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Luís Manuel de Oliveira Marques de Almeida

José Vasconcelos Raposo (orientador)

PERFIL PSICOLÓGICO DE PRESTAÇÃO,


ORIENTAÇÕES COGNITIVAS E NEGATIVISMO
DO FUTEBOLISTA PORTUGUÊS

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO


VILA REAL, 2010
II
Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro, para a obtenção do grau de
Mestre em Psicologia do Desporto e Exercício, sob a
orientação de José Vasconcelos Raposo – Professor
Catedrático.

III
IV
AGRADECIMENTOS

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos.


Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão.
No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o
homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado”.

(William Shakespeare)

Foram vários os que, directa ou indirectamente, contribuíram para a


concretização deste meu “sonho”.
Assim, quero agradecer do fundo do coração

ao Professor Vasconcelos-Raposo pela sua imensa sabedoria e por me ter


feito sentir que fazer ciência não é privilégio de apenas alguns.

Aos dirigentes, treinadores e, acima de tudo, aos futebolistas, que tornaram


possível este trabalho.

Ao extraordinário corpo docente do ano curricular do mestrado, pelo


conhecimento transmitido.

Aos Professores Hélder Fernandes e Carla Teixeira, da UTAD, Maria Dolores,


da Universidade Lusíada do Porto, e Alvaro Mahl pela amabilidade e
disponibilidade sempre demonstradas. Bem haja.

Ao José Quadros, meu “irmão” e “camarada de guerra”, por tudo.

Ao Filó e ao Dany Amorim, pelos contactos proporcionados. Sem a sua


preciosa ajuda tudo teria sido muito mais difícil. A minha mais profunda
gratidão.

À Liceth Santos dos Santos pela força e amizade incondicional.

Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais, a quem
quase tudo devo.

V
VI
RESUMO
Objectivou-se caracterizar o perfil psicológico de prestação do futebolista
português e identificar variáveis psicológicas que diferenciam jogadores de
diferentes níveis competitivos (Nacional, Regional e Distrital). Participaram 424
futebolistas portugueses do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 36
anos. Utilizaram-se o PPP (Perfil Psicológico de Prestação), o TEOSQ (Task
and Ego Orientation in Sport Questionnaire) e a ENAC (Escala de Negativismo
e Autoconfiança). Os resultados sugerem que os jogadores de futebol
portugueses se preparam mentalmente para a competição, embora não o
façam de forma sistemática. Os futebolistas de níveis competitivos mais
elevados, de uma forma geral, têm skills psicológicos mais desenvolvidos,
encontrando-se diferenças significativas no controlo do negativismo e na
atenção. Verificou-se que os jogadores do nível competitivo mais elevado têm
as médias mais altas na orientação para a tarefa e mais baixas na orientação
para o ego e que existem diferenças significativas inter-níveis na orientação
para o ego. O negativismo e a autoconfiança aferidos pela ENAC aumentam e
diminuem, respectivamente, à medida que se desce no nível competitivo,
encontrando-se diferenças significativas no negativismo. Apenas o controlo do
negativismo permitiu diferenciar significativamente futebolistas de diferentes
posições. A idade e a experiência competitiva influenciam o desenvolvimento
dos skills psicológicos, das orientações cognitivas, da autoconfiança e do
negativismo, embora, por si só, não garantam um nível excelente de
preparação mental. A análise das propriedades psicométricas da ENAC
confirmaram a sua superior adequabilidade comparativamente ao modelo
original. Concluiu-se que para uma boa preparação mental contribuem todos os
skills psicológicos, pelo que a robustez mental é um constructo complexo e
multidimensional.

Palavras-chave: factores psicológicos, psicologia do desporto,


rendimento e futebol.

VII
VIII
ABSTRACT

It was aimed to characterize the psychological profile of the Portuguese soccer


player’s performance and to identify psychological variables that differentiate
players of different competitive levels (National, Regional and District). 424
Portuguese male soccer players participated, with ages between 18 and 36
years. The PPP (Psychological Performance Inventory), the TEOSQ (Task and
Ego Orientation in Sport Questionnaire) and ENAC (Scale of Negativism and
Self Confidence) were used. The results suggest that if Portuguese players
prepare themselves mentally for the competition, although they don’t do it
systematically. The soccer players of higher competitive levels, as rule, have
psychologically more developed skills, and there are significant differences in
the control of the negativism and attention. It was verified that the players of
higher competitive level have the highest averages in the orientation for the task
and lower in the orientation for the ego and that there were significant
differences between levels in the orientation for the ego. Negativism and self
confidence surveyed by the ENAC increase and decrease, respectively, as it
decreases in the competitive level and there are significant differences in the
negativism. Only control of negativism allowed differentiating significantly
football players of different positions. The age and the competitive experience
influence the psychological development of skills, of the cognitive orientations,
the self confidence and of the negativism, even so, by itself, they do not
guarantee an excellent level of mental preparation. The analysis of the
psychometric properties of ENAC had comparatively confirmed its superior
adequateness to the original model. It was concluded that all psychological
skills contribute for a good mental preparation, so that the mental robustness is
complex and multidimensional construction.

Keywords: psychological factors, sports psychology, performance and football.

IX
X
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS..........................................................................................V
RESUMO ..........................................................................................................VII
ABSTRACT .......................................................................................................IX
ÍNDICE GERAL .................................................................................................XI
ÍNDICE DE QUADROS ...................................................................................XIII
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................ XV
1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................... 1
1.1 O FUTEBOL COMO FACTO SOCIAL TOTAL ...................................... 7
1.1.1 O paradigma produtivista ................................................................ 11
1.1.2 O paradigma consumista ................................................................ 14
1.1.3 Evoluções e “involuções”: o social e o jogo .................................... 20
1.2 O PROBLEMA .................................................................................... 25
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 35
2.1 FACTORES PSICOLÓGICOS DETERMINANTES DO RENDIMENTO
DESPORTIVO .............................................................................................. 36
2.2 AUTOCONFIANÇA ............................................................................ 42
2.3 NEGATIVISMO .................................................................................. 44
2.4 ATENÇÃO .......................................................................................... 46
2.5 IMAGÉTICA........................................................................................ 48
2.6 PENSAMENTOS POSITIVOS ............................................................ 50
2.7 ATITUDE COMPETITIVA ................................................................... 51
2.8 MOTIVAÇÃO ...................................................................................... 52
2.8.1 Orientações cognitivas ................................................................... 54
2.9 ESTUDOS REALIZADOS COM O PERFIL PSICOLÓGICO DE
PRESTAÇÃO ................................................................................................ 57
2.10 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS E HIPÓTESES ................................... 60
3 METODOLOGIA ........................................................................................ 63
3.1 AMOSTRA.......................................................................................... 63
3.2 VARIÁVEIS ........................................................................................ 65
3.3 INSTRUMENTOS............................................................................... 66
3.3.1 Questionário para dados pessoais ................................................. 66
3.3.2 Perfil Psicológico de Prestação ...................................................... 66
3.3.3 Questionário de Orientação para a Tarefa e Ego no Desporto ....... 68
3.3.4 Escala de Negativismo e Autoconfiança ......................................... 69
3.4 PROCEDIMENTOS ............................................................................ 72
3.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO .......................................................... 72
3.6 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES ....................................................... 74
4 RESULTADOS .......................................................................................... 77
4.1 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA ENAC ........ 77
4.1.1 Consistência interna ....................................................................... 78
4.1.2 Análise factorial confirmatória ......................................................... 78
4.2 SKILLS PSICOLÓGICOS ................................................................... 79

XI
4.2.1 Nível competitivo ............................................................................ 80
4.2.2 Posição ........................................................................................... 81
4.2.3 Idade ............................................................................................... 82
4.2.4 Experiência Competitiva ................................................................. 83
4.3 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS .......................................................... 84
4.3.1 Nível competitivo ............................................................................ 85
4.3.2 Posição ........................................................................................... 85
4.3.3 Idade ............................................................................................... 86
4.3.4 Experiência competitiva .................................................................. 87
4.4 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA ............................................... 88
4.4.1 Nível competitivo ............................................................................ 88
4.4.2 Posição ........................................................................................... 89
4.4.3 Idade ............................................................................................... 90
4.4.4 Experiência competitiva .................................................................. 90
4.5 CONFIRMAÇÃO DAS HIPÓTESES ................................................... 91
5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS .............................................................. 93
5.1 SKILLS PSICOLÓGICOS ................................................................... 94
5.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS ........................................................ 108
5.3 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA ............................................. 114
6 CONCLUSÕES ....................................................................................... 121
6.1 REFLEXÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO ................. 122
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 129
8 ANEXOS ................................................................................................. 147

XII
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - caracterização da amostra em função idade .................................. 64


Quadro 2 - caracterização da amostra em função do nível competitivo ........... 64
Quadro 3 - caracterização da amostra em função da posição ......................... 65
Quadro 4 - caracterização da amostra em função da experiência competitiva 65
Quadro 5 - itens utilizados para o cálculo de cada skill psicológico do PPP .... 67
Quadro 6 - correspondência entre valores e o seu significado no PPP ............ 67
Quadro 7 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do TEOSQ .......... 69
Quadro 8 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do ENAC ............ 71
Quadro 9 - análise da consistência interna (alpha de Cronbach) da ENAC ..... 78
Quadro 10 - valores das medidas de ajustamento para a ENAC ..................... 79
Quadro 11 - análise descritiva dos skills psicológicos ...................................... 80
Quadro 12 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função do
nível competitivo ............................................................................................... 81
Quadro 13 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da
posição em campo............................................................................................ 82
Quadro 14 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da
idade ................................................................................................................. 83
Quadro 15 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da
experiência competitiva .................................................................................... 84
Quadro 16 - análise descritiva das orientações cognitivas ............................... 84
Quadro 17 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função
do nível competitivo .......................................................................................... 85
Quadro 18 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função
da posição em campo....................................................................................... 86
Quadro 19 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função
da idade ............................................................................................................ 87
Quadro 20 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função
da experiência competitiva ............................................................................... 87
Quadro 21 - análise descritiva do negativismo e da autoconfiança2 ................ 88
Quadro 22 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2
em função do nível competitivo ........................................................................ 89
Quadro 23 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2
em função da posição em campo ..................................................................... 89
Quadro 24 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2
em função da idade .......................................................................................... 90

XIII
Quadro 25 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2
em função da experiência competitiva.............................................................. 91
Quadro 26 - comparação das diferenças para a média em função da posição
....................................................................................................................... 104

XIV
LISTA DE ABREVIATURAS

AFC Análise factorial confirmatória


AMOS Analysis of Moment Structures
CFI Comparative fit index
CSAI Competitive State Anxiety Inventory
DP Desvio padrão
ENAC Escala de Negativismo e Autoconfiança
F Razão F
FIFA Fédération Internationale de Football Association
GFI Goodness of fit index
PIB Produto Interno Bruto
PPP Perfil Psicológico de Prestação
RMSEA Root mean square error of approximation
SAD Sociedade Anónima Desportiva
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TEOSQ Task and Ego Orientation in Sport Questionaire
UEFA Union of European Football Associations
X² Chi square
X²/df Ratio chi square statistics/degrees of freedom
η2 Partial eta-squared

XV
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

O futebol actual, como facto social total, conceito proposto por Mauss
(1974), é um fenómeno complexo no qual as instituições sociais se exprimem e
o todo social pode ser observado. Nele o funcionamento e a evolução da
sociedade se evidenciam, constituindo, como tal, um microcosmos e um
espelho nos quais ela se reflecte e pode ser reflectida.

Como fenómeno social total, o futebol rege-se pelos princípios da


competitividade, do rendimento e da eficácia, personificando na perfeição os
actuais paradigmas produtivista e consumista da nossa cultura industrial
referenciados por Bento (2009) e Brito e Alves (2002). É cada vez mais uma
área comercial, uma indústria que possui um papel importante na sociedade
capitalista em que vivemos ao movimentar biliões de euros e infindáveis
recursos humanos e materiais. É um fenómeno global, com um número
crescente de praticantes, adeptos e consumidores, que vai despertando cada
vez mais a atenção da comunicação social, deixando de ser apenas um jogo
para se tornar num campo onde se disputam interesses desportivos,
económicos, sociais e, frequentemente, políticos.

Hoje em dia, não existem na sociedade portuguesa muitas actividades e


campos sociais que ocupem lugar tão central nos média, nas sociabilidades,
nos gostos dominantes, como o futebol (Coelho, 2000).

Como sugere Santos (2004), o futebol perdeu a sua dimensão de


desporto, entendido este na sua acepção antropológica. Passou a ser uma
mercadoria subordinada às regras do mercado: oferta e procura. Assim, a
dimensão lúdica do futebol está agora remetida para quem o compra, da
mesma forma que compra teatro, cinema ou outra forma de arte ou lazer. O
futebol só é prazer e espectáculo para quem o observa e vive como espectador
(Santos, 2004).

1
Silva e Rubio (2003) referem que se ouve com certa frequência a
afirmação de "que o desporto de hoje não é mais como era antigamente".
Desde o surgimento das actividades físicas com a finalidade de competição até
aos grandes espectáculos dos dias actuais, o desporto tem sofrido inúmeras
transformações. O ideal desportivo do atleta grego antigo não é o mesmo do
atleta moderno, que também não é igual ao do atleta contemporâneo. Além da
mudança de valores, a própria prática das modalidades, com as suas técnicas
desportivas, equipamentos e regras, tem sido alterada. O desporto tem
acompanhado as transformações que ocorrem na sociedade, reflectindo, no
seu próprio ambiente, os avanços científicos, tecnológicos e os valores criados
e desenvolvidos pelos indivíduos.

A actual dimensão sócio-cultural e, acima de tudo, económico-financeira


do futebol, com uma crescente proliferação de clubes-empresa, cuja
sobrevivência e interesses acoplados dependem do sucesso desportivo das
suas equipas, exige mais que nunca, à imagem dos mundos empresarial e
industrial, excelência na produtividade. É um universo extremamente dinâmico,
exigente, nivelado e selectivo, profundamente marcado pela competitividade e
pela procura do resultado, que requer um estudo constante dos processos que
influenciam os desempenhos colectivo e individual, procurando não só a
identificação dos factores que influenciam a performance desportiva, mas
também dos elementos que diferenciam os futebolistas de sucesso dos outros
de menor sucesso, numa procura constante da maximização do rendimento.

No universo do desporto de competição é habitual a afirmação de que o


rendimento desportivo é um fenómeno multidimensional por serem vários os
factores que concorrem para a sua efectivação (Garganta, Marques, & Maia,
2002). Contudo, os factores psicológicos são uma das razões que mais vezes
são apontadas pelos diferentes “actores” desportivos para justificar as
prestações, nomeadamente quando elas e respectivos resultados ficam aquém
do desejado ou esperado (Fonseca, 2004). No futebol, as pressões do
envolvimento social resultantes dos diversos interesses envolvidos no
fenómeno e as especificidades e evoluções do próprio jogo, exigem futebolistas

2
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

psicologicamente fortes, resistentes, robustos e determinados. É um mundo


cada vez mais marcado por altos níveis de exigência e pressão.

Como exemplo, a era dos “galácticos” Zidane, Ronaldo, Figo, todos eles
eleitos pela FIFA, pelo menos uma vez, o Melhor Jogador do Mundo, de David
Beckham, várias vezes nomeado, não esquecendo os conceituados Raul e
Roberto Carlos, do multinacional Real Madrid, resultou de uma forte estratégia
de marketing por parte do presidente do clube, Florentino Pérez. A iniciativa,
verdadeiro sucesso em termos financeiros, uma vez que o retorno conseguido
foi enorme com a venda de camisolas, artigos diversos e o apelo do marketing,
resultou, contudo, num tremendo fracasso em termos desportivos, uma vez que
o clube merengue não conquistou, durante esse período, o número de títulos
desejados e esperados (Carlin, 2004). As solicitações a que os futebolistas
eram frequentemente sujeitos, nomeadamente em termos publicitários,
condicionaram, segundo alguns analistas desportivos, a necessária capacidade
de concentração para o desempenho desportivo ao mais alto nível. Foi
inclusive ventilado na comunicação social, que os horários dos treinos eram
frequentemente adaptados aos compromissos publicitários dos jogadores.
Também alguns comentadores desportivos especularam relativamente à
hipótese destas situações terem fortemente condicionado as prioridades
pessoais dos atletas, questionando-se mesmo a natureza da motivação e da
atitude competitiva demonstradas por alguns deles.

No Campeonato do Mundo de 2002, o futebolista português João Pinto,


após uma sequência de decisões bastante polémica, agrediu o árbitro do jogo.
Este acto valeu-lhe a expulsão e a suspensão de toda a sua actividade
desportiva por seis meses. Também o francês Zinedine Zidane, eleito três
vezes pela FIFA como o Melhor Jogador do Mundo, agrediu um adversário no
seu jogo de despedida depois de ter sido insultado pelo mesmo. Esta situação
ocorreu aos dois minutos da segunda parte do prolongamento da final do
Campeonato do Mundo de Futebol de 2006, disputado entre a França e a Itália.
Este descontrolo valeu a Zidane a expulsão do jogo, tendo o seu país perdido o
título por 5-3 na marcação de grandes penalidades. Segundo Buffon, guarda-
redes da selecção italiana, embora a final tenha sido decidida através da

3
marcação de grandes penalidades, foi aquele o momento decisivo que permitiu
a si e aos seus colegas a reviravolta do ponto de vista motivacional, já que era
evidente o domínio e ascendência gauleses naquela fase tão importante do
jogo.

Da análise das declarações, quer públicas quer privadas, de jogadores,


treinadores, dirigentes, ou mesmo de simples adeptos, resulta a percepção de
que poucas vezes os resultados ou níveis de rendimento são determinados por
aspectos físicos, técnicos e até tácticos. Ansiedade, motivação, emoções,
concentração, mentalidade, atitude, objectivos, são sem dúvida as expressões
mais recorrentes. Na verdade, tal como observa Fonseca (2004), não existe
uma única jornada, ou mesmo um único jogo, em que não sejam convocadas
razões ou factores de natureza psicológica para procurar predizer, descrever
ou interpretar um qualquer resultado ou desempenho de um dado futebolista
em particular ou de uma equipa em geral. Há, sem dúvida, um reconhecimento
geral do papel exercido pelos factores psicológicos no rendimento desportivo
dos jogadores e das equipas de futebol. Como disse José Mourinho, quando
recebeu pela primeira vez o prémio de melhor treinador de futebol do mundo,
ao apontar o segredo para o sucesso das suas equipas, “o mais importante é a
cabeça”, “ a motivação”.

Actualmente é inquestionável a influência e importância dos factores e


competências psicológicas no rendimento desportivo (Coelho, 2007; Cruz,
1996b; Loehr, 1986; Vasconcelos-Raposo, 1993). Gomes e Cruz (2001)
chamam atenção para a possibilidade das competências psicológicas poderem
fazer a diferença entre atletas de sucesso e os outros, com menor sucesso e
padrões de desempenho desportivos claramente inferiores. A preparação
psicológica tem vindo a ganhar relevo e importância no contexto desportivo
(Gomes & Cruz, 2001; Vasconcelos-Raposo & Aranha, 2000).

A optimização da performance e a excelência no rendimento desportivo


tem recebido ao longo dos tempos o precioso contributo de um leque variado
de ciências do desporto. No entanto, áreas como a fisiologia, a biologia,
biomecânica, a medicina, entre outras, estão de tal forma desenvolvidas que o

4
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

seu contributo para a melhoria das prestações desportivas não se tem revelado
tão diferenciador como o foi no passado. As próprias dimensões física e técnica
do rendimento desportivo ao nível Jogos Desportivos Colectivos de alta
competição, frequentemente enfermas de uma abordagem castradora porque
encaradas isoladamente da componente globalizante – a táctica - no processo
de treino, estão tão exploradas que é de facto o “psicológico” que começa a
fazer a diferença. Esta realidade é por demais evidente no contexto competitivo
das equipas de futebol de alto rendimento, cuja filosofia de vitória (jogar
sempre para ganhar) está presente em todos os jogos e competições. De facto,
nem sempre as que têm mais sucesso são as que possuem nas suas fileiras os
jogadores mais habilidosos, os que treinam “mais metros” ou as que têm os
modelos de jogo mais desenvolvidos ou consolidados.

Na actualidade é unanimemente reconhecido o papel que a Psicologia


do Desporto pode ter na melhoria da performance desportiva (Fonseca, 2001;
Vasconcelos-Raposo & Aranha, 2000). O estudo das características, factores e
competências psicológicas relevantes para o rendimento na alta competição
tem vindo, de facto, a emergir como um dos principais temas de investigação
neste domínio (Cruz, 1996b).

Para Vasconcelos-Raposo (1993), a psicologia é a área onde se podem


obter ganhos mais significativos, já que permite o desenvolvimento das
capacidades humanas até níveis ainda para nós desconhecidos. Este autor
sugere que quanto maior é o nível competitivo maior é a importância que esta
dimensão assume.

O raio de acção da Psicologia do Desporto não se limita ao “laboratório”.


Pelo contrário, pode estender-se ao “terreno” com o acessoramento e
intervenção junto de atletas, equipas e treinadores, através da elaboração e
execução de programas de acompanhamento e preparação psicológica,
podendo assim integrar, entre outras áreas, o processo de treino e a
preparação da competição.

5
Pacheco (2003) refere que o treino das competências psicológicas
proporciona aos desportistas em geral e aos de alto rendimento em particular,
excelentes possibilidades de encontrarem soluções individualizadas e
adequadas para responder às exigências e dificuldades que a competição lhes
coloca. Segundo aquele autor, o paradigma de base desta prática tem amplas
analogias com o do treino físico, pois tal como as competências físicas,
técnicas e motoras, também as psicológicas podem ser aprendidas,
modificadas e melhoradas.

Vasconcelos-Raposo (1993) afirma que o treino mental visa maximizar o


uso pleno das capacidades humanas dos atletas, fazendo com que sejam
minimizados, e de preferência neutralizados, os elementos prejudiciais ao seu
rendimento. Este investigador, como já referimos, aponta a Psicologia do
Desporto como a área onde se pode obter ganhos mais significativos.

Nos jogos desportivos colectivos, os dados e indicadores obtidos na


investigação são preciosos para a melhoria do processo de treino e
potenciação do desempenho individual e colectivo em competição (Tavares,
1999). O caso do futebol de alta competição, nomeadamente o de alto
rendimento, pela especificidade dos seus processos físicos, técnicos, tácticos,
psicológicos, de socialização e enculturação, por um lado, e envolvências
socioculturais e económico-financeiras, por outro, requer da Psicologia do
Desporto uma intervenção adaptada e aplicada à sua realidade.

Os propósitos da nossa investigação, realizada no âmbito da Psicologia


do Desporto aplicada ao futebol e à luz das propostas de Loehr (1986) e
Vasconcelos-Raposo (1993), são a caracterização do perfil psicológico de
prestação do futebolista português e a identificação das variáveis psicológicas
que diferenciam jogadores de diferentes níveis competitivos. No entanto,
porque esperamos com este trabalho contribuir também para uma melhor
compreensão dos processos psicológicos que envolvem o rendimento
desportivo dos futebolistas portugueses, entendemos ser aqui necessário o
alargamento da “lente” com que abordamos o nosso problema. Como tal, a
preceder o desenvolvimento e apresentação do mesmo, apresentaremos de

6
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

seguida um capítulo no qual, imbuídos do espírito da Psicologia Cultural


defendido por Vasconcelos-Raposo (1993, 1994b) e Vasconcelos-Raposo,
Gonçalves e Teixeira (2005), reflectiremos sobre o futebol como facto social
total, segundo o conceito proposto por Mauss (1974).

1.1 O FUTEBOL COMO FACTO SOCIAL TOTAL

Segundo Bento (1995), o desporto é um campo de conhecimento e de


objectivação da vida e do homem, um verdadeiro “espelho” onde o homem
reflecte todas as suas acções e atitudes. É por isso uma actividade
antropológica essencial dado que é nas actividades que o homem se revela em
toda a sua plenitude e transparência. Assim, nas palavras daquele autor,
“reflectir sobre o desporto é reflectir sobre o homem, sim, porque são os
homens quem pratica desporto, quem o inventou, quem lhe dá força e
conteúdo” (p.188).

Ao longo da história da humanidade, os jogos e as actividades


desportivas foram sofrendo alterações de carácter social, político e económico.
Consoante as instituições eram mudadas, e de acordo com o tipo de poder que
era estabelecido, também a organização e a própria natureza do desporto o
eram (Vasconcelos-Raposo, 1993).

A história do desporto é indissociável da cultura humana, já que através


dela conseguimos compreender épocas e povos. Cada período histórico tem os
seus desportos nos quais a essência de cada povo se reflecte. Como tal, o
estudo do fenómeno desportivo constitui um importante auxílio para a
compreensão do funcionamento da sociedade contemporânea. Esta
importância acentua-se quando o desporto em causa ocupa uma posição de
indiscutível relevância no sistema social global, como é o caso do futebol na
actualidade.

7
Nas últimas décadas do século XX assistiu-se ao fim de uma civilização
com o desmembramento da União Soviética, ao final do regime comunista nos
diversos países do Leste Europeu, à quebra do Muro de Berlim, à
democratização de algumas nações e, consequentemente, ao surgimento de
uma nova ordem social. Foi um período de progressivo reconhecimento e
acentuada consagração dos direitos humanos. Entre estes encontrou-se o da
prática desportiva, então contemplada em vários textos constitucionais como
um elemento de afirmação e qualificação da cidadania. O desporto viu-se
assim investido de um crédito extremamente valorizador da sua relevância
social, cultural e humana. Segundo Bento (2000), atingiu uma expansão sem
par noutras áreas, com índices de crescimento impressionantes, ao ponto do
século XX ser rotulado como o estranho século do desporto.

O desporto nunca foi tão penetrante e influenciador da vida das pessoas


como o é actualmente nas sociedades industrializadas ou em vias de
industrialização (Vasconcelos-Raposo, 1993). Tal como em outros tempos, o
desporto de hoje resultou da criação de pessoas que no seu dia-a-dia
procuram lidar, de uma forma ou de outra, com as condições que a sociedade
em que viveram lhes impôs.

Hoje em dia, o desporto moderno é culturalmente universal, sendo


praticado e consumido, de uma forma ou de outra, em todo o mundo. Neste
contexto, o futebol ocupa a linha da frente, sendo unanimemente reconhecido
como o desporto mais popular do planeta (Wagg, 2006). A nível mundial
envolve directa e indirectamente biliões de pessoas, entre praticantes e
adeptos, para além de incalculáveis recursos humanos e materiais nas mais
variadas áreas (Murad, 2007a, 2007b). A nível nacional não existem muitas
actividades e campos sociais que ocupem um lugar tão central nos média, nas
sociabilidades, nos gostos dominantes (Coelho, 2000). Gilberto Madail,
presidente da Federação Portuguesa de Futebol, chegou a referir-se ao futebol
como a maior multinacional do mundo (Madail, 2004).

Em 2001, cerca de 250 milhões de pessoas, 4,1% da população


mundial, foram consideradas “participantes no jogo”, ou seja, estavam directa

8
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

ou indirectamente ligados. O Campeonato do Mundo de Futebol de 2006,


realizado na Alemanha, teve um total de audiência televisiva de 26,29 biliões
de pessoas. Actualmente é um fenómeno que movimenta US$ 240 biliões por
ano no mundo, responde por cerca de 1% do PIB nos países mais
desenvolvidos e 5,4% na Comunidade Europeia, empregando nesta 3,4% da
sua mão-de-obra. Em termos nacionais, constitui uma parte importante do
tecido industrial português. Em termos de globalização, o futebol só tem um
rival à altura: os Jogos Olímpicos (Wagg, 2006).

A enorme evolução que o desporto teve no século XX transformou-o nos


seus conceitos, práticas e modelos de organização (Serpa, 2007). O futebol,
cada vez mais uma área comercial, uma indústria, tem um papel importante na
sociedade capitalista em que vivemos. Para Joyce (2002), os aspectos sociais,
económicos e políticos que o envolvem assumiram uma importância que vai
para além da mera prática e performance dos jogadores. A profundidade do
futebol profissional, neste momento, é tão grande que tudo o que se passa no
jogo e todos os seus intervenientes são analisados ao pormenor.

O filósofo Manuel Sérgio defende que o desporto moderno nasce da


secularização que a modernidade sustentou e levou a cabo. “Daí que, nela,
Deus tenha morrido, como pretendia Nietzsche, e no seu lugar proliferem
pequenos deuses (minha: dinheiro, progresso, etc.) e grandes mitos, que ainda
lhe restam” (Sérgio, 2003, p. 13). Para este filósofo, o desporto ocupa, hoje,
uma posição de indiscutível relevância no sistema social global. Transformar
este desporto significa inevitavelmente afectar os interesses de grupos e de
lobbies, com sólidos apoios na ordem social estabelecida (Sérgio, 2003). Costa
(1997) refere ainda que, se por um lado o desporto tem como fundador e
destinatário a sociedade lúdica, por outro esta tem como adversário a
sociedade económica.

Exemplo paradoxal da transformação social do desporto é os Jogos


Olímpicos. Os ideais de Pierre de Coubertin, puramente amadores, foram
absorvidos e substituídos por outros, entre os quais o elevado profissionalismo.

9
Hodiernamente, os patrocínios representam a alma de toda a estrutura
organizacional da competição (Capinussú, 1991).

Têm sido muitas as definições e denominações com que o futebol tem


sido presenteado. Para uns desporto, actividade comercial, indústria, negócio,
espectáculo. Para outros, actividade de lazer, escape e paixão. Pensamos que
esta variabilidade, se por um lado resulta da natureza e variedade das
inúmeras “lentes” e “filtros” com que tem sido abordado, por outro, é fruto da
forma como é sentido ou vivenciado. Na nossa opinião, ambos são razão,
produto e produtor da natureza e magnitude da sua presença como o desporto
mais popular e mediático do planeta.

O futebol é, na actualidade, o exemplo mais fiel do desporto moderno


como facto social total, conceito proposto por Mauss (1974). Nele as
instituições sociais se exprimem e o todo social pode ser observado (Coelho,
2000; Costa, 1997, 2002, 2004, 2006; Murad, 2007a, 2007b). De natureza e
funcionamento simbólicos, integrado numa realidade social concreta, o
desporto em geral e o futebol em particular representam simbolicamente a
sociedade, tanto no seu funcionamento global, como nas suas vertentes mais
diversas. São uma metáfora (Costa, 1997) e uma alegoria do teatro do mundo
(Silva, 2007), verdadeiramente representativos da actual sociedade global.

Para Tiesler e Coelho (2006), cinco importantes elementos e


consequências dos processos de globalização – nomeadamente a migração
internacional, o fluxo de capital global, a natureza sincretista da tradição e da
modernidade na cultura contemporânea, as novas experiências do tempo e do
espaço e o desenvolvimento revolucionário das tecnologias da informação –
tornam-se particularmente expressivos no estudo do futebol e das realidades
que lhe estão associadas. A análise dos fenómenos relacionados com o futebol
nas áreas da nação e da migração, dos mitos e dos negócios, da cidade e do
sonho, revela de que modo o futebol moderno constitui em si mesmo não
apenas um objecto, mas também um sujeito, um agente dos processos de
globalização.

