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Projeto: “UCs do Estado de São Paulo”

Geografia 1ª U.P. – prof. Marcelo


Colégio Santa Cruz – junho / 2020

Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade


(FEENA)

Integrantes do grupo:
André Kupfer IB nº 5
André Zomer Sica IB nº 6
Beatriz Schor IB nº 7
Gabriel Rosa IB nº 19
Gabriela Dória IB nº 20
Heitor Sousa IB nº 22
Luiza Gondim IB nº 30

LINK PARA A APRESENTAÇÃO AUDIOVISUAL:

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Texto final:
A realização do projeto em questão contou com uma divisão de responsabilidades e tarefas entre os
integrantes do grupo. Um parágrafo ao fim do texto explica as contribuições de cada estudante.

Parte I: da Caracterização
Unidade de Conservação é a denominação fornecida pelo SNUC, instituído por lei em julho do ano
de 2000, aos espaços territoriais e marinhos cujos recursos e atributos naturais são de singular relevância
para preservação, conservação e uso sustentável. A partir das ideias e conceitos de prestigiados geógrafos,
pode-se entender que a criação desse sistema, que preza pelo direito de todos a um meio ambiente
equilibrado, implica numa parcela de responsabilidade permanente, tanto por parte dos altos escalões do
governo, quanto por parte dos mais simples cidadãos, na utilização não-predatória da herança da paisagem
terrestre (professor Aziz Ab´Sáber), formada por uma série de processos de ordem natural e cultural. Assim,
considera-se dever da sociedade fazer uso racional dos recursos da natureza, produzindo espaços geográficos
(professor Milton Santos) de modo a compreender a sua finitude e a garantir que as gerações futuras tenham
acesso a eles no território. Logo, as UCs desempenham importante papel para salvaguardar a diversidade
biológica.

Conforme as distintas limitações, fragilidades, características específicas e importância da


preservação de cada tipo de espaço e paisagem, a Legislação Ambiental brasileira prevê a existência de dois
grupos complementares (já que, embora representem formas distintas de uso do território, todas as UCs –
especialmente as próximas geograficamente – estão integradas e sistematizadas) para compor o SNUC. A
UC em estudo faz parte da categoria de uso sustentável, em que há menor rigor e maior permissividade em
relação às atividades desenvolvidas. Tal categoria tem como objetivo conciliar a conservação do meio
ambiente com o uso sustentável de parte de seus recursos, estimulando a convivência harmônica e
equilibrada entre a natureza e os atores sociais. Assim, atividades que envolvem coleta e uso dos recursos
naturais são permitidas, desde que praticadas de uma forma a partir da qual a perenidade dos recursos
ambientais renováveis e dos processos ecológicos seja garantida. Além disso, a UC descrita neste trabalho se
enquadra na categoria Floresta Estadual: trata-se de uma área com cobertura florestal (na maioria dos casos,
predominantemente nativa) cujos objetivos estão relacionados ao uso múltiplo e sustentável dos recursos, ao
incentivo à pesquisa científica, ao processo de educação ambiental e à promoção da visitação pública e de
atividades de lazer. Toda essa dinâmica está condicionada às normas estabelecidas e regulamentadas no
Plano de Manejo, “documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma
unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o
manejo dos recursos naturais” (artigo 2°, inciso XVII da Constituição Federal). O Plano de Manejo da
Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA)
constitui a principal referência bibliográfica para a sequência
deste trabalho.

