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Filosofia
Faculdade Estácio de Sá de Vitória (FESV)
480 pag.
IOSOFA o
Introdução à Filosofia
Volume Único
4a edição
-111 Moderna
Coordenação editorial: Maria Raquel Apoliná rio, Ed uardo Augusto Gui marães
Edição de texto: Teia Editoria l, Maria Aparecida M. Bessana
Assistência editorial: Vivian Kaori Ehara
Preparação de texto: Carlos Zanchetta
Coordenação de design e projetos visuais: San dra Botelho de Ca rvalho Ho mma
Projeto gráfico: A+comunicação
Capa: Everson de Paula
Imagem da capa: Mulher sentada, de Pablo Picasso, 1932
Coordenação de produção gráfica: André Monteiro.
Ma ria de Lourdes Rodrigues
Coordenação de arte: Maria Lucia F. Couto
Edição de arte: Renata Susana Rechberger
Assistente de produção: Márcia Nascimento. Tais Na ka no. Daniela Máximo
Coordenação de revisão: Elaine Cristina dei Nero
Revisão: lolanda Maria do Nascimento. Todaescrita Se rvi ços Ltda.
Coordenação de pesquisa iconográfica: Ana Lucia Soares
Pesquisa iconográfica : Ma ria Helena Pires Mart ins (unidade 7 e ca pitulo 5).
Ricardo Fabbrini, Cristina Mura
Coordenação de bureau: Américo Jesus
Tratamento de imagens: Pix Art
Pré-impressão: Hélio P de Souza Filho, Marcio Hideyu ki Kamoto.
Everton L. de Oliveira
Coordenação de produção industrial: Wil son Aparecido Troque
Impressão e acabamento: Gráfica Ideal
Bibliografia .
09-09113 CDD-l0l
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Tod os os direitos reservados
EDITORA MODERNA LTDA.
Rua Padre Adelino. 758 - Beleozlnho
São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904
Vendas e Atendimen to: Te l. 10__ 111 2602-55 10
Fax 10__ 111 2790-1501
www.moderna.com .b(
2011
Impresso no Brasil
1 3 5 7 9 10 8 6 4
Atividades
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Propostas ao final de cada capítulo, as atividades ~ .
visam desenvolver a compreensão, a interpretação
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-- reportagens atuais, textos de filósofos e de outros estu-
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tipos de texto que estimulam o contato com reflexôes ela-
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- Para refletir, Glossário
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-- tulos, essas seções trazem dados
biográficos de vários autores,
informam a origem eo significado
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Se~õs do final do livro
:. ~- • Quadro cronológico das correntes filosóficas e dos eventos
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::::::::.. históricos desde o século VI a.c. até os nossos dias.
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="..::..-- _....... -- • Correntes filosóficas do século XX, com os pri ncipa is repre-
sentantes de cada corrente.
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=-~ - -- • Vocabulário dos principais conceitos e termos filosóficos
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utilizados no livro.
Sugestões bibliográficas, em que as obras são indicadas
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por assunto.
Indice de nomes para facilitar a rápida localização dos
autores citados, inc'luindo datas, local de nascimento e
área de atuação.
o Sugestões de filmes, livros e sUes organizados por capítulo,
com uma breve sinopse dos filmes indicados.
Antropologia filosófica 44
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ciências, para quem? 347/ 7. A responsabilidade social do cientista 348
-,'
~,
Leitura complementar
Gérard Fourez: Eficácia e limites do domínio científico 349
Atividades 350
Mulher chorando.
Pablo Picasso,1937-
12
13
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I COMTE-SPONVlLLE, André. Dicionáriofilosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 251-252.
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Tirinha da Mafalda, personagem criada pelo argentino Quina. Mafa/da 3, 1968. Em: LAVADO,Joaquim
Salvador (Quina). Toda Mafa/da: da primeira à última tira. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 79.
Os que acompanham o trabalho de Quino sabem Quantas vezes você já se perguntou sobre o que é
que Manolito tem uma mentalidade 12m mática. Por o amor, a amizade, a fidelidade, a solidão, a morte?
isso, nesta outra tira, promete dar uma resposta no dia Certamente, não só pensou sobre esses assuntos,
seguinte, sem perceber que essa pergunta fundamen- como eventualmente discutiu a respeito com seus
tal não depende de procurar uma informação qual- amigos, observando que às vezes os pontos de vista
quer. Trata-se de um problema filosófico permanen- não coincidem. Essas divergências também ocorrem
temente aberto à discussão e para o qual não existe entre os filósofos .
. resposta unânime. Com isso, não identificamos a filosofia de vida com
a reflexão do filósofo propriamente dita, mas nota-
mos que as indagações filosóficas permeiam a vida
fJ A filosofia de vida de todos nós. Os filósofos especialistas conhecem a
Talvez você tenha percebido que existe outra ideia história da filosofia e levantam problemas que ten-
permeando a explicação dada por Sponville no início tam equacionar não pelo simples bom-senso, mas por
do capítulo: a de que é possível a qualquer pessoa pro- meio de conceitos e argumentos rigorosos.
por questões filosóficas. De fato, na medida em que Por conta dessa afinidade que todos temos com o
somos seres racionais e sensíveis, sempre damos sen- filosofar, parece claro que seria proveitoso sabermos
tido às coisas. A esse "filosofar" espontâneo de todos um pouco sobre como os filósofos se posicionaram a
nós, chamamos de filosofia de vida. A propósito desse respeito de determinados temas. Desse modo, você
assunto, o filósofo italiano Antonio Gramsci diz: poderá enriquecer sua reflexão pessoal por meio de
uma argumentação mais rigorosa, o que não significa
sempre concordar com eles. Muito pelo contrário, a dis-
não se pode pensar em nenhu m homem que não seja cussão filosófica está sempre aberta à controvérsia.
também filósofo, que não pense, precisamente porque
o pensar é próprio do homem como tal. 2
D Para 'que serve a filosofia?
Então as questões filosóficas fazem parte do Retomando o texto de abertura do capítulo: será que a
nosso cotidiano? Fazem sim. Quando alguém decide opinião do camponês destoa do que muita gente pensa a
votar em um candidato por ser de determinado par- respeito do filósofo, quando diz ser ele "uma pessoa que
tido político; quando troca o emprego por outro não não liga para nada"? Essa ideia não estaria ligada a outra:
tão bem remunerado, mas que é mais de seu agrado; a de achar que a filosofia não serve para nada?
quando alterna a jornada de trabalho com a prática Afinal, qual é a "utilidade" da filosofia?
de esporte ou com a decisão de ficar em casa assis- Vivemos num mundo que valoriza as aplicações
tindo à tevê; quando investe na educação dos filhos, imediatas do conhecimento. O senso comum aplaude
e assim por diante. É preciso reconhecer que exis" a pesquisa científica que visa à cura do câncer ou da
tem critérios bem diferentes fundamentando tais aids; a matemática no ensino médio seria importante
decisões, pois há valores que entram em jogo nes-
sas escolhas, e a indagação sobre os valores é uma Pragmático. No contexto, aquilo que diz respeito
tarefa filosófica. à aplicação prática, à utilidade.
GRAMSCl, Antonio. Obras escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978. p. 45.
3 CHÂTELET, François. História dafilosofia: ideias, doutrinas. v. VJII. Rio de Janeiro: Zahar, s. d. p. 309.
4 BEAUVOIR, Simone de. Moral da ambiguidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. p. 20.
GUSDORF, Georges. Impasses e progressos da liberdade. São Paulo: Convívío, 1979. p. 107-108.
6 KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 407.
PARA REFlETIR
E ETIMOLOGIA
Você já ouviu falar em ética aplicada? É um ramo da
Reflexão. Reflectere, em latim, significa "fazer retroce filosofia contemporânea que trata de questões práti
der", "voltar atrás". Portanto, refletir é retomar o pró cas que, por sua vez,exigem justificação racional. São
prio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si ramos da ética aplicada: a bioética, a ética ambien
mesmo e questionar o já conhecido. tai e a ética dos negócios, que refletem, por exemplo,
Radical. Em latim, rad;x, rad;c;s significa "raiz", mas sobre a manipulação do genoma humano, o desastre
também "fundamento", "base". ecológico e a responsabiliqade social das empresas,
respectiva mente.
a) Radical
A filosofia é radical, não no sentido corriqueiro
de ser inflexível- nesse caso seria a antifilosofia! -,
mas porque busca explicitar os conceitos fundamen-
tais usados em todos os campos do pensar e do agir.
Por exemplo, a filosofia das ciências examina os pres-
supostos do saber científico: é ela que reflete sobre o
que a comunidade científica define como ciência,
como a ciência se distingue da filosofia e de outros
tipos de saber, quais são as características dos diver-
sos métodos científicos, qual a dimensão de verdade
das teorias científicas e assim por diante. O mesmo se
dá com a psicologia, ao abordar o conceito de liber-
dade: indagar se o ser humano é livre ou determinado
já é fazer filosofia.
b)Rigorosa
Os filósofos desenvolvem um pensamento rigo-
roso, justificado por argumentos, coerente em suas
diversas partes. O uso de linguagem rigorosa evita
as ambiguidades das expressões cotidianas, o que
permite a interlocução com outros filósofos a partir
de conceitos claramente definidos. Por isso criam
expressões novas ou alteram o sentido de palavras
usuais. Por exemplo, enquanto o termo ideia no Fotocomposição mostrando mãos que
envolvem o planeta Terra, 2000.
grego arcaico (eidos: "forma") significava a intuição
sensível de uma coisa (aquilo que se vê ou é visto),
Platão criou o conceito de ideia para referir-se à A partir dessa figura, faça uma reflexão sobre
concepção racional do conhecimento, a forma ima- a ética ambiental: quais são as responsabilidades
terial de uma coisa. Por exemplo, as pessoas e as humanas (para o bem e para o mal) pelo destino
coisas belas são percebidas pelos meus sentidos, do planeta? Proponha um titulo para a imagem
mas a beleza é uma ideia pela qual compreendo a e escreva um breve texto sobre o assunto.
essência - ou seja, aquilo que faz com que uma
mUm filósofo
praça pública sem nada cobrar. Nào
deixou livros, por isso conhecemos Busto de
suas ideias por meio de seus discí Sócrates,
Lembremos a figura de Sócrates. Dizem que era um pulos, sobretudo Platão e Xenofonte. original
homem feio, mas que, quando falava, exercia estra- Acusado de corromper a mocidade e grego do
negar os deuses oficia is da cidade, foi século IV a.c.
nho fascínio. Procurado pelos jovens, passava horas
condenado à morte. Esses aconteci
discutindo na praça pública. Interpelava os transeun- mentos fina is são relatados no d iá logo de Platão, Defesa
tes, dizendo-se ignorante, e fazia perguntas aos que de Sócrates. Em outra obra, Fédon, Sócrates discute com
julgavam entender determinado assunto: "O que é a os discípulos sobre a imortalidade da alma, enquanto
coragem e a covardia?", "O que é a beleza?", "O que é aguarda o momento de beber a cicuta. Na maioria dos
diálogos platônicos, Sócrates é o protagonista.
a justiça?", "O que é a virtude?". Desse modo, Sócrates
não fazia preleções, mas dialogava. Ao final, o inter-
locutor concluía não haver saída senão reconhecer a
própria ignorância. A discussão tomava então outro • uS ó sei que nada sei"
rumo, na tentativa de explicitar melhor o conceito. Em certa passagem de a Defesa de Sócrates, na
Vejamos então esses dois momentos, que Sócrates qual se refere às calúnias de que foi vítima, o pró-
denominou ~ e maiêutica. prio filósofo lembra quando esteve em Delfos,
local em que as pessoas consultavam o orá-
culo no templo de Apolo para saber sobre assun-
E ETIMOLOGIA tos religiosos, políticos ou ainda sobre o futuro.
Ironia. Do grego eironeía, "ação de perguntar, fingindo
ignorar".
Oráculo. Resposta da divindade às perguntas feitas
Maiêutica. Do grego maieutiké, "arte de fazer um
pelos devotos.
parto".
