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GESTÃO DA TECNOLOGIA E DA

INOVAÇÃO
AULA 6

Prof. Marcelo Alessandro Fernandes


CONVERSA INICIAL
Conforme colocamos, reiteradas vezes, a organização deve criar as
bases para que os indivíduos consigam criar e experimentar mais. Só saberemos
acerca dos resultados de uma estratégia voltada para inovação, criando mais e
experimentando mais.
A palavra criação ficou sempre afastada dos principais termos utilizados
pelos executivos, sendo quase um tabu, quase uma proibição. Mesmo hoje se
colocarmos de maneira enfática e decidida que um dos principais fatores para a
sustentabilidade de uma organização, no longo prazo, é sua capacidade criativa,
teremos como reação um misto de dúvida e perplexidade junto aos executivos
mais tradicionais.
Chegamos no limite extremo em que percebemos a necessidade de
trabalhar em projetos inovadores para garantir um posicionamento destacado no
mercado, mas só nos convencemos, por fim, se tivermos a garantia dos
resultados antes mesmo de darmos o primeiro passo rumo àquilo tudo que nos
pareça diferente.
A presunção de querer racionalizar cada etapa da gestão organizacional
nunca foi tão longe. Pressupomos que ela alicerça as principais atividades que
hoje temos por nossa responsabilidade na gestão de uma organização, mas isso
é um equívoco quando falamos de inovação.
Ao colocarmos esse tema junto a velhos pressupostos, colocamos forte
desconfiança sobre a capacidade criativa dos indivíduos. Uma vez que assim o
façamos, estamos colocando em primeiro plano sistemas e processos de pensar
e não pessoas. Colocamos determinismo sobre nossas ações em vez de
especulação criadora.
As pessoas deveriam ter um passaporte que as autorizassem a pensar de
forma diferente, de fazer viver a ousadia no ambiente de trabalho, sem ter que
pedir licença sobre tudo que fora provado anteriormente e feito pela organização,
o que cria enorme peso sobre as pessoas que pedem passagem.
Os mercados tendem a ser impiedosos com os não inovadores e, por isso,
associamos a derrocada organizacional como falha – falha dos indivíduos e das
equipes, falha na persecução de algum processo que deveria estar à mercê do
nosso controle, de nossa capacidade de desenhar e monitorar sistemas.
Consultores insistem em dizer que o planejamento das ações deve estar
acima de tudo, uma vez que eles foram provados muitas vezes sob muitas

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circunstâncias, sob as mais diversas condições e, por isso, mesmo deveríamos
confiar cegamente em seus preceitos. Quando as coisas não se conduzem para
um fim satisfatório, significa que não seguimos adequadamente suas
orientações. Isso é uma falácia.
Pessoas se tornaram grandes investidores, porque, em suas respectivas
épocas, se colocam contra a corrente, contra o padrão de pensamento arraigado
em seus respectivos mercados. Elas descobrem as coisas por si mesmas e
impõem forte oposição ao status quo.
Nunca teremos uma fórmula que nos leve para uma descoberta, pois, se
tivéssemos algo parecido com isso, a atividade de criação e de inovação já
estaria relegada aos computadores e não à nossa sensibilidade. Assim,
precisamos desenvolver uma sensibilidade própria sobre quem somos e sobre
nossas potencialidades, não deixando calar nossa voz interior frente àquilo que
julgamos abrir possibilidades para nosso próprio futuro.
Processos e ferramentas podem nos ajudar, é claro, mas não são a
essência de uma vanguarda criadora, de pessoas altamente motivadas e que
queiram crescer junto a todas as descobertas provenientes de um movimento de
ousadia. A vanguarda criadora é marcada, sobretudo, pela vontade de viver sob
novas condições.
Faremos muito melhor participando genuinamente da mudança,
colocando nossa energia verdadeira em torno de novas possibilidades, do que
nos esquivando por completo, colocando a culpa de um fracasso inovador em
torno de métodos e receitas de sucesso que não foram seguidas rigorosamente.
CONTEXTUALIZANDO
Uma organização inovadora é aquela que abre espaço para equipes de
alto impacto. Isso significa que necessitamos abrir caminhos para os indivíduos
que queiram trazer uma marca diferenciada no mundo, uma atuação e forma de
pensar próprios. Trata-se de um caminho que acredita que os indivíduos vão
fazer a diferença e que a energia criativa vive em seus espíritos e partem deles.
Quando duvidamos disso, acabamos por colocar alguma coisa objetiva,
pesada em seu lugar. Passamos a recorrer a modelos e esquemas de
pensamento que venham a persuadir que as pessoas são substituíveis e que as
atividades podem ser encadeadas claramente, rumo a um objetivo também
claro. É justamente isso que não temos no mundo da inovação: clareza e certeza
dos resultados.

