Você está na página 1de 549

Tradução: LC, Lih Bitencourt, D Barros,

Dora the explorer, Gabi Dias, Lise, Tami D.,

S. Cruz, Cacau, Moa Bellini, MeG B., Lorac,

Preta

Revisão: Josie Baker, NiKiNha, Emanu B,

V. Stivanin, Isi, Anna, Lili B, A. Santos

Revisão Final: Lady Anny

Leitura Final: Lola, Zuny

Formatação: Lola

Verificação: Joy
O perigo de fingir é ele se tornar real...

Sebastian Stone, o guitarrista à frente da Sunder, com uma lista

quilométrica de problemas, fugiu para Savannah, na Geórgia, para se

afastar de uma situação que ele mesmo causou.

Para não ser encontrado.

No momento em que viu Shea Bentley, enxergou sob toda sua doce

inocência, algo que era mais profundo.

Mais escuro.

Seu relacionamento foi construído cheio de segredos; seu amor foi

construído repleto de mentiras.

Sebastian nunca imaginou o quão profundo eram seus segredos.

Quando o passado e o presente colidem, Sebastian e Shea se

encontram lutando por um futuro que não acreditavam que mereciam.

Sua paixão é consumidora e sua necessidade infinita.

Agora, segurando a verdade em suas mãos, Sebastian é

confrontado com o sacrifício de tudo que ele ama para proteger Shea e

sua família.

Duas histórias entrelaçados.

Duas vidas interligadas.

Seus demônios os afogarão ou Shea e Sebastian finalmente

aprenderão a respirar?
Eu chorei para os céus.

Sangrando.

Desmoronando.

Destruída.

— Não... Kallie... Kallie!

Os braços de Sebastian me apertaram, enquanto a


chuva começava a cair.

Uma torrente de dor estilhaçou meu peito. Como se


estivesse quebrando minhas costelas, toda minha esperança
indo embora.

O vento soprou, como um louco varrendo o chão,


perseguindo as luzes traseiras que piscavam no fim da rua.

Agonia.

— Não... por favor... como pude permitir que isso


acontecesse? Por favor... Kallie. Meu bebê. Meu bebê. Ele não
pode tê-la. Não permitirei que a tenha.
— Shh... — Eu senti sua respiração no meu cabelo, o
beijo suave no topo da minha cabeça. — Nós vamos pegá-la
de volta... prometo a você, nem que seja a última coisa que eu
faça, vamos pegá-la de volta.

— Ela se foi. — Eu gritei.

À medida em que essa percepção doente se infiltrou em


meus ossos, me afundei em seu abraço.

Ela se foi.

Esta era a minha penitência. O pagamento pelos meus


pecados.

Punição pela escolha ingênua que fiz.

Por todo engano que engoli cegamente.

Para cada mentira que saiu dos meus lábios.

Mas cada um deles eu fiz por ela.

Para mantê-la segura.

Para nos permitir uma vida que ele nunca nos deixaria
viver.

Mas podemos correr por quanto tempo ou quão rápido


quisermos para deixar nosso passado para trás, eles sempre
nos alcançarão.

Agora o meu nos controlava.


O raio caiu e os céus choraram o seu tormento. A queda
d‘agua martelava em meu corpo, enquanto as rajadas ásperas
sopravam através do aguaceiro.

Um frenesi de terra, vento e céu.

Todo meu ser se esforçou contra isso. Cerrei os dentes


enquanto uma enorme quantidade de água se acumulava em
meu cabelo, passava pelo meu peito nu e encharcava meu
jeans.

Shea estava na minha frente. Olhando para longe. Sua


cabeça inclinada entre seus ombros trêmulos. Minha garota,
dobrada ao meio e partida em dois. Ela estava encharcada,
como um rio que transbordava de dor.

Ao nosso redor, o caos uivava como um demônio.

Um furacão.

Uma porra de uma devastadora tempestade.

Sombrio.
Sombrio.

Sombrio.

Pela primeira vez, não vi nenhuma de suas luzes.

Raiva se formou em toda a superfície da minha pele. A


dor e o medo que senti por Kallie me comeram vivo. Aquela
raiva desceu e revirou meu estômago, incitando a sensação
de traição que latejava por dentro.

— Quem diabos é você? — Saiu raspando da minha


garganta, baixo, amargo e confuso.

Parecia que uma eternidade se passou antes que ela se


virasse lentamente. Aquele rosto. Aquele rosto maravilhoso
que eu não conseguia apagar da minha mente, olhava para
mim com sofrimento, meu peito parecia que podia estourar.

— Sou apenas Shea. — Ela sufocou e se abraçou mais


forte, repetindo a mesma coisa que me disse na praia há dois
dias.

— Sou apenas Shea. — Três pequenas palavras que não


significam nada. Mas elas enviaram uma onda de aviso
através de mim, então, meu âmago me dizendo que o que
quer que tivesse trazido seu desconforto foi causado por
quem quer que seja o do pai da Kallie.

Claro, naquela época, eu estava sob a impressão muito


equivocada de que ele estava morto, quem quer que fosse o
pedaço de merda que ela escolhera para manter em segredo.

Agora eu só poderia desejar que ele estivesse.

Martin Jennings.
Minha pele arrepiou e meus dentes apertaram com a
acusação.

— Você mentiu para mim.

Um soluço saiu dela. O som torturado rasgou minhas


entranhas.

— Sim.

Abri a boca para fazer mais acusações quando senti


uma figura aproximar-se por trás.

— Shea. — Ela gritou ao longo da chuva. April, a melhor


amiga de Shea, avançou lentamente pelo primeiro degrau da
varanda, pendurando-se na grade de madeira como se
pudesse cair de joelhos.

Mais tormento passou pela expressão de Shea.

— Ele a levou.

Todos os temores que Shea sentia foram colocados na


declaração. Eu ouvi. Senti.

— Ele a levou. — Disse Shea novamente, só que desta


vez ela estava implorando, olhando para April como se ela
pudesse ter o poder de apagar isso.

Puta merda.

April sabia.

Claro que sim.

Senti como se eu fosse feito de otário.

Porque isso é exatamente o que eu era.

Um otário.
Um tolo porque simplesmente me deixei levar... deixei
todo o meu controle e me entreguei a esta garota.

A garota em quem eu confiava a porra da minha vida,


porque eu também queria dar isso a ela.

Me sentia como o peso de uma piada cruel e doentia.


Um estranho olhando para o segredo sujo de Shea. Um
segredo guardado de mim, quando eu deveria guardar todas
as suas verdades.

Mas essa garota só me deu mentiras.

— Nós vamos recuperá-la. — Sussurrou April quase de


forma maníaca, seus olhos castanhos escuros arregalados e
assustados.

— Ele a pegou. — Desta vez as palavras na língua de


Shea soaram estranhas. Tão distante. Vi o momento em que
a realidade caiu sobre ela e seus joelhos enfraqueceram.

Corri para frente e a coloquei em meus braços pouco


antes dela cair no chão. Não havia nada que eu pudesse fazer
a não ser puxá-la contra mim. Segurá-la. Não conseguia
parar a maneira como meu nariz entrou em seu cabelo ou a
maneira como minha boca pressionou a sua têmpora.

— Eu peguei você.

Eu peguei você.

Eu peguei?

Ela enterrou seu rosto no meu peito, seus braços


agarrados ao meu pescoço como se eu pudesse ser sua rocha.

— Ele a levou, Sebastian. Ele a levou.


Sua respiração se infiltrou em mim. Apelo após apelo.
Como se ela estivesse me pedindo para fazer isso melhorar.

Pedindo-me para fazer parte disso, agora.

Senti-me despedaçado em um milhão de direções.


Triturado. Meu amor por essa garota, a devoção que me
infundiu com cada batida violenta do meu coração, em plena
guerra com a voz que continuava sussurrando que eu não a
conhecia absolutamente.

No que parecia um choque, levei Shea até a calçada e


comecei a subir os degraus da varanda. Me virei de lado para
olhar April, que ainda se agarrava à grade. Ela parecia estar
congelada em seu próprio choque.

A madeira rangeu debaixo dos meus pés descalços,


enquanto caminhava pela varanda. Não parei até alcançar os
pisos de madeira polida do lado de dentro e ir em direção à
escada.

Eu traguei sobre as visões do pesadelo que acabara de


acontecer aqui. A menina de pé no topo do patamar
sussurrando para sua mãe, sem nenhuma ideia de como seu
mundo estava prestes a ser esmagado.

Assim que cruzei o ponto exato onde Kallie estava


parada, Shea gritou como se estivesse com dor física.

— Kallie. — Seu nome ofegante bateu no ar como


tristeza.

Cerrei os dentes e puxei-a um pouco mais perto.

— Eu sei querida, eu sei.


O quarto de Shea estava tão escuro quanto dez minutos
antes, as cobertas ainda amarrotadas e o quarto cheirando a
sexo. Como se ainda estivéssemos de volta àquele momento
em que eu estava confessando coisas que não achava que
conseguiria sentir.

Amor por uma mulher que nunca pensei merecer.

O amor por uma criança que me pegou em um turbilhão


de risos, sorrisos intermináveis e um mundo precioso,
perfeito, cheio de borboletas.

Porra. Eu queria isso.

Queria tanto, mas agora não sabia de nada. Não sabia


quem era quem ou aonde eu pertencia.

Cuidadosamente, coloquei uma Shea encharcada,


tremendo, na beira da cama. Encurralada, ela envolveu seus
braços em seu peito como se estivesse procurando uma
maneira de manter-se junto.

— Não se mova. — Fui para o banheiro e peguei um par


de toalhas secas do armário. Voltando, envolvi uma em torno
dos seus ombros, então comecei a usar a outra no
comprimento de seu cabelo.

Lenta e cuidadosamente, olhei-a, enquanto ela olhava


para mim. Seu rosto estava molhado pela chuva, mas não
havia dúvida de que as lágrimas incessantes escorriam por
suas bochechas.

Olhos de caramelo presos aos meus, um olhar de


remorso, vergonha e medo absoluto. Ela estendeu sua
delicada mão e a envolveu em meu pulso. Uma corrente
elétrica riscou minha espinha. Uma corrida de luz, calor e
agonia. Os fios que a amarravam a mim puxavam
suavemente e com firmeza, de alguma forma com urgência.

Eu acalmei meus movimentos, presos por sua carga


silenciosa.

Não importava que eu não soubesse realmente quem ela


era. Ela ainda possuía o poder de comandar todos os meus
sentidos.

Seu lábio inferior tremia.

— Eu não queria que você descobrisse dessa maneira.

Dei dois passos para trás e deixei a toalha cair no chão.

As palavras oscilavam entre severo e magoado.

— Ou você não queria que eu descobrisse nada.

Não era realmente uma pergunta. Apenas uma outra


acusação que me fez soar como um idiota de primeira classe,
porque não havia nenhuma dúvida em minha mente que ela
estava sofrendo.

Mas merda... quem poderia me culpar?

Sacudi minha cabeça fortemente, chateado comigo


mesmo.

Quantas vezes quis me envolver na sua escuridão?


Atraído por ela como se fosse minha respiração salvadora.

Agora eu estava aqui, me afogando nela.


Como se aceitasse minha raiva, esperasse isso, ela
baixou o olhar para seus dedos torcendo-os em seu colo.

— Não queria que você descobrisse dessa maneira. —


Ela murmurou como um juramento. — Isto é o que estava
tentando dizer quando o assistente social tocou a campainha.

Engoli em seco, sentindo meus olhos se estreitarem,


enquanto eu a prendia ao local com o calor do meu brilho,
com a demanda. Porque mesmo sabendo que era a verdade,
precisava ouvi-la admitir isso em voz alta.

— Martin Jennings é o pai de Kallie.

Shea se encolheu como se fosse atingida, linhas de


horror impressas em seu rosto.

Terror.

Dor.

Arrependimento.

Todas aquelas emoções fizeram minha cabeça girar


quase tão dramaticamente, enquanto senti como meu
coração doeu.

Tristeza apertou meu peito.

Porra, eu o odiava. Odiei ele desde o segundo em que o


vi saindo do ônibus da turnê, naquela noite em que encontrei
Austin com o rosto no chão. Tendo uma overdose com o que o
bastardo deu a ele.

O deixou lá para morrer.


Não era como se eu pensasse muito bem dele antes
disso. O idiota não era nada além de pretensão, avareza e
arrogância. Como a cobra que ele era, cada movimento
estratégico que fazia, o trazia um passo mais perto de
qualquer objetivo tortuoso que perseguia.

Dinheiro.

Poder.

Gula insaciável.

Mas aquela noite foi a primeira vez que o nome de


Martin Jennings se tornou sinônimo de destruição. Com o
tipo mais alto de ameaça.

Balançando, ela se abraçou fortemente. Ela respirou a


admissão em seu colo.

— Biologicamente, sim, mas de qualquer outra forma,


não.

Rapidamente pisquei e comecei a andar, passando


minhas mãos pelo meu cabelo molhado, enquanto tentava
processar a fúria que tirou minha vida do controle. Um
desastre após o outro.

Problema.

Sabia a primeira vez que a vi. Só que havia algo nela que
não me deixava ir. Algo profundo e insondável. Engraçado, eu
ainda senti que precisava protegê-la da depravação que
parecia tornar-se a definição de quem eu era.

E aqui estava ela, acrescentando outra camada.


Acho que eu estava certo. Essa merda me encontraria
em qualquer lugar que eu fosse.

Virando-me para ela, a olhei, incapaz de conter a raiva


que fluía.

— Você mentiu para mim? Depois de todo esse tempo...


depois de tudo o que passamos, você me deixou continuar
acreditando que Kallie não tinha pai?

— Ela não tem pai. Ele nunca foi pai dela.

Meu riso era amargo, comecei a andar através do


quarto, meus pés comendo o chão enquanto imagens daquele
doente bastardo do Jennings tocando minha garota, correram
pelo meu cérebro, fazendo um nó insuportável.

Inclinei minha cabeça quando me aproximei dela. Como


se olhando de perto, pudesse ver tudo o que ela estava
escondendo.

— Eu pensei que nós tínhamos resolvido todas as


besteiras e mentiras. Pensei que conhecia você.

Meu rosto de repente foi atingido com a dor que ela


infligia. Porque era a verdade. Shea me destruiu. Confiava
nela, e aqui estava, sem saber se eu seria o peão em algum
jogo distorcido.

Todo mundo queria um pedaço de Sebastian Stone.

Agora não pude deixar de me perguntar se fui usado.

Meus olhos se fixaram nela. Suaves, frágeis com


vislumbres daquela luz lutando para retornar.
Deus, como eu poderia sequer pensar por um segundo
que isso não era real?

Coloquei minha mão em meu peito, dando-lhe a mais


pura honestidade.

— Eu te dei o meu coração, Shea. Tudo isso. Queria


reivindicar Kallie como minha. Queria tudo com você, agora
não sei de mais nada.

Lágrimas distorceram sua voz, derramando sua própria


verdade.

— Você realmente acha que não me conhece, Sebastian?


Você realmente acha que não sabe cada coisa que conta?
Este quarto... esta casa... eu ser uma mãe para Kallie... amar
você. — Ela enfatizou a última, e me impressionou
profundamente.

Esta noite foi a primeira vez que realmente aceitei que


ela poderia me amar e aceitei que talvez eu merecesse amá-la
de volta.

Os vincos se aprofundaram nos cantos dos seus olhos.

— Essas são as únicas coisas na minha vida que


contam.

O medo surgiu como frustração, e fechei minhas mãos.

— Você acha que não conta que o imbecil do Jennings


teve o poder de vir aqui e roubar Kallie de nós?

Dei um passo à frente e baixei a voz.

— Você acha que isso não importa? E quer saber a parte


doente, Shea? A única coisa que quero agora é consolar você.
Melhorar. Consertar. E nem sei exatamente o que estou
pensando. Você mentiu para mim... por meses. Eu não tenho
certeza de quem você é.

— Você me conhece — disse ela. Mais lágrimas caíram,


fungando e inalando. Trouxe os olhos para os meus. Algo
feroz surgiu de dentro deles.

Sua voz era um sussurro, mas não havia dúvida sobre a


força por trás disso.

— Sim, eu menti para você. Mas é uma mentira que


disse a todos, incluindo a mim mesma. Era a única maneira
que conseguia sobreviver. Era a única maneira que Kallie e
eu podíamos ter uma vida normal. Você não sabe do que esse
homem é capaz, se mentir sobre sua existência mantivesse
minha filha segura, então eu faria isso um milhão de vezes.

Engoli em seco. Eu seria nada mais que um hipócrita se


dissesse que não entendia. Quantos segredos eu mantive, me
recusando a mostrá-los para proteger minha família? Meu
irmão? A banda?

Quero dizer, porra, meu relacionamento com Shea foi


construído sobre uma base de mentiras. Eu era o único que
escondi minha identidade em primeiro lugar. Agora sabia
como era essa merda.

Mas ela ser Delaney Rhoads e querer deixar para trás


uma vida que não queria era uma coisa. Martin Jennings
sendo pai de Kallie era uma história completamente diferente.

Ela tinha alguma ideia de como eu estava emaranhado


na teia de Jennings?
Minhas palavras foram tensas.

— É aí que você está errada. Sei exatamente o que esse


idiota é capaz de fazer. Isso é o que mais me assusta.

Outra onda de calafrios a fez estremecer, e ela acenou


com a cabeça como se tentasse entender suas próprias
perguntas.

— Eu não posso acreditar que você o conhece.

Um riso mordaz escapou antes que eu pudesse detê-lo


quando fui atingido por outra onda de dúvida.

— Mas você já não sabia disso, Shea?

Deus, eu estava tão confuso. Oscilando de simpatia e


cuidado me perguntando se ela era algum tipo de espiã
plantada em minha vida com o único propósito de destruí-la.

Seu queixo tremia.

— Eu nunca teria escondido isso de você se soubesse.

— Então, como?

Desamparada, ela ergueu um ombro.

— Eu não sei. Por que estava em Savannah, Sebastian?


Você é o único que entrou na minha vida. Eu não fazia ideia
de que Martin fosse parte da sua vida. — Ela fechou os olhos,
como se não quisesse fazer a pergunta, antes abrir para mim.
— Eu preciso saber como você o conhece.

Outra risada amarga e andei de novo, limpando o dorso


de uma das mãos sobre minha boca como se pudesse limpar
o sabor amargo.
Virei para ela.

— Eu disse que ainda poderia ir para a prisão, Shea.


Disse que não era bom para você, porque toda vez que me
viro, estou fazendo algo para ameaçar minha liberdade. E
minha liberdade está ameaçada por causa dele... porque ele
deu comprimidos ao meu irmãozinho, depois saiu e o deixou
quase morrendo.

Um soluço chocado a atravessou e ela cobriu a boca


com a mão.

— Meu Deus. Não. — Ela piscou o que parecia um


milhão de vezes, como se quisesse se encolher de volta em
sua cama e desaparecer.

A consciência me atingiu com força e veloz, e eu a


alcancei, enquadrando seu rosto em minhas mãos, enquanto
meu próprio terror passava através de mim. Eu vi, a verdade
de Shea.

— O que ele fez com você?

Ela fechou os olhos com força, encolhendo-se ainda


mais.

Segurei-a com mais força, e a ordem raspou minha


garganta.

— Conte-me.

Ela balançou a cabeça contra a minha mão.

— Eu não posso.

— Você não pode, ou você não vai?


— Não posso.

Parecia que ela me queimava.

Ela ofegou quando de repente a soltei. Com os olhos


estreitos pelo arrependimento, eu a estudei. Ela parecia tão
pequena sentada na beira da cama. Tão fragilizada e ainda a
coisa mais linda que já vi. Todas as suas cores
impressionantes. Todo aquele preto e branco, o vermelho
mais profundo e a escuridão mais escura, confiança e luz.
Um medo absoluto distorceu tudo.

Como se ela estivesse me implorando para ver dentro, ao


mesmo tempo em que ela estava me excluindo.

Meu telefone tocou no bolso do meu jeans, e minha


atenção voltou-se para o que era mais importante, a pequena
menina que foi arrancada da sua casa.

— É Anthony — disse quando vi seu nome iluminando a


tela.

Esperança varreu suas feições.

Atendi a ligação.

— Anthony, me diga que tem notícias.

Seu suspiro pesado percorreu a linha. Pressentindo. Eu


respirei.

— Eu tenho. Só sinto muito que não seja o tipo de


notícia que você quer ouvir, Baz. Recebi a notícia de que
Martin Jennings fez uma declaração pública há uma hora.
Ele está jogando o cartão do pai preocupado. Ele disse que
sabia que precisava intervir quando descobriu que você e
Shea estavam namorando. Martin está usando o ataque
contra ele, sua pose anterior e convicções de roubo como
munição. Está dizendo que você só está com Shea para
atacá-lo e usar sua filha como um peão.

O bastardo estava dizendo que eu era perigoso.

Quando se tratava de Martin Jennings, eu era. Ficava


totalmente fora de controle. Sabia em meu âmago que o
envolvimento do idiota com Mark e meu irmãozinho era muito
mais profundo do que qualquer um de nós pensou.

E agora envolvia Shea e Kallie.

Me afastei do terror que cobria a expressão de Shea


quando ela viu a minha esvaecer, incapaz de olhá-la
enquanto Anthony confirmava o que mais me preocupava.

O caos em minha vida seria responsável por destruir


Shea.

Soube disso no segundo em que o vi sair do carro...


Jennings estava aqui por minha causa.

Você foi avisado que se arrependeria de foder comigo.

Foi o que ele dissera com um sorriso malicioso no rosto.


A mesma coisa que Martin avisou naquela mediação.

Passando a mão pelos músculos tensos na parte de trás


do meu pescoço, observei meus pés enquanto andava pelo
chão.

Durante todo o tempo sabia que faria mal a ela. Todo.


Tempo. Não havia nada certo na minha vida, então, como eu
poderia ser bom para ela?
Mas fingi por tanto tempo que poderia ser esse cara que
comecei a acreditar. Acreditei quando Shea me aceitou de
volta depois que ela descobriu quem eu era, porque
reconheceu o homem escondido dentro de mim. Alcançou o
suficiente para tocá-lo. Para trazê-lo à vida através da sua
beleza e da sua luz.

Aquele que queria algo mais. Para ser algo melhor.

Eu queria tanto isso que esqueci todo o lixo que ainda


estava me perseguindo.

Esqueci o fato de que eu estava voltando para a prisão


ou para a estrada. Em vez disso, continuei com Shea como se
fosse estar sempre aqui, querendo ela e Kallie como minhas,
como se a minha vida me pertencesse.

Agora com Kallie e Shea amarradas a Jennings?

Eu não sabia como fazer qualquer dessas coisas direito.

Ele limpou a garganta.

— Eu sei que você já está bem ciente disto, mas não há


nenhuma dúvida de que ele está com sede de vingança, e
você se transformou em seu alvo. Não vou fingir que conheço
Shea ou sua filhinha, mas o fato de que Martin está disposto
a usar sua própria filha como isca mostra o quão impiedoso
ele é.

— Ela não é filha dele. — Cuspi mais rápido do que


poderia pensar, como se eu tivesse o direito de reclamá-la.

— Não? Isso não é o que a papelada diz. — Exasperação


atou suas palavras, antes que cautelosamente as
abrandassem. — Eu sempre estive do seu lado, Baz, sempre
estarei. Você merece a felicidade, mais do que qualquer um
que conheço. Mas você vai ter que perguntar a si mesmo se
vale a pena deixar suas mãos mais sujas do que já estão.

Valer a pena?

Anthony não imaginava que Shea e Kallie valiam tudo.

Desistiria de tudo e de todos para protegê-las.

Mesmo que isso significasse que estaria desistindo


delas.

Não lhe dei uma resposta direta. Em vez disso, apertei


os dentes e forcei as palavras.

— Só quero que você se preocupe em encontrar uma


maneira de trazer a menina de volta para onde ela pertence.

Anthony respirou fundo.

— OK. Eu vou pegar um avião. Parto em duas horas.


Você e eu falaremos quando chegar lá. Mas o que quer que
você decida, vou estar ao seu lado.

Claro que sim. Nunca, em nenhuma vez ele me


decepcionou.

Sua voz adotou o tom que ele reservava para os


negócios.

— Entrei em contato com Kenny. Que conseguiu


contatar um advogado de família em Savannah. Ele deve ser
bom. Muito bom. Ele tem uma reunião agendada para Shea
logo na primeira hora da manhã. Terei os detalhes comigo
quando chegar lá.
— Obrigado. — Murmurei grosseiramente.

Eu odiava a forma que ele acabou de expor a situação,


não tendo a menor ideia do quão profundamente cheguei. No
entanto, não conseguia nada ficando irritado com meu amigo.

Ele não sabia o quão importante Shea se tornou. O que


ela significava.

Ou o que amá-la poderia custar.

Acho que eu também não.

Terminei o telefonema, relutante em olhar para ela.

Ela estava tremendo quando finalmente a olhei. Suas


mãos estavam apertadas na frente dela como se estivesse
fazendo uma oração.

— O que ele disse?

— O que eu sabia o tempo todo. Eu estar na sua vida só


vai te machucar. Machucar Kallie. E não há nenhuma chance
neste mundo que eu vá ficar no caminho de você ter sua filha
de volta.

Peguei minha camisa de onde ela foi descartada no chão


e puxei-a sobre minha cabeça. O tecido grudado à minha pele
úmida. Enfiei meus pés em minhas botas. Todo o tempo Shea
me observou como se ela não pudesse compreender o que
estava acontecendo.

Então Shea correu para ficar de pé. A toalha caiu dos


seus ombros quando ela deu um passo angustiado para a
frente.

— Não se atreva a me deixar, Sebastian Stone.


Seu pijama cor-de-rosa ainda estava molhado, aquelas
pernas longas e tonificadas estavam firmes em seu desafio, a
camisa agarrada à sua pele macia.

Tão perfeita.

Tão linda.

A menina que eu nunca soube que queria.

— Me desculpe — Mal respirei. Era a verdade. Estava


arrependido. Desculpe, eu não era diferente. Desculpe, eu
não era melhor. Desculpe, ela não foi mais honesta.
Desculpe, nossos mundos haviam colidido de uma maneira
que nunca deveriam.

— Nós dois — Eu balancei a cabeça. — Talvez não


sejamos bons um para o outro, afinal.

Não éramos nada mais que fogo e gasolina.

Dei um passo para a porta. Doeu tanto que minha voz


ficou maçante.

— Farei tudo que puder para ajudá-la a recuperar


Kallie. Meu advogado entrou em contato com alguém que
pode ajudar. Não me importo com quanto custará. Vou pagar
qualquer coisa. Não vou parar até que seja feito.

Me virei e atravessei a porta, focado à frente.

Shea chamou atrás de mim. Suas respirações eram


fortes e pesadas.

— Sebastian... não.

Desci três degraus.


— Olhe para mim. — Ela implorou.

Meus pés hesitaram. Não pude resistir e olhei para trás.


Olhei para trás, para a sua beleza. Suas mãos estavam
fechadas entre seus peitos, diretamente sobre seu coração,
eu tinha certeza que poderia ouvir acima do rugido em meus
ouvidos. Aquele espírito doce e inocente gritando por mim
acima do lento escorrer de dor que gemia por dentro.

Meu peito doía para caralho.

Lentamente, ela começou a balançar a cabeça.

— Não se atreva, Sebastian. Não sei o que ele disse para


você durante essa chamada, mas isso não muda nada.

— Não, você está certa, Shea. Não muda nada.

Foi apenas um lembrete brutal.

O perigo em fingir tornou-se real.

— Foi sempre assim — Eu disse, tencionando meus


dentes com um flash de dor. — Sempre soube que nunca ia
ser bom o suficiente para você. Avisei que ia te ferir. Ainda
assim, não havia nada que pudesse fazer para me impedir de
te perseguir. E eu fiz isso.

Sua tempestade ganhou força. Eu podia sentir. A


agitação de energia que inchou na sala.

Escuridão.

Luz.

Pesado.

Suave.
Eu queria me afundar nela e desaparecer.

Desta vez para sempre, porque não queria esquecer, eu


não queria uma pausa para respirar, mas eu não ia ficar
entre ela e Kallie.

Engraçado como não dei importância do quanto


Jennings poderia me machucar. A ameaça de prisão. A perda
de dinheiro. Até a perda da minha vida. Nada disso
importava, contanto que significasse que eu estava
protegendo meu irmão. Minha família.

Agora o bastardo mudou todas as regras.

Frenética, ela avançou.

— Não. Você sabe que isso não era só sobre você. Foi a
tempestade perfeita.

Mordi uma risada mordaz.

Tempestade.

Talvez fosse dela, a força desse furacão incitando uma


guerra. Incentivando-a. Trazendo dois inimigos face a face.

Mas cada batalha tem vítimas, eu me recusava que fosse


Kallie.

Shea tropeçou em suas palavras. Todas elas saíram com


uma confissão que eu não sabia que poderia machucar tanto.

— Não o vi desde o dia em que Kallie nasceu..., mas ele


se certificou de que eu não esquecesse que um dia viria atrás
de mim. Nunca me deixaria esquecer que devia a ele e que
voltaria para cobrar.
O ódio tomou conta de mim. Cada músculo em meu
corpo tencionou com a necessidade de vingança. Com a
necessidade de encontrá-lo e matar o filho da puta por
colocar esse olhar em seu rosto.

Nunca me senti tão preso, porque não podia encontrar


uma solução que me desse o resultado que eu queria.

O que eu mais queria, o que cada parte de mim exigia,


que era ficar aqui com Shea. Mesmo se uma parte de mim se
sentisse traído, sabia que a conhecia. Conhecia-a num lugar
que só ela podia ver. Sabia sem dúvida que ela precisava ser
amada da maneira que eu queria amá-la.

Apoiada, incentivada e protegida.

Mas isso significaria que Jennings continuaria me


usando contra ela.

Eu poderia ceder à violência. O desejo básico de acabar


com Martin Jennings, que seria o meu fim.

Ou poderia simplesmente ir embora. Fazer o que puder


a distância. Torrar todo o meu dinheiro para destruir
Jennings, fazê-lo desaparecer... legalmente. Sim, eu estaria
fodido, arrastando provas que só condenariam toda a minha
família.

Mas sabia que sem dúvida faria isso por ela.

Porque em algum lugar ao longo do caminho ela se


tornou minha família.

Shea deu um passo firme para frente. Tão firme quanto


às palavras que saíram daquela boca doce.
— O tempo todo ele tem se mantido sob controle.
Esperando o momento de entrar e fazer de nossas vidas um
inferno. Mesmo enquanto passei anos fingindo que ele estava
morto, eu ainda sabia disso.

Dei mais um passo para baixo, e Shea deu outro para a


frente. Uma explicação saiu dela como uma súplica.

— No dia em que Kallie nasceu... ele... ele apareceu no


hospital. Me obrigou a colocá-lo na certidão de nascimento.
Disse que se eu não fizesse isso, lutaria pela custódia. Nada
no mundo parecia pior do que aquele monstro tirando meu
bebê, então cedi. Eu tinha dezoito anos, Sebastian. Dezoito e
com medo do homem que tentou governar a minha vida.

Medo.

Monstro.

Essas palavras giraram em torno de mim como um


vórtice envenenado.

A ira se eriçou sob a superfície da minha pele, flechas


me estaqueando profundamente.

Não, eu não fazia ideia do que ela passou. Mas a


expressão nublando seu rosto dizia que era pior do que
poderia imaginar.

Minhas mãos se fecharam em punhos.

Shea continuou a se atrapalhar com a confissão.

— Na época, pensei que era a melhor opção. A única


opção. Ele nem olhou para ela. Apenas se virou e saiu. Mas
não antes que parasse na porta e me dissesse que eu nunca
ficaria muito longe do seu alcance.

Como ele prometeu.

Orgulho.

Era doentio que isso significasse mais para ele do que


qualquer outra coisa.

— Ele teria encontrado um jeito com ou sem você no


meio disso. — Ela implorou com os olhos procurando meu
rosto, e seus pés trazendo-a um passo mais perto.

Talvez ele estivesse esperando. Mas eu lhe servi a


munição em um prato de prata.

Agarrei o corrimão de madeira lisa onde eu estava no


terceiro degrau.

— Você quer saber o que Anthony me disse, Shea? Por


que a CPS apareceu aqui e a levou? Levaram-na por minha
causa. Porque eles acreditam que sou perigoso e por isso,
Kallie está em risco.

— Você nunca a machucaria.

Um riso mordaz saiu de mim, porque não, eu nunca


intencionalmente iria machucá-la. Nunca. Mas isso não
significava que minha mera presença não trouxesse
problemas. Caos, destruição e violência estavam ligados ao
meu nome.

— Olhe para mim, Shea. — Estiquei meus braços como


uma oferenda.
Shea sabia o que estava embaixo. Todas as cicatrizes e
um corpo endurecido que vieram de uma vida difícil.

Era a verdade de quem eu realmente era.

— Olhe para mim. — Eu disse de novo. Sentia-me


derrotado.

As lágrimas que Shea não conseguiu conter a noite


inteira rolaram mais rápido por seu rosto de anjo.

O fato de eu ter o desejo de ir até ela me fazia um


bastardo doente? Empurrá-la contra a parede e beija-la até
que nenhum de nós pudesse recordar o porquê de nossas
vidas estarem bagunçadas? Me perder em seus toques doces
e suaves?

Mas talvez fosse o momento de nós dois começarmos a


enfrentar a nossa realidade.

Ela me pegou de surpresa quando a decepção brotou


dela.

— Acha que não o vejo?

Lentamente, ela balançou a cabeça.

— Você quer saber o que vejo quando olho para você,


Sebastian? Vejo alguém que toma o fardo do mundo inteiro e
coloca sobre seus ombros, porque de alguma forma acha que
merece esse peso. Aquele que suportaria tudo se isso
significasse que aqueles que ama sofreriam um pouco menos.
Vejo alguém que cometeu erros como o resto de nós. Assim
como eu. Vejo alguém que talvez do lado de fora pareça um
pouco assustador, mas o que mais me assusta é quão
intensamente ele me faz sentir.

Ela tocou seu peito.

— Vejo um homem leal. Devotado. Aquele que se abriu o


suficiente para amar uma menina que nem sequer é dele.
Vejo o homem que fez eu me apaixonar tão fortemente que
não sabia o que me atingiu. Vejo um homem que eu
precisava tanto, mas ainda nem sabia até que ele me mostrou
o que eu estava perdendo. Vejo o que eu amo.

As palavras de Shea me assaltaram, me derrubaram


com sua crença e luz sem fim. Como se ela estivesse me
tirando da escuridão que ameaçava me sufocar.

Um enigma. Essa garota que não fazia ideia se conhecia


ou não. Minha salvadora. Minha ruína.

Shea não parou. Ela continuou disparando.

— Vejo o único com quem eu quero fazer isso. Estou


com medo que Jennings esteja usando você para tomar Kallie
de mim? Sim. Estou aterrorizada por ela. Mas também sei
que ele teria encontrado outra maneira e sei que é hora de eu
enfrenta-lo, quero enfrentá-lo com você ao meu lado. Não me
importa o que o resto do mundo vê. Tudo que me importa é o
que você significa para mim.

Meu peito apertou, com emoção. Porque porra, eu


queria acreditar nisso, também.

— E se nada disso for bom o suficiente?

— E se for?
Tentando bloquear isso, balancei minha cabeça.

Não.

Deus, ela me deixou fraco.

Minha voz veio baixa.

— Como eu poderia ser parte do futuro da Kallie,


sabendo o que fiz? Sou culpado, Shea. Todas essas
acusações... elas são verdadeiras, não há nada que eu possa
fazer para contestá-las.

Elas eram muito mais profundas do que constavam nos


registros dos tribunais. Todas as besteiras que consegui me
envolver quando eu era apenas um garoto punk, tentando
crescer, eu e o resto da minha equipe tentando conquistar o
mundo com um erro atrás do outro.

Pior parte?

Jennings sabia. Não importava que ele fosse o bandido


mais sujo que existia. Ele possuía todas as cartas.

Eu só não sabia quão profundo era seu plano até esta


noite.

— Não importa. — Ela sussurrou, sua voz cheia de


esperança e fé.

Olhei para a menina linda que, com apenas um olhar,


me engoliu inteiro.

Me aniquilando com um toque.

A menina que me fazia estar disposto a enfrentar tudo.


Minha vida, meu coração e meu futuro. Mas eu estava
disposto a quebrar o meu próprio coração se isso significasse
que ela teria a sua menina de volta.

Obriguei-me a descer as escadas, virando a tempo de ver


como feri Shea um pouco mais. Como sempre soube que eu
faria. Desapontamento e mágoa amplificando seu medo. Com
tudo de mim, eu queria limpar sua dor.

Expor sua beleza e crença.

Viver nela.

Mas não sabia como ficar.

As coisas se enroscaram desde o momento fatídico em


que Kallie quase se afogou há dois dias. Parecia uma vida de
merda, farrapos desgastados dos dias espalhados.

Aquela maldita e perpetua tragédia que simplesmente


não iria sumir.

Eu me virei.

— Sebastian... não me deixe. Você me prometeu... você


prometeu que nunca me deixaria novamente. — Passos
desesperados desceram os degraus atrás de mim. — Por
favor... olhe para mim.

Eu não podia. Se olhasse para trás de novo, só me


afundaria mais. Ceder, porque eu já estava cedendo.

— Olhe para mim! — Ela implorou atrás de mim. Seus


dedos rasparam em minhas costas, tentando agarrar-me.

Dor.
Fechei minhas mãos, tentando respirar através da
minha dor.

April estava sentada no sofá com o rosto entre as mãos,


chorando. Ela ficou de pé quando abri a porta. Lágrimas
embebendo seu rosto liso, olhos castanhos entorpecidos e
apagados. Como se talvez ela entendesse. Por que eu não
podia ficar e machucar Shea mais do que eu já machuquei.

— Sebastian... olhe para mim! — O grito torturado saiu


da boca de Shea e quase caí de joelhos. Bati a porta atrás de
mim e corri para a tempestade minguante.

O céu estava escuro e ameaçador.

Parecia um aviso do que viria a seguir.


Dor me consumia. Tomando-me por todos os lados,
batendo e espancando até que eu estava sendo arrastada pela
correnteza viciosa.

Engoli em seco sobre a tristeza, me agarrei ao corrimão


na tentativa de ficar de pé quando o meu corpo quase cedeu.

Kallie.

Senti como se estivesse desmoronando. Despedaçando.


Minha alma fragmentava-se, enquanto gritava pelas partes
que foram arrancadas.

Kallie.

O medo me consumindo.

O que Martin quer com ela?

Por que agora, depois de todo esse tempo?

E Sebastian.

Sem ele, não sabia mais como respirar.


Cautelosamente, April olhou para onde eu segurava no
corrimão na parte inferior da escada. Seus grandes olhos
assustados estavam manchados, suas bochechas molhadas
com sua própria miséria.

— Eu não posso acreditar que isso está acontecendo.

— Ela sussurrou, como se não quisesse falar as palavras,


porque se o fizesse, as tornaria reais.

Mas eu podia. Sempre soube. Nenhuma quantidade de


mentiras, segredos ou fingimentos poderia ter impedido este
dia de acontecer.

Martin Jennings estava sentado, esperando por uma


oportunidade perfeita para atacar. O tempo preciso para
entrar e rasgar meu mundo em pedaços. As circunstâncias
não importavam. Martin prometeu que iria encontrar uma
maneira de me fazer pagar.

E agora eu estava pagando o maior preço.

Minha cabeça girava, todo o meu ser cambaleando com


as consequências de tudo o que ele ameaçou tirar de mim.

Kallie. Minha garotinha.

Sebastian.

Martin já não conseguiu o suficiente?

— Ele nunca teria me deixado em paz. — As palavras


roucas rasparam como lâminas de barbear pela minha
garganta dolorida.

A voz dela era baixa. Com medo. Igual a minha.


— O que faremos?

Um turbilhão de adrenalina chicoteou através de mim.


Um frenesi alimentado pelo medo e a resolução de fazer
qualquer coisa e tudo o que tivesse que fazer, exatamente
como fiz antes. Levantei meu queixo.

— Nós lutaremos.

Ela passou a mão pelos seus olhos e deu uma risada


seca que não transmitia nenhum humor.

— Não posso acreditar que quase me esqueci dele.


Tanto tempo fingindo que não existia... parecia que ele não
existia.

— Eu sei.

E eu era a culpada. Fingir era muito mais fácil do que


viver com ansiedade constante. Muito mais fácil do que
esperar que o jogo virasse, esperar que o meu mundo
implodisse como aconteceu esta noite.

Deixei Sebastian acreditar que não havia ninguém lá


para reivindicar Kallie. Nenhum pai para amá-la ou protegê-
la ou ficar ao seu lado. Havia. Mas Martin nunca faria
nenhuma dessas coisas. Não. Ele não a amava. Ele usava as
pessoas, manipulava e abusava.

Uma onda de náusea atingiu a minha barriga,


enquanto, em minha mente, brilhava o rosto confiante de
Kallie. Só que desta vez, aquele rosto estava pintado com
terror, confusão e desolação.
Essa sensação se agitava e se enrolava como uma víbora
com a ideia dela estar à sua mercê. Porque a misericórdia era
algo que Martin Jennings não concedia. Não havia nenhuma
dúvida em minha mente que ele absolutamente não se
importava a respeito de nada sobre ela.

Ele a via como um obstáculo que não poderia passar,


tão duro que ele tentou tirá-la de seu caminho.

Agora minha filha estava sujeita à sua vontade


maliciosa.

Tristeza apertou meu peito.

Eu odiava ter machucado Sebastian.

Odiava ter escondido isso dele por tanto tempo.

Mas eu odiava ainda mais o fato de que permiti que esse


monstro roubasse a minha menina.

April lançou-me o mais triste dos sorrisos e em seguida,


desviou sua atenção para o lado.

— Sei que não tenho muito a oferecer, mas estarei aqui,


Shea, lutando com você, até trazermos ela para casa.

Lágrimas caiam pelo meu rosto.

— Nunca diga isso. Você sempre foi a sanidade em tudo


isso. Apoiou Kallie e a mim em todos os sentidos. Eu não sei
se faria isso sem você.

Ela balançou a cabeça, os olhos embaçados e


desfocados quando eles se desviaram para a parede oposta.
— Todo o tempo que vivi aqui com você e Kallie,
esperava que você encontrasse um cara que iria se apaixonar
por você. Por ambas. Alguém gentil, mas ainda forte. Alguém
que sempre ficaria ao seu lado e faria o que fosse preciso para
te fazer feliz.

Com seu foco ainda distante, ela mordeu seu lábio


inferior.

— Quando encontrei Sebastian em nossa cozinha


naquela manhã... não gostei dele imediatamente. Não
confiava nele. Tive a certeza que ele não era nada além de
problemas.

Ela balançou sua cabeça de forma feroz e pesarosa.

— Só sabia que ele ia te machucar. Eu estava com


medo, porque vi o jeito que você olhou para ele. Imaginei que
ele não era nada além de um jogador que estava à procura de
diversão, enquanto passava algum tempo em Savannah.

Ela simplesmente olhou para mim.

— Eu estava errada. Quero culpá-lo por tudo isso, mas


não posso. Tenho certeza de que ele é o cara que faria
qualquer coisa para se certificar de que você esteja feliz.

Simples, simples sonhos.

Elas lastimaram internamente.

Uma menina simples que amava um menino simples.

Que ironia, a única coisa que nunca esperava querer


com ele, estava sendo pendurada bem na minha frente.

Uma família.
Mas ambos, Sebastian e meus problemas estavam muito
distantes de serem simples.

April olhou para a porta por onde Sebastian


desapareceu completamente.

— Por que você não disse a ele?

Engoli o nó de emoção que bloqueava minha garganta.

— Eu ia... a noite, quando descobri que era ele. Quando


finalmente admiti que o amava. Estava pronta para lhe
contar tudo. Pronta para confiar nele em tudo.

Ele foi a primeira pessoa em quem confiei.

Confiança.

Tristeza puxou um lado da minha boca.

— Tanto quanto saber quem ele era estava me


assustando, parecia que era para ser. Como se ninguém nos
entendesse da mesma maneira que nós podíamos entender
um ao outro.

Encolhi os ombros impotente.

— Sebastian me deixou antes que eu tivesse a chance.


Então, ele voltou e tudo aconteceu tão rápido. Kallie quase se
afogando... os paparazzi... as fotos. Tentei contar novamente
esta noite.

Logo antes da assistente social aparecer a minha porta.

Mas agora que sabia sua conexão com Martin, descobri


que não podia abrir a boca para contar tudo. As coisas que
ele claramente exigiu saber. Sebastian pensou que não
confiava nele. Isso estava tão longe da verdade.

Estava com medo por ele.

Conheço Sebastian. E sabia das coisas que Martin era


capaz. As coisas más que ele fez. Pelo menos algumas delas.
Certamente meu conhecimento nem chega perto do quão
profunda é a sua maldade.

Mesmo quando nenhuma prova foi encontrada, não me


desiludi. Martin foi responsável pelo que foi feito a mim. Cada
parte de autopreservação que tenho estava certa disso. E
sabia que se Sebastian soubesse o que ele fez, perderia o
restinho do seu controle. Em sua necessidade compulsiva de
proteger e defender, destruiria tudo que é importante para
nós dois. Eu não podia correr esse risco. Não por ele ou por
mim.

Eu tinha muita esperança que o que nós


compartilhamos era maior do que tudo e juntos nós
poderíamos corrigir isso, assim como Sebastian disse.

Suavemente, ela inclinou a cabeça para o lado. Dizendo.


Reconfortando.

— Ele está chocado... com medo. Mas a única coisa


clara nesta situação horrível é que o homem te ama.

— Sim. — Eu calmamente concordei, porque não tenho


dúvidas quanto a isso. Eu só esperava que não o machucasse
tão profundamente, a ponto dele não poder mais continuar
me amando.
À frente, relâmpagos brilhavam, enquanto a tempestade
seguia para o norte de Savannah. As ruas estavam molhadas,
e postes brilhavam em meio ao nevoeiro. Meus faróis
brilhavam através da névoa, criando a ilusão de estrelas
disformes que brilhavam muito forte contra os olhos.

Eu tremia, a porra de todas as minhas entranhas tão


frias como a minha pele.

Esfreguei a mão no rosto e tentei me concentrar.

O caminho perto do rio estava quase deserto. Tranquilo


em uma noite de domingo.

Parecia ridículo que meu primeiro instinto condenado


era ir para o Charlie buscar o alívio oferecido dentro daquelas
paredes velhas. Mas também estava fechado. A fachada
apagada, como se a esperança que encontrei ali também
fosse desligada.
Sem nenhum outro lugar para ir, voltei para Tybee
Island. Vinte minutos depois, parei o carro na frente da casa
de praia do Anthony.

Suspirando, desliguei o motor e saí para a noite. Minhas


botas rangiam sobre o cascalho e pisei pesadamente nos sete
degraus que conduziam à entrada enorme. Abri a porta e
entrei, não tendo nenhuma ideia de para onde ir a partir
daqui, porque Deus sabia que aqui não era onde eu queria
estar.

No interior, janelas do chão ao teto, assumiam toda a


parede voltada para o leste, a tempestade minguante
eclipsando as estrelas no céu. A sala principal era aberta
para a luxuosa cozinha na parte de trás, onde Ash, Lyrik e
Zee estavam em volta da ilha, sem nada mais para fazer
nesta cidade que estava fechada em uma noite de domingo.
Os sorrisos em seus rostos sumiram quando viram a
expressão no meu.

Ash franziu o cenho.

— Já voltou?

A última coisa que sabiam era que as imagens na


Internet foram tiradas e eu estava voltando para Shea, com o
meu coração na boca. Perguntando se ela iria me chutar para
longe uma vez que percebesse que estar com alguém como eu
era demais para lidar, com todos os paparazzi que nos
perseguem a cada passo, criando mentiras para saciar sua
sede de drama.
Mal sabíamos o que estava realmente esperando para
nos colocar de joelhos.

Agitado, passei minhas mãos pelo cabelo.

— E? — Ash cutucou.

— E acontece que não conheço nada sobre Shea.

Perplexo, Ash colocou sua cerveja no balcão, Zee e Lyrik


se endireitaram, quando perceberam a minha agitação.

Eu exalava pesadamente, achando difícil falar.

— No início desta noite... o Serviço de Proteção à


Criança apareceu para levar Kallie embora.... Aparentemente,
aquele artigo e fotos fictícias foram suficientes para
questionar a habilidade de Shea como mãe.

— Besteira. — Lyrik assobiou. Ash e Zee ficaram


pálidos.

Total, besteira completa.

Mordi o lábio inferior, fazendo o melhor para conter um


pouco da raiva que queria ser libertar.

— Aquela assistente social, simplesmente entrou, pegou


Kallie e a levou para a porta, dizendo que a levariam para
parentes próximos.

A dor me bateu de novo. A memória do terror no rosto


de Kallie foi como um soco no estômago.

— Nós a seguimos até o lado de fora, tentando entender


o que diabos estava acontecendo. — Eu engoli a bile. —
Martin Jennings estava esperando no meio-fio. — Agarrei o
meu cabelo, as palavras saiam de mim como que para purgar
a sua verdade. — Ele é seu pai. Shea mentiu para mim. Me
disse que o pai de Kallie estava morto. Ela é Delaney Rhoads.

— Nem fodendo. — Ash olhou com os olhos arregalados.

— Quem é Delaney Rhoads? — Zee perguntou, confuso.

Ash tossiu algumas risadas atordoado.

— Uma estrela country... popular há seis, sete anos


atrás. Chegou ao auge e desapareceu com uma tonelada de
escândalo envolvendo o nome dela. — Ash teve a coragem de
sorrir. — Cara... Shea é Delaney Rhoads. Isso é uma loucura.
Não posso acreditar que não a reconheci, mas inferno, isso foi
há muito tempo.

— Nem comece, Ash. — Avisei. Definitivamente não


estava no humor para lidar com o fato de tudo ser uma piada
para ele.

— O quê? — Ele deu de ombros. — Não me diga que


você não acha que essa é a coisa mais quente que alguma vez
cruzou seu caminho. Porra, Shea é linda... dê-lhe um
microfone e uma guitarra. — Seus olhos azuis brilhavam.

— Isso aí.

Eu nem sequer deixei minha mente ir nessa direção.


Estava muito preso ao fato de que ela mentiu para mim e
Jennings era uma chave em ambas as nossas vidas. Que
Kallie foi embora.

— Martin Jennings está com Kallie? — A voz do Zee


tremeu, e confuso, esfregou uma mão em seu rosto.
Finalmente alguém percebeu a consequência da maldita
situação.

— Sim.

Atordoado, ele baixou o olhar e amaldiçoou.

Ash começou a andar pela cozinha. Se fosse possível,


seu comportamento tornou-se mais arrogante do que o
normal.

— Então, vamos pegá-la de volta. Falar com algumas


pessoas. Fazer isso direito. Não há nenhuma chance de nós
deixarmos aquela coisinha pequena com aquele pedaço de
merda.

Ash fez soar tão simples. Atraente. Eu não queria nada


diferente disso.

Uma onda de agressão percorria Lyrik. Podia senti-la o


consumindo, senti uma necessidade intensa de rastrear
àquele bastardo do Jennings e, finalmente, corrigir todos os
erros do imbecil.

Lyrik era igual a mim. Quando você é empurrado contra


uma parede, você empurra de volta, porra, com punhos, fúria
e agressividade incontidas. Combinando com Ash espumando
pela boca onde quer que fôssemos. Nós três atraíamos
problemas que então se viravam contra nós e chutavam
nossas bundas.

Mas se cedêssemos a esse desejo, apenas iríamos piorar


as coisas.
— Anthony está a caminho. Ele já tem um advogado.
Vamos fazer isso direito.

— Tudo bem? — Ash perguntou, enquanto colocou as


mãos nos quadris, me encarando.

— Tudo bem, o que?

— Então o que diabos você está fazendo aqui?

Correndo.

Dei uma sacudida dura a minha cabeça.

— Martin está me usando para ataca-la. Sem dúvidas,


foi o idiota quem envolveu os tribunais. Eu não vou ser um
risco.

Assim como Shea disse, ele estava esperando para


atacar. Aposto que esse maldito doente tem nos observado
nos últimos meses.

Dois pássaros com uma tacada só.

Lyrik praguejou, enquanto Ash ficou lívido.

— Você está brincando comigo, Baz? Será que ela lhe


pediu para ir?

Eu não respondi.

— Inacreditável. — Ele cuspiu para o chão.

Sim. Era. Tudo isso.

— Você é um idiota. — Ash continuou como o filho da


puta que ele era.

Não era minha intenção me aproximar dele, de debater o


que estava certo, quando toda a maldita coisa estava errada.
Sentindo-me agitado, virei de costas para a decepção
que emanava deles três, porque eles não sabiam, não tinham
ideia de quão ruim era essa dor ou do que eu seria capaz de
fazer para proteger Shea e Kallie.

Escapei pelas portas de vidro que dão para o deck.

Lá fora, a noite era espessa. A umidade se agarrava ao


céu que despertava da tempestade que se afastava com a
maré. Deixou um pequeno calafrio. Uma umidade que
afundou até os ossos.

Minhas botas bateram nas tábuas de madeira, enquanto


eu marchava em direção ao mar.

Indeciso.

Luzes brilhavam das janelas da casa atrás de mim.


Duas estacas estavam iluminadas como uma tocha,
eliminando a escuridão da praia.

Caminhei pela areia lisa onde a água foi puxada para o


mar repetidamente. Eu queria gritar, zombar e delirar sobre o
quão injusto este mundo era.

Sempre roubando o que é bom.

Apagando a beleza e a luz quando o mal foi autorizado a


correr desenfreadamente.

Abri meus braços e deixei sua presença rastejar sobre


mim.

Julian.

Ele estava sempre lá, esperando por mim.


Fechei os olhos e deixei o arrependimento sem fim me
consumir.

Congelei, quando senti uma presença atrás de mim, e


lentamente me virei para encontrar a figura solitária
abraçando os joelhos contra o peito. Ele estava curvado,
obscurecido pelas luzes da casa onde estava sentado, na base
de uma duna.

Perdido no escuro.

— Austin. — Sussurrei. O som foi comido pelo vento.


Andei em direção a ele, de alguma forma cauteloso, odiando o
fato de ter tido pouco tempo para cuidar do meu irmãozinho
nos últimos dois dias.

Nas mensagens que compartilhei com Lyrik depois do


que aconteceu com os paparazzi e aquelas imagens
repulsivas, ele jurou que estava tudo bem. Disse que estavam
cuidando do Austin.

Sim, os caras eram família.

Mas não tinha certeza de que poderiam compensar a


minha ausência.

Só eu poderia compreender que tipo de golpe brutal o


incidente aqui na praia com Kallie foi para Austin.

As lembranças que evocou.

Ele estava novamente cobrindo a cabeça com aquele


maldito casaco.
Porra, eu odiava isso. Odiava que ele continuasse a se
esconder do passado da mesma maneira que permitia que o
comesse vivo.

Tive vontade de sacudi-lo.

De lhe dizer mais uma vez, não foi sua culpa.

Eu não fiz. Em vez disso, deixei-me cair ao lado dele.


Soltei um suspiro e passei a mão pelo rosto.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ele,


cavando os dedos na areia por entre os joelhos.

Olhei para o mar.

— Sabe quando você pensa que as coisas estão


finalmente dando certo... que você sabe que finalmente tocou
em algo bom? Dói muito mais quando isso é arrancado dos
seus dedos.

Ele olhou fixamente para mim, de lado.

— Sabia que eu ia arrastá-la, Austin. Na primeira noite


que a vi.

Meu coração acelerou com a memória, a energia que a


cercava, a necessidade de me perder em toda sua doçura e
suavidade foi o suficiente para me fazer perder a cabeça.

Ele apenas observou, esperando que eu explicasse.

— Pensei que era a garota mais linda que já vi. Havia


algo nela que eu não conseguia controlar. Não havia uma
maldita coisa que pudesse fazer para ficar longe dela, mesmo
sabendo que quando voltei para aquele bar ia acabar lhe
machucando.
Confusão flutuou através do seu tom.

— Pensei que você dois tinham se acertado. É por isso


que voltamos para cá, certo?

Passei a palma da minha mão sobre a boca, incapaz de


conter a amargura de se libertar.

— Tenho enganado a mim mesmo. Desde que voltei de


LA, pensei que se eu derrubasse todas aquelas paredes...
deixasse ela entrar... tudo ficaria bem. Que de alguma forma
nós poderíamos fazer isso quando minha vida não era nada
além de um desastre. Mas estes dois últimos dias? Era como
se fosse um aviso que eu não poderia manter a farsa e tudo ia
desmoronar. Que eu ainda estava fingindo.

Soltei uma respiração tensa olhando para o céu, antes


de eu direcionar a minha atenção para o meu irmãozinho.

— Ela mentiu para mim, Austin. O pai de Kallie não está


morto. Martin Jennings é o seu pai.

Rapidamente, o informei sobre os acontecimentos da


noite, cada maldita palavra sangrando da minha boca.

Com cada uma, a angústia de Austin parecia aumentar.


Ele ficou de pé e agarrou seu cabelo castanho desgrenhado.

— O que? Shea é Delaney Rhoads?

Fiquei surpreso que ele soubesse o nome, considerando


que tinha apenas treze anos quando Kallie nasceu.

Ele andou pela areia, de um lado para o outro a minha


frente, se fundindo com o vento. Mais chateado do que
esperava que ficasse.
Ele virou seu olhar cinza de volta para mim, o rosto
torcido em confusão. Mais decepção.

— Então, você apenas se afastou? Deixou-a lá para lidar


com toda essa merda sozinha?

— A merda que eu causei, Austin. Ela não estaria


lidando com isso agora se não fosse por mim.

— A merda que você causou? — Incrivelmente, ele


bufou. — Tudo o que você faz é tirar alguém de problemas. Se
isso é culpa de alguém, é minha.

— Não é culpa sua. — Repeti.

Eu lhe disse isso ao que parecia mais de um milhão de


vezes. Quando será que ele vai começar a acreditar?

— Você sabe o que, Baz? Você age como se você fosse a


única pessoa por aqui forte o suficiente para assumir
qualquer culpa. Você fica por perto protegendo, protegendo e
protegendo, até que se torna sufocante. Você nem vai me
deixar assumir a responsabilidade pelo que eu fiz. — Por
duas vezes, ele bateu o punho contra o peito para pontuar.

Estremeci com a ferocidade das suas palavras.

Então, ele suavizou, remorso parecendo escoar através


dele.

— E você sabe o quanto isso significa para mim. Tudo


que você fez. Do que você desistiu. Você se tornou meu
mundo inteiro. Minha mãe, meu pai, meu irmão e meu
melhor amigo. Você fez com que eu comesse, quando a mãe
não podia sair da cama, se colocou na linha de fogo contra o
meu pai para me proteger. Porra, me arrastou para todos os
lugares, um garotinho achando que estava no topo do
mundo, porque seu irmão mais velho permitiu que ele o
acompanhasse.

— Esse foi o pior erro que já fiz. — Minha voz áspera


entrou em confronto com o ar. — Arrastando você para tudo
isso.

— Mesmo? Onde você acha que eu estaria agora se você


não tivesse me tirado daquela casa? Tenho certeza que eu
não estaria respirando.

A dor apertou meu coração.

— Eu fiz tudo errado.

— Você era uma criança, também. Você acha que não


sei que você estava fazendo o melhor que podia?

Desgostoso, ele sacudiu a cabeça.

— Nós tivemos muitas coisas ruins em nossas vidas.

Suas palavras ecoaram como a minha própria.

Tem tanta merda, Shea.

— E agora você finalmente terá algo bom. Não me


importo com quem ela é ou que mentiras que lhe disse, não
foi isso que te trouxe de volta para cá, em primeiro lugar. Ela
precisa de você. Caralho... Shea precisa de você, Baz.

A dor da ferida me rasgou, eviscerando e cerrei os


dentes.
Ele inclinou a cabeça, olhando para mim. Olhos
exigentes me espetavam das sombras, um garoto muito mais
maduro do que eu poderia imaginar.

Sempre observando.

— A maneira como Shea olha para você? Um dia.... um


dia quero alguém para me olhar assim. E adivinhe, você olha
para ela da mesma maneira. E você está realmente desistindo
dela por causa de um idiota como Jennings? Você lutou por
todos, sua vida inteira, e agora você está jogando a toalha
quando finalmente tem algo pelo qual vale a pena lutar? Lute
por ela.

— Austin. — Queria pedir-lhe para parar.

Ele só continuou em frente.

— Toda a minha vida, eu olhei para você. Pensei que


você sabia de tudo. Mesmo quando desisti, de alguma forma
sabia que você ia estar lá para me salvar. Mas se você pensa
em desistir daquela garota, então você é um tolo.

Ele olhou de volta para o mar, ondas suaves batendo na


costa. A neblina começou a se dissipar. As estrelas
espalhando-se completamente.

Austin virou o rosto para o céu, antes de me olhar de


cima do seu ombro.

— Eu vi algo melhor em você.

Então ele se virou e me deixou lá.

Segurei o rosto em minhas mãos, esfregando as palmas


por cima da cabeça, muitas vozes fazendo barulho.
Eu vi algo melhor em você.

Eu vi... você…

Eu te vejo.

Shea viu mais em mim do que jamais poderia ter


imaginado. Algo melhor do que esperava que eu pudesse ser.

E isso me invadiu.

Aquela menina doce e suave.

Porque na verdade.

Eu a vi também.
MEU CORAÇÃO ACELERADO no peito e minha visão
focou em apenas um objetivo.

Ela.

Parecia demorar uma vida inteira para chegar à sua


casa, e não havia nada que me pararia agora. Destravando a
porta da frente, fui até as escadas. Não parei na porta do
quarto e abri rápido. Eu precisava chegar até ela.

De costas para mim, Shea estava enrolada em um


travesseiro no centro da cama. Ela se assustou com a súbita
intrusão e se sentou. Olhos caramelos piscaram para mim
através da luz fraca, confusão, mágoa e tristeza.

Imóvel, eu estava na porta quando o silêncio pairou


sobre todas as nossas incertezas.

Sobre todas as questões.

Mas Shea estava certa.

Nada disso importava.


E isso era suficiente.

— Shea. — Minha voz falhou em seu nome.

Dei um passo para dentro e tranquei a porta atrás de


mim.

O queixo de Shea tremeu e ela o levantou, porque sabia


que está menina queria ser valente e que ela estava passando
através de um milhão de cenários. Mentalmente passando
por todas as maneiras que eu iria deixa-la. Como iria
desapontá-la. Sabia as palavras que ela esperava que saíssem
da minha boca, porque há muito tempo fui um covarde e um
tolo, pensando que o sacrifício era a única maneira de fazer
isso certo.

Porque cada vez que me virei, perdi alguém que eu


amava.

Não dessa vez.

Engoli em seco.

— Você quer saber o que vejo quando olho para você?

Quando a intensidade da minha voz a atingiu, Shea


sufocou um pequeno soluço.

Dei um passo mais perto, quando comecei a falar.

— Vejo alguém que é tão doce e gentil que cada vez que
olho para ela praticamente me tira do chão, porque já sofri
tanto na minha vida que não sei como estar na presença
dela. Vejo alguém que sei que não mereço, então toda vez que
me viro, estou correndo com medo, porque estou aterrorizado
de estragar tudo o que ela é.
Lentamente, me aproximo e ela me observa nas
sombras. Suas mãos tremem no colo, quando chego perto.

— Vejo alguém que merece o maior tipo de alegria.

Outro passo e, Shea se arrasta para o lado da cama. Ela


puxou uma única perna até o peito. Agarrando-se a ela como
se pudesse protegê-la de mais sofrimento.

Tudo o que ela sentia, queria e temia foi exposto na


expressão do seu rosto.

Parei na beira da cama e caí de joelhos.

Um pequeno grito escapou de sua boca.

Estendendo a mão, agarrei seu rosto, meus dedos


enterrando-se em seu cabelo macio.

— Vejo alguém, que embora não tenha uma chance


neste mundo de eu ser bom o suficiente para tê-la... bom o
suficiente para mantê-la... isso é tudo que quero fazer. Vejo
alguém que quero proteger, amar e lutar.

Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela se aproximou


ainda mais e deixou suas pernas escorregarem de cada lado.

Fiquei entre os seus joelhos e olhei a tempestade em


seus olhos.

— Eu vejo beleza e luz.

Aqueles olhos brilharam, a emoção esmagou minhas


costelas. Esta menina me torceu de cada maneira possível.
Shea engasgou quando a agarrei pela cintura e puxei-a
para mim. Virei e, então, eu estava sentado no chão com as
costas apoiadas na cama.

Shea estava sentada em meu colo.

Calor me envolveu. Seu coração estava batendo, toda


aconchegada contra mim, exatamente aonde ela pertencia.

Sua pele era tão macia. Deixou-me pegando fogo.

Ela procurou no meu rosto e eu continuei.

— Vejo a garota mais linda que já tive o prazer de


colocar os olhos. — Minha voz tornou-se baixa, quando me
inclinei para que eu pudesse passar a boca na orelha dela. —
O prazer de tocar.

Um tremor passou por ela, e juntei uma de suas mãos


entre nós, entrelaçando os dedos. Estudei-os, enquanto eu
lutava para formar as palavras.

Levantei o meu olhar e falei com a maior honestidade


que já me permiti.

— Quando eu olho para você, vejo um futuro que nunca


pensei que existia, Shea.

Tudo ficou sério. Minha mente e meu coração e minhas


palavras.

— Vejo a minha esposa. Vejo a mãe dos meus filhos. Eu


vejo todas as coisas que nunca quis até que a conheci. Vejo
tudo o que pensava ser impossível.
O canto daquela boca perfeita tremia, ela me olhava com
esperança. Esperança que, até esse momento, eu tentei
esmagar.

Mas esta menina apenas continuou me trazendo de


volta à vida.

Recusando-se a desistir.

Seus dedos ainda estavam entrelaçados com os meus, e


trouxe as costas da sua mão até a boca, como se eu pudesse
selar minha declaração com um beijo.

Uma promessa.

Ela colocou o peso sobre os joelhos ao meu lado. Ela se


levantou.

Pairando.

Suas mãos foram até o meu cabelo. Suavemente ela


passou seus dedos através dele.

Era uma sensação tão boa que eu queria gemer.

Inclinei minha cabeça para trás, me perdendo naquele


rosto, minhas mãos vagando de cima para baixo em sua
lateral.

— Você me mudou, Shea.

Um riso suave e triste saiu dela e cautelosamente ela


olhou para mim.

— Você mudou tudo sobre mim, Baz. Você mudou tudo


o que eu queria, porque o que acabei querendo foi você. Você
e Kallie. Isso é tudo o que preciso.
Sentei-me melhor e tomei sua boca. Minhas mãos
agarraram seu cabelo. Forçando-a para mais perto. Ela se
abriu para mim como se acabasse de encontrar seu oxigênio
e estava respirando pela vida.

Isso é o que eu queria.

Ser seu fôlego.

Ela se apertou mais forte, balançando sobre mim,


enquanto segurava meu cabelo. Ela murmurou entre beijos

— Não me deixe, Sebastian. Não me deixe.

Palavras derramadas contra os meus lábios, uma


proferida entre arranhões dos seus dentes, enquanto seus
beijos se tornaram mais e mais frenéticos.

— Acabei de ter você de volta e não vou sobreviver se


perder você de novo. Promete que vai lutar contra ele
comigo... porque você me ama e é aqui que você sempre
quererá estar.

Meus dedos agarraram suas coxas. Espremendo. A


promessa veio em uma respiração.

— Sim.

Pegando sua bunda, não pude fazer nada, a não ser


balança-la contra o meu pau que estava esticado dentro da
calça jeans.

Eu não deveria estar tão duro. A nossa menina foi


embora.

Mas as ondas de luxúria curvaram-se no meu estômago


e a ganância tomou conta do meu beijo.
Quando ela gemeu em minha boca, decidi devorar a sua
língua doce.

Porque sim, eu precisava disso.

Sim, Shea precisava disso.

Talvez fosse indecente.

Mas nenhum de nós podia parar.

Nós estávamos nos afogando em desespero.

Morrendo em necessidade.

Morrendo para amar.

Buscando alívio de toda a miséria e dor.

Eu estava desesperado para mostrar a ela que nunca


iria deixá-la. Nunca mais.

Shea ainda estava usando o pijama de cetim, e eu não


poderia abrir os botões da blusa de mangas compridas rápido
o suficiente. Empurrei o tecido pelos seus ombros esguios,
deixando as minhas mãos explorarem sua pele macia,
enquanto o arrastava pelas suas costas.

Os cabelos emaranhados e selvagens. Sua expressão era


tão desesperada quanto o calor das suas mãos que puxaram
minha camisa e arrancou-a sobre a minha cabeça.

As palmas das mãos quentes pressionaram meu peito


nu.

— Você é lindo, Sebastian. — Ela tocou ao longo dos


meus ombros. — Meu homem lindo.
— Baby. — Sussurrei, beijando-a mais. Meus dentes
puxaram seu lábio inferior, então libertei-o com um pop,
antes de beijar com força o canto da sua boca. Não abrandei,
apenas abaixei-me até seu queixo, inclinando-o para cima,
enquanto descia até a delicada inclinação do seu pescoço.

Seus dedos cravaram em meus ombros, enquanto ela se


inclinava para trás, impedindo-a de cair, a beijando até seu
peito que saltava a cada batimento irregular do coração.

Aqueles seios perfeitos imploravam, mamilos rosados e


rijos.

Passei minha língua através de um.

Tão doce, porra.

Os puxei na minha boca.

— Sebastian.

Segurei a parte de trás do pescoço dela, obrigando-a a


olhar para mim.

— Doce, eu vou cuidar de você.

De todas as formas.

— Levante-se. — Ordenei. Ela manteve as mãos


apoiadas sobre os meus ombros e lentamente ficou de pé,
curvada, o rosto pairando acima do meu.

A corda que nos amarrava esticada.

Lentamente, tirei o short do pijama e as rendas


escondidas por debaixo passando por aquelas pernas longas.
— Merda. — Sibilei, observando a ação revelando cada
delicioso centímetro desta menina.

Ela era uma visão.

Salvação.

A libertação do meu próprio inferno pessoal.

Fogo e luz.

Shea saiu deles, e os joguei de lado. Nunca a deixando


largar meus ombros, ela olhou para mim, minha cabeça
retrocedeu contra o lado da cama.

Desabotoei rapidamente os botões da calça, tirando


minhas botas no mesmo segundo em que empurrei para
baixo o jeans e a cueca.

Meu pau saltou livre e tirei o jeans das minhas pernas.

Essa energia estava brilhando, esta menina


comandando até o último dos meus sentidos.

— Você me deixa louco, baby.

Shea lentamente joelhou-se, aquelas mãos nunca me


soltando.

Ela balançou para frente, o interior das coxas tocando


suavemente minhas costelas.

Eu empurrei.

— Preciso de você. — Disse ela.

E eu totalmente entendia. A verdade era que precisava


dela também.

— Você me tem.
Sua língua passou ao longo do seu lábio inferior, ela
prendeu a respiração instável e inclinou-se um pouquinho
para trás, envolvendo a mão no meu pau.

Olhamo-nos fixamente e ela lentamente abaixou-se no


meu comprimento.

Porra.

No espaço de um segundo, enterrei meu rosto em seu


pescoço para cobrir o meu gemido.

Um toque.

Um toque e meu corpo tremia como o de um


adolescente. Mas minha alma chegou a algum lugar longe,
num futuro que nunca imaginei.

Onde essa menina sempre pertenceria a mim.

Segurei-a pelos quadris.

Guiando-a quando ela começou a se mover.

Subindo e descendo no meu pau.

Um gemido saiu quando ela foi para trás, nosso foco foi
para onde estávamos conectados.

Meu pau molhado com sua excitação.

Pele nua.

Boceta perfeita.

Ela tomou-me completamente uma e outra vez.

— Shea. — Peguei um punhado de cabelo. Puxei com


força e belisquei seu queixo.
Com as duas mãos, ela o devolveu com um puxão forte.
Meu couro cabeludo se arrepiou com pequenos picos de dor.
Eles desceram pela minha espinha, reunindo-se onde um nó
de prazer construiu-se rápido.

Rapidamente, desloquei-me, precisando de controle. Eu


segurei-a pela cintura, andei de joelhos e levei Shea comigo.

A coloquei no tapete e me vi envolvido em quilômetros


de pernas perfeitas envolvidas na minha cintura. As unhas
cravando minhas costas.

Levantando-me com uma mão, olhei para baixo para a


garota que mudou o meu mundo. Olhos caramelo, escuros e
profundos, e, mesmo assim, doces.

— Não solte. — Avisei. A demanda rouca enquanto


puxava para fora, o grande cume da minha cabeça mal
saindo. Então entrei novamente em casa.

Shea gritou quando suas paredes me apertaram.

— Porra, baby.

Inspirei, tentando me recompor. Um furor de energia se


elevou, reduzindo, saturando nossa pele de suor. Pulsando e
pressionando, uma força que nenhum de nós teria a chance
de resistir.

E eu sabia que se a perdesse, não saberia como


sobreviver.

Movi-me dentro dela.

Com ela.

Nenhum de nós suavemente.


Cada toque áspero, cada impulso e inclinação de nossos
corpos acentuado e forte.

Enfiei a mão entre nós e comecei a estimular o clitóris


de Shea.

E podia sentir isso, a forma como cada centímetro dela


se tencionou e ela começou a derreter.

Calor cobriu-nos com ondas de energia, esta menina é


uma tempestade de verão.

Feroz, turbulenta e bonita.

— Goze, menina doce. — Sussurrei ao sentir que estava


perto, como se talvez ela não soubesse como deixar ir.
Aumentei a pressão e o meu ritmo.

Ela estava olhando para mim quando gozou.

Desmoronando.

Seu foco ficou nebuloso, como se estivesse flutuando


com as estrelas.

Ela me levou junto.

Ficamos lá por mais tempo.

Elevados.

Ausentes.

Presentes, apenas um para o outro.

Finalmente, deixei-me cair em cima dela. Apoiei meu


peso sobre o joelho e o cotovelo para não a esmagar.
Empurrei os montes do seu cabelo despenteados, precisando
apenas vê-la.
Essa menina que era tão linda, machucada e com medo.

A mulher que se tornaria minha responsabilidade.

Meu futuro.

Porque seria condenado se eu continuasse preso ao meu


passado.

Uma mulher que nunca mais abandonaria.

Eu amava Shea Bentley e ela me amava.

É onde tudo começava e onde terminava.

Nada antes, depois ou entre, importava.

— Você acha que isso é errado? — A voz silenciosa de


Shea invadiu o silêncio pesado.

Onde nós deitamos debaixo das cobertas em sua cama,


puxei-a para mais perto. Ela encostou suas costas contra o
meu peito.

— O quê? — Perguntei.

A casa estava em silêncio e já era tarde. Escuridão


agarrou-se na maior parte do seu quarto. Apenas fragmentos
do luar entrevam pela janela.

— Eu estar aqui, encontrar conforto em seus braços,


quando Kallie está sozinha.

Minha pesada exalação espalhou seu cabelo sobre o


ombro. Entendia sua culpa, mas não a queria sentindo isso.

— Deixe-me perguntar algo. Se você pudesse fazer


qualquer coisa agora que traria Kallie para casa mais cedo,
você estaria fazendo isso?
— Claro. — Ela respondeu sem hesitar.

Dei um beijo suave atrás da orelha.

— Então acho que você já sabe a resposta para isso.

Shea inspirou instavelmente.

— Eu odeio que ela esteja com ele e não ter ideia do que
está acontecendo. — O ar engatou em sua garganta. — Odeio
não ter ideia do que ela está passando. O que poderia estar
acontecendo. Odeio estar deitada aqui, inútil para ajudá-la.
Incapaz de protegê-la como sempre prometi que faria.

Ela estremeceu e a segurei mais perto.

— Kallie não tem ideia de quem ele é, Sebastian. Ainda


não sabe sobre ele. A única coisa que já lhe disse foi que ela
não tinha um pai. Disse a ela que era apenas nos duas e que
sempre seria assim. — Sua voz tremeu e gorjeou. — Ela deve
estar tão assustada.

— Eu sei. — Murmurei de volta.

Me deixei imaginar o que Kallie estava passando naquele


momento. O terror que ela estaria sentindo. Doeu-me ainda
mais saber que Shea estava imaginando a mesma coisa.

Brinquei com uma longa mecha do seu cabelo.

— Eu confio na minha equipe, Shea. Anthony e Kenny


sempre estiveram lá para mim, eles vão encontrar uma
maneira de arrumar isso. Eles nunca me decepcionaram
antes e sei que eles vão fazer tudo ao alcance para corrigir
isso. E vou estar lá a cada passo do caminho. Lutando.
Dando tudo de mim até que aquela menina esteja em seus
braços. Você entende o que estou dizendo?

Isso significava que não iria dormir, não iria comer até
que Kallie estivesse segura.

Ela sufocou.

— E se ele a ferir? E se chegarmos muito tarde?

— Não, ele não vai. Ele não é tão estúpido.

Mesmo com a minha promessa, a fúria fervia dentro de


mim. Pronta para ser desencadeada. Porque se ele a ferisse?
Essa fúria viria como um rolo compressor.

Ela se aconchegou um pouco mais perto, e sua voz


obstruída com um soluço contido.

