Você está na página 1de 194

POESIA DE RECICLAGEM

Luís Carlos de Morais Junior


2

sou feiticeiro
de nascença
Torquato Neto

o mais poderoso feitiço


para ser amado
é amar
Baltasar Gracián
3

Estrelaria
4
5

Estrelário

Foi naquele cinema que eu te vi pela primeira vez


No céu brilhante de uma tela gigante
Em meio à solidão super povoada
De uma multidão de adolescentes comendo pipoca
E chocolate chupando bala e pirulito
Mascando duas línguas e chiclete
E tome coca-cola
Tantas estrelas únicas e aos montes
Dançando em nosso céu
Pernas de donzelas
Muques de cavaleiros andantes
Véus
Eu passei delicadamente meus dedos
Por sobre o grosso brim que cobria a sua boceta
Um beijo longo e bem babado
Em meio ao vendaval de excitação
De tantos casais apaixonados
Vendo de olhos fechados
O Céu na Terra
Multidões de estrelas
Que caem como confetes coloridos
Em nossos cabelos embolados
Nós somos mil casais de namorados
Eternamente apaixonados
Pelo amor
6

Estrelas

Esta é a história de uma estrela que se apaixonou


Por uma outra estrela
Tinha uma estrela no céu tinha uma estrela no mar
As duas vão se encontrar
E depois você já sabe as duas vão criar
Um universo
7

Ægyptia

Toda hora eu avisto teu olhar


Toda hora você vem me encontrar
Dá que eu saiba quem tu és
Ah me dá
Quem é és? Quem tu és?
Eu olho te vejo procuro desejo
Saber
Em que estrela em que sonho
Onde está você?
Põe estrelas a meus pés e pare o dia
Sê Cleópatra e o revés ventania
Sê o Nilo que faz fértil o chão
Fertiliza e utiliza meu coração
A Estrela do Oriente sabedoria
Sê o Egito que eu serei o meu guia
Sabor
Em que planeta? Em que sonho?
Onde está você?
Chão de estrelas venha me abraçar
Chão de estrelas eu só quero você
Chão de estrelas venha me habitar
Chão de estrelas eu só quero amar
Toda hora eu avisto teu olhar
Toda hora você vem me encontrar
Dá que eu saiba quem tu és
Ah me dá!
8
9

Astra

Estrelas são trilhas


Na dimensão complexa

Em que o tempo é uma delas


Sem ser reta

As estrelas deslizam
Pelo espaço e também pelo tempo
São caminhos luminosos
Que iluminam a si mesmos

Algo bem aquém do bem e do mal


Já o espírito é al

Por isso falo de estrelas


Elas são ovos estrelados

São lâmpadas dependuradas


São olhos de amadas
10

E estalinhos de Deus
As estrelas gostam de

Viajar
Além da velocidade da luz

E se você quiser
Mas quiser mesmo

E pedir pra uma estrela


Aquela mais bela
E pedir muito

Bem cê sabe
11

Tê-las?

Vocês olham muito pro céu?


Vocês se emocionam com a lua?
Reparam em cada fase?
Vêem as cores das estrelas?
Já viram tantas maravilhas?
Vocês gostam de dormir?
Ou preferem sonhar acordados?
Assistem muita tv?
Ou são mais de ler pela madrugada?
Ou será que gostam de cantar?
Será se vocês são iguais aos gatos?
Às vezes ficam no cio?
Às vezes amam gritando?
E andam pelos telhados?
O que vocês fazem de noite?
Gostam de olhar para a lua e para as lindas estrelas?
Sabem que viemos delas?
Ou tudo vem das estrelas?
12

Ivre livre

Saborosa adolescência
Chegar com fome em casa
E encontrar tudo pronto e devorar
Cheio de vontade
Deitar de tarde
Pra ficar ouvindo rádio
Ver os filmes que passam de dia na tv
Ou ficar acordado até tarde
Pensando nela
Feito um desvairado
Apaixonado
Escrevendo poema
A delícia de sua pele nua
Seu corpo branco e roliço todo molhado
Com seu biquíni
Fazendo os movimentos sem graça e eróticos
Da aula de natação
O medo de puxar conversa
Quero saber o seu nome
Segui-la depois da aula
Uma outra menina vem conversar
E gruda a coxa na minha
Ela olha e ri e debocha
Será se ela não liga
Ela parece uma comida
Assim gordinha e branca
Fome fome fome fome danada fome
13

Ela parece um pudim de leite moça


Essa moça gostosa
De dia e de noite o tempo todo
Pensando nela
Quero comê-la
14

sol/sul/som/sou

chove está quente


deitado/sentado na cama
olho prà janela/tv
como um jornal
ouço o som da chuva
a tarde cai como uma chuva
se abre como um guarda-chuva
sobre a cidade que chove
chuva choverando
minha alma está cantando
a alegria comove
noves fora
tudo é novo
15

Segredo

Toda mulher vale por mil


E você parece um bilhão de mulheres
À volta de meu sonho
Me deixa dormir que dirá sonhar
Você faz uma extática matemática
Diferenciais + infinitesimais + fractais +
Atrator estranho
Ou é sonho o que é real ou é real ou seja
Interseção pluridimensional  você
Me beija em algures  isto é virtual
E vital como tambores da taba e sexo de tanga
Ou pelada
A dança axial do pião
Axilas suadas tesão de estrela
Portal das estrelas  n pluriversos
Dizem respeito ao que bate no peito
Da molhada mulher moleca
Do amor
O segredo do abismo de luz
E da super-ação da velha velocidade da luz
Algo que reluz seduz
No meu leito
Do teu jeito
De
Leite
16

Rubi

A praia espalhava brasas e nas ruas


Passavam mulheres de biquíni
Ela com as grossas coxas nuas
E lábios de puro rubim

Beijá-la, beijá-la muitas vezes


Uma rotina sem rotina
Pelo menos por uns certos meses
O inferno e o céu numa menina

Depois a gente foi pra minha casa


Almoçar, ver tv, a tarde inteira
Trepando, a tv era uma asa
E o tesão uma frecha certeira

Antes paramos em frente à vitrine


Da loja de jóias da zona azul
Colares e anéis são vaginas
Fugazes como um olho nu

Olhar as pedras preciosas


Que brilham e cintilam sem parar
É quase igual a colher rosas
Ou beijar em frente ao mar

Elas parecem estrelas


Que piscam vermelho azul amarelo
E eu adoro vê-las
E adoro renovar o elo
17

O arco-íris em seus olhos


Um rubi na vulva molhada
Será se são seus olhos que se molham?
Ela não olha pra nada

De olhos fechados prevê


Ou alterna visões e palpites
Palpitações da tela privê da psiquê
De suas pepitas de bits

Estrelas nas mãos da mulher


Que seguram meu pau pulsante
Uma estrela um pulsar um mistério
Os universos que criamos amantes

Inventamos nosso jeito de amar


Como o mar faz paisagens de areia
Ela tirou a saia ela entrou nua no mar
E nós dançamos nus à luz da lua cheia
18

Noite e dia

Coxas roliças e grossas


Como um sonho de criança
O que te coça tu coças
Por exemplo, a esperança
Outro exemplo, aquela moça

Certas moças me fazem subir


Pelas paredes do quarto
Da paixão do qual sair
É fácil como um parto
Em que se nasce pro dia

Ela partiu e voltou


Disse: puta que o pariu
Como quem grita gol
Um gol da seleção do Brasil
Na copa do mundo todo

Seus cabelos são madeixas


Com manjar branco de coco
E muita calda de ameixas
Seus cabelos são o oco
Da clareira da floresta

O que resta logo após


Seu riso de estoura pipoca
São estrelas feitas em pó
Pela taba e pela oca
E pelo mundo todo
19

Seus pelos são arrepios


Eletricidade e tesão
Ela pega pelo fio
E eu curto o circuito a tensão
De ouvir seu riso de rica

Ela adora pica


Tanto mas tanto mas tanto
Que quanto mais ela fica
Comigo mais eu me espanto

E canto às mil maravilhas


20

Você bebê

Aí a gente saiu pra acampar,


Na manhã daquele feriado
Prolongado, com preguiça de acordar

Confesso que eu estava entusiasmado


Com a possibilidade especular
De que dormir uns dias a teu lado

Me dava de você vir a me dar.


A gente caminhou a tarde inteira,
De noite só queria descansar.

Mas a fome era tirana, e a geladeira


Da mochila só continha porcaria
Instantânea e café idem; e a feira

Na praia e na mata não trazia


Peixes e outras frutas tropicais
Ou do mar, pra nós, e a maresia

Só fazia a fome aumentar mais.


Você olhou pra mim, e eu pra você,
E assinamos um tratado de paz

Que agora a gente chama de bebê.


21

Vamos beber a ele, à vida, ao mar,


E às estrelas que no céu a gente vê!
22

ESTALAGMITE
A pedra que cresce pra cima
Ou
O Livro da Perereca
Poemas Anfíbios
23

E
SE O AMOR
NASCER DO NADA
 DE REPENTE 
ELE
VAI
SER
TAL
QUAL
UMA
SERPENTE
QUE
 DE REPENTE 
NASCER DO NADA
EM
ESPONTÂNEA GERAÇÃO
E ISTO
FICÇÃO OU FRICÇÃO
VAI TE DEIXAR
TÃO AFICCIONADO
QUE SERÁ
TESÃO
SÃO
&
AUTOPOIÉTICO
OUROBOROS
MORA
AO
24

lado
25

olhar uns olhos


mergulhar no mar
sol forte
andar de mão dada
escalar montanha
trilha no mato
picolé de fruta
beijo na boca
aula de filosofia
livro de poesia
contos de poder
escrever nas linhas
voar à tarde
contemplar o crepúsculo
sonhar bastante
olhar uns olhos
26

relâmpagos
em toda parte do céu acendendo e apagando
sem barulho nenhum
apenas as luzes estroboscópicas
uma festa cósmica
nesta província galática
poder-se-ia escrever um haikai
versos modernos também iriam bem
o que não dá pra tolerar é este silêncio
é o medo
que dança pelas casas como um vento
e escancarando portas e janelas
sai pràs ruas
e se esparrama por toda cidade
um medo browniano
uma dança de plâncton
e milhões de computadores interligados
programando esses otários
fúrias taras contas bancárias num microscópio
e chove num copo
a tempestade
micromolecular
27


porque sou mulher
não quer dizer
que eu tenha que fazer
tudo que ele quer
o que ele pensa
ou pensa que pensa
que quer
de uma mulher
uma vaca
uma deusa
seja o que deus quiser
não se abusa nem se usa
daquilo que a gente quer
ou daquele ou daquela que a gente quer
bem
e
SEM
hipocrisia
mas com muito amarelo
o meu peitinho direito
ele é o morro da mangueira
e o meu peito esquerdo
é o cristo redentor
e entre as coxas
meu pai
te trago sempre
consciente
o direito de nascer
que tudo tem
sim
28

as pessoas
ensinam suas fraquezas para os filhos
ensinam-lhes o medo da dor
é sabido
há um jardim
dentro deste jardim
assim como há outro jardim
para lá deste mesmo jardim
as pessoas
vão se ab-straindo
e se dis-traindo
sem haver
porquê
as
pessoas
também não estão aí
à disposição
o que há

são flores
e flores

e mais flores
e flores

e flores
e flores

e flores
sem jardim
29

Não vou fazer nenhum elogio da mesmice cotidiana


Não há mesmice cotidiana pra elogiar
Poderia ser um elogio de nossa cama
Mas é besteira rasgar lençóis de seda
Daria/diria presente de diamante
Mas é de outra matéria mais acesa
Dizem que em meio à fauna-flora suburbana
Há quase que muito pouco segredo
Só são sagradas certas coisas
E por aí vai nesse torpor
Bem
Eu gostaria de explicar que essa mesmice toda é de mentira
É claro que não há necessidade de entrar pro diabo da igreja
(Ou qualquer outro trem fantasmático
Tipo sexo novela ou o que seja)
O mundo é dança é a integração total
Sem fantasia idiota
$
E a magia existe
Transformando o mundo o tempo inteiro
E eu gosto tanto de você sem mais nada!
Dá pra entender?
Como vai você?
Vamos acampar?
Vamos ver as fogueiras e balões e rojões
Da festa que o caosmos não pára de festejar?
30

noite
insônia e insânia
às vezes todos duvidam
mas não todos ao mesmo tempo
e isto é a salvação da lavoura
a chuva que cai de vez em quando sobre ela
e que refresca vivifica e alimenta
mesmo que nas casas da cidade
mas não todas ao mesmo tempo
às vezes todas dividem
insânia e insônia
noite
dia
e

noite
insônia e insânia
às vezes quase todos duvidam
mas nunca eles pensam a mesma coisa
e isto é a salvação da lavoura que transborda
e rega e faz brotar o grão de loucura
que caiu sem querer no chão raso
da razão
é
noite
todos dormem
mas alguns acordam
e fazem um tremendo barulho
com o silêncio da gestação dos mundos
31

poesia

nua

e crua

sobre fatos já passados ou fatos

nem sequer imaginados


32

poesia

sobre atos
potencializados
nada de atos enlatados ou atos atados ou atos passados ou atolados atos
não
nada de sobretudos sobremodos sobremesas sobrecenhos sombrinhas
ou surrealismos
mas apenas atos de potência pura
ou quase atos
quase atos quase fatos quase fotos quase fogos-fatos
poesia que transborda os limites do possível e pensa em fodas fodas
reais verdadeiras
festas
de
FODAS
que
não querem dizer nada, MAS

Poesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoesiapoeispoesiapoesia

feita chuva sobre nós


33

paixão
esta cobra tem mil olhos
e às vezes
fica de pé
angie
when will all these clouds disapear?
you can’t say we’ve never tried
este castelo tem mil quartos
este quarto tem mil camas
esta cama tem mil cobras
esta cobra tem mil olhos
que às vezes olham você
7
movimentos vegetais
não há erros nesses erros
mas há roses
não há medos nas roseiras
mas há sexo
no homem
há angústia
ou paixão
ou calma
e o amor
é o mar essencial
onde há peixes carros planetas sereias mulheres
com seus braços de mulheres suas pernas de mulheres
e os seus olhos de mulheres e as suas cobras de mulheres
a serpente faz a minha flauta subir!
34

