos, lar, e entende-se por excitante qualquer cau-
químicos e morfológicos do protoplasma, sob sa que modifique essa energia, como a luz,
o império de modalidades da energia univer- o calor, a eletricidade, os excitantes químicos,
sal e única. É função de incessante variação donde o quimiotactismo, o termotactismo, o
da constituição da célula, de suas formas e [ototropismo. Os excitantes, além de provo-
da energia que a célula pode concentrar e carem o crescimento e o movimento das cé-
manifestar. lulas, orientam esses fenômenos em determi-
Assim é que : nado sentido. Se a célula experimenta um
aumento em determinado sentido, tem-se o
A célula incorpora gases, líquidos e só- que se chama um tropismo; se experimenta
lidos, sendo a fixação do Oxigênio fenôrne- uma translação para o lado do excitante, tem-
no dos mais importantes e mais gerais da se o tropismo positivo; se para o lado oposto,
vida celular. Mesmo os anaeróbios, tomam tem-se o tropismo negativo.
Oxigênio das reações químicas que se ve- A célula se reproduz por :
rificam no meio em que vivem.
Incorpora substâncias líquidas de na- a) Multiplicação ou divisão direta, aci-
turezas ou de constituições diferentes, reali- nética ou amitose: — cissiparidade e gemi-
zando verdadeira seleção. paridade.
Assimila, isto é, modifica, para torna- b) Multiplicação ou divisão indireta,
Ia semelhante a si mesma, a substância que cariocinese ou mitose: — que é a mais vulgar
coleta. e sempre precedida de uma sucessão de
transformações.
Incorpora substâncias sólidas, que po-
dem ser, mesmo, outras células vivas ou mor- Em presença, pois, do que aí fica, ex-
tas. clúo a noção de impossibilidade da abiogê-
Desassimila mediante oxidações, com nese ou geração espontânea, como é vista,
desprendimento de calor, e mediante redu- desde que tudo quanto é necessário para a
çòes, sem desprendimento de calor, isto é, formação da célula viva, sempre existiu na
Terra. Evidentemente, no íntimo de um meio
por desdobramentos químicos com hidrata-
Ção. esterilizado e vedado, só, mesmo, a esterili-
dade poderá vingar. Mas num meio satura-
Elimina os produtos de sua atividade, do de elementos próprios ao surto da vida,
que podem ser gasosos (Co2) líquidos nada impede que se ostente a vida, se am-
(H20), ou sólidos, como as concreções re- plie e evolua. E' verdade que ainda existe
nais dos Moluscos.
quem recuse a existência dos micróbios, mas
Capta energia, transforma energia. À estes existem independentemente de convic-
luz do Sol, a planta verde assimila Carbono, ções arcaicas e proliferam em meio conve-
Azoto, Fósforo, etc, e transforma as subs- niente.
tâncias minerais e inorgânicas, em compostos
Observação cuidadosa e imparcial, leva-
orgânicos ternários e quaternários. A ener-
rá, certamente, a comprovar-se a possibili-
gia luminosa é transformada pelas plantas em dade dessa geração, desde que se saiba o
diversas modalidades de energias, principal-
mente em energia química, donde os hidra- que é õ átomo, o que é a molécula e o que é
tos de Carbono, que se queimam no orga- a célula.
nismo, restituindo energia ao mundo exte- H. S. Swingle, piscicultor, e E. V.
riõr. A luz é excitante dos pigmentos. Smith, botânico, ambos do Estado de Alaba-
Dentre os caracteres particulares da cé- ma, mediante pesquisas, iniciadas em 1935,
lula, está a irritabilidade que, por sua vez, concluíram que, qualquer fertilizante
quími-
apresenta particularidades: — sob ação de co, depositado nas águas de uma lagoa arti-
excitantes variados, tem-se uma reação idên- ficial, provoca imediatamente o aumento da
tica, quando eles atuam sobre o mesmo ór- produção de plantas e de animais micros-
gão; sob ação de excitantes idênticos, têm-se cópicos conhecidos pelo nome genérico de
reações diferentes, quando elas se verificam planktone que nutrem enxames de insetos.
sobre órgãos diferentes. O excitante atua de- Estes e suas larvas, por sua vez, alimentam
O ADVENTO DO HOMEM 27

grande número de peixes miúdos, que cons- na e, ao mesmo tempo, experimentaram pro-
tituem a chamada forragem. da qual se nu- fundas modificações morfológicas. Alguns,
trem os peixes carnívoros. dentre eles, têm apenas duração transitória e
Excluo também a proveniência extra- papel limitado, tais como: — a alantóide ou
terrena, porque elementos mais leves do que vesícula umbilical; outras tomaram impor-
o ar jamais chegariam à superfície do globo tância inusitada, como o amnios e a placenta,
e, elementos mais pesados do que o ar, se mas todos têm caráter comum: derivam da
contássemos apenas com os 60 quilômetros zona extra-embrionária do blastócisto».
atribuídos à espessura da atmosfera, por Chauveau & Arloing dizem, em seu
menos pesados que fossem e por menor que «Tratado de Anatomia Comparada»: — «O
fosse a velocidade da queda, chegariam quei- óvulo dos Mamíferos, se bem que seja aléci-
mados. E os colóides, indispensáveis à vida to, como o do Amfioxus, desenvolve-se de
orgânica, como são, não suportariam impu- modo diferente, que leva a pensar-se que, a
nemente essa queda. partir do Amfioxus, este óvulo passou su-
Excluo ainda a origem bíblica, no ponto cessivamente pelo tipo dos Anfíbios e pelo
de vista exotérico, porque sua aceitação im- tipo dos pássaros. Desenvolve-se, efetiva-
plicaria em infração das leis da Biologia. mente, ao modo de um ôvo telolécito que ti-
vesse perdido gradualmente sua provisão de
E porque não admitir-se o surto do
nutritivos, enxertando-se sobre o terreno
Homem da própria Terra, quando nada auto-
materno».
riza outra conclusão lógica?
Segundo Branca, a embriologia demons-
Eis porque ocorreu-me oferecer aos tra que todos os animais se originam de uma
competentes a sugestão de haver surgido o célula e que a série das fôrmas apresenta-
Homem do limo da Terra, não já como Adão,
das por um animal, durante seu desenvolvi-
de carne e ossos, mas, gradativamente, como mento, é repetição correlativa daquelas pelas
protoplasma, célula, ôvo, larva, ninfa ou cri- quais passaram sucessivamente seus ances-
sálida, chegando, oportunamente, a ser o trais conforme à teoria da descendência. O
que foi, o que é e o que será, porque se- embrião de um vertebrado apresenta-se a
gundo Linneu, «A natureza não dá saltos». princípio como u'a massa celular, em segui-
E porque não ser assim, se, ainda hoje, da, como um saco que tem somente uma
Insetos, Batráquios, alguns peixes e certos abertura e que, depois, já tem duas. Ulterior-
animais inferiores sofrem metamorfoses tão mente é que os membros aparecem, até que
profundas? surge o vertebrado, depois de haver passado
sucessivamente pelas formas de prótista, ce-
Aí estão as borboletas como exemplo lenterado e verme.
das maravilhas da criação: hoje, são lar-
vas, lagartas repulsivas e daninhas'; ama- Seria prolongar mais esta palestra, a es-
nhã, são crisálidas e, finalmente, imagos, in- pecificação dos Modos de Reprodução, de-
setos perfeitos, Lepidópteros, prismas vola- finindo-os. Lembremos, entretanto, que os
teis, coando luz, para encanto nosso! seres vivos podem ser: — assexuados e se-
O. Hertwig, citado por Branca, diz : xuados, podendo ser estes, hermafrodítas e
«Os Mamíferos devem derivar-se de ani- gonocócicos, ou monoicos, dioicos e neutros.
mais ovíparos, cujos ovos seriam abundan- Nos vertebrados, o ôvo passa inicial-
temente providos de vitellus; envólucros fe- mente pela diferenciação, ou segmentação,
tais desenvolveram-se neles, como nos Rép- caracterizada pelas fases de mórula, blástula,
teis e nos Pássaros. Em dado momento, esses gástrula e blastoderme dos três folhetos :
ovos deixaram de ser postos. Perderam seu ectoderma, mesoderma e endoderma. For-
vitellus, quando o embrião encontrou no san- mando-se o embrião, ocorre a formação da-
gue materno —uma fonte, nova e indefinida quilo que a Embriologia chamou de anexos
de substâncias nutritivas. Se o ôvo se do embrião: — allantóide, amnios, chorion,
desmeroblastou. guardou, entretanto, os en- etc, necessários à sua nutrição, ao seu de-
vólucros fetais — cuja formação tinha sido senvolvimento e ao complemento do feto.
originalmente determinada pela presença do Aqui convém lembrar que a diferencia-
vitellus —. Mas esses envólucros mudaram ção anatômica das células é determinada pela
de função, intervindo na nutrição intrauteri- especialização funcional e que, segundo a lei
28 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

do trabalho fisiológico, de Milne-Edwards, Sabe-se, hoje, que, além de não haver


«quanto mais adiantado é o ser vivo, mais «um protoplasma banal, isto é, um protoplas-
subdivididas tem suas funções por órgãos di- ma bom para todos os seres vivos», e, sim,
versos». Isto quer dizer que, «a divisão do «um protoplasma próprio a cada ser, por-
trabalho é condição necessária para o pro- tanto milhares e milhões de protoplasmas di-
gresso e o aperfeiçoamento dos organismos; ferente», forma-se o zigoto ou ôvo, con-
é sinal de superioridade». (Rita Amil de tendo já o número de cromossomos peculiar
Rialva). As células trazem, em si próprias, a cada espécie.
sua capacidade de multiplicação definida. A formação dos protoplasmas foi fun-
Ora, senhores, as leis naturais são uni- ção do meio e do momento oportunos. A do
versais, eternas, imutáveis. Os fenômenos, protoplasma humano, como a de outros, con-
sim, têm-se modificado segundo as grada- sumou-se em zonas diversas cujas condições
ções do meio, sob o império inevitável do de- de meio e dos conhecidos excitantes ofere-
terminismo. Calor, atmosfera, pressão, cro- ceram a necessária eficiência. A essas zonas
matismo, luminosidade, ionização, variações chamarei de pontos fecundos, em homena-
de densidades e de condensações, eletricida- gem ao meu grande mestre Antônio de Aqui-
de, magnetismo, radiações, planetárias e ex- no, que assim chamou-as.
traplanetárias, etc, acarretam-lhes modifica- A célula humana primordial não surgiu;
ções; a fenomenalidade, porém, é sempre a
mesma. Não é, pois, absurdo concluir-se que pois, em determinado ponto do globo. Surgiu
em pontos fecundos diversos, capazes de
tudo quanto hoje se verifica durante a ges-
contribuir, pelo concurso de seus fatores me-
tação, tudo quanto tem hoje lugar no ca-
sológicos, para definir os tipos humanos ca-
dinho materno humano, nada mais é do que racterísticos das raças, de acordo com as leis
o que se foi verificando através milhares de
milhões de anos de existência da Terra. gerais da distribuição geográfica dos seres
vivos.
«A natureza não dá saltos». . . Não há,
Todos os protoplasmas são formados de
pois, solução de continuidade na obra divi- colóides isômeros, isto é, que tem a mesma
na. O que há é perfeita hierarquia de leis,
composição molecular e propriedades dtfe-
de energias, de fenômenos e de seres natu-
rentes. Esses colóides, modificados pela pres-
rais: — a lei determina, a energia obedece
são, pela temperatura, pela eletricidade e
e a inteligência interpreta e objetiva os fatos,
tais como se nos revelam. pelos demais fatores do meio, possibilitaram
o advento de núcleos celulares humanos,
«Viver é adaptar-se, «diz o Professor portadores das variações anatômicas conhe-
Túlio Chaves, lembrando o filósofo do cidas e da identidade de atividades fisioló-
transformismo. E continua: — «Aquele ser gicas, determinantes dos troncos Branco,
vivo que não se adapta, não sobrevive. Amarelo, Vermelho e Negro, cada qual em
Lamark avançou no terreno da adaptação seu habitai, em pontos fecundos correlativos.
até à transformação de uma espécie em
Nesses tipos, não fossem as diferenças
outra. Mesmo que não se concorde com esse
extremo, é-se levado a admitir para o ser patentes, bastaria o estudo do crânio para
evidenciar os melhores caracteres das raças,
vivo uma série contínua de adaptações a fim
dentro da espécie. E a espécie, segundo
de resistir aos embates do ambiente com as Blainville, — «é o indivíduo repetido no tem-
suas contínuas mutações».
po e no espaço».
E, realmente, assim é. Todos os seres vivos estão na depen-
Os seres vivos ficam especificados des- dência das condições mesológicas em que en-
6 de
o momento em que o meio facultou a for- contram seu optimum, ou às quais se adapta-
mação da mistura protoplasmática correlati- ram. Cada espécie vegetal ou animal tem seu
va, elaborando-se a célula com todas as pro- habitai, seu clima, seu meio próprio, fora do
priedades e todos os atributos próprios a qual suas condições de vida podem tornar-
cada tipo vegetal ou animal. Assim como se difíceis e, mesmo impossíveis. Daí, as es-
as ondas radio-elétricas individualizam os pécies marinhas, terrestres, alpestres, cam-
ruídos e sons captados por aparelhos recep- pestres, palustres, lacustres, fluviais, etc,
tores, assim também ondas biológicas espe- que, em outros meios, somente dentro de
cificam os protoplasmas celulares. certos limites poderiam subsistir. Qualquer
O ADVENTO DO HOMEM 29

que seja, porém, o resultado das influências transformação de uma espécie em outra,
locais, não bastará para transformar espé- qualquer forma transitória entre esses tipos
cies em outras espécies, porque a célula en- derivados, diz-se, uns dos outros.
cerra o protoplasma e o zigoto o número de «O que constitui o caráter essencial das
cromossomos próprios a cada uma delas. espécies, é, ao contrário, a imutabilidade com
G. Colin diz, em sua Fisiologia Com- a qual seus atributos anatômicos e fisioló^
parada: «No reino animal, do mesmo modo gicos se conservam e se transmitem pela ge-
que no reino vegetal, só se verifica habitual- ração: é a invariabilidade do tipo, mas com
mente a fecundação entre indivíduos da mes- variações individuais limitadas, de sorte que
ma espécie. O pólen dos órgãos masculinos as espécies, conservando-se indefinidamente,
de uma planta, levado pelos ventos, não tem apenas experimentam modificações acesso-
ação sobre o pistilo de outras plantas. O rias, que dão lugar às raças e variedades. A
esperma do peixe, derramado nas águas, en- imutabilidade da espécie e a variabilidade
contra em vão os ovos de uma multidão de dos indivíduos derivam de duas causas: a
peixes; fecunda somente os de sua espécie. hereditariedade e a tendência para o desvio.
Dentre os animais que se acasalam, os ins- Pela hereditariedade, o tipo se copia e se
tintos genésicos solicitam a aproximação dos repete indefinidamente; pelo desvio, dá exem-
sexos somente aos indivíduos provenientes plares que, sob traços comuns, oferecem di-
de antepassados comuns. E' por isso que a ferenças mais ou menos numerosas, mas sem
natureza assegura a imutabilidade das es- importância fisiológica».
pécies. A lei da herança nos ensina que: «Os
«A imutabilidade da espécie está pro- caracteres específicos transmitem-se integral-
vada por uma multidão de fatos, cujo valor mente aos descendentes». — A transforma-
é incontestável. Os animais selvagens da ção das espécies em outras espécies dife-
mesma espécie, que vivem nos climas os mais rentes seria, pois, infração a uma das leis
diversos, desde o equador até os pólos, ex- fundamentais da Biologia.
perimentando as ações tão diferentes do solo, E' verdade que se tem praticado a hibri-
da nutrição, da temperatura, conservam seus dação com indivíduos de espécies vizinhas.
caracteres, à parte algumas variações da ai- Mas os híbridos são normalmente estéreis e,
tura, da cor da pele, do aspecto das produ- quando excepcionalmente se reproduz, o pro-
ções epidérmicas e de algum pormenor das duto reverte a um dos tipos dos reproduto-
formas exteriores. Os animais domésticos, res. Tive oportunidade de ver, em uma das
subordinados em parte às mesmas influên- exposições realizadas nesta capital, um filho
cias que os primeiros, e ainda sob o império de mula e cavalo, e esse produto revertera
de novas condições, criadas pela interferên- ao tipo paterno: era um pôtro, como poderia
cia do homem, mantêm sua individualidade ser um jumento. Não é pois, atribuído aos
específica em todas as partes do mundo e híbridos o poder de concorrer para a trans-
através os séculos. Sabe-se, com efeito, desde formação radical das espécies. E é preciso
os imortais trabalhos de Cuvier, que o lobo não esquecer-se de que a hibridação é sem-
e a raposa da África são essencialmente os pre provocada pelo homem.
mesmos que o lobo e a raposa dos países do É natural que, devido às condições es-
Norte; que a hiena da Pérsia é semelhante à peciais que a Terra transpunha, não se en-
do Marrocos; que os crocodilos, os ibis, as contrem vestígios de vida orgânica nos terre-
aves de rapina, os cães, os gatos, embalsa- nos primitivos, archeanos ou àzoicos. Vinga-
mados nos monumentos egípcios, desde vinte vam, então, esforços combinados das ações
e cinco a trinta séculos e mais, não diferem químicas dos dissolventes e das ações mecâ-
sensivelmente dos crocodilos, dos ibis, dos nicas das águas; aquelas, ocasionando a cris-
gatos, dos cães, que vivem hoje. talização das rochas, estas, tendendo para
«Não é aqui lugar para discutir-se sô- o equilíbrio, do que resultou a consolidação
bre as idéias da transformação das espécies do respectivo envoltório em rochas crista-
e dos meios emprestados à natureza para linas com aparente aspecto de estratifica-
realizá-la. Basta dizer que essas idéias estão ção. A temperatura ainda era muito eleva-
em contradição com os dados positivos da da. Nessa fase, o Planalto Central do Bra-
ciência, que não encontrou até aqui, a contar sil, formava um continente de 3.000.000 de
dos tempos históricos, qualquer prova da quilômetros quadrados.
30 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Transpostos, porém, alguns milhões de giram as primeiras substâncias coloidais, com


anos, (pode ser atribuída à Terra, a média suas polaridades definidas. A presença de
de 2.400 milhões de anos de sua idade), isótopos e de isômeros, contidos nessas mis-
começaram a formar-se os depósitos sedi- turas, diversificaram protoplasmas que se iam
mentários e, sob eles, encontram-se já ves- formando e que, animados de movimentos
tígios de seres vivos. A estes, que já pude- brownianos e sob a ação da gravidade, da
ram deixar vestígios, precederam, certamen- temperatura e das atividades do espétro so-
te, outros que, por falta da necessária con- lar, se foram definindo em células especí-
sistência, não os deixaram. A essa idade, foi ficas de vegetais rudimentares, sempre sob
dado o nome de Era Primária, ou Paleozóica, a influência de «ondas vitais» correlativas e
que representa o período mais dilatado dos caracterizadas por seus comprimentos de «on-
tempos geológicos. das». E as células são circuitos oscilantes
Somente, porém, na transição da Era infinitesimais, que têm sua bobina de indu-
Terceária para a Quaternária, exatamente ção representada pelo filamento nuclear e
seu condensador representado pela capaci-
quando desaparecem os grandes monstros
marinhos e terrestres, é que são encontrados dade entre as extremidades desse filamento,
vestígios humanos, representados por ossos que é longo, finíssimo e se enovela, forman-
fossilizados. O homem surgira já vertebra- do uma espécie de rede muito complexa.
do completo, isento das leis da geração, pro- Na fase anterior, a atmosfera pesava
vinha do macaco! cerca de 300 vezes mais do que agora. As
Mas quem o amamentara? Quem o pro- atividades naturais e a dinâmica do
globo
tegera? Quem o criara? eram, ainda agora, agitadíssimas. O fácies
da litosfera era muito outro: havia outros
Responde a História Sagrada, mediante continentes, outros mares, outras
um mistério... plagas.
Posteriormente, quando a carga de Car-
Respondem outros, à revelia da Anato- bono já não poderia ser nociva à vida ani-
mia, da Fisiologia, da Pscologia e da Moral: mal, formaram-se os primeiros
— Foi macaco... — E outros, vem de espé- protozoários
(Rizópodos, Megacistídios, Esporozoários e
cie inferior, por evolução... Infuzórios), isolados, em colônias ou em es-
tado parasitário, conformes ao meio. Grada-
A CÉLULA INICIAL tivamente, foram-se formando outras mistu-
ras mais estáveis, mais complexas e mais
pu-
Água, Oxigênio e temperatura são os ras, trazendo cada protoplasma sua capaci-
elementos ostensivos das possibilidades de dade de diferenciação celular específica de
vida, sem exclusão, porém, dos menos Espongiários, Pólipos, Echinódermas, Chi-
per- tinóforos e Nefridiados, de evolução
ceptíveis ao entendimento vulgar. gradati-
vãmente mais lenta e mais complexa. Dentre
Quando, pois, a água conseguiu esta- os protoplasmas aí possíveis, estaria o
bilizar-se na Terra, contendo em solução, em que
especificara as Células iniciais da Espécie
suspensão e em depósito todos os elementos humana e que, implicando em diferenciação
minerais hoje conhecidos e, ainda, os a co- funcionais mais complexas ainda,
nhecer-se, tumultuavam, naquele Saturado, passara
por transformações mais demoradas, sofrerá
átomos e moléculas em superabundância. Os metamorfoses consecutivas, para atingir o
eletrônios estariam, ali, em vertiginoso exer-
tipo anatomo-fisiológico conhecido, moldado
cício de sua perene volubilidade, da
qual ia em raças distintas, mas sempre humanas.
resultando a formação de verdadeira multi-
dão de novas moléculas compatíveis no am- Ser algum surgiu com as formas sob as
biente. Agitavam-se naquele meio ativida- quais os conhecemos hoje: — a galinha não
des mecânicas, físicas, químicas e biológi- surgiu antes do ovo. E não há espécie algu-
cas. Formavam-se correntes elétricas e defi- ma proveniente da transformação de outra
niam-se afinidades. As polaridades, os espécie. O que há, é uma
ríodos próprios, as freqüências das vibra- pe- perfeita escala
ascendente de organismos,
ções, os comprimentos de «ondas vitais», se- já definidos des-
de seu protoplasma específico, e
lecionaram as substâncias em mistura, apro- partindo dos
mais rudimentares, passando
ximaram granulações micélicas e, assim, sur- pelos prótistas,
para atingirem à gradação de seres vivos
o advento do homem 31

atuais e futuros. Zigoto de símio não gera Cabe, aqui, uma observação: — Sabe-
homem. se que, quando a gravidade é mais intensa,
o sangue desce para as extremidades, e que,
Acompanhando-se as fases de formação
e de desenovlvimento do embrião humano, quando a gravidade é menos intensa, o san-
bem como à formação do respectivo blásto- gue aflúe para a cabeça. Sabe-se também que
a intensidade da gravidade é mínima sobre
ma, conclui-se que o que ali se verifica é a
o equador e cresce gradativamente para os
marcha de verdadeira metamorfose. Cada
anexo do embrião que se vai formando, defi- pólos, sem escapar, entretanto, à influência
das altitudes. É possível, assim, que as raças
ne uma fase da transformação que se vai humanas definidas em regiões mais próximas
operando e que se completa em nove luas. do equador, tivessem seus índices faciais e
Sirva-nos de referência o Batráquio anu- cranianos modificados por maior afluxo de
ro: — Seus ovos são entregues à água pa- sangue, mais afluxo de Oxigênio, portanto,
rada, ou de corrente diminuta, quase sempre maior tensão e mais amplas oxidações, todos
ligados entre si por uma substância coloi- capazes de impor às células e aos tecidos
dal muito viscosa e que inturgesse nágua. Às disposições peculiares, como as conhecidas.
vezes, ficam isolados; de outras, formam dois Outra observação conveniente, é a rela-
cordões paralelos e, de outras, formam mon- tiva à pigmentação: — Sabe-se que o pig-
tículos irregulares, que se prendem às plan- mento, no homem, é escuro e varia de tonali-
tas das margens. Sua segmentação é total
dades conforme a espessura da camada de
e desigual. Sua larva é apoda, caudada e melanina que o constitui e que é encontrada
aproximadamente cilíndrica; é desprovida de na pele, nos pêlos, na coróide e na retina.
órgãos respiratórios, pelo que as permutas Ao pigmento é atribuída a função de prote-
gasosas se operam através do revestimento ger contra a luz. Daí, possivelmente, as tona-
cutâneo. Decorridos dois a três dias, sur- lidades da pele, a qualidade dos cabelos, a
gem as brânquias externas, que geralmente cor dos olhos, etc. Os negros têm claras as
se atrofiam, desaparecem e são substituídas
palmas das mãos e as plantas dos pés, regiões
por brânquias internas, protegidas por uma
lâmina opercular. As brânquias internas pas- para as quais, em seu habitai, menos a flui o
sangue e menos expostos à luz.
sam por metamorfose regressiva, enquanto
se vão desenvolvendo os sacos pulmonares Assim, pois, nas regiões do Norte, sob
à custa das paredes do esôfago. O gírino é incidência oblíqua dos raios solares, menos
inicialmente provido de duas ventosas loca- iluminadas, mais frias, onde é menos ativa,
lizadas na parte posterior da boca e que cedo portanto, a influência das faixas do espectro,
desaparecem. Surgem as patas posteriores, sob gravidade mais intensa e sob outros
ficando ainda ocultas as anteriores, sob a lâ- fatores propícios, adaptou-se o respectivo
mina opercular, e a cauda vai-se atrofiando protoplasma e deu surto ao tronco branco;
gradativamente, até desaparecer
completa- nas regiões próximas do equador, sob inci-
mente. Os uródelos, principalmente as sala- dência mais direta dos raios solares, mais
mandras e os trltões, também passam por iluminadas, mais quentes e sob gravidade
metamorfoses. O Sapo-pipa jã é provido de menos intensa, adaptou-se o protoplasma e
cuidados especiais para com a prole. Seus deu surto ao tronco negro; e, nas regiões in-
ovos são cuidadosamente arrumados no dor- termediárias, sob influências correlativas, sur-
o vermelho e
so da fêmea, envoltos em substância coloidal; giram os troncos amarelo,
a pele dessa região incha e é nesse meio que outros.
os embriões se desenvolvem, em celas aí for- Posteriormente, vieram as migrações e,
madas, até completarem a metamorfose. com elas, a mestiçagem.
Ah ! Homo Sapiens! — «Na terra de Os processos de reprodução, a formação
sapos, de cócoras com eles.. .» e o deesnvolvimento do embrião, são conhe-
não cidos. A gravidade, a luz, a presença de
Quando a temperatura ambiente já
isótopos, a de isômeros e a volubilidade dos
coagulava as substâncias coloidais, foi que se
eletrônios, explicam as modificações célula-
definiram, em regiões diversas, os pontos ca-
os pontos fe- res. As radiações, os períodos próprios, as
pazes do protoplasma humano, freqüências vibratórias, os comprimentos de
cundos.
32 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

«ondas vitais» e o número de cromossomos lativa, sentem e nutrem religiosidade, distin-


do ôvo, decorrente das modificações célula- guem o belo, cultivam as artes. Agitam, na
res, determinam as espécies em cada reino tela, o milagre das flores; vivem, no mármo-
da natureza. re, o mistério dos gestos e o recesso das ex~
Cada espécie surgiu, evoluiu, desapare- pressões; tangem gemidos, soluços e garga-
ceu, ou evolui, dentro de si mesma, sempre lhadas na inocente fragilidade do violino.
subordinada às variações constantes do meio. Riem-se, choram e sonham... e vão rendi-
Além das diferenças anatômicas e fisio- lhando, no bronze da sabedoria, o lábaro mag-
lógicas existentes entre homens e símios, ou- nífico de epopéias filosóficas, o suave poema
trás avultam: — os homens têm personalida- da Verdade, sob o verde esplendor do Amor,
de própria, deliberam, têm sua moral corre- único, de DEUS! que é o princípio e o fim.

Resumo en Esperanto — LA ORIGINO DE LA HOMO.


La profesoro Kolonelo Luis Mariano de Barros Fournier faris, admirindan paroladon pri Ia origino
de Ia homo sur Ia terglobo. Elmontrante abunde, solide, specialigitan sciencan, filozofian kaj spintistan sciadon,
kolonelo Fournier stu-.lis biofiziolegis tiun estajon. Bazita sur diversaj opinioj de nombraj sciencistoj kaj donant
ankau racie siajn opiniojn, prof. Fournier konkludis, konsiderante Ia homon noblega, alta faritajo de Dio.

x
O PAPEL DA MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA
NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Comandante GERSON DE MACEDO SOARES,


Sócio Efetivo

Conferência realizada na sessão do dia 5 de Novembro de 1945

A guerra é fenômeno social que deixa outro continente que não o nosso, havia de
profundas e, por vezes, indeléveis marcas permeio o vasto oceano Atlântico cobrindo
na seara da geografia política e da geogra- os dois hemisférios em larga faixa.
fia econômica. O choque armado entre na- Pelas águas desse aceano, entretanto,
ções, reciprocamente, origina-se também, estendeu-se, desde logo, a ação dos agigan-
quase sempre, de fenômenos atinentes —à geo- tados contendores, querendo uns barrar, ou-
não
grafia nos seus múltiplos aspectos tros utilizar as extensas, ilimitadas rotas por
só os que se referem à divisão política do onde deviam ser transportados os suprimen-
auto-de-
globo (reivindicações territoriais, tos de toda ordem imprescindíveis à obten-
terminação dos povos, espaços vitais, etc.) ção da vitória. Ora, debruçando-se os limites
e os que se referem às relações econômicas orientais de nosso dilatado território sobre
mercados externos, zonas de influência, pos- essas mesmas águas, alguma coisa já se
se e direção de certas indústrias extrativas, esboçava, implicando na nossa co-participa-
etc), como também os que dizem respeito às ção, ao menos à distância, no conflito já se
ideologias
questões raciais e religiosas e às desbordando das ribas européias. Contra
formas de
político-sociais transformadas em qualquer ação, pois, entre os partidos hostis,
governo. que viesse pelos mares, quer à superfície,
Um conjunto dessas causas — que umas quer entre duas águas, e que nos pudesse
Segunda ofender, física ou moralmente, era mister opor
puxam outras — deu origem à
Grande Guerra Mundial que, em seu de- também uma ação de coerção que anulasse
senvolvimento, não podia deixar de arrastar aquela, a fim de não nos envolvermos na
também o nosso país, situado — quer no meio luta, fosse qual fosse o partido a contrariar
físico-geográfico, quer no material-econômi- nos intentos opostos à nossa isenção.
co, quer no moral —, em tais condições que
não podia, de modo algum, ficar alheio à Nasceu, assim, a necessidade de provi-
tremenda hecatombe. denciar o Brasil a manutenção de sua neu-
tralidade e, como a ameaça se fazia iminente,
À eclosão da guerra, a atitude do
através dos mares, visivelmente inevitável, a
Brasil era a de neutralidade, por isso que
força naturalmente chamada para, em nome
em nada interessavam à nossa Pátria os pro- do Direito, exercer a ação preventiva e coi-
blemas das minorais raciais germânicas; das bidora, foi a Marinha de Guerra, irmanada
anexações de territórios por elas habitados e
nos seus propósitos eficazmente com a Avia-
demais questiúnculas daí decorrentes; alem
disso, desencadeada a fúria mavórtica em ção Nacional.
34 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Os meios materiais para esse fim deviam Com a entrada dos Estados Unidos na
consistir em navios ligeiros dos tipos cruza- guerra e a cessão das nossas bases aero-
dor e contra-torpedeiro e a Esquadra Nacio- navais, aquele setor do nordeste tomou re-
nal contava, apenas, com dois vasos obsoletos pentinamente uma importância que o levou às
da classe «Bahia», cinco da classe «Ama- culminâncias de um dos pontos mais impor-
zonas» com cerca de 30 anos de existência, tantes do mundo para o prosseguimento,
um Contra-torpedeiro da Primeira Grande com êxito, da guerra contra os países do
Guerra Mundial, o «Maranhão», e com seis Eixo.
navios-mineiros da classe «Carioca», recém- O domínio do mar é condição sine~qua~
construídos no Arsenal da Ilha das Cobras, non para a vitória numa guerra com as ca-
os quais, no princípio do ano de 1940 haviam racterísticas da que se desenrolava: manter
feito, em conjunto, uma viagem aos mares do livres e bem policiadas as rotas marítimas,
extremo norte do país. assegurando o tráfego regular e o transporte
*das
Unidades telhas umas, necessitando intensivo utilidades, era tarefa que se
constantes reparos, e todas elas inteiramente impunha aos beligerantes aliados. Os ame-
' ricanos haviam criado, para esse desiderato,
desaparelhadas para o fim em vista, o qual
seria repelir ou anular a ação de raiders e uma força naval para o Atlântico Sul, com
de submarinos moderníssimos, quer imersos, base na possessão inglesa da ilha de Trini-
— foi, contudo, com esse dad, e sob o comando do Almirante Jonas
quer à superfície, Howard Ingram.
material flutuante que a Marinha de Guerra
Brasileira iniciou a sua ação de vigiar pela Essa força era a Fôrça-Tarefa 23 da
manutenção da nossa neutralidade nas águas Esquadra Americana do Atlântico, a qual
territoriais, extensas de mais de duas mil e tinha por missão* manter, em alto mar, a se-
quinhentas milhas só na parte mais possível- gurança das rotas comerciais da e para a
mente vulnerável, ou seja da embocadura America do Sul inclusive, até ao meridiano
do rio Pará até Santa Catarina. de 20°, onde ia limitar-se com a esfera de
Ficaram, a princípio, os dois cruzadores ação da esquadra inglesa, incumbida esta
e os contra-torpedeiros antiquados no Rio de assim de manter livre do inimigo a parte orien-
tal do Atlântico Sul até às costas d'África.
Janeiro, onde poderiam contar com as gran-
des oficinas do AMIC (Arsenal de Mari- A ilha de Ascensão ficou, entretanto, sob a
nha da Ilha das Cobras), cem os diques esfera de ação dos americanos. O Almiran-
e outros recursos que, infelizmente, só na te Ingram, com seu pavilhão no cruzador
Capital da República, base permanente da «Memphis», entrou a visitar os portos bra-
Esquadra Nacional, podiam ser obtidos. Os sileiros em períodos permitidos pelas dispo-
navios-mineiros da classe «Carioca», embora sições do Direito Internacional a fim de que
não fosse quebrada a nossa neutralidade, e,
inadequados, mas por serem novos e não ca-
com especialidade, o porto do Recife, natu-
recerem ainda de reparos repetidamente, fo- ralmente indicado para refrescar o pessoal e
ram mandados para portos do leste e do nor- receber suprimentos, por ser o melhor e mais
deste. bem aparelhado do saliente nordeste da nossa
A esses navios foram atribuídos «setores orla atlântica.
de patrulha», com base no porto do Recife, A esse tempo já a Marinha dos Estados
no do Salvador e no de Natal para recebi- Unidos mantinha em todos os portos da costa
mento de óleo combustível, mantimentos e brasileira grupos de oficiais, geralmente da
sobressalentes, assim como para pequenos reserva, sob a chefia de um «Observador
reparos eventuais nas oficinas das Compa- Naval» com o propósito de assentar medidas
nhias das Docas de cada um desses portos. logísticas e toda sorte de informações neces-
A Base Naval de Natal ainda se achava em sárias às missões de seus navios.
construção e, apesar dos esforços e da com- Entrou, assim, a nossa Marinha de Guer-
petência verdadeiramente extraordinários do ra a ter relações cada vez mais estreitas com
saudoso Almirante Ari Parreiras, ainda es- a Marinha Norte-Americana, cujos recursos
tava longe de possuir um aparelhamento efi- se iam acumulando nas nossas bases, num
ciente para atender às múltiplas necessidades crescendo que bem demonstrava o vulto que
de uma força naval. as operações navais iam tomando.
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 35

Nossas autoridades navais resolveram, Em maio de 1942, o Almirante Dods-


então, mandar para o nordeste um almirante, worth Martins deixava o comando da Divisão
com o qual os americanos ali melhor se en- de Cruzadores e os nossos navios de guerra
tendessem, e que estivesse à testa do patru- no nordeste ficaram sob as ordens de um
lhamento dos setores ainda incumbido aos «Comandante mais antigo» que foi o Capitão
navios-mineiros da classe «Carioca». Para de Mar e Guerra Jerônimo Gonçalves, Co-
esse fim, partiu do Rio de Janeiro com des- mandante do Cruzador «Rio Grande do
tino ao Recife, no dia 2 de janeiro de 1942, Sul».
o cruzador «Bahia», a cujo bordo seguiu o A esse tempo já o nosso Governo deci-
Almirante Jorge Dodsworth Martins, que dirá guarnecer as ilhas de Trindade e de
não tardou a entrar em contacto com o Al- Fernando de Noronha, aquela por forças da
mirante Ingram, o «Comsolant», isto é, o Co- Marinha e esta por forte contingente do
mandante americano do «South Altantic». Exército, que ali estabeleceu poderosas bate-
Era o Almirante Dodsworth o Coman- rias anti-aéreas e contra navios de superfí-
dante da Divisão de Cruzadores de nossa cie. Para ambas as ocupaçpes militares, a
Esqudara, composta do «Bahia» e do «Rio Marinha forneceu transportes e escoltas, em
Grande do Sul». operações sempre bem sucedidas, em para-
Os navios de guerra brasileiros no nor- gens distantes da costa, pois que Fernando
de Noronha fica a 200 milhas de Natal e
deste continuavam a patrulhar os seus seto-
Trindade demora a 900 milhas do Rio de
res, percorrendo as águas territoriais e pes-
Janeiro.
quisando quaisquer fatos considerados sus-
peitos, até à Bahia, enquanto no sul, não Nossas forças navais agiam ainda inde-
só o restante da Esquadra, incluindo os dois pendentemente do comando das forças ame-
encouraçados, continauva nos seus exerci- ricanas, estando diretamente subordinadas ao
cios periódicos até Santa Catarina, como Estado Maior da Armada. O Almirante Jo-
exercia freqüente vigilância, qualquer que nas Ingram, entretanto, não só se interes-
fosse o acontecimento assinalado nas águas sava pelo maior preparo e exercitamento de
territoriais. nossos vasos de guerra no nordeste, corno
sugeria às autoridades navais brasileiras me-
Já a nossa denodada Marinha Mercan- elidas que visavam tanto maior segurança
te começava a sofrer suas primeiras perdas
em plagas distantes dos mares pátrios: o para as unidades americanas, quanto para as
«Buarque» fora afundado por submarino ale- nossas próprias, medidas tais como o patru-
lhamento ininterrupto nos «pontos focais»
mão nas costas americanas e a esta hosti-
lidade injustificada seguiram-se muitas; o que são as entradas de portos importantes
como o do Recife, e a colocação de redes
«Comandante Lira» fora torpedeado ao largo
anti-torpédicas, providências essas logo ini-
da costa do Ceará e se salvou quase milagro-
ciadas.
samente, socorrido a tempo pelos rebocado-
res «Thrush», americano, e «Heitor Perdi- Com a criação dos Comandos Navais,
gão», brasileiro, que conseguiram rebocá-lo abrangendo vastos setores de nossa costa,
para o porto de Fortaleza, onde sofreu os instalara-se no Recife, a 27 de Junho de
primeiros reparos, — até que, no início do 1942, o Comando Naval do Nordeste, do
segundo semestre cie 1942, a fúria teuta fez- qual foi primeiro Comandante o Contra-Al
se sentir, brutal e deshumanamente, contra mirante José Maria Neiva, ampliando-se,
bens e vidas de um país neutro e alheio às assim, mais as providências necessárias para
causas da luta que se processava alhures, assegurar o êxito das operações de nossos
com o torpedeamento desarrazoado de cinco navios no mar. Estes não constituíam ainda
navios brasileiros, cheios de passageiros, em uma força regularmente organizada, conti-
viagem pacífica entre portos nacionais, bem nuando a agir na patrulha de seus setores
próximos à costa entre a Bahia e Alagoas. e na escolta aos navios que levavam tropas
Criou-se, assim, o casus-bellL insuperá- e suprimentos para as ilhas ao largo, sob
vel, e a nossa Marinha de Guerra passou, a direção apenas do Comandante mais anti-
automática e repentinamente, como se vai ver, go, até que em agosto de 1942, estando no
das ações para «manutenção de neutralida- Rio de Janeiro o C. «Bahia», assumiu o
de» para as «operações de guerra». Comando da Divisão de Cruzadores, o Ca-
36 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

A primeira preocupação desse grande


pitão de Mar e Guerra Alfredo Carlos Soa-
res Dutra. Comandante-em-Chefe e sincero amigo do
Brasil foi restabelecer o comércio marítimo,
Seguindo para o Recife, o novo coman-
dante içou seu pavilhão no cruzador «Rio que nada mais era do que o restabelecimento
do próprio fluxo vital que garantiria a vida
Grande do Sul», navio este que teve, pouco da nação brasileira, muitos de cujos Esta-
depois, de sair do porto, com o «Carioca», dos só podiam trocar mercadorias, de modo
visto haverem sido recebidas notícias do Ca- eficiente e rápido, pelas vias marítimas. De-
pitão dos Portos de Alagoas, segundo as terminou, por isso, que dois navios-mineiros,
quais náufragos do Baependi» torpedeado o «Caravelas» e o «Cabedelo», saíssem, nos
haviam chegado à Estância. A missão desses
primeiros dias de setembro, do Recife para
navios era «repelir com decisão a ação de Natal, escoltando o N.A. «Vital de Olivei-
submarinos, prestar auxílio material e mo- ra», e deste último porto fossem até ao de
ral aos náufragos que ainda estivessem no Fortaleza, escoltando o mercante «Itaimbé»,
mar e prosseguir em patrulhamento até ao a fim de fazerem a movimentação dos na-
sul do morro de São Paulo», missão essa vios retidos nos portos intermediários — Ma-
ditada pelo imperativo das circunstâncias e cau, Areia Branca e Aracatí. De regresso do
ainda independente de quaisquer coordena- Ceará, esses dois navios-mineiros chegaram
ções com o comando das Forças Navais ame- a Natal, onde se organizou o primeiro com-
ricanas do Atlântico Sul, isto é, com o «Com-' boio regular até Recife, constituído de seis
solant». navios mercantes como trem e uma escolta
Eis, assim, como começou a Marinha dos dois referidos navios nacionais com o
de Guerra nacional operações genuinamente tender de aviões americanos «Humboldt».
de guerra, mesmo antes da declaração ex- Depois da proteção do «Santarém» e de
pressa pelo Governo, num teatro de opera- outros navios transportando tropas de ocupa-
ções inteiramente novo, em que o inimigo tão ção para Fernando de Noronha, escoltados
temível quão insidioso se achava presente,
feroz, implacável e sanguinário. por cruzadores e navios-mineiros brasileiros,
ainda ao tempo da neutralidade, foi aquele
A navegação mercante ficara suspensa ; o primeiro comboio que se movimentou, re-
ps navios recolheram-se aos portos ou neles gularmente, nas águas do nordeste brasilei-
ficaram retidos; havia escassez de navios de ro, após os torpedeamentos ao largo do lito-
guerra, quer brasileiros, quer norte-america- ral baiano. Quase concomitantemente, do
nos para garantir o pleno domínio do mar e, porto do Salvador, um outro comboio saía,
portanto, a segurança das rotas marítimas ao com alguns mercantes no trem e escolta cons-
longo de um litoral tão extenso, já que o tituída pelo cruzador «Rio Grande do Sul»,
beligerante inescrupuloso se tornara inimigo arvorando o pavilhão do Comandante da
traiçoeiro e atrevido. Sobreveio o estado de Divisão de Cruzadores, e pelo navio-minei-
ro «Carioca».
guerra entre o nosso país e os do eixo Ro-
ma-Berlim. Como as atividades dos submarinos teu-
O Almirante Ingram fizera estacionar tos ainda não se faziam sentir na costa norte
no porto do Recife o grande navio-tanque do Brasil, para lá seguiam os nossos mer-
«Patoka», no qual arvorara o seu pavilhão. cantes independentemente de escolta, mas
O nosso Estado-Maior da Armada, mediante para o sul, isto é, para o Rio de Janeiro, co-
os acordos havidos em Washington onde o meçaram a ser organizados os primeiros com-
Brasil se fizera representar por uma comis- boios regulares, com escolta mista america-
são militar composta do General Leitão de no-brasileira, em complemento aos comboios
Carvalho, do Almirante Álvaro de Vascon- que, para o Recife, vinham de Trinidad, ilha
celos e do então Coronel-aviador Vasco Se- esta a que iam ter comboios aliados de várias
co, determinara que os navios de guerra bra- outras procedências.
sileiros com sede no nordeste ficassem sob Os dois cruzadores «Bahia» e «Rio
.o comando estratégico do Almirante ameri- Grande do Sul» e quatro navios-mineiros,
cano Comandante do Atlântico Sul, isto é, «Caravelas», «Carioca», «Cabedelo» e «Ca-
do Almirante Jonas H. Ingram, «Comso- maquã», entraram a integrar escoltas dos
lant». comboios de Trinidad ao Rio, no trecho Re-
A marinha de guerra brasileira 37

cife-Rio e vice-versa. Esses comboios tinham Capitão de Mar e Guerra Soares Dutra, e
a designação TJ e JT (Tupi-Joia e Jóia- composta dos cruzadores «Bahia» e «Rio
Tupi), letras estas tiradas dos nomes dos Grande do Sul», dos NMs «Carioca», «Ca-
portos extremos
— Trinidad e Janeiro (Rio ravelas», «Cabedelo» e «Camaquã» e dos
de) . dois novos «Caças-ferro» «Guaporé» e «Gu-
rupí».
A esse tempo, as negociações com os
Estados-Unidos para o fornecimento à nossa No Sul, com base no Rio de Janeiro,
Marinha de Guerra de navios apropriados era criado o Grupo-Patrulha Sul, composto
à guerra anti-submarina e capazes de inte- do Contra-Torpedeiro «Maranhão» e dos
grar escoltas eficientemente, achavam-se em dois restantes NMs «Cananéia» e «Camo-
bom andamento; uma comissão especial para cim», os quais faziam patrulha e escolta de
o recebimento dos Caça-Submarino foi criada comboios inteiramente brasileiros entre os
no Rio de Janeiro, sob a chefia do operosís- portos do Rio e de Santa Catarina. Os de-
simo Comandante Harold Reuben Cox, que, mais 4 ou 5 Contra-Torpedeiros obsoletos da
em breve, seguia para Miami, onde se ins- classe «Amazonas», ainda em serviço ativo,
talou a Comissão Brasileira e onde já se faziam a patrulha das imediações da entra-
achava regular número de oficiais, sargentos da do porto do Rio de Janeiro e reforçavam
e praças destinados a guarnecer os navios escoltas eventualmente para Santos e portos
daquele tipo que nos fossem entregues por do Sul até Santa Catarina.
conta da lei americana do Lease-Lend, de Sentindo o Almirante Ingram, já então
acordo com um adendo aos entendimentos Comandante-em-Chefe das Forças Navais e
havidos em Washington, entre as autorida- Aéreas brasileiro-americanas no Atlântico
des competentes norte-americanas e a Co- Sul, que os portos do Recife e do Salvador
missão Militar Brasileira já mencionada. não tinham uma defesa suficiente para repe-
Os primeiros navios desse tipo entregues lir ataques de navios de superfície inimi-
ao Brasil foram os Caça-Submarinos «Gua- gos, ficando inteiramente à mercê de quais-
• poré» e «Gurupí», recebidos em Natal e logo quer núders que, burlando qualquer vigi-
postos em serviço. Posteriormente foram en- lância, chegassem a posição de poder bom-
tregues os seis restantes dessa série em bardear aquelas cidades e suas obras por-
Miami, para onde eram mandados oficiais tuárias, — ficou resolvido que os encoura-
e subalternos, num fluxo constante, para fa- çados «São Paulo» e «Minas Gerais», então
zerem cursos expeditos e treinamento com inúteis para o gênero de guerra-naval que
a moderna aparelhagem com que estavam se desenrolava no Atlântico Sul, seguissem
dotados tais navios. Cada um dos que eram respectivamente para o Recife e o Salvador,
considerados prontos para o serviço, ia logo onde, fundeados convenientemente, servissem,
integrando escoltas de comboios americanos com os seus canhões de grosso calibre
para Guantânamo, em Cuba, e para Trinidad, (305 m/m), de «fortalezas-flutuantes», de-
donde seguiam, ainda em escolta, para o Re- fendendo todo o vasto setor vulnerável aos
cife. A esses CSs seguiram-se os oito da ataques do inimigo. Assim foi feito e, em
classe «Javarí», muito menores, com 110 pés breve, os nossos encouraçados, com escolta
apenas de comprimento, enquanto os primei- americana, partiam do Rio de Janeiro para
ros tinham o casco de ferro, razão pela qual aqueles portos, onde, desde então, os via-
uns ficaram sendo conhecidos, na Marinha, jantes que neles chegavam, podiam ver as
como «Caças-pau» e outros como «Caças- belonaves brasileiras amarradas por trás dos
ferro». Os «Caças-pau», inteiramente guar- molhes e arrecifes, aparentemente inativas,
hecidos por brasileiros, desde que deixavam mas realmente representando um papel pri-
a América do Norte, faziam a longa viagem mordial na defesa dos grandes portos nacio-
de Trinidad a Recife, escalando em Belém, nais do Recife e Salvador.
mi-
pois a travessia direta de mais de 2.200 Crescendo a Força Naval do Nordeste,
lhas seria extremamente penosa para aquelas promovido o seu Comandante a Contra-Al-
unidades, verdadeiras lanchas de diminutas mirante, cujo estado-maior deveria ser mais
dimensões e pouco calado. numeroso, e aumentados os serviços adminis-
A 5 de outubro de 1942 fora extinta a trativos, foi necessário designar um navio
Divisão de Cruzadores e criada a Força Na- capaz de servir de base e capitânea, estacio-
vai do NE, ainda sob o comando do então nando no porto do Recife. Para isso, partiu
38 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

o tender «Belmonte», em fins de janeiro de mercantes, ora aqui, ora ali, em tão grande
1943, para aquele destino, escoltado pelo número que basta citar que, nas imediações
«Carioca» e pelo navio-hidrográfico «Rio da ilha de Trinidad, foram afundados cerca
Branco», adaptado para navio-escolta e in- de 300 navios, sendo numerosos também os
corporado àquela Força. Em fevereiro, o que foram postos a pique nas imediações de
Almirante Soares Dutra transferia o seu pa- Fernando de Noronha.
vilhão do E. «São Paulo», que não perten- O «Guaporé» e o «Gurupí» foram os
cia à sua Força, mas estava subordinado ao
primeiros navios incorporados à F.N. do
Comando Naval do NE, para o TD «Bel- NE dotados de aparelho de escuta anti-sub-
monte». • marino, e o «Guaíba» trouxe, mais, pela pri-
Em março, a Força Americana do Atlân- meira vez na história da Marinha de Guer-
tico Sul, isto é, a Força Tarefa 23 da Esqua- ra Brasileira, o maravilhoso aparelho que é
dra Americana do Atlântico, fora elevada à o RADAR. As unidades nacionais que faziam
categoria de Esquadra, sob a designação de escolta a comboios, e a navios soltos, tinham
«Fourth Fleet», sob o comando do mesmo como única «aparelhagem» para pressentir
Almirante Jonas H. Ingram, cuja designação o inimigo, antes de atacá-lo, a grosso modo,
passou de Comsolant a Comfleet Fourth. com as bombas de profundidade, a vigilân-
Essa Esquadra contava então com os cruza- cia incansável de suas guarnições, graças a
dores «Memphis», «Omaha», «Cincinati», uma boa «vista», porque nem os binóculos
«Marblehead» e «Milwaukee», de vários eram em número suficiente, e a argúcia, o
CTs como o «Winslow», o «Moffet», o esforço e a dedicação ao serviço de todo o
«Davis», o «Jouett», o «Sommers», o Gree- seu pessoal.
ne», o Borie», o «Goff» e outros, do navio- Mas é de convir que, em pouco, avança-
oficina «Melville», de várias corvetas-escolta mos a passos de gigante, graças ao concur-
como a Siren», a «Carnelian», de grande so, à direção eficiente e à prodigiosa capa-
número de caça-submarinos designados por cidade dos homens da 4* Esquadra America-
números, dos tenders de aviação «Humboldt», na, à qual a Força Naval do Nordeste es- •
«Barnegat», «Matagorda», de rebocadores tava subordinada para efeitos de operações,
de alto mar modernamente aparelhados como como sua Força Tarefa 46.
o «Carib» e o «Seneca», de outros navios
auxiliares; os CTs foram mais tarde substi- Do Grupo Patrulha Sul, que estivera
tuídos, por necessários em teatros de opera- sob o comando de oficiais da tempera dos
ções navais mais importantes, por destroiers- Capitães de Mar e Guerra Muniz Barreto,
escort, DEs ou contra-torpedeiros escolta do Ernesto Araújo, Braz Veloso e, depois, con-
tipo do «Alger». vertido em Força Naval do Sul, Almirante
Gustavo Goulart, haviam sido transferidos
Enquanto isso, os Caça-Submarinos que
íamos recebendo em Miami, iam chegando para a F. N. do NE os dois mineiros «Ca-
nanéia» e «Camocim», que deviam ser subs-
ao Recife, onde se completaram a? séries dos tituídos mais tarde naquele G.P. pelo N.H.
«Caças-ferro» — «Guaporé», Gurupí», «Jaceguai» convenientemente transformado
«Guaíba», «Gurupá», «Guajará», Goiana»,
e pelas corvetas da classe da «Matias de
«Grajaú» e «Graúna» e dos «Caça-pau» —
Albuquerque» construídas no Rio de Ja-
«Javari», «Jutaí», «Jurué», «Juruena», «Ja-
neiro.
guarão», «Jaguaribe», «Jacuí» e «Jundiaí»,
aqueles da classe G chamados por oficiais O Comando da 4!l Esquadra Americana
americanos do EM da 4* Esquadra de havia sido transferido do N.T. «Patoka»
«Giants» e estes, da classe J, de «Juniors».. . para um edifício de 10 andares na Avenida4*
10 de Novembro do Recife e as instalações
Até então os nossos navios tinham esta-
destinadas a manter os navios americanos e
do completamente desaparelhados para o gê-
brasileiros em alto grau de eficiência avul-
nero de guerra anti-submarino, que faziam. taram em pouco tempo. Na área do cais do
A não ser a artilharia e as bombas de pro-
porto, armazéns das Docas foram ocupa-
fundidade fornecidas pelos americanos, nada dos pelos americanos para depósito de so-
mais tinham para atacar, com êxito, os sub- bressalentes, mantimentos e suprimentos de
marinos inimigos que continuavam, cada vez toda ordem; edifícios foram alugados ou
mais, a infestar o Atlântico Sul, torpedeando construídos para grandes e completas ofici-
39
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA

nas de máquinas (o DESREP 12), de arti- comboios, quer em missões isoladas de salva-
lharia, de torpedos e outras muitas ativida- mento de náufragos, de socorro a navios de-
des; um acantonamento compreendendo alo- sarvorados depois de atacados por subma-
escolas profis- rinos, etc. Assim, por exemplo, o transporte
jamentos, cozinhas, padarias, dos suprimentos para a guarnição de Fer-
sionais especializadas, salas de recreio e can-
tina, foi expressamente construído naquela nando de Noronha, quer em gêneros quer
mesma área, recebendo o nome de «Camp em material de toda espécie, sempre foi asse-
escoltando
Ingram»; depósitos de sobressalentes de mo- gurado pela Marinha de Guerra,
tores e outros foram estabelecidos cm vas- os navios que, do Recife ou de Natal, saíam
o pequenino barco
tos armazéns da rua da Aurora (o SPDC); para aquele arquipélago:
no Ji- a motor «Tupiára» fretado ao L.B. pelo
paióis de pólvora foram construídos Exército celebrizou-se nesses transportes,
em pavi-
quiá; um hospital de emergência, vezes em que fêz esse
lhões pequenos, mas soberbamente apare- graças ao número de
lhados, foi montado na praia de Piedade, sob serviço, sempre escoltado por uma corveta
a denominação de Hospital Knox; uma esta- ou um caça-submarino, mesmo durante o pe-
ini-
navios ríodo mais ativo da campanha submarina
ção de repouso para as guarnições dos o
foi ins- miga; assim também, por exemplo ainda
pequenos dos tipos Caça e Corveta «Caravelas», em viagem do Rio para o Re-
talada em vasto edifício pertencente ao Es- de
tado de Pernambuco, no Tejipió; linhas es- cife, salvava, numa baleeira, um casal
de toda classe ingleses que havia 52 dias vagava ao sabor
peciais de ônibus e conduções das correntes; assim, o «Carioca» prestando
foram estabelecidas — enfim, toda uma or-
a funcio- assistência ao hiate americano «Perseveran-
ganização perfeitíssima foi posta ce» em apuros nas costas do Ceará,
e le-
nar pela 4* Esquadra Americana, da qual os os
nossos navios se beneficiavam, ganhando em vando-o, a reboque até Fortaleza; assim
eficiência material e em preparo do pessoal. «Caças-pau» «Jaguarão e «Jaguaribe» sam~
O exercitamento de comandantes, oficiais e do em poucos minutos após à ordem recebida,
moderno quanto do Recife e de Natal, para prestar socorro
praças no que havia de mais a navios torpedeados num grande comboio
à guerra anti-submarino, era feito em insta- do
lações especiais, com aparelhos aperfeiçoados de escolta americana, ao largo da costa
_ os «attack-teachers» —, a princípio sob a Ceará, logrando salvar ainda muitos naufra-
assim o «javarí» saindo de Fernando de
orientação exclusiva de oficiais americanos e, gos;
socorro a náufragos e
brasileiros, substi- Noronha para prestar
posteriormente, de oficiais sendo atacado por um avião americano que
tuindo aqueles a pouco e pouco até chegar-se subman-
à exclusividade. Escolas de tática anti-suo- o confundira, das alturas, com um
morto;
e no do que resultou um marinheiro
marino foram criadas, preparando turmas
de assim a escolta ao navio do cabo submarino
turmas de oficiais e praças em períodos — e muitas outras
do Almiran- «Cambira», seguidamente,
poucas semanas. Por solicitação
te Ingram, foram enviados os nossos subma- pequenas ações deste gênero.
rinos para o Recife — o «Tupi» (por duas Os comboios regulares entre Trinidad
redução
vezes), o «Timbira», o «Humaitá» e o
«la- e o Rio de Janeiro haviam tido uma
Salvador
moio», a fim de fazerem exercícios,
ao vivo, de percurso, fazendo do porto do
de mais
ao largo daquele porto, com os navios seu ponto terminal, por parecer que,
logo a ação subman-
escolta brasileiros e americanos. Assim, para o sul, não se fazia sentir
com-
que chegavam ao porto, na escolta de algum na inimiga; mas, em pouco tempo os
vice-
comboio, os navios eram escalados para
toda boios TB e BT, isto é, Trinidad-Bahia e
de
sorte de exercícios, inclusive os fora
do porto versa, voltaram a ser os TJ e JT, em face
com o submarino, os de tiro de superfície
e novos torpedeamentos verificados no Atlanti-
e os de torpedo: — nao havia co Sul.
anti-aéreo
descanso algum, senão o permi- ¦ A Força Naval do Nordeste havia or-
praticamente
tido pela tranqüilidade das águas no porto, ganizado três grupos-escolta
capitaneados
onde os músculos podiam relaxar-se e
a aten- e «Rio Grande do
pelos cruzadores «Bahia»
ção constante atenuar-se. Sul» e pela corveta «Rio Branco» e consti-
Enquanto isso tudo crescia e se instala- tuídos de mais duas corvetas e um número
va, sempre para melhor, os navios de nossa indeterminado de caça-submarinos. Essas
esquadra não paravam, quer nas escoltas dos corvetas eram os mesmos navios-mineiros da
40 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

classe «Carioca», já dotados de aparelhos de diques em condições de atender a esse ser-


escuta e alguns de RADAR, mudança de de- viço, bem se pode aquilatar das dificuldades
nominação essa óbvia, visto terem deixado a vencer, para manter o ritmo dos comboios.
tais navios realmente de ser os «Mineiros» Foi quando os americanos fizeram transpor-
que haviam sido construídos, retiradas desde tar dois diques flutuantes, um para Natal e
logo todas as minas e aparelhagem para a outro para o Salvador, porto este em que .
ação de estabelecer campos minados. seus cruzadores e contra-torpedeiros passa-
Enquanto não se processou o recebimen- ram a fazer base, devido ao tremendo con-
to de todos os Caças, o trabalho desses gru- gestionamento do do Recife.
pos-escolta foi excessivo: mal chegava um Além desse precioso auxílio dado pela
ao Recife, tinha logo ordem de sair três ou Fourth-Flect, outros muitos nos eram presta-
quatro dias depois e, não raro, no dia se- dos, para atender às novas unidades e ao mo-
guinte, escoltando novo comboio para o Rio derno aparelhamento: os técnicos americanos
de Janeiro, onde também a permanência an- e os sobressalentes de motores Diesel, má-
dava sempre em torno dos seis dias apenas.
quinas auxiliares, rádio, aparelhos de som e
Navios em movimento têm sempre reparos a radar eram pedidos continuamente, no Reci-
fazer: ora é uma junta a substituir, ora uma fe, em Natal, no Salvador e até de portos
ajustagem, ora uma limpeza de caldeira ou distantes como de Belém, de Fortaleza, de
de condensador, ora um tubo a tamponar, Vitória, do Rio, e mesmo Montevidéu, —
ora um aparelho de rádio ou de escuta a re- visto que nós próprios não tínhamos forma-
clamar revisão ou substituição de válvulas; do os nossos técnicos nem constituído os nos-
mal chegavam, pois, ao porto, as listas de sos stocks de material moderno.
pedidos eram apresentadas e o pessoal do
Departamento de Reparos da Força Naval Com o aumento dos navios na Força
do Nordeste tinha que trabalhar, que «virar Naval do NE, as escoltas aos comboios entre
redondo» no trabalho, noite e dia, sem parar o Rio de Janeiro e o Recife, assim como as
um só momento, até dar os navios prontos a dos navios de suprimentos para a Trindade
se fazerem de novo ao mar! Não só no Re- e para Fernando de Noronha, e as escoltas
cife, como na Base Naval de Natal, nas ofi- para o norte até ao Pará, pareciam mais foi-
cinas da Bahia, como no Arsenal de Marinha gadas, mas em breve o Almirante Ingram que
da Ilha das Cobras, o AMIC, esse trabalho tinha sempre em mente elevar o prestígio da
de nossos profissionais e operários nos re- Marinha de Guerra Brasileira, procurando
paros foi hercúleo, mas, sempre levado a ca- fazer mostrar nosso pavilhão auri-verde em
pricho por força de vontade indomável e águas mais afastadas e de outros povos, para
consciente das responsabilidades assumidas, patentear ao mundo o trabalho que estava-
jamais deixou de dar os navios de guerra bra- mos raelizando, determinou que «Caças-fer-
sileiros prontos para se fazerem de novo ao ro», os «Giants» na classificação do Captain
mar e constituírem a escolta de novo com- Will, Sub-Chefe do E. M. da 4'1 Esquadra,
integrassem as escoltas americanas até Tri-
boio !
nidad, num percurso de mais de 2 mil mi-
E esses comboios se sucediam inexorà- lhas, com uma duração na ida de 10 dias e,
velmente de 10 em 10 dias, regularmente es- na volta, devido às correntes contrárias, de
calados segundo uma tabela que tinha a apro- 12 a 14 dias. Assim, nossos CSs da classe
vação das altas autoridades de Washington «Guaporé» iniciaram, com o mais pleno êxi-
e conhecimento do Almirantado Britânico, to, esse novo serviço, no qual a perícia de
pois que navios mercantes de todas as ban- nossa gente foi, mais uma vez, posta à pro-
deiras aliadas constituíam os «trens» dessas va, em operações arriscadas, reabastecimento
caravanas marítimas de tão precioso valor de combustível no mar e exercícios diários in-
para alcançar a vitória. tensíssimos.
Si se imaginar que os navios-escolta ne- Em pouco tempo, õ treinamento assim
cessitavam, periodicamente, de docagem para obtido foi tão auspicioso, que o Almirante
limpeza de casco, das aspirações no costado, Ingram pensou em ir fazendo substituir os
das válvulas de fundo, bem como para repa- navios americanos, necessários em outros tea-
ros de hélices, buchas, lemes, etc, e si se tros mais importantes da guerra naval, como
considerar que só o Rio de Janeiro possuía o Atlântico Norte e o Pacífico, pelos navios
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA
41

de rendição
brasileiros. Já os CTs da classe do «Davis» boio, eram escoltados do ponto
em outros
e do «Winslow» iam sendo retirados de nos- até aos ancoradouros e vice-versa;
sas águas. pontos da derrota, conhecidos com antece-
dência, eram desligados do comboio os navios
A esse tempo os nossos três CTs da deviam atravessar o Atlântico para a
que
classe «Marcílio Dias», construídos no Rio África ou deviam seguir para o sul, além
que
de Janeiro, no AMIC, iniciavam as suas ex- do Rio de inversamente, para os
Janeiro;
periências finais para entrar em serviço. Mes- comboios Joia-Tupi, o Rio ou o Salvador
mo antes da instalação de sua artilharia de- eram os em que se concentravam os
portos
finitiva, o «Marcílio Dias» foi incorporado navios a organização dos comboios.
e começou a fazer para
à F.N. do NE patrulhas
oceânicas, em grupos-tarefa com cruzado- Essa organização era objeto de cuida-
res americanos da classe «Omaha». Quando doso estudo e de múltiplas providências des-
a
os outros dois, o «Mariz e Barros» e o «Gre- tinadas a garantir o êxito das travessias e
enhalg» ficaram prontos, seguiram todos três chegada dos navios aos portos de destino com
o Arsenal de Filadélfia onde foram então a maior segurança possível. Assim, no Re-
para com
montar a artilharia definitiva e fazer as ins- cife, por exemplo, prontos os mercantes
o
talações complementares de que careciam, a sua carga completa, ficavam aguardando
Força
antes de participarem das patrulhas oceâni- dia da saída do próximo comboio; a
cas. Consistiam essas patrulhas em bater, Naval do Nordeste escalava os navios para
autori-
durante cerca de 15 dias a fio, certas áreas a escolta respectiva e os indicava às
na
do Atlântico Sul, entre a nossa costa e a da dades navais americanas da 4* Esquadra;
o Tupi-
África, para interceptar a passagem de sub- véspera do dia em que devia passar
a con-
marinos, de raiders e de «varadores de blo- Jóia ao largo do Recife, realizava-se
vindos de Singapura, com carrega- ferência de endoutrinamento para os coman-
queio», da escol-
mento principal de borracha para a Alemã- dantes dos mercantes e dos navios
anti-
nha, muitos dos quais foram postos a pique. ta, com o respectivo Comandante mais
Enquanto isso, os comboios não para- go que seria o do comboio; essa conferência
edifício-
vam um só instante. A sua técnica era a se- realizava-se em uma das salas do
em portos do Canadá reuniam-se sede do Comando da 4th Fleet ou a bordo do
guinte: a presença do
navios de várias procedências, inclusive vin- TD «Belmonte», sempre com
F.N. do NE;
dos de Murmansk; dali saíam em comboio Chefe do Estado-Maior da
dos Estados Unidos, agrupados as instruções eram fornecidas pelas autori-
para portos consistiam no
de acordo com o destino; os que deviam se- dades americanas e geralmente
a África do Sul e portos do Índico, seguinte: relação dos navios do comboio, trem
guir para sobre destino,
e para a América do Sul, entravam em outros e escolta, com informações
a seguir; der-
comboios, geralmente passando por Guantâ- carga, armamento, etc; derrota da
Cuba, até Trinidad, possessão in- rota para os navios mercantes desgarrados
namo, em
esta ainda na área de ação de uma comboio; ordem de saída do porto e posição
glêsa formatura do trem de acordo com
outra esquadra americana que não a 4*, do a ocupar na
Sul; em Trinidad formavam-se en- o número recebido; modo de agir dos mer-
Atlântico
Tupi-Joia, cujos trens com- cantes durante a travessia, evitando fuma-
tão os comboios
de mercantes destinados aos por- ca excessiva, atirar lixo nágua, luzes de qual-
punham-se e aos à noite, funcionamento de apa-
tos do Brasil, do Uruguai, da Argentina quer natureza
Oriente; saindo de Trinidad, relhos-rádio, etc. As escoltas tinham as suas
da África e do
certas de acordo com a escala or- instruções privativas, determinadas pelas exi-
em datas
seguiam derrotas pre- gências da guerra anti-submarino e que eram
ganizada previamente, América às marinhas norte-americana e inglê-
estabelecidas, ao longo da costa da comuns
ao largo do Recife, em dis- sa, todas constantes de publicações secretas
do Sul, passando
cada comboio, especiais. A derrota a seguir era uma das que
tâncias que variavam, para
em de- constavam dos planos gerais de operações,
segundo a derrota seguida; aí, pontos
da escolta umas destinadas aos comboios para o sul,
terminados, fazia-se a rendição do Rio para o Norte, de-
devia outras aos que iam
americana pela escolta brasileira que nomes pitorescos como
de enquanto signadas todas por
prosseguir até ao Rio Janeiro,
«Bacon», «Pork», «Eggs», «Tomatoes», etc,
os mercantes destinados aos diferentes por-
entrar no com- e afastadas desigualmente da costa.
tos, ou destes saídos para
42 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

