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Uma questão de limites: a Sentença de 1578 sobre os

direitos da Alfândega de Salir do Porto


José Lopes Coutinho
Junho de 2020

Apresentação

Depois da delineação dos limites entre os coutos de Alcobaça e as terras de


Óbidos, realizada sob a égide da rainha D. Leonor, com demarcações aclaradas e
marcos postos; uma nova Sentença, esta do ano de 1569, confirma o documento
anterior, fixando o rio de Salir como fronteira dos coutos. Esta Sentença parece coroar a
causa do Comendador-mor D. Afonso de Lencastre, donatário da vila de Salir do Porto,
que o opunha aos interesses do Mosteiro.

Nove anos depois, a situação inverte-se. Com o Comendador já falecido, e o


Cardeal D. Henrique no trono de Portugal, o Mosteiro consegue uma importante vitória
jurídica com a Coroa a reconhecer os seus direitos sobre as mercadorias e o pescado que
entrava pela Alfândega de Salir do Porto, depois do Mosteiro ter argumentado com as
doações dos Reys passados por parte do Moesteiro appresentadas e confirmadas pelos
quais se mostra ser feito Doação ao dito Moesteiro de todas as terras que havia e
pertencia á Coroa Real antre Leiria e Obidos.

Na parte inicial da Sentença alude-se aos direitos da Alfândega de Salir do Porto


e Alfeizerão como causa do litígio e mais adiante, ao falar da doação do nosso primeiro
rei ao Mosteiro, indica-se Alfizirão e Sam Martinho, lugares do dito Moesteiro e nos
ditos lugares se prova estar em posse o Autor por suas Doações, e de arrecadar e lhe
pertencerem todos os direitos assi de pescados como quais quer outras mercadorias
que entravão pela foz e aportavão e descargavão nos ditos lugares, e isto de tempo
immemorial athe o anno de mil e quatro centos e quarenta e tres, ano em que o rei D.
Afonso V contestou esses alegados direitos.

Ganha a causa, esta é reivindicada no terreno, com o Mosteiro a tomar posse dos
seus direitos em Salir e S. Martinho. Na alfândega de Salir, num ato simbólico, o
Mosteiro toma o ferrolho da porta e telha do telhado. O auto de posse dos direitos de
alfândega (apenas) em Salir e S. Martinho comprovam que o porto de Alfeizerão já se
encontrava assoreado, inativo, nessa data, 1578; ainda que o auto de posse realizado em
S. Martinho dê a entender que o alcaide de Alfeizerão continuava a desempenhar
funções na cobrança das dízimas do mar da baía de São Martinho do Porto e que cabiam
ao Mosteiro.

Nota prévia

  A Sentença de 1578, que constava dos livros do Cartório do Mosteiro, foi


transcrita (tresladada) em 1746 por António Xavier da Cruz, tabelião público de notas, a
pedido do Procurador do próprio Mosteiro. É esse documento de 1746 que nós
transcrevemos a partir da cópia fotográfica obtida na Torre do Tombo (DGA/TT,
Ordem de Cister, Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, 2.ª incorporação, mç. 52, doc.
29).

Este apontamento foi inicialmente publicado a 1 de Dezembro de 2015 na nossa


página sobre Alfeizerão (hiperligação: http://alfeizerense.blogspot.com/2015/12/uma-
questao-de-limites-sentenca-de-1578.html?q=uma+quest%C3%A3o+de+limites).

O documento

«Dis o Procurador do Real Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça que


para bem da justiça do dito Mosteiro lhe he necessario tresladar em publica
forma huma Sentença que o dito Mosteiro alcansou contra o Comendador
Mor da Ordem de Cristo D. Diniz de Alencastre Sobre os dizimos da vila de
Selir deporto e São Martinho, como também dos autos de posse que o
Mosteiro tomou dos dittos direitos e Procuração que a esse efeito fes o N.
Cardeal Comendatario do dito Mosteiro e que tudo se acha no Livro 2º de
Sentenças de Seu Cartorio a fl. 9 e seguintes.

«Seja servido mandarse o escrivão que serve no dito cartorio lhe passe
certidão e treslado em publica forma da dita Sentença e auto de posse e
procuração, tudo em modo que faça fee.

