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Curso: Engenharia de Produção

Disciplina: Ergonomia

Conteudista: Nelson Tavares Matias

Meta: apresentar os conceitos sobre as áreas de interface e da Ergonomia.

Objetivos: esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
1. conhecer as áreas da Ergonomia e suas interfaces;
2. estabelecer as etapas fundamentais à organização da pesquisa
ergonômica em um estudo investigativo;
3. apresentar os domínios da ergonomia.
4. A ergonomia e as áreas da saúde.

Pré-requisitos: para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante


você relembrar os conceitos sobre Ergonomia aprendidos na Aula 1.

AULA 2

Áreas da Ergonomia
Diversas são as áreas do conhecimento que isoladamente, no
passado, apresentaram limitações em suas abordagens, deste modo, a
Ergonomia surgiu aproveitando a variedade das informações e integrando-as
em uma abordagem sistêmica em que o ser humano é o alvo principal da
abordagem. A ergonomia dialoga com conteúdos provenientes das áreas tais
com: Ciências da Vida, Ciências Humanas, Ciências Sociais, Ciências
Técnicas. Em cada uma dessas ciências há diversas áreas em que se
aplicam a ergonomia em maior ou menor contexto.
Entretanto, em todas as pesquisa nas quais se aplicam a Ergonomia, pode-
se dizer, considera-se o usuário como elemento central. Em alguns casos os
aspectos analisados referem-se a presença coletiva ou individual. As
relações coletivas estão associadas as áreas como: Psicologia, Linguística e
a Sócio-Técnica. Já os aspectos individuais associam-se as áreas da
Medicina do Trabalho, Higiene e Segurança do Trabalho e Fisiologia.

As diferentes áreas permitem, portanto, um vasto campo de pesquisa


associada a Ergonomia, ampliando as perspectivas sobre a forma como
deve-se utilizar os recursos humanos, técnicos e ambientais. É muito comum
encontrarmos estudos que relacionam Ergonomia a Medicina, ou a
Psicologia, quando, por exemplo a cognição é o principal tema. A Engenharia
e o Desenho Industrial (Design) são duas áreas com maior número de grupos
de pesquisa em Ergonomia cadastradas no CNPq (LUCIO et al 2010).

No Brasil a ergonomia inicia sua formalização a partir dos anos 70,


influenciada pelo francês Alain Wisner (SCOTT, 2009 apud LUCIO et al,
2010). O arranque nos estudos ergonômicos se dá por meio do método
proposto pelas ergonomista Moraes e Mont’Alvão - Ergonomia: conceitos e
aplicações (1998). O método favoreceu a compreensão das dificuldades que
surgem ao longo de um estudo ergonômico (SCOTT, 2009).

As principais parceiras de desenvolvimento de pesquisa,


especialmente quando o assunto é redução do custo humano, dos prejuízos
com o tempo de execução da tarefa e da redução de erros é a Ergonomia de
Correção. Pode-se dizer que no quesito de desenvolvimento de
equipamentos e do layout industrial a parceria é mais frágil e relaciona-se
Ergonomia de Concepção, muito dos projetos não incluem a pesquisa
ergonômica em seus estudos, o que acaba provocando a ampliação da
Ergonomia Corretiva. Como afirma Duarte (2002) os engenheiros brasileiros
estão mais envolvidos com a gestão dos equipamentos e como farão para
coloca-los em funcionamento do que projetá-los. Esta visão se deve a
presença maciça de empresas estrangeiras que não demandam dos
profissionais brasileiros o conhecimento e desenvolvimento dos
equipamentos em si, mas apenas uma visão limitada desses especialistas.
As máquinas em geral, são desenvolvidas nas matrizes das empresas,
entretanto, mesmo em sua origem os projetistas subestimam as
necessidades reais dos futuros operadores. Como consequência tem-se o
aumento do risco e de perdas produtivas (DANIELLOU, 1988; MALINE, 1997;
POMIAN et al, 1997, apud DUARTE, 2002).

