História da Maçonaria

O Templo e
a Arquitetura Aula 10

O
Objetivos:
interesse pela arquitetura do passado ressurgiu na Europa, de modo
¡ Apresentar a Origem do Templo Maçônico;
intenso e abrangente, a partir da segunda metade do século XV. Para ¡ Comentar as influências do Templo Hebraico;
os arquitetos renascentistas cristãos, sempre em busca da perfeição com ¡ Esclarecer o significado maçônico de “Templo”.

os olhos voltados para a antiguidade clássica, ocorria um constrangedor conflito

teológico de identificar a perfeição arquitetônica com a civilização greco-romana,
sabidamente, uma cultura pagã. Para resolver esse conflito, a busca de uma melhor
fundamentação para a arquitetura cristã,1 acabou por confluir no templo de Jeru-
salém, única construção no mundo cuja planta teria sido traçada por indicação do
Criador do Universo.

Esse templo teve sua construção iniciada por Salomão (Shalomo). Conta-nos a Bíblia que
volta do ano 960 a .C. e, de acordo com o os preparativos para a edificação foram ini-
texto bíblico, 2 a construção estendeu-se por ciados pelo rei Davi, pai de Salomão. Diz o
sete anos e seis meses, durante o reinado de texto. 3
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Aula 10 O Templo e a Arquitetura

“Disse Davi: Aqui se levantará a casa do SENHOR
Deus, o altar do holocausto para Israel.
Deu ordem Davi para que fossem ajuntados os
estrangeiros que estavam na terra de Israel; e en-
carregou os pedreiros que preparassem pedras de
cantaria para edificar a casa de Deus.
Aparelhou Davi ferro em abundância, para os
pregos das folhas das portas, e para as junturas,
como também bronze em abundância, que nem
foi pesado.
Madeira de cedro sem conta, porque os Sidônios
e os Tírios a traziam a Davi em grande quantidade.
Pois dizia Davi: Salomão, meu filho, ainda é
moço e tenro, e a casa que se há de edificar para
o SENHOR deve ser sobremodo magnificente, para
nome e glória em todas as terras; providenciarei,
pois, para ela o necessário; assim o preparou Davi
em abundância antes de sua morte .”
O primeiro livro de crônicas nos conta tam-
bém que Davi deu a Salomão a planta para a
construção do templo.
“Deu Davi à Salomão, seu filho, a planta do pórti-
co com as suas casas, as suas tesourarias, os seus
cenáculos, e as suas câmaras interiores, como tam-
bém da casa do propiciatório. Também a planta de
tudo quanto tinha em mente com referência aos
átrios da casa do SENHOR, e a todas as câmaras em
redor, para os tesouros da casa de Deus, e para os
tesouros das coisas sagradas;
...Tudo isto, disse Davi, me foi dado por escrito
por mandado do SENHOR, a saber, todas as obras
desta planta.”

No ano 593 a.C. 5 as tropas do rei Nabuco-

É curioso observar que os pedreiros que cons- donosor, da Babilônia, arrasaram Jerusalém,
truíram o templo eram estrangeiros, submeti- destruindo seu templo. Levaram todos os
dos a trabalhos forçados, o que é confirmado utensílios de valor e grande número de pri-
mais adiante. 4 sioneiros. Foi reconstruído em dimensões
mais modestas entre 537 e 522 a.C., por
“Salomão levantou o senso de todos os homens es- ocasião da volta do povo do exílio. Entre os
trangeiros que havia na terra de Israel, segundo o anos 24 e 68 de nossa era, o templo, danifi-
senso que fizera Davi, seu pai, e acharam-se cento cado à época dos Macabeus, foi reconstruído
e cinqüenta e três mil e seiscentos. Designou deles
setenta mil para levarem as cargas, oitenta mil para suntuosamente pelo rei Herodes, sendo logo
talharem as pedras nas montanhas, como também depois, no ano 70 d.C., definitivamente
três mil e seiscentos para dirigirem o trabalho do O Rei Salomão recebe em audiência operários
povo.”
destruído pelas tropas do imperador Vespa- que trabalham na construção do Templo.
siano, comandadas por seu filho mais velho,

