Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

POLO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA


INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

Atividade sobre o filme Vermelho como céu.

Maicon de Avila Oliveira

Disciplina: Teorias e sistemas psicológicos II: Gestalt

Data 09/12/2013
Após o texto (1), como podemos explicar a aguçada percepção dos sentidos
do garoto Mirco a partir dos princípios da Psicologia da Gestalt?
De acordo com a psicologia da Gestalt podemos entender a percepção
como um processo em que há uma síntese e uma compreensão de elementos
que são apreendidos na experiência a partir das informações sensoriais
captadas. Ressaltemos que a percepção não se construirá como uma
reprodução desses elementos que compõem a experiência e, portanto, da
realidade, mas como uma interpretação, do individuo que percebe, sobre os
mesmos. E isso pode ser explicado pelo fato de que nessa linha de
pensamento não se acredita que a percepção ocorra somente por associação
ou soma dos diversos estímulos captados pelos órgãos sensoriais,
diferentemente ela se constituirá com mais algumas variáveis as quais
poderíamos chamar de princípios organizativos, que são próprios do individuo.
Assim, podemos entender que as informações que um individuo extrai da
experiência da realidade não seguem uma logica mecânica de organização e,
sim uma lógica que é própria do individuo, uma logica que compreenderá suas
capacidades, seus afetos, suas dificuldades, etc.

Fazendo uma diferenciação de processos mentais cognoscitivos, como


a percepção por meio dos quais o individuo tomará conhecimento do objeto e
processos mentais conativos como o ato que compreenderá a atitude tomada
pelo individuo frente a um objeto, fica ainda mais clara a importância de
considerarmos um esquema de organização que é próprio do individuo. Pois,
ao refletirmos um mínimo que seja, torna-se evidente que a forma como um
individuo se dirige a realidade, ao mundo está intimamente ligada a forma
como ele o vê e o conhece, e esse processo de construção de conhecimento
ou de percepção de uma realidade, de forma alguma, pode seguir uma lógica
mecanicista, visto que diferentes pessoas possuem diferentes olhares,
percepções e até mesmo relações com isso que chamamos de realidade. E
esta consideração, tomada como interessante, pode ser sucedida por outras
considerações igualmente ou ainda mais interessantes.

O filme nos traz um bom exemplo. O menino Mirco, com a perda da


visão, não adquire simplesmente um prejuízo de sua capacidade perceptiva,
não tem suas possibilidades de conhecimento e de relação com o mundo
simplesmente diminuídas ou incapacitadas conforme pensaríamos segundo
uma lógica mecânica ou associacionista. Na verdade, segundo a teoria
gestaltista, o que ocorre com o menino é todo um rearranjo, uma
reorganização, uma reconfiguração dos seus esquemas perceptivos que
possibilitam novas formas para aquisição e construção do seu conhecimento,
de sua subjetividade e de sua interação com um mundo. Os tecidos cerebrais,
as conexões neuronais que, de certa forma são responsáveis pelos processos
perceptivos são dotados de uma admirável capacidade plástica de
reorganização. Com isso, na medida em que existem obstáculos que dificultem
o desenvolvimento de individuo em um meio, por uma questão adaptativa o
próprio organismo se reorganizará de um modo que seja possível o contorno
desses obstáculos. Portanto, o menino Mirco desenvolve novas capacidades
ou novas organizações, especificamente do caso o aumento de sensibilidade
de determinados órgãos sensoriais, que proporcionam novas formas de se
conhecer o ambiente, consequentemente novas formas de se relacionar com o
mundo e de se construir como um sujeito conhecedor.

Qual o princípio gestáltico que está contido na argumentação acima?(texto 2)


Seguindo a argumentação, percebemos a realidade e os objetos
presentes nela de uma forma simplificada para que haja uma facilidade em sua
compreensão. Há que destacar que essa percepção apesar de se dar sobre
um mundo, ela não deve ser vista como sua fiel representação e sim como
uma perspectiva ou interpretação sobre o mesmo. Essa ideia, de certo modo,
pode ser até mesmo remetida à filosofia de Kant à medida que essa nos afirma
que jamais se conhece um objeto em si, isso porque o objeto sempre
aparecerá como um fenômeno que se mostra ao individuo segundo algumas
categorias organizativas, como: tempo, espaço, quantidade, qualidade, etc.

