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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Turismo e Informática


Curso de Mestrado em Desenvolvimento Económico Regional e Local

A Valorização dos Saberes Locais, Numa Perspectiva de Educação Ambiental:


Uma Análise Sobre o Distrito de Balama

António Tomás

Pemba, Junho de 2020


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Faculdade de Gestão de Turismo e Informática
Curso de Mestrado em Desenvolvimento Económico Regional e Local

A Valorização dos Saberes Locais, Numa Perspectiva de Educação Ambiental:


Uma Análise Sobre o Distrito de Balama.

António Tomás

Trabalho individual a ser utilizado como


instrumento de avaliação para o módulo de
Seminário I – MIC, no curso de Mestrado em
Desnvolvimento Económico Regional e Local

Docente:
PhD. Bianca Gerente

Pemba, Junho de 2020


ÍNDICE
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................4
1. Problematização.............................................................................................................................4
2. Justificativa.....................................................................................................................................5
3. Objectivos......................................................................................................................................6
4. REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................................................7
4.1 Conceitos básicos.........................................................................................................................7
4.2 As comunidades locais como sujeitos ambientais.........................................................................8
4.3 Sabres locais como ferramenta para sustentabilidade ambiental...................................................9
4.4 Saberes locais versus conhecimentos científicos........................................................................11
4.5 A nova concepção de entender a vida.........................................................................................13
4.6 Desenvolvimento sustentável.....................................................................................................13
4.7 A importância dos saberes locais na educação ambiental...........................................................14
4.8 Impacto dos modelos tradicionais na educação ambiental..........................................................15
4.9 As vertentes de educação ambiental...........................................................................................16
4.10 Classificação dos saberes locais................................................................................................17
4.11 Implicações da valorização dos saberes locais na educação ambiental.....................................17
4.12 O contributo dos saberes locais e currículo local no PEA.........................................................18
5. METODOLOGIAS DE PESQUISA................................................................................................21
5.1 Tipos de pesquisa:......................................................................................................................21
5.2 Técnicas de colecta de dados......................................................................................................22
5.2.2 Observação participante...........................................................................................................23
6. Cronogramade actividades...............................................................................................................24
Referências bibliográficas....................................................................................................................25
4

INTRODUÇÃO

A espécie humana encontra – se imersa numa crise jamais vivida em toda


história da humanidade. Esta está recheada de crises nas áreas económicas, políticas, sociais,
culturais e ideológicas, mas é o futuro do ser humano que se encontra ameaçado devido as
suas práticas. Redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se
pode construir um futuro melhor para todos, através de preservação do meio ambiente na sua
íntegra, é a maior preocupação do mundo actual. É relevante integrar os saberes locais nos
científicos, permitindo que haja construção de modelos adequados à realidades locais.
O estudo sobre a valorização dos saberes locais é de grande importância porque, de um
lado, a orientação mundial para a educação assenta sobre a construção do conhecimento e
entendimento que ligue o ser humano com o seu meio cultural.
De acordo com Basílio (2006) afirma que "a responsabilidade dos educadores é
descobrir os fundamentos culturais dos educandos para reforçar a solidariedade e construir as
identidades dos mesmos".
As ideias do Basílio, defendem que o desenvolvimento da educação e a melhoria da
qualidade de ensino necessita de um diálogo constante intercultural, um reconhecimento e um
resgate efectivo dos valores culturais marginalizados, mas relevantes para a mudança de
atitudes comportamentais nocivos ao ambiente.
A consciencialização da camada escolarizada sobre o valor dos saberes locais na
evolução das ciências pode minimizar as contradições existentes entre a comunidade
tradicional da científica na interpretação da acção da natureza. A inculturação e aculturação
das comunidades sobre os modelos tradicionais e formais pode ser alternativa que promova a
educação ambiental sustentável.
É neste contexto, que surge a necessidade de desenvolver a pesquisa intitulada: A
Valorização dos Saberes Locais, Numa Perspectiva de Educação Ambiental: Uma
Análise Sobre o Distrito de Balama.

1. Problematização
Os saberes locais não são vistos com muita profundeza quanto aos seus ensinamentos.
A comunidade tradicional do Distrito de Balama, está sendo levada a crer que aquilo que os
seus antepassados fizeram e transmitiram durante séculos sobre a preservação dos recursos
naturais, os sistemas produtivos não se enquadra com as exigências dos novos sistemas de
produção.
5

Essa realidade, conduz a comunidade a adesão de uma cultura tecnicista, deixando os


seus saberes a serem marginalizados. Os princípios ético – ambientais que servem de elo de
ligação entre Homem/Natureza e de prevenção e mitigação dos riscos ambientais com maior
ênfase para a erosão, as queimadas descontroladas, saneamento básico do meio foram
totalmente esquecidos, deixando este grupo social a dependência dos produtos
industrializados que não dispõem.
Partindo destas premissas, urge a necessidade de se levantar as seguintes perguntas de
reflexão: Quais são as características sócio – culturais da população do Distrito de Balama?
Será que a valorização dos saberes locais pode subsidiar a comunidade académica,
conhecimentos sobre o impacto destes, na educação ambiental? Como construir uma
referência, através da realização de estudos sobre os paradigmas que influenciam na
valorização dos saberes dos ancestrais com os formais na educação ambiental?
É neste contexto, que se levanta a seguinte questão de pesquisa: Até que ponto a
valorização dos saberes locais contribui para uma educação ambiental no Distrito de
Balama?