A FEENA está situada a 178 km da capital São Paulo,


no município de Rio Claro. Dessa forma, além de representar a
maior área verde do município (com uma média de 7,56 m 2
/habitante), compõe um ponto de manutenção de vegetação
próximo a um grande aglomerado urbano, contribuindo para a
estabilidade microclimática, redução da amplitude térmica,
sequestro de gás carbônico e anteparo de poluentes advindos da
grande cidade. Ademais, o perímetro da Floresta está
completamente imerso na Mata Atlântica, embora especialistas
acreditem que, hoje em dia, já não haja mais um padrão
definido sobre qual bioma ela protege. As coordenadas
geográficas aproximadas da FEENA, área de maior
representatividade para a ecologia da paisagem local, são
Latitude 22º S e Longitude 47º W.
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Figura I. Conceitos fundamentais: UC do tipo
uso sustentável e Floresta Estadual
Figura II. Imagem de satélite do perímetro da FEENA
Dentre os principais programas que são desenvolvidos na Floresta Estadual e estão relacionados à
sua função de uso sustentável, destacam-se o Programa de Pesquisa, o Programa de Educação Ambiental e o
Programa de Recreação e Lazer. O primeiro fomenta, dá suporte e estimula a especialização de
conhecimentos científicos, relacionados aos aspectos físicos, biológicos, socioeconômicos, culturais e da
catalogação de espécies endêmicas da FEENA; a UNESP, por exemplo, tem um campus de estudo destinado
à realização de pesquisas na região de Rio Claro. O segundo reflete o cerne do SNUC, já que tem como
objetivos prestar aos visitantes e a comunidade conhecimentos e valores necessários para agirem em prol da
solução de problemas ambientais; a intenção de sensibilizá-los acerca da importância do patrimônio da
FEENA (não só ambiental, mas também histórico e cultural) os torna capazes de tomarem atitudes
conjuntas, que repercutem também a nível global, na busca pelo Desenvolvimento Sustentável. O último,
por fim, valoriza o potencial turístico de Rio Claro, uma vez que está ligado à promoção de atividades e
infraestruturas recreativas para o público visitante; por meio de visitas ordenadas e promovidas pela
administração da Floresta, busca-se colocar os excursionistas (em maioria, grupos escolares) em interação
com o meio natural, de modo a reforçar a importância e participação humana na preservação e conservação
da natureza. Todos os tópicos e objetivos de manejo descritos foram decretados recentemente, no ano de
2002. Entretanto, um longo processo histórico antecede a sua criação, e a apresentação de um breve
panorama relativo aos ciclos econômicos do Brasil é necessária para entendê-lo.
Na segunda metade do século XIX, com o declínio definitivo das exportações de cana-de-açúcar,
começou a produção de café em larga escala no Brasil. Foi a partir dessa atividade que Rio Claro (assim
como muitas outras cidades do chamado Oeste Paulista) se desenvolveu economicamente e industrialmente
e atraiu investimentos, sobretudo na década de 1860. Nesse período, a principal dificuldade dos produtores
cafeeiros era a de escoar a produção e, na medida em que esse produto avançava em direção ao interior de
São Paulo, a necessidade de criar uma infraestrutura de transporte para integrar o território e facilitar as
viagens (que, do Sertão Paulista para o porto de Santos, duravam em média quinze dias) cresceu muito.
Dessa forma, a construção de uma estrada de ferro foi tida pelo Governo da Província como a solução para
os problemas de deslocamento do café, já que, além de diminuir os riscos da operação e as perdas do
produto, contribuiu com a redução dos custos da safra. Em 1868, portanto, foi fundada, a partir da
contribuição de empresários do café, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
No ano de 1909, a Cia. Paulista adquiriu terras em Rio Claro para o cultivo, em larga escala, de
espécies de Eucalyptus, algo que exigiu tanto áreas devotadas ao cultivo quanto cortes de árvores de
formações florestais, em função da demanda por madeira, essencial para construir as dormentes dos trilhos
ferroviários e para alimentar as locomotivas (lenha). O Horto Florestal em questão foi denominado Horto
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Florestal Edmundo Navarro de Andrade, em homenagem ao engenheiro agrônomo que dirigia o Serviço
Florestal do Estado de São Paulo (atual Instituto Florestal de São Paulo, gestor da Unidade de Conservação).
Edmundo Navarro de Andrade, no período de 1910 a 1922, realizou três grandes viagens
internacionais com finalidade científica, e chegou à constatação de que as espécies do gênero Eucalyptus,
originárias da Austrália, eram as que melhor alcançavam os rendimentos esperados pela Cia. Paulista,
trazendo de lá mais de 140 delas para análise. Sua iniciativa pioneira e estratégia de aproveitamento de áreas
já desmatadas ou abandonadas após cultivo (para o repovoamento com as espécies advindas da Oceania)
acabou beneficiando todo o Brasil. Atualmente, a região de Rio Claro possui uma grande variedade de
espécies de eucalipto, já que a grande maioria se adaptou às condições de solo e ao clima brasileiro. Na
verdade, um dos principais fatores que justificam a importância da conservação dessa área é o acervo
científico, histórico e cultural que foi reunido no Museu do Eucalipto, forte referência na comunidade
científica. O museu, único na América Latina, contextualiza a expansão das vias férreas no interior paulista
e o desenvolvimento da silvicultura no Brasil, e já tem 104 anos de existência. As coleções de eucalipto nele
reunidas constituem um banco de germoplasma único no Brasil e se enquadram na categoria de Preservação
Permanente da Floresta, pautada em critérios ecológicos.
É importante ressaltar que, desde 2002, o
antigo Horto Florestal é uma Unidade de
Conservação ambiental e patrimônio histórico.
Por meio do Decreto Estadual de número 46.819,
a região passou a desenvolver uso sustentável dos
recursos, pesquisa e visitação pública, sob a
categoria de Floresta Estadual: “O Horto
Florestal Edmundo Navarro de Andrade (...), fica
transformado na Floresta Estadual Edmundo
Navarro de Andrade, com a finalidade de
proteger, conservar e manejar de forma
sustentável todo o complexo florestal, ambiental
Figura III. Museu do Eucalipto: patrimônio inestimável
e cultural ali existente, desde espécies vegetais,
animais, cursos d'água, o Museu do Eucalipto e
demais elementos dos componentes do acervo da área.” (artigo 1º do Decreto de criação da FEENA). Foi
justamente a partir da criação de um plano de manejo para a Floresta que, dentro dos preceitos de
sustentabilidade ambiental e econômica, a venda de madeira passou a ter expressividade na geração de
receita, representando a principal fonte rentável da região.
Outro ponto importante relativo à criação da UC é a sua organização espacial em zonas, a partir de
dados obtidos em trabalhos de campo. Cada uma delas contribui para o cumprimento das diretrizes do
manejo da área de uso sustentável e dispõe de demandas particulares de proteção e graus de utilização
distintos. Algumas das principais zonas estudas e suas características serão elencadas a seguir. Em primeiro
lugar, destaca-se a Zona de Manejo Florestal: de maior abundância, ela compreende as áreas de floresta
nativa ou plantada, com potencial econômico para o manejo sustentável dos recursos florestais. Em segundo
lugar, tem-se a Zona histórico-cultural. É nela que são encontradas amostras históricas, científicas, culturais
e arqueológicas, conservadas e à disposição para interpretação do público (o exemplo mais marcante é o das
coleções de Eucalyptus e dos antigos talhões, que marcam o início dos reflorestamentos na região). Por fim,
outra organização importante é a Zona de Uso Conflitante, que estabelece procedimentos técnicos e
administrativos de modo a minimizar os impactos de áreas ocupadas por empreendimentos de utilidade
pública (a exemplo de gasodutos, oleodutos, linhas de transmissão, antenas, captação de águas, barragens,
estradas e cabos óticos) sobre os recursos da UC, contemporizando essa situação.

