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ESTADO,
POLÍTICA
E DIREITO:
Políticas Públicas, Direitos
Sociais e Trabalho Digno
Organizadores
Reginaldo de Souza Vieira
Rodrigo Goldschmidt
Essere nel Mondo
Rua Borges de Medeiros, 76
Cep: 96810-034 - Santa Cruz do Sul
Fones: (51) 3711.3958 e 99994. 7269
www.esserenelmondo.com.br
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ção e elaboração exclusiva do(s) autor(es), não cabendo nenhuma responsabilida-
de à Editora.
E79 Estado, política e direito: políticas públicas, direitos sociais e trabalho digno
/ Organizadores Reginaldo de Souza Vieira, Rodrigo Goldschmidt - Santa
Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2018.
340 p. – (Estado, política e direito, 7)
CDD-Dir.: 341.272
Prefixo Editorial: 5479
Número ISBN: 978-85-5479-035-6
ESTADO,
POLÍTICA E DIREITO:
POLÍTICAS PÚBLICAS,
DIREITOS SOCIAIS E
TRABALHO DIGNO
7º Volume
2018
NÚCLEO DE ESTUDOS EM DIREITOS FUNDAMENTAIS
E ESTADO (NUPED/UNESC)
2018
CONSELHO EDITORIAL
COMITÊ EDITORIAL
Profª. Drª. Fabiana Marion Spengler – Direito – UNISC/Brasil
Prof. Me. Theobaldo Spengler Neto – Direito – UNISC/Brasil
SUMÁRIO
PREFÁCIO ........................................................................................ 13
APRESENTAÇÃO...........................................................................15
PARTE I – ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS
E DIREITOS SOCIAIS....................................................................17
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ticas Públicas e Direito à Saúde”. Iniciando com a judicialização do acesso à
saúde no Brasil, a política pública passa a ser vista, também, com o enfoque
nas demandas da população negra e da mulher. Com relação às demandas de
gênero aborda-se ainda a advocacia feminina como instrumento de exercício
da cidadania participativa.
Por fim, a 4ª parte “Estado, Participação Popular e Constitucionalismo”
é dedicada reflexões sobre problemas constitucionais no Brasil. A participação
popular ganha destaque na região geográfica imediata de Criciúma e no Plano
Diretor deste município. Verificou-se, ainda, o processo legislativo perante os
institutos de participação popular, assim como as medidas provisórias frente
aos pressupostos de relevância e urgência. Ressalta-se ainda, a aplicabilidade
do “Estado de Coisas Inconstitucional” pelo Supremo Tribunal Federal.
A breve e sintética menção às pesquisas somente possui o objetivo de
demonstrar ao leitor que como a interdisciplinaridade encontra-se harmoniza-
da neste livro e como é possívelnovas reflexões e novos olhares jurídicos. Com
relação aos seus autores, não é possível sintetizar seus currículos em tão curto
espaço; entretanto, estes trabalhos demonstram seus méritos!
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APRESENTAÇÃO
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novos programas de Doutorado em 2018 (PPGDS, PPGE e PPGCEM.
Por fim, agradecemos a todos(as) que contribuíram com a realização
desta obra e esperamos que os textos ora publicizados possam contribuir tanto
na construção teórica quanto em ações que impliquem concretamente na con-
cretização da políticas públicas, dos direitos sociais e garantia e proteção dos
direitos trabalhistas.
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PARTE I – ESTADO,
POLÍTICAS PÚBLICAS
E DIREITOS SOCIAIS
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CAPÍTULO I - A ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
COMO MOVIMENTO SOCIAL
1. Introdução
A economia solidária, enquanto prática autogestionária de produção
não capitalista e amparada em princípios de solidariedade que passam a reger
as relações sociais, despontou no Brasil a partir da década de 80 como alter-
nativa ao período de recessão econômica e de altos índices inflacionários, ao
mesmo tempo em que a alta tecnologia invadia o chão de fábrica, substituin-
do a mão de obra desqualificada. A solução encontrada pelos trabalhadores
que se viram atingidos pela grande onda do desemprego foi a de encampar
as empresas falidas e, numa metodologia em que não existia hierarquia, mas
que todos deveriam compartilhar as perdas e ganhos de maneira equânime,
deflagrou-se a ideia de que exclusão social poderia ser combatida com uma
nova forma de produção e consumo. A metodologia começou a ser difundi-
da na medida em que surgiam as primeiras organizações da sociedade civil,
lideradas pela Igreja Católica e pelo agrupamento dos trabalhadores, os quais
formaram grupos de apoio e assessoramento para os considerados empreen-
dimentos de economia solidária (EESs).
Na década de 1990, em que as práticas neoliberais, aliadas à abertura do
mercado no contexto globalizado, levou à diminuição do papel do Estado na
formulação e execução direta das políticas sociais; em contrapartida, entraram
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estudo dos movimentos sociais na América Latina apontou para o
“boom” das organizações não governamentais, as quais passaram a atuar em
paralelo com o poder público, mediante a formação de convênios, como decor-
rência do próprio sistema neoliberal e o desinteresse do Estado em fazer frente
às políticas sociais. Nesse contexto, as ONGs e outras entidades da sociedade
civil passaram a compor o teceiro setor, espaço público não estatal que de-
sempenha importante papel como interlocutor e reivindicador das demandas
sociais. Essa nova roupagem dos movimentos sociais aproximou as institui-
ções do Estado, assim como alteraram-se as próprias “bandeiras” defensáveis,
dada o contexo de um mercado globalizado e as consequências decorrentes do
capitalismo que não mais passou a contar com a intervenção do Estado para
contê-las.
Pela perspectiva histórica apresentada, foi possível vislumbrar que a
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Ingrid Brandão Sartor Dario e Yduan de Oliveira May
economia solidária representou o novo movimento social, uma vez que, me-
diante a ação dos indivíduos vinculados a/ uma condição comum (enfrenta-
mento à onda de desemprego e de exclusão social), um conjunto de procedi-
mentos passaram a ser aderidos (práticas autogestionárias de produção como
superior às práticas capitalistas), a ponto de formar uma organização na defe-
sa desse interesse coletivo. A força social do movimento da economia solidária
ganhou um instrumento relevante, o Fórum Brasileiro da Economia Solidária,
que carrega a ideologia de combate à desigualdade social com poder de arti-
culação frente ao Estado, além de congregar instituições, cujo potencial políti-
co foi suficiente para promover a criação de órgãos na esfera federal, como a
SENAES. Tais conquistas apontam para um aparente sucesso do movimento,
porém, tal dependerá da habilidade de prosseguir no desenvolvimento das
metas e trabalhos por meio dos diversos atores. Houve um significativo avan-
ço, porém os desafios ainda são grandes na luta pela continuidade das políti-
cas públicas e por um movimento autônomo, de preferência independente do
Estado.
REFERÊNCIAS
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to da economia solidária no Brasil: uma discussão sobre a possibilidade
da unidade através da diversidade. e-cadernos ces, 02/2008. Disponível em:
http://journals.openedition.org/eces/1260?lang=es. Acesso em: 08 de janeiro de
2018.
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Presidência da República e Ministérios, e dá outras providências. Publicado
no Diário Oficial da União de 29 de maio de 2003.
BRASIL, Decreto nº 4.764, de 24 de junho de 2003. Aprova a Estrutura Regi-
mental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções
Gratificadas do Ministério do Trabalho e Emprego, e dá outras providências.
Publicado no Diário Oficial da União de 25 de junho de 2003.
BRASIL. Decreto nº 5.811, de 21 de junho de 2006. Dispõe sobre a composição,
estruturação, competência e funcionamento do Conselho Nacional de Econo-
mia Solidária - CNES. Publicado no Diário Oficial a União de 21 de junho de
2006.
Economia Solidária: bem viver, cooperação e autogestão para um desenvolvi-
mento justo e sustentável. V Plenária Nacional de Economia Solidária: rela-
tório final. Disponível em http://fbes.org.br. Acesso em 05 de janeiro de 2018.
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A economia solidária no Brasil como movimento social
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CAPÍTULO II - ECONOMIA SOLIDÁRIA E
DESENVOLVIMENTO LOCAL: O PROTAGONISMO
DO MUNICÍPIO SOB A ÓTICA DO PRINCÍPIO DA
SUBSIDIARIEDADE
1. Introdução
A economia solidária surgiu no Brasil com força nos anos 1990 a partir
da crise econômica enfrentada na época. Assim, durante muito tempo ela foi
entendida como um modelo alternativo capaz de superar a crise do capita-
lismo. Nesse início do século XXI, contudo, percebe-se o auge do sistema de
produção capitalista, inclusive sendo perceptível a dependência dos estabele-
cimentos comunitários ao sistema de produção global. Com efeito, a economia
solidária passa a possuir uma conotação diferenciada, como uma proposta de
organização do trabalho que visa a inclusão de seus membros através da pro-
dução de bens, prestação de serviços e intermediação de microcréditos.
A partir dessa perspectiva, o presente artigo tem como tema o prota-
gonismo dos Municípios no desenvolvimento de uma economia democrática
a partir do apoio a estabelecimentos solidários e o desenvolvimento local no
Brasil, sob a ótica do princípio da subsidiariedade, a partir da crise econômica
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Empresa coletiva de
Empresa coletiva solidária
capital aberto
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diante das múltiplas barreiras sociais que lhes são impostas, boa parte da po-
pulação mais empobrecida tem dificuldade de ver-se como atores capazes de
exercer alguma influência real no seu ambiente social e na esfera política.
Nesses termos, o empoderamento consiste numa transformação ati-
tudinal de grupos sociais desfavorecidos que os capacita “para a articulação
de interesses, a participação comunitária e lhes facilita o acesso e controle de
recursos disponíveis, a fim de que possam legal uma vida autodeterminada,
auto responsável e participar do processo político” (SCHMIDT, 2006, p. 1774).
Assim, as iniciativas dos empreendimentos solidários são formadas por
pessoas excluídas da posse dos meios socializados de produção e redistribui-
ção de bens e serviços (SINGER, 2000). Contudo, tais organizações enfrentam
dificuldades no mundo capitalista organizado, especialmente diante de gran-
des corporações e empresas multinacionais. Assim, o apoio público é funda-
mental para o desenvolvimento da prática e sua manutenção.
No plano federal, foi publicado em 2015, o Plano Nacional de Economia
Solidária, com intuito de orientar a atuação do Conselho Nacional de Econo-
mia Solidária, órgão do Ministério do Trabalho e Emprego, integrado por re-
presentantes do governo, sociedade civil e empreendimentos, para a formula-
ção de prioridades no Plano Plurianual do Governo Federal 2016 – 2019, que
elenca enquanto prioridades a promoção do trabalho decente e da economia
solidária.
Dentro da Política Nacional de Economia Solidária, o Programa Pro-
moção do Trabalho Decente e Economia Solidária visa a promoção e geração
de empregos, bem como a distribuição de renda e consequente redução da
pobreza. O referido programa foi organizado em quatro eixos, quais sejam
“a Política Pública de Emprego; a inclusão produtiva e geração de trabalho e
renda; o direito ao emprego e ao trabalho decente; e a promoção da economia
solidária” (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO,
2015).
Diante desse prisma, é necessário sensibilizar a sociedade e seus atores
a apoiar e estimular novos padrões culturais e empresariais possibilitando no-
vos arranjos econômicos que visem efetivamente o desenvolvimento local a
partir do empoderamento dos cidadãos.
Aqui um elemento muito importante é que esta política efetivamente
sirva de apoio aos estabelecimentos solidários. Isso porque, Carleal e Paulista
(2008) alertam para o fato de que o trabalho associado geralmente não é uma
escolha do trabalhador. Segundo as autoras há uma absoluta predominância
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Analice Schaefer de Moura e Camila L. N. Albuquerque
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho analisou o protagonismo dos Municípios no desen-
volvimento de uma economia democrática a partir do apoio a estabelecimen-
tos solidários e o desenvolvimento local no Brasil, sob a ótica do princípio da
subsidiariedade, a partir da crise econômica de 2008.
Possivelmente influenciada pela estagnação do crescimento econômico
no final do século XX, existiu no país uma política de indução ao trabalho as-
sociado e ao empreendedorismo, sob a forma de associações ou cooperativas
populares. Diante da impossibilidade de geração de novos postos de trabalho,
especialmente diante da forma como o país ingressou no mercado interna-
cional como produtor de bens primários, as políticas de incentivo ao trabalho
associado tiveram grande popularidade nos anos 90 e retornam à cena atual-
mente. Ocorre que a simples indução ao trabalho cooperado como forma de
distribuição de renda, sem estratégias de sustentabilidade desses estabeleci-
mentos, atua verdadeiramente como mecanismo de controle da pobreza.
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Economia Solidária e Desenvolvimento Local
REFERÊNCIAS
BAQUERO, M.; BAQUERO, R.V.A. ; KEIL, I. L. M. . Para além do capital so-
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Economia Solidária e Desenvolvimento Local
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CAPÍTULO III - A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
DIREITO CIVIL E AS NOVAS FORMAS DE FAMÍLIA:
UM ESTUDO SOBRE O RECONHECIMENTO DA
MULTIPARENTALIDADE
Johana Cabral11
Gláucia Borges12
1. INTRODUÇÃO
A concepção de família por muito tempo esteve atrelada à figura do ho-
mem que se une à mulher pelo sacramento do casamento, eterno e indissolú-
vel. Com o casamento e, dentro dele, surgem os filhos, com direitos e deveres
legalmente assegurados.
