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DE ENERGIA
RAFAELA FILOMENA ALVES GUIMARÃES
1º Edição: 2017
Impressão em São Paulo/SP
3.6 IGCT����������������������������������������������������������������������������������������������������������123
3.7 Transistor Bipolar de Potência (TBP)���������������������������������124
SUMÁRIO
3.7.1 Princípio de funcionamento��������������������������������������������������������124
3.7.2 Limites de tensão�������������������������������������������������������������������������������125
3.7.3 Área de Operação Segura (AOS)������������������������������������������������126
3.7.4 Região de quase-saturação��������������������������������������������������������127
3.7.5 Características de chaveamento�������������������������������������������128
3.7.6 C ircuitos amaciadores (ou de a j uda à
comutação) – snubber��������������������������������������������������������������������130
3.7.7 Conexão Darlington�����������������������������������������������������������������������131
3.7.8 Métodos de redução dos tempos de chaveamento�������133
3.8 MOSFET���������������������������������������������������������������������������������������������������134
3.8.1 Princípio de funcionamento (canal N)�����������������������������������136
3.8.2 Área de Operação Segura�����������������������������������������������������������137
3.8.3 Característica de chaveamento – carga indutiva��������138
9 BIBLIOGRAFIA����������������������������������������������������������������������������������350
QUALIDADE E CONDICIONAMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA
1 QUALIDADE E CONDICIONAMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA
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Condicionadores de Energia
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Além de os números serem elevados, estima-se que tais custos continuariam
a subir rapidamente não fossem tomadas medidas saneadoras. Isso se deve aos
efeitos cumulativos que a perda de qualidade pode impor, seja através da redução
da vida útil de dispositivos, limitação da capacidade efetiva dos equipamentos e mau
funcionamento de máquinas, além das perdas elétricas em si.
Mesmo com o maior rigor nas normas, não existe indicação precisa de que tenha
ocorrido melhoria sensível no cenário.
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Condicionadores de Energia
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Como consequência desse enfoque, podem-se apontar alguns projetos no Brasil
que hoje parecem ter recebido tratamento inadequado como, por exemplo, o afogamento
do Salto de Sete Quedas pela barragem de Itaipu, a inundação de enormes regiões de
terras férteis e de florestas tropicais (barragens de Balbina, no Amazonas, e Tucuruí,
no Pará), sem que estudos de impacto ambiental mais amplos se realizassem e sem
que a população fosse devidamente consultada e esclarecida sobre a relação custo/
benefício social desses projetos na região envolvida.
Projetos mais recentes, como a recuperação da cachoeira de Paulo Afonso,
mostram que não se precisa destruir patrimônios naturais para obter a energia elétrica
necessária, ou que, pelo menos, há alternativas que minimizam tais impactos. A
sociedade atual já está mais atenta a esse tipo de intervenção no meio ambiente e
começa a contestar a instalação de usinas térmicas e nucleares próximas de centros
urbanos, assim como os impactos dos reservatórios das hidrelétricas. Tem até ques-
tionado o direito de passagem para novas linhas de transmissão em regiões habitadas,
preocupada com seus efeitos sobre a população próxima.
Se, por um lado, esses questionamentos colocam barreiras para o atual modelo de
expansão da rede, por outro forçam uma busca de soluções alternativas para essa nova
situação. É o que vem acontecendo em praticamente todos os países, em vários níveis.
No nível gerencial, uma mudança que já se solidificou em grande parte dos países
foi a passagem da administração dos setores de geração e distribuição para empresas
privadas, criando um efetivo mercado de energia elétrica, da produção ao consumo.
Nessa nova estrutura, a transmissão da energia elétrica pode ou não continuar a
ser de responsabilidade estatal. Este arranjo teria o benefício de garantir aos governos
a possibilidade de disciplinar o mercado através de agências reguladoras, de uma
maneira muito mais enxuta e eficiente.
Com as novas regulamentações do setor elétrico, a meta é proporcionar o livre
acesso dos agentes de geração e de consumo ao sistema de transmissão. Idealmente,
os consumidores passam a poder comprar o produto energia elétrica em bases compe-
titivas, exigindo qualidade e preço. Contratos de produção e de consumo de energia
podem ser feitos diretamente entre os interessados finais. As empresas gestoras do
sistema de transmissão seriam responsáveis pela circulação da potência, taxando o
uso da rede pela transferência da energia entre o produtor e o consumidor.
Outro aspecto que ganha cada vez mais relevância nesse cenário é a geração
distribuída, principalmente de média e baixa potência. Tais fontes de energia tipicamente
se situam nos locais onde, tradicionalmente, tinham-se apenas cargas. Os próprios
procedimentos de gestão de redes nas quais se tenham estes geradores precisam de
novos tratamentos, uma vez que aspectos de fluxo de carga, proteção, qualidade de
energia, etc. são fortemente afetados por esta nova (e irremediável) realidade. Também
a legislação precisa se adequar a estes novos paradigmas de produção de energia,
fato que vai se consolidando, principalmente nos países que lideram este movimento,
como os países da Europa, a Índia e os Estados Unidos.
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Condicionadores de Energia
potência através das linhas, otimizar o uso dos equipamentos, garantir a qualidade da
energia suprida e aumentar a proteção e segurança do usuário, bem como a preser-
vação do meio ambiente.
Em 1988, N. G. Hingorani, pesquisador do EPRI (Electrical Power Research
Institute) dos EUA, lançou o conceito básico de FACTS – Flexible Alternating Current
Transmission Systems, no qual a noção de flexibilização do sistema estava claramente
associada à capacidade do controle direto do fluxo de potência no nível de transmissão
de energia elétrica. A chave para essa flexibilização está no uso do controle através
de eletrônica de alta potência, em conversores de HVDC, compensadores estáticos
reativos, controladores de fluxo de potência, conversores de frequência e sistemas CA/
CC, viabilizando o casamento direto entre sistemas de corrente alternada e de corrente
contínua em todos os níveis de tensão e de potência. A incorporação de dispositivos
FACTS na operação de sistemas elétricos, além de abrir um enorme campo para a
aplicação da tecnologia de controle de alta potência, ao mesmo tempo permite utilizar
melhor a infraestrutura de transmissão já disponível.
Os principais benefícios que a tecnologia FACTS pode trazer são os seguintes:
yy Ampliar a capacidade de transmissão das linhas já existentes;
yy Operar linhas em paralelo, mesmo que tenham diferentes capacidades;
yy Dirigir o fluxo de potência por caminhos mais adequados;
yy Ajustar rapidamente o suporte de reativos durante a operação;
yy Estabilizar eficientemente oscilações de tensão e ângulo;
yy Fazer a integração entre sistemas CC e CA, aproveitando as vantagens de ambos.
O IEEE define custom power como o conceito de se utilizar conversores estáticos
controlados, baseados em eletrônica de potência, na faixa de 1 kV a 38 kV (sistema de
distribuição), de modo a suprir os consumidores com energia elétrica com qualidade
adequada ao desempenho dos equipamentos e processos alimentados. Este conceito é uma
extensão do conceito de FACTS, aplicado a redes de distribuição, nas quais os aspectos
de qualidade de energia se tornam muito mais relevantes do que na rede de transmissão.
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Sabe-se que o fluxo de potência ativa através de uma linha sem perdas entre
dois pontos k - l é dado por:
onde:
Vk ∠ θk – tensão na barra k;
Vl ∠ θl – tensão na barra l;
Xkl – reatância série da linha.
Variar as tensões terminais (Vk, Vl) visando aumentar a capacidade de transmissão
tem suas restrições, pois afeta as condições de operação de todas as cargas. Sempre
que possível deve-se operar próximo das tensões nominais.
Controlar o fluxo de potência através do ângulo de abertura da linha (θk, θl) ou
vice-versa não é simples, pois envolve medidas de potência no nível de transmissão.
Algumas destas possibilidades são mostradas na figura 1.2.
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Condicionadores de Energia
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Figura 1.4: potência transmitida após redução de 300 MVA na geração em Tucuruí: a) sem compensação;
b) com compensadores atuando em Imperatriz e em Serra da Mesa.
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Condicionadores de Energia
Devido a essas características, espera-se ser possível nos próximos anos dotar
o sistema de potência de recursos para o controle dinâmico do fluxo de potência em
todos os níveis, desde a geração até o consumo. Como consequência, novos sistemas
de proteção e rotinas de supervisão da operação também deverão ser desenvolvidos,
prevendo que os parâmetros e a estrutura do sistema poderão variar continuamente.
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Figura 1.6: Princípio do SSSC.
22
Condicionadores de Energia
Figura 1.8: Princípio de operação do STATCOM a partir de um conversor fonte de tensão (VSC).
Figura 1.9: Princípio de operação do UPFC a partir de um conversor fonte de tensão (VSC).
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1.2.4.6 Controlador de potência inter-fases (IPC)
Trata-se de um sistema de ajuste da impedância que interconecta dois sistemas
síncronos que se deseja interligar. Com capacidade de controlar potência ativa e
reativa, consiste de ramos capacitivo e indutivo submetidos a tensões com diferentes
fases. As potências ativa e reativa podem ser ajustadas separadamente alterando
os deslocadores de fase e/ou as impedâncias dos ramos, por meio de interruptores
eletrônicos de potência. Dada sua configuração e aplicação, o fluxo de potência pode
se dar em qualquer direção. Embora, em regime permanente, vários destes dispositivos
tenham o mesmo comportamento, o que os diferencia é o regime transitório, devido
à diferente variável de controle e objetivo da compensação.
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Condicionadores de Energia
Nessas condições, o fluxo de potência das fontes para as cargas torna-se cons-
tante e pode ser considerado em condições de regime estacionário, com um mínimo de
perdas e baixa interferência entre diferentes consumidores conectados à rede elétrica.
Nos últimos anos, vem aumentando a preocupação com a qualidade da energia
elétrica suprida aos consumidores. O próprio conceito de power quality, como é desig-
nado em inglês, tem sido debatido em congressos nacionais e internacionais, uma vez
que ainda não se chegou a um consenso sobre a forma de quantificar essa qualidade.
Como as normas que definem as condições de operação aceitáveis para um
sistema elétrico variam de um país para outro, fica difícil estabelecer critérios gerais
para avaliar o que seria a qualidade da energia elétrica. Além disso, as necessidades
de maior ou menor grau de continuidade e pureza da tensão de suprimento também
variam em função do tipo de carga dos consumidores. No entanto, o balizamento
e a padronização desse conceito são fundamentais para se poder implementar os
sistemas de potência flexíveis, baseados no controle eletrônico de alta potência. Em
princípio, pode-se avaliar a qualidade de energia elétrica em termos comparativos
com as características de um sistema ideal.
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A figura 1.11 mostra uma aplicação da Eletrônica de Potência em SEE. A ideia é
mostrar como tem se configurado um sistema de energia elétrica nos anos recentes,
ao qual se somam, cada vez mais, dispositivos controlados eletronicamente.
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Condicionadores de Energia
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1.4.1 Regulação e balanceamento da tensão de suprimento
Esse é o principal problema que afeta a qualidade da energia suprida. Uma
boa parte dos distúrbios provoca variações do nível de tensão e/ou desequilíbrio.
O problema básico reside no fato de que o consumidor detém a liberdade de poder
ligar a sua carga no momento que quiser. Poucas são as cargas que têm restrições
contratuais sobre o uso da energia elétrica (indústrias siderúrgicas que possuem fornos
a arco, por exemplo, não podem operar essa carga no período de maior demanda de
energia elétrica, das 18 h às 20 h). Como o aumento da carga implica em aumento de
corrente, resultam maiores quedas de tensão na rede de transmissão e distribuição,
prejudicando o perfil de tensões disponíveis para os demais consumidores.
A figura 1.13 mostra o efeito na tensão ao ligar uma carga, bem como o que
ocorre quando se utiliza um dispositivo capacitivo shunt para compensar a queda de
tensão. Nota-se que o chaveamento do capacitor shunt pode resolver o problema
da queda de tensão, mas cria outros problemas que precisam ser equacionados,
como o transitório de chaveamento, mostrado na figura 1.14, com características de
ressonância com as indutâncias do sistema e da carga, e a necessidade de ajustar
os reativos requeridos ao nível de variação da tensão no ponto de conexão, que tem
a ver com a capacidade de curto-circuito local.
Figura 1.13: Compensação capacitiva shunt de variações da tensão: carga liga em 35 ms, causando
afundamento da tensão; capacitor shunt entra em 85 ms, recuperando parcialmente a tensão.
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Condicionadores de Energia
Figura 1.15: Compensação capacitiva série para variações de tensão: carga liga em 35 ms e capacitor
série entra em 85 ms.
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das chamadas perdas ferro (histerese e correntes parasitas). Para reduzir o conteúdo
harmônico, costuma-se utilizar as estruturas magnéticas conhecidas como twin-treble
ou triple-treble, compensando magneticamente as harmônicas por associação de
enrolamentos múltiplos sobre as diferentes pernas magnéticas, de modo a cancelar
as principais tensões harmônicas, de ordens (5-7, 11-13, 15-17).
Dentre os dispositivos estáticos tradicionais, destacam-se os compensadores
reativos controlados por tiristores:
yy RCT – Reatores Controlados por Tiristores;
yy CCT – Capacitores Chaveados por Tiristores;
yy SVC – Controladores Estáticos de Tensão.
Do ponto de vista do controle de regulação da tensão, as vantagens dos dispositivos
estáticos sobre os girantes são significativas. Além de mais compactos e de exigirem
menos manutenção, são modulares, o que facilita a sua instalação em diferentes locais.
Além disso, apresentam tempo de resposta até duas ordens de grandeza menores
que as máquinas girantes.
No entanto, a desvantagem destes dispositivos eletrônicos à base de tiristores
reside no maior nível de distorção provocado pelo chaveamento eletrônico. Recorda-se
que um dos objetivos do condicionamento é justamente reduzir o conteúdo harmônico
e o ruído na rede. Fica claro, portanto, que a ação de melhorar a qualidade da energia
suprida deve ser vista globalmente. Cada dispositivo de controle deve evoluir no sentido
de realizar a sua função principal, sem piorar as outras condições.
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Condicionadores de Energia
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A corrente harmônica irá se dividir entre o circuito do filtro e a rede:
h = Sh + Fh (1.2)
Fh = h (1.3)
Sh = h (1.4)
ou seja, o filtro absorve toda a corrente harmônica gerada pela fonte local. Existe,
porém, uma frequência de ressonância do filtro com o sistema, e que é dada por:
ZF + ZS → 0 (1.6)
fazendo com que Fh = – Sh , ou seja, o filtro e o sistema trocam energia nessa frequência
de ressonância. Essa ressonância entre o filtro e o sistema poderá ser estimulada
por outras fontes harmônicas do sistema e, portanto, não basta dimensionar o filtro
sintonizado apenas em função das harmônicas da fonte local. É preciso verificar que
a frequência de ressonância com o sistema esteja em uma região do espectro com
poucas possibilidades de excitação.
Um caso típico de ressonância ocorre na instalação de um banco capacitivo em
um alimentador suprido através de um transformador, o que faz com que a reatância
indutiva seja determinada, essencialmente, pela reatância de dispersão do transfor-
mador, conforme é mostrado na figura 1.18.
n= = = = (1.7)
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Condicionadores de Energia
Scc = pu
(1.8)
Qc = pu
n= =4 (1.9)
n= > 20 (1.10)
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demandados pelos consumidores, suportando também as perdas de transmissão
associadas, comprometendo a operação do sistema como um todo, foi feita a elevação
do fator de potência. Discute-se atualmente um novo aumento neste valor para 0,95.
Sabe-se da importância que a potência reativa tem na sustentação da estabilidade
da tensão da rede; no entanto, como tal potência pode ser fornecida localmente, sem
necessidade de circulação por toda a rede, procura-se deslocar o ponto de fornecimento
para as regiões onde seja efetivamente necessário tal suporte.
Além disso, o conceito de que o fator de potência é igual ao cosseno do ângulo
de defasagem entre tensão e corrente para a forma de onda senoidal encontra aplica-
bilidade apenas no sistema de transmissão, onde os níveis de distorção são pequenos.
Já nas redes de distribuição, o nível de distorção cria problemas até de interpretação
das medidas de potência e do fator de potência.
Aceita-se como definição para fator de potência a relação entre as potências
ativa P e aparente S, as quais são definidas como:
P= . i(t) . dt (1.12)
e os valores eficazes definidos, para qualquer forma de onda com período T, como:
FP = . cos φ1 (1.16)
onde:
(1.17)
34
Condicionadores de Energia
(1.18)
Portanto, se a tensão for senoidal, para ter-se FP = cos φ1 deve-se ter distorção
nula também nas correntes (THDI = 0). Para ocorrer FP = 1 é necessário que a corrente
siga a forma de onda da tensão, mesmo que esta seja distorcida.
Portanto, para maximizar o FP, não basta compensar os reativos do circuito, é
necessário minimizar o conteúdo harmônico também.
(1.19)
onde:
J – momento de inércia das massas girantes (kg · m);
θm – posição angular do rotor com respeito à referência fixa (rad);
Ta – torque acelerante (N · m);
Tm – torque de acionamento da turbina;
Te – torque elétrico resistente.
O sistema eletromecânico estará em equilíbrio dinâmico se a derivada segunda
da posição angular for nula, resultando Ta = 0. Sendo nula a derivada segunda, resulta
que a derivada primeira deve ser constante, ou seja:
(1.20)
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Essa velocidade (ωms) corresponde à velocidade mecânica síncrona. Para o estudo
da dinâmica do rotor é melhor usar um referencial síncrono ao invés do referencial
fixo. Para isso, considera-se que a posição angular absoluta possa ser expressa por:
θm = ωms · t + δm (1.21)
(1.22)
(1.23)
Conclui-se daí que a equação do balanço de torque (1.19) pode ser expressa
igualmente em função da referência angular síncrona (1.20), resultando:
(1.24)
(1.25)
onde:
Jωm – momento angular na velocidade síncrona;
Pm – potência mecânica da turbina;
Pe – potência elétrica no entreferro do gerador.
Para simplificar a notação, costuma-se definir o produto Jωm como sendo a
constante de inércia M, resultando:
(1.26)
(1.27)
ou seja,
(1.28)
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Condicionadores de Energia
(1.29)
(1.30)
onde:
ωs – velocidade síncrona elétrica (rad/s);
δ – ângulo elétrico de carga da máquina (rad).
Em termos da frequência angular, resultam duas equações diferen-
ciais de primeiro grau:
(1.31)
(1.32)
(1.33)
(1.34)
37
Figura 1.20: modelo dinâmico incremental para oscilações angulares.
(1.35)
onde:
– tensão transitória interna do eixo q, referido a uma barra infinita;
Vt ∠ θt – tensão terminal com ângulo referido à barra infinita.
Este circuito está retratado na figura 1.21.
Além de a potência gerada ser função explícita do ângulo δ do gerador, sabe-se que
a demanda de potência das cargas depende também da frequência da rede. Portanto,
pode-se assumir que, sob tensões constantes, a variação da potência pode ser linearizada:
(1.36)
onde:
38
Condicionadores de Energia
Figura 1.22: modelo angular do gerador com amor tecimento da carga e resposta típica a
um degrau na entrada.
A função de transferência entre variação angular e variação da potência
mecânica é expressa por:
(1.37)
(1.38)
(1.39)
onde:
(1.40)
(1.41)
(1.42)
onde:
σ – coeficiente de atenuação;
ωd – frequência de oscilação eletromecânica amortecida.
39
Para que se tenha um sistema estável, esses polos devem estar no semi-plano
esquerdo (σ < 0) do plano complexo de s = σ + jω. Nessas condições, resultam osci-
lações angulares e de frequência amortecidas conforme mostra a figura 1.23.
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Condicionadores de Energia
41
Neste caso, a economia tem os seus próprios riscos e é preciso explicar o que pode
ocorrer com a presença de harmônicas, como, por exemplo, a explosão de capacitores
em bancos para correção de fator de potência devido a ressonâncias série ou paralela.
Figura 1.24: bateria de íon de lítio utilizada inicialmente no projeto Boeing 787.
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Condicionadores de Energia
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Figura 1.25: cargas lineares e não lineares conectadas ao PAC.
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Condicionadores de Energia
Alguns sistemas UPS operam no modo stand-by, ou seja, com a rede presente,
de forma similar aos Condicionadores de Qualidade de Energia Unificados (UPQC
– Unified Power Quality Conditioner). O UPQC é formado pela combinação de dois
conversores, sendo um deles conectado em série entre a rede e a carga e o outro
em paralelo com a carga, realizando, simultaneamente, o condicionamento das
tensões de saída (carga) e das correntes de entrada (rede). Seu objetivo principal se
concentra em fornecer às cargas tensões equilibradas, reguladas e com baixa DHT,
enquanto drena da rede elétrica correntes senoidais, equilibradas e em fase com as
tensões de alimentação.
Os UPQCs, bem como os sistemas UPSs operando no modo stand-by de
forma similar aos UPQCs, são, de maneira resumida, retratados como a associação
da operação simultânea de dois FAP, sendo eles um paralelo e o outro, série. A
modelagem e as estratégias de controle desses FAP são tradicionalmente feitas
considerando o FAP série (conversor série) operando como uma fonte de tensão não
senoidal, enquanto o FAP paralelo (conversor paralelo) operando como uma fonte de
corrente não senoidal. No entanto, alguns autores têm tratado o funcionamento dos
conversores série e paralelo de forma dual, ou seja, consideram o conversor série
operando como fonte de corrente senoidal, enquanto o conversor paralelo opera como
fonte de tensão senoidal, sempre com o objetivo final de realizar o condicionamento
simultâneo das tensões de saída e das correntes de entrada do sistema.
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fontes ininterruptas
de energia (UPS)
2 fontes ininterruptas de energia (UPS)
As fontes ininterruptas de energia são equipamentos que têm como principal
função fornecer energia elétrica para determinadas cargas no momento em que há uma
interrupção no fornecimento de energia da rede de distribuição. Existem diversos tipos
de fontes ininterruptas de energia, que têm como principal característica a utilização
de conversores estáticos para realizar a conversão de energia elétrica alternada para
contínua e de contínua para alternada, ao mesmo tempo em que fazem a conexão da
fonte armazenadora de energia com a carga. Esses sistemas também são conhecidos
como no-breaks e UPS.
As UPSs são divididas em duas categorias, sendo elas a de dupla conversão
de energia (on-line) e a de simples conversão de energia (off-line). Dentro destas
duas categorias, são usadas diversas nomenclaturas para identificar as diversas
topologias existentes. No entanto, a norma IEC 62040-3, de 1999, bem como a sua
segunda edição de 2011, sugere a desvinculação dos termos on-line com sistemas
de dupla conversão de energia e off-line com sistemas de simples conversão
de energia. Neste caso, é proposta a classificação das UPSs baseando-se em
parâmetros de desempenho. Esses parâmetros são analisados considerando-se
os seguintes aspectos:
yy Dependência da tensão de saída das UPSs em relação à tensão da rede;
yy Forma de onda da tensão de saída;
yy Curvas de tolerância dinâmicas da saída das UPSs.
Com relação às correntes de entrada, a norma IEC 62040-3 estabelece os
limites das componentes harmônicas impostos pela norma IEC 61000-3-2, para
correntes de entrada até 16 A/fase e a IEC 61000-3-4 para as correntes de entrada
maiores que 16 A/fase.
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Condicionadores de Energia
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Figura 2.2: diagrama em blocos simplificado da UPS de simples conversão de energia.
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Condicionadores de Energia
Figura 2.3: Diagrama em blocos simplificado da UPS line-interactive com compensação ativa de
potência série e paralela.
Os primeiros estudos referentes a esta topologia de UPS line-interactive com
compensação série e paralela foram propostos por Kamran e Habetler, os quais
trataram esta topologia como sendo uma UPS on-line ou mesmo de dupla conversão
de energia. A figura 2.4 mostra o circuito de potência da UPS que foi proposto para
sistemas trifásicos a três fios.
Figura 2.4: UPS line-interactive trifásica com compensação ativa série e paralela.
O conversor paralelo é responsável por manter as tensões de saída reguladas
com baixo conteúdo harmônico e em fase com a tensão de entrada, independente-
mente do modo de operação e eliminando qualquer tempo de transferência entre os
modos de operação. A inexistência do tempo de transferência entre os modos de
operação é devido ao conversor paralelo estar continuamente controlando a tensão
de saída e, na ocorrência de uma interrupção, a chave estática é aberta e o conversor
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série é inibido, fazendo com que toda corrente consumida pela carga se dê por meio
do conversor paralelo.
Toda diferença entre as tensões de entrada e de saída é assumida pelo conversor
série. Considerando que a tensão de saída é senoidal e com amplitude constante, a
tensão sobre o conversor série será composta por duas componentes:
yy Uma componente fundamental de tensão com amplitude igual à diferença
entre a entrada e a saída;
yy As componentes harmônicas presentes nas tensões de entrada.
A soma dessas componentes terá um valor muito pequeno se comparada com
a da tensão de entrada ou da saída, possibilitando o dimensionamento do conversor
série para uma potência entre 10 e 20% da potência nominal da UPS.
O conversor série opera somente no modo stand-by, impondo uma corrente
senoidal e em fase com a tensão de entrada através do transformador série. Além
disso, tem a função de controlar o fluxo de potência entre os conversores e efetuar a
carga do banco de baterias a uma taxa controlada.