10
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

À medida que o século XX foi caminhando para o seu fim, o futebol foi
sofrendo rápidas e profundas transformações, originadas pelo seu potencial
social e económico e pela globalização. As transformações políticas, por
exemplo, entre as quais o alargamento do espaço europeu, trouxeram novas
realidades. Com a Lei Bosman, a mobilidade de jogadores passou a ser uma
realidade, sendo uma das principais razões da sua actual mercantilização
(Coelho & Pinheiro, 2004).

Costa (1997) refere-se ao desporto moderno como sendo um produto da


sociedade industrial, que reproduz a imagem desta mesma sociedade, o seu
funcionamento, as suas crises, contradições, sonhos e esperanças. Assim,
sendo um microcosmos e um espelho da actual cultura industrial, funciona
segundo um tríplice princípio fundamental: eficácia, rendimento e progresso.
Também Mendes e Janeira (1998) consideram o desporto moderno como um
espelho de uma sociedade regulada pelos princípios da competição e da
produtividade, numa busca constante por performances máximas (Mendes &
Janeira, 1998). As forças económicas e a ênfase no sucesso tornaram-se de tal
maneira importantes que acabaram por influenciar significativamente a sua
organização e até definição (Vasconcelos-Raposo, 1993). Assim, o desporto
em geral e o futebol em particular são o exemplo cabal dos paradigmas
produtivista e consumista que caracterizam a sociedade actual (Bento, 2009;
Brito & Alves, 2002).

1.1.1 O paradigma produtivista

Bento (2009) refere que o paradigma produtivista preside a todos os


sectores produtivos da sociedade actual. Mais que um meio de humanização e
qualificação, o trabalho passou a objectivo. Trabalhar e produzir o mais
possível, superar e esmagar os outros em índices quantitativos de
produtividade é actualmente uma obsessão transversal a todas as áreas da
nossa sociedade industrial.

11
A actual dimensão social, cultural e económico-financeira do futebol,
marcada pelo surgimento de clubes-empresa, com a denominação de SAD
(Sociedade Anónima Desportiva), cuja sobrevivência e interesses dependem
do sucesso desportivo das suas equipas, exige mais que nunca, à imagem dos
mundos empresarial e industrial, excelência na produtividade. No jornal
desportivo O Jogo de 9 de Maio de 2009 é referenciada a existência de
movimentações das próprias cotações nos mercados bolsistas dos respectivos
países de clubes como o inglês Birmingham e o turco Besiktas, isto poucas
horas após resultados importantes. As vitórias ou derrotas ditaram,
respectivamente, valorizações ou desvalorizações imediatas. É ainda noticiado
que a poucos dias da provável renovação de um título nacional, a cotação da
F.C. Porto SAD registou uma valorização ao longo da semana e um volume de
transacções três vezes superior à média do último mês (Anunciação, 2009).

O futebol profissional é um universo extremamente dinâmico, exigente,


nivelado, selectivo, competitivo e de alta concorrência, em que o que conta é a
produtividade, a eficiência e o resultado. Não há lugar para os derrotados.
Segundo Costa (1997), já os romanos tinham um ditado que ainda hoje
personifica a sociedade em que vivemos: “ai dos vencidos”. A história só fala
dos pequenos quando eles se encontram com ela na qualidade de vencedores.
Hoje em dia isto ainda é uma realidade. Numa entrevista por si concedida após
ter sido campeão do Cálcio da época 2008/2009 pelo Inter de Milão, o treinador
José Mourinho referiu, a propósito do facto de não perder jogos em casa, como
treinador, à mais de sete anos, que quando a derrota surgir o herói será quem
o conseguir e não ele, que esteve 120, 150 ou mais jogos sem perder (Dias,
2008).

Os processos de selecção de indivíduos no desporto, tal como nos


mundos empresarial, industrial e na sociedade em geral, são prática comum. A
preocupação na escolha dos melhores recursos humanos é um reflexo da
actual sociedade, porque o desporto actual, enquanto fenómeno de ordem
social de grande impacto, também se rege pelos princípios da máxima
produtividade e máximo rendimento (Brandão, 1999). O que se pretende é
dotar as organizações (clubes, equipas) de pessoal adequado para

12
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

desempenho de determinadas funções (dirigentes, equipas médicas,


treinadores, jogadores, etc.) de modo a se obter a maior rentabilidade.
Segundo Brandão (1999), é necessário recolher informações detalhadas
acerca dos “candidatos” de modo a ser possível identificar os mais aptos.

Numerosos investigadores da Psicologia Industrial têm procurado


solucionar este tipo de problemas, através da identificação de relações entre
indicadores do comportamento e o rendimento ou produtividade dos
trabalhadores. Além de analisarem as tarefas e as características individuais
dos candidatos, procuram estudar a quantificação das suas interacções,
possibilitando a modelação da performance e a elaboração e aperfeiçoamento
de novos processos de selecção de pessoal (Brandão, 1999).

No futebol, a implementação de redes de prospecção de talentos,


através de “caça-talentos” ou “olheiros”, e a forte aposta na formação, com
escolas ou academias, são uma realidade em crescimento. O próprio conceito
de “um clube, um modelo de jogo, um modelo de jogador”, complementado
com “um modelo de formação, um modelo de treino, um modelo de treinador”,
reflecte esta necessidade de modelação e de aposta nos próprios recursos, na
produção própria. Estas tendências espelham também a “veia” mercantilista do
futebol profissional, porque se por um lado existe uma aposta na própria
formação, por outro é uma produção virada para o mercado, a rentabilização.
Os preceitos necessários para criar um jogador de alto rendimento são
equivalentes aos utilizados, genericamente, em outras actividades
profissionais. Num mercado competitivo sobreviverão os melhores e os mais
aptos (Domingos, 2004).

A equipa holandesa Ajax é uma referência mundial do modelo de clube


direccionado para a formação de futebolista de elite. “Viveiro” de alguns dos
melhores jogadores do mundo, na verdade poucas vezes atingiu a hegemonia
a nível europeu. Em contrapartida, são inúmeros os futebolistas formados
neste clube que jogam na selecção holandesa e nas melhores formações do
mundo.

13
A proliferação de torneios internacionais de futebol jovem acaba por
satisfazer, entre outras, a necessidade de existência de “montras” de
futebolistas. Exemplos paradigmáticos deste fenómeno são o Torneio de
Toulon para selecções jovens sub-20 e o Mundialito de Clubes e Escolas de
Futebol de 7, que decorre anualmente no Algarve. No primeiro foram inúmeros
os talentos que despertaram ou deram nas vistas, tais como Passarella
(Argentina), Jean-Pierre Papin (França), Hristo Stoichkov (Bulgária), Zinedine
Zidane (França), Cristiano Ronaldo (Portugal), entre outros. Na edição de 2008
do segundo, participaram 116 equipas de dezoito países e cerca de 2000
jovens atletas (divididos pelos escalões de pré-escolas, escolas e infantis)
oriundos de quatro continentes. Tanto num como noutro, concentram-se
regularmente “olheiros” de clubes de todo o mundo, na esperança da
descoberta de um novo “diamante” a lapidar e, consequentemente, activos
para posterior rentabilização.

A detecção de talentos realiza-se em faixas etárias cada vez mais


baixas, chegando mesmo a atingir-se situações extremas como as que
recentemente foram divulgadas na televisão, com a revelação de “craques” de
tenra idade, com 4 anos e às vezes menos. Michel Platini, um dos mais
emblemáticos futebolistas franceses de sempre e um dos melhores do mundo
de todos os tempos, actual presidente da UEFA, manifestou recentemente a
sua indignação por aquilo que classificou de “tráfico de crianças”, em que
clubes celebram contratos com pais de crianças de tenra idade. Platini
manifestou publicamente a intenção de propor à FIFA a proibição de
transferências de jogadores com menos de 18 anos, face à galopante
exploração infantil no futebol, um pouco à imagem do que se passa em muitas
áreas da sociedade e zonas do globo.

1.1.2 O paradigma consumista

O paradigma consumista da sociedade moderna é igualmente visível no


futebol. Nos últimos anos, este converteu-se em algo inevitável, não se
limitando aos estádios, invadindo todos os terrenos. É a estrela dos meios de

14
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

comunicação, o centro das conversações quotidianas, a obsessão de alguns, a


razão de viver de muitos e um autêntico pesadelo para os poucos que não
entendem este fenómeno (Alvito, 2006). Os adeptos do desporto foram
autenticamente pulverizados por "estímulos desportivos" através da
comunicação social, como forma de promoção do consumo de produtos
diversos e aproveitamento do desporto como meio de propaganda e controlo
de massas por parte de governos e grupos dominantes (Brito & Alves, 2002).

A pulverização dos "estímulos desportivos" é hoje uma evidência face à


actual realidade do desporto como indústria do espectáculo promovida pelos
poderosíssimos "novos governos" (os meios de comunicação) e grandes
empresas de comunicação social (Brito & Alves, 2002).

O poder económico transgride as mais elementares regras do bom


senso e tudo arrasta. As guerras de audição dominam o terreno das televisões
que controlam e balizam o espectáculo (Serpa, 2000). Aliás, os mass média
desde a primeira hora que reconhecem a importância do desporto como
fenómeno social (Vasconcelos-Raposo, 1993).

Hoje em dia os investimentos no desporto são inseparáveis da lógica do


espectáculo desportivo fortemente mediatizado. Na opinião de Constantino
(2000), o que torna o desporto um dos maiores mercados publicitários é a
osmose que se estabeleceu entre um evento desportivo e a sua possibilidade
de transmissão televisiva.

O suposto diálogo entre o treinador do Real Madrid, Carlos Queiroz, e o


presidente do clube, Florentino Pérez, que teria perguntado ao primeiro se ele
sabia “o número de telespectadores que desliga a televisão quando Ronaldo
sai de campo” (Coelho & Pinheiro, 2004), é ilustrativo e emblemático da
problemática que descrevemos.

Em Inglaterra, graças ao contrato trienal de comercialização dos direitos


televisivos, com início em 2007/2008, no valor total de 4.000 milhões de euros,
a Premier League (principal campeonato de futebol) encaixará uma média de

15
1.335 milhões de euros por temporada. O campeão deverá receber uma verba
próxima dos 75 milhões de euros, enquanto o último classificado arrecadará
pelo menos 45 milhões de euros (Anunciação, 2008), este último superior ao
orçamento de qualquer clube português.

Só que a televisão, mais que transmitir um acontecimento, acaba


mesmo por o produzir. A televisão reelabora um produto que é
substancialmente diferente do que é visto no próprio local. Constantino (2000)
questiona: quem define a lógica dos calendários desportivos? O número de
competições? O horário dos jogos? O que estará primeiro, critérios de
rentabilidade desportiva ou de eficácia financeira? A exploração dos desportos
como forma de promoção do consumo de produtos diversos abrange hoje em
dia industrias tão diversas, desde a construção à imprensa, passando pela
produção em massa de equipamento de toda a espécie (materiais, roupas,
bolas, instrumentos diversos) e pelo turismo (Brito & Alves, 2002).

Historicamente marcado pela paixão e pelo arrebatamento colectivo, o


futebol torna-se o “carro-chefe” da indústria do entretenimento e o tema central
de inúmeros e diversos apelos publicitários, sendo utilizado para vender de
tudo. A plasticidade da mercadoria futebol permite que ele seja vendido ou
comercializado sob diversas formas, em canais variados: televisão, telemóvel
(novo e promissor mercado), jogos electrónicos de diversos tipos (inclusive
aqueles que simulam a “administração” da parte financeira dos clubes), revistas
especializadas, álbuns de cromos, sites com conteúdo exclusivo (partidas,
golos, melhores momentos) e outros (Alvito, 2006).

O aproveitamento do desporto pelos “poderes” instalados – governos ou


grupos dominantes – como forma de propaganda ou controlo de massas é
ainda hoje uma realidade, embora, na opinião de Paula Brito, esta influência
esteja a decrescer, dado que o indivíduo tende a ser cada vez mais conduzido
para a situação de "célula consumidora", importando menos a sua posição
ideológica ou atitude político-social (Brito & Alves, 2002). Para aquele autor, a
primeira força, composta pelos meios de informação, associar-se-á a uma
segunda, a produção e comercialização de artigos de consumo. Como em

16
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

geral ambas estão intimamente associadas ao poder, quando não são órgãos
desse mesmo poder ou então o próprio poder, a sua acção vai naturalmente
convergir para uma promoção e estimulação dos desportos que alimentem os
meios de informação e diversão - a indústria da diversão -, promovam o
elevado consumo e concentrem um máximo de indivíduos em ocupações ou
actividades controláveis (Brito & Alves, 2002).

Não é de ignorar o extraordinário impacto psicossocial exercido pela


publicidade, a qual se encontra na posse da citada trilogia de forças (Brito &
Alves, 2002). Os princípios elementares do moderno marketing, não
procurando satisfazer as necessidades básicas do indivíduo, procura criar-lhe
novas necessidades que se ajustem aos produtos comercializados no
“desporto-espectáculo-profissionalizado” Este leva ao aparecimento do
"desportista-profissional publicitário" ou "desportista-anúncio", que
simultaneamente fornece espectáculo (artigo de consumo da indústria de
divertimentos), o estímulo-exemplo (força promotora do consumo desse
desporto e respectivos produtos afins) e a emoção (conducente a um tipo
determinado de descarga, ou a uma orientação desejada da energia psíquica).
O desportista, embora possa estar integrado num clube-empresa, tenderá a
passar para empresas promotoras que o vestirão e nomearão com a marca ou
produto a promover directa ou indirectamente. Em alguns casos o clube
mantém-se enquanto a sua força de impacto afectivo-grupal for considerada
útil. Noutros acontece a associação do clube a uma marca ou a criação do
clube-marca, como acontece actualmente com alguns emblemas (Brito &
Alves, 2002).

Dentro da lógica de transformação dos grandes clubes do mundo em


“marcas globais” é que se entende o propósito das excursões de clubes
europeus ao Oriente, de olho no mercado asiático, sem falar na contratação de
jogadores locais com o mesmo objectivo (Alvito, 2006). Veja-se os casos do
Real Madrid, de Espanha, e do Manchester United, de Inglaterra, que se
deslocam aquela zona do globo não só na denominada pré-época mas também
ao longo do ano para a disputa de jogos e torneios diversos altamente
rentáveis.

17
No início de Julho de 2003, o Real Madrid, que acabara de contratar ao
Manchester United o futebolista inglês David Beckham por US$ 40 milhões,
vendeu em apenas meia hora, a 78 euros cada, 200 camisolas com o número
23 usado pelo jogador, não por acaso, o mesmo número que marcou a carreira
de Michel Jordan na NBA. O objectivo do clube espanhol era fechar a
temporada de 2003 com um milhão de camisas com o número 23 vendidas, o
que lhe garantiria 78 milhões de euros, mais do dobro do que a quantia gasta
com a aquisição de Beckham, isto apenas com esse tipo de fonte. Para
alcançar essa meta, o clube modificou a sua pré-temporada. Pela primeira vez
na sua centenária história, o clube espanhol treinou na Ásia, realizando jogos
amistosos na China, Japão, em Hong Kong e na Malásia (Coelho & Pinheiro,
2004). O alvoroço provocado pela passagem de Beckham e demais estrelas,
antecedida de ampla campanha mediática equivalente às de pop stars
internacionais, levou o clube espanhol a arrecadar, durante a sua pré-
temporada na Ásia de apenas 10 dias, US$ 48 milhões, US$ 7 milhões a mais
do que o investimento em Beckham. Cifras como estas entusiasmam os
defensores do “mercado” a radicalizarem as suas posições na busca de
ocupações de espaços na luta que se trava pela hegemonia do futuro do
futebol. O sucesso da passagem do Real Madrid pela Ásia, mensurado pelo
dinheiro arrecadado, pela abertura de mercados e pela afluência de público –
unidades de medida favoritas dos defensores do campo secular – forneceu
argumentos poderosos como a defesa da desterritorialização como estratégia
na busca do lucro máximo (Coelho & Pinheiro, 2004).

A direcção da Premier League, principal campeonato inglês de futebol,


avançou com uma proposta à FIFA, órgão directivo máximo do futebol mundial,
tendo como base a possibilidade de cada equipa realizar, a partir da temporada
2010/2011, um jogo do campeonato fora de Inglaterra, em países como os
Estados Unidos, Japão ou Austrália, onde existem milhões de adeptos dos
principais clubes britânicos e fontes de receitas capazes de gerar lucros de
milhões em publicidade e audiências televisivas. Esta proposta embora
inovadora no futebol, não é nova uma vez que a NBA e a Liga de Futebol
Americano (NFL) já realizam jogos fora dos Estados Unidos (Amaral, 2008).

18
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

A associação entre grandes empresas ou marcas e a realização de


campeonatos é uma evidência hoje em dia, tanto a nível mundial como
nacional. Liga Sagres, Liga Vitalis, a nível nacional e Barclays Premier League
a nível internacional são alguns dos exemplos que podemos referenciar. A
própria associação de algumas marcas de bebidas alcoólicas a clubes e
mesmo selecções desportivas são um dos exemplos mais flagrantes do
primado dos interesses económicos sobre outros outrora tão apregoados
porque indissociáveis de uma actividade saudável como a desportiva.

Actualmente proliferam também os "clube agência", onde se procede à


promoção de homens de negócios cuja generosidade financeira e afectiva
(dedicação) nada mais é do que um excelente investimento publicitário do seu
nome-marca e a oportunidade de não menos excelentes relações públicas, que
em pouco tempo e por breves contactos, podem abrir a porta a amplos
negócios (Brito & Alves, 2002).

Como refere Alvito (2006), parece que o futebol migrou das páginas
desportivas dos jornais para as colunas de economia, do mercado financeiro,
das bolsas de valores. Existe a impressão de que se está a ler um suplemento
económico, de notícias sobre contratos, licenciamentos, marketing, compra,
venda, empréstimo e até hipotecas (Alvito, 2006).

O jogo e a competição são cada vez menos para os que o protagonizam


e mais para os que deles se apropriam, como espectadores, comentadores,
empresários, dirigentes e accionistas. O desporto é um espaço social, estando
a sua construção condicionada pelas dinâmicas do conjunto de interesses
desportivos, comerciais, mediáticos, publicitários e políticos que o
contextualizam. O espectáculo desportivo sintetiza todos eles, deixando a
competição que nele decorre de ser apenas um jogo, onde confrontam e se
avaliam capacidades e talentos desportivos (Constantino, 2000).

O presidente do Inter de Milão, Massimo Moriatti afirmou uma vez:


“Negócio é negócio, o resto é conversa. Quem dita as regras são os sponsors,

19
os canais de televisão, a publicidade e as cotações nas bolsas de valores”
(Constantino, 2000, p. 176). O desporto em geral e o futebol em particular, à
imagem da sociedade contemporânea, encontram-se em permanente
mudança. Esta, sempre rápida e num tempo curto, reflecte-se na
transformação das atitudes, comportamentos e valores dos indivíduos.
Imperam os paradigmas produtivista e consumista, consubstanciados nos
princípios da produtividade, do máximo rendimento e da eficácia. Estes,
profundamente enraizados na sociedade, além de condicionarem os instintos
fundamentais da espécie humana – sobrevivência e comunicação –,
influenciam também a forma como o Homem encara o objectivo fundamental
da sua existência: ser feliz.

1.1.3 Evoluções e “involuções”: o social e o jogo

No prefácio que assinou no livro “O planeta do futebol” de Luís Freitas


Lobo, Paulo Sousa, antigo futebolista internacional português, refere-se à
forma como vivenciou os tempos em que jogou no principal campeonato
italiano. Diz que viver o futebol italiano é não ter paz e descanso. Há uma
pressão constante sobre o jogador de futebol. Todos exigem: os média, os
“tifosi”, a direcção, o adepto famoso. Quando chegou à Juventus até Luciano
Pavaroti falou sobre ele (Lobo, 2008).

Na opinião de Paulo Sousa (Lobo, 2008), a exigência que o meio coloca


nos jogadores, nos treinadores, nos directores e, consequentemente, nas
equipas, transformou profundamente o futebol italiano: a procura do resultado
tem-se evidenciado, nas últimas décadas, como uma cultura profundamente
enraizada no meio futebolístico. Os interesses económicos em torno do futebol
obrigam as equipas a ganhar, passando o espectáculo para segundo plano. A
fobia do perder ou a fixação pela obtenção de resultados positivos acabou por
promover o aumento do jogo defensivo e do contra-ataque, “imagem de marca”
da forma de jogar das equipas italianas. Esta cultura está tão enraizada que se
se chegar junto a uma criança italiana e lhe perguntar quem é o seu ídolo ou
que tipo de jogador gostaria de ser, grande parte responderá que quer ser

20
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

defesa como Canavarro ou stopper com Genaro Gatuso. Para Paulo Sousa,
esta obsessão pelo resultado traduz-se num futebol com características
dominantes de anti-jogo, contra-ataque, sistemas tácticos rígidos e físicos,
renunciando-se ao talento dos jogadores, deixando o espectáculo e o
espectador para segundo plano (Lobo, 2008).

Hoje em dia, no campo social, o jogador de futebol sofre pressões de


todos os quadrantes: direcção, equipa técnica, adeptos, comunicação social,
patrocínios próprios e da equipa. O futebolista, para ser um activo valioso para
o seu clube-empresa, tem de desempenhar eficazmente o seu papel tanto nas
interacções produzidas dentro de campo, como no seu comportamento social
diário (Domingos, 2004). A avaliação do seu desempenho, tal como um
operário especializado, por vezes principescamente remunerado, é uma
constante. É-lhe exigido um comportamento e desempenho irrepreensíveis,
exemplares e de excelência, consistentes e sem oscilações, durante toda
época. E, se possível, tal como qualquer operário, sem “acidentes de trabalho”,
vulgo lesões, dos quais resultam incapacidade para a produção e evidentes
prejuízos para o próprio, o clube e interesses comerciais e publicitários
envolvidos.

O incremento da popularidade do futebol está relacionado com um


conjunto de factos entre os quais se saliente a importância do marketing,
propiciada pela maior espectacularidade do jogo. Consequentemente, fruto do
paradigma consumista, os interesses económicos e financeiros acercam-se,
aumentando a sua influência de forma desmedida. Assim, como forma de
rentabilização do espectáculo, os jogadores são hoje submetidos a uma cada
vez maior pressão de jogos (espectáculos) em locais cada vez mais distantes.
Os seja, todos os agentes perceberam que quantos mais jogos, maiores
receitas e mais lucro (Soares, 2004).

Segundo Rebelo (2004), na actualidade, um jogador pode realizar 80


jogos oficiais por época, tanto em Portugal como noutro país europeu, quando
se somam os jogos ao serviço do clube e da selecção. Isto significa que,
durante os 11 meses que compõem a época desportiva, o futebolista de alto

21
rendimento está frequentemente exposto a períodos semanais de treino com
três competições.

O próprio jogo reflecte o futebol como facto social total. Nele se


reflectem igualmente o funcionamento e as evoluções da sociedade (Costa,
1997). O jogo de futebol, sendo uma criação do Homem, desenvolve-se
simultaneamente com a civilização, reflectindo os aspectos positivos e
negativos que toda a sociedade na sua evolução evidencia (Castelo, 2003).

O Futebol é um jogo desportivo colectivo, no qual os intervenientes


(jogadores) se agrupam em duas equipas numa relação de adversidade e
rivalidade, numa luta incessante pela conquista da posse da bola, respeitando
as leis do jogo, com o objectivo de a introduzir o maior número possível de
vezes na baliza adversária e evitá-los na sua própria baliza, com vista à
obtenção da vitória (Castelo, 2004). As equipas em confronto directo formam
duas entidades colectivas que planificam e coordenam as suas acções para
agir uma contra a outra, cujos comportamentos são determinados pelas
relações antagónicas de ataque e defesa. Representam assim, nesta
perspectiva, uma forma de actividade social, com variadas manifestações
específicas, cujo conteúdo consta de acções e interacções. A cooperação entre
os vários elementos é efectuada em condições de luta com adversários
(oposição), os quais por sua vez, coordenam as suas acções com vista à
desorganização dessa cooperação (Castelo, 2003). Também por estas
características o jogo pode ser reconhecido como uma metáfora da nossa
sociedade.

Costa (2002) diz que no desporto os principais símbolos são de natureza


cosmológica: a bola, imagem do sol, do cosmos, da terra e até da alma
humana; o terreno de jogo, imagem do mundo e representação do espaço
"cosmisado" da existência do homem; os próprios jogadores, actualização
mítica, dos deuses, dos heróis ancestrais e fontes de modelos para os seus
irmãos.

22
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

No jogo também se evidenciam as mudanças do social. A tendência


evolutiva do futebol de alto rendimento nos últimos tempos, espelho de uma
sociedade regida, essencialmente, por princípios de rendimento e de
competitividade, tendo em vista a obtenção de resultados, promoveu o
aparecimento de equipas e modelos de jogo calculistas, práticos,
desenvolvidos e direccionados para a obtenção de pontos, com prejuízos
óbvios para a espectacularidade do jogo.

Numa entrevista de fundo concedida ao jornal O Jogo em Novembro de


2006, Jorge Valdano considerava que o Barcelona praticava o melhor futebol
do mundo. Para ele, esta equipa espanhola era, claramente, um exemplo do
futebol actual, que procura a eficácia, que pensa muito na grande área, zona
perto da baliza e do golo, e pouco no centro do terreno. Um exemplo
paradigmático de como o futebol é uma metáfora da sociedade. A forma de
jogar evoluiu no sentido da eficácia. Só se marcam golos, ou mais golos, se se
jogar mais perto da baliza, ou seja na grande área (Ramos, 2006). Predomina
assim o lema “eficácia e rendimento acima de tudo”.

Estas evoluções, ou não serão antes “involuções”(?), a par de outras no


campo das ciências do desporto, especialmente na fisiologia do exercício e
metodologia de treino, resultaram numa redução do tempo e espaço
disponíveis justificados pelo aumento da intensidade e densidade de jogo, do
número de gestos e acções por unidade de tempo e do menor tempo de
recuperação. O tempo para pensar e decidir é menor, assim como o espaço
para o erro. Este, quando existe, muitas vezes não representa apenas uma
falha. Transforma-se, por vezes, no dínamo gerador de um conjunto nefasto de
acontecimentos e consequências, qual “bola de neve”, que não se limitam ao
campo e a mais uma derrota. Os interesses e anseios envolvidos conferem aos
acontecimentos uma dimensão, por vezes, inesperada porque dramática, dado
que o resultado é, mais que nunca, o grande motor emocional e comercial do
futebol.

Estas evoluções e “involuções” incutiram, inclusive, a necessidade de


adaptar as regras às novas características e peculiaridades do jogo. Melhor

23
dizendo, adoptaram-se novas regras e procedimentos para “transformar” o
espectáculo em algo mais atraente, espectacular e apetecível para o consumo.
A alteração do regime de pontuação, “recompensando-se” as vitórias com 3
pontos, mantendo-se o empate com apenas um ponto, e o benefício da equipa
que está a atacar por parte dos árbitros, em situações de dúvida, servem a
intenção de facilitar a existência de um maior número de golos por jogo e,
consequentemente, a sua espectacularidade, envolvência e, porque não,
dependência emocional. A própria adaptação da lei do atraso da bola ao
guarda-redes, impedindo-o de jogar “à mão” quando um colega de equipa a
passa intencionalmente, é uma forma de combate ao anti-jogo, estratégia
maçadora para quem assiste, inimiga do espectáculo.

Em suma, as pressões do envolvimento social, resultantes dos diversos


interesses envolvidos no fenómeno, e as crescentes exigências das
especificidades, evoluções e “involuções” do fenómeno e do próprio jogo, estas
também um espelho das novas necessidades do futebol-espectáculo como
mercadoria de consumo, exigem cada vez mais dos atletas determinação,
concentração e, acima de tudo, uma grande capacidade de auto-controlo do
ponto de vista emocional. Para além disso, o futebolista, como imagem e
“atleta-marca”, frequentemente integrado num “clube-marca”, que é também
frequentemente uma empresa, tem que fazer tudo por tudo por “vender e ser
vendido”. Tem ainda que ser um modelo, herói, alimentador de sonhos,
necessidades, reivindicações e um defensor de interesses, regionalismos e
nacionalismos.

O futebolista é, tal como o Homem, “perseguido” por Descartes, qual


“homem-máquina”, pois no esquecimento cai o “Homem que é espírito e
corpo… é inteligência e emoção” (Costa, 2002, p. 50), num mundo em que não
o pode fazer porque o futebol é um “estado de alma”, como diz Jorge Valdano
(Valdano, 1997).

24
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

1.2 O PROBLEMA

Como facto social total, tal como o desporto na sua generalidade, o


futebol funciona segundo os princípios da sociedade actual: competitividade,
rendimento e eficácia. Nele se reflectem os actuais paradigmas produtivista e
consumista da nossa sociedade. É um universo extremamente dinâmico,
exigente, nivelado e selectivo, cuja envolvência social e económico-financeira,
à imagem dos mundos empresarial e industrial, exige aos clubes e seus atletas
consistência e excelência tanto no rendimento como na produtividade e
resultados obtidos.

As pressões do envolvimento social, resultantes dos diversos interesses


que envolvem o futebol profissional, e as crescentes exigências das
especificidades e evoluções das competições e do próprio jogo, também estas
fruto das novas necessidades do futebol-espectáculo como mercadoria de
consumo, constituem um desafio permanente não só às capacidades de
trabalho e sofrimento, ao empenhamento, às motivações e auto-controlo
emocional, mas também à faculdade de superação por parte dos atletas. Por
outro lado, a busca desenfreada pelo sucesso no futebol tem levado
treinadores e dirigentes a perseguir os meios mais eficazes para a optimização
da performance (Carling, 2001).

Rebelo (1999, 2004) refere que é no nível competitivo mais alto que a
performance fica mais sujeita às diversas fontes de pressão psicológica. As
exigências colocadas pela elevada profissionalização do futebol e a
contundência da avaliação dos média e do público são fortes factores de
stress. O stress psicológico a que um futebolista está sujeito durante uma
época desportiva foi comprovado por Rebelo (1999, 2001) com dados
laboratoriais e de terreno através de estudos sobre o sobretreino. Ao longo de
uma época desportiva, este autor encontrou sinais de fadiga psicológica em
futebolistas profissionais portugueses. Os jogadores apresentaram elevados
níveis de tensão emocional, de depressão e de fadiga durante o período
competitivo. Também a elevada intensidade das partidas e o crescente número
de jogos são, provavelmente, dos principais factores indutores da fadiga

25
evidenciada pelos futebolistas (Rebelo, 2004). Como já foi dito, na actualidade,
tanto em Portugal como noutro país europeu, um jogador pode realizar 80
jogos oficiais por época, quando se somam os jogos ao serviço do clube e da
selecção, o que significa que, durante os cerca de 11 meses que compõem a
época desportiva, o futebolista está quase sempre exposto a períodos
semanais de treino com duas ou mais competições. Convém ainda recordar
aqui as longas e frequentes viagens, por vezes intra e inter-continentais, a que
os jogadores e as equipas estão sujeitos.