A ergonomia se estende por todo e qualquer sistema em que se possa


encontrar a relação Homem-Máquina (SHM). Ainda que em diferentes níveis
de interação, haverá sempre uma intervenção humana, desde as atividades
mais hostis e remotas àquelas reconhecidamente operadas com a presença
humana. Por exemplo: quando falamos de prospecção de óleo bruto nas
profundezas dos oceanos temos a falsa percepção de que a presença
humana não acontecerá. Entretanto, se a presença física poderá não
acontecer em todas as atividades exploratórias podemos dizer que a tarefa
de se controlar um sistema remoto, a preparação para o lançamento ou
içamento do equipamento para o mar será de responsabilidade do ser
humano.
Ainda que muitas tecnologias estejam reduzindo os riscos e as dificuldades,
como aquelas que acontecem junto a exploração dos planetas e profundezas
dos oceanos, a presença humana estará presente nas tomadas de decisão
em algum nível e todas elas subordinadas ao meio em que estiverem
acontecendo.

Aproveitando o exemplo saliento sobre a existência de duas grandes


áreas de pesquisa e estudo da ergonomia, uma proposta pelos ingleses
(anglo-saxônica ou anglófona) e outra pelos franceses (francófona). As
principais diferenças entre estas linhas de pesquisa referem-se a
interpretação da presença do homem na relação com o trabalho e seu
ambiente. Para os ingleses e países que possuem a língua inglesa, a
presença do homem é estudada, tendo em vista os métodos e as
tecnologias, com ênfase nos aspectos físicos e biomecânicos, ou seja busca-
se adaptar as máquinas aos homens, almejando-se a melhoria do processo
produtivo (MORAES; MONT’ALVÃO, 2000). Já a linha francesa prioriza os
estudos relacionais do ser humano com as interfaces. Neste sentido dá
enfoque ao experimentos laboratoriais que buscam evidenciar a melhor
maneira para que um dado serviço possa ser aplicado. Ou seja, há uma clara
prioridade no estudo da relação cognitiva, de tal forma que se possa
compreender por meio dos experimentos laboratoriais as lógicas processuais
(Quadro 1).

Almeida (2011) diz que: “[…] as duas abordagens ergonômicas se


complementam, pois um mesmo ergonomista pode atuar, […] tanto como
projetista de um equipamento, quanto como um idealizador de um sistema
informatizado.”
Quadro 1 As duas abordagens ergonômicas podem ser aplicadas ao mesmo estudo
Anglófona Francófona
Ergonomia de componentes Ergonomia da atividade humana
humanos
Busca-se conhecer a relação Homem Busca-se conhecer a relação de
x máquina, apoiando-se nos estudos compreensão da tarefa e as
dos sentidos, dimensões humanas e demandas envolvidas para alcançar o
aspectos fisiológicos. trabalho prescrito, ou seja como o
operador irá resolver os problemas.
Fonte: Adaptado de Silva (2016) <http://www.drsergio.com.br/ergonomia/curso/Escola.html>

Pesquisas em Ergonomia
A pesquisa na área ergonômica é, como já dissemos, bastante ampla
e complexa, uma vez que estuda essencialmente a pessoa humana em suas
diversas relações sócio-técnicas. Neste sentido, busca-se conhecer as
capacidades limites do ser humano, seja no campo neurológico, muscular,
biomecânicos psicológico e todos os assuntos correlacionados a relação da
pessoa ao ambiente ou equipamento em sua atividade de trabalho
(MORAES; MONTÁLVÃO, 2000).

As reações do homem frente as atividades de trabalho podem ser


percebidas mediante a percepção do investigador bem preparado. A
condição do ambiente, distância da movimentação, características do produto
ou serviço executado entre outras tantas situações. Contudo, em muitos
casos, a fonte original da perturbação não se encontra in loco, mas em outro
local inclusive. Por exemplo, um determinado setor produtivo que ouviu falar
sobre a descontinuidade do produto, sem contudo haver uma manifestação
oficial da gestão ou dos chefes imediatos, poderá sofrer psicologicamente,
afetando toda a cadeia produtiva por um período, até que tome ciência dos
fatos. Da mesma forma que uma máquina pode oferecer riscos acidentários
em caso de operação com o equipamento mal mantido. A complexidade no
estudo da ergonomia deve ser reconhecido pelo ergonomista, de tal maneira
que não despreze os sinais fornecidos, sejam eles provenientes de
movimentos e posturas assumidas, ruídos, vibrações, poeiras, ausência ou
baixa iluminação.