Uma estrutura similar à apresentada na figura 2.4 foi proposta por Silva. No entanto,
as principais diferenças desta topologia são que ela pode ser aplicada em sistemas
trifásicos a três e a quatro fios, bem como os algoritmos utilizados para geração de
referência das correntes e tensões, os quais foram baseados no Sistema de Eixos de
Referência Síncrona (SRF). Foram utilizados dois conversores Split Capacitor (S-C)
conforme mostra a figura 2.5, onde o conversor paralelo funciona como uma fonte
de tensão senoidal com baixa DHT e equilibrada, oferecendo baixa impedância para
as correntes harmônicas da carga. Já o conversor série, no modo stand-by, funciona
como uma fonte de corrente senoidal e equilibrada, oferecendo alta impedância para
as correntes harmônicas da carga.
Figura 2.5: UPS line-interactive trifásica a quatro fios com compensação ativa série e paralela.
O algoritmo SRF da forma que foi implementado no circuito da figura 2.5, além da
efetiva capacidade de correção do fator de potência e da supressão dos harmônicos
gerados pelas cargas, também realiza a compensação dos desbalanços das correntes de
entrada quando cargas desequilibradas estão conectadas na saída da UPS, eliminando
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Condicionadores de Energia
a circulação de corrente pelo condutor de neutro. Apesar desta característica ser uma
vantagem do ponto de vista do sistema elétrico, pode resultar em uma redução da
eficiência da UPS, pois haverá uma maior circulação de energia pelos conversores
para efetuar a compensação das componentes de sequência negativa e zero.
Um outro algoritmo também baseado no método SRF foi proposto para a geração
das correntes de referência do conversor série da UPS apresentado na figura 2.5.
Neste caso, o algoritmo SRF foi empregado em cada uma das fases do sistema de
forma independente, ou seja, gerando correntes de referência independentes para
cada fase. Sendo assim, as correntes de entrada tornam-se senoidais e em fase
com as tensões da rede, no entanto, com amplitudes iguais às das correntes de
saída, melhorando a eficiência do sistema quando cargas monofásicas desequili-
bradas são alimentadas.
Na literatura também são encontradas diversas publicações de sistemas UPS
similares aos aqui apresentados, no entanto, aplicados em sistemas monofásicos.
Estas publicações utilizam uma topologia muito similar à proposta e apresentada na
figura 2.6. Todos esses trabalhos tratam os filtros ativos série e paralelo como fontes
senoidais concentradas nos algoritmos utilizados para a geração das referências, nos
circuitos de sincronismos e nos controladores utilizados.
Figura 2.6: UPS line-interactive monofásica com compensação ativa série e paralela.
Foi feita uma análise de uma UPS line-interactive com compensação ativa
série e paralela monofásica similar à da figura 2.6. Esta análise foi feita entre os dois
modos de controle dos conversores da UPS quando esta opera no modo stand-by, ou
seja, quando a UPS está operando como UPQC (Unified Power Quality Conditioner
– Condicionadores de Qualidade de Energia Unificados).
Um dos modos de operação utiliza o conversor paralelo operando como uma
fonte de tensão senoidal e o conversor série como uma fonte de corrente senoidal,
denominado como modo de operação OPM1. No outro modo de operação chamado
de OPM2, o conversor paralelo funciona como uma fonte de tensão não senoidal, da
mesma forma que são tradicionalmente tratados os FAPs e os UPQCs convencio-
nais. Em ambos os modos de operação, os algoritmos utilizados para a geração das
referências foram baseados no método SRF.
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Foram comprovadas algumas vantagens que o modo de operação OPM1 apre-
senta em relação ao modo de operação OPM2, que são:
yy Inexistência de transitório na tensão de saída na ocorrência de uma interrupção,
bem como no retorno da rede elétrica, já que no modo OPM1 o conversor paralelo é
continuamente controlado como uma fonte de tensão senoidal, enquanto que no modo
OPM2, na ocorrência de uma interrupção, o conversor paralelo deve mudar de uma
fonte de corrente não senoidal para uma fonte de tensão senoidal;
yy Maior facilidade dos conversores imporem as referências no modo OPM1 já
que as mesmas são senoidais, resultando em uma menor DHT na tensão de saída,
bem como na corrente de entrada;
yy No modo OPM2 existe a necessidade de mais uma malha de controle para
compensar afundamentos e elevações de tensão, o que não ocorre no modo OPM1
devido à referência do mesmo ser fixa.
Todos os exemplos aqui apresentados de UPS com condicionamento ativo de
potência operam como filtro ativo de potência realizando o condicionamento simultâneo
das tensões de saída, bem como das correntes de entrada.
54
Condicionadores de Energia
55
em um Restaurador Dinâmico de Tensão (DVR) e em um sistema UPQC, também
conhecido como método de compensação pelo controle de energia reativa. Este método
consiste em injetar uma tensão por intermédio do conversor série em quadratura com a
tensão da rede de tal forma que a tensão resultante na saída seja a tensão requerida,
resultando em uma menor energia ativa processada pelos conversores. No entanto,
existe uma diferença do ângulo de fase da tensão de saída em relação à entrada. Além
disso, para compensar um mesmo percentual de afundamento, este método precisa
impor uma tensão com amplitude maior se comparado com o método convencional.
Outro método utilizado para a compensação dos afundamentos de tensão, que
também propõe minimizar a dissipação de energia no UPQC durante a compensação
do afundamento de tensão e consequentemente elevar a eficiência do sistema, é
conhecido como o método VA mínimo. Este método consiste em injetar uma tensão,
por intermédio do conversor série, nem em fase e nem em quadratura com a tensão
da rede, mas sim encontrando um ângulo para a tensão de compensação que irá
resultar em uma menor dissipação de energia no conversor série.
No entanto, também existe a possibilidade de modelar e controlar os conversores
de um UPQC, como fontes de tensão e corrente senoidais, da mesma maneira que
é feito com as UPSs.
56
Condicionadores de Energia
57
Portanto, uma vez que a tensão no barramento é mais elevada, há a necessidade
de dimensionar as chaves de potência para suportarem tensões de bloqueio direto mais
elevadas, implicando no aumento do custo do conversor, bem como das perdas de comutação.
Uma alternativa para contornar os problemas citados anteriormente consiste
na utilização de conversores compostos por quatro pares de chaves, conhecidos
como Four-Leg (F-L), conforme mostrado na figura 2.9. Nesta topologia não existe o
problema relacionado aos desequilíbrios de tensão no barramento CC e, além disso,
estes operam com níveis de tensão no barramento CC menores do que a topologia
da figura 2.8. Neste caso, a tensão do barramento CC, já desconsiderando as perdas
nos conversores, deve ser no mínimo igual ao pico da tensão AC de linha na saída.
58
Condicionadores de Energia
Figura 2.11: UPQC/UPS trifásica composta por um conversor T-L e um F-L aplicado em sistemas trifásicos
a três e a quadro fios.
59
os conversores série e paralelo são controlados como fontes de corrente e tensão
senoidais, respectivamente. Além disso, são apresentados os fluxos de potências
através dos conversores série e paralelo.
Os algoritmos utilizados para a geração das referências e controle no referencial
síncrono de tensão e corrente dos conversores série e paralelo são apresentados,
juntamente com o sistema PLL (Phase-Locked Loop – Circuito de Sincronismo)
trifásico implementado.
A modelagem dos conversores série, bem como a modelagem do conversor
paralelo no referencial dq0, é abordada juntamente com o modelo do barramento CC
e da planta de controle do desequilíbrio de tensão deste barramento CC. Ainda, é
apresentado o algoritmo utilizado para compensar os desequilíbrios de tensão CC.
Uma vez que o conversor série comporta-se como uma fonte de corrente senoidal,
a sua elevada impedância deverá ser suficiente para isolar a rede das correntes
60
Condicionadores de Energia
Considerando que a tensão da rede vS(t) seja distorcida, ela será composta
por uma parcela fundamental (t) mais a somatória dos componentes harmô-
nicos (t) conforme 2.1:
(2.1)
A fonte de tensão ideal que representa o conversor paralelo impõe uma tensão
em seus terminais igual à parcela fundamental da tensão da rede (t) e, consequen-
temente, a tensão na carga vL(t) será igual a (t) e a tensão nos terminais da fonte
de corrente vC(t) será igual à somatória das parcelas harmônicas (t) presentes na
tensão da rede vS(t).
Como a carga conectada na saída do UPQC/UPS pode apresentar um compor-
tamento não linear, a corrente iL(t) será composta por uma parcela fundamental (t)
mais a somatória das componentes harmônicas (t), conforme a expressão (2.2):
(2.2)
61
Como a fonte de corrente que representa o conversor série impõe uma corrente
composta somente pela parcela fundamental da corrente da carga (t), independente
da tensão em seus terminais, irá resultar um caminho de alta impedância para as
componentes harmônicas da corrente de carga (t). Desta forma, restará somente
a fonte de tensão do conversor paralelo para essas componentes circularem, a qual
apresenta baixa impedância.
Para que o sistema se aproxime ao máximo do descrito anteriormente, diversos
fatores estão envolvidos em seu projeto e implementação, principalmente no que se
refere à eficácia dos algoritmos utilizados para a geração das referências de tensão
e corrente e a capacidade dos inversores em sintetizarem estas referências.
Figura 2.14: fluxo de potência (vSa, vSb, vSc) > (vLa, vLb, vLc).
Figura 2.15: fluxo de potência (vSa, vSb, vSc) < (vLa, vLb, vLc).
62
Condicionadores de Energia
Figura 2.16: fluxo de potência (vSa, vSb, vSc) = (vLa, vLb, vLc).
(2.3)
= (2.4)
onde:
63
SL – potência aparente da carga;
SS – potência aparente do conversor série;
SP – potência aparente do conversor paralelo;
cos φ1 – fator de deslocamento;
– distorção harmônica total da carga;
64
Condicionadores de Energia
= (2.5)
= (2.6)
onde:
x a, b, c – valores instantâneos de tensão e/ou corrente no referencial esta-
cionário trifásico abc;
xα – valores instantâneos de tensão e/ou corrente no referencial estacionário α;
xβ – valores instantâneos de tensão e/ou corrente no referencial estacionário β;
xd – valores instantâneos de tensão e/ou corrente no referencial síncrono d;
xq – valores instantâneos de tensão e/ou corrente no referencial síncrono q;
θ – posição angular do vetor tensão/corrente;
sen θ – coordenadas do vetor unitário síncrono;
cos θ – coordenadas do vetor unitário síncrono.
Utilizando a componente contínua do referencial d, e aplicando as matrizes
de transformação inversa representadas pelas expressões (2.7) e (2.8), obtém-se
somente as parcelas fundamentais das tensões e/ou correntes no referencial α β e
abc, respectivamente.
(2.7)
(2.8)
65
Figura 2.17: diagrama de blocos compensador SRF.
66
Condicionadores de Energia
(2.9)
(2.10)
(2.11)
67
Figura 2.20: diagrama de Bode do STF considerando diversos valores do parâmetro K (ωc = 377 rad/seg).
68
Condicionadores de Energia
Figura 2.22: sistema PLL: a) Tensões da rede (vsa, vsb, vsc); b) Correntes fictícias ( ); c) Potência
fictícia trifásica (p’).
69
Outra técnica bastante utilizada para o controle de conversores estáticos é o controle
realizado no referencial síncrono. Neste caso, geralmente são utilizados controladores PI
no referencial síncrono dq, o que é suficiente para anular o erro em regime permanente,
quando as referências são grandezas contínuas no referencial síncrono dq.
Como os conversores série e paralelo do UPQC/UPS vão controlar grandezas
senoidais, as referências para estes conversores no referencial síncrono são representadas
por grandezas contínuas. Portanto, a utilização de controladores PI neste referencial é
uma boa alternativa para o controle dos conversores série e paralelo da UPQC/UPS.
O diagrama em blocos da figura 2.23 apresenta o algoritmo de geração de referência
e controle do conversor série que deverá impor uma corrente senoidal na entrada do
sistema, corrente esta que deverá ser composta somente pela componente fundamental
de sequência positiva da corrente da carga, somada a uma parcela de corrente utilizada
para compensar as perdas do sistema de forma a manter o fluxo de potência equilibrado.
70
Condicionadores de Energia
Figura 2.25: filtro ativo de potência série (conversor T-L) a três fios.
71
Os transformadores conectados na saída do conversor da figura 2.25 representam
os transformadores de acoplamento do conversor série com relação de transformação
unitária; ( ) representam as indutâncias totais de cada uma das fases
da equação (2.12) e ( ) representam as resistências totais de cada uma
das fases conforme a equação (2.13).
(2.12)
(2.13)
onde:
La,b,c – indutâncias das fases abc;
LDa,b,c – indutâncias de dispersão das fases abc;
Ra,b,c – resistências dos indutores das fases abc;
RTa,b,c – resistências totais dos enrolamentos dos transformadores.
Aplicando a Lei de Kirchhoff das tensões entre os pontos a e b, b e c do circuito
da figura 2.25, obtém-se as tensões PWM entre os pontos a e b, b e c:
(2.14)
(2.15)
(2.17)
(2.18)
(2.19)
(2.20)
72
Condicionadores de Energia
(2.21)
(2.22)
(2.23)
O modelo apresentado pela equação (2.23) pode também ser definido por:
onde:
(2.25)
B= F=
(2.26)
onde:
xα β 0 = uα β 0 = wα β 0 = (2.28)
73
Aα β 0 = Bα β 0 = Fα β 0 =
(2.29)
(t) = A dq0 · x dq0 (t) + B dq0 · u dq0 (t) + F dq0 · w dq0 (t) (2.30)
dq0
onde:
(2.31)
Fdq0 =
Bdq0 = (2.32)
O modelo do conversor série pode ser representado por três circuitos nos eixos
dq0 conforme a figura 2.26, obtidos das equações (2.34), (2.36) e (2.38).
= + + – ωLisq (2.34)
= + + – ωLisd (2.36)
=– is0 (2.37)
=– (2.38)
74
Condicionadores de Energia
75
2.5.2.3.2 Modelagem do conversor F-L operando
como fonte de corrente
O conversor da figura 2.28 é de um inversor trifásico de quatro fios F-L. Os
transformadores conectados na saída do conversor F-L (Inversor Trifásico de Quatro
Braços Four-Leg) representam os transformadores de acoplamento do conversor série
com relação de transformação unitária; ( , , ) representam as indutâncias
totais de cada uma das fases da equação (2.39) e ( , , ) representam as
resistências totais de cada uma das fases conforme a equação (2.40).
= + (2.39)
= + (2.40)
onde:
La,b,c – indutâncias das fases abc;
LDa,b,c – indutâncias de dispersão das fases abc;
Ra,b,c – resistências dos indutores das fases abc;
RTa,b,c – resistências totais dos enrolamentos dos transformadores.
Figura 2.28: filtro ativo de potência série (conversor F-L) a quatro fios.
= + + + + (2.41)
76
Condicionadores de Energia
= + + + + (2.42)
= + + + + (2.43)
= (2.44)
= (2.45)
= (2.46)
= +
(2.47)
O modelo obtido pela equação (2.47) também pode ser representado pela
equação (2.24), em que:
x= u= w= (2.48)
A= B= F=
(2.49)
77
= +
(2.50)
(2.51)
dq0 (t) = Adq0 · xdq0 (t) + Bdq0 · udq0 (t) + Fdq0 · wdq0 (t)
em que:
(2.52)
Fdq0 =
Bdq0 = (2.53)
O modelo do conversor série pode ser representado por três circuitos nos eixos
dq0, conforme a figura 2.29, obtidos pelas tensões geradas no referencial síncrono –
equações (2.55), (2.57) e (2.59).
= + + – ωLisq (2.55)
= + + – ωLisd (2.57)
=– is0 + – (2.58)
=4 +4 + (2.59)
78
Condicionadores de Energia
79
2.5.2.3.3 Modelagem do conversor S-C operando
como fonte de corrente
O conversor da figura 2.31 é um inversor trifásico de quatro fios S-C (Inversor
Trifásico de Três Braços com Neutro Split-Capacitor). Pela figura 2.31, pode ser obser-
vada uma indutância conectada ao ponto central do barramento CC. A utilização desta
indutância é opcional e ela reduz os ripples de corrente. Outrossim, o controle dos
desequilíbrios de tensão CC é feito através do eixo zero e a inclusão desta indutância
é justificada pela montagem apresentada a seguir.
Figura 2.31: Filtro Ativo de Potência Série (Conversor S-C) a quatro fios.
= + (2.60)
= + (2.61)
em que:
La,b,c – indutâncias das fases abc;
LDa,b,c – indutâncias de dispersão das fases abc;
Ra,b,c – resistências dos indutores das fases abc;
RTa,b,c – resistências totais dos enrolamentos dos transformadores.
80
Condicionadores de Energia
= + + + + (2.62)
= + + + + (2.63)
= + + + + (2.64)
81
Figura 2.33: diagrama de blocos do modelo no referencial síncrono dq0.
82
Condicionadores de Energia
= + + + + (2.65)
= + + + + (2.66)
= + + + + (2.67)
= ( + + +3 +3 (2.68)
em que:
= + + (2.69)
= + + (2.70)
= + + (2.71)
= + + (2.72)
83
Isolando-se as derivadas das correntes de cada uma das fases, resultam as
equações dinâmicas das variações das correntes nos indutores de filtragem do
conversor paralelo, dadas pelas equações (2.73), (2.74) e (2.75).
= (2.73)
= (2.74)
= (2.75)
= +
(2.76)
(2.77)
pela Lei de Kirchhoff das correntes, a corrente no capacitor de filtragem também pode
ser representada pela equação (2.78).
(2.78)
(2.79)
(2.80)
(2.81)
84
Condicionadores de Energia
A representação na forma matricial das equações (2.79), (2.80) e (2.81) é dada por:
= + + (2.82)
em que:
x= u= w= (2.84)
A= A1 = A2 = (2.85)
A3 = A4 = (2.86)
B= B1 = B2 = (2.87)
F= F1 = F2 = (2.88)
85
(2.89)
dq0 (t) = Adq0 ∙ xdq0(t) + Bdq0 ∙ udq0(t) + Fdq0 ∙ wdq0(t)
onde:
Adq0 = A1 = A2 = (2.91)
A3 = A4 = (2.92)
Bdq0 = B1 = B2 = (2.93)
Fdq0 = F1 = F2 = (2.94)
O modelo da equação (2.89) pode ser representado por três circuitos no referencial
dq0 conforme a figura 2.35.
86
Condicionadores de Energia
87
2.5.2.4 Modelo da Malha de tensão do barramento CC
A partir de um sistema trifásico, onde (vsa, vsb, vsc) e (isa, isb, isc) representam
as tensões e correntes de entrada, a potência ativa instantânea trifásica é dada por:
ps = vsa ∙ isa + vsb ∙ isb + vsc ∙ isc (2.95)
em que:
idLm – corrente média de linha no referencial síncrono direto;
idLh – corrente oscilante de linha no referencial síncrono direto.
A potência ativa instantânea de saída é dada por:
pL = vd ∙ idL (2.98)
Divide-se a potência de saída em duas parcelas, uma parcela média pLm e uma
parcela oscilante pLh dadas pelas equações (2.99) e (2.100), respectivamente
A potência que circula pelo conversor paralelo pc é dada pela equação (2.101).
Das equações (2.96), (2.99) e (2.100), e sabendo que idLm é igual a id, a equação
(2.101) pode ser reescrita pela equação (2.102):
88
Condicionadores de Energia
= (2.105)
Gpv_cc = = (2.106)
89
Para o projeto do compensador de desequilíbrio, é necessário obter o modelo
matemático que relaciona o desequilíbrio de tensão em relação ao ponto médio do
barramento CC e a corrente de entrada do UPQC/UPS. Considera-se o circuito
simplificado mostrado na figura 2.38 para a obtenção do referido modelo matemático.
A malha de controle de desequilíbrio de tensão deve ser muito mais lenta que a
malha de controle de corrente no referencial zero do conversor série, de modo que o
controlador não introduza componentes alternadas no referencial zero, o que resultaria
em correntes desequilibradas na entrada do UPQC/UPS. Desta forma, são consideradas
duas fontes de corrente, as quais representam as correntes nas chaves de potência.
As correntes nos capacitores (Ccc+) e (Ccc-), considerando o circuito monofásico
da figura 2.38, são dadas pelas equações (2.107) e (2.108), respectivamente.
− = − (2.109)
Sabendo-se que Ccc+ = Ccc- = 2Ccc e que existe a contribuição das três fases, a
função de transferência da planta é dada pela equação (2.110).
= (2.110)
90
Condicionadores de Energia
91
DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES
DE POTÊNCIA
3 DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES DE POTÊNCIA
A figura 3.1 mostra uma distribuição dos componentes semicondutores, indicando
limites aproximados, para valores de tensão de bloqueio e corrente de condução.
Obviamente, esses limites evoluem com o desenvolvimento tecnológico e servem
como uma ilustração para a verificação, numa primeira aproximação, das faixas de
potência em que cada componente pode ser utilizado.
94
Condicionadores de Energia
elétron
ligação
rompida
ni ≈ (3.1)
em que:
C − é uma constante de proporcionalidade;
q − é a carga do elétron (valor absoluto);
Eg − é a banda de energia do semicondutor (1,1 eV para o Si);
k − é a constante de Boltzmann;
T − é a temperatura em Kelvin. Para o Si, à temperatura ambiente (300 K), ni ≈ 1010/cm3.
95
3.1.2 Semicondutores dopados
Quando se faz a adição de átomos de materiais que possuam 3 (como o alumínio
ou o boro) ou 5 elétrons (como o fósforo) em sua camada de valência à estrutura dos
semicondutores, os átomos vizinhos a tal impureza terão suas ligações covalentes
incompletas ou com excesso de elétrons, como mostra a figura 3.4.
(3.2)
96
Condicionadores de Energia
(3.3)
3.1.3 Recombinação
Uma vez que a quantidade ni é determinada apenas por propriedades do material
e pela temperatura, é necessário que exista algum mecanismo que faça a recom-
binação do excesso de portadores à medida que novos portadores são criados
pela ionização térmica.
Tal mecanismo inclui tanto a recombinação propriamente dita de um elétron
com uma lacuna em um átomo de Si, quanto a captura dos elétrons pela impu-
reza ionizada, ou adicionalmente, por imperfeições na estrutura cristalina. Tais
imperfeições fazem com que os átomos adjacentes não necessitem realizar 4
ligações covalentes.
Pode-se definir o tempo de vida de um portador como o tempo médio necessário
para que o elétron ou a lacuna sejam neutralizados pela consecução de uma ligação
covalente. Em muitos casos, pode-se considerar o tempo de vida de um portador
como uma constante do material. No entanto, especialmente nos semicondutores de
potência, esta não é uma boa simplificação.
Quando ocorre um significativo aumento na temperatura do semicondutor, tem-se
um aumento no tempo de recombinação do excesso de portadores, o que leva a um
aumento nos tempos de comutação dos dispositivos de tipo portadores minoritários,
como o transistor bipolar e os tiristores.
Já em situações de alta dopagem (1017/cm3 ou superior), a taxa de recombinação
aumenta, o que leva a um crescimento da queda de tensão sobre o dispositivo quando
este está em condução.
Uma vez que este tempo de vida dos portadores afeta significativamente o
comportamento dos dispositivos de potência, a obtenção de métodos que possam
controlá-lo é importante. Um dos métodos que possibilitam o ajuste desse tempo
é a dopagem com ouro, uma vez que este elemento funciona como um centro de
recombinação, já que realiza tal operação com grande facilidade. Outro método
é o da irradiação de elétrons de alta energia, bombardeando a estrutura crista-
lina de modo a deformá-la e, assim, criar centros de recombinação. Este último
método tem sido preferido devido à sua maior controlabilidade (a energia dos
elétrons é facilmente controlável, permitindo estabelecer a que profundidade do
cristal se quer realizar as deformações) e por ser aplicado no final do processo
de construção do componente.
97
Outro fator de movimentação de portadores é por difusão, quando existem regiões
adjacentes em que há diferentes concentrações de portadores. O movimento aleatório
dos portadores tende a equalizar sua dispersão pelo meio, de modo que tende a haver
uma migração de portadores das regiões mais concentradas para as mais dispersas.
98
Condicionadores de Energia
Figura 3.6: estrutura típica de diodo de potência e formas de onda típicas de comutação de diodo de potência.
99
Durante t1, remove-se a carga acumulada na região de transição. Como ainda
não houve significativa injeção de portadores, a resistência da região N− é elevada,
produzindo um pico de tensão. Indutâncias parasitas do componente e das conexões
também colaboram com a sobretensão. Durante t 2 tem-se a chegada dos porta-
dores e a redução da tensão para cerca de 1 V. Esses tempos são, tipicamente, da
ordem de centenas de ns.
No desligamento, a carga espacial presente na região N− deve ser removida
antes que se possa reiniciar a formação da barreira de potencial na junção. Enquanto
houver portadores transitando, o diodo se mantém em condução. A redução em Von
se deve à diminuição da queda ôhmica. Quando a corrente atinge seu pico negativo
é que foi retirado o excesso de portadores, iniciando-se, então, o bloqueio do diodo.
A taxa de variação da corrente, associada às indutâncias do circuito, provoca uma
sobretensão negativa.