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Tito. Deste último templo existe em nossos Caramuel Lobkowiski (1602-1682) 7 foi pro-
dias apenas um muro erigido com enormes fessor, matemático, lingüista, filósofo e bispo
pedras, que teria sido parte dos seus alicerces, católico. Tal qual Anderson, Caramuel con-
o muro das lamentações, onde os judeus fun- siderava a arquitetura como sendo de origem
damentalistas se congregam para orar. divina, no paraíso terrestre, com a primeira
cabana construída por Adão, sob a super-
O interesse dos arquitetos e filósofos voltou- visão do criador. Suas fontes de referências
se para o primeiro templo, construído por além da bíblia, foram: a mishná e as obras de
Salomão, por ter sido o único edifício do Moisés Maimônides e seus seguidores.
mundo erigido segundo planta indicada pelo
próprio Deus e que por isso refletiria em suas Juan Bautista Villapando (1552-1608) 8 foi
proporções aquelas utilizadas na construção também um teórico da arquitetura e no
do universo. Foram muitas as tentativas de 2º volume de sua obra, publicada em 1605
construção de um modelo do templo toman- em três volumes, comenta largamente os
do por base os textos bíblicos dos livros de aspectos simbólicos do templo de Jerusalém,
Reis e Crônicas, como também a visão de- dentro da idéia que suas dimensões traduzi-
talhada apresentada pelo profeta Ezequiel de riam a perfeição da arquitetura, bem como as
sua planta e dimensões. Utilizava-se também, proporções utilizadas por Deus na criação do
como referência a mishná, a versão compi- universo e do homem.
lada da tradição oral judaica. Jaacob Judah
Leon (1603-1675), 6 por volta de 1641, erigiu Essas referências indicam cla-
um modelo do templo que foi muito conside- ramente que quando Anderson
rado em sua época. Seus estudos trouxeram escreveu sua obra maior, As
novas informações a respeito da localização constituições, as descrições por
exata do templo, que não era, como até então ele apresentadas inserem-se perfeitamente nas
se considerava, no centro do pátio dos gen- obras e pensamentos de outros autores não ma-
tios, mas sim ao norte desta posição. Juan çons referindo-se à arquitetura, e que o interesse

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pelo templo do rei Salomão não era característi- presas desvinculadas do sistema de guildas,
ca exclusiva da maçonaria. que por longo período norteara a atividade em-
presarial. Onde quer que a reunião de loja fosse
realizada, na abertura dos trabalhos, traçavam-
Templo e Loja se no chão os principais símbolos, compondo
o “quadro da loja”, que era cuidadosamente
No início do período medieval – quando a apagado após o seu término.
palavra maçonaria nomeava apenas a arte
de construir e, por associação, as empresas Mais tarde, os diagramas simbólicos foram borda-
construtoras - as lojas eram simples barracões dos em tapete, que se desenrolava no início dos
onde se trabalhava o material vindo das trabalhos, sendo substituídos depois por quadros
pintados, reunindo então as referências específi-
pedreiras, esculpiam-se estátuas e motivos cas de cada grau.
decorativos, arquitetos e mestres de obras
discutiam os pormenores dos planos da edi-
ficação. Mais tarde, no início do século , Em 1776 foi inaugurado em Londres o pri-
vamos encontrar os grêmios de construtores meiro edifício destinado a abrigar reuniões
em transformação. Em Londres, várias lojas maçônicas, o “Free Masons Hall”, na “Great
promovem suas reuniões em salas reservadas Queen Street”. A partir dessa data, outras
de tabernas, tendo entre seus membros gran- edificações destinadas às reuniões maçônicas
de número de homens que nada tinham em foram sendo erigidas, transpondo-se para os
comum com a arte de construir, mas almeja- elementos arquitetônicos das salas, os símbo-
vam ser construtores da sociedade. los contidos nos quadros das lojas.

