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FACULDADE PAULISTA DE SÃO CAETANO DO SUL

EVELYN ALAIRCE SILVA DE MATOS


RM: 21737014203

USO DA DEONTOLOGIA PARA O


EXERCICIO PLENO DA ENFERMAGEM

SÃO PAULO
2018
FACULDADE PAULISTA DE SÃO CAETANO DO SUL

EVELYN ALAIRCE SILVA DE MATOS


RM: 21737014203

USO DA DEONTOLOGIA PARA O


EXERCICIO PLENO DA ENFERMAGEM

Trabalho mensal da disciplina Deontologia,


Legislação, Ética e Bioética Específica, prof.
Me. Claudio Wagner Locatelli como
exigência para o c u r s o de Pós-graduação
em UTI adulto, neonatal e pediátrica pela
Faculdade Paulista de São Caetano do Sul.

SÃO PAULO
2018
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................3

2 REFLEXÃO SOBRE OS CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA..............................5

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS DE ÉTICA E MORAL..............5

2.2 SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA BIOÉTICA................................5

2.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA BIOÉTICA...............................................8

2.3.1 Princípio da autonomia..............................................................................8

2.3.2 Princípio da beneficência........................................................................10

2.3.3 Princípio da não maleficência.................................................................10

2.3.4 Princípio da justiça..................................................................................11

3 A ÉTICA NA PRÁTICA.........................................................................................13

3.1 DILEMA ÉTICO..............................................................................................13

3.1.1 TIPOS DE DILEMAS...............................................................................14

3.2 CONFLITO DE PRINCÍPIOS E AÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA DE


ENFERMAGEM.......................................................................................................14

3.3 TOMADA DE DECISÃO ÉTICA.....................................................................15

4 EXEMPLOS DE DILEMAS ÉTICOS....................................................................16

4.1 DILEMA 1: ABORTO......................................................................................16

4.2 DILEMA 2: GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA...............................................16

CONCLUSÃO..............................................................................................................18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................19
3

1 INTRODUÇÃO

A vocação da enfermagem é, antes de tudo, uma tarefa humanitária. Esta


concepção é de vital importância, na prática social de uma profissão que inclui um
sistema de valores e busca de conhecimentos que definam o modo de pensar e agir
dO profissional da enfermagem. O profissional de enfermagem tem que enfrentar
situações muito complexas que coloca em jogo seus princípios e até mesmo a
própria vida, para salvar outras pessoas, como atendimento e cuidado de vítimas de
acidentes graves e violências de diversas naturezas, epidemias, em estado terminal,
com doenças infecciosas contagiosas e outras. Seu trabalho se estende da
assistência, pesquisa e ensino.
Florence Nightingale (1820-1910) foi a criadora da enfermagem moderna. Em
1854, ela ofereceu seus serviços nos campos de batalha da Guerra da Criméia, e
pela primeira vez, o exército britânico permitiu a entrada de mulheres profissional de
enfermagem. Em 1856, quando contraiu febre tifoide, teve que voltar para a
Inglaterra, onde fundou a Escola de Treinamento para Profissional de enfermagem
no Hospital St. Thomas em 1860. Ela considerava a enfermagem como uma
vocação religiosa, sob os preceitos da fidelidade e da veracidade. 
A máxima de sua escola era ajudar o paciente que sofre uma doença a viver
e colocar todas as suas energias na manutenção da saúde de indivíduos que não
sofrem de doenças. Os princípios básicos da ética em enfermagem são baseados
no seu humanismo.
Foi o filósofo grego Aristóteles, no século VI A.C., quem formulou a ética. No
caso da medicina, regulamentações éticas apareceram no código babilônico e no
juramento e aforismos de Hipócrates da Grécia antiga. A ética é definida como
ciência, cujo objeto de estudo é a forma do comportamento moral humano, de certos
grupos sociais ou da sociedade, como um todo.
A bioética é uma disciplina jovem da filosofia, dentro do campo da ética, com
menos de 30 anos de existência, mas com grande aplicação em nossos dias. Nos
últimos anos, tem havido um boom na disseminação desse conhecimento, em
escala global, e chama a atenção, como cada vez mais profissionais da área da
enfermagem estão interessados nesses problemas. Este tema responde a
necessidade de promover a reflexão dos profissionais, sobre os aspectos éticos no
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exercício da prática profissional, enfatizando a necessidade de reconhecer o