A figura 3.7 mostra resultados experimentais de um diodo de potência lento
(retificador) em um circuito como o da figura 3.6, no qual a indutância é desprezível,
como se nota na figura 3.7, item a), pela inversão quase imediata da polaridade da
corrente. A corrente reversa é limitada pela resistência presente no circuito. Já na
entrada em condução, a tensão aplicada ao circuito aparece instantaneamente sobre
o próprio diodo, o que contribui para limitar o crescimento da corrente. Quando essa
tensão cai, a corrente vai assumindo seu valor de regime.
Figura 3.7: resultados experimentais das comutações de diodo: a) desligamento; b) entrada em condução.
100
Condicionadores de Energia
Figura 3.8: (a) estrutura de diodo Schottky; (b) forma de onda típica no desligamento.
3.4 Tiristor
O nome tiristor engloba uma família de dispositivos semicondutores que operam
em regime chaveado, tendo em comum uma estrutura de 4 camadas semicondutoras
numa sequência p-n-p-n, apresentando um funcionamento biestável.
101
O tiristor de uso mais difundido é o SCR (retificador controlado de silício), usual-
mente chamado simplesmente de tiristor. Outros componentes, no entanto, possuem
basicamente uma mesma estrutura: LASCR (SCR ativado por luz), também chamado
de LTT (light triggered thyristor), TRIAC (tiristor triodo bidirecional), DIAC (tiristor diodo
bidirecional), GTO (tiristor comutável pela porta), MCT (tiristor controlado por MOS).
102
Condicionadores de Energia
Quando uma corrente Ig positiva é aplicada, Ic2 e Ik crescerão. Como Ic2 = Ib1, T1
conduzirá e se obterá Ib2 = Ic1 + Ig, que aumentará Ic2 e, assim, o dispositivo evoluirá
até a saturação, mesmo que Ig seja retirada. Tal efeito cumulativo ocorre se os ganhos
dos transistores forem maior que 2. O componente se manterá em condução desde
que, após o processo dinâmico de entrada em condução, a corrente de ânodo tenha
atingido um valor superior ao limite IL, chamado de corrente de latching.
Para que o tiristor deixe de conduzir é necessário que a corrente por ele caia
abaixo do valor mínimo de manutenção (IH), permitindo que se restabeleça a barreira
de potencial em J2. Para a comutação do dispositivo não basta, pois, a aplicação de
uma tensão negativa entre ânodo e cátodo. Tal tensão reversa apressa o processo
de desligamento por deslocar nos sentidos adequados os portadores na estrutura
cristalina, mas não garante, sozinha, o desligamento.
Devido a características construtivas do dispositivo, a aplicação de uma pola-
rização reversa do terminal de gate não permite a comutação do SCR. Este será um
comportamento dos GTOs, como se verá adiante.
103
3.4.2 Maneiras de disparar um tiristor
Pode-se considerar cinco maneiras distintas de fazer com que um tiristor entre
em condução:
a) Tensão: quando polarizado diretamente, no estado desligado, a tensão de polari-
zação é aplicada sobre a junção J2. O aumento da tensão Vak leva a uma expansão da região
de transição tanto para o interior da camada do gate quanto para a camada N adjacente.
Mesmo na ausência de corrente de gate, por efeito térmico, sempre existirão cargas livres
que penetram na região de transição (no caso, elétrons), as quais são aceleradas pelo
campo elétrico presente em J2. Para valores elevados de tensão (e, consequentemente, de
campo elétrico), é possível iniciar um processo de avalanche, no qual as cargas aceleradas,
ao chocarem-se com átomos vizinhos, provoquem a expulsão de novos portadores, os
quais reproduzem o processo. Tal fenômeno, do ponto de vista do comportamento do fluxo
de cargas pela junção J2, tem efeito similar ao de uma injeção de corrente pelo gate, de
modo que, se ao se iniciar a passagem de corrente for atingido o limiar de IL, o dispositivo
se manterá em condução. A figura 3.11 mostra a característica estática de um SCR.
Figura 3.12: condições para disparo de tiristor através de controle pela porta.
104
Condicionadores de Energia
O valor Vgm indica a mínima tensão de gate que garante a condução de todos os
componentes de um dado tipo, na mínima temperatura especificada.
O valor Vgo é a máxima tensão de gate que garante que nenhum componente de
um dado tipo entrará em condução, na máxima temperatura de operação.
A corrente Igm é a mínima corrente necessária para garantir a entrada em condução
de qualquer dispositivo de um certo tipo, na mínima temperatura.
Para garantir a operação correta do componente, a reta de carga do circuito de
acionamento deve garantir a passagem além dos limites Vgm e Igm, sem exceder os
demais limites (tensão, corrente e potência máximas).
c) Taxa de crescimento da tensão direta: quando reversamente polarizadas,
a área de transição de uma junção comporta-se de maneira similar a um capacitor,
devido ao campo criado pela carga espacial. Considerando que praticamente toda a
tensão está aplicada sobre a junção J2 (quando o SCR estiver desligado e polarizado
diretamente), a corrente que atravessa tal junção é dada por:
(3.4)
onde:
Cj – é a capacitância da junção.
Quando Vak cresce, a capacitância diminui, uma vez que a região de tran-
sição aumenta de largura. Entretanto, se a taxa de variação da tensão for suficiente-
mente elevada, a corrente que atravessará a junção pode ser suficiente para levar o
tiristor à condução.
Uma vez que a capacitância cresce com o aumento da área do semicondutor,
os componentes para correntes mais elevadas tendem a ter um limite de dv/dt menor.
Observa-se que a limitação diz respeito apenas ao crescimento da tensão direta (Vak
> 0). A taxa de crescimento da tensão reversa não é importante, uma vez que as
correntes que circulam pelas junções J1 e J3, em tal situação, não têm a capacidade
de levar o tiristor a um estado de condução.
Utilizam-se circuitos RC em paralelo com os tiristores com o objetivo de limitar
a velocidade de crescimento da tensão direta sobre eles.
d) Temperatura: a altas temperaturas, a corrente de fuga numa junção p-n
reversamente polarizada dobra aproximadamente com o aumento de 8ºC. Assim, a
elevação da temperatura pode levar a uma corrente através de J2 suficiente para levar
o tiristor à condução.
e) Energia radiante: energia radiante dentro da banda espectral do silício, incidindo
e penetrando no cristal, produz considerável quantidade de pares elétrons-lacunas,
aumentando a corrente de fuga reversa, possibilitando a condução do tiristor. Esse
tipo de acionamento é o utilizado nos LASCR, cuja aplicação principal é em sistemas
que operam em elevado potencial, onde a isolação necessária só é obtida por meio
de acoplamentos óticos.
105
3.4.3 Parâmetros básicos de tiristores
Serão apresentados alguns parâmetros típicos de tiristores que caracterizam
condições-limites para sua operação:
yy Tensão direta de ruptura (VBO);
yy Máxima tensão reversa (VBR);
yy Máxima corrente de ânodo (Iamax): pode ser dada como valor RMS, médio,
de pico e/ou instantâneo;
yy Máxima temperatura de operação (Tjmax): temperatura acima da qual, devido
a um possível processo de avalanche, pode haver destruição do cristal;
yy Resistência térmica (Rth): é a diferença de temperatura entre 2 pontos espe-
cificados ou regiões dividida pela potência dissipada sob condições de equilíbrio
térmico. É uma medida das condições de fluxo de calor do cristal para o meio externo;
yy Característica I2t: é o resultado da integral do quadrado da corrente de ânodo
num determinado intervalo de tempo, sendo uma medida da máxima potência dissipável
pelo dispositivo. É dado básico para o projeto dos circuitos de proteção;
yy Máxima taxa de crescimento da tensão direta Vak (dv/dt);
yy Máxima taxa de crescimento da corrente de ânodo (di/dt): fisicamente, o início
do processo de condução de corrente pelo tiristor ocorre no centro da pastilha de silício,
ao redor da região onde foi construída a porta, espalhando-se radialmente até ocupar
toda a superfície do cátodo, à medida que cresce a corrente. No entanto, se a corrente
crescer muito rapidamente, antes que haja a expansão necessária na superfície condu-
tora, haverá um excesso de dissipação de potência na área de condução, danificando
a estrutura semicondutora. Esse limite é ampliado para tiristores de tecnologia mais
avançada fazendo-se a interface entre gate e cátodo com uma maior área de contato,
por exemplo, interdigitando o gate. A figura 3.13 ilustra esse fenômeno:
Figura 3.13: expansão da área de condução do tiristor a partir das vizinhanças da região de gate.
yy Corrente de manutenção de condução (IH): a mínima corrente de ânodo
necessária para manter o tiristor em condução;
yy Corrente de disparo (IL): mínima corrente de ânodo requerida para manter
o SCR ligado imediatamente após ocorrer a passagem do estado desligado para o
ligado e ser removida a corrente de porta;
106
Condicionadores de Energia
107
yy Comutação natural: é utilizada em sistemas de CA nos quais, em função do
caráter ondulatório da tensão de entrada, em algum instante a corrente tenderá a
se inverter e terá, assim, seu valor diminuído abaixo de IH, desligando o tiristor. Isso
ocorrerá desde que, num intervalo inferior a toff, não cresça a tensão direta Vak, o que
poderia levá-lo novamente à condução.
A figura 3.15 mostra um circuito de um controlador de tensão CA, alimentando
uma carga RL, bem como as respectivas formas de onda. Observa-se que, quando a
corrente se anula, a tensão sobre a carga se torna zero, indicando que nenhum dos
SCRs está em condução.
108
Condicionadores de Energia
Figura 3.17: topologia com comutação forçada de SCR e formas de onda típicas.
A figura 3.18 mostra detalhes de operação do circuito auxiliar de comutação.
109
Em t1, o tiristor principal, Sp, é disparado, conectando a fonte à carga e levando o
diodo Df ao desligamento. Ao mesmo tempo, surge uma malha formada por Sp, Cr, D1 e
Lr, a qual permite a ocorrência de uma ressonância entre Cr e Lr, levando à inversão na
polaridade da tensão do capacitor. Em t1 a tensão atinge seu máximo e o diodo D1 desliga
(pois a corrente se anula). O capacitor está preparado para realizar a comutação de Sp.
Quando o tiristor auxiliar, Sa, é disparado, em t 2, a corrente da carga passa a ser
fornecida através do caminho formado por Lr, Sa e Cr, levando a corrente por Sp a zero,
ao mesmo tempo em que se aplica uma tensão reversa sobre ele, de modo a desligá-lo.
Continua a haver corrente por Cr, a qual, em t3, se torna igual à corrente da carga,
fazendo com que a variação de sua tensão assuma uma forma linear. Essa tensão
cresce (no sentido negativo) até levar o diodo de circulação à condução, em t4. Como
ainda existe corrente pelo indutor Lr, ocorre uma pequena oscilação na malha Lr, Sa,
Cr e D2 e, quando a corrente por Sa se anula, o capacitor se descarrega até a tensão
Vcc na malha formada por Cr, D1, Lr, fonte e Df.
110
Condicionadores de Energia
111
3.4.6.1 Estado estacionário
Além das considerações já feitas quanto à montagem mecânica, algumas outras
providências podem ser tomadas para melhorar o equilíbrio de corrente nos tiristores:
a) Impedância série: a ideia é adicionar impedâncias em série com cada
componente a fim de limitar o eventual desequilíbrio. Se a corrente crescer num ramo,
haverá aumento da tensão, o que fará com que a corrente se distribua entre os demais
ramos. O uso de resistores implica no aumento das perdas, uma vez que, dado o nível
elevado da corrente, a dissipação pode atingir centenas de Watts, criando problemas
de dissipação e eficiência. Outra alternativa é o uso de indutores lineares.
b) Reatores acoplados: conforme ilustrado na figura 3.20, se a corrente por
SCR1 tende a se tornar maior que por SCR 2, uma força contra-eletromotriz aparecerá
sobre a indutância, proporcionalmente ao desbalanceamento, tendendo a reduzir
a corrente por SCR 2. Ao mesmo tempo, uma tensão é induzida do outro lado do
enrolamento, aumentando a corrente por SCR 2. As mais importantes características
do reator são alto valor da saturação e baixo fluxo residual, para permitir uma grande
excursão do fluxo a cada ciclo.
3.4.6.2 Disparo
Há duas características do tiristor bastante importantes para a boa divisão de
corrente entre os componentes no momento em que se deve dar o início da condução:
o tempo de atraso (td) e a mínima tensão de disparo (Von min).
O tempo de atraso pode ser interpretado como o intervalo entre a aplicação do
sinal de gate e a real condução do tiristor.
112
Condicionadores de Energia
3.4.6.3 Desligamento
Especialmente com carga indutiva, deve-se prever algum tipo de arranjo que
consiga manter o equilíbrio de corrente mesmo que haja diferentes características
entre os tiristores (especialmente relacionadas com os tempos de desligamento). A
capacitância do circuito amaciador limita o desbalanceamento, uma vez que absorve
a corrente do tiristor, que começa a desligar.
113
Figura 3.21: tensões em associação de tiristores sem rede de equalização.
114
Condicionadores de Energia
3.4.7.2 Disparo
Um método que pode ser usado para minimizar o desequilíbrio do estado II é
fornecer uma corrente de porta com potência suficiente e de rápido crescimento, para
minimizar as diferenças relativas ao tempo de atraso. A largura do pulso deve ser tal
que garanta a continuidade da condução de todos os tiristores.
3.4.7.3 Desligamento
Para equalizar a tensão no estado V, um capacitor é ligado entre ânodo e cátodo
de cada tiristor. Se a impedância do capacitor é suficientemente baixa e/ou se utiliza
a constante de tempo necessária, o crescimento da tensão no dispositivo mais rápido
será limitado até que todos se recombinem. Essa implementação também alivia a
situação no disparo, uma vez que realiza uma injeção de corrente no tiristor, facilitando
a entrada em condução de todos os dispositivos.
No entanto, se o capacitor providencia excelente equalização de tensão, o pico
de corrente injetado no componente no disparo pode ser excessivo, devendo ser
limitado por meio de um resistor em série com o capacitor. É interessante um alto valor
de R e baixo valor de C para, com o mesmo RC, obter pouca dissipação de energia.
Porém, se o resistor for de valor muito elevado, será imposta uma tensão de rápido
crescimento sobre o tiristor, podendo ocasionar disparo por dv/dt. Usa-se então um
diodo em paralelo com o resistor, garantindo um caminho de carga para o capacitor,
enquanto a descarga se faz por R. O diodo deve ter uma característica suave de
recombinação para evitar efeitos indesejáveis associados às indutâncias parasitas
das ligações. Recomenda-se o uso de capacitores de baixa indutância parasita. A
figura 3.22 ilustra tais circuitos de equalização.
115
Figura 3.23: circuitos de acionamento de pulso.
a) Transformador de pulso: nesse caso, têm-se transformadores capazes de
responder apenas em alta frequência, mas que possibilitam a transferência de pulsos
de curta duração (até centenas de microssegundos), após o que o transformador
satura. Caso seja necessário um pulso mais largo, ele poderá ser obtido por meio de
um trem de pulsos, colocando-se um filtro passa-baixa no lado de saída. Com tais
dispositivos, deve-se prever algum tipo de limitação de tensão no secundário (onde
está conectado o gate), para que se evitem as sobretensões.
Quando se usar transformador de pulso é preciso garantir que ele suporte
pelo menos a tensão de pico da alimentação. Como as condições de disparo podem
diferir consideravelmente entre os tiristores, é comum inserir uma impedância em
série com o gate para evitar que um tiristor com menor impedância de gate drene o
sinal de disparo, impedindo que os demais dispositivos entrem em condução. Essa
impedância em série pode ser um resistor ou um capacitor, que tornaria mais rápido
o crescimento do pulso de corrente.
b) Acoplamento luminoso: o acoplamento ótico apresenta como principal
vantagem a imunidade a interferências eletromagnéticas, além da alta isolação de
potencial. Dois tipos básicos de acopladores são usados: os opto-acopladores e as
fibras ópticas. No primeiro caso, tem-se um dispositivo em que o emissor e o receptor
estão integrados, apresentando uma isolação típica de 2.500 V. Já para as fibras
ópticas, o isolamento pode ser de centenas de kV.
A potência necessária para o disparo é provida por duas fontes: uma para
alimentar o emissor (em geral a própria fonte do circuito de controle) e outra para o
lado do receptor. Eventualmente, a própria carga armazenada no capacitor do circuito
amaciador (ou rede de equalização), através de um transformador de corrente, pode
fornecer a energia para o lado do receptor, a partir da corrente que circula pelo tiristor,
assegurando potência durante todo o período de condução.
3.4.8 Sobretensão
As funções gerais da proteção contra sobretensão são: assegurar, tão rápido
quanto possível, que qualquer falha em algum componente afete apenas aquele
tiristor diretamente associado a ele; aumentar a confiabilidade do sistema; evitar
reações na rede (como excitação de ressonâncias). Essas sobretensões podem ser
causadas tanto por ações externas como por distribuição não homogênea das tensões
entre os dispositivos.
116
Condicionadores de Energia
3.4.9 Resfriamento
As características do tiristor são fornecidas a uma certa temperatura da junção. O
calor produzido na pastilha deve ser dissipado, devendo transferir-se da pastilha para o
encapsulamento, deste para o dissipador e daí para o meio de refrigeração (ar ou líquido).
Esse conjunto possui uma capacidade de armazenamento de calor, ou seja,
uma constante de tempo térmica, que permite sobrecargas de corrente por períodos
curtos. Tipicamente, essa constante é da ordem de 3 minutos para a refrigeração a ar.
A temperatura de operação da junção deve ser muito menor que o máximo
especificado. Ao aumento da temperatura corresponde uma diminuição na capa-
cidade de suportar tensões no estado de bloqueio. Tipicamente, essa temperatura
não deve exceder 120ºC.
O sistema de refrigeração deve possuir redundância, ou seja, uma falha no sistema
deve acionar a operação de um outro, garantindo a troca de calor necessária. Existem
várias maneiras de implementar as trocas: circulação externa de ar filtrado, circulação
interna de ar (com trocador de calor), refrigeração com líquido, etc. A escolha do tipo
de resfriamento é influenciada pelas condições ambientais e preferências do usuário.
117
desloca-se até a camada N adjacente, atravessando a barreira de potencial e sendo
atraídos pelo potencial do ânodo, dando início à corrente anódica. Se esta corrente
se mantiver acima da corrente de manutenção, o dispositivo não necessita do sinal
de gate para manter-se conduzindo.
A figura 3.24 mostra o símbolo do GTO e uma representação simplificada dos
processos de entrada e saída de condução do componente.
118
Condicionadores de Energia
119
dv/dt: máxima taxa de crescimento da tensão direta de ânodo para cátodo;
yy IH: corrente de manutenção – corrente de ânodo que mantém o GTO em
condução mesmo na ausência de corrente de porta;
yy IL: corrente de disparo – corrente de ânodo necessária para que o GTO entre
em condução com o desligamento da corrente de gate;
tgt: tempo de disparo – tempo entre a aplicação da corrente de gate e a queda da tensão Vak;
tgq: tempo de desligamento – tempo entre a aplicação de uma corrente negativa de
gate e a queda da corrente de ânodo (tgq = ts + t f );
ts: tempo de armazenamento.
120
Condicionadores de Energia
121
A energia armazenada no capacitor será praticamente toda dissipada em R.
Especialmente em aplicações de alta tensão e alta frequência, essa potência pode
assumir valores excessivos. Em tais casos, deve-se buscar soluções ativas, nas quais
a energia acumulada no capacitor seja devolvida à fonte ou à carga.
A potência a ser retirada do capacitor é dada por:
(3.5)
em que:
V – é a tensão de alimentação;
fs – é a frequência de chaveamento.
Como exemplo, supõe um circuito alimentado em 1.000 V, operando a 1 kHz
com um capacitor de 1 µF. Isso significa uma potência de 500 W.
122
Condicionadores de Energia
Para reduzir esse efeito, um circuito amaciador para o disparo pode ser neces-
sário, com o objetivo de reduzir a tensão sobre o GTO em sua entrada em condução.
Pode-se utilizar um circuito amaciador formado, basicamente, por um indutor com núcleo
saturável, que atue de maneira significativa apenas durante o início do crescimento da
corrente, mas sem armazenar uma quantidade significativa de energia.
3.6 IGCT
O IGCT é um dispositivo surgido no final da década de 90, capaz de comutação
comandada para ligar e desligar, com aplicações em média e alta potência.
Em termos de aplicações, é um elemento que pode substituir os GTOs.
Além de algumas melhorias no projeto do dispositivo, a principal característica do
IGCT, que lhe dá o nome, é a integração do circuito de comando junto ao dispositivo
de potência, como mostrado na figura 3.29. Tal implementação permite minimizar
indutâncias nesse circuito, o que resulta na capacidade de desligamento muito rápida
(da ordem de 1 µs), e praticamente eliminando problemas de dv/dt típicos dos GTOs.
Com isso, a ligação série desses componentes é muito facilitada.
Figura 3.29: IGCT e seu circuito de comando integrado ao dispositivo de potência e circuito
de inversor com IGCT.
123
A operação do IGCT no desligamento se deve ao fato de que, pela ação do circuito
de comando, a estrutura pnpn do tiristor é convertida em uma estrutura de transistor
pnp, imediatamente antes do desligamento. Isso é feito com o desvio da totalidade da
corrente de cátodo pelo circuito de gate, enquanto aplica-se uma tensão negativa de
gate. Disso resulta um dispositivo que dinâmica e estaticamente se desliga como um
IGBT, mas que conduz como um tiristor, como mostra a figura 3.30.
São possíveis dispositivos com condução assimétrica ou com diodo reverso integrado.
124
Condicionadores de Energia
No caso NPN, os elétrons são atraídos ao emissor pelo potencial positivo da base.
Essa camada central é suficientemente fina para que a maior parte dos portadores
tenha energia cinética suficiente para atravessá-la, chegando à região de transição
de J2, sendo, então, atraídos pelo potencial positivo do coletor.
O controle de Vbe determina a corrente de base, Ib, que, por sua vez, se relaciona
com Ic pelo ganho de corrente do dispositivo.
Na realidade, a estrutura interna dos TBPs é diferente. Para suportar tensões
elevadas, existe uma camada intermediária do coletor, com baixa dopagem, a qual
define a tensão de bloqueio do componente.
A figura 3.32 mostra uma estrutura típica de um transistor bipolar de potência.
As bordas arredondadas da região de emissor permitem uma homogeneização do
campo elétrico, necessária à manutenção de ligeiras polarizações reversas entre base
e emissor. O TBP não sustenta tensão no sentido oposto porque a alta dopagem do
emissor provoca a ruptura de J1 em baixas tensões (5 a 20 V).
O uso preferencial de TBP tipo NPN se deve às menores perdas em relação aos
PNP, o que ocorre por causa da maior mobilidade dos elétrons em relação às lacunas,
reduzindo, principalmente, os tempos de comutação do componente.
125
Figura 3.33: tipos de conexão do circuito de base e máximas tensões Vce.
126
Condicionadores de Energia
127
Os TBP apresentam uma região chamada de quase-saturação, gerada, princi-
palmente, pela presença da camada N – do coletor.
À semelhança da carga espacial armazenada nos diodos, nos transistores
bipolares também ocorre estocagem de carga.
Na região ativa, J2 está reversamente polarizada e ocorre uma acumulação de
elétrons na região da base. Quando se aproxima da saturação, J2 fica diretamente
polarizada, atraindo lacunas da base para o coletor. Tais lacunas associam-se a
elétrons vindos do emissor e que estão migrando pelo componente, criando uma carga
espacial que penetra a região N –. Isso representa um alargamento da região da base,
implicando na redução do ganho do transistor. Tal situação caracteriza a chamada
quase-saturação. Quando essa distribuição de carga espacial ocupa toda a região
N –, chega-se, efetivamente, à saturação.
É claro que no desligamento toda essa carga terá que ser removida antes do
efetivo bloqueio do TBP, o que sinaliza a importância do ótimo circuito de acionamento
de base para que o TBP possa operar numa situação que minimize o tempo de desli-
gamento e a dissipação de potência (associada ao valor de Vce).
128
Condicionadores de Energia
129
3.7.6 Circuitos amaciadores (ou de ajuda à comutação)
– snubber
O papel dos circuitos amaciadores é garantir a operação do TBP dentro da AOS,
especialmente durante o chaveamento de cargas indutivas.
a) Desligamento: objetivo – atrasar o crescimento de Vce (figura 3.39).
130
Condicionadores de Energia
131
Figura 3.42: conexão Darlington.
132
Condicionadores de Energia
133
Figura 3.45: forma de onda de corrente de base recomendada para acionamento de TBP.
3.8 MOSFET
Enquanto o TBP foi inventado no final dos anos 1940, já em 1925 fora registrada
uma patente (concedida em 1930 a Julius Edgard Lilienfeld, reproduzida na figura
3.47) que se referia a um método e um dispositivo para controlar o fluxo de uma
corrente elétrica entre dois terminais de um sólido condutor. Tal patente, que pode
ser considerada a precursora dos Transistores de Efeito de Campo, no entanto, não
redundou em um componente prático, uma vez que não havia, então, tecnologia que
permitisse a construção dos dispositivos. Isso se modificou nos anos 1960, quando
surgiram os primeiros FETs, mas ainda com limitações importantes em termos de
características de chaveamento. Nos anos 80, com a tecnologia MOS, foi possível
construir dispositivos capazes de comutar valores significativos de corrente e tensão,
em velocidade superior ao que se obtinha com os TBP.