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A partir desse parágrafo, será tratada a
caracterização dos fatores bióticos e abióticos da
FEENA (classificação que contempla os aspectos
físicos e biológicos, conforme requisitado na proposta
de trabalho). Um dos tópicos analisados na
caracterização abiótica é o clima. Conforme os
elementos climáticos apresentados no climograma
(Figura IV), oriundo de um estudo do balanço
climatológico e hídrico da região num período de 40
anos, percebe-se que a temperatura média anual é de
Figura IV. Climograma da FEENA: normais 20,6 °C, sendo possível a distinção de um período mais
climatológicas para chuva e precipitação no quente (de setembro a abril) e de um período cujas
período de 1954 a 1977 temperaturas são mais amenas (de maio a agosto). Os meses
mais frios são julho e agosto. Ademais, a precipitação anual é de 1534 mm, diferenciando-se um período
mais seco (de abril a setembro) e um período mais chuvoso (de outubro a março). Tal regime de chuvas é
influenciado pela mTa e pela mEc, ambas massas de ar úmidas. As temperaturas mais elevadas no verão
causam ascensão de ar quente e úmido, que também se transforma em chuvas. No inverno, age a mPa na
determinação de temperaturas mais baixas. Por fim, outro importante fator climático envolvido é o relevo de
cuestas 1 (da serra de Analândia), responsável por barrar massas carregas de umidade, ocasionando chuvas
orográficas.
A classificação climática, de acordo com o sistema de  Köppen-Geiger, implica em dois tipos de
clima na extensão da FEENA: o mesotérmico (com temperatura média do mês mais frio entre –3 oC e 18
oC), característico da zona temperada do hemisfério Sul, em áreas latitudes médias baixas e o tropical de
altitude (com inverno seco e temperatura média do mês mais quente superior a 22 o C).
Além disso, a Unidade de Conservação está localizada no compartimento de relevo do estado de São
Paulo denominado Depressão Periférica Paulista. Tal unidade geomorfológica se localiza entre o Planalto
Atlântico, formação de gênese cristalina, a leste e o Relevo de Cuestas, o qual já foi tratado na
caracterização climática. É uma zona de fraqueza estrutural formada do contato entre as rochas sedimentares
vinculadas à Bacia Sedimentar do Paraná, e pré-cambrianas (escudos cristalinos), associadas ao Planalto
Atlântico. Vale ressaltar que a região sedimentar é formada da progradação da Bacia do Paraná. A figura V
facilita a compreensão desse cenário geomorfológico.