paciente como sujeito autônomo que tem o direito de saber, opinar e decidir sobre a
conduta que os profissionais de saúde pretendem assumir, com a intenção de
promover sua saúde, evitando doenças, ou diagnosticando, tratando e reabilitando,
se necessário. Os princípios da bioética, na enfermagem, baseiam-se na satisfação
das necessidades humanas e nos aspectos que a afetam. Torna-se um conjunto de
ações e princípios que se destinam a fornecer cuidados para o doente e o saudável,
a família e a comunidade.
As dificuldades causadas pela crise econômica, transformaram o sistema de
saúde em condições de precariedade em nosso país. A categoria sofre com falta de
infraestrutura e de equipamentos de proteção. Em todo o país, os profissionais de
enfermagem estão sobrecarregados, operam em condições precárias, com baixos
salários e jornada de trabalho excessiva, tanto no setor público como no privado.
Nesse novo campo capitalista, O profissional da enfermagem enfrenta a
mercantilização da saúde e os obrigam a refletir sobre os aspectos éticos do
exercício de sua profissão.
No mundo contemporâneo, onde a ciência é combinada com alta tecnologia,
urge oferecer novos métodos e técnicas para a conservação da vida, no entanto, às
vezes, quando o paciente é privado do calor humano e do seu direito à vida e à
morte, é necessário estabelecer padrões baseados na ética, bioética e na moral,
para garantir a aplicação dos valores e princípios humanos, na assistência ao
paciente.
A equipe de enfermagem desempenha um papel muito importante na
aplicação desses princípios, devido ao contato, tão próximo que tem com os
pacientes e sua capacidade, de entrelaçar a ciência, com a dimensão humana
situando-se, inerentemente, no campo da moral.
O objetivo deste trabalho é realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o uso da
deontologia no exercício da profissão de enfermagem, a fim de melhorar o
desempenho, em seus diferentes campos de atuação. Para tanto, foi feito uma
revisão da literatura na base de dados SciELO Brasil, no período de 2010 a 2018,
com as palavras chave: ética, bioética, deontologia, profissional de enfermagem,
prática de enfermagem. A consulta retornou artigos, documentos, periódicos,
impressos e digitais sobre o assunto. A base principal da pesquisa, foi em cima da
obra de Beauchamp & Childress, em Princípios de ética biomédica (2002)
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2 REFLEXÃO SOBRE OS CONCEITOS DE MORAL E ÉTICA

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCEITOS DE ÉTICA E MORAL

A moralidade é uma das formas de consciência social que, como reflexo das
condições materiais da vida dos homens, é histórica e concreta e, portanto, relativa
e mutável, cujo desenvolvimento constante está em consonância cujo com o
progresso da sociedade.
O estudo da moral é parte de uma ciência particular, a ética, formulada como
tal a partir do século VI A.C., na Grécia Antiga, pelo filósofo grego Aristóteles. No
entanto, os problemas éticos, tanto da sociedade em geral, quanto das profissões
mais conotadas por seu grau de vinculação com ao próprio homem, foram objeto de
análise e formulações teóricas, bem como regulamentações, inclusive legais, da
mais antiga civilização babilônica (2000 anos A.C.) pelo rei Hamurabi.
No caso da prática da Medicina, os regulamentos apareceram naquele
Código Babilônico e reapareceram mais tarde, na Grécia Antiga, no Juramento e
Aforismos de Hipócrates, um médico grego nascido na ilha de Cós.
A ética médica tradicional baseia-se em dois princípios fundamentais: "Não
fazer o mal" e "Fazer o bem". Esses dois princípios têm sido exigidos, ao longo dos
anos, pela prática de médicos e, desde o final do século XIX, sua adesão foi
estendida a todos os profissionais das ciências médicas.
Na Enfermagem, a partir de sua definição como profissão, graças a Florence
Nightingale, dois outros princípios foram acrescentados: a fidelidade (ao paciente),
que obriga ao cumprimento dos compromissos assumidos; e a veracidade, mesmo
quando seu exercício pode acarretar dificuldades para a pessoa que a exerce.