134
Condicionadores de Energia
135
3.8.1 Princípio de funcionamento (canal N)
O terminal de gate é isolado do semicondutor por SiO2. A junção PN – define um
diodo entre Source e Drain, o qual conduz quando Vds < 0. A operação como transistor
ocorre quando Vds > 0. A figura 3.48 mostra a estrutura básica do transistor.
Quando uma tensão Vgs > 0 é aplicada, o potencial positivo no gate repele as
lacunas na região P, deixando uma carga negativa, mas sem portadores livres. Quando
essa tensão atinge certo limiar (Vth), elétrons livres (gerados principalmente por efeito
térmico) presentes na região P são atraídos e formam um canal N dentro da região P,
pelo qual se torna possível a passagem de corrente entre D e S. Elevando Vgs, mais
portadores são atraídos, ampliando o canal e reduzindo sua resistência (Rds), permi-
tindo o aumento de Id. Esse comportamento caracteriza a chamada região resistiva.
A passagem de Id pelo canal produz uma queda de tensão que leva ao seu
afunilamento, ou seja, o canal é mais largo na fronteira com a região N+ do que quando
se liga à região N –. Um aumento de Id leva a uma maior queda de tensão no canal e
a um maior afunilamento, o que conduziria ao seu colapso e à extinção da corrente.
Obviamente, o fenômeno tende a um ponto de equilíbrio, no qual a corrente Id se
mantém constante para qualquer Vds, caracterizando a região ativa do MOSFET. A
figura 3.49 mostra a característica estática do MOSFET.
136
Condicionadores de Energia
137
Figura 3.50: AOS para MOSFET.
138
Condicionadores de Energia
Figura 3.51: formas de onda na entrada em condução de MOSFET com carga indutiva.
139
Figura 3.52: capacitâncias de transistor MOSFET.
140
Condicionadores de Energia
141
Como regras básicas:
yy Em alta frequência e baixa potência – MOSFET;
yy Em baixa tensão – MOSFET;
yy Em alta potência – IGBT;
yy Em baixa frequência – IGBT;
yy Custo mínimo, sem maiores exigências de desempenho – TBP.
* Diamante → grafite.
Tabela 3.1: propriedades de materiais semicondutores.
142
Condicionadores de Energia
Tabela 3.3: dopagem e comprimento da região de deriva necessária para uma junção abrupta.
Na tabela 3.3 tem-se, para um dispositivo que deve suportar 1 kV, as necessi-
dades de dopagem e o comprimento da região de deriva. Nota-se também aqui que
os novos materiais permitirão uma redução drástica no comprimento dos dispositivos,
implicando numa menor quantidade de material, embora isso não necessariamente
tenha impacto sobre o custo. Um dispositivo de diamante seria, em princípio, capaz
de suportar 1 kV com uma dopagem elevada na região de deriva e num comprimento
de apenas 2 µm, ou seja, 50 vezes menos que um componente equivalente de Si.
Tabela 3.4: tempo de vida de portador (na região de deriva) para uma junção p-n com ruptura de 1.000 V.
143
ópticas. Não existe ainda tecnologia para produzir pastilhas com o grau de pureza e
dimensão necessárias à construção de componentes de potência. Além disso, em
relação ao Si esse material não possui um óxido natural (como é o SiO2), dificultando
a formação de camadas isolantes e de máscaras para os processos litográficos. Em
1994, a Motorola anunciou o lançamento comercial de diodo Schottky de 600 V. No
entanto, embora para este componente específico o aumento da tensão seja signifi-
cativo, as vantagens do GaAs sobre o Si são incrementais quando comparadas com
os outros materiais.
Para componentes de SiC, em 2003 a Infineon passou a comercializar um
diodo Schottky, para 600 V, com corrente até 12 A (SDP12S06). Não está disponível
nenhum componente de estrutura mais complexa, em nível de potência compatível
com as aplicações de interesse. O custo desse componente ainda é muito elevado
frente aos dispositivos de Si.
Quanto ao diamante, não existe ainda uma tecnologia para a construção de
waffers de monocristal de diamante. Os métodos existentes para a produção de filmes
finos levam a estruturas policristalinas. A difusão seletiva de dopantes e a realização
de contatos ôhmicos ainda devem ser objeto de profundas pesquisas.
144
Condicionadores de Energia
145
TÉCNICAS DE MODULAÇÃO EM POTÊNCIA
4 TÉCNICAS DE MODULAÇÃO EM POTÊNCIA
Uma vez que as fontes de alimentação são, tipicamente, de valor constante,
sejam elas CA ou CC, caso seja preciso variar a tensão aplicada sobre uma carga
é necessário o emprego de algum dispositivo que seja capaz de dosar a quantidade
de energia transferida.
Se o controle deve ser feito sobre a tensão, o dispositivo deve ter uma posição
em série entre a fonte e a carga, como indicado na figura 4.1.
Figura 4.1: reguladores de tensão série (a) e chaveado (b), supondo uma tensão de entrada CC.
Pode-se ter um atuador linear sobre o qual tem-se uma queda de tensão propor-
cional à sua impedância. Esse tipo de controle da tensão tem como inconveniente
a perda de energia sobre a resistência série. Caso tenha-se uma reatância nessa
posição, além da dificuldade de variação no valor de uma capacitância ou indutância
tem-se que a energia reativa armazenada é similar àquela da própria carga.
A maneira mais eficiente e simples de manobrar valores elevados de potência
é por meio de chaves. Obviamente, essa não é uma variação contínua. No entanto,
dada a característica de armazenadores de energia presente em praticamente quase
todas as aplicações, a própria carga atua como um filtro, extraindo o valor médio
da tensão instantânea aplicada sobre ela.
Como uma chave ideal apresenta apenas os estados de condução (quando a
tensão sobre ela é nula) e de bloqueio (quando a corrente por ela é nula), não existe
dissipação de potência sobre ela, garantindo a eficiência energética do arranjo.
Na maior parte dos casos, a frequência de comutação da chave é muito
maior do que a constante de tempo da carga. Por exemplo, se a carga for uma
lâmpada, não se deseja observar cintilação luminosa; se for um motor, não se quer
um torque pulsante.
148
Condicionadores de Energia
Figura 4.2: circuito e forma de onda de variador de tensão CA alimentando carga resistiva.
(4.1)
em que:
vi(t) = Vi · sen(θ);
θ = ωt;
α: é o ângulo de disparo do SCR, medido a partir do cruzamento da tensão com o zero.
A figura 4.3 mostra a variação da tensão eficaz de saída como função do ângulo
de disparo, supondo condução simétrica de ambas as chaves.
149
O fator de potência é dado pela relação entre a potência ativa e a potência aparente.
Como a carga é resistiva, a potência ativa é aquela dissipada em R, dependendo,
assim, do valor eficaz da tensão de saída.
Como a corrente da fonte é a mesma da carga, o fator de potência é simples-
mente a relação entre a tensão eficaz de saída e a tensão eficaz de entrada, ou seja,
apresenta exatamente o mesmo comportamento mostrado na figura 4.3.
Figura 4.3: tensão de saída (sobre uma carga resistiva), normalizada em relação ao valor eficaz
da tensão de entrada.
A componente fundamental da tensão na carga é dada por:
(4.2)
(4.3)
Figura 4.4: amplitude das harmônicas (normalizada em relação à amplitude da tensão de entrada),
para carga resistiva.
150
Condicionadores de Energia
Figura 4.5: circuito e formas de onda de variador de tensão CA com carga indutiva.
A operação, nesse caso, só é possível para ângulos de disparo entre 90º e 180º.
Se o disparo ocorrer para um ângulo inferior a 90º, a corrente pelo indutor S1 não
terá se anulado quando ocorrer o pulso para S2, de modo que S2 não poderá entrar
em condução. Após alguns instantes a corrente irá a zero, desligando S1, o qual, ao
receber o novo pulso de disparo, entrará novamente em condução. Dessa forma, ao
invés de se ter uma corrente CA sobre a indutância, ela será uma corrente unidirecional.
Uma alternativa para garantir uma corrente bidirecional é, ao invés de enviar
apenas um pulso de disparo, manter o sinal de comando até o final de cada semiciclo.
Isso faz com que o controlador de tensão se comporte como um curto, mantendo uma
corrente CA, mas sem controle.
A corrente obedece à seguinte expressão:
(4.4)
(4.5)
151
Figura 4.6: tensão eficaz, normalizada, para carga indutiva.
(4.6)
(4.7)
152
Condicionadores de Energia
Figura 4.7: amplitude (normalizada) das harmônicas da tensão e da corrente sobre uma carga indutiva.
(4.8)
(4.9)
para k = 3, 5, 7, ... .
V: é o valor eficaz da tensão de entrada;
γ: é o ângulo de condução do SCR;
XL: é a reatância do indutor na frequência fundamental.
c) Carga RL: quando a carga alimentada possui característica resistivo-indutiva,
existe também uma limitação em termos do mínimo ângulo de disparo, o qual depende
da impedância da carga, Z. A figura 4.8 mostra o circuito e formas de onda típicas.
153
Considerando uma situação de condução descontínua (na qual a corrente
por cada um dos tiristores vai a zero dentro de um semiciclo), tem-se que, em t1, o
tiristor S1, que está diretamente polarizado, é acionado. A corrente cresce e, mesmo
com a inversão da polaridade da tensão de entrada, o SCR continua conduzindo,
até que sua corrente caia abaixo do valor de manutenção (em t 2). O outro tiristor,
S2, recebe o pulso de comando em t3, iniciando o semiciclo negativo da corrente, a
qual se extinguirá em t4.
(4.10)
(4.11)
(4.12)
A corrente se anula para um ângulo de extinção, β, obtido pela solução numérica de:
(4.13)
(4.14)
154
Condicionadores de Energia
Figura 4.9: topologias de variadores de tensão trifásicos: a) com carga em Y; b) com controlador em Y;
c) com variador e carga em ∆; d) com variador em ∆.
155
Nota-se que existem intervalos nos quais há corrente pelas 3 fases, enquanto,
em outros momentos, ela circula por apenas 2 fases. A figura 4.11 mostra as mesmas
correntes para um ângulo de disparo de 108º. Observa-se que, nesse caso, a corrente
existe sempre por apenas 2 fases.
(4.15)
A figura 4.12 mostra formas de onda típicas de uma corrente de fase e uma
corrente de linha resultante. A corrente de linha depende do ângulo de disparo. Seu valor
eficaz pode ser obtido por solução numérica ou por uma análise via série de Fourier.
156
Condicionadores de Energia
Figura 4.12: formas de onda de corrente de fase (superior) e corrente de linha (inferior) para conexão em ∆.
157
Para ângulos entre 90 e 120º existem instantes em que 2 fases conduzem e
outros em que as 3 fases têm corrente. Pode-se determinar o ângulo β no qual uma das
fases deixa de conduzir, levando o circuito ao estado em que apenas 2 fases operam.
A figura 4.14 mostra a corrente em uma fase, para um ângulo de disparo de 108º.
Figura 4.14: corrente de fase para carga indutiva e disparo entre 90 e 120º.
Quando o ângulo de disparo está na faixa entre 120 e 150º, existem apenas
intervalos em que conduzem 2 fases. A corrente se apresenta em pulsos simétricos
que se iniciam no ângulo α e se anula no instante β, simétrico em relação ao ângulo
de 150º. A figura 4.15 mostra as formas de onda da tensão e da corrente de fase. O
segundo pulso observado se deve ao fato de que a operação correta do circuito exige
um pulso longo de gate (com duração de 120º), possibilitando um caminho de retorno
para a corrente de uma das outras fases.
Para ângulos de disparo maiores que 150º, não ocorre condução.
Figura 4.15: tensão e corrente de fase, carga indutiva, para disparo entre 120 e 150º.
158
Condicionadores de Energia
4.1.2.3 Carga RL
De maneira análoga à que foi descrita para o caso monofásico, a análise de
cargas RL faz uso de métodos numéricos, devido à impossibilidade de obtenção de
soluções analíticas. A figura 4.16 mostra formas de onda típicas, nas quais, para um
dado ângulo de disparo, tem-se condução de 2 ou de 3 fases, com o ângulo de anula-
mento da corrente sendo função do ângulo de disparo e do fator de potência da carga.
159
4.1.3.1 Pontes monofásicas
Quando a carga for resistiva, a forma de onda da corrente de linha será a mesma
da tensão sobre a carga (obviamente sem a retificação). Com a carga indutiva, a
corrente irá se alisando à medida que aumenta a constante de tempo elétrica da
carga, tendo, no limite, uma forma plana. Vista da entrada, a corrente assume uma
forma retangular.
160
Condicionadores de Energia
Figura 4.18: formas de onda de ponte retificadora semicontrolada assimétrica, com carga altamente indutiva.
161
c) Ponte totalmente controlada: seu principal uso é no acionamento de motor
de corrente contínua quando é necessária uma operação em dois quadrantes do plano
tensão × corrente, sendo possível devolver energia da carga para a fonte. Nesses
circuitos, não pode haver inversão de polaridade na corrente, mas a tensão sobre a
carga pode se tornar negativa, desde que exista um elemento indutivo que mantenha
a circulação de corrente pelos tiristores, mesmo após a inversão da tensão na entrada.
Os pares de componentes T1 e T4, T2 e T3 devem ser disparados simultaneamente,
a fim de garantir um caminho para a corrente através da fonte.
No caso de condução descontínua (corrente da carga vai a zero dentro de cada
semiciclo da rede), os tiristores desligarão quando a corrente cair abaixo da corrente
de manutenção. No caso de condução contínua, o par de tiristores desligará quando
a polaridade da fonte se inverter e for disparado outro par de tiristores.
Assim, se houver inversão na polaridade da tensão de entrada, mas não for
acionado o outro par de SCRs, a tensão nos terminais do retificador será negativa. A
figura 4.20 mostra formas de onda para o circuito.
Figura 4.20: formas de onda para ponte totalmente controlada, monofásica, alimentando carga altamente indutiva.
(4.16)
Para um ângulo de disparo maior que 90º, a tensão média torna-se negativa. Em
tal situação, diz-se que o retificador está operando no modo inversão, uma vez que o
fluxo de energia é da carga para a fonte. Para ângulos menores que 90º, a operação é
no modo retificação. A operação no modo inversão se mantém enquanto existir energia
acumulada na carga que seja capaz de manter a corrente contínua. Caso a corrente
caia a zero, com o bloqueio dos tiristores, a tensão média deixará de ser negativa.
162
Condicionadores de Energia
Figura 4.21: formas de onda de retificador trifásico controlado, alimentando carga altamente indutiva.
a) Carga resistiva: a figura 4.22 mostra formas de corrente típicas com carga
resistiva. Com esse tipo de carga, mesmo para um ângulo de disparo nulo (o que
equivaleria a um retificador a diodos), o fator de potência será inferior a 1. Isso se deve
à presença de componentes harmônicas na corrente. Só é possível tensão positiva
na saída do retificador.
Figura 4.22: corrente de linha e tensão de saída de retificador trifásico controlado, alimentando carga resistiva.
163
Carga indutiva: sendo V i a amplitude da tensão fase-neutro de entrada, a
tensão média de saída é:
(4.17)
Nota-se que aqui também é possível variar a tensão média entre valores positivos
e negativos. Tensões negativas serão possíveis enquanto a carga apresentar energia
acumulada que mantenha a continuidade da corrente.
A figura 4.21 mostra formas de onda da corrente de linha (carga altamente
indutiva) e das tensões de saída e 2 tensões de linha.
Em aplicações de alta tensão (como HVDC), nas quais dispositivos únicos não
são capazes de suportar a tensão total, é necessário associá-los em série. Ao invés
de conectar SCRs dessa forma, é mais conveniente conectar os próprios retifica-
dores em série, com vantagens em termos da forma da corrente de entrada e da
ondulação da tensão de saída.
Essa melhoria na corrente é possível desde que se utilizem conversores cujas
tensões de entrada estejam defasadas. Por exemplo, um retificador alimentado
por uma entrada em Y e um outro com alimentação em ∆. Dessa forma, a tensão
de saída, ao invés de apresentar uma ondulação em 360 Hz, o fará em 720 Hz, o
que, obviamente, caminha no sentido de minimizar as exigências de filtragem. Essa
estrutura é chamada de 12 pulsos (ou hexafásica). São possíveis associações com
maior número de pulsos, bastando que as tensões de entrada sejam adequadamente
selecionadas (por meio de transformadores conectados apropriadamente) para
produzir as defasagens necessárias.
A figura 4.23 mostra um diagrama esquemático de um sistema HVDC, com
pontes de 12 pulsos e saídas simétricas. O escalonamento nas tensões é feito de
modo a distribuir homogeneamente a potência dentre os transformadores. Na figura
4.24 tem-se a forma de onda da corrente CA, não filtrada. Nota-se que só existem
componentes harmônicos de ordem h = 12 · k ± 1.
164
Condicionadores de Energia
165
4.2 Controles por Modulação de Pulso
Essa técnica de modulação é empregada em conversores que utilizam chaves
semicondutoras que permitam um desligamento comandado, como transistores, GTOs,
etc. Tal técnica de comando pode ser utilizada em inúmeros conversores (inclusive nos
variadores de tensão CA e nos retificadores). Sua principal aplicação, no entanto, se
dá nos conversores com alimentação CC, nos quais não é possível o uso de tiristores
com comutação natural.
4.2.1 Inversores
Um inversor é um conversor CC-CA que deve fornecer uma tensão (ou
corrente) alternada em sua saída, com frequência, forma e amplitude que sigam
uma referência dada.
A configuração básica de um inversor trifásico de tensão é mostrada na figura 4.25.
Uma saída monofásica pode ser obtida utilizando-se apenas 2 ramos, ao invés de 3.
Uma vez que se tem uma tensão no lado CC, quando um interruptor da semi-
ponte superior e outro da semiponte inferior (nunca 2 do mesmo ramo) estiverem em
condução, essa tensão aparecerá em um par de condutores da saída alternada. A
carga conectada no lado CA não pode ter característica de fonte de tensão, ou seja, não
pode ser um capacitor, uma vez que, com valores instantâneos de tensão diferentes,
surgiria um surto de corrente através dos interruptores, o que poderia danificá-los. Se
a carga apresentar uma característica indutiva (caso mais comum) ou mesmo resistiva,
a conexão pode ser feita diretamente na saída do inversor.
166
Condicionadores de Energia
Figura 4.26: inversor monofásico e forma de onda quadrada de saída (carga indutiva).
As leis de modulação são numerosas; a mais simples talvez seja a que produz
uma onda retangular, na própria frequência de saída que se deseja. Em tal caso, uma
tensão positiva é aplicada à carga quando T1 e T4 conduzirem (estando T2 e T3 desli-
gados). A tensão negativa é obtida complementarmente. O papel dos diodos é garantir
um caminho para a corrente em caso de a carga apresentar característica indutiva.
Durante a condução dos diodos (D1 e D4 ou D2 e D3) há retorno de corrente para a fonte.
Note que a condução dos diodos não afeta a forma da tensão desejada. Esse tipo de
modulação não permite o controle da amplitude nem do valor eficaz da tensão de saída.
167
Para obter esse tipo de onda, uma possibilidade é a seguinte: quando se deseja
tensão positiva na carga, mantém-se T1 e T4 conduzindo (T2 e T3 desligados). A tensão
negativa é obtida complementarmente. Os intervalos de tensão nula são obtidos mantendo
T1 conduzindo e desligando T4. Com corrente positiva, D2 entrará em condução. Quando
T1 desligar, D3 entra em condução, aguardando o momento em que T2 e T3 conduzem,
o que ocorre quando a corrente se inverte. O intervalo de tensão nula seguinte é obtido
com o desligamento de T3 e a continuidade de condução de T2. Durante a condução
dos diodos (D1 e D4 ou D2 e D3), há retorno de corrente para a fonte.
Nota-se que estão presentes os múltiplos ímpares da frequência de chaveamento,
o que significa que a filtragem de tal sinal para a obtenção apenas da fundamental
exige um filtro com frequência de corte muito próxima da própria frequência desejada.
Esse espectro varia de acordo com a largura do pulso. Para esse caso particular, não
estão presentes os múltiplos da terceira harmônica.
168
Condicionadores de Energia
Figura 4.29: forma de onda de sinal multinível tipo cascata assimétrica, com modulação em escada.
169
Figura 4.30: sinal MLP de 2 níveis.
É possível ainda obter uma modulação a 3 níveis (positivo, zero e negativo). Esse
tipo de modulação apresenta um menor conteúdo harmônico.
Quando se trata de um inversor trifásico, 2 arranjos podem ser feitos: utili-
zando 3 inversores monofásicos (o que exige 12 transistores, e é chamado de
ponte completa), ou um arranjo chamado de semiponte, com 6 transistores, como
o mostrado na figura 4.31.
170
Condicionadores de Energia
Figura 4.32: formas de onda da tensão de fase e de linha em inversor trifásico em semiponte. Indicam-se
ainda os respectivos sinais MLP filtrados. Espectro dos sinais MLP de 2 e 3 níveis.
Quando se tem uma carga indutiva (como motores, filtros indutivos ou trans-
formadores), o atraso da corrente em relação à tensão faz com que, ao ser desligado
um transistor, a corrente continue circulando ainda no mesmo sentido, buscando para
tanto um caminho através dos diodos reversos do circuito. Dessa maneira, a forma
de onda da tensão com 3 níveis, mostrada na figura 4.32, será ligeiramente diferente.
A obtenção de uma onda senoidal que recupere a onda de referência é facilitada
pela forma do espectro. Note-se que, após a componente espectral relativa à referência,
aparecem componentes nas vizinhanças da frequência de chaveamento. Ou seja, um
filtro passa-baixa com frequência de corte acima de 50/60 Hz é perfeitamente capaz
de produzir uma atenuação bastante efetiva em componentes na faixa dos kHz. Na
figura 4.32 tem-se também as formas de onda filtradas (filtro LC, 2 mH, 20 µF). Uma
redução ainda mais efetiva das componentes de alta frequência é obtida com o uso
de filtro de ordem superior.
O uso de um filtro não amortecido pode levar ao surgimento de componentes
oscilatórias na frequência de ressonância, que podem ser excitadas na ocorrência de
transitórios na rede ou na carga. Em regime elas não se manifestam, uma vez que o
espectro da onda MLP não as excita. O uso de filtros amortecidos pode ser indicado
em situações em que tais transitórios possam ser problemáticos, com a inevitável
perda de eficiência do filtro. Os menores valores dos elementos de filtragem tornam
a resposta dinâmica desse sistema mais rápida que as anteriores.
Na estrutura em semiponte, caso seja necessário um neutro, deve-se fazer
uso de transformadores. Em presença de carga desequilibrada, como as tensões
de linha são obtidas de uma diferença de tensões de fase, não é simples fazer-se a
compensação da tensão.
171
Figura 4.33: formas de onda de corrente e da tensão de saída com controlador MLC.
Figura 4.34: sinal MLC (superior), entrada do comparador com histerese e corrente resultante (inferior).
172
Condicionadores de Energia
173
A figura 4.37 permite comparar a resposta da MLC com a MLP a partir de uma
fonte de tensão, em malha aberta. Note que a corrente sobre a carga RL não segue a
referência, pois, nesse caso, o inversor é do tipo fonte de tensão, enquanto a variável
observada é a corrente sobre a carga. Para que o erro seja corrigido, é necessário
operar em malha fechada, ou seja, realimentando a corrente e definindo a referência
para o sinal MLP a partir do erro da corrente.
Figura 4.37: comparação de resposta de MLC e de MLP (inversor fonte de tensão em malha aberta) com
referência triangular.
É possível ainda obter um sinal MLC com frequência fixa caso se adicione ao
sinal de entrada do comparador uma onda triangular cujas derivadas sejam maiores
do que as do sinal de corrente. Assim, os limites reais da variação da corrente serão
inferiores ao estabelecido pelo comparador.
Em princípio, mesmo em um inversor tipo fonte de tensão, o controle por histerese
poderia ser aplicado diretamente para o controle da tensão de saída. No entanto, isso
poderia causar sobrecorrentes excessivas em situações em que as diferenças entre
a tensão CC e a tensão CA fossem muito diferentes.
174
Condicionadores de Energia
Deve-se garantir que haja sempre uma chave em condução em cada semiponte. A
figura 4.38 mostra uma topologia desse tipo.
175
SÍNTESE DE FORMAS DE ONDA
UTILIZANDO INVASORES
5 SÍNTESE DE FORMAS DE ONDA UTILIZANDO INVASORES
Serão abordadas nesse capítulo diferentes maneiras de sintetizar correntes ou
tensões, com forma, frequência e amplitude arbitrárias, de maneira a ser possível a
utilização de topologias inversoras no condicionamento da energia elétrica.
Tais circuitos podem operar como UPFC, quando os sinais produzidos são
essencialmente senoidais, ou ainda como filtro ativo, para os quais se deve produzir
uma forma de corrente (ou tensão) que compense as distorções presentes no sistema.
Quando a energia transferida para o sistema não contém parcela ativa, a fonte
que alimenta o inversor pode ser realizada apenas com elementos de acúmulo de
energia, como capacitores ou indutores. Devido às menores perdas produzidas pelos
capacitores, seu uso é mais difundido. No entanto, a tecnologia de supercondutores
já permite (embora com custos elevados) o armazenamento de grandes quantidades
de energia sem perdas, nos chamados SMES (Superconductive Magnetic Energy
Storage), tornando esse tipo de circuito mais indicado para eventuais aplicações
em potência elevada.