— É um sentimento horrível ser tão grata que não tenho


que passar por isso sozinha, sabendo Kallie tem.

— Não, ela não está sozinha, baby. Ela te sente bem


aqui. — Coloquei minha mão sobre o coração de Shea.

Lentamente, ela virou o rosto para mim.

— No início você disse que queria reivindicar Kallie como


sua. — As palavras tornaram-se quase urgentes. — O que
você quis dizer?

Um sorriso triste puxou a minha boca. Afastei minha


cabeça o suficiente para permitir que a luz da lua iluminasse
o rosto de Shea.

— Disse a você o que vejo quando olho para você. Vejo


uma família. Sempre pensei que família para mim seria algo
fodido e quebrado... só eu, os meninos e Austin. Mas quero
que isso inclua você. Quero que inclua Kallie. Quando ela
estiver triste, com medo ou apenas precisar de alguém para
lhe dizer que ela é amada, quero ser esse cara.

Algo, tanto brilhante quanto desolado passou pela


expressão de Shea. E sabia que ela estava vendo a mesma
coisa que vi. E de alguma forma tive sorte o suficiente por
essa menina querer isso também.

A coisa mais difícil era que nós dois estávamos nos


perguntando como diabos iríamos chegar lá.

— Você sabe... — Minha voz estava rouca. — Mais cedo


esta noite, transei com você sem proteção. — Fiz uma careta.
— Já por duas vezes, na verdade. Você quer saber o que
percebi? Eu estava esperando que talvez... apenas talvez,
juntos, você e eu estivéssemos fazendo algo bonito.

Shea recuou um centímetro. Perplexidade iluminando


seu rosto.

— Você iria quer isso?

— Eu não sei... provavelmente seria uma ideia muito


má, agora, mas em algum momento, sim.

Uma emoção intensa brilhou em seus olhos.

— Desde a primeira noite você me tomou sem nada, não


pude deixar de pensar sobre experimentar essas coisas com
você, Sebastian. Uma vida e um lar. Uma família para Kallie.
— Um sorriso sombrio se formou. — Você me surpreende de
formas realmente maravilhosas.
— Acho que tenho me surpreendido muito ultimamente.
— Sorrindo suavemente, passei meu polegar ao longo do seu
queixo. — Poderia ter algo a ver com essa incrível garota que
conheci. Depois que ela entrou na minha vida, não me
reconheço mais.

Shea segurou meu rosto. Carinhosamente. Tudo escrito


em seu rosto, adoração e cheio de todo o amor que eu não
acreditava alguma vez merecer. Ela olhou para mim dessa
forma por mais tempo, como se eu significasse alguma coisa,
vendo-me de uma forma que só ela poderia.

— Eu estou tomando pílula. — Ela finalmente disse,


obviamente, precisando deixar bem claro.

Eu dei um ligeiro aceno.

— Imaginei. Mas isso não significa que o pensamento


não estava lá.

O desejo.

— Eu deveria ter perguntado. — Pesarosamente,


balancei minha cabeça. — Isso é algo sobre o qual deveria ter
falado com você primeiro, sinto muito que me deixei ficar
perdido no momento.

A peguei pelo pulso da mão que estava no meu rosto,


deslocando-me para frente, pressionei um beijo na parte
interior do seu cotovelo.

— Você sabe que nunca iria propositalmente colocá-la


em risco. — Murmurei contra a pele macia, e passei o braço
dela em volta do meu pescoço para que eu pudesse chegar
mais perto.

Todas as possíveis consequências e cenários que permiti


minhas próprias necessidades e desejos obscurecidos. Mas
acho que eu não estava chegando perto de pensar nisso como
uma consequência. Ao invés disso, algo bom e puro, uma
espécie de presente que nunca pensei que queria, até que, de
repente, estava lá, algo profundo dentro de mim estava
ansioso para ser preenchido com todas as partes de Shea.

— Eu teria parado se estivesse preocupada. Se eu não


confiasse em você. — Ela sussurrou. — Sei que você não iria
me machucar.

— Você coloca tanta fé em mim.

— Sim. — Ela disse simplesmente.

Afeto apertou meu peito.

— Nós vamos resolver isso. — Eu prometi. — Nós iremos


enviar Jennings direto para o inferno e então vou pegar você
e Kallie e levá-las ao redor do mundo. Nós vamos mostrar a
Kallie tudo isso, e você e eu vamos fazer amor em todos os
países que possamos. E a noite? Eu cantarei sobre isso...
sobre o que você faz comigo e como me faz sentir.

Eu sabia que estava sonhando, fazendo o que podia


para preencher Shea com esperança para que ela tivesse uma
fuga desse inferno.

Com olhos brilhantes, ela sufocou com a emoção em sua


garganta. Ainda assim, entrou na onda.
— Parece que Kallie e eu poderíamos atrapalhar o seu
estilo.

Sorri para ela com a necessidade de levantar o seu


espírito. Nossos queixos tocaram-se, conforme eu sorria para
a minha menina.

— Tenho um novo estilo, baby.

Shea aumentou seu aperto.

— É isso mesmo? E o que é que este mundo ao qual


você estará cantando sobre mim irá dizer?

— Tenho certeza que eles dirão todo tipo de coisas. Mas


não dou à mínima, Shea. — Meu tom ficou sério. — Amanhã
eles vão saber o que você e Kallie significam para mim. Eles
vão saber que estarei lutando por ambas, não vou recuar.

— Estou tão assustada, Baz. — Shea tranquilamente


admitiu, enquanto sua boca tremia com outra rodada de
tristeza.

— Eu sei, baby. Estou com medo também.

Sim, queria encher Shea com esperança. Mas imaginei


que honestidade importava muito nesse momento.

— Não posso acreditar que ele a tem. — Ela disse aquilo


tão suavemente que mal a ouvi. Miséria parecia roubar seu
fôlego. — Que tipo de monstro iria entrar e tirar uma menina
da sua casa? Acho que em algum lugar dentro de mim, eu
esperava que ele tivesse mudado.

Todas as perguntas que queria fazer a Shea sobre como


ela ficou ligada a Martin Jennings vieram à tona, forçado pela
raiva acumulada queimando em minhas veias com o
pensamento dos dois juntos.

Comecei devagar, um pouco de temor nas minhas


palavras.

— Você é Delaney Rhoads.

— Não. — A palavra voou livre com veemência. — Martin


Jennings fez Delaney Rhoads. Eu nunca quis ser ela,
Sebastian. Sim, eu amo cantar... amo me apresentar..., mas
nunca às custas de ser ela. Passei tanto tempo fingindo que
ela não existia. Por favor, acredite em mim. Eu nunca tive a
intenção que isso te machucasse. Mas nunca disse a
ninguém sobre isso. Charlie e April são os únicos que sabem,
porque me ajudaram a passar por isso. Todos nós fingimos
que ela não existia... que Martin não existia... desde o
momento em que voltei a Savannah.

Shea hesitou, então continuou:

— Você pode imaginar agora porque descobrir quem


você, era me afetou muito. Tive esse estilo de vida e queria
estar o mais longe possível dele, mas no final, o que
realmente queria era você.

Ela me deu um sorriso vacilante.

— Queria que você me amasse e me segurasse,


nenhuma das outras coisas importava. Tudo o que importava
era você. Eu estava pronta para deixá-lo entrar, a primeira
pessoa a quem disse a verdade. A primeira pessoa em quem
confiei. Queria que você soubesse... que o compartilhasse
comigo... que entendesse, porque com certeza não havia
outra pessoa no mundo que entenderia melhor do que você.

Seu rosto estremeceu.

— Mas você fugiu... e.... e você me quebrou. Eu nunca


senti tanta dor quanto naquela noite, até...

Ela parou. Era como se eu pudesse ouvir o que pensava.


A doce voz da sua filha ecoando através da minha mente,
misturando-se com a agonia brutal dos seus gritos quando
ela implorava por sua mãe quando Martin agarrou-a de forma
tão violenta.

Implorando para que alguém a salvasse quando estava


completamente indefesa. Mãos amarradas. Sabendo que usá-
las só iria piorar a situação.

— Até hoje à noite. — Terminei por ela.

— Até hoje à noite. — Ela concordou. — Eu sabia antes


que nós fossemos à público, que você precisava saber, eu
estava pronta. Hoje à noite... o que nós compartilhamos...

Encontrando meus olhos, ela estendeu a mão e passou


os dedos trêmulos no meu rosto. Meus olhos se fecharam,
enquanto me inclinei com a promessa do seu toque.

Sua voz estava suavemente rouca.

— Eu sabia que você ia me perdoar por esconder isso de


você. Sabia que você iria me aceitar porque você ia me ver da
maneira que o vejo. Nós vemos isso.
Afastando-se, ela colocou a mão sobre o coração, como
se estivesse me implorando para entender que nossos
corações eram as únicas coisas que importavam.

Coloquei um dedo sob o seu queixo, levantando o rosto


para mim. As palavras arranhando minha garganta.

— Como é possível amar tanto alguém e não saber uma


única coisa sobre o seu passado?

Sem dúvida que soou como uma concessão.

Como rendição.

Porque nenhum de nós era imune a isso, essa estranha


conexão que brilhava entre nós. O que nos ligou, quando
nenhum de nós conhecia os caminhos que nos trouxeram a
este lugar.

Esse lugar onde éramos nós.

— Lembra quando disse que nem conhecia você, mas


você parecia como uma das pessoas mais importantes que já
entraram na minha vida? — Ela perguntou.

— Sim.

— Talvez houvesse uma razão para que nenhum de nós


pudesse deixar isso passar.

Mudei-me para segurar aquele rosto doce entre as


minhas mãos.

— Eu faria qualquer coisa por você, Shea. Desisto de


tudo... — Meu aperto dando ênfase. — Desisto de tudo, se
isso significar que nós teremos aquela menina de volta.
Finalmente faço uma pergunta que estava me
incomodando.

— Por que você parou?

Shea empalideceu, e falou baixinho. Infelizmente.

— Toda a minha infância foi passada para me aprontar


para um objetivo singular. Passei meus dias em aulas
intermináveis e perseguindo inúmeras audições. Minha mãe
ia fazer de mim uma estrela.

Sarcasmo pingava de cada palavra.

— Essa era a única coisa que ela queria. A única coisa


que ela poderia ver. Chegou a um ponto em que sabia que ela
não se importava como faria isso acontecer, contanto que
acontecesse. Todos esses anos, minha mãe fez sua magia
com palavras manipuladoras, me deixando na frente de
qualquer pessoa na indústria que me desse atenção.

Ela fez uma careta.

— Quando Martin entrou em nossas vidas, ela permitiu-


lhe assumir tudo. Incluindo eu. Ele... Ele…

Como se fosse possível, sua voz ficou mais áspera,


mergulhada no medo.

— Ele controlava tudo.

Ela vacilou. Como se precisasse decidir o quanto deveria


dizer. Quanto eu poderia tolerar.

— Vamos apenas dizer que Kallie não se encaixava


nessa imagem. Então eu fugi.
Acho que ela sabia que eu não podia tolerar muito.
Apenas aquele pouco de história me atingiu com mais um
impulso de saltar da cama e caçar o filho da puta. Esse
desejo era quase irresistível.

Ela balançou a cabeça como se estivesse sacudindo as


memórias, então inclinou o queixo para trás se concentrando
em mim.

— Como você se meteu com ele?

Eu quase ri. Foi definitivamente uma bagunça.

Brinquei com alguns fios do seu cabelo.

— Eu sabia no segundo em que conheci Martin


Jennings que ele não era nada além de uma cobra, mas, no
momento, nenhum de nós se importava. A única coisa que
importava para nós era que Sunder ficasse famosa. Nós não
dávamos a mínima sobre como nós faríamos isso acontecer.
Anthony nos contatou, pediu-lhe para vir verificar-nos em um
bar onde estávamos tocando. Jennings nos fez grandes
promessas as quais rapidamente agarramos. Tornou-se claro
muito rápido que o cara estava com os dedos mergulhados
em todos os tipos de coisas ilegais.

Com esse pedacinho de informação, seu lábio inferior


tremeu. Mais preocupações adicionadas a esse tormento
insuportável. Com o polegar, eu aliso-o, odiando arrasta-la
para tudo isso. Abrindo ainda mais as feridas da Shea. Mas
nós não tivemos muitas opções.

Não se fossemos começar a ser honestos um com o


outro.
Não há mais segredos e mentiras.

— Mas não era tão fora da realidade do que minha


equipe fez, então, não achava exatamente que nós tínhamos
qualquer direito de julgar. Mesmo quando fiquei limpo, não
significava que o resto dos caras ficaram. Você sabe o que
quero dizer?

Shea assentiu como se machucasse.

— Tudo veio à tona poucos meses atrás, quando Austin


teve uma overdose. Não havia dúvida em minha mente que
Jennings de alguma forma tivesse alguma coisa a ver com
isso. Eu o vi saindo do nosso ônibus da turnê aquela noite.
Mas Austin confessou, então eu fui à casa de Jennings e
confrontei-o. Enquanto nunca admitiu envolvimento, ele
basicamente me disse que meu irmão não era nada além de
um punk e o mundo seria um lugar melhor sem ele. Eu perdi
a cabeça, Shea. Perdi completamente a cabeça e agora ele se
parece com o bom rapaz que foi atacado por algum
delinquente perturbado querendo vingança.

Eu continuei com a explicação, fazendo tudo o que


poderia para não cuspir as palavras.

— Nós deveríamos chegar a algum tipo de acordo. Meus


advogados pensaram que eu poderia pagar o idiota, ele iria
retirar as acusações, e eu obteria uma sentença menor...
multas e serviços comunitários ou alguma coisa assim, mas o
bastardo me odeia tanto quanto o odeio. As coisas
esquentaram na mediação que tivemos na semana passada e
não pude manter as mãos longe dele. Ele me avisou que eu ia
me arrepender de me meter com ele.

Na época, eu tive vontade de rir da cara dele e apenas


pedir-lhe para fazer o melhor que pudesse, que qualquer
consequência que teria que pagar valeria a pena.

Agora eu sabia que a dívida era demasiadamente alta.


Se Kallie for o custo.

Acho que pensei que não poderia odiá-lo mais até que vi
esse idiota pomposo indo embora com ela. Roubando aquela
menininha da sua mãe.

Da sua casa.

De mim.

— Ele estava atrás de vingança esta noite. — Confessei.


As palavras saíram tão agitadas que vibraram no meu peito.

— De nós dois. — Disse Shea.

— Esse babaca não é nada senão um narcisista. Não


acredito que ele usou uma criança como retaliação. Foda-se
ele. — Disse entre dentes, minha raiva ameaçando ferver.

Shea piscou lentamente, como se não quisesse ouvir


suas próprias palavras.

— Ele é um sociopata. — Sua voz tornou-se


desesperadamente tranquila. — Um psicopata.

Apoiei-me em meu cotovelo para que pudesse vê-la


melhor, e Shea deitou de costas. Seu rosto contraiu-se de dor
como se combatesse o que sentia por dentro.
— Diga-me. — Eu não conseguia parar minha boca de
fazer a mesma exigência de antes.

— Não estou preparada.

Isso foi o que mais me assombrou. Tudo o que estava


escrito em seu rosto. Seu absoluto medo do homem que eu
mais odiava e as possibilidades do mal que ele causou.

— Sei que você me disse que não estava pronta para me


dar os detalhes, mas, baby... só... só me diga uma coisa. Ele
machucou você?

Tudo tremeu, meu espírito, meu corpo e minhas


palavras.

Ela cerrou os olhos. Mil sombras passaram por suas


feições. Um horror de memórias. Um pesadelo que foi seu
passado.

Eu vi tudo isso, lá, desfigurando aquele rosto lindo.

A raiva que eu estava lutando, surgiu.

Minhas mãos se fecharam em punhos, enquanto assisti


lágrimas escorrerem livremente nos cantos dos olhos, elas
escorreram em seu cabelo.

Shea assentiu levemente, como se pudesse bloquear o


que nunca deveria ter lembrado.

Ou talvez estivesse apenas passando-as para mim.


Porque minha mente fervia com elas. Com a ideia de
Jennings ferir a minha menina.

Eu vi isso.
Testemunhei.

A malícia em seus olhos.

A ganância alimentada por algo vil.

Uma fúria desconhecida me atingiu.

Eu o mataria. Se ele machucasse uma das duas


novamente, eu o mataria. Desta vez não haveria ninguém lá
para me parar.

Lentamente, Shea abriu os olhos para mim, me olhando


enquanto eu olhava para ela. Senti como se estivesse
perdendo a razão, caindo aos pedaços, indeciso entre sair da
cama e rastrear Jennings ou forçar-me a ficar aqui com ela
envolta em meus braços.

Sabia que se sucumbisse à primeira, seria o fim para


mim e Shea. Eu a perderia para sempre, porque não havia
dinheiro suficiente no mundo que os impediria de me trancar
e jogar a maldita chave fora.

Cada parte de mim rejeitou essa ideia, enquanto todas


essas mesmas peças sabiam que qualquer sacrifício valeria a
pena para mantê-las seguras.

Shea bateu as pontas dos dedos sobre a cicatriz


profunda em minhas costelas.

Outra batalha que lutei por minha família.

Uma chicotada que fiquei feliz em levar.

Com o seu toque, me senti como se ela estivesse


amarrando-se a mim. Dizendo-me para ficar, ela via através
de mim direto no lugar onde a verdade de quem eu realmente
era reinava. Ela sabia o que estaria disposto a fazer.

Do que eu era capaz.

Ela estava escondendo algo de mim não porque queria


escondê-lo. Mas porque queria me proteger.

Olhos atentos procuraram os meus com esperança e


temor, conforme eles trilhavam até onde a memória de Julian
estava sempre gravada.

— Nós somos muito parecidos, Sebastian. Você


simplesmente usa todas as suas cicatrizes aqui. No lado de
fora.

Eu tremi, completamente transparente sob o peso do


seu olhar.

Ela puxou minha mão e colocou a palma sobre o ritmo


acelerado do seu coração.

— Enquanto eu mantenho todas as minhas aqui.

Meu espírito destroçou, e afundei ainda mais, tirando


um fio de cabelo daquela boca suave e macia.

— Um dia preciso que você me mostre isso. Tudo isso.

— Eu sei. — Ela respirou.

Lentamente, ela rolou de lado, e enrolei-me em torno de


suas costas. Shea aninhou a cabeça na dobra do meu ombro
e passei meus os em torno dela. Cobrindo-a. Protegendo-a.

— Segure-se em mim. — Eu exigi.

— Não me deixe ir.


— Nunca.

Silêncio entre nós, a escuridão viva com nossa


turbulência envolvida.

Não dormiríamos essa noite.

Quando Shea começou a cantar baixinho, agarrei-a


contra mim.

Esforcei-me para distinguir as palavras que passaram


languidamente entre seus lábios, umas cócegas aos meus
ouvidos, algo como céu e mel e todas as coisas doces.

Tão doce.

Meu coração apertou, enquanto eu nadava no poder das


palavras.

Ela estava cantando Lullaby, de The Dixie Chicks.

Eu só a conhecia porque minha mãe amava ouvir isso.


Ela ouvia constantemente antes de tudo ir à merda, antes
que a minha família perdesse tudo.

Enquanto segurava Shea e ouvi-a derramar as palavras


no escuro da noite, como se estivesse lamentando, ou
louvando, tive uma intensa vontade de chorar.

Em vez disso, enterrei esse sentimento com a minha


raiva, valeria a pena, acrescentar isso à dívida que Martin
Jennings teria que pagar.

Mas Shea?

Shea chorou.
Chorou diferente de tudo que ouvi desde que minha mãe
chorou, quando o mar roubou Julian.

Dor de uma mãe.

Um tormento pelo qual eu orava nunca ouvir


novamente.

E eu somente a segurei. Segurei-a e fiz um milhão de


promessas silenciosas que nunca a deixaria ir.

— Canto isso para Kallie todas as noites. Não quero


parar nunca. — Finalmente conseguiu sussurrar antes de
voltar ao silêncio.

Longos momentos passaram com apenas o som das


nossas respirações, antes de eu dar um beijo suave no topo
de sua cabeça.

— Conte-me uma história, Shea de Savannah.

Ela soltou uma risada molhada, e puxou meus braços


apertados ao redor dela.

— Que tipo de história você quer ouvir, Sebastian da


Califórnia?

— Quero saber quem lhe ensinou a cantar.


Calor penetrou na Igreja pequena. Estava lotada de
pessoas e Shea estava toda arrumada, usando um vestido
branco de babados e sapatos de couro branco. Uma fita
combinando, amarrada em seu cabelo encaracolado.
Gotinhas de suor aparecendo na base do pescoço.

Mas Shea não se importava.

Sua avó, apertou sua mão, no banco da igreja, onde ela


estava ao seu lado e Shea começou a cantar com o coro.

Amazing Grace, (Graça maravilhosa)


How sweet the sound, (Como é doce o som)
That saved a wretch like me. (Que salvou um miserável como eu)

Sua avó lhe ensinou como tocar essa música no piano,


assim como todas as palavras dessa música, que se tornou a
canção delas. De alguma forma, ali de pé na igreja, cantando
ao lado da sua avó, Shea sentia que ela estava fazendo algo
muito, muito importante.

I was once lost, but now am found (Eu estava perdido, mas agora fui
encontrado)
Was blind, (Era cego)
But now I see. (Mas agora eu vejo)

Ela se sentia orgulhosa, enquanto deixava as palavras


fluírem.

Deixando as palavras flutuarem, alto e sublime.

Assim como sua avó ensinou a fazer.

Sua avó estava sempre dizendo que ela possuía a voz


mais bonita que já ouviu. Assim como um pássaro pela
manhã, sua avó dizia. Disse a Shea que Deus deu isso a ela
como um presente e nada lhe agradava mais do que ouvi-la
usando-a, para louvar o Seu nome.

Então, Shea cantava o seu louvor, agradecendo a Deus


por estar lá, porque os lugares favoritos de Shea eram onde
poderia estar com sua avó.

Depois que elas terminaram de cantar, o pastor fez uma


oração antes de terminar o serviço.

Shea achava que sua avó conhecia cada pessoa que


vivia em Savannah, porque inúmeras delas paravam para
dizer seus ―Até logo‖, enquanto elas saíam da igreja cheia.
— Olhe para você, menina preciosa — disse uma amiga
da sua avó. — Eu podia ouvir você cantando lá do outro lado
do santuário. Assim como um anjo.

Shea sentiu suas bochechas ficarem vermelha. Ela


balançou suavemente, enquanto segurava a mão suada da
avó. Ela sussurrou:

— Obrigada, senhora. — Porque sua avó lhe ensinou a


fazer isso também.

— É melhor levá-la para casa. — Disse a avó,


dispensando o pequeno grupo que estava ao redor delas. Ela
ajudou Shea a entrar no banco traseiro de couro desgastado
do seu carro, deu um beijo em sua testa, ajudou a colocar o
cinto de segurança e em seguida, sorriu para ela.

As rugas cruzando em seu rosto, se aprofundavam mais


e mais, pelo tamanho do sorriso e Shea sorriu de volta.

Um mapa.

Todas essas linhas no rosto de Kalliana Whitmore


constituía o mapa da vida que sua avó viveu.

Pelo menos, era o que ela dizia.

Shea não sabia ao certo o que isso significava, mas às


vezes, quando traçava as linhas em seu rosto, antes dela
adormecer à noite, quando passava a noite na casa da avó,
ela lhe contava as melhores histórias sobre como conseguiu
essas linhas. Essas histórias faziam ela rir e sorrir. Às vezes,
elas deixavam-na triste também, mas não importa o que,
eram suas histórias favoritas.
Ela prometeu que Shea, teria um dia suas próprias
histórias, que iriam se alinhar em seu próprio rosto. Essa era
a melhor parte.

Shea não podia esperar.

Sua avó sentou no banco do motorista e ligou o carro.

— Leve-me para sua casa, vovó. — Ela implorou com


um sorriso cheio de dentes. A casa da avó era seu lugar
favorito no mundo inteiro.

— Hoje não, doce menina. Tenho que levá-la para casa.


Sua mãe tem grandes planos para você esta semana.

Shea franziu a testa, mas não disse nada enquanto sua


avó passava por toda cidade e estacionava em frente à
pequena casa azul, onde Shea vivia com sua mãe e seu pai.

Por alguma razão, no entanto, o pai dela não esteve


muito presente, recentemente.

Sua avó desligou o carro e saiu, abriu a porta de trás e


Shea pulou para fora do carro. Shea foi até a calçada e subiu
os dois degraus de cimento, esperando que sua mãe estivesse
feliz, hoje.

Na esperança de vê-la sorrir.

Sua mãe era tão bonita. Shea ia ser como ela um dia.

Shea irrompeu pela porta da frente.

— Estou em casa! — Ela gritou.


Sua avó surgiu atrás dela. Ela entregou-lhe a pequena
mochila que Shea levou quando foi passar a noite em sua
casa.

— Vá em frente e coloque suas coisas no seu quarto.

— Ok. — Shea sorriu e correu pelo corredor, jogou a


bolsa no chão do seu quarto e voou de volta.

Embora, abrandasse os passos, quando ouviu as vozes


na cozinha.

Aquelas vozes estavam irritadas e baixas.

Shea se moveu silenciosamente para o outro lado da


sala e apertou as costas contra a parede, perto da cozinha,
perguntando por que sua avó e sua mãe estavam tão bravas.

— Você não pode colocar seus sonhos sobre os ombros


da sua filha. Ela é muito jovem para você estar empurrando-a
para toda essa confusão.

Sua mãe bufou e Shea podia ouvir as coisas batendo ao


redor da cozinha, como se sua mãe estivesse com raiva e só
precisava jogar alguma coisa.

— Ela foi a pessoa que arruinou esses sonhos.

— Você está culpando uma criança por que você não


venceu na vida? Isso tem que ser a coisa mais egoísta que já
saiu da sua boca, Chloe Lynn. Não foi culpa dela. Foi sua que
ficou grávida fazendo tudo o que podia para conseguir uma
oportunidade.

A voz da sua mãe se aprofundou muito. Com raiva.


Raiva. Muita raiva.
— Não se atreva. — Sua mãe, fervia.

Shea apertou as mãos nos ouvidos e desejou que ela


pudesse abafar aquilo.

Mas suas palavras ainda estavam lá.

— Então, não se atreva a tratar aquela menina como


qualquer coisa menos, do que o presente que ela é. Talvez
Deus a tenha colocado com você para mantê-la longe de
continuar no caminho destrutivo em que você estava
seguindo por tantos anos. Talvez seja hora de você prestar
atenção.

— Não sou mais uma menina e definitivamente não


preciso ouvir mais a sua ladainha diária. Ela é minha filha e
vou fazer com ela o que bem quiser.

Um momento de silêncio. Quando de repente, a barriga


de Shea se preencheu com algo azedo.

Então a voz de sua avó tornou-se baixa.

— Fazer com ela o que quiser? Ela não é uma posse.

Sua mãe riu, mas não foi um som bonito.

— Sério? Ela pertence a mim, então eu diria que isso


praticamente, resume tudo.

Shea se pressionou mais contra a parede, desejando que


pudesse desaparecer. Ela sempre queria deixar sua mãe
orgulhosa, mas ultimamente, ela sempre parecia estar com
muita raiva.

Sua mãe disse que era culpa do pai de Shea.


Shea respirou fundo e fechou os olhos bem apertado
quando passos rangeram pelo chão da cozinha. Abriu quando
ela não podia fechá-los por mais tempo, porque sentiu
alguém próximo e ela encontrou sua avó, ajoelhada na frente
dela.

Sua avó parecia triste e ela inclinou a cabeça para o


lado, com a voz suave.

— Eu quero que você se lembre de algo, doce menina.


Você canta quando sentir, aqui. — Sua avó colocou a mão
sobre o coração de Shea.

— Quando sentir vontade e fizer você bem e feliz. Nunca,


nunca mesmo, faça isso por qualquer outra razão.

Então ela se levantou e saiu.


No térreo, a porta da frente fez um estrondo. Isso me
sacudiu de onde estive, na periferia do meu sono. Nunca
realmente acordado. Pairando em algum lugar entre a
realidade e um sonho. Um sonho, onde eu estava sendo
assombrado por uma menina com uma juba de cabelos loiro
rebelde e a voz de um anjo.

Não poderia chegar a um acordo, se era Kallie


chamando por mim para que fosse salvá-la ou se a menina
me perseguindo nesses sonhos, era a mulher que agora
estava segura nos meus braços.

Ainda enrolado ao redor de Shea, pisquei e tentei me


orientar pela luz quieta da manhã. Ontem à noite, nenhum
de nós conseguiu dormir, então joguei algumas coisas de
Shea em uma mochila e a trouxe aqui, para a casa de Tybee
Island. Disse a ela que Anthony estaria aqui e que seria bom
para nós estarmos aqui também na parte da manhã para que
pudéssemos ir direto trabalhar em como conseguir Kallie de
volta.

Mas, de verdade, sabia que Shea não poderia estar na


casa da sua avó, sem Kallie nela. As paredes doíam com a
sua ausência.

Inspirando, tentei limpar a nuvem na minha cabeça e a


dor agarrada ao meu peito.

Tudo dentro de mim exigia que eu as defendesse.

Cuidasse delas.

Já era tempo.

Com cuidado para não acorda-la, me desenrolei dela e


saí da cama. Puxei as cobertas sobre seus ombros.

Vesti a calça jeans que deixei largada no chão. Na ponta


dos pés, mais silenciosamente que pude, saí do quarto,
fechando a porta suavemente atrás de mim.

Raios vermelhos e laranjas iluminavam o horizonte de


onde o sol subia pela linha do oceano, o dia se esticando,
emergindo através da parede das janelas que ficavam na
parte de trás da casa de praia de Anthony.

E eu sabia que foi a chegada de Anthony que me


acordou do meu sono superficial.

Caminhei lentamente para o andar de baixo, tentando


esfregar um pouco, o cansaço dos meus olhos. Quando
cheguei lá, passei pela sala e fui para a cozinha americana.
Em um terno, Anthony ficou de costas para o balcão da
cozinha. Ele tateou os botões da máquina de café, como se
sua vida dependesse da bebida.

Inspirando profundamente, pressionei minhas mãos no


topo da ilha, que nos separava.

Não fazia ideia do que esperar do meu agente e amigo.

Sem dúvida, essa merda não era novidade.

Arrastar minha bunda para fora de todas as bagunças


em que eu me metia.

Pegando voos por todo o país, no meio da noite.

Ainda assim, ele fez isso uma e outra vez.

Quando sentiu minha presença, Anthony olhou por


cima do ombro.

— Baz.

Parecia cansado. Quase tão cansado como a expressão


em seu rosto.

Eu forcei um sorriso, com a necessidade de quebrar um


pouco da tensão que enchia o ar.

— Você parece uma merda, cara.

Soltando um sorriso leve, ele se virou para inclinar-se


contra o balcão.

— E eu me pergunto por que será isso? — Ele disse com


todos os tipos de incredulidade.

Com as palmas das mãos ainda pressionadas contra o


balcão, dei-lhe um encolher de ombros.
— Não sei. Poderia ter algo a ver com o fato de um dos
seus clientes idiotas, mais uma vez, se meter profundamente
em algo que você teve que fazer as malas e voar para o outro
lado do mundo só para desenterrá-lo disso.

Embora, talvez desta vez...

Talvez desta vez, meter-me profundamente nisso, era


exatamente onde eu deveria estar.

Uma pequena risada retumbou dele.

— Poderia ter algo a ver com isso.

Anthony suspirou, sabendo que era hora de jogar para


fora aquela leveza entre nós, porque continuar com as
brincadeiras não iria trazer Kallie de volta. Ele se concentrou
em derramar uma tonelada de açúcar no café dele e misturá-
lo com creme.

— Obrigado por estar aqui. — Eu murmurei


honestamente.

— É o meu trabalho — Disse ele, como se não houvesse


um monte de outras opções, mas então ele me olhou sério,
enquanto tomou um gole de café, seu tom de voz mudando.
— E quero estar aqui. Você sabe que eu não vou deixá-lo
sozinho no meio disso.

— Eu sei. E você sabe o quanto aprecio isso, não é? Não


esperaria nada diferente disso de você.

No entanto, ele sempre estava disposto.

Mais como um amigo.


— É claro que sei disso. — Ele solta uma respiração
tensa e põe o seu café de lado. — Isso é uma bagunça, Baz.

— Você acha que não sei disso? — Soou mais amargo do


que pretendia.

Mas porra, isso era um desastre.

Como se ele estivesse procurando uma resposta ou


talvez se contendo, ele olhou para o teto, antes de deixar cair
sua atenção de volta para mim, com o olhar penetrante.

— Você tem que ser honesto comigo, Baz. Você sabia


que Jennings era o pai de Kallie? A imprensa estará em cima
dessa merda, pela manhã.

Apenas o pensamento de Kallie pertencer a esse pedaço


de merda acelerava o meu pulso.

— Não. Não até serviço de proteção à criança aparecer e


entregá-la a ele, na noite passada.

Olhando para seus pés, ele balançou a cabeça,


enquanto seu tom era cheio de descrença.

— Então, você está me dizendo que tem saído com esta


menina, o que... perto de dois meses... e nunca pensou em
perguntar-lhe quem era pai do bebê?

Ele se manteve falando enquanto andava, como se cada


passo fosse ajudar a tornar as peças desta situação, se
encaixar.

— Em um minuto, você me diz que você está de volta à


Califórnia permanentemente porque não consegue ficar em
Savannah nem por um segundo a mais... no qual, você estava
agindo como um urso do caralho, porque estava miserável. A
próxima coisa que sei, é que você está juntando a banda de
novo, para voltar aqui, por causa de uma garota sobre a qual
eu não sei de nada.

Ele parou e me prendeu com seu olhar.

— O que está tudo bem, até aí. Já deixei claro que


queria isso para você. Mas, eu nem sabia que havia uma
criança envolvida até que meu telefone começou a tocar às
4:00 da manhã de ontem, sobre as fotos na praia, que já
chegaram aos tabloides. E então a noite passada? — As
palavras diminuíram.

Ele bufou em frustração.

— Toda vez que me viro, sou pego cegamente por outra


coisa que envolve você, Baz. Eu não posso continuar assim.
Como vou proteger você e a essa banda se eu não tenho ideia
do que está acontecendo em primeiro lugar?

Não havia como perder o limite em suas palavras.

Anthony não sabia quase nada a respeito de Shea. Acho


que não era uma surpresa, considerando que Shea e eu
estávamos finalmente quebrando as paredes que tínhamos
que nos mantinha separados.

Nos expondo.

Mesmo que Shea estivesse certa.

Sabíamos o que realmente importava.


Engoli em seco. Sabia como isso ia soar. Anthony não
entendia Shea da maneira que eu entendia. E sabia que isso
ia soar muito ruim. Tive que empurrar as palavras para fora.

— Ela me disse que o pai de Kallie estava morto.

Anthony piscou para mim como quem dizia: você tem


que estar brincando comigo.

Eu inalei, fazendo o melhor para não ficar irritado com


ele, porque nenhuma parte nessa maldita situação, era culpa
dele.

— Olha... as coisas foram complicadas entre Shea e eu.


Nenhum de nós estava procurando começar alguma coisa.

Fiz um gesto entre o teto e eu.

— Nós nunca esperávamos isso e nós dois fomos pelo


caminho errado, pensando que as coisas só iam ser
temporárias, por isso, não esperávamos entrar em toda essa
merda, complicando nossas vidas.

Nós dois estávamos desesperados para sentir algo bom.

Tudo o que pensei, foi que queria essa menina linda,


para que me fizesse esquecer... apenas por pouco tempo.

Mal sabíamos que nossas vidas estavam se preparando


para serem destruídas e refeitas.

— Ela e eu temos guardado segredos suficientes, para


afundar um navio de tão pesados. Isso caiu sobre nós. Ela só
descobriu quem eu era realmente na noite antes de eu voltar
para a Califórnia, uma semana antes de...

Todos nós sabemos como isso terminou.


Quando me lembrei do golpe que recebi ontem à noite,
minha garganta ficou apertada.

— Foi só noite passada que descobri que ela era Delaney


Rhoads.

Minha testa franziu com toda a contenção que levei para


admitir isso em voz alta.

— Descobri que Jennings era o pai de Kallie no mesmo


maldito segundo.

— Jesus. — Ele falou sob seu fôlego, esfregando o dedo


indicador sobre seu lábio superior.

— Você não pode colocar qualquer culpa em Shea por


isso, Anthony. Ela fez isso porque estava protegendo sua
filhinha. Tentando sobreviver e ter uma vida normal. Eu
prometo a você, não foi com nenhuma intenção maliciosa por
trás disso.

Perguntas ficaram presas no silêncio.

Outro choque de realização bateu em minha cabeça e


finalmente murmurei.

— Tudo isso não pode ser uma coincidência.

Com um suspiro pesado, ele passa a mão nervosa pelo


cabelo.

— Não, Baz, você está certo. Não é a porra de uma


coincidência.

Meu estômago se agitou com náuseas e cerrei os punhos


no balcão.
Esperando.

Sentindo a necessidade chegar, de rasgar algo ou


alguém ao meio.

Ele olhou-me direto no rosto.

— Eu não fazia ideia de quem era a sua menina, Baz.


Mas ontem de manhã quando chegaram as fotos, não
conseguia afastar a sensação de que ela parecia familiar.
Mais ou menos na metade do dia, finalmente me dei conta de
que ela era Delaney Rhoads. Eu estava nervoso, me
perguntando se ela estava usando você... te enrolando, como
uma maneira de voltar aos negócios, perguntando-me como
diabos eu ia dar essa notícia para você, porque sabia, como
você estava louco por ela.

— O quê? — Eu agarrei o meu cabelo. — Porra... não,


Anthony. Não é nada disso. Ela não quer que ninguém saiba
quem ela é.

Alívio surgiu em suas feições, mas suas palavras


estavam cheias de especulações.

— Tem certeza que você realmente conhece essa garota?


Você realmente confia nela?

A raiva aumentou com a insinuação, mas reprimi isso.


Anthony estava apenas cuidando da banda. Cuidando de
mim. Eu sabia muito bem disso. Assim como eu conhecia
Shea, também.

— Sim. — Eu disse sem um pingo de hesitação.

Anthony mordeu o lábio.


— Diga. — Eu o conhecia o suficiente para saber
quando ele estava se segurando.

Lamento irradiava dele quando começou a falar.

— A primeira vez que me deparei com Charlie, anos


atrás, quando Angie e eu compramos esta casa. Charlie era
um cara legal, mais eu ainda estava à procura de clientes na
época, então transformei em um hábito ir sempre a lugares
onde sabia que haveria uma banda nova tocando.

Claramente desconfortável, ele limpou a garganta,


enviando uma rodada de agitação através de mim.

— Aquela mulher... ela estava sempre por lá, com as


bandas. Linda, mas exalava uma vibe de quem estava
procurando alguém em quem afundar suas garras. No
começo eu achava que ela era algum tipo de groupie. Você
sabe o tipo, desesperada por qualquer tipo de atenção,
qualquer tipo de fama, mesmo que isso significasse que ela
estivesse recebendo dessas pequenas bandas, desconhecidas,
tocando por lá. Acho que foi provavelmente a terceira vez que
a vi, quando Charlie finalmente me apresentou como sua
irmã.

Merda.

Eu esfreguei a mão em minha boca como se pudesse


tirar o gosto amargo.

A mãe de Shea.

Alguém sobre a qual eu não sabia absolutamente nada.


Shea nunca falou sobre ela. O mistério em torno dela
era outro segredo.

Tudo que sabia eram as sugestões e insinuações que


Shea aludiu na noite passada e esta história não fez nada
para acabar com os lampejos de ódio que inflamavam sobre
essa mulher, que eu nunca sequer conheci.

Anthony continuou:

— Não parecia ter muito amor entre ela e Charlie, mas


ainda assim, ela e eu conversamos durante as próximas vezes
em que me encontrei com ela, mesmo que eu permanecesse
desconfiado. Não queria dar-lhe a impressão errada, porque
eu definitivamente não estava à procura de alguém para trair
a minha Angie.

Ele hesitou, então balançou a cabeça enquanto abaixou


a voz.

— Ela não estava à procura de sexo, Baz. Estava


procurando uma maneira que sua filha tivesse uma
oportunidade. As primeiras vezes que falou sobre sua filha,
eu a levei no papo, enrolando. Conversei um pouco sobre
como funcionava os negócios. Mas não pensei muito sobre
isso. Uma noite, ela me convenceu a ouvir uma demo. A voz
da menina na gravação era... inacreditável. Não havia outra
maneira de descrevê-la. Eu agarraria essa oportunidade num
piscar de olhos, mas Chloe já estava agindo como se fosse
sua agente.

— Chloe? — Perguntei.
— A irmã de Charlie... A mãe de Delaney Rhoads. A mãe
de Shea. — Ele emendou um pouco mais silencioso, como se
travasse sobre o quão pouco eu realmente sabia sobre Shea.

Engoli a risada hostil que ameaçava sair.

Maravilha.

Eles estavam na base do primeiro nome

Ele deu de ombros, embora estivesse atado com


remorso.

— Eu pensei, no que poderia essa merda ser prejudicial,


afinal? Nunca quis ser um desses caras que só faziam coisas
para beneficiar a si mesmo, então, mandei ela para Jennings.
Isso foi logo quando comecei a trabalhar com ele. Bem antes
que soubesse o tipo de lixo que ele era.

Seu suspiro foi pesado, com implicação.

— Isso foi apenas um ano antes de enviar Jennings ao


bar, para verificar você e os caras.

Com as duas mãos espalmadas na parte de trás da


minha cabeça, tentei combater a ansiedade clamando através
das minhas entranhas.

Me comendo vivo.

Deus.

Anthony di Pietro, meu agente, mas mais do que isso,


um amigo, um cara que eu considerava um membro
honorário da minha família fodida, era o elo disso.
Claro, eu sabia que foi Anthony quem enviou Jennings
para verificar a Sunder naquela noite em que estávamos
tocando no Tennessee. Isso não era segredo. Quantas vezes
Anthony vocalizou seu pesar sobre isso? Querendo saber se
teríamos estado melhores, se nunca tivesse enviado Jennings
em nossa direção.

Mas nenhum de nós poderia prever os problemas que


ele traria.

— A palavra que espalhou foi que Delaney Rhoads não


poderia lidar com o estrelato, então ela colocou o rabo entre
as pernas e correu de volta para casa. Claro, havia rumores
que circulam sobre um caso entre Jennings e a estrela
emergente, mas aprendemos rápido, nesta indústria, a
ignorar tudo isso a menos que seja algo que afete um de
nossos clientes diretamente. A maioria dessas histórias era
tudo besteira, de qualquer maneira. Você conhece isso bem o
suficiente, Baz. Eu não sabia que Delaney Rhoads realmente
teve uma criança. Ela desapareceu da face da terra.
Esquecida em dias. Nunca pensei em perguntar a Jennings
sobre o que aconteceu com ela. Não estava representando ela.

Ele balançou sua cabeça.

— Porra, nunca sequer a conheci. Inicialmente, fiz isso


pensando que era um favor a Charlie. Em todas as vezes em
que voltei ao longo dos anos, Charlie nunca mencionou que
sua sobrinha se mudou para lá ou que ela estava
trabalhando em seu bar.

Ele encolheu os ombros.


— Nunca passou pela minha mente.

Claro que Charlie nunca a mencionou.

Segredos.

Segredos destinam-se a proteger e defender, mas ali


estavam eles, ameaçando arruinar tudo.

— Sinto muito, Baz. Quando sugeri a você que fosse ao


Charlie‘s, nunca imaginei que algo que iniciei anos atrás,
poderia afetá-lo agora.

Sim, eu estava chateado. Algum tipo de dor


desconhecida machucava-me, quando vim entender como
essa teia de aranha foi conectada.

Shea e eu involuntariamente estávamos amarrados ao


bastardo que queria destruir nossas vidas.

Mas como eu poderia me arrepender?

Porque isso significava que nunca perderia o controle


com Shea.

E nunca perder o controle com ela, simplesmente não


era uma opção que eu poderia aceitar.

Eu pressionei as palmas das mãos nos olhos.

— Que diabos vamos fazer agora? Ele veio aqui por


minha causa, Anthony. Ele me olhou diretamente nos olhos,
quando tomou Kallie e me lembrou de que eu iria lamentar
por ter mexido com ele.

Uma onda de impotência tomou conta de mim e isso não


era um sentimento que eu recebia amavelmente. Como
diabos você corrige alguma coisa, quando você não fazia ideia
do que aconteceu em primeiro lugar?

Anthony deu um aceno rápido.

— No segundo em que você mencionou seu nome,


quando me ligou, eu não tinha dúvidas que o idiota possuía
segundas intenções.

Ele sempre tinha.

Mas eu sabia que era mais profundo do que isso. Neste


labirinto confuso, existia mais do que apenas eu. Ele
machucou ela e, claramente estava tentando machucá-la
novamente. Mas por quê? Para se vingar de mim? Isso é o
que não fazia sentido nenhum, porra.

— Shea está aterrorizada por Kallie. — As palavras


saíram rachadas, do meu próprio medo. Porque, sabe qual
era a verdade? Eu também estava. — Nós não podemos
deixá-la com ele.

Simpatia encheu seus olhos.

— Eu entendo isso, Baz. Você sabe que me jogaria em


uma bomba pelos meus próprios filhos. Não, eu não conheço
Shea, mas só posso imaginar o inferno que ela está passando
agora. Mas a única vantagem em tudo isso é, que não acho
que Jennings é tolo o suficiente para machucar uma menina
que foi recentemente colocada em seus cuidados. Ele é
sempre meticuloso. Cobre seu traseiro e deixa todo mundo
levar a culpa por ele.

Pressionei minhas mãos no balcão e soltei um suspiro.


— Sim... eu pensei nisso também. Ele é desonesto, mas
não é bobo.

Seu tom ficou cauteloso.

— Você tem que se perguntar até que ponto você está


disposto a se envolver nisso. Toda vez que se virar, esta
confusão ficará mais e mais profunda.

Eu dei uma sacudida feroz da minha cabeça, cortando


essa merda. Sabia que suas intenções eram boas, que elas
sempre eram boas. Anthony cuidava de nós, protegendo os
rapazes e a mim.

Mas esta era uma verdade que ele precisava entender.

— Eu daria qualquer coisa por elas. Tudo o que tenho.


O último centavo em meu nome. Minha liberdade. Minha
vida, se isso é o que for preciso.

O silêncio pairou pesado no ar, enquanto olhava através


de mim. Procurou sinceridade. Em seguida, um sorriso
satisfeito puxou sua boca.

— Então é ela, cara.

Essa afirmação ficou marcada.

Tomando conta de mim.

Enchendo-me completamente.

Minha voz estava rouca.

— Sim. É ela.

Ele balançou a cabeça, vendo que o jogo mudou.


— Tudo bem, então. Você fará uma declaração. Os
paparazzi estarão perseguindo você com isso. É melhor
esclarecer logo agora e deixá-los saber exatamente onde você
está.

— Eu estou com Shea.

Um sorriso apareceu de um lado da boca.

— Acho que você já deixou isso bem claro, meu amigo.

Comecei a rir, quando todo o ar foi sugado do local. Uma


luz pesada, macia e ofuscante.

Minha coluna endureceu com a consciência, de que a


menina roubou um pouco mais da minha respiração.

Encheu-me com a dela.

Lentamente, me virei para olhar por cima do meu


ombro.

E perto da parede, Shea estava olhando para nós.

Olhos cheios de medo, esperança e amor.

Linda para caralho, esta menina mais uma vez ameaçou


me deixar de joelhos.

Inclinei minha cabeça para o lado e acenei para frente.

— Venha aqui, baby.

Cautelosamente, ela olhou para Anthony e me


perguntava o quanto escutou da nossa conversa, antes dela
se arrastar para a frente e se aninhar na segurança de meus
braços. Enrolei meu braço em torno das suas costas e a
puxei o mais perto que eu podia.
A atenção de Anthony saltou entre nós.

— Anthony, esta é a minha menina, Shea Bentley.

Inclinei-me e beijei sua testa, sussurrando na doçura de


sua pele.

— Baby, este é Anthony Di Pietro. Meu agente e amigo.


Ele vai nos ajudar a consegui Kallie de volta.

Uma expressão de compreensão atravessou seu rosto.


Sem julgamentos. Como se ele pudesse ver todo o tormento,
nadando nos olhos de Shea.

Moveu-se ao redor da ilha e estendeu a mão, enquanto


ele se aproximava.

— Shea Bentley. Se não é uma honra conhecer,


finalmente, a mulher que colocou esse cara de joelhos.

Ele me lançou um olhar astuto, em seguida, sorriu


suavemente para ela.

Vermelhidão aqueceu as bochechas de Shea, Anthony


facilmente a deixou à vontade quando ele lhe envolveu a mão.

— É muito bom conhecê-lo, Anthony — Shea disse, toda


genuína e real, retornando seu aperto de mão. — Obrigada
por tudo que fez para nos ajudar. Você não pode imaginar o
que significa para mim.

Tudo nele se aqueceu, como se talvez no curso de sua


breve interação, Anthony testemunhou isso também. Sua
beleza e sua vida. Algo puro em sua luz, sobre este mundo
perverso.

— Claro. Eu não faria de nenhuma outra maneira.


— Como você está nesta manhã? — Murmurei.

Um sorriso fraco levantou apenas um lado, enquanto ela


olhou para mim, sua voz rouca das muitas lágrimas que
derramou na noite passada.

— Assim como pode ser esperado. Estou pronta para


começar a fazer tudo o que for preciso para recuperá-la.

Anthony assentiu tranquilizador.

— Temos uma reunião com o advogado às nove. Kenny


me garantiu que ele é o melhor advogado de família em
Savannah. Nós vamos começar com isso primeiro e não
vamos parar até que Kallie esteja de volta, na segurança dos
seus braços.

— Isso mesmo, não vamos parar.

Shea e eu viramos a cabeça para encontrar a fonte da


voz que vinha de trás de nós.

Ash.

Ele lançou um sorriso de forma arrogante para Shea, a


cara com todas as covinhas e o cabelo loiro despenteado.

Lyrik e Zee apertados nas escadas atrás dele. Lyrik,


arrastando uma camisa sobre a confusão de preto na cabeça,
Zee, observando com aquela preocupação única de sempre,
onde quer que ele fosse.

Não deixei passar que meu irmãozinho também descia


as escadas. Atrasado. Mais lento do que o resto. Usando
aquela mesma jaqueta de moletom maldita, como se ele
pudesse fingir que poderia se esconder.
Mesmo assim, ele estava aqui. Presente.

Um parceiro, da minha família fodida.

Os olhos de Anthony se arregalaram de surpresa.

— Uh, vocês percebem que não é nem mesmo sete da


manhã? Não acho que vi qualquer um de vocês, mesmo abrir
um olho, antes do meio-dia, em todos os anos que os
conheço.

Ash apenas sorriu.

— Sem chance de que vamos dormir muito no dia em


que temos negócios a cuidar. E por negócios, quero dizer
acabar com esse filho da puta do Jennings. Estávamos todos
lá e sei exatamente o que aconteceu naquele dia. Não
estamos prestes a tolerar esse tipo de besteira.

Zee veio para frente e apoiou os antebraços na ilha. Ele


apertou as mãos, enquanto olhava para nós.

— Sim, cara. Você sabe, tudo o que pudermos fazer...


tudo o que pudermos dizer... nós estaremos lá. Sabemos a
quem Kallie pertence.

Shea inspirou de forma aguda, como se estivesse


ganhando força a partir desses encorajamentos, cada palavra
construía uma armadura de aço de coragem nela.

Lyrik ergueu o queixo em direção a Ash e Zee, enquanto


se arrastava pela cozinha para pegar uma xícara de café.

— Como disseram, o que você precisar será feito.

Silenciosamente, Austin caminhou até nós também,


como o resto. Ele parecia agitado, o que não era anormal para
ele. Mas ainda assim, me lançou um olhar, como se estivesse
me dizendo que era uma coisa boa que eu finalmente
recuperei meu bom senso.

Se afastar de Shea, nunca foi uma escolha nobre.

Não quando essa menina precisava de mim.

Ash enganchou seu braço em volta do pescoço de Shea e


deu um beijo rápido na sua cabeça.

— Veja. Você não tem que se preocupar com nada,


querida. Nós resolveremos isso.

— Obrigada. — Disse ela em um suspiro entrecortado.

— Cuidado homem — Eu avisei, deixando uma


risadinha sair. — É a minha garota que você está beijando.

Ash sorriu.

— O que? Os bons amigos compartilham e tudo isso.

Dei a volta em Shea e dei um soco em seu ombro.

— Não nesta vida, idiota.

Um riso escapou de Shea, toda autoconsciente e tímida


e todos os tons de perfeição com aqueles olhos expressivos
que me espreitaram, nadando com fé, esperança e beleza.

Minha vida.

Virei-me e segurei seu rosto entre as mãos. Eu


pressionei o beijo mais suave, em sua boca que era mais
suave ainda.

Anthony pigarreou.
— Acho que isso está resolvido, então. — Ele deixou cair
o olhar sobre Shea. — Vamos pegar sua filha de volta.
MARTIN JENNINGS sentou-se no banco das
testemunhas. Seus olhos escuros brilhavam de volta para
mim, sua intenção era controlar o meu olhar quando o
encarei de onde eu estava sentada à mesa ao lado do meu
advogado.

A maneira como ele sempre tentou me controlar.

Sua expressão transmitia todas as ameaças de como ele


me tratava, tudo sob o disfarce de pai preocupado.

— Você é minha, agora.

— Eu sempre consigo o que quero, não importa os meios


para alcançá-lo. Você seria sábia em não se esquecer.

— Eu vou garantir seu silêncio.

Uma onda de medo tremia através do meu espírito, e eu


me mexi na cadeira dura. Dolorosamente, torci meus dedos
como se eles pudessem me dar coragem. Sentia meu
estômago como se estivesse amarrado em mil nós, enquanto
ouvia a falsa sinceridade tecida em seu tom, e uma parte de
mim queria se acovardar e se esconder.

Mas em se tratando de Kallie, eu definitivamente não


iria mudar agora. Faria qualquer coisa, seria mais forte.

E eu tinha Sebastian. Não estava sozinha.

O pensamento me amparando, renovava uma carga de


determinação e coragem.

Martin sentou-se, fazendo um apelo para que fosse


concedida a custódia total de prazo mais longo da minha
menina.

Cada palavra que saia da sua boca só me deixava mais


doente.

Doente com a ideia deste monstro poder mais uma vez


assumir esse controle.

Mas desta vez...

Desta vez me recusei a dar o controle a ele.

— E por que é que apenas agora você está interessado


em obter a custódia da sua filha? — Perguntou o advogado.

Fazendo o papel de advogado do diabo.

Que ironia.

Ainda assim, ele estava fazendo todas as perguntas que


eu queria ouvir as respostas.

Mesmo sabendo que cada resposta era uma mentira.

O advogado, Mr. Carbellero, representou o estado,


embora rapidamente se tornou claro que ele estava sendo
pago por Martin Jennings, pressionando e fazendo uma
pergunta que não era um problema para Martin.

— Eu nunca procurei a custódia antes porque


respeitava os desejos da Senhorita Bentley em afastar os
holofotes da imprensa da nossa filha em sua cidade natal. Foi
uma decisão que sempre lamentei. Quando vi as fotos dos
paramédicos assistindo minha filha na praia, soube que não
tinha outra escolha a não ser intervir.

Ele cravou seus olhos sem alma em mim.

— Especialmente quando descobri que Shea estava


permitindo que minha filha ficasse exposta a uma pessoa tão
perigosa, quanto Sebastian Stone.

Minha filha! Eu queria gritar. Como ele poderia sentar-


se lá e tentar reclamá-la? Depois do que fez? O que eu disse a
Sebastian era verdade. Eu realmente esperava que Martin
houvesse mudado. Que algum tipo de consciência tivesse
crescido dentro do seu coração distorcido.

De onde Sebastian sentou-se atrás de mim, podia sentir


a raiva dele coma insinuação de Martin, a dureza da sua
respiração e da sua contensão.

— E você sabe por experiência própria o quão perigoso


Sebastian Stone pode ser? — Mais propaganda do advogado
de Martin.

— Já estive envolvido nos negócios de Sebastian Stone


há algum tempo. — Martin passou a pintar Sebastian à luz
mais terrível, um viciado propenso à violência. Violência
propagada contra ele.
Assim como eu sei quem Martin é. Um mentiroso. Um
manipulador. Dizendo o que quer que precisava ser dito para
obter o resultado desejado. Para enaltecer-se, enquanto
rebaixava os outros à sua volta.

Usando-os como degraus.

Meu coração balançou com as memórias.

Um sadoquista.

Um destruidor.

Martin fingiu seu papel tão perfeitamente, fornecendo


pormenores sobre a agressão, como se não tivesse incitado a
situação. Ele deu a entender que Sebastian lhe agrediu sem
nenhum motivo. Martin pousou de vítima inocente que sofreu
por causa da raiva de Sebastian.

Sebastian me avisou. Martin foi ao limite. A lei estava do


seu lado. Eles apresentaram as acusações de agressão contra
Sebastian como se fosse um crime brutal, quase tão ruim
quanto o que o levou para a prisão há quatro anos.

Torci mais apertado os meus dedos, e tentava decifrar a


expressão da juíza ao ouvir o depoimento de Martin. Eu sabia
que ela poderia facilmente olhar para Sebastian, com um viés
negativo, julgando pela aparência e suposições.

Fiquei um pouco triste, mas não poderia culpa-la.

Ela não conhecia Sebastian como eu conheço. Ela não o


viu por debaixo de todas as linhas duras e cicatrizes que a
feriram.
Imaginei que ela tivesse uns sessenta anos, e ela usava
os cabelos em coque cinza. Magra e alta. No entanto, ela
transmitia poder e força.

Estoica.

Não facilitando nada.

Deus, primeiramente eu estava grata por ela não ser a


pessoa que emitiu a liminar de emergência.

De trás, quase podia sentir as desculpas de Baz. Quase


podia ouvir as palavras de autoflagelação agitadas em sua
cabeça. Ele provavelmente estava implorando para eu perdoá-
lo. Me pedindo para atender os muitos avisos que me deu,
que sempre me deixou para baixo e em pedaços.

Mas, eu não iria ouvir essas palavras. Especialmente


quando ele que fez isso nesses últimos dois dias.

Dois dias que eu estou sem minha filha.

Dois dias de tormento.

Dois dias de agonia.

Dois dias sem saber onde ela está. Se está com medo ou
se sente segura. Se ela entendeu que eu estava lutando por
ela, ou se simplesmente se perguntou se foi abandonada.

Dois dias que Sebastian me segurou. Prometendo que


iria corrigir isso.

De alguma forma sabia dos seus pensamentos agora. A


energia viajando entre nós estava viva, com a dúvida o
atormentando, se não seria melhor se ele tivesse se afastado.
Mas naqueles dias, enquanto me manteve sã, ele
também me encheu de fé. E senti uma certeza em meu
coração, Kallie virá para casa hoje.

Sebastian estava exatamente onde deveria estar.

Porque de alguma forma eu sabia que ele precisava de


mim tão desesperadamente quanto eu precisava dele. Que o
lugar vazio que ele havia revelado em mim foi criado com o
único propósito dele preenchê-lo.

E eu sabia...

Sabia que havia um lugar correspondente dentro dele.

Quando o advogado de Martin terminou, Nigel, nosso


advogado, recusou-se a fazer perguntas a Martin Jennings.
Ele me disse anteriormente que o nosso trabalho não seria
para provar que Martin não é um pai apropriado. Que isto
viria mais tarde, caso ele procurasse algum tipo de custódia
no futuro.

Em vez disso, nosso trabalho foi apenas para refutar as


imagens, provando como as mentiras que elas eram, e
trazendo Kallie para casa.

Como sua primeira testemunha, Nigel chamado Lyrik.


Lyrik Strode foi até o banco, usando um terno escuro sob
medida, as tatuagens nas mãos e pescoço destacando-se em
forte contraste contra as roupas obviamente caras, tudo dele
era ameaçador e ainda confiante.

Nervos se enrolavam no meu estômago.


Nigel não fez nada mais do que perguntar a ele o que
aconteceu naquele dia, onde aconteceu, o que Sebastian fez,
reunindo seu relato em primeira mão.

— Nós estávamos nos preparando para grelhar alguns


bifes. Fomos jogar na praia durante o dia todo, e Shea e
Sebastian acabaram de voltar de uma caminhada.

Ele levantou, uma sobrancelha.

— Kallie ficou com a gente durante esse tempo,


brincando na areia, enterrando Zee...

Ele fez um gesto com o queixo para Zee que eu sabia


que estava sentado atrás de mim com o resto dos caras.

Com Charlie, Tamar e April. Que foram juntos para nos


apoiar.

Para trazer Kallie para casa.

— Quando Sebastian e Shea voltaram da caminhada. —


Lyrik continuou — Sebastian e seu irmão, Austin,
começaram a jogar bola na praia. Kallie estava toda animada,
pulando e implorando à sua mãe para levá-la para brincar na
água.

Seu tom ficou sério.

— Eu lembro de ter ouvido os dois rindo lá fora,


brincando nas ondas, e depois, de repente, Shea estava
gritando que ela a perdeu de vista. Kallie não iria para a água
sozinha. Nunca. Nenhum de nós teria permitido isso.

— O que aconteceu então? — Perguntou Nigel.


— Sebastian saiu correndo para a água e mergulhou. —
Ele engoliu em seco. — Parecia ter demorado, mas duvido
que tenha sido mais do que trinta segundos até que ele a
pegou. Puxou-a para fora da água, para a praia. Até então, eu
já estava discando para o 911.

— Obrigado. — Foi tudo o que Nigel disse, antes de


voltar ao seu lugar.

O advogado de Martin se aproximou e, basicamente, fez-


lhe as mesmas perguntas, mas algumas insinuações,
tentando lançar dúvidas, para pegá-lo em uma mentira.

A história de Lyrik permaneceu a mesma.

Nigel chamou Ash, então Zee.

Austin não estava aqui.

Nigel garantiu-nos que não precisaríamos dele, e


Sebastian não queria que ele ficasse na mesma sala com
Martin a menos que fosse cem por cento necessário.

Eu não o culpo. Deus sabia, não queria estar perto dele,


também.

Cada um deles deu o seu testemunho, afirmando que fui


para água com Kallie e que de modo algum ela se afastou.

Depois que Nigel terminou, o advogado de Martin iria


abordá-los, fazendo tudo o que podia para desacreditá-los,
mostrando seus laços com a banda.

Um pacto de engano.

Por último, Sebastian foi chamado.


O poder da presença do homem roubou o ar da sala,
enquanto se encaminhava para o banco.

O peso do seu olhar quase me esmagou quando olhou


para mim, cada admissão, apreensão, e desejo ardente em
seus olhos. Um fogo que ardeu livre e em negrito.

Meu coração batia freneticamente, enquanto Sebastian


contava a história por sua perspectiva. O medo que sentiu
era claro. Não teria como negar como ele se importava com a
filha.

A maioria das perguntas feitas por Nigel eram as


mesmas que fez aos outros caras, mas ele se aprofundou um
pouco mais, dando maiores detalhes. Nigel fez seu discurso
de encerramento. Caminhando de volta para a mesa onde eu
estava sentada, quando fez uma pausa e olhou para
Sebastian.

— O que é exatamente Shea Bentley significa para você,


Sr. Stone?

Sebastian olhou diretamente para mim, algo suavizou


na gravidade de seu olhar.

— Ela é a minha garota.

Sua resposta foi simples, embora sua expressão não era.

Ontem, Sebastian fez uma declaração pública. Me


apresentando.

Reclamando Kallie.

Ele negou que a nossa relação tivesse algo a ver com o


fato do pai de Kallie ser o mesmo homem que Sebastian foi
preso por agredir. Ele calmamente afirmou que não houve
nenhuma relação ou conexão, e foi apenas uma coincidência
que nos levou por este caminho.

Estas duas, elas são minhas, por isso, assim que


arrumar essa bagunça, vou trazer Kallie de volta para casa,
aonde ela pertence, que é onde vou estar.

Isso é o que ele lhes disse antes de me puxar e me dar


um beijo suave no topo da cabeça, disse-lhes muito obrigado
pelo seu tempo.

Eles correram, disparando pergunta após pergunta para


nós.

Mas Anthony interveio me encurralando assim como


Sebastian, rapidamente me levou de volta para dentro do
escritório de Nigel, dizendo que não estaria disponível para
responder a quaisquer perguntas e fazendo um apelo para
que eles respeitassem nossa privacidade neste momento
difícil.

Nigel assentiu.

— Uma última pergunta, Sr. Stone. Quanto tempo se


passou desde que você usou substâncias ilegais?

Sebastian passou a mão pelo rosto e soprou uma


respiração pesada de sua boca.

— Estou limpo há quatro anos.

— Obrigado, isso é tudo.

Nigel sentou-se ao meu lado, e o advogado de Martin se


aproximou. Não houve nenhum desconforto de Sebastian, a
maneira como ele lutou para manter-se em cheque, para não
minar o seu testemunho.

Para encará-lo como um homem.

Sem dúvida, apenas estar na mesma sala que Martin


Jennings era quase mais do que poderia suportar. Forçando-
o a sentar-se era como um ataque, nada menos que cruel.

E não se enganem. Foi um ataque.

Mr. Carbellero estamos esperando as perguntas, antes


que ele mudasse de tática e fizesse sua própria agenda.

— Não é verdade que você veio para Savannah sabendo


que Martin Jennings tinha laços aqui?

— Não.

— Não é verdade que você procurou Shea Bentley como


uma maneira de se vingar de Martin Jennings, com quem
você está envolvido em ambos os processos criminais e civis?

— Não. — Naquela época, sua resposta foi mais difícil.

A juíza interrompeu elevando o queixo.

— Sr. Carbellero, por favor, mantenha suas perguntas


pertinentes ao evento ao invés de se ater ao passado. — Ela
advertiu.

Aborrecido, os lábios do advogado se estreitaram, e ele


ofereceu-lhe um aceno de cabeça.

Sebastian mexeu-se na cadeira, a hostilidade clara,


antes que ele fosse dispensado.
Ao lado, Nigel me deu um olhar tranquilizador, a
confiança clara em seus olhos, e tentei equilibrar a
esmagadora emoção que picava em meus olhos.

Ao descer do banco, Sebastian olhou para mim com


cautela, enquanto passava, seu corpo grande abrindo espaço
enquanto atravessava a pequeno portão e tomou o seu lugar.

Uma tempestade de turbulência ricocheteou entre nós,


toda a nossa esperança foi nublada pelo medo e pela
incerteza.

Meus dedos se contraíram, desejando que eu pudesse ir


até ele. Confortá-lo da mesma maneira que ele estava me
confortando.

Nigel levantou-se e chamou meu nome.

Eu puxei uma respiração e me arrastei em direção ao


banco de testemunhas. Eu senti que meus pés queriam se
afastar dali quando me aproximei, minha respiração estava
superficial e meu coração errático pulsando batidas
frenéticas nas minhas veias.

Emoção pressionando fervorosamente o meu peito e o


rosto da minha menina veio à minha mente, o doce eco da
sua voz no meu ouvido. Como se ela estivesse perto, seu
espírito vibrando através de mim em suas pequenas asas de
borboleta, roçando os lugares vagos onde permaneceu fora de
alcance.

Chamando por mim.

Eu me atrapalhei quando me sentei na cadeira.


Martin Jennings sorriu para mim.

Agradavelmente.

Como se ele tivesse adorado o ato.

Como se ele segurasse o destino do mundo em suas


mãos pomposas.

Uma expressão conciliadora que escorria arrogância.

Infame, homem nojento.

Ódio me atingiu como o crack de um estrondo sônico.

Se todos aqui soubessem do que ele é capaz de fazer...

O que ele fez.

Mas não. Eu não poderia provar.

No entanto, sabia da sua culpa, assim como sabia do


seu jogo.

Meu instinto gritou alto. A intuição natural que sentia


dentro. Um instinto de sobrevivência, por tanto tempo que
sobrevivi.

Me acomodei e Nigel Trondow me fez as mesmas


perguntas que fez aos caras. Sendo que como fez com
Sebastian, ele se aprofundou nos detalhes, começando a
partir do momento Sebastian e eu fomos caminhar na praia.

— As imagens que supostamente ocorreram, enquanto


Kallie foi deixada sozinha. Você afirma que elas tiveram lugar
na praia sem a presença de Kallie?

— Está correto.
Eu sabia que por menos que importasse, essas imagens
lançariam dúvidas. As imagens fazem parecer tudo sujo e
indecente. Sem dúvida, eles deram uma pausa para o meu
julgamento como uma mãe.

Minha voz acalmou depois que engoli o nódulo na base


da minha garganta, minha explicação foi instável.

— Pensávamos que estávamos completamente


sozinhos... não havia ninguém naquela parte da praia. Isso
nunca teria acontecido na frente da minha filha, ou na frente
de qualquer outra pessoa.

Percebi que a minha declaração veio transversalmente


como um apelo.

Para o juiz entender que eu nunca iria colocar


intencionalmente a minha filha em perigo.

Nigel Strode voltou para a mesa e tirou as imagens que


foram marcadas como evidências daquela manhã.

— Meritíssima, estas são as fotos tiradas sem o


conhecimento da Senhorita Bentley ou do Sr. Stone no último
domingo, em sua propriedade particular.

Ele declarou a data em que foram tiradas e passou-as à


juíza.

Eram as fotos de Sebastian me tocando debaixo do meu


biquíni, nossos beijos apaixonados, as de Kallie a uma
distância, com o rosto desfocado e cercado por paramédicos.

Ele entregou-lhe mais fotos. E estas... eram o restante


das fotos. O fotógrafo, que vendeu as fotos capturou os
momentos daquela tarde. Haviam fotos minhas brincando na
água com Kallie. Closes do seu rosto sorridente. A onda. Eu
gritando quando a perdi. Sebastian correndo para salvá-la.

Elas estavam todas lá.

Eu não estava inteiramente certa de como conseguiram


essa quantidade impressionante de provas.

Sebastian disse que não iria poupar nenhum custo e


claramente Nigel cavou tudo para encontrar a prova.

— Você vai ver por nossas próprias imagens que o


encontro íntimo na praia da Senhorita Bentley e do Sr. Stone
não ocorreu no mesmo local onde a Senhora Bentley perdeu a
filha, que foi em frente à casa do Sr. Piero.

Não havia nenhum questionamento. Eram dois eventos


separados.

A juíza colocava seus óculos de leitura sobre a estreita


ponte do seu nariz. Silenciosamente, ela examinou-os com
atenção, falando pouco. Ela se dirigiu a Nigel, perguntando
como e quando o segundo conjunto de imagens foram
obtidas. Bile correu através do meu estômago.

Porque não importa o quanto a prova parecesse


importante, ela ainda poderia ser vista por outra perspectiva.
Sua forma de ver, ler e interpretar.

Quando ela terminou sua inspeção, a juíza tirou os


óculos, e Nigel voltou sua atenção para mim.

— Obrigado por sua cooperação, Senhorita Bentley, eu


não tenho mais perguntas.
Mas o Sr. Carbellero sim.

Ele não hesitou em jogá-las em mim.

Torcendo suas perguntas. Fazendo insinuações.

Forçando uma ilusão de negligência e desrespeito e


possíveis abusos.

Finalmente não poderia levá-la mais e não havia nada


que eu pudesse fazer para impedir as lágrimas de caírem
livres. Elas riscavam pelo meu rosto, enquanto minhas
palavras saíam como último recurso.

— Eu nunca iria colocar intencionalmente a minha filha


em risco. Ela é toda a minha vida.

Eu estava chorando no momento em que fui


dispensada, não era mais capaz de aguentar a pressão, sob a
possibilidade de perder a minha filha.

Desabei na frente de todos eles.

A juíza fez uma pausa de quinze minutos.

Aqueles momentos que passavam eram nada menos do


que excruciantes.

Sebastian estava atrás de mim, esfregando os meus


ombros, pressionando beijos suaves na parte de trás da
minha cabeça, enquanto sentia como se estivesse à beira da
eternidade. Dois caminhos emaranhados. Um que me levaria
para o tormento eterno, e o outro diretamente para a
libertação.
Como era assustador que uma mulher que vi pela
primeira vez hoje, possuía o destino da minha filha em suas
mãos.

Uma posição sem paralelo de poder.

Se ela visse os anos que me dediquei a Kallie. Se ao


menos estivesse lá para ver os meus sacrifícios. Todos os
momentos que a amei, a protegi e a alimentei. Para mantê-la
Sempre segura.

Ela saberia que nunca iria machucá-la ou colocá-la em


perigo.

Todos nós ficamos em pé quando ela voltou dos seus


aposentos e sentou-se.

Parecia que a sala inteira respirava de maneira coletiva.

Ela olhou em minha direção.

— Eu não encontrei nenhuma evidência de negligência


por parte da Sra. Bentley.

Suas palavras giraram através de mim, provocando a


minha compreensão.

Ela voltou seu olhar na direção de Martin.

— Sr. Jennings, se você tem qualquer verdadeiro


interesse em ter um relacionamento com sua filha com a
guarda conjunta, então eu sugiro que você o faça através dos
canais normais e não através de um golpe como este.

Ela levantou o martelo.


— Eu me posiciono em favor da Ré e vou levantar a
liminar de emergência para os cuidados de Kallie Marie
Bentley. Cuidados que devem ser imediatamente reintegrados
à sua mãe.

Barulho de madeira, o martelo trovejou através do


tribunal quando ela o bateu, e fui atingida com um choque
violento de alívio.

Ressoando.

Pulsante.

Tomando conta.

Suspirei. Meus ombros caíram no mesmo segundo e


abaixei minha cabeça em minhas mãos. E eu chorei. Só que
desta vez... desta vez era de gratidão. De alegria.

Simples, simples sonhos.

Gritavam dentro de mim.

Finalmente.

Eles estavam ao meu alcance.

Uma onda de flashes se seguiu, assim que a porta se


abriu.

Clique.

Clique.

Clique.
Eu abaixei minha cabeça e Sebastian me puxou para
mais perto dele, podendo sentir a maneira que cada
pedacinho dele se endureceu em defesa.

Ressentimento e hostilidade.

— Nem tome conhecimento deles, Shea. — Sebastian


sussurrou contra a minha cabeça, enquanto tentava me
proteger do ataque, fervilhando de perguntas dos paparazzi.

Eles empurravam e pressionavam, disputando posição,


para ser o primeiro a chamar a nossa atenção.

Minha cabeça girava com a intrusão repentina. Foi um


forte contraste com o resto do meu corpo que se sentiu mais
leve do que jamais esteve. Meus braços e pernas formigavam,
meu coração batia acelerado, enquanto eu via minha menina
em meu futuro.

Como se eu estivesse voando para lá, mais desesperado


por esse momento do que para qualquer outro.

Nos últimos dois dias, como o choque havia passado, a


tristeza cresceu. Nós nunca tivemos um dia separadas. Foi
uma agonia total. Como se um emaranhado de raízes
brotasse em meu interior.

Quebrando-me.

Deixando-me perdida.

Machucada.

Cortando através do músculo, do osso e da medula.

Me penetrando até o núcleo. Na parte mais vital de mim.


Eles dizem que nossos filhos são feitos de nós. Uma
parte essencial do nosso ser.

Nunca é tão aparente até que sejam arrancados, agora


todos esses lugares ressoam com o vazio até a minha menina
poder preencher.

Não aguentaria esperar para chegar a esse momento em


que ela irá preenchê-lo.

Mas precisávamos atravessar essa multidão em primeiro


lugar.

A cerda de energia feroz retumbou em Sebastian. Seu


tom foi duro quando falou perto da minha orelha.

— Isto é sempre assim, você não precisa lidar com isso


agora. Eles não têm o direito de estarem aqui.

Mas eles estavam.

E isso faz parte da vida de Sebastian.

A parte que aceitei para ficar com ele.

Embora agora um pouco dessa obsessão fosse dirigida a


mim.

Fomos atingidos por uma tempestade de perguntas.

A maioria atada a suposições.

Mentiras, injúrias e intrigas mórbidas.

A verdade deformada e distorcida para alimentar o


fascínio.

— Você pode nos dizer o veredicto na audiência de


custódia da sua filha?
Tentando me encolher junto a Sebastian, parte de mim
querendo gritar a vitória e adoração, outra parte,
determinada a manter minha boca fechada. Compreender o
jogo, porque já joguei isso antes.

— Sr. Stone, é verdade que Sunder está atualmente


procurando um novo líder para substituí-lo?

— Sebastian Stone, seu relacionamento com Hailey


Marx chegou oficialmente ao fim?

Grunhindo, Sebastian empurrou através da multidão,


sua raiva estrangulada, a restrição no seu limite e ele me
puxou mais forte.

— Senhora Bentley, como você responde à quebra de


contrato entre você e Sr. Jennings?

Meu olho imediatamente voou em direção ao repórter, e


podia sentir minhas sobrancelhas franzirem com a pergunta
que ele atirou.

Quebra de contrato?

Nunca antes ele o reivindicou. Ele estava reivindicando


isso agora?

Um amontoado de vozes lutou por nossa atenção.

— Agora que você está exposta, a Delaney Rhoads vai


fazer você retornar?

