B em J urídico -P enal
í2 Nesse sentido, v. ZÚNIGA RODRIGUEZ, Laura. Viejasy nuevas tendências poîiticocrîminalesen ias
legislado nés penaies. In: BERDUGO GÔMEZ DE LA TORRE, Ignacio; SANZ MULAS, Nieves (Coord.).
Derecho penal de la democracia vs seguridad pública. Granada: Comares, 2005, p. 102.
U Binômio denominado por Luigi FERRAJOLI de "Direito Penal mínimo" e "Direito Penal máximo".
Derecho y razón. Teoria dei garantismo penai. Trad. Perfect© Andrés ibánez, A. Ruiz Miguei, J.C.
BayónMohinoJ. Terradilios Basoco, R. Cantarero Sandres. 5. ed. Madrid: Trotta, 2001, pp. 103 ess..
14 Cf. BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva. Direitos humanos e direito penal: limites da intervenção
penal racional no estado democrático de direito. In: MENDES, Gilmar Ferreira; BOTTÍNI, Pierpaoio;
PACELI.Î, Eugênio. (Org.j. Direito penal contemporâneo: questões controvertidas. S lo Paulo:
Saraiva, 2010.
15 Assim, por exemplo, explica-se a passagem do Estado Liberal ao Estado Social, como consequência
da luta pelos denominados direitos sociais.
16 Cf. MARTÍNEZ DE PlSÓN, josé. Tolerância y derechos fundam entales en las sociedades
multi culturales. Madrid: Tecnos, 2001, pp. 131-132.
17 No mesmo sentido, v, 1HAS5EMER, Winfried. La autocomprensióndefa ciencia del derecho penal
U ,t „ , ! .,( f!o ‘Io n ™ In - P C P f? A l h î n - H A C i F ,V I P P W in fr ie d R M P tC H A R D T R ir t r n
A na Eusa Useratore Silva Bechara - 33
18 Cf. MIR PUIG, Santiago. Constitueión, derecho pena! y giobalización. In: MÍR PUiC, Santiago;
CORCOY B1DASOLO, Mirentxu (Dir.). Política criminal y reforma penal. Madrid: Edisofer, 2007,
p. 04. Dessa forma, o conceito e a função do Direito Penai repercutirão na própria concepção do
tipo de injusto. Cf. BERDUGO GÕMEZ DE IA TORRE, ignacio. Ei delito de lesiones. Salamanca:
Ediciones Universidad de Salamanca, 1982, pp. 36-37.
19 Conforme estabelece, no caso brasileiro, o art, i° da Constituição federal de 1988.
20 Nesse sentido, vide a clássica obra A república, de Platão. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo; Nova
Cultural, 1999.
21 Cf. MARTÍNEZ DE PISÓN, José. Tolerância y derechos fundamentales, c.it. p. 135. Assim, sob a
perspectiva liberal, 0 Estado de Direito não significa meramente 0 império da lei (a sujeição ao
princípio da legalidade), e sím que as leis devem ser inspiradas na defesa da liberdade individual,
em um âmbito estatal cujas funções são muito limitadas à lesão de referidas liberdades por
terceiros. De outro lado, no contexto de uma concepção representativa do socialismo democrático,
na estei ra de El ias DÍAZ, "designar como Estado de Derecho o todo Estado por eí simple hecho de que
se sirve de un sistema normativo jurídico constituye una imprecisión conceptualy real que solo lleva - o
veces intencionadamente ~al confusionismo. (,..)El Estado de Derecho, como Estado con poder regulado
y limitado poria ley, se contrapone a cualquierformo de Estado absoluto y totalitário. (...) Los ideas de
coniroljurídica, deregulaüôn desde cl Derecho dela aaividad estatal. delimitoción deipoder dei Estado
p or ei sometimiento a la ley, aparecen, pues, como centrales en ei concepto de! Estado de Derecho en
relodón siempre con elrespeto al hombre, a la persona humana y a sus derechosfundamentales. DÍAZ,
Flínc FctaHo He Horor-Lir» v enrioHaH democrática, reimoressão. Madrid: Ta urus, 1086. DD. 17-18.
34 ~Bem Jurídico-Penal
22 Acerca dos múltiplos conceitos de "Estado de Direito", afirma Lttigi FERRAJQLi que “‘Eslodo de
derecho 'es uno de esos conceptos om pliosy genéricos que tienen múltiplesy variadas ascendências en
ia historia dei pem amiento político: lo idea, que se remonta a Plotón y a Aristóteles, dei ‘g obierno de
las íeyes' contrapuesto o! 'gobierno de (os bombres', lo doctrina medieva! deifundamento jurídico de la
soberania, ei pensamiento político liberai sobre los limites de la actividad dei estadoy sobre ei estado
mínimo, la doctrina íusnaturalisla dei respeto de las libertodesfundamentales p or parte dei derecho
positivo, cl constitucionalismo inglês y norteamericano, la tesis de la separadon de poderes, la teoria
jurídica de! estado elaborada por la ciência alemona dei derecho público dei siglo posado ydespués
por el normativisma kelseniano." Derecho y razón, cit., pp. 855-856. Nesse sentido, há, inclusive,
inúmeras concepções denominadas por José Afonso daSU VAcom o deformadoras do conceito
de F.stado de Direito, haja vista que, “conforme Cari Scbmitt, a expressão 'Estado de Direito'pode ter
tantos significados distintos como a própria palavra 'Direita'e designar tantas organizações quanto as
que se aplica 0 palavra 'Estado'. SilVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 22.
ed. São Paulo; Malheiros, 2003, p. 03. Como exemplo de concepção deformadora do conceito
de Estado de Direito, v. o entendimento de Hans KELSEN, para quem Estado e ordem jurídica se
confundem, chegando-se a uma idéia de Estado formai de Direito ou Estado iegal, sem qualquer
preocupação com a realidade poíítíco-econômica ou com os valores sociais. Cf. KELSEN, Hans.
Teoria pura do direito. 6. ed. Trad. João Baptisía Machado. Coimbra; Arménio Amado Editora,
1984, pp-38sess.
23 Nesse sentido, v. BARATTA, Alessandra. Ei estado de derecho. Historia dei conceptoy probiemática
actua!. Revista Sistema, n° 17-18,1977, pp. 12-13,
24 Cf. EERRAJOL.l, l.uigi. Derecho y razón, cit., p. 859. Toma-se, aqui, a Ilustração ou liuminismo em
seu sentido gerai, admitindo-se, todavia, que não é possível reduzí-lo a um movimento filosófico
unitário ou a uma construção filosófica sistemática. Cf. CATTANEO, rMario A. lium inism o e
iegisiadone, Milano: Ediaionidi Comunità, 1966, introdução (p. og). Para o estudo dos movimentos
Muministas francês, italiano, ingiês e alemão, v., na mesma obra, pp. 13-98, No mesmo sentido,
adverte José de Faria COSTA que “0 liuminismo, coma todos os outros 'ismos', teve, não obstante a
matriz comum, diversas tonalidades e apresentou características bem diferenciadas conforme desde
A na Elisa Liberatore Silva Bechara - 35
josé de Faria. Uma ponte entre 0 Direito Pena! e a filosofia penai: iugar de encontro sobre o
sentido da pena. In: MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da. Tratado luso-brasiieiro
da dignidade humana. São Paulo: Quartier Latin, 2008, pp. 872-873.
25 Cf. FERRAJOLi, Luigi. D erechoy razóri, cit., p. 860.
26 Cf. MIR PUIG, Santiago. El derecho penal en el estado social y democrático de derecho, Barcelona:
Editorial Ariel, J994, p. 32, nota 6.
27 Nesse sentido, v. FERRAjOLi, Luigi. O estado de direito entre o passado e o futuro. ín: COSTA,
Pietro; ZOLO, Danilo (Org.) O Estado de Direito. Trad. Carlos Alberto Dastoii. São Paulo: Martins
36 -B em Jurídico-P enal
29 DÍAZ. Elias. Estado de derecho y sociedad democrática, cit., p. 31. No mesmo sentido, v. SILVA,
José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, cit., pp. 112-113.