Figura V. Mapa geomorfológico do estado de


São Paulo

Quanto à hidrografia, a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade está inserida na bacia
hidrográfica do rio Corumbataí. Mais precisamente, na sub-bacia do Ribeirão Claro, que possui uma área de

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aproximadamente 270 km2. A densidade de drenagem dessa bacia é grande no seu alto curso, onde se
verifica a existência de relevo com mais declividades e, consequentemente, maior escoamento superficial.

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Forma caracterizada pela existência de altas e extensas escarpas estruturais, bem como a ação das águas
oriundas de canais que escavaram uma grande depressão relativa. (AB’ SÁBER, 1956)
Cortando a UC em sentido norte-sul tem-se o Ribeirão Claro, que deságua no rio Corumbataí,
importante manancial de abastecimento urbano que representa aproximadamente 20% do abastecimento de
água da cidade de Rio Claro. Entretanto, ele representa um motivo de preocupação devido às cargas
poluidoras que recebe em seu trajeto, principalmente esgotos domésticos e dejetos industriais oriundos das
cidades de Analândia, Corumbataí, Rio Claro e Piracicaba. O uso de fertilizantes e agrotóxicos nas
monoculturas, o manejo inadequado do solo e os desmatamentos constantes das matas ciliares das
cabeceiras do rio (causadores de um intenso processo de assoreamento, já que a susceptibilidade erosiva da
região aumenta) também acarretam impactos nesses ecossistemas aquáticos.
No tocante aos elementos vivos (fatores bióticos) da FEENA, sublinha-se o fato de que, embora
localizada na faixa da vegetação da Floresta Estacional Semi Decidual, nos relatos de Edmundo Navarro de
Andrade e nos arquivos técnicos da Companhia (Martini, 2004) pouquíssimas menções são feitas às
composições das áreas de vegetação nativa. A Floresta, atualmente, conta com, praticamente, apenas áreas
cultivadas com espécies exóticas de Eucalyptus, de ocorrência natural na Austrália, Indonésia e ilhas
adjacentes (como já descrito na página quatro). Ainda assim, nas últimas décadas, trabalhos de amostragem,
identificação e quantificação da sucessão ecológica da vegetação têm sido desenvolvidos. A tentativa de
compreensão dos componentes arbóreos nativos passa pelo estudo da formação de sub-bosques nos talhões
mais antigos, ou por regeneração, infestação ou chuva de sementes de áreas florestadas vizinhas.
A caracterização da fauna passa pelo entendimento de que as formações vegetais nativas da região da
FEENA (e do biomas tropicais, em geral) sofreram, durante os últimos séculos, um processo intenso de
degradação – resultante da ocupação humana e da exploração econômica (vale o paralelo com um tópico
estudado no curso de Geografia: o “desejo” humano, dentro da lógica sociocultural capitalista, é infinito) –
restando poucas porções de mata. Os fragmentos remanescentes, nesse contexto, tornaram-se refúgios vitais
para as espécies animais silvestres. Na FEENA, a formação restrita pode ser classificada como de tamanho
médio a pequeno, oferecendo boas opções de refúgio para a mastofauna (composta por mamíferos que
podem ser aquáticos e terrestres). São propiciados, dentro dessa Unidade, vários microhábitats para
nidificação e abrigo dessas espécies, que, embora não sejam endêmicas, apontam para a necessidade urgente
de conservação dos ecossistemas brasileiros: e a forma mais segura e democrática para garantir a
manutenção desses patrimônios florestais é justamente o SNUC.
Por fim, apontam-se os recursos financeiros e as fontes de manutenção da Unidade de Conservação.
Todos esses recursos necessários à gestão da FEENA são solicitados mensalmente ao Instituto Florestal, por
meio de adiantamentos. Entretanto, tais liberações nem sempre atendem a todos os elementos de despesa.
Portanto, o desenvolvimento do manejo da Floresta e o planejamento das atividades de uso sustentável é
prejudicado. Os valores provenientes do Tesouro do Estado e do Fundo Especial de Despesa do Instituto
Florestal estão muito aquém das necessidades da manutenção real e dos programas desenvolvidos na
Unidade. A grande exceção à essa carência ocorreu no ano de 2002, época em que as necessidades da
Floresta foram atendidas, bem como os pedidos para aquisições e contratações. Nesse mesmo ano, foram
realizadas diversas atividades e manutenção e melhorias na região da UC, a exemplo da (o): reforma do
Solar Navarro de Andrade, Museu do Eucalipto, Auditório, Hospedaria, Sanitários/Fraldário, Capela
Santo Antônio dos Eucaliptos, recuperação de jardins, manutenção de áreas verdes e limpeza do lago.
Atualmente, as áreas administrativas e de pesquisa estão razoavelmente supridas, porém a grande deficiência
está nas áreas de uso público e operacional.

