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ISSN 0101-5532

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GOVERNADOR DO ESTADO
José Wellington Barroso de Araújo Dias

SECRETÁRIO DO PLANEJAMENTO
Sérgio Gonçalves de Miranda

FUNDAÇÃO CEPRO
Presidente
Oscar de Barros Sousa

GERÊNCIA DE ESTUDOS E PESQUISAS


SOCIOECONÔMICAS
Carlos Ferreira Lima

GERÊNCIA ADMINISTRATIVA FINANCEIRA


Natildes Lima Verde

GERÊNCIA DE ESTATÍSTICA E INFORMAÇÃO


Elias Alves Barbosa

PUBLICAÇÕES
Inizete Roberta de S. Meirelles

CARTA CEPRO: Publicação semestral, criada em 1974

DIRETOR-GERAL GRÁFICOS
Oscar de Barros Sousa Eduyges Martins da Silva

DIRETORA EXECUTIVA COLABORAÇÃO


Marcos Emiliano da S. Cordeiro
Inizete Roberta de S. Meirelles
SETOR DE PUBLICAÇÕES
CONSELHO EDITORIAL Eva Maria Evangelista Leal
Carlos Ferreira Lima Ilma Araújo Véras e Silva
Elias Alves Barbosa Inizete Roberta de S. Meirelles
Inizete Roberta de S. Meirelles Teresa Cristina Moura Araújo Nunes
Joana D'arc Fortes P. Barbosa
Rosário de Fátima F. Bacelar CORREÇÃO DA DIGITAÇÃO
Maria das Graças Nunes Osternes
JORNALISTA RESPONSÁVEL PROGRAMAÇÃO VISUAL
Ana Cláudia Amorim Barbosa E PAGINAÇÃO
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CORRESPONDÊNCIA
FUNDAÇÃO CEPRO
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v.25, n. 1, 2009
CARTA CEPRO TERESINA v. 25 n. 1 p. 1 - 118 Janeiro/Junho 2009

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v.25, n. 1, 2009

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Sumário
ESPAÇO CEPRO 09
As causas da pobreza e sua eliminação são
questões controversas. Essa problemática
POBREZA 12 começa quando tentamos definir o que é
As múltiplas faces da pobreza pobreza e percebemos que não há um
conceito fechado em si. Isso porque a
pobreza é entendida em vários sentidos, é
PROJETOS 16 multidimensional.
PCPR – Origem e trajetória no Piauí
Segunda fase do PCPR II investe US$ 22,5 milhões no Piauí 22
A pobreza está presente em todos os lugares
e varia de acordo com aspectos econômicos,
DESENVOLVIMENTO 24 culturais, sociológicos, entre outros. Talvez
Um novo Piauí está surgindo – O sertão vai virar mar por isso, o combate à pobreza não tenha uma
receita única e ideal que sirva a todos os
povos e nações.
DEBATE CARTA CEPRO 30
Oportunidades de emancipação
Nesta 25ª edição da Revista Carta Cepro,
fazemos um recorte da pobreza relacionada
RELAÇÕES INTERNACIONAIS 44 ao meio rural. O objetivo foi mostrar como a
Rumo ao mercado europeu pobreza é encarada pelo poder público e suas
estratégias para combatê-la, por meio do
Programa de Combate à Pobreza Rural
ARTIGOS 47 (PCPR), executado no Piauí pela
1 – Saneameto básico no semiárido do Piauí – saúde e 48 Coordenadoria de Combate à Pobreza Rural
cidadania também se faz com infraestrutura (CCPR).
e tecnologias leves
Adriana Lima Barros, Izabel Herika Esse Programa surgiu para beneficiar famílias
Gomes Matias e Lúcia da Silva Vilarinho rurais pobres de estados do Nordeste
brasileiro com projetos comunitários, visando
2 – Projeto de combate à pobreza rural – PCPR 56 à melhoria das condições de vida dessa
situação e perspectivas – período 2002-2007 população. No entanto, focalizamos apenas
Alejo Lerzundi Silvera
o caso do Piauí, mostrando não só um relato
3 – Conselhos Municipais do FUMAC – mecanismos de 86 sobre as ações do PCPR no Estado, desde a
controle social na implementação das ações do projeto sua origem, como também opiniões
de combate à pobreza rural – PCPR II no Estado do Piauí controversas quanto ao seu desempenho
Francisco Batista Pontes para o desenvolvimento rural do Piauí.

4 – Formação do capital social nas comunidades pelo projeto 102 Isso e muito mais, o leitor vai encontrar ao
de combate à pobreza rural – PCPR no Estado do Piauí longo das matérias, no debate Carta CEPRO
Leoni Quaresma de Melo e em diversos artigos relacionados ao tema.
5 – Tecnologia Social PAIS – Produção Agroecológica 112
Boa leitura.
Integrada Sustentável: uma estratégia de promoção do
desenvolvimento rural sustentável no semiárido do Piauí
Maria Elza Soares da Silva e Oscar de Barros Sousa
Cristiane Lopes Carneiro de Souza Presidente da Fundação Cepro

v.25, n. 1, 2009

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Carta CEPRO, Teresina, Fundação CEPRO – v.1 – nov. 1974 –

“A periodicidade varia”

A publicação não circulou nos anos de 1979, 1985, 1989-90, 1992-93, 1996-98,
2004, 2006, 2008.

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1. Situação socioeconômica – Piauí – Periódicos.


2. Economia do Piauí – Periódicos. I. Fundação CEPRO.

CDU 308+338 (812.2) (05)

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Por Ana Cláudia Amorim

Demografia
A Fundação Cepro agora tem um Núcleo de
Estudos Demográficos que vai integrar um gru-

Arquivo CEPRO
po de trabalho com o objetivo de consolidar
metodologias voltadas para estudos populacio-
nais, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE). A Cepro vai traba-
lhar com o Sistema de Projeção da População
para Pequenas Áreas (SIPROJ) do IBGE, em
que já atuam alguns estados como São Paulo,
Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná.
De acordo com o presidente da Cepro, Os- (ANIPES), além do próprio IBGE. Ele informou que
car de Barros, a equipe da Cepro está em fase os estudos populacionais para pequenas áreas são
de treinamento, mas o Piauí já participa das dis- de competência dos estados e municípios, “por isso a
cussões há três anos, durante encontros realiza- Cepro está se estruturando para fazer a sua parte,
dos pela Associação Nacional das Instituições antes, inclusive, da realização de capacitações dos
de Planejamento, Pesquisa e Estatística estados pelo IBGE”, diz.

Turismo
A Fundação Cepro vai elaborar uma nova em Teresina, São Raimundo Nonato e Litoral do
edição do guia turístico do Estado Polos Tu- Piauí (Parnaíba e Luís Correia); Cadastro da
rísticos e Roteiros. Para isso será firmado Rede Hoteleira em Teresina, produzido anual-
convênio entre a Fundação e a Secretaria Es- mente; Levantamento da Oferta Turística, rea-
tadual de Turismo (SETUR). O órgão tem ou- lizado em 2006 na região de São Raimundo
tros trabalhos na área como a pesquisa De- Nonato; e Polos Turísticos e Roteiros, elabora-
manda Turista, realizada quatro vezes ao ano do em 2002.

Serra da Capivara

Aureliano Muller

v.25, n. 1, 2009

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IDGM
Variando de zero a um, o IDGM ava-
Todos os 11 Territórios do Estado do Piauí liou os municípios com os conceitos de
têm conceito regular em relação ao desempe- péssimo (0/0,200), ruim (0,201/0,400), regu-
nho da gestão dos municípios. Foi o que verifi- lar (0,401/0,600), bom (0,601/0,800) e ótimo
cou a Fundação Cepro por meio do Índice de (0,801/1.000) por meio de 18 indicadores e os
Desempenho da Gestão Municipal (IDGM), fatores de desempenho fiscal, emprego formal,
mecanismo criado pelo órgão com o objetivo saúde, educação e cultura, meio ambiente e
de avaliar a administração municipal. assistência social, nos anos de 2002 e 2006.

Potencialidades e qualificação
O turismo está entre as novas tendências de atividades econômicas a serem desenvolvidas em
sete dos 11 territórios piauienses, assim como a apicultura. Foi o que constatou a pesquisa Identifica-
ção das Potencialidades Econômicas e Áreas Carentes de Qualificação de Mão-de-obra no
Estado, realizada pela Fundação Cepro, a pedido da então Secretaria Estadual do Trabalho, Desen-
volvimento Econômico, Tecnológico e Turismo (SETDETUR). Essa tendência para o turismo apon-
tou a necessidade de qualificação de mão-de-obra nas áreas de hotelaria, bares, comércio, prepara-
ção de alimentos, guias turísticos, taxista e mototaxista.
A pesquisa revela o potencial econômico e as carências de qualificação de mão-de-obra específi-
cas de cada um dos territórios. Entre as potencialidades identificadas, a agricultura (tradicional, irrigada,
de subsistência ou familiar) está presente em todos os territórios. No entanto há carência de qualifica-
ção de mão-de-obra na área de operadores e manutenção de máquinas agrícolas em todos eles.

Emprego formal
O número de trabalhadores com
carteira assinada no Piauí passou de
130 mil em 1985 para 293 mil em
Arquivo CEPRO

2006, uma variação de 124%. Esses


dados foram revelados pela pesqui-
sa Evolução do Emprego Formal
no Piauí, realizada pela Fundação
Reunião técnica Cepro. O trabalho faz uma aborda-
gem quantitativa e qualitativa do
Em 2008, o Piauí sediou o Encontro de Técnicos
emprego formal no Estado e nas ci-
da Área de Pesquisa, Planejamento e Estatísticas
dades de Teresina, Campo Maior,
dos Estados do Nordeste, com o objetivo de discutir e
Floriano, Parnaíba, Picos, Piripiri, São
nivelar a metodologia de pesquisas e mensuração de
Raimundo Nonato e Uruçuí no perí-
agregados turísticos da região Nordeste. O evento foi
odo de 1985 a 2006. A pesquisa re-
uma ação conjunta da Comissão de Turismo Integrado
fere-se aos estabelecimentos, víncu-
do Nordeste (CTI-NE) com a Fundação Cepro e Se-
los empregatícios, faixa etária, esco-
cretaria Estadual do Turismo.
laridade e salário médio.

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Emenda
A Fundação Cepro agradece aos deputados estaduais
Arquivo ALEPI

Arquivo ALEPI
Paulo Martins (PT) e João Madison (PMDB) que apre-
sentaram emenda, a título de “reserva de
contingenciamento” ao Projeto de Lei Orçamentária Es-
tadual de 2009, em favor da Fundação, no valor de R$ 30
mil, destinado ao custeio de estudos e trabalhos realiza-
Deputado Estadual dos pela Fundação como a Carta CEPRO e o Piauí em Deputado Estadual
Paulo Martins Números. Isso mostra o comprometimento desses parla- João Madison
mentares com a socialização de conhecimentos da reali-
dade social, econômica e financeira do Estado.

História Oral Homenagem


Comprometida com o resgate da história do A Fundação Cepro presta
Piauí, a Cepro gravou depoimentos de diver- homenagem ao eterno amigo
sas personalidades do Estado através do ex- e ex-servidor do órgão, Almir
tinto Núcleo de História Oral do órgão. Atual- Cassimiro Queiroga, falecido
mente, todo o material como fitas, microfilmes em abril de 2008. Muitas foram
com jornais piauienses e com manuscritos so- suas contribuições para que a
bre o Piauí estão sob os cuidados da Fundação Cepro divulgasse estudos e pesquisas
Cultural do Estado por meio de contrato fir- sobre a área socioeconômica do Estado do Piauí.
mado entre os dois órgãos. Almir será sempre lembrado com carinho pela
alegria e exemplo de pessoa que foi em vida.

Biblioteca
A Biblioteca Pádua Ramos, da Fundação Cepro,
existente há 38 anos, agora está com novo endereço,
situada na Avenida Miguel Rosa, 3265, próxima à
sede do órgão. Aberta ao público para consultas de
segunda a sexta-feira, no horário de 7h30 às 17h30,
Marcos Coordeiro

a biblioteca passa por um processo de reorganização


em local acessível e ambiente confortável para me-
lhor atender ao usuário.
O acervo é composto por milhares de livros e pe-
riódicos sobre temas ligados às áreas de
socioeconomia, história, geografia, turismo, estatísti-
ca, planejamento, demografia, política, direito, agri-
cultura, administração, meio ambiente, entre outros.
A maioria deles relacionados ao Estado do Piauí, re-
sultado de estudos produzidos pela Cepro e, também,
por outras instituições do Governo. Existem ainda pu-
blicações adquiridas pelo órgão junto a outros institu-
tos de pesquisas e autores diversos.

v.25, n. 1, 2009

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POBREZA
Por Ana Cláudia Amorim

AS MÚLTIPLAS FACES DA POBREZA


O que é pobreza? O que de- tões controversas e causadoras com o objetivo de ajudar a sus-
termina a qualificação de uma pes- de muitos debates. tentar a ordem econômica e fi-
soa, grupo, comunidade ou socie- Organizações internacio- nanceira mundial, define a po-
dade como pobre? Indagações nais consideram o problema da breza extrema como viver com
como essas são, há muito, feitas e pobreza para além da econo- menos de 1 dólar por dia e po-
refeitas todos os dias por aqueles mia, tendo as relações sociais breza moderada como viver com
que desejam acabar com a pobre- como elementos-chaves para 1 e 2 dólares por dia.
za no mundo. compreendê-la. A União Europeia identifi-
Antes de qualquer elucida- O Banco Mundial, organis- ca a pobreza em termos de “dis-
ção de conceitos, é preciso dizer mo internacional multilateral, tância econômica” relativamen-
que as causas primeiras da pobre- criado em 1944, que integra o te a 60% do rendimento media-
za e a sua eliminação são ques- Sistema das Nações Unidas no da sociedade.

No Brasil, a pobreza ganha vários significados entre os estudiosos da área:


“É um estado habitual de priva- so às oportunidades de emprego e gios que o modelo de produção
ção de bens supérfluos, carência renda; desproteção por falta de am- de bens especiais (bens de luxo)
de bens necessários à condição e paro público adequado e geraram na população”.
desempenho social e estrita sufi- inoperância dos direitos básicos de (ALDAÍZA SPOSATI).
ciência dos bens necessários à cidadania que incluem garantias à
subsistência”. subsistência e ao bem-estar”. * * * *
(BASTOS DE ÁVILA). (SÉRGIO ABRANCHES).
“É privação de cidadania, ou
* * * * * * * * seja, é pobre também a pessoa
que vive em estado de manipula-
“É destituição, marginalidade e “Expressa-se não só pela impossi- ção, ou destituída de consciên-
desproteção: destituição dos mei- bilidade de suprir as condições mí- cia de sua opressão, ou coibida
os de sobrevivência física; nimas de sobrevivência, mas tam- de se organizar em defesa de seus
marginalização no usufruto dos bém pela frustração de expectativas direitos”.
benefícios do processo e no aces- pela falta de acesso a certos privilé- (PEDRO DEMO).

Percebe-se que a pobreza rência social, expressa na falta de culturais e subjetivos, sendo este
não é definida apenas como ca- acesso à educação, por exemplo; último entendido como frustração
rência de rendimento. Ela pode ser carência subjetiva, vista como a de expectativas.
entendida em vários sentidos como falta de atendimento de anseios e De acordo com Zita Alves
carência material de bens e servi- desejos. Vilar, assistente social e mestra
ços essenciais à vida cotidiana A pobreza, então, é multidi- em Políticas Públicas pela Uni-
como alimentação, assistência à mensional com aspectos socioló- versidade Federal do Piauí
saúde, vestuário e habitação; ca- gicos, econômicos, pedagógicos, (UFPI), se um programa de

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13
Brasil

Para fins de políticas pú-


blicas, oficialmente, no Bra-
sil, tem-se, em geral, consi-
derado que os indivíduos em
Marcos Coordeiro

situação de indigência ou de
extrema pobreza são aque-
les cuja renda mensal domi-
ciliar per capita é inferior a
¼ do salário mínimo, renda
que não é considerada sufi-
ciente para garantir-lhes o
acesso diário a uma alimen-
tação adequada.
O grupo identificado como
Professora Zita Alves pobre é aquele cuja renda do-
miciliar mensal situa-se abai-
combate à pobreza for aplicado dem a determinadas necessida- xo do patamar de ½ salário mí-
numa localidade cuja realidade des”, diz Zita Alves. nimo, renda reconhecida
é diferente daquela onde foi ela- No entanto, a assistente so-
como insuficiente para cobrir
borado o conceito de pobreza uti- cial observa que é preciso traba-
lizado por esse programa, as pos- lhar ações focais sem perder a vi- suas necessidades básicas
sibilidades de acertos são míni- são da universalidade, ou seja, ali- tais como moradia, transpor-
mas. “Isso porque cada região, ar projetos universais de combate te, saúde e educação.
grupo, comunidade ou socieda- à pobreza com projetos compen-
Dados da Pesquisa Nacio-
de têm suas peculiaridades que satórios.
não são encontradas em nenhum O que isso significa? Segun- nal por Amostra de Domicíli-
outro lugar.” do ela, isso denota adaptar proje- os (PNAD), referente ao ano
Ela sugere a construção de tos mais amplos a necessidades lo- de 2007, revelam que no Bra-
conceitos de pobrezas coerentes cais. “Os diversos conceitos teó-
sil 7,5 milhões de pessoas
com realidades específicas. “A ricos não abarcam a realidade, pois
gente discute pobreza, mas não se existem pobrezas, nada é homo- sobrevivem com rendimento
pergunta quem é o pobre. Preci- gêneo. Portanto, devem-se cons- mensal de até ½ salário míni-
samos pesquisar e entender quem truir conceitos de pobrezas, inclu- mo, o Nordeste concentra a
é o pobre para podermos ter uma indo o conhecimento conjetural metade delas e, no Piauí, 469
ideia dessa pobreza, para criarmos específico da localidade a ser be-
mil pessoas têm renda domi-
estratégias que realmente atendam neficiada na elaboração desses
essa pobreza. Os vários conceitos conceitos e consequentemente ciliar mensal de até meio sa-
de pobreza que existem hoje até o ações de combate à pobreza que lário mínimo.
do Banco Mundial ainda não aten- devem ser transversais”, orienta.

v.25, n. 1, 2009

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14 POBREZA
A Secretaria Nacional de
Renda e Cidadania do Ministério
do Desenvolvimento Social e Com-
bate à Fome, para beneficiar fa-
mílias no programa social de trans-
ferência de renda Bolsa Família,
estima que no Estado do Piauí exis-
tem 352 mil famílias pobres, com
base em dados do Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatística
(IBGE), referente ao ano de 2004.
Famílias essas cuja renda mensal
per capita é de até R$ 120,00.

Esforços internacionais
de combate à pobreza
A mobilização de apoio polí-
tico e financeiro para a erradica-
ção da extrema pobreza e da fome
está no centro da agenda mundial.
Tal ação, inclusive, é o primeiro
dentre os oito Objetivos do Desen-
volvimento do Milênio (ODM) da
Organização das Nações Unidas De acordo com o Relatório vestimentos Estratégicos (SPI/
(ONU), pactuado durante a reu- Nacional de Acompanhamento dos MP), o Brasil caminha para atingir,
nião da Cúpula do Milênio, reali- Objetivos do Desenvolvimento do em 2015, todas as metas propostas
zada em Nova Iorque, no ano de Milênio, feito pela Presidência da pela ONU, sendo que algumas de-
2000, com líderes de 191 nações, República, no ano de 2007, sob a las já foram alcançadas, como as
entre as quais o Brasil, para tor- coordenação do Instituto de Pes- que estabelecem a redução à me-
nar o mundo mais solidário e mais quisa Econômica Aplicada (Ipea) e tade, no período entre 1990 e 2015,
justo até o ano de 2015. da Secretaria do Planejamento e In- da extrema pobreza e da fome.

Segundo o relatório, o Brasil a 1 dólar ponderado pela PPC (Pa- miciliar per capita inferior a 1 dó-
já ultrapassou a meta de reduzir ridade do Poder de Compra) por lar PPC por dia, 4,7 milhões deixa-
pela metade a proporção da popu- dia. Embora cerca de 7,5 milhões ram a condição de extrema pobre-
lação que vive com renda inferior de pessoas ainda tenham renda do- za entre os anos de 1990 e 2005.

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No entanto, milhares de pes- as quais o Brasil tem dado supor- para apresentar importantes de-
soas ainda morrem por ano no país te, com o objetivo de permitir que mandas internacionais, tais como
devido às chamadas “doenças da outras nações de menor desenvol- a necessidade de menor
pobreza”. De acordo com o rela- vimento relativo também alcancem volatilidade no sistema financei-
tório Indicadores e Dados Básicos, os ODM. Dessa forma, o Gover- ro internacional e de redução no
Brasil 2007 (IDB), publicado pelo no brasileiro tem implementado protecionismo comercial das na-
Ministério da Saúde, somente no medidas estruturais, como a firme ções desenvolvidas, assim como
ano de 2005, morreram no Brasil defesa de uma política de comér- de um substancial aumento da
46.628 pessoas devido a doenças cio exterior mais aberta e menos Ajuda Oficial ao Desenvolvimen-
infecciosas e parasitárias, entre as assimétrica, e também de cunho to (AOD) e da cooperação téc-
quais dengue, febre amarela, mais direto, como cerca de 200 nica internacional.
hanseníase, tuberculose e diarréia. projetos de cooperação técnica in- De acordo com o presiden-
Na região Nordeste, esse número ternacional que o Brasil financia. te da Fundação Cepro, Oscar de
foi de 12.262 e no Estado do Piauí No entanto, o mesmo rela- Barros, isso se torna necessário
foram registrados 579 óbitos no tório, ressalva que apesar de en- porque a ajuda internacional tem
mesmo período. tender que os Objetivos do De- sido alvo de críticas no que diz res-
A maioria dos países desen- senvolvimento do Milênio não peito às reais intenções dos doa-
volvidos envia ajuda aos países em substituem os compromissos as- dores. “Será que estão realmente
desenvolvimento. O 3º Relatório sumidos por todas as nações do empenhados no desenvolvimento
Nacional de Acompanhamento dos planeta durante o Ciclo de Con- econômico e social dos países
Objetivos do Desenvolvimento do ferências das Nações Unidas, mais pobres ou essa ajuda tem li-
Milênio (ODM) observa que tão ocorrido durante a década de gação com o passado colonial,
relevante como os seus avanços 1990, o Governo considera essa visando à perpetuação de suas
obtidos no alcance das metas pro- estratégia pró-desenvolvimento estratégias de interesses comer-
postas pelo país são as ações para da ONU um fórum apropriado ciais e políticos?”, indaga.

v.25, n. 1, 2009

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PROJETOS

Por Ana Cláudia Amorim

PCPR: ORIGEM E
TRAJETÓRIA NO PIAUÍ
A pobreza é mais expres- pobreza, ou seja, tem renda de famílias rurais vivendo abai-
siva no meio rural brasileiro, mensal per capita inferior a ¼ xo da linha de pobreza. No
mais da metade das pessoas de salário mínimo. Dados do Nordeste, são 1,5 milhão de
que vivem no meio rural do IBGE revelam que no Brasil, famílias. No Piauí, a soma che-
país estão abaixo da linha de em 2007, existiam 2,4 milhões ga a 141 mil famílias.
Arquivo CCPR

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17
O Programa de Combate à
Pobreza Rural (PCPR) surgiu A metodologia do PCPR até dezembro de 2007
para beneficiar famílias rurais definiu três formas de intervenção para viabilização
pobres de estados do Nordeste dos projetos comunitários:
brasileiro com projetos comuni-
tários, visando à melhoria das 1. Programa de Apoio Comunitário – PAC
condições de vida dessa popu- A comunidade se reúne, define prioridades, classifica-as por ordem de importância,
lação. Iniciado em 1993 com o elege sua associação e submete diretamente o projeto à aprovação. Uma vez que o
nome de Projeto de Apoio aos projeto é aprovado, 90% dos recursos são entregues à associação da comunidade,
que adiciona os 10% restantes em forma de trabalho ou dinheiro. A associação executa
Pequenos Produtores Rurais
o projeto, presta contas e se encarrega da operação futura.
(PAPPs) que partia do princí-
pio de que a família pobre do 2. Fundo Municipal de Apoio Comunitário – FUMAC
meio rural necessitava de mei-
A comunidade se reúne, define prioridades, classifica-as por ordem de importância,
os de produção para poder pro-
elege sua associação e submete os projetos ao Conselho Municipal. Este, do qual
duzir, utilizando os componen- participam representantes das comunidades, examina os projetos de todas as comuni-
tes de acesso a terra, ao crédi- dades, atesta se essas são realmente elegíveis, ou seja, se são pessoas pobres, com
to, à assistência técnica e à co- baixo nível de renda, sem alternativa; em seguida, faz a seleção das propostas e as
mercialização. envia à Unidade Técnica (UT) para financiamento. A UT faz visitas prévias, analisa a
Financiado pelo Banco Mun- viabilidade técnica e social do projeto e libera os recursos diretamente para a associa-
dial, o PCPR adota a abordagem ção comunitária que executa o projeto, presta contas e se encarrega da operação
Community Driven Development futura. A supervisão do projeto é feita pela UT e o Conselho, que preparam a ata e
(CDD) que pode ser entendida entregam o projeto à associação comunitária para uso e operação.
como Desenvolvimento Coman-
3. Fundo Municipal de Apoio Comunitário-Piloto – FUMAC-P
dado pelas Demandas das Comu-
nidades. Nas regiões em que o Conselho está mais desenvolvido, ele mesmo financia o projeto,
com base no FUMAC-P gerido por ele, com recursos do projeto. Para isso, o Conselho
deverá ter responsabilidade jurídica, habilitada por cartório, tendo, ainda, a obrigação
de elaborar planos de desenvolvimento municipal, para viabilizar a aplicação dos
recursos. Compete à UT liberar os recursos a uma conta do Conselho, cabendo-lhe o
papel de supervisionar o processo.
No futuro, espera-se que todos os municípios passem para a categoria de FUMAC-P.
Essa estratégia tem cinco características que estavam ausentes na sistemática anterior:
1 - Cada projeto tem endereço claro que pode ser localizado e visitado (antes, como
não havia integração na prática, era difícil localizar as comunidades beneficiadas);
2 - A comunidade se sente dona do projeto porque foi ela que decidiu o que fazer,
executou e continua administrando, o Governo só ajudou;
3 - É mais fácil atribuir responsabilidades em caso de problemas porque se sabe exa-
tamente quem recebeu o dinheiro e como foi gasto;
4 - O processo é transparente e participativo;
5 - A questão da sustentabilidade. Porque o projeto é da comunidade, ela tem motiva-
ção para mantê-lo. Isso representa uma grande diferença em relação à situação
anterior, quando o Governo construía os projetos e, se havia algum problema, a
comunidade ficava aguardando que o Governo mandasse resolvê-lo. Isso, às
vezes, nunca acontecia. A comunidade é soberana para buscar apoio técnico onde
queira. Em alguns estados, o Governo se coloca disponível para prestar essa
assistência, se solicitado. Mas a comunidade pode preferir uma Ong ou um técnico
independente.

v.25, n. 1, 2009

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18 PROJETOS
Arquivo CCPR

Piauí restantes para aqueles que es-


tão acima desse índice.
Maior transparência com o
poder dos conselhos e
Os projetos são variados, aten-
Os projetos comunitários, em associações
dendo às necessidades específi-
geral, são conhecidos como PAPP Nem sempre o PCPR desti-
cas de cada comunidade e são
ou PCPR, mas, nos vários Estados nou recursos aos municípios ten-
dos tipos produtivos, infraestrutu-
do Nordeste onde são executados do como referência o IDH. Até
rais e sociais, como os listados a
ganham denominações locais. No 2005, não existia uma linha de po-
entanto, seguem a mesma siste- seguir.
breza e os projetos eram executa-
mática, com pequenas variantes. dos de acordo com a demanda.
No Piauí, por exemplo, recebeu os • Produtivo: matadouro públi-
Segundo Alejo Lerzundi, Con-
nomes de Programa Dom Avelar e co, casa de mel, piscicultura,
sultor do Instituto Interamericano
posteriormente, Dar as Mãos. equipamentos agrícolas, fábri-
de Cooperação para a Agricultura
No Piauí, de 1998 até dezem- ca de roupa com equipamen-
(IICA), desde 1992, a participação
bro de 2007, o Programa bene- tos e acessórios como máqui-
das associações comunitárias é uma
ficiou 170.117 famílias com na de costura, ferro elétrico, tá-
característica marcante das políti-
2.174 projetos comunitários, de- bua de passar e tesoura, uni-
cas e programas de desenvolvimen-
finidos e mantidos por elas pró- dades de beneficiamento de
to rural. Apesar das propostas se
prias, organizadas em associa- cereais e equipamentos, mer-
encontrarem calcadas num discur-
ções comunitárias. Nesse perí- cado público comunitário, ca-
so democrático e participativo, al-
odo, o PCPR do Piauí investiu noas e material de pesca.
guns pesquisadores têm mostrado
R$ 129.277.422,00, com os em- • Infraestrutura: eletrificação, que a participação, no antigo PAPP,
préstimos do Banco Mundial e poço tubular, reservatório, bar- tendia a assumir a conotação de
contrapartidas do Estado. ragem, chafariz, sistema de dádiva, criando espaço para o fa-
Atualmente, o PCPR está em abastecimento d’água, passa- vor e a troca. “Os produtores atra-
todos os 223 municípios do Es- gem molhada, pontão, gale- vés de seus representantes, pedi-
tado e adota uma linha de pobre-
ria pluvial subterrânea e pon- am o que eles achavam que esta-
za relacionada ao Índice de De-
te de concreto. vam precisando naquele momento
senvolvimento Humano (IDH),
em que 70% dos recursos são • Social: posto telefônico, posto e o programa atendia, ocorre que
destinados aos municípios com de saúde, fossa séptica, cre- as demandas por determinados sub-
IDH abaixo de 0,590 e os 30% che comunitária e cisterna. projetos, obedeciam menos a ne-
cessidades objetivas da vida daque-

Carta CEPRO n25_5.pmd 18 7/13/2009, 7:40 PM


19
de educação, saúde e para a mo-
dernização da base produtiva.
Associações e conselhos
municipais se constituem em duas
organizações chaves para o de-
senvolvimento local, aquelas geran-
do capacidades para tornarem-se
efetivamente o centro de atuação
de qualquer empreendimento e
estes para dar oportunidade à so-
ciedade civil organizada de parti-
cipar do desenvolvimento munici-
pal sustentável. Promover essas
capacidades é o principal objetivo
do PCPR no Piauí.
les produtores, do que a desígnios paralelo, para-político’, que Mas foi a partir de 2003 que
alheios ao seu cotidiano.” aglutina mais que os partidos polí- houve uma mudança de perfil para
Nos momentos atuais, a ticos e a partir do qual se estrutu- melhor, com uma participação mais
horizontalização das informações, ra a ação política. Para isso, im- democrática em que os órgãos
as campanhas de divulgação e a porta, certamente, uma convivên- governamentais têm, cada vez
educação com uso de métodos cia mais ativa e igualitária dos as- mais, menor participação, com o
participativos, voltadas ao resgate sociados na própria organização. envolvimento maior da sociedade
da cidadania por parte do PCPR, Importam, igualmente sua capaci- civil, conselhos e igrejas.
bem como as novas formas de ar- tação e formação democrática. A
ticulação e intermediação de inte- importância de pensar no outro”. PCPR I
resses instituídos através dos con- O modelo associativo e a re- No período de 1998 a 2001,
selhos e as próprias associações, presentação municipal através de quando foi executado o PCPR I
têm como principal característica o conselhos, orientados pelo Estado, com a forma de intervenção do
desenvolvimento local sustentável. resultam em organizações com subprograma Fumac, foram libe-
Nesse sentido, as associações, as- duplo objetivo: prestação de servi- rados R$ 44.371.486,99 para ins-
sim como, os sindicatos, os parti- ços de promoção humana e social talação de 793 projetos, benefici-
dos políticos e os movimentos soci- aos moradores da localidade e re- ando 87.111 famílias. É importan-
ais, se constituem como novos ato- passe de recursos oficiais. Com te destacar que há comunidades
res da sociedade civil, viabilizam variações de uma para outra, suas com mais de uma associação e co-
exigências emergentes no âmbito ações se orientam, assim, para munidades que receberam mais de
das relações cotidianas, visando sua infraestrutura básica, os serviços um subprojeto.
transposição do “mundo da vida”
para o plano público e constitui um
contraponto fundamental dos inte-
resses particularistas levados ao
sistema político.
O consultor diz que, nessa
perspectiva, a principal função das
associações é negociar com o Go-
verno. “Tais entidades apresen-
tam-se, portanto, como ‘sistema

v.25, n. 1, 2009

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20 PROJETOS
PCPR II Fase I valor de US$ 60 milhões, sendo lhões restantes (10% dos recur-
Em 2002, o Banco Mundial US$ 45 milhões financiados pelo sos) dados como contrapartida
assinou um contrato para a Banco, US$ 12 milhões do Go- pela comunidade através de mão-
implementação do PCPR II no verno do Piauí e os US$ 3 mi- -de-obra.
O PCPR II atua em 221 mu-
nicípios. Para a primeira fase, fo-
ram destinados US$ 30 milhões,
dos quais US$ 22,5 milhões oriun-
dos do empréstimo e US$ 7,5 mi-
lhões referente à contrapartida
estadual e contribuição dos
beneficiários.
O resultado é que, de 2002
até o final de 2007, foram benefi-
ciadas 83 mil famílias de 1.131
associações com 1.381 projetos
em 209 municípios.

Sustentabilidade e qualidade de vida


De acordo com o Diretor Presidente da Coordenadoria de Combate à Pobreza Rural (CCPR),
que executa o PCPR no Piauí, Fernando Danda, os projetos proporcionam melhoria quantitativa
Arquivo CCPR

e qualitativa do contexto social e organizacional das comunidades beneficiárias. “Isso porque


reduz índices de doenças e de mortalidade infantil, levam às comunidades melhoramento educa-
cional, de infraestrutura e de emponderamento e, consequentemente, elevam a autoestima.”
O Programa trabalhou muito na área da infraestrutura com abastecimento d’água e eletrifi-
cação. Hoje com os projetos produtivos, o foco é a sustentabilidade, fazendo com que as
famílias consigam uma renda familiar mensal mínima de R$ 500,00. “Estamos tentando de
alguma forma manter o homem no campo com infraestrutura, projetos produtivos e educação.
E os resultados podem ser vistos, pois, na proporção em que os projetos são implementados,
Fernando Danda, Diretor percebemos um retorno de pessoas e até famílias para o Piauí. O desejo do piauiense é estar
Presidente do CCPR no Piauí na sua terra”, comenta.

Gênero, geração e etnia estatísticas sobre a população indí- populações. Até junho de 2005,
Segundo um relatório elabo- gena são muito contraditórias e não pelo menos oito subprojetos foram
rado pelo Instituto Civitas, das po- há um consenso sobre quantas tri- financiados em comunidades
pulações indígenas que habitavam bos teriam existido no Piauí. eminentemente negras dos muni-
o Piauí resta tão somente uma me- Quanto às populações rema- cípios de Paulistana, Redenção do
mória difusa e quase apagada na nescentes de quilombos, o PCPR Gurguéia, Queimada Nova,
sociedade piauiense atual. Deter- tem se articulado com movimen- Amarante, Esperantina, Isaías
minados costumes e hábitos indíge- tos sociais representativos das po- Coelho e Campo Largo, e, adicio-
nas ainda permanecem, mas não pulações negras com o intuito de nalmente, seis subprojetos nos
são assimilados como tais: a popu- se institucionalizar uma estratégia municípios de São Raimundo
lação desconhece de onde vêm. As direcionada para atender essas Nonato, São Lourenço, Coronel

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21
José Dias e João Costa para cons- conselheiros e lideranças co- Zero, que beneficia ambos os pro-
trução de unidades habitacionais munitárias; gramas, tendo, para o PCPR II, o
conjugadas com cisternas. 5. Seminários estaduais e regio- benefício de permitir focalizar suas
Com relação ao gênero, as nais para técnicos e lideran- ações em áreas de maior concen-
mulheres participam das atividades ças e representantes de po- tração da pobreza e, para o Fome
laborais em maior ou menor grau deres constituídos sobre Fi- Zero, as vantagens de estar asso-
de intensidade, contribuindo, assim, nanciamentos Multilaterais, ciado a um programa de amplo
para a renda familiar. Relatórios Avaliação do PCPR e Ges- reconhecimento junto às comuni-
de supervisão indicam que tanto tão de Conhecimento para dades rurais e cujos mecanismos
mulheres como crianças e adoles- Lideranças Sindicais, Políti- participativos de implementação
centes, trabalham na lavoura ou cas e Comunitárias; são largamente conhecidos.
em outras atividades. 6. Cursos para técnicos sobre Dentre as parcerias com ou-
Formação de Multiplicadores tras instituições, tem destaque a
Ação integrada em Elaboração e Avaliação integração com o Serviço Brasi-
Uma determinação do gover- de Projetos no Âmbito do leiro de Apoio às Micro e Peque-
nador Wellington Dias é a PCPR; nas Empresas (Sebrae) desde
integração do PCPR com ações 7. Oficinas para técnicos sobre 2007, através da qual essa insti-
de outros órgãos do Estado como Análise e Discussão de Pro- tuição, realiza com recursos pró-
a Secretaria da Educação (Seduc), jetos Produtivos; prios, capacitações, trabalhando
Instituto de Assistência Técnica e 8. Seminários para socialização as potencialidades das comunida-
Extensão Rural (Emater) e o Pro- das normas e procedimentos des. “Isso é necessário porque,
grama de Convivência com o operacionais de projetos con- muitas vezes, recebemos deman-
Semiárido. Mas também com ou- jugados entre PCPR, Incra das de projetos produtivos como
tras instituições como a Caixa e Interpi; piscicultura, bacia leiteira,
Econômica Federal, Sebrae–Pi até 9. Seminários de imersão e ava- ovinocaprinocultura, apicultura,
mesmo ONGs e igrejas. liação de projetos produtivos fruticultura, artesanato, cajucultu-
Essas parcerias proporcio- com a participação de técni- ra, entre outros, mas a população
nam melhor mobilização e capaci- cos e produtores rurais e ofi- não está capacitada para tal”, ar-
tação. Desde o início da implemen- cinas para mobilização de li- gumenta Fernando Danda.
tação do PCPR II foi executada deranças políticas, sindicais Outra parceria é a realizada
uma ampla programação de capa- e comunitárias e renovação com a Caixa Econômica Federal,
citação/treinamento, entre os quais dos conselhos municipais. por meio da qual é executado o
destacam-se: Um exemplo de interação projeto Semeando Moradias, que,
1. Cursos para capacitação de com outro órgão do Governo é a desde 2007, já construiu 2.347 ca-
conselheiros do Fumac e li- parceria com o Programa Fome sas em 36 municípios.
deranças comunitárias;
2. Oficinas para capacitação de ONGs prestadoras de Assistência Técnica
técnicos de ONGs, OGs e • Centro de Assessoria aos Movimentos Populares (Camp);
conselheiros do Fumac; • Cooperativa de Desenvolvimento Humano e Serviços Técnicos (Carnaúba);
• Centro de Educação Popular Esperantinense (Cepes); Centro Piauiense de Ação Popular
3. Seminário Internacional so- (Cepac);
bre Desenvolvimento Rural • Cooperativa de Produção e Serviços de Técnicos Agrícolas do Piauí & Associados (Cootapi);
Sustentável para técnicos de • Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetapi);
ONGs, OGs e conselheiros • Obra Kolping Estadual do Piauí;
• Centro Educacional São Francisco de Assis (Cefas);
do Fumac; • Colégio Agrícola de Bom Jesus (CABJ);
4. Eventos de capacitação para • Centro Educacional de Entidades Reunidas (Cermo), Mandacaru Centro de Formação;
troca de experiências entre • Instituto Civitas “Cidadania e Políticas Públicas”.

v.25, n. 1, 2009

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PROJETOS

Por Sâmia Menezes

SEGUNDA FASE DO PCPR II INVESTE


US$ 22,5 MILHÕES NO PIAUÍ

Iniciada em 2008, a segunda aplicados em aquisição de máqui- Apis foi avaliada pelo Banco Mun-
fase do Programa de Combate à nas agrícolas, construção de cre- dial como a melhor infraestrutura
Pobreza Rural II (PCPR II) inves- che ou escolas, e produção de be- para o beneficiamento do mel da
tirá mais US$ 22,5 milhões em 222 bidas destiladas”, alerta. América do Sul. E trabalha com o
municípios do Estado, excluindo Nessa nova etapa, o Gover- mel dos pequenos produtores be-
somente a capital, Teresina. Os re- no do Estado aposta em investi- neficiados pelo PCPR”, declara o
cursos, oriundos de empréstimo fir- mentos em projetos produtivos e, diretor.
mado entre o Governo do Estado principalmente, na comercialização Para participar da segunda
e o Banco Mundial, devem ser apli- e até exportação dos produtos pro- etapa do PCPR II, as associações
cados até o ano de 2010. duzidos através das associações precisam se cadastrar junto ao
De acordo com o Diretor Pre- beneficiadas. “É lançado um gran- Programa, estar em dias com as
sidente da Coordenadoria de Com- de desafio às comunidades”, afir- obrigações sociais, diretoria reno-
bate à Pobreza Rural (CCPR), ma Fernando Danda. vada, propor a apresentação de
Fernando Danda, as associações Duas experiências do Piauí carta-consulta com o projeto.
interessadas já podem enviar car- serão integradas neste processo: “Nosso lema é plantar parcerias,
ta-consulta para a sede do Progra- Casa Apis, com a produção de mel; fincar raízes e colher qualidade de
ma. “Os recursos não podem ser e Cocajupi, com castanha. “A Casa vida”, acrescenta o diretor.
Arquivo CCOM

Governador do Piauí Wellington


Dias em visita à Cocajupi

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24

Francisco Leal
Por Sâmia Menezes

“...o povo foge da ignorância


apesar de viver tão perto dela
e sonham com melhores tempos idos
contemplam esta vida numa cela
esperam nova possibilidade
de verem esse mundo se acabar...”