2. Justificativa
O estudo considera – se crucial na medida em que ajuda a fazer uma avaliação sobre a
valorização dos saberes locais, numa perspectiva de educação ambiental, de modo a
proporcionar às gerações presentes e futuras um ambiente sustentável. É importante porque
enquadra – se dentro das abordagens que dominam actualidade sobre ambiente e
desenvolvimento sustentável e através desta, pretende contribuir com reflexões críticas sobre
os debates em volta da educação ambiental.
De ressaltar que esta, não é uma posição romântica que anseia uma volta ao passado,
mas sim, um entendimento reflexivo e crítico que se baseia no resgate dos saberes locais em
abandono, que podem ser potenciados para a inserção nos novos padrões, através da
consciencialização das comunidades tradicionais e incentivo das mesmas, buscando formas
alternativas de produção, das quais os danos ambientais sejam minimizados.
Não se pretende aqui ignorar os avanços técnicos – científicos e os benefícios trazidos
por estes e valorizar e resgatar apenas os saberes locais, mas sim, concilia – los, visto que, a
promoção da educação ambiental só pode ser possível quando se alicerça de forma
significativa as estratégias aplicadas por estes dois tipos de conhecimentos. Sendo assim, viu-
se que o tema é de muito interesse e constitui a causa da sua investigação.
6

3. Objectivos
Para a materialização desta pesquisa, foi definido o seguinte objectivo geral:
 Objectivo geral
Analisar a valorização dos saberes locais, através do conhecimento dos hábitos e costumes
da população, de modo que se garanta uma educação ambiental sustentável no Distrito de
Balama. Para a efectivação do geral foram desenhados os objectivos específicos:
 Descrever as características sócio – culturais da população do Distrito de Balama;
 Referir a importância da valorização dos saberes locais, subsidiando a comunidade
académica conhecimentos cruciais sobre o impacto dos mesmos, na educação
ambiental;
 Construir uma referência, através da realização de estudos sobre os modelos que
influenciam na valorização dos saberes dos ancestrais, relacionando com os actuais na
educação ambiental.
7

4. REVISÃO DA LITERATURA
Neste item far-se-á a abordagem literária, com auxílio dos documentos, dos
artigos científicos e outras obras literárias publicadas que se expressam a respeito do tema em
alusão, como forma de dotar na pesquisa um carácter científico e posteriormente, dar uma
dedução ou indução. Pois servirá de base de conhecimento que os problemas locais não
obedecem o limite estanque, mas sim, também são vividos e sentidos globalmente.
Sendo assim, os saberes locais não só eles estão ao serviço da população do Distrito de
Balama, como também são importantes noutros pontos do mundo ao efectar em todas as
esferas do planeta e visam promover a igualdade, equilíbrio no acesso dos recursos
necessários para a satisfação das necessidades básicas sociais.

4.1 Conceitos básicos


a) Saberes locais
Para Novaes (2003) define saberes locais como sendo "formas de conhecimento que
não são consideradas científicas, pois carecem de uma investigação da ciência" (p.10). Para
Mírcea (2007), entende que os saberes locais são aqueles que
Empregam símbolos, não com finalidade de explicar os fenómenos naturais
cientificamente, nem de crer uma ideologia abstracta, mas com objectivo de
estabelecer normas válidas para a vida de um grupo. Tem um sentido
normativo pois define o valor dos factos conhecidos, orientando o homem no
seu procedimento com respeito aos seres e realidades superiores invisíveis aos
outros seres visíveis e às realidades que o circundam (p.136).
Nesta óptica, os saberes locais, são aqueles que passam de pai para o filho, de geração
em geração e são aprendidos através de ritos, danças, celebrações da makeya1, fábulas, mitos e
adagias. Por outro, os saberes locais não têm em vista o passado, mas o presente dando os
conhecimentos científicos um sentido pleno. Portanto, os governos locais são chamados a
começar com o resgate dos mesmos e dar a compreender as novas gerações que constituem
caminho alternativo para a sustentabilidade dos recursos naturais.

b) Educação ambiental
1
Makeya é um termo da língua emakuwa, segundo Giuseppe (2008:p.1712) é uma resposta religiosa e linear a
uma cosmovisão omnicompreensiva alérgica a esquemas e polaridades dicotómicas como profano e sagrado,
visível e invisível, categorical e transcendental, natural e sobrenatural.
8

Para Philippi & Pelícion (2005) afirmam que “é uma ferramenta, que visa preparar as
camadas sociais a terem um espírito crítico sobre o ambiente. É imperioso permanente estar
em todos os níveis formais, informais e não formais do meio ecológico, concedendo o direito
à todos os povos” (p.742). Segundo Dias (1999) define educação ambiental como “a chave
principal para a tomada de consciência que torna visível os problemas ambientais já existentes
e forma cidadãos responsáveis para alterar os índices destrutivos nos quais a sociedade exerce
sobre o meio ambiente” (p.132).
Para efeito é imprescindivel que nos juntemos na luta conta os males que enferma o
meio ambiente de que todos os seres vivos dependem para a sua sobrevivencia. Antes porém,
paremos e voltemos no tempo, no sentido de revisitarmos a nossa cultura e resgatemos
aqueles valores sobre os quais se pode construir uma educação ambiental inclusiva.
c) Desenvolvimento sustentável
De acordo com Relatório de Brundtland ou o Nosso Futuro Comum (1987). “é o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazer as suas” (Câmara, 2003: p.43). Para MICOA (2008), define
como “continuidade dos investimentos económicos, das pesquisas tecnológicas e da
exploração de matéria-prima, de tal forma que se leve em consideração não só o presente, mas
também as gerações futuras”.
As definições do Câmara e do MICOA não são um estado fixo de harmonia, mas um
processo de mudança no qual a exploração de recursos naturais, devem não só abranger às
gerações presentes, mas também as futuras, o que exige uma mudança de consciência
ambiental a nível local, regional e global, garantindo a equidade entre os povos.
Os saberes locais podem ser estratégias alternativas no desenvolvimento sustentável na
organização de um espaço ambientalmente saudável garantindo assim, o desenvolvimento das
actividades económicas.

