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MÓDULO DE:

PSICOPATOLOGIA E EXAMES PSICOLÓGICOS

AUTORIA:

LUCIANA GENELHÚ ZONTA

Copyright © 2009, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil


Módulo de: Psicopatologia e Exames Psicológicos

Autoria: Luciana Genelhú Zonta

Primeira edição: 2009

CITAÇÃO DE MARCAS NOTÓRIAS

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Analisados Em Pesquisas De Laboratório E De Literaturas Já Editadas, Que Se Encontram
Expostas Ao Comércio Livre Editorial.

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A presentação

A relevância da Psicopatologia concentra-se na contribuição que a mesma presta a todo o


grupo das ciências humanas, colabora com psiquiatras, psicólogos e sociólogos. Até mesmo
o historiador tem necessidade de conhecer os princípios fundamentais da Psicopatologia,
pois somente assim poderá descrever e compreender determinados comportamentos de
líderes políticos que tentaram mudar os destinos da humanidade.

Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos
anormais de graves consequências para o país (PAIM, 1993).

O bjetivo

Compreender os principais sintomas das doenças psicológicas e relacionà-los aos exames


psicológicos.

E menta

História da Psicopatologia. Desenvolvimento da Personalidade. Psicopatologia e psicologia


do normal. Escolas principais da psicopatologia. Funções Psíquicas Elementares e suas
alterações. Psicopatologia e doença mental. Transtornos por uso de substâncias.
Transtornos psicóticos. Transtornos da personalidade. Testes psicológicos e suas práticas.
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S obre o Autor

Possui graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Espírito


Santo (2002). É especialista pela PUC/SP em Economia e Gestão das Relações de Trabalho
(2004). Mestranda em Administração, pela FUCAPE Business School (2009).

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S UMÁRIO

UNIDADE 1 .............................................................................................................................. 8
Contextualização Histórica ....................................................................................................8
UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 12
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 12
UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 20
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ...................................................................20
UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 37
Psicopatologia e psicologia do normal ................................................................................ 37
UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 47
Funções Psíquicas e suas alterações ................................................................................. 47
UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 54
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais,
senso-percepção e representações, memória) ...................................................................54
UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 57
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor) ......................... 57
UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 61
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO)................................ 61
UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 68
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução ........................................................ 68
UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 73
Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE ...................................................... 73
UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 93
Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE ....................................................... 93
UNIDADE 12 ........................................................................................................................ 115
Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA ......................................... 115
UNIDADE 13 ........................................................................................................................ 126
EXEMPLOS CLÍNICOS ..................................................................................................... 126
UNIDADE 14 ........................................................................................................................ 133

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Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO ..................................................... 133
UNIDADE 15 ........................................................................................................................ 145
Classificação das doenças psicológicas ........................................................................... 145
UNIDADE 16 ........................................................................................................................ 148
Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO ............................................... 148
UNIDADE 17 ........................................................................................................................ 164
Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA ....................................... 164
UNIDADE 18 ........................................................................................................................ 165
Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS .................. 165
UNIDADE 19 ........................................................................................................................ 179
Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT ......................... 179
UNIDADE 20 ........................................................................................................................ 181
Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR............................. 181
UNIDADE 21 ........................................................................................................................ 184
Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN .................. 184
UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 188
Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS ............................. 188
UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 189
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
BORDERLINE ................................................................................................................... 189
UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 191
Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA ................................................ 191
UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 192
Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO ............. 192
UNIDADE 26 ........................................................................................................................ 194
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
.......................................................................................................................................... 194
UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 197
OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ......................................................... 197
UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 204
TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ............................................................... 204
UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 209

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Instrumentos psicológicos utilizados em seleção profissional ........................................... 209
UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 214
VISÃO GERAL DE TESTES PSICOLÓGICOS ................................................................. 214
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 226

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 227

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U NIDADE 1
Objetivo: Oferecer instrumentos teóricos para o estudo e a reflexão da psicopatologia,
visando à compreensão crítica do conteúdo

Contextualização Histórica

A análise etimológica da palavra "Psicopatologia" é composta de três termos gregos:


psychê, que produziu psique, psiquismo, psíquico, alma; pathos, que resultou em paixão,
excesso, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento, patológico e logos, que
resultou em lógica, discurso, narrativa, conhecimento.

Psicopatologia seria, então, um discurso sobre o sofrimento psíquico; sobre o padecer


psíquico.

O atual cenário psicopatológico representa a evolução de um contexto histórico-político


marcado por várias fases, cada uma com referências próprias e diferentes perspectivas
teórico-clínicas.

Na Grécia pré-socrática, o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a
hybris dos homens (Pessotti, 1995).

Platão dá uma visão completamente nova da psychê ao considerá-la como composta por
três almas: uma racional, o logos, uma afetivo-espiritual e uma terceira que seria apetitiva.
Para Platão, a loucura atestaria o desarranjo no equilíbrio das três componentes da psychê,
fazendo com que a parte racional, o logos, perdesse o controle.

A visão medieval da loucura está intimamente associada, ou mesmo identificada, à


possessão demoníaca. Esta perspectiva ganha espaço à medida que a hegemonia do
cristianismo se impõe.

Enquanto no século XVII às categorias platônicas são acrescentadas às teorias da loucura, o


século XVIII é marcado por uma psicopatologia desordenada. As classificações são ora
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extremamente abrangentes, o que as torna pouco úteis, ora drasticamente limitadas,
tornando-as de difícil confirmação. No início do século XVIII o pensamento médico em
relação às "doenças do espírito" e a prática do internamento permaneceram estranhos um ao
outro; no final desse século as duas correntes - pensamento e prática - sofrem uma primeira
convergência, embora não se tratasse ainda de uma conscientização de que os internos
eram doentes (Foucault apud Ceccarelli, 2005).

Desse modo, a psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são
considerados dois grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram
mais à atitude da sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos
dessa ciência. O primeiro com a postura de Philippe Pinel1 estudioso que abordou as
doenças mentais como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social,
em oposição às opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. Já no final do
século XX ocorreu o segundo, quando tendências agrupadas sob a denominação genérica
de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social) passaram a recomendar o fim dos
manicômios e a integração do psicopata à sociedade, mediante técnicas específicas.

A partir do século XIX, adotou-se uma perspectiva essencialmente anátomo-clínica, ou seja,


voltada para a descrição clínica e a busca de lesões orgânicas causadoras do quadro
mórbido. Fase diversa se inicia com o advento da psicanálise, na qual se consagra uma
posição, adotada por Freud2, que descarta os fundamentos somáticos das perturbações
mentais e afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos, obtendo acesso à
consciência, por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que a sistemática do
nosso cérebro trabalha essencialmente com o campo da semântica, isto é, a mente
desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseados em imagens, as
quais são meras representações de significados latentes.

1
Médico, pioneiro no tratamento dos doentes mentais, considerou as doenças mentais como resultados de
tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos,
desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão
demoníaca
2
Médico, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz,
abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise
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No início do séc. XX surge outro tipo de abordagem, o behaviorismo de John B. Watson3
para quem grande parte dos quadros mórbidos ou patológicos admite interpretação em
termos de aprendizagem. Daí deriva a prática de implantar controles que visam à inibição da
conduta desajustada. A corrente fenomenológica se caracteriza metodologicamente pela
intenção de captar o significado da relação assumida entre o paciente e o mundo. Nessa
abordagem, omite-se a referência aos processos neurofisiológicos e se considera básica a
noção de referência intencional, numa dimensão existencial.

Assim, a psicopatologia chega à contemporaneidade, tema da Unidade 2.

Complemente sua leitura com os textos abaixo listados.

LEITURA COMPLEMENTAR

CARRARA, K. Behaviorismo Radical: crítica e metacrítica. São Paulo: FAPESP, 1998.


Disponível em:
http://www.cemp.com.br/novo/dados/upload/Origens%20do%20Behaviorismo.pdf

FACCHINETTI, C. Philippe Pinel e os primórdios da Medicina Mental. Rev. latinoam.


psicopatol. fundam. [online]. 2008, vol.11, n.3, pp. 502-505. ISSN 1415-4714. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S1415-
47142008000300014&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

THA, F. Representação e pensamento na obra freudiana: preliminares para uma


abordagem cognitiva. Ágora (Rio J.) [online]. 2004, vol.7, n.1, pp. 109-128. ISSN 1516-1498.

3
Ficou muito conhecido pela publicação do chamado "manifesto behaviorista": um conjunto de palestras
publicadas em forma de artigo em 1913 no qual defendeu o abandono da introspecção e a adoção da
observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. O manifesto
behaviorista coordenou muitas das manifestações esparsas que já vinham criticando o método introspectivo e
se tornou um marco histórico na psicologia

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doi: 10.1590/S1516-14982004000100007. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151614982004000100007&script=sci_abstract

STRAPASSON, B. A. John B. Watson, o cuidado psicológico do infante e da criança:


possíveis conseqüências para o movimento behaviorista. Fractal, Rev. Psicol. [online].
2008, vol.20, n.2, pp. 629-636. ISSN 1984-0292. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S198402922008000200023&lng=en&nrm
=iso&tlng=pt

Links Relacionados

Laboratório de Psicopatologia Fundamental – PUC/SP

http://www.psicopatologiafundamental.org/

Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1415-4714

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U NIDADE 2
Objetivo: Contextualizar a psicopatologia no cenário atual.

PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE

Tânia Maria José Aiello Vaisberg

Como sabemos, a Psicopatologia é uma disciplina teórica que fundamenta ações


psiquiátricas, psicoterapêuticas, psicodiagnósticas e psicoprofiláticas. Os

autores concordam em atribuir à obra de Jaspers (1913), Psicopatologia Geral, o papel de


marco inaugural, o que nos permite considerar que se trata de uma ciência relativamente
nova, com cerca de um século de existência.

Etimologicamente, o termo significa estudo do sofrimento psíquico. Trata-se, portanto, de um


modo moderno de focalizar uma questão absolutamente antiga e essencial, a do sofrimento
que parece inerente à condição humana (Ferry, 2007). Entretanto, sendo, de fato uma
ciência humana, a Psicopatologia não é um campo unificado de saber, mas abrange, antes,
uma grande diversidade de hipóteses, explicações e teorias, que se vinculam a diferentes
referenciais teóricos. Cada referencial, por sua vez, não se limita às suas afirmações
manifestas, mas assenta-se sobre determinadas visões do que é o homem, do que é o
mundo, do que é o processo de produção de conhecimento. Em outros termos, partem de
ontologias, antropologias e epistemologias distintas. Deste modo, não nos deve surpreender
o fato de terem sido identificados nada menos do que catorze enfoques teóricos da
psicopatologia (Ionescu,1994).

Entretanto, um grande número de estudiosos reconhece que o campo pode ser bem
organizado, em seu estado atual, a partir da distinção de três grandes correntes: a
neurobiológica, a psicanalítica e a sociológica. Enquanto a primeira privilegiaria a importância
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causal da dimensão orgânica e a terceira apostaria na produção social do sofrimento
psíquico, a psicanálise tanto ignoraria os determinantes somáticos como os sociais, para
destacar o papel do aparelho psíquico. Estas três correntes são, muitas vezes, consideradas
à luz das afinidades que mantém com ideologias políticas, de modo que os organicistas são
considerados de direita, os sociólogos de esquerda e os psicanalistas como esquerdistas
que tem deslizado, ao longo dos anos, para o centro (Zefaradian,1988).

Ainda que bastante popular esta divisão em três correntes não deixa de ser simplista e até
certo ponto ingênua, uma vez que tributária de uma visão positivista segundo a qual cada
ciência tem direitos de exclusividade sobre determinados objetos. Além disso, está
basicamente não atualizada, uma vez que não é correto identificar a Psicanálise à
metapsicologia clássica. Assim, o ramo que detém o domínio do corpo biológico clamaria
pela “posse” do fenômeno do sofrimento psíquico numa luta contra sociólogos e psicanalistas
que, estudando a sociedade ou a mente inconsciente, fariam idêntica reivindicação.

No entanto, se considerarmos que o fenômeno humano é uma complexidade não passível de


ser reduzida a elementos mais simples, mas um todo, que deve ser abordado como tal,
chegará à conclusão de que as diferentes ciências humanas, entre as quais se deveriam
incluir a biologia humana, lidam com um mesmo e único fenômeno (Bleger, 1963). Nesta
perspectiva, cessam as disputas em favor do reconhecimento de que tanto há espaço para
uma biologia, como para uma psicanálise ou uma sociologia voltadas, todas elas, ao estudo
do sofrimento psíquico-emocional.

Sendo assim, nenhuma descoberta em qualquer desses campos de conhecimento, anularia


os outros dois, tornando-os inúteis ou supérfluos. Por outro lado, o uso ideológico de um ou
outro modelo, seja para negar a concorrência das dimensões sociais, seja para negar o valor
da subjetividade individual, seja para negar a importância do corpo, será mais facilmente
neutralizado, se prevalecer uma lucidez epistemológica.

A constituição da Psicopatologia, como ciência moderna, ligou-se, fundamentalmente, à


crença, já existente, de que o sofrimento psíquico teria, forçosamente, uma base material.
Mais do que uma hipótese, esta era e é, para muitos, uma convicção que, entretanto, não

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garantiu a descoberta imediata da etiologia da maior parte das chamadas doenças mentais,
cuja causalidade continua, em sua maior parte, obscura.

Passaram-se algumas décadas antes que se tornasse aceita a idéia de que a sociedade
desempenhava importante papel na produção do sofrimento psíquico (Miles,1981). Hoje é
claro para a maioria dos estudiosos que o fato de existirem determinantes orgânicos não
anula a importância das condições concretas da vida social no surgimento de manifestações
psicopatológicas.

Deste modo, não surpreende que as relações existentes entre Psicopatologia e


contemporaneidade possam interessar tanto a clínicos como a pesquisadores.

Um fenômeno chama, desde o inicio, nossa atenção. Trata-se do fato de ocorrer uma relativa
diminuição dos quadros mais conhecidos e melhor definidos, vale dizer, da neurose e da
psicose, em favor de um aumento expressivo dos chamados quadros limites ou borderlines.
O tema já foi bastante explorado por autores da estatura de um Bergeret (1974), que
sistematizou uma Psicopatologia Psicanalítica tripartite, seguindo indicações freudianas, no
interior da qual distinguia as estruturas neurótica e psicótica, ligadas fundamentalmente a
angústias de fragmentação e castração, ao lado do que denominava organizações limites,
que, possuindo caráter antidepressivo, exteriorizar-se-iam em termos clínicos como
agressividade, adição, distúrbios alimentares, depressões, psicossomatoses e normopatias.

Encontramos uma organização similar, igualmente tripartite, no contexto do pensamento


winnicottiano, o que, a nosso ver, pode ser considerado como uma Psicopatologia explícita.
Aceita, assim, a existência de neuróticos, psicóticos e borderlines, mas afirma, curiosamente,
que os neuróticos teriam simplesmente desaparecido na Inglaterra, pois já teriam feito um
trabalho de desenvolvimento pessoal por meio do acesso a grandes obras, literárias e
musicais, da cultura ocidental (Winnicott, 1963). Entretanto, pode-se captar ao longo de sua
brilhante obra, a vigência do que temos designado uma Psicopatologia implícita, no interior
da qual os quadros conhecidos corresponderiam a arranjos de caráter meramente defensivo
contra a impossibilidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea.

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transformadora de si e do mundo. Surge aqui uma contribuição inestimável à Psicopatologia
Psicanalítica, que permite uma compreensão das demandas que nos chegam, atualmente,
na clínica psicológica, em variados contextos institucionais, que ultrapassa a mera
consideração do registro defensivo, neurótico, psicótico ou borderline.

Esta possibilidade de sentir-se vivo e real como condição de sanidade verdadeira surgiu, é
importante lembrar, num contexto de teorização que retoma uma valorização do ambiente
que a Psicanálise abandonara desde o tempo em que Freud substituiu a teoria da sedução
para privilegiar as fantasias desejantes como elementos determinantes das neuroses
(Laplanche e Pontalis,1967).

Ora, como teoriza mantendo uma grande proximidade em relação ao acontecer clínico,
Winnicott não pensa o individuo de modo abstraído das condições concretas nas quais sua
vida tem lugar, evitando naturalmente abstrações metapsicológicas e enfatizando a
importância do ambiente. Como sabemos, Winnicott inspira-se no bebê para pensar o
humano porque, em sua obra, o bebê é um dos modos de ser pelos quais a natureza
humana se manifesta.

Assim, não tem sentido, a nosso ver, pensar, como fazem alguns que o ambiente só tem
importância na vida do bebê e não na vida do adulto, como se tornar-se adulto pudesse
significar transcender a dimensão de coexistência que caracteriza a condição humana.
Entendemos que a contribuição winnicottiana sustenta que o ambiente é absolutamente
fundamental ao longo de toda a vida individual.

Valorizar o ambiente significa, então, reconhecer que as condições concretas de vida,


prevalentes na sociedade contemporânea globalizada, desempenham importante papel na
geração do sofrimento psíquico emocional. Claro está que não queremos dizer que a vida
tem sido fácil, no planeta, ao longo da História e que só hoje enfrentamos dificuldades. A
leitura de um livro bastante atraente, na medida em que muito claro e simultaneamente
rigoroso, o Aprenda a Viver: Filosofia para Novos Tempos (Ferry, 2007) convence no sentido
de lembrar como a condição humana, ao conjugar finitude e autoconsciência, é
inerentemente geradora de sofrimento, o que, segundo este autor, motiva o nascedouro de

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duas importantes realizações humanas: a filosofia e a religião. Entretanto, muitos pensam
que a vida atual, na qual os ideais estão ausentes e parecem substituídos por frenesis
fundamentalistas de consumo (Santos, 2001), traz consigo um quadro novo, desconhecido
em épocas históricas anteriores. A vida perde sentido e torna-se, deste modo,
verdadeiramente absurda, o que gera sofrimento emocional importante. Não se trata, assim,
de negar a importância de dimensões orgânicas, de amadurecimento emocional ou mesmo
de exercício ético de escolha de posições existenciais mais construtivas e solidárias – que
podemos presenciar mesmo em pessoas que se mantém a expensas de um falso self
cuidador, mas de reconhecer que o mundo em que vivemos pode dificultar enormemente a
constelação do sentir-se vivo e real numa vida que valha a pena.

Num primeiro momento, podemos pensar que o sentir-se vivo e real seja o que se pode
chamar de “problema de foro íntimo”. Esta dissociação seria, assim, o mero descompasso
entre o intelecto e a existir psicossomático, decorrente do fato de ter sido vitima de invasões
ambientais que teriam interrompido a continuidade do ser do bebê. Entretanto, se levarmos
em conta que a vida transcorre no ambiente humano e interrogarmos mais detidamente o
fenômeno da invasão ambiental que, em última instância, visa criar submissão, veremos que
sentir-se vivo e real é algo que depende das condições concretas do viver, que depende da
qualidade das relações humanas.

Será, pois, fundamental, articular a possibilidade de sentir-se vivo e real com o ambiente
familiar, lembrando que este último dependerá sempre das condições concretas da vida
social.

Sabemos que desde o Renascimento, quando progressos científicos até então inimagináveis
tiraram a sociedade de um cosmo fechado para um universo infinito, para adotar a expressão
de Koyré (1973), os homens deixaram de encontrar sentidos na religião ou numa visão
filosófica do mundo como todo harmonioso. Surgiram, assim, o humanismo e a filosofia
moderna, inaugurando-se uma mudança profunda, a partir da qual os homens passaram a
produzir os sentidos do viver, fundamentando-se não mais no cosmo ou em Deus, mas em si
mesmos.

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O projeto científico, como manifestação do humanismo, baseou-se em dois pressupostos. O
primeiro deles diz respeito à crença de que a ciência emanciparia a humanidade de várias
formas de superstição, obscurantismo e autoritarismos. O segundo é a convicção de que um
aumento do domínio do mundo natural transformaria a vida humana, trazendo-lhe maior
conforto, segurança e qualidade. Até aqui, navegava a cultura ocidental em mares nos quais
se articulavam ideais de progresso das ciências com os de desenvolvimento da civilização.
Entretanto, parece que a própria noção de progresso sofreu uma modificação drástica, que
se liga, evidentemente, a vicissitudes do sistema capitalista, frequentemente designada como
passagem da ciência à técnica, que consiste no desaparecimento dos fins em proveito dos
meios. Evidentemente, trata-se de fenômeno dotado de alta complexidade, que merece ser
estudado desde pontos de vista históricos, sociais, econômicos e filosóficos. Entretanto,
tendo em vista nossos propósitos, que focalizam os efeitos destas transformações sobre as
experiências emocionais de vida, basta levar em conta as linhas gerais deste movimento:
“Daí o formidável e incessante desenvolvimento da técnica preso ao crescimento econômico
e largamente financiado por ele. Daí também o fato de que o aumento do poder dos homens
sobre o mundo tornou-se um processo absolutamente automático, incontrolável e até mesmo
cego, já que ultrapassa asa vontades individuais conscientes. É simplesmente o resultado
inevitável da competição. Neste ponto, contrariamente às Luzes e à filosofia do século XVIII
que, como vimos, visavam à emancipação e à felicidade dos homens, a técnica é realmente
um processo sem propósito, desprovido de qualquer espécie de objetivo definido: na pior das
hipóteses, ninguém mais sabe para onde o mundo nos leva, pois ele é mecanicamente
produzido pela competição e não é de modo algum dirigido pela consciência dos homens
agrupados coletivamente em torno de um projeto , no seio de uma sociedade que, ainda no
século passado, podia se chamar res publica, república, etimologicamente negócio ou causa
comum” (Ferry, 2007, p.247).

O efeito da perda de ideais, sobre a experiência emocional individual, é, a nosso ver,


devastador, porque torna a vida absurda, afetando o sentimento de que a vida valha a pena.
Em ultima análise,como bem coloca Camus (1942), é o suicídio que se desenha no horizonte
quando o absurdo ganha a cena, suicídio que tanto pode ocorrer de modo concreto como
sutilizado sob diferentes roupagens sintomatológicas.
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Tenho realizado, majoritariamente, dois tipos de investigação. O primeiro deles diz respeito à
proposição de enquadres clínicos diferenciados, mediante os quais se possa estender os
benefícios oriundos do conhecimento psicanalítico a populações tradicionalmente dele
excluídas. Estes enquadres são, então, investigados em termos da detecção de sua eficácia
clínica ou potencialidade mutativa.

É claro que este tipo de pesquisa nos ensina sobre pessoas que buscam alguma forma de
atendimento, mas não nos dizem muito sobre quem não se abre para este tipo de
experiência. Nossa experiência tem comprovado a idéia de que predomina, no mundo atual,
um sofrimento derivado da falta de ideais, esperanças e perspectivas, que afeta a
capacidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea e transformadora de
si mesmo e do mundo.

O segundo tipo de trabalho é conhecido como pesquisa psicanalítica de imaginários


coletivos, iniciativa que abraçamos a partir da preocupação com os preconceitos existentes
contra pessoas que necessitam de tratamento psiquiátrico. Assim, pesquisamos as
concepções, crenças, idéias, sentimentos, fantasias de vários grupos da população, mais ou
menos diretamente envolvidos com a problemática psiquiátrica, para detectar tanto como, e
em resposta a que tipo de angústia, organizava-se seu imaginário. Pudemos entender que
existe um grande medo sob a hostilidade, discriminação e preconceito contra o doente
mental. Demo-nos, conta, então, de que havíamos desenvolvido uma metodologia de
pesquisa que servia não apenas para a investigação do imaginário relativo ao doente mental,
mas também a toda e qualquer figura humana, abrangendo todos os chamados excluídos
sociais. Assim, passamos a investigar o imaginário de coletivos humanos sobre usuários de
drogas, crianças com dificuldades escolares, crianças adotadas, obesos, deficientes,
presidiários e muitos outros. Entretanto, ao realizar tais trabalhos, fomos nos dando conta de
um fenômeno bastante interessante que consiste no fato dos grupos pesquisados trazerem
sempre visões de vida fundamentalmente desanimadas, desesperançadas e carentes de
perspectivas de futuro. A julgar pelo que temos encontrado nestas pesquisas, poderíamos
afirmar que uma das formas mais comuns de sofrimento no mundo de hoje é a carência de
sentido que impede o indivíduo de sentir-se vivo, real e capaz de gestualidade espontânea.

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O quadro geral indica, a meu ver, que são inegáveis as relações entre o sofrimento humano
e as condições concretas da vida contemporânea, de modo que se torna indispensável a
constituição de projetos coletivos de produção de sentido e, em última análise, de esperança.

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U NIDADE 3
Objetivo: Apreensão da teoria psicanalítica de Freud, bem como outras teorias enquanto um
conjunto de premissas referentes a uma concepção de homem e de mundo.

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

Podemos definir personalidade como sendo um ser humano com individualidade, nitidamente
expressa, a qual, nem a moda do dia a dia, nem as adversidades conseguirão desviar da
rota fixada. A noção científica de personalidade se empregará, pois, para discernir as marcas
particulares inerentes aos indivíduos, isto é, as diferenças inter-individuais; visará igualmente
determinar as variedades do comportamento de um só e único indivíduo, segundo as
situações e as épocas de sua existência (Schaaml, 1976).

A maturidade emocional é um termo relativo, pois não se limita a um único padrão


comportamental nem a uma determinada cultura. A singularidade é uma característica
essencial da natureza humana. É preciso supor, pois, uma grande variação no quadro do
ajustamento emocional.

Os estudiosos da personalidade estão basicamente interessados em explicar o porquê das


diferenças existentes entre as pessoas. Por que algumas são bem-sucedidas e outras não
Por que algumas desenvolvem uma capacidade de ver o mundo com toda a sua riqueza,
variedade e encanto, enquanto outras apresentam comportamento explosivo, inquietação
geral, preocupação excessiva com a opinião dos outros, recusando-se a participar de
situações sociais. Por que algumas são tão talentosas e outras não conseguem desenvolver
suas potencialidades, impondo-se limitações que as levam ao conformismo e à passividade.

Os teóricos tentam responder a essas questões buscando descobrir qual a interação


existente entre os diferentes aspectos responsáveis pela formação da personalidade, tais
como: aprendizagem, percepção e motivação.

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As várias teorias da personalidade se distinguem pela descrição do modo pelo qual essa
interação ocorre e pelo peso dado a cada um dos fatores (aprendizagem, percepção e
motivação) na determinação da personalidade.

A Teoria Psicanalítica de Freud

A psicanálise nasceu com objetivos bastante limitados. Originalmente, seu único fim era
compreender algo da natureza de enfermidades nervosas chamadas funcionais, para vencer
a impotência médica da época quanto ao seu tratamento. Entre os neurologistas de então,
havia uma crença generalizada a respeito da existência de uma ligação íntima, e talvez
exclusiva, entre determinadas partes do cérebro e certas funções. Como não sabiam o que
fazer com o fator psíquico, nem como apreendê-lo, deixavam essas especulações para os
filósofos, para os místicos e para os curandeiros. Assim, não se abria nenhum acesso às
causas das neuroses, principalmente da enigmática histeria, que delas consistia em medidas
de caráter geral, tais como prescrições de medicamentos, choques elétricos e tentativas, na
maioria das vezes inadequada, de exercer influência psicológica sob forma de conselhos,
repreensões, ameaças etc.

Dadas as características da formação médica da época, inicialmente a psicanálise sofreu


uma violenta rejeição. No entanto, com o passar do tempo ela foi sendo aceita, tornando-se
posteriormente a terapia mais difundida no tratamento de problemas psíquicos.

Atualmente, a psicanálise é um termo geral que abrange três coisas: um método de


investigação de processos psíquicos, um método de terapia e uma teoria da personalidade.

Como teoria da personalidade, a psicanálise está fundamentada em relatos verbais de


idéias, sentimentos e auto-descrições feitas pelos pacientes. Freud estabeleceu um paralelo
entre o funcionamento patológico dos processos psíquicos e os normais. Ele fazia uma
análise cuidadosa do comportamento verbal (relatos) de pacientes neuróticos e psicóticos
para esclarecer a causa de tais doenças e supunha que cada aspecto do funcionamento
patológico fosse um exagero da atividade normal. Dessa forma, a prova que Freud
freqüentemente apresentava para confirmar uma hipótese a respeito de um componente da
personalidade eram os dados obtidos com pacientes submetidos à psicanálise.

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Outras características da psicanálise como teoria da personalidade é o fato de basear-se
mais nos pensamentos e sentimentos do que no comportamento. Freud supunha e os
psicólogos que seguem sua orientação concordam que o comportamento explícito de uma
pessoa só pode ser interpretado corretamente quando há conhecimento de seus motivos,
temores, sentimentos etc. Ele considerava o comportamento humano como: 1) um resultado
de lutas e acordos entre motivos, impulsos e necessidades; 2) ocorrendo em diferentes
níveis de organização, de tal forma que comportamentos semelhantes podem expressar
diferentes forças e a mesma força pode ser representada em diferentes comportamentos; 3)
ocorrendo em vários níveis de consciência.

As qualidades da vida psíquica

Freud opôs-se à tendência dominante em sua época de explicar os fenômenos psíquicos


apenas pelos fatos que o indivíduo tem na consciência em um determinado momento. Ele
não via nos processos consciente a essência da vida psíquica. Ao contrário, na determinação
do psiquismo, os processos conscientes se somariam aos pré-conscientes e aos
inconscientes.

Os processos conscientes são aqueles baseados nas percepções imediatas do mundo


exterior ou nas sensações do mundo interior, aqueles que estão clara e intensamente
definidos em nossa mente. Os processos latentes, isto é, que podem vir à consciência a
qualquer momento, na forma de recordações ou lembranças, são denominados pré-
conscientes. Os processos e conteúdos psíquicos que não têm fácil acesso à consciência
são os inconscientes.

Os processos inconscientes são alógicos e têm grande fluidez e plasticidade, de tal forma
que coisas que ocorreram em momentos e espaços diferentes podem estar unidas como
elementos de um mesmo conjunto. Tais processos nunca são observados diretamente, e
quando se manifestam à consciência vêm camuflados com um simbolismo próprio.

Essas três qualidades dos processos psíquicos (consciente, pré-consciente e inconsciente)


são dinâmica e não descritivas da personalidade, pois não são absolutas nem permanentes.
O conteúdo da consciência em um determinado momento pode deixar de sê-lo no momento

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seguinte. Além disso, muitas das coisas que pensamos ser verdadeiras em determinado
momento se tornam contraditórias no momento seguinte, pois outros eventos mostraram que
a nossa percepção não era correta. Na consciência, pois, existem processos intelectivos que
podem persistir, ser substituídos ou extinguir-se.

Os processos pré-conscientes podem irromper na consciência a qualquer momento e os


inconscientes, por sua vez, por mais resistência que ofereçam, podem ser captados pela
consciência por meio de técnicas especiais.

A estrutura da personalidade

Segundo Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e superego.

O núcleo da personalidade é formado pelo id, que não tem comunicação direta com o mundo
exterior. O id é a fonte de toda energia psíquica da personalidade. Dentro dele operam duas
forças distintas, uma derivada do instinto de vida e a outra do instinto de destruição. Cada
uma dessas classes de instintos está subordinada a um processo fisiológico especial
(criação e destruição) e ambas se conduzem de forma conservadora, buscando a
reconstituição do equilíbrio perturbado pela gênese da vida. Essa gênese seria a causa tanto
da continuação da vida como da tendência à morte. Por sua vez, a vida seria um combate e
uma transição entre ambas as tendências.

O id opera dentro do princípio do prazer, que se define pelo alívio da tensão, pela liberação
da energia e pela esquiva à dor. O objetivo do id, portanto, é a satisfação imediata e irrestrita
dos instintos. Para realizar isso, ele dispõe de dois processos: ação reflexa e processo
primário.

As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma imediata redução da
tensão. O organismo humano está equipado com um certo número de reflexos que estão
relacionados com formas relativamente simples de excitação.

O processo primário envolve uma reação psicológica mais complicada. A descarga da tensão
é feita por meio de uma imagem mental. Um processo primário, por exemplo, fornece a uma
pessoa faminta a imagem do alimento. Essa experiência oferece uma forma alucinatória de

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satisfação do impulso. Tal alucinação não ocorre automaticamente. Primeiro a pessoa deve
ter experienciado a satisfação concreta do desejo para depois representar mentalmente o
objeto associado a essa satisfação.

Para Freud, o aparato psíquico de um indivíduo é dominado por um id desconhecido e


inconsciente, em cuja superfície aparece o ego.

O ego é a parte modificada do id por influência do mundo exterior. Ele representa a parte
racional da personalidade.

Considerado sob o aspecto dinâmico, o ego é fraco. Todas as suas energias são
emprestadas do id. Sua função psicológica consiste em trazer ao nível do pré-consciente e
do consciente as exigências dinâmicas do id. Por isso ele é considerado o executivo da
personalidade. Ele deve controlar quais aspectos instintivos serão satisfeitos e buscar meios
para satisfazê-los, bem como prever as conseqüências dos atos destinados à satisfação das
necessidades em questão. É preciso considerar, no entanto, que, como uma parte
organizada do id, o ego existe para satisfazê-lo, e não para frustrá-lo.

Durante o longo período da infância, no qual o ser humano em desenvolvimento vive na


dependência de seus pais, forma-se no ego uma instância especial que perpetua essa
influência parental. A este sistema Freud deu o nome de superego. À medida que se
diferencia do ego, o superego se opõe a este e passa a constituir a terceira força que o ego
tem que levar em conta. Uma ação do ego será correta, portanto, se satisfizer, ao mesmo
tempo, às exigências do id, do superego e da realidade.

As relações entre o ego e o superego ficam claras se as compararmos às relações entre uma
criança e seus pais.

O superego é o representante interno dos valores sociais que são transmitidos inicialmente à
criança pelos pais, por meio de um sistema de recompensa e punições. Posteriormente, o
superego incorpora valores que são transmitidos por substitutos ulteriores dos pais, tais
como educadores e pessoas consideradas modelos sociais.

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Apesar das diferenças fundamentais entre o id e o superego, eles têm uma coisa em comum:
ambos representam a influência do passado o id, as influências herdadas, e o superego, as
recebidas socialmente. Por outro lado, o ego é determinado pelas vivências próprias do
indivíduo, pelo atual e acidental.

Em resumo, a força do id expressa o verdadeiro propósito vital de um organismo: satisfazer


às suas necessidades inatas. A missão do ego é buscar formas de satisfação que sejam
mais favoráveis e menos perigosas no que se refere ao mundo exterior. O superego, por sua
vez, coloca novas necessidades ao ego, visto que sua função principal é restringir a
satisfação das necessidades inatas.

O superego aplica um rigoroso critério moral ao ego, que está à sua mercê. O superego é,
assim, o representante da moralidade que nos faz sentir culpa cada vez que o ego tenta se
libertar de seu domínio, e auto-satisfação quando o ego se comporta de acordo com os
ideais sociais. O superego é constituído, pois, por dois sistemas: o ego ideal, que representa
a introjeção dos valores familiares, grupais, religiosos, raciais etc. (ou seja, a personalidade
social), e a consciência moral, que representa a introjeção da censura dos agentes sociais
controladores.

A dinâmica da personalidade

A dinâmica da personalidade diz respeito às formas pelas quais a energia do id é liberada ou


bloqueada.

Freud denominou de instintos as forças que atuam nas tensões causadas pelas
necessidades do id. Essas forças representam as exigências somáticas que atuam na vida
psíquica.

As cargas de energia que emanam do id não têm qualquer organização. Não se originam de
uma vontade única e só aspiram à satisfação das necessidades instintivas de acordo com o
princípio do prazer.

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Para os processos desenvolvidos no id não são válidos os princípios lógicos do pensamento,
nem mesmo o princípio da contradição. Impulsos contrários podem coexistir sem anular-se
mutuamente ou um submeter-se ao outro.

No id não há nada equivalente à negação e nada que corresponda à representação do


tempo. Eventos que ocorreram em momentos diferentes podem estar juntos numa mesma
manifestação. Da mesma forma, o id não conhece o bem e o mal nem qualquer moral.

É possível distinguir um número indeterminado de instintos, embora, como já dissemos, para


Freud todos derivem de dois instintos fundamentais: o instinto de autoconservação e
conservação da espécie e o instinto de destruição.

O primeiro tem como fim básico estabelecer e conservar unidades cada vez maiores, isto é,
tende à união (por exemplo, o amor). O segundo, ao contrário, busca a dissolução das
conexões, reduzindo a substância viva a um estado inorgânico. Este segundo foi
denominado por Freud de instinto de morte.

Esses dois instintos básicos podem antagonizar-se ou combinar-se. Assim, por exemplo, o
ato de comer equivale à destruição de um objeto com a finalidade de incorporá-lo ao
organismo. Da mesma forma, o ato sexual equivale a uma agressão com o propósito da mais
íntima união. Modificações na proporção de um dos dois instintos no momento da
combinação levam a diferentes conseqüências, podendo predominar o amor ou a agressão.

A energia liberada pelo instinto de conservação foi denominada por Freud de libido.

Os instintos não têm qualidades perceptivas, por isso não podem atingir diretamente a
consciência. A expressão das forças instintivas é uma das funções do ego, que estabelece
uma ordem temporal para a satisfação dos instintos e os submete ao teste da realidade. Pela
interpolação de processos mentais, o ego escolhe a forma e o objeto para liberação da
tensão, conseguindo, assim, um estado precário de equilíbrio com a redução da excitação.
Contudo, essa redução é mais formal do que efetiva, pois o ego utiliza apenas as ações que
no passado foram bem-sucedidas, ma que nem sempre são adequadas ao presente.

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O ego se assemelha a um monarca que, não podendo legislar sobre as sanções (superego),
pensa muito antes de vetar uma proposta do parlamento (id).

O conteúdo do id pode passar pelo ego por dois caminhos distintos. Um é o direto e o outro
por meio do ego ideal. As atividades psíquicas são resultantes da eleição de um desses
caminhos que levam à liberação ou à coerção dos instintos. A coerção é realizada pelo ego
ideal, que é em parte uma formação reativa contra os instintos do id.

A esse processo de liberação e inibição da energia do id, Freud deu o nome de catexe e
anticatexe (ou catexe contrária).

Submetido a três forças distintas o mundo exterior, a energia do id e o superego ?, o ego se


sente ameaçado. Com a ameaça surge a ansiedade. A ansiedade é uma reação emocional
frente à impotência motora ou psicológica ou frente a uma situação traumática. Essa reação
coloca o ego em alerta, pois representa um perigo para sua integridade.

Há três espécies de ansiedade: real, neurótica e complexo de culpa.

A ansiedade real ocorre quando o ego se sente impotente frente a um objeto ou a uma
situação do mundo exterior, que pode colocar em risco a sua sobrevivência ou a sua
integridade psicológica. O homem não tem condições de detectar todos os perigos que
existem no mundo exterior, por isso às vezes se sente impotente frente à realidade. A
situação traumática contra a qual somos impotentes causa ansiedade, visto que, nessas
condições, a satisfação de nossas necessidades significa perigo. As crianças pequenas, que
não têm ainda a noção de perigo, fazem a todo o momento coisas que põem em risco a sua
vida.

Na ansiedade neurótica, o ego experiência uma sensação dolorosa que não passa, pois
coincide com o bloqueio total de uma necessidade do id. Essa impotência psicológica é
semelhante à impotência motora, pois a satisfação da necessidade poderia por em risco a
integridade do aparato psicológico.

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O complexo de culpa é a ansiedade produzida pela consciência moral. A pessoa portadora
de um superego muito rígido tende a ter sentimentos de culpa quando faz ou pensa em fazer
algo que contraria o código moral no qual foi educada.

A ansiedade é um estado doloroso que o indivíduo não é capaz de tolerar por muito tempo.
Para fugir dela, o ego desenvolve mecanismos de defesa.

Os principais mecanismos de defesa são: a projeção, a repressão, a formação reativa, o


isolamento e a sublimação. Todos esses mecanismos possuem duas características comuns:
distorcem ou negam a realidade e operam inconscientemente, de modo que a pessoa não
sabe as verdadeiras causas de seu comportamento.

Projeção. O aspecto essencial desse mecanismo é a atribuição a outra pessoa de uma


característica indesejável ou de um impulso perigoso. Um dos exemplos clássicos é a crença
de uma pessoa pudica de que as outras pessoas estejam excessivamente interessadas em
sexo ou sejam sexualmente incontroláveis. Subjacente a essa crença, existe o impulso
libidinoso que aparece na preocupação com o comportamento sexual dos outros. Como a
sexualidade é atribuída a outra pessoa e é acompanhada de reprovação, ela acaba tendo
acesso à consciência, embora na forma de um sentimento hostil. Nesse caso, portanto,
grande parte das ações do ego estão a serviço da libido.

Na repressão os pensamentos, idéias ou desejos que causam ansiedade são colocados fora
da consciência. A pessoa oferece uma enérgica resistência quando alguém tenta falar sobre
o assunto. Comumente a repressão atinge todas as idéias que tenham qualquer elo
associativo com o impulso reprimido. A repressão está presente em todos os mecanismos de
defesa.

Na formação reativa o indivíduo reconhece a existência de um impulso indesejável, mas


impede sua expressão liberando energia do impulso diametralmente oposto ao primeiro.
Essa estratégia defensiva geralmente está presente em comportamentos sociais que,
embora desejáveis, são exagerados e rígidos. A pessoa que utiliza esse mecanismo procura
não admitir outro sentimento a não ser aquele exageradamente manifestado. Esse é o caso
de mães supeprotetoras, que não podem permitir que venham à consciência sentimentos de

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hostilidade contra seus filhos. A formação reativa fica mais evidente quando as defesas se
rompem, como quando uma pessoa que aparentemente era incapaz de fazer mal a uma
mosca comete um assassinato violento.

Algumas vezes a bondade pode ser uma formação reativa contra a maldade. Uma pessoa
que faz atos filantrópicos com exagero pode estar querendo impedir que venha à tona o
prazer que sente frente à vulnerabilidade dos outros. A hostilidade aparece quando ela passa
a falar mal ou a ignorar os seus beneficiários com a justificativa de que eles foram ingratos e
não souberam dar valor a quem tanto os ajudou.

Outra forma de lidar com a ansiedade é o isolamento. No isolamento o conteúdo do impulso


vem à consciência, mas o sentimento associado a ele é reprimido.

Algumas pessoas parecem impermeáveis quando são insultadas. Elas agem como se não
estivessem percebendo o que está acontecendo. Na verdade estão conscientes da intenção
da outra pessoa, contudo não se sentem encolerizadas, ou, melhor dizendo, não deixam vir à
tona seus sentimentos de cólera. Tais pessoas agem friamente, dando a impressão de que
não há sentimentos a serem controlados.

O isolamento pode estar presente nas atitudes de uma pessoa que faz uma rígida separação
entre religião e ciência. Isso permite que ela interprete misticamente os fenômenos, para os
quais aceita também uma explicação científica. Essa separação faz com que ela concilie sem
dificuldades duas interpretações de alguns fenômenos naturais.

Na sublimação o objeto original de gratificação do instinto é substituído por um cultural.


Posteriormente, o instinto primário é totalmente afastado da consciência, ficando apenas a
expressão cultural substituta. Conseqüentemente, o ego não precisa manter um constante
controle sobre a expressão do instinto, pois a energia é completamente liberada. Freud
interpretou a Madona de Leonardo da Vinci como uma sublimação dos desejos libidinosos
que o artista sentia por sua mãe.

O desenvolvimento da personalidade

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Na teoria psicanalítica, a personalidade é resultante do desenvolvimento das estruturas (ego
e superego), dos processos de pensamento e da sexualidade.

Como já dissemos anteriormente, a vida psíquica é função de um aparato extenso e


composto de várias partes. A mais primitiva delas é o id, que tem por conteúdo tudo o que é
herdado, inato e constitucionalmente estabelecido. Os instintos originados na organização
somática alcançam no id sua primeira expressão psíquica, da qual muitas formas ainda são
desconhecidas. Esta parte primitiva do aparato psíquico continuará sendo a mais importante
durante toda a vida.

Sob a influência do mundo exterior, uma parte do id passa por uma transformação especial e
adquire função mediadora entre o id e o mundo exterior. Este setor de nossa vida psíquica é
o ego.

A tarefa do ego consiste na autoconservação, que ele realiza de duas formas. Em primeiro
lugar, por meio de um processo de aprendizagem, ele se adapta ao mundo exterior,
gravando na memória as conseqüências dos estímulos, de forma que consegue fugir da
estimulação desagradável e aproximar-se das situações agradáveis. Em segundo lugar,
como resultado dessa experiência, o ego vai se caracterizando e adquire certo domínio sobre
a estimulação interior (instintos do id). Graças a esse domínio ele pode selecionar os
instintos que serão satisfeitos, bem como as condições mais favoráveis para isso. Essa
atividade do ego é governada tanto pelas tensões provocadas pelos impulsos do id como por
aquelas que vão se formando no seu contato com o meio social. O aumento da tensão faz
com que o indivíduo experiencie um estado de desprazer, e a diminuição da tensão, um
estado de prazer. Esses estados não têm uma magnitude absoluta. Representam apenas
graus diferentes no ritmo geral das modificações.

Na busca do prazer o ego responde com ansiedade a toda situação esperada ou prevista de
desprezar. A ansiedade, portanto, só aparece na medida em que o ego acumulou um
conjunto de experiências.

A criança pequena é praticamente dominada pelo princípio do prazer, buscando a satisfação


imediata de suas tensões. Quando essa satisfação é cerceada, a criança reage

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emocionalmente, chorando ou dirigindo sua cólera para o obstáculo que a impede de obter o
que deseja. Às vezes ela utiliza processos primários para diminuir a tensão (imagens
mentais, sonhos, devaneios etc).

Paulatinamente, os processos primários vão sendo substituídos pela satisfação real da


tensão. Essa satisfação é realizada pelo ego que vai substituindo o princípio do prazer pelo
princípio da realidade e os processos primários pelos secundários. Os processos
secundários envolvem uma análise da realidade e a escolha do objeto para a descarga da
tensão. Nesses processos predominam a aprendizagem, a consciência, a memória e a
lógica.

Ocasionalmente, o ego abandona sua conexão com o mundo exterior. Nesses momentos há
uma modificação na organização do aparato psíquico: os processos primários voltam a ter
predomínio. Isso ocorre nos estados de sono, nos devaneios, nos atos falhos etc. As
manifestações que ocorrem nesses estados são muito importantes para o conhecimento do
aparato psíquico, porque nesses momentos vem à tona parte do que estava sendo reprimido
pelo ego.

A transformação da relação parental em superego se faz por um processo de identificação. A


identificação é uma forma de vinculação com outra pessoa; é a equiparação do ego de uma
com o ego da outra. Inicialmente, a criança começa a se comportar como os pais por um
processo de imitação, depois acolhe os seus valores, incorporando-os à sua personalidade.
A partir do momento em que o controle parental torna-se interno é que se pode falar em
superego.

O comportamento de um menino de 3 a 5 anos de idade é marcado pelo complexo de Édipo.


Como o menino se identifica com o pai, ele não somente quer ser igual a ele mas também
escolhe o mesmo objeto para as suas catexes libidinosas.

A ligação amorosa da criança com a mãe foi denominada por Freud de complexo de Édipo.
Embora essa ligação se modifique e sofra repressão após os 5 anos de idade, as catexes
originárias do complexo de Édipo permanecem como uma força vital da personalidade
durante toda a vida. As atitudes para com as pessoas do sexo oposto, bem como para com

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aquelas que representam a autoridade, são, em grande parte, determinadas pela forma
como a criança resolveu o complexo de Édipo.

O superego emerge do ego como um herdeiro do complexo de Édipo. O menino se sente


ameaçado por temer as conseqüências de seu apego amoroso à mãe. O medo da castração
leva-o a reprimir o desejo sexual pela mãe, bem como a hostilidade pelo pai. Essa situação
resulta numa identificação com o pai, denominada de identificação com o agressor. Esse
processo envolve uma relação ambivalente da criança com o pai. Os sentimentos hostis que
o menino experimenta na situação edipiana geram ansiedade. Para se defender dessa
ansiedade, ele reprime seus desejos agressivos em relação ao pai e passa a admirá-lo,
introjetando seus valores. Torna-se, portanto, o mais semelhante possível a ele. É como se a
criança seguisse o seguinte raciocínio: Se sou igual a ele e me comporto como ele, não
posso ser punido.

O medo da castração não é único motivo da repressão no complexo de Édipo, pois o mesmo
sentimento ocorre nas mulheres, que não poderiam ter medo da castração. Outro
componente na formação do superego é, pois, o temor de perder o amor dos pais. Quando a
mãe está ausente ou retira seu carinho, a criança fica exposta às mais penosas situações de
tensão, que vão desde a não-satisfação de suas necessidades básicas até a sensação de
estar sozinha num mundo perigoso. O perigo da perda do amor dos pais faz com que a
criança interiorize todos os valores dos mesmos. Esse processo se faz pela identificação que
Freud denominou de anaclítica.

A menina desenvolve inicialmente uma relação de amor e dependência para com as pessoas
que cuida dela, ou seja, a mãe. Essa relação leva-a a escolher o pai como objeto de seu
amor, por ter sido o objeto escolhido pela mãe. Quando a menina faz essa escolha, a mãe
torna-se sua rival, gerando hostilidade na criança. Essa hostilidade também é superada pela
identificação com a mãe.

O medo da perda do amor não desaparece totalmente com o desenvolvimento do superego.


Esse componente aparece nas situações em que uma pessoa experiencia sentimentos de
culpa, envolvendo a ansiedade pelo medo de perder o amor ou a aceitação dos outros.

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Alguns adultos que não resolveram adequadamente a identificação anaclítica no momento
da formação do superego se tornam extremamente dependentes dos outros, manifestando
uma conduta infantil.

No adulto, um superego sadio reflete-se em um conjunto integrado de valores, na


capacidade de aceitar abalos à auto-estima e aceitar limitações sem recorrer à fantasia.

As formas de controle disciplinar exercidas pela família são muito importantes na


determinação de um superego sadio.

Grande parte da teoria psicanalítica do desenvolvimento refere-se à forma de expressão da


libido. Freud acreditava que durante a infância os impulsos originários da libido se
concentram em determinadas regiões do corpo, denominadas zonas erógenas.