No dia da passagem do comboio ao largo pois que numa fração deste, a insídia inimi-
do Recife, saíam do porto, em primeiro lugar, ga podia produzir os seus malefícios, des-
à hora conveniente, mas geralmente muito truindo vidas e bens. Os «Caças-pau», os
cedo, às 5 ou 6 horas, os navios da escolta «Juniors» da classe «Javarí», eram rendidos
— os «Caças-pau» ou «Caças-ferro», as Cor- geralmente por outros ao largo do porto do
vetas e o Cruzador ou Corveta em que ia o Salvador, onde sempre havia dois, no mi-
Comandante da escolta, que seria depois, o nimo, prontos, um para subir, outro para
de todo o comboio; estes navios seguiam o descer; mas, não raro, os «cacinhas» dessa
«canal varrido», limpo de qualquer minas classe, por contingências de serviço, fize-
quiçá lançadas insidiosamente pelo inimigo, ram toda a travessia do Rio ao Recife e vice-
e, ao largo do porto, fazendo uma «varre- versa, durante seis longos dias, pondo à
dura sonora», com seus aparelhos de escuta prova o valor de nossos homens do mar, de
anti-submarino, aguardavam a saída dos toda uma oficialidade e guarnições jovens
mercantes. Quando estes se achavam todos que elevaram bem alto o renome de sua ca-
ao largo, depois de uma manobra de desa- pacidade profissional, pois é preciso conhe-
tracação e saída demorada e difícil daquele cer bem de perto essas minúsculas unidades
porto, as escoltas tomavam posição e o pe- de guerra, para bem avaliar a fibra dos que
queno comboio seguia para o ponto de en- nelas fizeram toda a guerra, enfrentando os
contro com o grande comboio TJ, no qual a mares mais encapelados, o desconforto de-
escolta americana era rendida pela brasilei- vido às chuvas ou à canícula impiedosa, sub-
ra, e entrava no porto, escoltando ainda, por metidos a um jogo violento, irreprimível, noi-
sua vez, os navios para ali destinados. Os te e dia, quase sem poder dormir nem co-
mercantes que haviam saído, tomavam as mer, mas, ao contrário, sempre alerta, velando
suas posições nas colunas de navios, de acôr- pela preciosidade dos mercantes cuja segu-
do com as instruções que haviam recebido rança deviam garantir a qualquer preço !
na conferência dos comandantes, na véspera,
e os navios de guerra da escolta ocupavam Em verdade, por mais que se queira ava-
seus postos na vanguarda, nos flancos e na liar isso na medida precisa, nunca se fará a
retaguarda da formatura do trem, zig-za~ devida justiça a esses bravos da Marinha de
Guerra que realizaram essa tarefa magnífica
gueando e fazendo funcionar seus aparelhos na nossa área ocidental do Atlântico Sul !
de escuta anti-submarino ou aparelhos de
som, estabelecendo uma cortina sonora im- E tão eficiente foi a ação dessa nossa
penetrável ao inimigo, e os seus radars, gente valorosa do mar que, em tantos com-
quando ordenado pelas instruções recebidas. boios feitos, nunca se perdeu um navio mer-
Navegação inteiramente às escuras, manten- cante que estivesse diretamente sob a guarda
do-se, nos primeiros tempos da campanha de uma escolta brasileira. De fato, os poucos
submarina, também completo silêncio rádio. casos de perda de navios, verificados em com-
E seguiam-se cinco ou seis dias de travessia boios sob a responsabilidade de nossa gente,
marítima, cheia de cuidados, perigos e atri- demonstram que as circunstâncias foram tô-
bulações. . . das fortuitas e independentes da eficiência de
Saídas como essas se repetiram, no Re- nossa ação protetora ou repressora. Assim,
cife e no Rio de Janeiro, algumas centenas num grande comboio BT, com quase trinta
de vezes, que tantos foram os comboios gran- navios mercantes no trem, saído do Salva-
des, internacionais, feitos pelos navios de dor, com escolta relativamente muito fraca,
nossa Marinha de Guerra, escoltando cerca o mercante americana «Fitzjohn Porter», por
de 3.000 navios de múltiplas nacionalidades, se ter atrasado muito do comboio, inteira-
correspondendo a um montante de cerca de mente fora de sua posição, foi torpedeado,
15 milhões de toneladas, com uma regularida- tendo sido sua guarnição salva pelo «Ca-
de elogiada pelas mais altas altoridades ame- rioca»; o «Pelotasloide» foi a pique em fren-
ricanas, fosse qual fosse o tempo, roncasse te ao farol e posto semafórico de Salinas,
como roncasse a tormenta, houvesse a cerra- quando, já com prático a bordo, ia entrar em
ção que houvesse, despejassem-se as cata- Belém, depois de ter feito a travessia Trini-
ratas do ceu ou não. .. dad-Pará, escoltado pelos dois «Caças-pau»
«Jacuí» e «Jundiaí», na sua primeira viagem
A travessia era sempre dura e trabalho- para o Brasil, depois de recebidos em Miami,
sa, exigindo uma atenção de cada segundo, sem que tivesse sido positivada a presença
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 43

de submarino inimigo naquelas águas muito de Natal, ao longo da costa brasileira, como,
pouco propícias à sua ação, parecendo mais por mais de uma vez, até Gibraltar, onde o
ter sido uma mina a causa da explosão que «Mariz e Barros» e o «Greenhalgh» tiveram
vitimou o navio; o «Afonso Pena« foi tor- oportunidade de mostrar o nosso pavilhão.
pedeado, muitas milhas ao largo dos Abro- E não só lá, como também nas ilhas de Tri-
lhos, quando, num comboio sob escolta bra- nidad e Ascenção, escoltando transportes de
sileira entre o Recife e o Rio, abandonara, guerra americanos.
por equívoco, o comboio para seguir navios Quando, ainda, o nosso Exército teve
que, à noite, tinham sido desligados a fim necessidade de transportar tropas e copioso
de seguirem para a África do Sul; finalmen- material de guerra do Rio para o Rio Grande
te, o «Bagé» que, advertido várias vezes por do Sul e para diversos portos da Bahia, fo-
estar fazendo fumaça excessiva num com- ram ainda corvetas e o cruzador «Bahia» que
boio numeroso sob escolta nacional, entre o deram escolta aos mercantes nacionais trans-
Recife e a Bahia, recebeu ordem para aban- formados em transportes.
donar o comboio cuja segurança estava, assim,
comprometendo seriamente, sendo torpedeado Es os combios TJ e JT não paravam
nunca: de dez em dez dias singravam os
pouco depois de estar navegando sem escol-
ta, o que confirmou o perigo que fazia cor- mares para o sul, sempre de Trinidad até ao
rer todo o comboio com a sua fumaceira. A Rio de Janeiro e, também no mesmo inter-
estes casos pode juntar-se o do «Vital de valo, deste para aquele porto, ao mesmo tem-
Oliveira», torpedeado à noite, em condições po em que o Grupo-Patrulha Sul, depois Fôr-
adversas de visibilidade, quando escoltado ça Naval do Sul, escoltava os comboios JF
e FJ, entre o Rio e Florianópolis, constituí-
por um «Caça-pau», que não possuía radar
dos estes de navios mercantes exclusivamen-
para localizar o inimigo que estivesse à su-
te nacionais, alguns dos quais, como o «Tu-
perfície e que, nessa condição, não seria
tóio», torpedeado perto das ilhas Queima-
pressentido pelo aparelho de som, como deve
ter sido o caso. das ao sul de Santos, por viajarem escotei-
ros, já haviam pago pesadamente o seu tri-
Essa eficiência referida deu confiança buto à insânia inimiga.
ao nosso Comandante-em-Chefe do Atlântico
Sul, Almirante Ingram, e, além deste, às al- Durante as travessias realizadas por
tas autoridades americanas. A conseqüência esses comboios, inúmeras vezes foram feitos
disso foi a anuência à nossa aspiração de ataques, com bombas de profundidade, a
receber novos e melhores navios, começando submarinos inimigos, pressentidos pelos apa-
então a transferência para a nossa Marinha relhos de escuta dos navios das escoltas ;
de Guerra de oito DÉs (destroycrs-escort) alguns desses ataques talvez não fossem
ou C.T.Es. — Grupos de comandantes e realmente feitos contra o inimigo, pois ba-
oficiais e núcleos de sub-oficiais, sargentos e leias, cardumes, esteiras de navios e outras
— para cada causas muitas vezes produzem, no aparelho
praças — os «homens-chave» de som, efeitos semelhantes aos dos submari-
um dos novos navios a serem recebidos, foram
nos, mas muitos de nossos navios, como o
enviados aos Estados Unidos para tirar cur-
«Caravelas», o «Cananéia», o «Carioca» e
sos expeditos e fazer estágio, ao mesmo tem-
outros têm, no seu ativo, ações contra o ini-
po em que outras turmas eram embarcadas, migo caracteristicamente certas e de realida-
no Recife e cm Natal, em navios americanos
de incontestável; apenas, em ações como
da classe DE, que saíam para o mar em
essas, não fica a prova palpável, irretorquí-
várias missões.
vel, porquanto ou o submarino vai a pique
A esse tempo, prontos os CTs da classe e não mais é visto, ou afasta-se avariado, sem
«Marcílio Dias» no Arsenal de Filadélfia, e deixar sinais ou provas materiais de ter sido
Fôr-
preparados os contingentes da brilhante atingido, principalmente à noite.
envia-
ça Expedicionária Brasileira a serem Em Natal, foram, afinal, recebidos os
dos ao teatro da guerra continental-européia,
colaboraram aqueles contra-torpedeiros e os primeiros Contra-torpedeiros de escolta, os
DEs americanos, que passaram a ter os no-
cruzadores «Bahia» e «Rio Grande do Sul»
na escolta dos transportes que levaram à mes de «Bertioga» e «Beberibe»; a estes se-
«Bae-
Itália os nossos já agora gloriosos «praci- guiram-se o «Bracuí» e o «Bauru», o
nhas», não só do Rio de Janeiro até à altura pendi» e o «Benevente», o «Babitonga» e o
44 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

«Bocaina», num total de oito, os quais entra- caminho entre Ascenção e a África ou entre
ram em serviço incontinente, numa demonü- aquela ilha e a costa brasileira»
tração surpreendente da capacidade de nossa Os comboios, ainda que regulares, fo-
gente do mar, tendo em vista a complexida- ram diminuindo de importância. Os navios-
de do aparelhamento de tais navios, cujo tanques foram libertados, passando a nave-
manejo foi prontamente apreendido e domi-
nado, sem dubiedades, pelas respectivas gar escoteiros para ganhar tempo; logo tam-
bém deixaram as escoltas dos comboios os
guarnições. navios bastante rápidos; ficaram apenas os de
Assim que os primeiros navios dessa
classe foram sendo recebidos, o Almirante passageiros e os de velocidade média de 8 a
9 milhas horários.
Ingram, sempre preocupado em elevar o
prestígio de nossa Marinha de Guerra, com a Em pouco tempo mais, suspendeu-se o
anuência de nossas altas autoridades navais, serviço dos comboios e os CTs, DEs e «CSs-
e seguro da eficiência longamente compro- ferro» de nossa Marinha de Guerra perten-
vada de nossas guarnições, começou a au- centes à F.N. do NE foram reunidos em
mentar o número de navios de guerra bra- «grupos de ataque» (Kiüers-groups) que se
sileiros nas escoltas do Recife até Trinidad, faziam ao mar para interceptar os submarinos
até que, quando, em novembro de 1944, pas- varadores de bloqueio, patrulhando certas
sou o Comando da 4* Esquadra ao Almiran- áreas entre a costa nordeste e Ascenção, en-
te Munroe, para assumir o alto cargo de Co- quanção os demais continuavam a patrulhar
mandante-em-Chefe das Forças Navais Ame- os mares do Rio a Belém.
ricanas em todo o Atlântico, um de seus pri- Quando findou a guerra na Europa, sem
meiros atos, no novo posto, foi retirar a transição nem descanso, passaram os 8 DEs,
grande maioria dos navios-americanos de es- os 3 CTs classe «Marcílio Dias» e os dois
coita para outras áreas, fazendo-os substituir velhos cruzadores «Bahia» e «Rio Grande
pelos brasileiros. do Sul», a fazer um novo e importantíssimo
Assim, enquanto os comboios do Reci- serviço, Atlântico a dentro, qual o de ser-
fe para o Rio e deste porto para Santa Ca- vir de apoio ao transporte aéreo das tropas
tarina continuavam regularmente, — na sec- americanas evacuadas do teatro europeu de
ção dos JOIA-TUPI e TUPI-JOIA entre o guerra e necessárias à campanha do Pací-
Recife e Trinidad, as escoltas passavam gra- fico.
dativamente a ser constituídas exclusivamen- Duas rotas aéreas haviam sido estabe-
te por navios de nossa Marinha dos tipos DE lecidas para as aeronaves americanas — Da-
e CS de ferro, em grupos-escolta de seis e kar-Natal e Monrovit-Ascenção-Natal, em
de três navios sob o comando de Capitães cada uma das quais três pontos denominados
de Fragata especialmente treinados para isso. «estações» deviam ser guarnecidos por na-
Este último trecho era particularmente duro, vios de guerra que orientassem os aviões por
porquanto, extenso de mais de duas mil e du- marcações radiogoniométricas e prestassem
zentas milhas, era percorrido na ida para socorro rápido aos que caíssem ao mar. Duas
Trinidad em cerca de 10 dias e, no regresso, «estações» em cada uma das rotas, num total
em 12 a 14, devido à correntada e aos ventos de quatro, na parte ocidental do Atlântico
contrários, reinando ali muito mau tempo deviam ser guarnecidas por navios brasi-
durante certas épocas <do ano: e o serviço leiros; as duas restantes, uma em cada rota,
inexoravelmente regular dos comboios não por ingleses.
se interrompia jamais, rugisse a procela que
rugisse! Esse novo e pesado serviço, reclamando
muita paciência pela sua monotonia e insipi-
Findava a guerra na Europa. A campa- dez, iniciou-se no fim do maio do corrente
nha submarina fora inteiramente subjugada; ano e ainda há pouco se achava em curso.
mas os submarinos varadores de bloqueio Cada navio permanecia por 10 dias em cada
continuavam, teimando na sua travessia de «estação»; os que guarneciam as «estações»
Singapura para a Alemanha, fazendo víti~ mais distantes, numeradas 12 e 15, permane-
mas esporádicas, nas águas remotas do Atlân- ciam, assim, cerca de 16 dias no mar, incluin-
tico Central, dobrando o Cabo da Boa Es- do os de viagem para atingir aqueles pontos
perança e procurando varar os mares a meio e regressar ao porto; os que iam para as «es-
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 45

tações» mais próximas, 13 e 14, ficavam cêr- 467 vidas que eram, sem dúvida, preciosas,
ca de 13 a 14 dias no mar. mas de que se orgulha a Marinha, por esta-
rem a serviço da Pátria, na mais cruenta das
Foi numa dessas «estações», justamente
na de número 13, que se perdeu o velho guerras, em que tudo se deu, todo o esfôrpo
e sacrifício foi feito, em prol da Civilização
cruzador «Bahia», veterano das duas Gran- mortes em vários navios, por efeito das ope-
des Guerras Mundiais e cheio de serviços rações de guerra, e bem assim entre as guar-
inestimáveis à Marinha c à Pátria, com sacri- nições militares dos canhões montados em
fício de 333 vidas preciosas de oficiais, in- e ida Liberdade ! Se se considerarem outras
clusive o Comandante, sub-oficiais, sargen- vários mercantes de nossa heróica e jamais
tos e praças, em conseqüência de violenta ex- esquecida frota comercial, afundados por tor-
— quando se achava em
plosão na popa, pedos de subamrinos inimigos, o número de
serviço ainda genuinamente de guerra, pois
o Brasil já se achava em guerra com o Ja- perdas de vida da nossa Marinha de Guerra
subirá ainda bastante mais !
pão e o aparecimento em pleno Atlântico de
unidades japonesas não era inteiramente des- Sucumbiram esses bravos em holocausto
cabido. à perpetuidade da Pátria Livre e os que so-
breviveram à luta cruel e sem quartel que
Foi o terceiro navio de guerra perdido acaba de findar-se gloriosamente para as
durante toda a campanha, enlutando-se com armas aliadas, entre as quais se inscrevem
a sua perda total a Marinha, depois do torpe- sobranceiramente as brasileiras, devem estar
deamento do NA «Vital de Oliveira» e da
catástrofe da CV «Camaquã» que virou, gratos à sua ação intemerata e nunca terão
rendido suficiente homenagem à sua memó-
quando, após extenuante escolta a comboio ria pelo bem que o seu sacrifício lhes trouxe
do Rio de Janeiro até ao largo do Recife, ali e aos seus lares ora descansando em paz,
chegou sem combustível e sem água nos tan- sem mais temor da opressão, da brutalidade
quês, levando, por fatalidade, em cruel com- e da escravidão!
pensação, excesso de carga e de pessoal em A Marinha de Guerra do Brasil fêz, pois,
trânsito, pesos estes moveis e altos deter-
muito — antes, do país entrar na luta, duran-
minantes do sinistro, que não se teria veri-
te esta e mesmo depois de terminadas todas
ficado, se não houvesse o imperativo cate-
as hostilidades. Trabalhando afervoradamen-
górico da operação de guerra que o navio te, em silêncio, fora das vistas de testemu-
realizava. nhas, entre o céu, que nem sempre foi cie-
Subiram, assim, as perdas, entre o pes- mente, e as águas do oceano que nem sem-
soai desses três navios, comandantes, oficiais, pre foram bonançosas, cumpriu, enfim, cons-
sub-oficiais, sargentos e praças, a cerca de ciente e tranqüilamente, o seu dever.

Resumo en Esperanto LA ROLO DE LA BRASILA MILITSIPARO DUM LA DUA TUT-


MONDA MILITO.
Grava parolado farita de Ia brava komandanto Gerson de Macedo Soares, kiu en Ia lasta tutmonda milito
Ia brazilajn bordojn kontrau Ia atakoj de germanaj
partoprenis Ia laborojn de Ia braztla mararmeo, kaj defendis
êipoí,* kies ceio estis malordigi Ia marveturadon. .,.,.,. . - . . u . . A , .
Komandanto Macedo Soares priskribis kaj klangis Ia smdonajn kaj efika.m penojn kiujnhavis lacefoj,
òficiroj, êipdj, maristaró apartenantaj ai nia mararmeo. t.
eskorte gardante nom-
Cio estis farita kun harmonia kunhelpo ai Ia nordamenka múitsiparo kaj ankau
brajn komerçajn êipojn.
INSTRUÇÕES RELATIVAS Á VIAGEM PHILOSO-PHICO
EFFECTUADA PELO NATURALISTA DR. ALEXANDRE
RODRIGUES FERREIRA, NOS ANOS DE 1783-92

JOÃO RIBEIRO MENDES


Sócio Efetivo do Conselho Diretor
"Revista
A da Sociedade Brasileira de para si próprio e seus auxiliares, afim de
Geografia", antiga Sociedade de Geografia cumprir, a rigor, o que tão honradamente
do Rio de Janeiro, enceta neste número a lhe fora cometido.
publicação dos estudos realizados pelo Dou- Antes Vandeli prescrevera os planos de
tor Alexandre Rodrigues Ferreira, entre os técnica científica aconselhável; Martinho de
quais os de caráter geográfico, na «Viagem Melo e Castro, do Conselho de S. Majes-
Filosófica», expedição inteligentemente orde- tade Fidelíssima, seu Ministro e Secretário
nada por D. Maria I. de Estado dos Negócios da Marinha e Do-
O que menos tem sido comentado desta mínios Ultramarinos, que «honrou-o, e pro-
extraordinária empreza científica, é a parte tegeu por obras e palavras", ditou a parte
coorográfica e geográfica, apesar de várias «q xamar-se-á de economia regular».
vezes citada como opulenta de observações ; s Os objetivos eram por demais com-
cumpre todavia excetuar o «Roteiro», copia- plexos, assoberbantes mesmo, sendo nesse
do na Biblioteca D'Ajuda, por iniciativa do sentido traçado o regime disciplinar da
ilustre brasileiro Sr. Luís Fernandes, membro viagem, desde seu primeiro dia.
correspondente do Museu Nacional, em Lis-
Ensaias preliminares, economia de exe-
boa, e graças a referência a êle feita cução, planos de exercícios de preparação,
pelo
grande naturalista português Dr. Carlos de desenho, prática de pilotagem, cuidados
França. (1) de saúde, aclimatação, relações circunstan-
O «Boletim do Museu Nacional», vol. ciadas, exatidão nos diários onde serião as-
IX, n9 2, ao tempo da direção do Dr. Ro- sinalados em carta, minerais e fósseis, habi-
quete Pinto, inseriu-o em suas páginas, in- tantes, costumes, religião, ação climatoló-
tegralmente. (2)
gica, minúcias de relevo à beira mar além
Virgílio Correia Filho, em seu livro da influência das marés; observações mi-
"Alexandre
Rodrigues Ferreira" — Vida e neralógicas «exacto herbários», precauções
obra do grande naturalista brasileiro — co- de acampamento, alimentação tudo fora pre-
menta no capítulo «Orientação pragmática», visto.
as «Instrusoins» que deveriam ser seguidas.
No § 27 destas «Instruçoins» resalta o
Interesse maior, no entanto, desperta o caráter sigiloso que deveria envolver a ex-
conhecimento inteiro dessa norma de tra-
balhos que o sábio minuciosamente traçou pedição, o que se explica pelas características
¦¦¦—¦¦ ¦¦ ii^
da política lusitana no intuito da defesa
(1) No Instituto Histórico e Geográfico Brasi- própria.
leiro se encontra o mesmo, sob a epígrafe: «Diário As disposições tomadas sagazmente
Particular de Alexandre Rodrigues Ferreira»
(Auto- Pelo Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, ao
grafo) .
(2) Vide «Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira — fim do século XVIII, seriam, até hoje, acei-
Geógrafo» — por João Ribeiro Mendes, ed. do Ins- tas com gáudio por todos àqueles a
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística. quem
trabalhos idênticos fossem determinados.
a viagem filosófica 47

— II — nada mais diametralmente oposto as inten-


soins deste grande Pae de famílias, para
A Magestade da Snra. D. Maria fe- cuia cólera ninguém ouze concorrer impune-
lizmente Reinante em Portugal, nenhum ou- mente, q a discórdia huma vez semeada
tro fim se propõem na Expedição dos que entre seus filhos : so dando-se as maons
para as viagens da America consultou o mutuamente, eles poderão com mais segu-
Exmo- Sr. Martinho de Mello, senão q rança, e menos impaciência evadir aquela
delas espera retirar em, benefício de hum como tropel de perigos, q necessariamente
Reino de, q a Providencia lhe confiou o Go- surgirão debaixo dos seus pés a cada ins-
verno. Nem he outro o dezignio da Ex- tante em huma viagem tão dilatada. En-
pedição, nem de outro modo o devem ter tão, bem entendido q todo o procedimento
entendido desde o primeiro instante da sua em contrario disto, depois de incorrer no
vocação os mencionados para a utilidade da dezagrado do Rei, virá a ser punido com
Pátria segunda ves se adverte o credito aquelas penas q a similhantes cazos inflige
da Nação ezaqui justamente os dois únicos a sua justisa, fica lugar de advertir-se. .. q
moveis de huma viagem, q á muitos annos
premeditada, so agora espera o Publico o § 2
concluir-se. He fácil a qualquer deles, o persuadir-
INTRODUÇÃO se, que o primeiro dia de soldo para a
America em beneficio seo, deve-o igualmen-
Para este fim, bem como setem eles já te ser de trabalho cm serviso da Magestade:
provido das Instrusoins necessárias, q sobre daqui se conclue, q se desde o primeiro dia
o methodo de observar recolher, preparar, e do seo Embarque ^les entrão á receber soldo
conservar, as produções e os seres naturais, de El-Rei, he sem duvida que este he hum
lhes ditara em Coimbra o Primeiro Lente de dia decizivo das suas obrigasoins : quer isto
Filosofia, devem igualmente sobre outro Pia- dizer q não obstante serem eles reservados
no, q xamar se há de Economia, regular tanto á trabalhar particularmente na America, logo
os primeiros com os seus últimos passos. Aqui mesmo ao sahir deste Porto se lhes ofere-
lendo cada hum deles a soma, total dos cerão certos officios, q a não terem outra
seus deveres, bem longe de pretextar de- utilidade, servem pelo menos de pequenos
pois a sua transgressão com a especiosa ensaios aos q Ia os esperão. São comtudo
capa de ignorância, espera-se pelo contra- os 8 dias primeiros depois do Embarque
rio, q trate de dar-lhes hum inteiro cumpri- feriados, por direito : logo a o embarcarem-
mento, sendo possível, logo mesmo desde se huns enjoão pela iregularidade dos movi-
o primeiro dia do seu embarque. Não he mentos, a q em 8 dias se podem habituar,
logo este pequeno Código de Leis q se lhes os q não sentem este incomodo necessária-
prescrevem objeto somente de huma lisão mente sentem outros, ou seja de assistirem
theoretica : pertende-se mais q tudo huma aos q estão doentes, ou de açodar cada hum
escrupulosa observância delas : trata-se de o seu trem : he para obviar-se q he preciza
diciplinar huma pequena tropa q so difere a feria de 8 dias. Eles acabados está qual-
das Militares no manejo das armas; no quer dos que já não estiverem doentes em
mais tudo está o Publico convencido q deve estado de concorrer para o Gabinete Na-
prezidir a mesma severidade de diciplina, cional com huma boa provizão de peixes :
cuja falta produs ordinariamente muita de- Sabe-se q no mar alto se podem pescar
sordem. Aquele tom decente sobre q eles inumeráveis, e q esta será talvez a única
tem ouvido a primeira parte de Instrusoins remesa desta classe nos Sertoins do Brazil,
no q toca ao recolhimento, preparasão, e para onde vão, a excepsão de alguns peixes
conservasão dos produetos, he o mesmo so- q nadão nos Rios e Lagos, certamente não
bre q devem ouvir esta segunda, q tendo ha outros : Portanto he muito do Serviso
por objeto a sua Economia, principia pela do Rei q cumprão esta obrigasão de atual-
concórdia, q os deve reunir como Irmaons mente pescarem durante o tempo da viagem
entre si. do mar.
§ i
§ 3
Com efeito nenhuma outra coiza ha
mais interessante ao bom serviso do Rei q Não basta o pescarem-se os peixes pela
a amizade e amor mutuo dos Subditos ; dispozição do (§2) se eles não pasão a
48 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

diante, q differensa virá a medear entre Na- exercício não interrupto por dois mezes
tulistas e Pescadores ? Logo q eles são co- quando não produza outro effeito, dá a mão
lhidos, porque nos seos corpos ainda existem mais rebelde aquele geito de talhar q á ai-
por inteiro todas aquelas partes q os fazem guns nega a natureza. Homens ha q se
redutiveis, como são as barbatanas, e entre persuadem q são para isto totalmente iner-
elas os seus rayos, abranchiostega, os den- tes ; mas huma tal persuaziva só tem lugar
tes, os cirros, então podem ser exactamente depois de, tentados todos os meios.
reduzidos pelo Sistema. Ezaqui justamen-
te o q já vai servindo de ensaio e Exer- § 6
cicio ; este he o milhor Mestre da Historia
natural; hum homem q actualmente menea Depois do Risco, de q vio se a facilidade
o Sistema já na redusão dos peixes, ja na no (§ 5) resta ainda outro exercício q sendo
descripsão dos que escaparão, as vistas dos igualmente útil no mar se pode effeituar :
observadores, fica dentro de dois mezes de tal he a pratica da Pilotage : he verdade
viagem, se não bom, pelo menos- hum me- q os Instrumentos q ali servem, nenhum uzo
diocre Ictiologista. Esta a versão nada tem em terra á excepsão das grandes Cam-
tem de despropozito : considere-se bem o pinas : mas pelo manejo de um fica depois
pouco trabalho de reduzir os seres desta mais fácil o saber se uzar dos outros. Por
classe q Linneo facilitou tanto. concluzão deste Plano de Ezercicios durante
a viagem do mar, todos eles se reduzem
§ 4 a 3, somente : (1) a pesca dos peixes, onde
ha-de entrar a sua redusão e preparasão.
Se depois de se reduzir um peixe em
cumprimento do (§ 3) lansa-se logo ao mar, (2) o Exercício do Risco: (3) a pratica da
Pilotaje. São estas as Leis q se lhes pres-
sentem-se então dois incômodos, hum todo
crevem no entanto q não aportão ao Pará.
do Rei, outro próprio. He sem duvida q o
gasto feito na preparasão das fisgas, e com-
§ '
prandos anzóis, linhas, e redes, deve ser com-
pensado com as remesas desta classe : per- Logo ao saltar em terra depois de huma
tende-se estabelecer o Gabinete Real, onde
viagem de dois mezes, hé de razão q ás
os peixes não tem o menor lugar : e se
neste não aparecerem preparados em obze- pessoas delicadas se conceda algum tempo
de refresco : os grandes frios q de outubro
quio da Magestade, e reduzidos debaixo das
Inscripsoins próprias em credito de seus no- por diante comesa á sentir quem navega a
costa de Portugal, a tranzisão repentina
mes, porque outro modo satisfarão eles ou
as despezas feitas no preparo destes Instru- deste estado para o das Calmarias da linha,
mentos, ou as sinistras concepsoins q a seu á comida de mar sempre salgada, e onde
respeito formar o publico ? Se nada disto não ha aquela abastansa de ácidos, q he
conclue, espera-se q concluirá ao menos a necessária á imfringir a asão dos alchalis,
finalmente a bebida actual de huma agoa
pratica q então se vai contraindo sobre a
preparação dos animais. quazi enxarcada, tudo isto junto ao grande
desprazer q sente hum homem de não ter
§ 5 os cômodos de hum sono quieto, mas antes
¦ talvez hum perpetuo enjôo? deve ter debi-
He preciso ser hum homem mui pregui- litado a saúde em grande parte. Vem logo
sozo para ouzar dizer q he trabalho o q fica a ser perciza a feria de alguns dias para
ponderado nos (§2) (§3) (§4): quem cada hum se restabelecer por inteiro.
huma vez tomou o gosto a o Estudo da Na-
tureza, xamar-le ha divertimento. Tomado
§ 8
neste sentido todo o trabalho da pesca, re-
dusão, e preparasão dos peixes, ainda deixa Mas quantos dias se deverão asignar
lugar para outro entretimento : este he o o descanso q requer o (§ 7) ? ezaqui jus-
exercício da pintura : por isso q não estão tamente o q ninguém ouzará determinar sem
exercitados nela, ahi tem lugar de trasar fazer violência : quem reflectir atentamente
algumas linhas sobre a frutificasão das plan- sobre o grande influxo com q obra em todo
tas, e debuxo dos animais debaixo da Ins- gênero de vícios, de q he como may, a ócio-
peção do Riscador q os acompanhar. Este zidade, não se poderá conter q não abrevie
À VIAGEM FILOSÓFICA 49

ali a serie dos seus dias : por conseqüência q não está são não pode viajar : quem está
dela huma vez q hum rapas se entregou são, mas não põem diligencia, serve de em-
ao luxo, nenhuma coiza mais julgou seria, baraso aos q a aplicão. Discorrendo em
beneficio da saúde, eles se devem lembrar
passão pela sua alma huma por huma todas
as paixoins, desde o bico do pe athe a ca- das grandes calmas, q serão obrigadas a
besa torna-se huma grande xaga q nele suportarem, no caso de não determinarem
abrem os males. Ora neste estado ninguém as horas de caminho : hum Naturalista q
pode ser útil ao Rei, em hum gênero de pertende viajar com proveito seo, e de quem
serviso q requer saúde da parte de quem o manda, a mór parte do caminho anda a
o exerce. O homem que milhor o pode ser- pé ; sobrevindo agora o excessivo calor, q
vir sempre em viagens, he o home de Seneca, principia das 10 horas da menhaã, e so de-
quer dizer huma alma saã em hum corpo clina pelas 3 da tarde, porq se volatilizão
são. as partes mais spirituozas do sangue, e com
o trabalho dissipão-se mui promptamente as
§ 9
q servem a nutrisão, ele restará em huma
De que modo pois será possível aos debilidade atual q o tornará inhabil aos
Naturalistas o evitarem estes erros em be- grandes exercícios. Vem por tanto a ser
necessário regular as horas de viagem pelo
neficio próprio ? so evitarão s' abreviarem
tanto os dias da sua estância ou no Pará, methodo q agora se propõem.
ou em outra qualquer Povoasão, como Vil-
Ias, aldeias, e Lugares, quanto for bastante § 12
no Pará para o exame de todas as suas pro-
Suponha-se no entanto, q determinão
duzoins dentro na cidade e por toda a Costa;
eles partir de Pará no l9 de Dezembro :
nas aldeias para huma inteira averiguação
A falar-se a ver- logo ao amanhecer deverá estar preparada
da sua Historia natural.
a comida, q então deve ser quente para
dade, mes e meio para descanso e exame dos
facilitar a digestão : tomando depois cada
productos do Pará he tempo suficiente. hum o seo lápis, e diário, cuidará de ir no-
tando nele, separados huns dos outros, to-
§ 10 dos os productos, q for encontrando ao passo
de seus descobrimentos. E suas arvores,,
Supondo acabado este tempo, e por
musgos, fungos, gramas/no Reino vegetal/.
conseqüência do q fica dito no (§9) reco-
lhidas todas as produsoens desta cidade e Quadrúpedes, Aves, Peixes, Anfíbios, In-
sectos, Vermes/ no Animal/ Pedras, Mi-
dos seus arredores, não se deve comtudo
nas, Fosseis /no Lapideo/ tudo isto hade
dar hum passo ulterior no que toca ás via-
ser recolhido sem outra averiguasão mais
gens pela terra dentro, sem serem previa- cuidado
mente remetidas á Secretaria de Estado dos q a destes productos, sem outro
ocazião
Negócios de Ultramar, não so as produsoins q de os recolher, excepto se houver
cidade, de fazer sobre eles alguns reflexoins. Não
q estiverem axado ou seja dentro na se deve comtudo omitir o cuidado de em
ou nas suas Costas, mas também as prepa-
distancia em distancia observar a altura do
rasoins dos peixes, q na viagem daqui para
Polo, principalmente nos lugares em q se
Ia e nas costas se pescarem e relaçõens. A
descobrir algua produsão útil : ela supõem
norma agora porq devem ser encaixotados no diário um sinal certo, e correspondente
os productos, e remetidos de modo q se não
ao lugar em q foi axada : fala-se de hum
arruinem he superfuo o repetir-se. Tudo
diário q he feito com exactidão,
se axa expresam e declarado no Artigo das
preparasoins e remessas do primeiro Plano,
e debaixo de huma Relasão mais circuns- § 13
tanciada. Qual será logo este diário feito com a
§ ii exactidão q requer o (§ 12) ? aquele sem du-
vida em q concorrerem as seguintes circuns-
Ao sahir do Pará, depois de feita a pri- tancias... (I9) de denotar huma Carta
meira remessa, como manda o (§ 10) pende Geográfica do Paiz, em q venhão marcados
então toda a utilidade das viagens destes
dois princípios... do cuidado na sua saúde, com sinais chimicos os diferentes minerais,
da diligencia no seo trabalho ; hum homem e fosseis : (2?) de alem desta propor outra
50 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

carta também Geográfica do Paiz, em q o beber agoa cansado mesmo, deitar-se so-
venhão indicados os habitantes, os seus cos- bre a relva fria de algum valle : dispir-sc ao
tumes, a sua Religião : (3l>) de indicar pelas ar, tudo isto q influxo não tem sobre as mo-
observasoins termometricas o maior grau ou lestias de hum homem ? he logo percizo ou
de frio, ou de calor na atmosphera insti- tolerar a sede, ou á querela mitigar logo
tuidas todos os dias. (49) de não omittir seja com vinagre distemperado em agoa :
lugar algum beira mar de q não venhão a recompensa do mau gosto virá a ser huma
indicadas, as bahias, golfos, portos, ensea- frescura q influe muito sobre o descanso.
das, marés, correntes, altura, e lastro de mar
segundo o q mostrar a sonda. § 17
Depois dele, antes de se cuidar em ou-
§ H tra qualquer coiza, como jantar, dormir, fica
Na Mineralogia observada a altura, es- tempo desde as 10 horas athé as 3 horas da
trutura dos montes, sem ficar por averiguar tarde de estender as plantas sobre os seus
se tudo quanto pode explicar depois o gran- papeis, mudar estas, imprensar aquelas, tudo
de fenômeno da theoria da terra, examinão- isto emquanto alguns dos Ajudantes pre-
se então huma por huma todas as pedras, parão pelas receitas, dadas as peles dos
terras, minas, saes, enxofres, fosseis, notan- animaes q se tiverem caçado. Só depois
do-se não só os lugares onde se axão, mas de se ter trabalhado nisto, então se cuidará
também, a qualidades, riqueza, e utilidade. da comida ; ela pelo jantar só pode ser fria,
São comtudo com preferencia dignas de ob- por não ser fácil desembarasar huma Cozi-
servasoins mais exatas, as minas dos metais, nha inteira em espaço de tempo tão limitado.
sais e pedras preciozas ou sejão pedras bru-
tas, ou preciozas, ou minas de ouro, ou de § 18
Carvão para assim dizer-se, de tudo se devem
recolher as amostras, com esta diferença q Se entrando a declinar a calma/ o que
serão então menos avultadas as amostras se disse (no § 11) q sucedia pelas 3 horas
das couzas comuas, do q as das mais raras. da tarde, deve o viajante q he experto le-
Tenha comtudo cada amostra um sinal cor- vantar a sua tenda ; antes diso, supoem-se
respondente no diário. q ele tem tomado a sua refeisão, ainda q de
coiza fria pelo (§ 17) como vitella, carneiro
§ 15 q são de mais fácil decosão : de propósito
se guarda para então esta comida, desde
Também o recolhimento das plantas re- q ela se preparou de manhaã. Tomada
quer hum igual trabalho ; de cada huma se então a sua vestia, e calção de anta, depois
não devem recolher menos que 3, ou 4 es- de escorvadas de novo ou sejam as suas
queletos, ainda isto não basta : he percizo, pistolas, ou as espinguardas, he tempo de
depois de recolhida toda qualquer planta q continuar a marxa : a ela deve predizir a
pelo caminho se encontrar, desde a maior mesma diligencia do trabalho q se dise era
arvore até o mais pequeno musgo, observar necessária de Manhã : Tem-se visto parti-
então o lugar, o terreno, a abundância da cularmente na Casa em q vão muitos arma-
planta : fazer exactos Herbários. cada hum dos, pelo discuido de todos, dispararem-se
então correspondente com o seo numero ao as Espinguardas de huns contra os outros,
diário. Rezinas, balsamos, gomas, cascas porq se persuadirão talvez q aquele q levou
de arvores, madeiras, raizes, sementes, nada o tiro, era a fera q acosavão ; esta inadver-
disto escapará sem exame, nem se recolher. tencia he por todos os motivos criminavel :
portanto todo o cuidado nesta parte não
§ 16 pareça demaziado.
Dispendida a manhã toda nestas averi-
guasoins dos (§ 13) — (§ 14) — (§ 15) § 19
logo as 10 horas se devem recolher ás suas Fazendo-se então marxar adiante a tro-
barracas respectivas : he quazi supérfluo
pa q lhes for asignada, ou seja de pretos,
advertir a Filósofos do cuidado q então de- ou de índios, eles para escaparem aos pri-
vem ter sobre a conservação da sua saúde : meiros assaltos devem ocupar a retaguarda:
À VIAGEM FILOSÓFICA 51

deste modo servem alguns índios q vão zendo-se sobrepor a o xão repetidas cama"
adiante, providos de foices, e maxados, de das de folhas nos lugares onde as houvessem,
abrir caminhos nos lugares q diso perciza- comtuclo, precendido já de nem sempre ave-
rem. As cargas de Instrumentos nenhum rem folhas, a experiência mostra ü ficão re-
outro lugar podem ocupar mais cômodo, q pasadas de humidade nas terras do Brasil,
o q se costuma asignar às bagagens de hum as esteiras em q os pretos dormen. Se as re
exercito posto em marxa. Huns e outros des dos mineiros não tem este incomodo,
ocupados todos em recolherem tudo o q se Ia trazem outro de ser obrigado quem dor-
encontrar, /ainda q pareção agora ser os me nelas a ter o corpo como enovelado.
mesmos productos q depois recolherão/he Só mandando cada huma fazer huma pe-
de forsa q ao por do Sol tenhão avansado quena barra de pes de ferro, e q por suas
para asim dizer-se hum trabalho imenso. articulasoins se fexe, e abra, poder-se-há
propor huma boa cama, cujo culxão e tra-
§ 20
vesseiros xeyo de cabellos, e forrado por
fora, ou de carneira, ou de marroquim, não
Ao por do sol he tempo de recolherem- seja mais comprido q o corpo de cada hum.
se : para este fim não se deve armar barraca
a o azar, sem advertir-se previamente nas § 23
comodidades, ou incomodidades do lugar.
Por nenhum modo ela se deve levantar em Durante o tempo da noite he de supor
lugares baixos, para onde as agoas dos mon- q hum homem cansado quer dormir : não
tes circumjacentes tenhão fácil escoanta : he logo ocazião de afligirem huns aos outros
então logo q sobrevier algua xuva, alarga- com conversas intempestivas, motins, jogos,
se-ha todo o xão da barraca, o q fará reca- ou outros divertimentos, para q pode aplicar
hir sobre eles hum dos maiores incômodos os dias feriados, quem gosta deles. Só a
á vida : devem logo serem levantadas em quinta feira em cada semana he dia feriado::
lugares por onde escorra fácil e toda a agoa não para abster-se totalmente do trabalhos
q xover. He certo nem sempre ao por do mas p:l não mudar de lugar: estando ali para-
sol se axará hü lugar acomodado : mas dos podem então arrumar neste dia tudo o cj
muitas vezes logo q se axar lugar cômodo, for necessário: tal deve ser o trabalho de fa-
ou seja mais cedo q o por do sol, ou mais zer em alimpar os Instrumentos, contar um
tarde, será percizo lansar mão da ocazião, por hum á fim de se não perderem: p* este
e aproveitar-se do sitio q aparecer cômodo. fim, ou cada hum tome sobre si uma porsão
deles de q deve pasar Recibo, ou hum s'en-
§ 21 carregue de todos.

Levantada a barraca com as precau- § 24


soins do (§ 20) emquanto se prepara a co-
mida/ que então hade ser quente/ primeiro Muito antes de amanhecer deve estar
q tudo, huns mudão as plantas q de manhaã preparada a comida : por toda a viagem
se empapelarão, outros empapelão as q de so duas vezes no dia pode haver comida
tarde se recolherão, este confronta os nu- quente, de noite e de menhãa : he logo per-
meros do diário, aquele revê os productos, cizo considerar-se o jantar como se fora
em huma palavra, emquanto se não come, almoso : quando ao amanhecer se levantão,
ou dorme, tudo he trabalho. No entanto então se refazem do percizo, e continuão a
os índios q se devem arranjar á roda das o diante os mais dias pelo mesmo methodo
barracas, deixando-as como metidas em hu- do primeiro. Haverão ocazioins de se de-
ma praça fexada, descarregão as bestas, morarem em hum so lugar, 5, 6, 7 dias, ou
ceão, dormem. mais como na analize de alguma mina im-
§ 22 portante : mas a excepsão destes, todos os
mais devem seguir a mesma ordem.
O dormir no xão, como fazem os pretos
no Brasil, ou em redes como costumão os § 25
mineiros, he qualquer dos dois modos mui
nocivo a hum corpo delicado : aindaque a He de forsa, q examinando-se cada dia
dureza da cama se poderia remedear, fa- huma proção de terreno, se tenha no fim de
52 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

§ 27
cada mez trabalhado tanto, quanto possa
fazer huma boa rclasão. Pois deverá cada Não são os governadores os q devem
hum apronptar no fim do mez mez huma ser informados da qualidade do producto,
copia do seu diário, em q debaixo do nome ou sua quantidade, lugar, uzo : so á Se-
dê conta dos productos q descobrio. Eles cretaria de estado dos Negócios de Ultra-
apromptados se devem remeter logo na pri- mar se devem revelar estes segredos. Porq
meira ocaziao. suponhamos q se discobre a Quina : Para
se não dezenvolver agora, o qt9 esa des-
§ 26 coberta revelada no seo principio influiria
sobre as dezordens do Comercio Portuguez
O q se dis das minas, entenda-se de e Hespanhol, eles mesmos, depois de serem
todo qualquer produto : logo q forem axa- olhados como homens de má conseqüência
das devem-se distribuir em duas porsoins ; a os Hespanhoes, serião as mais certas vic-
huma q se ha de mandar logo, remetida ao timas das suas machinasoins.
Governador mais próximo, q dará ao Por- Ezaqui em suma tudo quanto em seó
tador hum Recibo, e outra q deve ficar na nome se devem comprometer os Filozofos :
sua mão, para depois o apresentarem com a Lisongea ao Publico desde já huma bem fun-
sua xegada. Evita-se deste modo o per- dada esperansa : fica da parte dos eternos
der-se ou na remessa o producto, alagando- dezignios do Primeiro Ser, e da diligencia
se por exemplo a embarcasão, ou em Lx* q eles pozerem no seo trabalho, o tornarem-
confundirem-se os números dos diários, e se depois de imensas fadigas, úteis ao Rei,
ignorar-se depois o verdadeiro logar do seu benéficos a si mesmos, e amáveis a Socie-
nacimento. dade.

Resumo en Esperanío — INSTRUKCIO KONCERNANTAJ LA FILOZOFIAN VOJAGON


LA
REALIGITANf DE LA NATÜRALISTO ALEXANDRE RODRIGUES FERREIRA, DUM
JAROJ 1783-1792.
La klera D-ro João Ribeiro Mendes, kiu sin dedicas ai studo de Ia vivo kaj faroj de Ia brazila scienoisto
"ínstrusoms
kaj konata naturalisto D-ro Alexandre Rodrigues Ferreira, transkribas Ia originalan tekston de Ia
kiujn Ia portugala registara publikigis, por esti plenumitaj dum Ia vojago de tiu sciencisto en Amenko, ekde
La instrukcioj konsistas el 27 paragrafoj, Ides lasta enhavas sekretajn ordonojn.
COMO FOI FUNDADA A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
DO RIO DE JANEIRO

Quadro dos Sócios Fundadores

J. S. DA FONSECA HERMES,
1.° Vice-Presidente

Esta notícia tem por objeto, não só, Somos com a maior consideração de V. Ex.
afetuosos veneradores e criados :
recordar a fundação da Sociedade de Geo-
grafia do Rio de Janeiro, atual Sociedade Manuel Francisco Correia.
Brasileira de Geografia, mas restabelecer, Antônio José Henriques.
Dr. João Joaquim Pizarro.
também, a verdade histórica, em quanto se Vcnceslau Guimarães.
refere aos seus Fundadores. José Antunes R. de Oliveira Catrambí.
Henrique de Beaurepaire Rohan.
A iniciativa da idéia partiu de um gru- Alexandre Afonso de Carvalho.
po de brasileiros eminentes, à cuja frente Dr. Licínio Chaves Barcelos.
se encontrava o ilustre homem de Estado Dr. Antônio de Paula Freitas.
Adolfo Paulo de Oliveira Lisboa.
e educador, que foi Manuel Francisco Cor- Luís Álvares de Oliveira Macedo.
reia. Dr. Antônio Coelho Rodrigues.
Dr. Henrique Cesídio Samico.
Dos entendimentos havidos, surgiu um João Carlos de Souza Ferreira.
Dr. Fernando Mendes de Almeida.
convite às personalidades mais em evidência Francisco Manuel Cordeiro de Souza.
nas ciências, no magistério, na política e Dr. João Pires Farinha.
sociedade, residentes na Corte e que, de Rio de Janeiro, 11 de Fevereiro de 1883.»
algum modo, se interessavam pela Geogra-
A esse apelo responderam 80 dos con-
fia, concitando-as a aderir ao propósito de vidados, os quais «aos 25 dias do mês de
se fundar, no Rio de Janeiro, à semelhança Fevereiro do ano de 1883 se reuniram, às
das que existiam em algumas Capitais da 12 horas, em uma das salas da Escola Pú*
Europa, uma Sociedade de Geografia. blica da Freguesia da Nossa Senhora da
É do teor seguinte a Circular que deu Glória, à Praça Duque de Caxias» — como
vida à nossa Sociedade : reza a Ata da Sessão — para fundar a So-
ciedade de Geografia do Rio de Janeiro.
«Desejando os abaixo assinados fundar nesta
Cidade uma Sociedade de Geografia, à semelhança
Presidiu essa histórica Sessão o Sena*
das que existem em quasi todas as cidades im- dor Manuel Francisco Correia, que anun*
portantes, vêm rogar a V. Ex., no caso de aderir ciou o objeto da reunião, procedendo à lei*
a este propósito, se digne comparecer no domingo tura da circular-convite. Serviram de Pri*
25 do corrente às 12 horas do dia, no edifício da meiro e Segundo Secretários os Senhores
Escola da Glória, à Praça Duque de Caxias. Dr. Licínio Chaves Barcelos e Nicolau Mi*
Se S. Ex. não puder assistir à reunião, obri- dosi, respectivamente.
gar-nos-á se quizer ter a bondade de manifestar a Depois de nomear uma Comissão, com*
sua resolução ao Dr. João Pires Farinha, à rua*
Primeiro de Março n9 55. posta dos Senhores Conselheiro Antônio
5T4 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

José Henriques, Dr. João Pires Farinha e Geral que devia eleger a primeira Diretoria
Dr. José Pizarro, para elaborar o ante*- efetiva da Sociedade, sendo eleitos :
projeto de Estatutos, o Presidente declarou Presidente
solenemente fundada a Sociedade de Geo- Visconde de Paranaguá
grafia do Rio de Janeiro. l9 Vice-Prcsidente
Ficou, então, resolvido fossem procla- Conselheiro Antônio José Henriques
mados «Sócios Fundadores» os 79 Senhores 29 Vice-Presidentc
que aderiram ao convite e assistiram à ses- Conselheiro Henriques de Beaurepaire Rohan
são de fundação. l9 Secretário
Dr. Licínio Chaves Barcelos
Cumpre assinalar a ressalva aposta à
Ata, reconhecendo como presente à sessão 29 Secretário
Dr. Carlos de Oliveira Sampaio
q Conselheiro Tristão de Alencar Araripe,
Tesoureiro
que tomou o número 80 da lista : Comendador José Antunes R. de Oliveira Ca-
«Declaro em tempo, que também aderiu ao con- trambí.
vite e assistiu à sessão o Senhor Conselheiro Tris-
€ão de Alencar Araripe. É de supor que um incidente tenha sur-
Rio de Janeiro, 26 de Fevereiro de 1883. — gido, porquanto o Conselheiro Manuel Fran-
Licínio Chaves Barcelos — Secretário». cisco Correia afastou-se da Sociedade, fato
esse que, muito provavelmente, determinou
Na lista oficial, porém, o Conselheiro a demissão de alguns Sócios, entre os quais
Araripe figura, seguramente por inadver- o Dr. Feliciano Pinheiro Bittencourt, cujo
fência ou esquecimento, como «Sócio Fun- pedido de «dispensa de sócio» foi lido e
dador» em virtude do disposto no Art. 33 aceito na sessão do dia 23 de Setembro
dos Estatutos, juntamente com mais 12 ou- de 1883 ; o Senhor Alfredo d'Escragnolle
trás personalidades que, por impedimento Taunay, 10 de Novembro, que comunica
Comunicado, deixaram de comparecer, fi- simplesmente «não desejar fazer parte da
cando, assim, elevado a 92 o número de Sociedade, por enquanto» ; o Senhor Enri-
Sócios Fundadores. que de Beaurepaire Rohan, 31 de Janeiro
de 1884, que anuncia «não poder continuar
A Sociedade realizou 8 sessões prepa- a fazer parte da Sociedade» ; o Comandante
ratórias, que se realizaram nos dias 15 de Manuel Venâncio Campos da Paz — 14 de
Abril, 20 e 27 de Maio, 3, 10 e 17 de Junho, Maio — que se declara «impossibilitado de
1 e 8 de Julho, para discutir os Estatutos, acompanhar os trabalhos da Sociedade» ; o
que foram aprovados na última, isto é, a 8 Dr. Antônio Herculano de Souza Bandeira
de Julho de 1883. Filho — 17 de Junho — que «pede de-
missão».
Na sessão de 15 de Abril, presidida
pelo Senador Correia, foi eleita a Diretoria O Barão de Tefé informa, em carta
de 20 de Setembro de 1883, que «tendo se
provisória, que devia dirigir os trabalhos
da Sociedade até que, aprovados os Es- retirado da «Sessão da Sociedade de Geo-
fatutos, fosse convocada a primeira Assem- grafia de Lisboa, no Brasil», e declarado
bléia Geral. Essa Diretoria ficou assim que não pertenceria a nenhuma outra Asso-
ciação que se houvesse de criar com o mes-
composta : mo fim, não podia aceitar o honroso título
Presidente de Sócio da Sociedade de Geografia do Rio
Visconde de Paranaguá de Janeiro».
l9 Secretário Felizmente, para a Sociedade, S. Ex.
Dr. Licínio Chaves Barcelos reconsiderou o seu ato e abrilhantou os tra-
29 Secretário balhos da Sociedade, figurando como 29
Nicolau Midosi Vice-Presidente na Diretoria eleita em 1884,
Tesoureiro cargo que exerceu durante alguns anos.
Comendador José Antunes R. de Oliveira Ca-
trambí. É de lamentar que o dissídio sobre-
vindo tenha levado a Sociedade a praticar
Aprovados os Estatutos, foi convocada, atos que colidem, não só, com a elevação
para o dia 16 de Setembro, a Assembléia que deveria presidir a orientação de Asso-
A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA 55

«O Dr. Paula Freitas diz que, inaugurando


ciações científicas e culturais, mas ainda a Sociedade de Geografia os seus trabalhos no sa-
com o respeito devido à verdade histórica. lão que lhe foi cedido pelo Ministério do Interior
A ninguém assistia o direito de riscar para sua biblioteca e sessões, não pode deixar de
manifestar o seu agradecimento ao Conselheiro Cor*
do «Quadro dos Sócios Fundadores» os reia pelo fato de haver permitido que a Sociedade
nomes daqueles que, acompanhando ou não de Geografia celebrasse as suas sessões, durante
ao Conselheiro Manuel Francisco Correia, mais de seis meses, no Salão da Escola Barão do
Rio Doce, sem despesa alguma de móveis, ilumi-
se demitiram da Sociedade, porquanto a nação ou qualquer outra para a Sociedade; por
atribuição do título de «Sócio Fundador» isso propõe se consigne na Ata um voto de reco-
decorreu de um fato consumado, qual seja nhecimento ao Sr. Conselheiro Manuel Francisco
o de se haver reunido, em determinado dia, Correia, e se confira à Escola Barão do Rio Doce
um grupo de pessoas com o objetivo preciso a Medalha de Beneficência.»
de «fundar a Sociedade de Geografia do A Sociedade de Geografia, em sua nova
Rio de Janeiro», e esse fato não podia nem fase de atividades, deve recordar tais fatos,
em tô-
pode ser cancelado. No entretanto, restabelecendo a verdade histórica e pres-
das as listas publicadas na Revista da So- tando ao Iniciador de sua Fundação a ho-
ciedade, os nomes de vários Fundadores Jo- menagem de sua reverência e gratidão.
ram suprimidos sem nenhuma explicação.
Assim é que, no dia 25 de Setembro
Outro ato, praticado com o fito presu- de 1945, foi solenemente inaugurado o re-
mível de maguar a sensibilidade de Manuel trato de Manuel Francisco Correia no Sa-
Francisco Correia, foi o de assinalar o dia lão nobre da Sociedade.
16 de Setembro de 1883, em que se reuniu
a primeira Assembléia Geral, como o da Em obediência ao que determina o Ar-
«Instalação» da Sociedade, efeméride que tigo 33 dos primitivos Estatutos, temos a
até ao ano de 1945 foi solenemente come- satisfação de publicar o Quadro de todos
morada. os Sócios Fundadores da Sociedade de Geo-
A sutileza da diferenciação entre «Fun- grafia do Rio de Janeiro, atual Sociedade
Brasileira de Geografia, rendendo-lhes a de-
dação» e «Instalação», além de não oferecer vida homenagem.
consistência alguma, revela uma intenção
bem pouco lisongeira e está em contradição Convém, ainda, lembrar que o Quadro,
com os próprios Estatutos, aprovados a 8 que figura na Sociedade, com os nomes dos
de Julho de 1883, cujo Art. 33 proclamou : Sócios Fundadores e organizado em 1912,
contém, apenas, os 80 Sócios que compare-
«São Sócios Fundadores todos os que assisti- ceram à Sessão de 25 de Fevereiro de
ram à instalação da Sociedade...» 1883, com exclusão dos 12 outros que, por
impedimento comunicado, deixaram de as-
Os novos Estatutos, aprovados pela
sistir àquela reunião, e que, de acordo com
Assembléia Geral de 26 de Dezembro de
o parágrafo único (2) do Art. 33 dos Es-
1945, retificaram esse erro histórico e a
tatutos e conforme ao espírito da circular-
injustiça que êle significava, suprimindo tão convite, de 11 de Fevereiro de 1883, foram,
improcedente comemoração. também, proclamados Sócios Fundadores.
Manuel Francisco Correia, entretanto, Depois de tomar conhecimento desta
honra seja prestada ao seu grande espírito rápida notícia, o leitor compreenderá me-
e à sua inexcedível generosidade, jamais se lhor o significado, o alcance e a razão das
e, por três
julgou atingido por esses golpes frases que colocamos no alto da lista dos
vezes, ofereceu abrigo à Sociedade, quando Sócios Fundadores :
esta, forçada a abandonar os asilos de favor
e precários em que vinha (e ainda está) «Suam cuique tribuere dignitatem» e «Quod est
memoranda».
vivendo, não tinha onde se instalar.
Um desses episódios está assinalado (1) Art. 33. São Sócios Fundadores
todos
pela dignidade da «Medalha de Beneficên- os que assistiram à instalação da Sociedade, se-
cia» conferida, em 30 de Dezembro de 1890, gundo a respectiva Ata, compreendidos os que, por
impedimento comunicado, deixaram de comparecer.
à Escola Barão do Rio Doce.
(2) Parágrafo único. Mandar-se-á fazer um
Consta da Ata da Sessão de 10 de quadro com os seus nomes para ser colocado
na
Novembro desse ano : Sala das Sessões.
56 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

QUADRO DOS SÓCIOS FUNDADORES 50. Comendador Francisco Teixeira de Aragão


51. Inácio Marques de Gouveia
Organizado de acordo com as Atas da Sessão 52. José Albino da Cruz
da Fundação da Sociedade, realizada a 25 de Fe- 53. Dr. Francisco de Paula Silva
vereiro de 1883 e da 1* Sessão Preparatória, de 54. Dr. Manuel Francisco Correia Júnior
15 de Abril do mesmo ano, e com o Art. 33 dos 55. Henrique Reis
Estatutos de 8 de Julho de 1883 : 56. Dr. Antônio José da Silva Rabelo
57. Dr. Júlio Borges Diniz
Suam cuique tribuere dignitatem 58. Dr. Antônio Coelho Rodrigues
59. Dr. José Avelino Gurgcl do Amaral
Quod est memoranda 60. Comendador Rcinaldo Carlos Montoro
1. Manuel Francisco Correia 61. Francisco Pereira Passos
2. Henrique de Baeurepaire Rohan 62. Comendador José da Costa Carvalho
3. Barão de São Francisco 63. João Carlos de Sousa Ferreira
4. Firmo d'Albuquerque Diniz 64. Nicolau Midosi
5. Dr. Afonso Celso de Assis Figueredo Júnior. 65. Dr. Joaquim Pizarro
6. Comendador Antônio Augusto Fernandes Pi- 66. Conselheiro Venceslau de Sousa Guimarães
nheiro 67. Comendador Adolfo Paulo de Oliveira Lisboa
7. Dr. Antônio Herculano de Sousa Bandeira 68. Dr. Augusto Gurgel
Filho 69. Comendador Manuel Antônio Pimenta Bueno
8. Comendador Joaquim Antônio Fernandes Pi- 70. Joaquim Gaudino Pimentel
nheiro 71. Ricardo da Silveira Gusmão
9. Conselheiro Henrique Dávila 72. Joaquim de Saldanha Marinho
10. Luís Álvares de Azevedo Macedo 73. Dr. João Pires Farinha
11. Otaviano Hudson 74. Conselheiro Visconde de Paranaguá
12. Dr. Amaro José da Silveira 75. Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira
13. Licínio Chaves Barcelos 76. Dr. João Cordeiro da Graça
14. Manuel do Nascimento Alves Linhares 77. Monsenhor Antônio Marques de Oliveira
15. Francisco Antônio Pimenta Bueno 78. Dr. Pedro Leão Veloso Filho
16. Dr. Feliciano Pinheiro de Bittencourt 79. Dr. Fernando Pires Ferreira
17. Tenente Luís Alves da Silva Porto
18. I9 Tenente Manuel Venâncio Campos da Paz Os setenta e nove (79) Senhores, cujos, nomes
19. Dr. José Antônio Rodrigues ficam lançados às Fls. 1, 2, 3, 4 e 5 deste Livro,
20. I9 Tenente Germano de Barros são os Sócios Fundadores da Sociedade de Geo-
21. Comendador José Antunes R. de Oliveira Ca- grafia do Rio de Janeiro.
trambí Em 15 de Abril de 1883 — l9 Secretário —
22. Dr. Antônio de Paula Freitas Licínio Barcelos — 29 Secretário — Nicolau Midosi.
23. Luís Rafael Vieira Souto
24. Dr. Francisco Marques d'Araújo Góis Em virtude do disposto no Art. 339 (*) dos
25. I9 Tenente José Pastorino Estatutos aprovados em 8 de Julho de 1883, foram
26. Dr. Fernando Mendes de Almeida inscritos como Sócios Fundadores os Senhores :
27. I9 Tenente Francisco M. Cordeiro de Sousa
28. Chefe de Divisão Inácio Joaquim da Fonseca 80. Conselheiro Tristão de Alencar Araripe
29. Alexandre Afonso de Carvalho 81. Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira
30. Frederico Afonso de Carvalho 82. Conselheiro Franklin Américo de Menezes
31. Antônio José Vitorino de Barros Dória
32. Barão de Tefé 83. Conde de Barrai
33. Conselheiro Antônio José Henriques 84. Comendador Aleixo Gari
34. Malvínio da Silva Reis 85. Comendador José da Costa Carvalho
35. Belarmino Brasiliense Pessoa de Melo 86. Dr. Bernardo Teixeira de Carvalho
36. José Maria Alves da Silva 87. Conde De Villeneuve
37. Desembargador Serafim Moniz Barreto 88. Dr. Franklin Távora
38. Eduardo Augusto 0'Neil de Brito Cunha 89. Dr. Henrique de Rego Barros
39. Alfredo d'Escragnolle Taunay. 90. Comendador Francisco de Paula Mayrink
40. Ladislau Neto 91. Bacharel Armênio de Figueredo
41. Joaquim José de Gonçalves Ferreira 92. José Antônio dos Santos Cardoso.
42. Henrique Cesídio Samico
43. João Pereira da Silva
44. Dr. André Gustavo Paulo de Frontin (*) «São Sócios Fundadores todos os que assis-
tiram à instalação da Sociedade, segundo a res-
45. Dr. Manuel Pereira Reis
46. Dr. Carlos César de Oliveira Sampaio pectiva ata compreendidos os que, por impedimento
comunicado, deixaram de comparecer.
47. I9 Tenente José Maria de Albuquerque Bloem Parágrafo único. Mandar-se-á fazer um qua-
48. Brigadeiro Francisco Vieira de Faria Rocha dro com os seus nomes para ser colocado na Sala
49. Comendador João José dos Reis das Sessões.»
Júnior
Resumo en Esperanto - KIEL FONDIGIS SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JA"
NEIRO.
Si ?tó de preparaj kunvenoj, Ia Ministro J. S. Fonseca Hermes, Ia
V,V „iif*i ST0Cledadf ^kst°J .de Pr°t°kol°J
de Geografia priskribis Ia fondon, en Ia jaro 1883, de Sociedade de Geo-
Jn^Tp f .^asneira
g raiia do Rio de Janeiro km poste fangis Ia nuna Sociedade Brasileira de Geografia,
üompletigas ia verkon Ia nomaro de Ia fondintoj.
w

RESUMO DO RELATÓRIO GERAL DOS TRABALHOS


DO X CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA,
ELABORADO PELO PROFESSOR GERALDO SAMPAIO
DE SOUSA, SECRETÁRIO DA COMISSÃO ORGANIZA-
DORA DO MESMO CONGRESSO

Na reunião de Outubro de 1940 do Comandante Antônio Alves Câmara


Conselho Diretor da Sociedade de Geo- Júnior
grafia do Rio de Janeiro, o Sr. Ministro Dr. Luís Rodolfo Cavalcanti de Albu-
Bernardino José de Sousa leu o Relatório querque Filho
Geral, por êle feito, sobre o IX Congresso Coronel Djalma Poli Coelho
Brasileiro de Geografia, unanimemente apro-
vado e aplaudido. Na reunião de 24 de Janeiro de 1941
Nele sugere imediata nomeação da Co- propoz o Sr. Ministro João Severiano da
missão Organizadora do Congresso seguin- Fonseca Hermes para vogai da Comissão
te a fim de evitar outro longo intervalo en- Organizadora do X Congresso Brasileiro
tre esses certames valiossísimos ao desen- de Geografia o Sr. Comandante Ari dos
volvimento da Geografia do Brasil, pro- Santos Rongel, em consideração aos traba-
lhos realizados para a referida Comissão,
pondo para sua presidência o Sr. Ministro
como representante do Comandante Antô-
João Severiano da Fonseca Hermes.
nio Alves Câmara Júnior, temporariamente
Aprovada a proposta formou-se a Co- ausente, e em seguimento foi aprovado o
missão Organizadora do X Congresso Bra- Regimento para a Comissão Organizadora
sileiro de Geografia, assim constituída por apresentado e sancionado pela Sociedade
eleição entre seus membros : de Geografia do Rio de Janeiro.
Presidente — Ministro João Severiano Em 2 de Fevereiro foram convidados
da Fonseca Hermes os Srs. Coronel Francisco de Paula Cidade
e Engenheiro Aníbal Alves Bastos para
Vice-Presidente — Professor Fernando
substituírem os vogais Dr. Luís Rodolfo
Antônio Raja Gabáglia Cavalcanti de Albuquerque Filho e Coronel
Secretário-Geral — Eng. Cristovam Djalma Poli Coelho.
Leite de Castro Aprovado o Regulamento do X Con-
l9 Secretário — Murilo de Miranda gresso Brasileiro de Geografia, posterior-
Basto mente sancionado pela Sociedade de Geo-
29 Secretário — Prof. Geraldo Sampaio grafia do Rio de Janeiro, iniciaram-se logo
de Sousa só trabalhos de propaganda, intensificados
com a remessa de Circulares aos Sócios da
Tesoureiro — Dr. Carlos Augusto Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
Guimarães Domingues aos aderentes ao Congresso, pessoas e asso-
Vogais : ciações interessadas.
Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas Vários membros da Comissão Organi-
Coronel Emílio Fernandes de Sousa zadora, recebidos em audiências especiais
Doca pelo Chefe do Governo, os Senhores Mi-
58 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