Ao ler essa passagem, podemos entender como a
máxima socrática "só sei que nada sei" surgiu como
li Para não concluir...
ponto de partida para o filosofar. Podemos então fazer Começamos este capítulo com o diálogo em que
algumas observações: um camponês pensa que "um filósofo é uma pessoa
• Sócrates não está voltado para si mesmo como um que não liga para nada". E terminamos com Sócrates,
pensador alheio ao mundo, e sim na praça pública. que, interrogando as pessoas que transitavam pela
praça pública, as fazia pensar, o que despertou a ira
• Seu conhecimento não deriva de um saber aca-
dos poderosos.
bado, porque é vivo e em processo de se fazer,
Entretanto, teria o filósofo resposta para tudo? É
tendo por conteúdo a experiência cotidiana.
lógico que não. Vimos que Sócrates faz muitas per-
• Guia-se pelo princípio de que nada sabe e, dessa guntas, questiona, busca interlocutores a fim de com-
perplexidade primeira, inicia a interrogação e o partilhar e discutir suas indagações. Mas nem sempre
questionamento de tudo que parece óbvio. esses diálogos chegavam a uma resposta definitiva.
• Ao criticar o saber dogmático, não quer com isso Por isso costumamos dizer que a filosofia é a procura,
dizer que ele próprio seja detentor de um saber. mas não a posse, da verdade.
Desperta as consciências adormecidas, mas não
se considera um "farol" que ilumina: o caminho
Pítia. Também chamada Pitonisa. Sacerdoti sa que,
novo deve ser construído pela discussão, que é em transe, proferia a resposta do deus Apolo às
inters .etiva e pela busca das soluções. perguntas form u I adas .
• Sócrates é "subversivó' porque "desnorteiá', per- Dogmático. No contexto, saber baseado em crença não
turba a "ordem" do conhecer e do fazer, e por isso justificada, sem questionamentos.
incomoda tanto os poderosos. Intersubjetivo. Entre sujeitos, entre diferentes pessoas.
PLATÃO. Defesa de Sócrates. v. lI. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 15. (Coleção Os Pensadores).
"[...] Pelo que sinto e pelo que ouço ao redor de mim, quem se sente ameaçado pela similaridade do outro. No
eles [os indivíduos da turba] estão errados. O espetáculo caso, os membros da turba gritam sua indignação porque
que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com precisam muito proclamar que aquilo não é com eles.
o que é produzido pela morte de Isabella. Resta que eles Querem linchar porque é o melhor jeito de esquecer que
supõem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu ontem sacudiram seu bebê para que parasse de chorar,
ódio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos até que ele ficou branco. Ou que, na outra noite, voltaram
um grande sujeito coletivo que eles representariam: 'nós', bêbados para casa e não se lembram em quem bateram
que não matamos Isabella; 'nós', que somos diferentes e quanto.
dos assassinos; 'nós', que, portanto, vamos linchar os 'cul- Nos primeiros cinco dias depois do assassinato de
pados'. Em parte, a irritação que sinto ao contemplar a Isabella, um adolescente morreu pela quebra de um tobo-
turma do 'pega e lincha' tem a ver com isto: eles se agitam água, uma criança de 4 anos foi esmagada por um poste
para me levar na dança com eles, e eu não quero ir. derrubado por um ônibus, uma menina pulou do quarto
As turbas servem sempre para a mesma coisa . 05 ame- andar apavorada pelo pai bêbado, um menino de 9 anos
ricanos de pequena classe média que, no Sul dos Estados foi queimado com um ferro de marcar boi . Sem contar as
Unidos, no século XIX e no começo do século XX, saíam crianças que morreram de dengue. [...]
para linchar negros procuravam só uma certeza : a de Aturba do 'pega e lincha' representa, sim, alguma coisa
eles mesmos não serem negros, ou seja , a certeza de sua que está em todos nós, mas que não é um anseio de jus-
diferença social. tiça. Aprópria necessidade enlouquecida de se diferenciar
O mesmo vale para os alemães que saíram para dos assassinos presumidos aponta essa turma como repre-
saquear 05 comércios dos judeus na Noite de Cristal', ou sentante legítima da brutalidade com a qual , apesar de
para os russos ou poloneses que faziam isso pela Europa estatutos e leis, as crianças podem ser econtinuam sendo
Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo vítimas dos adultos."
afirmar sua diferença. Regra sem exceções conhecidas: a CALLlGARIS, Contardo. A turba do "pega e lincha ". Em: Folha de
vontade exasperada de afirmar sua diferença é própria de S.Paulo, Ilustrada, 24 abro 2008.
>Questões
D Considerando o que foi visto no tópico "Informação, conhecimento e sabedoria",
atenda às ques~õ.
a) Qual é a informação focada por Calligaris nesse artigo?
b) Baseado no conhecimento psicanalitico e na experiência analitica em seu
consultório, como o autor interpreta a informação?
c) O autor nos fornece pistas para a reflexão sobre a vida (a sabedoria) e, por-
tanto, para o filosofar. Por exemplo, leva-nos a indagar "o que é a justiça?".
Na mesma linha, identifique outros questionamentos por ele sugeridos.
Reúna-se com seu grupo para discutir um dos temas filosóficos sugeridos no
item c) da questão anterior. Façam um resumo com os principais tópicos da dis-
cussão para apresentar à classe.
Benedit o Cujo, d e
Fernand o Go nsales e
Angeli. Em: Folha de
5. Paulo, 16 out. 1985.
L. ~ _'-";, _ _'''''.LL....IoIO.=_''''_ _ _':;_~= ~_= ___ ':~.J Cad ern o Fovest.
Capitulo 1 AtIvIdacItI
I
Aquedtl dt koro.
Peter Paul Rubens,
(16~ 638).
25
++
PARA SABER MAIS
Ai nda hoje o termo tabu é usado no sentido sagrado,
mas também no não religioso: a proibição de pro-
nunciar algumas palavras, como as referentes a cer-
tas partes do corpo, ou evitar dizer"câncer" ou "aids",
substituindo os nomes por"aquela doença". Q"tabu"
da virgindade feminina foi imposição severa até a
década de 1960, quando ocorreu a chamada revolu-
ção sexual. E ainda se costuma dizer nos jogos que
um time"quebrou um tabu" ao vencer outro do qual
há muito perdia.
SILVEIRA, Nise da. As imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981. p. 65.
mO mito nas civilizações antigas chamados aedos e rapsodos, que os recitavam de cor
em praça pública. Nem sempre é possível identificar
Até aqui, tudo o que dissemos sobre os mitos nos a autoria desses poemas, por serem produção cole-
remete aos povos tribais, cujas relações permane- tiva e anônima.
cem igualitárias. Nas sociedades mais complexas,
com novas técnicas e ofícios especializados, desen- ++
volvimento da agricultura, pastoreio e comércio de PARA SABER MAIS
excedentes, começaram a se estabelecer hierarquias Você sabe como identificar datas tão remotas?
Vamos dar um exemplo: o ano de 3500 a.c. per-
entre segmentos sociais, inclusive introduzindo a
tence a que milênio? Para saber, dividimos 3-500
escravidão. por 1.000. O resultado é 3 (despreza-se a fração).
Assim floresceram as primeiras grandes civili- Acrescentamos 1 e temos 4, ou seja, o ano de 3500
zações, como na Mesopotâmia, no Egito, na Índia, pertence ao 4° milênio. Para saber a que século cor-
na China e em Israel. As duas primeiras são as responde este ano, dividimos 3-5°0 por 100 e acres-
mais antigas e teriam surgido por volta do final centamos 1. Temos 36, portanto, século XXXVI a.c.
LÉVI-STRAUSS, Claude. o cru e o cozido. São Paulo: Cosac & Nai.fy, 2004. p. 31.
HOMERO.llíada (em forma de prosa). 9. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. p. 72.
b) Hesíodo
No entanto, ao criticar o mito e exaltar a ciência,
Hesíodo, outro poeta que teria vivido por volta do
contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do
final do século VIII e princípios do VII a.c., produziu
cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como
uma obra com particularidades que tendem a supe-
única forma de saber possível. Desse modo, o positi-
rar a poesia impessoal e coletiva das epopeias. Essas
vismo mostra-se reducionista, já que, bem sabemos,
características novas são indicativas do período
a ciência não é a única interpretação válida do real.
arcaico, que então se iniciava.
Mesmo assim, suas obras ainda refletem o inte- De fato, existem outros modos de compreensão,
resse pela crença nos mitos. Em Teogonia, Hesíodo como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e
relata as origens do mundo e dos deuses, em que nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz
as forças emergentes da natureza vão se transfor- da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não
mando nas próprias divindades. Por isso a teogo- só nos contos populares, no folclore, como também
nia é também uma cosmogonia, na medida em que na vida diária, quando proferimos certas palavras
narra como todas as coisas surgiram do ~ para ricas de ressonâncias míticas - casa, lar, amor, pai,
compor a ordem do Cosmo. mãe, paz, liberdade, morte - cuja definição obje-
tiva não esgota os significados que ultrapassam os
liiY ETIMOLOGIA
limites da própria subjetividade. Essas palavras nos
remetem a valores arguetíDicos, modelos universais
Teogonia. Do grego théas, "deus", e ganas, "origem", que existem na natureza inconsciente e primitiva
Cosmogonia. Do grego kósmas, "mundo", "ordem", de todos nós.
"beleza".
Caos. Para os gregos, o vazio inicial.
E ETIMOLOGIA
Por exemplo, do Caos surgiu Gaia, ou Geia (a Arquétipo. Arché, em grego, significa "princípio",
"origem".
Terra, elemento primordial), que, sozinha, deu ori-
gem a Urano (o Céu). Em seguida, uniu-se a Urano,
gerando os deuses e as divindades femininas. Um de
seus filhos é Cronos (Tempo), que toma o poder do • A permanência do mito
pai e é destronado pelo filho Zeus. O mito ainda é uma expressão fundamental do
Os deuses gregos permaneceram por muito viver humano, o ponto de partida para a compreen-
tempo na cultura ocidental da Antiguidade e foram são do ser. Em outras palavras, tudo o que pensamos
assimilados pelos romanos, com outros nomes. Por e queremos se situa inicialmente no horizonte da
exemplo, Cronos é Saturno, Zeus é Júpiter, Atena é imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido
Minerva, Afrodite é Vênus e assim por diante. existencial serve de base para todo trabalho poste-
rior da razão.
PARA REFlETIR
Os arianos são um subgrupo indo-europeu que
veio das estepes da Ásia e se expandiu pela Europa.
Segundo a concepção racista do nazismo, deles
descendiam os alemães, que constituíam uma
"raça pura". Você já notou como as doutrinas racis-
tas consideram inferiores pessoas ou grupos que
são a penas diferentes?
?
desses divertimentos populares."
Indelével. Que nào desaparece. ADORNO, Theodor W. "Educaçào após Auschwitz". Em: Educação
e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 127-128.
) Questões
11 Identifique o que os dois textos (de Clastres e de 11 O que Clastres quer dizer quando afirma que "um
Adorno) têm de semelhante. homem iniciado é um homem marcado" e "o
S Entre os ritos contemporâneos, o trote violento de corpo é urna memória"?
calouros poderia ser uma expressão degenerada 11 Hoje em dia há jovens que se tatuam. O que pode
do rito de iniciação primitivo? Explique qual é a significar essa necessidade de uma "marca" inde-
posição de Adorno. Posicionese a respeito. lével no próprio corpo?
>Debate
11 Em grupo, pesquisem sobre os mitos subjacentes
nas produções culturais (telenovelas, propagan-
das, filmes, histórias em quadrinhos, programas
humorísticos etc.). Elaborem um relatório para
ser apresentado à classe. Em seguida haverá um
debate sobre os temas expostos.
. Parmênides Protágoras
Leucipo Anaxágoras
Aristóteles
Epicuro Zenão
Abdera Pltdgoras
Pino
•
Estagira •
JÓ"'IA / " " Heráclito
r
MAGNA
GRÉCIA Clazomena /
Élida. • •• • Éfeso
Atenas Sarnas . Mlleto g
I
• Agrigento
Consulte o mapa dos principais filósofos gregos e identifique
aqueles que correspondem ao período présocrático. Observe
em que região Oônia ou Magna Grécia) e em que cidade eles se
estabeleceram. Em seguida veja como os filósofos do período
clássico (Sócrates, Platão) se fixam em Atenas. Embora Aristóteles
tenha nascido em Estagira, cidade da Macedônia, foi em Atenas que
fundou sua escola. Localize também os filósofos do helenismo,
que se deslocam da Grécia continentat e se espalham pelas ilhas.