OVO
35

uma menina me disse:


não tenha medo do sexo
e riu com sua luz toda
outra menina me deu
um beijo bem na boca
e ficou respirando
outra menina pediu
que eu não fizesse mal
agarrou e apertou
e aí outra me falou
economize energia
pra ir pro céu

e eu ou vi tudo ou
vi seus corpos quentes
fiquei com água na boca
e cresceram meus dentes
deixei muita gente louca
e eu mesmo não sei onde estou
expando energias ilusórias
mas outras também nem tanto
isto aqui agora por exemplo
é realmente sexo
mas tudo passa voando
rápido e sem nexo
36

aranhas
e moscas
formigas
mariposas

baratas

e outros bichos
pela casa

um filme de
madrugada
celulóide
abobrinha
iluminura
arroz integral
feijão azuki

queijo

leite de vaca

carne de soja
bife de glúten

e outras delícias para a alma


como livros e canções e poemas e

filmes de tarde
filmes de amor
filmes de luz
37

agora
está escuro
sem luz e sem estrelas
no céu
mas sei
que não demora muito
e ele há de nascer
trazendo nova luz
nova alegria e vida
assim na terra como no céu

o sol

ainda
há o verde e o maduro
contrastes complicados
que bordam lantejoulas
paetês e stress
na fantasia da noite
mesmo tanta purpurina
anilina
vaselina
cocaína
& mentira
não faz nascer o dia
mas o dia virá
com toda a simplicidade
de um evento que a vontade
de todos chamou
o
38

SOL
39

a serpente
coleante
os olhos fixos
a coluna
de fogo
dança
a dança do ventre
mostrando os dentes
rija
e maleável
gelatina
água viva
lençol ao vento
tromba d’água
furacão
a cobra dança
hipnotiza
mesmeriza
encanta
canta
tanta
fricção
a dança do ventre
o ventre da terra
a terra prometida
o vale encantado
a batalha dos dragões
a cara de fera
os olhos de fada
40

OVO
VÔO DO ESPÍRITO
PÁSSARO DA LIBERDADE
RIOS QUE CORREM PRO MAR
OCEANO DESCONHECIDO
PARA O VELEJAR
NOVO

OVO
AVE ESTRANHA
VOANDO PELOS CAMPOS
COM SEUS OLHOS BRILHANTES
COM SEU BICO APONTANDO
UM OUTRO CÉU OUTRO
SOL

NOVO
COLORINDO
TUDO E RINDO
OVO NOVO NO VELHO
UM APARELHO
UM MUNDO
OVO

NOVO
41

tenho fé
no amor e na vida
uma fé tão grande
que me faz ir trabalhar
e acordar cedo de manhã de vez em quando
uma fé tão enorme
que me faz amar a vida e ter fé
uma fé tão tonta e astigmata
que me faz ver luzes ali adiante
e o arco-íris que é um arco no céu
e outras maravilhas que eu nem sei nem saberia nomear
mas que povoam o mundo desta fé vidente
esta fé que vê vida e amor em todas as horas e locais
e me faz ficar bêbado de ar e água
e alegre até demais
eu não sei
mesmo que estude tanto filosofia ciência etc.
tem muitas coisas  as mais importantes 
que não consigo entender
a vida é complicada  mas como ela é linda!
e eu e você
sentados aqui neste barco
bem-vindo! um brinde! cantemos!
pra quê precisamos de mais?
com certeza a vida brota e o amor se renova
a todo momento por todo lugar
só nos compete entrar nesta cálida água
deixar a correnteza nos levar
soltar as velas
42

você faz seus poemas como um dínamo


eles têm razão de te chamar de louco
mas ter razão apenas é bem pouco
é bem melhor esse tesão de príapo

tesão por quê  pergunta você


e eu só posso responder: sei lá!
você faz cada pergunta babaca
pensa que pensamento é bundalelê?

 você não passa de um faz-sonetos


dos mais padronizados, e quer ser
poe & poeta em século con-creto! 

eu sou poeta tanto quanto o ver


de visionários faz ou é projeto
jato turbina turbilhão ferver
43

UM SOL NASCEU DENTRO DE MIM

E ILUMINOU O JARDIM

QUE EU NEM SABIA QUE EXISTIA

UM SOL
MAIOR QUE TUDO QUE EU NÃO SABIA E MAIOR AINDA DO QUE TUDO QUE EU
TEMIA

ESTE SOL
FICA NO MEU CÉU DE DIA

E DE NOITE

E COM CERTEZA

AS FLORES PODEM BROTAR

ESTE SOL QUE NASCEU DE/NTRO DE MIM

ELE NÃO PÁRA DE BROTAR

E COM UM POUCO DE SORTE


AS FLORES QUE ELE ILUMINA

VÃO ME ILUMINAR
44

SOL
45

esta cidade é maluca


mas ela é muito interessante

as pessoas passam voando


em objetos estranhos
ou com seus pés engajados

hoje eu vi três mulheres


fazendo uma performance no centro da cidade

uma levava cartazes na frente


a outra levava o mundo e um bebê no colo

foi uma linda homenagem de atrizes


à mulher, no dia da mulher

as pessoas olhavam riam gritavam coisas


como se não estivessem entendendo bem

depois de uns segundos olhando


voltavam às suas corridas
a terceira era gorda e enfrentava os deboches
três máscaras de mulher  e três mulheres
46

esta cidade é maluca


mas a gente tem que ser normal

ser normal é uma coisa muito maluca


mas eles fingem que sabem o que é normal

e exigem
normalidade 
no meio desta cidade

nesta cidade tem mulheres lindas


muitas meninas de olhos pidões
ser mulher e menina e senhora é a coisa mais linda
e é também a coisa mais para-normal que tem

elas exigem
eletricidade 

mas também são usinas geradoras


47

TUDO É BROTO
ESTA É A MINHA REDAÇÃO
SOBRE UMA VISITA AO JARDIM ZOOLÓGICO E AO MUSEU NACIONAL TU
DO NO MESMO DIA
SEI
& ALÉM DISSO A LEITURA DO PLATÔ
A GEOLOGIA DA MORAL OU QUEM A TERRA PENSA QUE É?
& TODOS AQUELES BICHOS MALUCOS
&STRATOS E &STRATOS E + &STRATOS
&STRATOSFERA
RIZOMOSFERA
DROMOSFERA
ATMOS-FERA
OU
COMO CANTA & DIZ & CANTA
UM HOMEM NA FEIRA DO NORDESTE
HAROLDO
CAETANO
DURANDO NA PALMA DA POLPA DA MÃO AO SOL
OU NA POLPA DA BUNDA
NA BOCHECHA
DA BOCETA
DA CARA
CEFALÓPODE E BÍPEDE
o animal
CARANGUEJO DE DOIS METROS
PEDRAS QUE CAEM DO CÉU
SEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXOSEXO
SEIXOS
& S PYR A IS
48

She’s a woman take seven

A ilha sempre teve/tem/terá surpresas


Pra Você pra Mim e risos
A gente anda distraído ou apressado ou dois dos
E come azul e luz e zoom e risos

Olha aquela nova aquarela feita de realidade


Pássaros zumbem e flores escandalosas
Casas luxuosas com piscina em cima e outras nem tanto
A gente pára de brigar pra contemplar

Céu e mar que se abraçam e fazem sexo


Plantas enlouquecidas dançando cantando de amor
Eu vou declamar de del pica tudo ama! as estrela no céu
os insetos na lama! tudo ama! mas me esqueço do resto
E Você me olha zombando e risos

Então a gente combina


Pintar/cantar/parir poemas dois de dois
About peri de este INS TAN TE EN TO PAN across the universe
Coisa que se faz agora ao som de besouros zumbindo pra sempre
Nothing is gonna change My world
Jay Guru Deva

OM
49

ANJOS FAVELA
50

Poeta, ae
(1976-1996)

Gotas de orvalho caídas


Nas caras
No mundo
Nas coisas da vida
Nas flores
Nos fatos
Nos matos
Na relva

Selva de pedra & cavalo de aço


Robôs de carbono trotam para o trabalho
O frio do dia se explica pelo cabaço
Espiritual e não pelo cansaço
Nem pôr um ato falho
Bom pra caralho

Enquanto que subjetividades aljofradas de hialino perolário


Secretam
O riso
Calcáreo
Gotas de orvalho caídas na relva
51

Desejos escabrosos

De ter
Braços dignos e signos
Malignos
Por vez
Por vê-
La me
Contento
Fomento esfaimado
Desejos escabrosos
Como adorar
Divinizar
Viver a amar
Seus braços
52

Escrita

Oprimido e sofrido
Ouvi teu gemido
Por trás da cortina
Dos alucinógenos
Eu sabia
Tu piscaste
Num biscate
De amor
O esqueceu?
O matou?
Quer me matar?
Matar o tempo?
Perfeito feito vestido
Te vestes de brisa
Nasaliza
Meu sonho
Minha canção
Sintetiza
Minha barriga
Meu coração
E enigma
Amiga
53

Eu sabia
Cedo voltavas
Só não imaginavas
Traria eu
Para ti
Esta foto mal tirada
A dependurarei
Na parede de meu quarto
Em frente de nossa cama
Para que
Todas as vezes
De berrarmos noite a dentro
De eu olhar no teu umbigo
E me fazeres cócegas
Ou simplesmente amar
Vejas Liza Minelli
Impedindo que eu me entregue
Totalmente
54

Gatos favela

Anda por essas ruas


Pedras espalhadas calçadas tomadas por carros
Ruas cheias de gente e de carros velozes
Anda pelas calçadas pisando rápido
Quase querendo sair daí  mas
Como alguém sai de algo que não é fechado?
E sem voltar pro quarto
Prà casa grande do burguês
Nem prà senzala fractal da favela
Cheia de celas solitárias
Cheias de chatos
Carrapatos
Que grudam em alguém e sugam tudo
Para depois dormir e sonhar
Com ruas e grutas cheias de gente
E de gatos
55

DI CIONÁRIO DE TERMOS BRASILEIROS

elegante  adj. comum capacidade de encantar de passear


pela tarde com jeito de bela da tarde ou então sendo
masculino não ser um babaca cretino que ou aquele que
convive com o que convém sem perder o rebolado etc.
ver os quadros-fotos-folhinha body painting e tudo o mais
e uma thurman no elegante film/movie onde está o
coração where the heart is e o mistério de Ariadne

seu porte é tão elegante


brilha
seus olhos são cintilantes
brincam
ela sempre está
onde o espírito está
ela sempre está
lá lá lá lá lá lá lá
ágata
56

FOME  s. f. É uma dor no estômago bem forte, por


mais que cresça com nada se parece. Perante ela tudo
desaparece: respeito pelo outro, por si próprio, ou
sensatez. Não há mais nada como uma sensação direita
nas ventas de quem venta pelas vendas deste templo de
corsários e reais. Às vezes ele pensa que dispensa: feijão
com arroz e batata e tudo que ele compra nas Casas da
Banha, e por vezes fica assanhado, pensando que se
assanha e se multiplica em orgias de alegria e felicidade
tamanho família mas cada um é por si uma máquina
celibatária e celebra a sede e comemora a fome. Some e
se refortalece. Ela é um homem. Tem seus próprios
arranjos. Perante ela tudo desaparece, se desvanece, se
57

Vá, Gina!

Na aurora boreal do seu cabelo


Esconde-se o doer
Na sua australidade a sua loucura
Resfolega a besta amor
Uma punheta a mais: cem milhões de filhos que matei
Enquanto um cara que pensa que é santo na alto do Himalaia
No Tibete
Nu medita e derrete a neve
E não pega pneumonia
Como o brother neste verão fervente
Pegou pegou e pegou
Até dizer: Chega!
O cousin também se mandou de certa forma
Ele tinha feito aquele poema dizendo:
Fui violado por um guanumbi
E outras frases dissonantes e concertos de quebrar guitarra
Sozinho no seu quarto até pirar
E agora eu estou aqui quase enlouquecendo
Como eu poderia tê-lo salvo?
Meu irmãozinho.
Um dia uma tarde gostosa em sua casa nós brincávamos e
Brigávamos e falávamos tanto de música e cantávamos e tal
Iríamos fazer um grupo chamado Realengo’s Dolls
Mas eu e o Paulo morávamos no Méier, o cousin é que morava lá
Com dúzias e dúzias de irmãs
Fizemos muitos poemas e Vá, Gina era um deles
Com estes versos iniciais, dos três:
Na aurora boreal do teu cabelo
Esconde-se o doer
58

Na sua australidade a sua loucura


Resfolega a besta amor
O resto não lembro
A gente jogou fora ou se perdeu
O nome do nosso livro:
Delírios de três panacas no esmeril da vida
Parece que adolescente é bem mais real e realista e realizado
Ou isto é idealização?
A gente pensa que do lado de alguém é a casamata mais segura
Mas o amor salva
Sem salvar mas salva
E a gente berra nu e doido no meio da selva
Adulto não vê selva, não vê tempestade
Não vê a verdade
Mesmo com óculos telescópio e microscópio
Mas ela está na ponta de nosso nariz
Eu sabia e sei e sempre saberei que
Teu lado é a casamata mais segura
Todo dia acaba o mundo
E
Cada vez mais com mais FORÇA
RESFOLEGA A BESTA AMOR
59

anti-cap

um pouco de poema que traga de tudo em si:


uma floração porra louca e espouca;
pois é muita, mas.
depois de tudo que se passou se pensaria:
que o melhor seria guardar a viola
no saco ou então reclamar pela estrada
a fora, às margens, amargurado.
mas é melhor amar.
eu sei que é desigual, que é rápido demais,
que tem muito mágico e trapaceiro,
que essa gente vende tudo por dinheiro
que muitos dos melhores ficam pra trás
e tantos tantos tantos imbecis ditam. tá dito.
mas o jogo vale a pena, vale pagar pra ver,
há muita coisa em jogo,
e o fogo é FOGO
ninguém pode vender/vencer, pode ver.
60

Solo de G

Clara manhã
Os solitários caras nas suas casinhas
Canções solidárias no rádio
Comovem o coração
O sol brilha radiante
E muitas cigarras cantam
A solidão é uma invenção humana
Assim como tanta coisa
O ócio e o lazer, o tédio e o vício,
O fósforo e a tv, etc. e tal
Esta cidade é linda e é maravilhosa
Alegre no céu no mar e nas montanhas
E nas pernas
Faz um calor impossível no avião
E a cidade toda imunda unida dispersa inunda guarda a chuva
E há favelas sobre favelas
E barracos sobre barracos e barros correndo nas águas
E barrancos que sambam balança balança numa composição
Úmida
61

Pluriversos

Eu posso
Contar a história das pedras
De cada mineral que está na Terra
Nos corpos dos seres vivos
E nas construções
Um grão de areia
Misturado ao reboco da parede desta sala desta casa de
Favela
Contém em si zilhões de universos
Que contêm em si números inimagináveis de grão de areia que
Também guardam infinitos caosmos e evos
E eras se passam pra frente e pra trás
Pros lados
Aion
Aeon
Transdimensionais
Trans-pluriversais
62

Koan

De noite as casas
Iluminadas. Então
Escuridão

Madrugada
Névoa passos crianças
Homens vão trabalhar

A sacola na
Pia da cozinha. No
Quintal o canto

O gato olhou
Uma mosca pousada
No sofá. Voou.