O futebol de alto rendimento é um contexto que exige cada vez mais


atletas mentalmente fortes, robustos, resistentes e determinados. O espaço
para o erro, cujas consequências têm, frequentemente, um impacto negativo
avassalador no rendimento individual e colectivo, é cada vez menor.

Embora seja habitual a afirmação de que o rendimento desportivo é um


fenómeno multidimensional por serem vários os factores que concorrem para a
sua efectivação (Garganta et al., 2002), a verdade é que é a componente
psicológica a que mais vezes é apontada, tanto pelos cientistas como pelos
agentes desportivos, nomeadamente treinadores e atletas, como a que mais
influencia o rendimento (Coelho, 2007; Cruz, 1996b; Loehr, 1986; Vasconcelos-
Raposo, 1993). De acordo com Williams (1986), muitos atletas acreditam que
entre 40 a 90% do sucesso que se obtém em prestações desportivas é
resultado de factores psicológicos e que quanto maior for o seu nível de
prestação mais importantes estes se tornam. Gomes e Cruz (2001) referem
que as competências psicológicas podem diferenciar os atletas de sucesso dos
outros com menor sucesso. Vasconcelos-Raposo (1993) sublinha a
importância da Psicologia do Desporto como a área onde se pode obter ganhos
mais significativos, defendendo a ideia de que é possível desenvolver as
capacidades humanas a níveis que ainda nos são desconhecidos. A
preparação psicológica, o treino mental e, consequentemente, a Psicologia do
Desporto têm vindo, sem dúvida, a ganhar relevo e importância tanto no
contexto do desporto em geral (Gomes & Cruz, 2001; Thelwell, Greenlees, &
Weston, 2006; Vasconcelos-Raposo & Aranha, 2000), como no do futebol em
particular.

26
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Embora seja unanimemente reconhecida a necessidade da integração


da preparação psicológica no quotidiano das equipas e seus futebolistas, a
verdade é que a realidade da Psicologia do Desporto, tanto no campo da
investigação como no “terreno”, está muito abaixo do desejável (Almeida, 2005;
Barreiros, 2000; Coetzee, Grobbelaar, & Gird, 2006; Fonseca, 1996, 2004).

No âmbito da investigação, ao contrário do que acontece com a


componente fisiológica do rendimento, poucos têm sido os estudos sobre a
influência das competências psicológicas na performance de futebolistas, isto
apesar de o futebol ser a modalidade mais popular e praticada do planeta
(Coetzee et al, 2006). Em Portugal o panorama não é diferente.

No “terreno” a situação da Psicologia do Desporto é paradoxal. Segundo


Fonseca (2004), se por um lado é unanimemente reconhecido, pelos agentes
desportivos (dirigentes, treinadores e atletas), que os factores de natureza
psicológica determinam em grande medida o rendimento alcançado pelos
jogadores e equipas, por outro lado, constata-se que são poucas as equipas de
futebol profissional, tanto a nível nacional como internacional, que contam com
a colaboração, regular ou mesmo esporádica, de psicólogos do desporto.
Barreiros (2000) sublinha ainda que, em Portugal, os poucos treinadores de
futebol de alto nível que contemplam os factores psicológicos no treino, fazem-
no de forma muito esporádica e pouco ou nada estruturada.

Fonseca (2004) aponta várias das desculpas avançadas por dirigentes,


treinadores e atletas, para explicar a realidade da Psicologia do Desporto no
contexto do futebol: “não há dinheiro!”, “os jogadores precisam é de correr”,
“nunca foi preciso no passado, porque haveria de ser agora”, “se os outros
descobrem”, “eu não sou maluco!” e “o psicólogo da equipa é o treinador”. Nós
acrescentamos “os psicólogos marcam golos?”. Segundo vários autores
(Coimbra et al., 2008; Fonseca, 2004), várias são as razões para esta
realidade:
- falta de orçamento;

27
- o desconhecimento sobre os objectivos e benefícios associados à
colaboração de um especialista da Psicologia do Desporto (sobre o que pode
ou não ser feito pelo mesmo no seio de uma equipa desportiva) leva a que
muitos entendam existir um conflito de competências entre o psicólogo, o
treinador e até o departamento médico;
- percepção negativa da Psicologia do Desporto por parte dos futebolistas,
treinadores e demais agentes desportivos, chegando mesmo a ser vista como
um sinal de fraqueza a recorrência a um especialista desta área;
- o habitual pragmatismo dos profissionais de futebol, por um lado, dado que,
de uma forma geral, tanto os jogadores como os treinadores estão muito
centrados no que mais imediatamente e de forma mais objectiva e quantificada
se relaciona com o que pretendem, ou seja, obter elevados níveis de
rendimento; por outro lado, a dificuldade dos próprios psicólogos em
corresponder a esta exigência, frequentemente por falta de formação e
experiência específica no contexto do futebol;
- falta de conhecimento de muitos futebolistas, treinadores e dirigentes, sobre o
tipo de colaboração e contribuição que os profissionais da psicologia podem
fornecer para o processo de treino, razão principal para a pouca receptividade
à cooperação;
- a percepção, por parte dos treinadores, de que os psicólogos não possuem
conhecimentos sobre o futebol.
- Vasconcelos-Raposo (2002) afirma que os psicólogos não têm sido eficazes
no processo de demonstração da relevância da psicologia para o rendimento
desportivo.

Weimberg e Gould (1995) tomam a Psicologia do Desporto como o


estudo científico das pessoas e dos seus comportamentos nas actividades do
desporto e do exercício. Para Cruz (1996a), esta área da psicologia pode ser
caracterizada pela preocupação com o efeito dos factores psicológicos que a
participação no desporto ou no exercício e actividade física poderão ter nos
participantes. Serpa (2007) diz que a Psicologia do Desporto tem as funções de
fornecer instrumentos que potenciem o desempenho do atleta e de contribuir
para o seu equilíbrio psicológico. Contém igualmente uma estrutura de
conhecimento que permite compreender melhor a pessoa que vive no contexto

28
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

do alto rendimento desportivo e, deste modo, contribuir para uma mais correcta
abordagem dos sistemas em que são envolvidos os atletas.

Para Brito (1990), a principal actividade da Psicologia do Desporto tem


sido a investigação e apoio a atletas de elite, uma vez que é ao mais alto nível
que o desporto se evidencia verdadeiramente como uma actividade humana
específica, em que os fenómenos e as manifestações que o caracterizam se
revelam na sua máxima expressão. Compreender as características, factores e
competências psicológicas que envolvem a performance dos atletas de
sucesso é uma das prioridades dos especialistas da Psicologia do Desporto
(Cruz, 1996b; Jackson, Thomas, Marsh, & Smethurst, 2001).

Cruz (1996a) refere que a intervenção psicológica no contexto


desportivo pode ter como principais objectivos a promoção do desenvolvimento
e crescimento psicológico dos indivíduos e/ou grupos e a promoção e
optimização do rendimento individual e/ou colectivo. Neste âmbito, a Psicologia
do Desporto pode ter um papel fundamental não só através do acessoramento
dos agentes desportivos, mas também pela intervenção no “terreno”, com o
desenvolvimento e orientação de programas de preparação psicológica e
aplicação de treino mental. Segundo Cruz (1996a), esta intervenção pode ser
dirigida não só a atletas e treinadores, mas também a dirigentes e outros
agentes desportivos.

Para que a concretização dos principais objectivos da Psicologia do


Desporto seja bem sucedida, é fundamental a investigação dos processos
psicológicos que influenciam o rendimento desportivo, não só através da
análise dos factores psicológicos que o envolvem e determinam, mas também
pela identificação e estudo das características e competências psicológicas que
caracterizam o desempenho desportivo de excelência. Estas temáticas têm
vindo, de facto, a emergir como um dos principais temas de investigação da
Psicologia do Desporto (Cruz, 1996b; Jackson et al.,2001).

As primeiras incursões nesta temática focalizaram-se na personalidade


dos atletas, concretamente se as diferenças entre atletas com níveis de

29
rendimento diferenciados se deviam às variabilidades individuais no campo da
personalidade. Sem resultados animadores, os investigadores procuraram
encontrar outras razões, fora da personalidade, concretamente nos processos
e factores cognitivos envolvidos no rendimento dos atletas. Ou seja, além de
continuar a ser importante determinar as características psicológicas que
diferenciam os desportistas entre si, também se objectivou avaliar e
compreender o modo eles percebem e avaliam, do ponto de vista cognitivo, as
competições (Gomes & Cruz, 2001). A existência de um determinado contexto
desportivo, com as suas próprias especificidades e exigências, implica que
também se contemple a análise da relação atleta-meio, nomeadamente a
forma como o atleta interpreta esse meio, a relação que tem com ele e a
maneira como todos estes aspectos influenciam o seu comportamento.

Surgiram, assim, ao longo das últimas décadas, autores e investigações


(Hemery, 1986; Loehr, 1986; Vasconcelos-Raposo, 1993), nas mais variadas
modalidades e contextos desportivos. Hemery (1986) realizou uma
investigação com campeões do mundo e olímpicos com o objectivo de
determinar alguns aspectos que unificam a diversidade do ser humano. Foi um
trabalho desenvolvido numa perspectiva interaccionista, que objectivou
identificar os factores físicos, sociais, psicológicos e morais que os vencedores
têm em comum. Este investigador sugeriu os aspectos mentais como uma área
a explorar em futuras investigações.

Loehr (1986) referiu que, com excepção da influência dos factores


físicos, a consistência da performance é resultado da consistência psicológica,
sendo o controlo psicológico um pré-requisito fundamental para o controlo da
performance. Assim, a robustez mental, encarada por aquele autor como a
capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades,
um estado ideal de performance durante a competição, requer um elevado grau
de controlo sobre o estado de performance ideal. Como tal, estabelecer e
manter um clima interno estável durante a competição é um dos factores mais
importantes no sucesso desportivo. Loehr (1986) concluiu, assim, que os
atletas que melhor conseguirem controlar determinados skills psicológicos (a
autoconfiança, o negativismo, a atenção, a visualização, a motivação, os

30
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

pensamentos positivos e a atitude competitiva) obterão uma maior consistência


nas suas prestações.

Por seu lado, em Portugal, Vasconcelos-Raposo (1993), ao estudar o


processo que envolveu e determinou o desenvolvimento dos perfis psico-sócio-
culturais de atletas olímpicos portugueses, desenvolveu um modelo sustentado
nas teorias de Hemery (1986) e de Loehr (1986). Aquele investigador constatou
que, dos factores físico-psico-socio-morais, somente os psicológicos permitiam
diferenciar níveis de prestação. Verificou, ainda, que os atletas com maior
controlo sobre os factores psicológicos obtiveram superiores prestações
desportivas. Evidenciaram-se assim, mais uma vez, os factores psicológicos e
a preparação mental como determinantes para o rendimento desportivo em alta
competição.

Ora, a realidade do futebol como facto social total e a sua actual


dimensão e envolvências social, cultural e económico-financeira, a par das
exigências que as próprias competições e o jogo implicam, solicitam à
Psicologia do Desporto, não só a identificação e estudo dos factores e
competências psicológicas que influenciam e potenciam o rendimento
desportivo, mas também a determinação das características e variáveis
psicológicas que distinguem futebolistas de diferentes níveis competitivos e
performance. O corpo de conhecimentos da Psicologia do Desporto permitirá
um processo de treino mais abrangente, eficaz e completo, com integração da
preparação psicológica no quotidiano dos jogadores, treinadores e demais
agentes desportivos, tendo em vista o objectivo final que é o da maximização
do rendimento na competição, consequentemente e necessariamente no treino.
A intervenção dos especialistas da psicologia no contexto do futebol poderá
ainda ser uma mais-valia em áreas como prevenção e tratamento de lesões,
coaching, teambuilding, transição de carreira (reforma), problemática do
estatuto de “suplente”, doping, jet-lag, ritmos cicardianos, burnout e sobretreino
(Amaral, 2000; Fonseca, 2004; Johnson, Ekengren & Andersen, 2005; Rebelo,
1999, 2001; Vasconcelos-Raposo, 1994b; Vasconcelos-Raposo & Aranha,
2000; Zafra, Montalvo, & Sánchez, 2006).

31
Para que os objectivos da Psicologia do Desporto, neste contexto
aplicada ao futebol, sejam atingidos, é necessário aumentar o número de
investigações que objectivem o estudo dos processos psicológicos que
envolvem e influenciam o desempenho desportivo dos futebolistas. O próprio
“estado da arte” em Portugal no contexto do futebol, tanto no âmbito da
investigação como da sua realidade no “terreno”, muito abaixo do desejável,
acentuam a pertinência de estudos dentro desta temática. Neste âmbito,
propusemo-nos com este nosso trabalho estudar a influência dos skills
psicológicos (auto-confiança, controlo do negativismo, atenção, imagética,
pensamentos positivos e atitude competitiva) no rendimento dos futebolistas
portugueses. Assim, o problema a que pretendemos responder traduz-se,
genericamente, na seguinte questão: quais as variáveis psicológicas que
diferenciam futebolistas portugueses de distintos níveis competitivos?

Por outro lado, a existência de uma realidade e de um contexto de


realização, como é o caso do futebol, com as suas exigências e
especificidades, exige, no nosso entender, que o nosso trabalho também
contemple a análise da relação atleta-meio, nomeadamente a forma como o
atleta interpreta esse meio, a relação que tem com ele e a maneira como todos
estes aspectos influenciam os seus comportamentos. Acrescentamos assim, à
presente investigação, o estudo das orientações motivacionais e do
negativismo.

Este trabalho, uma duplicação para a realidade portuguesa da


investigação de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), segue a linha de
investigação desenvolvida e proposta por Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo
(1993), contemplando as seguintes variáveis psicológicas: auto-confiança,
controlo do negativismo, atenção, imagética, pensamentos positivos, atitude
competitiva, negativismo e orientações cognitivas. Numa abordagem inovadora
no contexto da Psicologia do Desporto aplicada ao futebol em Portugal, a
principal “lente” desta investigação – o Perfil Psicológico de Prestação (PPP) –
é reforçada com a Escala de Negativismo e Autoconfiança (ENAC) e o Task
and Ego Orientation in Sport Questionnaire (TEOSQ).

32
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Os objectivos principais que estabelecemos para este estudo são:


caracterizar o perfil psicológico de prestação do futebolista português e
identificar as variáveis psicológicas que diferenciam futebolistas de
distintos níveis competitivos.

O nosso trabalho está organizado por capítulos. Assim, à descrição e


delimitação da área e contexto em que se insere o problema, não esquecendo
os propósitos e pertinência do nosso trabalho, segue-se a revisão da literatura,
na qual realizamos um enquadramento teórico no qual destacamos os
resultados obtidos noutros estudos e apresentamos o nosso modelo. No
capítulo da metodologia descrevemos a amostra, as variáveis e instrumentos
utilizados, os procedimentos para a elaboração do trabalho e as dificuldades e
limitações do estudo. De seguida, expomos os resultados obtidos na pesquisa,
posteriormente discutidos com base na revisão da literatura anteriormente
efectuada. A concluir, antes das referências bibliográficas e dos anexos,
apresentamos as principais conclusões, reflexões e sugestões para o futuro.

33
REVISÃO DA LITERATURA

2 REVISÃO DA LITERATURA

O panorama actual do desporto de alto rendimento, nomeadamente o de


âmbito profissional, e o contexto que o envolve, nas suas dimensões psico-
sócio-culturais e económico-financeiras, exigem dos atletas níveis de
desempenho nunca antes vistos. A procura constante de prestações de alto
nível e rendimento e da sua manifestação de forma consistente, sem as quais
não é possível alcançar-se e manter-se o sucesso, exige do atleta uma
constante capacidade de superação na procura incessante da optimização do
rendimento.

A actual sociedade em que vivemos valoriza cada vez mais o sucesso, a


ascensão e a vitória. O que leva um atleta a romper barreiras, alcançando o
que às vezes parece ser impossível, é um conjunto de factores técnicos,
físicos, materiais e psicológicos que, quando bem trabalhados, ampliam muito
os seus limites (Silva & Rubio, 2003). No entanto, no universo do desporto de
competição, os factores psicológicos são uma das razões que mais vezes são
apontadas para justificar a obtenção de determinados resultados (Cruz, 1996b).
Pode-se inclusive afirmar que é unanimemente reconhecida, por cientistas do
desporto, treinadores e atletas, a influência que os factores e competências
psicológicas têm no rendimento desportivo e na diferenciação entre atletas bem
sucedidos e mal sucedidos, de elite e outros menos competentes (Coelho,
2007; Cruz, 1996b; Gomes & Cruz, 2001; Vasconcelos-Raposo, 1993).

No actual universo do desporto de competição é cada vez mais


importante auxiliar cada atleta na identificação e caracterização dos factores
que tendem a facilitar ou a dificultar o aparecimento e a manutenção do próprio
estado óptimo para o desempenho desportivo. Alves (2004) defende que os
desportistas devem ser sujeitos a uma prática sistemática de treino nas
diferentes facetas do rendimento desportivo, nomeadamente na psicológica, de
forma a obterem uma adaptação óptima às exigências da modalidade e da
competição (Alves, 2004).

35
Ora, nos últimos tempos, segundo vários autores (Cruz, 1996b; Gomes
& Cruz, 2001), uma grande quantidade de literatura no âmbito da Psicologia do
Desporto tem procurado identificar e analisar as características, competências
e processos psicológicos implicados ou subjacentes ao rendimento e ao
sucesso desportivo, nomeadamente junto de atletas de alta competição. É, de
facto, uma área que tem vindo a desenvolver-se a um ritmo intenso. A
quantidade e variedade de investigações realizadas tem gerado um corpo
próprio de conhecimentos, criando modelos teóricos, técnicas, estratégias e
instrumentos que, por procurarem compreender a especificidade dos contextos
desportivos e da dimensão psicológica dos sujeitos e grupos que o integram,
identificam e definem um espaço próprio de intervenção (Pacheco, 2003). No
entanto, para que esta evolução continue, é importante examinar os factores
psicológicos específicos e as teorias relevantes do alto rendimento desportivo
no sentido de se compreender os processos psicológicos que contribuem para
a performance de excelência (Jackson et al., 2001). É necessário, como
propõem Cruz (1996b) e Jackson e colaboradores (2001), identificar e
compreender as características, factores e competências psicológicas que
envolvem e diferenciam a performance dos atletas de sucesso.

Apresentaremos de seguida uma revisão da literatura no âmbito dos


constructos e das variáveis psicológicas consideradas como determinantes e
influentes do rendimento desportivo.

2.1 FACTORES PSICOLÓGICOS DETERMINANTES DO

RENDIMENTO DESPORTIVO

Uma das primeiras abordagens realizadas a esta temática dizia respeito


à personalidade dos atletas, procurando saber-se se as diferenças entre atletas
com níveis de rendimento diferenciados se deviam às variabilidades individuais
no campo da personalidade. Os resultados para além de não serem muito
animadores, não permitiram encontrar "perfis" na "maneira de ser" que
justificassem as diferenças de rendimento (Gomes & Cruz, 2001). Assim, os

36
REVISÃO DA LITERATURA

investigadores procuraram encontrar outras justificações, fora do contexto da


personalidade, numa área de interesse distinta, mais preocupada em analisar
processos e factores cognitivos envolvidos no rendimento dos atletas. Ou seja,
para além de continuar a ser importante determinar as características
psicológicas que diferenciam os desportistas entre si, também se tornou crucial
avaliar e compreender o modo como eles percebem e avaliam, do ponto de
vista cognitivo, as competições (Gomes & Cruz, 2001). A existência de um
determinado contexto desportivo, com as suas próprias especificidades e
exigências, implica que se contemple a análise da relação atleta-meio,
nomeadamente a forma como o atleta interpreta esse meio, a relação que tem
com ele e a maneira como todos estes aspectos influenciam o seu
comportamento.

Foram surgindo, assim, ao longo das últimas décadas, autores e


investigações, nas mais variadas modalidades e contextos desportivos, que se
focalizaram não só no estudo dos processos psicológicos que envolvem e
influenciam o desempenho desportivo e seus constructos, mas também nas
características, factores e competências psicológicas que distinguem atletas de
diferentes níveis competitivos e rendimento.

Williams (1991) defende que é importante conhecer se existe um estado


psicológico óptimo para a realização de execuções plenas. Preconiza que
existe um perfil psicológico que se relaciona estritamente com aquelas. Para
este autor, embora existam diferenças individuais, aquele perfil, na maior parte
dos casos, define-se pelas seguintes características: auto-regulação no nível
de activação, alta confiança em si mesmo, melhor concentração, estar sob
controle sem forçar, preocupação positiva pelo desporto, determinação e
compromisso. Como tal, uma execução plena trata-se de um produto do corpo
e da mente, que não ocorre frequentemente, mas que pode ser treinado. Ao
aprendermos a controlar a disponibilidade psicológica e o clima mental ideal,
podemos aumentar a probabilidade de que a execução plena se dê (Williams,
1991).

37
Vasconcelos-Raposo (1991) e Hogg (2001) também referenciam um
estado óptimo ou ideal de prestação desportiva. Para o primeiro a sua
manifestação é caracterizada por músculos “soltos", movimentos fáceis e
precisos, sentimento de auto-confiança, optimismo e atitude positiva. Todas
estas variáveis deverão estar harmoniosamente integradas entre o corpo e a
mente, para que, na altura da competição, o atleta não questione o que vai
fazer ao longo do dia da prova. Por seu lado, Hogg (2001) sustenta que o
estado ideal de prestação desportiva é alcançado quando os atletas se sentem
completamente preparados e prontos para realizarem as tarefas da sua
modalidade de uma forma controlada e consistente.

No contexto da demanda pela identificação de factores e perfis


psicológicos associados a desempenhos desportivos de sucesso no futebol
encontramos alguns estudos. Corrêa, Alchieri, Duarte e Strey (2002)
identificaram a motivação, a confiança, a preparação mental e o momento
psicológico no decorrer da partida como sendo considerados, por jogadores,
ex-jogadores, treinadores e preparadores físicos, importantes para a
performance desportiva.

Pain e Harwood (2008) referenciaram diversas variáveis influenciadoras


da performance das equipas no futebol, num estudo muito abrangente
realizado com jogadores, treinadores, fisioterapeutas, médicos e fisiologistas.
Neste estudo foram reconhecidos o suporte positivo dos amigos e da família, a
existência de rotinas pré-competitivas consistentes, formulação de objectivos
individuais e colectivos claros, compreensão do papel a desempenhar,
existência de uma liderança positiva, forte coesão entre todos, compromisso
colectivo, boa relação treinador-equipa, forte resiliência de equipa, bons
feedbacks por parte dos treinadores, análise dos jogos em vídeo, saber o que
se espera da equipa adversária, actuação clara e de forma simples por parte
do treinador, boa recuperação do ponto de vista físico, disponibilidade das
equipas médicas e boa preparação física e mental, como factores
influenciadores do desempenho desportivo individual e colectivo.

38
REVISÃO DA LITERATURA

Coetzee e colaboradores (2006), num estudo realizado com 36


futebolistas, identificaram a preparação mental, concentração, capacidade de
lidar com a pressão, formulação de objectivos, motivação para a realização e
controlo da activação como os mais importantes factores diferenciadores entre
as equipas de sucesso e as outras. Constataram ainda que os jogadores de
maior sucesso revelaram índices de concentração, treinabilidade e preparação
mental superiores aos seus colegas de menor sucesso. Para aqueles
investigadores os resultados obtidos reforçam a necessidade de contemplação
dos skills psicológicos desportivos nos protocolos de identificação de talentos.

Reforçando igualmente a importância da existência de uma Psicologia


do Desporto aplicada ao futebol, especificamente no âmbito táctico-técnico,
referenciamos aqui o trabalho de Thelwell, Greenlees e Weston (2006), que
viram reconhecidos por parte de futebolistas os efeitos positivos sobre o
rendimento individual de uma intervenção psicológica específica realizada com
jogadores médio-centro, através de práticas de relaxamento, imagética e self-
talk. Os resultados sugeriram a possível eficácia de uma preparação
psicológica específica sobre a performance individual de futebolistas.

No âmbito das lesões entre jogadores de futebol, Johnson e


colaboradores (2005) procederam a uma intervenção com futebolistas,
antecipadamente identificados como tendo elevado risco de vir a sofrer lesões
no futuro, que consistiu na aplicação de um programa, durante 19 semanas, de
tratamentos e procedimentos diversos como relaxamento cognitivo e somático,
desenvolvimento de skills de controlo do stress, formulação de objectivos,
treino de autoconfiança e identificação e discussão sobre os potenciais
incidentes relacionados com a participação no futebol e nas situações do
quotidiano. Esta investigação reforçou a potencialidade da Psicologia do
Desporto na prevenção de leões, dado que a breve intervenção de Johnson e
colaboradores (2005) baixou significativamente o número de lesões no grupo
de tratamento, durante aquele período de tempo, comparativamente ao grupo
de controlo. Zafra e colaboradores (2006) propõem, em termos gerais, que
alguns factores psicológicos do rendimento desportivo influenciam o risco dos
futebolistas se lesionarem. Segundo estes autores, os jogadores que possuem

39
mais recursos psicológicos e melhor capacidade para o utilizar, face às
exigências da prática desportiva, tendem a lesionar-se menos que os que têm
menores recursos ou não fazem uso deles.

O modelo teórico que adoptamos para o nosso trabalho tem por base a
linha de investigação proposta por Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo (1993).
Loehr (1986) faz referência ao conceito de robustez mental. Define-a como a
capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades,
um estado ideal de performance durante a competição. Para este autor, com
excepção da influência dos factores físicos, a consistência da performance é
resultado da consistência psicológica, sendo o controlo psicológico um pré-
requisito fundamental para o controlo da performance, ou seja, a robustez
mental requer um elevado grau de controlo sobre o estado de performance
ideal. Consequentemente, estabelecer e manter um clima interno estável
durante a competição é um dos factores mais importantes no sucesso
desportivo. O modelo de Loehr (1986) tem como base a aplicação do
instrumento PPP (Perfil Psicológico de Prestação) que contempla o estudo de
sete skills psicológicos: a autoconfiança, o controlo do negativismo, a atenção,
a visualização, a motivação, os pensamentos positivos e a atitude competitiva.
Segundo este paradigma, os atletas capazes de exercer um melhor controlo
sobre estas competências atingem uma maior consistência nas suas
prestações. No entanto, hoje em dia, embora a maior parte dos atletas e
treinadores reconheça a importância do treino psicológico na preparação para
a competição, a verdade é que na prática este aspecto raramente é
contemplado. Entre outras razões porque existe a crença de que os skills
psicológicos são inatos. Ora para Loehr (1986), estas competências são
aprendidas e não inatas, sendo necessário um treino psicológico para o seu
desenvolvimento. Este autor também defende que o atleta consegue uma
melhor preparação psicológica se tiver consciência das suas reais capacidades
mentais, forças e fraquezas.

Loehr (1986) sustenta que desportistas do mesmo nível competitivo


deverão apresentar um perfil psicológico idêntico, devendo os valores mais
elevados serem obtidos pelos atletas de nível de prestação desportiva superior.

40
REVISÃO DA LITERATURA

Defende igualmente que há pelo menos oito condições mentais essenciais para
que um atleta constitua um estado ideal que aumente as suas possibilidades
de obtenção de uma prestação de excelência: estarem mentalmente calmos,
fisicamente descontraídos, auto-confiantes e optimistas, elevada concentração
no presente, índice elevado de energia, alerta mental, auto-controlo e cocoon.

Vasconcelos-Raposo (1993), ao objectivar estudar o processo que


envolveu e determinou o desenvolvimento dos perfis psico-sócio-culturais com
que os atletas olímpicos portugueses se apresentaram nos Jogos Olímpicos de
1992, desenvolveu um modelo sustentado nas teorias de Loehr (1986), já
exposta, e de Hemery (1986), que preconiza que os domínios social, cultural,
físico, mental e moral são os factores que influenciam e determinam os
comportamentos dos indivíduos e, consequentemente, as suas prestações
desportivas. Nesse trabalho comparou um grupo de atletas portugueses
qualificados para as olimpíadas de Barcelona em 1992 com outro constituído
por desportistas, também nacionais, não qualificados para aquele evento.
Estes dois conjuntos foram depois comparados com o grupo de atletas da
investigação de Hemery (1986), composto exclusivamente por campeões
mundiais. Concluiu-se que, dos factores físico-psico-socio-morais, somente os
psicológicos diferenciavam níveis de prestação, evidenciando-se a preparação
mental como um factor determinante para a alta competição. Também se
constatou que os atletas com maior controlo sobre esses factores obtiveram
superiores prestações desportivas, os de maior idade e mais experientes em
termos competitivos têm melhores índices de skills psicológicos, os de superior
nível de rendimento são significativamente mais orientados, em termos
motivacionais, para a tarefa e menos para o resultado, e os de menor sucesso
demonstram uma orientação cognitiva mais direccionada para o resultado.
Segundo Vasconcelos-Raposo (1993), os atletas cuja orientação motivacional
é a de resultado, por dependerem de factores externos para se sentirem bem
sucedidos, tendem a experimentar um maior sentimento de frustração e,
consequentemente, de negativismo.

A nossa investigação constitui uma duplicação, para a realidade


portuguesa, do trabalho de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), realizado com

41
futebolistas brasileiros de dois níveis competitivos, nacional e regional, no qual
foram utilizados o PPP, O CSAI-2 e o TEOSQ. Os autores visaram, para além
da avaliação das características psicométricas dos instrumentos, a
caracterização do perfil psicológico de prestação do jogador profissional de
futebol brasileiro, identificando igualmente as áreas que mais contribuem para
a prestação desportiva dos mesmos.

2.2 AUTOCONFIANÇA

São inúmeras as declarações de futebolistas nas quais associam as


suas boas prestações a elevados estados de autoconfiança. Para Loehr (1986)
o nível de autoconfiança é um dos melhores preditores do sucesso desportivo,
permitindo aos atletas acreditar que têm competências psicológicas e mentais
para atingir o seu máximo potencial, sendo certo que, independentemente do
talento e da habilidade física, a perda de confiança afecta sempre o
desempenho. Segundo este autor, a autoconfiança é vista como um sentimento
e uma certeza que mostram que somos capazes de realizar uma boa
prestação, que acreditamos em nós mesmos e que desta forma seremos bem
sucedidos, sendo o sucesso percebido o ingrediente chave para tal acontecer.