4.2 As comunidades locais como sujeitos do ambiente


Para Myllyla & Kuvaja (2005) afirmam que
Interessante lembrar que as comunidades das grandes cidades do Sul são
geralmente vistos como pessoas muito pobres e que são incapazes de
transformar, pois gastam todas as suas energias diárias na luta pela
sobrevivência. Consequentemente, ter boas condições ambientais é
considerado luxo, pois está além de suas capacidades. Porém, o pobre mesmo
possuindo limitações de recursos financeiros, educacionais e outras, procura
9

organizar o seu ambiente da melhor forma possível, inovando de forma


ecológica, em muitos casos. Porém, os problemas ambientais fazem parte da
sua vida diária e tem impacto directo em sua saúde e bem – estar. Os
moradores mais ricos pelo seu turno, conseguem escapar de alguns problemas
ambientais, como poluição, lixo e outros, pois podem viver de forma mais
satisfatória e com suas necessidades básicas atendidas ou mesmo viajando para
local mais puro, como praia, montanhas, etc, (p. 232).
Myllyla & Kuvaja sugerem-nos à uma reflexão mais profunda de modo especial aos
que ignoram o valor dos saberes locais quanto ao seu contributo na educação ambiental. Pois,
eles podem proporcionar ao homem um desenvolvimento económico sustentado. Sendo
assim, era necessário que a sociedade repensasse sobre o valor saberes locais na educação
ambiental, uma vez que não são um produto exclusivo da comunidade de Balama, de
Moçambicanos, dos africanos, mas sim, de toda humanidade que a conversão é a renegação
da herança dos mesmos na tradição. É nesta óptica que Chambisse, et all. (2003) apelam a
sociedade em geral, nos seguintes termos:
Age de maneira que os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a
permanência da vida autenticamente humana sobre a Terra, [...] age de maneira
que os efeitos da tua acção não sejam destruidoras para a responsabilidade
futura de uma vida, [...] não comprometas as condições necessárias para a
sobrevivência indefinida da humanidade sobre a Terra (p.57).
Chambisse, et all, convidam-nos à responsabilidade sobre a natureza. Sugerem-nos
ainda que a tal responsabilidade deve partir e reflectir-se nas nossas acções, de forma a não
prejudicar a existência da vida futura.
Ainda Myllyla & Kuvaja (2005) reafirmam que “não basta colocar as comunidades no
centro da acção ambiental para ter certeza de que um lugar se tornará sustentável. Mas sim o
foco deve ser também, na desconstrução das estruturas sociais que mantém as condições para
o silêncio”. Myllyla & Kuvaja, chamam a atenção as estruturas sociais que têm causado os
problemas ambientais e as principais barreiras na mudança de mentalidade ambiental para a
construção de uma sociedade sustentável.

4.3 Sabres locais como ferramenta para uma educação ambiental sustentável
Como se pode perceber as ideias de Cipire (1992) ao afirmar que
A sociedade tradicional em Moçambique, ao longo de séculos da sua
permanência no seu habitat praticou diversas actividades económicas inerentes
10

à sua cultura e ao seu próprio ambiente e são transmitidas de geração em


geração, cuja perpetuação chegou até aos nossos dias. Estas actividades
compreendiam diversas sessões: produtivas, educativas e recreativas. Das
actividades produtivas salienta-se a caça, agricultura, o artesanato, a olaria, o
comércio, a indústria, pesca e navegação. Das educativas tem-se a oratura em
todas as suas manifestações de contos, lendas, adágios, adivinhas, provérbios e
ensinamentos e nas recreativas inclui-se as danças e a música. Uma outra parte
é a da medicina tradicional e da ciência oculta, (p.4).
Nesta perspectiva, Cipire enfatiza que os saberes locais são conhecimentos passados
de geração para geração, transmitidos através das palavras, das acções, ritos, dos exemplos.
Esses conhecimentos têm sido a base de sustento das comunidades tradicionais, influenciados
pelos hábitos e costumes dos povos e, formando seus descendentes.
Nakashima (2000) afirma que
O conhecimento do mundo natural e de seus fenómenos, não é privilégio da
ciência. Nas diversas partes do planeta, sociedade e comunidades desenvolvem
ricas experiências e relacionamentos com o meio natural nos locais onde
habitam. Esta forma de conhecer o meio ambiente é característico de pessoas
mais simples, que não tem um aprofundamento científico do seu meio
ambiente, mas possui um conhecimento prático, do seu dia-a-dia, da interacção
e de inter-relacionamento com o entorno (p.12).
Conforme com as ideias de Nakashima importa referir que a comunidade tradicional
têm conhecimentos valiosos sobre como viver sustentavelmente. As teorias científicas criaram
um distanciamento desses conhecimentos práticos e foram esquecidos ou mesmo substituídos
pelas abstracções da educação formal e pelas metodologias ensinadas na academia.
Subscrevendo, ainda as ideias Nakashira, o governo central, através do Ministerio da
Educação e Desenvolvimento Humano, anseia integrar esses saberes locais nos planos
curriculares e posterior nos programas de ensino em Moçambique, pelo facto de notar-se que
os alunos não aprendem significativamente os conteúdos programáticos. Havendo portanto, a
necessidade de se fazer a conexão desses dois tipos de conhecimentos.

4.4 Saberes locais versus conhecimentos científicos


11

A comunidade tradicional possuem um enorme conhecimento do meio ambiente


devido a séculos de convivência e inter-relacionamento com a natureza e com todos os seus
fenómenos. Ela vive da riqueza das plantas e animais e da variedade dos ecossistemas e
administra os recursos naturais de forma sustentável. Para McLuhan (1996) afirma que
A maioria dos povos tradicionais têm canções tradicionais, estórias, lendas,
sonhos, métodos e práticas como meios específicos para a transmissão de
conhecimentos tradicionais. Eles são preservados em forma de memórias,
rituais, ritos de iniciação, cerimónias ou danças. Ocasionalmente é preservado
nos artefactos manuais feitos de pai para filho ou de mãe para filha. Nos
sistemas tradicionais de conhecimento não há uma real separação entre o
conhecimento secular e sagrado e a prática são um e o mesmo.

Nesta perspectiva, o conhecimento científico difere dos saberes locais em muitos


aspectos, pois seus caminhos trilharam caminhos diferenciados no decorrer da história da
humanidade. Sustenta ainda McLuhan (1996) que
A educação e os saberes locais passam de pai para filho, de geração para
geração e são aprendidas através ritos, danças, celebrações. Já a educação
formal foi se desenvolvendo através de séculos e foi transmitida por clérigos,
professores, administradores, etc. se baseia na experimentação científica e na
abstracção reserva pouco espaço para ensinamento da sabedoria tradicional,
pois sempre a considerou sem valor e irrevalente. Porém, a educação ambiental
começou a resgatar a importância e o valor dos saberes locais e aos poucos está
sendo compreendida como um dos caminhos necessários para alcançar a
sustentabilidade.