O desenvolvimento é biologicamente determinado e tem como ponto de referência as zonas


erógenas. Durante os cinco primeiros anos de vida, a criança passa por três fases de
desenvolvimento que Freud denominou de pré-genitais. Ele acreditava que as atividades
características de cada fase são de natureza sexual e exercem uma influência marcante na
personalidade do adulto.

A primeira região que surge como erógena é a boca, a segunda é o ânus e a terceira, os
órgãos genitais. O desenvolvimento emocional da criança depende das interações sociais,
das ansiedades e das gratificações que ocorrem para as atividades ligadas a essas partes do
corpo.

Desde o nascimento, a maioria das atividades da criança está concentrada na boa. Essas
atividades têm a função de proporcionar a satisfação das necessidades de autoconservação
e dos impulsos libidinosos.

Para Freud, a sucção do polegar, a tendência da criança de colocar tudo na boca e o sugar
no vazio mostram que existe uma necessidade a ser satisfeita que não está ligada somente à
autoconservação.

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Durante essa fase, com o aparecimento dos dentes, começam a se manifestar também os
impulsos sádicos (ligados ao instinto agressivo), embora sua expressão seja esporádica.

A agressividade manifesta-se com maior extensão durante a segunda fase. Essa fase foi
denominada por Freud de sádico-anal, porque a satisfação se realiza na agressão e na
função excretora. Ele justifica a inclusão dos impulsos agressivos na libido argumentando
que o sadismo é a fusão dos impulsos libidinosos com os destrutivos. Essa fusão, que se
inicia nessa etapa, permanecerá durante toda a vida.

A terceira fase, fase fálica é a predecessora da forma final da vida sexual. Desse momento
em diante os sexos se diferenciam. Os meninos entram na fase edipiana e as meninas
sofrem sua primeira desilusão quando tomam consciência das diferenças existentes entre o
homem e a mulher.

Como já dissemos, o complexo de Édipo termina, no menino, por causa da ansiedade de


castração. Nas meninas, a problemática edipiana não é tão intensa quanto nos meninos, por
isso as mulheres desenvolvem um superego mais fraco e menos severo. Isso explica o fato
de elas serem mais bondosas e mais compreensivas do que os homens.

Os componentes de uma fase não são substituídos com o advento de outra. Eles podem se
sobrepor ou ocorrer simultaneamente. Nas duas primeiras fases, os diferentes componentes
instintivos começam a buscar o prazer independentemente um do outro. Na fase fálica,
inicia-se uma organização que subordina a satisfação dos outros impulsos aos genitais. Essa
organização só se completará na puberdade, ou seja, na quinta fase, fase genital, na qual há
a conservação de algumas catexes primitivas que se incorporam à função sexual como
atividades preparatórias. Outros impulsos, no entanto, são excluídos da organização. A
energia gerada por esses impulsos ou é totalmente suprimida por um processo de repressão
ou é expressa de outras maneiras, constituindo-se em característica da personalidade, ou
ainda é sublimada com o deslocamento de seus fins.

O processo de organização da vida sexual não se realiza sem dificuldades. Podem ocorrer
inibições no seu desenvolvimento. Quando isso acontece, encontramos nas fixações da
manifestação da libido características de qualquer uma das três fases iniciais. Nesses casos,

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os impulsos da libido tornam-se independentes de seus objetivos sexuais normais e se
transformam em perversões.

Freud deu extrema importância às catexes dos cinco primeiros anos de vida na determinação
da personalidade. Segundo ele, a personalidade é resultante, em grande parte, dos impulsos
fixados nesse período. A isso se acrescentam os impulsos adquiridos por meio da
sublimação e os mecanismos de defesa do ego, destinados a substituir os impulsos
libidinosos e agressivos por outros socialmente aceitos.

Entre a terceira e a quinta fases do desenvolvimento, há um período em que os impulsos


sexuais apresentam certa calmaria, não ocorrendo nenhum progresso. Essa fase foi
denominada de latência e não mereceu nenhum interesse por parte de Freud. Nesse período
há o desenvolvimento dos processos cognitivos e a maior parte da energia psíquica é gasta
no conhecimento do mundo.

As proposições freudianas exerceram profunda influência na maioria dos estudiosos da


personalidade. Alguns deles seguiram a linha psicanalítica, embora tenham rejeitado alguns
conceitos e ampliado outros. Outros teóricos, no entanto, se dedicaram à comprovação
experimental dos conceitos essenciais da teoria psicanalítica. Depois de algum tempo de
pesquisa, rejeitaram toda a proposta dessa teoria quanto ao desenvolvimento da
personalidade.

Os atos delituosos dos neuróticos consistem, de modo geral, em furtos, mentiras, calúnias,
fraudes, denúncias falsas, cartas anônimas, emissão de cheques sem fundo. Raramente
esses enfermos praticam ações criminais violentas. Portanto, com referência ao problema da
responsabilidade penal dos neuróticos não há dificuldades periciais: fora das crises eventuais
que possam apresentar, não se deve negar a esses enfermos a capacidade de imputação,
pois agem como pessoas normais (Bleuler). Os atos delituosos desses enfermos são
imputáveis e os mesmos estão sujeitos às sanções penais correspondentes.

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U NIDADE 4
Objetivo: Compreender os fundamentos da psicopatologia, conjunto de conhecimentos
referentes ao adoecimento mental e seus limites e aportes ao entendimento do ser humano

Psicopatologia e psicologia do normal

Normal ou Patológico em Psicopatologia Clínica

Adalberto Tripicchio4

Resumo

Analisando os conceitos de normal e patológico segundo as principais correntes do


pensamento psiquiátrico (a fenomenologia, a psicanálise e a anti-psiquiatria), o autor propõe
repensá-los a partir do discurso próprio "louco" e da desidealização desses conceitos que
enfatizam três dimensões: a real, a social e a humana.

A colocação do problema

Logo nas páginas iniciais de seu livro, Devereux (7) coloca em xeque a teoria psiquiátrica.
Pois se esta se fundamenta sobre o conceito de normal e seu oposto, anormal (lido como
patológico), a verdade é que o problema de conceituação desses termos não foi resolvido,
nem ao menos ficou delineada a fronteira que os delimita e, por condição, define. A partir daí
- isto é, de conceitos indefinidos - ergue-se uma semiologia bastante sofisticada que
estabelece diagnósticos, que classifica, que coloca os indivíduos em locais precisos: os sãos
e os loucos. E continua, numa subdivisão minuciosa, propondo-se a descrever a loucura de

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PhD em Medicina pela University of London Institute
Neurologista e Psiquiatra pela Univ. Paris VII - Dennis Diderot - Sorbonne
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cada um, mas não a sanidade, vista como um todo unitário. Mesmo a "revolução
psicanalítica" não trouxe mudanças substanciais à taxonomia psiquiátrica, porquanto as
categorias ficaram (com maior ou menor sofisticação de detalhes). Foi preciso haver uma
"invasão alienígena" para que a psiquiatria começasse a questionar esse arcabouço.
Estudando grupos, e não indivíduos, sociólogos e antropólogos introduziram uma nova
dimensão na análise da pessoa (dimensão que Freud apreendera, embora lendo do ângulo
do indivíduo): a cultura. E perceberam também que esta apresentava tantas variáveis, de tal
modo presentes na organização daquela pessoa, que Marx, anos antes, questionava o
próprio conceito de "ser humano", enquanto um conceito abstrato. Assim, o problema
conceitual torna-se mais complexo. Ao nível do orgânico, quando o que define é a
possibilidade ou não de sobrevivência, ou a qualidade dessa sobrevivência, poderia ser mais
simples estabelecer a fronteira. Mas, ao lidarmos com comportamento, com sentimento,
como definir? A partir de uma estreita correlação com a "vida dos órgãos" ou a partir de "uma
análise filosófica da vida compreendida como atividade de oposição à inércia e à indiferença"
(5)? De qualquer modo, lidamos com valores, posicionamo-nos ideologicamente frente ao
problema (e haveria outra possibilidade?).

A angústia do questionamento

No entanto, não se trata aqui de uma elucubração a respeito de um tema filosófico: a


oposição entre vida e morte, corpo e alma, saúde e doença, idealismo e materialismo ou
alguns desses pares antitéticos que preenchem o corpo teórico da filosofia. Muito mais do
que isso. É em cima de uma definição indefinida que calcamos a nossa prática médica. E
esta é a angústia do questionamento. Porque frente aos nossos pacientes impõem-se dois
níveis de compreensão: o social e o individual; o sociológico e o médico. Em outras palavras:
o observar e analisar e o fazer (a partir de premissas teóricas que fundamentam e justificam
essa prática, mas que não necessariamente são por ela determinadas). Pois que aquelas
pessoas "doentes", "alteradas", de comportamento "anormal", algumas até necessitando de
exclusão, mesmo que temporária, do mundo dos normais, estão ali à nossa frente agindo,
falando, e seu discurso é essencial para a nossa ação, embora o invalidemos com um
diagnóstico. Mas mesmo assim lá estão elas, agindo e interagindo, como fazem quaisquer

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pessoas em outras situações. São algumas das entrevistas colhidas junto a tais pacientes de
que me utilizo aqui para colocar o problema (2). E se Marx diz que "suscitar uma questão é
resolvê-Ia", parece-me que não consegui suscitá-Ia adequadamente. Em busca de clareza,
tento organizar algumas idéias, como numa primeira abordagem.

Normal e Patológico: Uma questão de leitura?

I. A busca de parâmetros - Que parâmetros são usados para definir, na prática psicoclínica,
normal e patológico?

- "Não estou doente não" - diz L. - "estou é com raiva daquela mulher" (da mãe-de-santo que
lhe prometera um favor e não cumprira).

-"Não é doença não, doutora, é esquecimento" - diz H., não se recordando do nome de uma
antiga paciente.

Que parâmetros estão usando esses pacientes para distinguir doença de não-doença?

A corrente fenomenológica lança os parâmetros na Psicopatologia. E o que nos diz ela a


esse respeito? De início, define Jaspers o objeto da psicopatologia como "a atividade
psíquica real e consciente [...]. Mas não se trata aqui de toda a atividade psíquica: apenas da
patológica [...] (a não delimitação clara entre a psicologia e a psicopatologia) resulta do fato
do conceito de doença não ser uma entidade [...] não atribuímos qualquer valor ao conceito
preciso de doença física; nós nos baseamos em nossa intuição pessoal e, sobretudo no uso
tradicional da divisão do trabalho quanto à delimitação de nosso tema de estudo". (11) Numa
edição posterior consideraria fenômenos anormais como aqueles que "excedem o habitual
em medida, grau e duração [...] as associações que se tornam hábitos mecânicos [...] A cisão
ou dissociação (da vida psíquica) que acabe sendo definitiva e insuperável [...] o mecanismo
de comutação do estado de consciência [...]"(12) Devemos lembrar que o primeiro parâme-
tro aproxima-se da colocação de K. Schneider, um dos principais teóricos da prática clínica

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psicopatológica. Distingue ele enfermidade, que "existe apenas na esfera somática" e
anormalidade, entendida como "apenas uma variedade do normal" (15).

A corrente psicanalítica não busca tanto descrever os processos quanto entendê-los. "A
resposta da psicologia freudiana a esta dicotomia é que tanto os processos mentais normais
quanto os patológicos têm seu lado fisiológico e são ainda funções cerebrais amplamente
desconhecidas [...] Não há diferenças fundamentais entre psicologia e psicopatologia: ambas
seguem os mesmos princípios básicos" (1). Princípios esses que serão buscados no conflito
intra-individual entre as "pulsões instintivas e as demandas ambientais, entre as pulsões
instintivas e os padrões superegóicos e entre instintos opostos [...]"; o distúrbio decorre
assim, de uma estruturação desviada da norma ou da expectativa para uma determinada
idade, de tal monta que o propósito de adaptação fica apenas parcialmente realizado e assim
o funcionamento do indivíduo é prejudicado" (10). Até aí estamos frente ao Homem -
entidade abstrata, fora de qualquer contexto.

Uma terceira corrente - a da antipsiquiatria - procuraria superar esta abstração. Diz Cooper
(6): "Esquizofrenia é uma situação crítica microssocial, onde os atos e experiências de uma
certa pessoa são invalidados por outros a partir de certas razões inteligíveis culturais e
microculturais (usualmente familiais), ao ponto em que esta é eleita e identificada como
sendo mentalmente enferma de certo modo, e então confirmada (por um processo de
rotulação específico, embora altamente arbitrário) na identidade de paciente esquizofrênico
por agentes médicos ou quase-médicos".

A pessoa eleita teria sofrido um processo de socialização que lhe condicionaria uma "perda
global ou parcial de validação consensual de sua auto-percepção e de sua hétero-per-
cepção". Negando a doença como processo intra-individual exclusivo e estendendo-a ao
grupo, a antipsiquiatria ampliaria o conceito de normal e patológico, mas, reproduzindo-o,
não o questionaria.

II. Os auto-retratos - E O que dizem os interessados? Isto é, as pessoas rotuladas como


"doentes mentais"? Aquelas pessoas cujas biografias passam a ser marcadas por um rótulo

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de origem polêmica (interno/externo; adquirido/inerente à sua constituição; aceito/imposto
etc.)? Formariam elas uma "quarta corrente"?

- "Maluco é quem agride, mas eu estou quase doida, pois me irrito à toa. Sou até capaz de
bater quando irritada." (Z).

- "Doida é a que quer pegar, quer avançar no homem [...] mulher-homem, isso é doido [...]
café demais dá loucura, café com leite dá nervoso [...] (louco) é ficar bom com choque [...]
quem bate na mãe é maluco [...] (sobre a paciente que saía de alta) esta é assim [...], assim
[...], não faz nada, nem a cama fazia." (N).

- "O que tenho é problema de nervos. Tomo remédio já estou boa." (M.)

"Não gosto de estar em casa. Meu pai me chama de doido, eu não gosto." (Ne.).

- "Eu só estava querendo acender velas p'ros mortos, mas N. e M. estão aqui e se me virem
vão falar com o diretor; vão dizer a ele que estou maluca, que estou querendo botar fogo no
hospital [...]. (Aquele hospital) é uma carnificina: se o sujeito ri vai para a triagem, se chora
vai também, não é todo mundo que agüenta ver essas coisas." (L.).

- "Qual é o caso de seus pacientes que a senhora não deixa trabalhar? Os que são
agressores?" (In.).

- "Estou tomando remédios e fiquei assim, sem vontade de trabalhar, sem vontade de
conversar, com as idéias atrapalhadas. Isto foi do tombo que levei, não foi?" (E.)

- "Ela não é doente não, é cachaça mesmo [...] aquela lá é que não quer comer; há dois dias
não come p'ra fazer charme p'ro marido. (Vovó Marina) não comia de desgosto porque a
família tirou o IPASE dela e a internou como indigente; quando ela veio para cá já era tarde,
estava toda queimada por dentro; desgosto; ainda bem que eu estava de alta; se eu
estivesse aqui teria ficado maluca." Sobre outra paciente, pergunto se está "fazendo
charme": "não, esta é louca mesmo." (X.) "era uma doçura, muito boa. Um dia ela disse que
viu o disco-voador e o marido a internou; quem sabe ela viu mesmo?" (o marido) fazia ela
descer dez andares de barriga (grávida) para buscar Coca-Cola para ele. Ela pediu o

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desquite e ele não quis, por isso a internou." "Ela não é doente, apenas bebe; não se devia
internar prostitutas aqui." (H.).

- (T.) aproxima-se furiosa; está no hospital há três dias e ninguém da família sabe; quer uma
licença no fim-de-semana para avisar a família, pois eles devem estar preocupados,
pensando que ela morreu. A médica a entrevistara durante duas horas; ficara de voltar
naquele dia e não apareceu, assim ela não conseguiu licença para tirar a carteira de saúde,
a fim de trabalhar. "Não estou maluca, estou é irritada."

- "Eu quero conversar com a senhora... é sobre a minha doença. . . escreve tudo porque já
levei muito choque e já esqueci." (R.).

- (Es.) contando para mim sua sensação ao ver a autópsia da esposa, morta em acidente de
trânsito no dia do aniversário do filho caçula: "Ah, doutora, quando vi ali minha companheira
de fé, com as vergonhas p'ra fora, fiquei que nem doido. . . só vi quando o corpo de
bombeiros me amarrava."

- (Z.) reclamando do médico recusar-se a tirar uma radiografia do crânio: "A cabeça é minha,
como ele é quem sabe se deve pedir a chapa? Tenho vontade de dar uma porrada nele para
ver a cabeça dele doer; aí ele vai pedir chapa."

O que podemos inferir desses relatos aparentemente desconexos?

Em primeiro lugar, que existem esquemas implícitos permitindo distinguir doente de não-
doente, o que é aceito do não aceito, mesmo quando o comportamento é semelhante (como
o fato das duas pacientes que não comiam: uma era "charme" e a outra, doença). Em outras
palavras, existem parâmetros que definem o comportamento normal distinguindo-o do
anormal, podendo este ter uma conotação de patológico ("mulher-homem, isto é doido"), ou
não ("ela é cachaça mesmo").

Segundo, o conceito de patológico aproxima-se de algum modo do conceito psicanalítico,


porquanto expressa uma exacerbação das pulsões: agressividade e sexualidade ("maluco é
quem agride", "doida é quem quer pegar, quer avançar no homem").

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Terceiro, esses conceitos estão eivados de ideologia médica, absorvida espontânea ou
compulsivamente ("Louco é ficar bom com choque"; "tomo remédio, já estou boa"; "foi do
tombo, não foi"?). Aqui deve ser feita uma ressalva: a tendenciosidade da amostra, já que
todos eram pacientes internados. Seria preciso ampliá-Ia, incorporando elementos que não
tivessem entrado em contato direto com a instituição (o que não exclui o aprendizado, que se
faz também de modo indireto).

Quarto, traduzem, afinal, um conhecimento comum partilhado pelo grupo e absorvido pelo
indivíduo. Em nenhum momento aquelas pessoas questionavam seu diagnóstico ou a própria
situação de internação. Muito menos as atitudes do corpo clínico em relação a elas (na
continuidade, Z. justificará a atitude do médico). E todas possuíam um diagnóstico preciso;
havia um rótulo geral bem definido. Aquelas pessoas eram, sem dúvida, "anormais", segundo
o discurso oficial, discurso esse por elas assumido e/ou por elas redigido?

Conclusão: A validação do sistema

Não resta dúvida que um tema assim abrangente não cabe nesse espaço. Mas o pretendido
não foi esgotar um tema e sim arrumar idéias, a fim de colocar o problema.

Assim, a primeira idéia que me ocorre é a da validação do discurso. Se ouvirmos a "quarta


corrente" podemos perceber que, ou os pacientes absorvem de algum modo a psicopatologia
aprendida formalmente pelo médico e a transmitem retraduzida e ampliada, ou essa
psicopatologia faz parte da bagagem cultural deles, isto é, é partilhada pelo senso comum.
Sendo assim, a validade desse conhecimento e de sua manipulação, sobretudo, deve ser
questionada, já que sua proposta é tão-somente referendar o conhecimento comum e não
discuti-Io. Abre-se aqui um caminho a ser analisado: a dicotomia normal/patológico ligar-se-ia
a toda uma corrente maniqueísta do pensamento sobre a qual se funda a moral burguesa do
bem e do mal. E aqui se introduz, suponho eu, a segunda pergunta: que o discurso é
validado nos diz a oficialização de seu uso, mas por quem?

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Canguilhem refere-se a uma "classe normativa" que teria conquistado "o poder de identificar
a função das normas sociais com o uso que ela própria fazia das normas cujo conteúdo
determinava", posição essa que chamaria de "um belo exemplo de ilusão ideológica" (S).
Quem sabe nessa ilusão cai Devereux, ao propor um critério de normalidade independente
da especificidade cultural, tendo por parâmetros a maturidade afetiva, o sentido do real, a
racionalidade e a capacidade de sublimar (1)? Como definir tais parâmetros? Pois em que
critérios nos baseamos para afirmar que morrer em resposta à perda do IPASE (retirado pela
família) é imaturidade afetiva? Ou que ver o disco-voador é perder o sentido do real? Ou que
"receber santo" tem algo de irracional? Em que elementos nos baseamos para dizer que
determinadas situações fogem do real (são anormais) e quem as vive deve ser tratado, e que
outras são normais, e os que internam, os que tratam ou levam para tratar são sadios, os
paradigmas do normal? Haverá, como supõe Devereux, critérios independentes da cultura,
do momento histórico, da posição de cada um na sociedade (sua posição de classe)? Esse
questionamento torna-se crucial, pois o corpo teórico da psicopatologia clínica, que tende a
padronizar comportamentos em termos de normalidade ou anormalidade, surge em um
determinado momento histórico, em uma outra sociedade, dentro de uma determinada classe
social e vem normatizar as diversas sociedades do mundo, para esse fim idealmente sem
classes.

E eis que, mesmo não tendo parâmetros para conceituar normal e anormal (com sentido
geralmente de patológico), ou tendo parâmetros frágeis e contraditórios, altamente
subjetivos, o clínicopsi trata. Trata o quê? O desviante da média; o comportamento bizarro;
um conflito interior do indivíduo; o grupo social ao qual o médico pode não pertencer; os
valores que não são os do médico; o disco-voador, talvez.

Neste ponto, suponho ser possível recolocar o problema. Na verdade, a base conceitual da
psicopatologia seria a divisão em categorias de normal e patológico? Há que introduzir, sem
dúvida, alguns conceitos prévios e que os fundamentam.

Qual é esta "atividade psíquica real e consciente?" De que real estamos falando? Pois o que
nos parece é que real tem conotação de ideal. E um real inexistente, porquanto
desvinculado, idealizado, ideológico. Volta-se aqui a dicotomia maniqueísta de um bem, e um

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mal, transcendentes, como é transcendente o próprio real sem sociedade, sem classe social,
sem contexto histórico.

A seguir, ou antes, talvez, a realidade de quem. Pois o perigo mais imediato é que, sem uma
conceituação do próprio objeto da ação clínica - o ser humano - toda discussão acerca desse
objeto fica invalidada. E se o clínicopsi trabalha com um objeto não definido (embora
suponha que o esteja) e um objeto abstrato, como irá evitar a tendenciosidade de sua
prática? Quem é este ser tratado por ele? Um ser universal, um ente hegeliano ideal
dominado pelo mundo das idéias, ou um ser inserido em um contexto determinado, produtor
de seus meios de subsistência" e dessas idéias que supostamente dominam? Pois entre o
liberalismo vienense de Freud e o anticapitalismo de Cooper estão duas visões do homem.
Se lidarmos com um ente ideal, então o nosso discurso não deve ser questionado, pois os
termos são indiferentes. Nem é mesmo necessário "a quarta corrente", pois que ela só nos
dirá o que já sabemos. Mas se lidamos com um ser determinado, inserido em um grupo
social determinado, em um dado momento histórico, então é importante ouvir - e respeitar - o
discurso de "louco", pois é este o homem "que nos interessa como sujeito e objeto de nosso
estudo e de nossa prática. E o seu discurso provavelmente não será um repetir ideologias
impostas, já que está eivado de sua própria ideologia de grupo e reflete as condições que
permitem a esse "louco", enquanto membro de seu grupo social, ser agente da história desse
grupo, mesmo que um agente externamente invalidado.

Finalmente, o terceiro conceito a ser pensado: o do social. Alienar o louco do seu grupo é,
como já vimos, tirar dele uma parte vital de sua identidade e colocar seu discurso ao nível do
incompreensível. Porque para Es., vindo do sertão nordestino, ao ver sua "companheira de
fé" nua, em meio a tantos homens, cortada e manipulada com indiferença, não havia outra
resposta senão a da agressão física, já que seu braço é a única arma, a força de trabalho,
que aprendeu a usar. Mas para o clínico, formado em um centro urbano, a arma, o
instrumento de trabalho que maneja, é o saber: "furor epilético", justificando uma internação
psiquiátrica que anula a denúncia, abafa o afeto e invalida a resposta. Por outro lado, alienar
o louco é tirar do grupo uma parte de sua identidade e podar-lhe um de seus meios de
expressão. A leitura ficará assim duplamente incompreensível.

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A ameaça que nos persegue - e é de algum modo explicitada no discurso dos pacientes - é a
de sermos reduzidos a uma atitude de guardiões da moral vigente na sociedade determinada
onde nos inserimos, como missionários da ideologia dominante. Reproduzir as relações
sociais extra-muros. Reproduzir a ideologia que representa essas relações, poderíamos
concluir a respeito do discurso psicopatológico, onde normal e patológico se inserem como,
em outro campo, se inserem os privilegiados e os sem privilégios, os que formam alianças e
os que são delas alijados, os que dominam e os que são dominados.

Assim, se é possível extrairmos algumas conclusões realmente fidedignas desse artigo, a


primeira é a de que, para abrirmos uma discussão que se proponha sincera sobre o
problema da definição da loucura é preciso ouvir primeiro a parte mais diretamente atingida
pela definição: os loucos. A segunda é a de que, ao "ouvirmos" o louco, e o modo como
ouvimos, ao nos posicionarmos assim frente à própria definição de homem, estamos
inserindo assumidamente o ideológico no discurso psicopatológico (e ele inexiste em algum
discurso científico?). O que nos resta talvez, seguindo o exemplo de Howard Becker, é
definirmos "de que lado nós estamos" (4).

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U NIDADE 5
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.

Funções Psíquicas e suas alterações

Carlos Eduardo Sandrini De Castro5

O presente trabalho tem como objetivo abordar as funções psíquicas, dentre elas
especialmente a consciência, atenção e orientação.

Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este
fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta
para diagnóstico sindrômico e nosológico é a fenomenologia: psicopatologia fenomenológica,
que baseia-se na descrição dos fenômenos psíquicos, conforme sejam observados ou
relatados. O importante na fenomenologia é descrever o que é vivido diretamente pelo
indivíduo.

Existem dois meios de adoecer, segundo a psicopatologia fenomenológica: o


desenvolvimento - o adoecer é compreendido pela constituição, personalidade e história do
paciente; e o processo - algo diferente e novo na constituição e história do paciente.

Normalmente, examina-se de forma isolada cada função psíquica do paciente para depois
formular o todo psíquico. A psicopatologia é, pois, uma abstração analítica da realidade e da
totalidade do psiquismo humano, decompondo-o em conceitos operativos para formular,
mais tarde, os quadros nosológicos.

A psicopatologia importa-se fundamentalmente com a forma de cada função psíquica, os


conteúdos têm uma importância secundária. Exemplificando, podemos dizer que a forma de

5
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
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um livro é aquilo que faz com que reconheçamos que se trata de um livro, isto é, a essência
deste objeto; e o conteúdo é aquilo que define tal livro, ou seja, sua mensagem.

Através da caracterização das funções psíquicas, distinguimos os principais quadros clínicos


das diversas síndromes mentais, valendo-nos desses parâmetros para a adoção da conduta
terapêutica mais adequada. Resumiremos a seguir três funções psíquicas e suas
anormalidades mais freqüentes nas diversas síndromes psiquiátricas.

CONSCIÊNCIA

É a capacidade neurológica de captar o ambiente e de se orientar de forma adequada, é


estar lúcido. A consciência pode ser considerada do ponto de vista psiquiátrico, como um
processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica. "É uma atividade integradora
dos fenômenos psíquicos, é o todo momentâneo que possibilita que se tome conhecimento
da realidade naquele instante." (Rosenfeld, 1929). É uma das funções psíquicas com a qual
estabelecemos contato com a realidade, através do qual tomamos conhecimento direto e
imediato dos fenômenos que nos cercam.

Podemos ter alterações "fisiológicas" da consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e
cansaço.

As anormalidades da consciência podem ser classificadas como quantitativas ou


qualitativas. Nas alterações quantitativas, há variação do nível de consciência, ou seja, da
claridade com que os fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo apresenta fala,
pensamento e emoções que dificilmente podemos entender, confunde percepções, não
consegue fixar sua atenção e geralmente está desorientado. As alterações qualitativas
referem-se a variação de amplitude do campo de consciência. Uma alteração qualitativa, é o
estado crepuscular, onde há um estreitamento do campo da consciência, o paciente parece
ter perdido o elo com o mundo exterior, quase não fala e age como se estivesse
psiquicamente ausente. O estado crepuscular pode estar presente em algumas doenças
como a epilepsia e a histeria.

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Se desenhássemos uma escala para as alterações quantitativas, ou seja, para a diminuição
do nível de consciência, esta seria da seguinte forma: inicialmente teríamos o paciente em
lucidez, daí passando para sonolência, da sonolência este poderia ficar em topor ou
obnubilação, a diferença é que na obnubilação teríamos um conteúdo anormal na
consciência, de qualquer um destes dois estágios o paciente passaria para o coma.

Resumidamente, poderíamos considerar somente:

Estreitamento: é a redução quantitativa e qualitativa da consciência, havendo um conteúdo


menor e uma seleção sistemática dos temas, como ocorre nas manifestações histéricas (nas
dissociações) e nos estados crepusculares (na epilepsia).

Entorpecimento: diminuição ou perda da lucidez e da vigília, portanto a atenção dificilmente


se forma ou se mantém. Ocorre em situações de febre, acidente vascular encefálico,
traumatismo crânio encefálico, etc.

Obnubilação: é a diminuição da lucidez (como no entorpecimento) associado à presença de


um conteúdo anormal na consciência. Geralmente acompanhado de distúrbios
sensoperceptivos e do pensamento, como ocorre por exemplo no delirium.

No Exame Psíquico é importante: Observar modificações no nível de consciência, registrar


possíveis flutuações no nível de consciência e observar se há estreitamento da amplitude do
campo de consciência. Isso pode ser observado pela capacidade de responder ao ambiente,
em especial a participação no exame. Duas outras funções auxiliam na avaliação da
consciência, pois já estão alteradas em diminuições bem discretas do nível de consciência,
quando o indivíduo nem aparenta estar sonolento ainda, que são: a atenção e a orientação.

ATENÇÃO

Considera-se a atenção como um processo psicológico mediante o qual concentramos a


nossa atividade psíquica sobre o estímulo que a solicita, seja este uma sensação,
percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de fixar, definir e selecionar as percepções,
as representações, os conceitos e elaborar o pensamento. Resumidamente pode-se

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considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa; é um
processo intelectivo, afetivo e volitivo.

É importante ressaltar que a atenção não é uma função psíquica autônoma, visto que ela
encontra-se vinculada à consciência. Por exemplo, o indivíduo que está em obnubilação
geralmente se encontra com alterações ao nível da atenção, apresentando-se hipervigil.
Contudo, um paciente em torpor se encontra hipovigil.

Sem a atenção a atividade psíquica se processaria como um sonho vago, difuso e contínuo.
Segundo Alonso Fernández, ao concentrar a atenção escolhemos um tema no campo da
consciência e elevamos este ao primeiro plano da mesma, mantendo este tema
rigorosamente perfilado, sem deixar-se desviar pelas influências dos setores excêntricos do
campo da consciência, podendo modificar o tema escolhido com plena liberdade. Este tema
poderia ser um objeto, uma ação, um lugar, uma palavra, etc.

Distinguem-se duas formas de atenção: a espontânea (vigilância) e a ativa (tenacidade).


No primeiro caso ela resulta de uma tendência natural da atividade psíquica orientar-se para
as solicitações sensoriais e sensitivas, sem que nisso intervenha um propósito consciente. A
atenção voluntária é aquela que exige certo esforço, no sentido de orientar a atividade
psíquica para determinado fim. Entretanto, o grau de concentração da atenção sobre
determinado objeto não depende apenas do interesse, mas do estado de ânimo e das
condições gerais do psiquismo.

O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a intensidade com que
a efetuamos é o grau de concentração alcançado.

As alterações da atenção desempenham um importante papel no processo de conhecimento.


Em geral estas alterações são secundárias, decorrem de perturbações de outras funções das
quais depende o funcionamento normal da atenção. A fadiga, os estados tóxicos e diversos
estados patológicos determinam uma incapacidade de concentrar a atenção.

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Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento acentuado da atenção em
todos os seus aspectos. É observada em estados infecciosos, embriaguez alcoólica,
psicoses tóxicas, esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por:

- falta de interesse (deprimidos e esquizofrênicos)

- déficit intelectual (oligofrenia e demência)

- alterações da consciência (delirium)

Os estados depressivos geralmente se acompanham de diminuição da capacidade de


concentrar a atenção como um todo. No entanto, têm aumento da concentração ativa para
temas depressivos (hipertenacidade).

Hipotenacidade: diminuição da atenção "ativa".

Hipertenacidade: aumento da atenção "ativa"

Hipovigilância: diminuição da atenção "passiva"

Hipervigilância: "distratibilidade", ou aumento da atenção "passiva"

Hipervigilância e Hipotenacidade: ocorrem nos casos de mania.

Hipovigilância e Hipertenacidade em temas depressivos: ocorrem nos casos de


depressão.

No Exame Psíquico é importante: Referir se o paciente está disperso ou não, como se


comporta em relação ao que acontece no ambiente. Descrever se responde às perguntas
prontamente ou é necessário repeti-las. Pode-se pedir para que o paciente realize operações
aritméticas ou enumere dias da semana ou meses, em ordem normal ou inversa o que
exigiria mais atenção.

ORIENTAÇÃO

"Complexo de funções psíquicas em virtudes das quais temos consciência, em cada


momento de nossa vida, da situação real em que nos encontramos", ou seja, é a capacidade

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de situar-se em relação a si e ao mundo no tempo e no espaço. É bastante complexo e exige
a inter-relação entre vários dados psíquicos. A orientação requer atividades mentais como
tendências instintivas, percepção, memória, atenção e inteligência. Alterações nestas
atividades mentais podem levar à graus variados de desorientação.

Orientação autopsíquica: relativa ao próprio indivíduo, ou seja, à capacidade de fornecer


dados de sua identificação, saber quem é, seu nome, idade, nacionalidade, profissão, estado
civil, etc.

Orientação alopsíquica: relacionada ao tempo e espaço, ou seja, à capacidade de


estabelecer informações corretas acerca do lugar onde se encontra, tempo em que vive, dia
da semana, do mês, etc.

As desordens destes dois estados são chamadas de desorientação autopsíquica e


alopsíquica, respectivamente. Essas alterações dependem estritamente do tipo de
perturbações das funções psíquicas a que se acham subordinadas a orientação no tempo,
no espaço e sobre si próprio. Em geral, a desorientação ocorre de modo gradual,
inicialmente em relação ao tempo, depois ao espaço e a ultima a ser alterada é a
autopsíquica. Os tipos de desorientação distinguem-se ainda em três outras formas:

Desorientação apática: decorrente de alterações da vida instinto-afetiva. Paciente está


lúcido e percebe com clareza e nitidez o que se passa no mundo exterior, porém há falta de
interesse, inibição psíquica ou insuficiente energia psíquica para a elaboração das
percepções e raciocínio. O enfermo percebe o ambiente porém não forma um juízo sobre a
sua própria situação. Ocorre com frequência em esquizofrênicos crônicos e em quadros
depressivos.

Desorientação amnésica: relativa ao bloqueio dos processos mnêmicos. Incapacidade do


doente em fixar acontecimentos (memória) e consequentemente, incapacidade de orientar-se
no tempo, espaço em relações com outras pessoas. Pode ocorrer em pacientes com quadros
demenciais.

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Desorientação delirante: produzida por perturbações do juízo de realidade, devido à
presença de falsos conteúdos (ou conteúdos anormais) no campo da consciência. Pode
ocorrer em pacientes que estão psicóticos: na esquizofrenia, na mania e depressão psicótica.
Os esquizofrênicos com desorientação delirante geralmente apresentam, também, dupla
orientação.

Dupla orientação: permanência simultânea da orientação verdadeira ao lado de uma falsa,


ou seja, o mundo real sincrônico ao mundo psicótico, como ocorre em esquizofrênicos. Por
exemplo, um paciente orientado em tempo e lugar que acredita estar no inferno ou em uma
prisão.

Desorientação com turvação da consciência: aqui a pessoa encontra-se desorientada


pois está com comprometimento do nível de consciência. Ocorre no delirium, seja no
causado devido ao álcool (tremens) ou por doenças físicas e/ou medicamentos.

Desorientação oligofrênica: A pessoa está com alteração do nível de orientação pois este
não possui inteligência para correlacionar ambientes, pessoas, dias, etc. Pode ocorrer no
retardo mental.

No Exame Psíquico é importante: Observar desorientação no tempo, pelo correto


conhecimento do dia, mês, época do ano, dia da semana e ano. Observar se o paciente tem
noção do tempo decorrido no hospital ou entre eventos recentes. Quanto ao espaço,
perguntar sobre o lugar (nome do hospital, andar, cidade, endereço). Quanto à pessoa,
perguntar sobre dados pessoais (nome, idade, data de nascimento), bem como sobre
familiares.

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U NIDADE 6
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.

Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais,


senso-percepção e representações, memória)

Texto de Aline Costa Gil6

A consciência pode ser definida por pelo menos três aspectos diferentes.

- Definição neuropsicológica: Trata-se especificamente do nível de consciência, no sentido


de estado vigil, no estado de estar desperto, acordado, vigil, lúcido.

- Definição psicológica: é a soma total das experiências conscientes de um indivíduo em um


determinado momento.

Definição ético-filosófica: significa tomar ciência dos deveres éticos e assumir as


responsabilidades, direitos e deveres.

Verificado o fato de se ter na rotina hospitalar, o critério médico de avaliação de

consciência procura-se diferenciar dois subtipos de consciência: “consciência clínica ou


quantitativa” e “consciência do eu”.

6
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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A Consciência Clínica é aquela avaliada dentro dos parâmetros quantitativos, de acordo com
os critérios médicos de avaliação de consciência, em que, segundo Fongaro e Sebastiani,
destacam-se oito níveis, sendo eles: normal, torpor, turvação, obnubilação, coma I, coma II,
coma III e morte cerebral.

Consciência do Eu é a consciência dita qualitativa, avaliada sob critérios psicológicos, cujo


objetivo é verificar a consciência da “vida psíquica”, que se dá a partir de um sofisticado
processo de interação da criança recém-nascida com o mundo, a capacidade de
diferenciação dela e do mundo, que mais tarde irá complementar a estrutura do “eu físico”,
compondo, então, o “eu self”.

A atenção é a direção da consciência, processo psíquico que concentra a atividade mental


sobre um determinado setor, envolvendo um determinado esforço mental.

A Sensopercepção compreende a capacidade sensorial e perceptiva do sujeito, ou seja,


como os órgãos do sentido, estão captando e interpretando as impressões que o meio
externo ou interno emitem. Aqui é importante lembrar que esta função psíquica, quando está
alterada, juntamente com alteração do pensamento, pode indicar um caso de estrutura
psicótica.

Memória caracteriza-se como a capacidade de registrar, manter e evocar os fatos já


ocorridos. Segundo Paim, “[...] a memória propriamente dita é considerada por alguns
psicólogos como um processo puramente fisiológico, enquanto a capacidade de fixação e a
evocação das lembranças são tidas como atos psíquicos, pelo fato de serem vividos pelo
indivíduo”.

Vontade ou Volição define-se pela capacidade de cada sujeito determinar-se. A vontade


expressa a relação entre intenção e ação na realização dos desejos, se existe coerência
entre o desejo interno e a capacidade de operacionalizá-lo. Sobre esta função é importante
avaliar se o sujeito hospitalizado deseja e operacionaliza, se ele deseja e não operacionaliza,
ou se não deseja.

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A linguagem é a atividade especificamente humana e é o principal instrumento de
comunicação dos seres humanos. Define-se pela expressão de sentimentos e pensamentos
verbalizados através da comunicação verbal direta, voluntária e de forma simbólica. Em uma
avaliação dentro de uma instituição hospitalar observa-se os processo de comunicação
verbal e não-verbal-faciais, posturais, gestuais - manifestos pelo paciente. Avalia-se, neste
sentido o discurso do sujeito doente e não só o discurso sobre a doença.

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U NIDADE 7
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.

Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor)

Texto de Aline Costa Gil7

O estudo da afetividade abrange as emoções, os sentimentos em geral, o humor ou estado


de ânimo, afetos, paixões e suas repercussões no psiquismo e no corpo.

Segundo Dalgalarrondo, [...] a vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a
todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se vazia, sem sabor. O
termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de vivências afetivas como
o humor, as emoções e os sentimentos.

De acordo com Paim, sentimento “[...] é um estado afetivo acentuado, estável, duradouro e
organizado com maior riqueza e complexidade do que os elementos representativos”. E
segundo Schneider, os sentimentos são considerados com “estados do eu, não podem ser
controlados pela vontade e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no interior do organismo”. Os
sentimentos, muitas vezes podem ser confundidos com as sensações, devido os sentimentos
sensórias encontrarem-se muito próximos a partes do corpo, como o “desânimo”.

A emoção “[...] é um estado afetivo intenso e complexo, proveniente de uma reação ao


mesmo tempo psíquica e orgânica, do indivíduo inteiro contra certas excitações internas e
externas”.

7
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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Segundo Störring, “[...] o estado afetivo fundamental de um indivíduo (alegria, bem-estar,
júbilo, felicidade, angústia, tristeza, desespero) depende inteiramente das circunstâncias
pessoais da vida, dos sujeitos, inclinações e especialmente do estado de sua vida física.” 56
E que segundo Paim, “[...] influi consideravelmente na direção de nossa conduta e no curso
do pensamento”.

A importância em avaliar a função psíquica afetividade é verificar que sentido e qual a


importância da afetividade na vida do paciente, pois de modo geral quando a afetividade está
alterada todas as outras funções psíquicas também se alteram. Pode-se dizer que a função
psíquica afetividade é aquela que, juntamente com o pensamento, conduz a vida psíquica
dos seres humanos, sendo diferente para cada tipo de sociedade e particular para cada
sujeito.

Ao ser avaliada a afetividade, encontram-se algumas dificuldades técnicas, pois em


psicologia vários termos são utilizados e, dependendo da abordagem, terão o mesmo sentido
com nomes diferentes ou ainda com nomes semelhantes, com outro sentido. Pode-se citar,
por exemplo, a psicanálise. Em psicanálise o termo que se utiliza é ‘afeto’, significa “[...] a
expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações”. O afeto, em
psicanálise, é um dos elementos representativos da pulsão. Pulsão é um conceito, [...]
situado na fronteira entre o mental e o somático, como representante psíquico dos estímulos
que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida da exigência
feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo.

Assim, pode-se dizer que cada abordagem da psicologia vai ter uma qualificação diferente, já
na visão médica podemos encontrar, o que é bastante comum, o termo humor. O humor, de
acordo com Bleuler “[...] consiste na soma total dos sentimentos presentes na consciência
em dado momento”.

Mas, independentemente do termo que se utiliza e da a abordagem adotada, esta função


psíquica pode ser considerada como um “termômetro” de como está o paciente. Por vezes,
podese encontrar pacientes internados com alterações importantes no seu estado afetivo, e
o que vai ser fundamental estar avaliando e verificando é o contexto em que se apresenta

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esta alteração, pois, algumas destas alterações são perfeitamente compreensíveis e
respondem de maneira adequada a situação apresentada.

Desta forma, entre as alterações da afetividade, podemos encontrar:

A hipertimia como sendo um estado de ânimo morbitamente elevado, a hipotimia que em


geral apresenta-se através de uma diminuição do estado geral da afetividade, e a distimia, de
acordo com Dalgalarrondo “[...] é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no
sentido da inibição quanto no da exaltação”.

Apatia: a apatia é caracterizada por uma diminuição afetiva, “[...] no sentido de que a
afetividade esteja completamente abolida” 61. De acordo com Dalgalarrondo “[...] os
pacientes queixam-se de não poderem sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada
[...] Na apatia, o indivíduo, apesar de saber da importância afetiva que tal experiência deveria
ter para ele, não consegue sentir nada.” O que se percebe é uma alteração qualitativa dos
processos afetivos causando sentimentos inadequados.

Humor Triste: segundo Dalgalarrondo, está relacionado com o humor depressivo, que
geralmente está associado a desesperança e muito angústia.

Ideação Suicida: está relacionada à “[...] idéias com a morte, em que o sujeito gostaria de
morrer para acabar com o sofrimento; idéias suicidas, que o sujeito pensa em se matar;
planos suicidas, aqui o sujeito planeja como iria fazer; os atos, em que o sujeito diz que
comprou remédios, veneno, corda ou revólver e tentativas de suicídio”.

Euforia: diferente da ‘hipertimia’, a euforia é o humor morbidamente exagerado, um estado


de alegria intenso e desproporcional.

Hipomodulação de afeto: “[...] é a incapacidade do paciente em modular a resposta afetiva de


acordo com a situação existencial, indicando rigidez do indivíduo na sua relação com o
mundo”.

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Inadequação do afeto: enquanto na hipomodulação o paciente não consegue construir uma
relação mais flexível com o mundo, na Inadequação do afeto o paciente mostra-se
completamente

“[...] incongruente a situação existencial ou a determinados conteúdos ideativos” . Por


exemplo, alguém ter um ataque de riso frente a notícia de um ente muito querido.

Embotamento afetivo: ocorre em sujeitos que apresentam um esvaziamento afetivo, por


exemplo, não expressam afeto na hora de relatando algum fato.

Anedonia: é a ausência ou diminuição da capacidade de sentir prazer total ou parcial com


determinada atividade e experiência da vida, a perda do prazer com algo que antes em sua
vida era muito prazeroso, isto dentro de um determinado contexto de vida, pois em
momentos de luto isso é comum e não deve ser avaliado como alteração patológica.

Labilidade Afetiva: é revelada por estados afetivos nos quais ocorrem mudanças súbitas, o
sujeito oscila de forma abrupta, rápida e inesperada. De acordo com Dalgalarrondo, isto
ocorre quando um paciente está contando algo e, por exemplo, começa a chorar
compulsivamente, passando logo a seguir a sorrir tranquilamente.

Ambivalência Afetiva: ocorre quando as reações do individuo frente a eventos e vínculos é


dúbia. É um termo utilizado por Bleuler para descrever sentimentos opostos em relação ao
mesmo estímulo. Segundo Paim “[...] o doente com freqüência não pode unir ambas as
tendências; ama e odeia ao mesmo tempo, sem que ambos os sentimentos ajam entre si ou
se debilitem”.

Irritabilidade Patológica: de acordo com Bleuler é uma predisposição especial ao desgosto.


Os enfermos manifestam inapetência, irritabilidade, apresentando uma atitude explosiva,
diferente da tenacidade afetiva.70.

Tenacidade Afetiva: esta alteração da afetividade, diz respeito a permanência anormal de


alguns estados afetivos, uma fixação prolongada de alguns sentimentos desagradáveis, por
exemplo o ‘rancor’.

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U NIDADE 8
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.

Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO)

8
Texto de Aline Costa Gil

O pensamento é uma das atividades mentais mais sofisticadas que o sujeito possui. Diz
respeito à capacidade de elaborar conceitos, articular juízos, constituir raciocínio e ter a
capacidade de síntese e propor uma solução adequada para um problema.

De acordo com Dalgalarrando, “[...] o pensamento se constitui a partir de elementos


sensoriais, que, embora não sejam propriamente intelectivos, podem fornecer substrato para
o do pensar: são imagens perceptivas e representações”.

Os elementos propriamente intelectivos do pensamento podem ser distinguidos por alguns


elementos constitutivos, em que autores se utilizam, sendo eles: o conceito, o juízo e o
raciocínio.

Segundo Dalgalarrondo, o conceito forma-se a partir das representações, sendo


propriamente cognitivo e intelectivo, exprimindo-se apenas as características mais gerais dos
objetos e fenômenos.

O juízo representa “[...] o processo que conduz ao estabelecimento de relações significativas


entre os conceitos básicos” e que tem “[...] por função formular uma relação unívoca entre
um sujeito e um predicado”.

8
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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O raciocínio, segundo Paim, é usado em dois sentidos: lógico e psicológico. No sentido
lógico, o raciocínio consiste em “[...] orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo
alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional ante as
necessidades do momento” e no sentido psicológico tem o mesmo sentido de pensar.

O pensamento é uma das funções psíquicas mais importantes para avaliar em uma primeira
entrevista, pois em casos graves como a psicose é a uma das funções que estará alterada e
sua avaliação auxilia na hora de um diagnóstico diferencial. Mas é sempre importante
lembrar que um componente do aparelho psíquico não funciona isoladamente, mas, para que
haja adequação do pensamento, há a integração com a linguagem, a afetividade, a
sensopercepção entre outras funções.

De acordo com Sebastiani, quando um paciente internado encontra-se com o pensamento


alterado, não importa o grau, geralmente é uma tentativa simbólica de negar o conflito real,
pois em geral, tem um objetivo ligado a da satisfação de um desejo, como o de criar
fantasias e crenças que são diferentes, ao contrário, da situação atual.

Quando se faz uma avaliação do pensamento em um paciente internado, é importante estar


atento à situação real do paciente, do momento atual que este sujeito está vivenciando,
sempre verificar qual a doença e principalmente o tratamento, pois substâncias tóxicas
introduzidas no organismo, bem como a febre alta, podem produzir alterações importantes.

Caso verifique-se que há uma alteração do pensamento em um paciente, como por exemplo,
o delírio, o profissional deve procurar verificar qual o sentido desta alteração, mesmo que ela
apareça de forma “bizarrra”. Desta forma, após ser verificado, encontrado e reconhecido o
sentido, poderá auxiliar no curso do tratamento desse paciente. Segundo Sebastiani,
inúmeros pacientes portadores de patologias graves, após passarem por um período anterior
de extremo sofrimento físico e emocional, entram em quadro de dissociação, com alterações
importantes na afetividade, consciência e pensamento. Muitas vezes este paciente que se
encontra em um momento de confusão psíquica passa a incomodar a equipe de saúde,
principalmente no hospital geral, em que grande parte desses profissionais não tem preparo,
ou não sabe o que fazer com estes pacientes. Isto de alguma forma acaba por afastar a

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equipe de profissionais da saúde do contato com este paciente, e pode causar uma
sensação dem desconforto e até mesmo de hostilidade. Por este motivo, considera-se tão
importante a avaliação psíquica e o diagnóstico, para que tente evitar um elemento a mais,
que agrave a situação do sujeito internado, já que este se encontra afastado de todas as
coisas que mantêm o seu bem-estar mental, como a ausência do seu lar, da sua cama, dos
objetos pessoais e do convívio familiar. O pensamento pode ser analisado através do
processo de pensar, em que, frequentemente, é utilizado em uma avaliação psicológica nos
hospitais gerais, assim como esta pesquisa pretende analisar através do discurso dos
pacientes. Desta forma, o pensamento pode-se dividir em três componentes Curso: identifica
a velocidade em que o pensamento ocorre, se normal, acelerada ou lentificada.