Segundo Williams (1991) a autoconfiança desenvolve-se durante muitos


anos e, frequentemente, é o resultado do pensamento positivo e várias
experiências concluídas com êxito. O pensamento positivo dos atletas
confiantes conduz, com maior probabilidade, a sentimentos capacitantes e a
uma boa actuação, da mesma forma que o pensamento inapropriado e erróneo
dos atletas sem confiança conduz, provavelmente, a sentimentos negativos e a
uma execução pobre. Por outro lado, a melhoria da destreza física é uma
maneira óbvia de edificar a autoconfiança, dado que ao gerar-se uma história
de experiências de êxito constrói-se tanto confiança como expectativas de êxito
futuras. Pelo contrário, a perda de confiança criada por sentimentos de
fracasso faz com que o atleta duvide da sua própria capacidade.

42
REVISÃO DA LITERATURA

Para Cruz e Viana (1996), os atletas bem sucedidos evidenciam


elevados níveis de confiança nas suas capacidades. Por seu lado, Hanton,
Mellalieu e Hall (2005) defendem que a autoconfiança é uma qualidade
essencial para os atletas de elite, uma vez que os pode proteger contra
potenciais pensamentos e sentimentos debilitadores vivenciados em situações
competitivas. Cruz e Viana (1996) referem que, para promover a optimização
da ansiedade e o funcionamento óptimo dos atletas, é necessário aumentar a
sua autoconfiança e trabalhar a sua motivação. Contudo, autoconfiança não é
ter a convicção de que se poderá ganhar sempre ou que nunca se errará. É
sim a convicção de que se poderá corrigir os erros cometidos desde que se
trabalhe com esforço e empenho para aperfeiçoar o conjunto das capacidades.
Segundo aqueles autores, o aspecto que mais determina a autoconfiança é a
percepção, por parte dos atletas, de que são capazes de executar ou realizar
as tarefas requeridas pela sua especialidade. Como tal, aqueles só poderão
sentir-se confiantes se estiverem bem preparados sob o ponto de vista físico e
técnico. Devem possuir força, rapidez, flexibilidade e resistência necessárias
para responder às exigências das actividades (Cruz & Viana, 1996).

Na sua Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva, Martens,


Burton, Vealey, Bump e Smith (1990) consideram a autoconfiança como uma
componente cognitiva, oposta ao estado de ansiedade pré-competitiva
(negativismo no contexto desportivo), vista como ausência de pensamentos
negativos. Aquele modelo pressupõe que a autoconfiança se relaciona de
forma positiva e linear com o rendimento, em que o estado de autoconfiança
aumenta, assim que as expectativas positivas de sucesso aumentam. Segundo
este paradigma, os atletas mais habilidosos e capazes possuem, antes da
competição, níveis de autoconfiança superiores aos seus colegas menos
competentes.

43
2.3 NEGATIVISMO

O termo “ansiedade” é recorrente no discurso de futebolistas,


treinadores e restantes agentes desportivos. A capacidade dos atletas
controlarem as próprias emoções é, sem dúvida, um factor determinante para o
seu desempenho no desporto de competição, nomeadamente nas situações de
grande pressão competitiva, pois, como argumentam Palmeira, Ramos e
Passos (2002), as emoções estão presentes em todos os aspectos da vida
humana, incluindo o desportivo.

Contudo, para Vasconcelos-Raposo (1993), o conceito de ansiedade foi


erradamente adaptado, por psicólogos clínicos e psiquiatras, ao contexto
desportivo, dado que parte do pressuposto da universalidade das experiências
e das suas classificações pelos indivíduos. Aquele investigador, mais tarde,
reforça que existe a necessidade de se rejeitar e proceder a uma
reclassificação daquele conceito, por se enquadrar na Psicologia Clínica
(Vasconcelos-Raposo, 2000). Na sua opinião, o que está em causa é estado
emocional vivido no contexto desportivo, concretamente as sensações e
dúvidas que os atletas podem ter relativamente às suas capacidades nos
momentos que antecedem a competição. Assim sendo, neste nosso trabalho,
que segue a linha de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e outros
concretizados na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro com a
colaboração do Professor Vasconcelos-Raposo, substituiremos o termo
ansiedade por negativismo.

Foram várias as abordagens realizadas ao negativismo pré-competitivo


no desporto, nomeadamente à sua relação com o rendimento. Para uns, a
situação desportiva competitiva é sempre geradora de pensamentos negativos
prejudiciais à performance desportiva, existindo uma relação inversa entre
negativismo pré-competitivo e rendimento (Martens, Vealey, & Burton, 1990).
Para outros, o negativismo pré-competitivo, na mesma situação, pode ser
facilitador para uns atletas e prejudicial para outros (Cruz, 1996c). O efeitos
benéficos para a prestação desportiva são igualmente contemplados por Jones
e Hanton (2001).

44
REVISÃO DA LITERATURA

Martens e colaboradores (1990a) propuseram a Teoria Multidimensional


da Ansiedade Competitiva, que pressupõe que as três dimensões (negativismo,
activação e autoconfiança) se relacionam de forma diferente com o rendimento:
o negativismo de forma negativa e linear, a activação de forma curvilínea, em
U-invertido, e a autoconfiança de forma positiva e linear. Ou seja, o aumento do
negativismo faz desviar, erradamente, a atenção de aspectos relevantes à
tarefa, para aspectos de avaliação do "eu" ou avaliação social, irrelevantes
para a tarefa, e assim, a performance poderá diminuir. Aqueles autores
defendem ainda que os pensamentos negativos têm uma correlação mais forte
com a performance que a activação, uma vez que é indicador das expectativas
negativas do sucesso numa determinada tarefa, tendo, como tal, um forte
impacto na performance. Por outro lado, a diminuição da activação no início da
competição leva a que o negativismo e a autoconfiança se tornem mais
fortemente preditoras da performance. Pode existir, no entanto, uma situação
em que esta correlação seja superior, nomeadamente quando a activação é tão
elevada que a atenção é desviada da tarefa a realizar, por estados internos
como preocupação e pensamentos negativos, o que prejudica a performance.
Em conclusão, Martens e colaboradores (1990a) sugerem que os atletas mais
habilidosos têm uma superior capacidade para lidar com os pensamentos
negativos que os menos hábeis, além de que revelam, antes da competição,
níveis de negativismo e activação inferiores e uma autoconfiança superior.

Com a apresentação da Teoria Multidimensional da Ansiedade


Competitiva, na qual sugerem que a análise da relação ansiedade-rendimento
deve ser realizada numa perspectiva multidimensional, Martens e
colaboradores (1990a) propuseram o Inventário de Estado de Ansiedade
Competitiva-2 (Competitive State Anxiety Inventory-2, CSAI-2) para a avaliação
das dimensões negativismo (prevalência de pensamentos negativos), a
activação (intensidade do comportamento) e a autoconfiança, esta aqui
também considerada como uma componente cognitiva, oposta ao estado de
negativismo, sendo vista como ausência de pensamentos negativos.

45
2.4 ATENÇÃO

Por ser indissociável dos bons desempenhos desportivos, foram vários


os autores que, no âmbito da Psicologia do Desporto, abordaram a atenção.
Viana e Cruz (1996) sustentam que é óbvio e consensual, entre os
desportistas, que a capacidade para dirigir e manter de forma adequada a
atenção nos aspectos necessários à realização de uma tarefa é um pré-
requisito essencial tanto no processo de aprendizagem como no desempenho
competitivo. Segundo estes autores, o conceito de atenção tem sido alvo de
vários sentidos: selectividade, concentração, consciência, escrutínio visual,
processamento de informação, activação, entre outros. Os nossos sentidos são
alvo constante de estímulos externos provenientes do meio que nos rodeia ou
por estimulação interna. A nossa experiência só não é um caos completo
porque só parte dessa estimulação é percebida pelo indivíduo, sendo a
atenção o processo que o leva a direccionar e manter a sua consciência nos
estímulos percebidos. Se o indivíduo não dirigir a atenção para essa
estimulação não a perceberá nem vivenciará. Viana e Cruz (1996) referenciam
o conceito de atenção selectiva como a capacidade de direccionar a atenção
para os estímulos relevantes à realização da tarefa em mão,
independentemente da influência dos estímulos distractores.

Loehr (1986) sustenta que a atenção é a capacidade de manter a


focalização contínua numa tarefa, executando-a na perfeição. Reforça ainda
que este skill não é mais do que a habilidade de se centrar naquilo que é
importante e ignorar aquilo que não interessa. Como exemplificam Viana e
Cruz (1996), durante um jogo de futebol, o barulho provocado pela assistência,
a movimentação das pessoas fora das quatro linhas ou o pensamento numa
jogada já passada, serão, em princípio, irrelevantes para a realização da tarefa.
Já a localização da bola, o posicionamento do guarda-redes ou a
movimentação de um adversário, constituem pistas importantes a atender. No
entanto, para além da importância ou relevância dos estímulos inerentes a
cada situação, existem, segundo Viana e Cruz (1996), outras características da
estimulação que influenciam o processo de selectividade. A quantidade e
complexidade das pistas a atender, a sua origem interna ou externa ao sujeito,

46
REVISÃO DA LITERATURA

o facto de constituírem ou não novidade ou de serem particularmente


valorizadas pelo indivíduo, são outros factores do processo de selectividade,
tornando-o voluntário ou involuntário, automático e rápido ou mais lento.

Viana e Cruz (1996) alertam para o facto de que determinadas


modalidades, como por exemplo o futebol, obrigam o atleta a prestar atenção a
um grande número de estímulos em constante transformação: movimentação
da bola, colocação dos colegas e adversários, flutuação dos processos
colectivos, a localização das balizas, as instruções do treinador, o planeamento
e execução de uma estratégia, entre outras. Por outro lado, noutras situações
ou modalidades desportivas, o número de pistas relevantes é menor e mantém-
se relativamente constante ao longo da competição, como por exemplo o
lançamento ao cesto no basquetebol. O chamado reflexo, ou resposta de
orientação, dirige automaticamente a nossa atenção para a ocorrência
percebida como pouco usual. Este é um mecanismo que permite a detecção,
sem esforço voluntário, de estímulos mais intensos que o habitual (luzes,
ruídos, cheiros) ou estímulos com alguma novidade ou que estejam em
movimento, como por exemplo a detecção rápida da desmarcação de um
adversário dentro do campo visual. Como observam Viana e Cruz (1996), este
mecanismo pode levar alguns atletas a distraírem-se com ocorrências pouco
relevantes para a competição, tais como o barulho da assistência ou
movimentos de jogadores que não estejam implicados no lance do momento.
Weinberg e Gould (2001) referem que muitos atletas reconhecem que, durante
as competições, apresentam problemas de concentração causados por
inadequado foco atencional, tanto devido a distracções com outros
acontecimentos como a pensamentos e emoções. Estas dificuldades podem
dever-se a factores internos e externos de distracção. Assim, é sugerido que
quando o ambiente muda rapidamente, o foco de atenção também o deve
fazer, pois o pensamento no passado ou no futuro pode originar sinais
irrelevantes que podem induzir erros no desempenho (Weinberg & Gould,
2001).

Uma dimensão da atenção selectiva que nos parece importantíssima,


nomeadamente no futebol, é flexibilidade, dado que o jogo é extremamente

47
dinâmico, obrigando os jogadores a seleccionar diferentes tipos de pistas
consoante os diferentes momentos e fases do jogo. Neste sentido, para Viana
e Cruz (1996), a flexibilidade da atenção é a capacidade que o indivíduo tem de
mudar o foco atencional (conjugação da selectividade e direcção) de acordo
com as exigências da tarefa. A sequência da actividade pode exigir ao atleta
que foque a atenção internamente em vez de a dirigir para objectos ou
acontecimentos externos. Pode ainda, como sublinham aqueles investigadores,
obrigar o atleta a focar a atenção num pormenor, em vez de lhe exigir que
esteja atento a um amplo espectro de índices. Esta capacidade de focalização
sequencial da atenção em diferentes objectos e acontecimentos pelo período
de tempo necessário é, provavelmente, uma das fontes mais importantes das
oscilações da atenção que ocorrem durante o desempenho desportivo. Trata-
se de uma característica tanto mais importante consoante menor for o tempo
disponível para iniciar uma resposta. Nas modalidades colectivas, de combate
ou de confronto directo com um adversário, os acontecimentos sucedem-se na
maior parte das vezes sem a possibilidade do atleta poder controlar o seu
desencadeamento, sendo absolutamente crítica a sua capacidade de mudar o
focus atencional com rapidez e de forma adequada às exigências da tarefa.

2.5 IMAGÉTICA

Facilmente nos apercebemos que no futebol, onde prolifera a incerteza,


a variedade e variabilidade de estímulos e soluções, os jogadores têm cada
vez mais a necessidade de, num curto espaço de tempo, executar uma
resposta adequada à situação, contemplando variadíssimas “peças” e factores,
num “xadrez” complexo, sempre em movimento e evolução, como a própria
posição, o objecto (a bola), a baliza, os adversários, os colegas de equipa, as
informações do treinador e influências do exterior.

No seu trabalho com futebolistas, Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005)


referem que a capacidade de visualizar muito vivamente e com detalhe é
essencial no rendimento desportivo, já que facilita a aprendizagem e a melhoria

48
REVISÃO DA LITERATURA

das destrezas físicas, a prática de estratégias de ataque e defesa, o controlo


de variáveis fisiológicas e psicológicas, a lembrança e o controlo de emoções,
a concentração, o estabelecimento de metas e a terapia na recuperação de
lesões desportivas.

Constata-se, na literatura da especialidade, que existem vários


constructos neste âmbito: prática mental, visualização e imagética. Suinn
(1993) preconiza que a expressão prática mental é utilizada como forma de
distinção da prática física ou motora, sendo usado para a referenciação das
técnicas de natureza mental utilizadas para a melhoria da performance
desportiva. Já Etnier e Landers (1996) vêm aquele constructo como a
performance mental de uma tarefa realizada sem qualquer movimento físico.

Para Vasconcelos-Raposo (1998), enquanto a visualização se referencia


à capacidade de imaginar situações, a imagética significa "pensar com os
músculos". Ou seja, a imagética contempla não só o uso da visão, mas
também de todos os sentidos que dão forma às sensações cinestésicas.
Assim, tal como propõem Vasconcelos-Raposo, Costa e Carvalhal (2001),
imagética é a habilidade que temos de nos vermos a nós próprios a
desempenhar tarefas, recorrendo a pensamentos e imagens. Segundo estes
autores, este skill consiste na recuperação da informação armazenada na
memória, através todo o tipo de experiências, remodelando-a através dos
processos cognitivos. Pode-se, assim, recriar experiências passadas e
transportá-las para o presente, reconstruindo-as e ajustando-as ao estado
emocional desejado (Vasconcelos-Raposo, 1998).

Pelas abordagens e justificativas apresentadas por Vasconcelos-Raposo


(1998) e Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2001), optaremos pelo termo
imagética neste nosso trabalho.

49
2.6 PENSAMENTOS POSITIVOS

Loehr (1986) sustenta que para se obter sucesso em situações


competitivas é essencial possuir uma boa capacidade de controlo das emoções
negativas. Na opinião deste investigador, os pensamentos positivos, estando
relacionados com factores motivacionais e com o desenvolvimento de atitudes,
tornam possível a performance máxima. Podem constituir um fluxo de energia
positiva que permitirá ao atleta atingir níveis elevados de activação enquanto,
simultaneamente, evidencia calma, baixa tensão muscular e elevado controlo
atencional.

A propósito desta temática, Vasconcelos-Raposo (1994a) refere que um


atleta sentir-se-á preocupado ou em stress sempre que acreditar que não pode
ter um desempenho suficientemente bom para atingir um objectivo importante.
Para este autor é quando o desafio que se estabelece é demasiado fácil ou
demasiado difícil que a competição se torna geradora de stress. Na primeira
situação o atleta aborrecer-se-á e não se mentalizará o suficiente para manter
uma performance ao mais alto nível. Na segunda sentir-se-á preocupado com a
obtenção do sucesso. Segundo Vasconcelos-Raposo (1994b), esta sensação é
causada pelo receio de falhar, resultando num esforço em demasia ou pressão,
que impedirá o seu integrador de guiar automaticamente a performance. Assim,
é desejável que o atleta seleccione um desafio similar ao seu nível de
habilidade para que se sinta menos stressado.

Os pensamentos positivos, referenciados por Bunker e Williams (1986)


como self-talk, podem ser, segundo estes autores, positivos para a
performance quando a beneficia, se relacionam com a tarefa e aumentam a
autoconfiança. Aqueles investigadores preconizam que atletas auto-confiantes
têm um self-talk, imagens e sonhos positivos, vendo-se eles próprios a ganhar
e a ter sucesso. Nunca minimizam as próprias capacidades, focalizam-se na
realização da tarefa em mão não se preocupando com as consequências
negativas do fracasso e reconhecem as próprias capacidades e limitações. O
self-talk é negativo para a performance quando a prejudica, é inapropriado ou

50
REVISÃO DA LITERATURA

tão frequente que dificulta a automatização dos skills (Bunker & Williams,
1986).

2.7 ATITUDE COMPETITIVA

No seu trabalho sobre a posse de bola no futebol como indicador de


qualidade e rendimento das equipas, Dias e Frade (2000) concluíram que as
equipas que jogam para ganhar e que para isso apostam no assumir do jogo
através da procura constante da posse da bola, ganham mais vezes do que
aquelas que têm atitudes menos dinâmicas.

Vasconcelos-Raposo (1993) sustenta que as atitudes expressas nos


sentimentos e comportamentos dos indivíduos é um dos temas que mais tem
fascinado os estudiosos do comportamento humano. Loehr (1986) refere que a
atitude competitiva reflecte os hábitos de pensamento de um atleta, sendo
certo que as atitudes certas permitem o controlo das emoções e promovem um
fluxo de energia positiva.

Dados os poucos estudos e autores encontrados no âmbito desta


temática, consideramos pertinente apresentar aqui, tal como o fez Coelho
(2007), algumas das conclusões de investigações realizadas em Portugal, com
recorrência ao PPP, sob a orientação de docentes da Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro. Assim, concluiu-se que a atitude competitiva:
- reflecte a forma como o atleta encara a competição (Coelho & Vasconcelos-
Raposo, 1995); se é negativa e com pouca autoconfiança, surgem dúvidas
pessoais e receio de falhar, o que reduz o prazer na participação (Linhares &
Vasconcelos-Raposo, 1998); só as atitudes positivas podem ser benéficas para
alcançar os objectivos propostos (Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998), para
o empenhamento e a vontade de ganhar (Simões & Vasconcelos-Raposo,
1995).

51
- parece estar relacionada com a vontade que o atleta demonstra em atingir o
sucesso e a direcção dada ao seu comportamento para o conseguir (Silva &
Vasconcelos-Raposo, 2002);
- é também entendida como um dos aspectos da agressividade no desporto
(Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995); esta relação pode ser aceite se a
agressividade for positiva (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995), não destrutiva,
com respeito pelo adversário (Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997) e fair-play
(Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002).
- é determinante para a performance (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995;
Nave & Coelho, 2008), sendo assumida como um dos mais importantes, senão
o mais importante, factor do sucesso desportivo (Linhares & Vasconcelos-
Raposo, 1998); é espectável que atletas com níveis de rendimento superiores
tenham valores superiores na atitude competitiva, dado que esta variável
contempla a vontade, dedicação e empenho numa determinada tarefa (Mahl &
Vasconcelos-Raposo, 2005).

2.8 MOTIVAÇÃO

Nas mais variadas áreas da actividade humana, a motivação é um dos


aspectos mais presentes na sua realização, actuando como um autêntico
“motor”. Hoje em dia é indiscutível a importância do seu papel na vida de cada
indivíduo, pois as questões motivacionais intervêm em todo o relacionamento,
podendo afirmar-se que todo o comportamento do Homem é motivado, sendo a
motivação a força geradora desse mesmo comportamento (Roberts, 1992,
1993, 2001). No âmbito do futebol, é um dos factores mais referenciados entre
as razões justificativas do sucesso ou insucesso das equipas ou jogadores. É
frequente que treinadores, futebolistas e espectadores associem a performance
colectiva e individual a diferentes estados motivacionais (Eubank & Gilbourne,
2005).

A motivação é um dos conceitos que mais se desenvolveu, tendo sido


alvo de inúmeras investigações ao longo dos anos (Fonseca, 2001; Roberts,

52
REVISÃO DA LITERATURA

2001). No entanto, para Vallerand (2004), compreender a motivação é uma


questão de tal forma complexa que, nos últimos anos, os psicólogos do
desporto têm passado uma grande quantidade de tempo a tentar perceber o
complexo quadro da motivação no contexto do desporto.

Mas afinal o que é a motivação?

Ao longo da revisão bibliográfica que fizemos no âmbito da motivação


em contextos desportivos e de actividade física, encontramos diversas
definições. Da literatura de referência mais actual, destacamos o conceito de
motivação que se refere a “disposições, variáveis sociais, e/ou variáveis
cognitivas que intervêm quando um sujeito se envolve numa tarefa, na qual ele
ou ela é avaliado, entra em competição com outros ou tenta atingir um patamar
de excelência “ (Roberts, 2001, p. 6), sendo tomado como hipótese que as
determinantes dos comportamentos de realização são as atitudes de
aproximação ou de afastamento, as expectativas, os valores que conduzem ao
sucesso ou fracasso, o entendimento desse mesmo sucesso ou fracasso e a
própria possibilidade de ser bem sucedido ou de fracassar (Roberts, 2001).

Em contextos de actividade física e desportiva, é habitual que o


indivíduo evidencie comportamentos de esforço, concentração e persistência,
com o objectivo de conseguir atingir um melhor desempenho (Roberts, 2001).
Assim, sendo um contexto de carácter competitivo, o desporto é um meio
orientado para a realização (Cruz, 1996d; Roberts, 1993) no qual os indivíduos
empenham o seu esforço para cumprir tarefas (objectivos), que são
posteriormente avaliados em termos de sucesso ou fracasso (Roberts, 1993,
2001). Como tal, o estudo da motivação para a realização implica o estudo das
variáveis que potenciam e direccionam os comportamentos dos indivíduos, ou
seja, o que lhes determina a intensidade e direcção, devendo-se considerar
todos os aspectos desses comportamentos (Fonseca, 1993; Roberts, 2001;
Vallerand, 2001). Segundo Weinberg e Gould (2001) a direcção corresponde
ao esforço e à procura ou aproximação a dada situação. A intensidade refere-
se à quantidade de esforço que o sujeito coloca em determinada situação.

53
Têm sido elaboradas inúmeras teorias da motivação ao longo dos
tempos. Fonseca (1993) e Roberts (1992) chegam mesmo a afirmar que a
história da teoria da motivação tem sido a procura da “verdadeira” teoria. Nos
últimos anos os estudos têm-se baseado em teorias sócio-cognitivas (Duda,
1992). Estas enfatizam o homem não apenas como um ser reactivo, mas
também como um ser activo, considerando que as cognições desempenham
um papel mediador entre os estímulos e os comportamentos dos indivíduos.
Segundo a perspectiva sócio-cognitiva, as pessoas avaliam os seus
comportamentos, pensamentos, acontecimentos e contextos em que estão
envolvidas de uma forma recíproca, sendo a partir deste processo que
antecipam as consequências futuras (Fonseca, 1999).

Segundo Weinberg e Gould (2001) e Coelho (2001) existem quatro


teorias da motivação: a Teoria da Necessidade de Realização, a Teoria da
Atribuição, a Teoria da Motivação para a Competência e a Teoria dos
Objectivos de Realização. Optamos por explorar apenas esta última uma vez
que é a que serve de base teórica para o questionário que iremos utilizar
(TEOSQ).

2.8.1 Orientações cognitivas

Uma das principais preocupações dos investigadores da temática da


motivação no contexto desportivo na actualidade prende-se com a identificação
dos objectivos de realização que os atletas estabelecem como prioritários no
âmbito da sua prática desportiva (Fonseca & Maia, 2000). Este interesse
decorre dos postulados das teorias sócio-cognitivas, segundo os quais, para se
perceber as determinantes motivacionais dos indivíduos, é necessário
conhecer o que eles consideram como sucesso, entendido neste contexto
como demonstração de competência (Duda, 2001; Fonseca & Maia, 2000;
Roberts, 2001). Consequentemente, em função dos seus objectivos, o
indivíduo investe os seus recursos pessoais numa determinada actividade
(Roberts, 2001), pois todos, tal como sublinham Fonseca e Maia (2000), têm a
necessidade de demonstrar competência. Para estes autores tudo indica que o

54
REVISÃO DA LITERATURA

que significa competência ou sucesso para uns não é, necessariamente, o


mesmo para outros, pelo que é importante saber o que cada um entende a
esse respeito.

A Teoria dos Objectivos de Realização emergiu, desde 1992, como a


teoria da motivação mais popular, sendo a mais usada, nos encontros de
investigação de Psicologia do Desporto, para compreender a motivação (Duda,
2001; Roberts, 2001). É uma abordagem que emergiu em contexto escolar
(Eubank & Gilbourne, 2005; Fonseca & Brito, 2005; Fonseca & Maia, 2000;
Roberts, 2001), que assume o indivíduo como um organismo intencional,
direccionado por objectivos, que actua de forma racional, gerando e guiando
crenças, decisões e comportamentos em contextos de sucesso. Os objectivos
influenciam a interpretação e a resposta em situações de realização,
concretamente como afectam as auto-avaliações da habilidade demonstrada, o
esforço despendido e as atribuições para o sucesso e fracasso (Duda, 1992).
São percepcionados como teorias pessoais de realização que direccionam não
só forma como os indivíduos configuram os contextos de realização mas
também o modo como interpretam, avaliam e reagem a feedbacks de
realização (Fonseca, 2000; Fonseca & Maia, 2000).

Estudos realizados nos últimos anos no contexto do desporto e da


actividade física (Duda, 1989, 1992, 1993; Roberts, 1992, 1993, 2001;
Vasconcelos-Raposo, 1993) têm revelado que, de um modo geral, os
indivíduos definem competência de duas formas diferentes, orientando-se, por
esse motivo, de um ponto de vista cognitivo, para alcançarem dois tipos
principais de objectivos de realização ou orientações cognitivas. Apesar de
habitualmente serem utilizadas as designações de tarefa e ego para os
identificar, alguns autores têm por vezes proposto designações relativamente
distintas: aprendizagem e performance, mestria e habilidade ou mestria e
competitividade (Roberts, 1992; Fonseca & Brito, 2005). No entanto, apesar da
diversidade terminológica, as concepções dos diferentes autores acerca de
cada um destes dois objectivos parece ser relativamente semelhante. Assim,
eis como se apresentam estes objectivos:

55
a) objectivos de realização orientados para a performance, habilidade ou
competitividade (orientação para o ego ou resultado) – considera-se a
existência de uma orientação ou objectivo de realização referente ao ego
quando as pessoas definem sucesso de um modo normativo ou socialmente
comparativo (por exemplo “ganhar”, “fazer melhor que os outros”); há uma
preocupação em demonstrar habilidade quando em comparação com outros;
existe uma procura de demonstração da própria competência relativamente às
outras pessoas, maximizando as probabilidades de atribuição de uma elevada
competência e minimizando as possibilidades de atribuição de uma reduzida
competência aos próprios; privilegia a superioridade sobre outros, em que o
sucesso do indivíduo reside na comparação favorável da sua capacidade ou
resultados com outros, ou seja “ter sucesso é ser melhor que os outros”;
b) objectivos de realização orientados para a aprendizagem ou mestria
(orientação para a tarefa ou processo) – considera-se a existência de uma
orientação ou de um objectivo de realização referente à tarefa quando as
pessoas definem sucesso de um modo auto-referenciado (por exemplo
“melhorar o rendimento pessoal”, “realizar com sucesso um gesto técnico”,
“completar uma tarefa”); existe uma preocupação em demonstrar mestria na
realização da tarefa; há uma procura da demonstração de competência
relativamente aos próprios indivíduos, quer aumentando os seus
conhecimentos, quer resolvendo determinadas tarefas com sucesso; enfatiza a
aprendizagem, a melhoria contínua, a tentativa de alcançar objectivos próprios
da modalidade, ou seja “ter sucesso é ser melhor que antes”.

A literatura tem sublinhado tanto a ortogonalidade (i.e. independência)


como a bipolaridade da associação entre as orientações cognitivas (Duda,
1992, 1993; Fonseca & Balagué, 2001; Fonseca & Biddle, 2001; Fonseca &
Maia, 2000; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Nicholls, 1992; Van-Yperen &
Duda, 1999). Duda (1993) defende que as pessoas podem ser fortemente
orientadas para a tarefa e ego, apresentar baixos índices em ambas as
orientações ou então altos numa e baixos noutra. Por seu lado, Van-Yperen e
Duda (1999) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) encontraram correlações
entre as orientações, positiva nos primeiros e negativa nos segundos.

56
REVISÃO DA LITERATURA

Ames (1992) sugere que um padrão motivacional adaptado tem mais


tendência a desenvolver-se quando os indivíduos adoptam uma orientação de
objectivos para a tarefa. Quando os indivíduos estão orientados para a mestria,
estão mais preocupados em desenvolver e melhorar novas competências ou
atingir um sentido de mestria baseado na crença que o esforço conduzirá ao
progresso pessoal (Ames, 1992). Como tal, uma orientação de objectivos de
mestria é vista como promotora de um padrão motivacional adaptado, que
coloca elevado valor no esforço e no processo de aprendizagem.

Em resumo, a motivação é um factor psicológico de grande relevância


no contexto desportivo, abarcando a intensidade e a direcção do
comportamento dos indivíduos em contexto desportivo (Fonseca, 1993;
Roberts, 2001). Para a sua compreensão é necessário contemplar o significado
que o sucesso tem para os atletas, assim como compreender os objectivos da
sua acção (Duda, 1992, 2001; Roberts, 2001). A Teoria dos Objectivos de
Realização preconiza que as orientações motivacionais são um espelho dos
critérios usados pelos atletas quando definem sucesso e fracasso (Duda,
1992).

2.9 ESTUDOS REALIZADOS COM O PERFIL PSICOLÓGICO DE

PRESTAÇÃO

O Perfil Psicológico de Prestação é um teste desenvolvido por Loehr


(1986) para avaliar as forças e fraquezas mentais de atletas, concretamente os
seus skills psicológicos (auto-confiança, controlo do negativismo, atenção,
imagética, motivação, pensamentos positivos e atitude competitiva) e a
robustez mental. Segundo o autor, quanto mais consistentes forem as
prestações desportivas, mais elevados serão os valores obtidos.

Dos estudos realizados, tanto em Portugal como no estrangeiro, tornou-


se evidente que a motivação é a variável com os índices habitualmente mais
elevados (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Casimiro & Lázaro, 2004;

57
Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998;
Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997),
revelando-se, como tal, um dos aspectos fundamentais no rendimento
desportivo. Por outro lado, o controlo do negativismo é, de uma forma geral, o
skill psicológico menos desenvolvido (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995;
Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995, Linhares & Vasconcelos-Raposo,
1998; Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005;
Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002;
Vasconcelos-Raposo, 1993, 1994b, 2002), sendo unânime a opinião de que é
cada vez mais importante uma intervenção psicológica ao nível do controlo dos
pensamentos negativos.