— Dr.
nistro da Educação e Viação e Obras Pú- genharia. — Rio Grande do Norte
blicas, trataram da cooperação pelos Po- Luiz Câmara Cascudo, diretor do Depar-
deres Públicos aos Congressos de Geogra- tamento de Educação — Rio Grande do
fia, sendo concedida uma subvenção de Cr$ Sul; Dr. João Batista Pereira Filho, dire-
150.000,00 e franquia postal para os tra- tor do Serviço Geográfico da Diretoria de
balhos. Terras. — Santa Catarina — Eng. José
Nicolau Born, diretor da Diretoria de Geo-
Retirando-se para Espanha, designado
grafia e Terras. — Sergipe — Dr. João
pelo Governo em Comissão na Espanha, Carlos de Almeida, diretor do Departamen-
em agosto de 1941, o Sr. Ministro João to Estadual de Estatística.
Severiano da Fonseca Hermes, foi substi-
tuído pelo Professor Fernando Antônio A delegação regional no Estado de São
Raja Gabáglia e Vice-Presidente ocupada Paulo é constituída pelas seguintes pessoas;
pelo Sr. Coronel Emílio Fernandes de Sou- Eng. Valdemar Lefévre, diretor do Instituto
sa Doca. Geográfico e Geológico, presidente, Dou-
tor Bueno de Azevedo Filho e Professor
Em 1942, membros da Comissão Cen- Pierre Monbeig, membros.
trai partiram para os Estados solicitando
colaboração as diversas autoridades com A delegação regional em Goiás foi de-
êxito real. signada por ocasião da inauguração oficial
de sua nova capital e é integrada pelos Se-
Por deliberação aprovada em reunião nhores Drs. Colemar Natal e Silva, pro-
dos membros da Comissão Central, desig- curador geral do Estado e Presidente do
naram os seguintes secretários regionais do Instituto Histórico e Geográfico e da Aca-
Conselho Nacional de Geografia, seus re- demia Goiana de Letras, Humberto Ludo-
presentantes em todo território nacional. viço de Almeida, diretor do Serviço de Ca-
Acre — Dr. Nobrega Passos, diretor dastro Imobiliário e Zoroastro Artiaga,
do Departamento de Geografia e Estatis- membro do Departamento Administrativo.
tica. — Alagoas — Dr. Valdemar Uchôa Em Belém, o Capitão de Mar e Guer-
de Oliveira, diretor da Diretoria de Viação ra Braz Dias de Aguiar reuniu, sob sua
e Obras Públicas. — Amazonas — profes- presidência, a Comissão Organizadora local
sor Agnelo Bitencourt, presidente do Ins- tendo adotado várias providências para a
tituto Histórico e Geográfico. Baia — realização do X Congresso.
Eng. Lauro de Andrade Sampaio, diretor A Comissão Central em reunião do
da Diretoria dos Serviços Geográficos. — dia 9 de Outubro de 1942 baixou as se-
Ceará — Eng. Paulo Torcápio Ferreira,
diretor da Diretoria de Viação e Obras Pú- guintes instruções, aos seus delegados es-
taduais :
blicas. — Espirito Santo — Dr. Cícero
de Morais, diretor do Instituto de Geogra-
fia Geologia e Hidrologia. — Maranhão A COMISSÃO ORGANIZADORA CENTRAL
—Dr. José Franklin Serra Costa, diretor DO DÉCIMO CONGRESSO BRASILEIRO
da Diretoria de Viação e Obras Públicas. DE GEOGRAFIA
— Mato Grosso — Dr. Otávia de Vas-
concelos V. Neves, diretor da Repartição Considerando a conveniência de se es-
de Terras e Obras Públicas. — Minas Ge- tabelecer normas que orientem as atividades
rais — Eng. Benedito Quitino dos Santos, dos seus representantes aos Estados e no
diretor do Departamento Geográfico. Pa« Território do Acre :
raíba — Dr. Sisenando Costa, diretor do Resolve :
Departamento Estadual de Estatística. Pa~
raná — Eng. Antônio Batista Ribas, dire- Art. único. Ficam aprovadas as se-
tor do Departamento de Geografia Terras guintes instruções para os trabalhos dos
e Colonização. — Pernambuco — Dr. Pau- delegados regionais.
Io Pimentel, diretor do Departamento Esta- I9 As delegações regionais nos Es-
dual de Estatística. —Piauí — Dr. João tados e no Território do Acre serão cons-
Bastos, diretor do Departamento Estadual tjtuídas pelas pessoas que foram nomeadas
de Estatística. Rio de Janeiro — Dr. Luiz pelo Presidente da Comissão Organizadora
de Souza, diretor do Departamento de En- Central.
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 59

29 As secretarias das delegações regio- ção do congresso, do programa dos seus


nais funcionarão, sempre que for possível, trabalhos, das vantagens concedidas aos
nas próprias dependências dos diretórios re- aderentes, bem assim sobre a viagem e hos-
gionais do Conselho Nacional de Geografia. pedagem dos congressistas.
39 As delegações regionais farão uso, 59 Os presidentes das delegações ou
para o serviço e a propaganda do congresso, os delegados regionais poderão designar
da franquia postal e telegráfica concedida agentes de sua confiança para auxiliar a
ao Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- propaganda do congresso e estimular o re-
tística, bem assim dos móveis e utensílios e cebimento de adesões nas principais cidades
do material de expediente dos diretórios re- dos Estados.
gionais, de acordo com as instruções apro- 69 As delegações regionais ficam au-
vadas pelos órgãos competentes do Con- torizadas a receber os subsídios, auxílios
selho Nacional de Geografia. ou donativos e as cotas de adesão das pes-
49 Incumbe às delegações regionais : soas físicas ou jurídicas, residentes ou com
sede nos Estados.
a) Coadjuvar a Comissão Organiza-
79 As quantias arrecadadas pelas de-
dora Central da divulgação dos objetivos do
congresso, intensificações a sua propaganda legações regionais deverão ser remetidas à
nos Estados por meio de conferências, pu- tesouraria da comissão organizadora central,
blicação de artigos em jornais e revistas, no fim de cada mês, para constituírem o
expedição de circulares e por quaisquer ou- fundo de reserva destinado a custear as
tros meios que seja aconselháveis ; despesas com a realização do congresso e a
publicação dos seus anais.
b) promover a adesão dos Governos 8- Os boletins de adesão devem ser
estaduais, das municipalidades, repartições enviados à Secretaria da Comissão Orga-
oficiais, associações científicas, culturais e nizadora Central na mesma ocasião em que
de classe e de todas as pessoas e institui- fôr feita a remessa das cotas. Caso, o
ções, residentes ou com sede nos Estados, aderente deixe de preencher o boletim, as
interessadas em assuntos geográficos ou que delegações regionais deverão fazê-lo, comple-
possam concorrer para êxito do certame. tando-o com todas as indicações possíveis.
c) incentivar a elaboração de teses, 9? As delegações regionais encaminha-
monografias e outros trabalhos, para serem rão, no prazo regulamentar, a Secretaria
apresentados ao Congresso, encarecendo a da Comissão Organizadora Central os
contribuição cultural de todos aqueles que exemplares dos trabalhos de autores resi-
se dediquem ao estudo da geografia, e, dentes nos Estados que se destinem ao
muito particularmente, dos mestres especia- Congresso.
listas ;
IO9 As delegações regionais organiza-
d) sugerir, por intermédio das auto- rão o fichário referente aos aderentes com
ridades competentes, a elaboração de teses residência nos Estados.
oficiais que ponham em evidência o grau
de desenvolvimento dos serviços submeti- II9 O balancete referente à receita e
dos a apreciação do congresso ; à despesa das delegações deverá ser enviada
mensalmente à Comissão Organizadora Cen-
e) providenciar a respeito da partici- trai, bem assim a lista das adesões rece-
pação das repartições de caráter geográfico bidas no mês anterior, contendo os nomes
dos Estados e Instituições congêneres na dos inscritos e as suas respectivas contri-
Exposição de Geografia e Cartografia, a buições. Os balancetes e as listas de ade-
realizar-se simultaneamente com a reunião soes devem ser visadas pelos presidentes
do congresso ; das delegações ou pelos delegados regio-
/) promover, quando fôr oportuno, a nais.
designação de representante ou delegados 129 As despesas que foram feitas pe-
dos governos estaduais para tomarem parte las delegações regionais serão indenizadas
nos trabalhos do congresso ;
pela Comissão Organizadora Central, por
g) proporcionar aos interessados to- encontro de contas, depois de recebidos os
das as informações a respeito da organiza- respectivos balancetes e os comprovantes.
60 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

139 As delegações regionais requisi- grafia e Cartografia, patrocinada pelo nosso


tarão, a medida das necessidades, exempla- Governo, conforme ainda com os desejos
res das circulares, boletins de adesão e das do Conselho Nacional de Geografia.
publicações sobre o congresso, que se des- Resolvida a realização do Congresso
tinem à distribuição, bem assim o material nesta Capital, a Comissão Central procurou,
de propaganda. imediatamente, as autoridades locais parti-
149 As delegações regionais devem cipando a deliberação tomada e pedindo a
manter à Comissão Organizadora Central colaboração que se fazia necessária.
ao corrente das suas atividades e dos seus Foi, então, nomeada a Comissão Or-
agentes em todo o Estado por meio de
sucintos relatórios mensais. ganizadora que ficou assim, constituída :
159 O relatório final sobre os traba- Presidente de Honra — Dr. Henrique
lhos das delegações regionais deverá ser de Toledo Dodsworth
apresentado dentro de trinta dias, após o Vice-P residente de Honra — Embai-
encerramento das suas atividades. xador José Carlos de Macedo Soares e Al-
169 Os papéis e demais documentos mirante Raul Tavares
das delegações regionais serão incorporados Presidente Eng. Edison Junqueira
ao arquivo da Comissão Organizadora Cen- Passos
trai juntamente com o relatório final.
l9 Vice-P residente — Coronel Jonas
179 As delegações regionais deverão de Morais Correia Filho
orientar os seus trabalhos de conformidade
com o disposto no regimento da Comissão 29 Vice-P residente — Capitão Amilcar
Organizadora Central, e no regulamento Dutra de Menezes
para o Congresso, baixados, respectivamente, l9 Secretário — Cônsul Murilo de Mi-
a 24 de Janeiro e 21 de Fevereiro de 1941». randa Basto
Em Junho de 1943, por entendimentos 29 Secretário — Prof. José Veríssimo
entre as Comissões Organizadoras Central da Costa Pereira.
e Local e o Senhor Interventor Federal no Membros :
Estado do Pará, a realização do X Con-
Dr. Abgar Renault
gresso foi transferida para Setembro de
1944. Coronel Paulo Figueiredo
Motivos ponderosos e de momento irre- Comandante Ari dos Santos Rongel
movíveis, porém, após correspondência pro- Dr. Jorge Latour
longada entre as partes interessadas na rea- Dr. Carlos Drumond de Andrade
lização do certame, embora por vezes adiado, Professor Mário da Veiga Cabral.
para que essa reunião fosse efetivada, a
Comissão Organizadora Central, de acordo
com o Governo do Pará resolveu convocar A Comissão Organizadora Central com
o X Congresso para a Capital Federal, as modificações já assinaladas e com a no-
comunicando pessoalmente ao Sr. Presi- meação de novos membros ficou, assim,
dente da República, Ministro da Educação constituída :
e altas autoridades federais e estaduais.
Presidente de Honra — Ministro João
Com essa medida conciliatória não se Severiano da Fonseca Hermes Júnior
perderia a atualidade dos trabalhos apre-
sentados tendo em vista a reunião convo- Presidente — Professor Fernando An-
cada para setembro de 1943, na Cidade de tônio Raja Gabáglia
Belém, tendo já aderido ao X Congresso Vice-Presidente — General Emílio Fer-
até esse mês : 34 Membros Protetores, 357 nandes de Sousa Doca
Membros Cooperadores, 1522 Membros co-
muns e recebidas 120 teses, além disso en- Secretórfo-GeraZ — Eng. Cristovam
sejava proveitoso convívio com os delegados Leite de Castro
dos vários países participantes da Reunião l9 Secretário — Cônsul Murilo de Mi-
Pan-Americana de Consultas sobre Geo- randa Basto
61
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA

2<?Secretárío — Professor Geraldo Sam~ aberta a sessão preparatória, que, de acordo


com o programa tinha a seguinte ordem do
paio de Sousa dia:
Tesoureiro — Dr. Carlos Augusto
Guimarães Domingues a) Aclamação do Presidente de Hon-
ra, Beneméritos, etc.
Vogais e Membros :
b) Eleição da Mesa Diretora do Con-
General Francisco de Paula Cidade gresso
Dr. Mário Augusto Teixeira de Frei- c) Posse da Mesa Diretora
tas
d) Designação dos membros da Co-
Comandante Antônio Alves Câmara missão da Coordenação e Iniciativas e das
Júnior Comissões Técnicas
Eng. Aníbal Alves Bastos
e) Distribuição das teses e trabalhos
Comandante Ari dos Santos Rongel
pelas respectivas Comissões Técnicas
Eng. José Fiusa da Rocha
/) Leitura e aprovação da Ata desta
Coronel Jaguaribe Gomes de Matos sessão.
Eng. Mário Campos Rodrigues de
Sousa O Professor Raja Gabaglia, inicialmen-
Prof. José Gabriel de Lemos Brito te, convidou os demais membros das Co-
missõe Organizadoras para tomarem assen-
Dr. Rui de Almeida
to à mesa e a seguir proferiu uma expressi-
Prof. Pierre Monbeig. va oração agradecendo a todos que colabo-
raram na realização do certame. Logo de-
Organizado o programa calendário do pois explicou os motivos do adiamento
e
Congresso foram tomadas as necessárias posterior transferência do Congresso para
providências para a sua realização. Capital e as vantagens da sua imediata
realisação. Disse por fim, que os organiza-
dores procuraram atender as verdadeiras
O DÉCIMO CONGRESSO BRASILEIRO finalidades da ciência geográfica, organi-
DE GEOGRAFIA zando um programa onde estão presentes
os principais problemas geográficos brasi-
De acordo com o programa calendário, leiros.
as 10 horas da manhã do dia 6 de Setem-
bro de 1944, reuniram-se os representantes Chegado ao fim do seu discurso, foi
e delegados das entidades políticas do país, anunciado que se iria proceder a eleição
repartições e instituições diversas e demais do presidente da Mesa Diretora dos traba-
na
pessoas aderentes ao grande certame, lhos do X9 Congresso, indicando para esse
sede do Instituto Histórico e Geográfico cargo o Senhor Embaixador José Carlos
Brasileiro, gentilmente cedido pelo seu Pre- de Macedo Soares, presidente de honra da
sidente, Embaixador José Carlos de Ma- Sociedade de Geografia.
cedo Soares, para servir como sede ao Con-
gresso. Sendo unanimemente aclamado para
Embai-
Depois de preenchidas as diversas for- presidir os trabalhos do Congresso o
malidades, como apresentação de creden- xador José Carlos de Macedo Soares, a con-
ciais, recebimento do programa e distinti- vite do Prof. Fernando Raja Gabaglia, dei-
vos foram os congressistas convidados para xou o seu lugar no plenário para tomar as-
a sessão plenária-preparatória que se reali- sento na presidência dos trabalhos. Depois
lizou as 15 horas desse mesmo dia. de agradecer sua aclamação, o Embaixador
Carlos Macedo Soares deu a palavra
José
SESSÃO PREPARATÓRIA ao Engenheiro Cristovam Leite de Castro,
Secretário-Geral que, indicou sob aclama-
Sob a presidência do Professor Fer- ções dos Congressistas o Presidente Getúlio
Vargas, para presidente de Honra; o Pre-
nando Antônio Raja Gabaglia, presidente
feito Henrique Dodsworth e o Coronel Ma-
da Comissão Organizadora Central, foi
62 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

galhães Barata para vice-presidente de 6' Eng. Hildebrando de Araújo Góis


Honra; General Cândido Rondon, Ministro Prof. Afonso Mac-Dowell
Bernardino José de Souza, Ministro João
8* Eng. Dulfe Pinheiro Machado
Severiano da Fonseca Hermes Júnior, Pro-
fessor Fernando Antônio Raja Gabáglia, Prof. Fernando Antônio Raja Gabáglia
Comandante Braz Dias de Aguiar e En- 10» Comandante Braz Dias de Aguiar
genheiro Edison Passos, para presidentes
Beneméritos; General Emílio Fernandes de
Sousa Doca, Coronel Jonas de Morais Cor- SESSÃO SOLENE DE INSTALAÇÃO
reia Filho e Capitão Amilcar Dutra de Me-
nezes para Vice-Presidentes Beneméritos. No Palácio Tiradentes, no dia 7 de
Setembro, à noite, teve lugar a cerimônia
Aclamados esses nomes para os cargos
solene de instalação dos trabalhos do X
indicados o Ministro João Severiano da Fon-
Congresso. O ato contou com a presença
seca Hermes Júnior propôs, ainda mais, sen-
de todos os congressistas, altas autoridades
do igualmente aclamado, o nome do En-
civis e militares, intelectuais, professores e
genheiro Cristovam Leite de Castro. técnicos, tendo tomado assento a mesa os
Passando-se a eleição dos restantes Srs. Dr. Alexandre Marcondes Filho, Mi-
membros da Mesa Diretora dos trabalhos nistro do Trabalho, e interino da Justiça,
do presente certame, o Ministro Bernardino que a presidiu ; Comandante Otávio de Me-
José de Sousa pediu a palavra, indicando o deiros, representante do Presidente da Re-
Almirante Raul Tavares, o General José pública ; D. Jaime de Barros Câmara, Ar-
Antônio Coelho Neto e o Almirante Jorge cebispo do Rio de Janeiro ; Capitão Amilcar
Dodsworth Martins para l9, 2? e 3? vice- Dutra de Menezesf Diretor Geral do De-
presidentes, respectivamente, e os Engenhei- partamento de Imprensa e Propaganda ; Em-
ros Cristovam Leite de Castro, Valdemar baixador José Carlos de Macedo Soares,
Lefèvre, Lauro de Andrade Sampaio e Pro- Presidente do Instituto Brasileiro de Geo-
fessor Mário da Veiga Cabral, sendo o grafia e Estatística ; Professor Raja Gaba-
primeiro desses para Secretário Geral e os glia, reitor do Colégio Pedro II e Presidente
restantes para l9, 29 e 39 secretários, na da Comissão Central Organizadora do X
ordem em que estão colocados. Congresso Brasileiro de Geografia ; Almi-
Composta dessa forma a Mesa Dire- rante Raul Tavares, Coronel Magalhães
tora dos trabalhos, o Embaixador Macedo Barata, Interventor no Estado do Pará;
Soares declarou que iria receber sugestões Coronel Hélio de Macedo Soares e Silva,
sobre a composição das 10 comissões técni- Secretário da Viação e Obras Públicas do
cas do Congresso, pedindo aos presentes Estado do Rio de Janeiro; Prof. Mário
que indicassem nomes de acordo com as es- da Veiga Cabral, engenheiro Cristovam
pecializações de cada um. Leite de Castro, Eng. Valdemar Lefèvre,
Ministro Orlando Leite Ribeiro e Sr. Mário
Depois de indicados os nomes dos es- Melo.
pecialistas para comporem as dez comissões
técnicas, o Embaixador Macedo Soares de- Iniciando os trabalhos, falou o Embai-
clarou que iria indicar, oportunamente, os xador Macedo Soares, que passou a presi-
membros da Comissão de Coordenação e dência da Mesa ao Sr. Marcondes Filho,
Iniciativas, devendo serem membros natos o qual declarou instalado o X Congresso
da mesma os presidentes das Comissões Or- Brasileiro de Geografia e apresentando, em
cjanizadoras Central e Local do Congresso. nome do Exmo. Sr. Presidente da Repú-
blica, os votos de boas vindas a todos os
Comissões técnicas: Presidentes: congressistas. A seguir, assinalou a feliz
1* General Emílio Fernandes de Sousa escolha da instalação do Congresso no dia
Doca do aniversário da Independência do Brasil,
terra que muito precisava de trabalho geo-
2* Prof. Alírio Huguenei de Matos
gráfico tão necessário à solução dos grandes
3* Prof. Everardo Backheuser
problemas contemporâneos.
4* Prof. Cândido Melo Leitão
Falou, depois, o Professor Raja Ga-
5* Ministro Orlando Leite Ribeiro báglia, em nome da Comissão Organizadora
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 63

Central, apresentando os votos de boas* 7* Comissão — Presidente Prof. Afonso


vindas aos congressistas. Mac Dowell; Vice-Presidente Prof. Hen-
rique de Aragão; l9 Secretário Dr. Luís
Em nome dos congressistas falou o Palmier ; 29 Secretário Dr. Nelson Correia.
Sr. Mário Melo que agradeceu a saudação
e o acolhimento dado pelo Comissão Orga- 8* Comissão — Presidente Eng. Dulfe
nizadora as representações dos Estados. Pinheiro Machado; Vice-Presidente Dou-
tor Álvaro Adolfo da Silveira ; l9 Secre*
Antes de ser encerrada a sessão foi tário Dr. Gileno de Carli ; 29 Secretário
feita, pelo Senhor Cristovam Leite de Cas- Eng. Vitor Antônio Peluso Júnior.
tro, secretário-geral do X Congresso Bra-
sileiro de Geografia, a leitura geral das 9* Comissão — Presidente Prof. Fer-
declarações e representações ao certame. nando Antônio Raja Gabaglia ; Vice-Presi-
dente Prof. Geraldo Sampaio de Sousa;
Dando por encerrada a sessão de ins-
l9 Secretário Prof. Luís de Morais Rego;
talação do Congresso, o Sr. Ministro Mar- 29 Secretário Prof. Otacílio Alves Pereira.
condes Filho congratulou-se com os senho-
res congressistas pelo brilho da sessão inau- IO* Comissão — Presidente Comandan-
gural e agradeceu a honrosa presença do te Braz Dias de Aguiar; Vice-Presidente
Sr. Arcebispo Metropolitano. Prof. Mário Campos Rodrigues de Sousa;
l9 Secretário Dr. José Bueno de Oliveira
Azevedo Filho ; e 29 Secretário Prof. Lúcio
COMISSÕES TÉCNICAS
de Castro Soares.
Í-í Comissão — Presidente General Emí-
lio Fernandes de Sousa Doca ; Vice-Presi-
dente Coronel Francisco Jaguaribe Gomes
Iniciados os trabalhos foram as teses
de Matos ; l9 Secretário Eng. Virgílio Cor-
distribuídas pelos membros das comissões,
reia Filho ; e 2? Secretário Dr. Artur César
ao exame e pareceres.
Ferreira Reis.
Os congressistas às 15 horas, em au-
2* Comissão — Presidente Prof. Ali-
diência especial foram recebidos pelo Pre-
rio Hugunei de Matos; Vice-Presidente
sidente da República, a quem o Professor
Comandante Ari dos Santos Rongel; 1? Se-
Raja Gabaglia fez entrega do Diploma de
cretário Eng. Benedito Quintino dos San-
Presidente de Honra e o distintivos do X
tos ; e 29 Secretário Eng. Antônio Batista
Congresso, agradecendo S. Excia. a home-
Reis.
nagem com os votos de êxito em suas fi-
3* Comissão — Presidente Prof. Eve- nalidades.
rardo Backheuser ; Vice-Presidente Avelino
Do mesmo modo, em seguida foram re-
Inácio de Oliveira ; l9 Secretário Eng. Pe-
dro Moura ; 29 Secretário Dr. Aroldo Cal- cebidos pelo Prefeito do Distrito Federal,
deira. que foi saudado em nome dos congressistas
pelo Engenheiro Cícero de Morais, respon-
¥ Comissão — Presidente Prof. Cân- dendo o Prefeito Henrique Dodsworth, ma-
dido Melo Leitão ; Vice-Presidente Prof. nifestando os votos de serem atingidos os
Fernando da Silveira ; l9 Secretário Dr. José desejados resultados.
Lacerda de Araújo Feio; e 2« Secretário
Prof. Emílio de Melo Filho.
ROTEIRO DOS TRABALHOS
5* Comissão — Presidente Ministro
Orlando Leite Ribeiro ; Vice-Presidente En- Ás 20 horas, no auditório do Minis-
da
genheiro Moacir Malheiro Fernandes tério da Educação, apresentado pelo Enge-
Silva; l9 Secretário Fábio de Macedo Soa- nheiro Cristovam Leite de Castro, o Pro-
res Guimarães ; e 2? Secretário Prof. Felte, fessor Jorge Zarur fez uma conferência sô-
Bezerra.
bre «A Geografia, uma ciência moderna a
6* Comissão — Presidente Eng. Hilde- serviço do homem».
brando de Araújo Góis; Vice-Presidente
Comandante Feliciano César Xavier ; l9 No dia 9 às 10 horas, foi realizada a
Secretário Eng. Inocêncio Bentes ; 29 Secre- visita ao Conselho Nacional de Geografia.
tórío Prof. Joaquim Ramalho. Os congressistas foram recebidos pelo Em-
64 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

baixador José Carlos de Macedo Soares e O Eng. Cristovam Leite de Castro,


pelo Engenheiro Cristovam Leite de Castro, pediu,
então, a palavra e saudou o ilustre visitante!
respectivamente, presidente e secretário-ge- o qual respondeu comunicando aos
ral desse órgão, e a seguir visitaram as di- presen-
tes «a sua grande alegria de permanecer
versas dependências do Conselho, demo- ainda no Brasil, de onde levará para o seu
rando-se particularmente, na Seção da Carga
Geral do Brasil ao milionésimo. país a mais grata recordação do adianta-
mente da técnica geográfica e cartográfica
Às 17 horas foi oferecido, pelas comis- que observou, fundamentando a esperança
soes organizadoras, no terraço do Edifício de que todos os países americanos seguiam
Serrador, um coquetel aos Congressistas, o exemplo do Brasil, nesse particular,
a sua escola de trabalho e o vulto das con- pois
procedendo-se, a seguir a inauguração da
Exposição de Cartografia brasileira tribuições já aqui executados, bem lhes ser-
ocupou todo o vasto 21? pavimento daqueleque virão de exemplo».
edifício. Passada a leitura do expediente foram
O Engenheiro Benedito Quintino dos lidos vários ofícios e telegramas. A seguir,
Santos fez o discurso oficial e o Embaixa- o Senhor Mário Melo, da representação
dor Macedo Soares falou sobre a impor- pernambucana, pediu a palavra para enca-
tância e oportunidade da Exposição e con- minhar suas indicações; uma pedindo um
vidou o Comandante Braz Dias de Aguiar voto de apoio ao governo pela criação dos
para cortar a fita simbólica da entrada. Territórios Federais e a outra sugerindo
A Exposição Cartográfica Brasileira que o Congresso manifestasse a^govêrno o
reuniu trabalhos de todas as entidades desejo de que fosse revisto o qfadro terri-
geo- torial do país. A primeira foi aprovada
gráficas do país e constou de 18 stands imediatamente e a segunda
adequadamente dispostos, com copioso ma- ficou para ser
terial cartográfico, painéis com aspectos re- estudada e debatida oportunamente. O ora-
amostras dor seguinte foi o Engenheiro Valdemar
gionais, de produtos e outros ele- Lefèvre, da delegação
mentos de natureza geográfica. paulista que apre-
sentou uma moção sugerindo normas
Às 20 1/2 horas, o embaixador para
José a formação de profissionais de geografia
Carlos de Macedo Soares, ofereceu no salão para os trabalhos do campo.
de banquetes do Automóvel Clube do Brasil,
um jantar a alguns congressistas Como o Sr. Ministro Fonseca Hermes
prévia- Júnior esclareceu
mente convidados. que tinha uma outra pro-
posta sobre o mesmo assunto, resolveu o
No dia 10, domingo, foi celebrada na Sr. Embaixador Macedo Soares,
encami-
Catedral Metropolitana, missa votiva nhar as duas propostas a comissão de Coor-
êxito do Congresso. pelo
denação e Iniciativa, para estudar o assun-
A tarde, os congressistas comparece- to e apresentar ao plenário o resultado
ram ao Hipódromo da Gávea, onde assis- obtido.
tiram a disputa do «Prêmio X Congresso O professor Agnello Bittencourt, da
Brasileiro de Geografia. delegação amazonense apresentou uma in-
No dia 11, segunda-feira, as comissões dicação sobre a criação de órgãos técnicos
técnicas se reuniram pela manhã, no Insti- de Geografia e Geologia nos Estados, a qual
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro. foi enviada a Comissão de Coordenação,
em face de existir uma outra indicação a
Às 14 1/2 horas no salão nobre da-
respeito. Falou, depois, o Comandante Ar-
quele mesmo Instituto foi realizado, sob a mando Pina sobre a Exposição
de Oceano-
presidência do Embaixador José Carlos de grafia
Macedo Soares, a 1* sessão que organizou no Colégio Pedro II
preparatória pedindo, por fim, um voto de agradecimento
realizada no dia 6 e a da sessão solene da a cada uma das instituições
instalação o Sr. Embaixador Macedo Soa- para a efetivação que colaboraram
do certame, o que foi
res, convidou o Sr. Eng. Robert H. Ran- aprovado
pela casa.
dali, que foi chefe da delegação norte-ame-
A seguir, teve a palavra o Prof. Raja
ricana a II Reunião Pan-Americana de Con- Gabáglia
sulta sobre Geografia e Cartografia, que propoz a criação de mais um
para cargo de vice-presidente do Congresso e su-
tomar parte na mesa diretora dos trabalhos.
geria que o mesmo fosse ocupado, pelo Se-
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 65

nhor Coronel Hélio de Macedo Soares e ria do corpo discente. O Professor Má-
Silva, grande animador do X Congresso de rio da Veiga Cabral em nome dos colegas
Geografia. A proposta e a sugestão fora saudou os visitantes e em agradecimento fa-
unanimemente aprovada pelo plenário. Fi* lou o Dr. Nestor Lima.
zeram indicações os Srs. José Veríssimo A seguir, o Dr. Henrique Dodsworth
da Costa Pereira pedindo votos de aplausos em presença dos congressistas cortou a fita
ao Estado de Santa Catarina pelo trabalho simbólica do ato inaugural da Seção Didá-
dispensado ao último Congresso, o Sr. Nes- tica de Geografia organizada pelo Prefessor
tor Lima pedendo igual voto para todos os Geraldo Sampaio de Sousa. Essa exposi-
Estados de eficiente cooperação naque- ção foi visitada, durante o con-
grandemente
le mesmo certame e o professor Raja
gresso, principalmente por professores de
Gabáglia, presidente da Comissão Organi- Geografia.
zadora Central, pedindo um voto de home-
nagem a imprensa pela grande colaboração A Seção Didática teve como objetivo
a propaganda do presente Con- apresentar aos professores de Geografia os
prestada
Todas as três propostas foram unâ- elementos necessários a realização dos di-
gresso.
nimemente aprovadas pelo plenário. versos cursos da referida matéria assim como
também mostrar exemplares de mapas, car-
O engenheiro Leite de Castro, falou, tas e livros de utilidade para o magistério
então, sobre a situação das teses já pu- e constou de
quatro sub-seções.
blicadas e logo depois, os presidentes das
comissões técnicas relataram os pareceres a) Livros didáticos ;
sobre as teses já estudadas e que foram
aprovadas pelo plenário.
b) Atlas, mapas, e cartas geográficas ;
Usou ainda da palavra o Dr. Eugênio c) Instrumentos e modelos geográfi-
Vilhena de Morais, Diretor do Arquivo Na- cos ;
cional, que ofereceu alguns exemplares de d) Trabalhos realizados pelos alunos.
trabalhos publicados por aquela repartição
federal, e apresentou uma indicação sobre À tarde, com a presença do Sr. Minis-
Joaquim Caetano da Silva, o insigne autor tro Aristides Guilhem, titular da pasta da
de «L'Oiapoc e L'Amazone. Marinha, foi inaugurado pelo Embaixador
José Carlos de Macedo Soares a Exposição
Iniciando o programa intitulado «Tar- de Oceanografia instalada num dos salões
de Brasileira» o professor Sílvio Fróis de do Colégio Pedro II e orga-
Abreu às 17 1/2 horas naquele mesmo salão nizada (Externato)
pelo Comandante Armando Pina.
do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, fez uma belíssima dissertação sobre O professor João Capistrano Raja Ga-
o «Nordeste Brasileiro». báglia, discorreu sobre a finalidade e valor
dessa Exposição, primeira no gênero reali-
Nesse mesmo dia, às 20 1/2 horas, o zada
na América do Sul, falou a seguir o
professor Jaime Cortesão, no auditório do
Sr. Almirante Aristides Guilhem que enal-
Ministério da Educação, abordou, em con-
teceu a iniciativa e congratulou-se, por fim
ferência, o tema «A Cartografia antiga e com
os organizadores do Congresso. Os
os fundamentos pre-históricos da nação Congressistas,
a seguir, visitaram as depen-
Brasileira». dências do Colégio Pedro II.
No dia 12 (terça-feira) o programa Às 17 horas realizou-se a visita ao Pa-
constou de inauguração das Exposições de lácio
Itamaratí, especialmente ao seu Serviço
Didática de Geografia e a de Oceanografia,
de Documentação. Os participantes do
e das visitas de Documentação do Ministé-
Congresso foram recebidos pelo Embaixa-
rio das Relações Exteriores.
dor Pedro Leão Veloso, titular interino da
Pela manhã desse dia compareceram pasta das Relações Exteriores, que depois
os congressistas ao Instituto de Educação de breve saudação encaminhou os congres-
onde foram recebidos pelo Prefeito Henri- sistas ao Serviço de Documentação onde
que Dodsworth, o Coronel Jonas Correia foram acolhidos pelo Dr. Jorge Latour, che-
Secretário da Educação do Distrito Federal, fe do mesmo Serviço, sendo-lhes, então,
o Dr. Leonel Gonzaga, Diretor do Insti- exibidos os documentos, bem como exem-
tuto, inúmeros professores e a grande maio- plares da preciosa mapoteca pertencentes

¦
66 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

aquele Ministério. Interpretando o sentir Cantão apresentou uma moção consubstan-


dos congressistas, falou o coronel Jaguaribe ciando as idéias e aspirações, acerca do mo-
de Matos, tendo o Dr. Jorge Latour agra- derno ensino da Geografia; o Dr. Cole-
decido as referências feitas a excelência do mar Natal e Silva da delegação de Goiás
trabalho que ali vem se realizando sob sua submeteu a aprovação do plenário uma pro-
chefia. posta para que o Congresso estudasse e dis-
cutisse a mudança da Capital da República ;
No dia 13 (quarta-feira) às 9 1/2 ho-
o Dr. Mário Melo sugeriu que o Con-
ras reuniram-se as comissões, técnicas, no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. gresso apresentasse a todos os Estados uma
proposta para que as linhas divisórias im-
Às 14 horas, no salão nobre daquele precisas ou duvidosas, procurassem retifica-
Instituto, realizou-se a 2* sessão plenária Ias de acordo com o espírito do decreto-lei
sob a presidência do Sr. Embaixador José n9 311; o Dr. Bueno de Azevedo Filho
Carlos de Macedo Soares. Além do Em- propoz que o Congresso sugerisse ao Go-
baixador tomaram assento a mesa diretora vêrno a criação do Instituto de Oceanogra-
dos trabalhos os Senhores Almirante Jorge fia ; o Engenheiro Valdemar Lefèvre teceu
Dodsworth e Raul Tavares, os professores considerações sobre a vantagem da criação
Raja Gabáglia, Mário da Veiga Cabral, de órgãos geográficos próprios nos diver-
Engenheiro Leite de Castro, Lauro Sam- sos Estados e Territórios e finalmente, o
paio e André Simonpietri. Dr. Vilhena de Morais que ofereceu a
Lida a ata pelo secretário geral foi exame um documento da autoria de Gio-
esta aprovada, seguindo-se uma saudação vani Brunelli sobre o fenômeno das marés.
ao Engenheiro Simonpietri, delegado do Ins- Esgotada a ordem do dia falaram os
tituto Pan-Americano de Geografia e His- presidentes das comissões técnicas subme-
tória, tendo este, em breve palavras, agra- tendo a plenário as conclusões firmadas sô-
decido a homenagem. bre diversas teses.
A seguir o secretário geral leu inúme- Às 17 1/2 horas, o Dr. Artur César
ros telegramas e ofícios sobre diversos as- Ferreira Reis que dissertou brilhantemente
suntos. sobre a Amazônia, seguindo o programa
Passada a ordem do dia o Capitão intitulado «Tarde Brasileira».
Osmar Romão da Silva, de Santa Catarina, A noite desse mesmo dia, no Auditório
leu uma comunicação sobre a assimilação do Edifício do Ministério da Educação, o
e a acomodação" de elementos alienígenas professor Everardo Backheuser realizou uma
nas zonas coloniais do seu Estado, expondo conferência sobre o «Rio de Janeiro, cidade
os aspectos gerais do problema, sob o ponto sui generis» sendo apresentado ao auditório
de vista local. pelo Professor Maurício Joppert da Silva.
Terminada esta exposição, o Marechal No dia 14, quinta-feira, os congressistas
Felinto Braga falou sobre as viagens de
partiram as 8 horas da manhã para uma
Vicente Pinson no Brasil anteriormente a excursão geográfica à baixada Fluminense,
Pedro Álvares Cabral, pedindo que fossem
durante a qual tiveram a oportunidade de
erigidos três monumentos na região ama-
apreciar os trabalhos de saneamento e de
zônica, evocativos dos feitos daquele nave-
aproveitamento daquela região.
gador. Esse pedido trouxe grande discus-
são sendo encaminhado a comissão técnica Junto às obras do canal de Garapuí
para estudo mais pormenorizado. realizou-se uma parada e o diretor do De-
Diversas indicações foram, então, apre- partamento Nacional de Obras e Saneamen-
sentados, assim o professor Veiga Cabral to, o Dr. Hidebrando de Araújo Góis, teve
propoz que a cidade de Viçosa, no Ceará, ocasião de explicar a solução do dificílimo
onde nasceu Clóvis Beviláqua, tivesse o seu problema de saneamento de um terreno que,
nome ; o Professor Honório Silvestre pro- em muitos pontos, atinge a quase meio metro
poz para que o Congresso sugerisse ao Go- abaixo do nível do mar.
vêrno a construção da ferrovia Propriá-Pará Em Iguaçu os visitantes puderam oD-
e para que cuidasse do rfelorestamento do servar o funcionamento das bombas hidráu-
nosso território, o professor Carlos Marie licas, usadas para extrair a água dos ter-
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
67

renos anteriomente alagados, compensação A seguir falou a Sra. Berta Lutz sô-
do curso dos rios. bre a sua última viagem a América do Norte.
Às 12 horas, na «Cidade das Meninas» Entrando no recinto o Sr. General Gas-
realizou-se o almoço oferecido aos excursio- par Dutra, Ministro da Guerra, a Assem-
nistas, que decorreu num franco ambiente bléia teve ocasião de prestar uma brilhante
de alegria. Em nome dos congressistas homenagem a sua Excelência.
falou o desembargador Henrique da Silva
O orador seguinte foi o Comandante
Fontes.
Oliveira Belo que comunicou a
Findo o almoço, após as palavras do passagem,
naquele dia, do 61* aniversário da Funda-
Diretor do Departamento Nacional de Obras ção da Sociedade de Geografia do Rio de
e Saneamento, referindo-se aos trabalhos do Janeiro. O Sr. Embaixador Macedo Soa-
Congresso, folou o Prof. Alberto Ribeiro res apresentou congratulações em nome do
Lamego subordinando a sua palestra a dois Congresso e o Sr. Almirante Raul Tava-
tópicos : o «grande sistema de falhas» e res convidou os presentes para a sessão fes-
«dessecamento e ampliação da Baixada». tiva que a Sociedade de Geografia realizaria
Às 21 horas, deste mesmo dia, realizou- naquela noite.
se no Auditório da Associação Brasileira
de Imprensa, a homenagem que as Comis- _ O Coronel Lísias Rodrigues, propoz,
então que fosse dirigido um apelo aos
soes Organizadoras e a Mesa Diretora do go-
vernos dos Estados do Pará, Maranhão e
Congresso deliberaram prestar a delegação Goiás no sentido de que fossem intensifi-
do Pará, chefiada pelo Coronel Magalhães cados os trabalhos da Estrada Transbra-
Barata, Interventor Federal naquele Estado. siliana.
A solenidade foi presidida pelo Sr. Em- O Dr. Álvaro Adolfo da Silveira, in-
baixador José Carlos de Macedo Soares, to- formou, então, que o governo do Estado
mando também parte na Mesa, além do ho- do Pará já havia informado o desenvolvi-
menageado os Srs. Coronel Hélio de Ma- dos trabalhos ali realizados.
cedo Soares e Silva, professor Raja Gaba-
A seguir falou o Sr. Cláudio Ribeiro
glia e Ministro Fonseca Hermes Júnior. Lessa, propondo o reconhecimento aerofoto-
Abrindo a sessão, o Sr. Embaixador gráfico da região da mina de Sincorá, o pro-
Macedo Soares depois de proferir ligeiras fessor Arnaldo Santiago propondo uma nova
palavras sobre a solenidade, deu a palavra divisão de rendas com vantagem para os
ao Orador Oficial o Ministro João Seve- municípios e Dom Alcuíno Meier sugerindo
riano da Fonseca Hermes Júnior, que em a mudança do nome do atual território do
brilhante discurso saudou o Coronel Maga- Rio Branco para o de Parima, o
lhães Barata e os componentes da delegação que foi
discordado pelo Sr. Valério Caldas de Ma-
paraense. A seguir, falou o Coronel Ma- galhães.
galhães Barata agradecendo a solenidade as Verificado o adiantado da hora o Se-,
homenagens de que fora alvo.
nhor Embaixador José Carlos de Macedo
No dia 15, pela manhã reuniram-se Soares deu a palavra aos presidentes das
as comissões técnicas no Instituto Histórico Comissões Técnicas para que relatassem os
e Geográfico Brasileiro. pareceres relativos a diversas teses.
Às 14 1/2 realizou-se nesse mesmo Ins- Finalmente o Sr. Ministro Fonseca
tituto a 3!l sessão plenária presidida pelo Hermes relatou os trabalhos da Comissão
Sr. Embaixador José Carlos de Macedo de Coordenação e Iniciativas.
Soares e que depois de lidas a ata e o ex-
Às 20 1/2 horas, no Auditório do Mi-
pediente concedeu a palavra ao Sr. Mi- nistério da Educação, o Comandante Braz
nistro Bernardino José de Sousa que fez a
Dias de Aguiar, pronunciou uma interes-
entrega do 5 volume do Congresso de Geo-
sante conferência sobre o tema : «Geogra-
grafia, realizado em 1940, na cidade de Fio- fia Amazônica». Terminada a palestra foi
rianópolis. Tendo chegado o Sr. Ministro
Gustavo Capanema, foi o orador interrom- exibido um film sobre Geodésia.
pido, procedendo-se a homenagem ao ilustre No dia 16, às 9 horas, reuniram-se no
visitante. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
68 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

as Comissões Técnicas para ultimarem os nascimento e brasileiro de espírito, havia


estudos e pareceres das últimas teses apre- solicitado a sua naturalização, pedindo a
sentadas ao Congresso. casa que pedisse ao Governo o bom anda-
Às 14 1/2 horas, realizou-se a quarta mento do seu processo. O Sr. Embaixador
sessão plenária extraordinária, na sede da- José Carlos de Macedo Soares, dizendo não
caber ao Congresso tal iniciativa, declarou
quele Instituto, sob a presidência do Sr. Em-
baixador José Carlos de Macedo Soares. que solicitaria, em caráter pessoal, tal me-
Inicialmente foi procedida a leitura da ata dida.
e do expediente, depois falou o engenheiro Mostrando que o adiantado da hora não
Flávio Vieira sobre o plano geral da viação comportava outras moções, o Sr. Embai-
ferroviária e fluvial do país, o Professor xador Macedo Soares, pediu que se algum
Afonso Várzea propondo que o ensino da congressistas desejasse requerer qualquer
Geografia seja baseado no estudo das gran- medida a mesa, o fizesse por escrito para
des regiões naturais do país, lembrando exem- posterior deliberação.
pio a respeito ; o Comandante Oliveira Belo, O Sr. Presidente deu, então, a pala-
propondo um voto de louvor ao Comandan- vra aos Senhores Presidentes das Comissões
te Braz Dias de Aguiar pelos trabalhos Técnica para relatarem os pareceres das
prestados ao Brasil, principalmente como de- últimas teses e trabalhos apresentados ao
marcador de fronteiras ; o professor Joaquim Congresso.
Ramalho, indicando a mudança do nome da
capital do território do Amapá para Veiga Depois falou o Sr. Ministro J. S. da
Cabral; o professor Raja Gabáglia, pro- Fonseca Hermes, que como presidente da
pondo um voto de agradecimento aos fun- Comissão de Coordenação e Iniciativas,
cionários da. Secretaria da Comissão Orga- passou a descrever os trabalhos afetos a
nizadora Central do Congresso e do Con- mesma comissão e o resultado da questão
selho Nacional de Geografia que concor- referente a retirada pelos autores das teses
reram para a feliz realização do congresso ; que não fossem publicadas.
o Dr. Luís Palmier pedindo que se esten- Nesse momento o Sr. Embaixador Ma-
desse aos jornais do interior do país os cedo Soares suspendeu a sessão convidando
agradecimentos aos jornalistas que colabo- os presentes para assistirem a inauguração
raram na realização do Congresso. da placa comemorativa da realização do X
A seguir falou Dom Alcuino O.S.B. Congresso Brasileiro de Geografia.
propondo a publicação da tradução feita A solenidade foi presidida pelo pro-
por D. Atanásio de Aguiar O.S.B. da fessor Raja Gabáglia presidente da Comis-
pequena obra de T. Rocha Grunberg inti- são Organizadora Central, que em brilhan-
tulada «Os índios do Rio Branco». A te oração enalteceu o acolhimento dispen-
transferência dos despojos do dito cientista sado pelo Instituto Histórico e Geográfico
e a ereção de um monumento em Boa Vis^a Brasileiro oferecendo a sua sede para a
em memória do mesmo e medidas oficiais realização daquele certema.
para garantir a conservação da cultura in-
dígena dos índios conforme indicação do Foi dada após, a palavra ao Dr. Má-
Dr. Carlos Estevão de Oliveira. rio Augusto Teixeira de Freitas, para em
nome da Comissão fazer o discurso inaugu-
Falou depois o Comandante Armando ral da placa.
Pina propondo um voto de louvor a Ma-
rinha Nacional pelos trabalhos prestados a Terminado o discurso proferido pelo
Geografia do Brasil e o Professor Orlando" Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas, o
Valverde pedindo uma manifestação de lou- Professor Raja Gabáglia, foi entre palmas
vor a Sociedade de Geógrafos Brasileiros, descendo a bandeira que estava sobre a
fundada em São Paulo e que naquele dia placa. Usou da palavra, então o Sr. Gus-
completava 10 anos. O professor Aroldo tavo Barroso para agradecer, em nome do
de Azevedo, seu Secretário Geral agradeceu Instituto Histórico, aquela lembrança deixa-
tal manifestação. da pelos Congressistas.
Dom Alcuino O.S.B. passou, então, a Concluída a ceremônia foram reinicia-
relatar as suas atividades de catequistas na dos os trabalhos da 4* Sessão Plenária sendo
região do Rio Branco, que sendo suíço de ouvido o Coronel Francisco Jaguaribe de
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 69

Matos relatando as conclusões da Comissão solene de encerramento do Congresso, com


que sob sua presidência analizou as 3 ex- a presença de inúmeros congressistas, altas
posições promovidas pelo certame. Por autoridades civis, militares e personalidades.
fim, o Embaixador Macedo Soares anun- A sessão foi presidida pelo Sr. Em-
ciou que iria consultar o plenário para que baixador José Carlos de Macedo Soares,
este deliberasse sobre a sede da futura reu- tendo tomado assento a mesa, além dos
nião do XI Congresso Brasileiro de Geogra- membros das Comissões Diretoras do cer-
fia. Essa declaração foi ouvida com inte- tame, o Sr. Capitão Bruno Ribeiro repre-
rêsse tendo o professor Raja„Gabáglia pe- sentante do Sr. Presidente da República,
dido logo a palavra para indicar a cidade que ocupou a presidência de Honra ; Mi-
de Belém, capital do Pará, pois, a seu ver nistro Orlando Leite Ribeiro, representante
não se tendo realizado o X Congresso, na- do Sr. Ministro das Relações Exteriores;
quela capital, onde deveria reunir-se por Coronel Jaguaribe de Matos, representante
deliberação do IX Congresso, era justo que do Sr. Ministro da Guerra, e Coronel Ma-
assim se decidisse.
galhães Barata, Interventor Federal no Es-
Pedindo preferência para a cidade do tado do Pará.
Salvador, o Engenheiro Oscar Carrascosa, Inicialmente falou o Sr. Coronel Ma-
depois de várias considerações, pede que
galhães Barata, agradecendo aos congres-
seja lido em plenário um ofício do enge- sistas a escolha da capital do Pará para
nheiro Elísio Lisboa, prefeito dessa cidade, sede do XI Congresso Brasileiro de Geo-
no qual era solicitado que a capital baiana
grafia e agradeceu, também as atenções dis-
fosse escolhida como sede do próximo Con-
pensadas a delegação paraense.
gressogresso.
Falou depois em nome dos congressis-
O Sr. Embaixador Macedo Soares, tas o Dr. Colemar Natal e Silva, repre-
pondo em votação a proposta inicial, foi sentante de Goiás e a seguir o Almirante
ela recebida com vibrante palmas, sendo por Dodsworth Martins.
isso dispensável a verificação de votos, pois
de pé, sob aplausos gerais foi declarada a Por fím, encerrando a sessão, o Sr. Em-
capital do Pará, como sede do futuro cer- baixador Macedo Scares, depois de agra-
tame. decer aos presentes, notadamento as altas
autoridades que se fizeram representar na
O orador seguinte foi o Dr. Álvaro sessão, resaítou os excelentes resultados ob-
Adolfo da Silveira da delegação Paraense, tidos pelo certame que presidio durante o
que em nome do Sr. Interventor Maga- equal ficou, mais uma vez demonstrada, a
lhães Barata, agradeceu a preferência da importância suscitada pela Geografia.
escolha, dizendo da alegria dos paraenses
em futuramente receber os geógrafos que O Sr. Embaixador Macedo Soares, di-
tomarão parte no XI Congresso. rigindo-se ao Capitão Bruno Ribeiro solici-
tou que este comunicasse ao chefe do Go-
O Sr. Embaixador Macedo Soares pe- vêrno que o certame obra patriótica e opor-
diu, ainda, a Assembléia que tomasse conhe- tuna a julgar pelos assuntos de interesse
cimento de uma indicação no sentido de ser substancial que discutiu e deliberou, acen-
promovido o repatriamento dos restos mor- tuando a importância dos mesmos.
tais do Brasileiro Bartolomeu de Gusmão
Por fim fa- O Embaixador Macedo Soares encer-
que se encontram na Espanha.
lou o Dr. Álvaro da Silveira propondo um rou a sua oração, agradecendo a cooperação
voto de alto valor ao Conselho Nacional de quantos trabalharam para a realização
de Geografia pelos trabalhos prestados a do certame.
realização do X Congresso. Os congressistas que permaneceram
Dando como encerrados os trabalhos nesta capital depois do dia do encerramento
do X Congresso Brasileiro de Geografia do Congresso tiveram ocasião de tomar parte
o Sr. Embaixador Macedo Soares, convi- em algumas atividades que por falta de
dou todos os presentes para comparecerem tempo não foram incluídas no calendário
a sessão solene de encerramento. oficial. Assim no dia 17 foi realizada por
Às 20 1/2 horas foi realizada, no Au- D. Alcuino Meier O.S.B. missa em ação
ditório do Ministério da Educação a sessão de graças pela realização do Congresso, no
70 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Mosteiro de São Bento seguindo-se a vi- fia, realizada no dia 19 de setembro de


sita e almoço naquele tradicional retiro be- 1944.
neditino.
A tarde, os congressistas fizeram um CONCLUSÕES
passeio de ônibus percorrendo os pontos O X Congresso Brasileiro de Geogra-
mais pitorescos desta cidade. fia atingiu um êxito nunca alcançado pelos
No dia 18 os congressistas visitaran certames anteriormentes realizados, quer
pela manhã a fortaleza de São João e às sobre o ponto de vista de número de adesões,
14 horas, foi servido um almoço no Bal- como também pela quantidade de teses re-
neário da Praia Vermelha, oferecido pelo cebidas ou pela numerosa presença de Con-
Sr. Prefeito Henrique Dodsworth. gressistas.
No dia 19 estiveram reunidos na sede Não é possível o cálculo material do
da Sociedade de Geografia do Rio de Ja- valor e a projeção desse Congresso aderiram
neiro, os presidentes das 10 Comissões Téc- 50 membros protetores, 445 membros coope-
nicas, e o da Comissão de Coordenação e radores e 1857 membros comuns ou seja um
Iniciativa, a fim de conferir o Prêmio «José total de 2.353 adesões. As contribuições
Boiteux» a medalha de prata e bronze aos atingiram a soma de Cr$ 191.586,80.
autores das teses e trabalhos aprovados com Assuntos de grande importância eco-
votos de louvor pelas referidas Sessões e nômicos foram tratados e os efeitos só mais
pelo Plenário do Congresso. tarde poderão ser avaliados.
Depois de demorado exame das dez Entre as inovações desse Congresso des-
contribuições que mereceram louvor do cer- tacam-se :
tame a Comissão resolveu conferir ao Enge-
nheiro Alberto Ribeiro Lamego Filho, anfcr l9 O estudo prévio das teses por téc-
da monografia «O Homem e a Restinga», nicos especializados e cientistas de reconheci-
o «Prêmio José Boiteux» (medalha de ouro) da competência, para que no aconchego dos
e medalha de prata aos Srs. Engenheiros seus gabinetes de trabalho, dispondo dos
Vitor Antônio Peluso Júnior, Dr. Samuel elementos indispensáveis de consulta, pudes-
Benchimol e Prof. Jaime Cortesão, respecti- sem emitir pareceres dignos da cultura ge-
vãmente, autores das teses «Lages, a rainha ral dos brasileiros, elevando, assim, o nível
da Serra», «O Cearense na Amazônia (in- intelectual dos estudos geográficos no país
quérito antropo-geográfico sobre o tipo de e ampliando a projeção científica dos Con-
imigrante) e a «Cartografia e os fundamen- gressos Brasileiros de Geografia.
tos pre-históricos da Nação Brasileira". 29 A conclusão sistematizada com que
Foram também, premiados com meda- foram terminados os pareceres; o que faci-
lhas de bronze os seguintes congressistas; litam muitíssimo a tarefa das comissões e dos
Srs. Dr. Bolívar Bordalo da Silva e Ar- relatores.
mando Bordalo da Silva, autoras da tese 39 A Comissão de Coordenação e Ini-
«A Costa Oriental do Pará» ; professor ciativas que não só selecionou os trabalhos
Àgnelo Bittencourt autor da tese «Perfil do apresentados ao Congresso, tendo em vista
do Homem da Amazônia», professor Car- o disposto no artigo 439 do Regimento para
los Marie Cantão, autor da contribuição — a Comissão Organizadora Central, como
«Programa — tipo de excursões geográficas também distribuir as teses, segundo o seu
para fins didáticos» ; Ministro João Seve- caráter técnico, pelas competentes Comis-
riano da Fonseca Hermes Júnior, autor da soes, coordenou os trabalhos das Comissões \
memória «O Rio Javarí». Uma carta geral, decidiu sobre consultas formuladas pelas Co-
aspecto físico e expedições demaxcadoras e missões Técnicas e esclareceu inúmeras dú-
Dr. Artur César Ferreira Reis, autor da vidas surgidas durante a realização do Con-
tese «SertanistasJáissionários e Demarca- gresso.
dores da Revelação Geográfica da Ama-
49 A instituição dos «Prêmios Boi-
zônia».
teux» com medalhas de ouro, prata e bron-
Essas resoluções da Comissão desig- ze para os melhores trabalhos entre aque-
üada para conferir tais prêmios foram dados les que mereceram «Voto de louvor».
a conhecer na sessão solene comemorativa
59 A seleção progressiva dos traba-
do 61 ^ aniversário da Sociedade de Geogra- Ihos que concorreram ao «Prêmio Boiteux».
"PRÊMIO
JOSÉ BOITEUX"

Medalhas outorgadas pelo X Congresso Brasileiro de Geografia


aos autores dos melhores trabalhos

Feliz e acertada a idéia da Comissão nizadora Central, de acordo com as normas


Organizadora do X Congresso Brasileiro de regimentais;
Geografia ao criar a Medalha «José Boi 39 O julgamento dos trabalhos para
texu» para premiar os melhores trabalhos os efeitos dos prêmios far-se-à do seguinte
apresentados nesse certame, como justa ho- modo; a) A Comissão Organizadora Cen-
menagem ao idealizador dos Congressos trai ou a Comissão à qual ela delegar po-
Brasileiros de Geografia e estímulo aos es- deres, fará uma seleção preliminar, indicando
tudiosos da Geografia pátria. os trabalhos em condições de concorrer às
E' do teor seguinte a Resolução n9 6, láureas; b) Uma Comissão Especial, pre-
de 30 de Janeiro de 1942: sidida pelo presidente efetivo do Congresso
e integrada pelos presidentes das Comissões
técnicas, classificará os trabalhos previamente
A COMISSÃO ORGANIZADORA CENTRAL
selecionados pela Comissão Organizadora
DO DÉCIMO CONGRESSO BRASILEIRO
Central, que hajam sido aprovados com vo-
DE GEOGRAFIA
to de louvor pelas respetivas Comissões téc-
nicas e pelo plenário do Congresso;
Considerando que o objetivo dos Con-
gressos Brasileiros de Geografia é estimular 49 A classificação dos trabalhos será
o estudo dessa ciência e, de modo particular, feita por maioria absoluta de votos: a) Se
o estudo da Geografia pátria, elevando cada nenhum dos trabalhos obtiver a maioria ab-
vez mais o nível da cultura geográfica bra- soluta de votos no primeiro escrutínio, pro-
sileira; ceder-se-à sucessivamente a mais um e ou-
tro escrutínio; b) No caso da votação não
Considerando que um dos meios indi- se decidir nos três escrutínios, os prêmios
cados para se conseguir esse objetivo é ins- serão conferidos aos autores dos trabalhos
tituir prêmios que exaltem o mérito científico
dos autores de trabalhos valiosos. que hajam reunido o maior número de votos
somados nos três escrutínios;
Resolve: 59 Além das medalhas , a Comissão
Especial poderá conferir distinções e men-
l9 Aos autores dos três melhores tra-
balhos apresentados ao Décimo Congresso ções honrosas;
Brasileiro de Geografia serão conferidas me- 69 Das Reuniões da Comissão Espe-
dalhas de ouro (Prêmio José Boiteux). pra- ciai lavra-se-ão atas circunstanciadas, as
ta e bronze, cunhadas de acordo com i mo- quais deverão ser assinadas por todos os
dêlo anexo à presente Resolução; seus membros presentes;
29 Concorrerão aos prêmios todas as 79 O resultado do julgamento será le-
teses, monografias e mais trabalhos que ver- vado ao conhecimento do Décimo Congresso
sarem sobre os temas oficialmente recomen- Brasileiro de Geografia na sua última ses-
dados e forem entregues à Comissão Orga- são plenária.
72 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Para a outorga de tão elevado galardão, constava da Ordem do Dia, além da eleição
os trabalhos sofrem rígida seleção progres- da nova administração, a cerimônia solene
siva, porquanto estão sujeitos à concessão da entrega dos Prêmios aos autores dos
de um voto de louvor por parte do Congres- trabalhos científicos laureados pelo Décimo
so; e esse voto deve ser, de início, proposto Congresso Brasileiro de Geografia, promo-
pelo Relator individual a que foi distribuído. vido pela Sociedade de Geografia do Rio
O parecer do Relator é examinado pela de Janeiro entre 7 e 16 de Setembro de 1944,
Comissão técnica respetiva e atribuído a uma nesta Capital.
sub-comissão de três Membros, à qual com- Dando início à cerimônia, o Presidente
pete a crítica da tese e do parecer. Somente designou o l9 Secretário Dr. João Ribeiro
no caso de confirmação unânime do parecer, Mendes para ler os telegramas recebidos
este é recomendado à Comissão, que po- designando os representantes dos membros
dera ratificá-lo ou não. premiados ausentes desta Capital.
Cabe, ainda, à Comissão de Coorde- Em seguida o Presidente recebia na
nação e Iniciativas do Congresso o direito sala de sessões o Professor Fernando An-
de impugnar a concessão do voto de louvor, tônio Raja Gabáglia, Presidente da Comis-
na hipótese de incidir o trabalho em qual- são Organizadora Central do Décimo Con-
quer das restrições estabelecidas no Regu- gresso Brasileiro de Geografia, que foi sau-
lamento do Congresso. dado por entusiástica salva de palmas pela
Além desse regime de severa seleção, numerosíssima e seleta assistência.
a concessão dos votos de louvor deve ser O Presidente Almirante Raul Tavares
homologadas pelo plenário do Congresso. convidou o Dr. Raja Gabáglia a tomar as-
Não são, entretanto, todas as teses sento à Mesa e, em seguida, deu a palavra
aprovadas com voto de louvor, mas apenas ao mesmo para que iniciasse a oração de
aquelas que, tendo merecido esse voto, ver- saudação aos autores dos trabalhos laurea-
sarem sobre tema oficialmente recomendado dos. O Dr. Raja Gabáglia, em brilhante
improviso, enalteceu a obra da benemérita
pela Comissão Organizadora, discriminação
essa que cabe à referida Comissão. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
promotora dos Congressos Brasileiros de
As tesses e trabalhos assim seleciona- Geografia e especialmente pelo êxito ai-
dos, são entregues à Comissão Especieal cançado pelo último certame, isto é, pelo
Julgadora, que é constituída pelo Presidente Décimo Congresso que, graças ao apoio
efetivo do Congresso e pelos Presidentes dos poderes públicos nacionais e da clari-
das 10 Comissões técnicas, à qual compete vidente presidência do Embaixador José Car-
classificar os trabalhos dignos desse Prêmio. los de Macedo Soares, concretizou de for-
Como estabelece a Resolução n9 6, as ma inexcedível o sonho do saudoso idea-
Medalhas a serem conferidas eram 3 : de lizador dos Congressos Nacionais de Geo-
ouro, de prata e de bronze. grafia, o sempre pranteado Dr. Artur José
A Comissão Julgadora, composta dos Boiteux. O Dr. Raja Gabáglia terminou
11 Presidentes, depois de acurado estudo, o discurso declarando que sentia a maior
foi de parecer que, dentre os muitos traba- satisfação por ver entregues a eminentes
lhos que lhe foram aubmetidos, pelo menos representantes da intelectualidade brasileira
8 merecia esse Prêmio. os Prêmios concedidos, sem esquecer que
figurava entre eles o eminente geógrafo e
Em sessão conjunta, dessa com a Co- historiador português Dr. Jaime Cortesão,
missão Organizadora do Congresso, foi ado* o qual também considerava integrado na
tado esse critério. nacionalidade brasileira.
No dia 21 de Dezembro de 1944 reu- Em continuação, o Presidente Ministro
niu-se a Sociedade para proceder à solene Almirante Raul Tavares procedeu à cha-
entrega das Medalhas aos Laureados pelo mada dos laureados, fazendo pessoalmente
X Congresso Brasileiro de Geografia, como a entrega dos Prêmios na seguinte ordem :
consta da respectiva Ata :
l9 Prêmio :
«... O Presidente Almirante Ministro «Artur Boiteux» — Medalha de Ouro
Raul Tavares comunicou aos presentes que — conferido ao Engenheiro Alberto Lamego
PRÊMIO JOSÉ BOITEUX 73

Filho, autor do trabalho : «O homem e a varí — Uma Carta Geral — Aspectos Fí-
restinga» ; sicos — Expedições demarcadoras» ;
29 Prêmio : Dr. Artur César Ferreira Reis, autor
do trabalho : «Sertanistas, Missionários e
Medalha de Prata aos Senhores : Demarcadores, na revelação geográfica da
Professor Jaime Cortesão, outor do tra- Amazônia» ;
balho : «A Cartografia antiga e os funda- Professor Carlos Marie Cantão, autor
mentos prehistóricos da Nação Brasileira». do trabalho : «Programa — tipo de ex-
Professor Samuel Benchimol, autor do cursões geográficas para fins didáticos» ;
trabalho : «O Cearense na Amazônia — Dr. Agnelo Bittencourt, autor do tra-
Inquérito antropogeográfico sobre um tipo "Perfil
balho; do homem da Amazônia".
de imigrante» ;
Engenheiro Vitor Peluso Júnior, autor Em seguida o Presidente deu a palavra
da monografia «Lages, a Rainha da Serra» ; ao ilustre Professor Jaime Cortesão que agra-
deceu, em nome de seus colegas laureados,
3'1 Prêmio :
a honra que lhes foi conferida pela So-
Medalha de Bronze aos Senhores : ciedade de Geografia do Rio de Janeiro e
Ministro João Severiano da Fonseca pelo Décimo Congresso Brasileiro de Geo-
Hermes, autor do trabalho : — «O rio Ja- grafia».
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO PARA PROFESSORES
DE GEOGRAFIA, DO CICLO SECUNDÁRIO