2.2 SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA BIOÉTICA

Sua história mais antiga pode ser encontrada em crimes de guerra cometidos
pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, quando eles realizaram
experimentos em seres humanos, mais precisamente em prisioneiros de guerra, e
cuja descoberta posterior, deu origem ao Código de Nuremberg. O surgimento
dessa nova disciplina ocorreu na segunda metade deste século.
No final da década de 60 e início da década de 70, o aumento das crises
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cíclicas do capitalismo, por um aumento excessivo da produção e uma queda


galopante do consumo, produziu um período de estagflação (estagnação e inflação)
na economia. O excesso de liquidez (capital que não encontra um local lucrativo)
abarcou as áreas subdesenvolvidas da América Latina e do Caribe como destino
fundamental, privilegiando interesses do complexo médico-hospitalar e médico-
industrial, com o predomínio de modelos de assistência à saúde, desenvolvidos pela
iniciativa privada, e com controles e financiamentos centralizados.
Dentro da sociedade norte-americana, o modelo econômico neoliberal foi
entronizado, e defendia a liberdade econômica como mãe de todas as liberdades,
enfatizando que o mercado seria a solução para todos os problemas
(BACHIFONTAINE; PESSINI, 2002, pp. 91-93).
Mas o crescimento econômico indiscutível trazido pelo novo modelo
econômico não se traduziu no desenvolvimento humano esperado, pois as
desigualdades sociais tornaram-se cada vez mais evidentes. Todo esse clima de
insatisfação social levou a uma grande crise de valores morais e, ao mesmo tempo,
permitiu refletir sobre suas consequências.
É neste contexto que um oncologista americano, o Dr. Van Rensselaer
Potter, forçado a enfrentar a crescente desumanização em lidar com os pacientes
em fase terminal de câncer, tratados em unidades de cuidados especiais ou
intensivos, e rodeado de equipamentos que medem tudo, menos os sentimentos,
começou a refletir sobre o efeito do extraordinário impulso do desenvolvimento
técnico-científico, que invadiu o campo das ciências médicas, e no paciente, que até
aquele momento era visto como alguém passivo no processo saúde-doença,
delegando ou, melhor, forçado a delegar seu direito à liberdade para escolher o que
era melhor para ele, ao pessoal da saúde. Nesta ocasião Potter (1998) declarou:

O que me interessava naquele momento, quando tinha 51 anos, era o


questionamento do progresso e para onde estava levando a cultura
ocidental todos os avanços materialistas próprios da ciência e da tecnologia.
Expressei minhas ideias do que, segundo meu ponto de vista, se
transformou na missão da bioética: uma tentativa de responder à pergunta
ante a humanidade: que tipo de futuro teremos? E temos alguma opção?
Por conseguinte, a bioética transformou-se numa visão que exigia uma
disciplina que guiasse a humanidade como uma ‘ponte para o futuro
(POTTER, 1998 apud DRANE: PESSINI, 2003, P. 39)

Em 1971, Potter escreveu o primeiro livro da história que foi intitulado pelo
termo bioética com o objetivo de "contribuir para o futuro da espécie humana
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promovendo a formação de uma nova disciplina: bioética” (POTTER, 2016, p. 23).


Potter justificou seu esforço no prefácio do trabalho dizendo:

O proposito deste livro [– Bioética: Ponte para o Futuro –] é o de contribuir


para o futuro da espécie humana por promover a formação de uma nova
disciplina, a disciplina da bioética. Se existem “duas culturas” que parecem
incapazes de dialogarem entre si – a ciência e as humanidades – e se isso
e parte da razão de que o futuro parece [estar] em dúvida, então,
possivelmente, nós podemos construir uma “ponte para o futuro” por edificar
a disciplina da bioética como uma ponte entre as duas culturas. [...] O que
temos de encarar agora e o fato de que a ética humana não pode ser
separada de um entendimento realista da ecologia no mais amplo sentido.
Valores éticos não podem ser separados dos fatos biológicos. Nós estamos
em grande necessidade de uma ética da terra, uma ética da vida selvagem,
uma ética populacional, uma ética do consumo, uma ética urbana, uma ética
internacional, uma ética geriátrica, e assim por diante. Todos estes
problemas exigem ações que sejam fundamentadas em valores e fatos
biológicos (POTTER, 2016, p. 23, grifos do autor)