A figura 5.1 mostra uma estrutura de inversores trifásicos que podem sintetizar
diferentes formas de corrente em seus terminais.
Figura 5.1: topologias de inversores trifásicos. a) inversor fonte de corrente; b) inversor fonte de tensão.
Se, em regime, tais conversores não fornecem potência ativa, eles não necessitam
de uma fonte de potência em sua alimentação. O circuito deve operar de maneira
a manter sob controle o valor da corrente no indutor ou da tensão do capacitor de
armazenamento de energia.
Nota-se que, para o inversor fonte de corrente, as chaves semicondutoras devem
ser unidirecionais em corrente. O diodo em série protege o transistor em situações de
polarização reversa. Uma vez que a linha CA apresenta uma característica indutiva, a
fim de evitar surtos de tensão na saída do inversor, deve-se inserir elementos capa-
citivos capazes de absorver as diferenças instantâneas das correntes. Além disso,
realizam uma filtragem de alta frequência, de modo que a corrente que flui para a
linha é apenas o valor médio da corrente sintetizada pelo inversor. A presença desse
178
Condicionadores de Energia
179
Quando a chave S1 é aberta, uma outra chave da semiponte superior deve ser
fechada para permitir a continuidade da corrente. Quando S5 é aberto, outro inter-
ruptor da semiponte negativa deve entrar em condução. Para essas funções, S3 e S6
são usadas, uma vez que elas não alteram as correntes pelas fases a e b. A forma
senoidal desejada para a fase c é resultado do fato de que a soma das correntes nas
3 fases é nula. Quando S3 e S6 conduzirem simultaneamente, cria-se um caminho
de livre-circulação para a corrente CC. A figura 5.3 mostra os sinais de comando
para os interruptores.
As correntes instantâneas pelas fases têm forma retangular, com amplitude dada
pela corrente CC e largura determinada pela lei de modulação (figura 5.4). Simulta-
neamente haverá corrente apenas por 2 das 3 fases, uma vez que se 2 interruptores
de uma mesma semiponte conduzirem se colocaria em curto 2 das fases, como se
pode concluir da figura 5.1. No entanto, após uma adequada filtragem das compo-
nentes de alta frequência, a corrente de saída apresentará apenas o valor médio da
corrente de referência.
180
Condicionadores de Energia
e,
x4 = 0
x2 = 0
(5.5)
x3 =
x6 =
181
ia = Icc · M · sen(ωt)
ia = Icc · M · sen(ωt – 120º) (5.7)
ia = Icc · M · sen (ωt + 120º)
182
Condicionadores de Energia
Figura 5.5: tensão (40 V/div) e corrente (10 A/div) de entrada. Horiz.: 4 ms/div.
183
Como não se faz uma síntese direta da corrente, a correta operação dessa
topologia necessita da realimentação da corrente, a ser comparada com a referência,
gerando um sinal de erro que, se necessário, corrige a largura de pulso.
Essa realimentação da corrente permite, também para este conversor, a síntese
de qualquer forma de corrente.
184
Condicionadores de Energia
Figura 5.6: inversor trifásico, com acúmulo capacitivo, para síntese de tensão.
Figura 5.7: inversor trifásico, com acúmulo indutivo, para síntese de tensão.
185
A tensão CA que aparece sobre os capacitores de filtro, Cf, representa o valor
médio da tensão de saída sintetizada pelo conversor. Essa tensão está aplicada ao
primário dos transformadores, os quais transferem a tensão à rede, de modo que a
tensão aplicada à carga seja a soma da tensão inicial da rede com a tensão de compen-
sação. Essa seria uma aplicação de filtro ativo série ou de compensador de tensão.
Dependendo da fase (componente fundamental) entre a corrente da carga e essa
tensão, tem-se que o inversor pode ou não estar entregando (ou absorvendo) potência
ativa. No caso de compensação reativa pura, as tensões sintetizadas devem estar
defasadas de 90º das correntes, como mostrado na figura 5.8, na qual o conversor
está sintetizando um capacitor. Na tensão, nota-se a presença de componentes de alta
frequência devidas ao chaveamento, enquanto que na corrente, por efeito do circuito
simulado, tais componentes são muito menores.
186
Condicionadores de Energia
187
É possível representar o mesmo vetor resultante no plano αβ, o que se faz
aplicando a transformação indicada a seguir. O mesmo vetor no plano αβ é mostrado
na figura 5.11. Essa transformação é válida também para correntes.
= (5.10)
V1 = Vα
V2 = (5.11)
V3 =
188
Condicionadores de Energia
O vetor nulo, definido como os estados 111 ou 000, ou seja, quando os três
interruptores superiores, ou os três inferiores estivem simultaneamente fechados, são
representados pelo ponto na origem do plano.
A modulação vetorial é realizada gerando, dentro de cada período de comutação,
uma sequência de diferentes estados do inversor. Tal sequência normalmente consiste
de três vetores, um dos quais é o vetor nulo. A soma das larguras de pulso relativas
a cada estado deve satisfazer à restrição:
δ1 + δ2 + δ3 = 1 (5.12)
Figura 5.13: definição dos estados do inversor, respectivas larguras de pulso e seus limites.
189
Diferentes estratégias podem ser utilizadas para gerar os vetores necessários,
como mostra a figura 4.14. No caso a, o estado V1 = 1 é comum aos dois vetores, sendo
mantido fixo durante todo o período de comutação. As comutações são realizadas
nos ramos que produzem V2 e V3.
190
Condicionadores de Energia
191
No entanto, apesar da simetria dos pulsos, o uso de modulação vetorial leva à
produção inerente de uma terceira harmônica nas tensões de fase. Isso pode ser anali-
sado como se o ponto do vetor nulo não permanecesse no plano, mas se deslocasse
ortogonalmente a ele. Ressalta-se aqui que, sendo um sistema a três fios, quando
são definidas as tensões em duas fases, a terceira está necessariamente definida.
A figura 5.17 ilustra o fato de que a existência de um nível comum às 3 fases
(no exemplo, um nível CC), não afeta a tensão de linha, que se mantém simétrica e
equilibrada. O efeito da terceira harmônica é semelhante, como se vê na mesma figura.
Ou seja, as tensões de fase possuem a terceira harmônica, mas ela não se apresenta
na tensão de linha, por ser de modo comum.
192
Condicionadores de Energia
5.4.1 Saturação
Quando o vetor de referência V* excede os limites do hexágono, deve-se arbitrar
alguma estratégia para, ainda assim, possibilitar o comando do conversor.
Uma possibilidade é reduzir o módulo de V *, mantendo seu ângulo, até ser
atingido o limite do hexágono, como mostra a figura 5.19. A implementação dessa
estratégia (em um DSP, por exemplo), exige uma operação de divisão, o que nem
sempre está disponível, ou é suficientemente rápida. Uma outra alternativa é manter a
maior componente (já feita a projeção de V* nos vetores adjacentes) e reduzir a menor
componente até que a resultante recaia no hexágono. Nesse caso, não há operações
aritméticas significativas, sendo de fácil implementação. No entanto, tem-se um erro
de amplitude e de fase no vetor gerado.
Existem situações em que uma das projeções, por si só, já é maior que a unidade,
de modo que as estratégias anteriores não podem ser aplicadas. Nesse caso, escolhe-se
o vetor mais próximo de V* e esse estado é mantido por todo o período de comutação.
O conversor passa a ter um funcionamento de onda quase-quadrada. Essa situação é
ilustrada na figura 5.20. Na mesma figura, mostram-se as regiões de saturação leve
e de saturação profunda.
193
Figura 5.20: saturação profunda (dir.) e limites de saturação (esq.).
Figura 5.21: passagem de modulação vetorial normal para saturada e com saturação profunda: tensão
MLP e corrente resultante em carga indutiva.
194
Condicionadores de Energia
Por exemplo, quando a corrente ia for igual a +Icc, ela será representada pelo
vetor +1 sobre o eixo a. Sua representação será –1, sobre o mesmo eixo, quando ia
= –Icc e será o vetor nulo quando ia = 0.
Os vetores obtidos pela adição de todos os pares de vetores não-nulos podem ser
usados para representar o estado do conversor. Como resultado, tem-se 6 vetores de
estado, j1 a j6, mais o vetor zero (o vetor zero corresponde a estados de livre-circulação,
quando conduzem interruptores do mesmo ramo).
O hexágono definido por estes vetores de estado inclui todas as referências de
corrente (no plano α – β) que podem ser reproduzidas pela modulação das chaves
do conversor. Por exemplo, o estado j1 corresponde a uma situação em que ia > 0 e ib
< 0, ou seja, estão conduzindo S1 e S5. O estado j6 é definido para ic > 0 e ib < 0, ou
seja, conduzem S3 e S5. Observe que entre estados adjacentes o estado de um dos
interruptores é comum.
195
Os padrões de modulação podem ser obtidos de acordo com técnicas
de modulação vetorial.
Considerando-se inicialmente o diagrama vetorial mostrado na figura 5.23, que
se refere a uma operação normal (sem saturação), dado um vetor de referência i*, suas
componentes i’ e i”, projetadas nos vetores adjacentes (j1, j6), são computadas. As
projeções (em pu) determinam os ciclos de trabalho δ’ e δ”, e, portanto, os intervalos
de tempo em que o conversor deve ser mantido nos estados correspondentes. Para
o restante do período o conversor é mantido no estado zero (livre-circulação). Os
ciclos de trabalho são:
δ’ =
(5.15)
δ” =
δ0 = 1 – δ’ – δ”
196
Condicionadores de Energia
197
CONDICIONAMENTO DA CORRENTE
ABSORVIDA: PRÉ-REGULADORES
DE FATOR DE POTÊNCIA
6 CONDICIONAMENTO DA CORRENTE ABSORVIDA: PRÉ-REGU-
LADORES DE FATOR DE POTÊNCIA
Figura 6.1: conversor elevador de tensão operando como pré-regulador de fator de potência.
200
Condicionadores de Energia
Figura 6.3: formas de onda típicas de conversor elevador de tensão com entrada CC.
201
Quando o transistor é ligado (intervalo t1 = δ · T), a tensão E é aplicada ao indutor.
O diodo fica reversamente polarizado (pois Vo > E). Acumula-se energia em L, a qual
será enviada ao capacitor e à carga quando T desligar. A corrente de saída, io, é sempre
descontínua, enquanto ii (corrente de entrada) pode ser contínua ou descontínua.
Vo = (6.2)
Teoricamente, a tensão de saída vai para valores infinitos para ciclos de trabalho
que tendam à unidade. No entanto, devido principalmente às perdas resistivas da fonte,
dos semicondutores e do indutor, o valor máximo da tensão fica limitado, uma vez que,
para uma carga constante, o aumento da tensão leva ao aumento da corrente, e a partir
de certo valor a potência dissipada se torna maior do que a potência entregue à saída.
202
Condicionadores de Energia
δcrit = (6.4)
Lmin = (6.5)
203
Figura 6.5: formas de onda de conversor boost, operando como PFP no modo de condução descontínua.
(6.7)
(6.8)
(6.9)
(6.10)
204
Condicionadores de Energia
Sejam:
(6.11)
α=1–δ (6.12)
(6.13)
(6.14)
em que:
(6.15)
Figura 6.6: variação da corrente média de saída (normalizada em relação a K’), em função do ciclo de
trabalho, para diferentes relações de tensão.
205
6.2.3.2 Indutância de entrada
O máximo ciclo de trabalho obtido anteriormente define uma máxima corrente
de saída, a qual, para certa tensão de saída, implica na máxima potência para o
conversor. Essa potência é dada por:
(6.16)
(6.17)
(6.18)
(6.19)
Nota-se que a corrente média de entrada não é senoidal. Isso ocorre porque
no intervalo t 2 a redução da corrente depende também da tensão de saída, que é
206
Condicionadores de Energia
constante, e não apenas da tensão senoidal de entrada. Quanto maior for Vo, menor
será t2. Assim, a corrente média dependerá mais efetivamente apenas de (t), tendendo
a uma forma senoidal.
A corrente eficaz de entrada, calculada a partir da expressão para a corrente
média de entrada, é dada por:
(6.20)
(6.21)
(6.22)
(6.23)
207
Figura 6.9: corrente no indutor (superior) e na rede (inferior), após a filtragem.
208
Condicionadores de Energia
(6.24)
(6.25)
(6.26)
209
Mede-se a corrente de entrada, a qual será regulada de acordo com a referência
gerada. Gera-se um sinal que determina a largura de pulso a ser utilizada para dar
à corrente a forma desejada. A figura 6.11 mostra o diagrama geral do circuito e do
controle. Um sinal proporcional ao quadrado do valor médio da tensão de entrada
(que representa o valor eficaz dessa tensão) é usado como uma entrada antecipa-
tiva (feed-forward) para corrigir variações na tensão de entrada. Ou seja, para uma
mesma potência da carga, se a tensão de entrada aumentar, a corrente consumida
deve diminuir. Essa antecipação melhora a resposta do sistema, uma vez que não é
necessário aguardar a mudança na tensão de saída, que pode ser muito lenta devido
ao elevado valor da capacitância e à lenta resposta da malha que controla essa tensão.
Figura 6.11: diagrama de blocos do conversor elevador de tensão, com circuito de controle por corrente média.
(6.27)
A figura 6.12 mostra uma forma de onda típica da corrente pelo indutor e no
interruptor. Já a figura 6.13 mostra a tensão e a corrente na rede.
210
Condicionadores de Energia
211
Figura 6.14: conversor Cuk com entrada trifásica.
Figura 6.15: tensão e corrente de entrada em condução descontínua (na indutância de entrada).
212
Condicionadores de Energia
Figura 6.16: tensão e corrente de entrada com condução contínua (na indutância de entrada).
Figura 6.17: tensão (50 V/div) e corrente de fase (1 A/div) após filtragem horizontal: 4 ms/div.
213
FILTROS passivos e ativos
7 FILTROS passivos e ativos
São estudadas neste capítulo estruturas de circuitos capazes de mitigar o problema
de distorção de correntes e/ou tensões em sistemas elétricos. Inicia-se com os filtros
passivos, verificando alguns aspectos de seu dimensionamento, bem como problemas
de uso em sistemas com distorção de tensão e com harmônicos não característicos.
No que se refere aos filtros ativos, toma-se como base os conversores CC-CA
operando com modulação por largura de pulso, aproveitando-se de sua capacidade
de sintetizar correntes ou tensões de formas quaisquer, seguindo uma referência
específica. Verifica-se a aplicação de técnicas diferentes para o controle de filtros
ativos trifásicos. Serão vistos filtros mono e trifásicos operando com o método da
síntese de cargas resistivas. Na sequência, são analisados filtros híbridos, os quais
associam filtros passivos e ativos.
Desse circuito, pode-se afirmar que em baixas frequências o capacitor tem seu
comportamento determinado pela capacitância. À medida que aumenta a frequência,
216
Condicionadores de Energia
(7.1)
217
7.1.1.1 Capacitores eletrolíticos
O capacitor eletrolítico tem seu funcionamento baseado em fenômenos eletroquímicos.
A principal característica reside no fato de que um dos eletrodos, o cátodo, é constituído
pelo próprio fluído condutor (eletrólito), e não por uma placa metálica. O outro eletrodo,
o ânodo, é constituído de uma folha de alumínio em cuja superfície é formada (por um
processo eletroquímico) uma camada de óxido de alumínio, a qual serve de dielétrico.
A principal vantagem desses capacitores é a alta capacitância específica (F/
m3). Isso se deve, principalmente, à espessura da camada de óxido, tipicamente
de 0,7 µm (outros materiais dielétricos dificilmente têm espessura inferior a 6 µm),
mesmo para componentes para baixas tensões. A intensidade de campo permitida é
de aproximadamente 800 V/µm.
O método de bobinagem é o mais empregado na fabricação dos componentes.
A bobina contém, além da folha do ânodo, uma segunda folha de alumínio (chamada
de folha do cátodo), que tem, no mínimo, a mesma dimensão da folha do ânodo. Esta
segunda folha não é oxidada e sua função é servir como uma grande área supridora
de corrente para o eletrólito.
Ambas as folhas são separadas por camadas de papel, cujas funções são:
armazenador de eletrólito (nos poros do papel absorvente) e separador das folhas
metálicas (para evitar curto-circuito).
Capacitores construídos como descrito só funcionam convenientemente quando
se liga o potencial positivo ao ânodo. A ligação inversa produz um processo eletrolítico
de deposição de óxido sobre a folha do cátodo. Nesse processo, ocorre geração
interna de calor e gás, que pode destruir o componente. Por outro lado, a capacitância
diminui, uma vez que é aumentada a espessura do dielétrico.
Assim, a aplicação típica é em tensões contínuas. Tensões alternadas, sobrepostas
à contínua, desde que não alterem a polaridade, podem ser utilizadas. Na verdade,
as polarizações invertidas podem ocorrer até cerca de 2 V, que é o potencial no qual
se inicia o processo de deposição de óxido.
Existem capacitores eletrolíticos bipolares que, por construção, já têm ambas as
folhas de alumínio oxidadas. Obviamente, a capacitância específica é menor.
Como aplicações típicas em fontes chaveadas, pode-se citar:
yy Filtros de entrada: usa-se capacitor eletrolítico de alumínio, com alto produto
capacitância × tensão (CV) e baixas perdas;
yy Filtros de saída: capacitor eletrolítico de alumínio, com baixo Rse e Lse, especiais
para operação em altas frequências.
Outra característica importante dos capacitores refere-se à sua confiabilidade.
Os fabricantes especificam seus componentes em função de sua expectativa de vida,
sendo os de alta confiabilidade aqueles que apresentam a maior durabilidade. Essa
variável é determinada, para os capacitores eletrolíticos de alumínio, pela qualidade
dos materiais utilizados na fabricação.
Em geral, a um aumento de temperatura corresponde uma redução na vida do
capacitor eletrolítico, de acordo com a expressão:
(7.2)
218
Condicionadores de Energia
em que:
BT – é o tempo de vida esperado;
Bo – é o tempo de vida de referência;
T – é a temperatura do capacitor;
To – é a temperatura de referência (To = 40°C);
θ – é o intervalo de temperatura de meia-vida ( 10 K).
O fator de perdas diminui com o aumento da temperatura e aumenta com a
elevação da frequência de operação. Os valores são indicados, geralmente, para 120
Hz e 85°C. Para os capacitores eletrolíticos especiais para operação em alta frequência
(série HFC da Siemens, por exemplo), os valores especificados são para 100 kHz e
85°C. Quanto à Rse, ela também varia com esses parâmetros, mas, usualmente, diminui
com a elevação da frequência, devido ao aumento da viscosidade do eletrólito, o que
aumenta a mobilidade iônica.
(7.3)
em que:
Rs – são as perdas ôhmicas do eletrólito, folhas e contatos.
O segundo termo da equação representa as perdas no dielétrico.
D – é o fator de dissipação (D ≈ 0,013);
f – é a frequência (Hz);
C – é a capacitância (F);
Rs – normalmente tem um coeficiente negativo com a temperatura (1 a 2% por °C em
torno da temperatura ambiente).
Como as perdas no capacitor estão diretamente relacionadas com a corrente
RMS por ele, a uma variação de Rse corresponde uma mudança na máxima corrente
admissível. Assim, se a frequência de operação de um capacitor eletrolítico comum
for acima de 2 kHz, admite-se uma corrente 40% maior do que a especificada para
120 Hz (devido à redução de Rse). Para uma temperatura ambiente de 40°C, admite-se
uma corrente 220% maior do que a especificada para 85°C, o que se justifica pela
maior facilidade de troca de calor com o ambiente.
Por todos esses fenômenos, o valor equivalente do capacitor sofre profundas
alterações, podendo, em última análise, ser obtido para cada frequência e temperatura,
das curvas de impedância mostradas anteriormente. Em geral, capacitores para uso
em CC sofrem menores variações do que aqueles para uso em CA.
219
Esses capacitores têm como característica a propriedade de autorregeneração.
No caso de uma sobretensão que perfure o dielétrico, a camada de alumínio existente
ao redor do furo é submetida a elevada temperatura, transformando-se em óxido de
alumínio (isolante), desfazendo o curto-circuito. O tempo necessário para ocorrer a
regeneração é menor que 10 µs.
A constante dielétrica dos filmes plásticos é dependente da frequência e a capa-
citância apresenta um decréscimo com o aumento da frequência (tipicamente de 3%
a 1 MHz, do valor a 1 kHz). A variação com a temperatura é reversível, a capacitância
se altera, tipicamente, poucos por cento numa faixa de 100oC.
Com tensões alternadas (senoidais ou não) de alta frequência, certos cuidados
precisam ser tomados, uma vez que o componente pode estar submetido a elevados
picos de corrente, causando problemas para os contatos e aumentando sua tempera-
tura. Os manuais fornecem ábacos que permitem determinar, para uma dada aplicação
(componente, frequência, forma da tensão alternada: pulso, senoide, trapézio, dente-
de-serra), a amplitude da tensão que o componente suporta. Fornece ainda a taxa
de subida da tensão (V/µs) e o valor característico do pulso (Ko(V2 /µs)). O valor Ko da
aplicação, bem como o dv/dt, devem ser inferiores ao especificado.
O fator de perdas depende principalmente das perdas no dielétrico (que variam
com a temperatura e frequência). As resistências dos contatos e armaduras são de
valores relativamente menores e praticamente constantes.
A indutância própria depende da bobina e das indutâncias dos terminais. A
frequência de ressonância está, tipicamente, entre 1 e 10 MHz.
Em circuitos pulsados, quando o capacitor fica sujeito a valores elevados de dv/
dt (como nos circuitos amaciadores), deve-se usar componentes com dielétrico de
polipropileno, especiais para regime de pulsos.
Os capacitores de polipropileno são também utilizados nos filtros de interferência
eletromagnética (IEM), fazendo a conexão da entrada do conversor com a fonte de
alimentação. Os de tipo X são usados para conexão entre os terminais de alimentação,
e os de tipo Y são usados para ligar cada condutor de alimentação ao terra. Para
proteção do usuário, esses componentes são de altíssima confiabilidade.
220
Condicionadores de Energia
7.1.2.1 Materiais
Os materiais mais utilizados são ferrites, as quais possuem valores relativamente
reduzidos de Bmax (entre 0,3 T e 0,5 T), apresentando, porém, baixas perdas em alta
frequência e facilidades de manuseio e escolha, em função dos diversos tipos de
núcleos disponíveis. As ferrites são constituídas por uma mistura de óxido de ferro
(Fe2O3) com algum óxido de um metal bivalente (NiO, MnO, ZnO, MgO, CuO, BaO,
CoO). Possuem resistividade muito maior do que os materiais metálicos (da ordem de
100 kW · cm), o que implica em perdas por correntes de Foucault desprezíveis quando
operando com um campo magnético alternado.
Para algumas aplicações em que não se pode admitir distorção no campo magné-
tico deve-se utilizar núcleo de ar, com o inevitável valor elevado do fluxo disperso.
Núcleos de ferro laminado são utilizados apenas em baixa frequência por apre-
sentarem laço de histerese muito largo, embora possuam um Bmax de cerca de 1,5 T.
Um terceiro tipo de material são os aglomerados de ferro (iron powder), que são
constituídos por minúsculas partículas de compostos de ferro, aglomerados entre si, mas
que apresentam um entreferro distribuído ao longo de todo comprimento magnético.
É um material adequado para aplicações em que devem coexistir campos de baixa
frequência (60 Hz) e de alta frequência, garantindo, ao mesmo tempo, que o núcleo
não sature e não apresente elevadas perdas.
221
Os núcleos EE e EI apresentam valores mais elevados de Bmax, sendo mais usados
em aplicações de potência mais elevada. Apresentam valores maiores de fluxo disperso.
Já os núcleos tipo U e UI são utilizados em transformadores de alta tensão,
devido à possibilidade de alocar-se cada enrolamento numa das pernas, facilitando
a isolação, à custa de um maior fluxo disperso. Tanto os núcleos E como os núcleos
tipo U podem ser associados, criando maiores secções transversais, possibilitando a
obtenção de transformadores para potência na faixa dos quilowatts.
Finalmente, os núcleos toroidais são usados em aplicações nas quais o fluxo
disperso deve ser mínimo, permitindo obter-se indutores muito compactos. São usados
especialmente em transformadores de pulso e filtros de IEM.
222
Condicionadores de Energia
redução no fator de acoplamento entre os enrolamentos, uma vez que o núcleo perde
sua característica de menor relutância em relação ao ar.
O dimensionamento de um elemento magnético é feito, via de regra, em situ-
ações de regime permanente, ou seja, considerando-se que a tensão média nos
terminais do dispositivo é nula e a densidade de campo magnético excursiona entre
os valores simétricos de B.
O problema da saturação é agravado nas situações transitórias, especialmente
no início de operação do dispositivo (start-up). Partindo-se de uma situação em que
B = 0, no primeiro semiciclo de funcionamento tem-se a possibilidade de variar o
fluxo em apenas metade da excursão necessária. A solução, óbvia, de projetar o
elemento para suportar o dobro de variação de fluxo, não é muito razoável por aumentar
demasiadamente (4 vezes) o volume do componente. A melhor solução é controlar
eletronicamente a partida do conversor (soft-start).
O problema de start-up é agravado quando Br tem valor elevado. Supõe-se que
o circuito foi desenergizado quando se estava no ponto A da curva B × H (figura 7.4).
A corrente irá a zero e tem-se B = Br. O reinício de operação a partir desse ponto leva
a resultados ainda piores do que uma partida com B = 0.