A ideia de McLuhan não pretende vislumbrar o contributo e o valor dos saberes locais
na educação ambiental ou na gestão de recursos naturais. Não se pretende aqui criticar as
novas técnicas e as de outros tempos, mas sim, fala da necessidade de seleccionar aqueles que
respondem as exigências do Homem actual e que promovam o respeito sobre a natureza.
Papa emérito Bento XVI, na sua encíclica Caritas in Veritate apud Cabral (2010:16),
afirma que “as situações de crise que estamos a atravessar de carácter económico, alimentar,
ambiental ou social, no fundo são também crises morais e estão interligadas”. Bento XVI,
apela-nos a uma profunda renovação cultural. Convida-nos à redescoberta daqueles valores
12

culturais que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um ambiente saudável
para todos.
Câmara, et all. (2003), afirmam que
A experiência oferece uma alternativa aos modelos malthusianas. Demonstra
claramente que, mesmo em áreas vulneráveis, há degradação da Terra. Uma
população em número elevado pode ser sustentada através de uma combinação
de mudanças endógenas e exógenas, apoiadas por um adequado
enquadramento de políticas e de muitas iniciativas locais por vezes
recuperando as técnicas ancestrais (p. 93)
Para Giusseppe (2008), defende que
A continuidade cultural e histórica, de que depende a identidade dos povos e o
seu futuro tem por base uma paisagem e a sua constante valorização. A morte
da paisagem, conduz a perda de identidade e o futuro de um povo como
colectividade diferente e independente. A paisagem rural é o lugar privilegiado,
de recreio, onde continuará o diálogo do Homem com a Natureza,
indispensável para o equilíbrio psicossomático da pessoa humana (p. 1617).
Analisando as ideias do Câmara e o Giusseppe pretendem trazer atona o valor da
paisagem natural na vida da comunidade tradicional. Nela, a população vê como um local
onde passa os seus momentos de lazer, entra encontacto com os seus antepassados,
importantes na intercecção com Deus, buscam plantas e caça animais para sua alimentação,
buscam plantas medicinais e é o local de oração. É ali onde a comunidade se reencontra
consigo mesmos e com a natureza. A paisagem natural constitui o centro de religiosidade dos
povos. Para Capra (1993) afirma que
Para haver um equilíbrio da consciência ecológica é necessário aliar os
conhecimentos tecnológicos2 e científicos com os conhecimentos intuitivos dos
povos, pois estes, por não terem dirigido a ciência e a tecnologia e por
conceberem a relação humano-natureza de forma holística e interdependente,
podem ser um vector de condução à uma nova forma de relação com o meio
ambiente, (p. 76).
Reflectindo nas ideias do Capra pode-se apreender que os saberes locais têm muito a
contribuir na educação ambiental, atraves da percepção da relação Homem e a natureza.
Sendo asim, deve-se olhar com atenção a estes conhecimentos seculares.

2
. Conjunto das técnicas e procedimentos que permitem fabricar um tipo de produto, baseando-se na aplicação
da ciência com tarefas práticas. O termo designa também reflexão sobre as técnicas, (Galbraith, 2000:303).
13

4.5 A nova concepção de entender a vida


A concepção de uma ética voltada ao meio ambiente concebe o bem-estar não mais
alcançado através da riqueza, mas através do atendimento das necessidades básicas da
população, bem como o direito à liberdade, segurança, saúde, educação, a habitação, entre
outros. Há uma inversão de valores e uma valorização de valores esquecidos ou pelo menos
deixados de lado por uma civilização que optou pelo consumo ou pela busca incessante de
riquezas como meio para gerar felicidade. Conforme Mallett (2004) afirma que
A sociedade centrada no bem-estar envolve maior interacção com a família,
amigos e vizinhos, uma experiência mais directa com a natureza e mais
dedicação a procura da realização e expressão criativa do que acumulação de
bens. Estas enfatizam estilos de vida que evitam abuso da própria saúde, do
próximo ou do mundo natural. Ou seja, geram um sentido mais profundo de
satisfação com a vida do que as pessoas têm actualmente.
As ideias de Mallett nos fazem entender que as relações comunitárias fortalecem-se
quando há compartilha de responsabilidades, quando há gestos de solidariedade, quando há
acções de boa educação. Viver de modo mais simples põe por terra muitas superioridades
levantadas por nosso preconceito.

4.6 Desenvolvimento sustentável


Como forma de encontrar soluções e estratégias que possibilitem um desenvolvimento
ambiental sustentável, foi elaborado na ECO 92 a Agenda 21, paraa transformação sócio –
ambiental e a melhoria das relações Homem-Natureza, protegendo e qualificando a vida das
gerações futuras e caracteriza-se por ser constituída a partir das bases populares, em processos
amplamente participativos. A Agenda 21 defende que
A sustentabilidade local se conecta com a expressão “agir localmente e pensar
globalmente”, pois sabe-se que toda acção feita no micro-espaço repercutirá no
macro-espaço, ou seja para as pessoas de outras nações e mesmo outras
gerações. A lógica de sustentabilidade local procura valorizar o que é
construído nas comunidades locais, o seu conhecimento científico e os
conhecimentos tradicionais, a sua forma de agir. Trata-se de valorizar os
pequenos valores, conhecimentos e culturas em contraposição à chamada
“aldeia global”, que nega as diferenças culturais de cada povo ou nação
(Agenda 21).
14

Como se pode perceber que a Agenda 21 critica os comportamentos que negam a


colectividade para a redução dos problemas ambientais. E creditando deste modo, a inclusão
de todas massas vivas da sociedade para a solução dos mesmos, através da educação
ambiental. Pois, ela imprime o carácter participativo ao partir de uma análise da situação
actual que ocorre numa dada comunidade, buscando alternativas para soluções sustentáveis.
A Agenda 21 traz consigo quatro recomendações, dentre as quais, importa descrever a
terceiradevido a forte relação que tem com o tema em alusão e defende que
O fortalecimento do papel de grandes grupos, incluindo todos estratos sociais,
independetemente do seu nível de formação e de informação, ONGs,
iniciativas das autoridades locais em apoio à Agenda 21, trabalhadores e seus
sindicatos, comércio e indústria, a comunidade científica e tecnológica e
agricultores.
Porém, há que destacar que a degradação ambiental pode afectar negativamente o
desenvolvimento sustentável de outros factores. Por isso, o envolvimento dos governos nos
debates visa procurar soluções dos problemas locais e aplicação de políticas públicas e acções
civis para a redução dos mesmos.