Bambus curvam-se ao vento


Asas e arbustos pelo caminho
O céu na poça d’água
63

Bandeira
Música: Paulo
Letra: Luís

Sou cleptomaníaco dos teus beijos


Sou cleptomaníaco de você
E isso é tão bandeira tão na cara
Que só você não vê
Às vezes cai a tarde e eu disparo
E fico a imaginar você agora
Agora tão sem mim e muito embora
Nosso encontro diário
Às vezes me permito navegar
Nas ondas do oceano tão mutante
Constante tanto em mim e não obstante
Eu mais leve que o ar
A chuva às vezes cai junto com a tarde
Em cima das idéias e confuso
Eu fujo do silêncio além alarde
Te recusar recuso
Amor sempre conosco mora n’alma
Dos jovens que renascem dia a dia
Ah mor idéia-caos confusa calma
Do-i-da alegria
Amada eu nunca mais vou te esquecer
Minha esperança nunca vai morrer
De um dia te rever
Amor
64

Banheira Blues
Música: Paulo
Letra: Luís

Isso não é causa


Calça tua calça precaução
Padrões eróticos
Patrões caóticos trovão
Restabelece
Se fortalece em tomar
Uns pirulitos
De uns pivetes
Piolhos pintados de pink a piar
Nesta banheira
Nada com a tua nadadeira
Ou pé de pato
E permanece com o pé atrás
(Você tem que conhecer
A velha história
Da banheira com sabão)
65

Tá na hora de acordar
Vamos todos levantar
Abrir a janela e respirar
Sair para o sol
Para passear
E de mãos dadas namorar
Tomando sorvete ao luar
Tomar sorvete de luar
Tomar sorvete luar
Mar sorvete luar
Sair para passear
Para se lembrar
De esquecer o que era pra lembrar
Sair para pescar
Para se lembrar
De esquecer
Tudo que eles lhe falaram
Tudo que você falou
Tudo que eles ensinaram
Tudo que você pescou
66

Bush vence a guerra erra


E o mundo fica mais perto
Mais louco mais certo mais errado
É mundo pra todo lado
Mais bom
E mais melhor
Mais ruim mais pior
O presidente dos usa dos eua venceu
E o resto do povo se fodeu
O bush vence porque quer
Faz e acontece e se entristece
Ele toma o mundo
Fundo
E assim torna tudo
Mundo
Quando bush vence os povos
Novos e velhos ele é um nervo
Que enlouquece
Se bush vence
Perde
67

Quando eu era menino eu tocava uma coisa laranja na garganta


Isso era bomba
Era um refrigerante que mentia para todo mundo que era feito
De laranja
Era pra caramba
Bom e coisa ruim
Eu cresci e aprendi a beber coisas mais que líquidas
Coisas mais aflitas
Como me preocupar com as bombas de bush
E o emprego do sistema das notícias
Das finanças das crendices vitaminas
E tudo que irrita a retina e o coração
Eu aprendi a não ter raiva de mim mesmo
A não ficar com medo
E não comprar o não
O crush que era feito de arremedo
A moeda do presidente falso
E tudo que eu embolso no segredo
Do fracasso do que posso
Tudo isso eu esqueço e passo o rodo dos cristais
Do diamante feito de átomos carnais
Da consciência que eu tenho
Acordo cedo
E não cedo
68

ENERGISMO

Mais um poema para o nosso querido livro ANJOS FAVELA


Só mais um este de duas páginas para que o livro tenha
Apenas vinte e cinco páginas e eu talvez tenha a grana
Pra pagar a edição que é cara muito cara e a gente é que paga
Na adolescência bolei um movimento cultural chamado ANJOS FAVELA
E falei pra todos os colegas pedindo poemas de todos
Ia procurar o Raul Seixas e pedir pra ele escrever a introdução
Ele seria o nosso mentor de mentira junto com Augusto dos Anjos
Ainda haveria músicas artes visuais etc e tal que foram feitas
Assim como eu escrevi os meus poemas anjos favelados naquela época
Mas ninguém levou a sério e nem cheguei a falar com Malucobeleza
Tinha um programa um manifesto a estética do esgotismo
Depois veio o projeto pan dorga e outros mil projetos
Que viravam poesia e poesias e poesias e mais poesias milhares
E milhares de páginas que eu escrevia feito um alucinado
Pela noite e pelo dia cheio de tesão saindo pra todo lado
Eu ainda me sinto assim e sou adulto acho que meu espírito
É tesudo é anjo favelado é pan é projeto é manifesto é maluco
Beleza e desbeleza ao mesmo tempo em muitos pluriversos
E acho que isso tudo é muito comum e normal todos somos assim
Meio isto meio aquilo meio algo que não se define
E isto faz de nós a mesma coisa que somos
Somos nós fazemos o que bem queremos e cismamos disto
Depois veio o energismo que é o meu novo estilo de fazer poesia
Aqui do lado me gera se o fruto da planta no ventre da terra
Pro qual a vontade de felicidade e de novas eras o transplantara
A felicidade também é semente que se planta e se rega se quiser
E faz nascer plantas e mais plantas um jardim de quimeras e realidades
69

A felicidade é toda uma floresta e cada olhar e beijo é uma planta rara
Há ali trepadeiras macacos cedros papagaios araras vitória régia
Que é a consubstancialização ou a transubstancialização da hora
Que o pensamento real se faz real por querer e plantar e ser feliz
E consumir e produzir em escala geométrica
O ser humano encontrará a paz o ser humano é em si sua própria paz
Então não tem porque nem então nem nem nem nenhuma outra balela
Há terra há baleias periquitos amebas sardinhas pedras e cachoeiras
Tudo de bom somos nós e o que não é bom somos nós enganados bobos
Basta de tanto bastar é melhor desligar a máquina que mostra
Pequenas imagens torcidas da vida e simplesmente olhar a vida
Com suas imagens sem fim tão lindas e tão coloridas e cheias de vida
A mesma lua espia faz milênios gagárin napoleão cleópatras crítias
E ouve de ianques romanos e helenos frases bem semelhantes e fictícias
Isto é as mesmas besteiras e mentiras
O mesmo impulso de amar faz o jacaré o gato o leão o pato e o carrapato
Saírem pro dia irem à luta caírem na vida atrás de faturar
O homem é tudo que ele conhece e muito mais
A gente pode ser tudo que a gente puder sonhar
Mais ar mais ar pedia o velho filósofo
Mais disco pra dançar ou funk ou reggae ou samba pede a nova cocota
Os dois dão os braços dão as mãos dão os pés dão uns amassos
E vamos ver agora quem é que vai vaiar
Bem, agradeço a atenção de vocês e o carinho com que leram meu livro
Espero que tudo agora esteja bem mais claro nesta viela angélica
70

Poesia de Reciclagem
71

Dedico este livro a Luís Carlos de Morais Junior


72

POESIA DE RECICLAGEM
POESIA TIRADA DO LIXO
O LIXO É REAPROVEITÁVEL
73

Introitus

Dentro do ônibus
no sacolejo
é tudo ótimo, ótico,
atônito
e hipnótico
que eu vejo.

Esta cidade é algo sólido


que viceja no limbo,
fogo limpo que salgo
com algas vermelhas, belas
estrelas amarelas
e árvore-cachimbo

que foi o lago a que vim


enquanto andava a pé.
Se Castro Alves estivesse
neste deserto pleno, até
ele faria essa messe
de massa, lixo etc., aqui,
logo.
74

Profissão de Fé

Tantas idéias legais que já tive


e depois apareceram noutro lugar
realizadas como um declive
do espírito que dança sem parar;
por outro lado mesmo eu sinto que tudo
que digo e falo e escrevo e principalmente
penso
vem de algum lugar do tempo desnudo
sempre pulsando e passando em suspenso;
e ainda, vimos ver que todos os discursos
são pedaços de outros se assim
ao infinito imbricam-se os percursos
numa abertura floral jardim.
75

Profissão de Fé
(Parte II)

Então busco parceiros


no imediato contínuo espaço-tempo
e também nas dobras do tempo
faço dos átomos tão bem meus parceiros.

Estes textos são oriundos do lixo dos séculos


que está à sua volta sem querer
e também do tesouro que se acumula há
séculos
no nosso querer,

sem nenhuma contradição no fato


de que escrevo fragmentos que se montam
de novo
a cada instante a cada montante a cada pulo
do fato
que por mais vívido que seja, e é, é sempre
novo.
76

Bicho

Vi um bicho no lixo
comendo coisas meio boas que esqueceram
ou não;
olhei com olhar fixo o bicho
pensando que poderia ser alguma ilusão;

mas não, o bicho é real,


ele come tudo que vê se está no ponto
e sai montando o resto como tal
ou qual poeta o verso eu mesmo monto,

e não cansa e não tem medo nem pena e nem


fome
o bicho pensa come tudo o que quer e quer
muito e faz
outras coisas com a energia que consome
e que ressurge nas criações de que é capaz.
E é capaz.
77

Eles pensam que isso é sério

Eles pensam que vício é seriedade


Porque se entorpecem com ciência
Não sem medo e aparência mas maldade
É o que não falta pros guardiões das chaves
do poder
Que quer dizer estatuto e propriedade
E também a decência da evidência
Eles não têm clemência nem verdade
Eles só fabricam medo de si mesmo e do
querer
Eles só querem ser o que é querência
E ânsia e fichas e visões da precariedade
Eles rimam o mal com a sociedade e
falência
É tudo que eles produzem nas fábricas desta
sócio cidade
Eles são muito escrotos são coisas imundas
e ainda assim são parte do ser
78

Visão

No sacolejo do coletivo
dormi porque vinha descansado do trabalho
 já que não dei aulas pelo motivo
de que hoje é um dia comum  malho

em ferro frio e mesmo assim me agrada


mas isso é outra questão 
vinha eu dormindo, sonhando com a fada
ou menina boa da estação

e ela me mostrou um livro escrito por mim


no computador
cuja primeira página dizia Poesia de
Reciclagem e o resto;
acordei cheio de alegria e amor
e anotei os dizeres da visão, num claro
gesto.
79

Tele-mensagem

Tem lixo que vem da TV


Como a comediante que imita
Uma adolescente na escola
E que conta todas as coisas
Recheando os detalhes e falas
Com “não sei o quê, não sei que lá,
Não sei o quê...”
Agora desde garis
Até doutores e juízes
Passando pelos vendilhões do tempo
E os aprendizes do demo
Estão todos economizando
Suas palavras e seu tempo
Substituindo longas partes do discurso por
fazer
{E que não têm coordenação lógica
Nem repertório para fazer} por
“Não sei o quê, não sei que lá, não sei o
quê...”
A cantilena termina com cara de imbecil e
boca aberta
80

Grana

O dinheiro é luxo
Mesmo quando é preciso usar
Um pedaço de papel sujo
Pra pagar o jantar
O dinheiro é um uso
De uma civilização de primatas
Que ainda não descobriram os
Raios de sol que alimentam
O dinheiro é um fluxo
É uma idéia fixa
É michê
É capricho
De algum extraterrestre
Num shopping de lixo
Onde compra seus
Contos
Com olhos fixos
Fabricante de lixo
81

Jogo os Gêneros no Lixo

Os livros explicam os gêneros


Substantivos ou adjetivos
Lírico, épico e dramático
Estão em todos os textos

Ou os textos estão neles


Aí muito se discute
Também sobre a gradação
De novas formas que surgem

Eu jogo os gêneros no lixo


Porque não acredito mesmo neles
Sejam ideológicos ou biológicos
São sempre uma falsa rede

Que prende quem neles crê


Que cria seu próprio raio
Inventei também o gênero
Poema-lixo, que aqui faço
82

A Internet é um Lixo

E isso é bastante óbvio


É tipo filme de sexo explícito
Excita e não dá prazer

A internet é um vício
Que descolore o artifício do estar
Navegando pelos vales do silêncio

O silício que está em sua mente


Humana assim também
Homeomericamente

Se excita ao máximo e toma um tóxico


As toxinas das bobagens e das informações
Obtidas sejam elas vãs ou não

Sempre sem ter um sim ou um são no seu


vão
De entre edifícios do existente e do
Fabrico
83

O Rato no Lixo

Hoje eu vi um rato no lixo


Era um bicho bonito
Era grande e brilhava
Um verdadeiro ser
Andando na selva
Dos homens dos objetos que lançam
Pelo meio dos edifícios
Quando eu vi aquilo
Senti amor
Senti que o meu amor
Não pára de crescer
É um universo simples
Feito de todos os artifícios e substâncias
químicas
É um torpedo explosivo um petardo um
míssil um projétil
Que Eros lançou e se cravou no meu início
No meu meio no meu fim no ser eterno
E terno que tenho como a miss universo
E tanto quanto aquela ratazana
Que ama e foi amada e por isso nasceu
Meu filho meu futuro meu passado e o meu
presente
Pro mundo
84

A Juventude é um Vício

Ou poderia dizer tb que é um vico


Vinco de recirculação
Ou um circulador de ar
Inócuo e ineficaz no verão
Quer vc então vc pode perguntar
Dizer que ela tão ouro puro é lixo
Onde está sua razão e/ou
Sua emoção ou vc está rancoroso
Com a juventude boa que povoa
Os pés do bicho sem fim do sistema
E da comunicação
Não
Eu quero é dizer que tudo é isto
E aquilo também que no ovo há o vôo
O vácuo e o ar e na nave estelar
Há o pé e o chão e a seta e a mão
E o cavalo e o balão
E o verso e o vão
85

Poesia é Lixo

A poesia é um exercício
Para lá de factício
E se eu faço
Tudo isso
É por prazer
Pelo paladar
A poesia cai dos morros
Das encostas dos barrancos
Quando chove na cidade
E não dá pra segurar
A chuva vem traz o lixo
De um outro precipício
Os edifícios se exaltam
Começam todos a andar
E tudo roda pelo alto
E de baixo a cima e fogo
Sobre e desce como um
Raio
Um relâmpago fulgurante
Cheiro de pólvora no ar
E a poesia em toda parte
86

A Paixão o que é Isso?