A figura 7.5 mostra a trajetória na curva B × H e as formas de onda de tensão e
corrente em um transformador a partir de sua energização. Observa-se que, com fase
inicial nula na tensão, a corrente apresenta um deslocamento CC devido à resposta
do circuito RL, o que leva a um aprofundamento na região de saturação. Com o
passar do tempo, esse nível CC se anula e as variáveis passam a ter uma excursão
simétrica em relação ao zero. No entanto, os instantes iniciais podem ser danosos
para o dispositivo pois a saturação profunda, ao reduzir a indutância, pode aumentar
em demasia a corrente, além dos limites dos componentes.
223
Esse deslocamento CC não ocorre se a tensão aplicada partir de um ângulo de
90º. No entanto, isso nem sempre é fácil de ser ajustado.
A solução normalmente empregada em fontes chaveadas está indicada na
figura 7.6. Trata-se de uma partida suave, em que a tensão aplicada ao transformador
é aumentada gradualmente. Ressalta-se que a excursão no plano B × H se torna
simétrica, assim como a corrente.
H g · g + Hm · =N·i (7.4)
B = µ0 · Hg = µc · Hm (7.5)
em que:
H m e H g – são as intensidades do campo magnético no núcleo e no entre-
ferro, respectivamente;
– é o comprimento do circuito magnético (no núcleo);
g – é o comprimento do entreferro;
µ0 – é a permeabilidade do ar;
µc – é a permeabilidade do núcleo.
A densidade do campo magnético (B) mantém-se constante ao longo de todo
caminho magnético (desconsiderando a dispersão). O valor de campo magnético para
o qual se atinge o limite de saturação estabelecido em projeto é:
(7.6)
224
Condicionadores de Energia
Nota-se na figura 7.7 que a introdução do entreferro faz com que Hm seja atingido
para valores maiores de corrente. O efeito sobre a curva B × Ni é mostrado na figura
7.7, item b. A indutância incremental se reduz, mas é linearizada. O valor de Br também
se reduz. Bmax não se altera por ser uma característica do material.
Figura 7.7: a) curva de histerese típica de ferrite; b) curva de histerese em indutor com entreferro de 0,1 mm.
(7.7)
225
Os materiais atualmente disponíveis não conduzem simultaneamente a boas
soluções para ambas as perdas. Quando se obtém uma curva B × H estreita (como
em materiais com manganês e zinco), a resistividade é baixa. Em ferrites à base de
níquel, tem-se elevada resistividade, mas um laço de histerese consideravelmente maior.
Em materiais de baixa resistividade faz-se a laminação do núcleo a fim de elevar
a resistência. As lâminas devem ser isoladas entre si, o que ocorre, via de regra, pela
própria oxidação do material ou pelo uso de verniz. Núcleos laminados podem ser
utilizados em frequências até 20 kHz. Acima desse valor, deve-se utilizar cerâmicas
(ferrites) ou núcleos de pó de ferro.
As perdas no núcleo podem ser expressas por:
Rfe = µ · L · (a · B · f + c · f + e · f 2) (7.8)
em que:
Rfe – resistência equivalente para as perdas totais no núcleo;
µ – permeabilidade;
L – indutância;
a – coeficiente de perdas por histerese (dado de catálogo);
c – coeficiente de perdas residuais (dado de catálogo);
e – coeficiente de perdas por correntes de Foucault (dado de catálogo);
B – fluxo máximo de trabalho (especificação do projeto);
f – frequência.
Como as perdas por histerese dependem de B, usualmente utiliza-se um valor
relativamente baixo para esse parâmetro (50% de Bmax para os circuitos MLP e
15% para os ressonantes). As perdas devido às correntes induzidas crescem com o
quadrado da frequência, o que leva à necessidade do uso de materiais com elevada
resistividade volumétrica, como as ferrites.
(7.9)
γ – dimensão dentro da qual, para uma dada frequência, não ocorre redução significativa
na superfície condutora (em metros).
Por exemplo, para 20 kHz, γ = 0,47 mm, ou seja, um fio com diâmetro de 0,94
mm pode ser usado para conduzir uma corrente a 20 kHz sem ter sua área condutora
significativamente reduzida pelo efeito pelicular.
Relembra-se aqui que as correntes não são, via de regra, senoidais, de modo
que deve ser considerado um certo fator de folga para acomodar as perdas devidas
às componentes harmônicas.
226
Condicionadores de Energia
A figura 7.8 mostra, para cada frequência, qual condutor (de cobre) pode ser
usado de maneira a evitar o aumento das perdas pelo efeito pelicular.
Figura 7.8: diâmetro de fio que deve ser usado em função da frequência.
A maneira usual de se contornar esse problema é o uso de fio Litz, um cabo
composto por diversos fios (isolados entre si) de diâmetro adequado à frequência de
operação, cuja secção transversal total permite uma densidade de corrente suficien-
temente baixa para não causar perdas elevadas (em geral inferior a 3 A/mm2). Outra
possibilidade é o uso de fitas de cobre com espessura inferior a 2γ. Como, geralmente,
essas fitas não são isoladas, deve-se tomar cuidados adicionais com esse aspecto.
Um outro aspecto que deve ser lembrado refere-se à indução de corrente nos
condutores próximos às regiões do núcleo nas quais ocorre um estrangulamento do fluxo
magnético com uma consequente dispersão local pelo ar. É óbvio que esse problema é mais
grave se for utilizado um enrolamento com fita metálica, a qual apresenta uma resistência
menor do que um cabo Litz de área equivalente (em virtude da isolação entre cada fio).
Em um transformador, caso se faça uso de condutores sólidos, de cabos Litz e fitas, a
colocação de cada um no núcleo deve seguir a seguinte ordem: cabo Litz mais próximo ao
núcleo (e, assim, mais susceptível ao fluxo disperso), metade do enrolamento do primário,
os secundários com fita, e a segunda metade do primário. Destaca-se que a posição do
secundário enrolado com fio Litz não contido pelo primário leva a um aumento do fluxo de
dispersão, com os inconvenientes já citados. A figura 7.9 mostra o arranjo recomendado.
227
7.1.2.5 Modelo para um transformador
Um modelo de parâmetros concentrados pode ser usado para análise de um
transformador, incluindo seus elementos parasitas e não-idealidades, associados
a um transformador ideal. A figura 7.10, item a, mostra um circuito de parâmetros
concentrados para modelagem de transformadores.
Figura 7.10: a) modelo de parâmetros concentrados para transformador; b) impedância, vista pelo
primário, de transformador.
228
Condicionadores de Energia
Se, por um lado, esse arranjo reduz a dispersão, por outro aumenta a capacitância
entre os enrolamentos.
A redução da capacitância entre enrolamentos pode ser obtida pela colocação
de um filme ou fita entre cada enrolamento. Uma fita metálica pode ser usada ainda
como uma blindagem eletrostática, o que pode ser útil para efeito de redução de
interferência eletromagnética. Obviamente, a fita não pode se constituir numa espira
em curto, devendo ser adequadamente isolada.
229
7.1.2.6.1 Regulação Cruzada
Em transformadores com mais de um secundário, normalmente a realimentação
para efeitos de controle é feita a partir do secundário que fornece a maior potência. É
essa saída que determinará se o ciclo de trabalho deve aumentar ou diminuir, a fim de
manter estável a tensão de saída. As demais saídas sofrerão alteração de sua tensão
em virtude da mudança na largura do pulso.
Por exemplo, considere-se uma fonte que forneça +5 V, +12 V e –12 V, com
a saída de +5 V sendo utilizada para efeito de realimentação. A figura 7.12 mostra
as características de regulação (normalizadas). Um aumento na carga dessa saída
provoca uma queda maior nas resistências dos enrolamentos (primário e secundário
+5 V), produzindo uma redução na tensão de 5 V, o que leva o circuito de controle a
aumentar a largura do pulso para poder recuperar a tensão esperada (caso a). Supondo
que não tenha havido variação significativa nas cargas conectadas às saídas de +12
V e –12 V, suas tensões serão aumentadas indevidamente (caso b).
Figura 7.12: tensões de saída normalizadas para fonte com múltiplas saídas.
230
Condicionadores de Energia
Tabela 7.1: resultados de variação da tensão da saída não realimentada (secundário 2, 12 V) com a
variação da carga na saída realimentada (V01 = 5 V e R02 = 7,8 Ω).
7.1.3 Supercapacitores
Um capacitor tradicional acumula energia no campo elétrico criado pela sepa-
ração das cargas elétricas. Esse campo existe no dielétrico que se torna polarizado. A
capacitância é proporcional à permissividade do material e à área das placas, sendo
inversamente proporcional às distâncias entre as placas.
Já em um super capacitor não há um dielétrico, mas um eletrólito. A principal
diferença é a grande área propiciada por materiais porosos, aliada à pequena distância
entre as cargas, que é da ordem de nanômetros. Com um eletrólito aquoso, a tensão por
capacitor é de cerca de 1 V, enquanto que para um eletrólito orgânico esse valor cresce
para 2,5 V. A obtenção de tensão elevada é feita pela associação em série de capacitores.
Hermann Helmholtzi, em 1853, descreveu que quando uma tensão é aplicada
entre dois eletrodos de carbono, imersos em um fluido condutor, não há circulação
de corrente até que uma certa tensão limiar seja atingida. Ao se iniciar a condução
há também a formação de gás devido à reação química na superfície dos eletrodos.
Abaixo dessa tensão limiar, o dispositivo se comporta como um capacitor.
Diferentemente de uma bateria, não há acúmulo de energia química. Em torno
de um eletrodo poroso de carbono situa-se o eletrólito, carregado de cargas. Na reali-
dade, conforme mostra a figura 7.14, há dois eletrodos, e nas adjacências de cada um
ocorre o acúmulo de íons positivos e negativos. O separador isola os eletrodos, mas
permite a livre passagem dos íons. Por essa razão, esses dispositivos são também
denominados capacitores de dupla camada.
231
Figura 7.14: estrutura básica de super capacitor e variação idealizada do potencial elétrico
no interior do mesmo.
232
Condicionadores de Energia
233
O modelo de Stern leva em conta que parte da carga se apresenta difusa no
eletrólito, podendo-se considerar que há duas capacitâncias em série, uma devido à
camada compacta e outra à camada difusa. A capacitância total será menor do que
esta última. Um modelo elétrico que represente todos esses comportamentos físicos
e químicos não é simples. A complexidade do modelo adotado, no entanto, depende
da aplicação específica e do erro admissível em cada análise.
Um melhor modelo elétrico deve considerar que processos de carga e descarga
não são simultâneos em toda superfície do material poroso, levando a um circuito
com capacitâncias distribuídas, acopladas por resistências. Tais capacitâncias são
ainda dependentes da tensão aplicada. A figura 7.17 mostra o circuito equivalente
para cada poro do eletrodo.
234
Condicionadores de Energia
235
Na frequência da rede, os diferentes filtros apresentam uma reatância capacitiva,
de modo que contribuem para a correção do fator de potência (na frequência funda-
mental), supondo que a carga alimentada seja de característica indutiva.
A distribuição da capacitância total entre os diferentes ramos pode ser feita
de diversas maneiras. A distribuição é indiferente, não afetando o comportamento
do filtro. Em outro estudo a indicação é que a alocação seja proporcional à corrente
total que deve fluir por cada ramo, ou seja, depende do conteúdo espectral de uma
determinada carga. Essa solução tenderia a equalizar as perdas pelos capacitores.
Indicam-se divisões da capacitância total em função da ordem harmônica do ramo do
filtro, cabendo uma parcela maior ao filtro de 5ª harmônica em relação aos demais.
Estudos mais recentes, no entanto, mostram que a distribuição da capacitância afeta
a capacidade global do filtro, embora não seja possível generalizar uma solução,
pois os diferentes métodos produzem resultados melhores ou piores a depender de
vários fatores, como o nível de curto-circuito local, a distorção presente na tensão ou
a existência de harmônicos não característicos.
Um outro aspecto relevante é que os filtros não devem ser sintonizados exatamente
nas frequências harmônicas pois, na eventualidade de que a tensão se apresente
com distorção, poderiam surgir componentes muito elevadas de corrente. Também
para a dissintonia existem diferentes indicações. A norma IEEE 1531 (IEEE Guide
for Application and Specification of Harmonic Filters, IEEE Std 1531 – 2003) indica
que a dissintonia deve ser feita 6% abaixo da frequência harmônica. Sugere-se que
a sintonia seja feita 5% abaixo da harmônica. Indica-se um deslocamento absoluto
de 18 Hz para todos os ramos.
Os filtros usados nas simulações que se seguem tiveram a capacitância total
distribuída igualmente entre os três ramos sintonizados e uma parcela menor incluída
no ramo passa-alta. O fator de qualidade de cada ramo é de 20, o que é um valor típico
para indutores com núcleo ferromagnético. Dispositivos com núcleo de ar têm fator
de qualidade superior. O ramo passa-alta possui uma resistência de amortecimento.
O ramo da 5ª harmônica foi sintonizado em 290 Hz, enquanto os demais os ramos
foram dessintonizados em 20 Hz abaixo da harmônica.
O alimentador apresenta um nível de curto-circuito de 20 pu. A impedância em
série com a fonte tem um papel essencial na eficácia do filtro. Observa-se que, se for
considerada uma fonte ideal, qualquer filtro é indiferente, posto que, por definição, a
impedância de uma fonte de tensão é nula. Ou seja, o caminho preferencial para os
componentes harmônicos da corrente da carga sempre seria a fonte.
A carga apresenta fator de deslocamento de 0,866 e fator de deformação de
0,95, configurando um fator de potência de 0,82. Dada a simetria da forma de onda,
não estão presentes as componentes pares, assim como as múltiplas de ordem três.
A figura 7.19 mostra a resposta em frequência da tensão sobre a carga. A carga,
dado seu comportamento de fonte de corrente, é considerada um circuito aberto
nesse teste. Nota-se que nas ressonâncias dos filtros, dado que a impedância vai
ao mínimo, tem-se uma redução da tensão. Tem-se ainda outras três ressonâncias
série que surgem da combinação entre a reatância do alimentador e cada um dos
quatro ramos do filtro. Em tais frequências, observa-se uma amplificação da tensão
sobre o filtro. Caso existam componentes espectrais de tensão nestas frequências,
estas serão amplificadas.
236
Condicionadores de Energia
Figura 7.19: ganho (em dB) de tensão do filtro, em relação à tensão da fonte CA.
Na figura 7.20 tem-se a impedância vista pela carga. Nesse teste, a fonte de
tensão é curto-circuitada. Em baixa frequência, pode-se esperar que a corrente flua pela
rede. Nas ressonâncias do filtro, as respectivas componentes presentes na corrente
da carga fluirão pelo filtro. No entanto, nas frequências em que a impedância se eleva,
eventuais componentes presentes na corrente da carga produzirão distorções na tensão
no barramento de instalação do filtro. Assim, do ponto de vista da carga, o que se tem
são ressonâncias paralelas entre os ramos do filtro e a reatância da rede.
237
A figura 7.21 mostra o sistema simulado, com uma carga não-linear, que absorve
uma corrente retangular. A ação do filtro permite compensar o fator de deslocamento,
assim como reduzir o conteúdo harmônico da corrente da rede em relação à da carga.
A THD da corrente da carga é de 29%, enquanto na rede tem-se 15%. Os espectros
dessas correntes são mostrados na figura 7.22. A redução na componente fundamental
deve-se à melhoria do fator de deslocamento.
238
Condicionadores de Energia
Figura 7.23: tensão no barramento da carga e seu espectro – a) antes da conexão do filtro; b) depois
da conexão do filtro.
239
Figura 7.24: efeito de 3% de 7ª harmônica na tensão da rede.
Figura 7.25: filtro passivo em derivação para cargos tipo fonte de corrente e fonte de tensão.
240
Condicionadores de Energia
Da figura 7.25 pode-se verificar que a relação entre a corrente enviada à carga
e a corrente da fonte CA é dada por um divisor de corrente. Nota-se aí que a eficácia
da filtragem depende da impedância da rede. Num caso ideal em que Zi for zero, não
ocorreria filtragem alguma.
(7.10)
(7.11)
241
Figura 7.27: formas de onda da corrente de entrada com carga tipo fonte de tensão para filtro em derivação
(superior) e filtro série (inferior).
Figura 7.28: espectro da corrente de entrada para as correntes mostradas na figura anterior.
242
Condicionadores de Energia
243
Na figura 7.30 tem-se uma forma de onda distorcida, por efeito da carga (notches)
e pela presença de distorção na rede (3% de 5ª harmônica). A atuação do filtro (iniciada
no instante 50 ms) cancela o efeito da distorção harmônica e minimiza o afundamento
da tensão, embora não o consiga eliminar. A rede e a carga são as mesmas utilizadas
nos exemplos dos filtros passivos em derivação.
Figura 7.30: formas de onda na tensão sobre a carga e da tensão produzida pelo filtro série (a partir de 50 ms).
244
Condicionadores de Energia
245
7.3.3 Local de instalação do filtro
A tabela 7.2 mostra o efeito da compensação da distorção harmônica da corrente
produzida por cargas não-lineares. Considera-se o uso de filtros ativos mono e trifá-
sicos, assim como de pré-conversores de fator de potência (PFC). Um PFC tem como
propriedade fazer com que a corrente absorvida por qualquer aparelho se apresente
com elevado fator de potência, ou seja, tenha baixa distorção harmônica.
Perdas
8.148 8.148 8.148 8.148
totais sem compensação (W)
Perdas
8.125 5.378 4.666 3.346
totais com compensação (W)
% de perdas
13,54 8,96 7,78 5,58
depois da compensação
Redução das
perdas para 23 2.770 3.842 4.802
uma carga de 60 kVA (W)
% da
0,04 4,62 5,8 8,0
redução das perdas/60 kVA
Tabela 7.2: impacto da localização do dispositivo para correção do fator de potência na redução das perdas.
246
Condicionadores de Energia
Figura 7.34: correção do fator de potência por conjunto de cargas usando filtro ativo monofásico.
Figura 7.35: correção do fator de potência do total de cargas usando filtro ativo trifásico.
247
7.4 Considerações sobre as teorias de potência e
o método de compensação
No enfoque da aplicação de um filtro ativo, ou seja, quando se buscam medidas
de variáveis elétricas para identificar componentes nas correntes (ou tensões) que
devam ser compensadas, deve-se levar em conta qual o objetivo da compensação.
Os métodos de medida de potência que são baseados no domínio da frequência
ou que apenas tratem com valores médios (e não instantâneos) não possibilitam
a identificação de grandezas temporais, de modo que não se aplicam no caso de
compensação de componentes harmônicas.
Por exemplo: um alternador automotivo tipicamente produz uma tensão de
saída não senoidal (quase trapezoidal). A absorção de uma corrente com a mesma
forma de onda fornece um fator de potência unitário (simula uma carga resistiva), no
entanto leva a um torque pulsante no gerador. Por outro lado, a síntese de correntes
como as obtidas com a aplicação da teoria da potência instantânea, ao conduzirem
à compensação de todas as componentes da potência, exceto a potência média,
significam um torque constante para o alternador, o que, claramente, melhora sua
condição mecânica de funcionamento.
Pode-se considerar, alternativamente, que o objetivo da filtragem da corrente seja
obter uma forma de onda que siga a forma da tensão, ou seja, que o conjunto carga +
filtro represente uma carga resistiva, maximizando o fator de potência, o que vale dizer,
minimizando a corrente eficaz absorvida da fonte, mantida a potência ativa da carga.
Uma outra possibilidade seria a de sintetizar uma corrente senoidal, mesmo na
presença de distorções na tensão. Esse método apresenta alguns inconvenientes.
Caso o sistema apresente uma tensão senoidal e nenhuma não-linearidade,
ambos os métodos seriam idênticos. Como normalmente o sistema de alimentação
apresenta distorções e a tensão nunca é perfeitamente senoidal, sempre existirão
elementos harmônicos capazes de excitar ressonâncias. Os elementos que introduzem
amortecimento no sistema são, essencialmente, as cargas, uma vez que as perdas
próprias das linhas e transformadores são baixas. Assim, um sistema sem carga tende
a ver amplificadas as possíveis ressonâncias presentes.
Quando um filtro ativo leva à absorção apenas de uma corrente senoidal, isso
significa que a rede vê uma carga aberta para as outras frequências, ou seja, a carga
deixa de atuar como fator de amortecimento para as eventuais ressonâncias do sistema.
Além disso, essa corrente senoidal absorvida não minimiza a corrente eficaz e,
consequentemente, não maximiza o fator de potência.
A defesa dessa última técnica é feita com o argumento de que a absorção de correntes
senoidais melhoraria a forma da tensão da rede, mas isso nem sempre é verdade.
É bastante comum a presença de capacitores em uma rede de distribuição de
energia, no lado de baixa tensão, para a compensação do fator de deslocamento. Em
tal situação, ocorrerá uma ressonância entre a capacitância e a reatância indutiva
do alimentador. Para valores típicos, com a elevação do fator de potência de 0,85
para 0,95, a ressonância se dá em torno da 11ª harmônica, mas cada caso deve ser
analisado em particular.
248
Condicionadores de Energia
Figura 7.36: formas de onda e circuitos simulados para carga resistiva e senoidal.
Figura 7.37: sistema considerado para comparação dos métodos de controle do filtro ativo.
249
7.4.1.1 Síntese de corrente senoidal
Considere-se inicialmente uma carga não linear alimentada a partir de uma rede
senoidal, equilibrada. A figura 7.38 mostra a ação do FAP (em 50 ms) compensando as
distorções, elevando o fator de potência à unidade e eliminando a potência imaginária
(conforme definida na Teoria da Potência Instantânea) pela rede. Quando ocorre uma
variação na carga, o sistema mantém a compensação. Na tensão da rede nota-se a
presença de uma pequena contaminação de alta frequência devido ao fato de a rede
simulada não ser ideal, de modo que se observa no ponto de acoplamento o efeito da
comutação do conversor CC-CA.
Figura 7.38: método SCS. De cima para baixo: tensões no PAC, correntes na rede, potência ativa e
imaginária, fator de potência.
250
Condicionadores de Energia
Figura 7.39: método SCS com tensão distorcida e desequilibrada. De cima para baixo: tensões no PAC,
correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
Figura 7.40: método SCS com tensão distorcida e ressonância. De cima para baixo: tensões no PAC,
correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
Observa-se que a filtragem, que tem como meta final a melhoria da tensão no
PAC, não consegue atingir esse objetivo, apesar de impor uma corrente senoidal na
rede e elevar praticamente à unidade o fator de potência.
251
7.4.1.2 Síntese de carga resistiva
O mesmo procedimento foi seguido para verificar o comportamento do método
da síntese de carga resistiva. O sistema de controle impõe que a forma de onda da
corrente seja idêntica à da tensão (daí o comportamento resistivo da carga, do ponto de
vista da fonte). A amplitude da corrente depende do balanço de potência e é ajustada
até que a potência ativa absorvida da rede seja exatamente aquela consumida pela
carga. Enquanto tal situação de equilíbrio não se estabelece, a diferença instantânea
é fornecida ou absorvida pelo capacitor do barramento CC.
A figura 7.41 mostra a atuação do FAP para uma alimentação senoidal, simétrica e
equilibrada. A resposta transitória no ajuste da corrente é muito mais lenta do que a obtida
no método SCS. O resultado final são correntes senoidais, fator de potência unitário.
No entanto, essa é uma estratégia que tem dificuldade de acompanhar cargas que
apresentem um comportamento dinâmico com variações em curtos intervalos de tempo.
Figura 7.41: método SCR. De cima para baixo: tensões no PAC, correntes na rede, potência ativa e
imaginária, fator de potência.
A figura 7.42 mostra o que acontece quando a tensão da rede apresenta-se
distorcida e desequilibrada. As correntes compensadas também apresentarão as
mesmas distorções e desequilíbrios presentes na tensão, o que leva a um fator de
potência unitário, cancelando a parcela imaginária da potência.
252
Condicionadores de Energia
Figura 7.42: método SCR com tensão distorcida e desequilibrada. De cima para baixo: tensões no PAC,
correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
Figura 7.43: método SCR com tensão distorcida, desequilibrada e ressonância. De cima para baixo:
tensões no PAC, correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
253
7.4.1.3 Síntese de carga resistiva variável
Esse método determina as correntes de compensação com base no cálculo
instantâneo de proporcionalidade entre a potência ativa e uma norma que considera
os valores instantâneos das tensões. Em sistemas desequilibrados ou com harmô-
nicas, tais valores são variáveis no tempo, levando a um fator de relação entre tensão
e corrente que também é variável, embora mantenha uma característica resistiva.
A figura 7.44 ilustra a rápida resposta do método SCRV, sendo comparável ao da SCS.
Figura 7.44: método SCRV. De cima para baixo: tensões no PAC, correntes na rede, potência ativa e
imaginária, fator de potência.
254
Condicionadores de Energia
Figura 7.45: método SCRV com tensão distorcida e desequilibrada. De cima para baixo: tensões no PAC,
correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
Figura 7.46: método SCRV com tensão distorcida, desequilibrada e ressonância. De cima para baixo:
tensões no PAC, correntes na rede, potência ativa e imaginária, fator de potência.
255
7.5 Filtro ati vo monofásico o pe r a ndo com
síntese de carga resistiva
Filtros ativos monofásicos podem ser utilizados na correção do fator de potência
de cargas de pequena e média potência. As aplicações restringem-se tipicamente a
potências de 4 kVA (para alimentação em 220 V), dado que cargas maiores normal-
mente possuem entrada trifásica.