4.7 A importância dos saberes locais na educação ambiental


Para Cipire (1992) afirma que
A comunidade tradicional sempre desenvolveu ricos ensinamentos
relacionados com o meio ecológico nos seus habitats. Esses conhecimentos
carecem de uma investigação científica, mas a população conhece o meio
natural e o humanizado sem bases científicos, mas sim, através de
conhecimentos práticos (p.37).
A comunidade tradicional conhece ainda a natureza e suas manifestações, sem terem
ido a escola. Pois, sabem distinguir as diferentes épocas do ano, fases para a prática das
actividades produtivas. Por exemplo a Cigarra, anuncia o verão ou período de preparação dos
campos agrícolas e quando as cobras mordem-se nas caudas anunciam a previsão de
ocorrência de sismo na região. Não obstante, não se pretende aqui ignorar os avanços técnico-
científicos ou arrastar o mundo para o passado, mas sim, trazer esses ricos ensinamentos da
comunidade tradicional e conciliá-los às técnicas científicas.
Para efeito, os organismos internacionais, nacionais e locais no exercício das suas
funções de cidadania, devem se envolver nesta causa, com vista a colher as experiências
15

acumuladas pelas comunidades tradicionais para minimizar os problemas actuaise avançar em


direcçãoao desenvolvimento sustentável.

4.8 Impacto dos modelos tradicionais na educação ambiental


A ocupação do espaço habitado e cultivado na comunidade tradicional relaciona-se
com os hábitos e costume dos povos. Para Serra & Cunha (2008) afirmam que
A relação entre o Homem-Natureza passa necessariamente pelo
equacionamento filosófico dessa relação. No início da humanização da Terra, o
Homem exercia sobre a Natureza um impacto relativamente moderado, que
não punha em causa o equilíbrio ecológico ou a existência, para as gerações
futuras, dos recursos naturais indispensáveis ao sustento da espécie humana
(p.35).
Analisando a visão de Serra & Cunha pode-se depreender que as destruições que hoje
vivemos colocam em risco a sobrevivência da Terra e dos próprios seres humanos que nela
habitam. O que tem se verifica actualmente, os índices de degradação têm aumentado,
enquanto alguns lutam por um mundo melhor para todos, outros degradam sem terem noção
de que esses recursos são finitos na sua maioria.
Não obstante, a influência de factores físico-naturais, sócio – culturais, ideológicos,
políticos e económicos, têm desempenhado papel crucial na organização do espaço. Como
afirma Cipire (1992) que
A contradição nas relações Homem-Natureza consiste principalmente nos
problemas dos processos industriais criados pelo Homem. Esse processo é
visto como gerador de desenvolvimento, empregos, conhecimento e maior
expectativa de vida. Porém, o homem se afastou do mundo natural, como se
não fizesse parte dele, visto que a humanidade conseguiu contaminar o próprio
ar que respira, a água que bebe, o solo que provém os alimentos, os rios,
destruir florestas e até habitats dos animais (p.40).
Nesta perspectiva, apesar da comunidade tradicional não possuírem conhecimentos
formais sobre as políticas públicas de ordenamento territorial, mas os saberes locais podem
explicar os possíveis factos de natureza axiológica 3. Estes facto quando mal entendidos num
determinado espaço, podem deturbar a ética-ambiental na comunidade e consequentemente, a
negação do bem – estar comum.

3
Teoria dos valores morais e espirituais.
16

Na perspectiva de encontrar respostas para as possíveis soluções dos propósitos


plasmados na Agenda 21, urge a necessidade de resgate dos valores e conhecimentos
tradicionais que se julgam responder ou tendentes à caminho de desenvolvimento sustentável
integrado. A Agenda 21, traz as seguintes evidências:
 Solicitar sempre que necessário as autoridades locais para pré-avaliações;
 Envolver massivamente a população e as instituições nas campanhas de saneamento
básico do meio ambiente para a promoção de higiene individual e colectiva;
 Auscultar as autoridades tradicionais, através da formação e capacitações em matérias
de protecçãoambiental, com vista garantir o bem – estar comum.
Como se pode analisar, as ideias da Agenda 21, percebe-se que o aquecimento ou
arrefecimento global, a escassez de chuvas, a seca intensa, podem ser o resultado da crise
moral sobre o ambiente que se reflecte na desvalorização dos saberes locais. Quando isso
acontece as autoridades tradicionais, são chamadas pelos governos locais com intuito de
desenhar estratégias colectivas e inclusivas, visando encontrar soluções conjuntas para a
mitigação e redução dos problemas ambientais, com recursos culturais dos povos.

4.9 As vertentes de educação ambiental


A educação ambiental se faz sentir em todas as suas vertentes permitindo a
tomada de decisão perante a um determinado problema que apoquenta a população. Essas
vertentes permitem igualmente,que se caminhe rumo à construção de condutas, critérios e
comportamentos, normas promotoras de bem-estar comum “agir localmente e pensar
globalmente”.
A educação ambiental objectiva a busca de padrões sustentáveis e preocupa-se
com as gerações futuras, tendo em conta com as possibilidades de usufruir os
recursos naturais de forma racional. É de ressaltar que se alicerce os valores
ambientais que configuram uma educação de cunho ético-ambiental com
intuito de harmonizar o Homem na sua relação com o meio que o cerca, através
da cooperação, da participação de todas as camadas sociais, da solidariedade,
da autonomia, do respeito, da diversidade e da tolerância.
A Educação Ambiental não formal busca os conhecimentos práticos, teóricos
aplicados no quotidiano pelas comunidades. Esta vertente é aplicada em todas camadas
sociais independentemente do seu nível de instrução e contribuem na melhoria de vida,
buscando soluções aos problemas decorrentes nas comunidades.
17

A educação ambiental não formal, surge aqui, como estratégia, através da


consciencialização e difusão da informação a grupos, parceiros específicos para o resgate dos
valores ambientais.