Eu queria gritar, nunca, nem no inferno eu voltaria, mas


ao invés disso segurei minha língua e permiti que Sebastian
nos guiasse para a frente, seu corpo um aríete me
conduzindo através da multidão.
— Sebastian Stone, não é nenhum segredo que você e
Martin Jennings continuam em desacordo. Parece óbvio que
você está usando o seu relacionamento com Shea Bentley
para revidar.

Sebastian rosnou.

— Nós já dissemos o que era para ser dito ontem. Agora


saia do meu caminho.

Raiva vibrou em seus ossos. Foi o suficiente para afastá-


los do meu caminho.

Mas alguns permaneceram, um microfone foi


empurrado na minha cara.

— É verdade que você escondeu sua gravidez de Martin


Jennings e agora ele está buscando a custódia total?

Náusea rolou em meu estômago.

Eles não tinham nenhum indício, nenhuma ideia dos


segredos que mantive, ou por que eu os mantive.

Nenhuma ideia do quão longe fui para proteger a minha


filha.

Outra voz no meu ouvido.

— Sua mãe disse, abre aspas, 'Estou muito surpresa e


decepcionada com a traição da minha filha.' Você pode
comentar?

Minhas entranhas se reviraram, eu estava ofegante e


lágrimas de raiva picavam os meus olhos. Eu queria atacar,
assim como Sebastian fez fora do hospital na noite de
domingo.
Porque isto machuca.

Como ela ainda me choca com seu sarcasmo?

Será que eles não entendem o que já foi dito?

A dor?

Esta foi a vida da qual fugi.

Me escondi para me proteger, mas acima de tudo, para


proteger a minha filha.

Enterrar Delaney Rhoads.

Mas covas rasas são tão facilmente descobertas e não


estava pronta para lidar com a sua ressurreição.

Por um instante, nos livramos deles e atravessamos a


rua onde o Suburban estava estacionado. Luzes de circulação
brilharam quando nos aproximamos dela, desarmando o
bloqueio, e Sebastian abriu a porta do passageiro, rápido
para me ajudar a entrar.

Ele bateu a porta atrás de mim.

Eu vi como ele lutou com os repórteres, como contornou


a frente, desta vez não tão amigavelmente como foi, enquanto
estava comigo ao seu lado. Três segundos depois, a porta se
abriu e ele entrou. Imediatamente a fechou, cortando o
frenesi de vozes.

Ofegante. Minha respiração estava ofegante dos meus


pulmões demasiadamente comprimidos, e tentei acalmar meu
pulso trovejando.
Do outro lado do espaço, Sebastian me procurou para
aplacar os ferimentos que ele sabia que não eram visíveis.

— Esses bastardos. — Seu rosto robusto estremeceu,


sua voz um estrondo alto. Mais pesar.

— Isso é exatamente do que estava tentando protegê-la.


Nunca quis arrastá-la e a Kallie para esse tipo de vida. Isso
não é bom, Shea. É péssimo.

Olhei para ele e inclinei minha cabeça para o lado.


Minha voz estava suave, mas embalada com ênfase.

— A vida com você é boa, Sebastian. Enquanto nós a


mantivermos dessa forma. Não me importo o que estão dizem
ou o que eles acreditam. Contanto que isso signifique que irei
começar a minha vida com você.

Ele exalou e balançou a cabeça, uma sugestão de um


sorriso brincando no canto da sua boca bonita, linda.

— De onde você veio, baby?

— Eu estive aqui o tempo todo, esperando por você.

Lá fora, estávamos cercados.

Mas aqui?

Era apenas nós dois.

Essa energia estranha ainda intensa e profunda.

Mas diferente.

Talvez fosse o alívio esmagador, o peso que foi tirado, o


ar que havia mudado. Um lampejo doce. Uma sugestão de
desejo. Sebastian se inclinou com um sorriso, seu olhar sexy,
como ele me olhou de cima a baixo onde eu estava sentado
no banco do passageiro, enquanto reajustava sua gravata.
Seu terno cinza ampliava o volume da sua presença
deslumbrante.

— Então, você é tão linda. — Ele se moveu para


murmurar perto do meu rosto. — Ainda não posso acreditar
que começarei a chamá-la de minha menina.

Calor subiu meu pescoço e eu podia sentir isso


irradiando ao meu rosto.

Deus.

Uma coisa sobre Sebastian?

Ele nunca se recusou a encontrar conforto no meu


toque, e ao longo dos últimos dois dias, ele me procurou uma
e outra vez. Me levando. Me acalmando. Por alguns
momentos felizes, levando-me para um lugar onde eu estaria
desprendida de tudo no mundo.

Exceto dele.

Um lugar onde só um existia para o outro.

Amarrados.

Presos.

Conectados.

Corações e mentes, corpos e almas.

Depois de tudo o que aconteceu, parecia impossível que


apenas quatro dias houvessem se passado, desde que ele
voltou para mim.
Desde que ele rompeu todas as barreiras e escolheu
ficar.

Mesmo que soubéssemos que haviam lugares


desconhecidos que em algum momento teríamos que dar a
nossa atenção.

Seu estilo de vida iria levá-lo a lugares onde eu não


poderia sempre o seguir fisicamente, se preocupando com seu
irmão mais novo, ou estar de volta atrás das grades, ou se o
seu espírito iria levá-lo de volta para estrada.

No pensamento, meu coração disparou com o desafio, e


me encolhi, enquanto tentava bloquear a injustiça de tudo.

Sebastian franziu o cenho quando notou a mudança em


mim, com seu toque gentil, ele enganchou o dedo indicador
embaixo do meu queixo.

Uma promessa simples.

Você pertence a mim.

Não importava onde a estrada o levasse. Quanto tempo


ou distância existisse entre nós.

Ele não tem o poder de apagar o que essa promessa


significa.

— Você conseguiu. — Ele finalmente sussurrou, e


estendeu a mão segurando o lado do meu rosto.

— Ela realmente está voltando para casa.

Mas qual seria o próximo passo do Martin?

Forcei-me a concordar com esse pensamento.


— Sim, Shea, ela realmente está voltando para casa.
— Sebastian ligou o caro e o colocou em movimento. — Acho
que é hora de irmos buscá-la.

Ele apertou o acelerador do Suburban preto e foi para a


estrada. Os Paparazzi se dispersaram. Se espremendo para
sair do caminho do Sebastian quando ele alcançou a rua de
sentido único e se dirigiu para longe do tribunal.

Dentro da minha bolsa, o telefone tocou.

Peguei-o para atendê-lo.

Nigel.

— Olá? — Eu respondi. Ainda havia um tremor em


minha voz, incapaz de afastar a preocupação, pois dez
minutos haviam se passado desde que falei com o advogado,
algo havia dado errado. Poderia eu ter entendido ou
interpretado alguma coisa erroneamente?

Que minha mente pudesse ter me enganado.

— Você pode pegar Kallie às quatro e meia.

Eu suspirei e olhou para o painel.

São quatro horas.

Meu peito se agitou.

Em apenas 30 minutos, Kallie estaria em meus braços.

— Claribel Sanchez. — Ele continuou com as suas


instruções. — O gerente de caso, irá encontrá-lo na casa onde
Martin Jennings está com Kallie para supervisionar a troca.

Empalideci.
Parecia que estávamos trocando bens.

Engoli a amargura residual. Mesmo que odiasse isso,


era precisamente o que Martin fez, usando uma criança
inocente como uma ferramenta em um fracassado golpe, só
ficaria grata com ela voltando para casa.

Ele passou o endereço e o digitei no GPS.

— Entendi. — Eu disse.

Claro que o monstro não somente a tirou da sua casa,


mas também a afastou da sua cidade natal. Ela estava em
um lugar desconhecido, a trinta milhas de distância.

Cada pedaço de mim orou que ela estivesse realmente


bem.

Que ela iria se recuperar e este trauma não a deixaria


com cicatrizes que nunca se curariam.

Me sacrifiquei o suficiente por nós duas.

Minha mente se encheu de perguntas.

Como ele a tratou? Ele a alimentou? Será que soube


cuidar de uma criança? Que mentiras havia contado para
ela? Como eu poderia responder às muitas de suas
perguntas?

Um calafrio percorreu minha espinha.

O que eu faria se descobrir que ele a prejudicou?

Nigel deu um suspiro aliviado. A persona fria que


normalmente usava, pareceu caloroso.
— Parabéns, Shea. Eu estava confiante que este caso
sairia em seu favor, mas não posso começar a descrever a
satisfação que sinto com a volta da sua menina para onde ela
pertence. Sei que o meu trabalho fez uma verdadeira
diferença hoje e quero agradecer-lhe pela confiança em mim.

— Obrigada por todo o seu esforço. Serei eternamente


grata.

Terminei a chamada, Sebastian virou-se e dirigiu para o


norte de Savannah.

Ele entrou na rodovia.

Árvores abraçavam a estrada, intercaladas por edifícios


das pequenas cidades com o sol a oeste e continuamos
silenciosamente em direção ao nosso destino. Por toda a
viagem me mexia na cadeira, pegando na bainha da camisa,
enquanto incessantemente verificava as horas.

Mais dez minutos.

Sebastian estendeu a mão sobre o console e pegou a


minha.

— Estamos perto, baby.

Apertei sua mão e tentei firmar minha respiração, para


acalmar a escalada rápida das batidas do meu coração. Que
aumentava a cada segundo.

— Eu mal posso esperar para vê-la.

Toda emoção que senti ao longo dos últimos meses


parecia se reunir em minha garganta.
Tudo o que aconteceu para chegarmos até aqui. À beira
de onde tudo se manifesta como o meu futuro.

Um futuro com ela.

Um futuro com ele.

Todos entremeados em um cataclismo de incógnitas que


compõem nossas vidas.

Incógnitas que eu não podia esperar para experimentar.

Saímos da autoestrada, Sebastian foi para à direita,


depois à esquerda.

Ele segurou a minha mão.

Onda após onda de ansiedade me alcançando


completamente.

Meu homem bonito, assustador, me lançou um sorriso


tranquilizador, quando fez outra curva para a direita por uma
rua, em seguida, começou a diminuir à medida em que se
aproximava do endereço.

Ele parou em frente a uma casa térrea.

Meu olhar foi imediatamente atraído para as janelas


emolduradas por persianas brancas, perguntando-me se
Kallie estaria atrás de uma, olhando para fora, assim como
eu, ansiosa com o meu regresso como eu estava pelo dela.

Ela sabia que eu estava vindo? Ela sabia que teria vindo
antes, se fosse possível?

Para uma área rural, a casa parecia agradável. Um


gramado bem cuidado adornava o quintal. Duas árvores
maduras, exuberantes ladeavam a passarela, alinhada com
fileiras de flores recentemente plantadas.

Ainda assim, ele não chegava perto da extravagância da


sua residência em Nashville.

Percebi que era como se fosse uma prisão. Um lugar


para manter Kallie, porque ele não foi autorizado a tirá-la do
estado, até que estivesse em frente a um juiz.

Uma onda palpável de agitação queimou Sebastian e ele


agarrou o volante, sua atenção também estampada na face,
vendo onde minha filha fora mantida.

O relógio marcava quatro e vinte e oito, e o mesmo


pequeno carro azul que esteve presente na noite em que
Kallie foi levada, saiu por trás do Suburban e andou
lentamente em direção ao horizonte.

Em desconforto, Sebastian pigarreou.

— Acho que é melhor eu esperar aqui. A última coisa


que precisamos é que eu traga mais problemas para vocês
duas. Tive que me segurar ao máximo para não voar em cima
dele no tribunal. Não tenho certeza como as coisas iriam
acontecer, sem um edifício cheio de policiais para me deter.

Acenei rápido.

— Sim.

Sabia que Sebastian dizia muito mais que uma ameaça


vazia, que foi precisamente por isso, que eu nunca poderia
deixá-lo saber o quão depravado Martin realmente era.
Ele deu um sorriso brilhante com sua intensidade. Algo
bonito sob suas cicatrizes endurecidas.

— Vá buscar sua garota.

Através do espelho retrovisor, vi Claribel Sanchez saindo


do seu carro. E fiz o mesmo. Embora meus movimentos
fossem apressados e instáveis, culminavam com minha
ansiedade, medo e alívio.

Era isso.

Eu esperava não ter que enfrentar Martin neste cenário.


Sem o suporte dos intercessores. Sem advogados ou juízes ou
agentes para amenizar as coisas. Somente esta mulher
solitária, que não sabia nada de Martin, e Sebastian que
sabia demais.

Eu apertei a frente da minha blusa, nervosamente para


endireita-la, precisando fazer algo com as minhas mãos.

Ela se aproximou de mim com um sorriso cauteloso no


rosto.

— Senhora Bentley — Simpatia atravessou suas feições.


— Estou feliz de poder estar aqui para ajudar com a
transição.

Em seus olhos vi um pedido de desculpas. Como se


talvez ela sentisse em suas entranhas que estava cometendo
um erro naquela noite em que tirou a minha filha de mim.

Ou melhor, a juiz fez isso, porque estava claro que ela só


fazia o que foi contratada para fazer. Linhas estragavam o
rosto da mulher, obviamente, contou sobre as inúmeras
horas que ela se dedicou ao seu trabalho com poucos
resultados, mas servindo caso após caso de dor e abuso em
lares despedaçados.

Torci minhas mãos, enquanto olhei para a casa, fazendo


uma vã tentativa de controlar a umidade que nublava os
meus olhos.

— Apenas estou grata por esta transição estar


acontecendo.

Sorriu, e fez um gesto com a cabeça em direção à casa.

— Espere aqui, vou entrar, pegar sua filha e trazê-la


para você.

Ela olhou para o Suburban.

— E com a história do Sr. Jennings e do Sr. Stone,


gostaria de pedir que ele permanecesse no carro.

Aparentemente Sebastian não era o único que se via


como um perigo.

— Claro, obrigada. — Concordei.

— Não por isso.

Ela se dirigiu para a porta da frente e tocou a


campainha. Uma mulher mais velha que nunca vi antes
abriu a porta.

Não Martin.

Gaguejei com minhas defesas aguçadas, feliz em saber


que não teria que enfrentá-lo. Eu absolutamente odiava o
poder que ele ainda exercia sobre mim. O medo absoluto que
sentia com apenas a menção do seu nome.

Embora já não fosse só para mim, mas para a minha


filha.

Balançando a cabeça, a mulher mais velha abriu a porta


e encaminhou Claribel para dentro. Em seguida, fechou a
porta.

Fiquei lá com o meu coração na garganta. Inquieta,


tentei me forçar a ficar parada e esperar, quando a única
coisa no mundo que queria era derrubar a porta e encontrar
a minha filha.

Cinco minutos depois, a porta se abriu novamente.

Uma menina pequena com uma juba de cachos loiros


selvagens saiu, e meu coração, que estava na garganta,
parecia que iria estourar. Meu peito se encheu,
transbordando minhas veias.

Engolindo em seco, levantei meu olhar que se encontrou


com aqueles olhos castanhos doces, amor, fé e inocência
ainda estavam lá, brilhando.

Sem me dar conta eu já estava em movimento, dando


dois passos hesitantes para a frente, sabendo que deveria
esperar.

Estranhamente. Meus saltos batiam contra a calçada, e


meu pulso acelerou, num frenesi pedindo-me para ir para
frente.
Claribel parou no fundo dos três degraus que levavam
para a casa. A mão de Kallie ainda presa na dela.

Há um metro de distância, eu caí de joelhos. O concreto


rasgou as minhas meias e cortou a minha pele.

Mas não percebi nada disso.

A única coisa que sentia era a dor desesperada para


segurar a minha filha.

Kallie.

Engasguei. Lágrimas caíram rápidas e livres, molhando


o meu rosto.

Estendi a mão para ela. Puxei-a para mim. O calor do


seu corpo minúsculo pressionando o meu peito. Meu rosto se
perdeu nas ondas dos seus cabelos, e aspirei seu cheiro,
abraçando-a, minha boca em seu ouvido.

— Eu senti sua falta, borboleta. Senti sua falta.

Deus, perdi tanto da sua presença que era assustador.

Aterrorizante.

Meu corpo chorou com a dor residual e o tormento


bateu violentamente com este remédio de boas-vindas.

Bracinhos enrolaram em volta do meu pescoço.

— Mamãe. — Ela disse isso tão calmamente. Como se


estivesse testando que fosse verdade. Querendo saber se eu
realmente estava lá. Em seguida, ela soprou seu próprio
alívio, deixando de lado um pouco do seu medo, enquanto
agarrava-se a mim.
— Está tudo bem, meu amor. Eu estou com você. Eu
estou com você agora.

Lentamente, fiquei em pé, levando Kallie comigo.

Claribel Sanchez inclinou a cabeça.

— Nós devemos ir.

Balancei a cabeça, envolvi meu braço apertado em torno


de Kallie, minha mão livre pressionada na parte de trás da
sua cabeça. Ela escondeu o rosto em meu pescoço, e seu
pequeno coração bateu forte contra o meu. Freneticamente,
beijei o topo da sua cabeça.

— Eu tenho você. — Sussurrei outra vez, enquanto


seguia a assistente social pela calçada.

Claribel Sanchez abriu a porta de trás do Suburban e


colocou um saco dentro, que não pertencia à Kallie há dois
dias. Parte de mim queria tirá-lo de onde estava e jogá-lo no
chão. Para apagar todas as memórias dos últimos dois dias.

Tanto para Kallie quanto para mim.

Em vez disso, eu coloquei Kallie na cadeirinha que ela


detestava ir. Virei a cabeça e beijei sua testa, suas têmporas,
em seguida, seu pequeno nariz.

Uma risadinha baixa, ela levantou o rosto com confiança


para mim e um sorriso apareceu no canto dos seus lábios
vermelhos.

Eu podia sentir Sebastian, a gravidade do seu olhar, o


poder da energia que brilhou no espaço confinado. Olhei para
cima e encontrei seus estranhos olhos cinza, vi o pomo que
balançava sua garganta, enquanto seu olhar desviava-se para
a minha menina.

Afeição.

Amor.

Adoração.

Minha cabeça girava com a magnitude do momento.

— Oi, Baz. — A voz tímida de Kallie invadiu o ar


carregado, seu doce sotaque sobressaindo. Uma sugestão de
que a exuberância inesgotável sangrou através da sua
saudação.

Um sorriso suave pairou na boca de Sebastian.

— Ei, pequena. Você está pronta para ir para casa?

Seu sorriso cresceu e ela chutou seus pés.

— Eu estou pronta.

— Vamos tirá-la daqui. — Disse e beijei sua testa de


novo, incapaz de parar, antes que finalmente me forcei a
voltar e fechar a porta.

Claribel Sanchez ficou esperando, antes de dar uma


ligeira inclinada de cabeça.

— Vou precisar fazer um acompanhamento daqui a


duas semanas. Cuide dela.

— Sempre.

Ela entrou no carro e foi embora.


Fui para a porta do passageiro da frente, quando senti a
sua presença atrás de mim. Minha boca secou, eu congelei,
apertei minha mão contra a maçaneta da porta.

Me senti doente.

Ele se aproximou. Minhas reações instintivas voltaram.


Meu corpo se encolheu, meus olhos ficaram bem apertados, e
não conseguia respirar.

Sofrendo.

Encolhida.

Eu odiava que ele ainda provocasse esta reação em mim.

Ganância e presunção, pressionado os meus sentidos, e


meus pulmões queimando, mas tomei uma respiração afiada.

Aquele cheiro.

Nunca haveria qualquer coisa que pudesse apagar isso


da minha mente.

Um tempero nocivo que em quaisquer outras


circunstâncias teria sido agradável.

Mas associava-o a algo vil, as memórias do seu corpo


ditando minha imersão e entupimento da minha garganta.
Foi como se eu tivesse dezoito anos novamente. Apenas uma
menina assustada.

Remorso remoía meu estômago em náuseas e Martin


Jennings riu, baixo e maligno.
Recusei-me a dobrar-me para ele. Lentamente, me virei
e levantei meu queixo, meus olhos se estreitaram quando
reconheci o homem que procurou tirar tudo de mim.

Usando-me.

Tentando me paralisar.

No mesmo segundo, ouvi do lado do motorista o clique


da porta abrindo.

Um brilho de violência se insinuou em um ar denso.

Atrás de mim, podia sentir cada passo de Sebastian que


se aproximou cuidadosamente, caminhando em torno do
Suburban.

Lento.

Proposital.

Pronto para proteger.

Apertei meus lábios para me controlar, para encarar o


rosto que queria esquecer.

Minha voz vacilou, mas me segurei forte.

— Se você machucar minha filha... de qualquer


maneira... Eu juro por Deus, não vou parar até que você
esteja morto.

Martin Jennings estalou.

— Com raiva, Delaney. Engraçado, sempre pensei que


você fosse uma fraca.
Sua respiração espalhou pelo meu rosto quando ele se
aproximou. Olhos, tão escuros que eram quase pretos,
brilharam com desprezo.

Um sorriso de escárnio curvou sua boca.

— Você sempre foi tão ansiosa para agradar.


Tropeçando em todo pequeno elogio. Você me surpreende.

Cada célula do meu corpo se torceu em memórias dos


erros que cometi.

Provocando.

Lembretes de um passado que eu nunca quis viver.

— Você não sabe nada sobre mim. — Eu cuspi,


segurando, firmando-me no chão, enquanto sentia como se
pudesse desintegrar em meus pés.

Memórias de mim como uma adolescente me


inundaram. Crescendo, cada caminho que já percorri pelas
rédeas da minha mãe. Levando-me. Me esforcei para estar de
acordo com quem ela queria que eu fosse, sempre com fome
da sua atenção. Ansiosa para fazê-la orgulhosa. Desesperada
por um toque suave, um abraço ou algum tipo de afeto, em
vez de suportar o impacto de toda a sua insatisfação
detestável.

Tristeza fechou sobre mim.

Tanto ela quanto Martin usaram isso para sua


vantagem.

Se aproveitaram de mim.
Ela lhe permitiu assumir tudo na minha vida. Alterar
minha imagem. O meu nome. As canções que cantava. Não
fui nada mais do que sua linda fantoche, que rapidamente o
incluiu me tomando como sua.

Apenas um cordeiro ignorante, voluntariamente levado


ao matadouro. Cego para o que estava à espera na virada da
esquina.

Até que descobri o que estava à espreita por trás dele.

Eu podia sentir Sebastian ao lado. Tensão ecoava na


força da sua respiração, e o olhar de Martin disparou por
cima do meu ombro para ele. Ele enviou-me um sorriso
zombeteiro.

— Eu vejo que você continua insistentemente cavando


em meio à sujeira atrás de atenção, você sempre precisou
desesperadamente disso. — Zombou com uma risada. — Que
vergonha. Um desperdício.

O passado caiu como insulto lento, e eu podia sentir a


raiva de Sebastian pulsando em minhas costas, um homem
em guerra consigo mesmo para não atacar.

Martin solta uma fungada, e soube que ele percebeu


isso também.

— De qualquer maneira, Sr. Stone, venha para mim.


Não haveria melhor maneira de terminar este dia do que
assistir você sendo arrastado em algemas.

— Fique longe de nós. — Avisei através de um sussurro


que mal se ouvia.
Martin riu.

— Você realmente acha que ganhou hoje, Delaney? Você


acha que isso acabou? — A voz dele caiu. — Você esqueceu?

Pavor, arrepiou toda a minha pele.

Os olhos escuros brilharam em uma satisfação malévola


e sua boca se contorceu em um sorriso mórbido como se ele
encontrasse alegria com ela.

— Além disso, estou apenas começando a conhecer


minha filha.

O ―minha filha‖, foi proferido em um tom irônico, com


puro desdém. Eu queria vomitar.

— O que você quer de nós? — Meu tom de voz saiu


rachado. Eu sabia que soava como se estivesse implorando.

Sebastian passou o braço em volta da minha cintura,


sua mão firme em meu estômago quando me puxou contra
ele.

— Shea, não. — Ele insistiu, tentando me arrastar para


trás, me mantendo afastada do esgoto que era Martin
Jennings.

Afrontoso, Martin ergueu um ombro, ignorando


Sebastian, seu tom enganosamente doce.

— Venha, Delaney. Você realmente achou que eu não


iria voltar para você? Eu prometi que voltaria. E nunca
quebro minhas promessas. Você se lembra o quanto você me
custou?

Ele me olhou incisivamente. Lembrando-se.


Mas o lembrete subjacente não era sobre quanto
dinheiro foi perdido por minha deserção. Mas o que ele
planejou fazer com esse dinheiro. Dinheiro efetivamente
roubado de mim por causa dos contratos que fui pressionada
a assinar. Contratos em que quase todos os royalties foram
para Martin e minha mãe. Minha ingenuidade aos dezoito
anos permitiu que me roubassem.

Lester Ford era um nome que queria esquecer. Durante


anos, quase consegui. Mas ouvir o seu nome na notícia há
um ano atrás, me trouxe novamente à tona. O anúncio de
que o magnata do Tennessee estava tentando se eleger
governador me deixou com as pernas bambas.

Ignorantemente, não dei importância para o fato. Fingi


um pouco mais.

Raiva fazia pressão em meu peito.

— Não lhe devo nada.

Ele riu como se eu fosse ignorante, em seguida, olhou


para a janela escurecida da traseira do Suburban.

— Não se esqueça que ela também é minha.

Ele surgiu com outra ameaça, esse homem revoltante


usando a minha filha, contra mim.

Dispensável.

Um item.

Uma propriedade.

Assim como minha mãe me tratou. O mesmo jeito como


ela me passou para ele.
Me vendeu, realmente.

Estava tão cega desejando agradá-la, que não enxergava


o que realmente ela era.

Mas não era mais aquela garota.

Ele ergueu o queixo em um gesto em direção a


Sebastian.

— E você não pode imaginar o prazer que isso me trará,


derrubar as duas pessoas que mais me devem de uma só vez.
Acho que eu deveria agradecer por se juntar com este pedaço
de lixo, Delaney. Eu não poderia desejar um melhor cenário.

Ele se inclinou mais perto, e articulou ao meu ouvido.

— Eu vou garantir o seu silêncio.

Engasguei e Sebastian resmungou.

Quando Martin recuou, seu sorriso arrepiou os cabelos


na parte de trás do meu pescoço. Feroz e sem vergonha e de
alguma forma sabendo, ele virou as costas e caminhou em
direção à casa.

Não havia dúvida de que ele não esqueceu minha


promessa.

A promessa insegura, tolamente ousada que fiz quando


ele veio para o hospital no dia em que Kallie nasceu.

A promessa que fiz, que eu iria expor a ele e Lester Ford


se não deixasse Kallie e eu irmos embora, o que implicava
que teria como destruí-los se algo acontecesse comigo.
Martin prometeu voltar quando fosse a hora certa.
Talvez soubesse que eu estava blefando. Mas faria qualquer
coisa ao meu alcance para proteger minha filha.

Ainda assim, eu estava certa que essas ameaças


pairavam sobre nós há anos.

Mas, por que agora?

— Nós iremos enfrentar você. — Assumi com um grito


abatido.

Martin parou olhando por cima do ombro.

Fiz tudo que podia para firmar as palavras, para não


arrefecer o que disse.

— E prometo, que farei de tudo para me certificar de que


você queime no inferno.

Ele começou a voltar com essa minha fala:

— E meu nome não é Delaney. Ela morreu há muito


tempo.

Um sorriso satisfeito apareceu em seu rosto, sacudindo


a cabeça, insinuando, murmurando, enquanto caminhava de
volta.

— Você me surpreendeu de novo, Delaney Rhoads.


O sol estava se pondo atrás das árvores quando parei
em frente à casa da Shea.

Kallie adormeceu há muito tempo.

Shea subiu imediatamente, entrando com sua filha,


para segurá-la, abraçá-la, protegê-la.

Fui tão rápido quanto ela. Fiquei ao seu lado, minha


mão na parte baixa das costas dela, enquanto caminhamos
até a varanda.

Alguns paparazzi estavam nos seguindo pela rua,


tirando fotos, mas estava grato por serem sensatos o
suficiente e nos deixarem em paz.

A porta da frente se abriu e April saiu correndo, as mãos


pressionadas sobre a boca.

Alívio.

Abalados, todos nós.


Mesmo as minhas mãos se contraindo com a
necessidade de rasgar Jennings em pedaços. Membro por
membro. Lentamente. Meticulosamente. Permanentemente.

Esse encontro deixou um furor de violência que exigia


ação e uma carga de novas perguntas que exigiam respostas.

Sentia chegando. E rápido.

Shea subiu os três degraus até a varanda, Kallie se


agitou, levantando a cabeça, com seus olhos castanhos
confusos espiando antes do reconhecimento chegar, com
alegria e consolo, a criança imediatamente se acalmou com o
ambiente familiar.

Shea beijou sua testa.

— Você está em casa, Borboleta. — Ela sussurrou.

Kallie segurou tão firme e apertado o pescoço de Shea,


que meu peito se apertou com tudo o que nunca pensei que
poderia sentir.

Era mais emoção do que podia suportar.

Muita, para caralho, luminosa e boa. Ofuscante. Toda


essa beleza estava me pressionando.

April tocou o rosto de Kallie quando Shea passou. Kallie


olhou para cima e sorriu com aquele sorriso precioso.

— Tia April. — Sua voz era baixa, mas o amor brilhando


em seus olhos era o suficiente.

April deixou escapar um soluço baixinho.

— Kallie.
Não acho que Kallie estivesse pronta para as perguntas
que precisavam ser feitas.

Estava claro na maneira como ela se agarrou a mãe.


Quieta. Subjugada.

Envolta no seu próprio alívio.

Por isso, Shea sentou-se com ela no sofá e embalou-a,


murmurando mil garantias.

Você está segura.

Eu tenho você.

Nunca vou deixar ninguém te machucar.

— Você pode me perguntar... fale qualquer coisa. —


Shea disse calmamente por cima da sua cabeça. — Quando
você estiver pronta.

Deus, a mulher era uma mãe incrível, uma pontada de


significância se formou quando olhava para as duas juntas.

Minhas.

A minúscula voz de anjo de Kallie cortou a tensão.

— Podemos assistir Nemo?

Shea não conseguiu segurar a risada, porque perguntar


se ela poderia assistir a um filme não chegava nem perto do
que Shea estava sugerindo.

Mas talvez, houvesse algum conforto nisso também.

Kallie só queria fazer algo normal.

— Sim, menina linda, podemos assistir Nemo. — Shea


respondeu suavemente, abraçando-a mais.
Todos nós sentamos no sofá com as luzes apagadas.
April deu um beijo na testa de Kallie, em seguida, um na de
Shea, antes de me lançar um olhar que era ao mesmo tempo
cauteloso e cheio de apreciação. Da mesma maneira que ela
olhava para mim desde que retornei. Como se soubesse, tão
bem como eu, que eu trouxe problemas para a vida de Shea.

Da mesma forma que nós dois sabíamos que Shea


precisava de mim.

Quase tanto quanto eu precisava dela.

Shea mudou de posição, assim estava aninhada ao meu


lado, com as pernas estendidas ao longo do comprimento do
sofá, Kallie também se mexeu e descansou as costas no peito
da sua mãe.

Eu coloquei meu braço em torno dos ombros de Shea,


meus dedos suavemente mexendo no cabelo de Kallie, cachos
selvagens.

E você pensaria que isto era impossível, mas de alguma


forma, essa menina conseguiu roubar outra parte de mim.

Não sabia se era só porque ela pertencia a sua mãe.

Que ela fosse um pedaço de Shea.

Essa garotinha maravilhosamente linda, que com


apenas um vislumbre me fez cair.

Eu sabia. No segundo que a senti ali, olhando para mim,


que minha vida foi alterada.
Nunca imaginei que cairia tão profundamente, que
quando finalmente me entregasse, eu não seria mais o
mesmo.

A televisão brilhou e cintilou. Imagens brilhantes contra


o escuro quando o filme começou.

Sombras e silhuetas iluminaram suas expressões.

Minhas meninas.

Shea inclinou a cabeça para trás e olhou para mim. Sua


tempestade viva, subjugada, mas ainda selvagem.

Sombria.

Luminosa.

Pesada.

Suave.

De repente, tudo se fechou sobre mim, tão apertado,


como se eu não conseguisse respirar.

Como se eu estivesse logo abaixo da superfície.

Me afogando.

No entanto, sentia que eu flutuava por isso tudo, em


tudo o que é calor, vida e luz.

O amor era cruel assim.

Um monstro.

Um salvador.

Ao mesmo tempo, angústia e êxtase.


Soube então, que a vida não valeria a pena se não fosse
por elas.

Na escuridão, a possessividade aumentou.

Minha promessa foi embrulhada como uma mortalha.

Não importava as circunstâncias ou as consequências.

O resultado seria o mesmo.

Faria qualquer coisa, daria tudo, faria qualquer


sacrifício para mantê-las seguras.

Para mantê-las felizes.

Para mantê-las juntas.

Não importando o custo.

— Tenha cuidado, Little Bug. — Avisei sobre meu ombro


para uma Kallie balançando, quando eu estava na pia
enchendo um enorme pote com água. Empoleirada na ilha do
meio da cozinha, suas pequenas pernas chutando e os braços
se debatendo, enquanto dançava ao som de Van Morrison
Brown Eyed Girl, que estava tocando no pequeno rádio ao
lado dela.

Nada no mundo parecia mais apropriado.

— Eu sei, Baz. — Ela disse meu nome como uma


balada, cantando o meu nome. Um sorriso largo dividiu seu
rosto, expondo seus dentes minúsculos perfeitos. — Estou
tão, tão grande, você sabe. Eu vou fazer cinco em apenas seis
meses. E eu estou supersegura.

Ok, falei na minha cabeça, uma pequena coisa não


muito tímida estava me desafiando.

Kallie não perdeu um segundo e lançou-se de volta para


a música.

A luz da tarde irradiava pelas janelas, os raios


chocando-se contra o monte selvagem dos seus cachos.
Acendendo-a. Como uma espécie de auréola que a envolvia.

E maldição, a garota aprendia rápido.

Era a segunda vez que ela ouvia a música?

Ela estava cantando a letra exatamente como foi escrita.

Fechei a torneira, me mudei para o fogão, acendi o fogo,


e coloquei o pote cheio de água sobre as chamas. Me virei e
cruzei o espaço curto para o lado de Kallie e passei manteiga
em duas metades de pão de forma.

Sim.

Aparentemente, me tornei o tipo prendado.

Lyrik e Ash iriam se divertir.

Olhei Kallie, tentando não sorrir quando ela me deu


mais um daqueles sorrisos e juntou as mãos.

— Oh, mamãe vai ficar tão animada quando chegar em


casa e termos o jantar pronto para ela.

Ela agitou as mãos no ar enquanto falava, o tom


carregado com inocência.
Tão absurdamente lindo.

Eu levantei uma sobrancelha.

— Você acha?

— Uh-huh, eu sei que sim. Mamãe gosta de surpresas.


Quase tanto quanto eu.

Eu ri, pensando se Shea realmente ficaria surpresa,


tudo bem. Kallie e eu conseguimos destruir a cozinha em
cerca de cinco segundos. Kallie era nada menos que um
turbilhão e eu não era exatamente o que se chamaria de
especialista na cozinha.

Éramos um par e tanto.

— Você sabia que vou ter uma festa surpresa um dia? —


Ela tagarelava, passando uma tonelada de pasta de alho no
pão que acabei de pôr manteiga.

— Eu vou ter borboletas espalhadas, borboletas em todo


o meu vestido e um bolo de borboleta. Oh, oh, oh, e o rosto
pintado de borboleta, assim como na festa de aniversário da
Paige, porque estava muito bonita e quero todos olhando para
mim como uma princesa borboleta.

Alho estava voando por todo o lugar. A atenção de Kallie


estava mais focada na distante fantasia que ela conjurava, do
que na tarefa em mãos. Ela disse aniversário como
'borbosário', e mais uma daquelas peças endurecidas dentro
de mim derreteram.

Juro por Deus, a garota exercia algum tipo de magia de


princesa, que jogava em torno de mim com alguns poderes de
merda brilhante, lançando um feitiço para deixar todo o
homem que cruzasse seu caminho de joelhos.

Com certeza sua mãe possuía esse poder, também.

Eu estava ferrado, totalmente ferrado.

Outra risada rolou de mim, eu bati no nariz de Kallie.

— Não tenho certeza se é considerado uma festa


surpresa se você a planejar sozinha, Little Bug.

Aquele nariz precioso se torceu com a confusão, antes


de uma ideia clicar.

— Que tal você planejar uma para mim, Baz? — Ela


perguntou, seus olhos caramelos se arregalaram com seu
pensamento esperançoso.

Não havia nada implícito ou assumido nisso. Era só


esperança e imaginação.

Sim, eu estava completamente e totalmente fodido.

Possuído.

Esperava Deus que eu não deveria estar resistindo a


toda essa fofura, porque simplesmente não ia acontecer.
Percebi que havia todos os tipos de regras estabelecidas em
algum lugar sobre não estragar uma garota, mas não havia
um osso malcriado em Kallie Marie Bentley.

Ela era uma bola selvagem e impetuosa de pura doçura.

Inocente.

Genuína.

Sincera.
Acho que ela puxou isso da sua mãe.

Como se eu tivesse que pensar muito duro sobre isso,


torci meu rosto em contemplação.

— Hmm... Eu não sei.

Antecipação a fez juntar as mãos novamente, ela


apertou-as sob o queixo, aqueles pequenos dentes expostos
com um sorriso brilhante dividindo seu rosto.

— Oh, por favor, oh, por favor. Vou ser muito, muito
boazinha e ouvir tudo o que você e mamãe me disserem!

Eu sorri.

— Nesse caso, acho que talvez algo possa ser arranjado.

— Sim! — Ela gritou. Excitação brilhando por ela, todo o


seu ser iluminando como uma súbita explosão de sol.

Me aquecendo.

Com certeza ia ser a melhor festa que esta cidade já viu.

Ela dançou em cima do balcão um pouco mais, voltando


a cantar sua canção e encharcar o pão com tanto alho que
certamente Shea e eu iríamos nos asfixiar.

Duas semanas e meia se passaram desde que a


recuperamos. Nós entramos em uma rotina. Essa rotina
basicamente significava gastar cada segundo que eu podia
com elas. Cada segundo dormindo também. Bebendo este
tempo, alimentando-me para o momento em que a minha
vida me levasse para longe.

Mas desta vez?


Desta vez, iria com a promessa de que estaria de volta,
não importa quanto tempo a minha vida roubasse-as de mim.

Quando ela chegou em casa, levou alguns dias para


Kallie realmente começar a relaxar e a agir em seu estado
normal novamente. Na primeira semana ela teve alguns
pesadelos.

Porra, eles foram uma das cenas mais dolorosas que já


vi.

Shea lhe fez perguntas gentis, não a pressionando, mas


sempre a incentivando a se abrir. Para falar ao invés de
manter o medo dentro de si. Prometendo que qualquer
segredo que ela precisava dizer estaria sempre seguro com a
gente.

Ainda fundia minha cabeça que Shea confiasse em mim


com tudo isso. Com sua filha. Com o cuidado, esforço e amor
que dedicava a ela.

Levantando-a.

Nenhum de nós declarou em voz alta, embora


soubéssemos muito bem que é o que estava acontecendo. Eu
assumi o papel como se tivesse nascido para fazê-lo o tempo
todo.

Assumir Kallie como minha.

Ainda me preocupo? Pergunto-me se ser uma parte de


suas vidas só as arrastaria para baixo? Causando-lhes mais
dor e sofrimento?

Porra, sim.
Cada porcaria de segundo.

Acho que simplesmente me preocupo mais sobre elas


poderem viver sem mim.

Ou talvez fosse apenas meu próprio egoísmo e ganância


que me mantinha aqui, recusando-me a deixá-las ir.

Mas em momentos como estes? Quando eu estava aqui


com Kallie, fazendo-a sorrir, ser um parceiro para Shea,
alguém lá para apoiar, ajudar e facilitar?

Eu precisava acreditar que poderia oferecer mais.


Acreditar que tudo o que Shea viu em mim era real. Quem eu
poderia realmente ser. Que talvez pudesse ser melhor do que
toda a merda que fiz na minha vida por muitos anos.

Shea estava certa.

Era uma escolha.

E eu estava escolhendo-as.

Um dos únicos confortos que tivemos em toda a


situação foi que aquele bastardo do Jennings não ficou perto
de Kallie, enquanto ele a teve naquela casa. Quando Kallie
começou a sentir-se confortável o suficiente para começar a
contar histórias, divulgando pequenos pedaços do que
aconteceu, ficou claro que a velha senhora que atendeu a
porta era a única que cuidou dela.

O idiota não deu a mínima para Kallie.

Não que isso fosse uma surpresa.

Ela não foi nada mais do que um peão. Uma tática em


seu jogo hipócrita.
A parte doente? Nós ainda não tínhamos certeza se foi
para se divertir ou para tirar proveito.

Organizei os pães em uma forma e coloquei-os no forno.


Digitei os números do temporizador e olhei para o relógio.

A qualquer momento, Shea entraria pela porta.

Minha frequência cardíaca aumentou. Era ridículo que


ela só saiu por quatro horas e eu já estava ansioso para vê-la
novamente?

Balancei a cabeça.

Nunca.

As coisas estavam boas para caralho. Mas isso não


significa que não estávamos no limite, constantemente,
esperando outro golpe. Jennings não foi adiante com a
questão sobre a custódia, desde o dia que Kallie voltou para
casa. Podia-se esperar que ele desistiu.

Mas Shea e eu sabíamos melhor. Ele estava apenas


ganhando tempo.

À espreita.

A forma como todos os predadores fazem.

Kallie cantou a última parte de Brown Eyed, com sua


doce voz em meus ouvidos. Ela me deu um sorriso tão grande
que se estendeu e me tocou.

— Essa é a minha favorita, favorita, Baz.

Eu baguncei o seu cabelo.


— Incrível né? Esta canção me lembra um bocado de
uma dupla de meninas que conheço.

— Quem?

Nesse momento, a porta lateral abriu e Shea entrou,


com sedução, suavidade e sorriso radiante.

Linda para caralho.

Procurei o ar que de repente pareceu me faltar, sem


sequer tentar esconder a maneira como meu olhar a
percorreu, olhos acariciando-a de cima a baixo.

Uma onda de luxúria me consumiu, e no mesmo


segundo uma onda de calma se instalou no centro do meu
peito.

Caos e paz.

Ela flutuou, como brisa de verão, cachos pulando e


sorriso alegre, minha menina de luz, luz, luz.

Às vezes não sabia como lidar com isso. Era como se


uma guerra constante travasse dentro dela, esmagando
profundamente, intrometendo-se contra o brilho irresistível.

Kallie agitava os braços.

— Mamãe... surpresa! Eu e Baz estamos fazendo


espaguete para o jantar. Vai ser tão, tão, tão bom! É melhor
estar com fome.

Shea olhou-me com o mais doce sorriso, sensibilizada


ela se virou para sua filha com um suspiro fingido.
— Oh meu Deus, você fez o jantar? Espaguete é o meu
favorito. Como é que você sabe que desejei isso o dia todo no
trabalho?

Shea contornou a ilha. Deu um beijo na testa de Kallie.


Kallie levantou o rosto e olhou para ela com adoração e amor
incondicionais. Shea cutucou sua barriga gordinha e Kallie
gritou, pegando nas mãos de Shea, os seus pequenos ombros
indo até as orelhas.

Essas duas iam ser a minha morte.

— Mamãe, eu já sei que é o seu favorito, esparguete é o


meu favorito, também. Lembra? — A voz de Kallie virou
bronca.

Shea riu e olhei-a novamente.

— É claro que me lembro. Você acha que eu ia esquecer


algo tão importante?

— De jeito nenhum. — Kallie sacudiu a cabeça.

Depois de tirar alguns dias até Kallie se ajustar, Shea


voltou a trabalhar há uma semana. Ela fez algumas
mudanças na hora do almoço, quando retornou ao trabalho
até as coisas entrarem em normalidade, antes de passar para
sua programação regular nesta terça-feira.

Três dias atrás.

Devia ter esperado o alvoroço que ia causar quando


dissesse a ela que cuidaria dela. Pedi-lhe para ficar em casa e
parar de trabalhar no Charlie.
Ela não queria nada disso. Mais uma vez me disse que
não estava nisto pelo meu dinheiro ou o que eu poderia dar a
ela.

Mas esse era o ponto. Eu queria que ela tivesse tudo.

A pior parte era saber que os meus dias aqui eram


fugazes. Parte de mim estava trabalhando através de cada
cenário, tentando descobrir como poderia convencê-la a vir
comigo. Ao mesmo tempo, sabia que não poderia apenas
chegar aqui e tirar Shea e Kallie da sua casa.

Shea me pegou olhando. Engoli pesadamente, quando


aqueles olhos fecharam em mim. Desta vez, foi a sua vez de
me encarar. Fome, necessidade e apreciação.

Porra, a menina sabia exatamente como me desfazer.

Ela deu um passo para frente até seus seios roçarem


meu peito, ficou nas pontas dos pés para roubar um beijo.

A sua boca encontrou a minha, eu agarrei-a pelos


quadris, ansioso para revidar. Beijei-a doce e lentamente,
mantendo certa censura considerando que uma criança era
nossa plateia.

Ainda assim, Kallie riu como se fosse a coisa mais


escandalosa que já testemunhou.

— Você dá a mamãe muitos beijos.

Me afastei, meus dedos ainda nos quadris de Shea.

— O quê? — Provoquei, aprofundando minha voz com


descrença. — Não há tal coisa como muitos beijos.

— Uh-huh— Kallie respondeu.


Dei a Shea um sorriso, antes de soltá-la e dar dois
passos medidos em direção a Kallie.

— O que, assim? — Agarrei-a pelo rosto e salpiquei


beijos barulhentos por todo o seu rosto de anjo.

Kallie gritou, membros se debatendo e seu peito


tremendo de tanto rir.

— Pare, Baz! Esses beijos dão cócegas!

— Não é possível... parar. — Disse entre beijos, fazendo-


a gritar mais.

Kallie revidou, dedos minúsculos trancando em meus


ouvidos, e ela espalhou seus próprios beijos ruidosos em meu
rosto. Ela se afastou, alegria nadando em seus olhos.

— Entendi!

Rindo levemente, cutuquei o seu queixo com o meu dedo


indicador.

— Você me pegou.

Você me pegou.

Eu nunca voltaria a ser o mesmo.

Voltei minha atenção para Shea e fui desarmado pela


adoração brilhando em seu rosto.

Ainda não entendia como fui sortudo o suficiente para


ser o receptor de algo tão bonito.

Fui para ela, minha voz diminuiu quando envolvi o


braço em sua cintura e puxei-a para mim.

— Como foi o seu dia?


Com um sorriso satisfeito, ela me olhou, cansada, mas
totalmente à vontade.

— Ocupado, mas bom.

Plantei mais alguns beijos à beira da sua boca deliciosa.

— Bom.

— Hey. — Kallie se opôs com um enorme sorriso.

Com a minha boca ainda correndo ao longo de Shea,


murmurei a Kallie:

— Cuidado, mocinha.

— Little Bug. — Ela corrigiu e caramba, meu coração


ficou um pouco louco.

Insano.

Eu estava completamente desacostumado a ter toda


essa bondade, quando estava há muito tempo no mau.

Dando risada, Shea desembaraçou-se dos meus braços


e finalmente olhou em volta. Ela percebeu rápido e tomou
nota do desastre que se abatia sobre a sua cozinha. Além de
Kallie? Essa cozinha era basicamente o seu orgulho e alegria.

Ela levantou uma sobrancelha para mim, com uma


acusação brincalhona.

— E como foi o seu dia?

— Ocupado, mas bom. — Respondi puxando o seu cinto


e lhe dando uma palmada.

Ela sorriu.

— Percebi isso.
Uma nova canção veio, Shea olhou para o rádio. Até
aquele pedaço de eletrônica e eu nos conhecermos,
certamente ele só conheceu músicas country velhas.

A atenção de Shea disparou para Kallie que mais uma


vez começou a se mexer em torno da ilha.

Shea olhou para mim. Um olhar de horror fingido


estampado em seu rosto.

— O que no mundo você está deixando a minha filha


ouvir?

Joguei uma expressão horrorizada de volta, embora a


minha provavelmente não se parecesse com uma fingida.

— O que? Pensei em deixar Kallie ouvir alguns clássicos.


— Levantei um ombro. — Rolling Stones, LED Zeppelin. Você
sabe, começando com algo lento. Então, talvez, passar para a
velha escola do punk rock, preparando-a, antes de apresentá-
la a coisa real.

Então, talvez pensei que a garota precisasse de um


pouco de variedade em seus gostos musicais.

Shea arregalou os olhos em consternação.

— E a coisa real seria?

Fiz uma carranca, brincando com ela.

— Não sei.... estava pensando em algumas bandas que


eu poderia apresentar a ela.

— Você está tentando atrair a minha filha para o lado


negro? — Seu tom era nada além de flerte e provocação, ela
agarrou um punhado da minha camisa, puxando e me
fazendo tropeçar um passo à frente.

Eu não me importava nem um pouco. Encontrei a base


do seu pescoço e inclinei a sua cabeça em minha direção.
Minha outra mão atingiu aquele ponto suave na parte inferior
das suas costas, curvando-a. Sussurrei perto do seu rosto,
lábios pairando a um centímetro dos dela.

— Nunca sonharia com isso, baby.

Seus olhos correram os meus, e a energia aumentou.


Era sempre assim. Um toque. Um murmúrio.

Fogo.

Aquela voz de sino me fez inclinar a cabeça para trás o


suficiente para pegar o sorriso iluminando o rosto de Kallie.

— Durante toda a manhã quando você saiu e esteve com


seu amigo, eu e mamãe ouvimos você cantando, Baz. Mamãe
pôs alto, muito alto.

Lentamente, olhei para Shea que ainda estava inclinada


para trás, completamente dependente de minha espera.

— É mesmo? — Eu exigi.

Um rubor profundo patinou até o pescoço de Shea e


latejava em suas bochechas.

Então talvez eu não devesse desistir da ideia da minha


menina vir comigo quando estiver fora.

Apenas algumas semanas atrás isso seria loucura, me


senti mal apenas com a ideia. Não queria que minha menina
doce e meiga, testemunhasse a maneira que Sunder aparecia
no palco. Toda aquela hostilidade, dureza e agressão que
batia através das nossas canções.

Mas agora…

Agora queria que ela fosse uma parte dela.

Em todos os aspectos.

Cada faceta.

Porque Shea sabia quem eu era.

— Você sentiu falta de mim quando eu estive fora? —


Um sorriso no canto da minha boca.

Shea molhou os lábios, a voz rouca com a admissão.

— Sempre.

— Boa menina.

Os seus dentes apertaram o lábio inferior, com tanta


força que ficou branco, e caramba, se eu não queria levá-la lá
em cima, atirá-la sobre a cama, e afundar em seu calor.

Para provar e foder.

Me perder em seu mar de luz e escuridão.

Apenas por pouco tempo.

Mas a água estava começando a ferver no fogão e


tínhamos uma pequena nos observando com muita atenção,
sua inocência precisava permanecer intacta.

Primeiro as prioridades.

Dei um beijo rápido na boca tentadora de Shea, então a


endireitei sobre seus pés instáveis.
— Vamos, vamos terminar o jantar. Nós só precisamos
colocar o espaguete e podemos comer.

Shea sacudiu o desejo que cobria sua pele.

— Parece bom.

Peguei Kallie do balcão. Ela deu um grito agudo, jogando


os braços pelo ar, batendo-os quando a levantei no ar.

A pendurei nas minhas costas e ajudei-a a despejar a


caixa de espaguete na água fervente.

Esta era a maneira que sempre deveria ser.

Nós três nos sentamos à mesa e compartilhamos a


refeição.

E eu sabia que nunca experimentaria qualquer coisa


melhor na minha vida.

— Você está uma bagunça. — Shea esfregou o nariz


contra Kallie e puxou-a da cadeira em seus braços, molho de
espaguete manchava o rosto de Kallie, grumos preso à frente
da sua camisa e alguns decoravam seu cabelo. Pareceu que
caiu mais no chão do que entrou em sua boca.

— Hora do banho.

Shea ajustou Kallie ao lado dela, seu corpo flexível


andando em minha direção, onde ela abaixou-se e deu um
beijo em mim que ainda estava sentado à mesa.

— Obrigada pelo jantar. — Shea disse calmamente.


Agradecida.

Verdadeiramente.

Afeto tomou conta de mim.

— A qualquer hora. — Respondi de volta — Vá em frente


e limpe esta pequena, que vou colocar a cozinha em ordem.

No andar de cima, a água correu, levantei-me e limpei a


mesa. Coloquei a pilha de pratos na pia, para enxaguar e
colocá-los na máquina de lavar louça. Limpei os balcões, varri
o chão, limpando a bagunça que Kallie e eu fizemos antes,
enquanto me perguntava novamente como era possível que a
minha vida pudesse mudar tão drasticamente em apenas
alguns poucos meses.

Sunder ainda deveria estar na nossa turnê europeia,


enchendo-se nas salas de música turbulentas e escuras,
deleitando-se com deboche e com o pecado. E aqui estava eu,
nesta cidade pitoresca, limpando a cozinha da minha garota.

Terminei com a cozinha, passei pela porta de vaivém da


sala de estar. A Madeira rangia sob os meus passos quando
subi as escadas. Risos ecoavam do banheiro, o som me
atraindo.

Abri um pouco mais a porta e me apoiei com o ombro


contra o batente.

Kallie estava espirrando a água do seu banho, coberta


até o peito em bolhas. Shea estava sentada na beira da
banheira. Ela tirou a camisa que estava usando, e agora
estava apenas com a sua calça jeans e uma camiseta
apertada com a frente encharcada de água.

Droga.

Ela olhou para onde eu estava, travando os olhos em


mim.

Calorosos.

Honestos.

Puros.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntei a elas


como se estivessem causando todo tipo de problemas, Kallie
ria e ria. Me aproximei a tempo de pegar Kallie colocando um
grande monte de espuma em suas mãos. Ela soprou-os no
rosto de Shea.

Shea gritou então riu, limpando, alguns traços ainda


agarrados ao rosto.

— Eu acho que estou sob ataque do monstro de


espuma.

— O monstro de espuma, é? — Perguntei, olhando Kallie


que começou a balançar a cabeça, alegria e culpa escrita por
toda parte dela.

— Nuh-uh. — Um sorriso derramando dela. — Eu não


sou um monstro. — Ela mostrou alguns dos dentes e
levantou o queixo. — Sou Papai Noel.

Shea olhou para mim. A expressão em seu rosto me


tocou profundamente.
Alegria.

O telefone de Shea tocou em seu quarto.

— Se importa se eu for pegá-lo?

— Não. Vá em frente. Eu cuido dela.

Ela roçou a minha mão quando passou, um simples


toque, nada demais, mas significativo.

Isso é o que Shea e eu tínhamos, mesmo nos momentos


simples como estes.

Confiança e certeza.

Tomei o lugar de Shea na borda da banheira.

— Ei, Little Bug! Será que você está limpa?

Kallie assentiu. Ela levantou as mãos que estavam


enrugadas e limpas.

— Tudo feito.

Rindo, inclinei-me e peguei uma toalha da prateleira, em


seguida, mergulhei a mão na água para puxar o plugue.

Água girou quando começou a escorrer.

Kallie ficou de pé, passei a toalha em torno dela e


levantei-a sob os braços, trazendo uma tonelada de espuma
com a gente.

— Vamos lá.

Quando fiquei de pé, eu a rodei. É claro que a fez rir


histericamente, porque a criança era a coisa mais feliz que já
conheci.
Sentei-a sobre o balcão, com os pés fora da pia, o
pequeno corpo todo enrolado, braços livres, ombros
encolhidos.

Eu estava bem atrás dela para ela não cair.

Água escorria do seu cabelo e agarrei uma segunda


toalha, imaginando o desastre na cabeça, daria mais trabalho
do que qualquer outra coisa.

Comecei a esfregá-la na confusão dos cachos.

Deus, ela cheirava a morangos e bebê, e aquele lugar


protetor em mim, inchou.

Era o mesmo lugar que se preocupava incessantemente


com o meu irmão.

O mesmo lugar em que pensei estar há muito tempo


lotado.

De alguma forma quebrado e com defeito, cheio de culpa


e arrependimento. Uma obrigação distorcida.

Mas aquele lugar se transformou.

Se expandido.

Mais, mais e mais.

Passei a toalha por seu cabelo novamente, agarrando a


massa e delicadamente puxando sua cabeça para trás,
quando sequei uma última vez. Ela olhou para mim e beijei
sua testa.

— Aqui vamos nós.


Peguei uma escova e comecei a pentear o cabelo úmido
de Kallie.

Podia sentir seus olhos em mim enquanto eu


trabalhava, a atenção da menina fixa em mim através do
espelho.

Olhei para ela, vendo a maravilha lá, algo brincando em


seus olhos.

Ela escovou os dentes e depois de ajudá-la e colocá-la


no chão, ela correu para o quarto com a toalha em torno dela,
a ponta arrastando no chão.

Parando na porta, ouvi a voz de Shea vindo do seu


quarto, despreocupada e delicada.

— Não tem problema, Charlie. — Ela disse, e continuei


em direção ao quarto de Kallie.

Quando cheguei lá, ela já estava abrindo o seu armário e


puxou uma camisola por cima da cabeça.

Ela pulou na cama.

Rindo, atravessei o quarto e ajoelhei-me ao lado dela.


Ajudei-a se cobrir e ela levantou os ombros até suas
bochechas. Kallie soltou uma risadinha tímida, sua expressão
mudando de volta para o jeito que estava olhando para mim
através do espelho.

Um braço serpenteou para fora, ela timidamente passou


as pontas dos dedos minúsculos ao longo da tatuagem
estampada sobre o meu antebraço esquerdo, uma
contradição gritante, dura, cheia de cicatrizes e manchas,
com a pureza dessa garota, pele clara como a neve, contra
toda a minha escuridão.

Sua voz era um sussurro.

— Eu quero ter borboletas pintadas em todos os meus


braços como Mamãe tem do seu lado.

Instantaneamente, estava imaginando essa menina


crescendo. Dezoito ou mais. Tão bonita como a mãe dela.
Tatuagens girando em padrões claros e distintos nos braços
dela. Outro flash com a pele não marcada.

Um pedaço dentro de mim se partiu ao mesmo tempo


em que se elevou.

Será que vou estar aqui para testemunhar esta incrível


garota crescer?

— Assim como você, Baz. — Ela disse com aquela voz


doce, sua boca puxando em todas as direções, seu sorriso tão
avassalador que eu não era nada, além de uma poça no meio
do seu quarto. — Eu quero muitas e muitas.

Uma risada áspera retumbou de mim, puxei um


daqueles cachos indisciplinados.

— O que você acha que sua mãe iria pensar sobre isso?

— Mamãe gosta das suas.

Outra risada, essa mais profunda. Ela com certeza


gostava.

— Posso ter uma agora?


— Uh... não. — Tentei conter minha diversão. — Vai ter
que esperar até que seja grande. Como a sua mãe.

— E se eu pedir por favor?

— Tenho certeza de que ainda seria um grande não. —


Não precisava entrar no fato de que não era sequer uma
opção.

— Que tal se você fosse meu pai? Você deixaria?

Porra eu congelei, minha boca secou.

Engoli a pedra na base da minha garganta quando


finalmente fui pego.

Vi essas rodas girando em sua cabeça, garota


inteligente, nós estávamos patinando nesse assunto por
semanas.

Deus, eu estava pisando em gelo fino. Caminhando


numa fronteira tênue.

Sabia que estava a cerca de cinco segundos de uma


queda.

Pensei na minha resposta.

— Se eu fosse seu pai, então eu diria a você não,


também, porque meninas não estão autorizadas a fazer
tatuagens. E então quando você for grande, iria encorajá-la a
fazer o que te faz feliz, desde que não fira você ou qualquer
outra pessoa. E contanto que seja bom para você.

Suas bochechas ficaram vermelhas, ela sorriu


largamente, agarrando as mantas e mantendo-as em seu
queixo.
— Eu acho que gostaria disso.

— O que você gostaria?

— Que você fosse meu pai.

Meu coração vacilou. E eu tropecei.

Queda.

Mergulhando.

Afundando cada vez mais.

Senti uma presença atrás de mim. A onda da sua


tempestade. Uma rajada feroz de energia invadindo o quarto.
Atrapalhado, olhei por cima do meu ombro. Nossos olhares se
encontraram, mil palavras passando em um piscar de olhos.
A visão de um futuro que gastaria minha vida trabalhando
para merecer.

Shea levantou o queixo, para eu responder. Passando


seu apoio incondicional e crença em mim. A resposta que dei
foi inteiramente minha escolha.

Mas não faltou intensidade por trás do seu


consentimento. O zelo veemente com que protegia a sua filha.

Se eu estava dentro, então estava dentro por completo.

Este não era um fodido jogo e não haveria como voltar


atrás.

Lentamente, voltei minha atenção para a menina que


mudou tudo.

Kallie apenas sorriu mais, como se fosse a coisa mais


natural do mundo e ela não me tirasse do eixo.
Mas esse era o problema. Era natural. Destinado a ser.
Porque apesar das palavras não terem sido ditas, estávamos
indo nessa direção o tempo todo.

Quando comecei minha perseguição, este foi o caminho


para o qual fui conduzido, embora na época não fizesse a
menor ideia do destino.

Porque Shea não tem tempo para distrações ou desvios.

Ambas mereciam o melhor, algo sólido. Permanente.

Um tremor rolou através de mim, porque eu ainda


carregava muita bagagem. Ainda, muitos demônios,
arrependimentos e consequências ainda a serem pagas.

Mas, assim como eu, Shea estava dentro.

Ela sabia o que estava comprando.

O que eu podia enfrentar e até onde podia ir.

E pela graça de Deus ela estava disposta a ficar ao meu


lado através de tudo isso.

As palavras saíram roucas da boca.

— Eu acho que eu gostaria disso, também.


Uma névoa brilhante envolvia o ambiente. Corpos eram
embalados despreocupados entre as paredes. Durante anos,
Charlie‘s foi o principal ponto de encontro em Savannah. Um
lugar onde as pessoas deixavam de lado seus problemas e
preocupações, a fim de se sentirem livres. Livres das
turbulências do dia a dia. Toda a cidade parecia vir até aqui
para se divertir. Eles deixavam seus problemas saírem pelas
paredes rústicas, que sempre pareciam guardar um milhão
de segredos. Como uma madeira velha absorvendo-os e
mantendo-os seguros e protegidos.

Sebastian e o meu segredo começaram aqui.

Uma atração implacável que se transformou em algo


magnífico.

Senti um sorriso formar em minha boca, tentei me


concentrar no meu trabalho ao invés do homem que se
recusava a deixar minha mente.
Uma semana se passou desde que voltei ao meu horário
normal aqui, no Charlie‘s, onde eu trabalhava à noite, para
que eu pudesse ficar com Kallie durante o dia.

Mas nossas vidas não chegavam perto de voltar ao


normal, nossos dias estavam longe de serem normais ou
mundanos. O padrão de vida que criei e que estava
acostumada – o que Kallie e eu sobrevivíamos sozinhas – não
existia mais. Fora substituído por uma paixão que ameaçava
me consumir, me queimando viva com vibração e
intensidade.

Mastigando o lábio inferior, empurro os pensamentos de


lado e entrego as bebidas para uma mesa perto do palco. Os
três rapazes ali sentados pareciam empresários, com seus
ternos removidos, as mangas das camisas enroladas
casualmente, como se estivessem relaxando após um longo
expediente.

Duas bandas estavam programadas para tocar esta


noite, e nós estávamos em um intervalo entre elas. O nosso
cara do som, Derrick, tocava uma dessas novas músicas
country otimistas, que soava pelos alto-falantes.

As pessoas invadiram a pista de dança próxima ao


palco, e os casais dançavam em um vai e vem, se perdendo
na batida da música.

Entreguei bebidas para mais algumas mesas, em


seguida, parei para pegar os pedidos de um grupo de cinco
meninas que chegaram e sentaram em uma mesa livre que
estava na minha seção. Todas celebravam o vigésimo
primeiro aniversário da menina mais nova. Vestidas com
quase nada, claramente implorando por atenção, com a
maquiagem exagerada e o corpo praticamente nu.

Eu só sabia que era o aniversário da mais nova pois


verifiquei sua identidade umas cinco vezes, ela parecia não
ter mais do que quinze anos.

Cada uma delas fez seu pedido. Elas riam e


sussurravam, como se estivessem no ensino médio, ofereci
um rápido sorriso. Mesmo que não pudesse me relacionar,
nunca iria julgar ninguém por se divertir. Anotei os pedidos e
disse:

— Eu já volto.

E voltei através da multidão reunida ao redor das


mesas, que estavam no espaço aberto em frente à pista de
dança, caminhando para o bar ornamentado, flutuando como
um oásis no centro de Charlie‘s.

Meu tio Charlie estava atrás dele.

Seu sorriso interminável apareceu através da barba


ruiva e meu coração palpitou em apreço. Ele foi misturar
bebidas na coqueteleira, enquanto conversava com um velho
que parecia bem em afogar suas mágoas. Sabendo disso,
Charlie fazia o seu melhor para animar o pobre rapaz.

Essa era uma qualidade de Charlie.

Ele é um dos rapazes bons.

Tudo o que ele fazia era em benefício de outra pessoa.


Ele me pegou sorrindo quando me aproximei e me jogou
uma piscadela.

— Ei você aí, Shea Bear. Você está bem? Parece que


temos alguns selvagens lá fora, esta noite.

Tamar aproximou-se discretamente ao lado dele, com


cabelos longos no mais vibrante vermelho. Seus lábios
estavam tingidos de vermelho e ela sorriu de maneira sexy
quando pegou a garrafa de vodca da mão de Charlie.

— Pssh. Você não sabe o que é selvagem, homem velho.

Eu ri e balancei a cabeça, enquanto pegava o


guardanapo, no qual anotei as bebidas das cinco meninas.

— Savannah está ficando muito chata para o seu


sangue de L.A.? — Brinquei com ela, arqueando uma
sobrancelha para o meu amigo, que estava no bar quase tão
mal quanto Sebastian, na primeira vez em que eu o vi
escondido em sua mesa de canto.

— Nunca— Ela respondeu com um sorriso. — Eu gosto


de chato. Porque você acha que estou presa em torno disso
por tanto tempo?

— Uh... tenho certeza que é por minha causa querida. —


Charlie disse, esticando os braços como se ele fosse o obvio
motivo por Tamar viver em Savannah.

Sem dúvida, ele era um bônus.

Charlie cuidava de Tamar e de mim, desde que nós


atravessamos as portas do Charlie‘s, anos atrás, cada uma
com suas próprias razões para fugir. Eu buscava uma casa e
Tamar fugia de sua casa.

Uma expressão irônica apareceu no rosto de Tamar,


enquanto servia a vodca em três copos.

— Agora quem está cheio de si?

Charlie enchia o saco de Tamar, sobre ser convencida


desde o momento em que ela começou a trabalhar aqui.
Nenhum de nós a viu sem estar bem arrumada, com um fio
de cabelo fora do lugar, sem maquiagem impecável e suas
roupas pareciam que saíram de uma dessas revistas de
motoqueiros. Sua pele parecia ter sido tatuada durante dias.

Ela era forte.

Recusando-se a permitir que alguém mexesse com ela.

Eu suspeitava que ela estivesse quebrada.

Mas ela era o tipo de força a ser bem-vinda, uma


menina completamente leal.

A expressão de Charlie tornou-se maliciosa.

— Apenas diga como é querida. E para o registro, o meu


bar não é nada perto de chato.

Com uma risada, eu balancei minha cabeça.

Velho arrogante.

Seu sorriso desapareceu, e ele me olhou sério.

— Mas de verdade, como foi lá fora, Bear? Você está


bem hoje à noite?
Eu dou um sorriso suave, depois rolo meus olhos,
porque o meu corpulento e amável tio assumiu preocupações
paternas comigo.

Mas eu entendo. Sua preocupação não era só comigo.


Ele preocupava-se com o bem-estar de Kallie, tanto quanto
todos nós. Ele pensava em seu futuro, na ameaça do que
poderia acontecer.

O ressurgimento de Martin Jennings era como teias de


aranha nos cantos da minha mente.

Semanas se passaram sem uma palavra. Ele me deixou


em um estado de inquietação. Constantemente em guarda.
Mas me recusava a gastar meu tempo com coisas que não
podia controlar.

Eu teria prazer em aproveitar o momento, saborear o


amor que davam para mim.

Não, eu não era tola. Havia tanta coisa para se


preocupar, que os meus problemas corriam para todas as
direções. Mas isso, era outra coisa que minha avó me
ensinou.

Você agarra o que está sendo dado a você, faça o melhor


que puder. Viva a vida ao máximo, mesmo quando ela te
derruba. Viva como se não existissem barreiras, mesmo que
existam paredes altas na sua frente. Esteja preparada para
lutar, mesmo em tempos de paz. E esteja disposta a viver em
paz mesmo quando há grandes guerras ao seu redor.

E Deus, isto ia ser uma guerra.


Eu podia sentir.

Senti-o nos lugares mais profundos do meu espírito.


Naquele lugar instintivo que surgiu na primeira vez que
segurei a minha filha em meus braços. Conhecimento de
mãe. Aquela sensação sussurrou para mim, alertando-me
para me preparar.

Parte de mim se preparava há anos, porque era certo


que Martin nunca iria esquecer o que eu sabia.

Mas nesse meio tempo, enquanto estava à espera, disse


a mim mesma que não fugiria. Me recuso a deixar a miséria
ser uma ameaça no canto mais escuro da minha alma, deixá-
la vencer.

Por agora, escolhi viver.

E quando esta vida me chamar para lutar, eu lutarei.

— Estou bem Charlie, realmente. — Prometi.

— Essa é minha garota.

Tamar começou a encher os drinks, quando as portas


duplas se abriram. Apesar do fluxo constante de pessoas
caminhando para dentro e para fora do bar esta noite, a
minha atenção imediatamente procurou pelo movimento.
Como se não houvesse nenhum outro lugar no mundo o qual
eu poderia olhar.

Expectativa.

Uma ligação absoluta.

A tensão que somente eu poderia sentir.


Sebastian entrou pela porta, com toda sua força, seus
mistérios e a sua beleza. A lâmpada balançava nas vigas
acima dele, iluminado as linhas de expressão do seu rosto.
Aqueles olhos cinzas percorreram o local. Caçando. Eles
foram rápidos, e logo me encontraram.

Arrepios surgiram pela minha espinha. As borboletas


floresceram na minha barriga, flutuando sob a minha pele,
causando-me uma onda de arrepios.

Não fazia diferença quantas vezes ele me segurou.

Ele sempre me segurava.

Aprisionada.

Enredados e ligados.

Sem uma escolha consciente, eu me movimentava, como


se meus pés não estivessem tocando o chão. Diminuindo o
espaço entre nós.

Sebastian estava lá, calado, sob os reflexos da lâmpada,


deixando sua aparência quase ameaçadora, mas ao mesmo
tempo gloriosa. Uma velha camiseta preta esticada sobre seu
peito sólido. Os desenhos coloridos se arrastavam sobre os
seus braços, cada história escrita ali se contorcia junto com
seus músculos.

Sua expressão era cruel, mas ao mesmo tempo


carinhosa.

Devastador.

E pensei que talvez tivesse perdido um pedaço da minha


mente, uma parte da minha alma, porque a minha boca
salivava e meu corpo zumbia com uma necessidade
incontrolável.

Vívido.

Violento.

Perigoso.

Eu nem sequer notei o resto dos homens que


atravessavam a porta atrás dele.

Em vez disso, me levantava na ponta dos pés e passava


os braços em volta do seu pescoço, seus braços se fecharam
em torno da minha cintura.

Calor e alívio.

Aquela boca linda chegou cada vez mais perto, até que
encontrou a minha.

Céu.

— Oi. — Ele murmurou, ajustando seus lábios aos


meus.

Deus, eu adorava quando podia senti-lo sorrir sob nosso


beijo.

— Oi. — Respondi. Relutantemente me afastei. — Pensei


que vocês ensaiariam hoje à noite?

Não que estivesse reclamando.

— Nós terminamos cedo. — Sebastian disse


rapidamente. Algo passou pelo seu rosto, causando uma
apreensão em meu coração.
Ele forçou um sorriso e desviei o meu olhar do dele,
permitindo que os meus olhos fossem para os caras.

O som barulhento de rock preencheu o Charlie‘s.

Quase agressivo.

Ansioso.

Selvagem e incontrolável e tão obviamente fora do lugar.

— Ei pessoal.

Lyrik passou a mão através da bagunça do seu cabelo


preto, seus dedos tatuados piscavam na luz e seus olhos
escuros eram uma chama constante, quando ele levantou o
queixo para me cumprimentar.

Zee se inclinou e deu um beijo rápido na minha


bochecha.

— Hey, Shea — Murmurou levemente, lançando um


rápido olhar para Sebastian.

Cauteloso.

Uma pequena sensação de terror percorreu a minha


barriga.

Algo acontecia.

Distraindo-me, Ash foi rápido em colocar seu braço em


volta do meu pescoço, mostrando-me suas covinhas.

— Ficar em casa em uma maravilhosa terça à noite com


tudo o que Charlie's tem a oferecer? Agora, parece-me
ridículo. A tentação é grande demais para resistir. Que
homem no seu juízo perfeito iria recusar uma boa música,
boas bebidas e belas mulheres? Então, aqui estamos nós
para tirar proveito. Você deve se sentir honrada por nossa
presença.

Como sempre, Ash estava muito interessado em


acariciar seu próprio ego.

Era o homem mais arrogante que já conheci, mas,


mesmo assim, admitia que era tudo parte do seu charme.
Sem dúvida, ele deixava um rastro de calcinhas aonde
passava.

Ele beijou o topo da minha cabeça, sorrindo enquanto


nos virava para o cenário do Charlie‘s.

— Diga-me que você guardou a nossa mesa favorita


para nós.

Mesa favorita de Ash?

Olhei para a mesa no canto mais escuro do bar. O lugar


que sempre penso como sendo o de Sebastian.

Como sendo o nosso canto.

Um lugar que Ash, em toda a sua grande arrogância,


decidiu reivindicar como seu.

O lado corajoso de mim queria colocá-lo na linha.


Deixando-o saber o que exatamente aconteceu lá. Mas o lado
conservador disse, sem chances.

Senti uns olhos em mim, olhei para pegar o olhar do


Sebastian direto em mim, refletindo malícia e fervendo em
sexo, meus dentes morderam meu lábio inferior na tentativa
de dispensar meu constrangimento e o calor que
instantaneamente ardia em minhas bochechas.

Sem dúvida, sua mente estava exatamente onde a


minha estava, de volta àquela noite, quando ele me quebrou.

Marcou-me.

Contaminou-me.

Pensei que era o fim, quando, na realidade, estávamos


apenas começando.

Um casal se aconchegava em nossa cabine, a menina


jogava olhares tímidos, e o rapaz a olhava como se ele se
preparasse para devorá-la.

Aparentemente, aquela cabine era contagiosa.

Olhei para Ash, que ainda estava com o braço em volta


do meu pescoço.

— Ah não. Sinto muito, mas não sabia que vocês viriam.


Você vai ter que se contentar com uma mesa perto do palco.
Você acha que você pode lidar com isso?

Ash deixou escapar um suspiro falso.

— Bem. Mas isso significa que você tem que nos trazer
algumas bebidas grátis.

Ele piscou.

— Ha. Isso é o que você deseja, menino rico. Só por isso,


vou anunciar ao bar uma rodada inteira por sua conta.

— Menino rico? — Horror emanou de seu rosto. — Agora


isso é realmente maldoso, Shea.
Uma pequena explosão de risos saiu de mim.

Nunca vi um homem magoado por sua riqueza. Era


agradável e doce, havia algo sobre ele que me fez ama-lo um
pouco mais.

Amor.

Era verdade.

Cheguei a pensar na família pouco ortodoxa de


Sebastian como minha. Assim como ele se apaixonou pela
minha família.

Minha filha.

Ouvir Kallie chamá-lo de papai foi um dos momentos


mais terríveis e maravilhosos das coisas que saíram da sua
doce boca. Como a primeira vez em que ela disse Mamãe. Tão
puro e cheio de confiança.

Esses sonhos simples estavam quase se tornando a


minha realidade.

Kallie continuou a chamá-lo assim, gostando da


sensação de como a pronúncia soava em sua língua, e
Sebastian, era descaradamente, tomado pela emoção cada
vez em que ela o chamava.

Nós estávamos nos movendo rápido. Como se


estivéssemos presos em um túnel de alta velocidade.
Caminhando em frente. Velocidade nos arremessando em
direção ao futuro.

Foi emocionante e totalmente irritante.


Porque nenhum de nós sabia onde pararia. Tantas
perguntas sem resposta permaneciam, mas não havia como
parar o ímpeto que nos impulsionava.

Mais uma vez, fui arrastada pelo sentimento dos meus


pés não tocarem o chão. Como se estivesse suspensa logo
acima dele, à deriva, através do sonho mais sublime que
existia.

Ash apertou seu braço um pouco mais apertado ao


redor do meu pescoço, inclinando-se para olhar para
Sebastian.

— Diga a sua mulher aqui que nós trabalhamos duro


pelo nosso dinheiro.

Diversão iluminava os olhos de Sebastian, aqueles


mesmos olhos quentes que me aqueciam.

Eu empurrei Ash com meu quadril.

— Oh, tudo bem, aposto que você trabalha duro.

Ash fingiu um suspiro chocado.

— O que você está insinuando, bonita e inocente Shea?


