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III
IV
AGRADECIMENTOS
(William Shakespeare)
Dedico este trabalho à minha família, em especial aos meus pais, a quem
quase tudo devo.
V
VI
RESUMO
Objectivou-se caracterizar o perfil psicológico de prestação do futebolista
português e identificar variáveis psicológicas que diferenciam jogadores de
diferentes níveis competitivos (Nacional, Regional e Distrital). Participaram 424
futebolistas portugueses do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 36
anos. Utilizaram-se o PPP (Perfil Psicológico de Prestação), o TEOSQ (Task
and Ego Orientation in Sport Questionnaire) e a ENAC (Escala de Negativismo
e Autoconfiança). Os resultados sugerem que os jogadores de futebol
portugueses se preparam mentalmente para a competição, embora não o
façam de forma sistemática. Os futebolistas de níveis competitivos mais
elevados, de uma forma geral, têm skills psicológicos mais desenvolvidos,
encontrando-se diferenças significativas no controlo do negativismo e na
atenção. Verificou-se que os jogadores do nível competitivo mais elevado têm
as médias mais altas na orientação para a tarefa e mais baixas na orientação
para o ego e que existem diferenças significativas inter-níveis na orientação
para o ego. O negativismo e a autoconfiança aferidos pela ENAC aumentam e
diminuem, respectivamente, à medida que se desce no nível competitivo,
encontrando-se diferenças significativas no negativismo. Apenas o controlo do
negativismo permitiu diferenciar significativamente futebolistas de diferentes
posições. A idade e a experiência competitiva influenciam o desenvolvimento
dos skills psicológicos, das orientações cognitivas, da autoconfiança e do
negativismo, embora, por si só, não garantam um nível excelente de
preparação mental. A análise das propriedades psicométricas da ENAC
confirmaram a sua superior adequabilidade comparativamente ao modelo
original. Concluiu-se que para uma boa preparação mental contribuem todos os
skills psicológicos, pelo que a robustez mental é um constructo complexo e
multidimensional.
VII
VIII
ABSTRACT
IX
X
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS..........................................................................................V
RESUMO ..........................................................................................................VII
ABSTRACT .......................................................................................................IX
ÍNDICE GERAL .................................................................................................XI
ÍNDICE DE QUADROS ...................................................................................XIII
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................ XV
1 INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................... 1
1.1 O FUTEBOL COMO FACTO SOCIAL TOTAL ...................................... 7
1.1.1 O paradigma produtivista ................................................................ 11
1.1.2 O paradigma consumista ................................................................ 14
1.1.3 Evoluções e “involuções”: o social e o jogo .................................... 20
1.2 O PROBLEMA .................................................................................... 25
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 35
2.1 FACTORES PSICOLÓGICOS DETERMINANTES DO RENDIMENTO
DESPORTIVO .............................................................................................. 36
2.2 AUTOCONFIANÇA ............................................................................ 42
2.3 NEGATIVISMO .................................................................................. 44
2.4 ATENÇÃO .......................................................................................... 46
2.5 IMAGÉTICA........................................................................................ 48
2.6 PENSAMENTOS POSITIVOS ............................................................ 50
2.7 ATITUDE COMPETITIVA ................................................................... 51
2.8 MOTIVAÇÃO ...................................................................................... 52
2.8.1 Orientações cognitivas ................................................................... 54
2.9 ESTUDOS REALIZADOS COM O PERFIL PSICOLÓGICO DE
PRESTAÇÃO ................................................................................................ 57
2.10 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS E HIPÓTESES ................................... 60
3 METODOLOGIA ........................................................................................ 63
3.1 AMOSTRA.......................................................................................... 63
3.2 VARIÁVEIS ........................................................................................ 65
3.3 INSTRUMENTOS............................................................................... 66
3.3.1 Questionário para dados pessoais ................................................. 66
3.3.2 Perfil Psicológico de Prestação ...................................................... 66
3.3.3 Questionário de Orientação para a Tarefa e Ego no Desporto ....... 68
3.3.4 Escala de Negativismo e Autoconfiança ......................................... 69
3.4 PROCEDIMENTOS ............................................................................ 72
3.5 TRATAMENTO ESTATÍSTICO .......................................................... 72
3.6 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES ....................................................... 74
4 RESULTADOS .......................................................................................... 77
4.1 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DA ENAC ........ 77
4.1.1 Consistência interna ....................................................................... 78
4.1.2 Análise factorial confirmatória ......................................................... 78
4.2 SKILLS PSICOLÓGICOS ................................................................... 79
XI
4.2.1 Nível competitivo ............................................................................ 80
4.2.2 Posição ........................................................................................... 81
4.2.3 Idade ............................................................................................... 82
4.2.4 Experiência Competitiva ................................................................. 83
4.3 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS .......................................................... 84
4.3.1 Nível competitivo ............................................................................ 85
4.3.2 Posição ........................................................................................... 85
4.3.3 Idade ............................................................................................... 86
4.3.4 Experiência competitiva .................................................................. 87
4.4 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA ............................................... 88
4.4.1 Nível competitivo ............................................................................ 88
4.4.2 Posição ........................................................................................... 89
4.4.3 Idade ............................................................................................... 90
4.4.4 Experiência competitiva .................................................................. 90
4.5 CONFIRMAÇÃO DAS HIPÓTESES ................................................... 91
5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS .............................................................. 93
5.1 SKILLS PSICOLÓGICOS ................................................................... 94
5.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS ........................................................ 108
5.3 NEGATIVISMO E AUTOCONFIANÇA ............................................. 114
6 CONCLUSÕES ....................................................................................... 121
6.1 REFLEXÕES E RECOMENDAÇÕES PARA O FUTURO ................. 122
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 129
8 ANEXOS ................................................................................................. 147
XII
ÍNDICE DE QUADROS
XIII
Quadro 25 - comparação e diferenciação do negativismo e da autoconfiança2
em função da experiência competitiva.............................................................. 91
Quadro 26 - comparação das diferenças para a média em função da posição
....................................................................................................................... 104
XIV
LISTA DE ABREVIATURAS
XV
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
O futebol actual, como facto social total, conceito proposto por Mauss
(1974), é um fenómeno complexo no qual as instituições sociais se exprimem e
o todo social pode ser observado. Nele o funcionamento e a evolução da
sociedade se evidenciam, constituindo, como tal, um microcosmos e um
espelho nos quais ela se reflecte e pode ser reflectida.
1
Silva e Rubio (2003) referem que se ouve com certa frequência a
afirmação de "que o desporto de hoje não é mais como era antigamente".
Desde o surgimento das actividades físicas com a finalidade de competição até
aos grandes espectáculos dos dias actuais, o desporto tem sofrido inúmeras
transformações. O ideal desportivo do atleta grego antigo não é o mesmo do
atleta moderno, que também não é igual ao do atleta contemporâneo. Além da
mudança de valores, a própria prática das modalidades, com as suas técnicas
desportivas, equipamentos e regras, tem sido alterada. O desporto tem
acompanhado as transformações que ocorrem na sociedade, reflectindo, no
seu próprio ambiente, os avanços científicos, tecnológicos e os valores criados
e desenvolvidos pelos indivíduos.
