— DA
CARLOS DOMINGUES
TOMO MU — 194(3
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Basílic de Magalhães —r Os novo? Territórios! J ^V- 3
Sâladino de Gusmão,— Atncriqua
J. S. da Fonseca,Hermes —"O- Barão âg Rio-BirnndO^v^fcJL ...... • ^\. y
L. M. de Burros Fouvniev — Qb-advento do hoi ic*ia>.. ^rtk ?V 20
Gerson de Macedo Soares -^ O papel da marinha d&^que^a JbrasHeira na
segunda guerra mundial ... .) . frri. f ...7\><A.\..:.. 33
João Ribcieo Mendes *~ Instruções de: Aléxaridrç RodriyuosNPefrcira plkfã a
viagem filosófica ^rfT^c.6,,.... À . • 7TX< ^O 46
]. S. dar Fonseca Hermes — Como íoíffundida a Sociedade de Geogr 53
X Congresso Brasileiro de Geografia^Í]/^|;jl\.\. .. aX. \. 57
"Prêmio fltóri • * • <<¦
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Discurso Me "posse do Dr. Valério -Caldas Magalhães «
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CONSELHO DIRETOR
COMISSÃO DE CONTAS
Dr. Alberto Couto Fernandes
General Heliodoro de Miranda
Dr. Randolfo Fernandes das Chagas
fev
Dr. José Joaquim da Trindade Filho
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
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REV STA
DA
CARLOS DOMINGUES
TOMO LIII-1946
ÍNDICE 3
I Basílio de Magalhães — Os novos Territórios ?
Saladino de Gusmão — Àmeriqua 9
— do Rio-branco 2Q
/. S. da Fonseca Hermes —O Barão "'i
I M de Barros Foumier O advento do homem... • • ' ''':' na ^
- O papel da marinha de guerra brasileira
Gerson te Macedo Soares
' 'Àiexancire
de' Regues' Ferreira' para ^
João RlbeirMenf^pSL 'foi' 'a
S. daVrWcaHe°rmeaS - Como fundada Sociedade de Geografia..... 53
J. •. - • •• ?{
Conqresso Brasileiro de Geografia •
X"Prêmio
- Medalhas outorgadas pelo X Congresso "
José Boiteux"
Curso de aperfeiçoamento para Professores secundários "da 'a^
79
%
"de '
MenTagem Validade' do instituía de" Esiudos' Geográfico;
DA REPÚBLICA 54 — SOB.
PRAÇA
BRASIL
RIO DE JANEIRO
OS NOVOS TERRITÓRIOS
BASÍLIO DE MAGALHÃES,
Sócio Efetivo
estradas aproxima-
e o do Visconde (depois conde e marquês) província e sua rede de
de Paraná, terminado sob a presidência do riam do oceano mais de 100.000 habitantes
Marquês (depois Duque) de Caxias (6 de do norte de Minas, facilitariam o roteamen-
setembro de 1853 a 4 de maio de 1857) fo- to de extensíssimas matas e dariam um porto
ram criadas: a Província do Amazonas, for- de mar e uma grande parte da província (de
mada pela antiga comarca de São José do Minas), que não pode continuar em toda a
Rio Negro, desmembrada do Grã-Pará (lei sua vasta extensão, dependente da Alfânde-
de 5 de fevereiro de 1850), e a Província do ga do Rio de Janeiro».
Paraná, formada pela antiga comarca de Ainda antes do ocaso da monarquia,
Curitiba, desmembrada da terra dos bandei- um político paulista Joaquim Floriano de Go-
rantes (lei de 29 de agosto de 1853). Esta dói, que colocava o civismo acima do bair-
última bem pudera ter sido logo batizada rismo e tinha o mesmo espírito pragmático
com o lindo e sugestivo nome de Araucária dos intrépidos conquistadores do sertão dos
làndia que lhe deu depois em livro recente quais descendia, levantou verdadeira
celeu-
o sábio e filólogo F. Hoehne, cujo cérebro ma na imprensa do país por motivo do pro-
aninha uma alma de poeta. do Império,
jeto, que apresentou ao Senado
área des-
Foi pena que não se houvesse converti- para que, formada por uma extensa
do em realidade, no mesmo ano em que se membrada de São Paulo e Minas Gerais, se
criou a Província do Paraná, o projeto do criasse a Província do Rio Sapucaí. A tena-
egrégio maranhense Cândido Mendes de cidade e dialética, que pôs de manifesto em
su-
Almeida, que planejou a criação de uma pro- prol da sua relevante e indeslembrável
três se-
víncia, com a denominação de Oiapóquia, a gestão acham-se comprovadas pelos
cerca
qual teria a capital em'Macapá, entre os rios guintes escritos (dois dos quais com
Nhamundá e Amazonas, o oceano Atlântico de 300 páginas cada um), que deu sucessiva-
e os limites setentrionais do Império. O ilus- mente a lume: A Província do Rio Sapucaí
tre brasileiro, vinte anos depois, ainda con- — Ao jornalista da Província de São Paulo,
tinuava na defesa de sua feliz sugestão lem- adversário da criação da mesma» (Rio,
brando, todavia, mais sonoro nome para 1883), Projeto de lei para a criação da Pro-
aquele novo sub-organismo administrativo, víncia do Rio Sapucaí, (Rio, 1887), e A Pro-
como se vê da bem fundamentada monogra- víncia do Rio Sapucaí e o jornalismo da pro-
fia (hoje bastante rara), que publicou então. víncia de S. Paulo, (Rio, 1888) .
- Pinzônia ou elevação do território se- A Suíça brasileira, finalmente, logo após
tentrionál da província do Grã-Pará, a cate* o advento da primeira República, esteve a
goria de província, com a mesma denomina- pique de ser dividida em duas porções, de-
ção (Rio, 1873). nominadas Minas do Norte e Minas do Sul
No malogrado movimento, cujo berço foi a
Seguiu-se-lhe a iniciativa do grande li- cidade de Campanha estiveram envolvidos
beral mineiro, cuja memória ficou perpetua- alguns dos mais insignes filhos da terra do
da na cidade que êle fundou com o nome de Tiradentes.
Filadélfia (hoje Teófilo Otoni) quando o
seu dinamismo de excelso visionário o arrojou Estou certo de que todos quantos acom-
à audaciosa bandeira de meados do século panharam a minha atividade parlamentar (e
XIX, qual foi a empresa de Mucuri, Chris- entre esses figurou o atual timoneiro supremo
tiano Otoni, seu digno irmão, na Biografia do Brasil) atestarão haver eu cogitado ex-
de Teófilo Otoni (página 29), assim narra clusivamente dos problemas vitais da marcha
o episódio: — «Fez nascer e tornou pratica- ascencional da nossa nacionalidade, porquan-
vel uma idéia política, aceita pelo Marquês to dos vários projetos que apresentei e dos
de Paraná, advogada por vários deputados, do índio e do negro, não fez mais do que
mui bem acolhida pelas populações a quem muitos discursos que proferi nos dois triê-
interessava, e para resumir tudo em uma nios de 1923 a 1928, nenhum teve por mira
só palavra, medida de vantagem intuitiva. interesses pessoais, de ordinário subalternos,
Tratava-se de criar uma nova província con- mesquinhos e inconfessáveis. E isso é que
(tendo a comarca do Jequitinhonha e parte me coage a esta manifestação de inequívoco
das do Serro e São Francisco, em Minas, a aplauso ao Sr. Getúlio Vargas, pelos patrió-
de São Mateus, no Espírito Santo, e as de ticos Decretos-leis de 13 e 14 de outubro do
Caravelas e Porto Seguro, na Bahia» A nova ano em curso.
OS NOVOS TERRITÓRIOS
de «Sertão» pelos nossos cronistas e da bra- devem fazer pelo nosso país o respectivo
vura do paulista Domingos Jorge Velho, no comércio de trânsito e pelo modo que aca-
final do século XVII, desde muito que de^ bo de indicar, serão dentro em pouco exclu-
veriam ter sido entregues não a título pre- sivos fregueses do parque industrial bra-
cario mas definitivamente, ao governo da- sileiro.
quele Estado, a fim de serem imediatamen- Em nossa imensa e privilegiada terra, a
te divididas em lotes e convenientemente co- marcha da civilização obedeceu, como em
Ionizadas. E assim também deveria proce- toda parte, à «lei do menor esforço». O ele-
der-se com a do Chumbo, em Minas Gerais, mento colonizador procedente da Península
e com algumas outras em idênticas condi- Ibérica e tirando o suor e sangue do lombo
ções, como ainda com as áreas enormes, de do índio e do negro, não fêz mais do que
todo abandonadas, das antigas colônias e «andar arranhando a orla altântica, a exem-
presídios militares.
pio dos caranguejos», como bem observou,
O Sr. Getúlio Vargas, si se resolver a por essas ou con-símiles palavras, o nosso
pôr por obra essa excelente medida, certa- primeiro historiógrafo, frei Vicente do Sal-
mente tornará extensiva a tais bens a dis- vador.
posição do artigo 15 e respectivo parágrafo, Aos paulistas — que conquistaram a
constantes do decreto-lei que dispôs sobre
a organização e administração dos cinco ter- vastíssima região do ouro de betas e vieiros
ritórios recém*criados, Desejo que o decreto- (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás), de-
lei n<? 893, de 27 de novembro de 1938, traga pois dê haverem descoberto e povoado a do
ouro de lavagam (Paraná e Santa Catarina),
para o nosso país os mesmos salutares re- e pela caça ao índio, terem avassalado os rin-
sultados daquele modelo de sabedoria poli-
tico-[urídico, qual foi a lei n? 601 de 18 de cões meridionais, já fora da linha de Tor-
desillas (Rio Grande do Sul). — coube a
setembro de 1850 (a chamada «lei de ter-
ras»). primazia da expansão não-longitudinal, que,
pela aplicação do uti~possidetis ao tratado de
Permita-se-me todavia acrescentar que Madrid de 1750, devido ao gênio e ao pátrio-
ainda uma providência não menos importante tismo de Alexandre de Gusmão, deu origem
resta a ser tomada pelo governo do Brasil, ao grande Brasil de oito e meio milhões de
para a defesa dos seus mais altos interesses quilômetros quadrados do qual nos orgu-
nessa parte do continente colombiano. lhamos.
Não é somente pela criação de territó- Os novos territórios determinados pelos
rios que o Brasil cuidará melhor de suas Decretos-leis de 13-14 do mês há pouco findo
fronteiras e cimentará a sua hegemonia na hão de, sem dúvida, exercer imprescindível
América do Sul. Cabe ainda a nossa pátria
papel de baluartes da nossa extensa zona
a solução de um magno problema, benfazejo fronteiriça e de sentinelas-avançadas da ei-
a todos os aspectos por que seja considerado: vilização brasileira, na sua avante e fecun-
desinsular o Paraguai e a Bolívia (as úni- da «marcha para o oeste».
cas nações não-marítimas desta porção me- De par com a carência de instinto gre-
ridional do Novo Mundo), e subtraí-las ao
açambarcamento platino, o que o Brasil só gário, falta-me o hábito da lisonja. Mas,
virá a alcançar mediante uma estrada de fer- pelo que acabo de compridamente expor, não
ro (qual a Noroeste) que ligue Assunción podia eu fugir à obrigação moral desta es-
a Santos ou a São Francisco do Sul e pontânea e pública expressão do meu louvor
que, ao atual guieiro dos destinos do Brasil, pela
conjugada, ou não, com a fácil via fluvial oportunidade, sabedoria e critério com que
do Paraguai, atinja, pelo menos, a Santa solucionou um dos mais difíceis e urgentes
Cruz de Ia Sierra. Os dois aludidos
povos problemas da nossa evolução política.
O achado de documentos da Idade Mé- tales Nicarágua, notável pelo ouro que en-
dia, trancados durante séculos nos arquivos cerra em seu seio e privilegiada situação,
secretos, vem revelando que, antes da aven- intermedia aos grandes mares Atlântico e
tura consciente de Christovam Colombo, Pacífico, descortinados duma mesma posi-
o velho continente reencontrado já era visi- ção.
tado pelos europeus. O mapa de Ptolomeu : Christovam Colombo teria permaneci-
— Orbis typus universalis juxta hydrogra* do, de 16 a 24 de Setembro de 1502, na ai-
phorum depicta, Lyon, 1599, segundo se lê deia Cariai (ou Cariay), situada em praia
no Dr. Girgois, regista o nome de Amerri- próxima, calafetando suas embarcações e,
QUA pelo qual era conhecida a comprida fai- então, recebido as caravanas que desciam das
xa de terra, que veiu a ser considerada Novo encostas trazendo ouro para trocar por des-
Mundo. valorizadas quinquilharias européias. Os cro-
Amerriqua é termo maya, puro, o idio- nistas do descobrimento chamaram a esses
ma desse povo valoroso que se espalhou por vendedores — «Homens dos espelhos de ou~
todo o setentrião e desceu até o Panamá. Ori- ro», porque desse metal eram os que traziam
ginàriamente Amerriskin, significa «Terra em troca, os colares, os brincos, os artelhos
dos ventos fortes» ou «País onde o vento e as pulseiras.
sopra com força». Outros lhe dão o signifi- Seduzidos pela riqueza, teriam deserta-
cado de «Terra do Sol brilhante», querendo do alguns marinheiros da expedição, inter-
acentuar a natureza da região ensolarada,, nando-se no desconhecido. Depois de nove
que reflete em chispas o ouro espalhado pelo meses de ansiedade de seus companheiros,
solo. apresentaram-se na ilha Hispanhiola os de no-
Leplongeon, profundo conhecedor dos mes Fiesco e Mendez, fazendo maravilhosas
velhos idiomas americanos diz que a termi- narrativas de Amerriqua. A notícia foi le-
nação ique, ic, ike, comumente encontrada vada para a Europa nos fins de 1503; a fama
nos nomes de lugares dos tempos indianos da das riquezas divulgou-se imediatamente, des-
América Central, significa elevado, grande, pertando ambições.
proeminente. O continente foi batizado oficialmente
Esta notícia foi fornecida por Jules com seu próprio nome Amerrique ou Ame-
Marcou, em publicação feita no Boletim da rica, no ano de 1507, por indicações do clé-
Sociedade de Geografia de Paris, Junho de rigo, poeta e editor Jean Basin, editor do li-
1875 e parece a mais aceitável, pela justifi- vro de Martinus Hylacomylos (Waldzee
cação que ampara. * Müller) intitulado Cosmographie intro-
ductio Inauper Quaatuor Amereci Ves-
O grande navegador Alonso de Ho- pucci Navigationes, S. Deodatus, 1507. Êle
JEDA, na célebre viagem de 1499, que assi- foi o primeiro a imprimir em Saint Dié, Vos-
nala seu desembarque no cabo Santa Maria ges, France, os prenomes Amerige e Ame-
de Ia Consolación, tendo entrado em contacto ricus.
com os naturais da costa da Cumará, teria O cosmógrafo ter-se-ia deixado influir
ouvido o nome de Amerriqua, Amerrica ou pelas jaetâncias de Emerigo Vespuch, já a
mesmo America, então dado a todo o con- esse tempo modificado para Américo Ves-
tinente, pois que eles não tinham noção da pucci, levadas em correspondência epistolar,
medida de extensão. nos anos de 1502, 1503, e 1504 para René ii,
Em verdade o nome Amerriqua provém Duque de Lorraine et Du Bar; Lorenzo di
de uma pequena serra da cadeia dos Andes, Píer, Francesco di Medici; Hercules de
entre Jarigalpa e Libertad, província de Chon- ste, Duque de Ferrara e ao gonfaloneiro
8 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Soderini. A região ocidental, que veio a ser moriais com o nome de Brasil e anunciado
o Novo Mundo, foi assinalada como «Terra como uma das muitas ilhas errantes, que ate-
de Américo», em vez de «Terra de América», morizavam os navegadores.
A não ser o Diário de Navegação de
que deveria ser.
O Diário de Navegação de Alonso de Hojeda, nem um outro documento oficial foi
Hojeda (1499), consigna entre as pessoas encontrado, que registrasse sua passagem
que se achavam a bordo a de nome Amerigo pelo Novo Mundo; seus incalculados desço-
Vespuch, que nas célebres cartas dirigidas brimentos e desembarques não passaram de
aos seus amigos, assinou-se Alberigo na de jactâncias!... Examinadas suas cartas, de
1503 e Emerigo na de 1504. Também se lhe que aliás só existem cópias e cujos originais
atribuem os nomes: Amerigo, Morigo, Al- não foram encontrados, o almirante lusitano
merigo e Aberigo; nem um deles oferece Gago Coutinho encontrou erros crassos de
raís para o nome America. Geografia e Cosmografia, denotando abso-
Tirar o nome de America de qualquer luta falta de conhecimentos dessas ciências
dos nomes que se atribui o florentino, teria- levando o Dr. Duarte Leite, professor das
mos, então, Emerijia ou Amerijia, Ameri- disciplinas na Universidade de Coimbra, a
gonia ou Morijia; por outro lado, a regra considerar o florentino como — astrônomo
tem sido aproveitar o sobrenome e não o pre- improvizado e charlatão.
nome. Humboldt, a princípio seu grande entu-
Emerigo Vespuch teria ensaiado suas siasta, por fim reconheceu:
jactâncias nas rodas de Sevilha, no ano de «... peZa sua jaetância, pelas suas
1502, depois vasadas em missivas a amigos mentiras interessantes, fez com que o ho~
de Itália, dizendo de si mesmo; Navigandi mem obscuro, criado do Duque de Lor**
disciplina magis collebam que omnes naueieri raine, chamado Waldzee Müller, bati*
totus orbisl Em carta de 3 de Setembro desse zasse por Terra de Américo na sua Geo-
ano e desse lugar, Rondinelli ridicularizou a grafia. Pela jaetância manifestada em
impostura ... seus escritos, infelizmente chamou sõ-
A princípio, agente comercial em Se- bre si próprio mais do que merecia, a
vilha, dos Mediei, de Florença, passou de- atenção da posteridade!»
pois a servir o rico armador Gianotto Be- D'Avezac, sem dúvida o maior pane-
rardi, cuja confiança lhe valeu ser escolhido
gerista de Vespuch, não hesitou em admitir
para seu testamenteiro. No interesse do es-
«... não serem isentas de inexactidões
pólio, teria viajado até as Antilhas no ano de
1497, quando ouviria narrativas dos desço- suas narrativas».
brimentos, despertando-lhe ambições e a co- A tentativa de Bandini, Canovai e Ber-
ragem de ser êmulo de Christovam Colom- tolozzi, escritores italianos dos fins do
BO/ ' XVIII século, não teve sucesso, pretendendo
Bem cedo foi conhecida sua audácia; já arrancar de Colombo a glória que lhe é tri-
no ano de 1508 a Geografia de Ptolomeu butada.
assinalou as viagens dos portugueses ao lon- John Lubock em «Notes on Rio de Ja~
go da costa oriental americana, como se vê neiro and the southern parts of Brazil, Lon-
no mapa de Rhuysch que a acompanha e dres, 1820, atribuindo a origem do termo
que a designa por «Terra Santa Crucis sive America a Maricá, em inglês pronunciado
Mundus Novus». No ano de 1520, o globo Mérica e Constâncio em sua História do
de Shoner designa-a por América vel Bra* Brasil, atribuindo a Amerigaia, terra muito
silia sive Papagaia Terra. A verdade é que remota, de ultramar, não têm razão. A opi-
o continente era conhecido desde épocas ime- nião de Jules Marcou está bem apoiada.
J. S- DA FONSECA HERMES
'1.° Vice-Presidente
A Sociedade compareceu, por via de Dos bancos escolares e universitários saíra ri-
sonho e altaneiro, acolhendo, despreocupado, os pri-
Comissões especialmente nomeadas, a todas meiros afagos da lisonja e dos triunfos fáceis.
as comemorações e solenidades organizadas Efêmeros e variantes iam sendo os seus postos
e
pelo Ministério das Relações Exteriores e responsabilidades, como que a provar um pouco
resolveu, ainda, dedicar o Tomo LII da nossa de tudo, fosse para tentear a vocação, fosse para
Revista, correspondente a 1945, ano do cen- constituir-se em herdeiro e continuador das tradi-
ções familiares, posto que seu Pai o destinava, à
tenário do seu nascimento, exclusivamente política.
ao Barão do Rio Branco. Faz um passeio à Europa aos 22 anos. No
. Reproduzimos, na íntegra, a conferência ano seguinte ocupa, por três meses e interinamente,
a cátedra de Corografia e História no Colégio Pe-
do Ministro Fonseca Hermes : dro II (de 23 de Abril a 18 de Julho de 1868);
interinamente exerce, logo depois e por 49 dias
A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
(de 24 de Dezembro de 1868 a 12 de Fevereiro de
reune-se hoje, não para prestar uma homenagem 1869), a magistratura, como Promotor Público da
ao Barão do Rio Branco, seu Presidente de Hon- então Comarca de Nova Friburgo. Na qualidade
ra, mas para cumprir o estrito e elevado dever de secretário particular, acompanha o seu pai quando,
de reverenciar, uma vez mais, a memória daquele em Missão Especial e como Ministro dos Negócios
que, com mão firme, sábia e prudente, traçou o Estrangeiros, vai ao Rio da Prata e ao Paraguai
gigantesco perfil do nosso país.
para ajustar com os Aliados U Argentina e Uruguai
Ao referir-me ao gigantesco perfil do nosso — a instalação de um Governo nacional paraguaia
país fi-lo de mente objetiva, porque não quis refe- em Assunção, três meses escassos (de 1 de Fevereiro
rir-me apenas à vasta moldura que enquadra a sobe- a 25 de Abril de 1869); logo a seguir acompanha
rania nacional, por êle reconstituída em toda a novamente o Visconde, na Missão Especial que
sua grandeza e intangibilidade. volta às Repúblicas do Sul para negociar as bases
O gigantesco perfil do nosso país, que Rio do Tratado de Paz com o Paraguai, essa viagem
Branco delineou e fixou, não se adstringe tão dura 4 meses (de 12 de Outubro de 1869 a 20 de
somente à fisionomia geográfica, expressão prima- Fevereiro de 1870). Deputado Nacional pela Pro-
ria, por isso que material, da nacionalidade bra- víncia de Mato Grosso, de 1869 a 1875, apenas se
sileira. interessou, quiçá por injunção paterna, pela questão
Desde o dia em que assumiu a direção do Mi- do ventre livre.
nistério das Relações Exteriores, Rio Branco teve, Apesar das formas exteriores, que revestiam
frente à realidade, a noção exata do que era o a política no Império, formas calcadas no parla-
Brasil, que êle conhecia de longe, através dos mentarismo britânico, e de salutares efeitos no que
profundos estudos que vinha realizando, da história se refere à educação, preparação, tirocínio, tradição
e da geografia pátrias. e herança familiar para a formação de uma escola
A concepção que o Barão teve do que o Brasil política e constituição de uma elite de parlamenta-
res e estadistas, sistema que tanto brilho emprestou
podia e devia ser começou, talvez, por um sonho ao regime monárquico, o Brasil oferecia o contraste
longínquo, indefinível, irrealizável, em sua imagi-
nação povoada das sensações do que o Brasil fora, da grande ilustração de uma pequena escol e de um
do que o Brasil havia de ser, para se traduzir nos parlamentarismo elegante e culto ao lado do obs-
anseios permanentes, que moveram os seus atos, ten- curantismo a dominar quase todo o resto do País.
dentes, todos, ao fortalecimento da nacionalidade, José Maria da Silva Paranhos Júnior, como
pelo maior prestígio e exaltação dos potenciais, que a ressentir-se da verdade de uma situação falsa,
latentes ou esmorecidos, que, em construtora ativi- teria percebido a necessidade de fugir ao destino
dade, formam o todo harmônico de uma verdadeira que lhe era imposto e aos fulgores dos reflexos pa-
Nação. ternos para se criar uma personalidade própria e
autônoma, fora do clima político, que tanto o teria
Do âmbito desordenado, que reinou sempre nos desiludido, para se dedicar inteiramente à vocação
seus gabinetes de trabalho, é dado inferir o tumul-
tuar incessante e multiforme daquele espírito privi- por que se sentia irresistivelmente atraído.
legiado em busca constante de encaminhamento e Procura obter um posto no estrangeiro, pleiteia
solução para os problemas em que se debatia o o Consulado em Liverpool, mas o austero Imperante,
Brasil e que êle queria, com ânimo decidido e cau- conhecedor de alguns aspectos de sua vida privada,
teloso, sem ambições pessoais, fossem resolvidos recusa-se a acceder aos prementes pedidos que, nesse
integralmente para que o Brasil adquirisse a estatura sentido, lhe endereçavam personalidades as mais in-
moral e material indispensável para que defensor, fluentes.
efetivo e cioso, se fizesse do vasto império territorial Aproveitando-se da ausência de Pedro II, os
cuja guarda o destino lhe confiara. amigos de Paranhos Júnior açodem à Princesa Regen-
te, que logo o nomeia para o ambicionado cargo
(27 de maio de 1876).
Rio Branco não pretendeu o Consulado de Li-
verpool para exercer as burocráticas funções de
Aos 31 anos de idade, vivera já Rio Branco agente comercial, notário ou despachante de navios,
todas as gamas da ilusão, da realidade e do de- por isso que tais encargos bem longe estavam de
sengano. sua cerebração e mais ainda de suas cogitações.
Embriagara-se de orgulho e vaidade aos pri- Era um pretexto para viver na Europa, um
meiros triunfos da juventude alerta e esperançosa. emprego para atender à sua subsistência, uma sinc
O BARÃO DO RIO BRANCO 11
cura que viria facilitar a realização de sua verda- Grave foi a responsabilidade daquele
deira e única ambição: ~ as buscas nos arquivos que, em
tão feliz hora, soube e pôde impor ao Governo o
e bibliotecas, a História c a Geografia. nome do desconhecido Jucá Paranhos.
Bem haja esse destino que, algumas vezes,
guia Poucos, bem poucos eram aqueles que, no Brasil,
tortuosamente os passos de certos homens
conduzi-los mais diretamente ao pináculo para sabiam dos estudos, dos trabalhos e das verdadeiras
que lhes ocupações de Rio Branco, que lhe conheciam os
estava, desde sempre, assinalado.
Mais tarde (20 de Junho de 1891) solicita ou pendores e a dedicação de pesquisador, que tinham
entrado cm contacto com a sua inteligência
aceita, do Ministério da Agricultura, a aparente- legiada, com a sua magnífica cerebração. privi-
mente absurda comissão de Superintendente Geral
do Serviço de Emigração na Europa, com sede em E não seriam, por certo, suas obras de caráter
Paris, continuando titular do Consulado em Liver- burocrático, como o relatório sobre o comércio e
pool. a navegação pelo porto de Liverpool, nem sobre a
Um escrúpulo, talvez; queria justificar suas Exposição de São Petersburgo, até onde fora a
pas-
constantes e prolongadas ausências do seio, como Delegado do Brasil, em 1884, como tão
posto, acau-
telar-se ainda, quem sabe?, contra os pouco a sua colaboração anônima ou sob pseudo-
possíveis e nimo na «Grande Encyclopédie», de Emile Le-
prováveis reparos dos republicanos ortodoxos. Barão,
monarquista, exilado voluntário, alvo vasseur, em «Esquisse de 1'Histoire du Brésil», ou
grande
as investidas dos puritanos ou dos candidatos para na monografia «Dom PedroII, Empereur du Brésil»,
síveis ao ambicionado posto que detinha. po^- assinada por Benjamin Mossé, ou as Efemérides, e
Foi na Europa, exercendo, esporádica e fugaz- muito menos os seus trabalhos de juventude
que
mente, as funções de Cônsul em Liverpool, poderiam justificar, no meio brasileiro, aos olhos
Kio Branco pôde freqüentar detidamente, que do Governo, em toda a sua vastidão, os conheci-
pesquisar mentos profundos e particularíssimos
e esmiuçar os armários e as estantes da Torre que Rio Bran-
Tombo, do Arquivo de Simancas, da Biblioteca
do co tinha dos antecedentes do litígio com a "Repú-
Na- blica Argentina.
cional de Paris e da de Lisboa, em sua Seção
Ul-
tramanna, onde foi encontrando messes «O Barão do Rio Branco, pode-se dizer, era
de documentos e cartas geográficas, preciosas
gue ia estu- até ontem mais conhecido em nosso país
dando e anotando, reproduzindo ou copiando pelo refle-
com xo do nome paterno do que pelo que êle mesmo
o vago intuito de escrever, um dia, a mais já tinha feito. O laudo do Presidente Cleveland é
vasta,
completa e erudita História do nosso que o veio colocar na primeira fila dos nossos ho-
país.
O destino que, tantas vêzest mens^ públicos», escrevia o Jornal do Comércio, em
com os ho- "Gazetilha"
mens, umas para bem, outras para joga mal, em sua ine- sua do dia 9 de Fevereiro de 1895, pela
xoravcl e absurda cegueira, no
que se refere a Rio pena, talvez, de Joaquim Nabuco.
Branco, fez com que o curso de sua vida mudasse Ao falecer repentinamente,
de rumo ferindo de morte o Barão Aguiar em Washington,
d'An- Aguiar d'Andrada, faltavam menos de cinco meses
drada.
para a entrega, ao Árbitro, da Exposição e dos do-
A pena de Rio Branco não chegou a escrever a cumentos por parte dos Advogados de ambos os
História do Brasil com que ele sonhara, litigantes.
o destino queria que a sua inteligência, a sua porque
cul- Rio Branco não ignorava tal circunstância e,
tura e o seu patriotismo inscrevessem na História
as mais belas páginas da vida ao aceitar a responsabilidade da defesa dos direi-
pacífica e pacifica- tos do Brasil, sabia que contava com a desconfian-
dora do Brasil.
ça de uns e a má vontade de outros. Sentia ainda
Páginas que o Brasil de hoje contempla,
o Brasil de ontem escreveu e o de amanhã lera que que em jogo estavam e entre suas mãos o prestígio
e a integridade da Pátria; e pressentia a repercussão
com orgulho e desvanecimento,
porque nelas estão que a derrota teria sobre a memória, para êle sa-
inscritas vitórias sem guerra, vitórias sem cortejo
de viúvas, de órfãos, de luto, de dores, de lágrimas, grada, do seu Pai.
nem destruições, vitórias As pesquisas, os estudos e os trabalhos,
que não criaram irredentis- lizara, levaram-no à certeza de que que rea-
mos, nem anseios de despique, vitórias ganharia a causa
caram a confiança, consagraram o direito, que intensifi- do Brasil.
cultua-
ram a justiça, vitórias
que tiveram por guias a E' a mesma «Gazetilha» do «Jornal do Comer-
razão e a inteligência e
por escopo a paz e a con- cio», se bem post facta, que o afirma :
córdia.
«Em uma memória que tinha escrito, baseava
a nossa causa sobre fundamentos diversos dos até
então justificada. Mesmo que êle puzesse, como
sabemos que se ofereceu a fazê-lo, todo o seu con-
A 5 de Abril de 1893 Rio Branco é nomeado, curso^ e o seu arquivo particular ao serviço da
com surpresa geral, para substituir Aguiar dAn- Missão Especial, quem nos diz que outro advogado
drada na Chefia da Missão Especial que preparava compreenderia, o nosso direito como êle e se
em Washington, a defesa dos direitos do Brasil taria a apresentá-lo nos mesmo termos? pres-
no litígio com a República Argentina.
Para êle a difícil questão não encerrava incóg-
Quem teria indicado o nome desse desconhe- nita alguma, ao chamado do Governo estava
cido? desse vago Cônsul em Liverpool que, ao mes- pre-
parado para tratá-la com o conhecimento profundo
mo tempo, superintendia, em Paris, a corrente emi-
que dela tinha, como de fato tem de todas as outras
gratória para o Brasil? questões brasileiras de caráter histórico».
12 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
acima de
E' êle mesmo quem nô-lo confirma, pelo depoi- qual, Mapa, o rio limite estava colocado
outro o Uruguai-Pitán, no certificado solene, exarado
» {
suscitado, contra o Brasil Império, na América rcpu- «Diz que os monarquistas, que hoje dão batalha
blicana. à República, neste terreno, por duas vezes estive-
Pela orientação que Rio Branco imprimiu à de- ram a ponto de fazer a transação. Afirma que
fesa dos direitos do Brasil ao território de Palmas, todos os conselheiros de Estado, que hoje o negam,
o Barão, mirabilc dictu, deu novo rumo à diplo- opinaram pela transação e que o Sr. Rodrigo Silva
macia brasileira, isto é, desprendeu-sc dos moldes teve até dia marcado para ir a Buenos Aires assinar
seguidos no Império, para reduzir o litígio a uma o tratado que dividia o território com grave detri-
questão puramente técnica, a ser esclarecida em face mento do Brasil, porque abria mão de zona habita-
de argumentos positivos, fundados em documentos da por brasileiros.
históricos e geográficos. «O Imperador era manifestamente favorável à
À fina argúcia de Zeballos não escapara, por transação, tanto que o Sr. Moreno (Ministro da
certo, o fator psicológico. Argentina no Brasil), levou a Buenos Aires uma
Seguro estava, o inteligente advogado argen- proposta feita pelo Sr. Rebouças que estaria hoje
transformada em tratado se não fosse a revolução».
tino, de que o Barão Aguiar d'Andrada, primeiro, e
o Barão do Rio Branco, mais tarde e com mais (Jornal do Comércio) .
fortes razões, derivadas da tradição e da revê- Pela pouca confiança que o Brasil tinha nos
rência filial, não deixariam de seguir as normas e seus direitos ao território cm litígio, os seus esta-
os métodos, a política e a diplomacia que o Impe- distas eram levados a se apoiar na habilidade di-
rio havia consolidado e que tanto prestígio deram plomática, na fina dialética, na tradição, no uti
ao Brasil durante o decorrer de quase todo o sé- possidetis.
culo XIX. A confiança da República Argentina decorria
Nessa crença, Zeballos sustentou que a rejeição de documentos decisivos, tais como os Tratados de
do Tratado de partilha, por êle assinado em Mon- 1750 e de 1777, as respectivas Instruções para a
tevideu com Quintino Bocaiúva, fora obra da maio- demarcação, o protesto e os depoimentos dos de-
ria monárquica na Câmara republicana dos Depu- marcadores espanhóis, o Mapa das Cortes, a Ata
tados brasileiros, chegando a invocar : e o Diário de Demarcação de 1759, e o silêncio dos
demarcadores portugueses, do Governo de Lisboa e
«El mismo partido (monárquico) afirmo que dos historiadores, políticos, diplomatas e técnicos
ei tratado había sido arrancado por ei Gobierno de Portugal e do Brasil, que ladeavam, estes últi-
Argentino, bajo Ia promesa de acudir con ias armas mos, a argumentação argentina.
argentinas á apoyar ei nuevo Gobierno y consolidar O uti possidetis, que sustentávamos, era igual-
ia República». (Mómoria —1892). mente invocado pela Argentina, porque, fixado pelo
e a sustentar: Tratado de 1750, fora confirmado pelo de 1777,
respeitadas as intrusões e conquistas realizadas por
«El asunto viene, pues, ante ei Arbitro con ei ca-
portugueses e brasileiros para além das linhas de
racter de una cuestión eminentemente política entre Tordesilhas e de Saragoça.
tendências tradicionales monárquicas y republicanas
irreconciliables. Nós sustentávamos esse uti possidetis reconhe-
cendo, ao mesmo tempo, a anulação dos Tratados
La Dictadura misma dei Brasil ha tenido que que o haviam proclamado em favor de Portugal.
acreditar ante ei Arbitro representantes dos veces Verdade é que esse uti possidetis, para ser reco-
elegidos, entre Ias personalidades proeminentes dei nhecido pelos Tratados de Madrid e de San Ildefon-
Partido Monárquico, y que continuaron honrando su so, a eles era anterior, como admiràvelmente ficou
tradición política, después de Ia caida dei Império». definido na Conclusão brasileira de n. 4, convindo,
(Exposição) . porém, salientar que foi a argúcia e o talento de
Zeballos contava com essa tradição, porque era Alexandre de Gusmão que o fizeram patente, que
a tradição intrínseca à diplomacia brasileira. levaram o Monarca espanhol a reconhecê-lo nesses
O Tratado Quintino-Zeballos, porém, não podia Tratados:
ter sido rejeitado pela maioria monárquica pelo «O Tratado de 12 de Fevereiro de 1761 anulou
simples fato de que nem minoria organizada tinham, o de 1750, mas não podia anular o fato das posses
na Câmara, os adeptos do regime decaído.
portuguesas, que dele não nascera, porque lhe era
Se os Barões do Império — como Ladário, Ca- anterior, e cuja existência nele fora reconhecida;
panema e outros — combateram o Tratado de Mon- esse fato ficou subsistindo».
tevidéu, que dividia o território litigioso, de lembrar Mas o território sobre o qual devia, no
é que, na Monarquia, várias foram as negociações caso, incidir o direito de posse estava delimitado
levadas a efeito no mesmo sentido e com critério pelos rios do Trtado de 1750, rios que foram con-
ainda mais prejudicial para o Brasil. firmados pelo de 1777.
.Quintino Bocaiúva, Ministro das Relações Ex- Os demarcadores espanhóis de 1788/91 sustenta-
teriores, na sessão secreta do dia 6 de agosto de ram, porém, que os seus colegas de 1758/59 se haviam
1891, em que a Câmara dos Deputados discutiu o equivocado na identificação do rio limite — o Pepirí-
Tratado de 25 de janeiro: Guaçú — pelo qual o Brasil pretendia corresse a divi-
sória.
«Diz que sente não ter a mesma confiança que
outros têm no nosso direito e não sabe como há Varela y Ulloa, Primeiro Comissário espanhol,
quem afirme que êle é claro e positivo. Por
sua sustenta, em 1789, que os demarcadores de 1759
haviam escolhido um rio, que denominaram Pepirí-
parte, declara que tem dúvidas muito profundas.
Se confiasse no nosso direito a ponto de não temer Guaçú, a jusante do Uruguai-Pitán, quando o Mapa
o arbitramento, seria o primeiro a pedir a rejeição do Tratado o coloca a montante deste; eo2? Comis-
do tratado, cuja sorte, entretanto, não o preocupa. sário, Diego de Alvear, alega que o Pepirí-Guaçú era
14 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
conhecido por características bem definidas: rio cau- vos» do Mapa original, chamado «das Cortes», de-
daloso, com uma ilha nemorosa frente à sua boca e senhado em Lisboa no ano de 1749, para orientar a
um grande recife defronte de sua barra. redação do Tratado de Madri e, posteriormente, a
Mais tarde, pelos depoimentos de Jurado, Requena, demarcação, é encontrado no Ministério dos Nego-
Oyarvide, Cabrera, Azara e da própria filha de cios Estrangeiros da França.
Alvear, de Ministros das Relações Exteriores da Alguns desses documentos eram inéditos ou des-
Argentina, de técnicos e escritores argentinos, essas conhecidos, outros haviam sido publicados em parte
características figuravam, segundo alguns, nas pró- ou com incorreções fundamentais.
prias Instruções Regias conseqüentes ao Tratado de Os defensores da pretensão argentina fundavam os
1750, características que correspondiam efetivamente seus direitos, sobre tais documentos, sem que jamais
à foz do Chapecó e não coincidiam com as do Pepirí- os houvessem lido nem visto.
Guaçú.
Ponto por ponto, Rio Branco vai tomando o de-
Acresce que na Ata de Demarcação, de 8 de senrolar das alegações e invocações apresentadas e
Março de 1759, os Comissários Alpoim e Argue-
das reconhecem o Pepirí-Guaçú como rio divisor que acumuladas vinham sendo por mais de um sé-
culo e, uma por uma, em arrazoado suave, analítico e
«sem embargo de se não achar a sua efetiva posição dedutivo, as vai destruindo, pulverizando, todas, tendo
conforme à que se dá no Mapa de Demarcação dado a testemunhar-lhe as afirmações: a solenidade da
pelas duas Cortes», ao mesmo tempo que registravam História e a veracidade da Geografia.
no Diário da Demarcação a diferença de Latitudes,
verificada entre a observada na foz do Pepirí-Guaçú Sob as vistas lisongeadas de Clio e de Urânia,
e a indicada no mesmo Mapa. uma por uma, vão ruindo as invenções e as crenças
O erro, pois, dos demarcadores de 1759, parecia que, em torno aos pedestais da História c da Geogra-
fia, se foram criando para adquirir foros de con-
evidente e por eles próprios ficara registrado em vicção, para, com esse caráter, penetrarem o coração
documento solene.
e o cérebro dos argentinos e de muitos brasileiros.
O direito de posse, portanto, não teria por limite
ex-vi dos Tratados de Madri e de San Ildefonso, o Por isso foi que Rio Branco, certo do que afir-
rio Pepirí ou Pequirí mas o Pepirí-Guazú ou Chapecó. mava, seguro de ganhar a causa que defendia, pôde
dizer, serena e solenemente, ao Árbitro:
Os argumentos e as afirmações hispano-argentinas
nunca haviam sido contestadas, jamais se demonstrara «O Governo argentino estava de boa-fé repetindo
a sua improcedência. o que diziam as Memórias adrede escritas por fun-
Assim é que Quintino Bocaiúva, como Ministro cionários espanhóis, em fins do século passado e
das Relações Exteriores, informado princípio do atual com o fim de confundir esta quês-
pela nossa Chan- tão de limites, de si tão simples».
celaria e por Cabo Frio, houve
por bem confessar Por isso Zeballos, que violentamente retrucara, em
à Câmara, na sessão secreta de 7 de agosto de 1891,
cem anos depois de surgida a controvérsia: Misiones, ao Barão de Capanema, sustentando que
«O árbitro que tiver de julgar a questão há de ler prova outra alguma poderia ser aduzida, que inva-
lidasse os direitos argentinos, houve de confessar,
tudo isto (referia-se aos documentos de uma e outra depois de ler a Exposição de Rio Branco: — haver
Parte) e, no meio das contradições de que está cheio deparado nesse trabalho com provas decisivas, intei-
o histórico da questão, dificilmente poderá formar ramente desconhecidas do Governo argentino, reconhe-
uma opinião decisiva em nosso favor». cendo ainda que, à vista das mesmas, o Árbitro
Esta era a situação de fato, política e diplomática, não podia deixar de dar a decisão que deu em favor
histórica e tradicional, geográfica e do Brasil.
psicológica que
Rio Branco encontra para sustentar direitos
que ja- Por isso Rio Branco sentiu-se feliz ao exclamar,
mais haviam sido esclarecidos.
exibindo a Instrução Regia de 27 de Julho de 1758,
Acresce que, no Brasil, a revolta estava em tão invocada pelos argentinos:
pleno
auge.
«Agora, nesta última e suprema instância do pleito
Só quem conhecesse os arquivos do Brasil e Por-
tugal, da Espanha e França poderia encarar a iniciado há mais de um século, e ultimamente resus-
analisá-la e reduzi-la aos termos exatos dequestão citado, ela aparece para fazer triunfar a causa da
uma verdade e da justiça e vingar a memória dos De-
realidade histórica e geográfica frente à
as marcadores portugueses e espanhóis de 1759».
opiniões, os critérios' a diplomacia e a arte qual
de bem
dizer se nulificariam para ceder o O inesperado triunfo do Brasil empolgou a opinião
passo aos títulos
e aos Mapas, documentos únicos e capazes de resta- pública e a intelectualidade de todo o país. Manifes-
belecer a verdade histórica e geográfica fazendo tações se organizavam, Comissões se constituíam
calar para
e_ desaparecer todos os demais argumentos
e aleqa- preparar calorosa recepção ao vitorioso defensor do
çoes que, neles, não encontrassem apoio e confir- prestígio e da integridade do Brasil, mas o frio e
mação. burocrático agradecimento do Governo deve ter cau-
Foi o que fêz o Barão do Rio Branco. sado profunda decepção no ânimo de Rio Branco,
que não quis vir ao Brasil colher os louros da vitória
Do Arquivo de Simancas extrai o texto espanhol con9uistada e que garantia ao Brasil mais de
das Instruções de 1758, e da Biblioteca de Lisboa ?nrÜn
30.600 quilômetros quadrados de seu território, além
o texto português dessas mesmas Instruções; no Ita- de elevar o seu prestígio no conceito internacional e
marati surge o Diário da Demarcação de 1758/59 perante a justiça mundial, porquanto patente se fize-
em sua versão portuguesa, sendo a espanhola en- ra o direito que o Brasil defendia sobre o território
contrada no Ministério de Assuntos Exteriores de em litígio.
Madri; as Instruções ¦ para a demarcação, decorrentes Um prêmio de elevado alcance foi, entretanto, dado
do Tratado de 1777, são achadas no Arquivo Público a Rio Branco, prêmio que, acima de
do Rio de Janeiro e um dos dois exemplares «primiti- qualquer outro,
deve ter-lhe afagado a patriótica vaidade: o Governo
O BARÃO DO RIO BRANCO 15
encarrega-o (5 de Julho de 1895) de preparar a Casas dos Habsburgos e dos Bourbons, representadas
documentação para a defesa dos direitos do Brasil sô- pelas da Áustria e da França respectivamente.
bre o território do Amapá, que a França nos disputava Luiz XIV pretende para seu netc — Duque d'Anjou
desde muito antes do Tratado de Utrecht. — a coroa de Espanha ao mesmo tempo que sua
Pede, então, Rio Branco demissão (30 de Dezem- diplomacia leva-o a ajustar com a Inglaterra — (3 de
bro de 1895) do cargo de Cônsul em Liverpool para Março de 1700) e com os Países Baixos (25 de
inteiramente se dedicar à nova tarefa, à qual se en- Março) os tratados de partilha da sucessão espa-
trega com a avidez própria aos pesquisadores voca- nhola.
cionais. Morto o Rei de Espanha (l9 de Novembro de
O Tratado entre o Brasil e a França, em virtude 1700) o Duque d'Anjou, em virtude do testamento
do qual o litígio seria submetido ao Juízo arbitrai do imposto por Luiz XIV a Carlos II, é proclamado
Presidente da Confederação Helvética, é de 10 de sucessor integral dos Reinos e direitos da Coroa
Abril de 1897, a troca das ratificações só se verificou, de Castela.
porém, a 6 de Agosto do ano seguinte. Luiz XIV havia fugido aos compromissos assumi-
Só então, a 22 de Novembro, é que Rio Branco dos pela aliança, provocando a reação de quase toda
pode ser nomeado oficialmente Ministro Plenipo- a Europa.
tenciário, em Missão Especial para defender, perante
-*, o Árbitro, os direitos do Brasil. Procura, então, atrair Portugal, vizinho da Es-
Não fora, esta vez, colhido de surpresa como em panha, e transforma em permanente, pelo Tratado
de Lisboa, de 18 de Junho de 1701, a neutralização
1893. do território guianense. No mesmo dia Portugal
A questão entre o Brasil e a França se oferecia ajusta o Tratado de aliança e garantia do testa-
menos complexa que a suscitada pela República Ar- mento de Carlos II, que levara ao trono espanhol
gentina, porquanto o Brasil, como Portugal sustentara o Duque d'Anjou, sob o título de Felipe V.
sempre que o rio limite era, acorde ao Tratado de
Utrecht, o Oiapoque ou Vicente Pinzon, que desem- Os triunfos militares da Áustria na Itália, sobre as
boca no Oceano entre 4 e 5 graus de Latitude Norte armas francesas, acentuam a desvantajosa posição
ao passo que a França fizera do rio divisor um rio de Luiz XIV, agravada logo, Setembro de 1701, pelo
turístico, que se transportava de um para outro lugar tratado de aliança entre a Áustria, a Inglaterra e os
Países-Baixos, cuja resultante é a entrada destes dois
segundo os fins políticos que a França colimava ou
últimos na guerra que a primeira vinha sustentando
conforme o resultado das guerras em que se em-
contra a França.
penhava.
A origem da questão remonta aos meados do século A situação de Portugal torna-se delicada; im-
XVII, com a fundação e falência de várias emprê- possibilitada a França de prestar-lhe os socorros que
sas francesas, que se propunham explorar, na Guiana pedia para a proteção do Brasil, aceita as condições
e no Norte do Brasil, madeiras colorantes e outros favoráveis que os aliados lhe ofereciam; abandona
a França e a 6 de Março de 1703 assina o Tratado
produtos tropicais. de aliança ofensiva e defensiva com a Áustria, a
O primeiro incidente, revelador do espansionismo Inglaterra e os Países-Baixos, em troca da promessa
francês na região amazônica, se verifica a 27 de de todo o território neutralizado.
Junho de 1688, quando Ferrolles invade o território
Terminada a guerra de sucessão espanhola, tiveram
português até ao forte de Santo Antônio, sobre o
Araguarí, exigindo do respectivo comandante aban- início, em Haia, as negociações da paz.
donasse o forte e todo o território guianense, até Até ao último momento, a França insistiu pela
ao Amazonas, sob a alegação de serem aquelas terras partilha do território. Fiéis, porém, à palavra empe-
propriedade do Rei de França. nhada, os aliados apoiaram a pretensão portuguesa.
O direito de Portugal, e, conseqüentemente, do O Tratado assinado em Utrecht, a 11 de Abril de
Brasil datava de 14 de Junho de 1637, quando Felipe 1713, definiu a divisória pelo rio Oiapoque ou Vi-
IV de Espanha e III de Portugal fizera doação a cente Pinzon.
