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Apresentação
Ganha a causa, esta é reivindicada no terreno, com o Mosteiro a tomar posse dos
seus direitos em Salir e S. Martinho. Na alfândega de Salir, num ato simbólico, o
Mosteiro toma o ferrolho da porta e telha do telhado. O auto de posse dos direitos de
alfândega (apenas) em Salir e S. Martinho comprovam que o porto de Alfeizerão já se
encontrava assoreado, inativo, nessa data, 1578; ainda que o auto de posse realizado em
S. Martinho dê a entender que o alcaide de Alfeizerão continuava a desempenhar
funções na cobrança das dízimas do mar da baía de São Martinho do Porto e que cabiam
ao Mosteiro.
Nota prévia
O documento
«Seja servido mandarse o escrivão que serve no dito cartorio lhe passe
certidão e treslado em publica forma da dita Sentença e auto de posse e
procuração, tudo em modo que faça fee.
«Dom Anrique per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves daquem e
dalem mar, em Africa, Senhor de Guine e da Conquista, navegação, comercio
de Etiopia, Arabia, Percia e das Indias. A todos os Corregedores, Ouvidores,
Juizes, Justiças, Officiais e Pessoas de meus Reinos e Senhorios que esta
minha Carta de Sentença for apprezentada e o Conhecimento della com
direito pertencer, saúde. Faço-vos saber que nesta minha Corte e Caza da
Sopricaçam, perante mim e os meus Corregedores dos feitos em ella se tratou
hum feito Civel de execução do Procurador do Mosteiro Dalcobaça, Autor,
Contra Dom Affonso Dalencastro, Comendador mor da Ordem de nosso
Senhor Jezus Christo e por elle ser falecido ora, Contra Dom Diniz
Dalencastro, seu filho e herdeiro outrosim Comendador mor, Reo por rezão
dos direitos da Alfandega de Salir do Porto e Alfeizerão, e Custas que lhe
demandava, pelo qual feito se mostrava por parte dos Autores se
appresentarem duas Sentenças que houverão no Juizo dos meus feitos da
Coroa, e por ellas se mostrava que tratandose a dita Cauza no dito Juizo foi
dado libello contra o reo tanto no cazo se processou que vendome o feito
levado concluzo e visto per mim em Rellação com o Juiz de meus feitos e os
do meu Dezembargo, e os Acordey visto a minha Provizão per que mandou
despachar esta Causa sumariamente por os merecimentos dos feitos velhos
que se tratarão antre o meu Procurador e da Raynha que Santa Gloria haja
com o Moesteiro Dalcobaça, havendo vista as partes pera allegarem de feito
e de direito e visto o libelo por parte do Moesteiro Dalcobaça oferecido
contra o Reo e havendo vista não allegou do feito cousa alguma relevante
mais que dar pera ajuda da prova sobre a materia que se tratou nos feitos
velhos humas inquirições que forão tiradas antre o Cabido da Sé desta
Cidade e o Moesteiro, Autor sobre o dizimo das pescarias, e visto as Doações
dos Reys passados por parte do Moesteiro appresentadas e confirmadas pelos
quais se mostra ser feito Doação ao dito Moesteiro de todas as terras que
havia e pertencia á Coroa Real antre Leiria e Obidos pelas confrontações e
demarcações nella declaradas com todos os direitos que nellas lhe pertencião
e podião pertencer de qualquer qualidade que fossem e mostrasem pelas
Doações, digo, pelas demarcaçoes vistas e exames que forão feitos na
demarcação antre Alcobaça e Obidos e Selir, ficar e pertencer ao dito
Moesteiro a foz e Porto de Selir segundo vay declarando a dita demarcação
pelo Rio que corre de cima donde chamão Garganta Dolmos e do Furadouro
e vem entrar na foz das quais demarcações adentro da parte de Alcobaça fica
Alfizirão e Sam Martinho, lugares do dito Moesteiro e nos ditos lugares se
prova estar em posse o Autor por suas Doações, e de arrecadar e lhe
pertencerem todos os direitos assi de pescados como quais quer outras
mercadorias que entravão pela foz e aportavão e descargavão nos ditos
lugares, e isto de tempo immemorial athe o anno de mil e quatro centos e
quarenta e tres, que se terminou per El Rey Dom Affonso por Sentenças com
conhecimento de cauzas, vistas as Doações do Moesteiro Autor e sendolhe
perturbados os tais direitos e impedidos pelos officiaes do dito Senhor Rey
que os ditos direitos pertencião ao Moesteiro, autor per suas Doações, e
mandado que lhe fossem entregues e os deyxassem haver e arrecadar por se
mostrar estar sempre delles em posse athe o dito tempo da Sentença per onde
está mais justificadas e provada a posse do Autor. E mostra-se no anno de
mil quatro centos e setenta e cinquo annos ser ainda vivo o dito Rey Dom
Afonso, e esta causa ser movida no de quinhentos e cinco [1505] contra o
meo Procurador e o da dita Senhora Raynha per onde não passou tanto
tempo contra o Autor que baste pera prescripçam segundo direito pelas
interrupções que houve, e mostra-se mais que havendo duvidas se tinha
dizima das mercadorias que hião ter á Pederneira, lugar do Moesteiro, com
os meus officiaes per sentença ser detreminado [sic] que pelas Doações que
tinha lhe pertencião as ditas dizimas. Todo visto e o mais dos autos e como
nesta mesma cauza onde o Pay do reo era parte, como Donatario se deu
Sentença pelo Autor na metade dos direytos que entrarem pela dita foz,
havendoa por comum, e Selir, Sam Martinho e Alfeizirão, e declarando assim