30 MARTINEZ DE P1SÓN, José. Tolerância y derechos fundamentales, cit., p. 139.
•" Nn m « in o sentido, tratando dos mecanismos de proteção nos diferentes modelos de Estado, v.
A na Elisa Liberatore Silva Bechara - 37
. ..
1 2 1 Estado L iberal de D ireito
O Estado Liberal de Direito constitui a primeira formula por meio da qual
se materializou o ideal de Estado de Direito elaborado pelo Ilumínismo jurídico,
corrente de pensamento dominante na Europa no século XV III, que defendeu
a primazia do Direito frente aos abusos do poder despótico do Antigo Regime.
O pensamento ilustrado caracteriza-se por dois elementos fundamentais: a
atitude racional em relação ao Direito natural e uma postura voluntarística
acerca do Direito positivo. No que concerne ao primeiro aspecto, no dizer de
Mario C A T TA N EO , trata-se de uma concepção racional da justiça e da moral,
fundada sobre a ideia de que há princípios e valores éticos absolutos, válidos
em todos os tempos e lugares, que se apresentam como auto-evidentes para a
razão humana. Daí surge um entendimento do Direito natural compreendido
como Direito subjetivo inato (ideia que acaba por formar a base e a essência
da teoria dos direitos humanos)32.
N esse contexto, buscando responder à preocupação de defesa da
sociedade frente ao Estado mediante a técnica formal da divisão de poderes
e do princípio da legalidade33, o modelo liberal sustenía-se a partir de uma
filosofia individualista que coloca o cidadão - racional, autônomo, responsável
e livre - no centro da sociedade, reconhecendo e garantindo seus direitos
fundamentais tais como a vida, a integridade física, a liberdade de expressão e
a propriedade privada, tipicamente identificados com a burguesia, no âmbito
de uma concepção negativa da ideia de liberdade34.
Tom ada a noção de liberdade individual como ausência de coação,
reclama-se ao Estado a não ingerência no âmbito de autonomia do cidadão. O
princípio organizativo no âmbito liberal é, portanto, o de neutralidade estatal,
deixando-se às forças sociais e econômicas o governo do desenvolvimento e da
evolução social. Dessa forma, no que tange ao Direito Penal, o Estado apenas
está legitimado a interferir sobre as liberdades individuais de forma utilitarista,
vale dizer, para a manutenção da ordem e da paz social contra a vulneração de
regras básicas da convivência33.
A fundamentação do Estado Liberal no contrato social de Jean Jacques
R O U SSEA U , concebido como pacto subscrito pelos homens para a manuten
36 Para a exposição da teoria do contrato social, v. ROUSSEAU, Jean Jacques. Oo contrato social.
Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo: Nova Cultural, 5999. Sobre o m odelo político-
sosical de ROUSSEAU, resume johann FISCHL: "Porei contrato social los aspirodones sociales
de todos los indivíduospasan a ser voluntadgeneral (voiontégénérole), que garantizo !a libertady
igualdadde todos. Lo libe.nod, porque coda uno obedece sólo a lo leyque él mismo ba contribuído
a dar; la igualdad, porque la voluntad general mira p o r igual a l bien de lodos." FISCHL, Johann.
Manual de historia de ia filosofia. Trad. Daniel Ruhr Sueno. 8. edición. Barcelona: Herder,
2002, p. 298.
37 Conforme pondera Cesare BECCARIA: “No solo es interés común que no se cometan delitos, peró
oún lo es que seon menosfrecuentes, o proporción dei dono que causan en la sociedod. Así, pues. mós
fuertes deben ser los motivos que retroigon los hombresde los delitos, a medido queson contrários al bien
público, a medida de tos estímulos que los inducen o cometerles. Debe por esto hober uno proporción
entre tos delitosy taspenos."Tratado de los delitos y de las penas. 2. edição. Paris: Casa de Rosa
Librero, 1828, p. 54.
38 Sobre a evolução do Direito Penal a partir do conceito material de delito vinculado ã idéia de um
dano soda! v., dentre outros, a obra de Franz von LISZT. La idea dei frn en derecho penal. 1. ed..
reimpressão. Santa Fé de Bogotá: Temís, 1998, pp. 59 et. seq.; Tratado de derecho penai. Trad. da
18. eci. alemã por Luisjiménez de Asúa.4.ed„3* reimpressão. Madrid: Editorial Réus, 2007,1.1, pp.
21-22. e. a mesma obra, no t. 2. pp. 5-11. Modernamente, v. ROXIN, Claus. Strafrecht. Allgemeiner
Teil. Grundlagen Aufbau der Verbrechenslehre. 3. edição. Munique: Beck, 1997, T. 1, pp. n et seq.
e TAVARES, juarez. Teoria do injusto penal. 2. ed. revista e ampliada. Beio Horizonete: Oe! Rey,
2002, pp. 579 et seq.
39 Nesse sentido, v. BONAVIDES, Paulo. D o estado liberal ar> s. cs_
A na Eusa Uberaíore Silva Bechara - 39
53 Cf. 0 \tZ RiPOILÉS, josé Luis. La poiítica criminal en la encrucijada. Montevideo: BdeF Editorial,
2007, p.H -'5-
54 No mesmo sentido, v. BEROUGO GOMEZ DE LA TORRE, Ignacio. Derechos humanos y derecho
penal. Estúdios Penatesy Criminológicos, XI, Santiago de Compostela, »987, p. 32; e FERNÁNDEZ
CARRASQU5LLA, Juan. Princípios y normas rectoras. Conceptos generates. D erecho Penal y
Criminologia, V. XIII, n° 45, septiembre-diciembre 1991, item t.7.
55 Cf. TOLEDO Y ÜBÍETO, Emilio Octavio de. Sobre el concepto dei derecho penal. M adrid:
Universidad de Madrid, 1981, p. 360; M!R PUIG, Santiago. Introducciòn a las bases dei derecho
pena. Concepto y método. Barcelona: Bosch, J976, pp. 124-125; e MUNOZ CONDE, Francisco.
44 ■ B em J u r íd ic o -Penal
sanção, como uma adequada política social, passando, ao depois, aos mecanismos
sancionatórios de controle social não penais, nomeadamente nos âmbitos civil
e administrativo56.
Do mesmo modo, apenas se justifica a necessidade da intervenção jurídico-
-penal em um contexto democrático quando esta seja útil para cumprir seu ob
jetivo protetor, e não um efeito meramente simbólico. Nesse sentido, o exem
plo mais ilustrativo (porque extremo) de inutilidade em matéria penal talvez
corresponda à própria pena capital5758, haja vista que, conforme estudos reali
zados, sua supressão em diferentes ordenamentos jurídicos não determinou o
aumento dos delitos aos quais ela era cominada53, a demonstrar sua carência
de justificação, mormente em relação a seu intolerável custo social (a supressão
de vidas humanas pelo próprio Estado), o que, aliás, já observava B E C C A R IA
há quase três séculos59.
Ê de se observar, porém, que a despeito de o princípio da intervenção
penal mínima ser decorrência do Estado Democrático de Direito, a dinâmica
própria do intervencionismo que caracteriza referido modelo estatal leva ao
perigo de comprometer sua realização efetiva. D e fato, tem-se, de um lado, a
56 No mesmo seniido, v. ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte general. Tomo I. Fundamentos. La
estructura de !a teoria dei delito. Trad. da 2. ed. alemã por Diego Manuel luzón Pena, Miguel Díaz
y Garcia Confledo e javier de Vicente Remesaí. Madrid: Civitas, 1997, pp. 65 eiseq. No Brasil, v.a
monografia sobre a intervenção penal mínima de QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário
do direito penal. Bei o Horizonte: Del Rey, 1998, pp. 76 etseq. Justamente por isso, observa Antonio
GAROA-PABl.OSMOLINA que longe de pretenderfornecerinformaçõesquepossibilitemameíhor
ou maior punição de um delito, a criminologia revela, no contexto democrático, importância
fundamentai, pois conduz a uma intervenção racionai, mediata e seietiva, capaz de prevenir sua
ocorrência com programas e estratégias adequadas (prevenção primária) deixando-se a prevenção
penal propriamente dita reservada aos casos de efetiva necessidade, em razão de seu elevado
custo social e efeitos nocivos. GARCÍA-PABLOS MOLíNA, Antonio. Tratado de criminologia. 3.
edición. Valência: Tirant fo Blanch, 2003, pp. 82-84.