O Código Civil de 1916, extremamente conservador e patrimonialista,
reconhecia apenas as famílias formadas pelo casamento. Não havia separa-
ção nem divórcio, apenas o desquite, que impedia uma nova união. Segundo
Gagliano e Pamplona Filho (2013), as relações estabelecidas fora deste padrão
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tra a dinâmica das relações sociais, visto que traz em si os filhos e as experiên-
cias adquiridas em relação anterior.
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registro voluntário de uma criança por seu genitor, ainda que o mesmo saiba
da chance de não ser o pai biológico, embora sempre a tenha tratado como
filho, não poderá, quando da separação do casal, vindicar a inexistência do
liame biológico para fins de anulação do registro (e consequente ruptura do
vínculo), pois configurada está a paternidade socioafetiva. No mesmo sentido,
a Terceira Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, na
Apelação Cível de nº 2014.078902-0, manteve a decisão de primeiro grau que
negou o pedido de desconstituição da paternidade formulado pelo genitor
após descoberta, em exame de DNA, da inexistência de vínculo biológico, em
virtude da configuração do vínculo socioafetivo por mais de dez anos.
Por fim, a Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, no Agravo de Instrumento de nº 70065888711, relativo à ação de inves-
tigação de paternidade póstuma, estabeleceu que a investigação do vínculo
biológico não exclui a possibilidade de se verificar o vínculo socioafetivo de
paternidade. Depreende-se que os julgados são firmes no reconhecimento da
filiação socioafetiva, conferindo-lhe idêntico valor ao que é dado à filiação bio-
lógica.
Há situações, ainda, em que a paternidade biológica coexiste com a so-
cioafetiva, sem uma reduzir ou anular a outra. A isso se dá o nome de multipa-
rentalidade, que consiste na inclusão de mais de um pai ou mais de uma mãe
no registro civil de uma pessoa.
Segundo Monteiro (2014), a multiparentalidade ou, multiplicidade pa-
rental, produz uma série de efeitos e consequências jurídicas, que vão além
da alteração registral. Ou seja, não se limita à inclusão simultânea dos nomes
dos pais biológicos e socioafetivos no documento de nascimento. Ocasiona
ainda consequências patrimoniais, como o reconhecimento da qualidade de
herdeiro do filho socioafetivo, o pensionamento alimentício por parte dos pais
socioafetivos, dentre outros.
Percebe-se, portanto, que o fenômeno da multiparentalidade exerce in-
fluência inclusive sob o direito sucessório e é razoável que assim seja, visto que
o direito civil está fundamentado nos princípios da igualdade e dignidade da
pessoa humana.
A Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, na
Apelação Cível de nº 70065388175, relativa à ação de adoção unilateral, conce-
deu o pedido de adoção formulado pelo padrasto, mantendo-se no registro do
enteado o nome do pai biológico. Na ementa, a ressalva: “[o]bservada a hipó-
tese da existência de dois vínculos paternos, caracterizada está a possibilidade
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A constitucionalização do direito civil e as novas formas de família
de reconhecimento da multiparentalidade.”.
Sobre a temática, ainda, importante a observação feita pela Terceira Tur-
ma do Superior Tribunal de Justiça - STJ, no REsp. nº 1328380/MS, Relatoria do
Ministro Marco Aurélio Bellizze: “[a] coexistência de relações filiais ou a deno-
minada multiplicidade parental, compreendida como expressão da realidade
social, não pode passar despercebida pelo direito.”.
O Supremo Tribunal Federal - STF, por sua vez, no RE nº. 898.060/SP,
com Relatoria do Ministro Luiz Fux, em sede de repercussão geral, determinou:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por muito tempo, o casamento heterossexual foi o único modelo fa-
miliar aceito juridicamente no Brasil. O Código Civil de 1916, de cunho pa-
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REFERÊNCIAS
BORDALLO, Galdino Augusto Coelho. Adoção. In: MACIEL, Kátia Regina
Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de Direito da Criança e do Adoles-
cente: aspectos teóricos e práticos. 7. ed. Rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil,
promulgada em 05.10.1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/
constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 19 maio 2018.
______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponí-
vel em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/2002/L10406compilada.
htm>. Acesso em: 21 maio 2018.
______. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em: 21 maio 2018.
______. Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial nº 1328380/MS, Relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, Julgado em: 21/10/2014, DJe:
03/11/2014.
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CAPÍTULO IV - A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL NO BRASIL
1. INTRODUÇÃO
O Estado, como figura política preponderante, tem sido alvo de teorias
sobre seu papel desde sua fundação, saindo do feudalismo para a centraliza-
ção do poder nas mãos do monarca, cedendo à revolução burguesa e se tor-
nando um estado liberal em um primeiro momento (e em alguns países ainda
segue dessa forma) e, em vários, países, tornando-se um Estado Democrático
e Social de Direito.
Um Estado Democrático e Social de Direito é tido como agente de pro-
moção social e organizador da economia, o chamado welfare-state. Com sur-
gimento do Estado Social é abandonada a postura abstencionista e adotada
a postura de intervenção nas relações sociais, econômicas e laborais, com o
objetivo de garantir a promoção do bem-estar social.
O Estado Social está relacionado com princípios previstos na Consti-
tuição Federal do Brasil, como da dignidade da pessoa humana (art. 1º, II da
CF/1988), além do assunto possuir corolário com alguns dos objetivos fun-
damentais da república, como construir uma sociedade solidária, erradicar a
pobreza e a marginalização, promover o bem de todos (art. 3º, da CF/1988).
A discussão do assunto envolve problemas enfrentados pelo atual siste-
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A aplicação do princípio da vedação ao retrocesso social no Brasil
ma do Brasil, como boa parte do mundo ocidental, que passa por um momen-
to de redefinição do papel do Estado na vida das pessoas, sua intervenção na
economia e nas liberdades civis.
Exemplo recente de interferência do Estado nos direitos sociais foi a
recente Reforma Trabalhista aprovada cujo objetivo declarado era o de “mo-
dernizar” as relações de trabalho, outra ainda em debate – e suspensa pela
decretação de intervenção federal, o que impede a tramitação de projeto de
emendas à Constituição - é a Reforma da Previdência Social que pretende o
aumento da idade mínima e do período de contribuição para a aposentadoria,
sob um alegado déficit do sistema previdenciário.
Assim, os Direitos Sociais passam por importante rediscussão, sobre-
tudo por uma tensão entre uma visão mais liberal de Estado, em contraposi-
ção ao Estado de Bem-Estar Social. A visão liberal observa o Estado como um
ente neutro das relações, vendo na manutenção igualdade formal sua função,
enquanto a visão de Estado de bem-estar social espera um ente atuante nas
necessidades da população, almejando uma igualdade material. Cada uma
dessas perspectivas busca visualizar as funções do Estado sob os seus desafios.
Os Direitos Sociais conquistados por meio de lutas históricas são direi-
tos fundamentais à pessoa humana. A consagração desses direitos não está no
texto constitucional por simples deliberação dos legisladores, mas sim como
uma forma de garantia para aqueles que sofreram com sua ausência durante
muito tempo, ou seja, uma verdadeira construção histórica.
Ponto em que traz o debate ao princípio da vedação ao retrocesso e sua
aplicação no sistema jurídico brasileiro. Negar direitos conquistados por meio
de lutas históricas importa na discussão de haver ou não um retrocesso social,
na qual já havia sido garantido ao cidadão e – mais – há proteção jurídica ve-
dando a retirada de direitos sociais?
Nesse contexto, a doutrina pátria também tem dado mais atenção ao
Princípio da Vedação ao Retrocesso, seja no aspecto social ou das garantias
individuais, especialmente pelo Brasil ser um país com números alarmantes
de desigualdade social. Em contrapartida, poder-se-ia entender tal princípio
como verdadeira afronta à liberdade legislativa, sobretudo diante da necessi-
dade de algumas reformas para corrigir problemas estruturais.
Diante desse quadro, o presente trabalho tem por fulcro a análise do
princípio da vedação ao retrocesso, bem como da atividade legislativa e inves-
tigar se aquele incide sobre esta e se o Poder Judiciário pode realizar controle
de constitucionalidade sobre essa premissa.
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ao retrocesso são:
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No início do artigo foi apresentado o princípio da vedação ao retroces-
so social no direito comparado, trazendo alguns casos marcantes de países
europeus, como Alemanha, Portugal e Itália, buscando uma correlação com o
sistema brasileiro.
Além do direito comparado, buscou-se na doutrina e na jurisprudência
pátria, o entendimento da versão brasileira dos princípios, especialmente com
a aplicação da vedação ao retrocesso em um julgamento recente pelo STF, em-
bora não sobre direitos sociais.
Também se destinou o artigo a andar na tênue da separação de poderes
com a interferência do Poder Judiciário no mérito legislativo, com a análise da
vedação ao retrocesso.
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Hugo De Pellegrin Coan e Pedro Antônio Crocetta
REFERÊNCIAS
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outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em:
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São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 140 p.
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A aplicação do princípio da vedação ao retrocesso social no Brasil
90
PARTE II – ESTADO,
POLÍTICAS PÚBLICAS E
TRABALHO DIGNO
92
CAPÍTULO I - ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA: CASO
FAZENDA BRASIL VERDE NA CORTE INTERAMERICANA
DE DIREITOS HUMANOS
Mônica Duarte17
Danielle Annoni18
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa trata do estudo do Caso Fazenda Brasil Verde, julgado pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos em outubro de 2016, a qual con-
denou o Brasil, por violações graves de direitos humanos, especificamente por
violação da proibição da escravidão, da servidão, do trabalho forçado e de
práticas análogas à escravidão previstas no Direito Internacional.
O tema escravidão é tratado pelo direito internacional desde o Século
XVII e vários Estados já haviam ratificado tratados internacionais na década
de 1810, que colocavam o tráfico de escravos como pirataria e, nessa condição,
sujeito à repressão. (ALMEIDA, 2001) Estes tratados, todavia, eram, em sua
maioria, tratados bilaterais, firmados com a Inglaterra, o país mais interessado
no fim do tráfico de escravos à época e que por meio do Slave Trade Suppres-
93
Escravidão contemporânea
19 “(...) Além dos tratados de âmbito regional e universal antes mencionados, outros
documentos jurídicos relevantes de diferentes ramos do Direito Internacional refletem
a proibição da escravidão e suas formas análogas. No que concerne aos tribunais inter-
nacionais do pós-guerra, o Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg,
de 1945, e do Tribunal Militar Internacional de Tóquio, de 1946, proíbem a escravidão
como crime contra a humanidade. (...) Também na esfera do Direito Internacional
Humanitário, o Protocolo Adicional II às Convenções de Genebra declara a proibição
“em qualquer momento ou lugar” da “escravatura e o tráfico de escravos, qualquer
que seja a sua forma”. (...) Ademais, a escravidão como delito contra a humanidade
foi incluída no rol de crimes sobre os quais os tribunais penais internacionais têm
competência. Assim, o Estatuto do Tribunal Internacional para Julgar os Supostos
Responsáveis por Graves Violações ao Direito Internacional Humanitário cometidas
no Território da antiga Iugoslávia (doravante denominado “Tribunal Penal Interna-
cional Ad Hoc para a antiga Iugoslávia” ou “TPIY”), de 1993, estabelece a “escravi-
dão” (enslavement) como um crime contra a humanidade (artigo 5.c). Os Estatutos,
tanto do Tribunal Internacional para Ruanda, de 1994, como do Tribunal Especial
para Serra Leoa, de 2000, incluem a “escravidão” como delito contra a humanidade,
respectivamente, em seus artigos 3.c e 2.c. Finalmente, o Estatuto de Roma da Corte
Penal Internacional, de 1998, tipificou a escravidão como crime contra a humanidade
e definiu a escravidão como “o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou
de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa,
incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em particular mu-
lheres e crianças”.” (CORTE IDH, 2016, p. 67).
94
Mônica Duarte e Danielle Annoni
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Escravidão contemporânea
20 “(...) se refere tanto à situação de jure como de facto, isto é, não é essencial a
existência de um documento formal ou de uma norma jurídica para a caracterização
desse fenômeno, como no caso da escravidão chattel ou tradicional.” (CORTE IDH,
2016, p. 71).
21 “(...) Com respeito ao elemento de “propriedade”, este deve ser entendido no fenô-
meno de escravidão como “posse”, isto é, a demonstração de controle de uma pessoa
sobre outra. Portanto, “no momento de determinar o nível de controle requerido para
considerar um ato como escravidão, […] poder-se-ia equipará-lo à perda da própria
vontade ou a uma diminuição considerável da autonomia pessoal”. Nesse sentido, o
chamado “exercício de atributos da propriedade” deve ser entendido nos dias atuais
como o controle exercido sobre uma pessoa que lhe restrinja ou prive significativa-
mente de sua liberdade individual, com intenção de exploração mediante o uso, a
gestão, o benefício, a transferência ou o despojamento de uma pessoa. Em geral, este
exercício se apoiará e será obtido através de meios tais como a violência, fraude e/ou
a coação. (CORTE IDH, 2016, p. 72).