2
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Como exemplo, a era dos “galácticos” Zidane, Ronaldo, Figo, todos eles
eleitos pela FIFA, pelo menos uma vez, o Melhor Jogador do Mundo, de David
Beckham, várias vezes nomeado, não esquecendo os conceituados Raul e
Roberto Carlos, do multinacional Real Madrid, resultou de uma forte estratégia
de marketing por parte do presidente do clube, Florentino Pérez. A iniciativa,
verdadeiro sucesso em termos financeiros, uma vez que o retorno conseguido
foi enorme com a venda de camisolas, artigos diversos e o apelo do marketing,
resultou, contudo, num tremendo fracasso em termos desportivos, uma vez que
o clube merengue não conquistou, durante esse período, o número de títulos
desejados e esperados (Carlin, 2004). As solicitações a que os futebolistas
eram frequentemente sujeitos, nomeadamente em termos publicitários,
condicionaram, segundo alguns analistas desportivos, a necessária capacidade
de concentração para o desempenho desportivo ao mais alto nível. Foi
inclusive ventilado na comunicação social, que os horários dos treinos eram
frequentemente adaptados aos compromissos publicitários dos jogadores.
Também alguns comentadores desportivos especularam relativamente à
hipótese destas situações terem fortemente condicionado as prioridades
pessoais dos atletas, questionando-se mesmo a natureza da motivação e da
atitude competitiva demonstradas por alguns deles.
3
marcação de grandes penalidades, foi aquele o momento decisivo que permitiu
a si e aos seus colegas a reviravolta do ponto de vista motivacional, já que era
evidente o domínio e ascendência gauleses naquela fase tão importante do
jogo.
4
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
seu contributo para a melhoria das prestações desportivas não se tem revelado
tão diferenciador como o foi no passado. As próprias dimensões física e técnica
do rendimento desportivo ao nível Jogos Desportivos Colectivos de alta
competição, frequentemente enfermas de uma abordagem castradora porque
encaradas isoladamente da componente globalizante – a táctica - no processo
de treino, estão tão exploradas que é de facto o “psicológico” que começa a
fazer a diferença. Esta realidade é por demais evidente no contexto competitivo
das equipas de futebol de alto rendimento, cuja filosofia de vitória (jogar
sempre para ganhar) está presente em todos os jogos e competições. De facto,
nem sempre as que têm mais sucesso são as que possuem nas suas fileiras os
jogadores mais habilidosos, os que treinam “mais metros” ou as que têm os
modelos de jogo mais desenvolvidos ou consolidados.
5
Pacheco (2003) refere que o treino das competências psicológicas
proporciona aos desportistas em geral e aos de alto rendimento em particular,
excelentes possibilidades de encontrarem soluções individualizadas e
adequadas para responder às exigências e dificuldades que a competição lhes
coloca. Segundo aquele autor, o paradigma de base desta prática tem amplas
analogias com o do treino físico, pois tal como as competências físicas,
técnicas e motoras, também as psicológicas podem ser aprendidas,
modificadas e melhoradas.
6
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
7
Nas últimas décadas do século XX assistiu-se ao fim de uma civilização
com o desmembramento da União Soviética, ao final do regime comunista nos
diversos países do Leste Europeu, à quebra do Muro de Berlim, à
democratização de algumas nações e, consequentemente, ao surgimento de
uma nova ordem social. Foi um período de progressivo reconhecimento e
acentuada consagração dos direitos humanos. Entre estes encontrou-se o da
prática desportiva, então contemplada em vários textos constitucionais como
um elemento de afirmação e qualificação da cidadania. O desporto viu-se
assim investido de um crédito extremamente valorizador da sua relevância
social, cultural e humana. Segundo Bento (2000), atingiu uma expansão sem
par noutras áreas, com índices de crescimento impressionantes, ao ponto do
século XX ser rotulado como o estranho século do desporto.
8
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
9
Hodiernamente, os patrocínios representam a alma de toda a estrutura
organizacional da competição (Capinussú, 1991).
10
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
À medida que o século XX foi caminhando para o seu fim, o futebol foi
sofrendo rápidas e profundas transformações, originadas pelo seu potencial
social e económico e pela globalização. As transformações políticas, por
exemplo, entre as quais o alargamento do espaço europeu, trouxeram novas
realidades. Com a Lei Bosman, a mobilidade de jogadores passou a ser uma
realidade, sendo uma das principais razões da sua actual mercantilização
(Coelho & Pinheiro, 2004).
11
A actual dimensão social, cultural e económico-financeira do futebol,
marcada pelo surgimento de clubes-empresa, com a denominação de SAD
(Sociedade Anónima Desportiva), cuja sobrevivência e interesses dependem
do sucesso desportivo das suas equipas, exige mais que nunca, à imagem dos
mundos empresarial e industrial, excelência na produtividade. No jornal
desportivo O Jogo de 9 de Maio de 2009 é referenciada a existência de
movimentações das próprias cotações nos mercados bolsistas dos respectivos
países de clubes como o inglês Birmingham e o turco Besiktas, isto poucas
horas após resultados importantes. As vitórias ou derrotas ditaram,
respectivamente, valorizações ou desvalorizações imediatas. É ainda noticiado
que a poucos dias da provável renovação de um título nacional, a cotação da
F.C. Porto SAD registou uma valorização ao longo da semana e um volume de
transacções três vezes superior à média do último mês (Anunciação, 2009).
12
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
13
A proliferação de torneios internacionais de futebol jovem acaba por
satisfazer, entre outras, a necessidade de existência de “montras” de
futebolistas. Exemplos paradigmáticos deste fenómeno são o Torneio de
Toulon para selecções jovens sub-20 e o Mundialito de Clubes e Escolas de
Futebol de 7, que decorre anualmente no Algarve. No primeiro foram inúmeros
os talentos que despertaram ou deram nas vistas, tais como Passarella
(Argentina), Jean-Pierre Papin (França), Hristo Stoichkov (Bulgária), Zinedine
Zidane (França), Cristiano Ronaldo (Portugal), entre outros. Na edição de 2008
do segundo, participaram 116 equipas de dezoito países e cerca de 2000
jovens atletas (divididos pelos escalões de pré-escolas, escolas e infantis)
oriundos de quatro continentes. Tanto num como noutro, concentram-se
regularmente “olheiros” de clubes de todo o mundo, na esperança da
descoberta de um novo “diamante” a lapidar e, consequentemente, activos
para posterior rentabilização.
14
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
15
1.335 milhões de euros por temporada. O campeão deverá receber uma verba
próxima dos 75 milhões de euros, enquanto o último classificado arrecadará
pelo menos 45 milhões de euros (Anunciação, 2008), este último superior ao
orçamento de qualquer clube português.
16
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
geral ambas estão intimamente associadas ao poder, quando não são órgãos
desse mesmo poder ou então o próprio poder, a sua acção vai naturalmente
convergir para uma promoção e estimulação dos desportos que alimentem os
meios de informação e diversão - a indústria da diversão -, promovam o
elevado consumo e concentrem um máximo de indivíduos em ocupações ou
actividades controláveis (Brito & Alves, 2002).
17
No início de Julho de 2003, o Real Madrid, que acabara de contratar ao
Manchester United o futebolista inglês David Beckham por US$ 40 milhões,
vendeu em apenas meia hora, a 78 euros cada, 200 camisolas com o número
23 usado pelo jogador, não por acaso, o mesmo número que marcou a carreira
de Michel Jordan na NBA. O objectivo do clube espanhol era fechar a
temporada de 2003 com um milhão de camisas com o número 23 vendidas, o
que lhe garantiria 78 milhões de euros, mais do dobro do que a quantia gasta
com a aquisição de Beckham, isto apenas com esse tipo de fonte. Para
alcançar essa meta, o clube modificou a sua pré-temporada. Pela primeira vez
na sua centenária história, o clube espanhol treinou na Ásia, realizando jogos
amistosos na China, Japão, em Hong Kong e na Malásia (Coelho & Pinheiro,
2004). O alvoroço provocado pela passagem de Beckham e demais estrelas,
antecedida de ampla campanha mediática equivalente às de pop stars
internacionais, levou o clube espanhol a arrecadar, durante a sua pré-
temporada na Ásia de apenas 10 dias, US$ 48 milhões, US$ 7 milhões a mais
do que o investimento em Beckham. Cifras como estas entusiasmam os
defensores do “mercado” a radicalizarem as suas posições na busca de
ocupações de espaços na luta que se trava pela hegemonia do futuro do
futebol. O sucesso da passagem do Real Madrid pela Ásia, mensurado pelo
dinheiro arrecadado, pela abertura de mercados e pela afluência de público –
unidades de medida favoritas dos defensores do campo secular – forneceu
argumentos poderosos como a defesa da desterritorialização como estratégia
na busca do lucro máximo (Coelho & Pinheiro, 2004).