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Parte II: da Problematização (A UC escolhida pelo grupo cumpre, atualmente, a função ambiental para o qual
foi criada?)

A fim de que se elabore uma problematização da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade,
serão explorados aspectos relativos à relação dos grupos sociais que vivem dentro ou no entorno da UC em
relação ao seu funcionamento. Os conceitos do professor Milton Santos fundamentarão uma reflexão crítica
entorno do seguinte caso, reportado pelo site do G1, no ano de 2019: “Famílias que vivem em área da
Floresta Estadual de Rio Claro são notificadas para deixar casas”. Trata-se de uma medida do governo do
Estado, que notificou nove das quinze famílias para deixarem suas moradias, após a Justiça conceder a
reintegração de posse do local ao governo do Estado. A proposta do grupo é utilizar conceitos geográficos e
trechos do Plano de Manejo para estudar essa situação, de maneira a compreender suas implicações para
ambas as esferas envolvidas e a responder o questionamento central da problematização.
O fluxograma que acompanha este texto (Figura V) é composto por ideias importantes para fazer
uma análise das áreas protegidas. Deve-se pensar que os elementos do espaço estabelecem um sistema de
objetos e um sistema de ações interdependentes, relacionados à gestão, à criação e ao uso das Unidades de
Conservação, na concepção de Milton Santos. Assim, ao serem instituídas pelo poder público, as UCs
estabelecem formas, conteúdos e informações novas no espaço geográfico em que se instalam. As ações de
manejo e monitoramento geram reações e estabelecem novos significados a ele, expondo distintos interesses
e valores atribuídos ao território (essa ideia é fundamental para o estudo da notícia que o grupo trouxe). Para
Milton Santos, “no princípio, tudo eram coisas, enquanto hoje tudo tende a ser objeto, já que as próprias
coisas, dádivas da natureza, quando utilizadas pelos homens a partir de um conjunto de intenções sociais,
passam, também, a ser objetos.” (p.65). É no espaço geográfico produzido pelos seres humanos (a partir da
transformação da natureza pelo trabalho, que se utiliza de técnicas e conhecimentos acumulados ao longo do
tempo) que as suas próprias relações sociais se articulam. E é justamente no conjunto indissociável de
sistemas de objetos e sistemas de ações que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma.
Dessa forma, buscando apresentar definições aos componentes do fluxograma, é possível entender
que, no contexto das Unidades de Conservação, “o sistema de objetos compreende a paisagem,
infraestrutura, limites e as vias de acesso”, e, conforme transcrito anteriormente, está relacionado a um
processo de “desnaturalização da natureza”, a partir do qual ela deixa de ser coisa, e recebe o seu valor, a
partir dos usos a ela atribuídos pelos atores sociais. Já o sistema de ações “se relaciona diretamente à gestão
e a governança dessas áreas, e engloba a legislação, ação do estado e de cada comunidade local, os conflitos,
as relações de poder e a governança”. Essa noção é liga a ideia de prática, pois a ação é um processo dotado
de um propósito (que vai de acordo com os interesses humanos no processo de produção do espaço
geográfico, determinando o destino do meio). O sistema de ações pode tanto “levar à criação de objetos
novos, quanto atuar sobre aqueles preexistentes” (SANTOS, 2006, p.39).