os foraes dos ditos lugares que se partão per meyo os ditos direitos antre o
Moesteiro e Selir, e o Reo não mostra couza de direito per onde lhe pertença
esta ametade dos direitos em que deu sentença contra mim e a ditas Senhora
Raynha cujo Donatario pertende ser, nam pode nelles ter algum pois ja se
resolveo o da dita Senhora Raynha que lhe fez a Doação pela Sentença que
passou em cousa julgada, nem a que pode tratar de mais mayormente que
sendo direitos Reaes, nem doação pera os poder possuir se mostra. Todo
visto e o mais que se pelos autos mostra, condenei ao Reo que abrisse mão da
ametade de todos os direitos das mercadorias e pescaria que pela foz
entrarem, e as deixe livremente haver e possuir ao Mosteiro, Autor por lhe
pertencerem conforme a Sentença dada contra mim e a dita Senhora Raynha
com os rendimentos que rendião do tempo que oComendador mor seu Pay foi
parte na causa do feito velho athe a Realentrega que se liquidaria na
execuçam e condenei ao Autor nas custas dos autos que se entre elle e o
Mosteiro processarão, e quanto ao do feito velho será sem custos por ser
cauza antre mim e meus vassalos. Segundo que todo esto e mais
compridamente era contheudo na dita Sentença passada pela minha
Chancelaria e outrosi se juntou outra Sentença dos embargos com que o
Procurador da dita Senhora Raynha veyo a haver de passar pela Chancelaria
a dita Sentença pela qual se mostra que tratandose a cauza tanto se
processou que sendome o feito levado concruzo, e visto por mim em Rellação
com o Juiz dos meus feitos e os do meu Dezembargo, e Acordei que sem
embargo dos embargos do Procurador da dita Senhora Raynha
appresentados que não recebo por não terem de receber visto ser a materia
de que já se tratou nestes autos e os apensos, e como o Procurador da dita
Senhora Raynha já não pode ser parte nesta cauza por ser dada Sentença
contra a dita Senhora, e contra mim, que passou em cousa julgada, e não lhe
ficou direito pera mais poder proseguir a causa que pelas sentenças foi
extinta, e mandei que a Sentença passa pela Chancelaria e se entregue á
parte, e seja sem custos, segundo mais compridamente era contheudo na dita
sentença e sendo apprezentadas, o dito Reo foi requerido para pagar as
custas e para dentro em dez dias a largar a posse e para a Liquidação dos
Rendimentos, e foi naudiencia apregoado e havido por citado e requerido, e
lhes forão asinados os dez dias da Ordenação para alargar a posse, e sendo
passados os dez dias a Requerimento do Procurador do Autor o dito
Comendador mor foi apregoado pelo porteiro Estevão da Costa, e por nam
parecer á sua revelia, foi mandado ir este feito concruzo, e visto por mim com
o meu corregedor pernunciey, e que visto como sendo asinados dez dias ao
Reo para a largar a posse dos direitos que forão julgados ao Autor Convento
Dalcobaça, não satisfes ao que lhe foi mandado com o mais dos autos passe
carta para o dito Convento ser metido de posse dos ditos direitos, e
condemno o Reo nas custas deste processo a dous de Setembro de mil e
quinhentos setenta e oito. E por tanto vos mando que assi o cumprais e
guardeis e façay inteyramente comprir e guardar como nesta minha sentença
se conthem e tanto que vos for apprezentada passada pela Chancelaria farey
meter o dito Convento Dalcobaça de posse dos ditos direitos, e farey requerer
o Reo que de e pague aos Autores de custos que sobre o cazo se fizeram
saber ~ escritura ao Escrivão feitio desta Sentença assinatura Chancelaria e
Sello dellas que ao todo fizerão em soma quatro centos e noventa e sete reis
segundo forão contados por Lionel Gomes, contador delas nesta minha Corte
e Caza de Soppricação, e assy mais lhe pagará a elle Reo ao Autor todo
aquello que se achar escrito nas Costas desta Sentença pelo Escrivão da
minha Chancellaria da dizima que nella pagou que amim pertence haver: e
não querendo elle Reo pagar, sendo Requerido, o farey penhorar em tantos
de seus bens moveis e de raiz que bem valhão a dita contia, os quais fareis
vender e arrematar, e ante apregoar aos termos e tempos da Ordenação de
modo que elle Autor seja pago e entregue de todo o contheudo nesta Sentença
comprio assy. Dadas nesta minha Cidade de Lixboa aos quatro dias do mês
de Setembro El Rey nosso Senhor o mandou pelo Doutor Paulo Coelho do
seu Dezembargo e Corregedor dos feitos e causas civeis da sua Corte e Caza
da Sopricação com Alçadas &.as Francisco Dalmeyda a fes no officio de
Francisco Ribeyro que serve Francisco Gonsalves anno do nascimento de
nosso Senhor Jezu Christo de mil e quinhentos e setenta e oito annos. Pagou
desta cento e sesenta reis e daasinar quarenta reis. Eu Francisco Gonsalves a
sobscrevi // Paulo Coelho // Lugar do Sello da Chancelaria // Gaspar Pereira
// Pagou trinta reis, e de dizima quarenta e nove reis // Luiz Carvalho //
Cumpra-se”Botelho // Cumpra-se // João Do.es. [Domingues] // E não se
continha mais na dita Sentença. E outrosim certifico e dou mais feé que junto
a dita sentença estão dois autos de posse que por virtude della se tomou nas
villas de Selir e Sam Martinho os quais hum apos outro se seguem de verbo
ad verbum».
_________________ //___________________
«Auto de posse q. se tomou em
Selir do Porto
// Procuração //