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Na atividade criadora, sempre estamos a um passo de descobrirmos as
coisas por nós mesmos e, no fundo, são os fatores individuais e culturais que
farão a diferença ao fazerem viver algo que nos é próprio. Enquanto a descoberta
não vem, os indivíduos estão sendo colocados em desafios que lidam com nossa
esfera psicológica inconsciente, uma vez que não temos as respostas prontas
para servir de fundo contra o discurso da reprovação. Assim, lidar com a
inovação é lidarmos com nossa necessidade de sermos acolhidos pelos nossos
esforços, pelo nosso valor – algo que, muitas vezes, se dá apenas depois de um
determinado tempo de investimento. Antes disso, ficarmos sujeitos a todo tipo
de crítica e expostos aos resultados ruins que colhemos nas etapas de ideação
e de testes.
Isso exige da organização um patamar mais avançado de entendimento
sobre riscos e caminhos que os indivíduos estão perseguindo. Exige maturidade
no trato humano e, principalmente, a capacidade de dar respostas humanas
frente ao desconhecido. É sobre esse aprendizado humano que as empresas
necessitam evoluir, uma vez que é normal distorcermos as intenções com firme
propósito criativo por meio de precipitadas avaliações de curtíssimo prazo.
Se pegarmos, por exemplo, o resultado que a agência espacial NASA teve
ao longo do tempo, percebemos um acolhimento maior do resultado dos
cientistas diante das incertezas. Poderíamos mesmo pensar: “mas é claro, lidar
com as incertezas do universo é bem mais difícil do que lidar com as mudanças
empresarias que vão e voltam a todo momento”. Claro que os desafios são
outros, mas queremos chamar a atenção para o comportamento de
receptividade junto àqueles que desbravam o novo e que se sentem impelidos a
criar, acreditando em uma força própria, inspirando e influenciando o andamento
de toda uma empresa e de todo um mercado.
Steve Jobs, no auge de sua empresa, quando colhia grandes resultados,
foi mandado embora por divergir dos rumos da empresa, que não estava mais
buscando o pioneirismo e que olhava para a operação através de uma ótica
estritamente financeira, que não se deixava mais convencer das possiblidades
de se redescobrir.
Quando o fundador foi colocado para fora, a empresa não conseguiu mais
trabalhar a originalidade de seus colaboradores, pessoas que traziam seus
melhores esforços para a empresa acreditando em um futuro decididamente
diferente, para eles mesmos e para seus clientes.

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Todo o ciclo da aprendizagem não foi mais suficiente para manter a sede
da descoberta em altos patamares, ficando claro que a decisão de ganhos
financeiros era soberana em relação à necessidade de busca contínua pelo
novo, pelo inusitado. Assim, durante a década de 1990, a empresa foi perdendo
relevância junto ao mercado de TI, que exige protagonismo, originalidade e
descoberta.
Comunicamos mais prontamente a organização o que intencionamos pelo
exemplo das nossas ações e decisões práticas do que por meio de intenção por
escrito.