57 De iodo modo, observa-se que no ordenamento jurídico brasileiro, salvo em caso de guerra
declarada, a pena de morte é expressamente vedada peio art. 50, inc. XLVI1, £7, da Constituição
Federal de 1988, em atenção ao princípio de humanidade das penas. Para o panorama da evolução
da pena de morte, v. BARBERO SANTOS, Marirto. Pena de muerte (ei ocaso de un mito). Buenos
Aires: Depaima, 1985.
58 Nesse sentido, v. SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORRÊA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena, cit. pp. 113
etsçq.
59 Cf. BECCARIA, CESARE. Tratado de los delitos y de ias penas, cit., para quem não é a gravidade do
castigo que previne a ocorrência de delitos, e sim a certeza da punição. Na verdade, verifica-se que
a manutenção da pena de morte em diversos ordenamentos jurídicos na atualidade deve-se mais a
razões políticas do que jurídico-penais, conforme afirma Eugênio RAüLZAFFARONI. Pensamineto
patibuiario. La discusión sobre la pena de muerte. Prólogo a V1DELA, M.C.; REBOREDO, j.F. Pena
de muerte. Un tema para reflexionar. Mendoza: Ediciones Jurídicas, 2 0 0 0 : e boa parte dos
trabaihos constantes da obra coletiva H ada la abolición universal de la pena capital, ditada por
ARROYO ZAPATERO, l.uis Alberto; BiCLiNO CAMPOS, Paloma; e SCHA8AS, VVilliam.Valencia:
Tirant Lo Blanch, 2 cu o, o que levou a comunidade acadêmica internacional à constituição de
A na Eusa Uberatore Silva Bechara - 4 5
60 Tratando da influencia dos gestores atípicos da morai no Direito Penai, v. SfLVA SÁNCHEZ,
jesús Maria. La expansion del derecho penal. Aspectos de la política criminal en ias sociedades
postindustriales. Madrid: Civitas. 1999, p. 47.
61 No mesmo sentido, v. KAYßER, Marijon. Sobre ei potencial incrim inador de ios princípios
limitadores dei derecho penal. Competências penaies en la cuestión dei aborto. Trad. Ramon
Ragués i Vallès, in: La insostenibiesituación del derecho penal. Granada: Cornares, 2000, p. 165.
62 ROXIN, Claus. Problemas actual es de dogmática penal, cít., p. 36.
63 Nesse sentido, v. HASSEMER, Winfried. Derecho penal simbólico y protección de bienes jurídicos.
Pena y Estada Función simbólica de la pena. n° or, septiembre-diciembre de 1991, pp. 29-30. Sobre
a crítica ao Direito Penai simbólico, v. DÍEZ RI POELES, José Luis. El derecho penal simbólico y los
efectos de ia pena. In: Modernas tendências en ia ciência dei derecho penai y en la crim inologia
Madrid: Universidad Nacional de Education a Distancia, 2001, pp. 124-126; HASSEMER, Winfried.
Persona, m undo y responsabiiidad. 8ases para una teoria d c ia imputación en el derecho penal.
Santa Fé de Bogotá: Temis, 1999, pp. 32 ctseq : HASSEMER, Winfried; MUNOZ CONDE, Francisco.
La resDOnsabiiidad p o re i producto en derecho penal. Valencia: Timat Io Blanch, 1995, pp. 41-
46 - Bem J urídico-P enal
actuales cie dogmática penal, dl-, p-35; RíQliERT, Marceio Alfredo. Crisis penal. Política criminai,
global izació n y derecho penai. Buenos Aires: Ediar, 2007, p. 48; e SILVA SÁNCHEZ, jesús Maria.
Aproximación al derecho penai contemporâneo. Barcelona: José Maria Bosch, 1992, p. 306.
Tratando especificamente da utilização de um Direito Penai simbólico no combate contra o
terrorismo, v. BERDUCO GÓMEZ DE LA TORRE, Ignacio; SERRANO PIEDECASAS, José Ramón.
Reflexiones político criminafes sobre ei terrorismo. Derecho Penai y Crim inologia Vol. X, n°34,
Enero-abril 1988.
64 Nesse sentido, conforme a advertência de Reinharl MAURACH: "Lo experíencia ensena que para
Ia burocracia es macho más sencillo prom ulgar ttn conjunta caótico de Icyes, ordenamos y decretos,
sancionando su infracdôn, en virtuddedisposicianes complementarias, con penas ctiminales, a proceder
con la cautela precisa en la requiociòn d ela maieríafundam ental y am ena/ar ton sólo los casos graves
con penas criminales, evitando en lo p o sib k un divorcio entre norma y ronm inadón penal". Tratado de
derecho penal. Tomo I, Trad. juan Cordoba Roda. Barcelona: Ariei, 1962, p. 31. Da mesma forma,
Alessandro BARATTA afirma que a cominação pena! nessa linha produz sentimentos de unidade
em seus espectadores e busca, dessa forma, a consolidação das reiações de poder existentes,
atuando, portanto, como elemento de integração do grupo sociai. Crim inologia crítica e crítica
do direito penal, introdução à sociologia do direito penai. 3 ed. Rio de Janeiro: REVAN, 2002,
pp. 47 et seq. e 117 et seq.
65 Sobre a critica á desproporcionalidade da tutela penal de novas necessidades sociais, v. GARCIA
•• ■ ---------- * ----—------!------- Ar k S IC T A .\ < A P T ÍM 4 r tin
A na Elisa Liberatore Silva Bechara - 47
primeiro plano por meio da intervenção penal, estando essa segunda hipótese
a merecer a acertada crítica quanto à sua ilegitimidade democrática e aos seus
efeitos contraproducentes.
D e fato, o giro operado na valoração do princípio da intervenção penal
mínima, desde a concepção sustentada por Karl B IN D IN G segundo a
qual o caráter fragmentário era um vício da intervenção penal a ser sanado
por meio da proteção completa de bens jurídicos66, até a atual, conforme a
qual referido caráter constitui a característica de um Estado Democrático
de Direito que privilegia a liberdade dó cidadão, revela a própria passagem
de uma fundamentação retributiva para uma fundamentação preventiva do
Direito Penal67. A constatação de um interesse digno de proteção e o posterior
reconhecimento da existência de ataques relacionados a ele constitui uma
condição necessária, porém não suficiente à intervenção penal, devendo-se
acrescentar no exame crítico da legitimidade da incriminação a idoneidade do
instrumento penal para os fins protetivos almejados. Assim, já não se busca
mais, por meio da intervenção penal, a realização da justiça (a exigir a proteção
completa de bens jurídicos), mas sim a defesa da sociedade, excluindo-se da
reação penal os comportamentos menos lesivos, frente aos quais bastam outros
meios de controle, em geral mais eficazes.
