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INSTITUTO DE ARTES
MÚSICA POPULAR
RA: 045876
RG: 34.599.381-0
CPF: 307.759.518-46
1.Introdução..........................................................................................3
2.Sobre as Transcrições.......................................................................5
3.Transcrições e Análises.....................................................................6
4.Conclusão........................................................................................15
5.Discografia.......................................................................................17
6.Bibliografia.......................................................................................17
7.Anexos.............................................................................................18
2
1.Introdução
1
MONTANHAUR, Ramon/ SYLLOS, Gilberto. Bateria e Baixo na Música Popular Brasileira. Editado
por Almir Chediak. Ed. Lumiar. Rio de Janeiro, 2003
2
GIFFONI, Adriano. Música brasileira para contrabaixo: demonstrações e exercícios com ritmos
brasileiros. São Paulo. Ed. Irmãos Vitale. 1997 coordenação: Luciano Alves
3
CHEDIAK, Almir. Harmonia e Improvisação. Rio de Janeiro, Editora Lumiar, 1986 (9ª ed.)
3
aplicadas à improvisação e ao enriquecimento melódico foram estudados a fim de
enriquecermos nosso trabalho.
A dissertação de mestrado de Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas, intitulada
Teoria da Harmonia na Música Popular: uma definição das relações de
combinação entre os acordes na harmonia tonal,4- foi também utilizada em nossa
pesquisa devido ao fato de que o autor desenvolveu seu estudo sobre diversas
práticas harmônicas da música popular, mais especificamente a harmonia centro-
européia, a harmonia norte-americana e a harmonia da música popular feita no
Brasil.
No que diz respeito às análises melódicas e formais do repertório escolhido
utilizamos o trabalho Arranjo: Método Prático5. Tal obra, reunida em três volumes,
trata de temas como: melodia, frases, ritmos, modos de acompanhamento entre
outros. Considerando o ritmo como um elemento, na maioria das vezes,
preponderante na caracterização de um motivo melódico. ”Os fatores constitutivos
de um motivo são intervalares e rítmicos (...)”6 nos guiamos também através das
técnicas e métodos musicais contidos nessa mesma obra.
Buscamos analisar de que modo Luizão Maia, de forma muito particular,
compõe suas linhas de baixo e conduz suas levadas destacando assim o papel do
contrabaixista na música popular brasileira. No entanto, apenas as análises
musicais não desvendariam esse modo de composição do contrabaixista. Para
entendermos como Luizão constrói suas levadas, fez-se necessário uma pesquisa
bibliográfica que relacionasse sua forma de tocar aos aspectos históricos do
contrabaixo na música brasileira7 - à consolidação desse instrumento no repertório
popular, como também às diversas formas de estruturação das linhas de baixo na
história da MPB.
O trabalho Os alicerces da folia: A linha de baixo na passagem do maxixe
para o samba de José Alexandre Carvalho8 - caminha nesta direção. Carvalho faz
uma retrospectiva histórico-musicológica do maxixe e do samba do período de
1870 a 1940 a partir do estudo de instrumentos responsáveis pela execução do
baixo e da análise das linhas de baixo e das formações instrumentais mais
utilizadas por tais gêneros nesse período.
4
FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Teoria da Harmonia na Música Popular: uma definição das
relações de combinação entre os acordes na harmonia tonal. São Paulo. Dissertação de Mestrado,
IA/UNESP, 1995.
5
GUEST, Ian. Arranjo: Método Prático. Rio de Janeiro, Ed. Lumiar, 1996 (3 volumes)
6
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. Tradução: Eduardo Seinciman.
São Paulo, EdUSP, 1991. p. 35
7
Nessa pesquisa, toda vez que fizermos referência ao instrumento contrabaixo, serão utilizados os
termos “contrabaixo acústico” para o instrumento mais grave da família dos violinos e “baixo
elétrico para a guitarra-baixo. O termo contrabaixo será utilizado genericamente para estes dois
instrumentos.
