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I.

Condicionante geológico em obras de engenharia

Entende-se por condicionante geológico toda a feição geológica que interfere em maior
ou menor grau de modo adverso na estabilidade, na estanqueidade, na durabilidade e na
geometria final das escavações e estruturas com implicação directa na ocorrência de acidentes e
no acréscimo de custos e prazos de execução da obra.

A seguir são apresentadas as principais feições geológicas que podem se constituir em


condicionantes geológicos.

a) Falhas ou zonas de cisalhamento rúptil

As falhas são também denominadas de paráclases ou zonas de corte rúptil constituindo-se


em descontinuidades ao longo das quais os blocos separados sofrem deslocamentos. A espessura
das falhas pode se limitar à de uma película escura nas duas faces que se atritaram ou alcançar
espessura de centenas de metros, caso em que são denominadas de zonas de falha. Nos planos de
falha é comum a ocorrência de estrias (slickensides) geradas pelo atrito, o que auxilia sua
identificação e classificação. Em testemunhos de sondagem rotativa convencional existe
dificuldade de identificação de falhas, quando mais espessas, pois em geral o material é lavado
pela água de circulação durante a perfuração. As falhas são classificadas de acordo com o
deslocamento dos blocos em falhas normais ou de gravidade, falhas de empurrão e falhas
transcorrentes, podendo ocorrer em escalas desde microscópicas até macroscópicas (Teixeira et
al, 2001). Por se constituírem em planos de fraqueza quase sempre apresentam problemas de
ruptura e infiltração de água, indesejáveis nas escavações.

b) Dobras
As dobras são ondulações resultantes de deformações de massas rochosas originalmente
com feições planares tais como planos de acamamento ou de foliação. As dobras podem ter
convexidade voltada para cima ou para baixo denominando-se, no primeiro caso de anticlinal , e
no segundo de sinclinal. Podem ter dimensões microscópicas, mesoscópicas (escala de
afloramentos) e macroscópicas – escala de imagens de satélite ou fotografias aéreas (Teixeira et
al, 2001). Este tipo de feição quando na escala mesoscópica é raramente visível em países

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tropicais como o Brasil devido à grande cobertura dos maciços rochosos por espessas camadas
de solo tanto residual quanto transportado e abundante vegetação. Sua perfeita determinação
através de sondagens é praticamente impossível podendo ser bem definida apenas em escavações
de porte no terreno. Em investigações de superfície sua identificação quase sempre só é possível
apenas com intensivos e prolongados trabalhos de mapeamento e complexa interpretação dos
dados.

c) Planos de acamamento e de foliação


Os planos de acamamento e foliação são feições planares adquiridas durante a formação
das rochas sedimentares e metamórficas, respectivamente, podendo se constituir em planos
potenciais de ruptura devido a sua menor resistência (descontinuidades). São feições facilmente
identificáveis tanto em mapeamento de superfície quanto em testemunhos de sondagens.

d) Sistemas de juntas e fracturas


Os sistemas de juntas e fracturas são constituídos por feições planares lisas ou onduladas
com posição espacial muito variável. Sua identificação em geral não apresenta grande
dificuldade podendo, no entanto, quando mais espessas, ter seu preenchimento lavado durante o
processo de perfuração em sondagens, o que pode mascarar sua presença. As juntas quando
ocorrem com mergulho sub-horizontal na fundação de estruturas de concreto quase sempre
representam problemas de estabilidade devido a sua menor resistência ao cisalhamento.
Se encontradas durante as escavações levam invariavelmente à necessidade de modificações
no projecto acarretando custos adicionais de tratamento da fundação. Quando dois ou mais
sistemas se cruzam pode haver formação de cunhas de pequenas ou grandes dimensões
potencialmente instáveis em taludes.

e) Cavernas, cavidades e colinas


Estas feições são típicas de regiões de calcários onde devem ser esperadas com
frequência. A sua localização e dimensionamento necessitam de investigação apropriada para
que se evite problemas a elas associados, principalmente de fuga de água devido a
intercomunicação subterrânea entre as mesmas.

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f) Solos moles e compressíveis
São depósitos geológicos muito conhecidos devido a sua forma de ocorrência, geralmente
na orla marinha (mangais) e em planícies aluvionares exigindo tratamentos especiais de
fundação.

g) Rochas desagregáveis e friáveis


Estas variedades de rocha apresentam comportamento particular nas escavações exigindo
cuidados especiais. Entre as rochas desagregáveis ou expansivas encontram-se os basaltos
vesículoamigdaloidais que contém zeólitas, os arenitos e siltitos que contém montmorilonitas e
rochas vulcânicas que contém quantidades apreciáveis de vidro (por exemplo tufos andesíticos).
Rochas friáveis em geral são rochas areníticas que não contém cimentação sofrendo erosão
interna (piping) com facilidade nas fundações de barragens sob gradientes hidráulicos mais
elevados e erosão superficial em taludes pela ação de águas pluviais.