TEMA 1 – MOTIVANDO AS EQUIPES


Steve Jobs também era conhecido por criar um novo senso de realidade
nascente junto às suas equipes, o que ficou conhecido por campo de distorção
de realidade de Steve. Isso porque as pessoas se deixavam levar pelas
possibilidades que poderiam surgir, mais que pelas restrições. Era como uma
chama que se transformava em forte luz do possível, quando as pessoas se
abriam aos seus discursos sobre a possibilidade de participar de um mundo
radicalmente diferente. A motivação (o motivo para a ação) precedia o
movimento criador.
Por meio desse exemplo, devemos prestar muita atenção em nossa
capacidade de desenvolver um espaço criativo, que vive e se nutre de novas
possibilidades. Criar é dar vazão ao diferente. Devemos comunicar se de fato
acreditamos nisso ou não por meio de nossa postura, de nosso entusiasmo e da
maneira como sinalizamos para as pessoas que elas podem ir em frente com
suas ideias e pensamentos.
Uma das principais coisas que vem afetando negativamente o mundo dos
negócios é a linguagem utilizada pelos executivos, repletas de lugares comuns
sem grandes significados. Ao utilizarmos essa linguagem repleta de jargões
empresariais, estamos inconscientemente comunicando que enfatizamos mais a
clareza dos nossos pensamentos do que o valor de nossa imaginação criadora.
Assim, podemos nos flagrar falando de maneira muito clara e objetiva, mas sem
gerarmos conexões verdadeiras com nosso imaginário repleto de possibilidades
e sentimentos. Com o tempo, a mente cria uma barreira notável contra qualquer
pensamento mais “criativo”. Passamos a reproduzir falas prontas e não
instigamos mais nossa imaginação criadora a percorrer novos caminhos.

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Pense em quanto os grandes gênios da criação, como Leonardo da Vinci,
Botticelli, Tesla, Shakespeare e muitos outros, deixavam em “aberto” sua
vontade criadora e sua imaginação. Viviam próximos de uma parte constituinte
de seus seres que era mais leve, mais aberta às possibilidades. Eles estavam
mais próximos de criar inventos absolutamente à frente de seu tempo, a exemplo
do parafuso aéreo, antecipação do helicóptero, criado por Leonardo da Vinci.

Parafuso Aéreo de Leonardo da Vinci


Fonte: Wikipedia Commons

Algumas dessas invenções levaram séculos até se transformarem em


alguma coisa útil para o mundo, mas trouxeram grande iluminações sobre
possibilidades futuras. O que chama a atenção nesses inventos criativos é a
capacidade de se permitir pensar diferentemente, de traduzir os inventos
nascentes de uma forma própria, dando movimento e “cores” para um mundo
que observava com formas convencionais de pensamento.
Hoje, por exemplo, achamos comum os computadores estarem por todos
os cantos. Eles fazem parte de nossa vida e temos grande dificuldade até de
imaginar o mundo antes de seu surgimento. O que dizer, então, da ideia de Steve
Jobs de que os computadores seriam como “torradeiras”, prontos para o uso e
com facilidade de utilização, de modo que qualquer pessoa teria acesso? Como
um pensamento tão simples pode ter tanto impacto em nossa época, diferindo
apenas em grau da própria ideia de Leonardo da Vinci, em termos de uma
máquina voadora amparada por hélices?
A inventividade se nutre de fatores simples. É a própria imaginação dando
asas às descobertas. Corre dentro de um próprio cerne gerador que estranha
aspectos muito formais que nos acostumamos a ter no ambiente dos negócios.

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Assim, uma linguagem empresarial engessada e sem vida acaba por inibir um
pensamento próprio, mais afeito ao que somos. Deixamos de nos perceber
criativamente nas nossas conversas e nos acostumamos com isso. Precisamos
retornar à época em que não tínhamos que pedir autorização para pensarmos e
para trazermos uma nova ideia que quer apenas ganhar asas, recriando nosso
mundo exterior.

