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UNIDADE III: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE HTP

(HOUSE-TREE-PERSON)
Profª Msc. Niamey Granhen Brandão da Costa
Psicóloga – CRP 10/00236

Palavras Iniciais

• O teste psicológico é um instrumento auxiliar na avaliação psicológica, construído com


bases científicas e pesquisas. (LEVENFUS, 2009)

Testes de Grafismo

• “O desenho é anterior a linguagem escrita e é considerado uma das mais antigas formas
de comunicação do ser humano. Isto é atestado pelos desenhos e pinturas dos homens
das cavernas e dos povos primitivos, que fizeram com que chegassem até nós os seus
interesses e expressões de aspectos de sua vida”. (RETONDO, 2000, p 54)

• Grafismo: representação gráfica, delineamento ou traçado, projeção gráfica.

Técnicas Projetivas

• Estimulam a projeção de elementos da personalidade e de áreas de conflito dentro da


situação terapêutica, permitindo que eles sejam identificados com o propósito de
avaliação e usados para o estabelecimento de comunicação terapêutica efetiva. (BUCK,
2003, p. 1)

Teste da Casa-Árvore-Pessoa (H-T-P) House-Tree-Person

• Autor: John N. Buck.

• Objetivo: Este teste é usado como uma técnica projetiva de desenho com o objetivo de
obter informações sobre como uma pessoa experiencia sua individualidade em relação
aos outros e ao ambiente do lar.

• Apresentado em 1946 e publicado em 1948.


• É uma técnica projetiva de desenho que visa estudar os traços de personalidade;

• Por ser uma técnica projetiva, é um instrumento que considerado sensível a aspectos
inconscientes ou velados do comportamento, que permite ou encoraja uma ampla
variedade de respostas no sujeito;

• “[...] a projeção é o processo psicológico de se atribuir qualidades, sentimentos, atitudes


e anseios próprios, aos objetos do ambiente. O conteúdo da projeção pode ou não ser
conhecido pelo sujeito como parte de si próprio”. (HAMMER, 1981, p. 76)

Vantagens

1. Simples aplicação;

2. Econômico (material, tempo e interpretação);

3. Pode ser aplicado em crianças, analfabetos e estrangeiros;

4. Pode ter aplicação coletiva;

5. É interpretado diretamente dos desenhos, sem número ou registros;

6. Oferece oportunidades de liberação com efeitos terapêuticos.

Desvantagens

1. Vulnerável ao abuso por ser de fácil aplicação;

2. Não se pode negar os traços culturais.

Principais Postulados

1. Um determinado detalhe ou combinação deles poderá ter um significado especial, positivo


ou negativo:

Características Positivas:

• Confabulação;

• Detalhes bizarros;
• Apagar frequentemente;

• Apresentação do detalhe de forma diferente do usual.

Características negativas:

• Desenhos incompletos;

• Comentários evasivos.

2. Cada desenho deve ser considerado um auto-retrato;

3. A interpretação dos detalhes ou conjunto deles oferecerá informações sobre as necessidades,


temores e conflitos do sujeito;

4. Que o sujeito participe da interpretação do desenho fornecendo dados verbais para o mesmo;

5. Só se interpreta um detalhe específico, levando em consideração a figura global;

6. Circunspecção, conhecimento do sujeito, de personalidade, do ambiente, da situação e


experiência clínica devem existir na análise do teste.

O H.T.P é constituído no mínimo de duas fases:

1. Não-Verbal: produtiva, criativa e quase completamente não estruturada (desenhar): consiste


em convidar o indivíduo a fazer um desenho a mão livre acromático de uma casa, de uma árvore
e de uma pessoa;

2. Verbal: de apercepção, explicativa e mais estruturada que a primeira (inquérito): envolve


fazer uma série de perguntas relativas às associações do indivíduo sobre aspectos de cada
desenho.

Fases 3 e 4:

3. O indivíduo desenha novamente uma casa, uma árvore e uma pessoa (ou duas pessoas), dessa
vez usando crayons (giz de cera);

4. O examinador faz perguntas adicionais sobre os desenhos coloridos.


Fase Cromática

"Constitui um recurso para explorar camadas mais profundas da personalidade, permitindo


obter um quadro da hierarquia de defesas e conflitos do paciente". (HAMMER, 1991 apud
CUNHA, 2000, p. 519)

Administração

• População a que se destina: indicado para indivíduos acima de 8 anos de idade


(crianças, adolescentes e adultos).