- Forma: verifica a estrutura do pensamento propriamente dita, ou seja, se o pensamento


possui ordenação (começo, meio e fim).

- Conteúdo: avalia a substância do pensamento, sua coerência e grau de concordância com


a realidade. Aquilo que corresponde à temática do pensamento.

De acordo com Dalgalarrondo, o pensamento de um sujeito que não possui nenhum tipo de
doença mental, normalmente é apresentado de maneira lógica, mas muitos sujeitos tendem
a utilizar estereótipos, em que muitas vezes decisões são tomadas sem evidências
concretas, concluindo algo que aparentemente são ditas como certas. Com isso, o autor
coloca que é “[...] difícil discriminar entre o pensamento normal e patológico, principalmente
no que concerne aos tipos de pensamento e o estilo de pensar”. Mesmo assim, pode-se
verificar uma série de alterações do pensamento, assim como:

Pensamento mágico: esse tipo de pensamento normalmente se apresenta em crianças e não


é considerado patológico. Em adultos verifica-se uma “relação puramente subjetiva de idéias”
que são associadas a fatos objetivos. O pensamento mágico, segundo Dalgalarrondo, fere os
princípios da lógica formal, não respeitando indicativos da realidade. Geralmente o
pensamento mágico aparece como desejos, fantasias e temores do sujeito, consciente ou
inconsciente, adequando-se a realidade ao pensamento.

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Pensamento concreto: o pensamento apresenta-se de tal forma que o sujeito não consegue
metaforizar, o pensamento está pautado no concreto. O seja, o sujeito não consegue “[...]
fazer a distinção entre uma dimensão abstrata ou simbólica e uma dimensão concreta e
imediata dos,fatos”.

Pensamento derreísta: este tipo de pensamento assemelha-se com o pensamento mágico, a


diferença é que, o pensamento, somente obedece à lógica e à realidade naquilo que
interessa ao desejo do sujeito, distorcendo a realidade para que se adapte aos seus anseios.

Pensamento demencial: o pensamento mostra-se empobrecido, há uma limitação dos


conceitos, uma diminuição dos elementos representativos e uma dificuldade de encontrar as
palavras adequadas. O paciente geralmente apresenta uma narrativa pobre, de forma lenta e
com dificuldade para passar de um assunto a outro.

Pensamento vago: de acordo com Dalgalarrondo, o pensamento vago apresenta-se quando


o paciente expõe um pensamento muito ambíguo, mostrando-se obscuro. Há uma
imprecisão de raciocínio, relativos às relações conceituais e a formação de juízo.

Pensamento prolixo: quando o sujeito apresenta dificuldade de chegar a conclusões sobre


um determinado tema, mostra uma dificuldade em construir um pensamento direto, claro e
acabado, com uma incapacidade de síntese.

Pensamento confusional: um pensamento incoerente, com dificuldades marcantes em fazer


os vínculos entre os conceitos e juízos, devido à turvação da consciência.

Pensamento desagregado: trata-se de um pensamento incoerente, em que o paciente ao


falar não comunica nada ao “interlocutor”, uma “salada de palavras”.

Pensamento obsessivo: são idéias ou representações que impõem-se à consciência do


sujeito de modo persistente e incontrolável. De acordo com Paim, “[...] o pensamento
obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode ‘cristalizar’ num estado de
dúvida permanente. O estado afetivo permanente do enfermo é de apreensão e ansiedade”.

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Desintegração dos conceitos: segundo Paim “[...] a palavra se desprende por completo de
sua significação propriamente dita: simultaneamente podem corresponder-lhe as
significações heterogêneas; até os próprios conceitos se modificam [...] ou acontece que os
conceitos se desfazem e uma mesma palavra ter significados cada vez mais diversos”.

Condensação dos conceitos: o pensamento mostra-se condensado quando o sujeito está


relatando algo e duas ou mais idéias são condensadas ou se fundem em um pensamento.
Bleuler exemplifica: “Deus é uma nave do deserto”, neste caso foram condensadas idéias
relacionadas com a bíblia, com Deus, com deserto e com camelo; segundo o autor o camelo
é vulgarmente de Taquipsiquismo: é quando curso do pensamento apresenta-se de forma
muito acelerada, uma idéia se sucede à outra rapidamente, podendo perder a capacidade de
articular linguagem e pensamento.

Bradipsiquismo: ao contrário do taquipsiquismo, no bradipsiquismo o pensamento é lento,


apresenta-se de forma dificultosa, o paciente não consegue articular ideias.

Bloqueio ou interceptação do pensamento: “[...] verifica-se o bloqueio do pensamento quando


um paciente, ao relatar algo, no meio de uma conversa, brusca e repentinamente interrompe
seu pensamento, sem qualquer motivo aparente”.

Fuga de idéias: de acordo com Paim, “[...] a fuga de idéias é uma perturbação da expressão
do pensamento, caracterizada por uma variação incessante do tema e uma incapacidade
absoluta de levar o raciocínio a uma conclusão”. 99

Idéias Prevalentes: são idéias que, por terem uma importância afetiva grande para o sujeito,
adquirem uma predominância maior sobre os demais pensamentos e se conservam
obstinadamente na mente do sujeito. As idéias prevalentes diferenciam-se das obsessivas,
por terem sentido para o paciente. É importante destacar que nem todas as idéias
prevalentes podem ser consideradas patológicas. De acordo com Paim, “o paciente portador
de idéias prevalentes se encontra impossibilitado para se subtrair a sua influência e revela
uma tendência a associa-lás a novas vivências”.

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Dissociação do pensamento: o pensamento não consegue seguir uma seqüência lógica e
organizada.

Afrouxamento das associações: neste caso há um afrouxamento das associações, parecem


mais livres, estão expostas de maneira lógica, mas não muito bem articuladas.

Descarrilhamento do pensamento: o descarrilhamento do pensamento acontece quando o


sujeito está falando e de repente o pensamento é desviado de seu curso normal, começa a
falar sobre outra coisa e de repente volta novamente.

Desagregação do pensamento: “[...] profunda e radical perda dos enlaces associativos, total
perda da coerência do pensamento. Sobram apenas ‘pedaços’ de pensamento, conceitos e
idéias fragmentadas, muitas vezes irreconhecíveis [...]”. Uma alteração importante do
pensamento e que deve ser observada é o delírio, definido como “[...] pensamentos
afastados da realidade e formados por idéias incompreensíveis, inamovíveis, irredutíveis,
incorrigíveis, impenetráveis e não-relacionados a fatores causais” mediante uma lógica
apresentada pela realidade. No que diz respeito aos delírios existem inúmeras classificações,
de acordo com Dalgalarrondo, os frequentemente encontrados são:

- Delírio religioso: acontece quando o sujeito, por exemplo, passa a afirmar ser um novo
Messias, ou quando acredita ter poderes místicos.

- Delírio persecutório: o sujeito acredita que está sendo perseguido por alguém,

geralmente pessoas desconhecidas e que querem prejudicá-lo.

- Delírio de referência: apresenta-se quando um sujeito acredita que os outros estão


constantemente falando dele, que ele é alvo freqüente de referencias depreciativas e
caluniosas.

- Delírio de culpa: ocorre normalmente em casos graves de depressão, em que o sujeito


afirma ser culpado de tudo de ruim que acontece no mundo e na vida das pessoas. E
também que devem ser punidos por seus pecados.

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- Delírio hipocondríaco: o sujeito acredita que tem uma doença grave, incurável. Mesmo que
este sujeito faça exames, que o médico constate que ele não apresenta nenhuma doença,
não é possível remover este pensamento.

Constam também, algumas manifestações psíquicas e comportamentais ligadas ao processo


de hospitalização do sujeito, que estão relacionados com o pensamento, sendo eles:
negação, aparecimento ou intensificação do sofrimento, fantasias, culpa e limitação das
atividades.

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U NIDADE 9
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução

Tratado sobre patologia e terapêutica das doenças mentais9

Wilhelm Griesinger*

Sobre o substrato das enfermidades mentais e o método que convém seguir em seu estudo

1º A obra que hoje publicamos tem como finalidade estudar as enfermidades mentais,
aprender a reconhecê-las e a curá-las. A loucura, estado anormal da inteligência e da
vontade, é apenas um sintoma; somente estudando essas enfermidades mentais sob um
ponto de vista sintomatológico poderemos chegar a dividi-las em um certo número de grupos
principais, cuja existência não poderia justificar-se de nenhum outro modo. O primeiro passo
para chegar a entender estes sintomas consiste em localizá-los. A que órgão pertencem os
fenômenos da loucura? Qual deve ser o órgão repetida e principalmente enfermo nos casos
de loucura? A resposta a estas perguntas constitui a condição primeira de toda a psiquiatria.

Se os fatos psicológicos e patológicos nos indicam que este órgão não pode ser outro que o
cérebro, deduz-se que, antes que nada, em toda enfermidade mental devemos ver sempre
uma afecção do cérebro.

2º A psicologia considera a vida psíquica uma forma vital particular do organismo; nos atos
psíquicos, vê as funções de um órgão determinado, assim como tenta deduzi-las a partir da

9
Traduzido pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, do Laboratório de Psicopatologia Fundamental /
Unicamp, a partir de: Rev Psiquiatria Fac Med Barna, v. 28, n. 5, p. 308-10, 2001. GRIESINGER, W. Traité sur
la pathologie et la thérapeutique des maladies mentales. Paris: A. Delahaye Libraire-Éditeur, 1873.

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estrutura desse órgão. Na verdade, algumas experiências conhecidas demonstram que, se
as faculdades psíquicas, no sentido mais amplo do termo, vão ligadas a todo o sistema
nervoso, o centro da inteligência e das faculdades afetivas reside no cérebro, e mesmo
apenas em algumas partes desse órgão. Certamente, os diferentes estados de todo o
sistema nervoso, transmitidos imediatamente ao cérebro, aportam alguns elementos capazes
de manter e excitar as faculdades mentais (todo o sistema nervoso periférico pode ser o
ponto de partida de impressões que modificarão nossos instintos e nossos afetos, que nos
dão concepções mais ou menos claras ou obscuras). Mas o cérebro é o único que capta e
percebe estas impressões, nele é onde se traduz a influência que exercem estas impressões
sobre toda uma série de movimentos determinados e coordenados (sobre os atos).

Observamos que, na série animal, as faculdades psíquicas são muito mais numerosas e
mais variadas, que alcançam um aperfeiçoamento mais completo, que o cérebro apresenta
um volume mais considerável, uma organização mais complexa e que a substância própria
dos hemisférios em particular é mais volumosa. Por outro lado, observamos que no ser
humano um defeito considerável no desenvolvimento do cérebro vai ligado a uma debilitação
dos atos psíquicos elevados, da inteligência e da vontade (como freqüentemente podemos
observar nos casos de idiotismo). Além disso, a experiência nos ensina que, em todos os
seres humanos, as faculdades mentais experimentam modificações essenciais segundo o
desenvolvimento e os câmbios que sofre o cérebro nas diferentes idades da vida. Nessas
modificações temporais, nesse desenvolvimento progressivo através do qual o cérebro
alcança progressivamente seu apogeu, para em seguida sofrer um retrocesso, a atividade
intelectual do cérebro segue o mesmo ritmo que todas as funções orgânicas e se revela
submetido, tal como estas, à lei do desenvolvimento do organismo.

3º Tal como os fatos fisiológicos, os fatos patológicos revelam que unicamente o cérebro
pode ser o centro das faculdades mentais, sejam normais ou mórbidas, e que a integridade
do funcionamento psíquico depende da integridade desse órgão, ambas podendo ver-se
alteradas por um fato patológico que tenha seu substrato em algum órgão mais ou menos
próximo ao cérebro. Os sintomas constantes e essenciais das enfermidades cerebrais, sejam

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produzidas por causas internas ou por uma lesão externa, consistem igualmente, além das
anomalias da sensibilidade e do movimento, quando a enfermidade é grave, em alterações
intelectuais (exaltação ou perda da inteligência, perda da consciência, delírio etc.). Os casos
menos freqüentes, nos que, na presença de uma desorganização grave do cérebro ou de
uma perda de substância desse órgão, não se observa nenhuma alteração mental, não
podem retirar valor aos resultados obtidos na observação diária.

Sem dúvida, além do transtorno das faculdades intelectuais e afetivas, na maioria das
enfermidades mentais ainda se observam anomalias importantes de outras funções, que
evidentemente também são próprias ao cérebro. Em primeira linha encontram-se as
alucinações, anomalias da função central dos sentidos, que em grande parte são percebidas
como impressões periféricas, mas cuja produção deve ser obrigatoriamente transmitida ao
cérebro, como assim o demonstram os fatos das alucinações persistentes da visão, em
indivíduos que padecem de cegueira total com atrofia dos nervos ópticos (Esquirol).

4º Apesar de os fatos nos levarem forçosamente a transmitir a inteligência e a vontade ao


cérebro, não devemos prejulgar nada sobre a relação existente entre os atos psíquicos e o
cérebro, entre a alma e a matéria. Desde um ponto de vista empírico, antes de tudo devemos
ratificar o fato da unidade da alma e do corpo e deixar que os métodos concebidos a priori
estudem uma alma imaterial, a alma independente do corpo, e contentar-se com
considerações abstratas sobre sua imaterialidade e sua unidade em oposição à
multiplicidade da matéria etc. Como pode ser que um fenômeno material, físico, que tem
lugar nas fibras nervosas ou nas células ganglionares, possa converter-se em uma idéia, em
um ato da consciência?, fato totalmente incompreensível. Eu ainda iria mais longe: nem
sequer sabemos como colocar uma pergunta relativa à existência e à natureza dos
intermediários que unem estas duas ordens de fatos. Nesse sentido, tudo permanece
relegado ainda ao campo da possibilidade.

Nem o materialismo, que pretende explicar todos os atos físicos através da matéria, nem o
espiritualismo, que pretende explicar a matéria através da alma, nos dão uma idéia exata
daquilo que ocorre na alma. Além disso, se chegarmos a saber tudo o que se produz no
cérebro quando este entra em ação, a penetrar em todos os secretos da química, da

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eletricidade etc., de que nos serviria tudo isto? Como podem esses fatos transformar-se em
fatos espirituais? Este problema permanecerá insolúvel para o homem até o fim dos tempos
e pessoalmente creio que, a não ser que um anjo desça dos céus e nos resolva este
mistério, nossa alma não será capaz de compreendê-lo por si própria

5º De acordo com as premissas apresentadas até agora, a questão que tanto e durante tanto
tempo tem tratado a antiga psiquiatria alemã, isto é, se a enfermidade afeta realmente e do
mesmo modo a alma no caso da loucura e as anomalias da inteligência e da vontade,
encontrará sua solução simples e afirmativa. Mas, certamente, não poderemos falar de
enfermidades da alma em si mesmas; tal como o que ocorre com as patologias exatas, que
podem nos falar das enfermidades dos fenômenos vitais e das funções, mas unicamente das
enfermidades cerebrais que implicam uma alteração nos atos da inteligência e da vontade.

6º Mas se todos os casos de loucura dependem de uma afecção cerebral, nem todas as
enfermidades do cérebro devem ser englobadas nas enfermidades mentais por esta mesma
razão. Qual é então o tipo de afecção cerebral à qual nos defrontamos no caso da loucura?
Desde um ponto de vista anatômico, tratam-se das enfermidades mais diversas, cujos
conjuntos de sintomas levam o nome de loucura.

Em grande parte, a patologia cerebral se encontra, mesmo hoje em dia, no ponto onde caiu a
patologia dos órgãos torácicos, antes de Laennec. Em lugar de tomar como ponto de partida
em geral algumas alterações estruturais dos órgãos e poder deduzir de maneira precisa a
produção de sintomas das alterações produzidas nos tecidos, a patologia cerebral vai em
geral relacionada com os conjuntos de sintomas cujo centro conhece apenas
aproximadamente e cujo mecanismo de produção lhe escapa por completo...

7º Dado que a loucura não é mais que um complexo sintomático de diferentes estados
anormais do cérebro, poderíamos perguntar se seria legítimo, de maneira geral, levar a cabo
um estudo específico das enfermidades mentais separado das outras afecções do cérebro
ou, antes, a psiquiatria não deveria entrar de nenhum modo, nem mesmo formalmente, na
patologia cerebral. Ainda que isto não me pareça impossível em um futuro mais ou menos
longínquo, qualquer tentativa que tenha como finalidade mesclar, no que se refere ao

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presente, estas duas ordens de enfermidades seria, não obstante, prematura e
absolutamente impraticável.

8º Tendo em conta que a loucura é uma enfermidade e, ainda, uma enfermidade do cérebro,
disso se deduz que esta não pode ser estudada adequadamente senão desde um ponto de
vista médico. A anatomia, a fisiologia e a patologia do sistema nervoso e toda a patologia e a
terapêutica específicas entendidas em conjunto representam os conhecimentos prévios que
mais necessita o médico alienista. Todos os estudos extramédicos sobre a loucura, e em
particular todos os que têm sido realizados por poetas e moralistas, têm muito pouco valor,
desde o ponto de vista do conhecimento dessa afecção.

WILHELM GRIESINGER (1817-1868)

Psiquiatra alemão; catedrático da Universidade de Frankfurt; autor do Tratado sobre


patologia e terapêutica das doenças mentais (1845); primeiro titular da clínica psiquiátrica do
Hospital Burghölzli, em 1860

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U NIDADE 10
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE

Em seu livro Tratado de Clínica Psiquiátrica, Isaias Paim, faz um profundo estudo sobre o
tema.

O termo neurose, segundo Pierre Janet, foi introduzido em linguagem médica em 1772, por
William Cullen (1712-1792), para designar certas afecções protonaturais do sensório e do
movimento, como parte da enfermidade primária, e aquelas que não dependem de uma
afecção local dos órgãos, senão de uma afecção geral do sistema nervoso, e daqueles
potenciais do sistema nervoso das quais depende, especialmente o sensório e o movimento.
Com estas enfermidades estabelece-se um grupo com o título de 'neuroses' ou de
'enfermidades nervosas'.

Com Charcot (1825-1893) tem início um período fecundo no estudo das neuroses, embora
tenha centralizado o seu interesse, especificamente, na investigação da histeria. Baseando-
se na observação clínica, estudou a histeria como uma enfermidade que se manifestava
através de sintomas permanentes (estigmas histéricos) e transitórios (paralisias, contraturas
e convulsões), que não se distinguem dos orgânicos por seus caracteres intrínsecos. Insistia
na significação da herança neuropática nos histéricos e destacava o papel das emoções,
considerando a enfermidade como o resultado de representações e idéias fixas e, na
interpretação dos fatos clínicos, introduziu o conceito de sugestão.

Na opinião de Iracy Doyle, a verificação mais importante de Charcot refere-se à possibilidade


de reproduzir paralisias nos pacientes histéricos, à custa da sugestão hipnóica, o que o levou
a admitir que as paralisias histéricas resultavam da idéia de paralisia, preparando assim o
caminho para o estudo psicológico das neuroses. Entretanto, considerava que, sem a

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degeneração hereditária, de que eram portadores os histéricos, não seria possível provocar
paralisias por via da hipnose.

Bernheim (1837-1919), discípulo de Charcot, chegou à conclusão de que as perturbações de


que sofriam os histéricos podiam ser provocadas por via sugestiva. Dizia: a sugestão
consiste na influência exercida por uma idéia que, apresentada ao indivíduo, é aceita por sua
mente. Desse modo, a sugestão não representa um fenômeno propriamente histérico, mas,
ao contrário, constitui uma disposição mental particular, que pertence ao acervo psicológico
do homem, e que o coloca em condições de submissão às influências exteriores que, sobre o
mesmo, possam ser exercidas.

Joseph Babinski (1857-1932) empreendeu uma revisão geral do conceito de histeria da


escola de Charcot, considerando que se deveria empregar o termo pitiático para designar o
caráter de certas manifestações, abandonando-se de vez a palavra histeria, no sentido em
que era empregada, para designar uma enfermidade especial, uma entidade mórbida
inexistente. Assim, uma manifestação anormal seria denominada pitiática quando for
reconhecida por seu caráter mórbido e tenha possibilidade de ser removida pela sugestão.
Com base neste princípio, criou o axioma: Histórico é tudo aquilo que aparece pela sugestão
e é removido pela persuasão.

Pierre Janet (1859-1946) foi quem primeiro reconheceu a importância dos fatores
psicológicos na produção de sintomas neuróticos. É o criador da expressão tensão psíquica,
para designar a capacidade que tem todo o indivíduo de elevar-se, em suas ações, até
determinado grau, dentro da hierarquia de suas tendências. Admitia a existência de condutas
de baixa tensão, em que estão em atividade as tendências inferiores, e condutas de alta
tensão, que reclamam a total atividade das tendências que ocupam um elevado posto no
quadro hierárquico. Considerava, de modo geral, que o grau de tensão psíquica ou a
elevação do nível mental de um indivíduo depende do grau hierárquico das tendências que
se encontram em ação e do grau de atividade a quem podem chegar as mais elevadas.
Concebida nestes termos, a tensão psíquica desempenha importante papel na interpretação
das condutas normais e patológicas e na compreensão dos caracteres e das enfermidades
mentais.

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Para Pierre Janet, o conceito de tensão não deve ser confundido com a noção de força ou
debilidade psíquica. A baixa da tensão psíquica, ocasionada por fadiga, sofrimentos ou
choques, determina estreitamento do campo da consciência, dando margem ao
aparecimento de sintomas neuróticos. Janet criou também o conceito de dissociação, que
está em íntima relação com o anterior, para explicar como certos elementos, uma vez
estreitado o campo da consciência, em decorrência de enfraquecimento da tensão psíquica,
isola-se do restante dos conteúdos e tomam curso autônomo, manifestando-se como fugas,
personalidades alternantes, paralisias, anestesias e outros sintomas histéricos. Foi ele o
introdutor em psiquiatria do conceito de subconsciente, afirmando que certos elementos
psíquicos, dos quais a pessoa não tem conhecimento, desempenham importante papel na
produção de sintomas histéricos, admitindo que determinados processos mentais se tornam
subconscientes, quando dissociados da corrente mental predominante no indivíduo.

O aparecimento da obra de Freud (1856-1939) representa uma etapa decisiva no processo


evolutivo do conhecimento das neuroses. Baseando-se na observação de Breuer, de que
uma enferma histérica obtinha alívio dos sintomas quando relembrava, mediante hipnose,
certa experiência traumática, esquecida, Freud admitiu a existência de uma relação entre
manifestações neuróticas e experiências passadas, principalmente aquelas de conteúdo
emocional e de intensa significação pessoal. Estabeleceu a fórmula: Os histéricos sofrem de
reminiscências. Considerou ainda que os acontecimentos de natureza sexual eram os mais
importantes na patogenia das neuroses, chegando à conclusão de que a angústia era
expressão de frustração sexual. Desenvolveu em seguida a Teoria da Libido, considerada
como uma das pedras angulares nas concepções da psicanálise. De acordo com essa teoria,
o fator mais importante na determinação do desenvolvimento pessoal é a sexualidade.

Para Freud, a neurose seria uma espécie de acordo estabelecido pelo ego entre os impulsos
do id e a instância repressora do superego. Desse modo explicava que o neurótico reprime,
como os demais, entretanto, o material reprimido retorna por outros caminhos sob a forma de
sintomas. Os sintomas seriam o estabelecimento de compromisso, representando a
satisfação substitutiva de tendências inconscientes, que continuariam a agir, embora
disfarçadas e deformadas pela censura.

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Posteriormente Kurt Schneider introduziu o conceito de reação vivencial anormal, como
tentativa para substituir as concepções anteriores sobre a neurose.

Kurt Schneider define a reação vivencial como a resposta sentimental, dotada de motivação
plena de sentido, a uma vivência, isto é, a resposta oportuna, motivada e sentimentalmente
adequada à referida vivência. Exemplifica: tristeza por algo, arrependimento por algo, medo
diante de algo, colega por algo, constituem em si mesmo os elementos de que derivam,
freqüentemente, a ação e o abster-se de agir. Este tender e este agir, este opor-se à
tendência e o abster-se, pertence também à reação vivencial.

No conceito de Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais diferem das reações normais
em virtude de sua extraordinária intensidade, ao que se deve acrescentar o fato de não
serem adequadas sem relação ao motivo, ou melhor, a anormalidade da duração. Os
critérios para delimitar as reações vivenciais anormais foram estabelecidos por Jaspers, e
podem ser assim resumidos:

1) a situação reativa não teria surgido se não tivesse ocorrido a vivência que a originou;

2) o conteúdo, o tema da situação se encontra em relação compreensível com a causa


determinante;

3) a situação, no que diz respeito ao curso temporal, depende da causa e, sobretudo, cessa
quando desaparece a causa.

A essência da reação vivencial anormal consiste no fato de ser originada por uma vivência.

Nas reações vivenciais anormais, há uma relação compreensível entre o acontecimento e a


reação desencadeada, reação essa que não ocorreria na falta do acontecimento, tudo mais
que daí decorre depende do acontecimento original, isto é, as reações estão em relação
temporal com os acontecimentos. A esse propósito, diz Jaspers: Resumimos ainda, para
concluir, os traços comuns a todas as reações verdadeiras: o motivo ocasional, que está em
relação temporal estreita com o estado reativo, é suficiente para nossa compreensão. Entre o
conteúdo deste acontecimento e o conteúdo da reação anormal, há uma relação
compreensível. Como se trata de uma reação a um acontecimento psíquico particular, a

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anomalia se apaga no decurso do tempo. Sobretudo, com a cessação da causa, a reação
anormal desaparece. Isto coloca a reação anormal em oposição a todos os fenômenos
mórbidos que nascem espontaneamente.

Como bem assinalou Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais, quando provocadas
por motivos externos, são independentes do caráter individual: são humanas, próprias de
todo homem. Isto é perfeitamente compreensível se levarmos em consideração a freqüência
de reações vivenciais anormais em épocas de turbulência social.

DEFINIÇÃO E CONCEITO

Mira e Lopez (2009) define a neurose como um curso mórbido constituído pelo conjunto de
alterações funcionais, psíquicas e somáticas, que ocasionam intenso mal-estar e sofrimento
íntimo. Aparecem motivadas, fundamentalmente, por conflitos psíquicos, que propendem a
cronificar-se e que não alteram de modo essencial à concepção do mundo, nem os meios de
adaptação habitual às exigências da vida social, sendo essencialmente curáveis pela
psicoterapia.

Siebeck considera as neuroses como manifestações mórbidas, psíquicas e somáticas, de


uma personalidade biologicamente predisposta, por cuja atitude típica o indivíduo fracassa
em seu ajustamento ao ambiente, manifestações mórbidas que têm uma psicodinâmica
especial e que são originadas com freqüência por impressões extraordinárias.

Baseando-se em princípios psicanalíticos, Laplanche e Pontalis (2008) definem a neurose


como afecção psicogênica em que os sintomas são a expressão de um conflito psíquico que
tem suas raízes na história infantil do indivíduo e constitui compromissos entre o desejo e a
defesa.

Pode-se ainda conceituar as neuroses como estados de perturbação da personalidade que


dão origem a dificuldades nas relações interpessoais, na adaptação à realidade e na
realização existencial, e que se acompanham de manifestações psíquicas e somáticas,
redutíveis, no plano psíquico, ao sofrimento que se expressa sob a forma de angústia. São

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perturbações de natureza não qualitativa, o que serve como elemento para diferencia-las das
psicoses.

Apesar da diversidade observada na definição da neurose, pode-se verificar a existência de


um amplo acordo quanto à delimitação clínica do conjunto de síndromes consideradas como
neuróticas.

ETIOPATOGENIA

As teorias etiopatogênicas da neurose constituem motivos de controvérsia, entretanto,


admite-se sem contestação que a gênese e o desenvolvimento de um quadro neurótico está
na dependência de fatores internos e externos. Entre os fatores internos significação especial
a predisposição originária, unificada no conceito de personalidade neurótica.

Os fatores externos que podem contribuir para o aparecimento de distúrbios neuróticos


consistem em situações próprias da existência humana: experiências traumáticas no curso
do desenvolvimento infantil, frustrações, medos não reconhecidos, conflitos entre tendências
fundamentais e restrições culturais, necessidade de defesa ou segurança, sentimentos de
culpa. Desse modo, verifica-se que os sintomas neuróticos são maneiras individuais de
reagir a tensões específicas: O papel que desempenham estará determinado pela natureza
da necessidade psicológica que lhe deu origem.

A neurose, diz Iracy Doyle, cria oportunidade para o enfermo escapar ao conflito, um alívio
para sua ansiedade, freqüentemente de nível simbólico. Por esta razão, o sintoma neurótico
pode representar uma indicação precisa da natureza do conflito.

Binder admite que a neurose é o resultado de um transtorno da elaboração psíquica dos


conflitos internos. As influências ambientais desfavoráveis que provocam tais conflitos
intrapsíquicos consistem, com muita freqüência, numa atmosfera familiar ou profissional
negativa, do que em simples acontecimentos isolados. De qualquer modo, costumam ser
ações combinadas extraordinárias, não cotidianas, as que produzem a neurose. Por isso, em
geral, trata-se de desenvolvimentos psicogênicos.

QUADROS CLÍNICOS

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Apesar das dificuldades inerentes à classificação das neuroses, é evidente que a descrição
de tipos clínicos se torna indispensável, mesmo que seja por necessidade de comunicação
da experiência. O mais importante, porém, é considerar que se trata apenas de tipos clínicos.
Em geral, são tipos mistos, pois o exame de um paciente neurótico revela certa
complexidade na sintomatologia, elementos de outros tipos, porém existe uma gradação no
aspecto sintomatológico, e o traço mais saliente serve como elemento para designar o
quadro. É certo que, desse modo, realizamos simplesmente uma primeira aproximação com
o problema, aproximação indispensável do ponto de vista empírico, pelo menos como meio
de comunicação de conhecimentos.

Adotando um critério empírico-fenomenológico, é possível descrever, com finalidade didática,


alguns tipos fundamentais de neuroses, tais como: a histeria, a neurose de angústia, a
neurose hipocondríaca, a neurose depressiva, a neurose fóbica e a neurose obsessiva.

HISTERIA

Binder emprega a expressão histérico não para caracterizar uma entidade patológica, e
muito menos ainda para designar determinados sintomas estas duas formas de aplicação da
palavra não chegaram a ficar estabelecidas senão que designa como histérica uma atitude
psíquica especial e que pode apresentar-se através dos sintomas os mais diversos. A atitude
histérica, diz Binder, consiste em que o indivíduo representa para as pessoas que o rodeiam
um papel determinado o mais freqüente é o de enfermo com a intenção secreta de obter
delas atenção, compaixão, amor, ajuda, o reconhecimento de direitos e vantagens materiais.
O que pretende o enfermo é falso, porque emprega esse expediente como recurso para
conseguir outro fim: obter algo do ambiente.

Diz Iracy Doyle que nem toda fuga na enfermidade pode ser considerada como manifestação
de histeria. O fenômeno histérico, ensina, aparece como um recurso psicológico
desenvolvido de modo inconsciente, ou pelo menos em grande parte inconsciente, com a
finalidade de permitir a adaptação do indivíduo a situações particularmente difíceis e
penosas. Desse modo, a manifestação histérica é economicamente útil, pois oferece solução
para o problema pessoal, reduzindo a ansiedade despertada pela situação perturbadora.

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Nessas condições, faz parte de uma série de manifestações defensivas e adaptativas de
gradações insensíveis, que começa com os planos conscientes do indivíduo normal,
passando pelas atitudes simuladas, em que a pessoa adota certas pautas de conduta
consciente e, fraudulentamente, com o intuito de resolver dificuldades interiores ou
dificuldades exteriores, chega às manifestações histéricas, em que as necessidades
interiores ou dificuldades exteriores ditam atitudes irracionais, total ou parcialmente
inconscientes.

Como foi dito anteriormente, nem toda fuga na enfermidade deve receber o diagnóstico de
histeria. Para isso, é necessário a existência de uma solicitude secreta do ambiente, que
representa a motivação da enfermidade. Nesses casos, as funções normais podem servir de
material para a apresentação histérica da enfermidade. Assim, os motivos para dramatizar,
do mesmo modo como a forma como isso se realiza, são reprimidos. Por esta razão, o
histérico não tem consciência exata do papel que está representando. Somente nos casos
em que a repressão é muito débil, superficial e fragmentária, o indivíduo adquire uma vaga
noção de que está representando algo perante o ambiente. O sofrimento do histérico
constitui o elemento que o distingue do simulador.

Diz Binder que todas as reações vivenciais podem servir de material para as manifestações
histéricas. Reações depressivas podem converter-se numa depressão teatral, com a
finalidade de provocar a compaixão de outras pessoas e, ao agir dessa maneira, mesmo em
meio aos seus lamentos tormentosos, é perfeitamente capaz de aprender as reações do
observador e de modificar, de acordo com elas, a sua tonalidade. No entanto, os tipos de
manifestações mais comuns nos histéricos são as reações primitivas e as de conversão:
paralisias, convulsões, tiques, tremor, anestesias. Essa ocorrência se deve ao fato de que,
semelhantes manifestações, em si mesmas, exercem profunda impressão no ambiente do
enfermo e, por isso, são especialmente aptas para dramatizar a enfermidade.

O grande ataque histérico, tal como foi descrito por Charcot, é, atualmente, uma raridade
diagnóstica. Pode ser observado, ainda, em um número reduzido de pessoas pertencentes a
comunidades sociais inferiores, de cultura limitada e mentalmente primitiva. O ataque se
manifesta por uma agitação desordenada, tumultuosa, acompanhada de contorsões e

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atitudes extravagantes. A crise se acompanha, na maioria das vezes, de agitação verbal,
gritos, riso incontido, pranto, lamentações e invectivas. Não se verifica alteração da lucidez,
ou acompanha-se apenas de leve obnubilação da consciência.

As paralisias e contraturas são sintomas mais freqüentes do que o grande ataque histérico.
Consistem, as primeiras, em monoplegia, paraplegia, hemiplegia, sem hipotonia muscular e
sem alteração dos reflexos. A contratura psicógena se diferencia da contratura orgânica por
sua exagerada intensidade, pela persistência dos reflexos cutâneos e pela coexistência de
anestesias localizadas.

As anestesias histéricas nunca acompanham a distribuição real do nervo: afetam em geral a


mão, o pé ou a metade do corpo. Funções sensoriais, como a visão, podem manifestar
inibições, das quais resultam: diminuição da acuidade visual, sensações de turvação da
visão, escotomas e amaurose. Os demais órgãos dos sentidos costumam ser menos
freqüentemente afetados.

É compreensível que as formas de reações primitivas e as de conversão, por seus aspectos


dramáticos, sejam colocadas a serviço das tendências histéricas, porque semelhantes
acontecimentos, por si mesmos, costumam causar grande impressão no ambiente e, por
isso, alcançam os objetivos a que se destinam.

Os psiquiatras clínicos admitem a existência de uma relação estreita entre os sintomas


histéricos e a estrutura correspondente da personalidade.

Os traços da personalidade que se encontram associados com as manifestações histéricas


são: imaturidade emocional, instabilidade afetiva e sugestibilidade exagerada. Jaspers fez
uma descrição sucinta dessa personalidade: Encontramos sempre a mesma característica
fundamental: em lugar de contentar-se com seus dotes e possibilidades pessoais, tal como
são na realidade, o histérico tem necessidade de aparentar mais do que é e de experimentar
mais do que é capaz de experimentar. Em lugar da experiência mental direta e genuína, com
o seu modo natural de expressão, seus sentimentos são artificiais, representados, afetados.
Mas, não se trata de uma simulação deliberada; graças aos seus dotes histriônicos
característicos, vive inteiramente em sua representação teatral, é imediatamente absorvido

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por ela e isto faz com que pareça genuína [...] A personalidade histérica não tem núcleo, ao
contrário, consiste unicamente em uma série de máscaras sempre cambiantes. [...] Para
convencer a si próprio de sua importância, o histérico necessita representar um papel,
fazendo-se sempre interessante, inclusive às custas de sua honra e do seu bom nome, e se
sente realmente infeliz se não o levam a sério, mesmo que seja por alguns instantes, pois, de
vez em quando, subitamente, se dá conta de sua própria vacuidade.

No meio hospitalar, as manifestações histéricas mais chamativas são observadas em débeis


mentais, primitivos e infantis: Compreende-se que essas pessoas, que não se bastam a si
mesmas, apelem com insuficiente autocrítica e com egoísmo ingênuo, para a representação
histérica de enfermidade.

NEUROSE DE ANGÚSTIA

Sob esta denominação, Freud descreveu um quadro neurótico cuja característica consiste na
predominância da angústia: expectativa ansiosa, acessos de angústia ou manifestações
corporais da ansiedade.

A sintomatologia é extremamente variável e está centralizada na angústia, estado que se


caracteriza pelo sentimento de um perigo ameaçador ou pela expectativa de uma catástrofe
imaginária, que ocasiona sofrimento físico e psíquico.

Os estados de angústia podem seguir com uma gradação desde o simples mal-estar
indefinido, acompanhado de idéias pessimistas, estados de inquietação, de ansiedade e,
finalmente, grandes manifestações de angústia aterrorizante.

Os sintomas corolários do quadro da neurose de angústia consistem em: palpitações, falta


de ar, inapetência, sensação de fome constante ou de plenitude gástrica permanente,
obstipação, crises diarréicas, tremores, fraqueza muscular, câimbras, dormência localizada,
cansaço fácil, fadiga visual, embaçamento da vista e zumbidos.

Os sintomas psíquicos se manifestam como limitação do rendimento intelectual, dificuldade


da concentração, inquietude aparente ou interior, às vezes depressão ou irritabilidade.

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Sob esse fundo de alterações psíquicas e corporais surgem, periodicamente, crises agudas
de ansiedade, acompanhadas de sofrimento indescritível e impressão de perigo iminente. Os
acessos de angústia podem sobrevir sem nenhum motivo exterior desencadeante ou, o que
é mais comum, por ocasião de um acontecimento eventual. As crises agudas se
acompanham de taquicardia, palidez, sudorese, resfriamento das extremidades e lassidão.
Após a crise o enfermo sente-se extremamente fatigado. O medo da repetição das crises de
ansiedade constitui uma fonte permanente de sofrimento.

Nos casos em que as manifestações corporais da crise de angústia se localizam na área


cardíaca, observa-se, além das intensas palpitações, dispnéia e aceleração do pulso, dor na
região cardíaca, simulando uma crise de angor pectoris.

A personalidade dos indivíduos que apresentam neurose de angústia tem como traços
fundamentais a instabilidade emocional, preocupações excessivas e mais ou menos
infundadas, grande insegurança e tendência ao pessimismo.

NEUROSE FÓBICA

No quadro da neurose fóbica verifica-se que a angústia difusa, observada na neurose de


angústia, se centraliza em torno de certas situações sumamente específicas, configurando
verdadeiros estados de angústia condicionada: medo da escuridão, de espaços amplos, de
espaços fechados ou de lugares elevados. Na opinião de Franz Alexander, nesses casos, o
paciente retorna a certos medos da primeira infância, desde logo comuns e normais na
criança, tais como medo às pessoas estranhas, à escuridão, às quedas, ao estar só em uma
rua cheia de pessoas.

Os psicanalistas, que dedicaram atenção especial à neurose fóbica, consideram que a fobia
representa o substituto de um medo real aos problemas comuns da vida, aos quais o
paciente não tem condições de enfrentar. Os mais comuns entre os problemas que o
paciente trata de evitar são os vinculados com a maturidade sexual, as responsabilidades do
casamento e da paternidade, e às tarefas ocupacionais que requerem decisões

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independentes, competência, e todas as complexas relações interpessoais que integram a
existência do adulto.

Em alguns casos a angústia fóbica permanece centralizada desde o início em um só objeto,


mas é possível observar casos em que ela se propaga de maneira progressiva,
determinando maior restrição à liberdade do enfermo. Nos casos mais acentuados, é fácil
verificar que a vida social do paciente, vai progressivamente, se tornando cada vez mais
estreita, até que, finalmente, fica limitada a uma existência puramente vegetativa dentro de
sua própria residência. Esta fase final revela de modo claro a tendência inconsciente para a
dependência infantil, uma fuga de todos os perigos e esforços da existência do adulto.

O problema etiológico, segundo Franz Alexander, consiste em estabelecer a causa da


reativação regressiva dos medos infantis.

NEUROSE HIPOCONDRÍACA

Apesar de alguns autores considerarem necessário abandonar o conceito de hipocondria, a


prática médica revela casos em que as queixas hipocondríacas dominam inteiramente o
quadro mórbido. Desse modo, a neurose hipocondríaca corresponde a uma realidade clínica,
especialmente pela uniformidade do sintoma.

A nota dominante no quadro da neurose hipocondríaca consiste nas preocupações


excessivas e angustiosas do enfermo relativas a doenças de que se considera portador. As
preocupações se referem a diferentes enfermidades, porém de preferência às mais temidas:
câncer, tuberculose, enfarte, sífilis, lepra e loucura. Esses temores hipocondríacos não
permanecem limitados apenas à idéia de padecer a enfermidade temida, mas se transfere de
uma forma profundamente inquietante à observação do funcionamento de órgãos internos. A
atenção do enfermo se concentra no funcionamento de seus órgãos em geral, ou em um
deles, com prejuízo, nos casos graves, do que normalmente deveria interessar-lhe, e isto
explica o seu ostensível egoísmo (H. Aubin).

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Alguns autores admitem que na base da neurose hipocondríaca existe uma disposição
constitucional especial, o que conduz o indivíduo à auto-observação e à interpretações
patológicas. Outros, como Binder, consideram as reações hipocondríacas como a
conseqüência de sentimentos de culpa por enfermidades venéreas adquiridas, por aborto
provocado e, sobretudo, pelo onanismo excessivo, especialmente depois da leitura de artigos
explicativos, que enumeram as enfermidades que o mesmo pode originar.

As idéias hipocondríacas, pelo fato de expressarem um temor invencível e sem fundamento,


estão muito próximas das fobias, marcando, assim, a transição entre a neurose fóbica e a
neurose obsessiva, caracterizada pelo aparecimento de pensamentos que se impõem à
consciência e dominam sem motivo.

Franz Alexander considera que as preocupações angustiosas pelo próprio corpo e o temor
de enfermidade constituem manifestações de uma profunda necessidade de sofrimento que
dimana de sentimentos de culpa inconsciente.

São predispostos à neurose hipocondríaca as pessoas muito impressionáveis, receiosas


e/ou com debilidade mental.

NEUROSE DEPRESSIVA

A expressão neurose depressiva é empregada para designar os quadros depressivos


produzidos por conflitos psíquicos. Como é sabido, Kurt Schneider fala de reação vivencial
anormal quando há desproporção entre a intensidade, duração e colorido dos sintomas e os
motivos desencadeantes. Na maior parte dos casos, as manifestações depressivas surgem
após um acontecimento de grande significação emocional. Servem de exemplo: o
rompimento de noivado, o desquite, a perda de parente próximo, a falência ou o fracasso na
vida social. A resposta sentimental mantém uma relação compreensível com o
acontecimento. A anormalidade da reação se encontra, precisamente, na intensidade e
duração dos sintomas depressivos.

Os sintomas da neurose depressiva consistem em tristeza, angústia, desânimo, desinteresse


pela vida, crises de choro e insônia. São freqüentes as idéias, as tentativas e mesmo a

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consumação do suicídio. Na depressão neurótica não se observam sintomas corporais
acentuados, tais como anorexia, emagrecimento, constipação, impotência sexual ou frigidez,
bem assim as crises de excitação ansiosa.

Laughlin (1956) destacou os traços característicos das personalidades predispostas a reagir


depressivamente:

a) trata-se de indivíduos circunspectos, taciturnos, submissos, sem senso de humor,


estudiosos e dignos de confiança;

b) revelam grande vulnerabilidade à rejeição, ao desapontamento e à frustração;

c) esses traços indicam que o indivíduo nega, reprime e esconde de si mesmo todos os
sentimentos de ódio e hostilidade. Por isso, revela tendência a concordar sempre, a ser
conciliador, com superpolidez, subserviência e obsequiosidade.

Em nossa época, verifica-se a diminuição progressiva das manifestações histéricas,


enquanto aumentam assustadoramente os casos de neurose depressiva.

NEUROSE OBSESSIVA

A neurose obsessiva corresponde, por sua sintomatologia, ao conceito primitivo de


psicastenia, de Janet. O seu fundamento etiopatogênico é a personalidade neurótica do tipo
compulsivo. Segundo Ernest Jones, estas personalidades têm os seguintes traços: as
personalidades compulsivas possuem ou podem possuir, como qualidades positivas
(favoráveis) o individualismo, a perseverança, o espírito de ordem e a capacidade de
organização e sistematização, a minuciosidade e precisão na realização de seus trabalhos, o
bom senso e uma especial habilidade manual. Mas em oposição a esses traços, revelam
também, mais ou menos desenvolvido, um caráter extremamente difícil: são mal-humorados,
suscetíveis, teimosos, com tendência a molestar aos demais e a martirizar-se a si próprios;
são predispostos à hipocondria, à tirania, e se mostram muito irregulares em seu rendimento
exterior.

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Segundo Freud, as personalidades compulsivas têm por princípio deixarem tudo para o
último momento e uma vez iniciado um trabalho qualquer, não o abandonam até a sua
terminação, revelando desse modo uma energia, obstinação e perseverança em completa
oposição com a suposta debilidade ou falta de tensão psíquica, que lhes era atribuída por
Janet.

O quadro clínico está caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos e atos


compulsivos.

Pensamentos obsessivos são aqueles que se impõem à consciência do enfermo e dos quais
não se pode livrar pelo esforço da vontade. A impossibilidade de reprimir os pensamentos
obsessivos não pode ser explicada pelos motivos ordinários. Störring admite que, nesse
caso, há perda da liberdade espiritual, uma impossibilidade de afastar os pensamentos
?próprios? indesejáveis, que se impõem de modo poderoso à consciência do paciente.

As variedades clínicas da obsessão podem ser multiplicadas ao infinito, de acordo com os


diferentes aspectos do sintoma, seu objeto ou tema, sua intensidade e duração, destacando-
se como os mais freqüentes: o de sacrilégio, o de crime, o de vergonha de si mesmo, o de
vergonha do próprio corpo e o de enfermidade.

O pensamento obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode cristalizar num
estado de dúvida permanente. O estado afetivo permanente do paciente é de apreensão e
ansiedade.

A existência do pensamento obsessivo no campo da consciência, apesar do esforço


desenvolvido pelo enfermo para afastá-lo, dá como resultado os chamados cerimoniais
obsessivos. Esses cerimoniais consistem na execução de uma infinidade de atos, realizados
de maneira compulsiva. Os atos podem ser simples ou complicados, mas obedecem sempre
a uma necessidade de alívio momentâneo para o estado de angústia intensa ou flutuante
experimentado pelo paciente.

FREQUÊNCIA

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Não se dispõe de dados estatísticos sobre a incidência das neuroses, no entanto, os
especialistas consideram-nas como transtornos psiquiátricos mais freqüentes em nossa
época. Os psiquiatras americanos admitem que 50% dos pacientes que procuram os
consultórios de clínica médica são portadores de distúrbios neuróticos. Provavelmente,
nessa cifra não se incluem os casos psicossomáticos, nem fazem referência ao grande
número de ansiosos, depressivos, hipocondríacos, fóbicos e obsessivos.

Em relação à freqüência relativa, embora não se disponha de dados seguros, tudo leva a
admitir que a histeria, tão difundida em épocas anteriores, especialmente em suas
manifestações espetaculares, esteja em franca decadência. Somente nas comunidades
sociais inferiores é que se pode observar ainda casos de ataques histéricos à maneira como
se verificava na época de Charcot. Os conflitos relacionados a desejos inconscientes
manifestam-se, atualmente, através de quadros psicossomáticos. Na medida em que diminui
a freqüência das reações histéricas, aumentam de maneira progressiva os casos de neurose
depressiva.

A investigação das neuroses em relação ao sexo revela que a histeria, as neuroses


hipocondríaca e depressiva são mais comuns no sexo feminino, enquanto as neuroses fóbica
e obsessiva têm maior incidência no sexo masculino.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de um caso de neurose deve basear-se numa impressão geral do quadro


clínico, tornando-se como princípio para a diferenciação dos diversos tipos o sintoma
psíquico dominante: O traço mais saliente serve como elemento para designar o quadro.

O mais importante é saber distinguir certos estados neuróticos das manifestações


aparentemente neuróticas que podem ser observadas no início de afecções orgânicas do
sistema nervoso central ou no grupo das psicoses endógenas. É demasiadamente conhecido
que a forma inicial da aterosclerose encefálica, assim como as manifestações prodômicas de
paralisia geral, são quase sempre integradas por sintomas de tipo neurótico. No primeiro

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caso, a idade do enfermo e alguns sinais de aterosclerose periférica podem contribuir para o
esclarecimento do diagnóstico. Do mesmo modo, o exame neurológico e a positividade das
reações do liquor decidem o diagnóstico de neurolues.

Convém assinalar, ainda, a possibilidade do início reacional neurótico de verdadeiros


processos esquizofrênicos. O critério prático para o diagnóstico diferencial deve ser, neste
caso, o de investigar os sintomas de primeira ordem, entre os quais se destacam: a
sonorização do pensamento, vozes dialogadas, vivência de influência corporal, roubo do
pensamento, percepção delirante. Ali onde estas vivências se achem presentes e não se
encontrem enfermidades corporais básicas, fala-se clinicamente de esquizofrenia. Além
disso, nas neuroses os sintomas são compreensíveis, enquanto na esquizofrenia não
existem fatores etiológicos provenientes do meio exterior.