Toda vez que eu fico assim crivado


De todo lado e olho fixo pro quanta
Do espaço do meu lado do outro tanto
Que quero esse minuto assim pra sempre
Eu seu que sou cretino crápula e carente
Um crente no destino e no estilo
Que encontro no meu meio eu sei eu sou
Seu porque acredito no ácido ser
Que é essa paixão
Sem seu porquê
Seu sem querer
87

Barata

Mulher
Você é um barato
É gostosa demais
Mas
Eu não sou pechincheiro
Eu não sou um beato
Ou um besta ou banal
Você faz bem faz mal
Dependendo da hora
Eu ouvi seu boato
Eu saquei sua tara
Eu não quero você
Porque você é barata
E de inseto eu estou cheio
O meu amor é um veio
Que pulsa para sempre
Meu amor não é barato
Não é lixo nem veio
Pra você desprezar
O meu amor é amar
Isso você não conhece
88

Brasil no Lixo

(Isso poderia ser evitado


Milhões de criaturas pelos lados
Um monte de lixão por toda parte
As moscas já não sabem o que mordem
Tem baratas e ratos e tatus
Percevejos e muita muriçoca
Todos dizem você vá tomar no cu
Ninguém mais tem paciência ou grana ou
toca
Tudo está assim debaixo de uma ponte
Ou viaduto que há muito já caiu
Todos vão prà puta que o pariu
Que os nazistas do norte roubam tudo
Sugam chupam dão o cu pra todo mundo
periférico
Eles vêm pagar crianças de oito e sete anos
Pra lhes dar os ânus
Eles são limpos são seres humanos)
89

O Ocidente é o Lixo do Mundo

Vocês devem saber


Nunca existiu democracia.
O que se chama hoje assim
É uma grande tirania
A tirania da covardia
Da vilania
Da covardia em suas duas faces
A do truculento violento que impõe
Suas coisas baseado em sua força
E na fraqueza do outro
E a do fraco que se encolhe
Se arrasta e se esconde e engole tudo
Mudo
Porque não tem coragem de mudar
A situação insuportável
Veja as revistas e jornais
E sua pretensa objetividade
O seu pretenso jornalismo
Que não é jornalismo nem nada
Tudo ali é matéria paga
Tudo ali é se agachar ao poder central
O totalitarismo domina o mundo ocidental
De uma forma cínica e violenta
Como nunca antes houve no mundo
Nem há paralelo em outros mundos
90

Claro que tem seus lados bons


O lixo tem suas riquezas
É possível torná-lo uma outra coisa
E até fazer dele uma boa fonte de recursos
naturais renováveis
Veja bem o lixo é o ocidente
Foi ele que o inventou
Mas veja melhor o lixo é reciclável
É a saída que temos
Abdicar de nossa arrogância
Abrir os canais para outras fontes
De informação e poder
E reciclar o lixo do mundo
91

EU E OS GRANDES
92

O Novo Tatuturema

 Os primeiros fizeram
As escravas de nós;
Nossas filhas roubavam,
Logravam
E vendiam após.

 Os recentes chegaram,
Uns aos outros fiéis;
Ouro e pós nos levaram,
Cheiraram
 Não nos chegam aos pés.
93

Fonte

É o caldo quintessência,
E tal, que uma gota fria
Produz uma senhoria
E talvez uma excelência.
Se tendes dele carência
E, por fartar a vontade
O quereis em quantidade,
Não trateis, não, de esgotar
Os culhões de um secular:
Ide à braguilha de um frade.
Tendo o dito sapiência
Nas questões de bonomia,
Sua cozinha vazia
Nunca a achareis; e a ciência
De acarinhar com prudência
Precisa pra cada idade,
Enchendo-vos de bondade
E de brotos vosso lar.
Mas não careceis buscar:
Vate de frade é confrade.
94

Cantiga

Oí oj’ eu hua pastor cantar,


du caualgaua per hua ribeyra,
e a pastor estaua [i] senlheyra,
e ascondi-me pola ascuytar,
e dizia muy ben este cantar:
“So lo rramo verde frolido
uodas fazen a meu amigo,
[e] choran olhos d’amor.”

E a pastor parecia muy ben


e choraua e estaua cantando;
e eu muy passo fuy mh-achegando
pela oyr, e sol non faley rrem;
e dizia este cantar muy ben:
“Ay estorninho de auelanedo,
cantades uós, e moyr[o] eu e pen[o],
e d’amores ey mal!”

E eu oí-a sospirar enton,


e queixaua-s’, estando com amores,
e fazi’ ua guirlanda de flores;
des y choraua muy de coraçon
e dizia este cantar enton:
“Que coyta ey tan grande de sofrer!
amar amigu’ e non [o] ousar veer,
e pousarey so l’ auelanal.”

Poys que a guirlanda fez a pastor,


95

foy-se cantand’, indo-ss’en manselinho;


e torney-m’ eu logo a meu caminho,
ca de a noiar non óuui sabor;
e dizia este cantar ben a pastor:
“Pela rribeyra de rryo cantando
ya la uirgo d’amor: quem amores
á como dormirá, ay bela frol!”

O tempo então veloz se passou


E eu da pastora não soube a sina;
Mas sempre penso naquela menina
Quando pela mesma ribeira eu vou.
Como olvidar o amor que se amou?
“Solo florido e verde ramo
vodas fazem a meu amado
choram olhos d’amor.”
96

Leonor

Descalça vai pera a fonte


Leonor, sobre a verdura:
Vai fermosa, e não segura.

A calça Lee desbotada


Complementa a transparente
Camisa, que, a gente sente,
Não tá a fim de encobrir nada.
Pura erótica e avoada
Sua presença perdura:
Vai fermosa, e não segura.

Não na ver o sol lhe val


Por não ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo
Se na fonte se vê tal.
Descuidada desse mal
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e não segura.
97

Quadras

Coração baste o sofrido,


Ponhamos termo ao cuidado;
Que um desprezo averiguado
Não é para repetido.

Seu bronzeado solar


Fez um feitiço eficaz;
Mesmo assim, não quero mais
Servir só pra engalanar.

Fujamos deste perigo,


Livre-nos, oh coração,
Que não é bom galardão
O que parece castigo.

Aquele bronze animado


Por quem deixais de assistir-me,
Ai que as firmezas de firme
Troca em desdéns demudado.

Eu convosco e vós comigo


Melhor o bem acharemos.
Coração meu naveguemos
Em busca de novo abrigo.
98

So net

A gloríola de um nobre nascimento,


A perícia, a riqueza, o corpo forte,
Roupas da moda, o carro do momento,
Iates, jóias, cavalos de alto porte

Serão a epítome do encantamento


Pros cortesãos de semelhante corte;
Mas eu de uma outra fonte me sustento,
Algo melhor achei, por pura sorte.

O teu amor é tudo que preciso


Pra ser feliz e me sentir completo,
Já não me vejo atônito e indeciso

Entre as milhões de letras do alfabeto;


Pois contigo ganhei o paraíso:
Te amar é meu esporte predileto.
99

1923

Não; não quero nada.


Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!


A única conclusão é morrer.

Tirem-me daqui a metafísica!


Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) 
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Se eu fosse acreditar em alguma coisa


Isso seria a minha crença, e seria problema meu.
Eu poderia, por exemplo, acreditar na majestade do pepino,
O pepino como panacéia universal!
Poderia. Seria a mesma coisa que qualquer outra coisa
E não levaria a nada, como todas as outras coisas,
Mas se assim eu o fizesse seria tão válido
Quanto todas as outras crenças de vocês.
Só não teria o direito de cobrar o mesmo sentimento de todos os outros.

Mas o problema é que eu não acredito no pepino


E nem creio que vocês o façam.

Acho tudo com graça


Se assim me aprouver;
Porém, se eu sentir o contrário,
100

Vocês que vão pro diabo:

Cada um sabe onde lhe dói melhor o calo


E eu só faço e falo e calo
O que e quando e se o quiser.
101

Pavão Viu chegar pelo telhado


Um Pavão Misterioso
Eu vou contar a história Por Edmundo projetado,
Dum pavão misterioso, Quem pilotava o invento
Que levantou vôo da Grécia, Evangelista era chamado.
Com um rapaz corajoso,
Raptando a uma condessa, Esse tal Evangelista
Filha dum conde orgulhoso. Enfrentou a tirania
Do conde e de toda gente
O conde era puro orgulho, Pelo amor que ele sentia
Vaidade sem sentido, Por sua menina Creusa
Olhava pra sua filha Que numa torre vivia.
E dizia comovido:
 É tão linda essa pirralha, Todo povo rindo viu
Melhor ficar sem marido. Quando ele com sua querida
Pelos céus foram subindo,
A Grécia naquele tempo Fugindo daquela lida,
Tinha muita gente velha Foram viver na Turquia
Que quando ia prà rua Felizes por toda a vida.
Olhava os outros de esguelha;
Ali um conde fazia
O que lhe desse na telha.

A linda filha do rico


Se chamava Creusa e era
Um tesouro escondido
Que queria ser pantera,
Ela queria ser dela
Mesma, uma livre fera.

Um dia ela ia dormir,


Esta cidade

Crepúsculos longos impressionistas


A luz não cai escorrega sobre os patins das nuvens,

O Sena foge levando


O gosto da posse.

Andando por suas margens vejo sujeira,


Gente que não vai a lugar nenhum;

Outros se agarram a comidas e comem pelas ruas,


Como se isso fosse muito natural.

Há um mapa em meu sentimento.


Eu trago o mundo dentro do meu coração.
103

Sexo

Dos degraus superiores


Podíamos ver as casas do outro lado da rua
Onde as queridas e velhas mãezinhas
Se atarefam e cozinham
Como baratas raivosas
Apartamentinhos confortáveis
Que são
Para quem tem um estômago forte
E gosta dos sonhos ultravioletas de Chagall
Comida e cama são os motivos dominantes
Às vezes se misturam indiscriminadamente
E o pai que vinha vendendo fósforos o dia inteiro
Com um frenesi tuberculoso
Se encontra comendo o colchão
Não acreditávamos então
No quanto pode ser envolvente e aglutinante a feitiçaria
Do fósforo da cozinha do arroz do feijão
Éramos jovens e críamos em nossa força
Estávamos certos mas o que não sabíamos
Iríamos ver nas latrinas do pesadelo com ar-condicionado
E tv a cores
Mostrando pra todo mundo os horrores e os podres
Da política dos donos dos meios de produção e do homem comum
Esse personagem de Bosch
Que ri da própria bosta
Espalhada
Pelas esquinas
104

O fedor em toda parte e ele vê as pernas das meninas


Sonhando com um mundo melhor quando o homem colonizar Marte
Quem não percebe que onde quer que ele vá tudo será assim
Que ele precisava era se livrar de si mesmo de seu peso
De seu cheiro ruim do seu espírito chinfrim de seu sistema nervoso e
perverso
O gastrônomo adora comer num restaurante que seja oloroso
O homem pobre enjoa do estômago
Quando sobe as escadas e sente
Um cheirinho do que lhe está reservado
O homem rico adora levar o pitbull a passeio por volta do quarteirão 
para estimular o apetite dele e do bicho
O homem pobre vê a cadela doente debaixo da cama e sente que seria um
ato de misericórdia
Se alguém lhes desse um chute nas tripas
Nada lhe dá apetite
Está faminto
Perpetuamente faminto
Mas perdeu sua fome
Junto com o nome
E a hominidade
Tudo que falta
E ele está faminto das coisas que lhe faltam
Até um sopro de ar puro seria um puta luxo
No lixo
Mas ele não é nenhum cachorro por isso ninguém lhe leva a tomar uns
ares ou lhe dá um chute nas tripas
Já vi os pobres sujeitos pendurados da janela como presuntos no
supermercado
As cabeças apoiadas nas mãos iguais a lanternas de casca de abóbora
Não é preciso ser muito arguto pra saber no que estão pensando
105

Analfabetos podem ler seus pensamentos


De vez em quando uma fileira de apartamentos
É demolida na ilusão de abrir caminho olha um pedaço do espaço para
ventilar
Passando por essas áreas vazias
Espaçadas como dentes falhos
Muitas vezes imaginei
Os pobres sujeitos sanguinolentos
Ainda pendurados nos beiras das janelas
Perdidos no espaço
As casas arrasadas mas eles ainda suspensos no ar
Apoiados em sua própria dor e miséria
Como balões meteorológicos desafiando a lei da gravitação universal
E avisando em vão
Sobre o furacão que vai chegar
106

Uma Voz

Tormento comendo, tormento bebendo


Tormento andando: irão sofrendo.
Tormento dormindo, tormento sonhando,
Tormento se rindo; irão padecendo.
Tormento deitado, tormento assentado,
Tormento pensando  os irei matando.
Tormento correndo, tormento caindo,
Tormento chorando  os irei passando.
Tormento lendo, tormento escrevendo,
Tormento gemendo, os farei ir temendo.
Tudo que eu sinto eu assento no vento.
Estou tão louco quanto aparento,
Tudo é secreto e eu sou tão direto.
Estou no vento e o que está havendo
Não compreendo e por isso invento,
Avento as provas do sentimento,
Consentimento do meu tormento,
Esse tormento tão avarento
Que adubo e cago e não vendo e vendo:
Porque o cimento do meu tormento
É uma tormenta sobre eles sendo.
107

Mito

Eu sou um escritor difícil


Porém culpa de quem lê!...
Todo difícil é fácil,
Abasta a gente saber,
De tão fácil vira fóssil,
O difícil é aprender.