Outra das evidências no campo da investigação, realizada no âmbito da


Psicologia do Desporto, é a de que atletas de diferentes níveis competitivos
utilizam os skills psicológicos de forma diferenciada, constatando-se que, de
uma forma geral, os de níveis mais altos revelam índices superiores (Carvalho
& Vasconcelos-Raposo, 1998; Casimiro & Lázaro, 2004; Coelho, 2007; Golby &
Sheard, 2004; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Nave & Coelho, 2007;
Vasconcelos-Raposo, 1993, 2002, 2005; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997;
Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002). Verificou-se, ainda, que quanto mais
próximo for o nível competitivo dos atletas, maior a similaridade encontrada em
termos psicológicos (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Casimiro &
Lazaro, 2004; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005).

Apesar do crescente reconhecimento da importância da integração da


preparação psicológica no quotidiano dos desportistas, alguns trabalhos
realizados na última década evidenciam que, de uma forma geral, os atletas
realizam preparação psicológica para a competição de forma não sistemática
(Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995;
Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005,
2007; Vasconcelos-Raposo, 1994b).

No âmbito da maturidade competitiva, concretamente no que toca a


investigações focalizadas na associação entre a idade e os skillls psicológicos,

58
REVISÃO DA LITERATURA

os resultados são contraditórios: Casimiro e Lázaro (2004) e Linhares e


Vasconcelos (1998) constataram que a idade não influencia de forma
significativa o desenvolvimento dos skills psicológicos; por seu lado, Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005) encontraram correlações significativas positivas
entre aquela variável independente e os skills psicológicos, com excepção da
motivação. No âmbito da experiência competitiva, alguns trabalhos (Casimiro &
Lázaro, 2004; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Mahl & Vasconcelos-
Raposo, 2005; Simões & Vasconcelos-Raposo, 1995) indiciaram que os anos
de prática competitiva favorecerem, embora nem sempre de forma significativa,
o desenvolvimento das habilidades psicológicas, reforçando-se assim, tal como
também observam Golby e Sheard (2004), a importância do treino mental para
a melhoria da performance desportiva.

Relativamente ao campo da Psicologia do Desporto aplicada ao futebol,


vários estudos evidenciaram a existência de diferenças significativas, nos skills
psicológicos, entre jogadores de diferentes posições, concretamente no
controlo do negativismo (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Vasconcelos-
Raposo, 1994b) e na atenção (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005). Nos seus
trabalhos (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Vasconcelos-Raposo, 1994b)
constataram que os guarda-redes apresentam, na maior parte das variáveis do
PPP, índices superiores comparativamente aos futebolistas dos restantes
sectores.

Assim, em termos gerais, os estudos referenciados evidenciam a


tendência para os atletas de níveis competitivos superiores apresentarem
índices superiores nas escalas do PPP comparativamente aos restantes,
reforçando-se a consistência do uso deste instrumento na diferenciação de
atletas por níveis de rendimento. Realçam também que quanto mais próximo é
o nível competitivo maior é a semelhança no perfil psicológico de prestação.
Por outro lado constatou-se que, de uma forma geral, os atletas se preparam
mentalmente para a competição, embora não o façam de forma sistemática.
Como tal, além de se reforçar o reconhecimento da importância dos factores
psicológicos no processo de rendimento desportivo, acentua-se a necessidade

59
da integração da preparação mental no quotidiano dos atletas, especialmente
ao nível do controlo dos pensamentos negativos.

2.10 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS E HIPÓTESES

Pressupondo que os factores psicológicos e a preparação mental


influenciam de forma determinante o desempenho desportivo de equipas e
atletas e que o desenvolvimento e domínio dos skills psicológicos podem
diferenciar os atletas de elite e sucesso dos outros, estabelecemos como
propósitos para este nosso trabalho a caracterização do perfil psicológico de
prestação do futebolista português e a identificação das variáveis psicológicas
que diferenciam futebolistas de diferentes níveis competitivos.

Tendo em conta o problema formulado e a revisão da literatura


realizada, estabelecemos os seguintes objectivos específicos para esta
investigação: caracterizar e comparar futebolistas de diferentes níveis
competitivos, posições, idades e experiências competitivas (anos de prática
competitiva) nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas, na
autoconfiança e no negativismo.

Face aos objectivos que definimos, as hipóteses orientadoras do nosso


estudo são as seguintes:

H01 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de diferentes


níveis competitivos nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas, no
negativismo e na auto-confiança.

H02 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de diferentes


posições nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas, no negativismo e
na auto-confiança.

60
REVISÃO DA LITERATURA

H03 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de diferentes


idades nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas, no negativismo e na
auto-confiança.

H04 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de diferentes


experiências competitivas nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas,
no negativismo e na auto-confiança.

61
METODOLOGIA

3 METODOLOGIA

O presente estudo teve como base o paradigma quasi-experimental,


dado que, como sugerem Almeida e Freire (2003), é feita uma aproximação ao
plano experimental. Assim, embora recorramos a grupos de comparação, estes
são constituídos de forma não aleatória, acrescentando-se ainda que não foi
exercida qualquer influência sobre as variáveis parasitas, pois este trabalho foi
realizado fora do contexto laboratorial.

Quanto ao tipo de investigação realizada, classificámo-la como


correlacional e diferencial. Correlacional pela intenção de relacionar variáveis e
apreciar interacções entre si. Diferencial porque, tal como refere Almeida e
Freire (2003), contempla as diferenças entre grupos ou entre condições para a
análise das relações entre as variáveis.

A bibliografia que serviu de base para a revisão teórica foi pesquisada


em bibliotecas (Faculdade de Desporto e Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade do Porto, Universidade do Minho
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e fontes online.

3.1 AMOSTRA

A amostra foi constituída recorrendo ao processo de amostragem de


conveniência, dado que o investigador estabeleceu contactos com futebolistas
e treinadores conhecidos, fruto do passado desportivo que tem como treinador-
adjunto em equipas técnicas da modalidade. Este método tem como limitação o
facto das conclusões só se aplicarem à amostra, não podendo ser extrapoladas
com confiança para a população (Hill & Hill, 2005).

Da amostra fizeram parte 424 futebolistas portugueses do sexo


masculino. No que concerne à idade, que variou entre os 18 e os 36 anos
(24,16±4,55), os jogadores foram divididos, a partir dos quartis, por quatro

63
grupos etários: 82 (19,3%) jogadores com 19 anos ou menos, 108 (25,5%)
entre 20 e 22 anos, 119 (28,1%) entre 23 e 27 anos e 115 (27,1%) com 28 ou
mais anos (quadro 1).

Quadro 1 - caracterização da amostra em função idade

Idade (grupos etários) Frequência Percentagem

<= 19 82 19,3

20 - 22 108 25,5

23 - 27 119 28,1

28+ 115 27,1

Total 424 100,0

Quanto ao nível competitivo, os participantes deste estudo foram


distribuídos por três grupos, de acordo com o enquadramento competitivo em
vigor em Portugal: Nacional, Regional e Distrital (quadro 2). Dos 424
futebolistas, 85 (20,0%) jogavam no nível Nacional, 198 (46,7%) no Regional e
141 (33,3%) no Distrital.

Quadro 2 - caracterização da amostra em função do nível competitivo

Nível competitivo Frequência %

Nacional 85 20,0

Regional 198 46,7

Distrital 141 33,3

Quanto à posição verificamos (quadro 3) que existem na nossa amostra


43 (10,1%) guarda-redes, 128 (30,2%) defesas, 118 (27,8%) médios e 82
(19,3%) avançados. Os 53 futebolistas que restam, por terem assinalado várias
posições no preenchimento do inquérito, não serão contemplados nas
comparações inter-grupos.

64
METODOLOGIA

Quadro 3 - caracterização da amostra em função da posição

Sector Frequência Percentagem

Guarda-redes 43 10,1

Defesas 128 30,2

Médios 118 27,8

Avançados 82 19,3

Vários 53 12,5

No que se refere à experiência competitiva (anos de prática competitiva),


que variou entre 1 e 29 anos (14,77±4,58), os jogadores foram distribuídos por
quatro grupos a partir dos quartis: com 11 ou menos anos de experiência
competitiva participaram 90 (21,2%) futebolistas, entre 12 e 13 anos eram 91
(21,5%), entre 14 e 17 anos foram incluídos 132 (31,1%) e com mais de 17
anos de prática competitiva participaram 111 (26,2%) futebolistas (quadro 4).

Quadro 4 - caracterização da amostra em função da experiência competitiva

Experiência competitiva Frequência Percentagem

<= 11 90 21,2

12 - 13 91 21,5

14 - 17 132 31,1

18+ 111 26,2

Total 424 100,0

3.2 VARIÁVEIS

Como variáveis independentes deste estudo estabelecemos o nível


competitivo, a posição (de jogo), a idade (grupos etários) e a experiência
competitiva (anos de prática competitiva).

65
As variáveis dependentes foram os skills psicológicos (autoconfiança,
controlo do negativismo, atenção, imagética, motivação, pensamentos
positivos, atitude competitiva), a orientação cognitiva para a tarefa, a orientação
cognitiva para o ego, a autoconfiança e o negativismo.

3.3 INSTRUMENTOS

Os elementos da nossa amostra foram sujeitos a um instrumento


constituído por quatro questionários: um para a recolha dos dados pessoais, o
PPP para avaliar os skills psicológicos, o TEOSQ para avaliar as orientações
cognitivas (ego e tarefa) e a ENAC, uma adaptação do CSAI-2, para avaliar o
negativismo e a autoconfiança.

3.3.1 Questionário para dados pessoais

Com este instrumento recolheram-se dados relativos à idade,


experiência competitiva, nível competitivo e posição.

3.3.2 Perfil Psicológico de Prestação

O Perfil Psicológico de Prestação (Psychological Performance Inventory,


PPP) foi inicialmente desenvolvido por Loher (1986), tendo sido validado para a
população portuguesa por Vasconcelos-Raposo (1993). Pretende-se, com este
instrumento, conhecer o estado de preparação psicológica dos atletas (forças e
fraquezas) no que diz respeito aos skills psicológicos que definem o PPP (auto-
confiança, controlo do negativismo, atenção, imagética, motivação,
pensamentos positivos e atitude competitiva).

Consiste em 42 itens respondidos de forma fechada numa escala tipo


Likert de 5 pontos, que varia, na versão que utilizamos, entre 1 (quase nunca) e

66
METODOLOGIA

5 (quase sempre). Como podemos ver no quadro 5, existem 6 itens para cada
factor, sendo o valor de cada um calculado pelo seu somatório dos seus itens.
A quantificação dos parâmetros respeita ainda uma sequência de itens
invertidos: 1 → 5, 2 → 4, 3 = 3, 4 → 2 e 5 → 1.

Quadro 5 - itens utilizados para o cálculo de cada skill psicológico do PPP

Escala Itens

Autoconfiança1 1, 8*, 15, 22*, 29*, 36*

Controlo do negativismo 2, 9, 16, 23, 30, 37*

Atenção 3, 10, 17*, 24, 31, 38

Imagética 4*, 11*, 18*, 25*, 32*, 39*

Motivação 5*, 12*, 19*, 26*, 33, 40*

Pensamentos positivos 6*, 13*, 20, 27*, 34*, 41*

Atitude competitiva 7*, 14, 21*, 28*, 35*, 42*


* Item com valor inverso

Os valores de cada escala oscilam entre 0 e 30, tal como é referenciado


no quadro 6. Segundo Vasconcelos-Raposo (1993), os atletas cujos valores se
apresentem iguais ou superiores a 26 em todos os parâmetros, revelam-se os
mais consistentes nas suas prestações.

Quadro 6 - correspondência entre valores e o seu significado no PPP

Valores Significado

Preparação mental muito fraca ou inexistente; o atleta necessita de integrar o treino mental nas
≤ 19
suas rotinas diárias de treino para melhorar o skill psicológico em causa.
Preparação mental média, realizada de forma não sistemática; o atleta necessita de melhorar o
20 - 25
skill psicológico referenciado, integrando o treino mental nas suas rotinas diárias de treino.
Excelentes skills psicológicos, representativos de uma boa preparação mental, realizada de
26 - 30
forma sistemática; o atleta já tem o treino mental integrado na sua preparação diária.

No âmbito do estudo das propriedades psicométricas, especificamente


no que toca à análise de consistência interna, os estudos de Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2007) e Coelho (2007) revelam que o PPP, de uma
forma geral, tem uma boa consistência interna.

67
Os trabalhos de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2007) e Coelho (2007)
sustentam que, conjuntamente, os valores das medidas de ajustamento da
análise factorial confirmatória, os fortes pressupostos teóricos e práticos
subjacentes à sua construção, a elevada validade aparente e preditiva e o facto
de avaliar diversos constructos psicológicos fundamentais no estudo da
excelência desportiva, permitem reconhecer o PPP como um instrumento
válido para a investigação científica.

Utilizaremos, durante a apresentação dos resultados e respectiva


discussão, a denominação autoconfiança1 quando este skill estiver
enquadrado no PPP e autoconfiança2 quando associado à ENAC.

3.3.3 Questionário de Orientação para a Tarefa e Ego no Desporto

O Questionário de Orientação para a Tarefa e Ego no Desporto é uma


versão traduzida e adaptada, para a língua portuguesa, por Fonseca e Biddle
(2001), do Task and Ego Orientation in Sport Questionnaire (TEOSQ), tendo
sido desenvolvido, segundo Fonseca e Brito (2001), em 1989, por Joan Duda e
John Nicholls.

Este questionário pretende avaliar as orientações dos objectivos de


realização dos atletas (Fonseca & Balagué, 1996; Fonseca & Biddle, 2001;
Fonseca & Brito, 2001), tendo por base o modelo teórico motivacional proposto
por John Nicholls em 1984 (Fonseca & Brito, 2001). Com a sua utilização
avalia-se os objectivos de realização (ou critérios de sucesso) dos indivíduos
em contexto desportivo, ou seja, a orientação cognitiva do atleta (Fonseca &
Brito, 2001), analisando-se a tendência de cada um para o envolvimento com a
tarefa ou o ego no desporto (Duda, 1992).

O TEOSQ é constituído por 13 itens que reflectem a orientação cognitiva


relativamente à percepção que cada atleta tem daquilo que é ter sucesso e
êxito no desporto. Neste questionário, no qual 6 itens estão relacionados com a
orientação para a tarefa e 6 com a orientação para o ego, solicita-se a cada

68
METODOLOGIA

indivíduo que indique o seu grau de acordo ou desacordo relativamente a


diversas frases complementares à afirmação “Ao praticar desporto, sinto-me
mais bem sucedido quando”. As respostas são dadas numa escala tipo Likert
de 5 pontos, que varia entre 1 (discordo completamente) e 5 (concordo
completamente). A avaliação obtém-se através do cálculo da média dos itens
correspondentes a cada orientação cognitiva (ver quadro 7), variando os seus
valores entre 1 e 5.

Quadro 7 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do TEOSQ

Escala Itens

O. Tarefa 2, 5, 7, 8, 10, 12, 13

O. Ego 1, 3, 4, 6, 9, 11

Relativamente às propriedades psicométricas, existem estudos que


demonstram que o TEOSQ tem não só uma boa consistência interna (Coelho,
2007; Duda & Withehead, 1998; White & Duda, 1994; Vasconcelos-Raposo &
Mahl, 2005), como uma estrutura factorial que o permite reconhecer como um
instrumento válido para a investigação científica (Coelho, 2007; Fernandes &
Vasconcelos-Raposo, 2010; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005).

3.3.4 Escala de Negativismo e Autoconfiança

A Escala de Negativismo e Autoconfiança (ENAC) é uma adaptação,


realizada por Coelho, Vasconcelos-Raposo e Fernandes (2007), do Inventário
de Estado de Ansiedade Competitiva-2 (Competitive State Anxiety Inventory-2,
CSAI-2) desenvolvido por Martens e colaboradores (1990a) para avaliar a
intensidade das escalas negativismo (negativismo cognitivo), activação
(negativismo somático) e autoconfiança em situações competitivas, validado
para a população portuguesa por Vasconcelos-Raposo (1995).

69
O trabalho de Martens e colaboradores (1990a) se por um lado revelou
um CSAI-2 com forte consistência interna nas suas três escalas, igualmente
comprovada por estudos mais recentes (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005;
Rodrigues & Cruz, 1997), por outro, e quanto à validade factorial, diversos
autores evidenciaram a sua falta de validade factorial (Coelho, 2007; Coelho et
al., 2007; Tsorbatzoudis, Barkoukis, Rodafinos, & Grouios, 1998;
Tsorbatzoudis, Barkoukis, Sideridis & Grouios, 2002), questionando-se assim
as propriedades psicométricas do questionário.

Com o objectivo de avaliar a estrutura factorial da versão Portuguesa do


CSAI-2, Coelho e colaboradores (2007) utilizaram as estruturas propostas
pelos autores do modelo original, usando a AFC em duas amostras distintas:
primeiro, avaliaram a estrutura factorial do questionário, segundo aquelas
propostas, utilizando uma amostra de calibração composta por estudantes de
Educação Física e Desporto, procedendo de seguida às alterações
necessárias. Posteriormente testaram a estrutura resultante na amostra de
validação, constituída por atletas de várias modalidades desportivas individuais
com nível competitivo mínimo de Nacional. Este estudo, embora tenha revelado
uma boa consistência interna, confirmou a falta de validade factorial do
instrumento original (CSAI-2). Assim, Coelho e colaboradores (2007)
propuseram uma adaptação daquele, sugerindo um modelo composto apenas
pelas escalas de negativismo e autoconfiança, com a denominação de Escala
de Negativismo e Autoconfiança (ENAC).

O surgimento da ENAC, que avalia a intensidade do negativismo e da


autoconfiança, com exclusão da activação do CSAI-2, deve-se, em primeiro
lugar, como defende Coelho e colaboradores (2007), ao facto da activação ser
bastante afectada tanto pelo erro do tipo desejabilidade social, já que o
indivíduo pode distorcer as suas respostas de uma forma socialmente
desejável, como pelo facto do estado de activação se correlacionar menos com
a performance do que o negativismo, uma vez que a activação fisiológica se
dissipa no início da competição. Em segundo lugar, para além da ENAC ter
evidenciado não só bons índices de consistência interna (alpha de Cronbach
de 0,85 para o negativismo e 0,90 para a autoconfiança), os valores das

70
METODOLOGIA

medidas de ajustamento do modelo do ENAC, resultantes da análise factorial


confirmatória realizada por Coelho e colaboradores (2007), demonstram uma
melhor adequabilidade do modelo (X²/df=2,645, CFI=0,916, GFI=0,871 e
RMSEA=0,074) comparativamente ao CSAI-2.

No seu estudo com futebolistas brasileiros, também Vasconcelos-


Raposo e colaboradores (2007) confirmaram não só a sua boa consistência
interna da ENAC (alpha de Cronbach de 0,76 para o negativismo e 0,74 para a
autoconfiança), como também a boa adequação do modelo (X²=348,942,
p=0,000, X²/df=2,604, CFI=0,913, GFI=0,926 e RMSEA=0,055).

A ENAC é constituída por 18 itens (o CSAI-2 tem 27), cujas respostas, à


imagem do CSAI-2, estão classificadas numa escala de Likert de 4 pontos,
variando entre 1 (nada) e 4 (muito). Tal como aquele, cada uma das suas
escalas consiste em nove itens (ver quadro 8), sendo o valor de cada uma
calculada através da soma dos itens, variando assim entre um mínimo de 9 e
um máximo de 36. Como no CSAI-2, na ENAC quanto maior for o valor das
escalas, maior será a intensidade do negativismo e da autoconfiança.

Quadro 8 - itens utilizados para o cálculo das duas escalas do ENAC

Escalas Itens

Negativismo 1, 3, 5, 7, 9, 11, 13, 15, 17

Autoconfiança2 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18

Como já referimos anteriormente, na apresentação dos resultados e sua


discussão, utilizaremos as denominações autoconfiança2 quando este skill for
associado ao ENAC e autoconfiança1 ao PPP.

71
3.4 PROCEDIMENTOS

Tendo como objectivo facilitar as primeiras abordagens e sensibilização


dos agentes desportivos para o interesse e pertinência do nosso estudo,
estabelecemos contactos pessoais com dirigentes, treinadores e futebolistas do
nosso relacionamento pessoal, fruto do passado desportivo que temos como
técnico na modalidade. Desta forma, conseguiu-se não só a aplicação de
inquéritos nos clubes a que aqueles pertenciam, mas também um conjunto de
contactos para alargamento da nossa amostra. Os acessos às equipas foram-
se obtendo à medida que os contactos iam sendo estabelecidos, uns com
êxito, outros não.

A receptividade ao nosso estudo foi muito variada, uma vez que, se por
um lado, houve clubes e treinadores que demonstraram disponibilidade total
para nos receberem, outros revelaram alguma resistência e mesmo
indisponibilidade para a concretização dos nossos intentos. Nos clubes de nível
competitivo mais elevado (Nacional), o acesso foi, frequentemente,
condicionado, razão principal para o baixo número de futebolistas existentes,
deste nível, na amostra.

Na fase de aplicação dos questionários, os procedimentos


contemplaram os seguintes aspectos: apresentação dos objectivos do estudo e
do perfil da amostra, garantia de anonimato e confidencialidade, informação
acerca do carácter de voluntariado dos questionários, instruções acerca do seu
modo de preenchimento, esclarecimento de possíveis dúvidas e aplicação dos
instrumentos. Todos os questionários foram preenchidos na presença do
investigador e fora da situação competitiva.

3.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO

Para o nosso tratamento estatístico recorremos aos programas SPSS


17.0 (Statistical Package for the Social Sciences) e o AMOS 6.0 (Analysis of
Moment Structures).

72
METODOLOGIA

Do conjunto de inquéritos inicialmente recolhidos foram eliminados todos


os que apresentassem itens por responder.

Para a análise das propriedades psicométricas dos instrumentos


utilizados recorremos ao cálculo do alpha de Cronbach (análise de consistência
interna) e à análise factorial confirmatória.

A análise descritiva dos dados realizou-se através do cálculo da média,


desvio padrão, valor máximo e mínimo, amplitude, frequências e quartis.

O estudo da normalidade das distribuições foi concretizado através da


análise das medidas de simetria (Skewness) e achatamento (Kurtosis). Dado
que a maior parte das variáveis dependentes revelou uma distribuição normal,
na medida em que os valores absolutos dos coeficientes de assimetria e
achatamento variaram entre -1 e 1 (Maroco, 2010), optou-se pela estatística
paramétrica. Posto isto, e atendendo ao número de participantes por grupo
(superior a doze), assumiu-se a validação do pressuposto da multinormalidade
para análise de variância multivariada (Dancey & Reidy, 2006). A
homogeneidade das variâncias foi analisada através do Teste de Levene.
Sempre que não se verificou igualdade na homogeneidade da variância
recorremos ao t-teste. No entanto, os resultados nunca foram diferentes.

Para estudarmos o efeito das variáveis independentes no conjunto das


dimensões que constituem os instrumentos utilizados, recorreu-se à análise de
variância multivariada (MANOVA One-way), posteriormente complementada,
para a comparação entre grupos e identificação de diferenças significativas,
com os testes Post-Hoc de Tukey (igualdade de variâncias assumida) ou de
Tamhane’s (igualdade de variâncias não assumida).

Em toda a análise de dados estabeleceu-se um nível de significância de


5% (p ≤ 0.05).

73
3.6 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES

Podemos começar por referenciar o difícil acesso aos clubes da divisão


mais importante do futebol português (1ª Divisão), enquadrada no nível
competitivo Nacional, como uma das primeiras e principais dificuldades
encontradas para a concretização do nosso estudo, tanto pela falta de
contactos disponíveis como pela difícil acessibilidade, nomeadamente no que
toca à obtenção de respostas positivas às nossas solicitações. Constituiu
igualmente um obstáculo o elevadíssimo número de jogadores estrangeiros
que fazem parte dos planteis da equipas de nível profissional. Existem clubes
em Portugal que são constituídos quase exclusivamente por futebolistas
estrangeiros. Esta é uma das consequências do futebol globalizado que
referenciamos na introdução deste nosso trabalho. Por seu lado, no nível
competitivo mais baixo, os constrangimentos surgiram do lado dos jogadores
dada a menor receptividade demonstrada, comparativamente aos futebolistas
das divisões mais elevadas. Esta dificuldade deveu-se, no nosso entender, ao
facto destes treinarem normalmente ao fim do dia, após o exercício das
actividades profissionais respectivas, factor este condicionador da
predisposição para a realização de outras actividades que não o treino.

A extensão do inquérito, com um total de 81 questões, revelou-se, em


algumas situações, um elemento desmobilizador da vontade de colaboração de
alguns jogadores e treinadores. O tempo necessário para a conclusão do
inquérito foi, de uma geral, superior a 20 minutos, e em muitos casos superior a
30 minutos, dada a habitual presença de futebolistas de nacionalidade não
portuguesa. Tomamos a iniciativa de aplicar inquéritos a todos os jogadores
que dominassem a língua portuguesa, apesar de só terem sido incluídos os
portugueses na amostra. Esta opção justificou-se não só pelo facto de se
pretender evitar qualquer tipo de constrangimento e discriminação, mas
também pela intenção de se proceder a uma recolha de dados para estudos
futuros, aproveitando ainda a nossa acção para a sensibilização e clarificação
da temática da Psicologia do Desporto aplicada ao futebol.

74
METODOLOGIA

Por se ter inserido no paradigma quasi-experimental, é necessário


considerar-se, neste trabalho, a possibilidade de existir outro tipo de
explicações para os resultados obtidos. Destacamos aqui o facto do processo
de recolha dos dados se ter realizado, na maior parte dos casos, nos
balneários dos clubes. Esta situação, na nossa opinião, constituiu um factor
gerador de alguns constrangimentos, nomeadamente no que toca à
privacidade necessária para o preenchimento dos inquéritos, dado que, na
maior parte das situações, o espaço disponível implicou um preenchimento
quase “lado a lado”.

Para a constituição da nossa amostra recorremos à amostragem por


conveniência. Ora, neste método, segundo Hill e Hill (2005), as conclusões só
se aplicam à amostra, não podendo ser extrapoladas com confiança para o
universo.

75
RESULTADOS

4 RESULTADOS

A metodologia adoptada nesta investigação teve em consideração os


objectivos pré-definidos e as características das variáveis em estudo. Os
resultados obtidos, fruto da recolha de dados e tratamento estatístico, serão
apresentados neste capítulo, que está dividido em cinco subcapítulos: (1)
Análise das características psicométricas da ENAC, (2) Skills psicológicos, (3)
Orientações cognitivas, (4) Negativismo e autoconfiança e (5) Confirmação das
hipóteses. Assim, a apresentação dos resultados, para além da análise das
propriedades psicométricas da ENAC, contempla, instrumento a instrumento, a
descrição das estatísticas obtidas e, no final, a confirmação das hipóteses pré-
estabelecidas para este trabalho.

4.1 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA ENAC


Neste nosso trabalho apresentaremos os resultados referentes à análise
das propriedades psicométricas da ENAC, dado que tanto o PPP como o
TEOSQ já foram alvo de idêntico tratamento estatístico, revelando-se
instrumentos com forte consistência interna e validade para a investigação
científica (Coelho, 2007; Duda & Withehead, 1998; Fernandes & Vasconcelos-
Raposo, 2010; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005, 2007; White & Duda, 1994;
Vasconcelos-Raposo & Mahl, 2005).

A análise das características psicométricas da ENAC, sugerida por


Coelho e colaboradores (2007), foi concretizada através dos seguintes
procedimentos estatísticos: estudo da consistência interna (alpha de Cronbach)
e análise factorial confirmatória.

77
4.1.1 Consistência interna

A análise de consistência interna foi realizada através do cálculo do


alpha de Cronbach (quadro 9). Pestana e Gageiro (2003) apontam 0,70 como
valor de referência para que a consistência interna seja considerada razoável.

Quadro 9 - análise da consistência interna (alpha de Cronbach) da ENAC

Instrumento Escalas Alpha de Cronbach

Negativismo 0,79
ENAC
Autoconfiança 2 0,85

Como podemos ver, a ENAC revelou uma forte consistência interna com
valores de alpha de Cronbach de 0,79 para o negativismo e 0,85 para a
autoconfiança2. Estes resultados vão ao encontro dos de Coelho e
colaboradores (2007), com 0,85 para o negativismo e 0,90 para a
autoconfiança2, e de Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007), com 0,76 e
0,74 respectivamente.

4.1.2 Análise factorial confirmatória

Com base na estrutura factorial proposta por Coelho e colaboradores


(2007) para a ENAC, foi realizada a análise factorial confirmatória da sua
aplicação à nossa amostra (ver quadro 10). As medidas de avaliação do
ajustamento utilizadas foram ratio chi square statistics/degrees of freedom
(X²/df), goodness of fit index (GFI), comparative fit index (CFI) e root mean
square error of approximation (RMSEA).

O rácio X²/df tem sido utilizado como um índice de ajustamento do


modelo. Não existindo consenso acerca do valor que se considera um
ajustamento adequado, têm sido sugeridos valores inferiores a 3 e até 5
(Aroian & Norris, 2005).

78
RESULTADOS

O CFI avalia a adequabilidade do modelo em relação ao pior modelo


(modelo independente), sendo um índice que não é afectado pelo tamanho e
distribuição da amostra. Os seus valores variam entre 0 e 1, sendo que valores
superiores a 0,90 indicam um ajustamento adequado (Byrne, 2001).

O GFI mede a quantidade relativa de variância e covariância


conjuntamente explicadas pelo modelo, variando entre 0 e 1, em que valores
superiores a 0,9 indicam um ajustamento adequado (Byrne, 2001; Maroco,
2010).

O RMSEA analisa a discrepância no ajustamento entre as matrizes


estimadas e as observadas, considerando os graus de liberdade. Este índice
varia entre 0 e 1, em que valores superiores a 0,1 sugerem a rejeição do
modelo (Aroian & Norris, 2005).

Dado que o objectivo deste trabalho é a análise da intensidade do


negativismo e da autoconfiança, procedemos à análise factorial confirmatória
para a ENAC (quadro 10).

Quadro 10 - valores das medidas de ajustamento para a ENAC

X²/df CFI GFI RMSEA


ENAC
2,910 0,904 0,900 0,067

Os valores confirmam os superiores índices de ajustamento da ENAC


comparativamente ao modelo original, tal como sugerem Coelho e
colaboradores (2007).

4.2 SKILLS PSICOLÓGICOS

No quadro 11 apresentamos a média, o desvio padrão e os valores


máximo e mínimo dos skills psicológicos dos participantes nesta investigação.