Acredito que o nosso menino aqui corrompeu você. E agora,
sou definitivamente o mais duro.

Ele me jogou um sorriso brincalhão, um que parecia


muito presunçoso, enquanto se inclinava em direção a
Sebastian.

Uma ameaça nublou o rosto marcante de Sebastian, e


respirei fundo.
Deus, ele era tão bonito, que deveria ser um crime ser
assim. Acho que talvez eu seja territorialista.

— Tire as mãos da minha menina, seu cuzão, ou você


não será capaz de trabalhar duro em coisa alguma.

Meu riso e o de Ash soaram em torno do ambiente.

Soltando-me de Ash, fiz um movimento em direção a


Sebastian, rindo descontroladamente, deixando-o me agarrar.

Ferida.

Com ele, é onde eu permaneço.

Entrelaçados e retorcidos por dentro. Inquietos e


nervosos.

Uma mão forte desceu sobre as minhas costas,


agarrando firmemente minha bunda, sob os meus shorts.

Excitado.

Sim.

Não vamos esquecer que era sempre eu que despertava


com seus toques.

Sebastian esfregou seu nariz na minha bochecha, indo


em direção a minha orelha. Ele inalava e exalava, expelindo
sua energia e causando uma tempestade dentro de mim.

— Senti sua falta, baby.

— Também senti sua falta.

Não importava se passou um pouco mais de oito horas


desde que o vi pela última vez. O que eu sentia era
verdadeiro.
Esse fato era um pouco assustador, também.

Eu estava submersa.

Em algum lugar sem fundo.

Insondável.

Lyrik nos ignorou. Ele olhou por cima do ombro,


enquanto andava para a confusão de corpos reunidos no bar.
Ele levantou a voz para que pudéssemos ouvi-lo sobre o
ruído.

— Nós vamos beber ou vamos ficar como um bando de


idiotas assistindo Baz namorar sua garota a noite toda?

Ele foi em direção a confusão, abrindo seu caminho no


meio da multidão. Ele era tão alto que eu podia ver a
inclinação da sua cabeça quando se virou para jogar em
Tamar seu olhar ardente.

Ela basicamente rosnou para ele do seu lugar atrás do


bar.

Tensão exalava entre eles. Apesar de Tamar incentivar à


ideia de eu e Sebastian estarmos juntos, isso não se aplicava
ao resto dos caras.

Especialmente ao Lyrik.

Eu não poderia dizer o que ela queria mais, arrancar a


cabeça dele ou suas roupas. Perguntei à queima-roupa, se
algo aconteceu entre eles, ela apenas grunhiu um insulto
sobre babacas arrogantes que achavam que podem pegar
quem eles quiserem e, algo sobre o quão feliz ele iria deixá-la
por cortar seu pau e enfiá-lo na garganta dele.
O que acontecia? Ela estava lutando contra isso, com
unhas e dentes.

Sebastian não me deixou ir enquanto seguíamos Lyrik,


que aparentemente sabia exatamente onde iríamos. Ele já
sentava em uma cadeira nas mesas próximas ao palco.

— Sinta-se em casa. — Provoquei.

Forcei-me a sair do aperto de Sebastian, enquanto ele se


sentava no banco.

Você tem um trabalho a fazer, lembrei-me, porque a


única coisa que queria fazer no momento era me rastejar em
seu colo.

Uma sobrancelha arrogante de Lyrik arqueou. Eu juro,


esses caras eram demais para o meu gosto, ficava ocupada
cada vez que eles entravam pela porta.

— Achei que éramos um por todos.

Zee e Ash tomaram os bancos que sobraram.

Ash deu um suspiro exagerado, então se sentou e o seu


olhar azul sondou a multidão. Calculando. Pronto para fazer
uma jogada. Era claro o que estava em sua mente.

Tanto quanto eu odiava isso, não conseguia evitar a


picada de ciúme que existia dentro de mim.

Não era difícil de perceber como as mulheres se sentiam


imediatamente atraídas por eles. Suas cabeças giravam.
Procurando atenção. Nenhuma alma era imune a beleza
perigosa e a luxúria que brilhava em todo deles.
Era assim, noite após noite, e tornou-se cada vez mais
óbvio o que Sebastian queria. Ser sempre o alvo de muitos
afetos. Eu não poderia ajudar, mas me pergunto quantas
vezes ele esteve em um bar como este planejando um
movimento.

Dor infiltrou-se na minha pele. Seria loucura a ideia dele


estar com outra pessoa me ferir? Mas, parecia que eu esperei
por ele a minha vida toda. Nunca fui do tipo ciumenta, mas
Sebastian possuía o poder de evocar as mais tolas reações em
mim.

Ele me fez sentir coisas que nunca senti antes.


Enfrentar o impossível e sofrer intensamente.

Afastei os pensamentos inúteis.

— Então, o que todo mundo está bebendo hoje à noite?

Tudo sobre Ash brilhava.

— Traga-nos o de costume, querida. Mas traga duplo.


Temos motivo para celebrar.

Sebastian se encolheu. Na minha visão periférica, peguei


o olhar furioso em sua expressão. Um que mostrava que ele
estava a cerca de dois segundos de pular do outro lado da
mesa para arrancar a língua do Ash.

Esse sentimento estava de volta, o sentimento de ser


impulsionada por uma maré de alegria, enquanto, ao mesmo
tempo, estava prestes a ser enredada por uma ressaca
invisível.

Ameaçada de ser arrastada para o mar.


Afogada.

A voz de Sebastian era suave. Quase com medo, eu


lentamente me virei para olhar para ele.

Seus olhos cinzentos me acariciavam suavemente,


quase tão suave quanto sua voz.

— Basta nos trazer o de costume, baby.

— OK.

Afastei-me, embora não houvesse distância suficiente de


onde eu não pudesse sentir o peso do seu olhar, enquanto
voltava para o bar. A próxima banda já tocava, e seus ruídos
tornaram-se ensurdecedores.

Tamar franziu a testa para mim, enquanto entregava


bebidas para as cinco meninas que quase esqueci.

— Você parece verde. — Ela gritou por cima da música.

— Estou bem.

Ela soltou uma risada de descrença.

— Mentirosa.

Organizando as bebidas na minha bandeja, me


atrapalhei com uma risada incrédula.

— Eu sou tão transparente?

— Sim. — Ela fez um gesto com o queixo na direção da


mesa dos rapazes. — Quando se trata dele, você sempre é.
Desde a primeira noite em que ele apareceu aqui.

Eu dei de ombros.
— Honestamente, não é nada. Só tenho um...
sentimento estranho. — Balancei minha cabeça. — Por muito
tempo, meu único foco aqui era ganhar o suficiente para
sustentar a minha filha e a mim mesma, em seguida, ir para
casa com ela. É um pouco inquietante ter uma vida tão
instável.

Ela bufou.

— O amor tem uma maneira de inquietar você. Apenas


tome cuidado para não se destruir.

O aviso me pareceu estranho, incitar esse sentimento


sinistro que afastei várias vezes, tentava se tornar conhecido
por semanas, que eu não dei razão ou tempo, porque tudo o
que eu queria era este tempo com ele.

O problema era não querer que o tempo terminasse.

Tamar estava adiantada, passando-me as bebidas dos


rapazes, já sabendo o que iriam pedir.

Sorri em apreciação.

— Você é uma estrela do rock.

— Ah. Não é para tanto, mas tenho certeza que você tem
uma mesa cheia de rapazes esperando por você neste
momento. Vá mulher. Você não pode deixá-los sozinhos por
muito tempo ou eles vão começar algum tipo de tumulto. Só
Deus sabe o colapso que Charlie terá.

Dei risada porque sei realmente que é verdade.


Problemas os seguiam onde quer que eles fossem.
Equilibrava minha bandeja com bebidas para ambas as
mesas, cuidando para não esbarrar em alguém, enquanto
atravessava o caminho pela multidão. Todo mundo começou
a se mover, energia viva da banda country despertava os mais
animados da multidão.

Quando consegui por aquele monte de pessoas que


bloqueavam o meu caminho, as cinco meninas da festa de
aniversário já estavam de pé em torno da mesa do Baz.

Penduradas nos rapazes.

Sorrindo, flertando e fazendo coisas que nunca cogitei


fazer.

Deus.

Isso não era para mim.

Nem mesmo perto.

Mas tive o impulso irresistível de jogar a bandeja de


bebidas no rosto da ruiva, porque ela estava se esfregando
contra o meu homem, sussurrando algo em seu ouvido,
ficando amigável de uma forma que me fez querer arrancar
seus braços do seu corpo.

Meu Sebastian.

Sebastian estava apenas olhando para mim, aqueles


olhos duros ainda me acariciando de cima para baixo, como
se eles não parassem. Algo como um sorriso puxava seus
lábios. Parecia que ele lia os meus pensamentos, como se
estivessem escritos em um livro, visualizando, sem a
necessidade de detalhes, a possessividade crescendo dentro
de mim, onda após onda.

Mas senti sua promessa.

Sempre seria só eu.

Matando minhas inseguranças me aproximei, com a


sobrancelha arqueada, dos membros da pseudo-família de
Sebastian.

— Parece que vocês estão entretendo algumas


companhias. Acho que vocês estão fazendo o meu trabalho
um pouco mais fácil esta noite. Devo deixar todos estes aqui?

Ash deu um olhar apreciativo ao redor da mesa cercado


de muita pele.

— Soa como um maldito bom plano para mim, Shea


linda.

Dei de ombros entre Lyrik e Baz, colocando a minha


bandeja sobre a mesa. Talvez não devesse ter me sentido tão
presunçosa quando empurrei a ruiva em direção Lyrik, mas
droga, eu era apenas um ser humano.

Quem poderia me culpar?

Passei os copos de bebidas para os caras, e os drinks


para as meninas, rangendo meus dentes durante todo o
tempo, tentando agarrar-me a algum tipo de maturidade,
porque eu estava farta de joguinhos. Irônico, considerando
que me sentia tão petulante quanto uma menina de quinze
anos de idade, na qual, seu papai disse que não lhe era
permitido ir a uma festa, e o menino que ela paquerava pediu
para ir com outra pessoa.

Um braço serpenteou, envolvendo em torno da minha


cintura e sua mão quente se espalhou em minha barriga,
enquanto eu era arrastada de volta para o seu colo, que eu
fantasiava em subir a poucos minutos antes.

Meu corpo estava sem jeito em torno do dele, de costas


para o seu peito com um dos seus joelhos enfiados entre as
minhas coxas para me manter ligada a ele. Uma das minhas
botas estava apoiada no chão e a outra perna estava enfiada
debaixo da mesa com a força dele.

Deixei escapar um som chocado, e sua respiração era


áspera no meu ouvido, junto com suas palavras roucas.

— Você sabe o quão sexy você fica quando está com


ciúmes?

Eu chio.

Apanhada.

Culpada.

Nem sequer tive tempo para me envergonhar.

— Você acha que quero essa menina? — Ele continuou


soando ameaçador, e um tremor passou por mim com o
gemido que retumbou em seu peito. Sua voz ficou mais baixa.
Mais escura. — A única coisa que quero agora é arrastá-la
pelo corredor, ir até ao banheiro, rasgar essa bermuda e tira-
las dessas pernas incrivelmente longas, e enchê-la por trás.
Eu gostaria muito de vê-la através do espelho, enquanto você
treme.

Sua mão desceu para abaixo, parando em cima da


minha boceta.

Eu ofeguei, agradecendo a Deus que a evidência do que


ele fazia era obstruída pela altura da mesa e da pouca
iluminação que nos rodeia.

— Ver você se contorcer. — Ele rugiu.

Meu sangue pulsava, e um rubor percorria a superfície


da minha pele. Minha boca se abriu, e inclinei a cabeça para
o lado, tão perto que sua barba esfregou minha bochecha.

Olhos intensos olharam para mim.

Desejo.

Tensão.

Atração.

Não havia dúvidas.

Não há como disfarçar isso.

Acho que a ruiva entendeu a mensagem também,


porque eu peguei apenas um vislumbre do seu beicinho antes
dela voltar sua atenção para Lyrik, que por sua vez já estava
com a aniversariante rastejando em cima dele.

Ele não parecia se importar, rolei meus olhos como


sempre, porque, uau, isso realmente era ridículo e clichê.
Nada como uma estrela do rock ficando ganancioso e
querendo duas de uma vez.
Mas estava muito ocupada tentando controlar a maneira
como tremia, enquanto Sebastian colocava seus dedos
debaixo da bainha desfiada da minha bermuda curta.

Bom Deus, ele é ousado. Sua confiança era


extremamente intensa comparada com os meus receios.

— Você entendeu? — Ele correu o polegar pela beira da


minha calcinha. — Não me faça provar isso.

Ele falava sério? Fiquei cerca de cinco segundos


implorando-lhe para continuar.

Lutando por ar, agarrei a extremidade da mesa.

Eu não era muito profissional. Perturbada e excitada,


esqueci onde estava, porque Sebastian Stone tinha um jeito
de me fazer esquecer tudo, exceto ele.

Erguendo-me do seu colo, me endireitei. Esperava que


não fosse tão evidente o quão excitada estava naquele
momento.

Lyrik me observou com humor, passando os dentes ao


longo do seu lábio inferior para conter sua diversão,
enquanto as duas meninas ficavam um pouco mais
confortáveis. Ash sorriu como um tolo, e Zee acenou com a
cabeça, mostrando um sorriso um pouco envergonhado.

Bem... óbvio. Muito, muito óbvio. Perturbada, coloquei


uma mecha grossa do cabelo atrás da minha orelha.

— Qualquer outra coisa que possa trazer para vocês?

Ash levantou a bebida.

— Fique. Vou propor um brinde.


Ash olhou em volta, primeiro para Lyrik que levantou o
queixo, ao mesmo tempo em que ergueu o copo, como se
soubesse exatamente o que eles comemoravam.

Ele mudou-se para Zee que levantou sua bebida, com


vincos de desconforto nos cantos dos olhos. Em seguida,
mudou-se para Baz, que cavou seus dedos ao meu lado.
Como se segurasse sua vida preciosa, porque sentia que ela
se esvaia.

Sentia-me esvaindo.

Ash levantou o copo um pouco mais alto.

— Para um futuro que parece brilhante.

E eu deveria encontrar conforto nisso, porque Ash


demonstrava um sorriso puro e uma grande satisfação.

Mas não senti, por causa dos dedos apertados ao meu


lado.

Quase dolorosamente.

Arrependimento.

Invadindo a nossa volta.

O grupo de meninas levantaram seus copos, sem ter


ideia do que brindavam, mas ansiosas para comemorar
também.

— Pelo futuro.

Como se qualquer uma delas fossem parte disso.

E o mal-estar de Sebastian me deixou em dúvida se eu


faria parte disso.
Fiz o melhor para me concentrar no trabalho e não
prestar atenção na maneira como Sebastian me observava
durante toda a noite. Era praticamente impossível.

Seu olhar penetrante me seguia, me buscando e me


procurando por todo lugar, uma oscilação constante,
mudando de humor, era muito para eu suportar.

Queria pedir para se tranquilizar e assim deixar a noite


passar rapidamente para que ele pudesse me levar e me
envolver em seus braços, fornecendo o incentivo que eu tanto
precisava.

A segunda banda ainda tocava no palco. Uma névoa de


rostos indistintos filtrava através da minha visão, enquanto
atravessava a multidão, com a minha concentração focada na
única mesa que era o centro das atenções. Proeminente
acima de todas as outras.

Quando saí da cozinha pelas portas giratórias e fui para


o bar, fiz novamente. Executei a minha própria caça, tentado
procurá-lo.

Só que desta vez, ele não estava mais lá. As cinco


meninas ainda cercavam a mesa, enquanto Lyrik e Ash
estavam mais do que felizes em entretê-las, já Zee estava
quieto no seu canto, como se não quisesse ser parte do jogo
deles.

A cadeira do Sebastian estava vazia.


Meu coração acelerava. Me movi no meio da multidão,
cuidando dos meus clientes que estavam perto da pista de
dança, em frente ao palco, fingindo sorrisos e jogando falsas
gentilezas.

Entreguei alguns aperitivos para a mesa e comecei a me


afastar.

Um choque erótico queimou através de mim quando um


braço me serpentou por trás.

Sebastian apareceu de dentro da massa de pessoas e foi


rápido em me puxar para o centro da pista de dança, onde os
corpos se chocavam e balançavam, numa paixão agitada
junto a batida.

Os movimentos de Sebastian estavam completamente


em desacordo com o frenesi, cada movimento era proposital,
firme e forte, enquanto lentamente virava-me em seus braços.

— Dance comigo. — Ele sussurrou tão perto do meu


ouvido para que eu pudesse ouvi-lo acima do som da
multidão.

E foi tão doce, a constante contradição do seu corpo


forte, impetuoso e cheio de cicatrizes. Este homem bonito e
tórrido me segurava com a força dos seus braços. Seu
coração batia forte, um boom, boom, boom fornecido pela sua
própria instabilidade.

Completamente envolvida nele, pressionei meu rosto em


sua clavícula. Respirando-o. Desesperadamente, meus dedos
agarraram sua camisa.
— Diga-me o que está acontecendo.

Sua respiração exalou através do topo da minha cabeça,


mexendo meu cabelo. Ele me puxou mais para perto.

— Eles nos querem de volta a Califórnia na quinta-feira.

Tristeza sondou a boca do meu estômago, espalhando-


se para cada pedaço dentro de mim.

Me agarrei a ele mais apertado, meus braços ligados


entre nós e meus punhos firmes em sua camisa, enquanto
seus braços poderosos me apertavam.

Eu não conseguia respirar.

Sebastian falou no topo da minha cabeça, as palavras


vibraram em meus ossos, um som baixo, mas ainda
compreensível.

— Kenny confessou as acusações de agressão.

Alívio explodiu através de cada célula do meu corpo.

— Sem tempo na prisão. — Explicou Sebastian. — Só


serviço comunitário e uma pequena fortuna em multas, mas
é só isso. Eu tenho que aparecer na frente de um juiz para
finalizar tudo, mas essa merda de criminoso acabou. Martin
pode até me processar depois disso, mas ele não vai me tirar
de você.

Então, porque sentia ele partindo?

O alívio avassalador que senti com a sua liberdade era


uma sensação estranha. Sim, Martin ainda pode tentar
exercer controle sobre mim, mas ele não controlava mais
Sebastian com a ameaça de ser preso por defender seu irmão.
Por proteger e cuidar. O choque veio com a percepção de que
a vida levava Sebastian para longe.

Mesmo que soubesse que esse momento chegaria, isso


não fazia a partida sua partida menos difícil.

Luzes dispararam de cima do palco, e um mar caótico de


corpos nos circulou, enquanto Sebastian lentamente
balançava, nos movendo na metade do ritmo da batida
estridente.

Limpando a garganta, ele continuou.

— Com a notícia, nossa gravadora nos quer de volta à


estrada imediatamente após a minha aparição no tribunal.
Eles estão organizando uma pequena turnê, principalmente
pelos estados do Oeste, antes de voltarmos ao estúdio para
gravar o novo álbum. Os caras estão aliviados, baby. Isto era
o que eles esperavam.

Ele se afastou, as mãos emoldurando meu rosto.


Tristeza apareceu em suas feições. Tenso, enquanto lidava
com a confusão de emoções. Polegares acariciavam os meus
olhos e seus dedos firmes cavavam a parte de trás do meu
pescoço.

— Porra, apenas olhando para você agora, quebra meu


maldito coração. Tudo o que estou sentindo agora está escrito
em seu rosto.

Ele apertou-me para dar ênfase, me procurando dentro,


fora, em cima e embaixo, em todos os lugares. Roubando
mais.
— E... vai se mudar para lá... permanente? — Gaguejei
sobre a questão, porque isso... isso é o que nós evitamos. Nós
evitamos falar do inevitável, em vez disso, pulamos do trem
em alta velocidade.

Ele deu uma sacudida rápida e incerta com sua cabeça.


Uma carranca instalou-se em seu rosto inclinando para o
lado o canto de sua boca.

— Eu não sei.

Tomando minha mão presa entre nós, ele teceu nossos


dedos. Levantou-os e suavemente roçou os lábios pelos meus
dedos. A promessa foi murmurada em palavras ferozes.

— Tudo o que sei é que isso... isso é permanente. O


resto da minha vida.... Eu não sei. O que diabos vou fazer
com o meu irmãozinho... os caras... quanto tempo posso
continuar a viver esse tipo de vida. A única coisa que tenho
certeza é você. Mas também sei que agora não posso mudar
isso, Shea.

— Eu disse que nunca iria pedir-lhe para desistir. É


uma parte de quem é você. O que você faz é maravilhoso,
também é um pedaço do que realmente te faz feliz.

Ele deixou cair o rosto para o lado da minha cabeça e


balançou a sua, porque ele sabia disso também.

Um silêncio impossível nos envolveu em um casulo de


incógnitas, apreensões e inseguranças.
— O que significa para nós? — Eu finalmente consegui
perguntar. Seu coração batia forte sob o tecido fino da sua
camisa.

Afastando-se, ele me prendeu com um olhar inflexível.

— Quando terminar a turnê na costa oeste, quero que


você venha para a Califórnia.

Meu espírito dançou com a ideia, antes que a realidade


desabasse. Porque assim como Sebastian, eu tinha as
minhas próprias responsabilidades.

— Eu não posso simplesmente sair daqui, Sebastian.


Arrancar Kallie. Esta é a nossa casa.

— Não estou pedindo para você arrumar todas as suas


coisas e ir agora. Estou pedindo para você sair por um tempo.
Venha para L.A. ver onde vivo e o que faço. Nós vamos
descobrir o resto lá. Um dia de cada vez, desde que cada um
desses dias leve você a estar sempre ao meu lado.

Ainda o segurando, eu quase ri.

— Eu odeio L.A., lembra?

Seu rosto levantou-se para o teto, rindo antes que me


mostrasse o mais brilhante sorriso.

— Não é uma menina de cidade grande, hein?

Desta vez o meu riso transbordou dentro de mim,


enquanto relembrava a primeira noite que ele me persuadiu
na parte traseira da sua moto, quando brincou e zombou de
mim contra a parede do lado de fora da minha casa,
tentando-me de todas as maneiras que nenhum homem
jamais teve o poder de fazer.

Quando lutei, recusando-me a ceder, uma tola em


pensar que era possível escapar disso.

— Savannah é ótima. — Com a leveza no meu tom de


voz, eu repeti a resposta que dei a ele. Minha voz foi calma e
com sinceridade. — Mas só quando você está nela.

Agora... agora não sei se poderia ver este lugar do


mesmo jeito depois que ele se fosse.

Porque eu não era a mesma.

E quando você muda, é impossível ficar no mesmo


lugar.
Mexi-me desconfortavelmente na cadeira dura de
madeira, meus nervos fragilizados e frenéticos. Só porque
Kenny resolveu tudo, a alegação aceita por ambas as partes,
não significava que eu estivesse tranquilo. Longe disso.

Estar na mesma sala que Martin Jennings era um


verdadeiro castigo.

Meu joelho mexia um milhão de vezes por minuto e


Kenny me dava um olhar. Acalme-se.

Eu não conseguia.

Uma comichão se espalhou ao longo da minha pele.


Faria de mim um doente por querer nada mais do que me
levantar no meio do tribunal e eliminar Jennings?

Ele estava sentado do outro lado da sala, também de


frente ao juiz. Isso não significava que a sua arrogância não
estivesse enchendo a sala. Poluindo o ar. Era como se eu
estivesse me sufocando nela.

Puxo meu colarinho demasiadamente apertado,


mexendo na gravata.

— Sr. Stone. — Perguntou o juiz, o velho rabugento e


careca. — Você está de acordo com o pedido aceito pelos
procuradores do estado?

— Sim, senhor. — Eu disse, garganta seca.

Ele balançou a cabeça e olhou para os papéis. Ele não


olhou para mim enquanto lia os termos, a multa e a liberdade
condicional.

Eu sabia que deveria agradecer a minha estrela da sorte


por não me encontrar novamente atrás das grades, mas
porra, isso me atormentava. Jennings sentado ali tão
tranquilo quanto um gato, o cretino ficou lá como se estivesse
completamente limpo e não o oportunista que no fundo ele
era.

Em algum lugar ao longo do caminho, essas acusações


falsas de agressão ficaram em banho-maria e quaisquer
intenções corruptas que teve com Shea e Kallie. Sim, eu
queria sair dessa bagunça legalmente. Principalmente porque
isso significava que estaria livre, ainda mais forte para cuidar
das minhas meninas.

O juiz continuou a ler:

— O Réu não pode estar dentro de cem metros da


vítima...
Certo.

Eles estavam me dizendo para ficar longe de Jennings.


Se apenas isso o mantivesse longe de Shea e Kallie.

O juiz terminou e permanecemos nos lugares, o homem


saiu rápido para os seus aposentos. No momento em que ele
saiu, Kenny virou-se e me deu uma tapinha nas costas.

— Parabéns, Sebastian. — Ele estreitou os olhos em


sinal de advertência. — Vamos ficar fora do tribunal, não é?

Eu apertei sua mão.

— Vou fazer o meu melhor.

Uma risada seca escapou dele.

— Acho que você pode querer cavar fundo para


encontrar esse melhor.

Ele me conhecia bem.

Segui Kenny pelo portão pequeno onde Anthony


esperava, fazendo o possível para não olhar na direção de
Jennings. Eu provavelmente merecia uma tapinha nas
costas, considerando que podia sentir seu olhar pretensioso
queimando na parte de trás da minha cabeça.

Anthony apertou a minha mão. Um sorriso satisfeito em


seu rosto.

— Eu disse que não iria permitir que você fosse a


cadeia por isso. Isso é bom, Baz. Muito bom.

— Você nunca me decepcionou.

Seu sorriso era acolhedor.


Kenny liderou o caminho para fora do tribunal, no final
do corredor, pelas escadas.

Uma barragem de flashes disparou.

Nenhuma surpresa.

Os paparazzi avançaram no segundo em que pisei fora


da porta.

— Sr. Stone, você pode nos dizer o resultado das


acusações de agressão?

— Você fez uma declaração pública confirmando o seu


relacionamento com Delaney Rhoads... ou Shea Bentley, mas
você está de volta a Los Angeles, enquanto Srta. Bentley
permanece em Savannah. Será que essa relação terminou?

Sabia que era uma má ideia respondê-los, mas isso?


Não poderia manter minha boca fechada.

— A Srta. Bentley e eu ainda estamos muito juntos.

Anthony agarrou meu braço, da mesma maneira que


sempre fazia quando entrava em modo de negócio.

— Sr. Stone não irá responder a quaisquer outras


perguntas esta tarde. Vocês podem dirigir perguntas ao meu
escritório.

Atravessamos a rua e fomos para a minha caminhonete


estacionada no terreno ao lado.

Eu deixei tanto meu carro e o Suburban em Savannah


com Shea. Não poderia evitar, queria deixar alguma coisa
com ela, como uma promessa de que esse tempo separado
não era realmente uma separação, que estaria voltando para
ela e Kallie, logo que pudesse.

Apenas cinco dias se passaram e já estava sentindo falta


delas para caralho. Sentia falta do riso e da alegria. A
simplicidade da sua casa que me fazia sentir em casa.

Anthony e eu nos despedimos na calçada quando ele


subiu na traseira do carro que o esperava. Apertei o botão do
alarme e abri a porta da minha camionete.

Uma presença ameaçadora rastejou sobre mim como


uma doença.

Porra.

Passo a mão por cima da minha cabeça, hesitando virar,


sabendo o que iria encontrar. Fiz isso de qualquer maneira,
porque o que diabo eu deveria fazer?

Martin Jennings estava a cerca de 40 metros de


distância. Muito mais perto do que os cem metros que o juiz
acabou de ordenar, o bastardo estava me provocando.
Tentando incitar a raiva que eu estava me esforçando para
controlar.

Qual era o protocolo aqui? Perguntas me ocorreram. Não


era como se eu o seguisse, mas realmente não tinha ideia do
que a ordem judicial implicava. Parece que descobriria sobre
esta merda.

Agora.

Dou uma risada amarga quando viro completamente,


permanecendo em pé na porta aberta da minha camionete.
— E a que eu devo o desprazer?

— Você acha que saiu impune disso?

— Eu, impune disso? — Minhas palavras estavam


repletas de insinuações. Com toda a merda que sabia sobre
ele. E talvez alguns dos que não fossem de primeira-mão,
mas Deus sabia que meu irmãozinho testemunhou muitas.

Austin admitiu o suficiente para eu saber que foram os


caras do Martin que forneciam a ele e a Mark. Não dava a
mínima se isso fazia de mim um dedo duro. Se mantivesse
Kallie e Shea fora das suas garras? Eu me daria o maldito
título.

Arder em chamas.

Enquanto isso significasse que eu poderia proteger a


minha família. Cada um deles estava vinculado a esse pedaço
de merda.

— Eu avisei que você iria se arrepender caso se metesse


comigo, sempre cumpri minhas promessas.

Meus punhos cerraram.

— Você gosta de mexer com a cabeça de meninas


pequenas? Mantê-las com medo e se perguntando o que
diabo está acontecendo com sua vida? Kallie passar dois dias
na sua presença foi pagamento suficiente. Um segundo foi
demais.

Castigo cruel e injusto.

Tortura.

Para todos nós.


Ele zombou.

— Isso foi um mero aviso.

— O que você quer?

— O que Shea me deve. — Os olhos escuros brilharam


com presunção e desprezo. — Tudo.

Ele colocou os ombros para trás, levantou o queixo cheio


de cicatrizes que eu realmente gostaria de marcar um pouco
mais.

— Como disse a ela, acabar contigo junto com ela é


apenas um bônus.

Ele me olhou como se o mundo lhe devesse algo e ele ia


pegar de volta.

Esqueça isso.

Como se fosse o dono do mundo.

Intocável.

Minhas entranhas quase se partiram, um nó de


agressão pulsando para ser libertada.

— Shea não lhe deve nada. — Eu rosnei.

— Eu acho que você vai descobrir que não é verdade.


Sua mãe ávida por dinheiro assegurou-me nos contratos que
ela estava tão ansiosa para Shea assinar. Shea os violando,
consolida isso, e aquela criança garante isso.

Kallie.

Meu peito arfava por sua indiferença, porque aquela


criança se tornou minha filha.
— Fique longe delas. Fique longe da minha família.
Fique longe de mim. — As palavras soaram como cascalho
quando eu colocava para fora, segurando os últimos fios do
meu controle desvendado.

A última coisa que precisava era cair na sua isca. Sabia


que esse idiota me queria na cadeia. Fora do seu caminho.

Era disso que se tratava?

Livrar-se de mim?

Uma lufada de ar escapou do seu nariz.

Incrédula.

Desdenhosa.

— Shea tinha obrigações. Ela descumpriu-as. Isso não


significa que não espere restituição. Assim como Mark. — Ele
disse a última frase como uma ameaça.

Mark.

Segurei minha cabeça.

Dor.

Medo.

Perguntas.

Demais.

Tentei ficar sob o golpe, porque parecia que eu estava


sob um ataque em massa.

Shea.

Kallie.
Mark.

Austin.

Como pode um homem ser ligado a todas as pessoas em


minha vida?

Foda-se.

Minha mão apertou contra a maçaneta interna da porta


da caminhonete. Deus sabia que eu estava prestes a me
soltar.

— Você não vai tocá-la. — Eu avisei. — Nem pense nisso


e você pode considerar a pequena festa que tivemos na última
vez que apareci em sua casa um prelúdio para o que virá
atrás de você.

―Crianças rebeldes como o seu irmão jamais irão


conseguir sobreviver, de qualquer maneira‖.

Eu nunca iria esquecer o que ele disse.

Como se Austin não tivesse importância. Sua vida inútil.


Eu perdi toda a sanidade, todas as restrições, assim como ele
parecia estar me implorando para fazer agora.

Jennings riu, alegria distorcida em seus olhos.

— Você se esqueceu de quem eu sou, Sebastian Stone?

Dinheiro.

Poder.

Ganância.

Pretensão.
Jennings ocupou-se ajustando os punhos em seu
paletó, cabeça inclinada para baixo para assistir à ação,
enquanto ele dava uma olhada para mim como a cadela
arrogante que era.

— Vou levar o que eu quiser. Shea é minha... ela foi no


segundo que sua mãe veio rastejando aos meus pés, disposta
a vender sua alma e a de sua filha para ter um gostinho do
estrelato.

Shea estava certa. Ele era um sociopata. Um psicopata.


Ele perdeu-se no poder. Fora em exercer qualquer que seja o
controle mórbido que exercia sobre as pessoas ao seu redor.

Senti-me mal com a necessidade de mostrar a ele quem


eu era.

— Você está errado. Ela é minha.

Nunca falei nada mais verdadeiro na vida.

— Nós veremos.

Segurei firme, atirando no desgraçado punhais que eu


desejava que fossem reais quando ele me deu um último
olhar por cima do ombro antes de desaparecer em um grande
SUV.

Subi na caminhonete, as mãos tremendo, enquanto me


agarrava ao volante tentando acalmar a respiração. Ela
estava forte e rápida, alimentada por ódio absoluto. O idiota
sabia que minhas mãos estavam atadas, ligadas por essa
merda de tribunal. Ambos sabíamos que se fizesse um
movimento para liquida-lo, eu estaria de volta atrás das
grades mais rápido do que pudesse beijar Shea uma última
vez.

Meu instinto dizia que era exatamente o que ele queria.

Liguei o carro. O motor roncou forte, quase tão profundo


quanto às perguntas e a raiva que me abalavam.

O crepúsculo já estava tomando conta do céu de Los


Angeles quando entrei em uma rua congestionada. O que
parecia um trem interminável de carros lutando para ir para
casa e bem no meio dela, eu me perguntando onde ficava
casa.

Pelo tempo que estava conduzindo da estrada até o


lugar que eu dividia com os caras, o sol estava mergulhando
abaixo do horizonte. A enorme casa nas Colinas estava
escondida por trás de altas árvores densas e vegetação
exuberante, Hollywood exibida abaixo. Carros alinhados na
rua preenchiam o percurso.

Merda.

A última coisa que precisava era uma casa cheia de


pessoas que não queria ver. Tudo que queria era falar com
meu irmão mais novo, então correr para o telefone e falar
com Shea.

Mas hoje era o nosso último dia em LA, antes de pegar a


estrada amanhã, os caras tiraram um último dia para relaxar
e descontrair, um último dia de liberdade antes que
estivéssemos direto na estrada, cidade e palco para as
próximas quatro semanas.
Ninguém da minha equipe foi à minha audiência porque
era suposto ser rotina. Mas nada sobre o que aconteceu essa
tarde parecia rotina. Me senti agitado e perturbado.

Odiando Jennings.

Odiando o fato de que ele falou merda sobre Mark e


Austin de novo.

Odiando que as minhas meninas estivessem sozinhas e


vulneráveis em Savannah.

Espremi minha caminhonete na entrada do estacionado


como deu, desliguei o motor, apressei a caminhada. Abri as
portas duplas.

No interior, a casa estava lotada de pessoas. Um monte


de caras que eu conhecia. Outros eram estranhos, sem
dúvida, uma enorme quantidade de amigos de amigos de
amigos. Ash e Lyrik sempre se encarregaram de dar boas-
vindas para cada porcaria da cidade.

Eles amavam essa merda, muitas pessoas espremidas


de parede a parede, os dois sempre à procura de diversão, as
garotas falsas, todas muito ansiosas para dar a eles.

Fazia de mim um canalha que não há muito tempo atrás


também amava essa merda e agora queria jogar a bunda de
todos para o meio-fio?

Sem dúvidas, eu amava todos os caras. Eles eram meus


irmãos. Estavam lá para mim em todos os momentos. Quero
dizer, com toda a merda com Kallie acontecendo, o falso
julgamento que eles tiveram que participar, não poderia
agradecer qualquer um deles suficiente.

Eles se reuniram.

Apoiaram-me quando eu mais precisava deles.

Intensificaram e agiram como homens quando


preferiram permanecer firmemente no reino dos delinquentes
juvenis. Não que eu tivesse o direito de dizer muito sobre
isso. Deus sabia que eu era tão culpado quanto e a cada
chance que tive eu mergulhei meus dedos em uma cuba
obscura de pecado.

Mas não podia fugir do sentimento que estava


vivenciando.

Imagens de Shea e Kallie passaram por minha mente.

Algumas coisas simplesmente significavam mais.

Procurando por Ash, caminhei através dos grupos que


se misturavam em torno da enorme sala com vista para a
extensa cidade abaixo, um brilho de luzes, longe até onde os
olhos podiam ver. Além da parede de portas de correr de vidro
estava a piscina, a água fazendo uma transição lenta de azul
para roxo para rosa e voltava a repetir. Mulheres ansiosas a
rodeavam com copos de coquetéis pingando dos seus dedos,
fazendo mais do que bater papo, o que garantiu minha
vontade de vomitar.

Ash estava se divertindo onde as portas terminavam,


bebendo mais uma dose. Katrina, uma garota que fez suas
rondas através da banda muitas vezes, estava grudada ao seu
lado, como uma coceira de três dias.

— Ash. — Eu disse, não sendo capaz de conter um


pouco da irritação nas veias.

Ele não percebeu que eu estava irritado.

— Baz, cara, já era hora de você aparecer. Karl


Fitzgerald está esperando por você em seu escritório pelos
últimos... trinta minutos. Ele afirmou que quer... — Ash
levantou ambas as mãos no ar, segurando ainda em uma das
mãos uma dose enquanto citava — ‗Falar com você‘. Fale de
um maldito desmancha prazeres. Aqui estou eu, entretendo
todas essas belas senhoras.

Ele abriu os braços tatuados, como quem tomaria cada


uma delas se tivesse a chance. O idiota provavelmente
tomaria. Sem dúvida, elas viriam correndo.

— A campainha tocou e eu aqui pensando que iria abri-


la para outra menina linda, lá estava aquele bastardo viscoso,
perguntando por você. Quase fechei a porta na cara dele, mas
não tinha tanta certeza de como a recepção seria aceita.
Percebi que era hora de ser simpático com o homem do
dinheiro. Vou deixar a água quente para você.

Ele deu uma piscadela e soltei um riso. Deus, Ash não


era nada além de um escandaloso.

Mas ele estava muito certo sobre aquela merda.

Bastardo viscoso pedindo uma palavra.


Essa é a maneira que o CEO da Mylton Records,
constantemente encenava a si mesmo, aparecendo em
momentos que nós menos esperávamos, pronto para fazer
valer qualquer controle que ele queria sobre nós. Às vezes,
apenas desejei dispensá-los quando as acusações de agressão
estavam pairando sobre a minha cabeça.

Mas pensar assim? Isso não era nada menos do que


uma traição à minha equipe. Um desrespeito ao sangue, suor
e porra da turbulência que nós arrastamos até chegar aqui.

Desrespeito ao Mark.

Eu devia a todos eles minha lealdade.

— Obrigado, cara. — Disse a ele. — Vou ver o que ele


quer.

Ele assentiu.

— Sem problemas.

Virei para o meio da multidão, a voz divertida de Ash


soando atrás.

— Beije alguns traseiros por mim.

— Sem chance. — Gritei de volta, balançando a cabeça


ao passar pela multidão, cumprimento algumas pessoas que
conhecia e evitando aqueles que não sabia quem era, porque
não estava com disposição para fazer amigos. Especialmente
aquelas do sexo feminino.

Porra, Shea era a melhor. Uma menina diferente de


qualquer outra que já conheci. Claro, ela mostrou alguns
lampejos de ciúmes, o que me excitou, o jeito que me queria
só para si. Mas o que era ainda mais sexy, era a
surpreendente fé que depositava em mim, a maneira a qual
ela mandou-me viver a vida que amo.

Música.

Ela sabia que é onde eu estava livre. O que fui feito para
fazer.

Apesar de que deixá-la e a Kallie para trás foi a coisa


mais dolorosa que já tive que fazer.

Droga, sentia falta delas.

Certamente essa perda que estava sentindo era mais


brutal do que qualquer droga da qual já me livrei. Todas as
noites me arrastava para cama, sozinho, questionando-me
essa decisão, perguntando novamente quanto tempo poderia
continuar vivendo essa vida quando estava querendo viver
outra.

Andei pelo corredor e passei pelo covil que geralmente


era o anfitrião para a depravação.

Sexo, drogas e rock n' roll, baby.

Me encolhi, fazendo o melhor para ignorar o espetáculo


e entrei pela última porta.

Karl Fitzgerald estava sentado atrás da minha mesa com


seu sapato brilhante apoiado sobre ela como se fosse o dono.

Inclinou-se para ficar em pé quando entrei, estendendo


a mão em minha direção.

— Bem, Sr. Stone, ouvi que deveria dar os parabéns.


Relutantemente, retribuí seu aperto.

— Eu suponho que sim.

— Você fez bem em ter Martin Jennings fora da sua


vida.

Soltei uma bufada sarcástica. Certo. Como se Jennings


não continuaria voltando. Fazendo da vida de Shea um
inferno da qualquer maneira que podia. Era como se eu
pudesse sentir o cheiro. Sentindo isso chegando à distância.
Um tremor de malignidade ondulando através do ar.

Considerando que Fitzgerald estava na minha cadeira,


me joguei em uma das sofisticadas cadeiras de frente para o
balcão e passei um tornozelo sobre o joelho, parecendo
casual, enquanto ignorava o desconforto que sua presença
causava sobre mim.

Obviamente, esta reunião novamente não nos levaria a


lugar algum.

Me acomodei.

Esperando.

Desafiando-o com meu olhar.

Porque podia sentir que ele queria jogar mais besteiras


em minha direção. Você pensaria que já tive o suficiente disso
hoje.

— Sunder está preparado para essa turnê e preparado


para ir para o estúdio como programado em quatro semanas?
— O homem não mediu palavras.
— Sim, claro. — Eu disse, com um elevar casual do meu
ombro.

— Bom... bom. — Ele balançou a cabeça, ajeitou a


gravata antes de inclinar-se para frente. — Você sabe que
precisamos de vocês no seu melhor.

Levantei uma das mãos como se pedisse para ele


continuar.

E seu ponto é? Imbecil.

Minha expressão praticamente mostrava um desafio.

— E você tem certeza de que está pronto? — Ele


insinuou levantando a sobrancelha. — Nós não precisamos
nos preocupar sobre esta mulher com quem você está
fazendo uma cena ao longo do último par de meses?

Uma cena?

Contenção escorria através das palavras.

— O que isso significa?

— Isso significa que você parece ser facilmente distraído


ultimamente.

— O que faço com a minha vida pessoal não é da sua


conta.

— Acho que você sabe que não é verdade.

Inclinei-me para frente na cadeira. A raiva que


continuamente fervia logo abaixo da superfície ameaçou
entrar em erupção, após o confronto que tive com Jennings
essa tarde, restava pouca reserva de controle. Engoli em seco
novamente e tentei fazer sentido ao que ele estava sugerindo.

Meus olhos estreitam-se, tão apertados quanto a minha


voz.

— Primeiro você quer que me endireite e agora você não


quer que eu sossegue. Mas que diabos é isso que você quer
de mim?

Rancor alimentava a questão, porque não havia um


lugar dentro de mim que quisesse a resposta.

Ele deu de ombros como se tivesse o direito de proferir o


que veio depois de sua boca ávida.

— Queremos uma marca. O roqueiro problemático com


o qual assinamos sem o tempo de prisão. E nós com certeza
não queremos um papai.

Voei para fora do meu assento, palmas das mãos sobre


a mesa, enquanto olhava para ele.

— Não sou uma maldita marca.

A risada dele irritou ainda mais.

Seus olhos brilhavam.

— Ah, aí está ele. O único que não pode evitar encontrar


um pouco de dificuldade. Aí está quem estamos procurando.

Cerro os dentes. As palavras que eu disse foram duras.

— O que faço com Shea não é da sua conta e nunca


será. Você quer Sunder? Tudo bem. Você nos tem. Mas
quando eu descer do palco você não tem nada a dizer sobre
isso.

Levantei e sai em direção à porta. Sua próxima


declaração fez meus passos vacilarem no limiar, mas me
recusei a dar-lhe a cortesia de olhar para trás.

— Se você ficar com ela você vai destruir esta banda.


Você sabe disso, não sabe?

Algo eriçou dentro de mim. A sensação que estava sendo


rasgado em duas direções, rasgada, desfiada e marcada.

Deus, não acabou o desejo desesperado de tocar, criar,


esse sentimento de total liberdade que sentia no palco
quando estava cercado pela banda, pela multidão. Energia
que rugia com uma paz imprudente.

Tudo isso estava em guerra com Shea.

Shea.

Sua energia brilhante.

Ousadia.

Força que arrebentava.

Saí do quarto e caminhei pelo corredor.

Amaldiçoei quando meu celular começou a tocar no meu


bolso. Peguei-o, em seguida, quase o esmaguei com meu
aperto quando vi quem era.

Outro maldito sanguessuga.

Meu pai, o pedaço de merda que sem dúvida estava


ligando para extorquir um pouco mais.
Um parasita que não é diferente de Karl Fitzgerald.

Não é diferente do que a enorme quantidade de idiotas


que atualmente ocupavam a minha casa.

Todo mundo queria um pedaço do Sebastian Stone.

Eu estava de saco cheio.

Silenciei a chamada, sai do hall, cortando pelo canto da


sala e ignorando o máximo de pessoas que podia e que
atiravam olhares excitados em mim. Passei pela enorme
cozinha habitada por rostos insípidos que pensavam que me
enxergavam, mas que não me conheciam de verdade.

Superficial.

Isso é o que eles queriam.

O desejo para o superficial.

O falso.

Uma marca.

Foda-se tudo.

Sai pela porta lateral que dava para terraço ao lado da


casa. Aqui, a vegetação era exuberante e espessa. Isolamento
imediato. Escondido por trás dos arbustos estava uma
estreita escada em caracol de ferro forjado. Fui direto para lá,
seguindo dois andares de estuque da parede exterior, subi no
telhado.

O ruído foi filtrado a partir da festa que acontecia. Mas


aqui me senti como se estivesse em outro mundo.

Uma fuga.
Acho que não deveria estar tão surpreso de encontrar
Austin escondendo-se aqui também, no escuro, com capuz na
cabeça, ele estava sentado perto da beirada do telhado,
olhando sobre a vasta cidade. Uma onda de névoa pairava em
volta dele, enquanto expulsava a fumaça dos seus pulmões,
entre os dedos estava um cigarro de maconha, enquanto se
preparava para dar outra tragada.

Porra.

Esfrego a mão no meu rosto para me acalmar antes de


adverti-lo e andei em sua direção. Suas costas endureceram
quando me aproximei. Nenhum de nós disse nada quando me
acomodei ao seu lado.

Luzes brilhavam ao longe, uma bela bagunça da cidade


e uma massa impressionante de almas.

Austin pressionou a maconha nos lábios, tragando


rápido antes de virar a cabeça para o céu e, lentamente,
deixando-a sair. Sua atenção de volta ao mar urbano.

— Queria saber onde você estava. — Eu finalmente


disse.

Durante muito tempo minha introdução ficou sem


resposta. Senti hesitação antes de permitir que as palavras
saíssem livremente.

— Você já se perguntou se há alguém lá fora tão fodido


quanto nós?

Ar saiu do meu nariz, meu tom subjugado.


— Não sei, Austin. Às vezes parece que isso parece
impossível, mas acredito que haja uma tonelada de pessoas
lá fora um tanto pior. Pessoas completamente sozinhas.
Rejeitadas. Não tenho certeza se há um monte de gente lá
fora que tem o que temos.

Eu não estava falando de nada material.

Sabia muito bem que nada disso importava.

— Você sabe. — Disse ele, a voz pensativa e áspera, —


Você me arranjou tudo isso.

Ele acenou com a mão segurando o baseado no ar.

— Me deu tudo o que eu poderia desejar. E nada disso é


suficiente, porque não tenho ideia do que realmente quero.

Ele deu uma risada incrédula.

— Todas aquelas pessoas lá embaixo? E eu nunca me


senti tão sozinho.

— Isso é porque você não pertence a este lugar.

Austin riu novamente, um som ácido antes de dar outra


tragada com esforço para acalmar toda a merda que o
perseguia toda sua vida. Todas as vezes que estávamos em
Los Angeles, sempre era amplificada. Sempre esperando para
arrastá-los em suas miseráveis garras.

— E aonde é que eu pertenço?

— Austin. — Foi uma súplica.

Ele balançou sua cabeça.


— Eu sei que você está morrendo de vontade de atirar
em mim, Baz.

Ele estendeu o cigarro, girando para chamar a atenção.

— Diga-me que não deveria estar aqui me satisfazendo.


Mas só entrei em três garotas cheirando cocaína umas nas
outras. — Ele riu sombriamente com lanças de medo me
perfurado. — Tenho certeza que você concorda que esta foi a
melhor alternativa.

Maldito Ash.

Esta merda precisava parar. Fiz o meu melhor para


manter Austin limpo, mantive-o longe de toda essa merda
que aconteceu, mas era impossível quando ele era jogado
bem no meio disso.

Nenhum de nós deveria estar em torno disso.

Não depois da overdose de Austin.

Não depois de perder Mark.

Isso não era nada mais do que um insulto.

Um desrespeito.

E não era como se estivéssemos dando boas-vindas. Isso


sempre vinha com o território.

O lado sombrio dessa vida ao qual eu já não sabia mais


como lidar.

Meus ombros agrupados.

— Vou expulsá-los. Livrar-me de todos. Você não precisa


lidar com esta merda.
— Mas isso é a coisa, eu preciso lidar com algo, Baz.
Você não entendeu. Toda essa proteção que você me dá.
Tenho que descobrir isso por mim mesmo ou eu sempre vou
fazê-lo.

Coloquei minha mão em seu pescoço e apertei.

— Sim você vai. Eu não vou deixar você falhar.

Ele me encarou, olhos cinzentos presos nos meus.

Determinado.

Aberto.

Esperançoso, mas renunciando ao que ele não sabia


como controlar.

O garoto dificilmente parecia mais como uma criança.

As palavras saíram com emoção.

— Eu tenho que ser o único responsável por não falhar,


Baz. Falhei com todos. Julian. Mamãe e papai. Você. Mark. —
Ele engoliu em seco. — Se quero viver, então preciso
descobrir como não falhar. Você não pode continuar me
salvando.

Mark.

O medo me atacou novamente, apertei minha mão que


descansava na parte de trás do pescoço do meu irmão.

— Depois da minha audiência, Jennings me seguiu.


Começou a falar um monte de porcaria sobre Shea... sobre
Mark.
Afirmei isso como a pergunta que pairava. Que diabos
está acontecendo? Você sabe?

Deus, o que eu não daria para saber por que Jennings


saiu do nosso ônibus naquela noite. Mas Austin jurou que
não sabia, que ele mandou uma mensagem querendo os
comprimidos e foi Jennings quem apareceu em vez dos
idiotas marginais que normalmente faziam o lance. Acordou
no dia seguinte no hospital.

Cada centímetro dele endureceu e voltou sua atenção


para as sombras, brincando nos ramos das árvores contra o
céu, antes de finalmente olhar para mim.

— Acabou, certo? Você assinou o acordo?

— Sim. Está feito.

Ele assentiu duramente.

— Boa. Basta ficar longe dele, Baz. Pegue Shea e Kallie e


vá o mais longe que puder. Coloque tudo isso para trás.

Ressentimento exalou dos meus poros.

— Não acho que vai ser possível.

Todos nós sabíamos que não seria a última vez que


veríamos Jennings.

Austin apertou as palmas das mãos nos olhos. Coçando.


Assustado. As palavras saíram em súplica.

— Se eu pudesse volta atrás, você sabe que faria, certo


Baz?

— Volta atrás do quê?


— Tudo isso.... Voltar para o dia em que arruinei nossas
vidas. Cada erro que fiz desde então. Eu fodi tudo. Estraguei
tudo.

Agarrei seu pescoço novamente, tentando fazê-lo olhar


para mim.

— Você não arruinou nossas vidas, Austin.

— Pare de dar desculpas para mim. Eu tomei a de


Julian e não fiz nada, além de arruinar vidas desde então.

Deus, quando esse garoto vai ver que não foi ele? Que
fui eu, o único responsável. Aquele que deveria estar olhando
em vez de ficar por aí com alguma garota.

Minha culpa.

Mas ele ainda não conseguia enxergar.

Meu telefone começou a tocar novamente.

Minha frequência cardíaca acelerou com o pensamento


de ser Shea, antes que ficasse forte demais, foi quando vi o
número do nosso pai novamente marcado na tela.

Droga.

Austin pegou antes que eu pudesse escondê-lo.

Mágoa brilhou de sua pele conforme o riso


autodepreciativo saiu.

— Viu o que quero dizer? Ainda estou estragando tudo.


O que ele quer? Mais dinheiro? Para continuar mantendo
algo que você não fez contra você?
Balançando a cabeça, ele freneticamente apagou o
bagulho e ficou de pé.

— Foda-se ele e foda-se isso. Eu estou indo para a


cama.

Com o maxilar apertado, recusei a chamada, ouvi a


gargalhada flutuante que vinha lá de baixo, e o recuar dos
passos de Austin.

Todo esse sentimento que estava sendo rasgado em


dois?

Fico doente em sentir que o meu mundo está prestes a


desmoronar.

Finalmente me levanto e volto para a casa. Nem sequer


penso em ficar na festa e subi para o quarto.

Lyrik estava começando a descer e ao me aproximar do


topo do patamar ele lançou-me um sorriso.

— Escondendo-se agora, não está?

— Como você sabe? — Lancei lhe um sorriso culpado.

Ele riu, esfregou os dedos tatuados pelo queixo.

— Porque conheço você. Conheço você a maior parte da


minha maldita vida. Tudo o que você queria? Você dava tudo.
Lutando por isso com tudo que você tem. — Ele inclinou a
cabeça em direção às escadas. — E sei que você não quer
mais isso. Nem tudo é difícil de descobrir.

Mudei de pés desconfortavelmente e olhei para longe,


antes que tivesse coragem de olhar para ele.
— Não se preocupe, cara. — Disse ele. — Talvez você
não saiba, mas estava sempre à procura de algo. E
encontrou-o em Shea.

Olhei para um dos meus amigos mais antigos. Sabendo


que ele me pegou. Que assim como o resto dos caras, ele
estava do meu lado, não importa o que era eu pedia a eles.

Assim como fazia por eles.

Ele ergueu o queixo e desceu para o andar de baixo.

Sentindo-me emocionalmente exausto, sigo até o fim do


corredor e entro pelas portas duplas em frente ao quarto do
Austin, que levavam para a suíte máster. No interior, o
quarto estava escuro e vazio. Mesmo com a festa rolando lá
em baixo.

Graças a Deus era segunda-feira e Shea estava de folga.


Me joguei no meio da cama, puxando o telefone do bolso.
Disquei para minha menina.

Levou um par de toques para atender.

— Sebastian.

Alívio me atingiu duramente quando ouvi aquela doce


voz sedutora que veio através da linha. Meu espírito fez
alguma coisa louca, algo físico, um tremor de corpo inteiro,
que começou a partir de dentro.

— Shea, baby, sinto tanto a sua falta.

Um riso suave saiu dela.


— Eu acho que estes têm sido os mais longos cinco dias
da minha vida. — Sua voz se acalmou. — E nós estamos
apenas começando.

Ela estava certa. As próximas quatro semanas seriam


insuportáveis.

— Vai passar rápido. — Eu prometi.

— Diz o cara que vai estar na estrada na frente das suas


fãs, noite após noite com festas intermináveis para mantê-lo
entretido, enquanto ele deixa sua namorada entediada e
sozinha do outro lado do país.

Foi um comentário cheio de pura provocação. Eu podia


imaginar aqueles lábios cheios fazendo um beicinho sensual,
e tentei parar meus pensamentos de correr para sul, junto
com o meu sangue.

Rindo levemente, rolei de lado.

— Dificilmente. Depois de estar naquele ônibus por


alguns dias, provavelmente vou estar de carona para voltar
para você. Pedirei carona para algum caminhoneiro, dando-
lhe uma história triste sobre a garota que deixei para trás e
como tenho que voltar para ela.

— Mmm... Eu gosto do som disso. Apenas tenha


cuidado com os pervertidos.

Uma risada quente fluía dos meus lábios.

— Nada para se preocupar, baby. Você não acha que


posso cuidar de mim?

Ela riu.
— Oh, tenho certeza que você pode. Vi você em ação
antes. A menos que alguém tenha um desejo de morte,
ninguém vai ficar no seu caminho.

Eu quase podia ver seus olhos revirando, antes de uma


ponta de seriedade tecer em seu tom.

— Então... como foi tudo hoje? Acabou?

— Acabou. — Tentei mantê-la fora, mas sabia que ela


não perderia o tom de raiva que seguiu a minha resposta.

Ela vacilou, antes de sussurrar:

— Martin estava lá?

Soltei um suspiro tenso.

— Sim. Ele estava lá.

— E...? — Ela incitou quando não divulguei mais


detalhes.

Passei a mão pelo meu rosto, não querendo entrar nisso,


desejando que pudesse apagar a conversa da minha cabeça.
Realmente, gostaria de poder apagar a conversa da minha
realidade.

— E ele ainda é um idiota. Me seguiu até o carro,


começou a falar todos os tipos de besteira sobre você e minha
família. Basicamente, ele disse que está apenas começado.

Do outro lado da linha, quase podia ver a expressão no


rosto da minha menina. A preocupação e o medo que sentia
cada vez que Jennings era mencionado. O jeito que ela
desejava que pudesse apagá-lo, também.
— Eu sinto muito, querida. — Murmurei.

— Não, não diga isso. Você não tem nada para se


desculpar. Este... nós estamos fazendo isso juntos, aconteça
o que acontecer. Até então, não podemos dar-lhe qualquer
coisa de nós. Qualquer parte do nosso tempo, nossos
pensamentos ou nossa energia. Recuso-me a dar-lhe mais
alguma coisa.

Deus, ela era a porra de um milagre. A luz positiva


brilhando radiantemente.

Rolei de costas e olhei para o teto. O que Jennings disse


sobre sua mãe estava incomodando minha consciência, cada
parte de mim necessitava saber mais. Eu coloco o telefone
mais apertado no meu ouvido, desejando que houvesse uma
maneira de poder ficar mais perto. Minha voz estava suave,
porque porra, esta menina eclipsou toda a minha força.

— Diga-me uma história, Shea de Savannah.


Seus sapatos batiam no chão e eram tão negros quanto
a madeira do palco, exceto nos lugares que Shea imaginava
terem sido arranhados por caixas de instrumentos arrastadas
ou por sapatos.

Ela sabia que deveria olhar para cima em vez de estudar


aquele chão, mas hoje as borboletas que ela normalmente
carregava pareciam mais como abelhas. Nervos pulsando em
seus ouvidos e invadindo sua barriga.

Ela só queria fazer sua mãe orgulhosa.

Chegando a uma parada na frente do palco, onde um


pedaço de fita fez uma linha com o microfone, Shea forçou-se
para finalmente olhar para cima.

Ela podia fazer isso. Passou por aulas suficientes e


testes para saber o que se esperava dela.
Um foco de luz a cegou de cima. Ela apertou os olhos e
tentou enxergar os poucos rostos na primeira fila do teatro
quase vazio. Era impossível, mas ela sabia que eles estavam
lá.

Prontos para criticar, julgar e avaliar.

Ela estava acostumada com isso agora.

Bem.

Quase.

Ela não estava tão certa se acostumaria com algumas


coisas más que algumas pessoas diziam.

A rejeição.

Mas foi a decepção no rosto da sua mãe que sempre a


incomodou mais.

E isso era importante.

Durante todo o passeio de carro de Savannah a


Memphis que fizeram apenas para esta audição, sua mãe a
pressionou.

— É grande, bebê. Se você ganhar isto estaremos feitas.


Você tem que dar no seu melhor e nada menos.

Sua mãe comprou um vestido novo de marca para o


teste, o material de lycra apertava seu pescoço e seus pulsos.
Ficava abaixo dos joelhos.

Sua mãe disse que era modesta e bonita. Exatamente o


que eles estavam procurando.
Shea coçou o material quando essas abelhas zumbiam,
e ela trocou de pé, sentindo que poderia ficar doente,
enquanto esperava a audição.

A voz profunda rolou através da névoa leitosa.

— Você pode nos dizer o seu nome, por favor?

— Shea Bentley. — Ela demorou tranquilamente no


microfone, tendo que se elevar em suas pontas dos pés para
alcançar.

— Ok, Shea Bentley, você pode começar.

De onde estava sentada ao piano, a mãe de Shea olhou


para ela por cima do ombro e dedilhou um único acorde.
Uma sugestão que foi junto com seu olhar severo.

Foco.

E Shea fez.

Assim como sua mãe mergulhou na música, Shea


mergulhou fundo e descobriu um lugar dentro dela onde
começou a sentir. Onde ela sentiu-a bem no centro do seu
coração.

Assim como sua avó lhe disse para fazer.

Às vezes ela não se sentia bem cantando essa música e


tantas vezes sentiu vontade de chorar em vez de sorrir,
porque sempre mexia muito com ela. Mas se manteve de pé,
cantando.

Para Shea parecia certo.


Ela deu seu máximo. Se permitiu superar este lugar e
imaginou que estava de pé ao lado da sua avó na igreja. Sua
avó estava segurando sua mão, apertando-a em como um
estímulo tranquilo.

E Shea cantou. Abriu seus pulmões ao mesmo tempo


que ela abriu a boca.

Parecia bonito e importante.

Significativo.

O piano piscou no final da canção. Shea carregava a


melodia em sua voz, não necessitando de acompanhamento
para bater a nota mais alta.

Quando terminou, Shea teve que reorientar-se, depois


de ter esquecido onde estava. Constrangimento a enchia,
enquanto olhava sem ver os rostos escondidos na frente como
a luz continuando a ilumina-la.

— Isso foi lindo. Simplesmente lindo. — A voz do mesmo


homem disse por trás da névoa cintilante.

Sua mãe estava de repente ao lado dela, empurrando-a


para a frente, oferecendo-a como um prêmio.

Mas sua voz mudou quando ele disse o seguinte,

— Infelizmente, nós estamos procurando alguém um


pouco mais velha. Um pouco mais madura. Não tenho dúvida
que esta jovem tem um futuro brilhante pela frente.

Ao seu lado, sua mãe ficou rígida e Shea se sentiu


amargurada.
— Obrigada pelo seu tempo. — Sua mãe disse
rispidamente, antes que puxasse Shea pelo braço para fora
do palco. Ela enfiou as coisas de Shea em um saco e Shea
lutava para manter-se, quando ela voltou a agarrou pelo
braço. Sua mãe abriu a porta lateral. Shea piscou para a luz
ofuscante e tentou ajustar-se, desta vez, porque o sol da
tarde brilhava.

Parecia que Shea nunca poderia manter-se.

A mão em seu antebraço espremido, as palavras duras


da sua mãe invadiram o estacionamento.

— Você não pode fazer nada direito? Você consegue


estragar tudo, não é? A cada momento. Assim como seu pai
caloteiro. Inútil. Você sabe o quanto investi em você, Shea? O
dinheiro? O tempo?

Shea se retraiu quando sentiu a picada de unhas


cravadas em sua pele. Lágrimas surgindo em seus olhos e ela
lutou para segurá-las.

— Eu tentei, mamãe. — As palavras calmas oscilando de


sua garganta dolorida.

Sua mãe jogou a bolsa no banco de trás do carro velho,


enquanto Shea sentou no banco da frente e apertou o cinto,
desejando ter um lugar para se esconder.

Sua mãe ligou o carro e saiu do estacionamento,


patinando no asfalto.

Constrangimento e vergonha fez a cabeça de Shea


inclinar para baixo, rosto virado para que pudesse ver o
borrão de edifícios, enquanto sua mãe voltava sua ira para a
rua.

As lágrimas que ela estava tentando segurar finalmente


caíram. Elas fizeram sua garganta se sentir cheia e seus
olhos queimarem, tudo o que queria era ir para casa. Ir para
a casa de sua avó, onde era seguro.

Ela tentou muito segurá-lo, mas um soluço soltou livre e


ela sentiu um tremor que sacudiu os ombros, enquanto
tentava afundar na porta e desaparecer.

Sua mãe lançou uma maldição silenciosa, antes que ela


começasse a falar rápido.

— Eu sinto muito, querida. Foi esse vestido condenado.


Você parecia uma menina. Deveria ter dado a você algo mais
maduro.

Ela sentiu os mesmos dedos que escavaram em seu


braço suavemente tocar seu ombro.

— Nós vamos encontrar algo melhor para a próxima...


fazer o seu cabelo para cima bem legal e fazer você parecer
tão bonita como você é. Aposto que você poderia passar por
quinze anos. Como isso soa?

Hesitando, Shea se virou para ela. Enxugando as


lágrimas com a manga que arranhava do vestido, balançou a
cabeça com esperança.

— Tudo bem, mamãe.

Sua mãe sorriu. Sua mãe era tão bonita quando sorria.

— Essa é a minha estrela brilhante.


— Vá, antes que tenha que arrastar sua bunda magra
até o avião eu mesma. — Tamar me segurou pelos ombros,
dando-me uma leve sacudida, um toque de aborrecimento e
muita malícia brincando em seus olhos azuis.

Olhei para Kallie que apenas sorriu para mim com toda
a sua alegria, enquanto ela balançava sua borboleta de
pelúcia e apertava-a contra o peito.

Nervosismo tomou conta de mim novamente.

As únicas noites que já passei sem ela foram as duas em


que Martin a manteve sob suas garras. Apenas o pensamento
de deixar a minha menina agora me aterrorizava, algo inato
dentro de mim avisando que Martin ainda estava lá fora,
esperando a próxima oportunidade para atacar.

Mas, mesmo sem essa ameaça, eu ainda me


preocuparia.
Era da minha filha que estávamos falando.

April cruzou os braços e bufou.

Charlie riu.

— Ela vai ficar bem, Shea Bear. — Ele encorajou com as


mãos enfiadas nos bolsos. Ele lançou um sorriso leve em
direção a minha filha. — Você realmente acha que vamos
deixar uma única coisa dar errado quando temos esta
pequena son ao nosso cuidado? Sem chance. Agora vá.
Divirta-se. Viva um pouco. Aja de acordo com a sua idade.
Las Vegas está chamando seu nome.

Não era Las Vegas chamando meu nome.

Era Sebastian Stone.

Meus olhos desviaram-se para a minha filha novamente.


Hesitação pressionou em minhas costelas.

Com um largo sorriso, ela mostrou-me uma fileira de


dentes minúsculos.

— Mamãe... você tem que ir ou meu pai vai ficar muito,


muito, triste, se ele não tiver sua surpresa de aniveisário e
você tem que dar o presente dele por mim.

Ela disse com todo seu floreio caipira e pronuncia de


criança, as palavras ditas rápidas e confusas com
entusiasmo.

Ela deu um passo para frente, empurrou o macaco


marrom de pelúcia magro em minha direção.

Ela o viu na vitrine de uma loja perto da nossa casa e


insistiu que adorava, declarando que macacos são os seus
favoritos, enquanto ela divagava sobre o macaco verde
tatuado ao lado do seu corpo. É claro que minha filha doce
não sabia do significado da tatuagem que foi gravada de
forma permanente através das suas costelas, um lembrete de
uma vida que nunca esqueceria, o amor de um irmão que
perdeu muito cedo.

Aceitando isso dela, abracei-o em meu peito.

— Ele vai adorar, Borboleta.

Ele adoraria. Eu sabia que sim. Simplesmente porque


era um gesto do coração puro e inocente dela.

Seu sorriso aumentou e ela balançou um pouco mais


conforme uma risada irrompia de dentro dela.

— Nós cuidaremos dela. — April prometeu enquanto


colocava a palma da mão sobre a cabeça de Kallie.

— Sim, nós cuidaremos. — Tamar adicionou quando


deu uma piscadela maliciosa para a minha filha. — Nós
temos diversão ininterrupta planejada para esta pequena.
Levaremos nossa menina para fazer pé e mão e então faremos
uma festa do pijama, certo, Kallie?

Kallie saltou.

— Sim! Sim! Sim! Eu não posso esperar. Nós vamos ter


muita, muita diversão e vou ficar acordada toda a noite até o
sol nascer e comer pipoca e assistir a todos os meus filmes e
tia April e Tia Tamar também vão ficar acordadas a noite
toda.
Segurei minha risada. Alguém estava um pouco
animada.

— Não tenha muita diversão sem mim. — Eu disse a ela,


brincando enquanto passava a ponta dos meus dedos em sua
bochecha macia.

— Oh, tenho certeza que você vai estar se divertindo


bastante por todos nós. — Desta vez, a piscadela que Tamar
deu foi para mim foi uma insinuação pesada.

Meu estômago se contraiu em antecipação. A verdade


era que eu não podia esperar para chegar até ele. Ficar sem
ele estava ficando cada vez mais difícil a cada dia.

April caiu na gargalhada.

— Oh, não há dúvida sobre isso.

Pegando Kallie, a abracei apertado e sussurrei em seu


ouvido.

— Vejo você em dois dias. Seja uma boa menina


enquanto a Mamãe estiver fora, ok? Estarei pensando em
você a cada segundo. Eu te amo muito.

— Eu sei, mamãe. Eu te amo mais do que o mundo


inteiro. — Ela apertou meu pescoço, a borboleta de pelúcia
pressionando meu rosto, meus sentidos estavam
sobrecarregados com minha própria emoção, misturada com
os lampejos de medo de confiar ela aos cuidados de outras
pessoas.

A coloquei no chão e dei beijos rápidos em cada membro


da minha família não convencional. Aqueles que, novamente,
estavam ao meu lado, me ajudando a surpreender Sebastian
em seu aniversário, enquanto a banda fazia um show em Las
Vegas. A curta turnê de quatro semanas já estava a mais de
meio caminho, Sebastian e eu tínhamos planos para que
Kallie e eu fossemos para a Califórnia, logo que eles
acabassem.

Mas eu não podia esperar tanto tempo.

Todos os caras estavam envolvidos na surpresa.

Era seu aniversário, afinal de contas, queria estar lá


para comemorar com ele, tão duro quanto era deixar minha
filha para trás, mesmo que por um curto período de tempo.
Mas Charlie me convenceu de que estava tudo bem. Que não
estava negligenciando-a ou machucando-a de qualquer
maneira, mas em vez disso dando-lhe habilidades de
relacionamento, dando a capacidade de estar longe de mim
sem sofrer de ansiedade.

Engraçado, eu era a única ansiosa.

Claro, era a sempre presente preocupação com Martin


que fazia isso, compreensivelmente, era mais difícil deixá-la.
Isso tornava mais difícil reprimir a necessidade inata de
envolvê-la em minha proteção, segurá-la em meus braços
para sempre e não solta-la nunca mais.

Mas eu não estava deixando-a.

Estava investindo no futuro que teremos com Sebastian.

Dei um último beijo na testa da minha filha e fui em


direção a fila da segurança. Eu virei e acenei.
Emoção queimando conforme eu embarcava no avião e
afivelava o sinto. Enviei a Lyrik, Ash, e Zee uma mensagem
de texto em grupo.

— Estou a caminho.

Acomodei-me no assento, coloquei a cabeça para trás e


fechei os olhos enquanto respirava fundo.

Estou a caminho.

Buzinas soaram pelo tráfego pesado na tarde de sexta-


feira. Um rio de gente carregava as calçadas que delineava a
faixa ocupada. Grupos andavam de um hotel extravagante
para outro, segurando bebidas geladas e coloridas,
tropeçando e brincando conforme eles pulavam de um
destino indulgente para o próximo. Mesmo dentro do carro,
eu podia ouvir o tumulto de vozes, a emoção que agarrava
firme o ar conforme as pessoas se reuniam na Cidade do
Pecado para ceder exatamente a isso.

Você pode senti-lo. O tremor de luxúria e libertação,


todas as preocupações despojadas e lançadas ao ar.

Imprudente, precipitado e selvagem.

O carro fez uma curva rápida à direita e parou na


luxuosa entrada de hospedes do hotel, seus prédios
altíssimos de onde as fontes do Bellagio e a maravilhosa
réplica da Torre Eiffel podiam ser vistos, um pedaço de Paris
trazido ao seco deserto de Nevada.
Antecipação apertou meu estômago, me atrapalhei ao
sair do banco de trás, quando uma onda de ansiedade
passou através dos meus nervos e acelerou a batida do meu
coração.

Meu telefone tocou. Com as mãos trêmulas, cliquei na


mensagem em que Lyrik enviou instruções sobre onde
encontrá-los. Lobby, lado norte.

Deixei minha mala com um carregador. Inspirando,


entrei no oásis sensual de vidro e luzes e nuas silhuetas que
brilhavam atrás de um vidro embaçado, tudo sobre o luxuoso
hotel era uma sobrecarga sensorial de sugestão ao sexo.

Meus pés se moviam pelo chão brilhante em sua


direção, meu pulso aumentando a cada passo. Até o
momento em que dobrei a esquina, cada pedaço de mim
tremia com a necessidade de ver seu rosto. De sentir sua pele
e mergulhar em sua presença.

Um grupo ansioso de pessoas estava reunido em torno


deles, câmeras de vídeo posicionadas conforme Sunder
respondia às perguntas sobre o Show desta noite e sobre o
próximo álbum.

Cheguei a tempo de pegar a última conferência de


imprensa agendada. A vibração era casual quando os quatro
posaram para fotos e perguntas eram respondidas
abertamente. Atrás dos meios de comunicação, um grupo de
curiosos se reunia em torno deles, tirando foto após foto com
seus telefones. Alguns gritavam para eles, competindo por
um pouco de atenção a partir do grupo de rapazes que se
destacavam mesmo na confusão deste deserto erótico, todos
eles escorrendo sexo e desordem e um sabor de deliciosa
maldade.

Sebastian era como um farol entre todos. A luz mais


brilhante e ainda a mais sombria escuridão.

Com as mãos enfiadas nos bolsos do jeans, ele


balançava-se para trás e para frente, a maneira como sempre
ficava quando não sabia o que fazer com si mesmo, sua
cabeça inclinada para o lado conforme sua linda boca movia-
se com o que quer que dizia.

Arrepios inundaram-me da cabeça aos pés.

Permaneci longe da multidão para que pudesse observá-


lo, meus olhos vagando sobre ele com fome e necessidade.

O homem era a coisa mais linda que já vi, tão


perfeitamente imperfeito quando ele mostrou seu imponente
sorriso para a câmera, tudo sobre Sebastian era intrigante,
misterioso e um pouco assustador.

Vi como ele interagia com a imprensa e seus fãs,


envolvido e ainda de alguma forma reservado, o homem
dando-lhes o que eles esperavam: a superfície e o show.

Mas eu via tudo escrito abaixo.

No meio da frase, ele parou e por um momento


congelou. Os olhos cinza levantaram.

Procurando.

Como se sentisse o peso do meu olhar sobre ele, da


mesma forma que sempre sentia o dele.
Quando eles me encontram, estremeci completamente.
Sua estranha intensidade encheu o ar, energizando-me, onda
após onda.

Ficamos presos em um olhar fixo.

Choque e confusão passaram por sua expressão.

Mas vi o segundo que o atingiu. A realização de que eu


estava realmente lá. O alívio conforme ele esquecia tudo o
que acontecia ao seu redor.

Todos, exceto eu.

Abandonando seu círculo de admiradores, ele teceu seu


corpo ágil através da multidão, passando por eles, ignorando
todos que tentaram chamar sua atenção.

Com cada passo decidido que dava em minha direção,


meu coração batia mais forte, os silenciosos suspiros
entrando e saindo dos meus pulmões tornaram-se mais
curtos e mais afiados até que eles pararam.

Sem fôlego.

E eu estava em seus braços, varrida dos meus pés.

Ele nos girou uma vez em uma escalonada volta, antes


que enfiasse uma única mão no meu cabelo, a outra firme e
segura conforme ele colocava-a em torno das minhas costas.

Agarrei-me a seus ombros, enquanto cada centímetro de


mim iluminou-se.

Aquela boca de repente tomou a minha, com lábios


macios, intenções ansiosas de um homem impressionante.
Ele sussurrou entre beijos,

— Shea... baby... Shea. Porra.... Eu senti sua falta...


senti muito a sua falta.

Minhas mãos encontraram seu rosto.

— Eu senti sua falta... mais do que você pode imaginar.

Ele deixou meu corpo descer pelo comprimento duro


dele, mas não me soltou. Me segurou mais perto quando
minhas botas velhas vermelhas de vaqueira tocaram o chão,
embora eu ainda estivesse flutuando.

Ele encostou a testa na minha e inspirou.

— Finalmente consegui entender o que aquele velho


ditado ―colírio para os olhos‖ realmente significa.

Uma pequena risada passou por entre meus lábios,


onde o seu ainda pairava, o ar entre nós carregado.

— Feliz Aniversário.

Ele grunhiu, os dedos afundando na minha lateral.

— Melhor. Aniversário. De. Todos.

— Mesmo?

— Claro. Quanto tempo você ficará aqui?

— Até domingo.

Me afastei para olhar o seu rosto lindo, com linhas


duras, maxilar definido e lábios carnudos.

Deus. Como esse homem pode ser meu?

Mordi meu lábio inferior, querendo provocar.


— Você não está desapontado que simplesmente apareci
aqui sem aviso prévio e invadi sua festa? Em alguns círculos,
isso pode ser considerado rude.

Ele riu com um som de descrença.

— Uh... não. Tenho a absoluta certeza de que fez o meu


ano inteiro. Estava a ponto de perder a minha mente sem
você.