Bento Maciel Parente da Capitania do Norte, que Reza o Artigo 89:
tinha por limite o rio Vicente Pinzon, onde começa-
vam as posses de Castela. «A fim de prevenir toda ocasião de discórdia,
Esse fato é lembrado a Ferrolles com o acréscimo que poderia haver entre os vassalos da Coroa de
de que, por ordem do Governo do Pará, novos fortes França e os da Coroa de Portugal, Sua Majestade
seriam levantados para além do Araguarí. Efetiva- Cristianíssima desistirá para sempre, como presente-
mente, logo depois, os portugueses construíram os de mente desiste por este Tratado pelos termos mais
Macapá (Camaú) e Paru. fortes, e mais autênticos, e com todas as cláusulas que
se requerem, como se elas aqui fossem declaradas,
Os incidentes se repetiam sem maior gravidade, assim em seu nome, como de seus Descendentes, Su-
até que as tropas do já Marquês de Ferrolles e Go-
vernador da Guiana tomam, em 1697, o forte de cessores e Herdeiros, de todo e qualquer direito, e
Macapá. pretensão que pode, ou, poderá ter sobre a proprie-
dade das Terras chamadas do Cabo Norte, e situadas
Portugal protesta energicamente contra tal violên- entre o rio das Amazonas, e o de Oiapoque, ou de
cia, o que levou o Governo francês à assinatura, em Vicente Pinzon, sem reservar, ou reter porção algu-
Lisboa, do Tratado Provisional de 4 de Março de ma das ditas Terras, para que elas sejam possuídas
1700, em virtude do qual o território litigioso era daqui em diante por Sua Majestade Portuguesa, seus
declarado «Provisoriamente neutralizado». Descendentes, Sucessores, e Herdeiros, com todos os
A eventualidade da morte de Carlos II, Rei de direitos de Soberania, Poder absoluto, e inteiro Do-
Espanha, à beira do túmulo e sem herdeiro direto, mínio, como parte de seus Estados, e lhe fiquem
suscitara na Europa ambições dinásticas entre as perpètuamente, sem que Sua Majestade Portuguesa,
16 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
seus Descendentes, Sucessores, e Herdeiros possam Pelo Artigo 79 dêsse ajuste, as declarações de Lucien
Ma- Bonaparte são confirmadas, o limite é fixado pelo
jamais ser perturbados na dita posse por Sua rio Araguarí.
jestade Cristianíssima, seus Descendentes, Sucessores,
e Herdeiros». A paz de Amiens tem pouca duração. Portugal,
Pelo Artigo 99, ficou Portugal livre de reconstruir aliado da Inglaterra, está contra a França.
os fortes do Araguarí e Camaú ou Macapá, que ha- Napoleão impõe a Carlos IV de Espanha o con-
viam sido desmantelados em execução do Tratado de vênio de Fontaineblcau, 27 de Outubro de 1807, pelo
4 de Março de 1700, assim como de construir todos qual Portugal e seu Império colonial seriam partilha-
aqueles que Sua Majestade Portuguesa julgasse con- dos entre a França e a Espanha.
venientes. «Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei
• Pelo Artigo IO9, a França reconheceu a proprie- da Itália, obriga-se a reconhecer e a fazer reconhecer
dade portuguesa sobre as duas margens do Amazo- a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha como
nas e renunciou a qualquer pretensão de navega- Imperador das duas Américas, quando tudo estiver
ção no mesmo rio. preparado para que Sua Majestade possa tomar esse
título, o que poderá ser na paz geral, ou o mais tardar
Já em 1725, porém, começou-se, em Caiena, a prè- dentro de três anos» (Artigo 129) .
tender que o Calsoene, que desemboca na baía de
Vicente Pinzon, era o rio deste nome, a que se referia Portugal seria dividido em três partes: a Lusitânia
o Tratado de Utrecht. setentrional, para o Rei da Etrúria, o Alentejo e os
Algarves seriam dados ao Príncipe da Paz — Godoy
As guerras conseqüentes à Revolução Francesa dão — e a Lusitânia Meridional ficaria para ter destino
início à variação dos limites da Guiana.
quando se fizesse a paz.
As vitórias de Bonaparte forçam Portugal a assi- Nesse mesmo ano, Portugal é invadido por Junot.
nar em Paris, no dia 10 de Agosto de 1797, o Tratado
de Paz e Amizade, em virtude do qual a divisória O Príncipe Regente, com toda a Corte, foge para
« o nome de Vicente Pinzon são transportados para o Brasil, onde, à sua chegada, lança o Manifesto de
o rio Calsoene, cuja boca se encontra cerca de 29 30' l9 de Maio de 1808, declarando nulos os Tratados
de Latitude Norte. que fora compelido a concluir.
Esse Tratado, convém lembrar, não foi ratificado Logo depois, D. João determina uma expedição
por Portugal e, se bem houvesse passado, na França, à Guiana francesa, cuja capital, Caiena, é ocupada
por todos os trâmites de legalização, foi declarado pelos portugueses.
nulo por decreto do Diretório, datado de 26 de Restaurados os Bourbons no trono de São Luís, a
Outubro de 1797. Grã Bretanha assina com a França o Tratado de 30
Portugal seguia a sorte da Inglaterra, assim é que de Maio de 1814, por cujo Artigo 109 se compromete
as vicissitudes da guerra levaram-no a firmar, em a obrigar Portugal a restituir a Guiana por êle ocupa-
Badajoz, o Tratado de 6 de Junho de 1801, pelo qual da, sem limitação alguma, e isso apesar do Acordo
o limite era recuado para o rio Araguarí, que se lança feito no Rio de Janeiro, a 19 de Fevereiro de 1810,
no Oceano abaixo do Cabo Norte, perto das Ilhas pelo qual a mesma Grã Bretanha prometia o restabe-
Nova e da Penitência, ai9 20', mais ou menos, de lecimento das estipulações do Tratado de Utrecht.
Latitude Norte. Reunido o Congresso de Viena, é assinado, a 22
O Primeiro Cônsul recusou aprovação a esse Tra- de Janeiro de 1815, entre o Príncipe Regente e o Rei
tado, que foi substituído pelo assinado em Madri, a Jorge III, um Tratado para a abolição do tráfico
29 de Setembro do mesmo ano, de acordo com o qual de escravos na África, juntamente com três artigos
o limite era fixado pelo rio Carapanatuba, que desem- separados e secretos, em virtude de cujo primeiro
boca no Amazonas, à altura aproximada de 09 20' de Portugal se obrigava a restituir a Guiana à França
Latitude Norte e acima do forte de Macapá. e a Grã-Bretanha, prometia a sua mediação para que
Ambas as Partes ratificam este ajuste. a França reconhecesse o limite do Tratado de Utrecht.
Vencida a Áustria, pacificada a Europa continen- Pelas notas reversais, de 11 e 12 de Maio de 1815,
tal pelo Tratado de Lunéville (9 de Fevereiro de os Plenipotenciários portugueses, Conde de Palmela
1801) Bonaparte podia impor esse Tratado a Portu- e Antônio Saldanha da Gama, e o Plenipotenciário
gal e oferecer a paz à Inglaterra. A l9 de Outubro francês, Príncipe de Taileyrand, concordaram:
os dois grandes rivais, França e Grã-Bretanha, assi-
nam o Tratado preliminar de Paz, acompanhado de l9 a restituição da Guiana à França.
4 Artigos secretos, pelo primeiro dos quais Portugal 29 a fixação da divisória pelo rio Oiapoque, cuja
se obrigava a pagar à República Francesa a soma desembocadura se encontra entre o 49 e o 59 grau de
de quinze milhões de Libras (tournois), a metade em Latitude Norte;
moeda e a outra parte em pedrarias; 39 ser esse o limite que Portugal sempre consi-
Os outros artigos regulavam as modalidades do derou como o fixado pelo Tratado de Utrecht;
pagamento. 49 uma Convenção especial determinará a data da
Em vista desses ajustes, o Plenipotenciário francês, entrega;
Embaixador em Madri, Lucien Bonaparte, no mo-
mento de proceder à troca das ratificações do Tratado 59 logo que fôr possível e amigavelmente, serão
de Madri, comunica ao seu colega de Portugal, que fixados definitivamente os limites das duas Guianas,
o rio limite nas Guianas passaria a ser, novamente, na conformidade do sentido preciso das estipulações
o Araguarí. do Artigo 89 do Tratado de Utrecht.
A 27 de Março de 1802 é assinado, em Amiens, o Finalmente, a 1,° de Junho é assinado a Ata Final
Tratado de Paz entre a França e a República Bátava, do Congresso de Viena, cujos Artigos 106 e 107,
de uma parte, e a Grã-Bretanha, de outra. reproduzindo os compromissos acima referidos, regu-
o barão do rio branco 17
Iam a questão do Amapá nos mesmos termos cm que O segundo triunfo de Rio Branco despertou a cons-
se encontrava consequüentcmente ao Tratado de 1713. ciência nacional; já não cabia à burocracia, a missão
de significar ao vencedor a gratidão de todo o país.
A Convenção prevista no Artigo 107 foi assinada
cm Paris, no dia 28 de Agosto de 1817, determinando O Congresso Nacional reconhece-lhe (31 de De-
o seu Artigo 29: zembro de 1900) o título de «Benemérito Brasileiro»,
concede-lhe uma dotação anual de 24 contos de réis
«a nomeação e a expedição de Comissários para com direito de transmissão aos seus filhos e filhas
fixar definitivamente os limites das Guianas Portu- enquanto viverem e mais o prêmio de 300 contos como
do Arti-
guesa c Francesa conforme o sentido preciso recompensa nacional, pelos relevantes serviços presta-
ao 8." do Tratado de Utrecht c as estipulações da Ata dos nas Missões Especiais de artbitramento de
Final do Congresso de Viena». Washington e Berna. Além disso, nomeado Ministro
Esse acordo não teve execução. Plenipotenciário efetivo, em Berlim, (31 de Dezem-
Essa a situação quando o Brasil se tornou inde- bro de 1900) o Congresso determina que sua antigui-
dade no quadro dos Ministros Plenipotenciários co-
pendente. mece a ser contada do dia 5 de Abril de 1893 d*£ »«
Muito posteriormente a todas as vicissitudes que-
assinalamos, recomeça a surgir a confusão, adrede que fora designado rarcl defender a causa do Brasil
no litígio com <x Argentina.
suscitada pela França, à qual se prestava a dualidade
dos nomes: Oiapoque e Vicente Pinzon, com que era fsJõo fora sua vitória no caso do Amapá, o reco-
indicado o rio limite. nhecimento nacional pelo seu triunfo no pleito com
a Argentina, teria caído no olvido.
O nome de Vicente Pinzon, que o Tratado de
Utrecht ligava ao de Oiapoqu» e que os franceses Rodrigues Alves ia confiar-lhe a direção da nossa
pretenderam atribuir, primeiro, ao Calsoene, por de- política exterior, pelo que, a 12 de Setembro de 1902,
sembocar na baía daquele nome, e, mais tarde, ao é Rio Branco chamado ao Brasil.
Araguarí, servia de base à pretenção francesa para • • •
que os limites corressem por este rio até à sua nas-
cente e, dali, por uma linha paralela ao curso do As vitórias de Rio Branco, nas questões de Palmas
Amazonas, até ao Rio Branco. e do Amapá, consagraram-no geógrafo e historiador,
Os incidentes se sucedem até que, por troca de demonstraram o seu profundo conhecimento das bi-
notas — 5 de Julho c 18 de Dezembro de 1841 — os bliotecas, mapotecas e arquivos europeus e brasileiros,
Governos do Brasil e da França concordam em neu- onde se escondia a mór parte dos episódios e fatos
tralizar o território litigioso. Voltávamos à situação que se relacionavam com a nossa história e geografia.
de 1700. Rio Branco revelou-se pesquisador incansável e ar-
As incursões, os incidentes, protestos e negocia- guto, argumentador sereno, dedutor incisivo de acon-
ções se desenvolvem até que, a 10 de Abril de 1897, tecimentos e textos, leitor perito de cartas e mapas
o Brasil e a França resolvem submeter a contro- antigos, abarcando e reduzindo a conclusões defini-
vérsia ao juízo arbitrai do Presidente da Confe- tivas e sintéticas as mais vastas e intrincadas contro-
deração Helvética. vérsias históricas e geográficas Contatenando argu-
Caetano da Silva havia estudado a questão e, por mentos favoráveis e contrários à própria tese e à do
tão erudita e notável, Rio Branco incorpora à sua adversário, Rio Branco tinha p dom de reduzir todos
defesa a Memória daquele ilustre patrício. os elementos de prova e contra-prova; de um proble-
ma, a uma equação fundamental, da qual as ilações
Rio Branco não deixou argumento, tese, doutrina, defluiam como simples conseqüências lógicas de uma
fosse política, histórica ou geográfica, que não anali-
proposição elementar.
sasse a fundo e à luz de vasta documentação car-
tográfica e de tal maneira convincente e exaustiva Suas frases e demonstrações se uniam, se prolon-
que o Presidente Hauser, impressionado pela verdade gavam e se coordenavam com a mesma clareza dos
e pela justiça de tudo quanto o Barão aduzia, fun- algarismos e sinais em uma fórmula matemática, e
damentou a sua sentença, quase toda, nos fatos e suas conclusões se apresentavam tão patentes como
estudos da defesa brasileira. as determinações das incógnitas.
As vitórias da guerra não devem criar direitos que
ferir possam os princípios da moral.
Para a História, a força só vence quando susten- Como se conduziria o geógrafo, o historiador, o
tada pelo direito. pensador dedutivo e analítico, o argumentador lógico
e matemático, à testa da nossa política internacional?
O tempo e a conciência dos homens acabam
sempre por tornar patente a causa da justiça e da Para logo se lhe depara a questão do Acre.
verdade. Foi no trato de tão intrincado problema que Rio
Foi o que o Barão do Rio Branco demonstrou, foi Branco revelou, em toda a amplitude e profundeza,
o que o Presidente da pequena e grande Suíça a sua intuição clarividente e admiràvelmente rápida no
proclamou, no caso histórico e geográfico da questão apreender, com vigor e certeza, os problemas políticos
do Amapá. e diplomáticos do Brasil e da América.
A coleção de Mapas e Cartas geográficas que Rio É que o geógrafo e o historiador estavam forrados
Branco recolheu e estudou, com esmero, cunho cientí- de todos os atributos do mais penetrante geopolítico.
fico e caráter histórico, para o exame pormenorizado Vinte e seis anos fora do meio brasileiro, ausente
da questão, constitui, hoje, o mais importante acervo do ambiente americano, vivendo, sentindo e pen-
cartográfico que a América possui, fonte preciosa de sando à européia, a Rio Branco se lhe defronta como
pesquisas e uma das Mapotecas mais objetivas, em primeiro problema a resolver, a complexa e delicadis-
seu caráter regional e espeífico. sima questão do Acre, dentro da qual, em torno à
qual se degladiavam interesses internacionais, ambi-
18 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
que a solução do caso acreano apresenta em sua É em 1909 que se apresentam duas graves
projeção, séculos afora, por isso que, com um, crises, uma interna, outra externa, a primeira mo-
se prestou homenagem ao amigo, ao passo que, tivada pela sucessão presidencial, a segunda con-
com o outro, se evitaram atentados futuros à in- seqüente à derrota de Zeballos, pelo escândalo do
tegridade e à soberania de três nações americanas, telegrama n. 9.
vizinhas e amigas.
Rio Branco sempre sentiu a necessidade de asse-
Em todos os setores das nossas fronteiras, Rio
Branco não deixou um só caso a resolver c a todos gurar à orientação da política interna a maior tran-
deu solução amigável c definitiva, justa e em con- qüilidade e firmeza para que nossa diplomacia pu-
desse gozar de todo o prestígio no exterior.
cordância com a verdade histórica e geográfica,
inspirado sempre pelo mais nobre sentimento de Para esse efeito propende, sem definir-se os-
respeito aos nossos c aos direitos dos vizinhos. tensivamente, pela candidatura do Marechal Her-
Barão do Império, monarquista por tradição, mes, afastando a sua própria.
tradicionalista convicto, Rio Branco elevou ao mais O Brasil necessitava paz c segurança dentro
alto grau de eficiência o preceito constitucional do seu território e sobre as suas fronteiras. Em
republicano do arbritamento, ganhando pelo pro- ambos os horizontes condensavam-se nuvens es-
cesso da justiça internacional os litígios com a Ar- curas, que urgia se diluíssem.
gentina e a França e pactuando Tratados e Con- As ameaças internas se reduziram aos motins
venções de Arbritamento com 28 Nações indepen-
da marinhagem de alguns vasos de guerra e dos
dentes.
Rio Branco, como dissemos ao princípio, não soldados do Batalhão Naval, para logo sufocados.
se preocupou apenas em traçar o gigantesco perfil As que promanavam do exterior, se desfizeram
geográfico do nosso país, cuidou, com afán c ad- frente à realidade de uma política sincera, leal,
cifica, civil, desambicionada. pa-
mirável discreção, de todos os problemas correlatos
à nossa política de prestígio c segurança, para que Socegados os espíritos, serenados os ânimos,
o Brasil se tornasse em seguro guardião do vasto dissolvidas, aqui e além, as desconfianças, Rio
império territorial que o destino lhe atribuirá e Branco contempla, feliz, a transformação
que êle, Barão, delineara e fixara com mão segura, que se
ia operando no Brasil com as mais lisongeiras
sábia e prudente.
O serviço militar, na forma gradativa por que prespectivas de paz, progresso, ordem, prestígio
e bem-estar.
o imaginara o Marechal Hermes da Fonseca, en-
controu no apoio de Rio Branco o mais forte sus- Com sua política, Rio Branco impôs à opinião
tentáculo no seio do Governo e na opinião pública. pública do Brasil, da Argentina, da América me-
Para exemplo e estímulo aos demais brasileiros, ridional a convicção de que o Brasil e a Argentina
Rio Branco aconselha ao filho — Raul — seu não iriam à guerra e essa certeza cresceu na cons-
oficial de Gabinete e Primeiro Secretário de Le- ciência de todos com benéficas repercurssões sôbrc
gação, seja um dos primeiros a alistar-se como vo- os demais países da América, e uma disciplina,
juncário. nascida da segurança e da tranquüilidade, da con-
A Marinha deve-lhe, em grande parte, a sua fiança c da paz, se formou na mentalidade do
formidável remodelação com a encomenda dos su- povo brasileiro, disciplina que jamais tivéramos,
percouraçados Minas Gerais e São Paulo, dos disciplina que já se desvaneceu.
Scouts Bahia e Rio-Grandc-do-Sul, dos destroyers,
dos submarinos e do «tender» Ceará. A morte nô-lo arrebata a 10 de Fevereiro de
1912, em pleno apogeu de glórias e de triunfos, de
As estradas de ferro estratégicas, os portos, a carinho e de respeito, na serenidade tranqüila de •
remodelação e o saneamento de cidades, inclusive
da Capital, foram empreendimentos para cuja ini- quem havia feito muito, muito, muito por sua terra,
ciativa, execução e feliz termo Rio Branco con- pela América, pela paz.
correu, modestamente, sem alardes mas decisiva- Que a boa vontade dos homens, que a paz
mente. dos espíritos, que os enlêvos patrióticos, que a
Por inteiro alheiado da política militante, sôbrc desambição e a generosidade, que o bom senso e
ela tinha Rio Branco permanentemente fixos os a inteligência, que o dever e o saber se inspirem
seus olhos, orientando os homens que a dirigiam na memória de Rio Branco para exaurir daqueles
e os jornalistas sem que nenhum deles se aperce- sentimentos, daqueles anseios, daquela fé, daquela
besse de que muitas das suas iniciativas, atitudes confiança, daquela suavidade, daquela sobranceria,
e opiniões lhes haviam sido habilmente insinuadas que foram os apanágios da mentalidade de Rio
pela suavidade penetrante e convincente de Rio Branco, novas forças e novas determinações, para
Branco. que o Brasil se reintegre em si mesmo e retome,
É Rio Branco quem obtém o primeiro Car- altivo e generoso, o seu caminho pela estrada larga
dinalato para a América do Sul. por que Rio Branco o conduziu, um dia, para sua
Ê Rio Branco quem vai buscar Ruy Barbosa maior glória, para o seu maior prestígio, para feli-
para triunfar em Háya. cidade do nosso povo.
O desejo de não fatigar a preclara as- verdade, porque a vida é a soma das vidas
sistência obrigou-me a prescindir comenta- dos milhões de células que figuram na cons-
rios em torno do que se disse e escreveu tituição dos organismos: de acordo com a
sobre a origem do Homem, no decurso dos conclusão de Bichat.
séculos. Do nada, da ausência absoluta de tud.'{:
Os grandes naturalistas, os antropólo- que poderia sair?
gos, os fisiologistas, que atingiram à imorta- Seria necessário conceber-se um nada
lidade pelos esforços dispendidos no sentido criador. ..
da solução do problema cujo interesse aqui
nos reúne, e os curiosos, como eu, que por aí E eu creio em Deus. Num Deus único,
faiscaram, têm aqui o tributo de minha res- que integra em sua personalidade divina to-
dos os atributos máximos da perfeição supre-
peitosa admiração. ma. Infinitamente sábio, porque legislou
Entretanto, as conclusões a que chega- abrangendo o Universo inteiro; e suas leis
ram inspiram novas interrogativas da inte- são eternas, inflexíveis e imutáveis, como o
ligência: próprio Deus. Poderoso, porque tudo dirige
Segundo Virchow, — «toda célula vem e tudo se Lhe subordina. Supremamente coe-
de outra célula preexistente». rente, justo e bom, como Se nos revela na
milagrosa harmonia de Sua obra divina.
E essa célula preexistente, de onde veio?
Poderieis perguntar-me: — -E esse
Segundo Harvey, — «tudo o que vive Deus, de onde veio ?
vem de um ôvo. E esse ôvo original, de onde
terá vindo? E eu responderia: — Se tivesse Ele,
vindo de alguma parte, ou de alguém, essa
LlNNEU, ClIVIER, QUATREFAGES e seus alguma parte, ou esse alguém, seria o Deus,
numerosos discípulos, consideram a espécie
como tipo imutável. E o tipo inicial, de onde porque seria o mais poderoso; donde con-
cluo que Ele sempre existiu e é a própria
terá surgido? Eternidade! Suprema Filosofia da suprema
Lamarck, Darwin, HaeCKEL, Vogt, Verdade!
Huxley e seus não menos numerosos adep- E Deus é Espírito, no conceito dos Evan-
tos, consideram as espécies de organização
superior como oriundas de espécies inferio- gelhos. Os Espíritos são núcleos eletromag-
néticos, com um cérebro de luz. Núcleos que
res diferentes. E subsiste o dilema. têm personalidade própria, adquirida na es-*
Parece-me que, sendo o ôvo uma cé- calada da energia para a perfeição, para a
lula fecunda, se encontrarmos a origem da energia divina. Penetro, pois, na recolhida
célula preexistente, ficaremos mais perto da meditação dos astrônomos e dos crentes, son-
O ADVENTO DO HOMEM 21
Césio e o Alumínio não têm isótopos; mas imenso poder dessa energia, temos flagrante
o Cloro, por exemplo, é constituído por uma testemunho recentíssimo.. .
mistura de isótopos de pesos atômicos 35 e As moléculas ocorrem para a formação
37, e o Brômo dá isótopos de pesos atômicos de todos os corpos e, dentre estes, a dos co-
79 e 81, sendo o Estanho constituído por lóides, que, por sua elasticidade, por sua fie-
uma mistura de, pelo menos, 8 isótopos. xibilidade e por sua permeabilidade, repre-
. . .Recentemente, conseguiu-se obter e utili- sentam os elementos fundamentais e indispen-
zar energia atômica, bombardeando certo isó- sáveis à possibilidade da vida orgânica. Sem
topo do Urânio, com neutrônios. . . .O estu- colóides, não existiriam vegetais, nem ani-
do da radio-atividade, deu-nos também uma mais, nem o Homem, daí sua máxima impor-
noção da idade do globo terrestre. Partin- tância em Biologia.
do-se do fato de que toda a desintegração
Os colóides apresentam as seguintes
do Urânio acaba em Chumbo, através de uma
série de isótopos e outros elementos, (Tório, propriedades :
Rádio, Bismúto), e, conhecendo-sc também a) não atravessam membranas per-
os semi-tempos de desintegração, calcula-se meáveis,
que o nosso planeta deve ter. a partir da b) são insolúveis nágua,
época ern que solidificou-se, uma vida de
entre 1.600 e 3.200 milhões de anos». c) não se cristalizam,
Segundo Epicuro, «o mundo é composto d) concentrados, dão colas ou geléias,
de uma multidão de átomos, dotados de cer- e) morrem, quando coagulados e, coa-
tos movimentos e que se reúnem entre si e guiados não mais revertem ao seu
se combinam uns com outros e não há outra estado coloidal.
coisa no mundo».
Os colóides são misturas de várias subs-
O átomo, em cada espécie mineral e em tâncias, simples e compostas; não são con-
identidade de condições, caracteriza-se pela ceito químico definido, pelo que as fórmu-
invariabilidade de sua massa e pela cons- las atribuídas a esses corpos são apenas apro-
tância de suas propriedades. ximadas. Entre seu estado de sol, isto é,
São conhecidos, hoje, átomos de 92 ele- quando as micélas são pequenas, espalhadas
mentos diferentes e que vão do Hidrogênio na fase dispersa e animadas de movimentos
ao Urânio, cujo peso atômico é de 238,14, permanentes, e o seu estado de gel, isto ê,
numa escala crescente das partículas que os quando as micélas são mais volumosas, em
constituem. Esses átomos são providos de estado de turgência, muito juntas e imóveis,
afinidades recíprocas e se associam para for- existem estados intermediários decorrentes
mar pequeníssimos agregados denominados das reações que se verificam na estrutura ce-
moléculas. Assim associados, distribuem-se lular. Essas reações são, justamente, o ca-
sempre ao redor de um centro de gravidade, racterístico da vitalidade. Ha colóides que
de modo a formarem um poliédro molecular, são atraídos pelo catódio e são, por isso, cha-
infinitamente pequeno, em cada vértice do mados positivos; outros são atraídos pelo
anódio, ou eletrodo positivo, pelo que são
qual se localiza um átomo. Esse poliédro é o
verdadeiro indivíduo mineral, isto é. caracte- chamados colóides negativos. Os colóides
riza sua espécie própria. Minerais da mesma positivos se distinguem por terem caráter ai-
espécie têm sempre poliédro molecular iden- calino, e os negativos, por seu caráter ácido.
tico. Se esse poliédro é constituído por áto- Essas cargas elétricas é que fazem com que
mos da mesma natureza, especifica um cor- as micélas se repilam mutuamente, obrigan-
do-as a não se aglomerar e a ficar uniforme-
po simples, se por átomos de naturezas di- mente distribuídas e em equilíbrio na fase
versas, especifica um corpo composto.
dispersa. Quase todos os sais tendem a coa-
Cada um é reservatório de forças colos- guiar os colóides e a precipitá-los, enquanto
sais e indómitas, pelo que o átomo é consi- que os citratos, embora sendo sais, tendem a
derado a mola propulsora dos mundos. A aumentar sua dispersão. A manutenção da
energia condensada em um átomo é tão gran- vida está na dependência da manutenção do
de que, segundo Einstein, Franz Peters, equilíbrio das substanciais coloidais da ma-
Fritz Paneth e outros, 15 gotas dágua po- teria viva, porque, quando esse equilíbrio se
derão levantar um milhão de toneladas. Do rompe, morre o protoplasma.
24 revista da sociedade de geografia
se, na involução, para chegarem a ser ma- Metais: Potássio, Sódio, Magnésio,
teria, e sutilizam-se, na evolução, para che- Cálcio, Ferro, que são normais, e Silício,
garem a reintegrar-se em seu manancial ines- Alumínio, Manganês e Cobre, que são su-
gotável. Nessa escalada, traçam a hierar- pervenientes.
— vida latente, vida vegetal,
quia de vidas: Metalóides: Hidrogênio, Cloro, Oxi-
vida animal, ou instintiva, vida inteligente e
vida divina, eterno principio e eterno fim da gênio, Enxofre, Azoto, Fósforo, Carbono,
que são normais, e Brômo, Iodo, Fluór, su-
vida dos seres e das coisas, aura do corpo
pervenientes.
infinito daquele que soube conceber e reali-
zar o Universo. O que conhecemos da vida Ao ultramicroscópio, revela-se como
terrestre é uma associação passageira e pre- uma mistura de colóides, cujos grânulos são
caria de dois termos que se revelam, de uma agitados de movimento browniano no líquido
parte, na energia vibratória e. de outra parte, que os tem em suspensão; outras vezes, é ho-
na matéria inerte, mas regressiva. mogêneo. O protoplasma se comporta como
colóide negativo: é precipitado pelos ácidos,
A CÉLULA — Segundo o Dr. Oscar enquanto que os álcalis dão-lhe aspecto ho-
de Sousa, «é uma porção de protoplasma, mogêneo. É incolor e de consistência vis-
centralizada por um núcleo». É formada por: cosa. Menos refringente do que a água, sen-
1) Membrana — que é considerada do as minúcias de sua estrutura visíveis sem
coloração, quando se examina em meio aquo-
como aquisição secundária, resultante da
so. É embebido dágua, mas esta água não é
condensação do ectoplasma e produto de
água de constituição. O calor coagula-o e tor-
adaptação ao meio. Nos vegetais, é de cons-
na-o quebradiço, determinando sua morte.
tituição ternária e, nos animais, é de consti-
tuição quaternária. É insolúvel em todos os Núcleo — É produto de diferenciação
reativos, exceto no oxido de cobre amonia- do protoplasma, conforme ao que revelou o
cal; semi-permeável aos líquidos, aos gases e estudo da Kariocinese, ficando estabelecida
às soluções cristalóides; órgão protetor da sua composição, isto é, que êle contém os
célula, é a sede da dupla corrente endo-exos- mesmos elementos da composição do pro-
mótica, feita à custa de sua permeabilidade. toplasma, sendo, porém, provido de Fósforo
e é reguladora das permutas entre o proto- em maior proporção, sendo que, segundo A.
plasma e o meio ambiente. Branca, «a estrutura do núcleo difere de um
2) Protoplasma — Segundo Huxley, elemento para outro e, em um mesmo ele-
é «a base física da vida»: para Claude-Ber- mento, nos diversos momentos de sua ativi-
nard, é «a base orgânica da vida»; para o dade. Essas diferenças entendem com o ta-
Professor F. Pizarro, «é o substratum mate- manho, com a forma e a constituição do nú-
rial da vida»; e para o Professor Prenant, «é cleo, com seu conteúdo e cromatina, que é
o substratum dos seres vivos e o agente dos sua substância característica, com as reações
fenômenos vitais». Para Max Verworn, «o histoquímicas dessa cromatina, etc.
protoplasma não é uma simples substância
química, mas uma soma. uma mistura de ele- O núcleo desempenha funções importan-
mentos morfológicos os mais diversos». tíssimas nos pontos de vista da nutrição e da
multiplicação das células e a êle é atribuído
Prenant diz: — «não há um protoplas-
ma banal, isto é, um protoplasma bom para papel de agente de transmissão dos caracte-
todos os seres vivos, há um protoplasma pró- res hereditários dos seres. No núcleoplasma
é que os químicos encontram os protídios es-
prio a cada ser, portanto milhares e milhões
de protoplasmas é o produto de uma longa peciais da matéria viva.
evoluão histórica». Nttcléolos — Sob este nome, são tidos
Nos protoplasmas estão reservadas subs- certos corpúsculos mais refringentes do que
tâncias minerais, protídios, glicídios, lipídios o resto do núcleo de algumas células. São
e, dentre os minerais, é preciso não esquecer- geralmente esféricos, distribuídos na área do
se a água. núcleo e formados pela pirenina. Sua pre-
Diversas análises revelaram que são 12 sença constante parece indicar que têm eles
os elementos encontrados no protoplasma, grande importância no mecanismo das elabo-
assim distribuídos: rações químicas intracelulares.
26 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Dissemos que a vida é trabalho, apre- terminando brusca variação de energia celu-
sentando modalidades de caracteres fisicos, lar, e entende-se por excitante qualquer cau-
químicos e morfológicos do protoplasma, sob sa que modifique essa energia, como a luz,
o império de modalidades da energia univer- o calor, a eletricidade, os excitantes químicos,
sal e única. É função de incessante variação donde o quimiotactismo, o termotactismo, o
da constituição da célula, de suas formas e [ototropismo. Os excitantes, além de provo-
da energia que a célula pode concentrar e carem o crescimento e o movimento das cé-
manifestar. lulas, orientam esses fenômenos em determi-
Assim é que : nado sentido. Se a célula experimenta um
aumento em determinado sentido, tem-se o
A célula incorpora gases, líquidos e só- que se chama um tropismo; se experimenta
lidos, sendo a fixação do Oxigênio fenôrne- uma translação para o lado do excitante, tem-
no dos mais importantes e mais gerais da se o tropismo positivo; se para o lado oposto,
vida celular. Mesmo os anaeróbios, tomam tem-se o tropismo negativo.
Oxigênio das reações químicas que se ve- A célula se reproduz por :
rificam no meio em que vivem.
Incorpora substâncias líquidas de na- a) Multiplicação ou divisão direta, aci-
turezas ou de constituições diferentes, reali- nética ou amitose: — cissiparidade e gemi-
zando verdadeira seleção. paridade.
Assimila, isto é, modifica, para torna- b) Multiplicação ou divisão indireta,
Ia semelhante a si mesma, a substância que cariocinese ou mitose: — que é a mais vulgar
coleta. e sempre precedida de uma sucessão de
transformações.
Incorpora substâncias sólidas, que po-
dem ser, mesmo, outras células vivas ou mor- Em presença, pois, do que aí fica, ex-
tas. clúo a noção de impossibilidade da abiogê-
Desassimila mediante oxidações, com nese ou geração espontânea, como é vista,
desprendimento de calor, e mediante redu- desde que tudo quanto é necessário para a
çòes, sem desprendimento de calor, isto é, formação da célula viva, sempre existiu na
Terra. Evidentemente, no íntimo de um meio
por desdobramentos químicos com hidrata-
Ção. esterilizado e vedado, só, mesmo, a esterili-
dade poderá vingar. Mas num meio satura-
Elimina os produtos de sua atividade, do de elementos próprios ao surto da vida,
que podem ser gasosos (Co2) líquidos nada impede que se ostente a vida, se am-
(H20), ou sólidos, como as concreções re- plie e evolua. E' verdade que ainda existe
nais dos Moluscos.
quem recuse a existência dos micróbios, mas
Capta energia, transforma energia. À estes existem independentemente de convic-
luz do Sol, a planta verde assimila Carbono, ções arcaicas e proliferam em meio conve-
Azoto, Fósforo, etc, e transforma as subs- niente.
tâncias minerais e inorgânicas, em compostos
Observação cuidadosa e imparcial, leva-
orgânicos ternários e quaternários. A ener-
rá, certamente, a comprovar-se a possibili-
gia luminosa é transformada pelas plantas em dade dessa geração, desde que se saiba o
diversas modalidades de energias, principal-
mente em energia química, donde os hidra- que é õ átomo, o que é a molécula e o que é
tos de Carbono, que se queimam no orga- a célula.
nismo, restituindo energia ao mundo exte- H. S. Swingle, piscicultor, e E. V.
riõr. A luz é excitante dos pigmentos. Smith, botânico, ambos do Estado de Alaba-
Dentre os caracteres particulares da cé- ma, mediante pesquisas, iniciadas em 1935,
lula, está a irritabilidade que, por sua vez, concluíram que, qualquer fertilizante
quími-
apresenta particularidades: — sob ação de co, depositado nas águas de uma lagoa arti-
excitantes variados, tem-se uma reação idên- ficial, provoca imediatamente o aumento da
tica, quando eles atuam sobre o mesmo ór- produção de plantas e de animais micros-
gão; sob ação de excitantes idênticos, têm-se cópicos conhecidos pelo nome genérico de
reações diferentes, quando elas se verificam planktone que nutrem enxames de insetos.
sobre órgãos diferentes. O excitante atua de- Estes e suas larvas, por sua vez, alimentam
O ADVENTO DO HOMEM 27
grande número de peixes miúdos, que cons- na e, ao mesmo tempo, experimentaram pro-
tituem a chamada forragem. da qual se nu- fundas modificações morfológicas. Alguns,
trem os peixes carnívoros. dentre eles, têm apenas duração transitória e
Excluo também a proveniência extra- papel limitado, tais como: — a alantóide ou
terrena, porque elementos mais leves do que vesícula umbilical; outras tomaram impor-
o ar jamais chegariam à superfície do globo tância inusitada, como o amnios e a placenta,
e, elementos mais pesados do que o ar, se mas todos têm caráter comum: derivam da
contássemos apenas com os 60 quilômetros zona extra-embrionária do blastócisto».
atribuídos à espessura da atmosfera, por Chauveau & Arloing dizem, em seu
menos pesados que fossem e por menor que «Tratado de Anatomia Comparada»: — «O
fosse a velocidade da queda, chegariam quei- óvulo dos Mamíferos, se bem que seja aléci-
mados. E os colóides, indispensáveis à vida to, como o do Amfioxus, desenvolve-se de
orgânica, como são, não suportariam impu- modo diferente, que leva a pensar-se que, a
nemente essa queda. partir do Amfioxus, este óvulo passou su-
Excluo ainda a origem bíblica, no ponto cessivamente pelo tipo dos Anfíbios e pelo
de vista exotérico, porque sua aceitação im- tipo dos pássaros. Desenvolve-se, efetiva-
plicaria em infração das leis da Biologia. mente, ao modo de um ôvo telolécito que ti-
vesse perdido gradualmente sua provisão de
E porque não admitir-se o surto do
nutritivos, enxertando-se sobre o terreno
Homem da própria Terra, quando nada auto-
materno».
riza outra conclusão lógica?
Segundo Branca, a embriologia demons-
Eis porque ocorreu-me oferecer aos tra que todos os animais se originam de uma
competentes a sugestão de haver surgido o célula e que a série das fôrmas apresenta-
Homem do limo da Terra, não já como Adão,
das por um animal, durante seu desenvolvi-
de carne e ossos, mas, gradativamente, como mento, é repetição correlativa daquelas pelas
protoplasma, célula, ôvo, larva, ninfa ou cri- quais passaram sucessivamente seus ances-
sálida, chegando, oportunamente, a ser o trais conforme à teoria da descendência. O
que foi, o que é e o que será, porque se- embrião de um vertebrado apresenta-se a
gundo Linneu, «A natureza não dá saltos». princípio como u'a massa celular, em segui-
E porque não ser assim, se, ainda hoje, da, como um saco que tem somente uma
Insetos, Batráquios, alguns peixes e certos abertura e que, depois, já tem duas. Ulterior-
animais inferiores sofrem metamorfoses tão mente é que os membros aparecem, até que
profundas? surge o vertebrado, depois de haver passado
sucessivamente pelas formas de prótista, ce-
Aí estão as borboletas como exemplo lenterado e verme.
das maravilhas da criação: hoje, são lar-
vas, lagartas repulsivas e daninhas'; ama- Seria prolongar mais esta palestra, a es-
nhã, são crisálidas e, finalmente, imagos, in- pecificação dos Modos de Reprodução, de-
setos perfeitos, Lepidópteros, prismas vola- finindo-os. Lembremos, entretanto, que os
teis, coando luz, para encanto nosso! seres vivos podem ser: — assexuados e se-
O. Hertwig, citado por Branca, diz : xuados, podendo ser estes, hermafrodítas e
«Os Mamíferos devem derivar-se de ani- gonocócicos, ou monoicos, dioicos e neutros.
mais ovíparos, cujos ovos seriam abundan- Nos vertebrados, o ôvo passa inicial-
temente providos de vitellus; envólucros fe- mente pela diferenciação, ou segmentação,
tais desenvolveram-se neles, como nos Rép- caracterizada pelas fases de mórula, blástula,
teis e nos Pássaros. Em dado momento, esses gástrula e blastoderme dos três folhetos :
ovos deixaram de ser postos. Perderam seu ectoderma, mesoderma e endoderma. For-
vitellus, quando o embrião encontrou no san- mando-se o embrião, ocorre a formação da-
gue materno —uma fonte, nova e indefinida quilo que a Embriologia chamou de anexos
de substâncias nutritivas. Se o ôvo se do embrião: — allantóide, amnios, chorion,
desmeroblastou. guardou, entretanto, os en- etc, necessários à sua nutrição, ao seu de-
vólucros fetais — cuja formação tinha sido senvolvimento e ao complemento do feto.
originalmente determinada pela presença do Aqui convém lembrar que a diferencia-
vitellus —. Mas esses envólucros mudaram ção anatômica das células é determinada pela
de função, intervindo na nutrição intrauteri- especialização funcional e que, segundo a lei
28 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
que seja, porém, o resultado das influências transformação de uma espécie em outra,
locais, não bastará para transformar espé- qualquer forma transitória entre esses tipos
cies em outras espécies, porque a célula en- derivados, diz-se, uns dos outros.
cerra o protoplasma e o zigoto o número de «O que constitui o caráter essencial das
cromossomos próprios a cada uma delas. espécies, é, ao contrário, a imutabilidade com
G. Colin diz, em sua Fisiologia Com- a qual seus atributos anatômicos e fisioló^
parada: «No reino animal, do mesmo modo gicos se conservam e se transmitem pela ge-
que no reino vegetal, só se verifica habitual- ração: é a invariabilidade do tipo, mas com
mente a fecundação entre indivíduos da mes- variações individuais limitadas, de sorte que
ma espécie. O pólen dos órgãos masculinos as espécies, conservando-se indefinidamente,
de uma planta, levado pelos ventos, não tem apenas experimentam modificações acesso-
ação sobre o pistilo de outras plantas. O rias, que dão lugar às raças e variedades. A
esperma do peixe, derramado nas águas, en- imutabilidade da espécie e a variabilidade
contra em vão os ovos de uma multidão de dos indivíduos derivam de duas causas: a
peixes; fecunda somente os de sua espécie. hereditariedade e a tendência para o desvio.
Dentre os animais que se acasalam, os ins- Pela hereditariedade, o tipo se copia e se
tintos genésicos solicitam a aproximação dos repete indefinidamente; pelo desvio, dá exem-
sexos somente aos indivíduos provenientes plares que, sob traços comuns, oferecem di-
de antepassados comuns. E' por isso que a ferenças mais ou menos numerosas, mas sem
natureza assegura a imutabilidade das es- importância fisiológica».
pécies. A lei da herança nos ensina que: «Os
«A imutabilidade da espécie está pro- caracteres específicos transmitem-se integral-
vada por uma multidão de fatos, cujo valor mente aos descendentes». — A transforma-
é incontestável. Os animais selvagens da ção das espécies em outras espécies dife-
mesma espécie, que vivem nos climas os mais rentes seria, pois, infração a uma das leis
diversos, desde o equador até os pólos, ex- fundamentais da Biologia.
perimentando as ações tão diferentes do solo, E' verdade que se tem praticado a hibri-
da nutrição, da temperatura, conservam seus dação com indivíduos de espécies vizinhas.
caracteres, à parte algumas variações da ai- Mas os híbridos são normalmente estéreis e,
tura, da cor da pele, do aspecto das produ- quando excepcionalmente se reproduz, o pro-
ções epidérmicas e de algum pormenor das duto reverte a um dos tipos dos reproduto-
formas exteriores. Os animais domésticos, res. Tive oportunidade de ver, em uma das
subordinados em parte às mesmas influên- exposições realizadas nesta capital, um filho
cias que os primeiros, e ainda sob o império de mula e cavalo, e esse produto revertera
de novas condições, criadas pela interferên- ao tipo paterno: era um pôtro, como poderia
cia do homem, mantêm sua individualidade ser um jumento. Não é pois, atribuído aos
específica em todas as partes do mundo e híbridos o poder de concorrer para a trans-
através os séculos. Sabe-se, com efeito, desde formação radical das espécies. E é preciso
os imortais trabalhos de Cuvier, que o lobo não esquecer-se de que a hibridação é sem-
e a raposa da África são essencialmente os pre provocada pelo homem.
mesmos que o lobo e a raposa dos países do É natural que, devido às condições es-
Norte; que a hiena da Pérsia é semelhante à peciais que a Terra transpunha, não se en-
do Marrocos; que os crocodilos, os ibis, as contrem vestígios de vida orgânica nos terre-
aves de rapina, os cães, os gatos, embalsa- nos primitivos, archeanos ou àzoicos. Vinga-
mados nos monumentos egípcios, desde vinte vam, então, esforços combinados das ações
e cinco a trinta séculos e mais, não diferem químicas dos dissolventes e das ações mecâ-
sensivelmente dos crocodilos, dos ibis, dos nicas das águas; aquelas, ocasionando a cris-
gatos, dos cães, que vivem hoje. talização das rochas, estas, tendendo para
«Não é aqui lugar para discutir-se sô- o equilíbrio, do que resultou a consolidação
bre as idéias da transformação das espécies do respectivo envoltório em rochas crista-
e dos meios emprestados à natureza para linas com aparente aspecto de estratifica-
realizá-la. Basta dizer que essas idéias estão ção. A temperatura ainda era muito eleva-
em contradição com os dados positivos da da. Nessa fase, o Planalto Central do Bra-
ciência, que não encontrou até aqui, a contar sil, formava um continente de 3.000.000 de
dos tempos históricos, qualquer prova da quilômetros quadrados.
30 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
atuais e futuros. Zigoto de símio não gera Cabe, aqui, uma observação: — Sabe-
homem. se que, quando a gravidade é mais intensa,
o sangue desce para as extremidades, e que,
Acompanhando-se as fases de formação
e de desenovlvimento do embrião humano, quando a gravidade é menos intensa, o san-
bem como à formação do respectivo blásto- gue aflúe para a cabeça. Sabe-se também que
a intensidade da gravidade é mínima sobre
ma, conclui-se que o que ali se verifica é a
o equador e cresce gradativamente para os
marcha de verdadeira metamorfose. Cada
anexo do embrião que se vai formando, defi- pólos, sem escapar, entretanto, à influência
das altitudes. É possível, assim, que as raças
ne uma fase da transformação que se vai humanas definidas em regiões mais próximas
operando e que se completa em nove luas. do equador, tivessem seus índices faciais e
Sirva-nos de referência o Batráquio anu- cranianos modificados por maior afluxo de
ro: — Seus ovos são entregues à água pa- sangue, mais afluxo de Oxigênio, portanto,
rada, ou de corrente diminuta, quase sempre maior tensão e mais amplas oxidações, todos
ligados entre si por uma substância coloi- capazes de impor às células e aos tecidos
dal muito viscosa e que inturgesse nágua. Às disposições peculiares, como as conhecidas.
vezes, ficam isolados; de outras, formam dois Outra observação conveniente, é a rela-
cordões paralelos e, de outras, formam mon- tiva à pigmentação: — Sabe-se que o pig-
tículos irregulares, que se prendem às plan- mento, no homem, é escuro e varia de tonali-
tas das margens. Sua segmentação é total
dades conforme a espessura da camada de
e desigual. Sua larva é apoda, caudada e melanina que o constitui e que é encontrada
aproximadamente cilíndrica; é desprovida de na pele, nos pêlos, na coróide e na retina.
órgãos respiratórios, pelo que as permutas Ao pigmento é atribuída a função de prote-
gasosas se operam através do revestimento ger contra a luz. Daí, possivelmente, as tona-
cutâneo. Decorridos dois a três dias, sur- lidades da pele, a qualidade dos cabelos, a
gem as brânquias externas, que geralmente cor dos olhos, etc. Os negros têm claras as
se atrofiam, desaparecem e são substituídas
palmas das mãos e as plantas dos pés, regiões
por brânquias internas, protegidas por uma
lâmina opercular. As brânquias internas pas- para as quais, em seu habitai, menos a flui o
sangue e menos expostos à luz.
sam por metamorfose regressiva, enquanto
se vão desenvolvendo os sacos pulmonares Assim, pois, nas regiões do Norte, sob
à custa das paredes do esôfago. O gírino é incidência oblíqua dos raios solares, menos
inicialmente provido de duas ventosas loca- iluminadas, mais frias, onde é menos ativa,
lizadas na parte posterior da boca e que cedo portanto, a influência das faixas do espectro,
desaparecem. Surgem as patas posteriores, sob gravidade mais intensa e sob outros
ficando ainda ocultas as anteriores, sob a lâ- fatores propícios, adaptou-se o respectivo
mina opercular, e a cauda vai-se atrofiando protoplasma e deu surto ao tronco branco;
gradativamente, até desaparecer
completa- nas regiões próximas do equador, sob inci-
mente. Os uródelos, principalmente as sala- dência mais direta dos raios solares, mais
mandras e os trltões, também passam por iluminadas, mais quentes e sob gravidade
metamorfoses. O Sapo-pipa jã é provido de menos intensa, adaptou-se o protoplasma e
cuidados especiais para com a prole. Seus deu surto ao tronco negro; e, nas regiões in-
ovos são cuidadosamente arrumados no dor- termediárias, sob influências correlativas, sur-
o vermelho e
so da fêmea, envoltos em substância coloidal; giram os troncos amarelo,
a pele dessa região incha e é nesse meio que outros.
os embriões se desenvolvem, em celas aí for- Posteriormente, vieram as migrações e,
madas, até completarem a metamorfose. com elas, a mestiçagem.
Ah ! Homo Sapiens! — «Na terra de Os processos de reprodução, a formação
sapos, de cócoras com eles.. .» e o deesnvolvimento do embrião, são conhe-
não cidos. A gravidade, a luz, a presença de
Quando a temperatura ambiente já
isótopos, a de isômeros e a volubilidade dos
coagulava as substâncias coloidais, foi que se
eletrônios, explicam as modificações célula-
definiram, em regiões diversas, os pontos ca-
os pontos fe- res. As radiações, os períodos próprios, as
pazes do protoplasma humano, freqüências vibratórias, os comprimentos de
cundos.
32 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
x
O PAPEL DA MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA
NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A guerra é fenômeno social que deixa outro continente que não o nosso, havia de
profundas e, por vezes, indeléveis marcas permeio o vasto oceano Atlântico cobrindo
na seara da geografia política e da geogra- os dois hemisférios em larga faixa.
fia econômica. O choque armado entre na- Pelas águas desse aceano, entretanto,
ções, reciprocamente, origina-se também, estendeu-se, desde logo, a ação dos agigan-
quase sempre, de fenômenos atinentes —à geo- tados contendores, querendo uns barrar, ou-
não
grafia nos seus múltiplos aspectos tros utilizar as extensas, ilimitadas rotas por
só os que se referem à divisão política do onde deviam ser transportados os suprimen-
auto-de-
globo (reivindicações territoriais, tos de toda ordem imprescindíveis à obten-
terminação dos povos, espaços vitais, etc.) ção da vitória. Ora, debruçando-se os limites
e os que se referem às relações econômicas orientais de nosso dilatado território sobre
mercados externos, zonas de influência, pos- essas mesmas águas, alguma coisa já se
se e direção de certas indústrias extrativas, esboçava, implicando na nossa co-participa-
etc), como também os que dizem respeito às ção, ao menos à distância, no conflito já se
ideologias
questões raciais e religiosas e às desbordando das ribas européias. Contra
formas de
político-sociais transformadas em qualquer ação, pois, entre os partidos hostis,
governo. que viesse pelos mares, quer à superfície,
Um conjunto dessas causas — que umas quer entre duas águas, e que nos pudesse
Segunda ofender, física ou moralmente, era mister opor
puxam outras — deu origem à
Grande Guerra Mundial que, em seu de- também uma ação de coerção que anulasse
senvolvimento, não podia deixar de arrastar aquela, a fim de não nos envolvermos na
também o nosso país, situado — quer no meio luta, fosse qual fosse o partido a contrariar
físico-geográfico, quer no material-econômi- nos intentos opostos à nossa isenção.
co, quer no moral —, em tais condições que
não podia, de modo algum, ficar alheio à Nasceu, assim, a necessidade de provi-
tremenda hecatombe. denciar o Brasil a manutenção de sua neu-
tralidade e, como a ameaça se fazia iminente,
À eclosão da guerra, a atitude do
através dos mares, visivelmente inevitável, a
Brasil era a de neutralidade, por isso que
força naturalmente chamada para, em nome
em nada interessavam à nossa Pátria os pro- do Direito, exercer a ação preventiva e coi-
blemas das minorais raciais germânicas; das bidora, foi a Marinha de Guerra, irmanada
anexações de territórios por elas habitados e
nos seus propósitos eficazmente com a Avia-
demais questiúnculas daí decorrentes; alem
disso, desencadeada a fúria mavórtica em ção Nacional.
