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beneficiando e divulgando a marca do detentor, sem a intenção de infringir as regras básicas
de autenticidade de sua utilização e direitos autorais.
E Por Fim, Declara Estar Utilizando Parte De Alguns Circuitos Eletrônicos, Os Quais Foram
Analisados Em Pesquisas De Laboratório E De Literaturas Já Editadas, Que Se Encontram
Expostas Ao Comércio Livre Editorial.
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A presentação
Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos
anormais de graves consequências para o país (PAIM, 1993).
O bjetivo
E menta
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S UMÁRIO
UNIDADE 1 .............................................................................................................................. 8
Contextualização Histórica ....................................................................................................8
UNIDADE 2 ............................................................................................................................ 12
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE............................................................... 12
UNIDADE 3 ............................................................................................................................ 20
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE ...................................................................20
UNIDADE 4 ............................................................................................................................ 37
Psicopatologia e psicologia do normal ................................................................................ 37
UNIDADE 5 ............................................................................................................................ 47
Funções Psíquicas e suas alterações ................................................................................. 47
UNIDADE 6 ............................................................................................................................ 54
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (vivências espaciais e temporais,
senso-percepção e representações, memória) ...................................................................54
UNIDADE 7 ............................................................................................................................ 57
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (Afetividade e humor) ......................... 57
UNIDADE 8 ............................................................................................................................ 61
Funções Psíquicas Elementares e suas alterações (PENSAMENTO)................................ 61
UNIDADE 9 ............................................................................................................................ 68
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução ........................................................ 68
UNIDADE 10 .......................................................................................................................... 73
Detalhamento das Doenças Psicológicas - NEUROSE ...................................................... 73
UNIDADE 11 .......................................................................................................................... 93
Detalhamento das Doenças Psicológicas – PSICOSE ....................................................... 93
UNIDADE 12 ........................................................................................................................ 115
Detalhamento das Doenças Psicológicas - ESQUIZOFRENIA ......................................... 115
UNIDADE 13 ........................................................................................................................ 126
EXEMPLOS CLÍNICOS ..................................................................................................... 126
UNIDADE 14 ........................................................................................................................ 133
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Detalhamento das Doenças Psicológicas – AUTISMO ..................................................... 133
UNIDADE 15 ........................................................................................................................ 145
Classificação das doenças psicológicas ........................................................................... 145
UNIDADE 16 ........................................................................................................................ 148
Detalhamento das Doenças Psicológicas – DEPRESSÃO ............................................... 148
UNIDADE 17 ........................................................................................................................ 164
Detalhamento das Doenças Psicológicas - CLAUSTROFOBIA ....................................... 164
UNIDADE 18 ........................................................................................................................ 165
Detalhamento das Doenças Psicológicas - DOENÇAS PSICOSOMÁTICAS .................. 165
UNIDADE 19 ........................................................................................................................ 179
Detalhamento das Doenças Psicológicas – SÍNDROME DE BOURNOT ......................... 179
UNIDADE 20 ........................................................................................................................ 181
Detalhamento das Doenças Psicológicas -TRANSTORNO BIPOLAR............................. 181
UNIDADE 21 ........................................................................................................................ 184
Detalhamento das Doenças Psicológicas - SÍNDROME DE MUNCHAUSEN .................. 184
UNIDADE 22 ........................................................................................................................ 188
Detalhamento das doenças Psicológicas - SÍNDROMES MANÍACAS ............................. 188
UNIDADE 23 ........................................................................................................................ 189
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
BORDERLINE ................................................................................................................... 189
UNIDADE 24 ........................................................................................................................ 191
Detalhamento das Doenças Psicológicas – XENOFOBIA ................................................ 191
UNIDADE 25 ........................................................................................................................ 192
Detalhamento das Doenças Psicológicas - TRANSTORNO HIPOCONDRÍACO ............. 192
UNIDADE 26 ........................................................................................................................ 194
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
.......................................................................................................................................... 194
UNIDADE 27 ........................................................................................................................ 197
OS TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ......................................................... 197
UNIDADE 28 ........................................................................................................................ 204
TESTES PSICOLÓGICOS E SUAS PRÁTICAS ............................................................... 204
UNIDADE 29 ........................................................................................................................ 209
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Instrumentos psicológicos utilizados em seleção profissional ........................................... 209
UNIDADE 30 ........................................................................................................................ 214
VISÃO GERAL DE TESTES PSICOLÓGICOS ................................................................. 214
GLOSSÁRIO ........................................................................................................................ 226
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U NIDADE 1
Objetivo: Oferecer instrumentos teóricos para o estudo e a reflexão da psicopatologia,
visando à compreensão crítica do conteúdo
Contextualização Histórica
Na Grécia pré-socrática, o sofrimento psíquico era um castigo dos deuses irritados com a
hybris dos homens (Pessotti, 1995).
Platão dá uma visão completamente nova da psychê ao considerá-la como composta por
três almas: uma racional, o logos, uma afetivo-espiritual e uma terceira que seria apetitiva.
Para Platão, a loucura atestaria o desarranjo no equilíbrio das três componentes da psychê,
fazendo com que a parte racional, o logos, perdesse o controle.
Desse modo, a psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são
considerados dois grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram
mais à atitude da sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos
dessa ciência. O primeiro com a postura de Philippe Pinel1 estudioso que abordou as
doenças mentais como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social,
em oposição às opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. Já no final do
século XX ocorreu o segundo, quando tendências agrupadas sob a denominação genérica
de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social) passaram a recomendar o fim dos
manicômios e a integração do psicopata à sociedade, mediante técnicas específicas.
1
Médico, pioneiro no tratamento dos doentes mentais, considerou as doenças mentais como resultados de
tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos,
desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão
demoníaca
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Médico, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz,
abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psicanálise
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No início do séc. XX surge outro tipo de abordagem, o behaviorismo de John B. Watson3
para quem grande parte dos quadros mórbidos ou patológicos admite interpretação em
termos de aprendizagem. Daí deriva a prática de implantar controles que visam à inibição da
conduta desajustada. A corrente fenomenológica se caracteriza metodologicamente pela
intenção de captar o significado da relação assumida entre o paciente e o mundo. Nessa
abordagem, omite-se a referência aos processos neurofisiológicos e se considera básica a
noção de referência intencional, numa dimensão existencial.
LEITURA COMPLEMENTAR
3
Ficou muito conhecido pela publicação do chamado "manifesto behaviorista": um conjunto de palestras
publicadas em forma de artigo em 1913 no qual defendeu o abandono da introspecção e a adoção da
observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. O manifesto
behaviorista coordenou muitas das manifestações esparsas que já vinham criticando o método introspectivo e
se tornou um marco histórico na psicologia
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doi: 10.1590/S1516-14982004000100007. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151614982004000100007&script=sci_abstract
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S198402922008000200023&lng=en&nrm
=iso&tlng=pt
Links Relacionados
http://www.psicopatologiafundamental.org/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=1415-4714
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U NIDADE 2
Objetivo: Contextualizar a psicopatologia no cenário atual.
PSICOPATOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE
Entretanto, um grande número de estudiosos reconhece que o campo pode ser bem
organizado, em seu estado atual, a partir da distinção de três grandes correntes: a
neurobiológica, a psicanalítica e a sociológica. Enquanto a primeira privilegiaria a importância
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causal da dimensão orgânica e a terceira apostaria na produção social do sofrimento
psíquico, a psicanálise tanto ignoraria os determinantes somáticos como os sociais, para
destacar o papel do aparelho psíquico. Estas três correntes são, muitas vezes, consideradas
à luz das afinidades que mantém com ideologias políticas, de modo que os organicistas são
considerados de direita, os sociólogos de esquerda e os psicanalistas como esquerdistas
que tem deslizado, ao longo dos anos, para o centro (Zefaradian,1988).
Ainda que bastante popular esta divisão em três correntes não deixa de ser simplista e até
certo ponto ingênua, uma vez que tributária de uma visão positivista segundo a qual cada
ciência tem direitos de exclusividade sobre determinados objetos. Além disso, está
basicamente não atualizada, uma vez que não é correto identificar a Psicanálise à
metapsicologia clássica. Assim, o ramo que detém o domínio do corpo biológico clamaria
pela “posse” do fenômeno do sofrimento psíquico numa luta contra sociólogos e psicanalistas
que, estudando a sociedade ou a mente inconsciente, fariam idêntica reivindicação.
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garantiu a descoberta imediata da etiologia da maior parte das chamadas doenças mentais,
cuja causalidade continua, em sua maior parte, obscura.
Passaram-se algumas décadas antes que se tornasse aceita a idéia de que a sociedade
desempenhava importante papel na produção do sofrimento psíquico (Miles,1981). Hoje é
claro para a maioria dos estudiosos que o fato de existirem determinantes orgânicos não
anula a importância das condições concretas da vida social no surgimento de manifestações
psicopatológicas.
Um fenômeno chama, desde o inicio, nossa atenção. Trata-se do fato de ocorrer uma relativa
diminuição dos quadros mais conhecidos e melhor definidos, vale dizer, da neurose e da
psicose, em favor de um aumento expressivo dos chamados quadros limites ou borderlines.
O tema já foi bastante explorado por autores da estatura de um Bergeret (1974), que
sistematizou uma Psicopatologia Psicanalítica tripartite, seguindo indicações freudianas, no
interior da qual distinguia as estruturas neurótica e psicótica, ligadas fundamentalmente a
angústias de fragmentação e castração, ao lado do que denominava organizações limites,
que, possuindo caráter antidepressivo, exteriorizar-se-iam em termos clínicos como
agressividade, adição, distúrbios alimentares, depressões, psicossomatoses e normopatias.
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transformadora de si e do mundo. Surge aqui uma contribuição inestimável à Psicopatologia
Psicanalítica, que permite uma compreensão das demandas que nos chegam, atualmente,
na clínica psicológica, em variados contextos institucionais, que ultrapassa a mera
consideração do registro defensivo, neurótico, psicótico ou borderline.
Esta possibilidade de sentir-se vivo e real como condição de sanidade verdadeira surgiu, é
importante lembrar, num contexto de teorização que retoma uma valorização do ambiente
que a Psicanálise abandonara desde o tempo em que Freud substituiu a teoria da sedução
para privilegiar as fantasias desejantes como elementos determinantes das neuroses
(Laplanche e Pontalis,1967).
Ora, como teoriza mantendo uma grande proximidade em relação ao acontecer clínico,
Winnicott não pensa o individuo de modo abstraído das condições concretas nas quais sua
vida tem lugar, evitando naturalmente abstrações metapsicológicas e enfatizando a
importância do ambiente. Como sabemos, Winnicott inspira-se no bebê para pensar o
humano porque, em sua obra, o bebê é um dos modos de ser pelos quais a natureza
humana se manifesta.
Assim, não tem sentido, a nosso ver, pensar, como fazem alguns que o ambiente só tem
importância na vida do bebê e não na vida do adulto, como se tornar-se adulto pudesse
significar transcender a dimensão de coexistência que caracteriza a condição humana.
Entendemos que a contribuição winnicottiana sustenta que o ambiente é absolutamente
fundamental ao longo de toda a vida individual.
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duas importantes realizações humanas: a filosofia e a religião. Entretanto, muitos pensam
que a vida atual, na qual os ideais estão ausentes e parecem substituídos por frenesis
fundamentalistas de consumo (Santos, 2001), traz consigo um quadro novo, desconhecido
em épocas históricas anteriores. A vida perde sentido e torna-se, deste modo,
verdadeiramente absurda, o que gera sofrimento emocional importante. Não se trata, assim,
de negar a importância de dimensões orgânicas, de amadurecimento emocional ou mesmo
de exercício ético de escolha de posições existenciais mais construtivas e solidárias – que
podemos presenciar mesmo em pessoas que se mantém a expensas de um falso self
cuidador, mas de reconhecer que o mundo em que vivemos pode dificultar enormemente a
constelação do sentir-se vivo e real numa vida que valha a pena.
Num primeiro momento, podemos pensar que o sentir-se vivo e real seja o que se pode
chamar de “problema de foro íntimo”. Esta dissociação seria, assim, o mero descompasso
entre o intelecto e a existir psicossomático, decorrente do fato de ter sido vitima de invasões
ambientais que teriam interrompido a continuidade do ser do bebê. Entretanto, se levarmos
em conta que a vida transcorre no ambiente humano e interrogarmos mais detidamente o
fenômeno da invasão ambiental que, em última instância, visa criar submissão, veremos que
sentir-se vivo e real é algo que depende das condições concretas do viver, que depende da
qualidade das relações humanas.
Será, pois, fundamental, articular a possibilidade de sentir-se vivo e real com o ambiente
familiar, lembrando que este último dependerá sempre das condições concretas da vida
social.
Sabemos que desde o Renascimento, quando progressos científicos até então inimagináveis
tiraram a sociedade de um cosmo fechado para um universo infinito, para adotar a expressão
de Koyré (1973), os homens deixaram de encontrar sentidos na religião ou numa visão
filosófica do mundo como todo harmonioso. Surgiram, assim, o humanismo e a filosofia
moderna, inaugurando-se uma mudança profunda, a partir da qual os homens passaram a
produzir os sentidos do viver, fundamentando-se não mais no cosmo ou em Deus, mas em si
mesmos.
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O projeto científico, como manifestação do humanismo, baseou-se em dois pressupostos. O
primeiro deles diz respeito à crença de que a ciência emanciparia a humanidade de várias
formas de superstição, obscurantismo e autoritarismos. O segundo é a convicção de que um
aumento do domínio do mundo natural transformaria a vida humana, trazendo-lhe maior
conforto, segurança e qualidade. Até aqui, navegava a cultura ocidental em mares nos quais
se articulavam ideais de progresso das ciências com os de desenvolvimento da civilização.
Entretanto, parece que a própria noção de progresso sofreu uma modificação drástica, que
se liga, evidentemente, a vicissitudes do sistema capitalista, frequentemente designada como
passagem da ciência à técnica, que consiste no desaparecimento dos fins em proveito dos
meios. Evidentemente, trata-se de fenômeno dotado de alta complexidade, que merece ser
estudado desde pontos de vista históricos, sociais, econômicos e filosóficos. Entretanto,
tendo em vista nossos propósitos, que focalizam os efeitos destas transformações sobre as
experiências emocionais de vida, basta levar em conta as linhas gerais deste movimento:
“Daí o formidável e incessante desenvolvimento da técnica preso ao crescimento econômico
e largamente financiado por ele. Daí também o fato de que o aumento do poder dos homens
sobre o mundo tornou-se um processo absolutamente automático, incontrolável e até mesmo
cego, já que ultrapassa asa vontades individuais conscientes. É simplesmente o resultado
inevitável da competição. Neste ponto, contrariamente às Luzes e à filosofia do século XVIII
que, como vimos, visavam à emancipação e à felicidade dos homens, a técnica é realmente
um processo sem propósito, desprovido de qualquer espécie de objetivo definido: na pior das
hipóteses, ninguém mais sabe para onde o mundo nos leva, pois ele é mecanicamente
produzido pela competição e não é de modo algum dirigido pela consciência dos homens
agrupados coletivamente em torno de um projeto , no seio de uma sociedade que, ainda no
século passado, podia se chamar res publica, república, etimologicamente negócio ou causa
comum” (Ferry, 2007, p.247).
É claro que este tipo de pesquisa nos ensina sobre pessoas que buscam alguma forma de
atendimento, mas não nos dizem muito sobre quem não se abre para este tipo de
experiência. Nossa experiência tem comprovado a idéia de que predomina, no mundo atual,
um sofrimento derivado da falta de ideais, esperanças e perspectivas, que afeta a
capacidade de se sentir vivo, real e capaz de gestualidade espontânea e transformadora de
si mesmo e do mundo.
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O quadro geral indica, a meu ver, que são inegáveis as relações entre o sofrimento humano
e as condições concretas da vida contemporânea, de modo que se torna indispensável a
constituição de projetos coletivos de produção de sentido e, em última análise, de esperança.
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U NIDADE 3
Objetivo: Apreensão da teoria psicanalítica de Freud, bem como outras teorias enquanto um
conjunto de premissas referentes a uma concepção de homem e de mundo.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
Podemos definir personalidade como sendo um ser humano com individualidade, nitidamente
expressa, a qual, nem a moda do dia a dia, nem as adversidades conseguirão desviar da
rota fixada. A noção científica de personalidade se empregará, pois, para discernir as marcas
particulares inerentes aos indivíduos, isto é, as diferenças inter-individuais; visará igualmente
determinar as variedades do comportamento de um só e único indivíduo, segundo as
situações e as épocas de sua existência (Schaaml, 1976).
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As várias teorias da personalidade se distinguem pela descrição do modo pelo qual essa
interação ocorre e pelo peso dado a cada um dos fatores (aprendizagem, percepção e
motivação) na determinação da personalidade.
A psicanálise nasceu com objetivos bastante limitados. Originalmente, seu único fim era
compreender algo da natureza de enfermidades nervosas chamadas funcionais, para vencer
a impotência médica da época quanto ao seu tratamento. Entre os neurologistas de então,
havia uma crença generalizada a respeito da existência de uma ligação íntima, e talvez
exclusiva, entre determinadas partes do cérebro e certas funções. Como não sabiam o que
fazer com o fator psíquico, nem como apreendê-lo, deixavam essas especulações para os
filósofos, para os místicos e para os curandeiros. Assim, não se abria nenhum acesso às
causas das neuroses, principalmente da enigmática histeria, que delas consistia em medidas
de caráter geral, tais como prescrições de medicamentos, choques elétricos e tentativas, na
maioria das vezes inadequada, de exercer influência psicológica sob forma de conselhos,
repreensões, ameaças etc.
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Outras características da psicanálise como teoria da personalidade é o fato de basear-se
mais nos pensamentos e sentimentos do que no comportamento. Freud supunha e os
psicólogos que seguem sua orientação concordam que o comportamento explícito de uma
pessoa só pode ser interpretado corretamente quando há conhecimento de seus motivos,
temores, sentimentos etc. Ele considerava o comportamento humano como: 1) um resultado
de lutas e acordos entre motivos, impulsos e necessidades; 2) ocorrendo em diferentes
níveis de organização, de tal forma que comportamentos semelhantes podem expressar
diferentes forças e a mesma força pode ser representada em diferentes comportamentos; 3)
ocorrendo em vários níveis de consciência.
Os processos inconscientes são alógicos e têm grande fluidez e plasticidade, de tal forma
que coisas que ocorreram em momentos e espaços diferentes podem estar unidas como
elementos de um mesmo conjunto. Tais processos nunca são observados diretamente, e
quando se manifestam à consciência vêm camuflados com um simbolismo próprio.
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seguinte. Além disso, muitas das coisas que pensamos ser verdadeiras em determinado
momento se tornam contraditórias no momento seguinte, pois outros eventos mostraram que
a nossa percepção não era correta. Na consciência, pois, existem processos intelectivos que
podem persistir, ser substituídos ou extinguir-se.
A estrutura da personalidade
Segundo Freud, a personalidade é composta por três sistemas: id, ego e superego.
O núcleo da personalidade é formado pelo id, que não tem comunicação direta com o mundo
exterior. O id é a fonte de toda energia psíquica da personalidade. Dentro dele operam duas
forças distintas, uma derivada do instinto de vida e a outra do instinto de destruição. Cada
uma dessas classes de instintos está subordinada a um processo fisiológico especial
(criação e destruição) e ambas se conduzem de forma conservadora, buscando a
reconstituição do equilíbrio perturbado pela gênese da vida. Essa gênese seria a causa tanto
da continuação da vida como da tendência à morte. Por sua vez, a vida seria um combate e
uma transição entre ambas as tendências.
O id opera dentro do princípio do prazer, que se define pelo alívio da tensão, pela liberação
da energia e pela esquiva à dor. O objetivo do id, portanto, é a satisfação imediata e irrestrita
dos instintos. Para realizar isso, ele dispõe de dois processos: ação reflexa e processo
primário.
As ações reflexas são reações inatas que geralmente conduzem a uma imediata redução da
tensão. O organismo humano está equipado com um certo número de reflexos que estão
relacionados com formas relativamente simples de excitação.
O processo primário envolve uma reação psicológica mais complicada. A descarga da tensão
é feita por meio de uma imagem mental. Um processo primário, por exemplo, fornece a uma
pessoa faminta a imagem do alimento. Essa experiência oferece uma forma alucinatória de
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satisfação do impulso. Tal alucinação não ocorre automaticamente. Primeiro a pessoa deve
ter experienciado a satisfação concreta do desejo para depois representar mentalmente o
objeto associado a essa satisfação.
O ego é a parte modificada do id por influência do mundo exterior. Ele representa a parte
racional da personalidade.
Considerado sob o aspecto dinâmico, o ego é fraco. Todas as suas energias são
emprestadas do id. Sua função psicológica consiste em trazer ao nível do pré-consciente e
do consciente as exigências dinâmicas do id. Por isso ele é considerado o executivo da
personalidade. Ele deve controlar quais aspectos instintivos serão satisfeitos e buscar meios
para satisfazê-los, bem como prever as conseqüências dos atos destinados à satisfação das
necessidades em questão. É preciso considerar, no entanto, que, como uma parte
organizada do id, o ego existe para satisfazê-lo, e não para frustrá-lo.
As relações entre o ego e o superego ficam claras se as compararmos às relações entre uma
criança e seus pais.
O superego é o representante interno dos valores sociais que são transmitidos inicialmente à
criança pelos pais, por meio de um sistema de recompensa e punições. Posteriormente, o
superego incorpora valores que são transmitidos por substitutos ulteriores dos pais, tais
como educadores e pessoas consideradas modelos sociais.
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Apesar das diferenças fundamentais entre o id e o superego, eles têm uma coisa em comum:
ambos representam a influência do passado o id, as influências herdadas, e o superego, as
recebidas socialmente. Por outro lado, o ego é determinado pelas vivências próprias do
indivíduo, pelo atual e acidental.
O superego aplica um rigoroso critério moral ao ego, que está à sua mercê. O superego é,
assim, o representante da moralidade que nos faz sentir culpa cada vez que o ego tenta se
libertar de seu domínio, e auto-satisfação quando o ego se comporta de acordo com os
ideais sociais. O superego é constituído, pois, por dois sistemas: o ego ideal, que representa
a introjeção dos valores familiares, grupais, religiosos, raciais etc. (ou seja, a personalidade
social), e a consciência moral, que representa a introjeção da censura dos agentes sociais
controladores.
A dinâmica da personalidade
Freud denominou de instintos as forças que atuam nas tensões causadas pelas
necessidades do id. Essas forças representam as exigências somáticas que atuam na vida
psíquica.
As cargas de energia que emanam do id não têm qualquer organização. Não se originam de
uma vontade única e só aspiram à satisfação das necessidades instintivas de acordo com o
princípio do prazer.
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Para os processos desenvolvidos no id não são válidos os princípios lógicos do pensamento,
nem mesmo o princípio da contradição. Impulsos contrários podem coexistir sem anular-se
mutuamente ou um submeter-se ao outro.
O primeiro tem como fim básico estabelecer e conservar unidades cada vez maiores, isto é,
tende à união (por exemplo, o amor). O segundo, ao contrário, busca a dissolução das
conexões, reduzindo a substância viva a um estado inorgânico. Este segundo foi
denominado por Freud de instinto de morte.
Esses dois instintos básicos podem antagonizar-se ou combinar-se. Assim, por exemplo, o
ato de comer equivale à destruição de um objeto com a finalidade de incorporá-lo ao
organismo. Da mesma forma, o ato sexual equivale a uma agressão com o propósito da mais
íntima união. Modificações na proporção de um dos dois instintos no momento da
combinação levam a diferentes conseqüências, podendo predominar o amor ou a agressão.
A energia liberada pelo instinto de conservação foi denominada por Freud de libido.
Os instintos não têm qualidades perceptivas, por isso não podem atingir diretamente a
consciência. A expressão das forças instintivas é uma das funções do ego, que estabelece
uma ordem temporal para a satisfação dos instintos e os submete ao teste da realidade. Pela
interpolação de processos mentais, o ego escolhe a forma e o objeto para liberação da
tensão, conseguindo, assim, um estado precário de equilíbrio com a redução da excitação.
Contudo, essa redução é mais formal do que efetiva, pois o ego utiliza apenas as ações que
no passado foram bem-sucedidas, ma que nem sempre são adequadas ao presente.
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O ego se assemelha a um monarca que, não podendo legislar sobre as sanções (superego),
pensa muito antes de vetar uma proposta do parlamento (id).
O conteúdo do id pode passar pelo ego por dois caminhos distintos. Um é o direto e o outro
por meio do ego ideal. As atividades psíquicas são resultantes da eleição de um desses
caminhos que levam à liberação ou à coerção dos instintos. A coerção é realizada pelo ego
ideal, que é em parte uma formação reativa contra os instintos do id.
A esse processo de liberação e inibição da energia do id, Freud deu o nome de catexe e
anticatexe (ou catexe contrária).
A ansiedade real ocorre quando o ego se sente impotente frente a um objeto ou a uma
situação do mundo exterior, que pode colocar em risco a sua sobrevivência ou a sua
integridade psicológica. O homem não tem condições de detectar todos os perigos que
existem no mundo exterior, por isso às vezes se sente impotente frente à realidade. A
situação traumática contra a qual somos impotentes causa ansiedade, visto que, nessas
condições, a satisfação de nossas necessidades significa perigo. As crianças pequenas, que
não têm ainda a noção de perigo, fazem a todo o momento coisas que põem em risco a sua
vida.
Na ansiedade neurótica, o ego experiência uma sensação dolorosa que não passa, pois
coincide com o bloqueio total de uma necessidade do id. Essa impotência psicológica é
semelhante à impotência motora, pois a satisfação da necessidade poderia por em risco a
integridade do aparato psicológico.
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O complexo de culpa é a ansiedade produzida pela consciência moral. A pessoa portadora
de um superego muito rígido tende a ter sentimentos de culpa quando faz ou pensa em fazer
algo que contraria o código moral no qual foi educada.
A ansiedade é um estado doloroso que o indivíduo não é capaz de tolerar por muito tempo.
Para fugir dela, o ego desenvolve mecanismos de defesa.
Na repressão os pensamentos, idéias ou desejos que causam ansiedade são colocados fora
da consciência. A pessoa oferece uma enérgica resistência quando alguém tenta falar sobre
o assunto. Comumente a repressão atinge todas as idéias que tenham qualquer elo
associativo com o impulso reprimido. A repressão está presente em todos os mecanismos de
defesa.
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hostilidade contra seus filhos. A formação reativa fica mais evidente quando as defesas se
rompem, como quando uma pessoa que aparentemente era incapaz de fazer mal a uma
mosca comete um assassinato violento.
Algumas vezes a bondade pode ser uma formação reativa contra a maldade. Uma pessoa
que faz atos filantrópicos com exagero pode estar querendo impedir que venha à tona o
prazer que sente frente à vulnerabilidade dos outros. A hostilidade aparece quando ela passa
a falar mal ou a ignorar os seus beneficiários com a justificativa de que eles foram ingratos e
não souberam dar valor a quem tanto os ajudou.
Algumas pessoas parecem impermeáveis quando são insultadas. Elas agem como se não
estivessem percebendo o que está acontecendo. Na verdade estão conscientes da intenção
da outra pessoa, contudo não se sentem encolerizadas, ou, melhor dizendo, não deixam vir à
tona seus sentimentos de cólera. Tais pessoas agem friamente, dando a impressão de que
não há sentimentos a serem controlados.
O isolamento pode estar presente nas atitudes de uma pessoa que faz uma rígida separação
entre religião e ciência. Isso permite que ela interprete misticamente os fenômenos, para os
quais aceita também uma explicação científica. Essa separação faz com que ela concilie sem
dificuldades duas interpretações de alguns fenômenos naturais.
O desenvolvimento da personalidade
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Na teoria psicanalítica, a personalidade é resultante do desenvolvimento das estruturas (ego
e superego), dos processos de pensamento e da sexualidade.
Sob a influência do mundo exterior, uma parte do id passa por uma transformação especial e
adquire função mediadora entre o id e o mundo exterior. Este setor de nossa vida psíquica é
o ego.
A tarefa do ego consiste na autoconservação, que ele realiza de duas formas. Em primeiro
lugar, por meio de um processo de aprendizagem, ele se adapta ao mundo exterior,
gravando na memória as conseqüências dos estímulos, de forma que consegue fugir da
estimulação desagradável e aproximar-se das situações agradáveis. Em segundo lugar,
como resultado dessa experiência, o ego vai se caracterizando e adquire certo domínio sobre
a estimulação interior (instintos do id). Graças a esse domínio ele pode selecionar os
instintos que serão satisfeitos, bem como as condições mais favoráveis para isso. Essa
atividade do ego é governada tanto pelas tensões provocadas pelos impulsos do id como por
aquelas que vão se formando no seu contato com o meio social. O aumento da tensão faz
com que o indivíduo experiencie um estado de desprazer, e a diminuição da tensão, um
estado de prazer. Esses estados não têm uma magnitude absoluta. Representam apenas
graus diferentes no ritmo geral das modificações.
Na busca do prazer o ego responde com ansiedade a toda situação esperada ou prevista de
desprezar. A ansiedade, portanto, só aparece na medida em que o ego acumulou um
conjunto de experiências.
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emocionalmente, chorando ou dirigindo sua cólera para o obstáculo que a impede de obter o
que deseja. Às vezes ela utiliza processos primários para diminuir a tensão (imagens
mentais, sonhos, devaneios etc).
Ocasionalmente, o ego abandona sua conexão com o mundo exterior. Nesses momentos há
uma modificação na organização do aparato psíquico: os processos primários voltam a ter
predomínio. Isso ocorre nos estados de sono, nos devaneios, nos atos falhos etc. As
manifestações que ocorrem nesses estados são muito importantes para o conhecimento do
aparato psíquico, porque nesses momentos vem à tona parte do que estava sendo reprimido
pelo ego.
A ligação amorosa da criança com a mãe foi denominada por Freud de complexo de Édipo.
Embora essa ligação se modifique e sofra repressão após os 5 anos de idade, as catexes
originárias do complexo de Édipo permanecem como uma força vital da personalidade
durante toda a vida. As atitudes para com as pessoas do sexo oposto, bem como para com
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aquelas que representam a autoridade, são, em grande parte, determinadas pela forma
como a criança resolveu o complexo de Édipo.