De acordo com o autor, os “valores éticos não podem ser separados daqueles
fatos biológicos” (idem., ibidem). A humanidade precisa urgentemente de uma nova
sabedoria que lhe dê o “conhecimento de como usar o conhecimento, para a
sobrevivência do homem e a melhoria da qualidade de vida” (idem., ibidem). Para
esta nova ciência, construída sobre a própria Biologia e incluindo a maioria dos
elementos essenciais das ciências social e humanista, Potter propôs o nome
bioética. 
Foi o suficiente para inventar o termo, para que pudesse ser adotado com
entusiasmo. A união entre “bios” - vida - e ética é mais do que uma ocorrência
linguística. A bioética foi proposta como o nome de uma nova disciplina que combina
ciência e filosofia. Não como uma síntese entre dois conhecimentos estranhos.
Potter queria se opor à perspectiva que considera a ética como vinda de fora da
ciência, da reflexão filosófica ou teológica. A ética que ele considera "ponte para o
futuro" é um conhecimento que se desenvolve a partir das ciências biológicas.
A bioética tenta relacionar nossa natureza biológica e conhecimento realista
do mundo biológico com a formulação de políticas destinadas a promover o bem
social. Portanto, em seu sentido mais amplo, a bioética pode se referir diretamente
ao próprio homem - seja em nível individual, populacional ou de espécie - ou
indiretamente quando o problema bioético afeta seu ambiente ecológico, seja em
relação aos seres vivos. (plantas ou animais) quanto à natureza inanimada. A
bioética consiste, portanto, no diálogo interdisciplinar entre a vida e a ética.
8

No quase meio século transcorrido, a bioética cresceu dramaticamente, e


pode-se dizer que a bioética, é a ética do século XXI. Em sua proposta, a bioética
como uma nova disciplina, combina conhecimento biológico com valores humanos,
onde nem a filosofia é subordinada à ciência, nem a ciência à filosofia. A tarefa
confiada à bioética é levar os profissionais da saúde a reexaminar sua visão de
mundo. O supremo interesse pela sobrevivência deve levar à convicção de que é
necessário conhecer mais sobre a natureza do conhecimento e sobre a importância
de ver a realidade através dos olhos do outro.

2.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA BIOÉTICA

Em 1979, os bioeticistas Beauchamp e Childress, definiram quatro princípios


fundamentais da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. No
início, eles definiram que esses princípios são prima facie obrigatórios, recorrendo a
um conceito explanado por Willian Ross:

De acordo com Ross, em cada circunstância devemos encontrar o melhor


dever, encontrando “o maior equilíbrio” do justo sobre o injusto em cada
contexto concreto. Ross introduz então, sua distinção central entre deveres
prima facie e deveres efetivos: o ‘dever prima facie’ é um dever que
sempre tem que ser cumprido, a não ser que entre em conflito em um
determinado caso, com um dever igual ou mais forte. (BEAUCHAMP;
MCCULLOUGH, 1987, p. 13, grifo do autor).

 Entretanto, em 2003, Beauchamp acreditava que os princípios deveriam ser


especificados para aplicá-los às análises dos casos concretos, isto é, deveriam ser
discutidos e determinados pelo caso específico em nível casuístico.
Os quatro princípios definidos por Beauchamp e Childress são:

2.3.1 Princípio da autonomia

Na medicina, promove-se muitas vezes, o melhor interesse do paciente, mas


sem levar em conta a opinião do mesmo. Assume-se que o médico tem um
treinamento e conhecimento que o paciente não tem, de modo que ele conhece (e,
portanto, decide) o que é mais conveniente para ele. Isso quer dizer: Tudo em
benefício do paciente, mas sem contar com ele.
Desta maneira, a autonomia, um dos princípios que a bioética incorpora na
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ética médica tradicional, é definida como a aceitação do outro como um agente


moral responsável e livre para tomar decisões. A expressão mais transparente do
exercício pleno da autonomia, pelos pacientes, é o consentimento informado, que
consiste em dois elementos fundamentais: informação e consentimento.
A informação corresponde ao profissional de saúde e deve incluir dois
aspectos importantes:
1. O acesso às informações, que serão dosadas em correspondência com o
que o paciente realmente quer saber, como e quando ele quer saber.
2. A informação compreensível, isto é, levar em conta a necessidade de usar
linguagem clara e precisa.
Por outro lado, o consentimento é da competência do paciente ou de seu
representante moral (família) ou representante legal (pais ou guardiões, no caso de
menores, ou advogados especialmente contratados para o caso).
O consentimento também inclui dois aspectos:
1. Consentimento voluntário, sem abusos paternalistas ou pressões
autoritárias.
2. A competência para o consentimento, tanto físico quanto psicológico.
O consentimento informado protege, em primeiro lugar, pacientes e sujeitos
de experimentação, prevendo possíveis riscos e danos; mas também protege e
beneficia a todos na sociedade, incluindo profissionais e instituições de saúde.
Beauchamp & Childress (2002) salientam quais as características que a uma
ação autônoma deve apresentar, quando dizem:

Analisamos a ação autônoma em termos dos agentes normais que agem (1)
intencionalmente, (2) com entendimento e (3) sem influências controladoras
que determinem sua ação. A primeira destas condições da autonomia não
uma questão de grau. Os atos são ou intencionais ou não intencionais. [...]
em contraposição, as condições do entendimento e da ausência de
influências controladoras podem ser satisfeitas de modo mais ou menos
completo. As ações, portanto, podem ter graus de autonomia, em função
dos diferentes graus de satisfação das condições (BEAUCHAMP &
CHILDRESS, 2002, p. 140).