4.10 Classificação dos saberes locais


Neste item, pretende-se agrupar as características dos saberes locais em três aspectos,
nomeadamente: quanto à visão do conhecimento, aos objectivos, aos métodos de ensino e
aprendizagem. Segundo Mírcea (2007), os saberes locais classificam-se em:
Quanto à visão do conhecimento podem ser sagrados e seculares e incluem o
espiritual, holística e integrada por se basearem em sistemas inteiros de
visualização do conhecimento, armazenados oralmente e em práticas culturais
e menos valorizados em diversas áreas. Quanto aos objectivos podem ser
sabedoria duradoura, cultura e ecologicamente sustentáveis,para o uso diário,
integram o pensamento crítico e valores culturais na tomada de decisões.
Quanto aos métodos de ensino e aprendizagem podem ser de longo período
para a aquisição de conhecimentos, aprendizagem através de experiências,
ensinamento através de exemplos, rituais e por estórias contadas oralmente e
testadas nas situações práticas da vida.
A apesar da sua objectividade, os saberes locais podem contribuir grandemente, na
melhoria do ambiente natural que proporcione maior produção e produtividade em todos
componentes que jazem sobre a Terra, como uma concepção de conhecimentos práticos.
Portanto, deviam merecer valor e muita atenção.

4.11 Implicações da valorização dos saberes locais na educação ambiental


De acordo com Giuseppe (2008) mostra como a população se relaciona com o seu
meio.
Durante a caça quando encontrássemos num buraco cerca de vinte Natxinukos4,
matávamos e deixávamos pelo menos quatro para manter a espécie. Quando
quiséssemos arrancar um tubérculo/raiz, fazíamos pequenos buracos e depois
plantávamos a estaca. Quando construíssemos casa fazíamos pequenos
buracos. Quando quiséssemos queimar a mata, delimitávamos e limpávamos à
sua volta evitando que o fogo invada as áreas não desejadas porque pode
arruinar os insectos e os microrganismos que contribuem para fertilidade dos

4
É uma expressão macua, que significa porco espinho do Português, (Giuseppe, 2008, p.1708).
18

solos. Não derrubávamos as árvores de qualquer maneira muito mais as


consideradas sagradas. Mas actualmente os homens dotados de ciências
esquecem e perderam noção da natureza, reviram a terra; arrancam as árvores e
matam tudo (p.1708).
Nesta óptica, os saberes locais contribuem na preservação do ambiente natural e têm
concepções intrínsecas com a natureza. No entanto, é oportuno que se olhe com muita
profundeza os ensinamentos adquiridos através dos tempos pela comunidade e que se procure
valorizá-los e enquadrá-los na componente científica.
De acordo com Giuseppe (2008) o termo mutholo provém do verbo Othola
(procurar em macua), é uma árvore com casca branco-cinzenta, as suas folhas
são as primeiras a germinar na primavera e caem só de noite, a seiva é
vermelha (sangue vida), as raízes são numerosas (fecundidade), debaixo das
quais os pequenos animais cavam as suas tocas para se abrigarem; os frutos
(itholo) são comidos pela gazela animal primordial, isto é, o primeiro a ser
gerado/criado por Deus, todo o seu ser é remédio. Portanto, todas as partes de
Mutholo são terapêuticas: as raízes easfolhas, frutos e cascas. Devido a
tamanha significação e utilidade, o povo macua, escolheu o mutholo como o
lugar para a sua makeya e onde procurar o bem-estar comum (p.1711).
A população preserva alguns recursos naturais através de práticas culturais, onde
algumas árvores foram atribuídas o poder heorófana 5 e teófano6. Partindo, de um
pressupostoque todo povo macua está impedida de explorar certas árvores como Mutholo,
Embondeiro, Ateira-Brava, etc., porque constitui o centro da sua religiosidade.
Portanto, a desvalorização destes saberes pode trazer consequências nefastas no seio
das comunidades e a natureza pode perder a sua voz própria.Se erradicamos certos valores
tradicionalmente aceites, sem devida análise e selecção cuidadosa dos que se julgam
relevantes dos quais as comunidades se identifica. Pode-se correr o risco de não se deixar
legado às gerações futuras não encontrarem um meio natural que lhes proporcionem o bem-
estar.

4.12 O contributo dos saberes locais e currículo local no PEA


De acordo com Basílio (2012) entende que Currículo Local

5
Heorófana – Misterioso, intercessor entre o aquém do além, milagroso, centro das manifestações culturais,
poder mítico, mágico e o centro da religiosidade da comunidade tradicional (do macua), (Giuseppe, 2008,
p.1711)
6
Teófana – Aparecimento ou revelação da divindade, (Dicionário de Língua Portuguesa, 2004, p. 265).
19