34 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Os meios materiais para esse fim deviam Com a entrada dos Estados Unidos na
consistir em navios ligeiros dos tipos cruza- guerra e a cessão das nossas bases aero-
dor e contra-torpedeiro e a Esquadra Nacio- navais, aquele setor do nordeste tomou re-
nal contava, apenas, com dois vasos obsoletos pentinamente uma importância que o levou às
da classe «Bahia», cinco da classe «Ama- culminâncias de um dos pontos mais impor-
zonas» com cerca de 30 anos de existência, tantes do mundo para o prosseguimento,
um Contra-torpedeiro da Primeira Grande com êxito, da guerra contra os países do
Guerra Mundial, o «Maranhão», e com seis Eixo.
navios-mineiros da classe «Carioca», recém- O domínio do mar é condição sine~qua~
construídos no Arsenal da Ilha das Cobras, non para a vitória numa guerra com as ca-
os quais, no princípio do ano de 1940 haviam racterísticas da que se desenrolava: manter
feito, em conjunto, uma viagem aos mares do livres e bem policiadas as rotas marítimas,
extremo norte do país. assegurando o tráfego regular e o transporte
*das
Unidades telhas umas, necessitando intensivo utilidades, era tarefa que se
constantes reparos, e todas elas inteiramente impunha aos beligerantes aliados. Os ame-
' ricanos haviam criado, para esse desiderato,
desaparelhadas para o fim em vista, o qual
seria repelir ou anular a ação de raiders e uma força naval para o Atlântico Sul, com
de submarinos moderníssimos, quer imersos, base na possessão inglesa da ilha de Trini-
— foi, contudo, com esse dad, e sob o comando do Almirante Jonas
quer à superfície, Howard Ingram.
material flutuante que a Marinha de Guerra
Brasileira iniciou a sua ação de vigiar pela Essa força era a Fôrça-Tarefa 23 da
manutenção da nossa neutralidade nas águas Esquadra Americana do Atlântico, a qual
territoriais, extensas de mais de duas mil e tinha por missão* manter, em alto mar, a se-
quinhentas milhas só na parte mais possível- gurança das rotas comerciais da e para a
mente vulnerável, ou seja da embocadura America do Sul inclusive, até ao meridiano
do rio Pará até Santa Catarina. de 20°, onde ia limitar-se com a esfera de
Ficaram, a princípio, os dois cruzadores ação da esquadra inglesa, incumbida esta
e os contra-torpedeiros antiquados no Rio de assim de manter livre do inimigo a parte orien-
tal do Atlântico Sul até às costas d'África.
Janeiro, onde poderiam contar com as gran-
des oficinas do AMIC (Arsenal de Mari- A ilha de Ascensão ficou, entretanto, sob a
nha da Ilha das Cobras), cem os diques esfera de ação dos americanos. O Almiran-
e outros recursos que, infelizmente, só na te Ingram, com seu pavilhão no cruzador
Capital da República, base permanente da «Memphis», entrou a visitar os portos bra-
Esquadra Nacional, podiam ser obtidos. Os sileiros em períodos permitidos pelas dispo-
navios-mineiros da classe «Carioca», embora sições do Direito Internacional a fim de que
não fosse quebrada a nossa neutralidade, e,
inadequados, mas por serem novos e não ca-
com especialidade, o porto do Recife, natu-
recerem ainda de reparos repetidamente, fo- ralmente indicado para refrescar o pessoal e
ram mandados para portos do leste e do nor- receber suprimentos, por ser o melhor e mais
deste. bem aparelhado do saliente nordeste da nossa
A esses navios foram atribuídos «setores orla atlântica.
de patrulha», com base no porto do Recife, A esse tempo já a Marinha dos Estados
no do Salvador e no de Natal para recebi- Unidos mantinha em todos os portos da costa
mento de óleo combustível, mantimentos e brasileira grupos de oficiais, geralmente da
sobressalentes, assim como para pequenos reserva, sob a chefia de um «Observador
reparos eventuais nas oficinas das Compa- Naval» com o propósito de assentar medidas
nhias das Docas de cada um desses portos. logísticas e toda sorte de informações neces-
A Base Naval de Natal ainda se achava em sárias às missões de seus navios.
construção e, apesar dos esforços e da com- Entrou, assim, a nossa Marinha de Guer-
petência verdadeiramente extraordinários do ra a ter relações cada vez mais estreitas com
saudoso Almirante Ari Parreiras, ainda es- a Marinha Norte-Americana, cujos recursos
tava longe de possuir um aparelhamento efi- se iam acumulando nas nossas bases, num
ciente para atender às múltiplas necessidades crescendo que bem demonstrava o vulto que
de uma força naval. as operações navais iam tomando.
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 35
cife-Rio e vice-versa. Esses comboios tinham Capitão de Mar e Guerra Soares Dutra, e
a designação TJ e JT (Tupi-Joia e Jóia- composta dos cruzadores «Bahia» e «Rio
Tupi), letras estas tiradas dos nomes dos Grande do Sul», dos NMs «Carioca», «Ca-
portos extremos
— Trinidad e Janeiro (Rio ravelas», «Cabedelo» e «Camaquã» e dos
de) . dois novos «Caças-ferro» «Guaporé» e «Gu-
rupí».
A esse tempo, as negociações com os
Estados-Unidos para o fornecimento à nossa No Sul, com base no Rio de Janeiro,
Marinha de Guerra de navios apropriados era criado o Grupo-Patrulha Sul, composto
à guerra anti-submarina e capazes de inte- do Contra-Torpedeiro «Maranhão» e dos
grar escoltas eficientemente, achavam-se em dois restantes NMs «Cananéia» e «Camo-
bom andamento; uma comissão especial para cim», os quais faziam patrulha e escolta de
o recebimento dos Caça-Submarino foi criada comboios inteiramente brasileiros entre os
no Rio de Janeiro, sob a chefia do operosís- portos do Rio e de Santa Catarina. Os de-
simo Comandante Harold Reuben Cox, que, mais 4 ou 5 Contra-Torpedeiros obsoletos da
em breve, seguia para Miami, onde se ins- classe «Amazonas», ainda em serviço ativo,
talou a Comissão Brasileira e onde já se faziam a patrulha das imediações da entra-
achava regular número de oficiais, sargentos da do porto do Rio de Janeiro e reforçavam
e praças destinados a guarnecer os navios escoltas eventualmente para Santos e portos
daquele tipo que nos fossem entregues por do Sul até Santa Catarina.
conta da lei americana do Lease-Lend, de Sentindo o Almirante Ingram, já então
acordo com um adendo aos entendimentos Comandante-em-Chefe das Forças Navais e
havidos em Washington, entre as autorida- Aéreas brasileiro-americanas no Atlântico
des competentes norte-americanas e a Co- Sul, que os portos do Recife e do Salvador
missão Militar Brasileira já mencionada. não tinham uma defesa suficiente para repe-
Os primeiros navios desse tipo entregues lir ataques de navios de superfície inimi-
ao Brasil foram os Caça-Submarinos «Gua- gos, ficando inteiramente à mercê de quais-
• poré» e «Gurupí», recebidos em Natal e logo quer núders que, burlando qualquer vigi-
postos em serviço. Posteriormente foram en- lância, chegassem a posição de poder bom-
tregues os seis restantes dessa série em bardear aquelas cidades e suas obras por-
Miami, para onde eram mandados oficiais tuárias, — ficou resolvido que os encoura-
e subalternos, num fluxo constante, para fa- çados «São Paulo» e «Minas Gerais», então
zerem cursos expeditos e treinamento com inúteis para o gênero de guerra-naval que
a moderna aparelhagem com que estavam se desenrolava no Atlântico Sul, seguissem
dotados tais navios. Cada um dos que eram respectivamente para o Recife e o Salvador,
considerados prontos para o serviço, ia logo onde, fundeados convenientemente, servissem,
integrando escoltas de comboios americanos com os seus canhões de grosso calibre
para Guantânamo, em Cuba, e para Trinidad, (305 m/m), de «fortalezas-flutuantes», de-
donde seguiam, ainda em escolta, para o Re- fendendo todo o vasto setor vulnerável aos
cife. A esses CSs seguiram-se os oito da ataques do inimigo. Assim foi feito e, em
classe «Javarí», muito menores, com 110 pés breve, os nossos encouraçados, com escolta
apenas de comprimento, enquanto os primei- americana, partiam do Rio de Janeiro para
ros tinham o casco de ferro, razão pela qual aqueles portos, onde, desde então, os via-
uns ficaram sendo conhecidos, na Marinha, jantes que neles chegavam, podiam ver as
como «Caças-pau» e outros como «Caças- belonaves brasileiras amarradas por trás dos
ferro». Os «Caças-pau», inteiramente guar- molhes e arrecifes, aparentemente inativas,
hecidos por brasileiros, desde que deixavam mas realmente representando um papel pri-
a América do Norte, faziam a longa viagem mordial na defesa dos grandes portos nacio-
de Trinidad a Recife, escalando em Belém, nais do Recife e Salvador.
mi-
pois a travessia direta de mais de 2.200 Crescendo a Força Naval do Nordeste,
lhas seria extremamente penosa para aquelas promovido o seu Comandante a Contra-Al-
unidades, verdadeiras lanchas de diminutas mirante, cujo estado-maior deveria ser mais
dimensões e pouco calado. numeroso, e aumentados os serviços adminis-
A 5 de outubro de 1942 fora extinta a trativos, foi necessário designar um navio
Divisão de Cruzadores e criada a Força Na- capaz de servir de base e capitânea, estacio-
vai do NE, ainda sob o comando do então nando no porto do Recife. Para isso, partiu
38 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
o tender «Belmonte», em fins de janeiro de mercantes, ora aqui, ora ali, em tão grande
1943, para aquele destino, escoltado pelo número que basta citar que, nas imediações
«Carioca» e pelo navio-hidrográfico «Rio da ilha de Trinidad, foram afundados cerca
Branco», adaptado para navio-escolta e in- de 300 navios, sendo numerosos também os
corporado àquela Força. Em fevereiro, o que foram postos a pique nas imediações de
Almirante Soares Dutra transferia o seu pa- Fernando de Noronha.
vilhão do E. «São Paulo», que não perten- O «Guaporé» e o «Gurupí» foram os
cia à sua Força, mas estava subordinado ao
primeiros navios incorporados à F.N. do
Comando Naval do NE, para o TD «Bel- NE dotados de aparelho de escuta anti-sub-
monte». • marino, e o «Guaíba» trouxe, mais, pela pri-
Em março, a Força Americana do Atlân- meira vez na história da Marinha de Guer-
tico Sul, isto é, a Força Tarefa 23 da Esqua- ra Brasileira, o maravilhoso aparelho que é
dra Americana do Atlântico, fora elevada à o RADAR. As unidades nacionais que faziam
categoria de Esquadra, sob a designação de escolta a comboios, e a navios soltos, tinham
«Fourth Fleet», sob o comando do mesmo como única «aparelhagem» para pressentir
Almirante Jonas H. Ingram, cuja designação o inimigo, antes de atacá-lo, a grosso modo,
passou de Comsolant a Comfleet Fourth. com as bombas de profundidade, a vigilân-
Essa Esquadra contava então com os cruza- cia incansável de suas guarnições, graças a
dores «Memphis», «Omaha», «Cincinati», uma boa «vista», porque nem os binóculos
«Marblehead» e «Milwaukee», de vários eram em número suficiente, e a argúcia, o
CTs como o «Winslow», o «Moffet», o esforço e a dedicação ao serviço de todo o
«Davis», o «Jouett», o «Sommers», o Gree- seu pessoal.
ne», o Borie», o «Goff» e outros, do navio- Mas é de convir que, em pouco, avança-
oficina «Melville», de várias corvetas-escolta mos a passos de gigante, graças ao concur-
como a Siren», a «Carnelian», de grande so, à direção eficiente e à prodigiosa capa-
número de caça-submarinos designados por cidade dos homens da 4* Esquadra America-
números, dos tenders de aviação «Humboldt», na, à qual a Força Naval do Nordeste es- •
«Barnegat», «Matagorda», de rebocadores tava subordinada para efeitos de operações,
de alto mar modernamente aparelhados como como sua Força Tarefa 46.
o «Carib» e o «Seneca», de outros navios
auxiliares; os CTs foram mais tarde substi- Do Grupo Patrulha Sul, que estivera
tuídos, por necessários em teatros de opera- sob o comando de oficiais da tempera dos
ções navais mais importantes, por destroiers- Capitães de Mar e Guerra Muniz Barreto,
escort, DEs ou contra-torpedeiros escolta do Ernesto Araújo, Braz Veloso e, depois, con-
tipo do «Alger». vertido em Força Naval do Sul, Almirante
Gustavo Goulart, haviam sido transferidos
Enquanto isso, os Caça-Submarinos que
íamos recebendo em Miami, iam chegando para a F. N. do NE os dois mineiros «Ca-
nanéia» e «Camocim», que deviam ser subs-
ao Recife, onde se completaram a? séries dos tituídos mais tarde naquele G.P. pelo N.H.
«Caças-ferro» — «Guaporé», Gurupí», «Jaceguai» convenientemente transformado
«Guaíba», «Gurupá», «Guajará», Goiana»,
e pelas corvetas da classe da «Matias de
«Grajaú» e «Graúna» e dos «Caça-pau» —
Albuquerque» construídas no Rio de Ja-
«Javari», «Jutaí», «Jurué», «Juruena», «Ja-
neiro.
guarão», «Jaguaribe», «Jacuí» e «Jundiaí»,
aqueles da classe G chamados por oficiais O Comando da 4!l Esquadra Americana
americanos do EM da 4* Esquadra de havia sido transferido do N.T. «Patoka»
«Giants» e estes, da classe J, de «Juniors».. . para um edifício de 10 andares na Avenida4*
10 de Novembro do Recife e as instalações
Até então os nossos navios tinham esta-
destinadas a manter os navios americanos e
do completamente desaparelhados para o gê-
brasileiros em alto grau de eficiência avul-
nero de guerra anti-submarino, que faziam. taram em pouco tempo. Na área do cais do
A não ser a artilharia e as bombas de pro-
porto, armazéns das Docas foram ocupa-
fundidade fornecidas pelos americanos, nada dos pelos americanos para depósito de so-
mais tinham para atacar, com êxito, os sub- bressalentes, mantimentos e suprimentos de
marinos inimigos que continuavam, cada vez toda ordem; edifícios foram alugados ou
mais, a infestar o Atlântico Sul, torpedeando construídos para grandes e completas ofici-
39
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA
nas de máquinas (o DESREP 12), de arti- comboios, quer em missões isoladas de salva-
lharia, de torpedos e outras muitas ativida- mento de náufragos, de socorro a navios de-
des; um acantonamento compreendendo alo- sarvorados depois de atacados por subma-
escolas profis- rinos, etc. Assim, por exemplo, o transporte
jamentos, cozinhas, padarias, dos suprimentos para a guarnição de Fer-
sionais especializadas, salas de recreio e can-
tina, foi expressamente construído naquela nando de Noronha, quer em gêneros quer
mesma área, recebendo o nome de «Camp em material de toda espécie, sempre foi asse-
escoltando
Ingram»; depósitos de sobressalentes de mo- gurado pela Marinha de Guerra,
tores e outros foram estabelecidos cm vas- os navios que, do Recife ou de Natal, saíam
o pequenino barco
tos armazéns da rua da Aurora (o SPDC); para aquele arquipélago:
no Ji- a motor «Tupiára» fretado ao L.B. pelo
paióis de pólvora foram construídos Exército celebrizou-se nesses transportes,
em pavi-
quiá; um hospital de emergência, vezes em que fêz esse
lhões pequenos, mas soberbamente apare- graças ao número de
lhados, foi montado na praia de Piedade, sob serviço, sempre escoltado por uma corveta
a denominação de Hospital Knox; uma esta- ou um caça-submarino, mesmo durante o pe-
ini-
navios ríodo mais ativo da campanha submarina
ção de repouso para as guarnições dos o
foi ins- miga; assim também, por exemplo ainda
pequenos dos tipos Caça e Corveta «Caravelas», em viagem do Rio para o Re-
talada em vasto edifício pertencente ao Es- de
tado de Pernambuco, no Tejipió; linhas es- cife, salvava, numa baleeira, um casal
de toda classe ingleses que havia 52 dias vagava ao sabor
peciais de ônibus e conduções das correntes; assim, o «Carioca» prestando
foram estabelecidas — enfim, toda uma or-
a funcio- assistência ao hiate americano «Perseveran-
ganização perfeitíssima foi posta ce» em apuros nas costas do Ceará,
e le-
nar pela 4* Esquadra Americana, da qual os os
nossos navios se beneficiavam, ganhando em vando-o, a reboque até Fortaleza; assim
eficiência material e em preparo do pessoal. «Caças-pau» «Jaguarão e «Jaguaribe» sam~
O exercitamento de comandantes, oficiais e do em poucos minutos após à ordem recebida,
moderno quanto do Recife e de Natal, para prestar socorro
praças no que havia de mais a navios torpedeados num grande comboio
à guerra anti-submarino, era feito em insta- do
lações especiais, com aparelhos aperfeiçoados de escolta americana, ao largo da costa
_ os «attack-teachers» —, a princípio sob a Ceará, logrando salvar ainda muitos naufra-
assim o «javarí» saindo de Fernando de
orientação exclusiva de oficiais americanos e, gos;
socorro a náufragos e
brasileiros, substi- Noronha para prestar
posteriormente, de oficiais sendo atacado por um avião americano que
tuindo aqueles a pouco e pouco até chegar-se subman-
à exclusividade. Escolas de tática anti-suo- o confundira, das alturas, com um
morto;
e no do que resultou um marinheiro
marino foram criadas, preparando turmas
de assim a escolta ao navio do cabo submarino
turmas de oficiais e praças em períodos — e muitas outras
do Almiran- «Cambira», seguidamente,
poucas semanas. Por solicitação
te Ingram, foram enviados os nossos subma- pequenas ações deste gênero.
rinos para o Recife — o «Tupi» (por duas Os comboios regulares entre Trinidad
redução
vezes), o «Timbira», o «Humaitá» e o
«la- e o Rio de Janeiro haviam tido uma
Salvador
moio», a fim de fazerem exercícios,
ao vivo, de percurso, fazendo do porto do
de mais
ao largo daquele porto, com os navios seu ponto terminal, por parecer que,
logo a ação subman-
escolta brasileiros e americanos. Assim, para o sul, não se fazia sentir
com-
que chegavam ao porto, na escolta de algum na inimiga; mas, em pouco tempo os
vice-
comboio, os navios eram escalados para
toda boios TB e BT, isto é, Trinidad-Bahia e
de
sorte de exercícios, inclusive os fora
do porto versa, voltaram a ser os TJ e JT, em face
com o submarino, os de tiro de superfície
e novos torpedeamentos verificados no Atlanti-
e os de torpedo: — nao havia co Sul.
anti-aéreo
descanso algum, senão o permi- ¦ A Força Naval do Nordeste havia or-
praticamente
tido pela tranqüilidade das águas no porto, ganizado três grupos-escolta
capitaneados
onde os músculos podiam relaxar-se e
a aten- e «Rio Grande do
pelos cruzadores «Bahia»
ção constante atenuar-se. Sul» e pela corveta «Rio Branco» e consti-
Enquanto isso tudo crescia e se instala- tuídos de mais duas corvetas e um número
va, sempre para melhor, os navios de nossa indeterminado de caça-submarinos. Essas
esquadra não paravam, quer nas escoltas dos corvetas eram os mesmos navios-mineiros da
40 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
de rendição
brasileiros. Já os CTs da classe do «Davis» boio, eram escoltados do ponto
em outros
e do «Winslow» iam sendo retirados de nos- até aos ancoradouros e vice-versa;
sas águas. pontos da derrota, conhecidos com antece-
dência, eram desligados do comboio os navios
A esse tempo os nossos três CTs da deviam atravessar o Atlântico para a
que
classe «Marcílio Dias», construídos no Rio África ou deviam seguir para o sul, além
que
de Janeiro, no AMIC, iniciavam as suas ex- do Rio de inversamente, para os
Janeiro;
periências finais para entrar em serviço. Mes- comboios Joia-Tupi, o Rio ou o Salvador
mo antes da instalação de sua artilharia de- eram os em que se concentravam os
portos
finitiva, o «Marcílio Dias» foi incorporado navios a organização dos comboios.
e começou a fazer para
à F.N. do NE patrulhas
oceânicas, em grupos-tarefa com cruzado- Essa organização era objeto de cuida-
res americanos da classe «Omaha». Quando doso estudo e de múltiplas providências des-
a
os outros dois, o «Mariz e Barros» e o «Gre- tinadas a garantir o êxito das travessias e
enhalg» ficaram prontos, seguiram todos três chegada dos navios aos portos de destino com
o Arsenal de Filadélfia onde foram então a maior segurança possível. Assim, no Re-
para com
montar a artilharia definitiva e fazer as ins- cife, por exemplo, prontos os mercantes
o
talações complementares de que careciam, a sua carga completa, ficavam aguardando
Força
antes de participarem das patrulhas oceâni- dia da saída do próximo comboio; a
cas. Consistiam essas patrulhas em bater, Naval do Nordeste escalava os navios para
autori-
durante cerca de 15 dias a fio, certas áreas a escolta respectiva e os indicava às
na
do Atlântico Sul, entre a nossa costa e a da dades navais americanas da 4* Esquadra;
o Tupi-
África, para interceptar a passagem de sub- véspera do dia em que devia passar
a con-
marinos, de raiders e de «varadores de blo- Jóia ao largo do Recife, realizava-se
vindos de Singapura, com carrega- ferência de endoutrinamento para os coman-
queio», da escol-
mento principal de borracha para a Alemã- dantes dos mercantes e dos navios
anti-
nha, muitos dos quais foram postos a pique. ta, com o respectivo Comandante mais
Enquanto isso, os comboios não para- go que seria o do comboio; essa conferência
edifício-
vam um só instante. A sua técnica era a se- realizava-se em uma das salas do
em portos do Canadá reuniam-se sede do Comando da 4th Fleet ou a bordo do
guinte: a presença do
navios de várias procedências, inclusive vin- TD «Belmonte», sempre com
F.N. do NE;
dos de Murmansk; dali saíam em comboio Chefe do Estado-Maior da
dos Estados Unidos, agrupados as instruções eram fornecidas pelas autori-
para portos consistiam no
de acordo com o destino; os que deviam se- dades americanas e geralmente
a África do Sul e portos do Índico, seguinte: relação dos navios do comboio, trem
guir para sobre destino,
e para a América do Sul, entravam em outros e escolta, com informações
a seguir; der-
comboios, geralmente passando por Guantâ- carga, armamento, etc; derrota da
Cuba, até Trinidad, possessão in- rota para os navios mercantes desgarrados
namo, em
esta ainda na área de ação de uma comboio; ordem de saída do porto e posição
glêsa formatura do trem de acordo com
outra esquadra americana que não a 4*, do a ocupar na
Sul; em Trinidad formavam-se en- o número recebido; modo de agir dos mer-
Atlântico
Tupi-Joia, cujos trens com- cantes durante a travessia, evitando fuma-
tão os comboios
de mercantes destinados aos por- ca excessiva, atirar lixo nágua, luzes de qual-
punham-se e aos à noite, funcionamento de apa-
tos do Brasil, do Uruguai, da Argentina quer natureza
Oriente; saindo de Trinidad, relhos-rádio, etc. As escoltas tinham as suas
da África e do
certas de acordo com a escala or- instruções privativas, determinadas pelas exi-
em datas
seguiam derrotas pre- gências da guerra anti-submarino e que eram
ganizada previamente, América às marinhas norte-americana e inglê-
estabelecidas, ao longo da costa da comuns
ao largo do Recife, em dis- sa, todas constantes de publicações secretas
do Sul, passando
cada comboio, especiais. A derrota a seguir era uma das que
tâncias que variavam, para
em de- constavam dos planos gerais de operações,
segundo a derrota seguida; aí, pontos
da escolta umas destinadas aos comboios para o sul,
terminados, fazia-se a rendição do Rio para o Norte, de-
devia outras aos que iam
americana pela escolta brasileira que nomes pitorescos como
de enquanto signadas todas por
prosseguir até ao Rio Janeiro,
«Bacon», «Pork», «Eggs», «Tomatoes», etc,
os mercantes destinados aos diferentes por-
entrar no com- e afastadas desigualmente da costa.
tos, ou destes saídos para
42 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
No dia da passagem do comboio ao largo pois que numa fração deste, a insídia inimi-
do Recife, saíam do porto, em primeiro lugar, ga podia produzir os seus malefícios, des-
à hora conveniente, mas geralmente muito truindo vidas e bens. Os «Caças-pau», os
cedo, às 5 ou 6 horas, os navios da escolta «Juniors» da classe «Javarí», eram rendidos
— os «Caças-pau» ou «Caças-ferro», as Cor- geralmente por outros ao largo do porto do
vetas e o Cruzador ou Corveta em que ia o Salvador, onde sempre havia dois, no mi-
Comandante da escolta, que seria depois, o nimo, prontos, um para subir, outro para
de todo o comboio; estes navios seguiam o descer; mas, não raro, os «cacinhas» dessa
«canal varrido», limpo de qualquer minas classe, por contingências de serviço, fize-
quiçá lançadas insidiosamente pelo inimigo, ram toda a travessia do Rio ao Recife e vice-
e, ao largo do porto, fazendo uma «varre- versa, durante seis longos dias, pondo à
dura sonora», com seus aparelhos de escuta prova o valor de nossos homens do mar, de
anti-submarino, aguardavam a saída dos toda uma oficialidade e guarnições jovens
mercantes. Quando estes se achavam todos que elevaram bem alto o renome de sua ca-
ao largo, depois de uma manobra de desa- pacidade profissional, pois é preciso conhe-
tracação e saída demorada e difícil daquele cer bem de perto essas minúsculas unidades
porto, as escoltas tomavam posição e o pe- de guerra, para bem avaliar a fibra dos que
queno comboio seguia para o ponto de en- nelas fizeram toda a guerra, enfrentando os
contro com o grande comboio TJ, no qual a mares mais encapelados, o desconforto de-
escolta americana era rendida pela brasilei- vido às chuvas ou à canícula impiedosa, sub-
ra, e entrava no porto, escoltando ainda, por metidos a um jogo violento, irreprimível, noi-
sua vez, os navios para ali destinados. Os te e dia, quase sem poder dormir nem co-
mercantes que haviam saído, tomavam as mer, mas, ao contrário, sempre alerta, velando
suas posições nas colunas de navios, de acôr- pela preciosidade dos mercantes cuja segu-
do com as instruções que haviam recebido rança deviam garantir a qualquer preço !
na conferência dos comandantes, na véspera,
e os navios de guerra da escolta ocupavam Em verdade, por mais que se queira ava-
seus postos na vanguarda, nos flancos e na liar isso na medida precisa, nunca se fará a
retaguarda da formatura do trem, zig-za~ devida justiça a esses bravos da Marinha de
Guerra que realizaram essa tarefa magnífica
gueando e fazendo funcionar seus aparelhos na nossa área ocidental do Atlântico Sul !
de escuta anti-submarino ou aparelhos de
som, estabelecendo uma cortina sonora im- E tão eficiente foi a ação dessa nossa
penetrável ao inimigo, e os seus radars, gente valorosa do mar que, em tantos com-
quando ordenado pelas instruções recebidas. boios feitos, nunca se perdeu um navio mer-
Navegação inteiramente às escuras, manten- cante que estivesse diretamente sob a guarda
do-se, nos primeiros tempos da campanha de uma escolta brasileira. De fato, os poucos
submarina, também completo silêncio rádio. casos de perda de navios, verificados em com-
E seguiam-se cinco ou seis dias de travessia boios sob a responsabilidade de nossa gente,
marítima, cheia de cuidados, perigos e atri- demonstram que as circunstâncias foram tô-
bulações. . . das fortuitas e independentes da eficiência de
Saídas como essas se repetiram, no Re- nossa ação protetora ou repressora. Assim,
cife e no Rio de Janeiro, algumas centenas num grande comboio BT, com quase trinta
de vezes, que tantos foram os comboios gran- navios mercantes no trem, saído do Salva-
des, internacionais, feitos pelos navios de dor, com escolta relativamente muito fraca,
nossa Marinha de Guerra, escoltando cerca o mercante americana «Fitzjohn Porter», por
de 3.000 navios de múltiplas nacionalidades, se ter atrasado muito do comboio, inteira-
correspondendo a um montante de cerca de mente fora de sua posição, foi torpedeado,
15 milhões de toneladas, com uma regularida- tendo sido sua guarnição salva pelo «Ca-
de elogiada pelas mais altas altoridades ame- rioca»; o «Pelotasloide» foi a pique em fren-
ricanas, fosse qual fosse o tempo, roncasse te ao farol e posto semafórico de Salinas,
como roncasse a tormenta, houvesse a cerra- quando, já com prático a bordo, ia entrar em
ção que houvesse, despejassem-se as cata- Belém, depois de ter feito a travessia Trini-
ratas do ceu ou não. .. dad-Pará, escoltado pelos dois «Caças-pau»
«Jacuí» e «Jundiaí», na sua primeira viagem
A travessia era sempre dura e trabalho- para o Brasil, depois de recebidos em Miami,
sa, exigindo uma atenção de cada segundo, sem que tivesse sido positivada a presença
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 43
de submarino inimigo naquelas águas muito de Natal, ao longo da costa brasileira, como,
pouco propícias à sua ação, parecendo mais por mais de uma vez, até Gibraltar, onde o
ter sido uma mina a causa da explosão que «Mariz e Barros» e o «Greenhalgh» tiveram
vitimou o navio; o «Afonso Pena« foi tor- oportunidade de mostrar o nosso pavilhão.
pedeado, muitas milhas ao largo dos Abro- E não só lá, como também nas ilhas de Tri-
lhos, quando, num comboio sob escolta bra- nidad e Ascenção, escoltando transportes de
sileira entre o Recife e o Rio, abandonara, guerra americanos.
por equívoco, o comboio para seguir navios Quando, ainda, o nosso Exército teve
que, à noite, tinham sido desligados a fim necessidade de transportar tropas e copioso
de seguirem para a África do Sul; finalmen- material de guerra do Rio para o Rio Grande
te, o «Bagé» que, advertido várias vezes por do Sul e para diversos portos da Bahia, fo-
estar fazendo fumaça excessiva num com- ram ainda corvetas e o cruzador «Bahia» que
boio numeroso sob escolta nacional, entre o deram escolta aos mercantes nacionais trans-
Recife e a Bahia, recebeu ordem para aban- formados em transportes.
donar o comboio cuja segurança estava, assim,
comprometendo seriamente, sendo torpedeado Es os combios TJ e JT não paravam
nunca: de dez em dez dias singravam os
pouco depois de estar navegando sem escol-
ta, o que confirmou o perigo que fazia cor- mares para o sul, sempre de Trinidad até ao
rer todo o comboio com a sua fumaceira. A Rio de Janeiro e, também no mesmo inter-
estes casos pode juntar-se o do «Vital de valo, deste para aquele porto, ao mesmo tem-
Oliveira», torpedeado à noite, em condições po em que o Grupo-Patrulha Sul, depois Fôr-
adversas de visibilidade, quando escoltado ça Naval do Sul, escoltava os comboios JF
e FJ, entre o Rio e Florianópolis, constituí-
por um «Caça-pau», que não possuía radar
dos estes de navios mercantes exclusivamen-
para localizar o inimigo que estivesse à su-
te nacionais, alguns dos quais, como o «Tu-
perfície e que, nessa condição, não seria
tóio», torpedeado perto das ilhas Queima-
pressentido pelo aparelho de som, como deve
ter sido o caso. das ao sul de Santos, por viajarem escotei-
ros, já haviam pago pesadamente o seu tri-
Essa eficiência referida deu confiança buto à insânia inimiga.
ao nosso Comandante-em-Chefe do Atlântico
Sul, Almirante Ingram, e, além deste, às al- Durante as travessias realizadas por
tas autoridades americanas. A conseqüência esses comboios, inúmeras vezes foram feitos
disso foi a anuência à nossa aspiração de ataques, com bombas de profundidade, a
receber novos e melhores navios, começando submarinos inimigos, pressentidos pelos apa-
então a transferência para a nossa Marinha relhos de escuta dos navios das escoltas ;
de Guerra de oito DÉs (destroycrs-escort) alguns desses ataques talvez não fossem
ou C.T.Es. — Grupos de comandantes e realmente feitos contra o inimigo, pois ba-
oficiais e núcleos de sub-oficiais, sargentos e leias, cardumes, esteiras de navios e outras
— para cada causas muitas vezes produzem, no aparelho
praças — os «homens-chave» de som, efeitos semelhantes aos dos submari-
um dos novos navios a serem recebidos, foram
nos, mas muitos de nossos navios, como o
enviados aos Estados Unidos para tirar cur-
«Caravelas», o «Cananéia», o «Carioca» e
sos expeditos e fazer estágio, ao mesmo tem-
outros têm, no seu ativo, ações contra o ini-
po em que outras turmas eram embarcadas, migo caracteristicamente certas e de realida-
no Recife e cm Natal, em navios americanos
de incontestável; apenas, em ações como
da classe DE, que saíam para o mar em
essas, não fica a prova palpável, irretorquí-
várias missões.
vel, porquanto ou o submarino vai a pique
A esse tempo, prontos os CTs da classe e não mais é visto, ou afasta-se avariado, sem
«Marcílio Dias» no Arsenal de Filadélfia, e deixar sinais ou provas materiais de ter sido
Fôr-
preparados os contingentes da brilhante atingido, principalmente à noite.
envia-
ça Expedicionária Brasileira a serem Em Natal, foram, afinal, recebidos os
dos ao teatro da guerra continental-européia,
colaboraram aqueles contra-torpedeiros e os primeiros Contra-torpedeiros de escolta, os
DEs americanos, que passaram a ter os no-
cruzadores «Bahia» e «Rio Grande do Sul»
na escolta dos transportes que levaram à mes de «Bertioga» e «Beberibe»; a estes se-
«Bae-
Itália os nossos já agora gloriosos «praci- guiram-se o «Bracuí» e o «Bauru», o
nhas», não só do Rio de Janeiro até à altura pendi» e o «Benevente», o «Babitonga» e o
44 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
«Bocaina», num total de oito, os quais entra- caminho entre Ascenção e a África ou entre
ram em serviço incontinente, numa demonü- aquela ilha e a costa brasileira»
tração surpreendente da capacidade de nossa Os comboios, ainda que regulares, fo-
gente do mar, tendo em vista a complexida- ram diminuindo de importância. Os navios-
de do aparelhamento de tais navios, cujo tanques foram libertados, passando a nave-
manejo foi prontamente apreendido e domi-
nado, sem dubiedades, pelas respectivas gar escoteiros para ganhar tempo; logo tam-
bém deixaram as escoltas dos comboios os
guarnições. navios bastante rápidos; ficaram apenas os de
Assim que os primeiros navios dessa
classe foram sendo recebidos, o Almirante passageiros e os de velocidade média de 8 a
9 milhas horários.
Ingram, sempre preocupado em elevar o
prestígio de nossa Marinha de Guerra, com a Em pouco tempo mais, suspendeu-se o
anuência de nossas altas autoridades navais, serviço dos comboios e os CTs, DEs e «CSs-
e seguro da eficiência longamente compro- ferro» de nossa Marinha de Guerra perten-
vada de nossas guarnições, começou a au- centes à F.N. do NE foram reunidos em
mentar o número de navios de guerra bra- «grupos de ataque» (Kiüers-groups) que se
sileiros nas escoltas do Recife até Trinidad, faziam ao mar para interceptar os submarinos
até que, quando, em novembro de 1944, pas- varadores de bloqueio, patrulhando certas
sou o Comando da 4* Esquadra ao Almiran- áreas entre a costa nordeste e Ascenção, en-
te Munroe, para assumir o alto cargo de Co- quanção os demais continuavam a patrulhar
mandante-em-Chefe das Forças Navais Ame- os mares do Rio a Belém.
ricanas em todo o Atlântico, um de seus pri- Quando findou a guerra na Europa, sem
meiros atos, no novo posto, foi retirar a transição nem descanso, passaram os 8 DEs,
grande maioria dos navios-americanos de es- os 3 CTs classe «Marcílio Dias» e os dois
coita para outras áreas, fazendo-os substituir velhos cruzadores «Bahia» e «Rio Grande
pelos brasileiros. do Sul», a fazer um novo e importantíssimo
Assim, enquanto os comboios do Reci- serviço, Atlântico a dentro, qual o de ser-
fe para o Rio e deste porto para Santa Ca- vir de apoio ao transporte aéreo das tropas
tarina continuavam regularmente, — na sec- americanas evacuadas do teatro europeu de
ção dos JOIA-TUPI e TUPI-JOIA entre o guerra e necessárias à campanha do Pací-
Recife e Trinidad, as escoltas passavam gra- fico.
dativamente a ser constituídas exclusivamen- Duas rotas aéreas haviam sido estabe-
te por navios de nossa Marinha dos tipos DE lecidas para as aeronaves americanas — Da-
e CS de ferro, em grupos-escolta de seis e kar-Natal e Monrovit-Ascenção-Natal, em
de três navios sob o comando de Capitães cada uma das quais três pontos denominados
de Fragata especialmente treinados para isso. «estações» deviam ser guarnecidos por na-
Este último trecho era particularmente duro, vios de guerra que orientassem os aviões por
porquanto, extenso de mais de duas mil e du- marcações radiogoniométricas e prestassem
zentas milhas, era percorrido na ida para socorro rápido aos que caíssem ao mar. Duas
Trinidad em cerca de 10 dias e, no regresso, «estações» em cada uma das rotas, num total
em 12 a 14, devido à correntada e aos ventos de quatro, na parte ocidental do Atlântico
contrários, reinando ali muito mau tempo deviam ser guarnecidas por navios brasi-
durante certas épocas <do ano: e o serviço leiros; as duas restantes, uma em cada rota,
inexoravelmente regular dos comboios não por ingleses.
se interrompia jamais, rugisse a procela que
rugisse! Esse novo e pesado serviço, reclamando
muita paciência pela sua monotonia e insipi-
Findava a guerra na Europa. A campa- dez, iniciou-se no fim do maio do corrente
nha submarina fora inteiramente subjugada; ano e ainda há pouco se achava em curso.
mas os submarinos varadores de bloqueio Cada navio permanecia por 10 dias em cada
continuavam, teimando na sua travessia de «estação»; os que guarneciam as «estações»
Singapura para a Alemanha, fazendo víti~ mais distantes, numeradas 12 e 15, permane-
mas esporádicas, nas águas remotas do Atlân- ciam, assim, cerca de 16 dias no mar, incluin-
tico Central, dobrando o Cabo da Boa Es- do os de viagem para atingir aqueles pontos
perança e procurando varar os mares a meio e regressar ao porto; os que iam para as «es-
A MARINHA DE GUERRA BRASILEIRA 45
tações» mais próximas, 13 e 14, ficavam cêr- 467 vidas que eram, sem dúvida, preciosas,
ca de 13 a 14 dias no mar. mas de que se orgulha a Marinha, por esta-
rem a serviço da Pátria, na mais cruenta das
Foi numa dessas «estações», justamente
na de número 13, que se perdeu o velho guerras, em que tudo se deu, todo o esfôrpo
e sacrifício foi feito, em prol da Civilização
cruzador «Bahia», veterano das duas Gran- mortes em vários navios, por efeito das ope-
des Guerras Mundiais e cheio de serviços rações de guerra, e bem assim entre as guar-
inestimáveis à Marinha c à Pátria, com sacri- nições militares dos canhões montados em
fício de 333 vidas preciosas de oficiais, in- e ida Liberdade ! Se se considerarem outras
clusive o Comandante, sub-oficiais, sargen- vários mercantes de nossa heróica e jamais
tos e praças, em conseqüência de violenta ex- esquecida frota comercial, afundados por tor-
— quando se achava em
plosão na popa, pedos de subamrinos inimigos, o número de
serviço ainda genuinamente de guerra, pois
o Brasil já se achava em guerra com o Ja- perdas de vida da nossa Marinha de Guerra
subirá ainda bastante mais !
pão e o aparecimento em pleno Atlântico de
unidades japonesas não era inteiramente des- Sucumbiram esses bravos em holocausto
cabido. à perpetuidade da Pátria Livre e os que so-
breviveram à luta cruel e sem quartel que
Foi o terceiro navio de guerra perdido acaba de findar-se gloriosamente para as
durante toda a campanha, enlutando-se com armas aliadas, entre as quais se inscrevem
a sua perda total a Marinha, depois do torpe- sobranceiramente as brasileiras, devem estar
deamento do NA «Vital de Oliveira» e da
catástrofe da CV «Camaquã» que virou, gratos à sua ação intemerata e nunca terão
rendido suficiente homenagem à sua memó-
quando, após extenuante escolta a comboio ria pelo bem que o seu sacrifício lhes trouxe
do Rio de Janeiro até ao largo do Recife, ali e aos seus lares ora descansando em paz,
chegou sem combustível e sem água nos tan- sem mais temor da opressão, da brutalidade
quês, levando, por fatalidade, em cruel com- e da escravidão!
pensação, excesso de carga e de pessoal em A Marinha de Guerra do Brasil fêz, pois,
trânsito, pesos estes moveis e altos deter-
muito — antes, do país entrar na luta, duran-
minantes do sinistro, que não se teria veri-
te esta e mesmo depois de terminadas todas
ficado, se não houvesse o imperativo cate-
as hostilidades. Trabalhando afervoradamen-
górico da operação de guerra que o navio te, em silêncio, fora das vistas de testemu-
realizava. nhas, entre o céu, que nem sempre foi cie-
Subiram, assim, as perdas, entre o pes- mente, e as águas do oceano que nem sem-
soai desses três navios, comandantes, oficiais, pre foram bonançosas, cumpriu, enfim, cons-
sub-oficiais, sargentos e praças, a cerca de ciente e tranqüilamente, o seu dever.
diante, q differensa virá a medear entre Na- exercício não interrupto por dois mezes
tulistas e Pescadores ? Logo q eles são co- quando não produza outro effeito, dá a mão
lhidos, porque nos seos corpos ainda existem mais rebelde aquele geito de talhar q á ai-
por inteiro todas aquelas partes q os fazem guns nega a natureza. Homens ha q se
redutiveis, como são as barbatanas, e entre persuadem q são para isto totalmente iner-
elas os seus rayos, abranchiostega, os den- tes ; mas huma tal persuaziva só tem lugar
tes, os cirros, então podem ser exactamente depois de, tentados todos os meios.
reduzidos pelo Sistema. Ezaqui justamen-
te o q já vai servindo de ensaio e Exer- § 6
cicio ; este he o milhor Mestre da Historia
natural; hum homem q actualmente menea Depois do Risco, de q vio se a facilidade
o Sistema já na redusão dos peixes, ja na no (§ 5) resta ainda outro exercício q sendo
descripsão dos que escaparão, as vistas dos igualmente útil no mar se pode effeituar :
observadores, fica dentro de dois mezes de tal he a pratica da Pilotage : he verdade
viagem, se não bom, pelo menos- hum me- q os Instrumentos q ali servem, nenhum uzo
diocre Ictiologista. Esta a versão nada tem em terra á excepsão das grandes Cam-
tem de despropozito : considere-se bem o pinas : mas pelo manejo de um fica depois
pouco trabalho de reduzir os seres desta mais fácil o saber se uzar dos outros. Por
classe q Linneo facilitou tanto. concluzão deste Plano de Ezercicios durante
a viagem do mar, todos eles se reduzem
§ 4 a 3, somente : (1) a pesca dos peixes, onde
ha-de entrar a sua redusão e preparasão.
Se depois de se reduzir um peixe em
cumprimento do (§ 3) lansa-se logo ao mar, (2) o Exercício do Risco: (3) a pratica da
Pilotaje. São estas as Leis q se lhes pres-
sentem-se então dois incômodos, hum todo
crevem no entanto q não aportão ao Pará.
do Rei, outro próprio. He sem duvida q o
gasto feito na preparasão das fisgas, e com-
§ '
prandos anzóis, linhas, e redes, deve ser com-
pensado com as remesas desta classe : per- Logo ao saltar em terra depois de huma
tende-se estabelecer o Gabinete Real, onde
viagem de dois mezes, hé de razão q ás
os peixes não tem o menor lugar : e se
neste não aparecerem preparados em obze- pessoas delicadas se conceda algum tempo
de refresco : os grandes frios q de outubro
quio da Magestade, e reduzidos debaixo das
Inscripsoins próprias em credito de seus no- por diante comesa á sentir quem navega a
costa de Portugal, a tranzisão repentina
mes, porque outro modo satisfarão eles ou
as despezas feitas no preparo destes Instru- deste estado para o das Calmarias da linha,
mentos, ou as sinistras concepsoins q a seu á comida de mar sempre salgada, e onde
respeito formar o publico ? Se nada disto não ha aquela abastansa de ácidos, q he
conclue, espera-se q concluirá ao menos a necessária á imfringir a asão dos alchalis,
finalmente a bebida actual de huma agoa
pratica q então se vai contraindo sobre a
preparação dos animais. quazi enxarcada, tudo isto junto ao grande
desprazer q sente hum homem de não ter
§ 5 os cômodos de hum sono quieto, mas antes
¦ talvez hum perpetuo enjôo? deve ter debi-
He preciso ser hum homem mui pregui- litado a saúde em grande parte. Vem logo
sozo para ouzar dizer q he trabalho o q fica a ser perciza a feria de alguns dias para
ponderado nos (§2) (§3) (§4): quem cada hum se restabelecer por inteiro.
huma vez tomou o gosto a o Estudo da Na-
tureza, xamar-le ha divertimento. Tomado
§ 8
neste sentido todo o trabalho da pesca, re-
dusão, e preparasão dos peixes, ainda deixa Mas quantos dias se deverão asignar
lugar para outro entretimento : este he o o descanso q requer o (§ 7) ? ezaqui jus-
exercício da pintura : por isso q não estão tamente o q ninguém ouzará determinar sem
exercitados nela, ahi tem lugar de trasar fazer violência : quem reflectir atentamente
algumas linhas sobre a frutificasão das plan- sobre o grande influxo com q obra em todo
tas, e debuxo dos animais debaixo da Ins- gênero de vícios, de q he como may, a ócio-
peção do Riscador q os acompanhar. Este zidade, não se poderá conter q não abrevie
À VIAGEM FILOSÓFICA 49
ali a serie dos seus dias : por conseqüência q não está são não pode viajar : quem está
dela huma vez q hum rapas se entregou são, mas não põem diligencia, serve de em-
ao luxo, nenhuma coiza mais julgou seria, baraso aos q a aplicão. Discorrendo em
beneficio da saúde, eles se devem lembrar
passão pela sua alma huma por huma todas
as paixoins, desde o bico do pe athe a ca- das grandes calmas, q serão obrigadas a
besa torna-se huma grande xaga q nele suportarem, no caso de não determinarem
abrem os males. Ora neste estado ninguém as horas de caminho : hum Naturalista q
pode ser útil ao Rei, em hum gênero de pertende viajar com proveito seo, e de quem
serviso q requer saúde da parte de quem o manda, a mór parte do caminho anda a
o exerce. O homem que milhor o pode ser- pé ; sobrevindo agora o excessivo calor, q
vir sempre em viagens, he o home de Seneca, principia das 10 horas da menhaã, e so de-
quer dizer huma alma saã em hum corpo clina pelas 3 da tarde, porq se volatilizão
são. as partes mais spirituozas do sangue, e com
o trabalho dissipão-se mui promptamente as
§ 9
q servem a nutrisão, ele restará em huma
De que modo pois será possível aos debilidade atual q o tornará inhabil aos
Naturalistas o evitarem estes erros em be- grandes exercícios. Vem por tanto a ser
necessário regular as horas de viagem pelo
neficio próprio ? so evitarão s' abreviarem
tanto os dias da sua estância ou no Pará, methodo q agora se propõem.
ou em outra qualquer Povoasão, como Vil-
Ias, aldeias, e Lugares, quanto for bastante § 12
no Pará para o exame de todas as suas pro-
Suponha-se no entanto, q determinão
duzoins dentro na cidade e por toda a Costa;
eles partir de Pará no l9 de Dezembro :
nas aldeias para huma inteira averiguação
A falar-se a ver- logo ao amanhecer deverá estar preparada
da sua Historia natural.
a comida, q então deve ser quente para
dade, mes e meio para descanso e exame dos
facilitar a digestão : tomando depois cada
productos do Pará he tempo suficiente. hum o seo lápis, e diário, cuidará de ir no-
tando nele, separados huns dos outros, to-
§ 10 dos os productos, q for encontrando ao passo
de seus descobrimentos. E suas arvores,,
Supondo acabado este tempo, e por
musgos, fungos, gramas/no Reino vegetal/.
conseqüência do q fica dito no (§9) reco-
lhidas todas as produsoens desta cidade e Quadrúpedes, Aves, Peixes, Anfíbios, In-
sectos, Vermes/ no Animal/ Pedras, Mi-
dos seus arredores, não se deve comtudo
nas, Fosseis /no Lapideo/ tudo isto hade
dar hum passo ulterior no que toca ás via-
ser recolhido sem outra averiguasão mais
gens pela terra dentro, sem serem previa- cuidado
mente remetidas á Secretaria de Estado dos q a destes productos, sem outro
ocazião
Negócios de Ultramar, não so as produsoins q de os recolher, excepto se houver
cidade, de fazer sobre eles alguns reflexoins. Não
q estiverem axado ou seja dentro na se deve comtudo omitir o cuidado de em
ou nas suas Costas, mas também as prepa-
distancia em distancia observar a altura do
rasoins dos peixes, q na viagem daqui para
Polo, principalmente nos lugares em q se
Ia e nas costas se pescarem e relaçõens. A
descobrir algua produsão útil : ela supõem
norma agora porq devem ser encaixotados no diário um sinal certo, e correspondente
os productos, e remetidos de modo q se não
ao lugar em q foi axada : fala-se de hum
arruinem he superfuo o repetir-se. Tudo
diário q he feito com exactidão,
se axa expresam e declarado no Artigo das
preparasoins e remessas do primeiro Plano,
e debaixo de huma Relasão mais circuns- § 13
tanciada. Qual será logo este diário feito com a
§ ii exactidão q requer o (§ 12) ? aquele sem du-
vida em q concorrerem as seguintes circuns-
Ao sahir do Pará, depois de feita a pri- tancias... (I9) de denotar huma Carta
meira remessa, como manda o (§ 10) pende Geográfica do Paiz, em q venhão marcados
então toda a utilidade das viagens destes
dois princípios... do cuidado na sua saúde, com sinais chimicos os diferentes minerais,
da diligencia no seo trabalho ; hum homem e fosseis : (2?) de alem desta propor outra
50 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
carta também Geográfica do Paiz, em q o beber agoa cansado mesmo, deitar-se so-
venhão indicados os habitantes, os seus cos- bre a relva fria de algum valle : dispir-sc ao
tumes, a sua Religião : (3l>) de indicar pelas ar, tudo isto q influxo não tem sobre as mo-
observasoins termometricas o maior grau ou lestias de hum homem ? he logo percizo ou
de frio, ou de calor na atmosphera insti- tolerar a sede, ou á querela mitigar logo
tuidas todos os dias. (49) de não omittir seja com vinagre distemperado em agoa :
lugar algum beira mar de q não venhão a recompensa do mau gosto virá a ser huma
indicadas, as bahias, golfos, portos, ensea- frescura q influe muito sobre o descanso.
das, marés, correntes, altura, e lastro de mar
segundo o q mostrar a sonda. § 17
Depois dele, antes de se cuidar em ou-
§ H tra qualquer coiza, como jantar, dormir, fica
Na Mineralogia observada a altura, es- tempo desde as 10 horas athé as 3 horas da
trutura dos montes, sem ficar por averiguar tarde de estender as plantas sobre os seus
se tudo quanto pode explicar depois o gran- papeis, mudar estas, imprensar aquelas, tudo
de fenômeno da theoria da terra, examinão- isto emquanto alguns dos Ajudantes pre-
se então huma por huma todas as pedras, parão pelas receitas, dadas as peles dos
terras, minas, saes, enxofres, fosseis, notan- animaes q se tiverem caçado. Só depois
do-se não só os lugares onde se axão, mas de se ter trabalhado nisto, então se cuidará
também, a qualidades, riqueza, e utilidade. da comida ; ela pelo jantar só pode ser fria,
São comtudo com preferencia dignas de ob- por não ser fácil desembarasar huma Cozi-
servasoins mais exatas, as minas dos metais, nha inteira em espaço de tempo tão limitado.
sais e pedras preciozas ou sejão pedras bru-
tas, ou preciozas, ou minas de ouro, ou de § 18
Carvão para assim dizer-se, de tudo se devem
recolher as amostras, com esta diferença q Se entrando a declinar a calma/ o que
serão então menos avultadas as amostras se disse (no § 11) q sucedia pelas 3 horas
das couzas comuas, do q as das mais raras. da tarde, deve o viajante q he experto le-
Tenha comtudo cada amostra um sinal cor- vantar a sua tenda ; antes diso, supoem-se
respondente no diário. q ele tem tomado a sua refeisão, ainda q de
coiza fria pelo (§ 17) como vitella, carneiro
§ 15 q são de mais fácil decosão : de propósito
se guarda para então esta comida, desde
Também o recolhimento das plantas re- q ela se preparou de manhaã. Tomada
quer hum igual trabalho ; de cada huma se então a sua vestia, e calção de anta, depois
não devem recolher menos que 3, ou 4 es- de escorvadas de novo ou sejam as suas
queletos, ainda isto não basta : he percizo, pistolas, ou as espinguardas, he tempo de
depois de recolhida toda qualquer planta q continuar a marxa : a ela deve predizir a
pelo caminho se encontrar, desde a maior mesma diligencia do trabalho q se dise era
arvore até o mais pequeno musgo, observar necessária de Manhã : Tem-se visto parti-
então o lugar, o terreno, a abundância da cularmente na Casa em q vão muitos arma-
planta : fazer exactos Herbários. cada hum dos, pelo discuido de todos, dispararem-se
então correspondente com o seo numero ao as Espinguardas de huns contra os outros,
diário. Rezinas, balsamos, gomas, cascas porq se persuadirão talvez q aquele q levou
de arvores, madeiras, raizes, sementes, nada o tiro, era a fera q acosavão ; esta inadver-
disto escapará sem exame, nem se recolher. tencia he por todos os motivos criminavel :
portanto todo o cuidado nesta parte não
§ 16 pareça demaziado.