«Antonio Xavier da Cruz, publico tabelião de notas nesta villa de Alcobaça e


geral nas mais de seus coutos e escrivão Privativo das Escrituras de
Contratos e Emprazamentos pertencentes ao Real Mosteiro de Sam Bernardo
desta villa, tudo por appresentação do Reverendíssimo Dom Abade Geral e
Esmoler Mor & com Provizão Real certifico e dou minha feé que emvirtude
do despacho supra de Manoel Freyre, Juiz Ordinario nesta dita Villa vim ao
Cartorio do dito Real Mosteiro aonde pelo muito Reverendo Padre frey
Manoel de Sam Paulo, Cartorario Mor delle, me foi appresentado hum livro
encadernado em pasta coberta de couro jazpeado que se intitula =  Livro
Segundo de Sentenças = e nelle a folhas noventa e nove corre a Carta de Sentença
de que a Petiçam  supra faz mençam, da qual o theor de verbo ad verbum he
o seguinte:
Sentença

«Dom Anrique per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves daquem e
dalem mar, em Africa, Senhor de Guine e da Conquista, navegação, comercio
de Etiopia, Arabia, Percia e das Indias. A todos os Corregedores, Ouvidores,
Juizes, Justiças, Officiais e Pessoas de meus Reinos e Senhorios que esta
minha Carta de Sentença  for apprezentada e o Conhecimento della com
direito pertencer, saúde. Faço-vos saber que nesta minha Corte e Caza da
Sopricaçam, perante mim e os meus Corregedores dos feitos em ella se tratou
hum feito Civel de execução do Procurador do Mosteiro Dalcobaça, Autor,
Contra Dom Affonso Dalencastro, Comendador mor da Ordem de nosso
Senhor Jezus Christo e por elle ser falecido ora, Contra Dom Diniz
Dalencastro, seu filho e herdeiro outrosim Comendador mor, Reo por rezão
dos direitos da Alfandega de Salir do Porto e Alfeizerão, e Custas que lhe
demandava, pelo qual feito se mostrava por parte dos Autores se
appresentarem duas Sentenças que houverão no Juizo dos meus feitos da
Coroa, e por ellas se mostrava que tratandose a dita Cauza no dito Juizo foi
dado libello contra o reo tanto no cazo se processou que vendome o feito
levado concluzo e visto per mim em Rellação com o Juiz de meus feitos e os
do meu Dezembargo, e os Acordey visto a minha Provizão per que mandou
despachar esta Causa sumariamente por os merecimentos dos feitos velhos
que se tratarão antre o meu Procurador e da Raynha que Santa Gloria haja
com o Moesteiro Dalcobaça, havendo vista as partes pera allegarem de feito
e de direito e visto o libelo por parte do Moesteiro Dalcobaça oferecido
contra o Reo e havendo vista não allegou do feito cousa alguma relevante
mais que dar pera ajuda da prova sobre a materia que se tratou nos feitos
velhos humas inquirições que forão tiradas antre o Cabido da Sé desta
Cidade e o Moesteiro, Autor sobre o dizimo das pescarias, e visto as Doações
dos Reys passados por parte do Moesteiro appresentadas e confirmadas pelos
quais se mostra ser feito Doação ao dito Moesteiro de todas as terras que
havia e pertencia á Coroa Real antre Leiria e Obidos pelas confrontações e
demarcações nella declaradas com todos os direitos que nellas lhe pertencião
e podião pertencer de qualquer qualidade que fossem e mostrasem pelas
Doações, digo, pelas demarcaçoes vistas e exames que forão feitos na
demarcação antre Alcobaça e Obidos e Selir, ficar e pertencer ao dito
Moesteiro a foz e Porto de Selir segundo vay declarando a dita demarcação
pelo Rio que corre de cima donde chamão Garganta Dolmos e do Furadouro
e vem entrar na foz das quais demarcações adentro da parte de Alcobaça fica
Alfizirão e Sam Martinho, lugares do dito Moesteiro e nos ditos lugares se
prova estar em posse o Autor por suas Doações, e de arrecadar e lhe
pertencerem todos os direitos assi de pescados como quais quer outras
mercadorias que entravão pela foz e aportavão e descargavão nos ditos
lugares, e isto de tempo immemorial athe o anno de mil e quatro centos e
quarenta e tres, que se terminou per El Rey Dom Affonso por Sentenças com
conhecimento de cauzas, vistas as Doações do Moesteiro Autor e sendolhe
perturbados os tais direitos e impedidos pelos officiaes do dito Senhor Rey
que os ditos direitos pertencião ao Moesteiro, autor per suas Doações, e
mandado que lhe fossem entregues e os deyxassem haver e arrecadar por se
mostrar estar sempre delles em posse athe o dito tempo da Sentença per onde
está mais justificadas e provada a posse do Autor. E mostra-se no anno de
mil quatro centos e setenta e cinquo annos ser ainda vivo o dito Rey Dom
Afonso, e esta causa ser movida no de quinhentos e cinco [1505] contra o
meo Procurador e o da dita Senhora Raynha per onde não passou tanto
tempo contra o Autor que baste pera prescripçam segundo direito pelas
interrupções que houve, e mostra-se mais que havendo duvidas se tinha
dizima das mercadorias que hião ter á Pederneira, lugar do Moesteiro, com
os meus officiaes per sentença ser detreminado [sic] que pelas Doações que
tinha lhe pertencião as ditas dizimas. Todo visto e o mais dos autos e como
nesta mesma cauza onde o Pay do reo era parte, como Donatario se deu
Sentença pelo Autor na metade dos direytos que entrarem pela dita foz,
havendoa por comum, e Selir, Sam Martinho e Alfeizirão, e declarando assim