Conclui-se, então, que embora se chegue a questionar, em análise
superficial da realidade atual, a compatibilidade do princípio de intervenção
penal mínima com a concepção dominante do Estado intervencionista para a
proteção efetiva da sociedade, o reconhecimento de um Estado Democrático
que atue na busca do bem-estar social não obriga a postular como desejável
um Direito Penal que restrinja a liberdade do cidadão além do imprescindível
para sua própria proteção. Em outras palavras, maior intervencionismo
estatal, justificável no contexto democrático atual em benefício do próprio
desenvolvimento social e, assim, dos cidadãos diretamente implicados, não
significa necessariamente maior intervencionismo penal. Ao contrário, e na
linha defendida por Ignacio Berdugo G Ó M E Z D E L A T O R R E : tomado o
Estado como instrumento a serviço dos indivíduos, a atividade político-criminal
66 Concepçãoreferida por BINDING, Karl. Lehrbuch des germinen Deutschen Strafrecht. Besonderer
Teil, 1.1, Leipzig: W. Engelmann, 1902, pp. 20 etseq., cf. citado por Y U8IETO, Emilio Octavio de.
Sobre el concepto del derecho penal, cit., p. 363; e PRITTWITZ, Cornelius. Sociedad del riesgo
y derecho penal.Trad. Adán Nieto Martin y Eduardo Demetrio Crespo. In: GUZMAN D A I BORA.
José Luis (Coord.). El penalista liberal (Manuel de Rivacoba y Rivacoba homenaje). Controvérsias
rtacionales e intemacionales en derecho penal, procesaf penal y criminologia. Buenos Aires:
Hammurabi, 2004. pp. 169-170.
48 - Bem Jurídico-Penal
68 Sobre a orientação da política criminai à proteção dos direitos fundamentais, v. BERDUGO GOMEZ
DE LA TORRE, fgnacio. Derechos humanos y derecbo penai, tit., pp. 32-33; e SHECA1RA, Sérgio
Salomão; CORRÊA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena, cit., pp. 53-54.
69 Cf. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Ei enemigo en el derecho D e n a i. Buenos Aires: Ediar, 2006, Dp
! 65-168.
70 Cf. GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. La constitution com o norma y el tribunal constitucional.
A na Elisa Libíratore Silva Bechara - 49
de 1789: "Toda sociedade na qual não esteja assegurada a garantia dos direitos nem determinada o
separação de poderes não tem Constituição"
72 Conforme conciui o autor, a constituição transforma o poder nu em legítimo poder jurídico. La
constitución com o norma, cit-, pp. 47-49.
73 Cf. SERRANO-PIEDECASAS FERNANDEZ, José Ramon. Conocimiento científico y fundamentos dei
dereeho penai, cit., p. 124; TERRADILLOS BASOCO, Juan. Constitución y ley penal. La imposibíe
convergência. Estúdios de dereeho penai en homenaje ai profesor Luis Jimenez de Asua. Revista
de Ia Facultad de Dereeho de la Universidad Complutense, n!>11 (monográfico), 1986, p. 656, e do
mesmo autor, La satisfacción de necesidades como critério de determinación de! objeto de tuteia
jurídico-penal. Revista de la Facultad de Dereeho de la Universidad Complutense, n° 63,1981, pp.
141-142; e REALE JÚNIOR, Miguel. Instituições de direito penai. Parte geral. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2009, p. 27. Concluindo que a conformação político constitucional do Estado implica o perfil
democrático ou autoritário rio Direito Penai, v. QUEIROZ, Paulo de Souza. Funções do direito penal.
5 0 - Bem J urídico-P enal
com algum exagero que "Todanueva Constitution requiere unnuevo Código penal", j IMÉNEZ DE ASÚA,
Luis. Tratado de derecho penal. Tomo I. Concepto de! derecho penal y de ia criminologia, historia
y legisíadón penal comparada. 5. ed. Buenos Aires: Editorial Losada, 1992, p. 195.
74 Nesse sentido, conforme afirma Marino BARBERO SANTOS, a patente conexão entre política
e Direito Penal representa, para além de guia para a interpretação histórica, o fundamento da
configuração do sistema jurídico-penal de um país. BARBERO SANTOS, Marino. Postulados
político-criminaSes dei sistema punitivo espahol vigente: presupuestos para su reforma. Nuevo
pensamento penal, v. 4, 5/8, 1975, pp. 1-19. Discorrendo pontualmente sobre as influências
constitucionais no sistema penal, v,, do mesmo autor. Estado constitucional de derecho y sistema
penai. Actualidad Penal. Revista Semanal Tecnico-Juridica cie Derecho Penai, Voí. 2, n0 18,2000,
pp. 609-618.
75 Cf. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, n. ed. São Paulo: Maiheiros, 2001,
p, 478; e DALLARI, Dalmo de Abreu. A constituição na vida dos povos. Da idade média ao
século XXi. São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 309 elseq. No mesmo sentido, GARCÍA DE ENTERRÍA,
Eduardo. La constitución com o norm a cit., p. 50; e 8ERDUGO GÓM EZDE LA TORRE, Ignacio. Ei
consentimientoen las lesiones. Cuadernosde Política Criminal, n° 14,1981, pp. 64-65.
76 Cf. HÄBERLE, Peler. H erm enêutica constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da
c onstituição: contribuição para a interpretação pluralista e "procedimenta!' da constituição. Trad.
Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1997, p. 13.
77 Nesse sentido, v. HA BERLE, Peter. Pluralismo y constitución: estúdios de teoria constitucionai de
la sociedad abierta.Trad. Emílio Mtkunda-Franco. Madrid: Tecnos, 2002, pp. 8jetseq, Conforme
conceitua referido autor, pluralismo significa “consecudàn de ta mayor medida pasibte de libertad
A na Eusa Liberators Silva Bechara - 51
las cosas; ya que conflicta y disenso no soo sino :an sólo mecos expresiones de articulation de las 'res
publica'."Idem, pp. 116-117.
78 Nesse sentido, v. HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes.
In: ALMEIDA, Carlos dos Santos; MENDES, Ciim ar Ferreira; COELHO, Inocèncio Mártires (Org.'j.
Temas fundamentais do direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 127-129; e GRAU,
Eros Roberto. Realismo e utopia constitucional, in: COLITINHO, jacinto Nelson de Miranda;
LIMA, Martonio Mont’Alverne Barreto (org.). Diálogos constitucionais: direito, neoíiberafistno
e desenvolvimento em países periféricos. Rio de janeiro: Renovar, 2006, pp. 140-141.
52 - BfM Jurídico-Penal
fio Cf. BERCOVfCI, Gilberto. Constituição econôm ica e constituição dirigente. ín: BONAVIDES,
Paulo; LIMA, Francisco Gérson Marques de; BEDÊ, Fayga Silveira (coord.). Constituição e
democracia. Estudos em homenagem ao professor j.J. Gomes Canotilho. São Paulo: Malheiros
Edilores, 2006, p. 219.
A na Elisa Liberatore Silva Bechara - 53
87 Nesse sentido, v. TIEDEMANN, Kiaus, La constitución y derecho penal. Trad. Teresa Martin. !n:
Derecho penal, Homenaje al doctor Raú! Pena Cabrera. Uma: Ediciones Jurídicas, 1991, p. 668.
Da mesma forma, tratando de um “programa penai da Constituição' com o o apoio do Direito
Penai na referência valorativa oferecida peia Constituição, Nicolas GARCIA RiVAS esclarece que
"no >e trata, pues, de un dibujo acabado sino de una guia para lo cuiminación de la obra". GARCIA
RIVAS, Nicoíás. El poder punitivo en el estado dem ocrática Cuenca: Ediciones de la Uníversidad
de Castiiia-La Mancha, 1996, p. 45.
8S Cf, l.ASCURAÍN SÁNCHEZ, Juan Anionío. La propordonaíidad de !a norma penal. Revista Ibero-
- Americana de Ciências Penais, ano i, n° o, maio-agosto 2 000, p. 228. No mesmo sentido, v.
GONZÁLEZ RUS, juan josé. Bien ju ríd ico y constitución. Madrid: F.J. March, 5978, pp. 2 9 etseq.:
e TOLEDO Y U81ETO, Emiiio Octavio de. Eunción y limites dei principio de exclusiva protección
de bienes jurídicos. Anuário de Derecho Penal y Ciências Penates. T. XLilí, Fascículo I, enero-
abril, 5980. p. 9.