TEMA 2 – RETORNO FINANCEIRO


Um outro espectro dessa discussão diz respeito aos retornos financeiros
obtidos pela inovação. A inovação pode trazer um enorme ganho financeiro para
organização, gerando ganhos sem precedentes.
Na biografia de Steve Jobs, ficamos sabendo que, após o lançamento do
computador Apple II, o primeiro evento de sucesso da empresa, cerca de 100
pessoas tornaram-se milionárias da noite para o dia. A inovação traz a
possibilidade de uma grande destruição criadora, geradora de riquezas, pois um
enorme salto de valor e produtividade é trazido junto a ela para um sem número
de pessoas. Nossos clientes também crescem formidavelmente junto às novas
possibilidades que geramos. Compram nossos produtos e serviços, porque
entendem que ganham enormemente com sua aquisição. Atualmente,
chegamos a um ponto em que podemos, até mesmo, utilizar aplicativos e
softwares sem pagar nada por eles, pelo menos não diretamente.
Deixar em segundo plano o crescimento e os ganhos provenientes de uma
geração de fortuna para nossos funcionários é trazer ainda uma lente míope para
o mundo dos negócios, pois colocamos nosso individualismo em primeiro plano,
acreditando que todos os demais devam estar sempre trabalhando para os
nossos planos e interesses. Agindo dessa maneira, quando as coisas dão
errado, substituímos as pessoas por outras que irão perseguir nossos próprios
objetivos e não os delas.
A inovação deve ser vista com uma forma de crescermos juntos, de modo
que cada pessoa traga sua contribuição para o florescimento de inventos. Inovar
raramente é feito por uma única pessoa. Por isso, é preciso estabelecer formas
recompensadoras em torno do esforço e do trabalho árduo desempenhado por
cada indivíduo, abandonando o pensamento industrial em que a “máquina
empresarial” atendia às intenções de poucos, que sempre se sobressaíam diante
dos demais.

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Pensamento Divergente
O espaço de criação deve dar condições para que as pessoas pensem de
forma diferente e divergirem entre si. Essa divergência de pensamento não é
uma divergência de conduta, algo que dê vazão para desencontros e
desentendimentos sem fim.
Tolerar padrões divergentes de pensamento é a chave para um ambiente
saudável que vive a inovação. É saber que, em algum momento, iremos crescer
pela divergência do pensar e que isso nos tornará ainda mais receptíveis ao
novo, pois nunca teremos todas as respostas diante das situações de projeto
inovador. Dessa forma, estaremos mais predispostos a voltar atrás em uma
opinião arraigada, quando percebemos o que nos levou a formular um ponto de
vista cristalizado sobre algo cujo impacto ainda não tínhamos condições de
perceber.
No fundo, necessitamos de que a equipe criativa tenha possibilidade de
se expressar, trazendo percepções que sejam antagônicas a uma visão
dominante de negócios. Estar aberto ao divergente é, no fundo, estar aberto para
que um novo caminho tenha condições de nos revelar algo recompensador.
Quando desenvolvemos formas inflexíveis de enxergar a realidade, com
o passar do tempo, as coisas ao nosso redor pouco mudam. O mesmo vale para
as equipes, áreas e empresas inteiras.

TEMA 3 – ALICERCES DA INOVAÇÃO


As inovações trazem uma enorme vantagem no mercado quando atingem
o cerne do que nossos clientes valorizam. Assim, devemos ter em mente que,
após chegarmos ao mercado que ajudamos a desbravar e ao começarmos a ter
grande sucesso com nossas soluções, necessitamos observar algumas
questões para maximizar os ganhos obtidos:

Barreiras à imitação
Além da originalidade que se fez colocar junto aos novos produtos e
serviços e do conhecimento tácito que nos trouxe uma maneira própria de
resolver um problema específico, devemos olhar tudo que possa nos ajudar a
criar barreiras à imitação. Isso pode estar inserido em detalhes do projeto, no
domínio de uma determinada tecnologia ou em patentes e direitos exclusivos
sobre a solução.

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Os gestores devem olhar para esse conjunto de limitadores à
concorrência e pensar quanto de vantagem conseguem deter no mercado, uma
vez que a concorrência tem que criar grande esforço para tentar reproduzir as
mesmas soluções em seus próprios domínios.
Normalmente, a inovação consegue manter-se sustentável na medida em
que os atributos de valor reconhecidos pelos clientes se integram às principais
competências da empresa. Uma vez que aprendemos os pontos pelos quais
encantamos as pessoas, temos que ter condições de ir à frente aprofundando
aquilo que sabemos fazer bem. Muitas vezes esses pontos são bastante
intangíveis, pois podem estar relacionados à maneira como a organização faz
as coisas e menos à forma como ela entrega suas soluções.
Os filmes da Pixar possuem uma característica própria, com histórias
relacionadas aos valores humanos essenciais e à maneira como identificamos a
simplicidade da vida em meio a um mundo caótico e competitivo. Talvez o
trabalho de desenvolvimento das animações tenha até um valor mais reduzido,
considerando que outros estúdios possuem uma habilidade de design gráfico
equiparável, no entanto, não deixamos de assistir filmes como Divertidamente,
Carros, Up, Toy Story e, outros tantos. Esses filmes falam diretamente à nossa
vontade de nos estarmos em um mundo mais leve e poético.
Nem tudo no mundo organizacional diz respeito à gestão de recursos e
processos. Devemos aprender a criar uma aura especial em torno dos nossos
novos produtos, pois isso é percebido como principal diferencial junto aos
clientes ávidos por experiências e encantamento.