Filtragem ativa de uma carga única, ou um conjunto delas, é uma opção a se
fazer a correção do fator de potência no estágio de entrada de cada equipamento,
utilizando os chamados pré-conversores de fator de potência.
Diferentes técnicas de modulação podem ser empregadas para o acionamento
do conversor de potência, normalmente um inversor. As mais usuais são a MLP e a
por histerese (quando se trata de controle de corrente).
O controle por histerese apresenta como grandes vantagens a robustez (insen-
sibilidade à variação de parâmetros) e resposta instantânea, ou seja, a corrente sinte-
tizada está sempre acompanhando a referência. Por outro lado, o fato de a frequência
de comutação ser variável faz com que o projeto do filtro de saída (que atenua as
componentes produzidas pela comutação) torne-se mais difícil. Existem alternativas
para a produção de um controle por histerese com frequência constante através da
modulação da janela de histerese, mas isso envolve uma elaboração adicional da
estrutura de controle.
O controle MLP, por operar em frequência de chaveamento
constante, permite um projeto mais simples do filtro de saída. No entanto, se a forma de
onda a ser compensada for muito rica em componentes de alta frequência, o sistema
terá dificuldades em compensar corretamente a onda devido à atuação do filtro. Por
outro lado, se a carga consumir uma corrente suave, a resposta poderá ser adequada.
256
Condicionadores de Energia
Figura 7.47: diagrama de controle de filtro ativo em derivação pelo método da síntese de carga resistiva.
257
O comportamento desse condicionador é vital para o bom desempenho do
filtro. Dado que ele atua sobre a forma real da corrente da linha, um bom resultado na
compensação da corrente só ocorre se o sinal realimentado for fiel à corrente da linha.
Uma vez que, em princípio, deseja-se fazer a compensação total das harmônicas,
a faixa de passagem desse bloco deveria apresentar um ganho constante e uma
defasagem nula na faixa até 3 kHz (50a harmônica). Além dessa frequência, deve-se
atenuar o sinal de modo que, nas frequências de ressonância do filtro, o ganho (em
malha aberta) do sistema seja menor do que 0 dB (condição de estabilidade).
Via de regra essa não é uma condição simples de ser satisfeita, visto que, para
ter uma atenuação adequada na frequência de chaveamento (digamos em 20 kHz),
a frequência de ressonância do filtro de saída estará na faixa dos kHz, ou mesmo
inferior, dependendo da ordem desse filtro.
O filtro de saída (tipicamente numa estrutura LC) deve ser de ordem mais elevada,
o que vem permitir usar componentes de menor valor (individualmente), e também
produzir ressonâncias em valores elevados de frequência.
Figura 7.48: tensão (sup.: 150 V/div.) e corrente (meio: 5 A/div.) da rede após compensação. Corrente da
carga (inf.: 5 A/div.) para carga com filtro capacitivo. Horiz.: 5 ms/div.
258
Condicionadores de Energia
Figura 7.49: tensão (sup.: 150 V/div.) e corrente (meio: 5 A/div.) da rede após compensação. Corrente da
carga (inf.: 5 A/div.) para carga com filtro LC. Horiz.: 5 ms/div.
Ao ser ligado o filtro, observa-se uma efetiva melhora na corrente fornecida
pela rede. Nota-se que as distorções presentes na tensão também são observadas
na corrente, indicando que o sistema está se comportando como uma carga resistiva.
Ocorre ainda uma diminuição nos valores de pico e eficaz da corrente, uma vez que,
para a mesma potência ativa, tem-se uma redução na potência aparente.
A diminuição no valor eficaz deveria ser proporcional (inversamente) ao aumento
do fator de potência. No entanto, como o filtro ativo apresenta perdas, a rede tem que
fornecer uma potência ativa suplementar. Esse efeito é muito marcante em baixas
potências. Quando se eleva a potência da carga, a parcela dissipada no inversor se
torna relativamente menor, aumentando a eficiência do sistema.
A figura 7.50 mostra os espectros da corrente da linha antes e depois da atuação do
filtro. Nota-se a expressiva melhoria, representada pela redução da amplitude das harmô-
nicas. A diminuição na 5a componente não é tão significativa porque essa é uma harmô-
nica presente na tensão e que, portanto, deve também surgir na corrente compensada.
259
A figura 7.51 mostra a corrente de saída do inversor em três estágios de filtragem:
antes de passar pelo filtro passivo, em um estágio intermediário e na injeção na rede.
Figura 7.51: corrente de saída do inversor e após o primeiro estágio do filtro passivo.
260
Condicionadores de Energia
Na primeira figura, utiliza-se uma largura de faixa de 1 kHz na análise, a fim de ter
uma melhor definição de cada componente espectral, especialmente nas frequências
mais baixas, para as quais foi projetado o filtro. A banda de 9 kHz é a especificada na
norma para medição entre 150 kHz e 30 MHz. Ressalta-se que a IEM conduzida pode
prover também do chamado ruído de modo comum, que não é atenuado pelo filtro
especificado. O resultado indicado foi obtido inserindo-se um pequeno filtro capacitivo
de modo comum (conectado entre as fases e o terra).
A figura 7.53 mostra a resposta do sistema a variações na carga. Nota-se que, ao
ser aumentada, a corrente da carga o capacitor do barramento CC é descarregado, pois
é dele que provém a energia ativa consumida pela carga. Quando a malha de tensão
identifica tal diminuição na tensão, produz um aumento na referência da corrente, a fim
de absorver da rede a maior potência ativa exigida pela carga. Além disso, deve haver
uma sobrecorrente que recarrega o capacitor, recuperando sua tensão de operação.
Situação análoga ocorre quando a carga é reduzida.
Figura 7.53: resposta da malha de tensão a uma variação na carga: tensão no barramento CC (sup.: 50
V/div.) e corrente da rede (inf.: 5 A/div.).
261
A ação de filtros em derivação não muda a corrente na carga, pois praticamente
não modifica a tensão no PAC. A ação do FAP permite suprir à carga toda a potência
não ativa, incluindo os componentes harmônicos e a potência reativa. Da rede se
consome apenas a corrente associada à potência ativa. Esse fato maximiza o Fator
de Potência (FP), já que implica no mínimo valor de corrente pelo sistema, liberando a
capacidade de transmissão para as linhas, mantida constante a potência ativa na carga.
O filtro ativo trifásico apresentado utiliza a mesma estratégia de controle do filtro
monofásico, com as devidas adequações.
O diagrama de blocos do FAP trifásico, incluindo o sistema de controle proposto,
é mostrado na figura 7.54. O FAP é conectado a uma rede trifásica a três fios, na qual
as tensões são distorcidas.
Figura 7.54: diagrama de blocos de Filtro Ativo de Potência trifásico usando controle por
Síntese de Carga Resistiva.
262
Condicionadores de Energia
263
Figura 7.55: espectro da tensão da rede em vazio.
A figura 7.56 mostra o caso de uma carga não linear balanceada (retificador de
6 pulsos). Depois da compensação, as correntes na rede são similares às respec-
tivas tensões, incluindo as distorções. As transições rápidas não são completamente
compensadas devido à limitação da resposta em frequência da malha de corrente.
Figura 7.56: carga trifásica não linear balanceada. Acima: tensão (500 V/div.); meio: corrente de linha (5
A/div.); abaixo: corrente de carga (5 A/div).
264
Condicionadores de Energia
Figura 7.58: espectro da corrente pela carga fase a, depois da atuação do FAP.
265
A figura 7.59 mostra a resposta do FAP trabalhando com uma carga não linear
desbalanceada (retificador monofásico). Também nesse caso o FAP é capaz de
compensar a carga, refletindo na rede uma carga linear balanceada.
Figura 7.59: carga não linear monofásica. Acima: tensão (500 V/div.); meio: correntes de linha (1 A/div.);
abaixo: corrente de carga (1 A/div).
A figura 7.60 mostra o espectro da tensão antes da atuação do FAP. Nesse caso,
a DHT é significativamente alta (4,2%) e a distorção na tensão é evidente, incluindo
uma importante 3a harmônica.
Figura 7.60: espectro da tensão da rede com carga não linear monofásica.
266
Condicionadores de Energia
O Fator de Potência medido foi de 0,995. A eficiência do FAP foi 96,5% para
uma frequência de comutação de 20 kHz.
A figura 7.62 mostra a resposta transitória da malha de tensão CC. Depois de uma
variação da carga de 50%, a tensão CC inicialmente diminui, uma vez que o inversor
entrega energia à carga. Depois que se detecta a variação da tensão CC, a corrente
de referência aumenta, permitindo absorver da rede a quantidade necessária de
potência para alimentar a carga. Quando a carga diminui, acontece a situação inversa.
Figura 7.62: variação da tensão no barramento CC. Acima: tensão CC (100 V/div); abaixo:
corrente na linha (2 A/div).
267
7.6.2 Filtro Ativo Monofásico com Inversor Multinível
Quando se cogita a aplicação de um filtro ativo em uma rede de tensão mais
elevada, ou mesmo um FAP de maior potência, a opção por um inversor com modulação
PWM talvez não seja a mais indicada pelas seguintes razões:
yy Limitação na frequência de comutação típica dos componentes de maior
potência (tensão e corrente);
yy Elevado nível de interferência eletromagnética causada pela comutação;
yy Filtros passivos com baixa frequência de cor te, o que limita a
resposta dinâmica do FAP.
Uma alternativa é o uso de inversores multiníveis, os quais podem se apresentar
em diversas topologias, como mostra a figura 7.63, para inversores de 5 níveis de
diferentes topologias.
Figura 7.63: inversores multiníveis (5 níveis): topologias neutro grampeado, capacitor flutuante
e cascata simétrica.
268
Condicionadores de Energia
Figura 7.64: saída de inversor multinível (19 níveis com PWM), para referência senoidal.
269
As figuras 7.66 e 7.67 mostram formas de onda experimentais nesse protótipo de
1 kVA, aplicado em uma rede de 127 V. Observa-se que a tensão de saída do inversor
é já muito próxima de uma senoide, diferindo, essencialmente, nos momentos em que
há alteração da corrente da carga, quando se faz necessária injeção de corrente com
maior taxa de variação.
Figura 7.66: formas de onda do FAP multinível: tensão da rede, tensão de saída do FAP, corrente da carga
e corrente da rede após compensação.
Figura 7.67: formas de onda do FAP multinível no transitório de partida: corrente no FAP e corrente da rede.
270
Condicionadores de Energia
A fim de reduzir a potência a ser processada pelo filtro ativo, é possível utilizá-lo
em associação com filtros passivos, de maneira que a parte ativa deve atuar apenas
sobre as componentes não corrigidas pelo filtro passivo.
A figura 7.68 ilustra o princípio de um filtro híbrido monofásico. Na figura tem-se
o esquema geral, considerando a existência de uma fonte de tensão na frequência
fundamental (Vs) e uma fonte de tensão que representa a distorção harmônica da
tensão (Vsh). A carga é modelada como uma fonte de corrente (IL), a qual também
possui componente harmônica (Ilh). Existe uma reatância da fonte, (Zs), e um filtro LC
série sintonizado na frequência da harmônica de interesse. O filtro ativo é modelado
como uma fonte de corrente.
Observa-se que a componente harmônica a ser drenada pelo filtro passivo não
terá que circular pelo filtro ativo, de modo que se tem uma redução na corrente eficaz
a ser controlada pela parte ativa. Entretanto, não há diminuição na tensão de projeto
do filtro ativo. Além disso, o filtro passivo não é capaz de atuar como amortecedor de
eventuais ressonâncias entre ele próprio e a linha.
Na figura 7.69, tem-se uma outra alternativa topológica, na qual o filtro ativo é
colocado em série com um filtro passivo. Na verdade, podem estar associados diversos
filtros passivos, sintonizados ou passa-alta.
271
Figura 7.69: princípio de operação de filtro híbrido de corrente: a) esquema geral; b) operação na frequência
fundamental; c) operação na frequência de sintonia do filtro; d) operação nas demais harmônicas.
O sistema de controle do filtro ativo é tal que ele absorve uma componente de
corrente na frequência fundamental com tal valor que produza sobre a parte passiva
do filtro uma queda de tensão igual à tensão da rede, Vs, como indica a figura 7.69,
item b. Isso faz com que a tensão a ser suportada pelo estágio ativo seja somente a
tensão relativa às componentes harmônicas.
Além dessa componente, o filtro absorve uma corrente igual ao conteúdo harmônico
da carga, de modo que pela fonte circule apenas uma corrente na frequência fundamental.
Na frequência de ressonância do filtro passivo a parte ativa deverá suportar uma
tensão aproximadamente igual à parcela distorcida da tensão da rede, caso exista,
(figura 7.69, item c). Nas demais frequências a tensão harmônica divide-se entre o
filtro passivo e o ativo (figura 7.69, item d).
A figura 7.70 mostra o mesmo filtro passivo e carga utilizados na simulação
anterior, mas agora com a inclusão, em série, do filtro passivo (idealizado pela fonte
de corrente controlada por tensão – bloco G1. A referência da corrente tem a mesma
forma da tensão no ponto de acoplamento.
272
Condicionadores de Energia
Figura 7.71: formas de onda relativas a filtro ativo conectado em série com filtro passivo: tensão sobre os
terminais do filtro ativo (superior); tensão e corrente no ponto de acoplamento (intermediário);
corrente na carga e no filtro ativo (inferior).
273
Inserindo-se uma parcela de corrente na frequência fundamental, consegue-se
reduzir tal tensão para valores que dependem apenas das componentes harmônicas.
Isso é mostrado na figura 7.72. Ao adicionar-se essa parcela de corrente, tem-se que
o fator de potência não será mais unitário, pois a corrente absorvida da rede estará
adiantada em relação à tensão. Se tal defasagem for aceitável (nesse exemplo, o fator
de potência se reduz para 0,95), o ganho em termos do alívio nas especificações do
filtro ativo é significativo.
Figura 7.72: formas de onda relativas a filtro ativo conectado em série com filtro passivo, incluindo corrente
de compensação de tensão: tensão sobre os terminais do filtro ativo (superior); tensão e
corrente no ponto de acoplamento (intermediário); corrente na carga e no filtro ativo (inferior).
274
Condicionadores de Energia
(7.12)
275
7.8.1 Carga com harmônicas
Considere-se uma carga que absorva uma corrente não senoidal como, por
exemplo, um retificador trifásico com filtro LC no lado contínuo. Esse conversor absorve
uma corrente semelhante à mostrada na figura 7.75.
276
Condicionadores de Energia
277
iαp =
iαq =
iβp = (7.14)
iβq =
= +
O filtro ativo deve ser capaz de compensar todos os elementos de potência, exceto
a potência ativa média, que é a que, efetivamente, está realizando trabalho junto à carga.
278
Condicionadores de Energia
iαcomp(t) =
(7.15)
iβcomp(t) =
= · (7.16)
279
7.8.2 Cargas reativas passivas
Verifica-se o comportamento dessa teoria tratando de cargas reativas (equi-
libradas), mas sem harmônicas. Um exemplo de correntes está mostrado na figura
7.84, para cargas com característica indutiva.
280
Condicionadores de Energia
281
7.8.3 Estudo de caso com carga desequilibrada
Será vista uma situação com uma alimentação equilibrada alimentando uma
carga resistiva desequilibrada, cujas correntes de linha estão mostradas na figura 7.90.
282
Condicionadores de Energia
As componentes ativa e reativa das correntes no plano αβ0 estão mostradas nas
figuras 7.94 e 7.95. Observa-se que essas correntes são não senoidais.
283
A corrente de compensação para a fase a está mostrada na figura 7.96. Esta é
senoidal e leva à compensação da corrente de linha, como mostrado na figura 7.97.
Observa-se que é possível compensar o desequilíbrio e obter um fator de potência unitário.
Figura 7.97: tensão, corrente de carga e da rede nas fases a e b, após compensação.
284
Condicionadores de Energia
285
As correntes no plano αβ0 estão na figura 7.101. Por ser um sistema a 3 fios,
não se tem corrente de sequência zero.
286
Condicionadores de Energia
Como há uma parcela variável de potência ativa a ser compensada, esse método
produz uma corrente de compensação, mostrada na figura 7.104, para a fase a. Essa
corrente é não senoidal e, portanto, introduzirá distorção harmônica na corrente da
rede, após a compensação. Na figura 7.105 tem-se as correntes compensadas nas
fases a e b, juntamente com as tensões de fase e as correntes de carga.
287
Figura 7.105: tensão, corrente na carga e na linha (após compensação), nas fases a e b.
O uso desse método, como se nota, não se aplica a sistemas com alimentação
desequilibrada, uma vez que seu objetivo é o de compensar todas as parcelas de
potência exceto a potência ativa média. Como se vê na figura 7.106, esse objetivo é
conseguido, mas isso não significa que se tenha o máximo fator de potência, como
evidenciam as formas de onda mostradas em 7.105.
288
Condicionadores de Energia
289
Sendo a carga resistiva, não há potência reativa. A potência ativa apresenta um
valor médio e uma parte variável, como mostrado na figura 7.110.
290
Condicionadores de Energia
291
CONDICIONADORES ELETRÔNICOS
PARA ALTA TENSÃO
8 CONDICIONADORES ELETRÔNICOS PARA ALTA TENSÃO
O objetivo deste capítulo é apresentar o conceito geral dos dispositivos FACTS,
sua classificação de acordo com o tipo de semicondutor utilizado, sua aplicação e
princípio de funcionamento. Será dada ênfase para o Compensador Estático de Reativo
que utiliza válvula convencional de tiristores denominado de CER (SVC) e o Compen-
sador Estático baseado em um conversor tipo VSC, denominado STATCOM. Serão
apresentadas as características básicas desses dois dispositivos, suas configurações
construtivas, seus componentes e os principais requisitos para a elaboração de uma
especificação técnica funcional de fornecimento.
8.1 INTRODUÇÃO
Foi a partir da tecnologia da eletrônica de potência aplicada nos processos de
retificação em linhas de transmissão em corrente contínua que surgiu o conceito de
FACTS (Flexible Alternating Current Transmission Systems), o qual propõe a aplicação
dessa mesma eletrônica de potência em sistemas de transmissão em corrente alter-
nada, de forma a prover a esses sistemas a mesma capacidade de resposta frente
a comandos de controle, ou seja, fornecer ao sistema de transmissão CA a mesma
flexibilidade já conquistada nos sistemas em CC.
Atualmente, os dispositivos FACTS são o resultado dos avanços ocorridos na
eletrônica de potência baseados em componentes semicondutores de alta potência,
capazes de controlar grandezas elétricas como impedância, tensão, corrente e fluxo
de potência e que, quando instalados, permitem maior flexibilidade no controle da rede
de transmissão devido às suas características especiais de controle.
O desenvolvimento dessa tecnologia se deve, em grande parte, na busca
de soluções aos problemas relacionados com a rede de transmissão, tais como:
estabilidade, limites térmicos, segurança e eficiência na transmissão de grandes
blocos de energia. Essas características que são intrínsecas a uma rede elétrica
fazem com que surjam pontos de estreitamento na transmissão, e esses pontos
se deslocam e mudam de lugar de acordo com as alterações nos fluxos de
potência resultantes do despacho de geração conforme as condições de carga e
as contingências do sistema.
As soluções convencionais inicialmente empregadas para tentar corrigir esses
problemas foram a utilização de bancos de capacitores e reatores manobráveis
mecanicamente. Porém, a falta de flexibilidade atribuída à instalação desses equipa-
mentos levou à pesquisa de novos dispositivos que permitissem alterar com rapidez
e segurança os parâmetros elétricos que controlam a dinâmica de funcionamento de
uma linha de transmissão. Nos dias de hoje, a busca por sistemas de potência flexí-
veis é justificada também pela necessidade de se controlar sistemas extremamente
dinâmicos e com pequena margem operacional. Restrições ambientais, políticas e
econômicas e incertezas quanto à previsão de demanda, matriz energética, custos
de geração e transmissão impõem diretrizes e tendências no desenvolvimento
desses dispositivos FACTS.
294
Condicionadores de Energia
295
yy NGH-SSR (Narain G. Hingorani-Sub Synchronous Ressonance);
yy TCSR (Thyristor Controlled Series Reactor);
yy TSSR (Thyristor Switched Series Reactor);
yy TCBR (Thyristor Controlled Braking Resistor);
yy TCVL (Thyristor Controlled Voltage Limiter);
yy TCVR (Thyristor Controlled Voltage Regulator);
yy TCPST (Thyristor Controlled Phase Shifting Transformer);
yy TCPAR (Thyristor Controlled Phase Angle Regulator);
yy DFC (Dynamic Flow Controller);
yy IPC (Interphase Power Controller);
yy MERS (Magnetic Energy Recovery Switch).
296
Condicionadores de Energia
Esses conversores VSC e CSC podem ser representados como fontes de tensão
ou de corrente ideais, respectivamente. Para todos os efeitos, com a exceção do
conteúdo harmônico que possa existir na saída do compensador devido à comutação
dos conversores (dependendo da filtragem empregada ou outros métodos de elimi-
nação de harmônicos), um VSC e um CSC comportam-se respectivamente de modo
semelhante a uma fonte de tensão e uma fonte de corrente, ambas ideais.
Esses conversores são a alma dos dispositivos FACTS de última geração e
merecem toda a importância, pesquisa e recursos para o seu desenvolvimento.
297
relações básicas aqui apresentadas sofrem modificações quando são considerados
modelos completos das linhas de transmissão. Entretanto, de uma maneira global, o
comportamento qualitativo do sistema com um dispositivo FACTS é mantido. A figura
8.3 ilustra um modelo ideal de transmissão CA, sem a aplicação de dispositivos FACTS.
Estabilidade do Sistema
em que:
V1 e V2 – tensões nos terminais do sistema;
δ1 e δ2 – ângulos de transmissão correspondentes aos vetores de tensão;
X – impedância equivalente da linha de transmissão.
Com o auxílio dessa equação, é possível observar a influência dos dispositivos
FACTS sobre a potência transmitida P12 por meio do controle ou regulação de cada
um dos três parâmetros: tensão, impedância e ângulo de transmissão. Engenheiros
e pesquisadores do setor elétrico têm-se debruçado sobre essa simples equação
tentando encontrar soluções para flexibilizar a transmissão de energia, e por meio da
criação de modelos elétricos representando os dispositivos FACTS que atuam sobre
os parâmetros dessa equação estudam seu comportamento e desenvolvem novas
soluções. O princípio dessa análise é simples:
a) Quando o dispositivo FACTS está conectado em série com o sistema elétrico
ocorre a alteração no denominador (X) da equação, ou seja, a impedância da linha
de transmissão é alterada;
b) Quando o dispositivo FACTS está associado em paralelo ocorre a alteração
no numerador da equação (V), ou seja, a tensão no ponto onde o dispositivo está
conectado é modificada.
c) E, quando a associação é uma composição série-paralela ou série-série, é
possível alterar tensão e ângulo de transmissão influenciando o resultado do sen (δ)
e, com isso, assume-se o controle do fluxo de potência.
Um dispositivo FACTS ideal é um compensador de reativos que tem a capacidade
de regular a amplitude da tensão e o seu respectivo ângulo de fase, e, desse modo,
consegue regular o fluxo de potência ativo e reativo em uma linha de transmissão
– e esse é o objetivo principal da compensação de reativos de uma linha. Ou seja,
em teoria, a combinação de um compensador série com um compensador paralelo
298
Condicionadores de Energia
deve resultar num compensador completo ideal, capaz de efetuar todas as funções
de controle de uma rede elétrica. Nos itens seguintes que compõem este capítulo,
vai-se explorar esses compensadores série e paralelo e analisar sua influência e
comportamento no sistema elétrico.
com compensação
sem compensação
Estabilidade do Sistema
em que:
V1 e V2 – tensões nos terminais do sistema;
δ1 e δ2 – ângulos de transmissão correspondentes aos vetores de tensão;
XL – impedância equivalente da linha de transmissão;
XC – impedância equivalente do capacitor série.
Esse tipo de tecnologia é utilizado no Brasil desde a década de 80, com os primeiros
Bancos de Capacitores Série instalados nas subestações de Itaberá e Ivaiporã na
conexão entre Itaipu e Tijuco Preto. O objetivo dessa tecnologia é aumentar a capa-
cidade e o limite de estabilidade nos sistemas de transmissão em grandes distâncias.
Com o passar dos anos, a aplicação do capacitor série (FSC) tem sido desenvolvida
e associada a dispositivos de eletrônica de potência, o que permite que a impedância
a ser associada com a rede elétrica seja controlada de forma rápida e contínua. Esse
dispositivo FACTS, denominado popularmente de Capacitor Série Avançado (CSA)
ou TCSC (Thyristor Controled Series Capacitor) é um dispositivo FACTS de segunda
geração que utiliza uma válvula de tiristores, e no Brasil foi aplicado em 1999 na
interligação Norte-Sul, no trecho entre Imperatriz e Serra da Mesa.
O TCSC tem a função de controlar dinamicamente o fluxo de potência numa
linha de transmissão, aumentando a estabilidade dinâmica do sistema de transmissão.
Basicamente, o TCSC é constituído por um banco de capacitores (C) conectado em
paralelo com reator (L) de núcleo de ar controlado por tiristores. Esse conjunto será
conectado em série com a linha de transmissão, e a figura 8.5 ilustra essa configuração
e o seu diagrama operacional.