89 No mesmo sentido, tratando especifica mente da necessidade de observação da unidade
da Constituição em matéria econômica, v. BERCOVICI, Gilberto. Constituição econôm ica e
constituição dirigente, cit., p. 221.
90 Sobre a defesa da força normativa da constituição nos sentidos lim itador e fundamentador
do Direito Penai, v. FELDENS, Luciano. A conformação constitucional do direito penal. In:
WUNDERLiCH. Alexandre (Coord.j. Política criminal contemporânea: criminologia, direito penal
A na Elisa überatore Shva Bechara - 55
Art. 225, parágr. 30, CF - "As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoasfísicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente do
obrígodoção de repararas donos causados"
Art. 227, parágr. 40, CF - "A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança
e do adolescente."
94 Nesse sentido, v_ SANTANA VEGA, Dulce Maria. La protección penal de los bines ju rídicos
coiectivos, cit, p. 64.
93 No mesmo sentido, tratando de da tutela penal de situações de "emergência“, v. PASCHOAL,
janaina Conceição. Constituição, criminalização e direito penai mínimo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003, p. 71.
96 Conforme a crítica de Alberto Silva FRANCO, verifica-se no inicio dos anos 90 a instalação de
uma "fábrica de produção incessante de normas penais" no Brasil, o que faz o autor concluir estar 0
.1. j . - j ------------ Aon/prcàn Ha Direito Penal. "A criminalidade passo p or um processo
A na £usa Liberatore Sílva Bechaka - 57
97 No mesmo sentido, v. REALE JÚNIOR, Miguel. Avanços e retrocessos. In: Estudos jurídicos en
homenagem a Manoel Pedro PimenteE São Paulo: Revista dos Tribunais, 5992, p. 275.
98 Nesse sentido, observa-se a crítica contundente de M iguel REALE JÚNIOR em relação .
inconstitucionalidade da Lei Federal n° 9.677/98, que acresceu ao rol dos crimes hediondos <
art. 273 do Código Penai brasileiro, em otensaaos princípios fundamentais da proporcionalidad-
e da ofensividade. REALE JÚNIOR, Miguel. A inconstitucionalidade da lei dos remédios. Revist
dos Tribunais, v. 763, A. 88, maio de 1999.
99 Apenas no Estado de São Paulo, observa-se que o número de presos aumenloti de cerca de 50.00'
em 5994 para 531.000 em 2004, em decorrência direta do estabelecimento de tais medida:
conforme dados da Secretaria de Administração Penitenciária disponíveis em: http://w w v
admpenitenciaria.sp.gov.br/dti/estaiisticas.html. Acesso em 13 de janeiro de 2010.
100 Poder-se-ia fazer referência também ao exemplo da Lei Ambiental fie i Federal n° 9.605/98
que, sob o amparo de pretensa obrigação explícita de criminalização prevista no art. 225, parág
3o, da Constituição Federai, introduziu no ordenamento jurídico brasileiro dispositivos pena
amnlamente criticados oeía doutrina. Sobre o tema, v., amplamente, NfcTTO, Alamiro Velíud
58 - Bem Jurídico -P enal
705 Cf. STAECHELIN, Gregor. Es compatible la prohtbición de iníraprotecdón con una concepción
libera! dei derecho penal? Trad. David Felip i Saborit. fn: La insostenible situación dei derecho
penal. Granada: Cornares, 2000, pp. 290-291.
}o6 5. Gesetzfit r Reform des Strafrechts, 18/0 6/1 974.
707 Referida decisão se encontra comentada por ROXiN, Claus. Derecho penal. Parte general. Tomo
1. Fundamentos. La estruetura de la teoria dei delito. Trad, da 2. edição alemã por Diego Manuel
Luzon Pena, Miguel Díaz y Garcia Conlledo e Javier de Vicente Remesai. Madrid: Civitas, 1997, p.
64; PULiTANÒ, Domenico. Obbiigbi costituzionali dí tuteia penale? Rivista italiana di Diritto e
Procedura Penale, anno XXVi, 1983, p. 491; SANTANA VE GA, Dulce Maria. Laprotección pena! de
los bienes jurídicos colectivos, cit., p. 70; e FELDENS, Luciano. A conformação constitucional do
direito penal, cit., p. 224. Seguiu-se a essa decisão uma outra oriunda da mesma Corte (BVerfGG88,
203), mas que concedeu ao legislador a possibilidade de proteger a vida em formação por outros
meios distintos do jurídico-penal, conforme comentários de ROXIN, Claus. Derecho penal, cit.,
p. 65; BERNAL PUUDO. Carlos. El principio de proporcionaiidad, cit., pp. 801-802; e FELDENS,
Luciano. A conformação constitucional do direito penal, cit., p. 225.
A na Elisa überatore Silva Bechara - 61
109 Nesse sentido, v. ROXIN, Ciaus. Derecho penai, cit., p. 64; e GONZALEZ RUS, juan josé. Sier
ju rídico y constitución (bases para una teoria). Madrid: Fundación Juan March, 1978, p. 38.
no Cf. BERNAl PUUDO, Carios. Ei principio de proporcionalidad. cit., p. 805.
m No mesmo sentido, conclui e indaga Alberto Silva FRANCO: "O modelo gorantístico que éprópric
do Estodo Democrático de Direito já não se refletiu, deform a pleno e única, na Constituição Federa
de ig88, que se deixou invadir por posturas eminentemente prevenáanistas. Como entender que poss<
estarem consonância com o paradigma constitucional uma figura como a do crime hediondot Com<
considerarem coerência com um sistema democrático,fundado na dignidade da pessoa humana, tipo
imprescritíveis? Como admitir numa Constituição de inspiração liberai que se determine a espécie d
peno que. 0 legislador ordinário deve cominar para determinado delito? Como estabelecer, em níve
constitucional, que o legislador ordinário deve necessariamente criminalizar condutas ou atividade
lesivos ao meio ambiente ou o menores?" D o princípio da intervenção mínima ao principio da máxtm
r— ---------- prtrí.,<yiu>ía de Ciência Criminai, ano 6, fase. 2, abril-junho 1996, p. 179.
62 - B em J u r íd íc o -Penal
versão alemã). MU&OZ CONDE, Francisco {Coord, da versão espanhola). La ciência dei derecho
penai ante el nuevo milênio. Vaiencia: Tirant io Blanch, 2004, p. 76.
113 Cf. TERRADILLOS BASOCO, Juan. Constítución y ley penal. La imposibîe convergência, cit., pp.
657-661
1)4 Da mesma forma concluem MUNOZ CONDE, Francisco. Introducción al derecho penaL Barcelona:
Bosch, 1975, p. 74; BARATTA, Alessandro. Funções instrumentais e simbólicas do direito pénal.
Lineamentos de uma teoria do bem îuridïco. Trad. Ana Lucia SabadelL Revista Brasileira de
A na Elisa Uberatore Silva Bechara - 63
120 Cf. ALCÁCER GUIRAO, Rafael. Los fines dei derecho penai. Una aproximación desde la filosofia
política. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2004, p. 158.
i2t Nesse sentido, v. RAWLS, John. Liberalismo politico. Trad. Sergio René Madero Báez. t. ed.