Por essa época, a organização medieval de ensi- Observando-se os desenhos,

no operativo das corporações estava em franco apresentados nas duas próximas
declínio, e as relações de trabalho na sociedade figuras, representando iniciações
estavam também em mutação, surgindo em- maçônicas no século dezoito, e

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de outras assemelhadas encontradas em
antigos livros maçônicos, podemos perceber
clara evidência de ainda não existir, naquela
época, o definido posicionamento dos oficiais
e membros da loja, comum em nossos dias. A
disposição dos obreiros e o dimensionamento
do templo tiveram como inspiração referen-
cial básica as igrejas e o parlamento britânico.
Assim, as interpretações esotéricas atribuídas
àquelas posições são reflexo de desenvolvimen-
to recente, de associação particular de idéias, às
vezes forçadas, na ânsia de ligar a ritualística
maçônica a formulações de diferentes escolas
místicas, não traduzindo interpretação ou prá-
tica antiga da instituição maçônica.
Edifícios especialmente destinados às reu-
niões maçônicas são Templos da Maçonaria,
no mesmo sentido em que uma biblioteca
é um templo do conhecimento, e um giná-
sio templo dos esportes, sem qualquer das
conotações religiosas comumente associadas
ao termo. Aos símbolos tradicionais contidos
nos “quadros das lojas” acrescentaram-se
outros que vieram a compor a decoração
dos templos modernos, nos quais detalhes
simbólicos e posicionamento dos oficiais po-
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dem ter configuração diferente também nos
diferentes ritos.
Nos ritos ingleses e norte-americanos, os templos
não apresentam decoração semelhante à encon-
trada no Brasil: o Oriente acha-se no mesmo nível
do Ocidente, não existindo a grade do oriente, nem
a comum representação do céu nos tetos. Tam-
pouco se vê representação de colunas com signos
zodiacais, e como podemos observar na figura se-
guinte, as duas colunas tradicionais estão próximas
do trono do primeiro vigilante, havendo em cada Gravura francesa representando “Os costumes dos
lado do mesmo também as saídas da sala. Franco-Maçons em suas assembléias para recep-
ção de aprendizes.” data de 1745. Observe-se que a
posição dos oficiais, o mobiliário não segue as nor-
mas rigorosas da atualidade. Também o vestuário
era o comum da época, e os aventais, usados por
baixo ou por cima da casaca.
Sala gótica, no décimo segundo andar do prédio da A cerimônia de iniciação de um novo maçom em
Grande Loja de Nova York, vendo-se ao fundo, ao gravura inglesa do século XVIII. Vemos a sessão
lado da cadeira do Primeiro Vigilante as duas colunas transcorrer com os membros da loja dispostos em
simbólicas, e por trás delas as portas de saída. volta de uma mesa.
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Influência do
Templo Hebraico
Os elementos simbólicos encontrados no característica eminentemente maçônica, mas
interior dos templos refletem hoje, além dos reflexo da revolução cultural originada no
antigos quadros das lojas, componentes do Renascimento italiano do século , o qual
judaísmo bíblico e da cultura greco/romana. buscou na antiguidade os referenciais de
A maçonaria foi buscar no famoso templo valores artísticos e culturais, encontrando
hebraico mandado erigir por Salomão, cerca naquele templo, construção divinamente ins-
de 980a.C., dimensões e elementos arquite- pirada, a referência ideal para a arquitetura.
tônicos, assim como também sua construção Esse templo, o primeiro erigido em honra ao
fundamentou as lendas maçônicas apresenta- Deus único, sendo o centro da religião he-
das nas instruções tradicionais dos graus. As braica, tinha como funções principais abrigar
duas colunas, B e J, aludem àquelas encon- a Arca da Aliança que continha as tábuas da
tradas à entrada do Templo de Jerusalém, do lei de Moisés, e intermediar, através dos sa-
qual temos também a representação do “mar crifícios ofertados pelo sacerdote, as relações
de bronze”, grande reservatório de água fora entre o povo e seu Deus.
do edifício do templo de onde, com bacias
especialmente fundidas, retirava-se água para
As representações do templo de Salomão ex-
a purificação dos animais a serem oferecidos
traídas do texto bíblico por diferentes autores
em holocausto. não são idênticas. Isso se deve à dificuldade
de se interpretar visualmente as poucas refe-
O interesse pelo templo de Salomão, con- rências disponíveis no primeiro livro de Reis
forme comentamos anteriormente, não é e segundo de Crônicas:

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“O Templo que o rei Salomão edificou para “O Templo foi construído com
o Senhor tinha sessenta côvados de compri- pedras já talhadas; de modo
mento, vinte côvados de largura e trinta côva-
dos de altura. E o pórtico diante do templo da que não se ouviu barulho de
casa era de vinte côvados de comprimento, no martelo nem de cinzel, nem de
sentido da largura do Templo, e dez côvados
qualquer outro instrumento de ferro duran-
de largura, no sentido do comprimento do
Templo. E fez para o Templo janelas oblíquas te sua construção. A entrada para o andar
com grades. E edificou câmaras junto ao muro inferior situava-se no ângulo direito do
da casa, contra as paredes da casa, tanto do
Templo, e por meio de escadas em caracol
Templo como do oráculo; e assim lhe fez câ-
maras laterais ao redor. O andar (câmara) tér- subia-se ao andar intermediário, e deste ao
reo tinha cinco côvados de largura, o interme- superior”. (I Reis 6. 7,8)
diário seis côvados, e o terceiro sete côvados,
porque pela parte de fora da casa, em redor,
ele tinha feito encostos, para que as vigas não Mais detalhes sobre as câmaras laterais são
se apoiassem nas paredes da casa.” apresentados mais adiante, o que não facilita
de modo algum a visualização do aspecto
externo do Templo:
O côvado referido aqui, no livro  de Crô-
nicas (II Cr 3.3) detalhado como “medida “Também edificou as câmaras em volta de
antiga”, era mais comprido que o côvado toda a casa, de cinco côvados de altura, e
comum (45 cm), equivalendo a 52,5 cm, o as ligou à casa com madeira de cedro”. (I
que dava para o Templo um comprimento de Reis 6. 10)
31,5 m, largura de 10,5 m e altura 15,75 m,
dimensões modestas se comparadas com as Mais adiante, a partir do versículo 19, lemos:
das imensas catedrais construídas desde a
época medieval. Era, porém, revestido inter- “E por dentro da casa, na par-
namente de ouro puro, sendo seus principais te mais interior, preparou o
utensílios do mesmo material. Foi o primeiro oráculo (mais tarde chamado
edifício pré-fabricado de que se tem notícia: “Santo dos Santos”) para pôr ali