Eu sou um poeta preciso


Pra ver o povo o sol entrar
Na oca oca por acaso
Junto aos jatos do luar,
Saci é míssil poderoso,
Mito é jumento falar.
108

Fantasia de estrelar

No sonho meu nasceste: quieta e só


Ficou a realidade, sem teu corpo;
Porém o teu espírito, no sonho,
Vive de noite  de tardinha dorme.

Te sigo com meu jeito, por teu gosto,


Cheio de júbilo e prazer... se foges
Em muito pouco ou nada isso me importa,
Pois voltas para mim, com o dia morto.

Agora mesmo espero tua volta,


Trêmulo, tonto de ânsia e de prazer.
Renasces em meus braços multiforme,

Na Terra um Sol concebendo Universos


De versos, beijos, caras e memórias
Que fabricamos juntos nas estrelas.
109

Flores

As flores são apenas artifício


Para chamar a atenção para as sementes
Portanto as pessoas
São apenas flores
Que têm as sementes para reproduzir
Outros membros da espécie
Abomino trocadilhos, ecos, rimas, aliterações e jogos de palavras
Não se trata mesmo disso
Mas as flores são a penas arte, fé e cio
Da chama da canção das suas mentes
Que não pára
Por tanto soar em pé e soas
Penas de índio e flores do ipê
Que têm sementes para reproduzir
E se mentes é que tens que produzir
Outros e outros e outros e outros e outros
Membros
Pseudópodes
& crazy cocks
Dos espécimes
110

O Átomo Ega

rolando ainda no vago das Nebulosas primitivas


faísca candente
na massa de fogo que devia ser mais tarde a Terra
fazia parte da primeira folha
de planta que surgiu
da crosta ainda mole do globo
desde então, viajando nas incessantes transformações
da substância
o átomo do Ega entrara
na rude estrutura do Orango
pai da humanidade
e mais tarde vivia nos lábios de Platão
negrejava no burel dos santos
refulgia na espada dos heróis
palpitava no coração dos poetas
gota de água nos lagos da Galiléia
ouvira o falar de Jesus
aos fins da tarde, quando os apóstolos recolhiam as redes
nó de madeira na tribuna da Convenção
sentira o frio da mão de Robespierre
errara nos vastos anéis de Saturno
e as madrugadas da terra tinham-no orvalhado
pétala resplandecente de um dormente e lânguido lírio
e hoje ele está aqui
no meio deste frio inimaginável
111

emanando um calor que torna tudo plausível


e faz de nós algo melhor se bem que irresponsável
querer botar a culpa de tudo nesse ínfimo
de energia cósmica seria um tanto vão
querer lhe dar a primazia da criação
idem
no entanto a comunicação possível
entre algo que nos é e esse algo
presente do infinito em nós
e aqui é mais do que se vê
e sabe e sente e tem e no
entanto tem
o presente para sempre no seu
bem
112

Cachoeira de Paulo Afonso

Ontem mostraram na tv que acabaram com a cachoeira de Paulo Afonso


E outras maravilhas do rio quase grosso quase caldo dá pra cortar com a
faca
O velho Chico
Lembrei de Chico de Chico César de Chico Science de Cae de Noites do
Norte de Joaquim Nabuco de Monteiro Lobato de Machado de
Assis de Milton Nascimento e sua canção “Travessia” e d’Os
Sertões de Grandes Sertões de O Quinze e principalmente
De Castro Alves o que houve com vc meu amigo Brasil
É a mesma estação rente do trem
Toda de pedra furadinha
Meu pai morou alguns anos aqui
Trabalhando
Um dia liquidou
Ativo passivo
Cinco galinhas
E deram-lhe uma passagem de presente
Para que eu nascesse em São Paulo
Como não houvesse estrada de rodagem
Ele foi na de ferro
Comprando frutas pelo caminho
O fruto mais suado é o mais gratuito
O mais genuíno e sem pecado
O sexo suado
Da pessoa amada
No trem a gente vai vindo e volta e coisa e tal
Agora tem estradas de rodagem
113

É tudo como um trem cheio de vagões


E comunicações entre os vagões
O que cada um deles quis dizer com isso
O trem do pensamento
É na verdade uma nave interdimensional
E a estrada é líquida
Por mais equivocado que seja esse discurso federal
Erro federal
Crise federal
Tudo foda
Mesmo assim é líquida a estrada
Pela qual se escorrega e se vai pra lá de 2001
E da terceira ou quarta ou quinta margem do
Rio de Janeiro
114

Parcerias virtuais:
Augusto dos Anjos – Eu e os grandes
Sousândrade – O novo tatuturema
Gregório de Matos – Fonte
Airas Nunes – Cantiga
Bernadim Ribeiro – Leonor
Sóror Violante do Céu – Quadras
William Shakespeare – So net
Fernando Pessoa – 1923
José Camelo de Melo Resende – Pavão
Sérgio Milliet – Esta cidade
Henry Miller – Sexo
Qorpo-Santo – Uma voz
Mário de Andrade – Mito
Luís Carlos de Morais Junior – Fantasia de estelar
Lobsang Rampa – Flores
Eça de Queiroz – O átomo Ega
Oswald de Andrade – Cachoeira de Paulo Afonso
115

POEMÁQUINA

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzumbido ou vem de uma planta rara ou vem do
meio da rua ou vem de um instrumento metálico ou vem de uma
pedra roçando na outra ou vem de uma abelha um besouro um
inseto que morde o som ou vem de um roedor escondido num
canto num vão do quarto ou então é uma máquina ligada a noite
toda emitindo esse ruído que já nem se percebido mas é inserido
no sonho da planta do inseto do animal e do homem que dorme e
ronca máquina de dormir muito mais ainda máquina de sonhar
que pensar que é uma máquina de ferir e pensa que é uma
máquina de acordar e trabalhar e sair e entrar e subir e baixar e
fazer e acontecer mas é mais uma máquina de sonhar por isso ele
faz coisas gira os botões dos móveis eletrodomésticos aciona os
controles engata os plugs enfia os fios e conecta uns com os
outros pra ouvir um som um zumbido estranho que vem do rádio
do tocacd dvd computador televisão e ele fica assim de olhos
abertos sonhando esperando pela próxima atração dos séculos
que será a atração mais que magnética fixação fricção ficção
fabulação real de sua vida em si expandida não quero dizer que
seja tudo igual na verdade é tudo diferente mas há um som um
zoom um zumzumzum um que vem de um e vem de outro e
fazem um barulho composto uma harmonia dissonante e super-
harmônica de sons vitais alguns vindos do caos da paz alguns
vindos das naus outros do cais alguns vindos do lado outros de
trás alguns vindos dos vivos outros das máquinas e como já dizia
a máquina siamesa deleuze-guattari as máquinas só funcionam
avariadas e como já sabia o papa alquimista cujo nome não me
lembro e newton e leibniz e descartes que eram chegados num
116

robô numa informática e até aristóteles que em seus textos já fala


nos autômatos e espinosa é claro é o que eu falo tudo é máquina
palavra máquina que agencia uma imagem máquina que financia
um novo mundo máquina ou um velho mundo máquina qualquer
alternativa é assim e maquina uma nova chave para a usina de
fabricar naves e espaços de ar de terra e água e fogo e
quintessência onde possa navegar ora era uma cigarra que
superou todas as taras e as caras da cidade baratas e todos os
ratos de rastros pelo chão ora era uma cantora que cantava pela
madrugada e acordava a verdade a realidade e o tesão eu vi eu vi
eu vi meninos eu vi tudo isso posso contar pra vocês era uma
cigarra que rasgava a madrugada não era mais nada nem ferro
nem máquina nem vidro cerrada nem bomba do lado nem arma
engatilhada bem que eu senti medo e pensei em coisas
preparadas ou pela polícia ou pela malandragem pensei que tudo
não passava de uma coisa preparada mas não era nada era a
madrugada era a coisa pronta a coisa estruturada era o que é
ainda e será pra sempre era o que será era foi e sendo é era a
cigarra que cantava a vida é a vida que canta a cigarra eu não
fumei um cigarro não bati um papo nem uma carreira de pó de
cocaína nem de poeira nem uma punheta nada fiquei ali do lado
deitado calado mudo pensando em quase tudo e vivendo tudo e
vendo vendo tudo ouvindo ouvindo ouvindo tudo tudo tudo tudo
tudo tudo a cigarra fazia seu ruído genuíno seu ruído divino seu
ruído de máquina e eu assim fiquei pela madrugada eu sabia o
que era e é agora eu posso me alertar despertar alerta e sair prà
luz do espaço aberto no meio do caos na cidade aberta no meio
do nada era uma cigarra sempre será isto uma cigarra é o que isto
é esse som esse zoom do bom esse panteon uma cigarra que
fazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
117

AMÉRICA

A música do Herbert Viana com Carlinhos Brown


Cantada pelo primeiro com Djavan
Me comove sem parar
Pelos mundos em que ainda vou estar me comove e me faz cônscio
como um Cabral
Que descobriu o Brasil dos teus olhos cristalinos cheios de mel e mal
teus olhos tão meus estes olhos teus esses olhos cínicos de vidro e
tímidos talismãs ímã da tarde que se faz meu fã
E já que estou falando em música e em descobrimento
Do fato de que descobri você quando abri a bilionésima lata de arrebol
Eu quero esclarecer
Que o que sinto é santo é sensato e louco porque é cimento e bomba e
quem faz um cesto faz um cento
Ou um número infinito dos outros sentimentos estão dentro também
Os Beatles enlouqueciam a Inglaterra mas não comoviam nem um pouco
ou moviam os Estados Unidos
Um belo dia sua canção eu quero pegar sua mão e ela ama você tenho
braços pra te abraçar e lábios pra te beijar bem algo assim os fez os
primeiros das paradas e movimentos e bocas de sucesso de entradas
E bandeiras
De cantar encantar e correr pelos pelos como eletricidade muita e pouca
E aí eles foram deslumbrar os norte-americanos quer dizer vieram ou
foram sei lá
E quando voltaram um repórter perguntou a um deles
E é difícil dizer qual usavam todos eles os mesmos terninhos de reis do
iê-iê-iê e os mesmos cabelos tocas capacetes de loucas que pareciam
perucas de peruas ou machos loucos
Eram mesmo lindos você deve se lembrar daquele tempo
118

E todos eles respondiam rápido e ferinos tinham a palavra fácil e frágil


como um disco voador de plástico
E a inteligência viva dos meninos dos saltimbancos de praça dos
bêbados sem medo de nada ou de ninguém e dos s/z
Um repórter perguntou:
 How did you find America?
Que em vernáculo quer assim dizer:
 O que você achou da América?
E que também pode ser compreendido:
 Como vocês encontraram a América?
E um deles
O John
O George
O Paul
O Ringo
Eu não sei bem
Eram todos tão parecidos
No tom e na altura
Do seu quem
Falou assim:
 Foi só dobrar à esquerda na Groelândia.
E foi aí que eu soube várias coisas:
Tipo achar é descobrir e olhar pela primeira vez
Cada um precisa descobrir a sua América
Foram os Beatles que descobriram a América
A coisa mais revolucionária do mundo é descobrir a América
E eu descobri a América
Quando vi o quanto gosto de você
119

O Amor Indefinível
120

O amor é simples

Você me aparece assim


Tão simples e linda
A vida vale a pena ser vivida
Sei disto quando você olha pra mim
Dormi e sonhei um sonho genial
Pura alegria e prazer e felicidade
Quando acordei olhei em volta
E vi o labirinto gótico da cidade
Encontrar ou reencontrar a fonte
Que jorrou tão divina no meu sonho
Tornou-se o meu trabalho mais real
E é aí que as minhas esperanças eu ponho
E aí dormi e me tiraram uma costela
E desta mesma carne se fabricou
A mulher mais bela
Que este pobre mortal já contemplou
E você é essa mulher sonhada
E é por isso para isso que eu quero
Tempo mais tempo muito tempo do teu lado
Pois aprendi que o paraíso é verdadeiro
121

O amor é fogo

Eu nasci ontem
Você também
Esqueça que existe esse troço de idade
Para o seu próprio bem
Meus bolsos estão vazios
De ordens e notas
Não quero nada com os gerentes da vida
Eu sou poeta
Só me interessam notas musicais
E as ordens da águia
Aprendi com o tempo
Que a vida é mágica
Gosto de caminhar
Pela estrada sem fim
E adoro sentir o calor do teu olhar
Quando olha pra mim
122

O amor é bom

Precisamos da Terra
Do verde das plantas do plâncton
E de todos os outros seres vivos
A ecologia é nossa saúde
Precisamos da vida
Como ela precisa de nós
Esta sensação lívida
É boa pra nós
E esquenta os ânimos e os corações
Quando estamos a sós
Com nossas emoções
O amor é um tombo
Na realidade
É como andar de bicicleta
Faz bem prà saúde
E não polui a cidade
O amor faz a gente crescer
E às vezes até faz outro ser
O amor é uma bomba
Que explode estruturas atávicas
E critica com criptonita
Os segredos da gruta da mania
O amor é o tom
E a cor
Dos dias que vêm
123