8
CARVALHO, José A. L. L. Os alicerces da folia: A linha de baixo na passagem do maxixe para o
samba. Campinas, Tese de Mestrado. IA/UNICAMP. 2006
4
O livro, A Construção do Samba9- também foi utilizada. Eesse trabalho
retrata bem como se deu a evolução do samba em momentos importantes na
história da música popular brasileira como: a gravação histórica, em 1917, do
primeiro samba gravado “Pelo Telefone” e, posteriormente, a expansão do gênero
no decorrer dos anos, saindo das pequenas rodas como a casa da Tia Ciata e
alcançando todo povo brasileiro com o rádio e o disco.10
Outro trabalho que trata sobre o gênero samba é Feitiço Decente:
transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933)11 de Carlos Sandroni,
Neste trabalho, Sandroni discuti a estruturação do samba urbano carioca,
resultado de transformações em sua métrica e rítmica, bem como nas maneiras de
ser executado entre as décadas de 10 a 30. No entanto, autor não retrata somente
as mudanças musicológicas do samba, mas os contextos culturais, sociais e
político no qual o gênero musical estava inserido.Como critério de
representatividade, o autor selecionou obras musicais produzidas no âmbito dos
projetos nacionalistas ou veiculadas através destes, especialmente aquelas
orientadas por uma preocupação artística revolucionária12.
Para a análise das três últimas canções propostas, utilizamos neste último
relatório alguns trabalhos já citados no relatório parcial. Esses trabalhos foram
essenciais para analisarmos seus aspectos estruturais, quais sejam, a harmonia, a
melodia, o arranjo, o ritmo e a formação instrumental.
2.Sobre as Transcrições
9
CALDEIRA, Jorge. A construção do samba. São Paulo. Mameluco Prod. Artísticas, 2007.
10
CALDEIRA, Jorge. Op. Cit. p. 19.
11
SANDRONI, Carlos. Feitiço Decente (1917 -1933). Ed. Zahar, UFRJ. 2001.
12
GARCIA, Miliandre de Souza. Do Arena ao CPC:o debate em torno da arte engajada no Brasil
(1959-1964). Curitiba. Tese de Mestrado, UFPR/PR. 2002
13
PELLEGRINI, Remo Tarazona. A análise dos acompanhamentos de Dino Sete Cordas em
sambas e choros. Campinas-SP. Dissertação de Mestrado. IA/UNICAMP, 2005 p. 50
5
3.Transcrições e Análises
3.1.Folhas Secas
A primeira música analisada neste relatório final foi Folhas Secas, letra de
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, transcrita do “Especial Elis Regina”
gravado no programa “Ensaio” pela TV Cultura em 1973. Nessa gravação temos
ao piano César Camargo Mariano; na bateria Paulo Braga; no contrabaixo Luizão
Maia e Elis Regina cantando.
Essa música é estruturada na forma INTRO AABA, executada em samba-
canção de andamento lento de 50 bpm. Essa introdução inicia-se com levada
percussão (4 compassos) e em seguida base rítmico-melódica desse trecho é
constituída pelo contrabaixo que se mantém tocando predominantemente
colcheias e semínimas sem variações rítmicas.
14
“O termo ostinato originou-se no Barroco e significa em italiano ostinato, persistente. É uma linha
de baixo de tamanho e complexidade variável que é constantemente repetida ao longo de uma
composição, tanto vocal como instrumental formando a base para os desenvolvimentos melódicos,
harmônicos e contrapontísticos desta composição”. (CARVALHO, José A. L. L. Op. Cit. p. 30)
15
GIFFONI, Adriano. Música brasileira para contrabaixo: demonstrações e exercícios com ritmos
brasileiros. São Paulo. Ed. Irmãos Vitale. 1997 coordenação: Luciano Alves Vol. I p. 25
6
Figura 2: Exemplo, de levadas de bossa nova, retirado do livro Música brasileira
para contrabaixo: demonstrações e exercícios com ritmos. ( vol. I; pág. 45)
Ainda sobre Folhas Secas, em seguida começa a parte AABA. Esta parte
cantada é construída sobre uma harmonia tonal16. Construída sobre o tom de Sol
Maior (G), a música se desenvolve sobre uma progressão harmônica comum nos
sambas.
16
“A harmonia modal destaca a característica sonora de um modo. Cada modo tem sua nota e sua
progressão harmônica característica. A harmonia modal pode ter o caráter puro quando é formada
apenas por acordes diatônicos do seu modo ou pode ter caráter misto quando há a presença de
outros modos e tonalismo na progressão”. CHEDIAK, Almir. Op. Cit. p. 121
7
A partir da figura acima podemos analisar como Luizão constrói suas linhas
e observar a condução melódica-harmônica do contrabaixo.
Comparando a harmonia da música com a linha que o baixo faz, percebe-
se que ambas caminham juntas.
8
Como podemos observar na figura acima, através de uma linha rítmica
comprometida com a marcação dos tempos do compasso, Luizão dá “chão”, ou
seja, as notas fundamentais dos acordes estão no primeiro tempo do compasso,
para que os outros elementos rítmicos da música, como o piano e a bateria,
possam se estruturar.