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Mônica Duarte e Danielle Annoni
2016)
Interessante observar que em 1970, a Corte Internacional de Justiça, no
já mencionado caso Barcelona Traction (1970), determinou que a proteção con-
tra a escravidão é um dos dois exemplos de obrigações erga omnes decorrentes
das normas de direitos humanos, ou de obrigações que tem um Estado com a
comunidade internacional como um todo:
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Escravidão contemporânea
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Mônica Duarte e Danielle Annoni
cumprimento obrigatório por parte dos Estados, a qual emana das normas
internacionais de direitos humanos. A proibição absoluta e inderrogável de
submissão de pessoas à escravidão, servidão ou trabalho forçado está também
estabelecida na Convenção Americana e em outros instrumentos internacio-
nais dos quais o Brasil é parte. (CORTE IDH, 2016)
Sobre as normas de caráter jus cogens, cumpre explicar que o jurista
austríaco Alfred Verdross é um dos principais defensores da teoria no direito
internacional. Para o referido autor alguns juristas afirmam que, em princípio,
todas as regras do direito internacional são dispositivas. A única verdade é
que, em princípio, dois Estados podem acordar entre si uma regulação que é
parte do direito internacional comum na medida em que não afeta os direitos
dos Estados terceiros.25 Contudo, existem algumas outras regras que não po-
dem ser alteradas nem pelos próprios Estados, como, por exemplo, dois Esta-
dos que são membros das Nações Unidas, não poderiam acordar que deixarão
de cumprir os princípios do art. 2º da Carta, pois esses deveres são absolutos,
ou que esses mesmos Estados venham a ratificar novos tratados contra a mo-
ral, a fim de proteger ou promover o comércio de escravos ou de crianças.
Assim, é necessário averiguar a essência de cada norma para saber se trata de
norma dispositiva (jus dispositivum) ou taxativa (jus cogens).26
Thirlway (2014), ao descrever sobre a relação entre os conceitos de nor-
mas jus cogens e normas com obrigações erga omnes, deixa claro que os dois
conceitos vão estar sempre relacionados, não podendo discuti-los separada-
mente. Contudo, pode-se afirmar que toda norma jus cogens terá caráter de
de coisas é que os Estados não tinham a intenção de colocar limitações sobre seus
poderes soberanos que não tinham aceito expressa ou tacitamente. No entanto, uma
classe especial de regras gerais feitas pelo costume internacional foi dotado de uma
força jurídica especial: são peremptórias na natureza e compõem o chamado jus co-
gens, ou seja, não podem ser afastadas por tratados; se forem, as regras derrogatórias
podem ser declaradas nulas e sem efeito. Assim, essas normas imperativas têm uma
posição e status superiores aos de todas as outras regras da comunidade internacional.
(CASSESE, 2005)
25 “Afirman algunos autores que en principio todas las normas del D.I.P. son dispo-
sitivas. Lo único cierto en esta afirmación es, que en principio dos Estados pueden
acordar entre sí una regulación que sea parte del D.I.común en la medida en que no
afecte los derechos de terceros Estados.” (VERDROSS, 1963)
26 “Pero hay también otras normas que ni algunos Estados particulares pueden inter
se alterar. Por ej., dos Estados que sean miembros de la O.N.U. no pueden acordar
que dejaron de observar entre sí los principios del art. 2º de Carta, porque estos debe-
res son absolutos. Lo mismo cabe decir de tratados inmorales que v. gr. tuviesen por
objeto proteger o favorecer la trata de esclavos o de niños (XXIII, C,iii, e, 4). De ahí
que ante cada norma sea preciso averiguar si por su sentido es dispositiva (jus dispo-
sitivum) o taxativa (jus cogens).” (VERDROSS, 1963).
99
Escravidão contemporânea
obrigação erga omnes, mas às normas com obrigação erga omnes, nem sempre
terão status de normas jus cogens.
Importante observar, sobre as fontes de obrigações erga omnes, que a
existência deste tipo de regra, de obrigações que o Estado possui para a comu-
nidade internacional como um todo, foi reconhecida pela Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas27, quando da elaboração do texto dos artigos
sobre responsabilidade do Estado.
100
Mônica Duarte e Danielle Annoni
ção do direito laboral abarcam a amplitude das normas jus cogens, como a não
discriminação, princípio da igualdade e o direito ao devido processo legal.29
Assim, em 20 de outubro de 2016, a Corte Interamericana condenou
o Brasil, ao julgar o caso Fazenda Brasil Verde, responsabilizando o Estado30
pela violação do direito a não ser submetido à escravidão e ao tráfico de pes-
soas, estabelecido no artigo 6.1 da Convenção Americana sobre Direitos Hu-
manos em prejuízo dos 85 trabalhadores resgatados em 15 de março de 2000
na Fazenda Brasil Verde.
Na presente sentença, a Corte reconheceu 128 pessoas como partes le-
sionadas no processo, sendo as vítimas das violações de direitos humanos e
consequentemente, beneficiárias das reparações as quais o Brasil foi condena-
do, tais como investigação sobre os fatos ocorridos relacionados às violações
relativas ao trabalho escravo, de forma imparcial, efetiva e dentro de um prazo
razoável. O Brasil foi condenado, ainda, a implementação contínua de Políti-
cas públicas e de medidas legislativas e de outra natureza para a erradicação
do trabalho escravo. (CORTE IDH, 2016)
Ademais, o Estado terá que indenizar as vítimas, realizando o paga-
mento das indenizações, a título de dano material e imaterial e por restituição
de custas e gastos estabelecidos na presente Sentença, diretamente às pessoas
e organizações indicadas na mesma, dentro do prazo de um ano. Frisou-se,
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Escravidão contemporânea
102
Mônica Duarte e Danielle Annoni
2016)
Sendo assim, atualmente, o caso aguarda relatório de cumprimento
pelo Brasil para que a Corte possa atuar na sua função de supervisão de cum-
primento de sentença, verificando, assim, se o país está dando cumprimento
ao que foi determinado na sentença de 2016.
Espera-se que seja dado o mínimo de importância para um caso de ta-
manha gravidade e que se torna um marco na jurisprudência internacional,
não somente por ser o primeiro caso do gênero, mas também pelo reconheci-
mento expresso da Corte Interamericana de que a proibição da escravidão, da
servidão, do trabalho forçado e de práticas análogas à escravidão são normas
de carácter jus cogens no Direito Internacional.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve por objetivo demonstrar a primeira jurispru-
dência, norma de direito internacional contemporânea, produzida pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos sobre tema que envolve a proibição da
escravidão, da servidão, do trabalho forçado e de práticas análogas à escravi-
dão no Direito Internacional.
Foi de grande relevância para comunidade internacional como um
todo, o reconhecimento, neste julgado, da proibição da escravidão como nor-
mas jus cogens, com efeito, erga omnes expressamente, recordando, mais uma
vez a sociedade internacional, o porquê da existência destas regras e como a
escravidão ao violá-las viola todo o direito internacional, não apenas este ou
aquele tratado.
O desafio do direito internacional segue sendo tornar suas normas efi-
cazes, criar instrumentos que permitam aos grupos vulneráveis da sociedade
internacional, dentre eles indivíduos, Estados falidos, comunidades autócto-
nes, minorias, terem voz e vez. O princípio da igualdade no plano internacio-
nal é tão efetivo como toda regra formal de direito interno que não disponha
de mecanismos para equilibrar os jogos de poder, de ações afirmativas que
garantam acesso igual às oportunidades e aos tribunais.
No plano internacional, sobretudo os seres humanos, estão perdendo
esta disputa. Os Estados que deveriam tutelar e cumprir, por meio de compro-
misso que já assumiram, qual seja, erradicar o trabalho escravo e suas versões,
fiscalizando e punindo o comportamento predatório de empresas e grupos
de pessoas que detém o poder numa determinada região, são muitas vezes
coniventes, quando não seus apoiadores. Os conceitos universais dentro do
103
Escravidão contemporânea
direito internacional, como escravidão, normas jus cogens, não são de fato, de
compreensão e aplicação universal, o que permite à humanidade chegar ao
século XXI tendo ainda que enfrentar um problema do século XVII, qual seja,
reconhecer simplesmente que todo ser humano é livre e, portanto, não poder
ser servo de outro.
Assim, infelizmente, o protagonista desta jurisprudência foi o Brasil,
demonstrando, dentre tantos outros problemas, que a escravidão nunca dei-
xou de aqui existir e continua fazendo parte da realidade mascarada de mui-
tos brasileiros que são coniventes com estas práticas.
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dios Internacionales, pp.1-14 , 2002. Disponíve lem www.reej.org. Acesso em
104
Mônica Duarte e Danielle Annoni
105
106
CAPÍTULO II - O CONTRATO DE TRABALHO
INTERMITENTE E A PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES
DE TRABALHO
1. INTRODUÇÃO
Vive-se hoje numa sociedade globalizada, marcada pelo surgimento de
uma economia neoliberal e por inovações tecnológicas, que interferem signifi-
cativamente o modo de viver das pessoas e também no mercado de trabalho.
Não obstante a globalização tenha contribuído positivamente para o avanço
da sociedade, com o desenvolvimento de novas tecnologias, por exemplo,
também causa prejuízos consideráveis, principalmente na seara trabalhista.
Com o advento da globalização e do neoliberalismo, passou-se a prio-
rizar o capital sobre o trabalho, substituindo-se a mão-de-obra humana pelos
meios tecnológicos, causando a redução dos postos de trabalho, o aumento
da informalidade, a instabilidade no emprego, o crescimento do desemprego,
o enfraquecimento das relações coletivas, a redução dos salários. Observa-se
que tais fenômenos, além de gerarem desigualdades sociais, também ocasio-
nam a flexibilização da legislação trabalhista.
O Brasil nos últimos anos passou por mudanças significativas em sua
economia, consubstanciada no crescimento de uma crise econômica de propor-
ções consideráveis. Diante desse cenário, o Estado editou a Lei nº 13.467/2017,
denominada Reforma Trabalhista, que alterou mais de 200 dispositivos da
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processo pode ser analisado sob diversas dimensões, tais como, informativa,
ecológica, econômica, produção no trabalho ou cooperação, e cultural (BECK,
1999, p. 41-49).
A globalização informativa está relacionada aos meios de comunicação,
à informática, à internet, ou seja, está concatenada com as inovações tecnoló-
gicas36. No tocante à dimensão ecológica, ou ambiental, a ocorrência de “dese-
quilíbrios ecológicos, modificações climáticas importantes, como aquecimento
global, por exemplo, e a destruição em larga escala da camada de ozônio”
(GOLDSCHMIDT, 2009, p. 120), trata-se de problema internacional ocasiona-
do pela busca desregrada de lucro.
A dimensão econômica diz respeito ao mercado financeiro mundial, a
circulação internacional de valores, ao surgimento de blocos econômicos re-
gionais e de empresas multinacionais. De acordo com José Soares Filho, uma
característica da globalização é o “surgimento de uma economia transnacional
dominante que se caracteriza menos pela transação de bens e serviços e mais
pelos altos fluxos monetários” (SOARES FILHO, 2007, p. 40).
No que tange ao aspecto de produção no trabalho ou cooperação, para
Beck (1999, p. 43) não existe mais a necessidade de que todos os empregados
de uma empresa estejam no mesmo local trabalhando conjuntamente, tendo
em vista que os meios de comunicação permitem a transnacionalização do
trabalho, tal como ocorre nas empresas multinacionais. Acerca do assunto,
relevante destacar que o Relatório do Desenvolvimento Humano da Organi-
zação das Nações Unidas de 2015, ao tratar sobre o efeito da globalização nas
relações de trabalho, identificou que as novas tecnologias aumentam a concor-
rência e derrubam barreiras geográfica entre trabalhadores e empresas, haja
vista que muitas vezes é desnecessário que “uma se deslocalize fisicamente
ou que um trabalhador migre. As relações de trabalho podem concretizar-se
através da Internet ou de telemóveis” (ONU, 2015).
Na esfera cultural observa-se que músicas, danças, obras de arte não
estão mais adstritas à determinada localidade. Por exemplo, as músicas dos
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37 Domenico de Masi (1999, p. 191) ao dissertar sobre o assunto afirma que no mun-
do inteiro “vêem-se os mesmos filmes de Hollywood, bebe-se a mesma Coca-Cola,
come-se o mesmo hambúrguer do McDonald´s, fazem-se conexões com o mesmo Ex-
plorer, falam-se o mesmo inglês e o mesmo espanhol”. Ou seja, a sociedade global es-
cuta as mesmas músicas, usam as mesmas marcas de roupas, assistem ao mesmo tem-
po os mesmos lançamentos de filmes, veem as mesmas séries de televisão, repetem as
mesmas gírias, permitindo que a cultura deixe de ser local e passe a ser globalizada.
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É bom lembrar que o salário pago aos empregados não eleva de manei-
ra exacerbada os custos advindos da relação de emprego, mas sim os encargos
trabalhistas conexos. Vólia Bomfim Cassar (2017, p. 45) lembra que “quase
metade do salário é destinada ao pagamento do INSS, Sesc, Senac, Sesi, Senai,
Sebrae, Incra e salário-educação”.
Observa-se que a Lei 13.467/2017 instituiu diversos mecanismos que
evidenciam uma nítida regressão dos direitos conquistados pelos trabalha-
dores, na medida em que contrariam os direitos fundamentais previstos na
Constituição, ferem a principiologia humanística e social e ignoram o patamar
mínimo civilizatório39 instituído pelas normas constitucionais. Nesse sentido,
Maurício Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado afirmam que (2017, p.
42-43):
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se com o presente estudo que a regulamentação do contrato de
trabalho intermitente, ao contrário do argumento utilizado pelos legisladores,
não diminuiu as desigualdades sociais, tampouco permitiu a melhoria do de-
senvolvimento econômico.
O que se evidenciou, na verdade, foi o tratamento legalizado do traba-
lhador como mero objeto, que trabalha sem condições dignas e sem a perspec-
tiva de auferir renda que garanta a sua subsistência e de sua família, o que sem
sombra de dúvidas fere o princípio da dignidade da pessoa humana.
Ademais, restou demonstrado que não obstante o contrato de trabalho
intermitente tenha como objetivo reduzir o suposto custo gerado pelo traba-
lho, para o fim de garantir o desenvolvimento de pequenas e médias empre-
sas, o que realmente impede o crescimento econômico no país é a ausência de
políticas que visem a manutenção da atividade empresarial, como a reestrutu-
ração do sistema tributário nacional.