Discurso do Ministro J. S. DA FONSECA HERMES


1.° Vice-Presidente

Entre os objetivos mais característicos Obtida a adesão do Conselho Nacional


da Sociedade de Geografia, figuram o es- de Geografia, foi instituído o «Curso de
tímulo ao estudo da Geografia e sua di- Aperfeiçoamento para Professores de Geo-
fusão. grafia do Nível Secundário», cujo programa
mereceu aprovação do Ministério da Edu-
Não podia, portanto, a Sociedade per-
cação e todo o apoio da Divisão do Ensino
manecer indiferente aos professores do nível
Secundário do Departamento Nacional de
secundário, porquanto são estes, precisa-
Educação.
mente, os que mais direta e eficientemente
estão em condições de melhor estimular e Cumpre-nos render, aqui, a nossa ho-
difundir, pela nossa mocidade, o estudo da menagem ao Ministro Capanema, a Pro-
Geografia. fessôra D. Lúcia de Magalhães e ao Dou-
No ciclo das atividades culturais da tor Abgar Renault, que, como autoridades
Sociedade não seriam, por certo, as con- do Ministério da Educação, emprestaram a
ferências e as tertúlias que realizamos, as essa iniciativa da Sociedade todo o apoio
moral e oficial.
que melhor poderiam habilitar os professores
de Geografia a entrarem em contato com os Os Diplomas expedidos pela Sociedade
progressos da Geografia e com os técnicos aos que terminassem satisfatoriamente o
especializados e a ministrarem, com segu- curso, seriam reconhecidos pelo Ministério
rança e proveito, novos conhecimentos da da Educação como título bastante para a
ciência que estuda a terra em todos os seus oassagem do ciclo colegial para o ginasial.
aspetos e em permanente evolução.
O programa foi organizado com ampli-
Daí a idéia de um curso especializado tude técnica e científica e as cátedras confia-
para professores de Geografia, a exemplo das a mestres de reconhecida competência.
dos que a Sociedade organizara, em 1926
e 1927. A 21 de Junho instalou-se solenemente, na
Coerente, portanto, com o passado da sede do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
Sociedade, o nosso ilustre Presidente, Em- sileiro, com a presença do Embaixador José
baixador José Carlos de Macedo Soares, Carlos de Macedo Soares, Senhora D. Lúcia
sugeriu, na sessão extraordinária de 19 de de Magalhães, Diretora da Divisão do En-
março, a organização de um novo curso sino Secundário, do Departamento Nacional
especializado de Geografia Geral, simplifi- de Educação, Engenheiro Cristóvão Leite de
cado, para inspetores de ensino secundário, Castro, Secretário Geral do Conselho Na-
curso esse que seria planejado e desenvol- cional de Geografia, professores e alunos, in-
vido com a colaboração do Conselho Na- telectuais e muitas outras pessoas gradas, o
cional de Geografia, com vistas a abranger curso de aperfeiçoamento.
também a especialização dos professores de Inaugurando-o, o Embaixador J. C.
Geografia. de Macedo Soares pronunciou expressivas
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO 75

palavras alusivas ao ato, procedendo-se a blemas do seu ensino», pelo professor Jorge
seguir, à leitura da lista dos professores Zarur.
inscritos.
Dia 26 — às 9,30, o mesmo professor
Em eloqüente discurso, o orador oficial fez uma preleção acerca da «Geografia Re-
da Sociedade, Professor Francisco de Sousa gional» ; às 10,30, o professor J. C. Jun-
Brasil, salientou a finalidade do curso e a queira Schimidt lecionou sobre «Climatolo-
iniciativa da Sociedade. gia» e às 11,30, o professor Alírio de Matos
Teve, às horas e 30 minutos, início o curso sobre «Cartografia». Houve visitas aos
com a primeira aula do Professor Delgado de Serviços de Geologia e do Recenseamento,
Carvalho, que versou sobre Geografia Hu- entre 15,30 e 17 horas.
mana: «O retrato físico e humano da Ingla- Dia 27 — às 9,30, o professor Giórgio
terra»; continuando a segunda lição: «Ocea- Mortara falou sobre «A população brasi-
nografia», dada pelo Almirante Jorge Dods- leira» ; às 10,30, o professor Jorge Zarur
worth Martins, 2° Vice-Presidente da Socie- acerca da «Geografia regional dos Estados
dade. Às 15 horas realizou-se a visita de cor- Unidos da América» ; e às 11,30, o professor
tesia dos professores e alunos à Sociedade e F. Ruellan sobre «Geomorfologia». Focou-
ao Conselho Nacional de Geografia. se, às 15,30, um filme do rio São Francisco
Do dia 22 em diante, as aulas se desen- e às 17 horas, o professor Delgado de Car-
volveram no Conselho Nacional de Geogra- valho prelecionou acerca do «Seminário sô-
fia, dando sua segunda preleção o professor bre didática da Geografia».
Delgado de Carvalho sobre «A didática na Dia 28 — O professor J. Zarur, às 9,30f
Geografia», às 9 horas 30', seguindo-se o discorreu sobre «Técnica geopolítica» ; en-
professor Jorge Zarur, que dissertou a res- cerrando as aulas de «Climatologia» e de
peito dos «Métodos da Geografia Econômi- «Cartografia», respectivamente, os profes-
ca»; e às 11,30' o professor João Capistrano sores Junqueira Schmidt e Alírio de Matos,
Raja Gabaglia acerca do «Material didático ,às 10,30 e 11,30. À tarde, visitas ao Ins-
no ensino da Geografia». Às 17 horas, o
|tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
professor Francis Ruellan focalizou o tema e ao Conselho Nacional de Estatística.
«O seminário de Geografia física e os pro-
blemas do seu ensino». Dia 29 — Deu sua aula, às 8,30, sobre
«Geografia do Brasil» o Engenheiro Cris-
Dia 23 — Às 9,30, o professor Francis tovam Leite de Castro ; e, às 10,30, o
Ruellan discorreu sobre «Geografia física» ; pro-
fessor J. Zarur sobre o «Rio São Fran-
às 10,30, o professor J. C. Junqueira Sch-
cisco» ; e, às 11,30 o professor F. Ruellan
midt falou acerca de «Climatologia» ; às
11,30, o professor Delgado de Carvalho acerca do «Japão» ; às 15,30 foram proje-
tados filmes do rio Tapajós e das obras do
prelecionou sobre «O ensino das Unida-
des» ; efetuando-se, das 15,30, às 17 horas, Tenesse Valley Authority; reservando-se o
des»; efetuando-se, das 15,30, às 17 horas, resto da tarde para consultas dos alunos aos
visita aos serviços de Meteorologia e de Pro- professores.
teção aos índios. Dia 30. O professor Everardo Backheu-
Dia 24 — domingo — Excursão de ser discorreu sobre as «Fontes da Geogra-
estudo*; à Baixada Fluminense, pelos pro- fia» às 9,30, encerrando, às 10,30, suas pre-
fessôres e alunos. leções a respeito da «Geomorfologia», o
Dia 25 — às 9,30, o professor Alírio professor F. Ruellan; às 11,30, o professor
de Matos falou sobre «Cartografia» ; às Fernando Antônio Raja Gabaglia encerrou,
10,30, o professor Francis Ruellan tratou com uma dissertação de caráter geral, o
da «Geomorfologia» ; às 11,30, o professor curso criado pela nossa Sociedade.
João Capistrano Raja Gabaglia lecionou a Como se pode verificar, desenvolveu-se
respeito das «Excursões e visitas no ensino um programa intenso, sendo aproveitadas
da Geografia» ; às 13,30, uma sessão cine- cerca de seis horas diárias, durante dez
matográfica elucidativa da leitura de mapas, dias consecutivos, em que foram ministra-
rematando-se o dia com uma palestra sobre das trinta aulas abarcando importantes seto-
«Seminário de Geografia humana e os pro- res da Geografia.
76 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Inscreveram-se 103 pessoas, não só como lho de Sousa, Emília de Carvalho Antony,
alunos regulares, como também ouvintes Eugênia de Oliveira Barbosa, Geraldo Sam-
para certas preleções. paio de Sousa, Gustavo Sartosa, Hildebran-
do Castro Gonçalves, Isabel Maria Fuentes
Apenas 57, dos alunos regulares, satis-
Hernández, José Gonçalves Vilanova, Judi-
fizeram ao mínimo de freqüência exigido
te P. Valadares Salgado, Leia Quintierre,
(75%), para poderem ser admitidos às pro- Lúcia Maria Cavalcante, Maria do Carmo
vas de habilitação, dos quais somente 47
Alves Pequeno, Maria José Homem da Cos-
submeteram-se aos exames, merecendo apro-
ta, Maria Teresa Vidal Prieto, Mariam
vação 36.
Tiomno, Mário Pérez Rodríguez, Mateus
Nada mais expressivo do acerto da ini- Paulo Rodrigues Guedes, Moacir Sampaio
ciativa da Sociedade, como do êxito do curso, de Sousa, Odília Gomes, Olga Brandão Cor-
que o fato do memorial apresentado pelos deiro de Almeida, Osvaldo Gonçalves de
alunos-professores para que sejam aprovei- Sousa, Rui Afrânio Peixoto, Valdemar Cos-
tadas as férias de cada ano (junho) para ta Cocchiarale, Valdemar de Gusmão (36);
certames análogos, por via dos quais lhes Agostinho Pereira de Melo, Antônio Tei-
será facultado manter-se ao corrente das xeira Guerra, Clóvis Assunção, Helena Mát-
atividades geográficas no país e bem assim tar, João Diogo Pereira da Fonseca, José
dos progressos da ciência geográfica e de Dias Bastos, José Júlio Guimarães Lima, Luís
sua didática. Arlindo Tavares de Lira, René Oliveira Bar-
Em sessão solene, realizada a 11 de ju- bosa, Rute Matos Almeida Simões, Antônio
lho, no salão nobre da Sociedade de Geo- dos Santos Oliveira Júnior, Augusto Gomes
Vilaça, Claudiston Lima Santos, Dina Ma-
grafia, perante numerosa concurrência, o
Embaixador J. C. de Macedo Soares, pro- nhães, Edgardo Cornélio dos Santos Faria,
cedeu à leitura dos nomes dos professores Galileu Graciliano de Brito, Godofredo de
diplomados, entregando-lhes os Diplomas Sousa Aguiar Jr., Jofre da Costa Azevedo,
respectivos. José Fernandes Monteiro, Orlinda Lacerda
;v França, Raul Schmidt Sobrinho. *
Em nome da Sociedade, o Ministro J. S.
da Fonseca Hermes, l9 Vice-presidente, Dos 57 supracitados, somente os 36 pri-
saudou os recém diplomados, relevando a meiros colocados foram habilitados, rece-
sagrada missão que lhes incumbe, assim bendo, os demais, apenas um certificado de
como a nobreza e autenticidade do título freqüência.
que acabavam de conquistar, o qual per- Pela sua importância, damos a seguir o
mite a obtenção de postos mais elevados, discurso pronunciado pelo nosso l9 Vice-
terminando por agradecer a resposta que presidente, Ministro J. S. da Fonseca Her-
deram ao apelo, intuito e esforços da So- mes, na sessão de 11 de julho, em que foram
ciedade. entregues os Diplomas expedidos pela Sc-
O Dr. Cristóvão Leite de Castro, Secre- ciedade Brasileira de Geografia:
tário Geral do Conselho Nacional de Geo- Senhor Presidente, minhas senhoras, meus senhores,
grafia, em uma das reuniões do Conselho senhores prezados consócios :
Diretor da Sociedade, teceu amplos comen-
tários sobre o resultado obtido e enalteceu «Le plus noble prix de la science, est
a iniciativa da Sociedade, salientando o in- le plaisir d'éclairer 1'ignorance».
discutível sucesso obtido, como atestam os Enunciada por aquele que, sob o nome de Charles
103 professores que se inscreveram no curso Castel de Saint-Pierre, 1'abbé de Saint-Pierre, há dois
e que o freqüentaram com uma assiduidade séculos e meio já quase passados, arquitetava a paz
bem regular e evidente aproveitamento. universal sob a autoridade de um tribunal ou liga
de Nações, esta máxima pode e deve ser lembrada,
A Sociedade Brasileira de Geografia ou- neste momento e nesta cerimônia, como devida home-
torgou Diplomas aos seguintes professores : nagem que os Professores de Geografia prestam ao
conhecimento humano, porque aqui nos encontramos
Agliberto Vidal de Castro, Altair Gomes, reunidos para oferecer à ciência o maior prêmio a
Álvaro Pais de Barros Filho, Armando que ela possa aspirar: — o prazer de esclarecer a
José ignorância.
Sampaio de Sousa, Ari Augusto Chaves
Faria, Ceurio Roberto de Holanda Olivei- A vós, Senhores professores, essa missão sagrada,
ra, Clélia Roselli, Cleonice de Sales Ma- a vós, Senhores professores, essa Embaixada, porque
cuco, Daso de Oliveira Coimbra, Elsa Coe- a ciência vos conferiu credenciais para disseminar-
lhe os conhecimentos, para esclarecer a ignorância.
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO 77

A vós, Senhores professores, o mais nobre prêmio A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, é
a que a ciência pode aspirar, a vós êsse prazer da justo que se diga e que se repita, se integra na co-
Consciência, o mais belo porque o irais modesto dos munhão cultural do nosso país com um acervo de
trabalhos e conquistas digno do mais elevado apreço,
prêmios, e dos prazeres, a que aspirar possam a
ciência c a consciência humanas. destacando-se como um dos expoentes mais tradi-
cionais e eficientes da inteligência e do esforço,
* * *
não só pelos serviços que já prestou mas, ainda,
pela luta que os seus associados vêm, há mais de
62 anos, sustentando, entre culminâncias e desalen-
Não c esta, meus Senhores, a vez primeira cm tos, para garantir-lhe a superexistência, para que não
que a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro se desapareça, para que digna continue dos propósitos
empenha em organizar cursos de altos estudos geo- e das aspirações daqueles que, a 25 de fevereiro de
gráficos. 1883, a fundaram, daqueles que a sustentaram, da-
Desta feita, porém, a sua iniciativa apresenta as« quelcs que hoje se honram em formar-lhe o quadro
social.
pectos novos e de marcada relevância.
Em primeiro lugar, o curso, que hoje encerramos, Para mais de 3.000 já vai o número daqueles que
foi dedicado aos Professores de Geografia; em se- ingressaram em tão venerando sodalício, sendo de
destacar o nome augusto de Sua Majestade o Impe-
gundo lugar, os diplomas que a Sociedade vai con-
ferir são diplomas autênticos de um aperfeiçoamento rador Dom Pedro II, seu primeiro Presidente de
cultural, que o Estado reconhece como bastantes Honra e um dos assíduos freqüentadores de nossas
reuniões, pelo passado.
para a outorga de direitos à conquista de postos su-
periores; c, cm terceiro, as aulas deste ano tiveram Cerca de 1.000 trabalhos geográficos já publi*
o concurso valiosíssimo do Conselho Nacional de cou a nossa Revista, cujo tomo 52tf está por apa*
Geografia que, fiel ao espírito geográfico, pôs à dis- recer.
posição da Sociedade, dos Mestres e dos Professores- 10 Congressos Brasileiros de Geografia já realiza-
alunos todos os elementos e recursos de suas ins-
talações e aparelhamento para que mais eficientes mos, congregando 7.85£ brasileiros e oferecendo a
e objetivas pudessem ser as classes desenvolvidas ; contribuição de 963 trabalhos.
porque contámos com a colaboração dos Serviços Por iniciativa da Sociedade, foi transportado, dos
de Meteorologia, do Censo e de índios, os quais, coo- sertões da Bahia, para o Museu Nacional o meteorito
perando nesse curso, puzeram, também, à disposição Bedengó, tendo o nosso ilustre consócio, Visconde de
dos Professores-alunos todas as suas instalações, pro- Guahy, concorrido com 20 contos de réis, valor em
porcionando-lhes os mais pormenorizados esclareci- 1887, que representaria, hoje, cerca de 250.00Ü
mentos técnicos a respeito do seu funcionamento e Cruzeiros.
do seu entrosamento com a Geografia.
Várias foram as explorações científicas e geográ-
Entre os Mestres que regeram as cátedras desse ficas levadas a efeito pela Sociedade, sendo de lem-
novo ciclo, vejo alguns veteranos da Geografia, ve- brar, pelo triste fim que teve, a realizada sob a
teranos em cultura, cm dedicação, cm tradições, não chefia do saudoso consócio Capitão Teles Pires ao
veteranos cm tempo ou idade, e que, pelos serviços sertão de Mato Grosso.
prestados no último curso organizado pela nossa Para a publicação do «Dicionário Geográfico» de
Sociedade, dela mereceram o título de Honra com
Moreira Pinto, que contém mais de 20.000 vocábulos,
que a nossa Agremiação quis galardoar-lhes os altos a Sociedade contribuiu com quase 9 contos de réis,
méritos. E' com desvanecimento que declino os seus ou sejam: cerca de 100.000 Cruzeiros.
nomes: Everardo Backeuscr, Delgado de Carvalho,
Fernando Antônio Raja Gabaglia. A nossa Biblioteca e Mapoteca constitui um repo-
sitório notável de ciência geográfica.
Novos expoentes da nossa ilustração geográfica,
como: Dodsworth Martins, Cristóvam Leite de Castro, A primeira Exposição de Geografia Sulamericana,
realizada no Rio de Janeiro, foi de tão grande e
Alírio de Matos, João Capistrano Raja Gabaglia,
houv brilhante sucesso que, por isso mesmo, talvez, não
J.C. Schmidt, G. Mortara, J. Zarur, formam, houvesse quem se atrevesse a organizar uma se-
bro a hombro, com os sempre jovens e alertas vete- gunda.
ranos da Geografia pátria, e outro, ainda, aqui está,
.orno essa luzida plêiade; de nome estrangeiro, nome Por ocasião do Centenário da Independência, or*
ganizámos a Geografia do Centenário, cuja edição
porém, que já se nos fez caro e cuja nacionalidade, não foi possível fazer completa, por carência de
longe de constituir uma delimitação, surge, entre nós recursos.
e para nós, como símbolo tradicional de cultura e
de beleza. A nossa Sociedade compareceu sempre nos Con-
gressos internacionais de Geografia e de America-
Foi da França eterna, eterna pela ciência c pelo nistas, realizados fosse na Europa, fosse na América
liber-
gênio, pelas idéias c pelos ideais, berço das do Sul, do Centro ou do Norte, e com todas as
dades e dos mais belos pensamentos, onde fomos Sociedades congêneres do mundo mantivemos inter-
buscar, de onde nos vieram todas as aspirações, câmbio cultural e de publicações.
todos os elementos que plasmaram, durante mais de Os nomes mais eminentes da Geografia pátria ilus*
um século de autonomia cultural a nossa formação traram a nossa tribuna, e, dentre os estrangeiros,
mental e intelectual. citarei Elysée Réclus, Von den Steinen, Giovanni
A Franciss Ruellan desejo, em nome da nossa Rossi, Juan Francisco Valverde, Jean Charcot, Or«
Sociedade e da Geografia brasileira, patentear o nosso ville Derby, Savage Landor, Alexander Haag,
reconhecimento e a nossa admiração. William John Steans, A. Tills, Joseph Mowson,
78 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Gustav Suckow, Paul Enrenrreich, Frédéric Maurice, fessorado, mas, e sobretudo, para que mais eficú Jte
Draenert, Jules Marcou, Gustav Pichard, Alejandro se fizesse vossa capacidade de Professor.
Cancedo, Karl Leu, A.S. Forrest, Pierre Defrontai- * * *
nes, Emmanuel De Martonne e tantos outros.
E hoje, sob a presidência do egrégio e benemérito
Embaixador José Carlos de Macedo Soares, tendo a Em todo o mundo civilizado, a Geografia é pro-
coadjuvar-lhe o dinamismo e a eficiência, aqui estão clamada a Rainha das Ciências, a ciência mais útil
Jorge Dodsworth Martins, Everardo Backeuser, Mário e indispensável ao homem, porque é a Geografia
Rodrigues de Sousa, Frederico Augusto Rondon, Oli- que estuda a terra em todos os seus infinitos e com-
veira Belo, Francisco de Sousa Brasil e quem a honra plexos aspectos.
tem de vos dirigir a palavra neste momento. E' sobre a terra e da terra que vivemos.
O nosso programa de ação, que visa criar um
Museu Geográfico, ampliar o ciclo de conferências E' ela que tudo nos dá e tanto maior será a
técnicas, científicas e culturais, realizar inquéritos e quantidade e superior qualidade do que nos possa
excursões geográficas, ampliar os quadros sociais, oferecer quanto mais e melhor a conhecermos.
cogita, também, dos cursos de altos estudos geográ- A Geografia abrange todos os estudos da terra,
ficos, cuja primeira etapa é hoje encerrada com a desde a matemática, que nô-la permite medir, pas-
adesão de 100 Professores de Geografia do curso sando pela geologia, que nô-la faz conhecer em sua
ginasial. constituição para que mais intensa e eficiente se
faça a sua exploração cm benefício das indústrias,
* * *
da agricultura e da pecuária, e pela antropogeogra-
fia, que estuda as relações do homem com a terra,
Senhores Professores, a alta dignidade de que vos em todos os seus reflexos sociais, políticos e histó-
achais investidos poderia, muitas vezes, decair de ricos, até à fisiografia, que permite as realizações eco-
sua elevação frente às realidades da vida material nômicas, e à Geopolítica, que orienta os estadistas
e quotidiana se, por em cima do primum vivere, na solução dos mais relevantes problemas nacionais,
deinde philosophari, não estivesse presente ao vosso e de entrosamento com os demais países e povos.
coração e à vossa consciência o sentimento do dever, O estudo da Geografia, portanto, é básico e funda-
que a vocação do magistério inspira e que vós dedi- mental para o Estado e para o Homem.
cadamente praticais. Tornar patentes, divulgar e incutir no espírito dos
A um dos imperadores mais humanos e mais dignos nossos patrícios essas verdades é o que se propõe,
cíos que têm reinado se atribui uma frase, que bem é ao que tende a Sociedade de Goegrafia.
traduz esse respeito à sagrada missão de esclarecer E vós, Senhores Professores, deveis ser os após-
a ignorância, tão sagrado quão a de conduzir os tolos dessas doutrinas, desse programa cultural, na-
destinos de um povo, de uma nação: — «Se não ti- cionalista, universal, aqueles que, de primeira mão,
vesse nascido para reinar, teria querido ser pro- estão chamados a fazer penetrar na inteligência e a
fessor. despertar no coração das nossas juventudes o gosto
De vossa humanidade e da retidão de vossa moral, e a inclinação vocacionais dos futuros cidadãos, dos
dos vossos conhecimentos, da vossa suave energia homens de amanhã.
e da vossa inteira compreensão de tudo o que signi- E ninguém, melhor do que vós, poderá incutir-
fica moldar e plasmar sentimentos, inclinações, inteli- lhes essas verdades fazendo-lhes perceber e sentir o
gências, anelos e arrebatos, é que depende a forma- panorama geral c as perspectivas fundamentais que
ção ética e culturalmente estética das juventudes que o conhecimento da Geografia encerra, como base de
se vão sucedendo para formarem a nação de ama- todas as projeções científicas c utilitárias.
nhã, porque, por entre vossas mãos, pendentes de
vossos sentimentos, de vossa ciência, de vossa arte • *

e bondade estão, qual cera virgem % informe, o in-


telecto e o coração dos nossos filhos, dos futuros ei- A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro se
dadãos do Brasil, dos futuros homens do Mundo. congratula convosco, a vós vos agradece a resposta
O magistério, senhores Professores, melhor que os que destes aos seus apelos, intuitos e esforços, cujas
melhor informados, bem o sabeis, não é apenas um finalidades ficam patenteadas pelo prestigioso apoio
emprego, um meio, bem precário, como sempre foi e que recebemos do Exm9 Senhor Dr. Gustavo Capane-
continua a ser, de subsistência, mas um sacerdócio ma, Ministro da Educação, e da Senhora Dna. Lúcia
para cujo exercício necessários se fazem, como im- de Magalhães a dedicada Diretora da Divisão do
perativos, o sentimento de dedicação e o espírito de Ensino Secundário, pela solidariedade generosa do
devotamento. Conselho Nacional de Geografia, e pela adesão irres-
Diexastes, por horas e dias consecutivos, vossaa trita e magnífica dos ilustrados consócios que, de
ocupações, vossos prazeres de férias, vossas obriga- tã boa vontade e tão proficientemente conduziram
çõe pessoais, vossos projetos de família, para acudir este primeiro ciclo de altos estudos com que a So-
a estas aulas, para enriquecer ainda mais o cabedal ciedade de Geografia deseja estimular o conhecimento
de vossa cultura, de vossas aptidões não apenas para do Brasil e dos métodos para que melhor o co-
que possível vos fosse a elevação na escala do pro- nheçamos.

Resumo en Esperanto — PERFEKTIGAJ KURSOJ POR PROFESOROJ DE GEOGRAFIO


EL LA DUAGRADA CIKLO.
Okaze de Ia disdono de diplomoj ai tiuj kiuj sekvis Ia perfektigan kurson por profesoroj de geograíio
ei Ia duagrada ciklo, organizatan de Brazila Societo de Geografio, Ministro J. S. da Fonseca Hermes faris
oportunan kaj saêan paroladon, laüdante Ia ideon pri Ia kurso, Ia valoron de geografiaj scioj kaj Ia funkoion
de Ia diplomitoj.
A SEMANA DO ÍNDIO

A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA ADERE À INICIATIVA DO SERVIÇO


DE PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS

Sessão especial, realizada a 25 de Abril de 1945

A Sociedade Brasileira de Geografia não Uns sustentam o erro dos colonizadores em não
atraírem, humana e boamente, o selvícola à cola-
podia deixar de prestar a sua solidariedade boração estreita com os invasores, decorrentes as
à «Semana do índio», com que o Serviço conseqüências da infâmia c dos perenes malefícios da
de Proteção aos índios comemorou, este ano, importação de africanos.
suas beneméritas atividades. Outros propendem em reconhecer, na indomabili-
dade dos índios c na necessidade de braços para a
Assim foi que, no dia 25 de Abril, a So- lavoura e para os árduos trabalhos da mineração,
ciedade se reuniu em sessão extraordinária o fato, em si imperioso, da implantação da escra-
para ouvir a conferência do Coronel Fran- vatura no Brasil.
cisco Jaguaribe Gomes de Matos sobre o A mentalidade dos conquistadores no século XVI
tema «Contribuição ameríndia na civilização não se detinha na contemplação sequer da igualdade
ocidental», sessão que foi honrada com a pre- dos homens brancos, quanto mais no respeito aos
negros e índios que, na opinião de alguns, nem hu-
sença do benemérito «Protetor» do nosso sei- manos eram.
vícola, o desbravador do sertão brasileiro,
Outros fatores levaram os conquistadores ao des-
General Cândido Mariano da Silva Rondon,
preso do índio c do negro, em quanto ao Brasil se
Presidente de Honra da nossa Sociedade. refere.
Infelizmente, o Coronel Jaguaribe de Ma- O índio e o negro não eram cristãos e, como in-
tos não pôde, até hoje, entregar-nos o texto créus, deviam ser reduzidos à escravidão.
de sua abalizada conferência, pelo que la- A vitória dava o direito de escravizar os venci-
mentamos não nos ser possível publicá-la dos, era a prática seguida, mesmo na Europa.
Por outro lado, o Brasil tinha de dar a Lisboa
neste número. riquezas iguais às que o Peru e o México propor-
É-nos, entretanto, grato reproduzir as pa- cionavam a Madrid.
lavras que o nosso 1- Vice-Presidente, no Sua Majestade Fidelíssima não podia figurar em
exercício da Presidência, pronunciou nessa plano inferior ao de Sua Majestade Católica.
ocasião : Não seriam os poucos portugueses, deportados
uns, aventureiros outros, ávidos, todos, de riqueza,
«A Sociedade Brasileira de Geografia se associa que haviam de atirar-se às mais duras tarefas.
à iniciativa do ilustre General Cândido Mariano da Conquistar, pilhar, vencer e dominar era o nor-
Silva Rondon, que instituiu a «Semana do índio» mal, era o justo, era ao que vinham.
como tributo de reconhecimento ao primitivo sobe-
rano do nosso solo e sustentação dos direitos do Poucos homens contra uma população arredia e
selvícola. uma colônia imensa, agreste, longínqua, a explorar.
Uma incógnita paira ainda sobre a consciência O servícola não se submeteu à escravidão, prefe-
nacional, objeto de inquéritos subjetivos e fonte de riu deixar-se morrer ou ser morto, não só porque
teses divergentes, a respeito das conseqüências que se viu perturbado em sua vida e costumes, mas ainda
poderiam advir para o Brasil a adoção de outra porque seu feitio nômade e livre, indolente, desconfia-
política que a seguida pelos descobridores, no que do e indômito, não podia se ajustar à situação complc-
concerne o indígena. tamente inversa a que o queriam reduzir os colo-
As opiniões, porém, se dividem. nizadores.
80 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

O remanescente foi se retirando à proporção que Êle nos dirá, estou certo, coisas de alta relevância
o invasor avançava. a respeito do contato do deíobridor com o indígena
e muito da obra ingente levada a efeito pelo Serviço
Glorificamos as «Bandeiras», no que tiveram de de Proteção ao índio, instituição a que o General
transcendental para a dilatação do território brasi- Rondon, nosso ilustre Presidente de Honra, vem
leiro, mas não devemos esquecer o anverso desses dedicando tantos e tão prolongados esforços.
episódios, bem pouco lisonjeiros, porquanto, além de
terem por objetivo principal a busca do ouro e da Outros, também, se dedicam à catequese do sei-
prata, visavam a caça de índios para reduzi-los à vícola; quero me referir às Congregações religiosas
escravidão. que mantêm centros de atração e educação de índios
pelos ínvios sertões do Brasil, tomando como exem-
Se os portugueses são passíveis de censura por pio a magnanimidade, cristã e humana, de um Las
terem pretendido escravizar o autóctone, por tê-lo Casas, de um Nóbrega, de um Anchieta.
forçado a fugir até às extremas do território, por
lhe terem dado a morte aos milhares, muito mais E fato digno de ser revelado, apesar da diversi-
condenáveis são aqueles que durante quase um século dade de conceitos, no que se refere às modalidades
de vida independente, sob a égide dos direitos do cívica e religiosa, operantes no grupo professo e no
homem, dentro do conceito filosófico da igualdade grupo que podemos chamar oficial, o entendimento
das raças e da proteção aos mais débeis, pouco ou existente entre ambas roí e é cordial e efetivo.
de nenhuma maneira se preocuparam da sorte dos A admiração e o respeito recíprocos, pelos sacrifí-
servícolas. cios e elevação moral que tal obra exige dos ho-
Ainda nesse ponto, entretanto, as opiniões se di- mens, são os fundamentos que justificam essa solida-
videm, porque uns acham que a felicidade está na riedade admirável, ao mesmo tempo que natural.
civilização, ao passo que outros entendem que o Por isso é de lamentar que, nesta sessão, não ou-
índio será sempre mais feliz no âmbito em que nas-
ceu, na prática dos costumes inveterados e ancestrais, çamos também os ecos da obra de catequese reali-
zada pelas Missões religiosas.
na liberdade e no primitivismo ingênuo em que sem-
pre viveu. O Coronel Jaguaribe de Matos a ela, talvez, venha
a referir-se, guiado pelo espírito de justiça que tão
Onde reside a felicidade ? bem caracteriza a tradição da nobre tarefa dos de-
Vamos ouvir a palavra autorizada do Coronel cifradores das incógnitas do nosso sertão e da vida
Jaguaribe de Matos. dos primitivos brasílicos.

Resumo en Esperanto — SEMAJNO DE LA INDIGENO


Brazila Societo de Geografio, solidara kun Ia "Servo por protektado ai indigenoj ' km jam cie multaj
jaroj faras efikajn servojn ai Ia restantaj indigenoi en Ia internlando, realigis eksterordinaran kunsidon, por
"Kontribuo
aüdi interesan paroladon de Kolonelo Francisco Jaguaribe Gomes de Matos, kies temo estis.
de Ia amerikaj indigenoj ai Ia okcidenta civilizacio." Paloradis ankaü Ministro J. S. da Fonseca Hermes.

i
fc»

MENSAGEM DE CORDIALIDADE DO INSTITUTO


DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS DA REPÚBLICA
é*Éw$Ê&
ARGENTINA (G. E. A.)

O ENGENHEIRO ALFREDO GALMARINI E' RECEBIDO NA SESSÃO


DO DIA 8 DE SETEMBRO DE 1945

Prevalecendo-se da vinda cio Engenheiro O Senhor Galmarini agradeceu ao Senhor


Alfredo Galmarini, Diretor Geral do Servi- Presidente J. S. da Fonseca Hermes as pa-
ço de Meteorologia da República Argentina lavras tão afetuosas que lhe dirigiu, recor-
e Sócio do Instituto de Estudos Geográficos dando os trabalhos realizados em comum
daquele país amigo, como Delegado à Con- nos Congressos de Meteorologia, Radioco-
ferência Panamericana de Radiocomunica- municações e de Aviação, em que ambos
ções realizada no Rio de Janeiro, o Almiran- tomaram parte; acentuou o seu desvane-
te Casais, Presidente daquele Instituto, en- cimento em ser recebido tão fidalgamente
carregou-o de transmitir à nossa Sociedade pela tradicional Sociedade de Geografia do
cordial Mensagem de solidariedade. Rio de Janeiro, cujos relevantes serviços
Posto ao corrente dessa missão, o Minio- tanto a recomendam ao conceito mundial,
tro J. S. da Fonseca Hermes convidou o agradeceu as elogiosas referências do seu
Dr. Alfredo Galmarini para uma sessão es- amigo Ministro J. S. da Fonseca Hermes
ao seu país e ao Instituto de Estudos Geo-
pecial, que se realizou antes da reunião or-
dinária do Conselho Diretor do dia 8 de Se- gráficos da Argentina, passando, então, a
tembro de 1945. expor que o Almirante Casais, Presidente
do Instituto, ao saber de sua viagem ao
Anunciada a presença do Enviado do Ins- Brasil, encarregara-o de trazer à nossa So-
tituto argentino, o Presidente designou os ciedade uma mensagem de cordialidade e os
Senhores Coronel Francisco Jaguaribe Go- votos por que as relações culturais e de fra-
mes de Matos e o Professor Francisco de ternidade entre as duas instituições se es-
Sousa Brasil para introduzirem no salão de treitassem fortemente, para o que o Insti-
sessões o Engenheiro Galmarini, que foi con- tuto de Estudos Geográficos da Argentina
vidado a tomar assento à Mesa diretora des não pouparia esforços nem boa vontade.
trabalhos.
As palavras do Engenheiro Galmarini fo-
O Ministro Presidente saudou o ilustre ram recebidas com inequívocas demonstra-
portador da Mensagem do Instituto de Es- ções de agrado e aplausos.
tudos Geográficos da Argentina, Dr. Al-
fredo Galmarini, de cuja amizade, consoli- O Ministro Presidente agradece, em nome
dada pelos trabalhos conjuntos em três da Sociedade, essa cordial demonstração de
Congressos internacionais, muito se hon- cordialidade por parte do Presidente do
rava. Instituto argentino e manifesta ao Dr. Gal-
marini o empenho que porá a Sociedade de
Depois de anunciar e de enaltecer o sig-
Geografia do Rio de Janeiro por correspon-
nificado e o alcance da missão de cordiali-
der a tão espontânea e valiosa sugestão.
dade que trazia o Engenheiro Galmarini
para a nossa Sociedade, concedeu-lhe a pa- Recorda os nomes de várias personalida-
lavra. des argentinas que visitaram a nossa So-
st REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

ciedade e acentua que a nossa Instituição tri- para a consolidação e extensão da paz e da
butou grandes homenagens a alguns argen- concórdia entre os povos.
tinos ilustres, atribuindo o Título de Presi- A Sociedade de Geografia do Brasil re-
dente de Honra ao General Júlio R. Roca cebe, pois, com agrado e entusiasmo, a men-
e ao Dr. Vitorino de La Plaza e o de Sócio sagem do Instituto Argentino de Estudos
Geográficos c pede ao Dr. Galmarini diga
de Honra aos Senohres. Dr. Manuel Ber-
ao Presidente Almirante Casais que os seus
nárdez, Júlio Fernández, Dr. Norberto Quir-
no Costa, Dr. Lucas Ayarragaray e Dr. propósitos encontram de nossa parte a mais
franca correspondência.
Carlos Lix Klett. O Senhor Galmarini reitera os seus agra-
Tece elevados comentários em torno ao decimentos pelo fraternal acolhimento que
tema da cooperação entre as Associações teve na Sociedade e assegura que levará ao
culturais e científicas da Argentina e do Almirante Casais e aos demais companhei-
Brasil, da América e do mundo, para che- ros do Instituto as suas magníficas impres-
gar à conclusão de que o espírito e a inteli- soes.
gência, a serviço da cultura e da ciência, Com as mesmas formalidades o Senhor
constituem os instrumentos mais eficientes Galmarini se retira.
INAUGURAÇÃO DO RETRATO DE S.A.R. O SENHOR
CONDE DEU, VICE-PRESIDENTE DE HONRA
DA SOCIEDADE

S. A. I. O PRÍNCIPE D. PEDRO, GASTAO ,DE ORLEANS E BRAGANÇA


SÓCIO DE HONRA

Na sessão solene do dia 26 de Fevereiro de 1945.

Na sessão solene de 25 de Setembro de prestada pela tradicional Sociedade de Geo-


1945, comemorativa do 629 aniversário da grafia, pronunciando as seguintes palavras:
instalação da Sociedade, foi inaugurado, no «Ia pedir a palavra, Senhor Presidente,
Salão de Sessões, o retrato de Sua Alteza
para, em duas palavras, agradecer a honro-
Real o Senhor Conde d'Eu, Presidente de sa investidura que a egrégia Sociedade de
Honra, que foi, da nossa Sociedade. Geografia do Rio de Janeiro generosamente
Para essa cerimônia foi especialmente con- vem de me conferir, fazendo-me seu Sócio
vidado Sua Alteza Imperial o Príncipe Dom Titular, quando, já iniciada esta sessão, re-
Pedro, Gastão, de Orleans e Bragança, Sócio cebi uma gratíssima incumbência, qual seja
Efetivo, que foi introduzido na sala de sesões a de agradecer também, à Sociedade, em no-
pelos Senhores Ministro J. S. da Fonseca me do Príncipe Dom Pedro, aqui presente,
Hermes, Almirante Jorge Dodsworth Mar- a sua elevação à categoria de Sócio de
tins, Dr. Taciano Acioli e Reverendo Pa- Honra.
dre Francisco Xavier Lanna, que o condu- «Gratíssima missão, disse eu, esta de agra-
ziram à Mesa da Presidência, sob gerais decer à Sociedade, em tão boa e significativa
aplausos, assento à direita do Presidente Em- companhia, qual seja a do Príncipe Dom
baixador José Carlos de Macedo Soares. Pedro, pessoa ligada a esta Casa pelas mais
O Senhor Presidente comunicou, então, a belas tradições. Seu bisavô, o grande brasi-
Sua Alteza que a Sociedade de GeograHa leiro Dom Pedro II e seu avô, o Marechal
acabava de conferir-lhe o Título de Sócio da Vitória, por longuíssimos anos, assisti-
de Honra, em homenagem à sua augusta ram, como Presidente de Honra, aos traba-
família, que tantos e tão relevantes serviços lhos da Sociedade de Geografia do Rio de
havia prestado ao Brasil e à Sociedade de Janeiro, com o carinho e a devoção por eles
sempre dispensados às coisas do espírito.
Geografia.
«Certamente que êle próprio, o Príncipe
Sob gerais aplausos, o Senhor Presidente
Dom Pedro, desejaria dizer da satisfação
solicita do Almirante Gago Coutinho, Sócio
de Honra, o obséquio de fazer entrega do que o emociona neste momento, com mais
esta homenagem que a Sociedade lhe tri-
Diploma a Sua Alteza. buta.
O Dr. Alcindo Sodré, que tomava posse do «Suponho todavia, que não só a emoção o
posto de Sócio Titular, para que havia sido inibe desse prazer, mas também um natural
eleito, agradece, também, em nome do Prín- pudor, por culpa que lhe não cabe: a falta
cipe Dom Pedro a deferência que lhe e de perfeita dição da noesa lingua. Certa vet
84 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

as circunstâncias o obrigaram a explicar. «Agradecendo a vossa generosidade, es-


Foi quando uma escola pública do Distrito pero corresponder, na medida dos meus re-
Federal realizava uma solenidade em come- cursos, a tão distinta e agradável regalia».
moração do centenário do nascimento do . Em seguida, o Senhor Presidente anun-
Conde d'Eu, e o Príncipe, especialmente cia a inauguração do retrato de Sua Alteza
convidado, ouviu agradáveis palavras de sim- Real o Senhor Conde d'Eu, dando a pala-
patia, e então disse : vra ao Consócio Dr. José Vanderley de
«Meus jovens patrícios: antes de mais Araújo Pinho, que analisou a vida e obra
nada, sinto bem que Vocês hão de estra- do egrégio Príncipe, salientando a participa-
nhar que um Príncipe, neto de Pedro II, ção eminente que teve nos fastos da história
e que se diz seu patrício, fale a nossa língua do segundo reinado. Recordou a assiduidade
com sotaque. E eu preciso dizer a razão: é com que, acompanhando ao Imperador ou à
Princesa Dona Isabel, assistia às reuniões
que Vocês são brasileiros que tiveram a ven-
tura de nascer no Brasil, ao passo que eu da nossa Sociedade, da qual foi o segundo
sou um brasileiro que foi obrigado a nascer Presidente de Honra.
no estrangeiro...» Terminada a cerimônia, que se revestiu
«De minha parte, confesso-me altamente de grande imponência, Sua Alteza o Prin-
desvanecido pela minha admissão na Socie- cipe Dom Pedro se retirou com as mesmas
dade de Geografia do Rio de Janeiro. formalidades.

Resumo en Esperanto - INAUGURO DE PORTRETO DE GRAFO D'EU.

En Ia sidejo de Brazila Societo de Geografio, dum Ia solena kunsido memoriganta Ia 62-an datrevenon
pe Ia fondo de Ia Societo, estas inaílgurita portreto de Grafo d*Eu, kiu estis honora preztdanto de Ia Societo.
Ôeestis Ia ceremonion Ia ne/o de Ia Grafo, Princo Pedro Gastão de Orleans e Bragança, kiu ncevis
Ia titolon de honora membro. En lia nomo dankis D-ro Alcindo Sodré.
INAUGURAÇÃO DO RETRATO DO CONSELHEIRO
FRANCISCO MANOEL CORREIA, INICIADOR DA
FUNDAÇÃO DA SOCIEDADA

NA SESSÃO SOLENE DO DIA 26 DE FEVEREIRO DE 1945

Discurso do Comandante L. A. DE OLIVEIRO BELLO

Tesoureiro s

Na sessão solene, comemorativa do 62- Findo o discurso do orador designado,


aniversário da instalação da Sociedade, rea- o Senhor Presidente convida a Senhora Léa
lizada a 25 de Setembro de 1945, foi pres- Correia Leal, filha do Dr. Leôncio Correia,
tada especial homenagem à memória de um para descobrir o quadro com o retrato do
dos mais destacados políticos do Império, o Senador Correia.
Senador, Conselheiro, Ministro Manuel Em eloqüente improviso, o Dr. Leôncio
Francisco Correia, a quem a Sociedade deve Correia, brilhante jornalista e polígrafo,
a iniciativa de sua fundação. agradece a homenagem prestada ao seu ilus-
A essa sessão assistiram numerosas pes- tre tio, homenagem que muito eleva a Socie-
soas da família do homenageado, entre as dade de Geografia, por isso que revela o cri-
tério de alta justiça com que é conservada
quais se destacavam o Dr. Leôncio Correia
e o atual Embaixador Oscar Correia, que, e reverenciada a memória de um dos seus
sob aplausos da assistência, foram introdu- mais conspícuos pioneiros.
zidos no salão de sessões por uma comissão, Acompanhado pela mesma comissão e com
especialmente designada pelo Presidente, e a mesma cerimonial, se retiraram as pessoas
composta dos Senhores Ministro J. S. da da família do Senador Correia.
Fonseca Hermes, Almirante Jorde Dods- Reproduzimos o discurso do Comandante
worth Martins, Dr. Taciano Acioli c Revê-
Oliveira Belo:
rendo Padre Francisco Xavier Lanna, sendo
o Dr. Leõncio Correia convidado a tomar No ano de 1821 um selecionado grupo de geo-
assento à Mesa da Presidência. grafos, cientistas e homens de saber congregou-se
na França e fundou a Sociedade de Geografia de
O Senhor Presidente Embaixador José Paris, que passou a funcionar consoante um amplo,
/ Carlos de Macedo Soares comunica que a atraente e bem discriminado programa, claramente
J Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro definido em seus estudos com o clarividente objetivo
de «proceder a -estudos completos de geografia em
ia prestar à memória do seu ilustre fundador todo o vasto âmbito da Terra, com o caráter prático
a mais alta homenagem que se pode render e com o fim de desenvolvê-los, estimá-los, valoriza-
a um Sócio, qual seja a de colocar-lhe o re- los, adaptando-os aos modernos conhecimento cien-
trato na Sala de Sessões. tíficos correntes»,
Dentro de cinco anos, já pletórica de eminentes
Depois de fazer algumas referências à sócios, seus êxitos ressoavam nos meios culturais
personalidade de Manuel Francisco Correia, de Berlim, Amsterdam e Londres, que, entre 1928-30,
o Senhor Presidente dá a palavra ao Coman- respectivamente, seguiam-lhe o louvável exemplo e
dante Luís Alves de Oliveira Belo. fundavam congêneres Sociedades de Geografia. E
86 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

oito anos mais tarde, também na cidade do Rio de percebido aquele retraimento do Instituto e também
Janeiro, um grupo de brasileiros, ilustres e amantes compreendido que a única solução viável, que no
da Geografia e da História, reunidos em convívio momento se lhes apresentava, para salvar a perieli-
harmônico, fundavam o Instituto Histórico, Geográ- tante situação dos estudos e problemas geográficos
fico e Etnográfico Brasileiro, com o objetivo de se nacionais, era a fundação de uma Sociedade de Geo-
preocupar com os estudos geográficos e históricos, grafia, independente e moldada no eficiente programa
preferentemente nacionais, de modo a cooperarem francês.
na solução dos problemas econômicos e sociais do E quem teve essa inspirada idéia e soube propa-
país. gá-la, colher-lhe adeptos e procurar dar-lhe a exis-
E para sua honra e glória essa vetusta instituição tência prática foi o eminente Conselheiro Manoel
ainda existe, vivendo das suas veneráveis tradições Francisco Correia, devotado aos estudos, Diretor de
e do labor profícuo e alto saber de seus ilustres uma Escola, protetor de instituições de* ensino, e
sócios, através de cento e sete anos de contínuos e ilustre conferencista. *
proveitosos esforços. Para isso, na tarde de 11 de Fevereiro de 1883
Nas épocas em que todas aquelas Sociedades c reuniu em sua residência desesseis bons e ilustrados
esse Instituto foram criados a Geografia há muito brasileiros, que estavam de acordo com a sua idéia,
e com eles estudou os meios de agir para pô-la em
que já vinha perdendo o seu restrito caráter descri- execução. Desse encontro resultou a expedição de
tivo e nomenclativo da superfície da Terra e se
um convite, escrito e assinado por todos os pre-
preocupando, embora sem larguesa, com o seu inte- sentes, dirigido a cem ativos e cultos patrícios decla-
rior e com o próprio homem, seu principal habitante.
A esse já interessava conhecer a sua situação física, rando-lhes que, caso concordassem com a fundação
econômica e social em relação à Terra e, bem de uma Sociedade de Geografia, comparecessem no
assim, todos os produtos naturais que dela poderia próximo dia 25, ao meio-dia, na Escola da Glória, à
colher para aplicar ou transformar em seu proveito. praça Duque de Caxias, para confirmar tal fundação,
já estudada e aceita pelos signatários.
Em virtude disso, a Geografia já era encarada, por Realmente nesse dia, setenta e nove compare-
alguns homens de saber, como um vasto ramo dos centes, sob a direção do Conselheiro M. F. Correia,
conhecimentos humanos em conexão com várias homologaram com grande satisfação a referida fun-
ciências positivas e por outros, mais avançados ou dação da Sociedade de Geografia do Rio de Ja-
menos ortodoxos, como uma ciência própria e inter- neiro, elegeram uma Diretoria provisória e uma Co-
dependente. Todavia, no Brasil, os geógrafos não missão tríplice para elaborar o ante-projeto dos es-
haviam evoluído tanto e ainda se apegavam um tatutos, que deveriam reger os destinos da So-
pouco ao primitivo caráter de geografia, respeitando ciedade.
o estabelecido em qualquer uma das classificações
das ciências feitas por Ampére, Comte e Spencer, nas Finalmente aprovados tais estatutos a 8 de Julho,
quais ela não figurava. em sessão solene, a 16 de Setembro seguinte, foi a
Em 1878 a Real Sociedade de Geografia de Lis- Sociedade instalada e, em seguida, empossada a Di-
retoria efetiva, previamente eleita para dirigi-la até
boa, fundada em 1875, à semelhança do liberal mo-
delo francês, estimulada pelos seus êxitos, estabele- o fim do ano então corrente, e confirmadas as quatro
ce no Rio de Janeiro uma Seção Filial, com o lou- Comissões permanentes de Geografia Física, Mate-
vável objetivo de congregar portugueses e brasilei- mática, Política e dos Americanistas, para as quais
ros paja, em fraternal convívio e uniformidade de foram designados sócios de reconhecido saber.
espírito, cooperarem no desenvolvimento dos estudos E assim com simplicidade, beleza de gestos, opor-
geográficos dos dois países. A idéia foi amistosa- tunidade e muitas esperanças, achava-se fundada
mente aceita e, dentro de três anos, a Filial já contava esta veneranda Sociedade, da qual, hoje, somos os
com mais de duzentos sócios das duas nacionalidades. dedicados obreiros, que, com devotamento, afeto e
Infelizmente parcos eram os recursos da novel Socie- respeito, devem conduzi-la na sua contínua e honrosa
dade de modo que, a despeito dos bons esforços da trajetória por esse ambiente social e econômico de
sua Diretoria, em 1882 ainda não havia sido possível trepidante oscilações que, com galhardia e pertiná-
realizar nada de prático para cumprir alguns dos ob- cia, ela tem sabido vencer.
jetivos estatuídos no seu amplo programa. Daí a ine-
vitável dissidência, mais de caráter chauvinista que • * *
científico, que separou brasileiros e portugueses e da
qual resultou o afastamento de muitos daqueles.
• * * E, como justa e merecida homenagem, neste mo-
mento, em que, comemoramos o sexagésimo segundo
Nos trinta primeiros anos da Existência do Insti- aniversário da instalação da Sociedade, e, de cos-
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro constata-se a tume, rememoramos os nomes e os serviços prestados
sua freqüente preocupação pelos estudos históricos pelos seus mais eminentes sócios, inclusive os seus
e geográficos, que esclarecidos conhecimentos trou- ex-presidentes sempre os de maior projeção, o Mar-
xeram para os seus sócios e os amantes de tais es-
tudos. Daí para diante, entretanto, vem se notando quês de Paranaguá e o Barão Homem de Melo, real-
mente varões dos mais ilustres, hoje, dilataremos a
acentuada preferência pelos primeiros e apreciável homenagem rememorando também os nomes dos de-
escassês dos últimos, até que, por volta de 1860, sessete beneméritos sócios que, de fato, a fundaram
aquela preferência havia se consolidado como precí- a 11 de Fevereiro de 1883, quinze dias antes que os
pua finalidade do Instituto. demais sessenta e três, dentre os cem convidados,
Ora, ao findar o ano 1882, quando se deu a cisão confirmassem, a 25, a fundação da Sociedade.
na Filial da Sociedade de Geografia de Lisboa, os Foram eles: o Conselheiro Manuel Francisco Cor-
geógrafos e os homens de saber, do Brasil, já haviam reia, Conselheiro Antônio José Henriques, Conselhei-
INAUGURAÇÃO"DE RETRATOS 87

ro Henrique de Beaurepaire Rohan, Dr. João José mente rclanccados, o retratarão com pálidas tintes,
Pizarro, Vencesláu Guimarães, Comendador Catrambí, pois é curto o nosso tempo nesta sessão. Todavia,
José Antônio Rodrigues d'01iveira, Alexandre Afon- nos parecem capazes de o destacar e confirmar o
so de Carvalho, Dr. Licínio Chaves Barcelos, Dr. elevado conceito em que sempre foi cotado.
Antônio de Paula Freitas, Adolfo Paulo de Oliveira
Lisboa, Luís Álvares de Azevedo Macedo, Dr. Antô- Nasceu em 1831 na cidade de Paranaguá, quando
nio Coelho Rodrigues, Dr. Henrique Cesídio Sami- ela ainda pertencia à Província de São Paulo. Bacha-
co, João Carlos de Sousa Ferreira, Dr. Fernandes relou-se em letras no venerável Colégio D. Pedro II
Mendes de Almeida, Dr. João Pires Farinha e Fran- no Rio de Janeiro, tendo se revelado pela inteli-
cisco Manuel Cordeiro de Sousa, que foram os pre- gência e devotamento ao estudo, e em leis na Fa-
fundadores. culdade de São Paulo, onde sobressaiu pelo bri-
lhantismo com que fêz o curso. Aí, ainda como
Dentre todos esses oitenta fundadores da Socie- aluno, com pronunciado pendor para as letras, es-
dade, a ela sinceramente devotados com seus con- creveu o seu único romance novelesco: «A praia da
tínuos e eficientes esforços, houve um que, desde os Glória».
primeiros momentos, destacou-se per sua pro- Não sendo abastado, cedo procurou ocupação re-
fícua assistência e proveitosa cooperação para a ins-
talação e a existência da Sociedade, facultando-lhc munerada e fêz-se empregado público federal. Edu-
morada gartuita, material de expediente e até em- cado, ativo, honrado e competente, rápido galgou
pregados, além de eficaz propaganda oratória à capi- postos e exerceu variados cargos. Foi oficial de ga-
tação de novos sócios. Foi o Conselheiro Manuel binete de dois Ministros e secretário de um Presidente
Francisco Correia que, durante os três primeiros na Província do Rio de Janeiro. Antes dos trinta
anos, se revelou o sócio número um, não só na ordem anos ingressava na política e, pelo seu feitio mode-
cronológica, por haver sido o inspirador da idéia rado, patriota e conciliador, filiava-se ao Partido
da fundação da Sociedade e o iniciador do movi- Conservador.
mento que a realizou, como também por ter sido o Em 1861 era nomeado Presidente da Província de
abonador dessa instituição, em virtude do seu grande Pernambuco, uma das mais importantes do país,
prestígio nos meios social e cultural do Rio de Ja- e no cargo revelou competência, atividade e justiça
neiro, onde a inteligência, honradez, atividade, e desenvolveu a instrução pública infantil e a hi-
eloqüentes palavra e persuasiva argumentaçãa eram giene.
sobejamente conhecidas. Naqueles anos em que em- Posteriormente representou a Província natal
pregou grande atividade impulsionadora à vida inci- na Câmara Geral em várias legislaturas, chefiou a
piente da Sociedade, funcionou como se fosse um Repartição Geral de Estatística, e em 1871 entrou
motor que lhe houvesse imprimido a sua primeira
velocidade de regime. E quando em 1886, por dis- para o célebre Ministério de 7 de Março, presidido
sidência de princípios, afastou-se dela, a Sociedade pelo sagaz político, o Barão do Rio Branco, e com-
posto de homens de escol. Nele sobraçava a pasta
já possuía forte energia adquirida e pôde, então, com das Relações Exteriores e coube-lhe a árdua e me-
pequenas oscilações, acelerar aquela velocidade, pelos lindrosa tarefa de conduzir, a bons termos, a assina-
anos seguintes. tura do Tratado de paz com a República do Para-
O Conselheiro M. F. Correia era um homem de guai, o qual, devendo ser homologado conjuntamente
elevado caráter, leal, probo e que sabia se respeitar. pelas três Nações Aliadas vitoriosas, vinha sendo
Por isso mesmo era, por demais sensível, e fácil- postergado, intencionalmente, pelo Governo Argenti-
mente se melindrava. Preocupava-se seriamente com no. Habilidosamente, em sucessivas conferências ofi-
o conceito que de si faziam, mais os adversários que ciais e conversas particulares com D. Bartolomé Mi-
os amigos. Gostava de explicar, mesmo por escrito, tre, Enviado Diplomático em missão especial e con-
as suas atitudes quando não eram bem compreendi- fidencial no Rio de Janeiro, sem deslises pessoais e
das. A sua dissidência na Sociedade de Geografia do desdouro para a Nação, conseguiu abrandar o Minis-
Rio de Janeiro não foi de grande importância, porém tro das Relações Exteriores argentino, evitando, assim,
nela não souberam agir com habilidade de modo a séria crise internacional em perspectiva.
não melindrá-lo e, como no tempo em que ocorreu, Em seguida foi nomeado Conselheiro de Estado,
já haviam «abissínios» e «adoradores do sol», pre- do Imperador e, mais tarde, Senador pela Provín-
feriram se esquecer do grande fundador e lisonjear cia do Paraná.
a presidência, que vinha sendo exercida por quem,
pela sua grande projeção política, às vezes empu- E corria, por essa forma, venturosa a sua car-
nhava a cornucópia das graças... E, por isso, êle reira política quando, em junho de 1889, torna-se
se ressentiu fundamente. gravíssima a situação da política geral e D. Pedro
resolveu substituir o Ministério, indeciso e alérgico.
Perdeu a Sociedade de Geografia a cooperação O Conselheiro M. F. Correia é chamado ao Paço
de um sócio do valor e Imperial e convidado a formar novo Governo, con-
prestigio do Conselheiro
M. F. Correia, mas lucrou bastante o Instituto soante à oportuna orientação do Imperador. Ouve,
Histórico e Geográfico Brasileiro, que o conquistou, sereno e calado, a sua exposição e sugestões
reconhecendo-lhe e balanceando-as, com franqueza e sinceridade, con-
posteriormente o grande mérito.
clui por não aceitar a honrosa incumbência. O so-
• * •
berano surpreende-se e lamenta, respeitando a quês-
tão de princípios levantada pelo Conselheiro Correia,
O Conselheiro M. F. Correia foi um varão de que calmamente vinha acompanhando a marcha da
sólidas qualidades morais e forte envergadura, política Nacional, desde que a Questão Militar, em
que Maio de 1887, abrira funda brecha no enfraquecido
definiu expressivamente a trono bragantino e o deixou cambaleante. A aurora
personalidade nos meios
social, cultural e da República já começava a nimbar, com os raios de
político, gozando de invejável
prestíaio. Os seus traços biográficos, aqui fugaz- um novo sol, os horizontes daquela política.
88 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

O terceiro Reinado havia sido condenado pelas Em 1875 fundou singular Escola Normal no Rio
forças armadas e D. Pedro achava-se envelhecido, de Janeiro, a primeira que houve no Município Neu-
doente, fatigado e sem fôlego para lutar. A Princesa tro. Era o diretor e, em parte, custeava as despe-
Isabel, sua sucessora legal, era ainda mais generosa sas. Os professores, abnegados homens de saber,
e transigente que êle mas não possuía a sua aurcola. lecionavam grátis. Os alunos, que eram homens de
Fazia-lhe penumbra seu ilustre Consorte, de sangue estudos e professores, primários de ambos os sexos,
estranho à Coroa. A República marchava sem tro- pagavam parcas mensalidades. O curso era de três
pecos e a sua proclamação estava iminente. Falta- anos porém a Escola só funcionou dois e conseguiu
vam garantidos elementos para impedi-la. Tudo isso diplomar cerca de vinte professores.O Imperador as-
dissera, com forma e respeito, ao Imperador para sistiu aos exames e tão satisfeito ficou com os resul-
justificar a sua recusa, embora isso pudesse não lhe tados que presenteou, cada diplomado, com um anel
agradar. simbólico. Em seguida, o Soberano mandou fechar
O Conselheiro M. F. Correia falara como um a Escola, e, pelo seu modelo, ordenou, logo depois,
vidente, pois antes de seis meses o regime ruia e o abrir duas, uma que funcionaria à sua custa no pró-
Imperador não fora defendido e perdia o trono. E o prio Paço de S. Cristóvão e a outra na Fazenda de
Conselheiro, patriòticamente, fora do cenário da ação Santa Cruz por conta do Estado. Como Chefe da
direta, tinha a certeza de não haver contribuído para a Repartição Geral de Estatística, o Conselheiro M. F.
dupla queda. Já em 1887, por ocasião dos debates Correia mandou proceder, em 1874, ao primeiro
em torno da célebre moção apresentada ao Senado recenseamento geral da população de Brasil.
pelo Partido Liberal, por meio da eloqüente, porém Ao Instituto Histórico Brasilíiro, a que se dedicou
arrogante e ferina, voz do tribuno gaúcho Silveira com excepcional devotamenro, fez muitos donativos
Martins, se abstivera de comparecer a Sessão em em apólices, dinheiro, juros, iivros manuscritos c até
que ela fora apresentada e discutida. Preferiu agir o anel de ouro, com pedra preciosa, que os prõfes-
assim para se conservar fiel à sua consciência poli- sores de sua Escola Normal lhe ofereceram quando
tica, honrada e patriótica, e não concorrer para lan- ela cerrou as suas portas. Assíduo freqüentador das
çar mais pólvora no estopim, da bomba, que era a sessões do venerável sodalício usava sempre da pa-
Questão Militar. Previa que esta deveria arrebentar, lavra, ouvida com prazer e respeito, indicando só-
de inópino, abalando o trono e o regime, tal como cios, lavrando pareceres de diversas naturezas, fa-
sucedeu. E de sua hábil resolução deu, com toda a zendo conferências, explicando suas atitudes poli-
franqueza, prévio aviso ao ilustre Barão de Cote- ticas e sociais quando percebia que elas não eram
gipe, então Presidente do Conselho de Ministros, bem compreendidas, apresentando memórias históri-
que lhe solicitara, com grande honra para êle, a sua cas e depositando na «área de sigilo», dessa institui-
ponderada opinião. Revelava-se assim um homem de ção, documentos de seu punho, com disposições que
sólidas convicções, forte ação, e desprendimento deviam ser conhecidas e executadas depois de sua
pelas posições eminentes. morte. Além de haver feito parte de várias Comis-
Implantou-se a República, mas o Conselheiro não soes permanentes, foi seu 29 e l9 vice-presidente,
lhe a leriu, nem a combateu, eoavicto que estava de presidiu várias sessões, sendo a última a 7 de julho
que ela se consolidaria com rapidez visto que o povo de 1905, quatro dias antes de falecer. Pelos muitos e
a tinha recebido bem, como que há muito a anceiasse. relevantes serviços que lhe prestou em 1886 foi pro-
Mas é que no Brasil, desde o regime colonial, cada clamado sócio benemérito, e em 1901 teve nela a
um de seus filhos sempre foi conscientemente um satisfação de ver o seu retrato inaugurado, como
republicano e a monarquia não soube a-hiba- o terre- prova de alto apreço. Depois de sua morte essa Casa
no político para nele fixar suas raízes. Elas sem- de História e Geografia adquiria o seu busto, que
pre viveram na superfície, pouco a pouco se estio- hoje honra a veneranda galeria dos seus eminentes
lando com o clima oscilance das lutas políticas, sem sócios. E, assim, lhe fora rendida merecida justiça
programas sinceros e exeqüíveis. Políticos sem íir- e justo tributo ao seu grande valor de conspícuo
me orientação e sem efeito pelo soberano, o
povo cidadão.
sem cultura e indiferente à sorte da Nação.
Mas o penadio do Conselheiro M. F. Correia No primeiro ano da República seus conterrâneos
não foi a política, nem as letras e sim o desvelo e amigos o procuraram para lhe oferecer representa-
pela instrução infantil. Este é que foi o seu perene ção na Câmara Constituinte, como elevado elemento
ideal e para êle, durante trinta anos sucessivos, vol- de valor e de cultura, mas honrado como era, agra-
tou toda a carinhosa atenção, a generosa boi- deceu e não aceitou, porque não aderira ao novo
sa, a dinâmica atividade e o sólido regime nem o bafejava. Não o combatia e também
prestí- não confiava nele, nem nos seus pro-homens. Espe-
gio pessoal. Em seu benefício tornou-se um ver-
dadeiro rouxinol, pois com grande freqüência, em sua raria ver a Nação primeiro constitucionalizada, po-
propaganda, fazia ouvir no Congresso, na imprensa, rém isso não o impediu de aconselhar aos amigos,
na cátedra, nas escolas que dirigiu, e, finalmente, parentes e conterrâneos que não seguissem o seu
em tribuna particular de várias instituições de ensino modo de encarar o regime e o defendessem se o
a sua eloqüente e persuasiva palavra. Fora êle apreciavam e nele tinha fé. E nunca mais se en-
que,
em 1874, fundara o Asilo dos Amantes da Instrução, volveu na política.
e no ano seguinte, a Associação Promotora da Ins
trução de meninos e, posteriormente, a Mantenedora Posteriormente, já em abril de 1893, porque não
da Escola Borão do Rio Doce à Rua do Lavradio. era abastado, sustentava família, era generoso com
Já era Diretor de afamada Escola da Glória, à praça os pobres e continuava a dar assistência à instrução
Duque de Caxias, na qual realizou uma série de im- infantil, por iniciativa e conselhos de amigos e pa-
portantes conferências sobre o ensino e a sociologia rentes, aceitou o cargo de presidente do Tribunal
e onde também se fizeram ouvir
Joaquim Nabuco, Federal de Contas e exerceu-o por poucos meses.
Carlos de Laet e outros oradores de escol. Uma circular do Ministro da Fazenda dirigida a
INAUGURAÇÃO DE RETRATOS 39

todos os Chefes de Repartições concitava-os a se tor- Geografia, de que ainda conservava mágua. Eis aí,
narem delatores dos funcionários, sob suas ordens, em rápido bosquejo, quem foi o eminente Conse-
que não fossem adeptos do regime, o hostilizassem lheiro M. F. Correia, a quem hoje esta Sociedade,
ou fossem desafetos ao Governo e o criticassem. com satisfação de todos os seus associados, resgata
Respondeu em inofensivos termos, porém estranhan- antiga dívida de gratidão e apreço pelo seu inolvidável
do a melévola insinuação c, dias depois se afastava fundador. E, graças à honrosa gentileza do seu atuai
Presidente, e prcclaro Embaixador José Carlos de
do cargo, no qual foi aposentado. E, assim, reco-
Macedo Soares, neste momento é desvendado o re-
lheu-se defintivamente da vida oficial, continuando trato daquele Conselheiro, que S. Excia. generosa-
a freqüentar tão somente, as instituições particulares mente oferta, para figurar na honrosa galeria dos
de que era sócio, à exceção desta Sociedade de pro-homens da Sociedade.

Resumo eu Esperanto — INAUGURO DE PORTRBTO DE KONSILISTO MANUEL FRAN.