O amor é pirata

Sinto e gostaria de expandir esta sensação


Pelo Universo inteiro
Ou gostaria de fazer todo o planeta
Saber que eu amo você
Por outro lado ainda não tive nem coragem de te dizer
Amo você
Eu gosto do Cosmos e de seus tesouros
Apenas porque brilham com uma luz inaudita
Eu gasto os dobrões de ouro
Nas adegas do caminho
Eu sou o arauto de uma nova vida
Pros tripulantes deste navio
Posso te falar isso pra você saber quem eu sou
Assim fica mais fácil pagar mico
Abrir o bico e andar na corda bamba
Agora me diga: qual é a sua graça?
Que apito você toca?
Do que você gosta?
Você gostaria de navegar comigo?
124

O amor é lindo

Puxa como você é linda assim sem saber


Você pensa que é bonita porque é mas acontece
Que você tem algo mais que a simples estética
Não explica. Tipo assim: você é linda porque
Tem uma força tremenda cheia de vontade
De fazer coisas certas e melhorar o mundo
Dentro de você. Ou melhor: você tem um desdém
Por tudo que se deve desdenhar que é certo e tem
Também um respeito quase iconoclasta
Pelo bem. Não sei dizer. Preferia poder lhe fazer
Entender o que sinto por você
Com versos simples e lindos
Assim como você
Eu sou um homem comum, e mesmo assim
Tenho que escrever um livro sobre o amor
E tento então descrever você que é o meu amor
Mesmo que não saiba, mas não sabe mesmo?
Acima de tudo admiro esse seu compromisso
Com a verdade e com a beleza, e essa sua certeza
De que tudo vai dar certo, e a fé no amor.
Você é linda demais
O seu sorriso tem a força de mil sóis
E as estrelas estão no seu olhar
E essa sua razão
É cheia da força quente e boa
Que vem do coração
125

O amor é foda

“Quem ama sofre quem não ama sofre mais”


É bom demais estar assim apaixonado
E ficar pensando na mulher amada
A incerteza é que incomoda mas não bota
Água na fervura deste caldeirão de bruxa
E só coloca
Lenha na fogueira desta festa
Do ano inteiro
Ela diz que é meio feiticeira
Depois diz que não suporta nada pela metade
Depois diz que o início e o fim estão além
Da consciência humana e que só temos
Acesso e olhe lá ao meio
E vem dizer que quer tudo cem por cento
Nas questões do sentimento
No entanto não tem certeza de nada
É minha querida fada
O amor é uma brigada ligeira
Um ataque do astronauta flibusteiro
Mesmo se for mentira é uma verdade
Dura e fria como um diamante
E igualmente brilhante
Nos olhos e mentes
Amantes
126

O amor é triste

Depende de tudo que existe


Tudo está em conjunção
Mesmo assim meu coração
Se arroja em nova empreitada
Quero conquistar o espaço
E o tempo em clara harmonia
Quero viver poesia
Recuperar meu começo
Quero tudo que há de bom
Sou único assim igual
Não quero nada com o mal
Sou o coração do Brasil
Meu amor cresce e se espalha
Já ocupa mil universos
Quanto mais eu faço versos
Mais eu amo minha amada
E não sei o que ela pensa
Quer sonha deseja faz
Só com você terei a paz
Guerreira da presença
127

O amor é delicado

Meu bem se você quiser ser o meu grande amor


E só vale se for de verdade se você quiser
Então tudo vai ser tão esplendoroso como a rosa
Que nasce na manhã da primavera
Eu quero fazer todos os passeios com você
Como quero te ver do meu lado
Quero te dar de comer e de beber
E ver você feliz e realizada
Se o nosso amor for verdade como eu sinto
Então o tesão vai ser sensação contínua
Em minha vida e o meu desejo infinito
De te amar vai ser a luz do meu caminho
Eu já fui um poetinha bem legal
Que sabia fazer imagens cristalinas
Agora eu me sinto um menino apaixonado
Com a anartria que o deslumbre traz
Não sei como dizer o quanto é mágico
Cada instante que eu passo do teu lado
Eu só sei te adorar porque pra mim
Você é a síntese do que já aconteceu
E do que ainda virá
128

O amor é timoneiro

Das tempestades do tempo


Piloto da onda viva
Eu preferia te falar
Ou escrever cartas de amor
A gente fica feito bobo
Quando está amando assim
E eu sinto que te amo
Desde o dia em que nasci
É doce morrer no mar
E a gente foi barca pegar
Pra comemorar as canções
De Caymmi e Tom Jobim
A coisa tava fechada
E aí pudemos comer
Depois eu disse o trocadilho
I love you
E você disse não saber
Fazer trocadilho
Por isso não ia responder
E eu me perdi na noite
Amarrado no fio de linha
Que você tinha
Amarrado no seu pulso
Você sabe tudo isso
Não sei porque o repito
Aqui neste momento feito
129

De espera e recordação
Estou com os ouvidos cheios
De marulho e serração
E nos olhos os espelhos
Dos acordes de sua voz
Eu amarrado nas cordas
Dos teus nós
Aqui agora em toda parte
O tempo todo trazendo
Você no meu coração
130

O amor é morte

Não tenho medo de nada


Só do que pode não acontecer
Não sei direito quem ela é
Nem o que quer
E não sei onde vai dar
Não quero é que dê em nada
Há um trilhão de preconceitos
Envolvendo meus afetos
Minha presença meu modo
Sempre enfrentei tudo isso
Não quero ficar me queixando
É que sinto falta de amor
De carinho e compreensão
Talvez todo mundo o sinta
Não posso me queixar
Tem sido uma linda vida
Amar a mulher que eu amo
Agora neste momento
Talvez seja um bom perigo
Um genial contratempo
Um maravilhoso risco
Um desbundante precipício
Ao encará-la eu sinto
Que me chama e que me queima
Na chama de sua paixão
Na beleza de sua alma
Na fartura de seu carma
Na grandeza de suas vistas
No amor de seu coração
131

O amor é generoso

Os raios do sol descem à terra


E alimentam todos os seres
A água ocupa os espaços
Se amolda e mata toda a sede
O ar está à nossa volta
Na cidade e na mata
A terra é base e sustenta
Toda a vida
Meu amor é pelo mundo
Eu não estou mais confuso
Não sei se ela está confusa
Hoje em dia todo mundo
Anda assim meio obtuso
Meu amor é generoso
Quero seu corpo gostoso
Do lado do meu, acuso
Necessidade de calor
Do fogo da mulher
Da água que ela me der
Do ar que ela respirar
E da terra que ela é
A minha amada tem tudo
Será se ela vai me querer
Feita dos quatro elementos
Como cada ser humano
Ela é de um signo de fogo
Ela não é brincadeira
Ela e eu
132

O amor é amor

Amo e tanto que dói quando me espanto


O vento passa em meus cabelos como os dedos
Da amada que eu espero em meus castelos
E anelo e sonho com o seu amor flagrante
Fragrante e flamejante ela me adora e chegará
A hora em que ela vai descobrir o quanto ama
O poeta que a espera em sua chama
Com gravata florida e bombons caros
E um livro de poemas tão pirados
Quanto inspirados no amor são seus olhares
E um cd que eu gravei só pra você
Que festival que nada eu não quero nem saber
Do festival da canção eu a gravei pra te cantar
Pra tentar te encantar pedir um grão
Do teu amor pro paladar deste homem bom
Cheio de fome do pão que só você pode me dar
Cheio da sede
Da saliva tão boa de tua boca
Cheio da saúde
Cheio da saudade
Do abraço que você já me deu tantas vezes
Fora do tempo numa espécie de templo
Do momento mais lindo deste plano
Nesta estrela
E na outra
133

O amor é caldeirão

A minha alma sofre a sua espera


Sem saber o que pode em toda volta
Quer pegar quer fazer quer abraçar quer beijar
E você deve estar dormindo agora
Tranqüila na plenitude de seus anos
Preenchidos das certezas mais amargas
E plenos qual o recheio do bombom
Que eu não quis comer porque doce demais
É coisa de adolescente assim como você
Você que agora deve estar deitada
Nas certezas da vida mais quadrada
Incompleta e inconstante com suas armas
Eu sei que você se revolta e clama aos céus
Na beira do abismo na escuridão alada
Mas eu sei que o não é duro e cru e faz ferro
No meio da noite fria e aberta de qualquer um
É aqui que os espíritos de outro mundo aparecem
Pra nos assustar e só eles não podem proteger
Nada protege nada os espíritos são como moscas
Que rondam os doces bons que nós queremos comer
Eu sei que você dorme calma e se remexe quente
Pacífica em sua certeza na fortaleza da gente
Quero dizer dos seres humanos ou o que o valha
Ah como eu queria que os seus sonhos fossem verdade
Porém eu queria mais que a minha vontade
Fizesse valer o sol que eu quero que ilumine a nossa madrugada
Por dentro e por fora da sua sombrinha colorida
Do sonho e da vida minha amada acorda já é dia
134

O amor é uma droga

Nos faz dormir nos faz sonhar nos faz acordar


Nos faz comer demais nos faz ficar sem fome
E sem sono sem comer e sem dormir pela noite
Andando pelas maravilhosas construções da nossa ânsia
Sem saber o que o valha e sem entorno
A esperança nasce nos cantinhos e frinchas, nas frestas
Do chão cimentado como erva sem nome
Cresce pelos muros e chega até as telhas finas
Que cobrem a consciência do homem cheio de si
A esperança dói e faz uma sensação barulhenta
A noite cheia de um esporro de final de ano ou guerra
E ninguém ouve só eu o que houve só eu
Ouço e escuto e presto atenção e vejo tudo mudo
A esperança do amor é uma substância calmante
Que nos faz rir no escuro sozinhos crentes nos delírios
Do álcool do amor que nos induzem a ver cenas
Em que há beijos abraços juras trocas de alianças
E aí muita gente boa fica assim feito criança
Eu preciso precisar eu preciso escrever eu preciso acreditar
E eu preciso de você e você tem uma autonomia própria
Que nem a droga do amor que não quer saber o que eu quero
Faz o que faz, faz e desfaz me tira a paz e eu espero
Cheio da alegria da manhã de domingo com pássaros onde desperto
E venho digitar poemas ou sexta-feira à noite a qualquer
Hora a toda hora no meu computador
O que me dá uma alegria ave veloz e leve
O amor vai dar certo
O amor está perto
135

Eu clico no ícone salvar


E uma ampulheta indica que eu espere
Enquanto a tela me diz
O Word está salvando Amor
136

O amor é marinheiro

No amor chove
A noite inteira
Eu estou cheio de sono
E fico pensando nela
Sua imagem à frente do espanto
E do encanto que me causa
É melhor que qualquer sonho
Não durmo por sua causa
Quero tê-la em minha tela
No cinema do que penso
Quero nadar no mar dela
E dormir no seu relento
O orvalho cai de seus olhos
Os cheiros tantos da mata
Me molham com brevidade
E me enchem de saúde
E de vontade
Eu saúdo sua volta
Sua linda juventude
Ela é um oceano de fósforo
E sinto que nele me afogo
Ou quase eu não sei nadar
Mas eu aprendo a nadar
Ou então há uma bóia
Um amigo salva-vidas
Espere aí eu estava confuso
Minha amada que é tão linda
E tão sabida do que é bom
137

Ela é o mar onde bracejo


Ela é o barco onde velejo
E a água que me inunda
E a tempestade que assusta
E o naufrágio e a chuva fria
E é o meu salva-vidas
138

O amor é persistente

Toda vez que eu penso


Que eu não agüento mais isso
Eu lembro do seu sorriso
O portal do paraíso
Aí pondero
Ela não iria mesmo
Querer nada comigo
Pelos motivos sabidos
Então eu deixo pra lá
Não vou mais me angustiar
Eu resolvi amar você
Só pelo prazer de amar
Porque o amor é um prazer
Para lá de singular
139

O amor é gostoso

Ah meu Deus
Que menina linda
Não existe no mundo língua
Capaz de poder descrevê-la
Ela é feita de carinho
E tudo nela é perfeito
É um perfeito contínuo
Que muda conforme a vida
Tê-la é ganhar as estrelas
É viver no paraíso
E mesmo se for inferno
Se for terra ou outro círculo
É legal e compreensível
Com essa mulher divina
Qualquer coisa vale a pena
140

O amor é harmonia

Eu falei para você


Todos os nomes do amor
Em uma prosaica viagem
No Castelo-Bancários
Era um tapete voador
O meu momento mágico
De te falar de amor
Mesmo que em grego
Dizendo os nomes dele
E as suas harmonias
Nas sinfonias vivas
Feitas de sentimentos
Suas transmutações
Eros vira Filia
Mas Eros pode virar Ágape
É esse o meu prêmio
É realmente o que eu quero
Te acenei com a possibilidade
E até inglês eu falei
That’s why I love you
And I want to live a lifetime
With you
By my side
141

O amor é revoltado

Eu não vou no show de rock


Não quero saber de mais nada
Os oráculos me disseram
Esquece isso tudo de vez
Então não sei se vou falar
Nem se ela quer escutar
Tirei a dedicatória
O nome está oculto agora
Disfarçado entre dois sons
Numa cabala fonética
Quem quiser que conte outra
Eu estou cheio de fome
E de revolta sem nome
Ela não sabe quem sou
142

O amor é desconhecido

Se um dia eu te der rosas rosas


Saiba que elas querem dizer amor de verdade
Amor com tudo paixão sensação corpo e amizade
Muito mais do que o sonho e a realidade
Se eu tiver coragem e sorte e a alegria
For a consorte do dia em que te vi
Pela primeira vez chegar tão linda
A mais linda mulher que conheci
Se tal felicidade me couber
Um salto no escuro um pulo só
No abismo de um outro ser humano
Eu vou querer você pro que vier
Minha desconhecida
Minha melhor amiga
Minha menina
Mulher
Tenho de reconhecer que não sei
Nada de nada sobre nós os astros
E as cartas e os demais métodos
Divinatórios me deixam sem saber
E eu te peço cigana astral
Leia a minha mão
Jogue as cartas pra mim
Interprete o meu signo
Veja na sua bola de cristal
O que vai ser deste amor lindo
E cheio de palavras e canções
Que eu sinto agora
E já sentia mesmo antes de nascer
143

