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Bibliografica

CAPELA,José. O escravismo colonial em Moçambique: Edições Afrontamento. 1993


pag Notas Comentários
6 A reunião proposta pelo então chanceler alemão, Otto Von
Bismarck, foi realizada entre os dias 19 de Novembro de 1884 e
26 de Fevereiro de 1885, com o intuito de institucionalizar a
partilha do continente africano. Dessa maneira, as principais
potências coloniais da época participaram do encontro, entre elas,
Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, Dinamarca, Portugal,
Espanha, França, Bélgica, Holanda, Itália, Suécia, Noruega,
Áustria-Hungria, Império Otomano e a própria Alemanha. O
evento pode ser explicado por diferentes ópticas. A primeira delas
apoia-se no âmbito político, isto é, as nações buscavam a inserção
no cenário internacional, o qual era impulsionado pela ideologia
imperialista, pautada na conquista de territórios, garantindo,
assim, a supremacia de um país.
33 A ideia de uma conferência internacional que
permitisse resolver os conflitos Territoriais
engendrados pelas actividades dos países
europeus na região do Congo foi lançada por
iniciativa de Portugal, mas retomada mais tarde
por Bismarck, que, depois de ter consultado
outras potencias, foi encorajado a concretiza-la. A
conferência realizou-se em Berlim, de 15 de
Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885.
35 A conferência, que, inicialmente, não tinha
por objectivo a partilha da África, terminou
por distribuir territórios e aprovar resoluções
sobre a livre navegação no Níger, no Benue e
seus afluentes, e ainda por estabelecer as
“regras a serem observadas no futuro em
matéria de ocupação de territórios nas costas
africanas. Por forca do artigo 34 do Ato de
Berlim, documento assinado pelos
participantes da conferência, toda nação
europeia que, dai em diante, tomasse posse
de um território nas costas africanas ou
assumisse ai um “protectorado”, deveriam
informa-lo aos membros signatários do Ato,
para que suas pretensões fossem ratificadas.
Era a chamada doutrina das esferas de
influencia, a qual está ligado o absurdo
conceito de hinterland. A doutrina foi
interpretada da seguinte forma: a posse de
uma parte do litoral acarretava a do
hinterland sem limite territorial.

O artigo 35 estipulava que o ocupante de


qualquer território costeiro devia estar igualmente
em condições de provar que exercia “autoridade”
suficiente “para fazer respeitar os direitos
adquiridos e, conforme o caso, a liberdade de
comércio e de trânsito nas condições
estabelecidas”. Era a doutrina dita de ocupação
efectiva, que transformaria a conquista da África
na aventura criminosa que se vera
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Em Moçambique, para dar continuidade à


ocupação, o governo português, carente de
recursos financeiros, entregou nesse período a
maior parte do país a companhias majestáticas de
capital estrangeiro. Actuaram a Companhia do
Niassa, Companhia de Moçambique e a
Companhia do Zambeze.
Na África Equatorial, a França confiou a
exploração de vastas expansões territoriais às
companhias à chartes, empresas privadas de
capital francês.

A Inglaterra concedeu carta a diversas


companhias, como a British South Africa
Company (BSAC), de Cecil Rhodes, que
desempe nhou papel importante na
colonização na região austral, e a Imperial
British East Africa Company (IBEAC), na
África Oriental.

Os resultados econômicos foram diversos nas


diferentes colónias e entre as companhias,
mas as consequências sociais onde actuaram
foram sempre perversas para as populações
locais. Com o tempo, os actos de resistência
que se manifestavam de várias formas,
brandas ou não viraram habituais. Entre 1920
e 1935, a situação se acomodou, até que a
crise mundial levou, de novo, os europeus a
intensificarem a exploração e a extorsão das
suas colónias, desta feita para se defenderem
eles mesmos da nova conjuntura. Com isso
voltaram as manifestações populares e a
repressão.

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O comportamento das classes dominantes
africanas
Para as classes dominantes africanas, que
viviam da arrecadação de tributos e do
comércio de escravos e de novos produtos, a
ocupação colonial se traduziu em perda do
poder e de receitas.