O objeto da Ergonomia, seja qual for a sua linha de atuação,


ou estratégias e os métodos que utiliza, é o homem no seu
trabalho trabalhando, realizando a sua tarefa cotidiana,
executando as suas atividades do dia-a-dia. Este trabalho
real e concreto compreende o trabalhador, o operador [...] ou
o usuário no seu local de trabalho [...] (MORAES,
MONT’ALVÃO, 2000, p. 15 e 16).

Ainda que a solução não possa ser alcançada por completo, encontrar uma
maneira de reduzir os impactos é fundamental e em muitos casos o suficiente
para a situação. Obviamente alcançar a solução plena aumentará as chances
de se atingir o conforto e consequente desempenho para o operador. “A
vocação da Ergonomia é recuperar o sentido antropológico do trabalho, gerar
o conhecimento atuante e reformador que impede a alienação do trabalhador
[...]”.MORAES, MONT’ALVÃO, 2000, p. 16).

Atividade 1
Atende ao Objetivo 1: conhecer as áreas da Ergonomia e suas interfaces.

Discuta a afirmação: um posto de trabalho, que não possuir a presença


humana estará dispensado da Ação Ergonômica.

Resposta Comentada:
Ainda que o posto não tenha em sua atividade produtiva a presença humana,
não quer dizer que em algum momento não haverá. A atividade humana
poderá ser requisitada para a manutenção ou mesmo por motivos
relacionados de reiniciação de um sistema, caso possua um. Paradas
emergenciais também poderão ser requisitadas e isso faz do posto, alvo dos
estudos ergonômicos. Considerando a dinâmica do mercado por solicitar
modelos personalizados ou customizados acabam por influenciar os atuais
processos de produção, geralmente requerendo ajustes constantes dos
postos, seja pela mudança das máquinas e ferramentas e inclusive no ajuste
da produção. Ver Produção Puxada e Empurrada.

Parâmetros ou variáveis da atividade de pesquisa da Ergonomia


É fundamental que o ergonomista possa reconhecer os parâmetros
encontrados em cada relação entre homem x máquina. As situações, podem
ser variadas em função das mudanças dos processos e das novas
características dos produtos e relações profissionais. Para ilustrar, segue a
relação de alguns parâmetros propostos por Moraes e Mont’Alvão (2000)
(Figura 2).
Figura 1: Parâmetros Ergonômicos uma abordagem da Ergonomia operativa
Parâmetros Caracterização
Interfaciais Alcances; Dimensões; Campo de Visão Impróprio
para o momento decisório e operacionalização da
tarefa; Falhas na distância oferecida entre os
manípulos e o operador, causando prejuízo ao
sistema músculo esquelético e Arranjo Físico.
Instrumentais Incongruência na configuração de painéis de
informação, mostradores e comandos; Prejuízos na
tomada da decisão, memorização e aprendizagem
da tarefa; Conformação, arranjo físico e topologia.
Informacionais / Visuais Visibilidade; Legibilidade; Compreensibilidade e
quantidade de informação – processamento mental;
Priorização e Ordenação; Padronização;
Compatibilização e consistência; Componentes
signicos - caracteres alfanuméricos e símbolos
iconográficos; Da ciência na detecção, discriminação
e identificação das informações nos: mostradores,
painéis, telas e sinalizações de segurança. Prejuízos
na tomada de decisão anterior e posterior à tarefa.
Acionais Configuração; Conformação; Apreensibilidade;
Dimensões; Movimentação e resistência de
comandos manuais, pediosos e acabamentos
inadequados à manipulação; Constrangimentos
biomecânicos na relação homem-máquina.
Empunhaduras inadequadas, ângulos e movimentos
impróprios ao desempenho adequado do sistema
biomecânico.

