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Esta semana partilhamos uma publicação que saiu no “Observador” sobre Coaching nas

escolas. A matéria é assinada pela Dra. Mafalda Lapa, Professora e Coach formada pelo
nosso Instituto.
Fonte: https://observador.pt/…/coaching-nas-escolas-uma-luz-ao-lo…/
Mais sobre a autora:
Professora de Ciências Naturais e Biologia
Coordenadora da Estratégia de Educação para a Cidadania
Coordenadora da equipa do Gabinete GuIA
Coordenadora do Clube Ciência Viva
Segue abaixo a matéria:
“A escola é um local onde se aprende, se descobrem vocações e se esboça o futuro. Se
ajudamos os alunos a aprender, porque não ajudamos também a traçarem o seu próprio
caminho?
Não acredito em “maus alunos” nem em “alunos incapazes”. Acredito que há alunos que
ainda não descobriram o seu potencial. Somos todos diferentes, mas a escola trata,
demasiadas vezes, todos por igual A escola deve ser um lugar onde a informação se
transforma em conhecimento com significado útil para a vida académica, profissional e
pessoal, mas isso nem sempre acontece. Com projetos construídos pelos alunos, aulas
alicerçadas nas vivências e experiências de cada um, e a exigência aliada ao respeito,
conseguiremos ter alunos motivados, empenhados em construir um percurso profissional
sólido, flexível e próprio. Só assim conseguiremos criar cidadãos conscientes e ativos na
mudança.
Os jovens passam a maior parte do dia na escola e são frequentemente os professores
que se apercebem das necessidades dos alunos. Nas escolas, deparamo-nos muitas
vezes com resultados escolares insuficientes, alunos alheados, que não entendem o
propósito das aulas, que estão sistematicamente cansados e desmotivados, distraindo-se
facilmente. Não se acham suficientemente competentes em algumas disciplinas (quem
nunca ouviu a expressão “eu não sou bom a matemática” ou “eu não consigo fazer uma
apresentação à frente da turma”?) e, por isso, não se sentem encorajados a aprender. A
falta de autoestima de muitas crianças e adolescentes também os torna menos capazes,
conduzindo muitas vezes a um grande sofrimento que, ora extravasa sob a forma de
comportamentos agressivos e inadequados, ora se manifesta através de um silêncio
profundo e de uma espiral de onde o aluno, sozinho, não consegue sair. Mas precisamos
de crianças e jovens conscientes, empenhados no seu percurso e felizes, para que isso se
reflita também na sociedade. O que podemos fazer?
Sou professora e coach. Dinamizo aulas de desenvolvimento pessoal na escola onde
leciono. É uma das atividades mais transformadoras a que me dedico no Gabinete de
Integração do Aluno (GuIA). Foi uma das estratégias que encontrei para ajudar os alunos.
Não acredito em “maus alunos” nem em “alunos incapazes”. Acredito que há alunos que
ainda não descobriram o seu potencial. Somos todos diferentes, mas a escola trata,
demasiadas vezes, todos por igual. No mercado de trabalho pretende-se que tenhamos
funções adaptadas ao nosso perfil mas, na escola, isso poucas vezes acontece. Neste
gabinete os alunos são atendidos de forma personalizada, e os problemas de cada um
transformam-se em desafios que o próprio irá resolver. Existem também projetos de grupo
que pretendem dar sentido ao que se aprende na escola. Nestes projetos é dada
responsabilidade aos alunos que trabalham de forma colaborativa, estimulando o
pensamento crítico, a curiosidade, a capacidade de resolver problemas e conflitos, a
empatia, a gratidão. Ouvimos os nossos alunos e, quando sentimos que precisam de
aprender sobre alguma temática que não se aprende usualmente na escola, oferecemos
formação nessa área. Estas áreas abrangem temas variados como, por exemplo, como
estudar (os alunos não nascem a saber estudar) e como comunicar (aprendemos a falar
na infância, mas comunicar é muito mais que falar), ou o que distingue as pessoas com
sucesso das que não o conseguem, entre muitos outros.
A existência de sessões de coaching na escola permite que os adolescentes se tornem
ativos na gestão do seu percurso e eficientes na transformação da sua vida pessoal e
académica. A minha experiência com várias centenas de jovens com quem já trabalhei,
em gabinete, é que um processo de reflexão assistida por um coach pode apresentar
vantagens significativas. Pode ajudar a desbloquear crenças que impedem o aluno de
progredir (foi o que aconteceu com o João, um aluno que não conseguia fazer
apresentações aos colegas que, no final de 10 sessões, pediu para dar uma palestra para
a escola e está, neste momento, a frequentar um curso universitário onde a comunicação
é essencial). Pode aumentar competências de planeamento e organização que os alunos
vão usar na sua vida académica e também, mais tarde, na profissional (foi o que
aconteceu com o Miguel, que tinha resultados baixos porque não se organizava para
incluir momentos de estudo intercalados nos de lazer e, não só acabou o secundário com
uma média brilhante, como ainda hoje, no mercado de trabalho, usa as ferramentas que
aprendeu). Contribui, sobretudo, para o aluno se conhecer melhor, ter noção de onde está,
para onde quer ir e do que fazer para lá chegar.
Já vi como o processo de coaching pode manter os alunos motivados, ensinar a aprender
mais depressa e a reter o que aprendem (foi o caso da Maria, que estudava muitas horas
mas não tinha resultados, e passou a estudar menos mas de forma mais eficiente). Alguns
alunos desenvolvem significativamente a capacidade de priorizar tarefas e atividades de
forma mais eficaz. Outros aprendem a vencer o vício da procrastinação (como o caso do
Salvador que, cada vez que tinha um teste, punha em dia temporadas seguidas da sua
série preferida). O coaching é uma prática que pode ser levada às escolas à semelhança
do que começa a acontecer no ensino superior e tecido empresarial. E a Autonomia e
Flexibilidade Curricular são um excelente habitat para isso acontecer.
O coaching é uma ferramenta que pode ajudar os alunos no presente e no futuro. O Fórum
Económico Mundial prevê que ainda não existem 65% das profissões que serão
desempenhadas pelos alunos que entraram na escolaridade obrigatória em 2016. Prevê
também que, em média, os nossos jovens terão 7 empregos e até 3 funções diferentes ao
longo da vida. Acredito que, no futuro, os alunos tenham mais liberdade para escolher os
projetos/ conteúdos que querem abordar e mais responsabilidade a moldar o seu futuro.
Provavelmente vão escolher as atividades em que querem participar, aprender de forma
personalizada com experiências no terreno (estágios e trabalho com profissionais de
várias áreas), envolvendo-se ativamente na construção do seu percurso. A existência de
um coach que os acompanhe, desafie e apoie poderá ser uma ferramenta determinante.
Nessa altura, é minha crença que teremos níveis de insucesso mais baixos, crianças e
jovens criativos, verdadeiramente inspirados e capazes de mudar o mundo para melhor.
Porque não começar já hoje a trabalhar para esse futuro?
Professora na Escola Básica e Secundária da Cidadela onde coordena o Gabinete de
Integração do Aluno (GuIA) e a Estratégia de Educação para a Cidadania. Foi Prémio
Ciência Viva Montepio Educação 2016 e Finalista da 2ª Edição do Global Teacher Prize
Portugal.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a
Educação, através de um autor convidado.
Fonte: https://observador.pt/…/coaching-nas-escolas-uma-luz-ao-lo…/

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