Ele me abraçou de novo quando exalou em alívio,


levando-me em um balanço suave, uma dança lenta no meio
de uma enxurrada de flashes e sussurros suaves e algumas
vaias vindas de ninguém menos do que o próprio Ash.

Sebastian de repente se afastou, prestando atenção ao


meu redor.

— Onde está Kallie?

— Em casa.

Ele franziu a testa.

— Charlie prometeu cuidar do bar, enquanto eu estiver


fora e Tamar tirou o fim de semana de folga para ajudar April
com ela. — Eu arqueei uma sobrancelha. — Não acho que
trazer uma criança de quatro anos de idade a Las Vegas para
celebrar o aniversário de uma estrela do rock seria a melhor
escolha parental que eu poderia fazer.

Ele fingiu um suspiro horrorizado.

— Você deixou a minha filha aos cuidados de Tamar?


Nós estamos falando sobre a mulher que parece querer cortar
as bolas de cada indivíduo por aí simplesmente por ser
homem? Não sei como me sinto sobre isso.

Minha filha.

Foi a primeira vez que o ouvi referir-se a ela dessa


maneira. O som de Kallie chamando-o de papai já foi o
suficiente para mexer comigo por dentro com esperança,
sonhos e amor.

Mas isso? Isso foi esmagador e puro, oferecido sem um


segundo pensamento. Todos aqueles lugares dentro de mim
se derreteram um pouco mais por Sebastian Stone.

Dele.

Não havia nenhuma dúvida sobre isso.

Dei-lhe um sorriso tímido, deixando minha mão correr


até seu peito forte, passando por seus ombros largos, onde a
palma da minha mão podia sentir a batida firme do seu
coração.

— Estamos ficando protetores, não é?

Com uma risada, ele me lançou um sorriso torto.

— Só um pouco.

Então aquele sorriso brincalhão assumiu um tom de


melancolia.

— Não consigo acreditar o quanto sinto falta dela.

— Eu sei. — Procurei dentro da minha bolsa e tirei o


presente que Kallie escolheu para ele. Timidamente, o
entreguei. — Ela sente falta de você também.
Sebastian parou, hesitando quando sua atenção saltava
entre o bicho de pelúcia e eu, tanto confusão quanto
reconhecimento queimando em seus olhos.

— Ela viu e insistiu que você o tivesse. Me disse


repetidas vezes para me certificar de que você soubesse que é
só dela pelo seu aniversário. — Abaixei minha voz para um
sussurro de esperança, deixando a ponta dos meus dedos
trilharem sobre o local em sua lateral onde o macaco verde
estava escondido debaixo da sua camisa. — Ela acha que os
macacos são seus favoritos.

Sua mão tremia quando ele aceitou e apertou-o contra


nariz, os olhos se fechando, respirando-o como se o trouxesse
para mais perto dela.

— Deus, quase posso sentir o cheiro dela, Shea. Sinto


tanto a falta dela.

Lentamente, ele os abriu para mim, a voz profunda e


sincera.

— Ela é a criança mais incrível. Depois de toda a merda


que fiz, não sei como tenho tanta sorte, que você entrou na
minha vida... trazendo aquela menina com você.

Sim. Meu homem duro e maculado era tão doce e


sensível. Eu vi, senti-o sob suas cicatrizes, turbulência e
comportamento escuro.

A risada de Ash soou atrás de nós, quebrando o peso


que teceu o momento.

— Formosa Shea! E aí, querida? Linda como sempre.


Virei-me a tempo de pegá-lo se aproximando de mim,
todo cheio de covinhas, bíceps grossos, tatuagens e sorriso de
destruir corações. Engoli em seco quando ele me pegou,
balançando-me como uma boneca de pano. Uma risada
irrompeu de mim. Agarrei seus ombros, com certeza esse
menino louco ia me deixar cair na sua exuberância.

— Oh meu Deus, Ash, me coloque no chão.

— Sem chance, querida. Senti sua falta para caralho.

— Realmente. — Sebastian disse como um aviso,


ganhando um sorriso de Ash e uma risada de Lyrik que
entrou em cena para me salvar. Ele me deu um abraço e
murmurou baixinho no meu ouvido.

— É bom que você esteja aqui. Sebastian sentiu sua


falta e muito.

Em agradecimento, acenei para ele, olhei para Sebastian


que assistiu a nossa troca com leve curiosidade e muita
felicidade.

Zee apareceu para um abraço também.

Parecia um pouco maluco quanto senti falta de todos


eles, como este grupo de rapazes se tornou tal esteio na
minha vida.

Com os olhos brilhando, Sebastian balançou a cabeça.

— Deveria saber que vocês idiotas estavam tramando


algo. Estavam ariscos e estranhos toda a manhã. Poderiam
ter me salvado de uma tonelada de miséria se vocês tivessem
me dado uma pista de que a minha garota estava a caminho.
— O quê? — Ash repreendeu em descrença divertida, —
E arruinar todo o trabalho que Shea teve em fazer esta
surpresa? Sem chance, meu amigo. Chupa e seja grato por
ela estar aqui.

Sebastian colocou um braço em volta da minha cintura,


me puxando vigorosamente, trazendo-nos peito a peito,
nossos corações ainda feridos, batendo rápido. Ele empurrou
o nariz no meu cabelo.

Sussurrando sua resposta em meu ouvido, enviando


uma onda de arrepios na parte de trás do meu pescoço.

— Oh, acredite em mim, sou grato, com certeza. Vou


mostrar-lhe todo fim de semana o quão grato eu sou.

Luxúria rolou através de mim, vibrando, a dor maçante


que estava sentindo por semanas reacendeu.

Uma risada baixa retumbou no peito de Sebastian, o


homem estava muito animado e consciente, mas sem
nenhum pingo de vergonha de se pressionar um pouco mais
perto para me mostrar a evidência do quanto ele também
estava sentindo minha falta. Sua boca estava no meu ouvido.

— Mal posso esperar para tê-la sozinha.

Lyrik esfregou a mão tatuada sobre seu queixo.

— Odeio que seja eu a romper esse reencontro feliz, mas


iremos sair daqui a meia hora. Precisamos chegar ao local às
cinco.
Sebastian gemeu, em seguida, ergueu o queixo em um
gesto de entendimento para Lyrik, voltou sua atenção para
mim e teceu seus dedos nos meus.

— Onde estão suas coisas?

— Deixei-as com o concierge.

Seus olhos se estreitaram, ele mordeu o lábio, em


seguida, deu um curto aceno de cabeça, como se tivesse
chegado a algum tipo de resolução.

— Perfeito. — Ele puxou nossas mãos entrelaçadas à


boca, beijou meus dedos, antes de me puxar para andar.

Não pude conter o pequeno grito que escapou da minha


garganta, quando um frenesi de borboletas encenou uma
revoada em minha barriga, neste momento tão
despreocupado, todas as nossas preocupações, problemas e
medos deixados de lado.

Charlie estava certo.

Eu precisava disso.

Nós precisávamos disso.

Segurei seu pulso com a mão livre, correndo para


acompanha-lo, enquanto ele me puxava para a recepção e
direto para a linha VIP.

Mas não me permitiu ficar atrás dele.

Não.

Em vez disso, me puxou para frente e me girou em um


movimento fluido. O mármore frio e liso do balcão pressionou
na parte superior das minhas costas quando me prendeu a
ele, homem ousado, ditando cada movimento meu.

Ele não hesitou em encaixar um dos seus joelhos entre


as minhas coxas, enquanto esticava os braços em ambos os
lados de mim, mantendo-me cativa entre ele e o balcão.

Presa.

E não havia nenhuma parte de mim que queria ser


libertada.

Aquelas borboletas enlouqueceram, um frenesi de


luxúria e desejo que se juntavam a este amor impressionante
e insano.

Sabia que a maneira como ele me fazia sentir não era


nada menos do que um presente.

Com o seu grande corpo elevando-se sobre o meu, ele se


inclinou sobre meu ombro e falou com a recepcionista,
enquanto eu olhava para a massa de pessoas nos observando
com olhares curiosos e ciumentos.

— Preciso mudar o meu quarto. — Disse ele.

A recepcionista bateu em seu teclado.

— Número do quarto atual?

— 1653.

— Qual a sua preferência para o novo quarto, senhor?

— Melhor suíte que você tenha para mim e minha


garota. — Respondeu ele quando se aninhou em meu
pescoço.
— Sebastian. — Sibilei, tentando impedi-lo de fazer algo
tão exagerado, porque minha intenção nunca foi que ele
ostentasse comigo.

Qualquer cama velha serviria.

— Morda a língua, mulher. — Ele sussurrou de volta,


embora, em um tom de brincadeira. — Sei exatamente o que
você está prestes a dizer e a resposta é não. É meu
aniversário, e é isso o que eu quero. Entendeu?

— Você está tentando me usar para conseguir o que


quer? — Respondi com um sorriso, ficando em meus dedos
dos pés para que pudesse plantar um pequeno beijo em seu
queixo.

Ele sorriu maliciosamente.

— O que for preciso.

A recepcionista trabalhou rapidamente e alguns


segundos depois, discretamente empurrou um pequeno
envelope com cartão magnético em nossa direção.

— Está tudo pronto.

— Se você puder transfira a minha bagagem do meu


antigo quarto e a da Srta. Bentley para o novo. —
Acrescentou.

— Isso não será problema. Divirtam-se.

Sua voz veio transversalmente como um grunhido, a


gravidade da mesma dirigida apenas a mim.

— Eu definitivamente planejo.
Oh Deus.

Eu estava no melhor tipo de problema.

Com isso, Sebastian me levou pelo lobby até aos


elevadores. Ansioso, ele apertou o botão. Com um ding, a
porta se abriu e ele murmurou o número do quarto para o
ascensorista no mesmo segundo que me empurrou contra a
parede no canto de trás.

Presa novamente.

Mãos quentes espalmaram meu pescoço e ele se


inclinou para um beijo.

Eu cedi, antes de rir e me afastar, considerando que


havia cerca de quinze outras pessoas abarrotadas no elevador
com a gente.

— Hum... você não vê que temos um público? —


Murmurei em direção ao seu rosto que brilhava com um
sorriso que ele não conseguia tirar.

— Só posso ver uma coisa, baby.

Eu era velha demais para desmaiar?

Não aparentemente, porque meus joelhos estavam


fracos, meu interior tremia e uma onda de tontura agitou
meus sentidos.

Luz.

Ele deu-me quando eu deveria estar me afogando no


escuro, perdida pelo medo do meu passado me alcançar. Mas
não, esse homem milagroso me manteve perto. Levantando-
me antes que eu caísse no chão.
O elevador parou em sete andares diferentes antes de
finalmente abrir no último andar.

Sim, eu contei.

Sebastian inclinou a cabeça para o ascensorista,


levando-nos rapidamente para o foyer e até a porta dupla.
Com a mão segurando o macaco de Kallie, ele se atrapalhou
com o cartão chave, recusando-se a soltar a minha mão.

Ele conseguiu passar o cartão e destravá-la. Uma das


portas se abriu, e ele rapidamente se virou, sua boca de volta
na minha enquanto me arrastou para o quarto imaculado.

Mesmo que ele estivesse me deixando louca, eu não


poderia deixar de abrir um olho e espreitar a opulência em
torno de nós.

— Oh, wow. — Murmurei quando ele me puxava para


dentro da sala de estar. — Acho que este lugar é maior do
que a minha casa.

E minha casa não era exatamente pequena.

Ou modesta.

Mas essa suíte fez com que parecesse uma lixeira.

Sebastian se afastou apenas o suficiente para examinar


o espaço.

A sala de estar luxuosa estava decorada em branco e


preto. Traços de azul royal estavam espalhados, dando-lhe
um toque de cor. Um grande sofá em forma de U ficava bem
no centro dela, rodeado por luxuosas cadeiras estabelecidas
na frente de uma TV que ocupava quase toda a parede,
enquanto uma sala de jantar formal definida para oito
assumia o lado de trás. Havia um bar que não era tão mini e
uma área de escritório. Uma parede de janelas de dois
andares com vista para o horizonte, uma vista deslumbrante
da cidade e do céu.

Nossa atenção foi atraída para uma escada em caracol


que levava para cima ao que só podia assumir ser o quarto.

Seu comportamento tornou-se predatório, um brilho de


cinza e uma contração do seu corpo. Ele estendeu a mão e
tocou meu rosto.

— Vou transar com você em todos os cantos desse


lugar. Em cada superfície. Em cada quarto. — Ele se
aproximou, sua respiração tocando no meu rosto. — E então
vou fazer isso novamente.

Ele colocou o macaco de lado, jogou o cartão chave com


ele, então me levantou, me forçando a colocar minhas pernas
ao redor da sua cintura.

Eu estava usando um short curto e minhas botas.

Sim.

Eu os coloquei para ele.

Sabia que ele gostava do meu short e das minhas botas,


adorava a maneira como seu olhar corria para cima e para
baixo sobre minhas pernas cada vez que eu os usava.

Ele atravessou a sala e me pôs na beira da mesa de


vidro, arrastando suas mãos para cima e para baixo em
minhas coxas, enquanto esfregava seu pau duro contra o
meu centro.

Eu ronronei quando ele segurou meu pescoço com


ambas as mãos, beijando-me lentamente.

— Já faz muito tempo, baby. Quero te deixar acabada.


Esta noite vou devorar cada centímetro desse pequeno corpo
doce.

— Como se você já não tivesse? — Eu mordisquei sua


boca, meu interior fundido com seus dedos como fogo.

Eu fiz coisas com Sebastian que nunca sonhei em fazer


com outro homem. Deixei que ele me preenchesse, me
explorasse e me fodesse em todos os sentidos. Deixei me
tocar de maneiras, que achava que eram perversas, feias e
depravadas.

Mas não.

Foi puro, um prazer desenfreado.

Uma confiança sincera.

Uma beleza encontrada na crueza, um vínculo


encontrado na vulnerabilidade.

— Como se eu pudesse ter o suficiente de você. — Ele


murmurou de volta, áspero, tão áspero como suas mãos
quando me puxou mais para perto.

Bateram na porta.

Sebastian olhou para o teto e soltou um gemido tenso.

— Merda.
Rindo, empurrei-o para trás.

— Precisamos ir de qualquer maneira. Não quero ser


responsável por fazer você se atrasar.

Ele deu um selinho em meus lábios.

— Mais tarde. — Prometeu.

— Sim, por favor. — Disse, enquanto agarrava sua


camiseta um pouco avidamente no mesmo segundo em que
estava se afastando.

— Mulher. — Ele rosnou como um aviso, se abaixou


para outro beijo rápido, eu ri novamente e pulei para o chão
quando ele foi atender a porta.

Um carregador entrou com as nossas coisas, apoiando


um case de guitarra contra a parede e levando o resto da
nossa bagagem ao andar de cima, para o quarto, em seguida,
descendo novamente.

Sebastian pegou sua carteira do bolso, tirando uma


grande soma como sempre fazia, um homem tão generoso,
tão contrário a toda aquela aparência impetuosa e
intimidante.

Ele trancou a porta atrás dele.

— Preciso me trocar. — Dissemos ao mesmo tempo, com


a mesma relutância e nós dois nos acalmamos e nos
encaramos, porque parecia estarmos cantando a mesma
melodia. Sebastian deu uma risada afetuosa.

— Vamos, vamos sair daqui ou nunca vamos fazer isso.


— Ele pegou minha mão na sua e nos levou ao andar de
cima. Ele tirou suas roupas e fuçou em sua mala, assim
como fiz na minha.

— Droga. — Amaldiçoei, fuçando um pouco mais e me


xingando novamente.

— O que?

Olhei para cima para encontrá-lo de cueca e meus olhos


ficaram lá um pouco mais do que o necessário.

Meu homem lindo estava curvado, enquanto puxava a


segunda perna da calça jeans para fora, em seguida, pegou
um novo par e um arrepio me percorreu, enquanto eu ficava
impressionada com o melhor e o pior tipo de tentação.

Apenas um vislumbre do seu corpo me descarrilhou da


tarefa que estava fazendo e da única coisa que os caras
deixaram claro quando planejamos essa surpresa de
aniversário de Sebastian.

Eles tinham um show.

E o show vinha primeiro.

Sob nenhuma circunstância eu estava autorizada a fazê-


lo se atrasar.

Para um grupo de roqueiros rebeldes, eles com certeza


possuíam muitas regras.

Que eu totalmente compreendia. Mas havia uma parte


carente, desesperada de mim que queria ignorar todas as
obrigações, a parte que queria nos trancar nesse quarto e
deixá-lo começar a devoração que ele prometeu fazer.
Pegando meu olhar libidinoso, pois, por Deus, não
houve como ocultá-lo, ele me jogou um sorriso arrogante e
mais uma vez murmurou:

— Mais tarde. — Então, ele inclinou a cabeça para o


desastre que eu estava fazendo na minha mala.

— Droga, o quê? Parece um pouco como se você tivesse


deixado Kallie descompactar para você. Aquela criança é
nada menos que um furacão.

Dei uma risada suave com o doce pensamento da minha


menina em toda a sua força e vida, então balancei a cabeça
para mim mesma novamente.

— Eu não posso acreditar.... Esqueci minha bolsa de


maquiagem.

— Você não precisa de maquiagem. — Um sorriso


irônico marcou o canto daquela boca sedutora, enquanto sua
voz tornou-se um estrondo. — Ou roupas, por assim dizer.

O revirar brincalhão dos meus olhos foi imparável.

— Não fique muito animado.... Eu tenho roupas para


dias. Simplesmente não tenho mais nada. Tudo estava lá...
maquiagem, escova de dentes, chapinha, pílulas.

Desamparada, fucei outra vez, procurando o que eu


sabia que não estava lá. De repente, tive uma imagem clara
dela embalada e posta em minha penteadeira, na minha
casa.

— Merda... merda... merda. — Eu murmurei.


Sebastian veio para frente, descalço com jeans macios e
desgastados, a coisa mais sexy que já vi.

Ele deu um beijo carinhoso em minha testa.

— Não se preocupe com isso. Vou ligar lá embaixo e


mandá-los enviar algumas coisas para cima. Parece bom?

Dei-lhe um sorriso resignado. Não havia nada que


pudesse fazer sobre isso agora.

— Sim, isso seria bom.

Sebastian terminou de se trocar, correu ao andar de


baixo e fez a chamada para substituir algumas das minhas
coisas, enquanto eu rapidamente vestia a roupa que Tamar
me ajudou a escolher para a noite, outro short curto rasgado,
um top creme fluido com uma barra grossa de crochê e renda
e botas de camurça marrom de salto alto que faziam minhas
pernas parecerem longas, sexy e elegante.

Country chic.

— Não conserte o que não está quebrado. — Tamar


disse jogando seu cabelo vermelho, enquanto comprávamos,
me dizendo que já aperfeiçoei o visual, então, eu deveria ir
com ele.

Entrei no banheiro extravagante ao lado do quarto, onde


o tema opulento da suíte transbordava perfeitamente. Peguei
um lenço de papel e me permiti mais um gemido irritado por
esquecer as minhas coisas, então me inclinei para o espelho e
limpei minha maquiagem dos olhos para suavizar as rugas, e
limpei alguns dos resíduos pegajosos do avião.
Pelo menos eu trouxe meu pó e claro um brilho labial na
minha bolsa.

Ele ia ter que servir.

Sebastian apareceu na porta, seus braços tatuados


esticados, o homem roubou um pouco mais da minha
respiração.

— Acabei de receber uma mensagem. Os meninos estão


lá embaixo. Precisamos correr.

— Estou pronta. — Eu o segui até o quarto e peguei


minha pequena bolsa da cama, passei a alça sobre a cabeça e
o ombro. — Austin irá?

— Não... ele sempre volta ao hotel. Shows não são a


melhor atmosfera para ele. — Disse com um tom de
arrependimento. Então ergueu um ombro. — Ele parece
bastante satisfeito, então, acho que é bom.

— É bom. — Prometi, sabendo o quanto ele se


preocupava com seu irmão mais novo, desejando que
soubesse mais e que houvesse mais que eu pudesse fazer.

Mas também entendia que havia coisas compartilhadas


apenas entre os dois.

Nós descemos pelo elevador e caminhamos lado a lado


através do lobby e até a entrada dos fundos, onde os caras
esperavam.

A expressão arrogante de Lyrik caiu quando nos viu.

— Você tem que estar brincando comigo.

Zee eclodiu em algum tipo de celebração rebelde.


— Pague, cachorrão.

Lyrik o socou e Zee pulou, fugindo do seu alcance com


uma gargalhada.

— O que... não pode lidar quando alguém da metade da


sua idade está tomando novamente um pouco mais de sua
grana? Você está perdendo seu tato, velho.

— Diz o garoto punk que quase não tem idade suficiente


para entrar num casino? Não me faça te ensinar uma lição,
menino. — Lyrik zombou de volta.

Os olhos de Sebastian se estreitaram para Lyrik quando


ele abriu a porta de trás.

— Não fique tão feliz em me ver, idiota. — Disse ele com


uma sobrancelha levantada.

Lyrik tirou uma nota de cem dólares da carteira e a


bateu na mão que Zee deixou estendida, regozijando-se. A
irritação em seu rosto parecia como se ele preferisse estar
dando um tapa no rosto de Zee.

Com Zee ainda gargalhando, Ash e Zee subiram para o


terceiro assento do longo Escalade preto, Lyrik pulou no
banco do passageiro na frente, Sebastian me levou ao banco
do meio e subiu atrás de mim.

Lyrik olhou por cima do ombro. Seus olhos escuros


brilharam com incredulidade divertida.

— Isso é porque ver o seu traseiro sair do hotel com


menos de meia hora de atraso me custou um Benjamin, Baz
Boy.
— Estão apostando contra mim agora?

Ash se inclinou para frente, com os braços em volta do


meu encosto, enfiou a cabeça para frente.

— Não aja como se estivesse surpreso, cara. Se eu


tivesse uma garota que se parecesse com Shea...

Um assobio saiu dele, enquanto ele deixou seu olhar


viajar pelas minhas pernas.

— Você pode apostar o seu último dólar que estaria


saindo tarde de lá, também.

Um. Uau.

Podia sentir o calor subir pelo meu pescoço, o sorriso se


alargando. Porque eles eram demais, maior que a vida, todos
bondosos e justos, a família de Sebastian que de alguma
forma se tornou a minha.

— Hey agora... — Zee sustentou. — Não vá degradar a


minha fé em meu homem, aqui. Eu sabia que ele não iria
deixar a equipe esperando. Estamos juntos, Baz.

Gritei de susto quando Sebastian de repente me puxou


do assento para o seu colo, segurando-me contra ele.
Esfregou o nariz ao longo do meu pescoço e espalmou minha
coxa nua, dando-lhe um aperto que não foi tão suave.

— Ou talvez eu simplesmente planejei tomar um tempo


para dar a minha garota um tratamento vip. Não tem nada a
ver com qualquer um de vocês, filhos da puta.

Oh Deus.
Aquela vermelhidão subiu até o meu rosto. O desejo que
Sebastian inflamou anteriormente no quarto mal esfriou e
aqui estava ele, alimentando-o novamente, a promessa em
suas palavras foi o suficiente para enviar um arrepio pelo
meu corpo.

— Esta não é uma conversa estranha ou algo assim? —


Arregalei meus olhos para todos eles que não sentiam
nenhuma vergonha, todos observando Sebastian e eu como
se fôssemos o melhor tipo de entretenimento.

Considerando-se as apostas, aparentemente éramos.

Ash gargalhou e bateu em meu assento agora vago,


enquanto o motorista entrava no tráfego pesado
congestionando a rua.

— Vinde, pois, doce, Shea inocente. Você é parte da


banda agora, baby. Não há segredos entre nós e não há um
assunto que esteja fora dos limites. Você pode lidar com isso?

Era tudo provocação, mas podia sentir a cautela por


trás disso. O cara era sempre tão arrogante e presunçoso,
mas havia lealdade nele também. Assim como Sebastian, algo
de bom por baixo da ferocidade. Sabia que ele estava me
avisando sobre no que estávamos prestes a entrar, querendo
saber se eu poderia lidar com isso, o estilo de vida que eles
viviam, as abundantes forças externas que Sebastian queria
blindar para me proteger.

Me aconcheguei ainda mais nos braços de Sebastian.


Enquanto Sebastian me amasse da maneira que deveria,
da maneira que eu o amava, não haveria nada que eu não
pudesse lidar.

Colocando os braços sobre o assento do meio, Zee


inclinou-se e começou a batucar no couro preto, calmamente
cantarolando a melodia.

Ash pegou a batida, cantando as palavras em voz baixa,


enquanto balançava a cabeça juntamente com a música
improvisada de Zee. Talvez não devesse ter ficado surpresa,
mas Lyrik harmonizou, o homem que exalava ameaça e caos,
tamborilava os dedos nas coxas do seu jeans skinny rasgado,
quando se juntou a Ash e Zee, como se fizessem isso o tempo
todo.

Eles estavam falando sério?

Olhei para Sebastian. Ele me lançou um sorriso


malandro, inclinou aquele rosto lindo para mim, enquanto
aqueles lábios carnudos começaram a se mover.

Que linda, uma voz linda para um homem lindo e


bonito, cantar aquele som suave, sua boca pairando a um
centímetro dos meus lábios como se estivesse cantando para
mim.

Mas aqueles olhos intensos brilhavam e cintilavam,


cheios de malícia e tranquilidade, ele se divertia com os
caras, esses quatro roqueiros grandes e malvados eram retrô.

Eles estavam cantando Leaving Las Vegas de Sheryl


Crow.
Rindo, agarrei o pescoço de Sebastian. Algo vertiginoso
tomou conta de mim quando o ar no carro ficou leve. A
ligação fácil entre os quatro homens talentosos me encheu de
alegria, porque sabia que isso era uma grande parte da vida
de Sebastian, estar na estrada com eles, o seu dia-a-dia.

Por muitos anos silenciei a minha voz. Como se fosse


uma parte dos meus segredos. Como se as palavras que
dançavam na minha língua tivessem sido enterradas com
Delaney Rhoads.

Mas hoje... hoje eu não pude me conter... porque me


senti livre.

Apropriada.

E eu a soltei.

Levantei minha voz e juntei-me assim que chegaram ao


refrão, diminui quando cantei para Sebastian, que cantou de
volta. Suas mãos apertaram minha cintura. A alegria em seus
olhos era algo que senti até a minha alma.

Nós paramos e os outros ficaram conspicuamente


silenciosos.

Como se uma perturbação estranha tivesse erradicado a


leveza do ambiente.

Constrangida segurei minha língua, os dentes mordendo


nervosamente meu lábio inferior enterrando meu rosto no
pescoço de Sebastian, desejando que houvesse uma maneira
de desaparecer.

O que eu estava pensando?


Então Ash gritou.

— Porra, mulher. Será que isso realmente acabou de


sair da sua boca?

Enterrei minha carranca no pescoço do Sebastian,


sentindo a vibração da sua risada, quando ele me segurou
um pouco mais apertado.

— Eu te disse, cara. — Sebastian murmurou,


espalhando um monte de beijos sobre o topo da minha
cabeça.

— Disse-lhe o quê? — Finalmente tive a coragem de


perguntar, olhando-o enquanto ele abaixava a cabeça para
encontrar meus olhos.

Tipicamente, eu não era do tipo tímida. Mas quando se


tratava de cantar, trazia de volta minhas inseguranças de
infância. O fato de que fui uma decepção constante para
minha mãe. A pressão que ela exercia. As expectativas que
nunca conheci. Sua fome nunca satisfeita, sempre querendo
mais.

Mais fama.

Mais dinheiro.

Sem pensar nas terríveis consequências que resultariam


de suas intenções míopes.

— Que você, garota doce, me faz parecer medíocre.

— Dificilmente. — Sussurrei, séria.

Ele apertou minha coxa novamente, tornando-se


brincalhão.
— Só me faça um favor e não vá cantar nos bastidores
esta noite ou qualquer coisa, ok? Não preciso que você me
ofusque, especialmente no meu aniversário. Não pense que
posso lidar com esse tipo de golpe contra o meu ego.

Levantei-me para que pudesse pressionar um beijo no


centro da sua garganta forte, minhas palavras suaves e
profundas onde murmurei em seu pomo de Adão.

— Eu nunca poderia te ofuscar.

Esse homem sombrio e misterioso se tornou minha luz


mais brilhante.

Com um leve sorriso, me afastei.

— Além disso, não tenho certeza se poderia fazer


aqueles gritos agudos pelos quais você é tão famoso.

Um riso profundo e sedutor rolou dele quando me


abraçou mais apertado, envolvendo uma única mão no meu
cabelo e murmurando baixinho.

— Você grita muito bem, baby. Apenas certifique-se de


que o que você esteja gritando seja o meu nome.

Uma dor lentamente se estabeleceu entre as minhas


coxas.

Mais tarde.

O local era na área vip onde os cassinos estavam


localizados, e o motorista deu algumas voltas antes de virar
várias vezes e contornar até a entrada dos fundos da casa de
show. Todo mundo saiu rapidamente. Sebastian nunca
soltou minha mão, enquanto seguimos os caras no teatro
sombrio e escuro, subindo três degraus de concreto até uma
porta escura que foi aberta por um segurança corpulento.

No segundo em que entramos na escuridão, pude sentir


o zumbido de energia se encaixando no ar denso. Como se
essa energia magnetizada atraísse a força dos caras que a
respirava, e a irradiava de volta. Apenas aumentava à medida
que levantavam o queixo e inalavam, como se eles se
alimentassem do frenesi. Um zumbido de ansiedade
exagerada parecia vir naturalmente, como se suas mentes
mudassem de marcha se preparando para o show.

Meus olhos dispararam ao redor, capturando tudo.

Era estranho porque estava tão acostumada a música


ao vivo no Charlie‘s, a energia que se apegava ao ar, uma
antecipação diferente de qualquer outra coisa como alguém
que subisse ao palco e trouxesse uma música à vida.

Mas isso... isso parecia completamente diferente. A


forma como a equipe técnica se movimentava pelos
bastidores, transportando equipamentos e colocando-os na
posição, o teste da mesa de som, a pressa e a agitação para
ter tudo fixado no lugar, as instruções sendo gritadas, um
caos habilidoso que eu não poderia imaginar ser de outra
maneira.

Adicionado à sensação estava o nível ensurdecedor da


música de rock que parecia ditar cada movimento e batida.

Sebastian apertou minha mão, se inclinou perto do meu


ouvido e levantou a sua voz.

— Você está bem?


Não perdi a preocupação rodando na profundidade
daqueles olhos atentos enquanto olhavam para mim, um
homem à procura de qualquer desconforto que eu pudesse
sentir. Para lampejos de arrependimento e traição que
sustentei em um mundo tão semelhante a este.

Tocamos apenas brevemente sobre a dor, os sonhos que


tive e que nunca foram os meus, mas ainda estavam
sentados tão profundamente dentro do meu espírito. Ainda
sofria por isso todos os dias.

A verdade sobre o quanto eu gostava de cantar.

O que Sebastian não sabia era que nada disso poderia


valer o custo que me pediram para pagar.

Eu estaria mentindo se dissesse que não estive nervosa


quando entrei no avião esta manhã, que não me perguntei o
que sentiria quando estivesse nos bastidores de novo e saber
que nada disso me pertencia. Apenas uma estranha olhando
para algo magnífico e inspirador.

Mas não.

Não havia nenhum desconforto, memórias feias ou


arrependimento.

— Mais do que bem. — Eu disse a ele a verdade. —


Estou animada para vê-lo cantar.

Sua expressão se suavizou com uma ternura que com


certeza Sebastian só permitia a mim e ele me envolveu na
segurança dos seus braços fortes. Sua voz estava rouca.
— Não posso dizer o quão feliz estou por você estar aqui.
Espero que você saiba disso, baby. Quero você comigo.
Sempre.

Envolvi meus braços em sua cintura.

— E estou aqui, porque com você é onde eu quero estar.


Sempre.

Uma satisfação profunda brilhou em seu rosto.

— Vamos lá.... tenho um monte de coisas que preciso


fazer antes de prosseguirmos. A banda de abertura vai subir
no palco em breve.

Sebastian me levou por um corredor escuro e nebuloso


até uma grande sala de recepção à esquerda. A luz lá dentro
era fraca, mas mais clara do que no corredor e as áreas dos
bastidores.

Olhei para os sofás gastos e surrados. Caras que


gritavam sexo, drogas e rock n' roll descansavam sobre eles,
bebendo cervejas e rindo alto, falando merda como todos
esses caras pareciam amar fazer.

Realmente, a atmosfera parecia quase descontraída


exceto pelo brilho de luxúria que parecia agarrar-se ao ar.
Espesso, carregado e ameaçador.

Garotas que apenas saíram da adolescência,


apaixonadamente ao lado, conversando e claramente
esperando para serem notadas. A maioria se encaixava, como
se fossem arrastadas para a vibração caótica, roupas tão
escuras quanto a maquiagem feita em torno dos olhos.
Mas acho que não seria um show de verdade se não
houvesse algumas que pareciam ter esquecido que as groupie
saíram de moda na década de oitenta. Ou talvez estivessem
apenas dando-lhe uma boa chance para trazê-las de volta.

Sebastian me apresentou a algumas pessoas, algumas


das equipes da estrada e seu agente de turnê e alguns amigos
que os seguiam em todos os shows.

Ele me pegou e me colocou sobre uma mesa onde


minhas botas balançavam a trinta centímetros do chão sujo,
então me entregou uma cerveja e selou minha boca com um
beijo possessivo, perfeito, em seguida, lançou um olhar ao
redor da sala para todos que estavam nos observando.

Fora dos limites.

Foi fofo, doce e protetor, não conseguia evitar o zumbido


de excitação que me percorreu, enquanto me sentei e
desfrutei do momento. Mesmo que sentisse falta da Kallie e
que por baixo de tudo houvesse o medo interminável da luta
que sabia que estava por vir, esta noite me sentia liberta e
irrestrita. Não havia dúvida que minha filha estava segura,
que ela estava curtindo, brincando de borboletas, princesas e
vivendo em seus contos de fadas.

Regado com amor e carinho.

Então deixei minhas reservas irem. Deixei meu corpo


balançar, enquanto a banda de abertura estava no palco e
minha mente vagava para os fãs que podia ouvir gritando
através das paredes.
Sentei-me sozinha por um longo tempo, muitas vezes
conversando com as poucas pessoas que se aproximaram de
mim, todos homens. A única atenção que recebi das
mulheres foram alguns resmungos e olhares ciumentos.

Uma hora depois, Sebastian apareceu na minha frente,


todo sorridente como uma criança.

— Estamos nos preparando para ir, baby. Está pronta?

— Absolutamente.

Ele me ajudou a descer e segui seus passos largos de


volta pelo corredor onde me levou ao lado do palco.

VIP.

— Esta é você.

Sorri para ele, mordi meu lábio tentando esconder a


onda de emoções que sentia. Eu não podia acreditar que
estava aqui, enfrentando isso com ele. Todos os vídeos que
assisti dele no palco, noite após noite, quando sentia falta
dele pra caramba, perguntando-me como estava e o que fazia,
enquanto estava na estrada.

E aqui estou.

— Sebastian. — Ash chamou de onde estava com o resto


dos caras do outro lado do espaço. — Traga sua bunda aqui.

— Volto já. — Sebastian prometeu.

Vi quando ele se afastou, meu estômago apertou em nós


com a crua e impressionante beleza do homem.
Me virei e olhei para fora, atrás da longa cortina de onde
me escondia nas sombras. Energia vibrava da multidão e
outra rodada de nervosismo passou por mim. Parecia loucura
que eu estivesse aqui, de volta no meio musical do qual fugi.
Quase esqueci qual era a sensação de estar nos bastidores,
enquanto esse fervor tomava conta do ar, antecipação
aumentava forte conforme os fãs esperavam por sua banda
amada subir no palco.

Mas isso era diferente de tudo que já experimentei em


meus dias como Delaney Rhoads.

Havia uma carga subjacente aqui, um furor na multidão


que falava de ilegalidade e desordem.

Como querosene para a ansiedade.

Corpos lotavam o espaço oco e cavernoso, o teto era alto


e o chão de cimento inclinado. Ele foi feito em um declive, a
parte mais alta perto da entrada e ia descendo até que se
encontrava com o palco elevado. De pé, uma abundância de
jovens disputava uma posição melhor, mais perto do palco,
empurrando e se infiltrando para se aproximar.

Escuridão cobriu a multidão, e o som da equipe técnica


testando o equipamento só fez a atmosfera turbulenta
aumentar.

Me senti conectada a isso. Incendiada por ele. Como se


estivesse mais desesperada para ver Sebastian no palco do
que todos os fãs juntos. Mesmo assistindo aos vídeos
postados on-line da Sunder, eles não se comparavam, nem de
perto, com isso.
Não me admira que ele precisasse disso.

Prosperara nisso.

Amava isso.

Logo estaria voltando para Savannah e queria levar esta


experiência para casa comigo. Para manter essa memória
profunda com o amor que sentia por Sebastian, então teria
algo para me sustentar na nossa separação, quando ele
voltasse para estrada.

Eu queria ser capaz de fechar os olhos, enquanto ele


estivesse fora e imaginá-lo no palco, sabendo em primeira
mão o que estaria experimentando noite após noite.

Um técnico bateu num tambor.

Adrenalina aumentou e inspirei conforme desfrutava de


tudo.

Meu corpo tremia em reconhecimento quando mãos


quentes e necessitadas agarraram a minha cintura por trás e
a respiração que eu dava, de repente, era ele.

Sebastian enterrou o nariz sob o meu cabelo. Ele


passou-o ao longo da minha nuca e subiu até a parte de trás
da minha orelha. Minha pele se arrepiou da maneira mais
deliciosa, cada nervo aceso ao seu toque.

Eu tremi.

— Está na hora. — Ele sussurrou contra a concha


sensível da minha orelha.

Ele plantou um beijo no meu pescoço.


— Não se mova deste ponto. — Advertiu contra minha
pele, em seguida, passou os braços completamente em torno
da minha cintura. — Lembre-se que cada um dos babacas
que andam aqui atrás é exatamente isso. Babacas.
Especialmente os punks que abriram para nós. Não quero ter
que sair do palco durante o show para matar alguém.

Conhecendo Sebastian, ele falava cem por cento sério.

Eu quase ri. Como se não soubesse como isso acontece.


Os predadores à espreita, os bastidores sendo seu covil, onde
caçavam, se empanturravam e devoravam.

Mas isso era uma coisa de Sebastian. Ele nunca olhou


para mim como a garota que esteve lá ou a que viu tudo, a
que permitiu se tornar vítima.

Para Sebastian, eu era a menina inocente do interior de


Savannah, aquela que ele fazia tudo o que podia para
proteger.

Era errado que esse fato me fizesse amá-lo um pouco


mais?

— Vou estar aqui, esperando. — Prometi, balançando


em seus braços.

— Boa menina. — Ele sussurrou baixo, inspirando, o


nariz me acariciando e mãos me percorrendo.

— Mmm... por que diabo você tem que cheirar tão bem?
— Ele resmungou através de um gemido.

As mãos foram vagando para baixo até as minhas coxas,


pele com pele. Ele pressionou o rosto no oco onde meu
pescoço encontrava o meu ombro, beijando e deixando-me
com os joelhos fracos.

— Me sinto tão bem. — Ele murmurou, a voz áspera. —


Você me faz perder completamente a cabeça.

Na realidade, era ele quem me fazia perder a minha.

— Espere até que voltemos para o quarto.

— Talvez eu só queira mantê-lo voltando para mim. —


Provoquei um pouco, deixando meu peso cair contra seu
peito acelerado.

— Eu sempre vou voltar para você.

O tapa que Ash deu na parte de trás da cabeça de


Sebastian nos tirou do pequeno casulo que nós criamos.

Seus olhos azuis brilhavam com o riso.

— Foco, cara. Nós estamos prontos e você está aqui


parecendo que está prestes a arrastar sua garota para um
canto escuro. Irmãos antes das vadias. Você sabe o código.
Não quebre meu coração, fazendo-me chutar o seu traseiro.

Sebastian deu um soco ocioso nele, tão ocioso quanto a


ameaça.

— Tanto faz cara. Nós dois sabemos que eu o deixaria


em segundo plano, num instante.

Ash gingou na ponta dos pés, como se fosse provar que


ele estava errado, punhos dando socos simulados na direção
de Sebastian.
— Em seus sonhos, Stone. Você vai me fazer te
envergonhar na frente da linda Shea, aqui? Você sabe que a
única coisa que vai acontecer é fazer esta bela mulher se
apaixonar por mim. Ninguém poderia culpá-la. Eu sou
irresistível.

Sebastian grunhiu através do riso que estava


segurando.

— Está quase cruzando a linha, idiota.

Rindo, eu o empurrei, aquela sensação livre e vasta


corria através de mim novamente.

— Vá.

Com um gemido, ele começou a seguir Ash, antes dele


parecer pensar melhor e correr de volta e beijar meus lábios
daquela maneira doce. Ele apontou para mim enquanto
caminhava de volta, para o resto dos caras amontoados atrás
do palco.

— Não se mova.

Divertida, balancei a cabeça, fazendo uma promessa


silenciosa que sempre estaria aqui, onde quer que estivesse e
murmurei.

— Impressione-me, menino roqueiro.

Ele deu um sorriso de tremer a terra.

De balançar meu mundo.

Meu peito apertou.


O homem imponente finalmente se arrastou para longe,
voltando seu foco para onde deveria estar e para a banda.

As cabeças se inclinaram, eles formaram um círculo,


palavras inaudíveis sendo faladas, bateram nas costas um do
outro quando se levantavam.

Em conjunto, os quatro eram uma força.

Ousados, intimidantes e bonitos da forma mais


assustadora.

Ouvindo o rugido da multidão, alegria me preencheu.


Zee se abaixou, passou pelas cortinas e subiu no palco. As
baquetas na mão, ele levantou-as sobre a cabeça, olhando
para a multidão barulhenta.

Ash e Lyrik foram os próximos.

Aquele rugido ficou selvagem, energia ondulando,


ameaçando transbordar.

Sebastian entrou no palco.

Tudo entrou em erupção.

Gritos encheram o ar enquanto Sebastian colocava a


alça de uma guitarra elétrica sobre sua cabeça e gritava:

— Boa noite.

Ele arrumou o microfone e bateu seu pé em um pedal


no chão antes de mergulhar diretamente em uma de suas
canções mais imprudentes e duras. Ele dedilhou uma batida
maníaca, dedos hábeis corriam em precisão para cima e para
baixo do braço da guitarra.
Brilhante e cativante e tão talentoso que me sacudiu até
a medula.

Mas foi quando sua boca encontrou o microfone que sua


voz poderosa rasgou através de mim.

Cada célula do meu corpo ganhou vida, meu coração


pressionando em minhas costelas, enquanto olhava para o
homem que amava mais do que qualquer outro. Para o
homem que era o pai do meu bebê em todos os sentidos. Para
o homem que veio com uma força violenta para mudar a
minha vida.

Para sacudi-la com alegria e amor, com algo forte e


profundo.

O resto dos caras eram tão atentos em suas partes.


Lyrik tocava outra guitarra elétrica, toda essa confusão de
preto na parte superior da sua cabeça voando, enquanto seu
corpo sacudia com a batida, a cabeça de Ash levantou para o
céu, conforme ele tocava a linha de baixo, perdido na música,
enquanto Zee batia freneticamente na bateria atrás deles.

No chão, os corpos sacudiam.

Selvagens.

Agitados e descontrolados.

Livres.

Os quatro pareciam tanto com a primeira vez em que os


assisti, quando me tranquei no escritório do Charlie, naquele
momento em que tinha dúvida se poderia continuar por um
caminho que me levaria de volta para o tipo de vida a que
fugi.

Mas eu deveria saber que qualquer caminho que


tomasse levaria direto para Sebastian.

Não importava que Sebastian gritasse as letras, eu


sentia as palavras mais do que entendia.

Sua voz ainda se derretia sobre mim.

Afundando e tornando-nos uma só.

As palavras indecifráveis ainda tão claras.

Aquela energia me cercando, novamente fazendo-me


sentir como se fosse elevada. Montando onda após onda de
Sebastian Stone.

Lateralmente, ele virou a cabeça com a boca ainda


pressionada no microfone. Ele estava procurando.
Procurando por mim.

Aqueles olhos encontraram os meus e ele encantava.

O show inteiro me extasiou.

Perdida em seu espírito.

Afogando em sua presença.

Onde estava o meu ar e minha esperança, quem me deu


convicção na solidão oca do meu coração.

O único que o encheu.

Lágrimas brotaram nos meus olhos quando um ataque


de emoção me envolveu, me amarrando a este homem
devastador da forma mais impressionante.
Quando o set chegou ao fim, Sebastian jogou sua
palheta para a multidão, e gritou um último:

— Boa noite. — No microfone. Ele passeou para fora do


palco como se estivesse montando nessa emoção palpitante
também. Essa intensidade foi à loucura, tão selvagem quanto
aqueles estranhos olhos cinza quando me procurou. A onda
da sua energia quase me tirou dos pés no segundo em que
pousaram em mim.

Não houve hesitação em seu passo, era longo, confiante


e determinado em um objetivo singular.

Eu.

Ele colidiu comigo, empurrando-me contra a superfície


solida mais próxima, mãos, dentes e língua.

Eu resmunguei ao bater as costas no enorme alto-


falante, e ele me beijou mais forte, mais profundo, como se
tentasse entrar, um halo escuro vibrando do seu espírito com
desespero em seu toque. Cada carícia necessitada, era como
se ele estivesse transferindo essa energia para mim,
iluminando, incitando e sacudindo, uma provocação muito
mais profunda, nada superficial.

— Shea. — Ele gemeu de um jeito que soou como alívio.


Meus dedos enredaram em seus cabelos, trazendo-o mais
perto, beijando-o mais profundo.

Caindo.

Como se não houvesse fim. Nem início.

Só nós, agora e para sempre.


— Vocês estão quase terminando? — A voz de Lyrik
quebrou a conexão.

— Nem de perto. — Sebastian murmurou na minha


boca, ainda me segurando firmemente.

Uma risada sombria deixou Lyrik.

— O show acabou, cara.

Obviamente, ele estava se referindo a mais do que


Sunder estar no palco.

Deus, me perdi com Sebastian, esqueci onde estava e


quem iria ver.

Sebastian apenas resmungou para ele conforme


continuava a me beijar.

— Vá embora.

— Nem pensar, meu amigo. Você precisa tomar banho...


temos planos. Lembra?

Sebastian olhou para ele por cima do ombro, ainda me


segurando como se fosse voltar ao que fazia.

— Isso foi antes da minha menina aparecer e alterar os


meus planos.

Lyrik olhou para mim.

— Shea é parte do plano, não é, Shea?

Eu estava quase relutante em assentir, porque não


queria nada mais do que, finalmente, ficar atrás de portas
fechadas com Sebastian.

Mas de alguma forma me forcei a concordar.


— Sim... parte do plano.

Um sorriso puxou um lado da minha boca quando ele


estreitou os olhos na minha direção.

— Você só apareceu para me torturar, não foi, mulher?

— Não seja maricas, homem. Um pouco de antecipação


nunca fez mal a ninguém. — Lyrik falou, enquanto passava a
mão pelo cabelo.

— Não chamaria quatro semanas de um pouco de


antecipação. — Ele se virou para mim com a sugestão de
uma demanda torcendo em seus lábios. — Diga-me como
você vai me recompensar.

Mãos ansiosas, provocando a barra da sua camisa,


pressionei mais um beijo naquela boca linda.

— De. Qualquer. Jeito. Que. Você. Quiser.

— Agora você está apenas pedindo para ter problemas.

Sem dúvida. Mas eu estava disposta a aceitar o que ele


quisesse.

Sebastian afastou-se e me ajudou a equilibrar-me em


meus pés instáveis.

Novamente, Sebastian deixou-me no pequeno quarto,


prometendo estar de volta. Ele ficou fora por pouco mais de
cinco minutos antes que voltasse. Com roupa diferente,
cabelo castanho úmido e escurecido, usando uma camisa de
botão de mangas compridas com os punhos enrolados até um
pouco abaixo os cotovelos, sua força inegável revelada no
músculo eriçado debaixo da tatuagem intrincada gravada na
pele exposta dos seus antebraços.

Não havia como perder as cabeças que se viravam, o


desejo evidente nos olhares gritantes atraídos na direção
deste homem magnífico. Gotejando sexo e escuridão. Envolto
em mistério. Um enigma que somente eu poderia responder.

Um Ash recém-banhado veio valsando logo atrás e bateu


palmas uma vez na frente dele.

— Vamos fazer isso.

Sebastian segurou a minha mão, enquanto Ash falava


com o pequeno grupo de amigos que estavam nos
encontrando no clube. Nós cinco saímos pela porta dos
fundos, o céu de novembro fresco, os sons de folia ondulando
no ar.

O SUV que nos deixou estava à espera, mas foi em


direção ao Maserati preto conversível estacionado atrás dele
que Sebastian se dirigiu.

Meus passos vacilaram e minha boca se abriu.

Deveria ser eu quem estaria distribuindo as surpresas


neste fim de semana e não o contrário.

Com minha reação, Sebastian só me deu um encolher


de ombros e puxou minha mão, enquanto caminhava na
minha frente, virando o rosto para mim e dando alguns
passos para trás.
— Fiz uma ligação quando pedi o seu material para o
quarto. Imaginei que poderia querer o nosso próprio carro
para o fim de semana.

— Dificilmente chamaria aquilo de carro.

— O que? Ele tem rodas.

E sabia, sem dúvida, que isto era por mim, porque o


gosto de Sebastian tão obviamente inclinava-se para os
carros maiores com vidros escurecidos, grandes motores,
robustos e potentes. Esse carro era elegante, pequeno e
rápido, luxo pretensioso no seu melhor.

— Você é louco, Sebastian da Califórnia.

Seu riso era livre, pleno e me encheu toda, meus


pulmões pressionando firmes em minhas costelas, enquanto
eu apreciava o som.

— Não pode culpar um homem por cuidar da sua


namorada.

— Mais como estragá-la.

Ele puxou-me com força, fazendo-me cair no calor do


seu peito. Seu coração batia firme e forte. As pontas dos
dedos tocaram suavemente meu rosto, enquanto as palavras
saiam suaves.

— Não me importo de fazer um pouco disso também.

Eu abdiquei, e Sebastian me ajudou a sentar no couro


macio do banco da frente, caminhou pela frente, pulou para o
banco do motorista e ligou o carro.
Seguimos o SUV para o clube que Ash arranjou para ser
a festa de Sebastian, na época em que Sebastian pensou que
seria ele e os caras e alguns dos seus amigos numa noite na
cidade.

Um caleidoscópio de luzes ardia nas ruas. Cada casino e


hotel estava iluminado como uma tocha que prometia
gratificação não encontrada em nenhum outro lugar do que
esta cidade. A capota estava abaixada, o ar estava frio e meu
coração batia forte em contentamento. Uma das minhas
mãos estava sobre a coxa de Sebastian, a outra tecendo
através do ar que passava onde meu braço estava apoiado na
janela.

Dez minutos mais tarde, nós paramos logo atrás do


Escalade para entregar o carro ao manobrista. Sebastian
correu em volta e me ajudou a sair. Ele manteve sua mão na
minha, com a cabeça levantada sem a reserva que
normalmente usava em torno da mídia, quando uma
saraivada de flashes irrompeu o segundo em que aparecemos.

A corda vermelha separava uma fila de festeiros vestidos


para impressionar, esperançosos em entrar. Alguns deles
gritaram pelo Sunder, quando a banda caminhou
diretamente em direção à entrada. Alguns apontaram para
Sebastian, gritando seu nome para chamar sua atenção,
conforme erguiam seus telefones e tiravam fotos. Ele sorriu
em sua direção, o homem era todo felicidade e emoção, sem
um pingo de hostilidade que normalmente acompanhava ao
estar nos olhos do público.
E eu percebi que às vezes o amor acalmava um pouco
dessa raiva.

Agarrei-me a ele. A força do meu sorriso, esta alegria


dentro de mim, era mais do que eu poderia entender.

— Delaney Rhoads. — Alguém gritou da fila.

Por instinto, meus olhos brilharam naquela direção, não


sei o que fazer. Se deveria correr, me esconder ou levantar
meu queixo com orgulho da mesma forma que Sebastian
parecia fazer.

Sebastian me abraçou um pouco mais apertado, em


apoio silencioso, sua voz casual quando ele gritou:

— O nome dela é Shea, cara. Não se esqueça disso.

Alguém riu e gritou.

— Shea. — E apenas sorri e acenei timidamente,


permitindo que Sebastian me conduzisse através da entrada
do clube abarrotado.

No interior, era mais escuro do que a noite, mas ainda


mais brilhante do que o dia, os corpos iluminados como
silhuetas nos flashes de luz. Dançarinos profissionais
estavam suspensos no teto alto, tipo catedral, em gaiolas,
enquanto a multidão delirava abaixo, em cabines e mesas
escondidas fora da vista ao redor da pista de dança.

Fomos levados pelas escadas para uma sala privada,


estávamos sentados em sofás de veludo. Uma miríade de
luzes brilhava no teto espelhado e paredes envidraçadas,
dando-nos uma visão desobstruída da pista de dança.
Sebastian foi rápido para me puxar sentada ao seu lado,
eu me enrolei nele enquanto ele colocava o braço em volta dos
meus ombros.

Mais amigos de Sebastian apareceram, alguns que


conheci no show, outros completamente desconhecidos, os
braços envoltos em torno de meninas vestindo quase nada,
quando eles entravam para desejar feliz aniversário.

Mas nenhum estava ansioso para começar a festa como


Ash.

Ele ordenou uma rodada de shots para todos, e as duas


garçonetes atribuídas a nossa festa fizeram a entrega
minutos mais tarde.

Ash se levantou e ergueu o copo.

— Eu acredito que é hora para um brinde.

Sebastian murmurou.

— Uh, oh.

Uma rodada de vaias explodiu, e todo mundo levantou


seus copos minúsculos de tequila decorados com sal e
guarnecidos com fatias de limão.

Fiz o mesmo, sorrindo para Sebastian.

Olhos brincalhões brilharam para mim.

— Nós todos sabemos que eu aturo sua bunda gorda


por um longo tempo. — Ash começou seu brinde em um tom
que parecia de arrependimento, mas pelo sorriso aparecendo
em todas as linhas em seu rosto, todo mundo sabia que era
tudo menos isso. — Os anos continuam passando e você
continua ficando mais velho e mais feio, enquanto eu, de
alguma forma, consigo manter toda a minha boa aparência
juvenil. Não há surpresa nisso, certo? — Ele falou e levantou
os braços para os lados, dessa forma arrogante, acenando em
torno do espaço tentando fazer com que todos concordassem
com ele.

Risadas rolaram.

Sebastian apenas riu baixinho e esfregou a palma da


mão sobre a boca, diversão clara conforme deixava seu amigo
tirar sarro dele do jeito que sempre fazia.

Nenhum dano feito.

Nenhum tomado.

Ele continuou a se vangloriar e algo genuíno apareceu


nos vincos dos cantos dos olhos de Ash.

— Nós já passamos por alguns momentos realmente


terríveis, cara... e alguns realmente bons, também. E minha
esperança é que esses bons apenas continuem vindo e vindo,
porque não sei de ninguém neste mundo que os merece mais
do que você. Feliz Aniversário, Baz.

Eles compartilharam um momento de silêncio antes de


Ash levantar o copo em direção a Sebastian.

— Para Sebastian. — Um coro de vozes se elevou. —


Feliz Aniversário.

Os shots foram tomados.

Todos, exceto os de Sebastian e o meu. Porque ele virou


a intensidade daqueles olhos para o meu rosto, passando o
momento que Ash e ele compartilharam, para mim. Me senti
atraída, desloquei-me no mesmo segundo que Sebastian
estava me virado, puxando-me para frente.

Eu montei seu colo.

Não me importava que houvesse um monte de pessoas


aqui que não conhecia e que não me conhece. Não me
preocupava com as mulheres que, provavelmente, estavam
sedentas pelo meu homem, pensando que eu fosse apenas
mais umazinha, uma aventura, uma foda ou o que quer que
eles quisessem acreditar que eu fosse.

Quando a verdade era que eu era dele.

Sebastian olhou o polegar sobre meu lábio inferior,


olhos seguindo a ação, antes que tomasse uma fatia de limão
e percorresse-a sobre o mesmo local.

Eu podia sentir o sangue correndo inchando o meu


lábio.

Em seguida, ele percorreu o dedo por cima, a pele


sensível formigando com o toque, molhado pela gota de suco.

O cheiro cítrico encheu minhas narinas.

Inspirei instavelmente, ele levou o copo à boca, o sabor


do sal bateu na minha língua bem antes da tequila lhe
seguir.

Sebastian se inclinou para provar. Sua língua era suave


conforme contornava meus lábios, antes de suavemente
entrar na minha boca.

Saboreando.
Atentando.

Provocando.

A promessa do que estava por vir.

Passei meus braços em torno da sua cabeça, enquanto


ele me beijou e eu sussurrei.

— Feliz Aniversário.

— Melhor aniversário de todos os tempos. — Ele


sussurrou de volta.

A atmosfera estava calma, despreocupada e Sebastian


se recusou a me deixar sair do seu colo, enquanto falava com
aqueles que vieram participar da comemoração.

O clima foi elevando-se à medida que mais bebidas eram


consumidas. Ash e Lyrik se soltaram da maneira que tantas
vezes fizeram no Charlie‘s, brincando, vivendo suas vidas em
seus termos.

De alguma forma, eles conseguiram criar a sua própria


pista de dança no andar de cima em nossa sala privada,
pessoas vinham e iam quando mais e mais rostos estranhos e
tietes apareciam.

Eu só poderia assumir que a maioria eram mulheres


dispostas que eles atacaram lá em baixo.

— Dance comigo. — As suaves palavras de Sebastian


passaram através de mim como chamas. Ao contrário de
quando ele as pronunciou para mim naquela noite no
Charlie‘s. Na noite em que me preocupei que a esperança
estava se esvaindo. Agora, nenhuma tristeza ou medo me
segurava.

Eu deveria ter percebido, então.

Deveria ter percebido que isso era real.

Imparável.

Inquebrável.

Sebastian ajudou-me a sair do seu colo e ficou de pé.


Essa estranha e intensa energia trazia-me à vida, enquanto
me olhava. Ele não disse nada e entrelaçou seus dedos nos
meus.

Sebastian me surpreendeu docemente quando não me


levou para o grupo dos seus amigos na sala privada. Em vez
disso, me levou lentamente pelas escadas para o piso
principal do clube.

A cada passo, eu podia sentir o ritmo do meu pulso


aumentando, o boom, boom, boom do meu coração
acelerando, quando ele me levou para a guerra de corpos que
se mexiam com a batida da música eletrônica.

Os movimentos de Sebastian eram lentos. Intencionais.


Sensual e sexual, fazendo com que respirações ofegantes
passassem por entre meus lábios quando ficamos frente a
frente. Seu calor, seu coração, os seus olhos sobre mim,
deixando de fora o resto do mundo, enquanto ele me envolveu
e me tirou dele.

Suas mãos acariciaram minhas costas, passando pela


minha bunda antes de percorrer até o lado de fora das
minhas coxas, a nossa própria batida cadenciada girando em
torno de nós. Nossos corpos se moviam em sincronia. Do jeito
que sempre acontecia quando nos uníamos. Áspero,
desesperado e necessitado.

Ele me beijou e beijou e beijou, enquanto as músicas


trocavam e passavam de uma para outra e depois outra.

Até que eu estava sem fôlego, quente e úmida e com


certeza não poderia aguentar um segundo mais.

— Vamos sair daqui. — Ele finalmente murmurou na


minha boca.

— Deus, sim.

Uma risada saiu da sua boca e de repente ele foi


caminhando no meio da multidão, minha mão na sua,
enquanto eu lutava para manter-me com um homem que
estava, mais que definitivamente, em uma missão.

Eu ri e lhe agarrei um pouco mais apertado, mais do


que pronta para ir junto para o carro.

Ele deu ao manobrista o recibo para o carro e se voltou


para me beijar enquanto esperávamos, nenhum de nós
preocupados com as câmeras ou olhos embasbacados.

Porque nada disso importava, exceto por este momento


incendiário.

Quando o carro parou a nossa frente, Sebastian


entregou outra de suas gorjetas ultrajantes, pegou as chaves
e me levou para o lado do passageiro. Me ajudou a entrar,
inclinando-se para dar outro beijo.
Luxúria e amor lutavam pelo domínio em sua expressão
quando se afastou, fechando a minha porta, correu para o
seu lado. Não hesitei em me ajustar em meu lugar para
passar minha mão na superfície plana e rígida do seu
abdômen. Ele acelerou rapidamente, pneus guinchando,
saindo de lá. Beijei seu pescoço e brinquei com sua orelha, os
dedos passando pelo cós da calça jeans, fazendo ele gemer,
enquanto tentava se concentrar na estrada.

— Está tentando me matar, Shea?

Engoli em seco quando o carro deu uma guinada e


Sebastian fez uma súbita curva acentuada, depois outra. Os
pneus chiaram quando ele parou em uma rua deserta.

Uma névoa de luxúria nublou minha mente e fui puxada


de volta para o seu colo, meus joelhos em ambos os lados das
pernas, seu pênis necessitado moía contra o tecido do meu
short e sua boca tomou a minha.

Oh. Deus.

Eu gemia, meus dedos cravando em seus ombros.

Arqueei-me e apertei meus seios contra seu peito. Eles


doíam com apenas um vislumbre da necessidade pulsando
entre as minhas coxas.

Mãos quentes agarraram meus quadris, forçando-me


contra seu pau tenso em seu jeans.

Eu poderia estar em cima, mas ele estava


definitivamente no controle.
— Porra, baby... o que você fez para mim... o que você
fez para mim? Estou morrendo de vontade de estar dentro de
você. Preciso sentir você. Preciso tanto de você.

— Você me tem.

Sebastian apalpou minha bunda, mãos correndo na


lateral das minhas pernas, enquanto levantava-me mais alto,
a cabeça balançando para trás quando ele se moveu e
agarrou a parte de trás da minha cabeça, forçando-a para
baixo, enquanto ele continuava aquela agressão frenética de
língua, dentes e boca.

— Preciso de você para sempre. Preciso de você usando


meu nome e mostrando o meu anel. — Foi tudo dito em
desespero.

Fiquei chocada e congelei quando percebi o que ele


disse.

Me afaste um pouco, mas, ainda segurando seus


ombros.

Era como se o mundo tremesse em volta de mim,


enquanto o olhava.

Ele encontrou meu olhar.

Cru, severo e honesto.

— Case-se comigo.

A esperança brilhou como fogo, imagem após imagem de


uma vida de fantasia que nunca pensei que fosse possível.

Simples sonhos.
Me queimando por dentro.

Engoli em seco a emoção alojada na minha garganta e


forcei as palavras.

— Você está falando sério?

— Com tudo o que tenho... com tudo o que tenho para


oferecer. Case-se comigo, Shea Bentley.

Pisquei freneticamente.

— Agora mesmo?

— Agora mesmo. Quando as coisas se acalmarem,


vamos fazer a coisa da grande cerimônia. Ter meus caras
como meus padrinhos. Faça April e Tamar usarem os
vestidos mais feios que você possa encontrar.

Seu rosto se contraiu quando disse isso. Respirando


rapidamente, tentei prestar atenção no que ele estava me
pedindo.

As palavras só foram ficando mais ásperas, enquanto ele


continuava.

— Nós teremos nossa Kallie jogando pétalas na sua


frente, porque ela vai ser a mais bonita daminha que já
viram. Teremos todos os que amamos lá para testemunhar.
Quero tudo isso, Shea. — Enfatizou, enquanto agarrou-me
um pouco mais apertado. — Quero dar isso a você. Mas
agora? Comemorando meu aniversário? Quero te fazer minha
esposa. Só nós dois e um futuro que está completamente
aberto a nossa frente.

Seus olhos esperançosos procuraram meu rosto.


— Diga-me que você quer isso também.

— Sim. — Isso saiu de algum lugar profundo.

— Sim?

— Sim... sim... sim. — Sussurrei quase freneticamente.


Ou talvez fossem apenas meus beijos frenéticos que não
conseguia parar. Beijos de alegria, algo inteiro, belo e
absoluto.

Eu podia senti-lo sorrir sob os meus lábios.

Encontre o amor e traga-o aqui. A voz da minha avó


ecoou pela minha mente.

Eu encontrei vovó.

Eu encontrei.

Ele se afastou.

— Prometo a você, Shea, vou te amar para sempre. Vou


lhe proteger e nunca a deixarei ir. Serei o marido que você
merece e o pai que Kallie precisa.

— Sebastian. — Respirei e ele segurou meu pescoço, o


polegar roçando debaixo do meu queixo.

— Você é a pessoa que estava esperando.

Meus pensamentos passaram para a minha Kallie.

Sem sombra de dúvida, as coisas maravilhosas que


Sebastian queria, as coisas que eu queria, ela também iria
quer.

Nenhuma pergunta restou.

Isto era certo.


Ele beijou-me com força, então me colocou no meu
assento, dando-me um sorriso torto quando colocou o carro
de volta na estrada fazendo um rápido U para retornar. Ele
acionou o reconhecimento de voz no GPS procurando por
Agência de Casamento.

Dirigiu rapidamente e com proposito, enquanto eu


voava, o meu espírito longe, viajando.

Tocando aquele futuro amplo a nossa frente.

Encontramos um local para estacionar. Sebastian pulou


e correu em volta do carro para me encontrar. Mais uma vez
me vi lutando para manter-me com ele, enquanto nós
corríamos para dentro do prédio, preenchíamos o formulário
e pagávamos a taxa para uma licença de casamento.

Tudo isso parecia tão louco, mas tão completamente


perfeito.

Eu estava me casando.

Com Sebastian Stone.

Nós corremos de volta para o carro. A risada melódica de


Sebastian confrontou com a noite quando deu marcha ré no
carro, e não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava de
volta em meus joelhos em meu assento, inclinando-me sobre
o console, beijando seu rosto e seu pescoço. Tocando-o em
todos os lugares.

Saltei quando ele entrou com o carro em um terreno.


Meu sorriso que parecia interminável de alguma forma
conseguiu aumentar.
Nós nem sequer saímos do carro. Sebastian apenas
dirigiu até a fila do drive-through, onde pagamos outra taxa e
entregamos a nossa licença. O oficiante começou a falar. Nós
acenamos nosso entendimento quando ele fez algumas
perguntas para garantir que compreendíamos que estávamos
entrando em um casamento legal.

Sim.

Sim.

E sim.

Quando ele começou com os votos, soltei uma


gargalhada e fui abruptamente atraída de volta para o colo de
Sebastian, montando-o novamente.

As palavras do oficiante desapareceram quando


Sebastian agarrou meu rosto e falou seus próprios votos para
mim.

— Eu vou te amar para sempre. Respeitá-la. Protegê-la e


apoiar-te e sempre permanecer fiel a você.

Minhas mãos tremiam quando segurei seu queixo.

— Eu nunca vou desistir de você ou deixar este amor


acabar. O meu para sempre é para sempre. Minha vida é sua
para mantê-la.

Nós éramos uma enxurrada de ―eu aceito‖, beijos e


marido e mulher.

Tão depressa, que estávamos de volta na estrada,


parando na entrada do hotel junto ao manobrista, corações
batendo e espíritos dançando quando nós corríamos através
do lobby para os elevadores.

Nós tropeçamos no elevador. As mãos de Sebastian


estavam em meus quadris me empurrando em direção à
porta. Sua boca nunca deixou a minha, enquanto ele se
atrapalhava com a chave da nossa suíte.

Ele me tirou do chão e me pegou em seus braços.

Uma noiva carregada através da porta pelo homem que


prometeu segurá-la.

Protegê-la.

Amá-la.

Sebastian fechou a porta com o pé. Seus passos pesados


ecoaram em todo o piso de mármore. Não vacilou ou parou.
Ele só foi direto para a escada, nunca quebrando a nossa
ligação, terminou de subir os degraus para o quarto acima.

— Isso é real... isso é real. — Ele murmurou entre sua


tentativa de me trazer para mais perto. Seu agarre apertou e
sua boca beijava meu pescoço. — Baby, me diga que isso é
real.

— Sim... é real. Tudo isso... é real.

Éramos reais.

Meu coração bateu mais forte em meu peito.

Livre.

Alegria, luz e vida.


Nossos toques eram frenéticos e rasgávamos a roupa um
do outro, nossas bocas nunca longe, enquanto nos beijamos
através da pele revelada. Nossas mãos estavam desesperadas
despindo um ao outro até que estávamos nus.

Ele me jogou no centro da cama enorme. Meu homem


lindo estava ao lado, olhando para mim com um sorriso de
espanto. O brilho nos olhos de aço era predatório.

Nunca houve um tempo antes, ou haveria um tempo no


meu futuro, que me sentiria assim.

Desejada.

Absolutamente adorada.

Tão delirantemente feliz que não sabia distinguir o que


era dentro ou fora, alto ou baixo, porque ele entrou e pintou
um novo começo. Esmagando minhas paredes e alterado
minha realidade.

Hoje à noite me tornei a mulher de Sebastian Stone.

— Não posso acreditar que você é realmente minha. —


Disse ele, como um eco dos meus próprios pensamentos.

— Eu sou sua... marido. — Senti a captura no canto dos


meus lábios, um tremor que vacilava em algum lugar entre
brincalhão e admiração.

O som que ele fez foi algo parecido com um grunhido.

— Marido.

Ele disse isso como se testasse como soava em sua


língua, antes de pular sobre mim de repente.
— Vem cá, mulher. Estou prestes a pegar o que é meu.
Você está pronta para mim?

Riso saiu por entre meus lábios, e arqueei minhas


costas como minha necessidade crescendo, misturada a uma
sensação deliciosa em minha barriga.

— Sempre.

Sebastian passou a mão pelo lado de fora da minha


coxa.

— Você tem alguma ideia das fantasias que tenho sobre


estar envolto por estas pernas, Shea? Todas as noites que
passei sozinho, sonhando com elas? Sobre quão incrível elas
ficam cada vez que as tenho em volta da minha cintura?
Imaginando como alguém como eu tenho a sorte de estar com
alguém como você? Agora vou estar envolto por elas para o
resto da minha vida.

Ele passou seu nariz ao longo do meu queixo, braços em


volta de mim, apertados.

— Você fez de mim o homem mais feliz do mundo.

Energia percorreu-me como um fio desencapado. Uma


onda de alegria e um relâmpago de desejo.

Olhei para cima para encontrar a promessa em seu


olhar, meus dedos roçando sobre seu carnudo lábio inferior.

— Eu nunca soube que havia felicidade como esta. E


então há você.

E então há você.
Um pequeno sorriso surgiu naquela boca bonita. As
palavras que sussurrei meses atrás, que nos levou a esta rota
de colisão, de paixão e de necessidade. Com esta devoção sem
fim que nenhum de nós poderia imaginar que veríamos.

Então, seu sorriso se tornou manhoso, olhos brilhando


de alegria e agitados com safadas e deliciosas ações que ele
se preparava para executar no meu corpo.

Uma onda de puro desejo passou através de mim, e ele


riu quando um riso escorregou pela minha garganta, porque
não suprimi minha euforia.

Ele pressionou a boca em meu peito e me agarrei aos


seus ombros, minha cabeça balançando para frente quando
ele capturou um mamilo em sua boca quente. Sebastian
sugou, jogou e brincou, enquanto sua mão vagava pelo meu
estômago, um rebuliço de borboletas ansiosas tremeu dentro
de mim.

Antecipação gritava em minhas veias.

Ele arrastou o dedo sobre o meu clitóris, eu ri através de


um gemido fazendo ele rir. Eu amando o olhar de alegria
contagiante em seu rosto. Sua expressão dançava nas
sombras. Cobiça, orgulho, desejo, admiração, devoção e
amor. Tudo incorporado neste momento de euforia criado só
para nós.

Ele se apoiou com uma das mãos e com a outra ele


colocou dois dedos dentro de mim.

Faíscas voaram, pequenos lampejos de prazer


iluminando a parte externa dos meus olhos.
Ele entrou e saiu do meu sexo, seu corpo como um fio
energizado quando se deslocou sobre mim.

— Tão molhada. — Disse, enquanto se ajoelhava. Ele


manteve-se baixo conforme se arrastava para frente e
empurrou minhas pernas para cima me espalhando mais
largamente, enquanto seus dedos tocavam-me ainda mais
profundamente. — Alguém está ansioso, não é? Quer-me
tanto quanto eu quero você, não é, senhora Stone?

Uma onda de alegria rolou através de mim quando ele


usou esse nome. O nome dele. O nome que deu para mim.
Arrastei minhas unhas abaixo, nos cumes definidos das suas
costas fortes.

— Você não tem ideia, Sr. Stone, quão


desesperadamente quero você. — Levantei, arrastando minha
boca ao longo da sua orelha. — O quanto preciso de você.

Sebastian agarrou seu pênis e alinhou-se, sorrindo


enquanto passou os dentes no lábio inferior e me olhou.

Gemi quando fui atingida com o pensamento errante.


Eu sorri para o meu marido, aquecendo-me com toda a luz
que ele apontava em meu caminho, enquanto dei um
empurrão suave em seus ombros e sussurrei como se minha
vida dependesse disso,

— Depressa... encontre um preservativo. Eu esqueci


minhas pílulas, lembra?

Deixar de toma-las por alguns dias provavelmente não


seria grande coisa, mas o risco sempre estava lá.
Sebastian riu um pouco mais, correndo a cabeça grossa
do seu pau entre as minhas dobras.

— Não. E por que diabo eu teria preservativos?

Oh. Certo.

Eu ri, ainda montando essa onda vertiginosa, minha


cabeça balançando para frente e para trás nos lençóis,
enquanto me enlouquecia com a tentação.

— Sebastian, você vai me engravidar.

Isso saiu com o barulho estridente de uma risada.

Ele foi engolido pela intensidade repentina que sufocava


toda leviandade da sala.

Espessa, silenciosa e pesada.

Consumindo a gravidade.

Como se a ideia das palavras que deixaram a minha


boca o derrubasse da sua base.

Meu coração bateu no meu peito, acelerado, enquanto


tentava igualar a aceleração errática do seu.

Seus olhos ficaram escuros quando eles bloquearam em


mim, e ele moveu-se para percorrer os dedos trêmulos
através do comprimento do meu cabelo, a expressão ficando
suave enquanto a cabeça inclinava para o lado.

— Vamos fazer um bebê.

Um suspiro chocado silencioso deixou meus lábios. Mais


uma vez, me senti como se estivesse naquele túnel de luz
intermitente, em um trem em alta velocidade impulsionando-
nos para um futuro chegando cada vez mais e mais rápido.

— Isso são muitas grandes decisões para uma noite. —


Eu finalmente consegui dizer.

Seu agarre apertou.

— Quando se trata de você, todas as minhas decisões já


foram feitas.

Ele sacudiu levemente a cabeça.

— Nunca pensei que teria isso, Shea. Nunca pensei que


encontraria alguém que me toca da maneira de você toca.
Acredita em mim do jeito que você acredita. Pensava que
estar sozinho ia ser o preço da banda ter sucesso. Mas não.
Aqui está você, enchendo todos os espaços ocos na minha
vida.

Pisquei as lágrimas, enquanto este homem incrível


refletiu meus pensamentos de apenas algumas horas atrás.

Uma velha tristeza passou por seus olhos.

— O tempo não para e quero fazer com que cada


segundo que passar com você, conte. Não quero esperar o
momento certo, quando todo o tempo é certo com você.

Emoção espalhou-se através do meu peito, calor se


estendeu para tocar em todo lugar dentro de mim, e euforia
transbordou, o mesmo que as lágrimas nos meus olhos.

— Todo tempo. Todo minuto. Todo segundo.


Um jorro de ar saiu dos seus pulmões e ele apoiou-se
em ambas as mãos, este homem impressionante pairava
sobre mim.

— Você me vê, Shea?

Peguei seu rosto em minhas mãos.

— Eu nunca vou desviar o olhar.

E nenhum de nós nos desviamos quando Sebastian


encheu-me lentamente, o homem sempre tão áspero,
desesperado e cru, me manipulava como se eu fosse de vidro.

O tempo foi dado para valorizar este momento.

Todo o tempo.

Meu corpo tomou o seu, enquanto ele me estendia da


forma mais requintada.

Profundamente.

Completamente.

Tão cheia que me tirou o fôlego.

Da mesma forma que este homem roubou o meu


coração.

Pisquei contra a escuridão, apenas um brilho de luz


passava através das cortinas de cetim que pendiam através
das portas de vidro que davam para a varanda. Os sons
fracos da movimentada cidade ecoaram muito abaixo.
Acordei em uma cama vazia. Embora não estivesse
sozinha. Podia sentir sua presença ao meu redor. Sentando-
me, ouvi as estirpes distantes de um violão acústico no andar
de baixo, aquela voz linda, para um homem bonito, me
trazendo sossego.

Era a única coisa que eu podia ouvir.

Levantei da cama e me enrolei em um lençol acolchoado


saindo tranquilamente pela porta. Parei no topo das escadas.

Sebastian estava sentado no chão apoiado no sofá, de


costas, ombros nus, violão em seu colo.

Palavras flutuaram. O dedilhar suave das cordas e uma


melodia suave estenderam-se para tocar a minha alma.