Dito isto, tudo parece claro e fácil de resolver; no entanto, o profissional de


saúde enfrenta, em seu exercício cotidiano, uma categoria muito mais abrangente
que a autonomia, que é a integridade do paciente como um todo, com seus valores
mais preciosos: vida e saúde, o que inclui além disso, respeito à sua individualidade
e seu direito à liberdade de escolha. É precisamente nessa faixa, em que os maiores
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conflitos éticos são apresentados. O mesmo acontece quando os elementos que


justificam o exercício da autonomia no indivíduo são contrários ao direito de escolha
da comunidade.
2.3.2 Princípio da beneficência

O princípio da beneficência parte da premissa de agir em benefício de outros,


promovendo seus interesses legítimos, com o toque da bondade nos olhos, coração
e mente. Se a não-maleficência consiste em não causar dano aos outros, a
beneficência consiste em fazer o bem acima de tudo, e, prevenir e eliminar
danos. Enquanto a não-maleficência implica a ausência de ação, a beneficência
sempre inclui ação. Beauchamp e Childress (2002, p. 239), distinguem dois tipos de
beneficência: a beneficência positiva e utilidade. A beneficência positiva que requer
prestação de benefícios, e a utilidade que equilibra as desvantagens entre os
benefícios e os riscos. Segundo os autores:

Examinaremos dois princípios da beneficência: a beneficência positiva e a


utilidade. A beneficência positiva requer a propiciação de benefícios. A
utilidade requer que os benefícios e as desvantagens sejam ponderados
(BEAUCHAMP & CHILDRESS, 2002, p. 239).

Na linguagem usual, a beneficência se refere a atos de boa vontade,


bondade, caridade, altruísmo, amor ou humanidade. A beneficência pode ser
entendida, de maneira geral, como qualquer tipo de ação que tenha como meta o
bem dos outros. Se a benevolência se refere à vontade de fazer o bem,
independentemente de a vontade ser cumprida ou não, a caridade, por outro lado, é
um ato realizado para o bem dos outros. Mas quando Beauchamp e Childress
(2002) falam sobre o princípio da beneficência, eles não se referem a todos os atos
realizados para fazer o bem, mas apenas àqueles atos que são uma exigência ética
no campo da medicina. Segundo esses autores, antes de realizar um tratamento em
um paciente, cabe ao profissional, fazer um balanço de seus benefícios e riscos.

2.3.3 Princípio da não maleficência

Este princípio deriva da máxima da ética médica Primum non nocere, cujo
significado indica “antes de tudo, não causar dano” (SMITH, 2005, p. 373).
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Abster-se intencionalmente de realizar ações que possam causar danos ou


prejudicar outras pessoas, é a máxima do princípio da não maleficência. É um
imperativo ético válido para tudo. Não apenas no campo biomédico, mas em todos
os setores da vida humana.
Na medicina, no entanto, este princípio encontra uma interpretação
adequada, porque às vezes as ações médicas prejudicam a obtenção de um bem. A
análise desse princípio anda de mãos dadas com a da beneficência, de modo que o
benefício sobre o prevalece sobre o maleficio. 
Beauchamp & Childress (2002, p. 209) definem o princípio da não
maleficência, como “obrigação de não infligir dano intencionalmente.” Os autores
também o diferenciam do princípio da beneficência, sendo o primeiro uma obrigação
de fazer, ato comissivo, enquanto o da não maleficência é uma obrigação de não
fazer, um ato omissivo:

A beneficência requer que auxiliemos operando ativamente – evitando


danos, sanando-os, e promovendo o bem - enquanto a não-maleficência
requer apenas que intencionalmente nos abstenhamos de executar ações
que causam danos (BEAUCHAMP & CHILDRESS, 2002, p. 212).

Na área da enfermagem, o princípio da não-maleficência, implica em manter


um treinamento, teórico e prático, rigoroso e permanentemente atualizado para
quando evitar situações de risco, ponderando sobre as suas ações antes de
executá-las e exercer a prática da enfermagem de maneira a proporcionar um
melhor atendimento aos pacientes.