18
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
Como refere Alvito (2006), parece que o futebol migrou das páginas
desportivas dos jornais para as colunas de economia, do mercado financeiro,
das bolsas de valores. Existe a impressão de que se está a ler um suplemento
económico, de notícias sobre contratos, licenciamentos, marketing, compra,
venda, empréstimo e até hipotecas (Alvito, 2006).
19
os canais de televisão, a publicidade e as cotações nas bolsas de valores”
(Constantino, 2000, p. 176). O desporto em geral e o futebol em particular, à
imagem da sociedade contemporânea, encontram-se em permanente
mudança. Esta, sempre rápida e num tempo curto, reflecte-se na
transformação das atitudes, comportamentos e valores dos indivíduos.
Imperam os paradigmas produtivista e consumista, consubstanciados nos
princípios da produtividade, do máximo rendimento e da eficácia. Estes,
profundamente enraizados na sociedade, além de condicionarem os instintos
fundamentais da espécie humana – sobrevivência e comunicação –,
influenciam também a forma como o Homem encara o objectivo fundamental
da sua existência: ser feliz.
20
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
defesa como Canavarro ou stopper com Genaro Gatuso. Para Paulo Sousa,
esta obsessão pelo resultado traduz-se num futebol com características
dominantes de anti-jogo, contra-ataque, sistemas tácticos rígidos e físicos,
renunciando-se ao talento dos jogadores, deixando o espectáculo e o
espectador para segundo plano (Lobo, 2008).
21
rendimento está frequentemente exposto a períodos semanais de treino com
três competições.
22
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
23
dizendo, adoptaram-se novas regras e procedimentos para “transformar” o
espectáculo em algo mais atraente, espectacular e apetecível para o consumo.
A alteração do regime de pontuação, “recompensando-se” as vitórias com 3
pontos, mantendo-se o empate com apenas um ponto, e o benefício da equipa
que está a atacar por parte dos árbitros, em situações de dúvida, servem a
intenção de facilitar a existência de um maior número de golos por jogo e,
consequentemente, a sua espectacularidade, envolvência e, porque não,
dependência emocional. A própria adaptação da lei do atraso da bola ao
guarda-redes, impedindo-o de jogar “à mão” quando um colega de equipa a
passa intencionalmente, é uma forma de combate ao anti-jogo, estratégia
maçadora para quem assiste, inimiga do espectáculo.
24
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
1.2 O PROBLEMA
Rebelo (1999, 2004) refere que é no nível competitivo mais alto que a
performance fica mais sujeita às diversas fontes de pressão psicológica. As
exigências colocadas pela elevada profissionalização do futebol e a
contundência da avaliação dos média e do público são fortes factores de
stress. O stress psicológico a que um futebolista está sujeito durante uma
época desportiva foi comprovado por Rebelo (1999, 2001) com dados
laboratoriais e de terreno através de estudos sobre o sobretreino. Ao longo de
uma época desportiva, este autor encontrou sinais de fadiga psicológica em
futebolistas profissionais portugueses. Os jogadores apresentaram elevados
níveis de tensão emocional, de depressão e de fadiga durante o período
competitivo. Também a elevada intensidade das partidas e o crescente número
de jogos são, provavelmente, dos principais factores indutores da fadiga
25
evidenciada pelos futebolistas (Rebelo, 2004). Como já foi dito, na actualidade,
tanto em Portugal como noutro país europeu, um jogador pode realizar 80
jogos oficiais por época, quando se somam os jogos ao serviço do clube e da
selecção, o que significa que, durante os cerca de 11 meses que compõem a
época desportiva, o futebolista está quase sempre exposto a períodos
semanais de treino com duas ou mais competições. Convém ainda recordar
aqui as longas e frequentes viagens, por vezes intra e inter-continentais, a que
os jogadores e as equipas estão sujeitos.
26
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
27
- o desconhecimento sobre os objectivos e benefícios associados à
colaboração de um especialista da Psicologia do Desporto (sobre o que pode
ou não ser feito pelo mesmo no seio de uma equipa desportiva) leva a que
muitos entendam existir um conflito de competências entre o psicólogo, o
treinador e até o departamento médico;
- percepção negativa da Psicologia do Desporto por parte dos futebolistas,
treinadores e demais agentes desportivos, chegando mesmo a ser vista como
um sinal de fraqueza a recorrência a um especialista desta área;
- o habitual pragmatismo dos profissionais de futebol, por um lado, dado que,
de uma forma geral, tanto os jogadores como os treinadores estão muito
centrados no que mais imediatamente e de forma mais objectiva e quantificada
se relaciona com o que pretendem, ou seja, obter elevados níveis de
rendimento; por outro lado, a dificuldade dos próprios psicólogos em
corresponder a esta exigência, frequentemente por falta de formação e
experiência específica no contexto do futebol;
- falta de conhecimento de muitos futebolistas, treinadores e dirigentes, sobre o
tipo de colaboração e contribuição que os profissionais da psicologia podem
fornecer para o processo de treino, razão principal para a pouca receptividade
à cooperação;
- a percepção, por parte dos treinadores, de que os psicólogos não possuem
conhecimentos sobre o futebol.
- Vasconcelos-Raposo (2002) afirma que os psicólogos não têm sido eficazes
no processo de demonstração da relevância da psicologia para o rendimento
desportivo.
28
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
do alto rendimento desportivo e, deste modo, contribuir para uma mais correcta
abordagem dos sistemas em que são envolvidos os atletas.
29
rendimento diferenciados se deviam às variabilidades individuais no campo da
personalidade. Sem resultados animadores, os investigadores procuraram
encontrar outras razões, fora da personalidade, concretamente nos processos
e factores cognitivos envolvidos no rendimento dos atletas. Ou seja, além de
continuar a ser importante determinar as características psicológicas que
diferenciam os desportistas entre si, também se objectivou avaliar e
compreender o modo eles percebem e avaliam, do ponto de vista cognitivo, as
competições (Gomes & Cruz, 2001). A existência de um determinado contexto
desportivo, com as suas próprias especificidades e exigências, implica que
também se contemple a análise da relação atleta-meio, nomeadamente a
forma como o atleta interpreta esse meio, a relação que tem com ele e a
maneira como todos estes aspectos influenciam o seu comportamento.
30
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
31
Para que os objectivos da Psicologia do Desporto, neste contexto
aplicada ao futebol, sejam atingidos, é necessário aumentar o número de
investigações que objectivem o estudo dos processos psicológicos que
envolvem e influenciam o desempenho desportivo dos futebolistas. O próprio
“estado da arte” em Portugal no contexto do futebol, tanto no âmbito da
investigação como da sua realidade no “terreno”, muito abaixo do desejável,
acentuam a pertinência de estudos dentro desta temática. Neste âmbito,
propusemo-nos com este nosso trabalho estudar a influência dos skills
psicológicos (auto-confiança, controlo do negativismo, atenção, imagética,
pensamentos positivos e atitude competitiva) no rendimento dos futebolistas
portugueses. Assim, o problema a que pretendemos responder traduz-se,
genericamente, na seguinte questão: quais as variáveis psicológicas que
diferenciam futebolistas portugueses de distintos níveis competitivos?
