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UNESA - Universidade Estácio de Sá (Campus Duque de Caxias)

Professor: Roberta Marília Navaes Ferreira


Aluno: Leonardo de Campos Araújo
Turma: 3029
PSICOLOGIA JURÍDICA

O TRABALHO DO PSICÓLOGO JURÍDICO NO ENFRENTAMENTO DA


VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE
A violência e o trabalho do psicólogo na Vara da Infância e Juventude
Desde os primórdios da sociedade a violência tem estado presente entre as relações
humanas. Historicamente, até as revoluções europeias e movimentos sociais se atentarem
para os direitos individuais do homem, a violência foi fator marcante até mesmo no Estado,
caracterizada pela confusão violência-poder. Era comum, até poucas décadas atrás, usar
castigos físicos como formas de punir, a questão da tortura, por exemplo, é um assunto
delicado até mesmo nas instituições de segurança pública.
No caso do Brasil, o assunto ganha diversos contornos, dada a imposição “opressiva”
de um Estado que sempre foi alheio ao “povo da terra” já que, quando os primeiros
europeus pisaram aqui, a dominação se fez muitas vezes de forma violenta. Foi utilizado
desde cedo o trabalho compulsório de nativos e africanos e posteriormente não ocorreu
uma integração sócio-econômica destes trabalhadores.
Essa relação entre violência e poder foi objeto de estudo de diversos teóricos, como
Webber, no qual poder é impor vontade mesmo quando exista resistência 1. Ou ainda
Focault, que avalia como a punição foi sendo remodelada de forma sutil e ainda opera no
meio social:
Na oficina, na escola, no exército funciona como repressora toda uma
micropenalidade do tempo... é utilizada, a título de punição, toda uma
série de processos sutis, que vão do castigo físico leve a privações
ligeiras e a pequenas humilhações.2
E embora nos dias de hoje a violência física seja amplamente condenada, persistem outros
tipos de violência no meio social, aquelas mais sutis, veladas, as vezes verbais e poucos a
percebem por ser praticamente invisível, naquilo que Bordieu denominou como violência
simbólica.3 Outrossim, falar de violência não se limita a agressão física, o que torna o
trabalho do psicólogo fundamental na proteção daqueles que se sentem oprimidos por
qualquer forma de violência.
Não foi fortuito portanto, o fato de que os psicólogos, dentro do sistema jurídico,
começassem seus trabalhos com as famílias. A família como uma instituição base na
sociedade, para os psicólogos, deveria ter uma abordagem especial, a fim de se entender as
dinâmicas de certos distúrbios sociais.4 E como podemos observar, em um país onde a
tradição histórico-cultural sempre foi de arbitrariedade com os mais fracos, as crianças e os