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Figura V. Gestão das Unidades de
Conservação como resultado das interações
entre sistema de objetos e sistema de ações

Os elementos do fluxograma nos permitem a compreensão da criação do SNUC, a partir do qual se


articula um sistema de ações na tentativa de usar a natureza e os recursos da paisagem de forma sustentável,
reconhecendo o seu valor ecológico e a necessidade de relacionar-se com o meio de forma menos predatória
(no começo da caracterização, na página 2 deste artigo, essa noção é desenvolvida). Dessa forma, é criada
toda uma infraestrutura e um ordenamento (em relação à natureza, já não mais uma coisa, mais avlo de
interesses sociais) que busca condicionar a forma como se dão as ações. A razão pela qual esses conceitos
foram procurados pelo grupo foi a de que o caso de reintegração de posse se trata de um cenário de embate
no sistema de ações, nos usos e interesses dos grupos envolvidos com a FEENA. Aqui, se insere uma outra
ideia de Milton Santos: “o espaço que, para o processo produtivo, une os homens, é o espaço que, por esse
mesmo processo produtivo, os separa.” (p.33).
O plano de manejo da UC de uso sustentável prevê um programa de uso público, cujo objetivo geral
é “estabelecer a integração entre a área protegida, seus gestores e as populações do entorno, buscando apoio
à proteção da unidade, proporcionando a integração da comunidade com as áreas naturais, despertando a
consciência crítica para as necessidades de conservação dos recursos naturais, culturais e históricos e da
valorização das Unidades de Conservação, bem como estimular sua participação no manejo e proteção
dessas áreas” (Tabanez, 2000). Busca-se, em linhas gerais, estabelecer um elo entre a Floresta e a sociedade.
Nesse contexto, embora de posse e domínio públicos, a Floresta Estadual busca estabelecer um elo entre o
meio ambiente e seus recursos com a sociedade, contribuindo para a sua educação ambiental. A presença e
interação das populações tradicionais que a habitam quando de sua criação é, dessa forma, incentivada e
representa um importante ator do sistema de ações da gestão UC.
Assim, ainda que o Estado ofereça reintegração da posse, essa medida tende contra a função
ambiental da FEENA. Ela só seria coerente com o manejo da unidade caso as populações tradicionais
estivessem causando danos ambientais aos recursos florestais, o que definitivamente não ocorre. Na verdade,
as famílias comunicadas acerca da decisão de intimação declararam que sempre buscaram se envolver com
as atividades da Floresta e regularizar a situação de seus imóveis. Há mais de 20 anos, por exemplo, se
reuniram para fazer um abaixo-assinado, por meio do qual requisitavam a oportunidade de comprar seus
imóveis. Nesse contexto, a comunidade expressa suas reivindicações com indignação: “Ele (oficial de
justiça) falou que pode ser do dia 5 ao dia 10. A gente não quer ficar aqui de graça. Se não tiver um jeito, a
gente queria um prazo maior porque ninguém consegue arrumar uma casa em uma semana”, afirmou a
segurança Maraíze Henrique. Outro local diz que: “a gente podia fazer serviço por aqui, no Parque, mas eles
(gestores) não falam nada. Aí fica difícil...”. Todos esses pedidos foram, aparentemente, foram
desconsiderados e negligenciados pelo Estado e pela prefeitura local.
Um outro aspecto muito importante dentro da problematização é o fato de que as famílias que
habitam a área de Conservação criaram raízes e uma história com o lugar que duram até hoje,
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desenvolvendo um vínculo de territorialidade (professor Milton Santos) muito forte em relação à Floresta.
Para os humanos, conforme estudado em aulas, esse conceito está ligado a “pertencer àquilo que te
pertence”, criar uma identidade e preocupar-se com a construção do futuro do território em que você está
inserido. A quebra desse forte vínculo é um duro desafio que as famílias terão de enfrentar: “A prefeitura
fala que não tem projeto habitacional para gente pelos próximos dois, três anos. Cada família tem uma
história, não é só pela casa, é pela história de cada morador”, lamentou a dona de casa Viviane Honório.
“São 30 anos morando aqui, criei todos os meus filhos e quatro netos e agora sair é difícil”, disse o
aposentado Aparecido Honório. Além desse, João Batista, aposentado, vive no local há mais de cinco
décadas, e chegou a trabalhar para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na época em que ela
administrava o Horto.
Portanto, trata-se de um conflito entre o Estado e a comunidade local, que se estende há cerca de 12
anos, desde foi aberto um processo pedindo às famílias que desocupassem as casas. Esse processo começou
quatro anos depois de que o horto Florestal foi transformado em uma unidade de conservação ambiental e
patrimônio histórico. Esse grande embate entre dois dos componentes do sistema de ações, que constituem a
complexa esfera de relações sociais na produção e na dinâmica dos espaços geográficos, aponta para um
aspecto a ser problematizado – o fato de o Plano de Manejo dispor de uma diretriz de uso público e
integrado, a qual não parece ser plenamente exercida – e reflete a seguinte ideia, trazida por Milton Santos:
ao alterar o espaço e o meio a sociedade altera a si mesma, fazendo com que conflitos de interesses surjam
(nesse caso, estão relacionados ao aparato de gestão de uma UC).