O medo da castração não é único motivo da repressão no complexo de Édipo, pois o mesmo
sentimento ocorre nas mulheres, que não poderiam ter medo da castração. Outro
componente na formação do superego é, pois, o temor de perder o amor dos pais. Quando a
mãe está ausente ou retira seu carinho, a criança fica exposta às mais penosas situações de
tensão, que vão desde a não-satisfação de suas necessidades básicas até a sensação de
estar sozinha num mundo perigoso. O perigo da perda do amor dos pais faz com que a
criança interiorize todos os valores dos mesmos. Esse processo se faz pela identificação que
Freud denominou de anaclítica.
A menina desenvolve inicialmente uma relação de amor e dependência para com as pessoas
que cuida dela, ou seja, a mãe. Essa relação leva-a a escolher o pai como objeto de seu
amor, por ter sido o objeto escolhido pela mãe. Quando a menina faz essa escolha, a mãe
torna-se sua rival, gerando hostilidade na criança. Essa hostilidade também é superada pela
identificação com a mãe.
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Alguns adultos que não resolveram adequadamente a identificação anaclítica no momento
da formação do superego se tornam extremamente dependentes dos outros, manifestando
uma conduta infantil.
A primeira região que surge como erógena é a boca, a segunda é o ânus e a terceira, os
órgãos genitais. O desenvolvimento emocional da criança depende das interações sociais,
das ansiedades e das gratificações que ocorrem para as atividades ligadas a essas partes do
corpo.
Desde o nascimento, a maioria das atividades da criança está concentrada na boa. Essas
atividades têm a função de proporcionar a satisfação das necessidades de autoconservação
e dos impulsos libidinosos.
Para Freud, a sucção do polegar, a tendência da criança de colocar tudo na boca e o sugar
no vazio mostram que existe uma necessidade a ser satisfeita que não está ligada somente à
autoconservação.
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Durante essa fase, com o aparecimento dos dentes, começam a se manifestar também os
impulsos sádicos (ligados ao instinto agressivo), embora sua expressão seja esporádica.
A agressividade manifesta-se com maior extensão durante a segunda fase. Essa fase foi
denominada por Freud de sádico-anal, porque a satisfação se realiza na agressão e na
função excretora. Ele justifica a inclusão dos impulsos agressivos na libido argumentando
que o sadismo é a fusão dos impulsos libidinosos com os destrutivos. Essa fusão, que se
inicia nessa etapa, permanecerá durante toda a vida.
A terceira fase, fase fálica é a predecessora da forma final da vida sexual. Desse momento
em diante os sexos se diferenciam. Os meninos entram na fase edipiana e as meninas
sofrem sua primeira desilusão quando tomam consciência das diferenças existentes entre o
homem e a mulher.
Os componentes de uma fase não são substituídos com o advento de outra. Eles podem se
sobrepor ou ocorrer simultaneamente. Nas duas primeiras fases, os diferentes componentes
instintivos começam a buscar o prazer independentemente um do outro. Na fase fálica,
inicia-se uma organização que subordina a satisfação dos outros impulsos aos genitais. Essa
organização só se completará na puberdade, ou seja, na quinta fase, fase genital, na qual há
a conservação de algumas catexes primitivas que se incorporam à função sexual como
atividades preparatórias. Outros impulsos, no entanto, são excluídos da organização. A
energia gerada por esses impulsos ou é totalmente suprimida por um processo de repressão
ou é expressa de outras maneiras, constituindo-se em característica da personalidade, ou
ainda é sublimada com o deslocamento de seus fins.
O processo de organização da vida sexual não se realiza sem dificuldades. Podem ocorrer
inibições no seu desenvolvimento. Quando isso acontece, encontramos nas fixações da
manifestação da libido características de qualquer uma das três fases iniciais. Nesses casos,
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os impulsos da libido tornam-se independentes de seus objetivos sexuais normais e se
transformam em perversões.
Freud deu extrema importância às catexes dos cinco primeiros anos de vida na determinação
da personalidade. Segundo ele, a personalidade é resultante, em grande parte, dos impulsos
fixados nesse período. A isso se acrescentam os impulsos adquiridos por meio da
sublimação e os mecanismos de defesa do ego, destinados a substituir os impulsos
libidinosos e agressivos por outros socialmente aceitos.
Os atos delituosos dos neuróticos consistem, de modo geral, em furtos, mentiras, calúnias,
fraudes, denúncias falsas, cartas anônimas, emissão de cheques sem fundo. Raramente
esses enfermos praticam ações criminais violentas. Portanto, com referência ao problema da
responsabilidade penal dos neuróticos não há dificuldades periciais: fora das crises eventuais
que possam apresentar, não se deve negar a esses enfermos a capacidade de imputação,
pois agem como pessoas normais (Bleuler). Os atos delituosos desses enfermos são
imputáveis e os mesmos estão sujeitos às sanções penais correspondentes.
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U NIDADE 4
Objetivo: Compreender os fundamentos da psicopatologia, conjunto de conhecimentos
referentes ao adoecimento mental e seus limites e aportes ao entendimento do ser humano
Adalberto Tripicchio4
Resumo
A colocação do problema
Logo nas páginas iniciais de seu livro, Devereux (7) coloca em xeque a teoria psiquiátrica.
Pois se esta se fundamenta sobre o conceito de normal e seu oposto, anormal (lido como
patológico), a verdade é que o problema de conceituação desses termos não foi resolvido,
nem ao menos ficou delineada a fronteira que os delimita e, por condição, define. A partir daí
- isto é, de conceitos indefinidos - ergue-se uma semiologia bastante sofisticada que
estabelece diagnósticos, que classifica, que coloca os indivíduos em locais precisos: os sãos
e os loucos. E continua, numa subdivisão minuciosa, propondo-se a descrever a loucura de
4
PhD em Medicina pela University of London Institute
Neurologista e Psiquiatra pela Univ. Paris VII - Dennis Diderot - Sorbonne
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cada um, mas não a sanidade, vista como um todo unitário. Mesmo a "revolução
psicanalítica" não trouxe mudanças substanciais à taxonomia psiquiátrica, porquanto as
categorias ficaram (com maior ou menor sofisticação de detalhes). Foi preciso haver uma
"invasão alienígena" para que a psiquiatria começasse a questionar esse arcabouço.
Estudando grupos, e não indivíduos, sociólogos e antropólogos introduziram uma nova
dimensão na análise da pessoa (dimensão que Freud apreendera, embora lendo do ângulo
do indivíduo): a cultura. E perceberam também que esta apresentava tantas variáveis, de tal
modo presentes na organização daquela pessoa, que Marx, anos antes, questionava o
próprio conceito de "ser humano", enquanto um conceito abstrato. Assim, o problema
conceitual torna-se mais complexo. Ao nível do orgânico, quando o que define é a
possibilidade ou não de sobrevivência, ou a qualidade dessa sobrevivência, poderia ser mais
simples estabelecer a fronteira. Mas, ao lidarmos com comportamento, com sentimento,
como definir? A partir de uma estreita correlação com a "vida dos órgãos" ou a partir de "uma
análise filosófica da vida compreendida como atividade de oposição à inércia e à indiferença"
(5)? De qualquer modo, lidamos com valores, posicionamo-nos ideologicamente frente ao
problema (e haveria outra possibilidade?).
A angústia do questionamento
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pessoas em outras situações. São algumas das entrevistas colhidas junto a tais pacientes de
que me utilizo aqui para colocar o problema (2). E se Marx diz que "suscitar uma questão é
resolvê-Ia", parece-me que não consegui suscitá-Ia adequadamente. Em busca de clareza,
tento organizar algumas idéias, como numa primeira abordagem.
I. A busca de parâmetros - Que parâmetros são usados para definir, na prática psicoclínica,
normal e patológico?
- "Não estou doente não" - diz L. - "estou é com raiva daquela mulher" (da mãe-de-santo que
lhe prometera um favor e não cumprira).
-"Não é doença não, doutora, é esquecimento" - diz H., não se recordando do nome de uma
antiga paciente.
Que parâmetros estão usando esses pacientes para distinguir doença de não-doença?
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psicopatológica. Distingue ele enfermidade, que "existe apenas na esfera somática" e
anormalidade, entendida como "apenas uma variedade do normal" (15).
A corrente psicanalítica não busca tanto descrever os processos quanto entendê-los. "A
resposta da psicologia freudiana a esta dicotomia é que tanto os processos mentais normais
quanto os patológicos têm seu lado fisiológico e são ainda funções cerebrais amplamente
desconhecidas [...] Não há diferenças fundamentais entre psicologia e psicopatologia: ambas
seguem os mesmos princípios básicos" (1). Princípios esses que serão buscados no conflito
intra-individual entre as "pulsões instintivas e as demandas ambientais, entre as pulsões
instintivas e os padrões superegóicos e entre instintos opostos [...]"; o distúrbio decorre
assim, de uma estruturação desviada da norma ou da expectativa para uma determinada
idade, de tal monta que o propósito de adaptação fica apenas parcialmente realizado e assim
o funcionamento do indivíduo é prejudicado" (10). Até aí estamos frente ao Homem -
entidade abstrata, fora de qualquer contexto.
Uma terceira corrente - a da antipsiquiatria - procuraria superar esta abstração. Diz Cooper
(6): "Esquizofrenia é uma situação crítica microssocial, onde os atos e experiências de uma
certa pessoa são invalidados por outros a partir de certas razões inteligíveis culturais e
microculturais (usualmente familiais), ao ponto em que esta é eleita e identificada como
sendo mentalmente enferma de certo modo, e então confirmada (por um processo de
rotulação específico, embora altamente arbitrário) na identidade de paciente esquizofrênico
por agentes médicos ou quase-médicos".
A pessoa eleita teria sofrido um processo de socialização que lhe condicionaria uma "perda
global ou parcial de validação consensual de sua auto-percepção e de sua hétero-per-
cepção". Negando a doença como processo intra-individual exclusivo e estendendo-a ao
grupo, a antipsiquiatria ampliaria o conceito de normal e patológico, mas, reproduzindo-o,
não o questionaria.
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de origem polêmica (interno/externo; adquirido/inerente à sua constituição; aceito/imposto
etc.)? Formariam elas uma "quarta corrente"?
- "Maluco é quem agride, mas eu estou quase doida, pois me irrito à toa. Sou até capaz de
bater quando irritada." (Z).
- "Doida é a que quer pegar, quer avançar no homem [...] mulher-homem, isso é doido [...]
café demais dá loucura, café com leite dá nervoso [...] (louco) é ficar bom com choque [...]
quem bate na mãe é maluco [...] (sobre a paciente que saía de alta) esta é assim [...], assim
[...], não faz nada, nem a cama fazia." (N).
- "O que tenho é problema de nervos. Tomo remédio já estou boa." (M.)
"Não gosto de estar em casa. Meu pai me chama de doido, eu não gosto." (Ne.).
- "Eu só estava querendo acender velas p'ros mortos, mas N. e M. estão aqui e se me virem
vão falar com o diretor; vão dizer a ele que estou maluca, que estou querendo botar fogo no
hospital [...]. (Aquele hospital) é uma carnificina: se o sujeito ri vai para a triagem, se chora
vai também, não é todo mundo que agüenta ver essas coisas." (L.).
- "Qual é o caso de seus pacientes que a senhora não deixa trabalhar? Os que são
agressores?" (In.).
- "Estou tomando remédios e fiquei assim, sem vontade de trabalhar, sem vontade de
conversar, com as idéias atrapalhadas. Isto foi do tombo que levei, não foi?" (E.)
- "Ela não é doente não, é cachaça mesmo [...] aquela lá é que não quer comer; há dois dias
não come p'ra fazer charme p'ro marido. (Vovó Marina) não comia de desgosto porque a
família tirou o IPASE dela e a internou como indigente; quando ela veio para cá já era tarde,
estava toda queimada por dentro; desgosto; ainda bem que eu estava de alta; se eu
estivesse aqui teria ficado maluca." Sobre outra paciente, pergunto se está "fazendo
charme": "não, esta é louca mesmo." (X.) "era uma doçura, muito boa. Um dia ela disse que
viu o disco-voador e o marido a internou; quem sabe ela viu mesmo?" (o marido) fazia ela
descer dez andares de barriga (grávida) para buscar Coca-Cola para ele. Ela pediu o
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desquite e ele não quis, por isso a internou." "Ela não é doente, apenas bebe; não se devia
internar prostitutas aqui." (H.).
- (T.) aproxima-se furiosa; está no hospital há três dias e ninguém da família sabe; quer uma
licença no fim-de-semana para avisar a família, pois eles devem estar preocupados,
pensando que ela morreu. A médica a entrevistara durante duas horas; ficara de voltar
naquele dia e não apareceu, assim ela não conseguiu licença para tirar a carteira de saúde,
a fim de trabalhar. "Não estou maluca, estou é irritada."
- "Eu quero conversar com a senhora... é sobre a minha doença. . . escreve tudo porque já
levei muito choque e já esqueci." (R.).
- (Es.) contando para mim sua sensação ao ver a autópsia da esposa, morta em acidente de
trânsito no dia do aniversário do filho caçula: "Ah, doutora, quando vi ali minha companheira
de fé, com as vergonhas p'ra fora, fiquei que nem doido. . . só vi quando o corpo de
bombeiros me amarrava."
- (Z.) reclamando do médico recusar-se a tirar uma radiografia do crânio: "A cabeça é minha,
como ele é quem sabe se deve pedir a chapa? Tenho vontade de dar uma porrada nele para
ver a cabeça dele doer; aí ele vai pedir chapa."
Em primeiro lugar, que existem esquemas implícitos permitindo distinguir doente de não-
doente, o que é aceito do não aceito, mesmo quando o comportamento é semelhante (como
o fato das duas pacientes que não comiam: uma era "charme" e a outra, doença). Em outras
palavras, existem parâmetros que definem o comportamento normal distinguindo-o do
anormal, podendo este ter uma conotação de patológico ("mulher-homem, isto é doido"), ou
não ("ela é cachaça mesmo").
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Terceiro, esses conceitos estão eivados de ideologia médica, absorvida espontânea ou
compulsivamente ("Louco é ficar bom com choque"; "tomo remédio, já estou boa"; "foi do
tombo, não foi"?). Aqui deve ser feita uma ressalva: a tendenciosidade da amostra, já que
todos eram pacientes internados. Seria preciso ampliá-Ia, incorporando elementos que não
tivessem entrado em contato direto com a instituição (o que não exclui o aprendizado, que se
faz também de modo indireto).
Quarto, traduzem, afinal, um conhecimento comum partilhado pelo grupo e absorvido pelo
indivíduo. Em nenhum momento aquelas pessoas questionavam seu diagnóstico ou a própria
situação de internação. Muito menos as atitudes do corpo clínico em relação a elas (na
continuidade, Z. justificará a atitude do médico). E todas possuíam um diagnóstico preciso;
havia um rótulo geral bem definido. Aquelas pessoas eram, sem dúvida, "anormais", segundo
o discurso oficial, discurso esse por elas assumido e/ou por elas redigido?
Não resta dúvida que um tema assim abrangente não cabe nesse espaço. Mas o pretendido
não foi esgotar um tema e sim arrumar idéias, a fim de colocar o problema.
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Canguilhem refere-se a uma "classe normativa" que teria conquistado "o poder de identificar
a função das normas sociais com o uso que ela própria fazia das normas cujo conteúdo
determinava", posição essa que chamaria de "um belo exemplo de ilusão ideológica" (S).
Quem sabe nessa ilusão cai Devereux, ao propor um critério de normalidade independente
da especificidade cultural, tendo por parâmetros a maturidade afetiva, o sentido do real, a
racionalidade e a capacidade de sublimar (1)? Como definir tais parâmetros? Pois em que
critérios nos baseamos para afirmar que morrer em resposta à perda do IPASE (retirado pela
família) é imaturidade afetiva? Ou que ver o disco-voador é perder o sentido do real? Ou que
"receber santo" tem algo de irracional? Em que elementos nos baseamos para dizer que
determinadas situações fogem do real (são anormais) e quem as vive deve ser tratado, e que
outras são normais, e os que internam, os que tratam ou levam para tratar são sadios, os
paradigmas do normal? Haverá, como supõe Devereux, critérios independentes da cultura,
do momento histórico, da posição de cada um na sociedade (sua posição de classe)? Esse
questionamento torna-se crucial, pois o corpo teórico da psicopatologia clínica, que tende a
padronizar comportamentos em termos de normalidade ou anormalidade, surge em um
determinado momento histórico, em uma outra sociedade, dentro de uma determinada classe
social e vem normatizar as diversas sociedades do mundo, para esse fim idealmente sem
classes.
E eis que, mesmo não tendo parâmetros para conceituar normal e anormal (com sentido
geralmente de patológico), ou tendo parâmetros frágeis e contraditórios, altamente
subjetivos, o clínicopsi trata. Trata o quê? O desviante da média; o comportamento bizarro;
um conflito interior do indivíduo; o grupo social ao qual o médico pode não pertencer; os
valores que não são os do médico; o disco-voador, talvez.
Neste ponto, suponho ser possível recolocar o problema. Na verdade, a base conceitual da
psicopatologia seria a divisão em categorias de normal e patológico? Há que introduzir, sem
dúvida, alguns conceitos prévios e que os fundamentam.
Qual é esta "atividade psíquica real e consciente?" De que real estamos falando? Pois o que
nos parece é que real tem conotação de ideal. E um real inexistente, porquanto
desvinculado, idealizado, ideológico. Volta-se aqui a dicotomia maniqueísta de um bem, e um
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mal, transcendentes, como é transcendente o próprio real sem sociedade, sem classe social,
sem contexto histórico.
A seguir, ou antes, talvez, a realidade de quem. Pois o perigo mais imediato é que, sem uma
conceituação do próprio objeto da ação clínica - o ser humano - toda discussão acerca desse
objeto fica invalidada. E se o clínicopsi trabalha com um objeto não definido (embora
suponha que o esteja) e um objeto abstrato, como irá evitar a tendenciosidade de sua
prática? Quem é este ser tratado por ele? Um ser universal, um ente hegeliano ideal
dominado pelo mundo das idéias, ou um ser inserido em um contexto determinado, produtor
de seus meios de subsistência" e dessas idéias que supostamente dominam? Pois entre o
liberalismo vienense de Freud e o anticapitalismo de Cooper estão duas visões do homem.
Se lidarmos com um ente ideal, então o nosso discurso não deve ser questionado, pois os
termos são indiferentes. Nem é mesmo necessário "a quarta corrente", pois que ela só nos
dirá o que já sabemos. Mas se lidamos com um ser determinado, inserido em um grupo
social determinado, em um dado momento histórico, então é importante ouvir - e respeitar - o
discurso de "louco", pois é este o homem "que nos interessa como sujeito e objeto de nosso
estudo e de nossa prática. E o seu discurso provavelmente não será um repetir ideologias
impostas, já que está eivado de sua própria ideologia de grupo e reflete as condições que
permitem a esse "louco", enquanto membro de seu grupo social, ser agente da história desse
grupo, mesmo que um agente externamente invalidado.
Finalmente, o terceiro conceito a ser pensado: o do social. Alienar o louco do seu grupo é,
como já vimos, tirar dele uma parte vital de sua identidade e colocar seu discurso ao nível do
incompreensível. Porque para Es., vindo do sertão nordestino, ao ver sua "companheira de
fé" nua, em meio a tantos homens, cortada e manipulada com indiferença, não havia outra
resposta senão a da agressão física, já que seu braço é a única arma, a força de trabalho,
que aprendeu a usar. Mas para o clínico, formado em um centro urbano, a arma, o
instrumento de trabalho que maneja, é o saber: "furor epilético", justificando uma internação
psiquiátrica que anula a denúncia, abafa o afeto e invalida a resposta. Por outro lado, alienar
o louco é tirar do grupo uma parte de sua identidade e podar-lhe um de seus meios de
expressão. A leitura ficará assim duplamente incompreensível.
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A ameaça que nos persegue - e é de algum modo explicitada no discurso dos pacientes - é a
de sermos reduzidos a uma atitude de guardiões da moral vigente na sociedade determinada
onde nos inserimos, como missionários da ideologia dominante. Reproduzir as relações
sociais extra-muros. Reproduzir a ideologia que representa essas relações, poderíamos
concluir a respeito do discurso psicopatológico, onde normal e patológico se inserem como,
em outro campo, se inserem os privilegiados e os sem privilégios, os que formam alianças e
os que são delas alijados, os que dominam e os que são dominados.
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U NIDADE 5
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.
O presente trabalho tem como objetivo abordar as funções psíquicas, dentre elas
especialmente a consciência, atenção e orientação.
Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este
fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta
para diagnóstico sindrômico e nosológico é a fenomenologia: psicopatologia fenomenológica,
que baseia-se na descrição dos fenômenos psíquicos, conforme sejam observados ou
relatados. O importante na fenomenologia é descrever o que é vivido diretamente pelo
indivíduo.
Normalmente, examina-se de forma isolada cada função psíquica do paciente para depois
formular o todo psíquico. A psicopatologia é, pois, uma abstração analítica da realidade e da
totalidade do psiquismo humano, decompondo-o em conceitos operativos para formular,
mais tarde, os quadros nosológicos.
5
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina
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um livro é aquilo que faz com que reconheçamos que se trata de um livro, isto é, a essência
deste objeto; e o conteúdo é aquilo que define tal livro, ou seja, sua mensagem.
CONSCIÊNCIA
Podemos ter alterações "fisiológicas" da consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e
cansaço.
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Se desenhássemos uma escala para as alterações quantitativas, ou seja, para a diminuição
do nível de consciência, esta seria da seguinte forma: inicialmente teríamos o paciente em
lucidez, daí passando para sonolência, da sonolência este poderia ficar em topor ou
obnubilação, a diferença é que na obnubilação teríamos um conteúdo anormal na
consciência, de qualquer um destes dois estágios o paciente passaria para o coma.
ATENÇÃO
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considerá-la como a capacidade de se concentrar, que pode ser espontânea ou ativa; é um
processo intelectivo, afetivo e volitivo.
É importante ressaltar que a atenção não é uma função psíquica autônoma, visto que ela
encontra-se vinculada à consciência. Por exemplo, o indivíduo que está em obnubilação
geralmente se encontra com alterações ao nível da atenção, apresentando-se hipervigil.
Contudo, um paciente em torpor se encontra hipovigil.
Sem a atenção a atividade psíquica se processaria como um sonho vago, difuso e contínuo.
Segundo Alonso Fernández, ao concentrar a atenção escolhemos um tema no campo da
consciência e elevamos este ao primeiro plano da mesma, mantendo este tema
rigorosamente perfilado, sem deixar-se desviar pelas influências dos setores excêntricos do
campo da consciência, podendo modificar o tema escolhido com plena liberdade. Este tema
poderia ser um objeto, uma ação, um lugar, uma palavra, etc.
O interesse e o pensamento são os dirigentes da atenção, sendo que a intensidade com que
a efetuamos é o grau de concentração alcançado.
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Hipoprosexia: é a diminuição da atenção, ou o enfraquecimento acentuado da atenção em
todos os seus aspectos. É observada em estados infecciosos, embriaguez alcoólica,
psicoses tóxicas, esquizofrenia e depressão. Pode ocorrer por:
ORIENTAÇÃO
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de situar-se em relação a si e ao mundo no tempo e no espaço. É bastante complexo e exige
a inter-relação entre vários dados psíquicos. A orientação requer atividades mentais como
tendências instintivas, percepção, memória, atenção e inteligência. Alterações nestas
atividades mentais podem levar à graus variados de desorientação.
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Desorientação delirante: produzida por perturbações do juízo de realidade, devido à
presença de falsos conteúdos (ou conteúdos anormais) no campo da consciência. Pode
ocorrer em pacientes que estão psicóticos: na esquizofrenia, na mania e depressão psicótica.
Os esquizofrênicos com desorientação delirante geralmente apresentam, também, dupla
orientação.
Desorientação oligofrênica: A pessoa está com alteração do nível de orientação pois este
não possui inteligência para correlacionar ambientes, pessoas, dias, etc. Pode ocorrer no
retardo mental.
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U NIDADE 6
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.
A consciência pode ser definida por pelo menos três aspectos diferentes.
6
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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A Consciência Clínica é aquela avaliada dentro dos parâmetros quantitativos, de acordo com
os critérios médicos de avaliação de consciência, em que, segundo Fongaro e Sebastiani,
destacam-se oito níveis, sendo eles: normal, torpor, turvação, obnubilação, coma I, coma II,
coma III e morte cerebral.
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A linguagem é a atividade especificamente humana e é o principal instrumento de
comunicação dos seres humanos. Define-se pela expressão de sentimentos e pensamentos
verbalizados através da comunicação verbal direta, voluntária e de forma simbólica. Em uma
avaliação dentro de uma instituição hospitalar observa-se os processo de comunicação
verbal e não-verbal-faciais, posturais, gestuais - manifestos pelo paciente. Avalia-se, neste
sentido o discurso do sujeito doente e não só o discurso sobre a doença.
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U NIDADE 7
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.
Segundo Dalgalarrondo, [...] a vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a
todas as vivências humanas. Sem afetividade a vida mental torna-se vazia, sem sabor. O
termo afetividade é genérico, compreendendo várias modalidades de vivências afetivas como
o humor, as emoções e os sentimentos.
De acordo com Paim, sentimento “[...] é um estado afetivo acentuado, estável, duradouro e
organizado com maior riqueza e complexidade do que os elementos representativos”. E
segundo Schneider, os sentimentos são considerados com “estados do eu, não podem ser
controlados pela vontade e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no interior do organismo”. Os
sentimentos, muitas vezes podem ser confundidos com as sensações, devido os sentimentos
sensórias encontrarem-se muito próximos a partes do corpo, como o “desânimo”.
7
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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Segundo Störring, “[...] o estado afetivo fundamental de um indivíduo (alegria, bem-estar,
júbilo, felicidade, angústia, tristeza, desespero) depende inteiramente das circunstâncias
pessoais da vida, dos sujeitos, inclinações e especialmente do estado de sua vida física.” 56
E que segundo Paim, “[...] influi consideravelmente na direção de nossa conduta e no curso
do pensamento”.
Assim, pode-se dizer que cada abordagem da psicologia vai ter uma qualificação diferente, já
na visão médica podemos encontrar, o que é bastante comum, o termo humor. O humor, de
acordo com Bleuler “[...] consiste na soma total dos sentimentos presentes na consciência
em dado momento”.
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esta alteração, pois, algumas destas alterações são perfeitamente compreensíveis e
respondem de maneira adequada a situação apresentada.
Apatia: a apatia é caracterizada por uma diminuição afetiva, “[...] no sentido de que a
afetividade esteja completamente abolida” 61. De acordo com Dalgalarrondo “[...] os
pacientes queixam-se de não poderem sentir nem alegria, nem tristeza, nem raiva, nem nada
[...] Na apatia, o indivíduo, apesar de saber da importância afetiva que tal experiência deveria
ter para ele, não consegue sentir nada.” O que se percebe é uma alteração qualitativa dos
processos afetivos causando sentimentos inadequados.
Humor Triste: segundo Dalgalarrondo, está relacionado com o humor depressivo, que
geralmente está associado a desesperança e muito angústia.
Ideação Suicida: está relacionada à “[...] idéias com a morte, em que o sujeito gostaria de
morrer para acabar com o sofrimento; idéias suicidas, que o sujeito pensa em se matar;
planos suicidas, aqui o sujeito planeja como iria fazer; os atos, em que o sujeito diz que
comprou remédios, veneno, corda ou revólver e tentativas de suicídio”.
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Inadequação do afeto: enquanto na hipomodulação o paciente não consegue construir uma
relação mais flexível com o mundo, na Inadequação do afeto o paciente mostra-se
completamente
Labilidade Afetiva: é revelada por estados afetivos nos quais ocorrem mudanças súbitas, o
sujeito oscila de forma abrupta, rápida e inesperada. De acordo com Dalgalarrondo, isto
ocorre quando um paciente está contando algo e, por exemplo, começa a chorar
compulsivamente, passando logo a seguir a sorrir tranquilamente.
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U NIDADE 8
Objetivo: Permitir a compreensão dos fundamentos da clínica dos transtornos mentais.
8
Texto de Aline Costa Gil
O pensamento é uma das atividades mentais mais sofisticadas que o sujeito possui. Diz
respeito à capacidade de elaborar conceitos, articular juízos, constituir raciocínio e ter a
capacidade de síntese e propor uma solução adequada para um problema.
8
Disponível em: http://inf.unisul.br/~psicologia/wp-content/uploads/2008/07/AlineCostaGil.pdf
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O raciocínio, segundo Paim, é usado em dois sentidos: lógico e psicológico. No sentido
lógico, o raciocínio consiste em “[...] orientar os dados do conhecimento, tendo como objetivo
alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional ante as
necessidades do momento” e no sentido psicológico tem o mesmo sentido de pensar.
O pensamento é uma das funções psíquicas mais importantes para avaliar em uma primeira
entrevista, pois em casos graves como a psicose é a uma das funções que estará alterada e
sua avaliação auxilia na hora de um diagnóstico diferencial. Mas é sempre importante
lembrar que um componente do aparelho psíquico não funciona isoladamente, mas, para que
haja adequação do pensamento, há a integração com a linguagem, a afetividade, a
sensopercepção entre outras funções.
Caso verifique-se que há uma alteração do pensamento em um paciente, como por exemplo,
o delírio, o profissional deve procurar verificar qual o sentido desta alteração, mesmo que ela
apareça de forma “bizarrra”. Desta forma, após ser verificado, encontrado e reconhecido o
sentido, poderá auxiliar no curso do tratamento desse paciente. Segundo Sebastiani,
inúmeros pacientes portadores de patologias graves, após passarem por um período anterior
de extremo sofrimento físico e emocional, entram em quadro de dissociação, com alterações
importantes na afetividade, consciência e pensamento. Muitas vezes este paciente que se
encontra em um momento de confusão psíquica passa a incomodar a equipe de saúde,
principalmente no hospital geral, em que grande parte desses profissionais não tem preparo,
ou não sabe o que fazer com estes pacientes. Isto de alguma forma acaba por afastar a
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equipe de profissionais da saúde do contato com este paciente, e pode causar uma
sensação dem desconforto e até mesmo de hostilidade. Por este motivo, considera-se tão
importante a avaliação psíquica e o diagnóstico, para que tente evitar um elemento a mais,
que agrave a situação do sujeito internado, já que este se encontra afastado de todas as
coisas que mantêm o seu bem-estar mental, como a ausência do seu lar, da sua cama, dos
objetos pessoais e do convívio familiar. O pensamento pode ser analisado através do
processo de pensar, em que, frequentemente, é utilizado em uma avaliação psicológica nos
hospitais gerais, assim como esta pesquisa pretende analisar através do discurso dos
pacientes. Desta forma, o pensamento pode-se dividir em três componentes Curso: identifica
a velocidade em que o pensamento ocorre, se normal, acelerada ou lentificada.