D Situando no tempo
Neste capítulo veremos o processo pelo qual se deu a passagem da
consciência mítica para a consciência filosófica na civilização grega.
Vejamos de início um quadro que abrange desde os períodos míticos
até o século II a.C.
f) Uma nova ordem humana aos privilegiados, aos sacerdotes e aos reis, e geral-
mente mantém o caráter mágico: entre os antigos
Costumase dizer que os primeiros filósofos foram egípcios, por exemplo, a palavra hieróglifo significa
gregos e surgiram no período arcaico, nas colônias literalmente "sinal divino".
gregas. Embora reconheçamos a importância de Na Grécia, já existira uma escrita no período
sábios que viveram na mesma época em outros luga- micênico, mas restrita aos escribas que exerciam
res, suas doutrinas ainda estavam mais vinculadas à funções administrativas de interesse da aristocra-
religião do que propriamente à reflexão filosófica. cia palaciana. Com a violenta invasão dórica, no
século XII a.C., a escrita desapareceu junto com
, ++ a civilização micênica, para ressurgir apenas no
PARA SABER MAIS
final do século IX ou VIII a.C., por influência dos
Os sábios que viveram no Oriente no século VI a.c.,
fenícios.
a mesma época em que a filosofia surgiu na Grécia,
foram: Confúcio e Lao Tsé na China; Gautama Buda
Em seu ressurgimento, a escrita assumiu função
na índia; Zaratustra na Pérsia. diferente. Suficientemente desligada da influência
religiosa, passou a ser utilizada para formas mais
democráticas de exercício do poder.
Alguns autores chamaram de "milagre grego" Enquanto os rituais religiosos eram cheios de
a passagem da mentalidade mítica para o pensa- fórmulas mágicas, termos fixos e inquestionados,
mento crítico racional e filosófico, destacando o os escritos passaram a ser divulgados em praça
caráter repentino e único desse processo. Outros pública, sujeitos à discussão e à crítica. Isso não
estudiosos, no entanto, criticam essa visão simplista significa que a escrita se tornasse acessível a todos,
e afirmam que a filosofia na Grécia não é fruto de muito pelo contrário, já que a maioria da popula-
um salto, do "milagre" realizado por um povo privi- ção era constituída de analfabetos. O que está em
legiado, mas é a culminação do processo gestado ao destaque é a dessacralização da escrita, ou seja, seu
longo dos tempos. desligamento do sagrado.
Por enquanto, fiquemos com alguns fatos do A escrita gera nova idade mental porque a pos-
período arcaico que ajudaram a alterar a visão tura de quem escreve é diferente daquela de quem
mítica predominante e contribuíram para o surgi- apenas fala. Como a escrita fixa a palavra para além
mento do filósofo: de quem a proferiu, exige maior rigor e clareza, o
• a invenção da escrita e da moeda; que estimula o espírito crítico. Além disso, a reto-
• a lei escrita; mada posterior do que foi escrito - não só por con-
temporâneos, mas por outras gerações - abre os
• a fundação da pólis (cidade-Estado).
horizontes do pensamento e proporciona o distan-
ciamento do vivido e o confronto das ideias .
.. A invenção da escrita Portanto, a escrita surge como possibilidade
A consciência mítica predomina em cultu- maior de abstração, de uma reflexão aprimorada
ras de tradição oral, quando ainda não há escrita. que tenderá a modificar a própria estrutura do
Mesmo após seu surgimento, a escrita reserva-se pensamento.
VERNANT, ]ean-Pierre. As origens do pensamento grego. 2. ed. São Paulo: DifeI, 1977. p. 42.
S Os primeiros filósofos
A grande aventura intelectual dos gregos não
começou propriamente na Grécia continental, mas
nas colônias da Jônia e da Magna Grécia, onde flo-
rescia o comércio. Os primeiros filósofos viveram por
volta dos séculos VII e VI a.C. e, mais tarde, foram clas-
sificados como pré-socráticos, quando a divisão da
o século de Péric/es. Phillipp von Foltz, 1853-
filosofia grega centralizou-se na figura de Sócrates.
Na ágora ateniense, logo abai.xo da acrópole,
o povo se reúne para a assemblei.a em que os Assembleia. Em grego se diz agorá, local de reunião para
oradores di.scutem os desti.nos da ci.dade. decidir assuntos comuns. Designa também a praça
principal das póleis, local onde se instalava o mercado.
Unidade 1 Descobrindo a filosofia
conclui que "todas as coisas estão cheias de deus~.
mente, do úmido, seriam o que menos permitiria ou Como não restou nada do que escreveu se é que
mesmo aconselharia tão monstruosa generalização; o escreveu . nem todos os relatos a seu respeito são
que o impeliu a esta foi um postulado metafísico, uma confiáveis.
crença que tem sua origem em uma intuição mística
e que encontramos em todos os filósofos, ao lado dos
esforços sempre renovados para exprimiIa melhor a Metafísica. Termo que adquiriu contornos diferen
proposição : 'Tudo é um'. tes no transcurso da história da filosofia. Na tradi
ção aristotélica é estudo do "ser enquanto ser" (do
[...] Quando Tales diz: 'Tudo é água', o homem [... ]
ser absoluto e dos primeiros princípios). A metafísica
pressente a solução última das coisas e vence, com esse procura analisar conceitos básicos como Deus. alma.
pressentimento, o acanhamento dosgraus inferiores do mundo. Atualmente. tratase do campo da filosofia
con heci mento." que investiga questões que estão por trás ou além
daquelas que são objeto das ciências. como identi
NI rnSCH E, Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos, § 3.
Em : Os pre-soaáticos. São Paulo: Abril Cultural , 1973. p. 16.
dade. verdade. existência. conhecimento. significado.
(Coleção Os Pensadores). causalidade. necessidade. liberdade.
~ Questões
11 Identifique no trecho selecionado as três razões destacadas por Nietzsche se
gundo as quais podemos levar a sério a reflexão de Iales de Mileto sobre a água
como principio de tudo.
IJ Em que sentido a reflexão de Iales é filosófica e. portanto, se distingue do mito
e da ciência?
Pedras esculpidas
da civilização
pré-incaica Tiahuanaco
(Bolívia),2006.
44
45
o Para começar
Contase que por volta de 1920 foram encontradas na Índia duas meninas
que teriam crescido entre lobos. Essas crianças não possuíam quaisquer das
características humanas: não choravam, não riam e, sobretudo, não faiavam.
Seu processo de humanização só teve início quando passaram a participar do
convivio humano.
Um fato notável, porém, ocorreu nos Estados Unidos com Helen Keller
(18801968), nascida cega e surda e que portanto não aprendera a falar. Desse
modo, permaneceu praticamente exduída do processo de humanização até
a idade de 7 anos, quando seus pais contrataram a professora Anne Sullivan.
Essa mulher admirável conduziu Helen ao mundo humano das significa-
ções, de início pelo sentido do tato. Começou por dedilhar sinais nas mãos
da menina, relacionando-os com os objetos, sem saber de início se a criança
46
I Citado em: SAGAI'IJ, Car!. Os dragões do Éden:especulações sobre a evolução da inteligência humana.
Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1980. p. 90.
++
PARA SABER MAIS
O que é cultura
A palavra cultura tem vários significados, como
cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada,
"culta". Em antropologia, cultura significa tudo o
que o ser humano produz ao construir sua existên -
cia : as práticas, as teorias, as instituições, os valores
materiais e espirituais. Se o contato com o mundo
é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto Colcando. Renê Magritte, '953.
de símbolos elaborados por um povo.
Observe com um colega a tela de Magritte,
Dada a infinita possibilidade humana de sim- pintor belga representante do surrealismo.
bolizar, as culturas são múltiplas. Variam as for- Discutam o que lhes sugere essa "chuva" de
mas de pensar, de agir, de valorar; são diferentes as homenzinhos de chapéu-coco iguais caindo
expressões artísticas e os modos de interpretação sobre a cidade. O titulo da obra, Golconda,
do mundo, tais como o mito, o senso comum, a fIlo- refere-se a uma cidade indiana em ruinas
sofia ou a ciência. Vale lembrar que a ação cultural conhecida por seus tesouros, o que nos faz
é coletiva, por ser exercida como tarefa social, pela pensar que o titulo contrasta com o possivel
qual a palavra toma sentido pelo diálogo. tema da tela (quem sabe não se trata de uma
ironia do pintor?) .
.. Tradi9ão e ruptura Identifique um trecho do capitulo estudado
O mundo cultural é um sistema de significados até aqui que confirme a interpretação
já estabelecidos por outros, de modo que, ao nas- proposta por vocês.
cer, a criança encontra-se diante de valores já dados.
la
PA~M PA 'ERA PA INF~MAÇÃO' §i
;j ..
./ PA'U. A ''''U. PO ~i'
'XC"~E P"
INFOR:MAÇÃO'
H&
ir Tira de Frank
Ernest, de
~ 8
,, 3
80b Thaves,
p publicada em
'f-I} O Estado de S.
! ! ~e.!:rJID Paulo, em 2008.
o que a tira nos diz sobre a informação na era em que estamos vivendo?
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v. I. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 498.
(Série A Era da Informação: economia, sociedade e cultura).
Natureza e cultura
QUEM~1
~
Que düerenças e 11.
~
semelhanças você ~
nota no uso da iI!
linguagem?
4. Que outros
significados você
atribui a essa obra?
Fototropismo. Christiana Moraes, 1998.
A linguagem do desenho
o desenho é uma das linguagens da arte, a mais antiga, a mais praticada, pois
todos nós já fizemos um desenho na vida. Não importa se desenhamos sobre a
superfície poeirenta de um carro sujo, sobre o vapor condensado no espelho do
banheiro, na areia da praia ou no chão de terra. Precisamos de muito pouco para
poder desenhar: uma superfície (que não precisa ser plana) e um instrumento que
trace linhas ou pontos sobre essa superfície. Essa possibilidade foi descoberta na
Préhistória por nossos antepassados, que fizeram inúmeros desenhos de animais,
de caçadas e de seres humanos, exercendo suas atividades rituais e de sobrevi-
vência, em fundos de abrigos ou sobre pedras ao relento. Como hoje se fazem os
grafitti nos muros da cidade.
2 Na fala popular brasileira contemporânea, porém, vem sendo utilizada uma expressão criada por
Harry Truman, ex-presidente norte-americano: "Inclua-me fora disso", que é um franco desrespeito
a essa regra semântica.
PARA REFLETIR
Reflita sobre o funcionamento dos computadores
hoje. Em que medida as linguagens criadas espe
cialmente para executar múltiplas funções nos aju
dam e nos atrapalham? E os programas específicos
que tornam essas linguagens aptas a trabalhar com
imagens e sons. Eles dão conta detudo o que quere Estudo para uma sibila. Michela ngelo (15081512).
mos fazer em um computador? É possível "enganar"
uma linguagem ou um programa para que ele faça Observe a tridimensionalidade dessa
o que queremos? roupa, desenhada por Michelangelo, obtida
por meio do uso da perspectiva e do
sombreamento claro-esouro.