Lentamente desci a escada em caracol, uma das mãos


no corrimão liso e a outra segurando o lençol contra o meu
peito.

Os músculos das suas costas tencionaram e inclinaram-


se quando sentiu a minha abordagem, mas não houve falha
em sua canção. Apenas o doce som atraindo-me para ele.

Descalça, pisei no mármore frio no final da escada e


andei mais intensamente pelo espaço da sala. Centímetro por
centímetro. Contornei o lado do sofá e parei a noventa
centímetros na frente dele.

Seus olhos lentamente levantaram até os meus, esse


homem impressionante me capturou com o peso do seu
olhar.
Luzes piscavam e brilhavam das janelas com vista para
a cidade. Cores cintilaram em seu rosto, linhas corajosas,
bonitas e marcantes da noite.

E foi como instinto, como mágica, que Sebastian parou


a música que estava compondo, apenas o tempo suficiente
para levantar o violão do seu colo e me dar boas-vindas.

Ele usava um e jeans velho e macio, separou suas


pernas apenas o suficiente para me dar espaço. Me sentei no
chão, entre as suas pernas, de costas para seu peito nu, o
lençol fino frio contra sua pele quente enviava arrepios pela
minha pele.

Ele exalou duramente com o contato, seu batimento


cardíaco era uma batida profunda e constante. Sebastian
colocou o violão no meu colo e me envolveu em seu abraço.

A cor intrincada gravada sobre seus braços parecia girar


através da sua pele. Músculos flexionavam abaixo como se
quisessem contar sua história.

Ou talvez quisessem escreve-la de novo.

Sua respiração fez cócegas ao longo do meu pescoço,


soprando fios do meu cabelo em torno de nós e ele se inclinou
sobre meu ombro. Suas mãos acariciavam as costas das
minhas, enquanto ele colocou-as cuidadosamente no violão.

Meus dedos pressionaram as cordas para baixo sobre o


traste como Sebastian cobriu-os levemente com a sua. Uma
orientação delicada. Um incentivo tranquilo.

Nossos espíritos se unindo.


Como se entendesse minha própria dor. Como se ele
fosse a única pessoa com a capacidade de sentir o buraco
deixado ao desistir dos meus sonhos, porque eu nunca estava
disposta a pagar o preço.

Não quando o preço era minha filha.

Mas isso não significa que a necessidade de criar,


compor e tocar não me queimasse por dentro.

E eu sabia.

Sebastian Stone foi criado para mim.

Um tremor percorreu meu corpo, porque eu não fazia


música há muito tempo.

Juntos, dedilhamos.

A voz de Sebastian raspou na concha da minha orelha,


a letra pausada, não polida, enquanto ele sussurrava o início
de uma canção desnudando a alma.

Você.
Veio como uma tempestade.
À distância.
Chegando mais perto.
Eu senti conforto e garantia na escolha que fizemos.
O salto que demos.

E juntos, nós caímos. Caímos na canção, nossos dedos


encontraram o próprio ritmo perfeito nas cordas. Caímos nas
palavras, nossos espíritos e línguas se unindo para contar a
nossa história.

Caímos ainda mais na beleza.

Caímos em um mar de estrelas que ofuscava meus


olhos. Onde flutuávamos em um lugar alto que pertencia
apenas a nós. Um lugar que não pertencia a este mundo.

Em um lugar onde Sebastian e Shea Stone nunca


terminariam.
ANSIOSAMENTE, bati na porta do hotel. Andei dois
passos numa direção e depois dois passos na outra, antes
que batesse meus dedos sobre a madeira novamente.

— Tudo bem... tudo bem... acalme-se, estou chegando.


— Ecoou do outro lado.

Metal raspou antes da porta se abrir o suficiente para o


rosto do meu irmão mais novo aparecer, seu cabelo castanho
estava uma bagunça, as boxers largas caídas nos quadris
estreitos era a única coisa encobrindo seu corpo alto e magro.

— Onde é o maldito incêndio?

No andar de cima, ainda dormindo no meu quarto.

Eu entrei em seu quarto.

— O que, eu não posso simplesmente parar no quarto


do meu irmão mais novo para dizer oi?
— Às sete e meia da manhã? Uh... não. — Inclinando
uma mão na cabeceira, ele lançou um olhar suspeito para
mim. — O que está acontecendo?

— Quem falou que alguma coisa está acontecendo?

Ele soltou uma gargalhada conhecedora.

— Eu não sei... você vem aqui no raiar do dia, um dia


após seu aniversário. — Lembrou — Com esse sorriso parvo
em seu rosto e gingando pelo andar. Para mim parece que
algo está acontecendo.

Ele estava certo. Não podia tirar a porra do sorriso do


meu rosto, mesmo se quisesse.

O que eu não queria.

Nunca me senti tão bem em toda a minha vida.

— Sim, você está certo. Algo está acontecendo, e queria


que você fosse o primeiro a saber.

Dez minutos mais tarde, eu deixava a porta de Austin se


fechando atrás de mim e levando meu traseiro de volta a
nossa suíte.

Com tudo de mim, eu precisava voltar para a minha


garota.

Passando o cartão-chave na fechadura, destranquei a


porta e entrei. A quietude ecoou de volta, enquanto o sol
subia além do horizonte. Raios de manhã se estendiam por
toda a cidade. Neste momento, estava provavelmente o mais
tranquilo que poderia ser.

Louco, considerando que eu estava mais tenso do que


jamais estive. Na noite passada não consegui dormir, nem
sequer patinei em direção ao sono, absorvendo tudo o que
aconteceu durante a noite.

Porra, eu estava flutuando. Viajando no compromisso e


na música que fizemos, algo tão brilhante, intenso e real que
eu senti-a afundar-se, tornando-nos um só. Da mesma
maneira que senti que minha menina afundava cada vez mais
no meu espírito na noite passada, me segurando como refém
com sua voz e me libertando com suas palavras.

Certo. As pessoas iriam dizer que estávamos apressando


as coisas. Dizendo que nós dois não éramos nada, além de
tolos irresponsáveis com o coração mergulhado nesse êxtase
interminável que um dia mudaria. Problemas apenas
esperando para engolir-nos.

Eu não dava a mínima para isso.

Não era como se eu fosse conhecido por jogar pelas


regras, de qualquer maneira.

E quando se tratava de Shea, eu estava pronto para


quebrar todas elas. Acabando com todos os pressupostos e
projeções, aqueles afirmando que estávamos nos conduzindo
a falhar antes que nós sequer tivéssemos a chance de voar.

Ela era a resposta para a minha alma.


Fui direto para as escadas, passos leves, não querendo
acordá-la. Ao contrário de mim, Shea se aconchegou nos
meus braços, há muito tempo perdida no sono quando
finalmente me desembaracei dela, quando não podia mais
ignorar a sensação incômoda de que precisava falar com o
meu irmão.

No topo da escada, parei quando olhei para a cama em


que nós tínhamos feito toda a consumação.

Vazia.

Cobertores atirados no chão.

Água corria de uma torneira no banheiro, e meu coração


acelerou, ansioso.

Shea.

Em quatro passos, atravessei o quarto e abri a porta do


banheiro.

Meu peito apertado, necessidade, amor e devoção


cobrindo-me completamente.

Ela estava em frente ao espelho, de costas para mim.

Um vislumbre e todo meu corpo endureceu.

Minha esposa.

Ainda não podia acreditar.

Aquele mesmo lençol branco de seda estava escondido


debaixo dos braços. Ele puxou o suficiente em suas costas
para revelar aquela extensão deliciosa de pele cremosa,
drapeado até o final, terminando em uma piscina de marfim
líquido no chão. Ondas de loiro derramado, aquelas madeixas
em queda livre sobre os delicados ombros nus, emoldurando
seu rosto, implorando para as minhas mãos envolvê-los.

Deslumbrante.

Deslumbrante do tipo de balançar a Terra.

Deslumbrante do tipo de ofuscar as estrelas.

Sim, esse tipo de deslumbrante.

E. Ela. Era. Minha.

Olhos caramelo se levantaram até encontrar o meu


olhar quando ela pegou o meu reflexo no espelho. Lentamente
eu avancei. Sua tempestade ganhou força. Toda a escuridão,
luz e vida caíram sobre mim. Como se essa menina fosse
cercada por eletricidade, uma corrente de faíscas no ar.

No segundo em que a vi, não havia nenhuma dúvida em


minha mente que ela poderia virar o meu mundo de cabeça
para baixo.

Deveria ter adivinhado.

Ela o destruiu.

Redefiniu quem eu era e quem queria ser.

Despojou-me de todo o controle e me deixou nu.

Encontrou uma maneira de infiltrar-se através dessas


rachaduras dentro do meu coração cheio de cicatrizes e de
alguma forma tornou-o inteiro.

— Aí está você. — Sua voz era áspera com saciada


satisfação, ainda grogue de sono.
Meus passos ecoaram pelo chão, enquanto me
aproximava por trás dela. Minhas mãos foram para sua
barriga plana, em seguida, percorreram a curva suave dos
seus quadris, vagueando de volta outra vez, o tecido sedoso
era a única barreira, enquanto eu puxava toda a sua
suavidade contra a minha dureza.

— Você sentiu minha falta? — Murmurei em seu ouvido.

Passei minha língua para molhar aquele lábio inferior


exuberante, ela soltou um gemido minúsculo na tensão
espessa mantendo-nos cativos nesta sala, aquela corda
invisível que nos amarravam juntos mais uma vez, bem
apertados.

— Sempre. Acordei com uma cama vazia e pensei que


talvez você tivesse entrado em pânico.

Um lado da sua boca se curvou com a provocação, e


uma risada baixa saiu de mim, enquanto eu acariciava ao
longo do seu pescoço.

Passando o meu nariz da sua orelha até o seu ombro,


sussurrei minha verdade.

— Nunca.

O desejo procurou uma saída, intensa e visceral, algo


instintivo. Uma respiração dura saiu dos meus pulmões e dei
um passo para trás para tirar meus sapatos. Intenção se
tornando clara.

O olhar de Shea era tão intenso quanto o meu,


observando-nos através do espelho, como se ela se
alimentasse de cada movimento meu, pequenos terremotos
vibrando por ela, coletando aquela energia como se fosse uma
massa palpável.

Sufocante.

Alcançando meu colarinho, tirei minha camiseta e a


joguei no chão, dei mais um passo para trás e desabotoei da
minha calça jeans. A atenção de Shea acompanhou o
movimento. Meu pulso instável e selvagem.

Tirei o jeans e a cueca. Desnudando-me. Meu pau,


ansioso como sempre, ficou livre dos seus limites, de
prontidão e implorando por mais.

Nunca teria o suficiente.

Desejo rodou através dos seus olhos conforme eles


traçavam minha pele como se ela desse qualquer coisa para
me consumir. Se infiltrar e desaparecer.

Mas não acho que ela tenha a mínima ideia do quanto


me possuía.

Que ela já estava lá.

— Vire-se. — Pedi, as palavras raspando como um


chicote da minha garganta.

Então, lentamente, ela virou o rosto para mim,


antecipação aumentando e sabia que ela estava me
esperando para atacar. Para tomar.

Mas não. Em vez disso, me abaixei e ajoelhei aos seus


pés.

Imaginei que outro simplesmente nunca mais faria.


Não para Shea.

Não para minha esposa.

Eu iria dar-lhe tudo.

Um halo de luz brilhou ao seu redor, o cabelo iluminado


como fogo branco, minha menina enrolada frouxamente
naquele lençol de seda.

Luxuria correu por minhas veias e se atou ao meu


estômago.

Shea olhou para mim como a tentação que ela era.

Um anjo.

Uma Deusa.

Escorregando minhas mãos sob o lençol, tracei o lado


externo das suas pernas, perseguindo os tremores que
rolaram sob a superfície da sua pele. Palpável e vivo. Saindo
dela e afundando em mim.

Respirei fundo e segurei sua bunda, puxando-a para a


frente no mesmo segundo que pressionei meu nariz em seu
sexo coberto de seda.

Fechando os olhos, inalei, deliciando-me com seu calor e


desejo, fazendo ela engasgar, aquele som doce, sedutor me
estimulando.

Encontrando seus olhos, lentamente separei o lençol e


revelei a pele suave e doce. Dei-lhe um puxão firme e livrei-a
dele. O tecido flutuou até o chão.
E lá estava ela, comigo de joelhos aos seus pés, minhas
mãos na parte externa das coxas.

Uma visão.

Sombrio.

Luz.

Pesado.

Suave.

Perfeito.

Minha esposa.

— Tão bonita, Shea. Cada centímetro de você. Tem o


melhor de tudo. Agora vou passar o resto da minha vida
acalentando ele. Adorando ele. Adorando você.

Protegendo você, te amando e desistindo de tudo.

Iria mentir, roubar e destruir.

Matar.

Morrer.

Faria qualquer coisa, contanto apenas que essa menina


vivesse a vida que merecia.

Envolvendo as minhas mãos ao redor da parte posterior


das suas coxas, espalhei-as, apenas o suficiente para ganhar
espaço para pressionar minha língua em seu clitóris.

Porra. Nunca me cansaria do gosto dela.

Ondulações de prazer a sacudiram e me aprofundei um


pouco mais, passando minha língua através da sua carne
escorregadia. As mãos dela agarraram o balcão, seus seios
perfeitos, redondos, projetados para frente e sua cabeça
inclinada para trás.

— Sebastian.

Meu peito se apertou com o meu nome suplicante que


saiu da sua boca e espalhei-a mais. Dei e tomei, dedos
empurrando em sua abertura apertada, corpo quente, boca
chupando, lambendo e alimentando-se daquele lugar doce
que a deixava se contorcendo, com seu desejo fora de
controle.

— Por favor. — Shea gemeu, percebi que ela já estava


perto, ganhando velocidade, uma vibração das suas paredes e
um tremor das suas coxas.

— Eu sei, querida, eu sei. Eu tenho você.

Eu tenho você.

Shea gozou e seu corpo inteiro se convulsionou, seu


orgasmo vindo como uma vingança. Seus dedos agarraram
punhados do meu cabelo, e Deus, se não amei isso também.
Adoro áspero, adorava quando Shea dava tão bem quanto
recebia. Essas picadas de dor mandaram calafrios pela minha
espinha.

Luxúria.

Chamas lambendo minhas entranhas.

Meu pau estava tão duro que era difícil respirar.

Fartei-me com ela, continuando a banhá-la com suaves


sucções e profundos puxões, extraindo até a última gota de
prazer que podia. Seu corpo completamente insano se abalou
e tremeu em torno de mim, antes da minha menina voltar
bruscamente, respirações ofegantes e à procura de ar que ela
não conseguia encontrar.

Levantei-me e agarrei seus quadris com dedos


gananciosos, de forma rápida levantei-a na beirada do balcão.

Um som gutural retumbou dela quando passei minhas


mãos para cima e para baixo na parte traseira das suas
coxas, as mãos dela apoiaram-se no balcão para manter seu
peso.

Shea me deu um olhar que era a destruição pura e


absoluta. Essa menina tão sexy estendida sob as luzes do
banheiro, toda brilhante, corada, com restos de prazer que
ainda ondulavam por seu corpo. Mas sua expressão prometia
que ela estava pronta para muito mais.

Problema.

Esta menina ia ser o meu fim.

Agarrando-a pelos joelhos, espalhei-a mais. Meus lábios


travados sobre a pele sensível no interior da sua coxa, o
desejo intenso de marcá-la assumiu conforme deixava meus
dedos nervosos se arrastarem novamente através da sua
perfeita boceta rosa.

Shea gemeu e se contorceu, enquanto eu chupava sua


carne, meus dedos assegurando sua reivindicação.
— Tão molhada. — Gemi, pressionando minha bochecha
no local onde acabei de deixar a minha marca e ela empurrou
quando passei a minha barba no interior da sua coxa.

Dane-se tudo, se eu não estava morrendo para ter outro


gosto.

Passei minha língua na fenda do seu doce traseiro até


seu clitóris.

— Oh Deus. — Ela gemeu. Seus dedos trêmulos


passaram pelo meu cabelo. — Um olhar e eu esqueço quem
sou. Um toque e desapareço. Você é o meu tudo.

Pedindo para endireitar-me, ela se inclinou para frente o


suficiente para traçar ao longo do meu queixo, arrastando
lentamente pelo meu pescoço até o meu peito, olhando
suavemente as minhas tatuagens.

Amor.

Fé.

Beleza.

Confiança.

Seguindo um caminho pelo meu corpo, seus dedos


roçaram o macaco verde imortalizado na minha lateral.

Essa menina estava tão em sintonia com quem eu era.


Como se ela compartilhasse essa perda sem a necessidade de
conhecimento dos detalhes. Shea possuía cada pedacinho de
mim.
Meu coração deu uma guinada, quando pensei no
macaco marrom que estava na mesa de entrada no andar de
baixo, aquela menina era tão doce.

Eu não merecia nada disso.

E aqui estava eu, coberto com a luz de Shea, envolto em


sua escuridão, rodeado com seu aroma de satisfação, perdido
sob a superfície onde se tornou o ar. Meu ar.

Afogando-me para respirar.

— Deus, te amo... muito... muito. — Eu disse, minha


mão tocando sua bochecha e a outra puxando-a para cima,
porque se eu estava indo, então ia levá-la junto comigo.

— Eu sei. — Ela disse como se recebesse um presente,


suas palavras assumindo aquele tom reverente de novo,
vendo através de todos os meus problemas, para o que
importava por baixo. — Eu te amo... com tudo de mim.

Ela continuou arrastando os dedos, escorregando-os em


meu estômago que sacudiu sob seu toque.

Ela envolveu a mão ao redor da base do meu pau.

Tão suavemente.

Resmunguei através de um gemido.

Pura sedução apareceu no canto da sua boca e ela me


deu uma boa bombeada, seu polegar acariciou em volta da
cabeça do meu pau latejante.

— Porra. — Exclamei por entre os dentes cerrados,


envolvi minha mão em torno da dela, deixei-a me bombear
mais uma vez, antes de eu assumir e pressionar a ponta do
meu pau no seu centro encharcado entrando um centímetro.

Suor se reuniu na minha nuca e meu corpo inteiro se


contraiu com moderação.

— Você está pronta para mim? — Eu grunhi. Tudo sobre


isso parecia como uma ameaça, porque cada célula do meu
corpo gritava para tomar minha esposa. Minhas entranhas
foram torcidas com a necessidade e as minhas coxas tremiam
como uma maldita folha.

Queria transar quase tanto quanto queria a adorar.

— Sim. — Saiu arranhando de sua boca.

Avancei e Shea gritou com seu corpo se ajustando ao


meu. Raios de prazer ondularam do meu corpo e dirigi-me
dentro dela.

— Toda vez... cada maldita vez. — Eu murmurei,


tentando recuperar a compostura, considerando que a perdi
no segundo em que entrei pela porta. Não havia nada no
mundo que fosse melhor do que isso. Melhor do que ela.

Shea.

Ela gemeu e cravou seus dedos em meus ombros,


segurando-se, enquanto me movia, cada movimento frenético
com a demanda do meu corpo. Quilômetros de pernas longas,
tonificadas se enrolaram em minha cintura e cada impulso
ganancioso a sacudia.
Envolvendo um braço em torno das suas costas,
segurei-a pela base do pescoço para mantê-la firme, meus
quadris encontrando os dela e continuei no ritmo selvagem.

Necessidade de consumir.

Tirar tudo.

Com a mão livre, mergulhei dois dedos uma sua boca


quente e molhada. Shea gemeu, depois os chupou, bochechas
esvaziando com sua língua pulsando em torno dos meus
dedos.

Porra, ela era um sonho, era uma fantasia. Como se


fosse oferecida a mim. Embrulhada com um grande laço
vermelho. Mas escondido dentro deste embrulho havia mais.
Algo frágil e suave, ela amava com uma confiança inocente
que me impressionou profundamente. Apenas me deixou um
pouco mais louco, louco por essa garota que era dona de
cada parte de mim.

Eu bombeava meus dedos dentro e fora da sua boca,


enquanto palavras estranguladas saiam da minha.

— Você não tem ideia de como você é sexy. Você é


incrível.

Retirando os meus dedos, passei meu braço sob sua


coxa. Arrastei-a mais para fora do balcão e corri os dedos em
torno de onde estávamos unidos. Minha respiração tornou-se
irregular quando troquei de curso, e mudei-os para passá-los
para cima e para baixo no vinco da sua bunda, tudo ficou em
silêncio e comecei a fazer círculos naquele buraquinho
apertado.
Luxúria nublou seus traços, o caramelo dos seus olhos
escurecendo ainda mais. Revelando um lento desejo. Um
vislumbre de medo imediatamente foi eclipsado pelo fogo
lambendo entre nós. Seus lábios se separaram e sua energia
cresceu. Levando-nos mais alto.

— Amo tudo. — Murmurei asperamente quando


empurrei esses dois dedos dentro.

— Sebastian. — Gritou ela. As pontas dos seus dedos


rasparam na minha pele e ela se agarrou aos músculos das
minhas costas, um suspiro agudo e suplicante saiu daquela
boca doce, minha menina fervilhando sexo e ainda
completamente inocente ao mesmo tempo.

Vulnerável.

Confiando todo o seu prazer a mim.

Comecei a bombeá-los em sincronia com meu pau, e


com cada golpe, a levei mais profundo.

— Amo que você me deixe te tocar... eu te amo e você


sabe que nunca te machucarei.

Ela deu respirações curtas e afiadas. Tudo realmente


tenso ao nosso redor, nossos corpos, nosso futuro e o ar.
Shea me arrastava para baixo da superfície. Sua cabeça caiu
para trás e aproveitei a oportunidade para agarrar o mamilo
escuro de um desses seios perfeitos e redondos.

Mordi e ela gritou. Shea apertou duro o meu pau e meus


dedos, e nós dois deixamos ir. Deixamos o mundo se desfazer
a nossa volta. Prazer explodiu, fragmentos de cor e luz. O
chão desapareceu e o céu dissipou-se a nada.

Por um momento, nós nos perdemos nele, nas


profundezas daquele lugar que pertencia apenas a nós. Nas
sombras e luz. No poder da sua tempestade imortal.

Ela choramingou novamente e novamente.

O meu nome.

Meus quadris se sacudiram e meu corpo sofreu um


espasmo ao me derramar nela, orando para dar conta.
Pensando que talvez fosse um tolo de pensar por um segundo
sequer que merecia algo como isso.

Mas um verdadeiro tolo era aquele que rejeitava os


presentes que eram dados.

— Shea... baby... Shea.

Com um estremecimento, ela caiu para frente e enterrou


o rosto no meu peito e fiz o mesmo em seu cabelo, saindo
lentamente dela.

— Você é incrível. — Murmurei no topo da sua cabeça.


Eu beijei toda aquela coroa invisível, passando por sua
têmpora onde senti a força da sua pulsação.

Inclinando a cabeça para trás, estudei as linhas do seu


rosto.

— Você está bem?

Sua expressão de assombro, ela descuidadamente


mordeu o lábio inferior, como se não pudesse fazer sentido
sobre a ligação que nós compartilhamos mais do que eu
podia. O tom dela se encheu de emoção.

— Nunca iria descrever o que estou sentindo agora como


tudo bem.

Eu ri, em seguida, beijei sua boca.

— Vamos lá... vamos limpá-la.

Peguei a minha menina nos braços, segurando-a como


eu sempre fazia e me dirigi para o chuveiro.

Risos ecoaram pela sala, e senti o estrondoso som


despreocupado em algum lugar no meu peito. O sorriso de
Shea iluminou toda a sala, enquanto ela lutava para fugir,
indo de um lado para o outro, mas falhando totalmente,
considerando que estava enrolada novamente naquele lençol.

Atirei-a no centro da cama depois que tomamos banho.

Não me incomodei em deixá-la se vestir.

Percebi que não seria nada, além de tempo perdido.

Além disso, ela parecia bem para caralho rolando na


cama com nada além de um pedaço frágil de tecido
delineando aquele corpo assassino.

— Nem pense, parceiro. — Shea me alertou e estreitei


meu olhar predatório sobre ela.
Ela rolou, tentando novamente escapar dos meus
avanços, mas me movi mais para a direita e fiquei parado, no
final da cama.

Minhas mãos estavam sobre o colchão, meu corpo


dobrado conforme eu seguia seus movimentos, meu pau já
apontando para o céu.

Ela gritou quando a agarrei pelo tornozelo e virei-a de


costas. Subi na cama, encima dela, colocando apenas o
suficiente do meu peso para segurá-la.

— O quê? — Eu sorri, quando pressionei as mãos dela


na cama acima da sua cabeça.

Mais risos irromperam dela. Teria a certeza que eu


provocaria que aquele som saísse dela a cada maldito dia.

Delirante, ela balançou a cabeça, cabelo molhado


voando, mas aquele sorriso me permitiu saber o que diria.

— Sebastian, você vai me matar. — Ela chiou. — Eu não


aguento mais.

— O que você não aguenta mais? — Eu provoquei.

— Uh... — ela gemeu e então riu quando esfreguei meu


pênis contra sua barriga. — Pare com isso... você é muito
tentador para resistir.

— Então por que você está resistindo? — Abaixei-me,


pressionando um punhado de beijos sob o queixo, fazendo
com que a cabeça dela se inclinasse para trás e aqueles seios
perfeitos que já estavam franzidos pressionassem em meu
peito, a batida do seu coração acelerado contra o meu.
— Você está dolorida, baby? Vou ser gentil. — Eu
murmurei, tentando conter o riso, quando Shea me deu um
olhar que sabia que eu não passava de um mentiroso.

— Você nunca é gentil.

— Oh, vamos lá, Shea. Eu posso ser gentil.

Os olhos provocativos se arregalaram.

— Tenho certeza que é reservado apenas para ocasiões


especiais.

Eu deixei aquela risada sair, então pressionei as mãos


dela um pouco mais na cama, balançando sobre ela, o tom da
minha voz severa.

— Diga-me que você não gosta.

Um som sedutor retumbou na base da sua garganta e


ela arqueou, levantando o queixo.

— Eu não gosto disso.

Comecei a franzir a testa, antes que ela roçasse os lábios


ao longo da minha orelha.

— Eu amo isso.

— Isso foi o que eu pensei. Além disso, temos algo meio


importante em que precisamos trabalhar, você não acha? —
Eu disse erguendo sugestivamente minhas sobrancelhas.

Shea aproximou o rosto do ombro, como se estivesse


mergulhada em pensamento.

— Há sempre o próximo mês.


— E o próximo. — Eu murmurei de volta. — E o
próximo.

E o próximo e para sempre.

Não significa que não quero que fosse agora.

Ela deu-me outro sorriso.

— Não tenha muitas esperanças, menino roqueiro. Isso


provavelmente vai levar algum tempo.

Rosnei, inclinando-me para um beijo.

— E eu vou, com prazer, fazer todo o trabalho duro que


precisar. Começando. Bem. Agora.

Ela riu novamente.

— Tenho certeza que você começou na noite passada.


Aqui nessa cama. No balcão do banheiro esta manhã. — Para
cada lugar ao qual ela chamou atenção, sua voz ficou mais
profunda. — O que dizer daquele banho?

Porra, sim, nós tivemos um bom começo.

— Não significa que acabei com você.

Aparentemente, a minha menina não se lembrava da


promessa que fiz a ela ontem, quando nós chegamos pela
primeira vez a essa suíte ridícula. Parecia um bom momento
para lembrá-la.

Um toque estridente ecoou da mesa de cabeceira e meu


telefone vibrou no vidro.

Eu gemi, me inclinei e belisquei o nariz.

— Não se mova.
Aquele sorriso apenas ampliou e ela rolou para o lado
para me encarar, segurando o lençol contra o peito,
observando com profunda afeição eu me atrapalhar com o
telefone.

Lyrik.

Deitei-me de costas, não podia conter meu próprio


sorriso, porque eu estava extremamente feliz.

Aceito a chamada e pressiono o telefone em meu ouvido.

— Lyrik, sério, homem, não pode esperar? Eu estou


tentando deixar a minha mulher grávida.

— Sua o quê? — Não houve nenhuma dúvida sobre a


descrença através do telefone, em seguida, seu silêncio. Por
alguns segundos estranhos nada foi dito, antes que eu
sentisse o sorriso malicioso em sua voz ao começar a falar
novamente. — Diga-me que eu não ouvi o que acho que ouvi.

— E o que é que você acha que ouviu?

— Acho que ouvi que, um dos meus melhores amigos


idiota, me dizer que foi e se casou sem deixar nenhum de nós
saber. E acho que o ouvi dizer algo sobre sua bunda pelada
fazendo algum tipo de ação imunda onde a doce menina dele
ficaria amarrada a sua bunda feia para o resto de sua vida.

Meu sorriso só aumentou.

— Parece correto.

— Santo Deus.

— Sim.
A voz elevada de Ash foi levada através da linha, como
se estivesse gritando pelo telefone que Lyrik estava
segurando.

— Que diabos, cara? Diga-me que Lyrik está brincando


comigo, porque essa merda não é legal.

Lyrik respondeu:

— Nenhuma brincadeira, homem... o idiota foi e nos


abandonou por sua namorada.

— Puta merda, você está certo. — Ash ficou mais alto. —


Você está aí corrompendo a minha menina, homem? Linda
Shea. — Ele gritou:

— Eu estou chegando, baby. Vou salvar você.

Se eu não soubesse que meu amigo imbecil estava


completamente de sacanagem, bateria nele até o próximo
domingo. Mas esse é simplesmente o jeito que somos.
Enchendo o saco um do outro sempre que temos chance,
agindo como se estivéssemos nos destruindo quando nós
estávamos apenas nos construindo.

Shea brincou também, gritando em direção ao alto-


falante que tentei inutilmente cobrir.

— Salve-me, Ash. Fui levada contra a minha vontade,


por um viciado em sexo que não vai me deixar fora da cama,
nada além disso.

Ela estaria presa a isso se continuasse com aquela


merda.
— Estou a caminho, menina! — Ash estava gritando de
novo e houve uma briga, palavras abafadas foram gritadas
entre Lyrik e Ash, e a fraca inclinação de Zee vindo da
conversa no fundo.

Sabia, sem sombra de dúvida, que toda a minha equipe


me daria cobertura. Que eles apoiariam a decisão que tomei,
feita para tornar Shea permanentemente uma parte da minha
vida, porque eu já não sabia como continuar a viver sem ela.

Será que os afetariam? Sim. Você não pode fazer


alterações marcantes sem ela mudar sua vida.

A porta bateu e a linha ficou em silêncio antes de Lyrik


falar novamente, agora subjugada e sem qualquer da
zombaria que antes estava em seu tom.

— O que você vai fazer, homem?

— Não sei ainda.

Mais silêncio.

— Eu entendo, Baz. Entendo totalmente. Faça o que


você sente que tem que fazer. Faça o que te faz feliz.

— Eu estou fazendo. — Disse, completamente honesto.

Olhei para Shea que reflete uma luz fortalecedora de


volta a mim.

Feliz.

Pela primeira vez, sentia isso acima de qualquer outra


coisa.

— Nós vamos arranjar uma solução.


Era tudo encorajamento misturado com sua própria
preocupação. Por muito tempo, foi apenas nós, a banda, eu e
meu irmão mais novo. Nada mais no mundo importava.

Não até agora.

— Falamos em breve. — Disse ele, antes da linha ficar


muda e rolei para o meu lado, as perguntas de Lyrik
levantando as minhas próprias.

Uma pequena carranca na testa de Shea, como se ela


estivesse pensando também.

Precisando de conexão, eu entrelacei meus dedos com


os dela.

— O que vamos fazer, Shea?

Desconforto passou através dela, antes que


silenciosamente oferecesse uma resposta que não era uma
solução.

— Nós meio que apressamos isso, não foi?

Um suave riso de admissão saiu da minha boca.

— Sim.

Não adiantava mentir para nós mesmos.

Nós nos apressamos.

A realidade era que estávamos nos apressando desde o


momento em que olhei para cima e encontrei-a de pé na
minha frente naquela cabine de ferradura no Charlie‘s. Ela
chegou como uma inundação em um deserto ressequido,
extinguindo a sede que eu nunca percebi que sentia, minha
vida erma, até que ela respirou através dela com sua vida.

Minha voz foi suave, com sinceridade.

— Mas não me arrependo. Nem por um segundo.

Ela pegou o lábio inferior entre os dentes, segurou lá


enquanto deu um leve aceno com a cabeça.

— Nem eu. De modo nenhum.

Engoli o caroço que se formava em minha garganta.

— Você sabe, você e Kallie já estavam pensando em vir


para a Califórnia para ficar por alguns dias depois de
encerrar essa turnê.

Ela assentiu com a cabeça como se estivesse seguindo


minha carruagem confusa de pensamento.

— Logo depois, temos de entrar em estúdio.

Outro aceno.

As palavras ficaram ásperas.

— Eu não posso suportar a ideia de você e Kallie não


estarem lá. De não voltar para casa, para minha esposa todas
as noites. Quero você adormecendo em meus braços e
acordando lá, também. Venha. Fique comigo por um tempo.
Eu tenho um quarto extra que podemos arrumar para Kallie.

O quarto de Mark. Não foi tocado desde que morreu. Nós


quatro não fizemos nada além de figurativamente trancá-lo,
fitas amarelas e sinais de perigo colocados em torno dele,
porque nenhum de nós esteve preparado para lidar com a dor
que sabíamos que estaria nos esperando dentro dele. Uma
vez perguntei pra Zee se queria entrar e limpar o material do
seu irmão, mas ele resistiu, dizendo que não estava pronto
para ir lá.

Mas talvez fosse hora de seguir em frente.

— Vou ter a certeza que os caras estão todos a bordo.


Me certificar de que não farão nenhuma loucura, enquanto
estivermos lá. Podemos ficar lá o tempo que precisarmos até
você e eu resolvermos a situação. Descobrir onde queremos
viver. Onde queremos criar a nossa filha.

Onde quisermos criar um lar. Adicione a isso. Construir


uma família.

Deus, apenas o pensamento fez com que tanto medo


quanto devoção se alojasse dentro de mim, a necessidade
inata de levar isso até o fim, para proteger e amá-las, garantir
que elas tivessem tudo no mundo que mereciam.

Alegria tomou conta de cada centímetro dela.

— O quê? — Perguntei em voz baixa.

Aqueles olhos brilharam.

— Você não sabe o quão feliz me faz ouvir você chamá-la


assim.

Apertei os dedos entrelaçados aos meu.

— Você não sabe o quão feliz me faz, ser capaz de


chamá-la assim. Você não sabe o que você me deu, Shea,
trazendo-a para a minha vida.
— Eu gostaria disso. — Ela finalmente disse através da
emoção reunida em sua garganta. — Não vejo a hora de
contar a ela.

Puxei a mão dela até a minha boca e beijei o lugar vago


em seu dedo anelar da mão esquerda.

— Primeira coisa a fazer será colocar algo belo neste


dedo. Eu te disse que queria você exibindo o meu anel. Nós
vamos encontrar alguém que possa projetar-lhe algo
especial... algo diferente. Algo que você possa exibir onde
quer que vá, então as pessoas irão saber que você é minha e
eu sou seu.

Algo tão único quanto a minha menina.

Tristeza passou através das suas feições que de alguma


forma brilhavam com esperança e seu lábio tremeu, quando
seu olhar passou pela parede, antes que ela voltasse sua
atenção para mim.

— Eu sei o que gostaria.

— Qualquer coisa.

— Minha avó…

No segundo que ela disse, algo dentro de mim


sintonizou, pronto para ouvir, porque sabia que o que estava
se preparando para passar por sua boca era importante.

— Você sabe que ela me deixou a casa.

Dei-lhe um leve aceno com a cabeça, encorajando-a a


continuar.
— Ela também me deixou a maior parte das suas joias...
a mais importante foi o seu anel de casamento.

Lágrimas agruparam em seus olhos e ela estava com


aquela expressão novamente, olhos vincados com pesar e
boca puxando com remorso. Aquela que ela ficou quando
compartilhou os momentos dolorosos do seu passado.

— Ele... foi... foi roubado. — Ela estremeceu e forçou um


sorriso. — Perder ele partiu meu coração.

Minha menina bateu as pontas dos dedos ao longo do


meu queixo.

— Eu faria qualquer coisa para substituí-lo. Para


conseguir o espírito dele de volta para que então eu possa
usá-lo para honrá-la. Para honrá-los.

O sorriso dela tremia, tão cheia de amor e perda e


aproximei-a mais.

— Shea. — Eu sussurrei, e ela simplesmente continuou.

— Ela e meu avô... eles se amavam diferentemente de


tudo que eu já vi, Sebastian. De uma forma tão pura e bela
que me lembro, mesmo sendo apenas uma garotinha. Sempre
esperei algum dia experimentar um amor assim. Minha avó
sempre me disse que ganhou um conto de fadas. Ela me
disse para sair e encontrar um para mim também.

Ela inclinou a cabeça para trás para olhar para mim.

— Foi diferente de tudo que testemunhei... até você me


amar.

Meu peito se aperta.


Profunda afeição.

Envolvendo-me, camada por camada.

Não achava que teria a capacidade de amar assim.

Mas essa garota?

Ela me provou que era possível.

— Nada me faria mais feliz do que dar isso a você, Shea.

Meu sorriso era suave, beijei ao longo da linha da sua


têmpora, onde se encontrava com a curva definida do seu
maxilar, parte de mim querendo sair da cama e rastrear o
filho da puta que roubou isso dela e trazê-lo de volta.

— Nós vamos recriá-lo.

Não sabia se eu estava falando mais sobre o anel ou os


seus avós.

Sabia o tempo todo o quanto ela os adorava. Foi onde se


sentiu mais segura.

E isso... isso era o que eu queria. Queria que ela


sentisse isso comigo.

Segura.

Para ela saber que eu sempre a protegeria. Defenderia.


Lutaria por ela.

Shea pegou minha mão e levantou-a, como se a minha


menina estivesse imaginando como ficaria o anel adornando
meu dedo.

— O do meu avô era simples. Apenas uma banda de


platina gravada com a palavra sempre no interior. E a da
minha avó... a dela era linda. — Ela apertou os olhos, perdida
na memória. — Antigo e delicado e de alguma forma
impressionante.

— Você se lembra dos detalhes? — Perguntei.

— Eu nunca esquecerei.

— Então vamos fazer isso acontecer.

Lá embaixo, alguém bateu na porta. Fiz uma careta,


odiando a ideia de dividir o momento.

— Basta ignorar. — Disse a ela.

Bateram novamente, embora desta vez isso parecesse


uma manada de animais selvagens que tentavam forçar a
entrada.

O sorriso de Shea ressurgiu.

— Devemos atender isso.

— Devemos mesmo? — Fingi lamentar através do meu


sorriso, e o novo ataque de batidas me disse que,
definitivamente deveríamos.

— Hum... sim. Não tenho certeza, se neste ponto uma


fechadura iria mantê-los fora.

Dei um beijo resignado na boca da minha esposa e rolei


da cama. Peguei um jeans da minha mala e coloquei uma
camisa limpa, olhando para a minha garota, se vestindo
rapidamente com short e blusa, toda linda.

Deus, eu estava acabado.


Entrelacei sua mão na minha, juntas, pressionando-as
na minha boca, antes que eu largasse e puxei-a atrás de mim
pelas escadas para o incontrolável eco da minha equipe se
rebelando lá fora.

Rapidamente, desbloqueei a fechadura e deixei a porta


se abrir.

Ash entrou valsando com duas garrafas de champanhe


levantadas sobre sua cabeça, sorriso presunçoso de quem
sabe tudo, desenhando as linhas do seu rosto. Zee seguiu-o
de perto, atrás com algumas taças de champanhe entre os
dedos, Lyrik veio andando tranquilamente com toda sua
intensidade.

Austin veio atrás.

Ash sentiu-se em casa e abriu a tampa de uma garrafa


de champanhe.

— Acho que isso merece uma comemoração.

— Você acha que tudo merece uma celebração. — Eu


disse a ele ironicamente.

Ele apenas sorriu na minha direção segurando um copo


e enchendo-o.

— E você diz isso como se fosse uma coisa ruim.

Passamos algumas horas comemorando com os caras, o


humor fácil e leve e quando eles finalmente foram embora,
nós mandamos uma mensagem para April e lhe pedimos para
colocar Kallie no Skype.

Dissemos a ela que tínhamos uma grande notícia.


Através da tela, Kallie sorriu para nós, cachos loiros
selvagens, aquele sorriso cheio de dentes encheu meu
coração e meu mundo. Ela franziu a testa em confusão
quando dissemos que nos casamos e ela disse que pensava
que nós já éramos casados.

E desejei que eu estivesse lá para envolvê-la, tomá-la em


meus braços, porque não havia nada melhor no mundo que a
inocência de uma criança. Especialmente a dela. Sua crença
no que fazíamos muito antes de sequer acontecer.

Uma família.

A notícia viajou rápido. Logo aceitei uma chamada de


congratulações do Anthony, atado com alguma frustração
sobre a minha impulsividade me metendo em confusão,
esquecendo detalhes como um acordo pré-nupcial, o que de
forma alguma pediria a ela para assinar, de qualquer
maneira. Guy estava sempre tomando conta de mim. Recebi
um SMS do Kenny, em seguida, recebi um telefonema do
Charlie que era cheio de encorajamento e uma pitada de
aviso.

Aparentemente, se eu ferisse sua garota ele iria me


encontrar e estaria urinando em um saco para o resto da
minha vida.

Anotado.

Mas apenas sorri, sabendo que não havia nenhum risco,


de qualquer maneira.

Shea recebeu um SMS irritadiço de Tamar, algo sobre


ter certeza de que ela me prendeu pelas bolas.
Missão cumprida.

Dei a Shea alguma privacidade, quando April ligou e


elas se falaram no telefone por cerca de meia hora. Ambas
choraram, eu entendia totalmente o vínculo que
compartilhavam. Elas cresceram juntas e sonharam juntas.
Viveram juntas. Lamentaram juntas. Agora eu entrei em cena
e abalei essa dinâmica. Ambas sabiam que as coisas como
eram estavam chegando ao fim.

Às vezes, quando você dá boas vindas a algo novo, o


velho não pode mais permanecer.

Mas também estive em volta de April tempo suficiente


para saber que ela queria o melhor para Shea. O melhor para
Kallie. E, assim como os meus rapazes, ela apoiaria Shea em
quaisquer decisões que tomasse.

O dia passou, e Shea e eu pedimos o jantar, sentamo-


nos naquela grande mesa para oito e comemos sob à luz de
velas. Alimentamos um ao outro com pedaços de lagosta, bife
e cheesecake, praticamente agindo como um casal de
adolescentes apaixonados, que era exatamente o jeito que me
sentia.

Quando terminamos, empurrei nossos pratos de lado e


coloquei Shea em seu lugar. Nas chamas delicadas das velas
tremeluzentes em seu rosto e brilhando contra a grande
margem de janelas no cenário da noite, eu fiz amor com
minha esposa.
Passei o resto do fim de semana tomando-a em todos os
quartos, em cada superfície, em todos os sentidos. Fodi,
provei e adorei.

Então como avisei a ela que faria, dei meia volta e fiz
isso de novo.

Melhor. Aniversário. De. Todos.


— Você não acredita realmente em príncipe encantado,
não é, borboleta? — April brincou, levando a xícara de café à
boca.

Risos flutuavam na brisa suave através do ar da tarde, e


Kallie jogou a cabeça para trás e deixou sua doce risada fluir,
segurando sua própria pequena xícara cheia de chocolate
quente entre suas mãos gordinhas.

Sua bebida de menina grande.

— Uh-huh, tia April. — Disse ela com toda a autoridade


infantil que conseguiu reunir.

Ela se sentou de joelhos na cadeirinha de bebê,


brincando com os brinquedos que estavam em cima da
mesinha de metal. Nós estávamos na ampla calçada fora do
nosso café favorito na parte antiga de Savannah. Guarda-sóis
nos protegiam, e um sentimento pitoresco e tranquilo se
mantinha firme na atmosfera.
— Há muitos, muitos, muitos príncipes! Eu vou te
mostrar. Tenho muitos em meus livros que estão no meu
quarto. E eu e minha mãe vamos pegar um avião e voar para
longe, muito longe e ir para Califórnia e meu pai vai me levar
para a Disneylândia e vou conhecer todos eles.

Amor me encheu tão completamente, que se tornou


difícil respirar. Toda vez que minha filha preciosa chamava
Sebastian de papai ela roubava meu ar.

E agora se tornou uma verdadeira realidade.

Permanentemente.

Eu estive em casa por três dias. Casada há quatro.


Deus, o pensamento ainda explodia minha mente.

Eu casei com Sebastian Stone.

Será que isso me preocupava? Será que sentia medo de


termos sido muito rápidos?

Claro. Eu era humana... e uma mãe. Uma que viveu


como mãe solteira por muitos anos. Eu mantive inseguranças
antigas por tanto tempo, que às vezes era difícil deixá-las ir,
especialmente depois que Martin retornou.

Mas estar com Sebastian fez-me sentir mais livre do que


jamais me senti.

E a verdade era que eu acreditava em nós.

A vida não valia a pena ser vivida se não tivéssemos a


oportunidade de ir atrás do que nos trazia mais alegria. Não
valia a pena viver se não lutássemos para estar com os
únicos que amamos, ou trabalhar pelas relações que traziam
beleza em nossas vidas.

Sebastian era todas essas coisas e ele valia a pena.

Tamar sorriu para mim, seus olhos azuis brilhando


quando ela envolveu os lábios pintados de vermelhos em
torno da sua xícara de cappuccino gelado.

Ela estava me enchendo sobre toda a coisa da fuga


desde o momento em que soube.

Eu dei de ombros. O que eu poderia fazer?

— Se você disser uma única coisa, vou te matar. — Sua


diversão só aumentou.

— Então, o infame Sebastian Stone tornou-se o seu


cavaleiro de armadura brilhante, não é mesmo, Shea?

April sorriu e Kallie riu como se fosse a coisa mais


engraçada que já ouvira.

— Se a carapuça serve...— Eu parei sugestivamente.

— Oh, vamos lá, Tamar, você está apenas com inveja


por não ter um roqueiro superquente lá para adorar o chão
que você pisa. — April interrompeu, tomando um gole do seu
café e sentando em sua cadeira.

— Pssh. — Tamar revirou os olhos. — Como se eu


precisasse de um cara arrogante para fazer me sentir bem.

Eu e April desatamos a rir. Sabia que ambas estávamos


lutando para contestar essa resposta.
— Mesmo? Parece que essa teoria pode ficar velha
rapidamente. — Pegando sua xícara, April revirou os olhos,
deixando sua atenção pousar na mão de Tamar.

Inclinei-me mais perto e murmurei conspirativamente:

— Eu estaria disposta a fazer algumas apostas... Lyrik


teria todos os tipos de prazer em intervir e cuidar desse
pequeno problema para você.

Eu não me importava de citar meu amigo. Toda vez que


os dois estavam em um local juntos, as chamas da tensão
sexual quase queimavam tudo ao redor.

— Ha. Eu tenho exatamente zero problemas que


precisam ser cuidados... tudo com exceção de um. Ele… não
sabe quando pegar uma dica. Toda vez que ele entra no bar,
acha que vai conseguir um pequeno pedaço disso. — Ela
passou a mão pelo seu corpo cheio de curvas. — Não vai
acontecer.

— Diz a garota que uma vez me acusou de ser


completamente cega para o que estava acontecendo entre
Sebastian e eu.

— Então? — Ela defendeu.

— Então dê uma olhada no espelho, amor. — Disse April


com um tapa na mesa.

— Amor? — Kallie perguntou em confusão, grandes


olhos castanhos arregalados quando ela tentou acompanhar
a conversa, tão doce, inocente e adorável.

Meu coração transbordou.


Como eu podia ser tão sortuda?

Tamar se endireitou, hesitando enquanto brincava com


a colher em sua bebida.

— Eu realmente não posso acreditar que você está


partindo.

A irreverência do nosso humor evaporou.

— Eu não posso acreditar nisso, também. É quase


inacreditável, tudo o que tem acontecido em tão pouco tempo.

April se inclinou me dando um fraco sorriso.

— Acho que quando orei para que um dia um cara


incrível entrasse e abalasse o seu mundo, não esperava que
ele fizesse isso te levando longe, para outro estado.

Eu vacilei para o flash de tristeza em sua expressão. Era


verdade que nos tornamos nossa própria família. Kallie
também foi uma peça fundamental para April.

— Você não dará adeus a mim ou a Kallie, April. Só


porque vamos estar fora não significa que vamos ficar para
sempre. Sebastian só tem que estar lá agora. E....— Eu
oscilava sobre o que dizer. — Eu não quero estar aqui sem
ele.

Sim. Havia uma grande parte de mim que queria ficar.


Aqui. Em casa. Mas a parte maior queria estar com
Sebastian.

Tamar limpou a garganta.

— Acho que falo por todos nós quando digo que só quero
que você seja feliz.
April fungou e desviou o olhar, antes de virar para trás
com um sorriso que era ao mesmo tempo forçado e genuíno.

— Isso é tudo o que queremos.

Com um sorriso nos lábios Tamar disse:

— Bem... todos, exceto Charlie. Eu nunca ouvi aquele


homem fazer um discurso da maneira como fez quando
descobriu que você estava indo embora. Pensei que ele ia ter
um aneurisma.

Eu ri e balancei a cabeça.

— Ele é apenas um pouco protetor.

Em sua mente, éramos sua filha e neta e, tanto quanto


ele sempre me incentivou a perseguir os desejos do meu
coração, eu sabia que embarcar nesta nova jornada estava
rasgando-o. A verdade era que só de pensar em cortar até
mesmo uma fração da conexão que tínhamos, quebrava algo
dentro de mim também.

Quando fui para a sua casa na segunda-feira, sentei-me


e disse a ele que não ia voltar para o bar e estava indo para a
Califórnia, finalmente entendi o que significava parecer que
um homem ia estourar uma articulação. O efeito completo de
sua solicitude paterna transbordou em uma série de
perguntas de ―e se‖ e avisos.

No final, ele me puxou, me abraçou apertado, e


sussurrou:

— Você vai, Shea. Viva sua vida. Ame cada segundo.


Ele cuidou de mim por tanto tempo, que mesmo se eu
pudesse dizer-lhe que nada iria mudar, nós dois sabíamos
que ia. Houve uma pequena parte dele que não queria me
deixar ir, a peça como meu protetor e confidente e dar a
Sebastian este lugar. Mais ele sabia que eu estava feliz.

— Meu pai teve que ir trabalhar. — Kallie começou a


tagarelar, inclinando os cotovelos sobre a mesa e juntando as
mãos, seu sorriso mostrava todos os dentes minúsculos,
esperança e fé sem fim. — E quando ele terminar é quando
vamos voar muito, muito, bem alto no céu, certo, mamãe?

Ela olhou para mim para confirmação.

— Sim, borboleta. Nós iremos em breve.

Apenas uma semana e meia.

Preocupação e anseio rolaram através de mim como


uma bola desequilibrada. Meu desejo por Sebastian nos dias
que ele estava fora, lutando pelo domínio com o meu amor
por este lugar.

Desesperada por aquela conexão, eu a peguei.

— Venha aqui, querida. Por que não tiramos uma foto


para o seu pai e mandamos para fazê-lo sorrir, enquanto ele
está no trabalho?

Eu a peguei da sua cadeira e a coloquei no meu colo.


Kallie sorriu quando nós apertamos nossas bochechas juntas
e tirei nossa selfie com meu telefone.

Eu já havia mandado uma mensagem para ele mais


cedo apenas para dizer que sentia sua falta. Fiz isso de novo,
só que desta vez fui para o editor de fotos e escrevi em toda a
imagem, enviando a ele com toda a devoção que habitava em
meu coração.

Saudades de você.

Sabia que ele não iria responder até muito tarde esta
noite após o show em Phoenix. Mas todas as noites, ele foi fiel
em telefonar-me, me amando através dos quilômetros.

Fiel.

A verdade era que eu tinha fé nele, me dei a ele em todos


os aspectos.

Tamar olhou para o telefone.

— Está ficando tarde. É melhor eu ir antes que Charlie


fique todo irritado novamente se eu começar a trabalhar
atrasada hoje.

Ela se levantou e deu um beijo rápido na bochecha de


April em seguida, veio em direção a Kallie e eu e inclinou-se,
sufocando Kallie com beijos antes de me abraçar.

Com sua voz em um sussurro acanhado, ela disse:

— Nós realmente sentiremos sua falta, Shea. Não é o


mesmo sem você, mas todos nós sabemos que era hora.
Charlie mais do que ninguém.

Apreciação se reuniu na base da minha garganta, e


engoli em torno dela, quando sorri para a minha amiga que
era tão áspera no exterior. Mas sabia melhor do que ninguém
que debaixo da tinta que cobria sua pele, escondida sobre a
indiferença e desprezo, estava alguém generosa, bondosa e
terna.

Lutei contra um sorriso.

Assim como Sebastian.

Sem olhar para trás, ela se virou e foi embora.

Procurei na minha carteira e joguei dinheiro sobre a


mesa, April e eu seguramos as mãos de Kallie, balançando-a
entre nós, e fomos em direção aonde estacionamos, ao longo
da rua.

Levantei meu rosto para o céu. O outono estava


chegando, e já se via os ramos das árvores mudando de cor.
Ostentando as cores mais bonitas que uma pessoa poderia
ver; laranjas, amarelos dourados e vermelhos tão profundos
que eles estavam quase pretos.

Savannah, nessa época, parecia possuir certa calma,


uma paz e tranquilidade que só era encontrada neste lugar.

Como eu poderia deixá-la?

Cliquei no alarme do Suburban de Sebastian.

Eu adorava que ele o deixasse comigo. Não porque era


uma possessão ou algo para tirar dele. Mas em vez disso,
sentia como uma promessa, um lembrete de que éramos um,
não importa quanto tempo ou distância nos separava. Ajudei
Kallie a sentar em seu lugar e dei um beijo rápido no topo da
sua cabeça.

— Tudo pronto?

Ela jogou as duas mãos no ar fazendo asas de borboleta.


— Tudo pronto!

April subiu no banco do passageiro da frente e subi para


o do motorista. Nós dirigimos a curta distância de volta para
minha casa. A casa que eu amava. O lugar que foi o meu
refúgio seguro na infância, quando minha vida foi tão
insegura, a pressão, o fardo, a coerção.

Entrando na garagem, me perguntava se eu estaria


disposta a deixar isso tudo para trás. Se eu pudesse. Se eu
deveria. Se eu iria deixar esta bela casa que abrigava minhas
memórias mais queridas de infância, porque já não era capaz
abrigar meus desejos.

Simplesmente, porque o resto do meu coração estava me


esperando do outro lado do país.

Encontre o amor e traga-o aqui.

As palavras da minha avó fluíram através de mim em


ondas suaves. A tranquilidade suave que talvez não tivesse
que significar ser nesta casa. Que talvez a única coisa que ela
quisesse para mim era o seu tipo de amor, um que
compartilhou com o meu avô, um que era interminável e
avassalador.

Isso significava casa, onde quer que seja.

Aqui. Com ela. Onde seu espírito sempre parecia pairar,


como se, ao estender minhas mãos e agitar os meus dedos
pelo ar eu fosse senti-la.

Aqui. Com a minha filha.

Aqui. Com Sebastian.


Não importa se significava Savannah ou Califórnia.

Desliguei o motor e sai do carro rapidamente para abrir


a porta da minha filha. No banco de trás, ela estava
cantando, libertando sua voz de anjo, cantando uma canção
boba, batendo as mãos e chutando seus pés. Eu destravei a
fivela e comecei a puxá-la para meus braços.

De alguma forma, naquele momento, cada parte de mim


se sentiu em paz.

Eu estava fazendo isso. Movendo-me. Colocando meu


passado para trás e correndo para o futuro que queria com
Sebastian.

— Shea Bentley?

Eu congelei.

Medo me arrepiou e eu endureci, como um presságio,


congelando a base da minha espinha. Segurei Kallie perto
com um braço e pressionei o rosto no meu ombro, minha
mão livre na parte de trás da sua cabeça.

Protetora.

Possessiva.

Lentamente, me virei.

O homem de pé na frente da minha casa pareceu


completamente comum.

Inofensivo.

Calças cáqui, camisa de botões azul de manga curta.


Mas a maneira como meu coração estava batendo, meus
instintos me disseram que ele não era nada comum.

Bloqueando o acesso à minha filha, eu levantei meu


queixo em desafio.

— Sim?

Ele avançou puxando um envelope grande. Empurrou


na minha direção e o ar em meus pulmões de repente parecia
um fragmento afiado de gelo.

O pânico se alastrou como fogo. Chamas lambendo meu


interior, me chamuscando. Meus joelhos ficaram fracos.
Como se eu fosse leve. Perdida em um espaço que não
possuía nenhuma forma, ar ou esperança.

Meu mundo caindo. Falhando. Estilhaçando.

Eu tropecei para trás.

— Não.

Ele empurrou a pasta na minha mão.

Não.

April correu até nós, tomou Kallie dos meus braços


tremendo, sussurrando e afastando o medo da minha filha,
enquanto seus olhos me assistiam.

— Vamos entrar. — Ela disse calmamente, levando-me


com uma das mãos e segurando Kallie com a outra. O mais
longe que pude chegar foi do outro lado da varanda e dentro
da porta antes que caísse de joelhos no chão de madeira.
Agitando, tirei o fecho e rasguei o selo. Uma pilha de
papéis escorregou para fora do envelope.

Mas foi a pequena peça individual que caiu, que


capturou minha atenção. Caindo com a face para cima.

Palavras escritas no papel com uma letra feroz que


reconheci imediatamente.

Eu vou garantir o seu silêncio.


— O ônibus para Denver sairá às oito horas amanhã. —
Apontei para Ash, o mais culpado desgraçado de todos eles.
— Não se atrase.

Ele me deu uma saudação zombeteira.

— Não se preocupe, querido Baz Boy. Nós não vamos


desapontar você. Vou ter certeza disso.

Ash no comando?

Impressionante.

Enviei um olhar suplicante para Zee.

Ele apenas sorriu e fez um gesto entre Lyrik e Ash.

— Desculpa cara, não posso fazer isso. Reivindicar a


responsabilidade por estes dois é como se declarar culpado
por um crime que não cometeu. Não, obrigado.

Lyrik bateu na parte de trás da sua cabeça.


— Eu vou cometer um crime em cerca de cinco
segundos, se você não prestar atenção a si mesmo,
homenzinho.

— Homenzinho? — Zee retrucou, apenas provocando. —


Eu vou te mostrar o homenzinho.

Balancei minha cabeça e comecei a recuar, ansioso para


voltar ao hotel para ligar para Shea.

— Sério... às oito.

Não tenho certeza de quando me tornei a voz da razão


para a banda, quando comecei a assumir a responsabilidade
por todos. Acho que talvez tenha sido um longo tempo atrás e
eu estava apenas começando a vê-lo agora. Compreender a
lealdade que foi essa responsabilidade.

Lyrik gesticulou com o queixo. Consegui.

Virei-me e andei através da multidão.

Nós tínhamos acabado um show ao ar livre em Phoenix,


que honestamente foi legal para caralho. A multidão foi
rebelde, esgotante. O Ar da noite eriçado com a energia quase
violenta que a música brandiu para a vida.

Agora, o grupo da estrada estava se movendo


rapidamente, embalando tudo e ficando prontos para dirigir à
Denver amanhã de manhã, para o nosso próximo show, dois
dias a partir de agora. Os fãs com passes e parte da imprensa
permaneciam no local.

Eu estava fazendo o máximo para não ser notado, para


que pudesse dar o fora de lá com o menor alarde possível.
Desviei de algumas perguntas e das meninas que
claramente queriam mais do que um autógrafo e corri para
fora para esperar o carro que chamei.

Levantando meu rosto, respirei profundamente.

Um punhado de estrelas brilhantes pontilhava o dossel


enegrecido acima, mal salpicando o que prometia ser um céu
lindo, embora a maioria fosse obscurecida pelo brilho das
luzes da cidade. Eu estava escondido numa pequena rua,
mas as coisas ainda estavam agitadas nas ruas principais ao
lado, um fluxo de carros intermináveis que se deslocavam
pelo labirinto urbano. Ao longe, o zumbido de carros voava
pela estrada enchendo meus ouvidos.

Ainda assim, me sentia calmo.

Um SUV preto puxou para o meio-fio. Pulei na parte de


trás e dei ao motorista o nome do hotel onde estava
hospedado.

Soltando um suspiro pesado, relaxei no banco de couro


e ele nos levou para a rua. Postes brilharam através das
janelas quando se fundiram no fluxo do tráfego.

Um sorriso curvou em minha boca, quando tirei meu


telefone do meu bolso e o liguei. Sabia que haveria
mensagens esperando por mim.

Sempre havia.

Claro, eu possuía milhares de fãs gritando para mim


noite pós noite.
Mas estes pequenos gestos que Shea enviava? Suas
palavras simples deixando-me saber que eu nunca estava
longe da sua mente? Aquelas eram muito mais importantes
que todas as outras.

Esta noite haviam três.

Sorri para a simplicidade da primeira mensagem de


texto.

Saudades de você.

Deus, eu me perguntava se ela poderia sentir minha


falta, mesmo metade, do que estava sentindo a dela.

Louco.

Só a deixei no aeroporto três dias atrás e já estava


sentindo falta dela como um louco, contando os dias até que
ela me encontrasse na Califórnia e nós podermos finalmente
começar uma vida juntos.

Engraçado, eram as pequenas coisas que mais faziam


falta. Sentar na cozinha da Shea, cozinhar com minhas
meninas, colocar Kallie para dormir, acordar lentamente nos
braços da Shea.

Sim, nos falamos todos os dias, mas não havia


nenhuma substituição para a coisa real.

A segunda mensagem me deixou melancólico. Shea e


Kallie estavam sentadas ao ar livre, com Savannah como seu
plano de fundo, cabeças pressionadas juntas, montes de
cachos loiros emoldurando os rostos preciosos, olhos
caramelo calorosos e doces. Me encheu de um desejo que
fisicamente doía. Seus sorrisos me atingiram de uma forma,
como se pudesse senti-las comigo.

Shea escreveu na imagem o mesmo que na primeira.

Saudades de você.

O terceiro foi outro texto simples.

Chame-me quando o show acabar. Não importa o quão


tarde, só preciso ouvir a sua voz.

O motorista parou na unidade circular, na entrada por


trás do hotel.

— Obrigado. — Disse, saindo rápido.

Pendurando minha bolsa sobre o ombro, fui em direção


às portas de correr altas que se estendiam por toda a parte
traseira. Meus sapatos ecoaram nos pisos brancos salpicados
de dourado. Uma fonte no centro do lobby liberava jatos de
água em sincronia num jogo de cores.

O hotel era luxuoso como todo o resto, mas quando você


gasta a maior parte do seu tempo amontoado em um ônibus,
com um bando de caras, ter a privacidade de um quarto era
uma necessidade. Eu já havia feito check in, por isso, peguei
o elevador diretamente para o meu quarto.

Fui direto para a porta adjacente a minha suíte, que era


a de Austin e bati.

Alguns segundos se passaram antes de ouvir um


barulho do outro lado. O cabelo do meu irmãozinho era um
desastre completo, quando ele finalmente abriu a porta.
Olhos cinzentos me cumprimentaram
— E aí cara?

— Só queria saber como você estava.

Ele me deu um sorriso torto.

— O mesmo de quando você me verificou antes de sair.

Sorri um pouco autoconsciente. Não podia deixar de me


preocupar com ele constantemente, mesmo quando me dizia
que era hora dele descobrir as coisas por si mesmo. Esse
garoto se tornou minha responsabilidade um longo tempo
atrás.

— Você já jantou?

— Sim, Pai, eu jantei. Você quer conferir?

Punk sarcástico.

Com vontade de rir, mas tentando me conter.

— Se cuida, ou eu vou vir por aquela porta para chutar


o seu traseiro, em vez de dizer-lhe para pedir serviço de
quarto. Da próxima vez não vou ser tão bom.

Eu adorava quando estávamos assim. Quando nós


poderíamos apenas brincar sem qualquer tensão pesando
entre nós. Quando sabia que as coisas poderiam ser boas
para ele e que poderia ter todo o mundo aos seus pés. Eu
estava apenas esperando ele ser corajoso o suficiente e dar
um passo. Dava-me o tipo de esperança que pensei que havia
perdido há muito tempo.

De volta a Los Angeles, não conseguia afastar a


preocupação me atormentando, seu humor escuro e sinistro,
a expressão cheia de sombras e memórias e o pesar
sufocante. Uma vez que a deixamos, seu espírito parecia
melhorar e cada dia o garoto parecia tornar-se mais e mais
leve e mostrar o sorriso que era tão raro em seu rosto.

Assim como agora.

Esse sorriso se alargou quando o sarcasmo se fez sentir.

— Isso. Aí está o irmão mais velho que conheço e amo.


Algumas coisas nunca vão mudar.

— Tanto faz.

Mas nós dois sabíamos que tudo mudou.

Fiz um gesto com o queixo em direção a minha porta


batendo os meus dedos no batente da sua.

— Estarei no meu quarto se você precisar de alguma


coisa.

Com um sorriso em sua boca.

— Ah... achei que você diria isso. Todos nós sabemos


como suas noites terminam agora... o resto dos caras se
divertindo, aproveitando a cidade, enquanto você recolhe sua
cauda e volta para o seu quarto. O grande e mau Sebastian
Stone, um gato submisso. Não aja como se eu não pudesse
ver essa coleira amarrada no seu pescoço.

Combatendo o riso no meu peito, meus dentes


apertaram meu lábio inferior.

— Saia homem, ou precisarei chutar essa sua bunda


para realidade.
Gostava de ver o sorriso em seu rosto. Precisava. A vida
estava seguindo de uma maneira que nunca pensei que
pudesse, tudo que é importante para mim, florescendo,
prosperando. A banda, meu irmão mais novo e um amor de
tirar o fôlego que nunca vi chegando.

— Pode vir. Não queremos que você fique enferrujado


nem nada. — Sorrindo ele abriu mais a porta apenas
provocando. — A última coisa que precisamos é que você
fique macio sobre nós.

Dando dois passos para o lado, passei pela porta aberta,


me inclinado para trás para que pudesse atirar-lhe um
sorriso irônico.

— Alguém aqui precisa ser.

— Pensei que era o trabalho do Zee.

— Touché, irmão mais novo, acertou.

Abri a porta e Austin deu um passo atrás na sua.

— Tudo bem, bundão, deixe-me pela sua esposa. Estou


entediado para caralho aqui.

— Você pode sair comigo. — Gritei.

— E ouvir vocês dois falando sobre o quanto sentem


falta um do outro, fazendo porra de ruídos de beijos e tudo o
que é besteira sentimental? Hum... não. Prefiro não vomitar
meu jantar, muito obrigado. Todos nós ouvimos o suficiente
no ônibus.

Ele deu outro passo para trás e fechou a porta.


— Você só está com ciúmes. — Gritei fechando a minha
própria porta.

Sua resposta confusa ecoou através da parede.

— Você poderia simplesmente ter-me lá, irmão mais


velho.

Eu ainda estava balançando a cabeça, com um sorriso


no rosto, atravessei o quarto e me dirigia para o enorme
banheiro, que eu realmente não precisava, em seguida, pulei
no chuveiro grande o suficiente para cinco, ensaboei-me,
lavando todo o suor do show, sai e me sequei rápido.

Não podia esperar para chegar a minha menina.

Agarrando o telefone, digitei uma mensagem.

Ligando o Skype. Preciso ver o seu rosto.

Dois segundos depois, meu telefone apitou com a


resposta.

OK.

Fiz uma careta, esperando um sorriso, um coração bobo


ou um ―Eu não posso esperar‖, mas acho que levaria mais
tempo.

Vesti boxers limpas, puxei meu laptop da bolsa e o


coloquei no centro da cama. Não podia esperar para ter um
vislumbre dela.

Deus, Austin estava certo.

Eu fui subjugado.

Trancado.
Caído por esta menina.

E não havia maneira de escapar.

Shea aceitou a chamada e meu coração apertou.


Aqueles olhos doces imediatamente bloqueados em mim. Mas
eles não estavam brilhando de felicidade. Eles estavam
atormentados. Inchados, vermelhos e cheios de lágrimas que
ela estava evitando deixar cair. Sombras vagando em torno
dela, alimentadas pela pequena lâmpada incandescente da
sua mesa de cabeceira. Seu rosto torcido em agonia, escrito
em cada linha.

Preocupação arranhou meu interior. Foi instantâneo. A


necessidade essencial de proteger e defender.

Um soluço rasgou através dela, quando encontrou meu


olhar.

— Sebastian.

Fiquei imediatamente tenso.

— O que aconteceu?

Com os olhos fechados e sua boca a tremer, ela disse:

— Martin.

O nome me tirou da cama. Não era como se não


estivesse esperando por isso. Esperando que ele tivesse algo a
ver, no momento em que vi seu rosto atormentado.

Não significa que não enviou raiva borbulhando através


de mim, fervendo em minhas veias, chamuscando a minha
pele.
Senti como se estivesse queimando vivo.

Passei as mãos pelo cabelo. Frenético, olhei ao redor do


quarto para minhas coisas. Meu olhar se estreitou, quando
calculei quanto tempo levaria para subir num avião e caçar o
filho da puta.

Quase seis semanas se passaram desde a última vez


que ouvi falar dele e me permiti relaxar. Tomei conforto no
tempo.

Realisticamente sabia que chegaria a isso, mas nada


impediu que um ódio sem limites disparasse rápido através
de cada terminação nervosa.

E eu nem sabia o que o pedaço de merda fez.

Andei olhando para Shea, sentada lá no meio da sua


cama, enquanto eu pirava. Ambos desmoronando.

— Onde está Kallie? — Finalmente consegui falar, não


tendo certeza se poderia ouvir a resposta. Minha mente viajou
por cada cenário.

— No quarto dela. Dormindo.

Alívio me bateu. Esfreguei as duas mãos sobre o rosto,


arrastando-as para baixo, olhei para o teto. Um pouco de
consolo me fez sentar na beira da cama, de costas para Shea,
cabeça em minhas mãos. Eu estava fazendo o melhor para
me controlar. Mas os impulsos estavam lá. A necessidade de
lutar e defender.

Punhos, fúria e raiva implacável.

A levantar-se para a minha família.


Para fazer isso direito.

— Sebastian. — Eu ouvi o apelo de Shea claro como o


dia. Sabia que ela sentia também. O que eu estava ansioso
para fazer.

Relutantemente, olhei para trás.

— Não. — Ela implorou através de um sussurro.

Engoli em seco. Conter-me era quase demais. Violência


nadava abaixo da superfície da minha pele. Minhas mãos
apertadas em punhos, abrindo, em seguida, apertando
novamente. Era um ato que era esperado que me acalmasse,
mas só serviu para me irritar mais.

Virei para encará-la.

— Conte-me.

Lábios trêmulos puxaram um lado, enquanto ela lutava


para conter a emoção e tudo o que eu queria era passar
através da chamada para chegar até ela.

Odiava estarmos tão distantes.

Eu queria estar lá.

Segurando-a.

Protegendo-a.

Honrar os votos de casamento que fiz.

Minha atenção concentrou-se no movimento de sua


delicada garganta, enquanto ela lutava para formar as
palavras.
— Eu recebi um aviso esta tarde. — Ela respirou
profundamente. — Ele está buscando a custódia total de
Kallie.

— Caralho. — Amaldiçoei, empurrando a minha atenção


para a parede oposta. Amargura queimando. Meu joelho
saltou como uma britadeira em curto-circuito, cada célula do
meu corpo me cutucando para me levantar e ir embora. Para
fazer alguma coisa. Porque aqui sentado ociosamente com
certeza não ia consertar isso.

Isso era o que esperavam, não era? Irritante, implacável,


sorrateiro. O idiota nunca iria deixa-las viver em paz.

Um soluço escapou dela e sua confissão caiu sobre mim


como um deslizamento de rochas, enquanto ela chorava
através do insulto das palavras.

— Eu estou assustada. Deus.... Eu estou tão assustada.


E.... e isso é exatamente o que ele quer. Ele quer me
assustar. Para saber que está no controle. Quer me lembrar
que sabe como me magoar e não hesitará.

— Por que, Shea? Por que diabos ele quer te machucar


tanto assim?

Por que diabos ele queria ferir qualquer um de nós com


isso?

Eu estava cansado dessa merda sem sentido. Doente de


Martin segurando Mark e Austin sobre mim como um
mistério envolto. Doente de Shea colocar um véu sobre o que
ela achava que precisava esconder.
Mas eu sabia...

Sabia que tudo o que estava por baixo de ambos era a


porra de um pesadelo.

Seus olhos se fecharam, o rosto encharcado de lágrimas,


quando ela freneticamente sacudiu a cabeça.

— Você não sabe? Ele sabe como controlá-lo, também,


Sebastian. Martin conhece suas fraquezas. Ele estuda e prevê
exatamente como alguém vai reagir e usa isso para sua
vantagem.

Ele sabe que você é agressivo. Sabe que você está


disposto a proteger aqueles que ama e isso é exatamente o
que ele quer. Provocar você para que ele possa nos separar.

Sem graça, ela riu; seu tom foi baixo, com significado,
como se estivesse me dando uma pista.

— E eu... eu não agi como ele esperava. Martin esperava


minha submissão e em vez disso, o peguei de surpresa.

Passei a mão por cima da minha cabeça.

— Então o que vamos fazer? O que eu faço?

Ela apertou as mãos contra o peito.

— Fique comigo. Lute comigo. Nunca me deixe. Quando


eu chegar à Califórnia, vou dizer-lhe tudo o que aconteceu. E
você vai me proteger, de pé ao meu lado, você vai me ajudar
por estar lá, quando eu disser ao advogado e a quem quiser
ouvir e acima de tudo, você vai me proteger ficando longe
dele.
Minha testa franziu, porque essa porra machucava. Mal
Shea decidiu confiar em mim por causa de quem eu era. Um
canhão solto porra. Alguém propenso à violência. E lá estava
eu, enlouquecendo, bem abaixo da superfície, fogo
flamejante, lambendo e implorando por liberação.

Minha voz estava embargada

— Fiz uma promessa que iria protegê-la, Shea. Viver por


você. E isso é exatamente o que vou fazer. Você e Kallie?
Vocês são minha vida. Meu tudo. E vou fazer qualquer
coisa... desistir de qualquer coisa... para ter certeza de que
vocês duas estejam juntas. Não vou deixá-lo vencer.

Ela passou as costas da mão sobre a umidade em suas


bochechas.

— Ele fará qualquer coisa para nos separar... para nos


quebrar. Martin sabe que estamos mais fracos sozinhos.
Todas as suas ameaças vindas à tona ao mesmo tempo.

Sua cabeça balançou com amargura e ódio, algo tão


estranho no rosto da minha menina, mas vi as atrocidades
que ele cometeu, as coisas que ela ainda mantinha em
segredo.

As cicatrizes que ela usava em seu coração, enquanto eu


usava as minhas na pele.

— É uma tática. Uma estratégia. Ele acha que pode nos


encher de ameaças. Convencer o nosso subconsciente para
acreditar que juntos somos alvos fáceis. Mas, não. — Os
olhos dela encontraram os meus e refutou a ideia, quando ela
derramou sua própria crença. — Ele é um covarde. Um
doente. Alguém que manda outras pessoas cometerem seus
crimes e em seguida, cai sobre eles como se fosse o único a
exercer o controle.

Seu queixo valente tremeu.

— Dei a ele minha submissão por muito tempo e me


recuso a ser aquela menina de novo. Essa era eu Sebastian.
Eu era uma fraca.

Força encheu seus olhos.

— Mas não sou mais fraca. E estou ainda mais forte


com você ao meu lado.

Cru.

Forte.

Corajoso.

— Prometa-me que não vai se deixar provocar,


Sebastian. Martin sabe exatamente como arruinar pessoas.
Encontra suas fraquezas. Ele sabe que Kallie é a minha. E
sabe que nós duas somos a sua.

Engoli em seco.

— Eu prometo, baby.

Eu prometo.

Esfreguei as palmas das mãos sobre o rosto, mãos no


cabelo, algum tipo de desespero, tomando-me.

— Por favor, Shea. Preciso de você para me dizer uma


coisa agora. Diga-me como diabos você terminou com ele?
Projetores de luz, iluminavam o suor da pele de Shea.
Seu vestido preto brilhava com lantejoulas, cobrindo-o
totalmente, o tecido picava sua pele, onde era tecido acima
dos seios. Saltos altos pretos enfeitavam seus pés e ela tentou
não se concentrar na maneira como eles a faziam se sentir
estranha, com o sapato sexy completamente exposto de um
lado pela fenda em seu vestido que ia até a coxa.

Ela saiu para o palco se sentindo uma tola desajeitada,


embora dissessem que parecia como se tivesse um milhão de
dólares.

Ela tinha uma música.

Uma canção country no show nacional que a


apresentava como Delaney Rhoads.

Era inédito, lhe disseram, estrear tão rápido e ser


convidada para tocar desta forma.
E haviam lhe dito novamente que ela era muito boa.

Mas de alguma forma Shea sentia-se como uma fraude.

Ainda assim, a guitarra em suas mãos e sua boca no


microfone pareciam a coisa mais natural do mundo.

Ela apagou seus pensamentos e pôs sua mente em


branco, esquecendo as pessoas que enchiam o teatro de
música em Nashville. O teatro estava cheio, todos os assentos
marrons lotados.