De acordo com Dalgalarrondo, o pensamento de um sujeito que não possui nenhum tipo de
doença mental, normalmente é apresentado de maneira lógica, mas muitos sujeitos tendem
a utilizar estereótipos, em que muitas vezes decisões são tomadas sem evidências
concretas, concluindo algo que aparentemente são ditas como certas. Com isso, o autor
coloca que é “[...] difícil discriminar entre o pensamento normal e patológico, principalmente
no que concerne aos tipos de pensamento e o estilo de pensar”. Mesmo assim, pode-se
verificar uma série de alterações do pensamento, assim como:
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Pensamento concreto: o pensamento apresenta-se de tal forma que o sujeito não consegue
metaforizar, o pensamento está pautado no concreto. O seja, o sujeito não consegue “[...]
fazer a distinção entre uma dimensão abstrata ou simbólica e uma dimensão concreta e
imediata dos,fatos”.
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Desintegração dos conceitos: segundo Paim “[...] a palavra se desprende por completo de
sua significação propriamente dita: simultaneamente podem corresponder-lhe as
significações heterogêneas; até os próprios conceitos se modificam [...] ou acontece que os
conceitos se desfazem e uma mesma palavra ter significados cada vez mais diversos”.
Fuga de idéias: de acordo com Paim, “[...] a fuga de idéias é uma perturbação da expressão
do pensamento, caracterizada por uma variação incessante do tema e uma incapacidade
absoluta de levar o raciocínio a uma conclusão”. 99
Idéias Prevalentes: são idéias que, por terem uma importância afetiva grande para o sujeito,
adquirem uma predominância maior sobre os demais pensamentos e se conservam
obstinadamente na mente do sujeito. As idéias prevalentes diferenciam-se das obsessivas,
por terem sentido para o paciente. É importante destacar que nem todas as idéias
prevalentes podem ser consideradas patológicas. De acordo com Paim, “o paciente portador
de idéias prevalentes se encontra impossibilitado para se subtrair a sua influência e revela
uma tendência a associa-lás a novas vivências”.
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Dissociação do pensamento: o pensamento não consegue seguir uma seqüência lógica e
organizada.
Desagregação do pensamento: “[...] profunda e radical perda dos enlaces associativos, total
perda da coerência do pensamento. Sobram apenas ‘pedaços’ de pensamento, conceitos e
idéias fragmentadas, muitas vezes irreconhecíveis [...]”. Uma alteração importante do
pensamento e que deve ser observada é o delírio, definido como “[...] pensamentos
afastados da realidade e formados por idéias incompreensíveis, inamovíveis, irredutíveis,
incorrigíveis, impenetráveis e não-relacionados a fatores causais” mediante uma lógica
apresentada pela realidade. No que diz respeito aos delírios existem inúmeras classificações,
de acordo com Dalgalarrondo, os frequentemente encontrados são:
- Delírio religioso: acontece quando o sujeito, por exemplo, passa a afirmar ser um novo
Messias, ou quando acredita ter poderes místicos.
- Delírio persecutório: o sujeito acredita que está sendo perseguido por alguém,
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- Delírio hipocondríaco: o sujeito acredita que tem uma doença grave, incurável. Mesmo que
este sujeito faça exames, que o médico constate que ele não apresenta nenhuma doença,
não é possível remover este pensamento.
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U NIDADE 9
Classificação das Doenças Psicológicas - Introdução
Wilhelm Griesinger*
Sobre o substrato das enfermidades mentais e o método que convém seguir em seu estudo
1º A obra que hoje publicamos tem como finalidade estudar as enfermidades mentais,
aprender a reconhecê-las e a curá-las. A loucura, estado anormal da inteligência e da
vontade, é apenas um sintoma; somente estudando essas enfermidades mentais sob um
ponto de vista sintomatológico poderemos chegar a dividi-las em um certo número de grupos
principais, cuja existência não poderia justificar-se de nenhum outro modo. O primeiro passo
para chegar a entender estes sintomas consiste em localizá-los. A que órgão pertencem os
fenômenos da loucura? Qual deve ser o órgão repetida e principalmente enfermo nos casos
de loucura? A resposta a estas perguntas constitui a condição primeira de toda a psiquiatria.
Se os fatos psicológicos e patológicos nos indicam que este órgão não pode ser outro que o
cérebro, deduz-se que, antes que nada, em toda enfermidade mental devemos ver sempre
uma afecção do cérebro.
2º A psicologia considera a vida psíquica uma forma vital particular do organismo; nos atos
psíquicos, vê as funções de um órgão determinado, assim como tenta deduzi-las a partir da
9
Traduzido pelo Prof. Dr. Mário Eduardo Costa Pereira, do Laboratório de Psicopatologia Fundamental /
Unicamp, a partir de: Rev Psiquiatria Fac Med Barna, v. 28, n. 5, p. 308-10, 2001. GRIESINGER, W. Traité sur
la pathologie et la thérapeutique des maladies mentales. Paris: A. Delahaye Libraire-Éditeur, 1873.
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estrutura desse órgão. Na verdade, algumas experiências conhecidas demonstram que, se
as faculdades psíquicas, no sentido mais amplo do termo, vão ligadas a todo o sistema
nervoso, o centro da inteligência e das faculdades afetivas reside no cérebro, e mesmo
apenas em algumas partes desse órgão. Certamente, os diferentes estados de todo o
sistema nervoso, transmitidos imediatamente ao cérebro, aportam alguns elementos capazes
de manter e excitar as faculdades mentais (todo o sistema nervoso periférico pode ser o
ponto de partida de impressões que modificarão nossos instintos e nossos afetos, que nos
dão concepções mais ou menos claras ou obscuras). Mas o cérebro é o único que capta e
percebe estas impressões, nele é onde se traduz a influência que exercem estas impressões
sobre toda uma série de movimentos determinados e coordenados (sobre os atos).
Observamos que, na série animal, as faculdades psíquicas são muito mais numerosas e
mais variadas, que alcançam um aperfeiçoamento mais completo, que o cérebro apresenta
um volume mais considerável, uma organização mais complexa e que a substância própria
dos hemisférios em particular é mais volumosa. Por outro lado, observamos que no ser
humano um defeito considerável no desenvolvimento do cérebro vai ligado a uma debilitação
dos atos psíquicos elevados, da inteligência e da vontade (como freqüentemente podemos
observar nos casos de idiotismo). Além disso, a experiência nos ensina que, em todos os
seres humanos, as faculdades mentais experimentam modificações essenciais segundo o
desenvolvimento e os câmbios que sofre o cérebro nas diferentes idades da vida. Nessas
modificações temporais, nesse desenvolvimento progressivo através do qual o cérebro
alcança progressivamente seu apogeu, para em seguida sofrer um retrocesso, a atividade
intelectual do cérebro segue o mesmo ritmo que todas as funções orgânicas e se revela
submetido, tal como estas, à lei do desenvolvimento do organismo.
3º Tal como os fatos fisiológicos, os fatos patológicos revelam que unicamente o cérebro
pode ser o centro das faculdades mentais, sejam normais ou mórbidas, e que a integridade
do funcionamento psíquico depende da integridade desse órgão, ambas podendo ver-se
alteradas por um fato patológico que tenha seu substrato em algum órgão mais ou menos
próximo ao cérebro. Os sintomas constantes e essenciais das enfermidades cerebrais, sejam
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produzidas por causas internas ou por uma lesão externa, consistem igualmente, além das
anomalias da sensibilidade e do movimento, quando a enfermidade é grave, em alterações
intelectuais (exaltação ou perda da inteligência, perda da consciência, delírio etc.). Os casos
menos freqüentes, nos que, na presença de uma desorganização grave do cérebro ou de
uma perda de substância desse órgão, não se observa nenhuma alteração mental, não
podem retirar valor aos resultados obtidos na observação diária.
Sem dúvida, além do transtorno das faculdades intelectuais e afetivas, na maioria das
enfermidades mentais ainda se observam anomalias importantes de outras funções, que
evidentemente também são próprias ao cérebro. Em primeira linha encontram-se as
alucinações, anomalias da função central dos sentidos, que em grande parte são percebidas
como impressões periféricas, mas cuja produção deve ser obrigatoriamente transmitida ao
cérebro, como assim o demonstram os fatos das alucinações persistentes da visão, em
indivíduos que padecem de cegueira total com atrofia dos nervos ópticos (Esquirol).
Nem o materialismo, que pretende explicar todos os atos físicos através da matéria, nem o
espiritualismo, que pretende explicar a matéria através da alma, nos dão uma idéia exata
daquilo que ocorre na alma. Além disso, se chegarmos a saber tudo o que se produz no
cérebro quando este entra em ação, a penetrar em todos os secretos da química, da
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eletricidade etc., de que nos serviria tudo isto? Como podem esses fatos transformar-se em
fatos espirituais? Este problema permanecerá insolúvel para o homem até o fim dos tempos
e pessoalmente creio que, a não ser que um anjo desça dos céus e nos resolva este
mistério, nossa alma não será capaz de compreendê-lo por si própria
5º De acordo com as premissas apresentadas até agora, a questão que tanto e durante tanto
tempo tem tratado a antiga psiquiatria alemã, isto é, se a enfermidade afeta realmente e do
mesmo modo a alma no caso da loucura e as anomalias da inteligência e da vontade,
encontrará sua solução simples e afirmativa. Mas, certamente, não poderemos falar de
enfermidades da alma em si mesmas; tal como o que ocorre com as patologias exatas, que
podem nos falar das enfermidades dos fenômenos vitais e das funções, mas unicamente das
enfermidades cerebrais que implicam uma alteração nos atos da inteligência e da vontade.
6º Mas se todos os casos de loucura dependem de uma afecção cerebral, nem todas as
enfermidades do cérebro devem ser englobadas nas enfermidades mentais por esta mesma
razão. Qual é então o tipo de afecção cerebral à qual nos defrontamos no caso da loucura?
Desde um ponto de vista anatômico, tratam-se das enfermidades mais diversas, cujos
conjuntos de sintomas levam o nome de loucura.
Em grande parte, a patologia cerebral se encontra, mesmo hoje em dia, no ponto onde caiu a
patologia dos órgãos torácicos, antes de Laennec. Em lugar de tomar como ponto de partida
em geral algumas alterações estruturais dos órgãos e poder deduzir de maneira precisa a
produção de sintomas das alterações produzidas nos tecidos, a patologia cerebral vai em
geral relacionada com os conjuntos de sintomas cujo centro conhece apenas
aproximadamente e cujo mecanismo de produção lhe escapa por completo...
7º Dado que a loucura não é mais que um complexo sintomático de diferentes estados
anormais do cérebro, poderíamos perguntar se seria legítimo, de maneira geral, levar a cabo
um estudo específico das enfermidades mentais separado das outras afecções do cérebro
ou, antes, a psiquiatria não deveria entrar de nenhum modo, nem mesmo formalmente, na
patologia cerebral. Ainda que isto não me pareça impossível em um futuro mais ou menos
longínquo, qualquer tentativa que tenha como finalidade mesclar, no que se refere ao
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presente, estas duas ordens de enfermidades seria, não obstante, prematura e
absolutamente impraticável.
8º Tendo em conta que a loucura é uma enfermidade e, ainda, uma enfermidade do cérebro,
disso se deduz que esta não pode ser estudada adequadamente senão desde um ponto de
vista médico. A anatomia, a fisiologia e a patologia do sistema nervoso e toda a patologia e a
terapêutica específicas entendidas em conjunto representam os conhecimentos prévios que
mais necessita o médico alienista. Todos os estudos extramédicos sobre a loucura, e em
particular todos os que têm sido realizados por poetas e moralistas, têm muito pouco valor,
desde o ponto de vista do conhecimento dessa afecção.
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U NIDADE 10
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Em seu livro Tratado de Clínica Psiquiátrica, Isaias Paim, faz um profundo estudo sobre o
tema.
O termo neurose, segundo Pierre Janet, foi introduzido em linguagem médica em 1772, por
William Cullen (1712-1792), para designar certas afecções protonaturais do sensório e do
movimento, como parte da enfermidade primária, e aquelas que não dependem de uma
afecção local dos órgãos, senão de uma afecção geral do sistema nervoso, e daqueles
potenciais do sistema nervoso das quais depende, especialmente o sensório e o movimento.
Com estas enfermidades estabelece-se um grupo com o título de 'neuroses' ou de
'enfermidades nervosas'.
Com Charcot (1825-1893) tem início um período fecundo no estudo das neuroses, embora
tenha centralizado o seu interesse, especificamente, na investigação da histeria. Baseando-
se na observação clínica, estudou a histeria como uma enfermidade que se manifestava
através de sintomas permanentes (estigmas histéricos) e transitórios (paralisias, contraturas
e convulsões), que não se distinguem dos orgânicos por seus caracteres intrínsecos. Insistia
na significação da herança neuropática nos histéricos e destacava o papel das emoções,
considerando a enfermidade como o resultado de representações e idéias fixas e, na
interpretação dos fatos clínicos, introduziu o conceito de sugestão.
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degeneração hereditária, de que eram portadores os histéricos, não seria possível provocar
paralisias por via da hipnose.
Pierre Janet (1859-1946) foi quem primeiro reconheceu a importância dos fatores
psicológicos na produção de sintomas neuróticos. É o criador da expressão tensão psíquica,
para designar a capacidade que tem todo o indivíduo de elevar-se, em suas ações, até
determinado grau, dentro da hierarquia de suas tendências. Admitia a existência de condutas
de baixa tensão, em que estão em atividade as tendências inferiores, e condutas de alta
tensão, que reclamam a total atividade das tendências que ocupam um elevado posto no
quadro hierárquico. Considerava, de modo geral, que o grau de tensão psíquica ou a
elevação do nível mental de um indivíduo depende do grau hierárquico das tendências que
se encontram em ação e do grau de atividade a quem podem chegar as mais elevadas.
Concebida nestes termos, a tensão psíquica desempenha importante papel na interpretação
das condutas normais e patológicas e na compreensão dos caracteres e das enfermidades
mentais.
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Para Pierre Janet, o conceito de tensão não deve ser confundido com a noção de força ou
debilidade psíquica. A baixa da tensão psíquica, ocasionada por fadiga, sofrimentos ou
choques, determina estreitamento do campo da consciência, dando margem ao
aparecimento de sintomas neuróticos. Janet criou também o conceito de dissociação, que
está em íntima relação com o anterior, para explicar como certos elementos, uma vez
estreitado o campo da consciência, em decorrência de enfraquecimento da tensão psíquica,
isola-se do restante dos conteúdos e tomam curso autônomo, manifestando-se como fugas,
personalidades alternantes, paralisias, anestesias e outros sintomas histéricos. Foi ele o
introdutor em psiquiatria do conceito de subconsciente, afirmando que certos elementos
psíquicos, dos quais a pessoa não tem conhecimento, desempenham importante papel na
produção de sintomas histéricos, admitindo que determinados processos mentais se tornam
subconscientes, quando dissociados da corrente mental predominante no indivíduo.
Para Freud, a neurose seria uma espécie de acordo estabelecido pelo ego entre os impulsos
do id e a instância repressora do superego. Desse modo explicava que o neurótico reprime,
como os demais, entretanto, o material reprimido retorna por outros caminhos sob a forma de
sintomas. Os sintomas seriam o estabelecimento de compromisso, representando a
satisfação substitutiva de tendências inconscientes, que continuariam a agir, embora
disfarçadas e deformadas pela censura.
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Posteriormente Kurt Schneider introduziu o conceito de reação vivencial anormal, como
tentativa para substituir as concepções anteriores sobre a neurose.
Kurt Schneider define a reação vivencial como a resposta sentimental, dotada de motivação
plena de sentido, a uma vivência, isto é, a resposta oportuna, motivada e sentimentalmente
adequada à referida vivência. Exemplifica: tristeza por algo, arrependimento por algo, medo
diante de algo, colega por algo, constituem em si mesmo os elementos de que derivam,
freqüentemente, a ação e o abster-se de agir. Este tender e este agir, este opor-se à
tendência e o abster-se, pertence também à reação vivencial.
No conceito de Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais diferem das reações normais
em virtude de sua extraordinária intensidade, ao que se deve acrescentar o fato de não
serem adequadas sem relação ao motivo, ou melhor, a anormalidade da duração. Os
critérios para delimitar as reações vivenciais anormais foram estabelecidos por Jaspers, e
podem ser assim resumidos:
1) a situação reativa não teria surgido se não tivesse ocorrido a vivência que a originou;
3) a situação, no que diz respeito ao curso temporal, depende da causa e, sobretudo, cessa
quando desaparece a causa.
A essência da reação vivencial anormal consiste no fato de ser originada por uma vivência.
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anomalia se apaga no decurso do tempo. Sobretudo, com a cessação da causa, a reação
anormal desaparece. Isto coloca a reação anormal em oposição a todos os fenômenos
mórbidos que nascem espontaneamente.
Como bem assinalou Kurt Schneider, as reações vivenciais anormais, quando provocadas
por motivos externos, são independentes do caráter individual: são humanas, próprias de
todo homem. Isto é perfeitamente compreensível se levarmos em consideração a freqüência
de reações vivenciais anormais em épocas de turbulência social.
DEFINIÇÃO E CONCEITO
Mira e Lopez (2009) define a neurose como um curso mórbido constituído pelo conjunto de
alterações funcionais, psíquicas e somáticas, que ocasionam intenso mal-estar e sofrimento
íntimo. Aparecem motivadas, fundamentalmente, por conflitos psíquicos, que propendem a
cronificar-se e que não alteram de modo essencial à concepção do mundo, nem os meios de
adaptação habitual às exigências da vida social, sendo essencialmente curáveis pela
psicoterapia.
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perturbações de natureza não qualitativa, o que serve como elemento para diferencia-las das
psicoses.
ETIOPATOGENIA
A neurose, diz Iracy Doyle, cria oportunidade para o enfermo escapar ao conflito, um alívio
para sua ansiedade, freqüentemente de nível simbólico. Por esta razão, o sintoma neurótico
pode representar uma indicação precisa da natureza do conflito.
QUADROS CLÍNICOS
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Apesar das dificuldades inerentes à classificação das neuroses, é evidente que a descrição
de tipos clínicos se torna indispensável, mesmo que seja por necessidade de comunicação
da experiência. O mais importante, porém, é considerar que se trata apenas de tipos clínicos.
Em geral, são tipos mistos, pois o exame de um paciente neurótico revela certa
complexidade na sintomatologia, elementos de outros tipos, porém existe uma gradação no
aspecto sintomatológico, e o traço mais saliente serve como elemento para designar o
quadro. É certo que, desse modo, realizamos simplesmente uma primeira aproximação com
o problema, aproximação indispensável do ponto de vista empírico, pelo menos como meio
de comunicação de conhecimentos.
HISTERIA
Binder emprega a expressão histérico não para caracterizar uma entidade patológica, e
muito menos ainda para designar determinados sintomas estas duas formas de aplicação da
palavra não chegaram a ficar estabelecidas senão que designa como histérica uma atitude
psíquica especial e que pode apresentar-se através dos sintomas os mais diversos. A atitude
histérica, diz Binder, consiste em que o indivíduo representa para as pessoas que o rodeiam
um papel determinado o mais freqüente é o de enfermo com a intenção secreta de obter
delas atenção, compaixão, amor, ajuda, o reconhecimento de direitos e vantagens materiais.
O que pretende o enfermo é falso, porque emprega esse expediente como recurso para
conseguir outro fim: obter algo do ambiente.
Diz Iracy Doyle que nem toda fuga na enfermidade pode ser considerada como manifestação
de histeria. O fenômeno histérico, ensina, aparece como um recurso psicológico
desenvolvido de modo inconsciente, ou pelo menos em grande parte inconsciente, com a
finalidade de permitir a adaptação do indivíduo a situações particularmente difíceis e
penosas. Desse modo, a manifestação histérica é economicamente útil, pois oferece solução
para o problema pessoal, reduzindo a ansiedade despertada pela situação perturbadora.
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Nessas condições, faz parte de uma série de manifestações defensivas e adaptativas de
gradações insensíveis, que começa com os planos conscientes do indivíduo normal,
passando pelas atitudes simuladas, em que a pessoa adota certas pautas de conduta
consciente e, fraudulentamente, com o intuito de resolver dificuldades interiores ou
dificuldades exteriores, chega às manifestações histéricas, em que as necessidades
interiores ou dificuldades exteriores ditam atitudes irracionais, total ou parcialmente
inconscientes.
Como foi dito anteriormente, nem toda fuga na enfermidade deve receber o diagnóstico de
histeria. Para isso, é necessário a existência de uma solicitude secreta do ambiente, que
representa a motivação da enfermidade. Nesses casos, as funções normais podem servir de
material para a apresentação histérica da enfermidade. Assim, os motivos para dramatizar,
do mesmo modo como a forma como isso se realiza, são reprimidos. Por esta razão, o
histérico não tem consciência exata do papel que está representando. Somente nos casos
em que a repressão é muito débil, superficial e fragmentária, o indivíduo adquire uma vaga
noção de que está representando algo perante o ambiente. O sofrimento do histérico
constitui o elemento que o distingue do simulador.
Diz Binder que todas as reações vivenciais podem servir de material para as manifestações
histéricas. Reações depressivas podem converter-se numa depressão teatral, com a
finalidade de provocar a compaixão de outras pessoas e, ao agir dessa maneira, mesmo em
meio aos seus lamentos tormentosos, é perfeitamente capaz de aprender as reações do
observador e de modificar, de acordo com elas, a sua tonalidade. No entanto, os tipos de
manifestações mais comuns nos histéricos são as reações primitivas e as de conversão:
paralisias, convulsões, tiques, tremor, anestesias. Essa ocorrência se deve ao fato de que,
semelhantes manifestações, em si mesmas, exercem profunda impressão no ambiente do
enfermo e, por isso, são especialmente aptas para dramatizar a enfermidade.
O grande ataque histérico, tal como foi descrito por Charcot, é, atualmente, uma raridade
diagnóstica. Pode ser observado, ainda, em um número reduzido de pessoas pertencentes a
comunidades sociais inferiores, de cultura limitada e mentalmente primitiva. O ataque se
manifesta por uma agitação desordenada, tumultuosa, acompanhada de contorsões e
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atitudes extravagantes. A crise se acompanha, na maioria das vezes, de agitação verbal,
gritos, riso incontido, pranto, lamentações e invectivas. Não se verifica alteração da lucidez,
ou acompanha-se apenas de leve obnubilação da consciência.
As paralisias e contraturas são sintomas mais freqüentes do que o grande ataque histérico.
Consistem, as primeiras, em monoplegia, paraplegia, hemiplegia, sem hipotonia muscular e
sem alteração dos reflexos. A contratura psicógena se diferencia da contratura orgânica por
sua exagerada intensidade, pela persistência dos reflexos cutâneos e pela coexistência de
anestesias localizadas.
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por ela e isto faz com que pareça genuína [...] A personalidade histérica não tem núcleo, ao
contrário, consiste unicamente em uma série de máscaras sempre cambiantes. [...] Para
convencer a si próprio de sua importância, o histérico necessita representar um papel,
fazendo-se sempre interessante, inclusive às custas de sua honra e do seu bom nome, e se
sente realmente infeliz se não o levam a sério, mesmo que seja por alguns instantes, pois, de
vez em quando, subitamente, se dá conta de sua própria vacuidade.
NEUROSE DE ANGÚSTIA
Sob esta denominação, Freud descreveu um quadro neurótico cuja característica consiste na
predominância da angústia: expectativa ansiosa, acessos de angústia ou manifestações
corporais da ansiedade.
Os estados de angústia podem seguir com uma gradação desde o simples mal-estar
indefinido, acompanhado de idéias pessimistas, estados de inquietação, de ansiedade e,
finalmente, grandes manifestações de angústia aterrorizante.
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Sob esse fundo de alterações psíquicas e corporais surgem, periodicamente, crises agudas
de ansiedade, acompanhadas de sofrimento indescritível e impressão de perigo iminente. Os
acessos de angústia podem sobrevir sem nenhum motivo exterior desencadeante ou, o que
é mais comum, por ocasião de um acontecimento eventual. As crises agudas se
acompanham de taquicardia, palidez, sudorese, resfriamento das extremidades e lassidão.
Após a crise o enfermo sente-se extremamente fatigado. O medo da repetição das crises de
ansiedade constitui uma fonte permanente de sofrimento.
A personalidade dos indivíduos que apresentam neurose de angústia tem como traços
fundamentais a instabilidade emocional, preocupações excessivas e mais ou menos
infundadas, grande insegurança e tendência ao pessimismo.
NEUROSE FÓBICA
Os psicanalistas, que dedicaram atenção especial à neurose fóbica, consideram que a fobia
representa o substituto de um medo real aos problemas comuns da vida, aos quais o
paciente não tem condições de enfrentar. Os mais comuns entre os problemas que o
paciente trata de evitar são os vinculados com a maturidade sexual, as responsabilidades do
casamento e da paternidade, e às tarefas ocupacionais que requerem decisões
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independentes, competência, e todas as complexas relações interpessoais que integram a
existência do adulto.
NEUROSE HIPOCONDRÍACA
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Alguns autores admitem que na base da neurose hipocondríaca existe uma disposição
constitucional especial, o que conduz o indivíduo à auto-observação e à interpretações
patológicas. Outros, como Binder, consideram as reações hipocondríacas como a
conseqüência de sentimentos de culpa por enfermidades venéreas adquiridas, por aborto
provocado e, sobretudo, pelo onanismo excessivo, especialmente depois da leitura de artigos
explicativos, que enumeram as enfermidades que o mesmo pode originar.
Franz Alexander considera que as preocupações angustiosas pelo próprio corpo e o temor
de enfermidade constituem manifestações de uma profunda necessidade de sofrimento que
dimana de sentimentos de culpa inconsciente.
NEUROSE DEPRESSIVA
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consumação do suicídio. Na depressão neurótica não se observam sintomas corporais
acentuados, tais como anorexia, emagrecimento, constipação, impotência sexual ou frigidez,
bem assim as crises de excitação ansiosa.
c) esses traços indicam que o indivíduo nega, reprime e esconde de si mesmo todos os
sentimentos de ódio e hostilidade. Por isso, revela tendência a concordar sempre, a ser
conciliador, com superpolidez, subserviência e obsequiosidade.
NEUROSE OBSESSIVA
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Segundo Freud, as personalidades compulsivas têm por princípio deixarem tudo para o
último momento e uma vez iniciado um trabalho qualquer, não o abandonam até a sua
terminação, revelando desse modo uma energia, obstinação e perseverança em completa
oposição com a suposta debilidade ou falta de tensão psíquica, que lhes era atribuída por
Janet.
Pensamentos obsessivos são aqueles que se impõem à consciência do enfermo e dos quais
não se pode livrar pelo esforço da vontade. A impossibilidade de reprimir os pensamentos
obsessivos não pode ser explicada pelos motivos ordinários. Störring admite que, nesse
caso, há perda da liberdade espiritual, uma impossibilidade de afastar os pensamentos
?próprios? indesejáveis, que se impõem de modo poderoso à consciência do paciente.
O pensamento obsessivo se acompanha de certo grau de tensão, que pode cristalizar num
estado de dúvida permanente. O estado afetivo permanente do paciente é de apreensão e
ansiedade.
FREQUÊNCIA
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Não se dispõe de dados estatísticos sobre a incidência das neuroses, no entanto, os
especialistas consideram-nas como transtornos psiquiátricos mais freqüentes em nossa
época. Os psiquiatras americanos admitem que 50% dos pacientes que procuram os
consultórios de clínica médica são portadores de distúrbios neuróticos. Provavelmente,
nessa cifra não se incluem os casos psicossomáticos, nem fazem referência ao grande
número de ansiosos, depressivos, hipocondríacos, fóbicos e obsessivos.
Em relação à freqüência relativa, embora não se disponha de dados seguros, tudo leva a
admitir que a histeria, tão difundida em épocas anteriores, especialmente em suas
manifestações espetaculares, esteja em franca decadência. Somente nas comunidades
sociais inferiores é que se pode observar ainda casos de ataques histéricos à maneira como
se verificava na época de Charcot. Os conflitos relacionados a desejos inconscientes
manifestam-se, atualmente, através de quadros psicossomáticos. Na medida em que diminui
a freqüência das reações histéricas, aumentam de maneira progressiva os casos de neurose
depressiva.
DIAGNÓSTICO
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caso, a idade do enfermo e alguns sinais de aterosclerose periférica podem contribuir para o
esclarecimento do diagnóstico. Do mesmo modo, o exame neurológico e a positividade das
reações do liquor decidem o diagnóstico de neurolues.
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e absurdas. São infinitas as variedades clínicas das obsessões, observando-se com mais
freqüência as de sacrilégio, de crime, de vergonha de si mesmo, de vergonha do próprio
corpo e de enfermidade.
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Atividade 1
“Não será exagero afirmar que o político profissional precisa conhecer Psicopatologia, porque
de posse desses conhecimentos, estará em condições de interpretar comportamentos
anormais de graves consequências para o país”.
Qual o seu ponto de vista a respeito da afirmação acima? Justifique sua resposta.
Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 1 no “link” ATIVIDADES.
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Fórum I
A psicopatologia atravessou diversas etapas em sua evolução, porém, são considerados dois
grandes momentos revolucionários na sua história que se relacionaram mais à atitude da
sociedade em relação ao psicopata do que aos progressos intrínsecos dessa ciência.
O primeiro com a postura de Philippe Pinel, estudioso que abordou as doenças mentais
como resultado da exposição excessiva ao estresse psicológico e social, em oposição às
opiniões tradicionais repletas de misticismo e discriminação. O segundo, quando tendências
agrupadas sob a denominação genérica de antipsiquiatria (loucura como fenômeno social)
passaram a recomendar o fim dos manicômios e a integração do psicopata à sociedade,
mediante técnicas específicas.
No seu ponto de vista, o que significa “momentos que se relacionaram mais à atitude
da sociedade em relação ao psicopata”.
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U NIDADE 11
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
A expressão loucura moral foi introduzida na linguagem médica por Prichard, em 1835, para
designar o comportamento de certos indivíduos que apresentavam desarmonia constitucional
da afetividade e da vontade, com integridade da capacidade de julgamento, da crítica e do
pensar. A expressão foi amplamente difundida e, até 1927, era reconhecida em caráter oficial
pela jurisprudência inglesa.