Versos cantados por Zé Ramalho, esse trecho da música


Admirável Gado Novo expressa o sentimento, incontido, dos
milhares de beneficiários pelo Programa de Combate à Po-
breza Rural (PCPR) no Piauí. Para eles, o programa é essa
“nova possibilidade”, uma esperança quase morta que ressur-
ge com o sucesso de experiências em diversas comunidades
do Estado.
São eles, homens e mulheres do campo, os verdadeiros
protagonistas de uma história que ficará marcada para sem-
pre. Já profetizava Luiz Gonzaga em Nordeste pra Frente.

José Severino

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25

v.25, n. 1, 2009

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26 DESENVOLVIMENTO
“Sr. repórter já que tá me entrevistando do em obras e ganhando apenas entrar em outro”, comenta o agri-
vá anotando pra botar no seu jornal R$ 450,00 na época, não se com- cultor Antônio Wilson, beneficiário
que meu Nordeste tá mudado param à sua vida atual. “Aqui faço desde 2004. E tudo é decidido na
publique isso pra ficar documentado R$ 600,00 só com a venda de lei- coletividade. Com o dinheiro
te. Crio galinhas, abelhas, caprinos, ganhado no Prêmio eles construí-
Qualquer mocinha hoje veste minissaia
já tem homem com cabelo crescidinho
tenho minha roça, estou com a ram uma sede para a Associação,
O lambe-lambe no sertão já usa flash minha família e não corro risco de onde se reúnem uma vez por mês
carro de praça cobra pelo reloginho vida”, afirma. para discutir todos os assuntos re-
Raimundo Nonato é um dos lacionados ao assentamento.
Já tem conjunto com guitarra americana beneficiários do Projeto Crédito Entre eles, as histórias se re-
já tem hotel que serve whisky escocês Fundiário, uma das vertentes do petem. Não tinham terra, alguns
e tem matuto com gravata italiana Programa de Combate à Pobreza nem casa. Água e luz só a dos rios
ouvindo jogo no radinho japonês” Rural no Estado. A Associação da e do sol, respectivamente. Traba-
qual participa, composta por 14 lhavam para os outros. Hoje, con-
famílias, é destaque em gestão tam as cabeças de ovelha, bode,
A possibilidade de retonar a associativa e foi agraciada, em gado, galinha caipira, entre outros,
São Paulo para “tentar”a vida não 2005, com o Prêmio Piauí de Cré- espalhados em 177 hectares de
é nem de longe cogitada por dito Fundiário. “Tem que estar terra. “Aqui cada um cuida do que
Raimundo Nonato, do Assenta- sempre aprendendo”, revela ele. é seu. E, quando precisa, todos aju-
mento Birindibinha, em Cocal do Aprender e ousar talvez se- dam”, afirma Israel Cardoso de
Piauí. Os sete meses de experiên- jam os segredos. “Quem tá dentro Araújo, também beneficiário.
cia no Sudeste do Brasil, trabalhan- de um projeto já tá danado pra A cada dia uma nova ideia é
colocada em prática. Com o dinhei-
ro das galinhas, compraram um
carro para transportar a produção.
Na última safra, comercializaram
R$ 2 mil em farinha quebradinha e
goma. Há poucos dias, venderam
mais 600 galinhas para o Progra-
ma Compra Direta Local. Através
do Pronaf A, seis dos avicultores
fizeram curso de galinha caipira
(corte e postura).
E eles não param: através de
parceria com o Banco do Nordes-
Francisco Leal

te vão adquirir um refrigerador de


leite para comercializar em gran-
de produção. Um dos beneficiários
está fazendo o curso de técnico
agrícola na Escola Família Agrícola
de Pedro II e outros estão aguar-
dando a instalação da escola no
município de Cocal.

Raimundo Nonato

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27
Abc do Sertão, letra de A instalação da creche, que
Zé Dantas e Luiz Gonzaga hoje atende 12 crianças de 0 a 3 anos,
Lá no meu sertão pros caboclo lê foi construída também com dinheiro

Francisco Leal
Têm que aprender um outro ABC
recebido através do Prêmio Piauí de
O jota é ji, o éle é lê
O ésse é si, mas o érre Crédito Fundiário, por ser exemplo
Tem nome de rê em gestão associativa. A decisão foi
Até o ypsilon lá é pissilone das próprias mães, que tinham difi-
O eme é mê, O ene é nê culdade em ajudar os maridos por-
O efe é fê, o gê chama-se guê que não havia onde deixar as crian-
Na escola é engraçado ouvir-se tanto “ê”
A, bê, cê, dê, ças. “A prefeitura do município se
Fê, guê, lê, mê, recusou a instalar uma unidade no
Nê, pê, quê, rê, local por se tratar de um assenta-
Tê, vê e zê. Professora Lúcia Maria
mento. Como já era professora, tra-
de Araújo Sampaio
balhei um ano como voluntária, com
a ajuda das mães. Cada dia uma tra-
Exemplo em educação chegariam na escola bem melhor”,
zia a merenda”, relata a professora.
Se Luiz Gonzaga ainda fosse Hoje, através da Secretaria observa.
vivo, teria que começar a pensar Estadual da Educação, a creche re- Enquanto as crianças estudam,
em outra letra para essa música. cebe merenda, material escolar e de as mães já fazem novos planos. Es-
Ainda mais se conhecesse o entu- planejamento. “É um trabalho muito tão apostando na plantação de aba-
siasmo que permeia a creche do gratificante. Eu já tinha 11 anos de caxi. Um grupo de quatro mulheres
Assentamento Santo Antônio, em serviço. Tenho um imenso amor vai iniciar a plantação em três hec-
Piracuruca. Coordenado pela pro- pelas crianças”, afirma Lúcia, que tares de terra. “Começa com qua-
fessora Lúcia Maria de Araújo hoje vive ainda mais feliz porque o tro, mas as outras com certeza logo
Sampaio, com a participação ati- marido morava em São Paulo para vão se animar. Como todo começo,
va das mães, o projeto está trans- garantir o sustento da família e, com é difícil. Mas a melhora vai depen-
formando a desenvoltura das cri- o assentamento, estão todos unidos. der de cada uma das 30 famílias que
anças do assentamento, quer seja Um dos braços direito da cre- aqui vivem. Nem todos são iguais,
através da fala, da coordenação che, a mãe Luzia de Oliveira San- claro. Uns trabalham mais, outros
motora e até mesmo do compor- tos, não esconde o contentamen- menos. Estamos aprendendo”, de-
tamento. “Ficando só em casa, as to. “Batalhamos e conseguimos. A clara Francisco das Chagas Carva-
crianças ficam até matutas”, re- educação dos filhos depende mui- lho Filho, presidente da Associação.
truca Maria do Socorro, mãe das to da gente. A minha filha já faz as “Alguns ainda querem traba-
gêmeas Rayssa e Raylane, de 3 vogais. Se outras comunidades ti- lhar do jeito dos pais e dos avós.
anos, alunas da escolinha. vessem uma creche, as crianças Acham que é do jeito que Deus cria
macaco, diz o ditado. Depois, vão
se orientando e mundando. Às ve-
zes teimam achando que só é do jei-
to deles, mas logo se arrependem e
Francisco Leal

voltam. Aí é que tá o negócio”, co-


menta. “O único meio de sossegar
num lugar é esse. Tem gente que
não dá valor, mas quem é da roça
mesmo não se adapta com outra
vida”, acrescenta o presidente Fran-
cisco das Chagas.

Creche do Assentamento
Santo Antônio v.25, n. 1, 2009

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Francisco Leal

28 DESENVOLVIMENTO

Hermínio da Silva Maria do Socorro


Caprinos e hortaliças
Em Jatobá do Piauí, a criação também têm outros... aqui estamos parte”, afirma dona Maria do Socor-
de caprinos é o destaque. No Assen- no sossego”, observa Hermínio da ro, que já tem em seu quintal frutas e
tamento Baixão dos Tucuns, com- Silva, contemplando os 8,8 hectares legumes das mais variadas espéci-
posto por 22 famílias que ocupam de pasto para alimentar as criações. es. “Quando falta o café e o açúcar já
uma área de 520,17 hectares, são Lá também eles não perdem sei de onde tirar”, acrescenta ela, que
mais de 1.500 cabeças de apriscos, tempo. Um quarto da terra é destina- vende na cidade alguns legumes para
além da produção de hortaliças, ou- da à produção de legumes. Estão ajudar nas despesas da casa.
tro referencial. produzindo mandioca, de onde sai a Para dar certo, a receita é mui-
“A vida mudou!”, diz seu José goma e a farinha. E, ainda, mantêm ta conversa. “Temos que nos reunir
Severino, 45 anos, que antes de par- seis caixas de abelha, de onde tira- e conversar sempre. Também não
ticipar do projeto, nas palavras dele, ram 14 litros de mel, e que neste se- adianta pensar em fazer nada só.
terra só tinha mesmo nas unhas. “An- mestre vão ser usadas para a recu- Todos têm que decidir o que
tes só vivíamos de um lado para o peração ambiental e para garantir a acham melhor”, afirma a tesoureira
outro. Viver nas terras alheias é meio polinização das plantas. da Associação, Raimunda
ruim. Tem muita gente boa, mas “Cada um tem que fazer sua Rodrigues de Carvalho.

União sentamento foi implantado em 2004 afirma Genivaldo Marques dos


Já dizia Raul Seixas, que so- e conta com 22 famílias. Produ- Santos, primeiro presidente da
nho que se sonha só é só um so- zem melancia (120 toneladas na Associação.
nho, e sonho que se sonha junto é última safra), milho, coco babaçu, Com o dinheiro adquirido
realidade. E se depender dos mo- feijão, caprinos, entre outros. com o prêmio, eles construíram
radores do Assentamento Alto dos A ideia de criar cutias surgiu um galpão adequado para a cri-
Quirinos, em União, muitos outros a partir da necessidade de preser- ação, com capacidade para 40
sonhos serão reais num curto es- var a área de 388 hectares adqui- matrizes e cinco reprodutores. E
paço de tempo. Inovando, o grupo rida através do Projeto Crédito não faltam novas ideias. “Já
aposta na criação de cutia e já fala Fundiário. “Era uma área muito estamos começando a criação
em explorar turisticamente a área devastada por caçadores da re- de galinha caipira e queremos
assentada. gião. Então resolvemos executar preservar a área para fazer tu-
Destaque em Associativismo o projeto, inicialmente liberando rismo rural, ideia que iniciamos
e Educação Ambiental no Prêmio parte para a natureza e, posterior- numa capacitação e ainda
Piauí de Crédito Fundiário, o as- mente, começar a comercializar”, estamos elaborando”, comenta.

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29
A proposta é, de além de tri-
lhas, oferecer um pesque-pague,
aproveitando um riacho e um tan-

Francisco Leal
que com capacidade de 70 mil li-
tros de água para a criação de
alevinos. Com a água do tanque,
que precisa ser renovada, eles vão
investir numa horta irrigada. “Co-
meçamos a acreditar quando cor-
remos atrás e conseguimos a pro-
priedade e recursos. Antes, pen-
sávamos apenas em trabalhar
para ter pelo menos uma roça.
Hoje, conseguimos tudo isso e va-
mos sonhar mais para realizar”, Criação de cutia no Assentamento Alto dos Quirinos
afirma Genivaldo.
A certeza de conseguir é úni- necessidade do mundo estar se te Domingos Marques. “Mudamos
ca e mostra uma nova mentalida- desenvolvendo, acredito que esse um pouco de vida e porque não
de em pleno sertão. “Acreditamos desenvolvimento também vai che- melhorar mais?”, completa o agri-
porque já conseguimos parte. Pela gar aqui”, declara o atual presiden- cultor Manoel de Jesus.

Mais participação melhoria da qualidade de vida, ava- Alguns até no anonimato


As estatísticas revelam que qua- liação feita pelo Banco Mundial re- Para que nossas famílias
se 1,1 milhão de piauienses vivem na vela que 30% dos projetos piauien- Aqui no meio do mato
zona rural. Os dados, do Instituto Bra- ses resultam na melhoria na ques- Na vida sofrida e amarga
sileiro de Geografia e Estatística tão financeira das comunidades be- Possa ter um melhor trato
(IBGE) relativos ao Censo 2007, apon- neficiadas. Outra pesquisa, coorde- A Deus o autor supremo
tam um crescimento da população nada pela Universidade de Campinas Estamos a bendizer
rural, nos últimos oito anos, de 3,12%. (Unicamp) e pela Escola Superior de Pois água limpa e pura
São pessoas que há vários anos vivi- Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Agora vamos beber
am em precárias condições de habi- revela que, no Piauí, a renda das fa- E a todos que colaboraram
tação, fornecimento de água, luz, mílias beneficiadas pelo Crédito Queremos agradecer”
emprego, entre outros. Fundiário aumentou em 147%, o
Executado no Estado desde o maior índice do Brasil. E mais à frente:
ano 2000, o Programa de Combate A seguir, trechos de uma apre- “Se ficarmos desunidos
à Pobreza Rural (PCPR) está traba- sentação realizada pelas estudantes A luta é desigual
lhando em parceria com as associ- Viviane Larisse, de 11 anos, e Ana Cada um lá pro seu lado
ações comunitárias de todo o Esta- Rakel, de 12, de Acauã: Esse é um grande mal
do através de conselhos constituí- Pois o individualismo
dos pela sociedade civil. As associ- “Olá, meu irmão, minha irmã É um sentimento banal
ações são compostas por no míni- Vamos chegando para cá Deixemos de lado o egoísmo
mo 12 famílias. Pois quando a coisa é boa Vamos juntos caminhar
Todos os projetos possuem a Temos que comemorar Diga não ao comodismo
participação direta da população, do Vamos todos de mãos dadas Vamos todos participar
seu desenvolvimento à contrapartida Esse momento festejar Temos que aprender a ouvir,
com o trabalho. No que se refere à São tantos que contribuem A opinar e dialogar”

v.25, n. 1, 2009

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Arquivo CEPRO
Por Ana Cláudia Amorim

O combate à pobreza sempre se pautou como principal foco das ações dos
poderes públicos em todo o mundo. No entanto, diversas políticas de combate à
pobreza se mostram controversas diante dos olhos de muitos críticos, ou por não
condizerem com a realidade vivida pela população onde a ação é executada ou
por viciá-la em receber “esmolas”, impedindo-a de melhorar de vida de forma
independente de políticas públicas ditas por aqueles assistencialistas.
Por isso, a Fundação Cepro levou para o debate Carta CEPRO, realizado no
início de 2008 em parceria com a Rádio Pioneira de Teresina, dentro do Programa
Painel da Cidade, conduzido pelo radialista Joel Silva, o tema:
Oportunidades de emancipação/desvinculação do Programa de Com-
bate à Pobreza Rural e de outros programas sociais: os projetos produtivos
como porta de saída de programas sociais como o Bolsa Família.
O desligamento por opção própria dos beneficiários do principal programa
social do Governo Federal acontece em todo o país, inclusive no Piauí. A emanci-
pação dos beneficiários se dá a partir de investimentos do Governo em iniciativas
de geração de trabalho e renda própria superior à do Bolsa Família.
A seguir, os momentos principais do debate que teve como participantes
a professora Rosângela Sousa, doutora em Assistência Social; Alejo Lerzundi,
consultor do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura –
IICA e representante do PCPR; Manoel Simão, secretário de políticas agrí-
colas da Federação dos Trabalhadores em Agricultura (FETAG). Todos estes
foram convidados pela Cepro.
Para a ocasião deste debate, o advogado Gilberto Ferreira foi convidado
pela Rádio Pioneira, surpreedendo a Cepro que até então era quem, exclusiva-
mente, convidava os participantes.

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32 DEBATE CARTA CEPRO
Joel Silva, é uma companheira do bra-
Joel Silva
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sileiro há muitos anos. E, há muitos


anos, se fala em acabar com a fome,
mas a fome continua sendo campeã
no Piauí que, com mais de três mi-
lhões de habitantes, tem um terço da
população que não sabe o que vão
comer no dia seguinte. Não há uma
política nacional de segurança alimen-
tar. Então espero que nesse debate
de hoje se vejam as questões mais
importantes e que as autoridades
públicas adotem políticas públicas no
sentido de que essa história de com-
bater a fome chegue em um momento
em que nós vejamos que todos os
nossos irmãos terão a segurança de
que almoçarão, jantarão e tomarão
café no dia seguinte.

Joel Silva – Estão abertos os mi-


crofones para o Instituto Interameri-
cano de Cooperação para a Agricul-
tura, na pessoa do doutor Alejo
Lerzundi.

Alejo Lerzundi – Estou aqui re-


presentando Fernando Danda, Dire-
tor Presidente do Programa de Com-
bate à Pobreza Rural, que não se en-
Joel Silva – Oportunidades de oneira de Teresina e seus dirigentes e contra em Teresina, por questões de
emancipação/desvinculação do PCPR profissionais estão dando um exem- trabalho.
e de outros programas sociais: os pro- plo do que é fazer comunicação em
jetos produtivos como porta de saída função da educação e de uma educa- Joel Silva – É com enorme prazer
de programas sociais como o Bolsa ção crítica para a cidadania. É com que vamos ouvir a professora
Família. Esse é o assunto que vamos muita satisfação que a Fundação Rosângela Sousa, doutora em Assis-
discutir hoje, ouvindo as palavras ini- Cepro está aqui agradecendo a aber- tência Social.
ciais do presidente da Fundação tura da Rádio Pioneira.
Cepro, Oscar de Barros. Rosângela Sousa – Queria dizer
Joel Silva – Entre os convidados da nossa alegria em participar deste
Oscar de Barros – Quando a Rá- de hoje está o nosso colaborador per- debate Carta CEPRO e, principalmen-
dio Pioneira acata o convite da Fun- manente da Rádio Pioneira, doutor te, poder cumprimentar a todos os ou-
dação Cepro para promover uma série Gilberto Alves Ferreira, advogado tros que estão conosco neste proces-
de debates sobre diversos temas em criminalista, professor de Direito Pe- so. Lembrar também ao Gilberto que
que a gente costuma chamar de De- nal. Gostaríamos de ter a sua impres- essa tarefa de resolver o problema da
bate Carta CEPRO e discute uma são inicial sobre esse tema. fome não é uma tarefa exclusiva dos
temática como a que vamos discutir governos, mas uma tarefa da socieda-
hoje dos programas sociais do gover- Gilberto Ferreira – A produção de como um todo e, assim como ele
no mais focado para a questão do elegeu um tema de grande importân- mesmo coloca, é uma tarefa secular
homem do campo, no Programa de cia que é a discussão do Programa porque a fome no Brasil, no mundo e
Combate à Pobreza Rural, a Rádio Pi- de Combate à Pobreza Rural. A fome, no Piauí também é uma fome secular.

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Joel Silva – E agora nosso outro maior, na época da seca é choro pra peração para a Agricultura, Alejo
convidado o secretário de políticas todo lado. O próprio secretário de Lerzundi. Que possibilidades as au-
agrícolas da Fetag, Manoel Simão. Defesa Civil do Estado declarou que toridades têm de atender apelos para
tinha 1.380 poços tubulares perfura- que o homem do campo não deixe o
Manoel Simão – A gente veio em dos, mas sem estar equipados. E o seu habitat, para que o êxodo rural
nome da Fetag participar deste deba- povo passando sede e o Governo com- deixe de ser prejudicial à qualidade de
te para discutir a agricultura familiar prando água e distribuindo nos car- vida do camponês?
como um todo no Estado do Piauí, ros-pipa.
vendo a situação do Programa de Chega o inverno e não tem a se- Alejo Lerzundi – Entendo que as
Combate à Pobreza Rural. mente, as escolas são de péssima qua- autoridades em quase todos os paí-
lidade. Eu estava vendo um determi- ses que têm problema de fome estão
Joel Silva – Vi em um jornal hoje nado projeto onde há um avanço mui- muito preocupadas em resolver esse
dando conta de que países, em uma to grande, mas a escola só tem duas problema. No caso do Brasil, o setor
medida preventiva, estão concentran- salas de aula. Órgãos pra combater a pobre, que é composto por pessoas
do alimentos nas suas estruturas com fome, nós temos demais, temos o que podem ter acesso a alimentos,
temor pela sua escassez. Mas me veio Departamento Nacional de Obras Con- mas não têm acesso a outros bens,
aqui um conceito que se diz que a fome tra as Secas (DNOCS), temos o Insti- atinge 35% da população, mas aquele
no mundo tem duas características: a tuto Nacional de Colonização e Re- grupo que não tem acesso à alimenta-
fome da África por escassez e a fome forma Agrária (INCRA), Superinten- ção mínima necessária, são mais ou
do Brasil por concentração. Então se dência do Desenvolvimento do Nor- menos 15 milhões de pessoas.
essa escassez parece não ser tão so- deste (SUDENE), temos tantos ór- Há alguns dias, houve um debate
mente um caso africano que possa se gãos, entidades e recursos. Agora o na Fundação Cepro, quando discuti-
estender para o resto do mundo, eu recurso final sempre vai ficando nas mos conceitos de pobreza. Vejo que o
quero saber do doutor Gilberto se há empreiteiras. Existe o Programa Luz tema nos últimos tempos está na pau-
condições de fazer com que o homem para Todos e as pessoas continuam ta e como consequência disso e de
do campo permaneça no meio rural, na escuridão. Por que as pessoas vêm outras necessidades de discutir o pro-
não no sentido de aprisioná-lo, mas para a cidade? Atrás das luzes ou da blema também acontece esse debate.
de ter vontade de ficar lá com condi- ilusão porque na cidade na realidade Eu creio que falta ainda entender um
ções de produzir para si e para os de- é uma grande ilusão, porque aqui as pouco o problema. Para nós objetiva-
mais cidadãos. pessoas se encontram amontoadas, mente parece que foi uma coisa dada,
vivendo a miséria no seu mais alto que a fome está lá instalada e falamos
Gilberto Ferreira – A questão do estágio. de fome, mas, conceitualmente, não
abandono da zona rural é histórica, Portanto, Joel Silva, a nossa opi- logramos definir como é ela. E mais
assim como o fenômeno do êxodo ru- nião é no sentido de que as autorida- que isso, ainda não conseguimos en-
ral que teve seu desencadeamento, des em todos os níveis tenham sensi- tender quais são as causas da fome.
aproximadamente, na década de 40. bilidade, entendam que têm a função Historicamente, lendo a literatura a
Para se ter uma ideia, em 1940, 26% da de erradicar a fome, a miséria, e que respeito, vocês podem perceber como
população brasileira residia nas cida- essa é erradicada com programas de é grande a dissimulação para mostrar
des, as zonas urbanas, e 74%, na zona grande porte e grandes investimen- o problema e de tentar justificar a exis-
rural. Mas esse povo foi abandona- tos. tência dos pobres. Nos últimos anos,
do, não houve políticas públicas no o entendimento do problema ficou um
sentido de fixar o homem no campo Joel Silva – Então o senhor vê pouco mais aberto porque já que não
com todas as condições necessárias saída, vê uma alternativa. pode mais ser ocultado nem suporta-
para que ele sobrevivesse com digni- do. Fica muito evidente nos meios de
dade e lá produzisse. Gilberto Ferreira – Eu vejo que comunicação massiva, a internet e a
Hoje, nós temos uma realidade as pessoas estão fazendo de conta que globalização dão conta cada vez mais
muito diferente, 75% da população es- estão fazendo. do problema.
tão na zona urbana, em todas as cida- Então é bom saber quais são as
des, apenas 25% insistem em ficar no Joel Silva – Mas o senhor vê uma origens e a dimensão do problema.
campo. Agora o abandono desse saída. Vamos ouvir agora o consultor Não se pode curar simplesmente com
povo é gritante. O Piauí é o exemplo do Instituto Interamericano de Coo- políticas públicas focalizadas. Creio

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34 DEBATE CARTA CEPRO
car o que a gente tem e levar pra ou-
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Gilberto Ferreira tros países, outros povos. Então, isso


também, de alguma forma, explica um
pouco essa primeira colocação sua,
Joel. Acho muito importante que, no
nosso caso, temos uma diferença, por
exemplo, em relação à África, pois te-
mos como alimentar nosso povo, te-
mos um país com essa capacidade e
não temos a condição efetiva de fazer
isso porque parece que continuamos
ainda com a fome de concentração.
Mas aqui no Estado do Piauí, so-
bretudo, por uma iniciativa do Gover-
no, a primeira medida foi de estarmos
nos voltando para, independentemen-
te do local onde as pessoas moram,
se na zona rural ou na zona urbana,
um cadastramento que permitisse lo-
calizar as famílias mais pobres. A ação
concreta foi de fazer com que essas
famílias com problemas de carecimen-
to de todas as ordens e em situação
de vulnerabilidade econômica e soci-
al pudessem ter um recurso de trans-
ferência de renda que lhes garantisse
o acesso à alimentação básica.
Aliás, isso não foi nenhuma sur-
presa porque o próprio Presidente da
que tem que haver todo um processo seus recursos orientados para resol- República, após a eleição, anunciou
que vai durar muitos anos e envolve ver o problema da fome. que uma das lutas principais seria o
também no final a saída, por exemplo, de minimizar o problema da fome, até
de medidas de políticas como o Bolsa Joel Silva – Doutora Rosângela, por ser ele um conhecedor dessa área.
Família que resolve o problema de tem-se a expectativa em torno das ati- E obviamente que isso influenciou o
maneira digamos conjuntural, tempo- tudes da senhora, do conteúdo que governador Wellington Dias, na épo-
ral. Essas são necessárias e devem tem, da teoria tão eficaz, discutida, de- ca, para começar um trabalho pionei-
estar acompanhadas de políticas pú- batida nas salas de aula da universi- ro antes inclusive de existir no país
blicas que garantam sustentabilidade dade. A senhora, tendo a oportunida- uma lei voltada para a segurança ali-
principalmente, em termo de geração de de colocar em evidência agora de mentar que só veio acontecer em 2006.
de emprego e renda. forma prática, como é que vê o papel Wellington Dias, ainda em 2003, esta-
Dentro desse marco, o PCPR II cumprido até agora pelo PCPR em re- beleceu um órgão no Governo para se
Fase II é uma coisa pequena para a lação à manutenção do homem no dedicar sobre a compreensão da situ-
dimensão do problema. Para os últi- campo? ação de fome, de carecimento alimen-
mos três anos, temos um projeto que tar e semelhante.
tem o montante de 22,5 milhões de Rosângela Sousa – Primeiro, Qual a importância disso? É que a
dólares e que vai atender mais ou acho importante a gente estar colo- partir de então, começamos a compre-
menos cinco projetos em cada muni- cando que nós no Brasil temos, por ender duas coisas as quais não avan-
cípio, isso é pouco, muito pouco. exemplo, uma história de um país que çamos. Não vamos ficar em política de
Temos também agora o Programa de é, como dizem os estudiosos, nascido acusação, vazia, oca que não leva a
Aceleração do Crescimento (PAC) pra fora, em que as pessoas vêm aqui, nada. Primeiro, como a dimensão do
que está apontando boa parte de aspeadamente, os colonizadores, bus- problema desse carecimento, não im-

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porta se o homem está no campo ou na bém um passo para que possamos res dos movimentos sociais no cam-
periferia das cidades, é uma responsa- fixar o homem no campo. Também po, nós agricultores familiares no Es-
bilidade, que precisa ficar clara, não concordo que o homem que sai do tado do Piauí sabemos que se tivés-
apenas de uma ação exclusiva de Go- campo sem nenhuma condição e vem semos um acompanhamento técnico
verno, seja ele de qualquer conotação pra periferia da cidade não vai me- de acordo com as nossas necessida-
que possa ser. É, portanto, a supera- lhorar sua qualidade de vida. des com certeza teríamos como segu-
ção da pobreza o resultado de uma Quando eu estava na coordena- rar nossos produtores rurais no cam-
ação coletiva. Essa primeira concepção ção do Programa Fome Zero, desen- po. Hoje existem no Estado do Piauí
vai, no Estado do Piauí e no resto do volvemos iniciativas em parceria com várias entidades que têm como man-
Brasil, passar a ser uma preocupação o PCPR como, por exemplo, a implan- ter nossos agricultores no campo, mas
quando se compreende que o progra- tação de projetos produtivos na área ainda falta uma boa assistência técni-
ma de transferência de renda, por exem- da ovinocaprinocultura, na área da ca pra esse pessoal. Isso é o que mais
plo, no caso o Bolsa Família, não pode casa de farinha, da piscicultura, da precisamos, um acompanhamento da
ser desenvolvido a não ser a partir dos apicultura que é uma grande vocação demanda de acordo com as necessi-
Governos Municipais com uma tarefa do nosso Estado. Estamos em condi- dades.
de localizar as famílias pobres, os Go- ções de melhorar cada vez mais, te- A gente ouviu nosso colega falar
vernos Estaduais de monitorar o pro- mos condições de fixar o homem no de 1.380 poços perfurados e lacrados
cesso e o Governo Federal de repas- campo através de projetos nessa área. no Estado do Piauí. Que resultado têm
sar as condições financeiras objetivas São projetos que têm uma conotação esses poços? Quanto recurso foi apli-
para que essas famílias pudessem re- fundamental que é o fato de respeitar cado na região de todo o semiárido
ceber esse recurso de transferência de as entidades, as associações comuni- do Estado e a gente não vê resulta-
renda. E aí vem colado nas condicio- tárias como sendo o grande centro da do? Quando começa o verão, já se
nalidades que é, como diz o próprio ação. Ou seja, quando o PCPR e seus começa lutar por carro-pipa. Não tem
professor Gilberto, o que nos garante parceiros, incluindo o Programa Fome necessidade porque lá já existem po-
que uma outra ação que tem a ver com Zero, chega na comunidade, o princi- ços que deveriam estar equipados. As
educação, com saúde possa ser con- pal parceiro é a associação comunitá- propagandas são fortes, existe isso,
siderada. ria. Para quê? Para localizar as famílias existe aquilo, mas cadê do desenvol-
Tem um debate que não vou tra- que necessitam desse trabalho para, vimento daquele povo?
zer agora porque acho que não é o conjuntamente com elas e respeitan-
momento oportuno, mas é o fato de do o que elas desejam, instituir a uni- Joel Silva – Em poucas palavras,
saber se permanece o direito de cida- dade de produção que elas devem ins- você inclusive reproduz o que ouvi-
dania com essas condicionalidades. talar pela cultura do lugar, pelas con- mos também ontem no mutirão da co-
No entanto, isso é um outro assunto dições, inclusive, que elas teriam para municação. Um colega nosso do inte-
que a gente pode discutir posterior- fazer funcionar aquela unidade de pro- rior fazia uma descrição das barragens
mente. Agora, no caso do Piauí, te- dução. Então temos na associação co- que estão transbordando, jogando
mos a dizer que uma coisa começa a munitária um grande parceiro para co- muita água no mar para logo depois,
mudar neste Governo Wellington meçar esse projeto. São iniciativas tí- daqui a alguns poucos dias, essa po-
Dias no que diz respeito ao ensino midas ainda? Tímidas em relação à pulação que assiste aquela paisagem
médio. Concordo em gênero, número necessidade do nosso povo. Agora ficar percorrendo os corredores das
e grau que não vamos jamais fixar o já é uma experiência que precisa avan- autoridades rogando por carro-pipa.
homem no campo se ele não tiver çar. Não sei quando vamos resolver o É um paradoxo. E me vem também uma
condições mínimas de sobrevivência. problema, mas penso que estamos no expressão de um sociólogo, médico
Um dos pontos fundamentais passa caminho certo. José de Castro, pernambucano, recen-
pela educação. Precisamos não ser temente falecido: “A natureza não é
míopes e reconhecer que o Estado Joel Silva – Secretário da Fede- mesquinha, mas um certo tipo de ho-
do Piauí fez um esforço tremendo ração dos Trabalhadores em Agricul- mem que não faz com que a sua rique-
para que o ensino médio pudesse tura, Manoel Simão, diante do que o za possa ser disseminada, possa ser
chegar a todos os municípios. Che- senhor ouviu, em que condições a distribuída.”
gou a todas as comunidades? Ainda Fetag se coloca? Gilberto Ferreira, depois da con-
não. Fizemos tudo? Não. Tem muito vocação que estava fazendo aos
por ser feito? Tem. Mas esse é tam- Manoel Simão – Como defenso- gestores para que tenham mais sensi-

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36 DEBATE CARTA CEPRO
te: se é no inverno, é clamor, se é na
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Alejo Lerzundi seca, falta água, falta tudo. Não pode-


mos ficar a vida inteira no Piauí em
busca de uma saída para os nossos
problemas.
No passado não muito afastado,
o PCPR antes era chamado PAPP.
Quem recebia os recursos era o presi-
dente da associação dos moradores.
Ele ia para o Banco do Brasil receber
os recursos, mas entregava o dinhei-
ro para o deputado e o deputado me-
tia no bolso. E o deputado, com seu
prestígio, ia ao Departamento de Es-
tradas de Rodagem (DER), ia a outros
órgãos do Estado e fazia a obra que
era pra ser feita com o dinheiro que
viera do BIRD e depois, quando eu
estava no meu escritório, chega o pre-
sidente da associação dos moradores
pedindo para eu fazer a defesa dele
em juízo. Isso é uma verdade concre-
ta, isso é uma realidade que nós te-
mos que entender. Isso tem que ser
passado a limpo, Joel. Os nossos ho-
mens públicos têm que deixar de ser
cretinos, não podem pegar o dinheiro
público que se destina a políticas pú-
blicas e meter no bolso. Então é preci-
bilidade, por onde deve começar a três esferas porque, quando há políti- so que nós, o Estado do Piauí, tenha-
demonstração de sensibilidade dos ca de Estado, a coisa é levada mais a mos seriedade. Como é que se pode o
governantes? sério. Veja o exemplo: quem foi aqui Estado ter 1.380 poços tubulares per-
no Piauí que já viu uma crítica ao An- furados e nenhum está funcionando?
Gilberto Ferreira – Todos aqui tônio Neto, secretário da Fazenda? Ele Como é que se pode ficar atrás de car-
sabemos que no dia 5 de outubro de exerce a política fiscal, a política de ro-pipa e o Governo e os municípios
2008 completou 20 anos da nossa Carta arrecadação que é uma coisa de Esta- gastando, vendendo água e o povo
Constitucional que foi promulgada por do, ou o Estado arrecada, incrementa, passando fome, o povo passando
uma Assembleia Constituinte e cobra impostos ou então o Estado vai sede?
erguida pelo messiânico Ulysses Gui- sucumbir porque isso é uma política
marães que a denominou de Consti- de Estado. Então é preciso que os Joel Silva – Vamos voltar com o
tuição Cidadã. Essa Carta Constituci- nossos entes federativos tenham essa representante do PCPR, Alejo
onal de 88 no seu artigo 23, inciso X, compreensão, que os gestores públi- Lerzundi que é consultor do Instituto
diz que compete à União, estados, cos que estão governando a União, Interamericano de Cooperação para a
Distrito Federal e municípios o com- os estados, o Distrito Federal e os Agricultura. Um peruano que está
bate às causas da pobreza. municípios tenham consciência disso. aqui para nos ajudar no sentido de
Então o que entendo, Rosângela, Não podemos viver, Joel Silva, que entendamos e venhamos a que-
é que a política de combate à pobreza brincando com dinheiro, não pode- brar os obstáculos que estão fazendo
rural, à pobreza de qualquer aspecto, mos ficar tomando dinheiro empres- com que o que é construído não ser-
de combate à fome não parece ser uma tado ao Banco Mundial para imple- ve à população, está sendo inútil.
política de Governo, deve ser uma mentar políticas de combate à pobre-
política de Estado através das suas za. E todos os anos a história se repe- Alejo Lerzundi – Quero me refe-

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rir a duas coisas. Em primeiro lugar há de bacias e sua execução estava vin- da sociedade civil organizada. 80% das
uma tendência mundial e histórica culada a ser feita através dos órgãos associações organizadas fazem parte
pela qual o setor agrário se esvazia de públicos, secretarias e autarquias. Por desse conselho. Este conselho serve
população. O problema não é esse. Os exemplo, a assistência técnica ia para para priorizar os projetos e fundamen-
países desenvolvidos têm cada vez o Instituto de Assistência Técnica e talmente serve como um arranjo bási-
menos população rural e cada vez mais Extensão Rural (EMATER); constru- co institucional para levar os servi-
população urbana. O problema é que ção era com a Companhia de Desen- ços do Governo e de outras entida-
essa população que vem do meio ru- volvimento do Piauí (COMDEPI); a co- des públicas e privadas a associações
ral para a cidade não encontra opor- mercialização era com o Ministério da comunitárias e ao mesmo tempo ser
tunidades de trabalho, nem de mora- Agricultura e assim por diante. O pro- porta-voz destas perante os órgãos
dia e cria um problema maior porque a blema é que esses recursos não che- federais.
cidade não está dimensionada para re- gavam diretamente ao agricultor
ceber essa gente que vem do meio beneficiário porque as instituições Joel Silva – Doutora Rosângela
rural. E, por outro lado, o meio rural públicas tinham também necessidades Sousa, ainda sobre esta necessidade
fica esvaziado de população gerando para o funcionamento, então os recur- que temos de combater todos os ma-
um problema ainda de desocupação sos eram utilizados para se aperfeiço- les da humanidade, sobretudo aquele
de terra e mau uso dos recursos. arem melhor, para terem condições de que afeta a dignidade do ser humano
Creio que a questão deve ser vis- operacionalidade. que é a alimentação; e a questão dos
ta não somente do ponto de vista do Depois o PAPP foi redimensio- elementos que priorizam a aplicação
problema rural, mas também urbano nado porque se pensou que os re- de recursos, mas que não há falta de
porque são dois problemas que se cursos vinculados à pobreza rural recursos, e também, a partir da fala do
comunicam entre si e se condicionam teriam que chegar diretamente na Manoel, há uma necessidade de que
muito bem. E claro, todo mundo sabe ponta, ao agricultor e não ao agricul- tenhamos mecanismos que possam
que no meio rural as pessoas deixam tor individualizado mas à associação definir prioridades para evitar as ex-
aquele meio porque não há oportuni- comunitária. Depois do PAPP veio o travagâncias ou mau uso?
dades para elas permanecerem. A as- PAPP reformulado, PCPR, PCPR I,
sistência técnica que o representante PCPR II fase I e agora estamos com o Rosângela Sousa – Em relação à
da Fetag falou é um dos pontos, a PCPR II fase II. fala do Manoel, quando ele traz a ne-
pobreza no meio rural e a somatória Esses PCPRs têm como foco o cessidade de cada vez mais a assis-
de um conjunto de fatores tem a ver que Rosângela falou, a associação tência técnica ser uma ação incisiva
com a reforma agrária, com moradia, comunitária. O dinheiro vai para lá e dos municípios, isso como algo im-
educação, saúde, com conjunto de eles sabem como aplicar esses recur- portante para também contribuir para
fatores pelos quais o habitante do sos, eles definem os problemas, ela- a fixação do homem no campo, penso
meio rural tem aquele perfil de pobre- boram os projetos, se organizam para que ele traz um tema extremamente im-
za básica, elementar, muitas vezes, falta geri-los, prestam contas e têm que portante.
de luz, de necessidades mínimas. apresentar os resultados previstos. Ocorre que, com o passar dos tem-
Muitos deles moram ainda na pré-his- Estamos garantindo que mais de pos, a assistência técnica, os progra-
tória porque não têm luz, não têm 90% dos recursos cheguem na asso- mas desenvolvidos nessa área foram
água. Isso é uma coisa inconcebível ciação comunitária. Temos muitos pro- passando por um desgaste muito gran-
no mundo atual. Esse era o primeiro blemas em todo esse processo por- de. Tanto é que aqui no Piauí, quando
ponto que queria frisar. que sabemos que as associações co- o governador Wellington Dias assu-
Por outro lado, eu gostaria de fa- munitárias são entidades que muitas miu, essa foi uma das grandes preo-
lar, quando se referiu ao PAPP, o dou- delas só se formaram para ter acesso cupações. E o Piauí inteiro sabe que
tor Gilberto. Os projetos de combate à aos recursos do Banco Mundial, elas hoje o Emater, responsável mais dire-
pobreza rural no Piauí podem ser divi- não têm ainda aquela tradição históri- to por esse tipo de programa, é um
didos em duas fases, uma antes do ca de mutirão, de funcionar como uma instituto que tem feito todo um traba-
PAPP e outra depois. Antes, tinha associação, é preciso tempo para que lho para que possa atender melhor
aqueles projetos financiados pelo elas se consolidem. Mas junto a elas essa necessidade de homem do cam-
Banco Mundial, vinculados ao Polo temos um arranjo fundamental em ní- po. Inclusive, com o esforço do go-
Nordeste, à política do sertanejo que vel local que são os conselhos muni- vernador Wellington Dias, com a pró-
era mais uma política focada em áreas cipais, órgãos de representatividade pria Fetag participando no sentido de