As linguagens artísticas constituem um meio-
-termo. Por um lado, respeitam a especificidade de
cada campo artístico; por outro, tendem a explo-
rar esse campo e as possibilidades de cada lingua-
gem até seu limite máximo. E é exatamente a essas
explorações que devemos o desenvolvimento e a QUEMP.
criação de novos estilos e técnicas. Em relação à lin- Michelangelo Buonar-
guagem do desenho, por exemplo: é possível dese- roti (147S1564).Arquiteto,
nhar com cortes sobre uma tela, que seria o plano, escultor e pintor do
Renascimento italiano,
como faz o argentino Lúcio Fontana; com fios sobre aluno de Ghirlandaio em
uma supertIcie; até mesmo com raios laser sobre as seu estúdio em Florença.
paredes de edifícios. Lorenzo de Medici e o
É importante lembrar, neste ponto, que as lin- papa Júlio II foram seus
guagens só se desenvolvem em função de projetos. grandes patronos. Foi um
Michelangelo
grande gênio que domi
As linguagens artísticas, por serem mais flexíveis, Buonarroti. Giuliano
nou o panorama artístico Bugiardini,15 22.
podem se estruturar e reestruturar com base em do século XVI. Suas princi
projetos específicos. No caso das artes visuais, as pais obras foram : na pintura, oteto da Capela Sistina,
regras da perspectiva só foram descobertas e usa- noVaticano (Roma); na escultura, Davi (Academia,em
das na pintura porque o projeto do Renascimento Florença), a Pietá (Basílica de São Pedro, em Roma)
era o de retratar o mundo como ele é visto e, para e Moisés e os escravos para o túmulo do papa Júlio
11; na arquitetura, a cúpula da Basílica de São Pedro,
isso, era importante inventar uma técnica a fim de a fachada da Igreja de São Lourenço, a Biblioteca
representar a tridimensionalidade (altura, largura Laurenciana e a Capela Medicea, em Florença, e o
e profundidade) sobre uma superfície bidimensio- Palácio Farnesiano.
nal (altura e largura).
SCHAFF. Adam. Introdução à semântica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1968. p. 281-282.
4 SCHAFF. Adam. Linguagem e conhecimento. Coimbra: Almeida. 1974. p. 252.
QUEM~?
Rosãngela Rennó (1962). Nasceu em Belo Horizonte (MG), Appel Foundation, na Holanda; em
onde cursou a Escola de Arquitetura da Universidade 1996, apresentou a exposiçãoA cica-
Federal de Minas Gerais (UFMG) e Artes Plásticas na triz, no Museum of Contemporary
Escola Guignard,formando-se em 1987-Fezdoutoradoem Art, de Los Angeles, Califórnia (EUA).
Artes na Escola de Comunicações e Artes da Universidade Em 2003, foi uma das artistas da
de São Paulo (ECA-USP). Desdeo inicioda carreira se devo- representação brasileira na Bienal
tou à fotografia, operando intervenções sobre negativos de Veneza.
já existentes, montando objetos, usando fotos já pron- Em 1995, foi contemplada com
tas.Começou a expor individualmente em 1989,em Belo uma bolsa da Civitella Ranieri
Horizonte, com a mostra Anticinema Veleidades foto- Fou ndation, sendo a rtista residente
gráficas. Em '991-92 apresentou A identidade em jogo, em Umbertide (Itália). Ganhou
no Centro Cultural São Paulo; em 1994, Humorais e rea- vários prêmios ao longo de sua carreira e tem obras em
lismofantástico, no Rio de Janeiro; em 1995, expôs na De museus e coleções brasileiras e estrangeiras.
Papo-furado
----------------------------------------
"- Iminência...
- Você quer dizer 'eminência'.
o quê?
- Você disse 'iminência'. O certo é 'eminência'.
- Perdão. Sou um servo, um réptil, um nada. Uma
sujeira no seu sapato de cetim . Mas sei o que digo. Eeu
quis dizer 'iminência'.
- Mas está errado! Otratamento correto é'eminência'.
- Não duvido da sua eminência, monsenhor, mas o
senhor também é iminente. Ou uma eminência iminente.
- Em que sentido?
- No sentido filosófico.
- Você tem dois minutos para explicar, antes que
eu o excomungue.
- Somos todos iminentes, monsenhor. Vivemos num
eterno devir, sempre às vésperas de alguma coisa, nem
que seja só o próximo segundo. Na iminência do quevirá,
seja o almoço ou a morte. À beira do nosso futuro como Éum emigrante quando sai de um país e um imi
um precipício. A iminência é o nosso estado natural. Pois grante quando chega em outro, mas é a mesma pessoa .
o que somos nós, todos nós, se não expectativas? Pois então? Muitas vezes a distância entre um 'e'
- Você, então, se acha igual a mim) e um 'i' pode ser um oceano. E garanto que você terá
- Nesse sentido, sim. Somos coiminentes. muitos problemas na vida se não souber diferenciar um
- Com uma diferença. Eu estou na iminência de ônus de um ânus.
mandar açoitá-lo por insolência, e você está na iminên Isso são conjunturas.
cia de apanhar. Você quer dizer 'conjeturas'.
O senhor tem esse direito hierárquico. Faz parte Não, conjunturas.
da sua eminência. Não é 'conjeturas' no sentido de especulações,
Admita que você queria dizer 'eminência' e disse suposições, hipóteses?
'iminência". E recorreu à filosofia para esconder o erro. Não. 'Conjunturas' no sentido de situações,
Só a iminência do açoite me leva a admitir que momentos históricos.
errei. Se bem que.. . Você queria dizer 'conjeturas' mas se enganou .
Se bem quê? Admita .
Perdão. Sou um verme, uma meleca, menos que Eu disse exatamente o que queria dizer, monse
nada. Um cisco no seu santo olho, monsenhor. Mas é tão nhor.
pequena a diferença entre um 'e' e um 'i' que o protesto Você errou.
de vossa iminência soa como prepotência. Eminência, Não errei, iminência.
iminência, que diferença faz uma letra) Eminência! Eminência ."
Ah, é? Ah, é? Uma letra pode mudar tudo. Um emi VERI SS IMO, Luis Fernando. O Estado de S. Paulo, 19 jul. 2008.
grante não é um imigrante. Caderno D. p. 16.
~ Questões
11 Localize as falas que fazem uso da função meta IJ A linguagem usada no texto está no registro culto
linguistica e justifique suas escolhas. ou popular? Por quê?
IJ Existe alguma expressão com função fática no 11 Procure no texto os termos e as frases que indicam
texto? Explique por quê. a hierarquia entre os dois falantes.
11 Qual a relação entre as regras de uso de uma lin "Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
gua e a cultura na qual ela é usada?
11 Identüique a função das seguintes mensagens e Diante dela a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
justifique sua resposta:
[...]
a) "Colombol! Feche a porta de seus mares ... "
(Castro Alves) Penetra surdamente no reino das palavras.
b) "Telefone para 0800XXXX, adquira o seu pro Lá estão os poemas que esperam ser escritos .
duto Y e ganhe um frasco de perfume, um CD de Estão paralisados, mas não há desespero,
música eletrõnica e um boné. Mas, compre já!" há calma e frescura na superfície intata.
c) Você é um idiota completo! Pensa que pode Eilos sós e mudos, em estado de dicionário.
fazer o que lhe dá na telha, sem pensar nas
[...]"
consequências?
d) Não entendi. O que isso quer dizer? Carlos Drummond de Andrade.
A rosa do povo.
e) Presta atenção! Estou falando com você!
f) Vou lhe contar um segredo. Ontem, depois da No contexto do livro, a afirmação do caráter ver
festa da Chris, eu fiquei com um cara de fora bal da poesia e a incitação a que se penetre "no
da cidade. reino das palavras", presentes no excerto, indi
cam que para o poeta de A rosa do povo,
S Faça o mesmo com este poema de Décio Ptgnatari,
a) Praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz
capa da obra Poesia, pois é, poesia. São Paulo: Ateliê
de se opor ao mundo capitalista.
Editorial, 2004.
b) A procura da boa poesia começa pela estrita
e s observãncia da variedade padrão da lin
guagem.
0 0 O é c) Fazer poesia é pro.duzir enigmas verbais que
o
S
não podem nem devem ser interpretados.
O E S I A
d) As intenções sociais da poesia não a dis
pensam de ter em conta o que é próprio da
>Pesquisa linguagem.
e) Os poemas metahnguisticos, nos quais a poe
11 Faça uma pesquisa sobre a linguagem da música sia fala apenas de si mesma, são superiores
dodecafônica: aos poemas que falam também de outros
a) quando ela surgiu; assuntos.
>
nova identidade e tornar-se mais livre em suas
escolhas. Dicotomia. Divisão em duas partes .
DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 71. (Coleção Os Pensadores).
2 LOCKE, John. Segundo tratado sobre ogoverno. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 51-52.
(Coleção Os Pensadores).
Para exemplificar, vamos voltar à França do século
PARA REFLETIR
XVIII. A historiadora francesa con t emporânea :Michelle
La Fontaine viveu na França do século XVII. Escreveu
Perrot relata a descrição feita por um inspetor de
várias fábulas, dentre as quais destaca -se A cigarra
manufaturas de uma oficina têxtil com cerca de 100 e aformiga, que todos conhecem. Procure conhecer
metros de comprimento, pavimentada por lajes e essa fábula e estabeleça a relação entre ela e a nova
iluminada por cinquenta janelas com tela branca: maneira de organizar a disciplina do trabalho. Em
seguida, pensando nos tempos atuais, invente outro
final para a história.
No meio dessa sala [em] um canal coberto
com lajes entreabertas cada fiandeira
vai, em silêncio, tirar a água de que precisa Na nova estrutura, o "olhar vigilante" sobressai de
[para a fiação]. Essa oficina, à primeira maneira decisiva. A organização do tempo e do espaço
vista, surpreende o visitante pela quantidade imposta na fábrica não é, porém, um fenômeno iso-
de pessoas aí empregadas, pela ordem, pela lado. Nos séculos XVII e XVIII, formou-se a chamada
limpeza e pela extrema subordinação que aí reina .. . "sociedade disciplinar", com a criação de instituições
Contamos 50 rocas duplas [ ... ] ocupadas por fechadas, voltadas para o controle social, tais como
100 fiandeiras e o mesmo tanto de dobradeiras, prisões, orfanatos, reformatórios, asilos de miseráveis
tão disciplinadas como tropas] e "vagabundos", hospícios, quartéis e escolas.
De olho no cronômetro
o poeta brasileiro Mário Quintana, em Das ampu-
lhetas e das clepsidras, diz o seguinte:
4 FOUCAL1 ~ Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Voze s, 1987.
p. 126-127.
5 QUlNTANA, Mário. Porta giratória. 3. ed. São Paulo: Globo, 1997. p. 61.
PARA REFLETIR
Ao olhar as vitrines, se pudéssemos examinar os
"bastidores" da fabricação de muitas roupas "de
marca", encontraríamos tecelagens que produzem
rápido à custa da exploração de mão de obra ba rata,
principalmente de mulheres. Éo caso de países como Degelo em glaciar. Perito Moreno, Argentina, 1993-
Guatemala, Honduras, Argélia, Turquia, Malásia e
tantos outros, inclusive o Brasil. A intensificação do efeito estufa, devido ao
excessivo acúmulo de gases na atmosfera, tem
O comércio facilita a realização dos desejos ao provocado o aumento da temperatura média, no
possibilitar o parcelamento das compras, promo planeta, o que leva ao derretimento dos gelos
ver liquidações e ofertas de ocasião, estimular o polares, causando prejuízos para os animais
uso de cartões de crédito, de compras pela inter nati.vos e inundações nos litorais: para muitos
net. As mercadorias são rapidamente postas "fora estudiosos, uma sequência perversa de causas
de moda" porque seu design se tornou antiquado ou e efeitos em razão da intervenção humana
porque um novo produto se mostrou "indispensá indiscriminada na natureza.
vel", seja televisão, geladeira, celular ou carro.
E ETIMOLOGIA
Há, portanto, três funções solidárias no lazer:
Heterônomo. Do grego, hetero, "diferente", e nomos.
" lei". Aquele que é comandado por outrem, que está • descanso e, em decorrência, liberação da fadiga;
sujeito a uma lei exterior. O contrário de autônomo. • divertimento, recreação, entretenimento e, con-
sequentemente, uma complementação que dá
7 MARCUSE. Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidim ensional. Rio de Jan eiro:
Zahar. 1973. p. 26.
8 DUMAZEDIER .]offre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Pe rspectiva. 1973. p. 34.
I ARISTÓTELES. Ética a Nicómaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 255. (Coleção Os Pensadores).
Relacione esta tira de Bob Thaves com o conceito de "experiência de ser" de Misrahi.
Por que não seria possível um rema.k..e da vida, e sim apenas urna continuidade dela?