Os principais sintomas dos quadros neuróticos consistem em angústia, fobias, obsessões,


idéias hipocondríacas e depressivas, conversão e certas inibições, como, por exemplo, a
impotência psíquica. A angústia se caracteriza pela presença do sentimento da eminência de
um perigo indeterminado. Esse sentimento se acompanha da elaboração de temas trágicos,
que ampliam as representações de um modo desproporcionado. A angústia é tensa,
expectante e tende a perturbar as funções orgânicas, expressando-se através de uma série
de distúrbios neurovegetativos: constrição respiratória, dispnéia, opressão cardíaca
acompanhada de taquicardia e palpitações, lentidão ou aceleração do pulso, palidez,
relaxamento da musculatura facial, espasmos em órgãos diversos, transpiração nas mãos,
nos pés e na face.

A angústia é o elemento fundamental das neuroses: Os demais sintomas ou traços


neuróticos devem ser considerados como transformação ou disfarces da angústia; por
mecanismos inconscientes, o ego é defendido contra a irrupção ou permanência da angústia.

As fobias são manifestações de medo patológico. Aparecem, especificamente, diante de


certos objetos ou situações: animais, espaços amplos, recintos fechados, multidões,
elevadores. As obsessões se caracterizam pela invasão da consciência por palavras, idéias
e representações, independentemente da vontade, e que são consideradas como estranhas

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e absurdas. São infinitas as variedades clínicas das obsessões, observando-se com mais
freqüência as de sacrilégio, de crime, de vergonha de si mesmo, de vergonha do próprio
corpo e de enfermidade.

Os esforços despendidos pelo paciente, no sentido de afastar os pensamentos e as imagens


obsessivas da consciência são improdutivos. Os meios empregados para se libertar desses
pensamentos são ineficazes e, quando muito podem determinar um alívio superficial e
passageiro. Os fenômenos causam desagrado, desprezar e dão origem ao sentimento de
perda da liberdade espiritual.

A conversão consiste na transformação de um conflito psíquico em sintoma somático. A


amaurose histérica, por exemplo, desenvolve-se com integridade do meio ocular e da retina,
e conservação do reflexo fotomotor. Admite-se que os sintomas conversivos consistem na
expressão deformada de exigências instintivas reprimidas, sendo que o tipo de deformação é
determinado pelos acontecimentos do passado que deram lugar à repressão. Por esse
mecanismo podem originar-se paralisias, anestesias regionais, manifestações convulsivas,
dores e espasmos viscerais.

É precisamente a predominância de determinados sintomas que torna possível descrever,


com relativa autonomia, os quadros clínicos das neuroses: a histeria, as neuroses de
angústia, hipocondríaca, depressiva, fóbica e obsessiva, onde se observam processos de
simbolização. A neurastenia, pelo fato de ser conceituada, atualmente, como uma
perturbação adquirida, em virtude de suas causas serem de natureza corporal, vai aos
poucos sendo afastada do grupo das neuroses.

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Atividade 1

“Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos
anormais de graves consequências para o país”.

Qual o seu ponto de vista a respeito da afirmação acima? Justifique sua resposta.

Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES.

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Fórum I

A psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são considerados dois
grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram mais à atitude da
sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos dessa ciência.
O primeiro com a postura de Philippe Pinel, estudioso que abordou as doenças mentais
como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social, em oposição às
opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. O segundo, quando tendências
agrupadas sob a denominação genérica de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social)
passaram a recomendar o fim dos manicômios e a integração do psicopata à sociedade,
mediante técnicas específicas.

No seu ponto de vista, o que significa “momentos que se relacionaram mais à atitude
da sociedade em relação ao psicopata”.

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U NIDADE 11
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE

A expressão loucura moral foi introduzida na linguagem médica por Prichard, em 1835, para
designar o comportamento de certos indivíduos que apresentavam desarmonia constitucional
da afetividade e da vontade, com integridade da capacidade de julgamento, da crítica e do
pensar. A expressão foi amplamente difundida e, até 1927, era reconhecida em caráter oficial
pela jurisprudência inglesa.

Em 1888, J. L. Koch empregou o termo inferioridade psicopática, para definir certas variantes
do caráter, em sua maioria congênitas e, em uma pequena parte, como conseqüência de
enfermidades cerebrais. Kraepelin, por sua vez, distinguiu personalidades psicopáticas e
estados psicopáticos constitucionais, admitindo que os indivíduos pertencentes aos dois
grupos eram portadores de uma anomalia psíquica geral, mas advertiu que não se trata de
um processo crônico. Na última edição do "Tratado" descreve tipos de conduta psicopática,
destacando alguns sintomas formais, como a impulsividade, a labilidade afetiva e a
agressividade.

CONCEITO DE PERSONALIDADE

A personalidade pode ser definida como o conjunto de qualidades psíquicas e morais do


indivíduo, isto é, a soma total de seus conhecimentos, capacidades, propensões, hábitos e
reações afetivas, que se exteriorizam através da conduta no meio social. A personalidade do
indivíduo deve ser compreendida em relação com as influências ambientais – condições

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econômicas, meios físico e social, fatores culturais. A personalidade é o resultado de todas
as influências ambientais sobre o indivíduo e a sua resposta conseqüente.

Nela estão não somente as bases físicas, biológicas da individualidade, como as múltiplas
influências econômicas, sociais e culturais.

Kurt Schneider define a personalidade como o conjunto dos sentimentos e valorizações, das
suas tendências e volições. Exclui deste conceito a inteligência com a suas faculdades de
juízo, lógica e memória, e os sentimentos e tendências corporais ou vitais, mas, é claro, tem
grande significação o jogo recíproco e íntimo destas partes da individualidade humana, pois
a inteligência é a condição de desenvolvimento da personalidade.

Jaspers define-a como "a maneira particular como um indivíduo manifesta as tendências e
sentimentos e a forma como é impressionado, como reage às situações que se deparam".

No estudo da personalidade devem ser considerados os três aspectos: constitucional


(hereditário), temperamental (fisiológico) e caracterológico (psicossocial). A constituição é a
base hereditária da personalidade. O temperamento é a fase fisiológica-endócrina e o caráter
a face psicológica da personalidade.

PERSONALIDADE ANORMAL - As personalidades anormais são, para Kurt Schneider, as


variantes, os desvios do plano médio - para baixo ou para cima, para mais ou para menos -
da personalidade humana. Schneider adverte que o termo "anormal" é empregado com dois
significados diferentes, o estatístico e o ideal, e que somente no primeiro sentido é que a
ciência pode aplicá-lo. Das personalidades anormais separa como personalidades
psicopáticas aquelas que sofrem por sua anormalidade ou que por ela própria fazem sofrer a
sociedade. Esta delimitação em dois grupos, os que sofrem e os que fazem sofrer, é em
todos os sentidos arbitrária e os seus limites imprecisos entre si e com as personalidades
anormais, mas baseia-se em razões práticas, pois é destas que terá de se ocupar o
psiquiatra.

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PERSONALIDADE PSICOPÁTICA - os termos psicopatia, psicopata e personalidade
psicopática são empregados como sinônimos. Bleuler definiu a psicopatia como um conceito
unitário, que compreende os desvios psíquicos da normalidade, não sendo possível, em sua
opinião, delimita-los de outra maneira. Afirma que "é sempre incorreto dizer que os
psicopatas têm esta ou aquela qualidade", pois, segundo a natureza de sua exteriorização
sintomatológica, não pode esta ter nenhuma limitação determinada, nem pode haver sintoma
comum a todos os estados. Apesar do caráter individual da sintomatologia, predominam
traços essenciais, o que permite a descrição de tipos de personalidades psicopáticas,
embora existam, entre os mesmos, variações, formas de transição e combinações. Apesar
de ser impossível descrever quadros bem delimitados, não se duvida mais da existências de
pessoas que manifestam anomalias do comportamento, sendo muitas vezes necessário
afasta-las do convívio social. Esse traço característico permitiu a Verbeek afirmar que a
alteração fundamental do psicopata consiste numa falha do ser-em-o-mundo, em
conseqüência de defeituosa disposição hereditária para a comunicação interpessoal.

G. E. Störring pretendeu dar uma definição psicológica das personalidades psicopáticas,


considerando que se devia falar em disposições psicopáticas, "quando os desvios, de origem
disposicional, da vida instintiva, dos sentimentos, dos afetos e da vontade se tornam tão
intensos que dissolvem a estrutura própria do caráter e da personalidade, assim como sua
ordem inferior, sua firmeza, sua unidade e sua totalidade".

Já Kurt Schneider procurou dar uma definição mais de natureza sociológica, admitindo que
as personalidades psicopáticas são aquelas que sofrem por sua anormalidade ou que por ela
própria fazem sofrer a sociedade.

As personalidades psicopáticas sempre despertaram grande interesse clínico e social, em


virtude da freqüente incidência criminal dos seus portadores e das dificuldades que, muitas
vezes, surgem para a solução dos problemas de natureza forense. As maiores dificuldades
incidem, porém, em torno da sistemática, delimitação clínica e problemas etiopatogênicos. O
seu conceito esteve, durante muitos anos, ligado à doutrina das "degenerações psíquicas".
Os fatores hereditários desempenham importante papel em sua etiologia, bem assim o

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alcoolismo paterno, a lues, doenças infecciosas da genitora no período da gestação,
traumatismos obstétricos, encefalopatias infantis, disendocrinias, encefalite e até mesmo os
traumatismos crânio-encefálicos.

PROBLEMA DAS BASES CORPORAIS DAS PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS - Kurt


Schneider, ao estudar o problema das bases corporais ou orgânicas das personalidades
psicopáticas, considera que esta questão, em sua essência, é idêntica ao problema das
bases corporais da personalidade em geral. Para esclarerimento desse problema, devem ser
analisados três aspectos principais:

a) Ponto de vista localizatório cerebral - Vários autores nacionais tentaram encontrar as


bases corporais das personalidades psicopáticas ao estudar as alterações do
comportamento de indivíduos jovens que haviam sofrido encefalite epidêmica. Esses estudos
foram iniciados por Reichardt, na Alemanha, que procurou colocar o núcleo da personalidade
no tronco cerebral. Os casos estudados aqui e no estrangeiro mostraram que a encefalite
epidêmica determina graves alterações do caráter, do temperamento e da conduta no meio
social, que seriam o resultado de lesões de estruturas subcorticais. Thiele, que estudou os
"estados residuais consecutivos à encefalite epidêmica", assinalou que o mais comum é a
"tendência à descarga sem finalidade e sem direção, amorfa, inteiramente primitiva, que é
descrita, de acordo com a sua representação psíquica, como inquietação e tensão sobre o
objeto, ou por sua interferência com atos intencionais e dirigidos, se transforma em ação de
conteúdo determinado". O próprio Thiele procurou estabelecer diferenciação entre esses
estados e aas psicopatias. Segundo Homburger, esses casos se diferenciam dos
verdadeiros psicopatas porque neles se nota uma desinibição dos mecanismos motores
subcorticais, em conseqüência de lesão dos gânglios subcorticais. Desse modo, verifica-se
que a atividade motora dos pós-encefalíticos revela a regressão à motilidade impulsiva e
primitiva da primeira infância. Os roubos, as agressões e as destruições correspondem ao
fundo impulsivo motor.

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Como conseqüência desses estudos, alguns autores americanos pretenderam encontrar, no
aumento progressivo das personalidades psicopáticas, formas pós-encefalíticas mitigadas,
que passaram despercebidas, significando esse ponto de vista uma explicação da psicopatia
pela interferência de fatores patológicos exógenos. A experiência de muitos psiquiatras
indica, não resta a menor dúvida, que existem alterações do caráter, estabelecidas de
maneira definitiva, após a remissão de processos encefálicos.

Dedicaram trabalhos ao assunto, em nosso meio psiquiátrico, Ribeiro de Souza (1928),


Aluízio Câmara (1934), Cincinato Magalhães de Freitas (1934), Heitor Carrilho (1934), Aníbal
Silveira (1938), André Teixeira Lima (1936-1942), Joy Arruda (1943) e José de Lima (1947).

Em tese de docência, sobre a "Síndrome perversa pós-encefálica", apresentada à Faculdade


de Medicina da Bahia, José de Lima, apoiado em quatro observações pessoais, estuda os
seus aspectos psiquiátricos e considera que o quadro clínico da mesma se superpõe ao das
personalidades psicopáticas perversas.

Do ponto de vista descritivo, os perversos pós-encefalíticos se caracterizam pela "inversão


da fórmula afetiva-ética". Isto determina uma gama extraordinária da inversão da fórmula
aludida, desde a inversão total que se encontra nas formas graves, até as inversões
discretas, apagadas, mas capazes de determinar alterações do comportamento no meio
social. Os psicopatas pós-encefalíticos revelam tendências destruidoras: furtam, ocasionam
desfalques, embriagam-se, entregam-se à vagabundagem e às maiores dissipações e, não
raro, decaem aos últimos degraus das perversões sexuais. Falta-lhes a noção de
solidariedade humana, mostrando-se insensíveis aos prêmios e castigos: "Nem a doçura
nem a violência lhe modifica o caráter ingovernável, sempre prestes à revolta, e muitas vezes
os familiares são obrigados a coloca-los em estabelecimento especial de repressão", medida
que não exerce sobre os mesmos quaisquer modificação em sentido favorável.

Nos casos estudados por José de Lima não existiam distúrbios na esfera intelectual:
raciocínio lógico, memória íntegra, boa capacidade de compreensão e até de invenção e de
crítica. Na maior parte dos casos a síndrome é de tal modo manifesta que os diagnóstico se

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impõe desde os primeiros contatos, pois a sintomatologia surge, de quando em quando, nas
atividades verbais e práxicas dos pacientes.

Refere José de Lima que a síndrome perversa, tal como é descrita pelos autores, se
encontra nos estados mórbidos pós-encefalíticos, constituindo a síndrome perversa
adquirida, como ainda nas personalidades psicopáticas perversas, representando a síndrome
perversa diagnóstico constitucional. Nos dois casos, a superposição dos quadros clínicos é
absoluta. A distinção dos perversos pós-encefalíticos com os psicopatas frios de ânimo, de
Kurt Schneider, só é possível através da anamnese. Nos primeiros, verifica-se a ausência de
fatores genético-constitucionais que possam ser responsabilizados; nasceram sãos e se
desenvolveram normalmente, sem apresentarem desajustamento familiar e social, própria
das personalidades psicopáticas desde os primeiros anos de vida.

b) Ponto de vista constitucional e hereditário - O conceito de constituição psicopática com


que Ziehen qualificava essas perturbações implicava num sentido de herança, de algo que
era inato no indivíduo. Posteriormente se foi compreendendo que, se o fator hereditário tem
um papel importante na gênese das personalidades psicopáticas, nem tudo depende deste
fator, que representa somente o fundo sobre o qual se projeta a personalidade global. O fator
hereditário só pode ser admitido como herança de predisposição, compreendendo esta como
determinadas particularidades anatomofisiológicas. As predisposições são sempre variáveis,
isto é, dadas as mesmas predisposições, porém em diferentes meios sociais, com diferentes
meios de educação e de instrução, o resultado do desenvolvimento da personalidade será
completamente distinto. A personalidade se forma no curso dos anos, deforma-se, sofre
influências do ambiente; cada acontecimento, cada emoção, cada choque com o exterior
deixa no indivíduo sua marca e influi em seu futuro comportamento. O psicopata vai,
portanto, criando-se a si mesmo; parte de suas anomalias são devidas à predisposição
constitucional, no entanto, grande parte é o resultado das condições econômicas, do meio
social, da educação, do gênero de vida. Pelo processo da educação e da instrução,
conscientemente dirigido e submetido a determinados fins, exigidos pela sociedade,
desenvolve-se a atividade do indivíduo, realiza-se o desenvolvimento de sua psique e a

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formação de sua personalidade. Pode-se desse modo admitir que a educação bem dirigida é
capaz de modificar a predisposição psicopática. A influência do meio se evidencia ao
observar como difere a freqüência dos diversos tipos de personalidades psicopáticas nas
diferentes classes sociais.

c) Ponto de vista psicológico - A escola psicodinâmica americana e a psicologia genética de


Wallon pretendem explicar as alterações da personalidade pelo exame retrospectivo dos
primeiros períodos da vida e pela ação das vivências ou experiências dos primeiros anos de
existência, mas parece bastante unilateral este ponto de vista e talvez por isso não é aceito
pelos psiquiatras. Para a psicanálise o transtorno básico na personalidade psicopática
consiste no desvio da linha normal do desenvolvimento psíquico, desvio que teve lugar na
mais tenra infância. Esse desvio é concebido em termos de fixação da libido na fase oral ou
na fase anal, precoce ou tardia. Na realidade, o próprio Freud, na formulação de sua teoria,
previu as possibilidades dos efeitos de uma constituição hereditária, capazes de modificar os
fatos subseqüentes, no entanto, ele próprio e os seus seguidores não foram conseqüentes
nessa direção, passando a admitir que a perturbação inicial do desenvolvimento como o
estado posterior psicopático consistem numa resposta a fatores psicológicos ambientais. As
provas apresentadas em apoio dessa teoria são retiradas das entrevistas analíticas e, por
isso mesmo, sem nenhum valor para o conhecimento real da perturbação.

CLASSIFICAÇÃO - As classificações propostas e o número de tipos isolados varia entre as


diversas escolas psiquiátricas, o que denota insegurança no estudo do problema das
personalidades psicopáticas. De modo geral, cada autor, ao estudar o assunto, descreve um
número limitado de formas de psicopatias, que deveriam constituir individualidades clínicas
bem definidas. Kraepelin, por exemplo, na impossibilidade de classificar as personalidades
psicopáticas, descreveu os tipos instáveis, irritáveis, impulsivos, excêntricos, mentirosos,
disputadores e anti-sociais. Bleuler engloba sob a denominação genética de psicopatias os
instáveis, os portadores de excitabilidade patológica, de impulsos especiais, os
extravagantes, embusteiros e tartufos, pseudo-litigantes, os desvios éticos constitucionais, o

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desvio do instinto sexual e o nervosismo. Grühle enumera os psicopatas tórpido, erético,
epileptóide, paranóide, histeróide e inclui, também, um vagabundo nato e uma prostituta
congênita. Kurt Schneider faz uma classificação não sistemática das personalidades
psicopáticas, evitando as denominações que pertençam à sociologia, à criminologia e à ética.
Por isso, não fala de "inconsistentes", de "mentirosos e estafadores", empregando apenas
denominações psicológicas e evitando qualquer sentido de valorização.

O que é necessário admitir é que essas classificações diferem entre si apenas em seus
aspectos formais, não existindo entre as mesmas diferenças de natureza conceptual.
Indiscutivelmente, nenhuma classificação pode ser completa, no sentido de abranger todos
os tipos presumíveis de personalidades psicopáticas, consistindo a descrição do quadro
sintomatológico verdadeiros cortes transversais no curso da vida tergiversante de
determinado psicopata.

7.1 - Tipos de Personalidades Psicopáticas

1º) PSICOPATAS HIPERTÍMICOS - Recebem esta designação, segundo Kurt Schneider, os


psicopatas que se caracterizam por humor alegre, temperamento vivo e certa atividade. Não
raramente são bondosos, dispostos a ajudar; muitas vezes são eficientes, capazes de
rendimento, porém não mostram firmeza nem profundidade, não inspiram confiança, sem
autocrítica, descuidados, facilmente influenciáveis. Revelam um ingênuo sentimento de
suficiência e se mostram otimistas, orientados para o imediato e o real. A conduta é com
freqüência informal, sem sentido das distâncias e demasiadamente livre. Especialmente os
hipertímicos jovens, em virtude de sua inquietação e vivacidade, esquecem as
conveniências, não levam em conta o ambiente que os rodeia nem a posição que ocupam e
praticam assim, perante a sociedade, muitas falhas e deslises. Mudam com freqüência de
ambiente e de emprego, destacando-se pelos seus traços sociais de instabilidade e vez por
outra praticam atos delituosos. Entre os jovens instáveis em situação de abandono social se
encontram muitos psicopatas hipertímicos. A combinação com o alcoolismo e com distúrbios
na esfera sexual é de observação freqüente.

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Exemplo: Antenor, com 30 anos de idade, de cor branca, solteiro, mecânico, residente no
Distrito Federal. Foi internado na Clínica de Repouso do Planalto no dia 26-12-73.
Posteriormente, o Diretor da Clínica recebeu, do Coordenador Regional Policial, um ofício
datado de 28-12-73, comunicando que o referido paciente somente poderia sair do Hospital
com ordem expressa do Juiz de Direito da 1ª Vara de Itiuiutaba, em virtude de tratar-se de
preso com prisão preventiva decretada pela referida autoridade. Convocada a família para
prestar informações a genitora esclareceu ao médico que começou a notar alterações no
comportamento do filho desde a idade de 14 anos. Na época chegou em casa com uma
"Jardineira" (Camionete), que havia comprado sem ordem paterna. Admitiu a informante que,
já naquela época, propalava-se entre as pessoas conhecidas, que Antenor era um menino
perturbado, mas ela e o esposo relutavam em aceitar a realidade dos fatos. No entanto, ela
própria reconhece, que, desde criança, ele sempre foi muito inquieto, brigando pelas coisas
insignificantes e, algumas vezes, era capaz de passar horas seguidas chorando de maneira
espalhafatosa.

A partir do fato relatado acima, a compra da "Jardineira", os pais começaram a observar que
ele fazia "trapalhadas" com extraordinária freqüência: comprava objetos caros sem dispor de
recursos para o pagamento; passava cheques sem fundo, utilizando o talão de cheques do
genitor; praticava agressões sexuais a moças; ficava noivo de várias moças ao mesmo
tempo e em seguida as abandonava sem explicações; brigava sem motivo; praticava
pequenos furtos, mentia de maneira excessiva. Quando ingeria pequena dose de álcool,
perdia por completo o controle sobre si mesmo, tornando-se altamente agressivo e violento,
nesse estado, tentou algumas vezes matar o irmão mais novo e até mesmo o genitor.
Sempre gostou de exibir atitudes de grandeza, procurando apresentar-se como pessoa
importante e propalando que descende de família muito rica. Nos últimos tempos era
proprietário de uma oficina mecânica, onde trabalhava em consertos de automóveis,
profissão que aprendeu com muita facilidade e para a qual demonstrou o maior interesse.
Apesar de revelar dedicação pelo trabalho, mostra-se desorganizado, desleixado, destruindo
todos os seus pertences em pouco tempo.

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A informante esclareceu ao médico examinador que, no ano passado (1973), a família foi
informada que ele, Antenor, depois de sair de uma churrascaria em companhia de duas
moças (uma de 31 e outra de 38 anos de idade), levou-as para sua oficina mecânica e ali
teria estuprado a ambas. As moças, de família importante na cidade de Ituiutaba, onde
estava residindo, deram queixa à Polícia. Instaurado inquérito, o paciente foi preso,
permanecendo na cadeia local durante sete dias, aproximadamente. Do Processo Policial
consta o depoimento das moças, tomado separadamente e em dias diferentes e sem
nenhuma discordância, e Laudos Médicos Legais, do exame pericial procedido nas duas
moças.

Sonia, de 38 anos de idade, declarou ao Delegado que havia começado a flertar com
Antenor há mais ou menos quinze dias. No sábado último, ele a convidou para jantar na
"Churrascaria Assis". Como ela não podia ir sozinha, propôs convidar uma amiga, no que ele
concordou, acrescentando que desejava fazer boas amizades na cidade. Foram à casa de
Marlene, que aceitou o convite, e assim partiram para a churrascaria. Esclareceu que
Antenor, durante o jantar, mostrou-se muito cortês, amável e extremamente educado.
Permaneceram no local até às 22 horas, quando regressaram à cidade, ficando combinado
que iriam almoçar no mesmo lugar, no dia seguinte. Recorda-se que, durante o regresso, sua
amiga disse que no próximo domingo seria o "Dia das Mães". Ao ouvir esta referência,
Antenor ficou exaltado, dizendo que não suportava ouvir esta palavra. Esclareceu que não
tinha mãe, que fora criado por pais adotivos, depois de passar a infância num orfanato,
acrescentando que seu pai adotivo é um militar importante em Brasília. Despediram-se com
a promessa de almoçarem no domingo, no mesmo local. No dia aprazado e na hora
combinada, Antenor passou pela casa de Marlene, onde Sonia se encontrava e dali seguiram
para a churrascaria, onde almoçaram e permaneceram até às 14 horas. Durante o almoço
Antenor "se mostrava uma companhia agradável, alegre, expansivo e muito comunicativo".
Regressaram à cidade num Volkswagen e, ao chegarem à Avenida 17, Antenor imprimiu
grande velocidade ao veículo, ganhou a Rua 14 e, virando na contra-mão, na Avenida 15, foi
entrar rapidamente no galpão de sua oficina. As duas moças, um pouco assustadas,
tentaram descer do veículo, mas foram impedidas por Antenor. Ele desceu do carro,
apanhou uma marreta e ameaçou-as de morte, caso tentassem fugir. Em seguida, trancou o
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portão da oficina, ligou o rádio no volume mais alto. Ao descer do veículo, Marlene pediu
"pelo amor de Deus" que as deixassem ir embora. Como resposta, Antenor desferiu-lhe
violento soco no rosto, quebrando-lhe os óculos e ferindo-a no nariz e no olho esquerdo.
Como estivesse sangrando muito pelo nariz, Antenor, aos gritos, mandou que ela lavasse o
rosto em uma "bica" ali mesmo na oficina. Depois começou a falar de maneira agressiva que
elas estavam habituadas a morar em "casas bonitas" e que agora iriam conhecer o que é a
vida. Sempre gritando e ameaçando com a marreta, Antenor dizia que elas, como "filhas de
papai", não conheciam "macho", que naquele momento iriam conhecer um homem de
verdade. Dirigiu-se a um canto da oficina, apanhou uma toalha suja e esfregou no rosto de
Marlene. Empurrou as duas moças para dentro de um pequeno cômodo, muito sujo e
desarrumado, trancou a porta e retirou a chave, guardando-a no bolso da calça. Marlene
notou que junto ao guarda-roupa havia espingarda e no chão um canivete grande, com a
folha aberta. Sem abandonar a marreta em nenhum instante, Antenor gritou para Marlene e
Sonia que tirassem as roupas. Como relutassem, começou a gritar, dizendo que não se
interessava se elas fossem "filhas de uma puta" ou "filhas do Presidente da República", que
iriam conhecer, naquele instante "um verdadeiro macho". Como, apesar das ameaças,
continuassem paralisadas pelo medo, ele começou a esbofeteá-las, "sempre gritando e
ameaçando". Por fim, quando se encontravam todos nus, Antenor passou à prática de atos
sexuais anormais, obrigando a declarante a manter com ele o coito anal e, alguns momentos
depois, realizou o coito vaginal com Sonia, deflorando-A. Depois de tudo consumado, ele
manifestou uma estranha indiferença. Vestiu-se e mandou que elas também se vestissem,
dizendo que a levaria para casa e, depois de calmamente pentear o cabelo, abriu a porta do
quarto e ordenou que elas subissem para o carro.

2º) PSICOPATAS DEPRESSIVOS - Kurt Schneider descreve os psicopatas depressivos


como aqueles em que o estado de ânimo é permanentemente deprimido; conservam uma
concepção pessimista da vida. Permanecem numa atmosfera de expectativa ansiosa,
revelando falta de confiança e incapacidade para alegrar-se de maneira simples. "Em tudo vê
o lado mau, nada parece limpo. As preocupações impedem o cumprimento dos deveres
cotidianos; preocupações de toda espécie, autocensuras, dúvidas sobre o valor e o sentido
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da existência. As experiências penosas são vividas de modo profundo e persistente". "É
como se a todo instante pesasse a presença de algo grave que, quando não provém do
exterior, surge do próprio fundo. Quando o sofrimento ocasionado por algo exterior
desaparece, seu lugar é em seguida ocupado por preocupações, com freqüência
relacionadas a motivos afastados, ou a dificuldades íntimas, que desaparecem quando surge
algo real que inquieta ou ameaça". Diz Kurt Schneider que, nestas pessoas, a tristeza não
costuma ser afugentada por um acontecimento alegre, mas é apenas substituída pela própria
tristeza.

Schneider descreve dois subtipos:

a) Os melancólicos: são brandos, bondosos, delicados, cheios de compreensão e de


indulgência para os sofrimentos e as fraquezas alheias e, ao mesmo tempo, tímidos e
desanimados diante de acontecimentos e tarefas não habituais.

b) Os mal-humorados: são indivíduos frios e egoístas, resmungadores, irritáveis,


criticadores, perversos e mal intencionados. Cultivam o pessimismo diante de todas as
coisas e também diante de sua própria sorte têm algo de fanático. Alegram-se quando
sofrem novos fracassos e não desejam nada de bom para os demais.

Os atos delituosos praticados pelos psicopatas depressivos não são muito freqüentes, mas já
foram registrados: a deserção, o incêndio, a fuga sem destino. São atos que têm sua origem
numa situação de isolamento e representam o ápice de uma depressão crescente e
asfixiante.

3º) PSICOPATAS INSEGUROS - A "insegurança interna" e o sentimento de "insuficiência"


caracterizam o tipo de personalidade psicopática a que Kurt Schneider denomina de
"inseguros de si mesmo". Ao completar o quadro descritivo diz Schneider que a "falta de
liberdade interior e a timidez dos inseguros de si mesmos se acha, em certas ocasiões,
compensada para o exterior por uma aparência muito segura, às vezes arrogante, ou
também mediante um aspecto chamativo: não querem passar despercebidos. Isto pode ser

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aplicado, particularmente, àquelas pessoas cuja insegurança está no próprio físico ou no
terreno social. Os escrúpulos e sentimentos de insuficiência dos inseguros de si mesmos
repercutem muitas vezes, ainda que nem sempre, no comportamento ético. Esses inseguros
estão sempre lutando com remorsos e escrúpulos de consciência, e quando algo fracassa
lançam em primeiro lugar a culpa em si mesmos". Aduz ainda que o psicopata inseguro de si
mesmos não desfruta dos prazeres da vida, e são a todo instante assaltados por remorsos
de consciência. Essas pessoas vivem em constante temor de haver descuidado algo ou de
ter realizado algo mau. Esse temor retira o seu conteúdo de qualquer circunstância em
aparência diferente: "A melodia encontra a letra que lhe corresponde".

De acordo com a conceituação do Prof. Nelson Pires, os psicopatas inseguros experimentam


grande reação emocional ante os fatos percebidos, mas quase não a exteriorizam.
"Concentram a atenção sobre as próprias deficiências. Mulheres se acham feias ou pouco
atraentes. Homens que se consideram pouco viris, portadores de defeitos físicos ou doenças
julgadas incuráveis. Pessoas que duvidam da própria capacidade para o exercício das
funções que exercem, seja na magistratura, na cátedra, nas profissões liberais, nas artes, na
política". "Esses psicopatas não percebem os defeitos alheios, mas estão sempre prontos
para observar em si mesmos, deslizes e imperfeições. A auto-análise rigorosa acentua, a
cada passo, a vivência dos próprios erros e fracassos, cultivando um angustiante sentimento
de culpa. Preocupados com as próprias debilidades, tendem os inseguros a atribuir a palavra
e atos alheios o propósito de menospreza-los. São assim, suscetíveis de ressentimentos por
motivos insignificantes".

O Prof. Nelson Pires assinala que as situações mais inconvenientes para os psicopatas
deste grupo são: a) a espera de decisão, de outrem; b) a necessidade de tomar uma
decisão, especialmente se da mesma podem advir malefícios para outras pessoas ou para si
mesmos; c) a aproximação de data em que deverá assumir grandes responsabilidades
(familiares, profissionais); d) um acontecimento vergonhoso (ato desonesto, punição,
deficiência funcional), e situações equívocas (cometimento de atos que poderiam ser
interpretados como injustos ou desonestos).

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Diz ainda o autor citado que em alguns psicopatas inseguros, os episódios agudos que
possam ser observados, não são mais do que exacerbações de um estado permanente. Os
motivos de ordem sexual aparecem entre as causas traumatizantes para esses psicopatas. E
quando presentes, sempre motivando sentimento de vergonha. Este constitui a nota quase
constante das personalidades psicopáticas inseguras. A impotência sexual, o
homossexualismo, o amor não correspondido, a infidelidade do cônjuge fazem sofrer aos
psicopatas deste grupo pelo que, para eles, têm de vergonhoso.

O diagnóstico diferencial deve ser estabelecido com os psicopatas depressivos. De modo


geral, o diagnóstico do psicopata inseguro "não exige a presença de um estado de ânimo
nitidamente depressivo". Além disso, a "insegurança vital dos depressivos não está,
necessariamente, unida a uma insegurança interna de si mesmos". No entanto, ao lado do
humor triste costuma surgir diminuição da capacidade de decisão. "Nos depressivos, o
primário seria o estado de ânimo e, na decorrência dele, estaria a insegurança. Nos
inseguros, a tristeza seria conseqüência de insegurança. Entretanto, a coexistência de
depressão e insegurança impõe, algumas vezes, observação meticulosa para que se possa
estabelecer a diferença".

Entre os psicopatas inseguros se encontra maior número de tentativas de suicídio. As


infrações penais desses psicopatas se referem a atentados sexuais e conflitos éticos.

4º) PSICOPATAS FANÁTICOS - Segundo Schneider, o que caracteriza o grupo é a extrema


importância que concedem a certos conceitos, quer relacionados com a própria
personalidade, quer com determinados sistemas filosóficos ou políticos. Salienta que o
verdadeiro fanático possui uma personalidade expansiva e acentuadamente ativa. O fanático
de si mesmo luta por aquilo que considera ser, ou é na verdade, o seu direito; o fanático de
idéias combate pelo seu programa. Os fanáticos psicopatas com que o médico entra mais
vezes em contato são os querelantes, principalmente aqueles que exigem indenizações.
Surgem neles, às vezes, desenvolvimentos paranóides, que não devem ser confundidos com
o que habitualmente se chama desconfiança e que pode ter, por exemplo, um conteúdo de

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ciúme. Não se trata aqui de simples personalidades expansivas, senão de personalidades de
uma extrema complexidade.

A psiquiatria francesa descreveu sob a denominação de "delírio passional" um grupo de


reações anormais onde estavam incluídos muitos fanáticos denominados magnicidas,
naturistas, sectários fundadores de doutrinas políticas e religiosas, reivindicadores,
genealogistas e inventores.

O Prof. Nelson Pires apresenta em sua casuística duas observações de psicopatas fanáticos.
Um deles desenvolveu convicções esotéricas depois de ter perdido a fortuna e mantinha as
suas idéias mais de vinte anos. O outro, solteirão de 56 anos, silencioso e rígido praticante
do protestantismo, botequineiro, que se opunha ao sócio na venda de bebidas alcoólicas, por
impedimentos religiosos. Era um homem sem vida sexual em obediência aos preceitos da
castidade. Nenhum deles revelava comunicabilidade, mas o protestante não perdia
oportunidade para distribuir bíblias e concitar os conhecidos ao culto do Evangelho. "Ambos
levavam vida solitária, mas o esoterista era um pouco errante". A única distração dos dois
era o culto da seita. Enquanto um deles enchia o seu quarto com livros de evangelistas e
pastores, lendo-os sozinho até altas horas da noite, o esoterista fechava-se em casa para,
"mentalizando", provocar visões fantásticas sobre a parede branca do quarto. O protestante
há trinta anos seguia pontualmente os mandamentos religiosos e, estimulado por qualquer
conversa, emitia opiniões com base em textos bíblicos, indo muitas vezes apanhar o livro
para comprovar sua exatidão.

O Prof. Nelson Pires chama a atenção para o fato de seus pacientes não terem vida sexual.
Em ambos a curva de vida mostrou-se economicamente decadente, o que é natural para
quem dedica o seu tempo a práticas místicas com sacrifício absoluto do pragmatismo.
"Dificilmente um fanático enriquece, ao contrário, os litigantes desperdiçam a própria fortuna
em pleitos". Do mesmo modo, não é próprio do fanático a prática de alcoolismo. Nos dois
casos relatados, os pacientes foram sempre péssimos profissionais, tendo o exoterista
abandonado há muitos anos qualquer atividade remunerada. Assinala ainda o autor que o
fato de certos fanáticos lograrem obter evidência e facilidade de toda ordem, cria condições
para que sejam estimuladas outras componentes caracterológicas. Cita o caso de um chefe

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de "seita", que foram fanático puro durante mais de quinze anos, e terminou por enveredar
pela "industrialização dos milagres, quando alcançara fugaz popularidade, se bem que
funcionasse de modo discreto a "indústria". Desde que começou a auferir dinheiro dos
peregrinos, multiplicou as audiências de modo mais ou menos equívoco. O dinheiro que os
crentes lhe deixavam sob toalhas e panos bordados, ele dizia 'que vinha de Deus', numa
evidente duplicidade. Esse fanático, até então imaculado e pacífico quando a Polícia
interveio e terminou as atividades 'santificadas', já há muito tempo deixara de ser imaculado".
O fato da corrupção do fanático é um dado concreto nada raro e tem o aspecto psicológico
algo mencionável.

A importância social desses psicopatas, especialmente dos lutadores, está no fato de proferir
injúrias e praticar atos de violência quando contrariados em seus desígnios de aliciamento.

5º) PSICOPATAS NECESSITADOS DE VALORIZAÇÃO - O Prof. Nelson Pires preferiu


traduzir a denominação "Geltungebedurfrigen" como "necessitados de valorização", porque o
traço distintivo desses psicopatas é a necessidade que têm de ser valorizados, às vezes,
desejam essa valorização mesmo que seja desfavorável. Esses psicopatas foram descritos
por Kurt Schneider como excessivamente vaidosos, que procuram aparentar mais do que
são na realidade. Trata-se de personalidades imaturas e fátuas. A sua necessidade de
valorização pode manifestar-se pela excentricidade; para chamarem a atenção dos outros
defendem os pontos de vista mais extraordinários e praticam ações as mais espantosas.
Procuram imprimir ao seu aspecto exterior qualquer característica que desperte a atenção. A
necessidade de valorização pode também se manifestar pela gabarolice e pelo auto-elogio.
Nos casos extremos esses indivíduos, para realçar sua pessoa, contam aventuras
fantásticas ou representam-nas como atores. Para esses casos empregava-se antigamente a
designação de pseudologia fantástica. Jaspers destacou nesses psicopatas, um traço
fundamental: parecer mais do que são na realidade. Quanto mais se desenvolve o teatral,
tanto mais falta a esses psicopatas qualquer emoção própria e verdadeira. São falsos,
incapazes para qualquer relação afetiva duradoura ou realmente profunda. Estão sempre em
cenário de vivências imitadas e teatrais; este é o estado extremo dos psicopatas
necessitados de valorização.

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A importância social desses psicopatas se acha na criminalidade dos fanfarrões e,
especialmente, dos pseudologistas. Trata-se de roubos, fraudes, falsas promessas de
casamento, exercício ilegal da medicina.

6º) PSICOPTAS LÁBEIS DE HUMOR - São caracterizados, segundo Kurt Schneider, pelas
alterações súbitas do humor, principalmente no sentido irritável-depressivo. Em muitos
casos, torna-se difícil esclarecer se essas disritmias são reativas, no sentido de serem
psiquicamente motivadas. O certo é que esses indivíduos, em determinados dias, reagem de
maneira fácil e de modo duradouro, depressivamente. Trata-se de uma reatividade
depressiva aumentada e reforçada, sobre um fundo que não se acha em si determinado de
modo reativo. Diz Schneider que, a partir dessas alterações do humor desenvolve-se toda a
espécie de atos impulsivos, tais como fugas, vagabundagem, embriaguez, prodigalidade
periódica. A perturbação afetiva durante esses dias críticos pode mesmo levar à prática de
certos delitos. Na maior parte das pessoas "impulsivas", trata-se de lábeis de humor: a
alteração do estado de ânimo tem aqui um caráter primário.

7º) PSICOPATAS EXPLOSIVOS - Caracterizados por Kurt Schneider como indivíduos que
"fervem em água fria", irritáveis, coléricos, exteriorizando reações denominadas de "curto
circuito". Reagem de maneira primitiva. Esses indivíduos ouvem, por exemplo, uma palavra,
e antes que tenham compreendido o seu exato significado reagem de maneira explosiva,
respondendo com insultos ou com violências. Os psicopatas explosivos exercem ação
particularmente destruidora sobre o matrimônio; revelam uma incapacidade absoluta para a
educação dos filhos. Praticam ações criminosas com extrema facilidade. Muitos explosivos
revelam-se como tal apenas durante a embriaguez. Os delitos cometidos por esses
psicopatas são sempre por agressões, delitos de sangue, imotivados, resistência às
autoridades e estragos materiais.

O Prof. Nelson Pires apresenta a observação de uma paciente considerada como psicopata
explosiva. Trata-se de uma mulher de 23 anos, casada, funcionária pública, aposentada em
conseqüência da "doença". Sempre apresentou cenas de grande violência, agressão física
armada e desarmada, escândalos em casa e na repartição do marido, o que motivou várias
internações em sanatórios e hospitais psiquiátricos. Paciente sexualmente fria, com desamor

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aos filhos, aos quais seviciava e descuidava. Quando internada, seu comportamento se
tornava exemplar.

8º) PSICOPATAS FRIOS DE ÂNIMO - Kurt Schneider descreve-os como indivíduos


destituídos de compaixão, vergonha, sentimentos de honra, remorso e noção de moral. No
seu modo de ser esses indivíduos são sombrios, metidos consigo próprio, irritáveis; nas suas
ações anti-sociais mostram-se impulsivos, brutais, cruéis. Por sua conduta altamente
perigosa, Kraepelin os chamou de "inimigos da sociedade" ou "anti-sociais". Schneider
considera que as designações de "loucura moral", "estupidez moral", "imbecilidade moral"
para esses casos são impróprias. Há muitos criminosos que são psicopatas inafetivos ou
com defeito moral; nesses casos são inúteis as tentativas de reeducação ou regeneração,
visto que não há na personalidade qualquer base ou fundamento sobre que se possa exercer
influência.

Lichtenstein e Small publicaram, há muitos anos, um exemplo admirável de psicopata desse


tipo, cuja observação apresentamos em resumo:

"Artur Warrer Waite era um cirurgião-dentista, que, em virtude de ter assassinado o sogro e a
sogra, foi eletrocutado. Em declaração a um de nós, enquanto estava encarcerado,
aguardando julgamento, Waite explicou que, durante o curso de bacharelado e, mais tarde,
já exercendo a profissão de dentista, arrombava fechaduras, roubara modelos de dentaduras
feitos por outros estudantes e havia mentido repetidamente. Logo que terminasse o curso,
pretendia conseguir um lugar de dentista numa empresa na África do Sul. Quando estava
terminando os últimos preparatórios em determinado colégio, tornou-se amigo de um dos
professores e se vangloriava de ter sido aprovado graças à influência do mesmo.

"Enquanto estava exercendo a sua profissão na África do Sul roubava todo ouro, prata e
platina que encontrava ao seu alcance e levou a sua promiscuidade sexual aos maiores
extremos. Quando sua existência se tornara precária por causa da iminência de descoberta
dos seus delitos, resolveu praticar os assassinatos, os quais mais tarde foram realizados.

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Ainda não mantinha relações com suas vítimas, mas conhecia sua reputação. Tratava-se de
pessoas que viviam em casa própria na mesma cidade e tinham fama de ricos. Concluído o
plano, renunciou o posto na África do Sul e partiu para Nova Iorque onde se matriculou numa
faculdade para fazer cursos de bacteriologia e toxicologia, pois isso fazia parte da
preparação de seus crimes.

"Pouco antes de concluir os cursos, publicou nos jornais de Michigan a notícia de que estava
prestes a regressar a sua cidade natal, onde pretendia abrir consultório. Chegou à cidade
precedido do maior prestígio. O cenário estava preparado. Desde logo começou a receber
convites de famílias distintas para comparecer a acontecimentos sociais, e apesar de que
muitos convites provinham de famílias que tinham filhas em idade de casar-se e eram
pessoas de alto nível social, declinou invariavelmente a todas essa distinções. Esperava que
chegasse a escolhida e esta não foi recusada. Pouco tempo depois estava casado com a
filha daquela família que havia incluído em seus planos. Não perdeu tempo e,
imediatamente, começou a por em prática as suas maquinações diabólicas. Vejamos como
ele as descreve:

"A velha (a sogra) se comportou muito bem, porém o velho me deu um trabalho horrível.
Administrei um pouco de arsênico à velha e ela morreu tranqüilamente. Era um dia frio e
úmido, convidei o velho para dar um passeio. Eu me agasalhei bem e disse ao velho que não
havia necessidade de abrigar-se, pois não fazia frio. Molhei seus sapatos e umedeci o
assento do automóvel. Deixei os vidros do carro abertos. Na mesma noite começou a
queixar-se de irritação da garganta e eu o mediquei, fazendo-lhe uma embrocação com
germes de difteria, porém os malditos não se desenvolveram. Poucos dias depois retirei a
lâmpada de sua mesinha de cabeceira e coloquei uma caixa na entrada do seu dormitório
para que tropeçasse e caísse. Efetivamente, levou uma queda e ficou com um ferimento na
tíbia da perna direita; apressei-me em fazer um curativo, tendo aplicado bacilos de tétano
sobre a ferida e feito compressão com algodão e esparadrapo. Mas, infelizmente não
aconteceu nada! Nos dias seguintes administrei ao velho grandes quantidades dos bacilos
que tinha à mão: bacilos de tipo, pneumococos e outros que não me lembro no momento.
Não adoecia! O velho era imune a todas as enfermidades infecciosas. Tive que decidir-me e

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aplicar-lhe arsênico. E isto deu resultado. Ao anoitecer chamou à porta do meu quarto: 'Vem
depressa, por favor. Estou me sentindo mal'.

"Mandei que ele se deitasse no sofá e fui ao meu quarto apanhar um frasco de clorofórmio.
Molhei bem a almofada com clorofórmio e apertei-a sobre o seu rosto até o momento em que
ele morreu. O senhor não imagina o trabalho que me deu aquele maldito velho".

Lichtenstein e Small fazem alguns comentários sobre esta observação e dizem que Waite,
durante o tempo em que fazia as declarações comia tranqüilamente a sua refeição.
Esclareceu ainda que era amante da música e côo sua esposa tocava piano de maneira
admirável, por isso, não tinha sido possível matá-la.

9º) PSICOPATAS ABÚLICOS - O psicopata abúlico, individualizado por Kurt Schneider, tem
encontrado confirmação de parte dos psiquiatras que dedicaram estudos especiais às
personalidades psicopáticas. De acordo com a descrição de Schneider, esses psicopatas
estão caracterizados pela ausência de vontade e pela incapacidade de oporem resistência às
influências do ambiente. Deixam-se influenciar, com facilidade, por outras pessoas e pelas
situações. Em geral são bondosos, não oferecem dificuldades nas clínicas e nos
estabelecimentos pedagógicos; são razoáveis, dóceis, laboriosos e modestos. Mas nada do
que se consegue deles, sob a ação de influências favoráveis, dura muito tempo. Posto em
liberdade, deixam-se facilmente corromper pelo primeiro que encontrar e que sabe levá-los
com habilidade. Como diz Bleuler, são "homens de temperamento variável com o ambiente".

O Prof. Nelson Pires considera apropriada a denominação dada por Kurt Schneider a esses
psicopatas. "Todos conhecem o indivíduo incapaz de resistir às solicitações dos
companheiros, de resistir às tentações e que são, aparentemente, excelentes pessoas que,
no entanto, claudicam às primeiras dificuldades que a vida oferece". Faz parte da experiência
de todos os psiquiatras um certo tipo de alcoolista que promete não voltar a beber. As
promessas são sinceras, mas jamais serão cumpridas. Fora do alcoolismo os fatos são
sempre os mesmos: o pai que leva o filho ao psiquiatra e diz que: "as más companhias é que
são responsáveis pelos desvios", ou que o filho "se deixa levar facilmente". Nisto consiste o

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traço característico do psicopata abúlico: não oferecer resistência às solicitações de qualquer
tipo: contravenção, licenciosidade, aventura, alcoolismo, desvio sexual, vagabundagem e
crime.

Os psicopatas abúlicos apresentam um índice muito elevado nas estatísticas da


criminalidade. Em primeiro lugar surgem os roubos, os desfalques e as fraudes. Além disso,
esses psicopatas desempenham importante papel na questão social da vagabundagem.

10º) PSICOPATAS ASTÊNICOS - Esta designação nada tem a ver com os indivíduos
fisicamente astênicos. Kurt Schneider classifica os psicopatas astênicos em dois grupos, os
quais podem aparecer combinados entre si de todas as maneiras possíveis. No primeiro
subgrupo, inclui certas personalidades psicopáticas que se sentem psiquicamente
insuficientes. Suas queixas consistem em sensação de incapacidade intelectual, diminuição
da capacidade produtiva, dificuldade de concentrar a atenção e enfraquecimento da
memória.

No segundo subgrupo estão incluídos os indivíduos que se sentem facilmente sujeitos a


transtornos das funções orgânicas. O indivíduo normal não presta atenção a certas
indisposições periódicas sem importância e em pequenas perturbações funcionais dos
diferentes órgãos as quais, de modo geral, desaparecem com a mesma rapidez com que
aparecem. O psicopata astênico, pelo contrário, procura concentrar a atenção sobre o
próprio corpo e assim prejudica o jogo recíproco dos órgãos, o qual só se pode efetuar de
modo normal quando não está sujeito à observação. Esses auto-observadores não se
interessam pelas coisas exteriores e sim, unicamente, pelo seu organismo, e acabam por
perder, em relação às funções orgânicas, a atitude normal de despreocupação que tão
necessária é ao seu bom funcionamento. Esses psicopatas queixam-se de fadiga fácil,
insônia, cefaléia, perturbações cardíacas, vasculares, menstruais e de distúrbios da função
genital. São freqüentes as combinações com as toxicomanias, especialmente com o abuso
de hipnóticos.

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A importância social dos psicopatas astênicos consiste, especialmente, na sobrecarga que
representam para as instituições de assistência pública e órgãos de previdência social.