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38 DEBATE CARTA CEPRO
até bom porque como temos o doutor
Arquivo CEPRO

Rosângela Sousa Gilberto dizendo que conhece, sabe


quem são e pode provar, a gente pode
convidar, inclusive, pra estar dizendo
nomes, pra, como um advogado do
porte que é, ajudar, inclusive, a popu-
lação a estar denunciando. Enfim, que
ele possa estar cada vez mais nos aju-
dando a melhorar também isso por-
que nos últimos anos a população
brasileira e a população piauiense tem
buscado várias formas de fazer valer
seus direitos.
Precisamos entender, por exemplo,
que o Ministério Público tem sido
muito importante, que a Defensoria
Pública passa por um processo
inigualável, já aumentou consideravel-
mente o número de defensores públi-
cos, os conselhos, as instâncias de
participação social estão cada vez mais
fortes, as pessoas estão cada vez mais
participando, inclusive, a mídia com
um programa como esse é um espaço
fundamental não só de proposições,
mas também de denúncias. Enfim, tudo
isso nos ajuda a caminhar na perspec-
tiva que é o fundamental, parece que
estimular para que isso possa aconte- tricional do nosso povo, e ainda de todos os debates caminham numa
cer, atualmente há uma preocupação melhorar a questão da geração de ren- mesma direção no sentido de que pos-
do Emater na perspectiva de acompa- da das famílias que trabalham naque- samos estar, cada vez mais, fazendo
nhar trabalhos na área do empreende- le projeto. Nós temos no Emater, na ações que possam fazer com que as
dorismo, de revitalizar as unidades do pessoa dos extensionistas, em Cam- pessoas melhorem a sua qualidade de
Emater no Estado. po Maior e em tantos outros municí- vida lá onde elas estão, que elas não
E continua o desafio. O que já foi pios, os profissionais na área da agro- precisem se deslocar para encontrar a
feito é suficiente para fixar o homem nomia e técnicos agrícolas que são escola, a educação, pra encontrar po-
no campo? Não é suficiente. O que fundamentais para o processo de tra- líticas essenciais que são responsa-
estou dizendo é: este é um tema que balho que deflagramos ali. bilidade do Estado e algumas respon-
está na pauta do Governo e que está Devo reconhecer que tem muito sabilidade do governo.
na pauta dos municípios também, que por ser feito. Mas, também vamos re- Reconheço alguns avanços, al-
está na pauta dos extensionistas na conhecer e admitir que um processo guns resultados positivos extrema-
perspectiva inclusive de melhorar as já vem sendo deflagrado no sentido mente importantes do ponto de vista
condições dos extensionistas de fa- de que essas pessoas possam desen- da redução da desigualdade, nos últi-
zer esse trabalho. Isso nós podemos volver um trabalho mais incisivo. mos anos desse país, com melhoria
testemunhar, por exemplo, no municí- Também concordo com o doutor Gil- do poder aquisitivo do salário míni-
pio de Campo Maior ou vários outros berto quando diz que, ao longo do mo, políticas universais de transferên-
onde, via Programa Fome Zero, de- tempo, tanto homens públicos quan- cia de renda, correção de distorções
senvolvemos trabalhos na perspecti- to mulheres, que deve ser um número históricas. Não podemos esquecer
va de hortas comunitárias que têm menor porque sempre tiveram menos que estamos num processo de apren-
duas funções específicas no sentido cargos, são capazes de muitos pro- dizado que é difícil, mas que é um pro-
de melhorar o padrão alimentar e nu- cessos que a gente não concorda. E é cesso de correção de distorções his-

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tóricas, um processo inclusive de tão contemplativa. Agora a senhora ses produtores se manterem lá?
apoio à economia solidária, um tema fala que os desvios parece por essas Hoje, quantas e quantas barra-
muito importante pra o homem que políticas estarem evitados, os recur- gens grandes nós temos no Piauí e
está no campo. Se ele viver de uma sos existem. O Manoel se ressente da cadê o incentivo para uma pequena
atividade que ele já sabe fazer e que lá falta de assistência técnica. Peço aqui irrigação da agricultura familiar? Falta
na sua cidade ele tem condições e nós uma reflexão. O homem aqui do setor também ainda nesse ponto. Quantos
podemos apoiar, é muito importante urbano tem a facilidade de comprar o programas temos hoje no Estado
que façamos isso, inclusive, dando veículo que quiser sem entrada pra como o Programa Garantia Safra para
atenção a populações historicamente pagar daqui a dois meses, um carro de ajudar e segurar o agricultor familiar
excluídas, indígenas, negros, mulhe- passeio, de luxo, pode ser importado lá no campo? Por que não desenvol-
res, portadores de deficiência e tan- ou não, mas o último modelo. Enquan- vem esse Programa Garantia Safra? O
tas outras. to, no campo, o cidadão não tem como Bolsa Família que é um programa da
Pra finalizar, gostaria de lembrar comprar um trator por menor que seja nossa luta conquistado pelo nosso
que um dos Objetivos do Milênio que a sua tração, seu porte. Isso é fato ou movimento, está aí no país, tem Esta-
é digamos uma movimentação inter- é mito? Manoel, a questão da assis- do que funciona tranquilo, mas têm
nacional, é exatamente a erradicação tência técnica para manter o homem estados, municípios que têm a grande
da pobreza, porque ela continua sen- no campo como se resolve na visão preocupação. Quando chega a época
do o grande desafio, seja nos gran- da Fetag? do cadastramento, quem está toman-
des centros, seja nas pequenas cida- do a frente? E pessoas que aceitam
des. No Piauí, podemos dizer que numa Manoel Simão – Acredito que é aquilo ali, são pessoas que podemos
população de aproximadamente, três uma coisa que já vem sendo desen- dizer que são irresponsáveis porque
milhões de pessoas, tomando por base volvida, mas, quando a gente fala de sabem pra quem é o Programa Bolsa
cinco pessoas por família, teríamos aí assistência técnica no nosso Estado, Família. E aí é onde nós temos que ver
umas 600 mil famílias nos Estado, nós a gente não se refere mais só à assis- a situação da nossa luta.
temos hoje no Piauí inscritas mais de tência técnica do Governo, do Emater, Na realidade, aqui no Piauí, hoje
500 mil famílias no Cadastro Único das mas à assistência técnica como um já temos muito como segurar os nos-
quais estão sendo atendidas por um todo. Inclusive, lutamos até por recur- sos agricultores familiares no campo.
programa de transferência de renda, so pra o Emater na nossa pauta do Agora está faltando é garantir que
aproximadamente, 360 mil famílias. Grito da Terra Brasil. Agora a gente as pessoas que estão lá na base as-
Esse recurso que é correspondente a sente que a dificuldade ainda é o gran- sumam a responsabilidade como
R$ 30 milhões por mês que chega no de vício que têm algumas pessoas e deve ser feita. Então pra nós é um
Piauí e vai diretamente pras mãos das assistentes que fazem parte do qua- prazer que temos, estarmos discutin-
famílias mais pobres, não passa por dro de não se dedicarem à responsa- do isso diretamente, está na nossa
nenhuma outra instância. Continuo re- bilidade que devem ter. pauta do Grito da Terra em Brasília
petindo, é pouco, mas é concretamente Quantos assentamentos do Cré- deste ano de 2008. Agora a gente já
um dado que precisa vir para o deba- dito Fundiário nós temos hoje no Piauí, se preocupa, hoje, com o Programa
te, que precisa ser reconhecido que coordenado pelo PCPR, que é uma coi- do Crédito Fundiário que temos no
essa efetivamente é uma instância de sa muito bonita, muito importante, mas Estado do Piauí um dos melhores as-
luta que foi travada, que os recursos que já começam abandonados por fal- sentamentos, mas está faltando ain-
chegassem nas mãos das pessoas ta de acompanhamento técnico de da assegurar a grande assistência
para que elas escolhessem a cor do qualidade. Nós vemos isso, acompa- técnica daquelas empresas que vão
feijão que iam comer, se era preto, ver- nhamos porque temos os técnicos assumir os programas lá dentro. Isso
melho ou branco, mas que tivessem que têm o período de acompanhar. é uma falta que temos e que é preciso
essa oportunidade. Isso concretamen- Terminou os quatro anos, abando- acompanhar.
te entre nós existe hoje. nam-se os trabalhadores. E aí, como
é que a gente vai fazer? Nós temos Joel Silva – Os projetos existem
Joel Silva – Acabamos de ouvir assentamento do Instituto de Terras e há uma propriedade de conhecimen-
da doutora em assistência social, do Piauí, do Incra (INTERPI), quantos to na elaboração desses projetos e por
Rosângela Sousa, uma defesa do qua- não temos que já estão abandonados. que eles não têm sustentabilidade, por
dro atual do que se está construindo, Tem muita infraestrutura construída, que o homem se ilude que vai viver
de uma mobilidade, embora ainda não mas cadê a segurança pra dar pra es- bem onde gostaria de estar e de re-

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40 DEBATE CARTA CEPRO
do e Betinho chegou com muita pro-
Arquivo CEPRO

Manoel Simão priedade e disse que independente


disso a gente precisava cuidar de
quem passava fome.
Wellington Dias tem reunido todo
o seu “staff” de governo para dar ao
piauiense condições de autonomia. Ele
usa uma expressão que é mais ou me-
nos a seguinte: “Eu posso até trazer as
indústrias, mas as indústrias virão para
cá e vão buscar mão-de-obra em outro
lugar porque a mão-de-obra daqui não
estará qualificada para atendê-la. Ou-
tra coisa, se eu trouxer indústria que
ofereça a quantidade de empregos que
o Piauí precisa, essa indústria tem que
encontrar uma condição de comércio
que eu não tenho condições de propi-
ciar. Eu posso até dar a infraestrutura
pra ela com estradas, com água, ener-
gia, mas ela não quer só isso, ela quer
mercado pra vender seus produtos e o
mercado independe das condições do
Governo, depende a energia, a água,
mas o mercado, não. Nós somos três
milhões de pessoas que temos um de-
terminado poder de compra.”
pente olha pra um lado e pra o outro e obra no interior, mas tenho dificulda- Então o governador diz pra es-
não vê saída? de de registrar agora nos anos 2000 truturas do Governo que é preciso,
Estamos debatendo esse tema morte por fome de cidadãos, de ho- além de trazer os empregos, qualificar
que trata das oportunidades de eman- mens e mulheres no interior. Então o povo piauiense para o empreende-
cipação/ desvinculação do PCPR e de vamos debater, se eu quero um ho- dorismo porque aqui nós temos muita
outros programas sociais: os projetos mem fragilizado, mendigo, que possa capacidade de gerar riqueza, mas é pre-
produtivos como porta da saída de vender sua mão-de-obra a qualquer ciso estar preparado. A partir de uma
programas sociais como o Bolsa Fa- preço pra mim que sou proprietário e pesquisa da Cepro feita em 11 territó-
mília. Nós temos ouvido alguns pro- tenho uma lavoura pra desenvolver rios do Piauí em que a gente indagava
dutores e investidores do campo di- ou se eu quero evitar esse homem do duas questões: qual é a vocação da
zer que hoje não se consegue mais registro da morte. cidade e qual o seu estado de qualifi-
um trabalhador porque eles estão to- O governador Wellington Dias cação da mão-de-obra, o secretário da
dos ali “escanchados” no Bolsa Fa- carrega com muita convicção o fa- Educação tem comido apertado, a
mília. Existe um provérbio chinês que moso provérbio que você citou. O reitora da Uespi tem comido aperta-
diz “não dê o peixe, ensine a pescar”. governador faz um conserto nesse do, assim como vários setores do Go-
Vamos ouvir o presidente da provérbio, ele dá o peixe ao mesmo verno porque o governador está di-
Fundação Cepro, jornalista Oscar de tempo em que ensina a pescar por- zendo o seguinte: “Eu quero ver o
Barros. que se não der o peixe morre de fome povo preparado para trabalhar com
e quem nos disse isso foi o Betinho conhecimentos suficientes, e isso vale
Oscar de Barros – Eu não vou com muita propriedade e chamou a pras cidades urbanas e rurais.”
fazer a pregação do apocalipse e nem atenção da esquerda brasileira e E aí tem também a assistência téc-
estou no reino da “terra arrasada”. É mundial que viveu um momento de nica que a Fetag reclamava. O gover-
verdade que o benefício social pode terra arrasada e que queria mesmo nador primeiro pegou um Emater com-
dificultar a contratação de mão-de- era depor quem estivesse no coman- pletamente sucateado que obedecia a

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um padrão que os governos anterio- os há aquele que por vaidade de ou- Essa é a grande questão.
res, por uma filosofia política ligada ao trem também deseja a “terra arrasada” Não se pode, em um Estado com
neoliberalismo, tinham adotado de es- e é preciso que o nosso foco seja o vocação agrícola, onde se fala em com-
vaziamento do Emater. O Governo está cidadão comum e as suas famílias bate à pobreza rural, ouvir de um diri-
recuperando todo o Emater e tem mu- onde quer que ele esteja. gente sindical como o Manoel Simão
dado um pouco a sua visão. É pra pres- Gilberto Ferreira, a sua palavra de que falta assistência técnica, que os
tar assistência técnica? É, mas o Piauí conclusão. projetos começam, mas depois se aca-
tem uma outra característica de muitos bam. É por isso que quando sai um
municípios, são 223, onde se espalha Gilberto Ferreira – Meu caro governo fica tudo destruído porque
um enorme contingente populacional amigo Joel Silva, sou um eterno indig- na inauguração é uma festa, mas de-
e que está dividido entre o setor urba- nado com as políticas públicas pois abandona. Essa é a grande reali-
no e o rural. Se você não preparar as adotadas por este Estado ao longo da dade, Joel Silva, o Piauí não nasceu
pessoas do setor urbano dos municí- sua história. Sempre as pessoas se hoje não, é um Estado velho e que os
pios piauienses para em sintonia com posicionam em defesa de seus gover- políticos vivem a vida inteira fazendo
a população rural fazer acontecer a eco- nos. Quando o Mão Santa era gover- isso, esse jogo. Os políticos vão para
nomia daquela cidade, vai vir todo nador do Estado do Piauí, foi a São o Senado da República, para a Câma-
mundo para a periferia de Teresina e de João da Serra. Para dar uma puxada de ra Federal, para a Assembleia
outras capitais brasileiras. saco no governador, o prefeito da ci- Legislativa, vão pra tudo e o povo que
Então o governador está dialo- dade, Manoel Dantas, disse: “Nunca passa fome?
gando com o Emater pra essa assis- se fez tanto em tão pouco tempo”. Isso Nós temos, Rosângela, e me pa-
tência ao empreendedorismo. Se o teve uma grande repercussão. Quer rece que foi uma entrevista que li você
homem do campo produz arroz, feijão, dizer, antes se falava que o governa- dizendo, se não foi você foi uma outra
milho, é preciso saber dar prossegui- dor quando entrava era para recons- pessoa com a mesma capacidade que
mento a isso na cidade através da co- truir o que o anterior tinha destruído. você tem, nós temos um milhão de
mercialização desses produtos, mas, Mão Santa governou dois mandatos piauienses que não sabem o que vai
evidentemente, que gerando condi- consecutivos, Wellington Dias tam- comer no dia seguinte, um terço da
ções para isso. Então é esse alerta que bém está no seu segundo mandato, nossa população. E por que é que se
o governador vem fazendo ao Emater. mas diz que pegou o Estado arrasado, diz a expressão “neste Governo foi
Eu pedi, Joel, para fazer essa in- que pegou o Emater arrasado. Mão feito isso, nunca se fez tanto”. Preci-
tervenção no debate, fazer essas ob- Santa em oito anos não conseguiu samos saí do discurso e ir pra prática.
servações, lembrando que a nossa reconstruir o Emater que recebeu do Reconheço que o combate à fome,
temática é realmente como que esses governo anterior? dona Rosângela, não é a política ape-
benefícios sociais, o Programa de Pergunto: por que todo mundo diz nas do governador do Estado não, é
Combate à Pobreza Rural está atuan- que fez tanto e o Piauí continua sen- uma política do Governo do Estado
do, o que ele vem fazendo, o que há do o Estado mais pobre da Federa- com meta geral, mas é uma política
de crítico na atuação dele, e como, efe- ção? Por que o Estado tem a menor também dos municípios. Os nossos
tivamente, a gente pode contribuir renda per capita? Por que a capital tem prefeitos são altamente irresponsá-
para a emancipação dessas pessoas. a menor renda per capita, apesar de veis, não fazem nada, se você for a
estar entre as 100 cidades mais ricas uma cidade hoje e passar lá dez anos
Joel Silva – Vamos partir então do país? Por que os governantes di- depois vai encontrar tudo da mesma
para a conclusão desse debate. Pare- zem que fazem tanto e nós continua- forma, nada mudou.
ce que há uma questão de priorida- mos na miséria? Por que se diz todos
des. Sempre houve recursos de natu- os dias nas propagandas que se faz Joel Silva – As considerações fi-
reza financeira. A questão que nos tanto aqui nesse Estado e o Piauí con- nais do representante do PCPR, Alejo
parece na fala de cada um é a pobreza tinua no seu sertão tendo água ven- Lerzundi.
de caráter do gestor público. O presi- dida em carro-pipa? Por que nós te-
dente da Cepro falou agora numa ex- mos água acumulada, mas não serve Alejo Lerzundi – Não tenho res-
pressão “terra arrasada” que a princí- para irrigação? Por que se fala tanto postas às perguntas que Gilberto faz
pio se pensa que o gosto pela “terra que se faz tantas barragens e o povo e muitas delas estão feitas com muita
arrasada” é de grupos políticos ad- passa sede? Sou eu que estou errado, propriedade. O que gostaria de falar
versários, mas entre os correligionári- que estou mentindo, ficando louco? é um pouco sobre o que o PCPR está

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fazendo da sua parte para a solução mo público meta. Esse é um proble- Manoel Simão – A Fetag tem o
do problema da fome. Estou consci- ma altamente debatido, principal- papel de estar reivindicando, cobran-
ente de que não basta fazer simples- mente, no sentido de que tenhamos do, lutando e orientando os nossos
mente apelo à ética quanto a neces- que fazer parcerias, primeiro, inte- agricultores. Sabemos que, dos 223
sidade de capacidades técnicas dos grando as políticas públicas. Isso é municípios do Estado, temos sindica-
gestores em termos de gestão públi- uma das prioridades e desenho es- tos filiados à Fetag em 222. Falta um
ca dos recursos públicos. Creio que tratégico desse projeto para essa só pra se filiar. A gente fica aberto pra,
há necessidade de se criar instrumen- nova fase. Além disso, temos tam- se necessário, num outro momento,
tos que garantam a correta aplicação bém como prioridade, pelo menos, estar discutindo a nossa luta de rei-
dos recursos. Parece-me que existem atingir 25% desses projetos com sub- vindicação, de luta no campo em todo
caminhos a respeito, por exemplo, a projetos produtivos que deverão ter o Estado do Piauí.
Lei de Responsabilidade Fiscal foi um garantias, viabilidades econômicas,
grande salto em termos de gestão pú- técnicas de mercado, de meio ambi- Joel Silva – Doutora Rosângela
blica porque fixa limites de atuação ente, financeiras e sociais. Tem que Sousa, suas considerações finais em
dos gestores públicos. Nós temos ser projetos bem feitos realmente torno dos elementos que tiram do
também a criação do Sistema de Fi- para garantir sustentabilidade. campo o homem para vir à periferia
nanciamento Agrário Estadual Dentro desse conceito, estamos dos grandes centros urbanos e a rela-
(SIAF) que também cria normas, ca- pensando naqueles que formam as ção com o PCPR.
minhos e rotinas, diante dos quais cadeias produtivas que garantem todo
as possibilidades, tentações de fazer o serviço necessário à produção. En- Rosângela Sousa – Ouvindo to-
mau uso dos recursos se minimiza tendemos que a produção no meio dos, ficava aqui me perguntando:
tremendamente. rural tem que passar pela troca, pelo onde estou fazendo a minha parte?
Quanto ao PCPR, é bom lembrar consumo e pela distribuição. Para Tenho 40 anos de opção por trabalhar
que ele é um projeto de financiamento muitos economistas, essa distribuição para a redução da pobreza. E nesses
externo e tem critérios, normas, carac- é um problema social e não um pro- 40 anos, você todo dia levanta e pen-
terísticas e rotinas totalmente origi- blema econômico. O ciclo da reprodu- sa: o desafio é maior do que o do dia
nais. Não se dá um só passo no PCPR ção econômica passa pela distribui- anterior. Mas também tenho a convic-
se ele não está acompanhado de cri- ção para ela se reciclar. Não há possi- ção de que algumas coisas já feitas
térios e de procedimentos previstos. bilidade de reciclar um processo se indicam um caminho, embora elas pre-
Muitas vezes, alguns gestores não passar pela distribuição. Nesse cisem ser melhoradas numa velocida-
descumprem isso, mas também há sentido, creio que a assistência técni- de muito maior do que até hoje nós
mecanismos para punição em casos ca tem que permear todo o processo conseguimos fazer. Quero listar algu-
de inadimplência, por exemplo, no de produção no meio rural. Esse qua- mas dessas coisas que me parecem
cumprimento de execução de projetos. dro não é o que se tem atualmente. importantes e fundamentais para fixar
Nós temos uma via para canalizar es- O novo perfil do extensionista o homem no campo, mas principalmen-
ses problemas para o sistema judicial. rural tem que ser o do facilitador junto te para homens e mulheres, onde quer
Encaminhamos muitas denúncias ao a associação comunitária. Ela tem que que estejam, terem uma condição de
sistema judiciário em caso de facilitar o processo anteriormente aci- dignidade até bíblica de sobreviver e
inadimplência por parte das empresas ma indicado sem fugir da possibilida- de existir.
encarregadas de fazer o trabalho, mes- de de sustentação. Estamos constru- Tenho a convicção plena de quan-
mo assim o número não é tanto como indo esse perfil, temos esse grande to trabalhei junto com toda uma equi-
parece. Agora não ultrapassa os desafio com o PCPR II fase II, justa- pe do Programa Bolsa Família e a equi-
percentuais permitidos pela lógica mente em inserir os projetos produti- pe da Secretaria de Assistência Social
operacional para esses casos. vos, garantindo esse arranjo institu- e Cidadania a qual tive a honra de co-
Temos no projeto PCPR II fase cional que possibilite a reciclagem da ordenar todo o trabalho. Juntos, con-
II um grande interesse de nos inte- produção, passando pela distribuição seguimos transformar um número de
grar a políticas públicas do Gover- e os mercados. 29 mil famílias que eram atendidas com
no e também através de mecanismos o Programa de Transferência de Ren-
de parceria, principalmente, para Joel Silva – Senhor Manoel Si- da no Estado do Piauí, em outubro de
evitar que os projetos pairem de mão, secretário da Fetag, suas consi- 2003, para um número de 370 mil, sem-
maneira isolada a beneficiar o mes- derações finais. pre repetindo, é pouco? É pouco.

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Agora é uma ação concreta que dina- ma de água. Guaribas, por exemplo, Sabino, e essa é uma palavra rápida
miza a economia local. não tinha nenhum sistema de água, pra todos nós, mas particularmente
Quero dar o testemunho de hoje toda a sede do município e mais para o doutor Gilberto Ferreira. E ele
Guaribas. Quando cheguei pela pri- dois povoados estão contemplados diz assim: “De tudo ficarão três coi-
meira vez naquele município em que, 100%. Não se pode desconhecer as sas: a certeza de que ele estava sem-
quando a gente falou em recurso de cisternas que foram construídas. É o pre começando, a certeza de que era
transferência de renda, as pessoas fi- sistema que nós queremos? Não, não preciso continuar e a certeza de que
caram tontas. Teve uma senhora que é definitivo, mas também não pode- ele seria interrompido antes de termi-
disse pra mim: “eu nunca participei mos imaginar que nossos irmãos no nar. Fazer, portanto, da interrupção um
de uma reunião e você vem me ouvir, período de seca tenham que sair mor- caminho novo, da queda um passo de
eu nem sei direito o que é uma reu- rendo estrada afora. Essa é uma ação dança, do medo uma escola, do sono
nião”. Isso numa escola. Então hoje concreta, enquanto a gente não pode uma ponte e da procura um encon-
temos a convicção plena de que 223 ter um sistema definitivo. E não es- tro”. Vamos fazer todos nós uma cida-
municípios do Piauí, todos eles, in- tou aqui apenas defendendo o Go- de melhor e um Estado melhor e con-
dependente de qual é a situação po- verno, não sou disso, sou uma pro- sequentemente uma vida no campo
lítico-partidária do governante muni- fissional. Antes de ser governo, eu com mais dignidade.
cipal, estão contemplados com o Pro- já era uma profissional da área por
grama Bolsa Família. uma opção que fiz com 14 anos de Joel Silva – Para encerrar, vamos
Sei o que as pessoas dizem, Joel, idade, estou defendendo a verdade, ouvir a palavra da Cepro, na pessoa
quanto ao que você nos coloca aqui a é diferente, estou dizendo é que do senhor presidente Oscar de Bar-
respeito do que elas não querem mais barraginhas são construídas e que ros para quem não existe mais morte
trabalhar. Isso se dá devido às condi- nós precisamos conhecer melhor no Piauí por inanição.
ções que oferecem para o povo traba- nosso Estado.
lhar, a pessoa passa o dia inteiro na O doutor Gilberto disse, muito Oscar de Barros – Joel, o que
roça e não recebe nada a não ser quan- propriamente, e já falei inúmeras ve- poderia dizer senão obrigado a você
do troca o que produz. Qual é a relação zes, que um milhão de pessoas têm por este espaço, obrigado ao
que contempla o trabalhador? Como esse problema de carecimento no nos- Rosemiro da direção da Rádio Pio-
não quero dizer exatamente com as mi- so Estado. Quero dizer, doutor Gilber- neira, obrigado aos ouvintes por ou-
nhas palavras o que penso sobre isso, to, que não é um milhão não, é aproxi- vir nossas palavras. Acho que a gen-
vou recorrer a uma fala do nosso gran- madamente um milhão e seiscentas mil te vem pra Terra pra desempenhar um
de historiador do Estado que é o pro- porque, segundo os dados oficiais do papel que o Soberano nos determi-
fessor Fonseca Neto se referindo a esse IBGE, é algo em torno de 352 mil famí- na, a vida é isso. E neste debate nós
mesmo processo, Joel, que você nos lias e se você multiplicar por cinco vai também cumprimos o nosso papel,
traz sobre o fato de a elite dizer que o dar um pouco mais. convidados sejamos nós por quem
homem do campo não quer trabalhar. Como estudiosa na área dos mo- quer que seja. Eu confio muito no
No entanto, ele nos diz o seguinte: vimentos sociais, da política social e poder dos argumentos. Cada um de
“esta fala da elite, espocando de barri- das políticas públicas, fico inquieta nós nesse debate desempenhou um
ga cheia, que não adianta dar comida quando a gente fala que tem que exi- papel, eu desempenhei um papel de
para esses vagabundos preguiçosos gir condicionalidades para as famíli- governo, sou presidente de um Cen-
que agora é que eles não querem mais as pobres receberem uma renda míni- tro de Pesquisas Econômicas e Soci-
trabalhar”. Aí, se referindo ao Bolsa ma das mínimas para elas continua- ais, tenho encontradas abertas as por-
Família, ele diz o seguinte: “é a típica rem sobrevivendo porque que direi- tas da Rádio Pioneira para discutir-
fala da casa grande, mirando a senzala to é esse que é obrigado a pessoa ter mos a temática que a gente sugere e
da qual odeia”. Quero dizer que con- um dever de cobrir condicionalida- vim aqui desempenhar este papel.
cordo com o meu nobre professor, des? Eu proporia que a gente fizesse Confio muito na audiência da Rádio
companheiro e amigo Fonseca Neto. um debate sobre isso porque não há Pioneira, ela ouviu e sabe discernir o
Infelizmente não temos tempo aqui pra tempo pra tratar dessa questão nes- que é certo e o que é errado. Acho
fazer este debate. te momento. que esse é que é o sentido da demo-
Quero dizer também sobre ação Quero fazer um carinho muito es- cracia, somos três milhões de cida-
concreta. Ninguém desconhece aqui pecial pra o doutor Gilberto, recorren- dãos no Estado do Piauí e sabemos
no Piauí como foi melhorado o siste- do às palavras do sábio Fernando como bem conduzir nosso Estado.

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Por Sâmia Menezes

RUMO AO MERCADO EUROPEU


Dos 10 estados brasileiros Mas a atuação real do Programa tral de Cooperativas de Cajucul-
beneficiados pelo Programa de no cenário internacional começa- tores do Estado do Piauí
Combate à Pobreza Rural rá somente este ano, com a co- (Cocajupi) constituem um com-
(PCPR), o Piauí é o que possui mercialização de produtos das co- plexo industrial e tecnológico para
maior capital social. É uma refe- munidades beneficiadas no merca- beneficiar o mel e o caju do Piauí,
rência nacional, principalmente do internacional, através da Casa com investimentos de R$ 4,9 mi-
com relação às parcerias firmadas. Apis e Cocajupi. “Os beneficiários lhões, através de parceria entre o
“Hoje, o PCPR do Piauí é refe- do PCPR, reunidos em cooperati- Governo do Estado e a Fundação
rência tanto em nível nacional vas, estão comercializando o mel Banco do Brasil.
como internacional. Nos seminá- que produzem para as duas cen- O complexo cooperativo in-
rios que são realizados sobre o trais, que fazem a ligação direta clui 20 casas de processamento de
Programa, sempre mostramos os com o mercado externo”, escla- mel para receber, centrifugar e fil-
resultados que são obtidos no Es- rece o Diretor Presidente do trar o mel diretamente dos apicul-
tado como modelo”, enfatizou o CCPR, Fernando Danda. tores, na sua maioria beneficiários
diretor do Banco Mundial, Jorge Essa nova etapa, segundo ele, do Programa de Combate à Po-
Muñoz, que esteve em missão no é resultado do Seminário Interna- breza Rural. No total, 1,6 mil fa-
Piauí, em outubro de 2007. cional de Integração, Parcerias e mílias de 32 municípios piauienses
Por seu destaque, o Piauí já Perspectivas de Acesso aos Mer- e cearenses estão ligadas à Casa
participou de uma conferência cados, realizado em abril de 2007. Apis e outras 8 mil famílias parti-
mundial, através da Rede Vida do “Outros países e redes de super- cipam indiretamente do projeto.
Banco Mundial, no ano de 2005. mercados do Brasil participaram. A Casa Apis reúne 10 enti-
A Ong holandesa Istrong também dades localizadas em diferentes
participou. E hoje, como resulta- cidades, como Picos, Pio IX,
do, temos um primeiro contato com Itainópolis, Simplício Mendes,
a Casa Apis e a cooperativa Piripiri, Esperantina e São
Cocajupi para exportação”, afirma. Raimundo Nonato, no Piauí, além
Arquivo CCPR

de Horizonte e Barbalha, no Ce-


Casa Apis e Cocajupi – A ará. “Somente na Comapi, Coo-
Central de Cooperativas Apícolas perativa de Simplício Mendes,
do Semiárido (Casa Apis) e a Cen- são mais de 800 produtores dis-
tribuídos em várias comunida-
des”, destaca o diretor-geral da
Jorge Muñoz – Diretor Casa Apis, Antônio “Sitônio”
do Banco Mundial Leopoldino Dantas.

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Arquivo CCOM
Cocajupi em Picos

A Cocajupi reúne 478 famíli- projeto de cajucultura há dois dem obter, pela mesma quantida-
as de produtores e outras 285 pes- anos. Atualmente, é presidente em de, R$ 3,50. Além de eliminar o
soas atuam diretamente nas exercício da Cocajupi. “Antes, atravessador, será possível aumen-
minifábricas de caju e na central. vendíamos para o atravessador por tar a qualidade do mel beneficiado
A Cocajupi tem 10 cooperativas um preço muito barato. Agora, e embalado para atender as exi-
filiadas, nos municípios de Altos, vamos poder beneficiar nossa pró- gências do mercado nacional e in-
Vila Nova do Piauí, Francisco San- pria castanha e ter o nosso pró- ternacional.
tos, Ipiranga do Piauí, Itainópolis, prio lucro”, diz.
Jaicós, Campo Grande do Piauí, “Todo mel do Piauí será pro- Agregação de valor – O mel
Monsenhor Hipólito, Pio IX e Santo cessado aqui. A importância des- produzido no Piauí é diferenciado
Antônio de Lisboa. sa iniciativa para mim, como pro- e tipificado, produzido em matas
dutor de mel, é que esta é a única nativas, sem defensivos agrícolas
Sem atravessadores – As saída para valorização do produ- e tóxicos. A Casa Apis já conquis-
duas centrais de cooperativas – to. Já tava quase desistindo da tou certificado de orgânico e de
Casa Apis e Cocajupi – lançam migratória com as colmeias, no controle de qualidade e está im-
novos desafios aos beneficiários do período de estiagem, e agora vejo plantando, ainda, o programa de
PCPR por retirarem do cenário uma alternativa. Sem falar que georeferenciamento e de rastrea-
uma figura chamada de antes da Casa Apis a gente esta- bilidade do mel, em parceria com
“atravessador”. Agora, comerci- va que nem ‘bola’ na mão do a Fundação Banco do Brasil e a
alizando diretamente, eles agregam atravessador. Agora, vemos que Confederação Brasileira de Api-
valor aos produtos e ganham na exportar é a saída” diz o apicultor cultura (CBA).
melhoria da renda. Antonio Carlos Sales, que há 20 Os primeiros negócios já co-
Antônia Evangelista de anos atua no ramo. meçaram a ser formalizados. Em
Andrade, viúva e moradora da co- O atravessador adquiria o qui- janeiro deste ano, a Cooperativa
munidade Serra Aparecida, em Pio lo de mel por R$ 2,28. Com o pro- comercializou 72 toneladas de mel
IX, tem três filhos e participa do duto processado, os apicultores po- para os Estados Unidos.

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Todos os artigos foram escritos antes do ano de 2009.

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Arquivo pessoal
Adriana Lima Barros* / Izabel Herika Gomes Matias**
Lúcia da Silva Vilarinho***

* Assistente Social/especialista/Professora Substituta UFPI


**Assistente Social/especialista/Professora Substituta UFPI/
***Assistente Social Sanitarista/Mestra/Profª. UFPI –
Consultora Nacional do PROSAR – PI.

SANEAMETO BÁSICO NO SEMIÁRIDO DO PIAUÍ


– SAÚDE E CIDADANIA TAMBÉM SE FAZ COM
INFRAESTRUTURA E TECNOLOGIAS LEVES
1 O PROGRAMA DE SAÚDE E SANEAMENTO tação e treinamento em associativismo e pela for-
BÁSICO NA ÁREA RURAL DO PIAUÍ – PROSAR– mação do Sistema Integrado de Saneamento Rural
PI E O SANEAMENTO BÁSICO NO CONTEXTO do Piauí – SISAR–PI.
BRASILEIRO E PIAUIENSE O programa tem como objetivo superior o me-
O Programa de Saúde e Saneamento Básico lhoramento da situação de saúde da população nas
na Área Rural do Piauí – PROSAR–PI é resultan- regiões do programa, mediante abastecimento
te da Cooperação Financeira Oficial entre a Repú- confiável da população com água potável em condi-
blica Federativa do Brasil e a República Federal da ções satisfatórias do ponto de vista sanitário, assim
Alemanha, através do contrato de empréstimo fir- como a eliminação de dejetos e esgotos sanitários
mado entre a República Federativa do Brasil e o em condições adequadas, mediante ações de sensi-
Banco Alemão Kreditanstalt für Wiederaufbau – bilização e mobilização da população alvo e, ainda,
KfW, tendo o Ministério da Saúde (MS), como trabalho de Educação Sanitária, em conjunto com
mutuário do empréstimo e coordenador-geral na medidas de capacitação dessa população em
execução do Programa e a Secretaria da Saúde do associativismo para a formação do sistema
Estado do Piauí (SESAPI) na qualidade de Unida- autossustentável de operação e manutenção do
de Executora (UE), responsável pela implantação SISAR, integrando medidas de investimentos físico
do mesmo, assessorada pelo Consórcio GKW/ e social para assegurar a sustentabilidade dos resul-
AQUACON, contratado como consultoria para a tados a longo prazo.
operacionalização técnica do programa, acompa- O PROSAR–PI teve início em julho de
nhamento na área social e, também, para o traba- 2001 e o valor total do “empreendimento” é de
lho de Educação Sanitária e pela MACS Consult, E$ 12.600.000,00 (doze milhões e seiscentos mil
consultoria responsável para o programa de capaci- euros), sendo 3,58 aportados pelo Governo Brasilei-

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49
ro e 8,02 pelo Governo Alemão (destes, 1,32 a fundo rural, sendo as crianças as mais atingidas, podendo-
perdido). se apontar a falta de saneamento como responsável
O programa tem como área de atuação parte pela morte por diarréia de menores de 5 anos no
do semiárido piauiense, abrangendo as Brasil. (Dossiê do Saneamento – Água é Vida/2002).
macrorregionais dos municípios de Valença, Oeiras, A história mais recente da sociedade brasileira,
Picos, Fronteiras e Paulistana, onde foram contudo, registra a criação de uma agenda legal para
selecionadas, a partir de um estudo técnico (estudo o setor saúde e saneamento respaldada na legisla-
Kittelberger-1994) que constatou um quadro lasti- ção vigente e em articulação com outras políticas
mável da situação dos serviços de saneamento bási- públicas, fazendo parte dessas, a política de saúde.
co, caracterizado pela grave deficiência nos níveis A Constituição Federal de 1988 e as Leis Or-
de atendimento, pela inexistência ou precariedade das gânicas da Saúde – LOS (Lei nº 8.080/90 e nº 8.142/
alternativas de abastecimento de água e de esgota- 90) ao disporem sobre as condições para a promo-
mento sanitário existentes, com repercussões nega- ção, proteção e recuperação da saúde, a organiza-
tivas nas condições de vida e de bem-estar da popu- ção e o funcionamento dos serviços corresponden-
lação e, consequentemente, no seu grau de desen- tes, constituem o marco legal para a promoção de
volvimento, 48 localidades, sendo 11 sedes munici- ações, programas e projetos no setor saúde e sanea-
pais e 37 comunidades rurais. mento.
Para enfrentar esta situação o PROSAR–PI A atual Política Nacional de Saneamento colo-
desenvolve de forma conjugada, três eixos de ação: ca-se articulada às políticas de saúde, de meio ambi-
Implantação de Infraestrutura Física de Água e Es- ente, de desenvolvimento urbano e de recursos hídricos,
goto, Ações Sociais (de sensibilização, mobilização para que, de forma articulada, os Estados, o Distrito
comunitária e capacitação em associativismo) e Edu- Federal e os Municípios possam estabelecer as metas
cação Sanitária, com o uso de metodologias nacionais relativas à cobertura dos serviços de abas-
participativas visando ao desenvolvimento sustentá- tecimento de água, de esgotamento sanitário, de ní-
vel dos sistemas de água e esgotos e do meio ambi- veis de tratamento de esgotos e de qualidade dos ser-
ente bem como à saúde e à cidadania da população viços no setor, entre outras proposições.
diretamente beneficiada, estimada em mais de 85 mil Os princípios dessa política apoiam-se nos prin-
habitantes ou 17 mil famílias. cípios do Sistema Único de Saúde – SUS, da
No Brasil, a falta de saneamento traz graves integralidade das ações, da universalidade de aces-
consequências para a qualidade de vida da popula- so, da participação e controle social, em sintonia com
ção, sobretudo para aqueles segmentos mais as três esferas de governo, cujas atribuições estão
desprotegidos de infraestrutura, residentes da área assim dispostas:

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50 ARTIGO
Sobre a situação sanitária, este mesmo docu- 1991, este índice correspondia a 35,29% enquanto
mento demonstra forte necessidade de investimen- que no ano de 2000 houve um acréscimo para 47,24%.
tos no setor, muito embora revele ter havido uma No âmbito estadual, as tabelas abaixo demonstram
evolução no Brasil e na região Nordeste, registrando os dados sobre a evolução do Abastecimento de Água
um significativo aumento no índice de atendimento e Instalações Sanitárias no Piauí entre os anos de
de rede geral de esgoto ou pluvial. No Brasil, em 1991 e 2000.

Na área de atuação do PROSAR–PI, a sanitária, à falta de informação em saúde,


população convive com diversas necessidades além de encontrarem muitas dificuldades na
na área de saneamento que vão desde a falta, comunidade para evitar as doenças ou promo-
precariedade ou insuficiência de infraestrutura ver a saúde.

Em termos de Nordeste e Brasil, os índices do abastecimento de água através da rede de distribuição


Piauí estão aquém das médias nacionais e regionais, no Estado contempla 60,80% da população, enquanto
correspondendo a um déficit tanto na melhoria do abas- que na área de atuação do Programa este índice cai
tecimento de água como nas instalações sanitárias. para 50,41%. Outro dado é que, no Piauí, 42,94% dos
Situação ainda mais desfavorável é observada nos domicílios não possuem qualquer tipo de instalação sa-
municípios da área do PROSAR–PI, tomando-se como nitária, número que aumenta para 55,68% na área do
base o ano de 2000, em que se observa que o índice de PROSAR–PI, como ilustrado a seguir.