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a Arca da Aliança do Senhor. E o oráculo
no interior era de vinte côvados de compri-
mento, vinte de largura e vinte côvados de
altura, e o revestiu de ouro puro. Fez um al-
tar de cedro, diante do oráculo, e o revestiu
de ouro. Ele revestiu de ouro o templo todo,
que ficou inteiramente coberto de ouro.”
O altar aqui referido era o altar dos perfumes,
visto que o altar dos sacrifícios ficava fora do
edifício.
A descrição das duas colunas na entrada do
pórtico também é desconcertante:
“Fundiu duas colunas de bronze,
a altura de uma era de dezoito
côvados, e sua circunferência me-
dia-se por um fio de doze côvados;
assim era também a segunda coluna. Fez dois
capitéis de bronze fundido, colocando-os no
topo das colunas; um capitel tinha cinco côva-
dos de altura e a altura do outro era a mesma.
Fabricou duas redes para cobrir os dois colos
dos capitéis que encimavam as colunas; uma
rede para cada capitel. Fez as romãs; havia
duas fileiras de romãs em torno de cada rede,
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quatrocentas ao todo, aplicadas no centro que
ficava por detrás das redes; havia duzentas ro-
mãs em torno de um capitel, e o mesmo número
em torno do outro. Os capitéis que encimavam
as colunas eram em forma de flores. Ergueu as
colunas diante do pórtico do santuário; ergueu
a coluna do lado direito à qual deu o nome de
Iaquin (ou Jakin), ergueu a coluna da esquerda
e chamou-a Boaz (ou Booz). Assim ficou pronto
o serviço das colunas.”
Como podemos ver, não é tarefa fácil dese-
nhar esculpir ou fundir colunas segundo essa
descrição. O livro de Crônicas nos da outros
detalhes:
As duas colunas, os globos, e os
dois capitéis sobre as cabeças das
colunas; e as duas redes, para cobrir
os dois globos dos capitéis, que esta-
vam sobre as cabeças das colunas”. (II Cr 4.12).
Nesta tradução de João Ferreira de Almeida,
aparecem os famosos globos que deram ori-
gem, em algumas instruções, às referências a
“globo terrestre e globo celeste” sobre as colu-
nas. A leitura atenta, contudo, mesmo nessa
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tradução, mostra pela seqüência – coluna, glo- “Deus deu a Salomão sabedoria e inteligência
bo, capitel – que os citados globos (rolos, na extraordinárias, e um coração tão magnânimo
como a areia que está na beira do mar. A sa-
tradução da Bíblia da Jerusalém), nada mais bedoria de Salo- mão foi maior que a de todos
são que a base sobre as quais os capitéis, em os orientais, maior que toda a sabedoria do
Egito. Foi mais sábio que qualquer pessoa:
forma de flores, estão assentados.
mais que Etã, o ezraíta, mais que Hemã, Calcol
e Darda, filhos de Maol; sua fama se espalhou
por todas as nações circunvizinhas. Pronun-
Não existem, portanto, representação de globo
ciou três mil provérbios e seus cânticos foram
terrestre ou celeste, uma vez que a concepção he-
em número de mil e cinco. Falou das árvores,
braica do universo, àquela época, era semelhante
desde o cedro que cresce no Líbano até o his-
a dos povos circunvizinhos.
sopo que sobe pelas paredes; falou também
dos quadrúpedes, das aves, dos répteis e dos
peixes. Vinha gente de todas as nações para
O Oriente do templo maçônico é associado ouvir a sabedoria de Salomão e ele recebeu
ao “Santo dos Santos” do templo hebraico, e tributo de todos os reis da terra, que ouviram
falar de sua sabedoria.”
a cadeira do Venerável Mestre ao “Trono de
Salomão”. Devemos lembrar, contudo, que
o rei hebreu jamais teve um trono no inte- Certo autor querendo associar conceitos mís-
rior do templo, e que o acesso ao “Sanctum ticos ao nome do rei hebreu, tomou sua ver-
Santorum” era permitido apenas ao sumo são inglesa, Solomon, e deu-lhe interpretação
sacerdote, e mesmo a ele, somente em deter- portuguesa/inglesa de Sol-man, significando
minadas ocasiões. homem solar, da qual tira interpretações
de cunho esotérico.Entretanto, Salomão é
Com relação à Salomão, é notória a sua aportuguesamento do hebraico Shalomo, (ou
atestada sabedoria, tido como autor de pro- Sh’lomo), derivado de Shalom, que significa
vérbios e muitos outros textos dos quais não paz. Logo, o melhor significado do nome Sa-
restou vestígio, pois no livro de Reis (1o Reis lomão é “pacífico”, não “ homem solar”, o que
5.9-14) lemos o registro: demonstra a necessidade de exame criterioso,