• Uso: aplicado geralmente em uma situação face a face, como parte de uma avaliação
inicial ou de uma intervenção terapêutica em andamento de um determinado indivíduo.

• Material: folha de papel sulfite branco, tamanho A-4, para cada desenho (protocolo
para desenho), vários lápis pretos nº 2, borracha, um conjunto de crayons (pelo menos
8 cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta, marrom e preto) e protocolo de
interpretação para cada conjunto – acromático e cromático (inclui uma parte do
inquérito posterior ao desenho para cada desenho).

• Tempo: 30 a 90 minutos (dependendo do número de desenhos solicitados).

Organização

• O teste consta da apresentação de três conceitos, cada um em uma folha própria (uma
casa, uma árvore e uma pessoa) e que são familiares mesmo para crianças pequenas.

Importância das observações durante a testagem (MORRIS, 1976 apud CUNHA, 2000, p.
519)

• Devem-se registrar: "Reações dos sujeitos às instruções, que podem envolver indícios
de ansiedade, resistência, desconfiança ou, pelo contrário, de cooperação ou de
aceitação passiva da tarefa".

• Devem-se anotar: "O tempo de reação e os comportamentos verbais e não verbais".


Na situação de testagem deve-se observar:

• Verbalizações do sujeito;
• Movimento que o sujeito faz ao desenhar;
• O momento do sujeito (aspecto situacional);
• O apagar;
• Coperatividade;
• Recusa ao desenhar;
• Empatia;
• Sintomas de tensão;
• Tempo de latência (ou tempo de reação) e tempo total dos desenhos;
• Dificuldade para desenhar algo;
• Incapacidade física;
• Maneirismos ou tiques.

Interpretação

Os desenhos são avaliados:

• Pelos sinais de psicopatologia existente ou potencial baseados no conteúdo;

• Características do desenho (tamanho, localização, presença ou ausência de


determinadas partes);

• Respostas do indivíduo durante o inquérito.

Deve-se avaliar o desenho como um todo e observar se a conotação dada pelo indivíduo ao
desenhar é emocional ou social;

Considerar:

• Tamanho do desenho;

• Disposição do e no papel (localização);

• Pressão da linha;

• Grau de complementos e detalhes;


• Tempo de latência e tempo total;

• Caracterização do traço;

• Rasuras (uso da borracha);

• Simetria, perspectiva e proporções;

• Resistências;

• Indicadores de conflitos (reforços, sombreamento, correções, retoques e transparência);

• Conteúdo.

Desenhos Acromáticos

• Apresente (no sentido horizontal) a página do protocolo relativa à casa para o cliente
com a palavra CASA no topo da página.

• As páginas relativas à árvore e à pessoa devem ser apresentadas na vertical e também


com a palavra referente a cada desenho no topo da página.

• Um desenho adicional de uma pessoa do sexo oposto pode ser solicitado neste momento.

Instruções desenho CASA

• “Eu quero que você desenhe uma casa. Você pode desenhar o tipo de casa que quiser.
Faça o melhor que puder. Você pode apagar o quanto quiser e pode levar o tempo que
precisar. Apenas faça o melhor possível”.

• O desenho deve ser à mão livre.

• Caso o indivíduo demonstre preocupação em relação à sua capacidade para desenhar,


enfatize que este não é um teste de habilidades artísticas, e que o desenho deve ser,
apenas, fruto de seu maior esforço.

Anotar

• A latência inicial;
• Ordem dos detalhes desenhados (observar e registrar eventos incomuns na sequência
dos desenhos);

• Duração das pausas e o detalhe específico quando a pausa ocorrer;

• Qualquer verbalização espontânea ou demonstração de emoção e o detalhe que estiver


sendo desenhado quando essas ocorrerem;

• Tempo total utilizado para completar o desenho.

Inquérito posterior ao Desenho

• Após a realização do desenho acromático feito com o lápis preto, realiza-se o inquérito
com o objetivo de dar ao indivíduo uma oportunidade de definir, descrever e interpretar
cada desenho e para expressar pensamentos, ideias, sentimentos ou memórias
associadas.