Em compensação, como regra geral, essas classes


foram cooptadas pelas potências colonizadoras
para ajudar na coleta dos novos impostos, em
particular o imposto per capita, que substituiu o
imposto de palhota, e no recrutamento obrigatório
de homens para o transporte de cargas
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O recrutamento era feito, também, para a


construção de infra-estruturas, em particular de
ferrovias e rodovias. Os camponeses, além dos
impostos a serem pagos, eram compelidos a sair
da sua aldeia para o trabalho obrigatório.
Nos territórios sob o controle de companhias
privadas, como em Moçambique, na África
Equatorial Francesa ou no Congo Bélgica do rei
Leopoldo, a situação era ainda pior, na medida
em que essas companhias não se preocupavam,
por princípio administrativo, em aproveitar as
hierarquias políticas e étnicas, e preferiam, em
geral, recorrer directamente a ameaças e
repressões pela acção de milícias privadas que
exerciam acção violenta. Mas, mesmo assim,
muitos africanos resistiam e preferiam morrer
queimados em suas casas a se deixarem recrutar
para o trabalho forçado, considerado uma
escravidão moderna.
Essas situações aconteceram em várias regiões
africanas, fomentando novas revoltas e actos de
resistência individual ou colectiva. Essas revoltas
conseguiram, como nunca antes, juntar vários
grupos linhageiros, e mesmo étnicos, contra os
colonizadores. Como exemplo, a revolta Magi
Magi na África oriental, e a aliança das etnias
Macua-Swaili, que resistiram aos portugueses até
depois de 1920, no norte de Moçambique
23 Se por um lado, a invasão colonial “dividiu” a
África entre as potências europeias, por outro, ela
“uniu” mais de dez mil reinos e etnias em não
mais do que uma quarentena de unidades
administrativas, apesar dos conflitos interétnicos,
que eram explorados pelos colonizadores.

Como as fronteiras entre as unidades repartidas


eram desenhadas na Europa, nem sempre
respeitando os territórios tradicionais africanos, e
as administrações coloniais ocupassem
progressivamente os espaços das cidades capitais
até os limites de cada domínio colonial, os
africanos utilizaram livremente durante muito
tempo os caminhos pré-coloniais.
Na maioria dos casos, a ocupação do território
africano tomou o aspecto de um lento processo de
infiltração, embora nem sempre com
derramamento de sangue. O comércio local e a
mão-de-obra migratória fluíam com bastante
facilidade através das fronteiras coloniais.
Somente quando a cobrança de impostos e o
recrutamento para o trabalho forçado foram
introduzidos para os africanos, é que a percepção
das fronteiras começou a acontecer, pois então
tornou-se necessário diferenciar a qual poder
estrangeiro se obedeceria.
24 Os instrumentos da conquista
Para prosseguir e ocupar efectivamente os
territórios que tinham conseguido na partilha,
as potências europeias recorreram à
constituição de forças militares formadas por
soldados africanos, enquadrados por oficiais
e suboficiais europeus. Esse sistema
apresentava duas grandes vantagens aos
europeus:

 Reduzia o custo do recrutamento,


transporte e manutenção de tropas
europeias para a África;

Dispunha de combatentes conhecedores da


região, adaptados a ela e pouco propensos às
doenças tropicais, portanto com uma
disponibilidade para o combate equivalente aos
exércitos dos reinos e impérios africanos.

O recrutamento dessas tropas regulares, com


soldo, armas e fardas, foi feito inicialmente entre
escravos libertos, em seguida entre soldados e
civis feitos prisioneiros de guerra, depois entre
voluntários e, quando eclodiu a Primeira Guerra
Mundial, por convocação obrigatória. A
Infantaria ligeira, artilharia e metralhadoras
faziam parte das unidades. A formação de
colunas para ofensiva à longa distância incluía,
além das tropas, auxiliares e três carregadores por
cada combatente.
Essas tropas, cuja remuneração era a permissão
de pilhagens ao longo das aldeias, infligiam terror
às populações, roubando, matando e violentando
os conquistados. Ao regressarem dessas
barbáries, os oficiais europeus contavam com
promoções e medalhas, enquanto os parlamentos
de seus países nem mesmo tomavam
conhecimento dos fatos ou simplesmente
silenciavam.

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