CISCO CORREIA, INCIATINTO DE LA PONDO DE GEOGRAFIA SOCIETO.
Dum Ia solena kunsido, memorige de Ia 62a. datreveno de Ia fondo de Geografia Societo, ce ties sidejo,
oni inaüguns portreton de Ia eminenta senatano Conselheiro Manuel Francisco Correia, fondinto de Ia Societo
En Ia nomo de Ia societanoj paroladis Komandanto L. A. de Oliveira Belo, kiu boné pnskribis Ia personecon
de Ia oraagita brazilano. En Ia nomo de lia familio, parolis lia nevo, Ia konata poeziverkisto Leoncio Correia.
À MEMÓRIA DOS CONSÓCIOS SOUSA DOCA
E AURÉLIO PORTO
«

SESSÃO CONJUNTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA E DO INSTITUTO HISTÓRICO,


REALIZADA NO DIA 27 DE JUNHO DE 1945

Discurso do Comandante L. A* DE OLIVEIRA BELLO


Tesoureiro

A coincidência, bem triste, do falecimento, Assim, então, a Sociedade de Geografia do Rio


quase simultâneo do General Emílio Fernan- de Janeiro, egrégia e vetusta instituição cultural, que
vem mantendo suas honrosas tradições, e de qual
des de Sousa Doca, 3? Vice-Presidente da So- Sousa Doca fora conspícuo sócio, colaborador, e
ciedade, e de Aurélio Porto, Sócio Titular ao vice-presidente na transata Diretoria, não podia dei-
mesmo tempo que Membros do Instituto His- xar de lhe tributar uma sincera homenagem de apre-
tórico e Geográfico Brasileiro, levou as duas ço, respeito e saudade, e de pezar pelo seu prema-
Instituições a realizarem uma sessão conjun- turo desaparecimento. E, para traduzir os sentimen-
tos de consternação de seus ilustres consócios, o seu
ta, a fim de prestarem aos ilustres desapa- honrado presidente, Exmo. Sr. Embaixador J. C. de
recidos preito de saudade e de reverência. Macedo Soares, teve a nímia gentileza, referendada
Essa sessão se realizou na sede do Insti- por aqueles, de nos escolher para, em breves palavras,
falar da personalidade do saudoso morto, rememo-
tuto Histórico, a 27 de Junho de 1945, sob rando a sua vida e a sua obra.
a presidência do Embaixador José Carlos E para o cumprimento de tão honrosa missão, se
de Macedo Soares, Presidente de ambas Ins- não vos podemos fazer ouvir uma voz sonora e uma
tituições, sendo orador, por parte da Socie- palavra eloqüente, escorreita e burilada, nem profundo
pensamento filosófico, porque não possuímos a fagulha
dade, para falar sobre Sousa Doca, o Co- divina de um orador privilegiado, como Pedro Cal-
mandante Luís Alves de Oliveira Belo, que mon, nem a inspiração do laureado poeta Aurélio
pronunciou o seguinte discurso : Porto, emérito historiador, a quem tivemos a ven-
tura de ouvir, gaúcho de fibra e descendente daquele
É fora de dúvida que a súbita morte do ilustre bravo farroupilha que, em uma feita, antes de com-
General Emílio Fernandes de Souza Doca, que ainda bater, dissera ao intrépido adversário «sou o Guedes,
se achava em pleno exercício de suas funções profis- brigo, não nego, morro seco, não me entrego». To-
sionais, causou forte ressonância nos meios social, davia ides ouvir uma linguagem singela, expressiva
militar e cultural, onde tão justamente havia proje- e sincera, porém desataviada de flores de retórica,
tado a sua eminente personalidade. Os seus paren- que vos falará com respeito, apreço e clareza sobre
tes, numerosos amigos e companheiros de profissão o ilustre homenageado.
e classe, confrades e consócios das muitas instituições Confessamos que não nos constrangeu a escolha,
de cultura de que fazia parte, conterrâneos e admi- embora ela majore o nosso mérito, mas porque nos
radores do seu caráter e talento, sentiram-na since- oferece a feliz oportunidade de permitir traçar, neste
ramente e têm-se mostrado consternados, não momento, em rápidas pinceladas, um perfil de Sousa
porque Doca, a quem nos prendia grande admiração e re-
ela houvesse ocorrido iensperada, injusta ou em hora
imprópria, exatamente quando a glória ia lhe áureo- centes laços de amizade. Esses foram trançados atra-
lar o ápice das suas dignas aspirações, mas vés de dois disputados entrevêros históricos trava-
lhe consagravam grande apreço. porque dos, um, em 1940, na seáe da Sociedade de Geo-
Sentiram também porque Sousa Doca era uma grafia do Rio de Janeiro, acerca de um ponto, ainda
forte individualidade que no meio social contem- pouco claro, da fundação do arraial ou sítio do Dor-
neles, do qual se irradiou a cidade, que é hoje a bela
porâneo, tão combalido e descrente da pertinácia, capital do Rio Grande do Sul. E como cavalheiros,
da paciência, da abnegação e dos esforços desinteres- sem termos ficado bem convictos do mesmo equívoco,
sados, havia evidenciado um inflexível caráter e irra-
diado o seu privilegiado espírito, enriquecido por êle controvertido, lhe entregamos os pontos. O
por va-
riada cultura, pela literatura, esparsos em revistas
outro, mais importante e debatido, que consumiu o
e tempo de três sessões do IV Congresso sul-riogran-
jornais, as suas fulgentes luzes e os seus judiciosos dense de História e Geografia, reunido, em março
conceitos.
pp. naquela cidade, e girou em torno da convicção
A MEMÓRIA DOS C0NSÓCI0S 91

republicana de Bento Gonçalves, foi decidido a nosso elas nas suas prclcções aos discípulos, amigos e ad-
favor, após elegante e disputado torneio de cloqüen- miradores. Solon, em um dos seus epitáfios, declarou
cia, história e ética, que honrou não só os conten- que: — «não desejava que a sua morte fosse privada
dores como o próprio Congresso. E foi depois de das lágrimas e dos gemidos dos seus amigos». E
tantas luzes espargidas sobre essa dúvida histórica naturalmente assim pensava porque queria continuar
que as nossas relações, dentro cio tradicional senti- a viver no espírito deles.
mento de concórdia, dos gaúchos, à semelhança dos O célebre poeta helênico Ênio, trilingue, trágico e
guerreiros farroupilhas, separamo-nos bons amigos, épico, em um dos seus versos, escreveu: «que nin-
sendo que nós sumamente honrados com as gentilezas guem honra os meus funerais com as suas lágrimas
do eminente contendor, talvez, o maior cultor con- nem com o seu dó». Eis aí dois atores e filósofos
temporâneo da heróica história riograndensc diferentes, embora ambos fossem gregos, em completo
Vede, pois, como a nossa escolha para falar de antagonismo. Mas enquanto o poeta, que também
Sousa Doca, nos envolve num nibus de pezar, recor- fora cônsul, professor de línguas em Roma, onde
dações e saudade, que nos faz imaginar que ainda o convivera e de que era cidadão honorário, demo-
vemos e o sentimos junto a nós, no glorioso debate, a cartizara o seu espirito e era desprovido da vaidade,
defender com segura argumentação, lastrcada cm do- tendo provindo de origem pobre e nome humilde,
cumentos, a sua clara c precisa opinião enquanto ou- Solon era tradicionalista, de estirpe familiar, vaidoso
tros a controvertiam e nós, por vezes, o interrompia- c não ignorava que o reconheciam como um sábio.
mos com oportunos apartes para esclarecer o nosso
modo de ver c confirmá-lo. Em virtude disso, que Ora, Sousa Doca, que talvez conhecesse esse an-
aqui recordamos sem jaetância, e, tão somente, para tagonismo, porquanto era lido em história antiga, se
houvesse previsto que ia morrer e pudesse ter fa-
projetar mais essa sua nobre atitude, será com toda
a isenção de ânimo, sinceridade e sem nenhum recai- lado, provavelmente se manifestaria de acordo com
o poeta, de cuja vida a sua mais se aproximara, e
que, que trataremos de sua eminente personalidade.
não com o sábio, que amava, por demais, a glória.
* * E é por isso que a homenagem que ora lhe prestamos,
embora singela, é acentuadamente sincera, justa e
Por mais sentida que tenha sido a sua morte, será confortadora para um espírito como o seu, livre,
que devemos lamentá-la e pranteá-la ? Pensamos que filosófico, acentuadamente sociológico, que bem o
não, devemos aceitá-la, como uma fatalidade e ve- retratava com um feitio modesto, democrata, senti-
ncrar-lhe a memória. mental e grato, possivelmente ambicioso e vaidoso
dentre os limites naturais, conferidos a todo o homem
Como um grande ator do drama da sua vida,
cie morreu exatamente quando desempenhava um dos que se apercebe do próprio valor.
mais significativos papéis de uma peça artificial- Sua vida foi curta e feliz porque lhe permitiu
mente montada, sem poder terminar a importante representar bem todos os papéis, alguns importan-
cena que apenas havia iniciado. Isso nos parecerá tes, que lhe foram distribuídos no amplo palco da
injusto, mas como prová-lo ? E' preferível não invés- vida e lhe permitiu realizar, com decência, honesti-
tigar. Contentamo-nos a refletir como Sócrates. Con- dade e boa moralidade as suas normais e legítimas
ta Cícero, em seu «Diálogo da Velhice», que quando aspirações, numa vida mais de voluntária penumbra
Sócrates, estoicamente se dirigia para cumprir a sen- que de exposição aos raios solares do favoritismo.
tença de morte, a que o haviam condenado, seguia-o Aceitou em partilha o que lhe coube pelos próprios
a multidão de seus amigos, admiradores e discípulos, esforços e não aspirou fantasias, nem impossibilida-
que o aconselhavam a se não entregar à morte, que des. Sc se candidatou à imortalidade literária, por
seria uma iniqüidade. Entre os últimos, um a lamen- amor à glória, foi porque estava certo que na sua
tava e chorava copiosamente. Era Apolódoro, o seu aspiração, no dizer do imortal Castro Alves, «o sabre
mais dileto discípulo, a quem o sábio, nesse ruomen- não coraria de hombrear com o livro e o livro não
to, perguntara: «por que choras assim ? e aquele lhe coraria de chamar-lhe irmão».
respondera: «porque não posso suportar a dor de te De ordinário, os grandes homens, os verdadeiros
ver morrer injustamente». O sábio sorriu e lhe repli- artistas, gênios, sábios e inventores, que gozam da
cou: «então querias que morresse justamente?» aura da imortalidade, são fontes de intensa luz que
Compreende-se que Sócrates, injustamente conde- ilumina a escuridão do mundo e, porque são úteis
nado a morte pelo grande crime de falar a verdade focos de visão, atraem os homens que os apreciam.
e criticar a tirania, perante a mentalidade reinante Indubitavelmente Sousa Doca era um grande histo-
na Grécia, não teria defesa para a sua consciente e riador nacional, contemporâneo, com várias obras de
patriótica ação. Então para que verterem lágrimas, valor publicadas, através das quais e de outros tra-
preferível seria que lhe seguissem o sublime exem- balhos literários, transparecia em plenitude a sua
pio. cultura, se bem que não fossem escritas em estilo
rebuscado, rendilhado de filigranas e enxertado de
Parodiando o caso, diremos, justa ou iníqua, im- fantasias mirabolantes, para torná-lo mais atraente,
própria ou cm seu tempo, não lamentemos a morte ficionista embora ilusório, e agradável aos leitores
de Sousa Doca, e nos conformemos com a grande
modernos, em geral, apressados.
fatalidade. Respeitemos e reverenciemos a sua me-
mória, apresentemo-lo como exemplo de homem digno Não será a sua biografia que iremos fazer, embora
e não o esqueçamos. bem a mereça e Carlile tenha judiciosamente escrito
vivida que
que é mais fácil, escrever uma vida bem
• * * fazer uma biografia exata, completa, perfeita e justa.
De fato, para realizá-la assim, torna-se necessário
Os antigos filósofos, bem antes do cristianismo, conhecer, através de um contínuo e longo convívio e
já admitiam a existência da alma e acreditavam na de uma perspicaz observação direta, a vida do bio-
se poder
sua imortalidade. Entre eles Solon, Pitágoras, Platão grafado em seus menores detalhes, para
e Cícero. Fov isso, freqüentes vezes, se referiam a apreender, no recôndito de sua alma, um exato conhe-
92 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

cimento do seu caráter, qualidades, atributos, aspira- sua pessoa, irradiando uma aura de bondade, inspi-
ções, gestos, atitudes, ambições, virtudes e defeitos, rava simpatia c confiança.
para desse intrincado complexo, com o tempo c agu- Provavelmente Sousa Doca sabia que o filósofo
çado senso psicológico, poder se identificar a perso- grego, Theognis de Mégara, havia escrito que «a
nalidade estudada e focalizá-la dentro da realidade. opinião c para os homens um grande mal e a expe-
Todavia, sendo a tradição um grande e lento amplia- riência um precioso bem e, porque muitos julgam
dor, a vida de um homem, que se destacou c notabi- baseados na opinião c não segundo a experiência,
lizou, depois de morto, em geral, se torna majorada, poucos acertam». Porém, o contrariando cm parte,
mesmo sem sobejos e lisonjas, e dentro de limites costumava dar sempre, com boa fé c sinceridade, a
de sensata apreciação. sua opinião franca, clara e precisa, utilizando-se tam-
Por isso, aqui nos limitaremos a rclancear rápida- bém da experiência, que sensatamente adquirira.
mente a sua vida e a sua obra, não só porque c ea-
* * *
casso o tempo que nos foi concedido para falar, como
foi restrito o convívio que tivemos com Sousa Doca,
mais intelectual que social e direto, o qual não nos Mas o que naturalmente mais o honrou, foi
permitiu penetrar, psicologicamente e com consciên- que, tendo entrado para a caserna. apenas aos
cia, o seu ego. E o que de certo, sobre o seu caráter, quinze anos incompletos, pouco alfabetizado, em
vinte meses cm que cursou a Escola regimental do
qualidades e temperamento, logramos colher entre
seus amigos, não foi muito, porém, talvez, o bastan- batalhão, onde o ensino c a instrução eram ele-
te para lhe traçarmos um ligeiro perfil. mentares, destacou-se nos estudos c, ao concluí-los,
Sua vida ativa não correu obscura, nem amorfa, já cabo de esquadra, íôra imediatamente promovido a
quer na profissão e classe, quer na sociedade. Nesses sargento, tendo permanecido nas três classes dessa
setores, foi uma figura expressiva e de projeção, mer- categoria, durante alguns anos, quando fora promo-
cê da linha inflexível, do seu nobre caráter e da sua vido a oficial. Mas essa longa permanência, comum
boa moral aliadas a uma extensiva cultura, que o no seu tempo, cm que as promoções eram demoradas
norteou sempre. Pode se dizer, com justeza, que por escassez de efetivos, foi a primeira consagração
foi um «self made man», consoante sensato juízo do seu mérito c a confirmação de que não errara
inglês, pois que, por seus pertinazes esforços, sem quando dera preferência à carreira militar para nela .
curvâturas, humilhações, violências, lesões a direitos desenvolver a atividade, irradiar a luz do seu
alheios e favoritismo, subiu, em quarenta anos, de precoce espírito c prestar serviços à pátria, como as-
soldado voluntário a general, gradativa e normal- pirava.
mente, por justo e reconhecido merecimento. Como praça, foi modelar c serviu de paradigma na
Satisfeito por haver assim atingido o almejado sua guarnição e, se mfavor, foi, por vários co-
ápice de sua carreira e classe, nem por isso, se en- mandantes, chefes e oficiais, elogiado vinte e quatro
vaideceu e mudou o caráter, qualidades e tempera- vezes, durante quinze anos, em boletins de serviço
mento. e ordens do dia, em termos diversos c bem signifi-
cativos.
Não aumentou o orgulho por haver proce- Foram altamente apreciados os seus serviços, em
dido de situação humilde, nem se considerou um ilu-
minado; achava muito natural e lógico tudo quanto paz e cm operações de guerra no Contestado, em
Santa Catarina, nas funções de sargento-quartel-mes-
lhe ocorrera na vida, porque, para tal, havia sempre tre, complexa categoria de almoxarife, contador, in-
trabalhado. Ao contrário, continuou simples, democra- tendente e pagador do batalhão, e nas de sargento
ta, cortez, esforçado, operoso, devotado à profissão e à ajudante ou brigada, importante e indispensável traço
pátria sem outra ambição que a, bem louvável, de de ligação entre as praças c os oficiais, como trans-
prosseguir, no campo da História Nacional, a coo- missor de ordens e zelador da disciplina geral entre
peração que, há trinta e cinco anos, vinha dando na aquelas.
desagravação de conceitos errôneos e injustos, que
Foi nesse primeira etapa da vida que a sua in-
figuram em obras de alguns tendenciosos historiado-
res estrangeiros, de reputada autoridade, e vários es- dividualidade começou a se projetar fora do seu
critores nacionais, desconhecedores de importantes e meio profissional. Devotado aos estudos e impelido
autênticos documentos, existentes nos nossos arquivos. por uma vontade férrea de se instruir e desenvolver
o seu espírito, porque sentia que era grande a sua
inteligência, aguçada a sua curiosidade c fácil o seu
• * *
poder de compreensão, sem professores e explicado-
res e somente com o auxílio desses pronunciados atri-
Reunia à competência técnica profissional e à butos e dos livros, conseguiu, em poucos anos, adqui-
dedicação aos trabalhos intelectuais uma bondade rir uma instrução e, digamos mesmo, uma certa cul-
e modéstia que, aparentemente, imprimiam-lhe o as- tura que, sem exagero, assombraria a quem, dez anos
pecto de timidez ou abstração. Como gaúcho campe- antes, o houvesse conhecido como um «chucro piá»
sino e fronteiriço, nos primeiros contactos parecia um da estância de seu pai, o afamado e destemido Coro-
bisonho ou retraído, que se sentisse constrangido, mas nel da G. N., Sousa Doca, conhecido pela sua auda-
em convívio amigável, abrandava a sisudez, entreabria ciosa façanha, cometida tem um rio, durante a revo-
sorrisos, soltava piadas gaúchas e, em meio confiante, lução farroupilha.
falava e agia com o coração. Como o seu caráter Com uma cultura, assim adquirida nos seus lazeres
fora estruturado numa seqüência de duros esforços, e sem a assistência de algum espírito mais atilado
dos quais resultaram muitos êxitos, no decorrer da que o seu, foi que, por volta de outubro de 1910, já
vida foi adquirindo, e consolidando, experiência e, brigada do batalhão, apresentou, timidamente, ao ope-
por isso, era um otimista, que confiava em si e tinha roso Tenente Francisco de Paula Cidade, que mostrava
fé nos homens, que logravam realizar as suas aspi- apreciar as suas qualidades, os seus esforços e o seu
rações. O seu olhar, pouco agudo, refletia pureza devotamento aos estudos, um alentado artigo narrando
de alma, que ainda não havia se esvaecido com as e criticando a batalha de Tuiuti, pedindo-lhe a sua
decepções, desenganos e maldades da vida.. Enfim, a opinião e, caso possível, a respectiva publicação em
A MEMÓRIA DOS CONSÓCIOS 93

um jornal de Porto Alegre, em cuja guarnição serviam bilizam um general. Mas não lhe pode caber a culpa
ambos. disso, porquanto ela decorreu toda durante sucessivos
Nessa cidade publicava-se uma Revista militar, na anos cm que a Nação só tem sido perturbada por
qual colaboraravam somente oficiais e o seu diretor escaramuças políticas e, nas duas guerras externas,
c principal redator era o ilustrado Capitão Luís Ley em que se viu envolvida, por contingência e solida-
raud, culto, disciplinado e «fraquejado», que gozava riedade americanista, apenas, uma escassa força mili-
de respeito por seu feitio sizudo. tar nelas assegurou o patriótico apoio da Nação à
Mas o Tenente Cidade, que lera atentamente o defesa da democracia e das liberdades, através dos
artigo do Brigada Sousa Doca e o julgava bom e esforços, audácia, intrepidez e bravura dos seus filhos,
fie!, confiou-o ao apreço e às luzes do Capitão Ley- alguns tombados no campo da luta e outros laurea-
raud. O Diretor da Revista, levou-o para casa, dos ou portadores de cicatrizes, que revelaram provas
provavelmente, pouco animado em satisfazer a su- inequívocas do seu valor e denodo. E, em nenhuma
gestão, que lhe fora feita, de publicá-lo na Revista, delas foram postos à prova os serviços de Sousa
porque o trabalho, da autoria de um simples sargento, Doca, pois seria provável que jamais desmentisse a
não haveria de ser tão valoroso que merecesse tal influência atávica da legendária bravura do seu in-
favor. Todavia, iria lê-lo. Assim o fez e, posterior- trepido pai e, portanto, viesse a dar inolvidável prova
mente, em reunião com os colaboradores da Revista, do valor das suas qualidades militares e das indi-
manifestou-se deveras surpreso com o valor do es- viduais de gaúcho fronteiriço, acostumado a vadear
crito e inclinado a publicá-lo, se aqueles estivessem rios, transpor coxilhas, voar pelos campos sobre ardo-
de acordo, fisse foi unânime, o Capitão procurou rosos cavalos, engulindo pó c quilômetros, para sur-
conhecer o sargento Doca e o trabalho foi publicado preender o inimigo, lutar com êle, rechassá-lo e ven-
na Revista. cê-lo, como bravamente fizeram os revolucionários
* * • de 35 e os de 93, que tingiram com o seu sangue o
solo riograndense, na defesa de louváveis ideais.
Eis aí, singelamente, como o futuro historiador Na vida militar de Sousa Doca o que mais deve
Sousa Doca, com vinte e seis anos de idade, fincou ser ressaltado é que foi nela que se instruiu, c estru-
a primeira estaca no vasto campo da História, que, turou, cm linhas fories e firmes, o nobre caráter,
como um beneditino, havia de palmilhar o resto da aprendeu a lutar, com serenidade, esforço próprio,
sua existência. Deve ter provindo desse êxito o seu espinha ereta, discrição, respeito geral a leis, ordens,
devotado amor ao estudo da história militar nado- autoridades, opiniões e idéias, para poder, sem alie-
nal, em cujo setor vincou traços inapagáveis da sua nações de tão excelentes qualidades e atributos,
esclarecida crítica. realizar as suas legítimas e naturais aspirações. Nada
Em 1915, após aprovação, em exames antes reali- o afastou dessa inflexível linha, o que constitui, ao
zados, primeiro para o posto de Àlfercs c, posterior- nosso ver, a mais sólida demonstração de valor .da
mente, para o de Intendente de batalhão, fora pro- sua invulgar personalidade.
movido ao posto de Tenente. E, mais tarde, já satu- Além disso, nunca abriu mão do sadio patriotismo
rado de elogios, em que se proclamava a sua inteli- que o norteava, dedicando-se tão somente ao serviço
gência, espírito ordenado e disciplinado, gàrbo mili- da Pátria, dentro da profissão, sem se deixar encantar
tar, fina educação, devotação à carreira, sede de pelos falsos apelos da política e os ilusórios êxitos da
saber, dedicação aos estudos, bravura, sobriedade, vaidade. Continuou sempre modesto, prestativo, ope-
iniciativas e defesa da legalidade, cursara a Escola roso e devotado aos prediletos estudos sem nenhum
de Intendentes e, dois anos depois, a cie Oficiais de prejuízo pelos deveres da profissão.
Administração, obtendo os respectivos diplomas, com A atividade dinâmica de Sousa Doca não pôde se
menção honrosa, extenso e expressivo elogio do Di- confinar no circunstrito setor das atribuições pro-
retor daquelas Escolas, rcconhecendo-lhc dedica- fissionais c, então, o seu esclarecido espírito pro-
ção aos estudos e às tarefas que lhe foram distribuí- curou um campo maior para se distender. Incursionou
das, comprovada cultura c as apreciáveis qualidades modestamente pela literatura e a geografia, porém
profissionais que revelara. dilatou-se proficuamente pelo insinuante e atraente
Na turma dos Intendentes de batalhão, em que fora labirinto da História, no sublime anseio da busca da
diplomado, composta de desesseis alunos, logrou o verdade. E nesse elevado setor dos conhecimentos a
primeiro lugar e, na dos oficiais de Administração, sua lúcida inteligência, acentuado poder de compre-
o segundo, o que, mais uma vez, o consagrou, entre ensão, apreciável, memória, fina argúcia, pronunciado
os seus colegas de classe, uni espirito esclarecido c senso patriótico, arrimados a uma segura dialética,
uma auspiciosa esperança que, através âoí=> novos esmerada e ciara linguagem, em um apropriado e feliz
postos a que, naturalmente, galgaria, iria assinalar, de jogo de expressão, conseguiram, aos poucos, era um
uma forma destacada, a sua ascenção. E foi o que, uecurso de trinta e cinco anos, fazê-lo um historiador
de fato se passou, pois conseguiu desempenhar as íogico, escrupuloso, consciente, objetivo e abalizado
muitas e diversas comissões, que lhe foram conferi- em sólida documentação, que logrou traduzir suas
das, com inteligência, descortínio, eficiência, honesti- idéias, com nitidez c precisão, através de segura ar-
dade, zelo pelos serviços a respeito às boas tradições. gumentação e lúcido raciocínio.
E assim normalmente, promovido, sempre por mere- Consciente do valor da pesquisa e perquirição dos
cimento, atingiu a General, ápice de sua classe, com documentos, rompeu, audaciosamente, com a cortina
satisfação para seus companheiros e apreço do Exér- que ocultava muitos deles, alguns, ainda inéditos, e
outros, intencionalmente custodiados sob o artificiosc
cito. E foi, exatamente, nessa elevada categoria que
a morte insidiosamente o colheu. pretexto de que seu conhecimento ou sua controvér-
sia poderiam reacender paixões adormecidas ou pro-
Como vedes, a sua carreira militar, sem dúvida hon- vocar evitáveis polêmicas entre os povos vizinhos,
rosa, prestante, estimuladora e merecedora de desta- outrora desafetos, porém, hoje, amigos e vivendo,
que, não revela nenhum lance fulgurante, destes que com os brasileiros, em fraternal comunhão de espírito
imortalizam um herói, consagram um bravo ou nota- americanista. Haveria, realmente razão para tal per-
94 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

calço se os agravos escritos não houvessem, em mir à narrativa dos fatos um cunho de precisão e con-
abundância e com requintada malevolência, partido de fiança, capaz de nos conduzir a conclusões exatas.
historiadores e publicistas estranjeiros de reputada Daí o se constatar, em todos os seus livros e es-
fama em seus paises e que haviam interpretado critos, apreciável uniformidade de senso histórico,
tais documentos tendenicosamente, empenhando, assim, fácil compreesnão, lógica e esclarecida argumentação
responsabilidade moral aos injustos conceitos. Dei- que, em geral, nos conduz, naturalmente, às mesmas
xá-los incontrovertidos e sem o merecido revide, pa- conclusões a que êle logrou atingir.
receu, muito justamente, a Sousa Doca, obra impa-
• * *
triótica, quando, dentro da rigorosa verdade, de boa
ética, e tão somente à luz de percuciente raciocínio Pode-se considerar exaustiva, brilhante, oportuna,
e lógica argumentação, se poderia repor a crítica his-
precisa e conclusiva a defesa feita por Sousa Doca,
tórica dos fatos ocorridos, das intenções da política cm seus seis livros e vários artigos esparsos, que pu-
brasileira e das atitudes dos seus delegados, no rigo- blicou, acerca da diretriz política do Império em
roso sentido da realidade. relação aos vizinhos povos platinos, a qual continua
E foi o que realizou, patriótica e inparcialmente, em incontestada, tal foi o valor e a consistência documen-
oito trabalhos de alto valor, em que deixa bem focali- tal da sua argumentação, sempre dentro do são cri-
zada a diretriz da política externa do Império, conti- tério de boa fé e da verdade, aliado a provas inso-
nuamente seguida, com o seu precípuo caráter de- fismáveis, e sem xenofobismo ridículo. Tudo isso se
fensivo e jamais agressor e cubiçoso. reconhece, lendo atentamente os seus livros, publica-
Se o Brasil herdou de Portugal a herança precária dos a partir de 1919, intitulados: «Causas da guerra
da Colônia do Sacramento e, a princípio, pensou em do Paraguai», «O Exército nas campanhas plati-
conservar a sua posse, nada mais fêz do que manter nas»; «A Convenção preliminar da paz de 1828»; «Li-
um direito, embora, algo inconsistente em seus fun- mites entre o Brasil e o Uruguai»; e os artigos «Pela
damentos. Mas logo que, por si tão somente, começou verdade histórica», em resposta às «Notas de um Dia-
a reconhecer a fragilidade desse direito, foi o pri- rista» do brilhante escritor maranhense Humberto de
meiro, sem nenhuma coação, a pensar na sua resti- Campos, e «Da bulla de Alexandre VI à guerra do
tuição e não, receioso, por agitados protestos. Não Paraguai», em contestação aos injustos e tendencio-
lhe interessaria aquela Colônia e sim todo o territó- sos conceitos, emitidos pelo ilustre historiador e diplo-
rio à margem direita do Uruguai para levar, lógica mata argentino, Dom Ramon Cárcano, em sua valiosa
e naturalmente, os seus limites meridionais até as obra «Guerra dei Paraguai-Origenes y Causas».
águas do Prata. Mas à tal aspiração, faltavam fun- Todos esses trabalhos são úteis e patrióticos,
damentados direitos e não seria de boa moral, nem
porque tiveram o elevado objetivo de desagravar a
digno, para um Império, tão abastado de territórios, Pátria da insídia estranjeira, veiculada em várias
cubiçar o exíguo território de um povo que tinha o obras sul-americanas, com o intuito precípuo de des-
seu direito de viver, soberano e independente, ou se virtuar o sentido daquela diretriz política e expor o
apoderar dele por usurpação.
povo uruguaio como «oprimido pelos brasileiros», que
E isso o Brasil imperial sempre reconheceu e se, persistiam em conquistá-lo e dominá-lo, quando o que
por vezes, ocupou, parcial e temporariamente, aquele realmente ela sempre procurou fazer foi protegê-lo
território, o fêz, atendendo ao apelo dos seus go- contra as tentativas, dissimuladas de apoio e proteção,
vernantes, que não possuíam elementos seguros para dos seus visinhos platinos, que bastante se esfor-
resistir e vencer indomáveis caudilhos, que se revê- çaram e agiram para conseguir realizar aquilo que
zavam no poder e perturbavam toda a vida econômi- eles, mal intencionados, atribuíam às forças brasilei-
ca do país, ou não podiam enfrentar a coligação deles ras que, a pedido dos governos uruguaios, lhes pres-
com os platinos, que cubiçavam o domínio do seu taram apoio e proteção.
território e do seu povo. E, como ao Brasil e ao A argumentação sólida de Sousa Doca, em tais
particular interesse dos brasileiros, não convinha ter- livros e artigos, é macissa e fere direta e desassom-
se, como lindeiro, um povo desorganizado ou ex- bradamente os pontos fracos, claudicantes e insubsis-
propriado dos seus domínios, por usurpação de outro tentes da referida crítica, tendenciosa. E esse inesti-
povo mais perturbador e ávido, ao Império só resta- mável serviço patriótico, que prestou, deve ser salien-
va agir, como o fêz, pacificamente se possível, ou tado, rememorado e jamais olvidado, porquanto, antes
em defesa armada se necessário, para afastar qualquer dele, nenhum outro historiador, que conheçamos, se
uma das duas calamidades. E foi isso, apenas, o que animou a romper a cortina de intencional sigilo que
o Brasil veio fazendo desde 1815 até 1829 \ posterior- nos arquivos nacionais e particularmente no do Ita-
mente, em 1851-52 e 1864-70, revidando sempre ós marati, encobria a prudente clausura de numerosos
golpes insidiosos de pertinazes adversários. documentos de suma importância, cujo conhecimento,
Ora, em lúcidos pormenores, baseados em autênti- publicação, interpretação e sadia crítica poderiam já
cos documentos nacionais e alguns platinos e para- ter, há muitos anos, facultado elementos para seme-
guaios, foi que Sousa Doca, com impressionante cia- lhante defesa.
reza e segura argumentação, nos convenceu da mo- • * *
derada diretriz da política brasileira, por contingên- Não foi somente no setor da história internacional
cia, morosa, na solução dos sucessivos problemas,
que as luzes de Sousa Doca fulgiram, focalizando-o
que durante cerca de meio século, trouxe abaladas, como grande historiador. Expargio-se também no
em um ambiente de desconfianças e malquerenças, as trepidante campo da heróica história sul-riograndense,
relações entre aqueles povos e os governos do Im- revolvendo, de preferência, a epopéia farroupilha e
pério. evocando os seus legendários guerreiros. Pormenori-
Esse seu processo de escrever a História, decan- zou interessantes episódios das sangrentas lutas e es-
tando e filtrando a verdade através de documentos clareceu obscuras e indecisas atitudes de alguns Che-
colhidos em fontes idôneas, é o mais natural, lógico, fes, fixando assim novos aspectos da revolução repu-
sensato e criterioso e que permite, sem paixão e re- blicana que, durante dez anos, fêz tremer o trono e,
calques e preestabelecido afã de controvérsias, impri- nos dois últimos, consolidou a glória de Caxias.
A MEMÓRIA DOS CONSÓCIOS 9i

Regionalista de boa fé e com elevada percentagem Acerca do Duque de Caxias, a quem devotava
4e brasilidade, na intensa e precisa crítica que fêz especial apreço, além do estudo acima mencionado,
dessa revolução, dissecando os poucos documentos, publicou, em separata, três ótimos ensaios que fizera
que logrou encontrar nos arquivos gaúchos e nos de de sua inconfundível personalidade, fixando-a, apro-
instituições nacionais do Rio de Janeiro, procurou priadamente, como genuíno patrono do Exército e
patentear, com persistência, o caráter federativo clarividente estadista.
nacional, e não o separatista, dos revolucionários, que
A sua bibliografia compreende, entre livros e sepa-
sempre se recusaram a se aliar aos caudilhos uruguaios
ratas, trinta e três volumes, sem que, em nenhum,
cm contínuo dissídio com os respectivos governos houvesse tratado de assunto supérfluo e inoportuno.
e que pretendiam formar, com o Rio Grande republi-
Podemos classificá-la da seguinte forma : oito sobre
cano, célebre Qaudrilátero federativo, soberano e história sul-riograndense; sete — história internacio-
independente. E outros assuntos da história da valo- nal, restrita às relações platino-brasileiras; dois —
rosa Capitania de São Pedro, ocuparam a sua lúcida
sobre história; quatro — geografia sul-riograndense;
atenção e mereceram ser narrados e criticados, como cinco — biografias e ensaios pessoais; e sete — outros
o fêz, com a sua peculiar linguagem, clara e per- assuntos.
cuciente.
Não sendo essas abundantes em valor quantitativo,
Também os estudos geográficos o preocuparam,
todavia o é para refletir expressivo valor qualitativo
embora mais escassamente, porém os quatro traba- e o consagrar como um dos melhores historiadores
lhos que escreveu, concernentes a aspectos da Provín-
nacionais, contemporâneos, nos setores da História
cia gaúcha, revelam a sua esclarecida cultura regional.
Pátria Diplomática, a que deu preferência.
Foram: «Um problema geográfico — as nascentes do
Jacuí>; «Vocábulos indígenas na geografia riogran- Finalizando esse ligeiro perfil de Sousa Doca.
dense»; «A Capitania de São Pedro»; e, o melhor poderemos fixar, de um modo indelével, os seguintes
deles «Gente sul-riograndense». traços da sua vida; como cidadão a contínua e perspi-
caz soma de esforços pessoais, moralizados e dignos,
Seguindo a moda, ensaiou-se no difícil gênero das
biografias, algo fictício, e publicou as do Marquês que realizou para satisfazer as suas legítimas aspira-
de Barbacena, ilustre e complexa personalidade, cuja ções, através de um forte, incorrupto e inflexível
caráter; como militar — a reta diretriz, — que sem
ação figura na história, pontilhada de equívocos; a
curvaturas, lisonjas e humilhações, seguiu sempre
do Visconde de Taunay, laureado escritor e bom
no cumprimento dos deveres para com a pro-
historiador, merecedor de respeito e veneração; um fissão, a classe e a pátria; como elemento social —
excelente estudo da capacidade psicológica de Caxias;
a forma inteligente, sensata e modesta com que
e outro, também psicológico, do trêfego General
Bento Manuel, até hoje mal compreendido, por culpa projetou as suas excelentes qualidades e atributos,
que lhe grangearam merecida simpatia, apreço e
própria, e que, no ambiente gaúcho da sua época, respeito em todos os meios, em que se ambientou; e
deixou vincados traços das suas indecisas, astuciosas como intelctual a linha de distinção, cavalheirismo,
e discutíveis atitudes. e elevado senso com que fêz refulgir as luzes do seu
A tudo isso devemos acrescer alguns trabalhos de esclarecido espírito, sabendo-se exprimir com abun-
outros gêneros literários e numerosos artigos publi- dância de idéias e pensamentos, dentro de um critério
cados em revistas das vinte instituições de cultura de tolerância e respeito às sãs idéias alheias.
de que era sócio, e jornais do Rio Grande e desta
Capital. * * *

Não devemos, que nessas e em outras instituições,


Eis aí, senhores, quem foi o preclaro e ilustre Gene-
por especial convite, realizou várias conferências, ral Emílio Fernandes de Sousa Doca, prematuramente
de cunho patriótico e em homenagem a eminentes
vultos nacionais e americanos. Dentre elas, é mister falecido, a quem cheios de saudade, neste momento,
salientar a que efetuou no Instituto Histórico e Geo- os consócios da veneranda Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro prestam esta sincera homenagem.
gráfico Brasileiro, a 14 de abril de 1943, no dia
Panamericano, em excelente linguagem, profusa de Traçando aqui, mesmo em ligeiras pinceladas, o
citações, extraídas de importantes documentos brasi- seu expressivo perfil, lhe rendemos um alto preito de
leiros e americanos, e referências apropriadas à ati- apreço, respeito e sinceridade, de que se fêz justa-
tude de eminentes governantes e outras autoridades mente merecedor. E, uma vez que não podemos con-
continentais, em que tratou, com percuciência, da sagrá-lo, como faziam os antigos gregos e romanos,
gênese da tradição panamericanista, revelando nesse com os seus sábios, poetas e heróis, ornando-lhe a
sentido a prioridade do Brasil entre os povos do cabeça com uma coroa de louros e emprestando-lhe
continente de Colombo. Realmente, tão supervidente um caráter simbólico e divino, ao menos, como seus
idéia surge, pela primeira vez, em 1876, numa das amigos e admiradores, jamais o esqueçamos, e os
cartas que o malogrado jnconfidente José Joaquim da historiadores, que cultivam a verdadeira história
Maia, dirigira a Thomas Jefferson, representante do pátria, que leiam e releiam os seus preciosos traba-
governo de Washington, junto ao rei de França. E lhos e estudos, os apreciem, critiquem e comentem,
Sousa Doca soube tratar, de tão importante e pouco dando-lhe, assim, tão elevada prova de consideração,
conhecido assunto, de um modo magistral. respeito e apreço.

Resumo en Esperanto — MEMORE DE LA KUNSOCIETANOJ SOUSA DOCA KAJ AURELÍO


PORTO.
Honore ai generalo Emílio Fernandes de Sousa Doca kaj verkisto Aurélio Porto, eminentaj anoj
iftortiataj de Sociedade Brasileira de Geografia kaj Instituto Histórico Brasileiro, okazis solena kunsido.
En la nomo de Geografia Societo paroladis komandanto Luis A. de Oliveira Belo, kiu priskribis ia
êefajn trajtojn de Sousa Doca, kiel militisto, geógrafo, historiisto kaj âatata verkisto.
DISCURSO DE POSSE DO DR. JOÃO GUIMARÃES ROSA

NA SESSÃO DO DIA 20 DE DEZEMBRO DE 1945

Grande é, agora, a minha satisfação, enganoso fluir dos falsos-braços, que são
grande a distinção que me conferís, neste abandonados meandros; a rapina voraz e
momento. Honra e alegria, indizíveis ; por- fatal dos rios que capturam outros rios,
que, à falta de outros títulos, com dois deles de outras bacias ; o minucioso registro dos
me reconheço, ao ser empossado no cargo ciclos de erosão, gravado nas escarpas; as
de sócio titular desta agremiação : como estradas dos ventos, pelos vales, se esguei-
velho admirador da Sociedade de Geoqra- rando nas gargantas das serranias ; os pseu-
fia do Rio de Janeiro, e como velho amo- dópodos da caatinga, invadindo, pouco a
roso da Geografia. Admirador desvalioso
pouco, os «campos gerais», onde se destrói
e amoroso ignorante, certo; mas, rico de o arenito e onde vão morrendo, silentes, os
entusiasmo e de sinceridade. E é assim buritis ; e tudo o mais, enfim, que repre-
que vos agradeço. Aos que propuzeram senta, numa câmera lentíssima, o estremu-
o meu nome, aos que aprovaram a proposta, nhar da paisagem, pelos séculos.
aos que ora me recebem.
Ainda agora, faz menos de uma séma-
Devo explicar-me. De início, o amor na, acabo de regressar de uma excursão de
da Geografia me veiu pelos caminhos da férias, extenuante mas proveitosa, realizada
poesia — da imensa emoção poética que apenas para matar saudades da minha re-
sobe da nossa terra e das suas belezas : gião natal e para rever velhos poemas na-
dos campos, das matas, dos rios, das mon- turais da minha terra mineira.
tanhas ; capões e chapadões, alturas e pia-
nuras, ipuêiras e capoeiras, caatingas e res- Quanta beleza! Ávido, fiz, num dia,
seis léguas a cavalo, para ir contemplar o
tingas, montes e horizontes ; do grande cor-
rio epônimo — o soberbo Paraopeba —
po, eterno, do Brasil. Tinha que procurar amarelo, selvagem, possante. O «cerrado»,
a Geografia, pois. Porque, «para mais
amar e servir o Brasil, mister se faz me- sob as boas chuvas, tinha muitos ornatos :
lhor conhecê-lo» ; já que, mesmo para o em- a enfolhada capa-rosa, que proíbe o capim
bevecimento do puro contemplativo, pouco de medrar-lhe em torno; o pau bate-caixa,
a pouco se impõe a necessidade de uma verde-aquarela, musical aos ventos; o pao-
disciplina científica. santo, coberto de flores de leite e mel; as
lobeiras, juntando grandes frutas verdes com
Desarmado da luz reveladora dos co- flores roxas ; a bôlsa-de-pastor, brancacenta,
nhecimentos geográficos, e provido tão só que explica muitos casos de «assombrações»
da suacapacidade receptiva para a beleza, noturnas ; e os barbatimãos, estendendo fiei-
o artista vê a natureza aprisionada no cam- ras de azinhavradas moedinhas. Os cam-
po punctiforme do momento presente. Fal- pos se ondulavam, extensos. Sobre os ta-
ta-lhe saber da grande vida, evolvente, do buleiros, gaviões grasniam. A Lagoa Dou-
conjunto. Escapa-lhe a majestosa magia rada, orgulho do Município, era um longín-
dos movimentos milenários : o alargamento quo espelho. A Lagoa Branca, já hirsuta de
progressivo dos vales, e a suavização dos juncos, guarda ainda o segredo do seu bar-
relevos; o rejuvenescimento dos rios, que ro, que, no dizer da gente da terra, pro-
se aprofundam ,? na quadra das cheias, o duz, na pele humana, intensa e persistente
DISCURSOS DE POSSE 97

comichão. Buritis, hieráticos, costeiam, por eu trazia comigo um instrumento precioso


quilômetros, o Brejão do Funil, imenso, onde — bússola, guia, roteiro, óculo de ampliação:
voam os cocos e se congregam, às dezenas o trabalho que devemos à minuciosa opero-
as graças. E, enfim, do «Alto Grande», sidade, ao sentimento poético, à capacidade
mirante sem preço, a vista se alongava, lon- científica e ao talento artístico do meu sau-
gíssima, léguas, até o azulado das monta- doso amigo Afonso de Guaíra Heberle : o
nhas, por baixadas verdes, onde pedaços reconhecimento topográfico «A Gruta de
do rio se mostravam, brilhantes, aqui e ali, Maquine e os seus Arredores». Deu-se a
como segmentos de uma enorme cobra-do- valorização da estesia paisagística, graças
mato. às lições da ciência e da erudição. Pres-
tígio da Geografia !
Dois dias depois, estava eu visitando,
em Cordisburgo — o meu torrão inesquecível Mas, meus senhores, estou começando
— a maravilha das maravilhas, que é a Gruta mal, por um abuso, e devo sustar esta longa
do Maquine. E, aqui, confesso, muita coisa explicação. Do que disse, de modo tão im-
se revelou a mim, pela primeira vez. Certo, perfeito, podereis avaliar o que sinto, per-
eu já pensava conhecer, desde a infância, feitamente.
os feéricos encantos da Gruta e as suas des- Rogo-vos apenas crer na sinceridade da
lumbrantes redondezas : morros, bacias, la- minha emoção e no fervor dos meus pro-
goas, sumidouros, monstruosos paredões de pósitos, ao ser recebido, como sócio titular
calcáreo, com o raizame laocôontico das ga- desta douta e abnegada Sociedade, que, em
meleiras priscas, e o róseo florir das cactá- labor silencioso e diuturno, há tantos anos
ceas agarrantes. Mas, era que, desta vez, vem servindo o Brasil.

Resumo en Esperanto — PAROLADO DE D-RO JOÃO GUIMARÃES ROSA.

Akcéptita kiel membro de Brazila Soeieto de Geografio, D-ro João Guimarães Rosa, kies literaturaj
verkoj estas tiom aplattditaj, kaj kies diplomata agado estas konsiderinda, faris en sia parolado agrablajn
priskribojn pri pitoreskaj vidajoj de sia naskiga regiono, en Stato Minas Gerais.
DISCURSO DE POSSE DO DR. FRANCISCO PEDRO
CARNEIRO DA CUNHA

NA SESSÃO DO DIA 25 DE SETEMBRO DE 1945

Não sei se a minha palavra, já de si paração e experimentação, se a geografia,


sem brilho, refletirá com exatidão o agra- nas suas onímodas realidades, não as revê-
decimento à eminente companhia, onde vem lasse aos sábios e pesquisadores com a po-
acolher-se o meu desejo de aprender e de derosa eficiência da documentação das re-
pensar. giões mais remotas, sua flora e seu subsolo.
Quando vi, estudei e consegui observar, Donde procederiam a etnografia e a
numa existência acidentada e trabalhosa,
geologia, hoje os dois alicerces da história
teve o condão de me conduzir a regiões experimental, se a geografia não lhes ras-
apenas sonhadas, e, que hoje me é dado
atingir, graças a vossa generosidade. gasse o véu do desconhecido nas migrações
dos povos, na determinação das superfícies,
Se errar na expressão com que vos pre- ora cobiçadas, ora abandonadas, em regiões
tendo traduzir tamanha felicidade intelectual, cheias de mistérios que a civilização inci-
se inadequada talhei a forma para vestir a piente da antigüidade nem vislumbrava, nem
minha idéia, sede generosos : a intenção
podia registrar, para sua orientação ?
é respeitosa, o sentimento é de homenagem.
Aos dezenove anos, e acadêmico de di- Sem a fisionomia do nosso planeta nada
reito no Recife, tive de lecionar geografia seria possível, de exato, como sem retrato
num dos institutos de ensino daquela cidade. não podemos identificar o indivíduo.
Data dessa época a minha afeição pela ciên- Reportando-nos, cada dia mais, aos nos-
cia que cultivais com tanta sabedoria e pro- sos primórdios, veremos no comércio, mais
vcito para a Pátria. do que nas conquistas, muito mais no mer-
Todo o tempo disponível entre o curso cador do que no guerreiro desumano e sá-
jurídico e os trabalhos do ensino, dedicava dico, o manancial dos descobrimentos, a
ao estudo da disciplina a mim confiada, e, chave do segredo das civilizações isoladas
além dos compêndios elementares adotados, do mundo de todos os tempos.
tive oportunidade de travar conhecimento
com autores estrangeiros contemplados, até Não vem de molde definir a geografia
hoje, como grandes mestres no assunto. para vós, meus confrades e meus mestres,
E', portanto, desse passado recôndito da apenas aqui entrando, no limiar dessa ami-
minha evolução intelectual, mas permanente sade que espero duradôra, reavivo meus es-
no espírito, que surgiu a aspiração de ingres- tímulos, porquanto desejo aprender e acres-
sar neste recinto, onde se encontram os mais centar cabedais.
bem aparelhados mestres, os expoentes da O encanto das investigações decorre
cultura brasileira. das dificuldades com que foram feitas as
Fui sempre um curioso pela investiga- primeiras viagens, suas aventuras e surpresas,
ção da ciência, em que repousam as bases principalmente das empreendidas pelos na-
e os princípios mais sólidos de tantas outras vegadores, as lutas pela descoberta de novas
ciências, que não teriam elementos de com- terras, de novos portos e mercados.
DISCURSOS DE POSSE 99

Capistrano de Abreu nos mostra*como Eis o drama desse cenário grandioso,


o gênio e a coragem do homem conseguiram tal como nos descreve Max Nordau no seu
tais vitórias ; esplêndido livro «Le Sens de THistoire».
«Antes de Alexandre, algum comércio era feito Mas, esse drama foi aparecendo em
em navios dos Hindus, cuja remota assistência em fragmentos, porque o cenário estava para
Socotora e no Iemen está demonstrada ; a quase ser acabado e iluminado, ainda obscurecido
totalidade dos gêneros transitava, porém, por via
terrestre, passando de mão, consumindo às vezes pelos mistérios, as incógnitas e os precon-
no percurso meses e anos». ceitos dos povos primitivos, dos homens im-
buídos de superstições, das intolerâncias rei-
Jurien de Gravière, que fez, com brilho nantes nos cultos poderosos para impedir
e documentação, a história dos «Marinheiros a livre pesquisa, e as asserções das ciências
nos XV e XVI Séculos», com certo sabor que se esboçavam. Pouco a pouco, outros
romântico se reporta à lenda onde há sem- mundos foram integrando o cenário.
pre um fundo de verdade : Os portugueses, os hespanóis e os ge-
«Menelau vai surpreender na sua gruta adorme- novezes, depois ingleses e franceses, se lan-
cida a Proteu, o pastor das focas ; Ulisses procura çaram mar a fora e rasgaram horizontes e
durante dez anos, de plaga em plaga, o caminho que ampliaram a civilização.
o deve conduzir a íthaca. Parte enfim instruído
por Calipso. Seu olhar dirige-se das Pleiades ao Ainda de Capistrano a reconstituição
Boeiro, do Boeiro, que se recolhe tarde, a Ursa que
nunca mergulha no seio do oceano. Nada, então, desse incessante ancêio pelas descobertas.
lhe podia ensinar que existe, na direção do setentrião, «Coube ao infante D. Henrique reali-
um farol mais certo, um astro quase imóvel e tão zar as maiores empresas no século XV», e,
vizinho do polo que parece destinado, na abóbada
celeste, como o ponto pelo qual se atingiria o eixo «quando faleceu em 1460 deixou o litoral
prolongado da terra. Esta descoberta pertence, se africano explorado até a Serra Leoa».
diz, aos Fenícios, e lhes preservou, por mais de
duzentos anos, o monopólio do comércio marítimo». Cristovam Colombo em 12 de Outubro
de 1492 chega à América, e Pedro Álvares
Era a estrela polar. Cabral em abril de 1500 toma as terras do
Brasil para o reino de Portugal. «Em se-
«O globo da terra era o centro da existência ;
o sol, a lua, os planetas, as estrelas moviam-se em tembro de 1513 Vasco Nunes de Balboa
volta dele, como o seu centro, em esfera cristalina. descobriu o mar do Sul, como o chamou, ou
Somente no décimo quinto século, a inteligência dos oceano pacífico como o crismou Fernando
homens foi além dessa concepção, e Copernico le- de Magalhães».
vantou a sua espantosa hipótese de que o sol, e
não a terra era o centro do sistema. E só com o Até o século dezesete pouco se apurava
devenvolvimento do telescópio por Galileu, nos pri- de verdades no balanço dos conhecimentos
mórdios do décimo sétimo século, é que o ponto humanos, mas já no século seguinte, o de-
de vista de Copernico tornou-se geralmente aceito».
zoito, a custa desse labor persistente das in-
Reproduzo as palavras do Wells, por- tenções, cubiçosas e das realizações conse-
que elas assinalam, desde as remotas noções guidas, verifica-se um saldo deslumbrante.
de geografia que se atribui a Moisés, os Permitireis que, me valendo de Taine,
marcos por que o gênio da humanidade de- aqui o transcreva em pequeno trecho, como
terminou a marcha para a completa descri- preito a todos que passaram pelo mundo, nos
ção do globo. legando um benefício imediato ou uma feli-
Para a nossa vida a tarefa é aperfeiçoar, cidade remota :
cada dia, as conquistas dos nossos antepas- «Pela primeira vez na história as ciências se
sados. E', acima de tudo, revelar as ver- estendem e se firmam a ponto de fornecer não mais
dadeiras formas, modalidades e cores desse como outrora sob Galileu ou Descartes, fragmentos
«grande palco», onde se sucedem os episò- de construção ou algum arcabouço provisório, mas
um sistema do mundo definitivo e provado : é o de
dios da luta humana pela existência. Newton. Ao redor desta verdade capital se co-
locam como complementos ou prolongamentos quase
«Devemos compreender e estabelecer as ações, todas as descobertas do século :
ensaios, representações, intentos e conquistas, pe-
Nas matemáticas puras, o cálculo do infinito
quenas ou grandes, e pelas quais o homem se es-
força para se adaptar às condições naturais e ar- inventado simultaneamente por Leibnitz e Newton,
tificiais do meio, onde nasceu e deve viver, e de a mecânica reconduzida por d'Alembert a um só
cujos auxílios depende a satisfação de suas neces- teorema, e este conjunto magnífico de teorias que,
sidades e seus apetites». elaboradas pelos Bernouilli, Euler, Clairaut, d'Alem-
100 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

bert, Taylor Maclaurin, vêm a se aperfeiçoar no doce ; Nccdham revela seus infusórios. De todas
fim do século nas mãos de Monge, Lagrange c estas investigações se destaca a concepção experi-
Laplace. Na astronomia, a seqüência dos cálculos mental da vida.
e das observações de Newton a Laplace transfor- No quadro que o espírito humano, conclui o
maram a ciência em um problema de mecânica, ex- autor, faz da natureza, a ciência do século XVIII
plicam e predizem todos os movimentos dos planetas desenhou o contorno geral, a ordem dos planos e as
e de seus satélites, indicam a origem e formação principais massas e traços tão justos que ainda
de nosso sistema solar, e ultrapassam as desce hoje todas as grandes linhas se conservam intactas».
bertas de HerscheH, a ponto de nos permitir entrever
a distribuição dos arquipélagos estelares e as gran- Entretanto, nesse conjunto, a primeira
des linhas de arquitetura dos céus. Na física, a de- vista harmonioso e magnífico, Taine demons-
composição do raio luminoso e os princípios da
ótica encontrados por Newton, a velocidade do som, trou que «no pensamento do século havia
a forma das suas ondulações e, desde Sauveur até ingredientes que separados seriam salutares
Chladni, desde Newton até Bernouilli e Lagrange, e que juntos foram venenosos».
as leis experimentais e os teoremas principais da
acústica, as primeiras leis do calor radiante por Sucedeu que à forma do espírito clássico
Newton, Kraft e Lambert, a teoria do calor latente existente se aplicou a aquisição científica que
por Black, a teoria do calorico por Lavoisier e La- produziu a filosofia do século e a Revo-
place, as primeiras idéias verdadeiras sobre a essên- lução. E do século XIX ? Goethe, Augus-
cia do fogo e do calor, as experiências, as leis, as
máquinas pelas quais Dufay, Nollet, Franklin e so- to Conte, Roengten, Pasteur, Roux, Hypo-
bretudo Coulomb explicam, manejam e utilizam pela lite Taine, Virchow, Bergson, Edson, Eins-
primeira vez a eletricidade. Na química, todos os tein, os Curies, Santos Dumont, Rutherford,
fundamentos da ciência, o oxigênio, o azoto, e o hi-
drogênio isolados, a composição da água, a teoria Alexander Flemina, Lize Meitner, Otto Fris-
da combustão, a nomenclatura química, a análise ch, Niels Bohr, Rudolph Peizels, Eugen Si-
quantitativa, a indestrutibilidade da matéria e do mon, Cockroft, Walton, Chadwick, Eurico
peso, enfim as descobertas de Scheele, de Priestley, Fermi e John Dunning seriam suficientes
de Cavendish e Stahl, coroadas pela teoria e ensi-
namento definitivos de Lavoisier. Em mineralogia, para enchê-lo de novos e magníficos valores.
o goniômetro, a fixide.z dos ângulos e as primeiras Grande como Taine e de uma visualida-
leis da derivação de Romé de Lisle, depois a des-
coberta dos tipos e a dedução matemática das formas de genial, Rui Barbosa resume o século XIX
secundárias de Hady. Na geologia, o prossegui- em conceitos lapidares e proféticos :
mento e a verificação da teoria de Newton, a figura
exata da terra, o achatamento dos pólos, a intumes- «Se houvesemos de extremar as idades segundo
cência do equador, a causa e a lei das marés, a as grandes mutações morais do nosso planeta, o sé-
fluidez primitiva do planeta, a persistência do calor culo XIX se abriria em mil e setecentos e setenta e
central, depois com Buffon, Desmarets, Hutton, Wer- seis com a independência americana ou em mil e se-
nes, a origem aquosa ou ignea das rochas, a estra- tecentos e oitenta e nove com a revolução franceza.
tificação dos terrenos, a estrutura fóssil das camadas, Desses dois grandes termos nasce o problema conte-
a estadia prolongada e repetida do mar sobre os poraneo da emancipação exterior e interior das na-
continentes o lento depósito dos resíduos animais e ções, que agitou, numa série de revoluções nacionais
vegetais, a prodigiosa antigüidade da vida, as des- e internacionais, até 1820, os dois continentes. Mas,
nudações, as fraturas, as transformações graduais assim como a era das reivindicações separatistas e da
do relevo terrestre, e finalmente, o quadro grandioso liberdade política verdadeiramente se instaura no an-
onde Buffon esboça, em traços aproximados, a his- tepenultimo lustro da centúria passada, o século XX,
tória inteira do nosso globo, desde o momento que se os séculos se discernissem pela irradiação de novos
cessqu de constituir a massa informe de lava ardente signos na orbita do mundo, dataria do antepenúltimo
até a época em que nossa espécie, após tantas ou- decênio do atual. E' de então após as vitorias alemãs,
trás espécies destruídas, ou sobreviventes, poude ha- que assomaram claramente no horizonte as duas quês-
bitá-lo. toes, os dois perigos e os dois enigmas, em cujo cir^
Sobrelevando a ciência da matéria bruta, sugere culo de tormentas vai entrar o gênero humano: o so-
ao mesmo tempo a ciência da matéria organizada. cialismo e o imperialismo. São as duas idéias fixas
Grew, depois Vaillant demonstram os sexos e a fe- da civilização moderna: a primeira sob a fôrma de
cundação das plantas ; Lineu inventa a nomenclatura um pesadelo cruciante; a segunda com as seduções de
botânica e as primeiras classificações completas ; os uma atração irressistível».
Jussieu descobrem a subordinação dos caracteres e
a classificação natural. Réaumur e Spallanzani ex- E o grande pensador termina, fazendo
plicam a digestão ; a respiração por Lavoisier ; Pro- do século XIX, a apologia que Taine fez
chaska constata o mecanismo das ações reflexas;
Haller e Spallanzini experimentam e descrevem as do XVIII século :
condições e as fases da geração. «Como quer que for, porém, não regateemos a
Penetra-se no mais baixo do reino animal; Réau- esse magnífico período secular o seu merecimento.
mur publica suas admiráveis memórias sobre os in- Seu caráter foi, em geral, magnânimo e radioso.
setos, e Lwonnet consome vinte anos a configurar Aboliu a escravidão. Resgatou, na família européa,
a lagarta do salgueiro; Spallanzani resuscita seus quasi todas as nacionalidades opressas. Generalizou
rotíferos; du Tremblay retalha seu polipo dágua o governo do povo pelo povo. Elevou os direitos
DISCURSOS DE POSSE 101

da consciência a uma altura sagrada. Depurou a li- considerado em número de horas. Desapareceu a ra-
herdade, a justiça e a democracia. zão de um mundo dividido em dois hemisférios, os
Criou a opinião pública, e deu-lhe a soberania mapas atuais, baseados numa geografia marítima, se-
dos Estados. Entronizou a igualdade legal. Fundou rão dentro em breve recolhidos aos museus no monos-
a educação popular. Estraíu da ciência benefícios c ferio criado pelo avião, e cujo centro é o Polo Norte,
portentos que deslumbram a fantasia. o estudante vai verificar que, afinal de contas, o Rio
Mudou a paz e a guerra. Transfigurou a fase está quasi tão perto de Moscou como Washington e
dos continentes c dos mares. Mas até onde tocou o que Natal fica muito mais próximo do sul da Espa-
coração do homem, só Deus o sabe, e o saberemos nha do que de Nova York.
nós quando a centelha atmosférica inflamar os com- Neste monosfério, facilita-se a compreensão da
bustíveis cuja aglomeração silenciosa inquieta os geografia econômica e o conseqüente esclarecimento
grandes e apavora os pequenos. Então os que as- da geografia comercial.
sistirem ao espetáculo, poderão dizer se a um sécu-
Io, cm que a ciência serviu principalmente à força, A geografia política diminuirá a importância dos
Estados-tampões, e riscará dos dicionários, pela sua
terá sucedido um século cm que a força se incline
impraticabilidade, a palavra isolacionismo, enquanto
afinal ao direito ...»
o estudo da Sociedade humana se revolta contra a
história c subordina-se, de pronto, à geografia. Por
Do que Taine disse do século XVIII, outro lado vão surgir regiões até aqui quase desço-
do que Rui Barbosa disse do século XIX, há nhecidas, a que o avião levará progresso e oportuni-
de sublime, e há também de doloroso. Dos dade novas, multiplicar-se-ão as rotas comerciais e
200anos contemplados uma cousa ficou — deslocar-se-á a preponderância de muitos centros
estratégicos».
a dúvida. Dos dois gigantes que viram
antes de todos e nos legaram as verdades Uma geografia refundida, questões sur-
que o tempo não modificou, repitamos, neste girão em torno da soberania do ar, como da
laboratório do pensamento, as idéias, para liberdade dos mares, tão discutida no di-
não perdermos a esperança, não digo de uma reito internacional, e conseqüente ao resur-
paz perpétua, mas do menos sofrimento que gimento das marinhas e das esquadras.
à nossa solidariedade humana é possível e
Penetro neste recinto com o sentimento
que a ciência nos promete.
de que a paz começa mais uma vez a ensaiar
Já no correr do século em que vivemos, o seu destino entre os homens.
e cujo círculo não transporemos duas vezes,
como lembrou Rui Barbosa, tivemos de assis- A claridade de uma nova era, em meia-
tir a duas grandes guerras, e todas oriundas dos do século, após duas grandes e cala-
do veneno do imperialismo gerado das dita- mitosas guerras, apenas surge nos horizon-
duras e de doutrinas em desacordo com o tes do mundo.
que a ciência podia assegurar. De tudo Realizou-se o pior, como profetizou Rui
quanto o gênio criou, e que até Marconi, Barbosa, sofremos o perigo do imperialismo
ainda estamos assistindo, com a televisão, o que foi mais do que uma «idéia fixa, mais do
radar e a bomba atômica, resta a mesma
que um enigma", foi uma realidade atros, e,
dúvida e as mesmas interrogações sobre o apenas, esperamos que a democracia não
destino que terão todas estas forças augmen- seja somente uma reação passageira, porém
tadas. E infelizmente os resíduos do im- uma completa harmonia imposta ao mundo
perialismo infiecionam certas partes do mun- pelo liorror das ruínas que o imperialismo
do, e os suportamos na amplitude dos seus vai deixando. A liberdade do homem vol-
malefícios, nas suas consequênoas deforma- tou a nos encher de orgulho, e o pensa-
doras, e dos quais não nos podemos libertar, mento livre reivindica seu lugar ao sol.
ainda hoje, como fração da América do Sul, As ciências ainda não deram sua última
este continente enfermo, na acertadíssima
tese de César Zumeta. palavra neste período que atravessamos, e
a geografia ainda não pode ter a noção
Registrando agora as previsões de bri- das linhas gerais do mundo chamado do
lhante jornalista, — Emiel de Faria, que «após-guerra».
muito estuda e observa, vejamos para onde
se encaminham os novos planos da civili- Apenas, no campo das descobertas cien-
zação : tíficas — repitamos a frase lapidar do mes-
tre : há benefícios e portentos que deslum-
«E' no ensino da geografia, neste século do avião, bram a fantasia.
que se vão operar reformas mais radicais. Vivemos
agora numa terra de três dimensões, em
que o es-
E, raciocinando com Bergson : se a
paço deixou de ser medido em quilômetros para ser essência das cousas nos escapa e nos es-
102 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

capará sempre, a inteligência aplicada, no cousa desse absoluto, se a civilização con-


sentido da ação a se realizar e para a rea- siguir eliminar — a guerra ; e eleger as
ção conseqüente, sentindo seu objeto para elites para a felicidade das maiorias bem
a cada instante receber a sua impressão dirigidas no caminho da solidariedade entre
móvel, é uma inteligência que atinge qual- os homens de boa vontade.
quer cousa do absoluto. Espero, na vossa companhia, o que virá
A compreensão da paz, tal como pre- com a promessas que o estudo mantém,
convencido da verdade de Boutroux :
garam Rui Barbosa, — Churchill e Roose-
velt, o instinto da liberdade do indivíduo «La science n'est pas seulement
para a escolha do seu trabalho, para a une connaissance, c'est aussi une édu-
expressão do seu pensamento, são qualquer cation».