2.3.4 Princípio da justiça

O paciente é regido pelo princípio da autonomia, o médico pelo princípio da


beneficência e as instituições de saúde são regidas pelo princípio da justiça. Na
relação do profissional de enfermagem-paciente, os princípios de autonomia,
beneficência e justiça regem os diferentes comportamentos. O princípio da justiça
refere-se ao bem comum, para o bem da sociedade como um todo.
O princípio da justiça, no contexto dos cuidados de saúde, geralmente se
refere ao que os filósofos chamam de justiça distributiva, isto é, a distribuição
equitativa de bens escassos em uma comunidade. Beauchamp e Childress,
12

referem-se a justiça distributiva, como “a distribuição igual, equitativa e apropriada


na sociedade, determinada por normas justificadas que estruturam os termos da
cooperação social” (BEUCHAMP & CHILDRESS, 2002, p. 312).
Justiça significa, no final, dar a cada um o que é seu, o que é merecido, o que
lhe é próprio, o que é necessário, e essa afirmação está evidentemente vinculada,
em primeira instância, ao projeto social do modelo econômico que prevalece na
sociedade analisada. O princípio da Justiça é tratar cada um como apropriado, a fim
de reduzir situações de desigualdade (ideológica, social, cultural, econômica, etc.).
Em nossa sociedade, embora no campo da saúde (como em outros campos
também), a igualdade entre todos os homens é apenas uma aspiração, pretende-se
que todos sejam menos desiguais, de modo que a obrigação de tratar a todos da
mesma maneira, independentemente de sua condição, é regra imposta para reduzir
situações de desigualdade.
As políticas públicas são projetadas de acordo com certos princípios materiais
de justiça. No Brasil, por exemplo, a assistência à saúde é teoricamente universal e
gratuita e, portanto, baseia-se no princípio da necessidade. Em contraste, nos
Estados Unidos, a maioria dos cuidados de saúde da população é baseada em
seguros individuais contratados com empresas privadas de saúde.
Para excluir qualquer forma de arbitrariedade, é necessário determinar o que
igualdades ou desigualdades devem ser tidos em conta, para determinar o
tratamento a ser dado a cada um. O paciente espera que o médico, faça todo o
possível para beneficiar sua saúde. Mas sabe-se também que as ações médicas são
limitadas por interesses impostos pelas instituições.
A relação médico-paciente baseia-se fundamentalmente nos princípios de
beneficência e autonomia, mas quando esses princípios entram em conflito, muitas
vezes por causa da escassez de recursos, é o princípio da justiça que entra em jogo
para mediar entre eles. Por outro lado, a política de saúde baseia-se no princípio da
justiça e será mais justa na medida em que alcança maior igualdade de
oportunidades para compensar as desigualdades.
13

3 A ÉTICA NA PRÁTICA

Enfermagem é uma profissão onde a sua essência principal é o cuidado de


pessoas saudáveis ou que sofrem de uma doença, e estabelecer uma relação de
ajuda com todos os indivíduos que estão em um processo de cura, reabilitação ou
fase terminal.
É assim que indivíduos, famílias e comunidades constituem o epicentro do
cuidado de enfermagem, que deve ser exercido, baseado no respeito à dignidade
humana através da compaixão, responsabilidade, justiça, qualidade do cuidado.
A ética nos permite crescer, ser livre, ser justo e compreender que há outros
seres que têm necessidades e desejos, na ética de adição é a arte de cuidar com
que a sensibilidade se desenvolve a partir dor, sofrimento físico, mental e espiritual
para gerar solidariedade que consiste em fazer algo para aliviar ou remediar a
situação.
Os princípios éticos são o guia do comportamento humano, estes fornecem
elementos de julgamentos para analisar as situações que aparecem no cotidiano ou
em nossa profissão durante o exercício do mesmo. nos permite tomar decisões com
base nelas, tendendo a respeito pela pessoa, beneficência, os danos não-indução,
justiça distributiva, a respeitar a santidade da vida humana, ou seja, a ética é a
nossa consciência que nos permite refletir sobre nossas ações, porque somente
através da reflexão pode-se mudar o comportamento.