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51

Analisando o desenvolvimento do setor nos últi- O componente social do PROSAR–PI coloca-


mos anos, verifica-se que, no conjunto, o Piauí e a se no contexto do desenvolvimento comunitário com
área do PROSAR–PI ainda se encontram com índi- dois eixos básicos de ação: Sensibilização e
ces inferiores às médias do Nordeste e do Brasil, Mobilização Comunitária para adesão ao PROSAR–
refletindo a necessidade e urgência de investimentos PI, para a formação e o funcionamento eficaz e sus-
futuros para haver uma minimização dos déficits ve- tentável de associações de usuários de água e do
rificados. Desse modo, o incremento de ações que saneamento e a Educação Sanitária e Ambiental.
visem à melhoria dos sistemas de abastecimento de A concepção geral desse componente objetiva
água e instalações sanitárias ajudam a região a me- alcançar a participação comunitária, com vistas à for-
lhorar os índices de desenvolvimento, refletindo numa mação de associações locais em cada comunidade
melhoria da saúde pública. ou à modificação das associações já existentes, e de
formação de uma associação regional para os as-
2 FERRAMENTAS DE SENSIBILIZAÇÃO E suntos da água e do saneamento (SISAR), capaz de
MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE: autogerir um sistema autossustentável de financia-
METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS NO CICLO DE mento mediante pagamento de tarifa de consumo.
UM PROGRAMA DE SAÚDE E SANEAMENTO Visa, ainda, melhorar os conhecimentos básicos dos
usuários nas questões de saúde/doença relacionadas
BÁSICO RURAL

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52 ARTIGO
ao saneamento e, também, sobre o uso adequado da • Apresentar o trabalho realizado em cada
água e da infraestrutura implantada. grupo focal;
Para o processo de sensibilização, mobilização • Receber as críticas e sugestões dos parti-
e preparação das comunidades selecionadas, adotou- cipantes;
se metodologias e ferramentas de ação adequadas à • Aprovar o plano apresentado;
obtenção dos resultados visados e, consequentemente, • Estabelecer compromissos entre a comu-
do objetivo do projeto. nidade e o projeto;
As ferramentas consistem em: • Prever as ações de seguimento.

2.1 Levantamento socioeconômico sanitário 2.6 Formação em associativismo


Esta etapa consiste nos primeiros contatos da Consiste em um curso de associativismo que é
equipe técnica do Programa com a população, para oferecido à população em oito encontros, cada um
identificação das condições socioeconômicas e sani- com um subtema a ser desenvolvido, com dinâmi-
tárias das comunidades pré-selecionadas e a disposi- cas e procedimentos específicos. Após a sexta reu-
ção da população para a adesão ao programa, nião, a comunidade elege a diretoria da associação
objetivando realizar o levantamento dos dados local dos usuários dos sistemas, em assembleia co-
socioeconômicos e sanitários necessários. munitária.

2.2 Sensibilização das Prefeituras Municipais 2.7 Educação sanitária e ambiental


e Câmaras Municipais Concebe-se a Educação em Saúde como disci-
Com esta atividade, prefeituras municipais, de- plina de ação, como um dos mais importantes elos
mais gestores e políticos locais ficam conscientes entre os desejos e expectativas da população por
sobre os objetivos do PROSAR–PI e do SISAR, ela- melhores condições de saneamento, de saúde e de
boram e aprovam Lei Autorizativa de Concessão dos vida. Nesta proposta, a Educação em Saúde visa tra-
Recursos Hídricos do Município ao PROSAR–PI. balhar o nível de informação da população, encorajar
as pessoas a tomarem suas próprias decisões indivi-
2.3 Reunião Ampliada Local (RAL) duais e coletivas, promover a adoção de padrões sau-
É uma reunião de apresentação geral do proje- dáveis de vida, despertar para o uso adequado dos
to, realizada em cada comunidade, que tem como ob- equipamentos colocados à disposição da comunida-
jetivo a sensibilização e mobilização da comunidade de, fortalecer a consciência sanitária dos comunitári-
para receber o PROSAR–PI e para preparar a rea- os, tornando-os mais informados e seguros para alte-
lização do Diagnóstico Rápido Participativo – DRP. rar a realidade em que vivem, visando à melhoria das
condições de saúde e do meio ambiente: conheci-
2.4 Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) mento é uma apreensão da realidade. Aprendiza-
Sua importância reside no fato de o método do é uma modificação do conhecimento (comitê
participativo conduzir ao conhecimento da situação de especialistas em Planejamento e Avaliação dos
real de uma comunidade onde se quer intervir, pro- Serviços de Educação em Saúde da OMS).
porcionado aos homens e mulheres da comunidade e Esta concepção leva em consideração a parti-
aos técnicos do projeto, a identificação e análise dos cipação e a mobilização comunitária, com o intuito
problemas locais existentes nas diversas áreas, com de fortalecer a capacidade coletiva para assumir o
vistas à formulação, pela própria comunidade, do di- papel de protagonista dos seus próprios projetos, sendo
agnóstico atual e do seu planejamento. necessário conhecer bem a realidade das comunida-
des, os problemas de saúde existentes, o conheci-
2.5 Reunião de retroalimentação mento que a população detém sobre o tema e as
Trata-se da reunião comunitária ampliada na consequências advindas da falta de infraestrutura,
comunidade para: sendo esta a base para as mudanças que se quer

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53
implementar, com vistas ao melhoramento das con- vivem, visando à mudança de comportamentos e ati-
dições de saúde das comunidades e da tudes dos comunitários para a prática e aquisição de
sustentabilidade dos sistemas de água e esgoto. hábitos saudáveis e positivos à saúde e à preserva-
No contexto do PROSAR–PI, para o trabalho ção ambiental, priorizando os três eixos temáticos:
de educação sanitária, adotou-se como referência • Prevenção das doenças de veiculação
metodológica uma abordagem adaptada das hídrica;
metodologias participativas usadas em programas e • Higiene e saúde;
projetos rurais: SARAR (Self Esteem, Association • Uso adequado da água e das instalações.
Strenths, Resourcefulness, Action Planning and O enfoque desses três eixos de trabalho, além
Responsability); PHAST (Participatory Higiene and de possibilitar às comunidades a aquisição, de forma
Sanitation Transfomation) e DACO – Didática de gradativa, de hábitos que lhes ofereçam proteção
Apropriação do Conhecimento, com enfoque contra as doenças e promoção da saúde, também
epistemológico de construção e apropriação do co- estimula a participação, a a mobilização e a organi-
nhecimento, fundamentado no processo: ação-refle- zação comunitária, tendo como premissa “educar para
xão-ação, objetivando modificar comportamentos, a saúde e para a vida”.
hábitos e atitudes para a saúde, tomando-se como
esquema básico a construção coletiva de conheci- 3 O IMPACTO DAS METODOLOGIAS NO CICLO
mento, a formação de hábitos de higiene e a tomada DO PROGRAMA NAS COMUNIDADES
de decisão para a ação. O contato com as comunidades revela que
Os instrumentos informativos - educativos utili- 100% das comunidades selecionadas pelo PRO-
zados compreendem folders, cartazes, cartilhas, fo- SAR–PI já contavam com alguma alternativa de
lhetos, entre outros, e as técnicas incluem assembleias abastecimento de água implantada pelas prefeitu-
e reuniões, visita domiciliar, sociodrama, vídeo, tea- ras municipais. Algumas ainda são abastecidas por
tro de rua, campanhas, gincanas escolares, concurso chafariz, enquanto outras contam com sistemas sim-
de redação, construção de painéis temáticos, progra- plificados (SAA) e, às vezes, precário, de abasteci-
mas de rádio e outras abordagens grupais. mento de água, sendo que, em geral, as populações
É preciso trabalhar com os comunitários de consomem água sem qualquer tipo de tratamento
modo a estabelecer um diálogo acerca dos proble- antes da distribuição final.
mas de saúde vividos na comunidade para, a partir Também no que diz respeito ao uso inadequado
desse diálogo, identificar as possíveis soluções, sem da água, verifica-se haver grande desperdício de água.
que qualquer concepção vertical sobre o binômio Sobre a infraestrutura sanitária para a destinação das
“problemas x soluções” seja aplicada. águas servidas e para a destinação dos dejetos (fos-
Este enfoque recusa outros designados pela sas sépticas/rede coletora de esgoto) e destinação
expressa relação pedagógica ou relação “ensinante do lixo (aterro sanitário ou lixão), a situação das lo-
x ensinado”, “ensino x aprendizagem”, exclusiva calidades na área do programa é ainda mais precá-
para valorizar a relação entre a ação instrumental e ria. Em geral, não há coleta ou destino adequado do
a ação comunicativa, para alcançar níveis melhores lixo. A grande maioria da população afirma queimar
de consciência sanitária dos sujeitos, efetivação de o lixo, contudo constata-se haver muito lixo jogado
ações de caráter preventivo e a reconstituição das nas ruas ou amontoados nos arredores das casas.
representações sociais acerca das doenças, das difi- Ademais, as escolas não são boas referências quan-
culdades em saúde, do universo dos vetores e do meio to à prática de hábitos de limpeza e higiene, embora
ambiente, de modo a potencializar os efeitos do im- os professores declarem haver orientação sobre esta
pacto. matéria no conteúdo escolar (temas transversais).
O componente tem por objetivo informar e edu- A respeito da disposição das águas servidas,
car a população para os cuidados com a saúde, com 100% da população despeja essas águas a céu aber-
a higiene, com o saneamento e com o meio em que to, o que contribui para a proliferação de insetos, para

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54 ARTIGO
o convívio conjunto de pessoas e pequenos animais ambiente, consumo de água tratada, uso de banhei-
criados sem qualquer controle sanitário e para o ros, uso adequado da água, conservação do meio
surgimento de doenças. ambiente e dos recursos hídricos, entre outras.
Devido à baixa cobertura de unidades sanitári- Também, toda a metodologia de ação do pro-
as (banheiros) na região, a população em geral defe- grama estimula a prática conjunta da comunidade,
ca a céu aberto, contaminando o solo e contribuindo poderes públicos e organizações sociais, em prol do
para a poluição ambiental. O uso do papel higiênico desenvolvimento comunitário, onde cada segmento
é relatado pela maioria da população, sendo, contu- assume suas responsabilidades como cidadãos. Cada
do, 100% do papel usado, lançado a céu aberto. So- um colabora com o que sabe fazer, fazendo a sua
bre as principais doenças de veiculação hídrica, a parte, exercitando a participação para mudar de for-
população refere-se com maior ênfase às diarréias, ma consciente o que precisa ser mudado e a
verminoses e escabioses. mobilização comunitária para atingir continuamente
Sobre os hábitos de higiene da população, em- os resultados desejados por todos:
bora se verifique haver algum conhecimento da po- • Melhoria das condições de saúde da po-
pulação em torno da relação entre higiene e saúde, pulação e da expectativa de vida da popu-
ainda é baixo o cultivo de alguns hábitos pela popula- lação, com a diminuição das doenças;
ção, mesmo de alguns mais simples e divulgados, • Melhoria do nível de informação da popu-
como o de “lavar as mãos antes das refeições e após lação sobre saúde/doença (como se pre-
defecar”. venir das doenças, relação higiene/saúde
Sabe-se, contudo, que, para a aquisição de há- etc.);
bitos pela população, é preciso que esses sejam cul- • Utilização adequada da água e das insta-
tivados, repetidos insistentemente em casa, na esco- lações (fechar a torneira, manter limpos
la e em todos os espaços sociais de convivência e os banheiros etc.), para conferir durabili-
permanência das pessoas, até que venham a adquirir dade aos sistemas de água e esgoto;
status de “cultural” ou “costume” de um povo. • Prática dos hábitos de higiene (lavar as
Neste sentido, as ferramentas desenvolvidas e mãos, tomar banho, manter limpa a casa
implementadas no componente social do PROSAR– e os utensílios domésticos etc.);
PI vêm contribuindo de forma sustentável com a • Preservação do meio ambiente;
melhoria das condições de saúde da população aten- • Operação e administração dos sistemas;
dida, na medida em que as ações desenvolvidas vêm • Construção de comunidades saudáveis no
possibilitando aos comunitários motivação, conheci- lugar onde se vive de forma sustentável;
mento e condições para a participação em processos • Conforto e bem-estar;
de desenvolvimento comunitário, para a organização • Viver melhor.
comunitária, capacitação em associativismo e outros Segundo alguns autores, a mudança das organi-
processos favoráveis à autonomia dos sujeitos e à zações e das pessoas dá-se de forma lenta e gradativa,
construção de ambientes saudáveis. a partir de etapas, fases ou estágios e mediante mo-
As ações de educação em saúde ou ações mentos antagônicos, às vezes, simultâneos de acei-
educativas destinadas à prevenção da saúde desen- tação e resistência: ... mudanças ocorrem, porém
volvidas nas comunidades criam possibilidades às as coisas e as pessoas resistem a elas...
pessoas de cuidarem da sua própria saúde, preveni- Conclui-se serem importantes para os proces-
rem-se das doenças, preservarem o meio em que vi- sos de desenvolvimento das populações, não somen-
vem e se apropriarem da sua própria existência, a te os investimentos físico-financeiros, como também
partir do acesso a informações que podem mudar a definição do método a ser empregado e os instru-
seus hábitos e comportamentos, passando a tomar mentos da abordagem em acordo com a situação que
atitudes positivas para a saúde, como a prática de se quer mudar. No caso em foco, tais ferramentas
hábitos de higiene corporal, higiene da casa e do vêm fazendo a diferença, de modo que as comunida-

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55
des selecionadas pelo PROSAR–PI jamais serão as
mesmas, quer pela infraestrutura implantada, quer
pelos processos participativos de desenvolvimento
experimentados.

REFERÊNCIAS
ARCOVERDE, Ana Cristina Brito & LIMA, Rosa Maria. Cortes
de. Vulnerabilidade e desenvolvimento sustentável no semi-
árido nordestino, Anais do XII ENPESS, vol IV, Brasília 2000,
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conceito de comunidade. Recife, Universitária, 1985.
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v.25, n. 1, 2009

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56 ARTIGO

Arquivo CCPR
Alejo Lerzundi Silvera

Economista Agrícola. MSc. Consultor do IICA, PCT.


IICA/SEPLAN. Especialista em Desenvolvimento
Rural Sustentável

PROJETO DE COMBATE À POBREZA RURAL – PCPR


SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS – PERÍODO 2002-2007
APRESENTAÇÃO foi de US$ 60 milhões de dólares norte-americanos.
O presente relatório tem como objetivo descre- Para a primeira fase foram destinados US$ 30 mi-
ver os resultados do Projeto de Combate à Pobreza lhões, dos quais US$ 22,5 milhões oriundos do em-
Rural no período de 2003 a 2007, os desafios que préstimo e US$ 7,5 milhões em contrapartida esta-
enfrenta e as perspectivas previstas na Segunda Fase, dual, incluindo a contribuição dos beneficiários.
que cobre o período de 2008 a 2010. O Projeto, que concluiu a Primeira Fase em
O documento foi elaborado tendo como refe- 2007, estimulou, através de financiamentos não
rência os Relatórios de Desempenho Físico e Finan- reembolsáveis, os investimentos e empreendimentos
ceiro, Avaliação de Meio Termo e Estudos de Im- de interesse das comunidades rurais localizadas nas
pacto Social e Econômico realizados pelo Projeto, no áreas mais pobres do Estado. Pretendeu, com isso,
marco do compromisso contratual do Governo do contribuir para o fortalecimento do processo de or-
Estado do Piauí com o Banco Mundial, no âmbito do ganização e participação das comunidades, bem como,
Acordo de Empréstimo 4624-BR, bem como, Rela- o aperfeiçoamento do processo de tomada de deci-
tórios de Desempenho Anual, Relatórios de Supervi- são em nível municipal.
são do Banco Mundial, Relatórios de Auditoria e in- O Projeto foi constituído por três componen-
formações fornecidas pelo sistema de informações tes que formam a base do escopo da ação instituci-
INFOPCPR (MIS). onal: i) Subprojetos Comunitários; ii) Desenvolvimento
Institucional e iii) Administração, Supervisão,
1 ASPECTOS GERAIS Monitoramento e Avaliação do Projeto.
O PCPR II FASE I, inicialmente concebido O objetivo do Projeto, na Primeira Fase, foi
em 2002, teve como foco de sua ação 221 municí- contribuir para o alívio da pobreza rural e suas
pios piauienses (todos os municípios do Estado, consequências, mediante: i) a provisão de investimen-
com exceção de Teresina) em duas fases, a primei- tos comunitários orientados para a criação de
ra, no período de 2002-2005, e a segunda, para o pe- infraestrutura básica e geração de emprego e renda
ríodo de 2006-2009. O custo total do Projeto previsto para as camadas mais pobres do meio rural; ii) a des-

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57
centralização da alocação de recursos e a tomada de Os recursos desembolsados foram da ordem
decisões para os níveis locais, mediante o apoio aos de R$ 85.583.798,03, cifra superior em 8,47% aos
Conselhos Municipais e às associações de R$ 75.625.000,00 previstos (a diferença corresponde
beneficiários no planejamento, priorização de subpro- a recursos de parceria de fonte federal e estadual
jetos, execução e manutenção de investimentos e iii) alavancados pelo Projeto). No que se refere ao volu-
o estímulo à criação e à consolidação de organiza- me de recursos investidos por tipo de subprojetos,
ções comunitárias – Associações e Conselhos Muni- 85,79% correspondem a subprojetos de infraestrutura,
cipais – que poderão servir como instrumento de pla- 7,15% aos produtivos e 6,95% aos sociais. Foram
nejamento, de controle social, de expressão das ne- atendidas 107.102 famílias, superiores às 81.600 fa-
cessidades e das capacidades das comunidades po- mílias previstas, o que significa um acréscimo de
bres para a superação das barreiras ao seu desen- 7,62%. (Tabela 1).
volvimento econômico e social. Dentre os projetos de infraestrutura, destacam-
A estratégia adotada pelo Projeto propõe in- se os subprojetos de Eletrificação Rural, que são se-
centivar a participação dos seus beneficiários, as as- guidos de abastecimento de água, moradias e cister-
sociações comunitárias, em todo o processo decisório, nas. Dentre os subprojetos sociais, destacam-se os
como também, no processo de execução e fiscaliza- subprojetos de fossas sépticas, e dentre os subprojetos
ção de obras e serviços, junto aos conselhos munici- produtivos, há predominância de subprojetos de api-
pais, como nexo para apoio a estas associações e cultura, processamento de produtos agrícolas, cria-
como instância de representação da sociedade civil ção de animais de pequeno porte e mecanização agrí-
organizada nas tomadas das decisões. Adicionalmen- cola.
te, o Projeto para desenvolvimento destas atividades O financiamento dos projetos de infraestrutura,
promove as parcerias e integração de políticas públi- dentre os quais se destaca o investimento em obras
cas com órgãos estaduais e federais. O eixo princi- de eletrificação rural, se explica pela demanda das
pal definido objetiva focalizar a sua atenção na popu- comunidades de uma necessidade altamente senti-
lação rural mais pobre do Estado. da. Em diversas comunidades, as famílias não pos-
suem energia em suas casas, nem dispõem sequer
2 DESEMPENHO DA IMPLANTAÇÃO DOS dos recursos para adquirir os materiais necessários
SUBPROJETOS COMUNITÁRIOS – PERÍODO para levar a energia da rede geral de distribuição até
2002-2007 suas residências e arcar com as despesas com a ener-
De acordo com o Manual de Operações do Pro- gia consumida. Em muitos casos, as famílias depen-
jeto – MOP, os recursos para a implantação do Pro- dem do auxílio das Prefeituras para quitar suas con-
jeto seriam destinados diretamente às associações tas, alimentando uma dependência histórica e malé-
comunitárias para financiar a execução de subproje- fica às conveniências político-partidárias locais. O
tos sociais, produtivos e de infraestrutura. Este com- PCPR teve, sem dúvida, grande contribuição para
ponente compreende três subprogramas: PAC, diminuição dessa dependência pelo volume de recur-
FUMAC e FUMAC-P. sos destinados à eletrificação rural.
De acordo com dados do Sistema de Informa- Em 2003, o Governo adotou uma estratégia de
ções do PCPR (INFOPCPR), até 31 de dezembro priorização dos investimentos em Projetos Produti-
de 2007, foram financiados um total de 1.404 sub- vos, visando uma mudança de foco do PCPR. A es-
projetos comunitários, sendo 1.173 de infraestrutura tratégia teve como meta a elevação do emprego di-
(neste item foram incluídos todos os subprojetos de reto e o nível de renda das famílias rurais beneficia-
parcerias indicados na Tabela 1), 134 produtivos e 97 das com investimentos do Projeto. Com este propó-
sociais. Estes 1.404 subprojetos são superiores aos sito foram feitos esforços para simplificar os proces-
1.296 subprojetos previstos, o que significa 11,96% a sos de elaboração e aprovação dos subprojetos, bem
mais, derivados, em parte, dos acordos de parceria como a operacionalização na sua implantação, cui-
com instituições federais. dando, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade

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do ponto de vista técnico, econômico, social, institu- contrapartida, contrariando o entendimento com o
cional e ambiental, por encontrar-se nos âmbitos de Banco Mundial, segundo o qual os municípios mais
responsabilidade dos órgãos correspondentes, preci- pobres seriam financiados inteiramente pelo Projeto
saram de acordos de parceria para atendimento es- (empréstimo, contrapartida estadual e associação
pecífico, tais como as que foram estabelecidas com comunitária). Na fase final do Projeto já não existia
a Secretaria de Meio Ambiente, AGESPISA, mais essa condicionalidade. Faltam ainda a esses
CEPISA, EMATER, ONGs e outras prestadoras de municípios capacidade para elaboração dos subpro-
serviços de assistência técnica. jetos viáveis e serviços de apoio e acompanhamento,
Para otimizar os recursos existentes, foram o que, como se verá adiante, requer maior apoio da
estabelecidos acordos de parceria, principalmen- Unidade Técnica (UT). Em se tratando de subproje-
te, com a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, a tos produtivos, a existência mínima destes serviços e
FUNASA e o MDA. No período foram realizados outros arranjos são necessários para sua viabilidade,
181 subprojetos de moradias e cisternas, benefici- o que os municípios mais pobres não possuem. Há
ando 5.879 famílias com investimentos da ordem necessidade de o PCPR trabalhar no nivelamento de
de R$ 17.930.157,00. Os resultados de sua informações com as ONGs e outros prestadores de
efetividade se refletem na complementaridade de serviços técnicos vinculados, procurar maior
projetos com melhor uso dos recursos. Entendemos envolvimento das prefeituras e, principalmente, pro-
a necessidade de continuar trabalhando na mover o fortalecimento dos conselhos municipais
integração de políticas públicas através de acordos para uma maior presença no desenvolvimento das
de parcerias viáveis, junto à implantação de siste- associações comunitárias.
mas de monitoramento de forma que as responsa- Na distribuição dos subprojetos por municípios
bilidades sejam cumpridas pelas partes. Esta foi uma houve algumas distorções, alguns receberam uma
das propostas no PCPR que norteou suas ativida- grande quantidade de subprojetos e outros recebe-
des na primeira fase e espera-se que seja continua- ram quase nada. Pode-se observar, tomando os ex-
da na segunda fase, e que tenha como marco de tremos, que 21,90% dos municípios só receberam
referência as políticas do Governo Estadual, 4,70% de subprojetos (de um até dois subprojetos
monitorado pela Secretaria do Planejamento. Em cada). Contrariamente, no outro extremo 7,37% dos
2007, período de transição do novo Projeto, as ativi- municípios receberam 21,58% de subprojetos (mais
dades do PCPR estiveram concentradas à condu- de 14 subprojetos cada) (Tabela 3).
ção e finalização de financiamentos dos subproje- Ressalte-se, porém, que a maior quantidade de
tos vinculados a parceria com o Ministério de De- subprojetos não significa, necessariamente, maior vo-
senvolvimento Social. Foram financiados 28 subpro- lume de investimentos. Os 28 (13,4%) municípios com
jetos de cisternas, beneficiando 1.220 famílias e o maior volume de investimentos representaram 31,39%
montante foi de R$ 1.726.741,68. (Tabela 9). do total de investimentos nos municípios beneficia-
Do total de 222 municípios piauienses, foco da dos (209). O município beneficiado com a maior quan-
ação do PCPR II (excluído o de Teresina), 209 mu- tidade de subprojetos foi Barras (33 subprojetos), na
nicípios receberam pelo menos um Projeto. Dos 112 região Norte do Estado. Por outro lado, o maior volu-
municípios prioritários com o IDH abaixo de 0,590, me de recursos foi concentrado no município de São
109 receberam pelo menos um projeto, com investi- Raimundo Nonato (R$ 2.012.162,73), na região Su-
mentos de, aproximadamente, 50,28% dos subproje- deste. Os municípios de Coronel José Dias, Caracol,
tos (Tabela 2). Anísio de Abreu e São João do Arraial, que têm me-
Esta informação é importante porque mostra nos de 10 mil habitantes cada, ocupam de 5º a 8º
como é difícil canalizar os recursos previstos aos lugar em investimentos, respectivamente. (Tabela 4).
municípios considerados foco, o que foi muito mais A concentração de subprojetos em alguns mu-
evidente quando no início e equivocadamente, os nicípios deve-se a interesses destes em facilitar a ela-
municípios foram responsabilizados pela provisão de boração dos subprojetos viáveis e a disposição das

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instituições locais nos respectivos conselhos para 3 DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
apoio e acompanhamento. Segundo as diretrizes do No período relatado foram realizados 558 even-
Projeto, a aprovação pela UT de financiamentos de tos de mobilização e capacitação, através de semi-
subprojetos obedece à demanda originada nas asso- nários, oficinas e outros, com a participação de 19.681
ciações comunitárias e uma certa ordem de atendi- técnicos, lideranças, representantes e membros de
mento. Associações não beneficiadas têm a ver com associações comunitárias. Destes, destacaram-se 154
a falta de interesse e apoio das instituições de seu eventos de mobilização, com a participação de 3.850
entorno. No entanto, a UT tem focado campanhas lideranças para repasse de informações com respei-
de mobilização e divulgação, prestando atenção es- to ao novo Projeto e 154 eventos de capacitação e
pecial a esses municípios para cumprir com a neces- renovação dos conselhos municipais com a partici-
sidade de horizontalizar seus benefícios. pação de 7.750 pessoas, para adequação das diretri-
Em 31 de dezembro de 2007, segundo dados do zes do Projeto, devido a mudanças políticas e
INFOPCPR (MIS), existiam em carteira na UT- institucionais, que acontecem a cada quatro anos em
PCPR um total de 3.124 propostas, das quais efeti- razão das eleições estaduais e municipais. Foram
vamente 1.404 foram financiadas, enquanto, 1.720 realizados 30 cursos de capacitação de curta dura-
não foram. Estas últimas, majoritariamente, foram ção que favoreceram 1.386 técnicos da UT, entida-
propostas de investimentos para projetos de des parceiras, representantes de conselhos e lideran-
infraestrutura (64,30%) e subprojetos produtivos ças comunitárias. (Tabela 7).
(26,63%). (Tabela 5). Os subprojetos não foram fi- Foram realizados 26 eventos para nivelamento
nanciados, principalmente, pela falta de recursos do sobre características e diretrizes do projeto, elabora-
Projeto, mesmo que qualificados adequadamente, em ção e avaliação de projetos produtivos, bem como
muitos casos. As cifras indicam uma demanda que sobre organização e gestão comunitária para capaci-
supera largamente a oferta dos recursos. Esta situa- tação de multiplicadores. Foram beneficiados 840
ção foi usada como argumento de peso para viabilizar técnicos de ONGs e outras instituições parceiras em
a segunda Fase do Projeto. nível central e local. (Tabela 8).
Ressaltamos, por ter prioridade para o projeto, De 10 a 11 de abril de 2007, após encerramento
o atendimento de oito comunidades negras ou re- do Projeto, foi realizado em Teresina um “Seminário
manescentes de Quilombolas, localizadas em oito Interestadual de Integração, Parcerias e Perspecti-
municípios, favorecendo 372 famílias no montante vas de Acesso aos Mercados” com a participação de
de R$ 498.327,97, principalmente, com subprojetos agricultores beneficiários do PCPR, bem como, enti-
de energia rural, sistemas de abastecimento de água dades públicas e privadas vinculadas aos agronegócios,
e casa de mel de abelhas. (Tabela 6). tendo o apoio e participação do Banco Mundial, IICA,
O PCPR, por sua abrangência, capilaridade no Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do
meio rural e uso de métodos participativos na sua Nordeste, SEBRAE – PI, Grupo Claudino, Carrefour,
forma de atuação com associações comunitárias e Comercial Carvalho, Pão de Açúcar, Bompreço e ou-
conselhos municipais, foi cogitado como parceiro de tros. Teve a finalidade de analisar a situação existente
maior importância para articulação de atividades com e formular estratégias, junto a diferentes atores do meio
programas e projetos federais e estaduais, bem como, rural, para a promoção de parcerias e integração de
instituições públicas gerando complementação técni- políticas, temas estes, que nortearão as atividades do
ca e financeira, maximizando benefícios e PCPR II Fase II.
racionalidade na aplicação dos recursos públicos. Em Os Conselhos Municipais do FUMAC materiali-
mérito a esta atuação o PCPR do Piauí vem sendo zam a presença do PCPR nos municípios e represen-
nomeado, com reconhecimento do Banco Mundial, tam o foco principal da coordenação para
como referência para que Projetos similares consi- operacionalização do Projeto no local. A partir de 2003,
derem adotar a experiência, visando a integração de quando se definiu uma nova estratégia de composição
políticas públicas. e eleição dos Conselhos, em que as lideranças das

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Associações e entidades da sociedade civil passaram participativo. Mesmo que os resultados tivessem sido
efetivamente a escolher seus representantes, houve satisfatórios em termos físicos e financeiros, o FUMAC-
uma substancial mudança no perfil dos Conselhos com P mostrou problemas para viabilizar o controle sobre
um grande número de líderes sindicais, de associa- processo licitatório e prestação de contas, bem como,
ções comunitárias e entidades da sociedade civil, sen- na formação de capital social.
do elevados as funções de destaque na diretoria dos A cooptação do espaço de representação nos
Conselhos (cargos que geralmente eram ocupados por conselhos pelo poder municipal, como indicado aci-
representantes da Prefeitura). Desta forma, deu-se ma, nos leva a reconhecer que os conselhos preci-
um passo à frente no processo de democratização na sam de melhores condições institucionais e de arran-
escolha dos representantes e no processo de jos no entorno, para melhoria da gestão e consolida-
empoderamento e formação de capital social. ção respectiva. Por esta situação e pelos próprios
Tal mudança trouxe consigo um “efeito méritos, relatórios de supervisão demonstraram que
colateral” indesejável, na medida em que muitos pre- a modalidade do FUMAC, tem-se mostrado, por en-
feitos municipais perderam o “controle” dos Conse- quanto, como a mais viável para a prática da gestão
lhos, deixaram de fornecer o apoio logístico e institu- participativa e sustentável nos Projetos de Desen-
cional que garantia a funcionalidade dos mesmos, o volvimento Rural. Situação que deverá ser conside-
que, de certo modo, quase inviabilizou temporaria- rada para aprimorar as modalidades de intervenção
mente seu funcionamento. Passado o efeito, e tal- no novo Projeto.
vez, por causa disso, os membros dos conselhos tive- A modalidade do PAC foi idealizada para per-
ram que valer-se dos próprios meios para cumprir mitir o relacionamento direto das associações comu-
com seus compromissos. A segunda fase do PCPR nitárias com a UT, nos municípios sem o FUMAC,
deverá criar os mecanismos adequados para contor- ou seja, sem conselhos municipais. Teve relevância
nar o problema. no PAPP reformulado e no PCPR I, no PCPR II
A renovação dos Conselhos, também, permitiu Fase II contava-se inicialmente somente 25 municí-
mudanças nos critérios de seleção, que era de um pios inseridos no PAC, ao final do período eram 35
representante por cada associação comunitária, abrin- municípios, nos quais, foram implantados 180 sub-
do espaço para representação por região municipal projetos.
que envolve várias associações. Pelo sistema anteri- O crescimento de municípios com a modalida-
or, muitas comunidades não eram representadas, es- de do PAC não se deveu aos seus próprios méritos,
pecialmente quando os municípios tinham muitas co- mas sim à conjuntura inconveniente que gerou a
munidades. A partir dessa definição, cada região desativação das modalidades do FUMAC (09) e do
municipal elege seu representante em uma FUMAC-P (03). No caso do FUMAC, por desen-
miniplenária conferindo maior legitimidade na medi- tendimentos da diretoria dos conselhos com a nova
da em que permitiu que todas as regiões do municí- administração municipal, e de estas, com o Governo
pio tivessem assento nos Conselhos e, por outro lado, Estadual. No caso do FUMAC-P pela falta de ar-
diminuiu a excessiva interferência dos gestores lo- ranjos institucionais apropriados. Na realidade, o que
cais na indicação dos conselheiros representantes das aconteceu foi a consolidação da tendência generali-
associações/comunidades. zada, da modalidade do FUMAC, como a melhor
Com relação ao FUMAC-P, foram realizados 21 forma de intervenção, explicitamente manifestada
subprojetos em três municípios, baseados em planos pelos próprios usuários.
de desenvolvimento municipal, teve como finalidade Nestes últimos anos vem se gestando no Esta-
promover a graduação da modalidade do FUMAC a do uma estratégia de fortalecimento político local, no
um patamar, no qual, os municípios poderiam tomar marco da reforma administrativa e das normas de
decisões sobre tipos de subprojetos a serem financia- gestão municipal, alguns conselhos acompanham,
dos e alocados os recursos, baseados em tais planos razoavelmente, estes processos, outros, pela falta de
municipais de desenvolvimento e práticas de trabalho oportunidades, motivações para se reunirem (exem-

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61
plo: financiamentos de novos subprojetos) e por fa- são ligeiramente maiores do que a média histórica,
lhas de sua própria atuação, perdem iniciativas para devido à perspectiva de demanda do novo Projeto.
engajamento nas propostas de regionalização e da O processo administrativo e financeiro é bastan-
presença em conselhos municipais e regionais de te dinâmico, dada a peculiaridade de liberação dos
desenvolvimento, promovidos pelo Governo do Esta- subprojetos em parcelas, que requer agilidade nos pro-
do, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural cedimentos. O volume de processos a serem visados
e outras entidades federais. e liberados diariamente é considerável, fato que con-
O PCPR vem participando ativamente, junto à some boa parte do tempo de cada um dos ordenadores.
Secretaria do Planejamento nas atividades de Em 2005 foi criado o Sistema Integrado de Ad-
integração e promoção de parcerias tais como: o Pro- ministração Financeira de Estados e Municípios –
jeto Cenário Regionais do Piauí, coordenado pela Se- SIAFEM, que permite a centralização de informa-
cretaria do Planejamento. Consiste numa estratégia ções financeiras e gerenciais melhorando, substanci-
de desenvolvimento e planejamento de médio e longo almente, a capacidade de gestão das receitas e des-
prazo, com ênfase na elaboração e implantação de pesas do Estado. O PCPR que orçamentariamente é
planos regionais, privilegiando como instrumentos a um programa do Governo, está inserido totalmente
consulta e a participação efetiva dos municípios e co- nas diretrizes e critérios do SIAFEM.
munidades junto às quais se pretende atuar. As tarefas de monitoramento e supervisão do
Na perspectiva do PCPR II FASE II, efetivado Projeto incluem o estabelecimento e operação de um
em 2008, novos papéis e formas de atuação são re- Sistema de Monitoramento chamado de INFOPCPR
servadas ao Projeto, aos conselhos municipais e às (MIS) e uma equipe de supervisão de atuação, des-
comunidades, neste processo, de forma que seus tacada como fator para conclusão dos subprojetos,
benefícios possam reverter para cumprimento de seus garantindo qualidade e prazos de entrega, bem como
próprios objetivos. para levantamento de falhas e apontamento das
inadimplências.
4 ADMINISTRAÇÃO E SUPERVISÃO Foram elaborados estudos de desempenho físi-
A Unidade Técnica do PCPR está vinculada co e financeiro, avaliações de meio termo, além do
institucionalmente à Secretaria do Planejamento, cujo Estudo de Avaliação de Impacto Social e Econômi-
Secretário ordena despesas juntamente com o Dire- co, que permitiu ver com maior objetividade os bene-
tor Executivo. Até 2002, operou uma estrutura re- fícios do Projeto em termos de capital social. Este
manescente do PCPR I, a partir de 2003, procedeu- estudo foi de capital importância, não só para apro-
se a uma reforma administrativa na qual a UT foi vação do novo projeto na sua fase II, mas também
adequada à lógica proposta pelo Estado para todos para o desenho estratégico do mesmo. (Ver em Ane-
os entes governamentais. Dessa forma, uma nova xo II, um resumo dos principais estudos de avalia-
estrutura administrativa foi adotada, a UT-PCPR II ção realizados no período).
manteve relativa autonomia gerencial em seus as- A supervisão dos subprojetos, através de visitas
pectos administrativo e financeiro. prévias e visitas de acompanhamento durante a im-
Em outubro de 2007 a UT tinha uma organiza- plantação e entrega dos subprojetos, foi de grande
ção na qual destacavam três gerências: de opera- importância, permitindo o pagamento das parcelas
ções, de administração (ambos do PCPR) e outra do vinculadas previamente ao cumprimento de fases de
Projeto Crédito Fundiário. Contava-se com uma Ge- sua implantação, disciplinando a correta aplicação dos
rência Regional de Picos e a existência de um Con- recursos e garantindo a qualidade em função das
selho Gestor em nível estadual para homologação dos especificações técnicas. Adicionalmente, os relatóri-
subprojetos a serem financiados. Em dezembro de os de supervisão permitiram o encaminhamento à
2007 a UT tinha 84 funcionários dos quais 39 eram Justiça dos casos de inadimplências para
profissionais de nível superior, 28 técnicos de nível processamento respectivo, visando cumprir acordos
médio e 17 de nível administrativo. Estes números com as empreiteiras.