Comunicacionais Articulação e padronização de mensagens verbais


por alto-falantes; microfones e telefonia; qualidade
de equipamentos de comunicação oral e visual.
Cognitivos Compreensibilidade; Consistência da Lógica –
codificações e representações; Compatibilização de
repertórios; Significação das mensagens;
Processamento das informações; Coerência dos
estímulos, das instruções e das ações e decisões
envolvidas na tarefa, compatibilidade entre a
quantidade de informações; Complexidade e/ou
riscos envolvidos na tarefa; Qualificado, competência
e proficiência do operador.

Movimentacionais Limites de peso – levantamento e movimentação


manual de cargas (considerando altura da carga em
relação ao solo – movimento vertical e deslocamento
horizontal), conformação da carga; Qualidade da
pega; Frequência de manipulação da carga.
Espaciais / Arquiteturais Aeração; Insolação e iluminação do ambiente;
Isolamento acústico e térmico; Áreas de circulação e
layout de instalação das estações de trabalho;
ambiência gráfica; Cores do ambiente e dos
elementos arquiteturais
Físico-ambientais Iluminação, Ruído; Temperatura; Vibração;
Radiação; Pressão, dentro dos limites da higiene e
segurança do trabalho – considerando as
especificidades da tarefa.

Químicos-ambientais Toxicidade; Vapores e aerodispersóides; Agentes


biológicos (microrganismos: bactérias, fungos e
vírus), que respeitem padrões de assepsia, higiene e
saúde.
Securitários Controle de riscos e acidentes pela manutenção de
máquinas e equipamentos, pela utilização de
dispositivos de proteção coletiva e, em último caso,
pelo uso de equipamentos de proteção individual
(EPI) adequados, pela supervisão constante dos
dutos, alarmes e da planta industrial em geral.
Operacionais Programação da tarefa; Interações formais e
informais; Ritmo; Repetitividade; Autonomia; Pausas;
Supervisão; Precisão e tolerância das atividades da
tarefa, Controles de qualidade; Dimensionamento
das equipes.

Organizacional Parcelamento; Isolamento; Participação; Gestão;,


Avaliação; Jornada; Horários, turnos e escala de
trabalho; Seleção e treinamento para o trabalho.
Instrucional Programas de treinamento; Procedimentos de
execução da tarefa; Reciclagens e avaliações.
Urbanos Planejamento e projeto do espaço da cidade;
Sinalização urbana e de transporte, terminais
rodoviários, ferroviários e metroviários; Áreas de
circulação e integração; Áreas de repouso e lazer.
Psicossociais Conflitos entre indivíduos e grupos sociais;
Dificuldades de comunicações e interações sociais
interpessoais; Falta de opções de descontração e
lazer.
Fonte: Adaptado de Moraes e Mont’Alvão (2000) e Matias (2009)

Uma estação de trabalho que já tenha sofrido uma Ação Ergonômica estará
sujeita a novos prejuízos, caso haja alguma mudança no ambiente, no
processo, ou produto/serviço aplicados, exigindo, portanto, uma atualização
da equipe de ergonomia. As novas tecnologias aplicadas aos processos de
produção aumentam a dinâmica no setor produtivo e consequentemente as
intervenções ergonômicas serão mais requeridas.

Durante a investigação de postos de trabalho que apresentem


redundância é necessário que o ergonomista esteja atento as variações,
ainda que ao primeiro olhar os postos pareçam semelhantes. Um exemplo
para isso pode ser ilustrado por meio do estudo dos caixas de banco. Ao
observarmos atentamente perceberemos que a iluminação não foi planejada
e portanto, não oferece a mesma quantidade de luz para cada um dos
profissionais, assim como a saída do duto de ar condicionado poderá estar
localizado próximo de um dos operadores, intensificando sua sensação de
frio e aumentando os riscos de se trabalhar sob ambientes climatizados por
longos períodos.

Atividade 2
Atende ao Objetivo 2: estabelecer as etapas fundamentais à organização da
pesquisa ergonômica em um estudo investigativo.

Por quê é importante para o ergonomista saber reconhecer os diferentes


tipos de parâmetros que interferem em um determinado posto de trabalho?

Resposta Comentada:
Conhecer os parâmetros permitirá ao ergonomista identificar o problema,
sem a visão crítica do posto de trabalho será muito difícil se estabelecer
correlações que levem ao diagnóstico. A tipificação dos parâmetros permitirá
encontrar informações que possam auxiliar na construção do diagnóstico.