Dispendida a manhã toda nestas averi-
guasoins dos (§ 13) — (§ 14) — (§ 15) § 19
logo as 10 horas se devem recolher ás suas Fazendo-se então marxar adiante a tro-
barracas respectivas : he quazi supérfluo
pa q lhes for asignada, ou seja de pretos,
advertir a Filósofos do cuidado q então de- ou de índios, eles para escaparem aos pri-
vem ter sobre a conservação da sua saúde : meiros assaltos devem ocupar a retaguarda:
À VIAGEM FILOSÓFICA 51
deste modo servem alguns índios q vão zendo-se sobrepor a o xão repetidas cama"
adiante, providos de foices, e maxados, de das de folhas nos lugares onde as houvessem,
abrir caminhos nos lugares q diso perciza- comtuclo, precendido já de nem sempre ave-
rem. As cargas de Instrumentos nenhum rem folhas, a experiência mostra ü ficão re-
outro lugar podem ocupar mais cômodo, q pasadas de humidade nas terras do Brasil,
o q se costuma asignar às bagagens de hum as esteiras em q os pretos dormen. Se as re
exercito posto em marxa. Huns e outros des dos mineiros não tem este incomodo,
ocupados todos em recolherem tudo o q se Ia trazem outro de ser obrigado quem dor-
encontrar, /ainda q pareção agora ser os me nelas a ter o corpo como enovelado.
mesmos productos q depois recolherão/he Só mandando cada huma fazer huma pe-
de forsa q ao por do Sol tenhão avansado quena barra de pes de ferro, e q por suas
para asim dizer-se hum trabalho imenso. articulasoins se fexe, e abra, poder-se-há
propor huma boa cama, cujo culxão e tra-
§ 20
vesseiros xeyo de cabellos, e forrado por
fora, ou de carneira, ou de marroquim, não
Ao por do sol he tempo de recolherem- seja mais comprido q o corpo de cada hum.
se : para este fim não se deve armar barraca
a o azar, sem advertir-se previamente nas § 23
comodidades, ou incomodidades do lugar.
Por nenhum modo ela se deve levantar em Durante o tempo da noite he de supor
lugares baixos, para onde as agoas dos mon- q hum homem cansado quer dormir : não
tes circumjacentes tenhão fácil escoanta : he logo ocazião de afligirem huns aos outros
então logo q sobrevier algua xuva, alarga- com conversas intempestivas, motins, jogos,
se-ha todo o xão da barraca, o q fará reca- ou outros divertimentos, para q pode aplicar
hir sobre eles hum dos maiores incômodos os dias feriados, quem gosta deles. Só a
á vida : devem logo serem levantadas em quinta feira em cada semana he dia feriado::
lugares por onde escorra fácil e toda a agoa não para abster-se totalmente do trabalhos
q xover. He certo nem sempre ao por do mas p:l não mudar de lugar: estando ali para-
sol se axará hü lugar acomodado : mas dos podem então arrumar neste dia tudo o cj
muitas vezes logo q se axar lugar cômodo, for necessário: tal deve ser o trabalho de fa-
ou seja mais cedo q o por do sol, ou mais zer em alimpar os Instrumentos, contar um
tarde, será percizo lansar mão da ocazião, por hum á fim de se não perderem: p* este
e aproveitar-se do sitio q aparecer cômodo. fim, ou cada hum tome sobre si uma porsão
deles de q deve pasar Recibo, ou hum s'en-
§ 21 carregue de todos.
§ 27
cada mez trabalhado tanto, quanto possa
fazer huma boa rclasão. Pois deverá cada Não são os governadores os q devem
hum apronptar no fim do mez mez huma ser informados da qualidade do producto,
copia do seu diário, em q debaixo do nome ou sua quantidade, lugar, uzo : so á Se-
dê conta dos productos q descobrio. Eles cretaria de estado dos Negócios de Ultra-
apromptados se devem remeter logo na pri- mar se devem revelar estes segredos. Porq
meira ocaziao. suponhamos q se discobre a Quina : Para
se não dezenvolver agora, o qt9 esa des-
§ 26 coberta revelada no seo principio influiria
sobre as dezordens do Comercio Portuguez
O q se dis das minas, entenda-se de e Hespanhol, eles mesmos, depois de serem
todo qualquer produto : logo q forem axa- olhados como homens de má conseqüência
das devem-se distribuir em duas porsoins ; a os Hespanhoes, serião as mais certas vic-
huma q se ha de mandar logo, remetida ao timas das suas machinasoins.
Governador mais próximo, q dará ao Por- Ezaqui em suma tudo quanto em seó
tador hum Recibo, e outra q deve ficar na nome se devem comprometer os Filozofos :
sua mão, para depois o apresentarem com a Lisongea ao Publico desde já huma bem fun-
sua xegada. Evita-se deste modo o per- dada esperansa : fica da parte dos eternos
der-se ou na remessa o producto, alagando- dezignios do Primeiro Ser, e da diligencia
se por exemplo a embarcasão, ou em Lx* q eles pozerem no seo trabalho, o tornarem-
confundirem-se os números dos diários, e se depois de imensas fadigas, úteis ao Rei,
ignorar-se depois o verdadeiro logar do seu benéficos a si mesmos, e amáveis a Socie-
nacimento. dade.
J. S. DA FONSECA HERMES,
1.° Vice-Presidente
Esta notícia tem por objeto, não só, Somos com a maior consideração de V. Ex.
afetuosos veneradores e criados :
recordar a fundação da Sociedade de Geo-
grafia do Rio de Janeiro, atual Sociedade Manuel Francisco Correia.
Brasileira de Geografia, mas restabelecer, Antônio José Henriques.
Dr. João Joaquim Pizarro.
também, a verdade histórica, em quanto se Vcnceslau Guimarães.
refere aos seus Fundadores. José Antunes R. de Oliveira Catrambí.
Henrique de Beaurepaire Rohan.
A iniciativa da idéia partiu de um gru- Alexandre Afonso de Carvalho.
po de brasileiros eminentes, à cuja frente Dr. Licínio Chaves Barcelos.
se encontrava o ilustre homem de Estado Dr. Antônio de Paula Freitas.
Adolfo Paulo de Oliveira Lisboa.
e educador, que foi Manuel Francisco Cor- Luís Álvares de Oliveira Macedo.
reia. Dr. Antônio Coelho Rodrigues.
Dr. Henrique Cesídio Samico.
Dos entendimentos havidos, surgiu um João Carlos de Souza Ferreira.
Dr. Fernando Mendes de Almeida.
convite às personalidades mais em evidência Francisco Manuel Cordeiro de Souza.
nas ciências, no magistério, na política e Dr. João Pires Farinha.
sociedade, residentes na Corte e que, de Rio de Janeiro, 11 de Fevereiro de 1883.»
algum modo, se interessavam pela Geogra-
A esse apelo responderam 80 dos con-
fia, concitando-as a aderir ao propósito de vidados, os quais «aos 25 dias do mês de
se fundar, no Rio de Janeiro, à semelhança Fevereiro do ano de 1883 se reuniram, às
das que existiam em algumas Capitais da 12 horas, em uma das salas da Escola Pú*
Europa, uma Sociedade de Geografia. blica da Freguesia da Nossa Senhora da
É do teor seguinte a Circular que deu Glória, à Praça Duque de Caxias» — como
vida à nossa Sociedade : reza a Ata da Sessão — para fundar a So-
ciedade de Geografia do Rio de Janeiro.
«Desejando os abaixo assinados fundar nesta
Cidade uma Sociedade de Geografia, à semelhança
Presidiu essa histórica Sessão o Sena*
das que existem em quasi todas as cidades im- dor Manuel Francisco Correia, que anun*
portantes, vêm rogar a V. Ex., no caso de aderir ciou o objeto da reunião, procedendo à lei*
a este propósito, se digne comparecer no domingo tura da circular-convite. Serviram de Pri*
25 do corrente às 12 horas do dia, no edifício da meiro e Segundo Secretários os Senhores
Escola da Glória, à Praça Duque de Caxias. Dr. Licínio Chaves Barcelos e Nicolau Mi*
Se S. Ex. não puder assistir à reunião, obri- dosi, respectivamente.
gar-nos-á se quizer ter a bondade de manifestar a Depois de nomear uma Comissão, com*
sua resolução ao Dr. João Pires Farinha, à rua*
Primeiro de Março n9 55. posta dos Senhores Conselheiro Antônio
5T4 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
José Henriques, Dr. João Pires Farinha e Geral que devia eleger a primeira Diretoria
Dr. José Pizarro, para elaborar o ante*- efetiva da Sociedade, sendo eleitos :
projeto de Estatutos, o Presidente declarou Presidente
solenemente fundada a Sociedade de Geo- Visconde de Paranaguá
grafia do Rio de Janeiro. l9 Vice-Prcsidente
Ficou, então, resolvido fossem procla- Conselheiro Antônio José Henriques
mados «Sócios Fundadores» os 79 Senhores 29 Vice-Presidentc
que aderiram ao convite e assistiram à ses- Conselheiro Henriques de Beaurepaire Rohan
são de fundação. l9 Secretário
Dr. Licínio Chaves Barcelos
Cumpre assinalar a ressalva aposta à
Ata, reconhecendo como presente à sessão 29 Secretário
Dr. Carlos de Oliveira Sampaio
q Conselheiro Tristão de Alencar Araripe,
Tesoureiro
que tomou o número 80 da lista : Comendador José Antunes R. de Oliveira Ca-
«Declaro em tempo, que também aderiu ao con- trambí.
vite e assistiu à sessão o Senhor Conselheiro Tris-
€ão de Alencar Araripe. É de supor que um incidente tenha sur-
Rio de Janeiro, 26 de Fevereiro de 1883. — gido, porquanto o Conselheiro Manuel Fran-
Licínio Chaves Barcelos — Secretário». cisco Correia afastou-se da Sociedade, fato
esse que, muito provavelmente, determinou
Na lista oficial, porém, o Conselheiro a demissão de alguns Sócios, entre os quais
Araripe figura, seguramente por inadver- o Dr. Feliciano Pinheiro Bittencourt, cujo
fência ou esquecimento, como «Sócio Fun- pedido de «dispensa de sócio» foi lido e
dador» em virtude do disposto no Art. 33 aceito na sessão do dia 23 de Setembro
dos Estatutos, juntamente com mais 12 ou- de 1883 ; o Senhor Alfredo d'Escragnolle
trás personalidades que, por impedimento Taunay, 10 de Novembro, que comunica
Comunicado, deixaram de comparecer, fi- simplesmente «não desejar fazer parte da
cando, assim, elevado a 92 o número de Sociedade, por enquanto» ; o Senhor Enri-
Sócios Fundadores. que de Beaurepaire Rohan, 31 de Janeiro
de 1884, que anuncia «não poder continuar
A Sociedade realizou 8 sessões prepa- a fazer parte da Sociedade» ; o Comandante
ratórias, que se realizaram nos dias 15 de Manuel Venâncio Campos da Paz — 14 de
Abril, 20 e 27 de Maio, 3, 10 e 17 de Junho, Maio — que se declara «impossibilitado de
1 e 8 de Julho, para discutir os Estatutos, acompanhar os trabalhos da Sociedade» ; o
que foram aprovados na última, isto é, a 8 Dr. Antônio Herculano de Souza Bandeira
de Julho de 1883. Filho — 17 de Junho — que «pede de-
missão».
Na sessão de 15 de Abril, presidida
pelo Senador Correia, foi eleita a Diretoria O Barão de Tefé informa, em carta
de 20 de Setembro de 1883, que «tendo se
provisória, que devia dirigir os trabalhos
da Sociedade até que, aprovados os Es- retirado da «Sessão da Sociedade de Geo-
fatutos, fosse convocada a primeira Assem- grafia de Lisboa, no Brasil», e declarado
bléia Geral. Essa Diretoria ficou assim que não pertenceria a nenhuma outra Asso-
ciação que se houvesse de criar com o mes-
composta : mo fim, não podia aceitar o honroso título
Presidente de Sócio da Sociedade de Geografia do Rio
Visconde de Paranaguá de Janeiro».
l9 Secretário Felizmente, para a Sociedade, S. Ex.
Dr. Licínio Chaves Barcelos reconsiderou o seu ato e abrilhantou os tra-
29 Secretário balhos da Sociedade, figurando como 29
Nicolau Midosi Vice-Presidente na Diretoria eleita em 1884,
Tesoureiro cargo que exerceu durante alguns anos.
Comendador José Antunes R. de Oliveira Ca-
trambí. É de lamentar que o dissídio sobre-
vindo tenha levado a Sociedade a praticar
Aprovados os Estatutos, foi convocada, atos que colidem, não só, com a elevação
para o dia 16 de Setembro, a Assembléia que deveria presidir a orientação de Asso-
A SOCIEDADE DE GEOGRAFIA 55
— Dr.
nistro da Educação e Viação e Obras Pú- genharia. — Rio Grande do Norte
blicas, trataram da cooperação pelos Po- Luiz Câmara Cascudo, diretor do Depar-
deres Públicos aos Congressos de Geogra- tamento de Educação — Rio Grande do
fia, sendo concedida uma subvenção de Cr$ Sul; Dr. João Batista Pereira Filho, dire-
150.000,00 e franquia postal para os tra- tor do Serviço Geográfico da Diretoria de
balhos. Terras. — Santa Catarina — Eng. José
Nicolau Born, diretor da Diretoria de Geo-
Retirando-se para Espanha, designado
grafia e Terras. — Sergipe — Dr. João
pelo Governo em Comissão na Espanha, Carlos de Almeida, diretor do Departamen-
em agosto de 1941, o Sr. Ministro João to Estadual de Estatística.
Severiano da Fonseca Hermes, foi substi-
tuído pelo Professor Fernando Antônio A delegação regional no Estado de São
Raja Gabáglia e Vice-Presidente ocupada Paulo é constituída pelas seguintes pessoas;
pelo Sr. Coronel Emílio Fernandes de Sou- Eng. Valdemar Lefévre, diretor do Instituto
sa Doca. Geográfico e Geológico, presidente, Dou-
tor Bueno de Azevedo Filho e Professor
Em 1942, membros da Comissão Cen- Pierre Monbeig, membros.
trai partiram para os Estados solicitando
colaboração as diversas autoridades com A delegação regional em Goiás foi de-
êxito real. signada por ocasião da inauguração oficial
de sua nova capital e é integrada pelos Se-
Por deliberação aprovada em reunião nhores Drs. Colemar Natal e Silva, pro-
dos membros da Comissão Central, desig- curador geral do Estado e Presidente do
naram os seguintes secretários regionais do Instituto Histórico e Geográfico e da Aca-
Conselho Nacional de Geografia, seus re- demia Goiana de Letras, Humberto Ludo-
presentantes em todo território nacional. viço de Almeida, diretor do Serviço de Ca-
Acre — Dr. Nobrega Passos, diretor dastro Imobiliário e Zoroastro Artiaga,
do Departamento de Geografia e Estatis- membro do Departamento Administrativo.
tica. — Alagoas — Dr. Valdemar Uchôa Em Belém, o Capitão de Mar e Guer-
de Oliveira, diretor da Diretoria de Viação ra Braz Dias de Aguiar reuniu, sob sua
e Obras Públicas. — Amazonas — profes- presidência, a Comissão Organizadora local
sor Agnelo Bitencourt, presidente do Ins- tendo adotado várias providências para a
tituto Histórico e Geográfico. Baia — realização do X Congresso.
Eng. Lauro de Andrade Sampaio, diretor A Comissão Central em reunião do
da Diretoria dos Serviços Geográficos. — dia 9 de Outubro de 1942 baixou as se-
Ceará — Eng. Paulo Torcápio Ferreira,
diretor da Diretoria de Viação e Obras Pú- guintes instruções, aos seus delegados es-
taduais :
blicas. — Espirito Santo — Dr. Cícero
de Morais, diretor do Instituto de Geogra-
fia Geologia e Hidrologia. — Maranhão A COMISSÃO ORGANIZADORA CENTRAL
—Dr. José Franklin Serra Costa, diretor DO DÉCIMO CONGRESSO BRASILEIRO
da Diretoria de Viação e Obras Públicas. DE GEOGRAFIA
— Mato Grosso — Dr. Otávia de Vas-
concelos V. Neves, diretor da Repartição Considerando a conveniência de se es-
de Terras e Obras Públicas. — Minas Ge- tabelecer normas que orientem as atividades
rais — Eng. Benedito Quitino dos Santos, dos seus representantes aos Estados e no
diretor do Departamento Geográfico. Pa« Território do Acre :
raíba — Dr. Sisenando Costa, diretor do Resolve :
Departamento Estadual de Estatística. Pa~
raná — Eng. Antônio Batista Ribas, dire- Art. único. Ficam aprovadas as se-
tor do Departamento de Geografia Terras guintes instruções para os trabalhos dos
e Colonização. — Pernambuco — Dr. Pau- delegados regionais.
Io Pimentel, diretor do Departamento Esta- I9 As delegações regionais nos Es-
dual de Estatística. —Piauí — Dr. João tados e no Território do Acre serão cons-
Bastos, diretor do Departamento Estadual tjtuídas pelas pessoas que foram nomeadas
de Estatística. Rio de Janeiro — Dr. Luiz pelo Presidente da Comissão Organizadora
de Souza, diretor do Departamento de En- Central.
CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA 59
nhor Coronel Hélio de Macedo Soares e ria do corpo discente. O Professor Má-
Silva, grande animador do X Congresso de rio da Veiga Cabral em nome dos colegas
Geografia. A proposta e a sugestão fora saudou os visitantes e em agradecimento fa-
unanimemente aprovada pelo plenário. Fi* lou o Dr. Nestor Lima.
zeram indicações os Srs. José Veríssimo A seguir, o Dr. Henrique Dodsworth
da Costa Pereira pedindo votos de aplausos em presença dos congressistas cortou a fita
ao Estado de Santa Catarina pelo trabalho simbólica do ato inaugural da Seção Didá-
dispensado ao último Congresso, o Sr. Nes- tica de Geografia organizada pelo Prefessor
tor Lima pedendo igual voto para todos os Geraldo Sampaio de Sousa. Essa exposi-
Estados de eficiente cooperação naque- ção foi visitada, durante o con-
grandemente
le mesmo certame e o professor Raja
gresso, principalmente por professores de
Gabáglia, presidente da Comissão Organi- Geografia.
zadora Central, pedindo um voto de home-
nagem a imprensa pela grande colaboração A Seção Didática teve como objetivo
a propaganda do presente Con- apresentar aos professores de Geografia os
prestada
Todas as três propostas foram unâ- elementos necessários a realização dos di-
gresso.
nimemente aprovadas pelo plenário. versos cursos da referida matéria assim como
também mostrar exemplares de mapas, car-
O engenheiro Leite de Castro, falou, tas e livros de utilidade para o magistério
então, sobre a situação das teses já pu- e constou de
quatro sub-seções.
blicadas e logo depois, os presidentes das
comissões técnicas relataram os pareceres a) Livros didáticos ;
sobre as teses já estudadas e que foram
aprovadas pelo plenário.
b) Atlas, mapas, e cartas geográficas ;
Usou ainda da palavra o Dr. Eugênio c) Instrumentos e modelos geográfi-
Vilhena de Morais, Diretor do Arquivo Na- cos ;
cional, que ofereceu alguns exemplares de d) Trabalhos realizados pelos alunos.
trabalhos publicados por aquela repartição
federal, e apresentou uma indicação sobre À tarde, com a presença do Sr. Minis-
Joaquim Caetano da Silva, o insigne autor tro Aristides Guilhem, titular da pasta da
de «L'Oiapoc e L'Amazone. Marinha, foi inaugurado pelo Embaixador
José Carlos de Macedo Soares a Exposição
Iniciando o programa intitulado «Tar- de Oceanografia instalada num dos salões
de Brasileira» o professor Sílvio Fróis de do Colégio Pedro II e orga-
Abreu às 17 1/2 horas naquele mesmo salão nizada (Externato)
pelo Comandante Armando Pina.
do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, fez uma belíssima dissertação sobre O professor João Capistrano Raja Ga-
o «Nordeste Brasileiro». báglia, discorreu sobre a finalidade e valor
dessa Exposição, primeira no gênero reali-
Nesse mesmo dia, às 20 1/2 horas, o zada
na América do Sul, falou a seguir o
professor Jaime Cortesão, no auditório do
Sr. Almirante Aristides Guilhem que enal-
Ministério da Educação, abordou, em con-
teceu a iniciativa e congratulou-se, por fim
ferência, o tema «A Cartografia antiga e com
os organizadores do Congresso. Os
os fundamentos pre-históricos da nação Congressistas,
a seguir, visitaram as depen-
Brasileira». dências do Colégio Pedro II.
No dia 12 (terça-feira) o programa Às 17 horas realizou-se a visita ao Pa-
constou de inauguração das Exposições de lácio
Itamaratí, especialmente ao seu Serviço
Didática de Geografia e a de Oceanografia,
de Documentação. Os participantes do
e das visitas de Documentação do Ministé-
Congresso foram recebidos pelo Embaixa-
rio das Relações Exteriores.
dor Pedro Leão Veloso, titular interino da
Pela manhã desse dia compareceram pasta das Relações Exteriores, que depois
os congressistas ao Instituto de Educação de breve saudação encaminhou os congres-
onde foram recebidos pelo Prefeito Henri- sistas ao Serviço de Documentação onde
que Dodsworth, o Coronel Jonas Correia foram acolhidos pelo Dr. Jorge Latour, che-
Secretário da Educação do Distrito Federal, fe do mesmo Serviço, sendo-lhes, então,
o Dr. Leonel Gonzaga, Diretor do Insti- exibidos os documentos, bem como exem-
tuto, inúmeros professores e a grande maio- plares da preciosa mapoteca pertencentes
¦
66 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
renos anteriomente alagados, compensação A seguir falou a Sra. Berta Lutz sô-
do curso dos rios. bre a sua última viagem a América do Norte.
Às 12 horas, na «Cidade das Meninas» Entrando no recinto o Sr. General Gas-
realizou-se o almoço oferecido aos excursio- par Dutra, Ministro da Guerra, a Assem-
nistas, que decorreu num franco ambiente bléia teve ocasião de prestar uma brilhante
de alegria. Em nome dos congressistas homenagem a sua Excelência.
falou o desembargador Henrique da Silva
O orador seguinte foi o Comandante
Fontes.
Oliveira Belo que comunicou a
Findo o almoço, após as palavras do passagem,
naquele dia, do 61* aniversário da Funda-
Diretor do Departamento Nacional de Obras ção da Sociedade de Geografia do Rio de
e Saneamento, referindo-se aos trabalhos do Janeiro. O Sr. Embaixador Macedo Soa-
Congresso, folou o Prof. Alberto Ribeiro res apresentou congratulações em nome do
Lamego subordinando a sua palestra a dois Congresso e o Sr. Almirante Raul Tava-
tópicos : o «grande sistema de falhas» e res convidou os presentes para a sessão fes-
«dessecamento e ampliação da Baixada». tiva que a Sociedade de Geografia realizaria
Às 21 horas, deste mesmo dia, realizou- naquela noite.
se no Auditório da Associação Brasileira
de Imprensa, a homenagem que as Comis- _ O Coronel Lísias Rodrigues, propoz,
então que fosse dirigido um apelo aos
soes Organizadoras e a Mesa Diretora do go-
vernos dos Estados do Pará, Maranhão e
Congresso deliberaram prestar a delegação Goiás no sentido de que fossem intensifi-
do Pará, chefiada pelo Coronel Magalhães cados os trabalhos da Estrada Transbra-
Barata, Interventor Federal naquele Estado. siliana.
A solenidade foi presidida pelo Sr. Em- O Dr. Álvaro Adolfo da Silveira, in-
baixador José Carlos de Macedo Soares, to- formou, então, que o governo do Estado
mando também parte na Mesa, além do ho- do Pará já havia informado o desenvolvi-
menageado os Srs. Coronel Hélio de Ma- dos trabalhos ali realizados.
cedo Soares e Silva, professor Raja Gaba-
A seguir falou o Sr. Cláudio Ribeiro
glia e Ministro Fonseca Hermes Júnior. Lessa, propondo o reconhecimento aerofoto-
Abrindo a sessão, o Sr. Embaixador gráfico da região da mina de Sincorá, o pro-
Macedo Soares depois de proferir ligeiras fessor Arnaldo Santiago propondo uma nova
palavras sobre a solenidade, deu a palavra divisão de rendas com vantagem para os
ao Orador Oficial o Ministro João Seve- municípios e Dom Alcuíno Meier sugerindo
riano da Fonseca Hermes Júnior, que em a mudança do nome do atual território do
brilhante discurso saudou o Coronel Maga- Rio Branco para o de Parima, o
lhães Barata e os componentes da delegação que foi
discordado pelo Sr. Valério Caldas de Ma-
paraense. A seguir, falou o Coronel Ma- galhães.
galhães Barata agradecendo a solenidade as Verificado o adiantado da hora o Se-,
homenagens de que fora alvo.
nhor Embaixador José Carlos de Macedo
No dia 15, pela manhã reuniram-se Soares deu a palavra aos presidentes das
as comissões técnicas no Instituto Histórico Comissões Técnicas para que relatassem os
e Geográfico Brasileiro. pareceres relativos a diversas teses.
Às 14 1/2 realizou-se nesse mesmo Ins- Finalmente o Sr. Ministro Fonseca
tituto a 3!l sessão plenária presidida pelo Hermes relatou os trabalhos da Comissão
Sr. Embaixador José Carlos de Macedo de Coordenação e Iniciativas.
Soares e que depois de lidas a ata e o ex-
Às 20 1/2 horas, no Auditório do Mi-
pediente concedeu a palavra ao Sr. Mi- nistério da Educação, o Comandante Braz
nistro Bernardino José de Sousa que fez a
Dias de Aguiar, pronunciou uma interes-
entrega do 5 volume do Congresso de Geo-
sante conferência sobre o tema : «Geogra-
grafia, realizado em 1940, na cidade de Fio- fia Amazônica». Terminada a palestra foi
rianópolis. Tendo chegado o Sr. Ministro
Gustavo Capanema, foi o orador interrom- exibido um film sobre Geodésia.
pido, procedendo-se a homenagem ao ilustre No dia 16, às 9 horas, reuniram-se no
visitante. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
68 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Para a outorga de tão elevado galardão, constava da Ordem do Dia, além da eleição
os trabalhos sofrem rígida seleção progres- da nova administração, a cerimônia solene
siva, porquanto estão sujeitos à concessão da entrega dos Prêmios aos autores dos
de um voto de louvor por parte do Congres- trabalhos científicos laureados pelo Décimo
so; e esse voto deve ser, de início, proposto Congresso Brasileiro de Geografia, promo-
pelo Relator individual a que foi distribuído. vido pela Sociedade de Geografia do Rio
O parecer do Relator é examinado pela de Janeiro entre 7 e 16 de Setembro de 1944,
Comissão técnica respetiva e atribuído a uma nesta Capital.
sub-comissão de três Membros, à qual com- Dando início à cerimônia, o Presidente
pete a crítica da tese e do parecer. Somente designou o l9 Secretário Dr. João Ribeiro
no caso de confirmação unânime do parecer, Mendes para ler os telegramas recebidos
este é recomendado à Comissão, que po- designando os representantes dos membros
dera ratificá-lo ou não. premiados ausentes desta Capital.
Cabe, ainda, à Comissão de Coorde- Em seguida o Presidente recebia na
nação e Iniciativas do Congresso o direito sala de sessões o Professor Fernando An-
de impugnar a concessão do voto de louvor, tônio Raja Gabáglia, Presidente da Comis-
na hipótese de incidir o trabalho em qual- são Organizadora Central do Décimo Con-
quer das restrições estabelecidas no Regu- gresso Brasileiro de Geografia, que foi sau-
lamento do Congresso. dado por entusiástica salva de palmas pela
Além desse regime de severa seleção, numerosíssima e seleta assistência.
a concessão dos votos de louvor deve ser O Presidente Almirante Raul Tavares
homologadas pelo plenário do Congresso. convidou o Dr. Raja Gabáglia a tomar as-
Não são, entretanto, todas as teses sento à Mesa e, em seguida, deu a palavra
aprovadas com voto de louvor, mas apenas ao mesmo para que iniciasse a oração de
aquelas que, tendo merecido esse voto, ver- saudação aos autores dos trabalhos laurea-
sarem sobre tema oficialmente recomendado dos. O Dr. Raja Gabáglia, em brilhante
improviso, enalteceu a obra da benemérita
pela Comissão Organizadora, discriminação
essa que cabe à referida Comissão. Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro,
promotora dos Congressos Brasileiros de
As tesses e trabalhos assim seleciona- Geografia e especialmente pelo êxito ai-
dos, são entregues à Comissão Especieal cançado pelo último certame, isto é, pelo
Julgadora, que é constituída pelo Presidente Décimo Congresso que, graças ao apoio
efetivo do Congresso e pelos Presidentes dos poderes públicos nacionais e da clari-
das 10 Comissões técnicas, à qual compete vidente presidência do Embaixador José Car-
classificar os trabalhos dignos desse Prêmio. los de Macedo Soares, concretizou de for-
Como estabelece a Resolução n9 6, as ma inexcedível o sonho do saudoso idea-
Medalhas a serem conferidas eram 3 : de lizador dos Congressos Nacionais de Geo-
ouro, de prata e de bronze. grafia, o sempre pranteado Dr. Artur José
A Comissão Julgadora, composta dos Boiteux. O Dr. Raja Gabáglia terminou
11 Presidentes, depois de acurado estudo, o discurso declarando que sentia a maior
foi de parecer que, dentre os muitos traba- satisfação por ver entregues a eminentes
lhos que lhe foram aubmetidos, pelo menos representantes da intelectualidade brasileira
8 merecia esse Prêmio. os Prêmios concedidos, sem esquecer que
figurava entre eles o eminente geógrafo e
Em sessão conjunta, dessa com a Co- historiador português Dr. Jaime Cortesão,
missão Organizadora do Congresso, foi ado* o qual também considerava integrado na
tado esse critério. nacionalidade brasileira.
No dia 21 de Dezembro de 1944 reu- Em continuação, o Presidente Ministro
niu-se a Sociedade para proceder à solene Almirante Raul Tavares procedeu à cha-
entrega das Medalhas aos Laureados pelo mada dos laureados, fazendo pessoalmente
X Congresso Brasileiro de Geografia, como a entrega dos Prêmios na seguinte ordem :
consta da respectiva Ata :
l9 Prêmio :
«... O Presidente Almirante Ministro «Artur Boiteux» — Medalha de Ouro
Raul Tavares comunicou aos presentes que — conferido ao Engenheiro Alberto Lamego
PRÊMIO JOSÉ BOITEUX 73
Filho, autor do trabalho : «O homem e a varí — Uma Carta Geral — Aspectos Fí-
restinga» ; sicos — Expedições demarcadoras» ;
29 Prêmio : Dr. Artur César Ferreira Reis, autor
do trabalho : «Sertanistas, Missionários e
Medalha de Prata aos Senhores : Demarcadores, na revelação geográfica da
Professor Jaime Cortesão, outor do tra- Amazônia» ;
balho : «A Cartografia antiga e os funda- Professor Carlos Marie Cantão, autor
mentos prehistóricos da Nação Brasileira». do trabalho : «Programa — tipo de ex-
Professor Samuel Benchimol, autor do cursões geográficas para fins didáticos» ;
trabalho : «O Cearense na Amazônia — Dr. Agnelo Bittencourt, autor do tra-
Inquérito antropogeográfico sobre um tipo "Perfil
balho; do homem da Amazônia".
de imigrante» ;
Engenheiro Vitor Peluso Júnior, autor Em seguida o Presidente deu a palavra
da monografia «Lages, a Rainha da Serra» ; ao ilustre Professor Jaime Cortesão que agra-
deceu, em nome de seus colegas laureados,
3'1 Prêmio :
a honra que lhes foi conferida pela So-
Medalha de Bronze aos Senhores : ciedade de Geografia do Rio de Janeiro e
Ministro João Severiano da Fonseca pelo Décimo Congresso Brasileiro de Geo-
Hermes, autor do trabalho : — «O rio Ja- grafia».
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO PARA PROFESSORES
DE GEOGRAFIA, DO CICLO SECUNDÁRIO
palavras alusivas ao ato, procedendo-se a blemas do seu ensino», pelo professor Jorge
seguir, à leitura da lista dos professores Zarur.
inscritos.
Dia 26 — às 9,30, o mesmo professor
Em eloqüente discurso, o orador oficial fez uma preleção acerca da «Geografia Re-
da Sociedade, Professor Francisco de Sousa gional» ; às 10,30, o professor J. C. Jun-
Brasil, salientou a finalidade do curso e a queira Schimidt lecionou sobre «Climatolo-
iniciativa da Sociedade. gia» e às 11,30, o professor Alírio de Matos
Teve, às horas e 30 minutos, início o curso sobre «Cartografia». Houve visitas aos
com a primeira aula do Professor Delgado de Serviços de Geologia e do Recenseamento,
Carvalho, que versou sobre Geografia Hu- entre 15,30 e 17 horas.
mana: «O retrato físico e humano da Ingla- Dia 27 — às 9,30, o professor Giórgio
terra»; continuando a segunda lição: «Ocea- Mortara falou sobre «A população brasi-
nografia», dada pelo Almirante Jorge Dods- leira» ; às 10,30, o professor Jorge Zarur
worth Martins, 2° Vice-Presidente da Socie- acerca da «Geografia regional dos Estados
dade. Às 15 horas realizou-se a visita de cor- Unidos da América» ; e às 11,30, o professor
tesia dos professores e alunos à Sociedade e F. Ruellan sobre «Geomorfologia». Focou-
ao Conselho Nacional de Geografia. se, às 15,30, um filme do rio São Francisco
Do dia 22 em diante, as aulas se desen- e às 17 horas, o professor Delgado de Car-
volveram no Conselho Nacional de Geogra- valho prelecionou acerca do «Seminário sô-
fia, dando sua segunda preleção o professor bre didática da Geografia».
Delgado de Carvalho sobre «A didática na Dia 28 — O professor J. Zarur, às 9,30f
Geografia», às 9 horas 30', seguindo-se o discorreu sobre «Técnica geopolítica» ; en-
professor Jorge Zarur, que dissertou a res- cerrando as aulas de «Climatologia» e de
peito dos «Métodos da Geografia Econômi- «Cartografia», respectivamente, os profes-
ca»; e às 11,30' o professor João Capistrano sores Junqueira Schmidt e Alírio de Matos,
Raja Gabaglia acerca do «Material didático ,às 10,30 e 11,30. À tarde, visitas ao Ins-
no ensino da Geografia». Às 17 horas, o
|tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
professor Francis Ruellan focalizou o tema e ao Conselho Nacional de Estatística.
«O seminário de Geografia física e os pro-
blemas do seu ensino». Dia 29 — Deu sua aula, às 8,30, sobre
«Geografia do Brasil» o Engenheiro Cris-
Dia 23 — Às 9,30, o professor Francis tovam Leite de Castro ; e, às 10,30, o
Ruellan discorreu sobre «Geografia física» ; pro-
fessor J. Zarur sobre o «Rio São Fran-
às 10,30, o professor J. C. Junqueira Sch-
cisco» ; e, às 11,30 o professor F. Ruellan
midt falou acerca de «Climatologia» ; às
11,30, o professor Delgado de Carvalho acerca do «Japão» ; às 15,30 foram proje-
tados filmes do rio Tapajós e das obras do
prelecionou sobre «O ensino das Unida-
des» ; efetuando-se, das 15,30, às 17 horas, Tenesse Valley Authority; reservando-se o
des»; efetuando-se, das 15,30, às 17 horas, resto da tarde para consultas dos alunos aos
visita aos serviços de Meteorologia e de Pro- professores.
teção aos índios. Dia 30. O professor Everardo Backheu-
Dia 24 — domingo — Excursão de ser discorreu sobre as «Fontes da Geogra-
estudo*; à Baixada Fluminense, pelos pro- fia» às 9,30, encerrando, às 10,30, suas pre-
fessôres e alunos. leções a respeito da «Geomorfologia», o
Dia 25 — às 9,30, o professor Alírio professor F. Ruellan; às 11,30, o professor
de Matos falou sobre «Cartografia» ; às Fernando Antônio Raja Gabaglia encerrou,
10,30, o professor Francis Ruellan tratou com uma dissertação de caráter geral, o
da «Geomorfologia» ; às 11,30, o professor curso criado pela nossa Sociedade.
João Capistrano Raja Gabaglia lecionou a Como se pode verificar, desenvolveu-se
respeito das «Excursões e visitas no ensino um programa intenso, sendo aproveitadas
da Geografia» ; às 13,30, uma sessão cine- cerca de seis horas diárias, durante dez
matográfica elucidativa da leitura de mapas, dias consecutivos, em que foram ministra-
rematando-se o dia com uma palestra sobre das trinta aulas abarcando importantes seto-
«Seminário de Geografia humana e os pro- res da Geografia.
76 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Inscreveram-se 103 pessoas, não só como lho de Sousa, Emília de Carvalho Antony,
alunos regulares, como também ouvintes Eugênia de Oliveira Barbosa, Geraldo Sam-
para certas preleções. paio de Sousa, Gustavo Sartosa, Hildebran-
do Castro Gonçalves, Isabel Maria Fuentes
Apenas 57, dos alunos regulares, satis-
Hernández, José Gonçalves Vilanova, Judi-
fizeram ao mínimo de freqüência exigido
te P. Valadares Salgado, Leia Quintierre,
(75%), para poderem ser admitidos às pro- Lúcia Maria Cavalcante, Maria do Carmo
vas de habilitação, dos quais somente 47
Alves Pequeno, Maria José Homem da Cos-
submeteram-se aos exames, merecendo apro-
ta, Maria Teresa Vidal Prieto, Mariam
vação 36.
Tiomno, Mário Pérez Rodríguez, Mateus
Nada mais expressivo do acerto da ini- Paulo Rodrigues Guedes, Moacir Sampaio
ciativa da Sociedade, como do êxito do curso, de Sousa, Odília Gomes, Olga Brandão Cor-
que o fato do memorial apresentado pelos deiro de Almeida, Osvaldo Gonçalves de
alunos-professores para que sejam aprovei- Sousa, Rui Afrânio Peixoto, Valdemar Cos-
tadas as férias de cada ano (junho) para ta Cocchiarale, Valdemar de Gusmão (36);
certames análogos, por via dos quais lhes Agostinho Pereira de Melo, Antônio Tei-
será facultado manter-se ao corrente das xeira Guerra, Clóvis Assunção, Helena Mát-
atividades geográficas no país e bem assim tar, João Diogo Pereira da Fonseca, José
dos progressos da ciência geográfica e de Dias Bastos, José Júlio Guimarães Lima, Luís
sua didática. Arlindo Tavares de Lira, René Oliveira Bar-
Em sessão solene, realizada a 11 de ju- bosa, Rute Matos Almeida Simões, Antônio
lho, no salão nobre da Sociedade de Geo- dos Santos Oliveira Júnior, Augusto Gomes
Vilaça, Claudiston Lima Santos, Dina Ma-
grafia, perante numerosa concurrência, o
Embaixador J. C. de Macedo Soares, pro- nhães, Edgardo Cornélio dos Santos Faria,
cedeu à leitura dos nomes dos professores Galileu Graciliano de Brito, Godofredo de
diplomados, entregando-lhes os Diplomas Sousa Aguiar Jr., Jofre da Costa Azevedo,
respectivos. José Fernandes Monteiro, Orlinda Lacerda
;v França, Raul Schmidt Sobrinho. *
Em nome da Sociedade, o Ministro J. S.
da Fonseca Hermes, l9 Vice-presidente, Dos 57 supracitados, somente os 36 pri-
saudou os recém diplomados, relevando a meiros colocados foram habilitados, rece-
sagrada missão que lhes incumbe, assim bendo, os demais, apenas um certificado de
como a nobreza e autenticidade do título freqüência.
que acabavam de conquistar, o qual per- Pela sua importância, damos a seguir o
mite a obtenção de postos mais elevados, discurso pronunciado pelo nosso l9 Vice-
terminando por agradecer a resposta que presidente, Ministro J. S. da Fonseca Her-
deram ao apelo, intuito e esforços da So- mes, na sessão de 11 de julho, em que foram
ciedade. entregues os Diplomas expedidos pela Sc-
O Dr. Cristóvão Leite de Castro, Secre- ciedade Brasileira de Geografia:
tário Geral do Conselho Nacional de Geo- Senhor Presidente, minhas senhoras, meus senhores,
grafia, em uma das reuniões do Conselho senhores prezados consócios :
Diretor da Sociedade, teceu amplos comen-
tários sobre o resultado obtido e enalteceu «Le plus noble prix de la science, est
a iniciativa da Sociedade, salientando o in- le plaisir d'éclairer 1'ignorance».
discutível sucesso obtido, como atestam os Enunciada por aquele que, sob o nome de Charles
103 professores que se inscreveram no curso Castel de Saint-Pierre, 1'abbé de Saint-Pierre, há dois
e que o freqüentaram com uma assiduidade séculos e meio já quase passados, arquitetava a paz
bem regular e evidente aproveitamento. universal sob a autoridade de um tribunal ou liga
de Nações, esta máxima pode e deve ser lembrada,
A Sociedade Brasileira de Geografia ou- neste momento e nesta cerimônia, como devida home-
torgou Diplomas aos seguintes professores : nagem que os Professores de Geografia prestam ao
conhecimento humano, porque aqui nos encontramos
Agliberto Vidal de Castro, Altair Gomes, reunidos para oferecer à ciência o maior prêmio a
Álvaro Pais de Barros Filho, Armando que ela possa aspirar: — o prazer de esclarecer a
José ignorância.
Sampaio de Sousa, Ari Augusto Chaves
Faria, Ceurio Roberto de Holanda Olivei- A vós, Senhores professores, essa missão sagrada,
ra, Clélia Roselli, Cleonice de Sales Ma- a vós, Senhores professores, essa Embaixada, porque
cuco, Daso de Oliveira Coimbra, Elsa Coe- a ciência vos conferiu credenciais para disseminar-
lhe os conhecimentos, para esclarecer a ignorância.
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO 77
A vós, Senhores professores, o mais nobre prêmio A Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, é
a que a ciência pode aspirar, a vós êsse prazer da justo que se diga e que se repita, se integra na co-
Consciência, o mais belo porque o irais modesto dos munhão cultural do nosso país com um acervo de
trabalhos e conquistas digno do mais elevado apreço,
prêmios, e dos prazeres, a que aspirar possam a
ciência c a consciência humanas. destacando-se como um dos expoentes mais tradi-
cionais e eficientes da inteligência e do esforço,
* * *
não só pelos serviços que já prestou mas, ainda,
pela luta que os seus associados vêm, há mais de
62 anos, sustentando, entre culminâncias e desalen-
Não c esta, meus Senhores, a vez primeira cm tos, para garantir-lhe a superexistência, para que não
que a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro se desapareça, para que digna continue dos propósitos
empenha em organizar cursos de altos estudos geo- e das aspirações daqueles que, a 25 de fevereiro de
gráficos. 1883, a fundaram, daqueles que a sustentaram, da-
Desta feita, porém, a sua iniciativa apresenta as« quelcs que hoje se honram em formar-lhe o quadro
social.
pectos novos e de marcada relevância.
Em primeiro lugar, o curso, que hoje encerramos, Para mais de 3.000 já vai o número daqueles que
foi dedicado aos Professores de Geografia; em se- ingressaram em tão venerando sodalício, sendo de
destacar o nome augusto de Sua Majestade o Impe-
gundo lugar, os diplomas que a Sociedade vai con-
ferir são diplomas autênticos de um aperfeiçoamento rador Dom Pedro II, seu primeiro Presidente de
cultural, que o Estado reconhece como bastantes Honra e um dos assíduos freqüentadores de nossas
reuniões, pelo passado.
para a outorga de direitos à conquista de postos su-
periores; c, cm terceiro, as aulas deste ano tiveram Cerca de 1.000 trabalhos geográficos já publi*
o concurso valiosíssimo do Conselho Nacional de cou a nossa Revista, cujo tomo 52tf está por apa*
Geografia que, fiel ao espírito geográfico, pôs à dis- recer.
posição da Sociedade, dos Mestres e dos Professores- 10 Congressos Brasileiros de Geografia já realiza-
alunos todos os elementos e recursos de suas ins-
talações e aparelhamento para que mais eficientes mos, congregando 7.85£ brasileiros e oferecendo a
e objetivas pudessem ser as classes desenvolvidas ; contribuição de 963 trabalhos.
porque contámos com a colaboração dos Serviços Por iniciativa da Sociedade, foi transportado, dos
de Meteorologia, do Censo e de índios, os quais, coo- sertões da Bahia, para o Museu Nacional o meteorito
perando nesse curso, puzeram, também, à disposição Bedengó, tendo o nosso ilustre consócio, Visconde de
dos Professores-alunos todas as suas instalações, pro- Guahy, concorrido com 20 contos de réis, valor em
porcionando-lhes os mais pormenorizados esclareci- 1887, que representaria, hoje, cerca de 250.00Ü
mentos técnicos a respeito do seu funcionamento e Cruzeiros.
do seu entrosamento com a Geografia.