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62 ARTIGO
5 BALANÇO DA SITUAÇÃO ATUAL condição de ser o centro das atividades
do Projeto;
Ameaças • Formação precipitada de associações e
• Grupos de poder político e econômico com Conselhos;
grande capacidade para interferir nas de- • Concentração de projetos em alguns mu-
cisões e atividades do Projeto; nicípios;
• Ausência de prefeitos politicamente alinha- • Alguns conselhos municipais manipulados
dos ao novo Governo, para viabilizar par- pelas Prefeituras;
cerias e financiamentos de contrapartidas • Frota de veículos pequena e inadequada.
para investimentos em subprojetos, com
tendência a melhorar o leque de alianças Oportunidades
e garantir a governabilidade em nível es- • Governo do Estado com forte sintonia com
tadual e municipal; o Governo Federal, que tem priorizado
• Falta de arranjo institucional em nível local atividades de combate à pobreza;
para acompanhar as atividades de capaci- • Governo do Estado com marcas como
tação, assistência técnica e crédito de cus- transparência, participação e combate à
teio. A ameaça está sendo paulatinamente pobreza possibilitará um arranjo mais fa-
superada pela implantação de políticas de vorável para atividades do Projeto;
descentralização, integração e planejamen- • Reforma administrativa e processo de pla-
to regional, alentadas pelo Governo esta- nejamento regional em fase de realização
dual, bem como parcerias do PCPR com pelo Governo que melhorará a gestão de
pessoal e recursos;
órgãos federais e estaduais para
• Existência de políticas públicas relevan-
complementação técnica e financeira;
tes em favor de parcerias e integração,
• Baixo nível técnico e falta de serviços
bem como, favorecimento a empreendi-
básicos em nível local para apoio, princi-
mentos produtivos para geração de em-
palmente, à atividade produtiva. Ativida-
prego e renda;
des de capacitação e acordos de coope-
• Existência de uma situação positiva de
ração com o EMATER e ONGs têm ame-
autoestima e vocação de trabalho na po-
nizado o problema.
pulação;
• Disposição positiva das ONGs para tra-
Fraquezas
balhos de parceria em atividades de as-
• Ações centralizadas e insuficiente parti- sistência técnica;
cipação dos técnicos na tomada das deci- • Possibilidade do Ministério de Minas e Ener-
sões; gia e outros assumirem responsabilidades
• Frágil articulação interinstitucional dos se- no financiamento de subprojetos, como o
tores; de eletrificação, priorizando recursos do
• Dificuldades em operacionalizar conceitos PCPR para outros empreendimentos, prin-
básicos como desenvolvimento, gestão, cipalmente no campo produtivo e social;
participação, sustentabilidade etc.; • Início auspicioso de novas atividades como
• Atividades de capacitação pouco Comércio Justo e Solidário na exportação
priorizadas para atualização e reciclagem de mel, que pode tornar-se extensivo a ou-
de conhecimentos; tros produtos de competitividade reconhe-
• Recebimento de projetos com pendências cida no Estado;
e, às vezes, sem aval dos Conselhos; • Participação de capacidades técnicas e
• Associações comunitárias ainda débeis profissionais das universidades no proces-
para assumirem responsavelmente sua so decisório;

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63
• Em geral, o desencadeamento de novas O PCPR esteve operando em grande escala, fi-
forças institucionais, técnicas e produtivas nanciando vários tipos de projetos, e criando mecanis-
como consequência de mudanças em pro- mos institucionais com enorme capacidade para im-
cesso. plantação de projetos comunitários de maneira efici-
ente e a custos relativamente mais baixos. A demanda
Forças comunitária foi se concentrando em projetos de abas-
• Avaliação de impacto altamente favorá- tecimento de água e eletricidade. Estimativas da ava-
vel sobre desempenho do Projeto; liação indicam que o Projeto teve grande impacto so-
• Unidade Técnica – UT, com escritório, bre o acesso a esses serviços. Estima-se que pelo
razoavelmente, bem equipado e com os menos 59% tiveram acesso através do PCPR. Adici-
recursos operacionais necessários; onalmente, o PCPR tem implantado subprojetos a cus-
• Equipe técnica da UT estimulada, bem tos em média 30% menores que outros programas si-
estruturada, capacitada e experimentada milares do setor público. Os resultados do estudo qua-
para execução e supervisão de ativida- se-experimental, realizado para esta avaliação, indi-
des. Precisará de reforço nas atividades cam que os domicílios que obtiveram acesso à água e
de implantação de subprojetos produtivos, eletricidade pelo PCPR não teriam acesso a estes ser-
meio ambiente, controle interno e licita- viços através de outros programas.
ções; O Projeto continua a melhorar a focalização ao
• Sistema de informações na UT-SIG, re- longo do tempo: famílias beneficiadas mais recente-
formulado e em operação; mente têm nível de vida um pouco inferior do que os
• Máquina administrativa redimensionada, beneficiados há mais tempo. Assim, ao invés de o
com processo de descentralização em Projeto com o tempo passar a beneficiar mais as “eli-
andamento e melhor distribuição de car- tes locais”, uma das críticas que são feitas ao Proje-
gos e funções; to desde seu início, o PCPR está atingindo uma mai-
• Parceria de trabalho estabelecida com o or proporção de famílias mais pobres ao longo do
Ministério Público para fiscalizar a apli- tempo. Vários estudos sugerem que os Conselhos
cação dos recursos; Municipais e sua forma de organização participativa
• Parcerias bem sucedidas para assistência constituem a principal razão para a contínua melhoria
técnica aos projetos produtivos, realizadas na focalização do Projeto.
com ONGs (CEFAS, Diocese de Oeiras, O PCPR também adotou várias medidas para
Fundação Dante Civiero) e a FETAG; beneficiar mulheres, populações indígenas e
• Aproximadamente 90% dos municípios quilombolas. Quase 30% dos beneficiários do PCPR
com conselhos municipais do FUMAC são mulheres e elas estão cada vez mais ativas nas
implantados (superando o previsto no associações comunitárias. Todos os Estados com po-
Manual de Operações); pulações indígenas já possuem planos específicos para
• Já se observa a inversão campo/cidade, beneficiá-los e os quilombolas são especificamente
principalmente junto às comunidades bene- focados pelo Projeto nos Estados onde eles existem.
ficiadas com subprojetos de infraestrutura A qualidade dos projetos e a satisfação dos
(energia e abastecimento de água). beneficiários são altas. Mais de 90% dos beneficiários
estão satisfeitos com a qualidade dos materiais de
6 CONCLUSÕES construção e com a qualidade geral dos projetos. A
A seguir, as principais conclusões do Relatório sustentabilidade dos projetos também é alta. Em mé-
de Avaliação de Impacto Econômico e Social do dia, 80% destes, excluindo certos tipos de projetos
PCPR no Nordeste (Avaliação Quase-Experimen- produtivos, estavam operando três a cinco anos após
tal) realizado ao final de 2004, bem como, resultados a implantação. Somente os projetos produtivos mais
de outros estudos realizados no período. complexos, que dependem de mercados fora das

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64 ARTIGO
comunidades, têm índices baixos de sustentabilidade. O Projeto criou mecanismos institucionais mui-
Vários estudos concluíram que, para melhorar a taxa to abrangentes e eficazes que já estão sendo utiliza-
de sucesso desses projetos produtivos, o acesso a dos em vários Estados para canalizar financiamen-
mercados deve ser reforçado e deve ser dada maior tos de outros programas de desenvolvimento local e
ênfase à análise prévia da viabilidade técnica, eco- comunitário. O PCPR tem o potencial para ser utili-
nômica e ambiental dos subprojetos. zado de maneira ainda mais abrangente e de ser in-
Em em relação aos efeitos do PCPR sobre a tegrado com as políticas públicas em níveis local, es-
qualidade de vida, conclui-se que existem melhoras tadual e federal.
significativas na saúde, condições de moradia e aces-
so a serviços. O acesso a água e a eletricidade têm 7 PERSPECTIVAS
vários efeitos positivos sobre a saúde e sobre gastos Temos em perspectiva a execução do PCPR II
financeiros com obtenção de água. Particularmente FASE II, cuja efetividade será a partir de outubro de
em relação à saúde, o estudo quase-experimental su- 2007. O desenho do novo Projeto tem como referên-
gere que a mortalidade infantil e várias doenças co- cia, principalmente, os ensinamentos de sua primeira
muns como, por exemplo, diarréia e verminoses são fase e a estratégia de desenvolvimento rural do Go-
reduzidas nas comunidades beneficiadas pelo PCPR, verno com referência às políticas de integração e
além de se ter obtido resultados estatisticamente sig- parcerias, bem como a opção pelo desenvolvimento
nificativos de que o Projeto reduz a incidência de de atividades geradoras de emprego e renda.
Asma, Hepatite e Doença de Chagas. Neste contexto o PCPR transformou-se, de pro-
Vários estudos sugerem que o PCPR tem im- jeto caracterizado em seus inícios como de compen-
pacto positivo sobre a renda e acumulação de capital sação social para aliviar a pobreza no meio rural, em
físico, mas os resultados não são conclusivos. Assim projeto indutor do desenvolvimento. Isto pela sua
como os resultados do estudo quase-experimental, abrangência que cobre praticamente todo o Estado,
pois, apesar de sugerirem que o impacto do PCPR pelo montante dos recursos aplicados que são notori-
sobre o capital físico é positivo, seus resultados não amente muito maiores ao de outros empreendimen-
são estatisticamente significativos. Será necessário tos e pelos seus impactos econômicos e sociais alta-
investigar mais este assunto antes de chegarmos a mente satisfatórios.
conclusões definitivas sobre o impacto do Projeto na Adicionalmente, o PCPR tem se convertido em
renda e na acumulação de capital físico, o que seria indutor de uma estratégia de intervenção que hoje no
possível retornando-se à amostra investigada pela Estado se encontra generalizado. Caracterizado por
Fecamp, em 2004, para o estudo de perfil de entrada considerar as associações comunitárias como centro
do PCPR. (BUAINAIN; FONSECA, 2005b). de atuação do Projeto; ter promovido a criação e
O PCPR tem forte impacto positivo e sustentá- consolidação dos conselhos municipais no papel de
vel sobre o capital social. Os arranjos institucionais e nexo e apoio às comunidades e complemento neces-
a transparência dos mecanismos de funcionamento sário à governabilidade; estar promovendo as parce-
do Projeto promovem o controle social do setor pú- rias como meio para integração de políticas públicas
blico e minimizam a interferência política, a corrupção e privadas, vinculado a estas últimas; estar apoiando
e a obtenção de vantagens pelas “elites locais”. Os as atividades de “Comércio Justo e Solidário”; e, fi-
resultados do estudo quase-experimental indicam que nalmente, desenvolvendo o conceito de agronegócios
o PCPR “empodera” os beneficiários e aumenta sig- para geração de emprego e renda, para saída neces-
nificativamente o capital social dentro das comuni- sária às políticas federais atuais de compensação
dades e municípios. Adicionalmente, os resultados social tal como é o “Bolsa Família”.
mostram que o capital social criado continua a cres- Do ponto de vista operacional, para o
cer mesmo após a implantação do projeto, assim de- aprofundamento das linhas estratégicas acima indicadas
monstrando a sustentabilidade do impacto causado e aprimoramento respectivo, o novo PCPR deverá
pelo PCPR. prestar especial atenção aos seguintes aspectos:

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65
• Fortalecimento e ampliação das par- sentadas pelas comunidades rurais aos
cerias e arranjos institucionais Conselhos, evitando, por exemplo, que se
Através da manutenção e ampliação das aprove um grande número de propostas que
parcerias e arranjos institucionais com dificilmente serão financiadas na sua tota-
setores governamentais e não governa- lidade, dada a limitação de recursos ante a
mentais como formas de ampliar e aper- enorme demanda existente.
feiçoar investimentos, dinamizar e aper-
feiçoar continuadamente a implantação de • Ampliação dos investimentos em ge-
subprojetos e a funcionalidade dos Con- ração de trabalho e renda
selhos Municipais e Associações Comu- Os investimentos em projetos produtivos
nitárias. As parcerias financeiras, por sua precisam ser ampliados na perspectiva de
vez, poderão superar as limitações impos- interferir positivamente na matriz econômi-
tas pela não alocação de contrapartidas ca das famílias beneficiárias do Projeto em
por muitas Prefeituras Municipais. médio e longo prazo, sem o que não se al-
tera a situação de pobreza no meio rural,
• Fortalecimento e valorização dos Con- considerando que, pela situação de exclu-
selhos Municipais são em que se encontram, muitas famílias
Tendo em conta a perspectiva de não dispõem dos mínimos essenciais para
aperfeiçoamento das ações do PCPR, além uma vida com dignidade, estando conde-
de capacitação, se faz necessário que sejam nadas à dependência de programas gover-
garantidas as condições mínimas de namentais de compensação, se não lhes for
funcionalidade aos Conselhos Municipais do dada oportunidade de emancipação.
FUMAC, sem o que continuarão tutelados
pelo poder político local e limitados na sua • Diversificação da equipe de análise e
ação. Para tanto, sugerimos a definição de supervisão
um percentual de recursos destinados aos Na perspectiva complementaridade e vi-
Conselhos sobre cada subprojeto financiado são sistêmica se faz necessária a diversi-
em suas áreas de atuação. ficação da equipe de análise e supervisão
com agregação de profissionais da área
• Descentralização de gestão e das social “atualmente não há nenhum – que
ações possam acompanhar o processo de implan-
Reforçando a descentralização gerencial tação de subprojetos desde a visita prévia
e operacional da UT, a partir de uma es- até a conclusão das obras e posterior
tratégia de regionalização das ações, pro- monitoramento pós-implantação. A análi-
piciando as condições de funcionalidade e se dos subprojetos ainda é focada muito
consolidação da experiência que se iniciou nos aspectos físicos e orçamentários, sem
na região de Picos com ampliação da es- uma reflexão qualitativa do contexto soci-
tratégia para outras regiões mais distan- al e organizacional das comunidades
tes, particularmente o Sul do Estado. beneficiárias.

• Indicativo anual de investimentos • Fortalecimento da equipe técnica


Os Conselhos do FUMAC reivindicam, Com agregação de mais profissionais qua-
acertadamente, que a UT estabeleça um lificados em áreas distintas, na perspectiva
indicativo anual de investimento para regi- de ampliar e melhorar as atividades de: i)
ões e municípios, fato que possibilitaria uma finanças, licitações e prestação de contas
análise mais qualificada das propostas apre- da UT de associações comunitárias; ii)

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66 ARTIGO
mobilização e capacitação, iii) viabilidade e REFERÊNCIAS
implantação de subprojetos produtivos; iv) 1. BANCO MUNDIAL – Ajuda memória. Relatórios semes-
promoção de agronegócios; v) preservação trais de supervisão do Banco Mundial. Documento interno de
do meio ambiente e vi) suporte aos Conse- trabalho.
lhos Municipais e Associações Comunitá- 2. PCPR - Manual de Operações – MOP. Acordo de emprésti-
mo nº 4624.
rias nas áreas de gestão.
3. PCPR - POA [Pesquisados os seguintes anos: 2003, 2004,
2005]. Teresina, PI. Documento interno de trabalho.
• Definição clara de competências e de 4. PCPR - Relatório de Desempenho Fisico-Financeiro do Pro-
procedimentos jeto de Combate à Pobreza Rural – Período 2002 - 2005 Docu-
O regimento interno da UT precisa ser re- mento interno de trabalho.
formulado de modo a proporcionar clareza 5. PCPR - Relatórios de Desempenho Físico e Financeiro.
de competências das estruturas hierárqui- Documento interno de trabalho.
cas intermediárias (Gerências, Coordena- 6. PCPR - Avaliação de Impacto do Projeto de Combate à
Pobreza Rural - PCPR. 1993-2005. Documento interno de tra-
ções, Supervisões), hoje muito difusas. Do balho.
mesmo modo, urge a definição de um pa- 7. PCPR - Relatórios de Desempenho Anual. [Pesquisados os
drão interno de gerenciamento e procedi- seguintes anos: 2003, 2004, 2005]. Documento interno de tra-
mentos, do contrário, a exceção passa a balho.
ser a regra geral, fato que vem se verifi- 8. PCPR - PCPR - Relatórios de Auditoria. Documento interno
cando com mais intensidade no cadastra- de trabalho.
mento de propostas de subprojetos mal ela- 9. PCPR - Sistema de informações INFOPCPR (MIS). Docu-
mento interno de trabalho.
boradas e eivadas de pendências, que en-
10. SEPLAN - Plano Plurianual PPA, 2004-2007. Documento
travam o andamento de muitas propostas e interno de trabalho.
comprometem a execução do Projeto.
11. INSTITUTO CIVITAS - Cidadania e Políticas Públicas. Re-
latório de Revisão de Meio Termo e Estudo de Desempenho
• Focalização de Investimentos Físico e Financeiro. Setembro 2004. Documento interno de
Considerando a limitação de recursos fi- trabalho.
nanceiros para atender toda a demanda,
haverá uma definição estratégica de in-
vestimentos em regiões e/ou segmentos
produtivos na perspectiva de superação,
em definitivo, das mazelas sociais que aco-
metem grande parcela da população piau-
iense, particularmente, no meio rural. Sem
abrir mão, contudo, do princípio de que os
investimentos serão selecionados e exe-
cutados pelos beneficiários.

• Definição de estratégias e planeja-


mento das ações
Para um eficiente processo de gestão, faz-
se necessário que seja definida e efetiva-
da uma rotina interna e continuada de pla-
nejamento, sem o que se continuará atu-
ando no improviso com sérios riscos de se
cometer equívocos gerenciais.

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ANEXO I
DADOS ESTATÍSTICOS

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ANEXO II

RESUMO DOS ESTUDOS DE AVALIAÇÃO RELEVANTES


REALIZADOS NO PCPR II FASE I

1 ESTUDO DE AVALIAÇÃO DO PROJETO DE tulo 1 e sumariza as conclusões que são apoiadas


COMBATE À POBREZA RURAL–PCPR. por metodologias apropriadas. O Capítulo 3 relata
ESTADOS: CEARÁ, PIAUÍ E RIO GRANDE sobre os resultados do estudo de impacto realiza-
DO NORTE (1993-2005) do nos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do
Norte. Nesse capítulo a metodologia utilizada é
apresentada em linguagem matemática, os dados
1.1 Apresentação e a transformação destes são também apresenta-
O estudo teve como objetivo avaliar o impacto dos e discutidos os resultados sobre infraestrutura,
do Projeto de Combate à Pobreza Rural (PCPR) e saúde e capital físico e social.
se baseou em dois exercícios complementares: 1) O estudo foi elaborado sob a coordenação téc-
uma revisão crítica da literatura sobre o PCPR, in- nica de Hans Binswanger. A equipe de pesquisado-
cluindo todos os estudos realizados até o início de res foi composta, em ordem alfabética do sobreno-
2006; e 2) a realização de um novo estudo que utili- me por: Fátima Amazonas, Túlio Barbosa, Alberto
za o desenho “quase-experimental” e metodologia Costa, Naércio Menezes, Elaine Pazello e Cláudia
de análise apropriada para uma avaliação rigorosa Romano. O estudo de impacto do PCPR, apresenta-
dos efeitos diretos do PCPR sobre infraestrutura e do no Capítulo 3, foi financiado pelas Unidades Téc-
dos impactos sobre saúde, capital físico e social, as- nicas dos Projetos de Combate à Pobreza Rural dos
pectos estes que não haviam sido analisados rigo- estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, via
rosamente pelos estudos anteriores. Além disso, foi Contrato de Cooperação Técnica com o IICA e pelo
desenvolvida uma análise dos problemas comuns nas Banco Mundial. Os estudos apresentados nos Capí-
avaliações de impacto e uma classificação das tulos 1 e 2 foram realizados como complementos ao
metodologias de avaliação, que foi utilizada para ana- estudo de impacto do PCPR e foram financiados pelo
lisar a literatura disponível e classificar cada con- Banco Mundial.
clusão destes estudos de acordo com a metodologia Os autores deste relatório formaram a equipe
utilizada. Os resultados destes três exercícios são que realizou esses estudos. Os dados utilizados no
apresentados neste relatório. estudo de impacto foram coletados pela empresa de
O estudo compreende três capítulos e estão pesquisas de opinião Sensus, em setembro e outubro
organizados da seguinte maneira: O Capítulo 1 ana- de 2005. As análises foram finalizadas no final de
lisa os problemas comuns nas avaliações de pro- fevereiro de 2006 e uma versão resumida destas foi
gramas com especial ênfase nos estudos de im- incluída em um capítulo sobre avaliações do Projeto
pacto. Ele foi escrito para o público leigo em as- para um livro sobre o PCPR. Este relatório apresen-
suntos relacionados a metodologias de avaliação. ta de forma mais completa e detalhada os resultados
Nesse capítulo é desenvolvida uma classificação do estudo. A intenção dos autores foi submeter a pri-
das metodologias, que tem a função de analisar a meira versão do relatório a revisões críticas formais
literatura disponível de estudos sobre o PCPR e e, posteriormente, a publicação dos capítulos em re-
classificar cada conclusão baseada na metodologia vistas científicas, portanto seus resultados serão va-
utilizada. O Capítulo 2 avalia a literatura existente lidados pela comunidade científica e estarão disponí-
usando a classificação das metodologias do Capí- veis ao público em geral.

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1.2 Principais Resultados do Estudo Rural (PCPR) financiou mais de 50 mil subprojetos
O estudo indica que desde seu início o Proje- comunitários em aproximadamente 37 mil comuni-
to de Combate à Pobreza Rural foi objeto de vári- dades pobres rurais do Nordeste, utilizando a abor-
os estudos e análises críticas, literatura que é dis- dagem Community Driven Development (CDD), em
cutida em detalhe no segundo capítulo do relató- que as próprias comunidades solicitam, administram
rio. O estudo diz que a interação dialética entre as os recursos financeiros e a execução dos subproje-
críticas e as avaliações contribuiu gradativamente tos. Esta abordagem CDD representou uma mudan-
para a melhoria do desenho e da implantação do ça radical em relação aos programas de desenvolvi-
Projeto que, progressivamente, incorporou as li- mento rural no Nordeste, inclusive os financiados
ções aprendidas. Essa literatura foi primeiramen- anteriormente pelo Banco Mundial.
te resumida em um relatório elaborado por Johan
Van Zyl, Loretta Sonn e Alberto Costa no ano de 1.3 Resultados sobre Formação
2000. Este relatório também incluía uma discus- de Capital Social
são sobre a situação política e econômica do Nor- O Estudo Quase-Experimental leva à conclu-
deste, a história dos programas precursores do são de que o PCPR tem efetivamente gerado capi-
PCPR e a evolução do Projeto ao longo do tempo. tal social nas comunidades rurais nordestinas. To-
O relatório concluiu que o Projeto: tinha uma boa dos os seus resultados indicam – de forma estatisti-
focalização; foi capaz de construir infraestrutura camente significativa e com alto grau de
de boa qualidade a custos baixos e que se manti- confiabilidade – que o PCPR tem um impacto ime-
nham funcionando após longo período; aumentou diato e intenso sobre a formação de capital social.
significativamente o capital social comunitário e Esse impacto deriva tanto da formação das associ-
municipal; e teve um impacto positivo sobre a saú- ações como da execução dos subprojetos, mas a
de das populações beneficiadas devido à ênfase implantação de seus subprojetos produz o que se
do Projeto em subprojetos de abastecimento de pode chamar de um efeito de euforia ou exube-
água. Também demonstrou que os subprojetos pro- rância das atividades coletivas que consiste na in-
dutivos, como um todo, eram menos sustentáveis tensificação destas atividades coletivas de colabo-
do que os de infraestrutura, mas indicou que, mes- ração local, das relações de cooperação entre as
mo assim, tinham uma taxa de retorno positiva. comunidades (ou suas entidades representativas) e
No entanto, este relatório que contém ótima análi- entre elas e as estruturas locais de governos, que
se do PCPR nunca foi submetido a uma revisão se revelou no fato de que o capital social cresceu
crítica formal ou publicado e, portanto, seus resul- mais, em pouco tempo, nas comunidades do ano de
tados não foram referendados e permaneceram 2005 do que nas comunidades do ano de 2002. Du-
desconhecidos. Um ponto fraco do relatório é que rante este período de euforia, o ritmo de crescimen-
não há informação sobre as metodologias utiliza- to do capital social se acelera, depois dele esse rit-
das nos estudos que serviram como base das aná- mo diminui. Todavia, o capital social gerado sob seu
lises feitas. estímulo não declina, nem sofre retrocessos. Ele con-
Uma das maiores falhas na literatura sobre o tinua a crescer depois da implantação do subprojeto,
PCPR, e que persistiu até este estudo, é a ausência embora num ritmo mais lento.
de avaliações de impacto rigorosas, as quais poderi- O PCPR gera ou fortalece arranjos
am fornecer dados confiáveis sobre o impacto eco- institucionais que desfrutam de elevada confiança
nômico e social do Projeto. Portanto, no começo de e credibilidade nas comunidades rurais na medida
2005 iniciou-se uma série de novos estudos que ser- em que efetivamente contribuem para a solução
viriam justamente para complementar as informações de problemas locais. O fortalecimento das associ-
que ainda não estavam disponíveis. ações comunitárias e sua participação em conse-
Desde 1993 o Projeto de Combate à Pobreza lhos municipais estão amplamente associados ao

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75
aumento da capacidade das comunidades rurais or parcela dos benefícios oriundos de políticas pú-
pobres de fazerem representar seus interesses, de blicas por essas elites em detrimento das popula-
exercerem controle social sobre os atos dos ções pobres, é como um mecanismo vicioso de
gestores municipais e de pressioná-los a darem res- reprodução de suas condições de pobreza. Elas são,
postas efetivas às demandas originadas nas co- portanto, capazes de levar à formação de eleva-
munidades. O PCPR é visto como responsável por dos graus de capital social. Todavia continuam a
tal reputação, pois a realização de um subprojeto serem utilizadas aquém de suas capacidades nos
comunitário escolhido e implementado pelos mem- processos de gestão pública e governança local e,
bros de uma associação comunitária é fator indis- portanto, não surpreende que a dimensão mais afe-
pensável à credibilidade das associações comuni- tada pelo esmorecimento do ritmo de crescimento
tárias e à construção de um sentimento de confi- do capital social após o efeito de euforia, causa-
ança, entre a população pobre, de que ela seja ca- do pela implantação dos subprojetos do PCPR, seja
paz de protagonizar soluções para suas próprias a da participação civil e da cidadania.
dificuldades sem continuar a depender dos favo- Enfim, o Estudo Quase-Experimental de-
res e benesses das elites locais e regionais. monstra que, entre os informantes local e muni-
Em função disto começa a existir nestas comu- cipal, prevalece uma avaliação extremamente po-
nidades um potencial elevado e não utilizado de capi- sitiva da influência dos processos de participa-
tal social. Todavia, em decorrência das restrições or- ção comunitária e civil sobre a gestão municipal,
çamentárias do PCPR e da escassez de outras polí- as parcerias entre o poder público e as comuni-
ticas públicas que adotem a abordagem da orienta- dades, a publicidade dos atos dos gestores muni-
ção pela demanda comunitária, a partir de 1993, o cipais e o controle social exercido sobre os mes-
Nordeste rural assistiu à constituição de uma ampla mos. Tais percepções não impedem, contudo, que
gama de novas instituições sociais que estão sendo se considerem ainda tímidas a capacidade de res-
subutilizadas. Não só poucas comunidades benefici- posta e o interesse em responder a demandas e
adas pelo PCPR conseguem obter um segundo cobranças comunitárias pelas autoridades muni-
subprojeto, como também há poucas políticas públi- cipais. Elas também não impedem que se perce-
cas que tenham efetivamente endossado a aborda- ba que a participação política e eleitoral das as-
gem da orientação da tomada de decisões pela de- sociações comunitárias e de suas lideranças per-
manda e a participação comunitária. Isto limita o im- maneça limitada, ou seja, subestimada. Nem im-
pacto que a intensa formação de capital social em pedem que, de fato, os canais legalmente consti-
nível comunitário venha a ter sobre os processos de tuídos para a representação política continuem lar-
governança local e gestão municipal. gamente inacessíveis a representantes legítimos
Associações comunitárias – e os conselhos das populações e comunidades rurais mais pobres.
municipais em que participam majoritariamente – Combinadas essas percepções e esses dados re-
são capazes de representar apropriadamente os in- forçam a importância dos novos arranjos
teresses das populações mais pobres, implantar efi- institucionais estimulados pelo PCPR (e, por con-
cientemente ações locais, fortalecer os laços hori- seguinte, dos estímulos carreados pelo PCPR e
zontais de confiança, solidariedade e cooperação por políticas públicas com orientação similar) para
entre iguais, e impulsionar uma transformação de- promover a legítima representação dos interes-
mocrática das relações verticais entre comunida- ses e a efetiva participação das populações ru-
des rurais pobres e o Estado, tradicionalmente rais pobres em processos de tomada de decisão
marcadas pela intermediação das elites locais, pela aos níveis local e municipal. Tem sido através des-
constituição de laços de dependência e subordina- ses arranjos que, no Nordeste rural, essas popu-
ção, profundamente hierarquizados entre essas eli- lações pobres vêm encontrando o melhor solo para
tes e as populações pobres e pela captura da mai- desenvolverem seu capital social, ganharem con-

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76 ARTIGO
fiança em suas relações com o Estado e em sua No entanto, aumentos na renda de famílias pobres
capacidade enquanto protagonistas de processos podem ser, em grande parte consumidos ao invés
de desenvolvimento local, capturarem uma par- de investidos, portanto uma parte importante do
cela mais justa dos benefícios oriundos de políti- efeito sobre a renda não pôde ser medido através
cas públicas e ampliarem – através de uma parti- do capital. Além disso, os impactos do Projeto so-
cipação comunitária e civil mais efetiva – sua in- bre a saúde deveriam ser analisados novamente,
fluência sobre os processos de governança e ges- baseados em observações diretas, pois os resulta-
tão municipal. Confrontando séculos de uma tra- dos deste estudo, que indicam efeitos positivos
dição clientelista arraigada numa sociedade sobre mortalidade infantil e algumas doenças, fo-
marcada por profundas diferenças sociais, eco- ram baseados nas respostas de informantes quali-
nômicas e políticas que se reforçam mutuamen- ficados e não em observações diretas.
te, é evidente que esses processos ainda não se Portanto, ainda é necessário realizar um estu-
completaram, mas mesmo os mais céticos dos es- do que possa medir o impacto sobre a renda e vali-
tudiosos que no passado se debruçaram sobre a dar os resultados sobre a saúde. Os autores suge-
análise do impacto do PCPR na participação po- rem que se retorne, de preferência no segundo se-
pular, na formação de capital social e no resgate mestre de 2006, à mesma amostra utilizada no estu-
da cidadania, enquanto fim e enquanto meio im- do da FECAMP realizado em 2005 (BUAINAIN;
prescindível à redução da pobreza, não se cega- FONSECA, 2005b), o qual utilizou amostra de
ram à constatação de ser este o caminho mais beneficiários e controle e coletou dados detalhados
promissor – talvez, o único caminho. domiciliares, inclusive sobre renda, do período an-
terior à implantação dos subprojetos. Este estudo
1.4 Conclusões sobre Questões de impacto deveria incorporar o leque de
Metodológicas e Consistência do Estudo metodologias disponíveis para corrigir o viés de se-
Este relatório confirmou as conclusões princi- leção, incluindo “propensity-score matching” e o mé-
pais do estudo de Johan Van Zyl et al. (2000), o mais todo de diferença-em-diferenças.
abrangente estudo do PCPR anterior a este. O estu-
do aqui apresentado mostra de maneira rigorosa que
o Projeto teve impacto significativo no acesso à água 2 RELATÓRIO DE DESEMPENHO FÍSICO E
e eletricidade no Nordeste, que reduziu a mortalida- REVISÃO DE MEIO TERMO DO PCPR/PI
de infantil e a incidência de várias doenças. Também
concluiu que o Projeto tem um grande e sustentável 2.1 Introdução
impacto no capital social comunitário, o qual não te- O presente Relatório atende à demanda de
ria sido criado na ausência do PCPR e que não dimi- Consultoria formulada pela SEPLAN/UT-PCPR II
nui depois de implantados os subprojetos. no marco do compromisso contratual do Governo
No entanto, alguns resultados continuam do Estado do Piauí com o Banco Mundial, no âmbi-
inconclusivos. Os resultados sugerem que o Pro- to do Acordo de Empréstimo 46240-BR e foi con-
jeto tem um impacto positivo na acumulação de duzido em consonância com o Termo de Referên-
capital físico dos beneficiários, mas os efeitos não cia específico.
são estatisticamente significativos. Como os da- O trabalho ocorreu no âmbito do Programa de
dos sobre o perfil de entrada utilizados no estudo Cooperação Técnica do Instituto Interamericano de
foram coletados via “recall”, isto é, nas entrevis- Cooperação para a Agricultura – PCT-IICA/
tas feitas em 2005 foram feitas perguntas sobre a SEPLAN-PCPR II do Estado do Piauí e foi conduzi-
situação em 2002, o impacto do PCPR sobre a do pelo Instituto CIVITAS – Cidadania e Políticas
renda não pôde ser medido. Em vez disso, o estu- Públicas de Teresina-PI, organização não governa-
do analisou o impacto no capital físico acumulado. mental sem fins lucrativos, sediada em Teresina- Piauí,

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77
que, para tanto, contou com uma equipe composta ar com um maior grau de profundidade o desempe-
por 19 profissionais (1 Coordenador Geral, 5 Consul- nho dos subprojetos executados pelas associações
tores, 12 pesquisadores de campo e 1 funcionário comunitárias, bem como, sua importância na vida das
administrativo). comunidades, ao tempo em que buscou identificar
O Relatório foi elaborado objetivando fornecer aspectos relevantes (positivos ou negativos) no pro-
elementos para o governo estadual, UT-PCPR e cesso de implantação do PCPR II, no Estado do Piauí.
Banco Mundial, que permitam a identificação de ex- Foram efetivados três estudos de casos em comuni-
periências bem-sucedidas e de problemas de implan- dades beneficiárias de projetos do PCPR, escolhidas
tação, particularmente no que se refere às opera- aleatoriamente dentre o universo de beneficiários. Os
ções de financiamento feitas através dos conselhos estudos foram realizados nas comunidades São Be-
municipais, a fim de recomendar modificações ne- nedito, município de Cocal; Paciência, município de
cessárias na metodologia e no desenho. Coivaras e Chapada dos Nunes, município de Tan-
Por outro lado, o Relatório procura avaliar o su- que do Piauí.
cesso dos investimentos financiados através do PCPR Buscando ampliar a leitura sobre o desempe-
II no que se refere ao alcance dos objetivos específi- nho do PCPR e sobre a percepção de setores da
cos dos subprojetos e a qualidade, eficiência, eficá- sociedade civil sobre a importância e a
cia e sustentabilidade dos investimentos. operacionalização do Projeto, foram mantidos di-
Por uma definição do Termo de Referência, o versos contatos com instituições e/ou pessoas físi-
Relatório para Revisão de Meio Termo – RMT abar- cas e representantes governamentais e não gover-
cou, a um só tempo, três estudos distintos, o que, de namentais.
certo modo, dificultou sua execução no tempo deli-
mitado de 90 dias. No bojo do trabalho foram realiza- 2.2 Resultados com Relação ao Relatório para
dos o RMT propriamente dito com uma abordagem Revisão de Meio Termo
sobre o desempenho do Projeto, o Estudo de De-
sempenho Físico – EDF com uma abordagem sobre Aspectos Positivos
o processo de execução dos Subprojetos e Estudos • Compromisso institucional demonstrado
de Casos que focaram em comunidades específicas pelo corpo técnico e administrativo da UT
e o impacto dos subprojetos em suas vidas. para com o Projeto, tem sido um fator
O processo de elaboração do relatório envol- determinante para o aperfeiçoamento e
veu toda a equipe de consultores e combinou ativida- êxitos que se tem alcançado na implanta-
des de escritório onde se procedeu à leitura e análise ção do PCPR no Piauí.
de documentos institucionais (Manual de Operações, • A relativa transparência nas ações e a se-
PAD, PIP, Relatórios de Execução, Processos refe- riedade com que vem sendo operacionali-
rentes a convênios, dentre outros) e se discutiram e zado é um fator que tem conferido uma
formularam instrumentais metodológicos com ativi- marca de respeito e credibilidade ao PCPR
dades de campo (entrevistas, reuniões, estudo de casos perante toda a sociedade piauiense. Co-
e pesquisa aplicada). munidades rurais, lideranças municipais,
O Estudo de Desempenho Físico – EDF foi re- políticos de situação e oposição, impren-
alizado por amostragem estatística, nos termos do sa, organizações não governamentais e
TdR, resultando numa amostra composta por 40 Sub- segmentos de governo, em que pesem
projetos (27 do tipo Infraestrutura, 8 do tipo Social e críticas pontuais, têm o PCPR como um
5 do tipo Produtivo) em 37 municípios e contou com Projeto sério, ágil e imprescindível para o
a participação de 12 profissionais organizados em seis Piauí no atual contexto histórico.
equipes. • A relação entre a UT e as lideranças co-
Os estudos de casos tiveram por objetivo avali- munitárias no que se refere ao acesso aos

v.25, n. 1, 2009

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78 ARTIGO
gestores pelas lideranças comunitárias evo- selhos. A reformulação da metodologia de
luiu, e hoje se dá de forma democrática e composição, por sua vez, conferiu maior
respeitosa. Nas palavras do Presidente do autonomia à sociedade civil na escolha de
FUMAC do município de Cocal: Hoje o seus representantes e possibilitou maior
presidente da associação é recebido diversidade de representação.
como outras autoridades e não mais só • As parcerias com outros segmentos de go-
através de lideranças políticas. A gen- verno e entidades não governamentais têm
te não fica mais esperando para no fi- proporcionado a constituição de arranjos
nal não ser atendido. institucionais intersetoriais que represen-
• As obras estão sendo executadas, na sua tam um avanço na dinâmica institucional.
grande maioria, com material e acabamen- O Programa vem sendo solicitado por ou-
to de boa qualidade e os recursos aplica- tras entidades como INCRA, por exem-
dos conforme as normas estabelecidas. plo, como um ente executor por excelên-
Tal condição se deve, em grande medida, cia. Ou seja, o PCPR vem sendo deman-
à seriedade na gestão; eficiência da equi- dado não apenas porque dispõe de recur-
pe de supervisão e a liberação parcelada sos para investimento, mas, sobretudo, pela
dos recursos. Por outro lado, ainda que sua capacidade em operacionalizar proje-
num patamar aquém do que se poderia tos comunitários com seriedade, compe-
esperar, a participação das comunidades tência e qualidade.
na fiscalização das obras também tem
contribuído para que os benefícios, efeti- Fragilidades
vamente, cheguem até as populações ca- • Instância máxima na hierarquia institucio-
rentes do Estado. nal do PCPR-PI, o Conselho Gestor não
• O PCPR tem uma capilaridade que tal- tem cumprido sua função, é tão somente
vez nenhum outro ente governamental um fórum de homologação de listas de sub-
consegue ter presentemente. A “marca projetos encaminhadas pela UT, quando,
PCPR” é muito forte de norte a sul do pela sua natureza, deveria estar definindo
Estado. Nas palavras de um ex-diretor: as estratégias de implantação e gestão do
O PCPR investe onde ninguém antes Projeto. Conforme constatado, em diver-
acreditou. Refere-se o ex-gestor aos sas situações o Conselho aprova apenas
rincões de pobreza e miséria do Estado intencionalidade de Projetos quando sequer
onde, em muitos casos, as obras do PCPR existem as propostas ou ainda quando se-
são o sinal mais marcante da presença quer foi feita visita prévia às referidas co-
governamental. munidades, etapa que antecede a
• Os Conselhos do FUMAC, com todas as formalização das propostas.
limitações, são formados com a participa- • Os Conselhos Municipais ainda são
ção das organizações sociais e comunitá- institucionalidades frágeis e enfrentam
rias presentes nos municípios. Na compo- grandes dificuldades para desempenha-
sição, estão presentes os diferentes gru- rem na plenitude seu papel, qual seja, de
pos sociais e o poder político local. Boa debater e formular políticas para o com-
parte mantém rotina de reuniões onde dis- bate à pobreza e o desenvolvimento ru-
cutem, analisam e aprovam projetos. Di- ral; assessorar as associações; acompa-
versos Conselheiros do FUMAC são res- nhar e monitorar a execução dos subpro-
peitados pelo nível de consciência política jetos. As dificuldades principais situam-
que adquiriram como membros dos Con- se no campo da vinculação político-par-

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tidária; fragilidade dos canais de comu- das e cadastradas na UT são, em grande
nicação com a UT; carência de proces- número, sofríveis sobre todos os aspec-
sos continuados de capacitação e ausên- tos, principalmente no que se refere a fa-
cia total de meios e estrutura para o seu lhas estruturais na sua formulação. Como
funcionamento, o que leva a uma total e, em muitos casos a Diretoria Executiva
extremamente prejudicial, dependência tem autorizado o cadastramento, gera-se
do poder público local. Soma-se a isso um trabalho redobrado para a equipe de
que não tem sido dada, pela UT, a devida análise que, em muitos casos, praticamen-
importância aos mesmos: “somos reco- te refaz toda a proposta. O cadastramen-
nhecidos mas não somos valorizados” to de subprojetos com pendências ou mal
foi a frase recorrente na maioria dos elaborados é um fator de tensão e estran-
Conselhos trabalhados. Em muitas situa- gulamento operacional do Projeto que pre-
ções, as definições e priorizações dos cisa ser revisto.
Conselhos são substituídas pela costura • Pelo limitado volume de recursos para
política na gestão do Projeto, levando-os atender a demanda existente; limitada es-
ao total descrédito perante a sociedade trutura operacional da UT, não é razoável
local e, como consequência, sua o PCPR atuar em 221 municípios do esta-
desmobilização e enfraquecimento. do. Tal situação gera uma expectativa
• Apesar de avanços pontuais, a formação muito grande nas comunidades quanto ao
de associações comunitárias ainda ocorre atendimento de suas demandas e, não
de forma deturpada, frágil. Muitas são for- ocorrendo, gera por sua vez, uma frustra-
madas tão somente para acessar recur- ção e desmobilização social mais nociva
sos do PCPR e em diversas situações são do que se não houvesse se criado a ex-
controladas por uma só família e dirigidas pectativa de atendimento.
por membros que se articulam com lide- • A alocação de contrapartidas pelas Pre-
ranças políticas para atender a interesses feituras Municipais, que no caso do
específicos que muitas vezes vão de en- PCPR-PI equivale a 17,5% do valor dos
contro às demandas das comunidades. Subprojetos, vem se constituindo num pon-
Tais entidades, em verdade, são meramen- to de estrangulamento operacional na im-
te homologatórias, sem poder de interfe- plantação do Projeto. Muitos convênios
rência crítica, reproduzindo práticas polí- sofrem atrasos substanciais na sua exe-
ticas arcaicas presentes nos municípios cução em decorrência da demora na
piauienses. alocação das contrapartidas pelas Prefei-
• A centralização da UT em Teresina é um turas.
fator limitante para uma maior democrati- • O sistema de planejamento da UT tem sido
zação do acesso, agilidade, transparência um componente limitante a um processo
e ampliação da participação dos Conse- eficiente de gestão. As iniciativas de pla-
lhos Municipais e Associações Comunitá- nejamento institucional esbarram na defi-
rias nas discussões e decisões inerentes nição política da Diretoria Executiva e do
ao Projeto, além do que, favorece as prá- próprio Governo e não tem tido continui-
ticas de intermediação que ainda persis- dade, gerando entraves na rotina da UT,
tem no dia-a-dia do Projeto, seja de lide- insatisfações e frustração na equipe, além
ranças políticas, elaboradores de projetos do que, torna a UT “objeto” e não “su-
ou de construtores. jeito” de sua realidade. Agindo sem uma
• A formulação dos subprojetos apresenta- ação planejada, balizada por estratégias

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claramente definidas o risco de se trans- tanto, sugeriu-se a definição de um
formar num “balcão de negociações polí- percentual de recursos destinado aos Con-
ticas” são consideráveis. selhos sobre cada subprojeto financiado
• Consequência direta do item anterior, os em suas áreas de atuação.
procedimentos administrativos e financei-
ros ainda são pontos nevrálgicos na im- 2. 3 Resultados com Relação ao Estudo de
plantação do Projeto. São comuns os atra- Desempenho Físico – EDF
sos na liberação das parcelas referentes
aos Convênios contratados, gerando insa- Aspectos Positivos
tisfações diversas. • Mais de 80% dos subprojetos concluídos
e operando normalmente.
Recomendações • 94% dos subprojetos estão adequadamen-
• Urge a implantação de um programa con- te localizados no ambiente da comunida-
tinuado de capacitação dos Conselhos de.
Municipais, Associações Comunitárias e • 91% dos subprojetos atendendo plenamen-
da equipe técnica da UT, objetivando a te aos associados da Associação
qualificação do capital humano e social dos solicitante.
atores envolvidos com as ações do Proje- • 78% dos subprojetos estendem sua
to. Em outra frente, se faz necessário dar abrangência a outros moradores da comu-
continuidade à qualificação de elaborado- nidade, não associados.
res de Projetos, sejam eles técnicos go- • 31% dos subprojetos expandem sua co-
vernamentais, como o EMATER, ou téc- bertura a moradores de comunidades vi-
nicos de ONGs. A capacitação precisa ser zinhas.
definitivamente encarada pela UT como • Custo médio dos subprojetos de R$
investimento e não tão somente como cus- 45.000,00, compatível com o padrão esta-
to operacional. belecido de R$ 75.000,00.
• Manutenção e ampliação das parcerias e • Custo médio por família de R$ 912,00 abai-
arranjos institucionais com setores gover- xo de alguns indicativos como o que se
namentais e não governamentais como for- adota para subprojetos de eletrificação,
mas de ampliar e otimizar investimentos, que é de R$ 1.650,00.
dinamizar e aperfeiçoar continuadamente • Atuação criteriosa da equipe de análise
a implantação de subprojetos e a funcio- resultando em revisão de orçamentos, para
nalidade dos Conselhos Municipais e As- menor, em 65% dos casos.
sociações Comunitárias. As parcerias fi- • 82% dos subprojetos, com qualidade do
nanceiras, por sua vez, poderão superar material utilizado variando de bom a ex-
as limitações impostas pela não alocação celente.
de contrapartidas por muitas Prefeituras • 81% dos subprojetos com a qualidade do
Municipais. acabamento das obras variando de bom a
• Na perspectiva de aperfeiçoamento das excelente.
ações do PCPR, além de capacitação, se • 87% dos subprojetos com coparticipação
faz necessário que sejam garantidas as con- da comunidade no fornecimento de mão-
dições mínimas de funcionalidade aos de-obra.
Conselhos Municipais do FUMAC, sem o • 80% dos subprojetos com funcionamento
que continuarão tutelados pelo poder polí- variando entre ininterrupto e raramente in-
tico local e limitados na sua ação. Para terrompido.