Esta colocação é extremamente importante, pois o uso de células rítmicas
bastante percussivas faz com que a linha de baixo seja mais marcada e simples,
diferenciando-se das linhas ornamentadas e contrapontísticas presentes em
muitos sambas-maxixados da década de 1920.17
A segunda música analisada neste relatório foi Brigas Nunca Mais, de Tom
Jobim e Vinicius de Moraes. Transcrita do álbum Elis e Tom, esta canção
apresenta diversas peculiaridades no que se diz respeito aos aspectos rítmicos
que formam a composição das linhas de baixo de Luizão Maia, bem como a
interação do contrabaixo com outros instrumentos: bateria, piano, guitarra e voz.
Estruturada na forma INTRO AB e executada no estilo bossa-nova, a
música é tocada em andamento médio de 70 bmp.
A música inicia-se com uma levada suave e marcada e a base rítmico-
melódica desse trecho é constituída pela bateria, pela guitarra e pelo contrabaixo
que se mantém tocando predominantemente colcheias e semicolcheias sem
variações rítmicas.
O contrabaixo e a bateria realizam um ostinato que se repete a cada dois
compassos de 2/4.
17
CARVALHO, José A. L. L. Op. Cit. p. 75
9
Este recurso é muito utilizado na estruturação dos baixos na música popular
como na música erudita. Para efeito de comparação podemos citar o samba
Madalena, de Ivan Lins e Footprints de Miles Davis. Ambas apresentam uma
célula rítmica que é repetida em diversos compassos durante toda a música e
também durante a introdução.
Composta na década de 50, período em que a música brasileira sofreu
grande influência da musica norte-americana, Brigas Nunca Mais tem uma
harmonia que se assemelha à harmonização do repertório jazzístico.
Logo após a introdução, a música inicia-se com a utilização de acordes
bastante dissonantes e sofisticados, porém, mantém-se a afinidade e a coerência
com o estilo de interpretação bossa-novista. Vejamos a partir do 5º compasso a
harmonia dissonante da música
10
Observamos nos compassos 14 e 17 uma linha simples, marcada com as notas
fundamentais (f) dos acordes. Essa linha varia sobre padrões originados de
semínimas e colcheia.Já nos compassos 12 e 19 observamos antecipações nos
acordes.
Figura 16: Levada de bossa nova retirada do livro Música brasileira para
contrabaixo: demonstrações e exercícios com ritmos. ( vol. II; pág. 26)
18
GIFFONI, Adriano. Op. Cit.Vol II p. 10
19
A nota morta (ghost note) é uma notação musical utilizada para representar uma figura rítmica
percussiva.
11
a uma mudança de contexto instrumental, um outro instrumento baixo passa a
realizá-la, este instrumento normalmente procura reproduzir a linha original”.20
Nas figuras transcritas abaixo podemos observar a utilização dessa técnica:
3.3.Chovendo na Roseira
20
CARVALHO, José A. L. L. Op. Cit. p. 152
21
O termo swing eights é usado para designar uma forma de se tocar colcheias no jazz. Já straight
eights corresponde ao termos oposto usado na notação musical.
12
Figura 17: Notas tocadas com straight eights
22
Para maiores detalhes sobre a levada do violão de João Gilberto consultar GARCIA, Walter. Bim
Bom, A contradição sem conflitos de João Gilberto. São Paulo, Paz e Terra, 1999.
23
O crítico musical Marco Antonio Barbosa relata sobre os músicos que compuseram o projeto de
gravação do álbum: “Tom entrou com a voz, piano e violão; o quarteto (Hélio Delmiro, guitarra;
Luizão Maia, baixo; Paulinho Braga, bateria; e o próprio Cesar, no piano elétrico) que tocava com
Elis ao vivo na época, mais a guitarra de Oscar Castro Neves, formaram a base sonora do álbum.
"Primeiro o Tom botava a voz e tocava. Depois entravam as cordas", narra Cesar, referindo-se ao
naipe de cordas arranjado pelo americano Bill Hitchcock - um dos poucos americanos a participar
do projeto, que era quase 100% brasileiro apesar de gravado na Califórnia, no estúdio MGM”.
Extraído do site www.cliquemusic.com.br em 28/06/2008
13
Além do piano e do violão serem instrumentos de extensão e timbres
diferentes, o violão toca os acordes numa região mais grave do instrumento e o
piano mais aguda dando à canção característica peculiar.
Outro aspecto importante a ser ressaltado é o fato de que os três
instrumentos (piano, violão e contrabaixo) desempenham um papel harmônico
sem que as idéias de cada instrumento se percam e se choquem um com o outro.