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de análise lúcida, de aplicação coerente do
princípio defendido pela maçonaria do livre
exame de todas as questões, não apenas aos
antigos dogmas eclesiásticos, como é comum,
mas também às afirmações de caráter místico/
esotérico, que muitas vezes refletem associa-
ções forçadas, desvinculadas do contexto real.
Totalmente desprovida de sentido, é também
a discussão a respeito do posicionamento das
colunas B e J, que alguns autores insistem em
colocar à entrada do templo, do lado de fora,
por ser essa sua posição no templo de Salomão.
Ora, seguindo essa linha de pensamento, o
mar de bronze deveria também estar fora do
Templo, assim como o altar dos juramentos
(que representa o altar dos sacrifícios), pois
ambos ficavam fora daquele edifício. Deverí-
amos tirar também o trono e todos os outros
assentos, por eles não existirem no templo
de Jerusalém? Que dizer então dos signos do
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zodíaco? E as colunas gregas, a decoração do
céu, também inexistentes naquele templo?
Não é demais repetir: A relação do templo maçô-
nico com o Templo de Jerusalém se dá apenas nos
aspectos simbólicos de sua construção, dimensões
e orientação. Nunca se pretendeu fazer do Edifício
maçônico uma réplica do famoso santuário hebreu.
Os símbolos maçônicos, todos, estão
adequadamente posicionados dentro do
templo, onde é seu lugar. Mesmo quan-
do não se havia ainda erigido edifícios
especialmente destinados a abrigar os
trabalhos maçônicos, jamais se posicio-
nou qualquer símbolo fora das salas onde
se realizavam as reuniões e, em todos os
templos, os símbolos, quando representa-
dos, o são no interior da sala, ainda que
em posições diferentes, segundo os ritos
particulares.
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Diferentes Visões
do Templo no Mundo
O templo maçônico, segundo o texto das ins-
truções que citam sua geografia, com pontos
cardeais, trópicos, equador, terra e céu, repre-
senta o mundo, apresentado como a oficina
por excelência, para o trabalho do maçom.
Curiosamente, se traçarmos um retângulo
abrangendo o sul da Europa, Oriente próxi-
mo e norte da África (o mundo antigo), te-
remos ali representados vários dos elementos
simbólicos ligados pelas instruções à arquite-
tura do templo.
Nesse templo a luz nunca vem do Norte, pois
em seu ciclo aparente, o sol descreve um arco
inclinado para o Sul, o que esclarece a posi-
ção do 2o vigilante para “observar o Sol no
seu meridiano”.
Nicola Aslan,9 relata essa curiosa interpretação:
No ano 535 de nossa era foi publicada a obra
de um monge erudito que tinha por título seu autor, Cosmas e Indicopleutes, isto é,
“Topografia cristã do universo baseada no “aquele que navegou pelas Índias”, aconselha
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O Oriente desse templo de pro-
porções continentais coincide com
o Oriente Médio, berço das civiliza-
ções conhecidas; ao Sul, encontramos
também duas colunas, as “colunas de
Hércules”, nome dado pelos antigos às
montanhas dos dois lados do estreito
de Gibraltar, ponto onde, segundo a
mitologia, o semideus teria se apoiado
para separar a Europa da África. Ao
norte encontramos os povos “bárba- O Mundo Antigo representando o templo ideal
ros”, os incultos germanos e gauleses,
vivendo em suas aldeias simples, distan-
tes da sofisticação da cultura greco-ro-
mana, protótipos dos aprendizes. Dis-
postos no centro os “mestres” romanos
e gregos, e ao sul, no Norte da África, as
culturas derivadas de colonizações gre-
gas e romanas, os companheiros.
testamento das escrituras sagradas, e da qual
não é permitido aos cristãos duvidarem”. O
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os leitores a não se fiarem à ciência profana