Pegando essas informações o principio de pregnância ( ou lei da boa-


forma) é o que me parece mais visível, mais nítido nessa argumentação. Afirmo
isso, pois, esse princípio nos diz, basicamente, que tendemos a “captar” os
elementos ou objetos da experiência em sua forma mais simples para que sua
compreensão seja ao máximo, facilitada. Temos ainda ligados a esse princípio
o princípio de closura e a ideia de experiência passada que respectivamente
nos darão a ideia de: que as figuras que observamos, mesmo que incompletas,
tendem a ser fechadas, completadas, e isso segundo uma ideia de boa forma;
e que para que possamos fechar uma figura dada como incompleta é
necessária a utilização de uma memoria, de uma experiência que possibilite
uma associação entre a figura incompleta e uma figura conhecida. Por sua
relação com o princípio de pregnância poderíamos afirmar que essas duas
ideias estariam mesmo que em menor grau ou implícitas, também presentes no
texto.

Ora, se de acordo com esses princípios e ideias temos uma tendência


de simplificação das figuras com as quais temos algum contato, fazemos
associações com figuras que já nos são conhecidas, naturalmente essas
simplificações estão em acordo com capacidades e memorias próprias,
particulares. Nesse sentido é sensato dizer que as simplificações são espécies
de recortes “didáticos” que realizamos, e que não necessariamente estão
presentes na realidade observada, mas no sujeito que conhece. Essa ultima
conclusão reforça a ideia que temos da presença do princípios gestaltistas na
argumentação.
A partir da teoria de campo aponte os argumentos que sustentam os
comentários acima. (texto 3)

Segundo a teoria de campo de Kurt Lewin o comportamento não esta


relacionado apenas com as dimensões de passado e futuro, mas também com
uma dimensão presente e dinâmica na qual se encontra o individuo. De acordo
com esse pensamento é nesse campo presente que se dá efetivamente a
ocorrência de um comportamento, e essa ocorrência é uma resposta a todo um
conjunto de fatos coexistentes e interdependentes que estão presentes no
campo presente de uma pessoa(estão presentes como valências positivas ou
negativas dependendo de sua capacidade proporcionar um beneficio ou um
maleficio) Essa é uma ideia interessante, os fatos estão presentes no
ambiente, mas ganham sua valência no campo de forças psicológicas de um
individuo, e é na relação do individuo com o ambiente que essas valências
serão atribuídas e haverá um comportamento como resposta. Seguindo essa
ideia, o meio é percebido como fonte dos desejos, das necessidades, das
gratificações e também das frustrações, pois, como já tentei descrever
anteriormente a relação de individuo com a realidade não se dá por meio de
uma representação fiel, mas por meio de uma interpretação, o individuo
basicamente interpreta a realidade me que ele está inserido e, a partir disso, ira
desenvolver suas necessidades, gratificações, frustrações, etc. É importante
ressaltar aqui que no campo psicológico os fatos da realidade adquirem
valências positivas ou negativas, segundo sua capacidade de proporcionar
benefícios ou malefícios.

Considerando-se essas informações, a proposta de Lewin é que para


um pesquisador conhecer a relação de uma pessoa com o seu meio, para ele
compreender o comportamento que ela exibe é necessária uma compreensão
acerca do que assume valência positiva e do que assume valência negativa
para essa pessoa em sua realidade. E no filme, a postura do professor com o
Mirco foi essa, ele buscou restabelecer o garoto a partir de algo que era
considerado pelo menino como extremamente atrativo e interessante.