, MISRAHI, Robert. Afelicidade: ensaio sobre a alegria. Rio de Janeiro: Difel, 2001. p. 31-33.
3 BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. p. 50.
4 ARISTÓTELES. /JUca a Nicômaco. Vm. 3, 1156b 30. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 382.
5 PLATÃO. Oeuvres completes: Gorgias. Tome m. 2e. Partie. Paris: Société D'Édition "Les Belles Lettres",
1949. p. 197. (Tradução nossa).
É importante observar que essa concepção deve
No diálogo O banquete, Platão relata um encon ser compreendida de acordo com a concepção pla
tro em que os convivas discursam sobre o amor. tônica de submissão do corpo à alma. Assim. Platão
Aristófanes, o melhor comediógrafo da época, conta subordina as paixões à razão, Eros a Logos.
o mito sobre a origem do amor. No início, os seres
humanos eram duplos e esféricos, e os sexos eram .. COrpO e alma: o dualismo platônico
três, um deles constituído por duas metades mas Durante muito tempo os filósofos ocidentais
culinas, outro por duas metades femininas e o ter explicaram o ser humano como composto de duas
ceiro, andrógino, metade masculino, metade femi partes diferentes e separadas: o corpo (material) e
nino. Por terem ousado desafiar os deuses, Zeus a alma (espiritual e consciente). Chamamos de dua-
cortouos em dois para enfraquecêlos. A partir lismo psicofisico essa dupla realidade da consciência
dessa separação, cada metade buscou restaurar a separada do corpo.
unidade primitiva, de onde surgiu o amor recíproco. Segundo Platão, antes de se encarnar, a alma
E como os seres iniciais não eram apenas bissexuais, teria vivido no mundo das ideias, onde tudo conhe
foi valorizado o amor entre seres do mesmo sexo, ceu por simples intuição, ou seja, por conhecimento
sobretudo o masculino, como expressão possível intelectual direto e imediato, sem precisar usar os
desse encontro amoroso. sentidos. Quando a alma se une ao corpo, ela se
Ao ser dada a palavra a Sócrates, a discussão degrada, por se tornar prisioneira dele. Passa então
é focada no amor como anseio humano por uma a se compor de duas partes:
totalidade do ser, representando desse modo o pro
a) alma superior (a alma intelectiva);
cesso de aperfeiçoamento do próprio eu. Sócrates
lembra então o diálogo que tivera com a sacerdo b) alma inferior e irracional (a alma do corpo).
tisa Diotima sobre a origem e a natureza de Eros. Esta, por sua vez, dividese em duas partes:
Segundo ela, durante o aniversário de Afrodite, Eros • a alma irascível, impulsiva, sede da coragem,
nasceu de Poros (Expediente, Engenho ou Recurso) localizada no peito;
e de Pénia (Pobreza). Deve, portanto, aos pais a • a alma concupiscível, centrada no ventre
inquietude de procurar sair da situação de pobreza e sede do desejo intenso de bens ou gozos
e, por meio de expedientes, alcançar o que deseja: materiais, inclusive o apetite sexual.
por isso o amor é a oscilação eterna entre o não
possuir e o possuir, é um !lnelQ de qualquer coisa
que não se tem e se deseja ter.
> Anelo. Desejo intenso.
mA inovação de Espinosa
consciência secularizada, da qual se retira o compo-
nente religioso para só considerar a natureza física
e biológica do corpo, como objeto de estudo cien-
tífico. Esses antecedentes são indicativos da revo- No século XVII, Espinosa constitui uma exceção na
lução científica levada a efeito no século XVII por tentativa de superar a dicotomia corpo-consciência
Bacon, Descartes e Galileu. para restabelecer a unidade humana. Como para ele
o desejo é a própria essência humana, interessa-se
.. Descartes: o corp o ~m áquin a por tudo o que nos dá alegria e, por consequência,
aumenta nossa capacidade de pensar e de agir, dis-
A filosofia de René Descartes (1596-1650) contri- tinguindo o que nos leva à tristeza, à passividade e
buiu para a nova concepção de corpo. Para ele, o ser que atrofia nossa potência de eXJÍstir.
humano é constituído por duas substâncias distintas:
• a substância pensante (em latim res cogitans, .. A teoria do paralelismo
"coisa que pensá'), de natureza espiritual: o
pensamento; Ao analisar as possibilidades de expressão da
liberdade, Espinosa desafia a tradição vinda dos gre-
• a substância extensa (res extensa), de natureza
gos. A novidade é a teoria do paralelismo, segundo
material: o corpo. a qual não há relação de causalidade ou de hierar-
Eis aí o dualismo psicofísico cartesiano. Esse posi-
quia entre corpo e espírito: nem o espírito é superior
cionamento, embora pareça com o dualismo platô-
ao corpo, como afirmam os idealistas, nem o corpo
nico, apresenta diferenças, porque Descartes con-
determina a consciência, como dizem os materialis-
cebe um corpo-objeto associado àideia mecanicista
tas. A relação entre um e outro não é de causalidade,
do ser humano-máquina. Ou seja, para o filósofo,
mas de expressão e simples correspondência, pois o
o nosso corpo age como máquina e funciona de
que se passa em um deles exprime-se no outro: a
acordo com as leis universais.
alma e o corpo expressam a mesma coisa, cada um
Descartes explica, porém, que, apesar de diferen-
a seu modo próprio.
tes, corpo e alma são substâncias que se relacionam,
porque a alma necessita do corpo: é pela imagina-
ção que o corpo fornece à alma os elementos sensí-
QUEM É?
veis do mundo e pelo qual podemos experimentar
sentimentos e apetites. Mas cabe à alma submeter 8aruch Espinosa (1632-1677). filó
a vontade à razão, controlar as paixões que preju- sofo judeu holandês, sofreu inú
meros reveses em sua vida. Cedo
dicam a atividade intelectual e provocam tristeza,
foi expulso da sinagoga, acu
bem como cultivar aquelas que nos dão alegria. Em sado de heresia. Deserdado pela
As paixões da alma, Descartes afirma que podemos família, ocupouse como polidor
conhecer a força ou a fraqueza da alma pelos com- de lentes, para garantir a sobre
bates em que a vontade consegue vencer mais facil- vivência e dedicarse à reflexão.
mente as paixões. Escreveu Tratado teológico-polí-
tico e Ética,entrevárias obras mal Espinosa,
Como vemos, a concepção cartesiana sobre a
compreendidas e quase nunca gravura anônima,
relação corpo e alma alia-se à necessidade de um lidas, tanto no seu século como século XVIII.
comportamento moral livre que, por meio da prática nos subsequentes. Sofreu acusa
da virtude e da sabedoria, permita ao ser humano ções ora de ateísmo, ora de panteísmo. Considerado
controlar as paixões. Seria isso a felicidade? É assim por muitos um filósofo determinista, no sentido de
que Descartes escreve em uma carta dirigida à prin- negar a liberdade humana, Espinosa , ao contrário,
critica toda forma de poder, quer político, quer reli
cesa Elisabeth da Boêmia, em 1645:
gioso, ao esclarecer quais são os obstáculos à vida,
ao pensamento e à política livres. Ele quer descobrir
a maior felicidade do homem depende desse reto uso o que nos leva à servidão e à obediência, o que per
mite e o que impede o exercício da liberdade.
da razão e, por conseguinte, que o estudo que serve
6 DESCARTES, René. Cartas. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 319. (Coleção Os Pensadores).
9 LIPOVETSKY. Gilles. Afelicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São PauJo:
Companhia das Letras, 2007. p. 41.
10 BAUMAN. Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008. p. 64-65.
S Compare as ideias de Marcuse e Lipovetsky rio progresso permitiram ao homem atingir a
autonomia plena.
apresentadas no capitulo e indique em que eles
se opõem. Em seguida, posicionese sobre o c) Imagem e texto apresentam o conceito de racionali
assunto. dade que está na estrutura da sociedade industrial
como viabilizador da emancipação do homem
>Dissertação em relação a todas as formas de opressão.
cO Enquanto a imagem de Chaplin apresenta a
11 Elabore uma dissertação com o tema: "Trabalho e autonomia dos trabalhadores nas sociedades
lazer: onde está o equilibrio e a interação?". contemporâneas, o texto de Horkheimer mostra
que, quanto maior o desenvolvimento tecnoló
>Caiu no vestibular gico, maior o grau de humanização.
7 ESP1NOSA, Baruch. Ética, Livro V, Proposição XLII. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 306. (Coleção
Os Pensadores).
A maratonista suíça Gabrielle Andersen Schi ess,
na Olimpíada de 1984, em Los Angeles.
S MERLEAU-PONTY, Mauri ce. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p 218 .
D Individualismo e narcisismo
{J
!i
:l Grande nu
.a americano As discussões entre os pensadores a respeito das
~ C> n. 27- mudanças institucionais que começaram a ocorrer na
% wm
Il Wesselmann, segunda metade do século XX identificam complexas
9 1962. reações à antiga ordem. Devido à prevalência do setor
O artista expõe a nudez ao lado de serviços, à entrada na era da informática e da comu
nicação e à globalização, aceleraramse as mudanças
de sorvetes e milk-shakes, indicando
culturais a partir das décadas de 1980 e 1990.
antecipadamente, no inicio da década
Desse modo, as crianças e os adolescentes edu
de 1960, a ligação entre liberdade sexual
cados fora das normas da cultura patriarcal tra
e sociedade de consumo, ou seja, a
dicional cresceram convivendo com diferentes
sexualidade como objeto de consumo.
padrões de conduta. A família adquiriu formatos
plurais, tais como divorciados que se casam nova
mente, núcleos monoparentais (formados ape
• Foucault: a microfisica do poder nas pela mãe ou pelo pai), uniões informais entre
Segundo Michel Foucault, autor de História dasexua- homem e mulher e entre pessoas do mesmo sexo.
lidade, a civilização contemporânea fala muito sobre
sexo, sobretudo a partir do discurso científico. Para Profilaxia. Parte da medicina que trata da preserva-
ele, a ciência "naturalizà' o sexo, reduzindoo a uma ção da saúde por meio de práticas de higiene e de
prevenção de doenças.
visão biologizante. Ao mostrálo como algo "natural",
9 MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimen sional. 4. ed. Rio de
Janeiro: Zahar. 1973. p. 83.
'" LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Barueri: Manole,
2005. p. 44.
) Questões
95
I PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Abril Cultural. 1972. p. 33. (Coleção Os Pensadores).
E ETIMOLOGIA
Hedonismo. Do grego hedoné, "prazer".
~ EPICURO. Carta sobre a felicidade: a Meneceu. São Paulo: Editora Unesp, 2002. p. 31.
4 BANDEIRA. Manuel. Manuel Bandeira: poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2009.
p.208.
5 Citado em: ARlES. Philippe. História da morte no Ocidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1977. p. 56.
t
doente, evitando a terapêutica invasiva. Alega-se cais, porque o tema é complexo e exige a partici-
que, pelos critérios de justiça e benevolência, alia- pação multidisciplinar de biólogos, médicos, juris-
lI:
dos aos conhecimentos médicos, seria possível tas, filósofos, teólogos, intelectuais, cidadãos, mas
reconhecer o momento para esperar que a morte sobretudo dos protagonistas dessas situações dra-
venha naturalmente, sem adiá-la inutilmente por máticas. O debate é sempre acirrado, sobretudo
meios artificiais. devido a antagonismos muitas vezes inconciliáveis.
Não existe, porém, unanimidade em acatar essa Vamos citar apenas alguns dos argumentos mais
orientação por parte de médicos e familiares. E comumente usados.
mesmo quando é aceita, resulta de um debate ético
• Os argumentos mais difíceis de contraditar são
entre médicos, parentes e o doente, quando este
os de caráter religioso, quando a eles se opõem
ainda se mantém lúcido.
os que recorrem apenas a critérios laicos. Por
exemplo, esperar por um milagre ou dizer que
.. A eutanásia a vida é sagrada são teses evitadas pelos que
Diferentemente dos cuidados paliativos, a euta- reivindicam o direito de avaliar moralmente
násia é uma maneira de provocar a morte delibe- as perspectivas de futuro do doente termi-
radamente, seja de um doente terminal, seja de nal, caso essas sejam de sofrimento e dores
alguém que deseja morrer devido a uma doença insuportáveis.
crônica, que tornou a vida insuportável. Em ambos
os casos, a motivação alegada para realizar a euta-
Paliativo. Que atenua ou alivia um mal
násia é a compaixão, o não deixar sofrer, quando o
temporariamente.
sofrimento é excessivo.