h) Rochas de resistência extremamente elevada


São representadas por rochas que contém grande quantidade de quartzo em sua
composição oferecendo grande resistência ao corte e provocando desgaste elevado nos bits das
ferramentas de perfuração para desmonte com explosivos e nos cortadores das máquinas
tuneladoras (TBM) empregadas na perfuração de túneis em rocha.

i) Topo rochoso muito irregular


Constituí-se em uma feição geológica muito comum que traz consigo, em geral,
problemas de sobre escavação nas fundações, pois em geral nos projectos, em sua maioria
baseados em informações pontuais, a superfície do topo de rocha sã na qual devem ser apoiadas
as estruturas é interpretada como regular, o que nem sempre ocorre devido a diferenciações
acentuadas na resistência das rochas ao intemperismo.

j) Tensões virgens elevadas


As tensões virgens elevadas não se constituem em uma feição geológica propriamente
dita, mas em um fenómeno decorrente de concentração de tensões naturais no maciço em uma

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determinada região ou local e que apresenta instabilidade quando escavado, principalmente nas
obras subterrâneas.

k) Pressões e vazões elevadas de água subterrânea


São condições especiais onde as pressões e as vazões da água subterrânea podem se
apresentar muito acima do normal exigindo a aplicação de sistemas de estabilização e
bombeamento reforçados, principalmente no caso de obras subterrâneas. Em escavações a céu
aberto podem representar custos adicionais caso o afluxo de água pelas fundações exija, da
mesma forma, sistema de bombeamento reforçado para possibilitar o avanço das escavações.

l) Águas ácidas
A ocorrência de águas ácidas está directamente relacionada com a presença de sulfetos na
rocha que, uma vez expostas ao meio ambiente, gera ácido sulfúrico o qual, por sua vez, rebaixa
drasticamente o pH das águas, tornando-as altamente corrosivas e letais aos seres vivos.

II. Geologia em obras de engenharia


Aplicações da geologia em projectos de engenharia civil.
Na Engenharia, a geologia pode ser aplicada nos trabalhos superficiais ou de
profundidade.

II.1. Actividades superficiais

a) Obtenção de materiais para construções em geral;


b) Construção de estradas, corte em geral e minas a céu aberto;
c) Fundações de edifícios;
d) Obtenção de água subterrânea;
e) Barragens de terra e aterros em geral;
f) Túneis e escavações subterrâneas.

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a) Obtenção de materiais para construções em geral.
A procura de ocorrências naturais (jazidas) de materiais de construção como pedras,
saibros, areia ou cascalho, argilas para exploração, constituem uma das fases importantes do
planejamento das obras civis de grande envergadura. Nas obras situadas nas grandes cidades e
nas proximidades das mesmas, o material de construção necessário poderá ser adquirido de
fornecedores (pedreiras, areais) já instalados. A maioria das grandes obras rodoviárias,
ferroviárias, hidráulicas, habitacionais, etc no entanto, utiliza jazidas próprias.

A localização adequada das jazidas que forneçam materiais de boa qualidade é um dos
factores que mais influem no custo e no andamento das grandes obras civis.

Identificação de jazidas naturais para exploração de material:


i. Pedreiras (Pedra): Utilizadas para confecção de betão, pavimentação, revestimentos de
fachadas de edifícios, etc.
ii. Jazidas de Cascalhos e Areia: Utilizados para revestimento de leitos de estradas,
construção de aterros de terra, betão, obras de drenagem, etc.
iii. Jazidas de Argila: para impermeabilização de obras de terra, para cerâmica em geral
(fabricação de tijolos).

b) Construção de estradas, corte em geral e minas a céu aberto.


Para que sejam asseguradas as condições de conforto, segurança e economia na
construção de uma estrada, além das condicionantes geométricas de traçado, há que se proceder
as investigações de natureza geológica e geotécnica da região a atravessar, as quais constituem
os fundamentos dos estudos de drenagem e de estabilidade dos cortes e túneis, aterros e seus
terrenos de suporte, fundações de obras de arte e dimensionamento dos pavimentos.
Os problemas de fundações de aterros para estradas surgem, em geral, na construção de
aterros sobre argilas moles ou terrenos pantanosos, quando então é de se prever o aparecimento
de grandes assentamentos ou, até mesmo, a ruptura da fundação.

A escolha do tipo de fundação é responsabilidade do engenheiro projectista e é feita


baseada nas informações geológicas, as quais devem fornecer dados sobre o terreno de fundação.

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O método mais comum para investigação geológica da fundação de edifícios é o de
sondagem à percussão com circulação de água, acompanhado pelo ensaio normalizado de
penetração (SPT) ou sondagem de simples reconhecimento do solo (Normas ABNT). Este
método fornece um perfil com a descrição das camadas do solo e a resistência oferecida por elas
à penetração de um amostrador normalizado. Pode fornecer, ainda, a profundidade do nível de
água estático.
Quando a fundação é rochosa, ou parcialmente rochosa, usa-se outro método de
sondagem, a sondagem rotativa com broca de diamante e extracção de testemunho de sondagem.
A rocha amostrada é descrita e avaliada quanto à resistência.
Em casas ou construções que aplicam baixa tensão sobre o solo, muitas vezes não são realizadas
sondagens. Vale, neste caso, a experiência do engenheiro responsável, ou mesmo construtor,
para estabelecer até onde deve ir a escavação para ser colocada a fundação classificada como
“superficial”.

d) Obtenção de água subterrânea.