Inovação Contínua
As organizações que conseguiram se manter rentáveis ao longo do tempo
possuem uma característica em comum: seguiram ciclos continuados de
inovação e foco na invenção. Empresas como a Tesla, IBM, Apple, Google,
Hyundai e HP, em algum momento de seu ciclo evolutivo, abriram portas para
que novidades adentrassem o mercado, trazendo consigo uma nova era de
especialização. Criar ciclos continuados de inovação é a razão pela qual tais
empresas ainda prosperam.
Muitas vezes, só percebemos que estamos sendo condicionados a uma
reiterada forma de fazermos as coisas após alguma circunstância estranha.
Necessitamos de um certo grau de incerteza e flutuação para nos desapegarmos

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de rotinas e formas arraigadas de pensamento. Comportamento repetitivo é sinal
de padrão de pensar, pois o normal é modificar-nos à medida que adquirimos
mais maturidade em vida.
O mesmo é válido para as organizações – uma sinergia de tudo que o ser
humano pode trazer em termos de enriquecimento ou restrição para o caráter
humano. A diferença é que o caráter destrutivo nas empresas tende a gerar
danos palpáveis no decorrer do tempo, uma vez que perdemos oportunidades
em mercados sempre em mudança, sempre a sinalizar oportunidades.

TEMA 4 – INVESTIR E PROTEGER O CAPITAL INTELECTUAL


A inovação nos traz conhecimento, aprendizado e know-how. Um saber
valioso em um mercado em que muitas vezes competimos por décimos
percentuais de participação. Dessa forma, tão importante quanto o resultado
concreto de nossas ações é resguardarmos os resultados dessas ações em
termos de patentes, copyright e direitos de propriedade.
Grandes empresas, como a IBM, chegam a registrar cerca de 5.000
patentes por ano, um número extraordinário se compararmos à quantidade de
patentes registradas no Brasil. Ter o registro de uma patente nos permite ter
segurança sobre grandes investimentos realizados em P&D, porque evitamos
que nossos concorrentes venham a copiar e vender nossa invenção, usufruindo
de todo o esforço e investimento feitos.
Afinal, precisamos pagar o investimento sobre a solução criada, e boa parte
desse investimento é pago nos primeiros estágios de lançamento, quando parte
do público está ávida por pagar pela novidade – os chamados early adopters.
Abaixo apontamos alguns requisitos importantes para a caracterização de
uma patente:

Patente de invenção (PI)


A patente deve atender os seguintes requisitos:
 Novidade
 Atividade Inventiva
 Aplicação Industrial

Podemos patentear artefatos e processos pelo prazo de 20 anos, se


considerados o início do pedido.
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Patente de modelo de utilidade (MU)
Tudo aquilo que obtiver um uso prático partindo de um modelo de
utilidade, que apresente um novo design ou aplicação industrial e que tenha
apelo inventivo, pode ser patenteado. O mesmo vale para inventos que tragam
algum tipo de melhoria funcional na sua utilização e mesmo na maneira como é
fabricada. Modificações consideráveis sobre equipamentos e produtos
existentes também são válidas como invento passível de ser patenteado.
Seguem alguns requisitos para a patenteabilidade:
 Novidade relativa
 Utilização industrial
 Atividade inventiva
 Melhoria funcional

Nesses casos a proteção cobre período relativo a 15 anos.

Modelo de utilidade
O modelo de utilidade cobre modificações consideráveis na técnica e na
forma diferenciada como interagimos com produtos e serviços lançados.

Atividade inventiva
A mudança não deve ser trivial ou comum para quem é expert no assunto,
assim, a atividade inventiva deve ser reconhecida por técnicos do assunto.

Aplicação industrial
Apenas que são considerados passíveis de patente invenções e modelos de
utilidade utilizados por setores industrias.