Em 1888, J. L. Koch empregou o termo inferioridade psicopática, para definir certas variantes
do caráter, em sua maioria congênitas e, em uma pequena parte, como conseqüência de
enfermidades cerebrais. Kraepelin, por sua vez, distinguiu personalidades psicopáticas e
estados psicopáticos constitucionais, admitindo que os indivíduos pertencentes aos dois
grupos eram portadores de uma anomalia psíquica geral, mas advertiu que não se trata de
um processo crônico. Na última edição do "Tratado" descreve tipos de conduta psicopática,
destacando alguns sintomas formais, como a impulsividade, a labilidade afetiva e a
agressividade.
CONCEITO DE PERSONALIDADE
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econômicas, meios físico e social, fatores culturais. A personalidade é o resultado de todas
as influências ambientais sobre o indivíduo e a sua resposta conseqüente.
Nela estão não somente as bases físicas, biológicas da individualidade, como as múltiplas
influências econômicas, sociais e culturais.
Kurt Schneider define a personalidade como o conjunto dos sentimentos e valorizações, das
suas tendências e volições. Exclui deste conceito a inteligência com a suas faculdades de
juízo, lógica e memória, e os sentimentos e tendências corporais ou vitais, mas, é claro, tem
grande significação o jogo recíproco e íntimo destas partes da individualidade humana, pois
a inteligência é a condição de desenvolvimento da personalidade.
Jaspers define-a como "a maneira particular como um indivíduo manifesta as tendências e
sentimentos e a forma como é impressionado, como reage às situações que se deparam".
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PERSONALIDADE PSICOPÁTICA - os termos psicopatia, psicopata e personalidade
psicopática são empregados como sinônimos. Bleuler definiu a psicopatia como um conceito
unitário, que compreende os desvios psíquicos da normalidade, não sendo possível, em sua
opinião, delimita-los de outra maneira. Afirma que "é sempre incorreto dizer que os
psicopatas têm esta ou aquela qualidade", pois, segundo a natureza de sua exteriorização
sintomatológica, não pode esta ter nenhuma limitação determinada, nem pode haver sintoma
comum a todos os estados. Apesar do caráter individual da sintomatologia, predominam
traços essenciais, o que permite a descrição de tipos de personalidades psicopáticas,
embora existam, entre os mesmos, variações, formas de transição e combinações. Apesar
de ser impossível descrever quadros bem delimitados, não se duvida mais da existências de
pessoas que manifestam anomalias do comportamento, sendo muitas vezes necessário
afasta-las do convívio social. Esse traço característico permitiu a Verbeek afirmar que a
alteração fundamental do psicopata consiste numa falha do ser-em-o-mundo, em
conseqüência de defeituosa disposição hereditária para a comunicação interpessoal.
Já Kurt Schneider procurou dar uma definição mais de natureza sociológica, admitindo que
as personalidades psicopáticas são aquelas que sofrem por sua anormalidade ou que por ela
própria fazem sofrer a sociedade.
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alcoolismo paterno, a lues, doenças infecciosas da genitora no período da gestação,
traumatismos obstétricos, encefalopatias infantis, disendocrinias, encefalite e até mesmo os
traumatismos crânio-encefálicos.
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Como conseqüência desses estudos, alguns autores americanos pretenderam encontrar, no
aumento progressivo das personalidades psicopáticas, formas pós-encefalíticas mitigadas,
que passaram despercebidas, significando esse ponto de vista uma explicação da psicopatia
pela interferência de fatores patológicos exógenos. A experiência de muitos psiquiatras
indica, não resta a menor dúvida, que existem alterações do caráter, estabelecidas de
maneira definitiva, após a remissão de processos encefálicos.
Nos casos estudados por José de Lima não existiam distúrbios na esfera intelectual:
raciocínio lógico, memória íntegra, boa capacidade de compreensão e até de invenção e de
crítica. Na maior parte dos casos a síndrome é de tal modo manifesta que os diagnóstico se
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impõe desde os primeiros contatos, pois a sintomatologia surge, de quando em quando, nas
atividades verbais e práxicas dos pacientes.
Refere José de Lima que a síndrome perversa, tal como é descrita pelos autores, se
encontra nos estados mórbidos pós-encefalíticos, constituindo a síndrome perversa
adquirida, como ainda nas personalidades psicopáticas perversas, representando a síndrome
perversa diagnóstico constitucional. Nos dois casos, a superposição dos quadros clínicos é
absoluta. A distinção dos perversos pós-encefalíticos com os psicopatas frios de ânimo, de
Kurt Schneider, só é possível através da anamnese. Nos primeiros, verifica-se a ausência de
fatores genético-constitucionais que possam ser responsabilizados; nasceram sãos e se
desenvolveram normalmente, sem apresentarem desajustamento familiar e social, própria
das personalidades psicopáticas desde os primeiros anos de vida.
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formação de sua personalidade. Pode-se desse modo admitir que a educação bem dirigida é
capaz de modificar a predisposição psicopática. A influência do meio se evidencia ao
observar como difere a freqüência dos diversos tipos de personalidades psicopáticas nas
diferentes classes sociais.
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desvio do instinto sexual e o nervosismo. Grühle enumera os psicopatas tórpido, erético,
epileptóide, paranóide, histeróide e inclui, também, um vagabundo nato e uma prostituta
congênita. Kurt Schneider faz uma classificação não sistemática das personalidades
psicopáticas, evitando as denominações que pertençam à sociologia, à criminologia e à ética.
Por isso, não fala de "inconsistentes", de "mentirosos e estafadores", empregando apenas
denominações psicológicas e evitando qualquer sentido de valorização.
O que é necessário admitir é que essas classificações diferem entre si apenas em seus
aspectos formais, não existindo entre as mesmas diferenças de natureza conceptual.
Indiscutivelmente, nenhuma classificação pode ser completa, no sentido de abranger todos
os tipos presumíveis de personalidades psicopáticas, consistindo a descrição do quadro
sintomatológico verdadeiros cortes transversais no curso da vida tergiversante de
determinado psicopata.
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Exemplo: Antenor, com 30 anos de idade, de cor branca, solteiro, mecânico, residente no
Distrito Federal. Foi internado na Clínica de Repouso do Planalto no dia 26-12-73.
Posteriormente, o Diretor da Clínica recebeu, do Coordenador Regional Policial, um ofício
datado de 28-12-73, comunicando que o referido paciente somente poderia sair do Hospital
com ordem expressa do Juiz de Direito da 1ª Vara de Itiuiutaba, em virtude de tratar-se de
preso com prisão preventiva decretada pela referida autoridade. Convocada a família para
prestar informações a genitora esclareceu ao médico que começou a notar alterações no
comportamento do filho desde a idade de 14 anos. Na época chegou em casa com uma
"Jardineira" (Camionete), que havia comprado sem ordem paterna. Admitiu a informante que,
já naquela época, propalava-se entre as pessoas conhecidas, que Antenor era um menino
perturbado, mas ela e o esposo relutavam em aceitar a realidade dos fatos. No entanto, ela
própria reconhece, que, desde criança, ele sempre foi muito inquieto, brigando pelas coisas
insignificantes e, algumas vezes, era capaz de passar horas seguidas chorando de maneira
espalhafatosa.
A partir do fato relatado acima, a compra da "Jardineira", os pais começaram a observar que
ele fazia "trapalhadas" com extraordinária freqüência: comprava objetos caros sem dispor de
recursos para o pagamento; passava cheques sem fundo, utilizando o talão de cheques do
genitor; praticava agressões sexuais a moças; ficava noivo de várias moças ao mesmo
tempo e em seguida as abandonava sem explicações; brigava sem motivo; praticava
pequenos furtos, mentia de maneira excessiva. Quando ingeria pequena dose de álcool,
perdia por completo o controle sobre si mesmo, tornando-se altamente agressivo e violento,
nesse estado, tentou algumas vezes matar o irmão mais novo e até mesmo o genitor.
Sempre gostou de exibir atitudes de grandeza, procurando apresentar-se como pessoa
importante e propalando que descende de família muito rica. Nos últimos tempos era
proprietário de uma oficina mecânica, onde trabalhava em consertos de automóveis,
profissão que aprendeu com muita facilidade e para a qual demonstrou o maior interesse.
Apesar de revelar dedicação pelo trabalho, mostra-se desorganizado, desleixado, destruindo
todos os seus pertences em pouco tempo.
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A informante esclareceu ao médico examinador que, no ano passado (1973), a família foi
informada que ele, Antenor, depois de sair de uma churrascaria em companhia de duas
moças (uma de 31 e outra de 38 anos de idade), levou-as para sua oficina mecânica e ali
teria estuprado a ambas. As moças, de família importante na cidade de Ituiutaba, onde
estava residindo, deram queixa à Polícia. Instaurado inquérito, o paciente foi preso,
permanecendo na cadeia local durante sete dias, aproximadamente. Do Processo Policial
consta o depoimento das moças, tomado separadamente e em dias diferentes e sem
nenhuma discordância, e Laudos Médicos Legais, do exame pericial procedido nas duas
moças.
Sonia, de 38 anos de idade, declarou ao Delegado que havia começado a flertar com
Antenor há mais ou menos quinze dias. No sábado último, ele a convidou para jantar na
"Churrascaria Assis". Como ela não podia ir sozinha, propôs convidar uma amiga, no que ele
concordou, acrescentando que desejava fazer boas amizades na cidade. Foram à casa de
Marlene, que aceitou o convite, e assim partiram para a churrascaria. Esclareceu que
Antenor, durante o jantar, mostrou-se muito cortês, amável e extremamente educado.
Permaneceram no local até às 22 horas, quando regressaram à cidade, ficando combinado
que iriam almoçar no mesmo lugar, no dia seguinte. Recorda-se que, durante o regresso, sua
amiga disse que no próximo domingo seria o "Dia das Mães". Ao ouvir esta referência,
Antenor ficou exaltado, dizendo que não suportava ouvir esta palavra. Esclareceu que não
tinha mãe, que fora criado por pais adotivos, depois de passar a infância num orfanato,
acrescentando que seu pai adotivo é um militar importante em Brasília. Despediram-se com
a promessa de almoçarem no domingo, no mesmo local. No dia aprazado e na hora
combinada, Antenor passou pela casa de Marlene, onde Sonia se encontrava e dali seguiram
para a churrascaria, onde almoçaram e permaneceram até às 14 horas. Durante o almoço
Antenor "se mostrava uma companhia agradável, alegre, expansivo e muito comunicativo".
Regressaram à cidade num Volkswagen e, ao chegarem à Avenida 17, Antenor imprimiu
grande velocidade ao veículo, ganhou a Rua 14 e, virando na contra-mão, na Avenida 15, foi
entrar rapidamente no galpão de sua oficina. As duas moças, um pouco assustadas,
tentaram descer do veículo, mas foram impedidas por Antenor. Ele desceu do carro,
apanhou uma marreta e ameaçou-as de morte, caso tentassem fugir. Em seguida, trancou o
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portão da oficina, ligou o rádio no volume mais alto. Ao descer do veículo, Marlene pediu
"pelo amor de Deus" que as deixassem ir embora. Como resposta, Antenor desferiu-lhe
violento soco no rosto, quebrando-lhe os óculos e ferindo-a no nariz e no olho esquerdo.
Como estivesse sangrando muito pelo nariz, Antenor, aos gritos, mandou que ela lavasse o
rosto em uma "bica" ali mesmo na oficina. Depois começou a falar de maneira agressiva que
elas estavam habituadas a morar em "casas bonitas" e que agora iriam conhecer o que é a
vida. Sempre gritando e ameaçando com a marreta, Antenor dizia que elas, como "filhas de
papai", não conheciam "macho", que naquele momento iriam conhecer um homem de
verdade. Dirigiu-se a um canto da oficina, apanhou uma toalha suja e esfregou no rosto de
Marlene. Empurrou as duas moças para dentro de um pequeno cômodo, muito sujo e
desarrumado, trancou a porta e retirou a chave, guardando-a no bolso da calça. Marlene
notou que junto ao guarda-roupa havia espingarda e no chão um canivete grande, com a
folha aberta. Sem abandonar a marreta em nenhum instante, Antenor gritou para Marlene e
Sonia que tirassem as roupas. Como relutassem, começou a gritar, dizendo que não se
interessava se elas fossem "filhas de uma puta" ou "filhas do Presidente da República", que
iriam conhecer, naquele instante "um verdadeiro macho". Como, apesar das ameaças,
continuassem paralisadas pelo medo, ele começou a esbofeteá-las, "sempre gritando e
ameaçando". Por fim, quando se encontravam todos nus, Antenor passou à prática de atos
sexuais anormais, obrigando a declarante a manter com ele o coito anal e, alguns momentos
depois, realizou o coito vaginal com Sonia, deflorando-A. Depois de tudo consumado, ele
manifestou uma estranha indiferença. Vestiu-se e mandou que elas também se vestissem,
dizendo que a levaria para casa e, depois de calmamente pentear o cabelo, abriu a porta do
quarto e ordenou que elas subissem para o carro.
Os atos delituosos praticados pelos psicopatas depressivos não são muito freqüentes, mas já
foram registrados: a deserção, o incêndio, a fuga sem destino. São atos que têm sua origem
numa situação de isolamento e representam o ápice de uma depressão crescente e
asfixiante.
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aplicado, particularmente, àquelas pessoas cuja insegurança está no próprio físico ou no
terreno social. Os escrúpulos e sentimentos de insuficiência dos inseguros de si mesmos
repercutem muitas vezes, ainda que nem sempre, no comportamento ético. Esses inseguros
estão sempre lutando com remorsos e escrúpulos de consciência, e quando algo fracassa
lançam em primeiro lugar a culpa em si mesmos". Aduz ainda que o psicopata inseguro de si
mesmos não desfruta dos prazeres da vida, e são a todo instante assaltados por remorsos
de consciência. Essas pessoas vivem em constante temor de haver descuidado algo ou de
ter realizado algo mau. Esse temor retira o seu conteúdo de qualquer circunstância em
aparência diferente: "A melodia encontra a letra que lhe corresponde".
O Prof. Nelson Pires assinala que as situações mais inconvenientes para os psicopatas
deste grupo são: a) a espera de decisão, de outrem; b) a necessidade de tomar uma
decisão, especialmente se da mesma podem advir malefícios para outras pessoas ou para si
mesmos; c) a aproximação de data em que deverá assumir grandes responsabilidades
(familiares, profissionais); d) um acontecimento vergonhoso (ato desonesto, punição,
deficiência funcional), e situações equívocas (cometimento de atos que poderiam ser
interpretados como injustos ou desonestos).
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Diz ainda o autor citado que em alguns psicopatas inseguros, os episódios agudos que
possam ser observados, não são mais do que exacerbações de um estado permanente. Os
motivos de ordem sexual aparecem entre as causas traumatizantes para esses psicopatas. E
quando presentes, sempre motivando sentimento de vergonha. Este constitui a nota quase
constante das personalidades psicopáticas inseguras. A impotência sexual, o
homossexualismo, o amor não correspondido, a infidelidade do cônjuge fazem sofrer aos
psicopatas deste grupo pelo que, para eles, têm de vergonhoso.
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ciúme. Não se trata aqui de simples personalidades expansivas, senão de personalidades de
uma extrema complexidade.
O Prof. Nelson Pires apresenta em sua casuística duas observações de psicopatas fanáticos.
Um deles desenvolveu convicções esotéricas depois de ter perdido a fortuna e mantinha as
suas idéias mais de vinte anos. O outro, solteirão de 56 anos, silencioso e rígido praticante
do protestantismo, botequineiro, que se opunha ao sócio na venda de bebidas alcoólicas, por
impedimentos religiosos. Era um homem sem vida sexual em obediência aos preceitos da
castidade. Nenhum deles revelava comunicabilidade, mas o protestante não perdia
oportunidade para distribuir bíblias e concitar os conhecidos ao culto do Evangelho. "Ambos
levavam vida solitária, mas o esoterista era um pouco errante". A única distração dos dois
era o culto da seita. Enquanto um deles enchia o seu quarto com livros de evangelistas e
pastores, lendo-os sozinho até altas horas da noite, o esoterista fechava-se em casa para,
"mentalizando", provocar visões fantásticas sobre a parede branca do quarto. O protestante
há trinta anos seguia pontualmente os mandamentos religiosos e, estimulado por qualquer
conversa, emitia opiniões com base em textos bíblicos, indo muitas vezes apanhar o livro
para comprovar sua exatidão.
O Prof. Nelson Pires chama a atenção para o fato de seus pacientes não terem vida sexual.
Em ambos a curva de vida mostrou-se economicamente decadente, o que é natural para
quem dedica o seu tempo a práticas místicas com sacrifício absoluto do pragmatismo.
"Dificilmente um fanático enriquece, ao contrário, os litigantes desperdiçam a própria fortuna
em pleitos". Do mesmo modo, não é próprio do fanático a prática de alcoolismo. Nos dois
casos relatados, os pacientes foram sempre péssimos profissionais, tendo o exoterista
abandonado há muitos anos qualquer atividade remunerada. Assinala ainda o autor que o
fato de certos fanáticos lograrem obter evidência e facilidade de toda ordem, cria condições
para que sejam estimuladas outras componentes caracterológicas. Cita o caso de um chefe
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de "seita", que foram fanático puro durante mais de quinze anos, e terminou por enveredar
pela "industrialização dos milagres, quando alcançara fugaz popularidade, se bem que
funcionasse de modo discreto a "indústria". Desde que começou a auferir dinheiro dos
peregrinos, multiplicou as audiências de modo mais ou menos equívoco. O dinheiro que os
crentes lhe deixavam sob toalhas e panos bordados, ele dizia 'que vinha de Deus', numa
evidente duplicidade. Esse fanático, até então imaculado e pacífico quando a Polícia
interveio e terminou as atividades 'santificadas', já há muito tempo deixara de ser imaculado".
O fato da corrupção do fanático é um dado concreto nada raro e tem o aspecto psicológico
algo mencionável.
A importância social desses psicopatas, especialmente dos lutadores, está no fato de proferir
injúrias e praticar atos de violência quando contrariados em seus desígnios de aliciamento.
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A importância social desses psicopatas se acha na criminalidade dos fanfarrões e,
especialmente, dos pseudologistas. Trata-se de roubos, fraudes, falsas promessas de
casamento, exercício ilegal da medicina.
6º) PSICOPTAS LÁBEIS DE HUMOR - São caracterizados, segundo Kurt Schneider, pelas
alterações súbitas do humor, principalmente no sentido irritável-depressivo. Em muitos
casos, torna-se difícil esclarecer se essas disritmias são reativas, no sentido de serem
psiquicamente motivadas. O certo é que esses indivíduos, em determinados dias, reagem de
maneira fácil e de modo duradouro, depressivamente. Trata-se de uma reatividade
depressiva aumentada e reforçada, sobre um fundo que não se acha em si determinado de
modo reativo. Diz Schneider que, a partir dessas alterações do humor desenvolve-se toda a
espécie de atos impulsivos, tais como fugas, vagabundagem, embriaguez, prodigalidade
periódica. A perturbação afetiva durante esses dias críticos pode mesmo levar à prática de
certos delitos. Na maior parte das pessoas "impulsivas", trata-se de lábeis de humor: a
alteração do estado de ânimo tem aqui um caráter primário.
7º) PSICOPATAS EXPLOSIVOS - Caracterizados por Kurt Schneider como indivíduos que
"fervem em água fria", irritáveis, coléricos, exteriorizando reações denominadas de "curto
circuito". Reagem de maneira primitiva. Esses indivíduos ouvem, por exemplo, uma palavra,
e antes que tenham compreendido o seu exato significado reagem de maneira explosiva,
respondendo com insultos ou com violências. Os psicopatas explosivos exercem ação
particularmente destruidora sobre o matrimônio; revelam uma incapacidade absoluta para a
educação dos filhos. Praticam ações criminosas com extrema facilidade. Muitos explosivos
revelam-se como tal apenas durante a embriaguez. Os delitos cometidos por esses
psicopatas são sempre por agressões, delitos de sangue, imotivados, resistência às
autoridades e estragos materiais.
O Prof. Nelson Pires apresenta a observação de uma paciente considerada como psicopata
explosiva. Trata-se de uma mulher de 23 anos, casada, funcionária pública, aposentada em
conseqüência da "doença". Sempre apresentou cenas de grande violência, agressão física
armada e desarmada, escândalos em casa e na repartição do marido, o que motivou várias
internações em sanatórios e hospitais psiquiátricos. Paciente sexualmente fria, com desamor
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aos filhos, aos quais seviciava e descuidava. Quando internada, seu comportamento se
tornava exemplar.
"Artur Warrer Waite era um cirurgião-dentista, que, em virtude de ter assassinado o sogro e a
sogra, foi eletrocutado. Em declaração a um de nós, enquanto estava encarcerado,
aguardando julgamento, Waite explicou que, durante o curso de bacharelado e, mais tarde,
já exercendo a profissão de dentista, arrombava fechaduras, roubara modelos de dentaduras
feitos por outros estudantes e havia mentido repetidamente. Logo que terminasse o curso,
pretendia conseguir um lugar de dentista numa empresa na África do Sul. Quando estava
terminando os últimos preparatórios em determinado colégio, tornou-se amigo de um dos
professores e se vangloriava de ter sido aprovado graças à influência do mesmo.
"Enquanto estava exercendo a sua profissão na África do Sul roubava todo ouro, prata e
platina que encontrava ao seu alcance e levou a sua promiscuidade sexual aos maiores
extremos. Quando sua existência se tornara precária por causa da iminência de descoberta
dos seus delitos, resolveu praticar os assassinatos, os quais mais tarde foram realizados.
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Ainda não mantinha relações com suas vítimas, mas conhecia sua reputação. Tratava-se de
pessoas que viviam em casa própria na mesma cidade e tinham fama de ricos. Concluído o
plano, renunciou o posto na África do Sul e partiu para Nova Iorque onde se matriculou numa
faculdade para fazer cursos de bacteriologia e toxicologia, pois isso fazia parte da
preparação de seus crimes.
"Pouco antes de concluir os cursos, publicou nos jornais de Michigan a notícia de que estava
prestes a regressar a sua cidade natal, onde pretendia abrir consultório. Chegou à cidade
precedido do maior prestígio. O cenário estava preparado. Desde logo começou a receber
convites de famílias distintas para comparecer a acontecimentos sociais, e apesar de que
muitos convites provinham de famílias que tinham filhas em idade de casar-se e eram
pessoas de alto nível social, declinou invariavelmente a todas essa distinções. Esperava que
chegasse a escolhida e esta não foi recusada. Pouco tempo depois estava casado com a
filha daquela família que havia incluído em seus planos. Não perdeu tempo e,
imediatamente, começou a por em prática as suas maquinações diabólicas. Vejamos como
ele as descreve:
"A velha (a sogra) se comportou muito bem, porém o velho me deu um trabalho horrível.
Administrei um pouco de arsênico à velha e ela morreu tranqüilamente. Era um dia frio e
úmido, convidei o velho para dar um passeio. Eu me agasalhei bem e disse ao velho que não
havia necessidade de abrigar-se, pois não fazia frio. Molhei seus sapatos e umedeci o
assento do automóvel. Deixei os vidros do carro abertos. Na mesma noite começou a
queixar-se de irritação da garganta e eu o mediquei, fazendo-lhe uma embrocação com
germes de difteria, porém os malditos não se desenvolveram. Poucos dias depois retirei a
lâmpada de sua mesinha de cabeceira e coloquei uma caixa na entrada do seu dormitório
para que tropeçasse e caísse. Efetivamente, levou uma queda e ficou com um ferimento na
tíbia da perna direita; apressei-me em fazer um curativo, tendo aplicado bacilos de tétano
sobre a ferida e feito compressão com algodão e esparadrapo. Mas, infelizmente não
aconteceu nada! Nos dias seguintes administrei ao velho grandes quantidades dos bacilos
que tinha à mão: bacilos de tipo, pneumococos e outros que não me lembro no momento.
Não adoecia! O velho era imune a todas as enfermidades infecciosas. Tive que decidir-me e
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aplicar-lhe arsênico. E isto deu resultado. Ao anoitecer chamou à porta do meu quarto: 'Vem
depressa, por favor. Estou me sentindo mal'.
"Mandei que ele se deitasse no sofá e fui ao meu quarto apanhar um frasco de clorofórmio.
Molhei bem a almofada com clorofórmio e apertei-a sobre o seu rosto até o momento em que
ele morreu. O senhor não imagina o trabalho que me deu aquele maldito velho".
Lichtenstein e Small fazem alguns comentários sobre esta observação e dizem que Waite,
durante o tempo em que fazia as declarações comia tranqüilamente a sua refeição.
Esclareceu ainda que era amante da música e côo sua esposa tocava piano de maneira
admirável, por isso, não tinha sido possível matá-la.
9º) PSICOPATAS ABÚLICOS - O psicopata abúlico, individualizado por Kurt Schneider, tem
encontrado confirmação de parte dos psiquiatras que dedicaram estudos especiais às
personalidades psicopáticas. De acordo com a descrição de Schneider, esses psicopatas
estão caracterizados pela ausência de vontade e pela incapacidade de oporem resistência às
influências do ambiente. Deixam-se influenciar, com facilidade, por outras pessoas e pelas
situações. Em geral são bondosos, não oferecem dificuldades nas clínicas e nos
estabelecimentos pedagógicos; são razoáveis, dóceis, laboriosos e modestos. Mas nada do
que se consegue deles, sob a ação de influências favoráveis, dura muito tempo. Posto em
liberdade, deixam-se facilmente corromper pelo primeiro que encontrar e que sabe levá-los
com habilidade. Como diz Bleuler, são "homens de temperamento variável com o ambiente".
O Prof. Nelson Pires considera apropriada a denominação dada por Kurt Schneider a esses
psicopatas. "Todos conhecem o indivíduo incapaz de resistir às solicitações dos
companheiros, de resistir às tentações e que são, aparentemente, excelentes pessoas que,
no entanto, claudicam às primeiras dificuldades que a vida oferece". Faz parte da experiência
de todos os psiquiatras um certo tipo de alcoolista que promete não voltar a beber. As
promessas são sinceras, mas jamais serão cumpridas. Fora do alcoolismo os fatos são
sempre os mesmos: o pai que leva o filho ao psiquiatra e diz que: "as más companhias é que
são responsáveis pelos desvios", ou que o filho "se deixa levar facilmente". Nisto consiste o
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traço característico do psicopata abúlico: não oferecer resistência às solicitações de qualquer
tipo: contravenção, licenciosidade, aventura, alcoolismo, desvio sexual, vagabundagem e
crime.
10º) PSICOPATAS ASTÊNICOS - Esta designação nada tem a ver com os indivíduos
fisicamente astênicos. Kurt Schneider classifica os psicopatas astênicos em dois grupos, os
quais podem aparecer combinados entre si de todas as maneiras possíveis. No primeiro
subgrupo, inclui certas personalidades psicopáticas que se sentem psiquicamente
insuficientes. Suas queixas consistem em sensação de incapacidade intelectual, diminuição
da capacidade produtiva, dificuldade de concentrar a atenção e enfraquecimento da
memória.
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A importância social dos psicopatas astênicos consiste, especialmente, na sobrecarga que
representam para as instituições de assistência pública e órgãos de previdência social.
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U NIDADE 12
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Manifestações Corporais
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representam sinal de irritação da zona motora do córtex cerebral. Tremor dos músculos da
face, especialmente do orbicular das pálpebras.
Tipos Clínicos
ESQUIZOFRENIA SIMPLES
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a notar as modificações sobrevindas na personalidade do enfermo, a indiferença e a
incapacidade para o trabalho. Como a doença não é ainda suspeitada, a causa dessas
alterações é comumente atribuída a circunstâncias do meio exterior. Recorre-se, por isso, a
uma série de meios corretivos inadequados, que concorrem para agravar a situação do
enfermo.
ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA
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As concepções delirantes mais extravagantes não se acompanham de uma tonalidade
emocional apropriada. Esta discordância entre o pensamento e os sentimentos se reflete na
conduta desses doentes; podem rir alegremente diante de um acontecimento em que a
reação normal seria a tristeza.
Os enfermos revelam perda da iniciativa e não realizam nenhuma atividade com fins
pragmáticos. As alucinações desempenham aqui um papel pouco expressivo. Em alguns
casos, os doentes fazem referência a vozes que interferem em sua atividade, vozes
imperativas que os comandam ou que repetem os seus pensamentos. Os delírios dos
hebefrênicos são desconexos, mutáveis e transitórios, sem tendência à sistematização.
ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA
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Os sinais e os sintomas do quadro catatônico são inconfundíveis. Os doentes podem
permanecer dias inteiros numa imobilidade absoluta. Não reagem a nenhum estímulo do
meio exterior. Não falam nem respondem às perguntas do interrogatório. Sentado ou de pé,
o enfermo persiste na mesma posição por tempo indefinido. No quadro clínico dominam as
estereotipias de atitude, as posições extravagantes, os maneirismos.
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o mesmo paciente conserva de maneira constante, por anos seguidos, os movimentos
adotados desde o início?.
Exemplo clínico: Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica,
natural do Estado do Rio de Janeiro.
Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações,
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e
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ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou,
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto, inteiramente aleado do
ambiente. Foi novamente conduzido ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual,
dessa vez, achou que o tratamento só podia ser realizado sob regime de internação.
Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado,
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo,
porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às
vezes, caía em coma ao adormecer.
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simples, hebefrênico e catatônico. Entretanto, nas fases tardias, a maior parte dos casos
apresenta acentuado defeito esquizofrênico.
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enfermidade, observa-se uma série de alterações da sensibilidade tátil, térmica e dolorosa,
que em muitos casos desempenham papel na produção do chamado delírio de perseguição
física. Os pacientes se sentem influenciados pelo hipnotismo, pela telepatia, pelo rádio, pela
eletricidade ou pelo telefone. As alucinações olfativas e gustativas são raras e, geralmente
estão relacionadas com delírio de envenenamento e com interpretações patológicas de
percepções normais.
Ao lado das percepções delirantes, do humor delirante e das alucinações, observam-se nos
esquizofrênicos paranóides, transtornos da vivência do eu e alterações afetivas e do
comportamento.