DIAGNÓSTICO - A expressão é utilizada aqui no sentido de diagnóstico psicológico. Os


psicopatas não são doentes, nem constituem um grupo nosológico definido por traços
característicos de comportamento. O que se deve levar em consideração ao formular o
diagnóstico desses pacientes é, simplesmente, o "desvio do estado normal". Deve-se admitir,
portanto, que os traços característicos das personalidades psicopáticas consistem em
anomalias do caráter, anomalias essas que se exteriorizam através do comportamento no
meio social. Assim considerado, o diagnóstico de psicopatia representa a conclusão natural
decorrente da análise de determinado paciente e a síntese lógica das informações colhidas
nos antecedentes pessoais do caso estudado.

Segundo Kurt Schneider, no diagnóstico das personalidades psicopáticas é necessário


"mostrar, salientar, destacar as qualidades que as caracterizam de modo acentuado, sem
que por isso nos encontremos de posse de algo equiparável a sintomas de enfermidades".
Em sua opinião, esse destacar se realiza sempre a partir do determinado ponto de vista e,
especialmente, "no sentido de como se encontra subjetivamente o indivíduo em questão,
desde o sentimento vital e da própria existência, ou das dificuldades que o ambiente e a
sociedade sofrem por causa destas pessoas e devido às qualidades das mesmas". Ao lado
das qualidades que foram destacadas, a partir destes pontos de vista, o indivíduo possui
muitas outras, que não podem ser incluídas "dentro de uma denominação no estilo de
diagnóstico, qualidades que permanecem ocultas na sombra perante uma consideração
deste tipo". Desse modo, a designação diagnóstico corresponde somente a certas
"qualidades do homem concreto, importantes especialmente de certos pontos de vista". Não
se deve perder de vista que as qualidades destacadas "podem ser encontradas em
profundidades muito diferentes". Em alguns casos, procedem de estratos centrais e, em
outros, de camadas superficiais da personalidade, "de acordo com a secção descoberta"."

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U NIDADE 12
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA

Manifestações Corporais

As investigações sobre os problemas somáticos da esquizofrenia têm sido realizadas de


maneira sistemática, visando sempre encontrar em determinadas alterações corporais os
fundamentos etiopatogênicos da enfermidade. Em que pese o critério rigoroso com que se
promove essas investigações, até hoje não foi possível encontrar a causa e os mecanismos
produtores da psicose esquizofrênica. Apesar disso, não se pode obscurecer a existência de
transtornos somáticos em quase todos os casos de esquizofrenia, embora não se possa
dizer com segurança se esses transtornos são primários, contemporâneos ou decorrentes de
uma alteração central básica.

Os distúrbios neurológicos mais importantes são encontrados na esquizofrenia catatônica.


Observam-se hipertonia, alterações do tônus muscular durante os movimentos e iteração. Os
enfermos apresentam diminuição da sensibilidade geral, com analgesia mais ou menos
acentuada nos estados de estupor. Os reflexos tendinosos estão exaltados. Os reflexos
cutâneos, ao contrário, apresentam-se diminuídos ou abolidos. Em alguns pacientes,
observa-se o gatismo por insuficiência esfincteriana. Verifica-se, ainda, na catatonia, rigidez
pupilar absoluta. São muito comuns as alterações do diâmetro das pupilas, midríase, miose e
enfraquecimento da reação pupilar à luz e à acomodação. No início da enfermidade observa-
se cefaléia de longa duração. Além disso, são comuns as alterações do sono: insônia,
pesadelos, terrores noturnos. Em alguns casos, aparecem ataques epileptiformes, os quais

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representam sinal de irritação da zona motora do córtex cerebral. Tremor dos músculos da
face, especialmente do orbicular das pálpebras.

Ao lado dessas perturbações, observam-se alguns sinais clínicos relacionados com o


sistema nervoso vegetativo. Registram-se, nesses enfermos, uma série de distúrbios
vasomotores, entre os quais se destacam: bradicardia, hipotensão, vasoconstrição periférica,
ausência de reação psicopletismográfica, resfriamento das extremidades, edemas, cianose
localizada no dorso das mãos e dos pés, e várias alterações cutâneas. Esses transtornos se
manifestam com maior freqüência nos casos agudos, especialmente na forma catatônica.
Notam-se, ainda, alterações nas secreções sudoral e sebácea, esta última emprestando à
face do enfermo um aspecto untuoso característico.

Tipos Clínicos

A falta de uniformidade nos pontos de vista em relação ao conceito de esquizofrenia


contribui, decisivamente, para manter certas divergências que se observam ainda na
exposição dos tipos clínicos desta enfermidade. De acordo com a nossa orientação,
descreveremos os quatro tipos clínicos que não estão submetidos a grandes controvérsias: o
tipo simples, o hebefrênico, o catatônico e o paranóide.

ESQUIZOFRENIA SIMPLES

No quadro clínico da esquizofrenia simples aparecem como sintomas fundamentais o


empobrecimento da vida afetiva, a indiferença emocional, a vacuidade do pensamento e o
enfraquecimento da vontade e dos impulsos. A enfermidade tem início, aproximadamente, na
puberdade e, desde logo, vai operando completa transformação da personalidade e do
comportamento do doente. As aptidões intelectuais decaem, os pacientes se tornam cada
vez mais indiferentes e apáticos, sendo necessária a internação em serviço especializado.
Nos casos leves, a doença passa despercebida e, muitos jovens de futuro promissor,
terminam ocupando postos inferiores na escala social. Algumas vezes, os familiares chegam

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a notar as modificações sobrevindas na personalidade do enfermo, a indiferença e a
incapacidade para o trabalho. Como a doença não é ainda suspeitada, a causa dessas
alterações é comumente atribuída a circunstâncias do meio exterior. Recorre-se, por isso, a
uma série de meios corretivos inadequados, que concorrem para agravar a situação do
enfermo.

A doença progride durante anos até a completa destruição da personalidade. Entretanto, é


possível ocorrer emissões de longa duração, com precário ajustamento ao meio social.

ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA

Por hebefrenia entende-se, atualmente, um dos quadros clínicos da esquizofrenia que, em


geral, tem início entre 15 e 25 anos de idade, e conduz, através de um desenvolvimento lento
ou às vezes rápido, a um estado de enfraquecimento da atividade psíquica. A alteração
básica do quadro hebefrênico consiste no distúrbio do pensamento. Não se trata de uma
perturbação de conteúdo, nem tampouco daquilo que, habitualmente se chama de alterações
formais, mas de um transtorno no processo efetivo do pensar, das operações psíquicas
necessárias à coordenação do pensamento. Nos casos típicos, os enfermos apresentam
uma forma de pensamento vago, inconsistente, indeterminado, com diferentes graus de
intensidade, desde a leve indeterminação até a completa desorganização do pensamento e
da linguagem.

Em segundo lugar, a inadequação emocional. Os sentimentos desses enfermos são


inadequados e inteiramente incompreensíveis ao indivíduo normal. O estado de ânimo é
instável, notando-se repentinas e imotivadas alterações do humor. É possível verificar,
muitas vezes, que os doentes passam de um estado de intensa alegria à profunda tristeza,
da euforia à cólera, sem que se possa perceber a existência de uma causa justificável. Os
processos afetivos se caracterizam, nos hebefrênicos, pelo amortecimento das emoções e
dos sentimentos delicados, revelando alguns enfermos a mais completa indiferença pela
família, pelas pessoas de suas relações anteriores e por sua própria situação. Desperta a
atenção, nesses enfermos, a disparidade entre os conteúdos ideativos e as reações afetivas.

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As concepções delirantes mais extravagantes não se acompanham de uma tonalidade
emocional apropriada. Esta discordância entre o pensamento e os sentimentos se reflete na
conduta desses doentes; podem rir alegremente diante de um acontecimento em que a
reação normal seria a tristeza.

Os enfermos revelam perda da iniciativa e não realizam nenhuma atividade com fins
pragmáticos. As alucinações desempenham aqui um papel pouco expressivo. Em alguns
casos, os doentes fazem referência a vozes que interferem em sua atividade, vozes
imperativas que os comandam ou que repetem os seus pensamentos. Os delírios dos
hebefrênicos são desconexos, mutáveis e transitórios, sem tendência à sistematização.

No quadro clínico da hebefrenia se encontram muitos dos sintomas dominantes na


esquizofrenia simples, especialmente os sintomas negativos, como a insensibilidade
emocional, a vacuidade do pensamento e as manifestações de passividade. Por esta razão,
alguns autores incluem a esquizofrenia simples entre os subgrupos hebefrênicos, no entanto,
como os esquizofrênicos simples se ajustam em um quadro clínico bem definido e
constituem um grupo que, embora restrito, tem importância prática especial, convém mantê-
los num quadro independente (Mayer-Gross).

ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA

A catatonia é concebida, atualmente, como um dos quadros clínicos da esquizofrenia,


caracterizando-se pela alternância de períodos de inibição e de excitação, com
predominância na fase de estado de uma série de fenômenos psicomotores, chamados
sintomas catatônicos, sobressaindo entre eles o negativismo, a sugestibilidade e as
estereotipias. ?Sob os sintomas dominantes, de modo temporário ou permanente, não faltam
os distúrbios do pensamento e da afetividade e, raramente, se nota a ausência completa de
formações delirantes e de alucinações (Lange). A moléstia se declara, em geral, entre 15 e
25 anos de idade.

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Os sinais e os sintomas do quadro catatônico são inconfundíveis. Os doentes podem
permanecer dias inteiros numa imobilidade absoluta. Não reagem a nenhum estímulo do
meio exterior. Não falam nem respondem às perguntas do interrogatório. Sentado ou de pé,
o enfermo persiste na mesma posição por tempo indefinido. No quadro clínico dominam as
estereotipias de atitude, as posições extravagantes, os maneirismos.

No início da enfermidade e nos períodos de excitação, os doentes apresentam estados


alucinatórios de grande intensidade. Sobressaem, em primeiro lugar, as alucinações
cenestésicas, vindo em seguida as auditivas e, por último, as ilusões e alucinações visuais.
Nos estados crônicos as alucinações se atenuam ou mesmo desaparecem.

O bloqueio do pensamento é um sintoma freqüentemente observado no quadro catatônico.


Os delírios são variáveis, confusos, absurdos, habitualmente de matiz depressivo; delírios de
culpabilidade, místico, de perseguição, de negação, de transformação corporal. Em muitos
casos, o pensamento dos catatônicos apresenta uma alteração muito semelhante à
incoerência dos estados amenciais.

O estado de ânimo reflete indiferença. É, porém, na esfera da atividade voluntária que se


encontram os principais sintomas do quadro clínico. No período de estado, verifica-se
acentuada inibição da atividade, adquirindo significação definida os denominados sintomas
catatônicos. Sobressai a repetição automática de movimentos: a ecopraxia, realização de um
ato por imitação, e a ecocinesia, repetição automática dos movimentos executados diante do
paciente. Em resultado da sugestibilidade e da plasticidade muscular, os catatônicos podem
manter durante muito tempo as mais extravagantes posições em que sejam colocados os
seus membros.

As estereotipias de atitudes são freqüentes, consistindo na capacidade que o enfermo


manifesta de conservar, durante um espaço de tempo relativamente longo, a mesma
posição, a mesma atitude. Nas estereotipias de movimento, ?o doente executa de modo
constante e uniforme, um dado movimento qualquer que seja ele, durante meses e até anos.
Podem variar desde simples movimentos dos dedos, até marchas estereotipadas. Em geral,

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o mesmo paciente conserva de maneira constante, por anos seguidos, os movimentos
adotados desde o início?.

Em determinados períodos as manifestações da atividade voluntária estão reproduzidas ao


grau mínimo ou mesmo abolidas, constituindo o quadro do estupor catatônico. Durante a
evolução da enfermidade é possível observar períodos de excitação, sobrevindos de maneira
inesperada e sob a forma de crises passageiras. Nas fases de excitação, observa-se com
extraordinária freqüência os atos impulsivos.

As alterações da linguagem, na catatonia, são muito freqüentes, em virtude da tendência


revelada pelos movimentos a tornarem-se estereotipados. A mais comum dessas alterações
é a verbigeração. Observam-se, ainda, mutismo, pararrespostas, ecolatia e ecomímia.

Como componentes do quadro da esquizofrenia catatônica, obsevam-se vários transtornos


corporais: edemas localizados na face dorsal dos pés; acrocianose, resfriamento das
extremidades; desmografismo; vertigens, arritimia e pulso filiforme; hipersalivação,
hiperidrose, aumento da secreção sebácea; diminuição da taxa de ácido clorídrico;
temperaturas subnormais, hipertemia nas fases iniciais da enfermidade. Reichdardt assinala
a apresentação de hipertensão cerebral aguda, acompanhada de bradicardia, vômitos e
perplexidade. Essa hipertensão cerebral seria devida a edema cerebral agudo, responsável
pelas mortes súbitas de muitos esquizofrênicos catatônicos.

Exemplo clínico: Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica,
natural do Estado do Rio de Janeiro.

Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações,
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e

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ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou,
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto, inteiramente aleado do
ambiente. Foi novamente conduzido ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual,
dessa vez, achou que o tratamento só podia ser realizado sob regime de internação.

Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado,
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo,
porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às
vezes, caía em coma ao adormecer.

Em 3 de maio de 1960, trazido à presença do médico, aí permaneceu sentado, o tronco


fortemente recurvado para frente e fazendo movimentos com as mãos, como se estivesse
penteando os cabelos. Mutismo absoluto. Obediência automática, estereotipia de atitude,
maneirismos e negativismo.

ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE Denomina-se esquizofrenia paranóide o tipo clínico da


enfermidade que se caracteriza pela predominância de delírio e alucinações. O quadro
paranóide é extremamente rico em manifestações psicopatológicas, encontrando-se nele
todos os sintomas de primeira ordem, de Kurt Schneider.

Na esquizofrenia paranóide, à medida que a enfermidade progride, o enfermo se integra em


seu mundo delirante e alucinatório, afastando-se cada vez mais da realidade, da qual retira
apenas aqueles elementos que contribuem para fortalecer a sua convicção delirante. A
doença tem início na idade média da vida ou na maturidade. Em toda a sua evolução, não se
observam alterações profundas da personalidade, como ocorre habitualmente nos tipos

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simples, hebefrênico e catatônico. Entretanto, nas fases tardias, a maior parte dos casos
apresenta acentuado defeito esquizofrênico.

É nesta variedade clínica de esquizofrenia que as preocupações delirantes se manifestam


com maior freqüência e adquirem valor excepcional para o diagnóstico. São dotadas de
significação especial e têm, para o doente, o valor de sinal, de mensagem, como se através
da percepção falasse ? uma realidade superior?. Os traços característicos da vivência
consistem em sua significação alterada e em seu caráter de ? imposição?, procedente do
mundo exterior. O fundamental, nesse caso, não é o conteúdo da percepção, mas o que ela
representa em si mesma como vivência delirante.

As percepções delirantes estão sempre unidas ao difuse Wahnstimmung, estado de ânimo


ou humor delirante que, habitualmente, é experimentado pelo enfermo como um sentimento
de inconsistência e de insegurança, que o leva a procurar instintivamente um ponto sólido
em que firmar-se e agarrar-se (Jaspers).

As alucinações são muito comuns no quadro paranóide e têm a particularidade de se


manifestarem com a mais completa lucidez da consciência. Observam-se a sonorização do
pensamento, as vozes que interferem na própria atividade, o roubo do pensamento, a
divulgação do pensamento e as vivências de influência corporal. Os fenômenos alucinatórios
mais comuns correspondem à esfera auditiva. Apresentam-se, geralmente como vozes que
censuram, ameaçam ou interferem diretamente nos atos do paciente. Nos casos em que as
alucinações auditivas se manifestam como vozes dialogadas, o enfermo percebe que várias
pessoas falam entre si a seu respeito: umas vozes o elogiam, outras comentam os seus atos,
outras condenam a sua conduta.

Os fenômenos alucinatórios, na esquizofrenia paranóide, se confundem muitas vezes com


ilusões e interpretações delirantes. Os enfermos se queixam de escutar vozes, porém com
esta expressão designam habitualmente produtos patológicos da atividade imaginativa, que
não têm características das verdadeiras alucinações.

O segundo lugar é ocupado pelas vivências de influência corporal. Apresentam-se,


habitualmente, como sensações anormais e desagradáveis. Em certos períodos da

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enfermidade, observa-se uma série de alterações da sensibilidade tátil, térmica e dolorosa,
que em muitos casos desempenham papel na produção do chamado delírio de perseguição
física. Os pacientes se sentem influenciados pelo hipnotismo, pela telepatia, pelo rádio, pela
eletricidade ou pelo telefone. As alucinações olfativas e gustativas são raras e, geralmente
estão relacionadas com delírio de envenenamento e com interpretações patológicas de
percepções normais.

Ao lado das percepções delirantes, do humor delirante e das alucinações, observam-se nos
esquizofrênicos paranóides, transtornos da vivência do eu e alterações afetivas e do
comportamento.

Exemplo clínico: Apresentamos como exemplo de esquizofrenia paranóide o resumo da


observação de uma paciente em que se pode enumerar todos os sintomas de primeira
ordem, de Kurt Schneider, alguns sintomas de segunda ordem, como alucinações olfativas e
visuais, disritmias depressivas e, ainda, inspiração de pensamentos.

Trata-se de uma enferma de 35 anos de idade, casada, em que a doença evolui por surtos
periódicos, com remissões de longa duração:

Desejo falar com o senhor sobre o princípio do mundo. Vamos remontar ao Continente da
Atlântida. A Atlântida era um continente onde havia paz e amor, mas, em determinada época,
por qualquer circunstância que não consigo me lembrar, Deus foi obrigado a submergir o
Continente da Atlântida. Então, os entes mais desenvolvidos foram salvos e enviados a
outros Planetas. Da Atlântida muitos andam por aí, muitos são avatares, entes que vivem na
Terra com poderes supranormais, que já andaram pelos Planetas marte, Vênus, urano, que
são os planetas mais desenvolvidos do Cosmo. Eu pertenço à Atlântida. Sei disso porque
tenho ligação direta com o espaço. Devido a minha hipersensibilidade, cheguei a ter contato
com o Pai Celestial.

Houve uma época em que a Terra ia ser destruída, porque havia muita maldade. E por que a
Terra foi criada? Foi criada para salvar os entes perversos que usavam os poderes que
possuíam quando habitavam a Atlântida. Naquela época os seres humanos não se
comunicavam pela fala, eles se comunicavam pela mente, por intermédio dessa glândula que

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os médicos não atinam a razão de sua existência: a glândula pineal. Costuma-se perguntar:
para quês serve isto? Ora, se Deus a fez, teria de haver uma razão. Se ela não é
desenvolvida em determinadas criaturas é porque não merece ser desenvolvida, porque
essas criaturas podem aplicar os seus poderes para o mal, como foi o caso de Hitler. Ele
tinha o poder da Kundaline e desenvolveu grandemente esse poder da Serpente e o
empregou para o mal. Como Goebels e todos os líderes alemães da Segunda Guerra
Mundial.

Então o que aconteceu? Um dia, Deus, preocupado na sua suprema bondade, procurou-me
no Planeta Marte. No Planeta Marte eu sou considerada, sem modéstia, como Rainha. O
povo de Marte há milênios que sofre porque eu não estou lá, eu vim em missão à Terra, para
ajudar o Pai nessa missão de redimir. Ele me pediu: filha, só tu podes salvar a Terra. Deixa o
teu Planeta Marte e vai para a Terra; lá tu sofrerás bastante e viverás encarnações e
encarnações e encarnações. Eu posso dizer algumas encarnações: fui preceptora na França,
irmã de caridade na Itália, fui Nefertiti, fui grande advogada criminalista na época de Ana
Bolena, fui aquele que bebeu cicuta. Quem foi? Sim, Sócrates. Eu sofri as penas do inferno.
Nós todos, meus amigos. Até parece que estou falando para muita gente. Mas eu estou
realmente falando para muita gente. Não estamos sós aqui, ao nosso lado tem muita gente.
O senhor acredita?

Sim. Quer dizer que a senhora, em outras encarnações, tem sido homem e tem sido mulher?

É verdade. Nós somos hermafroditas. Nós temos um tanto de masculino e de feminino. O


senhor sabe muito bem disso, porque o senhor é médico. Nós temos um pouco de homem e
um pouco de mulher. A parte que se desenvolve mais é o sexo que predomina?.

A senhora se dirigiu nesse momento a outras pessoas. A senhora está vendo alguém além
de nós?

Não, não vejo ninguém. Mas sei que eles estão sempre ao meu lado, me orientando sobre o
que devo falar, o que posso falar, o que o senhor pode saber. Porque o senhor também

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precisa ser esclarecido. Quando chega à noite, meu espírito se separa do invólucro físico e
eu vou para o Hospital do Espaço

Existe Hospital no espaço?

Existe. Eu sou enfermeira no Hospital do Espaço. Quando me deito, eu peço assim: Pai,
quando eu dormir me leva para o Hospital do Espaço ou para uma Clínica de Repouso.
Quero ser levada para a clínica de Ramatis. Então lá, o meu peri-espírito, não o físico, é
tratado. Eles tratam o meu peri-espírito através da cromoterapia, da fluidificação, um
tratamento à base de cores.

Quando a senhora percebe que o seu peri-espírito adoece?

Quando? Não, como adoece?

Quando o físico adoece, o peri-espírito também adoece. Então se a pessoa trata o peri-
espírito, o físico também melhora. Há uma relação, o senhor me entende? Então eu vou para
o espaço. Quando chega a manhã eu estou elétrica. Como bem, tenho orientação sobre os
alimentos que devo comer, se devo comer muito sal, se devo comer carne. Eu, por exemplo,
quase não como carne. Como sou uma criatura voltada para as coisas do espírito, a carne
não vai bem com o meu organismo?.

A senhora referiu que se comunica com Deus. É verdade? (...)

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U NIDADE 13
Objetivo: Possibilitar prática mais abrangente dos transtornos mentais

EXEMPLOS CLÍNICOS

Exemplo clínico de Esquizofrenia Simples

Renato, com 23 anos de idade, cor parda, solteiro, fotógrafo.

Segundo informações da genitora, os sintomas da enfermidade tiveram início aos 17 anos de


idade. Na ocasião, queixava-se de que, na rua, as mulheres não olhavam para ele, mas os
homens encaravam-no de modo especial. Já naquela época o paciente revelava tendência a
emprestar significação especial às ocorrências. O fato dos transeuntes olharem-no
casualmente na rua, significava: ele é um veado. Começou a manifestar uma preocupação
extravagante com as mulheres casadas. Às vezes, durante a noite, fugia de casa, subia nos
telhados das casas vizinhas, afastava algumas telhas, tentando ver o que se passava no
interior dos quartos. A genitora recebeu várias queixas a respeito desses atos extravagantes
e talvez ele não tenha sofrido algumas represálias, porque é muito conhecido no lugar onde
reside. Certa vez chegou em casa muito afobado, com vários ferimentos pelo corpo.
Interrogado, confessou que havia caído de cima de um muro, quando olhava para o interior
de uma casa e foi surpreendido pelos moradores. Apesar dessas alterações do
comportamento, continuou trabalhando, sem fazer tratamento. Em dezembro do ano
passado, o patrão mandou avisar à genitora que o paciente não estava em seu estado
normal. Mostrava-se muito retraído e passava horas seguidas pensativo, sem fazer nada.
Durante alguns meses queixou-se de cansaço e desânimo. De vez em quando era assaltado
por idéias depressivas. Por exemplo, ao aproximar-se de casa, surgia o pensamento de que
ia encontrar a mãe morta. Apressava o passo a fim de verificar se realmente isso havia
acontecido. A comprovação da insensatez de tais idéias não contribuía para que, no dia
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seguinte, surgissem os mesmos pensamentos. Estava distraído no trabalho quando,
subitamente, pensava: Será que a minha mãe está viva. Será que a minha mãe está
passando bem? Quem sabe se ela não morreu? No dia 8 de março, deste ano, por iniciativa
própria, tomou um frasco de anquilostomina, porque estava pálido e lembrou-se da história
de Jeca Tatu. No dia seguinte, ao meio dia, quando regressava para casa, foi assaltado por
dois malandros de morro, que lhe obrigaram a fumar um enorme cigarro. Em seguida
forçaram-no a beber água de uma bica próxima. Logo depois, começou a ficar tonto, o
mundo rodando e com zumbidos estridentes nos ouvidos. Custou a encontrar o caminho de
casa, porque não reconhecia o lugar onde se encontrava. Permaneceu num estado de
sonolência por mais de cinco horas. Sentia-se fraco e desamparado, demasiadamente fraco
para realizar o mínimo movimento. Em 16 de maio, à noite, estava assistindo um filme,
quando sentiu uma coisa esquisita. Começou a ficar frio, o corpo gelado, o coração batendo
de maneira descompassada. Teve o pressentimento horrível de que ia morrer naquele
instante. Ficou apavorado. Saiu do cinema e tomou um café num bar das proximidades.
Sentiu-se pior. Antes de chegar em casa, começou a perceber que a vista estava ficando
escura e tinha a impressão de que o mundo ia se acabar. Apressou o passo para chegar
mais rapidamente em casa, pois desejava morrer junto de sua mãe. Deitou-se e pediu à
genitora que o acudisse. Nesse momento começou a sentir um cheiro de vela acesa.
Pensou: Estou no fim e minha mãe acendeu uma vela para colocar em minhas mãos. Mais
tarde, como continuasse a se sentir pior, foi levado ao Pronto-Socorro. Deram-lhe um
comprimido de tranqüilizante, pela madrugada, voltou para casa. Não conseguia dormir,
porque tinha o pressentimento de que algo ainda estava para lhe acontecer.

Depois de alguns dias, durante a noite, teve um pesadelo. Sonhou que estava andando pela
rua e, quando passava em frente a um armazém, sentiu que ia morrer e caiu no chão.
Acordou completamente transtornado. A partir desse momento, começou a perceber que as
coisas estavam diferentes. Parecia que tinha a visão deformada, porque os objetos não eram
mais os mesmos. Percebia que havia ocorrido uma transformação completa no ambiente. Os
seus sentimentos em relação às pessoas também sofreram completa transformação. Não
gosta mais da companheira, com quem vive a algum tempo. Quando ela se aproximava para
lhe fazer carinho, sentia de súbito um ódio profundo e tinha vontade de estrangulá-la. Ficou
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indiferente em relação aos amigos. Perdeu a afeição à genitora. Todos os seus sentimentos
se apagaram por completo. O paciente tenta explicar essa transformação: É como se eu
tivesse dormido durante dez dias e, ao acordar, o mundo tivesse se modificado. Agora é um
mundo de fantasia.

Seis dias depois de ter se queixado do pesadelo, começou a dizer que todas as pessoas
estavam mortas. Escutava uma voz que lhe dizia: você vai morrer. Você vai morrer. Não
adianta você ficar escutando rádio, porque você já está morto. Andava muito impressionado,
com desconfiança, admitindo que fizeram macumba contra ele e que lhe influenciam à
distância. Perdeu completamente a confiança em si mesmo e começou a ficar medroso. Não
saía mais sozinho de casa.

Desde a época em que teve o pesadelo, começou a perder a noção do tempo. Em alguns
momentos não sabe calcular que horas são, ou em que parte do dia se encontra, se é pela
manhã ou à tarde. Tem a impressão de que perdeu a sensibilidade do lado esquerdo, pois só
sente o lado direito. Em certos momentos tem o sentimento de que é forçado a pensar, como
se ele tivesse obrigatoriamente de se entregar aos maus pensamentos. Ultimamente, de vez
em quando, é assaltado pela idéia de matar a genitora. Pensava que ia morrer e, por isso,
achava que deveria matá-la: Era para morrer junto com ela?

Em alguns momentos era tomado por uma sensação de opressão torácica, respirava com
dificuldade, agitava-se, soltava gemidos, lamentava-se e a fisionomia adquiria uma
expressão de intenso pavor. Informou então que sentia medo, um medo semelhante ao que
sentia dentro do cinema.

Desde o seu ingresso neste serviço, o enfermo tem revelado completo desinteresse por tudo
e até mesmo por suas próprias condições pessoais. Levado à seção de terapêutica
ocupacional, ali permanece indiferente, arredio, desinteressado, sem iniciativa, revelando-se
incapaz para qualquer atividade com fins pragmáticos.

O pai suicidou-se, há sete anos passados, ateando fogo às roupas. Algum tempo antes,
vinha freqüentando centros espíritas. Falava sozinho e, certa vez, investiu contra a esposa,
armado com uma foice, para matá-la.

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Exemplo clínico de Esquizofrenia Hebefrênica

Expedito, com 24 anos de idade, de cor branca, solteiro, auxiliar de laboratório.

Desde a idade de 12 anos vem o paciente se revelando muito nervoso, brigando com as
pessoas pelas coisas as mais insignificantes. Aos 14 anos, começou a trabalhar num
laboratório de prótese dentária, no serviço de entregas. Abandonou o trabalho antes de
completar um ano. Sempre gostou de jogar futebol. Aos 15 anos, tentou ingressar no juvenil
do Bonsucesso, porém não foi aceito, porque o técnico achou que ele não tinha resistência
física. Desde então, ficou muito preocupado, com desânimo, queixando-se de que era um
inútil, que não servia para nada. Dizia que não era igual aos irmãos, que tinham
desembaraço e estavam encaminhados na vida, enquanto ele nada conseguia. Tinha crises
de choro e julgava-se um infeliz, sem sorte. Aos 17 anos, foi convocado para o serviço
militar, tendo sido considerado incapaz, temporariamente, por deficiência de peso. Passou
muito tempo preocupado, dizendo que nunca teria condições para servir ao Exército. Rezava
muito. No ano seguinte, apresentou-se novamente ao Exército e, dessa vez, foi considerado
incapaz, em caráter definitivo, porque não tinha físico. Recebeu certificado de reservista,
porém não conseguia emprego. Já nessa época revelava tendência a viver significações.
Tinha a impressão de que as pessoas debochavam dele e que muitos pensavam que não se
pode confiar num homem que não servia ao Exército. Sentia-se humilhado, porque
necessitava de dinheiro e tinha de recorrer aos irmãos. Muito preocupado com o problema de
roupas. Nunca estava satisfeito com as roupas que lhe destinavam. Ora considerava que as
calças estavam largas, ou apertadas, ou que o paletó não lhe caía bem.

Em princípios de 1958, conseguiu uma colocação como auxiliar de laboratório. Um mês


antes de completar um ano e sair de férias, a genitora notou que ele estava muito esquisito.
Pela manhã, antes de sair para o trabalho, ficava andando de um lado para outro: ia até à
porta da rua, voltava à sala, ia ao banheiro, novamente se dirigia à porta, mas não se decidia
a sair, e assim passavam uns quinze minutos, até que alguém insistisse para que ele fosse
embora. No trabalho, conduziu-se com exagerado desembaraço, completamente fora do

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natural. No período em que esteve de férias, ficava o dia inteiro em casa, não dormia, não
falava com ninguém, sempre rezando. Apresentou cismas em relação aos companheiros de
trabalho, dizendo que eles estavam sempre cochichando, falando mal dele. Tinha a
impressão de que, quando passava junto aos companheiros de trabalho, eles lhe chamavam
de mariquinhas e que ninguém confiava em sua pessoa. Foi levado a um psiquiatra e esteve
em tratamento de ambulatório, pelo período de um ano, sem resultado. Durante esse tempo,
esteve em casa, indiferente, calado, queixando-se de insônia e dores de cabeça. Ria muito
sozinho e, freqüentemente, mirava-se no espelho. Dizia que escutava vozes durante a noite
e ficava com ódio tremendo, e decidia que tinha de matar uma ou muitas pessoas para livrar-
se daquela perseguição. Informava que o demônio lhe perseguia. Dizia que estava sendo
perseguido pelo demônio e pela pomba gíria, a mulher do demônio. Lamentava-se de que
ninguém pudesse compreender como ele sofria com tamanha perseguição. Passava as
noites fumando, tomando café e bebendo água. Sentia-se inseguro e com medo. Nunca se
preocupou com namoradas. Revelava-se tímido em relação às mulheres. Há quinze dias, ao
apertar a mão de uma garota, sua vizinha percebeu que a mão estava muito grossa:
queixou-se em seguida que sentiu mal-estar, enjôo e ficou pensando que ela lhe havia
transmitido algo sobrenatural.

Internado na Casa de Saúde Dr. Eiras, em 6 de julho de 1960. Ao ser examinado, revelava-
se deprimido, falando em tom de voz baixo, a mímica apagada, gestos escassos e
informações extremamente precárias. Fez referência a vozes de conteúdo depreciativo:
chamam-no jeca, covarde, mal-educado, dizem que ele não é homem ou chamam-no de
veado. Algumas vezes percebe que umas vozes tomam a sua defesa e contradizem: ele é
homem, sim ele não é covarde, ele não tem culpa Informou também que em sua casa,
quando está pensando em alguma coisa, percebe que os seus pensamentos são repetidos
no andar de cima, onde residem certas pessoas que o perseguem. Alucinações
cenestésicas. Sente que o corpo está dilatado e que as pernas estão grossas, fora do
normal. Inibição do curso do pensamento. Delírio de perseguição, inconsistente, mal
sistematizado. Queixa-se de uma perseguição que lhe movem os vizinhos e os colegas de
trabalho. Tem cismas do pessoal de uma escola de samba, porque eles desejam arruína-lo e
arrasar com a sua família. Humor delirante. Sentimento de estranheza e de transformação do
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mundo. Às vezes, está perfeitamente bem na rua, porém, ao voltar para casa tem a
impressão de que tudo está mudado. Enfraquecimento dos sentimentos familiares. Sente
medo de tudo. Não ode escutar rádio, porque acha que estão falando mal dele. Sente uma
hostilidade no ambiente, como se todos estivessem contra ele. Atos extravagantes: passa
horas seguidas mirando-se no espelho, rindo sozinho, fazendo caretas.

Exemplo clínico de Esquizofrenia Catatônica

Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica, natural do Estado
do Rio de Janeiro.

Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações,
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e
ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou,
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto. Foi novamente conduzido
ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual, dessa vez, achou que o tratamento só
podia ser realizado sob regime de internação.

Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado,
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo,

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porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às
vezes, caía em coma ao adormecer.

Em 3 de maio de 1960, trazido à presença do médico, aí permaneceu sentado, o tronco


fortemente recurvado para frente e fazendo movimentos com as mãos, como se estivesse
penteando os cabelos. Mutismo absoluto. Obediência automática, estereotipia de atitude,
maneirismos e negativismo.

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U NIDADE 14
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO

10
O corpo no autismo

Fabiana. S. Fernandes

Universidade Federal do Amazonas

O objetivo principal deste estudo é refletir sobre constituição do corpo em crianças autistas.
Para que esse trabalho seja melhor compreendido, ele foi dividido em três partes principais.
Num primeiro momento falarei sobre o autismo e suas características comportamentais tais
com distúrbio do relacionamento; distúrbio da fala e da linguagem; distúrbio do ritmo de
desenvolvimen-to; distúrbio da motilidade e distúrbio da percepção. Em O corpo exponho um
breve estudo do corpo e, posteriormente, como esse corpo é constituido, percebido e vivido
no autista, além de fazer uma referência às estruturas de esquema e imagem corporal, e sua
importância no tratamento de autistas. Finalmente procurei entender qual a importância e/ou
interferência da noção de Corpo no desenvolvimento de crianças autistas. A partir dessa
compreensão será possível investigar novas formas de tratamento e/ou intervenção para
essas crianças.

A metodologia utilizada na elaboração desse estudo foi a pesquisa bibliográfica exploratória


em material já elaborado, constituído principalmente de livros. O critério para seleção do
material na pesquisa bibliográfica objeto desse estudo, baseou-se na consulta de literatura

10
Artigo disponível no site acadêmico P@PSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1676-73142008000100013&script=sci_arttext

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especializada na área, selecionada por abordar a temática do Corpo no Autismo, fornecendo
sustentação teórica suficiente para atender os objetivos desse estudo introdutório.

O autismo

De acordo com Gauderer (1993), o autismo manifesta-se por profundas alterações do


comportamento, que instalam-se precocemente na infância. É uma síndrome formada por um
conjunto de alterações do comportamento que, embora não sejam exclusivas do autismo,
constituem uma constelação clínica, não integralmente reproduzida em nenhuma outra
doença.

Para Mahler (1989), partindo das perspectivas de relação objetal e desenvolvimento do


senso de realidade, pode-se descrever dois grupos, clínica e psiquicamente distintos, de
psicose infantil precoce; num deles, a mãe parece jamais ter sido percebida emocionalmente
pelo bebê como figura representativa do mundo externo; de outra forma, a primeira
representação da realidade externa, a mãe como pessoa, como entidade separada, parece
não ser catexizada. A mãe permanece um objeto parcial, aparentemente destituído de
catexias específicas, que não é diferenciado dos objetos inanimados. A autora complementa
essa descrição dizendo que:

O autismo infantil precoce desenvolve-se, acredito, porque a personalidade infantil, destituída


de vínculos emocionais com a mãe, é incapaz de enfrentar os estímulos externos como uma
entidade. O autismo constitui portanto, o mecanismo pelo qual tais pacientes tentam excluir,
de maneira alucinada (alucinações negativas) as fontes potenciais da percepção sensorial,
especialmente aquelas que exigem resposta afetiva (Mahler, 1989, p. 34).

De acordo com Gauderer (1993), esse tipo de psicose infantil foi descrito pela primeira vez
por Kanner em 1942 e recebeu o nome de autismo infantil precoce. Nessa psicose a criança
não apresenta sinais de perceber afetivamente os outros seres humanos. Acha-se ausente o
comportamento que indica a percepção afetiva das provisões maternas vindas do mundo
externo.

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Ainda conforme Gauderer (1993), os sintomas do autismo podem ser divididos em cinco
grupos gerais: Distúrbios do Relacionamento: tanto o relacionamento com pessoas quanto
com objetos inanimados estão alterados no autismo. Esta deficiência precoce inclui a falta do
desenvolvimento de uma relação interpessoal e de contato visual. Distúrbios da Fala e da
Linguagem: o autor mostra que o desenvolvimento da fala é caracterizado por um enorme
atraso, com fixações e paradas ou total mutismo. É comum a ecolalia (ou seja, a repetição
automática de sons ou palavras ouvidas) associada ao uso inadequado ou reversão do
pronome pessoal. Quando a fala comunicativa se desenvolve é atonal, arrítimica, sem
inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente as emoções. Distúrbios do Ritmo de
Desenvolvimento: as crianças autistas mostram grande irregularidade na idade em que
desenvolvem as seqüências motoras ou de linguagem. O ritmo mais comum é uma
descontinuidade na seqüência normal do desenvolvimento, por exemplo, a criança pode
sentar-se precocemente sem ajuda e depois mostrar um atraso significativo para se colocar
em pé. Distúrbios da Motilidade: o maneirismo e os padrões peculiares de motilidade nessas
crianças são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e bizarra.
Moraes (2002) cita que os movimentos corporais estereotipados são comuns e apresentam-
se sob a forma de balanceio da cabeça, movimentos com os dedos, saltos e rodopios. Esses
movimentos costumam ocorrer, principalmente, entre os mais jovens e os que têm um
funcionamento global mais baixo. Distúrbios da Percepção: há uma incapacidade na criança
de fixar ou dedicar sua atenção a certos estímulos visuais, voltando-se quase que
exclusivamente a outros. A criança é incapaz de usar estímulos sensoriais para discriminar o
que é importante ou não. Em outras palavras, ocorre um erro de seletividade. A criança
autista pode ignorar estímulos visuais, até mesmo pessoas e paredes, a ponto de chocar-se
com estas como se o obstáculo não existisse.

Classificação do autismo

Baptista e Bosa (2002) afirmam que se verifica na história uma grande controvérsia com
relação ao conceito do autismo, a distinção entre autismo, psicose e esquizofrenia. As
primeiras edições da CID (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, da
Organização Mundial da Saúde) não fazem qualquer menção ao autismo. A oitava edição o

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traz como uma forma de esquizofrenia, e a nona agrupa-o como psicose infantil. A partir da
década de 1980, assiste-se a uma verdadeira revolução paradigmática no conceito, sendo o
autismo retirado da categoria de psicose no DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) e no DSM-III-R, bem como na
CID-10, passando a fazer parte dos transtornos globais do desenvolvimento, como segue: na
CID-10 (1993) encontra-se a definição dessa síndrome dentro dos Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento, como Autismo Infantil - F84.0 e Autismo atípico - F84.1 e, no DSM IV
(2000), também dentro dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, encontra-se o
Transtorno Autista - 299.

Conforme Baptista e Bosa (2002), durante muito tempo prevaleceu a noção de pessoas com
autismo como sendo alheias ao mundo ao redor, não tolerando o contato físico, não fixando
o olhar nas pessoas e interessando-se mais por objetos do que por outras pessoas ou,
ainda, nem mesmo discriminando seus pais de um estranho na rua. A mídia e a literatura
debruçaram-se sobre a imagem do "gênio" disfarçado, engajado em balanços do corpo e
agitação repetitiva dos braços. "Estudos recentes têm comprovado o que os profissionais
envolvidos com a criança já sabem: nem todos os autistas mostram aversão ao toque ou
isolamento" (Trevarthen citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).

"Alguns, ao contrário, podem buscar o contato físico, inclusive de uma forma intensa, quando
não "pegajosa", segundo pais e professores. Também existem evidências de que crianças
com autismo desenvolvem comportamentos de apego em relação aos pais (mostrando-se
angustiados quando separados deles, buscam sua atenção quando machucados,
aproximam-se deles em situação de perigo), de uma forma diferenciada" (Capps, Sigman &
Mundy citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).

Na opinião de Baptista e Bosa (2002), a forma como os autistas comunicam suas


necessidades e desejos não é imediatamente compreendida, se adotarmos um sistema de
comunicação convencional. Um olhar mais cuidadoso e uma escuta atenta permitem-nos
descobrir o grande esforço que essas crianças parecem desprender para lançar mão de
ferramentas que as ajudem a ser compreendidas.

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Ainda de acordo com Baptista e Bosa (2002), os estudos de observação minunciosas de
crianças autistas (utilizando filmagens) mostram que os olhares são mais freqüentes do que
se imagina. O que ocorre é que são breves e, por isso, muitas vezes imperceptíveis. Na
verdade, a freqüência do olhar muda com o contexto, e esse é mais comum, e tende a ser
mais longo naquelas situações em que a criança necessita da assistência do adulto do que
naquelas em que está, por exemplo, brincando com o adulto. Nesse caso, as teorias
sociocognitivas ajudam a compreender a pouca freqüência do olhar: não olham porque não
sabem a função comunicativa do olhar para compartilhar experiências com as pessoas - uma
habilidade que se desenvolve ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Essa suposição
parece trivial, mas faz uma diferença quando aplicada em um contexto de intervenção com
os pais: não olhar porque não compreende a extensão das propriedades comunicativas do
afeto e do olhar é diferente de não querer olhar.

Para esses autores, existem várias teorias, desde a psicanálise, ocupando-se do mundo
interno da criança, passando pelas teorias da linguagem, sociocognitivas (explicando a
dificuldade em colocar-se no ponto de vista do outro, em refletir sobre estados mentais) até
as teorias neuropsicológicas (dando conta das dificuldades de dividir a atenção entre os
eventos sociais e não sociais, habilidade de extrair significado de um contexto perceptivo,
capacidade de organização, flexibilidade e planejamento, enquanto função dos lobos
frontais). Nenhum modelo teórico, sozinho, explica de forma abrangente e satisfatória a
complexidade dessa síndrome - eis, a razão pela qual há a necessidade do trabalho em
equipe e o respaldo da pesquisa. A experiência clínica, segregada da pesquisa, corre o risco
de gerar mitos, pois tende a cristalizar preconceitos. Da mesma forma, a pesquisa,
desvinculada da clínica, aprisiona o conhecimento cuja produção pode e deve trazer
benefício à comunidade.

O corpo

Os seres humanos, ao serem captados pela linguagem diferenciam-se do reino animal,


deixam de ser puro corpo e, pelo ingresso ao universo simbólico, podem tê-lo e, portanto, ser
sujeito com um corpo.

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Segundo Ferreira (2000), as experiências motoras da criança são decisivas na elaboração
progressiva das estruturas que aos poucos dão origem às formas superiores de raciocínio,
isto é, em cada fase do desenvolvimento, ela consegue uma determinada organização
mental que lhe permite lidar com o ambiente. Pode-se assim dizer que, em termos de
evolução, a motricidade é uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de
nela o pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá retardar
e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo.

O autor explica que o equilíbrio ou desequilíbrio do tônus muscular, suas variações ou seus
bloqueios irão traduzir a maneira de ser da criança, suas emoções, suas vivências psíquicas,
além de participar também como elemento na comunicação não-verbal. A atitude da mãe
pesa muito no desenvolvimento da criança, desde o período gestacional, quando há um
aumento considerável de medos, muitas vezes sem motivo aparente, de ansiedades,
depressões, enfim, uma gama de sentimentos que irão repercutir, mais tarde, no
desenvolvimento psicológico, intelectual, afetivo e psicomotor da criança. Existe, portanto,
uma comunicação constante, um diá-logo corporal entre mãe e filho, na esfera do qual as
modificações tônicas: acompanham não apenas cada afeto, mas também cada fato da
consciência

Seguindo na abordagem de Ferreira (2000), ele visualiza, então, que as capacidades


motoras, intelectuais e afetivas que facultam à criança estabelecer relação com o mundo,
estão sujeitas à sua carga tônica pessoal, a qual é, por sua vez, construída a partir das
estimulações que o meio e as pessoas lhes impõem. Será pela percepção das diferentes
experiências que a criança terá possibilidade de criar a base para o desenvolvimento de sua
independência e autonomia corporal e sua maturidade socioemocional.

Esse autor mostra ainda que a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o mundo
vivenciando e experimentando as relações, isso, a princípio, via corpo, que é no início o seu
único meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão intimamente
ligadas à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo
desde a sua fase uterina. Assim, o movimento está em ligação direta com a criança, pois é

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parte dela que se comunica com o mundo, e também é a partir dele que irá organizar-se
enquanto sujeito pensante e atuante para dar conta da sua participação na sociedade.

Quando se fala em corpo, segundo Ferreira (2000), tem-se que pensar que ele é um
organismo vivo, um ser desejante, atuante, emocional, inteligente, enfim, não se pode
esconder ou apenas renegar a história que ele carrega. É preciso entender que o corpo
muda com o passar do tempo dependendo dos valores e das necessidades do local, da
situação e, é necessário aceitar as suas diferenças.

O corpo no autismo

Levin (2000) afirma que no autismo, o corpo da criança não tem outra referência do que a de
estar à margem. Diferentemente da psicose, não tem uma relação de univocidade à
linguagem (modelo materno), e sim de exclusão. O corpo é pura carne sem ligação
representacional, é puro real.

Para esse autor o corpo no autismo permanece mudo, silencioso, carente de qualquer
gestualidade, mantém-se encapsulado e coisificado nessa única posição do mutismo.
Mutismo que não se produz por ter um problema na audição, mas porque o que olha e
escuta é o seu não lugar. Posição mortífera em que nenhum significado remete a outro, nem
ordena a linguagem. Tanto o corpo quanto as posturas, o tônus muscular, os movimentos, o
silêncio, o espaço e o tempo, estão numa relação de exclusão à linguagem. Não fazem
superfície, não fazem borda. Desse modo, o corpo da criança autista movimenta-se num
tempo eterno, infinitamente, sem pausa, num espaço sem limites, sem um lugar no qual
possa orientar, navegando no vazio próprio da coisa inerte.

Ferreira e Thompson (2002) mostram que as noções de tempo e espaço são as principais
bases do desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança. Mas para que a organização
espaço/tempo se desenvolva, é necessário, antes de tudo, que as noções de esquema
corporal e imagem do corpo estejam integradas. Essa percepção do espaço depende de
dados sensoriais e de atitudes motoras. As alterações da percepção de espaço são, em
primeiro lugar, causadas pela dificuldade de compreender o espaço corporal e suas

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fronteiras. A gestualidade e os movimentos pouco adaptados, assim como a postura,
perturbam frequentemente a linguagem não-verbal da criança autista.

Levin (2000) informa que os movimentos estereo-tipados apresentados pelas crianças


autistas podem ser chamados de movimentos autísticos, uma vez que não se dirigem a
ninguém. O movimento, ao não passar por um registro outro, não se separou. Ele sugere que
uma das possíveis vias de entrada no tratamento dessas crianças é por meio desses
movimentos estereotipados (auto-eróticos). Por essa via procura-se escindir, separar, esse
corpo do gozo: tenta-se fazer com que o movimento comece a funcionar, desse modo, no
registro do desejo, situando-o em outra posição separada do gozo.

Ferreira e Thompson (2002) informam que o autista apresenta dificuldade de compreender


seu corpo em sua globalidade, em segmentos, assim como seu corpo em movimento.
Quando partes do corpo não são percebidas e as funções de cada uma são ignoradas, pode-
se observar movimentos, ações e gestos pouco adaptados. O distúrbio na estruturação do
esquema corporal prejudica também o desenvolvimento do equilíbrio estático, da
lateralidade, da noção de reversibilidade; funções de base necessárias à aquisição da
autonomia e aprendizagens cognitivas.

Na opinião desses autores, não deve ser esquecido que os autistas possuem seus próprios
desejos, preferências e personalidade, nem ignorar os outros aspectos do desenvolvimento.
A linguagem, sobretudo, é constituinte do sujeito, sendo base para a estruturação psíquica,
cognitiva e também psicomotora. Ao falar de corpo, o objetivo é ajudar a pessoa autista a
superar algumas de suas dificuldades, permitindo seu desenvolvimento em outros planos,
oferecendo novos meios de expressão, favorecendo a conscientização, possibilitando o
acesso a funções importantes como o olhar e o tocar, buscando melhorar sua qualidade de
vida.

Esquema corporal e imagem corporal

Segundo Levin (2000), o esquema corporal é o que se pode dizer ou representar acerca do
próprio corpo. A representação que temos do mesmo é da ordem do evolutivo, do temporal.
Dentro do esquema corporal encontram-se as noções de proprioceptividade,

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interoceptividade e exteroceptividade. Na evolução psicomotora da criança, o esquema
corporal irá se construindo, ele é suscetível à mensuração e à comparação com outro; por
exemplo, nas medidas padronizadas em que a criança corresponde a cada idade, um peso,
uma altura, etc.