32
INTRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
33
REVISÃO DA LITERATURA
2 REVISÃO DA LITERATURA
35
Ora, nos últimos tempos, segundo vários autores (Cruz, 1996b; Gomes
& Cruz, 2001), uma grande quantidade de literatura no âmbito da Psicologia do
Desporto tem procurado identificar e analisar as características, competências
e processos psicológicos implicados ou subjacentes ao rendimento e ao
sucesso desportivo, nomeadamente junto de atletas de alta competição. É, de
facto, uma área que tem vindo a desenvolver-se a um ritmo intenso. A
quantidade e variedade de investigações realizadas tem gerado um corpo
próprio de conhecimentos, criando modelos teóricos, técnicas, estratégias e
instrumentos que, por procurarem compreender a especificidade dos contextos
desportivos e da dimensão psicológica dos sujeitos e grupos que o integram,
identificam e definem um espaço próprio de intervenção (Pacheco, 2003). No
entanto, para que esta evolução continue, é importante examinar os factores
psicológicos específicos e as teorias relevantes do alto rendimento desportivo
no sentido de se compreender os processos psicológicos que contribuem para
a performance de excelência (Jackson et al., 2001). É necessário, como
propõem Cruz (1996b) e Jackson e colaboradores (2001), identificar e
compreender as características, factores e competências psicológicas que
envolvem e diferenciam a performance dos atletas de sucesso.
RENDIMENTO DESPORTIVO
36
REVISÃO DA LITERATURA
37
Vasconcelos-Raposo (1991) e Hogg (2001) também referenciam um
estado óptimo ou ideal de prestação desportiva. Para o primeiro a sua
manifestação é caracterizada por músculos “soltos", movimentos fáceis e
precisos, sentimento de auto-confiança, optimismo e atitude positiva. Todas
estas variáveis deverão estar harmoniosamente integradas entre o corpo e a
mente, para que, na altura da competição, o atleta não questione o que vai
fazer ao longo do dia da prova. Por seu lado, Hogg (2001) sustenta que o
estado ideal de prestação desportiva é alcançado quando os atletas se sentem
completamente preparados e prontos para realizarem as tarefas da sua
modalidade de uma forma controlada e consistente.
38
REVISÃO DA LITERATURA
39
mais recursos psicológicos e melhor capacidade para o utilizar, face às
exigências da prática desportiva, tendem a lesionar-se menos que os que têm
menores recursos ou não fazem uso deles.
O modelo teórico que adoptamos para o nosso trabalho tem por base a
linha de investigação proposta por Loehr (1986) e Vasconcelos-Raposo (1993).
Loehr (1986) faz referência ao conceito de robustez mental. Define-a como a
capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades,
um estado ideal de performance durante a competição. Para este autor, com
excepção da influência dos factores físicos, a consistência da performance é
resultado da consistência psicológica, sendo o controlo psicológico um pré-
requisito fundamental para o controlo da performance, ou seja, a robustez
mental requer um elevado grau de controlo sobre o estado de performance
ideal. Consequentemente, estabelecer e manter um clima interno estável
durante a competição é um dos factores mais importantes no sucesso
desportivo. O modelo de Loehr (1986) tem como base a aplicação do
instrumento PPP (Perfil Psicológico de Prestação) que contempla o estudo de
sete skills psicológicos: a autoconfiança, o controlo do negativismo, a atenção,
a visualização, a motivação, os pensamentos positivos e a atitude competitiva.
Segundo este paradigma, os atletas capazes de exercer um melhor controlo
sobre estas competências atingem uma maior consistência nas suas
prestações. No entanto, hoje em dia, embora a maior parte dos atletas e
treinadores reconheça a importância do treino psicológico na preparação para
a competição, a verdade é que na prática este aspecto raramente é
contemplado. Entre outras razões porque existe a crença de que os skills
psicológicos são inatos. Ora para Loehr (1986), estas competências são
aprendidas e não inatas, sendo necessário um treino psicológico para o seu
desenvolvimento. Este autor também defende que o atleta consegue uma
melhor preparação psicológica se tiver consciência das suas reais capacidades
mentais, forças e fraquezas.
40
REVISÃO DA LITERATURA
Defende igualmente que há pelo menos oito condições mentais essenciais para
que um atleta constitua um estado ideal que aumente as suas possibilidades
de obtenção de uma prestação de excelência: estarem mentalmente calmos,
fisicamente descontraídos, auto-confiantes e optimistas, elevada concentração
no presente, índice elevado de energia, alerta mental, auto-controlo e cocoon.
41
futebolistas brasileiros de dois níveis competitivos, nacional e regional, no qual
foram utilizados o PPP, O CSAI-2 e o TEOSQ. Os autores visaram, para além
da avaliação das características psicométricas dos instrumentos, a
caracterização do perfil psicológico de prestação do jogador profissional de
futebol brasileiro, identificando igualmente as áreas que mais contribuem para
a prestação desportiva dos mesmos.
2.2 AUTOCONFIANÇA
42
REVISÃO DA LITERATURA
43
2.3 NEGATIVISMO
44
REVISÃO DA LITERATURA
45
2.4 ATENÇÃO
46
REVISÃO DA LITERATURA
47
dinâmico, obrigando os jogadores a seleccionar diferentes tipos de pistas
consoante os diferentes momentos e fases do jogo. Neste sentido, para Viana
e Cruz (1996), a flexibilidade da atenção é a capacidade que o indivíduo tem de
mudar o foco atencional (conjugação da selectividade e direcção) de acordo
com as exigências da tarefa. A sequência da actividade pode exigir ao atleta
que foque a atenção internamente em vez de a dirigir para objectos ou
acontecimentos externos. Pode ainda, como sublinham aqueles investigadores,
obrigar o atleta a focar a atenção num pormenor, em vez de lhe exigir que
esteja atento a um amplo espectro de índices. Esta capacidade de focalização
sequencial da atenção em diferentes objectos e acontecimentos pelo período
de tempo necessário é, provavelmente, uma das fontes mais importantes das
oscilações da atenção que ocorrem durante o desempenho desportivo. Trata-
se de uma característica tanto mais importante consoante menor for o tempo
disponível para iniciar uma resposta. Nas modalidades colectivas, de combate
ou de confronto directo com um adversário, os acontecimentos sucedem-se na
maior parte das vezes sem a possibilidade do atleta poder controlar o seu
desencadeamento, sendo absolutamente crítica a sua capacidade de mudar o
focus atencional com rapidez e de forma adequada às exigências da tarefa.
2.5 IMAGÉTICA
48
REVISÃO DA LITERATURA
49
2.6 PENSAMENTOS POSITIVOS
50
REVISÃO DA LITERATURA
tão frequente que dificulta a automatização dos skills (Bunker & Williams,
1986).
51
- parece estar relacionada com a vontade que o atleta demonstra em atingir o
sucesso e a direcção dada ao seu comportamento para o conseguir (Silva &
Vasconcelos-Raposo, 2002);
- é também entendida como um dos aspectos da agressividade no desporto
(Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995); esta relação pode ser aceite se a
agressividade for positiva (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995), não destrutiva,
com respeito pelo adversário (Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997) e fair-play
(Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002).
- é determinante para a performance (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995;
Nave & Coelho, 2008), sendo assumida como um dos mais importantes, senão
o mais importante, factor do sucesso desportivo (Linhares & Vasconcelos-
Raposo, 1998); é espectável que atletas com níveis de rendimento superiores
tenham valores superiores na atitude competitiva, dado que esta variável
contempla a vontade, dedicação e empenho numa determinada tarefa (Mahl &
Vasconcelos-Raposo, 2005).