Percebe-se os espaços preenchidos, entre uma progressão harmônica e outra,
são sempre melodias dobradas ora pelo piano, ora pela violão, junto da flauta ou
do quarteto de cordas.
Tais características apontadas acima têm uma enorme importância para o
que viria a ser o estilo rítmico de Luizão Maia, sobretudo a partir do diálogo
estabelecido com o piano, violão e a bateria. Com uma forma muito particular de
conduzir suas levadas, Luizão aplica com muita precisão as notas fundamentais
dos acordes nos primeiros tempos do compasso, dando base rítmica e melodia
aos outros instrumentos. Vejamos abaixo as notas nas quais o contrabaixo
repousa.
A base rítmica desse trecho é constituída pela bateria e pelo baixo que se
mantêm tocando poucas notas e com poucas variações. Essas variações
acontecem de uma maneira muito sutil. Geralmente são notas de passagem para
o próximo acorde, como as duas últimas colcheias de tercina do terceiro tempo,
que prepara a semínima do primeiro tempo do compasso seguinte. Isso é uma
característica dos baixos na bossa-nova e em sambas-canção.24 Abaixo
exemplificamos a utilização de notas de passagem para o próximo acorde.
24
GARCIA, Walter. Bim Bom, Op Cit..
14
Figura 18: Compassos 61 a 67 da música Chovendo na Roseira
4.Conclusão
15
De forma muito particular e criativa, o contrabaixista Luizão Maia, cria suas
levadas e conduz suas linhas de baixo com muito balanço. A utilização, com muita
precisão, de uma ampla gama de deslocamentos rítmicos e de “notas mortas”
tornam seus fraseados muito parecidos com os fraseados de instrumentos graves
de percussão, como tamborim, surdo, etc.
Há uma grande interação rítmica dos instrumentos – piano, baixo e bateria -
isso se deve ao fato de que os instrumentos se completam ritmicamente, como
visto nas análises. Tal característica tem uma enorme importância para
entendermos como o contrabaixo de Luizão Maia, estabelece um diálogo com o
piano e a bateria.
Visto sob a perspectiva das músicas analisadas, o fraseado melódico de
Luizão se adapta à progressão harmônica por meio de movimentos diatônicos,
passagens cromáticas e arpejos de acordes. Assim sua linha delineia a cadência
de acordes na qual a canção se estrutura.
Portanto, com uma linha comprometida ritmicamente com a marcação dos
compassos e com um fraseado definindo com clareza a condução harmônica,
Luizão abre a possibilidade de que outros instrumentos podem se estruturar na
canção.
Por fim, um importante fator que contribuiu para o desenvolvimento técnico
de Luizão e possibilitou que ele desenvolvesse novos padrões de linguagem do
baixo foi sem dúvida nenhuma a substituição do contrabaixo acústico pelo
contrabaixo elétrico.
Na música popular a partir dos anos de 1930, contrabaixo acústico aprece
como o principal instrumento baixo, sendo que na década de 1950 ele passa a ser
substituído progressivamente pelo baixo elétrico.
Até os anos 30, os baixistas usavam as cordas com ação bem alta, tocando
muito forte para que se pudesse tirar som do instrumento. Com a melhoria da
amplificação e criação do contrabaixo elétrico, os baixistas puderam abaixar a
ação das cordas, pois já não necessitava tocá-la tão fortemente. Este fato permitiu
maior agilidade e velocidade nas passagens musicais. A partir então os baixistas
começaram não apenas fazer a marcação do ritmo, mas também a dobrar os
temas e a improvisar.
Nesse contexto, a participação de Luizão Maia como instrumentista na
música brasileira pode ser analisado como uma possível síntese das principais
transformações que a música no Brasil passou durante todas essas décadas
como: a incorporação do jazz, da música latina e de outras influencias
estrangeiras.
16
5.Discografia
6.Bibliografia
-FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro de. Teoria da Harmonia na Música Popular: uma
definição das relações de combinação entre os acordes na harmonia tonal. São
Paulo. Dissertação de Mestrado, IA/UNESP, 1995.
-GARCIA, Walter. Bim Bom, A contradição sem conflitos de João Gilberto. Editora
Paz e Terra. 1999
-GUEST, Ian. Arranjo Método Prático. Rio de Janeiro, Editora Lumiar, 1996 (3
volumes)
-SANDRONI, Carlos. Feitiço Decente (1917 -1933). Ed. Zahar, UFRJ. 2001.
-
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da Composição Musical. Tradução:
Eduardo Seinciman. São Paulo, EdUSP, 1991.
17
7.ANEXOS
18
19
7.2.TRANSCRIÇÃO- BRIGAS NUNCA MAIS
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