Para Ferreira e colaboradores (2002), o esquema corporal é elemento básico indispensável


para a formação da personalidade da criança. É a representação relativamente global,
científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo. A estruturação espaço-
temporal, fundamenta-se nas bases do esquema corporal sem o qual a criança, não se
reconhecendo em si mesma, só muito dificilmente poderia aprender o espaço que a rodeia.
Torna-se necessário que a criança adquira o domínio corporal, o reconhecimento corporal e
a passagem para a ação. Sem essas habilidades, uma criança, por exemplo poderá chocar-
se constantemente com os amigos durante brincadeiras que envolvam corrida, machucar-se
ao passar por espaços limitados e sentir dificuldades em transferir líquidos de um recipiente
para outro ou entornar os líquidos ao bebê-los. As etapas do desenvolvimento do esquema
corporal abrangem o corpo vivido, o conhecimento das partes do corpo, a orientação-espaço-
corporal e a organização espaço-corporal.

De acordo com Levin (2001), o estágio do espelho tem um papel essencial na constituição da
imagem corporal da criança. O gesto dela diante do espelho convoca ao olhar do outro que
confirma essa imagem própria. Esse gesto implica um movimento postural que, por um
instante, a descentra do espelho e a aliena mais uma vez enlaçando-a ao outro. A
transformação implícita, via identificação, o fascínio pela imagem especular determina
mudanças posturais e corporais que organizam a construção corporal a partir do espelho
virtual da criança.

Estudando essas reações da criança diante do espelho, Wallon (citado por Ferreira &
Thompson, 2002) destaca dois tempos importantes em sua psicogênese: a capacidade de
perceber a imagem e de relacioná-la a si próprio:

O primeiro diz respeito à constatação de que, inicialmente, a criança aprende a relacionar


imagem especular com a pessoa real, por meio da atitude de um outro que, com ela, divide o

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reflexo no plano de espelho. Por exemplo, a descoberta da relação entre imagem e pessoa
real não se constitui por intermédio da imagem propriamente dita, mas do fato de estar a
criança acompanhada de alguém que, falando ao seu lado, possa criar uma transferência
entre pessoa real e imagem e, paradoxalmente, estabelecer, ao mesmo tempo, um vínculo
entre imagem e pessoa real. O caminho percorrido para a associação vai do gesto à
imagem.

. O segundo tempo inaugura a construção de imagem de si, propriamente dita. A criança


passa a reconhecer a sua própria imagem refletida no espelho, buscando estabelecer um
contato corporal com ela. Nesse momento de captura da imagem de seu próprio corpo, a
criança passa a referir-se a ela (a imagem), quando a chamam pelo seu próprio nome.
Durante boa parte dos primeiros anos, ainda assistimos às crianças chamarem-se na terceira
pessoa, como um processo de referência a si mesma, projetadas na imagem que
construíram para si, especular e exteroceptiva.

Ferreira e Thompson (2002) falam que a imagem corporal é um conjunto de informações que
constituem um sujeito diante de si, do outro e do mundo. A construção da imagem passa
necessariamente pelo outro e pela cultura. O sujeito aprende a ver com os olhos dos outros.
Mas, para além do olhar, há muito mais. Há a linguagem inscrita na forma desses que olham
e que reconhecem o sujeito, lhe dão um rosto, um semblante, uma expressão. A imagem
passa pelos cuidados recebidos, pelo amor e desamor, pelas frustrações, privações e
castrações simbólicas.

O esquema corporal de uma criança autista certamente se encontra perturbado, informa


Levin (2000), mas não por uma falha no esquema corporal, mas pela ausência, pela carência
do outro que não fez a inscrição, que não fez os contornos desse corpo, que não gerou
desejo, imagem, que para serem geradas irão necessitar de um outro que imagine que ali há
um sujeito e não uma "coisa" (objeto). Desse modo, a criança poderá espelhar-se nessas
imagens (no olhar desejante), no outro que assim outorga a possibilidade de construir um
esquema e uma imagem corporal.

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Considerações finais

É essencial ficar entendido que intervir num processo vivencial é intervir na totalidade
humana, seja essa intervenção através do olhar, do escutar, do tocar ou do falar. Provocar
alguma variação numa experiência é alterar a vivência global do indivíduo em sua forma de
ser e estar no mundo.

Pode-se dizer que uma das primeiras intervenções a que somos submetidos se dá através
do olhar. Alguém nos olha quando nascemos e nos diz quem somos. A partir desse momento
começamos a delinear nosso lugar no mundo, nossa identidade. O toque, o sorriso, o falar, o
olhar dos pais são de vital importância para o desenvolvimento emocional e intelectual da
criança. O desejo do outro vai marcar e influenciar seu próprio desejo.

É papel do profissional compreender e viver em profundidade o fato de que a criança


necessita de alguém que se encante com seu mundo e o compreenda como essencial ao ato
de viver; alguém que sonha, fantasia, deseja, sorri, dá gargalhadas, se alegra, busca realizar,
alguém que conscientemente constrói a existência para si e para o outro; um profissional que
lança mão do arcabouço de seu conhecimento para o exercício de seu trabalho, ao mesmo
tempo que é repleto de sensibilidade e sutileza relacional. Utilizando o pensamento de
Ferreira e colaboradores (2002), o profissional que decide lidar com a criança autista, deve
considerar tudo o que se sabe sobre o processo de desenvolvimento normal e os fatores que
otimizam o desenvolvimento; como também, tem de considerar o que se sabe sobre os
aspectos anormais que interferem no desenvolvimento das crianças autistas.

Foi possível perceber que a criança autista não possui um corpo vivenciado. A sensação que
se tem é que o corpo é um objeto a parte, sem significação, sem importância. Existe uma
grande dificuldade por parte da criança em compreender seu corpo como um todo. Ela não
desenvolve de maneira adequada as noções de Esquema Corporal, o que tem diversas
implicações, como foi possível observar ao longo desse artigo. Para uma criança autista, o
corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo se ele não é bem estimulado e
compreendido. Por isso, é necessário que ele se torne um pólo de segurança e estabilidade.

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Posso inicialmente concluir, que umas das maneiras de auxiliar no tratamento do autismo é
por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o psíquico e o orgânico. A partir
de experiências sensório-motoras, ele poderá aumentar sua relação com o mundo,
inicialmente impossível pela dificuldade de entrar em contato com os outros, seja por meio do
toque ou por meio do olhar. Fica a proposta para num próximo estudo, buscar terapias que
utilizem o Corpo nessa intermediação corpo-mente, e verificar de que forma elas podem
contribuir para o tratamento de crianças autistas.

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U NIDADE 15
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Classificação das doenças psicológicas

11
Anorexia e Bulimia Nervosa

Objetivo: Compreender os principais sintomas das doenças psicológicas

Anorexia nervosa

Os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros
psiquiátricos que afetam principalmente adolescentes e adultos jovens (embora uma procura
maior de crianças se faça notar recentemente) do sexo feminino, levando a grandes
prejuízos biopsicossociais com elevada morbidade e mortalidade (Doyle e Bryant-Waugh,
2000).

A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa à custa de dietas rígidas auto-
impostas em busca desenfreada da magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia.
William Gull, no ano de 1874, descreve três pacientes com quadro anoréxico restritivo,
cunhando o termo “apepsia histérica”. O quadro clínico incluía emagrecimento, amenorréia,
bradicardia, baixa temperatura corporal, edema nos membros inferiores, obstipação e
cianose periférica (Abreu e Cordás, no prelo). Brunch (1962), nos anos 1960 e 1970, foi o
primeiro autor a mencionar a distorção da imagem corporal vista como um distúrbio da
paciente com anorexia nervosa na percepção de seu corpo.

11 Resenha do artigo de ABREU, Cristiano Nabuco de; CANGELLI FILHO, Raphael.


Anorexia nervosa e bulimia nervosa: abordagem cognitivo-construtivista de
psicoterapia. Rev. psiquiatria. clínica [online]. 2004, vol.31, n.4, pp. 177-183. ISSN 0101-
6083.

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A partir de 1970, pacientes avaliadas clinicamente demonstravam um receio exagerado de
ganhar peso, sendo este o primeiro passo para incorporar o “medo mórbido de engordar”
como característica psicopatológica da anorexia nervosa, juntamente com o emagrecimento,
a distorção da imagem corporal e a amenorréia (Russell, 1970).

A baixa auto-estima bem como a distorção da imagem corporal são os principais


componentes que reforçam a busca de um emagrecimento incessante, levando à prática de
exercícios físicos, jejum e uso de laxantes ou diuréticos de uma forma ainda mais intensa
(Garfinkel e Garner, 1982, Holden, 1990). Pacientes com anorexia nervosa do subtipo
purgativo, ou seja, que apresentam episódios bulímicos e alguma prática de purgação
(vômitos, diuréticos, enemas e laxantes), são mais impulsivas e apresentam aspectos de
personalidade diferentes de pacientes que usam apenas práticas restritivas e são mais
perfeccionistas e obsessivas (Garner et al., 1993; Wonderlich e Mitchell, 2001).

Bulimia nervosa

A bulimia nervosa (BN), por sua vez, caracteriza-se por grande ingestão de alimentos de
uma maneira muito rápida e com a sensação de perda de controle, os chamados episódios
bulímicos. Estes são acompanhados de métodos compensatórios inadequados para o
controle de peso, como vômitos auto-induzidos (em mais de 90% dos casos), uso de
medicamentos (diuréticos,

laxantes, inibidores de apetite), dietas e exercícios físicos, abuso de cafeína ou uso de


cocaína (Fairburn, 1995).

A descrição de BN, tal como a conhecemos hoje, foi elaborada por Russell em 1979, quando
descreveu trinta pacientes com peso normal, pavor de engordar,

episódios bulímicos e vômitos auto-induzidos. Como essas pacientes haviam apresentado


anorexia nervosa no passado, Russel considerou inicialmente que a bulimia seria uma
seqüela, uma “estranha” variação da anorexia nervosa (Russell, 1979).

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Fairburn (1991) e outros autores, entre eles o próprio Russell, descreveram posteriormente o
caráter autônomo do quadro, uma vez que apenas de 20% a 30% das pacientes bulímicas
apresentaram uma história pregressa de anorexia nervosa, em geral de curta duração.

Como descrito inicialmente, a BN caracteriza-se por grande e rápida ingestão de alimentos


com sensação de perda de controle – os episódios bulímicos normalmente são
acompanhados de métodos compensatórios inadequados (Hethrington e Rolls, 2001).

O aspecto principal da BN é a presença de episódios bulímicos com relatos de ingestão


média de três a quatro mil calorias por episódio, mas já foram descritos episódios com uma
ingestão de até 20 mil calorias (Mitchell et al., 1998 ).

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U NIDADE 16
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO

Conceito e diagnóstico12

José Alberto Del Porto

Significados do termo “depressão”

O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um
estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias)
doença(s).

Os sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da vida psíquica normal. A


tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda, derrota,
desapontamento e outras adversidades. Cumpre lembrar que

essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do
retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de
alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. As reações
de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam- se
pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude. As
reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser
diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa

12
Professor Titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
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usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando
devidamente estimulada. Não se observa, no luto, a inibição

psicomotora característica dos estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto,


limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras idéias de
culpa estão geralmente ausentes. Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais
variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência,
esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a
situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Enquanto
síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da
capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo
alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite). Finalmente, enquanto
doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período
histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros
mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia,
distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da
ciclotimia, etc.

Descrição clínica

As descrições feitas por Kraepelin, dos estados depressivos e maníacos, na oitava edição de
seu tratado, são insuperáveis pela clareza e precisão. Felizmente encontra-se disponível
uma reedição recente desse trabalho, em tradução inglesa, o que torna sua leitura mais
facilmente acessível. De muito interesse é o artigo clássico de Falret, sobre a “folie
circulaire”, marco na história da doença maníaco-depressiva, datado de 1854 e recentemente
republicado pelo American Journal of Psychiatry, com comentários de Marc Sedler.
Igualmente interessantes são as descrições de Bleuler, em seu Tratado de Psiquiatria
(atualizado por Manfred Bleuler), que conta com traduções em espanhol e mesmo em
português.

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Aspectos gerais

Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos
sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de
tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas
atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Freqüentemente associa-se à
sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado.
Alguns autores enfatizam a importância das alterações psicomotoras, em particular
referindo-se à lentificação ou retardo psicomotor. Este tópico será abordado mais
detidamente no item referente à conceituação da “melancolia”. No diagnóstico da depressão
levam-se em conta: sintomas psíquicos; fisiológicos; e evidências comportamentais.

Sintomas psíquicos

• Humor depressivo: sensação de tristeza, auto desvalorização e sentimentos de culpa. Os


pacientes costumam aludir ao sentimento de que tudo lhes parece fútil, ou sem real
importância. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir alegria
ou prazer na vida. Tudo lhes parece vazio e sem graça, o mundo é visto “sem cores”, sem
matizes de alegria. Em crianças e adolescentes, sobretudo, o humor pode ser irritável, ou
“rabugento”, ao invés de triste. Certos pacientes mostram-se antes “apáticos” do que tristes,
referindo-se muitas vezes ao “sentimento da falta de sentimentos”. Constatam, por exemplo,
já não se emocionarem com a chegada dos netos, ou com o sofrimento de um ente querido,
e assim por diante. O deprimido, com freqüência, julga-se um peso para os familiares e
amigos, muitas vezes invocando a morte para aliviar os que o assistem na doença. São
freqüentes e temíveis as idéias de suicídio. As motivações para o suicídio incluem distorções
cognitivas (perceber quaisquer dificuldades como obstáculos definitivos e

intransponíveis, tendência a superestimar as perdas sofridas) e ainda o intenso desejo de pôr


fim a um estado emocional extremamente penoso e tido como interminável. Outros ainda
buscam a morte como forma de expiar suas supostas culpas. Os pensamentos de suicídio
variam desde o remoto desejo de estar simplesmente morto, até planos minuciosos de se

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matar (estabelecendo o modo, o momento e o lugar para o ato). Os pensamentos relativos à
morte devem ser sistematicamente investigados uma vez que essa conduta poderá prevenir
atos suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito.

• Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes


consideradas como agradáveis. As pessoas deprimidas podem relatar que já não se
interessam pelos seus passatempos prediletos. As atividades sociais são freqüentemente
negligenciadas, e tudo lhes parece agora ter o peso de terríveis “obrigações”.

• Fadiga ou sensação de perda de energia. A pessoa pode relatar fadiga persistente, mesmo
sem esforço físico, e as tarefas mais leves parecem exigir esforço substancial. Lentifica-se o
tempo para a execução das tarefas.

• Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões. Decisões


antes quase automáticas parecem agora custar esforços intransponíveis. Um paciente pode
se demorar infindavelmente para terminar um simples relatório, pela incapacidade em
escolher as palavras adequadas. O curso do pensamento pode estar notavelmente
lentificado. Professores experientes queixam-se de não conseguir preparar as aulas mais
rotineiras; programadores de computadores pedem para serem substituídos pela atual
“incompetência”; crianças e adolescentes têm queda em seus rendimentos escolares,
geralmente em função da fatigabilidade e déficit de atenção, além do desinteresse
generalizado.

Sintomas fisiológicos

• alterações do sono (mais freqüentemente insônia, podendo ocorrer também


hipersonolência). A insônia é, mais tipicamente, intermediária (acordar no meio da noite, com
dificuldades para voltar a conciliar o sono), ou terminal (acordar mais precocemente pela
manhã). Pode também ocorrer insônia inicial. Com menor freqüência, mas não raramente, os
indivíduos podem se queixar de sonolência excessiva, mesmo durante as horas do dia.

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• alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também
aumento do apetite). Muitas vezes a pessoa precisa esforçar-se para comer, ou ser ajudada
por terceiros a se alimentar. As crianças podem, pela inapetência, não ter o esperado ganho
de peso no tempo correspondente. Algumas formas específicas de depressão são
acompanhadas de aumento do apetite, que se mostra caracteristicamente aguçado por
carboidratos e doces.

• redução do interesse sexual

Evidências comportamentais

• retraimento social

• crises de choro

• comportamentos suicidas

• Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação psicomotora. Freqüentemente


os pacientes se referem à sensação de peso nos membros, ou ao “manto de chumbo” que
parecem estar carregando. Em recente revisão da literatura sobre os estados depressivos, o
item “retardo psicomotor” foi o denominador comum, em nove sistemas classificatórios, como
traço definidor da melancolia. Na Austrália, Gordon Parker e colaboradores propuseram, para
o diagnóstico da melancolia, um sistema baseado não em “sintomas” (subjetivos), mas em
“sinais” (características objetivas, observáveis): o sistema “core”, que tem sido cada vez mais
utilizado pelos pesquisadores nessa área.

Na França, Daniel Widlöcher4 e colaboradores, na Salpêtrière, desenvolveram uma escala


especificamente destinada a medir o retardo psicomotor (“échelle de ralentissement
dépressif” da Salpêtrière). Deve-se ainda lembrar, no diagnóstico das depressões, que
algumas vezes o quadro mais típico pode ser mascarado por queixas proeminentes de dor
crônica (cefaléia, dores vagas no tórax, abdome, ombros, região lombar, etc.). A ansiedade

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está freqüentemente associada. Em idosos, principalmente, as queixas de caráter
hipocondríaco costumam ser muito comuns.

Alterações dos rimos circadianos

Muitas funções circadianas encontram-se alteradas nas depressões, a exemplo da regulação


da temperatura e do ritmo de produção do cortisol. Entre as alterações mais conspícuas
estão aquelas relacionadas ao ritmo do sono. Segundo Akiskal, cerca de dois terços dos
pacientes deprimidos têm diminuição da latência para o início do sono REM (“Rapid Eyes
Movements”). As formas ditas “melancólicas” da depressão caracterizam-se, entre outros
aspectos, pela piora matinal e pelo despertar precoce pela manhã.

Características melancólicas

O termo “melancolia” tem sido empregado, nas atuais classificações (como o DSM IV), para
designar o subtipo anteriormente chamado de “endógeno”, “vital”, “biológico”, “somático” ou
“endogenomorfo” de depressão. Considerado por muitos como o “protótipo” ou síndrome
nuclear das depressões, a melancolia – ao contrário de outras formas de depressão – parece
constituir-se em um grupo mais homogêneo, que responde melhor a tratamentos biológicos,
e para o qual os fatores genéticos seriam os principais determinantes. Parker e cols.
chamam a atenção para a importância das alterações psicomotoras na melancolia, para eles
a principal característica desse quadro nosológico. O conceito de melancolia no DSM-IV foi
revisto, em relação ao do DSM-III-R, tornando-se mais preciso e definindo com mais rigor no
subgrupo aqui estudado. Testes biológicos, como, por exemplo, o teste da supressão do
cortisol pela dexametasona, são mais freqüentemente positivos nos quadros melancólicos do
que em outros tipos de depressão.

Características psicóticas

Cumpre lembrar que o termo “psicótico”, origem de tantas controvérsias em psiquiatria, tem
três significados distintos:

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Significado meramente descritivo, quando designa, por exemplo, quadros psiquiátricos onde
ocorrem alucinações e delírios; 2. significado etiológico, quando designa quadros endógenos
(determinados por tendências constitucionais do indivíduo), em contraposição àqueles
determinados por fatores psicogênicos; e 3. significado que alude à gravidade (ou
intensidade) do quadro. As atuais classificações, fugindo de preconceitos etiológicos, utilizam
o termo psicótico apenas em sentido descritivo. Assim, a expressão designa, nesse contexto,
aquelas formas de depressão onde ocorrem delírios e alucinações. Admite-se que essas
formas cheguem a 15% dos quadros depressivos.

Os delírios depressivos considerados congruentes com o humor incluem delírios de culpa, de


punição merecida, delírios de ruína e delírios nihilistas (que podem configurar a síndrome de
Cotard, quando incluem negação de órgãos e negação da morte). Na depressão delirante as
pessoas podem interpretar eventos triviais do cotidiano como evidências de defeitos
pessoais, ao tempo em que se culpam de forma indevida e francamente inapropriada. Um
paciente, por exemplo, culpava-se pela morte de um desconhecido, cujo féretro passou por
sua rua; outra, uma senhora de meia idade, julgava ser a responsável pela paralisação das
obras de uma ponte em sua cidade. Mais comumente, no entanto, o paciente recua no
tempo, com a finalidade

de se acusar por supostos delitos ou atos culposos do passado, remoendo escrúpulos


indevidos. Os temas de ruína, quando delirantes, apresentam-se, de acordo com
Bleuler,como: ruína do corpo (delírios hipocondríacos: a pessoa acredita, por exemplo, estar
com o fígado “apodrecido”, ou com determinados órgãos “tomados pelo câncer”); ruína
espiritual (delírios de culpa, com acusações por faltas ou pecados cometidos); e ruína
financeira (delírios que envolvem temas de pobreza e miséria). A “escolha” do tema faz-se,
certamente, em consonância com as características da personalidade do paciente. Por outro
lado, podem ocorrer temas delirantes, aparentemente sem relação com o humor depressivo.
Os delírios incongruentes com o humor incluem temas de perseguição, e delírios de estar
sendo controlado (estes, comumente associados a fenômenos “schneiderianos” de inserção
e irradiação de pensamentos). Quando presentes, esses fenômenos incongruentes com o

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humor associam-se a um pior prognóstico, avizinhando-se, não raramente, dos estados ditos
“esquizoafetivos”.

As alucinações que acompanham os estados depressivos, quando presentes, são em geral


transitórias e não elaboradas. Costumam ser, mais comumente, coerentes com o humor
depressivo: vozes que condenam o paciente, imprecações do demônio, choro de defuntos,
etc. Mais raramente, ocorrem alucinações não congruentes com o humor (sem relação
aparente com os temas depressivos). As formas mais severas de depressão psicótica foram
descritas por Kraepelin com o nome de “melancolia fantástica”. Nessa forma aparecem
intensos delírios e alucinações, alternando-se estados de violenta excitação com estados
estuporosos, a par de leve obnubilação da consciência (essas formas são hoje dificilmente
encontradas).

Depressões catatônicas

Diz-se que uma depressão tem características catatônicas quando o quadro clínico se
caracteriza por intensas alterações da psicomotricidade, entre as quais: imobilidade quase
completa, atividade motora excessiva, negativismo extremo, mutismo, estereotipias, ecolalia
ou ecopraxia, obediência ou imitação automática. A imobilidade motora pode se apresentar
como estupor (o chamado “estupor melancólico”) ou ainda por catalepsia (flexibilidade
cérea). Impõe-se aqui o diagnóstico diferencial cuidadoso, com a catatonia induzida por
condição médica geral (por exemplo, encefalopatia hepática), por drogas ou medicamentos,
e com a esquizofrenia catatônica. Cumpre notar que, nos tempos atuais, é muito raro
encontrar-se um verdadeiro “estupor melancólico”. As facilidades de diagnóstico e de
tratamento quase sempre impedem a progressão a essas formas mais graves, que ainda em
passado recente (particularmente antes da introdução do eletrochoque) ameaçavam a vida
dos pacientes. Em pessoas jovens, o aparecimento de acentuada lentificação psicomotora e
de formas sutis de estupor é quase sempre indicativo de doença bipolar, que freqüentemente
acabará se manifestando mais tarde através de fases maníacas.

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Depressões crônicas (distimias)

As depressões crônicas são geralmente de intensidade mais leve que os episódios de


depressão maior. Mais que o humor francamente deprimido, os pacientes com depressão
crônica (distimia) sofrem por não sentir prazer nas atividades habituais, e por terem suas
vidas coartadas por uma espécie de morosidade irritável.

Depressões atípicas

Originalmente criado na Inglaterra, e posteriormente desenvolvido pelo grupo da


Universidade de Columbia, em Nova York, o conceito de depressão “atípíca” refere-se (de
modo muito típico) àquelas formas de depressão caracterizadas

por: reatividade do humor, sensação de fadiga acentuada e “peso” nos membros, e sintomas
vegetativos “reversos” (opostos aos da depressão melancólica), como aumento de peso e do
apetite, em particular por carboidratos e hipersonia. Além disso, descreve-se como
característica constante das pessoas sujeitas a esse tipo de depressão um padrão
persistente de extrema sensibilidade à percepção do que consideram como rejeição por
parte de outras pessoas. Episódios com características “atípicas” são mais comuns nos
transtornos bipolares (I e II), no transtorno depressivo com padrão sazonal.

Sazonalidade

Especialmente no hemisfério norte, onde as estações do ano são bem definidas, verifica-se
com clareza que algumas formas de depressão acentuam-se ou são precipitadas de acordo
com um padrão sazonal; mais comumente as depressões desse tipo ocorrem no outono e no
inverno. Muitos

desses pacientes têm fases hipomaníacas na primavera, sendo classificados como do tipo
bipolar II (depressões maiores e hipomania). Freqüentemente esses pacientes apresentam
algumas características sobrepostas às da “depressão atípica”: fadiga excessiva, aumento

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do apetite (em particular por carboidratos) e hipersonolência. O DSM-IV inclui o “padrão
sazonal” como um especificador do tipo de depressão estudada.

Classificações atuais dos estados depressivos CID-10

A Classificação Internacional das Doenças, da Organização Mundial da Saúde, em sua


décima revisão8, a CID-10, assim assim apresenta os transtornos do humor, em suas linhas
gerais:

• F30 - Episódio maníaco (usado para episódio único de mania).

• F31 - Transtorno afetivo bipolar.

O transtorno afetivo bipolar pode ser classificado, de acordo com o tipo do episódio atual, em
hipomaníaco, maníaco ou depressivo. Os episódios maníacos são subdivididos de acordo
com a presença ou ausência de sintomas psicóticos. Os episódios depressivos são
classificados de acordo com as regras descritas em F32. O transtorno afetivo bipolar inclui
ainda os episódios mistos (F31.6).

• 1 2 F32 - Episódio depressivo (usado para episódio depressivo único).

O episódio depressivo pode ser, quanto à intensidade, classificado como: leve, moderado ou
grave. Os episódios leves emoderados podem ser classificados de acordo com a presença
ou ausência de sintomas somáticos. Os episódios depressivos graves são subdivididos de
acordo com a presença ou ausência de sintomas psicóticos.

• F33 - Transtorno depressivo recorrente (tem as mesmas subdivisões descritas para o


episódio depressivo).

• F34 - Transtornos persistentes do humor: F34.0 – Ciclotimia e F34.1 - Distimia. A CID-10


inclui ainda códigos para “outros” transtornos do humor e para “transtornos não
identificados”.

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DSM-IV

A Associação Psiquiátrica Americana, no DSM-IV,9 assim classifica os transtornos do humor:

Transtornos depressivos:

• 296.xx - Transtorno depressivo maior, que é subdividido em episódio único, ou recorrente.

• 300.4 - Transtorno distímico, que pode ser especificado de acordo com o tipo de início
(precoce ou tardio), e de acordo com a presença ou ausência de características atípicas.

• 311 - Transtorno depressivo sem outra especificação (SOE).

Transtornos bipolares:

• 296.xx - Transtorno bipolar I.

O transtorno bipolar I inclui a ocorrência de episódio maníaco único. O DSM IV pede que se
especifique o tipo do episódio mais recente: hipomaníaco, maníaco, depressivo, misto, ou
inespecificado.

• 296.89 - Transtorno bipolar II (hipomania associada a pelo menos um episódio depressivo


maior). Especificar se o episódio atual (ou mais recente) é hipomaníaco ou depressivo.

• 301.13 - Transtorno ciclotímico

• 296.80 - Transtorno bipolar sem outra especificação (SOE)

• 293.83 - Transtorno do humor devido a condição médica geral

• ___.__ - Transtorno do humor induzido por substâncias (referir os códigos específicos para
cada substância).

296.90 - Transtorno do humor sem outra especificação (SOE).

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O DSM IV fornece ainda, em seu apêndice B, conjuntos de critérios para estudos adicionais.
No que concernem os transtornos do humor, devem ser lembrados: transtorno depressivo
menor, transtorno depressivo breve recorrente, transtorno misto de ansiedade-depressão e
transtorno da personalidade depressiva.

Críticas ao conceito de “transtorno depressivo maior”

O conceito de depressão maior, como aparece no DSM-IV, é excessivamente abrangente, e


por isso mesmo, pouco preciso. Abarca provavelmente uma gama muito heterogênea de
condições, que vão desde as fronteiras da normalidade (reações de luto ou tristeza normal)
até aquelas formas mais graves de depressão, para as quais provavelmente concorrem
fatores mais biológicos (adquiridos e/ou geneticamente determinados). Para o diagnóstico

de “Transtorno Depressivo Maior”, de acordo com o DSM-IV, basta que a pessoa apresente
“humor deprimido ou perda de interesse ou prazer, durante um período de duas semanas”,
mais quatro sintomas de uma lista de nove (ou mais três sintomas, se os dois primeiros
estiverem presentes). Assim, por exemplo, se uma moça que brigou com o namorado
apresentar tristeza e perda de energia por 15 dias, além de mais três sintomas, como
insônia, perda de energia e capacidade diminuída de se concentrar, terá preenchido critérios
para “Transtorno Depressivo Maior”. Um conceito tão amplo certamente não contribui para
que se testem hipóteses sobre a etiologia das depressões, resposta a tratamentos
biológicos, etc. Não serve tampouco para auxiliar na decisão de se medicar ou não a pessoa
que preencha tais critérios. Já o conceito de melancolia é muito mais preciso e, por essa
razão, tem maior valor preditivo quanto, por exemplo, à resposta terapêutica a
antidepressivos e ao eletrochoque.

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Depressão e o espectro dos transtornos bipolares

Assiste-se hoje, indubitavelmente, à redescoberta da obra de Kraepelin.

1 Os critérios diagnósticos adotados pela Associação Psiquiátrica Americana (DSM IV) e


pela Organização Mundial da Saúde (CID 10) refletem, em suas linhas gerais, a nosologia
kraepeliniana. Também no âmbito das afecções do humor (transtornos afetivos) verifica-se,
em aspectos fundamentais, o retorno às concepções de Kraepelin. Em 1921, tratando da
definição da “insanidade maníaco-depressiva”, Kraepelin escreveu: “A insanidade maníaco-
depressiva , como descrita nesse capítulo, inclui, por um lado, o domínio completo da
chamada insanidade periódica e circular, e por outro lado inclui a mania simples, a maior
parte dos estados mórbidos designados como melancolia, e também um número não
desprezível de casos de amência. Finalmente, incluímos aqui certos coloridos leves e sutis
do humor, alguns dos quais periódicos, outros continuamente mórbidos, os quais , se por
um lado podem ser encarados como o rudimento de doenças mais severas, por outro lado
passam, sem limites nítidos, para o campo da predisposição pessoal. No curso dos anos
eu me tornei mais e mais convencido de que todos os estados acima mencionados
representam apenas manifestações de um único processo mórbido.”

Retomando a abordagem clássica de Kraepelin, Akiskal tem, em diversas publicações


6,10,11 enfatizado a importância do espectro da doença bipolar. Esse espectro incluiria
desde as formas típicas da doença bipolar (bipolar I, com pelo menos uma fase maníaca),
passando pelas depressões associadas à hipomania (bipolar II) até as depressões
recorrentes, sem hipomania espontânea, mas freqüentemente associadas ao temperamento
hipertímico e/ou à história de transtorno bipolar na família. Estes últimos casos são
chamados de “bipolar III” ou de “pseudo unipolares”, na terminologia de Akiskal. Admite-se
hoje, em geral, a existência de numerosas formas de transição entre estados depressivos e
maníacos, incluindo suas formas mitigadas, que esbarram na fronteira dos chamados
“temperamentos hipertímicos” e “depressivos”. Por outro lado, muitos pacientes exaltados,
com quadros psicóticos cíclicos, freqüentemente caracterizados por curso bifásico (alguns
incluindo características psicóticas incongruentes com o humor) pertencem, na verdade, ao
espectro bipolar, o que se depreende pela história familiar (bipolar) e resposta ao tratamento

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com estabilizadores do humor. De fato, muitos dos pacientes chamados “esquizoafetivos”
concentram-se em famílias de pessoas com quadros afetivos bipolares típicos.

O DSM IV tornou “oficial” o conceito de “transtorno bipolar II”, incluindo na classificação


americana os quadros de hipomania associados a episódios depressivos maiores (um ou
mais episódios depressivos maiores, acompanhados pelo menos por um episódio
hipomaníaco). Nas versões anteriores do DSM (DSM III e DSM III R), tais quadros – mais
freqüentes que os de tipo bipolar I – eram classificados apenas como “transtorno bipolar sem
outra especificação- SOE”. O temperamento dos pacientes bipolares II e III, quando avaliado
fora das crises, é freqüentemente ciclotímico, isto é, caracterizado por leves depressões que
se alternam com hipomanias. Nos bipolares III a mudança para a hipomania não é observada
espontaneamente. Muitas vezes ocorrem fases hipomaníacas, ou maníacas, em decorrência
do uso de antidepressivos ou eletroconvulsoterapia. Cumpre notar que muitos desses
pacientes têm história familiar de transtorno bipolar ou temperamento pré-mórbido
hipertímico. Considerando-se que muitas vezes é difícil obter história fidedigna quanto a
antecedentes familiares de bipolaridade, o diagnóstico basear-se-á, muitas vezes, na
presença de temperamento hipertímico ou ciclotímico, associado a depressões recorrentes,
para que se inclua o paciente dentro do “soft bipolar spectrum”. Observe-se que, entre os
ciclotímicos, são relativamente poucos (6%) os que desenvolvem mania. A maioria
desenvolverá quadros de depressão maior, aproximando-se dos bipolares de tipo II. Entre as
depressões leves e crônicas, a importância do “espectro” é corroborada pelo fato de que um
em três pacientes com diagnóstico de “distimia”, observados prospectivamente, desenvolvem
hipomania, caracteristicamente depois da farmacoterapia com antidepressivos. Os episódios
depressivos daqueles pertencentes ao “espectro bipolar” tendem a se caracterizar por
hipersonolência e hiperfagia, embora a insônia possa ocorrer, sobretudo em episódios
mistos. As flutuações do humor observadas nos bipolares II e III freqüentemente dão origem
a crises na profissão, na vida familiar e no relacionamento social. Não por acaso, esses
pacientes, sujeitos a períodos de exaltação do humor e liberação dos impulsos sexuais e
agressivos, são erroneamente classificados como tendo transtornos da personalidade
(borderline, narcísico e histriônico). Freqüentemente, o abuso e a dependência do álcool e de

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outras drogas ocorrem como “complicação” das doenças do espectro bipolar, pela freqüência
com que essas substâncias são usadas como autotratamento.

Os limites da depressão

Limites com os transtornos da personalidade

A distinção entre um transtorno psiquiátrico propriamente dito (eixo I do DSM-IV) frente aos
transtornos da personalidade (eixo II) reveste-se da maior importância, por suas
conseqüências práticas e teóricas. Considerada portadora de uma “doença”, a pessoa passa
a merecer considerações diagnósticas, tratamento, e cuidados sociais. Rotulada como
portadora de um “distúrbio da personalidade”, a pessoa passa muitas vezes a ser alvo do
nihilismo terapêutico e vítima de preconceitos morais. “Na melhor das hipóteses, passa a ser
vista simplesmente como “uma pessoa bizarra”, acautelando-se os demais frente às suas
“atuações” e “manipulações”, principalmente se o diagnóstico for de um dos seguintes
transtornos: borderline, anti-social, narcísico e histriônico. Segundo Akiskal,14 cerca da
metade a dois terços dos pacientes classificados como “borderline” pertenceriam ao grupo
das doenças do humor (afetivas), sendo, em sua maioria, integrantes do “espectro bipolar”.
Muitos desses pacientes caracterizam-se por ter uma biografia assaz tumultuada, cujo traço
mais estável é a instabilidade nas relações afetivas, no trabalho, e na vida em geral.
Freqüentemente, essas pessoas passam da “calmaria” afetiva à “tempestade” das
automutilações e das tentativas de suicídio. O abuso e a dependência de drogas
freqüentemente se associam ao quadro.

Limites com outros diagnósticos

O diagnóstico dos estados depressivos deve levar em conta, antes de mais nada, se os
sintomas depressivos são primários ou secundários a doenças físicas e/ou ao uso de drogas
e medicamentos. O DSM IV contém o item 293.83 - Transtorno do humor devido a uma
condição médica geral para descrever esses casos. O DSM IV traz também critérios para o

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diagnóstico de Transtorno do humor induzido por substância. A tabela 1 enumera alguns
agentes farmacológicos e doenças físicas associadas ao desencadeamento de estados
depressivos. No campo da nosologia psiquiátrica, além dos transtornos da personalidade (já
abordados) devem-se levar em conta, entre outros, os seguintes diagnósticos diferenciais:
transtornos de ansiedade; alcoolismo e outras farmacodependências; transtornos
esquizofrênicos, quadros esquizofreniformes e a chamada doença esquizo-afetiva; quadros
demenciais.

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U NIDADE 17
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia.

Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA

A claustrofobia é um tipo de fobia específica que se caracteriza pelo medo de permanecer


em lugares fechados – como trens, aviões, túneis e elevadores; sem que se esteja passando
por perigo ou ameaça reais. Nestas situações, o organismo da pessoa desencadeia uma
reação de alarme, provocando ansiedade, sudorese, aumento dos batimentos cardíacos,
medo intenso e até, em certos casos, crises de pânico. Em determinados pacientes, o
próprio fato de pensar na situação já faz com que eles tenham as crises de ansiedade.

Apesar de ainda não ter sido elucidadas as reais causas das fobias, sabe-se que existe aí
um componente genético, visto que mais de 70% das pessoas fóbicas possuem parentes
com este mesmo problema. Exposição a situações semelhantes às que provocam medo,
repressão sofrida no passado, dentre outros fatores, também podem estar relacionados. As
manifestações da doença geralmente têm início na infância, e devem ser tratadas, já que
tendem a se agravar com o passar dos anos; e causam situações de desconforto à pessoa,
podendo interferir em suas relações sociais.

É indicado que o paciente pratique exercícios, tenha uma alimentação balanceada e


acompanhamento psicoterápico, a fim de reduzir o estresse e aumentar a autoestima e
confiança – imprescindíveis para o sucesso do tratamento. Pode ser necessário o uso de
medicamentos específicos, como ansiolíticos e antidepressivos, de acordo com as
particularidades da pessoa. Uma técnica amplamente utilizada é a da autoexposição, na qual
o indivíduo fóbico enfrenta de forma gradual as situações que lhe causam medo, podendo se
recuperar completamente ao final do tratamento.

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U NIDADE 18
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS

Das neuroses atuais à psicossomática*

Flávio Carvalho Ferraz

*Publicado em Ferraz F.C. e Volich R.M., (orgs.) Psicossoma I – Psicanálise e


Psicossomática, S. Paulo, Casa do Psicólogo, 1997 (2a Edição, 2005), pp 25 - 40.

Os estudos iniciais de Freud sobre as neuroses ficaram marcados pela distinção que ele
fazia entre as chamadas neuroses atuais e as psiconeuroses. Ocorre que, aos poucos, o
conceito de neurose atual foi deixando de aparecer em seus trabalhos, como que sendo
colocado à parte do campo propriamente psicanalítico. No entanto, é interessante observar-
se, hoje em dia, como muitos dos aspectos por ele descritos como peculiares às neuroses
atuais podem se articular com aquilo que se compreende atualmente como campo da
psicossomática.

A expressão “neurose atual” apareceu na obra de Freud, pela primeira vez, no artigo A
sexualidade na etiologia das neuroses, de 1898. Neste trabalho, ele afirmava que a principal
causa atuante na origem de toda neurose repousa sobre a vida sexual do paciente,
afirmação que viria a constituir-se como pedra fundamental para toda a estruturação da
psicanálise. Mas Freud alertava para o fato de que o papel desempenhado pela sexualidade
pode ser bastante diferente de acordo com o caso. Deste modo, aparecia, neste artigo, a
necessidade de se classificarem os casos de neurose - a partir do diagnóstico feito com base
em um cuidadoso exame da sintomatologia - em dois grandes grupos: o da neurastenia e o
da psiconeurose (histeria e obsessões), existindo ainda a ocorrência, muito frequente, de
casos em que os sintomas de ambos os grupos aparecem combinados.
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Nos casos de neurastenia, era possível, segundo Freud, chegar-se, a partir da anamnese, à
descoberta do fator etiológico, presente na vida sexual do paciente, que teria dado origem à
doença. Isto porque este fato deveria fazer parte de sua vida atual ou do período posterior à
maturidade sexual. Já nas psiconeuroses, constatou Freud, uma anamnese deste tipo não
traria resultados. Embora o fator etiológico certamente se encontrasse vinculado à vida
sexual, o paciente não seria capaz de conhecer tal vinculação:

“Por um curioso trajeto circular (...) é possível chegar a um conhecimento dessa etiologia e
compreender porque o paciente foi incapaz de falar-nos qualquer coisa a respeito. Pois os
eventos e influências que estão na raiz de toda psiconeurose pertencem não ao momento
presente, mas a uma época de vida há muito passada, que é como se fosse uma época pré
histórica - à época da infância inicial; e eis porque o paciente nada sabe deles. Ele os
esqueceu - embora apenas em um certo sentido.” (Freud, 1898, p.293-4).

Esta passagem deixa nítido o fato de que Freud já condensava aí toda uma teoria das
psiconeuroses que ainda estava por ser desenvolvida em detalhes, mas cujos pilares - a
sexualidade infantil e o recalque - estavam construídos.

Igualmente importante era a observação da distinção entre a psiconeurose e a neurastenia


(aqui no caso, protótipo de toda neurose atual). Nesta última, a etiologia seria
contemporânea, e não infantil; ou seja, haveria uma outra relação de temporalidade entre
causa e sintoma. O termo atual, conforme observaram Laplanche & Pontalis (1967), “deve
pois ser tomado em primeiro lugar no sentido de uma ‘atualidade’ no tempo” (p.382). Ainda
na distinção com relação à psiconeurose, lembram estes autores que o termo atual “vem a
exprimir aqui a ausência daquela mediação que encontramos na formaçãodos sintomas da
psiconeurose (deslocamento, condensação, etc.)” (p.382). Freud já alertara - antecipando a
importância que isso viria a ter no futuro para as expansões da teoria e da clínica
psicanalíticas - para o fato de que havia duas formas bastante diferentes de se processar a
excitação psíquica: transformando-a diretamente em angústia - donde resultariam sintomas
predominantemente somáticos ou não simbólicos - ou então procedendo-se à mediatização
simbólica, donde resultariam sintomas eminentemente psíquicos.

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Deste modo, o que delimitaria o domínio das chamadas neuroses atuais não seria apenas
esta peculiar relação de temporalidade. Seriam também as características somáticas da
sintomatologia. É assim que, na neurastenia, podiam ser encontrados sintomas tais como:
“pressão intracraniana, inclinação à fadiga, dispepsia, constipação, irritação espinhal, etc”.
Em um outro sub-grupo das neuroses atuais, o das chamadas neuroses de angústia, este
tipo de sintomatologia teria menos importância; os traços sintomatológicos proeminentes
estariam todos gravitando em torno do “sintoma nuclear” da angústia, e seriam: “sobressalto,
inquietude, ansiedade expectante, ataques de angústia completos, rudimentares ou
suplementares, vertigem locomotora, agorafobia, insônia, maior sensibilidade à dor, etc.”

A distinção entre estas duas modalidades da neurose atual - a neurastenia e a neurose de


angústia – já fora feita por Freud antes mesmo do aparecimento do próprio termo neurose
atual. Já no ano de 1894, quando em seus trabalhos anteriores constava somente a figura da
neurastenia, Freud publicou o artigo

Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada ‘neurose
de angústia’, no qual descrevia esta nova possibilidade diagnóstica, caracterizando seus
sintomas como “manifestações imediatas da angústia ou como rudimentos equivalentes dela”
(Freud, 1897, p.277).

Assim, a neurose de angústia seria resultado de uma transformação direta do fator


quantitativo do representante pulsional em angústia. Verifica-se neste quadro, conforme
observação de Laplanche & Pontalis (1967), “a ausência ou insuficiência de ‘elaboração
psíquica’ da excitação sexual somática, pelo que esta não pode transformar-se em ‘libido
psíquica’, a não ser entrando em conexão com grupos pré-estabelecidos de representações
sexuais. Quando a excitação não é assim dominada, é diretamente derivada no plano
somático sob a forma de angústia.”(p.385).

É por isso que, nesta neurose, predomina um tipo de angústia sem objeto nítido, tendo os
fatores atuais um papel relevante na sua etiologia, tal como se dá nos casos hoje em dia
classificados como síndrome do pânico. Para Dejours (1988), a somatização é um processo
que está na continuidade da neurose de angústia: “para os especialistas em psicossomática

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também é hábito dar muita atenção à descompensação que representa a neurose de
angústia, pelo que ameaça prefigurar para o futuro na ordem das somatizações” (p.126).

De acordo com Freud, a diferença entre neurastenia e neurose de angústia não residia
apenas na sintomatologia, mas seria resultante de uma etiologia diversa: “a neurastenia pode
ser sempre reportada a um estado do sistema nervoso, tal como adquirido por masturbação
excessiva ou tal como procedente espontaneamente de emissões frequentes; a neurose de
angústia revela influências sexuais que têm em comum o fator da continência ou da
satisfação incompleta - tal como o coito interrompido, a abstinência juntamente a uma libido
viva, a chamada excitação não consumada e outros.” (Freud, 1898, p.294).

No artigo Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (Freud, 1908), esta distinção
voltou a aparecer. Fazendo, de modo bastante veemente, uma crítica ao papel repressor da
civilização sobre a vida sexual, e responsabilizando-a pela causação das neuroses e da
infelicidade em geral do homem, Freud reiterou a incidência do sintoma sobre o plano
somático nas neuroses atuais e comparou-o aos sintomas de natureza tóxica que resultariam
do excesso ou da escassez de certos “tóxicos nervosos”.

Em contraposição, os sintomas da psiconeurose seriam psicogênicos e estariam na


dependência da “atuação de complexos ideativos inconscientes” (p.191), isto é, recalcados.
Podemos verificar, assim, que a concepção diferencial da neurose atual e da psiconeurose
estava mantida. Aliás, este ponto de vista nunca foi abandonado por Freud. Em outras
oportunidades ele apontou que, nas neuroses atuais, “o mecanismo de formação de
sintomas devia ser procurado no domínio da química (intoxicação por produtos do
metabolismo das substâncias sexuais)”, como mostram Laplanche & Pontalis (1967, p.383).

Mais tarde, no artigo sobre o narcisismo, Freud (1914) dá mostras de que não havia
sepultado o conceito de neurose atual, que já então passara a ser pouco mencionado, visto
que seu interesse dirigia-se à investigação das psiconeuroses ou, já nesta época, neuroses
de transferência. Neste artigo, ele introduziu uma terceira modalidade da neurose atual, a
saber, a hipocondria. A partir de uma correspondência termo a termo entre as duas primeiras
modalidades das neuroses atuais (neurastenia e neurose de angústia) com as neuroses de

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transferência, a hipocondria veio a se corresponder com a parafrenia (ou psiconeurose
narcísica, designação inicial para a psicose). Assim, a hipocondria seria uma “neurose atual
da parafrenia”; ou, dito de outra forma, a hipocondria estaria para a parafrenia assim como a
neurastenia e a neurose de angústia estavam para a psiconeurose.

Pois bem. Ainda que mantida por Freud a distinção entre as psiconeuroses e as neuroses
atuais, o que se verificou no desenvolvimento ulterior da psicanálise foi um progressivo
abandono desta nosografia, devido à ênfase que se deu sobre o papel do recalque e da
sexualidade infantil na constituição do campo propriamente psicanalítico. A idéia de neurose
atual, sobre a qual Freud dispendeu tantos esforços, foi, silenciosamente, perdendo sua
importância e caindo, pouco a pouco, no abandono.

Ocorre, porém, que alguns dos insights freudianos a respeito das peculiaridades das
neuroses atuais podem, hoje em dia, ser considerados de alta importância teórica. Entre
elas, destaca-se a afirmação da sintomatologia somática - em oposição à sintomatologia
psíquica das psiconeuroses - e a especificidade da relação de temporalidade entre sintoma e
causa precipitante. Laplanche & Pontalis (1967), tratando da perda de força do conceito de
neurose atual dentro do sistema psicanalítico de Freud, apontam para o fato de que esta
antiga noção “leva diretamente às concepções modernas sobre as afecções
psicossomáticas” (p.384). Estes autores criticam ainda aquilo que pode ter sido uma espécie
de ponto de opacidade na visão de Freud sobre as neuroses atuais: ele teria insistido
sobremaneira no fator etiológico da não-satisfação das pulsões sexuais. De fato, esta foi uma
tecla na qual Freud bateu insistentemente em todos os trabalhos mencionados acima. Isto
limitou o alcance de seu conceito, contrastando com uma intuição extremamente aguçada
que o fez, por outro lado, enfatizar a sintomatologia somática correlata a uma outra relação
de temporalidade, não mediatizada pelo mecanismo do recalcamento. O que Freud entreviu
foi o fato de que o sintoma psicossomático não se constituía como um retorno do recalcado -
da sexualidade infantil recalcada - nos moldes da psiconeurose. Aí encontramos um ponto de
partida na teoria freudiana para todo o campo de estudos da psicossomática que veio a se
consolidar posteriormente na França, a partir dos anos 70, dentro da Escola Psicossomática

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de Paris, que teve na figura de P. Marty seu grande expoente, ao lado M. de M’Uzan e M.
Fain, entre outros.

Mas, voltando à crítica de Laplanche & Pontalis (1967), faltou, para Freud, “tomar em conta,
na gênese dos sintomas neuróticos atuais e psicossomáticos, a repressão da agressividade.”
(p.384). A psicossomática contemporânea, no entanto, tem procurado preencher esta lacuna
teórica, ao apontar para o papel da “violência instintiva” (Dejours, 1988) dirigida ao soma nos
quadros de descompensação, de modo que, ao produzir um sintoma somático, o sujeito
pode manter-se particularmente “normal” do ponto de vista psíquico. É deste modo que, ao
traçar um quadro nosográfico para a neurose, incorporando as variações históricas que
foram se processando, Laplanche e Pontalis (1967) chegaram mesmo a propor que as
neuroses atuais fossem classificadas contemporaneamente com afecções psicossomáticas.