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REFERÊNCIAS
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123
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CAPÍTULO III - A DISCRIMINAÇÃO ETÁRIA NO
MERCADO DE TRABALHO
1. INTRODUÇÃO
A existência da discriminação etária no mercado de trabalho atual é
uma situação presente e real, proporcionado discussões urgentes não somente
no âmbito nacional como mundial.
Essas situações exigem dos grupos que se encontram em posição de
vulnerabilidade, e do Estado, ações que garantam oportunidades de inclusão
e acesso ao mercado de trabalho formal e digno.
No âmbito econômico globalizado e fragilizado em decorrência das
inúmeras crises financeiras que assolam o cenário econômico mundial e na-
cional, aliados à flexibilização dos direitos trabalhistas, determinados grupos
se encontram em posição de fragilidade no mercado de trabalho, dos quais
podemos citar: os jovens, os envelhescentes e os idosos.
Todavia, no que toca as grandes dificuldades de ingresso e a manuten-
ção no mercado de trabalho, grupos citados acima, alcançam importância no
tema, pois são alvos fáceis de preconceito e discriminação, já que constante-
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Marja Mariane Feuser e Emanueli Dacheri
dezembro de 1965. Aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 23, de 21.6.1967. Ratifi-
cada pelo Brasil em 27 de março de 1968. Entrou em vigor no Brasil em 4.1.1969.
Promulgada pelo Decreto n.º 65.810, de 8.12.1969. Publicada no D.O. de 10.12.1969
§1. Para fins da presente Convenção, a expressão “discriminação racial” significará
toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência
ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição)
de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, so-
cial, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.
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Marja Mariane Feuser e Emanueli Dacheri
tram em posição econômica inferior, já que muitas vezes não possuem condi-
ções de acessar uma qualificação técnica profissional.
Como se isso não bastasse, considerando a escassez de emprego na atu-
al conjuntura, é muito comum a inserção do jovem no mercado de trabalho
formal, com salários muito inferiores aos cargos almejados, sendo enquadra-
dos na maioria das vezes, em vagas que não passam da qualificação de está-
gio, realizando as mesmas funções de um trabalhador comum, com salários
muito menores.
Por essas razões, visando minimizar essas práticas o Governo promul-
gou a Lei do Primeiro Emprego, visando exatamente oportunizar a oferta de
vagas de emprego formal permitindo ainda a qualificação do jovem no mer-
cado de trabalho por meio da escolarização, mediante parcerias e incentivos
concedidos pelo Poder Público.
Na mesma linha de proteção, podemos citar o artigo 442-A do Consoli-
dação das Leis Trabalhistas, incluído no ano de 2008, proibindo que o empre-
gador exija do candidato a vaga de emprego, experiência anterior por tempo
“superior a seis meses na mesma atividade” (BRASIL, 1943, p. 84).
Além dos jovens, uma outra classe vem ganhando notoriedade no ce-
nário mundial, no que toca a discriminação etária no trabalho, qual seja, os
envelhescentes.
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A Discriminação Etária no Mercado de Trabalho
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de toda a problematização da discriminação etária, observada na
fragilidade de determinados grupos que possuem dificuldades para a inclu-
são no emprego formal, tendo em vista a positivação do direito que determina
explicitamente o tratamento igualitário, previsto na Constituição Federal, em
especial nos artigos 3º, III, 4º, VIII e 5º, sendo complementado expressamente
pelo princípio constitucional da não discriminação, disposto nos artigos 7º,
incisos XXX, XXXI e XXXII, é possível constatar a necessidade de observância
da questão.
No campo do direito do trabalho, a ausência de efetividade dos prin-
cípios da igualdade e da não discriminação, de acordo com as situações bre-
vemente mencionadas no presente artigo, estão diretamente ligados a grupos
que se encontram em posição de vulnerabilidade frente ao empregador, nos
quais destacamos os jovens, os envelhescentes e os idosos.
As dificuldades dos jovens no mercado de trabalho, mesmo com a exis-
tência de uma Lei protecionista, na qual vale destacar a Lei de Incentivo ao
Primeiro Emprego, ocorre justamente diante da existência de atos discrimina-
tórios, que consideram os jovens trabalhadores com pouca responsabilidade
e inexperientes. Fatos que contribuem para que a massa de empregados ju-
venis se encontre propensa à submissão de contratos de trabalho, nos quais
podemos citar as contratações temporárias de estágio, sem probabilidade de
ascensão na carreira, com salários menores.
No que se refere à problemática de preconceito etário no mercado de
trabalho globalizado, que de forma antagônica enxerga na juventude a solução
de problemas econômicos, os grupos envolvendo os envelhescentes e os ido-
sos, também são alvos de atitudes discriminatórias, já que o cenário neoliberal
atual os enxerga como trabalhadores com maior criticidade, cuja experiência
profissional, exige salários mais altos que aqueles que poderiam ser pagos ao
trabalhador jovem, sendo os idosos considerados empregados com lentidão e
de difícil adaptação tecnológica, detentores de informações privilegiadas, nas
quais o empregador entende como situação de risco para o desenvolvimento
empresarial.
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Marja Mariane Feuser e Emanueli Dacheri
REFERÊNCIAS
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MAGALHÃES, Maria Lúcia Cardoso de. A discriminação do trabalhador ido-
so: responsabilidade social das empresas e do Estado. Revista do Tribunal
139
A Discriminação Etária no Mercado de Trabalho
140
CAPÍTULO IV - OIT: SOLIDARIEDADE E FRATERNIDADE
NA PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS DOS
TRABALHADORES
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, mesmo com a Reforma Trabalhista aprovada em 2017, às
altas taxas de desemprego que seguem ocorrendo - não apenas no Brasil - as-
sim como as discussões sobre tecnologia e digitalização do mundo do traba-
lho, volta-se a refletir sobre o Direito Internacional do Trabalho como uma das
formas de garantir a proteção ao trabalhador.
Para tanto, menciona-se, por exemplo, de que maneira a União Euro-
peia estabeleceu, no Capítulo IV, nos artigos 27 a 38, da sua Carta de Direitos
Fundamentais53, os direitos dos trabalhadores como direitos de solidariedade.
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OIT: Solidariedade e Fraternidade na Proteção aos Direitos Humanos dos Trabalhadores
dezembro de 2000.
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A Carta também ressalta que a mesma deve ser utilizada para reforçar
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55 Este controle teria sido introduzido no Brasil a partir da EC45/2004, com a reda-
ção dada ao art. 5º, parágrafo 3º da Constituição Federal de 88. (MAZZUOLI, 2009).
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57 https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/20/economia/1513755526_225314.html.
Recentemente a União europeia classificou UBER como serviço de transporte e não
como serviço da sociedade da informação, mas sem definir a natureza laboral da pres-
tação.
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Olga Maria Boschi A. Oliveira e Luciane Cardoso Barzotto
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na análise do tema proposto se examinou como os Direitos Humanos
dos Trabalhadores se expressam melhor como princípios. Esta visão está con-
templada tanto nas normas da OIT como na rede de proteção social ao traba-
lhador europeu.
Demonstrou-se que a União Europeia ainda aspira pela implementa-
ção dos valores de liberdade, igualdade e fraternidade presentes na Revolução
Francesa, pois os instrumentos jurídicos que lhe são posteriores tentaram ga-
rantir estes direitos fundamentais por meio de um discurso formal da igual-
dade perante a lei, com impedimentos materiais para a sua concretização. Em
sua Carta de Direitos Fundamentais a União Europeia optou pela substituição
da fraternidade pela solidariedade, optando por ideais liberais e individualis-
tas, colocando em segundo plano o coletivo e o respeito às diferenças, que são
fundamentais para a convivência humana e, para o exercício de uma plena
cidadania. Dado que o Direito do Trabalho foi pensado a partir do paradigma
protetivo do Estado Social, as legislações nacionais e o Direito Comunitário
estruturaram-se a partir da ideia de solidariedade. Por outro lado, a OIT fun-
da sua atividade normativa sobre a noção universal de dignidade da pessoa
humana e da igual dignidade de todos os seres humanos. Coloca-se, portanto,
em uma perspectiva pessoa-pessoa, e não como na União europeia, Estado
-pessoa.
A fraternidade é um princípio mais adequado para nortear os Direi-
tos dos Trabalhadores como forma de superar as dificuldades existentes para
implementação, dos Direitos Sociais de todos os cidadãos-trabalhadores. Os
direitos sociais devem ser reconhecidos e garantidos em respeito à sua digni-
dade humana, considerando-se a universalidade da proteção e a inclusão do
trabalhador numa aldeia global-digital.
Portanto, o reconhecimento social e jurídico da fraternidade serve para
renovar os propósitos sociais das instituições internacionais como a OIT e, co-
munitárias, nos moldes da União Europeia, permitindo-se, assim, a concreti-
155
OIT: Solidariedade e Fraternidade na Proteção aos Direitos Humanos dos Trabalhadores
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de
Estudios Constitucionales, 1993.
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cidadão e transformações do mercado de trabalho: desafios. Porto Alegre:
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2018.
ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. Trabalho decente: Direito Humano e
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BAGGIO, Antonio Maria (Org.). O princípio esquecido. v.1. São Paulo: Cida-
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BARZOTTO, Luciane Cardoso. Direitos humanos e trabalhadores: atividade
normativa da Organização Internacional do Trabalho e os limites do Direi-
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2007.
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LACERDA, Luana Pereira; GIACÓIA Junior, Oswaldo; SANTOS, Ivanildo;
CASTILHO, Ana Flávia de Andrade. (Org.). Direito e Fraternidade: ensaios
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GOSDAL, Thereza Cristina. Principais Instrumentos de Direitos Huma-
nos e o Trabalho Decente. In: CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa;
156
Olga Maria Boschi A. Oliveira e Luciane Cardoso Barzotto
157
OIT: Solidariedade e Fraternidade na Proteção aos Direitos Humanos dos Trabalhadores
158
CAPÍTULO V - O PERFIL DAS CIDADES
CATARINENSES COM MAIORES INDICADORES
DE TRABALHO INFANTIL
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo realizar análise de dados já coleta-
dos pelo IBGE sobre o trabalho infantil, buscando saber quais são os municí-
pios em Santa Catarina que possuem os piores indicadores, incluindo aqueles
que aderiram ao cofinanciamento do PETI, buscando compreender os aspec-
tos econômicos e culturais destas localidades.
Atualmente, o estado de Santa Catarina se encontra em quarto lugar
dentre as unidades da federação que tem maior incidência de trabalho infantil
no Brasil. Além disso, das 100 cidades com maior incidência do país, com esse
mesmo indicador, 22 municípios estão no estado, de um total de 297. Também
levando em consideração que o estado ocupa, atualmente, o terceiro lugar en-
tre os estados com melhores índices desenvolvimento humano.
A proteção das crianças e adolescentes no Brasil foi consolidada através
do paradigma da proteção integral que os reconheceu enquanto sujeitos de di-
reito e lhes concedeu a prioridade absoluta. A exploração do trabalho infantil
159
O perfil das cidades catarinenses com maiores indicadores de trabalho infantil
faz parte dessa estrutura normativa que visa assegurar que ele seja erradicado
no Brasil, uma vez que traz comprovados malefícios em virtude de suas con-
dições peculiares em desenvolvimento.
160
Maria Carolina S. Costa e Renata Nápoli Vieira Serafim
161
O perfil das cidades catarinenses com maiores indicadores de trabalho infantil
família como base para uma convivência saudável colaborando para o desen-
volvimento de seus membros na sociedade. Tais pressupostos culminaram no
artigo 4º, parágrafo único do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei
n. º 8069/90. (VERONESE, 2006)
Através do ECA é perceptível a assimilação da teoria da proteção inte-
gral, uma vez que possui como base os princípios e normas trazidos da Con-
venção e, devidamente adaptados para a realidade política, social, cultural e
econômica, para a Constituição Federal de 1988. Traz as maneiras, procedi-
mentos e instrumentos para que tais direitos sejam efetivados. (SOUZA, 2001)
Na Constituição Federal de 1988, a proteção da exploração do trabalho
infantil aparece no art. 7º, inciso XXXIII, que possui redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 20 de 1998 e proíbe qualquer forma de trabalho antes dos 16
anos, de trabalho noturno, perigoso ou insalubre antes dos 18 anos e, permite
a condição de aprendiz a partir dos 14 anos. Portanto, a norma constitucio-
nal traz duas grandes proibições. A primeira diz respeito à preocupação com
aqueles que não atingiram a idade adulta, para que não realizem qualquer
atividade que seja prejudicial à saúde. A segunda versa sobre a idade mínima
de 16 anos para qualquer exercício de trabalho exceto na condição de aprendiz
que pode ocorrer a partir dos 14 anos. Sobre essa última determinação, um
outro dispositivo constitucional, o artigo 227, §3º, I traz o assunto e remete ao
primeiro. O caput desse artigo traz a quem recai a responsabilidade da obser-
vância e do devido cumprimento dos direitos da criança e do adolescente: a
família, a sociedade e o Estado. (CABRAL, 2012; CUSTÓDIO; VERONESE,
2017; ROSSATO; LÉPORE; CUNHA, 2010)
No ECA, a proteção ao trabalho infantil está no último item do título
II chamado “Dos Direitos Fundamentais”, no capítulo V intitulado “Do di-
reito à profissionalização e à proteção no trabalho”, com dez artigos. Primei-
ramente reforça a idade mínima para o trabalho, e afirma que a proteção do
trabalho será regulamentada por legislação especial sem prejudicar o Estatuto.