79
Quadro 11 - análise descritiva dos skills psicológicos

Mínimo Máximo Média DP

Autoconfiança1 12 30 25,24 3,23

C. Negativismo 12 30 21,08 3,08

Atenção 15 30 23,31 3,09

Imagética 10 30 21,67 3,87

Motivação 12 30 26,23 3,06

P. Positivos 12 30 23,83 2,96

At. Competitiva 14 30 24,31 2,84

Constata-se que a motivação é o skill mais desenvolvido, com uma


média de 26,23, sendo o controlo do negativismo o que revela valor médio
mais baixo, com 21,08. Nas restantes dimensões, todos os índices se situaram
no intervalo entre 20 e 25.

4.2.1 Nível competitivo

O estudo da homogeneidade das variâncias, concretizado com o Teste


de Levene, demonstrou que a igualdade entre grupos pode ser assumida em
todas as variáveis, excepção feita aos pensamentos positivos [F(2,421) =3,371 e
p=0,035] e à atitude competitiva [F (2,421) =4,182 e p=0,016]. Com o objectivo de
diferenciar grupos relativamente aos skills psicológicos, efectuou-se uma
análise de variância multivariada (Manova a um factor) que indiciou não existir
um efeito diferenciador significativo por parte da variável nível competitivo
[Wilks' Lambda=0,961, F(14,830)=1,199, p=0,270 e η2=0,020]. Todavia, utilizados
os testes de Post Hoc, foram identificadas diferenças significativas entre grupos
nas dimensões controlo do negativismo e atenção (quadro 12).

80
RESULTADOS

Quadro 12 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função do nível competitivo

Nacional (N) Regional (R) Distrital (D) Diferenças


significativas entre
F grupos
(N=85) (N=198) (N=141)
Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)
Autoconfiança1 25,60 2,83 25,21 3,45 25,06 3,14 0,764 --
C. Negativismo 21,33 2,57 21,41 3,14 20,45 3,21 4,423 R>D
Atenção 23,93 2,96 23,45 3,13 22,74 3,04 4,403 N>D
Imagética 21,67 3,85 21,81 3,79 21,47 3,99 0,327 --
Motivação 26,67 2,61 26,16 3,29 26,06 2,96 1,168 --
P. Positivos 24,24 2,41 23,81 3,01 23,62 3,19 1,139 --
At. Competitiva 24,66 2,23 24,35 2,91 24,04 3,05 1,295 --

Podemos referenciar o nível competitivo mais elevado (Nacional) como o


que apresenta os índices mais altos em todas as variáveis, excepção feita ao
controlo do negativismo e à imagética, cujos valores mais elevados estão no
nível intermédio (Regional). Constata-se ainda que o nível mais baixo, o
Distrital, apresenta as médias mais baixas em todas as escalas. De uma forma
geral, verifica-se que os skills psicológicos diminuem à medida que o nível
competitivo baixa.

4.2.2 Posição

A análise da homogeneidade das variâncias realizou-se através do


Teste de Levene, tendo-se verificado que a igualdade entre grupos pode ser
assumida em todas as escalas do PPP. Objectivando comparar diferentes
posições quanto aos skills psicológicos, efectuou-se uma análise de variância
multivariada (Manova a um factor) que sugeriu não existir um efeito
diferenciador significativo por parte da variável posição [Wilks' Lambda=0,939,
F(21,1037.147)= 1,087, p=0,355 e η2=0,021]. Contudo, emitidos os testes de Post
Hoc, constataram-se diferenças significativas entre grupos no controlo do
negativismo, tal como se pode observar no quadro 13.

81
Quadro 13 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da posição em
campo
Guarda-redes Avançados
Defesas (D) Médios (M) Diferenças
(Gr) (A)
significativas
F entre grupos
(N=128) (N=118)
(N=43) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP (Post Hoc)

Autoconfiança1 25,93 3,38 25,25 3,52 24,98 3,05 24,95 3,14 1,047 --

C. Negativismo 22,21 2,61 21,20 3,23 20,75 3,14 20,60 2,89 3,128 Gr>M,A

Atenção 24,09 2,79 23,30 3,07 23,05 2,98 23,24 3,33 1,222 --

Imagética 22,67 3,96 21,32 4,32 21,15 3,41 22,17 3,81 2,418 --

Motivação 26,60 2,80 26,25 3,45 26,03 2,88 26,17 3,13 0,362 --

P. Positivos 24,44 2,95 23,57 3,41 23,86 2,69 23,84 2,88 0,901 --

At. Competitiva 24,91 2,99 24,18 3,18 24,23 2,56 24,35 2,76 0,742 --

Constata-se que motivação é o skill psicológico com o valor médio mais


alto em todas as posições e que os guarda-redes são os que evidenciam
índices mais altos em todas as escalas. Observa-se ainda que os valores da
autoconfiança1, controlo de negativismo e atenção aumentam à medida que o
posicionamento se aproxima da própria baliza, denotando-se tendência, em
sentido contrário, na atitude competitiva. Entre os jogadores “de campo”, os
defesas são os mais fortes na autoconfiança1, no controlo do negativismo, na
atenção e na motivação, os médios nos pensamentos positivos e os avançados
na imagética e na atitude competitiva. Os defesas são os mais débeis nos
pensamentos positivos e na atitude competitiva, os médios na atenção, na
imagética e na motivação, e os avançados na autoconfiança1 e no controlo do
negativismo.

4.2.3 Idade

O Teste de Levene mostrou que a igualdade de variâncias entre grupos


pode ser assumida em todas as variáveis, excepção feita à imagética [F(3,420)
=3,003 e p=0,030]. Com o intuito de clarificar a diferenciação da variável idade
relativamente às escalas do PPP, realizou-se uma análise de variância
multivariada (Manova a um factor) que permitiu concluir que a mesma tem um
efeito significativo na diferenciação entre grupos [Wilks' Lambda=0,871,

82
RESULTADOS

F(21,1189.335)= 2,787, p=0,000 e η2=0,045]. Os testes Post Hoc localizaram as


diferenças significativas nas dimensões autoconfiança1, controlo do
negativismo, atenção, pensamentos positivos e atitude competitiva (quadro 14).

Quadro 14 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da idade


<= 19 (I1) 20 - 22 (I2) 23 - 27 (I3) 28+ (I4) Diferenças
significativas
F entre grupos
(n=82) (n=108) (n=119) (n=115)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)
Autoconfiança1 24,48 3,35 24,63 2,90 25,25 3,30 26,33 3,10 7,523 I4> I1, I2, I3

C. Negativismo 20,30 3,26 20,41 2,54 21,14 3,36 22,19 2,80 8,922 I4> I1, I2, I3

Atenção 22,63 3,10 22,86 3,22 23,60 2,98 23,92 2,96 3,984 I4> I1, I2

Imagética 21,24 3,72 21,33 3,24 22,27 3,79 21,67 4,50 1,564 --

Motivação 25,88 3,22 26,29 2,65 26,18 3,06 26,47 3,29 0,621 --

P. Positivos 23,13 2,84 23,83 2,51 23,87 3,15 24,30 3,18 2,522 I4> I1

At. Competitiva 23,45 2,94 23,85 2,48 24,44 2,87 25,23 2,80 7,891 I4> I1, I2

Os dados revelam que todos os skills psicológicos, sem excepção,


aumentam com a idade.

4.2.4 Experiência Competitiva

A análise da homogeneidade das variâncias, realizada com recurso ao


teste de Levene, demonstrou que a igualdade entre grupos pode ser assumida
em todas as variáveis, excepção feita à imagética [F(3,420) =3,891 e p=0,009].
Para a comparação de diferentes grupos de experiência competitiva, recorreu-
se a uma análise de variância multivariada (Manova a um factor) que permitiu
concluir que existe um efeito diferenciador significativo [Wilks' Lambda=0,840,
F(21,1189.335)=3,553, p=0,000 e η2=0,057]. As diferenças significativas entre
grupos foram identificadas, com os testes de Post Hoc, em todas as escalas do
PPP, excepção feita à motivação, tal como se pode observar no quadro 15.

83
Quadro 15 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da experiência
competitiva
<= 11 (E1) 12 – 13 (E2) 14 – 17 (E3) 18+ (E4) Diferenças
significativas entre
F grupos
(n=90) (n=91) (n=132) (n=111)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)
Autoconfiança1 24,06 3,18 24,91 2,94 25,28 3,32 26,41 3,02 9,745 E4>E1,E2,E3; E3>E1;

C. Negativismo 20,23 3,41 20,51 2,44 20,90 3,11 22,44 2,83 11,484 E4>E1,E2,E3

Atenção 22,46 3,32 22,79 2,94 23,64 3,16 24,05 2,73 5,919 E4>E1,E2; E3>E1

Imagética 20,70 3,09 21,68 3,69 21,91 3,76 22,16 4,55 2,691 E4>E1

Motivação 25,84 3,18 25,96 3,06 26,36 3,03 26,60 2,96 1,353 --

P. Positivos 23,10 2,79 23,62 2,67 23,83 3,02 24,62 3,11 4,743 E4>E1

At. Competitiva 23,61 2,87 23,63 2,76 24,25 2,71 25,51 2,67 10,993 E4>E1,E2,E3

É possível afirmar que, (1) para além do grupo dos futebolistas mais
experientes apresentar os índices mais elevados em todas as escalas, (2)
todas as médias, sem excepção, aumentam progressivamente, grupo a grupo,
dos jogadores menos experientes para os mais experientes. Assim, quanto
maior é a diferença na experiência competitiva inter-grupos mais acentuada é a
diferença nos skills.

4.3 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS

Atendendo a que o TEOSQ contempla uma escala de tipo likert de 5


pontos, pode-se afirmar que os futebolistas participantes nesta investigação
(ver quadro 16) têm uma forte orientação para a tarefa, apresentando uma
média de 4,31 (±0,54). A orientação para o ego tem uma média inferior aquela
(2,63±0,85).

Quadro 16 - análise descritiva das orientações cognitivas

Média DP

O. Tarefa 4,31 0,54

O. Ego 2,63 0,85

84
RESULTADOS

4.3.1 Nível competitivo

O estudo da homogeneidade das variâncias, realizado com o Teste de


Levene, demonstrou que a igualdade entre grupos pode ser assumida em
ambas as orientações cognitivas. Visando a comparação de diferentes grupos,
efectuou-se uma análise de variância multivariada (Manova a um factor) que
revelou existir um efeito diferenciador significativo por parte da variável nível
competitivo [Wilks' Lambda=0,968, F(4,840)=3,446, p=0,008 e η2=0,016]. As
diferenças significativas entre grupos foram localizadas, com os testes de Post
Hoc, na orientação para o ego (quadro 17).

Quadro 17 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função do nível


competitivo
Nacional (N) Regional (R) Distrital (D) Diferenças
significativas
F entre grupos
(N=85) (N=198) (N=141)
Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)

O. Tarefa 4,38 0,50 4,33 0,56 4,24 0,53 1,996 --

O. Ego 2,43 0,88 2,75 0,81 2,59 0,85 4,687 R>N

Verificamos que o nível competitivo mais elevado (Nacional) apresenta o


índice mais alto na orientação cognitiva para a tarefa e o mais baixo na
orientação para o ego. Destaca-se ainda o facto de, na orientação cognitiva
para a tarefa, a média ir diminuindo à medida que se desce no nível
competitivo, apresentado o Distrital o valor mais baixo. O Regional é o que
revela o índice mais elevado na orientação para o ego, logo seguido pelo
Distrital.

4.3.2 Posição

Relativamente à posição, a igualdade entre grupos foi assumida em


ambas as escalas, tal como revelou o teste de Levene. Quanto à comparação
entre grupos no que toca à orientações cognitivas, a análise de variância
multivariada (Manova a um factor) revelou não existir um efeito diferenciador

85
significativo por parte da variável posição [Wilks' Lambda=0,984, F(6,732)=0,966,
p=0,447 e η2=0,008] – quadro 18.

Quadro 18 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função da posição em


campo
Guarda-redes Defesas Médios Avançados

F
(N=43) (N=128) (N=118) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP

O. Tarefa 4,34 0,59 4,32 0,55 4,33 0,41 4,22 0,69 0,918

O. Ego 2,84 0,85 2,59 0,82 2,61 0,86 2,56 0,86 1,118

Duma forma geral, verifica-se que os índices de ambas as orientações


diminuem à medida que o posicionamento se afasta da própria baliza,
constatando-se que os guarda-redes são os que têm os valores mais elevados
e os avançados os mais baixos.

4.3.3 Idade

O estudo da homogeneidade das variâncias, realizado com recorrência


ao Teste de Levene, mostrou que a igualdade entre grupos pode ser assumida
em ambas as escalas. Para clarificar a diferenciação de grupos no que
concerne às orientações cognitivas, procedeu-se a uma análise de variância
multivariada (Manova a um factor) que permitiu evidenciar um efeito
diferenciador significativo por parte da variável idade [Wilks' Lambda=0,970,
F(6,838)= 2,144, p=0,046 e η2=0,015]. As diferenças significativas entre grupos
foram localizadas, com os testes de Post Hoc, na orientação cognitiva para o
ego (quadro 19).

86
RESULTADOS

Quadro 19 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função da idade


<= 19 (I1) 20 - 22 (I2) 23 - 27 (I3) 28+ (I4) Diferenças
significativas
F entre grupos
(n=82) (n=108) (n=119) (n=115)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)

O. Tarefa 4,25 0,63 4,36 0,56 4,31 0,50 4,32 0,50 0,655 --

O. Ego 2,77 0,82 2,77 0,79 2,58 0,86 2,46 0,87 3,542 I2> I4

Os dados revelam que a orientação cognitiva para o ego diminui com a


idade. Por sua vez, a orientação para a tarefa não apresenta alterações
assinaláveis. Contudo, aumenta do grupo dos futebolistas mais novos (<=19)
para os mais velhos (28+).

4.3.4 Experiência competitiva

O teste de Levene demonstrou que a igualdade de variâncias entre


grupos pode ser assumida em ambas as orientações cognitivas. Para
diferenciar grupos quanto às dimensões do TEOSQ, procedeu-se a uma
Manova (um factor) que denunciou não existir um efeito diferenciador
significativo por parte da variável experiência competitiva [Wilks'
Lambda=0,988, F(6,838)=0,831, p=0,546 e η2=0,006] – quadro 20.

Quadro 20 - comparação e diferenciação das orientações cognitivas em função da experiência


competitiva
<= 11 12 – 13 14 – 17 18+

F
(n=90) (n=91) (n=132) (n=111)
Média DP Média DP Média DP Média DP

O. Tarefa 4,29 0,51 4,35 0,55 4,29 0,59 4,32 0,50 0,333

O. Ego 2,73 0,80 2,71 0,79 2,59 0,87 2,53 0,89 1,324

Constata-se que a orientação cognitiva para o ego diminui à medida que


aumenta a experiência competitiva. A orientação para a tarefa tem evoluções
irregulares e pouco visíveis. No entanto, pode-se assinalar que aumenta

87
ligeiramente do grupo dos menos experientes (<=11) para o dos mais
experientes (18+).

4.4 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA

No quadro 21 apresentamos a média, o desvio padrão e os valores


máximo e mínimo da autoconfiança2 e do negativismo da amostra desta
investigação. Constata-se uma média de 18,75 para o negativismo e de 29,80
para a autoconfiança2.

Quadro 21 - análise descritiva do negativismo e da autoconfiança2

Mínimo Máximo Média DP

Negativismo 9 33 18,75 4,58

Autoconfiança2 18 36 29,80 4,01

4.4.1 Nível competitivo

O Teste de Levene demonstrou que a igualdade de variâncias entre


grupos pode ser assumida em ambas as escalas da ENAC. Para analisar a
diferenciação da variável nível competitivo relativamente às escalas da ENAC,
recorreu-se a uma análise de variância multivariada (Manova a um factor) que
permitiu observar que a mesma tem um peso significativo na diferenciação
entre grupos [Wilks' Lambda=0,966, F(4,840)=3,647, p=0,006 e η2=0,017]. As
diferenças significativas foram identificadas, através dos testes Post Hoc, no
negativismo (quadro 22).

88
RESULTADOS

Quadro 22 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função do


nível competitivo
Nacional (N) Regional (R) Distrital (D) Diferenças
significativas
F entre grupos
(N=85) (N=198) (N=141)
Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)

Negativismo 17,94 4,12 18,26 4,62 19,93 4,58 7,342 D>R,N

Autoconfiança2 30,12 3,75 30,00 3,87 29,33 4,33 1,471 --

Podemos referir que os índices do negativismo e da autoconfiança2


aumentam e diminuem, respectivamente, à medida que desce o nível
competitivo, tendo o nível mais elevado (Nacional) a média mais baixa no
negativismo e mais alta na autoconfiança2. Por outro lado, o nível Distrital (o
mais baixo) revela os índices mais alto e baixo, respectivamente, no
negativismo e na autoconfiança2.

4.4.2 Posição

O estudo da homogeneidade das variâncias realizou-se através do Teste


de Levene, constando-se que a igualdade entre grupos pode ser assumida em
ambas as escalas da ENAC. A diferenciação de posições relativamente
aquelas dimensões foi concretizada com recorrência à análise de variância
multivariada (Manova a um factor), concluindo-se não existir um efeito
diferenciador significativo [Wilks' Lambda=0,991, F(6,732)= 0,524, p=0,790 e
η2=0,004] – quadro 23.

Quadro 23 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função da


posição em campo
Guarda-redes Defesas Médios Avançados

F
(N=43) (N=128) (N=118) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP

Negativismo 18,05 4,68 18,64 4,61 18,70 4,52 19,16 4,96 0,551

Autoconfiança2 30,56 3,83 29,55 4,02 29,75 3,91 29,54 4,23 0,757

89
Podemos referir que os guarda-redes são os que têm a média mais
baixa no negativismo e a mais alta na autoconfiança2 e que o negativismo
aumenta à medida que o posicionamento se afasta da própria baliza.

4.4.3 Idade

O Teste de Levene demonstrou que a igualdade entre grupos pode ser


assumida nas duas variáveis da ENAC. Com o intuito de clarificar a
diferenciação da variável idade relativamente àquelas duas dimensões,
efectuou-se uma análise de variância multivariada (Manova a um factor) que
permitiu concluir que a mesma tem um efeito diferenciador significativo [Wilks'
Lambda=0,918, F(6,838)= 6,121, p=0,000 e η2=0,042]. Os testes de testes de
Post Hoc identificaram as diferenças significativas inter-grupos no negativismo
e na autoconfiança2 (quadro 24).

Quadro 24 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função da


idade
<= 19 (I1) 20 - 22 (I2) 23 - 27 (I3) 28+ (I4) Diferenças
significativas
F entre grupos
(n=82) (n=108) (n=119) (n=115)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)

Negativismo 20,72 4,54 19,16 4,37 18,67 4,44 17,05 4,35 11,419 I1>I3,I4; I2,I3>I4

Autoconfiança2 28,55 4,25 29,37 3,99 30,20 3,77 30,69 3,86 5,518 I4,I3>I1

Os dados revelam que o negativismo e a autoconfiança2 diminuem e


aumentam, respectivamente, com a idade.

4.4.4 Experiência competitiva

A análise da homogeneidade das variâncias (Teste de Levene) mostrou


que a igualdade entre grupos pode ser assumida na autoconfiança [F(3,420)
=0,488 e p=0,691], mas não no negativismo [F(3,420) =2,677 e p=0,047]. Com o

90
RESULTADOS

objectivo de diferenciar grupos quanto aquelas duas dimensões, efectuou-se


uma análise de variância multivariada (Manova a um factor) que revelou existir,
por parte da variável nível competitivo, um efeito diferenciador significativo
[Wilks' Lambda=0,928, F(6,838)=5,335, p=0,000 e η2=0,037]. As diferenças
significativas entre grupos foram localizadas, com os testes de Post Hoc, em
ambas as escalas da ENAC (quadro 25).

Quadro 25 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2 em função da


experiência competitiva
<= 11 (E1) 12 – 13 (E2) 14 – 17 (E3) 18+ (E4) Diferenças
significativas entre
F grupos
(n=90) (n=91) (n=132) (n=111)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)

Negativismo 20,51 5,04 19,04 4,74 18,58 3,99 17,30 4,23 8,822 E1>E3,E4; E2>E4

Autoconfiança2 28,40 4,15 29,91 4,00 29,74 3,86 30,92 3,77 6,841 E4,E2>E1

Constata-se que, de uma forma geral, o negativismo e a autoconfiança2


diminuem e aumentam, respectivamente, com a experiência competitiva,
verificando-se que quanto maior é a diferença entre grupos na experiência
competitiva maior é a diferença nas escalas da ENAC.

4.5 CONFIRMAÇÃO DAS HIPÓTESES

Os resultados anteriormente apresentados permitem-nos apresentar as


hipóteses aceites e rejeitadas nesta investigação:

H01 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de


diferentes níveis competitivos nos skills psicológicos, nas orientações
cognitivas, no negativismo e na auto-confiança.
- H01 é aceite em relação à autoconfiança1, imagética, motivação,
pensamentos positivos, atitude competitiva, orientação cognitiva para a tarefa e

91
autoconfiança2 e rejeitada no que se refere ao controlo do negativismo,
atenção, orientação cognitiva para o ego e negativismo.

H02 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de


diferentes posições nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas,
no negativismo e na auto-confiança.
- H02 é aceite em relação à autoconfiança1, atenção, imagética, motivação,
pensamentos positivos, atitude competitiva, orientação cognitiva para a tarefa,
orientação cognitiva para o ego, negativismo e autoconfiança2 e rejeitada no
que se refere ao controlo do negativismo.

H03 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de


diferentes idades nos skills psicológicos, nas orientações cognitivas, no
negativismo e na auto-confiança.
- H03 é aceite em relação à imagética, motivação e orientação cognitiva para a
tarefa e rejeitada no que se refere à autoconfiança1, controlo do negativismo,
atenção, pensamentos positivos, atitude competitiva, orientação cognitiva para
o ego, negativismo e autoconfiança2.

H04 – Não existem diferenças significativas entre futebolistas de


diferentes experiências competitivas nos skills psicológicos, nas
orientações cognitivas, no negativismo e na auto-confiança.
- H04 é aceite em relação à motivação, orientação cognitiva para a tarefa e
orientação cognitiva para o ego e rejeitada no que se refere à autoconfiança1,
controlo do negativismo, atenção, imagética, pensamentos positivos, atitude
competitiva, negativismo e autoconfiança2.

92
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

A análise e discussão dos resultados deste estudo focalizam-se,


fundamentalmente, nos principais objectivos desta nossa investigação, que
foram a caracterização do perfil psicológico de prestação do futebolista
português e a identificação das variáveis psicológicas que diferenciam
jogadores de diferentes níveis competitivos. Recorremos ao PPP para medir os
skills psicológicos autoconfiança (denominada de autoconfiança1), controlo do
negativismo, atenção, imagética, motivação, pensamentos positivos e a atitude
competitiva, ao TEOSQ para as orientações cognitivas (tarefa e ego) e à ENAC
para o negativismo e autoconfiança (denominada autoconfiança2).

Começamos este capítulo com a caracterização do perfil psicológico de


prestação dos futebolistas portugueses. De seguida procedemos a
comparações entre grupos de diferentes níveis competitivos e posições
relativamente aos skills psicológicos. Contemplamos ainda, no que se refere à
aplicação do PPP, a análise e discussão das relações entre a idade e as
escalas do PPP. Complementamos a análise da aplicação daquele instrumento
com comparações inter-grupos de diferentes experiências competitivas (anos
de prática competitiva). Seguem-se iguais procedimentos e sequência com os
dados recolhidos com o TEOSQ e a ENAC.

Para a discussão dos resultados deste trabalho, embora estabeleçamos


algumas comparações com modalidades individuais, privilegiámos estudos
realizados no contexto dos desportos colectivos, com especial ênfase no
futebol. Esta prioridade deve-se ao facto de existirem diversos autores que
fazem referência à existência de diferenças, ao nível das exigências
psicológicas, entre modalidades individuais e colectivas (Coelho, 2007;
Fonseca & Maia, 2000; Martens et al., 1990a; Nave & Coelho, 2008; Weinberg,
Butt, Knight, Burke, & Jackson, 2003). Concordamos com Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2007) quando defendem que as especificidades dos desportos, no
seu processo de treino desportivo, privilegiam a aprendizagem de algumas
habilidades psicológicas em detrimento de outras. Tal como outros autores

93
(Coelho, 2007; Costa, 1997, 2002, 2004, 2006; Mahl & Vasconcelos-Raposo,
2007; Vasconcelos-Raposo, 1993, 2002), somos ainda da opinião de que não
devem ser esquecidas, nas investigações, as especificidades sócio-culturais,
gerais e desportivas, que envolvem, não só os diversos desportos, mas
também as suas amostras e universos.

5.1 SKILLS PSICOLÓGICOS

Segundo Loehr (1986), valores médios entre 20 e 25 para os skills


psicológicos, quando se procede à soma dos índices dos itens que as
constituem, sugerem, além de uma preparação mental não sistemática, a
necessidade de integração desta na rotina diária dos atletas. Os valores
médios da nossa investigação indiciam que os futebolistas portugueses, de
uma forma geral, se preparam mentalmente para a competição, embora o
façam de forma não sistemática. Estes dados vão, na sua generalidade, ao
encontro dos trabalhos de Vasconcelos-Raposo (1994b), Carvalho e
Vasconcelos-Raposo (1998), igualmente concretizados com futebolistas
portugueses, e de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007), realizado com
jogadores de futebol profissionais de nacionalidade brasileira.

Fonseca (2004) observa que são muito poucas as equipas portuguesas


que contemplam a preparação psicológica de forma sistemática nas suas
rotinas de treino e de preparação para a competição. Desconhecimento sobre
os papéis da Psicologia do Desporto e seus profissionais, percepção negativa e
desconfiança por parte dos agentes desportivos relativamente a esta área,
necessidade imediata de resultados, falta de conhecimento específico da
modalidade por parte dos profissionais da psicologia e questões culturais como
a crença de que a existência de um especialista desta área é uma sinal
revelador de fraqueza, poderão ser, segundo alguns autores (Coimbra et al.,
2008; Fonseca, 2004), algumas das razões para a não integração não só de
psicólogos do desporto nas equipas técnicas, mas também do treino mental
nas rotinas diárias das equipas de futebol portuguesas.

94
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Por seu lado, Loehr (1986), para além de definir robustez mental como a
capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades,
um estado ideal de performance durante a competição, defende que, com
excepção da influência dos factores físicos, a consistência da performance é o
resultado da consistência psicológica, sendo o controlo psicológico um pré-
requisito fundamental para o controlo da performance. Estes são aspectos
fundamentais numa modalidade como o futebol, dada a longa duração das
épocas desportivas, habitualmente com onze meses, e a consequente
necessidade de estabilização e consistência na prestação.

São vários os estudos que reforçam a importância e o reconhecimento


da eficácia da preparação psicológica na melhoria da performance de
jogadores de futebol. No seu trabalho, Thelwell e colaboradores (2006)
obtiveram efeitos positivos de uma intervenção psicológica específica sobre
futebolistas médio-centro. Johnson e colaboradores (2005) e Zafra e
colaboradores (2006) comprovaram não só a influência dos factores
psicológicos do rendimento sobre o risco de lesões em futebolistas, como a
potencialidade da Psicologia do Desporto na sua prevenção.

Como já referimos no início deste nosso trabalho, o futebol de alta


competição é um contexto que exige, cada vez mais, jogadores mentalmente
fortes, robustos, resistentes e determinados. O espaço para o erro, cujas
consequências têm, frequentemente, um impacto negativo avassalador no
rendimento individual e colectivo, é cada vez menor. Face aos resultados por
nós encontrados e investigações referenciadas, parece-nos evidente a
necessidade de integração da preparação psicológica no quotidiano dos
futebolistas e equipas portuguesas. Os dados acentuam a urgência da revisão
do actual paradigma de constituição das equipas técnicas no futebol, que,
embora habitualmente multidisciplinares, raramente contemplam um
especialista da Psicologia do Desporto.

No nosso trabalho, destaca-se a motivação, com um índice de 26,23,


que assim, segundo as referências de Loehr (1986), é o único skill psicológico

95
com um nível de desenvolvimento excelente nos futebolistas da nossa amostra.
Este resultado vai ao encontro das pesquisas realizadas no futebol por Luzio e
Vasconcelos-Raposo (1995), Carvalho e Vasconcelos-Raposo (1998), e outras
modalidades colectivas (Casimiro & Lázaro, 2004; Coelho & Vasconcelos-
Raposo, 1995; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Silva & Vasconcelos-
Raposo, 1997), e contra a de Silva e Vasconcelos-Raposo (2002), feita no
futsal. No trabalho de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007), concretizado
com futebolistas profissionais brasileiros, a motivação, embora não tenha sido
o skill com maior índice de desenvolvimento, que foi a autoconfiança (25,97),
apresentou um valor relativamente alto (25,90).

No âmbito do futebol, a motivação é um dos factores mais referenciados


entre as razões justificativas do sucesso ou insucesso das equipas ou
jogadores (Corrêa et al., 2002; Coetzee et al., 2006; Eubank & Gilbourne, 2005;
Pain & Harwood, 2008). Eubank e Gilbourne (2005) afirmam ser frequente, por
parte de treinadores, jogadores e espectadores, a associação das
performances colectiva e individual a diferentes estados motivacionais. Por
outro lado, são vários os autores que referenciam a motivação como um dos
aspectos fundamentais e determinantes do rendimento desportivo (Gomes &
Cruz, 2001; Loehr, 1986, Nave & Coelho, 2008).

A motivação contempla a intensidade e direcção dos comportamentos


dos indivíduos tendo em vista a obtenção, com sucesso, de determinados
objectivos. Pela sua natureza competitiva, o futebol é um meio orientado para
realização, pois, de acordo com o que defende Roberts (1993, 2001), como
desporto de competição, é um contexto no qual os futebolistas (indivíduos)
empenham o seu esforço para cumprir tarefas e funções (objectivos), que são
posteriormente avaliados em termos de sucesso ou fracasso (Roberts, 1993,
2001), uma realidade no futebol actual como fenómeno social total. Este impõe,
mais que nunca, uma envolvência sociocultural e económico-financeira que
exige dos jogadores esforço, concentração e persistência, com o objectivo de
atingir um melhor desempenho, tanto individual como do ponto de vista do seu
contributo para o desempenho da equipa. Reconhecemos, igualmente, a
indiscutível influência da motivação no comportamento dos futebolistas, pois os

96
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

processos motivacionais, tal como propõe Roberts (1992, 1993), estão ligados
aos relacionamentos inter-pessoais, sendo este facto, na nossa opinião,
especialmente importante e determinante em desportos colectivos, como é o
caso do futebol. Reforça-se, como tal, a premissa de Roberts (1992, 1993) de
que a motivação é a força geradora do comportamento do Homem.