Em um breve levantamento, pode-se dizer que Freud enfatizou, no caso das neuroses
atuais, aspectos tais como: a sintomatologia somática; o caráter atual do fator etiológico; a
não-satisfação da libido como causa precipitante do sintoma; e a transformação direta da
causa em sintoma, sem a mediatização simbólica do recalque.

Todos este fatores, pode-se dizer, merecem ser levados em consideração à luz de uma
teoria psicossomática contemporânea, desde que cuidadosamente submetidos a uma nova
leitura e rearranjados os rumos que assumiram dentro do sistema psicanalítico
exclusivamente freudiano.

Vejamos um a um os fatores levantados.

1. A sintomatologia somática, indubitavelmente, mantém-se como ponto de destaque na


estrutura psíquica que diverge essencialmente da formação neurótica. A impossibilidade da
elaboração psíquica deixaria livre o acesso da excitação não representável para o plano
somático. Freud já apontara, para o caso das neuroses atuais, um mecanismo em ação
divergente do recalque, isto é, da existência de uma

área de formação do sintoma não abrangida pela simbolização. A elaboração psíquica –


processo através do qual a simbolização se exerce - seria, segundo Laplanche & Pontalis

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(1967), “o trabalho realizado pelo aparelho psíquico com o fim de dominar as excitações que
chegam até ele e cuja acumulação ameaça ser patogênica. Este trabalho consiste em
integrar as excitações no psiquismo e em estabelecer entre elas conexões associativas”
(p.196).

Ora, isto é exatamente o que acontece de forma deficiente nos processos que conduzem à
somatização. Vejamos como dois psicanalistas atentos à questão da psicossomática - Pierre
Marty e Joyce McDougall - procuraram dar conta desta impossibilidade de elaboração
psíquica.

Marty (1991) utilizou o conceito de mentalização como sendo uma espécie de medida das
dimensões do aparelho psíquico, que concernem “à quantidade e à qualidade das
representações psíquicas dos indivíduos” (p.11). Pode-se dizer, grosso modo, que, para ele,
uma boa mentalização protege o corpo das descargas de excitação, à medida que esta
encontra abrigo nas representações existentes no préconsciente. Um grau pobre de
mentalização, ao contrário, deixa o corpo biológico desprotegido, entregue a uma linguagem
primitiva basicamente somática. As representações psíquicas, bases da vida mental, são
responsáveis pela existência das fantasias e dos sonhos, longas vias associativas que
permitem o escoamento das excitações, dando-lhes um substrato propriamente psíquico.
Nos processos de somatização pode-se falar, então, em insuficiência ou indisponibilidade
das representações pré-conscientes.

McDougall (1991) utiliza o conceito de desafetação para falar de algo semelhante. Os


pacientes mais propensos a somatizar seriam aqueles “incapazes de recalcar as idéias
ligadas à dor emocional e igualmente incapazes de projetar esses sentimentos, de maneira
delirante, sobre as representações das outras pessoas” (p.105). Delineia-se, assim, uma
estrutura psíquica diferente da neurose, por um lado, e da psicose, por outro. Para
McDougall, tais pacientes “ejetam brutalmente” do campo consciente as representações
carregadas de afeto; não podem conter o excesso da experiência afetiva e nem refletir sobre
ela. As palavras deixam de ter a função de ligação pulsional, e tornam-se “estruturas
congeladas, esvaziadas de substância e de significação” e o discurso mantém-se inteligível,

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porém totalmente destituído de afetos. A palavra, neste caso não oferece mais proteção
contra a excitação.

Trata-se, aqui, de algo que vai na mesma linha do que Marty & M’Uzan (1994) designaram
como pensamento operatório, para eles um pensamento consciente que “manifesta-se sem
vínculo orgânico com uma atividade fantasmática de nível apreciável e reproduz e ilustra a
ação, por vezes a precede ou sucede, mas dentro de um campo temporal limitado” (p.165-6).

O caráter atual do fator etiológico é um ponto bastante complexo, que introduz algumas
dificuldades na articulação entre as neuroses atuais e as afecções psicossomáticas.
Lembremos que, para Freud, a etiologia da neurose atual reside na vida sexual presente, em
oposição à sexualidade infantil da McDougall (1991), fazendo uma consideração sobre a
etiologia da desafetação, afirma ter encontrado na anamnese destes pacientes referências a
um “discurso familiar que preconizava um ideal de inafetividade e condenava qualquer
experiência imaginativa” (p.116).

Talvez seja necessário, aqui, para que tenhamos uma maior clareza sobre este intrincado
paralelo, uma separação entre temporalidade e sexualidade. De fato, no caso da
psiconeurose, trata-se do sexual infantil, ou, de outra forma, do sexual e infantil, atualizados
no sintoma por uma especial relação que Laplanche (1992) explorou em seus estudos sobre
a re-significação a posteriori do trauma, recapitulando um pressuposto básico da teoria das
neuroses de Freud já claramente exposta no artigo “Novos comentários sobre as
neuropsicoses de defesa” (Freud, 1896).

Para Laplanche (1992), a teoria do a posteriori ou do trauma em dois tempos postula que
“nada se inscreve no inconsciente humano, a não ser na relação de ao menos dois
acontecimentos, separados, no tempo, por um momento de mutação que permite ao sujeito
reagir de outra forma do que na primeira experiência, ou, melhor, reagir à lembrança da
primeira experiência de outra forma do que ragiu à própria experiência” (p.119-20).

Mas como poderíamos pensar na relação de temporalidade tendo o fenômeno


psicossomático em questão? Freud simplesmente descartou o infantil, ao postular uma
etiologia sexual contemporânea. Já vimos como Laplanche & Pontalis (1967) criticaram a

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insistência de Freud sobre a não-satisfação das pulsões sexuais na etiologia das neuroses
atuais. Aqui, acredito, devemos recorrer a uma distinção, possível apenas na psicanálise
pós-freudiana, sobre a gênese sexual da neurose em contraposição à gênese não sexual de
outras patologias mais regressivas, quando se colocam em relevo experiências primordiais
relativas à sobrevivência, tal como Winnicott (1954) demonstrou existirem na origem das
perturbações não neuróticas graves, como é o caso dos pacientes limítrofes, dos psicóticos e
dos somatizadores.

Deste modo, a pesquisa em psicossomática acabou por dirigir-se para o campo das relações
mãe-bebê, aí encontrando o solo de perturbações que teriam decorrências sobre a
estruturação das defesas específicas que colocariam o somatizador em um terreno bastante
diferente daquele do neurótico.

Trata-se de um vastíssimo campo de investigação, que não caberia detalhar neste espaço.
Apenas como demonstração, poderíamos nos remeter a McDougall (1991) e sua idéia de
que, no caso do somatizador, a experiência clínica conduz à hipótese de uma falha da mãe
como função de páraexcitação do bebê, o que constitui um traumatismo vivenciado na
primeira infância, antes mesmo da aquisição da palavra. O bebê, assolado por sua angústia,
não encontra encorajamento para, pouco a pouco, poder vivenciá-la psquicamente, e com
isto caminhar no sentido de uma elaboração progressiva.

Neste caso sobrevém, de partida, uma insuficiência constitutiva das representações mentais.
Provavelmente, o contato da mãe com este bebê encontra-se marcado por uma desarmonia
afetiva – no sentido da carência ou do excesso - muitas vezes verificadas em casos onde a
própria mãe sofra de um doença somática ou se encontre deprimida ou excitada, indiferente
ou excessivamente diretiva; enfim, quando se encontra, por algum motivo, impossibilidade de
exercer seu papel materno satisfatoriamente.

Em casos mais favoráveis, a mãe desempenharia o papel de pára-excitação nestes tempos


primordiais, dando ensejo à fantasia de “um corpo para dois”, sendo esta função, aos
poucos, assumida pela palavra; no caso, palavra afetada.

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A modalidade das experiências precoces, de acordo com o que se disse acima, coloca a
somatização grave em uma vasta área nosológica que abriga diferentes diagnósticos
psíquicos tais como a psicose, as adicções mais diversas e as neuroses de comportamento,
todos situados em um campo diverso da psiconeurose.

Sob um outro ângulo, pode-se verificar uma relação interessante entre sintoma e
temporalidade em psicossomática: trata-se do papel preponderante dos fatos atuais sobre o
desencadeamento das crises. Como lembra Santos Filho (1994),

“desde Franz Alexander aos modernos autores norte-americanos e franceses está presente
na manifestação psicossomática um acontecimento, uma cena da realidade, um fato, uma
mudança nas relações com as pessoas e/ou com o ambiente, mais que uma representação
ou cena imaginária, ou fantasia, como fator gerador ou desencadeante. Há uma outra via,
que parte da “realidade” para o corpo. Esta a via biológica, na qual o próprio funcionamento
humoral e nervoso autônomo impõe-se ao sujeito, sem expectativa ou pedido de
decodificação” (p.115).

Portanto, é possível pensar que Freud deu-se conta da importância do fator atual nas
neuroses atuais, mas circunscreveu-o à insatisfação da libido na vida pós-puberal. Já a
pesquisa contemporânea pôs em relevo o infantil, ainda que não o sexual. A não-satisfação
da libido como causa precipitante da neurose atual, como Freud apontava, já foi objeto de
discussão acima. Vista de modo estrito, esta forma de causalidade parece frágil, como já
observaram Laplanche & Pontalis (1967), ao apontarem a omissão, por parte de Freud, do
papel da repressão da agressividade. De acordo com Marty (1991), a repressão da
agressividade, face a situações em que esta encontra uma fonte que a excite - apoia-se em
interdições sociais ou parentais interiorizadas, mas não elaboradas.

Neste caso, o sujeito pode suprimir a descarga motora substituindo-a por comportamentos
que fazem parte de seu acervo de hábitos: de modo geral, seriam atividades físicas ou então
sublimadas. Dejours (1988), por seu turno, chamou a atenção para a “violência da pulsão”,
que seria um dado a ela inerente, tendendo a ser descarregada a partir do inconsciente
primário ou não representado.

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Podemos afirmar, contudo, que Freud percebia um evento contemporâneo que marcava o
desencadeamento da neurose atual, colocando a não-satisfação da libido neste lugar
etiológico. Hoje em dia, no entanto, é possível ampliar esta noção - que em Freud se
restringia a uma única espécie de neurose.

Aqui se coloca a complexa questão da distinção etiológica entre a psicose e a


psicossomatose. Se ambas repousam sobre uma perturbação precoce na relação entre a
mãe e seu bebê, o que determinaria o rumo a ser tomado pela estruturação psíquica? Qual
seria o mecanismo específico de cada saída possível, e como ele seria determinado?
McDougall (1991) afirma que, tanto na psicose como na psicossomatose, a relação primitiva
entre mãe e criança revela-nos a “violência da interpretação” (conceito de Piera Aulagnier). E
supõe que a “escolha” entre psicose e psicossomatose seja devida à constelação familiar e
ao papel representado pelo pai na organização psíquica. Bollas (1992), por sua vez, propõe
uma teoria genética mais consistente para tal diferenciação (para ele, entre a psicose e
doença normótica), lançando mão dos conceitos de identificação projetiva e de introjeção
extrativa. Se o pai e a mãe identificam projetivamente na criança elementos cindidos e
indesejados de seu próprio self, então sobrecarregam-na com um mundo interno complexo e
caótico, como se dá no caso da personalidade limítrofe. Se, de modo diferente, os pais
extraem (roubam) o conteúdo e a estrutura mental de uma criança, despojando-a dos
elementos necessários para o processamento do conflito mental, então ela pode tornar-se
empobrecida, como ocorre com o indivíduo normótico, propenso à somatização.

Evento - e pensar na especial suscetibilidade ao acontecimento (fato) verificada no


somatizador, como já foi dito acima.

Por fim, a ausência da metabolização simbólica da excitação proveniente da pulsão - que


Freud entreviu na neurose atual em contraste com as intrincadas formações produzidas pelo
recalque no neurótico - pode ser considerada como figura de proa da psicossomática.

O mecanismo de repressão a que se faz alusão na psicossomática diz respeito à barreira


que se instala entre o sistema pré-consciente e o consciente. Trata-se, aqui, de uma
repressão psíquica no sentido da evitação de uma representação adquirida, que pode se

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alastrar de modo a atingir mais e mais representações ligadas afetivamente às precedentes.
Marty (1991) frisa que não está em questão, na gênese do sintoma somático, o mecanismo
do recalque, pois tal espécie de sintoma não tem a característica de retorno do racalcado: no
caso da repressão, a representação pode aparecer intacta em alguns momentos - sem a
deformação sofrida pelo recalcado quando este retorna – para desaparecer novamente em
seguida. O recalcamento, se por um lado torna inconsciente o conflito, por outro produz
formações - o sonho, por excelência - que “permitem colocar progressivamente em dia a
história infantil do sujeito, deixando aparecer os complexos que dele resultaram (castração e
Édipo, por exemplo)” (p.37).

De fato, o mecanismo de defesa que originalmente deve ter sido estabelecido no caso da
propensão à somatização em tudo diverge do recalcamento. Como já se viu, não é possível
de se encontrar uma via de escoamento da excitação através da palavra, visto que o
discurso se apresenta desafetado ou operatório. A descarga só pode se dar mediante o ato.
Esta idéia, aliás, parece já presente em Freud (1913), que, embora tratando de uma situação
diferente da que tratamos aqui, finalizou seu livro Totem e tabu fazendo uma comparação
entre os povos primitivos e os neuróticos, para concluir que, nos neuróticos, “o pensamento
constitui um substituto completo do ato”. E dá um fecho solene a seu trabalho proclamando
que “no princípio foi o ato” (p.191).

O ato do somatizador recai sobre o soma. Ao contrário da conversão histérica, quando o


corpo afetado é o corpo erógeno - portanto, corpo simbólico - na somatização o corpo é
mesmo o corpo biológico; daí a existência de uma lesão orgânica, muitas vezes
extremamente grave. Freud já dizia que o aparelho psíquico tem por função receber e
processar os estímulos externos e as manifestações pulsionais, fazendo, para tanto, uso de
suas vias associativas. Quando isto não é completamente possível, outras defesas, que não
o recalcamento, entram em cena, passando ao largo da mediatização pelo símbolo.

Como um assinalamento final, cabe fazer uma observação a respeito das relações entre a
psicanálise e a psicossomática. Ao chamar a atenção para o papel de mecanismos diversos
do recalque na determinação de um sintoma psicossomático, funda-se um novo campo de
estudo e de trabalho psicoterapêutico que se assenta, contudo, sobre as bases

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metapsicológicas psicanalíticas. A noção de mentalização não pertence, obviamente, à
metapsicologia freudiana, tendo surgido apenas no início da década de 70. No entanto, este
conceito não poderia ter existido jamais se não fosse a partir do modelo de funcionamento
mental proposto por Freud, particularmente na chamada primeira tópica. Além disso, como
procurei demonstrar neste artigo, a articulação entre as neuroses atuais e as afecções
psicossomáticas salta aos olhos: a oposição percebida por Freud entre os sintomas somático
e psíquico corresponde, em grande parte, ao que diferenciamos hoje como sintoma neurótico
e sintoma psicossomático.

Deste modo, pode-se compreender o campo da psicossomática como uma extensão da


pesquisa psicanalítica, assim como o foram os estudos sobre a psicose feitos pelos ingleses.
Se Freud considerava o tratamento da psicose como tarefa que não se incluía no horizonte
psicanalítico, com o desenvolvimento ulterior da psicanálise esta limitação deixou de fazer
sentido. Do mesmo modo, Winnicott procurou demonstrar como a psicanálise poderia ser
enriquecida pela experiência do trabalho com delinquentes. Maud Mannoni tem trabalhado
com crianças portadoras de retardo mental a partir da utilização de um referencial
psicanalítico. Ferenczi, contemporaneamente a Freud, já ousava experimentar tratamentos
de pacientes “difíceis”, isto é, psicóticos, somatizadores e criminosos. Outros exemplos
poderiam ser dados aqui, mas não é o caso. O que importa é marcar que conceitos não
freudianos - como, por exemplo, os de posição depressiva, identificação projetiva, objeto
transicional, entre muitos outros criados por diversos autores - têm passado a fazer parte do
campo psicanalítico desde, praticamente, o nascimento da psicanálise. Igualmente, a noção
de mentalização já entrou para este elenco.

Se o leitor estranha estas colocações tão óbvias, cabe justificá-las dizendo que se percebem,
algumas vezes, resistências no seio da psicanálise contra certas idéias nascidas na pesquisa
em psicossomática. O mesmo é válido para alguns “psicossomaticistas” que enxergam nas
descobertas e postulações de seu campo uma incompatibilidade com a psicanálise. A meu
ver, trata-se, em ambos os casos, apenas de exacerbações idiossincráticas, pois, quando se
examinam as construções teóricas da psicossomática psicanalítica, ficam evidentes os fatos

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de que aí se encontra uma importante ampliação para nosso horizonte, bem como de que o
solo metapsicológico onde repousam seus alicerces é eminentemente freudiano.

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U NIDADE 19
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT

LUIZ ROBERTO MILLAN

Glasberg et al. apresentam, nesta revista, o artigo “Prevalence of the burnout syndrome
among Brazilian medical oncologists”. Trata-se da publicação do resultado de uma pesquisa
realizada com oncologistas, com o intuito de detectar a prevalência do burnout por meio do
Maslach Burnout Inventory e as variáveis que se relacionam com a sua presença,
investigadas por meio de um questionário. Utilizando o rigoroso critério de interpretação dos
resultados (Ramirez), concluíram que 7,8% desses médicos apresentam a síndrome e que
aqueles que possuem um hobby, que realizam atividades físicas, que têm mais idade e que
seguem alguma religião possuem menos risco de desenvolver a síndrome. Utilizando um
critério mais flexível (Grunfeld), a prevalência subiu para 68,6%, sendo que indivíduos
casados, com pouco tempo de férias, sem hobby e sem atividade física correm maior risco
de desenvolver a síndrome. Trata-se de um artigo bem escrito e bem elaborado, importante
por chamar a atenção para as condições de trabalho dos oncologistas, submetidos a grandes
pressões no seu dia-a-dia. É questionável, porém, a utilização de critérios de análise que
levam a uma discrepância tão grande dos resultados (mais de 60%). Talvez fosse melhor
utilizar apenas o critério de Ramirez, que considera que a síndrome só deve ser reconhecida
se houver comprometimento nas três dimensões avaliadas para o diagnóstico: exaustão
emocional, despersonalização e comprometimento da realização pessoal. Criado na década
de 70 por Maslach, o conceito de Burnout, apesar de algumas críticas iniciais, foi
rapidamente aceito e tem sido tema de inúmeros artigos científicos, livros e de
apresentações em congressos de psicologia, psiquiatria e educação médica. Tornou-se,
assim, um conceito praticamente inquestionável. Porém, ao examinarmos atentamente suas

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três dimensões básicas, observa-se que todos os sintomas descritos, sem exceção, estão
presentes na depressão. Por exemplo, na dimensão exaustão emocional o indivíduo sente-
se esgotado e com a sensação de que não será possível recuperar sua energia, torna-se
irritável e amargo, pouco generoso, sente-se menos capacitado a cuidar dos outros e torna-
se pessimista; na despersonalização há um distanciamento emocional e uma indiferença
diante do sofrimento alheio, com uma perda da capacidade de empatia, o que faz com que o
paciente seja tratado como um objeto (há, aqui, uma distorção do clássico conceito de
despersonalização utilizado há décadas pela psiquiatria); na dimensão comprometimento da
realização pessoal o indivíduo sente-se impotente, frustrado, infeliz e com baixa auto-estima.
A psicopatologia nos ensina que o diagnóstico psiquiátrico não é feito pela descrição de uma
lista de sintomas, algo que está tão em voga nos dias de hoje, nas inúmeras escalas
diagnósticas, mas sim pela observação fenomenológica criteriosa que propicia a detecção de
elementos que, juntos, nos permitem reconhecer uma determinada patologia. Para isso, é
necessária grande experiência clínica, algo que também não tem sido valorizado como
deveria. O fato de o trabalho ser o fator desencadeante não justifica a criação de um novo
conceito. Caso contrário, a cada fator desencadeante descoberto, um novo diagnóstico seria
criado, o que tornaria a classificação psiquiátrica um verdadeiro caos. A meu ver, Maslach
era uma ótima observadora, pois percebeu com clareza o que se passava com muitos
profissionais que se dedicavam ao cuidado de outras pessoas. O estudo desses problemas
tem sido fundamental para a melhora da qualidade desses profissionais, o que, sem dúvida,
trará benefícios a seus pacientes. Porém, cometeu um equívoco ao dar um novo nome a
algo que Hipócrates já conhecia há mais de 2300 anos. É preciso desfazer com urgência
essa confusão, sob o risco de criarmos uma nova Babel.

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U NIDADE 20
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia.

Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR

Martin Alda13

O transtorno bipolar (TBP) é uma condição psiquiátrica relativamente freqüente, com


prevalência na população entre 1% e 2%. É caracterizado por episódios de alteração do
humor de difícil controle – depressão ou mania (bipolar I) ou depressão e hipomania (bipolar
II). Os sintomas podem aparecer em qualquer idade, sendo mais comum o surgimento entre
o início da segunda e meio da terceira década de vida. A etiologia da doença ainda não é
conhecida, mas muitos estudos apontam para a existência de disfunções complexas,
incluindo alterações nos receptores e nos pós-receptores de neurotransmissores.

Inato ou adquirido?

Alguns dos primeiros dados sobre a agregação familiar do transtorno bipolar provêm de
estudos conduzidos no final dos anos 50. Esses estudos determinaram a prevalência do TBP
e de outras doenças psiquiátricas entre parentes de probandos com TBP e, em alguns
casos, entre parentes de indivíduoscontrole saudáveis. Como pode ser visto na tabela 1, há
uma grande variabilidade de riscos, de acordo com os critérios diagnósticos utilizados.

Entretanto, quando analisados conjuntamente, esses estudos encontraram um risco 8 a 15


vezes maior em relação à prevalência na população em geral. Os estudos de família,
isoladamente, não provam a natureza genética (ao invés da familiar) da doença. Já os
estudos de adoção e de gêmeos têm maior poder de distinção entre os componentes

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genéticos e ambientais. No caso do TBP, esses estudos fornecem evidências de uma
natureza genética para a doença (Gershon et al18 or Alda19 para revisões).

O que é herdado?

Além de sugerirem a presença de um componente genético para o TBP, os estudos de


famílias também indicam a possibilidade de outras condições psiquiátricas fazerem parte de
um mesmo espectro fenotípico. Em outras palavras, essas condições podem ser todas
manifestações diversas de uma mesma predisposição genética. A depressão unipolar é
encontrada mais freqüentemente entre parentes de probandos com TBP do que em parentes
de controles psiquiatricamente saudáveis. Outra condição que possivelmente faz parte do
espectro bipolar é o transtorno esquizoafetivo, do tipo maníaco. Já em relação a outras
entidades, como ciclotimia, transtornos de personalidade, de alimentação ou alcoolismo, os
dados são mais ambíguos.

Todas essas condições já foram, em vários estudos, implicadas como parte do espectro
bipolar, mas as evidências são ainda tênues.

Fórum II

“A humanidade, ao longo dos séculos, vem mudando as formas de pensar a saúde/doença,


mente e corpo”.

Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos?

13
Departamento de Psiquiatria da Universidade de Dalhousie - Halifax, Nova Scotia, Canadá
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Atividade 2

“A humanidade, ao longo dos séculos, vem mudando as formas de pensar a saúde/doença,


mente e corpo”.

Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos?

Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 2 no “link” ATIVIDADES.

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U NIDADE 21
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN

Ana Paula T de Menezes, Érica de M Holanda, Virgínia Angélica L Silveira, Kelma Cristina da
S de Oliveira e Francisco George M Oliveira.

Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Descrita pela primeira vez pelo médico inglês Richard Asher em 1951, a síndrome de
Munchausen (SM) é um transtorno factício em que o paciente se mostra aguda e
dramaticamente doente, com a habilidade de mimetizar sinais e sintomas de forma a
necessitar de internações prolongadas, procedimentos de diagnósticos invasivos, longo
tempo de terapia com as mais variadas classes de drogas e cirurgias.1 Segundo a
Associação Psiquiátrica Americana, o critério para o diagnóstico de desordem factícia é
produção intencional de sinais e sintomas físicos ou psicológicos, sem que o paciente
obtenha algo em troca, como ganho financeiro ou liberação de responsabilidade legal,
melhora do bem-estar físico ou uso de determinadas medicações. Na simulação, observa-se
que o paciente tem objetivo de receber, com sua sintomatologia, ganho financeiro,
previdenciário, judicial, pessoal e outros.

Apresentação do caso

Identificação

Paciente do sexo feminino com 26 anos, solteira, parda e católica que trabalha como agente
de saúde.

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História da doença atual

Cinco dias anteriores à admissão, a paciente passou a apresentar artralgia em cotovelos,


punhos, interfalangeanas, joelhos e tornozelos e, um dia antes, notou aparecimento de artrite
nessas articulações. Além disso, apresentou febre alta (40ºC). Não relatou uso de
medicações para tratar as artralgias.

Antecedentes

Referiu ter tido, quando criança, febre reumática e não ter feito qualquer tipo de tratamento.
Disse ser hipertensa e sentir uma dor precordial com queimação esporádica relacionada a
esforço físico, com duração de cerca de dez minutos e sem irradiação e sintomas
associados. Estava usando hidroclorotiazida e propranolol e era acompanhada regularmente
no serviço de cardiologia desse hospital. Relatou um internamento por pielonefrite em 1998.
A paciente foi adotada, tendo sua mãe falecido havia cerca de dois anos. Desde então,
assumiu todas tarefas domésticas, a responsabilidade pelos irmãos, tornando os atritos com
o pai etilista bastante freqüentes. Após esses episódios, passou a apresentar labilidade
emocional e tristeza intensa. Procurou então um psiquiatra que diagnosticou depressão e
indicou o uso de amitriptilina. A paciente fez uso da medicação por curto período,
abandonando o tratamento em poucos meses.

Exame da paciente

Encontrava-se com estado geral bom, normotensa, pulso com 80 batimentos por minuto,
presença de edema em tornozelo, calor, rubor e edema no joelho esquerdo com enfisema
subcutâneo. Notou-se também ausência de focos dentários de infecção. Sempre quando
falava da mãe ou da própria vida, apresentava crises de choro.

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Discussão

A síndrome de Munchausen faz alusão a Karl Friedrich Hieronymus Von Munchausen (1720-
1797), barão alemão que lutou a serviço da Rússia contra os turcos no período de 1763 a
1772. Após a guerra, o barão costumava contar histórias fantásticas e fantasiosas sobre a
guerra e seus atos heróicos. Em 1785, Raspe reuniu todos os contos do barão e os publicou.
Existem algumas teorias sobre a patogênese da SM, como a de Pankratz & Lezak, que
descreve uma disfunção no hemisfério direito em pacientes com Munchausen; de King &
Ford, que relata anormalidades no sistema nervoso central em 40% dos 72 pacientes
estudados (focos epileptogênicos, lesões cranianas de diversas etiologias, infecções prévias,
anormalidades no EEG); e de Evans et al, que fala de alteração no sistema hipotalâmico-
pituitário-adrenal.5-9 História de trauma psicológico pode existir, como privações na infância,
abuso infantil, rejeição dos pais ou de outros familiares, abandono em instituições e presença
de fatores ambientais estressantes.

A idade de início da SM varia de 4 a 79 anos, com uma ligeira predominância em homens.


Normalmente existe alguma experiência ou contato com a área de saúde e traços de
personalidade anti-social. O paciente tem passagens por vários hospitais, sendo na maioria
deles novamente investigado. Também

é descrito que essas passagens por instituições podem ser apenas mais um componente
fantasioso da doença. A apresentação de forma incomum ou dramática da doença é
encontrada em alguns casos, e muitas vezes encontra-se evidência física da auto-indução
dos sinais.

Três formas clássicas da SM são descritas: laparotomaphilia migrans (dor abdominal aguda),
hemorrhagia histrionica (tipo hemorrágico) e neurológica diabólica (convulsões, parestesias e
outros quadros neurológicos). Além disso, são encontrados: lesões de pele, febre de origem
obscura, enfisema subcutâneo, dores em geral, distúrbios endócrinos, arritmias, insuficiência
respiratória, infecções de repetição, simulação de alguma patologia já descrita. Os sintomas
reumatológicos são relativamente incomuns e incluem artrite séptica, osteomielite e
simulação de lupus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e outras doenças. É uma

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patologia que demanda quase sempre altos custos, pois são necessários diversos exames,
terapias e procedimentos invasivos para descartar todas as outras possibilidades
diagnósticas se o paciente não for flagrado provocando sinais e sintomas característicos. O
paciente também fica sujeito à morbidade e à mortalidade provocadas ou desencadeadas
pela investigação e pelo tratamento.

A forma conhecida como Munchausen por procuração é caracterizada pelo abuso infantil, de
idosos e de deficientes mentais e físicos. As idades já descritas em crianças estão entre 7
semanas e 14 anos. Normalmente, o provocador é uma mãe jovem, com menos de 20 anos,
casada e com algum transtorno de personalidade e/ou disfunção familiar. Outras pessoas
envolvidas diretamente com a criança ou idoso também podem ser autoras dos sintomas.

O tratamento da doença se baseia principalmente em psicoterapia individual ou de grupo e


em medidas de suporte físico, psicológico e social. Tentam-se buscar motivos para o
transtorno, conscientização do paciente que aquilo pode ser prejudicial a ele, conforto para
tentar chegar à resolução dos problemas psicológicos e evitar recidivas. O uso de
medicações, como antidepressivos, pode ser necessário. O confronto com o paciente em
relação a suas ações e doença não deve ser feito em todos os casos, deve ser realizado por
pessoa bem treinada nesse tipo de abordagem, pois pode levar o paciente à negação com
consequente evasão do hospital ou tratamento.

A paciente descrita acima injetava ar com uma seringa descartável em diversas regiões do
corpo, levando a quadros de artrite e enfisema subcutâneo. Foi submetida à longa terapia
com antibióticos e diversos exames diagnósticos. A confirmação da síndrome veio com a
localização de locais de punção no joelho e mão esquerda, das medicações prescritas
durante um mês no hospital nos seus objetos pessoais e das seringas descartáveis em locais
pouco comuns. Dessa maneira, destaca-se a hipótese de que a morte da mãe (figura
protetora), o convívio com o pai agressivo, a responsabilidade com as tarefas domésticas e
com os irmãos possam ter motivado a paciente a produzir o transtorno factício, levando ao
diagnóstico de SM.

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U NIDADE 22
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS

* Gabriela Cabral

Síndrome maníaca pode ser conhecida pelos seguintes sintomas: aumento da auto-estima,
engrandecimento do eu, insônia, fala rápida, agitação psicomotora, irritação, arrogância,
desorganização, desinibição social e sexual, sentimento de grandeza e de poder. A síndrome
maníaca pode subdividir-se em:

- mania franca ou grave, é a mais intensa com fuga de idéias, delírios de grandeza. Os
idosos ou pessoas com distúrbios cerebrais podem ficar confusos, desorientados e
diminuição de consciência. Apresenta dificuldades para o diagnóstico médico.
- mania irritada ou disfórica, é predominante a irritação da pessoa, o mau humor podendo
ocorrer a destruição de objetos e agressividade em pessoas.

- mania mista, há vários sintomas maníacos ocorrendo ao mesmo tempo ou alternando-se


rapidamente. É mais freqüente em adolescentes e idosos.

- hipomania, a pessoa fica mais disposta que o normal, mais alegre, mais falante, faz
planejamentos e muitas vezes passam despercebidas pelo médico.

- ciclotimia, a pessoa apresenta um episódio completo de depressão ou de mania. Aos olhos


das pessoas é normal e muitas vezes não é submetido a um médico.

O tratamento para as síndromes maníacas é necessário na maioria das vezes uso de


medicamentos orientados por um médico especializado e bastante terapia.

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U NIDADE 23
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE


BORDERLINE

Caracteriza-se por um padrão de relacionamento emocional intenso, porém confuso e


desorganizado. A instabilidade das emoções é o traço marcante deste transtorno, que se
apresenta por flutuações rápidas e variações no estado de humor de um momento para outro
sem justificativa real. Essas pessoas reconhecem sua labilidade emocional, mas para tentar
encobri-la justificam-nas geralmente com argumentos implausíveis. Seu comportamento
impulsivo freqüentemente é autodestrutivo. Estes pacientes não possuem claramente uma
identidade de si mesmos, com um projeto de vida ou uma escala de valores duradoura, até
mesmo quanto à própria sexualidade. A instabilidade é tão intensa que acaba incomodando
o próprio paciente que em dados momentos rejeita a si mesmo, por isso a insatisfação
pessoal é constante.

Aspectos essenciais

 Padrão de relacionamento instável variando rapidamente entre ter um grande apreço por
certa pessoa para logo depois desprezá-la.

 Comportamento impulsivo principalmente quanto a gastos financeiros, sexual, abuso de


substâncias psicoativas, pequenos furtos, dirigir irresponsavelmente.

 Rápida variação das emoções, passando de um estado de irritação para angustiado e


depois para depressão (não necessariamente nesta ordem).

 Sentimento de raiva freqüente e falta de controle desses sentimentos chegando a lutas


corporais.

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 Comportamento suicida ou auto-mutilante.

 Sentimentos persistentes de vazio e tédio.

 Dúvidas a respeito de si mesmo, de sua identidade como pessoa, de seu comportamento


sexual, de sua carreira profissional

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U NIDADE 24
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA

Eduardo de Freitas

Xenofobia é uma palavra de origem grega que significa antipatia ou aversão a pessoas e
objetos estranhos. O termo tem várias aplicações e usos, o que muitas vezes provoca
confusões em relação ao significado. A xenofobia como preconceito acontece quando há
aversão em relação à raça, cultura, opção sexual, etc.

Em outra abordagem, o termo é usado para designar uma doença psiquiátrica, o indivíduo
portador possui medo excessivo de situações e pessoas estranhas. De forma mais
sintetizada, é o temor de uma pessoa em relação a tudo que é diferente para ela; exceto os
casos de medo natural do desconhecido; nesse caso não é considerado xenofobia.

A xenofobia, como doença, é considerada uma perturbação psicológica de característica


fóbica; sua principal característica é a elevada ansiedade desenvolvida a partir de situações
vividas por um indivíduo quando se depara com um fato inédito ou estranho.

Pessoas que possuem esse distúrbio geralmente evitam ter contato com outros indivíduos
estranhos, essa atitude tem como objetivo poupar o xenófobo de angústia, ansiedade,
elevação da tensão arterial e freqüência cardíaca, além de apresentar ataque de pânico.

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U NIDADE 25
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia

Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO

O transtorno hipocondríaco, também é conhecido como a neurose de doenças. O que


acontece neste transtorno é que a pessoa tem uma sensibilidade corporal exacerbada pelo
fato de ser muito centrado em seu próprio corpo. No fundo o hipocondríaco, como em todos
os outros transtornos tem uma ansiedade e uma dificuldade muito grande de entrar em
contato com pessoas e situações que ele não se sente controlando e com isto vai cada vez
mais centrando a sua atenção e percepção no próprio funcionamento corporal. Assim
qualquer alteração fisiológica (mudança do batimento cardíaco, ruídos do funcionamento
digestivo e outros) é rapidamente notada e por ele ser controlador e pessimista, interpreta
como risco eminente de algo fora de controle e que pode levá-lo a morte ou conseqüências
muito graves e irreversíveis. Dai o fato dele estar tomando medicações o tempo todo, ou pelo
menos querendo tomar, pois se acha e se sente doente, apavorado com o risco de ser uma
doença grave e querendo fazer tudo para eliminar este sintoma que desencadeia toda esta
gama de sentimentos.

A cabeça do hipocondríaco é uma caixa de horrores, ele é capaz de pensar em todas as


doenças graves e terminais por que está sentindo, por exemplo, uma dor de cabeça.

É mais ou menos assim que ele pensa: "Como surgiu esta dor de cabeça, será que é um
tumor, acho que eu preciso fazer um exame, mas eu já fiz a semana passada, então pode
ser um derrame que esta acontecendo?" Ai ele vai ao clinico , que descarta este diagnóstico
através de exames e ai imediatamente surge a possibilidade de uma outra doença : "Ahhh,

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então deve ser meningite!!!" E novamente enquanto ele não descarta esta possibilidade a
cabeça fica o tempo todo pensando em coisas ruins.

A razão desta neurose é que embora ela seja uma caixa de horrores, a atenção da pessoa
se desvia da realidade, ele não percebe, não vê não se importa com os problemas da vida
real e fica o tempo todo centrado em seus sintomas e em seus pensamentos funestos. Assim
fica no seu mundinho, que por pior que seja já é conhecido e não sente necessidade de
evoluir e de crescer na vida. Tal qual o Transtorno obsessivo compulsivo está diretamente
ligado a quadros de ansiedade e principalmente de depressão. São pessoas profundamente
pessimistas, lotadas de sentimentos de culpa que podem ser conscientes ou inconscientes e
que por isto acha que merecem um castigo (que seria a doença tão temida). Vêem tudo sob
uma perspectiva sombria e acabam se viciando na egoísta e permanente atitude de só
olharem para o próprio umbigo.

O tratamento desta neurose tem que ser feito através de psicoterapia profunda, para que a
pessoa consiga enxergar sentimentos e conflitos que são os verdadeiros desencadeantes de
seus sintomas e cismas. Se o pessimismo for profundo e arraigado o uso de medicações
antidepressivas são essenciais para uma rápida melhoria do quadro. O quadro pode
acontecer isoladamente ou acompanhando quadros de Depressão (aonde chega ocorrer o
Delírio hipocondríaco) ou do Transtorno obsessivo compulsivo (é muito comum esta
associação)

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U NIDADE 26
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e


prática em psicologia

Maria Conceição do Rosario-Campos e Marcos T Mercadante14

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e/ou


de compulsões. A relativa simplicidade do diagnóstico categorial sugeriria tanto uma precisa
delimitação nosográfica, quanto uma homogeneidade do quadro.

No entanto, resultados de pesquisas recentes têm enfatizado dois conceitos. O primeiro


refere-se à heterogeneidade do quadro. O segundo refere-se à concepção de que o TOC
poderia ser estudado a partir de uma visão dimensional e contínua, ou seja, dentro de um
espectro obsessivo-compulsivo. Sendo assim, para o aprofundamento do conhecimento do
TOC é necessário buscar-se subgrupos mais homogêneos de pacientes. As peculiaridades
da apresentação do TOC na infância e adolescência sugerem que o início precoce dos
sintomas delimitaria um subtipo de pacientes.

As prevalências de estudos epidemiológicos em adolescentes revelaram taxas entre 1,9% e


3,0% nos Estados Unidos e entre 2,3% e 4,1% em outros países. A distribuição entre os
sexos parece variar de acordo com as diversas faixas etárias, sendo que em crianças há
uma preponderância de meninos. No presente artigo, procurou-se desenvolver os aspectos
mais importantes e atuais na avaliação de crianças e adolescentes com TOC.

14
Protoc, Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Child Study Center, Yale
University Schools of Medicine & Nursing, Yale, USA
194
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Diagnóstico e quadro clínico

Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, idéias,
impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos. Como produtos mentais, as
obsessões podem ser criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras,
medos, preocupações, memórias, imagens, músicas ou cenas. Compulsões são definidas
como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a
ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a
ocorrer. Não existem limites para a variedade possível das obsessões e das compulsões.
Numa revisão, March e Leonard relataram como mais freqüentes em crianças e
adolescentes as obsessões de contaminação, de medo de ferir-se ou de ferir os outros,
sexuais e de religiosidade e as compulsões de lavagem, repetição, checagem e rituais de
tocar em objetos ou pessoas. Na infância, as compulsões comumente antecedem o início
das obsessões, que podem ser menos freqüentes que na idade adulta. Em um estudo
recente, foi descrito um intervalo médio de 1,6 anos entre o início das compulsões e o das
obsessões em pacientes com início dos sintomas até os dez anos de idade Uma questão
importante para a avaliação de crianças com TOC é a semelhança entre os sintomas
obsessivo-compulsivos (SOC) e os comportamentos repetitivos característicos de algumas
fases do desenvolvimento, tais como os rituais e as superstições. Dos dois aos quatro anos
de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos. Os rituais
mais comuns nesta fase pré-escolar acontecem, principalmente, nos horários de dormir, de
comer e de tomar banho. Por exemplo, uma história precisa ser contada da mesma forma
várias vezes, os alimentos precisam ser organizados no prato de acordo com regras pré-
estabelecidas, só tomam banho se estiverem com um brinquedo específico. A partir dos seis
anos, os rituais se manifestam mais em brincadeiras grupais. Os jogos passam a ter regras
rígidas e iniciam-se as coleções dos mais variados objetos. Outros exemplos de
comportamentos ritualísticos normais são as superstições. Encontradas em todas as faixas
etárias, parece haver uma mudança qualitativa com a idade. Rituais e superstições são
normais para estas fases do desenvolvimento. Eles têm geralmente o objetivo de auxiliar no
desempenho e dar uma sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos eventos. Além
disso, não interferem no funcionamento da criança e não têm a freqüência ou a intensidade
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dos SOC. No entanto, como tratam-se de comportamentos repetitivos, podem ser
confundidos com os SOC. Portanto, é importante reconhecer quando os rituais e as
superstições tornam-se patológicos e quando as crianças passam a precisar de ajuda. Deve-
se considerar a faixa etária, a duração diária dos comportamentos, sua intensidade e se
interferem ou não nas suas atividades e no seu desenvolvimento.

Para o diagnóstico do TOC é necessário que as obsessões e/ou as compulsões causem


interferência ou limitação nas atividades da criança, que consumam tempo (ao menos uma
hora por dia) e que causem sofrimento ou incômodo ao paciente ou a seus familiares.2 O
diagnóstico do TOC é clínico, não existindo nenhum exame laboratorial ou radiológico
patognomônico da doença. Tanto o DSM-IV2 quanto a CID-106 utilizam os mesmos critérios
diagnósticos para crianças, adolescentes e adultos, ressaltando- se apenas que na infância
não é imprescindível o reconhecimento de que os sintomas são excessivos ou irracionais.
Ainda não existe um consenso sobre como determinar a idade de início do TOC. A maioria
dos estudos considera o surgimento dos sintomas como a idade de início do transtorno.
Outros consideram o início do incômodo causado pelos sintomas ou a primeira vez em que o
paciente procurou ajuda profissional como a idade de início.

O início dos sintomas pode ser agudo ou insidioso e os SOC tendem a modificar-se bastante
durante o curso da doença. Cada paciente tem uma história distinta. Não está definido se as
peculiaridades do TOC em crianças seriam apenas características patoplásticas dessa faixa
etária, modificando-se com o desenvolvimento, ou se persistiriam até a idade adulta. Uma
nova proposta de avaliação psicopatológica do TOC procura agrupar os sintomas que
tendem a ocorrer em conjunto. Nessa abordagem, quatro a cinco fatores ou dimensões
sintomatológicas foram estabelecidos: “obsessões de agressão

e compulsões relacionadas”; “obsessões religiosas, sexuais e compulsões relacionadas”;


“obsessões de simetria e compulsões de ordenação e arranjo”; “obsessões de contaminação
e compulsões de limpeza/lavagem”; e “obsessões e compulsões de colecionismo”.Ainda não
existem estudos avaliando a distribuição desses fatores em crianças.

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U NIDADE 27
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica.

OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS

Valdeci Gonçalves da Silva15

A Psicologia contemporânea parece confundir-se com a aplicação dos testes e, em alguns


casos, julga-se que, sem esse tipo de instrumento, o psicólogo não seria capaz de fazer
qualquer afirmação científica do comportamento humano. Talvez seja pelo fato das ciências
serem conhecidas por suas técnicas que lhes permitem aplicações e resultados visíveis.
Assim, como o público tende a ver os antibióticos como capazes de curar todas as infecções,
por analogia, também à considerar os testes como recursos infalíveis para conhecer as
pessoas e suas aptidões.

No entanto, assim como o médico é obrigado a conhecer a potencialidade dos remédios e a


levar em conta suas contra-indicações, da mesma forma o psicólogo deve saber, não apenas
as vantagens dos testes, mas, também os limites de sua utilidade e validade. Do contrário,
correrá o risco de apresentar diagnósticos falsos ou deformados, pois estariam baseados em
resultados falhos e incompletos.

Os testes psicológicos não consistem numa exemplar neutralidade e eficácia em 100% nos
seus resultados, mas isto não implica que os mesmos devam ser dispensados. Desde que
atendidas as pré-condições de sua aplicação, e que o psicólogo examinador tenha
conhecimento, domínio da aplicação e da avaliação, os testes se instalam como referencial
que elimina boa parte da “contaminação” subjetiva das suas percepção e julgamento. É
importante ressaltar a condição dos testes como mais um recurso que auxilia o profissional
na compreensão e fechamento das considerações a respeito de um examinando, seja em

15
Professor de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, autor do livro: Nuance dos Testes Psicológicos
e algumas inquietações pós-modernas.
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processo seletivo (exame psicológico ou psicotécnico), avaliação psicológica e
psicodiagnóstico.

CONCEITUAÇÃO DOS TESTES PSICOLÓGICOS

Os testes psicológicos, da forma que se conhece hoje, são relativamente recentes, datam do
início do século XX. Um teste psicológico no sentido epistemológico consiste numa tarefa
controvertida, porque dependerá de posições e suposições de caráter filosófico. Para
Cronbach (apud PASQUALI, 2001), um teste é um procedimento sistemático para observar o
comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias
fixas(p.18).Em outras palavras, um teste psicológico é fundamentalmente uma mensuração
objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Uma verificação ou projeção
futura dos potenciais do sujeito. O parâmetro fundamental da medida psicométrica são as
escalas, os testes, é a demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo
entre a ordenação dos procedimentos empíricos e teóricos. Enfim, explicita que a
operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao traço latente1.

ORIGENS DOS TESTES PSICOLÓGICOS

Com base em Pasquali (2001), a história dos testes psicológicos, se destacam em


sucessivas décadas, de tal maneira que é possível associar muitos autores a alguns
períodos bem específicos.

A Década de Galton: 1880. Para Francis Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões
humanas se dava por meio da medida sensorial, através da capacidade de discriminação do
tato e dos sons. Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que,

A única informação que nos atinge, vinda dos acontecimentos externos, passa,
aparentemente pelo caminho de nossos sentidos. Quanto maior o discernimento que os
sentidos tenham de diferentes, maior o campo em que podem agir no nosso julgamento de
inteligência (p.8).

A contribuição de Galton para psicometria ocorreu em três áreas: Criação de testes


antropométricos para medida de discriminação sensorial (barras para medir a percepção de

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comprimento); Apito para percepção de altura do tom; Criação de escalas de atitudes (escala
de pontos, questionários e associação livre2); Desenvolvimento e simplificação de métodos
estatísticos (método da análise quantitativa dos dados coletados).

A Década de Cattell: 1890. Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano)
desenvolveu medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia
Mental Test (teste mental). Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo de
Reação. Este consiste em registrar os minutos decorridos entre a apresentação de um
estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a primeira resposta emitida pelo examinando.
Cattell seguiu as idéias de Galton, dando ênfase às medidas sensoriais, porque elas
permitiam uma maior precisão.

A Década de Binet: 1900. Seus interesses se voltavam para avaliação das aptidões mais nas
áreas acadêmica e da saúde. Alfred Binet e Henri fizeram uma série de crítica aos testes até
então utilizadas, afirmando que eram medidas exclusivamente sensoriais que, embora
permitisse maior precisão, não tinham relação importante com as funções intelectuais. Seu
conteúdo intelectual fazia somente referências às habilidades muito específicas de
memorizar, calcular, quando deveriam se ater às funções mais amplas como memória,
imaginação, compreensão, etc. Em 1905, Binet e Simon desenvolveram o primeiro teste com
30 itens (dispostos em ordem crescente de dificuldade) com o objetivo de avaliar as mais
variadas funções como julgamento, compreensão e raciocínio, para detectar o nível de
inteligência ou retardo mental de adultos e crianças das escolas de Paris. Estes testes de
conteúdo cognitivo atendiam a funções mais amplas, e foram bem aceitos, principalmente
nos EUA, a partir da sua tradução por Terman (1916), nascendo, assim, a era dos testes
com base no Q.I. (idealizado por W. Stern).

Q.I. = 100 (IM/IC)3

O período de 1910-1930, é considerado a era dos testes de inteligência sob as influências:


Do segundo teste de Binet e Simon (1909); Do artigo de Spearman sobre o fator G (1909);
Da revisão do teste de Binet para os EUA (Terman, 1916); e do impacto da primeira guerra

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mundial com a necessidade de seleção rápida e eficiente, de contingente para as forças
armadas.

Na Bahia, em 1924, Isaias Alvez fez a adaptação da escala Binet-Simon, considerada como
um dos primeiros estudos de adaptação de instrumentos psicométricos no Brasil (NORONHA
& ALCHIERI, 2005).

A Década da Análise Fatorial: 1930. Por volta de 1920, diminuiu o entusiasmo pelos testes
de inteligência, sobretudo por se demonstrar dependentes da cultura onde foram criados, o
que contrariava a idéia de fator geral universal de Spearman. Kelley quebrou a tradição de
Spearman em 1928, e foi seguido, na Inglaterra, por Thomson (1939) e Burt (1941), e nos
EUA, por Thurstone. Este autor é relevante para época, em vista de que, além de
desenvolver a análise fatorial múltipla, atuou no desenvolvimento da escalagem psicológica
(Thurstone e Chave, 1929) fundando, em 1936, a Sociedade Psicométrica Americana e a
revista Psychometrika.