Resumo en Esperanto — PAROLADO DE D-RO FRANCISCO PEDRO CARNEIRO DA CUNHA

D-ro Francisco Pedro Carneiro da Cunha, en sia parolado en kunsido de Brazila Societo de Geografio,
laudas Ia agadon de Ia Societo rilate Ia sciencan flankon, kaj mDiitras Ia valoron kaj Ia neceson de gcograíiaj
konadoj por Ia instruado kaj klereco.
DISCURSO DE POSSE DO DR. VALÉRIO CALDAS
MAGALHÃES
NA SESSÃO DO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 1944

É grande o júbilo de que me acho pos- marcadora de Limites Brasileiro-Paraguaia.


suído, a satisfação que experimento ao in- que se acha executando o Tratado com-
gressar no quadro social desta agremiação, plementar ao de 1872, firmado nesta Ca-
sem dúvida uma das mais úteis das que hon- pitai, a 21 de maio de 1927, para resolver
ram os foros de super civilizada de que o problema sócio-político que encontrou, na
muito se ufana a maravilhosa cidade de São fronteira, no trecho — marco cabeceira do
Sebastião do Rio de Janeiro — das mais Estrela — marco da cabeceira do Ibicuí —
úteis por ter, como finalidade precípua —
problema resultante da demarcação de 1874,
promover, através de congressos, conferên-
cias, exposições, viagens, investigações, pu- que deixara aquele trecho, com perto de
blicações, etc, o conhecimento perfeito da 300 quilômetros, apenas balizado com 4
marcos, locados no início da linha seca, na
geografia, ciência berço de muitas outras
e que abrange, da geofísica à geopolítica, cabeceira do Estrela, em Potreiro de Júlio,
um imenso setor às atividades do homem, na Cabeceira do Iguatemí e na Cabeceira
possibilitando-lhe cenário vastíssimo às múl- do Ibicuí, este último ponto já na serra de
tiplas pesquisas, indispensáveis ao progresso Maracajú, possibilitando, essa falta de ba-
e bem estar coletivo. lizamento, a formação de povoações ao longo
Depois de ouvirmos o hino que foi o da faixa lindeira, ora dentro do Brasil, os
discurso pronunciado pelo ilustríssimo ora- paraguaios, ora em solo paraguaio, os brasi-
dor oficial, Ministro João Severiano da Fon- leiros, como demonstraremos a seguir.
seca Hermes, cujos sons melodiosos e har-
mônicos ainda musicam em nossos ouvidos
e dos quais apenas dissonantes foram as I — A DEMARCAÇÃO DE 1874
palavras relativas à minha humilde pessoa,
expressões que muito me sensibilizaram e Terminada a guerra com o Paraguai
que comovido agradeço, a minha palavra, por e que teve como prólogo, inegavelmente, a
certo, vem discrepar, no estilo e na forma, velha pendência sobre os limites de nosso
das orações anteriores, cujos conceitos e
país com aquela nobre e heróica Nação, cui-
ensinamentos, por completos, calaram pro- daram os dois governos, de logo, em afastar
fundamente em nossa imaginativa.
o pomo da discórdia e para tal mister fir-
Não podendo, entretanto, quebrar a tra- maram, em Assunção, aos nove dias de ja-
dição desta casa, far-me-ei ouvir, aligeira- neiro de 1872, um Tratado de Limites, em
damente, discorrendo sobre um assunto que, cujo preâmbulo reconheceram «que as quês-
embora acima de meus conhecimentos espe- toes e dúvidas levantadas sobre limites de
cializados, acho oportuno por interessante e seus respectivos territórios, muito contribui-
apropriado a este cenáculo. Trata-se da ram para a guerra que desgraçadamente se
solução, aliás de elevado índice político e fizeram os dois Estados» e, no artigo se-
social, adotada pela Comissão Mista De- gundo, animosos de que fosse o quanto an-
104 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

tes, solucionada a questão, assim estabele- horrores da guerra e os vestígios do terrível


ceram : drama, de que fora teatro, ainda ali estavam
«Três meses ao mais tardar, con- bem patentes, como acentua o Barão de
tados da troca das ratificações do Maracajú, em seu relatório. Não havia,
presente Tratado, as Altas Partes pois, a preocupação, para os demarcadores,
contratantes nomearão Comissários de salvar povoações, problemas que era, na
que, de comum acordo e no mais época, totalmene inexistente.
breve prazo possível, procederão a
demarcação da linha divisória, onde ii A DEMARCAÇÃO ATUAL
for necessário e de conformidade com
o que fica estipulado no artigo pre- Passaram-se os anos, a erva-mate,
cedente». Ilex par aguar iensis, planta pertencente à fa-
mília das Aquifoliáceas, abundante na região,
Nas instruções então assinadas pelos
dois governos a seus respectivos comis- passara a ser fonte de riqueza. Sua ex-
sários, ficou perfeitamente estabelecido, como ploração, dia a dia aumentada, proporcio-
nava o povoamento da linde, tornando viva,
agirem na escolha dos pontos capitais para a uma fronteira morta. E os núcleos se for-
locação de marcos, sem a preocupação de um maram, e os povoados se constituíram e as
perfeito assinalamento do divisor, em toda vilas, as cidades, apareceram. Vimos, en-
a sua vastíssima extensão. Os demarcado- tão, um fator de geografia econômica influir
res de 1874 cumpriram, rigorosamente, as na geografia política. E o problema apa-
instruções que lhes foram dadas e é notável, receu. Brasileiros e paraguaios, sem pode-
sobre tudo se atentarmos para a situação rem precisar, no alto da cordilheira, o divi-
especialíssima da época em que se processa- sor que era o limite, para eles indistinto,
ram os trabalhos, o rendimento apresentado, ultrapassaram, inconscientemente, os domí-
pois que, assinada a primeira ata a 16 de nios de seus países e só não foram mais
agosto de 1872, já a 24 de outubro de 1874, longe porque a serra era, em toda a sua
em Assunção, era firmada a ata fina! da extensão, um marco natural, embora inse-
demarcação, tendo toda a extensão fron-
teira, de 1.339 quilômetros, sido percorrida guro, impreciso em uma certa faixa, e por-
e assinalada com seis marcos apenas, mas, que o interesse comercial era o mesmo para
ambos, situado na mesma região, em am-
estes, nos pontos nerválgicos, prestabelecidos
biente idêntico. Confrontaram-se, pois.
pelas instruções a que já nos referimos. Não
cabe, pois, culpa alguma aos dinâmicos de- Firmado no Rio de Janeiro, a 21 de maio
marcadores de 1874, com referência ao as- de 1927, o Tratado Complementar ao de
sunto que iremos abordar, e, se culpa houve, 1872, somente a 9 de maio de 1930 eram
foi dos dois governos em terem deixado, por- baixadas as instruções à Comissão Mista
tanto tempo — 56 anos precisamente — que, já a 20 do mesmo mês e ano, realizava
abandonada uma fronteira que, em virtude a sua primeira Conferência, em Assunção.
da situação pouco favorável de 1874, fácil- É interessante notar que, tanto no Tratado
mente compreensível, não poderia ter sido, como em suas instruções, os dois Governos
com a presteza que essa situação exigia, de- não se referiram às povoações lindeiras, ou
finitivamente balizada e de tal forma, a não melhor, não previram a possibilidade de es-
oferecer dúvida, mesmo aos leigos, às popu- tarem elas situadas dentro da própria li-
lações dos dois países. nha de fronteira ou nas suas proximidades,
O assunto é vasto, Senhores, e bem omissão que deu margem, posteriormente,
compreendo não poder tratá-lo em suas mi- a um acordo sobre deslinde de povoações,
núcias, quando o tempo, por certo, é-nos firmado em Assunção a 20 de junho de 1940,
a todos limitado. Daí passar ligeiramente pelos dois Delegados Chefes, do Brasil e
sobre certos detalhes, para chegar ao prin- do Paraguai, respectivamente Coronel Te-
cipal objetivo de nossa modesta palestra, místocles Pais de Sousa Brasil e Engenheiro
o deslinde das populações situadas na faixa D. Sebastião D. Silva. É que, iniciada
de limites, com o Paraguai. a demarcação e levantado o divisor da Serra
de Amambai, verificou a Comissão Mista
Quando da demarcação de 1872-1874, que a linha de fronteira cortava, nesse di-
a região lindeira se achava completamente visor, no trecho situado entre o marco da
abandonada, assolada que havia sido cabeceira do Estrela e o da cabeceira do
pelos
DISCURSOS DE POSSE 105

Iguatemí, nada menos que três povoações que fêz a Comissão Mista Brasileira-Para-
xipófagas : Ponta Porã — Pedro Juan Ca- guaia.
ballero ; Sanga-Puitã — Sanja Pita ; Nhu-
Verá (Antônio João) — Capitán Bado, e, A 5 de maio de 1941 era firmada, em
Ponta Porã, a Ata da Décima Terceira Con-
no divisor da serra de Maracajú, no trecho
ferência da Comissão Mista Brasileiro-Pa-
o marco da cabeceira do Iguatemí e o levan-
tado na cabeceira do Ibicuí, mais uma po- raguaia; a Comissão Brasileira tendo por
voação dupla .-Paranhos — Ipê-Hum, esta, Chefe e Sub-Chefe, respectivamente, os Se-
nhores Coronel Sebastião Claudino de Oli-
aliás, toda a leste da linha, inteiramente em
veira e Cruz e Major José Guiomard dos
território brasileiro. Impunha-se, pois o
Acordo, do qual, para melhor concatenação Santos, aqui presentes. Entre outras im-
do assunto e por tratar-se de documento in- portantes resoluções então tomadas para o
timamente ligado à geografia política, não prosseguimento do serviço demarcatório que
me furtei ao desejo de transcrever, nesta se desenrolava desde 1932, consta a seguin-
te, no item Décimo Primeiro da referida
ligeira notícia, o preâmbulo e os principais
artigos : Ata:

«Os Primeiros Comissários, Chefes das Comis- «que a missão da primeira Sub-comissão mista
soes Dcmarcadoras de Limites entre a República será :
dos Estados Unidos do Brasil c a República do Pa-
raguai, considerando» : a) Efetuar os deslindes das localidades de
Ponta Porã — Pedro Juan Caballero, Sanga Puitã
a) que os trechos da linha de limites entre os Sanja Pita, Antônio João (antigo Nhu-Vera)
os territórios dos dois países, situados nas locali- Capitán Bado. Para isso, em
primeiro lugar,
dades de Ponta Porã — Pedro Juan Caballero, Sanga cotejará as plantas existentes com o terreno, efe-
Puitã — Sanja Pita — Nhu-Vera Capitan Bado e Ipê tuando as medidas de verificação que forem ne-
Hum — Ipejhu — apresentam condições especiais, de- cessadas. Em seguida a planta receberá uma ins-
vido terem as populações, quer brasileiras, quer pa- crição datada e assinada pelos chefes brasileiro
raguaias, se estabelecido sem atender a linha divi- e paraguaio da sub-comissão declarando a sua exa-
sória que pelo Tratado de 9 de janeiro de 1872 é tidão ou inexatidão, no todo ou em parte, caso em
constituída pelo divisor de águas, o qual não se que será ela desprezada e substituída por outra.'
acha convenientemente caracterizado; Possuída a planta exata, será efetuado imedia-
b) que em conseqüência desses fatos, as re- tamente o deslinde pela construção dos marcos cor-
feridas populações crearam um limite convencional, respondentes na linha limítrofe atualmente respei-
respeitado por ambos os países; tada. Construídos os marcos, lavrados os termos
c) que nesse estado de harmonia em que se de construção dos mesmos, far-se-á, a seguir, o tra-
acham não há conveniência em alterá-lo, uma vez balho de poligonação destinado a fixar-lhes as posi-
que estão em jogo pequena área de territórios, quer ções. Locados os marcos na planta, em que também
do lado do Brasil, quer do lado do Paraguai; terá traçada a linha do divisor de águas, será ava-
liada a área a ser levada em conta na compensa-
lç A linha delimitadora das fronteiras dos dois ção prevista no acordo de primeiros comissários,
países será a que presentemente é respeitada pelas transcrito na Ata da 12* Conferência, realizada em
populações brasilieras e paraguaias nas localidades Assunção ;»
de Ponta Porã, Pedro Juan Caballero, Sanga Puitã,
Sanja Pita c Nhu-Verá — Capitán Bado, cujos es-
tudos estão feitos c apresentados aos respectivos Go- Tratando-se de assinalamento de zona
vêrnos.
povoada, ficou ainda estabelecido, nessa
29 A linha delimitadora da fronteira nas lo- reunião, o tipo de marco a ser empregado
calidade de Ipê — Hum, Ipejuh será determinada de nos deslindes, (marco 2l} ordem-especial),
acordo com o critério adotado para as localidades em concreto de cimento com traço de 1:3:5,
precitadas. O resultado dos estudos oportunamente abrangendo um bloco de lm,00 x lm,00 x
executados serão locados na planta já existente.
x 0m,50 ; sobre esse bloco, outro de
39 As diferenças entre as áreas pertencentes
ao Brasil e as pertencentes ao Paraguai, tendo como 0m,20 x 0m,20 x 0m,50. Todo esse con-
base a linha de limites determinada pelo divisor de junto, enterrado, com execeção de 0m,20 da
águas previsto nos Tratados e no Protocolo de Ins- altura do último bloco. Um passeio circular
trução, acima mencionados, serão compensadas nos de 0m,50 de largura e raio menor de 0m,30
lugares em que forem julgados convenientes pelos — contruído em volta do pequeno marco,
dois Primeiros Comissários e nas ocasiões oportunas.
sendo gramado o espaço entre o passeio e o
Estava o problema resolvido no papel, bloco ligando-se o passeio ao espaço gramado
tornava-se necessário, entretanto, materiali- por um cordão de 0m,05 de largura por
zá-lo, no terreno, isto é, proceder o deslinde 0m,10 de altura. Trata-se, como os números
das povoações nele mencionadas. Foi o indicam, de marcos bem pequenos,- verda-
106 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

deiros sinais, formando um todo elegante e, duas grandes avenidas internacionais. A


até, um ornamento das ruas e avenidas onde extensão demarcada, nesse trecho, atinge
forem locados. a 2.792 metros.
Para balizar a linha divisória entre An-
III — EXECUÇÃO DOSDESLINDES tônio João e Capitán Bado, no trecho que
Nesse mesmo ano de 1941, foram ini- vai do marco n9 218, ao N. do povoado ao
ciados e concluídos os deslindes das cidades marco nf- 219, ao Sul, foram construídos ape-
de Ponta Porã — Pedro Juan Caballero e nas 9 marcos, situados em quatro retas dis-
das povoações da Sanga Puitã — Sanja tintas, que salvaram perfeitamente as pro-
Pita e Antônio João — Capitán Bado. priedades e satisfizeram os interesses justos
das populações de ambos países. A se-
De como processaram esses trabalhos
é assunto que, a seu tempo, depois de apro- gunda dessas quatro retas, constitui uma
ampla avenida internacional, com 100 me-
vado o serviço pelos dois governos, será tros de largura, artéria mater que será, para
do conhecimento de todos. Podemos afir- a posteridade brasileiro-paraguaia, um fator
mar, entretanto, que a execução do serviço de aproximação, de progresso, de intercâm-
foi feita interpretando fielmente o espírito
bio e de sociabilidade. A distância no tre-
do acordo acima referido, traçando-se uma cho citado, é de 2.004 metros.
linha convencional, baseada no limite res-
Prosseguindo a Comissão Mista os seus
peitado tradicionalmente pelas populações e
autoridades, brasileiras e paraguaias. Assim trabalhos de campo, no ano de 1942, realizou
sendo, a separação dessas povoações rece- o deslinde da 4* e última população-gemi-
beu o assentimento espontâneo dos habitan- nada, esta situada no divisor da serra de
tes e autoridades de ambos os países, não Maracajú, como tivemos ocasião de men-
tendo havido queixas nem reclamações, sen- cionar, linhas atrás. Os três primeiros des-
do um dos objetivos dos executores do Acôr- lindes já referidos, não ofereceram, para os
do, o interesse futuro que possam vir a ter, demarcadores, problemas de vulto, de vez
levando-se em conta até os posteriores me- que, mandando o Acordo, como vimos, em
lhoramentos urbanísticos que, com o avançar seu Artigo l9, que a linha fosse a respeitada
dos anos, venham a ser necessários. Da- pelas populações brasileiras e paraguaias,
rei, a seguir, resumidamente, alguns dados apenas coube, ao técnico, assinalar no ter-
já bem conhecidos dos que residem naquela
reno, essa linha. Em Ipê-Hum — Para-
região e por meio dos quais fácil se torna nhos, pelo afastamento em que se acham
aquilatar do vulto e do mérito desse serviço, os dois povoados entre si e em virtude de
um dos mais importantes dentre os muitos estar o paraguaio todo em território brasi-
leiro, foi mister o estudo de uma linha con-
que a Comissão Brasileira de Limites —
Segunda Divisão vem realizando com as vencional. E essa linha convencional foi
suas congêneres dos países vizinhos. estudada e resolvida satisfatoriamente, par-
tindo do marco 119 de 2!l ordem — no III
Entre Ponta Porã e Pedro Juan Ca-
setor, situado ao N. da povoação e termi-
ballero — trecho compreendido entre os
nando ao Sul, no marco de 2;> ordem 120
marcos monumental e n* 2, do II9 Setor,
foram locados 12 marcos do tipo especial que limita, naquela parte, a linha própria-
mente traçada no divisor. O deslinde em
já citado e o assinalamento foi feito por uma Paranhos-Ipê-Hum, foi resolvido apenas com
linha sinuosa, com exeção da avenida inter-
dois alinhamentos, balizados por 12 marcos,
nacional, onde a linha de pequenos marcos
do tipo descrito, e a distância entre os dois
obedece uma só direção. A poligonal de
extremos acima citados é de 4.398 metros.
todo esse trecho, se desenvolve por 6.375
O primeiro alinhamento, com 3.500 metros,
metros.
constitui uma ampla e bela avenida interna-
Entre Sanga Puitã, brasileira e Sanja cional, mais uma artéria pública limitando e
Pita, paraguaia, o deslinde acha-se assina- unindo os dois países amigos.
lado por 10 marcos, amarrados a respectiva
poligonal nos marcos de 2^ ordem do II se- IV — ASPECTO SOCIAL — POLÍTICO E ECO-
tor, de ns. 18, ao Norte e 19, ao Sul do
NÔMIO DESSES DESLINDES
povoado. Duas retas apenas foram sufi-
entes para materializar, no terreno, a linha Não há negar a importância, o alcance,
separadora, retas que constituirão, de futuro, o realce — social, política e economicamente
DISCURSOS DE POSSE 107

falando que a solução desse problema trou- cujo sistema Ponta Porã decerto será o cen-
xe para os dois países. Social por que, os tro de irradiação.
marcos ali colocados, longe de separarem os
dois povos vizinhos, apenas lhes fixam as
respectivas soberanias, facilitando, conse-
qüentemente, o fisco, o policiamento, a ad- E assim, anonimamente, sem alardes —
ministração, o seu progresso, enfim. Poli- os diplomatas, no silêncio de seus gabine-
tico, sim, um exemplo ao mundo conturbado tes e os técnicos, no cenário amplo da na-
de hoje, pois que, no mesmo cenário onde tureza, palmilhando ínvios caminhos, subin-
se desenrolou grande parte da tragédia de do e descendo montes,, cumprindo no ter-
1870, agora se verifica a confraternização, reno, a letra dos Tratados — vai o Itama-
o entrelaçamento dos dois povos, dando um ratí, fiel à sua tradicional política de paz
edificante testemunho de que o passado pode e de boa vizinhança, resolvendo as nossas
e deve morrer, quando o presente significa questões de limites, com magnanimidade,
união, compreensão, auxílio mútuo, pana- muitas vezes aceitando menos do que de di-
mericanismo sadio. Economicamente, não reito poderia pleitear, de que é exemplo ti-
resta a menor dúvida, e a ligação férrea pico o caso do Igurei, com o próprio Pa-
Ponta-Porã — Concepción já é o primeiro raguai, tendo como ponto colimado, entre-
passo para o desenvolvimento comercial en- tanto a conquista, não de territórios, mas
tre as duas nações, intercâmbio que se pro- da amizade sincera de seus irmãos da Amé-
cessará naturalmente e forçará, em futuro rica, para que possam todos, irmanados por
não muito remoto, a construção de um sis- um só ideal, o da fraternidade universal,
tema redoviário ao longo da fronteira, li- marchar livres na América, e a América,
gando, as povoações agora deslindadas, de livre num mundo livre.

Resumo en Esperanto — PAROLADO DE D-RO VALERIO CALDAS MAGAIJÍÃES.

Enirante en Ia asocian kadron de Brazila Societo de Geografio, D-ro Valério Caldas Magalhães faris
paroladon en kiu, por evidente montri kiel li interesigas ai geografiaj aferoj, li priskribas kiel estis fiksitaj certaj
partoj de Ia landlimo Brazil-Paragvaja, en Ia randoj de Ia teritorio Ponta-Porã.
REFORMA DOS ESTATUTOS

OS NOVOS ESTATUTOS DA SOCIEDADE E O CORRESPONDENTE


REGULAMENTO FORAM APROVADOS PELA ASSEMBLÉIA GERAL,
QUE SE REALIZOU NOS DIAS 20 E 26 DE DEZEMBRO DE 1945

Desde havia bastante tempo que a nossa seca Hermes justificou todas elas com a
Sociedade se ressentia das deficiências dos exposição que transcrevemos :
Estatutos de 1924, apesar das ligeiras re-
formas de 1931, 1934 e 1940.
EXPOSIÇÃO FEITA EM 25 DE OUTUBRO
Entre as mais salientes dessas deficiên- DE 1944
cias, é de destacar a que limitava a um re-
duzido número de Consócios o dever e o di- Senhor Presidente, ilustres confrades,
reito de reunião mensal, incongruência essa
Ao iniciarmos os trabalhos desta As-
que teve como conseqüência natural e for- sembléia, da qual muito esperamos em prol
cosa o afastamento e o desinteresse por da Sociedade de Geografia, desejo, em
parte de muitíssimos Sócios. nome de alguns Consócios e no meu pró-
Na Assembléia Geral de 25 de Outu- prio, dizer o que pensamos e propor algu-
bro de 1944, convocada extraordinàriamen- mas providências que julgamos poderão cor-
te Para examinar esse e outros responder às necessidades da nossa Socie-
problemas, dade.
o Ministro Fonseca Hermes apresentou as
seguintes propostas, que mereceram apro- Em flagrante contraste com a sua vita-
vação : lidade passada, forçoso é reconhecer que a
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
a) sobre os Congressos Brasileiros de vem revelando considerável decaimento em
P:
Geografia ; suas atividades.
b) sobre os direitos dos Sócios de Não há necessidade de aprofundar tô-
Honra e Beneméritos, em face dos das as causas desse fenômeno, bastando
respondem aos Efetivos ; que cor- assinalar algumas delas, por isso que, a
c) sobre os Quadros de Honra e de essas, a Assembléia poderá oferecer os ne-
Benemerência ; cessados corretivos.
d) sobre a doação do prédio em Umas dizem respeito às finanças da So-
que
funciona a Sociedade, ou de um terreno onde ciedade, outras à sua lei orgânica, e outras
edificar sede própria e condigna ; à abstenção, em grande parte justificada,
dos Sócios Efetivos, Titulares, Honorários
e) sobre o andar térreo do edifício, e Beneméritos.
í • '
em que se instalara* uma padaria ;
No que se refere às finanças, temos a
f) sobre as Sessões do Conselho : indicar, em primeiro lugar que, em virtude
g) sobre a reforma dos Estatutos. das novas leis trabalhistas, as despesas da
Sociedade se elevaram consideravelmente,
Além dos, «Consideranda»,
que acom- tornando-se urgente e imprescindível obter
panharam cada proposta, o Ministro Fon- do Governo o aumento da subvenção, de
mmmum^mmmmmmm

REFORMA DOS ESTATUTOS 109

20 para 50 mil cruzeiros e esforçarmo-nos As propostas sobre os Congressos res-


por aumentar o nosso quadro social. pondem, uma, a imperiosas necessidades de
Em segundo lugar, a organização de sistematização e de continuidade para as
um sistema de fichários, mantidos em dia, suas realizações, e a outra, à situação dos
para o registro dos Sócios contribuintes, seus Sócios da Sociedade em face dos mesmos
endereços e mudanças, único meio de tornar Congressos.
efetiva e regular a cobrança das cotas, exi- .A fim de atender à primeira, o Conselho
giria despesa que a situação financeira atual Diretor resolveu criar uma Comissão Dire-
da Sociedade não permite, sendo de ressal- tora
para organizar os Congressos. Essa
tar as dificuldades com que luta a Comissão Comissão é composta de
cinco Sócios um
da Revista para publicar, ainda
que com dos quais alto funcionário do Conselho Na-
atrazo, um só Boletim ao ano. cional de Geografia. O mandato dessa Co-
Em terceiro lugar, cumpre a todos os missão é para três Congressos, ficando a
Sócios se interessar pela instalação con- reeleição de cada um dos seus componentes,
digna da nossa sede, que está abaixo de para períodos subseqüentes, sujeita à homo-
toda crítica, pela organização de sua biblio- logação de três quartas partes dos Sócios
teca e mapoteca, com os respectivos fi- presentes à Assembléia em que se realizar
chários e catálogos, pela doação, por a respectiva reeleição.
parte
do Governo, do prédio em que funciona Consideramos essa providência de alta
a Sociedade ou de um terreno onde
possa projeção, tal como justificada pelos «Con-
ser construído um edifício que lhe
garanta sideranda» que precederam a proposta.
digna instalação e constitua, ao mesmo tem-
A Assembléia, agora convocada, está
po, fonte de renda. chamada a eleger os cinco Sócios que devam
Para remediar tais inconvenientes, de- integrar essa Comissão.
vemos ativar, de maneira firme e decidida,
as providências já iniciadas pela atual Dire- Os Congressos Brasileiros de Geogra-
toria, a fim de obter do Governo o aumento fia constituem a mais brilhante manifestação
da subvenção, a doação do edifício onde de vitalidade da Sociedade, assim a Assem-
tem sede a Sociedade ou de um terreno, e bléia deve usar da maior circunspecção na
tornar mais eficaz a cobrança das cotas e escolha dos Sócios que vão constituir essa
maior o número de contribuintes. Comissão, por isso que, da liberdade e da
capacidade de trabalho e de tempo, do de-
E, quanto aos Estatutos, a sua reforma votamento e da experiência dos seus com-
radical se impõe para poder atender aos im- ponentes, dependerão
grandemente o prós-
perativos da lei e às exigências da Socie- seguimento normal desses certames e o seu
dade, em sua nova fase, que reclama vida aperfeiçoamento
progressivo.
autônoma, ativa e eficiente.
Quanto à situação dos Sócios da Socie-
No que diz respeito à abstenção da dade em face dos Congressos, o Conselho
grande maioria dos Sócios nas atividades Diretor aprovou, em sua já citada Sessão
da Sociedade, esta é devida ao critério res- de 5 do corrente mês, a de serem,
proposta
trito e injustificável das reuniões mensais da os Sócios, considerados Congressistas natos,
Sociedade, reservadas que são ao Conselho ficando-lhes a liberdade de aderir aos Con-
Diretor, que, com a Diretoria, somam apenas gressos, com o intuito de maior pres-
27 Sócios. prestar
tígio e brilho a esses certames.
Essas reuniões devem ser, como natural, Aprovada foi, também, na mesma Ses-
da Sociedade, com a participação de todos são do Conselho Diretor, a ten-
os Sócios e não exclusivamente do Conselho dente a submeter a reeleição proposta dos Membros
Diretor, cuja existência se faz indispensável da Diretoria, após seis anos de exercício,
em face da legislação que regula as Socie- ou seja depois de reeleitos dois períodos
dades no gênero da nossa. por
consecutivos, à homologação de três quartas
Na última Sessão do Conselho Diretor, partes dos Sócios presentes à Assembléia
realizada a 5 do corrente mês, foram apro- que deva eleger a Diretoria.
vadas várias propostas, referentes aos Con- Tal providência afigura-se-nos de gran-
gressos Brasileiros de Geografia e à reelei- de alcance, porquanto, como salientou o au- ¦.

Ção da Diretoria.
: ¦

tor da proposta, as reiteradas e sucessivas


¦,¦¦
110 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

reeleições impediam o surgimento de novos cios de boa vontade e pelos sucessos sempre
valores e incrementavam o hábito das posi- crescentes dos Congressos Brasileiros de
ções, levando, eventual e insensivelmente, Geografia.
os respectivos detentores dos cargos, a se As Resoluções, que a presente Assem-
considerarem vitalícios e inclinando-os a bléia aprovar, devem fazer evidente a de-
certa displicência. cisão da Sociedade de elevar-se sobre as
A Assembléia Geral está chamada a contingências que a mantinham estagnada
deliberar sobre a redação final dessa Re- e rumar por nova orientação, que lhe abra,
solução. larga e fácil, a estrada para a realização
efetiva de suas finalidades culturais e a rea-
O edifício, sede da Sociedade, está em
firmação do seu prestígio, tendo em vista,
condições lamentáveis e, talvez, irregulares.
Urge dar um corretivo a essa situação, ou, sobretudo, o presente momento mundial, que
marca o início de uma nova era, em que a
pelo menos, esclarecê-la definitivamente,
pois, além de poder acarretar incômodos Geografia se impõe como fator relevante e
morais para a Sociedade, o funcionamento decisivo no estudo e solução de numerosos
do forno da padaria instalado no andar tér- e importantes problemas.
reo do prédio constitui ameaça de destruição É nesse sentido, encarando o papel que
do nosso valioso arquivo e preciosa biblio- a nossa Sociedade pode e deve desempe-
teca.
nhar, que tenho a honra de propor as se-
Acresce que o dono da padaria, além guintes providências, que passo a ler :
de não pagar aluguel algum, como parece
devia fazê-lo, à Sociedade, sublocou, a ter- A fim de que fiquem consignadas cer-
ceiro, parte da planta baixa do edifício. tas circunstâncias, que aceleraram esse mo-
vimento, reproduzimos o texto das propostas
Reconhecemos os esforços com que a
referentes às Sessões do Conselho Diretor e
Diretoria, o Conselho Diretor, as Comissões
Permanentes e alguns Sócios vêm procuran- à reforma dos Estatutos.
do sustentar a Sociedade, apesar de todas
as dificuldades e vicissitudes por que ela DAS SESSÕES DO CONSELHO DIRETOR
tem passado nestes últimos anos, e regis- E DA SOCIEDADE
tramos, aqui, a gratidão que todos deve-
mos a esses bons servidores da nossa Ins- A ASSEMBLÉIA GERAL DA SOCIEDADE DE GEO-
tituição, os quais, se mais não fizeram, em GRAFIA DO RIO DE JANEIRO, REUNIDA NA SEDE
prol da Sociedade, foi porque as circuns- DA SOCIEDADE, A 24 DE OUTUBRO DE 1944
tâncias e os Estatutos, a tradição e a força
do hábito não no lhes permitiram. Considerando que a Sociedade de Geo-
Está no sentimento de todos o mal es- grafia, de acordo com o Artigo 26 dos Es-
tar de que se encontra invadidida a Socie- tatutos, tem apenas duas Sessões Magnas
dade, mal estar que testemunha da neces- por ano ;
sidade de reformas radicais, certificam a
conveniência de providências urgentes e Considerando que as Assembléias Ge-
atestam que a Sociedade ancêie por nova rais se reúnem mui espaçadamente, quando
orientação e vida mais intensa. convocadas para determinado assunto de
Prevalecendo-nos do feliz ensejo que grande relevância ;
oferece a reunião desta Assembléia Geral, Considerando que, em conformidade ao
julgamos dever chamar a atenção dos nos- Artigo 27 dos Estatutos, as reuniões men-
sos Confrades para todas essas situações, sais, únicas que tem a Sociedade, são deno-
que estão a reclamar uma série de medidas, minadas do Conselho Diretor ;
urgentes e severas, a fim de impedir que a
nossa Sociedade continue a viver vida obs- Considerando que esse Conselho se
cura e apática, sob a ameaça constante e compõe apenas de 27 Sócios — 18 do Con-
cada dia maior de cair -em completa selho e 9 da Diretoria ;
para-
lisia, quando, ao contrário, deve entrar em Considerando que a quase totalidade
nova fase de atividade, brilho e dos Sócios Beneméritos, remidos e Efetivos
prestígio,
secundada pela cooperação de todos os Só- não faz parte desse Conselho ;
REFORMA DOS ESTATUTOS 111

Considerando que nenhum dos Sócios Considerando que fenômeno tão extra-
Titulares pertence, tão pouco, ao Conselho nho, em uma Sociedade como a nossa, tor-
Direto*; na-se, por tudo quanto precede, perfeita-
Considerando que essas reuniões vêm mente normal e justificado ;
decaindo de importância, mingoando, assim, Considerando que a vitalidade da So-
as atividades da Sociedade, seu prestígio e ciedade será tanto mais brilhante e eficiente
finalidades culturais ; quanto maior fôr o número de Sócios, de
Considenrando que a razão desse fato, todas as categorias, que participem, como
de progressiva apatia, reside, precisamente, mandam os Estatutos, de suas atividades e
no caráter restrito dessas reuniões ; mais íntimo se faça o contato entre todos ;
Considerando que a abstenção da enor-
me maioria de Sócios nos trabalhos, ocupa- A ASSEMBLÉIA GERAL DA SOCIEDADE DE GEO-
ções e preocupações da Sociedade, sobre GRAFIA DO RIO DE PANEIRO
ser considerável e injustificadamente pre-
judicial aos próprios interesses da Socie- Resolve :
dade, impede a revelação de capacidade e
de aptidões de muitos dos seus Associados ; l9 O Conselho Diretor se reunirá :
Considerando não poder ou não dever a) quando, a juízo do Presidente da
ser esse o espírito, como tão pouco o obje- Sociedade, a sua convocação se fizer neces-
tivo da Sociedade ; sária para deliberar sobre assuntos de sua
Considerando que, de fato, esse não é competência ;
o espírito, como tão pouco o objetivo da b) a requerimento, devidamente fun-
Sociedade, porquanto o Artigo 9 dos Esta- damentado, de cinco Membros do Conselho.
tutos proclama que
2? As Sessões da Sociedade realizar-
«O mais importante dos direitos dos _
se-ão na primeira Quinta-feira de cada mês,
Sócios está no cumprimento dos seus com exceção dos meses de Janeiro e Feve-
deveres» ; reiro.
¦¦*.¦¦'¦¦¦¦¦¦
¦

e que a Alínea b) do § 1? desse mesmo Parágrafo único. A essas Sessões se-


rão convocados todos os Sócios.
Artigo estabelece ser dever precípuo, de-
corrente do direito mais importante dos Só-
cios : PROJETO DE NOVOS ESTATUTOS
«Assistir assiduamente às Ses-
soes».. . pertençam, eles, a esta ou Considerando que os Estatutos da So-
àquela categoria... ciedade de Geografia não correspondem,
com exatidão, a todas as exigências da le-
Considerando que as Sessões da So- gislação em vigor ;
ciedade vêm, de longa data, se limitando às Considerando que os Estatutos da So-
do Conselho Diretor, com exclusão de todos ciedade restringem os ancêios de muitos
os demais Sócios que, a elas} não são con- Sócios, revelados em várias oportunidades,
vidados ; ancêios que tendem a dar à Sociedade maio-
res atividades ;
Considerando que a função do Conse-
lho Diretor deflui de uma formalidade legal,
que não colide com os objetivos culturais A ASSEMBLÉIA GERAL DA SOCIEDADE DE GEO-
da Sociedade, que só podem ser alcança- GRAFIA DO RIO DE JANEIRO, REUNIDA NA SEDE ..

dos por via de reuniões freqüentes e pe- DA SOCIEDADE, AOS 25 DE OUTUBRO DE 1944
riódicas dos seus Sócios ;
Considerando ser patente e lamentável Resolve :
o desinteresse da quase totalidade dos Só-
l9 Nomear uma Comissão de cinco Só-
cios pelas atividades culturais da Sociedade cios com o encargo de elaborar um
ç pelo seu destino ; projeto
de novos Estatutos, tendo em vista as razões
112 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

dos «Consideranda» supra e as Resoluções sendo que a última se realizou a 4 de Ja-


aprovadas pela Assembléia Geral, hoje reu- neiro de 1945.
nida. Terminada a redação, a Comissão, de
29 Esse projeto será apresentado ao acordo com o resolvido pela Assembléia Ge-
Presidente da Sociedade, que comunicará, ral, mandou tirar cópias mimeografadas do
em Sessão Ordinária, a sua elaboração. ante-projeto, enviando-as a todos os Sócios
39 O projeto permanecerá aberto a toda com a solicitação de emendas e sugestões.
e qualquer sugestão dos Sócios, na Secreta- Esse pedido consta da Circular se-
ria da Sociedade, durante 60 dias, a contar guinte :
da data da comunicação do Presidente da
Sociedade. ANTE-PROJETO DOS NOVOS ESTATUTOS
49 Findo esse prazo, o Presidente con-
circular n{' 1
vocará uma Assembléia Geral para discutir
e resolver a respeito do projeto. Sociedade de geografia do rio de janeiro
59 A Comissão apresentará um Rela- — 10 de janeiro de 1945
tório expositivo, sobre o projeto e coorde-
nará as emendas apresentadas, a fim de es- Prezado Consócio,
clarecer a Assembléia.
As finalidades que nortearam a Comis-
6? A discussão versará apenas sobre o
são nomeada, pela Assembléia Geral de 24
projeto e as emendas apresentadas dentro de Outubro último, para proceder à elabo-
do prazo fixado no Item 3-. ração do projeto de novos Estatutos, tive-
O Comandante Oliveira Belo apresen- ram por escopo tirar a nossa Sociedade da
tou uma proposta tendente a suprimir o apatia que a dominava.
cargo de Orador Oficial e, juntamente com O projeto dos novos Estatutos, que te-
o Ministro Fonseca Hermes, outra que vi- mos a honra de submeter à consideração e
sava restringir as reeleições para os cargos análise do prezado Consócio, encarou as
de direção. situações que poderão se apresentar e que
Uma vez aceita a idéia de reformar os devem ser resolvidas de maneira prèviamen-
Estatutos, as demais propostas, se bem apro- te estabelecida, evitando-se interpretações
vadas pela Assembléia, ficaram virtual mente de ocasião ou arbitrárias.
prejudicadas, porquanto a nova lei orgânica A fim de corresponder às necessidades
da Sociedade deveria adotá-las, e, para esse da Sociedade em a nova fase de ressurgi-
fim, foram encaminhadas à Comissão no- mento, que tão propiciatória se apresenta, a
meada. Comissão redigiu o projeto de Estatutos de
A Assembléia designou os Senhores forma a :
Ministro João Severiano da Fonseca Her- l9 adaptá-los à Legislação em vigor e
mes, Desembargador Carlos Xavier Pais futura,
Barreto, Professor Mário Rodrigues de Sou- 29 dar realidade aos fins culturais para
sa, Professor Francisco de Sousa Brasil e
Comandante Luís Alves de Oliveira Belo que foi fundada a Sociedade,
39 discriminar o$ direitos e deveres dos
para constituírem a Comissão encarregada Sócios e Autoridades,
de elaborar o ante-projeto dos novos Es- 49 dotar a Sociedade de órgãos deli-
tatutos. berativos, executivos e consultivos, definin-
A Comissão deu imediato início aos do as respectivas atribuições e de maneira
seus trabalhos. O Ministro Fonseca Her- a prevenir intromissões recíprocas no exer-
mes encarregou-se da redação dos Artigos, cício das mesmas,
de forma a facilitar o trabalho da Comissão, 5- regular as eleições, restringindo as
que passaria a examinar matéria já conca- reeleições e favorecendo o rodízio nos pos-
tenada, ficando assentado, na primeira reu- tos de comando,
nião, realizada a 28 de Outubro, o plano 69 abrir as portas do futuro às possi-
geral. bilidades do desenvolvimento econômico e
A Comissão reuniu-se em uma das sa- cultural da nossa Sociedade.
Ias do Clube de Engenharia, gentilmente A minúcia com que as situações são pre-
cedida pela sua Diretoria, em 16 sessões, vistas e resolvidas, a muitos poderá parecer
REFORMA DOS ESTATUTOS 113

exagerada ; mais vale, porém, prevenir que Francisco de Souza Brasil, Carlos Xa~
improvisar soluções que, nem sempre, cor- vier Paes Barreto.
respondem à maturidade da reflexão.
Dentre as sugestões recebidas, a mais
A Comissão examinou, com simpatia e importante foi a apresentada pelo Embaixa-
sem encontrar inconvenientes, a possibili- dor José Carlos de Macedo Soares, que ai-
dade de ser trocada a denominação : «5o- vitrou a divisão do ante-projeto em duas
ciedade de Geografia do Rio de Janeiro»
partes; uma, que constituiria, encerrando as
para «Sociedade Brasileira de Geografia», matérias de fundo e orgânicas, os Estatutos
tendo em vista a eventualidade de serem
criadas, por iniciativa da nossa, como pre- propriamente ditos, e a outra, mais de cará-
ter particular, o Regulamento.
visto no projeto, Sociedades congêneres nos Aceito o alvitre pela Comissão, pelo
Estados. Julgamos, entretanto, mais pru- Conselho Diretor, e pela Assembléia Geral
dente não incluir a idéia nos Estatutos em de 25 de Setembro, o Ministro Fonsec Her-
projeto, deixando aos Sócios a oportunidade mcs foi encarregado de organizar os dois
de examiná-la refletidamente para que, no
projetos, procedendo à divisão da matéria e
selo da Assembléia, o assunto seja venti- ao complemento de cada um deles.
lado espontaneamente.
O Conselho Diretor e a Comissão se
Em se tratando da lei orgânica da nossa reuniram em oito sessões, durante as qais
Sociedade, de um todo harmônico, a Comis- foram pormenorizadamente debatidos todos
são entendeu dever solicitar a cooperação da os artigos dos Estatutos e do Regulamento.
maioria dos Sócios, porquanto possível e pro-
Terminada a redação dos projetos, foi
vável se nos afigurou que o nosso trabalho
convocada para o dia 20 de Dezembro a As-
poderia oferecer senões, a-pesar-do esmero sembléia Geral extraordinária que deveria
com que procurámos nos desempenhar do
examinar, discutir e aprovar a nova lei orgâ-
encargo que nos foi cometido.
nica da Sociedade e o correspondente Regu-
E' nesse sentido que lhe enviamos o lamento.
presente exemplar, rogando o favor de nos Por não haver sido possível terminar a
comunicar as suas observações e sugestões
tarefa em um só reunião, a Assembléia pro-
antes do dia 15 de Fevereiro próximo vin-
longou os seus trabalhos para o dia 26, quan-
douro.
do foram integralmente aprovados os novos
A Comissão reunirá todas as propostas Estatutos e o Regulamento, depois de asser-
de emendas, que receber, e estudar-las-á de- tadas várias emendas.
tidamente para apresentá-las devidamente es-
clarecidas à Assembléia que há de discutir o Os novos Estatutos entrarão em vigor
depois de registrados no Ofício de Registro
projeto dos novos Estatutos. de Títulos e Documentos e de publicados,
Deliberaremos, assim, sobre matéria pré- em extrato, no Diário Oficial.
via e cuidadosamente estudada, evitando-se
atropelos e improvisções, porquanto a Comis- Por isso, só no próximo número da
nossa Revista serão eles publicados.
são estima que, uma vez coordenadas as
emendas recebidas, a discussão poderia ver- A mais importante das inovações intro-
sar apenas sobre estas, considerando-se, co- zidas foi a mudança do nome da Sociedade
mo natural, tácitamente aprovados os demais de Geografia do Rio de Janeiro para Socie-
Artigos. dade Brasileira de Geografia. Tal transfor-
mação se justifica plenamente se considera-
Será obra de todos e não de uns pou- mos, por exemplo, os fatos, de que a nossa
cos, que viriam surpreender os demais Só-
Sociedade organiza os Congressos Brasilei-
cios com projeto de tanto vulto e importân- ros de Geografia e se preocupa com os pro-
cia. blemas geográficos de todo o país.
Esse é o espírito que nos anima e, por Digamos com o nosso Presidente em
isso muito desejaríamos receber a sua opi- exercício:
nião, ainda quando concordante com o pro- «Os novos Estatutos e o Regulamento
jeto anexo. respondem, estamos certos, aos ancêios de
Cordiais saudações. — /. S. da Fon- todos os Sócios e habilitam a nossa Socie-
seca Hermes. — Mário C. Rodrigues de dade a lançar-se à conquista de suas nobres
Souza. — Luiz A. de Oliveira Bello. — e elevadas aspirações.» (Relatório de 1945).
ELEIÇÕES PARA O BIÊNIO 1945/1946

ASSEMBLÉIA GERAL DO DIA 21 DE DEZEMBRO DE 1944

De acordo com os estatutos, no dia 21 Dr. João Ribeiro Mendes


de Dezembro de 1944, reuniu-se a Socieda- Dr. Epitácio Monteiro Pessoa
Dr. Alberto Couto Fernandes
de em Assembléia Geral para proceder às Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos
eleições da Diretoria, do Conselho Diretor Dr. José Wanderley de Araújo Pinho
e das Comissões de Contas e de Redação Dr. Paulo José Pires Brandão
da Revista, sendo eleitos :
COMISSÃO DE CONTAS
DIRETORIA
Dr. Alberto Couto Ferenandes
Presidente General Heliodoro de Miranda
Embaixador José Carlos de Macedo Soares Dr. Randolfo Fernandes das Chagas
Dr. José Joaquim da Trindade Filho
1? Vice-Presidente Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
Ministro João Severiano da Fonseca Hermes
2<? Vice-Presidente
Almirante Jorge Dodsworth Martins COMISSÃO DE REDAÇÃO DA REVISTA
3? Vice-Presidente
Professor Everardo Backheuser Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Coronel Luís Mariano de Barros Fournier
Secretário Geral Dr. Leopoldo Feijó Bitencourt
Professor Mário Campos Rodrigues de Sousa Dr. José Antônio da Rosa
1? Secretário Dr. Antônio dos Santos Oliveira Jr.
Coronel Frederico Augusto Rondon
r
2? Secretário
Da Ata da Aessembléia desse dia,
Professor Sílvio Fróis de Abreu consta:
Tesoureiro «... O Presidente Ministro Raul Ta-
Comandante Luís Alves de Oliveira Belo
vares declarou encerrada a sessão solene em
Orador Oficial homenagem aos Congressistas e declarou
Professor Francisco de Sousa Brasil
aberto o Colégio Eleitoral afim de serem
procedidas as eleições conforme à convo-
- CONSELHO DIRETOR cação da Assembléia Geral Ordinária que
se estava realizando, em obdiência à forma
Almirante Raul Tavares estatutária vigente da Sociedade de Geogra-
Ministro Bernardino José de Sousa
Dr. Taciano Acioli Monteiro fia do Rio de Janeiro.
General Emílio Fernandes de Sousa Doca O Presidente lembrou aos, presentes que
Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto a^ Assembléia Geral, em segunda convoca-
General José Vieira da Rosa ção, poderia ser efetuada com qualquer nú-
General Artur Pinheiro da Silva mero de Socos, conforme o Artigo 25 do
Dr. Herbert Canabarro Reichardt Capítulo VII dos Estatutos.
Professor Fernando Antônio Raja Gabáglia
Comandante César Feliciano Xavier Conforme o livro de presença, compa-
Ministro José Matoso Maia Forte receram à Assembléia Geral os seguintes Só-
ELEIÇÕES 115

cios: Almirante Raul Tavares, General Emí- meiro Vice-Presidente — Ministro João Se-
lio Fernandes de Sousa Doca, Dr. Taciano veriano da Fonseca Hermes, com 50 votos ;
Acioli Monteiro, Ministro João Severiano da Segundo Vice-Presidente — Almirante Jor-
Fonseca Hermes, Dr. Alberto Couto Fer- ge Dodsworth Martins, 48 votos ; Terceiro
nandes, Tenente-Coronel Frederico Augus- Vice-Presidente — Professor Everardo Ba-
to Rondon, Dr. Paulo José Pires Brandão. ckheuser, 48 votos ; Secretário Geral — Dou-
Dr. João Ribeiro Mendes, Dr. José Pedro tor Mário Rodrigues de Sousa, 49 votos ;
Carneiro da Cunha, Dr. Epitácio Monteiro Primeiro Secretário — Tenente Coronel Fre-
Pessoa, Dr. Nestor Ascoli, Comandante derico Augusto Rondon, 45 votos ; Segundo
Luís Alves de Oliveira Belo, Dr. Mário Ro- Secretário — Professor Sílvio Fróis de
drigues de Sausa, general Artur Pinheiro da Abreu, 49 votos ; Tesoureiro — Capitão de
Silva, major Manuel Carlos de Sausa Fer- Fragata Luís Alves de Oliveira Belo, 49
reira, Dr. Carlos Domingues, Dr. Herbert votos ; Orador Oficial — Professor Fran-
Canabarro Reichardt, Professor Francisco cisco de Sousa Brasil, 51 votos.
Portugal Neves, Padre Francisco Xavier Foram votados para cargos da Direto-
Lana, Professor Alexandre Brigole, Sr. Car- ria os Senhores : Dr. Delgado de Carvalho
los Pedrosa, Dr. Manuel Madruga, General
para Primeiro Vice-Presidente, com 1 voto ;
Heliodora de Miranda, Almirante Jorge Do- Coronel Renato Rodrigues Pereira para Se-
dsworth Martins, Dr. Mateus Augusto de
gundo Vice-Presidente com 1 voto ; e para
Oliveira, Almirante Lucas Boiteux, Coman- o mesmo cargo o General Vieira da Rosa
dante Braz Dias de Aguiar, Coronel Renato com 1 voto. Para Terceiro Vice-Presidente
B. Rodrigues Pereira, Major Armando de o Dr. Taciano Acioli Monteiro com 1 voto
Carvalho Dias, Cônsul Francisco de Borja e o Dr. Fábio Macedo Soares Guimarães
Batista de Magalhães, Arnaldo Goulart, Jor- com 1 voto. Para Secretário Geral Jorge
ge d'Escragnolle Taunay, Murilo de Miran- Zarur com 1 voto e o Dr. Wanderley de
da Basto, Comandante Armando Pinna, Pro- Araújo Pinho com 1 voto. Para Primeiro
fessor Carlos Marie Cantão, Coronel Leo- Secretário Cônsul Murilo de Miranda Basto
poldo Néri da Fonseca, José Veríssimo da com 4 votos, Coronel Renato Rodrigues
Costa Pereira, Ministro Orlando Leite Ri- Pereira com 1 voto e Major Jônatas de
beiro, Coronel Francisco Jaguaribe Gomes Morais Correia com 1 voto. Para Tesou-
de Matos, Otacílio Álvares ePreira, Profes- reiro Dr. Alberto Couto Fernandes com
sor Geraldo Sampaio de Sousa, Jorge Zarur, 2 votos.
Jaime Cortesão, Cristovam Leite de Castro, Para os cargos de Conselho Diretor fo-
Antônio Mendes Braz da Silva.
ram votados os Senhores : Ministro Almi-
Em prosseguimento, o Presidente Mi- rante Raul Tavares, Ministro Bernardino
nistro Almirante Raul Tavares designou o José de Sousa, Dr. Taciano Acioli Monteiro,
3? Vice-Presidente General Emílio Fernan- General Emílio Fernandes de Sousa Doca,
des de Sousa Doca para presidir a sessão Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues,
de escrutínio e nomeou os senhores Cônsul Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto,
Francisco de Borja Batista de Magalhães, General José Vieira da Rosa, General Artur
Dr. Francisco Portugal Neves e Dr. Nes- Pinheiro da Silva, Dr. Herbert Canabarro
tor Ascoli para constituírem a comissão apu- Reichardt, Professor Fernando Antônio Raja
radora do escrutínio. Gabáglia, Comandante César Feliciano Xa-
vier e Ministro José Matoso Maia Forte,
De acordo com a forma estatutária vi-
com 49 votos. Seguem-se os Senhores Dou-
gente, procedeu-se à chamada dos Sócios tor João Ribeiro Mendes, Dr. Epitácio Pes-
que, na ordem do livro de presença, foram soa, Dr. Alberto Couto Fernandes, Coro-
depositando o voto secreto na urna. nel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos,
O número de votantes foi exatamente Dr. José Wanderley de Arújo Pinho e Dou-
52, correspondendo a igual número de cé- tor Paulo José Pires Brandão, com 48 votos.
dulas retiradas da urna pela comissão apu- Receberam votos para o Conselho Di-
radora que, meia hora depois, anunciou o retor os Senhores José Antônio da Rosa,
seguinte resultado : Para os cargos da Di- Francisco Portugal Neves, Murilo de Mi-
retoria : Presidente — Embaixador José Car- randa Basto e Mário de Sousa com um voto
los de Macedo Soares, com 51 votos; Pri- cada.
116 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Para os cargos da Comissão de Contas Dr. Taciano Acioli Monteiro


foram votados os Senhores Dr. Alberto General Emílio Fernandes de Sousa Doca
Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Couto Fernandes com 50 votos, General Dr. João Ribeiro Mendes
Heliodoro de Miranda com 51 votos, Dou- Dr. Epitácio Monteiro Pessoa
tor Randolfo Fernandes das Chagas, Dou- Dr. Alberto Couto Fernandes
tor José Joaquim da Trindade Filho e Ma- Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto
General José Vieira da Rosa
jor Manuel Carlos de Sousa Ferreira, todos General Artur Pinheiro da Silva
com 51 votos. Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos
Dr. José Wanderley de Araújo Pinho
Para os cargos da Comissão da Revista Dr. Herbert Canabarro Reichardt
foram votados os senhores Dr. Carlos Do- Professor Fernando Antônio Raja Gabáglia
mingues, Coronel Luís Mariano de Barros Comandante César Feliciano Xavier
Fournier, Dr. Leopoldo Feijó Bittencourt, Dr. Paulo José Pires Brandão
Ministro José Matoso Maia Forte.
Dr. José Antônio da Rosa e Dr. Antônio
Santos Oliveira Júnior, todos com 51 votos.
COMISSÃO DE CONTAS
Terminada a apuração, o Presidente da
Mesa eleitoral, General Emílio Fernandes
Dr. Alberto Couto Fernandes
de Sousa Doca, anunciou aos presentes que, General Heliodoro de Miranda
de acordo com o resultado apurado pela Dr. Randolfo Fernandes das Chagas
Comissão Escrutinadora depois do pleito, li- Dr. José Joaquim da Trindade Filho
vre e secreto, será a seguinte relação da Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
Diretoria e administração da Sociedade de
Geografia no próximo biênio. Em seguida, COMISSÃO DA REVISTA
o General Emílio Fernandes de Sousa Doca
leu a relação dos membros que constituirão Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
a nova administração da Sociedade no biênio Coronel Luís Mariano de Barros Fournier
1945-1946, isto é, no período correspondente Dr. Leopoldo Feijó Bittencourt
Dr. José Antônio da Rosa
áo mandato de 25 de Fevereiro de 1945 a Professor Antônio Santos Oliveira Júnior.
25 de Fevereiro de 1947.
A relação é a seguinte : «A seguir, o General Emílio Fernan-
des de Sousa Doca formulou os votos de que
a novel Administração eleita constitua uma
DIRETORIA
grande esperança para a Sociedade e a cer-
tesa de um grande triunfo.
Presidente
Embaixador José Carlos de Macedo Soares O Ministro J. S. da Fonseca Hermes
l9 Vice-Presidente propôs que fosse inserido em Ata um voto
Ministro João Severiano da Fonseca Hermes de louvor à Comissão de escrutínio, pela
29Vice-Presidente prestesa e eficiência reveladas na espinhosa
Almirante Jorge Dodsworth Martins tarefa.
39 Vice-Presidente
Professor Everardo Backheuser
Secretário Geral
Professor Mário Campos Rodrigues de Sousa Afim de que fique, para sempre, escla-
29 Secretário
recido o movimento produzido no seio da
Tenente Coronel Frederico Augusto Rondon Sociedade, para que abrindo uma exceção
9 Secretário nas tradições, não fosse, mais uma vez, re-
nrofessor Sílvio Fróis de Abreu conduzida a mesma Diretoria pelo Colégio
Tesoureiro Eleitoral de 21 de Dezembro de 1944, cum-'
Comandante Luís Alves de Oliveira Belo pre-nos declarar, para honra dos Membros
Orador-Oficial da Administração cessante, que todos eles
Professor Francisco de Sousa Brasil. estiveram de acordo e cooperaram para esse
resultado, como muito bem ficou patenteado
CONSELHO DIRETOR no discurso pronunciado pelo Ministro J. S.
da Fonseca Hermes e na resposta do Almi-
Ministro Almirante Raul Tavares rante Raul Tavares, no dia da posse da nova
Ministro Bernardino José de Sousa Diretoria.
ELEIÇÕES 117

Ainda para que conste a maneira como caráter geral, a-fim-de que a nossa atitude não ve-
foi processado o movimento renovador, re- nha a ser interpretada como desconsideração pessoal
a qualquer dos atuais dirigentes, porquanto só tem
produzimos a Circular expedida a todos os em vista o futuro da Sociedade.
Sócios, seis dias antes das eleições, na qual
E' com pesar que veremos afastados dos altos
ficaram amplamente esplanados os pontos
postos de comando homens como Raul Tavares, Ber-
de vista, as intenções e os propósitos que nardino José de Sousa, Taciano Accioly, Sousa Dosa,
norteavam essa orientação: Carlos Domingues, João Ribeiro Mendes, Epitácio
Monteiro Pessoa, Couto Fernandes e Carlos Xavier
Ilustre confrade. figuras tradicionais do nosso Instituto, cujos serviços
e patriotismo são de todos conhecidos, serviços de
A Assembléia de 21 do corrente mês está cha-
que não podemos, devemos nem queremos privar a
mada a eleger os Membros da Diretoria, do Con- Sociedade, pelo que a todos eles convidamos e con-
selho Diretor e das Comissões. citamos se juntem a nós apara que, como Membros
A nossa Sociedade vem, desde há longos anos, do Conselho Diretor, colaborem, com a sua expe-
passando por crises sucessivas, devido não só à abs- riência, prestígio e patriotismo, na obra de renova-
tenção da maioria dos Sócios, à ausência de ativi- ção, que a todos cumpre empreender.
dades culturais efetivas, mas, ainda, à sua precária Os nomes das pessoas que constituem a chapa
situação financeira, que teve culminância no ano
para a nova Diretoria valem os daqueles que até
passado, quando a Diretoria houve de proclamar ter hoje estiveram na direção da nossa Sociedade, e se-
estado na iminência de fechar as portas.
guros estamos de que saberão, com zelo e devota-
A-fim-de salvaguardar a nossa tradicional agre- mento, dar execução ao programa que prevê gran-
miação de novos precalços, um movimento de rea- des atividades sociais e à nova orientação, forte-
ção, de há muito esboçado, produziu-se no seio da mente marcada nas últimas reuniões da Sociedade,
Assembléia do dia 28 de Outubro último, a qual re- com vistas ao congraçamento de todos os Sócios e
solveu a reforma dos Estatutos, cujas deficiências a novos surtos culturais.
foram reconhecidas como causa principal da situa- Certos estamos, também, de que, a ser eleita, a
ção a que chegámos. nova Diretoria conseguirá engrandecer o prestígio
Um dos princípios firmados pela referida As- da Sociedade e ativar-lhe brilhantemente o progresso
sembléia, a ser incorporado nos novos Estatutos, foi Esses são os nossos votos, essa a nossa con-
o da não reeleição por maioria de votos, mas, sim, vicção.
mediante a consagração expressa de 4/5 dos vo-
tantes. Homenagem, pois, à atual Diretoria, solidarie-
A elaboração do projeto dos novos Estatutos dade e apoio à futura.
está por terminar e, em Fevereiro próximo vindouro, Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 1944. —
poderão ser discutidos e aprovados. /. 5. Fonseca Hermes. — Mário R. de Sousa. —
Não nos move crítica ou oposição aos antigos C. X. Paes Barreto. — F. Sousa Brasil. — L. A.
ou atuais Diretores, mas natural se nos afigura que Oliveira Bello. — Murilo M. Basto. — A. Aze-
o princípio da não reeleição seja, desde já, posto em vedo Pina. — Cristóvão Leite de Castro. — L.
prática como demonstração de solidariedade com o Feijó Bittencourt.»
esforço que se tenta em prol do ressurgimento da
nossa Sociedade. Seguem-se numerosas outras assinatu-
Trata-se de uma questão de princípio e, como
ras, apostas depois de expedida a Circular
tal, julgámos indispensável encarar o problema com acima.
POSSE DA DIRETORIA, DO CONSELHO DIRETOR
E DAS COMISSÕES ELEITAS PARA O BIÊNIO
1945/1946

Discurso do Ministro L S. DA FONSECA HERMES


1.° Vice-Presidente

A 26 de Fevereiro de 1945, por ter l9 Vice-Presidente


s ido domingo o dia 25, reuniu-se a Socie- Ministro João Severiano da Fonseca Hermes
dade em Assembléia para a posse da Dire- 29 Vice-Presidente
toria, do Conselho Diretor e das Comissões Almirante Jorge Dodsworth Martins
eleitas pela Assembléia Geral de 21 de De- 39 Vice-Presidente
zembro de 1944, para o biênio 1945-1946. Professor Everardo Backheuser
Secretário Geral
A Mesa que dirigiu os trabalhos da Professor Mário Campos Rodrigues de Sousa
Assembléia foi, de início, constituída pela lç Secretário
Diretoria cessante : Ministro Almirante Raul Tenente-Coronel Frederico Augusto Rondon
Tavares, Presidente, Dr. Taciano Acioli, 2? 29 Secretário
Vice-Prèsidente, Dr. Carlos Domingues, Professor Sílvio Fróis de Abreu
Secretário Geral, Dr. João Ribeiro Mendes, Tesoureiro
t9 Secretário, e Dr. Epitácio Monteiro Pes- Capitão de Fragata Luís Alves de Oliveira Belo
soa, 2? Secretário. Orador Oficial
Professor Francisco de Sousa Brasil. •
Depois das comemorações da data da
fundação da Sociedade, o Presidente Almi-
rante Raul Tavares anunciou que a finalida- CONSELHO DIRETOR
de da Assembléia era dar posse à Diretoria, Ministro Almirante Raul Tavares
ao Conselho Diretor e às Comissões eleitas Ministro Bernardino José de Sousa
Dr. Taciano Acioli Monteiro
a 21 de Dezembro de 1944. General Emílio Fernandes de Sousa Doca
Da Ata consta : Ministro José Matoso Maia Forte
Dr. Carlos Domingues
Dr. João Ribeiro Mendes
«O Ministro Almirante Raul Tavares Dr. Epitácio Monteiro Pessoa
leu em seguida a seguinte relação dos no- Dr. Alberto Couto Fernandes
mes dos Membros eleitos para dirigirem Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto
General José Vieira da Rosa
os destinos da Sociedade de Geografia do General Artur Pinheiro da Silva
Rio de Janeiro durante o mandato do biênio Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos
de 1945 a 1946, correspondente ao período Dr. José Wanderley de Araújo Pinho
Dr. Herbert Canabarro Reichardt
de 25 de Fevereiro de 1945 a 25 de Feve- Professor Fernando Antônio Raja Gabáglia
reiro de 1947 : Capitão de Fragata César Feliciano Xavier
Dr. Paulo José Pires Brandão.
DIRETORIA
COMISSÃO DE CONTAS
Presidente General Heliodoro de Miranda
Embaixador José Carlos de Macedo Soares Dr. Alberto Couto Fernandes

'
k
POSSE DA DIRETORIA 119

Dr. Randolfo Fernandes das Chagas ço de 31 anos e que, graças à sua operosi*
Dr. José Joaquim da Trindade Filho dade, deixava a situação financeira da So-
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira ciedade em perfeitas condições de equilíbrio,
sem ônus algum e com um saldo favorável
COMISSÃO DE REDAÇÃO DA REVISTA à caixa da Sociedade traduzido pela im-
Coronel Luís Mariano de Barros Ferreira portância de 10.839 Cruzeiros.
Dr. Leopoldo Fcijó Bittencourt Em seguida, o Ministro Almirante Raul
Dr. José Antônio da Rosa Tavares transmitiu a Presidência da Socie-
Professor Antônio Santos Oliveira Jr.
Dr. Carlos Domingues. dade à nova Diretoria, convidando os Mem-
bros da administração empossada a tomarem
«Terminada a leitura dos nomes que assento à Mesa diretora dos trabalhos.
constituem a nova administração da Socie- A nova Diretoria tomou posse solene
dade de Geografia do Rio de Janeiro, o sob a Presidência do Ministro João Seve-
Presidente cessante, Ministro Almirante Raul riano da Fonseca Hermes Júnior, Primeiro
Tavares, declarou empossados nos respecti- Vice-Presidente eleito, que, acompanhado
vos cargos os novos Membros da Diretoria, dos Senhores Almirante Jorge Dodsworth
do Conselho Diretor e das Comissões de Martins, Segundo Vice-Presidente, Profes-
Contas e da Revista, conforme à lei vigente sor Everardo Backheuser, Terceiro Vice-
e na forma legal estatutária da Sociedade. Presidente, Dr. Mário Rodrigues de Sousa,
Secretário Geral, e do Tenente-Coronel Fre-
O Ministro Almirante Raul Tavares
derico Augusto Rondon, Primeiro Secretário,
saudou em seguida a novel administração
declarou aberta a sessão inaugural dos tra-
com palavras de entusiasmo, desejando à
balhos da nova administração da Sociedade
mesma as maiores felicidades na execução
de Geografia do Rio de Janeiro.
da árdua tarefa de elevar cada vez mais o
patrimônio cultural, moral, científico e ma- O Presidente da sessão, Ministro João
terial da Sociedade de Geografia do Rio Severiano da Fonseca Hermes justificou a
de Janeiro que, na certa, terá dias de maior ausência do Embaixador José Carlos de
esplendor sob a sábia direção dos novos di- Macedo Soares que, por motivo justo, não
rigentes, cuja estatura moral e intelectual compareceu ; idem pela ausência do Ca-
constitui uma garantia para o porvir da tra- pitão de Fragata Luís Alves de Oliveira
dicional Sociedade cuja suprema finalidade Belo, que remeteu à Sociedade dois ofícios,
é contribuir para a elevação e aprimora- um endereçado à Diretoria recem-empossada
mento da cultura e da ciência do Brasil. e outro ao ex-Presidente Almirante Raul
Sob calorosa salva de palmas da seleta assis- Tavares, nos quais justifica sua ausência
tência, o Almirante Raul Tavares terminou
a saudação. por motivo de viagem ao Sul do país, onde
foi participar do Congresso Farroupilha, no
Antes de transmitir a Mesa à nova Di- Rio Grande do Sul.
retoria, o Ministro Almirante Raul Tavares
deu a palavra ao Dr. Aristeu Portugal Ne- O Ministro João Severiano da Fonseca
ves, que disse magnífica ode de louvor aos Hermes pronunciou, em seguida, as seguin-
vultos da Sociedade, em comemoração ao tes palavras :
629 aniversário da fundação. Presados e ilustres Consócios,
O Dr. Raposo Tavares propôs que
fosse inserido em Ata um voto de grande Por motivos imperiosos, o Embaixador José Car-
los de Macedo Soares, nosso preclaro Presidente
louvor ao Ministro Almirante Raul Tavares de Honra, não está presente a esta solenidade para
pela forma brilhante e eficiente com que assumir o alto posto de Presidente efetivo da Socie-
dirigiu os destinos da Sociedade durante 4 dade de Geografia do Rio de Janeiro, ao qual foi
anos ; proposta essa que foi aprovada por conduzido pelo voto unânime da Assembléia mais
aclamação. numerosa que os Anais da nossa Instituição re-
gistram.
O Almirante Raul Tavares agradeceu
Lamentamos todos essa ausência e, mais que
a homenagem e propôs em seguida um voto todos, o lamento eu, que me vejo na contingência
de louvor e agradecimento para com o Dou- de tomar, incidentalmente, o lugar de quem não
tor Alberto Couto Fernandes, digníssimo devia nem podia ser substituído neste momento his-
Diretor-Tesoureiro da Sociedade pelo espa- tórico da nossa vida social.
120 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Os nossos Estatutos, que não admitem inter- Esse era o regime de sucessão normal, que ele-
regnos, e a vontade expressa do nosso Presidente a vava à curúl presidencial o substituto imediato do
issa me forçaram. Presidente, como o proclamou Max Fleuiss na Assem-
bléia de Dezembro de 1940.
O voto com que elegestes a Diretoria para o
biênio 1945/46 representa a vontade firme e reso- O movimento contrário a esses usos tradicionais
luta, que vos anima, de nortear a nossa Sociedade já se havia manifestado nessas eleições, mas o sen-
por sendeiros novos, cuja meta é a verdadeira fina- timento de respeito ao costume prevaleceu ainda uma
lidade visada pela nossa Instituição. vez.
Vossa deliberação não traduz apenas vontade, Esboçado, assim, o panorama social e mental em
ela testemunha vossa independência e vossa alta que se desenvolviam as eleições e reeleições na nossa
compreensão dos destinos que estão assinalados à Sociedade, é nos dado melhor apreciar e admirar o
benemérita Agremiação a que pertencemos. desprendimento, a magnanimidade, a elevação moral
O voto da Assembléia de 21 de Dezembro daqueles que, em virtude de uma tradição, detinham
último representa mais que uma afirmação de vita- os postos de comando da nossa Sociedade.
*
lidade da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Raul Tavares, cuja retidão de caráter c gran-
é a proclamação pura e simples de que todos os deza de coração todos nós conhecemos, logo às pri-
nossos confrades estão unidos e solidários para dar
meiras aberturas, que lhe fizemos, Oliveira Belo e
à nossa Companhia uma nova oportunidade para *u, declarou-nos, com aquela ênfase, que lhe sabemos
reviver as glórias do passado e conquistar novas
tão peculiar, não constituir a sua pessoa obstáculo
glórias que, sem ofuscar as primeiras, representem
o complemento, o elevado apreço e a profunda ad- para que o movimento, que se apresentava já com
caráter positivo, viesse a prevalecer.
miração que nos inspiram os esforços, a dedicação,
o patriotismo e o espírito daqueles que fundaram Uma grande responsabilidade pesava sobre aque-
e sustentaram a nossa Sociedade. les que haviam tomado a si fazer triunfar a nova
As eleições da última Assembléia vieram demons- orientação, com a subversão da ordem tradicional :
— um princípio mais devia ser estabelecido, prin-
trar a perfeita cordialidade que xiste entre todos os
membros da Sociedade, porque elas se processaram cípio que se ajustasse perfeitamente ao outro, o da
em perfeita concordância de opiniões e comunhão não reeleição, e este era : — nenhum Membro da
de idéias entre os que tomaram a iniciativa de fir- Diretoria devia ser reeleito.
mar o princípio da não reeleição e a Diretoria em Duas eram as razões graves que impunham tal
exercício. decisão : o princípio da não reeleição tinha de ser
Muito folgo em poder vos dirigir a palavra aplicado, por coerência, com caráter geral; qual-
neste momento, porque não quero esconder-vos o quer exceção seria, forçosa e justamente, interpre-
desvanecimento que tenho de pertencer a esta So- tada como aprovação a uns e censura a outros ; e
ciedade, onde a identidade de sentimentos em prol tais deduções não podiam corresponder à nossa orien-
da comunidade se sobrepõe à falsa concepção da tação, porquanto todos mereciam amplamente a nossa
vaidade pessoal. gratidão e o nosso apoio.
Quero testemunhar-vos, presados e ilustres Con- Avaliai, presados e ilustres Consócios, da amar-
sócios, a minha admiração e o meu entusiasmo cí- gura que assaltou o espírito desses homens ao consi-
viço pela atitude abnegada, sobranceira, generosa derarem que a Diretoria era integrada por perso-
e altruísta dos ilustrados Membros da Diretoria, que nalidades da mais alta benemerência e consideração,
hoje cessa no seu mandato. por companheiros que serviços relevantes haviam
Que não nos coimem de influenciados por dou- prestado à nossa Sociedade.
trinas ou correntes alheias às nossas cogitações. O Citar-lhes os nomes é contar a história viva da
princípio da não reeleição nasceu em nossa consciên- nossa agremiação nestes últimos anos, é cantar lou-
cia desde há muito tempo. vores aos louros com que eles engalanaram esta
Tínhamos a abalar fortes alicerces, que se en- nobre Casa.
raizavam no uso, nos costumes e na tradição. Raul Tavares, Bernardino José de Sousa, Ta-
O nosso primeiro Presidente, o patrono bene- ciano Acioli, Sousa Doca, Carlos Domingues, João
mérito desta Casa, Marquês de Paranaguá, exerceu Ribeiro Mendes, Epitácio Monteiro Pessoa, Couto
a primeira magistratura desde a fundação da So- Fernandes, Pais Barreto.
ciedade, em 1883, até ao seu infausto passamento,
E', portanto, com o coração bem alto que tenho
ocorrido em 1910. Foi seu sucessor o Barão Ho-
mem de Melo, que se afastou da Presidência vítima a honra de propor seja lavrado na Ata desta Assem-
de uma das mais dolorosas desgraças que podem fe- bléia Geral, que se realiza, também, em comemo-
rir ao humano : — a cegueira. Vieram Thauma- ração à data aniversária da Fundação da Sociedade,
turgo de Azevedo e Gomes Pereira, que, depois de um voto de louvor e de gratidão aos beneméritos
eleitos e reeleitos por vários períodos, sob o peso dos Consócios que integravam a sua Diretoria.
grandes serviços prestados à Pátria, à Geografia e E esse voto não se justifica apenas pelos gran-
à Sociedade, já não se sentiam com ânimo para
des serviços prestados pelos ilustrados Diretores da
exercer a direção dos nossos trabalhos e abando-
naram espontaneamente a presidência apesar de ins- Sociedade em período difícil e precário da vida so-
tantemente solicitados pela grande maioria dos Só- ciai da nossa Agremiação, mas, também, pelo fato de
cios. Moreira Guimarães sucede a Gomes Pereira haverem todos eles concordado em continuar a pres-
em 1925, e a morte nô-lo arrebata em 1940. Raul tar, no Conselho Diretor, a sua colaboração eficiente,
Tavares é eleito e reeleito, em sua qualidade de l9 a concorrer, com a sua experiência e com os seus
Vice-Presidente. conselhos, para a melhor administração da Sociedade.
POSSE DA DIRETORIA 121

Não podíamos nem devíamos prescindir dessa devemos meditar sobre a lei que vai reger a nossa
cooperação, e todos eles, mais influenciados pelo seu vida social. O critério adotado pela Comissão revela
amor a esta Casa do que afetados pela susceptibili- o seu empenho em fazer com que os Estatutos sejam
dade pessoal, aceitaram, de ânimo resoluto, os novos obra de todos; aos Sócios cumpre corresponder a
postos, sendo que Couto Fernandes, com 31 anos de êsse nobre anhclo.
exercício no cargo de Tesoureiro, e Carlos Domin- A nova Diretoria iniciará o seu mandato com
gues, com 25 anos de Secretário e Secretário Geral, uma homenagem àquele que foi seu Presidente de
não titubearam em aceitar, ainda, a designação dos Honra, àquele que deva, talvez, ser proclamado
seus nomes para as Comissões de Contas e de Reda- o maior dos Brasileiros, àquele que, por seu saber
ção da Revista, respectivamente. e cultura, pelo seu afinco no estudo e nas pesqui-
Relevo estes fatos, Senhores, e sobre eles me alon- sas, pela sua pertinácia e capacidade de trabalho,
go, porque êlcs refletem não só o espírito desses bons pela sua inteligência e argúcia, pelo seu talento e
servidores da nossa Sociedade, a solidariedade mag- patriotismo, conseguiu integrar, legal e definitivamen-
nífica de todos os nossos companheiros, mas o anseio, te, ao território brasileiro centenas de milhares de
também, que a todos nos anima de fortalecer o pres- quilômetros quadrados, que nos eram contestados,
tígio e de propugnar pelo progresso da nossa So- quero referir-me ao Barão do Rio Branco, cujo nome
ciedade. pronuncio sempre com reverência e patriótico orgulho.
Honra, pois, à Diretoria que hoje cessa nas suas Por ocasião do centenário do seu nascimento, a
funções e a todos aqueles que, pelo passado, con- atual Diretoria se propõe lançar um número especial
duziram a nossa Sociedade através de crises e difi- e extraordinário da nossa Revista, onde serão trata-
culdades sem número, à situação de poder hoje olhar dos todos os aspectos mais salientes das atividades
com serenidade c confiança o seu futuro. de Rio Branco no que se refere à Geografia.
A nova Diretoria sente toda a responsabilidade A premência do tempo não nos permitiu uma gran-
de ampliação das matérias a serem estudadas, nem
que implica o voto unânime da Assembléia de 21 de uma consulta previa aos prezados Consócios, por-
Dezembro e está disposta a enfrentar essa respon-
sabilidade uma vez que lhe sejam assegurados o quanto os trabalhos de preparação coincidiram com
apoio e a colaboração, se não de todos, pelo menos, o período das férias sociais.
da grande maioria dos seus Consócios. São os seguintes os temas a serem tratados no
O programa esquemático, que foi traçado ao ser número especial :
apresentada a lista dos candidatos à nova Diretoria,
representa o programa mínimo, para cuja execução l9 Uma introdução do nosso preclaro Presidente
os eleitos de 21 de Dezembro se empenharão sem de Honra c Efetivo, Embaixador José Carlos de
esmorecimentos. Macedo Soares.
O nome, por tantos títulos ilustre, do Embaixador 29 O Barão do Rio Branco geógrafo e geopolíti-
co— pelo Professor Everardo Backeuser.
José Carlos de Macedo Soares é, por si só, uma ga-
rantia de realizações. Ao seu lado estão Jorge Dods- 39 A questão do Território de Palmas. Litígio
worth Martins e Everardo Backeuser; este último já com a República Argentina — pelo Ministro J. S.
tendo exercido, com brilhantismo e eficiência, a 2a da Fonseca Hermes.
Vice-Presidência não se deixou dominar pelo natural
melindre que poderia suscitar-lhe o fato de ser, agora, 49 A questão do Território do Amapá — Litígio
eleito para 3* Vice-Presidência. com a França — pelo General João Álvares de Aze-
vedo Costa.
Tal fato, Senhores, reveste-se, no momento atual,
59 A questão do Território do Pirara — Litígio
que é de esperanças e de confiança para a nossa com o Império Britânico — pelo Comandante Braz
Sociedade, do mesmo significado moral e da mesma
elegância que os gestos de Couto Fernandes e Carlos Dias de Aguiar.
Domingues. 69 A questão do Território do Acre. Acordo com
Todos os índices e perspectivas, que se apresentam, a República da Bolívia — pelo Dr. Luís Felipe de
são propiciatórios ao futuro da Sociedade, e a nova Castilhos Goicochea.
Diretoria esforçar-se-á, estou seguro, por imprimir, 79 A Lagoa Merin. Condomínio concedido à
a todos eles, uma ação coordenadora e por encami- República Oriental do Uruguai — pelo General Emí-
nhá-los de forma a que o seu aproveitamento seja lio Fernandes de Sousa Doca.
o mais eficiente que desejar se possa.
8Ç A influência dos trabalhos do Barão do Rio
A Comissão nomeada para elaborar o projeto de Branco sobre a cartografia no Brasil — pelo Pro-
novos Estatutos terminou a sua tarefa, distribuindo, fessor Jaime Cortesão.
há mais de um mês, esse projeto por grande número
de Sócios solicitando emendas e sugestões. 99 As fronteiras do Brasil delimitadas pelo Barão
do Rio Branco — pelo Cônsul Murilo de Miranda
Infelizmente, ao que estou informado, esse gesto Basto.
da Comissão não teve o eco que era de esperar,
pois bem poucas foram as correções até hoje pro- (Js assuntos não podem ser mais geográficos nem
postas. palpitantes, mas devo salientar que, ao accederem
Creio conveniente seja concedida uma prorrogação ao apelo que lhes foi dirigido, todos esses Consó-
ao prazo fixado pela Comissão e permito-me, em cios revelaram o mais alto sentimento de dedicação,
nome da Diretoria e da própria Comissão, fazer um porquanto sobre ser sumamente árduo analisar, sob
apelo aos prezados e ilustres Consócios para que exa- qualquer aspecto, a grandiosa obra de Rio Branco,
minem cuidadosamente o projeto, porquanto muito o tempo para elaborar trabalho de tanta impor-
122 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

tância e delicadeza não podia ser mais escasso, nem em nome de todos, a homenagem do nosso aplauso
menos oportuna a época, que era de férias. e reconhecimento, até ao compromisso que todos
assumimos de solidariedade no esforço, que hcmos de
A todos eles a Sociedade deve o seu agradeci- empreender para levar a nossa Sociedade à realiza-
mento e aplauso.
ção dos seus objetivos, fortalecendo o seu progresso
Com exceção de quem vai abordar o litígio com a e prestígio.
República Argentina, todos os outros são persona- Ao agradecer o voto de confiança com que nos
lidades sobejamente conhecidas em nossa Companhia, encarregastes da direção da Sociedade para o biênio
nos círculos geográficos do país, honrados e respei- 1945/46, a nova Diretoria assume o compromisso
tados no terreno da cultura histórico-geográfica e, solene de esforçar-se tenazmente por corresponder a
por si sós, constituem a mais segura garantia do vulto essa confiança e por tudo fazer para que, com^ a
e relevância da homenagem que a Sociedade de Geo- vossa assistência, colaboração e apoio, a nossa So-
grafia do Rio de Janeiro vai prestar à memória revê- ciedade possa tornar realidade o seu programa e
renciada de Rio Branco e da contribuição valiosa consolidar o renome que já conquistou como um dos
que vamos oferecer aos estudiosos sobre assuntos mais belos expoentes da cultura brasileira.
bem pouco tratados até hoje e que merecem a mais
ampla divulgação, porque virão esclarecer o pro- Em nome do eminente Embaixador José Carlos
cesso pelo qual foi construída a magnífica moldura de Macedo Soares e de todos os demais Membros
que enquadra a Pátria Brasileira. da Diretoria, eu vos saúdo, prezados e ilustres Con-
sócios e, aos mais nobres dos vosossos sentimentos,
A contribuição da Sociedade às comemorações faço o apelo sincero e ardoroso para que colaboreis,
com que o Brasil vai celebrar o primeiro centenário todos, na luta que vamos continuar, luta encetada em
do nascimento do grande Brasileiro será digna das 1883, luta sustentada, com ardor e tencidade, por
nossas tradições e da grandeza do homenageado. 62 anos consecutivos, entre altos e baixos, desânimos
O nosso querido e ilustre Consócio Bernardino e entusiasmos, abundância e precariedade, mas de
José de Sousa dignou-se de aceitar o encargo de pertinácia, trabalho, triunfos e patriotismo, luta que
focalizar a figura de Rio Branco, Presidente de devemos prosseguir de ânimo forte, com a memória,
Honra, qúe foi, da Sociedade de Geografia do Rio cheia de gratidão, voltada para aqueles que nos pre-
de Janeiro, nas solenidades oficiais comemorativas cederam, com a confiança que devemos nos inspirar
do centenário do seu nascimento. a nós mesmos, com a mira posta no prestígio e pro-
O convite que foi feito à nossa Sociedade teste- gresso da Geografia e da nossa Sociedade, para que
os vindouros possam recordar-se de nós como nós
munha do alto apreço e do prestígio da nossa Ins- nos lembramos daqueles que já se foram, e possam
tituição, porquanto idêntica solicitação foi dirigida testemunhar-nos esses mesmos sentimentos que nós
apenas ao Instituto Histórico e Geográfico Brasilei- testemunhamos àqueles: — aplauso e gratidão.
ro, à nossa Sociedade, em segundo lugar, à Acade-
mia Brasileira de Letras, ao Instituto de História e «Ao terminar esta oração, sob calorosos
Geografia Militar do Brasil, à Associação Brasileira
de Imprensa, à União Nacional dos Estudantes e ao aplausos dos assistentes, o Ministro }. S.
Instituto da Ordem dos Advogados. da Fonseca Hermes propôs fosse inserido na
A escolha feita pela Sociedade não podia ser Ata um voto de louvor e gratidão à Diretoria
mais feliz nem acertada, não só pelas qualidades cujo mandato termina. Sob aclamação dos
morais e de inteligência, de cultura e elegância esti- presentes, foi aprovada.
lista de Bernardino José de Sousa, mas ainda pelos
serviços por S. Excia. prestados à Geografia, à «Em seguida, o Ministro J. S. da Fonse-
História e à nossa Sociedade, na organização e pre- ca Hermes ofereceu a palavra ao plenário.
sidência do IX Congresso Brasileiro de Geografia e
na Vice-Presidência da nossa Agremiação. «O Ministro Almirante Raul Tavares
Tudo se congrega, Senhores, para tornar fácil e tra-
agradeceu, em seu nome e no da Diretoria
balhosa a ação da nova Diretoria, desde a elegante que presidira, as bondosas referências do
adesão da Diretorai que hoje cessa nas suas tun- orador e o voto proposto pelo mesmo, em lou-
ções, a cuja dedicação desejo, mais uma vez, prestar, vor à Diretoria cessante».
/

ANISTIA CONCEDIDA AOS SÓCIOS EM ATRAZO NO


PAGAMENTO DAS RESPECTIVAS CONTRIBUIÇÕES

A fim de regularizar definitivamente a si- de trabalho c solidariedade, entra francamente em


nova fase de realizações, tendentes a desenvolver suas
tuação dos Sócios em atrázo no pagamento atividades culturais c o seu progresso material e fi-
das respectivas contribuições e para orga- nanceiro, de acordo com o programa traçado pela
nizar o cadastro social, a Assembléia Geral nova Diretoria.
de 25 de Setemmro de 1945 sancionou o pro- A reforma dos Estatutos será debatida, brevemente,
jeto de Resolução elaborado pela Diretoria em Assembléia Geral o problema da sede social está
e aprovado pelo Conselho Diretor, no senti- em vésperas de solução, o número de Sócios aumenta
e cresce o prestígio da Sociedade.
do de ser concedida ampla anistia aos Sócios
Dentro dessa ordem de idéias, a Assembléia Geral,
que, por motivos, muitas vezes, alheios à sua realizada a 25 do corrente mês, decidiu, por proposta
própria vontade, ficaram em atrazo no pa- da Diretoria, homologada pelo Conselho Diretor,
gamento das respectivas cotas e que deseja- examinar a situação dos Sócios em atrazo no paga-
vam continuar a fazer parte da Sociedade. mento de suas contribuições.

