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Terror totalitário – forma superior de violência – criação de cadáveres vivos, homens supérfluos,
despojada de sua própria individualidade
“Para realizar com êxito a tarefa de fabricação de cadáveres vivos, e assim estabelecer a
superfluidade, o sistema totalitário necessita intervir na própria condição humana, eliminando
qualquer vestígio de respeito à sua dignidade, respeito que garante ao homem o reconhecimento,
por parte de seus pares, como um ser construtor do mundo. Essa tentativa de destruição é feita
sempre em nome da ideologia adotada, e de sua lógica inerente; requer que os homens estejam
não apenas isolados entre si, mas em completa solidão.” (p. 90)
Eliminação do espaço da vida privada
Isolamento – perda do mundo comum; solidão – não pertencimento ao mundo; perda do eu
superfluidade. Não ter raízes. Abandonado por todos e por si mesmo
Em origens do totalitarismo (p. 529): “O homem solitário é, portanto, aquele que, despojado da
companhia dos outros homens, do mundo compartilhado, é privado ao mesmo tempo da
confirmação de sua própria identidade, e daquilo que é percebido como realidade.” (p. 92)
“Para exercer eficazmente a dominação, o sistema totalitário precisa produzir o fenômeno da
solidão, o sentimento de não pertencimento ao mundo, no qual a ideologia toma o lugar de
valores cristalizados, e o frio e árido raciocínio lógico substitui o pensamento. O surgimento de
grandes contingentes humanos – as massas – a partir da Revolução Industrial, na Europa, teria
fornecido o material humano à fabricação de cadáveres vivos: ‘a solidão, o fundamento para o
terror, a essência do governo totalitário, e, para a ideologia ou a lógica, a preparação de seus
carrascos e vítimas, tem íntima ligação com o desarraigamento e a superfluidade que
atormentavam as massas modernas desde o começo da Revolução Industrial e se tornaram
cruciais com o surgimento do imperialismo no fim do século passado e o colapso das instituições
políticas e tradições sociais do nosso tempo’”. (p. 93) (Or. Totalitarismo p. 528)
Atomização do indivíduo
Segundo Ortega y Gasset, advento das massas se conjugou a partir de três princípios –
democracia liberal, experimentação científica e industrialismo, homem-massa, vida isenta de
impedimentos
“O homem-massa é aquele que dispõe de independência e segurança econômica, e vive em um
mundo, agora tido como sem limites, dotado de facilidades, conforto e segurança.” (p. 99)
autossuficiente, mesmo que não seja brilhante
Ascensão ao poder pelas massas sindicalismo e fascismo, impor opiniões
Bolchevismo e fascismo, para Ortega, é o retorno à barbárie, o império político das massas
“Portanto, diminuída as possibilidades de discussão e de diálogo, o predomínio do isolamento, do
encapsulamento do homem, a ausência de normas e a transformação da violência em primeiro
recurso, tem-se o silêncio, a negação da civilização, o império da violência no mundo atual.” (p.
104)
Arendt: Os efeitos produzidos sobre o homem após a Primeira Guerra Mundial: ausência de um
lugar físico no mundo, desenraizamento social, ausência de direitos políticos
Desintegração econômico, politica e social alienação do mundo (Arendt) o que distingue a era
moderna. “Refere-se ao indivíduo moderno que, isolado politicamente, deixa de ter um lugar
tangível no mundo comum, e refugia-se na privacidade e na intimidade. Termo retirado da teoria
política, a alienação do mundo é o equivalente ao egoísmo na filosofia da existência, e ao
individualismo burguês; significa a perda de interesses comuns e mundo compartilhado.” (p. 105)
1º - expropriação da proteção da família e da propriedade (perda de um lugar no mundo), miséria,
pobreza, trabalhadores despojados
2º - sociedade passa a exercer funções que antes eram da família (expansão da esfera social)
3º - declínio do Estado-nação e estreitamento do mundo público comum
Momento de imigração em massa, entre as duas guerras. Desintegração geral da vida política.
Todos contra todos. Sentimento de ódio. Apátridas e minorias sem Direitos do Homem, seres
desprotegidos pelo Estado
Nem repatriação, nem a naturalização foram soluções eficazes intervenção violenta da polícia.