Traz como resultado um sistema de garantia de direitos que alia as ações dos
responsáveis supracitados com o princípio da descentralização político-ad-
ministrativa dando mais consistência aos organismos municipais chamados
Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente, que deliberam
sobre políticas de atendimento nos municípios. (CUSTÓDIO, SOUZA, 2011;
VERONESE, 2006)
A exploração do trabalho infantil está combatida também através da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que apesar de ser constituída em
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Maria Carolina S. Costa e Renata Nápoli Vieira Serafim
1943, ao longo dos anos sofreu inúmeras alterações que contribuíram para
que o combate ao trabalho infantil fosse fortalecido. Nos diversos artigos do
Capítulo IV do Título III da CLT existem diretrizes para a idade mínima para
exercício do trabalho infantil, para os contratos de trabalho, para a jornada de
trabalho, bem como trata das atividades perigosas, penosas, noturnas, além
de abordar a proibição de diferença de salários e a moralidade do trabalho do
adolescente, dentre outros assuntos. (PEREIRA, 2008)
Através das convenções e tratados internacionais, metas são estabeleci-
das para que os países signatários cumpram e passem a efetivamente susten-
tar a proteção das crianças e adolescentes, especificamente daquelas que traba-
lham. Tal compromisso assumido envolve um conjunto de políticas públicas
que objetivam a prevenção e a erradicação do trabalho infantil que no Brasil
é conhecido como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).
(CUSTÓDIO, VERONESE, 2017).
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O perfil das cidades catarinenses com maiores indicadores de trabalho infantil
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O perfil das cidades catarinenses com maiores indicadores de trabalho infantil
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que ao longo dos anos a proteção de crianças e adolescentes
se desenvolveu e tomou forma graças às contribuições normativas internacio-
nais que influenciaram a legislação brasileira. Além disso, também contribu-
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Maria Carolina S. Costa e Renata Nápoli Vieira Serafim
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em
5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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Executivo, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
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a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para
sua Eliminação, concluídas em Genebra, em 17 de junho de 1999. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3597.htm> Acesso em: 13
ago.2017.
_____. Decreto-Lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação
173
O perfil das cidades catarinenses com maiores indicadores de trabalho infantil
174
Maria Carolina S. Costa e Renata Nápoli Vieira Serafim
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PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente: Uma propos-
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ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério San-
chez. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2010.
SANTA CATARINA. Resolução nº 19 de 27 de maio de 2014. Revoga a Re-
solução CEAS nº 17 de 09 de julho de 2013 e aprova o Termo de Aceite que
formaliza responsabilidades e compromissos de gestão do Estado ao aceitar o
cofinanciamento federal para acompanhamento e orientação aos municípios
na realização das ações estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil – PETI no âmbito do Sistema Único de Assistência Social SUAS, e de-
mais compromissos decorrentes.
SOUZA, Sérgio Augusto Guedes Pereira de. Os direitos da criança e os direi-
tos humanos. Porto Alegre, 2001.
SOUZA, Ismael Francisco de. O reordenamento do programa de erradicação
do trabalho infantil (PETI): estratégias para concretização de políticas públi-
cas socioassistenciais para crianças e adolescentes no Brasil. Tese (Doutorado
em Direito) – UNISC, Santa Cruz do Sul, 2016.
VERONESE, Josiane Rose Petry. Direito da Criança e do Adolescente: volu-
me 5. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006.
175
176
PARTE III – ESTADO,
POLÍTICAS PÚBLICAS E
DIREITO À SAÚDE
178
CAPÍTULO I - JUDICIALIZAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE
PÚBLICA NO BRASIL: A SINTOMATOLOGIA DO CAOS
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objeto de estudo a judicialização da saúde,
em especial, das ações judiciais de medicamentos que tramitam no Brasil e as
consequências que advêm de tal realidade.
Cumpre ressaltar, inicialmente, que a referência à judicialização como
sintoma do caos na saúde pública brasileira não advém de hipérbole, mas sim
da percepção de uma concreta situação de crise.
Assim, conquanto o ordenamento jurídico pátrio tenha positivado o di-
reito à saúde como garantia fundamental, a execução desta política pública
não têm logrado êxito em concretizar os comandos da correspondente estru-
tura normativa.
Dentro desse contexto de crise, constata-se que o fornecimento de me-
dicamentos pela rede pública é igualmente problemático e não atende aos an-
seios da população. Essas insuficiências na distribuição de fármacos no âmbito
do Sistema Único de Saúde – SUS – geram diversos sintomas sociais nega-
tivos, dentre os quais o de maior relevância é, sem dúvida, a controvertida
judicialização da saúde.
Para dimensionar o problema da judicialização em geral, no ano de
2016, em que o Brasil possuía cerca de 206 milhões de habitantes, tramitavam
mais de 102 milhões de ações no Poder Judiciário. Havia, portanto, aproxima-
damente um processo judicial para cada dois habitantes. As ações de medica-
mento, conforme números que serão apresentados mais adiante representam
parcela significativa nesse quadro.
Essa conjuntura gera profundos prejuízos para o sistema de saúde e
para a própria atividade jurisdicional, pois, além de comprometer seriamente
o planejamento econômico-financeiro dos recursos destinados ao SUS, pre-
judica a prestação jurisdicional em si. Da mesma forma, as ações de medica-
mentos parecem situar os Poderes Executivo e Judiciário como adversários,
em manifesto descompasso sobre o alcance do dever estatal de proporcionar o
acesso à saúde a todos os cidadãos.
Para fins de concretização do objetivo deste estudo, utilizou-se o méto-
do dedutivo, com abordagem qualitativa e técnicas de pesquisa documental
-legal.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A par das embrionárias alternativas propostas para a solução da exces-
siva judicialização da saúde, os dados e informações colhidos demonstram a
gravidade e atualidade da problemática relacionada às ações de medicamen-
tos. Embora elas permitam a concretização do direito à saúde na esfera indi-
vidual, sua repetição diuturna e desenfreada compromete valores coletivos
maiores, como o sistema público de saúde e a prestação jurisdicional célere.
No viés econômico, como visto, tais processos geram dispêndio de um
maior volume de recursos para beneficiar um menor número de pessoas. Por
outro lado, do ponto de vista da estrutura judicial, elas sobrecarregam o Po-
der Judiciário e causam profunda insegurança jurídica, mercê da ausência de
assentamento jurisprudencial sobre os critérios e limites no fornecimento de
fármacos. Por fim, na seara institucional, a judicialização da saúde sintomatiza
a crise no serviço público em geral, pois denota o lamentável descompasso
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Bruno de Farias Favaro e Reginaldo de Souza Vieira
REFERÊNCIAS
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direito à saúde, fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para
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______. Tribunal Regional Federal da Quarta Região. Apelação n° 5010643-
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tado aos autos em 13/07/2016. Disponível em <http://jurisprudencia.trf4.jus.br/
pesquisa/resultado_pesquisa.php> Acesso em 14/04/2017b.
191
Judicialização do Acesso à Saúde Pública no Brasil
192
Bruno de Farias Favaro e Reginaldo de Souza Vieira
193
194
CAPÍTULO II - POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE DA
POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL
1. INTRODUÇÃO
Este artigo é bibliográfico/qualitativo com método dedutivo, que visa
refletir sobre as políticas públicas e os negros no Brasil, com destaque ao con-
ceito, aspectos e características elementares de uma política pública. Nesta
esteira são abordados a origem, mecanismos de implementação, atores envol-
vidos, limitações e participação pública e privada no seu desenvolvimento.
Por conseguinte, o artigo propõe refletir sobre as políticas públicas e a
condição histórica do negro, com vistas à redução das desigualdades, ante a
dívida histórica que o Brasil possui, devendo haver um forte enfrentamento,
reconhecimento e atendimento adequado, pois não é admissível que o Estado
seja o maior descumpridor das políticas públicas de saúde inferiorizando o
respeito aos direitos fundamentais de um povo. Isso significa compreender
se a questão da saúde do negro reproduz uma questão histórica e social com
repercussão no acesso à saúde, já que temos o fenômeno do racismo institu-
cional materializado quando os responsáveis pela implementação de uma po-
lítica pública, não tratam os usuários de maneira adequada com sua condição,
em especial o Poder Público. Este último deixa em situação de inferioridade
a acessibilidade às políticas públicas de grupos, como se dá com a população
negra, quando comportamentos que, embora involuntários, segregam, sepa-
ram ou marginalizam, o que resulta em preocupante e agravante prejuízo à
saúde dos sujeitos excluídos.
Os pressupostos anteriormente destacados nos remetem a alguns ques-
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públicas de saúde prevista nas recentes normas, que tragam a efetiva demons-
tração de que há uma população numericamente superior, mas inferiorizada
no respeito aos seus direitos, por certo, caminha-se ainda mais na via contrária
ao combate do racismo institucional (KALCKMANN, 2007).
Assentados tais pressupostos sobre o racismo institucional, importa re-
memorar que um dos princípios basilares do Sistema Único de Saúde brasilei-
ro é a equidade. A equidade, conforme Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.: 2002),
diferente de igualdade, significa prevalecer, adaptar ou preponderar uma
situação sobre outra, mas analisando do ponto de vista do caso concreto. E
no caso da saúde no Brasil – situação concreta -, os serviços de saúde devem
disponibilizar treinamentos e tratamentos singularizados e distintos aos desi-
guais, justamente objetivando diminuir as desigualdades dos atendidos pelo
SUS. A propósito, cabe exatamente ao SUS fomentar atendimentos adaptados
que diminuam a vulnerabilidade da população negra, que são uma das maio-
res vítimas – mortalidade de mulheres durante o parto e maior morte infantil
-, bem como por suas doenças, como a anemia falciforme que acomete princi-
palmente pretos e pardos, mas que é invisível aos olhos da sociedade, ante a
exclusão histórica desses povos. Os serviços de saúde não podem ser causado-
res de maior discriminação, impondo obstáculos ao atendimento e afastando
do sistema, ao contrário, merecem atenção especial (KALCKMANN, 2007).
Nesta ordem de ideias, é difícil não compreender que as omissões de
políticas públicas de saúde para negros no Brasil têm suas bases na desigual-
dade entre negros e brancos amparadas no racismo institucional. A propósito,
a frágil atenção à saúde da população negra é um espelho da forma desigual
de tratamento entre negros e brancos que cotidianamente caracteriza nossa so-
ciedade, entendimento esse também sustentado por Werneck (2016) de que há
uma restrição exatamente aos cidadãos que mais necessitam do SUS, porém
com maior barreira de acesso ao sistema. De todo o exposto, espera-se que o
recente programa de Combate ao Racismo Institucional do Ministério da Saú-
de seja uma prática efetiva, não apenas simples folha de papel (HESSE, 1991).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto e levando-se em conta o que foi observado ao
longo deste estudo, merece destacar que as políticas públicas são importantes
mecanismos de contribuição para o desenvolvimento de uma sociedade, pois
é uma forma de atender as demandas sociais. É uma atividade estatal de go-
vernos firmados numa democracia, no sentido de colocar em prática propostas
205
Políticas públicas e saúde da população negra no Brasil
206
Julio César Lopes
REFERÊNCIAS
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sob a perspectiva desse segmento populacional. Ciência da saúde coletiva.
207
Políticas públicas e saúde da população negra no Brasil
208
Julio César Lopes
209
210
CAPÍTULO III - POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER E DEMANDAS
DE GÊNERO
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1. INTRODUÇÃO
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
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Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são
executadas, pois boas leis há por toda parte.
Montesquieu
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
Sumário
Apresentação 5
Abreviaturas 7
Introdução 9
Saúde da Mulher e o Enfoque de Gênero 11
Evolução das Políticas de Atenção à Saúde da Mulher 15
Situação Sociodemográfica 21
Breve Diagnóstico da Situação da Saúde da Mulher no Brasil 25
Humanização e Qualidade: Princípios para uma Política de Aten-
ção Integral à Saúde da Mulher 59
Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mu-
lher 63
Objetivos Gerais da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
da Mulher 67
Objetivos Específicos e Estratégias da Política Nacional de Aten-
ção Integral à Saúde da Mulher 69
Referências Bibliográficas 73
Parcerias 79 (BRASIL, 2004)
220
Carina Turazi
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo conteúdo trabalhado no presente estudo, considera-
se que a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher levou em
222
Carina Turazi
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Política nacional de atenção integral à saúde da mulher e demandas de gênero
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224
CAPÍTULO IV - ADVOCACY FEMINISTA COMO UM
INSTRUMENTO DE EXERCÍCIO DA CIDADANIA
PARTICIPATIVA: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE
FORMULAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA
1. INTRODUÇÃO
O estudo a ser desenvolvido tem como objetivo analisar a prática do
Advocacy feminista, a fim de verificar se esta pode ser considerada um instru-
mento apto para o exercício da cidadania participativa por parte das mulhe-
res, incluindo seus pleitos em agenda de ações governamentais.
Para organizar a explanação, a pesquisa será divida em três pontos de
análise a iniciar pela conceituação da Democracia e Democracia Participativa.
Após será apresentado um possível instrumento de seu exercício, a Advocacy
Feminista. Ao final, a Lei Maria da Penha é apresentada como exemplificação
prática da soma dos conceitos anteriormente mencionados.
No primeiro item será apresentado de forma sucinta algumas trans-
formações que o conceito de democracia teve ao longo dos anos bem como
algumas fragilidades presentes no modelo hegemônico da democracia repre-
sentativa que justificam a necessidade de se repensar a democracia, a fim de
se ver garantida uma participação ampla da sociedade na defesa de assuntos
225
Advocacy feminista como um instrumento de exercício da cidadania participativa
de seus interesse.
A parte do advocacy feminista será apresentada para permitir compre-
ender o conceito e como ele pode ser meio de tencionar o Estado, para incluir
na agenda de ação governamental pleitos de mulheres. Como esse meio de
articulação é promovido por movimentos feministas, será pontuado breve his-
tórico do feminismo.