2.8 MOTIVAÇÃO
52
REVISÃO DA LITERATURA
53
Têm sido elaboradas inúmeras teorias da motivação ao longo dos
tempos. Fonseca (1993) e Roberts (1992) chegam mesmo a afirmar que a
história da teoria da motivação tem sido a procura da “verdadeira” teoria. Nos
últimos anos os estudos têm-se baseado em teorias sócio-cognitivas (Duda,
1992). Estas enfatizam o homem não apenas como um ser reactivo, mas
também como um ser activo, considerando que as cognições desempenham
um papel mediador entre os estímulos e os comportamentos dos indivíduos.
Segundo a perspectiva sócio-cognitiva, as pessoas avaliam os seus
comportamentos, pensamentos, acontecimentos e contextos em que estão
envolvidas de uma forma recíproca, sendo a partir deste processo que
antecipam as consequências futuras (Fonseca, 1999).
54
REVISÃO DA LITERATURA
55
a) objectivos de realização orientados para a performance, habilidade ou
competitividade (orientação para o ego ou resultado) – considera-se a
existência de uma orientação ou objectivo de realização referente ao ego
quando as pessoas definem sucesso de um modo normativo ou socialmente
comparativo (por exemplo “ganhar”, “fazer melhor que os outros”); há uma
preocupação em demonstrar habilidade quando em comparação com outros;
existe uma procura de demonstração da própria competência relativamente às
outras pessoas, maximizando as probabilidades de atribuição de uma elevada
competência e minimizando as possibilidades de atribuição de uma reduzida
competência aos próprios; privilegia a superioridade sobre outros, em que o
sucesso do indivíduo reside na comparação favorável da sua capacidade ou
resultados com outros, ou seja “ter sucesso é ser melhor que os outros”;
b) objectivos de realização orientados para a aprendizagem ou mestria
(orientação para a tarefa ou processo) – considera-se a existência de uma
orientação ou de um objectivo de realização referente à tarefa quando as
pessoas definem sucesso de um modo auto-referenciado (por exemplo
“melhorar o rendimento pessoal”, “realizar com sucesso um gesto técnico”,
“completar uma tarefa”); existe uma preocupação em demonstrar mestria na
realização da tarefa; há uma procura da demonstração de competência
relativamente aos próprios indivíduos, quer aumentando os seus
conhecimentos, quer resolvendo determinadas tarefas com sucesso; enfatiza a
aprendizagem, a melhoria contínua, a tentativa de alcançar objectivos próprios
da modalidade, ou seja “ter sucesso é ser melhor que antes”.
56
REVISÃO DA LITERATURA
PRESTAÇÃO
57
Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998;
Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997),
revelando-se, como tal, um dos aspectos fundamentais no rendimento
desportivo. Por outro lado, o controlo do negativismo é, de uma forma geral, o
skill psicológico menos desenvolvido (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995;
Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995, Linhares & Vasconcelos-Raposo,
1998; Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005;
Silva & Vasconcelos-Raposo, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002;
Vasconcelos-Raposo, 1993, 1994b, 2002), sendo unânime a opinião de que é
cada vez mais importante uma intervenção psicológica ao nível do controlo dos
pensamentos negativos.
58
REVISÃO DA LITERATURA
59
da integração da preparação mental no quotidiano dos atletas, especialmente
ao nível do controlo dos pensamentos negativos.
60
REVISÃO DA LITERATURA
61
METODOLOGIA
3 METODOLOGIA
3.1 AMOSTRA
63
grupos etários: 82 (19,3%) jogadores com 19 anos ou menos, 108 (25,5%)
entre 20 e 22 anos, 119 (28,1%) entre 23 e 27 anos e 115 (27,1%) com 28 ou
mais anos (quadro 1).
<= 19 82 19,3
20 - 22 108 25,5
23 - 27 119 28,1
Nacional 85 20,0
64
METODOLOGIA
Guarda-redes 43 10,1
Avançados 82 19,3
Vários 53 12,5
<= 11 90 21,2
12 - 13 91 21,5
14 - 17 132 31,1
3.2 VARIÁVEIS
65
As variáveis dependentes foram os skills psicológicos (autoconfiança,
controlo do negativismo, atenção, imagética, motivação, pensamentos
positivos, atitude competitiva), a orientação cognitiva para a tarefa, a orientação
cognitiva para o ego, a autoconfiança e o negativismo.
3.3 INSTRUMENTOS
66
METODOLOGIA
5 (quase sempre). Como podemos ver no quadro 5, existem 6 itens para cada
factor, sendo o valor de cada um calculado pelo seu somatório dos seus itens.
A quantificação dos parâmetros respeita ainda uma sequência de itens
invertidos: 1 → 5, 2 → 4, 3 = 3, 4 → 2 e 5 → 1.
Escala Itens
Valores Significado
Preparação mental muito fraca ou inexistente; o atleta necessita de integrar o treino mental nas
≤ 19
suas rotinas diárias de treino para melhorar o skill psicológico em causa.
Preparação mental média, realizada de forma não sistemática; o atleta necessita de melhorar o
20 - 25
skill psicológico referenciado, integrando o treino mental nas suas rotinas diárias de treino.
Excelentes skills psicológicos, representativos de uma boa preparação mental, realizada de
26 - 30
forma sistemática; o atleta já tem o treino mental integrado na sua preparação diária.
67
Os trabalhos de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2007) e Coelho (2007)
sustentam que, conjuntamente, os valores das medidas de ajustamento da
análise factorial confirmatória, os fortes pressupostos teóricos e práticos
subjacentes à sua construção, a elevada validade aparente e preditiva e o facto
de avaliar diversos constructos psicológicos fundamentais no estudo da
excelência desportiva, permitem reconhecer o PPP como um instrumento
válido para a investigação científica.
68
METODOLOGIA
Escala Itens
O. Ego 1, 3, 4, 6, 9, 11
69
O trabalho de Martens e colaboradores (1990a) se por um lado revelou
um CSAI-2 com forte consistência interna nas suas três escalas, igualmente
comprovada por estudos mais recentes (Mahl & Vasconcelos-Raposo, 2005;
Rodrigues & Cruz, 1997), por outro, e quanto à validade factorial, diversos
autores evidenciaram a sua falta de validade factorial (Coelho, 2007; Coelho et
al., 2007; Tsorbatzoudis, Barkoukis, Rodafinos, & Grouios, 1998;
Tsorbatzoudis, Barkoukis, Sideridis & Grouios, 2002), questionando-se assim
as propriedades psicométricas do questionário.
70
METODOLOGIA
Escalas Itens
71
3.4 PROCEDIMENTOS
A receptividade ao nosso estudo foi muito variada, uma vez que, se por
um lado, houve clubes e treinadores que demonstraram disponibilidade total
para nos receberem, outros revelaram alguma resistência e mesmo
indisponibilidade para a concretização dos nossos intentos. Nos clubes de nível
competitivo mais elevado (Nacional), o acesso foi, frequentemente,
condicionado, razão principal para o baixo número de futebolistas existentes,
deste nível, na amostra.
72
METODOLOGIA
73
3.6 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES
74
METODOLOGIA
75
RESULTADOS
4 RESULTADOS
77
4.1.1 Consistência interna
Negativismo 0,79
ENAC
Autoconfiança 2 0,85
Como podemos ver, a ENAC revelou uma forte consistência interna com
valores de alpha de Cronbach de 0,79 para o negativismo e 0,85 para a
autoconfiança2. Estes resultados vão ao encontro dos de Coelho e
colaboradores (2007), com 0,85 para o negativismo e 0,90 para a
autoconfiança2, e de Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007), com 0,76 e
0,74 respectivamente.