O skill dos futebolistas da nossa amostra que se revelou mais débil foi o
do controlo do negativismo. A idêntico resultado chegaram investigações
realizadas tanto no futebol (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Mahl &
Vasconcelos-Raposo, 2005, 2007; Vasconcelos-Raposo, 1994b) e outras
modalidades colectivas (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Golby &
Sheard, 2004; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Silva & Vasconcelos-
Raposo, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002), como em modalidades
individuais (Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995; Vasconcelos-Raposo,
1993, 2002). Esta fraqueza evidencia e reforça a nossa conclusão de que os
futebolistas portugueses não realizam uma preparação mental sistemática.
Vasconcelos-Raposo (1993) refere que o treino mental visa maximizar o uso
pleno das capacidades humanas dos atletas, fazendo com que sejam
minimizados, e de preferência neutralizados, os elementos prejudiciais ao seu
rendimento. Ora, a existência de um determinado contexto desportivo, com as
suas próprias especificidades e exigências, como é o caso do futebol,
influenciam a relação atleta-meio, nomeadamente a forma como o atleta
interpreta e se relaciona com esse meio, aspectos estes influenciadores do seu
comportamento (Gomes & Cruz, 2001).

A imprevisibilidade do jogo de futebol, agravada pelas crescentes


intensidade e densidade, maior equilíbrio de forças entre equipas, não
esquecendo a envolvência socioeconómica do fenómeno, constituem um
desafio permanente à capacidade de autocontrolo emocional dos jogadores,
nomeadamente nas situações de grande pressão competitiva, nas quais o
futebol é profícuo. Como preconizam Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo
(1993), o controlo emocional é da maior importância para o rendimento
desportivo. Como tal, face à adversidade e envolvência, manter-se calmo,
relaxado e concentrado são características que se relacionam directamente

97
com a habilidade de manter a energia negativa em valores mínimos (Loehr,
1986).

Relativamente ao nível competitivo, tal como esperávamos, apontamos


o patamar mais elevado (Nacional) como o que apresenta índices mais altos
nos skills psicológicos, excepção feita ao controlo do negativismo e à
imagética, cujos valores mais altos se situam no nível intermédio (Regional).
Por outro lado, constata-se que o nível mais baixo, o Distrital, apresenta os
valores mais baixos em todos os índices. Verifica-se ainda que, de uma forma
geral, os skills psicológicos diminuem à medida que o nível competitivo baixa.
Os nossos resultados, em termos gerais, vão ao encontro dos de Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005, 2007), que contemplaram apenas dois níveis
competitivos (nacional e regional), apresentando o superior valores mais
elevados em todas as variáveis. Ora, segundo alguns autores (Loehr, 1986;
Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005; Vasconcelos-Raposo, 1993), à medida que
se sobe no nível competitivo aumentam as exigências físicas, técnicas e
psicológicas, nós acrescentamos tácticas, tanto ao nível da competição como
do treino, pelo que atletas de diferentes níveis competitivos utilizam e recorrem
aos seus skills psicológicos de forma diferenciada, revelando os de níveis
competitivos superiores valores mais altos (Carvalho & Vasconcelos-Raposo,
1998; Casimiro & Lázaro, 2004; Coelho, 2007; Golby & Sheard, 2004; Mahl &
Vasconcelos-Raposo, 2005; Nave & Coelho, 2007; Vasconcelos-Raposo, 1993,
2002, 2005; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo,
2002). Vasconcelos-Raposo (1993) argumenta ainda que atletas com maior
controlo sobre as variáveis do PPP obtêm melhores prestações.

Encontramos diferenças significativas inter-níveis competitivos no


controlo do negativismo, entre os grupos Regional-Distrital, e na atenção, entre
os grupos Nacional-Distrital, apresentando os níveis competitivos superiores
dos emparelhamentos médias mais elevadas. Estes resultados, para além de
similares aos Golby e Sheard (2004), com jogadores de rugby, e de Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005, 2007), com futebolistas, vão ao encontro das
argumentações de Loehr (1986) e Palmeiras e colaboradores (2002). Loehr
(1986) refere-se à importância da capacidade de sustentação, de forma

98
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

consistente, de um estado ideal de performance durante a competição. Ora, a


duração do período competitivo no futebol, de quase 11 meses, e a
consequente necessidade de um rendimento regular e consistente, de
preferência sem grandes oscilações e sem picos de forma, já que todos os
jogos contam para a classificação final, exigem jogadores mentalmente fortes,
robustos, resistentes e com forte autocontrolo emocional. Para Loehr (1986), a
consistência da performance é o resultado da consistência psicológica, sendo o
auto-controlo psicológico um pré-requisito fundamental para o controlo da
performance. Por seu lado, Palmeiras e colaboradores (2002) defendem que a
capacidade de controlo das próprias emoções é um factor determinante para o
desempenho dos atletas no desporto de competição, especialmente em
modalidades com contextos geradores de situações de grande pressão
competitiva, das quais nós destacamos o futebol como facto social total.
Concordamos com Loehr (1986) quando argumenta que um dos factores mais
importantes do sucesso desportivo é a capacidade de desenvolver e manter
um clima interno estável durante a competição, constituindo o autocontrolo de
emoções, especificamente do negativismo, um factor importante não só para a
melhoria do rendimento desportivo, mas também para a diferenciação de
atletas de diferentes níveis de rendimento.

Relativamente às superiores competências dos futebolistas do grupo


Nacional comparativamente ao Distrital nos processos atencionais, apontamos
aqui a associação daqueles às superiores médias no controlo do negativismo.
Segundo Loehr (1986), a manutenção e controlo do fluxo de energia positiva
permite aos atletas a obtenção de níveis elevados de activação, enquanto,
simultaneamente, evidenciam calma, baixa tensão muscular e elevado controlo
atencional.

Vasconcelos-Raposo (1993) afirma que os atletas de elite apresentam


índices mais elevados de concentração/atenção do que os outros desportistas.
Na mesma linha, Weinberg e Gould (2001) defendem que no contexto
desportivo os processos atencionais são indissociáveis dos bons
desempenhos. Para este autor quando o ambiente muda rapidamente, o foco
de atenção também deve mudar rapidamente, pois o pensamento no passado

99
ou no futuro pode originar sinais irrelevantes que podem induzir erros no
desempenho. Ora, numa partida de futebol, o ruído provocado pela assistência,
a movimentação das pessoas fora das quatro linhas ou o pensamento numa
jogada já passada, serão, em princípio, irrelevantes para a realização da tarefa.
Por outro lado, como referem Viana e Cruz (1996), o grande número de
estímulos em constante transformação como a localização da bola,
movimentação dos colegas e adversários, as instruções do treinador, o
planeamento e execução de determinadas estratégias, entre outras, constituem
pistas importantes a atender. Se o indivíduo não dirigir a atenção para os
estímulos, não os perceberá nem vivenciará.

Para Júlio e Araújo (2005), o jogo de futebol é caracterizado pela


existência simultânea de cooperação e oposição e pela necessidade
permanente de coordenar acções entre jogadores num contexto de grande
complexidade. Como tal, segundo aqueles investigadores, é necessário
considerar o jogo de futebol como um sistema dinâmico onde decorrem
distintos padrões de acção, os quais são diferentes de cada jogador
considerado. O futebol é um jogo de julgamentos e de tomadas de decisão
dentro de uma dinâmica relacional colectiva. Como tal, as decisões e acções
são funcionais, uma vez que estão inerentes à resolução de tarefas, e
significativas pois informam quer os adversários, quer os colegas de equipa
com vista ao cumprimento dos objectivos da própria equipa, quer ainda o
próprio jogador, pois é pela sua acção que ele explora e conhece o seu
contexto. Morilla (1995) defende que, pelas enormes solicitações a que um
futebolistas é sujeito, a atenção deveria ser mais e melhor trabalhada nos
programas de treino, nomeadamente pela especificidade e frequência dos
estímulos existentes durante um jogo, sejam eles resultantes deste, sejam
distracções. Garganta (2005) argumenta que a grande vantagem das melhores
equipas e dos melhores treinadores passa pela capacidade de realizar uma
gestão do detalhe sem perder de vista o jogo como sistema dinâmico.

Em termos gerais, podemos referir que à medida que se sobe no nível


competitivo aumentam as exigências físicas, técnicas, tácticas e psicológicas,
porque estamos a tratar de uma modalidade cujo contexto e envolvência

100
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

sociocultural e, acima de tudo, económico-financeira, provocam situações de


grande pressão, de grande stress, para os quais são determinantes o controlo
das emoções. Também porque o jogo tem evoluído no sentido de uma maior
intensidade e densidade, consequentemente de uma redução do tempo para
os processos de tomada de decisão, para os quais são determinantes não só
os processos atencionais, mas também o controlo das emoções, já que,
durante o jogo, os futebolistas necessitam de um estado de concentração que
permita uma focalização na informação pertinente, em detrimento da restante,
potencialmente distractora. Sublinhe-se ainda que o jogo tem uma natureza
permanentemente mutável em que é necessário ter em atenção, em
simultâneo, por um lado, a factores como a posição da bola, dos adversários,
dos colegas de equipa, a flutuação destes processos colectivos, a posição de
ambas as balizas e a maior ou menor proximidade às mesmas, as indicações
do treinador, e por outro, e a envolvência do público, a pressão da massa
associativa, dos patrocinadores, da imprensa, a existência de pessoas externas
ao jogo na envolvência do campo, entre outros aspectos. Todo este contexto
reforça a importância de um bom controlo das emoções no sentido de uma
maior eficácia dos processos atencionais, concretamente no que toca às
tomadas de decisão, tendo em vista a acção mais eficaz e adequada a cada
momento e situação do jogo.

Os nossos dados sugerem que os factores psicológicos influenciam o


rendimento desportivo no futebol, que o controlo do negativismo e a atenção
permitem diferenciar jogadores de diferentes níveis competitivos, que existe
uma relação entre o controlo do negativismo e a atenção e que futebolistas de
diferentes níveis competitivos recorrem de forma diferenciada aos seus skills
psicológicos, apresentando os de níveis competitivos mais elevados superiores
competências psicológicas. Somos da opinião de que no futebol,
concretamente nos níveis competitivos superiores, a maior exigência, tanto ao
nível do jogo como da envolvência psico-sócio-cultural, solicita aos jogadores
maior capacidade de resposta e, consequentemente, um nível de prestação
mental de elevado nível.

101
No que se refere à variável posição, destacam-se nesta investigação os
guarda-redes pelo facto de evidenciarem os índices mais elevados em todos os
skills psicológicos. Estes dados são totalmente coincidentes com os obtidos por
Vasconcelos-Raposo (1994b) e parcialmente com os de Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2005, 2007), em que os guarda-redes só apresentaram os valores
mais altos na autoconfiança, controlo do negativismo, atenção e atitude
competitiva. A especificidade que justifica as diferenças aqui apontadas
relativamente aos guarda-redes serão por nós exploradas no parágrafo em que
abordamos as diferenças significativas inter-posições.

Constatou-se que os índices da autoconfiança, controlo do negativismo


e atenção aumentam à medida que o posicionamento se aproxima da própria
baliza. Estes resultados estarão muito provavelmente associados ao aumento
das preocupações defensivas, concretamente no que toca à protecção da
própria baliza, para a qual é determinante a eficácia dos processos atencionais.
Há que relembrar que os nossos dados (ver quadro 12) sugerem que existe
uma relação entre o controlo do negativismo e a atenção. Tendência contrária
apresenta a atitude competitiva, cujos valores sobem à medida que o sector se
aproxima da baliza contrária. Estes dados sustentar-se-ão, muito
possivelmente, no aumento da responsabilidade no que toca à organização do
jogo da equipa tendo em vista a obtenção de golos. As vitórias só se alcançam
com golos, e para que tal aconteça há que jogar para ganhar, pelo que a
atitude colocada nas acções é determinante. Acrescente-se ainda que o futebol
é um jogo de confronto, de duelos, que dificilmente serão ultrapassados sem
determinação e agressividade.

Dados transversais ao presente estudo e aos de Vasconcelos-Raposo


(1994b) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007) são a similaridade, ao
nível da atenção, dos defesas, já que se revelaram os mais fortes dos
jogadores de campo. O posicionamento recuado no terreno, além da
responsabilidade na protecção da própria baliza, poderão ser os factores
indutores da maior solicitação dos processos atencionais. No que concerne aos
avançados, foram os que evidenciaram os índices mais altos na imagética
entre os jogadores de campo, tal como aconteceu na investigação de

102
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Vasconcelos-Raposo (1994b), apresentando ainda um dos valores mais


elevados com Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007). Entendemos que as
responsabilidades no campo da finalização, o posicionamento próximo da
baliza adversária e a consequente necessidade de realização de
movimentações que implicam, frequentemente, a perda do visionamento
directo dos colegas que participam nas acções ofensivas, poderão ser as
razões sustentadoras deste resultado. Relativamente à atitude competitiva, o
facto de os avançados se revelarem os mais fortes dos jogadores de campo
estará provavelmente associado, como já referimos, às responsabilidades no
âmbito da organização e finalização. Evidenciaram-se ainda os valores altos
dos médios ao nível dos pensamentos positivos, tal como aconteceu com
Vasconcelos-Raposo (1994b) e Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007). O
posicionamento central no campo e a função de organização do jogo da equipa
exigem uma constante criatividade e mobilização de vontades, individuais e
colectivas, no sentido da concretização dos objectivos colectivos.

Na presente investigação, a motivação foi o skill psicológico com o valor


médio mais alto em todas as posições, resultado substancialmente diferente
dos trabalhos de Vasconcelos-Raposo (1994b) e de Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2005, 2007), em que foi a autoconfiança o skill com média mais alta
em todos os grupos. Os dados não nos surpreendem dado ser a motivação,
como já vimos, o skill mais desenvolvido dos futebolistas do nosso estudo.

A variável controlo do negativismo foi a que obteve valores médios mais


baixos no nosso estudo em todas as posições, o que vai ao encontro das
investigações de Vasconcelos-Raposo (1994b), Luzio e Vasconcelos-Raposo
(1995), Carvalho e Vasconcelos-Raposo (1998), Mahl e Vasconcelos-Raposo
(2005, 2007). Resultados idênticos foram encontrados noutras modalidades,
tanto colectivas (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Golby & Sheard, 2004;
Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997)
como individuais (Coelho, 2007; Vasconcelos-Raposo, 1993). O facto dos
jogos, nas modalidades colectivas, serem habitualmente caracterizados pela
incerteza de resultados, agudizada, no caso concreto do futebol, pelo número
reduzido de golos habitualmente conseguidos, não esquecendo a evolução do

103
próprio jogo e a sua conhecida envolvência socioeconómica, extremamente
exigente do ponto de vista emocional, criam dificuldades no campo do
autocontrolo emocional, agravadas pela inexistência de uma preparação
mental sistemática, como comprovam os nossos resultados e a maioria, senão
totalidade, dos estudos aqui referenciados no contexto do futebol.

Numa análise semelhante à de Vasconcelos-Raposo (1994b),


constamos que as diferenças para a média geral dos valores médios de cada
skill de cada posição variam, revelando a fragilidade de alguns sectores, tal
como se pode observar no quadro 26.

Quadro 26 - comparação das diferenças para a média em função da posição


Média
Guarda-redes Defesas Médios Avançados
(amostra)
Autoconfiança1 25,24 +0,69 +0,01 -0,26 -0,29
C. Negativismo 21,08 +1,13 +0,11 -0,33 -0,48
Atenção 23,31 +0,78 -0,01 -0,26 -0,07
Imagética 21,67 +1,00 -0,35 -0,52 +0,50
Motivação 26,23 +0,37 +0,02 -0,20 -0,06
P. Positivos 23,83 +0,61 -0,26 +0,03 +0,01
At. Competitiva 24,31 +0,60 -0,13 -0,08 +0,04

Total (diferença) +5,18 -0,61 -1,62 -0,35

Como se pode constatar, com excepção dos guarda-redes, as


fragilidades são grandes, particularmente nos médios. A posição mais
centralizada, implicando ligação entre sectores, não esquecendo as
responsabilidades de condução e organização do jogo, habitualmente
atribuídas a jogadores deste sector, aliadas à comprovada falta de preparação
mental sistemática, são, no nosso entender, as razões para a fragilidade
evidenciada. Se observarmos as equipas mais importantes de Portugal
constatamos que os médios organizadores de jogo são maioritariamente
estrangeiros. Por outro lado, constata-se que na autoconfiança e no controlo do
negativismo, as diferenças por sector, nos jogadores de campo, diminuem à
medida que aumenta a responsabilidade defensiva. Somos da opinião de que a
actual evolução da organização defensiva das equipas de futebol, suplantando-

104
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

se às preocupações ofensivas, são uma das razões promotoras do


fortalecimento destes skills.

As diferenças significativas inter-posições que encontramos


aconteceram apenas no controlo do negativismo, concretamente entre os
guarda-redes e os médios e aqueles e os avançados, revelando-se os guarda-
redes mais fortes. As diferenças que Vasconcelos-Raposo (1994b) e Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005, 2007) identificaram também aconteceram entre os
guarda-redes e outras posições, apresentando aqueles valores
significativamente superiores nos pensamentos positivos (Vasconcelos-
Raposo, 1994b) e na atenção (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005, 2007). O
que distingue esta posição será, provavelmente, a especificidade não só da
sua localização mais recuada, mas também das suas funções dentro dos
sistemas e modelos de jogo das equipas, nomeadamente no que concerne às
preocupações defensivas relacionadas com a protecção da baliza. Os guarda-
redes constituem o último obstáculo à obtenção do golo, pelo que, face a este
constrangimento, deverão revelar, tanto nos treinos como nas competições, um
forte auto-controlo emocional, uma forte capacidade de auto-motivação, de “dar
a volta” e de inclusive motivar os restantes colegas de equipa perante esta
situação adversa. De referir ainda que o seu treino é frequentemente solitário,
quando muito na presença de mais um ou dois guarda-redes e um técnico
especializado, realidade que exige e promove uma forte robustez mental.

Os resultados do nosso estudo, para além de outros que referenciamos


(Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005,
2007; Vasconcelos-Raposo, 1994b), sugerem que distintos sectores solicitam a
aplicação de diferentes skills psicológicos e, consequentemente, promovem o
desenvolvimento de determinados perfis psicológicos. Contudo, o reduzido
número de diferenças significativas encontradas, concretamente entre os
guarda-redes e outras posições, e a sua inexistência entre jogadores de
campo, leva-nos a equacionar uma nova forma de abordagem, em
investigações futuras, à variável posição. A própria emergência e
desenvolvimento de novos paradigmas de treino no futebol, como a
periodização táctica (Frade, 1990; Martins & Garganta, 2003; Resende &

105
Frade, 2002; Silva, 2008), reforçam, no nosso entender, a pertinência desta
nossa especulação. A periodização táctica, filosofia de treino utilizada, por
exemplo, por José Mourinho (Resende & Frade, 2002), tem como ideia
fundamental a construção progressiva e sustentada de um modelo de jogo,
uma forma de jogar que é um processo colectivo, uma matriz construída e
consubstanciada na articulação de determinados princípios aglutinadores e
norteadores dos comportamentos das partes (jogadores) do todo (o sistema, a
equipa), face à realidade permanentemente mutável da envolvência. Emerge
assim um novo todo, uma nova entidade (a equipa) que será muito mais (e
diferente) que a soma das partes. Porque interpretado por seres humanos,
podemos ainda afirmar que aquele modelo, aquela matriz, constitui “um
mecanismo não mecânico”, pois embora exista com o objectivo de “olear”
comportamentos, a verdade é que cada situação exige tomadas de decisão
determinadas pela envolvência e interactividade do jogo, que se deseja não
quebrem ou enfraqueçam o mecanismo.

No que concerne à variável idade, os dados da presente investigação


revelam diferenças significativas entre grupos em todos os skills psicológicos,
com excepção da imagética e da motivação. Constata-se ainda que todas as
escalas do PPP, sem excepção, aumentam com a idade. Estes resultados, na
sua generalidade, vão ao encontro dos obtidos por Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2005, 2007) com futebolistas. Luzio e Vasconcelos-Raposo (1995)
também realizaram uma investigação com jogadores de futebol de diferentes
escalões jovens (infantis e iniciados), na qual unicamente a atitude competitiva
distinguiu atletas de diferentes idades, apresentando o grupo dos onze anos
valores superiores e o dos doze anos valores inferiores. Por outro lado, no
basquetebol, Linhares e Vasconcelos-Raposo (1998), e no andebol, Casimiro e
Lázaro (2004), não constataram diferenças nos itens do PPP entre os
diferentes escalões etários, o que no primeiro pode ser justificado pelo facto do
nível competitivo dos escalões ser semelhante.

Relativamente à experiência competitiva, ou anos de prática


competitiva, constatou-se que, para além do facto do grupo dos futebolistas
mais experientes se revelarem os mais fortes em todas as escalas, todas estas

106
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

aumentam progressivamente dos menos para os mais experientes. Verifica-se


ainda que quanto maior é a diferença na experiência competitiva mais evidente
é a diferença nos skills psicológicos. Foram encontradas diferenças
significativas em todas as variáveis, excepção feita à motivação. Estes dados,
em termos gerais, vão ao encontro das conclusões de Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2005, 2007) e de Simões e Vasconcelos-Raposo (1995). Nesta última
investigação, realizada no basquetebol, os anos de competição foram a
variável mais influente e responsável pelas diferenças ao nível da prestação
das equipas e das características psicológicas apresentadas.

Os resultados encontrados na presente investigação, concretamente no


que se refere à idade e à experiência competitiva, sugerem que estes factores
influenciam o desenvolvimento dos skills psicológicos, fortalecendo-os. A
acumulação de experiências, tanto positivas como negativas, proporciona um
processo de aprendizagem que poderá levar ao aprimoramento das
competências psicológicas e, consequentemente, da eficácia dos futebolistas
na resolução dos problemas impostos tanto pelo treino como pela competição.
No entanto, concordamos com Vasconcelos-Raposo (1993) quando refere que
o processo de maturação, por si só, não implica que um atleta venha a obter,
mais tarde ou mais cedo, um nível excelente de desenvolvimento dos skills
psicológicos e da robustez mental, aliás como provam os valores médios gerais
das variáveis do PPP obtidos no nosso trabalho. Ou seja, se é verdade que a
idade e a experiência competitiva contribuem significativamente para o
desenvolvimento dos skills psicológicos, também é uma realidade que, por si
só, não são garantia de obtenção de uma preparação psicológica de elevado
nível. Vasconcelos-Raposo (1993) refere que, se por um lado uma maior
experiência competitiva conduz a uma maior capacidade de esforço,
resistência e empenhamento por parte dos atletas e que a maturação aumenta
o seu empenhamento no desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades,
por outro lado, como qualquer outra competência humana, também a qualidade
de prestação desportiva é aprendida. Como tal, as componentes físicas,
técnica, táctica e, neste caso, mental devem ser integradas no quotidiano da
actividade desportiva dos futebolistas e suas equipas.

107
5.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS

Os futebolistas do nosso trabalho, em termos gerais, revelaram uma


maior orientação para a tarefa que para o ego, tal como os de Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e Mahl (2005).
Entendemos que esta tendência se deve ao facto do nosso estudo se ter
realizado numa modalidade colectiva, à qual está inerente um processo
colectivo para o qual cada unidade deve contribuir e ao qual cada uma se deve
subjugar em detrimento dos objectivos pessoais.

A existência de uma equipa e a sua consubstanciação no “terreno” têm


como base uma visão sistémica daquela, que, no fundo, é um conjunto de
partes que, juntas, formam um todo unitário com um objectivo e uma função. A
existência e o sucesso de uma equipa (o todo), que é muito mais que a soma
das suas partes (os jogadores), dependem de um processo colectivo
sustentado na articulação conjunta dos comportamentos das partes, cujas
atitudes, acções e objectivos individuais se subordinam e subjugam,
necessariamente, aos objectivos do todo, contribuindo assim para o
funcionamento do sistema, quer ao nível sócio-afectivo e da coesão, quer ao
nível dos modelos e sistemas de jogo. Porque os objectivos colectivos
dependem da eficácia e consistência deste processo colectivo, para o qual
todos contribuem, prevalece uma superior orientação para o processo (a tarefa)
em detrimento do resultado (o ego). Além do mais o sucesso dos jogadores
depende do sucesso da equipa e vice-versa. A Teoria dos Objectivos de
Realização assume que o indivíduo é um organismo intencional, direccionado
por objectivos, que actua de uma forma racional e que os objectivos geram as
suas crenças, guiam as suas decisões e o comportamento em contextos de
sucesso (Duda, 1992; Roberts, 1992). Nos desportos colectivos nenhum atleta
disputa jogos sozinho, pelo que este é um contexto de realização, não só
individual, mas, e acima de tudo, colectivo. Para o sucesso do processo
colectivo todos contribuem dentro e fora do campo.

Numa visão holística da associação entre o processo colectivo e a


orientação para o processo, podemos referenciar as relações inter-pessoais e o

108
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

campo sócio-afectivo inerentes à natureza colectiva do futebol, que submetem


os interesses individuais aos objectivos colectivos. O sucesso nas modalidades
colectivas depende significativamente da coesão e da solidez do processo
inter-relacional do grupo de jogadores. Como refere Biddle (2001), os
objectivos de realização influenciam de forma importante e poderosa os
processos motivacionais através dos processos cognitivos e afectivos.

No “terreno”, o futebol é um jogo de cooperação e de oposição. De


cooperação porque o sucesso de uma equipa depende do processo de
articulação das acções dos elementos que a constituem. De oposição porque,
igualmente no “terreno”, se defrontam duas equipas na disputa dos pontos
disponíveis, em que cada uma assume uma “forma de estar”, uma estratégia
assente num modelo de jogo, que é, reconhecidamente, um processo colectivo
no qual cada futebolista desempenha o seu papel. A envolvência
permanentemente mutável de um jogo de futebol, constantemente dependente
do contexto situacional (posição da bola, dos colegas e adversários e
comportamento das equipas, público, equipa de arbitragem, etc.), impõe que as
tomadas de decisão de um jogador e consequentes acções não aconteçam de
forma causal, mas sim segundo uma matriz baseada em princípios
orientadores dos comportamentos individuais e colectivos, segundo uma lógica
interna de funcionamento: a forma de jogar ou modelo de jogo. Assim, é
imprescindível que o processo de treino seja estruturado de forma a que
favoreça a implementação, desenvolvimento e aperfeiçoamento desta lógica
interna. Ou seja, deverá treinar-se como se pretende jogar, trabalhando-se,
numa lógica progressiva, o modelo de jogo, seus princípios e acções, através
de situações tão difíceis quanto o processo evolutivo do treino o permita, tendo
em vista o desenvolvimento, nos jogadores e na equipa, da capacidade de
adaptação às situações reais de jogo. Consequentemente, face a esta lógica,
que tem como ponto de partida e referência de trabalho o modelo de jogo,
deseja-se que, na competição, se jogue como se treina.

No futebol de competição, se por um lado o objectivo último do jogo é a


conquista dos pontos - o resultado -, um dos factores justificantes da
omnipresença da orientação para o ego, por outro, o sucesso no alcance do

109
mesmo depende, acima de tudo, da competência, consistência e eficácia da
equipa e do seu modelo de jogo, este um conceito colectivo e um fenómeno
construído, para o qual, como já referimos, todos contribuem e no qual todos
desempenham uma função. Assim, a sua construção e prática são fenómenos
solicitadores e indutores das orientações motivacionais no sentido do trabalho
e da concentração no processo, sem os quais nenhum futebolista ou equipa
pode aspirar à obtenção dos resultados desejados.

Na nossa investigação, o nível competitivo mais elevado (Nacional)


apresenta o índice mais alto na orientação cognitiva para a tarefa e,
simultaneamente, o mais baixo na orientação para o ego. Destaca-se ainda o
facto de, na orientação cognitiva para a tarefa, a média ir diminuindo à medida
que se desce no nível competitivo, apresentado o distrital o valor mais baixo.
Este panorama indicia a existência de um padrão motivacional, pois, como
sugere Ames (1992), aquele é promovido quando existe uma orientação dos
objectivos de realização para a tarefa. Para aquele investigadora, os indivíduos
orientados para a mestria direccionam as suas preocupações e acções no
sentido da aquisição e/ou melhoria de competências, baseando-se na crença
de que o esforço conduzirá ao sucesso pessoal. Ou seja, uma orientação para
a mestria, sustentada no esforço e no processo de aprendizagem, é encarada
como promotora de um padrão motivacional adaptado.

Tal como no trabalho de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e


Vasconcelos-Raposo e Mahl (2005), apenas foram encontradas diferenças
significativas inter-níveis competitivos na orientação para o ego, concretamente
entre os níveis Nacional e Regional, apresentando o segundo um índice
superior, e, como tal, segundo Ames (1992), um padrão motivacional menos
adequado e adaptado. Assim, apesar da orientação elevada para a tarefa, deve
ser sempre tomada em consideração a focalização no processo dado que a
orientação para o ego se revelou como factor influenciador do nível de
rendimento dos futebolistas.

Os resultados referentes às comparações entre grupos com diferentes


níveis competitivos confluem, em termos gerais, para o que preconizam vários

110
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

autores (Duda, 1993; Roberts, 1993; Serpa, 2007; Vasconcelos-Raposo, 1993):


uma orientação para a tarefa proporciona melhores níveis de desempenho
comparativamente à orientação para o ego. Por outro lado, os futebolistas de
níveis competitivos mais elevados revelam que encaram as derrotas e outros
contratempos como elementos que fazem parte do percurso, podendo ser
utilizados como orientações no sentido da melhoria e aperfeiçoamento do
desempenho individual e colectivo.

De referir que os nossos resultados e os das investigações que


encontramos na revisão da literatura confirmam a variabilidade de tendências
referenciada na revisão da literatura. Num trabalho realizado com futebolistas
de elite, Reilly, Williams, Nevill e Franks (2000) não encontraram diferenças
significativas na orientação para o ego, embora tenham notado que os
segundos eram mais orientados para o ego que os primeiros. Por outro lado,
identificaram uma diferença significativa relativamente à orientação para a
tarefa: os jogadores de elite eram mais orientados para a tarefa que os de sub-
elite. Etnier, Sidman e Hancock (2004), num estudo com futebolistas com o
objectivo de averiguar a existência de diferenças na orientação de objectivos
em função do nível competitivo e do género e, também, com o intuito de
averiguar a existência de diferenças, no que concerne à competência
percebida e à motivação em função dos perfis de objectivos, concluíram que
não existiam diferenças na orientação dos objectivos em função do nível
competitivo e em função do género. Também Silva e Vasconcelos-Raposo
(2002) não identificaram diferenças significativas nas orientações cognitivas
entre jogadores de futsal da selecção nacional e da 1ª divisão. Como já
observamos, alguns autores defendem a ortogonalidade destas duas
orientações (Duda, 1992, 1993; Fonseca & Balagué, 2001; Fonseca & Biddle,
2001; Fonseca & Maia, 2000; Nicholls, 1992). Contudo, é possível que um
atleta esteja não só bastante orientado para a tarefa mas também para o ego.
Duda (1993) refere que o envolvimento com a tarefa e o ego não são fins
opostos de um continuum, podendo as pessoas serem fortemente orientadas
para a tarefa e ego, baixas em ambas as orientações, ou elevada num sentido
e baixa noutro.