os foraes dos ditos lugares que se partão per meyo os ditos direitos antre o
Moesteiro e Selir, e o Reo não mostra couza de direito per onde lhe pertença
esta ametade dos direitos em que deu sentença contra mim e a ditas Senhora
Raynha cujo Donatario pertende ser, nam pode nelles ter algum pois ja se
resolveo o da dita Senhora Raynha que lhe fez a Doação pela Sentença que
passou em cousa julgada, nem a que pode tratar de mais mayormente que
sendo direitos Reaes, nem doação pera os poder possuir se mostra. Todo
visto e o mais que se pelos autos mostra, condenei ao Reo que abrisse mão da
ametade de todos os direitos das mercadorias e pescaria que pela foz
entrarem, e as deixe livremente haver e possuir ao Mosteiro, Autor por lhe
pertencerem conforme a Sentença dada contra mim e a dita Senhora Raynha
com os rendimentos que rendião do tempo que oComendador mor seu Pay foi
parte na causa do feito velho athe a Realentrega que se liquidaria na
execuçam e condenei ao Autor nas custas dos autos que se entre elle e o
Mosteiro processarão, e quanto ao do feito velho será sem custos por ser
cauza antre mim e meus vassalos. Segundo que todo esto e mais
compridamente era contheudo na dita Sentença passada pela minha
Chancelaria e outrosi se juntou outra Sentença dos embargos com que o
Procurador da dita Senhora Raynha veyo a haver de passar pela Chancelaria
a dita Sentença pela qual se mostra que tratandose a cauza tanto se
processou que sendome o feito levado concruzo, e visto por mim em Rellação
com o Juiz dos meus feitos e os do meu Dezembargo, e Acordei que sem
embargo dos embargos do Procurador da dita Senhora Raynha
appresentados que não recebo por não terem de receber visto ser a materia
de que já se tratou nestes autos e os apensos, e como o Procurador da dita
Senhora Raynha já não pode ser parte nesta cauza por ser dada Sentença
contra a dita Senhora, e contra mim, que passou em cousa julgada, e não lhe
ficou direito pera mais poder proseguir a causa que pelas sentenças foi
extinta, e mandei que a Sentença passa pela Chancelaria e se entregue á
parte, e seja sem custos, segundo mais compridamente era contheudo na dita
sentença e sendo apprezentadas, o dito Reo foi requerido para pagar as
custas e para dentro em dez dias a largar a posse e para a Liquidação dos
Rendimentos, e foi naudiencia apregoado e havido por citado e requerido, e
lhes forão asinados os dez dias da Ordenação para alargar a posse, e sendo
passados os dez dias a Requerimento do Procurador do Autor o dito
Comendador mor foi apregoado pelo porteiro Estevão da Costa, e por nam
parecer á sua revelia, foi mandado ir este feito concruzo, e visto por mim com
o meu corregedor pernunciey, e que visto como sendo asinados dez dias ao
Reo para a largar a posse dos direitos que forão julgados ao Autor Convento
Dalcobaça, não satisfes ao que lhe foi mandado com o mais dos autos passe
carta para o dito Convento ser metido de posse dos ditos direitos, e
condemno o Reo nas custas deste processo a dous de Setembro de mil e
quinhentos setenta e oito. E por tanto vos mando que assi o cumprais e
guardeis e façay inteyramente comprir e guardar como nesta minha sentença
se conthem e tanto que vos for apprezentada passada pela Chancelaria farey
meter o dito Convento Dalcobaça de posse dos ditos direitos, e farey requerer
o Reo que de e pague aos Autores de custos que sobre o cazo se fizeram
saber  ~ escritura ao Escrivão feitio desta Sentença assinatura Chancelaria e
Sello dellas que ao todo fizerão em soma quatro centos e noventa e sete reis
segundo forão contados por Lionel Gomes, contador delas nesta minha Corte
e Caza de Soppricação, e assy mais lhe pagará a elle Reo ao Autor todo
aquello que se achar escrito nas Costas desta Sentença pelo Escrivão da
minha Chancellaria da dizima que nella pagou que amim pertence haver: e
não querendo elle Reo pagar, sendo Requerido, o farey penhorar em tantos
de seus bens moveis e de raiz que bem valhão a dita contia, os quais fareis
vender e arrematar, e ante apregoar aos termos e tempos da Ordenação de
modo que elle Autor seja pago e entregue de todo o contheudo nesta Sentença
comprio assy. Dadas nesta minha Cidade de Lixboa aos quatro dias do mês
de Setembro El Rey nosso Senhor o mandou pelo Doutor Paulo Coelho do
seu Dezembargo e Corregedor dos feitos e causas civeis da sua Corte e Caza
da Sopricação com Alçadas &.as Francisco Dalmeyda a fes no officio de
Francisco Ribeyro que serve Francisco Gonsalves anno do nascimento de
nosso Senhor Jezu Christo de mil e quinhentos e setenta e oito annos. Pagou
desta cento e sesenta reis e daasinar quarenta reis. Eu Francisco Gonsalves a
sobscrevi // Paulo Coelho // Lugar do Sello da Chancelaria // Gaspar Pereira
// Pagou trinta reis, e de dizima quarenta e nove reis // Luiz Carvalho //
Cumpra-se”Botelho // Cumpra-se // João Do.es. [Domingues] // E não se
continha mais na dita Sentença. E outrosim certifico e dou mais feé que junto
a dita sentença estão dois autos de posse que por virtude della se tomou nas
villas de Selir e Sam Martinho os quais hum apos outro se seguem de verbo
ad verbum».

