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Lídia só tinha sua bicicleta.

Não que não existissem pais, escola e amigos em sua vida: sentia
apenas que nenhum desses contava com a solidez da sua bicicleta. Entre a inconstância das
pessoas e dos tópicos escolares, encontrava naquele objeto, que implorava pelo movimento,
algo de mais real e eterno. Assim, firmava-se. Colocar o capacete, luvas, conferir buzina,
refletores, altura do celim, sentar, pés nos pedais, a força, pedalar. − Não! Supor alguma
rotina era macaquear um ato enquadrado na categoria dos impulsos. Sentar e pedalar, direita-
esquerda, quanto mais livre se tornasse, quando mais sua velocidade se aproximasse do ápice,
poderia, enfim, encontrar o que procura.

A bicicleta possuía Lídia.


Deslizava, mas não por ruas,
Sentia: todo o chão
− súbito, súbito –
Fluía,
Mares de asfalto.
Se afogaria?

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