Aliás, um dos motivos dessa alternativa relevante adotado por alguns
movimentos feministas ocorre pela ausência de mulheres na composição de
representantes políticos no panorama nacional. Assim, com a finalidade de
compensar essa ausência de representatividade, os movimentos feministas
têm somado esforços e organizado ações que vão estimular o olhar dos Esta-
dos para questões atinentes às mulheres.
Dessa forma, irão participar ativamente do processo democrático sem
necessariamente fazer uso de um parlamentar que leve o pleito a discussão
das casas legislativas, como no caso de proposição de lei, ou, havendo inércia
do ente estatal, levando o tema para discussão em âmbito internacional, como
ocorreu na Lei Maria da Penha.
Passando, então, a importância de apresentar o referido dispositivo le-
gal como paradigma de ação do advocacy, pois é um exemplo relevante de
conquista promovida, por que levaram o tema a discussão e converteu o pleito
em um mandamento legal que poderá colaborar com a proteção das mulheres
quanto à violência de gênero.
Não é objetivo que este trabalho discuta os resultados da lei, mas sim
dirigir o olhar para o momento que precede a sua existência, demonstrando
que várias ações foram necessárias, inclusive uma violência extrema viven-
ciada por uma mulher, para impulsionar a discussão e a edição da legislação.
Assim sendo, passa-se a dialogar sobre os conceitos, trazendo ponde-
rações que vão orientar o entendimento, convidando para, ao final, fazer um
juízo crítico que ajude a compreender o contexto de ação da democracia par-
ticipativa.
226
Aline Fernandes Marques e Fernando Barros Martinhago
pelos substantivos “demos”, que significa povo, e “kratos”, que significa po-
der, e pode ser compreendida como sendo o governo do povo (AIETA, 2006;
VIEIRA, 2013; ABBAGNANO, 2012).
Cabe destacar que inicialmente a democracia representava exatamen-
te aquilo que sua tradução literal indica, isto é, o poder do próprio “demos”
(povo) que permitia que aqueles os considerados cidadãos participassem dire-
tamente das decisões que eram de interesse da sociedade, em outras palavras,
permitia o exercício daquilo que atualmente se pode chamar de democracia
direta (AIETA, 2006, p.191; VIEIRA, 2013).
Todavia cumpre salientar que, com o passar anos, devido ao aumento
da complexidade social, a democracia passou a ter um novo significado, pas-
sando do modelo de democracia originário, que permitia ao povo participar
diretamente na tomada das decisões que eram importantes para a sociedade,
para o modelo meramente representativo, modelo este que com o passar do
tempo se tornou hegemônico e que é denominado pelos autores de democra-
cia indireta ou democracia liberal representativa, na qual o povo elege repre-
sentantes para decidirem em seu nome (AIETA, 2006; VIEIRA, 2013).
Cumpre salientar que para alguns autores como Lucas Machado Fa-
gundes (2015) a adoção de um modelo democrático meramente representa-
tivo se configura em uma grande armadilha, pois “[...] legitima todo um sis-
tema que reduz a participação política dos sujeitos, reduz estes ao âmbito da
titularidade democrática ao tempo que o exercício é condicionado apenas ao
embate nos cenários eleitorais periódicos” (FAGUNDES, 2015, p.502-503).
Convergindo com o posicionamento anteriormente descrito, Francisco
Pizzette Nunes (2012) esclarece que:
227
Advocacy feminista como um instrumento de exercício da cidadania participativa
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Advocacy feminista como um instrumento de exercício da cidadania participativa
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Aline Fernandes Marques e Fernando Barros Martinhago
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante deste debate, demonstra-se que a democracia, em sua origem,
possibilitava a participação direta dos cidadãos na deliberação de assuntos de
interesse da “sociedade”, porém ao longo dos anos passou a significar a pos-
sibilidade de os membros da sociedade eleger representantes para decidirem
em seu nome, o que por sua vez resultou em um enfraquecimento do poder
originário da sociedade, uma vez que reduziu a participação de seus membros
apenas a embates nos períodos eleitorais, atualmente, com o modelo de repre-
sentação, eles ocupam uma posição de meros coadjuvantes.
Com a fragilidade do modelo representativo surgiu um novo modelo
democrático com a finalidade de garantir uma maior participação da socieda-
de na defesa de seus interesses, que foi denominado de Democracia Participa-
tiva e que possibilita o exercício da chamada Cidadania Participativa.
Por meio do presente estudo, foi possível perceber que ao mesmo tem-
po em que a cidadania participativa possibilita a criação de novos direitos a
partir das demandas sociais, a ação organizada dos movimentos sociais, de
modo especial das mulheres, contribuiu para ampliação do conceito e do exer-
cício da cidadania. Assim sendo, a organização das mulheres no cenário brasi-
leiro possibilitou o exercício da advocacy feminista.
Neste sentido, cumpre salientar que o exercício de tal prática resultou
em uma grande conquista, no que se refere ao enfrentamento da violência do-
méstica e familiar contra as mulheres, que foi a propositura da Lei 11.340/2006,
popularmente conhecida como Lei Maria da Penha.
237
Advocacy feminista como um instrumento de exercício da cidadania participativa
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239
Advocacy feminista como um instrumento de exercício da cidadania participativa
240
PARTE IV– ESTADO,
PARTICIPAÇÃO POPULAR
E CONSTITUCIONALISMO
242
CAPÍTULO I - A PARTICIPAÇÃO POPULAR POR MEIO
DO PLEBISCITO, REFERENDO E INICIATIVA POPULAR
NAS LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO
GEOGRÁFICA IMEDIATA DE CRICIÚMA
1. INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 declara em
seu artigo 1°, parágrafo único, que o Brasil é um Estado Democrático de Di-
reito, cujo poder pertence ao povo que o exerce através de seus representantes
eleitos ou de forma direta. Por conseguinte, esta forma de participação direta
do povo no exercício de sua soberania, encontra-se positivada nos incisos I, II
e III do art. 14 da CRFB/1988, os quais preconizam respectivamente o plebis-
cito, o referendo e a iniciativa popular, sendo estes institutos de participação
244
Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
Four score and seven years ago our fathers brought forth on this
continent a new nation, conceived in liberty and dedicated to the
proposition that all men are created equal. [...] It is rather for us
to be here dedicated to the great task remaining before us – that
from these honored dead we take increased devotion to that cause
for which they gave the last full measure of devotion – that we
here highly resolve that these dead shall not have died in vain, that
this nation under God shall have a new birth of freedom, and that
government of the people, by the people, for the people shall not
perish from the Earth.69 (USA, 1863)
69 Tradução livre: Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma
nova Nação, concebida na liberdade e consagrada ao princípio do qual todos os ho-
mens nascem iguais. [...] Antes, cumpre a nós aqui presentes, dedicarmo-nos à grande
tarefa que permanece inacabada diante de nós – que estes honrados mortos nos inspi-
rem uma maior devoção à causa pela qual eles deram a última medida de suas devo-
ções – que todos nós possamos solenemente admitir que estes homens não morreram
em vão, que esta nação com a graça de Deus, venha conceber uma nova liberdade,
e que esse governo do povo, pelo povo e para o povo jamais pereça da face da terra.
245
A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
246
Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
247
A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
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Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
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A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
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Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
251
A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
252
Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
253
A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
Iniciativa Regimento
Município Plebiscito Referendo
popular Interno
Art. 39, VI
Art. 1º, § 2º Art. 134
Balneário Art. 54, III, §§
Art. 6º, § 3º Art. 43, III Art. 140
Rincão 5º e 6º
Art. 43, III Art. 153
Art. 55
Art. 1º, § 2º Art. 15, IV
Cocal do Sul Não Art. 225
Art. 30
Art. 17, IV Art. 139
Art. 1º, § 3º
Criciúma Não Art. 31 Art. 145
Art. 32 Art. 158
Art. 88
Art. 1º, § 2º Art. 17, IV
Forquilhinha Não Art. 217
Art. 32
Art. 156
Art. 5°, § 2º
Art. 149
Içara Art. 8°, Par. Não Art. 44
Art. 150
único
254
Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
Art. 128
Lauro Müller Art. 5°, § 2º Não Art. 41
Art. 134
Fonte: Dados compilados pelos autores com base em fontes legislativas e nas Leis Orgâ-
nicas dos Municípios da Região Geográfica Imediata de Criciúma, disponíveis nos sites
das Câmaras Municipais (Balneário Rincão, 2013; Cocal do Sul, 1995; Criciúma, 1990;
Forquilhinha, 1990; Içara, 1990; Lauro Müller, 1990; Morro da Fumaça, 1990; Mor-
ro Grande, 1994; Nova Veneza, 1990; Orleans, 2005; Siderópolis, 1990; Treviso, 1997;
Urussanga, 2016).
255
A participação popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular nas leis orgânicas dos
municípios da região geográfica imediata de Criciúma
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como objetivo principal analisar se a participa-
ção popular por meio do plebiscito, referendo e iniciativa popular foram con-
sagradas nas leis orgânicas municipais dos Municípios da Região Geográfica
Imediata de Criciúma, composta por 13 Municípios, dos quais foram analisa-
das suas Leis Orgânicas, e quando necessário o Regimento Interno das Câma-
ras de Vereadores ou leis específicas que dispusessem sobre a regulamentação
dos institutos supracitados.
Da análise realizada, verificou-se que os institutos da democracia se-
midireta, isoladamente, foram incorporados em todos os municípios da Re-
gião Geográfica Imediata de Criciúma. Todavia, apesar da positivação dos
256
Juliano Sartor Pereira e Reginaldo de Souza Vieira
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Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.
261
262
CAPÍTULO II - PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PLANO
DIRETOR: A EXPERIÊNCIA NA ELABORAÇÃO E REVISÃO
DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA/SC
1. INTRODUÇÃO
Os modelos atuais de gestão pública são deficientes e tem demandado
a participação de outros agentes sociais, que não os técnicos da administração
e legisladores, em sua atuação. De acordo com Preis (2012), uma das cons-
truções onde participam estes outros agentes é a elaboração do Plano Diretor
Participativo, que deve contar com a participação dos munícipes em sua cons-
trução e revisão. Segundo o mesmo autor, p. 35:
263
Participação Popular no Plano Diretor
Desta feita, os pontos cruciais desta pesquisa são: De que forma se deu
a participação, composição, e representação na elaboração e revisão do Plano
Diretor de Criciúma?
No presente trabalho serão analisadas estas questões levantadas, consi-
derando-se que é com a observância da participação da população que se faz
um Plano Diretor que beneficie as diferentes classes e setores, o que justifica a
relevância do tema.
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Daniela Machado Vargas e Diogo Lentz Meller
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Participação Popular no Plano Diretor
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Participação Popular no Plano Diretor
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Um dos fatos marcantes que fora discutido foi a alteração do texto nas
últimas reuniões que antecederam o envio à Câmara, e questionamentos em
relação ao texto aprovado pelo Núcleo Gestor e comunidades. Os problemas
foram vencidos, aprovando-se o Projeto naquela casa legislativa, no final do
ano de 2012.
Sobre a aprovação do PL, o então Presidente da Câmara de Vereadores
declarou:
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Participação Popular no Plano Diretor
(Demo, 2009).
Assim, duas razões levam as pessoas à inatividade: uma por desinteres-
se, e outra por incompreensão do assunto (no caso, Plano Diretor), o que aqui
não significa desprezo, mas sim, simples ignorância ao assunto. Conforme
Villaça (2005, p. 91), “sua abstenção deveu-se ao fato de o Plano Diretor nada
ter a dizer a elas”.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Inicialmente, há que se informar que não houve intenção de esgotar o
tema, nem mesmo no âmbito municipal, porquanto o processo de elaboração
do Plano Diretor do Município de Criciúma perdurou por cerca de uma déca-
da, com dezenas de reuniões, discussões, conflitos de interesses, etc.
O que se pretendia questionar era analisar de que forma se deu a com-
posição/representatividade dos órgãos criadores e revisores do Plano Diretor
de Criciúma. Se a legislação federal assegurou que fosse ouvida a população
local quando da elaboração da lei que define os rumos da cidade, tal partici-
pação não poderia deixar de ser observada, como vimos em alguns momentos
da construção do PD no Município de Criciúma.
Se por descaso, má-vontade ou terceiras intenções, não podemos afir-
mar, mas é fato que os gestores municipais que passaram pela Prefeitura du-
rante a elaboração da Lei não demonstraram maiores interesses em conclui-la
e aprová-la, muito menos de fazer a população participar do Plano que afeta
diariamente a vida de todos os munícipes.
No entanto, se não foi possível garantir de fato a participação popular
durante a elaboração do Plano Diretor de Criciúma, deve ser salientado que
ele é alterado frequentemente, através das reuniões do Conselho de Desen-
volvimento Municipal. Assim, deve a população participar destas reuniões,
demonstrar os interesses coletivos, e eventualmente exigir audiências públicas
que levem diretamente à população os assuntos correlatos ao Plano.
Referente à elaboração do PDP de Criciúma, Preis (2012) acredita que
o problema está nos técnicos que não se nivelaram ao povo, fazendo apenas
o que a lei lhes impõe. De fato, as obrigações legais foram cumpridas, mas as
de ordem social e democrática não, haja vista a dificuldade de a prefeitura
garantir a participação popular na elaboração do Plano, porque o trata como
lei representativa e não participativa.
