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Como um chinelo pode matar sua mãe

- Volte lá e desemborque seu chinelo.

Disse Luciana para a filha. Ao sair, ela tinha deixado a sola do chinelo
virada para cima.

- Eu hein, parece até que quer me agourar.

Se não fosse pelos avisos, Luciana já teria morrido das mais diversas
formas.

Ela não sabia explicar o porquê, mas desde criança ouvia que o
chinelo emborcado poderia trazer a morte da mãe do desorganizado.

Seria por conta de uma queda causada ao se escorregar? Ou um


poder misterioso seria o responsável por matá-la.

Assim como Luciana, muita gente no Brasil não sabe exatamente


como essa história surgiu.

O chinelo emborcado, ou virado para cima, é talvez a superstição


mais famosa do Brasil.

A origem é incerta, mas acredita-se que esta superstição surgiu após


as pessoas tropeçarem nos calçados deixados pela casa, geralmente
pelos filhos, e morrerem na queda.

Já em outra versão, o chinelo virado para cima fazia com que ele
sujasse, acabando por sujar os pés de quem o usava também. Para
que ninguém deixasse o calçado virado, surgiu a superstição.
Quem é esse cara?
Certa vez eu estava indo para o trabalho de ônibus.
Lá da parte de trás, veio um sujeito. Se aproximou e abriu logo um
sorriso.
- Gustavo! Meu querido, há quanto tempo!
Quem ele era e como sabia meu nome era um mistério. Careca, meio
gordo, fedendo a suor. Não fazia ideia de quem ele era.
- Tá lembrado de mim?
Não, eu não lembrava. E isso estava estampado na minha cara.
- Vou te dar uma pista: Piscina!
Ajudou tanto quanto se dissesse que era primo da Rainha da
Inglaterra.
Mantive a expressão, dando a entender que não lembrava.
- Tá, outra então. Churrasco aos domingos!
Não mesmo, nada daquilo estava ajudando. Tentei encaixar as peças,
mas as palavras não me traziam lembrança alguma.
- Lembra da Glória, do Guga? Do Fernando, aquele seu amigo?
Sim, lembro e mantenho contato com todos eles. Mas eu realmente
não sabia quem era esse senhor que me dirigia a palavra.
- Lembrou agora?
Eu não queria deixá-lo envergonhado e nem ressentido com minha
falta de memória.
- Rapaz, lembro sim. Lembro. Bons tempos aqueles, não eram?
-Se eram. Poxa, mas você cresceu... já casou?
- Sim, casei. Já faz três anos.
- Poxa, e nem me convidou! – ele deu uma gargalhada e bateu no
meu ombro.
- A gente perdeu o contato.
- Que nada, tenho naquele Facebook, e até seu contato no WhatsApp,
olha só.
E não é que lá estava minha foto de perfil tanto do Facebook como do
Whatsapp?
Mas foi tão rápido que não consegui ver o nome nem o número.
- Ah, passa lá em casa para pegar um presente depois. Eu quero dar
alguma coisa para esse casalzão.
Nunca fui atrás de receber o presente nem de quem era aquele cara.
Fiquei sem saber quem era. Até hoje fico olhando para os lados, para
o caso de ele aparecer.
Não Sei Dizer Não Para um Pilantra
- Teobaldo! Meu querido! Estava procurando você.
Antes de continuar, me deixe te explicar antes quem é o João, o
maior malandro do Grajaú.
Ele é o tipo de cara que se convidá-lo para um bar, você vai acabar
pagando por dois. Ele vai inventar uma desculpa de que perdeu a
carteira e te pedir para pagar a conta.
E ele ainda vai te pedir dinheiro emprestado.
Hoje eu preferia me encontrar com o diabo, mas não com esse cara.
-- Você está com pressa, Teobaldo? Queria trocar uma ideia com
você.
-- Ô João, estou correndo aqui para chegar na casa da sogra.
-- Não vou demorar muito. Eu quero te pedir um favor, de amigo
para amigo.
Estava na cara que era dinheiro.
-- Sua sogra mora onde? É no Morais Prado? Rapaz! Vou para
aquelas bandas. Tem um dinheiro sobrando para passagem?
-- Estou com o dinheiro contado.
-- Não tem problema, eu vou com você até o ponto de ônibus.
E lá fomos nós. Ele foi me contando sobre uma aposta que tinha feito
e que, se não pagasse, ia acabar apanhando. Ele bem que merecia.
-- Aí, queria saber se você não tem cinquenta reais para me
emprestar.
-- Poxa, João. Agora eu não tenho, de verdade.
Ele não se abalou. Investiu ainda mais pesado no pedido.
-- Então, faça o seguinte. Já que você vai lá na sua sogra, pede
emprestado pra ela. Depois eu te devolvo.
O cara era persistente. E como era amigo de infância, fiquei com
medo de magoá-lo.
Resolvi aceitar a solução e acabei arranjando os cinquenta reais.
Quando lhe entreguei o dinheiro, ele foi só elogios e agradecimentos.
Mas deixei claro que queria aquele dinheiro de volta.
Ele desapareceu. Passou a evitar a rua em que moro, para não ter
que dar de cara comigo.
Eu não estava tão necessitado dos cinquenta reais. Então, deixei
passar.
Meses se passaram. Numa manhã de domingo, enquanto eu voltava
das compras, João me esperava na frente da minha casa.
-- Teobaldo, há quanto tempo, não é? Como vai a vida?
Respondi bem rápido e agi como se estivesse com muita pressa. Se
não fosse para pagar os cinquenta reais, nem queria conversa.
-- Vou dar uma festa lá em casa. Queria você lá.
Fiquei até um pouco contente com o convite.
-- Já chamei todo o pessoal, mas estou precisando de alguém de
confiança para fazer um favorzão para mim. Queria saber se você
poderia ir comprar algumas coisas.
-- João, meu amigo... não sei se vai dar certo – tentei escapar da
enrascada.
-- Aí já fica valendo como meu presente de aniversário – ele
respondeu, antes que eu terminasse de me explicar.
-- Não vai dar, seu aniversário cai no mesmo dia do aniversário da
minha sogra – foi a única mentira que encontrei para tentar escapar
daquela enrascada.
-- Poxa, cara. Você vai faltar na minha festa? Que mancada, Teo.
Ele tinha me colocado em uma saia justa.
-- Eu não posso acreditar que meu melhor amigo -- de infância! -- vá
me dar um bolo desses. Eu vou fazer trinta anos. Queria você lá.
Eu não tinha me esquecido dos cinquenta reais e ele ainda queria que
eu fizesse as compras para o aniversário dele?!
-- Quer saber? Não vou fazer pressão. Afinal, eu estou te devendo
um dinheiro aí. Não, pode deixar. Pode deixar, que eu te entendo.
Ele se despediu e foi andando. Mas parou no meio do caminho e
voltou.

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