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• 90% dos subprojetos resultaram em • Nível incipiente de capacitação/treinamen-
melhorias das condições de vida das fa- to de pessoal local voltado à correta ope-
mílias beneficiárias. ração/manutenção/reparo de subprojetos.
• Baixa capacidade dos subprojetos em ge-
Aspectos Negativos, Limites e Desafios rar ocupação e renda para as famílias
• O processamento técnico-burocrático da beneficiárias;
UT-PCPR ainda é aparentemente lento • Fragilidade das Associações Comunitári-
em termos de tempo decorrido para a as em assumir seu protagonismo social, o
tramitação dos subprojetos desde a recep- que, por sua vez, revela a secundarização
ção da proposta, análise, aprovação até a por parte da UT dos processos de capaci-
liberação da primeira parcela dos recur- tação.
sos dos subprojetos que giram em torno • Persistência do fator político-partidário na
de quatro meses, em média. ação das Associações, motivando a ex-
• Falta ou descumprimento de um regula- clusão de famílias dos benefícios de sub-
mento geral ou, ainda, persistência de prá- projetos.
ticas de favorecimento no que diz respei- • Inexistência de uma política institucional
to ao tempo de processamento técnico- voltada para a conscientização ambiental
burocrático interno na UT-PCPR (recep- mensurável através da adoção de medi-
ção, análise, aprovação e autorização da das de proteção ao meio ambiente, perti-
primeira liberação). Constatam-se proces- nentes aos subprojetos.
samentos permeando todo o espectro de • Aprovação de subprojeto desvinculado do
tempo/calendário: semanal, quinzenal, contexto local (implantação de fossas sép-
mensal, trimestral, semestral e até anual! ticas em comunidade onde a água, até para
Ou seja, têm-se subprojetos que tramitam consumo humano, é de dificultosa obten-
desde sua apresentação até aprovação em ção).
tempo recorde de uma semana, enquanto • Elevado grau de desinformação geral e
outros cumpriram um período de 12 me- específica sobre os subprojetos, demons-
ses para serem concluídos, o que, conve- trando pouco envolvimento dos
nhamos, não há explicação plausível para beneficiários nas fases de discussão e
tamanha diferença. Isso sem relacionar os priorização de demandas que ficam na al-
subprojetos cuja 1ª parcela foi liberada çada das lideranças locais e suas articula-
antes mesmo da aprovação pelo Conse- ções político-partidárias.
lho Gestor. • Elevado grau de desinformação geral e
• Subprojetos operando deficientemente específica relativa aos subprojetos, de par-
(10%), não operando (5%) e até abando- te dos gestores governamentais e não go-
nados (2,5%), numa situação comprome- vernamentais residentes na sede dos mu-
tedora dos investimentos realizados. nicípios, o que é sugestivo da existência
• Existência de subprojetos com capacida- de frágeis processos de integração e de
de ociosa, abaixo da capacidade instalada envolvimento com as respectivas Associ-
(8,0%). ações, particularmente nos municípios do
• Disputas político-partidárias inviabilizando FUMAC.
o correto funcionamento de subprojetos, • Apropriação/guarda/controle de objeto do
em detrimento da necessidade e do inte- subprojeto (trator agrícola) por lideranças
resse maior da população (caso de dois da Associação inibindo o seu uso por par-
Postos de Saúde). te de outros beneficiários.

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82 ARTIGO
2.4 Resultados dos Estudos de Caso das para apoiar as comunidades rurais es-
tão mal aparelhadas, desatualizadas e, mui-
Aspectos positivos to pouco conseguem realizar em prol de
• De um modo geral, o PCPR II é bastante um processo organizativo do meio rural,
conhecido e valorado pelas comunidades, consequência direta de sucessivos gover-
sua marca é muito forte no imaginário das nos que relegaram o desenvolvimento ru-
pessoas com as quais a equipe manteve ral a um plano secundário, mesmo ante a
contato, muito embora alguns ainda façam importância desse segmento para a eco-
trocadilhos com o seu antecessor PAPP, nomia do Estado.
ainda muito presente no imaginário das co- • Percebe-se nas comunidades de Coivaras
munidades rurais, pelo que fez, e, pelas e São Benedito que os subprojetos implan-
mazelas que o caracterizaram. tados geraram melhorias importantes na
• Nas comunidades objeto desse estudo, as condição de vida das famílias. Água e
pessoas não se referem à obra como um Energia são dois serviços básicos que ain-
feito de tal governo “tal obra foi feita da estão longe do horizonte de muitas co-
pelo governo tal”, dizem “tal obra foi munidades rurais piauienses, segmento
feita, pelo PCPR, no governo tal” fato esse onde o PCPR tem desempenhado um
que verificou-se com maior intensidade na papel deveras importante. Já no caso de
Comunidade Paciência, em Coivaras. Por Tanque do Piauí a situação é de grande
sua vez, essa constatação mostra a força descrença e desmotivação da comunida-
do que chamamos “marca PCPR”, ainda de para com o subprojeto, a ponto de não
mais se considerarmos que as campanhas realizar nenhum esforço para fazer que o
de divulgação institucional têm sido quase mesmo funcione. Em Tanque do Piauí,
inexistentes. pelos relatos de alguns moradores, o
• Verificam-se alguns avanços na participa- subprojeto foi implantado mais em função
ção da comunidade no processo de dis- da vontade de um vereador local do que
cussão nos diferentes estágios do por uma necessidade sentida pelo coleti-
subprojeto com mais clareza na comuni- vo da população, que não participou do pro-
dade São Benedito, em Cocal. cesso de discussão e priorização e não vê
o subprojeto como algo pertencente ao
Fragilidades coletivo da comunidade.
• Vale ressaltar que no Piauí a organiza- • É fato que os subprojetos implantados em
ção social ainda se encontra num pata- Paciência e São Benedito geraram
mar de organização e articulação muito melhorias substanciais na vida das comu-
aquém de outras regiões do país onde se nidades, mas não foram capazes de alte-
verifica uma ação fiscalizatória, afirma- rar a condição de vida das famílias, na sua
tiva e propositiva de grande relevância. essência. A população, muito embora ago-
Muito embora existam algumas organi- ra tenha água de boa qualidade e energia
zações históricas que no passado já fo- em suas casas, bens de grande importân-
ram referência no processo de organiza- cia para uma vida com um mínimo de con-
ção das comunidades, por razões diver- forto, e bases estratégicas para um pro-
sas vivem hoje um processo de grande cesso sustentado de desenvolvimento lo-
limitação financeira, esvaziamento e cri- cal permanece num patamar de renda so-
se de identidade. frível.
• Por outro lado, as agências públicas cria- • Em todos os casos estudados, a Assistên-

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83
cia Técnica foi de Empresas. Constata- tos produtivos. Referido gargalo é conse-
mos no conjunto deste trabalho que, a quência direta da fragilidade organizacio-
empresa que elabora o Projeto Técnico, nal e gerencial das associações comuni-
acaba sendo a que executa a obra. No tárias e de um erro estratégico de gestão
caso específico deste estudo, as comuni- da UT-PCPR, que tem secundarizado, e,
dades pouco participaram do processo de muito pouco investido em processos con-
discussão sobre o conteúdo das propostas tinuados de capacitação de conselhos e
dos subprojetos e sua viabilidade. O con- associações, na perspectiva de gerar com-
tato com as empresas foi realizado pelas petência local, ao tempo em que assegura
lideranças da Associação que apenas co- as ferramentas para uma gestão eficiente
municaram posteriormente o encaminha- e uma ação pró-ativa e emancipatória das
mento do subprojeto ao PCPR II e sua comunidades.
posterior aprovação.
• Os Conselhos Municipais do FUMAC de
Tanque do Piauí e Cocal, em maior ou 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
menor intensidade têm prestado apoio e • A equipe de consultores conclui que a exe-
assessoria às comunidades, todavia, ain- cução física das obras do PCPR II evo-
da, de forma tímida e limitada. Em geral, luiu substancialmente, se comparada com
os conselhos dependem do apoio das Pre- seus antecessores, particularmente, o
feituras para quase tudo que fazem, des- PAPP. De um modo geral, as obras são
de viabilizar transporte dos conselheiros executadas a contento, de acordo com o
para visitas às comunidades rurais, até a projeto técnico aprovado. Em grande par-
reprodução de documentos, espaço de te, isso se deve ao trabalho de supervisão,
reunião, dentre outras demandas. As Pre- que, no aspecto de fiscalização das obras
feituras, por sua vez, concedem tal apoio físicas, evoluiu e, é um dos aspectos mais
quando lhes é conveniente; quando a mai- destacados como positivo na execução do
oria do Conselho lhe é favorável; ou ain- Projeto.
da, quando tem interesse em alguma co- • Por outro lado, entendemos que existem
munidade; não é um apoio institucionali- dois pontos de inflexão na
zado, concedido indistintamente. Tal si- operacionalização do Projeto: a) o proces-
tuação gera uma nefasta dependência e so inicial de discussão, priorização de de-
vinculação da maioria dos Conselhos ao mandas (desde as associações até os Con-
poder local. selhos do FUMAC) e b) o monitoramento
• Embora reconheçam que houve avanços, pós-implantação dos subprojetos.
com uma relativa diminuição da interfe- • Em razão da fragilidade organizacional
rência política de Prefeitos junto ao PCPR das comunidades rurais, com raras e hon-
II, as comunidades e os conselhos apon- rosas exceções, o que se percebe é que
tam ainda esse componente como elemen- quem concebe as propostas de subpro-
to dificultador para uma ação mais isenta jetos são lideranças políticas e seus ali-
do Projeto. ados nas comunidades, em geral, uma
• A gestão (operação e a manutenção) re- família local influente. A comunidade
vela-se um componente de grande fragili- pouco participa das discussões, e, muito
dade dos subprojetos e um dos principais menos, decide sobre qual subprojeto é
gargalos a ser superado na ação do PCPR mais adequado em determinado contex-
II, particularmente no caso dos subproje- to da vida comunitária, atribuição que

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fica mais na alçada das lideranças. É do. Não é razoável, que ainda sejam re-
assim, que alguns subprojetos, ao invés petidas falhas primárias na execução de
de beneficiarem a comunidade, acabam estratégias que se pretendem promoto-
privilegiando algumas famílias. Em duas ras de um modelo de desenvolvimento
das três comunidades objeto deste estu- sustentado de comunidades rurais.
do, tal fato foi claramente percebido, em • Concluímos, finalmente, que é chegada a
que pese estarem as obras concluídas e hora de um salto qualitativo na execução
algumas delas beneficiando a coletivi- do PCPR II no Piauí. E esse salto está
dade. Tal situação também foi verificada diretamente ligado ao empoderamento das
em outras circunstâncias, como na rea- comunidades rurais, suas instâncias re-
lização do Estudo de Desempenho Físi- presentativas e conselhos municipais, que
co – EDF. precisam ser estimulados a assumir seu
• A questão do monitoramento pós-implan- protagonismo social. Para tanto, se re-
tação está relacionada com o “Ciclo dos quer que a UT-PCPR evolua na sua vi-
Subprojetos do PCPR”. Pelo desenho são ainda muito influenciada pelas for-
atual do Projeto, o Ciclo termina com o ças políticas e focada em números (va-
recebimento da obra e a prestação de con- lor investido, nº de projetos financiados,
tas por parte da Associação. Não se pre- nº de famílias beneficiadas e nº de muni-
viu nenhuma ação de monitoramento pós- cípios atendidos) para um olhar mais
implantação dos subprojetos, o que está sistêmico que, passa sim pelas forças po-
gerando focos preocupantes de insucessos líticas, pelos números, mas que requer, por
pós-implantação. Ou seja, em muitos ca- outro lado, a construção de bases sólidas
sos, joga-se no colo das comunidades um de organização social e gestão
subprojeto sem que lhe seja dado nenhum associativa, sem o que, os números mui-
elemento para que possa geri-lo com efi- to pouco representarão na mudança es-
ciência, eficácia e efetividade. Tal fato re- trutural da realidade rural do estado.
vela também a fragilidade do componente • É preciso que se entenda e internalize, de-
Desenvolvimento Institucional, finitivamente, que o bem estar e a inclu-
secundarizado, até então, pela UT, são social dependem, em grande parte, das
inobstante sua importância estratégica para motivações humanas; dos processos de
o sucesso do Projeto. formação e capacitação pessoal e profis-
• O caso de Chapada dos Nunes é sional continuados; do acesso à informa-
emblemático. Construiu-se uma Casa de ção e da forma como o tecido social se
Farinha num padrão diferente daquele organiza e se articula na perspectiva de
adotado pela comunidade desde seus ampliar a consciência coletiva. O financi-
mais remotos ancestrais, e, não houve a amento de subprojetos comunitários des-
preocupação de capacitar a comunida- colados dessa premissa poderá eventual-
de, quer no aspecto gerencial, quer no mente, melhorar as condições de vida das
domínio da tecnologia de processamento famílias beneficiárias, todavia, não muda-
da farinha e manuseio dos equipamen- rá o contexto mais geral da realidade ru-
tos. É óbvio que um subprojeto desse está ral piauiense.
fadado ao fracasso. Experiências passa- • O contexto que pontifica sobre os demais
das ainda ecoam nos verdadeiros “Ce- é o da validade indiscutível e do valor im-
mitérios de Projetos Comunitários”, prescindível dos subprojetos do PCPR,
insepultos pelos quatro cantos do Esta- como fatores geradores de benefícios e

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85
de ativação das potencialidades adorme- PCPR II, até então, resulta exitoso, re-
cidas nas comunidades onde tais benefí- velando indicadores identificáveis com o
cios são implantados, variando desde a con- padrão esperado pelo arcabouço
quista de bens tangíveis e/ou mensuráveis normativo que o fundamenta.
(água potável, energia, salubridade, den-
tre outros) até a de valores abstratos, não
mensuráveis, de ordem psicossocial (ele-
vação da autoestima, do sentimento de
cidadania etc.).
• As dificuldades, aspectos negativos em
maior ou menor intensidade, existem e fo-
ram detectados e relacionados no contex-
to geral deste estudo, todavia, são, na
maior parte, senão na totalidade, passíveis
de serem minimizados, alguns quiçá
erradicados em definitivo. A determinação
política da UT-PCPR, Conselhos do
FUMAC, gestores públicos, associações
comunitárias e sociedade civil organizada
é que irão determinar a velocidade e a in-
tensidade com que isso ocorrerá.
• Por outro lado, é preciso levar em conta
que a comunidade rural piauiense foi de-
masiadamente abandonada, por séculos.
O próprio modelo brasileiro de desenvol-
vimento adotado desde meados da déca-
da de 30 é poderosamente urbanizante.
Esvaziou de tal modo o contexto rural, que
sua população perdeu até mesmo o senso
de cidadania e o de merecimento. Reco-
nhecemos, contudo, que este contexto está
passando por um processo de reestrutu-
ração, de cujo processo o PCPR II – os
seus subprojetos direcionados às comuni-
dades carentes – é coparticipante e, no
caso piauiense, uma das principais ferra-
mentas.
• Não obstante as deficiências localizadas
e alguns aspectos considerados problemá-
ticos, o que prevalece ao final deste estu-
do é o conjunto dos aspectos positivos e
alinhados – seja na sua expressão quanti-
tativa, seja no seu significado qualitativo –
levam a conclusão que o desempenho fí-
sico dos subprojetos implantados pelo

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86 ARTIGO

Arquivo CCPR
Francisco Batista Pontes

Engenheiro Agrônomo, Especialista


em Gestão Social.

CONSELHOS MUNICIPAIS DO FUMAC


– MECANISMOS DE CONTROLE SOCIAL NA
IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES DO PROJETO DE COMBATE
À POBREZA RURAL – PCPR II NO ESTADO DO PIAUÍ
INTRODUÇÃO para a redução da pobreza. Com essa finalidade, e no
Com a promulgação da Constituição Federal de caso específico das regiões menos desenvolvidas do
1988, ficou estabelecida a perspectiva do controle Brasil como o Nordeste, está financiando o Projeto de
social das Políticas Públicas no Brasil através da Combate à Pobreza Rural – PCPR II, tendo como
descentralização e da participação da sociedade civil foco principal a implementação de suas ações de for-
organizada. Com essa finalidade, vários mecanismos ma descentralizada, sendo os Conselhos Municipais
de controle social estão disponibilizados e sendo utili- do Fundo Municipal de Apoio Comunitário – FUMAC
zados, como Ministério Público, Tribunal de Contas, a principal ferramenta para o controle social das ações
Ação Popular, Sindicatos, dentre outros não menos do Projeto e a busca constante pelo aprimoramento do
importantes. Com esse objetivo, os Conselhos se processo participativo das comunidades potencialmente
constituíram numa das ferramentas mais importan- beneficiárias do referido Projeto.
tes, por serem mecanismos institucionalizados, assim No Estado do Piauí, o referido Projeto vem se
sendo, podendo deliberar em todas as fases de desenvolvendo, e para cumprimento desse processo
implementação das políticas públicas, passando a se de descentralização já foram instalados 190 Conse-
configurar como espaços para a articulação entre o lhos Municipais do FUMAC e FUMAC-Piloto, que
governo e a sociedade. serão objeto deste estudo.
Conforme o Banco Mundial (Banco Internacio- Este artigo trata da atuação e da importância
nal para Reconstrução e Desenvolvimento – BIRD), dos referidos Conselhos na condução das ações do
a sua estratégia de intervenção para assistência ao Projeto de Combate à Pobreza Rural – PCPR II.
Brasil tem como objetivo primordial o desenvolvimen- Para isto, tomaram-se como base experiências
to de ações que visam ao enfrentamento dos desafios vivenciadas como membro da equipe técnica do Pro-

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87
jeto, estudo crítico das informações disponibilizadas assinado entre o Estado do Piauí e o referido Banco
em documentos e relatórios produzidos pelo Banco em 21 de março de 2002, tendo como fiador a Repú-
Mundial, instituição financiadora do Projeto, e tam- blica Federativa do Brasil. O valor total do projeto é
bém documentos da Unidade Técnica de Coordena- de US$ 30.000.000,00 (trinta milhões de dólares), in-
ção do Projeto no Estado do Piauí, outros documen- cluindo a contrapartida do Estado e das comunida-
tos disponíveis, acesso à internet e informações co- des beneficiadas, que é de US$ 7.500.000,00 (sete
lhidas da equipe técnica do Projeto no Estado. milhões e quinhentos mil dólares).
Trata-se, portanto, de um estudo cujos limites O empréstimo tem como objetivo implementar o
estão em poder retratar fielmente o papel desempe- Projeto de Combate à Pobreza Rural no Estado do
nhado pelos Conselhos Municipais do FUMAC no Piauí – PCPR II (Fase I), tendo como área de atua-
Estado do Piauí, suas limitações e avanços na busca ção 221 municípios do Estado, com exceção apenas
do aperfeiçoamento do processo participativo das da capital Teresina, sendo que a atuação prioritária foi
comunidades beneficiárias e a efetividade no contro- prevista para os 122 municípios do Estado com Índice
le social das ações nos municípios onde estão inseri- de Desenvolvimento Humano – IDH no intervalo de
dos. Registra-se como grande dificuldade a pouca 0,478 a 0,590, conforme dados do IBGE (2000), consi-
produção de estudos específicos sobre a forma de derados os mais baixos em relação aos demais.
atuação e desempenho dos referidos Conselhos. O período de execução do PCPR II para o Es-
Objetivando uma melhor compreensão do estu- tado do Piauí, previsto inicialmente para 2002 a 2006,
do, este foi sistematizado e estruturado contemplan- foi prorrogado para ter o seu término em janeiro de
do inicialmente informações sobre o PCPR II, no que 2007. Tem como meta de atendimento 81.100 fa-
diz respeito a sua estrutura, operacionalização e es- mílias, ou seja, 408.000 pessoas, observando que
tratégia de descentralização. Em seguida, apresenta 35% desse total devam ser mulheres. Deverá atin-
algumas reflexões sobre os Conselhos Municipais gir 221 municípios do Estado do Piauí. É recomen-
como mecanismos de controle social, antecedendo a dado que, do volume total dos recursos do Projeto,
apresentação da realidade dos Conselhos Municipais 90% (US$ 27.000.000,00) sejam aplicados exclusi-
do FUMAC quanto a estrutura, atribuições e carac- vamente em financiamento de subprojetos comunitá-
terísticas desses, bem como sua atuação no contexto rios, beneficiando um total de 1.296 associações co-
da realidade piauiense. munitárias através de 1.320 subprojetos comunitários.
Com o intuito de que este trabalho possa contri-
buir para o aprimoramento das ações do PCPR II, 1.2 Operacionalização
expõem-se nas considerações finais algumas ideias O projeto é composto por três componentes bá-
de natureza avaliativa e propositiva fundadas no mais sicos descritos no Manual de Operações do PCPR
elevado espírito de compromisso com uma socieda- II, sendo: Subprojetos Comunitários, Desenvolvimento
de mais democrática. Institucional e Administração do Projeto. O primeiro
componente são os subprojetos comunitários, divide-
se em três linhas de ação: Programa de Apoio Co-
1 O PROJETO DE COMBATE À POBREZA
munitário – PAC, Fundo Municipal de Apoio Comu-
RURAL – PCPR II NO ESTADO DO PIAUÍ nitário – FUMAC e Fundo Municipal de Apoio Co-
munitário-Piloto – FUMAC-P.
1.1 Base Legal – Acordo de Empréstimo com O PAC é um programa de financiamento de
o Banco Mundial subprojetos comunitários em que todo o processo é
O Estado do Piauí, através da Secretaria do Pla- realizado pela associação/comunidade, encaminhan-
nejamento, contraiu o empréstimo de nº 4.624-BR do os subprojetos à Unidade Técnica de Coordena-
com o Banco Mundial (Banco Internacional de Re- ção do Projeto, que se responsabiliza pela análise,
construção e Desenvolvimento – BIRD) no valor de aprovação, liberação dos recursos e o acompanha-
US$ 22.500.000,00 (vinte e dois milhões e quinhen- mento e supervisão dos subprojetos. No caso do
tos mil dólares), conforme acordo de empréstimo FUMAC, difere do PAC basicamente pelo fato de

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que a aprovação, priorização dos subprojetos e en- UT-PCPR, vinculada à Secretaria Estadual do Pla-
caminhamento à Unidade Técnica de Coordenação nejamento, que tem a prerrogativa para coordenar
do Projeto são feitos através dos Conselhos Munici- todo o processo de execução, monitoramento e ava-
pais do FUMAC, que também têm responsabilida- liação das ações do Projeto ao longo da sua execu-
des no processo de acompanhamento e supervisão ção, que se iniciou no período de 2002 a 2005, con-
dos mesmos. Em ambos os casos, os recursos dos cluído em janeiro de 2007, como informado anterior-
subprojetos conveniados são transferidos diretamen- mente.
te para as contas das associações beneficiadas. E O Projeto tem como objetivo maior apoiar a luta
como última linha de ação do componente subproje- na busca da redução da pobreza no Estado do Piauí,
tos comunitários tem-se o FUMAC-P, que é uma etapa com prioridade para as famílias do meio rural, atra-
experimental e ampliada no sentido da descentraliza- vés de estímulo ao financiamento não reembolsável
ção. Difere do FUMAC pelo fato de os recursos fi- de subprojetos comunitários nas categorias de infra-
nanceiros serem administrados diretamente pelos estrutura, produtivos e sociais e, principalmente, a
Conselhos Municipais do FUMAC-P, sendo maneja- descentralização decisória para contribuir com o for-
dos os recursos por meio de convênio entre a Unida- talecimento organizacional e participação das comu-
de Técnica de Coordenação do Projeto e o Conselho nidades beneficiárias em todo o processo. E para
Municipal do FUMAC-P e convênios celebrados, implementar ainda mais a experiência da
entre este e as associações beneficiadas. descentralização que já vem sendo vivenciada desde
O componente Desenvolvimento Institucional é 1993 com o Projeto de Apoio ao Pequeno Produtor
responsável pela capacitação, treinamentos, realiza- Rural – PAPP reformulado, o Banco Mundial sugere
ção de seminários e intercâmbios, assistência técnica, na implementação dos PCPRs o fortalecimento do
consultorias para as associações, Conselhos Munici- mecanismo dos Conselhos Municipais do FUMAC,
pais do FUMAC e FUMAC-P e técnicos envolvidos prevendo no plano de trabalho para o exercício do
no Programa. Tem como outra responsabilidade a pro- PCPR II (2002 a 2006) a implementação/funciona-
visão de assistência técnica para áreas de reforma mento de 155 Conselhos Municipais do FUMAC
institucional, administrativa e financeira do Estado. (acumulado) e 10 Conselhos Municipais do FUMAC-
Por último, os componentes Administração, Su- Piloto (acumulado) no Estado do Piauí, os quais cons-
pervisão, Monitoramento e Avaliação do Projeto cui- tituem a base para a elaboração do presente artigo.
dam da operacionalização da Unidade Técnica de Até novembro de 2006, conforme dados da Uni-
Coordenação do Projeto, Sistema Informatizado de dade Técnica de Coordenação do Projeto no Estado
Monitoria, Divulgação e Informação, Supervisão do do Piauí, já foram financiados 1.179 subprojetos co-
Projeto e Estudos de Avaliação de Desempenho Fí- munitários como demonstrado na Tabela 1, atingindo
sico e Impacto. 81,31% da meta estipulada no Plano de Implementação
A implementação do Projeto realiza-se através do Projeto e beneficiando 76.728 famílias, represen-
da Unidade Técnica de Coordenação do PCPR – tando 94,50% do número estabelecido.

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A implementação dos subprojetos se deu na sua lam componentes da equipe técnica do Projeto. A ca-
quase totalidade na área de atuação dos 190 Conse- rência de pessoal técnico capacitado e disponível em
lhos (sendo 187 do FUMAC e 3 do FUMAC-P), os nível local para o apoio, devido às tarefas viabilizadoras
quais receberam 88,7% do total de subprojetos libe- dos subprojetos comunitários, e a indefinição por parte
rados, enquanto os 31 municípios do PAC responde- da Unidade Técnica de Coordenação do PCPR II de
ram por apenas 11,3% do total de subprojetos libera- um indicativo financeiro anual para cada município,
dos, correspondendo a 133 subprojetos, demonstran- possibilitando um melhor planejamento das atividades
do assim a importância desses Conselhos como ins- dos Conselhos Municipais do FUMAC, também são
trumentos de apoio à viabilização dos subprojetos para tidos como determinantes. Registre-se, ainda, que as
os municípios onde estão inseridos. questões políticas locais sejam também outro fator que
Com referência ao exposto, não se pode afirmar interfere decisivamente para a melhoria ou não do de-
que somente o desempenho dos referidos Conselhos sempenho do PCPR II nos municípios, dentre outros
seja determinante para um maior ou menor número de não menos importantes.
subprojetos comunitários liberados por município, exis- Do total de subprojetos comunitários liberados
tindo outros fatores que, de forma direta ou indireta, até novembro de 2006 (1.179), foram beneficiados
também contribuíram para esta situação. A dificulda- 205 municípios, que representam 92,76% da meta
de na viabilização da contrapartida financeira de 17,5% inicial de 221 municípios a serem atingidos. A Tabela
ao valor total de cada subprojeto, conforme normas do 2 demonstra o número médio de subprojetos libera-
PCPR II, seria também um dos fatores, assim reve- dos por municípios.

1.3 Processo de Descentralização dado que reforça esta tese é de que atualmente na
A partir da reformulação do Programa de Apoio implementação dos PCPRs, de forma descentraliza-
ao Pequeno Produtor Rural – PAPP, desencadeada da no Nordeste do Brasil, existem implantados e em
em 1993 e também através de experiência-piloto funcionamento 1.505 Conselhos Municipais do
desenvolvida entre 1985 e 1992 pelo componente de FUMAC nos 1.686 municípios da citada região.
Projeto Apoio às Pequenas Comunidades Rurais – Referindo-se a esta estratégia de descentrali-
APCR, o Banco Mundial vem desenvolvendo esfor- zação do Projeto recomendada pelo Banco Mundial,
ços em conjunto com os Estados do Nordeste do até novembro de 2006 o PCPR II no Estado do Piauí
Brasil beneficiados com Projetos de Redução da conta com 190 Conselhos implantados, sendo 187
Pobreza Rural, com o propósito de implementar es- do FUMAC e 3 do FUMAC-P, observando-se que
tratégias descentralizadas de operacionalização des- a meta inicial de implantação de 155 Conselhos Mu-
tes Projetos. Segundo o próprio Banco Mundial, um nicipais do FUMAC foi ultrapassada, enquanto a do

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FUMAC-P não foi atingida, e os três Conselhos de todos os conselheiros foram prorrogados através
implantados foram retirados pela direção do Projeto, de ato da direção do Projeto, propondo a retomada
com alegação de dificuldades operacionais dos mes- dos trabalhos, conforme normas regimentais, na se-
mos. Os Conselhos de alguma maneira estão fun- gunda fase do PCPR II prevista para o início do ano
cionando, mesmo que de forma precária, devido ao de 2007. A Tabela 3 demonstra a evolução do pro-
estágio final do Projeto e também pela falta de acom- cesso de implantação dos Conselhos Municipais do
panhamento e apoio por parte da própria Unidade FUMAC no Estado do Piauí, conforme ano/período
Técnica de Coordenação do Projeto. Os mandatos de constituição dos mesmos.

2 CONSELHOS MUNICIPAIS COMO gime militar e surgiram com papéis diversos, tendo
MECANISMOS DE CONTROLE SOCIAL como núcleo central de discussão a questão da parti-
cipação popular. Dois exemplos marcantes desse tipo
A forma de “Conselho” utilizada na gestão pú- de conselho foram o Conselho Popular de Campinas
blica não é nova na história. Alguns pesquisadores – SP, no início de 1980, e o Conselho da Zona Leste
afirmam que os Conselhos são uma invenção tão de São Paulo, criado em 1976; e por último, os Con-
antiga quanto a própria democracia participativa. Em selhos institucionalizados, com possibilidade de parti-
Portugal, entre os séculos XII e XV, foram criados cipar da gestão dos negócios públicos criados por leis
“Conselhos” municipais como forma político-admi- originárias do poder Legislativo, tendo-se, nos Con-
nistrativa em relação a sua colônia. Entretanto, os selhos previstos em lei orgânica municipal de São
Conselhos que se tornaram famosos na história fo- Paulo e nos Conselhos gestores institucionalizados
ram: a Comuna de Paris, os Conselhos dos Sovietes setoriais, exemplos desse tipo de Conselho da época.
Russos, os Conselhos Operários de Turim e alguns Com a promulgação da Constituição Federal de
Conselhos na Alemanha nos anos de 1920, Conse- 1988, adotou-se no Brasil uma perspectiva favorável
lhos na antiga Iugoslávia nos anos de 1950 e Conse- à democracia representativa e participativa, incorpo-
lhos atuais na democracia americana. (GOHN, 2003). rando na gestão das políticas públicas a participação
Ainda conforme Gohn (2003), no Brasil, a esse das comunidades beneficiárias. Diversos mecanis-
respeito, podem-se diferenciar três tipos de Conse- mos vêm sendo utilizados como meio de controle so-
lhos no século XX: os criados pelo próprio poder Exe- cial, tendo como estratégia básica a fiscalização das
cutivo, para medir suas relações com os movimentos ações de políticas públicas, mas como o papel dos
populares, a exemplo dos Conselhos comunitários Conselhos é muito amplo, visa também indicar os
para atuar juntos à administração municipal no final caminhos, propor idéias e promover a participação
dos anos de 1970; os populares construídos pelos efetiva das comunidades nas decisões de cunho pú-
setores organizados da sociedade, que foram sugeri- blico. Existem outros mecanismos de controle social
dos pelos setores da esquerda ou de oposição ao re- à disposição da sociedade além dos Conselhos, como

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Ministério Público, Tribunal de Contas, além do políticas, programas e projetos. Alguns são criados a
monitoramento autônomo que pode ser feito através toque de caixa, apenas para atender a exigências
de organizações não governamentais, sindicatos e meramente burocráticas. Em pequenos municípios é
outros. Destaque-se que os Conselhos se configu- comum que as mesmas pessoas façam parte de vá-
ram como espaços públicos para a articulação da rios Conselhos, sem conhecer seu significado, sem
sociedade com os governos, sendo estes mecanis- ter uma preparação em gestão de políticas públicas,
mos institucionalizados para possibilitar a participa- sem serem indicadas pelas bases sociais das organi-
ção em todo o processo e deliberar sobre este. zações. A esses representantes se diz que os Conse-
Em seu trabalho “Conselhos Além dos Limites”, lhos são muito importantes e que, pela lei, dispõem
Abramovay (2001) afirma que a profusão de conse- de muito poder, uma vez que, na prática, não existem
lhos gestores é a mais importante inovação instituci- os mecanismos para realizar tudo que prega o dis-
onal das políticas públicas no Brasil democrático. Não curso conselhista. Essa vulgarização dos Conselhos
há estudo sobre o tema que não enfatize a precarie- está causando um certo desengano de conselheiros
dade da participação social nestas novas organiza- e uma espécie de desmoralização dos Conselhos, si-
ções e sua tão frequente submissão a poderes locais tuação esta que vem ocorrendo com alguns Conse-
dominantes. Mas é praticamente unânime o reconhe- lhos Municipais no Estado do Piauí, conforme estu-
cimento do potencial de transformação política que dos realizados.
os Conselhos encerram. Se eles tendem muitas ve- Acrescenta, ainda, a suposição de que a origem
zes a reproduzir um ambiente social avesso à ampla desses problemas e também as soluções possíveis
discussão dos assuntos públicos, não é menos certo estão no modo de organização e no modo de gestão
que sua simples existência abre caminho para a en- da sociedade. Por isso, convém que os conselheiros
trada na vida dos indivíduos e dos grupos organiza- não se limitem a lidar apenas com a legislação e o
dos de temas até então ausentes. regimento interno dos Conselhos, sem se preocupa-
Afirma ainda o referido autor que a alocação rem em contribuir para o modelo de sociedade que
de recursos governamentais por parte de represen- facilite a conquista dos direitos que têm obrigação de
tações que extrapolam o círculo da política profissio- defender e tentar consagrá-los. Por isso, os conse-
nal não tem por si só o condão de alterar o cotidiano lheiros precisam estar permanentemente informados
de qualquer organização ou localidade; os conselhei- sobre o contexto de interesses, tanto para entendê-
ros podem ser mal informados, pouco representati- lo, como para ter clareza a respeito de quais interes-
vos, indicados pelos que controlam a vida social da ses e direitos pretendem ver concretizados e quais
organização ou localidade em questão, mal prepara- interesses e privilégios pretendem ver limitados.
dos para o exercício de suas funções ou, o que pare- Sales (2005) destaca ainda que é oportuno
ce tão frequente, uma mistura de cada um destes explicitar o que se entende por participação, uma vez
elementos. Mas o simples fato de existirem Conse- que esta palavra foi muito utilizada indevidamente por
lhos abre o caminho para que se amplie o círculo ditaduras militares, governos populistas, tecnocratas
social em que se operam as discussões sobre o uso e organizações governamentais e civis de diferentes
dos recursos públicos. orientações ideológicas. Participar é ter poder de
Segundo informações do Perfil dos Municípios definir os fins e meios de uma prática social, entre-
Brasileiros (IBGE, 2001), existiam, em 1999, quase 27 tanto, não se tem no Brasil muita tradição de vivência
mil Conselhos, numa média de 4,9 por município, des- democrática nas diferentes instâncias, e sendo as-
tacando que 99% dos municípios brasileiros têm Con- sim, a participação seria mais bem traduzida como
selhos de saúde, 91% de educação e de assistência e uma estratégia/pedagogia para aprender a ter po-
ação social e 71% de crianças e adolescentes. der, a se fazer levar em consideração, a fazer valer
Em referência ao exposto, Sales (2005) afirma a importância econômica, política e cultural das pes-
que no Brasil criam-se Conselhos para tudo: defini- soas que estejam participando de um determinado
ção, implementação, monitoramento e avaliação de processo social. Neste sentido, participação é ir de-

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finindo e redefinindo permanentemente os fins e os 3.1 Institucionalização
meios das práticas sociais que estejam sendo de- Conforme o Manual de Operação do PCPR, os
senvolvidas. Conselhos Municipais do FUMAC e do FUMAC-P
Concluindo, afirma que participação é, portanto, poderão ter sua origem em iniciativas de segmentos
a aprendizagem do exercício de poder em todos os organizados da sociedade local, e, para tal, serão or-
momentos e lugares em que se esteja vivendo e atu- ganizados nos moldes de uma associação sem fins
ando. Não sendo adequado identificar a participação lucrativos ou podem ser originados também através
simplesmente com a fala ou presença em reuniões, de atos do Poder Executivo municipal, com ou sem a
consultas e planejamento comunitário, votação em aprovação do Legislativo municipal. Assim, é reque-
assembleias e outras formas usadas. Contrariamente rido ao Conselho total autonomia no exercício do seu
ao que às vezes se pensa, participação é algo que está papel, respeito às atribuições, composição, critérios
extremamente relacionado com disciplina, definição de e procedimentos exigidos pelo PCPR.
responsabilidades e criação de mecanismos para ga- Quando criados através de lei municipal, como
rantir a realização das decisões tomadas. é o caso dos três Conselhos do FUMAC-Piloto dos
Em relação ao exposto, em um estudo encomen- municípios de Caxingó, Campo Grande e Palmeirais,
dado pelo Banco Mundial e realizado por Costa (2005), podem ser alocados recursos de contrapartida atra-
foi enfatizada a preocupação com as questões da par- vés do orçamento municipal. Nesse caso, o Conse-
ticipação, da descentralização dos processos de toma- lho goza de status legal que permite a este receber e
da de decisão e do empoderamento das comunidades aplicar recursos financeiros de origem pública, o que
rurais. Isso devido à longa tradição de dependência não ocorre aos demais 187 Conselhos Municipais do
das populações rurais pobres em relação às elites lo- FUMAC existentes no Estado do Piauí, todos cria-
cais, dos baixos níveis de capital cultural e de organi- dos através de decreto do Poder Executivo local.
zação comunitária, da falta de uma tradição de cida- Quanto à composição dos Conselhos Munici-
dania, da desconfiança dessas populações com rela- pais do FUMAC, o número de membros varia entre
ção ao Estado e da conhecida habilidade das elites os municípios, mas a recomendação do Manual de
locais e regionais para capturarem os benefícios de- Operação estabelece que os Conselhos devam con-
correntes dos investimentos governamentais e de ain- tar com 9 a 15 componentes, número considerado
da controlarem os arranjos institucionais. razoável para um funcionamento eficiente e também
garantir o grau necessário de representatividade. A
3 OS CONSELHOS MUNICIPAIS DO FUMAC Tabela 4 revela a situação atual dos Conselhos Mu-
(Institucionalização, Atribuições, Participação nicipais do FUMAC e FUMAC-P, quanto ao núme-
das Mulheres, Capacitação e Regimento) ro de componentes.