299
com compensação
sem compensação
Estabilidade do Sistema
XTCSC = (8.3)
Região de
ressonância
Por meio da análise do diagrama operacional do TCSC, ilustrado pela figura 8.6,
pode-se observar a sua faixa de operação normal. As regiões capacitiva e indutiva são
limitadas pelo ponto de ressonância (XC = (XL(α))). A reatância indutiva varia entre o
ponto de condução contínua (90°) até um valor máximo próximo ao infinito, enquanto
que a região capacitiva varia entre o limite do ponto de ressonância até 180°.
A relação normalmente estabelecida entre a reatância XC e a impedância X TCSC
varia entre 3 e 4. No caso de os tiristores serem conduzidos totalmente, pode-se
utilizar o ponto de operação indutivo como operação dos capacitores para uma elevada
solicitação de tensão ou amortecimento da ressonância subsíncrona.
Com o desenvolvimento de novos semicondutores e a aplicação da eletrô-
nica de potência, novos dispositivos FACTS que influenciam na impedância do
sistema elétrico têm sido testados e apresentados ao mercado. Dentre esses dispo-
sitivos, pode-se destacar:
300
Condicionadores de Energia
Por meio da equação da potência transmitida P12, é possível observar na figura 8.7
a curva de estabilidade do sistema e os diferentes pontos de operação para diferentes
valores da reatância capacitiva variável inserida na linha. A área verde em destaque
no gráfico demarca o ganho na área de operação da linha para a potência de 1 pu.
301
que circula na linha e o efeito autorregulador não ocorre como nos compensadores
série tradicionais e comandados por tiristores, e, desse modo, a tensão injetada em
série pelo compensador pode ser controlada independentemente da corrente na linha.
A potência transmitida P12 é obtida por meio da equação já conhecida:
em que:
XC =
302
Condicionadores de Energia
303
Figura 8.10: transformador defasador de comutação mecânica.
304
Condicionadores de Energia
Gas insulated
trunking
Air coolers
Shunt unit
Series unit
305
O UPFC é um dispositivo FACTS revolucionário que oferece alternativas para
o controle de sistemas de potência até então impossíveis de serem atingidas com o
uso de equipamentos tradicionais.
O UPFC pode executar as funções de um SSSC por meio do conversor (VSCs),
de um STATCOM (VSCp) e de um regulador de ângulo de fase (porque consegue
manipular potência ativa).
O conversor série permite que o UPFC injete uma tensão controlável em módulo
(de 0º até Vsp máximo) e fase (de 0º a 360º) em série com a linha. Nessa situação, o
conversor paralelo (VSCp) absorve potência ativa da rede e a transfere para o conversor
série (VSCs), o que possibilita alterar a fase da tensão mantendo-a constante em módulo.
Essas alterações na tensão e ângulo de fase no ponto onde o UPFC está conec-
tado podem ser observadas no diagrama fasorial da figura 8.13.
Observa-se que, dependendo do ponto de operação, o conversor paralelo pode
absorver ou injetar potência reativa na barra Vbarra; já o controle do fluxo de potência na
área limitada pelo círculo ilustrado no diagrama só é possível de ser realizado devido a uma
pequena parcela de potência reativa extraída da rede pelo conversor série e transmitido
para o conversor paralelo, ou seja, é através do pequeno fluxo de potência ativa entre os
conversores que se realiza o controle do fluxo de potência na rede. Desse modo, o UPFC
pode ser controlado de maneira que possa gerar uma tensão de compensação série, com
qualquer amplitude e fase (sua região de operação é um círculo). Essa é uma das principais
vantagens do UPFC quando comparado com controlador defasador baseado em tiristores.
Importante destacar que a potência reativa não flui através da conexão CC,
pois ela é gerada ou absorvida localmente em cada um dos conversores. Apenas a
potência ativa flui entre os conversores.
A capacidade de armazenar energia nos capacitores CC é pequena, pois a
potência ativa absorvida pelo conversor em paralelo é igual à potência ativa gerada
pelo conversor série. Se essa troca não é realizada, a tensão CC pode aumentar ou
diminuir dependendo da potência que está sendo absorvida ou gerada pelos conver-
sores. Do outro lado, a potência reativa compensada pelos conversores em paralelo
ou série pode ser escolhida independentemente uma da outra, dando, assim, uma
grande flexibilidade no controle do fluxo de potência.
Essas funções podem ser realizadas individual ou simultaneamente, com excelente
tempo de resposta e ótimo desempenho. Devido a essa característica de operação, o
UPFC é o dispositivo FACTS mais sofisticado para compor uma linha de transmissão.
Assim como o STATCOM e o SSSC, o UPFC pode operar com níveis de tensão
relativamente baixos (devido aos transformadores de acoplamento), conseguindo-se,
assim, potências nominais elevadas para esses dispositivos. No entanto, essa ainda é uma
solução de custos elevados e de grande complexidade, só se justificando em situações
onde se pretende utilizar todas ou quase todas as potencialidades de um UPFC. Em
todas as outras situações, existem soluções econômica e tecnicamente mais viáveis.
306
Condicionadores de Energia
307
Reativos formado por um TCR (reator controlado a tiristor), um TSC (capacitor chaveado
a tiristor) e um filtro de harmônicas, conectados ao sistema de potência através de um
transformador de acoplamento. Outras variantes derivadas das associações desses
elementos também são possíveis.
de eletrica
308
Condicionadores de Energia
Nos gráficos que compõem a figura 8.18, é possível observar que a curva
característica do Compensador Estático (V × I) é o resultado da sobreposição da
curva de operação do capacitor fixo e a curva de operação do reator controlado.
Admitindo inicialmente que o capacitor está conectado na barra, observa-se que, à
medida que o reator controlado é inserido no sistema (rampa de reatância indutiva),
ocorre a redução da reatância capacitiva até que esta seja anulada e se sobressaia a
reatância indutiva. Com isso, pode-se concluir que o comportamento da tensão será
determinado pela combinação desses elementos.
309
Figura 8.19: circuito equivalente.
310
Condicionadores de Energia
311
8.5.1.1 Configuração do Compensador Estático
Os equipamentos principais (elementos reativos passivos) que compõem a
configuração do compensador estático são, como já mencionados anteriormente, o
reator controlado por tiristor (TCR – figura 8.24), o capacitor chaveado por tiristor (TSC
– figura 8.22), o transformador de acoplamento e os filtros de harmônicas (figura 8.23).
312
Condicionadores de Energia
313
8.6 Transformador de Acoplamento
O barramento de média tensão é conectado ao barramento de alta tensão através
de um transformador de acoplamento que normalmente apresenta uma impedância de
dispersão que varia entre 10% e 14%. Embora a potência nominal do transformador
(potência de placa) seja definida pelo valor da máxima potência (indutiva ou capacitiva)
do compensador, sua potência real é superior devido aos pontos de operação do CER,
ciclo de sobrecarga e solicitações harmônicas. A tensão nominal do secundário do
transformador de acoplamento é otimizada em função do melhor aproveitamento da
válvula de tiristores. Essa tensão, portanto, não é padronizada e varia de acordo com
a tecnologia de cada fabricante.
O transformador de acoplamento é um transformador de potência, mas recebe
essa denominação devido a sua função de conectar (acoplar) o compensador estático
à rede elétrica. O local na subestação onde ocorre essa conexão é denominado de
PCA (ponto comum de acoplamento). O projeto do transformador de acoplamento
deve atender a todos os requisitos estabelecidos nas normas técnicas vigentes, mas
serão destacados três pontos importantes que devem ser considerados no projeto:
yy Exposição à forte presença de harmônicas geradas pelo chaveamento das
válvulas de tiristores;
yy Consideração das perdas em vazio e em carga, pois os critérios para perdas
globais no compensador estático são extremamente severos e a parcela de contri-
buição do transformador é muito relevante. Isso significa que o transformador deve ser
projetado para gerar o mínimo de perdas, o que em alguns projetos significa utilizar
aço-silício especial na fabricação do seu núcleo;
yy Definição no fornecimento entre um banco de transformadores monofásicos
ou um transformador trifásico. Alguns empreendimentos têm optado pelo fornecimento
de banco monofásico com uma unidade reserva. Isso se justifica pelo fato de que, em
uma eventual falha em uma das unidades monofásicas, ela poderá ser substituída
rapidamente pela unidade reserva, enquanto que, se a falha ocorrer no transformador
trifásico, a reposição poderá levar meses. (Exposição a pagamento de PV – parcela
variável – devido à indisponibilidade do equipamento).
A figura 8.26 ilustra um arranjo eletromecânico de um compensador estático
com a instalação de um banco de transformadores monofásicos (3 + 1) e sua respec-
tiva unidade reserva.
Figura 8.26: arranjo eletromecânico do compensador estático com banco de transformadores monofásicos.
314
Condicionadores de Energia
315
A corrente através do reator pode ser continuamente alterada por meio do
disparo dos tiristores, com uma exatidão de 0,1º desde o zero até seu valor máximo.
A condução máxima do TCR é obtida com o ângulo de disparo ligeiramente superior
a 90º. A corrente, para essa condição, é essencialmente indutiva e senoidal. Porém,
conduções parciais são obtidas variando o ângulo de disparo entre 90º e 180º. Ângulos
de disparo entre 0º e 90º não são viáveis, pois produzem correntes assimétricas.
O valor máximo do efeito da susceptância (B) controlável do TCR está na condução
máxima (α = 90º), e é equivalente a 1/XL. O valor mínimo, por sua vez, é zero, obtido
com o ajuste de α = 180º. Desse modo, o TCR pode ser entendido como uma reatância
aparente variável (V/I = XL), que varia de forma inversamente proporcional à corrente,
enquanto que a sua potência reativa varia de forma proporcional à corrente.
O TCR necessita de um sistema de controle que determine o instante exato do
disparo (ângulo α) medido a partir do último cruzamento com o zero da tensão (sincro-
nismo do ângulo de disparo). O sistema de controle responde a um sinal que pode
representar diretamente a susceptância (1/XL) desejada ou a um sinal que representa
o desvio da tensão de referência.
Para determinar a susceptância (B) do TCR, pode-se utilizar a equação:
BTCR(α) = (8.8)
316
Condicionadores de Energia
317
Figura 8.31: forma de onda da tensão (e) e da corrente (i) no reator.
318
Condicionadores de Energia
= = · (8.10)
319
8.9.1 Potência de Saída do Compensador Estático
A potência de saída do compensador estático (QCER) é a soma das potências
reativas de todos os elementos reativos passivos que constituem o compensador. Os
filtros de harmônicas, que são uma fonte de potência reativa capacitiva, não controlável,
estão constantemente conectados à barra de média tensão. Para se obter uma potência
de saída nula no compensador, é necessário que o TSC esteja desconectado e que
o TCR seja controlado até que sua potência seja da mesma ordem de grandeza da
potência dos filtros (Qfiltros). Desse modo, a potência reativa indutiva do TCR (QTCR)
anulará a potência reativa capacitiva dos filtros, resultando numa potência de saída
nula (QCER = 0). Se o sistema requer mais potência reativa capacitiva, o TSC será
chaveado e a sua potência capacitiva (QTSC) será adicionada à potência capacitiva
dos filtros (QFiltros), e ambas serão injetadas no sistema, influenciando, assim, na
potência de saída do compensador. Importante lembrar que o transformador de
acoplamento também produz potência reativa indutiva (QTR) em função da corrente
que circula para o compensador.
∆V (pu) = (8.12)
320
Condicionadores de Energia
321
O diagrama da figura 8.34 mostra os sinais controlados e monitorados pelo sistema
de controle de malha aberta. A linha verde representa o estado dos equipamentos de
pátio (secionadoras, lâminas de terra e disjuntores) e a linha marrom representa os
sinais de comando e desligamento (trip).
O sistema de controle é projetado para controlar e monitorar todas as seccio-
nadoras motorizadas e o disjuntor do lado AT, exceto a chave de aterramento, que,
por questões óbvias de segurança, só deve ser operada manualmente. O estado
aberto-fechado de todos os dispositivos é monitorado pelo controle em malha aberta.
Além do comando de manobra dos equipamentos, o controle em malha aberta
também é responsável pelo registrador digital de perturbações (RDP), comunicação
com o sistema supervisório e sincronismo de eventos (GPS).
Por sua vez, o objetivo do controle em malha fechada é ajustar a potência de
saída do compensador. A potência reativa é controlada ajustando os ângulos de disparo
dos tiristores TCR, enquanto que a potência capacitiva é obtida chaveando o TSC.
O sistema de controle mede sinais de tensão e corrente da rede para, através de um
determinado algoritmo, controlar os disparos das válvulas de tiristores.
O esquema de controle ilustrado na figura 8.35 representa, de modo funcional
e generalista, um sistema de controle em malha fechada do compensador. Os sinais
de tensão e corrente estão marcados em azul, e os sinais para disparo das válvulas,
em vermelho. Para que o sistema de controle funcione adequadamente, é necessário
monitorar os seguintes pontos: tensão do ponto de acoplamento (VPCA) e corrente do
lado da alta-tensão (I). Essas informações são utilizadas para controlar a potência de
saída do compensador. Para sincronizar o pulso de disparo das válvulas, o sistema de
controle precisa conhecer o valor da tensão no barramento de média-tensão (VCER).
322
Condicionadores de Energia
323
Snubbers são pequenos circuitos inseridos nas válvulas, cuja função é controlar
os efeitos produzidos pelas reatâncias intrínsecas do circuito. Os snubbers podem
amortecer oscilações, controlar a taxa de variação da tensão e/ou corrente, e
grampear sobretensões.
Cada fabricante de válvulas de tiristores possui sua tecnologia própria e carac-
terísticas associadas ao seu desenvolvimento, o que faz com que as soluções sejam
bastante diferenciadas quanto à geometria, montagem vertical ou horizontal, mono-
fásico ou trifásico, níveis de tensão, circuitos de disparo e sistema de resfriamento
dos tiristores. O breve descritivo apresentado apenas ilustra, de uma forma genérica,
a configuração de uma válvula de tiristores e não tem a pretensão de servir de guia
ou modelo para a construção de uma válvula. A figura 8.36 ilustra uma válvula de
tiristores com empilhamento vertical e a figura 8.37 ilustra outra válvula de tiristores
com empilhamento horizontal.
324
Condicionadores de Energia
325
Figura 8.38: tiristores LTT e ETT.
A figura 8.38 ilustra dois tipos de tiristores: o ETT (Electrically Triggered Thyristor),
disparado por sinal elétrico, e outro tiristor com tecnologia LTT (Light Triggered Thyristor),
disparado por luz. Cada fabricante da válvula possui a sua própria tecnologia e utiliza
o tipo de tiristor que lhe é mais favorável técnica e economicamente. A figura 8.39
ilustra os tiristores e o dissipador de calor.
326
Condicionadores de Energia
327
Um sistema de resfriamento, como ilustrado na figura 8.42, é associado à
válvula para manter sua temperatura dentro de valores seguros de operação. Atual-
mente, são utilizados sistemas de resfriamento (circuito fechado) com trocadores de
calor do tipo ar/água.
8.11 STATCOM
O STATCOM, sigla de STATic Synchronous COMpensator, é um dispositivo
FACTS baseado em um conversor VSC (Voltage Source Converter), conectado em
paralelo com a rede elétrica. Para que a troca de potência reativa (geração e absorção)
entre a rede elétrica e o STATCOM seja realizada, o conversor VSC gera uma tensão
com módulos e ângulos variáveis. Esses conversores possuem um banco de capaci-
tores CC que funcionam como uma fonte de tensão CC. O banco de capacitores CC
também serve como sistema de armazenamento de energia. É por meio da posição
relativa da tensão gerada pelo VSC com a tensão da rede que se estabelece a troca
de reativos que faz com que o STATCOM cumpra sua função de compensação de
reativos. É importante destacar que, idealmente, a corrente injetada pelo STATCOM
na rede onde está conectada está em quadratura com a tensão do sistema, fazendo
com que o fluxo de potência ativa seja nulo.
A capacidade de trocar potência ativa com a rede é limitada e acontece
apenas para modificar o nível da tensão CC sobre o capacitor e para suprir as
suas próprias perdas.
O STATCOM é composto basicamente por quatro componentes: conversor
VSC, transformador de acoplamento, banco de capacitores em corrente contínua e
um sistema de controle, como ilustrado na figura 8.43.
328
Condicionadores de Energia
329
A característica da tensão de saída versus corrente (característica V × I) é
apresentada na figura 8.44. Nessa figura, é possível observar que o STATCOM, além
de ser capaz de fornecer potência reativa (indutiva e capacitiva), consegue também
controlar sua corrente de saída sob toda a faixa controlável, independentemente da
tensão da rede. Desse modo, o STATCOM pode fornecer a corrente capacitiva total
para qualquer nível de tensão, inclusive com uma tensão próxima de zero.
Figura 8.45: conversor VSC com ligação NPC e a curva de tensão fase-fase.
330
Condicionadores de Energia
A figura 8.45 mostra o esquema NPC de três níveis e a curva de tensão fase-
fase. Nesse esquema, são utilizadas 12 chaves, sendo quatro chaves para cada
fase, e seis diodos.
Nessa configuração, a tensão no barramento CC depende da associação dos
dois capacitores que formam uma espécie de divisor de tensão capacitivo, fazendo
com que a tensão no barramento CC seja igualmente dividida por dois. Cada fase
contém quatro IGBTs e dois diodos de fixação. Esses diodos estão ligados ao ponto
médio do barramento CC para assegurar que a tensão sobre qualquer IGBT não seja
superior à metade da tensão total do barramento.
O resultado obtido da tensão fase-fase é mostrado na figura 8.45. A grande
vantagem das topologias de três (ou mais) níveis está na capacidade de gerar formas de
ondas compostas de um maior número de pulsos. A figura 8.46 mostra a configuração
de um STATCOM utilizando conversores VSC conectados em delta.
331
Figura 8.47: sobreposição das curvas características do STATCOM e CER.
332
Condicionadores de Energia
333
Figura 8.48: STATCOM Alstom de 144 MVAr – 33 kV, instalado em Abu Dhabi.
334
Condicionadores de Energia
335
Figura 8.49: polígonos representando os setores de harmônicas – IEEE.
O TCR, Reator Controlado por Tiristor, gera correntes harmônicas causadas
pelos disparos dos tiristores. Uma parte dessas correntes poderá fluir para o sistema
de transmissão, ocasionando distorções na tensão no ponto de acoplamento. Devido a
isso, e para garantir que os valores mínimos de distorção de tensão e correntes sejam
respeitados, o compensador estático deve ser composto por filtros de harmônicas.
Para o correto dimensionamento dos filtros, é necessário considerar a presença
de harmônicas características pré-existentes no sistema e também a presença de
harmônicas não características, que se formam devido às condições de desequilíbrio
das tensões de fase (assimetria); diferenças nas reatâncias entre transformadores;
diferenças nas reatâncias entre fases de um mesmo transformador; diferenças nas
reatâncias entre fases dos reatores de núcleo de ar que compõem o TCR (é por isso
que as tolerâncias são estabelecidas e normalizadas) e as assimetrias nos instantes
de disparo (trem de pulso) dos tiristores (erros do sistema de controle). A presença
de harmônicas não características faz com que as harmônicas de terceira ordem e
seus múltiplos se desloquem para o lado de fora das conexões em delta, sendo, em
alguns casos, necessária a instalação de filtros de terceira ordem.
336
Condicionadores de Energia
As variações de tensão devem ser especificadas para não exceder a uma determi-
nada porcentagem (normalmente 5%) em relação a sua condição de regime permanente
para contingências simples e chaveamentos de bancos de capacitores e/ou reatores.
O compensador estático deverá também ter especificada uma faixa de potência
reativa que deverá fornecer continuamente (indutivos e capacitivos), no barramento
do ponto de conexão e em toda faixa de tensão.
A convenção usada é que um sinal positivo (+) indica potência reativa capacitiva,
e um sinal negativo (–) indica potência reativa indutiva.
A especificação deve determinar o estatismo (slope) do compensador, que é a
inclinação (tag δ) da curva tensão-corrente, isto é, a relação da variação de tensão
para a mudança de corrente ao longo da faixa de operação (indutivo e capacitivo),
linearmente controlada e expressa como uma porcentagem.
337
8.15.4 Estratégia de Controle Mediante a Variação de Tensão
A rede elétrica está sujeita a variação no seu nível de tensão decorrente de fenô-
menos transitórios e contingências, devido a curto-circuitos, falhas no sistema de proteção,
rejeição de carga e outras faltas que ocorrem no sistema de potência. Para proteger as
válvulas do compensador estático e indiretamente a rede elétrica, estratégias de proteção
para sub e sobretensão devem ser muito bem definidas com o fabricante do compensador.
338
Condicionadores de Energia
339
Os valores de TIF (fator de interferência telefônica) e o produto IT (fator de
corrente harmônica) são definidos pelas fórmulas:
TIF = (8.13)
IT = (8.14)
8.15.8 Perdas
O requisito de perdas talvez seja o que mais cause controvérsias e dúvidas
entre fabricantes e concessionárias no Brasil, isto é, se deve ao fato de os valores
requisitados nos editais não serem normalizados. Atualmente, nos editais públicos
para fornecimento de compensadores estáticos as perdas são simplesmente fixadas
nos pontos de máxima operação indutiva e capacitiva e no ponto de operação nula,
deixando de ser analisadas as perdas para cada fração do ponto de operação, sendo
importante destacar que o compensador estático é projetado para operar durante
transitórios que ocorrem no sistema e que mais de 90% de seu tempo de operação
ocorre nas proximidades do ponto de operação nula.
Os valores fixados para as perdas têm impacto direto no custo de fabricação dos
principais componentes do compensador estático, principalmente no transformador
de acoplamento, que pode necessitar de aço-silício especial para a fabricação do
núcleo de ferro, e nos reatores de núcleo de ar, que certamente terão um fator de
qualidade muito elevado.
De todo modo, independentemente do critério adotado, seja por perdas valoradas
conforme as normas internacionais IEC, ANSI e guia IEEE 1031 ou pontos fixos, conforme
estabelecido no cenário brasileiro, a especificação técnica deve solicitar ao fabricante
que forneça a tabela e a curva de perdas estimadas (kW). Deve-se especificar um valor
para a temperatura ambiente (°C) e para a tensão de operação (pu) para as quais as
perdas devem ser calculadas. O compensador pode não operar nessas condições,
mas esses valores fornecem uma base comum para a avaliação.
Para cada ponto de funcionamento, as perdas devem ser calculadas em
todos os componentes do compensador em funcionamento, estejam em condução
de corrente ou não.
340
Condicionadores de Energia
Figura 8.51: curva de perdas de um compensador estático de +100 MVAr a –100 MVAr.
341
O fabricante deverá informar o número médio garantido e a duração das
interrupções programadas por ano. O cumprimento dos requisitos com relação
à disponibilidade e confiabilidade deverá ser comprovado por meio de estudos
durante a fase do projeto executivo e depois no local da instalação, a partir dos
primeiros anos de operação.
342
Condicionadores de Energia
Função de
Descrição da função de proteção
proteção
1 – Proteção de transformador de acoplamento
20 Relés de interposição para proteções mecânicas de transformador
26 Alívio de pressão de gás
49 Relé Buchholz
50 Temperatura dos enrolamentos de cobre
51 Nível do óleo
63 Temperatura do óleo
71
87 Proteção diferencial de transformador
Proteção contra defeito de aterramento restrito
Proteção contra sobrecorrente em tempo
Proteção contra sobrecorrente de defeito de aterramento
Proteção contra defeito de aterramento por
medição de tensão de deslocamento
2 – Proteção de barra de média tensão
343
Função de
Descrição da função de proteção
proteção
59 Proteção de sobretensão
Proteção contra defeito de aterramento por
medição de tensão de deslocamento
27 Proteção de subtensão
3 – Proteção de TCR
87 Proteção de diferencial de TCR
50/51 Proteção de sobrecorrente de tempo
46 Proteção de sequência negativa
49 Proteção de sobrecarga
4 – Proteção de TSC
87 Proteção de diferencial de TSC
50/51 Proteção de sobrecorrente de tempo
46 Proteção de sequência negativa
60 C Proteção contra corrente de desbalanço da associação dos capacitores
49 Proteção de sobrecarga
5 – Proteção de filtro
50/51 Proteção de sobrecorrente de tempo
46 Proteção de sequência negativa
49 Proteção de sobrecarga
59 Proteção contra sobretensão
60 C Proteção contra corrente de desbalanço da associação dos capacitores
344
Condicionadores de Energia
345
8.17 ENSAIOS
Os ensaios e testes do compensador estático deverão ser divididos em diferentes
etapas, iniciando-se com os testes de fábrica (ensaios de rotina e recebimento), ao
pré-comissionamento e testes de energização e operação.
De um modo geral, os testes são divididos em dois grupos:
yy Testes de fábrica: onde equipamentos deverão ser submetidos a inspeções e
ensaios na fábrica com o objetivo de verificar que todos os equipamentos, materiais e
sistemas incluídos no fornecimento estão em conformidade com os requisitos solicitados
nas normas técnicas vigentes;
yy Testes de campo: realizados após o transporte e instalação de todos os
equipamentos, materiais e sistemas incluídos no fornecimento e com o objetivo de
verificar o funcionamento apropriado do sistema completo.
346
Condicionadores de Energia
347
BIBLIOGRAFIA
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