Conclusão do trabalho
Dicotomia ser humano e natureza, espacialidades, sistema socioambiental
Curso do 1º semestre de Geografia (escolha da problematização) – embora muitos aspectos tenham
aparecido no texto da caracterização
Dicotomia sciedade e neio ambiente
Caracterizações mais burocrática--- - ------ noções preponderantes da análise geográfica
Formação socioambiental

Divisão dos afazeres

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Bibliografia (links)
 https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal/planos-de-manejo/planos-de-
manejo-planos-concluidos/plano-de-manejo-fe-edmundo-navarro-de-andrade/ (BASE PRINCIPAL)
 https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao/
 https://www.icmbio.gov.br/educacaoambiental/politicas/snuc.html
 https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/institutoflorestal/areas-protegidas/florestas-estaduais/
 https://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao/sistema-nacional-de-ucs-snuc.html
 https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/113/edicao-1/desapropriacao---aspectos-gerais
 https://www.sigam.ambiente.sp.gov.br/sigam3/Default.aspx?idPagina=13499
 http://educorumbatai.blogspot.com/2010/10/
 https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/unico-museu-brasileiro-dedicado-ao-eucalipto-
completa-103-anos/
 NOTÍCIA DA PROBLEMATIZAÇÃO COM VÍDEO DOS ENTREVISTADOS:
https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2019/04/01/familias-que-vivem-em-area-da-floresta-
estadual-de-rio-claro-sao-notificadas-para-deixar-casas.ghtml
 file:///C:/Users/Andre/Downloads/1286-Texto%20do%20artigo-3423-1-10-20130801.pdf -
(TRECHINHOS EM ASPAS DA PROBLEMATIZAÇÃO)
 http://files.leadt-ufal.webnode.com.br/200000026
4d5134e4ca/Milton_Santos_A_Natureza_do_Espaco.pdf
 Registros no Caderno de Geografia ao longo do ano; Texto: Potencialidades Paisagísticas Brasileiras
(Aziz Ab´Sáber).

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