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O perfil de representatividade recomendado Plurianual de Investimentos, elaborado de maneira
para os membros participantes dos Conselhos Muni- participativa, em consulta à sociedade, quando serão
cipais do FUMAC é de no mínimo 80% de represen- identificadas as necessidades de investimentos e
tantes dos beneficiários (associações, sindicatos de alocados os recursos. Sendo aprovado o POA pela
trabalhadores rurais, igrejas e outras organizações da Unidade Técnica de Coordenação do Projeto, auto-
sociedade civil) e no máximo 20% de representantes maticamente estarão aprovados os subprojetos, e o
dos poderes públicos locais, que em geral faz parte a Conselho Municipal do FUMAC-P firmará os con-
representação das Prefeituras Municipais e das Câ- vênios com as associações beneficiadas e o repasse
maras de Vereadores. No caso específico do repre- dos recursos diretamente à associação. Para tanto, o
sentante do Instituto de Assistência Técnica e Ex- Conselho deverá manter um sistema adequado de
tensão Rural do Estado do Piauí – EMATER, apesar contabilização e controle dos recursos recebidos e
de fazer parte do Conselho, não tem direito a voto, aplicados; monitorar e supervisionar a implementa-
mas somente à voz, conforme determina o regimen- ção dos subprojetos aprovados, e acompanhados em
to interno dos Conselhos Municipais do FUMAC. Em conjunto com os comitês de acompanhamento, as
alguns casos, o Ministério Público participa. Onde obras e serviços financiados; avaliar e acompanhar
for necessária a ampliação do número de participan- junto com a UT o desempenho do FUMAC no muni-
tes dos poderes públicos para uma melhor cípio; prestar contas à UT do PCPR II dos recursos
representatividade das instituições públicas, isso po- recebidos e aplicados.
Uma atribuição substantiva dos Conselhos Mu-
derá ser feito, mas estes representantes (em número
nicipais do FUMAC é servir como fórum para dis-
acima dos 20%) não terão direito a voto.
cussão e eventuais contribuições para decisões so-
bre o desenvolvimento municipal sustentado. Nesse
3.2 Atribuições sentido, deverão implementar formas alternativas e
Conforme o Manual de Operações do PCPR viáveis de colaboração e participação de outros con-
II, os Conselhos Municipais do FUMAC possuem as selhos existentes nos municípios, de tal forma a se
seguintes atribuições: transformarem em Conselhos Municipais de Desen-
Promover a divulgação do PCPR no município; volvimento Sustentado, através dos quais a integração
informar e esclarecer sobre diretrizes, critérios, re- entre os programas e projetos setoriais possa ocor-
gras e procedimentos operacionais do PCPR; pres- rer. A Unidade Técnica de Coordenação do Projeto
tar orientação técnica às associações para elabora- deverá estimular esse tipo de desenvolvimento.
ção dos subprojetos; receber e analisar os subproje- Em referência ao seu Relatório de Avaliação
tos, selecionando os que estejam dentro das regras do Projeto de Combate à Pobreza Rural (2006), o
do PCPR e, através do voto de maioria de seus mem- Banco Mundial constatou que, embora reconheci-
bros, analisar, priorizar e decidir sobre aprovação ou dos como de muita importância, os Conselhos Mu-
rejeição; enviar à UT-PCPR os subprojetos aprova- nicipais do FUMAC estariam padecendo da falta
dos para que esta proceda a sua análise e providen- de uma visão mais ampla do desenvolvimento do
cie os convênios e os respectivos repasses dos re- município e de todas as comunidades. Nesta linha,
cursos financeiros às associações beneficiadas. ganha força à recomendação de redução a um con-
Esses convênios são firmados diretamente en- selho de desenvolvimento municipal, com perfil de
tre a UT-PCPR e as associações beneficiadas, po- representação e escopo de ações ampliadas, exata-
dendo existir os convênios tripartite, quando a Pre- mente como o que vem ocorrendo em alguns Esta-
feitura Municipal faz alocação de recursos financei- dos na primeira fase do PCPR II, como Sergipe e
ros como contrapartida, mas todos os recursos são Ceará, com a participação de outros Conselhos
repassados diretamente da UT-PCPR para as asso- eventualmente existentes no município. É, portanto,
ciações beneficiadas; no caso do FUMAC-P, o Con- um objetivo explícito a ser alcançado na segunda
selho elaborará inicialmente um Plano Operativo fase do PCPR II em todos os Estados, no caso do
Anual – POA, que será um desdobramento do Plano Piauí, iniciada em 2007.

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Constata-se também que, no levantamento de atendam às necessidades das mulheres pobres nas di-
dados de campo no Estado do Piauí, em 36% dos versas áreas. No caso particular das mulheres pobres
municípios os Conselhos Municipais do FUMAC já da zona rural que enfrentam maiores dificuldades em
operam com essa concepção, envolvendo outros pro- relação às demais mulheres, como demonstra o estudo
gramas nos níveis federal, estadual e municipal, como realizado pelo Centro Internacional de Pesquisa para o
exemplos o Programa de Crédito Fundiário e o Desenvolvimento – CIID/IDRC, uma amostra de mu-
PRONAF, com resultados bastante auspiciosos. lheres da zona rural do Nordeste do Brasil indicou que
Sugestão mais recente e que vem sendo anali- essas trabalham mais horas que os homens. Portanto,
sada, informa o estudo, é que organismos internacio- são mais vulneráveis aos riscos de saúde, pois além dos
nais de cooperação como o Instituto Interamericano afazeres domésticos elas também trabalham na lavou-
de Cooperação para Agricultura – IICA defendem a ra, exigindo assim esforços em demasia e ainda são
necessidade de abordagem territorial com a criação reconhecidas apenas como domésticas, denotando a si-
de novos níveis de decisão nos âmbitos territorial, tuação de alto risco dessas mulheres.
regional e estadual, reservando aos Conselhos Muni- Por essa razão, para implementação de Projetos
cipais do FUMAC somente a ação local e suas deci- de Combate à Pobreza Rural, no caso específico do
sões referidas aos níveis mais altos. Estado do Piauí – PCPR II, o Banco Mundial recomen-
da e estimula que um percentual de 35% das pessoas
3.3 Participação das Mulheres (Questão de beneficiárias sejam mulheres, buscando assim reverter
Gênero) essa desigualdade de gênero existente, ainda muito for-
O Banco Mundial tem destacado a importância te, bem como fortalecer o processo organizacional des-
da questão de gênero para as regiões e países onde sas mulheres. Não foi possível obter dados precisos com
atua, para isso, vem desenvolvendo estudos sobre o relação ao alcance deste percentual em relação as 76.788
tema, e na revisão desses estudos em 2001 reconhe- famílias já beneficiadas até o presente. As Tabelas 5 e 6
ce que a igualdade de gênero é elemento importante demonstram que na realidade do Estado do Piauí ainda
para o aumento do bem-estar econômico e social, é muito baixa a participação das mulheres na composi-
como também para a redução da pobreza. ção dos Conselhos Municipais do FUMAC e também
Recomenda ainda como agência para o desen- na presidência dos mesmos, entendendo-se como razo-
volvimento, apesar dos avanços significativos, quan- ável o estabelecimento de quotas para as mulheres na
to à reforma da estrutura jurídica e política ligada à composição dos Conselhos como forma de minimizar
igualdade de gênero, que o Brasil deverá voltar-se esta desigualdade. Não diferentemente, a presidência
agora para alteração de papéis e expectativas soci- das associações na maioria é exercida pelos homens,
ais a respeito de papéis feminino e masculino, de modo bastando analisar os dados da Unidade Técnica de Co-
que as mulheres e os homens possam usufruir de ordenação do PCPR II demonstrando que, das 1.026
oportunidades iguais a elas e a eles oferecidas por associações beneficiadas com subprojetos no período
legislação e por políticas governamentais. de 2002 a 2006, apenas 187 tinham mulheres na presi-
Na visão do Banco, é importante que as estratégi- dência, o que representa 18,2 % do total de associações
as para a redução da pobreza diminuam as barreiras e beneficiadas.

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95

3.4 Capacitação envolvendo 338 conselheiros e 832 lideranças comu-


O processo de capacitação dos Conselhos ao lon- nitárias e técnicos locais e um intercâmbio para tro-
go da execução do PCPR II (2002-2006) ficou restri- ca de experiência, com a participação de 5 Conse-
to basicamente à realização de oficinas com duração lhos e um total de 150 participantes entre conselhei-
de dois dias (16 horas/atividades), com objetivo de re- ros e lideranças comunitárias.
novação desses Conselhos. Para o desenvolvimento O resultado alcançado no processo de capaci-
deste trabalho a UT-PCPR II efetivou parcerias com tação de Conselhos Municipais do FUMAC e tam-
diversas instituições governamentais e não governa- bém das associações comunitárias foi muito aquém
mentais que deslocaram técnicos de suas equipes para das metas inicialmente planejadas no Plano de
tal finalidade. Quanto às oficinas, num primeiro mo- Implementação do Projeto, bem como das necessi-
mento tinham como objetivo a garantia de uma maior dades dos Conselhos, sendo motivo constante de re-
participação dos diversos atores e a transparência em clamação, não somente destes, mas também de téc-
todo o processo, bem como a representatividade na nicos da própria Unidade Técnica de Coordenação
composição dos Conselhos. Com essa finalidade eram do PCPR II. Pôde-se observar que este componente
feitas às mobilizações, que se consistiam na informa- estratégico não tem sido tratado com a importância
ção e preparação dos diversos segmentos do municí- merecida para implementação do PCPR II. Resulta-
pio de alguma forma envolvidos com as atividades do do direto dessa fragilidade no processo de capacita-
Projeto, momento esse no qual eram encaminhadas ção dos Conselhos e associações é que, com raras
todas as ações formais normativas. Num segundo exceções, estes continuam ainda fragilizados e
momento, eram realizadas as plenárias com todas as desinformados dos procedimentos operacionais do
entidades e também eram eleitas (os) a (o) presidente Projeto, tornando-os com maior facilidade reféns dos
e secretária (o) do Conselho. arranjos políticos locais e mantendo-os sob tutela
Nas plenárias foram repassadas informações permanente, e ainda mais pelo agravante da perda
gerais sobre o Projeto PCPR II, esclarecimentos e da identidade e da postura passiva.
discussão sobre o papel do Conselho e dos conse- Na atual situação, dificilmente os Conselhos
lheiros, avaliação da atuação do Conselho, destacan- poderão adquirir postura independente e de protago-
do pontos fortes, pontos fracos e sugestões para o nistas sociais e contribuírem para o desenvolvimento
seu aprimoramento, processo de composição do Con- local sustentável, assim revela o Relatório de Revi-
selho e, finalmente, a escolha da(o) presidente e são de Meio Termo do Projeto de Combate à Pobre-
secretária(o), com uma avaliação final do evento. za Rural do Estado do Piauí, realizado pelo Instituto
Nesse período foram realizados 80 eventos com esta Civitas (2004).
finalidade, envolvendo 4.190 participantes entre con- Como afirma Sales (2005), para realizar suas
selheiros, lideranças comunitárias, técnicos, dentre funções os Conselhos, de modo geral, precisam ter
outros, segundo dados da UT-PCPR II. Foram tam- uma capacitação pedagógica que seja orgânica,
bém realizados 26 cursos de capacitação de conse- participativa, prazerosa e alimentadora da prática.
lheiros sobre procedimentos operacionais do PCPR, Será orgânica se levar em conta a realidade em que

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96 ARTIGO
os conselheiros e as pessoas com quem trabalham temente a diminuição dos municípios do PAC. As-
estão inseridas, podendo então estabelecer um inter- sim, durante a implementação do Projeto será sem-
câmbio de conhecimentos e práticas. Será participativa pre possível alterar a lista dos municípios seleciona-
se forem definidos e redefinidos conjuntamente pelos dos pela ascensão PAC>FUMAC>FUMAC-P ou por
participantes do processo os objetivos, metodologia e desativação de municípios.
forma de gestão. A capacitação será então prazerosa, O critério básico para permanência ou ascensão
se, além de vivenciar outras dimensões, tiver o cuida- de um município será seu desempenho, e
do com a leveza e beleza do processo e, por último, adicionalmente no caso de ascensão a demonstração
será alimentadora de prática se as discussões e todo o da existência das condições objetivas para
processo vivenciado levarem em consideração os re- implementação das atividades. Como critério básico
sultados pretendidos na atuação. para desativar as ações num município, será a
Ressalta-se que o processo de capacitação que constatada inviabilidade de contornar ou resolver
é desenvolvido no Estado do Piauí para os Conselhos problemas inerentes ao fraco desempenho, detectado
Municipais do FUMAC não vem observando proce- através do baixo nível de participação das
dimentos recomendados no Plano de Implementação comunidades, inobservância dos critérios e diretrizes
do Projeto, concorrendo assim para a fragilidade des- básicas do Projeto. Dado ao caráter experimental do
ses, sendo este o pensamento de pessoas envolvidas FUMAC-P sua expansão será atentamente
neste processo, incluindo técnicos da UT– PCPR II observada na execução do PCPR II, sendo que para
e de avaliações realizadas. um município do FUMAC ser transformado em
FUMAC-P o seu desempenho será aferido pelos
3.5 Regimento Interno critérios de permanência no FUMAC. Assim serão
Os Conselhos Municipais do FUMAC são regu- incluídos primeiro os municípios que tiveram maior
lamentados por um Regimento Interno que trata da nível de participação das famílias, legitimidade das
sua finalidade, composição, competência, reuniões e demandas, do efetivo cofinanciamento por parte das
sanções previstas. É aprovado em assembleia. Dis- associações beneficiárias (contrapartida de 10% do
corre ainda sobre o processo de renovação do manda- valor total do subprojeto em serviços) e da
to dos conselheiros, atribuições da (o) presidente, da participação/interesse dos poderes públicos municipais
(o) secretária (o) e dos conselheiros em geral. no funcionamento dos Conselhos.
Conforme o Regimento, o Conselho Municipal Sob certas circunstâncias, um município inicial-
do FUMAC é uma organização sem fins lucrativos, mente participante do PAC poderá ser graduado di-
que tem como finalidade servir de mecanismo insti- retamente para o FUMAC-P. Neste caso a Unidade
tucional especializado para a implementação das Técnica de Coordenação do Projeto deverá demons-
ações do PCPR II na linha de ação do FUMAC. trar que o desempenho do PAC no município supe-
rou qualitativamente e quantitativamente as metas de
permanência e que exista um grande interesse dos
4 ATUAÇÃO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DO poderes públicos locais, das comunidades do municí-
FUMAC NO ESTADO DO PIAUÍ pio potencialmente beneficiárias, e o interesse das
Tendo como eixo estratégico principal do Pro- organizações da sociedade civil local em assumir
jeto a descentralização das ações, essa é buscada e decisões participativas e a evidência de que o Con-
incentivada através da participação dos beneficiários selho terá condições de administrar recursos finan-
em todo o processo decisório, que vai desde a dis- ceiros do Projeto destinados ao município.
cussão inicial sobre as demandas, a implementação O Relatório para Revisão de Meio Termo, Ins-
dos subprojetos comunitários e gestão pelas próprias tituto Civitas (2004), confirma que os Conselhos
comunidades indo até ao processo avaliativo, incen- Municipais do FUMAC materializam a presença do
tivado através do aumento do número de municípios PCPR nos municípios e representam o foco principal
participantes do FUMAC e FUMAC-P, e consequen- da operacionalização do projeto no Estado do Piauí,

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97
não obstante os mesmos serem unânimes em reivin- representantes de sindicatos, associações e entida-
dicar um melhor apoio da Unidade Técnica de Coor- des da sociedade civil assumiram a presidência e
denação do Projeto para que possam desenvolver secretaria do Conselho, minimizando a interferência
suas atribuições. do poder público no processo de escolha dos conse-
Informa, ainda, que sempre os aportes de alguns lheiros. Anteriormente a esta data, basicamente to-
recursos para o funcionamento dos conselhos são fei- dos os presidentes dos Conselhos existentes eram
tos pelas Prefeituras Municipais, que sempre reivindi- representantes do poder público local, mais especifi-
cam para si o “controle” destes. Segundo depoimento camente das Prefeituras Municipais.
de técnicos da própria Unidade Técnica de Coorde- Por outro lado, observando a Tabela 7, vê-se
nação do Projeto e de membros dos conselhos munici- que ainda é baixo o número de representantes das
pais do FUMAC, a interferência de lideranças políti- associações comunitárias rurais que exercem o car-
cas locais descaracteriza os Conselhos porque lhes go de presidente dos Conselhos, chegando a 31,05%
tiram a autonomia e independência na sua ação. do total. Eles são eleitos pelas próprias comunidades,
O referido relatório também destaca que a par- configurando mesmo assim que a gestão participativa
tir de 2003 houve uma substancial mudança no perfil com representatividade e legitimidade é perfeitamente
dos Conselhos, quando um número significativo de possível.

Um outro avanço observado também a partir que permitiu que todas as associações, indistintamen-
de 2003 foi a representação das associações comu- te, e todas as regiões tivessem possibilidade de par-
nitárias nos Conselhos, que deixou de ser apenas da ticipação e decisão na composição dos Conselhos e
comunidade e passou a ser de uma região do municí- que nenhuma região ficasse sem representação no
pio. A regionalização dos municípios realizou-se em Conselho, fato que anteriormente ocorria com
assembleias das entidades que compunham as ple- frequência. Por outro lado, destaca-se também como
nárias de renovação dos Conselhos. A partir dessa ponto positivo no processo a diminuição, sobrema-
definição, cada região elegeu uma associação co- neira, da interferência excessiva dos gestores públi-
munitária para representá-la em uma miniplenária. cos locais, principalmente na indicação de represen-
Conforme relato de técnicos que compõem a tantes das associações comunitárias para composi-
equipe da Unidade Técnica de Coordenação do ção dos Conselhos. Essa mudança trouxe também
PCPR II no Estado do Piauí, essa metodologia con- algum efeito negativo para os Conselhos, pois algu-
feriu mais legitimidade ao processo, na medida em mas Prefeituras Municipais que perderam o poder

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de mando e decisão na composição dos Conselhos paradigma analítico vem emergindo, se consolidan-
deixaram de fornecer apoio e logística aos Conse- do e derrubando um a um seus postulados teóricos
lhos anteriormente disponibilizados. do ceticismo inicial à medida que multiplica as indi-
Com respeito ao apoio financeiro para a cações de que a participação popular,
operacionalização dos Conselhos Municipais do empoderamento comunitário, representação legíti-
FUMAC, a Unidade Técnica de Coordenação do ma e protagonismo efetivo das comunidades rurais
Projeto, até então, não tem definida uma estratégia pobres no atendimento de suas necessidades coleti-
de garantir sua independência, mobilidade, funciona- vas ou, em uma palavra, capital social, vêm sendo
lidade e autonomia. efetivamente gerados, fortalecidos e empregados
No Relatório Final de Avaliação do Projeto de nos contextos de implantação dos subprojetos do
Combate à Pobreza Rural – PCPR II (2006), reali- PCPR II.
zado conjuntamente para os Estados do Ceará, Piauí Como reflexo da generalização e consolida-
e Rio Grande do Norte, o Banco Mundial enfatiza ção da experiência com os Conselhos Municipais do
que a maioria dos estudos, recentemente realizados, FUMAC, estudo de Van Zyl, Sonn e Costa (2000),
indicam que o PCPR II tem um impacto intenso, po- consultores contratados pelo Banco Mundial, conclu-
sitivo e sustentável sobre o capital social e consta- íram que a formação de capital social é tão mais in-
tam, em particular, que o tipo de arranjo institucional tensa quanto mais descentralizados e participativos
estabelecido pelo PCPR II estimula o controle social são os mecanismos de implementação do PCPR II
sobre o poder público, minimiza a interferência políti- empregados. E isto ocorre na medida em que a abor-
ca e leva, por conseguinte, a uma maior responsabi- dagem dos Conselhos Municipais do FUMAC cria
lidade do setor público na gestão dos recursos inves- uma arena local para a tomada de decisão e alocação
tidos localmente. O efeito positivo do PCPR II sobre de recursos, que é mais transparente, democrática e
as relações de cooperação entre comunidades rurais imune à influência dos processos de manipulação
e destas com o setor público gerou novas formas de política tradicionalmente associados ao modelo
governança municipal, e estes processos ajudam a clientelista.
estabelecer mecanismos pelos quais as comunida- Um dos pontos de fragilidade dos Conselhos
des tenham maior participação e controle das ações Municipais do FUMAC é com relação à formação,
do Estado, diminuindo a interferência e influência de educação e capacitação, tão presente na sociedade
atores políticos e da elite interessada em práticas de brasileira e piauiense, especialmente no setor rural, o
dependência política, e estimulam a transparência das que se traduz em dificuldade de compreensão pela
decisões e difusão de informação. maioria dos conselheiros em relação a suas atribui-
A esse respeito, o relatório destaca, ainda, que ções e ao papel que deve ser desempenhado pelos
tais procedimentos acontecem tanto em nível co- Conselhos Municipais do FUMAC no Estado do
munitário, através das associações comunitárias, Piauí. Segundo dados do IBGE – PNAD 2003, a taxa
como em nível municipal, por meio dos Conselhos de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais,
Municipais do FUMAC, evidenciando ainda, com a no Brasil, é de 11,55% e no Estado do Piauí é de
expansão e consolidação da experiência com o 28,40%, portanto ainda muito alta. Além do mais, o
mecanismo dos Conselhos Municipais do FUMAC, nível de ocupação nos afazeres diários da maioria
resultados mais auspiciosos e que relacionam o dos conselheiros dificulta e, às vezes, até inviabiliza a
PCPR II com o incremento da participação comu- participação efetiva nas atividades dos Conselhos do
nitária e a formação de capital social foram identifi- FUMAC.
cados. Contudo, desde o final da década de 1990, e A falta de apoio aos Conselhos Municipais do
em consequência do aprofundamento das pesqui- FUMAC e a sua dependência das Prefeituras Mu-
sas de campo e simultaneamente à ampliação da nicipais, nos diversos aspectos, fazem com que estes
abrangência de estratégias ainda mais descentrali- fiquem dependentes do poder Executivo Municipal,
zadas de implementação do PCPR II, um novo portanto vulneráveis à ingerência desse mesmo po-

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99
der. Assim, o processo de mobilização nos municípi- desperdício de tempo, além de algumas despesas re-
os decorre mais de uma ação da administração mu- alizadas no processo de discussão, elaboração dos
nicipal do que pela iniciativa dos Conselhos Munici- subprojetos, encaminhamento ao Conselho e após
pais do FUMAC. Por isso, mudanças na administra- aprovação dos mesmos envio à Unidade Técnica do
ção municipal poderão provocar descontinuidade nas PCPR II. Tal fato tem causado revolta, desânimo e
ações dos Conselhos Municipais do FUMAC e até desconfiança, tanto nos potenciais beneficiários do
mesmo a inviabilização das atividades destes. Projeto como nos conselheiros como um todo.
O aspecto que reforça mais essa dependência O documento de Avaliação do Projeto de Com-
é a falta de logística dos Conselhos, equipamentos bate à Pobreza Rural (1993-2005) do Banco Mundi-
essenciais ao bom funcionamento, recursos financei- al (2006) enfatiza que as regras do PCPR II – es-
ros e apoio técnico que quase sempre são fornecidos sencialmente a distribuição de seus recursos através
pelas prefeituras locais ou em raras ocasiões pela de subprojetos aprovados pelos Conselhos Munici-
Câmara Municipal, limitando assim o desempenho e pais do FUMAC, com forte presença de represen-
funcionamento dos Conselhos Municipais do tantes das entidades comunitárias – dificultam a ação
FUMAC, que em alguns casos existem apenas como de atores políticos potencialmente interessados na
instâncias homologadoras dos interesses do poder reprodução de práticas de dependência política; cri-
local em detrimento do seu papel deliberativo. am incentivos a práticas de igualdade política à parti-
As críticas geralmente feitas aos Conselhos cipação; conduzem ao empoderamento dos represen-
Municipais do FUMAC residem na alegação que tantes das associações comunitárias e ao enfraque-
estes são implantados de forma apressada para aten- cimento dos laços de dependência pessoal com lide-
der a exigências legais do PCPR II e não pelo senti- ranças políticas cuja base de legitimidade seria o
mento de participação das comunidades locais, ra- monopólio do acesso a recursos públicos; obrigam a
zão pela qual a maioria das reuniões é realizada para transparência das decisões e a difusão das informa-
discutir a aprovação de subprojetos comunitários com ções sobre o Projeto e, finalmente, estimulam um
níveis de participação baixos, com algumas exceções. ambiente de controles mútuos, à medida que é de
Mas o principal ganho do processo de descentraliza- interesse coletivo que cada associação permaneça
ção e dos Conselhos parece ser o avanço da socie- apta a receber novos subprojetos.
dade civil na conquista da cidadania, que é poder dis-
cutir os problemas coletivos do município, de forma 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
adequada e com participação representativa. No caso Com o resultado dos estudos realizados, é ine-
dos Conselhos Municipais do FUMAC do Estado do gável o reconhecimento da importância dos Conse-
Piauí, mesmo com alguns avanços registrados, a lhos Municipais do FUMAC como estratégia de des-
maioria das reuniões realizadas é somente para dis- centralização fomentada pelo Banco Mundial, pos-
cutir os subprojetos que dizem respeito ao PCPR. sibilitando assim o aprimoramento no controle social
Um outro dado que ilustra bem as dificuldades das ações do PCPR II no Estado do Piauí.
enfrentadas pelos Conselhos Municipais do FUMAC No entanto, faz-se necessário o aperfeiçoamen-
no Estado do Piauí é a inobservância pela Unidade to dessa ferramenta indispensável para permitir o
Técnica de Coordenação do PCPR II em efetivo exercício de suas atividades e também possi-
disponibilizar um indicativo orçamentário anual para bilitar a ampliação do universo das discussões dos
possibilitar um trabalho planejado dos referidos Con- Conselhos, não se atendo apenas à análise e aprova-
selhos. Para se ter uma ideia, no período de execu- ção de subprojetos comunitários, mas desenvolven-
ção do Projeto (2002 a 2006) foi encaminhado pelos do esforços mais abrangentes que sejam
referidos Conselhos à UT- PCPR II um total de 2.652 determinantes para o desenvolvimento sustentável
subprojetos, sendo aprovados apenas 1.179, repre- local. Nesse sentido, deverá agir de forma interativa
sentando 44,45%, e com isso gerando desgastes dos com os demais Conselhos existentes no município,
Conselhos, expectativas das comunidades frustradas, tornando-se não mais apenas uma instância burocrá-

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100 ARTIGO
tica para obtenção de subprojetos comunitários do PCPR II disponibilize anualmente um indicativo fi-
PCPR II, como observado em alguns casos. nanceiro para cada município, conforme previsto no
O que se pode inferir das avaliações realizadas Manual de Operações do Projeto, permitindo, assim,
é que, para uma boa atuação, os Conselhos Munici- que os referidos Conselhos possam realizar suas ati-
pais do FUMAC carecem de uma logística adequa- vidades de forma planejada. Portanto, não proce-
da que nem sempre está ao alcance desses. Na sua dendo a análise e aprovação de subprojetos comuni-
maioria, os referidos Conselhos funcionam com apoio tários além das disponibilidades e possibilidades de
das Prefeituras Municipais que disponibilizam espa- atendimento como vêm ocorrendo durante a execu-
ço físico, funcionários, parte de material de expedi- ção do PCPR II, o que tem desgastado e gerado des-
ente e veículo para deslocamento, deixando-os qua- conforto para os Conselhos.
se sempre vulneráveis à ingerência política local. Após análise crítica dos estudos realizados e
Registre-se que alguns Sindicatos de Trabalhadores também embasados em algum conhecimento da rea-
Rurais também têm prestado apoio dentro das limita- lidade deste universo de trabalho com Conselhos,
ções que lhes são impostas. Considera-se oportuno e conclui-se que, não obstante a falta de apoio aos
necessário que a Unidade Técnica do Projeto de Conselhos Municipais do FUMAC, as suas fragilida-
Combate à Pobreza Rural do Estado do Piauí, des e até o próprio desconhecimento por parte da
objetivando evitar esta dependência, discuta e viabilize sociedade local, estes se transformaram em espaço
formas de apoiar financeiramente os Conselhos, pos- para discussão das ações do Projeto, elemento de
sibilitando-lhes o desenvolvimento de suas atividades aproximação das famílias beneficiárias das decisões
conforme previstas no regimento interno. sobre esse, bem como um ambiente de discussão do
Considera-se também como ponto relevante Projeto onde o poder público local e a sociedade po-
para o bom desempenho dos Conselhos o processo dem decidir.
de capacitação desenvolvido, não devendo se limitar Mesmo tendo-se tomado como base para o es-
apenas ao repasse de informações do PCPR II atra- tudo toda documentação disponível, a análise crítica
vés de reuniões pontuais e encontros de curta dura- sobre o papel desempenhado pelos Conselhos Muni-
ção, necessitando para o seu desenvolvimento de ati- cipais do FUMAC no controle social das atividades
vidades pedagógicas que promovam o aperfeiçoa- do PCPR II levou em conta as condições e ambiente
mento dos conselheiros para o efetivo exercício do em que eles funcionam e atuam, para não se ter ava-
seu papel, levando-se em conta a desigualdade exis- liações distorcidas.
tente quanto ao nível de formação, educação e capa- Espera-se que para a próxima fase do Projeto
cidade dos mesmos em entender e traduzir quais atri- (2007 a 2010) seja discutida e definida a estratégia
buições devam ser desempenhadas por eles. de apoio aos Conselhos, objetivando o fortalecimen-
Ainda mais, com base nos estudos realizados e to destes. Sugere-se que um percentual do valor to-
nas informações colhidas junto à equipe técnica do tal de cada subprojeto liberado seja destinado aos
Projeto, pode-se afirmar a importância dos Conse- referidos Conselhos para que possam utilizar em des-
lhos Municipais do FUMAC como ferramenta de pesas operacionais e acabar com a dependência das
Controle Social na implementação das ações do Prefeituras Municipais, o que não significa o impedi-
PCPR II no Estado do Piauí, não obstante ainda pa- mento para a busca constante do trabalho integrado
deçam da falta de apoio, independência, capacitação com as instituições públicas locais.
adequada e liberdade para que possam desempenhar Quanto à política e estratégia do Banco Mundi-
de forma eficiente e eficaz seu verdadeiro papel para al para a redução da pobreza nos países e regiões
o qual foram criados. mais pobres, existem avaliações diferenciadas, e
O planejamento das atividades dos Conselhos é questionamentos são feitos quanto à sua eficácia, al-
de fundamental importância para o sucesso na sua guns enxergando-a apenas como política compen-
relação com todos os atores sociais envolvidos em satória, além de observarem que o referido Banco
cada município. Urge que a Unidade Técnica do atua de forma inflexível e burocratizada.

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101
No caso específico do Projeto de Combate à nitário FUMAC do PCPR II. Teresina, 2001.
Pobreza Rural – PCPR II para o Estado do Piauí, MANUAL de Operações do Projeto de Combate à Pobreza
consideram-se alguns pontos como satisfatórios quan- Rural no Estado do Piauí, PCPR II. Teresina, 2001.
to aos aspectos de propiciar os benefícios às famílias RELATÓRIO de Desempenho Físico-Financeiro do Projeto de
Combate à Pobreza Rural no Estado do Piauí – PCPR II (perí-
mais pobres da zona rural do Estado, como possibili- odo 2002-2006). Teresina, 2006.
tar o exercício da participação coletiva e fomentar a RELATÓRIO de Desempenho das Ações de Capacitação da
descentralização do processo decisório através dos Unidade Técnica de Coordenação do PCPR II (período 2002-
Conselhos Municipais do FUMAC, que são compos- 2006). Teresina, 2006.
tos por atores sociais diversos do município, assim SALES, Ivandro da Costa. Os conselhos e a gestão democrá-
conseguindo provocar algumas mudanças positivas tica: armadilhas e possibilidades. In: ROCHA, Regina. Parti-
cipação social: desafio para democracia contemporânea. Rio
na relação de forças locais no que diz respeito à de Janeiro: Nova Pesquisa, 2005. p. 40-52.
implementação do Projeto. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho cientí-
Um outro ponto a destacar é a operacionalização fico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
do PCPR II, que poderá ser utilizada como instru-
mento de emancipação das famílias beneficiadas com
o Programa Federal Bolsa Família, com perspecti-
vas favoráveis à geração de emprego e renda.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Ricardo. Conselhos além dos limites: texto


preparado para o seminário desenvolvimento local e conse-
lhos municipais de desenvolvimento rural. Rio Grande do
Sul, 2001. Disponível em: <www.fao.org/regional>. Aces-
so em: 6 out. 2006.
BANCO MUNDIAL. Combate à pobreza rural no Brasil: uma
estratégia integrada. v. 1. (resumo). dez. 2001. Disponível
em: <www.bancomundial.org.br>. Acesso em: 20 dez. 2006.
_______. Relatório de avaliação do Projeto de Combate à
Pobreza Rural – PCPR. 1993-2005. Recife, 2006.
_______. Relatório final de avaliação do projeto de comba-
te à pobreza rural nos estados do Piauí, Ceará e Rio Grande
do Norte. Recife, 2006.
_______. A questão de gênero no Brasil. Brasília, 2003.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação
sociopolítica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
GONÇALVES, Hortência de Abreu. Manual de artigos científi-
cos. São Paulo: Avercamp, 2004.
Instituto Civitas. Cidadania e políticas públicas. Relatório para
revisão de meio termo do Projeto de Combate à Pobreza Ru-
ral no Estado do Piauí – PCPR II, Teresina, 2004.
LERZUNDI, Alejo et al. Experiências bem sucedidas no com-
bate à pobreza rural no Piauí. Carta CEPRO, Teresina, v. 22, n.
1, jan./jun. 2003.
_______. Projeto de combate à pobreza rural: característi-
cas e histórico de sua formação. Carta CEPRO, Teresina, v.
21, n. 1, jan./jun. 2002.
MANUAL de Operações do Fundo Municipal de Apoio Comu-

v.25, n. 1, 2009

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102 ARTIGO

Arquivo CCPR
Leoni Quaresma de Melo
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade
Federal do Piauí e formando do Curso de Pós-
Graduação em Gestão Social com Habilitação em
Docência do Ensino Superior.
E-mail: leonimelo@pcpr.pi.gov.br /
leoni.melo@ig.com.br.

FORMAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL NAS


COMUNIDADES PELO PROJETO DE COMBATE
À POBREZA RURAL – PCPR NO ESTADO DO PIAUÍ*
1 INTRODUÇÃO quenas Comunidades Rurais – APCR, segmento
O Governo do Estado do Piauí, através da responsável pela execução direta de eventos
Secretaria Estadual do Planejamento – SEPLAN, direcionados para treinamento e capacitação dos
Unidade Técnica do Projeto de Combate à Po- beneficiários. O objetivo principal era a implemen-
breza Rural – UT/PCPR, e o Banco Internacio- tação de ações de desenvolvimento sustentável
nal para a Reconstrução e Desenvolvimento – no Estado com participação ativa das comunida-
BIRD – Banco Mundial –, na tentativa de reduzir des, tendo em vista aumentar o acesso das popu-
a pobreza e promover o desenvolvimento local sus- lações rurais mais pobres às atividades de gera-
tentável do setor rural, promoveram ajustes, no ção de emprego e renda, assim como a provisão
ano de 1993, no Programa de Apoio ao Pequeno de serviços sociais básicos e de infraestrutura
Produtor Rural – PAPP, denominando-o de PAPP como meios para a redução da pobreza rural.
Reformulado, que originalmente foi implementado No ano de 1997 o Estado do Piauí efetivou o
no Estado no período de 1985 a 1992, com com- Acordo de Empréstimo com o Banco Mundial do
ponentes voltados para geração de tecnologia, as- Projeto de Combate à Pobreza Rural – PCPR I e
sistência técnica, comercialização, capacitação, em 2002 o PCPR II, que foi concluído em 31/01/
tendo como segmento estratégico o Apoio às Pe- 2007. Neste sentido, foram financiados e implan-

*
Artigo apresentado à Coordenação do Curso de Gestão Social como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em
Gestão Social, elaborado sob a orientação da Profª Msc. Veralucia Leite Nogueira.