Esgotado.

Assim como ela estava.

Como se ela tivesse qualquer escolha.

Hoje era seu aniversário.

Dezoito anos.

Ela assinou um contrato. Ela sentou-se naquela grande


cadeira de escritório de couro com todos os seus órgãos
apertados, sua mãe sussurrando em seu ouvido,

— É agora, querida. Conseguimos. Tudo o que


trabalhamos durante todos esses anos. Nós vamos conseguir.
Você é uma estrela.

Shea rabiscou sua assinatura confusa em toda a linha,


incapaz de parar o tremor em sua mão, porque tudo dentro
dela gritava que não deveria assinar.

Mas esta noite?

Nessa fase?
Shea cantou. Ela deixou seus dedos tocarem e
afastarem a tristeza para longe, sua voz cobriu o gosto
amargo em sua língua.

Ela sabia que sua avó estaria olhando ela na TV da sua


cama no hospício. A mulher que mais amava no mundo era
muito doente para estar aqui.

A única coisa que Shea queria era que sua avó


entendesse, que mesmo que as circunstâncias tenham sido
horríveis, quando Shea começou a tocar, agora ela sentia no
seu coração que tudo ficaria melhor.

Assim como sua avó lhe fez prometer, quando ela era
apenas uma menina.

Shea queria que ela se orgulhasse.

Não pelo que ela conseguiu, o dinheiro que foi prometido


ou uma vida de fama. Shea não estava impressionada com
nenhuma dessas coisas.

Shea queria apenas que ela soubesse que estava usando


o dom que lhe foi dado e quando cantou, em algum lugar
dentro dela, ainda sentia-se importante.

A voz de Shea sumiu no silêncio antes que rugissem


aplausos através do ar. Ecoando pelo enorme salão com as
pessoas se levantando e a aplaudindo de pé.

Lágrimas brotaram nos olhos de Shea.

Porque ela sentiu a beleza, também, a mesma coisa que


parecia andar sobre a energia que enchia o espaço.

Era o que a esperava fora do palco que era vil.


Shea sussurrou baixinho,

— Obrigada. — No microfone antes de sair do palco.

A mãe dela a esperava por trás das cortinas.

— Se não é minha estrela brilhante. — Ela fez com que


todos ouvissem.

O namorado assustador da sua mãe, Donny, que esteve


colado ao lado daquela, desde o segundo que chegaram em
Nashville, estava quase salivando atrás da mãe de Shea.

— Venha aqui querida, há pessoas para conhecer. —


Disse sua mãe.

Shea fez o seu melhor para sorrir agradavelmente,


quando ela apertou a mão de quem só a queria pelas coisas
que ela não queria dar, como tocar sua pele, dava-lhes um
sabor de glória, quando sabia, sem sombra de dúvidas, que
vendeu sua alma para o diabo.

Não, não era porque ela desejava nada disso.

Ela simplesmente estava neste trem por muito tempo e


sem os freios, a pressão e a coerção era demais para
absorver, de modo que se deixou levar. Por muito tempo,
simplesmente fez como lhe mandavam, nunca expressou
suas opiniões ou preocupações, porque não iriam ouvir de
qualquer maneira. Sua mãe a controlava e ela não conseguia
encontrar a força para lutar contra isso.

Mas agora ela se perguntava quando iria quebrar.

Cautelosamente, Shea olhou para cima quando sentiu


olhos concentrados nela. Um calor escaldante de luxúria
predatória. Sentia queimar por ela e não de uma forma boa,
mas como se o diabo encontrasse o seu caminho.

Ela estremeceu.

Sua mãe empurrou-a para cima para falar em seu


ouvido.

— Vá em frente, garota. Ele está esperando por você.

Quando Shea hesitou, ela pôde sentir a irritação da sua


mãe, como se estivesse falando com uma criança que não
fazia ideia do que era necessário para enfrentar o mundo real.

Shea duvidava que ela soubesse.

— Alcançar seus sonhos vai exigir sacrifícios, Shea.

Naquele momento, Shea não podia ter odiado mais sua


mãe. Ela a vendeu tão facilmente, usando-a por um pouco
mais de ganho. Shea passou anos se esforçando mais e mais,
pensando que se conseguisse ficar melhor, sua mãe
finalmente iria vê-la como a estrela que ela queria que fosse.
Ela passou tantos anos sendo forçada a ser esta pessoa,
costurada e remendada, que se transformou em algo
irreconhecível.

Mas o exterior estava completamente incompatível com


o que ela queria ser.

— Além disso, — disse a mãe com um sorriso perverso,


— vocês dois fazem um casal lindo. É o que o mundo quer
ver. Uma garota bonita no braço de um homem bem-
sucedido, bonito. Ele lutou muito por você e é hora de você
mostrar um pouco de gratidão por isso.
Gratidão?

A bile ferveu no seu estômago e Shea pensou que iria


vomitar.

Ela sabia que Martin Jennings era atraente. Ela não era
cega. Mas, no ano em que o conheceu, também sentiu algo
escuro espreitando em torno dele, algo feio que irradiava dos
seus poros, como um presságio.

Cada célula do seu corpo implorou para ficar longe.

Em vez disso, ela fez seus pés se moverem em sua


direção, onde ele estava como um fantasma na parede
oposta.

Ela abaixou a cabeça timidamente, quando parou na


frente dele.

— Magnífica. — Disse ele em sua voz suave. Ele tocou


seu rosto e ela prendeu a respiração, tentando não recuar. —
Você tem alguma ideia do efeito que teve sobre a multidão,
Delaney Rhoads? Cada pessoa lá fora estava em suas mãos.
Você é mágica.

Seus pensamentos voltaram para sua avó, uma imagem


de uma mulher frágil deitada nos confins de uma cama.

Teria ela pensado que o show foi mágico?

O que ela acharia agora?

Martin passou as pontas dos dedos por seu braço, e


tremores de inquietação arrepiaram sua pele, mas ela não os
combateu, assim como não lutou contra ele dois dias antes,
quando a empurrou contra a parede em seu escritório e
beijou sua boca e seu pescoço.

Mas essa noite, quando Martin a guiou por um labirinto


sinuoso de corredores nos bastidores e a levou para um canto
escondido nas entranhas do teatro com pouca luz, ele não
parou. Ele a colocou em cima da mesa e levantou a saia do
seu vestido.

Lágrimas embeberam seu rosto, Martin as limpou.

— Você é muito bonita para chorar, Delaney Rhoads. —


Ele a beijou no canto da boca e ela choramingou.

— Shh... você é minha, agora.

Ela queria dizer para ele parar, mas não conseguia falar.
Assim como não sabia como dizer à sua mãe que o caminho
que estavam percorrendo não era o melhor.

Diga, Shea. Diga não. Por favor, diga isso, ela


silenciosamente implorou a si mesma, antes de se virar para
implorar-lhe silenciosamente. Não, não, não.

Ele se atrapalhou com o cinto, mas conseguiu puxar as


calças para baixo. Shea ficou em pânico, tentou empurrar e
bater no seu peito, sua respiração falhando com o medo.

— Shh. — Ele sussurrou novamente, prendendo ambos


os pulsos em uma de suas mãos e a puxou mais perto da
beira da mesa. Ele instalou-se entre suas pernas.

Ela gritou de dor quando ele rasgou através dela.

Ela soluçou. Sua respiração engasgou e ofegou, quando


ele se moveu dentro dela.
Música poderia ser ouvida, outra pessoa tocava no
palco, ela tentou ao máximo se concentrar nos belos sons e
não nos grunhidos saídos da boca de Martin. Mas não havia
nada de bonito neste momento.

Tristeza e dor a esmagavam. É irônico que um homem a


estava tocando pela primeira vez em sua vida e ela nunca se
sentisse mais sozinha.

E Shea... Shea poderia odiar este homem com toda a


sua força. Shea podia odiar sua mãe mais do que já fazia.
Mas não estava perto do quanto se odiava.
Eu estava no corredor do lado de fora da porta de Mark.
Meu peito arfava, respirei fundo, minha mão tremia na
maçaneta. Buscando coragem apenas para abrir a maldita
porta.

Tudo estava calmo na enorme casa. Todos os rapazes


foram embora e Austin estava escondido em seu quarto no
fim do corredor oposto.

Nós chegamos em LA há dois dias e minhas meninas


estariam aqui, amanhã. Isso precisava ser feito e logo.

Seguimos com os nossos planos originais, recusando as


ameaças de Jennings. Além disso, nós achamos que era mais
seguro para elas estarem aqui. Comigo.

Deus sabia que eu ia dormir melhor.

Kenny colocou outro advogado e alguns dos seus caras


aqui em LA, estavam cavando em profundidade, procurando
através de qualquer merda que eles poderiam encontrar do
bastardo pomposo. Merda que não tinha nada a ver com
Sunder ou Shea ou qualquer um de nós. Provas seguras que
iriam manda-lo direto para o inferno, porque sabíamos que
suas mãos gananciosas não estavam limpas.

Shea não sabia do plano reserva. Que ficaria feliz em


me incriminar para finalmente fazer Jennings desaparecer.

Para o bem.

De uma forma ou de outra, nós queríamos ter certeza


que ele não pudesse dizer nada sobre o futuro de Kallie.

Agora eu só precisava passar através dessa porta. Só


não sabia que seria tão duro.

Frio percorreu por todo o meu corpo e minha mão


apertou a maçaneta da porta, fechei os olhos, me forçando a
entrar. A porta se abriu chiando, por falta de uso.

O cheiro do quarto vazio me atingiu como duas


toneladas de tijolos.

Apertei os olhos e soltei a respiração que estava


segurando através de uma inspiração profunda.

Estava mofado e abafado, mas era o cheiro dele, como o


couro daquele velho casaco que ele sempre usava e uma
pitada de cigarros e ervas que sempre fumava.

A dor que foi trancada lutou para escapar. Se reunindo


como uma tempestade no meu peito. Construindo
lentamente. Subindo na minha garganta.

A perda de Mark foi tão súbita e traumática que parte


ainda não parecia real. Às vezes imaginava que iria olhar
para cima e encontrar o sorriso tímido que ele sempre usava,
algo genuíno e honesto, quando olhava para mim.

Deus, ele foi uma alma perdida.

Tão, perdida.

Mas isso não significa que a ligação entre nós cinco não
fosse sólida. Desfiguradas, peças deformadas que de alguma
forma se alinhavam e se ajustavam perfeitamente. Minha
fodida família. Mas penso que talvez o vínculo entre Mark e
eu fosse ainda maior, porque eu também estava perdido.

Atordoado, entrei no seu quarto, senti o peso da perda


do meu amigo. Raios de luz saiam das persianas, cortando a
escuridão. A cama king estava desfeita, uma confusão de
lençóis e cobertores que falavam de um espírito inquieto,
folhas de papel espalhadas pelo chão, as palavras que muitas
vezes eram silenciosas na sua língua, mas, atacavam através
das páginas.

Andei até sua mesa. Meus dedos se arrastaram sobre a


imagem exibida em um quadro. Éramos nós, com os braços
nos ombros uns dos outros, cervejas nas mãos livres, Zee e
Austin também estavam lá. Isso me trouxe um sorriso
melancólico e balancei a cabeça, perguntando-me como
diabos eu ia passar por isto.

Mas precisava fazer.

Agora uma menina estava pronta para brilhar nesta sala


vazia.
Tirei a roupa da cama e pus num saco de lixo preto, em
seguida, agarrei uma das caixas vazias que foram deixadas
no corredor e comecei a limpar a mesa. Estas coisas eu
guardaria numa caixa, salvando-as. Sabia que um dia Zee
gostaria de vir vasculhar, quando seu coração partido
estivesse pronto para dar esse passo.

As gavetas estavam preenchidas com uma tonelada de


fitas cassetes antigas e CDs, suas próprias palavras
rabiscadas através delas, a música que fizemos. Todos os
riscos e rabiscos que ele fazia para transformar palavras em
canções.

Meu peito apertou com tristeza.

Deus. Dói.

Meus olhos estavam borrados, enquanto enchi uma


caixa depois da outra, forçando-me a apenas continuar.

Quando limpei sua mesa, segui em frente, para o seu


closet, ligando o interruptor de luz. As luzes piscaram antes
de ganhar vida. Era apenas um longo, estreito caminho,
roupas penduradas de cada lado, sapatos velhos rasgados,
enfiados nas prateleiras em desordem.

Dei uma risada suave de afeto. Ele não podia se livrar de


qualquer coisa.

Coloquei todas as camisas juntas, e joguei-as no meio


do chão do quarto. Continuei até que um lado estava limpo,
depois o outro, até que estava uma montanha de roupa no
meio do quarto.
Algum brechó ia ter um dia cheio para vender tudo isto.

Comecei a empilhar as caixas, sentia angústia porque


parecia que estava liberando a presença de Mark das nossas
vidas.

Sabia que era por isso que esperei tanto tempo.

Queria uma última coisa dele para segurar, mesmo


quando não tive força para passar pela porta.

Ficando de joelhos, tirei algumas caixas que Mark


empurrou para baixo das prateleiras no canto de trás. Eu
levantei a tampa e espiei dentro.

Fotos.

Sentei-me e tirei uma pilha. Nostalgia, dardos de pesar e


dor e um tipo de conexão que sabia que nunca poderia ser
perdida me bateu. Imagem após imagem de nós como
adolescentes, saindo da garagem de Ash, de volta nos dias em
que queríamos dominar o mundo e não havia nada que
poderia nos impedir de nos tornarmos grandes. Antes que o
estilo de vida desgastante nos levasse para todos os tipos de
estradas que nunca deveríamos ter ido.

Minha barriga apertou com alguns dos rostos, alguns


dos caras que chamamos de amigos, que não eram nada
menos do que negociantes que alimentavam o frenesi sedento
de sangue. A necessidade de sentir algo que, no final,
simplesmente não existia.

Só coisas vazias.
O que me irritava mais, era que alguns desses caras
estavam diretamente ligados ao Jennings.

Me encolhi quando vi uma foto de Donny. Um dos caras,


braço direito de Jennings. Olhos azuis, um sorriso perverso
no rosto.

Parecia que no segundo que Mark começou a sair com


esse idiota e sua influência, ele foi puxado para uma espiral
descendente que não podia parar. Tropeçando direto no que
seria sua morte.

Ele bateu no fundo. Começou a esconder coisas. Mesmo


de mim. Naquela época, Donny sempre esteve à espreita,
pendurado em cada show, agindo como se fosse o seu lugar e
tudo parte do show. Eu sabia melhor, que ele estava levando
Mark para mais baixo, ainda.

Olhei um pouco mais fundo na caixa, tive a súbita


vontade de entender Mark melhor nesse período de tempo.
Desejando que eu tivesse prestado mais atenção. Feito mais,
antes que fosse tarde demais.

Um caderno com capa de couro espesso foi deixado de


lado. Puxei-o para fora, sentindo-me doente por invadir sua
privacidade. Mas porra, ele foi meu melhor amigo. E eu o
perdi. Sentia muita falta dele, sentia como se um buraco
abrisse em meu peito.

Abri o diário, virei a primeira página. Imediatamente,


reconheci a sua caligrafia. A data anotada de lado estava
perto de sete anos atrás.
A dura estrada. Especialmente noites como esta, quando
todo mundo passa em volta de mim. Eu nunca consigo dormir.
Quem poderia saber que o tempo mais solitário do mundo é o
momento antes do sol nascer? Noite após noite, eu me encontro
nesse momento intimamente. Como um amante, mesmo
quando não há conforto em seu toque. Vale a pena. A banda
vale a pena. Mas tenho a sensação que nunca vou saber o que
é estar em casa.

Esfreguei a mão sobre meu rosto e tentei parar o


impulso irresistível de chorar. Matou-me ver que ele se sentia
assim. Eu vasculhei mais páginas. A maioria das páginas
diziam o mesmo, as vezes pulando meses. Ficando apenas
um pouco mais desesperado a cada ano que passava.

Eu tentei. Porra, eu tentei. Baz saiu da cadeia e ficou


limpo. Eu tentei. Eu tentei.

Por que eu não fiz algo? Intervi?

Hesitei, parte de mim querendo fechar o maldito


caderno. Fechar e esquecer. Mas outra parte se sentia
impulsionada a continuar. Passei através de mais páginas em
que Mark escreveu o quão perdido ele se sentia.

Quando virei outra página, a minha visão estreitou no


manuscrito que estava confuso e frenético.

Eu fodi tudo. Fodi muito. Donny disse que Martin falou


que só seria uma vez. Uma vez. Isso era tudo o que era
suposto ser.

Que porra é essa?


Ele estava falando sobre Jennings.

O meu coração acelerou e sentei sobre os joelhos, os


dedos segurando o caderno, continuei a ler mais.

Porra do Donny e sua maldita boca. Sempre a porra da


sua boca. Eu não quero saber. Eu não queria participar em
qualquer parte nisto. Eu sabia que Martin era doente. Ambos
eram doentes. Mas não tão doentes. Eu disse a Martin. Disse
para ir para o inferno, quando exigiu o dinheiro que lhe devo.
Disse-lhe que falaria tudo o que sei à polícia. Eu iria de
qualquer maneira, o dinheiro que se danasse. Sabia o que ele
disse ao Donny para fazer com a menina. Eu sabia o que
planejava fazer. Ela era uma ponta solta. Um passivo. Apenas
como eu. Chame-me de dedo-duro. Eu não me importo. Deixe o
idiota queimar.

Comecei a ganhar consciência do que ele escreveu. Senti


que não podia respirar quando virei desesperadamente a
página. Uma pequena pilha de fotos caiu por entre as
páginas, vibrando no chão. O que a minha atenção
imediatamente agarrou foi o que Mark escreveu na página.

Donny se foi. Morto na água. Eu vou ser o próximo. Eu sei


disso. Sinto isso chegando. Estou com medo? Sim.
Aterrorizado, realmente. Eu enganei o Martin. Fiz com que ele
acreditasse que vazei informações. Tirando ele e Lester fora.
Ele acha que estou chantageando-o, mas eu não tenho nada,
só a palavra de Donny. E a palavra de Donny é tão valiosa
como uma puta de dez dólares. Minha única intenção era
frustrar os planos que ele tinha para ferir aquela garota
novamente. Só que desta vez, tentei pará-lo. Doente. Doente da
porra. Não poderia viver comigo mesmo se isso acontecesse,
então prefiro morrer para impedi-lo. Acho que finalmente fiz
alguma coisa na minha vida para valer a pena.

A data era de dois dias antes dele ter a overdose.

Pavor me encheu, tudo ficou pesado, como se tivesse


gelo nas minhas veias.

Ele o matou.

Oh Deus. Minha cabeça girava. Ele o matou.

Com os dedos trêmulos, estendi a mão e peguei uma das


fotos que caíram no chão, hesitante para descobrir o que
estava lá, mas sabendo que não conseguiria evitar olhar.

Era uma foto de Mark, Donny e meu irmãozinho. A festa


acontecendo ao seu redor era clara. Todos os três estavam,
obviamente, em um terreno baldio.

Mas foi o que estava no colo da mulher de Donny que


me sacudiu até a medula. Um rosto tão familiar, que a
respiração perfurou os meus pulmões, fiquei em choque.

Eu vi este rosto na parede do andar de cima da casa de


Shea mais vezes do que eu gostaria de contar. Exibidos em
quadros antigos, parecendo anos mais jovem do que nesta
imagem. A mulher que a empurrou, empurrou e empurrou,
as memórias de infância de Shea numa história de horror,
manipulação e ganância.

A mãe de Shea.
Segurei minha cabeça, enquanto tentava processar,
cercado num ataque de confusão, raiva e devastação total.

Mark, Jennings, Austin, e a filha da puta, Chloe Lynn.

Ela era uma ponta solta. Um passivo. Apenas como eu.

O que ele estava falando? Não queria aceitar a


possibilidade de que poderia ser Shea. Mas sabia.... Eu sabia,
porra.

Gritei e outra onda de tontura me bateu. Meu ombro


bateu contra a parede, meu equilíbrio desapareceu, meu
mundo despedaçou. Tropecei, batendo na porta do armário,
em uma tentativa desesperada para sair com uma das
imagens na minha mão. Saindo fora do quarto de Mark, para
o corredor. Nem sequer hesitei na sua porta, apenas a abri.
Ela voou para trás e bateu contra a parede.

Austin saltou da sua cama no mesmo segundo em que


eu invadi.

Algo lívido comeu meu interior. Me impulsionando para


frente.

— Baz. — Meu irmãozinho disse com sua expressão


assustada através de confusão e dúvida, nervoso. Eu não
parei, agarrei o colarinho da sua camisa em minhas mãos e
empurrei-o contra a parede. Meus dentes cerrados e sua
expressão de surpresa no rosto se transformou em medo.

— Diga que não mentiu para mim quando jurou que não
sabia o que aconteceu na noite que Mark morreu.
Olhos alarmados brilharam com reconhecimento.
Voltando para o dia em que eu o confrontei aqui nesse quarto
após a mediação ter falhado com Jennings.

O dia em que começou a dizer que Mark não era mais


nada, se não patético.

Sacudi-o, minha voz desesperada.

— Diga-me.

Não, eu não iria machucá-lo. Nunca. Mas não havia


nenhuma maneira de deixar esse quarto sem a verdade.

— Baz. — Ele implorou.

Liberando um lado, empurrei a foto amassada na sua


cara.

— Diga-me por que diabos você e Mark estão com a mãe


de Shea.

Seu rosto ficou mortalmente branco.

Culpa.

Medo azedou meu estômago, palavras gritando com a


traição.

— Você mentiu para mim. É por isso que você é tão


estranho com Shea?

Lágrimas encheram seus olhos e transbordaram pelo


rosto. A reação do garoto era como um soco no estômago. Eu
sabia que ele foi pego em algum lugar entre a criança
atormentada que tomei a responsabilidade e o homem
tentando seguir o seu caminho.
Mas isso não era desculpa.

— Diga-me o que você está fazendo em uma foto com a


mãe de Shea, Austin. Diga-me o que diabos Mark estava
falando em seu diário... toda essa merda sobre Donny e
Jennings e os problemas em que ele se encontrava. A garota
que ele machucou. — A última frase se transformou em uma
súplica.

Ele engoliu em seco como se estivesse buscando


coragem.

— Eu não sei toda a história, Baz. Juro a você. — As


palavras começaram a voar. — Tudo o que sei é que Mark
estava em grandes problemas. Devia a Jennings um monte de
dinheiro. Honestamente, não sei todos os detalhes. Só sei que
era muito. O suficiente para que ele não soubesse como sair
do problema e foi Donny que o envolveu em tudo isso.

Sua atenção se lançou para a parede oposta, avaliando


o que dizer, antes de se virar para mim.

— Eu vi a mãe de Shea... Chloe Lynn… algumas vezes


quando estávamos festejando. Eu não sabia quem ela era.
Não até que uma noite Donny começou a falar.

Os lábios de Austin apertaram em desgosto.

— Ele sempre agiu como um mauzão. Queria que todos


pensassem que ele era assim. Naquela noite, ele começou a
se vangloriar de toda a merda que Martin havia feito por ele.
As drogas que vendia, as surras que dava quando alguém
saia da linha.
Eu lutava para encontrar algum controle quando os
olhos de Austin fecharam.

— Ele estava rindo quando começou a falar sobre como


anos antes foi enviado para foder Delaney Rhoads. Disse algo
sobre ‗cuidar dela‘. Então ele zombou com Chloe Lynn por ser
a mãe de uma cantora country decadente.

Assobiei uma respiração, minha cabeça girando com


ódio. Minhas mãos apertadas na camisa de Austin. Minhas
pernas tremiam, quando tudo dentro de mim começou a
quebrar.

— Ele o quê? — As palavras faladas com horror e


choque, eu estava com um vislumbre de carnificina.

O que ele fez?

O que ele fez?

Mark.

Shea.

Eu sabia exatamente do que Martin Jennings era capaz.

Acontece que o que eu sabia não estava nem perto.

— Será que Chloe Lynn sabe o que aconteceu... o que


ele fez?

Seu rosto inteiro estremeceu com o aceno arrependido.


Ele olhou para mim, a tristeza puxando seus lábios.

— Mark... você conhecia ele, Baz. Melhor do que todos


nós. Quão fodido estava, ele era um bom rapaz. Donny disse
que o pegou. A noite que Mark teve uma overdose.... Eu lhe
disse antes, ele estava agindo estranho e paranoico. Essa era
a verdade.

Mas o que eu não lhe disse foi que ele estava dizendo no
ônibus algo sobre ir à polícia falar de Delaney Rhoads. Disse
que não poderia manter o silêncio sobre uma garota inocente
ser ferida... e era um segredo que ele não iria manter.

Austin sufocou durante um soluço.

— Eu sei, Martin foi responsável pelo que aconteceu a


Mark, Baz. Eu sei disso. Donny desapareceu, sem deixar
vestígios, e a próxima coisa que sei, era que Mark estava
morto.

Medo sangrou dos seus poros, meu irmãozinho estava


tremendo em minhas mãos enfurecidas.

— Eu estava tão assustado, Baz. Tão assustado. Você


imediatamente me forçou a ir para a reabilitação e eu queria.
Eu queria sair dessa vida. Fugir dela. Pensei que talvez...
talvez eu estivesse finalmente livre de tudo o que era horrível,
que deixaria de continuamente a arruinar a minha vida. Eu
falhei com Mark. Mas, por uma vez, eu não queria falhar com
você. Prometi a mim mesmo que me manteria limpo e tudo
ficaria melhor. Martin seria esquecido e nós seguiríamos em
frente com nossas vidas.

Agitado, sua língua saiu para molhar os lábios.

— Mas então ele veio para o ônibus da turnê. Fazendo


perguntas sobre o que eu sabia sobre Delaney Rhoads. Eu
não lhe disse nada. Sua resposta foi me dar três
comprimidos. Ele sabia que eu não podia resistir. Sabia que
eu era fraco.

Ele conhece nossas fraquezas. Lembrei-me das palavras


de Shea. Raiva cresceu, alimentando o ódio.

— A próxima coisa que soube foi que acordei no


hospital. Tomei isso como um aviso para manter minha boca
fechada e é isso que venho fazendo todo esse tempo.

— Você sabe o que Mark estava falando em seu diário?


— Eu quis saber, meu nariz pressionado ao seu, talvez se
chegasse perto o suficiente, eu poderia entrar em sua mente e
descobrir o que ele estava mantendo em segredo por todo este
tempo. — Sobre uma menina que era uma ponta solta.

Sacudi-o.

— Uma por quem ele estava disposto a morrer.

Suas sobrancelhas se juntaram com a questão,


obviamente sem saber. Tornou-se claro, quando ele chegou à
mesma conclusão que eu. Seus olhos arredondaram como
botões, brancos de medo.

Como se tivesse sido queimado, o soltei, Austin caiu de


joelhos no chão.

Shea.

Com a cabeça caída para frente, Austin arrastou as


palavras.

— Não me odeie, Baz. Por favor, não me odeie. Eu estava


assustado. Tão assustado. Por favor, não me odeie. Você é a
única pessoa que tenho. Quando eu descobri que Shea era
Delaney, eu queria te dizer... eu queria..., mas eu não podia
arriscar... não podia arriscar que você se perdesse
novamente. Eu não posso perder você, também.

Um som áspero rasgou minha garganta, estremecendo


com o flash de fúria.

— Eu nunca poderia te odiar.

Nunca.

Tudo o que eu dei foi sempre para a minha família.


Levantando-me por eles. Defendendo-os.

Eu saio pela porta, para o corredor ao som de Austin


chamando por mim. Mas não conseguia parar de me mover.
Meus pés descendo as escadas.

Uma névoa vermelha coloriu minha vista. Cegando-me


de ódio.

O que ele fez?

Ele a machucou.

E Mark. Meu irmão caçula.

Tonturas nublaram a minha visão e eu agarrei minha


cabeça, tentando ficar de pé.

Jesus me ajude.

O que aconteceu?

Mark era uma ameaça, por isso ele o matou?

Austin é uma ameaça?

Shea... uma ameaça?


Eu cambaleei com a magnitude.

Sempre acreditei que ele era perigoso.

Mas isso?

Raiva fervia sob a minha pele. Cada pedaço de mim


parecia como se fosse quebrar, cair no chão em cacos
irregulares, tropeçando para fora, entrei no meu carro. Virei a
ignição e o motor rugiu.

Eu pisquei e pisquei, apertei meus olhos fechados, em


seguida, os abri, tentando ver através da tempestade.

Escuro.

Prometa-me.

Suas palavras filtraram através de mim como colunas de


fumaça e pressionei a palma da mão nos olhos, minha boca
abriu em um grito silencioso, enquanto me concentrava
através dos raios de luz ofuscantes.

Como eu poderia simplesmente viver com o que sabia e


com o que ainda precisava saber? Sentar-me e não fazer
nada?

Isso não era eu.

E Shea...

Shea sempre me viu. Reconhecia quem eu era, sob toda


a atitude dura e as cicatrizes.

E isso era eu.

Acho que ela soube disso o tempo todo.


Prometi que faria o que fosse preciso, desistiria de tudo
para fazer tudo direito.

E eu o faria.

Por puro instinto, acelerei nas estradas estreitas das


Colinas. Quando cheguei as ruas congestionadas de West
Hollywood, acelerei, passando pelo tráfego. Tudo ao meu
redor era um borrão, exceto o foco do meu destino.

Pneus cantaram virando em uma curva acentuada à


direita para o bairro pretensioso de Beverly Hills. Meu carro
parou na frente da sua casa.

Inalei. Expirei. Lutei por compostura. Por alguma


medida de razão, nesta situação fodida.

Parecia que eu sempre me via nessas posições.

Problemas.

Eles me seguiam para onde eu fosse.

Mas desta vez a luta ia terminar ao meu favor.

Sai do carro, retirei o meu celular e arrumei o gravador


antes de colocá-lo de volta no bolso. Se o filho da puta estava
aqui, eu iria gravar cada palavra.

Inalar. Expirar.

Prometa-me.

Caralho. Eu não posso, Shea. Eu não posso deixar isso


ir.

Inalar. Expirar.

Saltei o muro baixo de ferro forjado e cai no pátio.


Tremendo.

Fodido.

Água saía da fonte e pássaros voavam através das


árvores.

Pacífico.

A calma depois da tempestade.

Mas a tempestade estava lá, ganhando força, acendendo


a loucura que me empurrava para frente.

Minha mão foi para o trinco das portas duplas. Fiquei


surpreso, quando abriu.

Através dos lábios, eu suspirei. Cada músculo do meu


corpo estava rígido, meus movimentos suaves, andando no
silêncio da casa enorme.

A paz, a calma, a calma estava em desacordo com as


sensações de fogo rápido nas minhas entranhas. Ódio e
vingança.

Paredes brancas e piso branco em todos os lugares, os


tetos altos, brancos.

Eu ouvi dizer que era frio no inferno.

Avancei pelo foyer, ombro contra a parede, dobrei a


esquina e andei ao longo da sala de estar formal, entrando
mais na casa. Saí em uma ampla entrada. Pilares altos, como
uma espécie de castelo de Deus grego, precisamente como o
bastardo pensava que era.
Abriu-se um grande espaço que dava para a cozinha e
outra área de estar que dava para o gramado e a piscina.

Mas nada disso prendeu minha atenção.

Jennings. Casualmente sentado de lado no bar de


granito, balançando o tornozelo sobre o joelho. Bastardo
presunçoso. Seus dedos tamborilavam sobre o balcão, o
idiota estava entediado e não ligava para o seu mundo
deformado, pervertido. Na outra mão, um copo com um
líquido âmbar.

Olhando-me, ele tomou um gole, sua cabeça inclinada


para o lado, sarcástico, assumiu uma expressão imunda.

— Eu me perguntava quando você viria. Sempre tem


que ser o herói, não é?

As paredes fecharam em mim.

Filho da puta.

Ele sabia que eu viria.

Assim como Shea.

Ele poderia muito bem ter colocado um tapete de boas-


vindas.

Meus punhos fecharam, tentando pela primeira vez na


minha vida manter o controle.

Acabe com isto.

Era uma promessa que eu poderia manter, me matava,


o pensamento de estar sem Shea. De desiludi-la. Porque a
amava muito. Tanto que eclipsava toda a razão, eu desistiria
de tudo para mantê-las seguras. Quantas vezes prometi a
ela? Só não sabia como viver com a realidade de perdê-las,
olhei através dos olhos maus de depravação. Uma fenda
abriu bem no meio do meu peito e me rasgou em dois.

— Isto acaba agora.

Ele zombou, passou os dentes sobre seu lábio inferior.

— E como é isso, Sr. Stone?

— Você vai me dizer o que você fez para eles. O que você
fez para Shea, Mark, para meu irmão.

Quando disse seus nomes, um fragmento da


compostura que estava agarrando voou para fora da janela.
Me expondo.

Fiquei vulnerável.

Martin pegou isso e deu um sorriso venenoso.

— Eu sempre faço o que tem que ser feito.

— Não é bom o suficiente. — Eu disse. Tudo o que eu


precisava eram algumas provas. Algo que o condenasse,
assim eu poderia enviar esse idiota direto para o inferno,
onde ele pertencia. Onde ele poderia apodrecer. Mesmo se eu
ficasse ao seu lado.

Ele tomou outro golo lento da sua bebida.

— O que você quer ouvir, Sr. Stone? Você quer ouvir que
o seu melhor amigo não era um viciado? Que ele tinha
alguma outra razão para sucumbir à droga em suas veias,
lentamente apagando a vida dele até ele ficar como um monte
de lixo no chão? Porque nós dois sabemos que é exatamente o
que ele era. Assim como seu irmão.

Pontos inflamados de ódio brilhavam em toda a minha


visão e senti um terremoto sob os meus pés.

Eu lutei para manter o meu pé no chão.

Ele sorriu. Cutucando como um ferro em brasa.

— Mas há algumas coisas que as pessoas simplesmente


não devem saber.

Ele contornou os detalhes, atraindo-me em sua gaiola,


prendendo-me em um anel feito de elos de corrente e arame
farpado, lâminas de barbear onde ninguém saia vivo.

— O que você fez?

Ele ignorou minha pergunta com um lento aceno de


cabeça.

— Alguns poderiam te chamar de corajoso. Outros


chamariam isso de estúpido. Assim como Delaney... meter o
nariz em lugares que não lhe pertencem. Tentando usar isso
contra mim.

Ele sorriu.

— Sim. Eu acho que eu diria que é estúpido, também.

Aquele sorriso malicioso se arregalou quando viu o


arrepio rolando através de mim, outra reação que eu não
conseguia conter.
Com o copo na mão, ele apontou para mim como se
fôssemos os melhores amigos que compartilham uma piada
interna, desviando na minha direção quando ele riu.

— Mas Delaney Rhoads. Mmm. Ela é uma foda muito


boa, não é? Posso ver porque você está preso a ela. Aquelas
pernas. Claro, ela chorou como uma cadela a primeira vez
que a fodi. A abri como um novo presente, que sua mãe me
ofereceu.

Fúria.

Como um golpe de um raio em uma árvore seca,


murcha.

A força da natureza. Um ato de Deus.

Desenfreada e sem controle.

Eu nem sequer percebi que estava me movendo até o


momento que meu corpo conectou com o seu.

Voei para ele como o raio de trovão. Caindo no chão e


rolando.

Jennings e eu éramos um emaranhado de pernas,


agressão do tipo mais sujo de ódio.

Fui para cima dele, direto para a garganta, apertando a


sua tábua de salvação, porque Deus sabia que eu não queria
nada mais do que espremer a vida fora dele.

Como ele fez com Mark.

Meus dentes cerraram.


Seus olhos depravados escureçam, algo vil e ímpio, me
sugando para as profundezas da sua alma estéril.

Apertei com mais força, minha respiração grunhiu


através do gotejamento de raiva das minhas palavras.

— O que você fez ao Mark, ao meu irmão e a Shea?

Eu estava desesperado.

Dedos escavando na parte de trás das minhas mãos,


enquanto ele lutava debaixo de mim.

— Você sabe quem eu sou? O que eu vou fazer com


você?

Não se eu terminar com você primeiro.

— Quem é Lester e o que Mark queria parar?

Essa pergunta evocou o primeiro surto de medo nele. O


seu rosto ficou branco e não tinha nada a ver com o ar que
eu estava reprimindo dos seus pulmões.

Finalmente, encontrei sua fraqueza.

— Diga-me... quem porra é Lester e como é que ele está


envolvido com Shea e Mark?

Apenas uma porra de palavra, isso é tudo que eu


precisava.

Um punho de repente me fisgou na tempera. O soco foi


forte o suficiente para atordoar, pegando-me desprevenido, e
deu o tempo ao bastardo para me empurrar e me fazer
tropeçar em meus pés.

Mas em um segundo, pulei para frente.


Nós colidimos.

Uma chuva de cacos de vidro se formou em torno de


nós, ao atravessarmos a porta de vidro para o pátio. Pedra
escavando carne, músculos queimando com esforço. Eu mal
registrei minha pele ardendo com lanças afiadas de dor.

Isso só serviu como combustível para o fogo.

Eu bati-lhe mais e mais. Um golpe brutal após o outro.

— Diga-me o que você fez. Admita, pedaço de merda.


Admita. Conte-me! O que você fez para Shea? Quem é Lester?
Você matou Mark? Você machucou Shea?

Ossos esmagados e sangue espalhado.

Raiva em espiral, girando até que fui sugado para baixo,


para um lugar onde reinava todo o escuro e o feio. Um lugar
que comecei a fingir que não existia. Era um lugar tão escuro
que eu não podia ver. Um lugar onde ecos de dor eram tão
altos que apagavam todo o pensamento lógico.

Um lugar tão sujo que eliminava a minha humanidade e


me desviava da minha missão.

O objetivo que cheguei a atingir.

Porque terminar com ele faria melhorar.

— Quieto!

O comando explodiu contra o zumbido de estática nos


meus ouvidos. Tudo desacelerou. Minha mente apenas capaz
de compreender o furor de corpos correndo para mim. Tomei
consciência das armas apontadas em minha direção.
Lentamente, levantei. Pisquei os olhos através da névoa
de sede de sangue, tentei focar no enxame de oficiais pisando
através da porta quebrada, outros próximos ao redor do lado
da casa para me cercarem.

— Deite... no chão... mãos atrás da cabeça. — Um


gritou.

Lentamente, caí de joelhos, com as mãos levantadas em


sinal de rendição, antes de cair para frente e colocá-las atrás
da minha cabeça.

Oficiais me cercaram.

Meu rosto estava pressionado no chão, com a violência


esmagadora ainda correndo meu sistema.

Náuseas subiram.

Um joelho foi forçado entre meus ombros e meus braços


foram forçados para trás, onde algemas foram postas em
meus pulsos.

— Você está preso. Você tem o direito de...

A realidade do que fiz me atingiu.

Um oficial me puxou para cima, falando palavras que


pressionavam em meus sentidos.

— …Permaneça em silencio. Qualquer coisa…

Através do borrão de vozes e de dor e pesar, o meu olhar


nublado levantou para Jennings, que estava sentado em
ambos os joelhos, tentando ficar de pé. Manchas de sangue
em seu rosto.
Mas não houve nenhum choque em sua expressão. Sem
arrependimento ou preocupação.

Aqueles olhos vis apenas sorriram de volta para mim,


quando ele estendeu a mão para o meu telefone que estava ao
lado dele na grama. Ele havia caído do meu bolso.

Porra.

Ele virou o rosto para mim. E o quebrou em um milhão


de peças, mas o ponto vermelho ainda pode ser visto,
indicando que ele estava gravando. O bastardo sabia.

Arrepios subiram por todo o meu corpo, quando ele me


encarou com um olhar maligno.

Ele murmurou uma única palavra.

— Sim.

A admissão silenciosa de culpa que ninguém nunca iria


ouvir.

Então ele colocou o meu telefone no bolso de trás, fez


um gesto casualmente para as câmeras montadas na parede.

Câmeras provavelmente estavam dentro também.

Gostaria de saber quando você viria.

Jennings completou sua missão.

Tirar-me do caminho para que ele pudesse chegar a


Shea.

O papel falso pedindo a custódia de Kallie. Toda vez que


veio atrás de mim. Que ele me incitou, me provocando e até
seduzindo.
Ele eliminou Mark.

E encontrou a melhor maneira de retirar-me.

Shea estava certa.

Ele via suas fraquezas.

Sabia exatamente como destruir e arruinar.

Ele sabia que Kallie era a fraqueza de Shea.

E, sem dúvida, ele sabia que Shea era a minha.


Os risos de Kallie ricochetearam nas paredes da sala.
Atrevidos e vibrantes o suficiente para encher todos os
espaços doloridos dentro de mim. O suficiente para me
amparar e me encorajar, quando uma parte minha estava
quebrada.

Deu-me a coragem para afastar o medo sorrateiro, que


vai rastejando e se incorporando às nossas vidas.

O tipo de vida que sempre prometi dar à minha filha. Só


agora, aquela promessa estendeu-se a mim.

Afastei todos os pensamentos sobre Martin e sorri para


April, que colocava uma grande mecha de cachos atrás da
orelha de Kallie, minha preciosa filha que sorria para as
provocações que April fazia com ela.

— Ah, certo.... Eu vejo como funciona. Vocês duas


simplesmente vão me abandonar logo no momento em que
uma coisa boa acontece. — Minha melhor amiga balançou a
cabeça como se estivesse ofendida e colocou um pouco mais
das camisas de Kallie em sua mala.

Bati meu quadril em April, mostrando-lhe um sorriso


largo.

— Você sabe que vai adorar. Esta casa grande e antiga


só para você, por quanto tempo? Talvez seja hora de você se
divertir um pouco.

Enquanto estivéssemos longe, April poderia ficar aqui,


cuidando da minha casa.

Ela endireitou a pilha e acrescentou mais roupas,


balançando a cabeça, enquanto o fazia.

— Só se eu puder encontrar um homem em Savannah


que pareça ser tão bom quanto o seu.

Só a menção referente a Sebastian, meu batimento


cardíaco acelera e sinto uma vibração na barriga ao mero
pensamento dele me tocando novamente.

— Hum... você viu meu marido? Eu não acho que o que


você deseja seja possível.

Quase duas semanas se passaram desde a última vez


em que o vi. Todos os dias pareciam uma eternidade e o
próximo dia, parece ser ainda mais longo. Eles finalmente
terminaram a turnê e retornaram para a Califórnia há dois
dias. Logo de manhã, Kallie e eu iremos embarcar em um
avião para nos reunirmos a eles.

Sentimentos de antecipação e calor entrelaçaram-se


através do meu peito, num emaranhado de desejo e conforto.
Nunca teria pensado que um homem como ele poderia
ter-me fornecido ambos.

O homem forte e corajoso, contudo, ainda tão


impecavelmente sensível.

Deus, eu mal poderia esperar para me envolver na


segurança dos seus braços.

Nos últimos meses, ganhei outro melhor amigo. Também


ganhei de volta a minha confiança. Desde que voltei para
Savannah, redescobri a alegria. Um verdadeiro sentido do que
é uma família.

Mas era Sebastian quem havia proporcionado o sentido


da família.

Isso não significa que minhas emoções não estejam


divididas. Esta manhã, pulei da cama mais animada do que
estive em um longo, longo tempo e então esta tarde, caí de
joelhos e abracei uma colcha que minha avó fez contra o
peito, enquanto chorava. Deixar esta casa, mesmo que
apenas temporariamente, fez sentir como se estivesse
deixando um pedaço de mim para trás.

Mas todos os grandes relacionamentos necessitam de


sacrifício.

E eu faria esse, mesmo que fosse por um momento ou


uma vida inteira.

Eu esperava que acabássemos voltando aqui? Nessa


casa que eu amava mais que tudo? Com o som da voz de
Kallie e os risos das crianças que nós adicionaríamos à nossa
família ecoando através dela?

Sim.

Mas o amor que sentia por Sebastian era muito maior


do que qualquer outro lugar, porque não havia nenhuma
maneira do que, o que eu sentia por ele, pudesse ser contido
por paredes, pisos ou tetos.

April ria, enquanto organizava mais as coisas de Kallie.

— Legal. Vá e pegue minhas esperanças e em seguida,


estoure minha bolha por me trazer de volta à realidade. Que
amiga você é. Pega todos os bons rapazes e não deixa o resto
para nós, mulheres.

— Ha. Aquele pacote de meninos selvagens? Eles estão


longe de serem meus.

— Oh, por favor. — Ela revirou seus olhos castanhos


afetuosos. — Qualquer um daqueles caras iria andar através
do fogo por você. Quando isso aconteceu?

Fiz um gesto para Kallie que estava perdida em


concentração, enquanto estrategicamente embalava sua
mochila com coisas para entreter-se durante o voo.

— Eu tenho certeza que foi Kallie o que aconteceu. Ela


tem todos eles em suas mãos.

Todos os caras a adoram.

Seria estranho ficar com eles em Sunder, enquanto


Sebastian e eu resolvíamos as coisas? Eu deveria estar
preocupada que a estava trazendo para uma casa de festas e
obscenidades, expondo-a a coisas que ela não deveria ver?

Em algum nível, sim, mas em um nível mais alto, não.


Porque Sebastian disse que os caras estavam prontos. Eles
estavam de acordo com um novo conjunto de regras. Regras
essas que eles prometeram manter por causa da minha
menina.

E se nós decidirmos ficar em L.A., nós não vamos ficar


naquela casa por muito tempo.

Seria temporário, até encontrar um novo lar. Novas


paredes para criar um milhão de memórias preciosas. Novos
pisos para construir uma vida bonita e de tirar o fôlego.

Eu tinha fé em tudo.

Que a minha preciosa filha iria acabar ficando onde ela


deve estar. Comigo e Sebastian. Em uma família que a amava
acima de tudo. Na qual eu e Sebastian amávamos muito um
ao outro. Uma fundação indestrutível que nunca poderia ser
afetada ou derrotada.

A provocação saiu dos meus lábios.

— Tenho certeza que podemos bolar alguma coisa para


que você possa ter algum deles em suas mãos. Nenhum dos
caras são feios de se olhar.

Eufemismo do ano. Cada um deles possuía seu próprio


sex appeal, um apelo pessoal.

Ela bufou.
— Hum... não... e obrigada. Acredito que prefiro meus
meninos um pouco mais domesticados. Se eu não o
encontrar na biblioteca, então não o quero.

Sorri.

— Vamos lá... você não quer adicionar um pouco de


emoção a sua vida?

As sobrancelhas dela desapareceram atrás da franja.

— Você não quis dizer problema?

Eu rio alto. Minha melhor amiga era perfeita.

Meu celular tocou no meu quarto.

— Eu já volto, vou atender.

— Sem problemas. Eu e Kallie continuaremos


arrumando as coisas, não vamos, borboleta?

— Sim! — Ela disse sentada no chão, empurrando


tantos livros em sua bolsa quanto podia.

Passei a mão em seus cabelos e falei um suave ―eu te


amo‖. Nunca poderia dizer isso o suficiente.

Corri para o meu quarto. Uma pequena carranca


formou-se em meu rosto quando vi o número de Lyrik
iluminando a tela e senti um tremor inesperado sob meus
pés.

— Olá? — Eu respondi, um pouco hesitante, mas


nervosa.

— Shea. — Apenas o tom de sua voz fez meus joelhos


tremerem.
Eu e Kallie pousamos na Califórnia no sábado à tarde.
Anthony nos pegou no aeroporto e nos levou para a casa de
Sebastian em Hollywood Hills.

Minha testa recostou contra a janela e olhei para a


cidade que passava despercebida, em um borrão acinzentado
de cor e pavimentação que girava, formando uma nuvem
escura.

Minha menina sentou-se atrás de mim em sua


cadeirinha, seu olhar também vidrado na cidade, mas sua
curiosidade e as suas constantes perguntas estavam
ausentes de sua língua.

Em todos os lugares doíam, minha cabeça, meu


estômago e essa dor no meu peito que me fazia sentir como
se não pudesse respirar.

Meus pulmões entraram em colapso.

Direto dos escombros que se tornou a minha vida.

Por que ele fez isso?

Um silêncio insuportável encheu o carro. Perguntas que


imploravam para serem feitas estavam trancadas com a dor e
com o conhecimento de que nenhuma delas seriam
respondidas.

O clima era tão contraditório com o que eu imaginei a


menos de vinte e quatro horas atrás. Em vez do regresso a
uma casa feliz com risos e beijos, corações em êxtase, senti
como se esses sentimentos estivessem sendo esmagados.

Eu pressionei minha mão no estômago e tentei acalmar


a turbulência, a náusea que senti por dentro.

Simples, simples sonhos.

Por que, Sebastian?

Por quê?

Hesitação percorria o silêncio, e podia sentir a


preocupação evidente no olhar de Anthony que rapidamente
me olhava, em seguida, olhava para a estrada novamente.
Finalmente, ele falou, seu tom cheio de preocupação.

— Eu não sabia se você viria.

Eu me virei para olhar para ele. Meu queixo tremia.

— Como eu poderia não vir?

Na admissão, ele levantou os ombros, impotente, e


manteve ambas as mãos no volante.

— As pessoas lidam com as coisas de formas diferentes.


Ficam assustadas. Desistem. Eu não sabia se você viria.

— Como você pode pensar isso? Ele é meu marido. — As


palavras vieram em uma onda de veemência e o pensamento
de perdê-lo era mais do que eu poderia suportar.

E mesmo que Sebastian não fosse meu marido, mesmo


que sua noite de aniversário tenha se transformado em outra
coisa, eu ainda estaria aqui. Aqui com ele para lutar com
tudo que puder.
Assim como em algum lugar dentro de mim, eu sabia
que ele estava lutando por mim também.

Os lábios de Anthony pressionaram em uma linha fina e


sabia que era de tristeza. Ele a inclinou para baixo e limpou a
garganta.

— Por favor... não me leve mal. Eu vi pessoas falharem


quando eu menos esperava isso delas. Mas honestamente?
Eu ficaria surpreso... chocado, realmente... se você não
estivesse aqui.

Sua voz se suavizou e ele riu baixinho.

— Nunca pensei que Baz iria amar alguém do jeito que


te ama.

Ele olhou no espelho para Kallie e acalmou sua voz


ainda mais.

— A maneira como ele a ama.... Eu acho que isso foi o


que mais me chocou.

Ele olhou-me e em seguida voltou-se para a estrada, sua


garganta balançou quando ele engoliu.

— E eu sempre quis isso para ele. Mas me assustei


quando ele encontrou alguém. — Outro olhar suplicante. —
Alguém como você... iria torná-lo mais perigoso do que
nunca. Com o amor, vem a paixão, Shea e a paixão é
provavelmente a coisa mais forte que já vi. Sebastian é um
lutador até a morte. Ele sempre foi e sempre será assim. Faz
o que for preciso por aqueles que ama. Nós o aceitamos desse
jeito.
Meu sorriso estava cheio de tristeza e espanto, o meu
entendimento cem por cento claro. Eu aceitei. Mas isso não
significa que não tentei protegê-lo, porque isso também era
apenas uma parte de quem eu era.

Emoções me pressionavam em todas as direções, um


ponto de desespero cortou as palavras.

— Será que alguém descobriu mais alguma coisa?

O aceno de cabeça parecia de arrependimento.

— Não. Fomos todos surpreendidos por isso, Shea. Não


apenas você. Nós não pudemos entrar para falar com ele
ainda, e Kenny não acha que possa fazer isso até segunda-
feira.

Segunda-feira?

Ele hesitou novamente, olhando para Kallie, para a


estrada, então para mim. Como se o ferisse dizer. Analisando
se o que ele falasse pudesse me machucar mais.

— Apenas me diga. — Implorei, porque não queria ser


deixada no escuro.

Suas palavras foram medidas e tranquilas, como se


pudesse proteger meus ouvidos da magnitude delas.

— As acusações são ruins, Shea. Ele quebrou a ordem


de restrição indo até lá, o que é provavelmente a menor de
suas preocupações. É o assalto e a agressão. Arrombar e
entrar. Esses crimes que podem piorar tudo, especialmente
com seu histórico. Pela primeira vez, as perspectivas de
Kenny são sombrias.
Ele passou a mão pelo cabelo, em um misto de raiva,
frustração e preocupação.

— Esta vai ser uma batalha, que não estou certo de que
poderemos ganhar. — Tristeza atingiu todas as minhas
células. Invadindo todas as fendas.

Suas mãos apertaram o volante, sua voz profunda


invadiu o tormento.

— Mas as coisas que valem a pena? Elas são sempre


uma batalha, Shea. Tudo que é importante vem com um
custo. Nós nem sempre percebemos a verdade, porque nós
não lutamos pelas coisas que realmente importam para nós.
Na minha experiência, as melhores coisas vêm através da
turbulência. O que é forjada no fogo sempre sai mais forte.

Engoli um nó na garganta.

Sebastian era o fogo.

— Obrigada. — Sussurrei, apenas observando que ele


parou em frente a uma casa.

— É para isso que estou aqui. Tudo o que você precisar,


basta perguntar, ok?

Eu balancei a cabeça.

Anthony ajudou-nos a levar nossas coisas para dentro


da casa. Em um canto da minha mente, reconheci que ela era
incrivelmente bela, tão diferente dos traços elegantes e
modernas que previ. Em vez disso, era uma estrutura
impressionante e aconchegante, com janelas grandes e
escuras, de madeiras rústicas, um verdadeiro refúgio toscano
escondido por uma vegetação exuberante nas colinas.

Nenhum lugar dentro de mim era capaz de apreciá-lo.


Todos os lugares foram abatidos, acorrentados pelo medo e
pela perda que girava rápido e feroz, toda atrapalhada com
uma esperança que me recusava a abandonar.

Eu segurava-a apertado.

A única maneira que sabia como me manter firme.

Lá dentro, todos os caras estavam esperando para nos


receber, mas o humor era decididamente sombrio.

Zee me abraçou por um longo, longo tempo, seu aperto


tão cheio de simpatia que me fez querer ceder e chorar. Como
se percebesse isso, ele se afastou e pegou a mão de Kallie,
perguntando se ela queria ir para uma caminhada ao redor
da piscina e do jardim, atraindo-a com os variados tipos de
borboletas que ela iria encontrar.

Olhos atenciosos pousaram em mim, um olhar que


prometia que iria cuidar do meu bebê. Que ele estava me
oferecendo um alívio de um segundo no meio do tumulto. Um
momento para apanhar as peças que ainda estavam caindo
aos pedaços.

Com uma inclinação em seu queixo, Lyrik olhava com


tristeza e compreensão, encostado na parede com as mãos
enfiadas nos bolsos. Embaixo daquela calma, eu o vi. Um
brilho de malícia e de caos, o brilho em seus olhos escuros
junto ao medo e a raiva. Sem dúvida, ele estava louco para
sair e procurar Martin da mesma forma que Sebastian fez e
buscar sua própria vingança.

— Vamos, Linda Shea. — Disse Ash, sem nenhum


indício do flerte, que normalmente havia em suas palavras. —
Vamos levar suas coisas. Você deve estar exausta.

Eu estava.

Absolutamente exausta.

Emocionalmente.

Mentalmente.

Mas sabia muito bem que não conseguiria dormir.

Isso será uma batalha que não estou certa se poderemos


ganhar.

Eu o segui até o andar de cima. No topo das escadas,


havia dois corredores. Pegamos o da direita. Ash me levou
para um quarto no final do lado esquerdo, fechado com
portas altas e duplas. Ele girou a maçaneta e abriu a porta.

Sebastian.

Sua presença me atingiu como uma avalanche.

Inesperadamente surpreendida, o ar escapou dos meus


pulmões, completamente envolvida em um ar de sedução.

Avidamente, meus olhos digitalizaram o espaço. A luz


natural brilhava através das portas da varanda com vista
para a piscina, com as pesadas cortinas escuras
emoldurando as laterais.
A guitarra que tocamos juntos em nossa noite de
núpcias estava encostada na parede, ao lado da sua cama,
como se ele tivesse sentado contra a cabeceira de couro com
seus dedos tocando as cordas.

Pensando em mim.

Eu quase podia ouvir aquela voz linda enchendo o ar,


profunda e áspera, roçando minha pele, com o prazer de nos
perder no corpo um do outro.

Eu apoiei minha mão na parede para me manter na


posição vertical, chocada com o peso impressionante de tudo.

Ash me olhou com cautela.

— Você está bem?

Eu balancei a cabeça.

— Não.

Não havia razão para mentir, porque eu não estava bem.

Não de qualquer forma.

Ele balançou a cabeça, seu desconforto evidente em seu


rosto. Uma parte de mim queria rir, porque pensei que se eu
derramasse uma única lágrima, este roqueiro iria fugir.
Meninos como ele não se saem bem quando as mulheres
choram. Mas lá estava ele, sua expressão tão
descaradamente clara.

Ele desejava que houvesse algo que pudesse fazer. Uma


maneira de corrigir a bagunça que o próprio Sebastian
começou.
Sem aquela habitual grandeza ou arrogância, ele
gesticulou ao redor da sala.

— Este é o quarto de Baz, obviamente.

Parecia estúpido que eu sentisse falta da sua


arrogância, mas isso só aumentava a sensação de que tudo
estava faltando. Tudo faltando.

Sebastian.

Seu nome deu piruetas vertiginosas em minha mente.

— O banheiro fica ali. — Ash apontou. — O quarto de


Austin é do outro lado do corredor, e o meu é o primeiro à
esquerda, por isso estou aqui se você precisar de alguma
coisa.

Hesitou, antes de soltar uma respiração tensa para o


teto, então olhou para mim.

— Baz limpou o quarto de Mark para Kallie... é no final


do corredor oposto, a última porta à direita. A Kallie é bem-
vinda para ficar lá. Não tenho certeza, contudo, se está tudo
do jeito como vocês querem, e ainda está uma porra de uma
bagunça, mas ela pode ficar lá se quiser. Nós podemos ajudar
a limpá-lo. Ninguém foi até lá para terminar o trabalho.

Eu balancei a cabeça.

— Obrigada.

Ele torceu a boca para o lado.

— Não por isso.


Ele desviou e me movi, indo mais para dentro do quarto
de Sebastian para dar-lhe espaço para passar. Na porta, ele
parou de costas para mim, antes de virar-se lentamente.

— Quero que você saiba que é bem-vinda aqui, Shea.


Esta é a sua casa agora, por tanto tempo quanto você quiser
que ela seja, não importa o que acontecer com Baz.

Lágrimas ressurgiram em meus olhos, porque era tão


avassalador, a perda, o amor e o apoio inabalável que eles
mostraram um com o outro.

— Você é da família agora. — Ele bateu com os nós dos


dedos no batente da porta, como se estivesse se reafirmando.

Então ele desapareceu pela porta, deixando-me com a


solidão. Você acha que seria impossível para alguém tão
estéril sentir-se tão vivo.

Perdida, vaguei até a cama, com frio, alcancei o


cobertor, trazendo-o contra o meu nariz para sentir mais
dele.

Sebastian.

Eu queria estar com raiva dele. Amaldiçoá-lo por ser tão


imprudente.

Mas eu o vi, por quem ele era.

Protetor.

Inquieta, olhei ao redor da sala vazia, sabendo que eu


não poderia me sentar. Eu precisava fazer alguma coisa.

Com os nervos à flor da pele, prometi lutar.


Saí para o corredor vazio, de alguma forma atraída para
o quarto de Mark.

Ontem, eu e Sebastian trocamos mensagens. Mesmo


com o peso de Martin sobre os nossos ombros, nós estávamos
animados, flertando, provocando um ao outro e brincando,
enquanto antecipávamos estarmos juntos novamente.

A última mensagem que recebi dele foi preenchida com o


mesmo tipo de emoção.

Pronto. Encontrei para Kallie todas as coisas fofas para


o quarto dela. Irei surpreendê-la amanhã. Mal posso esperar
para ver o rosto dela. Começando a trabalhar. Te amo.

Nenhum aviso ou indicação de algo errado.

As pontas dos meus dedos iam tremulando ao longo da


parede, enquanto ia lentamente na direção do quarto de Mark
como Ash instruiu. O silêncio ecoou de volta como se a
enorme casa estivesse tranquila, sussurrando um aviso
silencioso. Meus passos abrandaram em apreensão ao
atravessar e cruzar para o corredor oposto.

No fim, havia uma pilha de sacos de compras fora do


quarto. Cheguei mais perto. A porta estava aberta. Segurando
na parede, espiei o interior.

Uma montanha de roupas estava empilhada no meio do


chão e alguns sacos pretos de lixo estavam cheios e
amarrados com um nó no final da cama.

Cautelosamente, eu entrei. Meu ritmo cardíaco estava


acelerado.
A luz silenciosa brilhava através das persianas, uma
espessa camada de poeira cobria tudo, a energia sóbria aqui
amargurava ainda mais do que todo o resto da casa.

Deve ter sido muito difícil para Sebastian vir aqui, meu
bravo homem bonito.

Meus olhos correram ao redor, tentando agarrar-me a


alguma coisa, um sentimento ou uma vibração do coração de
Sebastian que o trouxe até aqui, para longe das garras de
Martin.

Atravessando a sala, em direção a mesa, corri meus


dedos sobre as poucas fotos bagunçadas deixadas na
superfície, como se fossem coisas que Sebastian não pudesse
suportar se separar. Um sentimento de tristeza capturou meu
espírito da mesma forma que vaguei para o vazio da tragédia
que Mark deixou para trás. A ansiedade trouxe-me para
baixo, me virei e olhei ao redor da pilha de roupas e minha
atenção foi em direção ao armário, no qual uma única luz
ainda brilhava.

Olhei para dentro. A metade das prateleiras foram


esvaziadas.

Desconforto percorria os meus sentidos.

Um trabalho pela metade.

Respirei fundo sentindo uma vibração de inquietação se


agitando dentro de mim e timidamente dei alguns passos
para dentro do armário.
Caixas alinhadas no chão, algumas estavam espalhadas
no quarto como se Sebastian planejasse se livrar delas ou
armazená-las em outro lugar, e um par, ainda estava
guardada na prateleira.

Bem no fundo, uma caixa de plástico foi arrastada para


o chão do armário, com a tampa equilibrada ao lado. Na
frente dela, algumas fotos estavam espalhadas e um diário
estava virado de cabeça para baixo, com as páginas dobradas
como se tivesse caído.

Caí de joelhos, apertando as mãos, com a respiração


ofegante e estendi a mão e cautelosamente para pegá-lo.

Eu odiava a ideia de invadir a privacidade dele, muito


tempo depois que ele se foi, mas sabia que o que quer que
Sebastian encontrou, agora estava apertado em minhas mãos
trêmulas.

Outro pedaço de mim se partiu por um homem que eu


não conhecia, enquanto assimilava a desolação pura e
absoluta exalada das páginas. Página após página de
desespero e vergonha. O coração e a mente de uma alma
terrivelmente perdida.

Lágrimas reuniram-se em meus olhos e continuei


procurando. Nada. Nenhuma indicação do que levou
Sebastian em direção a um destino que sabia que ele não
queria.

Minha atenção voltou-se para as folhas finais, em um


lugar no qual sua caligrafia confusa tornou-se quase violenta.
Frenética.
Maldito Donny e sua grande boca.

Donny?

Um sentimento de desolação passou por mim,


provocando-me lampejos de reconhecimento. Olhos azuis
viciosos que nunca iria esquecer. Segurei o diário, lendo o
mais rápido que pude.

Sempre com essa maldita boca. Eu não quero saber. Eu


não queria ter qualquer parte disso. Eu sabia que Martin
estava doente. Ambos estavam doentes. Mas não tão doente.
Eu disse a Martin. Disse-lhe para ir para o inferno quando ele
exigiu o dinheiro que lhe devo. Eu disse-lhe que diria tudo o
que sei à polícia. Eu ia de qualquer maneira, o dinheiro que se
danasse. Eu sabia o que ele fez Donny fazer com essa menina.
Eu sabia o que ele queria que ele fizesse. Ela era uma ponta
solta. Um obstáculo. Apenas como eu. Chame-me de dedo-
duro. Eu não me importo. Deixe o idiota se queimar.

Essa menina.

Essa menina.

Essa menina.

Essa menina.

Meu Deus.

Essa era eu?

Um obstáculo. Uma ponta solta?

Esse sentimento afundou-me para ainda mais longe da


superfície, junto às águas enegrecidas que encobriam a
minha cabeça.
Virei a página. Toda a minha respiração presa na
garganta, tão grossa, apertada e sufocante. Tontura inclinava
a sala.

Donny se foi. Morto na água. Eu vou ser o próximo. Eu sei


disso. Sinto isso chegando. Estou com medo? Sim.
Aterrorizado, realmente. Eu encorajei Martin. O fiz acreditar
que vazei informações. Que eu o denunciei e a Lester à polícia.
Ele acha que eu o estou chantageando, mas eu não tenho
nada a não ser a palavra de Donny. E a palavra de Donny é
tão valiosa como uma puta de vinte reais. Minha única
intenção era frustrar os planos que ele tinha para ferir aquela
garota novamente. Só que desta vez, iria até o final. Doente.
Doente porra. Não poderia viver comigo mesmo se houvesse
alguma chance disso acontecer, então eu preferia morrer e
interromper. Acho que finalmente fiz alguma coisa na minha
vida que valeu à pena.

Horror e ódio colidiram em um cataclismo de medo


quando vi aquele nome.

Lester.

Eu sabia. Eu sabia. Eu sabia.

Eu caí para a frente, em minhas mãos e de joelhos


ofegando pelo ar ausente.

Sempre pensei que a ameaça que fiz, salvou a minha


vida e a de Kallie. Permitiu-nos viver do jeito que ele nunca
teria nos deixado. Mas agora eu me perguntava se era a coisa
mais estúpida que já fiz.
E Sebastian... ele é tão protetor, suportou tanta
vergonha, remorso e culpa pela perda de Mark. Um fator
incitador que poderia ser fatal. Uma combustão de faíscas,
chamas e gasolina que iria deixá-lo enfurecido.

Iria empurrá-lo do penhasco sobre o qual ele sempre


oscilou.

Volátil e explosivo.

Assim como Anthony reivindicou... pediu para eu


aceitar.

Sebastian nunca amou por amar.

Isso era o que Martin queria, não era? O que ele


contava?

Dividir e conquistar.

Isolar e sabotar.

Toda a sua intenção era levar Sebastian de mim. Para


me deixar mais vulnerável do eu já era.

Mal sabia ele que eu iria lutar contra ele até a morte.

Calafrios sacudiram por todo o meu corpo e tentei


engolir o caroço na minha garganta. Me abaixei e peguei uma
das imagens que estava virada para baixo no chão.

Minha mão disparou para a minha boca para cobrir


meu grito.

Meu Deus.

Meu Deus.

Mark, Austin, Donny e minha mãe.


Um grito profundo e gutural ricocheteou nas paredes do
closet, misturando-se com a tristeza que me devastava.

Eu olhei por cima do ombro.

Austin.

Ele agarrou ambos os lados da moldura da porta,


firmando seu espírito e seu corpo quebrado. A confissão
estampada, ele olhou para mim como se estivesse me pedindo
para enxergá-lo.

— É minha culpa. Sempre foi minha culpa.

Levantei-me para enfrentá-lo, firmando minhas pernas,


minhas palavras saiam desordenadas, enquanto as
derramava de minha boca. Eu estendi o diário.

— Austin... o que é isso? Diga-me o que você sabe.

Ele estremeceu como se a visão lhe causasse alguma dor


física.

— Nós sabíamos, Shea. Mark e eu... nós sabíamos.


Donny nos disse o que Martin disse para eles fazerem a você.

Eles sabiam.

Austin balançou a cabeça e riu com som rancoroso.

— Nunca houve qualquer tipo de prova, certo Shea? Os


babacas podem simplesmente continuar sofrendo e sofrendo
e sofrendo e nunca haverá qualquer prova. Mas Mark não se
importava. Ele disse que iria à polícia de qualquer maneira.
E, em seguida, Mark foi embora... Ele foi embora, Shea. —
Disse ele com toda a convicção que poderia invocar.
Meu Deus. Martin. Ele fez isso ao Mark.

Tudo ao redor girava e a vertigem se intensificava.

Austin não parava de chorar, palavras caíam para fora


dele como uma confissão que deveria ter sido realizada há
muito tempo.

— Baz encontrou todas essas coisas que Mark


mantinha... exigiu saber o que diabos eu sabia. Eu não
poderia esconder dele por mais tempo, Shea. Eu não podia.
Estou tão arrependido. Sinto muito.

Engoli em seco sobre a realidade do que Sebastian


encontrou. O que ele soube. Meu último segredo. O que não
contei, para protegê-lo.

Cambaleei em meus pés instáveis, incapaz de processar


tudo o que ele estava tentando me dizer. Meu foco só iria se
fixar em uma coisa. Mostrei uma das imagens para ele.

— Quando.... Quando essa foto foi tirada?

— Eu não sei... talvez um ano e meio atrás. Pouco antes


de Mark morrer.

Entre o clima pesado e o caos desorganizado no quarto,


e a descoberta catastrófica, senti a bile subir na minha
garganta. Minha pele fria e pegajosa.

Dei um passo desesperado para frente.

— Onde ela está?


O salto da bota de Chloe Lynn clicava no piso de
cerâmica onde andava aborrecida, com os braços cruzados
sobre o peito. Com uma calça jeans skinny de grife e uma
blusa leve. Sua mãe parecia equilibrada e pronta para
conquistar o mundo, enquanto Shea sabia que ela parecia
absolutamente horrível, seus olhos manchados de vermelho e
bochechas ressecadas de tanto chorar.

— Por favor, mamãe, eu preciso da sua ajuda.

Ela escondeu o máximo de tempo que conseguiu.

Quatro meses e não havia mais solução.

Shea viu a força do brilho desagradável de sua mãe.

Frio.
Abaixo dela Shea queria se encolher e diminuir, mas ela
recusou-se a ser essa garota por mais um dia. Já não ia mais
se curvar e se submeter.

Mas isso não significa que ela não tremesse até os


ossos.

— O que exatamente você quer que eu faça, Delaney?

Shea se encolheu, com a voz entrecortada.

— Não me chame assim.

— Por quê? Já é hora de aceitar quem você é.

— E se isso não for o que eu quero ser?

Shea se encolheu novamente, quando sua mãe riu,


amargo, baixo e sarcástico.

— É um pouco tarde agora, não acha? Você tem


contratos. Álbuns para gravar e turnês a cumprir. Você tem
obrigações. Não vou dizer nada diferente do que Martin lhe
disse. Respire fundo e aja como uma mulher. Limpe essas
lágrimas feias do seu rosto e cuide do que precisa ser cuidado
e terminamos com isso.

A dor atravessou o peito de Shea, algo físico acumulado


por muitos anos.

— Eu fiz tudo por você. Toda a minha vida desperdiçada


em aulas e perseguindo audições. Correndo cada vez mais
rápido, porque você estava bem atrás de mim, empurrando,
empurrando e empurrando.

— E você acha que agora que finalmente conseguimos o


que nós trabalhamos tão duro para conseguir, vou ficar
parada e deixar você jogar tudo fora? Você engravida e acha
que muda alguma coisa? Não vou deixá-la arruinar a minha
vida. De novo, não.

O rosto de Shea enrugou-se com o golpe.

— É isso o que eu fui? Um erro?

Finalmente, sua mãe a empurrou diretamente para o


chão.

Rindo como se Shea fosse completamente ignorante, sua


mãe balançou a cabeça e levantou a garrafa de vinho meio
vazia, derramando o líquido vermelho em seu copo vazio.

— Hora de crescer, Delaney. Limpe as estrelas dos seus


olhos. Todos esses sonhos sobre apaixonar-se e ter uma
família feliz que você sempre desejou, os absurdos com que
sua avó encheu sua cabeça? Não existem. Volte para Martin.
Ele está esperando por você.

Então, ela virou as costas e caminhou.

Shea ficou no meio da cozinha da sua mãe em Nashville,


o medo por seu filho e a perda da sua avó, quase fazendo-a
cair no chão em uma pilha quebrada. A opulência que a
cercava era por todas as músicas que Shea já cantou, o custo
de uma vida que ela não queria viver.

Naquele momento, ela sentiu o último fio de


compromisso com sua mãe romper.
Freneticamente, Shea arrancou as camisas dos cabides
e empurrou-os em uma mala que estava no chão no meio do
closet. Adrenalina e o terror, a esmagadora vontade de correr
percorreram suas veias.

Ele tentaria impedi-la. Sabia que tentaria.

Mas ela não deixaria.

Já era tempo e desta vez não havia como voltar atrás.

Ela ouviu o que não deveria. Martin fazendo um acordo


de negócios com Lester Ford, o homem de meia-idade tão
nojento como Martin. Tão pretensioso, falso, torto. Um dos
mais ricos de Nashville, reverenciado em seus círculos.

Agora Shea sabia melhor.

Ela sabia que seus negócios iam para o lado decadente,


mas não fazia ideia de como eram sórdidos.

Martin financiava a campanha de Lester com dinheiro


de drogas.

Tudo isso era uma fachada. Martin era nada mais do


que um traficante de drogas, enviando dinheiro para o oeste,
enquanto vestia um terno de cinco mil dólares.

Ele a pegou escondida, ouvindo. Martin a empurrou


contra a parede e apertou a mão em sua garganta e uma
arma ao seu lado.

— Você acha que sabe o que está acontecendo? — Ele


cuspiu. — O que você ouviu, você não vai dizer a ninguém.
Você entendeu? Eu fiz você. Você me deve e vou cobrar a
dívida. Você nunca estará sem mim, Delaney Rhoads. Eu.
Possuo. Você. Abra a boca e tudo o que você conhece e ama
desaparecerá. Você entendeu o que estou dizendo?

Petrificada, eu só consegui assentir.

— Eu vou garantir o seu silêncio. — Ele sussurrou toda


a ameaça com sua alma negra e suja.

Isso foi o que ele disse e foi aí que Shea decidiu não
esperar mais para sair.

Martin queria o dinheiro do contrato de gravação que ela


assinou. Os milhões que deveriam ter ido para ela, mas com
toda a sua ingenuidade, ela assinou contratos que
concederam praticamente tudo à sua mãe e ao Martin. Ele
devia esse dinheiro para Lester... precisava para cumprir uma
dívida.

Sua ameaça de sair foi devolvida com uma ameaça de


morte.

Ela realmente não achava que ele faria.

Ele a queria assustada.

Talvez ela devesse ter medo.

Ou talvez ela estivesse.

Mas ela recusava-se a ter esta vida.

Martin pensou que ela fez um aborto. Que se rendeu


como sempre fez.

Mas não.
Shea não seria mais prisioneira deste pesadelo. Ela
escaparia antes de a arruinarem mais e roubassem-lhe a
única coisa da qual valia a pena viver.

Shea encheu a mala quase ao ponto de explodir, caiu de


joelhos e resmungou, quando forçou o zíper a fechar, outra
onda de terror jogou adrenalina em seu sangue.

Desesperadamente, ela sussurrou para o bebê


crescendo em sua barriga:

— Eu vou cuidar de você. Eu prometo, vou ser a melhor


mãe que você poderia ter. Só você e eu.

Só você e eu.

Shea ficou de pé e tirou seu telefone do bolso de trás.


Ela só precisava ouvir uma voz sensata. Alguém para lembrá-
la de que ela não estava completamente sozinha no mundo
que ameaçava despedaçá-la. A garantia de que o que ela fazia
era certo.

Rapidamente, ela ligou para seu tio Charlie.

Ele respondeu ao primeiro toque.

— Shea Bear. — O alívio foi evidente em sua intensa


exalação. — Você está a caminho, querida?

— Quase…

Shea olhou em volta pelo armário, avaliando o que ela


poderia pegar no tempo que restava.

— Tenho que arrumar mais algumas coisas e então eu


irei. Devo chegar aí ao amanhecer.
A viagem de Nashville à Savannah era de oito horas.

— Tenha cuidado, menina doce. Estarei aqui,


esperando.

— Obrigada. — Ela sussurrou, essa declaração simples


cheia de tanta gratidão ao homem que ela sabia que a
salvaria dessa vida.

Ela terminou a chamada, arrastando a mala abarrotada


atrás dela para o quarto.

A luz do luar entrou pelas cortinas transparentes, a sala


escura estava em sombras, memórias e arrependimentos.

O olhar de Shea passou contra sua vontade para cama


luxuosa com lençóis acetinados. Seu estômago virou com
náuseas e com o pensamento de a ter compartilhado com
Martin Jennings.

Mas ela tiraria uma coisa boa desta terrível bagunça.

No final, o bebê era a única coisa que importava.

Ela agarrou a mochila grande que fez e atirou-a por


cima do ombro, manobrou a mala sobre o tapete grosso para
a cômoda contra a parede oposta.

Sua caixa de joias descansava em cima dela.

Estava cheia de diamantes, ouro e pedras, todos


símbolos dessa vida chamativa e falsa. Mas as únicas coisas
que ela queria eram as heranças que sua avó deixou, o
conjunto de anel e colar que combinavam, os quais seu avô
lhe dera no dia do casamento.
Ela abriu a última gaveta, que era especial, onde ela
guardava-os.

Um ruído soou do outro lado da casa. Com o som, ela


levantou a cabeça. Frio passou por sua espinha.

Então esse barulho foi eclipsado pelo puro agorento


silêncio.

Não.

Shea engoliu em seco e se virou lentamente, quando os


cabelos na parte de trás do seu pescoço levantaram-se.
Esticando seu ouvido, ela treinou sua atenção para além do
quarto.

Ouvindo.

O medo formigava como um flash de arrepios crescendo


em sua pele.