O interior da Terra, composto de diferentes rochas, funciona como um vasto reservatório
subterrâneo para a acumulação e circulação das águas que nele se infiltram. As rochas que
formam o subsolo da Terra, raras vezes, são totalmente sólidas e maciças. Elas contêm
numerosos vazios chamados também de interstícios, que variam dentro de uma larga faixa de
dimensões e formas. Apesar desses interstícios poderem atingir dimensões de uma caverna em
algumas rochas, deve-se notar que a maioria tem dimensões muito pequenas. São geralmente,
interligados, permitindo o deslocamento das águas infiltradas.
Em consequência da infiltração, a água precipitada sobre a superfície da terra penetra no
subsolo e através da acção da gravidade sofre um movimento descendente até atingir uma zona
onde os vazios, poros e fracturas se encontram totalmente preenchidos de água. Esta zona é
chamada zona saturada. Essa zona é separada por uma linha conhecida como nível freático ou
lençol freático.
Grande número das obras de Engenharia encontram problemas relativos às águas
subterrâneas. A acção e a influência dessas águas têm causado numerosos imprevistos e
acidentes. Os casos mais comuns desse tipo de problema são verificados em cortes de estradas,

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escavações de valas e canais, fundações para barragens, pontes, edifícios, etc. De acordo com o
tipo de obra, executa-se um tipo de drenagem ou rebaixamento do lençol freático.
A construção de edifícios, barragens, túneis, etc., normalmente requer escavações abaixo
do lençol freático. Tais escavações podem exigir tanto uma drenagem, como um rebaixamento
do lençol freático. São vários os métodos para eliminar a água existente no subsolo.

e) Barragens de terra e aterros em geral.


As barragens são estruturas construídas em vales e destinadas a fechá-los
transversalmente, proporcionando assim um represamento de água.
A água acumulada por uma barragem é utilizada para as três seguintes finalidades
principais: abastecimento de cidades, suprimento à irrigação e produção de energia eléctrica.
Estas são portanto barragens de acumulação.
As que se destinam ao desvio dos cursos de água denominam-se barragens de derivação.
A escolha do local para implantação de uma barragem é feita segundo um planejamento geral em
que interferem as condições geológicas e geotécnica da região e ainda factores hidráulicos,
hidroeléctricos e político-económicos.

O estudo de uma barragem e, em particular, da sua fundação, requer preliminarmente as


seguintes investigações:
Topográficas: Cumpre, previamente, um levantamento topográfico da região onde
deverá ser construída a barragem, delineando-se assim a sua bacia de acumulação.
Hidrológicas: Tais investigações, de grande importância, visam a conhecer o regime de
águas da região.
Geológicas: O conhecimento das condições geológicas da região é de importância
fundamental. Basta observar que das causas de acidentes de barragens nos Estados Unidos, pelo
menos 40% são, directa ou indirectamente, de ordem geológica. O trabalho do engenheiro deve,
portanto, ser secundado pelo de um experiente geólogo de barragens. A prospecção geológica
refere-se em particular ao estudo das rochas, com especial atenção quanto aos seus eventuais
fendilhamentos.

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f) Túneis e escavações subterrâneas
O objectivo dos túneis é permitir uma passagem directa através de certos obstáculos, que
podem ser elevações, rios, canais, áreas densamente povoadas, etc.
São elementos de transporte, com excepção daqueles usados em mineração. São exemplos os
túneis ferroviários, rodoviários, de metros, de transporte de fluidos (água). No transporte de
água, a finalidade pode ser tanto para obtenção de energia, como de abastecimento de
populações.
Os túneis são também frequentemente usados em barragens como obras auxiliares,
através dos quais as águas do rio são desviadas a fim de permitirem a construção das estruturas
da barragem no leito do rio. Os túneis de desvio são, em certos casos, aproveitados
posteriormente como túneis de adução, isto é, transporte das águas do reservatório até a casa das
máquinas.

O encontro de algumas más condições geológicas, durante o reconhecimento prévio, pode dar
lugar a um novo traçado do túnel.

2.2.Atividades de Profundidade

a) Abertura (escavações) túneis para uso civil.


Obras civis envolvendo escavações subterrâneas em rochas e solos exigem estudos
geológicos e geotécnicos detalhados e específicos, para seu sucesso.
Geologia - Fatos determinantes, definição de projecto adaptado as particularidades local.
Engenharia Civil - Conhecimentos técnicos científicos para a execução da obra de engenharia

b) Escavações de Minas em profundidade


c) Cavernas para hidroelétricas.

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