Relações de Confiança
Relações de confiança mútua são essenciais em um processo inovador.
Necessitamos que a equipe crie espaço palpável para as realizações nos
momentos de dificuldade, em que, muitas vezes, as respostas ainda não estão
claras. A confiança nos permite um grau maior de exposição, bem como de
abertura sobre o que não conhecemos. Assim, temos tranquilidade para
perguntar sobre aquilo que desconhecemos, trazendo ilações, pensamentos

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“confusos” e interpretações ambíguas que são, normalmente, a fonte para
entrarmos em contato com o incerto.
Grande grau de especulação é necessário para transitarmos entre o
mundo imaginário e o mundo objetivo, quando desdobramos nossa curiosidade
de maneira incerta, que só se mostrará plena em novos saberes depois de
determinado tempo.
Apenas por meio de laços de confiança verdadeiros podemos galgar um
crescimento pautado pela complexidade, por aquilo tudo que nos lança a uma
nova realidade, repleta de possibilidades realizadoras.

Autodesenvolvimento
Temos diversas formas de buscarmos o autodesenvolvimento e muitas
delas envolvem um esforço continuado no tempo para a aquisição de novas
habilidades, valiosas e exclusivas.
No entanto, não associamos autodesenvolvimento com aptidões voltadas
para um crescimento criativo, em que, com o passar do tempo, desenvolver
respostas inovadoras torna-se uma capacidade muito presente, de modo que
conseguimos acessar potencialidades de uma maneira bastante natural.
Para desenvolvermos uma capacidade criativa típica, necessitamos, em
primeiro lugar, nutrir um desejo genuíno de criar novas coisas novas e respostas
e de vermos a marca genuína de nossa presença – que parte de nossos inventos
– no mundo. Sem desejarmos viver a criação, a mente se estagna e não cria as
condições psicológicas necessárias ao ato criativo. Temos que nutrir essa
vontade no nosso dia a dia, como um artista que acorda todos os dias querendo
recriar a maneira como olhamos o mundo por meio de suas obras de arte.
Além da vontade de criar, necessitamos desenvolver uma
espontaneidade criadora diante das situações. Espontaneidade é o
comportamento típico das crianças diante de sua imaginação, diante da
possibilidade de divertir-se junto aos seus jogos e “inventos”. Para a psicologia,
a espontaneidade é o estado de espírito necessário para que suscitemos um tipo
de resposta originadora, em situações de elevado stress.
A vida já nos exigiu muitos comportamentos nos ambientes de trabalho,
como comprometimento, objetividade, racionalidade e segurança. A
espontaneidade das pessoas, porém, está longe de ser incentivada pelas
empresas, por parecer algo menor, algo que não deve ser levada em conta

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seriamente. Ser espontâneos é trabalhar para nossa própria descoberta, para
aceitar nossa naturalidade em vida. Quem poderia objetar do contrário?

Qualidade de Vida
A criatividade também está relacionada ao saber viver e ao crescimento
interior. Necessitamos desenvolver mais significado sobre o que fazemos e em
que colocamos energia, uma vez que buscamos isso em nossas vidas, nossa
dimensão criativa vem em nosso socorro para criar novos caminhos possíveis
de serem trilhados.
Existe uma relação direta entre criação e buscar sentido de vida, uma vez
que a mente busca novos caminhos para fazer valer coisas que desconhecemos,
mas que poderíamos vir a valorizar ou a torná-las insubstituíveis para nós.
Podemos ter motivos significativos para criarmos algo, mas o contrário também
é verdadeiro: podemos mobilizar nossa inventividade para chegar a coisas
significativas.
É muito comum vermos pessoas que abandonaram uma trajetória
profissional, seguindo uma própria intuição, que só se mostrou verdadeira com
o passar do tempo, uma vez que esse novo caminho trouxe uma conexão muito
mais verdadeira e necessária à existência da pessoa.

TEMA 5 – ARMAZENAMENTO DO CONHECIMENTO


É a utilização sistemática de redes de informação para capturar todo o
conhecimento oriundo de projetos e iniciativas de inovação. Dessa forma, temos
condições de disseminar rapidamente tudo aquilo que foi criado ao longo do
tempo, como design, aplicação tecnológica, código de software, plantas,
desenhos, modelos e técnicas.