O amor é cara-de-pau

Eu não vou desistir


Renovo as esperanças
Só de saber que estamos
Nas mesmas ondas
Do tempo e do ramo
Do pensamento
Eu vou acreditar
Que vai rolar
Por causa do tanto
Que sinto e o quanto
Preciso dela
Eu vou persistir
Na vontade de ter
O teu amor pra mim
Porque assim é mais certo
E é bem melhor assim
144

O amor é alquimista

Eu fico um tempo precioso pensando em você


Isto não é bobagem nem perda de tempo
Pois a imagem amada me dá prazer
E esse prazer transmuta as ondas e vibrações
Fazendo com que o meu dia fique mais
Feliz e eu fique mais simpático e calmo
O revertério da química do amor
É ou o medo de que nada dê certo
O medo de perder
Ou o baixo astral em que se entra
Se nada suceder
Meu conselho é o que eu quero seguir
A presença atual ou virtual da minha amada
Sempre me faz feliz
Porque ela existe
E o amor existe
E o encontro existe
E eu os encontrei
145

O amor é amarcord

Nada me consola o amor pode ser uma pedra dura


Que aparece no meio do nosso caminho e que dura
O tempo suficiente pra acreditarmos em carinho
Aí a gente diz nunca me esquecerei da pedra
E o iceberg se desmancha vira uma mancha de água
Uma poça no chão e todo o titanic fica parecendo filme
Tipo os romances de hollywood onde todo mundo
Se dá bem no final bem não vou ficar contando
As verdadeiras histórias do cinema brasileiro
Eu tu eles dona flor etc e tal nada disso é bom
Aliás que porcarias de filmes cretinos
Muito melhor um ótimo filme colonizador
Que doma a dor e faz a gente crer no amor
Ou então cinema arte a via láctea e la nave va
A revolta do encouraçado polenguinho
A vida hoje em dia é uma coisa meio muito maluca
Parece que a gente tá num filme de fellini
E nossa seleção joga mal paca
Este poema quase não fala de amor
Tanta coisa esquisita essas pessoas todas
Parecem uns ets ou um circo medieval
Stultifera navis ou nave espacial
Ou o brasil em si é batô muche
Submarino russo tudo considera afundar
E a gente querendo voar
Meu amor me ensinou a ser simples
E eu ensinei o meu amor a ser infinito
146

O amor é professor

Eu lhe disse agora mesmo que você


Não vai acreditar numa palavra que eu disser
Sobre filosofia agora que lhe confesso
Tantas dúvidas tanta coisa sem sentido
Aí ela sorriu e debochou citando a frase
Só sei que nada sei eu sei que é fácil
Dizer que é fase tipo ritmo dos tempos
O oráculo diz conhece-te a ti mesmo
Ela quer verdades eternas e eu respondi
Aí viro socrático e pensei tudo bem
Só não quero mais saber de amor platônico
A partir de hoje só o amor lusíada
O amor desejo de um mundo novo
Dois seres de luz que se aproximam
Pra gerar o super-homem isso faz sentido
O resto é balela baleia encalhada mar de vícios
Nada disso eu falei porém telepatizo
Muito bem ela deve saber e respondeu
Sorrindo e me jogando aos céus com seu sorriso
Então está bem agora você senta e ouve
Agora eu sou a sua professora
147

O amor é solidão

Por mais paradoxal que seja


Vivemos nesse oxímoro
Da mesma sina viemos
Quiasmo próprio da vida
Estou só e acompanhado
Quando penso em você
Fico todo agoniado
Penso nisso muitas vezes
Eu quero beijar seus lábios
Eu quero abraçar seu corpo
Eu quero ficar grudado
Eu quero te acarinhar
A poesia sublima
O que não dá pra sublimar
É apenas ritmo e rima
Não é nada diante do amor
148

O amor é esperança

Fico feito uma criança


Quando você vem me visitar
Ainda não acontece se vier a acontecer
Você vai ver como é que eu vou ficar feliz e rindo
Sozinho sem parar durante o dia
Todo e a noite e nada vai ser melhor
Do que falar besteira com você
A coisa do mundo mais linda é comer pipoca
Se tiver o nosso amor do nosso lado
E como eu sei que é amor você pergunta
Porque é uma mulher desconfiada
Eu sei porque eu tenho uma tela límpida
Onde eu vejo o futuro e o passado
Neste globo transparente eu vejo tudo
Que eu sei que é bom pra mim e eu não me iludo
Eu posso ver o quanto vai ser sensacional
Se um dia você vier
Se me disser sim
Etc e tal
Aí eu vou ficar feliz igual a uma criança
Que conseguiu o que ela mais queria
Afinal somos crianças toda vida
A tela onde vejo isso é a esperança
149

O amor é paixão

Mesmo que a paixão nem sempre seja amor


O que é que você sente?
Ontem fiquei horas te esperando
E você nada de aparecer
A tristeza ia virando uma goma arábica ou tenda
Que se estendia por toda parte
Eu pensei em arte em artifícios em deixar tudo pra lá
Queria comer um bombom com você
Basicamente era isso
Também queria que você conhecesse meu mundo
E realmente o amasse como ele é
Por isso teria sido importante você ir lá
Agora deixa pra lá
Entrei no seu condomínio ali perto
Pra te telefonar
Você não sabia de nada
Estava extasiada com a tarde assim parada
E o nada pelos canos das pias e tormentos
Nos livros nas pessoas na tv
Como eu te odiei
Depois me conformei
E fui dançar a dança do nosso mundo no centro do olho
Do furacão
150

O amor é inumano

Há pelo mundo menina mais linda


Do que boneca da vitrine da loja
De um lado você tem o shopping
Do outro você encontra as modas
E as comidas do supermercado
Ônibus e carros passam
E pessoas dão a volta
Parecem mesmo robôs
Ou bonecos com cordões
Definindo seus movimentos
Linhas nos membros
Que alguém além manipula
Eu mesmo me sinto assim
Se o amor nasceu e cresceu
Igualmente ao capim
Que o jardineiro esqueceu
No jardim do condomínio
Novo horizonte pra mim
O nome da escolinha
Onde eu comecei a estudar
Era mesmo Novo Horizonte
Eu morava em Botafogo
As coincidências acabam aí
Com qualquer gata do mundo
Um cachorro vira-latas
Feito eu acha coincidências
Elas não têm importância
A ânsia as dispensa e pesca
151

Peixes de que se alimenta


Na lata de lixo aberta
No super mercado lógico
No shopping de porcos-ódio
E na vitrine das bonecas
152

O amor é cavernoso

É uma chibata que bate sem piedade na alma escrava se ela


Se deixa levar pela corrente que a prende e a solta ao tempo
Em que se deita no leito do deleite no meio do tempo que se
Apreende quando a lição está pelo meio e o leite derramado
Não deve ser chorado porque nada é encontrado nesse mato
De sensações dúbias difusas nessa confusão de fusos
Horários ou do fuso que a menina não pode tocar
Porque poderia dormir por mil anos já que a bruxa
Lançou essa mandinga e veja só hoje no nosso tempo
E espaço tão cínico tão descrente de tudo e tão sem
Sentimento em que amor é coisa de tolo e todo
Jovem se satisfaz no tudo nada que é ficar
Neste nosso mundo mesmo cada menina é uma bela
Adormecida em si mesma pela bruxa da intriga
Pela inveja felina e fidedigna que arrepia os instintos
Mais cretinos de cada um dar de si e crer que o fato
É esse mesmo e o amor é um barato tão barato
E falso e tecnológico como pó ou tela
Então é preciso muita coragem preciso tê-la
Sempre em mente e nos olhos em frente sempre
Em frente vou andando pra despertar alguém
Desse estado leviano pra acreditar que vale a pena
Ser cavaleiro e pirata e rei e democrata
Um cavaleiro andante que enfrenta como antes
Os moinhos de vento e os mouros os de antes
Agora os ventos do mesquinho e os infiéis
Do amor
153

O amor é uma janela

Entre as naves solitárias


Que se cruzam nos espaços
Interdimensotemporais
Da janela deste ap
Posso olhar exatamente
Na direção do seu prédio
Mesmo que o não veja
Sei que ele está lá
Mesmo que não seja
Não sei se será
Então canto essas músicas
Doces meladas do rádio
No último volume
Debruçado na janela
Vendo o sol da tarde
Que brilha com esplendor
E cantando afinado
O meu amor por você
Na direção da janela
Da sua nave secreta
154

O amor é divino

E tem grutas vampiros


Um lago no fundo da cripta
Uma escrita secreta o amor
Tem morcegos voando de noite
E tem dor
Tem revolta e a volta da crença
Igual criança
Tem vampiros e outros bichos
Eu não quero falar disso
Não quero ficar
Fazendo falsos
Poemas de amor
Verdadeiro
Façamos assim
Fica combinado assim
Você já sabe de tudo
E tem o meu telefone
Se um dia você quiser
E se quiser mesmo
Basta me ligar
E dizer uma senha qualquer
Digamos, diga assim
“É doce morrer no mar”
Nome do show que vimos
No primeiro dia
Se você disser
Eu vou entender
155

O amor é absurdo

Esquisito como possa parecer eu passo


O tempo todo pensando em você
Achei até engraçado
Quando me falou que lembra de mim
Toda vez que olha prà capa do cd
Do Alice in Chains
(Porque eu tenho uma camisa
De divulgação com a mesma
Imagem)
Pois eu penso em você o tempo inteiro
Igual ao comilão com a comida
Ou o hipocondríaco com as drogas
Ou o usurário com o dinheiro
Sei que isso pode parecer alguém pode dizer
O que vão pensar o que vão falar em vão
De tal proceder
Ou padecer
Veja, estou aqui e não dá pra dormir
Então resolvo tomar um chá que me desperte e acalme
De cadeira ou camomila
Porém também não tem chá
Então fico enchendo o copo dágua
E bebendo vagarosamente pela noite
Como não há mais o que fazer
Aclaro as horas pensando em você
Aí, ao ver a toalha de papel que cobre a mesa
Me vem o absurdo desejo de escrever
Um enorme poema de amor por ela toda
Encher toda essa toalha quadrada com a tinta
156

De meus versos azuis e descabidos


Porém isso seria um desperdício
De algo que não está bem determinado
Escrevo versos claros como um vício
Ou um alimento celeste abençoado
A vida me parece um precipício
O amor é a ponte frágil de madeira
Que treme
E que tem falha lado a lado
A poesia e o poema não importa o que sejam
O amor é a coragem de cruzá-la
O amor é cair da ponte abaixo
No rio do devir que corre embaixo
E passa sem parar e não relaxa
E ao mesmo tempo o amor é alcançar a outra margem
Ambas as coisas se passando simultaneamente
Com o mesmo pobre diabo apaixonado
A paixão faz sofrer e dá prazer
Ela nos faz viver com mais vontade
Chegar do outro lado é o momento
Por cada um de nós
Mais esperado
157

O amor é claro

Passo a noite em claro


Por vários motivos
Só um deles me deixa
Feliz de ficar acordado
Tenho tanto trabalho
Com tanta coisa cretina
Há algo no entanto que faço
Com a maior alegria
Tudo tudo tudo
É tão absurdo
Mas um som cristalino
Põe sentido em tudo
Não quero mais nada
Do museu de cera
Estátuas sem cor
Eu só quero vê-la
Ao ouvir sua voz
Tudo faz sentido
Eu só faço bem
Amar o meu bem
Que me despertou
Em um mundo muito
Muito mais bonito
Muito mais divino
E muito mais claro
O amor é água
É um copo dágua
Depois de um deserto
Chega de repente
158

Está sempre perto


Dessedenta a gente
E me faz contente
Eu quero essa água
Eu quero prová-la
Minha sede é vária
Eu quero bebê-la toda
Ninguém vai tomá-la
De mim
Eu quero essa água
Minha até o fim
159

O amor é pedra

O que exatamente você quis dizer com “todos os sentidos”?


Será se é realmente o que eu penso?
O que falta prà gente prà gente ser feliz?
Você conhece a história da sopa de pedra?
Era um cara tão simples
Que só comia uma sopa de pedra:
Ele pegava ela
Botava numa panela
Com água
E temperava
Com legumes, batatas, carnes, ovos, massas,
Cebola, tomate, alho, pimenta e sal.
Depois ele comia a sua boa sopa de pedra.
O amor é assim também, meu bem,
Não me pergunte por quê eu não saberia dizer
Eu não sei mais nada eu só sei que eu quero ter você
Do meu lado com tudo que é bom ou sem nada
Só o que me importa é você
Minha amiga
Minha amada
Você é a pedra
A água
O alimento
A panela
O fogo
A terra
O ar
E a fome sem nome e enorme que eu tenho
160

O amor é prova

Eu queria te dar algo então por acaso encontrei


As provas do vestibular que você fez no meu colégio
Bem, isso você já sabe, se eu ficar escrevendo poema
Só pra repetir bobamente o que acontece e você sabe
Como vou te interessar?
Como vou te ganhar?
Como vou fazer você querer?
Como vou fazer pra ter você?
Eu te dei duas provas o que é que isso prova
Além do fato de que eu sou um professor
Ou um bom amigo
Ou um “mestre espiritual”?
(Espero que você tenha entendido a ironia, era só brincadeira).
Eu não te peço que me leve até o céu
Basta o banco da ruela do Village
Ao pé do orelhão que ouve tudo...
Quem ama não pede prova
Quem ama não pode dar prova
Além da prova sem dúvida do próprio amor
Porque o amor é uma prova
161