Se em um mapa-mundi inscrevermos
“que imagina poder explicar o universo por uma figura oblonga, cujos limites cir-
meio da razão”, assegurando que o panorama cunscrevam e compreendam precisa-
completo do mundo só pode ser obtido “se- mente a parte da terra conhecida na
guindo-se incansável e constantemente as es- época de Salomão, as linhas que correm
crituras sagradas”. Cosmas faz nascer o mun- de Norte a Sul a pequena distância do
do na mesma forma em que a supunham os Mediterrâneo e se estendem da Espa-
babilônios e egípcios. Sustentava Comas que nha à Ásia Menor, formariam um para-
a Terra era a parte inferior e a base imóvel do lelogramo, compreendendo as margens
mundo, negando-lhe seu caráter esférico, não meridionais da Europa, as da África e o
lhe atribuindo nem mesmo a forma redonda. distrito ocidental da Ásia. O Compri-
Assegurava, ao contrário, que a Terra tinha mento do paralelogramo é aproxima-
damente de setenta graus de Leste a
forma quadrangular ou, com mais exatidão,
Oeste, e sua largura de vinte de Norte
a forma de um paralelogramo, cujos lados
a Sul.
mais compridos tinham duas vezes o tama-
nho dos mais curtos.
Vemos assim, que a descrição do templo ma-
Mais adiante, na página 91 do mesmo livro, çônico como um quadrilongo reflete, além
citando a obra de José Dias Carvalho – Ma- da simbologia, a interpretação antiga do
nual de la Masoneria Simbólica – Aprendiz, templo humano – a Terra e o universo. Seus
acrescenta: elementos constitutivos associam concepções
de origens diversas às tradições dos constru-
Na era Salomônica – a da construção do templo tores e das corporações medievais. Assim, o
de Jerusalém, supunha-se que o universo tinha templo com seus elementos arquitetônicos,
essa forma oblonga com que nós o simboliza- transmitem essa interpretação geocêntrica do
mos. cosmos. As colunas com os signos do zodía- Moderno Templo Maçônico em Tóquio.

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co representam a visão medieval do mundo
humano, com a terra como centro e o sol
girando em volta, percorrendo em seu tra-
jeto todo o zodíaco. Mais que astrológica, é
uma concepção astronômica que temos aqui
representada nos templos que possuem essa
decoração.
Em comum, essas salas têm as posições do Venerá-
vel e Vigilante, o altar central, os obreiros nas late-
rais, e as colunas B e J ao lado do primeiro vigilante.
Os elementos decorativos das paredes, piso e teto
não obedecem a qualquer simbologia maçônica.
Alguns desses edifícios são de respeitável antigüi-
dade, como o Templo Maçônico de Filadélfia inau-
gurado em 1873, o que é bastante significativo.

Esperamos que os argumentos apresenta- Nossa décima aula fica por aqui e, nela, pude-
dos, juntamente com as fotos de templos mos então apresentar as origens dos templos
maçônicos de diferentes países esclareçam maçônicos para você, bem como esclarecer o Templo Maçônico de Einhoven, Holanda.
de uma vez por todas a impropriedade de se significado da palavra “templo”.
extrair interpretações esotéricas da decoração
dos templos brasileiros e apresentá-las como Na próxima aula, vamos debater sobre as
componentes da doutrina maçônica, pois os diferentes vertentes interpretativas da ma-
templos apresentam diferentes decorações, se- çonaria, ressaltando também o significado e
gundo os diferentes ritos e a intenção de seus historicidade da Vertente tradicional.
construtores de homenagear diferentes estilos
arquitetônicos. Em algumas Grandes Lojas Até lá!
norte americanas vamos encontrar Enormes
edifícios, chamados por eles Templos, reunin-
do diferentes “Salas de Lojas” (o que nós aqui
chamamos templos), cada uma decorada em
determinado estilo arquitetônico.

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