Trata-se de uma enferma de 35 anos de idade, casada, em que a doença evolui por surtos
periódicos, com remissões de longa duração:
Desejo falar com o senhor sobre o princípio do mundo. Vamos remontar ao Continente da
Atlântida. A Atlântida era um continente onde havia paz e amor, mas, em determinada época,
por qualquer circunstância que não consigo me lembrar, Deus foi obrigado a submergir o
Continente da Atlântida. Então, os entes mais desenvolvidos foram salvos e enviados a
outros Planetas. Da Atlântida muitos andam por aí, muitos são avatares, entes que vivem na
Terra com poderes supranormais, que já andaram pelos Planetas marte, Vênus, urano, que
são os planetas mais desenvolvidos do Cosmo. Eu pertenço à Atlântida. Sei disso porque
tenho ligação direta com o espaço. Devido a minha hipersensibilidade, cheguei a ter contato
com o Pai Celestial.
Houve uma época em que a Terra ia ser destruída, porque havia muita maldade. E por que a
Terra foi criada? Foi criada para salvar os entes perversos que usavam os poderes que
possuíam quando habitavam a Atlântida. Naquela época os seres humanos não se
comunicavam pela fala, eles se comunicavam pela mente, por intermédio dessa glândula que
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os médicos não atinam a razão de sua existência: a glândula pineal. Costuma-se perguntar:
para quês serve isto? Ora, se Deus a fez, teria de haver uma razão. Se ela não é
desenvolvida em determinadas criaturas é porque não merece ser desenvolvida, porque
essas criaturas podem aplicar os seus poderes para o mal, como foi o caso de Hitler. Ele
tinha o poder da Kundaline e desenvolveu grandemente esse poder da Serpente e o
empregou para o mal. Como Goebels e todos os líderes alemães da Segunda Guerra
Mundial.
Então o que aconteceu? Um dia, Deus, preocupado na sua suprema bondade, procurou-me
no Planeta Marte. No Planeta Marte eu sou considerada, sem modéstia, como Rainha. O
povo de Marte há milênios que sofre porque eu não estou lá, eu vim em missão à Terra, para
ajudar o Pai nessa missão de redimir. Ele me pediu: filha, só tu podes salvar a Terra. Deixa o
teu Planeta Marte e vai para a Terra; lá tu sofrerás bastante e viverás encarnações e
encarnações e encarnações. Eu posso dizer algumas encarnações: fui preceptora na França,
irmã de caridade na Itália, fui Nefertiti, fui grande advogada criminalista na época de Ana
Bolena, fui aquele que bebeu cicuta. Quem foi? Sim, Sócrates. Eu sofri as penas do inferno.
Nós todos, meus amigos. Até parece que estou falando para muita gente. Mas eu estou
realmente falando para muita gente. Não estamos sós aqui, ao nosso lado tem muita gente.
O senhor acredita?
Sim. Quer dizer que a senhora, em outras encarnações, tem sido homem e tem sido mulher?
A senhora se dirigiu nesse momento a outras pessoas. A senhora está vendo alguém além
de nós?
Não, não vejo ninguém. Mas sei que eles estão sempre ao meu lado, me orientando sobre o
que devo falar, o que posso falar, o que o senhor pode saber. Porque o senhor também
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precisa ser esclarecido. Quando chega à noite, meu espírito se separa do invólucro físico e
eu vou para o Hospital do Espaço
Existe. Eu sou enfermeira no Hospital do Espaço. Quando me deito, eu peço assim: Pai,
quando eu dormir me leva para o Hospital do Espaço ou para uma Clínica de Repouso.
Quero ser levada para a clínica de Ramatis. Então lá, o meu peri-espírito, não o físico, é
tratado. Eles tratam o meu peri-espírito através da cromoterapia, da fluidificação, um
tratamento à base de cores.
Quando o físico adoece, o peri-espírito também adoece. Então se a pessoa trata o peri-
espírito, o físico também melhora. Há uma relação, o senhor me entende? Então eu vou para
o espaço. Quando chega a manhã eu estou elétrica. Como bem, tenho orientação sobre os
alimentos que devo comer, se devo comer muito sal, se devo comer carne. Eu, por exemplo,
quase não como carne. Como sou uma criatura voltada para as coisas do espírito, a carne
não vai bem com o meu organismo?.
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U NIDADE 13
Objetivo: Possibilitar prática mais abrangente dos transtornos mentais
EXEMPLOS CLÍNICOS
Depois de alguns dias, durante a noite, teve um pesadelo. Sonhou que estava andando pela
rua e, quando passava em frente a um armazém, sentiu que ia morrer e caiu no chão.
Acordou completamente transtornado. A partir desse momento, começou a perceber que as
coisas estavam diferentes. Parecia que tinha a visão deformada, porque os objetos não eram
mais os mesmos. Percebia que havia ocorrido uma transformação completa no ambiente. Os
seus sentimentos em relação às pessoas também sofreram completa transformação. Não
gosta mais da companheira, com quem vive a algum tempo. Quando ela se aproximava para
lhe fazer carinho, sentia de súbito um ódio profundo e tinha vontade de estrangulá-la. Ficou
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indiferente em relação aos amigos. Perdeu a afeição à genitora. Todos os seus sentimentos
se apagaram por completo. O paciente tenta explicar essa transformação: É como se eu
tivesse dormido durante dez dias e, ao acordar, o mundo tivesse se modificado. Agora é um
mundo de fantasia.
Seis dias depois de ter se queixado do pesadelo, começou a dizer que todas as pessoas
estavam mortas. Escutava uma voz que lhe dizia: você vai morrer. Você vai morrer. Não
adianta você ficar escutando rádio, porque você já está morto. Andava muito impressionado,
com desconfiança, admitindo que fizeram macumba contra ele e que lhe influenciam à
distância. Perdeu completamente a confiança em si mesmo e começou a ficar medroso. Não
saía mais sozinho de casa.
Desde a época em que teve o pesadelo, começou a perder a noção do tempo. Em alguns
momentos não sabe calcular que horas são, ou em que parte do dia se encontra, se é pela
manhã ou à tarde. Tem a impressão de que perdeu a sensibilidade do lado esquerdo, pois só
sente o lado direito. Em certos momentos tem o sentimento de que é forçado a pensar, como
se ele tivesse obrigatoriamente de se entregar aos maus pensamentos. Ultimamente, de vez
em quando, é assaltado pela idéia de matar a genitora. Pensava que ia morrer e, por isso,
achava que deveria matá-la: Era para morrer junto com ela?
Em alguns momentos era tomado por uma sensação de opressão torácica, respirava com
dificuldade, agitava-se, soltava gemidos, lamentava-se e a fisionomia adquiria uma
expressão de intenso pavor. Informou então que sentia medo, um medo semelhante ao que
sentia dentro do cinema.
Desde o seu ingresso neste serviço, o enfermo tem revelado completo desinteresse por tudo
e até mesmo por suas próprias condições pessoais. Levado à seção de terapêutica
ocupacional, ali permanece indiferente, arredio, desinteressado, sem iniciativa, revelando-se
incapaz para qualquer atividade com fins pragmáticos.
O pai suicidou-se, há sete anos passados, ateando fogo às roupas. Algum tempo antes,
vinha freqüentando centros espíritas. Falava sozinho e, certa vez, investiu contra a esposa,
armado com uma foice, para matá-la.
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Exemplo clínico de Esquizofrenia Hebefrênica
Desde a idade de 12 anos vem o paciente se revelando muito nervoso, brigando com as
pessoas pelas coisas as mais insignificantes. Aos 14 anos, começou a trabalhar num
laboratório de prótese dentária, no serviço de entregas. Abandonou o trabalho antes de
completar um ano. Sempre gostou de jogar futebol. Aos 15 anos, tentou ingressar no juvenil
do Bonsucesso, porém não foi aceito, porque o técnico achou que ele não tinha resistência
física. Desde então, ficou muito preocupado, com desânimo, queixando-se de que era um
inútil, que não servia para nada. Dizia que não era igual aos irmãos, que tinham
desembaraço e estavam encaminhados na vida, enquanto ele nada conseguia. Tinha crises
de choro e julgava-se um infeliz, sem sorte. Aos 17 anos, foi convocado para o serviço
militar, tendo sido considerado incapaz, temporariamente, por deficiência de peso. Passou
muito tempo preocupado, dizendo que nunca teria condições para servir ao Exército. Rezava
muito. No ano seguinte, apresentou-se novamente ao Exército e, dessa vez, foi considerado
incapaz, em caráter definitivo, porque não tinha físico. Recebeu certificado de reservista,
porém não conseguia emprego. Já nessa época revelava tendência a viver significações.
Tinha a impressão de que as pessoas debochavam dele e que muitos pensavam que não se
pode confiar num homem que não servia ao Exército. Sentia-se humilhado, porque
necessitava de dinheiro e tinha de recorrer aos irmãos. Muito preocupado com o problema de
roupas. Nunca estava satisfeito com as roupas que lhe destinavam. Ora considerava que as
calças estavam largas, ou apertadas, ou que o paletó não lhe caía bem.
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natural. No período em que esteve de férias, ficava o dia inteiro em casa, não dormia, não
falava com ninguém, sempre rezando. Apresentou cismas em relação aos companheiros de
trabalho, dizendo que eles estavam sempre cochichando, falando mal dele. Tinha a
impressão de que, quando passava junto aos companheiros de trabalho, eles lhe chamavam
de mariquinhas e que ninguém confiava em sua pessoa. Foi levado a um psiquiatra e esteve
em tratamento de ambulatório, pelo período de um ano, sem resultado. Durante esse tempo,
esteve em casa, indiferente, calado, queixando-se de insônia e dores de cabeça. Ria muito
sozinho e, freqüentemente, mirava-se no espelho. Dizia que escutava vozes durante a noite
e ficava com ódio tremendo, e decidia que tinha de matar uma ou muitas pessoas para livrar-
se daquela perseguição. Informava que o demônio lhe perseguia. Dizia que estava sendo
perseguido pelo demônio e pela pomba gíria, a mulher do demônio. Lamentava-se de que
ninguém pudesse compreender como ele sofria com tamanha perseguição. Passava as
noites fumando, tomando café e bebendo água. Sentia-se inseguro e com medo. Nunca se
preocupou com namoradas. Revelava-se tímido em relação às mulheres. Há quinze dias, ao
apertar a mão de uma garota, sua vizinha percebeu que a mão estava muito grossa:
queixou-se em seguida que sentiu mal-estar, enjôo e ficou pensando que ela lhe havia
transmitido algo sobrenatural.
Internado na Casa de Saúde Dr. Eiras, em 6 de julho de 1960. Ao ser examinado, revelava-
se deprimido, falando em tom de voz baixo, a mímica apagada, gestos escassos e
informações extremamente precárias. Fez referência a vozes de conteúdo depreciativo:
chamam-no jeca, covarde, mal-educado, dizem que ele não é homem ou chamam-no de
veado. Algumas vezes percebe que umas vozes tomam a sua defesa e contradizem: ele é
homem, sim ele não é covarde, ele não tem culpa Informou também que em sua casa,
quando está pensando em alguma coisa, percebe que os seus pensamentos são repetidos
no andar de cima, onde residem certas pessoas que o perseguem. Alucinações
cenestésicas. Sente que o corpo está dilatado e que as pernas estão grossas, fora do
normal. Inibição do curso do pensamento. Delírio de perseguição, inconsistente, mal
sistematizado. Queixa-se de uma perseguição que lhe movem os vizinhos e os colegas de
trabalho. Tem cismas do pessoal de uma escola de samba, porque eles desejam arruína-lo e
arrasar com a sua família. Humor delirante. Sentimento de estranheza e de transformação do
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mundo. Às vezes, está perfeitamente bem na rua, porém, ao voltar para casa tem a
impressão de que tudo está mudado. Enfraquecimento dos sentimentos familiares. Sente
medo de tudo. Não ode escutar rádio, porque acha que estão falando mal dele. Sente uma
hostilidade no ambiente, como se todos estivessem contra ele. Atos extravagantes: passa
horas seguidas mirando-se no espelho, rindo sozinho, fazendo caretas.
Rufino, com 23 anos de idade, de cor branca, solteiro, servente de fábrica, natural do Estado
do Rio de Janeiro.
Adoeceu há cerca de três anos. Estava trabalhando, quando, de maneira súbita, recebeu a
notícia do falecimento da genitora. Saiu correndo, em completo desespero, dirigindo-se ao
hospital da Ilha do Governador, onde se dera o infeliz acontecimento. Desde então, embora
continuasse saindo para o trabalho, o paciente começou a desleixar-se de suas obrigações,
o que chegou a despertar a atenção de seus companheiros e dos patrões. Afastado do
trabalho, passou a ficar em casa sem nada fazer. Permanecia calado, sem estabelecer
contato com as demais pessoas da família, muito inquieto, sempre andando de um lado para
outro. Ria sozinho. Certo dia, apanhou as economias que costumava guardar numa gaveta e
ateou fogo ao dinheiro. Levado ao psiquiatra, fez tratamento de ambulatório, melhorou,
retornando ao trabalho. Entretanto, não chegou a completar um mês, quando começou a
piorar de maneira lenta e progressiva. Os patrões mandaram chamar o pai, comunicando-lhe
que o paciente passava a maior parte do tempo parado, absorto. Foi novamente conduzido
ao médico que o havia tratado anteriormente, o qual, dessa vez, achou que o tratamento só
podia ser realizado sob regime de internação.
Deu entrada na Casa de Saúde Dr. Eiras, no dia 23 de setembro de 1959. ao ser examinado,
manteve diante do médico uma atitude imobilizada, demonstrando ausência de iniciativa e
respondendo por monossílabos. Negou a existência de alucinações, nem revelou atividade
delirante. Inibição do curso do pensamento. Indiferença afetiva, risos imotivados e
negativismo passivo. Prescrito o tratamento pelo método de Sakel, não chegou a concluí-lo,
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porque, apesar das doses elevadíssimas de insulina, o enfermo não entrava em coma, ou, às
vezes, caía em coma ao adormecer.
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U NIDADE 14
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
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O corpo no autismo
Fabiana. S. Fernandes
O objetivo principal deste estudo é refletir sobre constituição do corpo em crianças autistas.
Para que esse trabalho seja melhor compreendido, ele foi dividido em três partes principais.
Num primeiro momento falarei sobre o autismo e suas características comportamentais tais
com distúrbio do relacionamento; distúrbio da fala e da linguagem; distúrbio do ritmo de
desenvolvimen-to; distúrbio da motilidade e distúrbio da percepção. Em O corpo exponho um
breve estudo do corpo e, posteriormente, como esse corpo é constituido, percebido e vivido
no autista, além de fazer uma referência às estruturas de esquema e imagem corporal, e sua
importância no tratamento de autistas. Finalmente procurei entender qual a importância e/ou
interferência da noção de Corpo no desenvolvimento de crianças autistas. A partir dessa
compreensão será possível investigar novas formas de tratamento e/ou intervenção para
essas crianças.
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Artigo disponível no site acadêmico P@PSIC – Periódicos Eletrônicos em Psicologia. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1676-73142008000100013&script=sci_arttext
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especializada na área, selecionada por abordar a temática do Corpo no Autismo, fornecendo
sustentação teórica suficiente para atender os objetivos desse estudo introdutório.
O autismo
De acordo com Gauderer (1993), esse tipo de psicose infantil foi descrito pela primeira vez
por Kanner em 1942 e recebeu o nome de autismo infantil precoce. Nessa psicose a criança
não apresenta sinais de perceber afetivamente os outros seres humanos. Acha-se ausente o
comportamento que indica a percepção afetiva das provisões maternas vindas do mundo
externo.
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Ainda conforme Gauderer (1993), os sintomas do autismo podem ser divididos em cinco
grupos gerais: Distúrbios do Relacionamento: tanto o relacionamento com pessoas quanto
com objetos inanimados estão alterados no autismo. Esta deficiência precoce inclui a falta do
desenvolvimento de uma relação interpessoal e de contato visual. Distúrbios da Fala e da
Linguagem: o autor mostra que o desenvolvimento da fala é caracterizado por um enorme
atraso, com fixações e paradas ou total mutismo. É comum a ecolalia (ou seja, a repetição
automática de sons ou palavras ouvidas) associada ao uso inadequado ou reversão do
pronome pessoal. Quando a fala comunicativa se desenvolve é atonal, arrítimica, sem
inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente as emoções. Distúrbios do Ritmo de
Desenvolvimento: as crianças autistas mostram grande irregularidade na idade em que
desenvolvem as seqüências motoras ou de linguagem. O ritmo mais comum é uma
descontinuidade na seqüência normal do desenvolvimento, por exemplo, a criança pode
sentar-se precocemente sem ajuda e depois mostrar um atraso significativo para se colocar
em pé. Distúrbios da Motilidade: o maneirismo e os padrões peculiares de motilidade nessas
crianças são os traços que lhes conferem em grande parte sua aparência estranha e bizarra.
Moraes (2002) cita que os movimentos corporais estereotipados são comuns e apresentam-
se sob a forma de balanceio da cabeça, movimentos com os dedos, saltos e rodopios. Esses
movimentos costumam ocorrer, principalmente, entre os mais jovens e os que têm um
funcionamento global mais baixo. Distúrbios da Percepção: há uma incapacidade na criança
de fixar ou dedicar sua atenção a certos estímulos visuais, voltando-se quase que
exclusivamente a outros. A criança é incapaz de usar estímulos sensoriais para discriminar o
que é importante ou não. Em outras palavras, ocorre um erro de seletividade. A criança
autista pode ignorar estímulos visuais, até mesmo pessoas e paredes, a ponto de chocar-se
com estas como se o obstáculo não existisse.
Classificação do autismo
Baptista e Bosa (2002) afirmam que se verifica na história uma grande controvérsia com
relação ao conceito do autismo, a distinção entre autismo, psicose e esquizofrenia. As
primeiras edições da CID (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento, da
Organização Mundial da Saúde) não fazem qualquer menção ao autismo. A oitava edição o
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traz como uma forma de esquizofrenia, e a nona agrupa-o como psicose infantil. A partir da
década de 1980, assiste-se a uma verdadeira revolução paradigmática no conceito, sendo o
autismo retirado da categoria de psicose no DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria) e no DSM-III-R, bem como na
CID-10, passando a fazer parte dos transtornos globais do desenvolvimento, como segue: na
CID-10 (1993) encontra-se a definição dessa síndrome dentro dos Transtornos Invasivos do
Desenvolvimento, como Autismo Infantil - F84.0 e Autismo atípico - F84.1 e, no DSM IV
(2000), também dentro dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, encontra-se o
Transtorno Autista - 299.
Conforme Baptista e Bosa (2002), durante muito tempo prevaleceu a noção de pessoas com
autismo como sendo alheias ao mundo ao redor, não tolerando o contato físico, não fixando
o olhar nas pessoas e interessando-se mais por objetos do que por outras pessoas ou,
ainda, nem mesmo discriminando seus pais de um estranho na rua. A mídia e a literatura
debruçaram-se sobre a imagem do "gênio" disfarçado, engajado em balanços do corpo e
agitação repetitiva dos braços. "Estudos recentes têm comprovado o que os profissionais
envolvidos com a criança já sabem: nem todos os autistas mostram aversão ao toque ou
isolamento" (Trevarthen citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).
"Alguns, ao contrário, podem buscar o contato físico, inclusive de uma forma intensa, quando
não "pegajosa", segundo pais e professores. Também existem evidências de que crianças
com autismo desenvolvem comportamentos de apego em relação aos pais (mostrando-se
angustiados quando separados deles, buscam sua atenção quando machucados,
aproximam-se deles em situação de perigo), de uma forma diferenciada" (Capps, Sigman &
Mundy citado por Baptista & Bosa, 2002, p. 34).
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Ainda de acordo com Baptista e Bosa (2002), os estudos de observação minunciosas de
crianças autistas (utilizando filmagens) mostram que os olhares são mais freqüentes do que
se imagina. O que ocorre é que são breves e, por isso, muitas vezes imperceptíveis. Na
verdade, a freqüência do olhar muda com o contexto, e esse é mais comum, e tende a ser
mais longo naquelas situações em que a criança necessita da assistência do adulto do que
naquelas em que está, por exemplo, brincando com o adulto. Nesse caso, as teorias
sociocognitivas ajudam a compreender a pouca freqüência do olhar: não olham porque não
sabem a função comunicativa do olhar para compartilhar experiências com as pessoas - uma
habilidade que se desenvolve ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Essa suposição
parece trivial, mas faz uma diferença quando aplicada em um contexto de intervenção com
os pais: não olhar porque não compreende a extensão das propriedades comunicativas do
afeto e do olhar é diferente de não querer olhar.
Para esses autores, existem várias teorias, desde a psicanálise, ocupando-se do mundo
interno da criança, passando pelas teorias da linguagem, sociocognitivas (explicando a
dificuldade em colocar-se no ponto de vista do outro, em refletir sobre estados mentais) até
as teorias neuropsicológicas (dando conta das dificuldades de dividir a atenção entre os
eventos sociais e não sociais, habilidade de extrair significado de um contexto perceptivo,
capacidade de organização, flexibilidade e planejamento, enquanto função dos lobos
frontais). Nenhum modelo teórico, sozinho, explica de forma abrangente e satisfatória a
complexidade dessa síndrome - eis, a razão pela qual há a necessidade do trabalho em
equipe e o respaldo da pesquisa. A experiência clínica, segregada da pesquisa, corre o risco
de gerar mitos, pois tende a cristalizar preconceitos. Da mesma forma, a pesquisa,
desvinculada da clínica, aprisiona o conhecimento cuja produção pode e deve trazer
benefício à comunidade.
O corpo
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Segundo Ferreira (2000), as experiências motoras da criança são decisivas na elaboração
progressiva das estruturas que aos poucos dão origem às formas superiores de raciocínio,
isto é, em cada fase do desenvolvimento, ela consegue uma determinada organização
mental que lhe permite lidar com o ambiente. Pode-se assim dizer que, em termos de
evolução, a motricidade é uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de
nela o pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá retardar
e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo.
O autor explica que o equilíbrio ou desequilíbrio do tônus muscular, suas variações ou seus
bloqueios irão traduzir a maneira de ser da criança, suas emoções, suas vivências psíquicas,
além de participar também como elemento na comunicação não-verbal. A atitude da mãe
pesa muito no desenvolvimento da criança, desde o período gestacional, quando há um
aumento considerável de medos, muitas vezes sem motivo aparente, de ansiedades,
depressões, enfim, uma gama de sentimentos que irão repercutir, mais tarde, no
desenvolvimento psicológico, intelectual, afetivo e psicomotor da criança. Existe, portanto,
uma comunicação constante, um diá-logo corporal entre mãe e filho, na esfera do qual as
modificações tônicas: acompanham não apenas cada afeto, mas também cada fato da
consciência
Esse autor mostra ainda que a criança desenvolve-se e matura-se no contato com o mundo
vivenciando e experimentando as relações, isso, a princípio, via corpo, que é no início o seu
único meio de comunicação. Todas as suas inaugurações são corporais e estão intimamente
ligadas à emoção e ao prazer. A corporeidade é a linguagem mais primitiva desse indivíduo
desde a sua fase uterina. Assim, o movimento está em ligação direta com a criança, pois é
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parte dela que se comunica com o mundo, e também é a partir dele que irá organizar-se
enquanto sujeito pensante e atuante para dar conta da sua participação na sociedade.
Quando se fala em corpo, segundo Ferreira (2000), tem-se que pensar que ele é um
organismo vivo, um ser desejante, atuante, emocional, inteligente, enfim, não se pode
esconder ou apenas renegar a história que ele carrega. É preciso entender que o corpo
muda com o passar do tempo dependendo dos valores e das necessidades do local, da
situação e, é necessário aceitar as suas diferenças.
O corpo no autismo
Levin (2000) afirma que no autismo, o corpo da criança não tem outra referência do que a de
estar à margem. Diferentemente da psicose, não tem uma relação de univocidade à
linguagem (modelo materno), e sim de exclusão. O corpo é pura carne sem ligação
representacional, é puro real.
Para esse autor o corpo no autismo permanece mudo, silencioso, carente de qualquer
gestualidade, mantém-se encapsulado e coisificado nessa única posição do mutismo.
Mutismo que não se produz por ter um problema na audição, mas porque o que olha e
escuta é o seu não lugar. Posição mortífera em que nenhum significado remete a outro, nem
ordena a linguagem. Tanto o corpo quanto as posturas, o tônus muscular, os movimentos, o
silêncio, o espaço e o tempo, estão numa relação de exclusão à linguagem. Não fazem
superfície, não fazem borda. Desse modo, o corpo da criança autista movimenta-se num
tempo eterno, infinitamente, sem pausa, num espaço sem limites, sem um lugar no qual
possa orientar, navegando no vazio próprio da coisa inerte.
Ferreira e Thompson (2002) mostram que as noções de tempo e espaço são as principais
bases do desenvolvimento motor, cognitivo e social da criança. Mas para que a organização
espaço/tempo se desenvolva, é necessário, antes de tudo, que as noções de esquema
corporal e imagem do corpo estejam integradas. Essa percepção do espaço depende de
dados sensoriais e de atitudes motoras. As alterações da percepção de espaço são, em
primeiro lugar, causadas pela dificuldade de compreender o espaço corporal e suas
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fronteiras. A gestualidade e os movimentos pouco adaptados, assim como a postura,
perturbam frequentemente a linguagem não-verbal da criança autista.
Na opinião desses autores, não deve ser esquecido que os autistas possuem seus próprios
desejos, preferências e personalidade, nem ignorar os outros aspectos do desenvolvimento.
A linguagem, sobretudo, é constituinte do sujeito, sendo base para a estruturação psíquica,
cognitiva e também psicomotora. Ao falar de corpo, o objetivo é ajudar a pessoa autista a
superar algumas de suas dificuldades, permitindo seu desenvolvimento em outros planos,
oferecendo novos meios de expressão, favorecendo a conscientização, possibilitando o
acesso a funções importantes como o olhar e o tocar, buscando melhorar sua qualidade de
vida.
Segundo Levin (2000), o esquema corporal é o que se pode dizer ou representar acerca do
próprio corpo. A representação que temos do mesmo é da ordem do evolutivo, do temporal.
Dentro do esquema corporal encontram-se as noções de proprioceptividade,
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interoceptividade e exteroceptividade. Na evolução psicomotora da criança, o esquema
corporal irá se construindo, ele é suscetível à mensuração e à comparação com outro; por
exemplo, nas medidas padronizadas em que a criança corresponde a cada idade, um peso,
uma altura, etc.
De acordo com Levin (2001), o estágio do espelho tem um papel essencial na constituição da
imagem corporal da criança. O gesto dela diante do espelho convoca ao olhar do outro que
confirma essa imagem própria. Esse gesto implica um movimento postural que, por um
instante, a descentra do espelho e a aliena mais uma vez enlaçando-a ao outro. A
transformação implícita, via identificação, o fascínio pela imagem especular determina
mudanças posturais e corporais que organizam a construção corporal a partir do espelho
virtual da criança.
Estudando essas reações da criança diante do espelho, Wallon (citado por Ferreira &
Thompson, 2002) destaca dois tempos importantes em sua psicogênese: a capacidade de
perceber a imagem e de relacioná-la a si próprio:
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reflexo no plano de espelho. Por exemplo, a descoberta da relação entre imagem e pessoa
real não se constitui por intermédio da imagem propriamente dita, mas do fato de estar a
criança acompanhada de alguém que, falando ao seu lado, possa criar uma transferência
entre pessoa real e imagem e, paradoxalmente, estabelecer, ao mesmo tempo, um vínculo
entre imagem e pessoa real. O caminho percorrido para a associação vai do gesto à
imagem.
Ferreira e Thompson (2002) falam que a imagem corporal é um conjunto de informações que
constituem um sujeito diante de si, do outro e do mundo. A construção da imagem passa
necessariamente pelo outro e pela cultura. O sujeito aprende a ver com os olhos dos outros.
Mas, para além do olhar, há muito mais. Há a linguagem inscrita na forma desses que olham
e que reconhecem o sujeito, lhe dão um rosto, um semblante, uma expressão. A imagem
passa pelos cuidados recebidos, pelo amor e desamor, pelas frustrações, privações e
castrações simbólicas.
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Considerações finais
É essencial ficar entendido que intervir num processo vivencial é intervir na totalidade
humana, seja essa intervenção através do olhar, do escutar, do tocar ou do falar. Provocar
alguma variação numa experiência é alterar a vivência global do indivíduo em sua forma de
ser e estar no mundo.
Pode-se dizer que uma das primeiras intervenções a que somos submetidos se dá através
do olhar. Alguém nos olha quando nascemos e nos diz quem somos. A partir desse momento
começamos a delinear nosso lugar no mundo, nossa identidade. O toque, o sorriso, o falar, o
olhar dos pais são de vital importância para o desenvolvimento emocional e intelectual da
criança. O desejo do outro vai marcar e influenciar seu próprio desejo.
Foi possível perceber que a criança autista não possui um corpo vivenciado. A sensação que
se tem é que o corpo é um objeto a parte, sem significação, sem importância. Existe uma
grande dificuldade por parte da criança em compreender seu corpo como um todo. Ela não
desenvolve de maneira adequada as noções de Esquema Corporal, o que tem diversas
implicações, como foi possível observar ao longo desse artigo. Para uma criança autista, o
corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo se ele não é bem estimulado e
compreendido. Por isso, é necessário que ele se torne um pólo de segurança e estabilidade.
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Posso inicialmente concluir, que umas das maneiras de auxiliar no tratamento do autismo é
por meio do corpo, tentando estabelecer uma relação entre o psíquico e o orgânico. A partir
de experiências sensório-motoras, ele poderá aumentar sua relação com o mundo,
inicialmente impossível pela dificuldade de entrar em contato com os outros, seja por meio do
toque ou por meio do olhar. Fica a proposta para num próximo estudo, buscar terapias que
utilizem o Corpo nessa intermediação corpo-mente, e verificar de que forma elas podem
contribuir para o tratamento de crianças autistas.
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U NIDADE 15
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
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Anorexia e Bulimia Nervosa
Anorexia nervosa
Os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros
psiquiátricos que afetam principalmente adolescentes e adultos jovens (embora uma procura
maior de crianças se faça notar recentemente) do sexo feminino, levando a grandes
prejuízos biopsicossociais com elevada morbidade e mortalidade (Doyle e Bryant-Waugh,
2000).
A anorexia nervosa caracteriza-se por perda de peso intensa à custa de dietas rígidas auto-
impostas em busca desenfreada da magreza, distorção da imagem corporal e amenorréia.
William Gull, no ano de 1874, descreve três pacientes com quadro anoréxico restritivo,
cunhando o termo “apepsia histérica”. O quadro clínico incluía emagrecimento, amenorréia,
bradicardia, baixa temperatura corporal, edema nos membros inferiores, obstipação e
cianose periférica (Abreu e Cordás, no prelo). Brunch (1962), nos anos 1960 e 1970, foi o
primeiro autor a mencionar a distorção da imagem corporal vista como um distúrbio da
paciente com anorexia nervosa na percepção de seu corpo.