Villaça (2005) relembra um antigo problema ainda hoje latente: A parti-
cipação sempre foi feita, inclusive nos planos anteriores, pela classe dominan-
278
Daniela Machado Vargas e Diogo Lentz Meller
REFERÊNCIAS
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referendo e iniciativa popular. Revista Brasileira de Direito Constitucional,
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VILLAÇA, Flávio. As ilusões do Plano Diretor. São Paulo: Revistas USP, 2005.
281
282
CAPÍTULO III - O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-
AMERICANO E OS INSTITUTOS DE PARTICIPAÇÃO
POPULAR NO PROCESSO LEGISLATIVO
1. INTRODUÇÃO
A trajetória político-constitucional latino-americana é marcada, mesmo
após a independência das colônias, por uma manutenção da ordem social,
econômica, política e, consequentemente, constitucional. Distintos fatores con-
tribuíram para manutenção desse status quo, e um deles foi a forte influência
da doutrina clássica de viés liberal por um longo período nas Constituições
produzidas na e para a América Latina.
Viciano Pastor e Martínez Dalmau (2016, p.10) afirmam que com o pas-
sar dos tempos as Constituições tradicionais da América Latina, preferiram
buscar soluções externas para resolver os problemas internos nos países lati-
no-americanos, sendo isso realizado sem nenhum critério ou estudo aprofun-
dado quanto aos efeitos dessas importações. Para ambos os autores, ao invés
de promover um debate republicano entre o povo, essas Constituições foram
constituídas como fruto de uma elite formada em universidades estrangeiras,
as quais reproduziam os mecanismos constitucionais que haviam sido pensa-
dos para países e sociedades diferentes.
283
O novo constitucionalismo latino-americano e os institutos de participação popular no processo
legislativo
Sob essa forte influência liberal, a exclusão sistemática do povo das de-
cisões de poder, era um traço marcante da realidade constitucional latino-a-
mericana do período.
Porém, a partir do início da década de noventa do século XX, a história
político-constitucional da América Latina vai sendo marcada por transforma-
ções e abalos nas estruturas da lógica liberal-individualista das constituições
políticas tradicionalmente operadas nestes países.
É na história recente que se inicia a assistir um giro na cultura político-
jurídica dos países latino-americanos. Determinados processos de transforma-
ções sociais vão ocorrer com a edição das Constituições da Colômbia de 1991,
da Venezuela de 1999, do Equador de 2008 e da Bolívia de 2009, todas essas
com reflexo direto na temática da participação popular.
Tem o presente artigo o escopo de analisar a partir dessa nova conjuntu-
ra Latino-Americana, quais contornos foram adotados pelas quatro Constitui-
ções acima citadas, no que se refere aos instrumentos de participação popular.
Para tanto, o estudo foi desenvolvido em três tópicos.
Primeiramente, buscou-se reunir e organizar alguns elementos que
compõem as críticas feitas ao “velho” constitucionalismo liberal que influen-
ciou até pouco tempo as Constituições Latino-americanas. Nesse sentido, os
estudos críticos desenvolvidos pelo professor Antônio Carlos Wolkmer em
conjunto com Fagundes (2011) e Almeida (2013) são primorosos para elucida-
ção do tema (WOLKMER, 2011; FAGUNDES, WOLKMER, 2011; WOLKMER,
ALMEIDA, 2013).
No segundo tópico deste estudo, com base nos estudos magistrais de
Viciano Pastor e Martínez Dalmau (2010) buscou-se compreender as caracte-
rísticas formais e matérias que compõem o movimento denominado de “Novo
Constitucionalismo Latino-americano”.
Por fim, na terceira parte desta pesquisa foi realizada uma analise dos
instrumentos de participação popular previstos nas novas Constituições da
Colômbia (1991), Venezuela (1999), Equador (2008) e Bolívia (2009) sob a influ-
ência do Novo Constitucionalismo Latino-americano, em especial os institutos
de participação direta do povo no processo democrático.
A relevância da pesquisa justifica-se a partir do próprio tema, da analise
dos instrumentos de participação popular no novo constitucionalismo, isso
porque, a priori, observa-se que a democracia participativa ganha contornos
importantes no novo constitucionalismo Latino-americano, de forma a inau-
gurar um período de profunda transformação no processo político-constitu-
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Juliano Sartor Pereira e Michel Belmiro Ilibio
2. CRÍTICA AO CONSTITUCIONALISMO NA
AMÉRICA-LATINA
Assinala Wolkmer e Fagundes (2011, p.376) que o processo de consti-
tucionalização dos Estados latino-americanos foi influenciado pelas “Declara-
ções dos Direitos anglo-francesas, pelas constituições liberais burguesas dos
Estados Unidos (1787) e da França (1791 e 1793) e pela inovadora Constituição
Espanhola de Cádiz (1812)”.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo central deste estudo primou em apresentar os contornos da-
dos à participação popular, nos textos constitucionais que englobam o cha-
mado Novo constitucionalismo Latino-Americano. Para tanto, primeiramente
buscou-se organizar alguns elementos que compõem as críticas feitas ao velho
constitucionalismo liberal que influenciou até pouco tempo as Constituições
Latino-americanas.
Nota-se que, o novo Constitucionalismo, enquanto paradigma jurídi-
co-político busca superar a herança colonialista eurocêntrica. Dessa forma,
revela a necessidade da busca pela legitimação do poder estatal e do reforço
da soberania popular, além de valorizar a cultura dos povos destas terras, in-
corporando instrumentos que ampliam a participação popular, e por consequ-
ência, uma ampliação da consciência cidadã.
Em um segundo momento deste trabalho, com base nos estudos de Vi-
ciano Pastor e Martínez Dalmau, buscou-se compreender melhor as caracterís-
ticas, formais e matérias, do novo Constitucionalismo Latino-americano.
Apontaram-se quatro características formais fundamentais desse novo
movimento, a saber: o conteúdo inovador; a extensão dos textos; a capacidade
de conjugar elementos tecnicamente complexos, e por fim, a aposta pelo po-
der constituinte que é exercido pelo povo, frente às tentativas de mudança da
Constituição.
Já no campo das características materiais destacaram-se: o estabeleci-
mento de uma abundante carta de direitos; a integração de setores marginali-
zados historicamente; a proclamação de um caráter normativo e superior da
constituição frente ao restante do ordenamento jurídico; e por último, a neces-
sidade de superação das desigualdades sociais e econômicas.
Por fim, na terceira parte do estudo, passou-se à análise do tratamento
dado à participação popular pelas novas constituições da Colômbia (1991),
Venezuela (1999), Equador (2008) e Bolívia (2009) influenciadas sob o Novo
Constitucionalismo Latino-americano, as quais demostram o reconhecimento
do papel fundamental que o povo deve desempenhar para consolidação dessa
nova ordem político-jurídico-constitucional por elas criada.
Mesmo com o compromisso de incentivar a participação popular atra-
vés do exercício direto de cidadania, menciona-se que tais constituições não
questionam a essência do sistema representativo de democracia. A democra-
cia participativa ganha contornos importantes no novo constitucionalismo La-
tino-americano, mas não representou até o momento uma substituição defini-
297
O novo constitucionalismo latino-americano e os institutos de participação popular no processo
legislativo
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298
Juliano Sartor Pereira e Michel Belmiro Ilibio
299
300
CAPÍTULO IV - O ESTADO DE COISAS
INCONSTITUCIONAL E SUA APLICABILIDADE PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Elaine Framento74
Francisco Pizzette Nunes75
1.INTRODUÇÃO
Em acórdão, exarado em sede de controle concentrado de constitucio-
nalidade, nos autos da ADPF nº 347, o Supremo Tribunal Federal – STF se ma-
nifestou, pela primeira vez, sobre a tese do Estado de Coisas Inconstitucional
- ECI. Em duas sessões, realizadas em setembro de 2015, o plenário analisou
os pedidos cautelares da ação e declarou, por unanimidade, que a dramática
situação do sistema penitenciário brasileiro se amolda aos pressupostos da
aludida tese, uma vez constatada a massiva violação de direitos fundamentais
dos presos, decorrente da inércia estrutural do Poder Público, cuja solução
– com base no ECI – implica a adoção de medidas interventivas na esfera de
competência dos três poderes.
Com isto em vista, o presente trabalho se propõe a compreender os fun-
damentos e limites para o manejo do instituto do ECI pelo STF. Para tanto,
pretende-se explorar suas origens e características, apresentar o contexto em
que o ECI aportou na jurisdição constitucional brasileira e, então, examinar a
aplicabilidade do ECI pelo STF.
301
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
302
Elaine Framento e Francisco Pizzette Nunes
303
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
304
Elaine Framento e Francisco Pizzette Nunes
305
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
306
Elaine Framento e Francisco Pizzette Nunes
307
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
à ciência política para descrever debates que a política não alcança em razão
das suas limitações, principalmente eleitorais, concluindo o Supremo Tribunal
Federal parece ser única instância disposta a começar o projeto de superação
do Estado de Coisas Inconstitucional do sistema penitenciário.
No que concerne aos pressupostos de declaração do Estado de Coisas
Inconstitucional, os ministros foram unânimes em reconhecê-los.
Para Marco Aurélio, a análise de estudos sobre o sistema prisional bra-
sileiro não deixa dúvida quanto à falência do sistema e à violação sistemática
e generalizada de direitos fundamentais dos presos no tocante à dignidade e
integridade física e psíquica, eis que a superlotação carcerária e a precariedade
das instalações “mais do que inobservância, pelo Estado, da ordem jurídica
correspondente, configuram tratamento degradante, ultrajante e indigno a
pessoas que se encontram sob custódia” (BRASIL, 2017).
Ao analisar a ocorrência de massiva violação dos direitos fundamentais
dos detentos, a ministra Rosa Weber assinalou que, embora existam exceções,
não há como deixar de reconhecer estado caótico e dramático das prisões bra-
sileiras e declarar o Estado de Coisas Inconstitucional.
Em seu voto, a ministra Carmen Lúcia compara a situação dos presidi-
ários às barbáries praticadas à época da ditatura militar, que ensejou impetra-
ção de célebre habeas corpus pelo jurista Sobral Pinto, pedindo que se aplicasse
a Lei de Proteção aos Animais às pessoas que estavam sendo torturadas e que
não recebiam tratamento sequer igual ao dos animais, cogitando que “daqui
a pouco, aparecerá outro Sobral Pinto que virá aqui para pedir isso, que é o
que precisamos vencer e que esse estado de coisas inconstitucional nos faz
lembrar” (BRASIL, 2017).
Evidenciado, assim, o primeiro pressuposto do ECI, expresso pela vio-
lação permanente de direitos fundamentais de quase a totalidade da popula-
ção carcerária brasileira.
Para os ministros, resta igualmente caracterizada a falha estrutural do
Estado, considerando que a deficiência na atuação estatal é sistêmica, resultan-
do em fracasso das políticas legislativas, administrativas e orçamentárias, bem
como na inércia do Poder Público para reverter a situação, admitida, inclusive,
a parcela de responsabilidade do Poder Judiciário. Consoante voto do minis-
tro Marco Aurélio:
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4. CRÍTICAS AO ECI
O reconhecimento do ECI pelo STF nos autos da ADPF nº 347 gerou
grande repercussão no meio jurídico e acadêmico, mormente quanto às conse-
quências da declaração do ECI no equilíbrio entre os poderes executivo, legis-
lativo e judiciário, tendo em vista que a solução do “litígio estrutural” implica
a adoção de medidas interventivas, a fim de superar o quadro de inconstitu-
cionalidade. No entendimento de Ronaldo Jorge Araujo Vieira Junior (2015, p.
11), a decisão é impactante e requer cautela:
311
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
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Elaine Framento e Francisco Pizzette Nunes
Uma das grandes dificuldades em manejar o ECl reside nas escolhas or-
çamentárias a serem feitas em detrimento de outras necessidades igualmente
urgentes. Tal ponderação, no ponto de vista de Ronaldo Jorge Vieira Junior,
cabe somente ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo (a este, em virtude
das competências legislativa e fiscalizatória), carecendo o Poder Judiciário de
visão geral sobre a realidade das prioridades sociais e das possibilidades or-
çamentárias, já que a estrutura necessária para essa análise situa-se no âmbito
do Poder Executivo, e assim deve permanecer, sob pena de “redundância ad-
ministrativa intolerável, simplesmente impossível de ser considerada, por ser
totalmente desarrazoada” (VIEIRA JUNIOR, 2015, p. 23).
Por essas razões, defende-se o estabelecimento de parâmetros normati-
vos às decisões do STF para adotar o ECI, como forma de impedir a violação
aos princípios da segurança jurídica, da reserva do financeiramente possível e
da separação de Poderes (VIEIRA JUNIOR, 2015, p. 28).
Levanta-se, ainda, uma objeção democrática à atuação interventiva do
STF. Segundo esse argumento, os integrantes do Poder Judiciário não são de-
mocraticamente eleitos pelo povo, isto é, seus cargos são ocupados por meio
de concursos ou nomeações. A rigor, não são representantes da vontade popu-
lar, diferentemente dos membros dos poderes Executivo e Legislativo, demo-
craticamente eleitos (DEPRÁ; VALER, 2015).
Dessa forma, o Judiciário não seria legitimado a intervir em matérias
cuja competência precípua é atribuída ao legislador e ao gestor público, que
atuam, ou deveriam atuar, orientados pelo sentimento majoritário daqueles
que os elegeram. Nesse sentido:
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(2013, p. 172):
315
O Estado de Coisas Inconstitucional e sua aplicabilidade pelo Supremo Tribunal Federal
no constitucionalismo contemporâneo:
Assim, o conceito de justiça não pode ser tido como algo estático
e abstrato. A justiça deve ser dinâmica e se opor às condições (ou
falta de condições) que levam a caracterizar determinadas situações
como injustas, sendo um conceito que está para além da noção de
validade formal. Portanto, ao realizar uma estratégia de pondera-
ção, o magistrado deverá se ater antes de tudo a validade substan-
cial da norma a ser aplicada, pois assim o fazendo não estará se po-
sicionando acima da lei e não incidirá num ativismo despropositado
(NUNES; PILATI, 2017, p. 194).
