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Mega-Sena: Como administrar – e até aumentar

– um prêmio milionário?
Cerca de 259 mil milionários, ou menos de 2% da população, habitam o Brasil
atualmente, número que deve subir para 319 mil até 2024, segundo o último Relatório
de Riqueza Global do banco Credit Suisse, divulgado no ano passado. Neste sábado (2),
o time de quem tem mais de seis dígitos na conta bancária pode aumentar, com a
distribuição pela Mega-Sena de R$ 47 milhões a quem acertar as seis dezenas do
concurso.

Ganhar uma bolada milionária do dia para a noite, como aconteceu na última semana
com a participante Thelma Regina, da última edição do Big Brother Brasil, exige muita
prudência financeira, já que tudo que vem rápido, pode se esvair na mesma velocidade.
Para fazer com que o dinheiro de um prêmio ou herança trabalhe a seu favor é
necessário planejamento, estratégia e uma dose de risco, variável, a depender do perfil
do investidor milionário.

A melhor gestão possível de um grande volume de recursos inclui passos obrigatórios,


outros a se evitar, e uma estratégia de investimentos bem definida para preservar ou até
aumentar seu patrimônio, defendem especialistas em gestão de grandes fortunas,
ouvidos pelo CNN Brasil Business. Abaixo, listamos algumas das principais
orientações.

O que fazer

Ter a consciência de dinheiro pode render mais dinheiro é o primeiro passo. Mais do
que saber o que você poderá comprar com todo o dinheiro, é importante calcular o
potencial de rendimento mensal do valor a ser investido. A partir disso, é preciso
definir, com clareza, objetivos de curto, médio e longo prazo, para saber quanto gastará,
de forma imediata, e quanto investirá.

Celeridade na estratégia é importante, já que a conquista de um prêmio milionário não


acontece com planos já traçados previamente. “Ninguém faz planos para ganhar a
Mega-Sena. É uma questão de sorte, sem muito controle das variáveis”, afirma
Bernardo Pascowitch, fundador do buscador de investimentos Yubb.
Para proteger sua saúde financeira, é importante diferenciar e priorizar gastos
obrigatórios, como contas e dívidas, em detrimento de desejos, como uma casa na praia
ou um carro zero. Outra recomendação é montar um plano em escala temporal, com
objetivos imediatos e para os próximos anos, além de entender o funcionamento do
mercado de investimentos.

A constituição de fundos exclusivos, a partir de planejamentos tributário e sucessório, é


uma alternativa interessante para quem tem grandes fortunas, sugere Claudia
Ramenzoni Izzo, head de assessoria de investimentos da RB Investimentos,
especializada em clientes com liquidez superior a R$ 10 milhões. "Nesse caso a isenção
de imposto é só no final, no resgate. (...) Faz sentido, portanto, ter um fundo exclusivo",
reforça.

O que não fazer

Deslumbrar-se, a ponto de esquecer o planejamento financeiro, é o deslize clássico.


Gastos desefreados e indiscriminados podem minar, com rapidez, o patrimônio recém-
conquistado. Ao ter um aumento abrupto de riqueza, é comum ter um impulso de
compra, descontrolado. É na euforia em que são tomadas as piores decisões.

Mudar instantaneamente o padrão de vida pode ter um custo alto em um futuro breve,
alertam os especialistas. "Dificilmente, no Brasil, uma forturna chega a terceira ou
quarta geração; o tal do pai rico, filho nobre e neto pobre. (...) Não se deve deixar-se
levar por ideias mirabolantes. Tudo tem que ser muito bem estudado, entendido e
planejado", diz Claudia.

Algumas despesas que não geram receita, e subtraem a liquidez do patrimônio,


ameaçam a sustentabilidade financeira do atual milionário. A compra da sonhada casa
na praia ou no campo, de um carro zero ou barco, a troca para plano de saúde melhor,
ou a matrícula dos filhos, quando eles existirem, em uma escola mais cara, pode não ser
coberta pela renda regular. Este é o caminho certo para o endividamento, alertam os
analistas. Isso sem falar da ajuda a familiares e amigos, que costuam se fazer bastante
presentes em situações como ganhar na loteria.

Um anti-exemplo a ser seguido, lembrado pelos analistas, é o do ex-herdeiro do


Copacabana Palace, Jorge Eduardo Guinle, que morreu pobre por “viver demais”. De
família da elite, o carioca gastou boa parte de sua fortuna, estimada em dezenas de
milhões de dólares, com uma vida ostentação, repleta de festas luxuosas, viagens, e
mulheres, muitas mulheres, incluindo estrelas de Hollywood, como Marilyn Monroe e
Rita Hayworth. Antes de morrer, em 2004, Guinle morava de favor e comia de graça, no
mesmo Copacabana Palace, que um dia pôde chamar de seu.

Como investir?

O planejamento para o investidor milionário começa como qualquer outro: com a


análise do perfil — se mais arrojado, afeito ao risco, ou conservador, menos tolerante à
potenciais perdas e oscilações dos mercados. Dedicar cerca de 90% do prêmio para
investir, com um rendimento anual de 1,5%, são porcentuais médios considerados
conservadores, porém ideais, estima Reinaldo Lacerda, sócio da Hieron Patrimônio
Familiar e Investimento.

A quantia, no entanto, varia bastante, já que depende das necessidades de compra do


milionário, e de sua saúde financeira — se tem renda regular ou dívidas, por exemplo.
Uma solução comum, no entanto, é apostar em uma carteira diversificada, distribuindo
aportes em renda fixa, variável e outros investimentos, como sociedade em empresas ou
negócios, e aluguel de imóveis, por exemplo.

No curto prazo, as opções mais seguras e com maior liquidez estão na renda fixa,
recomendam os analistas. Os rendimentos podem ser menores, assim como o risco de
perda. Entre as alternativas estão títulos com vencimento em até um ano, como LCIs e
LCAs, CDBs (nesse caso, também com liquidez diária), e o Tesouro Direto Selic, pós-
fixado.

"Qualquer investimento fora da renda fixa, para curto prazo, pode trazer um risco ou
uma taxa muito grande. (...) Busque corretoras ou bancos que pratiquem taxas zero
nesses produtos", recomenda Pascowitch.

No médio prazo, fundos de investimentos passam a ser boas opções, como os


multimercados e imobiliário, robôs de investimentos de fintechs, além de opções de
renda fixa com vencimento mais longo, e retornos potenciais também maiores
Já no longo prazo, em um horizonte superior a cinco anos, opções interessantes são
títulos do Tesouro indexados ao IPCA; de novo, a renda fixa, mas opções com
vencimentos mais alongados, debêntures, letras de câmbio, e, por fim, a renda variável,
com a compra de ações. Dentro dessa estratégia, quanto maior o horizonte, também
maior a possibilidade de risco e também de ganho.

"Quanto maior o horizonte de tempo, maior o componente de risco aceitável.


Poderíamos fazer uma carteira de investimentos de longo prazo só com renda fixa, mas
é interessante que haja diversificação, pois o risco é proporicional ao ganho", diz
Pascowitch.

Caso o novo milionário não esteja familiarizado com essas opções de investimento, o
caminho das pedras pode ser facilitado com a contratação de uma consultoria de
investimentos especializada, como family offices, um planejador financeiro ou serviços
de alto padrão de grandes bancos e corretoras.

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