Banco de conhecimento
São conhecimentos relevantes para a organização, normalmente
apoiando os organizadores no saber fazer. Muitos processos são exclusivos da
organização, uma vez que chegamos a um novo patamar de desenvolvimento,
assim, devemos ter o conteúdo explícito do nosso aprendizado de forma
acessível a todos da organização

Banco de competências

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São bancos de dados sobre competências, talentos, expertises dos
funcionários. Serve como mapa para encontrarmos pessoas específicas que
podem nos ajudar resolver problemas de alta complexidade em grandes
organizações.

Banco de Projetos
É todo o conteúdo criado em um projeto, considerando o armazenamento
das informações de cada etapa, versões, problemas identificados, soluções
parciais, pareceres, ou seja, toda a evolução do projeto em si documentada,
considerando o aprendizado explícito que tivemos com o passar do tempo. Serve
como memória da organização e nos ajuda a acelerar a resolução de um novo
problema, uma vez que nunca partimos completamente do zero no desenho de
uma solução inovadora.

Especialização
É conhecermos os assuntos em profundidade, nos tornando verdadeiros
experts sobre o que lançamos no mercado. É buscarmos níveis únicos de
integração de conhecimentos e saber fazer, não só sobre o que já realizamos,
mas diante do mundo que desbravamos anteriormente pela nossa ação
empreendedora.
Saberes especializados e únicos é o que nos permite manter grande
vantagem sobre a concorrência, uma vez que as barreiras ao aprendizado
tendem a ser elevadas para todos os participantes. Em suma, mobilizar-se
criativamente é apreender o conteúdo relevante para a contínua superação das
expectativas de nossos clientes, nos colocando em uma posição singular, de
contínua atuação inovadora nos mais exigentes mercados.

Relevância
O que criamos hoje deve ser relevante para nosso futuro e para o futuro
dos clientes. Olhar o resultado da inovação, em termos da relevância, é
imprescindível para avaliarmos nossos esforços. Assim, temos condições de
saber se estamos trabalhando sobre nossas melhores aptidões, considerando
que não conseguiremos trabalhar nada inventivo sem nos colocarmos por inteiro
nas coisas. Estarmos inteiros no que fazemos é porta de entrada para
acessarmos dimensões de nosso ser, ricas em possibilidades e em imaginação

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criadora. Por fim, é por meio de nossos traços pessoais que colocamos no
mundo uma força movente para além de nós mesmos, criando resultados que
sequer poderíamos imaginar em um primeiro momento, mas que, uma vez
empreendidos, correspondem certamente com nossa parcela que estava há
muito adormecida.

Curiosidade: veja o discurso de Steve Jobs aos formandos da Universidade


de Stanford em 2005. Disponível em:
https://www.ted.com/talks/steve_jobs_how_to_live_before_you_die

FINALIZANDO
A atividade inovação é uma das mais nobres capacidades desenvolvidas
pelo ser humano: trabalha com potências criativas, artísticas, imaginativas, com
o saber fazer e com o reencontro junto à nossa espontaneidade. Devemos
aceitar esse desafio como algo que devemos nutrir ao longo de toda nossa
existência, em uma época que acolhe os inovadores e abre possibilidades para
realização nunca antes imaginadas.

TROCANDO IDEIAS
Em que você poderia alicerçar sua carreia em um contexto de inovação e
inventividade? Que habilidades se vê fazendo? Que contribuições poderia
trazer?

NA PRÁTICA
Veja dicas de como colocar a inovação na prática:
https://endeavor.org.br/3-caminhos-para-colocar-a-inovacao-em-pratica/

REFERÊNCIAS
BOHM, David. Diálogo: Comunicação e redes de convivência. São Paulo:
Editora Palas Athena, 2005.

MARTIN, Roger. Design de negócios: por que o design thinking se tornará a


próxima vantagem competitiva dos negócios e como se beneficiar disso. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2010.

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KIM, C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos
mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier,
2005.

CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação: quando novas tecnologias


levam empresas ao fracasso, São Paulo: Makron Books, 2001.

NONAKA, Ikujiro e TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na


empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de
Janeiro: Campus.

SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte, teoria e prática da organização de


aprendizagem. São Paulo: Best Seller, 1990.

ISAACSON, Walter. Steve Jobs: A Biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2011.

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