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>> CVA - Rossano, a gente sabe que a Antropologia e a Arqueologia são disciplinas
irmãs, que a Antropologia nasceu dentro dos museus, junto aos trabalhos
arqueológicos. Como anda atualmente a relação entre a Arqueologia e a
Antropologia no Brasil?
Arqueologia como uma disciplina irmã e sim, uma filha bastarda. Por outro lado, os
arqueólogos, lidando com um campo extremamente vasto, interdisciplinar e
transversal têm procurado afirmar a Arqueologia como uma disciplina
independente, mesmo que, no passado, a Arqueologia tenha sido uma disciplina
mais importante que a Antropologia.
Nosso entendimento é que essas questões e esse histórico devem ser superados na
medida em que as fronteiras disciplinares tendem cada vez mais a desaparecer.
Nestor Canclini, na sua obra Culturas híbridas, nos faz pensar em pesquisadores e
intelectuais híbridos, exatamente nessa perspectiva destaca a riqueza da
multiplicidade de olhares. Um problema atual que merece debate, acúmulo, espera
e paciência é exatamente a questão ligada aos laudos em áreas indígenas. Os
antropólogos têm reivindicado primazia na elaboração de laudos nas disputas das
terras indígenas. Os arqueólogos têm trazido uma contribuição que deve ser levada
em conta, na medida em que identificam e reconhecem os direitos dos indígenas e
dos quilombolas em terras ocupadas no passado. Devemos olhar essa perspectiva
de forma ampliada, mais que buscando arqueologicamente uma ligação fortemente
étnica dos grupos em conflito, identificar a presença indígena e quilombola pré-
histórica e histórica nos territórios em disputa. Esta compreensão, por si só, já
garantiria um bom argumento para a discussão quanto à legitimidade e a diferente
participação complementar de uma e outra disciplinas. Dentro dessa perspectiva,
no nosso entendimento, o melhor dos mundos é a abertura e manutenção de um
canal perene de discussões e parcerias entre a Antropologia e a Arqueologia, sem
ranços e personalismos.
>> CVA - Aproveitando o seu argumento acima, você poderia nos falar um pouco
desse espaço aberto por disciplinas ambientais e engajamento social alavancados
pela educação patrimonial, aproximando a Arqueologia e a Antropologia?
Rossano - No campo político, se, até pouco tempo, a Arqueologia era o patinho feio
das ciências sociais e desconhecida dentro dos órgãos governamentais como uma
disciplina, hoje, ela ocupa lugar de destaque na agenda governamental. Basta dizer
que iniciativas governamentais voltadas para o desenvolvimento, onde a
Arqueologia Preventina é exigida nos estudos de impacto ambiental, a exemplo dos
empreendimentos do PAC (Plano de Aceleramento do Crescimento), entre outros,
a preocupação com a Arqueologia tem sido discutida na Casa Civil da Presidência
da República, na procura de melhores resultados e compatibilização de
cronogramas de implantação dos empreendimentos estratégicos do governo
federal.
>> CVA - Obrigada pela entrevista, Rossano. Sucesso no seu trabalho! Gláucia.