(reimpressão). México: Fondo de Cultura Económica, 1996, p. 67 et seq., para quem “sabiendo
que ias personas son rackmales, no sabemos quefines persiguen; solo sabemos quepersiguen susfines
inteligentemente. Sabiendo que (as personas son ro/.onahies en lo que sc reftere o las demós personas,
sabemos que están dispuestas a regir su conducia por un principio o portir dei cuol ellasy los demós
personas pueden razonarunos (on oiros, y ía s personas razonables iomon en cuenta (as consecuencias
de sus ar tos en el bienestardelas demos" D essa forma, a autonomia plena da vida política distingue-
' 1 — *-----—:----nriç nnnfd»« nolihprali^mn
A na E usa ü bera to re S ilva B echara - 65
123 Sobre a complexidade característica das sociedades atuais, v. IUHMANN, Niklas. Sociologia do
direito I. Trad. Gustavo Sayer. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1983, p. 8; e HA8ERMAS,
jürgen. Faticidad y validez, cit., p. 125. Especificamente sobre a tolerância, é importante destacar
a crítica de José MARTÍNEZ DE PISÓN, para quem, no contexto atuai, nâo há mais que se faiarem
pluralismo, e sim em multiculturalismo, o que pode levara uma utilização repressiva dessa idéia,
que acaba por negar o reconhecimento e efetivação dos direitos dos diferentes grupos sociais.
Assim, buscar a solução de conflitos multiculturais no âmbito do pluralismo e da tolerância seria
um erro. Trata-se, na verdade, de uma luta peio reconhecimento da diferença, pela inclusão, e
?' não peia mera não discriminação ou igualdade de tratamento. MARTÍNEZ DE PISÓN, josé. La
f retórica sobre ia tolerância 0 las consecuendas üiberales de la teoria liberal. Direito e Democracio.
Revista de Ciências Jurídicas - ULBRA, v. 5, n° 2 ,20 Semestre de 2004, p. 316. Da mesma forma, v.
■' ALMEIDA, Luís Nunes de. Tolerância, constituição e direito penal. Revista Portuguesa de Ciência
Criminal, a. 53, n ° 2, abril-junho 2003, p. 162.
í 124 No mesmo sentido, v. ALCÁCER GUIRAO, Rafael. Los fines dei derecho penal, cit., p. 169.
• 125 Nesse sentido, v. RAWLS, John. Liberalismo político, cit., p. 40. Conforme adverte Rafael ALCÁCER
P GUIRAO, essa concepção de pessoa deve distinguir-se da noção fática de 'sujeito morai"
f’ socializado no âmbito de uma série de convicções concretas, pertencente ao universo do privado,
|| do subjetivo. Los fines de! derecho penal, cit., p. »72.
;a „ ., rÁD/~r>\/A rarioe Maria iiictir-ia cnmn pm lida d o sorfedad como coníHcto.
66 - Bem J urídico -P enai.
127 Nio mesmo sentido, Com elius PRlTTWITZ critica, ao analisar a figura d o homo economicus. a
contraposição dos cidadãos como “egoístas racionais' e "leais em si ao direito" pois “desconoce
t/ijpel roiionai c.hoke opprooch suporte uno reconstrucdán en cuyo marco puederepresentorse tonto h
A na E lisa übera to re S ilva B ecmara - 67
128 Sobre a relação entre o racional e o razoável no conceito de pessoa, John RAWLS observa que "k>
raxonable (con su ideo de la reciprocidad) no es (o altruísta (lo imparcial que sólo actúa enfavor de los
intereses de los demos) n i tompoco es la preocupociân por elyo (y solo impulsionado p or fines personoles
y afectos). In una sociedadrazonoble, mós sencillamente ilustrada cn una sodedodde iguales en cuanfo
0 los asuntos básicos, todos b s ciudadanos tienen sus p raptos objetivos rucionoles que espetemfavorecer,
y todos estão dispuestos a proponer términos justos que se espera raxonahlemente acepten los demós, de
maneta que todos pitedan beneftciarseymejorar, según lo que coda cualpueda lograrpor si mismo. f sto
sociedad razonoble no es nr uno sociedad de santos ni una sodedod de egocêntricos, f.s, con macho, parte
de nuestro mundo humano ordinário, un mundo a! que no te atribuímos machas virtudes, hasta que nos
vemosfuero de ei Pero etpoder moral quesubyace en la capaddadde proponer, odesubscribir,y!uegode
ser impulsionados o actuor a panir de términos justos de coopcradón, por si mismos, canstituye de todos
modos una virtudsocial esenda!.". RAWLS, John. Liberalismo político, dt-, p. 71. No mesmo sentido,
v. ALCÁCER CUIRAO, Rafael. Los fines dei derecho penal, cit., pp. 255-259.
129 Da mesma forma, Albin ESER critica 0 que denomina de concepção "unidimensional" de pessoa,
considerando-a c o m o enre tridimensional, isto é, não apenas tomada individualmente, mas
também como ser social e membro de uma cadeia geradonal projetando-se, a partir da observância
d essas d imensões, 0 sistema penal. Cf. ESER, Aibin. Una j usticia pena I 'a la medida de! ser humano'’.
6 8 - B em J u r íd ic o -P enal
132 No mesmo sentido, tratando do desenvolvimento do Direito Penal a partirda evolução dos modelos
de Estado, v. MIR PUIG, Santiago. Constitueión, deredio penai yglobaltzación, cit., p. 06.
133 Cf. MiR PUiG, Santiago. Constitución, derecho penal y globaiización, dt„ p. 07; e TOLEDO Y
UBIETO, Emílio Octavio ríe. Función y limites dei principio de exclusiva protección de bienes
jurídicos, cit., pp. 12-13.
134 Nesse sentido, tratando de forma aparentemente conjunta da função do Direito Penai e da
finalidade da pena, já advertia Tobias BARRETO, com alguma ironia, que ".Vo meio detaes questões
sem sabida, parvamente suscitadas, e ainda mais parvomente resolvidas, occupa lugar saliente 0 celebre
questão da origem ejundom ento do direito de punir. É uma espécie de adivinha, que OS mestres crém-se
7 0 - Bem Jurídico -P enai
no Direito Penal v. HASSEMER, Winfried. Direito penal. Fundamentos, estrutura, política. Org.
Carlos Eduardo de Oliveira Vasconcelos. Trad. Adriana Beckman Meireíies; Carlos Oliveira de
Vasconcelos; Felipe Rhenius Nitzke; Mariana Ribeiro de Souza; e Odim Brandão Ferreira, Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2008, pp. 34-36,
135 Miguel POLAINO NAVARRETE destaca a controvérsia estabelecida entre as noções de "fins" e
"funções" do Direito Penal, haja vista que a primeira perspectiva se reiaciona com uma concepção
garantista teleológica, voltada às consequências, enquanto a segunda incide na própria essência
do ordenameníojurídico-penal, visando á configuração de determinado sistema normativo, e não
sua mera descrição, orientada por critérios axiotógicos ou teleológicos. Cf. POLAINO NAVARRETE,
Miguel. Naturaleza dei deber jurídico y función ético-social del derecho penal. Cuadernos de
Conferencias y Artículos, n° 31, Universidad Externado de Colombia, Centro de ínvestigación en
Filosofia y Derecho, 2004, p. 7.
Í36 Contrariamente a esse posicionamento, de forma a vincular os fins da pena com a função do direito
penal, v. BACICALUPO, Enrique. Princípios de derecho penal. Parte general Madrid: Akal, 1997, p. 7,
137 Nesse sentido, v. .SILVA SÁNCHEZ, Jesús Marta. Aproximación ai derecho penal contemporâneo,
cit., pp. (87-188.
138 Não se desconsidera que, para além da função de proteção de bens jurídicos, há inúmeras outras
funções atribuídas ao Direito Penai, como a simbólica; a de controle social; a promocional; e a
A na Elisa Liberators Silva Bechara - 71
139 Observa-se que embora a discussão sobre a reiaçào da função cio Direito Penai com a proteção de
bens jurídicos possa parecer ultrapassaria a partir do século XX, em âmbito alemão assistiu-se no
projeto governamental do Código Penai de 1962 a uma tentativa de exceção importante e perigosa,
a evidenciar que a discussão na verdade nunca foi superada:"embora na maior parte dos casos
as normas penais sirvam à tateia dc bens jurídicos, isso não exclui a possibilidade de cominar penas a
determinadasformas de comportamento espeaolmente reprováveis sob o ponto de vista ético, execráveis
poro o sentimento comum, mesmo se de sua realização não deriva imediatamente a tesão de um bem
jurídico." Essa concepção foi amplamente criticada peio grupo de penaiistas alemães responsáveis
peio denominado Projeto Alternativo, restando finalmente estabelecido no art. a0 do Código Penai
germân ico que "as penas c os medidas servem à proteção de bensjurídicos eòreinserçào socialdo outorí.