O Estado-nação, incapaz de prover uma lei para aqueles que haviam perdido a proteção de um
governo nacional, transfere o problema para a polícia (117-118). Execução do terror totalitário
“Foi assim que, ao se perderem os valores sociais, espirituais e religiosos, que até então
sustentavam os direitos sociais e humanos, em virtude da secularização e da emancipação da
sociedade, os direitos humanos passam a ser conclamados como proteção de um indivíduo
contra o Estado e a própria sociedade.” (p. 118)
“Transformadas e identificadas como apátridas e homens sem Estado, essas pessoas eram
consideradas expulsas da humanidade, seres que sofreram morte civil, proscrição, seres que não
tinham a quem recorrer. Não tinham mais um lugar no mundo e por isso sofriam duplamente: a
perda do próprio lar e a impossibilidade de encontrar um novo lar.” (p. 119)
Perda do lar, impossibilidade de um novo lar; destruição da cidadania – proteção de um governo,
em qualquer país. Duplamente despojadas, Arendt os chama de inocentes
Situação angustiante pelo fato de não haverem leis para eles, não haver interesse neles
nem que seja para oprimi-los (H.A)
Total perda de direitos morte física. Para Arendt, os direitos do cidadão são: a fala autorizada,
a ação efetiva e a convivência em comunidade
- privação de um lugar no mundo que torne a opinião significativa e a ação eficaz. Eles não
escolhem, se o cometer um crime for melhor...
“Para Arendt, não adiantar o ser humano dispor de um direito de liberdade e de pensamento, mas
ser proibido de agir e opinar. Essa circunstância, vivida pelos inocentes, a levou a afirmar a
necessidade de se ter um direito a ter direitos e de se ter um lugar no mundo.” (p. 123)
“Só a perda da própria comunidade é que o expulsa de sua humanidade.” (p. 123) H.A.
“Assim, o que existe para Arendt são os direitos nacionais de cidadania; é preciso que o homem
se torne primeiramente cidadão de algum Estado, para só então adquirir a posição de ser
humano específico.” (p. 124)
“Segundo Arendt, não somos naturalmente iguais. Somos diferentes. E é na esfera privada da
vida humana que esta distinção se revela de modo mais efetivo. Contrapõe-se e não raro ameaça
a esfera pública, lugar privilegiado onde os homens não nascem, mas tornam-se iguais. Com
efeito, a igualdade, fruto da organização humana, é orientada pelo princípio de justiça: ‘nossa vida
política baseia-se na suposição de que podemos produzir igualdade através da organização,
porque o homem pode agir sobre o mundo comum e muda-lo e construí-lo juntamente com os
seus iguais, e somente com os seus iguais’. Com o encolhimento desse espaço da igualdade no
mundo moderno, os homens são reduzidos àquilo que eles são naturalmente, são despojados
exatamente daquelas qualidades que os tornam seres verdadeiramente humanos.” (p. 125)
Pertencem à raça humana
“A última forma de expropriação pela qual sofreram as massas modernas foi a de deixar de
pertencer a uma comunidade. A ausência de um lugar no mundo, a expulsão do indivíduo da
própria humanidade revela-se, assim, como a mais degradante e radical forma de violência que
se possa efetivamente suportar.” (p. 126)
Refúgio na esperada privada e intima retirada do mundo, alienação do mundo, perda do
mundo comum perda do humano, evasão em relação à realidade, impotência perda de
poder
Essa retirada da sociedade dos judeus alemães ambiguidade as pessoas comportavam
como se não mais pertencessem ao país, se sentiam emigrantes, por outro lado, indicava que
não haviam emigrado, mas se retirado para um âmbito interior, na invisibilidade do pensar e do
sentir. (p. 130)
Para se evitar essa retirada do mundo, valorizar o espaço público. Amizade em sua dimensão
política
“Para os gregos, a essência da amizade está no discurso. O discurso une os cidadãos por se
referir a um mundo comum, e oferece as bases para a constituição de uma comunidade feliz.” (p.
130)
“Pois o mundo não é humano simplesmente por ser feito por seres humanos, e nem se torna
humano simplesmente porque a voz humana nele ressoa, mas apenas quando se tornou objeto
de discurso.” (homens em tempos sombrios, p. 31; gombi p. 131)
Para Arendt, onde há palavra não existe violência, a violência impera onde tudo é silencio e todos
silenciados. O discurso entre os homens amizade poder e mundo comum
Polis – espaço entre os homens, construção do mundo comum, o espaço onde os homens são
vistos e ouvidos.
Privar-se do espaço público é retirar-se da realidade. A realidade do mundo exige testemunho,
dado pela presença dos outros homens. (p. 133)
O poder mantém a existência da esfera pública, o epaço potencial da aparência entre homens
que agem e falam.
O poder existe enquanto os homens agem juntos e desparece quando eles se dispersam. Então,
para Arendt, o fato indispensável para a geração do poder é a convivência humana. O poder
humano corresponde à condição humana da pluralidade. (p. 134)
Atomização do indivíduo --: renúncia ao poder perda de um lugar no mundo instauração da
violência