_________________ //___________________
«Auto de posse q. se tomou em
Selir do Porto

«Anno do Nascimento de nosso Senhor Jezu Christo de mil e quinhentos e


setenta e outo annos aos vinte e tres dias do mes de Setembro do dito anno em
esta villa de Selir do Porto estando prezente João Domingues, Juiz
Ordenayro na dita villa o presente anno perante elle Juiz pareceo o
Reverendo Padre Frey Guilhelme da Payxam Prior do Mosteiro Dalcobaça e
o Lecenciado Ayres Freyre, digo Ayres Fernandes Freyre, com Procuração
espicial de sua Alteza que junto a este auto hirá tresladada por elle foi
aprezentado ao dito Juiz huma Sentença del rey nosso Senhor per que manda
que conforme a Sentença que he dada contra o Procurador da Raynha que
está em Gloria, e contra o Comendador mor Dom Diniz de Lencastro desse
posse ao dito Mosteiro Dalcobaça do direito Dalfandega desta dita villa,
como na dita sentença he declarado, aqual sentença lhe apprezentou Bastião
da Cunha, Solicitador do dito Senhor e lhe pedirão que conforme a ella lhe
mandasse dar a dita posse, e tudo visto pelo dito Juiz, e lida por mim
Escrivão em alta vós, a mandou cumprir per seu despacho e conforme a elle
deu posse ao Reverendo Padre Prior e ao Lecenciado Ayres Fernandes
Freyre, Procurador do dito Senhor, dos direitos da dita Alfandega tomando o
ferrolho da porta e telha do telhado, e fazendo os mais autos em presença de
mim Escrivão per que se lhe aquirio a dita posse, e havendo por investidos
della, e de tudo mandou fazer este auto e assinou. Testemunhos que forão
presentes, Henrique da Maya e Afonso Dias, e Domingos Fernandes todos
moradores na dita villa, Eu Salvador Fernandes Escrivão na dita villa o
escrevi // João Domingues // Frey Guilherme da Payxão Prior // Ayres
Fernandes Freyre // Anrique da Maya testemunha, huã Cruz // Afonso Dias
testemunha hum sinal // Domingos Fernandes testemunha hum sinal // E não
diz mais o dito auto de posse. E assim dou mais fee que logo se segue outro
auto de posse que se tomou por direitos do porto de Sam Martinho, do qual o
theor de verbo ad verbum he o seguinte».
________________ // ______________