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A partir de 1970, pacientes avaliadas clinicamente demonstravam um receio exagerado de
ganhar peso, sendo este o primeiro passo para incorporar o “medo mórbido de engordar”
como característica psicopatológica da anorexia nervosa, juntamente com o emagrecimento,
a distorção da imagem corporal e a amenorréia (Russell, 1970).
Bulimia nervosa
A bulimia nervosa (BN), por sua vez, caracteriza-se por grande ingestão de alimentos de
uma maneira muito rápida e com a sensação de perda de controle, os chamados episódios
bulímicos. Estes são acompanhados de métodos compensatórios inadequados para o
controle de peso, como vômitos auto-induzidos (em mais de 90% dos casos), uso de
medicamentos (diuréticos,
A descrição de BN, tal como a conhecemos hoje, foi elaborada por Russell em 1979, quando
descreveu trinta pacientes com peso normal, pavor de engordar,
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Fairburn (1991) e outros autores, entre eles o próprio Russell, descreveram posteriormente o
caráter autônomo do quadro, uma vez que apenas de 20% a 30% das pacientes bulímicas
apresentaram uma história pregressa de anorexia nervosa, em geral de curta duração.
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U NIDADE 16
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Conceito e diagnóstico12
O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um
estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias)
doença(s).
essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do
retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de
alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. As reações
de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam- se
pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude. As
reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser
diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa
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Professor Titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
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usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando
devidamente estimulada. Não se observa, no luto, a inibição
Descrição clínica
As descrições feitas por Kraepelin, dos estados depressivos e maníacos, na oitava edição de
seu tratado, são insuperáveis pela clareza e precisão. Felizmente encontra-se disponível
uma reedição recente desse trabalho, em tradução inglesa, o que torna sua leitura mais
facilmente acessível. De muito interesse é o artigo clássico de Falret, sobre a “folie
circulaire”, marco na história da doença maníaco-depressiva, datado de 1854 e recentemente
republicado pelo American Journal of Psychiatry, com comentários de Marc Sedler.
Igualmente interessantes são as descrições de Bleuler, em seu Tratado de Psiquiatria
(atualizado por Manfred Bleuler), que conta com traduções em espanhol e mesmo em
português.
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Aspectos gerais
Embora a característica mais típica dos estados depressivos seja a proeminência dos
sentimentos de tristeza ou vazio, nem todos os pacientes relatam a sensação subjetiva de
tristeza. Muitos referem, sobretudo, a perda da capacidade de experimentar prazer nas
atividades em geral e a redução do interesse pelo ambiente. Freqüentemente associa-se à
sensação de fadiga ou perda de energia, caracterizada pela queixa de cansaço exagerado.
Alguns autores enfatizam a importância das alterações psicomotoras, em particular
referindo-se à lentificação ou retardo psicomotor. Este tópico será abordado mais
detidamente no item referente à conceituação da “melancolia”. No diagnóstico da depressão
levam-se em conta: sintomas psíquicos; fisiológicos; e evidências comportamentais.
Sintomas psíquicos
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matar (estabelecendo o modo, o momento e o lugar para o ato). Os pensamentos relativos à
morte devem ser sistematicamente investigados uma vez que essa conduta poderá prevenir
atos suicidas, dando ensejo ao doente de se expressar a respeito.
• Fadiga ou sensação de perda de energia. A pessoa pode relatar fadiga persistente, mesmo
sem esforço físico, e as tarefas mais leves parecem exigir esforço substancial. Lentifica-se o
tempo para a execução das tarefas.
Sintomas fisiológicos
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• alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também
aumento do apetite). Muitas vezes a pessoa precisa esforçar-se para comer, ou ser ajudada
por terceiros a se alimentar. As crianças podem, pela inapetência, não ter o esperado ganho
de peso no tempo correspondente. Algumas formas específicas de depressão são
acompanhadas de aumento do apetite, que se mostra caracteristicamente aguçado por
carboidratos e doces.
Evidências comportamentais
• retraimento social
• crises de choro
• comportamentos suicidas
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está freqüentemente associada. Em idosos, principalmente, as queixas de caráter
hipocondríaco costumam ser muito comuns.
Características melancólicas
O termo “melancolia” tem sido empregado, nas atuais classificações (como o DSM IV), para
designar o subtipo anteriormente chamado de “endógeno”, “vital”, “biológico”, “somático” ou
“endogenomorfo” de depressão. Considerado por muitos como o “protótipo” ou síndrome
nuclear das depressões, a melancolia – ao contrário de outras formas de depressão – parece
constituir-se em um grupo mais homogêneo, que responde melhor a tratamentos biológicos,
e para o qual os fatores genéticos seriam os principais determinantes. Parker e cols.
chamam a atenção para a importância das alterações psicomotoras na melancolia, para eles
a principal característica desse quadro nosológico. O conceito de melancolia no DSM-IV foi
revisto, em relação ao do DSM-III-R, tornando-se mais preciso e definindo com mais rigor no
subgrupo aqui estudado. Testes biológicos, como, por exemplo, o teste da supressão do
cortisol pela dexametasona, são mais freqüentemente positivos nos quadros melancólicos do
que em outros tipos de depressão.
Características psicóticas
Cumpre lembrar que o termo “psicótico”, origem de tantas controvérsias em psiquiatria, tem
três significados distintos:
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Significado meramente descritivo, quando designa, por exemplo, quadros psiquiátricos onde
ocorrem alucinações e delírios; 2. significado etiológico, quando designa quadros endógenos
(determinados por tendências constitucionais do indivíduo), em contraposição àqueles
determinados por fatores psicogênicos; e 3. significado que alude à gravidade (ou
intensidade) do quadro. As atuais classificações, fugindo de preconceitos etiológicos, utilizam
o termo psicótico apenas em sentido descritivo. Assim, a expressão designa, nesse contexto,
aquelas formas de depressão onde ocorrem delírios e alucinações. Admite-se que essas
formas cheguem a 15% dos quadros depressivos.
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humor associam-se a um pior prognóstico, avizinhando-se, não raramente, dos estados ditos
“esquizoafetivos”.
Depressões catatônicas
Diz-se que uma depressão tem características catatônicas quando o quadro clínico se
caracteriza por intensas alterações da psicomotricidade, entre as quais: imobilidade quase
completa, atividade motora excessiva, negativismo extremo, mutismo, estereotipias, ecolalia
ou ecopraxia, obediência ou imitação automática. A imobilidade motora pode se apresentar
como estupor (o chamado “estupor melancólico”) ou ainda por catalepsia (flexibilidade
cérea). Impõe-se aqui o diagnóstico diferencial cuidadoso, com a catatonia induzida por
condição médica geral (por exemplo, encefalopatia hepática), por drogas ou medicamentos,
e com a esquizofrenia catatônica. Cumpre notar que, nos tempos atuais, é muito raro
encontrar-se um verdadeiro “estupor melancólico”. As facilidades de diagnóstico e de
tratamento quase sempre impedem a progressão a essas formas mais graves, que ainda em
passado recente (particularmente antes da introdução do eletrochoque) ameaçavam a vida
dos pacientes. Em pessoas jovens, o aparecimento de acentuada lentificação psicomotora e
de formas sutis de estupor é quase sempre indicativo de doença bipolar, que freqüentemente
acabará se manifestando mais tarde através de fases maníacas.
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Depressões crônicas (distimias)
Depressões atípicas
por: reatividade do humor, sensação de fadiga acentuada e “peso” nos membros, e sintomas
vegetativos “reversos” (opostos aos da depressão melancólica), como aumento de peso e do
apetite, em particular por carboidratos e hipersonia. Além disso, descreve-se como
característica constante das pessoas sujeitas a esse tipo de depressão um padrão
persistente de extrema sensibilidade à percepção do que consideram como rejeição por
parte de outras pessoas. Episódios com características “atípicas” são mais comuns nos
transtornos bipolares (I e II), no transtorno depressivo com padrão sazonal.
Sazonalidade
Especialmente no hemisfério norte, onde as estações do ano são bem definidas, verifica-se
com clareza que algumas formas de depressão acentuam-se ou são precipitadas de acordo
com um padrão sazonal; mais comumente as depressões desse tipo ocorrem no outono e no
inverno. Muitos
desses pacientes têm fases hipomaníacas na primavera, sendo classificados como do tipo
bipolar II (depressões maiores e hipomania). Freqüentemente esses pacientes apresentam
algumas características sobrepostas às da “depressão atípica”: fadiga excessiva, aumento
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do apetite (em particular por carboidratos) e hipersonolência. O DSM-IV inclui o “padrão
sazonal” como um especificador do tipo de depressão estudada.
O transtorno afetivo bipolar pode ser classificado, de acordo com o tipo do episódio atual, em
hipomaníaco, maníaco ou depressivo. Os episódios maníacos são subdivididos de acordo
com a presença ou ausência de sintomas psicóticos. Os episódios depressivos são
classificados de acordo com as regras descritas em F32. O transtorno afetivo bipolar inclui
ainda os episódios mistos (F31.6).
O episódio depressivo pode ser, quanto à intensidade, classificado como: leve, moderado ou
grave. Os episódios leves emoderados podem ser classificados de acordo com a presença
ou ausência de sintomas somáticos. Os episódios depressivos graves são subdivididos de
acordo com a presença ou ausência de sintomas psicóticos.
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DSM-IV
Transtornos depressivos:
• 300.4 - Transtorno distímico, que pode ser especificado de acordo com o tipo de início
(precoce ou tardio), e de acordo com a presença ou ausência de características atípicas.
Transtornos bipolares:
O transtorno bipolar I inclui a ocorrência de episódio maníaco único. O DSM IV pede que se
especifique o tipo do episódio mais recente: hipomaníaco, maníaco, depressivo, misto, ou
inespecificado.
• ___.__ - Transtorno do humor induzido por substâncias (referir os códigos específicos para
cada substância).
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O DSM IV fornece ainda, em seu apêndice B, conjuntos de critérios para estudos adicionais.
No que concernem os transtornos do humor, devem ser lembrados: transtorno depressivo
menor, transtorno depressivo breve recorrente, transtorno misto de ansiedade-depressão e
transtorno da personalidade depressiva.
de “Transtorno Depressivo Maior”, de acordo com o DSM-IV, basta que a pessoa apresente
“humor deprimido ou perda de interesse ou prazer, durante um período de duas semanas”,
mais quatro sintomas de uma lista de nove (ou mais três sintomas, se os dois primeiros
estiverem presentes). Assim, por exemplo, se uma moça que brigou com o namorado
apresentar tristeza e perda de energia por 15 dias, além de mais três sintomas, como
insônia, perda de energia e capacidade diminuída de se concentrar, terá preenchido critérios
para “Transtorno Depressivo Maior”. Um conceito tão amplo certamente não contribui para
que se testem hipóteses sobre a etiologia das depressões, resposta a tratamentos
biológicos, etc. Não serve tampouco para auxiliar na decisão de se medicar ou não a pessoa
que preencha tais critérios. Já o conceito de melancolia é muito mais preciso e, por essa
razão, tem maior valor preditivo quanto, por exemplo, à resposta terapêutica a
antidepressivos e ao eletrochoque.
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Depressão e o espectro dos transtornos bipolares
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com estabilizadores do humor. De fato, muitos dos pacientes chamados “esquizoafetivos”
concentram-se em famílias de pessoas com quadros afetivos bipolares típicos.
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outras drogas ocorrem como “complicação” das doenças do espectro bipolar, pela freqüência
com que essas substâncias são usadas como autotratamento.
Os limites da depressão
A distinção entre um transtorno psiquiátrico propriamente dito (eixo I do DSM-IV) frente aos
transtornos da personalidade (eixo II) reveste-se da maior importância, por suas
conseqüências práticas e teóricas. Considerada portadora de uma “doença”, a pessoa passa
a merecer considerações diagnósticas, tratamento, e cuidados sociais. Rotulada como
portadora de um “distúrbio da personalidade”, a pessoa passa muitas vezes a ser alvo do
nihilismo terapêutico e vítima de preconceitos morais. “Na melhor das hipóteses, passa a ser
vista simplesmente como “uma pessoa bizarra”, acautelando-se os demais frente às suas
“atuações” e “manipulações”, principalmente se o diagnóstico for de um dos seguintes
transtornos: borderline, anti-social, narcísico e histriônico. Segundo Akiskal,14 cerca da
metade a dois terços dos pacientes classificados como “borderline” pertenceriam ao grupo
das doenças do humor (afetivas), sendo, em sua maioria, integrantes do “espectro bipolar”.
Muitos desses pacientes caracterizam-se por ter uma biografia assaz tumultuada, cujo traço
mais estável é a instabilidade nas relações afetivas, no trabalho, e na vida em geral.
Freqüentemente, essas pessoas passam da “calmaria” afetiva à “tempestade” das
automutilações e das tentativas de suicídio. O abuso e a dependência de drogas
freqüentemente se associam ao quadro.
O diagnóstico dos estados depressivos deve levar em conta, antes de mais nada, se os
sintomas depressivos são primários ou secundários a doenças físicas e/ou ao uso de drogas
e medicamentos. O DSM IV contém o item 293.83 - Transtorno do humor devido a uma
condição médica geral para descrever esses casos. O DSM IV traz também critérios para o
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diagnóstico de Transtorno do humor induzido por substância. A tabela 1 enumera alguns
agentes farmacológicos e doenças físicas associadas ao desencadeamento de estados
depressivos. No campo da nosologia psiquiátrica, além dos transtornos da personalidade (já
abordados) devem-se levar em conta, entre outros, os seguintes diagnósticos diferenciais:
transtornos de ansiedade; alcoolismo e outras farmacodependências; transtornos
esquizofrênicos, quadros esquizofreniformes e a chamada doença esquizo-afetiva; quadros
demenciais.
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U NIDADE 17
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia.
Apesar de ainda não ter sido elucidadas as reais causas das fobias, sabe-se que existe aí
um componente genético, visto que mais de 70% das pessoas fóbicas possuem parentes
com este mesmo problema. Exposição a situações semelhantes às que provocam medo,
repressão sofrida no passado, dentre outros fatores, também podem estar relacionados. As
manifestações da doença geralmente têm início na infância, e devem ser tratadas, já que
tendem a se agravar com o passar dos anos; e causam situações de desconforto à pessoa,
podendo interferir em suas relações sociais.
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U NIDADE 18
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Os estudos iniciais de Freud sobre as neuroses ficaram marcados pela distinção que ele
fazia entre as chamadas neuroses atuais e as psiconeuroses. Ocorre que, aos poucos, o
conceito de neurose atual foi deixando de aparecer em seus trabalhos, como que sendo
colocado à parte do campo propriamente psicanalítico. No entanto, é interessante observar-
se, hoje em dia, como muitos dos aspectos por ele descritos como peculiares às neuroses
atuais podem se articular com aquilo que se compreende atualmente como campo da
psicossomática.
A expressão “neurose atual” apareceu na obra de Freud, pela primeira vez, no artigo A
sexualidade na etiologia das neuroses, de 1898. Neste trabalho, ele afirmava que a principal
causa atuante na origem de toda neurose repousa sobre a vida sexual do paciente,
afirmação que viria a constituir-se como pedra fundamental para toda a estruturação da
psicanálise. Mas Freud alertava para o fato de que o papel desempenhado pela sexualidade
pode ser bastante diferente de acordo com o caso. Deste modo, aparecia, neste artigo, a
necessidade de se classificarem os casos de neurose - a partir do diagnóstico feito com base
em um cuidadoso exame da sintomatologia - em dois grandes grupos: o da neurastenia e o
da psiconeurose (histeria e obsessões), existindo ainda a ocorrência, muito frequente, de
casos em que os sintomas de ambos os grupos aparecem combinados.
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Nos casos de neurastenia, era possível, segundo Freud, chegar-se, a partir da anamnese, à
descoberta do fator etiológico, presente na vida sexual do paciente, que teria dado origem à
doença. Isto porque este fato deveria fazer parte de sua vida atual ou do período posterior à
maturidade sexual. Já nas psiconeuroses, constatou Freud, uma anamnese deste tipo não
traria resultados. Embora o fator etiológico certamente se encontrasse vinculado à vida
sexual, o paciente não seria capaz de conhecer tal vinculação:
“Por um curioso trajeto circular (...) é possível chegar a um conhecimento dessa etiologia e
compreender porque o paciente foi incapaz de falar-nos qualquer coisa a respeito. Pois os
eventos e influências que estão na raiz de toda psiconeurose pertencem não ao momento
presente, mas a uma época de vida há muito passada, que é como se fosse uma época pré
histórica - à época da infância inicial; e eis porque o paciente nada sabe deles. Ele os
esqueceu - embora apenas em um certo sentido.” (Freud, 1898, p.293-4).
Esta passagem deixa nítido o fato de que Freud já condensava aí toda uma teoria das
psiconeuroses que ainda estava por ser desenvolvida em detalhes, mas cujos pilares - a
sexualidade infantil e o recalque - estavam construídos.
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Deste modo, o que delimitaria o domínio das chamadas neuroses atuais não seria apenas
esta peculiar relação de temporalidade. Seriam também as características somáticas da
sintomatologia. É assim que, na neurastenia, podiam ser encontrados sintomas tais como:
“pressão intracraniana, inclinação à fadiga, dispepsia, constipação, irritação espinhal, etc”.
Em um outro sub-grupo das neuroses atuais, o das chamadas neuroses de angústia, este
tipo de sintomatologia teria menos importância; os traços sintomatológicos proeminentes
estariam todos gravitando em torno do “sintoma nuclear” da angústia, e seriam: “sobressalto,
inquietude, ansiedade expectante, ataques de angústia completos, rudimentares ou
suplementares, vertigem locomotora, agorafobia, insônia, maior sensibilidade à dor, etc.”
Sobre os critérios para destacar da neurastenia uma síndrome particular intitulada ‘neurose
de angústia’, no qual descrevia esta nova possibilidade diagnóstica, caracterizando seus
sintomas como “manifestações imediatas da angústia ou como rudimentos equivalentes dela”
(Freud, 1897, p.277).
É por isso que, nesta neurose, predomina um tipo de angústia sem objeto nítido, tendo os
fatores atuais um papel relevante na sua etiologia, tal como se dá nos casos hoje em dia
classificados como síndrome do pânico. Para Dejours (1988), a somatização é um processo
que está na continuidade da neurose de angústia: “para os especialistas em psicossomática
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também é hábito dar muita atenção à descompensação que representa a neurose de
angústia, pelo que ameaça prefigurar para o futuro na ordem das somatizações” (p.126).
De acordo com Freud, a diferença entre neurastenia e neurose de angústia não residia
apenas na sintomatologia, mas seria resultante de uma etiologia diversa: “a neurastenia pode
ser sempre reportada a um estado do sistema nervoso, tal como adquirido por masturbação
excessiva ou tal como procedente espontaneamente de emissões frequentes; a neurose de
angústia revela influências sexuais que têm em comum o fator da continência ou da
satisfação incompleta - tal como o coito interrompido, a abstinência juntamente a uma libido
viva, a chamada excitação não consumada e outros.” (Freud, 1898, p.294).
No artigo Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (Freud, 1908), esta distinção
voltou a aparecer. Fazendo, de modo bastante veemente, uma crítica ao papel repressor da
civilização sobre a vida sexual, e responsabilizando-a pela causação das neuroses e da
infelicidade em geral do homem, Freud reiterou a incidência do sintoma sobre o plano
somático nas neuroses atuais e comparou-o aos sintomas de natureza tóxica que resultariam
do excesso ou da escassez de certos “tóxicos nervosos”.
Mais tarde, no artigo sobre o narcisismo, Freud (1914) dá mostras de que não havia
sepultado o conceito de neurose atual, que já então passara a ser pouco mencionado, visto
que seu interesse dirigia-se à investigação das psiconeuroses ou, já nesta época, neuroses
de transferência. Neste artigo, ele introduziu uma terceira modalidade da neurose atual, a
saber, a hipocondria. A partir de uma correspondência termo a termo entre as duas primeiras
modalidades das neuroses atuais (neurastenia e neurose de angústia) com as neuroses de
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transferência, a hipocondria veio a se corresponder com a parafrenia (ou psiconeurose
narcísica, designação inicial para a psicose). Assim, a hipocondria seria uma “neurose atual
da parafrenia”; ou, dito de outra forma, a hipocondria estaria para a parafrenia assim como a
neurastenia e a neurose de angústia estavam para a psiconeurose.
Pois bem. Ainda que mantida por Freud a distinção entre as psiconeuroses e as neuroses
atuais, o que se verificou no desenvolvimento ulterior da psicanálise foi um progressivo
abandono desta nosografia, devido à ênfase que se deu sobre o papel do recalque e da
sexualidade infantil na constituição do campo propriamente psicanalítico. A idéia de neurose
atual, sobre a qual Freud dispendeu tantos esforços, foi, silenciosamente, perdendo sua
importância e caindo, pouco a pouco, no abandono.
Ocorre, porém, que alguns dos insights freudianos a respeito das peculiaridades das
neuroses atuais podem, hoje em dia, ser considerados de alta importância teórica. Entre
elas, destaca-se a afirmação da sintomatologia somática - em oposição à sintomatologia
psíquica das psiconeuroses - e a especificidade da relação de temporalidade entre sintoma e
causa precipitante. Laplanche & Pontalis (1967), tratando da perda de força do conceito de
neurose atual dentro do sistema psicanalítico de Freud, apontam para o fato de que esta
antiga noção “leva diretamente às concepções modernas sobre as afecções
psicossomáticas” (p.384). Estes autores criticam ainda aquilo que pode ter sido uma espécie
de ponto de opacidade na visão de Freud sobre as neuroses atuais: ele teria insistido
sobremaneira no fator etiológico da não-satisfação das pulsões sexuais. De fato, esta foi uma
tecla na qual Freud bateu insistentemente em todos os trabalhos mencionados acima. Isto
limitou o alcance de seu conceito, contrastando com uma intuição extremamente aguçada
que o fez, por outro lado, enfatizar a sintomatologia somática correlata a uma outra relação
de temporalidade, não mediatizada pelo mecanismo do recalcamento. O que Freud entreviu
foi o fato de que o sintoma psicossomático não se constituía como um retorno do recalcado -
da sexualidade infantil recalcada - nos moldes da psiconeurose. Aí encontramos um ponto de
partida na teoria freudiana para todo o campo de estudos da psicossomática que veio a se
consolidar posteriormente na França, a partir dos anos 70, dentro da Escola Psicossomática
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de Paris, que teve na figura de P. Marty seu grande expoente, ao lado M. de M’Uzan e M.
Fain, entre outros.
Mas, voltando à crítica de Laplanche & Pontalis (1967), faltou, para Freud, “tomar em conta,
na gênese dos sintomas neuróticos atuais e psicossomáticos, a repressão da agressividade.”
(p.384). A psicossomática contemporânea, no entanto, tem procurado preencher esta lacuna
teórica, ao apontar para o papel da “violência instintiva” (Dejours, 1988) dirigida ao soma nos
quadros de descompensação, de modo que, ao produzir um sintoma somático, o sujeito
pode manter-se particularmente “normal” do ponto de vista psíquico. É deste modo que, ao
traçar um quadro nosográfico para a neurose, incorporando as variações históricas que
foram se processando, Laplanche e Pontalis (1967) chegaram mesmo a propor que as
neuroses atuais fossem classificadas contemporaneamente com afecções psicossomáticas.
Em um breve levantamento, pode-se dizer que Freud enfatizou, no caso das neuroses
atuais, aspectos tais como: a sintomatologia somática; o caráter atual do fator etiológico; a
não-satisfação da libido como causa precipitante do sintoma; e a transformação direta da
causa em sintoma, sem a mediatização simbólica do recalque.
Todos este fatores, pode-se dizer, merecem ser levados em consideração à luz de uma
teoria psicossomática contemporânea, desde que cuidadosamente submetidos a uma nova
leitura e rearranjados os rumos que assumiram dentro do sistema psicanalítico
exclusivamente freudiano.
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(1967), “o trabalho realizado pelo aparelho psíquico com o fim de dominar as excitações que
chegam até ele e cuja acumulação ameaça ser patogênica. Este trabalho consiste em
integrar as excitações no psiquismo e em estabelecer entre elas conexões associativas”
(p.196).
Ora, isto é exatamente o que acontece de forma deficiente nos processos que conduzem à
somatização. Vejamos como dois psicanalistas atentos à questão da psicossomática - Pierre
Marty e Joyce McDougall - procuraram dar conta desta impossibilidade de elaboração
psíquica.
Marty (1991) utilizou o conceito de mentalização como sendo uma espécie de medida das
dimensões do aparelho psíquico, que concernem “à quantidade e à qualidade das
representações psíquicas dos indivíduos” (p.11). Pode-se dizer, grosso modo, que, para ele,
uma boa mentalização protege o corpo das descargas de excitação, à medida que esta
encontra abrigo nas representações existentes no préconsciente. Um grau pobre de
mentalização, ao contrário, deixa o corpo biológico desprotegido, entregue a uma linguagem
primitiva basicamente somática. As representações psíquicas, bases da vida mental, são
responsáveis pela existência das fantasias e dos sonhos, longas vias associativas que
permitem o escoamento das excitações, dando-lhes um substrato propriamente psíquico.
Nos processos de somatização pode-se falar, então, em insuficiência ou indisponibilidade
das representações pré-conscientes.
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porém totalmente destituído de afetos. A palavra, neste caso não oferece mais proteção
contra a excitação.
Trata-se, aqui, de algo que vai na mesma linha do que Marty & M’Uzan (1994) designaram
como pensamento operatório, para eles um pensamento consciente que “manifesta-se sem
vínculo orgânico com uma atividade fantasmática de nível apreciável e reproduz e ilustra a
ação, por vezes a precede ou sucede, mas dentro de um campo temporal limitado” (p.165-6).
O caráter atual do fator etiológico é um ponto bastante complexo, que introduz algumas
dificuldades na articulação entre as neuroses atuais e as afecções psicossomáticas.
Lembremos que, para Freud, a etiologia da neurose atual reside na vida sexual presente, em
oposição à sexualidade infantil da McDougall (1991), fazendo uma consideração sobre a
etiologia da desafetação, afirma ter encontrado na anamnese destes pacientes referências a
um “discurso familiar que preconizava um ideal de inafetividade e condenava qualquer
experiência imaginativa” (p.116).
Talvez seja necessário, aqui, para que tenhamos uma maior clareza sobre este intrincado
paralelo, uma separação entre temporalidade e sexualidade. De fato, no caso da
psiconeurose, trata-se do sexual infantil, ou, de outra forma, do sexual e infantil, atualizados
no sintoma por uma especial relação que Laplanche (1992) explorou em seus estudos sobre
a re-significação a posteriori do trauma, recapitulando um pressuposto básico da teoria das
neuroses de Freud já claramente exposta no artigo “Novos comentários sobre as
neuropsicoses de defesa” (Freud, 1896).
Para Laplanche (1992), a teoria do a posteriori ou do trauma em dois tempos postula que
“nada se inscreve no inconsciente humano, a não ser na relação de ao menos dois
acontecimentos, separados, no tempo, por um momento de mutação que permite ao sujeito
reagir de outra forma do que na primeira experiência, ou, melhor, reagir à lembrança da
primeira experiência de outra forma do que ragiu à própria experiência” (p.119-20).
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insistência de Freud sobre a não-satisfação das pulsões sexuais na etiologia das neuroses
atuais. Aqui, acredito, devemos recorrer a uma distinção, possível apenas na psicanálise
pós-freudiana, sobre a gênese sexual da neurose em contraposição à gênese não sexual de
outras patologias mais regressivas, quando se colocam em relevo experiências primordiais
relativas à sobrevivência, tal como Winnicott (1954) demonstrou existirem na origem das
perturbações não neuróticas graves, como é o caso dos pacientes limítrofes, dos psicóticos e
dos somatizadores.
Deste modo, a pesquisa em psicossomática acabou por dirigir-se para o campo das relações
mãe-bebê, aí encontrando o solo de perturbações que teriam decorrências sobre a
estruturação das defesas específicas que colocariam o somatizador em um terreno bastante
diferente daquele do neurótico.
Trata-se de um vastíssimo campo de investigação, que não caberia detalhar neste espaço.
Apenas como demonstração, poderíamos nos remeter a McDougall (1991) e sua idéia de
que, no caso do somatizador, a experiência clínica conduz à hipótese de uma falha da mãe
como função de páraexcitação do bebê, o que constitui um traumatismo vivenciado na
primeira infância, antes mesmo da aquisição da palavra. O bebê, assolado por sua angústia,
não encontra encorajamento para, pouco a pouco, poder vivenciá-la psquicamente, e com
isto caminhar no sentido de uma elaboração progressiva.
Neste caso sobrevém, de partida, uma insuficiência constitutiva das representações mentais.
Provavelmente, o contato da mãe com este bebê encontra-se marcado por uma desarmonia
afetiva – no sentido da carência ou do excesso - muitas vezes verificadas em casos onde a
própria mãe sofra de um doença somática ou se encontre deprimida ou excitada, indiferente
ou excessivamente diretiva; enfim, quando se encontra, por algum motivo, impossibilidade de
exercer seu papel materno satisfatoriamente.
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A modalidade das experiências precoces, de acordo com o que se disse acima, coloca a
somatização grave em uma vasta área nosológica que abriga diferentes diagnósticos
psíquicos tais como a psicose, as adicções mais diversas e as neuroses de comportamento,
todos situados em um campo diverso da psiconeurose.
Sob um outro ângulo, pode-se verificar uma relação interessante entre sintoma e
temporalidade em psicossomática: trata-se do papel preponderante dos fatos atuais sobre o
desencadeamento das crises. Como lembra Santos Filho (1994),
“desde Franz Alexander aos modernos autores norte-americanos e franceses está presente
na manifestação psicossomática um acontecimento, uma cena da realidade, um fato, uma
mudança nas relações com as pessoas e/ou com o ambiente, mais que uma representação
ou cena imaginária, ou fantasia, como fator gerador ou desencadeante. Há uma outra via,
que parte da “realidade” para o corpo. Esta a via biológica, na qual o próprio funcionamento
humoral e nervoso autônomo impõe-se ao sujeito, sem expectativa ou pedido de
decodificação” (p.115).