Várias foram as explorações científicas e geográ-
Entre os Mestres que regeram as cátedras desse ficas levadas a efeito pela Sociedade, sendo de lem-
novo ciclo, vejo alguns veteranos da Geografia, ve- brar, pelo triste fim que teve, a realizada sob a
teranos em cultura, cm dedicação, cm tradições, não chefia do saudoso consócio Capitão Teles Pires ao
veteranos cm tempo ou idade, e que, pelos serviços sertão de Mato Grosso.
prestados no último curso organizado pela nossa Para a publicação do «Dicionário Geográfico» de
Sociedade, dela mereceram o título de Honra com
Moreira Pinto, que contém mais de 20.000 vocábulos,
que a nossa Agremiação quis galardoar-lhes os altos a Sociedade contribuiu com quase 9 contos de réis,
méritos. E' com desvanecimento que declino os seus ou sejam: cerca de 100.000 Cruzeiros.
nomes: Everardo Backeuscr, Delgado de Carvalho,
Fernando Antônio Raja Gabaglia. A nossa Biblioteca e Mapoteca constitui um repo-
sitório notável de ciência geográfica.
Novos expoentes da nossa ilustração geográfica,
como: Dodsworth Martins, Cristóvam Leite de Castro, A primeira Exposição de Geografia Sulamericana,
realizada no Rio de Janeiro, foi de tão grande e
Alírio de Matos, João Capistrano Raja Gabaglia,
houv brilhante sucesso que, por isso mesmo, talvez, não
J.C. Schmidt, G. Mortara, J. Zarur, formam, houvesse quem se atrevesse a organizar uma se-
bro a hombro, com os sempre jovens e alertas vete- gunda.
ranos da Geografia pátria, e outro, ainda, aqui está,
.orno essa luzida plêiade; de nome estrangeiro, nome Por ocasião do Centenário da Independência, or*
ganizámos a Geografia do Centenário, cuja edição
porém, que já se nos fez caro e cuja nacionalidade, não foi possível fazer completa, por carência de
longe de constituir uma delimitação, surge, entre nós recursos.
e para nós, como símbolo tradicional de cultura e
de beleza. A nossa Sociedade compareceu sempre nos Con-
gressos internacionais de Geografia e de America-
Foi da França eterna, eterna pela ciência c pelo nistas, realizados fosse na Europa, fosse na América
liber-
gênio, pelas idéias c pelos ideais, berço das do Sul, do Centro ou do Norte, e com todas as
dades e dos mais belos pensamentos, onde fomos Sociedades congêneres do mundo mantivemos inter-
buscar, de onde nos vieram todas as aspirações, câmbio cultural e de publicações.
todos os elementos que plasmaram, durante mais de Os nomes mais eminentes da Geografia pátria ilus*
um século de autonomia cultural a nossa formação traram a nossa tribuna, e, dentre os estrangeiros,
mental e intelectual. citarei Elysée Réclus, Von den Steinen, Giovanni
A Franciss Ruellan desejo, em nome da nossa Rossi, Juan Francisco Valverde, Jean Charcot, Or«
Sociedade e da Geografia brasileira, patentear o nosso ville Derby, Savage Landor, Alexander Haag,
reconhecimento e a nossa admiração. William John Steans, A. Tills, Joseph Mowson,
78 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Gustav Suckow, Paul Enrenrreich, Frédéric Maurice, fessorado, mas, e sobretudo, para que mais eficú Jte
Draenert, Jules Marcou, Gustav Pichard, Alejandro se fizesse vossa capacidade de Professor.
Cancedo, Karl Leu, A.S. Forrest, Pierre Defrontai- * * *
nes, Emmanuel De Martonne e tantos outros.
E hoje, sob a presidência do egrégio e benemérito
Embaixador José Carlos de Macedo Soares, tendo a Em todo o mundo civilizado, a Geografia é pro-
coadjuvar-lhe o dinamismo e a eficiência, aqui estão clamada a Rainha das Ciências, a ciência mais útil
Jorge Dodsworth Martins, Everardo Backeuser, Mário e indispensável ao homem, porque é a Geografia
Rodrigues de Sousa, Frederico Augusto Rondon, Oli- que estuda a terra em todos os seus infinitos e com-
veira Belo, Francisco de Sousa Brasil e quem a honra plexos aspectos.
tem de vos dirigir a palavra neste momento. E' sobre a terra e da terra que vivemos.
O nosso programa de ação, que visa criar um
Museu Geográfico, ampliar o ciclo de conferências E' ela que tudo nos dá e tanto maior será a
técnicas, científicas e culturais, realizar inquéritos e quantidade e superior qualidade do que nos possa
excursões geográficas, ampliar os quadros sociais, oferecer quanto mais e melhor a conhecermos.
cogita, também, dos cursos de altos estudos geográ- A Geografia abrange todos os estudos da terra,
ficos, cuja primeira etapa é hoje encerrada com a desde a matemática, que nô-la permite medir, pas-
adesão de 100 Professores de Geografia do curso sando pela geologia, que nô-la faz conhecer em sua
ginasial. constituição para que mais intensa e eficiente se
faça a sua exploração cm benefício das indústrias,
* * *
da agricultura e da pecuária, e pela antropogeogra-
fia, que estuda as relações do homem com a terra,
Senhores Professores, a alta dignidade de que vos em todos os seus reflexos sociais, políticos e histó-
achais investidos poderia, muitas vezes, decair de ricos, até à fisiografia, que permite as realizações eco-
sua elevação frente às realidades da vida material nômicas, e à Geopolítica, que orienta os estadistas
e quotidiana se, por em cima do primum vivere, na solução dos mais relevantes problemas nacionais,
deinde philosophari, não estivesse presente ao vosso e de entrosamento com os demais países e povos.
coração e à vossa consciência o sentimento do dever, O estudo da Geografia, portanto, é básico e funda-
que a vocação do magistério inspira e que vós dedi- mental para o Estado e para o Homem.
cadamente praticais. Tornar patentes, divulgar e incutir no espírito dos
A um dos imperadores mais humanos e mais dignos nossos patrícios essas verdades é o que se propõe,
cíos que têm reinado se atribui uma frase, que bem é ao que tende a Sociedade de Goegrafia.
traduz esse respeito à sagrada missão de esclarecer E vós, Senhores Professores, deveis ser os após-
a ignorância, tão sagrado quão a de conduzir os tolos dessas doutrinas, desse programa cultural, na-
destinos de um povo, de uma nação: — «Se não ti- cionalista, universal, aqueles que, de primeira mão,
vesse nascido para reinar, teria querido ser pro- estão chamados a fazer penetrar na inteligência e a
fessor. despertar no coração das nossas juventudes o gosto
De vossa humanidade e da retidão de vossa moral, e a inclinação vocacionais dos futuros cidadãos, dos
dos vossos conhecimentos, da vossa suave energia homens de amanhã.
e da vossa inteira compreensão de tudo o que signi- E ninguém, melhor do que vós, poderá incutir-
fica moldar e plasmar sentimentos, inclinações, inteli- lhes essas verdades fazendo-lhes perceber e sentir o
gências, anelos e arrebatos, é que depende a forma- panorama geral c as perspectivas fundamentais que
ção ética e culturalmente estética das juventudes que o conhecimento da Geografia encerra, como base de
se vão sucedendo para formarem a nação de ama- todas as projeções científicas c utilitárias.
nhã, porque, por entre vossas mãos, pendentes de
vossos sentimentos, de vossa ciência, de vossa arte • *
A Sociedade Brasileira de Geografia não Uns sustentam o erro dos colonizadores em não
atraírem, humana e boamente, o selvícola à cola-
podia deixar de prestar a sua solidariedade boração estreita com os invasores, decorrentes as
à «Semana do índio», com que o Serviço conseqüências da infâmia c dos perenes malefícios da
de Proteção aos índios comemorou, este ano, importação de africanos.
suas beneméritas atividades. Outros propendem em reconhecer, na indomabili-
dade dos índios c na necessidade de braços para a
Assim foi que, no dia 25 de Abril, a So- lavoura e para os árduos trabalhos da mineração,
ciedade se reuniu em sessão extraordinária o fato, em si imperioso, da implantação da escra-
para ouvir a conferência do Coronel Fran- vatura no Brasil.
cisco Jaguaribe Gomes de Matos sobre o A mentalidade dos conquistadores no século XVI
tema «Contribuição ameríndia na civilização não se detinha na contemplação sequer da igualdade
ocidental», sessão que foi honrada com a pre- dos homens brancos, quanto mais no respeito aos
negros e índios que, na opinião de alguns, nem hu-
sença do benemérito «Protetor» do nosso sei- manos eram.
vícola, o desbravador do sertão brasileiro,
Outros fatores levaram os conquistadores ao des-
General Cândido Mariano da Silva Rondon,
preso do índio c do negro, em quanto ao Brasil se
Presidente de Honra da nossa Sociedade. refere.
Infelizmente, o Coronel Jaguaribe de Ma- O índio e o negro não eram cristãos e, como in-
tos não pôde, até hoje, entregar-nos o texto créus, deviam ser reduzidos à escravidão.
de sua abalizada conferência, pelo que la- A vitória dava o direito de escravizar os venci-
mentamos não nos ser possível publicá-la dos, era a prática seguida, mesmo na Europa.
Por outro lado, o Brasil tinha de dar a Lisboa
neste número. riquezas iguais às que o Peru e o México propor-
É-nos, entretanto, grato reproduzir as pa- cionavam a Madrid.
lavras que o nosso 1- Vice-Presidente, no Sua Majestade Fidelíssima não podia figurar em
exercício da Presidência, pronunciou nessa plano inferior ao de Sua Majestade Católica.
ocasião : Não seriam os poucos portugueses, deportados
uns, aventureiros outros, ávidos, todos, de riqueza,
«A Sociedade Brasileira de Geografia se associa que haviam de atirar-se às mais duras tarefas.
à iniciativa do ilustre General Cândido Mariano da Conquistar, pilhar, vencer e dominar era o nor-
Silva Rondon, que instituiu a «Semana do índio» mal, era o justo, era ao que vinham.
como tributo de reconhecimento ao primitivo sobe-
rano do nosso solo e sustentação dos direitos do Poucos homens contra uma população arredia e
selvícola. uma colônia imensa, agreste, longínqua, a explorar.
Uma incógnita paira ainda sobre a consciência O servícola não se submeteu à escravidão, prefe-
nacional, objeto de inquéritos subjetivos e fonte de riu deixar-se morrer ou ser morto, não só porque
teses divergentes, a respeito das conseqüências que se viu perturbado em sua vida e costumes, mas ainda
poderiam advir para o Brasil a adoção de outra porque seu feitio nômade e livre, indolente, desconfia-
política que a seguida pelos descobridores, no que do e indômito, não podia se ajustar à situação complc-
concerne o indígena. tamente inversa a que o queriam reduzir os colo-
As opiniões, porém, se dividem. nizadores.
80 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
O remanescente foi se retirando à proporção que Êle nos dirá, estou certo, coisas de alta relevância
o invasor avançava. a respeito do contato do deíobridor com o indígena
e muito da obra ingente levada a efeito pelo Serviço
Glorificamos as «Bandeiras», no que tiveram de de Proteção ao índio, instituição a que o General
transcendental para a dilatação do território brasi- Rondon, nosso ilustre Presidente de Honra, vem
leiro, mas não devemos esquecer o anverso desses dedicando tantos e tão prolongados esforços.
episódios, bem pouco lisonjeiros, porquanto, além de
terem por objetivo principal a busca do ouro e da Outros, também, se dedicam à catequese do sei-
prata, visavam a caça de índios para reduzi-los à vícola; quero me referir às Congregações religiosas
escravidão. que mantêm centros de atração e educação de índios
pelos ínvios sertões do Brasil, tomando como exem-
Se os portugueses são passíveis de censura por pio a magnanimidade, cristã e humana, de um Las
terem pretendido escravizar o autóctone, por tê-lo Casas, de um Nóbrega, de um Anchieta.
forçado a fugir até às extremas do território, por
lhe terem dado a morte aos milhares, muito mais E fato digno de ser revelado, apesar da diversi-
condenáveis são aqueles que durante quase um século dade de conceitos, no que se refere às modalidades
de vida independente, sob a égide dos direitos do cívica e religiosa, operantes no grupo professo e no
homem, dentro do conceito filosófico da igualdade grupo que podemos chamar oficial, o entendimento
das raças e da proteção aos mais débeis, pouco ou existente entre ambas roí e é cordial e efetivo.
de nenhuma maneira se preocuparam da sorte dos A admiração e o respeito recíprocos, pelos sacrifí-
servícolas. cios e elevação moral que tal obra exige dos ho-
Ainda nesse ponto, entretanto, as opiniões se di- mens, são os fundamentos que justificam essa solida-
videm, porque uns acham que a felicidade está na riedade admirável, ao mesmo tempo que natural.
civilização, ao passo que outros entendem que o Por isso é de lamentar que, nesta sessão, não ou-
índio será sempre mais feliz no âmbito em que nas-
ceu, na prática dos costumes inveterados e ancestrais, çamos também os ecos da obra de catequese reali-
zada pelas Missões religiosas.
na liberdade e no primitivismo ingênuo em que sem-
pre viveu. O Coronel Jaguaribe de Matos a ela, talvez, venha
a referir-se, guiado pelo espírito de justiça que tão
Onde reside a felicidade ? bem caracteriza a tradição da nobre tarefa dos de-
Vamos ouvir a palavra autorizada do Coronel cifradores das incógnitas do nosso sertão e da vida
Jaguaribe de Matos. dos primitivos brasílicos.
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ciedade e acentua que a nossa Instituição tri- para a consolidação e extensão da paz e da
butou grandes homenagens a alguns argen- concórdia entre os povos.
tinos ilustres, atribuindo o Título de Presi- A Sociedade de Geografia do Brasil re-
dente de Honra ao General Júlio R. Roca cebe, pois, com agrado e entusiasmo, a men-
e ao Dr. Vitorino de La Plaza e o de Sócio sagem do Instituto Argentino de Estudos
Geográficos c pede ao Dr. Galmarini diga
de Honra aos Senohres. Dr. Manuel Ber-
ao Presidente Almirante Casais que os seus
nárdez, Júlio Fernández, Dr. Norberto Quir-
no Costa, Dr. Lucas Ayarragaray e Dr. propósitos encontram de nossa parte a mais
franca correspondência.
Carlos Lix Klett. O Senhor Galmarini reitera os seus agra-
Tece elevados comentários em torno ao decimentos pelo fraternal acolhimento que
tema da cooperação entre as Associações teve na Sociedade e assegura que levará ao
culturais e científicas da Argentina e do Almirante Casais e aos demais companhei-
Brasil, da América e do mundo, para che- ros do Instituto as suas magníficas impres-
gar à conclusão de que o espírito e a inteli- soes.
gência, a serviço da cultura e da ciência, Com as mesmas formalidades o Senhor
constituem os instrumentos mais eficientes Galmarini se retira.
INAUGURAÇÃO DO RETRATO DE S.A.R. O SENHOR
CONDE DEU, VICE-PRESIDENTE DE HONRA
DA SOCIEDADE
En Ia sidejo de Brazila Societo de Geografio, dum Ia solena kunsido memoriganta Ia 62-an datrevenon
pe Ia fondo de Ia Societo, estas inaílgurita portreto de Grafo d*Eu, kiu estis honora preztdanto de Ia Societo.
Ôeestis Ia ceremonion Ia ne/o de Ia Grafo, Princo Pedro Gastão de Orleans e Bragança, kiu ncevis
Ia titolon de honora membro. En lia nomo dankis D-ro Alcindo Sodré.
INAUGURAÇÃO DO RETRATO DO CONSELHEIRO
FRANCISCO MANOEL CORREIA, INICIADOR DA
FUNDAÇÃO DA SOCIEDADA
Tesoureiro s
oito anos mais tarde, também na cidade do Rio de percebido aquele retraimento do Instituto e também
Janeiro, um grupo de brasileiros, ilustres e amantes compreendido que a única solução viável, que no
da Geografia e da História, reunidos em convívio momento se lhes apresentava, para salvar a perieli-
harmônico, fundavam o Instituto Histórico, Geográ- tante situação dos estudos e problemas geográficos
fico e Etnográfico Brasileiro, com o objetivo de se nacionais, era a fundação de uma Sociedade de Geo-
preocupar com os estudos geográficos e históricos, grafia, independente e moldada no eficiente programa
preferentemente nacionais, de modo a cooperarem francês.
na solução dos problemas econômicos e sociais do E quem teve essa inspirada idéia e soube propa-
país. gá-la, colher-lhe adeptos e procurar dar-lhe a exis-
E para sua honra e glória essa vetusta instituição tência prática foi o eminente Conselheiro Manoel
ainda existe, vivendo das suas veneráveis tradições Francisco Correia, devotado aos estudos, Diretor de
e do labor profícuo e alto saber de seus ilustres uma Escola, protetor de instituições de* ensino, e
sócios, através de cento e sete anos de contínuos e ilustre conferencista. *
proveitosos esforços. Para isso, na tarde de 11 de Fevereiro de 1883
Nas épocas em que todas aquelas Sociedades c reuniu em sua residência desesseis bons e ilustrados
esse Instituto foram criados a Geografia há muito brasileiros, que estavam de acordo com a sua idéia,
e com eles estudou os meios de agir para pô-la em
que já vinha perdendo o seu restrito caráter descri- execução. Desse encontro resultou a expedição de
tivo e nomenclativo da superfície da Terra e se
um convite, escrito e assinado por todos os pre-
preocupando, embora sem larguesa, com o seu inte- sentes, dirigido a cem ativos e cultos patrícios decla-
rior e com o próprio homem, seu principal habitante.
A esse já interessava conhecer a sua situação física, rando-lhes que, caso concordassem com a fundação
econômica e social em relação à Terra e, bem de uma Sociedade de Geografia, comparecessem no
assim, todos os produtos naturais que dela poderia próximo dia 25, ao meio-dia, na Escola da Glória, à
colher para aplicar ou transformar em seu proveito. praça Duque de Caxias, para confirmar tal fundação,
já estudada e aceita pelos signatários.
Em virtude disso, a Geografia já era encarada, por Realmente nesse dia, setenta e nove compare-
alguns homens de saber, como um vasto ramo dos centes, sob a direção do Conselheiro M. F. Correia,
conhecimentos humanos em conexão com várias homologaram com grande satisfação a referida fun-
ciências positivas e por outros, mais avançados ou dação da Sociedade de Geografia do Rio de Ja-
menos ortodoxos, como uma ciência própria e inter- neiro, elegeram uma Diretoria provisória e uma Co-
dependente. Todavia, no Brasil, os geógrafos não missão tríplice para elaborar o ante-projeto dos es-
haviam evoluído tanto e ainda se apegavam um tatutos, que deveriam reger os destinos da So-
pouco ao primitivo caráter de geografia, respeitando ciedade.
o estabelecido em qualquer uma das classificações
das ciências feitas por Ampére, Comte e Spencer, nas Finalmente aprovados tais estatutos a 8 de Julho,
quais ela não figurava. em sessão solene, a 16 de Setembro seguinte, foi a
Em 1878 a Real Sociedade de Geografia de Lis- Sociedade instalada e, em seguida, empossada a Di-
retoria efetiva, previamente eleita para dirigi-la até
boa, fundada em 1875, à semelhança do liberal mo-
delo francês, estimulada pelos seus êxitos, estabele- o fim do ano então corrente, e confirmadas as quatro
ce no Rio de Janeiro uma Seção Filial, com o lou- Comissões permanentes de Geografia Física, Mate-
vável objetivo de congregar portugueses e brasilei- mática, Política e dos Americanistas, para as quais
ros paja, em fraternal convívio e uniformidade de foram designados sócios de reconhecido saber.
espírito, cooperarem no desenvolvimento dos estudos E assim com simplicidade, beleza de gestos, opor-
geográficos dos dois países. A idéia foi amistosa- tunidade e muitas esperanças, achava-se fundada
mente aceita e, dentro de três anos, a Filial já contava esta veneranda Sociedade, da qual, hoje, somos os
com mais de duzentos sócios das duas nacionalidades. dedicados obreiros, que, com devotamento, afeto e
Infelizmente parcos eram os recursos da novel Socie- respeito, devem conduzi-la na sua contínua e honrosa
dade de modo que, a despeito dos bons esforços da trajetória por esse ambiente social e econômico de
sua Diretoria, em 1882 ainda não havia sido possível trepidante oscilações que, com galhardia e pertiná-
realizar nada de prático para cumprir alguns dos ob- cia, ela tem sabido vencer.
jetivos estatuídos no seu amplo programa. Daí a ine-
vitável dissidência, mais de caráter chauvinista que • * *
científico, que separou brasileiros e portugueses e da
qual resultou o afastamento de muitos daqueles.
• * * E, como justa e merecida homenagem, neste mo-
mento, em que, comemoramos o sexagésimo segundo
Nos trinta primeiros anos da Existência do Insti- aniversário da instalação da Sociedade, e, de cos-
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro constata-se a tume, rememoramos os nomes e os serviços prestados
sua freqüente preocupação pelos estudos históricos pelos seus mais eminentes sócios, inclusive os seus
e geográficos, que esclarecidos conhecimentos trou- ex-presidentes sempre os de maior projeção, o Mar-
xeram para os seus sócios e os amantes de tais es-
tudos. Daí para diante, entretanto, vem se notando quês de Paranaguá e o Barão Homem de Melo, real-
mente varões dos mais ilustres, hoje, dilataremos a
acentuada preferência pelos primeiros e apreciável homenagem rememorando também os nomes dos de-
escassês dos últimos, até que, por volta de 1860, sessete beneméritos sócios que, de fato, a fundaram
aquela preferência havia se consolidado como precí- a 11 de Fevereiro de 1883, quinze dias antes que os
pua finalidade do Instituto. demais sessenta e três, dentre os cem convidados,
Ora, ao findar o ano 1882, quando se deu a cisão confirmassem, a 25, a fundação da Sociedade.
na Filial da Sociedade de Geografia de Lisboa, os Foram eles: o Conselheiro Manuel Francisco Cor-
geógrafos e os homens de saber, do Brasil, já haviam reia, Conselheiro Antônio José Henriques, Conselhei-
INAUGURAÇÃO"DE RETRATOS 87
ro Henrique de Beaurepaire Rohan, Dr. João José mente rclanccados, o retratarão com pálidas tintes,
Pizarro, Vencesláu Guimarães, Comendador Catrambí, pois é curto o nosso tempo nesta sessão. Todavia,
José Antônio Rodrigues d'01iveira, Alexandre Afon- nos parecem capazes de o destacar e confirmar o
so de Carvalho, Dr. Licínio Chaves Barcelos, Dr. elevado conceito em que sempre foi cotado.
Antônio de Paula Freitas, Adolfo Paulo de Oliveira
Lisboa, Luís Álvares de Azevedo Macedo, Dr. Antô- Nasceu em 1831 na cidade de Paranaguá, quando
nio Coelho Rodrigues, Dr. Henrique Cesídio Sami- ela ainda pertencia à Província de São Paulo. Bacha-
co, João Carlos de Sousa Ferreira, Dr. Fernandes relou-se em letras no venerável Colégio D. Pedro II
Mendes de Almeida, Dr. João Pires Farinha e Fran- no Rio de Janeiro, tendo se revelado pela inteli-
cisco Manuel Cordeiro de Sousa, que foram os pre- gência e devotamento ao estudo, e em leis na Fa-
fundadores. culdade de São Paulo, onde sobressaiu pelo bri-
lhantismo com que fêz o curso. Aí, ainda como
Dentre todos esses oitenta fundadores da Socie- aluno, com pronunciado pendor para as letras, es-
dade, a ela sinceramente devotados com seus con- creveu o seu único romance novelesco: «A praia da
tínuos e eficientes esforços, houve um que, desde os Glória».
primeiros momentos, destacou-se per sua pro- Não sendo abastado, cedo procurou ocupação re-
fícua assistência e proveitosa cooperação para a ins-
talação e a existência da Sociedade, facultando-lhc munerada e fêz-se empregado público federal. Edu-
morada gartuita, material de expediente e até em- cado, ativo, honrado e competente, rápido galgou
pregados, além de eficaz propaganda oratória à capi- postos e exerceu variados cargos. Foi oficial de ga-
tação de novos sócios. Foi o Conselheiro Manuel binete de dois Ministros e secretário de um Presidente
Francisco Correia que, durante os três primeiros na Província do Rio de Janeiro. Antes dos trinta
anos, se revelou o sócio número um, não só na ordem anos ingressava na política e, pelo seu feitio mode-
cronológica, por haver sido o inspirador da idéia rado, patriota e conciliador, filiava-se ao Partido
da fundação da Sociedade e o iniciador do movi- Conservador.
mento que a realizou, como também por ter sido o Em 1861 era nomeado Presidente da Província de
abonador dessa instituição, em virtude do seu grande Pernambuco, uma das mais importantes do país,
prestígio nos meios social e cultural do Rio de Ja- e no cargo revelou competência, atividade e justiça
neiro, onde a inteligência, honradez, atividade, e desenvolveu a instrução pública infantil e a hi-
eloqüentes palavra e persuasiva argumentaçãa eram giene.
sobejamente conhecidas. Naqueles anos em que em- Posteriormente representou a Província natal
pregou grande atividade impulsionadora à vida inci- na Câmara Geral em várias legislaturas, chefiou a
piente da Sociedade, funcionou como se fosse um Repartição Geral de Estatística, e em 1871 entrou
motor que lhe houvesse imprimido a sua primeira
velocidade de regime. E quando em 1886, por dis- para o célebre Ministério de 7 de Março, presidido
sidência de princípios, afastou-se dela, a Sociedade pelo sagaz político, o Barão do Rio Branco, e com-
posto de homens de escol. Nele sobraçava a pasta
já possuía forte energia adquirida e pôde, então, com das Relações Exteriores e coube-lhe a árdua e me-
pequenas oscilações, acelerar aquela velocidade, pelos lindrosa tarefa de conduzir, a bons termos, a assina-
anos seguintes. tura do Tratado de paz com a República do Para-
O Conselheiro M. F. Correia era um homem de guai, o qual, devendo ser homologado conjuntamente
elevado caráter, leal, probo e que sabia se respeitar. pelas três Nações Aliadas vitoriosas, vinha sendo
Por isso mesmo era, por demais sensível, e fácil- postergado, intencionalmente, pelo Governo Argenti-
mente se melindrava. Preocupava-se seriamente com no. Habilidosamente, em sucessivas conferências ofi-
o conceito que de si faziam, mais os adversários que ciais e conversas particulares com D. Bartolomé Mi-
os amigos. Gostava de explicar, mesmo por escrito, tre, Enviado Diplomático em missão especial e con-
as suas atitudes quando não eram bem compreendi- fidencial no Rio de Janeiro, sem deslises pessoais e
das. A sua dissidência na Sociedade de Geografia do desdouro para a Nação, conseguiu abrandar o Minis-
Rio de Janeiro não foi de grande importância, porém tro das Relações Exteriores argentino, evitando, assim,
nela não souberam agir com habilidade de modo a séria crise internacional em perspectiva.
não melindrá-lo e, como no tempo em que ocorreu, Em seguida foi nomeado Conselheiro de Estado,
já haviam «abissínios» e «adoradores do sol», pre- do Imperador e, mais tarde, Senador pela Provín-
feriram se esquecer do grande fundador e lisonjear cia do Paraná.
a presidência, que vinha sendo exercida por quem,
pela sua grande projeção política, às vezes empu- E corria, por essa forma, venturosa a sua car-
nhava a cornucópia das graças... E, por isso, êle reira política quando, em junho de 1889, torna-se
se ressentiu fundamente. gravíssima a situação da política geral e D. Pedro
resolveu substituir o Ministério, indeciso e alérgico.
Perdeu a Sociedade de Geografia a cooperação O Conselheiro M. F. Correia é chamado ao Paço
de um sócio do valor e Imperial e convidado a formar novo Governo, con-
prestigio do Conselheiro
M. F. Correia, mas lucrou bastante o Instituto soante à oportuna orientação do Imperador. Ouve,
Histórico e Geográfico Brasileiro, que o conquistou, sereno e calado, a sua exposição e sugestões
reconhecendo-lhe e balanceando-as, com franqueza e sinceridade, con-
posteriormente o grande mérito.
clui por não aceitar a honrosa incumbência. O so-
• * •
berano surpreende-se e lamenta, respeitando a quês-
tão de princípios levantada pelo Conselheiro Correia,
O Conselheiro M. F. Correia foi um varão de que calmamente vinha acompanhando a marcha da
sólidas qualidades morais e forte envergadura, política Nacional, desde que a Questão Militar, em
que Maio de 1887, abrira funda brecha no enfraquecido
definiu expressivamente a trono bragantino e o deixou cambaleante. A aurora
personalidade nos meios
social, cultural e da República já começava a nimbar, com os raios de
político, gozando de invejável
prestíaio. Os seus traços biográficos, aqui fugaz- um novo sol, os horizontes daquela política.
88 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
O terceiro Reinado havia sido condenado pelas Em 1875 fundou singular Escola Normal no Rio
forças armadas e D. Pedro achava-se envelhecido, de Janeiro, a primeira que houve no Município Neu-
doente, fatigado e sem fôlego para lutar. A Princesa tro. Era o diretor e, em parte, custeava as despe-
Isabel, sua sucessora legal, era ainda mais generosa sas. Os professores, abnegados homens de saber,
e transigente que êle mas não possuía a sua aurcola. lecionavam grátis. Os alunos, que eram homens de
Fazia-lhe penumbra seu ilustre Consorte, de sangue estudos e professores, primários de ambos os sexos,
estranho à Coroa. A República marchava sem tro- pagavam parcas mensalidades. O curso era de três
pecos e a sua proclamação estava iminente. Falta- anos porém a Escola só funcionou dois e conseguiu
vam garantidos elementos para impedi-la. Tudo isso diplomar cerca de vinte professores.O Imperador as-
dissera, com forma e respeito, ao Imperador para sistiu aos exames e tão satisfeito ficou com os resul-
justificar a sua recusa, embora isso pudesse não lhe tados que presenteou, cada diplomado, com um anel
agradar. simbólico. Em seguida, o Soberano mandou fechar
O Conselheiro M. F. Correia falara como um a Escola, e, pelo seu modelo, ordenou, logo depois,
vidente, pois antes de seis meses o regime ruia e o abrir duas, uma que funcionaria à sua custa no pró-
Imperador não fora defendido e perdia o trono. E o prio Paço de S. Cristóvão e a outra na Fazenda de
Conselheiro, patriòticamente, fora do cenário da ação Santa Cruz por conta do Estado. Como Chefe da
direta, tinha a certeza de não haver contribuído para a Repartição Geral de Estatística, o Conselheiro M. F.
dupla queda. Já em 1887, por ocasião dos debates Correia mandou proceder, em 1874, ao primeiro
em torno da célebre moção apresentada ao Senado recenseamento geral da população de Brasil.
pelo Partido Liberal, por meio da eloqüente, porém Ao Instituto Histórico Brasilíiro, a que se dedicou
arrogante e ferina, voz do tribuno gaúcho Silveira com excepcional devotamenro, fez muitos donativos
Martins, se abstivera de comparecer a Sessão em em apólices, dinheiro, juros, iivros manuscritos c até
que ela fora apresentada e discutida. Preferiu agir o anel de ouro, com pedra preciosa, que os prõfes-
assim para se conservar fiel à sua consciência poli- sores de sua Escola Normal lhe ofereceram quando
tica, honrada e patriótica, e não concorrer para lan- ela cerrou as suas portas. Assíduo freqüentador das
çar mais pólvora no estopim, da bomba, que era a sessões do venerável sodalício usava sempre da pa-
Questão Militar. Previa que esta deveria arrebentar, lavra, ouvida com prazer e respeito, indicando só-
de inópino, abalando o trono e o regime, tal como cios, lavrando pareceres de diversas naturezas, fa-
sucedeu. E de sua hábil resolução deu, com toda a zendo conferências, explicando suas atitudes poli-
franqueza, prévio aviso ao ilustre Barão de Cote- ticas e sociais quando percebia que elas não eram
gipe, então Presidente do Conselho de Ministros, bem compreendidas, apresentando memórias históri-
que lhe solicitara, com grande honra para êle, a sua cas e depositando na «área de sigilo», dessa institui-
ponderada opinião. Revelava-se assim um homem de ção, documentos de seu punho, com disposições que
sólidas convicções, forte ação, e desprendimento deviam ser conhecidas e executadas depois de sua
pelas posições eminentes. morte. Além de haver feito parte de várias Comis-
Implantou-se a República, mas o Conselheiro não soes permanentes, foi seu 29 e l9 vice-presidente,
lhe a leriu, nem a combateu, eoavicto que estava de presidiu várias sessões, sendo a última a 7 de julho
que ela se consolidaria com rapidez visto que o povo de 1905, quatro dias antes de falecer. Pelos muitos e
a tinha recebido bem, como que há muito a anceiasse. relevantes serviços que lhe prestou em 1886 foi pro-
Mas é que no Brasil, desde o regime colonial, cada clamado sócio benemérito, e em 1901 teve nela a
um de seus filhos sempre foi conscientemente um satisfação de ver o seu retrato inaugurado, como
republicano e a monarquia não soube a-hiba- o terre- prova de alto apreço. Depois de sua morte essa Casa
no político para nele fixar suas raízes. Elas sem- de História e Geografia adquiria o seu busto, que
pre viveram na superfície, pouco a pouco se estio- hoje honra a veneranda galeria dos seus eminentes
lando com o clima oscilance das lutas políticas, sem sócios. E, assim, lhe fora rendida merecida justiça
programas sinceros e exeqüíveis. Políticos sem íir- e justo tributo ao seu grande valor de conspícuo
me orientação e sem efeito pelo soberano, o
povo cidadão.
sem cultura e indiferente à sorte da Nação.
Mas o penadio do Conselheiro M. F. Correia No primeiro ano da República seus conterrâneos
não foi a política, nem as letras e sim o desvelo e amigos o procuraram para lhe oferecer representa-
pela instrução infantil. Este é que foi o seu perene ção na Câmara Constituinte, como elevado elemento
ideal e para êle, durante trinta anos sucessivos, vol- de valor e de cultura, mas honrado como era, agra-
tou toda a carinhosa atenção, a generosa boi- deceu e não aceitou, porque não aderira ao novo
sa, a dinâmica atividade e o sólido regime nem o bafejava. Não o combatia e também
prestí- não confiava nele, nem nos seus pro-homens. Espe-
gio pessoal. Em seu benefício tornou-se um ver-
dadeiro rouxinol, pois com grande freqüência, em sua raria ver a Nação primeiro constitucionalizada, po-
propaganda, fazia ouvir no Congresso, na imprensa, rém isso não o impediu de aconselhar aos amigos,
na cátedra, nas escolas que dirigiu, e, finalmente, parentes e conterrâneos que não seguissem o seu
em tribuna particular de várias instituições de ensino modo de encarar o regime e o defendessem se o
a sua eloqüente e persuasiva palavra. Fora êle apreciavam e nele tinha fé. E nunca mais se en-
que,
em 1874, fundara o Asilo dos Amantes da Instrução, volveu na política.
e no ano seguinte, a Associação Promotora da Ins
trução de meninos e, posteriormente, a Mantenedora Posteriormente, já em abril de 1893, porque não
da Escola Borão do Rio Doce à Rua do Lavradio. era abastado, sustentava família, era generoso com
Já era Diretor de afamada Escola da Glória, à praça os pobres e continuava a dar assistência à instrução
Duque de Caxias, na qual realizou uma série de im- infantil, por iniciativa e conselhos de amigos e pa-
portantes conferências sobre o ensino e a sociologia rentes, aceitou o cargo de presidente do Tribunal
e onde também se fizeram ouvir
Joaquim Nabuco, Federal de Contas e exerceu-o por poucos meses.
Carlos de Laet e outros oradores de escol. Uma circular do Ministro da Fazenda dirigida a
INAUGURAÇÃO DE RETRATOS 39
todos os Chefes de Repartições concitava-os a se tor- Geografia, de que ainda conservava mágua. Eis aí,
narem delatores dos funcionários, sob suas ordens, em rápido bosquejo, quem foi o eminente Conse-
que não fossem adeptos do regime, o hostilizassem lheiro M. F. Correia, a quem hoje esta Sociedade,
ou fossem desafetos ao Governo e o criticassem. com satisfação de todos os seus associados, resgata
Respondeu em inofensivos termos, porém estranhan- antiga dívida de gratidão e apreço pelo seu inolvidável
do a melévola insinuação c, dias depois se afastava fundador. E, graças à honrosa gentileza do seu atuai
Presidente, e prcclaro Embaixador José Carlos de
do cargo, no qual foi aposentado. E, assim, reco-
Macedo Soares, neste momento é desvendado o re-
lheu-se defintivamente da vida oficial, continuando trato daquele Conselheiro, que S. Excia. generosa-
a freqüentar tão somente, as instituições particulares mente oferta, para figurar na honrosa galeria dos
de que era sócio, à exceção desta Sociedade de pro-homens da Sociedade.
republicana de Bento Gonçalves, foi decidido a nosso elas nas suas prclcções aos discípulos, amigos e ad-
favor, após elegante e disputado torneio de cloqüen- miradores. Solon, em um dos seus epitáfios, declarou
cia, história e ética, que honrou não só os conten- que: — «não desejava que a sua morte fosse privada
dores como o próprio Congresso. E foi depois de das lágrimas e dos gemidos dos seus amigos». E
tantas luzes espargidas sobre essa dúvida histórica naturalmente assim pensava porque queria continuar
que as nossas relações, dentro cio tradicional senti- a viver no espírito deles.
mento de concórdia, dos gaúchos, à semelhança dos O célebre poeta helênico Ênio, trilingue, trágico e
guerreiros farroupilhas, separamo-nos bons amigos, épico, em um dos seus versos, escreveu: «que nin-
sendo que nós sumamente honrados com as gentilezas guem honra os meus funerais com as suas lágrimas
do eminente contendor, talvez, o maior cultor con- nem com o seu dó». Eis aí dois atores e filósofos
temporâneo da heróica história riograndensc diferentes, embora ambos fossem gregos, em completo
Vede, pois, como a nossa escolha para falar de antagonismo. Mas enquanto o poeta, que também
Sousa Doca, nos envolve num nibus de pezar, recor- fora cônsul, professor de línguas em Roma, onde
dações e saudade, que nos faz imaginar que ainda o convivera e de que era cidadão honorário, demo-
vemos e o sentimos junto a nós, no glorioso debate, a cartizara o seu espirito e era desprovido da vaidade,
defender com segura argumentação, lastrcada cm do- tendo provindo de origem pobre e nome humilde,
cumentos, a sua clara c precisa opinião enquanto ou- Solon era tradicionalista, de estirpe familiar, vaidoso
tros a controvertiam e nós, por vezes, o interrompia- c não ignorava que o reconheciam como um sábio.
mos com oportunos apartes para esclarecer o nosso
modo de ver c confirmá-lo. Em virtude disso, que Ora, Sousa Doca, que talvez conhecesse esse an-
aqui recordamos sem jaetância, e, tão somente, para tagonismo, porquanto era lido em história antiga, se
houvesse previsto que ia morrer e pudesse ter fa-
projetar mais essa sua nobre atitude, será com toda
a isenção de ânimo, sinceridade e sem nenhum recai- lado, provavelmente se manifestaria de acordo com
o poeta, de cuja vida a sua mais se aproximara, e
que, que trataremos de sua eminente personalidade.
não com o sábio, que amava, por demais, a glória.
* * E é por isso que a homenagem que ora lhe prestamos,
embora singela, é acentuadamente sincera, justa e
Por mais sentida que tenha sido a sua morte, será confortadora para um espírito como o seu, livre,
que devemos lamentá-la e pranteá-la ? Pensamos que filosófico, acentuadamente sociológico, que bem o
não, devemos aceitá-la, como uma fatalidade e ve- retratava com um feitio modesto, democrata, senti-
ncrar-lhe a memória. mental e grato, possivelmente ambicioso e vaidoso
dentre os limites naturais, conferidos a todo o homem
Como um grande ator do drama da sua vida,
cie morreu exatamente quando desempenhava um dos que se apercebe do próprio valor.
mais significativos papéis de uma peça artificial- Sua vida foi curta e feliz porque lhe permitiu
mente montada, sem poder terminar a importante representar bem todos os papéis, alguns importan-
cena que apenas havia iniciado. Isso nos parecerá tes, que lhe foram distribuídos no amplo palco da
injusto, mas como prová-lo ? E' preferível não invés- vida e lhe permitiu realizar, com decência, honesti-
tigar. Contentamo-nos a refletir como Sócrates. Con- dade e boa moralidade as suas normais e legítimas
ta Cícero, em seu «Diálogo da Velhice», que quando aspirações, numa vida mais de voluntária penumbra
Sócrates, estoicamente se dirigia para cumprir a sen- que de exposição aos raios solares do favoritismo.
tença de morte, a que o haviam condenado, seguia-o Aceitou em partilha o que lhe coube pelos próprios
a multidão de seus amigos, admiradores e discípulos, esforços e não aspirou fantasias, nem impossibilida-
que o aconselhavam a se não entregar à morte, que des. Sc se candidatou à imortalidade literária, por
seria uma iniqüidade. Entre os últimos, um a lamen- amor à glória, foi porque estava certo que na sua
tava e chorava copiosamente. Era Apolódoro, o seu aspiração, no dizer do imortal Castro Alves, «o sabre
mais dileto discípulo, a quem o sábio, nesse ruomen- não coraria de hombrear com o livro e o livro não
to, perguntara: «por que choras assim ? e aquele lhe coraria de chamar-lhe irmão».
respondera: «porque não posso suportar a dor de te De ordinário, os grandes homens, os verdadeiros
ver morrer injustamente». O sábio sorriu e lhe repli- artistas, gênios, sábios e inventores, que gozam da
cou: «então querias que morresse justamente?» aura da imortalidade, são fontes de intensa luz que
Compreende-se que Sócrates, injustamente conde- ilumina a escuridão do mundo e, porque são úteis
nado a morte pelo grande crime de falar a verdade focos de visão, atraem os homens que os apreciam.
e criticar a tirania, perante a mentalidade reinante Indubitavelmente Sousa Doca era um grande histo-
na Grécia, não teria defesa para a sua consciente e riador nacional, contemporâneo, com várias obras de
patriótica ação. Então para que verterem lágrimas, valor publicadas, através das quais e de outros tra-
preferível seria que lhe seguissem o sublime exem- balhos literários, transparecia em plenitude a sua
pio. cultura, se bem que não fossem escritas em estilo
rebuscado, rendilhado de filigranas e enxertado de
Parodiando o caso, diremos, justa ou iníqua, im- fantasias mirabolantes, para torná-lo mais atraente,
própria ou cm seu tempo, não lamentemos a morte ficionista embora ilusório, e agradável aos leitores
de Sousa Doca, e nos conformemos com a grande
modernos, em geral, apressados.
fatalidade. Respeitemos e reverenciemos a sua me-
mória, apresentemo-lo como exemplo de homem digno Não será a sua biografia que iremos fazer, embora
e não o esqueçamos. bem a mereça e Carlile tenha judiciosamente escrito
vivida que
que é mais fácil, escrever uma vida bem
• * * fazer uma biografia exata, completa, perfeita e justa.
De fato, para realizá-la assim, torna-se necessário
Os antigos filósofos, bem antes do cristianismo, conhecer, através de um contínuo e longo convívio e
já admitiam a existência da alma e acreditavam na de uma perspicaz observação direta, a vida do bio-
se poder
sua imortalidade. Entre eles Solon, Pitágoras, Platão grafado em seus menores detalhes, para
e Cícero. Fov isso, freqüentes vezes, se referiam a apreender, no recôndito de sua alma, um exato conhe-
92 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
cimento do seu caráter, qualidades, atributos, aspira- sua pessoa, irradiando uma aura de bondade, inspi-
ções, gestos, atitudes, ambições, virtudes e defeitos, rava simpatia c confiança.
para desse intrincado complexo, com o tempo c agu- Provavelmente Sousa Doca sabia que o filósofo
çado senso psicológico, poder se identificar a perso- grego, Theognis de Mégara, havia escrito que «a
nalidade estudada e focalizá-la dentro da realidade. opinião c para os homens um grande mal e a expe-
Todavia, sendo a tradição um grande e lento amplia- riência um precioso bem e, porque muitos julgam
dor, a vida de um homem, que se destacou c notabi- baseados na opinião c não segundo a experiência,
lizou, depois de morto, em geral, se torna majorada, poucos acertam». Porém, o contrariando cm parte,
mesmo sem sobejos e lisonjas, e dentro de limites costumava dar sempre, com boa fé c sinceridade, a
de sensata apreciação. sua opinião franca, clara e precisa, utilizando-se tam-
Por isso, aqui nos limitaremos a rclancear rápida- bém da experiência, que sensatamente adquirira.
mente a sua vida e a sua obra, não só porque c ea-
* * *
casso o tempo que nos foi concedido para falar, como
foi restrito o convívio que tivemos com Sousa Doca,
mais intelectual que social e direto, o qual não nos Mas o que naturalmente mais o honrou, foi
permitiu penetrar, psicologicamente e com consciên- que, tendo entrado para a caserna. apenas aos
cia, o seu ego. E o que de certo, sobre o seu caráter, quinze anos incompletos, pouco alfabetizado, em
vinte meses cm que cursou a Escola regimental do
qualidades e temperamento, logramos colher entre
seus amigos, não foi muito, porém, talvez, o bastan- batalhão, onde o ensino c a instrução eram ele-
te para lhe traçarmos um ligeiro perfil. mentares, destacou-se nos estudos c, ao concluí-los,
Sua vida ativa não correu obscura, nem amorfa, já cabo de esquadra, íôra imediatamente promovido a
quer na profissão e classe, quer na sociedade. Nesses sargento, tendo permanecido nas três classes dessa
setores, foi uma figura expressiva e de projeção, mer- categoria, durante alguns anos, quando fora promo-
cê da linha inflexível, do seu nobre caráter e da sua vido a oficial. Mas essa longa permanência, comum
boa moral aliadas a uma extensiva cultura, que o no seu tempo, cm que as promoções eram demoradas
norteou sempre. Pode se dizer, com justeza, que por escassez de efetivos, foi a primeira consagração
foi um «self made man», consoante sensato juízo do seu mérito c a confirmação de que não errara
inglês, pois que, por seus pertinazes esforços, sem quando dera preferência à carreira militar para nela .
curvâturas, humilhações, violências, lesões a direitos desenvolver a atividade, irradiar a luz do seu
alheios e favoritismo, subiu, em quarenta anos, de precoce espírito c prestar serviços à pátria, como as-
soldado voluntário a general, gradativa e normal- pirava.
mente, por justo e reconhecido merecimento. Como praça, foi modelar c serviu de paradigma na
Satisfeito por haver assim atingido o almejado sua guarnição e, se mfavor, foi, por vários co-
ápice de sua carreira e classe, nem por isso, se en- mandantes, chefes e oficiais, elogiado vinte e quatro
vaideceu e mudou o caráter, qualidades e tempera- vezes, durante quinze anos, em boletins de serviço
mento. e ordens do dia, em termos diversos c bem signifi-
cativos.
Não aumentou o orgulho por haver proce- Foram altamente apreciados os seus serviços, em
dido de situação humilde, nem se considerou um ilu-
minado; achava muito natural e lógico tudo quanto paz e cm operações de guerra no Contestado, em
Santa Catarina, nas funções de sargento-quartel-mes-
lhe ocorrera na vida, porque, para tal, havia sempre tre, complexa categoria de almoxarife, contador, in-
trabalhado. Ao contrário, continuou simples, democra- tendente e pagador do batalhão, e nas de sargento
ta, cortez, esforçado, operoso, devotado à profissão e à ajudante ou brigada, importante e indispensável traço
pátria sem outra ambição que a, bem louvável, de de ligação entre as praças c os oficiais, como trans-
prosseguir, no campo da História Nacional, a coo- missor de ordens e zelador da disciplina geral entre
peração que, há trinta e cinco anos, vinha dando na aquelas.
desagravação de conceitos errôneos e injustos, que
Foi nesse primeira etapa da vida que a sua in-
figuram em obras de alguns tendenciosos historiado-
res estrangeiros, de reputada autoridade, e vários es- dividualidade começou a se projetar fora do seu
critores nacionais, desconhecedores de importantes e meio profissional. Devotado aos estudos e impelido
autênticos documentos, existentes nos nossos arquivos. por uma vontade férrea de se instruir e desenvolver
o seu espírito, porque sentia que era grande a sua
inteligência, aguçada a sua curiosidade c fácil o seu
• * *
poder de compreensão, sem professores e explicado-
res e somente com o auxílio desses pronunciados atri-
Reunia à competência técnica profissional e à butos e dos livros, conseguiu, em poucos anos, adqui-
dedicação aos trabalhos intelectuais uma bondade rir uma instrução e, digamos mesmo, uma certa cul-
e modéstia que, aparentemente, imprimiam-lhe o as- tura que, sem exagero, assombraria a quem, dez anos
pecto de timidez ou abstração. Como gaúcho campe- antes, o houvesse conhecido como um «chucro piá»
sino e fronteiriço, nos primeiros contactos parecia um da estância de seu pai, o afamado e destemido Coro-
bisonho ou retraído, que se sentisse constrangido, mas nel da G. N., Sousa Doca, conhecido pela sua auda-
em convívio amigável, abrandava a sisudez, entreabria ciosa façanha, cometida tem um rio, durante a revo-
sorrisos, soltava piadas gaúchas e, em meio confiante, lução farroupilha.
falava e agia com o coração. Como o seu caráter Com uma cultura, assim adquirida nos seus lazeres
fora estruturado numa seqüência de duros esforços, e sem a assistência de algum espírito mais atilado
dos quais resultaram muitos êxitos, no decorrer da que o seu, foi que, por volta de outubro de 1910, já
vida foi adquirindo, e consolidando, experiência e, brigada do batalhão, apresentou, timidamente, ao ope-
por isso, era um otimista, que confiava em si e tinha roso Tenente Francisco de Paula Cidade, que mostrava
fé nos homens, que logravam realizar as suas aspi- apreciar as suas qualidades, os seus esforços e o seu
rações. O seu olhar, pouco agudo, refletia pureza devotamento aos estudos, um alentado artigo narrando
de alma, que ainda não havia se esvaecido com as e criticando a batalha de Tuiuti, pedindo-lhe a sua
decepções, desenganos e maldades da vida.. Enfim, a opinião e, caso possível, a respectiva publicação em
A MEMÓRIA DOS CONSÓCIOS 93
um jornal de Porto Alegre, em cuja guarnição serviam bilizam um general. Mas não lhe pode caber a culpa
ambos. disso, porquanto ela decorreu toda durante sucessivos
Nessa cidade publicava-se uma Revista militar, na anos cm que a Nação só tem sido perturbada por
qual colaboraravam somente oficiais e o seu diretor escaramuças políticas e, nas duas guerras externas,
c principal redator era o ilustrado Capitão Luís Ley em que se viu envolvida, por contingência e solida-
raud, culto, disciplinado e «fraquejado», que gozava riedade americanista, apenas, uma escassa força mili-
de respeito por seu feitio sizudo. tar nelas assegurou o patriótico apoio da Nação à
Mas o Tenente Cidade, que lera atentamente o defesa da democracia e das liberdades, através dos
artigo do Brigada Sousa Doca e o julgava bom e esforços, audácia, intrepidez e bravura dos seus filhos,
fie!, confiou-o ao apreço e às luzes do Capitão Ley- alguns tombados no campo da luta e outros laurea-
raud. O Diretor da Revista, levou-o para casa, dos ou portadores de cicatrizes, que revelaram provas
provavelmente, pouco animado em satisfazer a su- inequívocas do seu valor e denodo. E, em nenhuma
gestão, que lhe fora feita, de publicá-lo na Revista, delas foram postos à prova os serviços de Sousa
porque o trabalho, da autoria de um simples sargento, Doca, pois seria provável que jamais desmentisse a
não haveria de ser tão valoroso que merecesse tal influência atávica da legendária bravura do seu in-
favor. Todavia, iria lê-lo. Assim o fez e, posterior- trepido pai e, portanto, viesse a dar inolvidável prova
mente, em reunião com os colaboradores da Revista, do valor das suas qualidades militares e das indi-
manifestou-se deveras surpreso com o valor do es- viduais de gaúcho fronteiriço, acostumado a vadear
crito e inclinado a publicá-lo, se aqueles estivessem rios, transpor coxilhas, voar pelos campos sobre ardo-
de acordo, fisse foi unânime, o Capitão procurou rosos cavalos, engulindo pó c quilômetros, para sur-
conhecer o sargento Doca e o trabalho foi publicado preender o inimigo, lutar com êle, rechassá-lo e ven-
na Revista. cê-lo, como bravamente fizeram os revolucionários
* * • de 35 e os de 93, que tingiram com o seu sangue o
solo riograndense, na defesa de louváveis ideais.