• Principal objetivo: compreender o cliente extraindo o maior número possível de


informações sobre o conteúdo e o contexto de cada desenho (tempo e rapport).

• Qualquer detalhe implícito, como componentes básicos escondidos atrás da figura ou


que se estendem para além da margem da página, devem ser investigados.

• Detalhes que forem adicionados durante o inquérito também devem ser identificados.

• No final, o inquérito é pedido ao sujeito para desenhar um sol e uma linha de base nos
desenhos que não possuem esses detalhes.

Casa

• “Você gostaria que esta casa fosse sua?”

• Peça para o indivíduo descrever as diferenças entre a casa desenhada e a casa que ele
mora realmente e pergunte qual a probabilidade de ele um dia ter uma casa semelhante
à desenhada.

• “Qual quarto você escolheria para você?” Determine como este se compara com a
localização do quarto ocupado por ele em sua casa atual.
Árvore

• “Onde esta árvore realmente está localizada?”

• Se a resposta for “na selva” ou “na floresta”, pergunte sobre o significado da selva ou
da floresta para o indivíduo.

• “Como está o tempo neste desenho?”

Avaliação do desenho: aspectos gerais

1. ATITUDE: fornece dados sobre a disposição global do sujeito para rejeitar uma tarefa nova
e, talvez, difícil. Será influenciada pelas associações despertadas pelo objeto do desenho. Mais
rejeitado é o da pessoa.

• Atitude comum é de uma aceitação razoável.

• Os desvios variam entre dois extremos:

a) Da aceitação total ao hiperegotismo;

b) Da indiferença, derrotismo e abandono à rejeição aberta.

2. TEMPO despendido para completar os desenhos, Latência e Pausas: podem fornecer


informações valiosas acerca dos significados dos objetos desenhados e de suas partes
respectivas para o indivíduo.

• Latência média é de 30” (+ que 30” potencial para psicopatologia pode estar presente).

3. CAPACIDADE CRÍTICA (é uma das primeiras funções intelectuais a ser afetada na


presença de forte emotividade e/ou de processos orgânicos) e RASURAS:

• Comportamentos indicativos de autocrítica incluem:

a) Abandono de um objeto não completado, recomeçando o desenho em outro lugar da


página do desenho, sem apagar o desenho abandonado;

b) Apagar sem tentar redesenhar;

c) Apagar e redesenhar, se melhor é um sinal favorável, porém pode indicar patologia


se a tentativa de correção representar meticulosidade exagerada, ou uma tentativa inútil
de obter perfeição ou se a rasura for seguida de uma deterioração da qualidade da forma.
Apagar e redesenhar persistentemente qualquer parte do desenho sugere fortemente
conflito em relação ao detalhe ou ao que ele representa para o indivíduo.

4. COMENTÁRIOS:

• Durante a fase do desenho podem representar uma necessidade compulsiva para


estruturar a situação o mais completamente possível (indicativa de insegurança), ou uma
necessidade compulsiva para compensar uma ideia ou sentimento obsessivo ativado por
alguma coisa no desenho.

• Um número excessivo de comentários, comentários irrelevantes ou bizarros indicam


preocupação.

Características gerais do desenho

• Proporção, perspectiva e detalhes: podem fornecer informações sobre o


funcionamento de um indivíduo no contexto de seu nível de funcionamento esperado.

• 1ª característica que se estabiliza no desenvolvimento: uso adequado e apropriado de


detalhes;

• 2ª característica: capacidade de representar as proporções realistas;

• 3ª característica: capacidade de reconhecer e representar a necessidade de perspectiva.

Características gerais do desenho: Proporção

• Revelam os valores atribuídos pelo indivíduo aos objetos, situações e pessoas.

• Também revela a capacidade do indivíduo para atribuir valores objetivos aos elementos
da realidade e realizar julgamentos com facilidade e flexibilidade

• Aspectos:

• Entre a figura desenhada e a folha do desenho;

• Detalhes na figura desenhada. (p.35)


Características gerais do desenho: Perspectiva

• Indica a capacidade do indivíduo para compreender e reagir com sucesso a aspectos


mais complexos, mais abstratos e mais exigentes da vida.