78
RESULTADOS
79
Quadro 11 - análise descritiva dos skills psicológicos
80
RESULTADOS
4.2.2 Posição
81
Quadro 13 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da posição em
campo
Guarda-redes Avançados
Defesas (D) Médios (M) Diferenças
(Gr) (A)
significativas
F entre grupos
(N=128) (N=118)
(N=43) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP (Post Hoc)
Autoconfiança1 25,93 3,38 25,25 3,52 24,98 3,05 24,95 3,14 1,047 --
C. Negativismo 22,21 2,61 21,20 3,23 20,75 3,14 20,60 2,89 3,128 Gr>M,A
Atenção 24,09 2,79 23,30 3,07 23,05 2,98 23,24 3,33 1,222 --
Imagética 22,67 3,96 21,32 4,32 21,15 3,41 22,17 3,81 2,418 --
Motivação 26,60 2,80 26,25 3,45 26,03 2,88 26,17 3,13 0,362 --
P. Positivos 24,44 2,95 23,57 3,41 23,86 2,69 23,84 2,88 0,901 --
At. Competitiva 24,91 2,99 24,18 3,18 24,23 2,56 24,35 2,76 0,742 --
4.2.3 Idade
82
RESULTADOS
C. Negativismo 20,30 3,26 20,41 2,54 21,14 3,36 22,19 2,80 8,922 I4> I1, I2, I3
Atenção 22,63 3,10 22,86 3,22 23,60 2,98 23,92 2,96 3,984 I4> I1, I2
Imagética 21,24 3,72 21,33 3,24 22,27 3,79 21,67 4,50 1,564 --
Motivação 25,88 3,22 26,29 2,65 26,18 3,06 26,47 3,29 0,621 --
P. Positivos 23,13 2,84 23,83 2,51 23,87 3,15 24,30 3,18 2,522 I4> I1
At. Competitiva 23,45 2,94 23,85 2,48 24,44 2,87 25,23 2,80 7,891 I4> I1, I2
83
Quadro 15 - comparação e diferenciação dos skills psicológicos em função da experiência
competitiva
<= 11 (E1) 12 – 13 (E2) 14 – 17 (E3) 18+ (E4) Diferenças
significativas entre
F grupos
(n=90) (n=91) (n=132) (n=111)
Média DP Média DP Média DP Média DP
(Post Hoc)
Autoconfiança1 24,06 3,18 24,91 2,94 25,28 3,32 26,41 3,02 9,745 E4>E1,E2,E3; E3>E1;
C. Negativismo 20,23 3,41 20,51 2,44 20,90 3,11 22,44 2,83 11,484 E4>E1,E2,E3
Atenção 22,46 3,32 22,79 2,94 23,64 3,16 24,05 2,73 5,919 E4>E1,E2; E3>E1
Imagética 20,70 3,09 21,68 3,69 21,91 3,76 22,16 4,55 2,691 E4>E1
Motivação 25,84 3,18 25,96 3,06 26,36 3,03 26,60 2,96 1,353 --
P. Positivos 23,10 2,79 23,62 2,67 23,83 3,02 24,62 3,11 4,743 E4>E1
At. Competitiva 23,61 2,87 23,63 2,76 24,25 2,71 25,51 2,67 10,993 E4>E1,E2,E3
É possível afirmar que, (1) para além do grupo dos futebolistas mais
experientes apresentar os índices mais elevados em todas as escalas, (2)
todas as médias, sem excepção, aumentam progressivamente, grupo a grupo,
dos jogadores menos experientes para os mais experientes. Assim, quanto
maior é a diferença na experiência competitiva inter-grupos mais acentuada é a
diferença nos skills.
Média DP
84
RESULTADOS
4.3.2 Posição
85
significativo por parte da variável posição [Wilks' Lambda=0,984, F(6,732)=0,966,
p=0,447 e η2=0,008] – quadro 18.
F
(N=43) (N=128) (N=118) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP
O. Tarefa 4,34 0,59 4,32 0,55 4,33 0,41 4,22 0,69 0,918
O. Ego 2,84 0,85 2,59 0,82 2,61 0,86 2,56 0,86 1,118
4.3.3 Idade
86
RESULTADOS
O. Tarefa 4,25 0,63 4,36 0,56 4,31 0,50 4,32 0,50 0,655 --
O. Ego 2,77 0,82 2,77 0,79 2,58 0,86 2,46 0,87 3,542 I2> I4
F
(n=90) (n=91) (n=132) (n=111)
Média DP Média DP Média DP Média DP
O. Tarefa 4,29 0,51 4,35 0,55 4,29 0,59 4,32 0,50 0,333
O. Ego 2,73 0,80 2,71 0,79 2,59 0,87 2,53 0,89 1,324
87
ligeiramente do grupo dos menos experientes (<=11) para o dos mais
experientes (18+).
88
RESULTADOS
4.4.2 Posição
F
(N=43) (N=128) (N=118) (N=82)
Média DP Média DP Média DP Média DP
Negativismo 18,05 4,68 18,64 4,61 18,70 4,52 19,16 4,96 0,551
Autoconfiança2 30,56 3,83 29,55 4,02 29,75 3,91 29,54 4,23 0,757
89
Podemos referir que os guarda-redes são os que têm a média mais
baixa no negativismo e a mais alta na autoconfiança2 e que o negativismo
aumenta à medida que o posicionamento se afasta da própria baliza.
4.4.3 Idade
Negativismo 20,72 4,54 19,16 4,37 18,67 4,44 17,05 4,35 11,419 I1>I3,I4; I2,I3>I4
Autoconfiança2 28,55 4,25 29,37 3,99 30,20 3,77 30,69 3,86 5,518 I4,I3>I1
90
RESULTADOS
Negativismo 20,51 5,04 19,04 4,74 18,58 3,99 17,30 4,23 8,822 E1>E3,E4; E2>E4
Autoconfiança2 28,40 4,15 29,91 4,00 29,74 3,86 30,92 3,77 6,841 E4,E2>E1
91
autoconfiança2 e rejeitada no que se refere ao controlo do negativismo,
atenção, orientação cognitiva para o ego e negativismo.
92
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
5 DISCUSSÃO DE RESULTADOS
93
(Coelho, 2007; Costa, 1997, 2002, 2004, 2006; Mahl & Vasconcelos-Raposo,
2007; Vasconcelos-Raposo, 1993, 2002), somos ainda da opinião de que não
devem ser esquecidas, nas investigações, as especificidades sócio-culturais,
gerais e desportivas, que envolvem, não só os diversos desportos, mas
também as suas amostras e universos.
94
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Por seu lado, Loehr (1986), para além de definir robustez mental como a
capacidade de sustentar, de forma consistente e face a todas as adversidades,
um estado ideal de performance durante a competição, defende que, com
excepção da influência dos factores físicos, a consistência da performance é o
resultado da consistência psicológica, sendo o controlo psicológico um pré-
requisito fundamental para o controlo da performance. Estes são aspectos
fundamentais numa modalidade como o futebol, dada a longa duração das
épocas desportivas, habitualmente com onze meses, e a consequente
necessidade de estabilização e consistência na prestação.
95
com um nível de desenvolvimento excelente nos futebolistas da nossa amostra.