3.1 DILEMA ÉTICO

Um dilema ético surge quando um profissional tem duas ou mais alternativas


para atuar, comparado a uma situação que levanta uma questão moral relacionada à
responsabilidade que ele tem com outra pessoa, e compreende princípios e valores
éticos.
Um dilema ético ocorre quando as circunstâncias da prática apresentam:
 Um conflito de princípios éticos, por exemplo, beneficência e autonomia
 Um conflito de valores, por exemplo, o valor da vida e o respeito pelos
ativos do outro
 Um conflito de evidências, por exemplo, o desejo do paciente e o que os
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parentes querem;
 Conflitos de ética pessoal e as obrigações do papel profissional;
 Conflito entre ética e direito.
Para crescer moralmente, O profissional da enfermagem precisa promover
sua capacidade de tomar decisões éticas e aprofundar o conhecimento da ética,
bioética, ciências sociais e humanas

3.1.1 TIPOS DE DILEMAS

Existem dois tipos de dilemas:

Dilemas hipotéticos:
 Quando surgem problemas abstratos, gerais, que às vezes são uma
situação difícil na realidade, mas aqueles que os analisam reconhecem
que são sempre possíveis se apresentar em certas ocasiões da vida real.

Dilemas reais:
 Quando se levantam situações conflitantes tomadas da vida diária. Eles
são baseados em eventos reais, próximos no tempo ou no espaço para os
sujeitos e geralmente extraem os diferentes meios de comunicação,
situações ou eventos históricos, situações ou experiências pessoais, etc.

3.2 CONFLITO DE PRINCÍPIOS E AÇÕES ÉTICAS NA PRÁTICA DE


ENFERMAGEM

Conflito entre dois princípios éticos:


 Quando dois princípios são válidos, mas um contradiz o outro. Exemplo: a
autonomia do paciente na tomada de decisões e o princípio da
beneficência do médico ao aplicar um tratamento. É apresentado nos
casos em que o paciente não deseja continuar o tratamento, mas o
pessoal de saúde conhece um que pode gerar cura.
 
Conflito entre duas ações que têm razões a favor e descobrem:
 Executar ações em que o paciente é ferido, mas não as fazer também.
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Exemplo: às vezes depara-se com pacientes cuja agitação e auto


agravamento devido a sua patologia, torna-se necessário imobilizar seus
membros, isso iria contra a liberdade do paciente, mas não o fazer geraria
um prejuízo maior.

Conflito de evidência:
 Quando ações terapêuticas são realizadas contra os desejos do paciente
inconsciente por decisão da família. Isso é encontrado em pacientes com
doenças terminais e ocorre com muita frequência na UTI, pois as decisões
são delegadas à família, perdendo o direito à autonomia do paciente, mas
ele não pode intervir porque legalmente a família é diretamente
responsável pelas decisões.

Conflito entre a ética pessoal e o papel profissional:


 Quando se realiza qualquer atividade que contrarie princípios pessoais
morais e éticos. É vivenciado nas unidades de terapia intensiva quando se
discorda da aplicação da eutanásia ou da ferocidade terapêutica, mas
deve-se fazer por ordem médica.

Conflito entre ética e direito:


 Um exemplo desse conflito é a eutanásia, já que pode ser ético ajudar um
paciente com uma doença terminal a morrer por desejo da família, mas
isso não é autorizado por lei. O que por sua vez gera outra questão: qual é
a melhor maneira de agir, o que a lei permite ou o que é moralmente bom
para uma pessoa?

3.3 TOMADA DE DECISÃO ÉTICA


 
Os aspectos mais importantes na tomada de decisões em procedimentos
clínicos são aqueles que se referem a parâmetros estritamente médicos; os fatores
que remetem à participação do paciente na tomada de decisão em que O
profissional da enfermagem intervém diretamente, como consentimento informado,
avaliação risco-benefício, interação, equipe de saúde, paciente, família, rejeição ao
tratamento, urgência onde não há possibilidade de reflexão adequada e contraste
16

com o paciente, etc...


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4 EXEMPLOS DE DILEMAS ÉTICOS

4.1 DILEMA 1: ABORTO


O aborto constitui um sério dilema ético para os profissionais de enfermagem
no exercício de suas funções. É essencial que o profissional aja de acordo com seus
valores éticos fundamentais e sempre mantendo o respeito pela livre decisão da
pessoa. O profissional deve conhecer e analisar sua posição diante da interrupção
voluntária da gravidez, a fim de decidir se participa ou não. Caso o faça, o
profissional deve estar capacitado a atender e cuidar da mulher que decidiu abortar.
Se os valores do profissional estão em desacordo com a prática do aborto, ele pode
se beneficiar da objeção de consciência, garantido pelo artigo 73º, parágrafo único
do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (RESOLUÇÃO COFEN Nº
0564, 2017.
1. O profissional da enfermagem tem a necessidade de prestar cuidados
profissionais a paciente em situação de abortamento.
2. O profissional da enfermagem tem o direito de recusar-se a participar em
procedimentos de aborto, se isso serve para manter suas crenças morais
e éticos, exceto em casos de emergência, onde a vida da paciente está
em risco.
3. O profissional da enfermagem tem o direito de ser informado, por seus
superiores, as políticas da instituição onde trabalham e que se aplicam em
casos de aborto.
4. O profissional da enfermagem tem a obrigação de informar seus
superiores sobre suas crenças e atitudes sobre o aborto.