Domínios da Ergonomia

Segundo a Associação Internacional de Ergonomia (IEA) os Domínios de


Especialização da Ergonomia (2016), são:

 Ergonomia Física trata do aspecto anatômico, antropométrico,


psicológico e biomecânico relaciona-se a atividade física. Incluem-se
estudos posturais, materiais e cargas manuseadas, movimentos
repetitivos, desordens musculoesqueletais relacionadas ao trabalho,
layout do ambiente de trabalho, segurança e saúde.
 Ergonomia Cognitiva trata do processamento mental, tais como a
percepção, memória, razão, coordenação motora e como estes afetam
a interação entre humanos e outros elementos do sistema. Incluem-se
estudos da sobrecarga mental, tomada de decisão, habilidade e
desempenho, interação humano-computador, confiabilidade humana,
stress profissional e treinamento, uma vez que tudo isso pode estar
relacionado ao projeto do sistema humano.
 Ergonomia Organizacional trata da otimização do sistema sócio
técnico, incluindo as estruturas organizacionais, políticas e processos.
Incluem-se estudos sobre comunicação, gestão das equipes,
planejamento do trabalho, planejamento dos horários de trabalho,
times de trabalho, organização virtual, trabalho cooperativo, novos
paradigmas do trabalho e gestão da qualidade.

Cada uma dos domínios apresenta abordagens e experimentos próprios e


geralmente, são aplicadas ferramentas de análise e investigação, in loco,
permitindo apreender sobre a situação estudada.

Leplat e Montmollin (2007) indicaram a existência de um conjunto de


disciplinas comumente utilizadas pela ergonomia para apoiar suas
investigações como: psicologia, filosofia, antropologia, entre outras. A
ergonomia se caracterizou a partir de questões relativas ao desempenho
físico, pois as atividades estavam essencialmente ligadas a situações que
exigiam do operadores grandes esforços do próprio corpo. Com o decorrer do
tempo e a mudança dos modelos operatórios, a ergonomia percebeu que seu
enfoque deveria estar mais associado ao processamento mental – daí
surgindo a ergonomia cognitiva (Figura 2). Obviamente, devemos nos
perguntar se o ambiente que estamos estudando tem característica de maior
requisição física ou cognitiva, pois muitas empresas no Brasil não
apresentam suficiente nível de automação ou robotização, mantendo a
exigência de grande esforço musculoesquelético dos seus empregados.

É possível encontrarmos, por exemplo, uma indústria multinacional


recém instalada no Brasil, que, por motivos de interesses de obtenção de
isenções fiscais, tenha modificado o seu projeto original, no qual robôs
estariam previstos para determinados setores, para incluir empregados.
Deste modo, atingiu-se as expectativas dos governantes quanto a abertura
de postos de trabalho, mas podemos nos perguntar, dentre várias outras
coisas, se a mudança foi planejada e se o custo para a sociedade não será
maior que as vantagens apregoadas pelo governo?
Considerando que uma mudança mal planejada pode gerar prejuízos, em
especial algo que impeça o trabalhador de continuar a produzir por motivos
de lesão ou acidente, podemos nos questionar, será que valeu a pena? A
sociedade arcará vitaliciamente para que o empregado receba sua
aposentadoria, desequilibrando a já frágil relação entre trabalhadores e
aposentados.

Para o ergonomista, cada solução encontrada que reduzia os riscos e


problemas para os empregados, permitirá aos processos tornarem-se mais
sustentáveis, assim podemos dizer que os objetivos foram alcançados.

A Ergonomia e as áreas da saúde


Acredito ser possível ao leitor perceber a importância das diversas conexões
estabelecidas com as outras áreas. Em se tratando do Brasil, há uma relação
estreita com a área da saúde, inclusive muitos médicos dedicam-se a
atuarem na área da ergonomia.
Segundo Leplat e Montmollin (2007) a medicina permite que se conheça mais
e melhor alguns parâmetros encontrados nos ambientes profissionais, como:
problemas de saúde física, mental, bem como nos diagnósticos e avaliação,
mas também no tratamento desses problemas.