111
Em termos gerais, como já referimos, constatou-se nesta investigação
que a orientação para a tarefa aumenta ligeiramente à medida que se sobe no
nível competitivo, evidenciando índices relativamente elevados em todos os
patamares, que o nível mais elevado (o Nacional) apresenta o índice mais alto
de orientação para a tarefa e, simultaneamente, o mais baixo de orientação
para o ego e que existem diferenças significativas nesta, concretamente entre o
nível mais alto e o intermédio, apresentando o primeiro inferior índice. Estes
resultados estarão, também aqui, muito provavelmente relacionados com o
facto de estarmos a tratar de uma modalidade colectiva à qual é inerente, como
já argumentamos, a existência de uma entidade colectiva que é a equipa. À
medida que se sobe no nível competitivo aumentam as exigências do jogo e de
tudo o que o envolve, seja do ponto de vista sócio-afectivo, no que concerne ao
relacionamento interpessoal que sustenta o funcionamento da equipa como um
todo, cuja coesão depende do contributo de todos, seja do ponto de vista da
componente táctico-técnica. Estamos a falar aqui concretamente do modelo de
jogo da equipa, a sua forma de jogar, que é, como já foi referido, um processo
colectivo, uma matriz orientadora dos comportamentos dos jogadores, como
equipa, face a cada momento, cada situação do jogo. Para que ele se
desenvolva, exercite e consolide é determinante o empenho de cada futebolista
nas suas tarefas, nas suas funções dentro da equipa, consequentemente
naquilo que são os aspectos qualitativos inerentes ao processo de
aprendizagem contínuo que o sustenta. Por outro lado, há que ter em conta
que existem inúmeros factores externos sobre os quais os futebolistas e as
equipas não têm qualquer controlo, como condições climatéricas adversas,
erros de arbitragem, a pressão do público, da massa associativa, da imprensa,
entre outras. Estes aspectos fogem de facto ao controlo dos jogadores e das
equipas. Contudo, existe algo sobre o qual eles podem exercer alguma
influência, que é o empenho no processo colectivo que sustenta a equipa. Daí
a importância da focalização para o processo, mais ainda quando a orientação
para o ego é, como indiciam os nossos dados, um factor diferenciador de
futebolistas de diferentes níveis competitivos.

Relativamente às posições, tal como nos estudos de Mahl e


Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e Mahl (2005), não se

112
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

verificaram diferenças significativas inter-posições. Destaca-se, contudo, o


facto dos guarda-redes apresentarem as médias mais elevadas em ambas as
escalas. Como já referimos, a especificidade desta posição aliada ao habitual
isolacionismo do treino poderão promover esta diferenciação. O fenómeno de
socialização do futebol e do próprio jogo, assim como o processo de treino em
equipa, se por um lado exigem, de todos, uma adaptação e subjugação às
necessidades do colectivo, por outro lado, fruto do paradigma produtivista que
envolve o jogo em particular e o futebol em geral, parecem induzir uma
focalização na procura do resultado. Esta é, na nossa opinião, uma das razões
para a omnipresença, entre jogadores de futebol, da orientação para o ego.

Os dados do nosso trabalho permitem localizar diferenças significativas


entre grupos de jogadores de diferentes idades na orientação cognitiva para o
ego, constatando-se que esta diminui com a idade. Por sua vez, a orientação
para a tarefa não apresenta alterações importantes como o avanço da idade.
Quanto à experiência competitiva, os testes não identificaram a existência de
diferenças significativas entre grupos de futebolistas com diferentes anos de
prática competitiva, embora seja evidente que a orientação para o ego diminui
com o aumento da experiência. Observa-se ainda que a orientação para a
tarefa apresenta valores relativamente altos nos diferentes grupos etários e de
experiência competitiva. Os resultados do estudo coincidem parcialmente com
os de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e Mahl
(2005). Estes, embora não tenham encontrado qualquer correlação significativa
entre as variáveis aqui em causa, constataram que a maioria das associações,
com excepção da existente entre tempo de experiência e orientação para a
tarefa, se revelaram negativas. Fonseca e Maia (2000), ao realizarem um
estudo com jovens praticantes de diversas modalidades desportivas (colectivas
e individuais) com o objectivo de investigar a existência de diferenças no que
concerne às orientações motivacionais em função da idade, do sexo e do
desporto praticado, concluíram que, relativamente à idade e ao sexo, não
existiam diferenças significativas, apesar dos praticantes de desportos
individuais revelarem valores significativamente mais elevados de orientação
para o ego quando comparados com os praticantes de modalidades colectivas.
Já White e Duda (1994) sugeriram a existência de uma correlação positiva

113
entre a orientação para o ego e a idade dos indivíduos: à medida que a idade
aumenta intensifica-se a orientação para o ego. Em termos gerais, os nossos
resultados sugerem que, se por um lado a idade e a experiência competitiva
diminuem a orientação cognitiva para o ego, por outro, não têm qualquer
influencia sobre a orientação para a tarefa.

Estes resultados estarão muito provavelmente, e mais uma vez,


relacionados com o facto de estarmos aqui a tratar de uma modalidade
colectiva à qual é inerente, como já referimos anteriormente, a existência da
entidade colectiva que é a equipa. Com a idade e a acumulação de anos de
prática aumentará, possivelmente, a consciencialização, por parte dos
futebolistas, de que aquilo que é ter-se sucesso é profundamente determinado
pela equipa de que fazem parte. Por outro lado, as forças e competências
colectivas daquela dependem da participação e do contributo de cada um para
a exercitação e consolidação contínua do processo colectivo que sustenta o
todo, tanto do ponto de vista socio-afectivo como táctico-técnico. Para que isto
aconteça é determinante o empenho dos jogadores nas suas tarefas e funções
no seio do colectivo, consequentemente nos aspectos qualitativos que
permitem o processo de aprendizagem contínuo que está na base da
existência da equipa. Daí a importância da orientação para o processo,
acentuada com a observação de que a orientação para o ego se revela, neste
estudo, potencialmente diferenciadora de jogadores de diferentes níveis
competitivos.

5.3 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA

Iniciamos a discussão dos resultados da ENAC começando por referir


que procederemos a algumas comparações com os estudos de Mahl e
Vasconcelos-Raposo (2005) e de Vasconcelos-Raposo, Coelho, Mahl e
Fernandes (2007), uma vez que estes se referem à mesma investigação com
futebolistas brasileiros, mas com utilização de diferentes instrumentos: os

114
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

primeiros utilizaram o CSAI-2, enquanto Vasconcelos-Raposo e colaboradores


(2007) recorreram à ENAC.

Começamos que observar que o nível competitivo mais elevado


(Nacional) é o que apresenta os índices mais baixo no negativismo e alto na
autoconfiança. Por outro lado, o nível competitivo mais baixo (Distrital) é o que
evidencia o valor mais alto no negativismo e o mais baixo na autoconfiança. Os
índices do negativismo e da autoconfiança aumentam e diminuem
respectivamente à medida que desce o nível competitivo. Estes resultados
sustentam e reforçam os que foram obtidos com o PPP, já que neste a
autoconfiança (então denominada de autoconfiança2) e o controlo do
negativismo, cuja escala é inversa ao negativismo da ENAC, diminuem, de
uma forma geral, quando desce o nível competitivo.

Encontrámos diferenças significativas no negativismo, especificamente


entre os níveis competitivos Nacional e Distrital e Regional e Distrital, com os
valores mais baixos a pertencerem aos níveis competitivos superiores dos
emparelhamentos. Estas diferenças, para além de confirmarem a importância
do autocontrolo emocional no rendimento desportivo dos futebolistas, reforçam
o estatuto deste skill como factor diferenciador do nível de rendimento e
performance desportivos. Palmeira e colaboradores (2002) e Vasconcelos-
Raposo (1993) referenciam a capacidade de controlo das próprias emoções,
nomeadamente nas situações de grande pressão competitiva, como um factor
determinante para o desempenho dos atletas de elite no desporto de
competição, como é o caso do futebol profissional, especialmente o de alto
rendimento.

As nossas conclusões vão ao encontro dos trabalhos de Mahl e


Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007) e
da Teoria Multidimensional da Ansiedade Competitiva (Martens et al., 1990a,
1990b), que defende que o rendimento se relaciona de forma negativa e linear
com o negativismo e positiva e linear com a autoconfiança. Também Martens e
colaboradores (1990a) sugeriram que os atletas com maior habilidade têm uma
capacidade superior aos menos hábeis para lidar com os pensamentos

115
negativos, e possuem, antes da competição, níveis de negativismo e activação
inferiores e uma autoconfiança superior. O sucesso resultante de uma certa
aptidão natural para a prática desportiva, leva a que o indivíduo vivencie níveis
de negativismo inferiores, que resultam na realização de melhores
performances e vice-versa. Estes argumentos, para além de encontrarem
sustentação nos nossos resultados e nos de Mahl e Vasconcelos-Raposo
(2005) e Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007), são também
confirmados por Coetzee e colaboradores (2006), num trabalho igualmente
concretizado com futebolistas. Estes autores encontraram diferenças
significativas no negativismo, constatando que os futebolistas de sucesso
apresentam melhores índices comparativamente aos de menor sucesso.

É de salientar que, se para uns a situação desportiva competitiva é


sempre geradora de pensamentos negativos prejudiciais à performance
desportiva, existindo uma relação inversa entre negativismo e rendimento
(Martens et al., 1990b), para outros, o negativismo, na mesma situação, pode
ser facilitadora para uns atletas e prejudicial para outros (Cruz, 1996c). O facto
de os pensamentos negativos poderem ser benéficos para a prestação
desportiva é igualmente contemplado por Jones e Hanton (2001).

A diferença da nossa investigação para os trabalhos de Mahl e


Vasconcelos-Raposo (2005) e de Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007)
está no facto de que apenas encontramos diferenças significativas inter-níveis
competitivos no negativismo, enquanto aqueles autores encontraram em
ambas as escalas dos instrumentos utilizados (CSAI-2 e ENAC). Estas
diferenças devem-se, possivelmente, ao facto daqueles autores terem
concretizado o seu estudo só com atletas profissionais, enquanto o nosso
contempla profissionais e amadores. O profissionalismo no futebol e,
consequentemente, a dedicação exclusiva à actividade, costuma estar
associado a níveis competitivos mais elevados, consequentemente menores
índices de negativismo. Podemos também referenciar aqui os factores culturais
como potenciais elementos diferenciadores entre os resultados obtidos no
presente trabalho e os de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e de
Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007).

116
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Relativamente à autoconfiança, embora não tenhamos encontrado


diferenças significativas, a verdade é que os seus índices vão aumentando à
medida que se sobe no nível competitivo. Algumas investigações, tanto no
futebol (Reilly et al.), no futsal (Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997), como
noutros contextos (Coelho, 2007; Coelho et al., 2007; Cruz, 1996c; Rodrigues &
Cruz, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997; Vasconcelos-Raposo, 1993,
2002), demonstraram que os atletas de nível de rendimento superior possuem
valores mais elevados na autoconfiança comparativamente aos de nível
inferior. Hanton e colaboradores (2005) defendem que a autoconfiança é uma
qualidade essencial para os atletas de elite, uma vez que os pode proteger
contra potenciais pensamentos e sentimentos debilitadores vivenciados em
situações competitivas. Por outro lado, os bons resultados parecem promover
esta variável.

No que se refere às posições, na nossa investigação, tal como nas de


Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e de Vasconcelos-Raposo e colaboradores
(2007), não se constataram diferenças significativas entre as diversas posições
no que toca ao negativismo e à autoconfiança, o que reforça os resultados do
PPP relativamente à autoconfiança, mas contraria os mesmos relativamente ao
controlo do negativismo. Verificou-se ainda que, para além dos índices de
negativismo aumentarem à medida que o posicionamento se afasta da própria
baliza, os guarda-redes são os que revelam a média mais baixa no negativismo
e a mais alta na autoconfiança, consolidando, assim, os dados obtidos com o
PPP, que evidenciam a especificidade desta função. Por outro lado, o facto dos
avançados apresentarem os valores mais altos e baixos, respectivamente, no
negativismo e na autoconfiança, poderá constituir uma das justificações para a
conhecida falta de eficácia, em termos de finalização, dos jogadores daquela
posição. Por outro lado, os resultados em sentido contrário dos defesas, tanto
na autoconfiança como no negativismo, poderão dever-se, não só às maiores
responsabilidades defensivas deste sector, mas também à actual supremacia e
sucesso do futebol eminentemente defensivo praticado por uma parte
significativa das equipas portuguesas e europeias (Lobo, 2008).

117
Em termos gerais, os dados da ENAC reforçam, tal como os trabalhos
de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), a ideia de que a especificidade das
posições ocupadas em campo solicitam valências psicológicas específicas e,
consequentemente, promovem o desenvolvimento de diferentes perfis,
existindo posições muito marcadas por esta evidência, nomeadamente a de
guarda-redes.

A idade e a experiência competitiva dos futebolistas do nosso estudo,


tal como nos de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e
colaboradores (2007), parecem influenciar os seus níveis de negativismo e
autoconfiança. No que concerne à idade, os dados da presente investigação
permitem identificar diferenças significativas inter-grupos no negativismo e na
autoconfiança, constatando-se que estas dimensões diminuem e aumentam,
respectivamente, com a idade. Idênticas tendências foram observadas por
Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005) e Vasconcelos-Raposo e colaboradores
(2007), cujos trabalhos revelaram correlações significativas entre a idade e
aquelas variáveis dependentes, sendo negativas as associações com o
negativismo e positivas com a autoconfiança. Perry e Williams (1998)
verificaram que os atletas mais experientes apresentam níveis inferiores de
negativismo quando comparados com atletas iniciados (menos experientes).
Estes resultados, tal como os que foram obtidos com a nossa aplicação do
PPP, acentuam a importância da idade e da experiência competitiva, com o
processo de aprendizagem que lhes é inerente, no desenvolvimento da
capacidade de autocontrolo das emoções. A este propósito, Barbosa e Cruz
(1997) referenciam a experiência competitiva dos atletas como um dos factores
que determina a recorrência a diferentes estratégias para lidar com o
negativismo.

No que se refere à autoconfiança, tal como já referimos e como sugere o


trabalho de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), aumenta significativamente
com a idade, tal como com os anos de prática competitiva. Identificaram-se
diferenças significativas entre os futebolistas com 11 ou menos anos de
experiência competitiva e os grupos de 12-13 e 18 ou mais anos de experiência
competitiva. Assim, tal como Perry e Williams (1998), sugerimos que os atletas

118
DISCUSSÃO DE RESULTADOS

mais experientes apresentam níveis superiores de autoconfiança


comparativamente a menos experientes.

Como já argumentamos, a idade e a experiência, com o processo de


aprendizagem que lhes é inerente pelos treinos, competição e própria vivência
da vida, parecem proporcionar não só o desenvolvimento do autocontrolo
emocional, mas também de habilidades de diversa ordem, factor este
mobilizador do sentimento de autoconfiança nas próprias competências.

Relativamente à análise das propriedades psicométricas da ENAC, os


nossos resultados vão ao encontro dos trabalhos de Coelho (2007) e Coelho e
colaboradores (2007) e respectivas argumentações quando questionam a
adequabilidade do modelo original. A análise factorial confirmatória por nós
realizada, tal como a de Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007), revela a
boa adequação do modelo proposto por Coelho e colaboradores (2007),
constando-se a existência de índices de adequabilidade superiores ao do
modelo original.

119
CONCLUSÕES

6 CONCLUSÕES

O processo de investigação que sustentou o presente trabalho, cujo


enquadramento teve como base os objectivos gerais e específicos pré-
estabelecidos, permitiu-nos chegar a várias conclusões.

Podemos começar por afirmar que quanto mais elevado é o nível


competitivo dos futebolistas mais altos são os seus índices nos skills
psicológicos, na orientação para a tarefa e na autoconfiança, e mais baixos no
negativismo. Foram referenciadas como variáveis que permitem diferenciar, de
forma significativa, jogadores de distintos patamares competitivos o controlo do
negativismo, a atenção, a orientação para o ego e o negativismo. Concluímos
que a gestão da relação negativismo-autoconfiança é um factor determinante
do rendimento desportivo no futebol, evidenciando-se assim a importância do
autocontrolo emocional.

Relativamente à variável posição, apenas o controlo do negativismo


permitiu proceder a diferenciações significativas, concretamente entre os
guarda-redes e os médios e aqueles e os avançados. Constatou-se ainda que
os guarda-redes são os mais fortes em todos os skills psicológicos. Em termos
gerais, os resultados sugerem que diferentes posições de jogo impõem e
promovem a aplicação e consequente desenvolvimento de diferentes valências
psicológicas, exigindo-se assim especificidade na preparação psicológica dos
futebolistas.

Verificou-se que com a idade aumentam os valores de todos os skills


psicológicos e da autoconfiança e diminuem os da orientação para o ego e
negativismo. Foram encontradas diferenças significativas, entre futebolistas de
distintos grupos etários, em todos os skills psicológicos (com excepção da
imagética e da motivação), na orientação cognitiva para o ego e em ambas as
escalas da ENAC. Relativamente à experiência competitiva, observou-se que
com a acumulação dos anos de prática aumentam os índices dos skills
psicológicos e da autoconfiança e diminuem os da orientação para o ego e

121
negativismo. Todas as escalas do PPP (com excepção da motivação) e da
ENAC se revelaram significativamente diferenciadoras de jogadores de
distintas experiências competitivas. Assim, conclui-se que a idade e a
experiência competitiva, para além de favorecerem o fortalecimento dos skills
psicológicos e influenciarem a orientação cognitiva para o ego, diminuindo-a,
têm um peso determinante sobre a autoconfiança e o negativismo, e,
consequentemente, no desenvolvimento da capacidade de autocontrolo das
emoções. No entanto, se por um lado é verdade que contribuem para o
fortalecimento das competências psicológicas, por outro lado, por si só, não
são garantia da obtenção de uma preparação psicológica de elevado nível.

Em termos gerais, para além de se concluir que os futebolistas


portugueses se preparam mentalmente para a competição de forma não
sistemática, reforça-se a evidência de que os factores psicológicos se
constituem como factor não só influenciador do rendimento desportivo
individual e colectivo no futebol, mas também diferenciador de jogadores de
diferentes níveis competitivos e de rendimento. Por outro lado, se é verdade
que a componente mental do rendimento, a preparação psicológica e,
consequentemente, a Psicologia do Desporto, têm vindo a ganhar relevo e
importância no meio desportivo em geral e no futebolístico em particular, por
outro, ainda se constata um nítido contraste entre esta realidade e a do
“terreno”, dada a fragilidade dos futebolistas portugueses no campo da
preparação psicológica e a exígua presença, no meio futebolístico, de
profissionais da psicologia.

6.1 REFLEXÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO

A presente investigação proporcionou-nos análises e conclusões que


nos levam a reflexões e propostas de novas linhas de investigação.

Na sequência da proposta de Coelho e colaboradores (2007) para a


continuação da verificação das propriedades psicométricas da ENAC, a análise

122
CONCLUSÕES

factorial confirmatória realizada neste trabalho comprova a sua superior


adequabilidade comparativamente ao modelo original. Assim sendo,
comungamos da posição dos seus autores quando propõem a substituição do
CSAI-2 pela ENAC na avaliação da ocorrência de pensamentos negativos,
modelo composto por duas escalas correlacionadas: negativismo e
autoconfiança.

No âmbito dos processos motivacionais, concretamente no que


concerne às orientações cognitivas, constatou-se que os futebolistas
participantes nesta investigação, na sua generalidade, são mais orientados
para a tarefa que para o ego. Esta evidência será fruto da necessidade de
focalização dos objectivos de realização no processo colectivo que sustenta a
existência da entidade “equipa”, seja do ponto de vista sócio-afectivo, seja do
ponto de vista do modelo de jogo a construir ou em construção. Observou-se
ainda que, de uma forma geral, as orientações para a tarefa e ego diminuem e
aumentam, respectivamente, à medida que se desce no nível competitivo.
Conclui-se assim que as orientações cognitivas influenciam o rendimento
desportivo dos futebolistas, sendo contudo benéfico uma orientação mais
direccionada para a tarefa. Por outro lado, face à superior orientação para a
tarefa e ao facto da orientação para o ego se revelar diferenciadora do nível
competitivo, defendemos, tal como Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), que
deve ser sempre tomada em consideração a focalização no processo e nos
aspectos qualitativos. Ou seja, deve-se promover a combinação de ambas as
orientações cognitivas, tendo em mente que o mais importante é o processo.

Ainda relativamente à omnipresença da orientação para o ego entre os


futebolistas, sublinhamos a necessidade e urgência da revisão do actual
paradigma da formação jovem. Esta, também reflexo do futebol como facto
social-total, encontra-se fortemente marcada pelos princípios da produtividade,
do rendimento e da eficácia, frequentemente consubstanciados numa formação
não só enferma da sobrevalorização do factor “resultado”, mas também
prisioneira de fenómenos como a rentabilização e mercantilização de activos. A
própria mediatização do fenómeno, fonte alimentadora de sonhos entre os mais
jovens, poderá desviar o seu desenvolvimento pessoal e desportivo no sentido

123
do deslumbramento, do egoísmo, do egocentrismo e, possivelmente, do “serei
eu e mais dez”. Assim, preconizamos que uma metodologia centrada nos
aspectos qualitativos, que privilegie uma focalização no trabalho e nos
processos colectivos (sócio-afectivos e táctico-técnicos) que sustentam a
entidade “equipa”, apresentados como caminho fundamental para a obtenção
do sucesso, contemplando-se, tanto no treino como no quotidiano dos
jogadores, a componente psicológica, promoverá não só a o desenvolvimento
da robustez mental individual, mas também da colectiva, alimentando-se assim
o espírito de equipa e o sentimento de que o trabalho é uma premissa
fundamental para se chegar ao sucesso, tanto no desporto como na vida.
Defendemos que a quantidade, qualidade e direcção dos reforços dos
treinadores e dirigentes naquele sentido poderão (e deverão) ser factores de
mobilização dos processos motivacionais num sentido adaptado. Por outro
lado, a própria envolvência económico-sócio-cultural, com as pressões que lhe
são inerentes, levam-nos a considerar aqueles aspectos formativos de especial
importância dado que, como é sabido, os atletas que revelam orientação para o
ego tendem a explicar os seus resultados com base em factores externos,
sobre os quais não têm qualquer tipo de influência e, consequentemente, a
experimentarem um maior nível de frustrações, de desconforto e,
consequentemente, negativismo. Consideramos ainda que a envolvência sócio-
económica frequentemente agressiva do futebol, as contrariedades e
constrangimentos dos jogos e campeonatos, os momentos maus e as derrotas
deverão ser sempre encarados e aproveitados como situações potencialmente
propiciadoras de aperfeiçoamento e aprendizagem individual e colectiva. Diz
Rojas (1994) que “o sofrimento é a forma suprema de aprendizagem” (p. 12).

A informação recolhida, tanto da pesquisa bibliográfica como dos


resultados do presente trabalho, leva-nos a propor uma reflexão profunda
sobre a tradicional forma de abordagem da variável posição em investigações
futuras no contexto do futebol. As análises comparativas realizadas com os
dados obtidos com o PPP, o TEOSQ e a ENAC, embora indiciem que
diferentes posições solicitam diferentes valências psicológicas e que,
consequentemente, promovem a existência de diferentes perfis psicológicos,
por outro lado, o reduzido número de diferenças significativas encontradas

124
CONCLUSÕES

tanto neste estudo, apenas no controlo do negativismo entre os guarda-redes e


outras posições, como noutros (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005, 2007;
Vasconcelos-Raposo, 1994b), indicia, na nossa opinião, que a forma como a
variável posição é habitualmente abordada (guarda-redes, defesas, médios e
avançados) é insuficiente para uma possível diferenciação entre posições.

A realidade do futebol é indissociável do conceito reconhecido como


“modelo de jogo”, que é no fundo uma matriz consubstanciada em princípios
norteadores de uma forma de jogar, que é interpretada por unidades (os
jogadores) que desempenham as funções ou papeis nele previstos. No
entanto, este “mecanismo” torna-se “não mecânico” pelo facto de ser um todo
interpretado por individualidades ou partes que, pela sua condição humana,
possuem competências que lhes conferem, a todo o momento, face à
envolvência situacional do jogo, caracterizada pela tão cativante e apaixonante
imprevisibilidade, autonomia para a tomada de decisões e, consequentemente,
mutação da realidade. Assim, qualquer futebolista, mesmo mantendo a sua
habitual e tradicional posição, pode passar a jogar e a desempenhar papeis e
funções com características e exigências completamente diferentes a partir do
momento em que muda de equipa ou treinador, consequentemente de modelo
de jogo.

Tomando como exemplo o “tradicional” sector dos defesas (poderiam ser


os médios ou os avançados), é reconhecido que existem jogadores que jogam
como centrais e outros como laterais, posições reconhecidamente diferentes
dos pontos de vista táctico-técnico, físico e (nós arriscamos) mental. Por outro
lado, hoje em dia, o que se revela, pelo menos a quem assiste com alguma
regularidade a jogos de futebol, é que um determinado jogador, identificado por
exemplo como defesa lateral, face às exigências do seu papel num
determinado modelo, pode ser muito mais ofensivo que um médio e mesmo tão
ofensivo quanto um avançado. Perguntamos assim, o que permite caracterizar
um defesa, um médio ou avançado? Lembramos aqui o futebolista
internacional brasileiro Roberto Carlos, um defesa lateral, unanimemente
reconhecido, no mundo do futebol, como um dos jogadores mais ofensivos do
mundo. Temos ainda jogadores “avançados” ou “médios” que têm, em função

125
do modelo de jogo da equipa ou da estratégia adoptada, papéis
preponderantes e por vezes de liderança em termos de estratégia defensiva. O
famoso futebolista luso-português Deco, unanimemente considerado no meio
futebolístico como “médio ofensivo”, foi reconhecido pelo seu então treinador
(José Mourinho) como um elemento fundamental na antecipação da fase
defensiva do Futebol Clube do Porto, vencedor da Liga dos Campeões
Europeus. Assim, na nossa opinião, a tradicional abordagem a esta variável é
redutora e insuficiente para diferenciar posições. Entendemos que investigação
deverá direccionar-se para uma maior especificidade e contemplação de uma
variabilidade de aspectos na exploração da variável posição face à natureza
permanentemente mutável da envolvência situacional que caracteriza o jogo, o
processo de treino e realidade sempre provisória em que cada jogador vive,
nomeadamente no que se refere ao modelo de jogo que interpreta.
Especificidade, quiçá no âmbito da função desempenhada (por exemplo
guarda-redes, defesa direito, defesa central, defesa esquerdo, médio esquerdo,
médio direito, médio centro defensivo e ofensivo, avançado direito, avançado
esquerdo, avançado centro e ponta de lança), complementada por uma maior
variabilidade de aspectos a estudar, sustentada num alargamento a outros
como por exemplo a auto-avaliação de características de cariz táctico-
individual, tais como o nível de competências defensivas e ofensivas, entre
outras.

As novas influências sobre as concepções de treino e jogo, tanto ao


nível das correntes teóricas, como de novos paradigmas de abordagem ao
treino, como por exemplo a Periodização Táctica, baseada na teoria sistémica
da filosofia de Morin (1990, 1997), proposta por Vítor Frade (Martins &
Garganta, 2003), docente da especialização em futebol na Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto, têm contribuído de forma significativa para
a nova realidade. Defendemos que é necessário renovar a tradicional
abordagem por sectores em favor de uma maior especificidade e variabilidade
de aspectos a estudar face àquilo que é, e no fundo sempre foi, o futebol. Este
novo rumo, porque importante para a investigação e para o futebol,
consequentemente para todos os desportos colectivos, requererá,
naturalmente, para além do trabalho de especialistas da Psicologia do

126
CONCLUSÕES

Desporto Aplicada ao futebol, a colaboração dos agentes do terreno


(treinadores, jogadores e analistas), sem os quais, na nossa humilde opinião,
tal revisão de paradigma não fará qualquer sentido.

Porque entendemos que o todo é muito mais que a soma das partes,
assumindo mesmo uma nova entidade e individualidade, e porque o estudo de
cada parte deverá ser indissociável de uma visão holística e sistémica do todo,
parece-nos importante que no futuro, em estudos semelhantes a este, sejam
contemplados, pela natureza colectiva do futebol e deste como facto social-
total, factores psicológicos de natureza colectiva, como por exemplo a
inteligência emocional e social de equipas e/ou de jogadores, procurando-se
estudar possíveis relações entre variáveis psicológicas colectivas e individuais.
A existência de um perfil psicológico para cada modalidade, por um lado, e a
necessidade de adopção de uma abordagem holística ao estudo dos factores
que influenciam o rendimento desportivo, por outro, levam-nos ainda a
considerar pertinente a realização de investigações futuras visando o estudo
dos factores psico-sócio-culturais que influenciam o rendimento desportivo em
modalidades colectivas.

A referência à dimensão criatividade com que deparamos na nossa


pesquisa bibliográfica (Durand-Bush & Salmela, 2002; Samulski & Greco, 2004)
parece-nos que justifica um estudo profundo sobre a possibilidade de se
contemplar este potencial skill em trabalhos futuros.

Parece-nos primordial, face à comprovada influência dos factores


psicológicos no rendimento desportivo e à evidente fragilidade psicológica dos
futebolistas, a integração da preparação mental no seu processo de treino e
quotidiano. Há que tentar contrariar as desconfianças e resistências dos
agentes do futebol à entrada da Psicologia do Desporto no seu “mundo”. O
futebol como facto social total, metáfora e alegoria da sociedade, funciona,
como já referimos, segundo os princípios da competitividade, do rendimento e
da eficácia, personificando como tal, na perfeição, o actual paradigma
produtivista-consumista da nossa cultura industrial. É um universo
extremamente dinâmico, exigente, nivelado e selectivo, que, à imagem dos

127
mundos empresarial e industrial, exige aos clubes e seus futebolistas
consistência e excelência tanto no rendimento como na produtividade e
resultados obtidos. É um contexto que vai impondo progressivamente novas
exigências e responsabilidades dos pontos de vista desportivo e social. As
suas envolvências sócio-económica e cultural, especialmente no futebol de alto
rendimento, cuja realidade passa obrigatoriamente por ter que se jogar sempre
para ganhar, é um contexto que exige cada vez mais jogadores mentalmente
fortes, robustos, resistentes, consistentes e determinados. Como tal, parece-
nos que este panorama, para além de evidenciar a potencialidade do futebol
como laboratório de estudo não só da sociedade e dos fenómenos que a
caracterizam mas também do próprio Homem, sublinha a urgência do reforço,
no “terreno”, da presença da Psicologia do Desporto aplicada, e, no campo da
investigação, do paradigma da Psicologia Cultural.

128
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

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