Tira do Minduim, de Charles Sch ul z. ln: O Estado de S. Paulo, 27 ago. 2008. Cad ern o D.
Atividades Capitulo 8
106
101
Observe, na parte superior desta litografia, uma escada e duas
pessoas que se movem na mesma direção. Mas uma parece descer e a
outra subir. Logo abaixo, a parede ao lado daquela que sobe é o solo
da outra que se encontra sentada. Na parte inferior, alguém sobe, mas a
porta que se abre à sua frente pertence ao espaço possivel daquela que
desce com a bandeja e a garrafa. Outras figuras se posicionam, sempre
invertendo a percepção que temos da horizontal e da vertical. Com
base nessas observações, nos perguntamos como as pessoas podem
estar no mesmo espaço e ao mesmo tempo em mundos diferentes?
A primeira impressão diante de uma obra de Escher é de
estranhamento, mas também de ludicidade, porque o artista brinca
com nossa percepção. O que nos faz pensar: será que tudo o que vejo
é mesmo real? E se tudo for uma ilusão de meus sentidos? Convivo
com pessoas que pensam de modo tão diferente de mim, como se
vivessem em outra realidade. O que é o real? Qual a garantia de que a
realidade não seja um sonho? Já tive certezas tão arraigadas e que se
108
3
discursivo é abstrato. Abstrair significa "isolar", .,
mente a essência do objeto. Descartes, quando
chegou à consciência do cogito o eu pen "separar de". Fazemos abstração quando isolamos
sante , considerou tratarse de uma primeira um elemento que não é dado separadamente na
verdade que não podia ser provada, mas da realidade. Quando vemos um copo, temos a ima
qual não se poderia duvidar: Cogito, ergo sum, gem dele, uma representação mental de natureza
que em latim significa "penso, logo existo". A sensível, concreta e particular: um copo de cristal
partir dessa intuição primeira (a existência do verde lapidado. A ideia abstrata, porém, despreza as
eu como ser pensante), estabeleceu o ponto de características secundárias para obter a representa
partida para o método da filosofia e das ciên ção intelectual do objeto, que é imaterial e geral. Ou
cias modernas. seja, a ideia de copo não se refere àquele copo parti
cular, mas a todos os copos existentes.
• Conhecimento discursivo Quando dizemos "2", não importa se nos referi
mos a duas pessoas ou duas frutas. A matemática
Para compreender o mundo, a razão supera as
faz abstração ao reduzir as coisas, que têm peso,
informações concretas e imediatas recebidas por
dureza e cor, a pura quantidade. As ciências em geral
intuição e organizaas em conceitos ou ideias gerais
baseiamse em abstrações para estabelecer as leis:
que, devidamente articulados pelo encadeamento
ao concluir que o calor dilata os corpos, são abstraí
de juízos e raciocínios, levam à demonstração e a
das as características que distinguem cada corpo
conclusões. Portanto, o conhecimento discursivo,
para considerar apenas os aspectos comuns àqueles
ao contrário da intuição, precisa da palavra, da
corpos, ou seja, o "corpo em geral", enquanto sub
linguagem.
metido à ação do calor. Quanto mais abstrato o con
ceito, mais se distancia da realidade concreta. Esse
artifício da razão é importante para a superação das
E ETIMOLOGIA particularidades do real e a elaboração de leis gerais
explicativas.
Discurso. Do latim discursus, literalmente "ação
de correr para diversas partes, de tomar várias
Como se dá então o conhecimento? Ao afastarse
direções". do vivido, a razão enriquece o conhecimento pela
interpretação e pela crítica. Esse distanciamento,
Unidade 3 O conhecimento
Calvin não teve um comportamento veraz: ele simula uma dor intensa que
não sente de fato. Em: O Estado de S. Paulo, 18 maio 2008. TV Lazer, p. 24·
U PARA REFLETIR
À luz dessas conclusões, Kant chama de dog
Do ponto de vista religioso, chamamos dogma à
verdade fundamental e indiscutível de uma dou máticos os fIlósofos anteriores a ele por não terem
trina . Na religião cristã, de acordo com o dogma proposto. como discussão primeira, a crítica da
da Santíssima Trindade, as três pessoas (Pai, Filho faculdade de conhecer. Ou seja, aqueles fIlósofos
e Espírito Santo) não são três deuses, mas apenas
um, Não importa se a razão não consiga entender
"não acordaram do sono dogmático', no sentido de
que Deus é ao mesmo tempo uno e trino, porque ainda manterem a confIança não questionada no
esse princípio tem como fundamento a revelação poder que a razão tem de conhecer. Nesse rol estaria
divina e, portanto, deve ser aceito pela fé, incluído Descartes, que, como vimos, tinha em vista
alcançar a verdade indubitável.
Unidade 3 O conhecimento
MONTAlGNE, Michael. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 104. (Coleção os Pensadores).
c::
Metafísica. Campo da filosofia que trata do "ser enquanto Fenomênico. Relativo ao fenômeno: o cético adere não à reali
r
ser", isto é, do ser independentemente de suas determina dade mesma,que ele julga ser inacessível, mas ao fenômeno.
ções particulares, do ser absoluto e dos primei ros pri ncí Consenso. A ~ ord de opiniões após discussão sobre diver
pios.Consultar também o Vocabulário no final do livro. gências. Antônimo: dissenso.
2 HUME, David . Investigação sobre o entendimento humano. Seção XII, Parte m. São Paulo: Abril
Cultural, 1973. p. 196.
3 Idem. p. 147.
4 PEREIRA, Oswaldo Porchat. Vida comum e ceticismo. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 252.
Unidade 3 o conhecimento
Unidade 3 o conhecimento
"Raciocinar não é algo que aprendemos em solidão, mas algo que inventamos
ao nos comunicar e nos confrontar com os semelhantes: toda razão é fundamental-
mente conversação. 'Conversa r' não é o mesmo que ouvi r sermões ou atender a vozes
de comando. Só se conversa - sobretudo só se discute - entre iguais. Por isso o
hábito filo sófico de raciocinar nasce na Grécia, junto com as instituições políticas da
democracia. Ninguém pode discutir com Assurbanipal ou com Nero, e ninguém pode
conversar abertamente em uma sociedade em que existem castas sociais inamovíveis.
[.. .] Afinal de contas, a disposição a filosofar consiste em decidir-se a tratar os outros
como se também fossem filósofos: oferecendo-lhes razões , ouvindo as deles e cons-
truindo a verdade, sempre em dúvida , a partir do encontro entre umas e outras.
[...] A democracia se baseia na suposição de que não há homens que nascem
para mandar nem outros que nascem para obedecer, mas todos nós nascemos com
a capacidade de pensar e, portanto, com o direito político de intervir na gestão da
comunidade de q,ue fazemos parte. No entanto, para que os cidadãos possam ser
politicamente iguais, é imprescindível que, por outro I'ado, nem todas as suas opi-
niões o sejam : deve haver algum meio de hierarquizar as ideias na sociedade não
hierárquica , potencializando as mais adequadas e descartando as errôneas ou dani-
nhas. Em resumo, buscando a verdade. Essa é justamente a missão da razão cujo uso
todos nós compartilhamos [...]. Na sociedade democrática , as opiniões de cada um
não são fortalezas ou castelos para que neles nos encerremos como forma de autoa-
firmação pessoall : 'ter' uma opinião não é 'ter' uma propriedade que ninguém tem o
direito de nos arrebatar. Oferecemos nossa opinião aos outros para que a debatam e
por sua vez a aceitem ou refutem, não simplesmente para que saibam 'onde estamos
e quem somos'. E é cl aro que nem todas as opiniões são igualmente válidas : valem
mais as que têm melhores argumentos a seu favor e as que melhor resistem à prova
de fogo do debate com as objeções que lhe sejam colocadas.
[...] A razão não está situada como um árbitro semidivino acima de nós para resolver
nossas disputas ; ela funciona dentro de nós e entre nós. Não só temos que ser capa zes de
exercer a razão em nossas argumentações como também - e isso é muito importante
e, talvez, mais difícil ainda - devemos desenvolver a capacidade de ser convencidos
pel as melhores razões, venham de quem vierem. [.. .] A partir da perspectiva raciona-
lista , a verdade buscad a é sempre resultado, não ponto de partida : e essa busca inclui a
conversação entre iguais, a polêmica, o debate, a controvérsia . Não como afirmação da
própria subjetividade, mas como caminho para alcançar uma verdade objetiva através
das múIti pias subjetividades."
SAVATER, Fernando."As verd ades da razão." Em : As perguntas da vida.
São Paulo : Martins Fon tes, 2001 . p. 43-44.
>Questões
D Que relação o autor estabelece entre conversação e democracia?
11 Releia o tópico que fecha o capítulo "A verdade como horizonte" e relacione a
ideia de verdade com a frase do autor: "a verdade buscada é sempre resultado,
não ponto de partida" .
"A ciência elimina a maior parte da aparência sensível D O que há de comum entre Marx, Nietzsche e Freud?
e estética da natureza. Poentes e cascatas são descri.tos E em que eles se distinguem?
em tennos de frequências de raios luminosos, coefi
cientes de refração e forças gravitacionais ou hidro >Dissertação
dinâmicas". (George F. Kneller. A ciência como ativi-
dade humana. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. p. 149.) 11 Elabore uma dissertação com o seguinte tema:
"A racionalidade é construida mediante o esforço
..
"O filósofo é crítico, embora não seja cético. Não
pessoal de argumentação e o diálogo".
desespera da verdade, mas recusa todas as certe
zas, considerandoas provisórias e sujeitas a serem
relativizadas por novos argumentos." (Sérgio Paulo
>Caiu no vestibular
Rouanet. As razões do Iluminismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987. p. 320.)
11 (UELpR) "Assim como a natureza ensinounos o
uso de nossos membros sem nos dar o conheci
Explique a citação respondendo às questões a seguir. mento dos músculos e nervos que os comandam, do
a) O que é um filósofo cético?
mesmo modo ela implantou em nós um instinto que
leva adiante o pensamento em um curso correspon
. b) O que é a filosofia dogmática?
dente ao que ela estabeleceu para os objetos exter
c) É possível recusar tanto o ceticismo como o nos, embora ignoremos os poderes e as forças dos
dogmatismo? Justuique sua resposta. quais esse curso e sucessão regulares de objetos total
mente dependem." (David Hume. Investigação sobre
>Aplicando os conceitos o entendimento humano. São Paulo: Editora Unesp,
1999. p. 79-80.)
11 Observe as reproduções de uma pintura de Com base no texto e nos conhecimentos sobre a
Johannes Vermeer (1632-1675) e outra de Han van teoria do conhecimento de Hume, assinale a alter
Meegeren (1889-1947). nativa correta.
i8 autoconservação.
§
w
a:
o
b) Entre o curso da natureza e o nosso pensa
u
mento não há qualquer correspondência.
c) Na teoria de Hume, a atividade mental necessá
na à nossa sobrevivência é garantida pelo conhe
cimento racional das operações da natureza.
d) O instinto ao qual Hume se refere chamase
hábito ou costume.
e) Segundo Hume, são os raciocinios a priori que
Mulher de azul lendo Mulher escrevendo uma garantem o conhecimento das questões de fato.
uma carta. Johannes de carta. Han van Meegeren ,
Vermeer, 1663-1664. 1935·
Inferências causais. Processo lógico que, a partir de
Meege ren foi um falsário que imitava o estilo de pintores
enunciados, conduz a uma conclusão. No contexto,
holandeses. Apesar de fa Isas, suas telas são tão boas que
foram adquiridas pelo Museu de Amsterdã. conclusão sobre as causas.