4.2 DILEMA 2: GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA


Toda mulher tem o direito de ser mãe, pois sua constituição biológica
determina a capacidade inata de reprodução. No entanto, quando o assunto se
relaciona a gestação de adolescentes, depara-se com o seguinte dilema:
Imaturidade fisiológica e psicológica para levar a cabo uma gravidez da melhor
maneira e poder fornecer o cuidado necessário ao futuro bebê.
Segundo o princípio da autonomia, sob a metodologia de principalismo, toda
mulher tem o direito de decidir engravidar, independentemente da sua imaturidade
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status social, educação, faixa etária, doenças físicas ou mentais. Por essa razão, a
educação sexual em adolescentes é importante. Além disso, deve-se considerar o
contexto em que a gravidez ocorre, o que implica redes de apoio, comunicação e
apoio familiar ou social. O papel como profissionais de saúde é baseado na
educação sexual para adolescentes para prevenir a gravidez, fortalecer as redes de
apoio e promover a comunicação familiar. Durante a gravidez deve-se orientar a
gestante adolescente em relação aos cuidados durante e após a gravidez, fim de
proteger tanto a mãe quanto o futuro bebê.
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CONCLUSÃO

Conclui-se que, a enfermagem é baseada em princípios morais éticos de


dignidade, solidariedade, autonomia, responsabilidade, autoestima, equidade,
tolerância, respeito e compromisso com o indivíduo, família e comunidade para
manter e promover a saúde, com atenção especial às necessidades reais. e
potenciais da comunidade.
Deste modo, os atos humanos que sancionam a ética e a moralidade são
determinados pelo conhecimento, pela vontade, pela aceitação e pela
responsabilidade, pelos quais os seres humanos têm sido governados pelas
exigências, princípios e valores que sustentam o encontro humano. forma individual
ou coletiva.
Dessa maneira, a ética é a aplicação da razão ao comportamento, e requer
refletir e julgar individualmente sobre o dever de cada momento e circunstância
concreta. Já a moral é considerada como regra de conduta é o conjunto de
comportamentos e normas que alguns aceitam como válidos, pois são deveres e
obrigações para com a sociedade, deve orientar o comportamento humano no
comportamento cotidiano de acordo com os princípios e valores de um determinado
grupo.
Em vista dessa afirmação, cabe ao profissional, desenvolver as ações da
profissão sob os princípios da qualidade, eficiência, efetividade, equidade, respeito
ao ser humano e valorização dos valores éticos da moral em todos os atos
profissionais, contribuindo para a melhoria da saúde e qualidade de vida da
população em geral.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COFEN, RESOLUÇÃO Nº 0564/2017, Código de Ética dos Profissionais de


Enfermagem. Disponível em: < http://www.cofen.gov.br/ resolucao-cofen-no-
5642017_59145.html>, Acesso em 25 de maio de 2018.

DRANE, J.; PESSINI, L. Bioética, Medicina e Tecnologia: Desafios éticos na


fronteira do conhecimento humano. Tradução Sobral, Adail; Gonçalves, Maria S.
São Paulo, Ed. Loyola, 2003

BACHIFONTAINE, C.P.; PESSINI, L., Bioética: Alguns Desafios. São Paulo, Ed.
Loyola, 2002;

POTTER, V.R. Bioética: ponte para o futuro. São Paulo: Edições Loyola; 2016.

BEAUCHAMP, T. L. CHILDRESS, J. F. Princípios de ética biomédica. Tradução


Luciana Pudenzi. São Paulo: Ed. Loyola; 2002.

SMITH, C. M. (2005). Origin and Uses of Primum Non Nocere — Above All, Do No
Harm! The Journal of Clinical Pharmacology 45 (4): 371–377. Disponível em:<https://ac
cp1.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1177/0091270004273680>, Acesso em 25 de
maio de 2018

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