A Resolução é do teor seguinte: Estabelecido pela Diretoria que, na quase total:-


dade dos casos, a culpa não é imputável aos Sócios,
«Por proposta da Diretoria, aprovada pelo mas a negligências ocasionais, a Assembléia resolveu
conceder ampla c geral anistia a todos os Consó-
Conselho Diretor, a Assembléia Geral, reali- cios que se encontram nessa situação.
zada a 25 de Setembro de 1945, resolve :
Nem a iniciativa da Diretoria, nem o ato do Con-
l9 Ficam quitadas todas as dívidas dos selho Diretor, como tão pouco a decisão da Assem-
Sócios, provenientes de atrazo no pagamen- bléia implicam, de maneira alguma, em censura ou
munificência por parte da Sociedade. Representam
to das respectivas contribuições. apenas uma homenagem a si mesma e uma deferên-
29 A Diretoria endereçará um apelo cia aos Consócios que, na maioria dos casos, se viram
para que os Sócios, assim anistiados, regres- na contingência de interromper involuntariamente, o
sem ao seio da Sociedade. preenchimento de um requisito social.
39 Os Sócios que, por escrito ou pelo Em virtude dessas circunstâncias e da Resolução
da Assembléia Geral, a Diretoria da Sociedade se
silêncio, não atenderem a esse apelo reini- sente feliz em apelar, como, pela presente, apela para
ciando o pagamento de suas contribuições a os sentimentos de adesão que levaram, um dia, o
partir do quatro (4<?) trimestre de 1945, se- prezado Consócio a ingressar nesta nobre Casa, a fim
rão considerados demissionários e, como tais, de que a ela retorne como se jamais dela houvesse
estado ausente.
excluídos do quadro social.
59 A presente Resolução será publicada A deliberação tomada pela Assembléia é do teor
seguinte:
em dois jornais desta Capital durante três
dias intercalados a fim de que os Sócios, «Por proposta da Diretoria, aprovada pelo Con-
selho Diretor, a Assembléia Geral, realizada a 25
cujos endereços não fôr possível encontrar, de setembro de 1945, Resolve :
dela possam ter conhecimento».
1Q Ficam quitadas todas as dívidas dos Sócios,
Nesse sentido foi dirigida a todos os Con-
provenientes de atrazo no pagamento das respecti-
sócios, que se encontravam em tais condi- vas contribuições.
ções, a seguinte Circular: 29 A Diretoria endereçará um apelo para que os
Sócios, assim anistiados, regressem ao seio da So-
«Prezado Consócio: ciedade.
Alentada pela dedicada colaboração de numerosos 3«? Os Sócios que, por escrito ou pelo silêncio
Consócios, a nossa Sociedade, fiel às suas tradições não atenderem a esse apelo reiniciando o paga-
• 1 l %

124 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA


»

mento de suas contribuições a partir do quarto (49) Nota: Junto vai o formulário para que V. Ex*
à presente circular.
trimestre de 1945, serão considerados demissionários possa, com facilidade, responder
e, como tais, excluídos do quadro social. A Sua Excelência o Senhor
Dr. J. C. de Macedo Soares,
4* Atendendo à circunstância de que alguns Sócios
Presidente da Sociedade de Geografia do Rio de
se encontram ausentes desta Capital, o prazo para a
Janeiro.
aplicação do disposto no item 39 é fixado até ao dia
1* de março de 1946, data em que a Diretoria fica Praça da República n9 54 — l9 andar.
autorizada a adotar as providências conseqüentes. Nesta.
Senhor Presidente:
59 A presente Resolução será publicada em dois
Tenho a honra de acusar o recebimento da Circular
jornais desta Capital durante três dias intercalados com que me foi comunicada a Resolução da Assem-
a fim de que os Sócios, cujos endereços não fôr pos- bléia Geral de 25 de setembro de 1945.
sível encontrar, dela possam ter conhecimento». Ao manifestar a V. Ex* a minha adesão, tenho o
o
Na certeza de que o prezado Consócio há de pene- prazer de comunicar-lhe que, disposto a retomar
meu posto nessa Sociedade, autorizo o seu cobrador
trar o sentido exato e o alto alcance dessa medida, a vir receber a minha contribuição relativa ao 49 tri-
manifestamos-lhe a esperança de que, em breve, te- mestre de 1945 e as subseqüentes à rua — Avenida
remos o prazer de vê-lo novamente entre nós. Praça n9 andar em qual-
quer dia útil, das às horas.
Estes são os votos que, em nome de todos os Aproveito este grato ensejo para apresentar a
Consócios, lhe apresenta a Diretoria. V. Ex* os protestos de minha alta consideração.
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1945. (a)
J. C. de Macedo Soares, Presidente.
— ]. S. da (Caso não seja bem legível a as-
Fonseca Hermes, l9 Vice-Presidente. — Almirante sinatura, roga-se repeti-la em le-
— Eve* trás claras).
/. Dodsworth Martins, 29 Vice-Presidente.
rardo Backeuser, 39 Vice-Presidente. — Mário R. de NOTA: a Remissão de Sócio lhe é facultada de
Sousa, Secretário-Geral. — Coronel Frederico A. acordo com os Estatutos vigentes, isto é, mediante
Rondon, l9 Secretário. — Sílvio Fróes de Abreu, o pagamento de Cr$ 500,00 de uma só vez, evitando-
29 Secretário. — Comandante L. A. de Oliveira se, assim, o incômodo de cobranças trimestrais.
Belo, Tesoureiro. — Francisco de Souza Brasil, Ora- Favor: Indicar o bairro e o número do ou dos
dor Oficial. telefones.
ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO DO BRASIL
EM V DE JANEIRO DE 1945

PROFUSAMENTE DISTRIBUÍDA PELA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Previsão [cita pelo gabinete técnico d o Serviço Nacional do Rcccnscamento.


(Instituto Brasileiro de Gctoyrafia c Estatística)
umtnv eme MU» ¦ *wa !

População estimada cm
Regiões Fisiogrúficas Unidades da Federação
l9 de janeiro de 1945

i
NORTE 1 637 800
Território do Acre 88 700
Amazonas 463 900
Território do Rio Branco 15 100
Pará 1 017 200
Território do Amapá 25 600
Território do Guaporé 27 300

NORDESTE 10 930 900


Maranhão 354 300
Piauí 900 600
Ceará 290 100
Rio Grande do Norte 844 100
Paraíba 561 400
Pernambuco 935 600
Alagoas 043 600
Território de Fernando Noronha ... 1 200

ESTE 17 169 200


Sergipe 595 000
Bahia 4 292 900
Minas Gerais 7 458 400
Espírito Santo 851 000
Rio de Janeiro 030 200
Distrito Federal . .. 1 941 700

SUL ¦ 14 193 400


São Paulo 7 890 200
Território do Iguaçu 93 200
Paraná 1 316 100
Santa Catarina 1 242 800
Rio Grande do Sul 651 100

CENTRO OESTE 1 368 700


Goiás 907 800
Mato Grosso 366 100
Território de Ponta Porã 94 800

BRASIL '• 45 300 000


RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DA SOCIEDADE
DURANTE O ANO DE 1944
ALMIRANTE RAUL TAVARES

Consoante disposições legais, venho, como caráter administrativo, A terceira Assembléia


Presidente da Sociedade de Geografia do Geral teve lugar aos 21 de dezembro, a fim
de serem eleitos os membros da administra-
Rio de Janeiro, apresentar-vos o «Relatório»
dos principais acontecimentos ocorridos na ção da Sociedade no biênio 1945-1946, As-
vida da Sociedade em 1944. sembléia essa que teve um caráter festivo,
porquanto no correr da mesma foram confe-
Ao iniciar esta súmula, quero assinalar que ridos os laureis aos membros aderentes ao
o ano próximo findo, marcou uma nova eta- X Congresso Brasileiro de Geografia cujos
pa, na vida da Sociedade de Geografia do trabalhos foram premiados. As dez sessões
Rio de Janeiro, assinalando-se por um cunho ordinárias da Sociedade, processaram-se na
de renovação de valores, quer na parte cul- forma do costume, isto é, tratando de assun-
tural que será indelèvelmente assinalada pela tos de caráter administrativo, empossando
realização do grande certame cultural que sócios e dando oportunidade a serem feitas
foi o X Congresso Brasileiro de Geografia, magníficas comunicações e efemérides geo-
quer na parte social que marcou a entrada gráficas. Durante essas sessões foram tra-
de personalidades jovens mas cheias de tados assuntos de caráter cívico, como sejam
ardor que vieram renovar a seiva desta ins- sobre a participação da Sociedade nas co-
tituição e também na parte econômica, gr a- memorações do centenário do nascimento
ças a superior orientação dada na diretriz do Barão do Rio Branco que terá lugar em
financeira da Sociedade, que resultou no 20 de abril próximo e que a Sociedade ho-
equilíbrio das finanças da mesma, de forma menageará o seu antigo Presidente de Hon-
a deixar a atual administração jubilosa por ra concorrendo na série de conferências pro-
entregar o patrimônio moral e material da movidas pelo Itamarati através da palavra
mesma sem nenhum ônus. do nosso ilustre l9 Vice-Presidente, Minis-
tro Bernardino José de Sousa; no compare-
VIDA SOCIAL cimento do estimado confrade Mário Rodri-
gues de Sousa no banquete oferecido às en-
Durante o exercício findo, a Sociedade fermeiras de guerra do nosso corpo expe-
efetuou três Assembléias Gerais, dez sessões dicionário. Quanto as comunicações de ca-
ordinárias da Diretoria e do Conselho Dire- ráter científico temos as magníficas palestras
tor e uma Sessão Magna. A primeira As- do Tenente Coronel Frederico Augusto
sembléia Geral do ano foi realizada em 25 Rondon sobre a demarcação da fronteira do
de Fevereiro, a fim de ser aprovado o «rela- Brasil com a Colômbia, a do General José
tório» das atividades da Sociedade em 1943, Vieira da Rosa sobre o litoral de Araçatuba
seguindo-se a Sessão Solene comemorativa em Santa Catarina, sobre a obra e a vida
do 619 aniversário da fundação da Socie- de Alexandre Rodrigues Ferreira do nosso
dade. A segunda Assembléia Geral, foi rea- operoso l9 Secretário Dr. João Ribeiro Men-
lizada em vinte e cinco de outubro em cará- des, bem como vários assuntos de caráter
ter extraordinário, tendo sido convocada sócios recipiendários como o do Prof. Fran-
a fim de aprovar importantes resoluções de cisco Martins dos Santos sobre os Topôni-
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1944 127

mos indígenas na nomenclatura dos aciden- O movimento financeiro atingiu uma ei-
tes geográficos do Brasil, o do Pro. Ale- fra jamais alcançada por outro certame dessa
xandre Brigole sobre a navegação aérea no natureza. Assim temos :
Brasil e Santos Dumont e do recipiendário Cr$
Adessões 198.091,80
geográfico no intermeio dos discursos de Auxílio Publicação dos Anais 200.000,00
Domingos Soares de Giácomo sobre a Geo- Auxílio do M.E.S 150.000,00
15.000.00
grafia da terra brasileira. Quanto a única Auxílio do C.N.G
sessão Magna do ano, esta teve lugar a 19 Total 563.091,80
de Setembro em comemoração a efeméride
de 16 de Setembro de 1883, data máxima
da Sociedade, que marca a sua instalação Como vemos o X Congresso Brasileiro
nesta Capital. Essa sessão magna teve in- de Geografia, foi sem dúvida o maior dos
vulgar explendor, por terem a ela compa- certames científicos realizado até o momento
recido vários membros das delegações es- e que constituiu também um acontecimento
social e mundano, pois o seu programa ha-
taduais presentes ao X Congresso Brasileiro
bilmente organizado pela egrégia Comissão
de Geografia, sendo as mesmas saudadas Organizadora Central a cujos membros assi-
pelo nosso Orador Oficial Desembargador nalamos aqui os nossos agradecimentos pela
Carlos Xavier Pais Barreto. operosidade e eficiência reveladas, seguiu
a risca o plano traçado proporcionando aos
O X CONGRESSO BRASILEIRO meios culturais uma semana de magníficas
DE GEOGRAFIA . conferências, excurssões e sessões plenárias
de grande proveito para a ciência nacional.
A Sociedade de Geografia do Rio de Ja- Assinalo aqui os nossos agradecimentos ao
Embaixador José Carlos de Macedo Soares
neiro sente-se orgulhosa por ter tido a ven-
tura de ver mais uma vez e de forma insu- que presidiu brilhantemente todas as sessões,
ao Governo da Cidade na Pessoa do Pre-
perável a concretização do ideal do nosso feito Dr. Henrique de Toledo Dodsworth
inesquecível José Artur Boiteux o criador e as demais entdidades que colaboram para
dos Congressos Nacionais de Geografia, tornar exeqüível o magno certame.
realizado através da trajetória brilhante do
grande certame por ela promovido. O X Con- SECRETARIA E TESOURARIA
gresso Brasileiro de Geografia foi realizado
sob a Presidência de Honra de S. Excia. o Esses importantes departamentos ad-
Dr. Getúlio Vargas Presidente da Repú- ministrativos, brilhantemente dirigidos pelos
blica e sob o alto patrocínio do Ministério dedicados e ilustres confrades Doutores
da Educação e Saúde do Instituto Brasileiro Carlos Domingues e Alberto Couto Fer-
de Geografia e Estatística nesta Capital de nandes tiveram a seu cargo a espinhosa ta-
7 a 16 de Setembro, não levando-se em conta refa de cuidar do controle social e das fi-
nanças da Sociedade. Assinalo aqui os
a sessão preparatório efetuada no dia 6.
meus agradecimentos aos dignos Diretores
Esse Congresso superou de muito a todos
os anteriores quer quanto ao número de pelo desempenho perfeito de suas funções.
adessões quer quanto a qualidade das teses
BIBLIOTECA E MAPOTECA
apresentadas. Quanto aos dados concretos
o aludido certame apresentou nada menos O valioso patrimônio cultural da So-
de 2.497 aderentes assim discriminados: ciedade está sob os cuidados do nosso ope-
roso 29 secretário Dr. Epitácio Monteiro
Valor monetário Pessoa que desenvolveu grande atividade
Cr$ no sentido de organizar a catalogação das
50 membros protetores 72.050,00 obras existentes na Sociedade. Esse tra-
465 membros cooperadores 54.711,80 balho não pôde ser terminado devido o im-.
1.982 membros comuns 71.330,00
previsto impedimento da funcionária encar-
198.091,80 regada do mesmo, porém mesmo assim fo-
Total
ram catalogados num breve espaço de tempo
128 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

1.231 volumes e 675 fichas. A biblioteca mulo os mais ardentes votos para que a
foi enriquecida com várias obras, sendo de novel administração eleita para reger os
destaque a magnífica oferta da American destinos da Sociedade de Geografia do Rio
Lib:ary Association que remeteu para a So- de Janeiro no biênio 1945-1946 seja de todas
ciedade 23 obras sobre assuntos científicos a mais feliz nos seus objetivos de engran-
variados no valor de 2.000 cruzeiros como decer mais, cada vez mais a nobre Casa de
oferta do povo dos Estados Unidos a So- Paranaguá.
ciedade. Também quanto a mapoteca, esta A seguir damos a relação dos membros
foi enriquecida com a valiosa oferta do da Nova Diretoria eleita na Assembléia Ge-
Instituto Cartográfico Castiglioni de São ral Ordinária de 21 de dezembro de 1944
Paulo cujo diretor nosso confrade Salvador e que deverá reger os destinos deste so-
Castiglioni enviou uma coleção de 10 ma- dalício no período correspondente ao man-
pas diversos. Tanto a biblioteca como a dato de 25 de Fevereiro de 1945 a igual
mapoteca atenderam a vários consulentes data de 1947.
que examinaram obras gerais, e especiali-
zadas sobre geografia, Filosofia, Meteoro-
logia, e Literatura. RELAÇÃO DA DIRETORIA

Presidente
PUBLICAÇÕES Embaixador José Carlos de Macedo Soares
l9 Vice-Presidentc
Em 1944 a Comissão de Redação da Ministro J. S. da Fonseca Hermes Júnior
Revista conseguiu compilar copioso material 29 Vice-Prcsidente
cultural que permitiu a publicação do Tomo Almirante Jorge Dodsworth Martins
LI da nossa tradicional Revista a qual deve 39 Vice-Presidente
sair do prelo estes dias. Cumpre-me agrade- Professor Everardo Backheuser
cer aos dedicados confrades membros da Secretário Geral
Comissão de Redação Senhores Doutores Professor Mario C. Rodrigues de Sousa
Carlos Domingues, Alberto Couto Fernan- l9 Secretário
Coronel Frederico Augusto Rondon
des, Antônio Santos Oliveira e Júnior e
Fernando Antônio Raja Cabaglia, bem como 29 Secretário
Sílvio Fróis de Abreu
registro aqui o mais profundo pesar pelo Tesoureiro
falecimento do ilustrado membro dessa co- Comandante Luís Alves de Oliveira Belo
missão Dr. Alexandre Emílio Somier há Orador
pouco desaparecido mas que por muitos anos Dr. Francisco de Sousa Brasil
deu a esta Casa o melhor de seu esforço.
No que acima foi exposto se resumem CONSELHO DIRETOR
os principais acontecimentos da vida da So- ¦

ciedade em 1944. Tenho a certeza que ao Almirante Ministro Raul Tavares


Ministro Bernardino José de Sousa
fazermos um retrospecto os mesmos só nos Dr. Taciano Acioli Monteiro
podem orgulhar principalmente no que se General Emílio Fernandes de Sousa Doca
refere ao alto espírito de compreensão de Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues
Dr. João Ribeiro Mendes
seus associados e dirigentes, perfeitamente Dr. Epitácio Monteiro Pessoa
provado na forma pela qual põem os inte- Dr. Alberto Couto Fernandes Mi
xesses da Instituição acima da vaidade e do Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto
egoísmo pessoais, mais uma vez demonstrada General José Vieira da Rosa
General Artur Pinheiro da Silva
na última Assembléia Geral do ano, quando Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos
a Diretoria que tenho a honra de presidir Dr. José Vanderlei de Araújo Pinho
teve a satisfação de verificar que o espírito Dr. Herbert Canabarro Reichardt
de disciplina e da colaboração desinteres- Professor Fernando Antônio Raja Gabáglia
Comandante César Feliciano Xavier
sadas trinfou uma vez mais apoiando pie- Dr. Paulo Pires Brandão
namente o programa da renovação social , Dr. José Matoso Maia Forte
que sem dúvida levará a Sociedade aos ma-
iores triunfos no domínio da realização dos COMISSÃO DE CONTAS
seus elevados propósitos de bem servir a
cultura e a ciência do Brasil, e desde já for- General Heliodoro de Miranda
Dr. Couto Fernandes
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1944 129

Dr. Randolfo Fernandes das Chagas mil cruzeiros (Cr$ 3.000,00) de um depó-
Dr. José Joaquim da Trindade Filho sito para fim especial, proveniente de um
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
donativo feito pelo Comandante César Fe-
COMISSÃO DA REDAÇÃO DA REVISTA
liciano Xavier.
Rio de Janeiro, 31 de Janeiro de 1945.
Coronel Luís Mariano de Barros Fournier
Dr. Leopoldo Fcijó Bittencourt — Dr. Alberto Couto Fernandes, Tesou-
Dr. José Antônio da Rosa reiro.
Dr. Antônio dos Santos Oliveira Júnior
Dr. Carlos Domingues
PARECER DA COMISSÃO DE CONTAS
A seguir damos o Balancete apresen-
tado pelo digno Diretor tesoureiro e o pa- Vistos e estudados os balancetes e res-
recer da Comissão de Contas. pectivos comprovantes, elaborados pela Te-
souraria da Sociedade de Geografia do Rio
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JA- de Janeiro referentes ao exercício de mil
NEIRO — BALANCETE REFERENTE AO novecentos e quarenta e três, somos de pa-
ANO DE 1944
recer que sejam os mesmos aceitos, tendo
Título Cr$ C$r em vista a exatidão dos lançamentos efe-
Saldos de 1943 264.45 tuados.
Quotas de Sócios 13.420,00
Donativos 1.000,00 Propomos a egrégia Assembléia Geral
Juros 561,00 a aprovação das contas apresentadas, jun-
Quotas do Instituto dos Co-
merciários 432,00 tamente com um voto de louvor e agradeci-
Venda de Exemplares da Re- mento ao digno Diretor-Tesoureiro, Doutor
vista 10,00 Alberto Couto Fernandes, bem como aos
Resgate de Apólice 196,70
Indenizações 500,00 seus auxiliares de Tesouraria pelo desem-
Selos de contribuições de penho cabal que souberam dar aos seus múl-
guerra 25,00 tiplos e espinhosos cargos.
Venda de cadeiras em mau
estado 160,00 A Comissão de Contas da Sociedade
Contribuições de guerra .... 60,00
Empréstimos sem juros 6.500,00
de Geografia do Rio de ajneiro, 25 de
Subvenção do Ministério da Fevereiro de 1945. — Rodrigo Otávio. —
Educação e Saúde 20.000,00 Trindade Filho. — Leopoldo Antônio Feijó
Extorno de pagamentos feitos
feitos por antecipação .. 5.488,40 Bittencourt.
Vencimentos do pessoal .... — 21.150,00
Percentagem ao cobrador .... — 1.984,00
Ao terminar não posso deixar de agra-
Quotas do Instituto dos Co- decer a todos aqueles que pela sua pre-
merciários — 864,00 ciosa e eficiente colaboração foram os es-
Seguro contra fogo — 322,20
Consumo de luz elétrica .... — 1.255,60 teios da Sociedade de Geografia do Rio
Assinatura do telefone — 1.694,60 de Janeiro e igualmente agradeço aos de-
Selos do correio, estampilhas, mais membros da Diretoria, do Conselho
telegramas e registrados «—* 321,80
Conservação e asseio — 1.178,00 Diretor e das Comissões Permanentes de
Publicação da Revista da So- Contas e da Revista, o trabalho, a dedicação,
ciedade — 6.000,00 e a atividade desenvolvida em prol da So-
Material de Expediente .... — 1.899,90
Gratificações por serviços ex- ciedade. Aos ilustres consócios em geral,
traordinários — 1.410,00 envio os meus agradecimentos as sessões
Restituição de empréstimos
feitos — 6.500,00 promovidas dando-lhes inexcedível brilho, e
Contribuições de Guerra .... — 60,00 bem como, ao dedicado corpo de funciona-
Aquisição de móvel — 500,00 rios desta casa que sempre se distinguiu pelo
Homenagem — 100,00
Saldo para 1945 3.377,45
cumprimento de suas obrigações. Final-

mente, a todos concinto a trabalhar pela
Total 48.617,55 prosperidade, prestígio e glória da Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro, contribuin-
Observação — No saldo de Cr$ . . • • do dessa forma para a difusão da cultura
3.377,45 está incluída a importância de três e engrandecimento do Brasil.
130 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

RELAÇÃO DOS SÓCIOS — ADMITIDOS Dr. Luís Arlindo Tavares de Lira


NO ANO DE 1944 General João Alves de Azevedo Costa
Dr. Aurélio Afonso Porto
TITULARES Olimiê de* Lourdes Machado
Professora Isa Adônias.
Carlos Pedrosa Correspondentes — Estado de São Paulo
Francisco Martins dos Santos
Alexandre Brigoli
Dr. Domingues Soares de Giacomo Ícaro S. Salvador Castiglionc (Estado de São
Professor Afonso Várzea Paulo).
Dr. Ulisses Guimarães — (R) (Estado de
Comandante Armando Pina
Cônsul )osé Maria Reis Perdigão São Paulo).
Dr. José Eduardo de Macedo Soares Sobrinho
Cônsul Jorge d'Ecragnolle Taunay
Cônsul Murilo Otacema de Figueiredo Pessoa (R) (Estado de São Paulo) .
Ministro Orlando Leite Ribeiro Dr. Joaquim Eugênio de Lima Neto (R) (Es-
Cônsul Roberto Luís Assunção de Araújo tado de São Paulo) .
Valério Caldas de Magalhães Dr. Lino Vieira (R) (Estado de São Paulo) .
Capitão Tenente Antônio Mendes Braz da Silva Dr. Lourival Francisco dos Santos (R) (Es-
Professor Carlos Marie Cantão tado de São Paulo) .
Dr. José Augusto de Macedo Soares (R) Dr. José Pedro Leite Cordeiro (R) (Estado
Cônsul Jaime de Azevedo Rodrigues de São Paulo) .
Astréa Santos Dutra Ulisses Lemos Torres (R) (Estado de São
Dr. Rui Guimarães de Almeida Paulo).
Dr. Pedro de Sousa Ferreira Gonçalves Braga Coronel Edmundo de Macedo Soares e Silva
Professora Iolanda Rabelo de Sousa Ferreira (R) (Estado do Rio).
Maria da Conceição Vicente de Carvalho (R)
Judite Valadares Salgado
Claudiston Lima dos Santos (Estado de São Paulo) .
Professora Maria de Lourdes Jovita Cônsul Hélio Cabal.
Maria Inaiá Santos Estrela D. Alcuino Meier.
Sra. Isabel D'Aartayette Dias Sócios falecidos durante o ano de 1944 :
Dr. Virgílio Correia Filho Professor Alcino da Silva Rocha
Engenheiro Francisco Xavier Rodrigues de Sousa Profesor Jônatas Serrano
Hélio Sacher de Sousa Alexandre Emílio Sommier
Azarias de Araújo Santos José Domingues Berford Vieira
Julieta de Aragão Silveira General Álvaro Moura.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DA SOCIEDADE
DURANTE O ANO DE 1945

PELO 1." VICE-PRESIDENTE, NO EXERCÍCIO DA PRESIDÊNCIA

MINISTRO J. S. DA FONSECA HERMES

De acordo com as disposições legais e são de todos a fim de ser tentada a cristali-
estatutárias, tenho a honra de, em nome da zação desses ancêios.
Diretoria, ofe.ecer à consideração dos ilus- Duas providências foram assentadas
"Relatório"
trados Consócios o dos princi- com o apoio de todos:
pais acontecimentos ocorridos durante o ano
social de 1945. 1* — eleger, ao findar o mandato, nova
E cumpre-me a mim apresentá-lo na qua- Diretoria.
lidade de Primeiro Vice-Presidente, no exer- 2'y — elaborar novos Estatutos.
cício da Presidência, por se encontrar desem-
penhando o alto ca.go de Interventor Fe- NOVA DIRETORIA
deral no Estado de São Paulo, o nosso emi-
nente, ilustre e muito prezado Presidente de Registramos com desvanecimento a
Honra e Efetivo, Embaixador José Carlos de atitude elegante e desprendida bem como
Macedo Soares. a colaboração prestada pelos ilustrados Mem-
bros da Diretoria e do Conselho Diretor e
das duas Comissões à decisão de renovar o^
NOVA ORIENTAÇÃO
órgãos de administração da Sociedade por
Desde havia muito tempo, no seio da ocasião das eleições pela Assembléia Geral
Sociedade, se vinha notando certas mani- do dia 21 de Dezembro de 1944.
festações tendentes a romper com a rotina, Por unanimidade, isto é, com o voto
conseqüente ao sistema das reeleições e da individual, contrário a si mesmo, de cada
vitaliciedade nos postos de comando. um dos candidatos presentes, fo-am eleitos,
Ao mesmo tempo que se concretizavam sob aplausos gerais, a atual Diretoria, o
essas impressões, firmava-se, também, a Conselho Diretor e as duas Comissões para
convicção de que as sucessivas reformas dos o período 1944-1946, cujos componentes fi-
Estatutos não respondiam às necessidades guram no final do presente Relatório.
da Sociedade, por isso que alteravam, ape- O fato de haver o Embaixador José
nas, certos dispositivos mantendo a estrutura Carlos de Macedo Soares figura das de
geral. maior destaque e prestígio em todos os meios
No correr do ano de 1944, um grupo tanto sociais, como políticos e intelectuais,
de Consórcios estabeleceu contatos com concordado com a indicação do seu nome
grande número de colegas, a começar pelos para a Presidência da nossa Sociedade, re-
ilust:es componentes da Diretoria e do Con- presentou, desde logo a melhor garantia
selho Diretor, no sentido de angariar a ades- para o futuro da nossa instituição.
132 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

NOVOS ESTATUTOS um terreno na esplanada do Castelo, onde


construir sede condigna para a nossa So-
Para a elaboração do ante-projéto de ciedade.
novos Estatutos foram fixados vários pontos
básicos e nomeada uma Comissão composta O parecer favorável de todas as seções
dos Consócios Senhores Ministro J. S. da do Patrimônio Nacional e dos demais ór-
Fonseca Hermes, Professor Má:io de Sousa, gãos do Ministério da Fazenda levaram o
Comandante Oliveira Belo, Desembargador Ministro das Finanças a elaborar uma Ex-
Carlos Xavier Pais Barreto e Professor posição de motivos favorável a doação, e ao
Francisco de Sousa Brasil. Presidente Getúlio Vargas a determinar a
lavratura do competente Decreto. No dia
Essa Comissão se reuniu 16 vezes, re- 23 de Outubro de 1945 estava lavrado o
digindo o ante-projéto de Estatutos cujo Decreto que devia ser submetido a assina-
texto, mimiografado, foi remetido a todos tura presidencial. Uma pequena viagem do
os Sócios para o fim determinado de re- Ministro Sousa Costa retardou essa forma-
ceber emendas e sugestões. lidade, sobrevindo a noite de 29 para 30 de
A mais importante das sugestões foi Outubro, em que o Presidente Vargas foi
a oferecida pelo Embaixador José Carlos de deposto.
Macedo Soares, tendente a dividir o ante- Uma comissão da Sociedade — com-
projeto em duas partes: uma que englobaria posta do Ministro Fonseca Hermes, Dou-
as matérias fundamentais para formarem os tor João Ribeiro Mendes e Professor Mário
Estatutos propriamente ditos, e outra, reu- de Sousa — procurou o novo Ministro da
nindo os dispositivos acidentais, que cons- Fazenda, Dr. Pires do Rio, que prometeu
tuiriam o Regulamento da Sociedade. apoiar o pedido da Sociedade, recomen-
Submetida a proposta à Comissão, esta dando, porém, fosse o assunto tratado dire-
concordou com o alvitre. tamente com o Presidente interino da Re-
Durante oito sessões conjuntas — da pública, Ministro José Linhares. Proce-
Diretoria, Conselho Diretor e Comissões — deu-se à adaptação do Memorial apresen-
foram pormenorizadamente debatidos os tado ao Presidente Getúlio Vargas, e o
vários artigos dos dois projetos e neles in- nosso 2*-) Vice-Presidente, Almirante
Jorge
troduzidas diversas emendas. Submetidos à Dodsworth Martins, Ministro da Marinha,
Assembléia Geral dos dias 20 e 26 de De- prontificou-se a entregá-lo pessoalmente ao
zembro, foram os mesmos, aprovados por Presidente Linhares. Infelizmente nada foi
unanimidade e com algumas correções. feito.
Esperamos, confiadamente,
que o Pre-
SEDE SOCIAL sidente General Eurico Gaspar Dutra com-
De acordo com os novos Estatutos, a preenderá os justos apelos da nossa Socie-
dade.
Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro A Diretoria não omitirá esforços nesse
passará a "Sociedade
denominar-se, como justo e na-
tUr,?* ~~~ Brasileira de Geogra-
sentido.
fia". (Antiga Sociedade de Geografia do
Rio de Janeiro) . O ANDAR TÉRREO DA ATUAL SEDE
Os novos Estatutos e o Regulamento A padaria, que se encontrava, abusiva-
respondem, estamos certos, aos ancêios de mente, funcionando no andar térreo da nossa
todos os Sócios e habilitam a nossa Socie- sede, com um grande forno a funcionar
per-
dade a lançar-se à conquista de suas nobres manentemente, com graves riscos de incên-
e elevadas aspirações. * dio, foi, por fim, mas não sem trabalho e
Sujeitos a registro e publicação, os no- tenazes esforços, despejada. Registramos,
vos Estatutos deverão entrar em vigor no com prazer, este fato porquanto, além de
correr do ano de 1946. muitos outros inconvenientes e
prejuízos, o
calor desprendido daquela fornalha abalou
De acordo com o resolvido na sessão fortemente o assoalho da sala dos fundos
de 19 de outubro de 1944, a nova Diretoria
do primeiro andar, onde realizávamos as
solicitou do Governo Federal a doação de
nossas sessões, forçando-nos a abandoná-la
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 133

e a nos mudar para o segundo andar, o que pendência econômica para adquirir inteira
não deixa de ser sobremodo incômodo, par- liberdade; e essa autonomia só nos poderá
ticularmente para alguns Sócios, pois o velho vir quando tivermos o terreno e sobre êle
prédio não possui elevador. houvermos construído um edifício que nos
garanta renda suficiente para sermos o que
AUMENTO DE SUBVENÇÃO devemos e queremos ser, o que seremos:
uma Sociedade, autônoma, de cultura, c
A subvenção com que o Governo Fe- estimuladora de estudos geográficos.
deral contribui para as despesas da Socie- Só então, quando independentes, pode-
dade — Cr$ 20.000,00 anuais, em compara- remos demonstrar que a Geografia continua
ção com as que concede a instituições re- a ser a base da solução para a maioria dos
creativas e esportivas, se nos afigura bem problemas de todas as nações e mais espe-
reduzida. Pleiteamos um aumento de Cr$ . cialmente no nosso país, onde a extensão ter-
100.000,00 anuais, mas a oposição do Mi- ritorial, a distribuição populacional e a di-
nistro da Educação e Saúde Pública, Senhor ferenciação econômica, bem como a defici-
Gustavo Capanema, impediu solução favorá- ência e a dificuldade de comunicações, se
vel e isso a pesar do apoio que nos deram erguem, no conceito da geopolítica, como
o Presidente Vargas e o Ministro Ataulfo verdadeiras incógnitas a definir ou demoras
de Paiva. Insistiremos junto ao atual Go- a vencer, que dificultam o progresso e re-
vêrno ou perante o Congresso Nacional tardam a unidade política-econômica do
sobre o assunto, porque julgamos que a país. Só então poderemos proclamar que
nossa Sociedade a merece po: lhe ser indis- brasileiro algum poderá, em sã conciência,
pensável a dignidade de suas atividades aspirar à responsabilidade de estadista se
culturais. habilitado não estiver a conhecer e penetrar
as necessidades da sua terra, porque a so-
IMPRESSÃO DA NOSSA REVISTA lução de quase todos os problemas do Bra-
NA IMPRENSA NACIONAL sil tem por base o conhecimento e a inter-
pretação dos seus aspectos e imperativos
O Presidente Getúlio Vargas acedera geográficos.
a que a nossa Revista e publicações fossem
gratuitamente impressas na Imprensa Na-
cional dando ao nosso requerimento despa- REUNIÕES DA SOCIEDADE
cho favorável, que foi transmitido por ofício Assembléias gerais
do Ministro da Justiça e Negócios Interiores
ao Diretor da Imprensa Nacional; mas o Se- Durante o ano social de 1945 a nossa
nhor Brito Pereira, invocando a inconveniên- instituição se leuniu por três vezes em As-
cia de criar precedentes, declarou à Comis- sembléia Geral: uma a 26 de Fevereiro,
são que o foi procurar para tratar do assun- para a posse da nova Diretoria; outra a
to — Srs. Ministros Fonseca Hermes, Dr. 25 de Setembro, para a concessão do título
Carlos Domingues e Comandante Oliveira "Sócio
de Honorário" a S. A. I. o Prín-
Belo — não ser possível aquela Repartição cipe D. Pedro, Gastão de Alcântara Or-
dar integral execução ao despacho presiden- leans e Bragança, e para resolver a respeito
ciai, aconselhando-nos a obter aumento da da anistia dos Sócios em atrazo no paga-
subvenção para atender a impressão da nos- mento de suas contribuições; e a terceira
sa Revista. Em todo o caso estaria disposto nos dias 20 e 26 de Dezembro para exame,
a imprimir gratuitamente as publicações cor-
discussão, emenda e aprovação dos novos
imprimir gratuitamente as publicações cor-
Estatutos e Regulamento.
respondentes ao ano de 1945. Isto se pas-
sava depois da noite de 29 para 30 de
Outubro. Voltamos a insistir junto ao Mi- SESSÕES MAGNAS
nistro Sampaio Dória, mas sem resultado. A 26 de Fevereiro, por ter caído em
Por tudo quanto antecede, relativa- domingo o dia 25, e em continuação à
mente à doação do terreno, ao aumento da reunião da Assembléia Geral, a Sociedade
subvenção e à impressão grátis das nossas realizou a tradicional Sessão Magna, come-
publicações, torna-se patente que a nossa morativa do aniversário de sua fundação;
Sociedade necessita conquistar a sua inde- e a 25 de Setembro, para celebrar a data
134 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

de sua instalação bem como para inaugurar e Conrssões, se reuniu ainda 10 vezes, ex-
retartos — Oferta do Embaixador José Car- trao.dinàriamente, para tratar de assuntos
los de Macedo Scares — de S. A. I., o relacionados com a organização e a adminis-
Senhor Conde d'Eu, Segundo Presidente tração da Sociedade.
de Honra, que foi, da Sociedade, e do Se-
nado: Manuel Francisco Correia, o verda- SESSÕES DA SOCIEDADE
deiro iniciador da fundação da Sociedade
de Geografia. Por seis vezes, a Sociedade se congre-
goú para ouvir conferências, cuja importân-
Especialmente convidadas, comparece- cia ou desenvolvimento não se enquadra-
ram S. A. I. o Príncipe D. Pedro, Gastão vam dentro dos estreitos limites de tempo
de Ancântara e o Dr. Leôncio Correia, des- de que dispõem as sessões do Conselho Di~
cendente de Manuel Francisco Correia, fa- retor.
zendo-se acompanhar de numerosas pessoas
Foram estas:
de sua digna família. O Presidente José
CaJos de Macedo Soares nomeou Cnrssões 19 de Março, pa.a acertar providên-
especiais que introduziram os ilustres hós- cias a respeito de certos assuntos de caráter
pedes na Sala das Sessões, onde foram aco- geral e para ouvir o relatório do Coman-
lhidos sob calorosas salvas de palmas d dante Oliveira Belo sobre o Congresso de
convidados a tomar assento à Mesa. História, realizado no Rio Grande do Sul,
Inaugurando os retratos dos dois pró- comemorativo dj Centenário da terminação
ceres, discusaram o Dr. José Wanderley de da revolução Farroupilha.
Araújo Pinto sobre a personalidade do Se- 25 de Abril, para ouvir a conferência
nho. Conde d'Eu e o Comandante Luís de do Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de
Oliveira Belo, que fez o panegírico do Se> Matos, por ocasião das comemorações da
nador Manuel Francisco Correia. "Semana
do índio", e sobre o tema: "Con-
Em nome de S. A. fabu o nosso tribuição ameríndia na civilização ociden*
Consócio Alcino Sodré, usando também da tal'. Essa Sessão foi honrada com a
pre-
palavra o Dr. Leôncio Correia, que, em sença do eminente desbravador do sertão
nome da família, agradeceu a justa homena- brasileiro, o benemérito "protetor" do nosso
gem prestada pela Sociedade ao seu ante- índio, General Cândido Mariano da Silva
passado. Rondon, Presidente de Honra da Sociedade.
Encontrando-se presente à Sessão ") 24 de Maio, realizada no "auditoriunT
Almirante Gago Coutinho, o Presidente José do Ministério da Educação, comemorativa
Carlos de Macedo Soares pediu-lhe entre- do Centenário do nascimento do Barão do
gasse pessoalmente ao Príncipe Dão Pedro Rio-Branco, Presidente de Honra, foi,
o Diploma de Sócio Honorário, gesto que da nossa Sociedade. Essa sessão, que
foi acolhido com aplausos gerais. presidida
pelo Embaixador José Carlos de Macedo
Soares, foi honrada com a
SESSÕES DO CONSELHO DIRETOR presença do Mi-
nistro de Estado das Relações Exterores,
De acordo com os Estatutos, o Con- e pelos representantes do Presidente da Re-
selho Diretor se reuniu por 10 vezes, uma pública. Ministro de Estado, Prefeito Muni-
em cada mês do ano social, para tratar de cipal, Chefe de Polícia, Arcebispo do Rio
de
assuntos administrativos, admissão e posse Janeiro, pessoas da família do Barão e nu-
de Sócios, comunicações geográficas, aná- merosas Instituições culturais. Foi orador
o
lise de efemérides, preleções etc.. . A essas Ministro J. S. da Fonseca Hermes, cuja
sessões, como a todas as demais, realizadas conferência mandou imprimir e distribuir
pela Sociedade, concorreu reduzido número pelos Sócios.
de Sócios, se bem todos tivessem sido ins-
tados a comparecer. 8 de Setembro, para receber o Enge-
nheiro Alfredo Galmarini, delegado da So-
SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS ciedade Argentina de Geografia, que trouxe
uma mensagem verbal daquela Agremiação, *
Além das sessões ordinárias, a Dire- convidando a nossa para, com ela, estreitar
toria, juntamente com o Conselho Diretor as .elações culturais.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 135

de Outubro, em que ouvimos a pa- Geral de 25 de Setembro resolveu conceder


lavra culta do Coronel Luís
"O
Mariano de anistia a^s Sócios em atrazo no pagamento
Barros Fournier, sobre advento do das respectivas contribuições. Tal provi
Homem". dência foi adotada não só para definir a
situação desses Sócios, como ainda porque,
de Novemb.o, conferência do Coman-
"A algumas vezes, não lhes coube inteira res-
dante Gerson de Macedo Soares, sobre
marinha de guerra brasileira na segunda ponsabilidade no atrazo registrado. Os só-
cios que manifestaem, por escrito eu pelo
guerra mundial". 4
silêncio, a intenção de não ma;s pertencerem
à Sociedade serão definitivamente excluídos
BIBLIOTECA E MAPOTECA
dos seus Quadros.
Numerosas foram as obras e mapas in-
corporados ao acervo da nossa Biblioteca c CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO BARÃO
Mapoteca. Durante o ano findo, continuamos DO RIO BRANCO
os trabalhos de catalogação, encardenação e Já em 1944 a Sociedade se preocupava
entelamento. A situação precária das nossas de participar das comemorações em home-
instalações e finanças não nos permitiu nagem à memória do seu antigo Presidente
maiores esforços dos que os até agora, pau- de Honra, Barãj do Rio Branco, por ocasião
latinamente, dispendidos. da passagem do Primeiro Centenário do
seu nasemento.
PUBLICAÇÕES E EX-LIBRIS
O Ministério das Relações Exteriores,
O número LI da nossa Revista, corres- a cujo cargo estava a organização dessas
pondente ao ano de 1944, com 151 páginas, comemorações, reservara, no programa ofi-
já foi amplamente distribuído. ciai para o segundo lugar, logo depois do
Estão em preparação, para serem im- IInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
a Conferência do representante da Socie-
presos : o número correspondeu a 1945 e
outro, especial, comemorativo do centenário dade de Geografia. Foi encarregado dessa
do nascimento do Barão do Rio Branco. Conferência o nosso ilustre e benemérito
Com a terminação da guerra temos Consócio Ministro Bernardino José de
reiniciado o intercâmbio de publicações com Sousa, cujo estado de saúde e graves ocupa-
as Sociedades congêneres dos países que fi- ções não lhe permitiram desempenhar-se
dessa incumbência.
caram isolados.
Distribuamos amplamente por todo o Fora do ciclo oficial, entretanto, a So-
Brasil e para o estrangeiro, anexando ainda ciedade prestou essa homenagem na Sessão
a todos os exemplares da nossa Revista, extrao dinária de 24 de maio, a que já me
o l9 Boletim Informativo da Sociedade, o referi.
qual continha os últimos dados demográfi- Além disso, a Sociedade nomeou uma
cos oficiais do Brasil. O Segundo Boletm, Comissão Especial para tomar parte nas
em preparação, corresponderá à superfície comemorações e resolveu editar um número
das várias Unidades da Federação, incluin- especial da sua Revista, exclusivamente de-
do os novos Territórios. dicado ao egrégio Brasileiro.
Por gentileza do nosso Presidente, já
"exAibris".
temos o nosso CURSO DE APERFEIÇOAMENTO

EXPEDIENTE Em acordo com o Conselho Nacional de


Geografia, a Sociedade organ:zou um curso
Durante o ano de 1945 foram recebidos
199 ofícios, cartas telegramas e cartões, e especial de aperfeiçoamento para professo-
expedidos 113 ofícios, 39 telegramas, 2 cir- res de Geografia do ensino secundário.
Esse curso foi oficializado pelo Ministé-
culares e 66 cartas.
rio da Educação e o diploma que a Socie-
dade conferiu aos que o terminaram com
ANISTIA aprovação foi reconhecido como título bas-
Por proposta da Diretoria, com parecei tante para admissão ao segundo ciclo de
favorável do Conselho DLetor, a Assembléia extensão de professorado.
136 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

103 foi o número dos Professores ins- blica dos Estados Unidos da América, —
critos, sendo habilitados 36; entretanto, a Franklin Delano Roosevelt, sendo enviado
Sociedade conferiu diploma a mais 21, que telegrama de condolências ao Embaixador
satisfizeram às exigências do curso. desse país no Rio de Janeiro.
A Sociedade de Geografia patenteia o
seu profundo reconhecimento ao Conselho
OFERTAS
Nacional de Geografia, cuja colaboração
esforços e contribuição constituíram a me-
lhor garantia para o sucesso desse curso. Entre as ofertas feitas à Sociedade,
destacam-se: um cofre forte, com mostruá-
rio, e uma valiosa coleção de medalhas,
DIVERSOS ACONTECIMENTOS pelo
Embaixador J. C. de Macedo Soares; uma
medalha em homenagem ao Barão do Rio
A Sociedade de Geografia se congratu- Branco, do grande artista patrício Girardet,
lou com o Ministério das Relações Ex-
teriores: pelo Consócio Dr. Guilherme Ellis, bem
"Prêmio
como a do José Boiteux", instituída
l9 Pela sua feliz intervenção no li- pelo X Congresso Brasileiro de Geografia.
tígio territorial entre o Peru e o Equador,
da qual resultou a nomeação do nosso
pre- SÓCIOS DESAPARECIDOS
zado Consócio, Comandante Braz Dias de
Aguiar, para estudar in loco e definir a
raia divisória entre os dois países na zona A Sociedade tem a lamentar o faleci-
a ser delimitada. O ofício com mento de alguns Sócios durante o ano tran-
que o Ita- sato, destacando-se, entre eles, o Dr.
maraty nos agradeceu essas congratulações José
é^ altamente honroso para a nossa Institui- Matoso Maia Forte, do Conselho Diretor,
ção, acrescendo o fato de haver aquele Mi- o General Emílio Fernandes de Sousa Doca,
nistério tomado a iniciativa de divulgar o ex 3" Vive-Presidente, o General Salvador
fato pela imprensa. Barbalho de Uchoa Cavalcanti, do Con-
Ao mesmo tempo foram enviadas con- selho Diretor, o Almirante Henrique Boi-
gratulações aos Embaixadores do Equador teux, Aurélio Afonso Porto e o General
e do Peru, acreditados Alípio di Primio. A memória de todos fo-
junto ao nosso Go-
Vêrno, os quais as agradeceram em termos ram prestadas homenagem de
pesar e sau-
elogiosos para a Sociedade. Endereçamos dade, e às respectivas famílias enviadas con-
igualmente, ao Comandante Braz Dias dolências.
de
Aguiar as nossas felicitações.
O Instituto Histórico e Geográfico
2* Pela criação do Instituto Rio Bran- Brasileiro convidou a Sociedade de Geogra-
co, onde o ensino da Geografia e fia para realizar uma Sessão conjunta em
da Carto"
grafia históricas terão particular destaque. homenagem ao General Sousa Doca e ao
Em ata foi registrado o nosso regozijo Dr. Aurélio Porto, Sócios,
que foram, das
pela terminação da guerra, com a vitória daus Instituições. Nessa ocasião, usou da
das nações aliadas. palavra o Comandante Oliveira Belo, que
Registrado também foi um voto fez o elogio fúnebre de Sousa Doca.
de pe-
sar pela dolorosa catástrofe vitimou, já
que
"Baía",
em plena paz, o Cruzador
em a SÓCIOS ADMITIDOS
qual numerosos brasileiros perderam a vida
bm testemunho, ainda, do nosso Durante o ano de 1945 foram admiti-
sentimento, foi enviado um telegrama profundo
de dos 74 novos Sócios, dos quais 65 Titulares
pêsames ao Ministro da Marinha e nomeada e 9 Correspondentes, no Brasil.
uma Comissão para assistir às
exéquias S.A.I. o Príncipe D. Pedro, Gastão
oficiais.
de Alcântara foi eleito Sócio Honorário em
Igualmente registrado um voto de homenagem aos seus antepassados e às nos-
pesar
pelo falecimento do Presidente da Repú- sas tradições.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 137

BALANCETE REFERENTE AO ANO latório, mas julgo preferível encarar fran-


DE 1945
camente a verdade dos fatos a revesti-los
Título Cr$ C$r com galas de retórica, dando aos Consó-
Saldo de 1944 t • « *• •• * 3.377,50 cios uma impressão que não corresponde-
Constribuições . 22.580,00 ria a realidade. Assim, todos nós conhe-
Subvenção do Ministério da
Educação e Saúde 20.000,00
ceremos melhor essa realidade e, assim, me-
Quotas do Instituto dos Co lhor compreenderemos o que nos cumpre
ciários 432,00 fazer coletiva e individualmente. Convém
Venda de exemplares da Re- tenhamos presente que não somos uma Aca-
vioia ......••« %¦
55.00 demia onde o duelo encomiástico é de praxe.
Juros , 123.00
Donativos 6.975.00 O caráter com que a nossa Sociedade se deve
Indenizações 136,00 impor, é o de estudo de Geografia, batendo-
i
Despesas gerais ....... 5.330,60 nos pela divulgação dos seus conhecimentos
Vencimentos do pessoal 13.850,00
Comissões de cobranças 3.215,00
e alcance.
Quotas do Instituto dos Co Não é hipérbole afirmar que o Brasil
merciários 971,50
Seguros 322,60 precisa se conhecer e que o Brasil será um
Selos e Estampilhas .... 497,00 perpétuo ignorado se os seus estadistas e
Portes e telegramas .... 208,10 homens de responsabilidade não entrarem
Biblioteca 7.095,00 em contato com a realidade geográfica do
Arquivo 850,00
Material de escritório .. nosso país, da qual, pela grande maioria,
4.430,00
Gratificações 810,00 se encontram ainda, e infelizmente, sensí-
Saldo para 1946 16.099,30 velmente afastados.
i uitii............ 53.697,10 53.697,10 A missão da Sociedade de Geografia
é precisamente esta : incentivar o gosto pelos
Observação estudos geográficos até à demonstração de
No saldo de Cr$ 16.099,30, estão incluídas as sua necessidade como imperativo nacional.
seguintes importâncias: de Cr$ 3.000,00, corres-
E essa missão não a realizaremos se
pondente ao depósito para fim especial, proveniente
de um donativo feito pelo Comandante César Fe- não cerrarmos, todos, as fileiras dos nossos
liciano Xavier; e de Cr$ 13.000,00 correspondente Quadros ao redor de uns quantos que de-
a donativos e remissões para os fins especiais pres-
critos no Artigo 38 dos Estatutos. monstram boa vontade e envidam esforços
por elevar o prestígio da Geografia e da
Considerando que os Sócios remidos própria Sociedade.
acarretam despesas para a Sociedade, pelo
Verdade é que a situação financeira
direito que lhes assiste de receber os nume-
não nos permite grandes vôos, mas a soli-
ros da Revista, além das derivadas da expe-
dição de publicações, convites comunica- dariedade de uma grande maioria de Só-
cios, o seu comparecimento assíduo ás reu-
ções, etc, bem como de Secretaria, a im-
niões, a colaboração no esforço e nas dire-
portância de algumas das remissões, que fi-
trizes da Sociedade, a contribuição intelec-
guram no saldo, foram destinadas ao fundo
especial de que trata o Artigo 38 dos Es- tual, o simples preenchimento, enfim, dos
tatutos ainda em vigor. compromissos assumidos pelo Sócio ao ser
admitido, seria de molde a facilitar a ação
CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES daqueles que assumem a responsabilidade
da direção.
De tudo o que procede é dado con-
cluir que a Sociedade bastante trabalhou Por maior, porém, que seja o empenho
durante o ano de 1945, mas os esforços de de alguns Membros da Diretoria, do Con-
alguns e a boa vontade de muitos não fo- selho Diretor e das Comissões, qualquer es-
ram bastantes para garantir os resultados forço se esboroa ante a displicência e a abs-
que, confiadamente, tínhamos o direito de tenção da grande maioria.
esperar. Somos uma Sociedade e, como tal, to-
Os prezados Consócios se apercebe- dos os seus membros devem ser solidários
ram, seguramente, da parcimônia com que e coparticipantes na orientação e realização
o optimismo e os elogios figuram neste Re- do programa social.
f

138 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Somos parte integrante da elite inte- atividades ? Porque ? Deixo a cada qual
lectual do nosso país e, como tal, devemos o encargo de responder a esta interrogação.
dar exemplo de organização e de cumpri-
mento do dever. Quanto a mim, porém, posto que fa-
lando em nom^ de reduzido núríiero de Con-
Somos expoentes da Geografia nacio- sócios, não pusso deixar de condam ir :
nal e, como tal, devemos tornar realidade
aspirações, existência e afirmações. Que os Sócios de melhor vontade dêm
o exemplo prestigiando com a sua assidui-
Descuidar de tais preceitos e verdades dade e cooperação as reuniões da Sociedade,
seria negar a nós mesmso, seria rene- colaborando no desenvolvimento do seu pro-
gar a finalidade da Sociedade que integra- grama cultural e administrativo ; o exemplo
mos, seria desmentir as nossas própriass de uns animará a outros e, pouco a pouco,
aspirações, existentes e afirmações. o núcleo dos Sócios de boa vontade crescerá
O meu pensamento se volta para o e, então, poderemos ser o que todos e cada
passado afim-de recordar aqueles que lu- um de nós não pode deixar de, honrada-
taram para que a nossa Sociedade fosse mente, querer que sejamos : uma Sociedade
fundada para que ela subsistisse. Convi- que preenche inteiramente o seu programa
do-vos a evocar os 63 anos de existência e as finalidades para que foi fundada um
da nossa Sociedade e peço-vos que me real expoente da cultura brasileira, um ins-
acompanheis na contemplação do que so- trumento eficiente para o conhecimento do
mos hoje perante um mundo convulsionado nosso país, um orgulho para todos nós.
pelas mais anarquisantes conseqüências de Rio de Janeiro, 15 de Fevereiro de 1946.
uma guerra em que, os próprios vencedo- — /. 5. da Fonseca Hermes, V} Vice-Pre-
res não sabem como encarar nem orientar sidente, no exercício da Presidência.
a vitória.
E peço-vos, ainda que me acompanheis DIRETORIA
no exame do que pode e deve ser a nossa
Sociedade como instrumento de cultura e Presidente
Embaixador José Carlos de Macedo oSares
de disciplina intelectual para o progressivo
conhecimento do nosso Brasil. l9 Vice-Presidente
Ministro João Severiano da Fonseca Hermes
Unamo-nos e colaboremos, todos para 29 Vice-Presidente
que a Sociedade de Geografia possa rea- Almirante Jorge Dodsworth Martins
lizar o seu programa, traçado com ampli- 39 Vice-Presidente
tude de vistas nos novos Estatutos. Professor Everardo Backheuser
Hemos substituído a Diretoria e refor- Secretário Geral
mamos os Estatutos com o firme Professor Mário Campos Rodrigues de Sousa
propósito l9 Secretário
de encaminhar a nossa Sociedade
por novos Coronel Frederico Augusto Rondon
rumos, para mais seguramente conduzi-la
à 29 Secretário
^consubstanciação de suas finalidades. Professor Sílvio Fróis de Abreu
Não permitamos que a nossa Sociedade con-
Tesoureiro
tinui, apesar de tudo o que tentamos, a Comandante Luís Alves de Oliveira Belo
permanecer na estagnação anterior, porque,
então, bem triste seria a conclusão a REl££2 DOS DOCUMENTOS COMPROBA-
fatalmente teríamos de chegar. que,
TÓRIOS DA APLICAÇÃO DA SUBVENÇÃO
NA IMPORTÂNCIA DE VINTE MIL CRU-
Pelos novos Estatutos ficou implantado (Cr* 20-000,00) RECEBIDA DO ML
o sistema de rodízio nos postos de comando, ££K2S
NISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE, A
mas, como realizar essa substituição 30 DE MAIO DE 1945.
perió-
dica se os próprios Sócios não
querem re- Cr$
velar suas qualidades de administradores, Pessoal
o
seu interesse pelos destinos da Sociedade ? Documento n9 1 — Folha de Venci-
Quantos valores, xeais não vemos figu-
mentos do pessoal -— Janeiro a junho 6.000,00
Documento n9 2 — Folha de venci-
rar nos quadros da nossa agremiação mentos do pessoal — julho
e que, Documento 1.300,00
indiferentes, se mantém afastados n9 3 — Folha de vencil
de suas mentos do pessoal — agosto 1.30C 10
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 139

Documento n9 4 — Folha de venci- l9 Tenente João Brito Jorge


mentos do pessoal — setembro 1.300,00 Or. Gastão de Almeida
Material Dr. Álvaro Paes de Barros Filho
Documento n9 5 — Conta de A. Coutinho Dr. Francisco Pedro Carneiro da Cunha
& Cia. 13/VIII/1945 1.830,50 Dr. Guilherme Ellis (R)
Documento n9 6 — Conta de A. Coutinho Dr. Manuel Xavier de Vasconcelos Pedrosa (R)
5 Cia. ll/IX/1945 1.280.00 Dr. Afonso Almirio Ribeiro da Costa (R)
Documento n9 7 — Conta de Emanuel Dr. Valcntim Bouças (R)
Leontisinis 7 020,00 Dr. José Eugênio de Macedo Soares (R)
— > Dr. Alberto Martins (R)
TO TAL 20 030,50 Carolina Max Heuiss (R)
Dr. José Rubens de Macedo Soares (R)
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 1946. - » Luís Maércio Ribeiro de Mendonça (R)
Alves de Oliveira Belo, Tesoureiro. — Visto, /. S. Engenheiro Artur Cardoso de Abreu
da Fonseca Hermes, l9 Vice-Presidente, no exeicício Engenheiro Paulo Gabriel da Rocha Werneck
da Presidência. Dr. Guilherme Gomes Carneiro
Dr. Paulo Augusto Alves
BALANCETE REFERENTE AO ANO DE 1945 Brigadeiro Lisias Rodrigues
Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco So-
Título Cr$ Cr$ brinho
Engenheiro Antônio Hirn Marcolino Fragoso
Saldo de 1944 3.377,50 Dr. José Gabriel de Lemos Brito
Contribuições 22.580,00 Dr. Luís Pederneiras
Subvenção recebida do Minis- Capitão Arnaldo São Tiago Fialho
tério da Educação e Saúde 20.000,00 Dr. Clóvis de Macedo Cortes
Quotas do Instituto dos Co- Dr. Alcino de Azevedo Sodré (R)
merciários 432,00 Dr. Vicente Constantino Chcrmont de Miranda
Venda de Ecxemplares da
Revista Dr. Osvaldo Moura Brasil do Amaral (R)
55,00
Donativos 6.975,00 Major Jônatas Salatiel Dias da Rocha
Indenizações 136,00 Major Ornar Emir Chaves
Despesas Gerais 5.330,60 Dr. João Guimarães Rosa
Vencimentos do Pessoal 13.850,00 Dr. Olinto Luna Freire do Pilar
Comissões de cobrança .... 3.215,00 Dr. José Manuel de Macedo Soares
Quotas do Instituto dos Co- José Wash Rodrigues
merciários 971,50 Dr. Heitor da Fontoura Rangel Filho
Seguros 322,60 João Moreira Padrão
Selos e Estampilhas 497,00 Dr. Leví Arruda
Portes e Telegramas 208,10 Cônsul Ramiro Elísio Saraiva Guerreiro
Biblioteca 7.095,00 Cônsul Melilo Moreira de Melo
Arquivo 850,00 Cônsul Manuel Emílio Pereira Guilhon
Material de Escritório 4.430,00
Gratificações 810,00 CORRESPONDENTES
Saldo para 1946 16.099,30
TOTAL 53.697,10 53.697,10 Dr. Hugo Santos Silva (R) (Estado de São Paulo)
Lígia Lemos Torres (R) (Estado de São Paulo)
Oòsercaçõcs — No saldo de Cr$ 16.099,30, estão Dr. Djalma Forjaz (R) (Estado de São Paulo)
incluídas as seguintes importâncias: de Cr$ 3.000,00 Dr. Joaquim Bento Alves de Lima Neto (R),
correspondentes ao depósito para fim especial, pro- (Estado de São Paulo)
venientes de um donativo feito pelo Comandante Dr. José Armando Affonseca (Estado de São
César Feliciano Xavier; de Cr$ 13.000,00 correspon- Paulo)
dente a donativos a remissões para os fins especiais Capitão Gustavo Lauro Kôrte (Estado de São
prescritos no Artigo 38 dos Estatutos. Pauol)
Dr. Mário Freire (Estado do Espírito Santo)
Rio de Janeiro, 15 de Fevereiro de 1946. — Luís Dr. Nestor Barbosa (Estado do Ceará)
Alves de Oliveira Belo, Tesoureiro. Visto, /. S. da Engenheiro José Nicolau Bom (Estado de Santa
Fonseca Hermes, l9 Vice-Presidente, no exercício da Catarina)
Presidência. Sócios Falecidos durante o ano de 1945:
General Salvador Barbalho Uchôa Cavalcanti
General Emílio Fernandes de Sousa Doca
RELAÇÃO DOS SÓCIOS — ADMITIDOS NO Ministro José Matoso Maia Forte
ANO DE 1945 Professor Aurélio Afonso Porto
Bruno Alves da Silva Lobo
DE HONRA General Alípio di Prímio
Cônsul Carlos Leite Ribeiro
Sua Altera Imperial Dom Pedro, Gastâo, de O- Dr. Armando Sales de Oliveira (Estado de São
leans e Bragança. Paulo)
Engenheiro Álvaro Astolfo da Silveira (Estado
TITULARES
de São Paulo)
Carolina B. de Vasconcelos Leme Ministro Alberto Gertsch (Suíça)
¦\

OS NOVOS ESTATUTOS

CAPÍTULO I d) manterá a continuidade dos Congressos


Brasileiros de Geografia, aperfeiçoando-lhes a or-
DA FUNDAÇÃO, DA SEDE, DO FORO, DA DURAÇÃO E i ganização técnica;
FINS DA SOCIEDADE
e) participará, sempre que possível, das con-
Art. I9 A «Sociedade Brasileira de Geogra* ferências, exposições e congressos nacionais ou es-
trangeiros, a que fôr convidado;
fia», fundada em 1883, fevereiro, 25, sob a denomi-
nação «Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro», J) prestará colaboração aos Governos da
reconhecida de utilidade pública pelo Decreto nu- União, dos Estados, Territórios e Municípios, bem
mero 3.440, de 1917, dezembro, 27, tem por escopo como às instituições culturais do país e do estrari-
o progresso da Geografia, especialmente no âmbito geiro, no estudo e solução de problemas de caráter
do Brasil, e o congraçamento das geográfico;
pessoas de boa
vontade, interessadas no estudo da Geografia. g) organizará e promoverá excursões, expedi-
ções e inquéritos geográficos e, quando oportuno,
Art. 29 A Sociedade, com sede na cidade do
pleiteará participação nas que forem organizadas
Rio de Janeiro, tem personalidade por entidades oficiais ou privadas, nacionais e <^s-
jurídica civil e
será representada em Juízo ou fora dele trangeiras;
pelo seu
Presidente ou por quem, para tanto, poderes tiver h) aceitará consultas, emitirá
ou receber. pareceres e rea-
lizará os estudos que lhe forem solicitados e
a seu juízo, tenham caráter que,
Art. 39 Os Sócios só são responsáveis até à geográfico, mediante
importância dos seus débitos sociais acordo entre o interessado e a Diretoria;
perante as
obrigações contraídas pelos órgãos diretores da So- i) manterá Biblioteca, Mapoteca e Arquivo
ciedade. para uso dos sócios c das pessoas idôneas, estúdio-
sas da Geografia, dotando a sede das comodidades
Art. 4Ç A Sociedade durará necessárias para o estudo, pesquisas e divulgação
por prazo inde- da
terminado e será considerada dissolvida Geografia, com salas de leitura, trabalho, desenho,
quando o
seu cadastro social contar menos de 10 conferências, etc;
Sócios Efetivos. O patrimônio social, (dez)
que não
dera, em circunstância ou momento algum, ser po- ;) organizará e manterá em sua sede um Mu-
ob- seu Geográfico e promoverá ou organizará
jeto de rateio entre os Sócios, no caso de dissolução exposi-
çoes de caráter geográfico;
da Sociedade, terá o destino
que lhe atribuir o Ins- A:) publicará regularmente uma Revista
tituto Histórico e Geográfico Brasileira, e,
na con- extraordinariamente, Boletins, Memórias,
formidade da legislação em vigor, ou, na falta Anais, etc!
deste, /) fará, de acordo com os eventuais
o Governo Federal. interes-
sados, a edição ou reedição de livros,
Art. 5* A Sociedade terá o seu selo, mapas e
com outras obras de caráter
os dizeres: ~ «Sociedade Brasileira de geográfico;
Geografia», m) manterá intercâmbio cultural com as enti-
insígnias e um exAibvis.
dades oficiais e privadas congêneres,
Art. 69 Para alcançar os seus fins, nacionais e
a Socie- estrangeiras;
dade :
n) instituirá prêmios para incentivar
o pro-
a) reunir-se-á em sessões culturais; gresso da Geografia e galardoar autores de obras e
trabalhos geográficos de valor;
b) organizará cursos de Geografia
; e de ciên-
cias e artes correlatas; o) estimulará, por todos os meios
ao seu
c) promoverá e facilitará conferências alcance, o gosto pelos estudos
de ca- geográficos, bem
como a criação de sociedade congêneres
rater geográfico; em outros
pontos do território nacional.
#K
OS NOVOS ESTATUTOS
141

CAPITULO II DIREITOS DOS SÓCEOS

DOS SÓCIOS Art. 149 Todo Sócio, sem distinção de cate-


goria, tem direito :
Art. 79 A Sociedade se compõe das seguintes
categorias de sócios : a) ao diploma da Sociedade;
I -* Sócios de Honra; b) a usar o distintivo;
II — Sócios Beneméritos; c) a participar, na qualidade de congressista,
III — Qr-espondcntcs Estrangeiros, residentes fora dos Congressos Brasileiros de Geografia;
do país; d) a tomar parte, com direito de voz e voto,
a) Efetivos nas assembléias, a freqüentar as sessões da Socie-
IV — Sócios Contribuintes] b) Titulares dade c assistir às conferências que nela se realiza-
c) Correspondentse rem;
Art. 89 O Regulamento fixará o número de e) a realizar, nas sessões da Sociedade, confe-
Sócios para cada uma das categorias dos Contri- rências, bem como fazer comunicações e ler trabalhos
buintes, estabelecerá a forma e o processo de admis- de caráter geográfico, devendo, para isso, insere-
são e exclusão de Sócios e arbitrará as jóias contri- ver-se no programa cultural;
buições, remissões c doações, determinando as respec- /) a indicar ao estudo da Sociedade qualquer
tivas modalidades de quitação, assim como pres- assunto de interesse geográfico;
creverá as condições de readmissão. g) a freqüentar as exposições que a Socie-
Parágrafo único. Ficam ressalvados os direitos dade organizar;
dos atuais Sócios. h) a utilizar-se, para consulta e estudo, da
Biblioteca, Arquivo, Mapoteca e demais serviços e
QUADRO DE HONRA
instalações da Sociedade;
i) a convidar pessoas de suas relações para
Art. 99 O Quadro de Honra da Sociedade visitar a Sociedade e assistir às suas reuniões, sob
abrange os Presidentes, Vice-Presidentcs e Sócios as condições que o Regulamento estabelecer;
de Honra. ;) a receber, gratuitamente, um exemplar da
Parágrafo único. E' atribuição privativa das Revista, dos Estatutos, dos Regulamentos e das Listas
assembléias gerais conceder título de Honra, uma dos Sócios, como adquirir, com cinqüenta por cento
vez preenchidas as formalidades previstas no Rcgu- (50%) de abatimento sobre o preço de venda, uma
lamento. duplicata dos mesmos e um exemplar de cada um3
das publicações que a Sociedade editar;
Art. IO9 O título de Presidente de Honra só
k) a requerer a convocação extraordinária da
poderá ser concedido aos chefes de Estado do Brasil
e de nações estrangeiras c, excepcionalmente, às assembléia e do Conselho Diretor da Sociedade, de
acordo com o que estabelecerem os Estatutos;
personalidades que, por extraordinários serviços
prestados à Sociedade ou à Geografia, se façam /) a apelar, em grau de recurso, para as as-
merecedores de tão alta distinção. sembléia extraordinária, das decisões do Conselho
Parágrafo único. O número de Presidentes de Diretor, e para este das da Diretoria e das Comis-
Honra será de cinco. soes.