É o conhecimento acumulado na humanidade é obra de artesãos que costuram a


partir de suas localidades e são esses espaços e tempos culturais que dão
sentido e significado aos seus saberes. O currículo é reflexo da participação de
artesanatos locais, no diálogo entre as culturas locais (inter-culturalidade) e
entre as áreas de conhecimento (a interdisciplinaridade).
O Currículo Local nas escolas moçambicanas: estratégias epistemológicas e
metodológicas de construção de conhecimentos e discute processos de produção, legitimação
e integração de saberes locais no currículo nacional em Moçambique. Os saberes locais são
apropriações das construções das experiências vividas. Eles constituem uma base para
aprendizagem local e são fundamentais para a redução da distância entre cultura científica e a
tradição.
A partir do reconhecimento de que o conhecimento é uma construção social e cultura é
fruto de transformação da natureza em objectos humanos, se estabelece um encontro entre o
currículo local e o currículo universal, pois os dois são construções sócio-culturais. Nos seus
estudos humanísticos, Godinho (1971) destaca que
O cientista não é alguém que pense sempre e necessariamente de maneira
científica. Mesmo na ciência que cultiva lhe acontece situar-se em níveis de
exigência de rigor, de prova e de crítica muito desiguais. Quando passa a
reflectir sobre o ofício e a sua condição do homem é levado tantas vezes não
pela sua mentalidade científica, a que só ascende por esforço penoso e
inteiramente, mas sim pela cultura em que banha, pela ideologia das divisões
sociais a que pertence, pelos pré – juízos que lhe inculcaram ao crescer, pelas
tendências colectivas inconscientes que moldam a realidade humana em que se
integra (p. 15).
Neste contexto, o currículo local, surge como uma tendência de inovação introduzido
no novo currículo em todos níveis de ensino em todo território nacional, com perspectiva de
criar um vínculo entre os saberes locais e os conhecimentos científicos. Partindo do
pressuposto de que o currículo, a cultura e a escola são elementos privilegiados para a
transmissão dos valores de identidade de um povo que os caracteriza as suas particularidades.
De acordo com Tovela et al. (s/d) afirmam que o curriculo local objectiva
(...) garantir uma formação que responda às reais necessidades da sociedade
moçambicana, dotando crianças, jovens e adultos de habilidades, valores e
atitudes que lhes permitam ter uma participação plena no desenvolvimento
20

social, cultural e económico da sua comunidade e do país, criando, deste modo,


condições para a redução da pobreza absoluta e da vulnerabilidade (p. 8).
Aqui, pode-se perceber que a introdução do currículo local nos programas de ensino
escolar foi pontual pela sua natureza de ensino, pesquisa e extensão. Esta componente, está
em melhores condições para recolher, sistematizar e ressignificar os saberes locais das
comunidades à luz da ciência. É possivel notar aqui, o forte vínculo que reside entre as duas
componentes é a interdependência. Pois, tornaria dificil o aluno dar um conceito de qualquer
objecto que seja, enquanto este, nunca viveu com o mesmo no seu quotidiano. Sendo possível,
precisaria de muito esforço para o conhecer significativamente.
Os saberes locais desempenham um papel preponderante no processo de ensino e
aprendizagem, porque uma vez que o aluno traz consigo conhecimentos do seu meio cultural
transmitidos pelos pais e avós, podendo este, ter a capacidade de puxar um determinado
assunto em estudo junto de ti e relacioná-lo com a sua realidade mais próxima. Por isso,
durante as aulas os alunos vão relacionando estes conhecimentos científicos com a sua
realidade até que consigam conciliá-los, permitindo-lhes a apreensão e a definição de
conceitos significativos de diversos enunciados da esfera científica.
Para a mitigação ou preservação de recursos naturais por exemplo, o homem não
escolarizado recorreu sempre meios alternativos para modelar o seu próprio comportamento,
através de mitos, lendas, provérbios, adágios, fábulas e adivinhas, tendo em consideração que
as futuras gerações virão usufruí-los.
Havendo, a necessidade de se desenvolver uma pesquisa integrante, insinua-se aos
estudantes e aos futuros pesquisadores de diversas áreas de saber o interesse pelo tema e
propor aos órgãos de tutela a materialização dos objectivos plasmados no instrumento que
postula sobre a alteração e a implementação do novo currículo local, iniciado no ano de 2003,
para permitir que as futuras gerações gozem de direito de autenticidade cultural.
A pesquisa é importante porque enquadra – se dentro das abordagens que dominam
actualidade sobre a educação ambiental e desenvolvimento sustentável que através desta,
pretende-se contribuir com reflexões críticas sobre os debates em volta do valor dos saberes
locais no ensino.
Portanto, tanto os saberes locais, como os científicos, merecem um lugar de destaque,
embora os primeiros não são sistematizados, não têm o carácter enciclopédico e não se regem
pela lei universal. Eles não podem ser negligenciados devido ao seu carácter educativo e
gozam pelas mesmas convicções.
21

5. METODOLOGIAS DE PESQUISA
Neste item, são descritas as metodologias e as respectivas técnicas a serem
usadas para a efectivação deste projecto de pesquisa.

5.1 Tipos de pesquisa:


a) Quanto aos objectivos a presente pesquisa será exploratória e descritiva. Conforme
salienta Triviños (1987, p. 109), “os estudos exploratórios permitem ao investigador
aumentaria experiência em torno de determinado problema. Esse tipo de pesquisa apresenta
menor rigidez no planeamento”. Para Gil (1999) defende que a pesquisa exploratória “é
desenvolvida com o objectivo de proporcionar visão geral acerca dedeterminado facto. É
realizado especialmente quando o tema é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular
hipótese”.
Portanto, a pesquisa tem pouco diagnóstico na literatura e normalmente será
qualitativa porque visa ampliar o conhecimento sobre o tema. Por outro, a pesquisa
aparentemente simples, explorará a realidade sócio – cultural da população do Distrito de
Balama, buscando muitos conhecimentos para depois planear uma pesquisa descritiva.
De acordo com Neuman, (1997), afirma que a pesquisa descritiva “visa efectuar a
descrição de processos, mecanismos e relacionamentos existentes na realidade do fenómeno
estudado, utilizando, portanto, um conjunto de categorias ou tipos variados de classificações”.
Triviños (1987) afirma que “o estudo descritivo pretende descrever com exactidão os factos e
fenómenos de determinada realidade” (p.110). Na óptica dos autores acima, apesquisaprocura
conhecer a realidade a ser estudada, suas características e seus problemas. Os estudos
descritos poderão ser traçados em função de simples descrição do fenómeno, sem uso de
categorias ou classificações quantitativas e menor exigência do planeamento antecipado.
b) Quanto aos procedimentos técnicos a pesquisa será bibliográfica e estudo de campo.
De acordo com Gil, (1999), a pesquisa bibliográfica
O estudo é desenvolvido a partir de material já elaborado, principalmente livros
e artigos científicos. Grande parte dos estudos exploratórios é desenvolvida a
partir de fontes bibliográficas e são importantes para o surgimento de novos
caminhos para as pesquisas empíricas.
Com base nas ideias do autor acima citado, a pesquisa bibliográfica permitirá ao
pesquisador cobrir uma gama maior de fenómenos. Ela exigirá ao pesquisador trabalhar com
conceitos teóricos, material já elaborado, permitindo a ampliar o foco de pesquisa e fazer a
22