119
..
n
'
mos e concepções alheias. Para tanto, ele precisa pen- ticos de sua vida pessoal. Marx e
~ ~
sar por si mesmo e adquirir autonomia de ação.
Esse exemplo nos dá o sentido mais geral e
Engels exerceram papelchave na
Primeira Internacional (Associação
' ; '.W
.
~ ,
i
.
~
.
positivo do conceito de ideologia, como conjunto Internacional dos Trabalhadores),
"
de ideias, crenças ou opiniões sobre algum ponto que tinha em vista aglutinar as
ações dos trabalhadores e coor
sujeito a discussão. Falamos então da ideologia de Friedrich Engels,
denar suas reivindicações. Juntos
um pensador, do corpo sistemático de suas ideias, séc. XIX.
escreveramoMani ifiestocomunista
do seu posicionamento interpretativo diante de cer- (1848), A ideologia alemã e A sagrada família. Embora
tos fatos. É assim que distinguimos ideologia libe- suas ideias fossem gestadas em conjunto,Marx escre
ral de ideologia socialista, as duas principais visões veu, sozinho:A miséria dafilosofia ,Crítica da economia
políticas, sociais e econômicas do nosso tempo. política e O capital, entre outras. De Engels temos :
Anti-Dühring, Dialética da natureza e A origem da
família, da propriedade privada e do Estado.
PARA REFLETIR
Os partidos políticos estabelecem as bases ideológi
cas que fornecem as diretrizes de ação a seus filiados Posteriormente o conceito foi incorporado
e políticos em exercício, daí a importância da fideli- ao vocabulário dos pensadores, como Com te,
dade partidd ria. Você saberia identificar entre os par Durkheim, Weber e Mannheim, e assumiu sentidos
tidos atuais aqueles que tendem para o liberalismo diferentes em cada um deles. No entanto, foi com
e os que se orientam pelo socialismo? Há ai nda sim
Marx e Enge ~ s que o conceito se tornou mais conhe-
patizantes do comunismo? O que seriam os partidos
chamados "de centro" e de "extrema direita"?
cido, ao advertirem sobre a necessidade de levar em
conta o conhecimento ilusório, que mascara os con-
flitos sociais. Desse modo, na concepção marxista
Esse sentido de ideologia também serve para de ideologia, prevalece o sentido negativo de instru-
designar a teoria pedagógica que orienta a prática mento de dominação de uma classe sobre outra.
de uma escola ou a ideologia de uma religião que O conceito de ideologia foi revisitado por outros
determina as regras de conduta dos fiéis. Quando filósofos, mesmo por não marxistas, com novas
lemos um livro podemos perceber aspectos da ideo- nuanças, como teremos oportunidade de analisar.
logia nele subjacente e que denota a visão de mundo
de seu autor. E assim por diante.
D Conceito marxista de ideologia
fJ Ideologia: sentido restrito Para compreendermos o conceito marxista de
ideologia, é preciso rever o que é alienação. I Para
o termo ideologia foi criado no século XIX por Marx, a alienação manifesta-se na vida do operário
Destutt de Tracy, filósofo e político francês, para quando o produto do seu trabalho deixa de lhe per-
designar uma "ciência das ideias". Com ela o autor tencer. Ao vender a sua força de trabalho, não mais
pretendia compreender a formação das ideias numa decide sobre o salário, o horário e o ritmo de traba-
sociedade por meio de um método semelhante ao lho; e por ser comandado de fora, perde o centro de
das ciências da natureza. Seus seguidores foram cha- si mesmo, tornando-se "alheiá', "estranhá' a si pró-
mados ideólogos por Napoleão Bonaparte, dando ao prio, portanto alienado.
termo uma conotação pejorativa, já que rejeitava as Esse estado de coisas é típico de sociedades divi-
posições políticas daquele grupo. didas em classes, em que predomina a separação
Unidade 3 o conhecimento
2 BRECHT. Bertolt. "A exceção e a regra". Em: PEIXOTO. Fernando. Brecht, vida e obra. Rio de Janeiro:
José Álvaro Editor. 1%8. p. 123-125.
Ideologias Capítulo 10
Unidade 3 o conhecimento
Ideologias Capítulo 10
Observe as duas tiras.
Nao abra a boca A de Ziraldo, acima, é do
periodo da ditadura brasileira
e ironiza a chamada Lei Falcão,
que vigorou de 1976 a 1984 e
proibiu os debates durante a
propaganda eleitoral. A tira de
baixo, de Rodrigo Leão, ironiza o
Tira de Ziraldo, 79 64-7984: 2 0 an os de pro ntidão. 2. ed. Rio de Janeiro:
marketÍIlg político atual, quando
Re co rd , 1984·
0,, o candidato tem o "r bo reso".
~ ~= :'=.~u" PRECISAMOS DM UM
Com seu colega, indique os
g AAPARh<cvJ JEITO NI!59E ~I
8
o:
principais problemas políticos e
:!l as dificuldades dos eleitores em
I cada momento histórico.
Un idade 3 o conhecimento
o O discurso não ideológico proletariado atuante na luta para assumir seus próprios
valores, estratégia para evitar a submissão.
A ação e o pensamento nunca são totalmente
++
determinados pela ideologia. Sempre haverá espa- PARA SABER MAIS
ços para a crítica e fendas que possibilitam a elabo- Gramsci foi um dos fundadores do Partido Comunista
ração do discurso contraideológico. Italiano em 1921. Em 1926 foi preso durante o regime
Em que o discurso não ideológico distingue-se fascista de Mussolini e morreu em 1937, uma semana
da ideologia? Vimos que o discurso ideolÓgiCO natu- após ter sido libertado. Cadernos do cárcere, obra em
seis volumes, escrita na prisão, foi publicada postu-
raliza, universaliza, é abstrato e lacunar, faz uma
mamente e influenciou o comunismo europeu.
análise invertida da realidade e separa o pensar do
agir. Cabe ao discurso não ideológiCO identificar as
distorções e procurar demonstrar como elas foram
produzidas historicamente. Além disso, deve resta- "Rabo preso". Expressão que qualifica pessoa ou
belecer a relação entre a ação e a reflexão, a fim de institu ição que tem vincu lações condenáveis, as quais
quer manter em segredo, por exemplo, corrupção.
não esclerosar cada uma delas como procedimentos
Ideologias Capítulo 10
Ti ra de Laerte,
em Classificados,
Livro l São Paulo:
Devir, 2004· p. 29.
Seria essa formiga
uma "intelectual
orgânica"
gramsciana?
Unidade 3 o conhecimento
Ideologias Capítulo 10
I
que só podem aprender quando o espírito amadurece
e atinge determinado grau de desenvolvimento. [ ...]
Esses são fatos que não dependem de qualquer von
tade humana ; decorrem necessariamente da própria
natureza dos homens e da sociedade : ninguém está
em condições de poder mudálos. Portanto, tratase de
dados invariáveis dos quais devemos partir.
Concluamos, então, que em todo Estado bem admi
nistrado e no qual se dá a devida atenção à educação
dos cidad ãos deve haver dois sistemas completos de ins
tru ção que não têm nada de comum entre si ."
DESTUTT DE TRACY, Antoine (1802). Em : GOMES, Carlos Minayo
[e t ai]. Traba lh o e conhecimento: dilemas na educação do Às cria nças de fa mílias pobres era reservada
trabal hado r. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1987. p. 15. a esco la de ofícios. Rú ssia, c. 18881 900.
~ Questões
11 Reescreva sucintamente o texto de Destutt de dominantes e aos intelectuais. L.,] A tendência,
Tracy. hoje, é a de abolir qualquer tipo de escola 'desin
teressada' e 'formativa'. L .. ] A crise terá uma
IJ Em que o sentido de ideologia em Marx é diferente solução que, racionalmente , deveria seguir essa
do conceito usado por Destutt de Iracy?
linha: escola única inicial de cultura geral, huma
IJ A partir das caracteristicas da ideologia, descritas por nista, formativa, que equilibre equanimemente
Marx, identifique o caráter ideológico do texto. o desenvolvimento das capacidades de trabalho
a) Ocorre naturalização? Explique. intelectual. Deste tipo de escola única, através de
b) Destaque trechos que demonstrem a inversão
repetidas experiências de orientação profissional,
e a lacuna, se houver. passarseá a uma das escolas especializadas ou
ao trabalho produtivo." (Antonio Gramsci. Os inte-
11 Gramsci afirmou o seguinte sobre as escolas. lectuais e a organização da cultura. 5. ed. Rio de
"A divisão fundamental da escola em clássica e Janeiro: Civilização Brasileira, 1985. p. 118.)
profissional era um esquema racional: a escola Identifique as diferenças entre os textos de
profissional destinavase às classes instrumentais, Gramsci e de Destutt de Iracy. Posicionese sobre
ao passo que a clássica destinavase às classes o assunto.
~
Cf) "i!!
~
ro
~
"§
o.
g
ig.
a:
Charge de Quina
em Potentes, Nessa charge, Quino contrapõe duas formas de poder. o poder
prepotentes
e impotentes. da força e o das ideias. Aquele que faz calar as ideias pela força faz
São Paulo: uma pergunta irônica ao intelectual e despreza a disputa das ideias.
Martins Fontes,
2003 p. 36. Reescreva com suas palavras qual é a posição de Pascal, filósofo
francês que viveu no século xvu. Em seguida explique por que
é importante desenvolver a arte da argumentação.
100
não existe um meio'.
N
A E
contrárias
Todo F é G ... ~ Nenhu m F é G
S Principios da lógica
Para compreender as relações que se estabele-
/
cem entre as proposições, foram definidos os pri- su ba Iternas contraditórias su ba Iternas
meiros princípios da lógica, assim chamados por
serem anteriores a qualquer raciocínio e servirem
de base a todos os argumentos. Por serem princí-
~ /
subcontrária s
~
pios. são de conhecimento imediato e. portanto, Algum F é G .....t --- ---t....1 Algu m F não éG
indemonstráveis.
Geralmente distinguem-se três princípios: o de iden- o
tidade. o de não contradição e o do terceiro excluído.
Unidade 3 o conhecimento
i
conclusão deve ser particular).
ção parte de premissas gerais e chega a uma conclu
são também geral; no segundo caso, a conclusão é
Examinemos agora os argumentos dos quatro
particular:
exemplos dados anteriormente a fim de aplicarlhes
o que aprendemos. Os exemplos 2 e 4 são inválidos.
Todo brasileiro é sulamericano.
Vejamos por quê.
Todo paulista é brasileiro.
· Exemplo 2 (Todos os cães... ): o termo médio Todo paulista é sulamericano.
que aparece na primeira e na segunda premis
sas é "mamífero" e faz a ligação entre "cão' e Todo brasileiro é sulamericano.
"gato". Segundo a regra 5 do silogismo, o termo Algum brasileiro é Índio.
médio deve ter pelo menos uma vez extensão Algum índio é sulamericano.
total, mas nas duas proposições ele é particular,
ou seja, "Todos os cães são (alguns dentre os) No entanto, nem sempre a dedução aparece
mamíferos" e "Todos os gatos são (alguns dentre assim estruturada, por isso precisamos montar o
os) mamíferos". argumento para identificálo. Veja um exemplo: "Na
• Exemplo 4 (Todo inseto...): os três termos são prova de Física, uma questão se referia a um caso
"inseto', "hexápode" e "invertebrado'. O termo específico, do qual foram fornecidos os dados no
menor, "hexápode", tem extensão particular na enunciado. Os alunos deveriam lembrarse de uma
premissa menor: "Todo inseto é (algum) hexá lei e aplicála aos dados afim de resolver o problema".
pode", mas na conclusão é tomado em toda exten- Tratase de um raciocínio dedutivo, pois a lei, que é
são (todo hexápode). Portanto, fere a regra 6. geral, foi aplicada a um caso, que é particular.
Un idade 3 o conhecimento
6 Falácias
A falácia, ou paralogismo, é um tipo de racioCÍ-
nio incorreto, apesar de ter a aparência de correção.
É conhecida também como sofisma, embora alguns
estudiosos façam uma distinção, pela qual o sofisma
teria a intenção de enganar o interlocutor, diferente-
mente da falácia, que seria um engano involuntário.