Art. II9 O título de Vice-Presidente de Honra Art. 159 O Sócio Efetivo, bem como o de
da Sociedade será concedido a personalidade, do Honra e o Benemérito que gozam dos direitos da-
país e do estrangeiro, que tenham prestado rclc- quêle, têm, além das prerrogativas previstas no ar-
vantes serviços à Sociedade ou à Geografia. tigo anterior, as de ;
Parágrafo único. O número de Vice-Presidentes a) ser eleito para os cargos do Conselho Di-
de Honra será de quinze. retor, da Diretoria e do Conselho Fiscal;
Art. 129 O título de Sócio de Honra será b) propor a admissão e a exclusão de Só-
concedido a pessoas eminentes, do país e do estran- cios.
geiro que, pelos seus estudos c trabalhos, ou meri-
tórios serviços prestados à Geografia ou à Socie- Dever es dos Sócios
dade, se façam merecedores dessa distinção.
Parágrafo único. O número de Sócios de Honra Art. 169 São deveres de todo Sócio ;
será de trinta, correspondendo vinte e dois a bra-
sileiros e oito a estrangeiros. a) cumprir o que dispõem os Estatutos, o
Art. 139 Por alta conveniência, reconhecida Regulamento e os Regimentos da Sociedade, bem
como acatar e executar as decisões dos seus órgãos
por quatro quintos (4/5) dos votos expressos em
assembléia geral, a Sociedade poderá conceder ti- diretores e deliberativos;
tulos de Honra além dos limites respectivamente b) prestar à Sociedade não só o esforço da
fixados nos parágrafos dos artigos anteriores. sua inteligência e saber, como também a sua assis-
Parágrafo único. Excepcionalmente, por idên- tência moral e cooperação o maior prestígio e pro-
tico motivo e sob as mesmas condições, a Sociedade gresso da Sociedade;
poderá conceder títulos de Honra a personalidades c) aceitar os encargos e comissões para que
de alto relevo intelectual ou científico, ou que te- fôr eleito ou designado e desempenhá-los com dedi-
nham prestado assinalados serviços ao Brasil. cação;
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*HMB»
142 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

d) assistir com assiduidade às reuniões da So- II — reformar o Regulamento;


ciedade;
III — Fixar o dia de suas reuniões e convocar
e) oferecer à Biblioteca da Sociedade as obras as extraordinárias;
de sua autoria;
/) denunciar à Diretoria o uso ilícito do título IV — convocar, para os efeitos do § Io do Ar-
ou do distintivo de Sócio. tigo 1-1-, assembléias extraordinárias:
V ~~ propor à assembléia geral a exclusão de
§ l9 Do Sócio Correspondente, são ainda de- Sócios na conformidade do previsto no
veres : Regulamento, bem como a destituição de
qualquer função eletiva, nos casos previstos
a) velar, onde esteja, pelo prestígio e progres- no Art. 67 destes Estatutos;
so da Socidedae;
VI — dar parecer, para o respectivo encami-
b) remeter à Sociedade informações de quanto
aconteça, relativamente às atividades geográficas, no nhamento à primeira assembléia ordiná-
ria de cada ano, sobre :
país, Estado, Território, Município ou Cidade onde
reside, bem como as publicações que interessem à
Geografia; a) o anteprojeto de orçamento de despesa;
c) indicar nomes de pessoas idôneas para o b) o anteprojeto de programa básico cultural;
Quadro Social, como Correspondente; c) o relatório da Diretoria e o balancete fi-
d) propugnar pela fundação de uma Sociedade nanceiro;
de Geografia na região em que reside; d) as propostas de concessão de Títulos de
e) entrar em relações com as Sociedades de Honras e prêmios;
Geografia e connêneres ou afins, existentes no e) os pareceres e propostas das Comissões que,
Estado, Território ou Cidade em que residirpaís, e, a seu juízo, ou de acordo com os Estatutos, devam
caso oportuno, solicitar credenciais a fim de estabe- ser sancionados por assembléia geral.
lecer mais íntimo contacto e intercâmbio cultural
entre a Sociedade e aquelas instituições. VII — Designar :
§ T E' dever do Sócio Contribuiente pagar a) os Sócios que devam preencher as vagas
regularmente as respectivas contribuições.
que se verificarem no Conselho Diretor, Diretoria,
Comissões e Conselho Fiscal, nos casos previstos
CAPÍTULO III nos § § 2* e 3* do Art. 54;
b) as Comissões Organizadoras dos Congres-
DA ORGANIZAÇÃO sos Brasileiros de Geografia;
c) os representantes e delegados;
Diretoria
d) os Sócios Efetivos, dentre os Titulares;
Art. 17* A Sociedade é dirigida e adminis-
trada por uma Diretoria, composta de um Presidente VIII — Resolver a respeito :
um 1<\ um 2* e um 3* Vice-Presidentes, um Secre-
tário-Geral, um P e um 29 Secretários, um Tesou- a) dos proietos elaborados pelas Comissões ou
reiro e ura Bibliotecário. sugeridos pela Diretoria ou qualquer dos seus mem-
bros e Sócios;
Parágrafo único. O Regulamento fixar-lhe-á as
atribuições bem como as de cada um dos seus com- b) da admissão de Sócios, tendo
por base o
ponentes. parecer da Comissão de Admissão e Exclusão;
c) dos casos omissos;
Art. 189 Ao deixarem o exercício de suas
funções, os Presidentes passarão, automaticamente, IX Encomendar às Comissões
os estudos que
para o Conselho Diretor, na qualidade de «Mem~ julgar convenientes, examinar os respec-
bros Vitalícios». tivos relatórios e trabalhos, bem como
convidá-las a participar das reuniões do
Conselho Diretor Conselho para esclarecimento de assun-
tos pendentes de sua decisão;
Art. 19* O Conselho Diretor é constituído X conhecer dos recursos dos Sócios
contra
pelos ex-Presidentes da Sociedade, na qualidade de as decisões da Diretoria e das Comissões;
Vitalícios, pela Diretoria, e
por doze membros elei- XI completar ou alterar o
tos dentre os Sócios Efetivos e aqueles programa básico
aos .direitos e prerrogativas destes. que gozam cultural;
XII determinar os Bancos com
os quais a
Art. 20' São atribuições do Conselho
retor: Di- Sociedade deva realizar os seus negócios
e onde depositar os seus títulos e valores;
i ~ velar pela fiel observância da legislação XIII baixar, modificar e interpretar o Regula-
em vigor (no que concerne à Sociedade), mento e os Regimentos internos;
dos Estatutos, do Regulamento, dos Re- XIV desdobrar as Comissões;
gimentos e decisões adotadas pelos órgãos XV —' fixar, aumentar ou reduzir o número
competentes; dos
membros das Comissões;
OS NOVOS ESTATUTOS
143
XVI — rever trienalmente o regime de jóias c Parágrafo único. As Comissões Organizadoras
contribuições, remissões e doações; dos Congressos Brasileiros de Geografia
serão de-
XVII — tomar iniciativas c providências tendente- signadas pelo Conselho Diretor.
tes ao maior prestigio e eficiência cultural
da Sociedade.
Conselho Fiscal
Art. 21ç Para o exercício de suas atribuições, Art. 28° O Conselho Fiscal compõem-se
o Conselho Diretor reunir-se-á : seis membros eleitos na forma estabelecida de
estatutos, sendo três efetivos e três suplentes. pelos
I — uma vez ao mês, no dia e hora por êle
fixados; Art. 29* São atribuições do Conselho
Fiscal:
II — extraordinariamente : a) examinar permanentemente a
gestão finan-
ceira da Sociedade e os livros de Contabilidade
a) por própria decisão; inventario, para o que os órgãos competentes e
b) por solicitação da Diretoria ou de qualquer obrigados a conceder-lhe todas as facilidades; estão
das Comissões, por intermédio da Diretoria; b) dar parecer sobre o balanço anual e rela-
c) a requerimento de qualquer Sócio, para tono do Tesoureiro, para sua apresentação
conhecer, em grau de recurso, de decisões da Di- selno Diretor e à primeira assembléia ao Con-
de cada ano; ordinária
retoria ou das Comissões, caso em que, deverá
reunir-se dentro dos dez (10) dias que se seguirem c) emitir parecer, quando solictado
ao da entrega do requerimento ao Secretário-Geral. selho Diretor, Diretoria ou Comissão de pelo Con-
Finanças,
sobre assuntos relativos às finanças da Sociedade;
Art. 229 O Conselho Diretor só poderá deli- d) assitir, quando solicitado, às sessões do
berar com a presença da maioria absoluta dos seus Conselho Diretor, e da Comissão de Finanças,
membros. esclarecer a orientação dos mesmos; para
Art. 239 Os membros das Comissões poderão c) solicitar a reunião da Comissão de Finanças
intervir nos debates, sem direito a voto. para tratar de assuntos que digam respeito à situação
Art. 249 Os Sócios têm direito a assistir à financeira da Sociedade;
sessões do Conselho Diretor, sem poderem, entre- /) convocar, cx-oliicio, assembléia extraordi-
tanto, intervir nos debates nem votar. nana para conhecimento de exorbitância na
financeira da Sociedade, por parte de gestão
Parágrafo único. Excetuam-se os casos : toridade. qualquer au-

a) de recursos, em que o Sócio requerente Art. 30° O Conselho Fiscal reunir-se-á, re-
poderá fazer uso da palavra; gularmente, uma vez por trimestre e, extraordinária-
b) de processo; mente, quando convocado por dois dos seus membros
c) quando, por iniciativa do Presidente, lhe ou por solicitação do Conselho Diretor, Diretoria
fôr concedida. ou Comissão de Finanças.

Art. 259 Ao Conselho Diretor assiste o di-


reito de reunir-se era sessões secretas; a tais sessões Finanças
só poderão assistir as pessoas a êle estranhas, Art. 319 A constituição dos Fundos da Socie-
forem convidadas. que
dade e a aplicação dos mesmos obedecerão às se-
Parágrafo único. As atas dessas sessões se- guintes normas ;
rão lançadas em livro especial.
<— O Fundo Social é constituído;
Comissões
a) pelos bens móveis e imóveis que a So-
Art. 269 Com caráter permanente, funciona- ciedade possui e venha a possuir;
rão as seguintes Comissões : b) pela Biblioteca, Mapoteca e Museu;
Técnica, c) por títulos e ações;
Cultural, d) pelas doações que lhe foram feitas.
de Prêmios,
de Admissão e Exclusão de Sócios, II — As doações, em dinheiro, dos Sócios Be-
de Quadros de Honra e de Beneméritos, neméritos e as remissões são destinadas ao Fundo
de Finanças, Social, uma vez transformadas em títulos ou ações;
de Publicações. III — Os fundos especiais, inalienáveis e de
aplicação determinada, são constituídos pelas rendas
Parágrafo único. Os respectivos Regimentos que lhe forem atribuídas e pelas doações que, para
fixarão as atribuições das Comissões e as modali- fins especificados, forem feitas à Sociedade, como
dades para a sua constituição. para instituições de prêmios, concursos, aquisições,
etc;
¦

Art. 279 As Comissões poderão ser desdobra-


das em outras, de caráter ou temporário, IV <—' Constituem o Fundo de Movimento, des-
a juízo e por decisão do permanente
Conselho Diretor. tinado a ocorrer às despesas orçamentárias :
¦

1 44 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

a) as subvenções que os Governos Federal, Art. 349 Para que as assembléias gerais pos-
dos Estados ou Territórios, instituições ou parti- sam instalar-se e deliberar, em primeira convocação,
culares lhe concederem; é indispensável a presença de quarenta sócios, pelo
b) as jóias e contribuições dos Sócios; menos.
c) os juros e dividendos dos títulos e ações; § l9 Em segunda convocações, ressalvada a
exigência prevista no § l9 do Art. 42 a assembléia
d) o resultado dos inquéritos geográficos e
consultas; poderá instalar-se e deliberar com a presença de
quinze Sócios, sem contar os membros da Diretoria,
e) o resultado da venda de publicações; ficando anulada a convocação no caso de não reunir
/) as doações não especificadas; esse número de Sócios.
g) as entradas não previstas. § 29 A primeira e a segunda convocação po-
derão ser feitas para o mesmo dia, com a indicação
*¦— As assembléias podem autorizar a aplica- de que a assembléia se instalará, em virtude da se-
ção das rendas do item IV em despesas extraordi- gunda convocação, uma hora depois da fixada para
nárias; a primeira, certificada a presença de quinze Sócios.
VI <— As rendas da Sociedade, destindas ao Art. 359 A convocação das assembléias gerais
Fundo Social, serão transformadas em títulos do obedecerá aos preceitos da legislação em vigor e
Governo Federal; excepcionalmente, mediante ex- será feita por publicação em três jornais da capital
pressa autorização da assembléia geral, poderão ser e afixada na sede social.
aplicadas em ações de empresa ou companhia ga- Parágrafo único. Em tal publicação será in-
rantida pelo Governo Federal; dicado o caráter da assembléia, que, a juízo da
VII — Para a aquisição, venda ou permuta Diretoria, será pública ou privativa para os Sócios.
de propriedades imóveis ou construção, a assembléia
geral poderá autorizar a Diretoria a aplicar os Assembléias ordinárias
saldos das rendas do item IV e a negociar com m

os títulos e ações da Sociedade, bem como a realizar


operações comerciais e de crédito; Art. 36. Em assembléia ordinária, a Socie-
dade será convocada duas vezes ao ano, a pri-
VIII *— Mediante pareceres da Comissão de meira para o dia 15 de fevereiro e a segunda para
Finanças e do Conselho Diretor, compete à assem- o dia 10 de dezembro.
bléia extraordinária determinar o Banco com o qual Art. 37. São atribuições das assembléias or-
a Sociedade deve ter negócios, onde abrir conta dinárias :
corrente, depositar os seus títulos e ações, e que
deva se encarregar do recebimento dos respectivos — Leitura, discussão e votação ;
juros e dividendos;
IX — As finanças dos Congressos Brasileiros a) dos relatórios da Diretoria e das Comissões;
de Geografia são autônomas; uma vez terminados b) das exposições dos delegados e represen-
os trabalhos decorrentes da realização de cada Con- tantes, que tenham desempenhado missões especiais ;
gresso, se houver saldo no balanço das respectivas
contas, a Comissão elaborará um plano para sua II —- Resolver a respeito :
aplicação, plano que será executado depois de ser
submetido a exame e aprovado em assembléia geral; a) da concessão dos títulos de Presidente, Vice-
— E' terminantemente proibida a concessão Presidente e Sócio de Honra, tendo em vista os pa-
de empréstimos a terceiros ou a Sócios; receres da Comissão competente e do Conselho
Diretor ;
Art. 329 O orçamento da despesa será orga- b) da instituição e concessão de prêmios, tendo
nizado de acordo com a capacidade da receita, de em vista os pareceres da Comissão competente e
forma que se garanta, tanto quanto possível, um
saldo a reverter para o Fundo Social. do Conselho Diretor.
Parágrafo único. O orçamento da despesa fi- Art. 38. Compete privativamente à assembléia
xará a verba a ser posta à disposição da Diretoria do dia 15 de fevereiro :
para atender às despesas extraordinárias e urgentes
de cada ano. — empossar os eleitos pela assembléia de
10 de dezembro ;
CAPÍTULO IV II — conhecer, discutir e votar;
DAS ASSEMBLÉIAS a) os relatórios anuais da Diretoria e do Con-
reunir-se-á, em assem—
Art. 339 A Sociedade "extraordinárias, selho Fiscal;
bléias gerais, ordinárias e a fim b) o projeto de orçamento das despesas para
de resolver sobre os assuntos que, de acordo com a o ano a iniciar-se.
legislação em vigor e os Estatutos, são de sua ex-
clusiva atribuição. Art. 39. Compete privativamente à assembléia
Parágrafo único. E' privativo das assembléias do dia 10 de dezembro proceder às eleições para
gerais deliberar sobre projetos que importem des- o preenchimento dos cargos do Conselho Diretor,
pesa ou redundem em renda para a Sociedade cora Diretoria, Comissões e Conselho Fiscal que, de
a exceção do previsto no art. 89. acordo com os Estatutos, ficam, normalmente, vagos
OS NOVOS ESTATUTOS 145

cada ano, e a fixação do projeto de programa bá- § 49 A requerimento assinado por vinte Só-
sico cultural, a ser desenvolvido durante o ano cios, para :
social.
a) tratar de assuntos de importância para a
Assembléia extraordinárias Sociedade, inclusive reforma ou interpretação dos
Estatutos;
Art. 40. Em assembléias extraordinárias a So- b) conhecimento, exame e decisão, em grau de
ciedade reunir-se-á todas as vezes que, convocadas, recurso relativamente a decisões do Conselho Di-
como previsto nos Estatutos, houver assunto im- retor.
portante ou urgente, cujo exame ou solução de-
penda do seu pronunciamento. Art. 42. Do requerimento, assinado por vinte
Sócios, deverão constar pormenorizadamente, as ra-
Art. 41. As assembléias extraordinárias pode- zões da convocação e as matérias a serem sub-
rão ser convocadas por iniciativa do Conselho Di- metidas à decisão da assembléia ;
retor, da Diretoria, do Conselho Fiscal ou a reque-
rimento de vinte Sócios. § l9 A assembléia, assim convocada, só pode
§ l9 Por decisão do Conselho Diretor, para : instalar-se e deliberar com a presença dos vinte re-
querentes, tanto em primeira como em segunda con-
*— reforma ou interpretação dos Estatutos; vocação, observado o disposto no Art. 34 e seus
II — autorizar despesas não previstas no orça- parágrafos ;
mento; § 2V A inobservância ou não ocorrência das
III — exame, discussão e votação de projetos exigências previstas importará a anulação do re-
de caráter técnico, cultural ou administrativo, cuja querimento ;
execução, ex-vi dos Estatutos ou a juízo do Con- § 39 A nenhum Sócio assiste o direito de assi-
selho Diretor, depende de pronunciamento de assem- nar mais de dois requerimentos de convocação de
bléia geral; assembléia durante o ano social, ainda quando
IV — institutição de prêmios, quando tal pro- ocorrer o caso previsto no parágrafo anterior ;
vidência requerer urgência ;
§ 49 Se a Diretoria não convocar a assem-
— resolver a respeito da exclusão de Sócios bléia dentro dos quinzes dias que seguirem ao da
e da destituição de funções eletivas : entrega do requerimento ao Secretário-Geral, ou a
VI <— fixar as bases para os contratos, com- quem suas vezes faça, cabe ao primeiro signatário
promissos ou negciação, bem como para a ge- do requerimento convocá-la.
rência e aplicação dos fundos da Sociedade.

§ 29 Por iniciativa da Diretoria, para : CAPITULO V


— preenchimento, por eleição, das vagas ve-
rificadas no Conselho Diretor, na Diretoria, nas DO MANDATO, DAS ELEIÇÕES, DAS REELEIÇÕES
Comissões e no Conselho Fiscal, conforme o dis- DAS VAGAS
posto no Art. 54 e seu § l9, e dar posse aos
v
"dÊí eleitos; Mandato
II — resolver, quando, por motivo procedente,
-^*
não fôr possível fazê-lo em assembléia ordinária, Art. 43. O mandato de cada um dos mem-
a respeito da concessão; bros do Conselho Diretor, da Diretoria, das Co-
a) de títulos de Presidente, Vice-Presidente missões e do Conselho Fiscal é de três anos.
e Sócios de Honra, dando posse aos respectivos
Titulares ; Eleições
b) de prêmios, procedendo à sua entrega;
Art. 44. Os membros do Conselho Diretor,
iii conhecer : da Diretoria, das Comissões e do Conselho Fiscal
são eleitos pela assembléia ordinária do dia 10 de
a) em grau de recurso, das reclamações dos dezembro e empossados na de 15 de fevereiro.
Sócios contra decisões do Conselho Diretor, resol-
Art. 45. Todos os Sócios podem ser eleitos
vendo a respeito;
para as Comissões.
b) manifestar-se sobre os relatórios técnicos,
Parágrafo único. Para os cargos do Conselho
culturais e financeiros das Comissões e dos dele-
Diretor, da Diretoria e do Conselho Fiscal só po-
gados e representantes, que tenham desempenhado derão ser eleitos os Sócios Efetivos e os que go-
missões ;
zarem dos mesmos direitos e forem brasileiros natos.
IV —' qualquer solenidade ou homenagem que, Art. 46. Somente os Sócios quites e no gozo
extraordinariamente, a Sociedade deva comemorar de suas prerrogativas têm direito a voto.
ou prestar.
Art. 47. O voto é secreto.
§ 39 Por decisão do Conselho Fiscal, para
quando, a seu juízo, ocorrer exorbitância de atri- Art. 48. Serão eleitos os mais votados.
buições na gestão financeira da Sociedade, por Parágrafo único. Em caso de empate, proce-
parte de qualquer autoridade. der-se-á a novo escrutínio.
146 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Art. 49. As eleições dos membros da Diretoria bléia, que deverá proceder às eleições, decidir a
realizar-se-ão por grupo de três, anualmente, obc- respeito da duração c caráter dos mandatos.
decendo à seguinte escala : Parágrafo único. Na ausência da Diretoria,
essa assembléia poderá ser convocada por dez
f Presidente Sócios, obedecendo às regras fixadas nos Estatutos,
l9 grupo ] 39 Vice-Presidcnte mas independentemente das exigências previstas nos
[ 29 Secretário parágrafos do Art. 42.

f 29 Vice-Prcsidente CAPITULO VI
29 grupo ] l9 Secretário
[ Bibliotecário DAS SESSÕES DA SOCIEDADE

l9 Vice-Presidente
Art. 56. A Sociedade reunir-se-á uma vez no
39 grupo Secretário-Geral
Tesoureiro ano, cm Sessão Magna, no dia 25 de fevereiro,
data aniversária de sua fundação.
Art. 50. As eleições dos membros do Con- § l9 Essa sessão terá por fim :
selho Diretor realizar-se-ão por grupos de quatro, a) A comemoração da data;
anualmente, segundo a ordem em que figuram na b) a proclamação e posse dos Presidentes,
lista. Vice-Presidentes e Sócios de Honra, admitidos du-
Art. 51. As Comissões serão eleitas de três rante o ano anterior ;
em três anos. c) entrega dos prêmios outorgados pela So-
ciedade e pelos Congressos Brasileiros de Geografia;
Art. 52. Os membros do Conselho Fiscal se-
rão eleitos, 1 a 1, cada ano, com os respectivos d) o elogio dos Sócios que se tenham distin-
suplentes. guido durante o ano social transato ;
e) a leitura dos nomes dos Sócios admitidos
Reeleições e falecidos durante o ano social transcurso.
Art. 53. Somente por vontade da assembléia, § 29 Essa Sessão Magna será pública e se
expressa por quatro quintos (4/5) dos votos apu' realizará com a presença de qualquer número de
rados, em primeiro escrutínio poderão ser reeleitos Sócios.
os membros : Art. 57. Em sessões ordinárias, a Sociedade
r
"Diretor
i
reunir-se-á mensalmente, em dias previamente fixa-
a) do Conselho ;
dos pela Diretoria, para :
b) da Diretoria, para os mesmos cargos que
exerciam. a) execução do programa básico cultural apro-
vado pela última assembléia ordinária de cada ano;
§ l9 No caso em que o primeiro escrutínio b) posse dos Sócios Beneméritos, Efetivos e
não acuese os quatro quintos 4/5) dos votos apu- Titulares e recepção dos Correspondentes, quando
rados, proceder-se-á ao segundo escrutínio para o de passagem pela capital;
preenchimento do cargo, sendo então, eleito o mais c) comunicação do movimento cadastral dos
votado. Sócios ;
d) louvores e necrológios ;
§ 29 No segundo escrutínio não serão compu-
tados os votos a favor do candidato à reeleição. e) leitura de relatórios e pareceres de caráter
informativo e cultural, elaborados pelas Comissões ;
f) leitura de comunicações dos Sócios Cor-
Vagas respondentes ;
g) exame, enfim, de todos os assuntos que
Art. 54. Toda vaga, verificada no Conselho constituem os objetivos da Sociedade, de que trata
Diretor, Diretoria, Comissões e Conselho Fiscal, o Art. 69, com vistas ao estudo preliminar do Con-
será preenchida por nova eleição, devendo, para selho Diretor.
esse fim, a Diretoria convocar uma assembléia ex-
traordinária para dentro dos trinta dias que se Art. 58. Em sessões extraordinárias, a So-
seguirem àquele em que se deu a vaga. ciedade reunir-se-á todas as vezes que fôr julgado
§ l9 O novo eleito completará o período para necessário a critério da Diretoria.
o qual o fora seu antecessor. Art. 59. As sessões extraordinárias da So-
§ 29 Verificada a vaga depois de dois anos ciedade poderão ser ainda convocadas a requeri-
de exercício das funções, cabe ao Conselho Diretor mento de dez Sócios, com a declaração dos assun-
designar, em sua primeira sessão, o substituto que tos a tratar, dentre os indicados no Art. 57, e
deva completar o período. mediante deferimento da Diretoria.
§ 39 Na hipótese da vaga se verificar depois
de novembro do ano anterior ao em que se deva CAPITULO VII
proceder à eleição para aquele cargo, será consi-
derado como ocorrido depois de dois anos. DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 55. Nocaso de renúncia coletiva do Con- Art. 60. O ano social tem início aos 15 de
selho Diretor, da Diretoria, das Comissões e do fevereiro e termina aos 15 de dezembro.
Conselho Fiscal, ou de qualquer desses órgãos, Art. 61. A Sociedade não entrará em po-
proceder-se-á a novas eleições, competindo à assem- lêmica pela imprensa.
OS NOVOS ESTATUTOS
147

ao
Art. 62. Tanto na sede como cm qualquer (30) seguintes ao da entrega do requerimento
reunião da Sociedade são vedadas discussões de Sccretário-Gcral, só poderá deliberar sobre a ma-
ordem pessoal e de caráter político ou religioso. teria previamente indicada c artigos que lhe forem
correlates.
Art. 63. As decisões dos órgãos deliberativos, Art. 69. Os presentes Estatutos entrarão em
consultivos e executivos serão adotadas por maioria execução, uma vez preenchidas as formalidades exi-
absoluta de votos, isto é, pela metade, mais um, dias de-
gidas pela legislação em vigor e três (3) Oficial.
dos votos expressos. pois de publicados, em extrato, no Diário
Parágrafo único. Excetuam-se as votações
Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1945.
para :
a) a eleição, regulada pelo Art. 48;
b) a reeleição, regulada pelo Art. 53; DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
c) a concessão excepcional de Título de
Honra, regulada pelo Art. 13. A assembléia geral, atendendo ao que dispõe o
Art. 49 dos novos Estatutos, que determina o ro-
Art. 64. O voto será simbólico, nominal ou dízio para as eleições da Diretoria, Conselho Di-
secreto, se assim o decidir a maioria. retor e Conselho Fiscal.
Parágrafo único. Estão execetuados os casos RESOLVE t
são :
previstos nos Estatutos e no Regulamento, que i
a) para eleições e reeleições; A assembléia geral do dia 10 de Dezembro
b) exclusão de Sócios e destituição de fun- de 1946 elegerá :
ções eletivas. l9 terço do
a) oi9 grupo da Diretoria e o
Art. 65. A Diretoria constitui a Mesa das Conselho Diretor por um período de 1 ano ;
assembléias e das sessões da Sociedade e do Con- b) o 29 grupo da Diretoria e o 29 terço do
selho Diretor. Conselho Diretor por um período de 2 anos;
Ui-
§ l9 Excetuam-se as sessões do Conselho c) o 39 grupo da Diretoria e o 39 terço do
retor para os fins visados pelos itens V e X do Conselho Diretor por um período de 3 anos.
Art. 20 e as assembléias convocadas para os ciei-
tos ou em virtude : ii
a) da alínea f do Art. 29. Os três membros do Conselho Fiscal e os três
b) do item V do § l9 do Art. 41. respectivos suplentes serão eleitos : 1 grupo de
c) do Art. 39. dois (Conselheiro e Suplente) por um ano, outro
será presidida
§ 29 Nesses casos a reunião momento, por dois anos e o terceiro por três anos.
pelo Sócio mais antigo, presente
no uma As assembléias gerais de 10 de dezembro de
vez que não seja membro da Diretoria, o qual con- 1947 e 1948 procederão às correspondentes elei-
3 anos
vidará dois outros Sócios para exercerem as fun- ções com o mesmo critério, elegendo por devam
ções de Secretários. e para os postos vagos os Sócios que
Art. 66. Quando ocorrer que uma das datas exercer os referidos mandatos.
fixadas nestes Estatutos para as reuniões das as- IV
sembléias ou sessões da Sociedade venha a coin- da
cidir com domingo, festa ou luto nacional ou As candidaturas à reeleição, que forem apre-
Sociedade, o Presidente transferirá a sua realização, sentadas à assembléia geral de 10 de Dezembro
mandando fazer, em tempo, os correspondentes de 1946, já estarão sujeitas ao disposto no Art. 53
avisos. dos novos Estatutos.
Art. 67. O Sócio eleito para qualquer fun-
ção, que violar flagrantemente os
Estatutos, par- v
da
ticar atos contrários aos interesses ou prestigio A assembléia geral de 10 de Dezembro de 1946
Sociedade, ou que deixar, sem motivo ponderável toi elegerá o Bibliotecário por um período de 1 ano.
e justificado, de exercer as funções para que
eleito, por mais de seis (6) meses consecutivos, do VI
será considerado demissionário para os efeitos
item V do Art. 20 destes Estatutos. O cargo de Orador Oficial será declarado vago
na assembléia geral de 10 de Dezembro de 1946, a
CAPÍTULO VIII menos que o atual titular venha a renunciar antes
desta data, caso em que não será preenchido.
REFORMA ODS ESTATUTOS Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1945.
dia 7 de
Art. 68. Os Estatutos poderão ser reforma- Publicados, cm extrato, no Diário Oficial do
re-
dos por iniciativa do Conselho Diretor ou a março de 1946» página 3342.
querimento de vinte (20) Sócios. _ ser indica-
de
Apresentados ao Cartório do 1» Ofício de Registro
§ l9 Em ambos os casos deverão os funda- Títulos e Documentos, apontados sob o número
de ordem
das as alterações projetadas e aduzidos 110 412 de Protocolo do Livro n<? 4, e
mentos que as aconselham. REGISTRADOS, sob o número de ordem 2 291, no Livro
ser convocada
§ 29 A assembléia, que deverá A,3 do Registro de Pessoas Jurídicas, aos 25 dias
do mês
dentro dos quinze (15) dias que se seguirem ao de Março de 1946.
da decisão do Conselho Diretor ou dos trinta
O NOVO REGULAMENTO

DA DIRETORIA çamento, prestando contas das mesmas ao Conselho


Diretor, à proporção que as fôr efetuando ;
Art. I9 A fim de atender à direção e admi-
/) fixar os dias de suas reuniões ordinárias.
nistração da Sociedade, ex~vi do Art. 17 e res-
pectivo parágrafo único dos Estatutos, a Diretoria Art. 39 Compete ao Presidente :
reunir-se-á uma vez ao mês e, extraordinariamente,
a) presidir, orientar e dirigir os trabalhos das
sempre que o Presidente a convocar.
reuniões da Diretoria e do Conselho Diretor, das
Art. 29 São atribuições da Diretoria : sessões da Sociedade e das assembléias, com ex-
ceção das indicadas no § l9 do Art. 65 dos Es-
a) servir de órgão coordenador das funções tatutos ;
do Conselho Diretor com as das Comissões para
b) suspender as sessões para manter a ordem
todos os assuntos que dependem de estudo destas e o decoro da Sociedade ;
ou de decisão daquele ;
c) aplicar o disposto no Art. 45 e cassar a
b) examinar as propostas dos vários órgãos
da administração e encaminhá-las, uma vez relatadas, palavra a qualquer orador cujos conceitos se façam
inconvenientes;
ao estudo das Comissões ou à decisão do Conselho
Diretor ; d) zelar pela fiel observância dos Estatutos,
Regulamento e decisões aprovadas pelas assem-
c) tomar a iniciativa de todo e qualquer pro- bléias, pelo Conselho Diretor, pela Diretoria e
jeto, idéia, sugestão, medida ou providência ten- pelas Comissões, bem como superintender os tra-
dente à maior eficiência cultural ou prestígio da balhos das Comissões e os vários serviços da So-
Sociedade, para o seu encaminhamento ao estudo ciedade ;
das Comissões ou para exame e decisão do Con-
selho Diretor; e) apresentar à primeira assembléia ordinária
de cada ano, o relatório da Diretoria, sobre as
d) receber e encaminhar às Comissões ou ao atividades da Sociedade, e o da Comissão de Fi-
Conselho Diretor, segundo o caso, acompanhados nanças, acompanhado do parecer do Conselho Fiscal;
ou não de parecer, os projetos e sugestões dos Só-
cios, bem como os requerimentos dos mesmos; í) representar a Sociedade em Juízo e nos
negócios em que se faça mister a presença da
e) presidir as sessões da Sociedade bem como
mesma, como pessoa jurídica, ou delegar poderes;
as assembléias gerais e as reuniões do Conselho
Diretor, com as exceções previstas no § l9 do Ar- g) representar a Sociedade nos atos, vistas,
tigo 65 dos Estatutos ; solenidades e cerimônias a que deva comparecer, ou
designar quem a represente ;
l) convocar extraordinariamente assembléias
gerais e sessões da Sociedade, do Conselho Di- h) entender-se, em nome da Sociedade, com
retor, das Comissões e do Conselho Fiscal; as autoridades e repartições públicas;
g) elaborar, assistida pelas Comissões com- i) corresponder-se em nome da Sociedade, com
petentes, os ante-projetos de orçamento e do pro- os Poderes Públicos e instituições culturais, do
grama básico cultural para o decurso do ano so- país e estrangeiro;
ciai, a fim de serem submetidos ao exame do Con- /') dar as boas-vindas às personalidades que
selho Diretor, para discussão e aprovação pela úl- honrarem a Sociedade com a sua visita ;
tima assembléia ordinária de cada ano; k) designar com a devida antecedência, os
h) coordenar, assistida pelas Comissões, os oradores que devam falar em nome da Sociedade*
elementos necessários à elaboração do seu relatório em sessões solenes, cerimônias ou atos a que a So-
anual; ciedade fôr convidada, para fazer o elogio e o ne-
i) autorizar despesas extraordinárias urgentes crológico dos Sócios desaparecidos, para saudar os
até ao limite fixado na respectiva rubrica do or- Sócios admitidos e para qualquer outro efeito;
O NOVO REGULAMENTO 149

/) assinar, com o Secretário-Geral e o Tesou- Art. 89 Compete ao l9 Secretário :


reiro, os diplomas de Sócios e a correspondência
mais importante; a) substituir o Secretário-Geral em seus im-
pedimentos e ausências ;
m) assinar, com o Tesoureiro, os contratos e b) desempanhar-se das incumbências que lhe
escrituras de ordem comercial, de locação das de- forem atribuídas pelo Presidente e pelo Secretário-
pendências e imóveis da Sociedade, compra e venda Geral;
de títulos de renda, compra e venda de imóveis c) presidir a Comissão de Prêmios.
e os ajustes que a Sociedade houver de fazer, de
acordo com as autorizações de assemblébia geral; Art. 99 Compete ao 29 Secretário :
n) autorizar, ouvida a Comissão competente,
a expedição das certidões que forem requeridas e a) substituir o l9 Secretário em seus impe-
fixar-lhes as jóias ; dimentos e ausências ;
b) desempenhar-se das incumbências que lhe
o) autorizar as despesas previstas no orça- forem atribuídas pelo Presidente e pelo Secretário-
mento ; Geral;
p) contratar e dispensar o pessoal técnico c) presidir a Comissão dos Quadros de Honra
e os empregados da Sociedade, arbitrando-lhes as e Benemerência. ¦ ¦

te--^':N';T':tete-v

respectivas remunerações, de acordo com as auto-


rizações orçamentárias ; Art. 10. Compete ao Tesoureiro :
q) conceder no fim do ano, as gratificações, a) presidir a Comissão de Finanças ;
dentro dos limites autorizados; b) arrecadar e recolher os donativos, remissões
r) exercer, enfim, todas as atividades com- jóias e contribuições de que tratam os Arts. 12, 16,
patíveis com os Estatutos c que tendam ao maior 24, 29 e 30, informando a Diretoria sobre os atrasos
prestígio e progresso da Sociedade. que se verificarem nos respectivos pagamentos e
agindo, quando se apresentar o caso, de acordo
Art. 49 Compete ao l9 Vice-Presidente : com o disposto no Art. 24 ;
c) receber e recolher as rendas da Sociedade;
a) substituir o Presidente cm seus impedi- d) passar, extraindo e assinando, os recibos
mentos c ausência; correspondentes as alíneas b) e c) do presente ar-
b) assumir interinamente a Presidência nos tigo; te:tetetete
casos de renúncia, demissão ou falecimento do Pre- e) ter sob sua guarda e responsabilidade os
sidente ; títulos de renda, escrituras, contratos e demais do-
curríentos relativos à contabilidade e ao patrimônio
c) presidir a Comissão de Admissão e Ex- da Sociedade;
clusão de Sócios.
f) depositar em Banco, determinado pelo Con-
Art. 59 Compete ao 29 Vice-Presidente : selho Diretor, os títulos, fundos c documentos re-
lativos ao patrimônio social, conservando no cofre
a) substituir o l9 Vice-Presidente em seus da Sociedade apenas as somas de aplicação ime-
impedimentos e ausências ; diata;
b) presidir a Comissão Técnica. g) assinar, com o Presidente, os contratos da
Sociedade, e, com este e o Secretário-Geral, os di-
Art. 79 Compete ao Secretário-Geral: plomas dos Sócios;
h) ajustar a compra e venda de títulos, por
a) dirigir os serviços da Secretaria, de redação conta da Sociedade segundo autorização de assem-
das Atas, correspondência, arquivo etc. ; bléia geral;
b) distribuir esses serviços entre os dois Se- t) efetuar os pagamentos devidamente auto-
cretários, fixando-lhes encargos determinados; rizados;
c) assinar, com o Presidente e o Tesoureiro, /) ter sob sua guarda e responsabilidade os
bens móveis e imóveis, da Sociedade, mantendo
os diplomas de Sócios e a correspondência normal em dia os respectivos inventários;
da Sociedade; k) organizar os balanços anuais, demonstra-
d) zelar pela boa ordem, limpeza, bom es- tivos de contas de receita, da despesa e dos fundos
tado dos serviços e conservação dos bens móveis da Sociedade ;
e imóveis da Sociedade, tomando providências de /) manter em dia e em ordem os livros de
caráter urgente, que os mesmos reclamarem, para Contabilidade;
o que poderá fazer uso do crédito que a Diretoria
lhe conceder por conta da verba prevista no pa* m) prestar ao Conselho Diretor, à Diretoria
rágrafo único do Art. 32 dos Estatutos; e ao Conselho Fiscal todas as informações que lhe
forem solicitadas;
e) propor ao Presidente a nomeação e dis-
contra- n) propor ao Presidente a nomeação de um
pensa, bem como a remuneração do pessoal
tado para a Secretaria e serviços da Sociedade; contador habilitado e a designação, soo sua respon-
sabilidade pessoal, de um cobrador, que perceberá,
t) fazer afixar na sede social e publicar na
imprensa os editais de convocação das assembléias pelo trabalho, uma comissão a ser fixada por assem-
bléia geral;
gerais e das reuniões da Sociedade.
150 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
ij

o) manter em dia e ordem os fichados corres- § 1* São condições preferenciais para a pro-
moção :
pondentes a cada uma das categorias de Sócios ;
"Sócio,p) propor á Diretoria a nomeação de um a) os serviços prestados à Sociedade e aos
de sua confiança pessoal, para exercer as Congressos Brasileiros de Geografia;
funções de Secretário da Comissão de Finanças c b) autoria de trabalhos de caráter geográ-
substituí-lo nos seus impedimentos e ausências ; fico;
q) afixar, em lugar determinado da sede da c) assiduidade às reuniões da Sociedade ;
Sociedade, o balanço anual de contas, logo que
aprovado pelo Conselho Fiscal. d) antigüidade ;
0

Art. 11. Compete ao Bibliotecário: § 2V O número de Sócios Efetivos, fica fixado


em 250.
a) presidir a Comissão de Publicações; § 3y A Comissão de Admissão e Exclusão de
b) dirigir os serviços de Biblioteca, Mapoteca Sócios organizará, para ser submetida à escolha c
e Museu, bem como de intercâmbio cultural; eleição do Conselho Diretor, em sua última reunião
de cada ano, a lista dos Sócios Titulares que se
c) ter sob sua guarda e responsabilidade os encontrem em condições de serem promovidos a
.documentos históricos da Sociedade, o selo e as efetivos.
insígnias;
d) manter em dia e ordem os fichados e DOS SÓCIOS TITULARES
catálogos da Biblioteca, Mapoteca e Museu;
e) velar pelo enriquecimento e' conservação da Art. 14. Sócios Titulares são todas as pes-
Biblioteca, Mapoteca è Museu; ; soas a quem os fins da Sociedade possam, direta
. I) organizar e manter em dia a estatística das ou indiretamente, interessar e que mediante o pre-
consultas feitas à Biblioteca e Mapoteca bem como enchimento das formalidades fixadas neste Regu-
das visitas ao Museu; m lamento venham a ser admitidas.
. g) providenciar a encadernação dos livros e Parágrafo único. O número de Sócios Titu-
entelamento dos mapas ; lares fica fixado em 500.
h) organizar e manter em ordem a iconogra- DOS SÓCIOS CORRESPONDENTES
fia, numismática e os arquivos geográficos e his-
tóricos da Sociedade,' bem como os respectivos
iichários ; | Art. 15. Sócios Correspondentes são os que,
i) velar pelo intercâmbio regular de publica- estando nas condições dos Sócios Titulares, não
çpes com as Sociedades congêneres e Repartições podem freqüentar a Sociedade por terem residência,
fora do Distrito Federal e de suas proximidades,
Públicas, nacionais e estrangeiras; no país ou no estrangeiro.
j) propor à Diretoria a nomeação de um Só- Parágrafo único. O número de Sócios Cor-
cio, de sua confiança pessoal, para exercer as fun- respondentes fica fixado em 600.
ções de Bibliotecário auxiliar e substituí-lo em seus
impedimentos e ausências.
DA REMISSÃO

DOS SÓCIOS BENEMÉRETOS Art. 16. Aos Sócios Contribuintes é facultada


a remissão das respectivas contribuições, nas se-
Art. 12. O título- de Sócio Benemérito pode guintes bases :
ser concedido pela Sociedade :
a) as pessoas físicas que, no ato de admissão,
..a) aos; Sócios, que, pertencendo ao Quadro contribuírem com quantia não inferior a Cr$ 3.000,00;
Social, por mais de 10 anos consecutivos, hajam b) as pessoas jurídicas que, no ato de admis-
prestado relevantes serviços à Sociedade ; são, contribuírem com qauntia não inferior a Cr$
b) às pessoas físicas que fizerem donativos 50.000,00;
ou .oferta no valor de Cr$ 10.000,00 ou prestarem c) os Sócios, pessoa física, que contando 5 ou
serviço equivalente; mais anos de antigüidade, contribuírem com Cr$
c) às pessoas jurídicas que fizerem donativos 2.000,00; os que, tendo mais de 10 anos, com
ou oferta no valor M Cr$ 100.000,00 ou prestarem Cr$ 1.000,00 e os que, mais de 15, com Cr$ 500,00;
serviço equivalente d) aos Sócios, pessoas jurídicas, só é facultada
Parágrafo único. O número de Sócios Bene- a remissão na conformidade da letra b) do pre-
méritos é indeterminado. sente artigo.

DA ADMISSÃO
'¦.
-
¦ -DOS SÓCIOS EFETIVOS
Art. 17. A admissão dos Sócios obedece ao
Art. 13. Os Sócios Efetivos são promovidos
dentre ps Titulares, pessoas físicas, que já conta- processo estabelecido neste Regulamento mediante
proposta :
rem 5 anos consecutivos de admissão e que tenham
revelado, em trabalhos, Congressos, Comissões ou a) assinada por 10 Sócios, para Presidente e
no seio da Sociedade, conhecimentos de Geografia, •Vice-Presidente de Honra, Sócios de Honra e Be-
especialmente da brasileira. neméritos;

m
O NOVO REGULAMENTO 151

b) assinada por 5 Sócios, para Titular c Cor- Parágrafo único. O Sócio assim excluído, só
respondente. poderá ser readmitido :

Art. 18. As propostas serão apresentadas em a) como Titular, ainda quando tenha sido
formulários especiais, devidamente preenchidos, assi- Efetivo, mediante nova jóia e o pagamento de uma
nadas pelos proponentes e pelo candidato, que de- anuidade, de acordo com o regime em vigor, a
clarará formalmente a sua aquiescência. título de dívida atrasada;
§ V* Os propostos para Sócios Corrcsponden- b) para as pessoas jurídicas, proporcional-
tes poderão declarar a aquiescência por carta rc- mente às respectivas contribuições.
gistrada, dirigida ao Secretário Geral.
Art. 25. Poderá, igualmente, ser excluído da
§ 29 Estão isentos da formalidade de aquies- Sociedade :
cencia as propostas para Presidente, Vicc-Presidentc
e Sócio de Honra ou Benemérito.
a) o Sócio que, em virtude de sentença passada
Art. 19. As propostas serão remetidas ou en- em julgado, houver sido condenado, em Tribunal
tregues ao Presidente da Comissão de Admissão e brasileiro ou estrangeiro, por crime infamante;
Exclusão de Sócios. b) o Sócio que cometer ato contrário à ética.
Parágrafo único. A Comissão deverá exarar o
seu parecer dentro dos 15 dias que se seguirem ao Art. 26. No caso da alínea a) do artigo pre-
do seu recebimento. cedente, a exclusão será decidida cx-officio pelo
Art. 20. As propostas, com o parecer da Co- Conselho Diretor; e, no caso da letra b), pelo Con-
missão, serão levadas ao exame do Conselho Di- selho Diretor em escrutínio secreto, por dois terços
retor, que se pronunciará em sua sessão imediata. dos seus membros presentes à sessão.
Art. 21. As propostas para Presidente, Vice- § lv. O direito de defesa é assegurado para o
caso da alínea b) .
Presidente e Sócio de Honra aprovadas pelo Con-
selho Diretor, serão submetidas à homologação da § 29. Sócio que não se apresentar, por si ou
próxima assembléia geral. procurador devidamente habilitado, para sustentar
a sua defesa, será julgado à revelia.
Art. 22. Aprovada a proposta, a comunica-
Art. 27. O Sócio excluído perde o direito de
ção ao novo Sócio será feita :
usar o título e o distintivo, cabendo à Sociedade
a) pelo Presidente, quando se tratar de Pre- proceder pelos meios legais, como também exercer
sidente, Vice-Presidente c Sócio de Honra ou Be- a faculdade de representação e de publicação contra
nemérito, com a indicação do dia c hora era que o uso ilícito dos mesmos.
lhe será dada posse solene, quando fôr o caso;
b) pelo Secretário-Geral, que solicitará o pa- Jóias c Contribuições
a fim de se
gamento da jóia c da primeira quota, se tratar de
tornar definitiva a admissão, quando Art. 28. Os Presidentes, Vice-Presidentes e
Sócios Contribuintes ; Sócios de Honra, bem como os Sócios Beneméritos,
c) satisfazer o pagamento da jóia e da pri- Remidos e os Correspondentes estrangeiros, resi-
meira quota, o Presidente mandará lavrar o diploma dentes fora do Brasil estão isentos do pagamento de
cor-
e detedminará a inscrição do Sócio no quadro
respondente; jóias e contribuições.
do Art. 29. A jóia, correspondente ao diploma, é
d) a expedição do diploma c a inscrição
a
Sócio Remido serão feitas logo que efetivada de Cr$ 50,00.
remissão; § R Quando o Sócio Titular é promovido
e) em se tratando de Titular, o Presidente co- a Efetivo, contribui com Cr$ 25,00 para a expedição
municará a sessão cm que será solenemente empos- do novo diploma. w
sado; § 29. Quando o Sócio Correspondente passa
}) ao Correspondente, remeterá o diploma a Titular, contribui com Cr$ 25,00 para a expedição
acompanhado de ofício congratulatório, anunciando do novo diploma.
haver sido empossado.
§ 3*. O Sócio Efetivo ou Titular que, de acôr-
Art. 23. Quando se tratar de promoção a Efe- do com o 5 1? do Art. 34, passa para o quadro
tivo ou de transferência do Quadro dos Correspon- dos Correspondentes, não está sujeito a nova jóia,
dentes para o dos Titulares, serão observadas as como tão pouco ao reingressar no respectivo qua-
mesmas formalidades c exigências. dro, como previsto no § 2Ç do mesmo Art., 34.
Art. 30. As contribuições serão pagas adianta-
DA liXCLUSÃO È READM1SSÃO DE SÓCIOS damente, conforme a seguinte tabela ;

Art. 24. Qualquer Sócio Contribuinte que, ape- Efetivos Cr$


sar de solicitaderpor carta registrada ou diretamente, Por trimestre . 30,00
se atrasar no pagamento de suas contribuições, por Por todo o ano 100,00
Cr$
um ano, receberá do Tesoureiro a notificação de que, Titulares
30.00
Por trimestre
se não liquidar o débito dentro do prazo de 30 dias,
será considerado automaticamente excluído do qua- Pessoa física »• •»
Por todo ò ano ... 100.00
dro social caso não atenda a esse último apelo.
152 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA

Por trimestre 200,00 Beneméritos, têm o direito de voz e voto nas assem-
Pessoa jurídica .. bléias.
Por todo o ano .... 650,00 Art. 37. Os Sócios ausentes da capital ou im-
Correspondentes
15,00 possibilitados de comparecer üs assembléias, bem
Por trimestre como os Correspondentes, residentes no Brasil, po-
Pessoa {ísica .... - derâo dar o seu voto por carta registrada ou
Por todo o ano .... 50,00 entregue, contra recibo, na sede da Sociedade, e
' dirigida ao Secretário-Gcral.
Por trimestre 100,00
Parágrafo único. A fim de assegurar a identi-
Pessoa jurídica .. dade do Sócio e o sigilo do voto, a carta deverá
Por todo o ano .... 350,00
ser assinada e vir acompanhada de um envelope
fechado com o voto dentro e, externamente, bem
Art. 31. Por proposta da Diretoria, ouvida a visível, a inscrição : «ELEIÇÕES».
Comissão de Finanças, cabe ao Conselho Diretor
rever, de 3 em 3 anos, o regime das jóias e contri- Art. 38. Não é permitido o voto por procuração
buições, das doações e remissões, respeitados os ou telegrama.
*
direitos dos atuais Sócios. Art. 39. O Sócio, pessoa jurídica, para votar,
deverá ter registrado na Secretaria da Sociedade,
GENERALIDADES conforme o disposto no Art. 32, o nome da pessoa
física que, para tal efeito, o represente, e só essa
Art. 32. O título de Sócio, em todas as cate- pessoa, devidamente identificada, poderá exercer, cm
gorias, exceto o de «Efetivo», poderá ser atribuído seu nome, o direito de voto.
tanto a pessoas físicas como jurídicas. Art. 40. O Presidente da assembléia designará
§ lç. Para o exercício dos direitos e prerroga- (3) três Sócios para constituírem a Comissão de
tivas de Sócios, as pessoas jurídicas serão repre- Escrutínio, entregando-lhe os votos recebidos por
sentadas por pessoas físicas, por elas indicadas e carta.
devidamente registradas na Secretaria da Sociedade.
§ 2Ç. Em virtude de não serem Sócios, esses COMISSÕES
representantes não poderão ser eleitos nem desem-
penhar missões. Art. 41. Compete às Comissões :
Art. 33. Os Sócios Contribuintes, que passa-
rem para o Qualro de Honra ou receberem o título a) desempenhar-se das funções que, especifica-
de Benemérito, não perderão as prerrogativas inerentes mente lhes cabem e das que lhes forem atribuídas
à respectiva categoria. pelos respectivos Regimentos;
b) elaborar os projetos que, pelos respectivos
§ RO Sócio Efetivo, que passar para o Regimentos, são de sua especialidade e os que lhes
Quadro de Honra ou fôr agraciado com o título forem solicitados pelo Conselho Diretor e pela Di-
de Benemérito, abrirá vaga no Quadro dos Efetivos.
retoria;
§ 2o. O Sócio Titular, pessoa física, que passar c) realizar os estudos que lhes forem enco-
para o Quadro de Honra ou receber o título de mendados pelo Conselho Diretor e pela Diretoria;
Benemérito, adquirirá, por tal motivo, mais uma
qualidade para a promoção a Efetivo. d) dar parecer sobre os assuntos que lhes es-
tão afetos, ou outros que lhes forem pedidos pelo
Art. 34. O Sócio Efetivo ou Titular, que se Conselho Diretor ou pela Diretoria;
retirar do Distrito Federal ou de suas proximidades, e) prestar as informações que, de acordo com
deverá comunicar o fato à Secretaria da Sociedade, o respectivo Regimento, lhes forem requeridas pelo
indicando o endereço e a maneira como deseja Conselho Diretor, Diretoria ou Conselho Fiscal;
satisfazer o pagamento de sua contribuição.
f) colaborar com o Conselho Diretor, a Di-
§ lç. Se a ausência se prolongar por mais de retoria e as outras Comissões para o maior pres-
um ano, será facultado ao Sócio requerer transferên- tígio e progresso da Sociedade e, nesse sentido
cia para a categoria dos Correspondentes. tomar as iniciativas que lhes parecerem oportunas
§ 2e. O Sócio Efetivo que, nessas condições, para submetê-las ao Conselho Diretor ou à Dire-
houver passado para a categoria dos Correspondentes, toria;
terá, no regresso, preferência para a primeira vaga
Art. 42, Cada uma das Comissões :
que se verificar no Quadro de Efetivos.
§ 39. O Sócio Titular, que se encontrar nas a) terá o seu próprio Regimento;
mesmas condições, reverterá, sem outras formalidades, b) compor-se-á de tantos membros quantos
ao Quadro dos Titulares. aconselhar a experiência e exigirem as circuntâncias,
Art. 35. O Sócio Correspondente, que passar a juízo e por decisão do Conselho Diretor;
a residir no Distrito Federal ou em suas proximi- c) terá um Presidente e um Secretário;
dades, entrará para o Quadro dos Titulares. d) poderá sugerir a Diretoria, para encaminha-
mento ao Conselho Diretor, o seu desdobramento
VOTOS E VOTAÇÕES e a modificação do respectivo Regimento;
¦ I
e) reunir-se-á todas as vezes que fôr convo-
Art. 36. Todos os Sócios quites, inclusive os cada pelo Conselho Diretor, pela Diretoria ou pelo
'.que
constituem a mesa, bem como os Honorários e respectivo Presidente;

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O NOVO REGULAMENTO 153
*,

D reunir-sc-á com o Conselho Diretor para Art. 47. Os cursos ou séries de conferências,
esclarecer assuntos que dependam de estudo das que a Sociedade organizar, com caráter de difusão
mesmas ou de decisões ou esclarecimentos do Con- cultural, serão abertos aos Sócios e às pessoas es-
selho. tranhas à Sociedade, mediante inscrição e conforme
ao Regimento que fôr baixado.
ATAS
Art. 48. Só os Sócios quites têm direito a voz
e voto.
Art. 43. Para cada órgão será aberto um livro
de Atas c, para o Conselho Diretor, outro, destinado Parágrafo único. Por «Sócio quite», se entende
às suas reuniões secretas. aquele que não estiver atrasado em mais de seis
(6) meses, no pagamento da respectiva contribuição.
§ l9. De todas as assembléias e sessões da
Sociedade, do Conselho Diretor, da Diretoria, das Art. 49. Com relação à alínea c) do Art. 16,
Comissões e do Conselho Fiscal, serão lavradas ficam ressalvados os direitos dos atuais Sócios,
Atas, cuja leitura, para discussão e votação, será cuja remissão continuará a ser regida pela alínea a)
feita na reunião seguinte a cada uma correspondente. do Art. 39 dos Estatutos aprovados pela assem-
bléia geral de 25 de julho de 1940.
§ V. Os livros de Atas serão rubricados :
Art. 50. Com relação aos Arts. 29, 30 e 31,
a) os das Assembléias, pelo Secrctário-Geral; ficam ressalvados os direitos dos atuais Sócios, cujas
b) os do Conselho Diretor, pelo l9 Secretário; contribuições e jóias continuarão sob o regime es-
c) os da Diretoria, pelo 2V Secretário; tabelecido nos Estatutos vigentes na época de sua
admissão.
d) os do Conselho Fiscal, pelo Tesoureiro.
Parágrafo único. Por «atuais Sócios» se en-
tende aqueles que já pertenciam à Sociedade e se
ORDENS DO DIA encontravam quites na data em que o presente Re-
gulamento entrar em vigor; e, futuramente, para os
Art. 44. O Secretário-GeraL de acordo com efeitos dos Arts. de 28 a 31, por ocasião das sub-
seqüentes revisões, ressalvados, sempre, os direitos
a Diretoria, organizará a Ordem do Dia das assem- dos Sócios anteriormente admitidos.
bléias, das sessões da Sociedade c do Conselho Di-
retor. Art. 51. A expressão «Sócio» refere-se às pes-
soas de ambos os sexos.
Parágrafo único. Além do disposto no Art. 35
dos Estatutos, o anúncio de convocação e a Ordem Art. 52. Por «assiduidade» se entende a fre-
do Dia das assembléias, das sessões da Sociedade e qüência a (5) cinco reuniões, pelo menos, da Socie-
do Conselho Diretor serão afixadas em lugar deter- dade durante o ano social.
minado, na sede social, durante os três (3) dias
que precederem ao da respectiva reunião. VIGÊNCIA E REFORMA DO REGULAMENTO

Art. 53. O presente Regulamento poderá ser


DISPOSIÇÕES GERAIS revisto e reformado por iniciativa da Diretoria ou
a requerimento de 20 Sócios.
Art. 45. A urbanidade é preceito social; ao § l9. Em ambos os casos deverão ser indi-
Sócio que desacatar qualquer autoridade pública ou cadas as reformas ou modificações projetadas e
da Sociedade, que perturbar a ordem ou se tornar aduzidos os fundamentos que as aconselham.
inconveniente, poderá o Presidente chamar a atenção, § 29. O Conselho Diretor, que deverá ser con-
cassar-lhe a palavra, e caso seja necessário, sus- vocado dentro dos 30 dias que se seguirem ao da
pender a sessão. distribuição, pelos Sócios, das modificações a serem
Parágrafo único. O Sócio que reincidir em introduzidas, só poderá deliberar sobre a matéria
forem
tais desordem poderá ser considerado inscurso. na previamente indicada e os artigos que lhe
correlatos.
alínea b) do Art. 25.
Art. 54. O presente Regulamento entrará em
Art. 46. Às reuniões privativas da Sociedade vigor logo depois de aprovado e juntamente com
só poderão assistir pessoas estranhas quando convi- os novos Estatutos.
dadas por algum Sócio, caso em que devem este
apresentá-las a um dos Diretores antes da sessão. Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1945.

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