316
Elaine Framento e Francisco Pizzette Nunes
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a evolução do constitucionalismo brasileiro no contexto
da ainda jovem experiência democrática no país, é aceitável afirmar que se
espera do Poder Judiciário uma atuação no sentido de colaborar com a con-
solidação da democracia, estimulando a discussão sobre temas essenciais ao
desenvolvimento político e social brasileiro.
Como já dito, é possível identificar na conjuntura nacional diversas
situações de grave violação de direitos fundamentais atribuídas não apenas
à inércia de uma instituição, mas a um bloqueio político que se mostra ins-
transponível, tendo em vista a complexa estrutura estatal, a baixa participação
da sociedade nesses debates e a falta de coesão acerca dos caminhos a serem
adotados.
Desse modo, parece claro que o ECI tem lugar em contextos sociais crí-
ticos, em que a violação dos direitos fundamentais é fruto de sociedade ainda
em processo de aprendizado democrático, cujos cidadãos sabem serem pos-
suidores de direitos subjetivos e recorrem ao judiciário para vê-los efetivados.
Contudo, ainda não se alcançou o estágio em que a própria sociedade tenha
consciência e zele pela dimensão objetiva dos direitos fundamentais, exigindo
de seus representantes a consecução dos valores constitucionais em prol do
interesse coletivo.
Assim, nesse momento de transição, a tese do ECI oportuniza agregar
as diversas instâncias em torno do debate de determinado tema a ser enfren-
tado, em diálogo conduzido pelo Poder Judiciário e que poderá ser cada vez
mais desnecessário na medida em que a democracia se fortalecer. Para tanto,
são necessários avanços na participação popular democrática, no sentido de
transferir à sociedade o papel que hoje parece estar nas mãos do Judiciário,
qual seja o de instigar o Poder Público a concretizar os direitos fundamentais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF 347 MC/DF. Relator: Min. Marco
Aurelio, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015. DJe-031, 18-02-2016. Dispo-
nível em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&do-
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CAPÍTULO V - A (IN) OBSERVÂNCIA DOS
PRESSUPOSTOS DA RELEVÂNCIA E URGÊNCIA
NAS MEDIDAS PROVISÓRIAS
Alex Sandro Teixeira da Cruz76
1. INTRODUÇÃO
A ordem constitucional inaugurada em 1988 introduziu em nosso siste-
ma jurídico o instrumento normativo denominado “medida provisória”. Tem
por objetivo permitir ao Presidente da República legislar em casos de relevân-
cia e urgência, considerando-se que, em tais circunstâncias, o aguardo pelo
trâmite de um projeto de lei por todo o processo legislativo pode acarretar
graves prejuízos à nação. Ditas medidas, tão logo editadas, passam a ter força
de lei ordinária, com vigência imediata, devendo ser convertidas em lei pelo
Congresso Nacional no prazo de sessenta dias, prorrogáveis por igual perío-
do, sob pena de perda da eficácia.
A matéria relativa às medidas provisórias é tratada no art. 62 da Consti-
tuição da República (BRASIL, 1988), cuja redação foi alterada, em 11 de setem-
bro de 2001, com o advento da Emenda Constitucional n. 32 (BRASIL, 2001c).
Tais alterações, no entanto, embora significativas, não trataram dos pressupos-
320
tos da relevância e urgência, que se mantiveram na primeira parte do disposi-
tivo tal qual haviam sido colimados no texto original de 1988.
Sem embargo da inscrição de referidos pressupostos, o que se tem visto,
ao longo dos anos, é a profusão de tais instrumentos normativos. O Executi-
vo federal, em princípio parece, tem se revelado pródigo em editá-los para
o regramento emergencial de inúmeros e diversos assuntos, não raras vezes
compelindo o Legislativo a trancamentos de pauta e a análises dos temas sem
a necessária profundidade e adequada reflexão.
O propósito, pois, do artigo em epígrafe, é desenvolver um breve estudo
sobre a questão das medidas provisórias, em especial no sentido de investigar
se os temas envolvidos em seu contexto, de fato, cumprem, em todos os casos,
os pressupostos de relevância e urgência preconizados em nossa grundnorm
como condicionantes para sua edição.
Para tanto, mediante método dedutivo e técnica de pesquisa biblio-
gráfica, far-se-á rápida abordagem sobre a matriz constitucional da medida
provisória, na sequência centrando-se a análise acerca do que, realmente, con-
substanciam a relevância e a urgência como seus pressupostos. Mais adiante,
serão vistas algumas das medidas provisórias editadas entre outubro de 1988
e junho de 2013, correlacionando-as com ditos pressupostos. Ao final, as con-
clusões que podem ser extraídas a partir da investigação.
321
A (in) observância dos pressupostos da relevância e urgência nas medidas provisórias
322
Alex Sandro Teixeira Da Cruz
3. OS PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS
DE RELEVÂNCIA E URGÊNCIA
A relevância e a urgência constituem os pressupostos para a adoção de
medida provisória pelo Presidente da República. Isso porque, para que o chefe
do Executivo edite uma medida provisória, existe o imperativo de observar os
antecedentes necessários referidos, como condicionantes de sua validade jurí-
dica. Em outras palavras, pode-se dizer que, em não sendo matéria relevante
e urgente, não poderá ela constituir objeto de medida provisória, devendo ser
tratada através de processo legislativo ordinário.
Mas não queda tal apreciação a critério exclusivo do Presidente da
República. Isso porque o art. 8º da Resolução n. 1, de 8 de maio de 2002, do
Congresso Nacional (BRASIL, 2002b), determina que cabe ao Plenário de cada
uma das Casas do Congresso Nacional decidir, “em apreciação preliminar, o
atendimento ou não dos pressupostos constitucionais de relevância e urgência
da Medida Provisória [...] antes do exame do mérito [...]”.
E, também, a questão da relevância e da urgência não está imune à
apreciação do Judiciário. Indicativo importante nesse sentido observa-se no
julgamento do pedido de liminar da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.
162, de relatoria do Min. Moreira Alves, julgada em 14 de dezembro de 1989
(BRASIL, 1989), em cuja ementa encontramos a seguinte passagem:
323
A (in) observância dos pressupostos da relevância e urgência nas medidas provisórias
E acrescenta o acórdão:
3.1. A Relevância
De uma forma geral, reportando-se à perspectiva de análise subjetiva
do Presidente da República, a doutrina pátria manteve-se pouco atenta aos
conceitos, tanto da relevância quanto da urgência, especialmente até o julga-
mento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.213-DF (BRASIL, 2002a).
Em regra, limitavam-se os autores (e ainda limitam-se muitos) a referirem tais
pressupostos como condicionadores da validade da medida provisória, sem
incursionarem mais profundamente sobre seu sentido, alcance e dimensão.
Em linhas gerais, a palavra relevância tem sido entendida como sinôni-
mo de importância. E importante, segundo os dicionaristas, é a qualidade de
uma coisa considerável, seja por si mesma, seja pelas consequências que pode
ter (v.g. Dicionário Online de Português). Ou, ainda, qualidade do que tem
324
Alex Sandro Teixeira Da Cruz
[...] não é qualquer espécie de interesse que lhes pode servir de jus-
tificativa, pois todo e qualquer interesse público é, ipso facto, rele-
vante. Donde – e como nem a lei nem a Constituição têm palavras
inúteis – há de se entender que a menção do art. 62 à ‘relevância’
implicou atribuir uma especial qualificação à natureza do interesse
cuja ocorrência enseja a utilização da medida provisória.
3.2 A Urgência
A palavra urgência sempre soa como pressa, algo que não pode esperar.
Juridicamente, podemos dizer que urgência é aquilo alcançado pelo periculum
in mora, isto é, algo a que se impõe grave risco se a solução tardar. Aliás, exata-
mente nesse sentido, CONCEIÇÃO (1999), reportada por Maia (2006, p. 159),
refere que a urgência “insere-se no ‘periculum in mora’, pois, em determinada
matéria, a espera do trâmite normal do processo legislativo pode inviabilizar
o caráter acautelatório da medida constitucional, causando dano irreparável
ou de difícil reparação”.
Do ponto de vista estritamente normativo, a questão da urgência tem
suscitado interpretação sistemática, levando em conta o disposto nos parágra-
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Em
Editadas Convertidas Rejeitadas tramitação Outros*
617 511 29 24 53
78 Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/Quadro/_Quadro%20
Geral.htm #anterio remc>.Acesso em: 04 jun.2013.
79 Em relação ao período do antigo regramento, embora a sítio da Presidência da
República na Internet refira a Medida Provisória n. 2.230, datada de 6 de setembro
de 2001, como sendo a última anterior à Emenda Constitucional n. 32, não se tem
números precisos quanto às reedições, tampouco o encaminhamento final de cada
uma delas. No mesmo endereço eletrônico (<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
mpv/Quadro/_Quadro%20Geral.htm#anterioremc>) observa-se o relatório de 615
das 2.230 medidas provisórias editadas no período. Das 615 relatadas, 473 foram
convertidas em lei, 21 foram rejeitadas, 52 ainda estão em tramitação e 69 tiveram
com outros encaminhamentos (vigência encerrada, revogadas, perderam eficácia, ar-
quivadas etc.).
327
A (in) observância dos pressupostos da relevância e urgência nas medidas provisórias
cional80.
Tais dados acabam sendo reveladores, tendo o Legislativo brasileiro, de
forma muito ampla, acolhido passivamente a atividade legiferante extraordi-
nária conferida ao Executivo.
328
Alex Sandro Teixeira Da Cruz
setembro de 2001
A Medida Provisória n. 2.228-1 (BRASIL, 2001b) estabeleceu princípios
gerais da Política Nacional de Cinema, criou o Conselho Superior do Cinema
e a Agência Nacional do Cinema – ANCINE, instituiu o Programa de Apoio
ao Desenvolvimento do Cinema Nacional – PRODECINE, autorizou a criação
de Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica Nacional – FUN-
CINES, e alterou a legislação sobre a Contribuição para o Desenvolvimento da
Indústria Cinematográfica Nacional.
Obviamente que ninguém desconhece a importância do cinema como
instrumento de lazer e de difusão da cultura de um povo. No entanto, cumpre
indagar se, malgrado ser importante, referida questão é alcançada por aquele
elemento adicional de relevância (v. item 4.1 retro), tido como especial rele-
vância ou relevância qualificada, a ponto de justificar sua abordagem através
de medida provisória.
E, mais ainda, se a urgência de seu trato era tamanha, a ponto de não
poder esperar o trâmite do projeto de lei. Iria o cinema nacional à bancarrota
caso a tramitação (fosse o caso urgente realmente) tivesse que aguardar os no-
venta dias da urgência constitucional do processo legislativo ordinário? Seria
o fim do cinema nacional fosse a matéria tratada através de projeto de lei?
Data venia, não parece.
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6. CONCLUSÃO
Através deste breve estudo, pretendeu-se entender a dinâmica da edi-
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article/view/811/677> Acesso em: 03 jun.2013.
Alex Sandro Teixeira Da Cruz
A obra, assentada nos pilares do Estado, da Política e do Direito, de forma didática,
desdobra-se em outros grandes temas conexos, em torno dos quais os autores contri-
buem com capítulos específicos, refinando a complexidade do texto.
Na primeira parte, o livro inicia abordando a relevante temática da economia solidá-
ria, colocando-a, de um lado, como movimento social e, de outro, como protagonista
do desenvolvimento municipal. Na sequência, foca na constitucionalização do direito
civil e as novas formas de família. Finaliza com a relevante temática do princípio da
vedação do retrocesso social no Brasil.
Na segunda parte, dedicada ao trabalho digno, o texto inaugura com a temática da
escravidão contemporânea, abordando o paradigmático caso “Fazenda Brasil Verde”
julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Prossegue enfocando a
temática do contrato de trabalho intermitente, introduzido pela recente reforma traba-
lhistas operada no Brasil, colocando em voga o problema da precarização do trabalho.
Adiante, traz à tona a relevante temática da discriminação etária no mercado de traba-
lho. Após, o protagonismo da Organização Internacional do Trabalho na proteção dos
direitos humanos dos trabalhadores. Por fim, o perfil das cidades catarinenses com
maiores indicadores de trabalho infantil.
A terceira parte foca no direito à saúde, inciando com a judicialização do acesso à
saúde pública no Brasil. Na sequência, trata das políticas públicas e saúde da popula-
ção negra no Brasil. Prossegue com a temática da atenção integral à saúde da mulher
e finaliza com a advocacia feminista como instrumento de exercício da cidadania
participativa, analisando o processo de formulação da Lei Maria da Penha.
A quarta e última parte põe no centro do debate a questão do constitucionalismo e da
participação popular e inaugura falando dela, do plebiscito e do referendo nas leis
orgânicas dos municípios da região geográfica de Criciúma. Prossegue com a mesma
temática agora aplicada ao plano diretor do município de Criciúma. Adiante o texto
envereda pelo novo constitucionalismo latino-americano e os institutos da participa-
ção popular no processo legislativo. Com nova proposta, porém dentro da mesma
temática, o texto aborda o estado de coisas inconstitucional e sua aplicabilidade no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, Por fim, trata da (in) observância dos pressu-
postos da relevância e urgência nas medidas provisórias.
Em síntese, o presente livro é um contributo para o inadiável debate político, jurídico
e social em torno de temas centrais enfeixados pelas políticas públicas, direitos sociais
e trabalho digno.