Outros aspectos podem ser identificados (LEPLAT; MONTMOLLIN, 2007):


 Avaliação das demandas por energia – identificadas mediante exames
fisiológicos (quantidade de oxigênio consumido, ritmo cardíaco,
pressão arterial, entre outros);
 Avaliação dos fatores ambientais – podem ser na quantidade de lux
em relação ao tipo de trabalho executado, pressão sonora, vibrações
que atuam sobre o corpo, pressão entre outros;
 Avaliação dos constrangimentos temporais – ritmos, carga de trabalho
(t), turnos x equipes de trabalho;
 Avaliação dos danos provocados por agentes químicos – avaliam-se
os riscos, e as exposições os quais os empregados estão submetidos.

Algumas áreas profissionais sugeriram que as demandas dos postos de


trabalho pudessem ser avaliadas segundo um determinado comportamento
de ordem psicológica. Neste sentido a psicologia do trabalho ou industrial,
como é conhecida nos Estados Unidos, desenvolveram, a partir de
experiências em laboratórios, modelos de testes que permitem avaliar o perfil
e as aptidões dos candidatos. A psicologia também é aplicada no
desenvolvimento de produtos, assunto que veremos mais a frente,
especialmente no âmbito de se compreender as demandas e necessidades
dos consumidores finais. Apesar da necessidade imperiosa que o projeto
também considere os empregados que irão fabricar o produto estejam
envolvidos nos estudos do produto.

Há também a psicologia das organizações, como proposto por Leplat e


Montmollin (2007), esta disciplina preocupa-se em conhecer as atitudes dos
trabalhadores, em particular as motivações e satisfações, ou seja, o sentido
que o empregado dá ao próprio trabalho. Esta identificação permitirá que a
gerência desenvolva políticas próprias para estabelecer novas lideranças,
bem como compreender a perda de interesse de uma determinada equipe
em manter seus números de produção em níveis mais elevados. É
importante perceber que qualquer coisa que se diga, não se cumpra ou não
seja assumida pela gerência poderá ter efeitos devastadores sobre os
empregados. Geralmente, para se realizar os estudos utilizam-se entrevistas
ou questionários.

Por fim, há também a psicologia diferencial das populações, abordagem


aplicada de forma mais ampla, que busca conhecer os comportamentos
populacionais, ou seja, uma visão geral e não tão particular como a
psicologia das organizações, que visa conhecer o indivíduo. As motivações
que movem as populações podem influenciar o comportamento dos
empregados de uma empresa.

A ergonomia francesa tem considerado fortemente outro aspecto da área da


saúde na direção de se interpretar melhor os problemas. Este campo é a
sociologia do trabalho, pois está convencida que não se pode descartar o
contexto, ou seja, o clima de um determinado posto de trabalho, da empresa
ou em um escritório. A integração do ergonomista com os sociólogos é de
grande importância, pois permite enxergar situações de conflito que
normalmente não eram percebidos e que em muitos momentos foram
confundidas com outras situações de inadequação (LEPLAT; MONTMOLLIN,
2007).
Figura 2 Conhecer o corpo humano e seus limites permite melhorar a elaboração das atividades
Campos da Ergonomia Caracterização
Ergonomia das Posturas Relaciona-se aos estudos antropométricos,
de Trabalho explorados nas dimensões dos produtos e dos
postos de trabalho. Consideram-se aspectos como
conforto e desempenho, permitindo uma melhor
organização dos planos de trabalho.
Ergonomia da Atividade A fisiologia e a biomecânica interferem no arranjo
Muscular físico, permitindo se produzir condições em que o
operador seja requisitado apenas para aquilo que
de fato agregue valor ao resultado. Deste modo,
colabora para a prevenção de doenças
ocupacionais.
Ergonomia dos Aspectos como: pressão sonora, comunicação
Ambientes visual (excesso e ausência de informação),
temperatura, pressão hipo e hiperbárica, sem
gravidade.
Ergonomia da Diferentes especialidade da biologia (biomecânica,
Reabilitação neurofisiologia, fisiologia sensorial) podem colaborar
nas ações de reeducação, reabilitação (pela
concepção de próteses) e adequação do ambiente.
Ergonomia dos Diversas disciplinas da biologia contribuem para as
Equipamentos de apoio pesquisas e ações ergonômicas na área de
ao Trabalho robótica, manipulação à distância, representação do
espaço de trabalho.
Ergonomia e Avaliação Avaliação dos componentes energéticos envolvidos
do Custo da Atividade nas atividades, em especial com o objetivo constituir
critérios para testar melhorias. Avaliação das
medidas da fadiga da carga de trabalho, do
estresse (medidas do consumo de energia,
oxigênio, frequência cardíaca etc.
Fonte: adaptado de Leplat e Montimollin (2007)