Ela podia sentir isso.

Cheirá-lo no ar.

O fedor do mal.

Algo perverso em seu caminho.

Do lado de fora da porta, as tábuas de madeira


rangeram. Arrepios vibraram incontrolavelmente através dos
seus membros e ela se inclinou para trás e esbarrou na
cômoda.

A caixa de joias chacoalhou.

Foi como se o som fosse o estopim.


A porta do quarto se abriu e seu coração decolou em
uma corrida selvagem e trovejante.

Haviam três deles, todos vestidos de preto, máscaras em


seus rostos, olhos selvagens olhando para ela através da
escuridão da sala. Lentamente, eles invadiram.

Um pequeno gemido tremia da sua língua, olhos


correndo entre os três. Um destacou-se dos demais, dando
um passo em frente e um grito chocado saltou da sua boca,
quando os olhos azuis maliciosos a encararam.

A feroz necessidade de proteger seu bebê disparou


através dela em um pânico de sobrevivência.

Ela se virou e correu pela porta do banheiro.

Tudo o que precisava fazer era chegar a essa porta e


trancá-la atrás dela.

Havia uma janela, uma janela para sua fuga.

Shea correu com tanta força quanto podia.

Mas o homem na frente foi mais rápido.

Ele agarrou-a pelos cabelos, pegando um punhado e


empurrando-a. No mesmo movimento, seu punho oposto
atingiu-a na têmpora.

A dor passou por sua cabeça e a escuridão chegou


acabando com sua visão.

Ela lutou pela consciência, com pouca consciência de


que ele a jogava no chão.
Mas de alguma forma, seu grande olho, sem piscar, viu
tudo com um olhar chocado, registrando tudo em câmera
lenta.

— Faça. — O homem responsável gritou seu comando


para os outros dois que ficaram boquiabertos, ela se enrolou
em uma bola.

Uma voz tão familiar.

— Faça! — Gritou novamente.

Os dois entraram em ação, rasgando as colchas da


cama que ela odiava e arrancando as cortinas das janelas,
puxando gavetas abertas e espalhando as roupas pelo chão.

O líder deu outro soco em seu olho e ela ofegou de


agonia.

Mas foi o pontapé em seu estômago que quase a matou.

Fisicamente.

Emocionalmente.

Certamente a dor foi profunda o suficiente para tocar


sua alma.

Shea lamentou.

Escuridão tentou leva-la e ela queria sucumbir, desistir,


mas ela sabia que não podia ceder.

Lute.

E ela lutou.
Ela se esforçou para trazer os joelhos, para proteger-se
com os braços e as mãos, o tempo todo orando com mais
força que já fez em toda sua vida.

— Não. — Ela choramingou. — Por favor.

Ela se concentrou para encontrar a força para enrolar-


se em uma bola apertada.

E o homem... ele chutou e chutou e chutou.

Espancaram-na até que ela pôde sentir os cortes e


feridas que ele infligiu em seus braços e pernas, sangue
escorrendo, formando trilhas pelo chão e enchendo sua boca
e seu nariz.

E ainda assim lutou até que ela ficou entorpecida.

Sentidos entorpecidos pela dor insuportável.

Fraco.

Porque ela perdia essa luta.

Os braços dela escorregaram e seu estômago deu uma


guinada quando foi atingido por um golpe direto.

— Não. — Ela gritou. Seu corpo se encolheu com a força


e ela puxou, rolando para o lado dela em um gemido
silencioso, a bochecha pressionada no tapete, sua barriga
doendo, quando vomitou no chão.

— Isso é o suficiente. — Disse ele, como se precisasse se


convencer.
O quarto continuou a girar com seu medo, com seu
ódio, com o choque evidente que parecia ter tomado suas
forças.

Ela observou com os mesmos olhos, sem piscar, como o


homem que bateu nela, passou por cima dela como se fosse
um pedaço de lixo descartado no meio do chão. Inclinando-se
na frente da cômoda, ele pegou algumas joias que estavam
espalhadas pelo chão, então agarrou o anel e o colar da sua
avó e enfiou-os no bolso.

Shea queria gritar, pedir-lhe para não tomar outra coisa


tão preciosa para ela, mas sua língua estava inchada e
grossa, as palavras ficaram presas em um grito mudo preso
em sua garganta.

Os três se afastaram e a porta dos fundos bateu.

Um estranho silêncio invadiu a casa.

Ele ecoou de volta sua rendição. A sonolência puxou a


sua consciência, a dor era muito grande. Ela queria fechar os
olhos e nunca mais acordar.

Não.

De alguma forma, encontrou a força para rolar até seu


estômago. Uma dor agonizante atravessou cada centímetro do
seu corpo, enquanto lutava para ficar de pé, mas ela não
aguentou e caiu de volta no chão.

Gritos choramingados saíram dela, enquanto arrastava-


se sobre os cotovelos por todo o quarto, a luz intermitente do
seu celular como um farol onde foi derrubado e chutado pelo
chão.

Seus dedos ensanguentados esticaram-se em direção a


ele, a centímetros de distância. Estavam tremendo...
tremendo. Visão turva. Mas de alguma forma ela conseguiu
fazer a chamada.

— 911... qual é sua emergência?

Não podia fazer nada além de chorar.


Eu bati no andar de baixo, segurando o endereço que
Austin me deu. Um frenesi acendia em meu coração, um
desespero tão profundo que podia sentir-me movendo através
das consequências.

Achei que era a mesma coisa com Sebastian ontem. A


necessidade inata de proteger e defender. Para corrigir os
erros que aconteceram há muito tempo.

Esses erros que começaram comigo sendo colocada aos


pés de um homem vil e vicioso. Eles caíram, alimentados
pelos erros cometidos ao longo dos anos. Deixando todos nós
suscetíveis à manipulação e ganância do mal de Martin.
Sobre a indulgência, auto ódio e o esmagador desejo de
encobrir a dor, Mark, Austin, e Sebastian eram prisioneiros
de seus próprios passados, que de alguma forma se fundiram
com o meu.

Mas desta vez.

Desta vez eu definiria corretamente.


Meus pés tocaram o chão da silenciosa sala de estar. A
janela que se elevava para o céu, proporcionava a visão
perfeita da linda piscina e dos jardins, onde minha filha
preciosa pulava de um pé para o outro na grama, cachos
loiros selvagens e livres, sorriso inocente enfeitando aquele
rosto querido.

Amada.

Zee estava com as mãos enfiadas nos bolsos, o menor


dos sorrisos insinuando o canto da boca, enquanto ele estava
cuidando dela.

Amada.

Esta criança que foi a razão de tudo. Um obstáculo no


caminho de Martin. Um que ele tentou eliminar ao me
recusar a aceitar sua oferta.

Quando pela primeira vez na minha vida, me recusei a


ceder.

Amada.

Emoção encheu meu peito. Muito pesado. Muito cheio.

Eu lutava para respirar, porque não sabia mais como


fazer isso sem Sebastian na minha vida.

Ele trouxe tudo o que nunca pensei que teria.

Simples, simples sonhos.

Corri para a cozinha e fiquei paralisada na entrada,


mãos lançadas para me sustentar. Lyrik e Ash ficaram de pé,
encostando-se no granito escuro da ilha, bebendo cervejas,
prosseguindo em uma miséria silenciosa diante do que
aconteceu.

— Carro. — A palavra saiu da minha língua com a


velocidade de um torpedo.

Lyrik se endireitou, franziu a testa. Ele esfregou as


costas da mão na boca tentando entender minha explosão.

Ash se moveu em direção a mim e colocou a garrafa no


balcão, olhando-me da mesma forma que olharia para um
animal selvagem que foi encurralado em um canto.

Honestamente, essa percepção não estava muito errada.

— O que está acontecendo, querida? — Ele perguntou


com uma ressurreição do seu sotaque arrogante.

— Eu preciso de um carro. Agora. — Não sobrava tempo


para explicações, não queria alimentar falsas esperanças, a
mesma esperança que queimava como um fogo ardente
dentro de mim.

Ash virou-se para Lyrik com um olhar perplexo, antes


de se virar para mim e com um encolher de ombros, ele
enfiou a mão no bolso e rapidamente me jogou um conjunto
de chaves.

O metal fez barulho quando os peguei no ar.

— BMW branca. Tenha cuidado com o meu bebê — Ele


gritou atrás de mim, quando corri.

Sem uma palavra de despedida, afastei-me da cozinha e


saí pela porta da frente. Minhas botas bateram contra o
concreto e corri pela rua de paralelepípedos, percorrendo todo
o caminho pela luz do alarme do carro, encontrando o M5
branco estacionado no final.

Destravei o carro e entrei.

O ronco profundo do poderoso motor vibrou e mudei de


marcha, engatando, totalmente desacostumada a usar
marchas. Eu não desistiria. Acelerei, encontrando tração. Ao
primeiro sinal de parada, liguei o GPS, colocando o endereço
no navegador.

Os nervos caóticos transbordaram, enquanto eu fazia a


viagem de 45 minutos no trânsito de LA, com o estômago
embrulhado.

A última vez em que a vi, estava no hospital, ataduras e


cintas seguravam os pedaços do meu corpo.

Eu sangrei.

Mas de alguma forma... de alguma forma Kallie foi forte.

Fiz uma declaração à polícia. Eu afirmei que Martin foi o


responsável, que reconheci Donny, essa certeza estava no
meu coração, que não foi um roubo aleatório como os
investigadores suspeitavam por causa das joias que
roubaram e a forma como o lugar foi saqueado.

— Garota estúpida. — Minha mãe gritou se inclinando


sobre mim.

Charlie saiu das sombras onde estava de guarda e


removeu fisicamente a irmã do quarto. Ele avisou que eu não
era mais sua preocupação e que ele cuidaria dela se alguma
vez ouvisse falar da sua irmã outra vez.
Talvez ela quisesse me insultar, mas certamente essa
garota estúpida salvou a minha vida. Embora não tivesse
nenhuma prova que Martin estivesse envolvido, assim como
Austin disse, ainda levantei a questão. Havia agora um
registro permanente em um arquivo com o nome dele. Estava
certa de que mantive a vingança de Martin por todos esses
anos.

Lágrimas incontidas rolaram, quando virei no


condomínio de prédios desgastados. Duas histórias tristes,
desbotadas paredes de tijolos brancos de frente para o
estacionamento. Uma grade de metal preta, barata, fixada no
segundo andar.

Empobrecidos e necessitados.

Estacionando o carro de Ash em um lugar vago,


desliguei o motor e freneticamente limpei a umidade do meu
rosto, funguei, tentando me recompor para enfrentar uma
mulher que eu tanto amava quanto odiava.

Agarrei a maçaneta e liberei lentamente a trava. Cada


célula do meu corpo trovejou com raiva, propósito e
determinação. Meu espírito estava uma bagunça, debatendo e
ruminando com o eco dos sonhos de uma menina e de um
coração confiante que queria tanto acreditar. Que confiava
tão silenciosamente.

Levantei meu queixo e forcei meus pés a irem para a


frente. Minhas mãos tremiam e agarrei o corrimão subindo os
degraus exteriores. Com cada passo que dava, meu coração
parecia que ia explodir no peito.
Pressionando.

Inquieta, olhei mais uma vez o chumaço de papel.

2706

Engolindo todo o nó na garganta, levantei meu punho.


Meus olhos apertaram num momento de indecisão, a mão
pairando no ar, antes de bater na porta.

Houve um farfalhar atrás da madeira fina, e me preparei


para o que iria encontrar. Sabia que o endereço era velho e
Austin só esteve aqui algumas vezes, mas eu precisava
aproveitar a possibilidade de que ela ainda vivesse aqui.

As dobradiças rangeram, a madeira raspou e uma fresta


da porta se abriu. Uma corrente de metal fina fixada cinco
centímetros da parte superior manteve a fresta da porta
aberta. Através da abertura, olhos castanhos estreitaram em
mim.

Aquele nó na base da minha garganta latejava.

Ela expulsou uma respiração resignada, antes da porta


se fechar e o metal arrastar quando liberou completamente a
trava. Ela abriu a porta e virou de costas, se afastando. Era
como se a minha presença não a afetasse tanto assim.

Ela se sentou no sofá que ficava de frente para onde eu


estava parada, horrorizada no meio da sua porta.

Tateando pelo maço de cigarros na mesa de canto, ela


inclinou a cabeça para o lado e acendeu um cigarro, o olhar
marrom nunca saiu de mim o tempo todo, as linhas ao redor
dos lábios apertaram, pernas e braços abatidos e frágeis.
Tristeza me envolveu. Minha mãe parecia desgastada
como o edifício em torno dela.

Ela respirou fundo, segurou o cigarro, levantou o rosto


para o teto e lentamente, soprou-o. Uma espessa nuvem de
fumaça se formou em uma névoa acima da sua cabeça.

— Já faz muito tempo. — Ela finalmente disse, jogando


as cinzas em uma bandeja.

— Já faz muito tempo? — Não consegui evitar que a


raiva tremesse através da minha voz.

Ela riu, um som oco.

— O que você esperava, Shea? Uma festa de boas-


vindas? Balões e confetes e um maldito bolo? Você sempre
teve a cabeça nas nuvens.

— Você está certa.... Eu acho que deveria esperar o pior.

Divertida, ela balançou a cabeça, palavras cheias de


sarcasmo.

— Ouvi dizer que você agarrou uma estrela do rock.


Essa é minha garota. Sempre soube que você era talentosa.

A menção de Sebastian cortou-me como uma faca e eu


agarrei a coragem para falar.

— Você não vai fazer isso. — Eu dei um passo para a


frente, enrugando a testa. — Você não vai rebaixar o que há
de bom na minha vida.

E Deus, tudo o que o rodeava era tão bom e muito,


muito ruim. Meu homem bonito.
O pensamento de viver sem ele era mais do que poderia
começar a suportar. O fato dessa mulher ter começado tudo,
anos atrás, tendo a responsabilidade parcial pela queda de
Sebastian, tornou tudo muito pior.

Minha boca tremia e lutei uma batalha inútil contra a


dor que brotava alta e rápida, uma onda de dor, rejeição e
devastação, subindo por minha cabeça. Respirei, sufocada
quando a compreensão caiu sobre mim.

— Isso é o que você sempre fez, não é? — Eu pisquei,


enquanto tentava vê-la. — Esse sempre foi o seu objetivo?
Pegar tudo o que era bom e puro e estraga-lo?

Ela zombou da insinuação e dei outro passo


impulsionada por anos de fúria, fervendo.

— Foi isso? — Eu exigi. Toquei meu peito, enquanto as


palavras saíam da minha boca. — Eu queria cantar e você
pegou o presente que me foi dado, algo bonito que me trouxe
alegria e transformou em algo feio. Eu queria crescer e me
apaixonar e você manipulou isso para algo desagradável e
obsceno.

Ela ficou com a expressão dura, postura e tom.

— Eu tomei o que era meu e transformei no que queria


que fosse.

Peguei o vaso barato com um buquê de flores mortas de


cima da mesa ao meu lado e arremessei pela sala.

Atenção.

Era isso que eu queria.


Por uma vez, queria que esta mulher me olhasse. Para
me ver como uma pessoa e não o bilhete para os seus sonhos
fodidos.

Estraçalhou na parede atrás dela, cacos de vidro e água


derramando no sofá e no chão.

As lágrimas borraram minha visão, com tudo o que


segurei por todos esses anos, esvaindo-se.

— Você os deixou me bater, não é? Você sabia e você os


deixou me machucar. Sua própria filha. Não é?

Abaixo de todo o seu exterior áspero, eu a vi recuar.

— Esses contratos que você me fez assinar? Eu sei que


você me explorou. Foi escrito para que você e Martin fossem
os únicos ganhadores financeiramente, enquanto eu estava
obrigada a permanecer sob o seu controle.

— E olhe para onde me levou. Depois de tudo que fiz


para você. — Ela cuspiu com puro desprezo.

Angustiada, engoli em seco e dei um passo para trás, a


dor antiga arranhando o meu peito.

Mamãe.

A minha alma gritou para ela, aqueles pequenos sonhos


de menina confusa com esta realidade doente. Eu tentei
muito. Eu dei a ela o meu máximo e ela apenas tomou e levou
o que pôde. Eu a amava de forma tão pura, confiando até que
a confiança provou o quão cego o amor pode ser.

— E sabe de uma coisa? Quando olho para trás, isso


não é o que mais dói. O que dói é ver como você virou as
costas para mim, quando eu mais precisei de você. Eu te
amei. — Eu balancei a cabeça, colocando-me nua, as
palavras sendo um amontoado de riso sem humor e cheio de
tristeza, meus sentimentos mais uma vez saindo livremente.
Mais uma vez completamente às minhas custas. — Eu acho
que isso ainda me faz uma tola.

Ela respirou fundo.

Com a ponta dos dedos, enxugo as lágrimas do rosto.


Mas outras lágrimas simplesmente continuaram caindo.

— Eu sei que você sabe que Martin voltou e tentou


destruir a minha vida. — Meu rosto se contorceu com o
pensamento. — E eu sabia que ele viria para mim antes...
que ele me machucaria quando eu menos esperasse e de
alguma forma... de alguma forma esse cara que eu nem
conhecia...

Mark.

Meu espírito sangrou por ele, rezando para que ele


finalmente estivesse em paz.

—...de alguma forma, ele parou tudo o que Martin ia


fazer.

As palavras foram difíceis com a implicação.

— E sei que você sabe que Sebastian, o homem que eu


amo com tudo que tenho... com tudo de mim... está sentado
atrás das grades agora, porque tentou me proteger. Porque
tentou proteger sua família.

Ela provou antes que não se importava com nada disso.


Família.

Fidelidade.

Sacrifício.

Mas minha avó, ela me ensinou a ver o melhor nas


pessoas. Para acreditar quando nada parecia valer a pena.

Levantei meu queixo tremendo.

— E eu sei que você sabe o suficiente para fazer isso


acabar. Se você já me amou... se você já se importou... se
você tiver um pingo de decência em você, você vai corrigir
tudo.

Kallie jogou a cabeça para trás, enquanto descia pelo


escorregador. Risos flutuavam na brisa suave, as árvores que
nos rodeavam farfalhando no ar fresco, enquanto minha filha
brincava no pequeno parque infantil na colina da casa do
Sebastian.

— Olhe para mim, mamãe!

Abracei-me sobre meu peito e coloquei um sorriso no


meu rosto, fazendo tudo o que podia para ficar de pé.

— Eu te vejo, borboleta. Você parece uma mocinha.

Ela desceu até o final, mal os pés tocaram o chão e ela


já corria novamente, subindo novamente as escadas para
escorregar.

O que eles dizem deve ser verdade.


As crianças são resilientes.

Foi comprovado no sorriso sem fim que enfeitou o rosto


da minha filha.

Na forma suave que ela me abraçou, nos momentos em


que eu achava que não suportaria mais um segundo.

Na maneira certa e indiscutível que ela prometeu:

— Tudo vai ficar bem, mamãe. Não chore.

Embora estivéssemos tão longe de casa.

Cercada por muitas pessoas, exceto pela pessoa pela


qual viemos aqui.

Enterrada em perguntas, agonia e esperança cada vez


menor de que Sebastian encontraria um jeito de voltar para
nós.

Seu espírito minúsculo exibiu a maior demonstração de


força.

Eu tentei desesperadamente me apoiar nele.

Fé.

Mas era difícil quando a única coisa que encontramos


foram obstáculos, contratempos e decepções.

Quatro dias se passaram desde que fui ver minha mãe.


Quatro dias depois que me afastei e não ouvi uma palavra.
Quatro dias de Kenny lutando, Anthony encorajando e todos
os caras fazendo tudo o que podiam para se levantar e ficar
em pé, tentando fazer com que eu e Kallie nos sentíssemos
em casa, quando eu nunca me senti tão sozinha.
Quatro dias de atravessar os movimentos. Quatro dias
de fingir que conseguiria fazer isso.

Nesse tempo, nem sequer consegui autorização para


visitá-lo.

Deus. Eu só queria ver seu rosto. Para tocar suas


linhas, suas curvas e suas cicatrizes. Para ver que ele estava
bem e então talvez eu pudesse ficar bem também.

A pior parte de todas? Também foram quatro dias de me


preocupar com o que Martin planejaria fazer, constantemente
olhando por cima do ombro, com medo de descobrir que
esses medos eram reais.

Mas ainda assim, de alguma maneira, ele com certeza


esperaria o momento certo. Recusando-se a atacar no meio
desta batalha pública.

Agora que fazíamos tudo o que podíamos para atacar


primeiro.

— Tenha cuidado, Kallie Bug. — Avisei quando ela


começou a subir uma escada de metal para a ponte, esticada
entre duas torres de brinquedo.

A partir da terceira parte, ela sorriu de volta para mim.

— Eu estou sendo tão, tão cuidadosa, Mamãe. Você


sabia que preciso aprender a subir bem alto no céu, porque é
onde as borboletas voam e estarei na escola das garotas
grandes? E eu não tenho medo de nada.

OK.
Acho que não deveria estar surpresa que mesmo com
tudo o que eu passava, minha filha ainda era capaz de trazer
um sorriso ao meu rosto.

— Ela é linda. — A voz rouca vinda de trás de mim


congelou o meu sangue e fiquei rígida, quando senti sua
aproximação, o instinto de proteção em alerta máximo.

Mas de alguma forma senti a resignação em seu passo.

A rendição.

Minha atenção permaneceu fixa em minha filha,


enquanto minha mãe se aproximou e veio para ficar
diretamente ao meu lado.

Mechas do seu cabelo pegajoso chicoteando pelo vento.

Nenhuma de nós disse nada por um longo tempo. O


silêncio trouxe toda a dor que ela causou, meu coração doía
de uma maneira que nunca doeu antes.

Sua voz falhou no ar de dezembro.

— Eles nunca deveriam te machucar.

Meu corpo tremeu com as suas palavras.

— Eu nunca autorizaria isso. Eles deveriam apenas


sacudir você. Assustá-la para você tomar a decisão certa.

Meus olhos fecharam-se, como se pudessem me


proteger dessa brutalidade.

Ela sabia.

Mas eu já sabia disso, não é? Ainda assim, a


confirmação me atingiu como a picada de uma chicotada.
Algo impotente infiltrou em seu tom.

— Até então, eu estava atolada. — Sua boca apertou


como se a confissão fosse amarga. — Me meti em coisas que
eu desconhecia, mas quando percebi o que acontecia, já era
tarde demais.

Minha cabeça balançou, rejeitando qualquer


justificativa.

Ela olhou para mim como se pudesse ler meus


pensamentos.

— Eu não estou dizendo que isso é desculpa, Shea.


Estou aqui assumindo a responsabilidade pelo que fiz.

— Porque agora? Por que ele veio atrás de mim, agora?

Ela voltou sua atenção para longe, de volta para a


minha filha, como se ela não pudesse olhar para mim,
enquanto falava.

— Martin Jennings sempre te viu como uma ameaça.


Como um fio solto que precisava ser cortado. Com tudo o que
eu já passei com ele todos esses anos, meu palpite é que,
quando descobriu que você estava com Sebastian Stone, ele
pensou que era hora de agir. Martin não ficaria de lado e
esperaria para ver o que aconteceria entre Sebastian e Mark.
Ele não sabia o que Mark revelou a ele ou a qualquer outra
pessoa. Não sabia se Sebastian procurou você por causa de
algo que Mark lhe dissera. Martin precisava terminar com o
seu relacionamento com Sebastian de qualquer maneira. E
qual melhor maneira de te afastar do que através da sua
filha?
Ela balançou a cabeça.

— Martin adora amedrontar, controlar as pessoas dessa


forma. Ele tem prazer com isso de uma forma doente.

Um bufo de incredulidade disparou do meu nariz. Como


se eu não soubesse disso.

Sua voz se espalhou através de mim como gelo, quando


ela continuou.

— Mas não se engane. Ele lidaria com você se não fosse


pelo fato de que ele não sabia, se ou o que, você confidenciou.
Ou se você não tivesse feito essa queixa à polícia.

Eu a olhei com um olhar cheio de ódio antigo.

Ela entendeu imediatamente.

— Sim... disse que era estúpido. O que você fez foi


estúpido. Tentando sair, quando ele hesitou em feri-la. Mas
deu-lhe a alavancagem que ele não antecipou. Ainda assim,
não há dúvida do que não o impediu de planejar...
conspirando e descobrindo como apagar a ameaça que ele via
em você. Até que aquele garoto, Mark, se deparou com isso.

Ela bufou como se tudo não fosse grande coisa.

— Ele teria me demitido há muito tempo se não


acreditasse que eu era tão suja como ele. — Um riso
autodepreciativo rolou dela como um pedágio de morte. — E
eu não vou negar que sou.

Fiquei ali com tudo girando. Tentando envolver minha


cabeça em torno do que minha mãe falou, para onde toda a
ganância e o egoísmo nos levou.
Kallie desceu o escorregador e minha mãe sufocou um
soluço, dando início a uma mudança total de
comportamento.

— Eu fiz tanto mal. — Amargura apareceu. — Acredite


em mim, eu recebi tudo o que mereço. Não tenho nada. Nada.
Nenhum centavo desse maldito dinheiro que eu tanto queria
e com certeza não tenho a família que não sabia que
precisava. Mas é tarde demais e agora não terei mais.

Olhei para ela, vento fazendo arder as lágrimas que


molhavam meu rosto.

Ela encontrou meu olhar, de queixo levantado.

— Minha própria filha estava no meu lixo de


apartamento e exigiu saber se eu alguma vez a amei... se
alguma vez me importei. Você quis saber se sobrou alguma
decência dentro de mim. A verdade é que nunca houve muita
coisa.

Sua voz tornou-se baixa e fraca.

— Mas eu amo você, Shea. Sempre amei. Só que isso


ficou em segundo plano, contra tudo que pensei que teria e
depois ficou completamente esquecido quando meus dias
passavam, apenas tentando sobreviver a uma vida deplorável.

— Tudo que sempre quis foi fazer você se sentir


orgulhosa.

Ela balançou a cabeça lentamente.

— E você estava certa. Eu errei nisso também. E agora


chega de errar.
Melancolicamente, ela virou-se para assistir a minha
filha, que ria e brincava, antes de olhar para mim, com a
expressão extremamente triste.

— Você é a única coisa verdadeiramente bela que já fiz.

Eu prendi a respiração. Então por que cada ação dela foi


oposta? Eu queria gritar, por quê? Por que ela era tão vil,
quando eu teria alegremente lhe dado tudo?

Ela limpou a garganta e se endireitou.

— Eu vou sair daqui e vou direto para a delegacia. Vou


me entregar. Direi cada coisa que sei, todos os nomes e cada
detalhe. Vou para a prisão, Shea. Isto é, se eu chegar lá.
Imagino que Martin chegará a mim mais cedo ou mais tarde.
Eu só queria que você soubesse.

Senti algo dentro de mim se fragmentando, mágoa


antiga e ressentimento se libertando. Sua declaração me
trouxe tanto alívio, mas não havia satisfação.

Nada amenizava o que ela fez. O perigo em que colocou


a própria filha, pior de tudo, permitindo isso ano após ano.

Ela poderia ter parado isto há muito tempo.

Kallie de repente veio pulando para nós, os cachos loiros


uma bagunça, seu sorriso, a força mais brilhante.

— Mamãe!

Ela agarrou minha mão, balançando nossas mãos,


enquanto examinava a mulher que fez de tudo para tirar sua
vida.

— Oi. — Ela exalou com toda a curiosidade infantil.


Minha mãe sorriu para ela.

Suavemente.

Lampejos de memória me atingiram, pensei que talvez...


talvez ela alguma vez tenha olhado para mim dessa maneira.

— E qual é o seu nome? — Minha mãe perguntou,


quando se abaixou para ficar ao nível dos olhos da minha
filha.

Com uma pitada de timidez em seu tom ela respondeu:

— Eu sou Kallie Marie.

— Bem... é uma honra conhecê-la, Kallie Marie.

Chloe Lynn não se apresentou para Kallie como


qualquer pessoa, não como minha mãe, a avó ou uma amiga
perdida há muito tempo.

Porque tanto a minha mãe como eu sabíamos que Kallie


não a veria novamente.

Por um segundo, minha mãe tocou o rosto da minha


filha, hesitante, antes de ficar de pé.

A tristeza abalou cada vinco em seu rosto.

— Adeus, minha estrela brilhante.

Então ela se virou e foi embora.

A noite apareceu e eu a vi da varanda do quarto de


Sebastian. As luzes da cidade cintilaram, brilharam e se
espalharam por todo o vale, a piscina abaixo em uma
mudança lenta de cores, o zumbido agudo de insetos que
flutuavam no ar fresco da noite.

Um frio soprou toda a minha pele. Grossos fios do meu


cabelo e o material sedoso da minha camisola ondulavam na
brisa suave. Do mesmo jeito que as cortinas cintilantes
ondulavam, penduradas dentro do quarto com as grandes
portas francesas abertas, permitindo diminuir a escuridão lá
dentro.

Meu espírito se agitou e agarrei o corrimão, quando


levantei meu rosto para o céu e enviei uma oração silenciosa.

Um agradecimento.

Minha filha estava segura e dormia no corredor oposto.

Protegida.

Permanentemente.

Graças a minha mãe, a pessoa que me fez tanto mal e


causou tanta dor, Martin Jennings, já não seria mais uma
ameaça contra a minha filha.

Já não seria uma ameaça contra mim.

Ontem, um mandado foi emitido. O DEA (Administração


de Repressão às Drogas), vasculhou cada centímetro
pretensioso da sua casa.

Três horas depois, ele foi preso.

Fraude, roubo e tráfico.


Estava tudo lá, escondido em cofres, arquivos e
computadores.

Homem arrogante e estúpido.

Kallie e eu estávamos livres.

Mas meu coração... meu coração estava preso. Ligado ao


único futuro que podia ver.

O vento assobiava irritado e me golpeava.

Arrepios percorreram a superfície da minha pele como


uma onda de energia.

Pressionando completamente.

Consumindo.

Minhas mãos apertaram o corrimão e meu corpo


balançava. Meu ouvido inclinou-se para o clique silencioso de
uma porta e meu pulso aumentou, quando passos
atravessaram o chão do quarto.

Lento e cheio de severidade.

E eu podia sentir isso. Tudo o que ele era. Tudo o que


eu queria que fôssemos. De pé, bem atrás de mim.

Engoli em seco, olhando por cima do meu ombro para


ver este homem magnífico.

Meu homem magnífico.

O peso do seu olhar era irresistível, aqueles estranhos


olhos cinzentos fixos em mim.

A escuridão se agarrava às curvas definidas do seu


rosto.
Todas as linhas duras e a beleza misteriosa.

Meus olhos o acariciaram, levando tudo dele, a maior


parte impressionante do seu corpo imponente, olhando
lentamente através dos seus lábios cheios, lábios que eram
um pouco tortos de um lado, voltados para a velha cicatriz
que dividia sua sobrancelha direita e um outro traço na parte
inferior do queixo. Havia uma nova cicatriz no alto da sua
bochecha esquerda, uma fila de pontos como prova da sua
lealdade a mim.

Não, esse homem não era perfeito.

Era bonito, escuro e um pouco assustador.

Aquele que liderou a cadeia de eventos que finalmente


nos libertou.

— Você me vê, Shea? — A rouca pergunta golpeou meu


corpo inteiro.

Poderoso.

Inflexível.

Uma força que nunca resistiria.

Eu pensei não ter tempo para distrações. Nenhum lugar


para interferências ou perturbações na vida de Kallie e na
minha vida isolada, solitária.

Mas ele era o único que não sabia o que o esperava.

Lentamente, me virei. Meu corpo estava iluminado pelo


luar e Sebastian permaneceu obscurecido nas sombras que
flutuavam como estroboscópios através de um rosto
deslumbrante.
— Sim. — Sussurrei, engolindo toda a emoção.

Eu nunca vi alguém tão claramente.

A pessoa que estava disposta a me dar tudo.

— Não pedirei desculpas. — Sua voz era rouca e seus


olhos brilhavam. — Fiz isso para você. Teria morrido por
você. Matado por você. Apodrecido naquela cela, se fosse
necessário. Se isso significasse que você e aquela garotinha
estavam seguras.

Ele estava disposto a desistir de tudo por Kallie e por


mim, para que pudéssemos viver em paz.

Assim como minha mãe fez.

Depois de tudo, ela se ofereceu e conscientemente,


tomou o lugar de Sebastian. O Estado retirou todas as
acusações contra ele no final da tarde, quando as provas que
minha mãe forneceu foram contundentes contra Martin.

Kenny Lane arrumou uma forma de justificar o nosso


lado e fez uma defesa, citando uma série complicada de
autodefesa. Para manter Kallie longe do frenesi da mídia,
Anthony pegou minha mãe e a levou para sua casa para
tomar banho e mudar suas roupas imundas.

E, por isso, Sebastian agora estava aqui.

Alguns diriam que poderia ser um pouco tarde demais.

Que os atos que ela cometeu foram imperdoáveis.

Mas eu não diria isso.


Onde há arrependimento, há sempre espaço para
misericórdia.

Não.

Eu não a visitaria ou forjaria laços quebrados há muito


tempo.

Mas não me apegaria mais a amargura e a tristeza.

Eu darei graças e deixarei passar.

Sebastian deu um passo das sombras para a luz.

Deus.

Pensei que não havia um homem mais brutalmente


belo.

E era verdade. Mas essa beleza selvagem era muito


maior do que a superfície. E eu não apenas vi isso. Eu
experimentei isso.

Lealdade desinteressada.

Fidelidade impecável.

Esse homem poderoso, voluntariamente tornou-se


vulnerável por nós.

Meu coração batia freneticamente. Descontroladamente.

Um estouro de desejo e um ataque de luxúria.

Devoção e paixão.

Absolvição.

— Venha aqui. — Ele ordenou, voz baixa e sedutora.

Como se eu pudesse dizer não.


Lentamente, me aproximei. Inalando. Expirando.
Respirando ele. Respirando-me.

Ele segurou meu rosto, o polegar acariciando o ponto de


pulso em meu pescoço.

— Shea.

Assisti-o engolir lento em sua garganta, dando um passo


para trás e olhando para mim, com as mãos reunindo o
material de seda da camisola em meus quadris. Lentamente,
retirando-a. O ar frio em minha carne nua. Meu cabelo caiu
em ondas em torno dos meus ombros se espalhando sobre os
meus seios.

Arrepios se espalhando, o homem conseguindo me tocar


em todos os lugares, mesmo quando não estava me tocando.

Um suspiro afiado saiu de mim, quando ele me pegou,


um braço em volta da parte inferior do meu corpo e o outro
contornando minhas costas para agarrar o meu pescoço.

Envolvi minhas pernas em volta da sua cintura.

— Shea.

Essa linda e bonita boca inclinada sobre a minha.

Selvagem.

Cru.

Implacável.

Exigindo língua e beliscando com os dentes.

Ele derramou seu desespero em mim, alívio, salvação e


libertação.
Seus beijos nunca cessaram e ele me carregou pelo
quarto com cuidado e me colocou no centro da cama.

Minhas mãos agarram os cobertores e eu arqueie.

Lentamente, Sebastian começou a se despir.

Ele tirou os sapatos e a camisa. Musculo e força


cobriam toda aquela pele gloriosa e ele me olhava de cima
abaixo.

As palavras que caíam da sua boca escorriam como


sexo.

— Cada fantasia que já tive está bem aqui. Minha


esposa nua e contorcendo-se na minha cama. Molhada para
mim. Morrendo por mim.

Eu estava queimando, absolutamente.

Ele desabotoou a calça jeans, levando sua cueca junto.


Necessidade torcia minha barriga com a visão dele.

Sebastian rastejou sobre a cama e se sentou entre as


minhas coxas. Ele juntou as mãos e pressionou-as na cama
sobre a minha cabeça.

Ele olhou para mim.

Caindo.

Estava com tanto medo de onde eu iria pousar.

Mal sabia eu que cairia para sempre na segurança dos


seus braços.

Guardada, adorada e nunca tocando o chão.

Nadando em um mar de escuridão e luz.


A felicidade eterna.

Ele juntou meus pulsos em uma das mãos. Com a


outra, arrastava os dedos em meu rosto, passando pelo meu
pescoço e pelos meus seios que apertaram e formigaram com
necessidade.

Essa mão flutuou mais a baixo, pressionando entre as


minhas coxas, os dedos encontrando meu sexo escorregadio.

Eu tremia e um pequeno gemido retumbou pela minha


garganta, a intensidade daqueles olhos conhecedores
queimando-me.

Ele agarrou-se, alinhando-se no meu centro, o empurrão


da cabeça grossa do seu pênis enchendo-me com fogo.

Todos os meus nervos ficaram vivos.

Sebastian desviou o olhar e lentamente empurrou para


dentro de mim. Tão cheio que ele roubou meu fôlego.

Então, meus lábios se separaram com força.

Sebastian se acalmou, corpo rígido se segurando.

Gritando silenciosamente a promessa.

Para sempre.

E eu senti isso.

Conclusão pura e absoluta.

— Shea— Ele disse de novo, antes de começar a se


mover.

Desenfreado e apaixonado.
O suor escorria em nossa pele. Grunhidos alimentados
com o crepitar do ar.

E eu sabia.

Sebastian me marcou da mais bela forma.

Pontadas de prazer iluminaram meu corpo e Sebastian


me deixou em êxtase.

Gritei seu nome e ele gritou o meu, quando nós dois


caímos naquele êxtase ofuscante.

Lutando por ar, ele deixou cair sua testa na minha.

Meus braços cercaram seu pescoço, abraçando-o com


força.

— Nós conseguimos. — Sussurrei.

Sebastian levantou com a sugestão de um sorriso,


deslocando seu peso para o lado.

Sua grande mão se espalhou por minha barriga.

— Conseguimos.
Corri para cima da colina íngreme, limpando o suor da
minha testa, enquanto voltava em direção a casa. Ansioso
demais para voltar para as minhas meninas após a corrida.

No alto, os pássaros gorjeavam no silêncio das árvores,


os ramos estendidos e mesmo que estivesse perto do inverno,
ainda sombreava tudo em seu caminho, pequenos dardos de
luz solar as atravessavam.

Eu inalei a calma.

Pela primeira vez na vida, finalmente me senti em paz


total.

Passaram-se três dias desde que fui solto e nós


finalmente enviamos Martin direto para o inferno.

Exatamente onde ele sempre deveria ter estado.

Entrando em longas passadas pela porta da frente,


deixando o silêncio para trás.
A luz da tarde sangrava através das janelas, a ampla
sala de estar, iluminada como uma tocha, lançando aos
cantos, nichos e corredores em sombras.

Virei para chegar às escadas.

Parei em um sobressalto, quando vi uma figura solitária


sentada no primeiro degrau da escada.

Moletom com capuz puxado até a sua cabeça, braços


abraçando os joelhos dobrados contra o peito, pés plantados
no chão, enquanto ele lentamente balançava.

Austin.

Uma enorme mochila estava no chão na frente dele.

Quando ele me viu, levantou a cabeça.

Sua dor me atingindo.

Louco que mesmo com toda a paz e com o propósito


agora em minha vida, pensar em meu irmãozinho ainda
provocava um sentimento de devastação.

Ele lentamente se levantou, quando me aproximei.

— Austin. — Murmurei baixinho, sentindo a pergunta


que saiu com o seu nome. Desconforto me atingindo.
Atiçando algo feroz e protetor dentro de mim.

Ele engoliu em seco e seus olhos cinzentos se


encontraram com os meus.

Remorso.

Vergonha.

Tristeza.
Meu coração titubeou e apertou. Inquieto, meu olhar
caiu para o macaco de pelúcia esfarrapado que ele agarrava
em sua mão, ao seu lado.

Merda.

Esse garoto... um garoto incrível, porra.

— Austin. — Eu disse novamente. Desta vez com


cautela.

Sua boca tremia, quando ele engasgou através do riso


angustiado.

— Sabia que você escondia isso em algum lugar.

Uma lágrima escorreu do canto do seu olho. Na raiva,


ele a secou.

— Toda a minha vida, vivi na culpa. Foi a única coisa


que senti por muito tempo, quase não reconhecia qualquer
outra coisa.

— Aust....

— Deixe-me terminar, Baz. Você precisa ouvir isso.


Talvez tanto quanto eu.

Sua boca abriu, mas as palavras ainda eram hesitantes,


antes de conseguir falar.

— Perder Julian matou algo dentro de mim, Baz.

Firmemente ele me olhou.

— E sei que você o amava. Eu não estou prestes a


menosprezar isso. Sei que você o amava da mesma maneira
que você me ama. Mas não acho que você pode entender o
tipo de vínculo que me foi cortado naquele dia. O pedaço meu
que morreu com ele, porque ele era uma parte viva de mim.
Todos esses anos procurei por algo... qualquer coisa para
preencher o vazio que ele deixou. Então, fiz qualquer coisa
para mascará-la, quando percebi que esse vazio não iria
embora.

Porra.

Eu queria ir até ele.

Abraça-lo e tirar sua dor.

Da mesma maneira que eu tentava fazer há anos.

Observando a maneira como seu corpo inteiro


estremeceu quase me arruinou. Mas me mantive calado,
respeitando o que ele pediu.

— Tudo o que fiz foi empilhar mais culpa. Cada decisão


que tomava apenas feria alguém. As mentiras que eu disse.
Os segredos que mantive.

O desgosto alinhou em seu rosto.

— Desde meus oito anos, fui dependente de você. Você


tomou esse fardo e usava isso como um encaixe, e
simplesmente deixei, porque achei que você não tivesse mais
nada.

Ele olhou para o teto.

— Então Shea apareceu e, finalmente, deu-lhe algo pelo


que realmente vale a pena lutar. Alguém que iria apreciar
isso. Alguém que lhe dá tanto quanto ganha. Isso me fez
perceber o quanto mais está lá fora, Baz. Tudo o que estou
perdendo e tudo o que lhe custou eu estando aqui. Shea e
Kallie... elas merecem tudo de você.

Seu olhar caiu para a bolsa no chão.

— Eu tenho que ir.

Tristeza e angústia me sufocaram.

— Não, Austin. Você precisa saber que significa tudo


para mim. Só porque minha família cresceu, não significa que
não há espaço nela para você. Eu não posso suportar a ideia
de você me deixar.

Um sorriso sombrio apareceu em seu rosto.

— Não vou deixar você, Baz. Só está na hora de eu me


encontrar. Disse a você antes, a maneira que Shea olha para
você? Algum dia... algum dia quero que alguém olhe para
mim da mesma maneira. E quando ela fizer, eu quero ser
forte. Alguém que poderá sustentá-la da maneira como você
faz por Shea. E eu não sou esse cara, Baz. Ainda não. Não
sou nada além de uma criança pequena destruída, vivendo
dentro deste corpo, tentando fingir que sou um homem.

As palavras estalaram.

— Preciso encontrar uma maneira de me tornar um


homem ou não vou conseguir. Não posso continuar vivendo
assim.

A expressão em seu rosto me doía como se tivesse uma


lâmina cega me esfaqueando, esse garoto mostrando tanta
esperança inocente e uma porra de dor experiente.

Desejo desesperado.
Assusta-me para caralho pensar nele lá fora por conta
própria nesse mundo fodido.

Mas finalmente entendi. Era o que ele estava tentando


me dizer antes.

Meus pés estavam pesados, quando dei dois passos para


frente e puxei meu irmãozinho em meus braços. Austin
soltou um suspiro e enterrou o rosto no meu peito. Passei
meus braços em torno da sua cabeça, ele se agarrou a minha
cintura e apenas chorou, soluçando.

Por um segundo, parecia que eu estava segurando


aquele mesmo menino de oito anos de idade, chorando
naquele dia. Naquele dia devastador, quando tínhamos
perdido tudo. O dia em que tudo foi à merda e sabíamos que
as coisas nunca seriam as mesmas.

Assim como sabíamos agora.

As coisas nunca seriam as mesmas.

Finalmente, ele rompeu nosso abraço, olhos vermelhos,


obscuros e turvos.

Austin fungou e agarrei-o pelos lados do pescoço,


apertando para enfatizar.

— Não importa onde esse mundo leve você, não importa


aonde você vá, eu sempre vou ser a sua casa.

Ele agarrou meus pulsos.

— Eu sei.
Dando um passo para trás, ele se inclinou, agarrou sua
bolsa e passou a alça por cima do ombro, ainda agarrando o
macaco desgastado em seu peito.

Seu olhar estava abatido, quando ele se afastou de mim.

— Só... — Eu chamei, este velho pedaço de mim se


libertando, como se estivesse rasgando. Como se esse garoto
precisasse levar uma parte de mim com ele.

E Deus, se era isso que precisava para ele finalmente se


libertar do passado, então eu deixaria.

— Mantenha contato. — Eu finalmente disse. — Preciso


saber que você está bem. Onde você está. Para minha própria
sanidade.

Por um momento, ele parou com a mão na maçaneta da


porta, antes dele se virar para me olhar por cima do ombro.

O sorriso que projetou era suave e grato e de alguma


forma resolvido.

Então baixou a cabeça em um aceno e meu irmãozinho


saiu porta afora.
Parei no meio-fio e desliguei o motor. Um conjunto de
estrelas pairava no céu escuro. Elas espreitavam através dos
ramos espinhosos adornados com as poucas folhas restantes,
que há muito, ficaram vermelhas e douradas, aquelas árvores
altas se estendendo para arrastar o alto beiral da casa branca
histórica, que descansava no coração de Savannah.

A sensação de conforto e tranquilidade me acolheu.


Como se tudo o que estava errado de repente se tornasse
certo.

Você pensaria que depois de anos de viagens na estrada,


vivendo em uma maldita Van, tentando vencer, cinco dias
não deixariam um homem com saudades de casa.

Você estaria errado.

Luzes brilhavam de dentro das janelas da casa velha


majestosa. A visão do balanço na varanda onde passei muitas
noites esfregando os pés de Shea e conversando com sua
barriga depois de termos posto Kallie na cama, acelerou meu
coração, aquela porta da frente me chamando como se a
minha medula estivesse enraizada na madeira.

Eu saí do Suburban no mesmo segundo em que a porta


da frente escancarou.

Um vulto loiro voou pela calçada. Todos aqueles cachos


selvagens balançavam como chamas brancas ao luar.

— Papai!

Meu coração acelerou quase explodindo.

Andei depressa pela frente da caminhonete e peguei


Kallie assim que chegou ao final da calçada. Eu a girei em
círculos, amando a sensação de fazer minha pequena
borboleta voar.

Ela gritou e se agarrou no meu pescoço.

— Papai, não ouse me deixar cair!

Abracei-a apertado.

— Nunca.

Ela se acomodou e se tranquilizou, como se estivesse


envolta em uma onda de conforto, enquanto se comprimia
mais em meu peito. Eu podia sentir seu pequeno coração
bum, bum, bum se acalmando.

— Eu senti tanto sua falta. — Murmurei para os


prendedores de cabelo no topo da sua cabeça.

— Eu também. — Ela sussurrou de volta.

E me lançou um daqueles sorrisos brilhantes. Embora,


agora, naquele sorriso faltasse dois dentes da frente.
Considerando que o Natal estava se aproximando, eu não
podia evitar e, implacavelmente a provocava sobre isso com
música.

Cem por cento não era minha culpa.

Tio Ash começou.

Vai saber.

Coloquei Kallie do meu lado e deixei meu olhar carente


viajar direto para a porta.

Shea estava inclinada contra o batente.

Ela estava usando um top e alguns desses shorts curtos


de dormir que gostava, uma cascata de cabelo loiro caindo
pelos ombros, os fios tentadores, alguns centímetros mais
longos do que eram quando casamos, pouco mais de um ano
atrás.

Sua expressão de adoração gritando tantas coisas. Senti


sua falta. Eu preciso de você. Casa, aqui é onde você deveria
estar.

Como se seu relógio interno também tivesse alterado


para o correto.

Minha esposa estava embalando nosso filho pequeno,


balançando-o em seus braços, enquanto inclinava sua cabeça
para o lado, dando-me as boas-vindas mais suaves.

Aqueles seus lábios doces, sexys curvaram-se nos


cantos.

Shea.
Meu espírito nunca se cansava de cantar isto.

Com Kallie ainda presa ao meu lado, meus pés estavam


se movendo.

Abatido.

Fui desde o segundo em que a vi.

Eu só não sabia que ser arrastado de toda a minha


escuridão para a sua luz, força e suavidade, me levaria direto
para a vida.

Minhas botas bateram nos degraus de madeira,


tornando-se um eco pesado e atravessei a varanda.

Ternamente, acariciei a cabeça do meu filho, antes de


me virar para pôr a mão no pescoço de Shea. Seu pulso
zumbia como se com satisfação sob o meu toque.

Ela exalou algo que soou como alívio. Tranquilidade,


conforto e harmonia perfeita.

— Você tem alguma ideia do quanto senti a sua falta,


baby? — Perguntei com a voz rouca. Grossa, pelos cinco dias
de necessidade reprimida.

Ela me espreitou, me deixando louco com seu tímido


sorriso, brincalhão.

— Um... cerca de metade do quanto senti sua falta?

Rindo, tracei meu polegar em seu queixo, olhos famintos


vagando por seu rosto lindo.

A agitação familiar de devoção correu quente em minhas


veias e sussurrei:
— Você acha, hein?

— Mmhmm. Considerando que não parei de pensar em


você por um segundo, enquanto esteve fora, achei que lhe dar
metade seria generoso.

A menina estava me provocando com a cadência suave e


sedutora do seu sotaque sulista.

Meu corpo inteiro endureceu, pensando o quão sublime


seria me perder nela.

Pernas elegantes e mãos famintas. Completo. Corpo e


alma.

Não podia esperar.

— Tenho que dizer, acho que você está longe da


realidade, senhora Stone. Cheguei a Los Angeles e lá estava
eu, sentindo falta da minha família por três horas a mais. Um
Tormento.

Sorri maliciosamente com a mudança de horário e tudo.

O riso que saiu da sua garganta era coquete e ela


começou a oscilar no meu abraço, mantendo o nosso filho no
casulo de proteção dos seus braços.

— E nós tivemos que esperar por você três horas a mais


para chegar aqui esta noite. Tortura! — Ela reagiu com outro
sorriso.

Minhas entranhas se agitaram como todas aquelas


borboletas que Kallie adora falar.

Mas isso?
Isso era formidável.

Uma batida insistente de lealdade, dedicação e


necessidade.

Puxei o queixo da minha menina, levantando-a para


mim, para que pudesse mergulhar e beijar a única que iria
compreender isso dentro de mim.

Alguém que valia alguma coisa mais do que sexo, drogas


e rock n' roll'. Alguém melhor do que encontros de uma noite
e uma alma vazia.

A única que confiava nele.

Acreditava nele.

Recebeu-me com os lábios macios, suaves, doces e


delicados, o mais breve lampejo da sua língua alimentada
pelo desejo. Demorei-me ali, beijando-a um pouco mais
profundo do que talvez fosse modesto. Mas porra, quem
poderia culpar um homem que tinha uma garota como essa?

Kallie riu, seu corpinho se contorcendo em meu colo, me


arrancando da direção devassa que meus pensamentos
vagueavam.

— Papai. — Ela cantou como se estivesse me dando


uma boa bronca com aquela voz preciosa. — Muitos beijos.

Dei-lhe um sorriso culpado, embora sem remorso, antes


de encostar a testa à da minha esposa.

Emocionado, com esse sentimento me inundando, virei


meu olhar para a criança que tínhamos criado.

Deus.
Ele era incrível.

Um milagre.

Connor Julian Stone.

Eu dei um beijo rápido na cabeça de Kallie.

— Deixe-me dizer oi para o seu irmão, Ok borboletinha?

Não querendo que ela se sentisse como se agora ficasse


em segundo lugar. Como se ela fosse menos, quando isso era
impossível.

Como se ela entendesse isso perfeitamente, ela balançou


a cabeça em sua maneira doce.

— Ok.

Eu a coloquei no chão e voltei para o meu filho.

Os olhos cinzentos presos nos meus, e Connor me deu


seu som borbulhante e um sorriso meio torto.

Deus, senti bem no centro do meu peito.

— Ei você aí, homenzinho. — Eu disse baixinho e o


levantei dos braços de Shea.

Segurei-o na minha frente. Necessitando apenas pega-


lo.

Então eu o trouxe perto e suavemente beijei o canto da


sua boca.

Minúsculos dedos cravaram em meu rosto, enquanto ele


se enrolava em mim, um daqueles risos que só descobri que
me arrebentavam e afundavam completamente.

Alegria.
Tanta alegria.

— Você foi um bom menino para a mamãe? — Eu


murmurei.

Não. Não podia evitar isso também.

Os meus filhos me tinham embrulhado, torcido,


amarrado e enrolado em fita azul bebê e arcos rosa de
borboletas.

Uma onda de risos suave flutuou de Shea.

— Ele é sempre bom... só depois da sua alimentação


das duas horas da manhã.

Odiei saber que as coisas ficaram difíceis para minha


menina, enquanto estive fora. Levantei uma sobrancelha em
questão, balançando Connor lentamente de onde ele estava
dobrado para cima, como um sapo preso em meu peito.

— April passou por aqui, enquanto estive fora, né?

Depois que Shea e eu casamos e Austin partiu por sua


própria conta, não demorou muito tempo para descobrirmos
que LA não ia ser o lugar para nós criarmos nossos filhos. Os
caras... eles estavam sempre cuidando das minhas meninas.
Protegendo-as da maneira que eu confiava neles para
fazerem. Arrefecendo as merdas e agindo como adultos
responsáveis, enquanto Shea e Kallie estavam ao redor.

E não havia nenhuma dúvida sobre isso. Shea e eu


faríamos uma casa onde quer que o mundo que nos levasse.
Mas estas paredes velhas chamaram-nos, ecoando os sons da
infância de Shea e gritando a esperança do nosso futuro.
Como se de alguma forma Shea fosse composta de
Savannah e em seguida, Savannah me conquistasse.

Aqui era onde queríamos estar.

April encontrou um lugar não muito longe. Ela


normalmente ficava muito ansiosa para ficar com a minha
família, quando eu precisava sair da cidade.

— A maior parte do tempo. — Shea arqueou uma


sobrancelha, olhos amplos como se estivesse retendo todos os
detalhes suculentos e murmurou. — Ela conheceu um rapaz.

— Não? — Retruquei, incrédulo.

— Sim. — Ela soltou-o como se fosse a coisa mais


escandalosa acontecendo no Facebook.

Kallie pulava ao meu lado, puxando meu braço para


chamar minha atenção.

— Sim! Sim! Sim! Tia April ficou por dois dias inteiros e
fizemos uma festa do pijama no meu quarto, já que o Connor
está dormindo em seu antigo quarto.

Seu tom ficou sério.

— Mas ela disse que não se importava. De modo


nenhum. De modo nenhum! — Sua tagarelice enfatizando-o
duplamente. — Foi superdivertido! Quase tão divertido
quanto a festa do pijama que tivemos na casa da Marley na
sexta-feira. Papai, você sabia que eu tive que andar no ônibus
da Marley até sua casa?

Essas palavras voaram da sua língua em grande


velocidade, uma confusão adorável de emoção, aventura e
sotaque country. Agora que ela estava no jardim de infância,
tagarelice parecia vir sem escalas, seus dias com seus novos
amigos fornecendo-lhe todos os tipos de novas histórias para
contar.

Alguns poderiam perguntar se isto me aborrecia.

Se eu ficava agitado e impaciente ou inquieto.

De jeito nenhum.

Cada palavra era preciosa.

Nunca me importei de ser pego no furacão que era Kallie


Marie Stone.

Bem.

Quase.

Seria Stone.

Os Papéis estavam bem encaminhados. Aqueles que


legalmente iriam fazê-la minha filha.

Há dois meses, o tribunal finalmente cortou os direitos


parentais do bastardo, declarando-o inapto a ser um pai.
Como se ele tivesse algum interesse de assumir esse papel,
mesmo se não fosse ficar trancado atrás das grades para o
resto de sua vida miserável.

Kallie nem sequer abrandou, apenas saltou ao meu


lado, quando todos nós entramos. Ela sorriu para mim o
tempo todo.

— E sua mãe nos ajudou a fazer a nossa própria pizza,


tomamos sorvete e ficamos acordadas quase a noite inteira.
Marley diz que Tommy é meu namorado, mas mamãe disse
que eu sou muito pequena para ter um namorado, então não
tenho um. Não até eu ter treze anos, certo mamãe?

Dei a Shea um olhar que sabia que seria um aviso.


Sobre o meu cadáver. Caralho, provavelmente eu nem mesmo
permitiria aos treze anos.

Shea riu.

— Não se preocupe, papai urso. Ainda falta muito


tempo.

— Não o suficiente. — Murmurei.

Shea ficou na ponta dos pés e deu um beijo em minha


boca.

— Por que você não coloca estes dois para dormir e


termino com os pratos?

— Oh! Eu preciso mesmo? — Kallie fez beicinho.

Shea apenas balançou a cabeça.

— Eu deixei você ficar até uma hora após sua hora de


dormir para que você pudesse estar acordada quando seu pai
chegasse em casa e você prometeu que ia direto para a cama
assim que o visse. Lembra? — Ela falou e roçou seus dedos
pela bochecha de Kallie em um encorajamento gentil. — Você
tem que se levantar cedo para a escola, amanhã.

— Eu sei. — Kallie admitiu.

Sabia que eu estaria chegando tarde, após a hora de


deitar de Kallie, mas eu saí no segundo em que pude de LA,
ansioso para chegar em casa. Desesperado, realmente.
— Por que não começamos colocando seu irmão mais
novo na cama primeiro? Então você pode me ler uma história.
O que acha? — Eu ofereci.

Cachos voaram quando Kallie assentiu.

— Ok, papai!

Dei um passo à frente, me abaixei e dei a Shea outro


beijo e um aperto rápido no seu quadril.

— Mais tarde. — Sussurrei.

— Hum hum. — Shea murmurou.

Sim. Eu iria mostrar a minha esposa o quanto senti a


falta dela. Eu apostaria que ela alteraria qualquer afirmação
sobre a minha saudade não ser metade da dela.

Subimos as escadas. Segurei meu filho, peito a peito,


meu braço seguro em suas costas minúsculas e na cabeça, o
meu outro lado com Kallie.

No topo da escada, a minha atenção foi direta para a


parede de fotos e não pude evitar de lembrar da primeira
manhã que acordei na cama de Shea. Na manhã que tive
toda a intenção de correr.

Mal sabia eu que estaria correndo de volta para Shea.

Encontre o amor e traga-o aqui.

Essas palavras estavam inscritas em letras cursivas


negras ao longo da parte superior da parede, como uma
declaração vocal do que as imagens penduradas na parede
proclamavam.
Todas as imagens originais ainda estavam lá.

A fotografia do casamento dos avós de Shea enfeitava o


centro, o quadro cercado por outros que apresentavam as
pessoas que Shea adorava. As pessoas que ajudaram a
molda-la na mulher magnífica, carinhosa, gentil que ela é
hoje.

Sorri para o retrato do Charlie jovem sentado, quando


ele era apenas um garoto e não o cara velho desalinhado de
agora, servindo bebidas no seu bar.

Claro que havia um de Shea, segurando Kallie bebê de


perfil. Ver a imagem pela primeira vez desencadeou algum
tipo de medo em mim, um medo que eu estava arrastando
toda a minha feiura para um terreno sagrado.

Manchando, estragando e arruinando.

Mas Shea inverteu essa visão.

Querendo mais, mais, mais.

Enchendo-me com o bem. Ou talvez ela apenas tivesse


descoberto isso.

Gentilmente sacudi meu filho, enquanto o meu olhar


mudou-se para a imagem da mãe de Shea ainda em exibição.
Sim, ela foi responsável por muita coisa negativa na vida de
Shea. Mas ela, em última instância, foi a pessoa que a
colocou em ordem. A pessoa que se colocou na linha e
aceitou sua responsabilidade. A única que forneceu
informações suficientes para que o juiz emitisse um mandado
de busca à casa de Martin. A única que se levantou no
julgamento do bastardo doente e testemunhou.

A única cumprindo agora dez anos em uma prisão de


mulheres na Califórnia.

Seu testemunho ajudou a condenar Martin Jennings


pelo tráfico de drogas e extorsão. Mas isso não chega nem
perto da ponta do iceberg. O resto das suas práticas vis
estava escondido logo debaixo d‘água.

Ele pegou pena perpétua pelo assassinato de Donny


Alstinger.

A parte que eu ainda não tinha estômago para aceitar?


O que sempre iria me assombrar?

Eles encontraram evidências de planos para matar


Shea, a primeira vez, parada por intervenção de Mark.

A segunda estava em formação, primeiro me tirando do


caminho para que ele pudesse facilmente acessá-la. Com
Lester candidato a governador, ele não podia arriscar ter a
evidência que Shea o acusou, sendo revelada.

Apenas o pensamento, a possibilidade, enviava dores de


raiva e medo em espiral por mim.

Lester Ford estava agora enfrentando o seu próprio


julgamento.

Adicionado a isso?

A convicção de Martin Jennings no assassinato de Mark


Nathanial Kennedy.

Agonia pura, porra.


A verdade era que isto sempre seria agonizante. Não
importava que ele tivesse sido roubado da terra. Ele não
estava aqui e de alguma forma nós tivemos que aprender a
viver com essa realidade.

Martin se achava intocável. Fora de alcance. Acima da


lei.

Sabia no meu coração que foi Mark, que finalmente o


derrubou.

Martin sendo responsável pela morte de Mark compilou


tudo o que era amargura e ódio. Mas, de alguma forma
sabendo que Mark defendeu Shea, que ele se atreveu a tentar
proteger uma garota que nem conhecia, que acabou se
tornando toda a minha vida, acalmou algo dentro de mim.

Encheu-me com um agradecimento triste, e honraria o


meu melhor amigo por todos os meus dias. Mesmo sendo tão
perdido, ele sempre teve algo brilhante dentro dele.

A luz que ele nunca deixou brilhar. A bondade que


nunca pôs em liberdade. Uma paz que nunca encontrou.

Não até que ele encontrou algo de bom, que valesse a


pena lutar.

Acho que ele e eu tínhamos muito em comum, afinal.

Mesmo com a quantidade de evidências que apareceram


contra Jennings, não foram suficientes para processá-lo por
qualquer coisa relacionada ao meu irmão.

Mas Austin estava bem com isso.

Ele só queria seguir em frente.


Crescer.

Sem dúvida, isso é o que ele estava fazendo, o garoto lá


fora descobrindo quem ele queria ser, por conta própria.

Mais ou menos uma vez por mês eu recebia uma carta


dele. Cada vez que lia suas palavras de dor, elas quebravam
meu coração em dois. Mas, ao mesmo tempo, de alguma
forma, curava uma parte dele também. Muitas de suas lutas
internas e recém alegrias, foram rabiscadas nas páginas em
que ele mostrava abertamente sua alma para mim, expondo
todos os seus pensamentos, suas preocupações e suas
esperanças.

Às vezes enfrentar nosso passado era mais doloroso do


que deixar velhas feridas esquecidas. Era mais fácil apenas
deixá-las enterradas por anos de calos e cicatrizes que nunca
curaram completamente. Porque arrancar aquelas crostas?
Isso exporia o que estava escondido no fundo, tudo inflamado
e comprimido, pronto para entrar em erupção.

Mas, agitando sob essa decadência, havia um espírito


prestes a florescer.

Louco que mesmo que eu não o visse desde que saiu


pela porta dos fundos em LA. Não falei com ele por todo esse
tempo, recebendo notícias através de cartas, eu me sentia
mais perto dele agora do que antes.

Meus olhos viajaram para as mais recentes fotos que


foram adicionadas.

Havia uma enorme foto da minha família, tirada no


segundo dia do nosso casamento. Ele aconteceu na velha
igreja, onde a avó de Shea costumava levá-la nas manhãs de
domingo, neste lugar especial onde minha menina se
apaixonou pela música.

Estávamos de pé nos degraus do lado de fora das portas


de madeira ornamentadas. Eu usava um terno escuro e Kallie
parecia uma princesa em seu vestido branco, florido e com
uma tonelada de flores de tecido em seu cabelo encaracolado.

E Shea...

Shea.

Ela estava usando um vestido sem alças de seda branca,


cabelo torcido na cabeça, alguns fios caindo por seus ombros
delgados. Sua barriga estava redonda com o nosso menino e
a felicidade em seu rosto era a coisa mais brilhante que já vi.

Tão impressionante que beirava o devastador.

Não importa quantas vezes eu olhei para ele... quantas


vezes eu olhei para ela... a reação era sempre a mesma.

Avassaladora.

Connor mexeu, fiz um som de silêncio em voz baixa e o


sacudi.

— Acho que nós precisamos pôr o seu irmão mais novo


na cama. O que você acha, Borboletinha?

Nós caminhamos em direção ao seu quarto. Kallie


saltitando, colada ao meu lado, a voz um sussurro.

— Acho que é melhor. Ele deve estar tão, tão cansado.


Mamãe manteve-o acordado por muito tempo, porque ela
sabia que você ia querer beijos antes dele dormir.
Lancei um sorriso a Kallie e comecei a pressionar um
monte de beijos suaves ao rosto de Connor.

— Tipo isso?

— Sim, exatamente assim.

A luz noturna brilhava no interior, as paredes pintadas


de azul claro, notas musicais pintadas nas paredes.

Apropriado, sim?

Eu coloquei meu filho no centro do seu berço. Ele gemeu


um pouco e coloquei seu cobertor sobre ele, o que sempre
usava.

Ele cerrou a beirada de cetim em suas pequenas mãos e


apertou-a contra seu rosto, sacudiu suas pernas em torno
dele como se estivesse dando-lhe um abraço de boas-vindas.

Tão lindo.

Espalmei o topo da sua cabeça e ele se inclinou contra


minha mão, enquanto olhava para mim com olhos
sonolentos.

— Boa noite, pequeno homem.

Lado a lado, Kallie e eu saímos na ponta dos pés. No


segundo em que estávamos fora da porta, a peguei no colo. O
jeito que ela tentou segurar um grito, este doce riso,
subjugado rolando dela, me derreteu um pouco mais.

Essa criança sempre me teve em uma poça aos seus


pés.

Sempre tão cheia de ideias


Tão boa.

Tão parecida com sua mãe.

Ainda me perguntava todos os dias como tive tanta


sorte.

— Você escovou os dentes? — Perguntei.

Os olhos dela se arregalaram, antes dela balançar a


cabeça, como se tivesse cometido algum tipo de crime
horrível. Coloquei-a de volta no chão.

— Corre e escova agora.

— Vou escovar super-rápido.

— Não muito rápido. — Avisei parado na porta do


banheiro, os braços cruzados sobre o peito, observando-a
subir a escadinha.

Quase morri de susto quando ela escorregou.

Houve uma grande parte de mim que queria precipitar-


se e defendê-la. Protegê-la de qualquer coisa e qualquer um
que poderia prejudicá-la. Surtar e implorar para ela me dizer
que estava bem.

Mas eu não fiz. Segurei-me e deixei-a lidar com a


pequena queda que claramente não a machucou. Deixei-a,
porque quando ela subiu novamente, fez com mais cuidado.

Talvez isso fosse algo que aprendi com meu irmãozinho.


Você não pode ter asas se é proibido de voar. Ele estava certo,
quando disse que eu o protegi e protegi e protegi até que fosse
sufocante. Que às vezes eu o inibia em vez de sustentá-lo.
E Deus. A única coisa nesse mundo que eu queria?

Ver a minha família crescer. Para eles viverem da melhor


maneira possível. Comigo sempre de pé ao lado deles em vez
de na frente.

Mas quando eles precisassem de mim? De qualquer


jeito? Eu estaria lá. Apenas como um observador ou com a
fúria de um pai, estaria sempre lá.

Kallie terminou, correu de volta para o seu quarto e


pulou em sua cama.

Ajoelhei-me ao seu lado e ouvi essa garota incrível


sondar as palavras que estava começando a aprender, o livro
de borboleta, era basicamente um livro de imagens com
poucas palavras para ela aprender a ler.

— Fim! — Ela disse enfaticamente, toda orgulhosa,


quando fechou a última página.

— Uau, você leu a coisa toda? Quando você ficou tão


grande?

— Papai. — Ela advertiu — Eu estou crescendo e


crescendo. Você sabe que em apenas quatro meses, vou ter
seis anos e vou para a primeira série e então, vou ficar na
escola o dia todo.

Eu ri.

Meu pequeno furacão.

Coloquei o livro de lado e puxei as cobertas até o seu


queixo, beijando seu nariz.

— Boa noite, Borboletinha.


Ela sorriu para mim.

— Boa noite, papai borboleta.

Meu coração acelerou.

Aparentemente, consegui uma promoção.

— Vejo você na parte da manhã, querida.

Ela agarrou o topo da sua coberta, sorrindo para mim.

— Ok.

Desligando seu interruptor de luz, deixei a porta um


pouco aberta, do jeito que sempre fiz e fui direto para as
escadas. Ansioso para chegar a minha esposa.

Chegando ao térreo, no final do pequeno corredor, abri a


porta de vaivém que conduz à cozinha.

E lá estava ela, dançando de pés descalços à medida que


ia limpando a bancada, cantando num sussurro com aquela
voz incrível.

Silenciosamente entrei, parei atrás dela e envolvi-a em


meus braços. Por um flash de segundo, ela se assustou, até
que relaxou em meu abraço.

Inclinei-me mais perto, meu rosto abraçando o dela


antes da minha boca encostar em seu pescoço e subir até sua
orelha.

— Tantas mulheres existem no mundo e de alguma


forma... de alguma forma encontrei a perfeita para mim.

Shea poderia muito bem ter ronronado, quando se


inclinou para trás, cabelos roçando meu queixo, rosto virando
para cima e me capturando no calor daqueles olhos. Palavras
fluíam com sua fé eterna.

— Eu nunca disse que não acreditava em almas gêmeas.


Nunca se esqueça que você é a minha.

Sua declaração teve o prazer retumbando em mim como


um trovão distante, seu corpo pressionado ao meu.

— Venha aqui. Eu tenho algo para você. — Sussurrei,


tirando um pedaço de cabelo do seu rosto.

Lentamente, ela virou em meu aperto, lábios carnudos


com aquele sorriso adorável.

Ela gritou, quando de repente levantei-a contra mim e


riu enquanto eu girava em torno dela, em seguida, apoiei-a
na beira da ilha. Eu fui rápido para enfiar-me entre os seus
joelhos.

Exatamente onde sempre quis estar.

Juntei a mão esquerda na minha e rocei meus lábios


sobre a trama intrincada de diamantes e platina que ela
ostentava em seu dedo anelar.

Não era uma réplica como ela solicitou na manhã após o


casamento.

Era o real.

O anel de casamento da sua avó.

Era parte da evidência que foi encontrada guardada no


cofre de Martin Jennings. Prova de que ele foi o responsável
pelo ―roubo‖ sofrido por ela.
Mais outra acusação que aquela escória enfrentou. Ele
foi tão cheio de orgulho e pretensão, de modo tão narcisista,
que o manteve como um prêmio no cofre do seu escritório.

Shea olhou para ele, quando fui para trás.

— É tão bonito.

Beijei-o novamente.

— Ainda mais bonito em você.

Ela apenas sorriu, inclinou a cabeça, como se sua


admiração por mim fosse tão profunda como a minha por ela.

Ainda era difícil de fazer sentido. Alguém me querendo


por mim mesmo.

Todas as besteiras, dinheiro e fama de lado.

Ela não queria isto.

Ela me queria.

— Então, qual é a surpresa? — Os olhos de Shea de


repente brilharam com malícia, um lampejo de emoção.

Peguei meu telefone do meu bolso de trás e manuseei o


arquivo, mantendo uma das mãos do seu lado. Arqueei um
sorriso para ela, quando coloquei o volume tão alto quanto
possível e coloquei-o sobre o balcão ao lado dela.

Então, apertei para tocar.

O dedilhar suave do meu violão.

Ela engasgou, quando reconheceu a canção. Olhos que


olhavam para o meu telefone viraram para encontrar os
meus.
Adoração e graça.

— Sebastian.

Senti as pontas dos seus dedos ao longo do meu rosto,


fogo na minha pele e conforto no meu espírito.

Ela apertou a boca na minha. Nada obsceno. Apenas a


pressão dos seus lábios emanando admiração.

Deus, ela era doce.

Maravilhosamente doce.

Os acordes aprofundaram uma fração, uma mudança


da música como se espalhasse eletricidade estática através
do ar denso.

Isso batendo energia pulsante.

Era a canção polida que foi criada na noite do nosso


casamento. Como se estivesse escondida em algum lugar
dentro de nós dois, esperando o momento certo para ser
libertada.

A que ela e eu tínhamos gravado uma cópia, em


seguida, sentamos com o resto dos caras e gravamos meses
atrás, antes de mudarmos permanentemente de volta aqui
para Savannah.

Você estará em nosso álbum lançado em dois meses.

Sunder com Shea Stone.

Não.

Não Delaney Rhoads.

Assim como ela disse para Martin.


Delaney Rhoads morreu há muito tempo.

A canção não era nada como o que Sunder normalmente


fazia. Não havia raiva ou ódio. Sem gritar letras ou batidas
fortes.

Era uma reverência lenta.

Assustador.

Amor.

Amor puro e simples.

Do meu telefone, minha voz teceu com os acordes.


Profunda. Nua. Exposta.

Você.
Veio como uma tempestade.
Na distância.
Chegando mais perto.
Você.
Levou-me todo.
Pedaços quebrados.
Emendados perfeitamente.

Inclinando-me mais perto da minha menina, comecei a


cantar baixinho, junto com o coro elevado que saía do meu
telefone, minha voz rouca, suplicando.

Nossas respirações misturadas e nos perdemos na


promessa das palavras.
Não quero olhar para trás.
Não quero avançar.
Só quero ficar.
Bem aqui com você.
Para sempre.
Só quero ficar.
Bem aqui com você.
Para sempre.

Meus nervos silvaram como relâmpagos, se movendo


rapidamente, me golpeando quando a sua voz lentamente
levantou na gravação, baixa e abafada, Shea cantando, com
você para sempre, três vezes. A voz dela harmoniosamente
trançando com a minha.

Vermelhidão correu pelo pescoço de Shea, quando sua


melodia se infiltrou no ar. Deliciosamente pintando de cor
suas bochechas em inocência e modéstia divididas com
temor. Sempre tão sutilmente, ela começou a mover sua
boca, inclinando o rosto em direção ao meu, enquanto eu
cantava para ela e ela cantava para mim.

Não importa quantas vezes eu ouvisse isso. Eu ainda


sentia meu corpo flutuar, quando o coro derivou para fora e
para dentro do quadro delicado do seu verso.

Você
Como parados na areia movediça.
Afundando lentamente.
Cada vez mais fundo.
Você.
Tudo o que estava faltando.
Cavidades solitárias.
Completados perfeitamente.

Enrolei o cabelo de Shea em meu punho, puxando sua


cabeça para trás, enquanto eu pairava sobre ela, nariz com
nariz, respiração com respiração. Intensidade que nunca
ficava maçante entre nós. Vozes se aprofundaram no mesmo
momento em que ganhavam poder, torcendo e retorcendo,
como o impulso escalado, o rufar dos tambores e a batida dos
graves, um furor batendo que tremia no ar e vibrava de
nossas línguas.

Não quero olhar para trás.


Não quero avançar.
Só quero ficar.
Bem aqui com você.
Para sempre.
Só quero ficar.
Bem aqui com você.
Para sempre.

Quando a canção atingiu o limite, a voz de Shea subiu


acima da minha. Sua hora de brilhar. Forte. Gloriosa.
Jorrando beleza. Um rio de serenidade. Uma voz diferente de
tudo que qualquer um de nós já ouvimos.
Fique aqui, aqui comigo, para a eternidade.
Fique aqui, aqui comigo, para a eternidade.
A estrela brilhante sempre tão contente em se esconder.

Mas não.

Hoje não.

Amanhã não.

Não quando o mundo teve um verdadeiro sabor dessa


garota incrível.

O que poderia trazer?

Eu não sabia.

Era como se eu pudesse sentir os meus dias com


Sunder, chegando ao fim.

Tanta coisa mudou no último ano. Todas as nossas


vidas estavam indo por caminhos que nenhum de nós
antecipou. Karl Fitzpatrick me avisou que me estabelecer com
Shea seria a queda do Sunder.

Talvez fosse, porque nenhum dos componentes do


Sunder realmente sabia onde nós estávamos, cada uma das
nossas vidas tomava caminhos que nenhum de nós
prevemos.

A verdade era?

Eu preferia estar aqui.

Fazer música bonita com minha esposa.


Deleitando-me com a verdade das nossas palavras.

Saboreando nossos beijos.

Saboreando nossos corpos.

Eu prefiro estar aqui.

Escrevendo letras para uma canção eterna.


AL Jackson é de acordo com o New York Times dos EUA,
uma nova autora de best-sellers contemporâneo e romance
adulto.

Ela encontrou um amor para escrever durante seus dias


como uma jovem mãe e estudante universitária. Ela encheu
os diários que carregava com contos e poemas usados como
uma saída emocional para as dificuldades e alegrias que ela
encontrou na vida do dia-a-dia.

Anos mais tarde, ela compartilhou um conto que veio a


trabalhar com seus dois amigos mais próximos e, com seu
incentivo, essa história tornou-se seu primeiro romance
completo. AL agora passa os dias escrevendo no sul do
Arizona, onde ela vive com o marido e três filhos.

Você também pode gostar