Eis aí, singelamente, como o futuro historiador Na vida militar de Sousa Doca o que mais deve
Sousa Doca, com vinte e seis anos de idade, fincou ser ressaltado é que foi nela que se instruiu, c estru-
a primeira estaca no vasto campo da História, que, turou, cm linhas fories e firmes, o nobre caráter,
como um beneditino, havia de palmilhar o resto da aprendeu a lutar, com serenidade, esforço próprio,
sua existência. Deve ter provindo desse êxito o seu espinha ereta, discrição, respeito geral a leis, ordens,
devotado amor ao estudo da história militar nado- autoridades, opiniões e idéias, para poder, sem alie-
nal, em cujo setor vincou traços inapagáveis da sua nações de tão excelentes qualidades e atributos,
esclarecida crítica. realizar as suas legítimas e naturais aspirações. Nada
Em 1915, após aprovação, em exames antes reali- o afastou dessa inflexível linha, o que constitui, ao
zados, primeiro para o posto de Àlfercs c, posterior- nosso ver, a mais sólida demonstração de valor .da
mente, para o de Intendente de batalhão, fora pro- sua invulgar personalidade.
movido ao posto de Tenente. E, mais tarde, já satu- Além disso, nunca abriu mão do sadio patriotismo
rado de elogios, em que se proclamava a sua inteli- que o norteava, dedicando-se tão somente ao serviço
gência, espírito ordenado e disciplinado, gàrbo mili- da Pátria, dentro da profissão, sem se deixar encantar
tar, fina educação, devotação à carreira, sede de pelos falsos apelos da política e os ilusórios êxitos da
saber, dedicação aos estudos, bravura, sobriedade, vaidade. Continuou sempre modesto, prestativo, ope-
iniciativas e defesa da legalidade, cursara a Escola roso e devotado aos prediletos estudos sem nenhum
de Intendentes e, dois anos depois, a cie Oficiais de prejuízo pelos deveres da profissão.
Administração, obtendo os respectivos diplomas, com A atividade dinâmica de Sousa Doca não pôde se
menção honrosa, extenso e expressivo elogio do Di- confinar no circunstrito setor das atribuições pro-
retor daquelas Escolas, rcconhecendo-lhc dedica- fissionais c, então, o seu esclarecido espírito pro-
ção aos estudos e às tarefas que lhe foram distribuí- curou um campo maior para se distender. Incursionou
das, comprovada cultura c as apreciáveis qualidades modestamente pela literatura e a geografia, porém
profissionais que revelara. dilatou-se proficuamente pelo insinuante e atraente
Na turma dos Intendentes de batalhão, em que fora labirinto da História, no sublime anseio da busca da
diplomado, composta de desesseis alunos, logrou o verdade. E nesse elevado setor dos conhecimentos a
primeiro lugar e, na dos oficiais de Administração, sua lúcida inteligência, acentuado poder de compre-
o segundo, o que, mais uma vez, o consagrou, entre ensão, apreciável, memória, fina argúcia, pronunciado
os seus colegas de classe, uni espirito esclarecido c senso patriótico, arrimados a uma segura dialética,
uma auspiciosa esperança que, através âoí=> novos esmerada e ciara linguagem, em um apropriado e feliz
postos a que, naturalmente, galgaria, iria assinalar, de jogo de expressão, conseguiram, aos poucos, era um
uma forma destacada, a sua ascenção. E foi o que, uecurso de trinta e cinco anos, fazê-lo um historiador
de fato se passou, pois conseguiu desempenhar as íogico, escrupuloso, consciente, objetivo e abalizado
muitas e diversas comissões, que lhe foram conferi- em sólida documentação, que logrou traduzir suas
das, com inteligência, descortínio, eficiência, honesti- idéias, com nitidez c precisão, através de segura ar-
dade, zelo pelos serviços a respeito às boas tradições. gumentação e lúcido raciocínio.
E assim normalmente, promovido, sempre por mere- Consciente do valor da pesquisa e perquirição dos
cimento, atingiu a General, ápice de sua classe, com documentos, rompeu, audaciosamente, com a cortina
satisfação para seus companheiros e apreço do Exér- que ocultava muitos deles, alguns, ainda inéditos, e
outros, intencionalmente custodiados sob o artificiosc
cito. E foi, exatamente, nessa elevada categoria que
a morte insidiosamente o colheu. pretexto de que seu conhecimento ou sua controvér-
sia poderiam reacender paixões adormecidas ou pro-
Como vedes, a sua carreira militar, sem dúvida hon- vocar evitáveis polêmicas entre os povos vizinhos,
rosa, prestante, estimuladora e merecedora de desta- outrora desafetos, porém, hoje, amigos e vivendo,
que, não revela nenhum lance fulgurante, destes que com os brasileiros, em fraternal comunhão de espírito
imortalizam um herói, consagram um bravo ou nota- americanista. Haveria, realmente razão para tal per-
94 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
calço se os agravos escritos não houvessem, em mir à narrativa dos fatos um cunho de precisão e con-
abundância e com requintada malevolência, partido de fiança, capaz de nos conduzir a conclusões exatas.
historiadores e publicistas estranjeiros de reputada Daí o se constatar, em todos os seus livros e es-
fama em seus paises e que haviam interpretado critos, apreciável uniformidade de senso histórico,
tais documentos tendenicosamente, empenhando, assim, fácil compreesnão, lógica e esclarecida argumentação
responsabilidade moral aos injustos conceitos. Dei- que, em geral, nos conduz, naturalmente, às mesmas
xá-los incontrovertidos e sem o merecido revide, pa- conclusões a que êle logrou atingir.
receu, muito justamente, a Sousa Doca, obra impa-
• * *
triótica, quando, dentro da rigorosa verdade, de boa
ética, e tão somente à luz de percuciente raciocínio Pode-se considerar exaustiva, brilhante, oportuna,
e lógica argumentação, se poderia repor a crítica his-
precisa e conclusiva a defesa feita por Sousa Doca,
tórica dos fatos ocorridos, das intenções da política cm seus seis livros e vários artigos esparsos, que pu-
brasileira e das atitudes dos seus delegados, no rigo- blicou, acerca da diretriz política do Império em
roso sentido da realidade. relação aos vizinhos povos platinos, a qual continua
E foi o que realizou, patriótica e inparcialmente, em incontestada, tal foi o valor e a consistência documen-
oito trabalhos de alto valor, em que deixa bem focali- tal da sua argumentação, sempre dentro do são cri-
zada a diretriz da política externa do Império, conti- tério de boa fé e da verdade, aliado a provas inso-
nuamente seguida, com o seu precípuo caráter de- fismáveis, e sem xenofobismo ridículo. Tudo isso se
fensivo e jamais agressor e cubiçoso. reconhece, lendo atentamente os seus livros, publica-
Se o Brasil herdou de Portugal a herança precária dos a partir de 1919, intitulados: «Causas da guerra
da Colônia do Sacramento e, a princípio, pensou em do Paraguai», «O Exército nas campanhas plati-
conservar a sua posse, nada mais fêz do que manter nas»; «A Convenção preliminar da paz de 1828»; «Li-
um direito, embora, algo inconsistente em seus fun- mites entre o Brasil e o Uruguai»; e os artigos «Pela
damentos. Mas logo que, por si tão somente, começou verdade histórica», em resposta às «Notas de um Dia-
a reconhecer a fragilidade desse direito, foi o pri- rista» do brilhante escritor maranhense Humberto de
meiro, sem nenhuma coação, a pensar na sua resti- Campos, e «Da bulla de Alexandre VI à guerra do
tuição e não, receioso, por agitados protestos. Não Paraguai», em contestação aos injustos e tendencio-
lhe interessaria aquela Colônia e sim todo o territó- sos conceitos, emitidos pelo ilustre historiador e diplo-
rio à margem direita do Uruguai para levar, lógica mata argentino, Dom Ramon Cárcano, em sua valiosa
e naturalmente, os seus limites meridionais até as obra «Guerra dei Paraguai-Origenes y Causas».
águas do Prata. Mas à tal aspiração, faltavam fun- Todos esses trabalhos são úteis e patrióticos,
damentados direitos e não seria de boa moral, nem
porque tiveram o elevado objetivo de desagravar a
digno, para um Império, tão abastado de territórios, Pátria da insídia estranjeira, veiculada em várias
cubiçar o exíguo território de um povo que tinha o obras sul-americanas, com o intuito precípuo de des-
seu direito de viver, soberano e independente, ou se virtuar o sentido daquela diretriz política e expor o
apoderar dele por usurpação.
povo uruguaio como «oprimido pelos brasileiros», que
E isso o Brasil imperial sempre reconheceu e se, persistiam em conquistá-lo e dominá-lo, quando o que
por vezes, ocupou, parcial e temporariamente, aquele realmente ela sempre procurou fazer foi protegê-lo
território, o fêz, atendendo ao apelo dos seus go- contra as tentativas, dissimuladas de apoio e proteção,
vernantes, que não possuíam elementos seguros para dos seus visinhos platinos, que bastante se esfor-
resistir e vencer indomáveis caudilhos, que se revê- çaram e agiram para conseguir realizar aquilo que
zavam no poder e perturbavam toda a vida econômi- eles, mal intencionados, atribuíam às forças brasilei-
ca do país, ou não podiam enfrentar a coligação deles ras que, a pedido dos governos uruguaios, lhes pres-
com os platinos, que cubiçavam o domínio do seu taram apoio e proteção.
território e do seu povo. E, como ao Brasil e ao A argumentação sólida de Sousa Doca, em tais
particular interesse dos brasileiros, não convinha ter- livros e artigos, é macissa e fere direta e desassom-
se, como lindeiro, um povo desorganizado ou ex- bradamente os pontos fracos, claudicantes e insubsis-
propriado dos seus domínios, por usurpação de outro tentes da referida crítica, tendenciosa. E esse inesti-
povo mais perturbador e ávido, ao Império só resta- mável serviço patriótico, que prestou, deve ser salien-
va agir, como o fêz, pacificamente se possível, ou tado, rememorado e jamais olvidado, porquanto, antes
em defesa armada se necessário, para afastar qualquer dele, nenhum outro historiador, que conheçamos, se
uma das duas calamidades. E foi isso, apenas, o que animou a romper a cortina de intencional sigilo que
o Brasil veio fazendo desde 1815 até 1829 \ posterior- nos arquivos nacionais e particularmente no do Ita-
mente, em 1851-52 e 1864-70, revidando sempre ós marati, encobria a prudente clausura de numerosos
golpes insidiosos de pertinazes adversários. documentos de suma importância, cujo conhecimento,
Ora, em lúcidos pormenores, baseados em autênti- publicação, interpretação e sadia crítica poderiam já
cos documentos nacionais e alguns platinos e para- ter, há muitos anos, facultado elementos para seme-
guaios, foi que Sousa Doca, com impressionante cia- lhante defesa.
reza e segura argumentação, nos convenceu da mo- • * *
derada diretriz da política brasileira, por contingên- Não foi somente no setor da história internacional
cia, morosa, na solução dos sucessivos problemas,
que as luzes de Sousa Doca fulgiram, focalizando-o
que durante cerca de meio século, trouxe abaladas, como grande historiador. Expargio-se também no
em um ambiente de desconfianças e malquerenças, as trepidante campo da heróica história sul-riograndense,
relações entre aqueles povos e os governos do Im- revolvendo, de preferência, a epopéia farroupilha e
pério. evocando os seus legendários guerreiros. Pormenori-
Esse seu processo de escrever a História, decan- zou interessantes episódios das sangrentas lutas e es-
tando e filtrando a verdade através de documentos clareceu obscuras e indecisas atitudes de alguns Che-
colhidos em fontes idôneas, é o mais natural, lógico, fes, fixando assim novos aspectos da revolução repu-
sensato e criterioso e que permite, sem paixão e re- blicana que, durante dez anos, fêz tremer o trono e,
calques e preestabelecido afã de controvérsias, impri- nos dois últimos, consolidou a glória de Caxias.
A MEMÓRIA DOS CONSÓCIOS 9i
Regionalista de boa fé e com elevada percentagem Acerca do Duque de Caxias, a quem devotava
4e brasilidade, na intensa e precisa crítica que fêz especial apreço, além do estudo acima mencionado,
dessa revolução, dissecando os poucos documentos, publicou, em separata, três ótimos ensaios que fizera
que logrou encontrar nos arquivos gaúchos e nos de de sua inconfundível personalidade, fixando-a, apro-
instituições nacionais do Rio de Janeiro, procurou priadamente, como genuíno patrono do Exército e
patentear, com persistência, o caráter federativo clarividente estadista.
nacional, e não o separatista, dos revolucionários, que
A sua bibliografia compreende, entre livros e sepa-
sempre se recusaram a se aliar aos caudilhos uruguaios
ratas, trinta e três volumes, sem que, em nenhum,
cm contínuo dissídio com os respectivos governos houvesse tratado de assunto supérfluo e inoportuno.
e que pretendiam formar, com o Rio Grande republi-
Podemos classificá-la da seguinte forma : oito sobre
cano, célebre Qaudrilátero federativo, soberano e história sul-riograndense; sete — história internacio-
independente. E outros assuntos da história da valo- nal, restrita às relações platino-brasileiras; dois —
rosa Capitania de São Pedro, ocuparam a sua lúcida
sobre história; quatro — geografia sul-riograndense;
atenção e mereceram ser narrados e criticados, como cinco — biografias e ensaios pessoais; e sete — outros
o fêz, com a sua peculiar linguagem, clara e per- assuntos.
cuciente.
Não sendo essas abundantes em valor quantitativo,
Também os estudos geográficos o preocuparam,
todavia o é para refletir expressivo valor qualitativo
embora mais escassamente, porém os quatro traba- e o consagrar como um dos melhores historiadores
lhos que escreveu, concernentes a aspectos da Provín-
nacionais, contemporâneos, nos setores da História
cia gaúcha, revelam a sua esclarecida cultura regional.
Pátria Diplomática, a que deu preferência.
Foram: «Um problema geográfico — as nascentes do
Jacuí>; «Vocábulos indígenas na geografia riogran- Finalizando esse ligeiro perfil de Sousa Doca.
dense»; «A Capitania de São Pedro»; e, o melhor poderemos fixar, de um modo indelével, os seguintes
deles «Gente sul-riograndense». traços da sua vida; como cidadão a contínua e perspi-
caz soma de esforços pessoais, moralizados e dignos,
Seguindo a moda, ensaiou-se no difícil gênero das
biografias, algo fictício, e publicou as do Marquês que realizou para satisfazer as suas legítimas aspira-
de Barbacena, ilustre e complexa personalidade, cuja ções, através de um forte, incorrupto e inflexível
caráter; como militar — a reta diretriz, — que sem
ação figura na história, pontilhada de equívocos; a
curvaturas, lisonjas e humilhações, seguiu sempre
do Visconde de Taunay, laureado escritor e bom
no cumprimento dos deveres para com a pro-
historiador, merecedor de respeito e veneração; um fissão, a classe e a pátria; como elemento social —
excelente estudo da capacidade psicológica de Caxias;
a forma inteligente, sensata e modesta com que
e outro, também psicológico, do trêfego General
Bento Manuel, até hoje mal compreendido, por culpa projetou as suas excelentes qualidades e atributos,
que lhe grangearam merecida simpatia, apreço e
própria, e que, no ambiente gaúcho da sua época, respeito em todos os meios, em que se ambientou; e
deixou vincados traços das suas indecisas, astuciosas como intelctual a linha de distinção, cavalheirismo,
e discutíveis atitudes. e elevado senso com que fêz refulgir as luzes do seu
A tudo isso devemos acrescer alguns trabalhos de esclarecido espírito, sabendo-se exprimir com abun-
outros gêneros literários e numerosos artigos publi- dância de idéias e pensamentos, dentro de um critério
cados em revistas das vinte instituições de cultura de tolerância e respeito às sãs idéias alheias.
de que era sócio, e jornais do Rio Grande e desta
Capital. * * *
Grande é, agora, a minha satisfação, enganoso fluir dos falsos-braços, que são
grande a distinção que me conferís, neste abandonados meandros; a rapina voraz e
momento. Honra e alegria, indizíveis ; por- fatal dos rios que capturam outros rios,
que, à falta de outros títulos, com dois deles de outras bacias ; o minucioso registro dos
me reconheço, ao ser empossado no cargo ciclos de erosão, gravado nas escarpas; as
de sócio titular desta agremiação : como estradas dos ventos, pelos vales, se esguei-
velho admirador da Sociedade de Geoqra- rando nas gargantas das serranias ; os pseu-
fia do Rio de Janeiro, e como velho amo- dópodos da caatinga, invadindo, pouco a
roso da Geografia. Admirador desvalioso
pouco, os «campos gerais», onde se destrói
e amoroso ignorante, certo; mas, rico de o arenito e onde vão morrendo, silentes, os
entusiasmo e de sinceridade. E é assim buritis ; e tudo o mais, enfim, que repre-
que vos agradeço. Aos que propuzeram senta, numa câmera lentíssima, o estremu-
o meu nome, aos que aprovaram a proposta, nhar da paisagem, pelos séculos.
aos que ora me recebem.
Ainda agora, faz menos de uma séma-
Devo explicar-me. De início, o amor na, acabo de regressar de uma excursão de
da Geografia me veiu pelos caminhos da férias, extenuante mas proveitosa, realizada
poesia — da imensa emoção poética que apenas para matar saudades da minha re-
sobe da nossa terra e das suas belezas : gião natal e para rever velhos poemas na-
dos campos, das matas, dos rios, das mon- turais da minha terra mineira.
tanhas ; capões e chapadões, alturas e pia-
nuras, ipuêiras e capoeiras, caatingas e res- Quanta beleza! Ávido, fiz, num dia,
seis léguas a cavalo, para ir contemplar o
tingas, montes e horizontes ; do grande cor-
rio epônimo — o soberbo Paraopeba —
po, eterno, do Brasil. Tinha que procurar amarelo, selvagem, possante. O «cerrado»,
a Geografia, pois. Porque, «para mais
amar e servir o Brasil, mister se faz me- sob as boas chuvas, tinha muitos ornatos :
lhor conhecê-lo» ; já que, mesmo para o em- a enfolhada capa-rosa, que proíbe o capim
bevecimento do puro contemplativo, pouco de medrar-lhe em torno; o pau bate-caixa,
a pouco se impõe a necessidade de uma verde-aquarela, musical aos ventos; o pao-
disciplina científica. santo, coberto de flores de leite e mel; as
lobeiras, juntando grandes frutas verdes com
Desarmado da luz reveladora dos co- flores roxas ; a bôlsa-de-pastor, brancacenta,
nhecimentos geográficos, e provido tão só que explica muitos casos de «assombrações»
da suacapacidade receptiva para a beleza, noturnas ; e os barbatimãos, estendendo fiei-
o artista vê a natureza aprisionada no cam- ras de azinhavradas moedinhas. Os cam-
po punctiforme do momento presente. Fal- pos se ondulavam, extensos. Sobre os ta-
ta-lhe saber da grande vida, evolvente, do buleiros, gaviões grasniam. A Lagoa Dou-
conjunto. Escapa-lhe a majestosa magia rada, orgulho do Município, era um longín-
dos movimentos milenários : o alargamento quo espelho. A Lagoa Branca, já hirsuta de
progressivo dos vales, e a suavização dos juncos, guarda ainda o segredo do seu bar-
relevos; o rejuvenescimento dos rios, que ro, que, no dizer da gente da terra, pro-
se aprofundam ,? na quadra das cheias, o duz, na pele humana, intensa e persistente
DISCURSOS DE POSSE 97
Akcéptita kiel membro de Brazila Soeieto de Geografio, D-ro João Guimarães Rosa, kies literaturaj
verkoj estas tiom aplattditaj, kaj kies diplomata agado estas konsiderinda, faris en sia parolado agrablajn
priskribojn pri pitoreskaj vidajoj de sia naskiga regiono, en Stato Minas Gerais.
DISCURSO DE POSSE DO DR. FRANCISCO PEDRO
CARNEIRO DA CUNHA
bert, Taylor Maclaurin, vêm a se aperfeiçoar no doce ; Nccdham revela seus infusórios. De todas
fim do século nas mãos de Monge, Lagrange c estas investigações se destaca a concepção experi-
Laplace. Na astronomia, a seqüência dos cálculos mental da vida.
e das observações de Newton a Laplace transfor- No quadro que o espírito humano, conclui o
maram a ciência em um problema de mecânica, ex- autor, faz da natureza, a ciência do século XVIII
plicam e predizem todos os movimentos dos planetas desenhou o contorno geral, a ordem dos planos e as
e de seus satélites, indicam a origem e formação principais massas e traços tão justos que ainda
de nosso sistema solar, e ultrapassam as desce hoje todas as grandes linhas se conservam intactas».
bertas de HerscheH, a ponto de nos permitir entrever
a distribuição dos arquipélagos estelares e as gran- Entretanto, nesse conjunto, a primeira
des linhas de arquitetura dos céus. Na física, a de- vista harmonioso e magnífico, Taine demons-
composição do raio luminoso e os princípios da
ótica encontrados por Newton, a velocidade do som, trou que «no pensamento do século havia
a forma das suas ondulações e, desde Sauveur até ingredientes que separados seriam salutares
Chladni, desde Newton até Bernouilli e Lagrange, e que juntos foram venenosos».
as leis experimentais e os teoremas principais da
acústica, as primeiras leis do calor radiante por Sucedeu que à forma do espírito clássico
Newton, Kraft e Lambert, a teoria do calor latente existente se aplicou a aquisição científica que
por Black, a teoria do calorico por Lavoisier e La- produziu a filosofia do século e a Revo-
place, as primeiras idéias verdadeiras sobre a essên- lução. E do século XIX ? Goethe, Augus-
cia do fogo e do calor, as experiências, as leis, as
máquinas pelas quais Dufay, Nollet, Franklin e so- to Conte, Roengten, Pasteur, Roux, Hypo-
bretudo Coulomb explicam, manejam e utilizam pela lite Taine, Virchow, Bergson, Edson, Eins-
primeira vez a eletricidade. Na química, todos os tein, os Curies, Santos Dumont, Rutherford,
fundamentos da ciência, o oxigênio, o azoto, e o hi-
drogênio isolados, a composição da água, a teoria Alexander Flemina, Lize Meitner, Otto Fris-
da combustão, a nomenclatura química, a análise ch, Niels Bohr, Rudolph Peizels, Eugen Si-
quantitativa, a indestrutibilidade da matéria e do mon, Cockroft, Walton, Chadwick, Eurico
peso, enfim as descobertas de Scheele, de Priestley, Fermi e John Dunning seriam suficientes
de Cavendish e Stahl, coroadas pela teoria e ensi-
namento definitivos de Lavoisier. Em mineralogia, para enchê-lo de novos e magníficos valores.
o goniômetro, a fixide.z dos ângulos e as primeiras Grande como Taine e de uma visualida-
leis da derivação de Romé de Lisle, depois a des-
coberta dos tipos e a dedução matemática das formas de genial, Rui Barbosa resume o século XIX
secundárias de Hady. Na geologia, o prossegui- em conceitos lapidares e proféticos :
mento e a verificação da teoria de Newton, a figura
exata da terra, o achatamento dos pólos, a intumes- «Se houvesemos de extremar as idades segundo
cência do equador, a causa e a lei das marés, a as grandes mutações morais do nosso planeta, o sé-
fluidez primitiva do planeta, a persistência do calor culo XIX se abriria em mil e setecentos e setenta e
central, depois com Buffon, Desmarets, Hutton, Wer- seis com a independência americana ou em mil e se-
nes, a origem aquosa ou ignea das rochas, a estra- tecentos e oitenta e nove com a revolução franceza.
tificação dos terrenos, a estrutura fóssil das camadas, Desses dois grandes termos nasce o problema conte-
a estadia prolongada e repetida do mar sobre os poraneo da emancipação exterior e interior das na-
continentes o lento depósito dos resíduos animais e ções, que agitou, numa série de revoluções nacionais
vegetais, a prodigiosa antigüidade da vida, as des- e internacionais, até 1820, os dois continentes. Mas,
nudações, as fraturas, as transformações graduais assim como a era das reivindicações separatistas e da
do relevo terrestre, e finalmente, o quadro grandioso liberdade política verdadeiramente se instaura no an-
onde Buffon esboça, em traços aproximados, a his- tepenultimo lustro da centúria passada, o século XX,
tória inteira do nosso globo, desde o momento que se os séculos se discernissem pela irradiação de novos
cessqu de constituir a massa informe de lava ardente signos na orbita do mundo, dataria do antepenúltimo
até a época em que nossa espécie, após tantas ou- decênio do atual. E' de então após as vitorias alemãs,
trás espécies destruídas, ou sobreviventes, poude ha- que assomaram claramente no horizonte as duas quês-
bitá-lo. toes, os dois perigos e os dois enigmas, em cujo cir^
Sobrelevando a ciência da matéria bruta, sugere culo de tormentas vai entrar o gênero humano: o so-
ao mesmo tempo a ciência da matéria organizada. cialismo e o imperialismo. São as duas idéias fixas
Grew, depois Vaillant demonstram os sexos e a fe- da civilização moderna: a primeira sob a fôrma de
cundação das plantas ; Lineu inventa a nomenclatura um pesadelo cruciante; a segunda com as seduções de
botânica e as primeiras classificações completas ; os uma atração irressistível».
Jussieu descobrem a subordinação dos caracteres e
a classificação natural. Réaumur e Spallanzani ex- E o grande pensador termina, fazendo
plicam a digestão ; a respiração por Lavoisier ; Pro- do século XIX, a apologia que Taine fez
chaska constata o mecanismo das ações reflexas;
Haller e Spallanzini experimentam e descrevem as do XVIII século :
condições e as fases da geração. «Como quer que for, porém, não regateemos a
Penetra-se no mais baixo do reino animal; Réau- esse magnífico período secular o seu merecimento.
mur publica suas admiráveis memórias sobre os in- Seu caráter foi, em geral, magnânimo e radioso.
setos, e Lwonnet consome vinte anos a configurar Aboliu a escravidão. Resgatou, na família européa,
a lagarta do salgueiro; Spallanzani resuscita seus quasi todas as nacionalidades opressas. Generalizou
rotíferos; du Tremblay retalha seu polipo dágua o governo do povo pelo povo. Elevou os direitos
DISCURSOS DE POSSE 101
da consciência a uma altura sagrada. Depurou a li- considerado em número de horas. Desapareceu a ra-
herdade, a justiça e a democracia. zão de um mundo dividido em dois hemisférios, os
Criou a opinião pública, e deu-lhe a soberania mapas atuais, baseados numa geografia marítima, se-
dos Estados. Entronizou a igualdade legal. Fundou rão dentro em breve recolhidos aos museus no monos-
a educação popular. Estraíu da ciência benefícios c ferio criado pelo avião, e cujo centro é o Polo Norte,
portentos que deslumbram a fantasia. o estudante vai verificar que, afinal de contas, o Rio
Mudou a paz e a guerra. Transfigurou a fase está quasi tão perto de Moscou como Washington e
dos continentes c dos mares. Mas até onde tocou o que Natal fica muito mais próximo do sul da Espa-
coração do homem, só Deus o sabe, e o saberemos nha do que de Nova York.
nós quando a centelha atmosférica inflamar os com- Neste monosfério, facilita-se a compreensão da
bustíveis cuja aglomeração silenciosa inquieta os geografia econômica e o conseqüente esclarecimento
grandes e apavora os pequenos. Então os que as- da geografia comercial.
sistirem ao espetáculo, poderão dizer se a um sécu-
Io, cm que a ciência serviu principalmente à força, A geografia política diminuirá a importância dos
Estados-tampões, e riscará dos dicionários, pela sua
terá sucedido um século cm que a força se incline
impraticabilidade, a palavra isolacionismo, enquanto
afinal ao direito ...»
o estudo da Sociedade humana se revolta contra a
história c subordina-se, de pronto, à geografia. Por
Do que Taine disse do século XVIII, outro lado vão surgir regiões até aqui quase desço-
do que Rui Barbosa disse do século XIX, há nhecidas, a que o avião levará progresso e oportuni-
de sublime, e há também de doloroso. Dos dade novas, multiplicar-se-ão as rotas comerciais e
200anos contemplados uma cousa ficou — deslocar-se-á a preponderância de muitos centros
estratégicos».
a dúvida. Dos dois gigantes que viram
antes de todos e nos legaram as verdades Uma geografia refundida, questões sur-
que o tempo não modificou, repitamos, neste girão em torno da soberania do ar, como da
laboratório do pensamento, as idéias, para liberdade dos mares, tão discutida no di-
não perdermos a esperança, não digo de uma reito internacional, e conseqüente ao resur-
paz perpétua, mas do menos sofrimento que gimento das marinhas e das esquadras.
à nossa solidariedade humana é possível e
Penetro neste recinto com o sentimento
que a ciência nos promete.
de que a paz começa mais uma vez a ensaiar
Já no correr do século em que vivemos, o seu destino entre os homens.
e cujo círculo não transporemos duas vezes,
como lembrou Rui Barbosa, tivemos de assis- A claridade de uma nova era, em meia-
tir a duas grandes guerras, e todas oriundas dos do século, após duas grandes e cala-
do veneno do imperialismo gerado das dita- mitosas guerras, apenas surge nos horizon-
duras e de doutrinas em desacordo com o tes do mundo.
que a ciência podia assegurar. De tudo Realizou-se o pior, como profetizou Rui
quanto o gênio criou, e que até Marconi, Barbosa, sofremos o perigo do imperialismo
ainda estamos assistindo, com a televisão, o que foi mais do que uma «idéia fixa, mais do
radar e a bomba atômica, resta a mesma
que um enigma", foi uma realidade atros, e,
dúvida e as mesmas interrogações sobre o apenas, esperamos que a democracia não
destino que terão todas estas forças augmen- seja somente uma reação passageira, porém
tadas. E infelizmente os resíduos do im- uma completa harmonia imposta ao mundo
perialismo infiecionam certas partes do mun- pelo liorror das ruínas que o imperialismo
do, e os suportamos na amplitude dos seus vai deixando. A liberdade do homem vol-
malefícios, nas suas consequênoas deforma- tou a nos encher de orgulho, e o pensa-
doras, e dos quais não nos podemos libertar, mento livre reivindica seu lugar ao sol.
ainda hoje, como fração da América do Sul, As ciências ainda não deram sua última
este continente enfermo, na acertadíssima
tese de César Zumeta. palavra neste período que atravessamos, e
a geografia ainda não pode ter a noção
Registrando agora as previsões de bri- das linhas gerais do mundo chamado do
lhante jornalista, — Emiel de Faria, que «após-guerra».
muito estuda e observa, vejamos para onde
se encaminham os novos planos da civili- Apenas, no campo das descobertas cien-
zação : tíficas — repitamos a frase lapidar do mes-
tre : há benefícios e portentos que deslum-
«E' no ensino da geografia, neste século do avião, bram a fantasia.
que se vão operar reformas mais radicais. Vivemos
agora numa terra de três dimensões, em
que o es-
E, raciocinando com Bergson : se a
paço deixou de ser medido em quilômetros para ser essência das cousas nos escapa e nos es-
102 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
D-ro Francisco Pedro Carneiro da Cunha, en sia parolado en kunsido de Brazila Societo de Geografio,
laudas Ia agadon de Ia Societo rilate Ia sciencan flankon, kaj mDiitras Ia valoron kaj Ia neceson de gcograíiaj
konadoj por Ia instruado kaj klereco.
DISCURSO DE POSSE DO DR. VALÉRIO CALDAS
MAGALHÃES
NA SESSÃO DO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 1944
Iguatemí, nada menos que três povoações que fêz a Comissão Mista Brasileira-Para-
xipófagas : Ponta Porã — Pedro Juan Ca- guaia.
ballero ; Sanga-Puitã — Sanja Pita ; Nhu-
Verá (Antônio João) — Capitán Bado, e, A 5 de maio de 1941 era firmada, em
Ponta Porã, a Ata da Décima Terceira Con-
no divisor da serra de Maracajú, no trecho
ferência da Comissão Mista Brasileiro-Pa-
o marco da cabeceira do Iguatemí e o levan-
tado na cabeceira do Ibicuí, mais uma po- raguaia; a Comissão Brasileira tendo por
voação dupla .-Paranhos — Ipê-Hum, esta, Chefe e Sub-Chefe, respectivamente, os Se-
nhores Coronel Sebastião Claudino de Oli-
aliás, toda a leste da linha, inteiramente em
veira e Cruz e Major José Guiomard dos
território brasileiro. Impunha-se, pois o
Acordo, do qual, para melhor concatenação Santos, aqui presentes. Entre outras im-
do assunto e por tratar-se de documento in- portantes resoluções então tomadas para o
timamente ligado à geografia política, não prosseguimento do serviço demarcatório que
me furtei ao desejo de transcrever, nesta se desenrolava desde 1932, consta a seguin-
te, no item Décimo Primeiro da referida
ligeira notícia, o preâmbulo e os principais
artigos : Ata:
«Os Primeiros Comissários, Chefes das Comis- «que a missão da primeira Sub-comissão mista
soes Dcmarcadoras de Limites entre a República será :
dos Estados Unidos do Brasil c a República do Pa-
raguai, considerando» : a) Efetuar os deslindes das localidades de
Ponta Porã — Pedro Juan Caballero, Sanga Puitã
a) que os trechos da linha de limites entre os Sanja Pita, Antônio João (antigo Nhu-Vera)
os territórios dos dois países, situados nas locali- Capitán Bado. Para isso, em
primeiro lugar,
dades de Ponta Porã — Pedro Juan Caballero, Sanga cotejará as plantas existentes com o terreno, efe-
Puitã — Sanja Pita — Nhu-Vera Capitan Bado e Ipê tuando as medidas de verificação que forem ne-
Hum — Ipejhu — apresentam condições especiais, de- cessadas. Em seguida a planta receberá uma ins-
vido terem as populações, quer brasileiras, quer pa- crição datada e assinada pelos chefes brasileiro
raguaias, se estabelecido sem atender a linha divi- e paraguaio da sub-comissão declarando a sua exa-
sória que pelo Tratado de 9 de janeiro de 1872 é tidão ou inexatidão, no todo ou em parte, caso em
constituída pelo divisor de águas, o qual não se que será ela desprezada e substituída por outra.'
acha convenientemente caracterizado; Possuída a planta exata, será efetuado imedia-
b) que em conseqüência desses fatos, as re- tamente o deslinde pela construção dos marcos cor-
feridas populações crearam um limite convencional, respondentes na linha limítrofe atualmente respei-
respeitado por ambos os países; tada. Construídos os marcos, lavrados os termos
c) que nesse estado de harmonia em que se de construção dos mesmos, far-se-á, a seguir, o tra-
acham não há conveniência em alterá-lo, uma vez balho de poligonação destinado a fixar-lhes as posi-
que estão em jogo pequena área de territórios, quer ções. Locados os marcos na planta, em que também
do lado do Brasil, quer do lado do Paraguai; terá traçada a linha do divisor de águas, será ava-
liada a área a ser levada em conta na compensa-
lç A linha delimitadora das fronteiras dos dois ção prevista no acordo de primeiros comissários,
países será a que presentemente é respeitada pelas transcrito na Ata da 12* Conferência, realizada em
populações brasilieras e paraguaias nas localidades Assunção ;»
de Ponta Porã, Pedro Juan Caballero, Sanga Puitã,
Sanja Pita c Nhu-Verá — Capitán Bado, cujos es-
tudos estão feitos c apresentados aos respectivos Go- Tratando-se de assinalamento de zona
vêrnos.
povoada, ficou ainda estabelecido, nessa
29 A linha delimitadora da fronteira nas lo- reunião, o tipo de marco a ser empregado
calidade de Ipê — Hum, Ipejuh será determinada de nos deslindes, (marco 2l} ordem-especial),
acordo com o critério adotado para as localidades em concreto de cimento com traço de 1:3:5,
precitadas. O resultado dos estudos oportunamente abrangendo um bloco de lm,00 x lm,00 x
executados serão locados na planta já existente.
x 0m,50 ; sobre esse bloco, outro de
39 As diferenças entre as áreas pertencentes
ao Brasil e as pertencentes ao Paraguai, tendo como 0m,20 x 0m,20 x 0m,50. Todo esse con-
base a linha de limites determinada pelo divisor de junto, enterrado, com execeção de 0m,20 da
águas previsto nos Tratados e no Protocolo de Ins- altura do último bloco. Um passeio circular
trução, acima mencionados, serão compensadas nos de 0m,50 de largura e raio menor de 0m,30
lugares em que forem julgados convenientes pelos — contruído em volta do pequeno marco,
dois Primeiros Comissários e nas ocasiões oportunas.
sendo gramado o espaço entre o passeio e o
Estava o problema resolvido no papel, bloco ligando-se o passeio ao espaço gramado
tornava-se necessário, entretanto, materiali- por um cordão de 0m,05 de largura por
zá-lo, no terreno, isto é, proceder o deslinde 0m,10 de altura. Trata-se, como os números
das povoações nele mencionadas. Foi o indicam, de marcos bem pequenos,- verda-
106 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
falando que a solução desse problema trou- cujo sistema Ponta Porã decerto será o cen-
xe para os dois países. Social por que, os tro de irradiação.
marcos ali colocados, longe de separarem os
dois povos vizinhos, apenas lhes fixam as
respectivas soberanias, facilitando, conse-
qüentemente, o fisco, o policiamento, a ad- E assim, anonimamente, sem alardes —
ministração, o seu progresso, enfim. Poli- os diplomatas, no silêncio de seus gabine-
tico, sim, um exemplo ao mundo conturbado tes e os técnicos, no cenário amplo da na-
de hoje, pois que, no mesmo cenário onde tureza, palmilhando ínvios caminhos, subin-
se desenrolou grande parte da tragédia de do e descendo montes,, cumprindo no ter-
1870, agora se verifica a confraternização, reno, a letra dos Tratados — vai o Itama-
o entrelaçamento dos dois povos, dando um ratí, fiel à sua tradicional política de paz
edificante testemunho de que o passado pode e de boa vizinhança, resolvendo as nossas
e deve morrer, quando o presente significa questões de limites, com magnanimidade,
união, compreensão, auxílio mútuo, pana- muitas vezes aceitando menos do que de di-
mericanismo sadio. Economicamente, não reito poderia pleitear, de que é exemplo ti-
resta a menor dúvida, e a ligação férrea pico o caso do Igurei, com o próprio Pa-
Ponta-Porã — Concepción já é o primeiro raguai, tendo como ponto colimado, entre-
passo para o desenvolvimento comercial en- tanto a conquista, não de territórios, mas
tre as duas nações, intercâmbio que se pro- da amizade sincera de seus irmãos da Amé-
cessará naturalmente e forçará, em futuro rica, para que possam todos, irmanados por
não muito remoto, a construção de um sis- um só ideal, o da fraternidade universal,
tema redoviário ao longo da fronteira, li- marchar livres na América, e a América,
gando, as povoações agora deslindadas, de livre num mundo livre.
Enirante en Ia asocian kadron de Brazila Societo de Geografio, D-ro Valério Caldas Magalhães faris
paroladon en kiu, por evidente montri kiel li interesigas ai geografiaj aferoj, li priskribas kiel estis fiksitaj certaj
partoj de Ia landlimo Brazil-Paragvaja, en Ia randoj de Ia teritorio Ponta-Porã.
REFORMA DOS ESTATUTOS
Desde havia bastante tempo que a nossa seca Hermes justificou todas elas com a
Sociedade se ressentia das deficiências dos exposição que transcrevemos :
Estatutos de 1924, apesar das ligeiras re-
formas de 1931, 1934 e 1940.
EXPOSIÇÃO FEITA EM 25 DE OUTUBRO
Entre as mais salientes dessas deficiên- DE 1944
cias, é de destacar a que limitava a um re-
duzido número de Consócios o dever e o di- Senhor Presidente, ilustres confrades,
reito de reunião mensal, incongruência essa
Ao iniciarmos os trabalhos desta As-
que teve como conseqüência natural e for- sembléia, da qual muito esperamos em prol
cosa o afastamento e o desinteresse por da Sociedade de Geografia, desejo, em
parte de muitíssimos Sócios. nome de alguns Consócios e no meu pró-
Na Assembléia Geral de 25 de Outu- prio, dizer o que pensamos e propor algu-
bro de 1944, convocada extraordinàriamen- mas providências que julgamos poderão cor-
te Para examinar esse e outros responder às necessidades da nossa Socie-
problemas, dade.
o Ministro Fonseca Hermes apresentou as
seguintes propostas, que mereceram apro- Em flagrante contraste com a sua vita-
vação : lidade passada, forçoso é reconhecer que a
Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro
a) sobre os Congressos Brasileiros de vem revelando considerável decaimento em
P:
Geografia ; suas atividades.
b) sobre os direitos dos Sócios de Não há necessidade de aprofundar tô-
Honra e Beneméritos, em face dos das as causas desse fenômeno, bastando
respondem aos Efetivos ; que cor- assinalar algumas delas, por isso que, a
c) sobre os Quadros de Honra e de essas, a Assembléia poderá oferecer os ne-
Benemerência ; cessados corretivos.
d) sobre a doação do prédio em Umas dizem respeito às finanças da So-
que
funciona a Sociedade, ou de um terreno onde ciedade, outras à sua lei orgânica, e outras
edificar sede própria e condigna ; à abstenção, em grande parte justificada,
dos Sócios Efetivos, Titulares, Honorários
e) sobre o andar térreo do edifício, e Beneméritos.
í • '
em que se instalara* uma padaria ;
No que se refere às finanças, temos a
f) sobre as Sessões do Conselho : indicar, em primeiro lugar que, em virtude
g) sobre a reforma dos Estatutos. das novas leis trabalhistas, as despesas da
Sociedade se elevaram consideravelmente,
Além dos, «Consideranda»,
que acom- tornando-se urgente e imprescindível obter
panharam cada proposta, o Ministro Fon- do Governo o aumento da subvenção, de
mmmum^mmmmmmm
Ção da Diretoria.
: ¦
reeleições impediam o surgimento de novos cios de boa vontade e pelos sucessos sempre
valores e incrementavam o hábito das posi- crescentes dos Congressos Brasileiros de
ções, levando, eventual e insensivelmente, Geografia.
os respectivos detentores dos cargos, a se As Resoluções, que a presente Assem-
considerarem vitalícios e inclinando-os a bléia aprovar, devem fazer evidente a de-
certa displicência. cisão da Sociedade de elevar-se sobre as
A Assembléia Geral está chamada a contingências que a mantinham estagnada
deliberar sobre a redação final dessa Re- e rumar por nova orientação, que lhe abra,
solução. larga e fácil, a estrada para a realização
efetiva de suas finalidades culturais e a rea-
O edifício, sede da Sociedade, está em
firmação do seu prestígio, tendo em vista,
condições lamentáveis e, talvez, irregulares.
Urge dar um corretivo a essa situação, ou, sobretudo, o presente momento mundial, que
marca o início de uma nova era, em que a
pelo menos, esclarecê-la definitivamente,
pois, além de poder acarretar incômodos Geografia se impõe como fator relevante e
morais para a Sociedade, o funcionamento decisivo no estudo e solução de numerosos
do forno da padaria instalado no andar tér- e importantes problemas.
reo do prédio constitui ameaça de destruição É nesse sentido, encarando o papel que
do nosso valioso arquivo e preciosa biblio- a nossa Sociedade pode e deve desempe-
teca.
nhar, que tenho a honra de propor as se-
Acresce que o dono da padaria, além guintes providências, que passo a ler :
de não pagar aluguel algum, como parece
devia fazê-lo, à Sociedade, sublocou, a ter- A fim de que fiquem consignadas cer-
ceiro, parte da planta baixa do edifício. tas circunstâncias, que aceleraram esse mo-
vimento, reproduzimos o texto das propostas
Reconhecemos os esforços com que a
referentes às Sessões do Conselho Diretor e
Diretoria, o Conselho Diretor, as Comissões
Permanentes e alguns Sócios vêm procuran- à reforma dos Estatutos.
do sustentar a Sociedade, apesar de todas
as dificuldades e vicissitudes por que ela DAS SESSÕES DO CONSELHO DIRETOR
tem passado nestes últimos anos, e regis- E DA SOCIEDADE
tramos, aqui, a gratidão que todos deve-
mos a esses bons servidores da nossa Ins- A ASSEMBLÉIA GERAL DA SOCIEDADE DE GEO-
tituição, os quais, se mais não fizeram, em GRAFIA DO RIO DE JANEIRO, REUNIDA NA SEDE
prol da Sociedade, foi porque as circuns- DA SOCIEDADE, A 24 DE OUTUBRO DE 1944
tâncias e os Estatutos, a tradição e a força
do hábito não no lhes permitiram. Considerando que a Sociedade de Geo-
Está no sentimento de todos o mal es- grafia, de acordo com o Artigo 26 dos Es-
tar de que se encontra invadidida a Socie- tatutos, tem apenas duas Sessões Magnas
dade, mal estar que testemunha da neces- por ano ;
sidade de reformas radicais, certificam a
conveniência de providências urgentes e Considerando que as Assembléias Ge-
atestam que a Sociedade ancêie por nova rais se reúnem mui espaçadamente, quando
orientação e vida mais intensa. convocadas para determinado assunto de
Prevalecendo-nos do feliz ensejo que grande relevância ;
oferece a reunião desta Assembléia Geral, Considerando que, em conformidade ao
julgamos dever chamar a atenção dos nos- Artigo 27 dos Estatutos, as reuniões men-
sos Confrades para todas essas situações, sais, únicas que tem a Sociedade, são deno-
que estão a reclamar uma série de medidas, minadas do Conselho Diretor ;
urgentes e severas, a fim de impedir que a
nossa Sociedade continue a viver vida obs- Considerando que esse Conselho se
cura e apática, sob a ameaça constante e compõe apenas de 27 Sócios — 18 do Con-
cada dia maior de cair -em completa selho e 9 da Diretoria ;
para-
lisia, quando, ao contrário, deve entrar em Considerando que a quase totalidade
nova fase de atividade, brilho e dos Sócios Beneméritos, remidos e Efetivos
prestígio,
secundada pela cooperação de todos os Só- não faz parte desse Conselho ;
REFORMA DOS ESTATUTOS 111
Considerando que nenhum dos Sócios Considerando que fenômeno tão extra-
Titulares pertence, tão pouco, ao Conselho nho, em uma Sociedade como a nossa, tor-
Direto*; na-se, por tudo quanto precede, perfeita-
Considerando que essas reuniões vêm mente normal e justificado ;
decaindo de importância, mingoando, assim, Considerando que a vitalidade da So-
as atividades da Sociedade, seu prestígio e ciedade será tanto mais brilhante e eficiente
finalidades culturais ; quanto maior fôr o número de Sócios, de
Considenrando que a razão desse fato, todas as categorias, que participem, como
de progressiva apatia, reside, precisamente, mandam os Estatutos, de suas atividades e
no caráter restrito dessas reuniões ; mais íntimo se faça o contato entre todos ;
Considerando que a abstenção da enor-
me maioria de Sócios nos trabalhos, ocupa- A ASSEMBLÉIA GERAL DA SOCIEDADE DE GEO-
ções e preocupações da Sociedade, sobre GRAFIA DO RIO DE PANEIRO
ser considerável e injustificadamente pre-
judicial aos próprios interesses da Socie- Resolve :
dade, impede a revelação de capacidade e
de aptidões de muitos dos seus Associados ; l9 O Conselho Diretor se reunirá :
Considerando não poder ou não dever a) quando, a juízo do Presidente da
ser esse o espírito, como tão pouco o obje- Sociedade, a sua convocação se fizer neces-
tivo da Sociedade ; sária para deliberar sobre assuntos de sua
Considerando que, de fato, esse não é competência ;
o espírito, como tão pouco o objetivo da b) a requerimento, devidamente fun-
Sociedade, porquanto o Artigo 9 dos Esta- damentado, de cinco Membros do Conselho.
tutos proclama que
2? As Sessões da Sociedade realizar-
«O mais importante dos direitos dos _
se-ão na primeira Quinta-feira de cada mês,
Sócios está no cumprimento dos seus com exceção dos meses de Janeiro e Feve-
deveres» ; reiro.