Atividade Final
Atende aos Objetivos 3 e 4: apresentar os domínios da ergonomia; a
ergonomia e as áreas da saúde.

Explique os domínios da Ergonomia e quais áreas da saúde podem contribuir


para que se possa realizar uma análise mais adequada aos problemas.
Resposta Comentada:
O discente deverá ser capaz de explicar os Domínios da Ergonomia, são
eles: Ergonomia Física – que cuida das relações antropométricas e
psicológicas dos empregados e tudo mais que tiver relação com a dinâmica
biomecânica exigida pela tarefa. A Ergonomia Cognitiva – cuida dos aspectos
mentais, ou seja as demandas requeridas pela atividade mediante o ato do
pensar e da escolha do modelo a ser seguido, exigida no momento da
tomada de decisão. Algumas atividades são demasiadamente exigentes no
quesito atenção aumentando significativamente o nível do estresse. Por
último a Ergonomia Organizacional – estudada a organização do ambiente,
incluindo as políticas organizacionais e processos. A comunicação entre os
setores é também alvo do estudo, pois a partir dela muitos problemas tomam
grandes proporções. A área da saúde contribui em especial com abordagens
que permitam interpretar os malefícios provocados pelas inadequações,
sejam elas físicas, com psicológicas, além disso há também uma importante
abordagem da sociologia que permite compreender os grupos sociais que
coabitam o mesmo ambiente profissional.

Resumo
Nesta aula, pode ser percebido que a Ergonomia e suas interfaces
permitiram relacionar os assuntos do conhecimento que isoladamente, no
passado, apresentaram limitações em suas abordagens, deste modo, a
ergonomia surgiu aproveitando a variedade das informações e integrando-as
em uma abordagem sistêmica em que o ser humano é o alvo principal da
abordagem. Para que os estudos ergonômicos aconteçam foi fundamental
estabelecer etapas e nelas o profissional reconheceu os parâmetros
encontrados em cada relação homem x máquina. Quanto aos domínios da
Ergonomia, Física, Cognitiva e Organizacional, pode-se dizer que cada um
deles ofereceu experimentos próprios em que se aplicam ferramentas de
análise e investigação, muitas delas no próprio local da investigação,
permitindo apreender sobre a situação estudada. Por fim, o leitor irá ter
percebido que há grande importância nas diversas conexões estabelecidas
com as outras áreas da ciência e conhecimento, especialmente a área da
saúde, e que muitos casos as análises ergonômicas do trabalho precisarão
de conhecimentos específicos da medicina, psicologia entre outras para que
possa estabelecer as análises e consequentemente as tomadas decisão.

Referências
ALMEIDA, Rodrigo Gomes de. A ergonomia sob a ótica anglo-saxônica e a
ótica francesa. Disponível em: Vértices, Campos dos Goytacazes, RJ, v. 13,
n. 1, p. 115-126 , jan./abr. 2011.

LEPLAT, Jacques; Montmollin, MAURICE de. As relações de vizinhança da


ergonomia com outras disciplinas. In FALZON, Pierre. Ergonomia. São Paulo:
Edgar Blucher, 2007.

SILVA, Sérgio Augusto Machado de Carvalho. Diferenças entre as escolas de


ergonomia. Dr. Sérgio, Campinas, 2016. Disponível em:
<http://www.drsergio.com.br/ergonomia/curso/Escola.html>. Acesso em: 22
nov. 2016.

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