• Aspectos: (p.36-38)

• Localização horizontal, vertical e central na página;

• Mudança da posição da página;

• Quadrantes da página;

• Margens da página;

• Relação com o observador;

• Distância aparente em relação ao observador;

• Posição;

• Transparências (implicam em uma falha na função crítica, presume-se que elas


indiquem nos desenhos de pessoas sem deficiência mental a extensão em que a
organização da personalidade está rompida por fatores funcionais, orgânicos ou
ambos. O significado patológico pode ser avaliado pelo seu nº e gravidade);

• Movimento;

• Consistência.

Características gerais do desenho: Detalhes

• Podem ser considerados como um índice de reconhecimento, de interesse e de reação


aos elementos da vida diária.

• Aspectos: (p.38-40)

• Essenciais;

• Não essenciais;

• Irrelevantes;

• Bizarros;
• Dimensão do detalhe;

• Sombreamento do detalhe;

• Sequência do detalhe;

• Ênfase no detalhe;

• Qualidade da linha.

Características gerais do desenho: Cor

• Fornece uma estimativa da estabilidade das respostas do indivíduo nas tarefas do teste,
através do tempo e das condições.

• Aspectos: (p.40-41)

• Escolha;

• Aplicação;

• Adequação.

Características do desenho específicas da figura: Casa

• Parece estimular uma mistura de associações conscientes e inconscientes referentes ao


lar e às relações interpessoais íntimas.

• Para a criança: a casa parece salientar o ajustamento aos irmãos e aos pais,
especialmente com a mãe.

• Para os adultos: é representado o ajustamento a situações domésticas em geral e, mais


especificamente, ao esposo (a) e aos filhos (se tiver).

• Este desenho dá uma indicação da capacidade do indivíduo para agir sob estresse e
tensões nos relacionamentos humanos íntimos e para analisar criticamente problemas
criados pela situação do lar.

• As áreas de interpretação neste desenho geralmente referem-se à acessibilidade, nível


de contato com a realidade e grau de rigidez do indivíduo.
• Proporção (p.42-43), perspectiva (p.43-44), detalhes (p.45-47), adequação a cor (p.47)
e inquérito posterior ao desenho (p.47-49).

Características do desenho específicas da figura: Árvore

• Parece estimular menos associações conscientes e mais associações subconscientes e


inconscientes do que os outros dois desenhos. É uma expressão gráfica da experiência
de equilíbrio sentida pelo indivíduo e da visão de seus recursos de personalidade para
obter satisfação no e do seu ambiente.

• A qualidade do desenho parece refletir uma capacidade do indivíduo para avaliar


criticamente suas relações com o ambiente.

• Áreas adicionais de interpretação incluem o quadro subconsciente do indivíduo em


relação ao seu desenvolvimento, contato com a realidade, sentimento de equilíbrio
interpessoal e (quando a árvore representa uma outra pessoa) pressões interpessoais.

• Proporção (p.50), perspectiva (p.50-51), detalhes (p.51-53), adequação a cor (p.54) e


inquérito posterior ao desenho (p.54-57)

Características do desenho específicas da figura: Pessoa

• A pessoa desenhada estimula mais associações conscientes do que a casa ou a árvore,


incluindo a expressão direta da imagem corporal.

• A qualidade do desenho reflete a capacidade do indivíduo para atuar em


relacionamentos e para submeter o “self” e as relações interpessoais à avaliação crítica
objetiva.

• Este desenho desperta sentimentos tão intensos que indivíduos paranóicos ou psicopatas
podem se recusar a fazê-los.

• Áreas adicionais de interpretação podem se referir ao conceito do indivíduo de seu papel


e atitude sexuais em relação a um relacionamento interpessoal específico ou a
relacionamentos interpessoais em geral.

• Proporção (p.58), perspectiva (p.58-59), detalhes (p.59-62), adequação a cor (p.62) e


inquérito posterior ao desenho (p.62-65).
Ainda sobre o desenho da Pessoa

• Manifesta 3 tipos de projeções:

• Auto-retrato: é quando o sujeito desenha o que ele acredita ser (eu físico e eu
psicológico);

• Eu ideal ou ideal de ego: projetar no desenho suas necessidades físicas e


psicológicas;

• Pessoas significativas: desenhar pessoas significativas da família ou do meio


social contemporâneo ou passado, devido à forte valência positiva ou negativa.

Referências

BUCK, John N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva do desenho: manual e guia de


interpretação. Revisão de Iraí Cristina Boccato Alves. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2003.

CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico V. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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