¦¦*.¦¦'¦¦¦¦¦¦
¦
dos por via de reuniões freqüentes e pe- DA SOCIEDADE, AOS 25 DE OUTUBRO DE 1944
riódicas dos seus Sócios ;
Considerando ser patente e lamentável Resolve :
o desinteresse da quase totalidade dos Só-
l9 Nomear uma Comissão de cinco Só-
cios pelas atividades culturais da Sociedade cios com o encargo de elaborar um
ç pelo seu destino ; projeto
de novos Estatutos, tendo em vista as razões
112 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
exagerada ; mais vale, porém, prevenir que Francisco de Souza Brasil, Carlos Xa~
improvisar soluções que, nem sempre, cor- vier Paes Barreto.
respondem à maturidade da reflexão.
Dentre as sugestões recebidas, a mais
A Comissão examinou, com simpatia e importante foi a apresentada pelo Embaixa-
sem encontrar inconvenientes, a possibili- dor José Carlos de Macedo Soares, que ai-
dade de ser trocada a denominação : «5o- vitrou a divisão do ante-projeto em duas
ciedade de Geografia do Rio de Janeiro»
partes; uma, que constituiria, encerrando as
para «Sociedade Brasileira de Geografia», matérias de fundo e orgânicas, os Estatutos
tendo em vista a eventualidade de serem
criadas, por iniciativa da nossa, como pre- propriamente ditos, e a outra, mais de cará-
ter particular, o Regulamento.
visto no projeto, Sociedades congêneres nos Aceito o alvitre pela Comissão, pelo
Estados. Julgamos, entretanto, mais pru- Conselho Diretor, e pela Assembléia Geral
dente não incluir a idéia nos Estatutos em de 25 de Setembro, o Ministro Fonsec Her-
projeto, deixando aos Sócios a oportunidade mcs foi encarregado de organizar os dois
de examiná-la refletidamente para que, no
projetos, procedendo à divisão da matéria e
selo da Assembléia, o assunto seja venti- ao complemento de cada um deles.
lado espontaneamente.
O Conselho Diretor e a Comissão se
Em se tratando da lei orgânica da nossa reuniram em oito sessões, durante as qais
Sociedade, de um todo harmônico, a Comis- foram pormenorizadamente debatidos todos
são entendeu dever solicitar a cooperação da os artigos dos Estatutos e do Regulamento.
maioria dos Sócios, porquanto possível e pro-
Terminada a redação dos projetos, foi
vável se nos afigurou que o nosso trabalho
convocada para o dia 20 de Dezembro a As-
poderia oferecer senões, a-pesar-do esmero sembléia Geral extraordinária que deveria
com que procurámos nos desempenhar do
examinar, discutir e aprovar a nova lei orgâ-
encargo que nos foi cometido.
nica da Sociedade e o correspondente Regu-
E' nesse sentido que lhe enviamos o lamento.
presente exemplar, rogando o favor de nos Por não haver sido possível terminar a
comunicar as suas observações e sugestões
tarefa em um só reunião, a Assembléia pro-
antes do dia 15 de Fevereiro próximo vin-
longou os seus trabalhos para o dia 26, quan-
douro.
do foram integralmente aprovados os novos
A Comissão reunirá todas as propostas Estatutos e o Regulamento, depois de asser-
de emendas, que receber, e estudar-las-á de- tadas várias emendas.
tidamente para apresentá-las devidamente es-
clarecidas à Assembléia que há de discutir o Os novos Estatutos entrarão em vigor
depois de registrados no Ofício de Registro
projeto dos novos Estatutos. de Títulos e Documentos e de publicados,
Deliberaremos, assim, sobre matéria pré- em extrato, no Diário Oficial.
via e cuidadosamente estudada, evitando-se
atropelos e improvisções, porquanto a Comis- Por isso, só no próximo número da
nossa Revista serão eles publicados.
são estima que, uma vez coordenadas as
emendas recebidas, a discussão poderia ver- A mais importante das inovações intro-
sar apenas sobre estas, considerando-se, co- zidas foi a mudança do nome da Sociedade
mo natural, tácitamente aprovados os demais de Geografia do Rio de Janeiro para Socie-
Artigos. dade Brasileira de Geografia. Tal transfor-
mação se justifica plenamente se considera-
Será obra de todos e não de uns pou- mos, por exemplo, os fatos, de que a nossa
cos, que viriam surpreender os demais Só-
Sociedade organiza os Congressos Brasilei-
cios com projeto de tanto vulto e importân- ros de Geografia e se preocupa com os pro-
cia. blemas geográficos de todo o país.
Esse é o espírito que nos anima e, por Digamos com o nosso Presidente em
isso muito desejaríamos receber a sua opi- exercício:
nião, ainda quando concordante com o pro- «Os novos Estatutos e o Regulamento
jeto anexo. respondem, estamos certos, aos ancêios de
Cordiais saudações. — /. S. da Fon- todos os Sócios e habilitam a nossa Socie-
seca Hermes. — Mário C. Rodrigues de dade a lançar-se à conquista de suas nobres
Souza. — Luiz A. de Oliveira Bello. — e elevadas aspirações.» (Relatório de 1945).
ELEIÇÕES PARA O BIÊNIO 1945/1946
cios: Almirante Raul Tavares, General Emí- meiro Vice-Presidente — Ministro João Se-
lio Fernandes de Sousa Doca, Dr. Taciano veriano da Fonseca Hermes, com 50 votos ;
Acioli Monteiro, Ministro João Severiano da Segundo Vice-Presidente — Almirante Jor-
Fonseca Hermes, Dr. Alberto Couto Fer- ge Dodsworth Martins, 48 votos ; Terceiro
nandes, Tenente-Coronel Frederico Augus- Vice-Presidente — Professor Everardo Ba-
to Rondon, Dr. Paulo José Pires Brandão. ckheuser, 48 votos ; Secretário Geral — Dou-
Dr. João Ribeiro Mendes, Dr. José Pedro tor Mário Rodrigues de Sousa, 49 votos ;
Carneiro da Cunha, Dr. Epitácio Monteiro Primeiro Secretário — Tenente Coronel Fre-
Pessoa, Dr. Nestor Ascoli, Comandante derico Augusto Rondon, 45 votos ; Segundo
Luís Alves de Oliveira Belo, Dr. Mário Ro- Secretário — Professor Sílvio Fróis de
drigues de Sausa, general Artur Pinheiro da Abreu, 49 votos ; Tesoureiro — Capitão de
Silva, major Manuel Carlos de Sausa Fer- Fragata Luís Alves de Oliveira Belo, 49
reira, Dr. Carlos Domingues, Dr. Herbert votos ; Orador Oficial — Professor Fran-
Canabarro Reichardt, Professor Francisco cisco de Sousa Brasil, 51 votos.
Portugal Neves, Padre Francisco Xavier Foram votados para cargos da Direto-
Lana, Professor Alexandre Brigole, Sr. Car- ria os Senhores : Dr. Delgado de Carvalho
los Pedrosa, Dr. Manuel Madruga, General
para Primeiro Vice-Presidente, com 1 voto ;
Heliodora de Miranda, Almirante Jorge Do- Coronel Renato Rodrigues Pereira para Se-
dsworth Martins, Dr. Mateus Augusto de
gundo Vice-Presidente com 1 voto ; e para
Oliveira, Almirante Lucas Boiteux, Coman- o mesmo cargo o General Vieira da Rosa
dante Braz Dias de Aguiar, Coronel Renato com 1 voto. Para Terceiro Vice-Presidente
B. Rodrigues Pereira, Major Armando de o Dr. Taciano Acioli Monteiro com 1 voto
Carvalho Dias, Cônsul Francisco de Borja e o Dr. Fábio Macedo Soares Guimarães
Batista de Magalhães, Arnaldo Goulart, Jor- com 1 voto. Para Secretário Geral Jorge
ge d'Escragnolle Taunay, Murilo de Miran- Zarur com 1 voto e o Dr. Wanderley de
da Basto, Comandante Armando Pinna, Pro- Araújo Pinho com 1 voto. Para Primeiro
fessor Carlos Marie Cantão, Coronel Leo- Secretário Cônsul Murilo de Miranda Basto
poldo Néri da Fonseca, José Veríssimo da com 4 votos, Coronel Renato Rodrigues
Costa Pereira, Ministro Orlando Leite Ri- Pereira com 1 voto e Major Jônatas de
beiro, Coronel Francisco Jaguaribe Gomes Morais Correia com 1 voto. Para Tesou-
de Matos, Otacílio Álvares ePreira, Profes- reiro Dr. Alberto Couto Fernandes com
sor Geraldo Sampaio de Sousa, Jorge Zarur, 2 votos.
Jaime Cortesão, Cristovam Leite de Castro, Para os cargos de Conselho Diretor fo-
Antônio Mendes Braz da Silva.
ram votados os Senhores : Ministro Almi-
Em prosseguimento, o Presidente Mi- rante Raul Tavares, Ministro Bernardino
nistro Almirante Raul Tavares designou o José de Sousa, Dr. Taciano Acioli Monteiro,
3? Vice-Presidente General Emílio Fernan- General Emílio Fernandes de Sousa Doca,
des de Sousa Doca para presidir a sessão Dr. Carlos Augusto Guimarães Domingues,
de escrutínio e nomeou os senhores Cônsul Desembargador Carlos Xavier Pais Barreto,
Francisco de Borja Batista de Magalhães, General José Vieira da Rosa, General Artur
Dr. Francisco Portugal Neves e Dr. Nes- Pinheiro da Silva, Dr. Herbert Canabarro
tor Ascoli para constituírem a comissão apu- Reichardt, Professor Fernando Antônio Raja
radora do escrutínio. Gabáglia, Comandante César Feliciano Xa-
vier e Ministro José Matoso Maia Forte,
De acordo com a forma estatutária vi-
com 49 votos. Seguem-se os Senhores Dou-
gente, procedeu-se à chamada dos Sócios tor João Ribeiro Mendes, Dr. Epitácio Pes-
que, na ordem do livro de presença, foram soa, Dr. Alberto Couto Fernandes, Coro-
depositando o voto secreto na urna. nel Francisco Jaguaribe Gomes de Matos,
O número de votantes foi exatamente Dr. José Wanderley de Arújo Pinho e Dou-
52, correspondendo a igual número de cé- tor Paulo José Pires Brandão, com 48 votos.
dulas retiradas da urna pela comissão apu- Receberam votos para o Conselho Di-
radora que, meia hora depois, anunciou o retor os Senhores José Antônio da Rosa,
seguinte resultado : Para os cargos da Di- Francisco Portugal Neves, Murilo de Mi-
retoria : Presidente — Embaixador José Car- randa Basto e Mário de Sousa com um voto
los de Macedo Soares, com 51 votos; Pri- cada.
116 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Ainda para que conste a maneira como caráter geral, a-fim-de que a nossa atitude não ve-
foi processado o movimento renovador, re- nha a ser interpretada como desconsideração pessoal
a qualquer dos atuais dirigentes, porquanto só tem
produzimos a Circular expedida a todos os em vista o futuro da Sociedade.
Sócios, seis dias antes das eleições, na qual
E' com pesar que veremos afastados dos altos
ficaram amplamente esplanados os pontos
postos de comando homens como Raul Tavares, Ber-
de vista, as intenções e os propósitos que nardino José de Sousa, Taciano Accioly, Sousa Dosa,
norteavam essa orientação: Carlos Domingues, João Ribeiro Mendes, Epitácio
Monteiro Pessoa, Couto Fernandes e Carlos Xavier
Ilustre confrade. figuras tradicionais do nosso Instituto, cujos serviços
e patriotismo são de todos conhecidos, serviços de
A Assembléia de 21 do corrente mês está cha-
que não podemos, devemos nem queremos privar a
mada a eleger os Membros da Diretoria, do Con- Sociedade, pelo que a todos eles convidamos e con-
selho Diretor e das Comissões. citamos se juntem a nós apara que, como Membros
A nossa Sociedade vem, desde há longos anos, do Conselho Diretor, colaborem, com a sua expe-
passando por crises sucessivas, devido não só à abs- riência, prestígio e patriotismo, na obra de renova-
tenção da maioria dos Sócios, à ausência de ativi- ção, que a todos cumpre empreender.
dades culturais efetivas, mas, ainda, à sua precária Os nomes das pessoas que constituem a chapa
situação financeira, que teve culminância no ano
para a nova Diretoria valem os daqueles que até
passado, quando a Diretoria houve de proclamar ter hoje estiveram na direção da nossa Sociedade, e se-
estado na iminência de fechar as portas.
guros estamos de que saberão, com zelo e devota-
A-fim-de salvaguardar a nossa tradicional agre- mento, dar execução ao programa que prevê gran-
miação de novos precalços, um movimento de rea- des atividades sociais e à nova orientação, forte-
ção, de há muito esboçado, produziu-se no seio da mente marcada nas últimas reuniões da Sociedade,
Assembléia do dia 28 de Outubro último, a qual re- com vistas ao congraçamento de todos os Sócios e
solveu a reforma dos Estatutos, cujas deficiências a novos surtos culturais.
foram reconhecidas como causa principal da situa- Certos estamos, também, de que, a ser eleita, a
ção a que chegámos. nova Diretoria conseguirá engrandecer o prestígio
Um dos princípios firmados pela referida As- da Sociedade e ativar-lhe brilhantemente o progresso
sembléia, a ser incorporado nos novos Estatutos, foi Esses são os nossos votos, essa a nossa con-
o da não reeleição por maioria de votos, mas, sim, vicção.
mediante a consagração expressa de 4/5 dos vo-
tantes. Homenagem, pois, à atual Diretoria, solidarie-
A elaboração do projeto dos novos Estatutos dade e apoio à futura.
está por terminar e, em Fevereiro próximo vindouro, Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 1944. —
poderão ser discutidos e aprovados. /. 5. Fonseca Hermes. — Mário R. de Sousa. —
Não nos move crítica ou oposição aos antigos C. X. Paes Barreto. — F. Sousa Brasil. — L. A.
ou atuais Diretores, mas natural se nos afigura que Oliveira Bello. — Murilo M. Basto. — A. Aze-
o princípio da não reeleição seja, desde já, posto em vedo Pina. — Cristóvão Leite de Castro. — L.
prática como demonstração de solidariedade com o Feijó Bittencourt.»
esforço que se tenta em prol do ressurgimento da
nossa Sociedade. Seguem-se numerosas outras assinatu-
Trata-se de uma questão de princípio e, como
ras, apostas depois de expedida a Circular
tal, julgámos indispensável encarar o problema com acima.
POSSE DA DIRETORIA, DO CONSELHO DIRETOR
E DAS COMISSÕES ELEITAS PARA O BIÊNIO
1945/1946
'
k
POSSE DA DIRETORIA 119
Dr. Randolfo Fernandes das Chagas ço de 31 anos e que, graças à sua operosi*
Dr. José Joaquim da Trindade Filho dade, deixava a situação financeira da So-
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira ciedade em perfeitas condições de equilíbrio,
sem ônus algum e com um saldo favorável
COMISSÃO DE REDAÇÃO DA REVISTA à caixa da Sociedade traduzido pela im-
Coronel Luís Mariano de Barros Ferreira portância de 10.839 Cruzeiros.
Dr. Leopoldo Fcijó Bittencourt Em seguida, o Ministro Almirante Raul
Dr. José Antônio da Rosa Tavares transmitiu a Presidência da Socie-
Professor Antônio Santos Oliveira Jr.
Dr. Carlos Domingues. dade à nova Diretoria, convidando os Mem-
bros da administração empossada a tomarem
«Terminada a leitura dos nomes que assento à Mesa diretora dos trabalhos.
constituem a nova administração da Socie- A nova Diretoria tomou posse solene
dade de Geografia do Rio de Janeiro, o sob a Presidência do Ministro João Seve-
Presidente cessante, Ministro Almirante Raul riano da Fonseca Hermes Júnior, Primeiro
Tavares, declarou empossados nos respecti- Vice-Presidente eleito, que, acompanhado
vos cargos os novos Membros da Diretoria, dos Senhores Almirante Jorge Dodsworth
do Conselho Diretor e das Comissões de Martins, Segundo Vice-Presidente, Profes-
Contas e da Revista, conforme à lei vigente sor Everardo Backheuser, Terceiro Vice-
e na forma legal estatutária da Sociedade. Presidente, Dr. Mário Rodrigues de Sousa,
Secretário Geral, e do Tenente-Coronel Fre-
O Ministro Almirante Raul Tavares
derico Augusto Rondon, Primeiro Secretário,
saudou em seguida a novel administração
declarou aberta a sessão inaugural dos tra-
com palavras de entusiasmo, desejando à
balhos da nova administração da Sociedade
mesma as maiores felicidades na execução
de Geografia do Rio de Janeiro.
da árdua tarefa de elevar cada vez mais o
patrimônio cultural, moral, científico e ma- O Presidente da sessão, Ministro João
terial da Sociedade de Geografia do Rio Severiano da Fonseca Hermes justificou a
de Janeiro que, na certa, terá dias de maior ausência do Embaixador José Carlos de
esplendor sob a sábia direção dos novos di- Macedo Soares que, por motivo justo, não
rigentes, cuja estatura moral e intelectual compareceu ; idem pela ausência do Ca-
constitui uma garantia para o porvir da tra- pitão de Fragata Luís Alves de Oliveira
dicional Sociedade cuja suprema finalidade Belo, que remeteu à Sociedade dois ofícios,
é contribuir para a elevação e aprimora- um endereçado à Diretoria recem-empossada
mento da cultura e da ciência do Brasil. e outro ao ex-Presidente Almirante Raul
Sob calorosa salva de palmas da seleta assis- Tavares, nos quais justifica sua ausência
tência, o Almirante Raul Tavares terminou
a saudação. por motivo de viagem ao Sul do país, onde
foi participar do Congresso Farroupilha, no
Antes de transmitir a Mesa à nova Di- Rio Grande do Sul.
retoria, o Ministro Almirante Raul Tavares
deu a palavra ao Dr. Aristeu Portugal Ne- O Ministro João Severiano da Fonseca
ves, que disse magnífica ode de louvor aos Hermes pronunciou, em seguida, as seguin-
vultos da Sociedade, em comemoração ao tes palavras :
629 aniversário da fundação. Presados e ilustres Consócios,
O Dr. Raposo Tavares propôs que
fosse inserido em Ata um voto de grande Por motivos imperiosos, o Embaixador José Car-
los de Macedo Soares, nosso preclaro Presidente
louvor ao Ministro Almirante Raul Tavares de Honra, não está presente a esta solenidade para
pela forma brilhante e eficiente com que assumir o alto posto de Presidente efetivo da Socie-
dirigiu os destinos da Sociedade durante 4 dade de Geografia do Rio de Janeiro, ao qual foi
anos ; proposta essa que foi aprovada por conduzido pelo voto unânime da Assembléia mais
aclamação. numerosa que os Anais da nossa Instituição re-
gistram.
O Almirante Raul Tavares agradeceu
Lamentamos todos essa ausência e, mais que
a homenagem e propôs em seguida um voto todos, o lamento eu, que me vejo na contingência
de louvor e agradecimento para com o Dou- de tomar, incidentalmente, o lugar de quem não
tor Alberto Couto Fernandes, digníssimo devia nem podia ser substituído neste momento his-
Diretor-Tesoureiro da Sociedade pelo espa- tórico da nossa vida social.
120 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
Os nossos Estatutos, que não admitem inter- Esse era o regime de sucessão normal, que ele-
regnos, e a vontade expressa do nosso Presidente a vava à curúl presidencial o substituto imediato do
issa me forçaram. Presidente, como o proclamou Max Fleuiss na Assem-
bléia de Dezembro de 1940.
O voto com que elegestes a Diretoria para o
biênio 1945/46 representa a vontade firme e reso- O movimento contrário a esses usos tradicionais
luta, que vos anima, de nortear a nossa Sociedade já se havia manifestado nessas eleições, mas o sen-
por sendeiros novos, cuja meta é a verdadeira fina- timento de respeito ao costume prevaleceu ainda uma
lidade visada pela nossa Instituição. vez.
Vossa deliberação não traduz apenas vontade, Esboçado, assim, o panorama social e mental em
ela testemunha vossa independência e vossa alta que se desenvolviam as eleições e reeleições na nossa
compreensão dos destinos que estão assinalados à Sociedade, é nos dado melhor apreciar e admirar o
benemérita Agremiação a que pertencemos. desprendimento, a magnanimidade, a elevação moral
O voto da Assembléia de 21 de Dezembro daqueles que, em virtude de uma tradição, detinham
último representa mais que uma afirmação de vita- os postos de comando da nossa Sociedade.
*
lidade da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, Raul Tavares, cuja retidão de caráter c gran-
é a proclamação pura e simples de que todos os deza de coração todos nós conhecemos, logo às pri-
nossos confrades estão unidos e solidários para dar
meiras aberturas, que lhe fizemos, Oliveira Belo e
à nossa Companhia uma nova oportunidade para *u, declarou-nos, com aquela ênfase, que lhe sabemos
reviver as glórias do passado e conquistar novas
tão peculiar, não constituir a sua pessoa obstáculo
glórias que, sem ofuscar as primeiras, representem
o complemento, o elevado apreço e a profunda ad- para que o movimento, que se apresentava já com
caráter positivo, viesse a prevalecer.
miração que nos inspiram os esforços, a dedicação,
o patriotismo e o espírito daqueles que fundaram Uma grande responsabilidade pesava sobre aque-
e sustentaram a nossa Sociedade. les que haviam tomado a si fazer triunfar a nova
As eleições da última Assembléia vieram demons- orientação, com a subversão da ordem tradicional :
— um princípio mais devia ser estabelecido, prin-
trar a perfeita cordialidade que xiste entre todos os
membros da Sociedade, porque elas se processaram cípio que se ajustasse perfeitamente ao outro, o da
em perfeita concordância de opiniões e comunhão não reeleição, e este era : — nenhum Membro da
de idéias entre os que tomaram a iniciativa de fir- Diretoria devia ser reeleito.
mar o princípio da não reeleição e a Diretoria em Duas eram as razões graves que impunham tal
exercício. decisão : o princípio da não reeleição tinha de ser
Muito folgo em poder vos dirigir a palavra aplicado, por coerência, com caráter geral; qual-
neste momento, porque não quero esconder-vos o quer exceção seria, forçosa e justamente, interpre-
desvanecimento que tenho de pertencer a esta So- tada como aprovação a uns e censura a outros ; e
ciedade, onde a identidade de sentimentos em prol tais deduções não podiam corresponder à nossa orien-
da comunidade se sobrepõe à falsa concepção da tação, porquanto todos mereciam amplamente a nossa
vaidade pessoal. gratidão e o nosso apoio.
Quero testemunhar-vos, presados e ilustres Con- Avaliai, presados e ilustres Consócios, da amar-
sócios, a minha admiração e o meu entusiasmo cí- gura que assaltou o espírito desses homens ao consi-
viço pela atitude abnegada, sobranceira, generosa derarem que a Diretoria era integrada por perso-
e altruísta dos ilustrados Membros da Diretoria, que nalidades da mais alta benemerência e consideração,
hoje cessa no seu mandato. por companheiros que serviços relevantes haviam
Que não nos coimem de influenciados por dou- prestado à nossa Sociedade.
trinas ou correntes alheias às nossas cogitações. O Citar-lhes os nomes é contar a história viva da
princípio da não reeleição nasceu em nossa consciên- nossa agremiação nestes últimos anos, é cantar lou-
cia desde há muito tempo. vores aos louros com que eles engalanaram esta
Tínhamos a abalar fortes alicerces, que se en- nobre Casa.
raizavam no uso, nos costumes e na tradição. Raul Tavares, Bernardino José de Sousa, Ta-
O nosso primeiro Presidente, o patrono bene- ciano Acioli, Sousa Doca, Carlos Domingues, João
mérito desta Casa, Marquês de Paranaguá, exerceu Ribeiro Mendes, Epitácio Monteiro Pessoa, Couto
a primeira magistratura desde a fundação da So- Fernandes, Pais Barreto.
ciedade, em 1883, até ao seu infausto passamento,
E', portanto, com o coração bem alto que tenho
ocorrido em 1910. Foi seu sucessor o Barão Ho-
mem de Melo, que se afastou da Presidência vítima a honra de propor seja lavrado na Ata desta Assem-
de uma das mais dolorosas desgraças que podem fe- bléia Geral, que se realiza, também, em comemo-
rir ao humano : — a cegueira. Vieram Thauma- ração à data aniversária da Fundação da Sociedade,
turgo de Azevedo e Gomes Pereira, que, depois de um voto de louvor e de gratidão aos beneméritos
eleitos e reeleitos por vários períodos, sob o peso dos Consócios que integravam a sua Diretoria.
grandes serviços prestados à Pátria, à Geografia e E esse voto não se justifica apenas pelos gran-
à Sociedade, já não se sentiam com ânimo para
des serviços prestados pelos ilustrados Diretores da
exercer a direção dos nossos trabalhos e abando-
naram espontaneamente a presidência apesar de ins- Sociedade em período difícil e precário da vida so-
tantemente solicitados pela grande maioria dos Só- ciai da nossa Agremiação, mas, também, pelo fato de
cios. Moreira Guimarães sucede a Gomes Pereira haverem todos eles concordado em continuar a pres-
em 1925, e a morte nô-lo arrebata em 1940. Raul tar, no Conselho Diretor, a sua colaboração eficiente,
Tavares é eleito e reeleito, em sua qualidade de l9 a concorrer, com a sua experiência e com os seus
Vice-Presidente. conselhos, para a melhor administração da Sociedade.
POSSE DA DIRETORIA 121
Não podíamos nem devíamos prescindir dessa devemos meditar sobre a lei que vai reger a nossa
cooperação, e todos eles, mais influenciados pelo seu vida social. O critério adotado pela Comissão revela
amor a esta Casa do que afetados pela susceptibili- o seu empenho em fazer com que os Estatutos sejam
dade pessoal, aceitaram, de ânimo resoluto, os novos obra de todos; aos Sócios cumpre corresponder a
postos, sendo que Couto Fernandes, com 31 anos de êsse nobre anhclo.
exercício no cargo de Tesoureiro, e Carlos Domin- A nova Diretoria iniciará o seu mandato com
gues, com 25 anos de Secretário e Secretário Geral, uma homenagem àquele que foi seu Presidente de
não titubearam em aceitar, ainda, a designação dos Honra, àquele que deva, talvez, ser proclamado
seus nomes para as Comissões de Contas e de Reda- o maior dos Brasileiros, àquele que, por seu saber
ção da Revista, respectivamente. e cultura, pelo seu afinco no estudo e nas pesqui-
Relevo estes fatos, Senhores, e sobre eles me alon- sas, pela sua pertinácia e capacidade de trabalho,
go, porque êlcs refletem não só o espírito desses bons pela sua inteligência e argúcia, pelo seu talento e
servidores da nossa Sociedade, a solidariedade mag- patriotismo, conseguiu integrar, legal e definitivamen-
nífica de todos os nossos companheiros, mas o anseio, te, ao território brasileiro centenas de milhares de
também, que a todos nos anima de fortalecer o pres- quilômetros quadrados, que nos eram contestados,
tígio e de propugnar pelo progresso da nossa So- quero referir-me ao Barão do Rio Branco, cujo nome
ciedade. pronuncio sempre com reverência e patriótico orgulho.
Honra, pois, à Diretoria que hoje cessa nas suas Por ocasião do centenário do seu nascimento, a
funções e a todos aqueles que, pelo passado, con- atual Diretoria se propõe lançar um número especial
duziram a nossa Sociedade através de crises e difi- e extraordinário da nossa Revista, onde serão trata-
culdades sem número, à situação de poder hoje olhar dos todos os aspectos mais salientes das atividades
com serenidade c confiança o seu futuro. de Rio Branco no que se refere à Geografia.
A nova Diretoria sente toda a responsabilidade A premência do tempo não nos permitiu uma gran-
de ampliação das matérias a serem estudadas, nem
que implica o voto unânime da Assembléia de 21 de uma consulta previa aos prezados Consócios, por-
Dezembro e está disposta a enfrentar essa respon-
sabilidade uma vez que lhe sejam assegurados o quanto os trabalhos de preparação coincidiram com
apoio e a colaboração, se não de todos, pelo menos, o período das férias sociais.
da grande maioria dos seus Consócios. São os seguintes os temas a serem tratados no
O programa esquemático, que foi traçado ao ser número especial :
apresentada a lista dos candidatos à nova Diretoria,
representa o programa mínimo, para cuja execução l9 Uma introdução do nosso preclaro Presidente
os eleitos de 21 de Dezembro se empenharão sem de Honra c Efetivo, Embaixador José Carlos de
esmorecimentos. Macedo Soares.
O nome, por tantos títulos ilustre, do Embaixador 29 O Barão do Rio Branco geógrafo e geopolíti-
co— pelo Professor Everardo Backeuser.
José Carlos de Macedo Soares é, por si só, uma ga-
rantia de realizações. Ao seu lado estão Jorge Dods- 39 A questão do Território de Palmas. Litígio
worth Martins e Everardo Backeuser; este último já com a República Argentina — pelo Ministro J. S.
tendo exercido, com brilhantismo e eficiência, a 2a da Fonseca Hermes.
Vice-Presidência não se deixou dominar pelo natural
melindre que poderia suscitar-lhe o fato de ser, agora, 49 A questão do Território do Amapá — Litígio
eleito para 3* Vice-Presidência. com a França — pelo General João Álvares de Aze-
vedo Costa.
Tal fato, Senhores, reveste-se, no momento atual,
59 A questão do Território do Pirara — Litígio
que é de esperanças e de confiança para a nossa com o Império Britânico — pelo Comandante Braz
Sociedade, do mesmo significado moral e da mesma
elegância que os gestos de Couto Fernandes e Carlos Dias de Aguiar.
Domingues. 69 A questão do Território do Acre. Acordo com
Todos os índices e perspectivas, que se apresentam, a República da Bolívia — pelo Dr. Luís Felipe de
são propiciatórios ao futuro da Sociedade, e a nova Castilhos Goicochea.
Diretoria esforçar-se-á, estou seguro, por imprimir, 79 A Lagoa Merin. Condomínio concedido à
a todos eles, uma ação coordenadora e por encami- República Oriental do Uruguai — pelo General Emí-
nhá-los de forma a que o seu aproveitamento seja lio Fernandes de Sousa Doca.
o mais eficiente que desejar se possa.
8Ç A influência dos trabalhos do Barão do Rio
A Comissão nomeada para elaborar o projeto de Branco sobre a cartografia no Brasil — pelo Pro-
novos Estatutos terminou a sua tarefa, distribuindo, fessor Jaime Cortesão.
há mais de um mês, esse projeto por grande número
de Sócios solicitando emendas e sugestões. 99 As fronteiras do Brasil delimitadas pelo Barão
do Rio Branco — pelo Cônsul Murilo de Miranda
Infelizmente, ao que estou informado, esse gesto Basto.
da Comissão não teve o eco que era de esperar,
pois bem poucas foram as correções até hoje pro- (Js assuntos não podem ser mais geográficos nem
postas. palpitantes, mas devo salientar que, ao accederem
Creio conveniente seja concedida uma prorrogação ao apelo que lhes foi dirigido, todos esses Consó-
ao prazo fixado pela Comissão e permito-me, em cios revelaram o mais alto sentimento de dedicação,
nome da Diretoria e da própria Comissão, fazer um porquanto sobre ser sumamente árduo analisar, sob
apelo aos prezados e ilustres Consócios para que exa- qualquer aspecto, a grandiosa obra de Rio Branco,
minem cuidadosamente o projeto, porquanto muito o tempo para elaborar trabalho de tanta impor-
122 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
tância e delicadeza não podia ser mais escasso, nem em nome de todos, a homenagem do nosso aplauso
menos oportuna a época, que era de férias. e reconhecimento, até ao compromisso que todos
assumimos de solidariedade no esforço, que hcmos de
A todos eles a Sociedade deve o seu agradeci- empreender para levar a nossa Sociedade à realiza-
mento e aplauso.
ção dos seus objetivos, fortalecendo o seu progresso
Com exceção de quem vai abordar o litígio com a e prestígio.
República Argentina, todos os outros são persona- Ao agradecer o voto de confiança com que nos
lidades sobejamente conhecidas em nossa Companhia, encarregastes da direção da Sociedade para o biênio
nos círculos geográficos do país, honrados e respei- 1945/46, a nova Diretoria assume o compromisso
tados no terreno da cultura histórico-geográfica e, solene de esforçar-se tenazmente por corresponder a
por si sós, constituem a mais segura garantia do vulto essa confiança e por tudo fazer para que, com^ a
e relevância da homenagem que a Sociedade de Geo- vossa assistência, colaboração e apoio, a nossa So-
grafia do Rio de Janeiro vai prestar à memória revê- ciedade possa tornar realidade o seu programa e
renciada de Rio Branco e da contribuição valiosa consolidar o renome que já conquistou como um dos
que vamos oferecer aos estudiosos sobre assuntos mais belos expoentes da cultura brasileira.
bem pouco tratados até hoje e que merecem a mais
ampla divulgação, porque virão esclarecer o pro- Em nome do eminente Embaixador José Carlos
cesso pelo qual foi construída a magnífica moldura de Macedo Soares e de todos os demais Membros
que enquadra a Pátria Brasileira. da Diretoria, eu vos saúdo, prezados e ilustres Con-
sócios e, aos mais nobres dos vosossos sentimentos,
A contribuição da Sociedade às comemorações faço o apelo sincero e ardoroso para que colaboreis,
com que o Brasil vai celebrar o primeiro centenário todos, na luta que vamos continuar, luta encetada em
do nascimento do grande Brasileiro será digna das 1883, luta sustentada, com ardor e tencidade, por
nossas tradições e da grandeza do homenageado. 62 anos consecutivos, entre altos e baixos, desânimos
O nosso querido e ilustre Consócio Bernardino e entusiasmos, abundância e precariedade, mas de
José de Sousa dignou-se de aceitar o encargo de pertinácia, trabalho, triunfos e patriotismo, luta que
focalizar a figura de Rio Branco, Presidente de devemos prosseguir de ânimo forte, com a memória,
Honra, qúe foi, da Sociedade de Geografia do Rio cheia de gratidão, voltada para aqueles que nos pre-
de Janeiro, nas solenidades oficiais comemorativas cederam, com a confiança que devemos nos inspirar
do centenário do seu nascimento. a nós mesmos, com a mira posta no prestígio e pro-
O convite que foi feito à nossa Sociedade teste- gresso da Geografia e da nossa Sociedade, para que
os vindouros possam recordar-se de nós como nós
munha do alto apreço e do prestígio da nossa Ins- nos lembramos daqueles que já se foram, e possam
tituição, porquanto idêntica solicitação foi dirigida testemunhar-nos esses mesmos sentimentos que nós
apenas ao Instituto Histórico e Geográfico Brasilei- testemunhamos àqueles: — aplauso e gratidão.
ro, à nossa Sociedade, em segundo lugar, à Acade-
mia Brasileira de Letras, ao Instituto de História e «Ao terminar esta oração, sob calorosos
Geografia Militar do Brasil, à Associação Brasileira
de Imprensa, à União Nacional dos Estudantes e ao aplausos dos assistentes, o Ministro }. S.
Instituto da Ordem dos Advogados. da Fonseca Hermes propôs fosse inserido na
A escolha feita pela Sociedade não podia ser Ata um voto de louvor e gratidão à Diretoria
mais feliz nem acertada, não só pelas qualidades cujo mandato termina. Sob aclamação dos
morais e de inteligência, de cultura e elegância esti- presentes, foi aprovada.
lista de Bernardino José de Sousa, mas ainda pelos
serviços por S. Excia. prestados à Geografia, à «Em seguida, o Ministro J. S. da Fonse-
História e à nossa Sociedade, na organização e pre- ca Hermes ofereceu a palavra ao plenário.
sidência do IX Congresso Brasileiro de Geografia e
na Vice-Presidência da nossa Agremiação. «O Ministro Almirante Raul Tavares
Tudo se congrega, Senhores, para tornar fácil e tra-
agradeceu, em seu nome e no da Diretoria
balhosa a ação da nova Diretoria, desde a elegante que presidira, as bondosas referências do
adesão da Diretorai que hoje cessa nas suas tun- orador e o voto proposto pelo mesmo, em lou-
ções, a cuja dedicação desejo, mais uma vez, prestar, vor à Diretoria cessante».
/
mento de suas contribuições a partir do quarto (49) Nota: Junto vai o formulário para que V. Ex*
à presente circular.
trimestre de 1945, serão considerados demissionários possa, com facilidade, responder
e, como tais, excluídos do quadro social. A Sua Excelência o Senhor
Dr. J. C. de Macedo Soares,
4* Atendendo à circunstância de que alguns Sócios
Presidente da Sociedade de Geografia do Rio de
se encontram ausentes desta Capital, o prazo para a
Janeiro.
aplicação do disposto no item 39 é fixado até ao dia
1* de março de 1946, data em que a Diretoria fica Praça da República n9 54 — l9 andar.
autorizada a adotar as providências conseqüentes. Nesta.
Senhor Presidente:
59 A presente Resolução será publicada em dois
Tenho a honra de acusar o recebimento da Circular
jornais desta Capital durante três dias intercalados com que me foi comunicada a Resolução da Assem-
a fim de que os Sócios, cujos endereços não fôr pos- bléia Geral de 25 de setembro de 1945.
sível encontrar, dela possam ter conhecimento». Ao manifestar a V. Ex* a minha adesão, tenho o
o
Na certeza de que o prezado Consócio há de pene- prazer de comunicar-lhe que, disposto a retomar
meu posto nessa Sociedade, autorizo o seu cobrador
trar o sentido exato e o alto alcance dessa medida, a vir receber a minha contribuição relativa ao 49 tri-
manifestamos-lhe a esperança de que, em breve, te- mestre de 1945 e as subseqüentes à rua — Avenida
remos o prazer de vê-lo novamente entre nós. Praça n9 andar em qual-
quer dia útil, das às horas.
Estes são os votos que, em nome de todos os Aproveito este grato ensejo para apresentar a
Consócios, lhe apresenta a Diretoria. V. Ex* os protestos de minha alta consideração.
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 1945. (a)
J. C. de Macedo Soares, Presidente.
— ]. S. da (Caso não seja bem legível a as-
Fonseca Hermes, l9 Vice-Presidente. — Almirante sinatura, roga-se repeti-la em le-
— Eve* trás claras).
/. Dodsworth Martins, 29 Vice-Presidente.
rardo Backeuser, 39 Vice-Presidente. — Mário R. de NOTA: a Remissão de Sócio lhe é facultada de
Sousa, Secretário-Geral. — Coronel Frederico A. acordo com os Estatutos vigentes, isto é, mediante
Rondon, l9 Secretário. — Sílvio Fróes de Abreu, o pagamento de Cr$ 500,00 de uma só vez, evitando-
29 Secretário. — Comandante L. A. de Oliveira se, assim, o incômodo de cobranças trimestrais.
Belo, Tesoureiro. — Francisco de Souza Brasil, Ora- Favor: Indicar o bairro e o número do ou dos
dor Oficial. telefones.
ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO DO BRASIL
EM V DE JANEIRO DE 1945
População estimada cm
Regiões Fisiogrúficas Unidades da Federação
l9 de janeiro de 1945
i
NORTE 1 637 800
Território do Acre 88 700
Amazonas 463 900
Território do Rio Branco 15 100
Pará 1 017 200
Território do Amapá 25 600
Território do Guaporé 27 300
mos indígenas na nomenclatura dos aciden- O movimento financeiro atingiu uma ei-
tes geográficos do Brasil, o do Pro. Ale- fra jamais alcançada por outro certame dessa
xandre Brigole sobre a navegação aérea no natureza. Assim temos :
Brasil e Santos Dumont e do recipiendário Cr$
Adessões 198.091,80
geográfico no intermeio dos discursos de Auxílio Publicação dos Anais 200.000,00
Domingos Soares de Giácomo sobre a Geo- Auxílio do M.E.S 150.000,00
15.000.00
grafia da terra brasileira. Quanto a única Auxílio do C.N.G
sessão Magna do ano, esta teve lugar a 19 Total 563.091,80
de Setembro em comemoração a efeméride
de 16 de Setembro de 1883, data máxima
da Sociedade, que marca a sua instalação Como vemos o X Congresso Brasileiro
nesta Capital. Essa sessão magna teve in- de Geografia, foi sem dúvida o maior dos
vulgar explendor, por terem a ela compa- certames científicos realizado até o momento
recido vários membros das delegações es- e que constituiu também um acontecimento
social e mundano, pois o seu programa ha-
taduais presentes ao X Congresso Brasileiro
bilmente organizado pela egrégia Comissão
de Geografia, sendo as mesmas saudadas Organizadora Central a cujos membros assi-
pelo nosso Orador Oficial Desembargador nalamos aqui os nossos agradecimentos pela
Carlos Xavier Pais Barreto. operosidade e eficiência reveladas, seguiu
a risca o plano traçado proporcionando aos
O X CONGRESSO BRASILEIRO meios culturais uma semana de magníficas
DE GEOGRAFIA . conferências, excurssões e sessões plenárias
de grande proveito para a ciência nacional.
A Sociedade de Geografia do Rio de Ja- Assinalo aqui os nossos agradecimentos ao
Embaixador José Carlos de Macedo Soares
neiro sente-se orgulhosa por ter tido a ven-
tura de ver mais uma vez e de forma insu- que presidiu brilhantemente todas as sessões,
ao Governo da Cidade na Pessoa do Pre-
perável a concretização do ideal do nosso feito Dr. Henrique de Toledo Dodsworth
inesquecível José Artur Boiteux o criador e as demais entdidades que colaboram para
dos Congressos Nacionais de Geografia, tornar exeqüível o magno certame.
realizado através da trajetória brilhante do
grande certame por ela promovido. O X Con- SECRETARIA E TESOURARIA
gresso Brasileiro de Geografia foi realizado
sob a Presidência de Honra de S. Excia. o Esses importantes departamentos ad-
Dr. Getúlio Vargas Presidente da Repú- ministrativos, brilhantemente dirigidos pelos
blica e sob o alto patrocínio do Ministério dedicados e ilustres confrades Doutores
da Educação e Saúde do Instituto Brasileiro Carlos Domingues e Alberto Couto Fer-
de Geografia e Estatística nesta Capital de nandes tiveram a seu cargo a espinhosa ta-
7 a 16 de Setembro, não levando-se em conta refa de cuidar do controle social e das fi-
nanças da Sociedade. Assinalo aqui os
a sessão preparatório efetuada no dia 6.
meus agradecimentos aos dignos Diretores
Esse Congresso superou de muito a todos
os anteriores quer quanto ao número de pelo desempenho perfeito de suas funções.
adessões quer quanto a qualidade das teses
BIBLIOTECA E MAPOTECA
apresentadas. Quanto aos dados concretos
o aludido certame apresentou nada menos O valioso patrimônio cultural da So-
de 2.497 aderentes assim discriminados: ciedade está sob os cuidados do nosso ope-
roso 29 secretário Dr. Epitácio Monteiro
Valor monetário Pessoa que desenvolveu grande atividade
Cr$ no sentido de organizar a catalogação das
50 membros protetores 72.050,00 obras existentes na Sociedade. Esse tra-
465 membros cooperadores 54.711,80 balho não pôde ser terminado devido o im-.
1.982 membros comuns 71.330,00
previsto impedimento da funcionária encar-
198.091,80 regada do mesmo, porém mesmo assim fo-
Total
ram catalogados num breve espaço de tempo
128 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
1.231 volumes e 675 fichas. A biblioteca mulo os mais ardentes votos para que a
foi enriquecida com várias obras, sendo de novel administração eleita para reger os
destaque a magnífica oferta da American destinos da Sociedade de Geografia do Rio
Lib:ary Association que remeteu para a So- de Janeiro no biênio 1945-1946 seja de todas
ciedade 23 obras sobre assuntos científicos a mais feliz nos seus objetivos de engran-
variados no valor de 2.000 cruzeiros como decer mais, cada vez mais a nobre Casa de
oferta do povo dos Estados Unidos a So- Paranaguá.
ciedade. Também quanto a mapoteca, esta A seguir damos a relação dos membros
foi enriquecida com a valiosa oferta do da Nova Diretoria eleita na Assembléia Ge-
Instituto Cartográfico Castiglioni de São ral Ordinária de 21 de dezembro de 1944
Paulo cujo diretor nosso confrade Salvador e que deverá reger os destinos deste so-
Castiglioni enviou uma coleção de 10 ma- dalício no período correspondente ao man-
pas diversos. Tanto a biblioteca como a dato de 25 de Fevereiro de 1945 a igual
mapoteca atenderam a vários consulentes data de 1947.
que examinaram obras gerais, e especiali-
zadas sobre geografia, Filosofia, Meteoro-
logia, e Literatura. RELAÇÃO DA DIRETORIA
Presidente
PUBLICAÇÕES Embaixador José Carlos de Macedo Soares
l9 Vice-Presidentc
Em 1944 a Comissão de Redação da Ministro J. S. da Fonseca Hermes Júnior
Revista conseguiu compilar copioso material 29 Vice-Prcsidente
cultural que permitiu a publicação do Tomo Almirante Jorge Dodsworth Martins
LI da nossa tradicional Revista a qual deve 39 Vice-Presidente
sair do prelo estes dias. Cumpre-me agrade- Professor Everardo Backheuser
cer aos dedicados confrades membros da Secretário Geral
Comissão de Redação Senhores Doutores Professor Mario C. Rodrigues de Sousa
Carlos Domingues, Alberto Couto Fernan- l9 Secretário
Coronel Frederico Augusto Rondon
des, Antônio Santos Oliveira e Júnior e
Fernando Antônio Raja Cabaglia, bem como 29 Secretário
Sílvio Fróis de Abreu
registro aqui o mais profundo pesar pelo Tesoureiro
falecimento do ilustrado membro dessa co- Comandante Luís Alves de Oliveira Belo
missão Dr. Alexandre Emílio Somier há Orador
pouco desaparecido mas que por muitos anos Dr. Francisco de Sousa Brasil
deu a esta Casa o melhor de seu esforço.
No que acima foi exposto se resumem CONSELHO DIRETOR
os principais acontecimentos da vida da So- ¦
Dr. Randolfo Fernandes das Chagas mil cruzeiros (Cr$ 3.000,00) de um depó-
Dr. José Joaquim da Trindade Filho sito para fim especial, proveniente de um
Major Manuel Carlos de Sousa Ferreira
donativo feito pelo Comandante César Fe-
COMISSÃO DA REDAÇÃO DA REVISTA
liciano Xavier.
Rio de Janeiro, 31 de Janeiro de 1945.
Coronel Luís Mariano de Barros Fournier
Dr. Leopoldo Fcijó Bittencourt — Dr. Alberto Couto Fernandes, Tesou-
Dr. José Antônio da Rosa reiro.
Dr. Antônio dos Santos Oliveira Júnior
Dr. Carlos Domingues
PARECER DA COMISSÃO DE CONTAS
A seguir damos o Balancete apresen-
tado pelo digno Diretor tesoureiro e o pa- Vistos e estudados os balancetes e res-
recer da Comissão de Contas. pectivos comprovantes, elaborados pela Te-
souraria da Sociedade de Geografia do Rio
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JA- de Janeiro referentes ao exercício de mil
NEIRO — BALANCETE REFERENTE AO novecentos e quarenta e três, somos de pa-
ANO DE 1944
recer que sejam os mesmos aceitos, tendo
Título Cr$ C$r em vista a exatidão dos lançamentos efe-
Saldos de 1943 264.45 tuados.
Quotas de Sócios 13.420,00
Donativos 1.000,00 Propomos a egrégia Assembléia Geral
Juros 561,00 a aprovação das contas apresentadas, jun-
Quotas do Instituto dos Co-
merciários 432,00 tamente com um voto de louvor e agradeci-
Venda de Exemplares da Re- mento ao digno Diretor-Tesoureiro, Doutor
vista 10,00 Alberto Couto Fernandes, bem como aos
Resgate de Apólice 196,70
Indenizações 500,00 seus auxiliares de Tesouraria pelo desem-
Selos de contribuições de penho cabal que souberam dar aos seus múl-
guerra 25,00 tiplos e espinhosos cargos.
Venda de cadeiras em mau
estado 160,00 A Comissão de Contas da Sociedade
Contribuições de guerra .... 60,00
Empréstimos sem juros 6.500,00
de Geografia do Rio de ajneiro, 25 de
Subvenção do Ministério da Fevereiro de 1945. — Rodrigo Otávio. —
Educação e Saúde 20.000,00 Trindade Filho. — Leopoldo Antônio Feijó
Extorno de pagamentos feitos
feitos por antecipação .. 5.488,40 Bittencourt.
Vencimentos do pessoal .... — 21.150,00
Percentagem ao cobrador .... — 1.984,00
Ao terminar não posso deixar de agra-
Quotas do Instituto dos Co- decer a todos aqueles que pela sua pre-
merciários — 864,00 ciosa e eficiente colaboração foram os es-
Seguro contra fogo — 322,20
Consumo de luz elétrica .... — 1.255,60 teios da Sociedade de Geografia do Rio
Assinatura do telefone — 1.694,60 de Janeiro e igualmente agradeço aos de-
Selos do correio, estampilhas, mais membros da Diretoria, do Conselho
telegramas e registrados «—* 321,80
Conservação e asseio — 1.178,00 Diretor e das Comissões Permanentes de
Publicação da Revista da So- Contas e da Revista, o trabalho, a dedicação,
ciedade — 6.000,00 e a atividade desenvolvida em prol da So-
Material de Expediente .... — 1.899,90
Gratificações por serviços ex- ciedade. Aos ilustres consócios em geral,
traordinários — 1.410,00 envio os meus agradecimentos as sessões
Restituição de empréstimos
feitos — 6.500,00 promovidas dando-lhes inexcedível brilho, e
Contribuições de Guerra .... — 60,00 bem como, ao dedicado corpo de funciona-
Aquisição de móvel — 500,00 rios desta casa que sempre se distinguiu pelo
Homenagem — 100,00
Saldo para 1945 3.377,45
cumprimento de suas obrigações. Final-
—
mente, a todos concinto a trabalhar pela
Total 48.617,55 prosperidade, prestígio e glória da Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro, contribuin-
Observação — No saldo de Cr$ . . • • do dessa forma para a difusão da cultura
3.377,45 está incluída a importância de três e engrandecimento do Brasil.
130 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
De acordo com as disposições legais e são de todos a fim de ser tentada a cristali-
estatutárias, tenho a honra de, em nome da zação desses ancêios.