Cf. GARCIA R!VAS, Nicolás. El poder punitivo en eí estado democrático, cit., p. 47.
140 Sobre a função do Direito Penal com o instrumento subsidiário de proteção de bens jurídicos,
v., dentre outros, POLAiNO NAVARRETE, Miguel. Naturaleza deí deber ju rídicoy función ético-
-social dei derecho penal. Bogotá: Universidad Externado de Cofombia, 2004, p. 09; ANDRADE,
Manuel da Costa. A dignidade penal e acarência de tutela penal como referências de uma doutrina
teleoiógico-racíona! do crime. Revista Portuguesa de Ciência Crim inal ano 2, v. 2, abril-junho
1992, p 178; DIAS, Jorge de Figueiredo. Questões fundamentais de direito penal revisítadas, cít.
p. 67; HASSEM ER. VVinfried; M UNOZ CONDE, Francisco. La responsabilidad por eí produeto en
derecho penal, cit., p. 20: MiR PUIG, Santiago. Derecho Penal. Parte general, cit., p-137; e ROXIN,
Ciaus. D erecho penal. Parte general, cit., p. 54.
141 Nesse sentido, v. ROXIN, Ciaus. El legislador no lo puede todo. Trad. Manuel Abanto Vásquez. /ter
Criminis. Revista de Ciências Penales, n° ?2 (segunda época), 2005. p. 325. Observa-se, porém, que
embora façam parte de um mesmo juízo de dignidade penal, o referente material da dignidade
de tutela do bem jurídico não se confunde com a potencial danosidade social da conduta, como
lesão ou perigo de lesão aos bens jurídicos. Nesse sentido, v. ANDRADE, Manuel da Costa. A
j2 - B em J u r íd ic o -P enal
14} Cf. ROXIN, Claus. Derecho penal. Parte general, cit., p. 203. Lucio Antonio CHAM ON JUNIOR
recorda, nesse sentido, que a alusão a "sistema" de ROXIN não pretende fazer referência ao
Direito nos moldes da teoria dos sistemas de Niklas LUHMANN, e sim à reunião, "sob o monto de
uma determinada idéia, sob determinadas princípios, os diversos conhecimentos da dogmático penal,
estruturando estes conhecimentos sob a luz desses princípios, permitindo, assim, que o teoria do delito
seja, em suas palavras, um todo ordenada." CH AMON JUNIOR, Lúcio António. Do giro finalista ao
funcionalismo. Embates de perspectivas dogmáticas decadentes. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris Editor, 2004, p. 46.
)44 Nesse sentido, v. ROXIN, Claus. Sobre a fundamentação político-criminal do sistema jurídico-penai.
Trad- Luís Creco. Revista Brasileira de Ciências Criminais, n° 35, julho-setembro 2001, p. 16. Da
mesma forma, sobre a evolução do Direito Penal após a Segunda Guerra, e precisamente em
relação ao estabelecimento de uma política criminal voltada para as consequências, v. HASSEMER,
Winfried. História das idéias penais na Alemanha do pós-guerra. Trad. Carlos Eduardo Vasconcelos.
Revista Brasileira de Ciências Criminais, v, 2, n° 06, abr./jun. 1994, pp- 48 etseq.
145 Nesse sentido, v. ROXIN, Claus. Política crimina! e sistema jurídico-penal. Tradução por Luts
Greco. Rio de janeiro: Renovar, 2000, pp. 20 e seq. Também observa tais vantagens num sistema
pena! teieoiógico Píerpaolo Cruz BOTTINi. Crim es de perigo abstrato e princípio da precaução
rio risro São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 171.
A na Elisa Liberatore Silva Bechara - 73
147 Cf. ANDRADE, Manuel da Costa. Consentimento e acordo em direito penai. Coimbra: Coimbr;
Editora, 1991, pp. 109-127. Também de forma crítica à função do Direito Penal de proteção d<
bens jurídicos, Juan Ignacio PINA ROCHEFORT, afirma que o Direito Penal deve estar dirigido.
proteção de uma ordem valiosa, isto é, de um sistema de expectativas que permite a vida sociai
Nesse contexto, a função do bem jurídico seria manter orientada a operação do sistema pena
ao cumprimento dessa fonçào, porém não é seu cumprimento por si mesmo, isso não que
dizer, conforme o referido autor, que o princípio cumpra uma função menor no sistema. piN.-
ROCHEFORT, juan Ignacio. Aigunas consideraciones acerca de la (auto) legitimadón dei derecb
penal. Es ei problema de la legitimidad abordable desde uma perspectiva sistêmico-constructivisia
in: GÓMEZ-JARADÍEZ, Carios. Teoria de sistemas yderecho penal Fundamentos y posibiiidade
de aplicación. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2007, p. 287.
148 Nesse sentido, v. POLAINO NAVARRETE, Miguei. Naturaieza del deber jurídico, cit., pp. o a -io
149 Nesse sentido, defendendo a garantia da identidade da sociedade como função do Direito Pena
v. CAMARGO, Antonio Luis Chaves, imputação objetiva e direito penal brasileiro, cit., p. io;
BOTTINt.Pierpaolo Cruz. Crim es de perigo abstrato e princípio da precaução, cit-, p. 171, embo:
ambos os autores não adotem integralmente a concepção funcionalista sistémica, na linha c
Günther jAKOBS.
150 Cf. jAKOBS, Günther. imputadón jurídico-penal. Desarroiio de! sistema a partir de las condiciona
de vigência de ia norma. Sn: Problemas capital es dei derecho penal moderno. Buenos Aire
'' r-----" ' t * ' n n o n c a m e n t o d e 1AKOSS,C A N C iO M ELi.
74 * B em J u r íd ic o -P enal
151 Cf. JAKOBS, Günther. Dogmática de derecho pena! y ía configuration normativa de !a sociedad.
Trad, e recompüaçãojacoboLópez Barja deQuiroga. Madrid: Civitas, 2004, p. 77: do mesmo autor,
Sociedad, norm ay persona en una teoria de un derecho penal funcional. Trad. Manuel Cancio
Meliá e Bernardo Feijoo Sánchez. Madrid: Cuadernos Civitas, 1996, p. 19. Conforme entende
JAKOBS, 0 próprio ordenamento jurídico impõe por vezes o sacrifício do bem jurídico, haja vista
que a sociedade não pretende a mera conservação de bens, e sim possibilitar os contatos sociais.
Conclui-se, nessa linha, que o bem jurídico não seria capaz de explicar a função do Direito Penal
na sociedade. JAKOBS, Günther. JAKOBS, Günther. Derecho penal. Parte General. Fundamentos
y teoria de ia ímputadón. Trad. Joaquin Cueilo Contreras e José Luis Serrano Gonzalez de Murillo.
2, ed. Madrid: Marcia! Pons, 1997, pp. 250-251.
152 Cf, JAKOBS, Günther. Sociedad, norma y persona, cit, p. 21; e, do mesmo autor, Dogmática de
derecho penai, rit., pp. 75 <*í seq.
153 A esse respeito, José Joaquim Com es CANOTILHO adverte que a utilização abusiva da
funcionalização, mesmo no contexto de um Estado Democrático de Direito, é apta a conduzir
a censuráveis institutos como os da perda e da suspensão de direitos individuais fundamentais.
A na E lisa L iberatore S ilva B echara - 75
154 No mesmo sentido, v. Cf. MENDOZA BUERCO, Blanca. £1 derecho penal en lasociedad dei riesgo.
.V /la /ír id - r i v i t a e o r> m r>n
76 - Bem Jurídico -P enal
pois são essas condiçoes, e não à estabilidade das normas que as garantem, que
possibilitam a efetiva participação do cidadão na sociedade557.