Portanto, é possível pensar que Freud deu-se conta da importância do fator atual nas
neuroses atuais, mas circunscreveu-o à insatisfação da libido na vida pós-puberal. Já a
pesquisa contemporânea pôs em relevo o infantil, ainda que não o sexual. A não-satisfação
da libido como causa precipitante da neurose atual, como Freud apontava, já foi objeto de
discussão acima. Vista de modo estrito, esta forma de causalidade parece frágil, como já
observaram Laplanche & Pontalis (1967), ao apontarem a omissão, por parte de Freud, do
papel da repressão da agressividade. De acordo com Marty (1991), a repressão da
agressividade, face a situações em que esta encontra uma fonte que a excite - apoia-se em
interdições sociais ou parentais interiorizadas, mas não elaboradas.
Neste caso, o sujeito pode suprimir a descarga motora substituindo-a por comportamentos
que fazem parte de seu acervo de hábitos: de modo geral, seriam atividades físicas ou então
sublimadas. Dejours (1988), por seu turno, chamou a atenção para a “violência da pulsão”,
que seria um dado a ela inerente, tendendo a ser descarregada a partir do inconsciente
primário ou não representado.
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Podemos afirmar, contudo, que Freud percebia um evento contemporâneo que marcava o
desencadeamento da neurose atual, colocando a não-satisfação da libido neste lugar
etiológico. Hoje em dia, no entanto, é possível ampliar esta noção - que em Freud se
restringia a uma única espécie de neurose.
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alastrar de modo a atingir mais e mais representações ligadas afetivamente às precedentes.
Marty (1991) frisa que não está em questão, na gênese do sintoma somático, o mecanismo
do recalque, pois tal espécie de sintoma não tem a característica de retorno do racalcado: no
caso da repressão, a representação pode aparecer intacta em alguns momentos - sem a
deformação sofrida pelo recalcado quando este retorna – para desaparecer novamente em
seguida. O recalcamento, se por um lado torna inconsciente o conflito, por outro produz
formações - o sonho, por excelência - que “permitem colocar progressivamente em dia a
história infantil do sujeito, deixando aparecer os complexos que dele resultaram (castração e
Édipo, por exemplo)” (p.37).
De fato, o mecanismo de defesa que originalmente deve ter sido estabelecido no caso da
propensão à somatização em tudo diverge do recalcamento. Como já se viu, não é possível
de se encontrar uma via de escoamento da excitação através da palavra, visto que o
discurso se apresenta desafetado ou operatório. A descarga só pode se dar mediante o ato.
Esta idéia, aliás, parece já presente em Freud (1913), que, embora tratando de uma situação
diferente da que tratamos aqui, finalizou seu livro Totem e tabu fazendo uma comparação
entre os povos primitivos e os neuróticos, para concluir que, nos neuróticos, “o pensamento
constitui um substituto completo do ato”. E dá um fecho solene a seu trabalho proclamando
que “no princípio foi o ato” (p.191).
Como um assinalamento final, cabe fazer uma observação a respeito das relações entre a
psicanálise e a psicossomática. Ao chamar a atenção para o papel de mecanismos diversos
do recalque na determinação de um sintoma psicossomático, funda-se um novo campo de
estudo e de trabalho psicoterapêutico que se assenta, contudo, sobre as bases
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metapsicológicas psicanalíticas. A noção de mentalização não pertence, obviamente, à
metapsicologia freudiana, tendo surgido apenas no início da década de 70. No entanto, este
conceito não poderia ter existido jamais se não fosse a partir do modelo de funcionamento
mental proposto por Freud, particularmente na chamada primeira tópica. Além disso, como
procurei demonstrar neste artigo, a articulação entre as neuroses atuais e as afecções
psicossomáticas salta aos olhos: a oposição percebida por Freud entre os sintomas somático
e psíquico corresponde, em grande parte, ao que diferenciamos hoje como sintoma neurótico
e sintoma psicossomático.
Se o leitor estranha estas colocações tão óbvias, cabe justificá-las dizendo que se percebem,
algumas vezes, resistências no seio da psicanálise contra certas idéias nascidas na pesquisa
em psicossomática. O mesmo é válido para alguns “psicossomaticistas” que enxergam nas
descobertas e postulações de seu campo uma incompatibilidade com a psicanálise. A meu
ver, trata-se, em ambos os casos, apenas de exacerbações idiossincráticas, pois, quando se
examinam as construções teóricas da psicossomática psicanalítica, ficam evidentes os fatos
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de que aí se encontra uma importante ampliação para nosso horizonte, bem como de que o
solo metapsicológico onde repousam seus alicerces é eminentemente freudiano.
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U NIDADE 19
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prática em psicologia
Glasberg et al. apresentam, nesta revista, o artigo “Prevalence of the burnout syndrome
among Brazilian medical oncologists”. Trata-se da publicação do resultado de uma pesquisa
realizada com oncologistas, com o intuito de detectar a prevalência do burnout por meio do
Maslach Burnout Inventory e as variáveis que se relacionam com a sua presença,
investigadas por meio de um questionário. Utilizando o rigoroso critério de interpretação dos
resultados (Ramirez), concluíram que 7,8% desses médicos apresentam a síndrome e que
aqueles que possuem um hobby, que realizam atividades físicas, que têm mais idade e que
seguem alguma religião possuem menos risco de desenvolver a síndrome. Utilizando um
critério mais flexível (Grunfeld), a prevalência subiu para 68,6%, sendo que indivíduos
casados, com pouco tempo de férias, sem hobby e sem atividade física correm maior risco
de desenvolver a síndrome. Trata-se de um artigo bem escrito e bem elaborado, importante
por chamar a atenção para as condições de trabalho dos oncologistas, submetidos a grandes
pressões no seu dia-a-dia. É questionável, porém, a utilização de critérios de análise que
levam a uma discrepância tão grande dos resultados (mais de 60%). Talvez fosse melhor
utilizar apenas o critério de Ramirez, que considera que a síndrome só deve ser reconhecida
se houver comprometimento nas três dimensões avaliadas para o diagnóstico: exaustão
emocional, despersonalização e comprometimento da realização pessoal. Criado na década
de 70 por Maslach, o conceito de Burnout, apesar de algumas críticas iniciais, foi
rapidamente aceito e tem sido tema de inúmeros artigos científicos, livros e de
apresentações em congressos de psicologia, psiquiatria e educação médica. Tornou-se,
assim, um conceito praticamente inquestionável. Porém, ao examinarmos atentamente suas
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três dimensões básicas, observa-se que todos os sintomas descritos, sem exceção, estão
presentes na depressão. Por exemplo, na dimensão exaustão emocional o indivíduo sente-
se esgotado e com a sensação de que não será possível recuperar sua energia, torna-se
irritável e amargo, pouco generoso, sente-se menos capacitado a cuidar dos outros e torna-
se pessimista; na despersonalização há um distanciamento emocional e uma indiferença
diante do sofrimento alheio, com uma perda da capacidade de empatia, o que faz com que o
paciente seja tratado como um objeto (há, aqui, uma distorção do clássico conceito de
despersonalização utilizado há décadas pela psiquiatria); na dimensão comprometimento da
realização pessoal o indivíduo sente-se impotente, frustrado, infeliz e com baixa auto-estima.
A psicopatologia nos ensina que o diagnóstico psiquiátrico não é feito pela descrição de uma
lista de sintomas, algo que está tão em voga nos dias de hoje, nas inúmeras escalas
diagnósticas, mas sim pela observação fenomenológica criteriosa que propicia a detecção de
elementos que, juntos, nos permitem reconhecer uma determinada patologia. Para isso, é
necessária grande experiência clínica, algo que também não tem sido valorizado como
deveria. O fato de o trabalho ser o fator desencadeante não justifica a criação de um novo
conceito. Caso contrário, a cada fator desencadeante descoberto, um novo diagnóstico seria
criado, o que tornaria a classificação psiquiátrica um verdadeiro caos. A meu ver, Maslach
era uma ótima observadora, pois percebeu com clareza o que se passava com muitos
profissionais que se dedicavam ao cuidado de outras pessoas. O estudo desses problemas
tem sido fundamental para a melhora da qualidade desses profissionais, o que, sem dúvida,
trará benefícios a seus pacientes. Porém, cometeu um equívoco ao dar um novo nome a
algo que Hipócrates já conhecia há mais de 2300 anos. É preciso desfazer com urgência
essa confusão, sob o risco de criarmos uma nova Babel.
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U NIDADE 20
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Martin Alda13
Inato ou adquirido?
Alguns dos primeiros dados sobre a agregação familiar do transtorno bipolar provêm de
estudos conduzidos no final dos anos 50. Esses estudos determinaram a prevalência do TBP
e de outras doenças psiquiátricas entre parentes de probandos com TBP e, em alguns
casos, entre parentes de indivíduoscontrole saudáveis. Como pode ser visto na tabela 1, há
uma grande variabilidade de riscos, de acordo com os critérios diagnósticos utilizados.
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genéticos e ambientais. No caso do TBP, esses estudos fornecem evidências de uma
natureza genética para a doença (Gershon et al18 or Alda19 para revisões).
O que é herdado?
Todas essas condições já foram, em vários estudos, implicadas como parte do espectro
bipolar, mas as evidências são ainda tênues.
Fórum II
Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos?
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Departamento de Psiquiatria da Universidade de Dalhousie - Halifax, Nova Scotia, Canadá
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Atividade 2
Pode-se afirmar que a modernidade carrega consigo fatores que contribuem para o
aparecimento de novas doenças que afetam a mente dos indivíduos?
Antes de dar continuidades aos seus estudos é fundamental que você acesse sua
SALA DE AULA e faça a Atividade 2 no “link” ATIVIDADES.
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U NIDADE 21
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Ana Paula T de Menezes, Érica de M Holanda, Virgínia Angélica L Silveira, Kelma Cristina da
S de Oliveira e Francisco George M Oliveira.
Descrita pela primeira vez pelo médico inglês Richard Asher em 1951, a síndrome de
Munchausen (SM) é um transtorno factício em que o paciente se mostra aguda e
dramaticamente doente, com a habilidade de mimetizar sinais e sintomas de forma a
necessitar de internações prolongadas, procedimentos de diagnósticos invasivos, longo
tempo de terapia com as mais variadas classes de drogas e cirurgias.1 Segundo a
Associação Psiquiátrica Americana, o critério para o diagnóstico de desordem factícia é
produção intencional de sinais e sintomas físicos ou psicológicos, sem que o paciente
obtenha algo em troca, como ganho financeiro ou liberação de responsabilidade legal,
melhora do bem-estar físico ou uso de determinadas medicações. Na simulação, observa-se
que o paciente tem objetivo de receber, com sua sintomatologia, ganho financeiro,
previdenciário, judicial, pessoal e outros.
Apresentação do caso
Identificação
Paciente do sexo feminino com 26 anos, solteira, parda e católica que trabalha como agente
de saúde.
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História da doença atual
Antecedentes
Referiu ter tido, quando criança, febre reumática e não ter feito qualquer tipo de tratamento.
Disse ser hipertensa e sentir uma dor precordial com queimação esporádica relacionada a
esforço físico, com duração de cerca de dez minutos e sem irradiação e sintomas
associados. Estava usando hidroclorotiazida e propranolol e era acompanhada regularmente
no serviço de cardiologia desse hospital. Relatou um internamento por pielonefrite em 1998.
A paciente foi adotada, tendo sua mãe falecido havia cerca de dois anos. Desde então,
assumiu todas tarefas domésticas, a responsabilidade pelos irmãos, tornando os atritos com
o pai etilista bastante freqüentes. Após esses episódios, passou a apresentar labilidade
emocional e tristeza intensa. Procurou então um psiquiatra que diagnosticou depressão e
indicou o uso de amitriptilina. A paciente fez uso da medicação por curto período,
abandonando o tratamento em poucos meses.
Exame da paciente
Encontrava-se com estado geral bom, normotensa, pulso com 80 batimentos por minuto,
presença de edema em tornozelo, calor, rubor e edema no joelho esquerdo com enfisema
subcutâneo. Notou-se também ausência de focos dentários de infecção. Sempre quando
falava da mãe ou da própria vida, apresentava crises de choro.
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Discussão
A síndrome de Munchausen faz alusão a Karl Friedrich Hieronymus Von Munchausen (1720-
1797), barão alemão que lutou a serviço da Rússia contra os turcos no período de 1763 a
1772. Após a guerra, o barão costumava contar histórias fantásticas e fantasiosas sobre a
guerra e seus atos heróicos. Em 1785, Raspe reuniu todos os contos do barão e os publicou.
Existem algumas teorias sobre a patogênese da SM, como a de Pankratz & Lezak, que
descreve uma disfunção no hemisfério direito em pacientes com Munchausen; de King &
Ford, que relata anormalidades no sistema nervoso central em 40% dos 72 pacientes
estudados (focos epileptogênicos, lesões cranianas de diversas etiologias, infecções prévias,
anormalidades no EEG); e de Evans et al, que fala de alteração no sistema hipotalâmico-
pituitário-adrenal.5-9 História de trauma psicológico pode existir, como privações na infância,
abuso infantil, rejeição dos pais ou de outros familiares, abandono em instituições e presença
de fatores ambientais estressantes.
é descrito que essas passagens por instituições podem ser apenas mais um componente
fantasioso da doença. A apresentação de forma incomum ou dramática da doença é
encontrada em alguns casos, e muitas vezes encontra-se evidência física da auto-indução
dos sinais.
Três formas clássicas da SM são descritas: laparotomaphilia migrans (dor abdominal aguda),
hemorrhagia histrionica (tipo hemorrágico) e neurológica diabólica (convulsões, parestesias e
outros quadros neurológicos). Além disso, são encontrados: lesões de pele, febre de origem
obscura, enfisema subcutâneo, dores em geral, distúrbios endócrinos, arritmias, insuficiência
respiratória, infecções de repetição, simulação de alguma patologia já descrita. Os sintomas
reumatológicos são relativamente incomuns e incluem artrite séptica, osteomielite e
simulação de lupus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide e outras doenças. É uma
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patologia que demanda quase sempre altos custos, pois são necessários diversos exames,
terapias e procedimentos invasivos para descartar todas as outras possibilidades
diagnósticas se o paciente não for flagrado provocando sinais e sintomas característicos. O
paciente também fica sujeito à morbidade e à mortalidade provocadas ou desencadeadas
pela investigação e pelo tratamento.
A forma conhecida como Munchausen por procuração é caracterizada pelo abuso infantil, de
idosos e de deficientes mentais e físicos. As idades já descritas em crianças estão entre 7
semanas e 14 anos. Normalmente, o provocador é uma mãe jovem, com menos de 20 anos,
casada e com algum transtorno de personalidade e/ou disfunção familiar. Outras pessoas
envolvidas diretamente com a criança ou idoso também podem ser autoras dos sintomas.
A paciente descrita acima injetava ar com uma seringa descartável em diversas regiões do
corpo, levando a quadros de artrite e enfisema subcutâneo. Foi submetida à longa terapia
com antibióticos e diversos exames diagnósticos. A confirmação da síndrome veio com a
localização de locais de punção no joelho e mão esquerda, das medicações prescritas
durante um mês no hospital nos seus objetos pessoais e das seringas descartáveis em locais
pouco comuns. Dessa maneira, destaca-se a hipótese de que a morte da mãe (figura
protetora), o convívio com o pai agressivo, a responsabilidade com as tarefas domésticas e
com os irmãos possam ter motivado a paciente a produzir o transtorno factício, levando ao
diagnóstico de SM.
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U NIDADE 22
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
* Gabriela Cabral
Síndrome maníaca pode ser conhecida pelos seguintes sintomas: aumento da auto-estima,
engrandecimento do eu, insônia, fala rápida, agitação psicomotora, irritação, arrogância,
desorganização, desinibição social e sexual, sentimento de grandeza e de poder. A síndrome
maníaca pode subdividir-se em:
- mania franca ou grave, é a mais intensa com fuga de idéias, delírios de grandeza. Os
idosos ou pessoas com distúrbios cerebrais podem ficar confusos, desorientados e
diminuição de consciência. Apresenta dificuldades para o diagnóstico médico.
- mania irritada ou disfórica, é predominante a irritação da pessoa, o mau humor podendo
ocorrer a destruição de objetos e agressividade em pessoas.
- hipomania, a pessoa fica mais disposta que o normal, mais alegre, mais falante, faz
planejamentos e muitas vezes passam despercebidas pelo médico.
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U NIDADE 23
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Aspectos essenciais
Padrão de relacionamento instável variando rapidamente entre ter um grande apreço por
certa pessoa para logo depois desprezá-la.
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Comportamento suicida ou auto-mutilante.
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U NIDADE 24
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
Eduardo de Freitas
Xenofobia é uma palavra de origem grega que significa antipatia ou aversão a pessoas e
objetos estranhos. O termo tem várias aplicações e usos, o que muitas vezes provoca
confusões em relação ao significado. A xenofobia como preconceito acontece quando há
aversão em relação à raça, cultura, opção sexual, etc.
Em outra abordagem, o termo é usado para designar uma doença psiquiátrica, o indivíduo
portador possui medo excessivo de situações e pessoas estranhas. De forma mais
sintetizada, é o temor de uma pessoa em relação a tudo que é diferente para ela; exceto os
casos de medo natural do desconhecido; nesse caso não é considerado xenofobia.
Pessoas que possuem esse distúrbio geralmente evitam ter contato com outros indivíduos
estranhos, essa atitude tem como objetivo poupar o xenófobo de angústia, ansiedade,
elevação da tensão arterial e freqüência cardíaca, além de apresentar ataque de pânico.
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U NIDADE 25
Objetivo: Instrumentalizar, a partir da compreensão clínica dos transtornos mentais, estudo e
prática em psicologia
É mais ou menos assim que ele pensa: "Como surgiu esta dor de cabeça, será que é um
tumor, acho que eu preciso fazer um exame, mas eu já fiz a semana passada, então pode
ser um derrame que esta acontecendo?" Ai ele vai ao clinico , que descarta este diagnóstico
através de exames e ai imediatamente surge a possibilidade de uma outra doença : "Ahhh,
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então deve ser meningite!!!" E novamente enquanto ele não descarta esta possibilidade a
cabeça fica o tempo todo pensando em coisas ruins.
A razão desta neurose é que embora ela seja uma caixa de horrores, a atenção da pessoa
se desvia da realidade, ele não percebe, não vê não se importa com os problemas da vida
real e fica o tempo todo centrado em seus sintomas e em seus pensamentos funestos. Assim
fica no seu mundinho, que por pior que seja já é conhecido e não sente necessidade de
evoluir e de crescer na vida. Tal qual o Transtorno obsessivo compulsivo está diretamente
ligado a quadros de ansiedade e principalmente de depressão. São pessoas profundamente
pessimistas, lotadas de sentimentos de culpa que podem ser conscientes ou inconscientes e
que por isto acha que merecem um castigo (que seria a doença tão temida). Vêem tudo sob
uma perspectiva sombria e acabam se viciando na egoísta e permanente atitude de só
olharem para o próprio umbigo.
O tratamento desta neurose tem que ser feito através de psicoterapia profunda, para que a
pessoa consiga enxergar sentimentos e conflitos que são os verdadeiros desencadeantes de
seus sintomas e cismas. Se o pessimismo for profundo e arraigado o uso de medicações
antidepressivas são essenciais para uma rápida melhoria do quadro. O quadro pode
acontecer isoladamente ou acompanhando quadros de Depressão (aonde chega ocorrer o
Delírio hipocondríaco) ou do Transtorno obsessivo compulsivo (é muito comum esta
associação)
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U NIDADE 26
Detalhamento das Doenças Psicológicas – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO
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Protoc, Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Child Study Center, Yale
University Schools of Medicine & Nursing, Yale, USA
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Diagnóstico e quadro clínico
Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, idéias,
impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos. Como produtos mentais, as
obsessões podem ser criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras,
medos, preocupações, memórias, imagens, músicas ou cenas. Compulsões são definidas
como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a
ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a
ocorrer. Não existem limites para a variedade possível das obsessões e das compulsões.
Numa revisão, March e Leonard relataram como mais freqüentes em crianças e
adolescentes as obsessões de contaminação, de medo de ferir-se ou de ferir os outros,
sexuais e de religiosidade e as compulsões de lavagem, repetição, checagem e rituais de
tocar em objetos ou pessoas. Na infância, as compulsões comumente antecedem o início
das obsessões, que podem ser menos freqüentes que na idade adulta. Em um estudo
recente, foi descrito um intervalo médio de 1,6 anos entre o início das compulsões e o das
obsessões em pacientes com início dos sintomas até os dez anos de idade Uma questão
importante para a avaliação de crianças com TOC é a semelhança entre os sintomas
obsessivo-compulsivos (SOC) e os comportamentos repetitivos característicos de algumas
fases do desenvolvimento, tais como os rituais e as superstições. Dos dois aos quatro anos
de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos. Os rituais
mais comuns nesta fase pré-escolar acontecem, principalmente, nos horários de dormir, de
comer e de tomar banho. Por exemplo, uma história precisa ser contada da mesma forma
várias vezes, os alimentos precisam ser organizados no prato de acordo com regras pré-
estabelecidas, só tomam banho se estiverem com um brinquedo específico. A partir dos seis
anos, os rituais se manifestam mais em brincadeiras grupais. Os jogos passam a ter regras
rígidas e iniciam-se as coleções dos mais variados objetos. Outros exemplos de
comportamentos ritualísticos normais são as superstições. Encontradas em todas as faixas
etárias, parece haver uma mudança qualitativa com a idade. Rituais e superstições são
normais para estas fases do desenvolvimento. Eles têm geralmente o objetivo de auxiliar no
desempenho e dar uma sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos eventos. Além
disso, não interferem no funcionamento da criança e não têm a freqüência ou a intensidade
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dos SOC. No entanto, como tratam-se de comportamentos repetitivos, podem ser
confundidos com os SOC. Portanto, é importante reconhecer quando os rituais e as
superstições tornam-se patológicos e quando as crianças passam a precisar de ajuda. Deve-
se considerar a faixa etária, a duração diária dos comportamentos, sua intensidade e se
interferem ou não nas suas atividades e no seu desenvolvimento.
O início dos sintomas pode ser agudo ou insidioso e os SOC tendem a modificar-se bastante
durante o curso da doença. Cada paciente tem uma história distinta. Não está definido se as
peculiaridades do TOC em crianças seriam apenas características patoplásticas dessa faixa
etária, modificando-se com o desenvolvimento, ou se persistiriam até a idade adulta. Uma
nova proposta de avaliação psicopatológica do TOC procura agrupar os sintomas que
tendem a ocorrer em conjunto. Nessa abordagem, quatro a cinco fatores ou dimensões
sintomatológicas foram estabelecidos: “obsessões de agressão
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U NIDADE 27
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica.
Os testes psicológicos não consistem numa exemplar neutralidade e eficácia em 100% nos
seus resultados, mas isto não implica que os mesmos devam ser dispensados. Desde que
atendidas as pré-condições de sua aplicação, e que o psicólogo examinador tenha
conhecimento, domínio da aplicação e da avaliação, os testes se instalam como referencial
que elimina boa parte da “contaminação” subjetiva das suas percepção e julgamento. É
importante ressaltar a condição dos testes como mais um recurso que auxilia o profissional
na compreensão e fechamento das considerações a respeito de um examinando, seja em
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Professor de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, autor do livro: Nuance dos Testes Psicológicos
e algumas inquietações pós-modernas.
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processo seletivo (exame psicológico ou psicotécnico), avaliação psicológica e
psicodiagnóstico.
Os testes psicológicos, da forma que se conhece hoje, são relativamente recentes, datam do
início do século XX. Um teste psicológico no sentido epistemológico consiste numa tarefa
controvertida, porque dependerá de posições e suposições de caráter filosófico. Para
Cronbach (apud PASQUALI, 2001), um teste é um procedimento sistemático para observar o
comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias
fixas(p.18).Em outras palavras, um teste psicológico é fundamentalmente uma mensuração
objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Uma verificação ou projeção
futura dos potenciais do sujeito. O parâmetro fundamental da medida psicométrica são as
escalas, os testes, é a demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo
entre a ordenação dos procedimentos empíricos e teóricos. Enfim, explicita que a
operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao traço latente1.
A Década de Galton: 1880. Para Francis Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões
humanas se dava por meio da medida sensorial, através da capacidade de discriminação do
tato e dos sons. Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que,
A única informação que nos atinge, vinda dos acontecimentos externos, passa,
aparentemente pelo caminho de nossos sentidos. Quanto maior o discernimento que os
sentidos tenham de diferentes, maior o campo em que podem agir no nosso julgamento de
inteligência (p.8).
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comprimento); Apito para percepção de altura do tom; Criação de escalas de atitudes (escala
de pontos, questionários e associação livre2); Desenvolvimento e simplificação de métodos
estatísticos (método da análise quantitativa dos dados coletados).
A Década de Cattell: 1890. Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano)
desenvolveu medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia
Mental Test (teste mental). Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo de
Reação. Este consiste em registrar os minutos decorridos entre a apresentação de um
estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a primeira resposta emitida pelo examinando.
Cattell seguiu as idéias de Galton, dando ênfase às medidas sensoriais, porque elas
permitiam uma maior precisão.
A Década de Binet: 1900. Seus interesses se voltavam para avaliação das aptidões mais nas
áreas acadêmica e da saúde. Alfred Binet e Henri fizeram uma série de crítica aos testes até
então utilizadas, afirmando que eram medidas exclusivamente sensoriais que, embora
permitisse maior precisão, não tinham relação importante com as funções intelectuais. Seu
conteúdo intelectual fazia somente referências às habilidades muito específicas de
memorizar, calcular, quando deveriam se ater às funções mais amplas como memória,
imaginação, compreensão, etc. Em 1905, Binet e Simon desenvolveram o primeiro teste com
30 itens (dispostos em ordem crescente de dificuldade) com o objetivo de avaliar as mais
variadas funções como julgamento, compreensão e raciocínio, para detectar o nível de
inteligência ou retardo mental de adultos e crianças das escolas de Paris. Estes testes de
conteúdo cognitivo atendiam a funções mais amplas, e foram bem aceitos, principalmente
nos EUA, a partir da sua tradução por Terman (1916), nascendo, assim, a era dos testes
com base no Q.I. (idealizado por W. Stern).
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mundial com a necessidade de seleção rápida e eficiente, de contingente para as forças
armadas.
Na Bahia, em 1924, Isaias Alvez fez a adaptação da escala Binet-Simon, considerada como
um dos primeiros estudos de adaptação de instrumentos psicométricos no Brasil (NORONHA
& ALCHIERI, 2005).
A Década da Análise Fatorial: 1930. Por volta de 1920, diminuiu o entusiasmo pelos testes
de inteligência, sobretudo por se demonstrar dependentes da cultura onde foram criados, o
que contrariava a idéia de fator geral universal de Spearman. Kelley quebrou a tradição de
Spearman em 1928, e foi seguido, na Inglaterra, por Thomson (1939) e Burt (1941), e nos
EUA, por Thurstone. Este autor é relevante para época, em vista de que, além de
desenvolver a análise fatorial múltipla, atuou no desenvolvimento da escalagem psicológica
(Thurstone e Chave, 1929) fundando, em 1936, a Sociedade Psicométrica Americana e a
revista Psychometrika.
A Era da Sistematização: 1940-1980. Esta época é marcada por duas tendências opostas:
Os trabalhos de síntese e os de crítica. Em 1954, Guilford reedita Psychometric Methods e
tenta sistematizar a teoria clássica, e Torgerson (1958) a teoria sobre a medida escolar. Além
disso, Cattell e Warburton (1967) procuraram sintetizar os dados de medida em
personalidade, e Guilford (1967) a teoria sobre a inteligência. Entre os trabalhos da crítica,
destaca-se Stevens (1946), que levantou o problema das escalas de medidas.
Divulgou-se também a primeira crítica à teoria clássica dos testes na obra de Lord e Novick
(1968, Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou o desenvolvimento de uma
teoria alternativa, a do traço latente, que se junta à teoria moderna de Psicometria, e a Teoria
de Resposta ao Item - TRI. Outra tendência crítica para superar as dificuldades da
Psicometria clássica foi iniciada pela Psicologia Cognitiva de Sternberg e Detterman (1979),
Sternberg e Weil (1980), com seu modelo, procedimentos e pesquisas sobre os
componentes cognitivos, na área da inteligência.
A Era da Psicometria Moderna (Teoria de Resposta ao Item - TRI): 1980. Talvez chamar a
era atual de TRI seja inadequada, porque: a) Esta teoria embora seja o modelo no Primeiro
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Mundo, ainda não resolveu todos seus problemas fundamentais para se tornar um modelo
definitivo de psicometria e, b) Ela não veio para substituir toda a psicometria clássica, mas,
apenas partes dela. Porém, é o que há de mais novo nesse campo.
A maioria dos testes coletivos exige somente a habilidade de ler as instruções simples para
os examinandos e manter o tempo exato. Dão mais uniformidade de condições, uma vez que
difere dos individuais, tanto na forma de disposição dos itens quanto na característica de
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recorrer a itens de múltipla escolha, e a aferição dos seus resultados, geralmente, é mais
objetiva. Embora os testes coletivos tenham muitos aspectos desejáveis, porém carece de
uma função indispensável, que é a oportunidade do examinador estabelecer relação com o
examinando para obter sua cooperação e manter o seu interesse.
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imediato o perfil nas tabelas de interpretação; produz registros legíveis em grande número e
os transmite à distância; motiva os testandos ao interagir com o computador; Desvantagens:
a interpretação dos resultados do perfil psicológico é mais limitada do que a realizada pelo
psicólogo.
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U NIDADE 28
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
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Professor de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba, autor do livro: Nuance dos Testes
Psicológicos e algumas inquietações pós-modernas.
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Avaliação Psicológica é um conjunto de procedimentos para a tomada de informações de
que se necessita e não deve ser entendida como um momento único em que um instrumento
poderia ser suficiente para responder às questões relacionadas ao problema que se pretende
investigar (GUZZO, 1995-2001, p.157). Este tipo de processo é a base da atuação do
profissional da psicologia seja qual for sua área (clínica, escolar, organizacional, jurídica, e
outras). Para Wechsler e Guzzo (1999), não há como ser um bom psicólogo se não entender
o significado da avaliação psicológica como um processo de construção de um conhecimento
sobre um fenômeno decorrente de uma escolha teórica e metodológica (apud PACHECO,
2005, p.12).
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e sua conclusão será posteriormente transmitida, por escrito, através de um documento
denominado Laudo Psicológico (OCAMPO et al., 1995).