Diretoria, ofe.ecer à consideração dos ilus- Duas providências foram assentadas
"Relatório"
trados Consócios o dos princi- com o apoio de todos:
pais acontecimentos ocorridos durante o ano
social de 1945. 1* — eleger, ao findar o mandato, nova
E cumpre-me a mim apresentá-lo na qua- Diretoria.
lidade de Primeiro Vice-Presidente, no exer- 2'y — elaborar novos Estatutos.
cício da Presidência, por se encontrar desem-
penhando o alto ca.go de Interventor Fe- NOVA DIRETORIA
deral no Estado de São Paulo, o nosso emi-
nente, ilustre e muito prezado Presidente de Registramos com desvanecimento a
Honra e Efetivo, Embaixador José Carlos de atitude elegante e desprendida bem como
Macedo Soares. a colaboração prestada pelos ilustrados Mem-
bros da Diretoria e do Conselho Diretor e
das duas Comissões à decisão de renovar o^
NOVA ORIENTAÇÃO
órgãos de administração da Sociedade por
Desde havia muito tempo, no seio da ocasião das eleições pela Assembléia Geral
Sociedade, se vinha notando certas mani- do dia 21 de Dezembro de 1944.
festações tendentes a romper com a rotina, Por unanimidade, isto é, com o voto
conseqüente ao sistema das reeleições e da individual, contrário a si mesmo, de cada
vitaliciedade nos postos de comando. um dos candidatos presentes, fo-am eleitos,
Ao mesmo tempo que se concretizavam sob aplausos gerais, a atual Diretoria, o
essas impressões, firmava-se, também, a Conselho Diretor e as duas Comissões para
convicção de que as sucessivas reformas dos o período 1944-1946, cujos componentes fi-
Estatutos não respondiam às necessidades guram no final do presente Relatório.
da Sociedade, por isso que alteravam, ape- O fato de haver o Embaixador José
nas, certos dispositivos mantendo a estrutura Carlos de Macedo Soares figura das de
geral. maior destaque e prestígio em todos os meios
No correr do ano de 1944, um grupo tanto sociais, como políticos e intelectuais,
de Consórcios estabeleceu contatos com concordado com a indicação do seu nome
grande número de colegas, a começar pelos para a Presidência da nossa Sociedade, re-
ilust:es componentes da Diretoria e do Con- presentou, desde logo a melhor garantia
selho Diretor, no sentido de angariar a ades- para o futuro da nossa instituição.
132 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
e a nos mudar para o segundo andar, o que pendência econômica para adquirir inteira
não deixa de ser sobremodo incômodo, par- liberdade; e essa autonomia só nos poderá
ticularmente para alguns Sócios, pois o velho vir quando tivermos o terreno e sobre êle
prédio não possui elevador. houvermos construído um edifício que nos
garanta renda suficiente para sermos o que
AUMENTO DE SUBVENÇÃO devemos e queremos ser, o que seremos:
uma Sociedade, autônoma, de cultura, c
A subvenção com que o Governo Fe- estimuladora de estudos geográficos.
deral contribui para as despesas da Socie- Só então, quando independentes, pode-
dade — Cr$ 20.000,00 anuais, em compara- remos demonstrar que a Geografia continua
ção com as que concede a instituições re- a ser a base da solução para a maioria dos
creativas e esportivas, se nos afigura bem problemas de todas as nações e mais espe-
reduzida. Pleiteamos um aumento de Cr$ . cialmente no nosso país, onde a extensão ter-
100.000,00 anuais, mas a oposição do Mi- ritorial, a distribuição populacional e a di-
nistro da Educação e Saúde Pública, Senhor ferenciação econômica, bem como a defici-
Gustavo Capanema, impediu solução favorá- ência e a dificuldade de comunicações, se
vel e isso a pesar do apoio que nos deram erguem, no conceito da geopolítica, como
o Presidente Vargas e o Ministro Ataulfo verdadeiras incógnitas a definir ou demoras
de Paiva. Insistiremos junto ao atual Go- a vencer, que dificultam o progresso e re-
vêrno ou perante o Congresso Nacional tardam a unidade política-econômica do
sobre o assunto, porque julgamos que a país. Só então poderemos proclamar que
nossa Sociedade a merece po: lhe ser indis- brasileiro algum poderá, em sã conciência,
pensável a dignidade de suas atividades aspirar à responsabilidade de estadista se
culturais. habilitado não estiver a conhecer e penetrar
as necessidades da sua terra, porque a so-
IMPRESSÃO DA NOSSA REVISTA lução de quase todos os problemas do Bra-
NA IMPRENSA NACIONAL sil tem por base o conhecimento e a inter-
pretação dos seus aspectos e imperativos
O Presidente Getúlio Vargas acedera geográficos.
a que a nossa Revista e publicações fossem
gratuitamente impressas na Imprensa Na-
cional dando ao nosso requerimento despa- REUNIÕES DA SOCIEDADE
cho favorável, que foi transmitido por ofício Assembléias gerais
do Ministro da Justiça e Negócios Interiores
ao Diretor da Imprensa Nacional; mas o Se- Durante o ano social de 1945 a nossa
nhor Brito Pereira, invocando a inconveniên- instituição se leuniu por três vezes em As-
cia de criar precedentes, declarou à Comis- sembléia Geral: uma a 26 de Fevereiro,
são que o foi procurar para tratar do assun- para a posse da nova Diretoria; outra a
to — Srs. Ministros Fonseca Hermes, Dr. 25 de Setembro, para a concessão do título
Carlos Domingues e Comandante Oliveira "Sócio
de Honorário" a S. A. I. o Prín-
Belo — não ser possível aquela Repartição cipe D. Pedro, Gastão de Alcântara Or-
dar integral execução ao despacho presiden- leans e Bragança, e para resolver a respeito
ciai, aconselhando-nos a obter aumento da da anistia dos Sócios em atrazo no paga-
subvenção para atender a impressão da nos- mento de suas contribuições; e a terceira
sa Revista. Em todo o caso estaria disposto nos dias 20 e 26 de Dezembro para exame,
a imprimir gratuitamente as publicações cor-
discussão, emenda e aprovação dos novos
imprimir gratuitamente as publicações cor-
Estatutos e Regulamento.
respondentes ao ano de 1945. Isto se pas-
sava depois da noite de 29 para 30 de
Outubro. Voltamos a insistir junto ao Mi- SESSÕES MAGNAS
nistro Sampaio Dória, mas sem resultado. A 26 de Fevereiro, por ter caído em
Por tudo quanto antecede, relativa- domingo o dia 25, e em continuação à
mente à doação do terreno, ao aumento da reunião da Assembléia Geral, a Sociedade
subvenção e à impressão grátis das nossas realizou a tradicional Sessão Magna, come-
publicações, torna-se patente que a nossa morativa do aniversário de sua fundação;
Sociedade necessita conquistar a sua inde- e a 25 de Setembro, para celebrar a data
134 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
de sua instalação bem como para inaugurar e Conrssões, se reuniu ainda 10 vezes, ex-
retartos — Oferta do Embaixador José Car- trao.dinàriamente, para tratar de assuntos
los de Macedo Scares — de S. A. I., o relacionados com a organização e a adminis-
Senhor Conde d'Eu, Segundo Presidente tração da Sociedade.
de Honra, que foi, da Sociedade, e do Se-
nado: Manuel Francisco Correia, o verda- SESSÕES DA SOCIEDADE
deiro iniciador da fundação da Sociedade
de Geografia. Por seis vezes, a Sociedade se congre-
goú para ouvir conferências, cuja importân-
Especialmente convidadas, comparece- cia ou desenvolvimento não se enquadra-
ram S. A. I. o Príncipe D. Pedro, Gastão vam dentro dos estreitos limites de tempo
de Ancântara e o Dr. Leôncio Correia, des- de que dispõem as sessões do Conselho Di~
cendente de Manuel Francisco Correia, fa- retor.
zendo-se acompanhar de numerosas pessoas
Foram estas:
de sua digna família. O Presidente José
CaJos de Macedo Soares nomeou Cnrssões 19 de Março, pa.a acertar providên-
especiais que introduziram os ilustres hós- cias a respeito de certos assuntos de caráter
pedes na Sala das Sessões, onde foram aco- geral e para ouvir o relatório do Coman-
lhidos sob calorosas salvas de palmas d dante Oliveira Belo sobre o Congresso de
convidados a tomar assento à Mesa. História, realizado no Rio Grande do Sul,
Inaugurando os retratos dos dois pró- comemorativo dj Centenário da terminação
ceres, discusaram o Dr. José Wanderley de da revolução Farroupilha.
Araújo Pinto sobre a personalidade do Se- 25 de Abril, para ouvir a conferência
nho. Conde d'Eu e o Comandante Luís de do Coronel Francisco Jaguaribe Gomes de
Oliveira Belo, que fez o panegírico do Se> Matos, por ocasião das comemorações da
nador Manuel Francisco Correia. "Semana
do índio", e sobre o tema: "Con-
Em nome de S. A. fabu o nosso tribuição ameríndia na civilização ociden*
Consócio Alcino Sodré, usando também da tal'. Essa Sessão foi honrada com a
pre-
palavra o Dr. Leôncio Correia, que, em sença do eminente desbravador do sertão
nome da família, agradeceu a justa homena- brasileiro, o benemérito "protetor" do nosso
gem prestada pela Sociedade ao seu ante- índio, General Cândido Mariano da Silva
passado. Rondon, Presidente de Honra da Sociedade.
Encontrando-se presente à Sessão ") 24 de Maio, realizada no "auditoriunT
Almirante Gago Coutinho, o Presidente José do Ministério da Educação, comemorativa
Carlos de Macedo Soares pediu-lhe entre- do Centenário do nascimento do Barão do
gasse pessoalmente ao Príncipe Dão Pedro Rio-Branco, Presidente de Honra, foi,
o Diploma de Sócio Honorário, gesto que da nossa Sociedade. Essa sessão, que
foi acolhido com aplausos gerais. presidida
pelo Embaixador José Carlos de Macedo
Soares, foi honrada com a
SESSÕES DO CONSELHO DIRETOR presença do Mi-
nistro de Estado das Relações Exterores,
De acordo com os Estatutos, o Con- e pelos representantes do Presidente da Re-
selho Diretor se reuniu por 10 vezes, uma pública. Ministro de Estado, Prefeito Muni-
em cada mês do ano social, para tratar de cipal, Chefe de Polícia, Arcebispo do Rio
de
assuntos administrativos, admissão e posse Janeiro, pessoas da família do Barão e nu-
de Sócios, comunicações geográficas, aná- merosas Instituições culturais. Foi orador
o
lise de efemérides, preleções etc.. . A essas Ministro J. S. da Fonseca Hermes, cuja
sessões, como a todas as demais, realizadas conferência mandou imprimir e distribuir
pela Sociedade, concorreu reduzido número pelos Sócios.
de Sócios, se bem todos tivessem sido ins-
tados a comparecer. 8 de Setembro, para receber o Enge-
nheiro Alfredo Galmarini, delegado da So-
SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS ciedade Argentina de Geografia, que trouxe
uma mensagem verbal daquela Agremiação, *
Além das sessões ordinárias, a Dire- convidando a nossa para, com ela, estreitar
toria, juntamente com o Conselho Diretor as .elações culturais.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 135
103 foi o número dos Professores ins- blica dos Estados Unidos da América, —
critos, sendo habilitados 36; entretanto, a Franklin Delano Roosevelt, sendo enviado
Sociedade conferiu diploma a mais 21, que telegrama de condolências ao Embaixador
satisfizeram às exigências do curso. desse país no Rio de Janeiro.
A Sociedade de Geografia patenteia o
seu profundo reconhecimento ao Conselho
OFERTAS
Nacional de Geografia, cuja colaboração
esforços e contribuição constituíram a me-
lhor garantia para o sucesso desse curso. Entre as ofertas feitas à Sociedade,
destacam-se: um cofre forte, com mostruá-
rio, e uma valiosa coleção de medalhas,
DIVERSOS ACONTECIMENTOS pelo
Embaixador J. C. de Macedo Soares; uma
medalha em homenagem ao Barão do Rio
A Sociedade de Geografia se congratu- Branco, do grande artista patrício Girardet,
lou com o Ministério das Relações Ex-
teriores: pelo Consócio Dr. Guilherme Ellis, bem
"Prêmio
como a do José Boiteux", instituída
l9 Pela sua feliz intervenção no li- pelo X Congresso Brasileiro de Geografia.
tígio territorial entre o Peru e o Equador,
da qual resultou a nomeação do nosso
pre- SÓCIOS DESAPARECIDOS
zado Consócio, Comandante Braz Dias de
Aguiar, para estudar in loco e definir a
raia divisória entre os dois países na zona A Sociedade tem a lamentar o faleci-
a ser delimitada. O ofício com mento de alguns Sócios durante o ano tran-
que o Ita- sato, destacando-se, entre eles, o Dr.
maraty nos agradeceu essas congratulações José
é^ altamente honroso para a nossa Institui- Matoso Maia Forte, do Conselho Diretor,
ção, acrescendo o fato de haver aquele Mi- o General Emílio Fernandes de Sousa Doca,
nistério tomado a iniciativa de divulgar o ex 3" Vive-Presidente, o General Salvador
fato pela imprensa. Barbalho de Uchoa Cavalcanti, do Con-
Ao mesmo tempo foram enviadas con- selho Diretor, o Almirante Henrique Boi-
gratulações aos Embaixadores do Equador teux, Aurélio Afonso Porto e o General
e do Peru, acreditados Alípio di Primio. A memória de todos fo-
junto ao nosso Go-
Vêrno, os quais as agradeceram em termos ram prestadas homenagem de
pesar e sau-
elogiosos para a Sociedade. Endereçamos dade, e às respectivas famílias enviadas con-
igualmente, ao Comandante Braz Dias dolências.
de
Aguiar as nossas felicitações.
O Instituto Histórico e Geográfico
2* Pela criação do Instituto Rio Bran- Brasileiro convidou a Sociedade de Geogra-
co, onde o ensino da Geografia e fia para realizar uma Sessão conjunta em
da Carto"
grafia históricas terão particular destaque. homenagem ao General Sousa Doca e ao
Em ata foi registrado o nosso regozijo Dr. Aurélio Porto, Sócios,
que foram, das
pela terminação da guerra, com a vitória daus Instituições. Nessa ocasião, usou da
das nações aliadas. palavra o Comandante Oliveira Belo, que
Registrado também foi um voto fez o elogio fúnebre de Sousa Doca.
de pe-
sar pela dolorosa catástrofe vitimou, já
que
"Baía",
em plena paz, o Cruzador
em a SÓCIOS ADMITIDOS
qual numerosos brasileiros perderam a vida
bm testemunho, ainda, do nosso Durante o ano de 1945 foram admiti-
sentimento, foi enviado um telegrama profundo
de dos 74 novos Sócios, dos quais 65 Titulares
pêsames ao Ministro da Marinha e nomeada e 9 Correspondentes, no Brasil.
uma Comissão para assistir às
exéquias S.A.I. o Príncipe D. Pedro, Gastão
oficiais.
de Alcântara foi eleito Sócio Honorário em
Igualmente registrado um voto de homenagem aos seus antepassados e às nos-
pesar
pelo falecimento do Presidente da Repú- sas tradições.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 137
Somos parte integrante da elite inte- atividades ? Porque ? Deixo a cada qual
lectual do nosso país e, como tal, devemos o encargo de responder a esta interrogação.
dar exemplo de organização e de cumpri-
mento do dever. Quanto a mim, porém, posto que fa-
lando em nom^ de reduzido núríiero de Con-
Somos expoentes da Geografia nacio- sócios, não pusso deixar de condam ir :
nal e, como tal, devemos tornar realidade
aspirações, existência e afirmações. Que os Sócios de melhor vontade dêm
o exemplo prestigiando com a sua assidui-
Descuidar de tais preceitos e verdades dade e cooperação as reuniões da Sociedade,
seria negar a nós mesmso, seria rene- colaborando no desenvolvimento do seu pro-
gar a finalidade da Sociedade que integra- grama cultural e administrativo ; o exemplo
mos, seria desmentir as nossas própriass de uns animará a outros e, pouco a pouco,
aspirações, existentes e afirmações. o núcleo dos Sócios de boa vontade crescerá
O meu pensamento se volta para o e, então, poderemos ser o que todos e cada
passado afim-de recordar aqueles que lu- um de nós não pode deixar de, honrada-
taram para que a nossa Sociedade fosse mente, querer que sejamos : uma Sociedade
fundada para que ela subsistisse. Convi- que preenche inteiramente o seu programa
do-vos a evocar os 63 anos de existência e as finalidades para que foi fundada um
da nossa Sociedade e peço-vos que me real expoente da cultura brasileira, um ins-
acompanheis na contemplação do que so- trumento eficiente para o conhecimento do
mos hoje perante um mundo convulsionado nosso país, um orgulho para todos nós.
pelas mais anarquisantes conseqüências de Rio de Janeiro, 15 de Fevereiro de 1946.
uma guerra em que, os próprios vencedo- — /. 5. da Fonseca Hermes, V} Vice-Pre-
res não sabem como encarar nem orientar sidente, no exercício da Presidência.
a vitória.
E peço-vos, ainda que me acompanheis DIRETORIA
no exame do que pode e deve ser a nossa
Sociedade como instrumento de cultura e Presidente
Embaixador José Carlos de Macedo oSares
de disciplina intelectual para o progressivo
conhecimento do nosso Brasil. l9 Vice-Presidente
Ministro João Severiano da Fonseca Hermes
Unamo-nos e colaboremos, todos para 29 Vice-Presidente
que a Sociedade de Geografia possa rea- Almirante Jorge Dodsworth Martins
lizar o seu programa, traçado com ampli- 39 Vice-Presidente
tude de vistas nos novos Estatutos. Professor Everardo Backheuser
Hemos substituído a Diretoria e refor- Secretário Geral
mamos os Estatutos com o firme Professor Mário Campos Rodrigues de Sousa
propósito l9 Secretário
de encaminhar a nossa Sociedade
por novos Coronel Frederico Augusto Rondon
rumos, para mais seguramente conduzi-la
à 29 Secretário
^consubstanciação de suas finalidades. Professor Sílvio Fróis de Abreu
Não permitamos que a nossa Sociedade con-
Tesoureiro
tinui, apesar de tudo o que tentamos, a Comandante Luís Alves de Oliveira Belo
permanecer na estagnação anterior, porque,
então, bem triste seria a conclusão a REl££2 DOS DOCUMENTOS COMPROBA-
fatalmente teríamos de chegar. que,
TÓRIOS DA APLICAÇÃO DA SUBVENÇÃO
NA IMPORTÂNCIA DE VINTE MIL CRU-
Pelos novos Estatutos ficou implantado (Cr* 20-000,00) RECEBIDA DO ML
o sistema de rodízio nos postos de comando, ££K2S
NISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE, A
mas, como realizar essa substituição 30 DE MAIO DE 1945.
perió-
dica se os próprios Sócios não
querem re- Cr$
velar suas qualidades de administradores, Pessoal
o
seu interesse pelos destinos da Sociedade ? Documento n9 1 — Folha de Venci-
Quantos valores, xeais não vemos figu-
mentos do pessoal -— Janeiro a junho 6.000,00
Documento n9 2 — Folha de venci-
rar nos quadros da nossa agremiação mentos do pessoal — julho
e que, Documento 1.300,00
indiferentes, se mantém afastados n9 3 — Folha de vencil
de suas mentos do pessoal — agosto 1.30C 10
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES — ANO DE 1945 139
OS NOVOS ESTATUTOS
Art. II9 O título de Vice-Presidente de Honra Art. 159 O Sócio Efetivo, bem como o de
da Sociedade será concedido a personalidade, do Honra e o Benemérito que gozam dos direitos da-
país e do estrangeiro, que tenham prestado rclc- quêle, têm, além das prerrogativas previstas no ar-
vantes serviços à Sociedade ou à Geografia. tigo anterior, as de ;
Parágrafo único. O número de Vice-Presidentes a) ser eleito para os cargos do Conselho Di-
de Honra será de quinze. retor, da Diretoria e do Conselho Fiscal;
Art. 129 O título de Sócio de Honra será b) propor a admissão e a exclusão de Só-
concedido a pessoas eminentes, do país e do estran- cios.
geiro que, pelos seus estudos c trabalhos, ou meri-
tórios serviços prestados à Geografia ou à Socie- Dever es dos Sócios
dade, se façam merecedores dessa distinção.
Parágrafo único. O número de Sócios de Honra Art. 169 São deveres de todo Sócio ;
será de trinta, correspondendo vinte e dois a bra-
sileiros e oito a estrangeiros. a) cumprir o que dispõem os Estatutos, o
Art. 139 Por alta conveniência, reconhecida Regulamento e os Regimentos da Sociedade, bem
como acatar e executar as decisões dos seus órgãos
por quatro quintos (4/5) dos votos expressos em
assembléia geral, a Sociedade poderá conceder ti- diretores e deliberativos;
tulos de Honra além dos limites respectivamente b) prestar à Sociedade não só o esforço da
fixados nos parágrafos dos artigos anteriores. sua inteligência e saber, como também a sua assis-
Parágrafo único. Excepcionalmente, por idên- tência moral e cooperação o maior prestígio e pro-
tico motivo e sob as mesmas condições, a Sociedade gresso da Sociedade;
poderá conceder títulos de Honra a personalidades c) aceitar os encargos e comissões para que
de alto relevo intelectual ou científico, ou que te- fôr eleito ou designado e desempenhá-los com dedi-
nham prestado assinalados serviços ao Brasil. cação;
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142 REVISTA DA SOCIEDADE DE GEOGRAFIA
a) de recursos, em que o Sócio requerente Art. 30° O Conselho Fiscal reunir-se-á, re-
poderá fazer uso da palavra; gularmente, uma vez por trimestre e, extraordinária-
b) de processo; mente, quando convocado por dois dos seus membros
c) quando, por iniciativa do Presidente, lhe ou por solicitação do Conselho Diretor, Diretoria
fôr concedida. ou Comissão de Finanças.
a) as subvenções que os Governos Federal, Art. 349 Para que as assembléias gerais pos-
dos Estados ou Territórios, instituições ou parti- sam instalar-se e deliberar, em primeira convocação,
culares lhe concederem; é indispensável a presença de quarenta sócios, pelo
b) as jóias e contribuições dos Sócios; menos.
c) os juros e dividendos dos títulos e ações; § l9 Em segunda convocações, ressalvada a
exigência prevista no § l9 do Art. 42 a assembléia
d) o resultado dos inquéritos geográficos e
consultas; poderá instalar-se e deliberar com a presença de
quinze Sócios, sem contar os membros da Diretoria,
e) o resultado da venda de publicações; ficando anulada a convocação no caso de não reunir
/) as doações não especificadas; esse número de Sócios.
g) as entradas não previstas. § 29 A primeira e a segunda convocação po-
derão ser feitas para o mesmo dia, com a indicação
*¦— As assembléias podem autorizar a aplica- de que a assembléia se instalará, em virtude da se-
ção das rendas do item IV em despesas extraordi- gunda convocação, uma hora depois da fixada para
nárias; a primeira, certificada a presença de quinze Sócios.
VI <— As rendas da Sociedade, destindas ao Art. 359 A convocação das assembléias gerais
Fundo Social, serão transformadas em títulos do obedecerá aos preceitos da legislação em vigor e
Governo Federal; excepcionalmente, mediante ex- será feita por publicação em três jornais da capital
pressa autorização da assembléia geral, poderão ser e afixada na sede social.
aplicadas em ações de empresa ou companhia ga- Parágrafo único. Em tal publicação será in-
rantida pelo Governo Federal; dicado o caráter da assembléia, que, a juízo da
VII — Para a aquisição, venda ou permuta Diretoria, será pública ou privativa para os Sócios.
de propriedades imóveis ou construção, a assembléia
geral poderá autorizar a Diretoria a aplicar os Assembléias ordinárias
saldos das rendas do item IV e a negociar com m
cada ano, e a fixação do projeto de programa bá- § 49 A requerimento assinado por vinte Só-
sico cultural, a ser desenvolvido durante o ano cios, para :
social.
a) tratar de assuntos de importância para a
Assembléia extraordinárias Sociedade, inclusive reforma ou interpretação dos
Estatutos;
Art. 40. Em assembléias extraordinárias a So- b) conhecimento, exame e decisão, em grau de
ciedade reunir-se-á todas as vezes que, convocadas, recurso relativamente a decisões do Conselho Di-
como previsto nos Estatutos, houver assunto im- retor.
portante ou urgente, cujo exame ou solução de-
penda do seu pronunciamento. Art. 42. Do requerimento, assinado por vinte
Sócios, deverão constar pormenorizadamente, as ra-
Art. 41. As assembléias extraordinárias pode- zões da convocação e as matérias a serem sub-
rão ser convocadas por iniciativa do Conselho Di- metidas à decisão da assembléia ;
retor, da Diretoria, do Conselho Fiscal ou a reque-
rimento de vinte Sócios. § l9 A assembléia, assim convocada, só pode
§ l9 Por decisão do Conselho Diretor, para : instalar-se e deliberar com a presença dos vinte re-
querentes, tanto em primeira como em segunda con-
*— reforma ou interpretação dos Estatutos; vocação, observado o disposto no Art. 34 e seus
II — autorizar despesas não previstas no orça- parágrafos ;
mento; § 2V A inobservância ou não ocorrência das
III — exame, discussão e votação de projetos exigências previstas importará a anulação do re-
de caráter técnico, cultural ou administrativo, cuja querimento ;
execução, ex-vi dos Estatutos ou a juízo do Con- § 39 A nenhum Sócio assiste o direito de assi-
selho Diretor, depende de pronunciamento de assem- nar mais de dois requerimentos de convocação de
bléia geral; assembléia durante o ano social, ainda quando
IV — institutição de prêmios, quando tal pro- ocorrer o caso previsto no parágrafo anterior ;
vidência requerer urgência ;
§ 49 Se a Diretoria não convocar a assem-
— resolver a respeito da exclusão de Sócios bléia dentro dos quinzes dias que seguirem ao da
e da destituição de funções eletivas : entrega do requerimento ao Secretário-Geral, ou a
VI <— fixar as bases para os contratos, com- quem suas vezes faça, cabe ao primeiro signatário
promissos ou negciação, bem como para a ge- do requerimento convocá-la.
rência e aplicação dos fundos da Sociedade.
Art. 49. As eleições dos membros da Diretoria bléia, que deverá proceder às eleições, decidir a
realizar-se-ão por grupo de três, anualmente, obc- respeito da duração c caráter dos mandatos.
decendo à seguinte escala : Parágrafo único. Na ausência da Diretoria,
essa assembléia poderá ser convocada por dez
f Presidente Sócios, obedecendo às regras fixadas nos Estatutos,
l9 grupo ] 39 Vice-Presidcnte mas independentemente das exigências previstas nos
[ 29 Secretário parágrafos do Art. 42.
f 29 Vice-Prcsidente CAPITULO VI
29 grupo ] l9 Secretário
[ Bibliotecário DAS SESSÕES DA SOCIEDADE
l9 Vice-Presidente
Art. 56. A Sociedade reunir-se-á uma vez no
39 grupo Secretário-Geral
Tesoureiro ano, cm Sessão Magna, no dia 25 de fevereiro,
data aniversária de sua fundação.
Art. 50. As eleições dos membros do Con- § l9 Essa sessão terá por fim :
selho Diretor realizar-se-ão por grupos de quatro, a) A comemoração da data;
anualmente, segundo a ordem em que figuram na b) a proclamação e posse dos Presidentes,
lista. Vice-Presidentes e Sócios de Honra, admitidos du-
Art. 51. As Comissões serão eleitas de três rante o ano anterior ;
em três anos. c) entrega dos prêmios outorgados pela So-
ciedade e pelos Congressos Brasileiros de Geografia;
Art. 52. Os membros do Conselho Fiscal se-
rão eleitos, 1 a 1, cada ano, com os respectivos d) o elogio dos Sócios que se tenham distin-
suplentes. guido durante o ano social transato ;
e) a leitura dos nomes dos Sócios admitidos
Reeleições e falecidos durante o ano social transcurso.
Art. 53. Somente por vontade da assembléia, § 29 Essa Sessão Magna será pública e se
expressa por quatro quintos (4/5) dos votos apu' realizará com a presença de qualquer número de
rados, em primeiro escrutínio poderão ser reeleitos Sócios.
os membros : Art. 57. Em sessões ordinárias, a Sociedade
r
"Diretor
i
reunir-se-á mensalmente, em dias previamente fixa-
a) do Conselho ;
dos pela Diretoria, para :
b) da Diretoria, para os mesmos cargos que
exerciam. a) execução do programa básico cultural apro-
vado pela última assembléia ordinária de cada ano;
§ l9 No caso em que o primeiro escrutínio b) posse dos Sócios Beneméritos, Efetivos e
não acuese os quatro quintos 4/5) dos votos apu- Titulares e recepção dos Correspondentes, quando
rados, proceder-se-á ao segundo escrutínio para o de passagem pela capital;
preenchimento do cargo, sendo então, eleito o mais c) comunicação do movimento cadastral dos
votado. Sócios ;
d) louvores e necrológios ;
§ 29 No segundo escrutínio não serão compu-
tados os votos a favor do candidato à reeleição. e) leitura de relatórios e pareceres de caráter
informativo e cultural, elaborados pelas Comissões ;
f) leitura de comunicações dos Sócios Cor-
Vagas respondentes ;
g) exame, enfim, de todos os assuntos que
Art. 54. Toda vaga, verificada no Conselho constituem os objetivos da Sociedade, de que trata
Diretor, Diretoria, Comissões e Conselho Fiscal, o Art. 69, com vistas ao estudo preliminar do Con-
será preenchida por nova eleição, devendo, para selho Diretor.
esse fim, a Diretoria convocar uma assembléia ex-
traordinária para dentro dos trinta dias que se Art. 58. Em sessões extraordinárias, a So-
seguirem àquele em que se deu a vaga. ciedade reunir-se-á todas as vezes que fôr julgado
§ l9 O novo eleito completará o período para necessário a critério da Diretoria.
o qual o fora seu antecessor. Art. 59. As sessões extraordinárias da So-
§ 29 Verificada a vaga depois de dois anos ciedade poderão ser ainda convocadas a requeri-
de exercício das funções, cabe ao Conselho Diretor mento de dez Sócios, com a declaração dos assun-
designar, em sua primeira sessão, o substituto que tos a tratar, dentre os indicados no Art. 57, e
deva completar o período. mediante deferimento da Diretoria.
§ 39 Na hipótese da vaga se verificar depois
de novembro do ano anterior ao em que se deva CAPITULO VII
proceder à eleição para aquele cargo, será consi-
derado como ocorrido depois de dois anos. DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 55. Nocaso de renúncia coletiva do Con- Art. 60. O ano social tem início aos 15 de
selho Diretor, da Diretoria, das Comissões e do fevereiro e termina aos 15 de dezembro.
Conselho Fiscal, ou de qualquer desses órgãos, Art. 61. A Sociedade não entrará em po-
proceder-se-á a novas eleições, competindo à assem- lêmica pela imprensa.
OS NOVOS ESTATUTOS
147
ao
Art. 62. Tanto na sede como cm qualquer (30) seguintes ao da entrega do requerimento
reunião da Sociedade são vedadas discussões de Sccretário-Gcral, só poderá deliberar sobre a ma-
ordem pessoal e de caráter político ou religioso. teria previamente indicada c artigos que lhe forem
correlates.
Art. 63. As decisões dos órgãos deliberativos, Art. 69. Os presentes Estatutos entrarão em
consultivos e executivos serão adotadas por maioria execução, uma vez preenchidas as formalidades exi-
absoluta de votos, isto é, pela metade, mais um, dias de-
gidas pela legislação em vigor e três (3) Oficial.
dos votos expressos. pois de publicados, em extrato, no Diário
Parágrafo único. Excetuam-se as votações
Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1945.
para :
a) a eleição, regulada pelo Art. 48;
b) a reeleição, regulada pelo Art. 53; DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
c) a concessão excepcional de Título de
Honra, regulada pelo Art. 13. A assembléia geral, atendendo ao que dispõe o
Art. 49 dos novos Estatutos, que determina o ro-
Art. 64. O voto será simbólico, nominal ou dízio para as eleições da Diretoria, Conselho Di-
secreto, se assim o decidir a maioria. retor e Conselho Fiscal.
Parágrafo único. Estão execetuados os casos RESOLVE t
são :
previstos nos Estatutos e no Regulamento, que i
a) para eleições e reeleições; A assembléia geral do dia 10 de Dezembro
b) exclusão de Sócios e destituição de fun- de 1946 elegerá :
ções eletivas. l9 terço do
a) oi9 grupo da Diretoria e o
Art. 65. A Diretoria constitui a Mesa das Conselho Diretor por um período de 1 ano ;
assembléias e das sessões da Sociedade e do Con- b) o 29 grupo da Diretoria e o 29 terço do
selho Diretor. Conselho Diretor por um período de 2 anos;
Ui-
§ l9 Excetuam-se as sessões do Conselho c) o 39 grupo da Diretoria e o 39 terço do
retor para os fins visados pelos itens V e X do Conselho Diretor por um período de 3 anos.
Art. 20 e as assembléias convocadas para os ciei-
tos ou em virtude : ii
a) da alínea f do Art. 29. Os três membros do Conselho Fiscal e os três
b) do item V do § l9 do Art. 41. respectivos suplentes serão eleitos : 1 grupo de
c) do Art. 39. dois (Conselheiro e Suplente) por um ano, outro
será presidida
§ 29 Nesses casos a reunião momento, por dois anos e o terceiro por três anos.
pelo Sócio mais antigo, presente
no uma As assembléias gerais de 10 de dezembro de
vez que não seja membro da Diretoria, o qual con- 1947 e 1948 procederão às correspondentes elei-
3 anos
vidará dois outros Sócios para exercerem as fun- ções com o mesmo critério, elegendo por devam
ções de Secretários. e para os postos vagos os Sócios que
Art. 66. Quando ocorrer que uma das datas exercer os referidos mandatos.
fixadas nestes Estatutos para as reuniões das as- IV
sembléias ou sessões da Sociedade venha a coin- da
cidir com domingo, festa ou luto nacional ou As candidaturas à reeleição, que forem apre-
Sociedade, o Presidente transferirá a sua realização, sentadas à assembléia geral de 10 de Dezembro
mandando fazer, em tempo, os correspondentes de 1946, já estarão sujeitas ao disposto no Art. 53
avisos. dos novos Estatutos.
Art. 67. O Sócio eleito para qualquer fun-
ção, que violar flagrantemente os
Estatutos, par- v
da
ticar atos contrários aos interesses ou prestigio A assembléia geral de 10 de Dezembro de 1946
Sociedade, ou que deixar, sem motivo ponderável toi elegerá o Bibliotecário por um período de 1 ano.
e justificado, de exercer as funções para que
eleito, por mais de seis (6) meses consecutivos, do VI
será considerado demissionário para os efeitos
item V do Art. 20 destes Estatutos. O cargo de Orador Oficial será declarado vago
na assembléia geral de 10 de Dezembro de 1946, a
CAPÍTULO VIII menos que o atual titular venha a renunciar antes
desta data, caso em que não será preenchido.
REFORMA ODS ESTATUTOS Rio de Janeiro, 26 de Dezembro de 1945.
dia 7 de
Art. 68. Os Estatutos poderão ser reforma- Publicados, cm extrato, no Diário Oficial do
re-
dos por iniciativa do Conselho Diretor ou a março de 1946» página 3342.
querimento de vinte (20) Sócios. _ ser indica-
de
Apresentados ao Cartório do 1» Ofício de Registro
§ l9 Em ambos os casos deverão os funda- Títulos e Documentos, apontados sob o número
de ordem
das as alterações projetadas e aduzidos 110 412 de Protocolo do Livro n<? 4, e
mentos que as aconselham. REGISTRADOS, sob o número de ordem 2 291, no Livro
ser convocada
§ 29 A assembléia, que deverá A,3 do Registro de Pessoas Jurídicas, aos 25 dias
do mês
dentro dos quinze (15) dias que se seguirem ao de Março de 1946.
da decisão do Conselho Diretor ou dos trinta
O NOVO REGULAMENTO
te--^':N';T':tete-v
'¦
o) manter em dia e ordem os fichados corres- § 1* São condições preferenciais para a pro-
moção :
pondentes a cada uma das categorias de Sócios ;
"Sócio,p) propor á Diretoria a nomeação de um a) os serviços prestados à Sociedade e aos
de sua confiança pessoal, para exercer as Congressos Brasileiros de Geografia;
funções de Secretário da Comissão de Finanças c b) autoria de trabalhos de caráter geográ-
substituí-lo nos seus impedimentos e ausências ; fico;
q) afixar, em lugar determinado da sede da c) assiduidade às reuniões da Sociedade ;
Sociedade, o balanço anual de contas, logo que
aprovado pelo Conselho Fiscal. d) antigüidade ;
0
DA ADMISSÃO
'¦.
-
¦ -DOS SÓCIOS EFETIVOS
Art. 17. A admissão dos Sócios obedece ao
Art. 13. Os Sócios Efetivos são promovidos
dentre ps Titulares, pessoas físicas, que já conta- processo estabelecido neste Regulamento mediante
proposta :
rem 5 anos consecutivos de admissão e que tenham
revelado, em trabalhos, Congressos, Comissões ou a) assinada por 10 Sócios, para Presidente e
no seio da Sociedade, conhecimentos de Geografia, •Vice-Presidente de Honra, Sócios de Honra e Be-
especialmente da brasileira. neméritos;
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O NOVO REGULAMENTO 151
b) assinada por 5 Sócios, para Titular c Cor- Parágrafo único. O Sócio assim excluído, só
respondente. poderá ser readmitido :
Art. 18. As propostas serão apresentadas em a) como Titular, ainda quando tenha sido
formulários especiais, devidamente preenchidos, assi- Efetivo, mediante nova jóia e o pagamento de uma
nadas pelos proponentes e pelo candidato, que de- anuidade, de acordo com o regime em vigor, a
clarará formalmente a sua aquiescência. título de dívida atrasada;
§ V* Os propostos para Sócios Corrcsponden- b) para as pessoas jurídicas, proporcional-
tes poderão declarar a aquiescência por carta rc- mente às respectivas contribuições.
gistrada, dirigida ao Secretário Geral.
Art. 25. Poderá, igualmente, ser excluído da
§ 29 Estão isentos da formalidade de aquies- Sociedade :
cencia as propostas para Presidente, Vicc-Presidentc
e Sócio de Honra ou Benemérito.
a) o Sócio que, em virtude de sentença passada
Art. 19. As propostas serão remetidas ou en- em julgado, houver sido condenado, em Tribunal
tregues ao Presidente da Comissão de Admissão e brasileiro ou estrangeiro, por crime infamante;
Exclusão de Sócios. b) o Sócio que cometer ato contrário à ética.
Parágrafo único. A Comissão deverá exarar o
seu parecer dentro dos 15 dias que se seguirem ao Art. 26. No caso da alínea a) do artigo pre-
do seu recebimento. cedente, a exclusão será decidida cx-officio pelo
Art. 20. As propostas, com o parecer da Co- Conselho Diretor; e, no caso da letra b), pelo Con-
missão, serão levadas ao exame do Conselho Di- selho Diretor em escrutínio secreto, por dois terços
retor, que se pronunciará em sua sessão imediata. dos seus membros presentes à sessão.
Art. 21. As propostas para Presidente, Vice- § lv. O direito de defesa é assegurado para o
caso da alínea b) .
Presidente e Sócio de Honra aprovadas pelo Con-
selho Diretor, serão submetidas à homologação da § 29. Sócio que não se apresentar, por si ou
próxima assembléia geral. procurador devidamente habilitado, para sustentar
a sua defesa, será julgado à revelia.
Art. 22. Aprovada a proposta, a comunica-
Art. 27. O Sócio excluído perde o direito de
ção ao novo Sócio será feita :
usar o título e o distintivo, cabendo à Sociedade
a) pelo Presidente, quando se tratar de Pre- proceder pelos meios legais, como também exercer
sidente, Vice-Presidente c Sócio de Honra ou Be- a faculdade de representação e de publicação contra
nemérito, com a indicação do dia c hora era que o uso ilícito dos mesmos.
lhe será dada posse solene, quando fôr o caso;
b) pelo Secretário-Geral, que solicitará o pa- Jóias c Contribuições
a fim de se
gamento da jóia c da primeira quota, se tratar de
tornar definitiva a admissão, quando Art. 28. Os Presidentes, Vice-Presidentes e
Sócios Contribuintes ; Sócios de Honra, bem como os Sócios Beneméritos,
c) satisfazer o pagamento da jóia e da pri- Remidos e os Correspondentes estrangeiros, resi-
meira quota, o Presidente mandará lavrar o diploma dentes fora do Brasil estão isentos do pagamento de
cor-
e detedminará a inscrição do Sócio no quadro
respondente; jóias e contribuições.
do Art. 29. A jóia, correspondente ao diploma, é
d) a expedição do diploma c a inscrição
a
Sócio Remido serão feitas logo que efetivada de Cr$ 50,00.
remissão; § R Quando o Sócio Titular é promovido
e) em se tratando de Titular, o Presidente co- a Efetivo, contribui com Cr$ 25,00 para a expedição
municará a sessão cm que será solenemente empos- do novo diploma. w
sado; § 29. Quando o Sócio Correspondente passa
}) ao Correspondente, remeterá o diploma a Titular, contribui com Cr$ 25,00 para a expedição
acompanhado de ofício congratulatório, anunciando do novo diploma.
haver sido empossado.
§ 3*. O Sócio Efetivo ou Titular que, de acôr-
Art. 23. Quando se tratar de promoção a Efe- do com o 5 1? do Art. 34, passa para o quadro
tivo ou de transferência do Quadro dos Correspon- dos Correspondentes, não está sujeito a nova jóia,
dentes para o dos Titulares, serão observadas as como tão pouco ao reingressar no respectivo qua-
mesmas formalidades c exigências. dro, como previsto no § 2Ç do mesmo Art., 34.
Art. 30. As contribuições serão pagas adianta-
DA liXCLUSÃO È READM1SSÃO DE SÓCIOS damente, conforme a seguinte tabela ;
Por trimestre 200,00 Beneméritos, têm o direito de voz e voto nas assem-
Pessoa jurídica .. bléias.
Por todo o ano .... 650,00 Art. 37. Os Sócios ausentes da capital ou im-
Correspondentes
15,00 possibilitados de comparecer üs assembléias, bem
Por trimestre como os Correspondentes, residentes no Brasil, po-
Pessoa {ísica .... - derâo dar o seu voto por carta registrada ou
Por todo o ano .... 50,00 entregue, contra recibo, na sede da Sociedade, e
' dirigida ao Secretário-Gcral.
Por trimestre 100,00
Parágrafo único. A fim de assegurar a identi-
Pessoa jurídica .. dade do Sócio e o sigilo do voto, a carta deverá
Por todo o ano .... 350,00
ser assinada e vir acompanhada de um envelope
fechado com o voto dentro e, externamente, bem
Art. 31. Por proposta da Diretoria, ouvida a visível, a inscrição : «ELEIÇÕES».
Comissão de Finanças, cabe ao Conselho Diretor
rever, de 3 em 3 anos, o regime das jóias e contri- Art. 38. Não é permitido o voto por procuração
buições, das doações e remissões, respeitados os ou telegrama.
*
direitos dos atuais Sócios. Art. 39. O Sócio, pessoa jurídica, para votar,
deverá ter registrado na Secretaria da Sociedade,
GENERALIDADES conforme o disposto no Art. 32, o nome da pessoa
física que, para tal efeito, o represente, e só essa
Art. 32. O título de Sócio, em todas as cate- pessoa, devidamente identificada, poderá exercer, cm
gorias, exceto o de «Efetivo», poderá ser atribuído seu nome, o direito de voto.
tanto a pessoas físicas como jurídicas. Art. 40. O Presidente da assembléia designará
§ lç. Para o exercício dos direitos e prerroga- (3) três Sócios para constituírem a Comissão de
tivas de Sócios, as pessoas jurídicas serão repre- Escrutínio, entregando-lhe os votos recebidos por
sentadas por pessoas físicas, por elas indicadas e carta.
devidamente registradas na Secretaria da Sociedade.
§ 2Ç. Em virtude de não serem Sócios, esses COMISSÕES
representantes não poderão ser eleitos nem desem-
penhar missões. Art. 41. Compete às Comissões :
Art. 33. Os Sócios Contribuintes, que passa-
rem para o Qualro de Honra ou receberem o título a) desempenhar-se das funções que, especifica-
de Benemérito, não perderão as prerrogativas inerentes mente lhes cabem e das que lhes forem atribuídas
à respectiva categoria. pelos respectivos Regimentos;
b) elaborar os projetos que, pelos respectivos
§ RO Sócio Efetivo, que passar para o Regimentos, são de sua especialidade e os que lhes
Quadro de Honra ou fôr agraciado com o título forem solicitados pelo Conselho Diretor e pela Di-
de Benemérito, abrirá vaga no Quadro dos Efetivos.
retoria;
§ 2o. O Sócio Titular, pessoa física, que passar c) realizar os estudos que lhes forem enco-
para o Quadro de Honra ou receber o título de mendados pelo Conselho Diretor e pela Diretoria;
Benemérito, adquirirá, por tal motivo, mais uma
qualidade para a promoção a Efetivo. d) dar parecer sobre os assuntos que lhes es-
tão afetos, ou outros que lhes forem pedidos pelo
Art. 34. O Sócio Efetivo ou Titular, que se Conselho Diretor ou pela Diretoria;
retirar do Distrito Federal ou de suas proximidades, e) prestar as informações que, de acordo com
deverá comunicar o fato à Secretaria da Sociedade, o respectivo Regimento, lhes forem requeridas pelo
indicando o endereço e a maneira como deseja Conselho Diretor, Diretoria ou Conselho Fiscal;
satisfazer o pagamento de sua contribuição.
f) colaborar com o Conselho Diretor, a Di-
§ lç. Se a ausência se prolongar por mais de retoria e as outras Comissões para o maior pres-
um ano, será facultado ao Sócio requerer transferên- tígio e progresso da Sociedade e, nesse sentido
cia para a categoria dos Correspondentes. tomar as iniciativas que lhes parecerem oportunas
§ 2e. O Sócio Efetivo que, nessas condições, para submetê-las ao Conselho Diretor ou à Dire-
houver passado para a categoria dos Correspondentes, toria;
terá, no regresso, preferência para a primeira vaga
Art. 42, Cada uma das Comissões :
que se verificar no Quadro de Efetivos.
§ 39. O Sócio Titular, que se encontrar nas a) terá o seu próprio Regimento;
mesmas condições, reverterá, sem outras formalidades, b) compor-se-á de tantos membros quantos
ao Quadro dos Titulares. aconselhar a experiência e exigirem as circuntâncias,
Art. 35. O Sócio Correspondente, que passar a juízo e por decisão do Conselho Diretor;
a residir no Distrito Federal ou em suas proximi- c) terá um Presidente e um Secretário;
dades, entrará para o Quadro dos Titulares. d) poderá sugerir a Diretoria, para encaminha-
mento ao Conselho Diretor, o seu desdobramento
VOTOS E VOTAÇÕES e a modificação do respectivo Regimento;
¦ I
e) reunir-se-á todas as vezes que fôr convo-
Art. 36. Todos os Sócios quites, inclusive os cada pelo Conselho Diretor, pela Diretoria ou pelo
'.que
constituem a mesa, bem como os Honorários e respectivo Presidente;
D reunir-sc-á com o Conselho Diretor para Art. 47. Os cursos ou séries de conferências,
esclarecer assuntos que dependam de estudo das que a Sociedade organizar, com caráter de difusão
mesmas ou de decisões ou esclarecimentos do Con- cultural, serão abertos aos Sócios e às pessoas es-
selho. tranhas à Sociedade, mediante inscrição e conforme
ao Regimento que fôr baixado.
ATAS
Art. 48. Só os Sócios quites têm direito a voz
e voto.
Art. 43. Para cada órgão será aberto um livro
de Atas c, para o Conselho Diretor, outro, destinado Parágrafo único. Por «Sócio quite», se entende
às suas reuniões secretas. aquele que não estiver atrasado em mais de seis
(6) meses, no pagamento da respectiva contribuição.
§ l9. De todas as assembléias e sessões da
Sociedade, do Conselho Diretor, da Diretoria, das Art. 49. Com relação à alínea c) do Art. 16,
Comissões e do Conselho Fiscal, serão lavradas ficam ressalvados os direitos dos atuais Sócios,
Atas, cuja leitura, para discussão e votação, será cuja remissão continuará a ser regida pela alínea a)
feita na reunião seguinte a cada uma correspondente. do Art. 39 dos Estatutos aprovados pela assem-
bléia geral de 25 de julho de 1940.
§ V. Os livros de Atas serão rubricados :
Art. 50. Com relação aos Arts. 29, 30 e 31,
a) os das Assembléias, pelo Secrctário-Geral; ficam ressalvados os direitos dos atuais Sócios, cujas
b) os do Conselho Diretor, pelo l9 Secretário; contribuições e jóias continuarão sob o regime es-
c) os da Diretoria, pelo 2V Secretário; tabelecido nos Estatutos vigentes na época de sua
admissão.
d) os do Conselho Fiscal, pelo Tesoureiro.
Parágrafo único. Por «atuais Sócios» se en-
tende aqueles que já pertenciam à Sociedade e se
ORDENS DO DIA encontravam quites na data em que o presente Re-
gulamento entrar em vigor; e, futuramente, para os
Art. 44. O Secretário-GeraL de acordo com efeitos dos Arts. de 28 a 31, por ocasião das sub-
seqüentes revisões, ressalvados, sempre, os direitos
a Diretoria, organizará a Ordem do Dia das assem- dos Sócios anteriormente admitidos.
bléias, das sessões da Sociedade c do Conselho Di-
retor. Art. 51. A expressão «Sócio» refere-se às pes-
soas de ambos os sexos.
Parágrafo único. Além do disposto no Art. 35
dos Estatutos, o anúncio de convocação e a Ordem Art. 52. Por «assiduidade» se entende a fre-
do Dia das assembléias, das sessões da Sociedade e qüência a (5) cinco reuniões, pelo menos, da Socie-
do Conselho Diretor serão afixadas em lugar deter- dade durante o ano social.
minado, na sede social, durante os três (3) dias
que precederem ao da respectiva reunião. VIGÊNCIA E REFORMA DO REGULAMENTO