// «Auto de posse dos direitos do


            Porto de Sam Martinho //

«Anno do Nascimento de nosso Senhor Jezu Christo de mil e quinhentos e


setenta e oito annos aos vinte e tres dias do mês de Setembro do dito anno
nesta villa de Sam Martinho na praia della, estando prezente o Reverendo
Padre Frey Guilherme da Payxam Prior do Mosteiro Dalcobaça e bem assim
o Lecenciado Ayres Fernandes Freyre com Procuração especial de sua
Alteza e por virtude da Provizam que a este auto hirá acordada, logo por
elles foi apprezentada huma Sentença del Rey nosso Senhor com hum
Cumpra-se do Lecenciado Ruy Botelho Boto, Ouvidor nestes Couttos e
jurdição do dito Mosteiro, pela qual sentença mandava que se desse posse ao
dito Mosteiro dos direitos Dalfandega de Salir e de todos os que se devem
neste Porto conforme a sentença que em favor do dito Mosteiro se deu contra
o Procurador da Coroa, e contra o Procurador da Raynha nossa Senhora
que esta em Gloria, e contra Dom Diniz Dalencastro, Comendador mor por
bem da qual me requererão lhe dese a dita posse, e logo pareceo Alvaro
Bello morador na villa da Piderneira, mestre da sua caravella per nome
Espirito Santo e disse que tinha carregado hum navio de Sal, que o queria
despachar e pagar os direitos que devesse, e feito e de feito pagou quinhentos
e quarenta reis por tanto se montar nos direitos que devia do dito despacho,
os quais logo se receberão em nome do dito Mosteiro conforme a dita
Sentença, e pelo dito auto e recebimento eu Tabalião houve por metido,
emvesti e meti de posse ao dito Reverendo Padre Prior Frey Guilherme da
Payxão, e o dito Lecenciado Ayres Fernandes Freire conforme a dita
Procuração, e de tudo foi este auto em que assinarão com mais por
testemunhas o Lecenciado Bernardo Lopes Procurador do dito Mosteyro e
Bastião da Cunha, solicitador do dito Mosteyro e Salvador Fernandes
Escrivão da Câmara da dita villa, e a Procuração he a seguinte, Manuel
Fragozo Tabalião que o escrevi, e Antonio Simões morador em a villa
Dalfeizarão, e lhe dey eu Tabalião a posse com o Alcayde da dita villa e
assinarão aqui as testemunhas acima declaradas e o dito Alcayde. E eu
Manoel Fragozo Tabalião que o escrevi // Frey Guilherme da Payxão Prior //
Ayres Fernandes Freyre // António Simões // Salvador Fernandes // Lopes //
Sabastião da Cunha // do Alcayde huma Cruz // e não se continha mais neste
segundo auto de posse. E assim dou mais fé que junto á dita sentença e autos
de posse está a Procuração de que também faz menção a Petição e da dita
Procuração eo theor de verbo ad verbum he o seguinte//__»

// Procuração //

«O Cardeal Comendatário e Administrador perpetuo do Mosteiro de


Alcobaça. Faço saber aos que este meu Alvará de Procuração virem que eu
hey por bem dar poder como por este dou ao Lecenciado Ayres Fernandes
Freyre Procurador das couzas do dito Mosteiro na Caza da Soplicação, pera
que possa tomar posse dos direitos da Alfandega do Porto de Selir do Porto
pela Sentença que o dito Mosteiro houve contra o Comendador mor e o
Procurador da Coroa Real sobre os ditos direitos e pera isso lhe dou os
poderes em direito acostumados, por bem do qual lhe mandey passar este
meu Alvará de Procuraçam por mim assinado, que não passará pela
Chancelaria &. Manoel Nogueira o fez em Lixboa a quinze de Setembro de
quinhentos e setenta e outo. Ayres Ferreyra o fiz escrever (__) Cardeal //
Procuração ao Lecenciado Ayres Fernandes Freyre para tomar posse dos
direitos do porto de Selir do Porto pela Sentença que o Mosteiro Dalcobaça
ouve contra o Comendador mor e o Procurador da Coroa sobre os ditos
direitos».

______________  //  _________________

«E não se continha mais na dita Sentença autos de posse e Procuração


do que dito he o que tudo eu sobredito Tabalião aqui bem e fielmente fiz
tresladar dos proprios que estão no dito livro e com eles esta conferi e
concertei, e não leva cousa que duvida faça que não va resalvado com as
duas entrelinhas no primeiro Acordão que dizem // e demarcação // .nam //
que se fizerão por verdade, e sendo necessario me reporto aos proprios no
dito Livro e Cartorio que de como o Recebeu o dito Padre Cartorario mos
assinou abayxo. E eu por verdade me assinei em publico e razo. De feitio
desta trezentos e quarenta reis. Feita no Cartorio do dito Mosteiro de
Alcobaça aos quinze dias do mes de Julho de mil e setecentos e quarenta e
seis annos. E eu, Antonio Xavier da Cruz Tabaliam que o fis».
[assinaturas]

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