De outro lado, se é verdadeiro afirmar que a proteção de bens jurídi
cos implica o respeito e, assim, a proteção da vigência das normas que os
garantem, o contrário não se dá necessariamente, vale dizer, a proteção da
vigência das normas não implica, por si, a efetiva proteção de bens ju rí
dicos, mas apenas a crença de que isso ocorre. Apesar de guardarem cer
ta compatibilidade, ambas as funções do Direito Penal não podem, então,
ser consideradas de forma autônoma e nem mesmo a partir de um vínculo
de reciprocidade no âmbito de um ordenamento penal democrático, mas
sim em uma relação voltada a uma única direção: a função de manutenção
de expectativas sociais institucionalizadas apenas se justifica se o Direito
Penal protege efetívamente os bens jurídicos correspondentes. Conclui-se
que a função primordial do Direito Penal é a proteção subsidiária de bens
jurídicos, possuindo papel apenas complementar e mediato a tutela da se
gurança cognitiva a eles relacionada5Ss.
Na verdade, a partir da compreensão da divisão entre normas de conduta
e normas de sanção (na linha germânica), ou entre de normas primárias e nor
mas secundárias (nas linhas espanhola e brasileira), a contradição teórica difun
dida entre a proteção de bens jurídicos e a reafirmação da vigência das normas
revela-se apenas aparente. A ideia da confirmação da vigência da norma e, as
sim, da estabilização do sistema normativo, embora seja fundamental ao Direito
Penal, relaciona-se mais com os fins da pena, que não se confundem com a
função da intervenção penal, voltada à proteção subsidiária de bens jurídicos.
De fato, para alcançar sua função de tutela de bens jurídicos, o Direito
Penal serve-se da cominação, imposição e execução da pena, esforçando-se,
assim., para garantir a observância das normas penais de conduta. O fim ime
diato da pena constitui, então, justamente a estabilização ou a mera imposi
ção das normas existentes para a proteção de bens jurídicos, perseguindo-se,
em geral, uma finalidade preventivo-geral e, ao mesmo tempo, preventivo-es-
159 RUPOLPHI, Hans-joachim. Eí fin dei derecho penal dei estado y fas formas de imputadón jurídico-
penal. In: SCHÜNEMANN, Bernd (Comp.). EI »sterna moderno del derecho penal: cuestiones
fundamentales. Estúdios en honor de Ciaus Roxin en su 5 0 o aniversario. Trad. Jesús Maria Silva
Sánchez. Madrid: Tecnos, 1991, pp. 82-83. No mesmo sentido, v. ANDRADE, Manuel da Costa.
A dignidade penal e a carência de tutela penai com o referências de uma doutrina teieoíógico-
-raciona! do crime, cit., p. 179.
160 No mesmo sentido, v. POLAINO NAVARRETE, Migyel. Naturaleza dei deber jurídico, cit., p. 10; e,
do mesmo autor, Proíección de bienes jurídicos y confirmación de la vigência de la norma: dos
funciones excluyentes? Cuadem os de Política Criminal, n° 93,2007, segunda época, p. 38-
161 Enrique GIMBERNAT ORDEIG entende a norma pena! fundamentalmente como norma de
motivação, a partir de um entendimento psicoanalítico das relações sociais, que explicaria
a observância das regras jurídicas em razão da inibição psicológica que a ameaça de sanção
correspondente produz. A pena é, entlo, concebida peio autor como um importante instrumento
de política social, voltado à prevenção geral positiva. GIMBERNAT ORDEIG, Enrique. Ttene futuro
ia dogmática juridicopenal? In: GIMBERNAT ORDEIG, Enrique. Estúdios de derecho penal. 3.
ed. Madrid: Tecnos, J990, pp. *46 etseq.; e, do mesmo autor. Ei sistema dei derecho penai en la
actualidad. !n: GIMBERNAT ORDEIG, Enrique, idem, p. 174.
162 No mesmo sentido, v. BACIGALUPO, Enrique. La función dei concepto de norma en la dogmática
penai. Estúdios de derecho pena! en homenaje a! profesor Luis Jimenez de Asua. Revista de ia
F a n ilta r i rio ne.rí»f-hft rio ia t Inrvorairíprl rV jm n ln to rx tp ti Innnnooráficrri ro fifi n A“ ' p í t J 7 r ) N
78 - B em J u r íd ic o -Penal
Alberto ARROYO ZAPATERO, tratando da função de motivação da norma penai, partem da idéia
de que a ameaça constitui um momento lógico distinto do de interiorizaçâo no sujeito do valor
tutelado pela norma - o bem jurídico. Manual de derecho penal. Parte General. Instrumentos y
princípios básicos dei derecho penal. Barcelona: Praxis - Wolter Kluwer, 1994, pp. i4etseq. Sobre
a evolução da teoria da norma penal nas concepções imperativa e vaíorativa e sua relação com
a função do Direito Penal, v. BORJA JiMÉNEZ, Emiiiano. Algunas reflexiones sobre ef objeto, ei
sistema y la función ideológica dei derecho penal. Anuário de derecho penai y ciências penales,
t. LI, 1998, pp. 205-219.
163 Cf. SERRANO-PiEDECASAS FERNÁNDEZ, José Ramón. Conocimiento científico y fundamentos
dei derecho penai, cit., p. XXIíl (Introducción).
164 Cf. jescheck, Hans-Heinrich. Tratado de derecho penal. Parte general. Trad. Santigo Mtr Puig e
Francisco Mufioz Conde. Barcelona: Bosch, 1981, p.321; GONZÁLEZ CUSSAC, José Luis. GONZÁLEZ
CUSSAC, José Luis. Principio de ofensividad, apiicación dei derecho y reforma penal. Poder
judiciai, 2. época, n° 27, Septiembre 1992, p. 08; BETFIOL, G. institucionesde derecho penal y
procesal penai. Trad. F. Gutiérrez-Alvizy Conradi. Barcelona: 1987, p.36; e BUSTOS RAMÍREZJuan.
Contro! social y sistema penal. Barcelona: PPU, 1987, p.36. À conclusão próxima sobre a natureza
da norma penai chega SILVA SÁNCHEZ, também tratando da teoria das normas, quando afirma
a possibilidade de conciliação entre as concepções de norma como diretiva de conduta e como
expectativa institucionalizada. SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Diretivas de conduta ou expectativas
institucionalizadas? Aspectos da atual discussão sobre a teoria das normas. Trad. Alamiro Veiiudo
Salvador Netto e Renato de Mello Jorge Silveira. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 17,
n° 79, julho-agosto de 2009, p. 141.
A na Elisa Liberators Silva Bechara - 7«
166 No mesmo sentido, v. TAVARES, Juarez. Teoria do injusto pena!, cit., pp. 179-180.
167 Sobre a evolução do conceito de delito, é digna de nota a concepção de Tiberius OfGANUS ni
século XVI, em seu Troctaius críminolis { ‘Factum homrnis, vel dictum aut scriptum, doía vel culpa a k g
vigente sub poena prohibitum, quod nuHa insta cousa excusort potest'), com impressionante precisai
técnica - embora não se fizesse ainda nenhuma referência à idéia de danostdarfe ou a interesse
dignos de proteção considerando-se que a elaboração teórica do Direito estava à época en
seus primórdios. SCHAFFSTEIN, Friedrich. La ciência europea dei derecho penal en la epoca de
l > M m 4 n t « m r v Tr—wd Iz s r Á \ D c t / b íc iu r iT n n t / n c - i i kic-I-Í t ■11 A n Crtiix-Jirtj- ta — ^ -
Editora Quartier Latin do Brasil
Empresa Brasileira, fundada em 20 de novembro d
Rua Santo Amaro, 316 - CEP 01315-000
Vendas: Fone (n }3io i-578 o
Froail: ouartierlatiníSiauartierlatin.art.br