Este resultado vai ao encontro das pesquisas realizadas no futebol por Luzio e
Vasconcelos-Raposo (1995), Carvalho e Vasconcelos-Raposo (1998), e outras
modalidades colectivas (Casimiro & Lázaro, 2004; Coelho & Vasconcelos-
Raposo, 1995; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Silva & Vasconcelos-
Raposo, 1997), e contra a de Silva e Vasconcelos-Raposo (2002), feita no
futsal. No trabalho de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005, 2007), concretizado
com futebolistas profissionais brasileiros, a motivação, embora não tenha sido
o skill com maior índice de desenvolvimento, que foi a autoconfiança (25,97),
apresentou um valor relativamente alto (25,90).
96
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
processos motivacionais, tal como propõe Roberts (1992, 1993), estão ligados
aos relacionamentos inter-pessoais, sendo este facto, na nossa opinião,
especialmente importante e determinante em desportos colectivos, como é o
caso do futebol. Reforça-se, como tal, a premissa de Roberts (1992, 1993) de
que a motivação é a força geradora do comportamento do Homem.
O skill dos futebolistas da nossa amostra que se revelou mais débil foi o
do controlo do negativismo. A idêntico resultado chegaram investigações
realizadas tanto no futebol (Luzio & Vasconcelos-Raposo, 1995; Mahl &
Vasconcelos-Raposo, 2005, 2007; Vasconcelos-Raposo, 1994b) e outras
modalidades colectivas (Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Golby &
Sheard, 2004; Linhares & Vasconcelos-Raposo, 1998; Silva & Vasconcelos-
Raposo, 1997; Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002), como em modalidades
individuais (Cortesão & Vasconcelos-Raposo, 1995; Vasconcelos-Raposo,
1993, 2002). Esta fraqueza evidencia e reforça a nossa conclusão de que os
futebolistas portugueses não realizam uma preparação mental sistemática.
Vasconcelos-Raposo (1993) refere que o treino mental visa maximizar o uso
pleno das capacidades humanas dos atletas, fazendo com que sejam
minimizados, e de preferência neutralizados, os elementos prejudiciais ao seu
rendimento. Ora, a existência de um determinado contexto desportivo, com as
suas próprias especificidades e exigências, como é o caso do futebol,
influenciam a relação atleta-meio, nomeadamente a forma como o atleta
interpreta e se relaciona com esse meio, aspectos estes influenciadores do seu
comportamento (Gomes & Cruz, 2001).
97
com a habilidade de manter a energia negativa em valores mínimos (Loehr,
1986).
98
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
99
ou no futuro pode originar sinais irrelevantes que podem induzir erros no
desempenho. Ora, numa partida de futebol, o ruído provocado pela assistência,
a movimentação das pessoas fora das quatro linhas ou o pensamento numa
jogada já passada, serão, em princípio, irrelevantes para a realização da tarefa.
Por outro lado, como referem Viana e Cruz (1996), o grande número de
estímulos em constante transformação como a localização da bola,
movimentação dos colegas e adversários, as instruções do treinador, o
planeamento e execução de determinadas estratégias, entre outras, constituem
pistas importantes a atender. Se o indivíduo não dirigir a atenção para os
estímulos, não os perceberá nem vivenciará.
100
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
101
No que se refere à variável posição, destacam-se nesta investigação os
guarda-redes pelo facto de evidenciarem os índices mais elevados em todos os
skills psicológicos. Estes dados são totalmente coincidentes com os obtidos por
Vasconcelos-Raposo (1994b) e parcialmente com os de Mahl e Vasconcelos-
Raposo (2005, 2007), em que os guarda-redes só apresentaram os valores
mais altos na autoconfiança, controlo do negativismo, atenção e atitude
competitiva. A especificidade que justifica as diferenças aqui apontadas
relativamente aos guarda-redes serão por nós exploradas no parágrafo em que
abordamos as diferenças significativas inter-posições.
102
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
103
próprio jogo e a sua conhecida envolvência socioeconómica, extremamente
exigente do ponto de vista emocional, criam dificuldades no campo do
autocontrolo emocional, agravadas pela inexistência de uma preparação
mental sistemática, como comprovam os nossos resultados e a maioria, senão
totalidade, dos estudos aqui referenciados no contexto do futebol.
104
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
105
Frade, 2002; Silva, 2008), reforçam, no nosso entender, a pertinência desta
nossa especulação. A periodização táctica, filosofia de treino utilizada, por
exemplo, por José Mourinho (Resende & Frade, 2002), tem como ideia
fundamental a construção progressiva e sustentada de um modelo de jogo,
uma forma de jogar que é um processo colectivo, uma matriz construída e
consubstanciada na articulação de determinados princípios aglutinadores e
norteadores dos comportamentos das partes (jogadores) do todo (o sistema, a
equipa), face à realidade permanentemente mutável da envolvência. Emerge
assim um novo todo, uma nova entidade (a equipa) que será muito mais (e
diferente) que a soma das partes. Porque interpretado por seres humanos,
podemos ainda afirmar que aquele modelo, aquela matriz, constitui “um
mecanismo não mecânico”, pois embora exista com o objectivo de “olear”
comportamentos, a verdade é que cada situação exige tomadas de decisão
determinadas pela envolvência e interactividade do jogo, que se deseja não
quebrem ou enfraqueçam o mecanismo.
106
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
107
5.2 ORIENTAÇÕES COGNITIVAS
108
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
109
mesmo depende, acima de tudo, da competência, consistência e eficácia da
equipa e do seu modelo de jogo, este um conceito colectivo e um fenómeno
construído, para o qual, como já referimos, todos contribuem e no qual todos
desempenham uma função. Assim, a sua construção e prática são fenómenos
solicitadores e indutores das orientações motivacionais no sentido do trabalho
e da concentração no processo, sem os quais nenhum futebolista ou equipa
pode aspirar à obtenção dos resultados desejados.
110
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
111
Em termos gerais, como já referimos, constatou-se nesta investigação
que a orientação para a tarefa aumenta ligeiramente à medida que se sobe no
nível competitivo, evidenciando índices relativamente elevados em todos os
patamares, que o nível mais elevado (o Nacional) apresenta o índice mais alto
de orientação para a tarefa e, simultaneamente, o mais baixo de orientação
para o ego e que existem diferenças significativas nesta, concretamente entre o
nível mais alto e o intermédio, apresentando o primeiro inferior índice. Estes
resultados estarão, também aqui, muito provavelmente relacionados com o
facto de estarmos a tratar de uma modalidade colectiva à qual é inerente, como
já argumentamos, a existência de uma entidade colectiva que é a equipa. À
medida que se sobe no nível competitivo aumentam as exigências do jogo e de
tudo o que o envolve, seja do ponto de vista sócio-afectivo, no que concerne ao
relacionamento interpessoal que sustenta o funcionamento da equipa como um
todo, cuja coesão depende do contributo de todos, seja do ponto de vista da
componente táctico-técnica. Estamos a falar aqui concretamente do modelo de
jogo da equipa, a sua forma de jogar, que é, como já foi referido, um processo
colectivo, uma matriz orientadora dos comportamentos dos jogadores, como
equipa, face a cada momento, cada situação do jogo. Para que ele se
desenvolva, exercite e consolide é determinante o empenho de cada futebolista
nas suas tarefas, nas suas funções dentro da equipa, consequentemente
naquilo que são os aspectos qualitativos inerentes ao processo de
aprendizagem contínuo que o sustenta. Por outro lado, há que ter em conta
que existem inúmeros factores externos sobre os quais os futebolistas e as
equipas não têm qualquer controlo, como condições climatéricas adversas,
erros de arbitragem, a pressão do público, da massa associativa, da imprensa,
entre outras. Estes aspectos fogem de facto ao controlo dos jogadores e das
equipas. Contudo, existe algo sobre o qual eles podem exercer alguma
influência, que é o empenho no processo colectivo que sustenta a equipa. Daí
a importância da focalização para o processo, mais ainda quando a orientação
para o ego é, como indiciam os nossos dados, um factor diferenciador de
futebolistas de diferentes níveis competitivos.