São inúmeros os tipos de falácia, e por isso vamos
nos restringir a alguns poucos.
2 COPI, Irving. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre ]ou, 1978. p. 321-322.
Unidade 3 o conhecimento
Tratase de recurso muito comum na propa- inaplicável. Um exemplo: pessoas excessiva-
ganda, quando artistas famosos "vendem" desde mente legalistas que julgam a partir da letra
sabonetes até ideias, como as propostas polí- fria das normas e das leis, independentemente
ticas de um candidato. da análise cuidadosa das circunstâncias espe-
o O argumento contra o homem é um tipo cíficas dos acontecimentos.
de argumento de autoridade "às aves~, no o A falácia da conclusão irrelevante consiste
sentido de ser pejorativo e ofensivo. Ocorre em se afastar da questão, desviando a discus-
quando não aceitamos uma conclusão por são. Um advogado habilidoso, que não tem
estar baseada no testemunho de alguém que como negar o crime do réu, enfatiza que ele é
depreciamos. Ao questionar, atacamos quem bom filho, bom marido, trabalhador etc.; um
fez a afirmação, por exemplo, se desvaloriza- vereador acusado de realizar gastos sem auto-
mos a filosofia de Francis Bacon porque ele rização da Câmara põe em relevo a importân-
perdeu seu cargo de Chanceler da Inglaterra cia e a urgência das despesas; o deputado que
depois de serem constatados atos de deso- defende o governo acusado de corrupção não
nestidade; ou ainda se desmerecemos o valor se detém nos fatos devidamente comprovados,
musical de Wagner por causa de sua adesão mas discute questões formais do relatório da
aos movimentos antissemitas; ou, ainda, se comissão de inquérito ou enfatiza o pretenso
desconsideramos a versão de um mendigo revanchismo dos deputados oposicionistas.
como testemunha de um crime. o As falácias de petição de princípio, ou cír-
o A falácia de acidente ou de generalização culo vicioso, supõem conhecido o que é objeto
apressada é um tipo de falácia indutiva: diante da questão. "Tal ação é injusta porque é con-
de um erro médico, concluímos apressada- denável; e é condenável porque é injusta:'
mente que a medicina é inútil. Ocorre também Nesse exemplo é fácil perceber o erro, mas
quando uma regra geral é aplicada em circuns- o mesmo não ocorre neste outro, relatado
tâncias particulares e "acidentais" em que seria por Irving Copi: "Permitir a todos os homens
~
:>
Unidade 3 O conhecimento
} Questões
141
I Consultar no final do livro a bibliografia indicada para Lógica. Seguimos mais de perto as obras de
Irving Copi, John Nolt, Paulo Roberto Margutti Pinto e Cezar Mortari.
Unidade 3 o conhecimento
p
V F p q p~q
F V
v V V
V F F
Ou seja, se é verdadeiro que "O senador renun F V V
ciou" (p), é falso dizer que "O senador não renun
F F V
ciou" ("'p) e viceversa.
b) Conjunção
Para duas proposições p e q quaisquer, seus valo
Os enunciados condicionais são importantes
res de verdade podem ser combinados de quatro
também para refletirmos sobre as condições sufi-
maneiras, conforme a tabela abaixo. A conjunção
será verdadeira somente no caso de ambas as pro
cientes e as condições necessárias que ligam as
posições serem verdadeiras. sentenças.
Vejamos o exemplo: Se João é paulista, então
ele é brasileiro" (P ~ B) é o mesmo que dizer que
p q p . q João é paulista é condição suficiente para ele ser
brasileiro. Outro exemplo: "Se Maria é divorciada,
v V V então já foi casadà' (D ~ C), ou seja, C é condição
V F F necessária para D: não se divorcia quem nunca se
F V F casou.
F F F Esse tipo de enunciado hipotético é importante
também quando examinamos as conexões entre
eventos. Uma condição necessária para que se pro
Lêse assim a primeira linha abaixo da risca: duza um efeito determinado é aquela sem a qual o
"Sendo p verdadeiro e q verdadeiro. p . q é verda evento não pode ocorrer. Por exemplo. o oxigênio
deiro." Esse é o único caso em que a conjunção será é condição necessária para que haja combustão,
verdadeira. mas não é condição suficiente.
mSinais de pontuação
a linguagem da economia é o economês.
e) A linguagem da economia é o economês ou
Quando os enunciados são mais complexos do os economistas não falam economês. Além
que os vistos até aqui, precisamos usar, além dos disso, a linguagem da economia não é o eco
símbolos de que já lançamos mão, outros sinais nomês e os economistas falam economês.
de pontuação para os tornar inteligíveis e evitar 3. "Se A, B e C são enunciados verdadeiros e X, Y
ambiguidade. Aliás, o mesmo acontece na mate e Z são enunciados falsos, quais são os verda
mática. Por exemplo, na expressão 3 x 5 + 4, o resul deiros dentre os enunciados seguintes"3 (para
tado será diferente se agruparmos os números (3 x a resposta, consulte as tabelas de verdade.)
5) + 4 ou ainda 3 x (5 + 4): no primeiro caso o resul a) (C vZ). (YvB)
tado é 19 e no segundo é 27. Daí a necessidade de b) ",B vC
usar parênteses ou chaves.
c) '" [ (~Y v Z) v ( ~ Z v Y) ]
Vamos exercitar: tente sozinho e só depois con
fira as respostas. d) [A. (B v C)] . ~[ (A. B) v (A. C)]
Respostas
l. Simbolize as sentenças usando como referên
a) Verdadeiro. Como exemplo, vamos explici
cia as letras sublinhadas:
tar apenas este exercício; nos seguintes, que
a) Além da péssima gistribuição de renda no têm chaves, lembrese de como você traba
país, continua a forrupção. lha em matemática.
b) Se hoje é guintafeira, então amanhã será
§extafeira.
(e v Z) (Y v B)
Respostas:
a) D. C b) Q~ S V F F V
2. Traduza as variações do enunciado a seguir, a V V
partir dos símbolos que aparecem na sequên V
cia (ainda não temos preocupação com a ver
dade ou falsidade das sentenças).
Exemplo: "A linguagem da economia é o eco b) Verdadeiro.
no mês, e os ~conmista falam economês".2 c) Falso.
L.E d) Falso.
Unidade 3 o conhecimento
E ETIMOLOGIA .. Contradição
Tautologia. Do grego tautó, "o mesmo", e logos, Os enunciados cuja característica é a contradi-
"palavra", "sentença". Portanto, tautologia é "dizer ção são aqueles em que o valor de verdade é sem-
o mesmo". pre falso. Por exemplo, a forma de enunciado p . "'p
é contraditória. Observe a tabela:
A tautologia é importante para demonstrar a
validade de um argumento. Veremos a seguir que, se
P p."'p
obtivermos o condicional com as premissas como
antecedente e a conclusão como consequente e v V F F
constatarmos uma tautologia, poderemos concluir F F F V
que o argumento é válido. Por exemplo:
Se Pedro estuda, então será aprovado. (P ---+ Q)
Pedro não foi aprovado. ('" Q)
Logo, Pedro não estudou. ('" P)
A coluna sob o operador principal só tem F, por-
Ou seja: [(P ---+ Q). ",Q] ---+ '" P
tanto, o enunciado é contraditório.
Aseguir, montamos a tabelaquemostrasehá tauto-
logia,e, portanto, se o argumento é válido. Paraenten-
der o proceclimento, consulte as tabelas deverdade da .. Contingência
negação, da conjunção, da disjunção ou do condi- A contingência refere-se aos enunciados que
cional que constam do item 3 e acompanhe a lei- podem ser verdadeiros ou falsos, sendo que a
tura da tabela com as observações enumeradas na verdade ou a falsidade não pode ser determi-
sequência: nada só do ponto de vista lógico (como as con-
traditórias e tautológicas), mas depende das
condições fatuais. Por exemplo, os enunciados
p O "'O [(P ---+0) . "'O] ---+",P
"Maria é givorciada" e "Maria é §.axofonista". Veja
V V F V F a tabela, em que usamos as letras sublinhadas
F V F De S:
V F V F V
F V F
F V F V F
F V V OS D.S
F F V V V
V V V
V V V V V
V F V F F
Decifrando a tabela:
F V F F V
1. Comece pelas sentenças "P" e "Q", aplicando a
tabela de verdade para a implicação, com suas F F F F F
quatro possibilidades.
4 cOP!. Irving. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre lou. 1978. p. 387.
Unidade 3 o conhecimento
S Simbolize as sentenças a seguir, conforme as con b) NA
venções indicadas. c)NA. N X
A = A Argentina ataca as Malvinas. d) (A . N X) -* A
I = A Inglaterra mobiliza sua esquadra. e) [(A . X) V B] - ) A
B = O Brasil apoia a Argentina.
E = Os EUA apoiam a Inglaterra. >Exercicios sobre tautologia e contradição
Exemplo: Se a Argentina ataca as Malvinas e a 11 Verifique se os enunciados das questões são tau
Inglaterra mobiliza sua esquadra, então o Brasil tologia e/ou contradição.
apoia a Argentina e os EUA apoiam a Inglaterra. &) (P . Q) -* P
(A . I) ~ (B . E)
b) N [P ~ (Q ~ P)]
&) Ou a Argentina ataca as Malvinas e o Brasil apoia
a Argentina, ou os EUA apoiam a Inglaterra. >Exercicios de notação
b) Não é o caso de, ao mesmo tempo, a Argentina
atacar as Malvinas e o Brasil apoiar a a Faça a tradução usando os quantificadores univer
Argentina. sais ou existenciais, as variáveis e as constantes.
c) Se a Argentina não ataca as Malvinas, então a &) Alguns humanos não são justos.
Inglaterra não mobiliza sua esquadra, do mesmo b) Nenhuma baleia é peixe.
modo que se o Brasil não apoia a Argentina, c) Todos os vereadores são representantes dos
então os EUA não apoiam a Inglaterra. munícipes.
D Observe as letras sentenciais e as sentenças. d) Algumas pessoas são tímidas.
R = Os terroristas fazem reféns. e) Ou qualquer coisa é uma laranja ou nada é
T = Os terroristas exigem que os países retirem uma laranja.
suas tropas do Iraque. f) Nenhum planeta é estrela.
E = Os reféns são executados. g) Todos os mamíferos são vertebrados.
p = Os países retiram suas tropas. h) Algumas crianças são precoces.
6 Alguns exercícios foram baseados nas obras de Mortari, Copi e Nolt.
149
Unidade 3 o conhecimento
Unidade 3 o conhecimento
Esgrima nos
Jogos Olímpicos
de Atenas, Grécia
(Hungria x França),
200 4.
~
ª Platão distingue dois tipos de conhecimento: o
lia aristocrática . Após a conde 8 sensível e o inteligível, que se subdividem em outros
nação de Sócrates, seu mestre, ~ graus.
viajou por vários lugares, tentou Platão, de Rafael
Observando a ilustração da caverna, identifica
em vão interferir no governo de Sanzio, 15061510.
Siracusa (Sicília) e por fim retor mos quatro formas da realidade:
nou a Atenas, onde fundou a escola denominada • as sombras: a aparência sensível das coisas;
Academia. Seus diálogos em que a maioria traz
Sócrates como interlocutor principal abrangem • as marionetes: a representação de animais, plan
as várias áreas da filosofia nascente, e por isso é o tas etc., ou seja, das próprias coisas sensíveis;
primeirofilósofo sistemático do pensamento ociden • o exterior da caverna: a realidade das ideias;
tai. Sua influência foi sentida no helenismo (neopla
tonismo) e adaptada à doutrina cristã inicialmente • o Sol: a suprema ideia do bem.
por Agostinho de Hipona (354430). Até hoje vigoram
O muro representa a separação de dois tipos de
muitas de suas ideias sobre a relação corpoalma, a
política aristocrática e a crença na superioridade do conhecimento: o sensível (que corresponde às duas
espírito em detrimento dos sentidos. primeiras formas de realidade) e o inteligível (às
duas últimas).
Ilustração
representando
a alegoria da
caverna, de
Platão, 2001 .
2 Ver a Leitura complementar, no final do capítulo.
Unidade 3 o conhecimento