A partir dos comentários acima, desenvolva uma reflexão calcada no que


aprendemos sobre a Psicologia da Gestalt que responda a pergunta: Como
conhecemos? (texto 4)

É complexo pensar como se da a construção do conhecimento, por


meio de que “instrumentos” podemos fazê-lo, estabelecer sua relação conosco
e com a realidade, estabelecer o quanto ele está relacionado com nossos
afetos e com a realidade, através de que meios podemos valida-lo. Essas são
algumas questões capazes de ocupar grande parcela do pensamento e ainda
continuarem um tanto enigmáticas.
A filosofia de Kant traz algumas considerações relevantes para uma
reflexão como essa. Segundo esse pensamento sujeito do conhecimento não
têm acesso aos objetos de conhecimento em si, somente a esses objetos
enquanto fenômenos apresentados segundo categorias organizativas do
próprio individuo que possibilitam o ato de conhecer. Desse modo este mesmo
ato, estará sempre, de certa forma, submetido a forma como temos acesso ao
objeto de conhecimento, o que se dará sempre por meio de categorias.

A psicologia a Gestalt sofre uma considerável influencia dessa filosofia.


Nessa linha teórica podemos pensar a construção do conhecimento como um
processo dinâmico constituído e influenciado por algumas variáveis que não
somente as informações sensoriais. O que anteriormente busquei descrever
sobre a percepção é também proveitoso nesse momento, a soma ou
associação de estímulos sensoriais não é o suficiente para constituir a
percepção que um individuo tem de sua realidade. Essa percepção será
também constituída pelas capacidades, pelos afetos, pela experiência passada,
todos pertencentes ao individuo e não a realidade em si. Podemos, portanto,
ter uma noção de quão complexa é essa questão e do quanto que variáveis
particulares e individuais estão presentes nessa construção.

Gostaria de dizer por ultimo sobre como é interessante ver que essa
consideração envolve e possibilita uma ideia de esquemas de construção de
conhecimento (poderíamos colocar aqui estruturas neuronais relacionadas ao
processos cognitivos) que se reorganizam, capazes de se reconfigurar
segundo uma necessidade e isso possibilita uma melhor compreensão sobre
os indivíduos que de formas diferentes constroem seu conhecimento do
mundo. Isso é visivelmente ilustrado no filme em que o menino Mirco por não
poder mais contar com sua visão, tenta conhecer e se dirigir ao mundo por
meio de seus outros sentidos (mais aguçados em razão da falta de visão).

Apresente, a partir de uma análise pessoal, as conclusões das relações que


você pôde estabelecer entre o filme e o aprendizado da disciplina Psicologia da
Gestalt. (texto 5)

Ao pensar sobre o filme me ocorreu frequentemente a ideia do Eu


como um conjunto de características que formam uma configuração estável e
dinâmica. E essa ideia se tornou frequente no meu pensar, pois um ponto que
me chamou atenção no filme foi a capacidade do menino Mirco, assim como
uma capacidade humana em geral, de se reorganizar e criar novos esquemas
perceptivos que possibilitam novas formas, formas diferentes de se conhecer o
mundo. E, juntamente com essas novas formas de conhecimento vem novas
possibilidades de relação e interação com um mundo percebido. No caso de
uma privação sensorial, como o ilustrado pela cegueira no filme, é possível
afirmar que não existe simplesmente a ausência de um sentido e, por isso, um
prejuízo perceptivo, para, além disso, podemos afirmar que há uma
transformação, uma reorganização, enfim, uma adaptação do individuo que
passa a conhecer pelos meios que lhe são viáveis, no caso os sentidos
restantes. E ainda considerando a capacidade plástica do nosso tecido nervoso
responsável por essas funções perceptivas, na experiência de privação
sensorial há a intensificação da sensibilidade dos outros sentido ainda digamos
em funcionamento.

As capacidades de registro e de evocar informações, novamente digo,


segundo o pensamento da Gestalt, não seguem uma lógica mecânica ou
associacionista, elas possuem na verdade uma flexibilização e articulação
próprias e extremamente interessantes, principalmente em casos em que há a
necessidade dessas reorganizações em função de uma adaptação.

Você também pode gostar