112
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
113
entre a orientação para o ego e a idade dos indivíduos: à medida que a idade
aumenta intensifica-se a orientação para o ego. Em termos gerais, os nossos
resultados sugerem que, se por um lado a idade e a experiência competitiva
diminuem a orientação cognitiva para o ego, por outro, não têm qualquer
influencia sobre a orientação para a tarefa.
114
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
115
negativos, e possuem, antes da competição, níveis de negativismo e activação
inferiores e uma autoconfiança superior. O sucesso resultante de uma certa
aptidão natural para a prática desportiva, leva a que o indivíduo vivencie níveis
de negativismo inferiores, que resultam na realização de melhores
performances e vice-versa. Estes argumentos, para além de encontrarem
sustentação nos nossos resultados e nos de Mahl e Vasconcelos-Raposo
(2005) e Vasconcelos-Raposo e colaboradores (2007), são também
confirmados por Coetzee e colaboradores (2006), num trabalho igualmente
concretizado com futebolistas. Estes autores encontraram diferenças
significativas no negativismo, constatando que os futebolistas de sucesso
apresentam melhores índices comparativamente aos de menor sucesso.
116
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
117
Em termos gerais, os dados da ENAC reforçam, tal como os trabalhos
de Mahl e Vasconcelos-Raposo (2005), a ideia de que a especificidade das
posições ocupadas em campo solicitam valências psicológicas específicas e,
consequentemente, promovem o desenvolvimento de diferentes perfis,
existindo posições muito marcadas por esta evidência, nomeadamente a de
guarda-redes.
118
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
119
CONCLUSÕES
6 CONCLUSÕES
121
negativismo. Todas as escalas do PPP (com excepção da motivação) e da
ENAC se revelaram significativamente diferenciadoras de jogadores de
distintas experiências competitivas. Assim, conclui-se que a idade e a
experiência competitiva, para além de favorecerem o fortalecimento dos skills
psicológicos e influenciarem a orientação cognitiva para o ego, diminuindo-a,
têm um peso determinante sobre a autoconfiança e o negativismo, e,
consequentemente, no desenvolvimento da capacidade de autocontrolo das
emoções. No entanto, se por um lado é verdade que contribuem para o
fortalecimento das competências psicológicas, por outro lado, por si só, não
são garantia da obtenção de uma preparação psicológica de elevado nível.
122
CONCLUSÕES
123
do deslumbramento, do egoísmo, do egocentrismo e, possivelmente, do “serei
eu e mais dez”. Assim, preconizamos que uma metodologia centrada nos
aspectos qualitativos, que privilegie uma focalização no trabalho e nos
processos colectivos (sócio-afectivos e táctico-técnicos) que sustentam a
entidade “equipa”, apresentados como caminho fundamental para a obtenção
do sucesso, contemplando-se, tanto no treino como no quotidiano dos
jogadores, a componente psicológica, promoverá não só a o desenvolvimento
da robustez mental individual, mas também da colectiva, alimentando-se assim
o espírito de equipa e o sentimento de que o trabalho é uma premissa
fundamental para se chegar ao sucesso, tanto no desporto como na vida.
Defendemos que a quantidade, qualidade e direcção dos reforços dos
treinadores e dirigentes naquele sentido poderão (e deverão) ser factores de
mobilização dos processos motivacionais num sentido adaptado. Por outro
lado, a própria envolvência económico-sócio-cultural, com as pressões que lhe
são inerentes, levam-nos a considerar aqueles aspectos formativos de especial
importância dado que, como é sabido, os atletas que revelam orientação para o
ego tendem a explicar os seus resultados com base em factores externos,
sobre os quais não têm qualquer tipo de influência e, consequentemente, a
experimentarem um maior nível de frustrações, de desconforto e,
consequentemente, negativismo. Consideramos ainda que a envolvência sócio-
económica frequentemente agressiva do futebol, as contrariedades e
constrangimentos dos jogos e campeonatos, os momentos maus e as derrotas
deverão ser sempre encarados e aproveitados como situações potencialmente
propiciadoras de aperfeiçoamento e aprendizagem individual e colectiva. Diz
Rojas (1994) que “o sofrimento é a forma suprema de aprendizagem” (p. 12).
124
CONCLUSÕES
125
do modelo de jogo da equipa ou da estratégia adoptada, papéis
preponderantes e por vezes de liderança em termos de estratégia defensiva. O
famoso futebolista luso-português Deco, unanimemente considerado no meio
futebolístico como “médio ofensivo”, foi reconhecido pelo seu então treinador
(José Mourinho) como um elemento fundamental na antecipação da fase
defensiva do Futebol Clube do Porto, vencedor da Liga dos Campeões
Europeus. Assim, na nossa opinião, a tradicional abordagem a esta variável é
redutora e insuficiente para diferenciar posições. Entendemos que investigação
deverá direccionar-se para uma maior especificidade e contemplação de uma
variabilidade de aspectos na exploração da variável posição face à natureza
permanentemente mutável da envolvência situacional que caracteriza o jogo, o
processo de treino e realidade sempre provisória em que cada jogador vive,
nomeadamente no que se refere ao modelo de jogo que interpreta.
Especificidade, quiçá no âmbito da função desempenhada (por exemplo
guarda-redes, defesa direito, defesa central, defesa esquerdo, médio esquerdo,
médio direito, médio centro defensivo e ofensivo, avançado direito, avançado
esquerdo, avançado centro e ponta de lança), complementada por uma maior
variabilidade de aspectos a estudar, sustentada num alargamento a outros
como por exemplo a auto-avaliação de características de cariz táctico-
individual, tais como o nível de competências defensivas e ofensivas, entre
outras.
126
CONCLUSÕES
Porque entendemos que o todo é muito mais que a soma das partes,
assumindo mesmo uma nova entidade e individualidade, e porque o estudo de
cada parte deverá ser indissociável de uma visão holística e sistémica do todo,
parece-nos importante que no futuro, em estudos semelhantes a este, sejam
contemplados, pela natureza colectiva do futebol e deste como facto social-
total, factores psicológicos de natureza colectiva, como por exemplo a
inteligência emocional e social de equipas e/ou de jogadores, procurando-se
estudar possíveis relações entre variáveis psicológicas colectivas e individuais.
A existência de um perfil psicológico para cada modalidade, por um lado, e a
necessidade de adopção de uma abordagem holística ao estudo dos factores
que influenciam o rendimento desportivo, por outro, levam-nos ainda a
considerar pertinente a realização de investigações futuras visando o estudo
dos factores psico-sócio-culturais que influenciam o rendimento desportivo em
modalidades colectivas.
127
mundos empresarial e industrial, exige aos clubes e seus futebolistas
consistência e excelência tanto no rendimento como na produtividade e
resultados obtidos. É um contexto que vai impondo progressivamente novas
exigências e responsabilidades dos pontos de vista desportivo e social. As
suas envolvências sócio-económica e cultural, especialmente no futebol de alto
rendimento, cuja realidade passa obrigatoriamente por ter que se jogar sempre
para ganhar, é um contexto que exige cada vez mais jogadores mentalmente
fortes, robustos, resistentes, consistentes e determinados. Como tal, parece-
nos que este panorama, para além de evidenciar a potencialidade do futebol
como laboratório de estudo não só da sociedade e dos fenómenos que a
caracterizam mas também do próprio Homem, sublinha a urgência do reforço,
no “terreno”, da presença da Psicologia do Desporto aplicada, e, no campo da
investigação, do paradigma da Psicologia Cultural.
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ANEXOS
8 ANEXOS
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