cobertura mais ampla do que se pretende pesquisar directamente. Apesar dos riscos que pode
vir ocasionar ao apresentar dados de baixa qualidade.
O estudo de campo “procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do
que a distribuição das características da população. Desse modo, seu planeamento torna-se
mais complexo e, ao mesmo tempo, sua aplicação é mais flexível do que os surveys” (Ruiz,
2006). Para Gil (1999) afirma que no estudo de campo “estuda-se um único grupo ou
comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a interacção de seus
componentes. Utiliza-se com maiores frequências técnicas de observação”. Nesta pesrpectiva,
o estudo de campo será relevante porque pretende-se analisar e compreender o valor dos
saberes locais na educação ambiental ao nível do Distrito de Balama, o que exigirá de certo
modo o deslocamento do pesquisador ao terreno com auxílio do método qualitativo.
c) Quanto a abordagem a pesquisa será qualitativa. De acordo com Vieira (1996), apesquisa
qualitativa“é aquela que se fundamenta principalmente em análises qualitativas,
caracterizando – se, em princípio, pela não utilização de instrumental estatístico na análise dos
dados. Esse tipo de análise tem por base conhecimentos teórico – empíricos que permitem
atribuir – lhe cientificidade”. Para Richardson, (1999) afirma que “a abordagem qualitativa de
um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma
forma adequada para entender a natureza de um fenómeno social” (p.79).
Com base nas ideias dos autores acima, pode – se apreender que a pesquisa qualitativa
recorre técnicas de colecta, codificação e análise de dados, que têm como fim gerar resultados
a partir dos significados dos fenómenos estudados, sem a manifestação de preocupações com
frequência com que os fenómenos se repetem no contexto do estudo. Neste contexto, os
actores sociais a serem envolvidos nesta pesquisa serão levados a reflectir sobre suas acções e
as consequências dessas acções para a realidade na qual estão inseridos. Portanto, ela
qualificará os dados, avaliará a qualidade das informações e vai permitir a percepção dos
actores sociais.

5.2 Técnicas de colecta de dados


A pesquisa vai usar as seguintes técnicas para a realização da investigação:
5.2.1 Entrevista semi – estruturada
Para Flick (2004), defende que as entrevistas com roteiros semi – estruturados
Facilitam o processo de obtenção de informações, a partir do ponto de vista dos
entrevistados. Em função de sua flexibilidade, permitem ao pesquisador incluir
e excluir determinadas questões ou ainda efectuar alterações na ordem das
23

questões, em virtude das respostas obtidas. Apesar das inúmeras limitações


enfrentadas pelo pesquisador durante a recolha de dados.
Para Gil (1999), defende que
A torna possível a obtenção dedados referentes ao tema a ser estudado e outros
aspectos da vida social; tem maior eficiênciapara a obtenção de dados
comprofundidade a cerca das atitudes comportamentais da população
entrevistada o que permitirá a classificação ou quantificação de dados e não
exige que a pessoa saiba ler ou escrever.
Sendo assim, a entrevista semi – estruturada possibilitará à obtenção de maior número
de respostas e possibilitará igualmente para a captação da expressão corporal do entrevistado.

5.2.2 Observação participante


Para Richardson et al. (2007), afirmam que a observação participante “o pesquisador
não é apenas um espectador do facto que está sendo estudado, ele se coloca na posição e ao
nível dos outros elementos humanos que compõem o fenómeno a ser observado” (p.261).
Nesta ordem de ideias, esta técnica possibilitará para a compreensão clara e profunda a
realidade do fenómeno a ser estudado. O pesquisador fará parte do grupo observado e até
confundir-se-á com ele, vivenciando directamente a situação em estudo.
De acordo com Censo 2017, “a população do Distrito de Balama está estimada num
universo de cerca de 180.957 habitantes, dentre os quais, 87.308 homens e 93.649 mulheres”.
Deste universo populacional, farão parte da amostra da pesquisa 150 pessoas, descriminadas
em: (5 Técnicos do Departamento dos Órgãos Locais do Estado do Governo Distrital de
Balama, 10 Técnicos dos Serviços Distritais das Actividades Económicas, 30 Líderes
Tradicionais, 65 Agricultores, 10 Régulos, 10 Anciãs, 5 Técnicos de Saúde e 15 Técnicos de
educação).
Para efeito, a pesquisa utilizará uma amostragem de casos típicos, porque aselecção
dos pesquisados se baseará em critério de escolha intencional. Por outro lado, este tipo de
amostra objectiva selecionar elementos chaves e influentes da comunidade com capacidades
de fornecer quantitativa e qualitativamente as informações necessárias à pesquisa.
Na análise e interpretação de dados, para além do método de abordagem anteriormente
referido, a pesquisa recorrerá os seguintes métodos: cartográfico,histórico-lógico e análise-
síntese.
24

6. Cronogramade actividades
Actividades Meses do Ano de 2020 – 2021
A M J J A S O N D J
Escolha do tema X
Levantamento bibliográfico X
Elaboração do projecto X
Entrega do projecto X
Levantamento de literatura X
Elaboração de instrumentos de X
levantamento de dados
Colecta de dados no campo X
Análise e interpretação de dados X X
Digitação do trabalho X
Entrega da dissertação X
Defesa do trabalho do final do X
curso
Fonte: Autor, Junho de 2020

Referências bibliográficas
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Mestrado em Ciências de Educação São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo.
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