Laudo Psicológico
O laudo é uma peça escrita na qual o perito expõe observações e conclusões a que chegou
num processo de diagnóstico ou avaliação psicológica. Trata-se de um parecer técnico que
visa subsidiar o profissional a tomar decisões. Segundo Guzzo e Pasquali (2001), deve-se
evitar a sua devolução oral, porque pode ser facilmente distorcida. O laudo não é um
documento exclusivo da área da psicologia, pode ser jurídico, pericial, pedagógico, etc. Uma
outra definição da conta desse instrumento como um dos principais recursos para comunicar
resultados de uma avaliação psicológica. Cujo objetivo é apresentar materialmente um
resultado conclusivo de acordo com a finalidade proposta de consulta, estudo ou
prova(ALCHIERI & CRUZ, 2003). Ainda para os autores, esse documento deve ser
conclusivo e se restringir às informações estritamente necessárias à solicitação (objetivo da
avaliação), com a intenção de preservar a privacidade do examinando.
Psicodiagóstico e Psicoterapia
Na visão de Friedenthal (apud SANTIAGO, 1995), a distinção entre estes dois processos é
apenas teórica, considerando que na prática clínica, é impossível manter a fronteira entre
terapia e psicodiagnóstico. As entrevistas diagnósticas se assemelhem às sessões de
terapia, não somente pela interpretação que se faz, mas também pelas intervenções
inerentes a essas situações, seja para esclarecer transferências ou para aliviar a ansiedade
do paciente, etc. O psicodiagnóstico ocupa um lugar de destaque entre as opções nos
serviços de psicologia, independente do motivo que leva o paciente a procurar a instituição.
Ele deve ser utilizado como dispositivo para planejar, guiar e avaliar a escolha e indicação
terapêutica fundamentada (MITO, 1995; MONACHESI, 1995).
Calegaro (2002) diz que, entre outros, o objetivo da entrevista é de estabelecer rapport (será
explicado mais adiante), coletar informações que revelem os problemas, avaliar o grau de
estresse e psicopatologia da família (depressão, discórdia conjugal, ansiedade,
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agressividade, etc.). E assim, modificar o foco de crenças causais improváveis para fatores
antecedentes e as conseqüências que o cercam, e, finalmente, atingir uma formulação
diagnóstica e tratamento recomendado. O diagnóstico adequado é seguido de
esclarecimentos e informações que pode minimizar o estresse experienciado pelo paciente
e/ou família. É importante esclarecer quaisquer dúvidas, deixando a sensação de que as
dificuldades foram compreendidas, e que estão sendo atendidas por um profissional capaz
de recomendar meios que ajudem a resolver os problemas verificados (CALEGARO, 2002).
O enquadre desse processo consiste nos itens seguintes: Esclarecimento dos papéis
respectivos; Lugar de realização das entrevistas; Horários e duração do processo
(despertando para o fato de não torná-lo muito curto ou extenso); Honorários (caso se trate
de consulta particular ou de instituição paga). Qualquer entrevista posterior à devolução
requer o estabelecimento de um novo contrato que explicite o enquadre, as características
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Etapas do processo psicodiagnóstico
Primeiro contato, entrevista semidirigida (um ou duas) com o paciente ou seus pais, quando
se trata de criança ou adolescente; Aplicação de testes e técnicas projetivas; Encerramento
do processo: devolução oral ao paciente e/ou pais, familiares (uma ou duas entrevistas
devolutivas), onde apresentam as conclusões diagnósticas e sugere os passos seguintes a
serem trilhados: psicoterapia, encaminhamento para psiquiatra ou ambos; Informe por escrito
(Laudo) para o solicitante.
O Rapport7
Ao iniciar suas atividades de testagem, seja em qual área for o psicólogo deve realizar esta
técnica que se ajusta ao seu papel de oferecer as condições psicológicas favoráveis ao
manejo da assistência individual ou grupal. Quando se trata, principalmente, de seleção ou
psicotécnico, é necessário que o examinador procure, em breves minutos, desmistificar
alguns conceitos ou deturpações que, em geral, pairam no imaginário do senso comum, não
somente sobre testes psicológicos, mas também em relação a quase todos os campos dessa
atuação profissional. A psicologia ainda é, para prejuízo dessa categoria e da sociedade,
uma ciência tabu que inclui medo, rejeição e atração num suposto caldeirão de inutilidades
ou de poderes mágicos, misteriosos e fantásticos que lhe são atribuídos. Isto promove uma
resistência nas pessoas em si trabalhar nessa especialidade, que seja por determinação ou
no limite crítico do indispensável. Penso que a psicologia pode oferecer menos do que se
imagina, e mais do que pode se esperar caso assim lhe permita. Enfim, esse momento do
rapport consiste em o profissional respaldar o (s) paciente(s), examinando(s), trazê-lo(s) para
o princípio da realidade, e se fazer agente de motivação e solicitude.
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U NIDADE 29
Objetivo: Identificar os instrumentos mais utilizados em seleção profissional
Aliado a isso, a formação em avaliação tem sido muito questionada e, nesse sentido, vale
destacar que ela apresenta uma série de desafios no que se refere às constantes
transformações com as quais a Psicologia se defronta neste novo século (BASTOS, 2002). A
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Psicóloga, formada pela Universidade São Francisco.
Doutora em Psicologia Ciência e Profissão pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
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representação dos principais fundamentos da medida psicológica, a elaboração e a
construção de novos testes, a necessidade de representar um conjunto de postulados e
novas teorias, faz do ensino de avaliação psicológica, um interjogo constante entre
conteúdos novos e antigos.
No estudo de Almeida, Prieto, Muñiz e Bartram (1998) foi constatado que existe uma clara
relação entre problemas nos instrumentos psicológicos e problemas na formação profissional
do psicólogo que constrói e que usa os referidos instrumentos. Ainda dando margem a esta
questão, Noronha (2002) comenta que a formação de um psicólogo em cinco anos de
universidade não é suficiente para aprimorá-lo em todas as áreas de conhecimento, embora
devesse sê-lo. Autores concordam que se faz necessário modificar a formação, já que a
Psicologia é uma profissão em transformação e isto implica novas atitudes em relação ao
conhecimento,ao exercício da profissão e ao processo formador (DURAN, 1994; HUTZ;
BANDEIRA, 2003; NORONHA; ALCHIERI, 2003). Atualmente, os testes psicológicos têm
recebido muitas críticas que variam desde a fundamentação teórica, passando pela ausência
de estudos recentes e de adaptações para diferentes realidades, até o alto custo de
determinados materiais (NORONHA, 1999; PRIETO; MUÑIZ, 2000; OLIVEIRA; NORONHA;
DANTAS, 2005; NORONHA). Outros questionamentos dizem respeito a sua utilidade prática,
tendo em vista que alguns autores não concordam com as propriedades que os próprios
psicólogos atribuem ao instrumento padronizado. Figueiredo e Pinheiro (1998) apontam que
no Brasil a maior crítica feita aos testes psicológicos, à época do estudo, refere-se à falta de
adaptações, uma vez que a maioria dos instrumentos disponíveis no mercado brasileiro é
originária de outro país. Mesmo quando elaborados no Brasil, os testes são raramente
submetidos a uma adaptação rigorosa, e as normas não são habitualmente atualizadas e
revisadas após as publicações originais. Nos últimos anos, no entanto, não parece ser este o
problema central dos instrumentos de medida, já que a pesquisa de Noronha, Primi e Alchieri
(no prelo) revela que mais da metade dos instrumentos comercializados no país é de
produção nacional. Em contrapartida, o estudo revela que aproximadamente metade dos
testes não possui estudos de validade. Embora as qualidades técnicas venham-se
aperfeiçoando, apenas a formação do psicólogo aliada à competência dele, possibilitará uma
compreensão mais ampla e contextualizada do processo de avaliação, permitindo uma
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interpretação mais adequada dos resultados. Trata-se, portanto, de aprimorar a formação do
psicólogo em avaliação psicológica, incluindo no currículo dos cursos de Psicologia temas e
conteúdos que reflitam ou fundamentem tal aprimoramento, permitindo, assim, que o
psicólogo seja capaz de avaliar a qualidade dos instrumentos que utiliza e que saiba fazer
uso adequado deles (NORONHA et. al., 2003) O estatuto da avaliação psicológica, de
acordo com Azevedo e outros (1996), tem grangeado uma melhor reputação no seio da
investigação e da prática psicológica, nomeadamente por parte dos profissionais que lidam
com recursos humanos em geral ou ainda dos órgãos que necessitam de avaliações
periódicas e sistemáticas de seus projetos ou programas. Os autores mencionam que,
comparativamente à situação estritamente clínica e individual de uso tradicional dos testes,
atualmente se enfatiza mais uma avaliação dirigida aos contextos habituais de desempenho,
como a apreciação da eficácia dos programas de intervenção, metodologias de trabalho ou
condições de realização. Entretanto, são essas necessidades mais recentes que estão
contribuindo para o crescimento do campo de atuação da avaliação psicológica na área de
recursos humanos, mais do que o diagnóstico psicológico feito na avaliação psicológica
tradicional. Alchieri (1999) afirma que existem procedimentos na avaliação com regras e
situações bem definidas que, seguidos fielmente, permitem a qualquer psicólogo obter o
mesmo resultado que outro profissional. Outros procedimentos, por sua vez, exigem a
intervenção interpretativa do examinador, tais como, julgar a adequação ou a categoria de
uma determinada resposta, segundo modelos existentes e que podem exigir, também, a
apreciação das condições do exame e julgamento de fatores externos, facilitadores ou não
das tarefas propostas.
Cada vez mais, os desafios de uma sociedade globalizada invadem a população brasileira
levando-a a discutir, a refletir e a rever todos os conceitos em busca de novos paradigmas
que possibilitem a reconstrução do pensar e do agir. Não é possível, nas organizações
atuais, e nas vidas particulares, manter os mesmos padrões de relações e de resultados sem
repensar os diversos contextos dos ambientes organizacionais ou sociais.
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Nenhuma área da Psicologia passou por transformações tão profundas, durante o último
século, como a que se dedica ao setor de recursos humanos, conforme afirma Castelar
(2001). Afetado, de um lado, pela automação e pela crise eco nômica que mudaram o perfil
do emprego e, de outro, pelos novos métodos administrativos, por exemplo, a terceirização,
o setor de recursos humanos vive uma mutação sem precedentes. Como resultado, o
psicólogo que optou por essa especialidade acabou perdendo espaço e vive hoje uma crise
de identidade. Historicamente, para Cansian (2002), a Psicologia entrou nas empresas pela
porta da seleção e avaliação de pessoal. O desenvolvimento de quaisquer atividades dentro
ou fora das organizações depende – e muito – das condições das empresas, e,
principalmente, do profissional que as realiza. O mercado, extremamente competitivo, exige
cada vez mais competência técnica e interpessoal, de tal modo que tanto as condições
pessoais (crenças, valores, postura, capacidade para colocar idéias) quanto as técnicas
(formação acadêmica, cursos de especialização, domínio de tecnologias) auxiliarão a
determinar o espaço de trabalho do profissional e a credibilidade de suas propostas. De
acordo com Schimdt e Hunter (1998) os psicólogos vêm-se dando conta de que os testes
têm um papel importante no processo de seleção, à medida que os aspectos atualmente
mais valorizados quebram paradigmas que sustentavam o processo seletivo ao longo de
toda a história da humanidade, cujas características pessoais tornaram-se mais importantes
que sua folha corrida de realizações. Houve uma época em que o currículo a ser
apresentado em uma entrevista de seleção profissional era uma das principais preocupações
do candidato. Hoje, este material é apenas utilizado como roteiro para que o entrevistador
explore as questões que lhe interessam e que se relacionam com as características exigidas.
O que o mercado está buscando é o profissional que desenvolva uma inesgotável
capacidade de adaptação a toda gama de situações que possa vivenciar, que consiga
enxergar no novo a sua motivação para vencer, que veja obstáculos como desafios a serem
transpostos, e não como empecilhos à sua trajetória.
Benucci (2003) afirma que a maioria dos currículos que chegam às empresas
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a comunicação verbal e não-verbal do entrevistado. Dessa forma, não é apenas a entrevista
que conta para o preenchimento de uma vaga: as dinâmicas de grupo, os testes
psicológicos, entre outros, são instrumentos importantes para procurar um índice de acerto
na contratação do candidato em relação às expectativas e necessidades do contratante.
Pereira, Primi e Cobêro (2003) referindo-se especialmente aos testes psicológicos, afirmam
ser necessário atualizá-los, e que os profissionais devem ficar atentos às qualidades
psicométricas dos instrumentos utilizados, sobretudo no que se refere à validade preditiva.
Afirmam ainda, que os testes psicológicos são instrumentos de medida cientificamente
desenvolvidos a partir de um longo investimento que se caracteriza por sua rigidez
metodológica e ampla fundamentação teórica. Atualmente, a prática psicológica na seleção
profissional está comprometida devido ao mau uso dos instrumentos de avaliação. O que
pode vir a colocar em risco a qualidade de um processo seletivo é a incompetência do
selecionador no uso da técnica, e não a técnica em si. É necessário admitir que há variáveis
próprias do sujeito que podem facilitar ou dificultar sua atuação no trabalho, de forma que se
busca numa seleção não apenas a super qualificação ou máxima experiência, mas a maior
compatibilidade possível entre as características do sujeito e as exigências do cargo que
pretende ocupar.
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U NIDADE 30
Objetivo: Subsidiar o aluno de conhecimento dos métodos de avaliação psicológica
- Conceito de testes:
Teste é uma palavra de origem inglesa que significa “prova”; deriva do latim testis e é usada
internacionalmente para denominar uma modalidade de medição bastante conhecida hoje
em dia em diversos campos científicos e técnicos. “Uma medição só é chamada de teste se
for usada, primordialmente, para se descobrir algo sobre o indivíduo, em vez de responder a
uma questão geral.( Tyler, 1973).
O instrumento psicométrico mais típico é o teste. Todavia, não é o único. Trata-se de uma
situação estimuladora padronizada (itens de teste e ambiente de aplicação) à qual uma
pessoa responde.
Entende-se por situação experimental tudo aquilo que faz parte do teste e da aplicação do
mesmo, definidos anteriormente, ou seja, material empregado, instruções, local da aplicação,
etc. Essas condições precisam ser padronizadas para que se evitem variações nas
condições da administração. Em segundo lugar, se o teste é um estímulo que gera uma
resposta do indivíduo, o registro desse comportamento é deveras importante. Deve ser
preciso para ser confiável. No caso dos testes em que cabe ao indivíduo registrar a própria
resposta, não há problema. Entretanto, quando se precisa anotar a resposta do indivíduo e,
ao mesmo tempo, observar sua responsividade não-verbal, todo o cuidado é pouco.
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Disponível em: http://www.estacio.br/site/psiconsult/cursos/2003_1/visaogeral_testepsicologicos.pdf
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- Classificação de testes:
Não existe um modo inteiramente satisfatório de classificar os testes que seja adotado por
unanimidade pelos diversos autores. Diferentes critérios podem ser adotados. O que será
feito a seguir é definir cada uma dessas características , integrando-as em uma única
classificação.
Os testes cuja metodologia é projetiva, por sua vez, são aqueles cujas normas são
qualitativas, ou seja, são testes menos objetivos. O resultado se expressa através de uma
tipologia. Por terem uma avaliação qualitativa, evidentemente que seus elementos ( itens de
teste) não podem ser medidos em separado. E a constância de certas características
avaliadas no teste como um todo que dará a relativa certeza de um diagnóstico ( ex.: testes
de personalidade em geral).
- Segundo a Finalidade:
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Os testes puros de potência são aqueles que medem, não a rapidez da execução, mas a
qualidade da mesma. Avaliam a potencialidade do indivíduo em relação a alguma
característica. Os itens apresentam-se em dificuldade crescente – teste heterogêneo- e isso
toma mais tempo para a sua realização. Não se pode dizer que o tempo é ilimitado, pois isso
implicaria ter-se que estar à disposição do testando.
Em princípio, todos os testes são pessoais – o que varia é o grau de influência. Os testes
projetivos, em maior grau, e os testes psicométricos, em menor grau, são exemplos disso.
Os testes que possuem instruções na capa, não determinam tempo e dispensam a presença
de um aplicador, tamanha a facilidade comque são executados, são chamados de testes
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auto-administrativos. Podem ser aplicados coletivamnete ou mesmo de forma individual,
desde que adaptados às exigências da situação.
Os testes de aptidão medem o “potencial” do indivíduo para aprender ou realizar uma tarefa.
Anteriormente, achava-se que se tratava de capacidades “ latentes ”, bastando um pequeno
treinamento adequado para que fossem atualizadas. Hoje se reconhece que isso é um tanto
ingênuo. As realizações dos testes de aptidão refletem influências acumulativas de
numerosas experiências da vida diária. A aprendizagem é realizada sob condições não –
controladas ou desconhecidas. Além do mais, todos os testes psicológicos medem o
comportamento atual, e este está carregado de influências da aprendizagem anterior. Uma
forma de subdivisão desses testes é: testes de aptidão específica; testes de aptidão especial.
Os testes de aptidão geral (Fator g) medem inteligência como um todo; dão a medida geral
da esfera intelectiva. São os testes que se referem, ao mesmo tempo, a diferentes aspectos
da atividade inteligente. Como exemplo desses instrumentos, temos o INV, o Barcelona, o
Dominó, etc. Os testes que medem o Fator G dividem-se em testes ou escalas que avaliam o
desenvolvimento mental, ou seja, a inteligência em seu aspecto evolutivo e testes de
capacidade mental que mensuram a função intelectiva já desenvolvida.
Os testes de Personalidade
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Os testes de personalidade medem as características de personalidade propriamente ditas,
que não se referem aos aspectos cognitivos da conduta. Ex.: estabilidade emocional, atitude,
interesse, sociabilidade, etc.
Para que um teste psicológico cumpra com os seus objetivos como instrumento de medida
cientificamente válido, é necessário que o usem de forma adequada. É imprescindível o
controle em relação à sua utilização, limitando-lhe a venda e o uso a pessoas habilitadas
para tal, e também evitando a divulgação de seu conteúdo.
A escolha do teste:
Em segundo lugar, deve-se estar atento às características dos sujeitos que sofrerão a
aplicação – sexo, idade, escolaridade, etc -, as quais determinam o tipo de teste a ser
utilizado.
Existem requisitos básicos em relação ao próprio teste que são extremamente relevantes:
trata-se da validade, da fidedignidade e da padronização do instrumento. Diz-se que um teste
é valido quando ele mede realmente o que pretende medir. Por fidedignidade entende-se a
capacidade do teste de repetir os testes em ocasiões diferentes.
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A aplicação do teste:
O aplicador deve estar muito bem preparado de modo a evitar imprevistos durante a
aplicação. Deve estar de posse de conhecimento das condições necessárias para aplicações
contidas no manual, e do treinamento.
As condições físicas gerais para a aplicação de um teste também deve ser objeto de
cuidados: tamanho e iluminação da sala, arejamento, temperatura, influência de elementos
perturbadores. Podem parecer desnecessárias, mas essas condições influenciam no bom
desempenho em qualquer atividade, principalmente nos testes.
Testes de Personalidade:
Wartegg O teste foi idealizado por Ehrig Wartegg, em 1930, na Alemanha e apresentado pelo
seu autor ao XV Congresso de Psicologia de Jena (cidade da Alemanha Oriental) em 1937.
Nessa ocasião expôs as linhas gerais de seu teste inspirado em um trabalho de Sander. Este
último tinha apresentado no IX Congresso de Jena em 1928 uma prova que consistia em
integrar um desenho; eram uns sinais sem coerência aparente, para que os sujeitos
submetidos à prova tratassem de coordená-los entre si, dando-lhes um sentido determinado.
Esta única prova apresentada por Sander, foi modificada por Ehrig Wartegg, que a
transformou em uma série, com o objetivo de conseguir maiores e melhores resultados, e
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captar melhor o estilo pessoal do examinando. O Teste de Wartegg é uma técnica de
investigação da personalidade através de desenhos obtidos por meio de uma variedade de
pequenos elementos gráficos que servem como uma série de temas formais a serem
desenvolvidos pelo indivíduo de maneira pessoal. São oito campos onde o testando deverá
realizar oito desenhos, na seqüência que desejar, o tema que quiser, de acordo com seu
próprio ritmo. Cada campo tem um valor arquetípico: Campo 1 – O eu, ego, autoestima
Campo 2 – Fantasias, afetividade. Campo 3 – Ambição, metas, objetiva Campo 4 – Angústia,
como lida com conflitos. Campo 5 – Energia vital, transposição de obstáculos. Campo 6 –
Criatividade. Campo 7 – Sexualidade, sensualidade e sensibilidade. Campo 8 – Social,
empatia com os outros. A integração desses campos constituem a própria personalidade
humana, tanto na sua estrutura como na sua dinâmica. No WZT, a simbologia é algo
primordial, bem como a execução, seqüência, conteúdo, etc; sendo necessário, desta forma,
que o avaliador se prepare profundamente para estar apto a uma avaliação coerente e
fidedigna. No Brasil temos alguns livros que são de leitura obrigatória, numa ordem de
importância que eu mesmo classifiquei: · Kfouri, N.J. – Wartegg Da Teoria à Prática – Vetor
Editora Psicopedagógica · Wartegg, Ehrig – Teste de Wartegg, Diagnóstico de Camadas –
Casa do Psicólogo · Freitas, ªM.L. – Guia de Aplicação e Avaliação do Teste de Wartegg –
Casa do Psicólogo E para quem tem fluência em Inglês e acesso a livros importados
Teste de Zulliger Seu autor, Hans Zulliger (suíço, 1895 – 1965), o criou em 1942, em função
da necessidade de selecionar um alto contingente de soldados para o exército suíço, em
curto espaço de tempo. Foi influenciado diretamente pelas idéias de Freud, Pfister e de
Rorschach de quem se tornou discípulo Sua primeira publicação deste teste, data de 1932
(O Teste de Ro a Serviço do Assessoramento Educacional). Seguiram-se outras obras como
em 41 (Introdução ao Teste de Behn Rorschach). Em 48 e 54 apareceram suas duas obras
referentes ao Teste Z (DER ZULLIGER-DIAPOSITIV-TEST) e (DER ZULLIGER-TAFELIN
TEST) Vale lembrar que “O TESTE DE ZULLIGER NÃO É UM TESTE DE RORSCHACH
ABREVIADO” - este é um erro que infelizmente muitos profissionais e estudantes ainda têm
em mente... ambos possuem a mesma natureza, porém, cada técnica é completa por si só.
O Teste de Zulliger constitui-se de três pranchas: Prancha I - Aspectos primitivos da
personalidade Prancha II - Afetividade / Emoções Prancha III - Relacionamento Sua
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aplicação pode ser individual ou coletiva, para toda e qualquer finalidade (psicodiagnóstico,
avaliação da personalidade, seleção de pessoal, avaliação de desempenho, etc.). A
interpretação integrada das três pranchas propicia uma visão muito aprofundada da
personalidade humana, seja em sua estrutura ou em sua dinâmica, especialmente em
relação aos seus aspectos afetivo-emocionais, bem como em termos de intelectualidade,
pensamento, objetivos de vida, sociabilidade, relacionamento interpessoal, etc. A bibliografia
a respeito do Teste de Zulliger é bastante extensa, tanto em língua portuguesa como em
outros idiomas. As instituições especializadas possuem um vasto material, bem como o jogo
de pranchas: Casa do Psicólogo, Instituto Pieron e Vetor. O Instituto Pieron comercializa um
software para avaliação do teste que é bastante interessante.
PMK O Psicodiagnóstico Miocinético (PMK), foi criado pelo Prof. Emílio Mira y López em
Londres. Seu autor nasceu em Cuba (1896) e reuniu, no decorrer de sua vida uma
experiência profissional-científica invejável, como se conhece em poucas pessoas, e que
culminou no Brasil, em 1945, no ISOP; mas foi a partir de 1949 que o seu teste passou a ser
amplamente divulgado até ser reconhecida como uma das principais técnicas psicológicas
para a avaliação e compreensão da personalidade. O teste é muito utilizado na avaliação de
candidatos a motorista, operadores de máquinas e para quem vai portar de arma de fogo e,
de certa forma, sua utilização diminuiu para outros fins... o que é um grande erro, pois seu
valor psicodiagnóstico é muito grande. Ele nos dá uma visão bastante clara e diferenciada da
personalidade humana, sua estrutura e dinâmica, mostrado como a pessoa é em sua
essência e como ela reage em contato com o meio ambiente: Tônus vital (elação e
depressão), Agressividade (hetero e auto), Reação vivencial (extra e intratensão),
Emotividade, Dimensão tensional (excitabilidade e inibição), Predomínio tensional
(impulsividade e rigidez/controle). Além disso, é um instrumento bastante valioso no
diagnóstico de problemas toxicológicos e neuro-vegetativos. O teste originalmente se
constitui de 8 folhas, mas no Brasil, é mais utilizada uma forma resumida: folhas 1, 2, 5 e 6.
Esta forma, apesar de ser bastante válida, vale lembrar que para uma avaliação mais
aprofundada é necessário que se utilize o teste em sua forma completa. 1- Lineogramas
(vertical, horizontal e sagital) 2 - Zigue-zague (sagital) 3 - Escadas e Círculos (verticais) 4 -
Cadeias (verticais e sagitais) 5 - Paralelas (egocífugas sagitais) e Us (verticais) 6 - Paralelas
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(egocípetas sagitais) e Us (sagitais) Existe uma tendência muito grande de se avaliar o PMK
pelo que se chama de “olhômetro”, isto é, com uma simples visualização dos traçados feitos,
eliminando-se a mensuração e tetronagem do mesmo... Este é um erro muito grave, pois
como se sabe o PMK lida com milímetros e não é possível a olho nu determina-los com tanta
precisão; portanto, mensura o teste é de fundamental importância para a fidedignidade de
sua avaliação. Leitura imprescindível e obrigatória é a publicação da Alice Madeleine Galland
de Mira, esposa do autor, publicado pela Vetor, em dois volumes de apresentação impecável
e de um conteúdo magistral. Vale lembrar também do Prof. Joel Gosling, que há décadas é
um pesquisador e divulgador de várias técnicas psicológicas, em especial do PMK; portanto,
tudo que for possível assimilar de seus conhecimentos é de valor inestimável. Conhecer o
PMK sem ter contato com as idéias do Professor é, no mínimo, não prezar por um
enriquecimento pessoal. Eu fui seu aluno no IPPA, na época em que trabalhava na CMTC
(antiga casa do Professor também) e posso afirmar que, todo Psicólogo ou estudante de
Psicologia deveria ter um contato com ele, pois sua riqueza de conhecimento é comparável a
todo e qualquer grande mestre da nossa área. A Vetor, fornece gratuitamente para
Psicólogos, mediante cadastro e apresentação do CRP, um software que facilita muito a
avaliação do PMK; porém, mesmo com esta ajuda, o preparo do profissional e seu
conhecimento de mensuração são inevitáveis.
Teste Palográfico O teste PLG foi idealizado e elaborado pelo Prof. Salvador Escala Milá, do
Instituto Psicotécnico de Barcelona, na Espanha. No Brasil, os estudos a respeito da
validação desta técnica foram realizados pelo Prof. Agostinho Minicucci, quando era Diretor
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu e Professor de Psicologia (1960),
introduziu nessa escola, um Centro de Estudos de Grafoanálise (Análise da Escrita) e Teste
Gráficos, onde efetuou estudos a respeito da validação desta técnica. Seu uso foi mais
largamente difundido a partir dos anos 70. É uma técnica projetiva de movimento expressivo
e, como tal, apresenta semelhanças como o P.M.K, do professor Mira Y Lopes Graphe, O
Tapping Test, o Teste Grafoescritural de Honroth Zarza e outros. O teste palográfico (PLG),
pode ser entendido como a avaliação da personalidade com base na expressão gráfica. A
folha de papel, representa o mundo no qual o indivíduo se coloca afetivamente e a maneira
pela qual ele se relaciona com o meio externo, através dos traçados. Ao escrever,
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projetamos sobre o papel formas simbólicas, vivas em nós, que expressam nossa vida
interior, ou seja, modificamos as formas tradicionais ou caligráficas, de acordo com as idéias
conscientes e as imagens inconscientes que determinam a nossa personalidade. A folha de
papel representa, portanto, o mundo onde evoluímos, e cada movimento escritural é
simbólico de nosso comportamento nesse mundo. Podemos concluir, então, que todos os
movimentos, todos os gestos humanos estão carregados de significado e concorrem à
expressão da personalidade como um todo. Leitura obrigatória para se conhecer bem este
teste, são os livros do Augustinho Minicucci, todos encontrados na Vetor, que também
fornece gratuitamente um software para Psicólogos, que permite uma “pré-avaliação” do
teste.
HTP
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instituições ligadas à Psicologia, possuem curso e material sobre o assunto. Destaca-se aqui
o livro da Dinah Martins de Souza Campos, “O teste do desenho como instrumento de
diagnóstico da personalidade”, que é amplamente indicado nos cursos de psicologia, mas
para um maior aprofundamento, o “Manual Prático de Avaliação do HTP (Casa-Árvore-
Pessoa) e Família”, de Maria Florentina N. Godinho Retondo, editado pela Casa do
Psicólogo.
LEITURA COMPLEMENTAR
PADILHA, Sandra; NORONHA, Ana Paula Porto e FAGAN, Clarissa Zanchet. Instrumentos
de avaliação psicológica: uso e parecer de psicólogos. Aval. psicol. [online]. 2007, vol.6, n.1,
pp. 69-76. ISSN 1677-0471.
ATIVIDADE 3
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Fórum III
Antes de iniciar sua Avaliação Online, é fundamental que você acesse sua SALA
DE AULA e faça a Atividade 3 no “link” ATIVIDADES.
Atividades dissertativas
Acesse sua sala de aula, no link “Atividade Dissertativa” e faça o exercício proposto.
Bons Estudos!
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G LOSSÁRIO
ETIOLOGIA - estudo sobre a origem das doenças mentais visão clássica da doença.
PATOGÊNICO - capaz de produzir doenças. Aquilo que produz uma doença. Trata-se de
uma vivência danosa no desenvolvimento.
PSIQUIATRIA - parte da medicina que trata e estuda as doenças mentais. O maior enfoque,
mas não único está nos estudos e aplicações da psicofarmacologia.
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B IBLIOGRAFIA
UNIDADE 1
UNIDADE 2
FERRY, L. Aprender a Viver: Filosofia para Novos Tempos. Tradução Vera Lúcia dos Reis.
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