O amor é animal

Olhos passarinhos
Voam entre as folhas
Estão escondidos
Entre seus muitos vôos

Olham com carinho


Pro alpiste da atenção
Esses descendentes
Dos dinossauros são

Engraçados e leves
Sábios e proféticos
Afinal eles são
Mesmo nossos parentes

Nossos olhos têm


Os olhos dos pássaros
Em nossas bocas há
Um canto como o bico deles

E os nossos braços
Se precipitam
Na vontade de voar
Por cima de tudo isso
162

O amor é uma flor

Logo o amor é vegetal além de ser animal humano e divino


E qual seria a melhor metade (entre tantas que ele tem) do amor
Eu não saberia dizer, na verdade o professor
É aquele que sabe tudo mesmo que não saiba nada
Só que eu sou mais poeta e o poeta
É aquele que não sabe nada mesmo que saiba tudo
Assim tipo você
Você parece mais com uma vitória-régia
É grande quando chove ou bate sol de verão sobre você
Você parece que bebe toda a água
Sem beber
O saber do sabor é sobre o ser
Surrealismo? Positivismo? Ou mais o quê? Pergunta
Você e eu não sei se você quer mesmo saber
Eu vou te explicar por via das dúvidas
Você vê as estrelas? Olhe
Para as estrelas de noite de dia na ida na volta o tempo todo
Olhe para as estrelas como quem colhe rosas
(As rosas rosas que querem dizer amor verdadeiro
E que eu queria te dar mas estou todo enredado
Na vegetação selvagem e dos cipós da ilha)
Há uma ilha dentro de nós
Mas também há uma Floresta Amazônica
E até mesmo flores canibais
Flores vermelhas e grandes que comem homens
E mulheres como a gente come poesia
E arroz com feijão
Haja força
163

O resto é o tudo mais


Amor e medo
Guerra e paz
Liberdade e segredo
Gueixa e rapaz
Está tudo
 Mas tudo ouviu bem será se você pode entender isso? 
Exatamente
Na ponta de seu dedo
164

O amor é supérfluo

Num mundo onde as ondas do tempo são tão violentas


Ultravioletas
E as flores carnívoras comem toda energia sincera
Num estado de coisas onde o erro é o ferro que se enterra
Na marca que toda carne escrava traz e (quase) não se vê
Onde é urgente mentir e ultrapassar
Os pássaros as plantas e o planeta
E as ilhas da solidão são a única garantia
De solo pra absorver teu choro
De plataforma pra se pisar
(Enquanto os pólos não derretem de todo
Depois será a volta dos atlântidas)
E de certeza de suposta proteção
Num modo de vida assim tão comezinho
Os homens-bunda e as mulheres-bunda abundam
Neste país de merda
O país dos cínicos covardes e cúmplices
Extasiados com os países baixos da mulata e da loura
E os passes errados dos gênios da bola
E as babas gostosas dos ritmos debilóides
E à noite ninguém sente tristeza ou solidão
Porque o Ratinho enche todo mundo de alegria
E diversão
Neste Planeta dos Ratos Adoradores do Esgoto
Os sonhadores e os lógicos estão absolutamente esgotados
E os estrategistas ganham altos salários
Para bolar um jeito de tudo melhorar
165

Neste tempo e lugar só existe uma verdade


Só há uma esperança na verdade
O verde da verdade invade tudo
Como a volta de toda a Mata Atlântica
É o amor
É preciso amar
É preciso sentir amor
Ter a coragem
De saber que somos feitos de amor
Pelo amor fomos feitos e faremos
Um mundo novo
Totalmente novo
Se tivermos a coragem de fluir com o tempo
O super-tempo que chega nas divinas
Ondas radiantes e vibrantes e energéticas
Do amor
166

O amor é corajoso

Porque coragem é aquilo que vem do coração


E só quem ama pode ter ouvido
Pra ouvir
Olho pra ver
Pele pra sentir
E coragem pra saber
167

O amor é lívido

No sentido de que é todo vida


E também em todos os sentidos
O amor é forte é a coisa mais forte que existe
Mesmo que esteja por um fio
E pareça ser apenas um menino
Mesmo que seja um menino feliz
Que brinca e ri e dá um doce prà menina
O amor é o poder
De dizer e fazer e pensar o que a gente quer
Se você encontrar
Pela frente uma árvore de cem metros de altura
Um gato genial e super-rápido
Um ratinho lindo que parece um bonequinho de pelúcia
Um passarinho que canta um canto divino
Uma construção linda
Uma nave espacial
Uma máquina do tempo
Uma boa comida
Uma nova estrutura
Uma ordem política
Uma forte cultura
Um povo feliz
168

Uma mulher geratriz


Linda e radiante trocando a fralda suja de seu bebezinho
Saiba que tudo isso e muito mais
Foi feito pelo amor
Sutil alquimista
Sábio construtor
Menino levado
Deus criador
169

O amor é indefinível

Ele não tem limites


Não tem início nem fim
Ele está além
De tudo que existe
E está nos interstícios
Mais mínimos
Da matéria e do pensamento
Sempre houve amor
Sempre haverá amor
Tudo dele vem
Pra ele tudo vai
Não dá pra explicar
E dá vontade de falar sem parar
Explicando pra sempre este amor
Contando como ele é
Confessando pra você
Quando nada há a dizer
Pois o amor já falou tudo
Num olhar rápido
Que durou uma fração de segundo
E eu vi e você viu e eu vi que você viu
Num ônibus qualquer
Ao lado de qualquer um
Como um grande segredo
Uma subversão
Uma revolução clandestina
170

Uma revelação
Que durou um tempo ínfimo
Há três anos atrás
E que ainda vibra com o som do big bang
Sempre vai vibrar
Na nossa canção
No nosso coração
Na nossa coragem
Na nossa esperança
E na nossa criação

Eu faço versos como quem veleja


E vela todo o tempo
Sem alento
Mas cheio do sutil contentamento
De saber
O que vim te dizer
E que é só isso
Minha amiga
Minha amada
Minha menina
Minha aluna
Minha mestra
Minha mulher

Eu amo você
171

Eros e Psiquê
172

você é linda e macia


como o dia
você dirá
que espécie de antropofagia
estranha
ou hemerofagia
e eu direi sou assim mesmo
o amor me faz cheio de euforia
aí vejo que as coxas suas são grossas
e a bunda linda e toda sua graça
me dá um tesão louco e sem
razão
vejo que quero você assim pra mim
como a noite que vem sempre no fim
do dia nos encher de paz e amor
e alegria
e você dirá que poeta mais maluco
come a noite e come o dia
nictófago sem pátria
sem moral e sem vergonha
na cara
cheio de tara
173

Seu corpo na cama me eleva pros céus e me faz flutuar


Ao mesmo tempo que seu beijo de cratera
Me leva pra uma viagem ao centro da terra
Pra conhecer o inferno, o fogo eterno e tocar na pedra filosofal
Seus olhos de quimera são a erva mais alucinógena que eu já provei
É com eles que eu sei que a vida é eterna
De uma efemeridade doce e ingênua
Que os homens não conseguem compreender
A sua voz ah a sua voz é a voz de todas as procelas
O apito do navio o marulho na orelha a concha que agasalha
A sua voz canalha é o canto das sereias
Que chama para o mar sem fim
O mergulho no mar que eu quero sim
Que aparece na face da terra toda vez
Que você abre as portas do paraíso
Que você abre os braços e sorri
Que você abre as janelas e suspira
Que você abre as portas para mim
Que você abre as colunas do abismo
Que você abre as dobras dessa terra
Macia
E toda feita para mim
174

A minha mão
Encontra a tua mão
E o meu coração pulsa mais forte
Aponta para o norte
A ponta do meu pau
Meu anjo bom e mau
E meu tesão
175

Sóis

Nus
Pela primeira vez nós dois
Estamos aqui sós felizes e é tudo muito muito mais
Veloz
Que a
Luz
176

Ouroboros

A minha boca
Toca tua boca
Com fogo
E água
As nossas línguas
Sequiosas
Se encontram tanto
E lentamente
As nossas bocas
Vão se juntando
E vão buscando
Beijar o corpo todo
Um do outro
Cem por cento
Ponto por ponto
Canto por canto
177

Via-Láctea

Seu corpo é pequeno


Quando vestido
Seu erotismo
É quase tímido

Mas quando essa menina tira a roupa toda


Eu vejo a mulher cósmica comigo

Estou com a Via-Láctea na cama


178

Epoqué

E quando minha boca


Se aproxima de seu sexo
O mundo inteiro perde o nexo
O tempo sai dos eixos
E eu me sinto nascendo
Novo
Exatamente agora
179

Visão

Minha mão corre pelas suas costas


Devagar
É assim que gosto posso ficar a tarde inteira
Sussurrando em seu ouvido
Arrepiando a penugem
Como se quando eu beijo a sua orelha
Você sentisse ao mesmo tempo
Tremor e êxtase
Calor e frio
A palma eu descanso em suas curvas
Mais lindas
Eu sinto suas nádegas e quero tudo
Tocar
Olhar
Provar
Ao dar um beijo
Longo e de língua
No seu ânus
Eu subo ao céu do prazer
Já não sei mais quem sou
Ou o que sinto
Ao mesmo tempo
Sou homem e menino
E a cama vira um tapete voador
Você é tudo que eu preciso
Meu ecossistema
O panorama
O aroma
Da floresta tropical
180

A hidrosfera
A hidra de Lerna
A dromosfera
E a fera
O tesão
Do sexo genital
Oral e anal
Carinho e cio
Inferno e céu
Frio e calor
Minha menina
Mulher
Fica aqui comigo
181

5 – Nave-mãe

Tudo o que sei o que lembro


Quando mamo em seu seio
É o prazer que vislumbro
A claridade que me alumbra
A alegria em meu membro
E a plenitude sem receio
O seu colo é o lugar
Em que eu mais desejo estar
182

Paixão

Passo a mão por suas coxas


Pra ver se abrirem as portas do paraíso
Quando percebo que a vontade
Quer abri-las para mim
Agarro as suas pernas
E as aperto
Com carinho
Agora olho seu sexo
De frente
Posso ver inteiro
O ponto onde a matéria e a antimatéria
Se encontram e celebram o uni-verso
Se encantam e se lembram desses versos
E se condensam em vida
E em prazer
O alfa que contém todo o mistério
O portal das estrelas
Pelo qual vou entrar
Pra encontrar o futuro
O lugar de onde vim
De onde veio
Toda a vida
O útero
E o túmulo
A semeadura
A semente
O ovo
183

Tudo de bom
A vagina cósmica
O sexo da mulher amada que eu beijo com paixão
184

Tendência

Tende entender
Tudo no mundo é complexo
O sexo
Foi feito por você
E por mim
Amplexo
Do meu ser com teu ser
185

Você não vê?


Ou vê?
Estou aqui
Pronto
Para você
Pra te fazer
Entender
O que você
Quiser
Basta você querer
Quando você
Quiser
É só você
Dizer
186

Gosto tanto
De ouvir sua voz
Queira ouvir a minha
Gosto tanto da poesia
Que tem na sua voz
Queria que você sentisse assim
Também
Comigo
187

O amor nasce toda hora


Novo e o mesmo de novo
Toda hora trabalho acordo
Durmo como e vou sair
E agora estou voltando
Para casa que é ninho
Mas também é asa
Carinho que faço e recebo
Morro e nasço outra vez
Da qual eu nunca saí
Vou viver

Eu vi seu corpo nu sobre o lençol


E sua pele brilhando cobria o cobertor
Minha alma era o colchão e o edredon
Você por cima embaixo e a todo lado

Eu vi que o seu corpo é um mundo novo


E fiquei maravilhado como um descobridor
Eu descobri o amor e agora eu era o povo
E agora eu sou o ovo de Eros e Psiquê

O Amor e a Alma
Estão juntos assim você e eu
Queremos tanto isto que me aclara

A luz do dia raro que nos deu


O que já era nosso de nascença
Você pra mim eu pra você o amor pra nós
188

Eros e Psiquê

Por que toda mulher faz assim comigo?


Você quis me entristecer...
Mostrou-me as suas pernas de veludo e o doce abrigo
Do seu ser,

Pra eu pensar que era meu o seu umbigo,


Pra eu querer olhar você e aí crescer
O meu amor, que é um sinal vermelho de perigo
E é tudo que pode no planeta alvorecer.

E então você me deu seu choro e riu comigo


E eu lambi as suas lágrimas e quis ninar você;
Mas depois você me disse: “Meu amigo,

Eu jamais pensaria em te querer.”


E eu fiquei ali na esquina... e agora não consigo
Deixar de amar a sua fonte inebriante de prazer!
189

Eu penso eu acredito eu recompenso


Tudo indefinido é mais bonito
Mas sei que a vida anseia o recomeço
E eu sinto o que o amor cala em cada grito

Ele diz ela diz isso e aquilo


Ou melhor isso ou aquilo é o que ela diz pra mim
Mas o amor nasce agora e me olha assim
Como quem bebe o gesto mais bonito

E eu digo pra seus olhos que me olham


A qualquer hora do sonho ou da vigília
Que o amor nasceu pra nós simples assim
Meus braços na selvageria os seus abraços

Que eu penso nela o tempo todo sim


Que o celular do amor é esse sim
E sim que o amor nasce pra nós a toda hora
Vem cá mulher me afaga em seus amassos

Nós juntamos um ao outro aos pedaços


190

We will discover

Can you intend


The whole universe is in your hand
I love you
I want to be always with you
And live in a hole
Universe by your side
Together
The sight of times that are a coming
The tide is turning
And everybody can see
My love
You are the most beautiful fly beautiful flower
Stay with me
And we’ll be always happy and free and wild
Together
Since the beginning of the times
And all was a only butterfly
All those things have already happened
Do you remember
I know who are you to you and me
And I knew it at the first moment
The meeting of our seas
The greeting of the sight
The greenning of our hearts
And the hit of the stars at night
191

That shine like who fights


Love me
For ever
And ever and ever and ever and ever
And never say good-bye
Nor good-night
Because we’ll take one to the other all through the night
Forever
By the bright of our eyes and our hearts
192

2 = Eros e Psiquê

Este poema não entra nos seus livros


Nem os lidos ou não pois é este aqui
É o início dum novo e bom início
Longo como tudo que é sol e solo e energia e fé
Este aqui inicia um novo livro
E só depois vou explicar o motivo o quê qual é
Este aqui é um sentimento muito vivo
E longo e bom e bonito e sempre quente e seu motivo
Se ele possui um motivo
É você você você você você você você
193

Gosto que me enrosco


De enroscar você
E lamber você
Beijar você
No seio e na vagina
Minha menina
E pra que mais
Mas eu sempre quero mais
Eu quero mais
Eu quero sempre mais
194

befor

Você também pode gostar