1
WEBBER, M. Economia e Sociedade. 2012 UNB
2
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 39.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011
3
BOURDIEU, P. A dominação masculina. 2.ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2002
adolescentes (principalmente aqueles em zonas de risco, conflitos e miséria), sempre
estiveram vulneráveis a todos os tipos de violência.
Seria somente a partir das décadas de 1980/90 que a atenção social se voltou aos
direitos das crianças e adolescentes. Foi nesta época, que no âmbito internacional e
nacional5, algumas transformações e reivindicações convergiram para a consolidação do
Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil (1990), na instituição dos conselhos
tutelares, criação de varas especializadas e reconhecimento da função psicológica dentro
das decisões que dizem respeito aos menores. Com isso o trabalho do psicólogo jurídico
seria regulamentado e reconhecido como essencial nas análises dos menores que sofrem
qualquer tipo de violência.
Sobre as formas de violência que a criança e o adolescente podem sofrer estão: a
negligência (como todos os tipos de abandono, seja ele intelectual, material ou afetivo), a
violência psicológica, a violência física e a violência institucional. Esta última vem recebendo
uma atenção maior nos últimos anos, por ser relativizada na maior parte das vezes. A
violência institucional acontece quando o menor tem seus direitos negados (que pode ser
no atendimento ou supressão de direitos) ou quando recebe tratamento inadequado por
uma instituição que deveria zelar pela segurança da criança ou adolescente. A violência
institucional é nociva ao desenvolvimento do menor, pois ao passar de um atendimento a
outro, julgamentos e descréditos, aquele acaba sofrendo “revitimizações” sucessivas. Como
afirma Heloiza Egas (Coordenadora-Geral de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do
Adolescente) é fundamental que menores sejam protegidos nas instituições que devem
cuidar das mesmas e estão em contato direto, como a escola. 6
São casos de violências como estas, que o Psicólogo que trabalha na Vara da Infância
e Juventude deve se deparar durante seu atendimento, ao ouvir não só as vítimas como
também os possíveis agressores. Como podemos observar, é um trabalho primordial, já que
neste caso, a psicologia jurídica trabalha em consonância à justiça, a fim de que, as decisões
tomadas por esta não provoque uma separação ou conflito emocional, principalmente em
grupos com relações pessoais muitas vezes delicadas. Portanto, o psicólogo jurídico que
trabalha dentro das Varas da Infância e Juventude é responsável por assegurar que as
conquistas realizadas a favor do menor sejam asseguradas e que todo processo litigioso se
realize de forma que cause o menor dano as crianças e adolescentes.
Dentre as prerrogativas do psicólogo jurídico na Vara da Infância e Juventude estão:
fazer avaliações dos casos que são apresentados, emissão de laudos, dar suporte aos
conselhos tutelares e órgãos (públicos e filantrópicos) destinados a proteção e cuidado de

4
Entre o direito e a Lei: uma História da Psicologia Jurídica em São Paulo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=_xGg57hdO5E
5
Regras de Beijing, Pacto de Riad, Regras Mínimas de Beijing, Constituição de 1988, Estatuto da Criança e
Adolescente, dentre outros.
6
Violência contra crianças e adolescentes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lNb-
mQ5MRnc
crianças e adolescentes, aconselhamento do menor e grupos familiares, supervisiona os
diversos casos tratados (uniões civis, rupturas familiares e relação de guarda, adoção,
procedimentos na apreensão do menor, observação e fiscalização dos locais de acolhimento
e assim por diante), averigua situações de queixas e denúncias, avalia as possíveis
penalidades (medidas socioeducativas) no caso de menor em conflito com a lei, acompanha
o cumprimento das políticas públicas que devem beneficiar a criança e adolescente, dentre
outros.
Como podemos observar, o trabalho do psicólogo na Vara da Infância e Juventude, é,
portanto, especializado e tem como principal objetivos supervisionar o cumprimento dos
direitos assegurados ao menor após muitos anos de conquistas. Assim como, acompanhar
dentro do sistema judiciário, a exigência dos deveres do menor frente a litígios e
descumprimento da legislação, como uma forma de adequar as decisões dos magistrados
frente a situação da criança/adolescente.

Assim sendo, dentro da vara supracitada, a prerrogativas do psicólogo jurídico, vão


além de um simples acompanhamento. Sendo sobretudo, um estudo das relações familiares
e sociais do menor, na busca de uma solução que não afete mais ainda o desenvolvimento
afetivo e cognitivo das crianças e adolescentes, contribuindo assim para construção de um
ambiente social saudável.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, P. A dominação masculina. 2.ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

Código de ética profissional do psicólogo — Disponível em: http://site.cfp.org.br/


legislacao/codigo-de-etica.

Convenção de direitos da criança — Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D99710.htm. Acesso em 09 set.
2014. Regras de Beijing — Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/
lex47.htm.

Entre o direito e a Lei: uma História da Psicologia Jurídica em São Paulo. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=_xGg57hdO5E

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 39.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

Lei da regulamentação da profissão de psicólogo — Lei 4.119 de 27 de agosto 1962 —


Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4119.htm.
MOURA, S F. Org. Livro didático de Psicologia aplicada ao Direito. Rio de Janeiro: Editora
Universidade Estácio de Sá, 2014.

Violência contra crianças e adolescentes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?


v=lNb-mQ5MRnc

WEBBER, M. Economia e Sociedade. Brasília, DF: UNB 2012

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