A Era da Sistematização: 1940-1980. Esta época é marcada por duas tendências opostas:
Os trabalhos de síntese e os de crítica. Em 1954, Guilford reedita Psychometric Methods e
tenta sistematizar a teoria clássica, e Torgerson (1958) a teoria sobre a medida escolar. Além
disso, Cattell e Warburton (1967) procuraram sintetizar os dados de medida em
personalidade, e Guilford (1967) a teoria sobre a inteligência. Entre os trabalhos da crítica,
destaca-se Stevens (1946), que levantou o problema das escalas de medidas.
Divulgou-se também a primeira crítica à teoria clássica dos testes na obra de Lord e Novick
(1968, Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou o desenvolvimento de uma
teoria alternativa, a do traço latente, que se junta à teoria moderna de Psicometria, e a Teoria
de Resposta ao Item - TRI. Outra tendência crítica para superar as dificuldades da
Psicometria clássica foi iniciada pela Psicologia Cognitiva de Sternberg e Detterman (1979),
Sternberg e Weil (1980), com seu modelo, procedimentos e pesquisas sobre os
componentes cognitivos, na área da inteligência.

A Era da Psicometria Moderna (Teoria de Resposta ao Item - TRI): 1980. Talvez chamar a
era atual de TRI seja inadequada, porque: a) Esta teoria embora seja o modelo no Primeiro

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Mundo, ainda não resolveu todos seus problemas fundamentais para se tornar um modelo
definitivo de psicometria e, b) Ela não veio para substituir toda a psicometria clássica, mas,
apenas partes dela. Porém, é o que há de mais novo nesse campo.

TIPOS DE TESTES PSICOLÓGICOS

Os testes psicométricos se baseiam na teoria da medida e, mais especificamente, na


psicometria, usam números para descrever os fenômenos psicológicos, enquanto os testes
impressionistas, ainda que utilizem números, se fundamentam na descrição lingüística.
Os testes psicométricos usam a técnica da escolha forçada, escalas em que o sujeito deve
simplesmente marcar suas respostas. Primam pela objetividade: tarefas padronizadas. A
correção ou apuração é mecânica, portanto, sem ambigüidade por parte do avaliador.
Os testes impressionistas requerem respostas livres, sua apuração é ambígua, sujeita aos
vieses de interpretação do avaliador. O psicólogo impressionista trabalha com tarefas pouco
ou nada estruturadas, a apuração das respostas deixa margem para interpretações
subjetivas do próprio avaliador, e os resultados são totalmente dependentes da sua
percepção, dos seus critérios de entendimento e bom senso.

Testes Coletivos Versus Testes Individuais

Os testes coletivos são planejados, basicamente, para exame em massa. Em comparação


aos testes individuais, têm suas vantagens e desvantagens. Do lado positivo, podem ser
aplicados em grandes grupos simultaneamente, como por exemplo, em concurso público.
Em cada escala torna-se possível desenvolver técnicas de testes coletivos. Ao utilizar
apenas itens escritos, e respostas simples que são registradas nas folhas de respostas, isso
facilita o exame e o papel do examinador é bastante simplificado, uma vez que elimina a
necessidade da relação direta com o examinando. Em contraste com o treinamento intensivo
e a experiência exigida para aplicar os testes individuais, a exemplo do Rorschach (teste
projetivo de personalidade).

A maioria dos testes coletivos exige somente a habilidade de ler as instruções simples para
os examinandos e manter o tempo exato. Dão mais uniformidade de condições, uma vez que
difere dos individuais, tanto na forma de disposição dos itens quanto na característica de

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recorrer a itens de múltipla escolha, e a aferição dos seus resultados, geralmente, é mais
objetiva. Embora os testes coletivos tenham muitos aspectos desejáveis, porém carece de
uma função indispensável, que é a oportunidade do examinador estabelecer relação com o
examinando para obter sua cooperação e manter o seu interesse.

Do contrário da aplicação dos testes coletivos, os individuais são quase inevitáveis às


observações complementares do comportamento do sujeito, a exemplo de identificar as
causas da má realização em determinados itens, ou de qualquer indisposição momentânea,
fadiga, angústia, etc., que possa interferir na sua realização, o que é pouco ou nunca
identificado no exame coletivo.

O tipo de resposta mais utilizada em testes psicométricos, praticamente em sua totalidade é


a escrita, a saber, lápis-e-papel. A grande vantagem desta técnica é que os testes podem ser
aplicados coletivamente a grandes amostras de sujeitos, ocorrência difícil de acontecer em
situações nas quais as respostas são dadas verbalmente ou exige uma observação mais
direta do comportamento do testando.

Categoria dos Testes

Os testes podem ser divididos e subdivididos nas seguintes categorias:

a) Objetividade e Padronização: Testes psicométricos e impressionistas;

b) Construto (processo psicológico) que Medem: Testes de capacidade intelectual


(inteligência geral – Q.I.); Teste de aptidões (inteligência diferencial: numérica, abstrata,
verbal, espacial, mecânica, etc.); Testes de aptidões específicas (música, psicomotricidade,
etc.); Testes de desempenho acadêmico (provas educacionais, etc.); Testes
neuropsicológicos (testes de disfunções cerebrais, digestivos, neurológicos, etc.); Testes de
preferência individual (personalidade; atitudes: valores; interesses; projetivos; situacionais:
observação de comportamento, biografias);

c) Forma de Resposta: Verbal; Escrita: papel-e-lápis; Motor; Via computador: Vantagens:


apresentam em melhores condições as questões do teste; corrige com rapidez; enquadra de

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imediato o perfil nas tabelas de interpretação; produz registros legíveis em grande número e
os transmite à distância; motiva os testandos ao interagir com o computador; Desvantagens:
a interpretação dos resultados do perfil psicológico é mais limitada do que a realizada pelo
psicólogo.

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U NIDADE 28
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica

TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS

Valdeci Gonçalves da Silva16

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O conceito de avaliação psicológica é amplo, se refere ao modo de conhecer fenômenos e


processos psicológicos por meio de procedimentos de diagnósticos e prognóstico, para criar
as condições de aferição de dados e dimensionar esse conhecimento (ALCHIERI & CRUZ,
2003). Os testes gráficos são mais adequados para começar um exame ou avaliação
psicológica. Eles refletem os aspectos mais estáveis da personalidade, e mais difíceis de
serem modificados (OCAMPO, 1995).

Segundo Cunha (1993, p.5), o psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo,


que utiliza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para
entender problemas à luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos
ou para classificar o caso e prever seu curso possível, comunicando os resultados (output).
O psicodiagnóstico é uma forma específica de avaliação psicológica, em ambos os
processos não têm necessariamente4 que fazer uso de testes psicológicos. Mas, no entender
de Nascimento (2005), quando se precisa de material fidedigno, passível de reaplicação, que
permita conclusões confiáveis em curto tempo, para tomada de decisões, é preciso dispor de
outros recursos além da entrevista, ainda que seja para comprovar alguma característica do
examinando.

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Professor de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, autor do livro: Nuance dos Testes
Psicológicos e algumas inquietações pós-modernas.
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Avaliação Psicológica é um conjunto de procedimentos para a tomada de informações de
que se necessita e não deve ser entendida como um momento único em que um instrumento
poderia ser suficiente para responder às questões relacionadas ao problema que se pretende
investigar (GUZZO, 1995-2001, p.157). Este tipo de processo é a base da atuação do
profissional da psicologia seja qual for sua área (clínica, escolar, organizacional, jurídica, e
outras). Para Wechsler e Guzzo (1999), não há como ser um bom psicólogo se não entender
o significado da avaliação psicológica como um processo de construção de um conhecimento
sobre um fenômeno decorrente de uma escolha teórica e metodológica (apud PACHECO,
2005, p.12).

A avaliação psicológica ou psicodiagnóstico configura uma situação com papéis bem


definidos, e com um contrato no qual uma pessoa (o paciente) pede ajuda, e o outro (o
psicólogo) aceita o pedido e se compromete a satisfazê-lo dentro de suas possibilidades. É
um processo bi-pessoal5(psicólogo-examinando ou paciente e/ou grupo familiar), cujo
objetivo é investigar alguns aspectos em particular, de acordo com a sintomatologia e
informações da indicação ou queixa. Abrange aspectos passados, presentes (diagnóstico) e
futuros (prognóstico) do paciente. A avaliação psicológica não tem por objetivo somente
identificar os aspectos deficitários ou patológicos do paciente, mas, em reconhecer os seus
recursos potenciais e suas possibilidades. Ou seja, procura valorizar o que ele tem melhor,
para viabilizar seus potenciais. Para Nascimento (2005), um bom diagnóstico se faz em parte
por uma compreensão racional e em parte por uma compreensão empática (p.216). No
entender de Yalom (2006, p.23),

Embora um diagnóstico seja inquestionavelmente crucial nas considerações terapêuticas de


muitas patologias graves com um substrato biológico (por exemplo, esquizofrenia,
transtornos bipolares, transtornos afetivos maiores, epilepsia de lobo temporal, toxicidade
farmacológica, doença orgânica ou cerebral decorrente de toxinas, causas degenerativas ou
agentes infecciosos), ele é frequentemente contraproducente na psicoterapia comum dos
pacientes com um comportamento menos grave. (grifo do autor).

Enfim, o psicodiagnóstico tem como perspectiva conseguir uma descrição e compreensão, o


mais profunda e completamente possível da personalidade do paciente ou do grupo familiar,

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e sua conclusão será posteriormente transmitida, por escrito, através de um documento
denominado Laudo Psicológico (OCAMPO et al., 1995).

Laudo Psicológico

O laudo é uma peça escrita na qual o perito expõe observações e conclusões a que chegou
num processo de diagnóstico ou avaliação psicológica. Trata-se de um parecer técnico que
visa subsidiar o profissional a tomar decisões. Segundo Guzzo e Pasquali (2001), deve-se
evitar a sua devolução oral, porque pode ser facilmente distorcida. O laudo não é um
documento exclusivo da área da psicologia, pode ser jurídico, pericial, pedagógico, etc. Uma
outra definição da conta desse instrumento como um dos principais recursos para comunicar
resultados de uma avaliação psicológica. Cujo objetivo é apresentar materialmente um
resultado conclusivo de acordo com a finalidade proposta de consulta, estudo ou
prova(ALCHIERI & CRUZ, 2003). Ainda para os autores, esse documento deve ser
conclusivo e se restringir às informações estritamente necessárias à solicitação (objetivo da
avaliação), com a intenção de preservar a privacidade do examinando.

Psicodiagóstico e Psicoterapia

Na visão de Friedenthal (apud SANTIAGO, 1995), a distinção entre estes dois processos é
apenas teórica, considerando que na prática clínica, é impossível manter a fronteira entre
terapia e psicodiagnóstico. As entrevistas diagnósticas se assemelhem às sessões de
terapia, não somente pela interpretação que se faz, mas também pelas intervenções
inerentes a essas situações, seja para esclarecer transferências ou para aliviar a ansiedade
do paciente, etc. O psicodiagnóstico ocupa um lugar de destaque entre as opções nos
serviços de psicologia, independente do motivo que leva o paciente a procurar a instituição.
Ele deve ser utilizado como dispositivo para planejar, guiar e avaliar a escolha e indicação
terapêutica fundamentada (MITO, 1995; MONACHESI, 1995).

Calegaro (2002) diz que, entre outros, o objetivo da entrevista é de estabelecer rapport (será
explicado mais adiante), coletar informações que revelem os problemas, avaliar o grau de
estresse e psicopatologia da família (depressão, discórdia conjugal, ansiedade,

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agressividade, etc.). E assim, modificar o foco de crenças causais improváveis para fatores
antecedentes e as conseqüências que o cercam, e, finalmente, atingir uma formulação
diagnóstica e tratamento recomendado. O diagnóstico adequado é seguido de
esclarecimentos e informações que pode minimizar o estresse experienciado pelo paciente
e/ou família. É importante esclarecer quaisquer dúvidas, deixando a sensação de que as
dificuldades foram compreendidas, e que estão sendo atendidas por um profissional capaz
de recomendar meios que ajudem a resolver os problemas verificados (CALEGARO, 2002).

No entender de Cruz (2002), os fenômenos psicológicos nem sempre se mostram


inteligíveis, em quaisquer das áreas e objetos de intervenções da psicologia. Portanto, não
se configura numa tarefa fácil, pelo grau de complexidade e múltiplas determinações,
equacionarem os eventos psicológicos. Por esse motivo é que se torna necessária a
avaliação psicológica. Nesse sentido, Quinet (2002) diz que somente o olhar, assim armado
pela razão, será capaz de perceber aquilo que não é visível a olho nu, fonte de equívocos,
para chegar a perspicuitas6, a transparência (p.29). Afinal, uma das características básicas
do conhecimento científico é o esforço em não restringir à descrição de fatos separados e
isolados, mas tentar apresentá-los sob o estatuto do contexto e do estado da arte das
pesquisas relacionadas (CRUZ, 2002, p.19). Quatro elementos essenciais configuram o
campo da Avaliação Psicológica:

a) Objeto - Fenômenos ou processos psicológicos; b) Objetivo visado - Diagnosticar,


compreender, avaliar a ocorrência de determinadas condutas; c) Campo Teórico - Sistema
conceitual, estado da arte do conhecimento; d) Método - Condições através da qual é
possível conhecer a forma de acesso ao que se pretende explorar.

Enquadramento do processo psicodiagnóstico

O enquadre desse processo consiste nos itens seguintes: Esclarecimento dos papéis
respectivos; Lugar de realização das entrevistas; Horários e duração do processo
(despertando para o fato de não torná-lo muito curto ou extenso); Honorários (caso se trate
de consulta particular ou de instituição paga). Qualquer entrevista posterior à devolução
requer o estabelecimento de um novo contrato que explicite o enquadre, as características

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Etapas do processo psicodiagnóstico

Primeiro contato, entrevista semidirigida (um ou duas) com o paciente ou seus pais, quando
se trata de criança ou adolescente; Aplicação de testes e técnicas projetivas; Encerramento
do processo: devolução oral ao paciente e/ou pais, familiares (uma ou duas entrevistas
devolutivas), onde apresentam as conclusões diagnósticas e sugere os passos seguintes a
serem trilhados: psicoterapia, encaminhamento para psiquiatra ou ambos; Informe por escrito
(Laudo) para o solicitante.

O Rapport7

Ao iniciar suas atividades de testagem, seja em qual área for o psicólogo deve realizar esta
técnica que se ajusta ao seu papel de oferecer as condições psicológicas favoráveis ao
manejo da assistência individual ou grupal. Quando se trata, principalmente, de seleção ou
psicotécnico, é necessário que o examinador procure, em breves minutos, desmistificar
alguns conceitos ou deturpações que, em geral, pairam no imaginário do senso comum, não
somente sobre testes psicológicos, mas também em relação a quase todos os campos dessa
atuação profissional. A psicologia ainda é, para prejuízo dessa categoria e da sociedade,
uma ciência tabu que inclui medo, rejeição e atração num suposto caldeirão de inutilidades
ou de poderes mágicos, misteriosos e fantásticos que lhe são atribuídos. Isto promove uma
resistência nas pessoas em si trabalhar nessa especialidade, que seja por determinação ou
no limite crítico do indispensável. Penso que a psicologia pode oferecer menos do que se
imagina, e mais do que pode se esperar caso assim lhe permita. Enfim, esse momento do
rapport consiste em o profissional respaldar o (s) paciente(s), examinando(s), trazê-lo(s) para
o princípio da realidade, e se fazer agente de motivação e solicitude.

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U NIDADE 29
Objetivo: Identificar os instrumentos mais utilizados em seleção profissional

Instrumentos psicológicos utilizados em seleção profissional

Resenha do artigo de Silvia Leite de Godoy e Ana Paula Porto Noronha17

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: CONCEITO, USO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Avaliação psicológica é um processo de coleta de dados, cuja realização inclui métodos e


técnicas de investigação, dentre eles os testes psicológicos, que, por sua vez, são
instrumentos exclusivos do psicólogo. Ao lado disso, esses instrumentos são úteis à medida
que, quando utilizados adequadamente, podem oferecer informações importantes sobre os
testandos. Embora a avaliação psicológica seja reconhecidamente uma atividade exclusiva
da categoria profissional, há que se considerar que ela é muito controvertida, sobretudo
quando sua realização inclui o uso de testes. Enquanto alguns profissionais consideram os
instrumentos como indispensáveis outros são absolutamente contrários, considerando-os
como “instrumentos de poder” cuja única função é rotular os indivíduos. A crítica pode ser
atribuída principalmente ao uso inadequado e incorreto dos testes por alguns profissionais,
cuja conseqüência tende a ser prejudicial às pessoas avaliadas, além dos questionamentos
pertinentes à falta de cientificidade dos próprios instrumentos (ALVES; ALCHIERI;
MARQUES, 2002).

Aliado a isso, a formação em avaliação tem sido muito questionada e, nesse sentido, vale
destacar que ela apresenta uma série de desafios no que se refere às constantes
transformações com as quais a Psicologia se defronta neste novo século (BASTOS, 2002). A

17
Psicóloga, formada pela Universidade São Francisco.
Doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
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representação dos principais fundamentos da medida psicológica, a elaboração e a
construção de novos testes, a necessidade de representar um conjunto de postulados e
novas teorias, faz do ensino de avaliação psicológica, um interjogo constante entre
conteúdos novos e antigos.

No estudo de Almeida, Prieto, Muñiz e Bartram (1998) foi constatado que existe uma clara
relação entre problemas nos instrumentos psicológicos e problemas na formação profissional
do psicólogo que constrói e que usa os referidos instrumentos. Ainda dando margem a esta
questão, Noronha (2002) comenta que a formação de um psicólogo em cinco anos de
universidade não é suficiente para aprimorá-lo em todas as áreas de conhecimento, embora
devesse sê-lo. Autores concordam que se faz necessário modificar a formação, já que a
Psicologia é uma profissão em transformação e isto implica novas atitudes em relação ao
conhecimento,ao exercício da profissão e ao processo formador (DURAN, 1994; HUTZ;
BANDEIRA, 2003; NORONHA; ALCHIERI, 2003). Atualmente, os testes psicológicos têm
recebido muitas críticas que variam desde a fundamentação teórica, passando pela ausência
de estudos recentes e de adaptações para diferentes realidades, até o alto custo de
determinados materiais (NORONHA, 1999; PRIETO; MUÑIZ, 2000; OLIVEIRA; NORONHA;
DANTAS, 2005; NORONHA). Outros questionamentos dizem respeito a sua utilidade prática,
tendo em vista que alguns autores não concordam com as propriedades que os próprios
psicólogos atribuem ao instrumento padronizado. Figueiredo e Pinheiro (1998) apontam que
no Brasil a maior crítica feita aos testes psicológicos, à época do estudo, refere-se à falta de
adaptações, uma vez que a maioria dos instrumentos disponíveis no mercado brasileiro é
originária de outro país. Mesmo quando elaborados no Brasil, os testes são raramente
submetidos a uma adaptação rigorosa, e as normas não são habitualmente atualizadas e
revisadas após as publicações originais. Nos últimos anos, no entanto, não parece ser este o
problema central dos instrumentos de medida, já que a pesquisa de Noronha, Primi e Alchieri
(no prelo) revela que mais da metade dos instrumentos comercializados no país é de
produção nacional. Em contrapartida, o estudo revela que aproximadamente metade dos
testes não possui estudos de validade. Embora as qualidades técnicas venham-se
aperfeiçoando, apenas a formação do psicólogo aliada à competência dele, possibilitará uma
compreensão mais ampla e contextualizada do processo de avaliação, permitindo uma
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interpretação mais adequada dos resultados. Trata-se, portanto, de aprimorar a formação do
psicólogo em avaliação psicológica, incluindo no currículo dos cursos de Psicologia temas e
conteúdos que reflitam ou fundamentem tal aprimoramento, permitindo, assim, que o
psicólogo seja capaz de avaliar a qualidade dos instrumentos que utiliza e que saiba fazer
uso adequado deles (NORONHA et. al., 2003) O estatuto da avaliação psicológica, de
acordo com Azevedo e outros (1996), tem grangeado uma melhor reputação no seio da
investigação e da prática psicológica, nomeadamente por parte dos profissionais que lidam
com recursos humanos em geral ou ainda dos órgãos que necessitam de avaliações
periódicas e sistemáticas de seus projetos ou programas. Os autores mencionam que,
comparativamente à situação estritamente clínica e individual de uso tradicional dos testes,
atualmente se enfatiza mais uma avaliação dirigida aos contextos habituais de desempenho,
como a apreciação da eficácia dos programas de intervenção, metodologias de trabalho ou
condições de realização. Entretanto, são essas necessidades mais recentes que estão
contribuindo para o crescimento do campo de atuação da avaliação psicológica na área de
recursos humanos, mais do que o diagnóstico psicológico feito na avaliação psicológica
tradicional. Alchieri (1999) afirma que existem procedimentos na avaliação com regras e
situações bem definidas que, seguidos fielmente, permitem a qualquer psicólogo obter o
mesmo resultado que outro profissional. Outros procedimentos, por sua vez, exigem a
intervenção interpretativa do examinador, tais como, julgar a adequação ou a categoria de
uma determinada resposta, segundo modelos existentes e que podem exigir, também, a
apreciação das condições do exame e julgamento de fatores externos, facilitadores ou não
das tarefas propostas.

SELEÇÃO PROFISSIONAL: AVANÇOS E DESAFIOS

Cada vez mais, os desafios de uma sociedade globalizada invadem a população brasileira
levando-a a discutir, a refletir e a rever todos os conceitos em busca de novos paradigmas
que possibilitem a reconstrução do pensar e do agir. Não é possível, nas organizações
atuais, e nas vidas particulares, manter os mesmos padrões de relações e de resultados sem
repensar os diversos contextos dos ambientes organizacionais ou sociais.

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Nenhuma área da Psicologia passou por transformações tão profundas, durante o último
século, como a que se dedica ao setor de recursos humanos, conforme afirma Castelar
(2001). Afetado, de um lado, pela automação e pela crise eco nômica que mudaram o perfil
do emprego e, de outro, pelos novos métodos administrativos, por exemplo, a terceirização,
o setor de recursos humanos vive uma mutação sem precedentes. Como resultado, o
psicólogo que optou por essa especialidade acabou perdendo espaço e vive hoje uma crise
de identidade. Historicamente, para Cansian (2002), a Psicologia entrou nas empresas pela
porta da seleção e avaliação de pessoal. O desenvolvimento de quaisquer atividades dentro
ou fora das organizações depende – e muito – das condições das empresas, e,
principalmente, do profissional que as realiza. O mercado, extremamente competitivo, exige
cada vez mais competência técnica e interpessoal, de tal modo que tanto as condições
pessoais (crenças, valores, postura, capacidade para colocar idéias) quanto as técnicas
(formação acadêmica, cursos de especialização, domínio de tecnologias) auxiliarão a
determinar o espaço de trabalho do profissional e a credibilidade de suas propostas. De
acordo com Schimdt e Hunter (1998) os psicólogos vêm-se dando conta de que os testes
têm um papel importante no processo de seleção, à medida que os aspectos atualmente
mais valorizados quebram paradigmas que sustentavam o processo seletivo ao longo de
toda a história da humanidade, cujas características pessoais tornaram-se mais importantes
que sua folha corrida de realizações. Houve uma época em que o currículo a ser
apresentado em uma entrevista de seleção profissional era uma das principais preocupações
do candidato. Hoje, este material é apenas utilizado como roteiro para que o entrevistador
explore as questões que lhe interessam e que se relacionam com as características exigidas.
O que o mercado está buscando é o profissional que desenvolva uma inesgotável
capacidade de adaptação a toda gama de situações que possa vivenciar, que consiga
enxergar no novo a sua motivação para vencer, que veja obstáculos como desafios a serem
transpostos, e não como empecilhos à sua trajetória.

Benucci (2003) afirma que a maioria dos currículos que chegam às empresas

não expressam detalhadamente a vida profissional, acadêmica e social do candidato,


tornando-se necessário fazer uma co-relação entre os dados apresentados no currículo com

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a comunicação verbal e não-verbal do entrevistado. Dessa forma, não é apenas a entrevista
que conta para o preenchimento de uma vaga: as dinâmicas de grupo, os testes
psicológicos, entre outros, são instrumentos importantes para procurar um índice de acerto
na contratação do candidato em relação às expectativas e necessidades do contratante.
Pereira, Primi e Cobêro (2003) referindo-se especialmente aos testes psicológicos, afirmam
ser necessário atualizá-los, e que os profissionais devem ficar atentos às qualidades
psicométricas dos instrumentos utilizados, sobretudo no que se refere à validade preditiva.
Afirmam ainda, que os testes psicológicos são instrumentos de medida cientificamente
desenvolvidos a partir de um longo investimento que se caracteriza por sua rigidez
metodológica e ampla fundamentação teórica. Atualmente, a prática psicológica na seleção
profissional está comprometida devido ao mau uso dos instrumentos de avaliação. O que
pode vir a colocar em risco a qualidade de um processo seletivo é a incompetência do
selecionador no uso da técnica, e não a técnica em si. É necessário admitir que há variáveis
próprias do sujeito que podem facilitar ou dificultar sua atuação no trabalho, de forma que se
busca numa seleção não apenas a super qualificação ou máxima experiência, mas a maior
compatibilidade possível entre as características do sujeito e as exigências do cargo que
pretende ocupar.

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U NIDADE 30
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica

VISÃO GERAL DE TESTES PSICOLÓGICOS18

- Conceito de testes:

Teste é uma palavra de origem inglesa que significa “prova”; deriva do latim testis e é usada
internacionalmente para denominar uma modalidade de medição bastante conhecida hoje
em dia em diversos campos científicos e técnicos. “Uma medição só é chamada de teste se
for usada, primordialmente, para se descobrir algo sobre o indivíduo, em vez de responder a
uma questão geral.( Tyler, 1973).

Essencialmente, a finalidade de um teste consiste em medir as diferenças existentes, quanto


a determinada característica, entre diversos sujeitos, ou então o comportamento do mesmo
indivíduo em diferentes ocasiões – diferença inter e intra – individual, respectivamente.

O instrumento psicométrico mais típico é o teste. Todavia, não é o único. Trata-se de uma
situação estimuladora padronizada (itens de teste e ambiente de aplicação) à qual uma
pessoa responde.

Entende-se por situação experimental tudo aquilo que faz parte do teste e da aplicação do
mesmo, definidos anteriormente, ou seja, material empregado, instruções, local da aplicação,
etc. Essas condições precisam ser padronizadas para que se evitem variações nas
condições da administração. Em segundo lugar, se o teste é um estímulo que gera uma
resposta do indivíduo, o registro desse comportamento é deveras importante. Deve ser
preciso para ser confiável. No caso dos testes em que cabe ao indivíduo registrar a própria
resposta, não há problema. Entretanto, quando se precisa anotar a resposta do indivíduo e,
ao mesmo tempo, observar sua responsividade não-verbal, todo o cuidado é pouco.

18
Disponível em: http://www.estacio.br/site/psiconsult/cursos/2003_1/visaogeral_testepsicologicos.pdf
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- Classificação de testes:

Não existe um modo inteiramente satisfatório de classificar os testes que seja adotado por
unanimidade pelos diversos autores. Diferentes critérios podem ser adotados. O que será
feito a seguir é definir cada uma dessas características , integrando-as em uma única
classificação.

- Segundo o método utilizado:

De acordo com o método, os testes dividem-se em psicométricos e projetivos. Tem-se


denominado método psicométrico ao procedimento estatístico sobre o qual se baseia a
construção dos testes, assim como a elaboração dos dados da investigação. Entretanto,
quando se trata da metodologia empregada para a obtenção de dados, diz-se que um teste
que um teste psicométrico é aquele cujas normas gerais utilizadas são quantitativas, o que
quer dizer que o resultado é um número ou medida. Os itens do teste são objetivos e podem
ser computados de forma independente uns dos outros, seguindo uma tabela ( ex.: testes de
inteligência).

Os testes cuja metodologia é projetiva, por sua vez, são aqueles cujas normas são
qualitativas, ou seja, são testes menos objetivos. O resultado se expressa através de uma
tipologia. Por terem uma avaliação qualitativa, evidentemente que seus elementos ( itens de
teste) não podem ser medidos em separado. E a constância de certas características
avaliadas no teste como um todo que dará a relativa certeza de um diagnóstico ( ex.: testes
de personalidade em geral).

- Segundo a Finalidade:

Nesse caso, dividem-se em Testes de Velocidade, ou Rapidez, e Testes de Potência, ou


Nível. Os testes puros de velocidade medem a rapidez de raciocínio ou execução de
determinada tarefa. Caracterizam-se pelo tempo certo de administração e pelo fato de serem
homogêneos, isto é, medirem o mesmo fato comum em todos os itens muito fáceis para se
ter como variável apenas a rapidez de execução.

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Os testes puros de potência são aqueles que medem, não a rapidez da execução, mas a
qualidade da mesma. Avaliam a potencialidade do indivíduo em relação a alguma
característica. Os itens apresentam-se em dificuldade crescente – teste heterogêneo- e isso
toma mais tempo para a sua realização. Não se pode dizer que o tempo é ilimitado, pois isso
implicaria ter-se que estar à disposição do testando.

- Segundo a Influência do Examinador

Segundo a influência do examinador, os testes podem ser Pessoais ou Impessoais. Esse é


um critério importante, já que a influência do examinador pode favorecer ou desfavorecer o
escore do examinando. Nos casos em que é extremamente necessária a presença do
examinador para explicar a tarefa, observar atitudes, etc., sua personalidade e sua conduta
influem consideravelmente no resultado. Ao contrário, nos testes impessoais o examinador
se limita a administrar o rapport. Geralmente esses testes são auto-administrados, pois vêm
com instruções impressas, cabendo ao examinando apenas segui-las para respondê-las.

Em princípio, todos os testes são pessoais – o que varia é o grau de influência. Os testes
projetivos, em maior grau, e os testes psicométricos, em menor grau, são exemplos disso.

- Segundo o Modo de Administração:

Segundo o modo de administração, os testes podem ser individuais, coletivos e auto-


administrados. Chama-se teste individual aquele que exige apenas a presença de um
examinador e um examinando, não se podendo aplicá-lo a um grupo de sujeitos
simultaneamente. Suas instruções são complexas, exigindo maior treino por parte do
aplicador, principalmente no que diz respeito à coleta das informações não-verbais
expressas pelo candidato. São muito pessoais: TAT, Rorschach, PMK). Os testes coletivos
não exigem um contato tão direto entre examinador-examinando. São mais simples e
qualquer um, com um pequeno treino, pode administra-los . Por isso são realizados em
grupo, apresentando como vantagem a economia de tempo ( ex.: Baterias de Aptidões).

Os testes que possuem instruções na capa, não determinam tempo e dispensam a presença
de um aplicador, tamanha a facilidade comque são executados, são chamados de testes

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auto-administrativos. Podem ser aplicados coletivamnete ou mesmo de forma individual,
desde que adaptados às exigências da situação.

- Segundo o Atributo Medido

Segundo o atributo medido, os testes dividem-se em de rendimento, aproveitamento ou


realização; e aptidão e de personalidade.

Os testes de aproveitamento servem para medir o grau de eficiência na realização de uma


tarefa aprendida. O objetivo é medir, objetivamente, o conhecimento que o indivíduo adquiriu
sobre algo, em relação ao seu grupo. São muito usados em empresas quando se exigem
candidatos especializados para obtenção de promoções. Também para objetivos
educacionais, seja avaliar o desempenho no final de um curso ou medir a aprendizagem
vocacional especializada.

Os testes de aptidão medem o “potencial” do indivíduo para aprender ou realizar uma tarefa.
Anteriormente, achava-se que se tratava de capacidades “ latentes ”, bastando um pequeno
treinamento adequado para que fossem atualizadas. Hoje se reconhece que isso é um tanto
ingênuo. As realizações dos testes de aptidão refletem influências acumulativas de
numerosas experiências da vida diária. A aprendizagem é realizada sob condições não –
controladas ou desconhecidas. Além do mais, todos os testes psicológicos medem o
comportamento atual, e este está carregado de influências da aprendizagem anterior. Uma
forma de subdivisão desses testes é: testes de aptidão específica; testes de aptidão especial.

Os testes de aptidão geral (Fator g) medem inteligência como um todo; dão a medida geral
da esfera intelectiva. São os testes que se referem, ao mesmo tempo, a diferentes aspectos
da atividade inteligente. Como exemplo desses instrumentos, temos o INV, o Barcelona, o
Dominó, etc. Os testes que medem o Fator G dividem-se em testes ou escalas que avaliam o
desenvolvimento mental, ou seja, a inteligência em seu aspecto evolutivo e testes de
capacidade mental que mensuram a função intelectiva já desenvolvida.

Os testes de Personalidade

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Os testes de personalidade medem as características de personalidade propriamente ditas,
que não se referem aos aspectos cognitivos da conduta. Ex.: estabilidade emocional, atitude,
interesse, sociabilidade, etc.

Sabendo-se que a personalidade do indivíduo muda constantemente, surge a seguinte


pergunta: Que medir? Na verdade, medem-se características mais ou menos constantes da
personalidade – mesmo assim, em determinado momento.

Critérios para a utilização dos testes psicológicos:

Para que um teste psicológico cumpra com os seus objetivos como instrumento de medida
cientificamente válido, é necessário que o usem de forma adequada. É imprescindível o
controle em relação à sua utilização, limitando-lhe a venda e o uso a pessoas habilitadas
para tal, e também evitando a divulgação de seu conteúdo.

A necessidade de se permitir a administração dos testes somente a pessoas preparadas é


importantíssima, pois, evidentemente, um mínimo de preparo é necessário, variando a
qualidade do treinamento de acordo com a complexidade do instrumento. Os testes de
personalidade exigem maior esforço e compreensão por parte do aplicador, por exemplo.

A escolha do teste:

O objetivo do estudo e/ou a relevância do teste para o problema em questão é o primeiro


fator a ser considerado. Se o objetivo é realizar uma seleção profissional, por exemplo,
através da descrição do cargo chega-se à escolha dos testes que irão compor a bateria.

Em segundo lugar, deve-se estar atento às características dos sujeitos que sofrerão a
aplicação – sexo, idade, escolaridade, etc -, as quais determinam o tipo de teste a ser
utilizado.

Existem requisitos básicos em relação ao próprio teste que são extremamente relevantes:
trata-se da validade, da fidedignidade e da padronização do instrumento. Diz-se que um teste
é valido quando ele mede realmente o que pretende medir. Por fidedignidade entende-se a
capacidade do teste de repetir os testes em ocasiões diferentes.

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A aplicação do teste:

A aplicação do teste deve obedecer rigorosamente às instruções contidas no manual, o


tempo estabelecido para a sua execução e outras recomendações especificadas. A
modificação de tais instruções invalida o teste.

O aplicador deve estar muito bem preparado de modo a evitar imprevistos durante a
aplicação. Deve estar de posse de conhecimento das condições necessárias para aplicações
contidas no manual, e do treinamento.

As condições físicas gerais para a aplicação de um teste também deve ser objeto de
cuidados: tamanho e iluminação da sala, arejamento, temperatura, influência de elementos
perturbadores. Podem parecer desnecessárias, mas essas condições influenciam no bom
desempenho em qualquer atividade, principalmente nos testes.

Sabendo-se que as atividades anteriormente desenvolvidas pelos aplicandos podem


influenciar seu desempenho, como por exemplo: perturbação emocional, fadiga , uma noite
mal dormida... O relacionamento estabelecido entre aplicador e aplicando com finalidade de
aumentar a motivação e diminuir a ansiedade chama-se rapport.

Apesar de motivá-los, o examinador sabe que é importante que o indivíduo consiga um


rendimento máximo por meio de seus próprios esforços. Motivar não é o mesmo que
“empurrar o sujeito para determinada tarefa”.

Testes de Personalidade:

Wartegg O teste foi idealizado por Ehrig Wartegg, em 1930, na Alemanha e apresentado pelo
seu autor ao XV Congresso de Psicologia de Jena (cidade da Alemanha Oriental) em 1937.
Nessa ocasião expôs as linhas gerais de seu teste inspirado em um trabalho de Sander. Este
último tinha apresentado no IX Congresso de Jena em 1928 uma prova que consistia em
integrar um desenho; eram uns sinais sem coerência aparente, para que os sujeitos
submetidos à prova tratassem de coordená-los entre si, dando-lhes um sentido determinado.
Esta única prova apresentada por Sander, foi modificada por Ehrig Wartegg, que a
transformou em uma série, com o objetivo de conseguir maiores e melhores resultados, e

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captar melhor o estilo pessoal do examinando. O Teste de Wartegg é uma técnica de
investigação da personalidade através de desenhos obtidos por meio de uma variedade de
pequenos elementos gráficos que servem como uma série de temas formais a serem
desenvolvidos pelo indivíduo de maneira pessoal. São oito campos onde o testando deverá
realizar oito desenhos, na seqüência que desejar, o tema que quiser, de acordo com seu
próprio ritmo. Cada campo tem um valor arquetípico: Campo 1 – O eu, ego, autoestima
Campo 2 – Fantasias, afetividade. Campo 3 – Ambição, metas, objetiva Campo 4 – Angústia,
como lida com conflitos. Campo 5 – Energia vital, transposição de obstáculos. Campo 6 –
Criatividade. Campo 7 – Sexualidade, sensualidade e sensibilidade. Campo 8 – Social,
empatia com os outros. A integração desses campos constituem a própria personalidade
humana, tanto na sua estrutura como na sua dinâmica. No WZT, a simbologia é algo
primordial, bem como a execução, seqüência, conteúdo, etc; sendo necessário, desta forma,
que o avaliador se prepare profundamente para estar apto a uma avaliação coerente e
fidedigna. No Brasil temos alguns livros que são de leitura obrigatória, numa ordem de
importância que eu mesmo classifiquei: · Kfouri, N.J. – Wartegg Da Teoria à Prática – Vetor
Editora Psicopedagógica · Wartegg, Ehrig – Teste de Wartegg, Diagnóstico de Camadas –
Casa do Psicólogo · Freitas, ªM.L. – Guia de Aplicação e Avaliação do Teste de Wartegg –
Casa do Psicólogo E para quem tem fluência em Inglês e acesso a livros importados

Teste de Zulliger Seu autor, Hans Zulliger (suíço, 1895 – 1965), o criou em 1942, em função
da necessidade de selecionar um alto contingente de soldados para o exército suíço, em
curto espaço de tempo. Foi influenciado diretamente pelas idéias de Freud, Pfister e de
Rorschach de quem se tornou discípulo Sua primeira publicação deste teste, data de 1932
(O Teste de Ro a Serviço do Assessoramento Educacional). Seguiram-se outras obras como
em 41 (Introdução ao Teste de Behn Rorschach). Em 48 e 54 apareceram suas duas obras
referentes ao Teste Z (DER ZULLIGER-DIAPOSITIV-TEST) e (DER ZULLIGER-TAFELIN
TEST) Vale lembrar que “O TESTE DE ZULLIGER NÃO É UM TESTE DE RORSCHACH
ABREVIADO” - este é um erro que infelizmente muitos profissionais e estudantes ainda têm
em mente... ambos possuem a mesma natureza, porém, cada técnica é completa por si só.
O Teste de Zulliger constitui-se de três pranchas: Prancha I - Aspectos primitivos da
personalidade Prancha II - Afetividade / Emoções Prancha III - Relacionamento Sua
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aplicação pode ser individual ou coletiva, para toda e qualquer finalidade (psicodiagnóstico,
avaliação da personalidade, seleção de pessoal, avaliação de desempenho, etc.). A
interpretação integrada das três pranchas propicia uma visão muito aprofundada da
personalidade humana, seja em sua estrutura ou em sua dinâmica, especialmente em
relação aos seus aspectos afetivo-emocionais, bem como em termos de intelectualidade,
pensamento, objetivos de vida, sociabilidade, relacionamento interpessoal, etc. A bibliografia
a respeito do Teste de Zulliger é bastante extensa, tanto em língua portuguesa como em
outros idiomas. As instituições especializadas possuem um vasto material, bem como o jogo
de pranchas: Casa do Psicólogo, Instituto Pieron e Vetor. O Instituto Pieron comercializa um
software para avaliação do teste que é bastante interessante.

PMK O Psicodiagnóstico Miocinético (PMK), foi criado pelo Prof. Emílio Mira y López em
Londres. Seu autor nasceu em Cuba (1896) e reuniu, no decorrer de sua vida uma
experiência profissional-científica invejável, como se conhece em poucas pessoas, e que
culminou no Brasil, em 1945, no ISOP; mas foi a partir de 1949 que o seu teste passou a ser
amplamente divulgado até ser reconhecida como uma das principais técnicas psicológicas
para a avaliação e compreensão da personalidade. O teste é muito utilizado na avaliação de
candidatos a motorista, operadores de máquinas e para quem vai portar de arma de fogo e,
de certa forma, sua utilização diminuiu para outros fins... o que é um grande erro, pois seu
valor psicodiagnóstico é muito grande. Ele nos dá uma visão bastante clara e diferenciada da
personalidade humana, sua estrutura e dinâmica, mostrado como a pessoa é em sua
essência e como ela reage em contato com o meio ambiente: Tônus vital (elação e
depressão), Agressividade (hetero e auto), Reação vivencial (extra e intratensão),
Emotividade, Dimensão tensional (excitabilidade e inibição), Predomínio tensional
(impulsividade e rigidez/controle). Além disso, é um instrumento bastante valioso no
diagnóstico de problemas toxicológicos e neuro-vegetativos. O teste originalmente se
constitui de 8 folhas, mas no Brasil, é mais utilizada uma forma resumida: folhas 1, 2, 5 e 6.
Esta forma, apesar de ser bastante válida, vale lembrar que para uma avaliação mais
aprofundada é necessário que se utilize o teste em sua forma completa. 1- Lineogramas
(vertical, horizontal e sagital) 2 - Zigue-zague (sagital) 3 - Escadas e Círculos (verticais) 4 -
Cadeias (verticais e sagitais) 5 - Paralelas (egocífugas sagitais) e Us (verticais) 6 - Paralelas
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(egocípetas sagitais) e Us (sagitais) Existe uma tendência muito grande de se avaliar o PMK
pelo que se chama de “olhômetro”, isto é, com uma simples visualização dos traçados feitos,
eliminando-se a mensuração e tetronagem do mesmo... Este é um erro muito grave, pois
como se sabe o PMK lida com milímetros e não é possível a olho nu determina-los com tanta
precisão; portanto, mensura o teste é de fundamental importância para a fidedignidade de
sua avaliação. Leitura imprescindível e obrigatória é a publicação da Alice Madeleine Galland
de Mira, esposa do autor, publicado pela Vetor, em dois volumes de apresentação impecável
e de um conteúdo magistral. Vale lembrar também do Prof. Joel Gosling, que há décadas é
um pesquisador e divulgador de várias técnicas psicológicas, em especial do PMK; portanto,
tudo que for possível assimilar de seus conhecimentos é de valor inestimável. Conhecer o
PMK sem ter contato com as idéias do Professor é, no mínimo, não prezar por um
enriquecimento pessoal. Eu fui seu aluno no IPPA, na época em que trabalhava na CMTC
(antiga casa do Professor também) e posso afirmar que, todo Psicólogo ou estudante de
Psicologia deveria ter um contato com ele, pois sua riqueza de conhecimento é comparável a
todo e qualquer grande mestre da nossa área. A Vetor, fornece gratuitamente para
Psicólogos, mediante cadastro e apresentação do CRP, um software que facilita muito a
avaliação do PMK; porém, mesmo com esta ajuda, o preparo do profissional e seu
conhecimento de mensuração são inevitáveis.

Teste Palográfico O teste PLG foi idealizado e elaborado pelo Prof. Salvador Escala Milá, do
Instituto Psicotécnico de Barcelona, na Espanha. No Brasil, os estudos a respeito da
validação desta técnica foram realizados pelo Prof. Agostinho Minicucci, quando era Diretor
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu e Professor de Psicologia (1960),
introduziu nessa escola, um Centro de Estudos de Grafoanálise (Análise da Escrita) e Teste
Gráficos, onde efetuou estudos a respeito da validação desta técnica. Seu uso foi mais
largamente difundido a partir dos anos 70. É uma técnica projetiva de movimento expressivo
e, como tal, apresenta semelhanças como o P.M.K, do professor Mira Y Lopes Graphe, O
Tapping Test, o Teste Grafoescritural de Honroth Zarza e outros. O teste palográfico (PLG),
pode ser entendido como a avaliação da personalidade com base na expressão gráfica. A
folha de papel, representa o mundo no qual o indivíduo se coloca afetivamente e a maneira
pela qual ele se relaciona com o meio externo, através dos traçados. Ao escrever,
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projetamos sobre o papel formas simbólicas, vivas em nós, que expressam nossa vida
interior, ou seja, modificamos as formas tradicionais ou caligráficas, de acordo com as idéias
conscientes e as imagens inconscientes que determinam a nossa personalidade. A folha de
papel representa, portanto, o mundo onde evoluímos, e cada movimento escritural é
simbólico de nosso comportamento nesse mundo. Podemos concluir, então, que todos os
movimentos, todos os gestos humanos estão carregados de significado e concorrem à
expressão da personalidade como um todo. Leitura obrigatória para se conhecer bem este
teste, são os livros do Augustinho Minicucci, todos encontrados na Vetor, que também
fornece gratuitamente um software para Psicólogos, que permite uma “pré-avaliação” do
teste.

HTP

O H.T.P. (House-Tree-Person) é o teste de desenho da Casa-Árvore-Pessoa, idealizado por


John N. Buck, em 1948. Partiu do princípio de que estes temas são bastante familiares a
todas as pessoas, mesmo na mais tenra idade, o que facilita a idealização dos desenhos,
facilitando a projeção de suas experiências internas. Segundo Hammer (1981), “o HTP
investiga o fluxo da personalidade à medida que ela invade a área da criatividade artística”...
e , mesmo que haja uma infinidade de possibilidades nos tipos de figuras desenhadas, é
possível se fazer uma avaliação quantitativa e qualitativa, utilizando-se das simbologias, que
torna a técnica fidedigna. Suas vantagens relacionam-se ao fato de que é um teste de
aplicação muito econômica (lápis e sulfite), de aplicação simples, individual ou coletiva, além
de implicar numa avaliação relativamente rápida. Pode ser aplicado somente com lápis preto
(no. 2) ou ainda incluir os coloridos (vermelho, verde, amarelo, azul, marrom, preto, violeta e
laranja). Também pode-se usar um inquérito, previamente elaborado que enriquece muito a
interpretação. A partir de sua criação surgiram algumas “variações”, como por exemplo, além
de desenhar a casa, árvore e pessoa, pode-se pedir também que desenhe uma figura do
sexo oposto a anteriormente feita, bem como o desenho da família. Numa situação de
avaliação para Recursos Humanos, os três desenhos originais são suficientes para um
parecer completo a respeito do testando, mas numa situação clínica, para um maior
aprofundamento, pode-se incluir os outros desenhos. As já conhecidas e respeitadas

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instituições ligadas à Psicologia, possuem curso e material sobre o assunto. Destaca-se aqui
o livro da Dinah Martins de Souza Campos, “O teste do desenho como instrumento de
diagnóstico da personalidade”, que é amplamente indicado nos cursos de psicologia, mas
para um maior aprofundamento, o “Manual Prático de Avaliação do HTP (Casa-Árvore-
Pessoa) e Família”, de Maria Florentina N. Godinho Retondo, editado pela Casa do
Psicólogo.

LEITURA COMPLEMENTAR

PADILHA, Sandra; NORONHA, Ana Paula Porto e FAGAN, Clarissa Zanchet. Instrumentos
de avaliação psicológica: uso e parecer de psicólogos. Aval. psicol. [online]. 2007, vol.6, n.1,
pp. 69-76. ISSN 1677-0471.

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/avp/v6n1/v6n1a09.pdf

ATIVIDADE 3

Os testes psicológicos, em sua essência, medem as diferenças existentes, quanto a


determinada característica, entre diversos sujeitos, ou então o comportamento do mesmo
indivíduo em diferentes ocasiões.

Com base no conteúdo, contextualize “A ética na aplicação dos testes psicológicos”.

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Fórum III

Os testes psicológicos, em sua essência, medem as diferenças existentes, quanto à


determinada característica, entre diversos sujeitos, ou então o comportamento do mesmo
indivíduo em diferentes ocasiões.

Com base no conteúdo, contextualize “A ética na aplicação dos testes psicológicos”.

Antes de iniciar sua Avaliação Online, é fundamental que você acesse sua SALA
DE AULA e faça a Atividade 3 no “link” ATIVIDADES.

Atividades dissertativas

Acesse sua sala de aula, no link “Atividade Dissertativa” e faça o exercício proposto.

Bons Estudos!

225
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G LOSSÁRIO

ETIOLOGIA - estudo sobre a origem das doenças mentais visão clássica da doença.

PATOGÊNICO - capaz de produzir doenças. Aquilo que produz uma doença. Trata-se de
uma vivência danosa no desenvolvimento.

OLIGOFRÊNICO - retardo mental. Déficit intelectivo.

PSICOSE - doença mental. Distorce a realidade.

ONÍRICO - relativo ao sonho.

PSIQUIATRIA - parte da medicina que trata e estuda as doenças mentais. O maior enfoque,
mas não único está nos estudos e aplicações da psicofarmacologia.

MENTAL - que se passa na mente ou pensamento

PSICOLOGIA - ciência que estuda os fenômenos psíquicos e do comportamento.

PSICOPATIA - perturbação de caráter, da moral.

PSICOPATOLOGIA - estudo das doenças mentais (origem, classificação, sintomas, etc).

ANTI-PSOQUIATRIA - movimento dos profissionais da área psicológica, de pacientes


psiquiátricos e de movimentos populares, contra as instituições fechadas, totais. Surgiu na
década de setenta junto com os movimentos de até então (hippies, negros, gays, feministas,
etc).

PSICOFARMACOLOGIA - estuda os efeitos de drogas e remédios no organismo ou estuda


os comportamentos dos efeitos das drogas. A primeira definição é mais comum na formação
do médico e a segunda na formação do psicólogo.

226
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B IBLIOGRAFIA

UNIDADE 1

CECCARELLI, Paulo. O sofrimento psíquico na perspectiva da psicopatologia


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Rio de Janeiro, Objetiva, 2007.

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Atheneu,1987.

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