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103
tados, no período de 1997 a 2006, centenas de pobres para melhorar sua situação através da as-
subprojetos relacionados à criação de sociação e do desenvolvimento da confiança. Este
infraestrutura, produção e desenvolvimento soci- enfoque considera que o trabalho social coletivo
al em comunidades distribuídas em todos os mu- pode possibilitar a resolução de problemas de uma
nicípios do Estado, com exceção do município da comunidade. A decisão para uma sociedade sus-
capital Teresina. Em particular, o PCPR II, ainda tentável é um problema de tomada de consciência
em execução, já financiou 1.165 subprojetos de que começa na mudança interna das pessoas, no
natureza diversa, contemplando 1.012 associa- sentimento de solidariedade e no amor político pela
ções em 983 comunidades e em 203 municípios, sociedade.
com criação de 187 Conselhos Municipais do O caminho para a construção do capital soci-
Fundo Municipal de Apoio às Comunidades – al passa por uma mudança radical interna, uma ob-
FUMAC, principalmente aqueles com menor Ín- servação íntima da experiência das pessoas. Essa
dice de Desenvolvimento Humano – IDH, bene- transformação pessoal traduz uma energia política
ficiando 76.788 famílias de pequenos produtores completamente nova, outro tipo de poder, uma nova
rurais. pessoa. Porque para mudar as normas e as insti-
As ações do PCPR I e II implementadas atra- tuições para construírem capital social, é impres-
vés do componente subprojeto comunitário e, prin- cindível que primeiro mudemos a nós mesmos. É
cipalmente, aquelas direcionadas para capacitação bem verdade que o capital social está enraizado
e treinamento, além de provocarem um efeito di- na estrutura e na cultura dos indivíduos, com a ob-
reto sobre o bem-estar da população pobre, con- servância de comportamentos e sinergia de laços
tribuem para a criação e fortalecimento do capital fraternos.
social e para impulsionar um processo de Esta contextualização expressa a importân-
mobilização das comunidades em favor do próprio cia do estudo da formação do capital social nas
desenvolvimento. A transferência para um conse- comunidades rurais com ações do PCPR no Esta-
lho municipal (composto por representantes do do do Piauí, com verificação e análise de seus efei-
poder público local, da sociedade civil e das comu- tos e impactos na busca do sentimento do senso
nidades pobres) de decisões sobre a alocação dos de solidariedade, respeito, cooperação e confian-
recursos em cada município, bem como a transfe- ça como sendo o fundamento do chamado capital
rência às organizações comunitárias na delibera- social indispensável para a construção de uma so-
ção de implementar e gerir os projetos, constituem ciedade comunitária, visando sobretudo o desen-
forças estimuladoras para a criação do capital so- volvimento local sustentável.
cial, a participação local, a transparência e eficá- A concretização deste artigo contou com uso
cia das ações do Projeto. de várias técnicas simultâneas com o objetivo de
Entendendo-se que o desenvolvimento eco- permitir uma análise mais apurada do objeto de
nômico requer melhoria da qualidade de vida, é estudo. Neste contexto se fez o uso de dados se-
forçoso reconhecer a exigência do desenvolvimento cundários como: a) Pesquisa bibliográfica que per-
social concomitante, para que o desenvolvimento mitiu apreender as várias suposições e conheci-
econômico seja satisfatório. Neste contexto, o con- mentos científicos que já foram sistematizados so-
ceito de capital social tem ganhado espaço devido bre o tema; b) Pesquisa documental realizada atra-
à percepção de seus impactos na reformulação das vés de documentos diversos originários da Unida-
práticas de desenvolvimento. Trata-se de um novo de Técnica do PCPR, Estudos de Caso, Estudo de
enfoque que procura fortalecer a capacidade dos Desempenho Físico do PCPR I, Relatório de Ava-

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104 ARTIGO
liação de Meio Termo do Projeto, Relatórios de são da concepção de capital social e suas impli-
Desempenho do Projeto, Ajuda à Memória do Ban- cações no desenvolvimento econômico. Na aná-
co Mundial, Estudo Quase-Experimental de Avali- lise de caso da “Itália Moderna”, Robert Putnam
ação dos PCPRs; c) Pesquisa direta em sites pela desenvolve o conceito de capital, social expres-
INTERNET. sando que esse compreende características da
Neste sentido, o artigo contempla conside- organização social, como confiança, normas e sis-
rações teóricas sobre capital social, seguidas de temas, que contribuem para aumentar a eficiên-
informações sobre o PCPR, no que se refere ao cia da sociedade facilitando as ações coordena-
seu formato e sua política de ação. A análise da das.” (1996, pág. 7).
formação do capital social é procedida em con- O capital social quando presente em uma so-
cordância com a análise do PCPR, considerada ciedade fortalece a tomada de decisões e a exe-
neste artigo como um forte contribuidor do forta- cução de ações colaborativas que beneficiam toda
lecimento do capital social nas comunidades po- comunidade. A definição de capital social deve
bres do Estado. centrar-se em suas fontes e não em suas
consequências. A ênfase recai no capital como
bem público, como valores e crenças que os ci-
2 CAPITAL SOCIAL: CONCEITO E DIMENSÃO dadãos compartilham em sua convivência diária,
Nos últimos anos o tema do capital social vem expressando socialização e consenso normativo,
recebendo considerável atenção, particularmente favorecendo um espírito cívico expresso em uma
entre os cientistas sociais, economistas, cientistas rica vida associativa. Ou ainda, capital social “faz
políticos, além de organizações públicas e priva- referência a normas, instituições e organizações
das, visando identificar e caracterizar a confiança que promovem: a confiança, a ajuda recíproca e
entre os indivíduos, no associativismo e nas redes a cooperação.” (JOHN DURSTON, 2000:7).
de relações sociais, na valorização dessas relações Nessa ótica:
e estruturas sociais no discurso político e na ótica
“... o capital social é o conjunto de relações de confiança
econômica, bem como com a preocupação de in- e cooperação, mas não necessariamente produz altos
troduzir uma dimensão normativa em sua análise. níveis de participação, nem em sociedades civis
Outras razões para este estudo são recorren- altamente democráticas, nem necessariamente resulta
em aumentos de produtividade e resultado econômico
tes principalmente para o reconhecimento dos re- para empresas ou economias.” (JOHN DURSTON,
cursos embutidos em estruturas e redes sociais, 2000:12).
não contabilizados por outras formas de capital, e
a valorização de sua importância para o desempe- Sem se reportar ao termo capital social,
nho econômico, bem como verificar a necessida- Granovetter (1985) acena para o potencial que
de de desenvolver conceitos que reflitam a com- essas relações têm para resolver o “dilema do pri-
plexidade e o inter-relacionamento das várias es- sioneiro” e promover a confiança que um terá que
ter no outro – fonte de capital social que afeta os
feras de intervenção humana.
custos entre os agentes econômicos.
Um dos estudos mais brilhantes e
(LAZZARINI et al., 2003).
referenciados sobre o tema do capital social é de Para o Banco Mundial, a quantidade, quali-
Robert Putnam, o qual popularizou o conceito e dade e persistência das interações sociais entre
pôde reivindicar a responsabilidade por sua in- vizinhos, amigos e membros, assim como a habili-
corporação no discurso político dominante. A ino- dade do trabalho em conjunto procurando o bem
vação no estudo de Putnam (2000) está na inclu- comum, geram capital social. O capital social é

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especialmente importante para o pobre, já que pode histórico de um povo é importante, mas discorda
ser usado como substituto do capital humano e do da afirmação de que o legado histórico é um fator
capital físico. (WORLD BANK, http: determinante na criação do capital social. Outra
worldbank.org). coluna de sustentação seria a possibilidade de
Segundo a classificação destacada por interação e integração entre as diversas organiza-
Monasterio (2001), existem três modalidades de ções existentes, principalmente em comunidades
capital social: que se encontram isoladas geograficamente. A
a) “Bonding Social Capital” – (Laços For- participação de diversos setores com diversos ní-
tes): são os grupos homogêneos, nos quais são veis do poder (estado, comunidade, organização
valorizadas as identidades dos agentes envolvi- não governamental e bancos de desenvolvimento)
dos. Essa modalidade vem do que Putnam (2000) na implementação de programas de desenvolvi-
definiu como “supercola sociológica”, que aumen- mento tem maiores chances de sucesso, criando
ta os condicionantes de lealdade criando relações capital social através das interações dos partici-
baseadas na confiança; b) “Bridging Social pantes, sendo benéfico na hora de solucionar futu-
Capital” – (Fluidez Social): são as ligações en- ros problemas.
tre grupos sociais distintos. Segundo Putnam Fukuyama (1999) considera que o Estado
(2000), trata-se de um “óleo lubrificante social”, pode ser importante no estímulo do capital social
e quando essa modalidade é abundante tem-se na sociedade da seguinte forma: “a) deve estar
uma sociedade fluida e integrada, nessa existe algo atento para estimular alguma forma de aumentar
que une os agentes e é superior às diferenças o estoque de capital social já existente, como o
étnicas, geográficas ou ocupacionais; c) “Linking apoio a programas de microcrédito, quando o ín-
Social Capital” – (Ligações Verticais): são as dice de inadimplência é quase zero; b) realizando
ligações verticais entre os pobres e as pessoas investimento e estimulando a educação, pois é na
em postos de comando em organizações formais. escola que se formam futuros líderes e cidadãos.
Comunidades que têm bom estoque dessa moda- Esse estímulo não deve parar no ensino funda-
lidade de capital social possuem governos “per- mental ou secundário, mas prosseguir até o ensi-
meáveis” às demandas oriundas dos extratos in- no superior; c) fornecendo bens públicos de for-
feriores da pirâmide social, nos quais os países ma eficiente e de qualidade, garantindo o direito
em desenvolvimento muitas vezes têm voz ativa à propriedade e à segurança pública eficiente; d)
nas decisões públicas. descentralizando de forma a permitir um fluxo
Segundo o mesmo autor, a literatura relacio- mais rápido e eficiente de serviços, permitindo
nada a capital social e pobreza afirma que, especi- também uma participação da sociedade na admi-
almente nos países subdesenvolvidos, os pobres nistração pública”.
têm acesso a fartos estoques de bonding social O capital social seria assim um recurso co-
capital pouco bridging e quase nenhum linking. letivo que emergiria como um resultado da
Isto significa que a união entre os menos favoreci- interação entre atores racionais que reconhece-
dos economicamente fornece-lhes apoio mútuo, riam a necessidade de cooperar entre si para
mas por outro lado dificulta a fluidez social em obter benefícios mútuos. Neste caso, seria sinô-
sentido vertical, o que facilita a inércia de políticas nimo de cooperação. Elemento essencial para a
governamentais direcionadas para os pobres de cooperação seria a existência de relações de
modo geral. confiança entre os membros do grupo. Ainda que
De acordo com Fox (1996), um ambiente po- todos os membros de um grupo social saibam
sitivo seria a primeira coluna de sustentação para que têm a ganhar com a cooperação, a ausência
estimular a acumulação do capital social. Este au- de confiança com relação ao comportamento fu-
tor concorda com Putnam ao afirmar que o legado turo dos demais, implica resultados não coope-

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rativos. Entretanto, uma vez experimentados os 3 O PROJETO DE COMBATE À POBREZA
benefícios derivados do comportamento coope- RURAL NO ESTADO DO PIAUÍ
rativo, os indivíduos tendem a aumentar sua dis-
posição de cooperar. Neste caso, o capital soci- 3.1 Diretriz Operacional
al é uma espécie de “recurso moral” dos grupos O PCPR é parte integrante do Programa de
sociais, recursos estes cuja oferta aumenta com Redução da Pobreza Rural no Nordeste do Brasil
o uso, em vez de diminuir, e eles se esgotam se desenvolvido pelos Governos Federal e Estadual,
não forem utilizados. tendo como cofinanciador o Banco Mundial. É
As associações seriam a “fábrica” do capi- construído sobre mecanismos de assistência co-
tal social, à medida que incutiriam em seus mem- munitária, desenvolvido e aprimorado a partir do
bros hábitos de cooperação, solidariedade e espí- Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural –
rito público. Mesmo que seus objetivos manifes- PAPP Reformulado. Tem como foco de sua ação
tos não sejam políticos, essas podem desenvolver 223 municípios piauienses, com execução prevista
a autodisciplina e o espírito de colaboração para ocorrer em duas fases, à primeira para o pe-
(PUTNAM, 1996). Assim, um indicador básico ríodo de 2002-2007, e a segunda para o período de
do capital social seria a vibração da vida 2007-2009.
associativa, traduzida no número de associações
existentes em uma dada sociedade. 3.2 Objetivo do PCPR
Não se pode desvincular capital social de de- O objetivo do Projeto é contribuir para a re-
senvolvimento local sustentável, um existe em fun- dução da pobreza rural e suas consequências, me-
ção do outro. O desenvolvimento local sustentá- diante:
vel é fundamentalmente marcado pela cultura do
contexto em que se situa e é considerado como a) A provisão de investimentos comunitá-
um conjunto de atividades econômicas e sociais rios orientados para a criação de infra-
com alto grau de interdependência com os diver- estrutura básica e geração de renda e
sos segmentos do tecido socioeconômico da so- de emprego para as camadas mais po-
ciedade nos âmbitos político, educacional, eco- bres do meio rural;
nômico, legal, ambiental, tecnológico e cultural e b) A descentralização da alocação de re-
com agentes presentes em diferentes escalas eco- cursos e tomada de decisões para os
nômicas. Vem de Amartya Sen a mais precisa – níveis locais, mediante o apoio aos Con-
ao mesmo tempo a mais bela – definição de de- selhos Municipais e às associações de
senvolvimento: é o aumento da capacidade de os beneficiários no planejamento,
indivíduos fazerem escolhas. É esta visão do de- priorização de subprojetos, execução e
senvolvimento que o faz exigir uma definição po- manutenção de investimentos;
sitiva de liberdade: liberdade não é apenas a au- c) O estímulo à criação e à consolidação
sência de restrições, o direito abstrato de ir, vir, de organizações comunitárias – Associ-
comprar, vender, amar e ser amado. A liberdade ações e Conselhos Municipais – que
e, portanto, o desenvolvimento não podem ser poderão servir como instrumento de pla-
pensados fora das condições concretas de seu nejamento, de controle social, de expres-
exercício. Não basta que a lei garanta certos di- são das necessidades e das capacida-
reitos, o essencial é que os indivíduos tenham as des das comunidades pobres para a su-
capacidades, as qualificações, as prerrogativas de peração das barreiras ao seu desenvol-
se deslocar, de participar de mercados e de esta- vimento econômico e social, principal-
belecer relações humanas que enriqueçam sua mente com o empoderamento das co-
existência. (apud JARA, 1999). munidades beneficiadas, visando à cria-

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107
ção e ao fortalecimento do estoque de entre as duas partes (UT e a Associa-
capital social. ção beneficiária).

O Projeto estimula, através de financiamen- 3 O Fundo Municipal de Apoio Comunitá-


tos não reembolsáveis, os investimentos e empre- rio Piloto (FUMAC-P) – o FUMAC-P
endimentos de interesse das comunidades rurais difere do FUMAC pelo fato de que os
localizadas nas áreas mais pobres do Estado. Pre- recursos são administrados diretamente
tende, também, contribuir para o fortalecimento do pelos Conselhos Municipais, ou seja,
processo de organização e participação das co- além de exercer todas as atividades de
munidades, bem como o aperfeiçoamento do pro- um conselho do FUMAC, os do
cesso de tomada de decisão no nível municipal. FUMAC-P administram os fundos para
O Projeto é constituído por três componentes o financiamento dos subprojetos apro-
que formam a base do escopo da ação institucional: vados. O manejo dos recursos resulta
de um convênio entre a UT e o Conse-
Subprojetos Comunitários, contemplando lho Municipal e de um conjunto de con-
subcomponentes: vênios entre o Conselho Municipal, as
Associações beneficiárias e as Prefei-
1 O Programa de Apoio Comunitário turas.
(PAC) – é um programa de financia-
mento de subprojetos comunitários (pro- Desenvolvimento Institucional – que inclui as
dutivos, de infraestrutura e sociais) iden- atividades:
tificados, selecionados, planejados, exe-
cutados, fiscalizados e controlados pe- 1 Capacitação básica para o estabeleci-
las comunidades, cabendo à UT do Pro- mento dos Conselhos Municipais
jeto de Combate à Pobreza Rural II a (FUMAC e FUMAC-P);
responsabilidade pela análise e aprova- 2 Treinamento para os Conselhos Munici-
ção, liberação de recursos, monitora- pais e para a UT do Projeto de Comba-
mento, supervisão dos Conselhos e ava- te à Pobreza Rural II;
liação dos subprojetos apresentados pe- 3 Provisão de assistência técnica para as
las comunidades e a provisão de assis- Associações Comunitárias (mobilização,
tência técnica às Associações organização, preparação dos subproje-
beneficiárias, diretamente ou através tos, operação e manutenção dos inves-
dos provedores selecionados e contra- timentos);
tados pelas Associações beneficiárias. 4 Seminários para os Conselhos Munici-
pais e associações para troca de expe-
2 O Fundo Municipal de Apoio Comunitá- riências;
rio (FUMAC) – o FUMAC difere do 5 Provisão de assistência técnica para as
PAC basicamente pelo fato de a áreas de reforma institucional, adminis-
priorização e aprovação das propostas trativa e financeira do Estado.
de financiamento serem de responsabi-
lidade dos Conselhos Municipais. Os Administração, supervisão, monitoramento e
recursos relativos aos subprojetos apro- avaliação do Projeto – que inclui as atividades:
vados serão transferidos diretamente da
UT para as Associações beneficiárias, 1 Operação da UT do Projeto de Comba-
através de um convênio a ser firmado te à Pobreza Rural e seus agentes regi-

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108 ARTIGO
onais no campo relacionado com a im- sentimento de cidadania (e, por conseguinte, do
plementação do Projeto; exercício do controle social sobre o Estado), ou
2 Estabelecimento e operação do Sistema das necessidades reais da população mais pobre,
Informatizado de Monitoria; e que sempre constituíram um dos elementos
3 Supervisão do Projeto; basilares da geração e reprodução das condições
4 Campanha de divulgação/informação; de vulnerabilidade social, pobreza e miséria extre-
5 Estudos de avaliação de desempenho fí- ma. (Avaliação do PCPR, Relatório Preliminar,
sico e impacto. junho de 2006).
Segundo o Estudo de Desempenho Físico do
4 ESTOQUE DE CAPITAL SOCIAL NAS PCPR II, realizado pelo Instituto Cívitas em setem-
COMUNIDADES BENEFICIADAS PELO PCPR bro de 2004, tendo como amostra 40 subprojetos
NO PIAUÍ em 37 municípios, abrangendo 38 comunidades
beneficiárias, foram aplicados 159 questionários, dis-
Na base operacional de implementação do tribuídos entre 120 famílias e 39 lideranças de asso-
PCPR, a categoria de capital social ocupa posição ciações solicitantes de subprojetos, constatou-se que
central, constituindo-se como um meio essencial 80% destes subprojetos foram concluídos e estão
ao sucesso da implementação dos subprojetos co- operando normalmente, 94% estão adequadamente
munitários e das ações de desenvolvimento local. localizados, 82% têm qualidade do material varian-
A estratégia do projeto consiste na utilização do de bom a excelente, 87% possuem coparticipação
do capital social existente na comunidade ou da comunidade no fornecimento de mão-de-obra,
propelido pela oportunidade inédita de acesso a 90% dos subprojetos resultaram em melhorias das
recursos governamentais, através de entidades condições de vida das famílias beneficiadas e 32%
representativas das localidades rurais pobres, para responderam que a própria associação teve admi-
promover novas relações entre essas comunida- nistração direta na execução.
des, suas populações e o Estado, identificar as pri- Verifica-se também, no citado Estudo, que
oridades comunitárias e implementar ações visando 66% das associações beneficiárias após a implan-
à redução da pobreza e à melhoria da qualidade de tação do subprojeto continuam atuando em bene-
vida. fício da comunidade e praticam reuniões sistemá-
Constitui um dos objetivos centrais dessas in- ticas com os sócios, e 39% das associações co-
tervenções que estimulam ou incrementam a or- bram taxa dos beneficiários com vistas à manu-
ganização da comunidade, a participação popular, tenção do subprojeto.
a formação ou fortalecimento das entidades re- O considerado supra remete a se afirmar que,
presentativas de laços horizontais entre a popula- diante dos pressupostos conceituais e com as res-
ção pobre (associações comunitárias), sua partici- pectivas ações do PCPR, verifica-se a existência
pação em esferas municipais de tomada de deci- de um estoque de capital social naquelas comuni-
são e seu protagonismo na implementação de sub- dades. A acumulação do capital social nas comu-
projetos de desenvolvimento local em um cenário nidades pesquisadas foi avaliada através da análi-
histórico, social e político inicialmente desfavorá- se dos seguintes indicadores: participação dos só-
vel, em virtude do tradicional predomínio de rela- cios nas tomadas de decisões, número de sócios,
ções verticais de dependência entre as camadas contrapartida da comunidade, operação e manu-
pobres da população e as elites econômicas que tenção dos subprojetos, cota (taxa) mensal, fonte
convertiam o Estado em instrumento de promoção externa de recursos, representação em conselhos
e reprodução de seus interesses particulares em municipais, capacidade de mobilização, renovação
detrimento quer da construção de redes fortes de do corpo de dirigentes das associações, promoção
relações horizontais, quer do desenvolvimento do de eventos sociais e inclusão social.

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Estudo desenvolvido pelo Banco Mundial em cas tradicionais de mutirão e de ajuda mútua em
1994, embora de circulação restrita, constatou que casos de doença ou outras necessidades. Em
nas comunidades rurais e associações contem- muitas delas, as comunidades se reuniam no pas-
pladas com ações do Programa de Apoio ao Pe- sado para erguer capelas, e, hoje em dia, se reú-
queno Produtor Rural – PAPP Reformulado, nem para erguer o prédio sede da associação co-
inspirador do PCPR, concebido sob a ótica das munitária ou para realizar leilões ou bingos em prol
mesmas diretrizes e praticamente o mesmo de- de alguém que atravessa uma situação mais difícil
senho, já se verificava um “resíduo” na forma- na vida. Há, portanto, formas tradicionais de coo-
ção de capital social. peração, baseadas em princípios de confiança
O Estudo Quase-Experimental de Avaliação mútua, solidariedade e reciprocidade social, ope-
dos PCPRs, inclusive no Piauí, que objetiva a afe- rando no interior dessas comunidades rurais e cons-
rição de impactos das ações dos PCPRs que po- truindo-lhes o sentimento e a identidade comunitá-
dem ser replicados em tratamento similares, reali- ria. Sintetizando em uma frase, há significativos
zado em junho 2006 pelo Banco Mundial, teve como níveis de capital social endogenamente formados.
base dois exercícios complementares: a) uma re- Retrata ainda o estudo em comento que “a
visão crítica da literatura sobre o PCPR e b) a inserção destas comunidades no processo de or-
realização de um novo estudo que utilizou desenho ganização, mobilização e ação comunitária impul-
“Quase-Experimental” e metodologia apropriada sionado pelo PCPR não representa, portanto, um
para uma avaliação rigorosa dos efeitos diretos do processo de formação de capital social a partir do
PCPR sobre infraestrutura e dos impactos sobre nada. Depende e se ergue desses laços tradicio-
saúde, capital físico e social. nais de reciprocidade que fazem de um aglomera-
O citado estudo confirma de maneira muito do de famílias uma comunidade. O desafio conti-
enfática o efeito positivo do PCPR na formação nua a ser a construção de laços de confiança en-
de capital social, quer em suas dimensões tre a comunidade e o Estado, que se dispensem a
condicionantes ou inputs (as motivações para agir intermediação dos atores políticos tradicionais e das
coletivamente e os arranjos institucionais que práticas clientelistas. A consecução dos subproje-
viabilizam a ação coletiva), quer em suas dimen- tos é, neste sentido, um fator que contribui para a
sões resultantes ou outputs (a participação em injeção de confiança nas relações entre comuni-
atividades comunitárias, a participação civil e a dade e Estado. Cada projeto liberado, implantado
redefinição das relações entre comunidade e Go- e concluído pela comunidade continua a ser um
verno ou relações de governança). Seus resulta- fator de mudança na visão dessas relações. As-
dos indicam que: cresceram significativamente os sim, o problema básico em termos de formação de
níveis de confiança, solidariedade e cooperação capital social continua a ser o rompimento das ex-
entre os moradores de comunidades rurais pobres pectativas da comunidade de que a palavra do
e outros moradores de outras comunidades, auto- Estado (incorporada nas diretrizes e princípios
ridades e agências governamentais; intensificou- operacionais do PCPR) realmente vale o que o
se a participação nas associações e nas atividades Estado diz que ela vale.” (BINSWANGER, 2006).
comunitárias; emergiu e desenvolveu-se uma nova Tarefas como as de escolher as lideranças,
forma de atuação dos indivíduos – individualmente a participação do presidente no conselho munici-
ou através de suas entidades representativas – nas pal, pagamento de taxas, administração, contabili-
esferas de governo, exercendo controle social so- dade, por exemplo, são desenvolvidas pelos mem-
bre o Estado e assumindo suas responsabilidades bros das associações de forma razoavelmente bem
e obrigações enquanto cidadãos. sucedida. Em muitos casos, o número de mem-
Demonstra ainda o referido estudo que em bros das associações parece estar crescendo e os
praticamente todas as comunidades existem práti- membros tornando-se mais ativos, o que geralmen-

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110 ARTIGO
te ocorre após a aprovação/implementação de um controle social sobre os atos dos gestores munici-
subprojeto (“o povo acredita”). Há renovação re- pais e de pressioná-los a darem respostas efetivas
gular no quadro de líderes das associações mas às demandas originadas nas comunidades.
estes permaneceram tempo suficiente para adqui- O PCPR, assim, é visto como o grande res-
rir experiência e para a aprendizagem das funções ponsável, pois a realização de um subprojeto co-
de liderança. munitário escolhido e implementado pelos mem-
bros de uma associação comunitária é fator indis-
pensável à credibilidade das associações comuni-
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS tárias e à construção de um sentimento de confi-
As evidências das investigações permitem ança entre a população pobre de que ela seja ca-
concluir que o PCPR, com suas ações de paz de protagonizar soluções para suas próprias
infraestrutura e mobilizadoras de empoderamento dificuldades sem continuar a depender dos favo-
das comunidades, tem efetivamente gerado capi- res e benesses das elites locais.
tal social nas comunidades rurais do Estado do Piauí, Pode-se inferir que os recursos aplicados pelo
assegurando, portanto, o desenvolvimento local PCPR, com a ação de seus diversos componen-
sustentável àquelas localidades pobres. tes nas comunidades rurais dos diversos municípi-
Todos os seus resultados indicam que o PCPR os do Estado do Piauí, contribuíram para a forma-
tem um impacto imediato e intenso sobre a forma- ção do capital social das associações e/ou comu-
ção de capital social. Este impacto deriva tanto da nidades.
formação das associações como da execução e Tendo em vista a necessidade de sedimenta-
gestão dos subprojetos. ção do desenvolvimento local sustentável, torna-
A implementação de seus subprojetos produz se recorrente que este, a estoque de capital social,
o que se pode chamar de um efeito de euforia ou seja atribuído um constante processo de fortaleci-
exuberância das atividades coletivas consistindo na mento, o qual pode efetivar-se, a partir de:
intensificação das atividades comuns de colabora- • maior reforço do processo de capacitação,
ção, em âmbito local, das relações de cooperação com a implementação de um programa continuado
entre as comunidades e entre elas e as estruturas de capacitação dos Conselhos Municipais, Asso-
locais de governo, o que se revela no fato de que ciações Comunitárias e da equipe técnica da Uni-
nas comunidades o crescimento do capital social a dade Técnica do PCPR, objetivando a qualifica-
curto prazo é latente, tendo em vista, principalmen- ção do capital humano e social dos atores envolvi-
te, a inserção da população pobre nas diversas ins- dos com as ações do Projeto;
tâncias de decisão e definição de políticas públi- • uma efetiva valorização dos Conselhos Mu-
cas e o “empoderamento” das entidades que a re- nicipais, na perspectiva de aperfeiçoamento das
presenta, principalmente a partir do advento da ações do PCPR. Além da atividade de capacita-
Constituição Federal de 1988. ção, se faz necessário que sejam garantidas as
O PCPR gera ou fortalece arranjos condições mínimas de funcionalidade aos Conse-
institucionais que desfrutam de elevada confiança lhos Municipais, sem o que continuarão tutelados
e credibilidade nas comunidades rurais, à medida pelo poder político local e limitados na sua ação;
que efetivamente contribuem para a solução de • fortalecimento da Equipe de Capacitação,
problemas locais. com agregação de mais profissionais qualificados
O fortalecimento das associações comunitá- em áreas distintas, na perspectiva de ampliar e
rias e sua participação em conselhos municipais melhorar o suporte aos Conselhos Municipais e
estão amplamente associados ao aumento da ca- Associações Comunitárias;
pacidade das comunidades rurais pobres de faze- • promoção e organização das comunidades
rem representar seus interesses, de exercerem para garantir a decisão e gestão participativa dos

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111
projetos, o que pode ser construído a partir de even-
tos de capacitação em planejamento participativo
e elaboração de projetos.

REFERÊNCIAS
BINSWANGER, Hans (Coord.). Avaliação do projeto de
combate à pobreza rural – PCPR – 1993 a 2005. Relatório
preliminar, jun. 2006.
BUAINAIN, M.; FONSECA, R. (Coord.). Projeto de Combate
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Produzir (BA) e São José (CE): Perfil socioeconômico da
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CEARÁ. Secretaria de Desenvolvimento Rural. Projeto São
José - relatório de avaliação- 1998. For taleza, 1998. 74p.
CARDOSO, Evandro (Coordenador). Estudo de desempe-
nho físico do PCPRF II do Piauí – 2004. Relatório Final,
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v.25, n. 1, 2009

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112 ARTIGO

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
Maria Elza Soares da Silva* Cristiane Lopes Carneiro de Souza**

* Socióloga, especialista em Recursos Humanos,


atualmente é consultora do Sebrae – PI.
** Engª Agrônoma, MSc. em produção vegetal.

TECNOLOGIA SOCIAL PAIS – PRODUÇÃO


AGROECOLÓGICA INTEGRADA SUSTENTÁVEL:
UMA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
RURAL SUSTENTÁVEL NO SEMIÁRIDO DO PIAUÍ
1 INTRODUÇÃO sores do modelo hegemônico de desenvolvimento,
De acordo com a FAO (Organização das Na- gerando carências para enormes contingentes huma-
ções Unidas para Agricultura e Alimentação) exis- nos. O processo de exclusão social tem sido brutal e
tem ainda 798 milhões de subnutridos no mundo, um a cultura da violência está generalizada.
“progresso decepcionante em relação à redução da Somente no Brasil, no ano de 2004, cerca de 14
fome.” (AGÊNCIA BRASIL, 2004). milhões de pessoas conviviam com a experiência de
passar fome, com frequência que pode ter sido “em
Vive-se hoje uma tragédia sem precedentes na história da quase todos os dias, em alguns dias ou em um ou dois
humanidade, com fome para grande parte da população, dias por semana”. (IBGE, 2006). Entretanto, “a FAO
ao lado de enormes desperdícios de comida e de outros
ressalta que o Brasil, especificamente, vem reduzin-
recursos essenciais à sustentação da vida no planeta. Os
avanços tecnológicos, com potencial para resolver do o número de subnutridos desde o início da pesqui-
necessidades humanas, ao contrário, têm gerado processos sa, em 1990”. (AGÊNCIA BRASIL, 2004).
de exclusão social. (ROCHA NETO, 2007). Parte do progresso na redução da fome é atri-
buída aos programas de transferência de renda e ao
Segundo Buarque (2001), “as tensões entre ca- programas de combate à pobreza rural, que se inten-
pital x trabalho deslocam-se para outras categorias – sificaram a partir de 1994. A estratégia proporcionou
incluídos x excluídos. Tem-se um novo aparthaid – às famílias que vivem próximo ou abaixo da linha de
entre os que têm acesso, e os que não”. Dessa for- pobreza o acesso a uma renda mínima para aquisi-
ma, a falta de oportunidades de trabalho, sobretudo, ção de alimentos em quantidade e qualidade e condi-
no campo é considerada como natural pelos defen- ções de convivência com o semiárido.

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Há necessidade de classificar as tecnologias, com base Petrobras), aviários sustentáveis (modelo Embrapa
nos seus processos específicos de socialização, Meio-Norte), reaplicado pela Secretaria Estadual de
sobretudo, com respeito às relações de pertinência nas
diferentes comunidades, que gozam de oportunidades Desenvolvimento Rural – SDR, entre outros.
diferenciadas e participam de modo assimétrico na A tecnologia social de Produção Agroecológica
distribuição do poder social. (ROCHA NETO, 2007). Integrada Sustentável TS-PAIS, idealizada pelo agrô-
nomo senegalês Aly N´Diaye propõe fazer com que
Como estratégia de enfrentamento da problemá- os produtores dependam o mínimo possível de insumos
tica da fome em comunidades rurais, surgem as externos à sua propriedade, dedicando-se a uma pro-
Tecnologias Sociais –TS que são entendidas como todo dução sem o uso de agrotóxicos, propiciando alimen-
produto, método, processo ou técnica desenvolvidos tos saudáveis e livres de quaisquer interferências
para combater algum problema que afete os indicado- químicas. A oscilação pluviométrica anual, principal
res do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH,1 problema do(a) agricultor(a) familiar, é contornado
levando em consideração os componentes: atender à com a utilização de sistema de irrigação localizado,
simplicidade das áreas demandadas, envolvimento da de baixo custo e de alta economicidade de água, fei-
comunidade, baixo custo, reaplicabilidade, to através de fita gotejadora com vazão de 40 l m-1 h-
monitoramento, avaliação e sistematização. 1
, possibilitando a implantação do modelo em regiões
“É importante ressaltar que na ideia de do Semiárido.
reaplicação está implícito que ao implantar uma solu- Essa tecnologia pressupõe um sistema de pro-
ção em locais diferentes daqueles em que foi desen- dução que favoreça a ciclagem de biomassa, inte-
volvida, necessariamente, esta será recriada, agre- grando a produção animal e vegetal, havendo, dessa
gando-se novos valores sociais e significados.” (RTS, forma, o aproveitamento total da produção de horta-
2007). liças e fruteiras. Um outro diferencial está no forma-
Existem no Brasil, especialmente na região Nor- to circular das áreas de produção (Figura 1) que tam-
deste, diversos projetos de tecnologias sociais de es- bém favorece o aproveitamento do tempo pelo(a)
tímulo ao desenvolvimento rural sustentável sendo produtor(a), que pode supervisionar e se deslocar para
executados por organizações governamentais e não realizar os tratos culturais com mais facilidade.
governamentais, tais como: Projeto 1 milhão de
cisternas e Projeto 1 terra e 2 águas (P1MC
e P1+ 2, respectivamente – Articulação
do Semiárido/ASA), Barragens sub-
terrâneas (Projeto Dom Hélder
Câmara – PDHC), minifábricas
de beneficiamento de caju e de
mel (Sebrae), Produção
Agroecológica Integrada Sus-
tentável (PAIS/Sebrae e enti-
dades governamentais e não
governamentais), dentre outros.
No Piauí essa realidade não
é diferente, inclusive além dos pro-
jetos citados, podem ser elencados, o
projeto Quintais Produtivos (Centro de
Ação Cultural – Cepac, financiado pela Fig. 1 - Ciclo produtivo
da TS–PAIS, reaplicada no Piauí

1
Índice que mede a qualidade de vida da população a partir da tríade do desenvolvimento humano: educação, expectativa de vida
e renda.

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A referida estratégia no Estado do Piauí sur- A reaplicação desta tecnologia social em muni-
giu a partir de uma parceria firmada entre Minis- cípios do semiárido piauiense tem ajudado a promo-
tério da Integração Nacional – MI, Fundação Banco ver uma discussão no cenário nacional quanto à ne-
do Brasil – FBB, Sebrae, Prefeituras Municipais e cessidade de unir esforços e otimizar recursos, fa-
beneficiários. Nesse processo cada parceiro teve zendo a convergência da TS-PAIS com outras políti-
sua importância para que os resultados tivessem cas públicas de fomento ao desenvolvimento rural
êxito. Ao MI e FBB coube o repasse de recursos sustentável.
para a compra dos equipamentos do sistema de Dessa forma, esse trabalho visa apresentar os
irrigação, às Prefeituras a responsabilidade pela surpreendentes resultados da reaplicação da TS-PAIS
logística local, aos beneficiários a construção da no Estado do Piauí, a partir da análise dos eixos es-
base para colocar a caixa d’água e ao Sebrae, além tratégicos do projeto: desenvolvimento e a integração
de cofinanciador, coube mobilizar, sensibilizar, se- de diferentes agentes das comunidades beneficiadas,
lecionar e capacitar as famílias beneficiadas, bem combate ao empobrecimento nutricional e rural, e
como monitorar, avaliar e sistematizar a reaplicação possibilitar o acesso a outra fonte de renda,
da TS-PAIS. minimizando a dependência das políticas públicas de
Além da infraestrutura básica de produção as transferência de renda.
famílias selecionadas recebem continuamente
capacitações nas mais diversas áreas, dentre as 2 TS-PAIS: AJUDANDO AGRICULTORES
quais: produção agroecológica, associativismo, (A) FAMILIARES PIAUIENSES A
gerenciamento rural, planejamento de produção, REESCREVEREM SUAS HISTÓRIAS
liderança e acesso ao mercado. Dessa forma, a Atualmente as 90 unidades de produção agrí-
TS-PAIS catalisa o “desenvolvimento rural cola sustentável se encontram em pleno funciona-
sustentável dentro dos aspectos econômico, mento, os(as) agricultores(as) familiares estão cons-
ambiental, social, intelectual, ético e político”, cientes da necessidade de produzir, consumir e
conforme Caporal & Costabeber (2000). comercializar alimentos orgânicos, vivenciando um
Segundo Barboza (2007), a “TS-PAIS tem como momento de transição da produção convencional para
pressuposto básico a racionalização de recursos e a agroecológica.
manejo ecológico da terra, todos esses fatores têm o Essa singular técnica de produzir alimentos pos-
mérito de transformar essa atividade de agricultura sibilitou aos(as) agricultores(as) a familiares, que
familiar num negócio sustentável”. antes sobreviviam a partir da produção sazonalizada
No Piauí, foram instaladas 90 unidades de pro- e dependente das oscilações pluviométricas e de pro-
dução. Os municípios de orientação piloto seleciona- gramas de transferência de renda, uma oportunidade
dos para a reaplicação da TS-PAIS em 2007 foram de conviverem com os longos períodos de estiagem,
Padre Marcos e Ipiranga do Piauí, com a reaplicação obtendo uma produção de consumo contínuo e diver-
de 30 unidades de produção; São João da Canabrava, sificado, sem que, necessariamente, passe pela pri-
com a reaplicação de 13 e Bocaina com 17. Para a vação de alimentos, condição precípua à sobrevivên-
seleção dos municípios consideraram-se os seguin- cia humana.
tes critérios: família beneficiária de programas de As transformações sociais e econômicas dessa
transferência de renda se encontrar em situação de estratégia de inclusão socioprodutiva são muitas. Po-
vulnerabilidade nutricional, histórico de baixo índice dendo ser observado a singularidade de sua interven-
de ocupação e geração de renda, estar ligado a ativi- ção em uma problemática grave do meio rural, o êxodo,
dades agrícolas, possuir uma área de fundo de quin- sobretudo, o sazonal, aquele que ocorre em determi-
tal medindo 50m x 50m com uma fonte de água e nados períodos do ano. Na região do semiárido é co-
afinidade com a produção de hortaliças, frutas, ver- mum os homens abandonarem suas famílias de abril a
duras e criação de pequenos animais. novembro para se dedicarem ao corte de cana-de-

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açúcar no centro-oeste do Brasil. A TS-PAIS propor- que preconiza o acesso pelas famílias a alimentos
cionou a permanência dos mesmos que antes se aven- em quantidade e qualidade, percebe-se que os(as)
turavam pelos caminhos da sobrevivência, preservan- beneficiários(as) estão passando pelo processo de
do, assim, os laços sociais da família que antes eram reeducação alimentar. Essas mudanças permeiam
desfeitos pela distância imposta. todo o cotidiano familiar, porque, além de produzir
Observa-se também nessas famílias uma nova alimentos orgânicos e diversificados, elas são esti-
divisão social do trabalho, no qual, de maneira espon- muladas a consumirem.
tânea, homens, mulheres, jovens e adultos participam Inicialmente, observou-se que, por questões
conjuntamente dos processos de produção e comer- culturais e/ou econômicas, algumas famílias não con-
cialização. E ainda que as relações de geração (a sumiam determinados legumes e verduras, o que os
reinserção dos(as) jovens na produção, não só como tornavam resistentes à incorporação desses alimen-
mão-de-obra, mas como sujeito pró-ativo do proces- tos no seu cardápio diário.
so) e gênero (as mulheres se afinam com a arte de Durante o processo de capacitação continuada,
vender e os homens com a arte de produzir hortali- as famílias participaram de eventos que mostraram a
ças) estão sendo (re) estabelecidas. importância de adotar um cardápio variado e de ofi-
Outro fato interessante foi o quanto essa TS cinas de preparo desses alimentos, incentivando-os a
contribuiu para demonstrar que alguns(as) cultura do autoconsumo.
agricultores(as) familiares possuíam comportamen- Em situação que antecede ao projeto, as fa-
tos verdadeiramente empreendedores, assumindo sua mílias beneficiadas tinham uma alimentação base-
unidade de produção como empreendimento rural, ada em carboidratos (arroz) e proteínas (feijão e
praticando características empreendedoras incorpo- carne vermelha, esse último, esporadicamente). As
radas nos treinamentos ao cotidiano. Percebe-se a vitaminas e sais minerais eram consumidos em
preocupação em determinar metas de produção em quantidade muito pequena e restrita. As frutas da
função da quantidade demandada pelos clientes, con- estação (caju, manga, pequi, cajá, dentre outras) e
trole de compra, venda e regularidade de forneci- o consumo de hortaliças eram incipiente e consi-
mento além da qualidade dos produtos ofertados. derado artigo de luxo.
Em concordância com o estudo, Rocha Neto Atualmente, incorporou-se o consumo de fru-
(2007) afirma que “as tecnologias sociais têm produ- tas e hortaliças na alimentação da família. Como
zido transformações radicais na natureza e nas rela- resultado, segundo as equipes do Programa de Saú-
ções sociais. Não há possibilidade de retratá-las por de da Família – PSF que atendem essas comuni-
si mesmas, sem considerar suas implicações em to- dades, ocorreu nos últimos dois anos uma queda
das as dimensões das atividades humanas”. significativa no índice de desnutrição infantil, na
Todos esses fatores garantem uma produção quantidade de incidências de doenças como Ane-
estabilizada, continuada com mercado consumidor mia, Infecção Respiratória Aguda (IRA), Hiper-
garantido, repercutindo no aumento do poder de com- tensão Arterial e Diabetes, que são as doenças
pra, fortalecimento dos laços familiares, melhoria mais comuns do meio rural.
da qualidade de vida e (re) conquista da identidade É importante ressaltar a preocupação de pro-
de agricultor e agricultora familiar, quando estes se duzir alimentos de qualidade superior não só para
identificam e são identificados enquanto sujeitos comercialização, mas também para o abastecimen-
ativos do processo de desenvolvimento rural sus- to familiar. Além de favorecer a nutrição das famí-
tentável de seus municípios. lias contempladas, a TS-PAIS contribuiu para a in-
trodução da oferta de produtos agroecológicos e di-
3 MUDANÇAS NOS HÁBITOS ALIMENTARES versificados nos mercados locais, possibilitando a
COM MEDIDAS SIMPLES E EFICAZES saúde preventiva da população dos municípios con-
Em relação ao eixo estratégico da TS-PAIS templados e circunvizinhos.

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4 ACESSO AO MERCADO E RENDA: UM variação decorre das condições edafo-climáticas de
INSTRUMENTO DE EMANCIPAÇÃO cada local, habilidade da família nessa atividade,
SOCIOECONÔMICA DOS(AS) mercado consumidor e distância dos centros con-
AGRICULTORES(AS) FAMILIARES sumidores. Entretanto, calcula-se que a renda mé-
No Piauí uma unidade de produção familiar da dia mensal declarada pelas famílias contempladas é
TS-PAIS ocupa mão-de-obra de cinco pessoas da de aproximadamente R$400,00 (quatrocentos reais),
família. A renda gerada pela atividade é variável representando um aumento real de 300% em rela-
entre e dentre os municípios contemplados. Essa ção à anterior. (gráfico 1).

Em contrassenso a esta renda declarada, ob- famílias, como o resgate do escambo – sistema de
serva-se um aumento considerável no poder de com- troca de mercadorias. Um exemplo disso ocorre em
pra. A maioria declarou ter adquirido algum bem no Bocaina, aquelas famílias que dispõem de carne ou
período dos dois últimos anos, tais como: aparelho de ovos, mas não têm verduras, trocam com aquelas
DVD, geladeira, móveis, animais, bicicleta, moto, que as possuem. Essa prática não deixa de ser ren-
reforma da casa etc. Pode-se concluir que houve da, entretanto não é contabilizada como tal nos pro-
omissão nos valores reais obtidos a partir da comer- cessos de avaliação familiar e institucional.
cialização do excedente. Uma hipótese para esse fato
seria o medo de serem desligados dos programas de 5 CONCLUSÃO
transferência de renda, o que se caracteriza como Pode-se considerar, diante da exposição
uma preocupação constante, externada durante as supracitada, que a TS-PAIS proporcionou aos(as)
conversas informais. agricultores(as) familiares dos municípios de Padre
Uma outra explicação para este valor médio de Marcos, Ipiranga do Piauí, São João da Canabrava e
renda declarada seria a adoção em alguns locais de Bocaina uma alternativa viável e eficaz no combate
formas de comercializações alternativas entre as à miséria e à exclusão social no campo, por meio da

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ocupação da mão-de-obra familiar e geração de ren-
da a partir da comercialização do excedente.
Esse processo de transição agroecológica pro-
posto pela Tecnologia Social PAIS favoreceu a di-
versificação dos produtos hortifrutigranjeiros
ofertados para o autoconsumo e mercados locais,
contribuindo para o combate ao empobrecimento
nutricional, com a incorporação de uma dieta saudá-
vel – livre de agrotóxicos – e o resgate da dignidade
dos(as) agricultores(as) enquanto sujeitos com ca-
pacidade produtiva e, sobretudo, despertando-os para
a necessidade do planejamento participativo na cons-
trução de comunidades rurais sustentáveis.
O processo de capacitação continuada foi pre-
ponderante para que os(as) agricultores(as) num pe-
ríodo de dois anos despertassem sua visão empreen-
dedora e transformassem suas propriedades num
negócio familiar autossustentável, permitindo que a
agricultura familiar nesses municípios seja reconhe-
cida como alavanca do desenvolvimento rural sus-
tentável.
É pertinente ressaltar, trata-se de uma estraté-
gia com forte tendência à sua difusão por todo o Es-
tado do Piauí, cujos resultados, indubitavelmente,
mostraram-se como um dos caminhos viáveis para
promoção da emancipação dos beneficiários dos pro-
gramas de transferência de renda.

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v.25, n. 1, 2009

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