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DEFICIÊNCIA FÍSICA

Livro Texto – volume 8


Nesta disciplina temos os seguintes objetivos:

• Identificar e compreender as principais características dos


diversos tipos de deficiência física (fisiopatologia).
• Reconhecer as necessidades específicas dos alunos, decorrentes
dos diferentes graus de deficiência física.
• Conhecer as modalidades e as adaptações desenvolvidas para a
prática de esporte por pessoas com deficiência física.
INTRODUÇÃO
De acordo com Teixeira e Gorgatti (2008), as deficiências
motoras ou físicas podem ser definidas como condições
resultantes de lesões neurológicas ou ortopédicas e que
acarretam transtornos na motricidade e/ou na locomoção dos
indivíduos

O Aparelho locomotor é composto pelos sistemas:

• Ósteo-articular
• Muscular
• Nervoso Central

COMPROMETIMENTO
Número de pessoas com deficiência

População e tipo de deficiência (IBGE,


Aproximadamente 24% da população do
2010)
Brasil são deficientes (IBGE, 2010)
A DEFICIÊNCIA FÍSICA: DESCRIÇÃO E ANÁLISE
HISTÓRICA
“aleijados”

“enjeitados”

“mancos”

“miserável”
Terminologias ao longo da
história
“coxos”

“Zambros” (pernas tortas)

“corcundas”

Chumbado
“(...) as questões que envolvem as pessoas com
deficiência no Brasil – por exemplo, mecanismos de
exclusão, políticas de assistencialismo, caridade,
inferioridade, oportunismo, dentre outras – foram
construídas culturalmente” (FIGUEIRA, 2008, p.17)
Tipologia :
total
Conceitos importantes:
Os sufixos “plegia” e “paresia”
geralmente indicam o nível
de funcionalidade.

Plegia é a não-funcionalidade
nos movimentos

Paresia é a possibilidade de
realizar movimentos
funcionais
Etiologia
a) Deficiência congênita: aquelas provenientes desde o
nascimento
– má formação congênita (talidomida)
– doenças genéticas
– miopatias e neuropatias de origem hereditária

b) Deficiência adquirida: aquelas adquiridas ao longo da vida


– trauma crânio encefálico (TCE), em sua maioria das vezes por
acidentes de carro, armas de fogo ou quedas, as amputações, os
acidentes vasculares encefálicos (AVE),
– as infecções cerebrais, tumores e anóxias causadoras das sequelas da
paralisia cerebral
Independentemente da causa da deficiência, a pessoa pode apresentar perdas
motoras e/ou sensitivas o que irá levar a ter cuidados diferenciados na prática
da atividade física.
Brasil 1/410 Suécia 1/21.400
FISIOPATOLOGIA DAS PRINCIPAIS
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS
Cerebral
 PC
Origem Neurológica  AVC ou AVE
Referem-se às  TCE
deteriorações ou Medular
 Poliomielite
lesões do SNC :  Espinha Bífida
 Lesões medulares
degenerativas
 Traumatismos medulares
FISIOPATOLOGIA DAS PRINCIPAIS
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS

Origem Ortopédica
Muscular
Referem-se aos  Distrofia muscular
problemas dos
músculos, ossos Ósseo-articular
e/ou articulações  Malformações
 Amputação
PRINCIPAIS TIPOS DE
DEFICIÊNCIAS FÍSICAS
Origem cerebral - Lesão cerebral
Origem cerebral - Lesão cerebral
Destruição ou degeneração das células cerebrais que afetam o
Sistema Nervoso Central, pode ocorrer por:
• Doenças
• Traumas
Tipos de lesão cerebral
–Paralisia cerebral
– Acidente vascular cerebral ou encefálico
– Trauma crânio-encefálico
Paralisia cerebral
Paralisia cerebral
• Também chamada de encefalopatia crônica não progressiva da
infância

• É um grupo de sintomas incapacitantes e permanentes,


resultantes de dano às áreas do cérebro responsáveis pelo
controle motor.

• É uma deficiência não-progressiva que pode ter origem antes,


durante e após o nascimento e se manifesta na perda ou no
comprometimento do controle sobre a musculatura voluntária

• Lesão provocada, muitas vezes, pela falta de oxigenação das


células cerebrais
NOMENCLATURAS

• Doença de Little -1843

• Paralisia cerebral – 1948

• Encefalopatia Crônica da Infância – 1990

• Dismotria Cerebral Ontogenética - 1992


Etiologia
Causas Pré-natal
• Ameaça de aborto, choque direto no abdômen da mãe;

• Exposição ao raio X nos primeiros meses de gravidez ;

• Incompatibilidade entre Rh da mãe e do pai ;

• Infecções contraídas pela mãe durante a gravidez (rubéola,


sífilis, toxicoplasmose );

• Mãe portadora de diabetes ou com toxemia de gravidez;

• Pressão alta da gestante.


é a intoxicação resultante do excesso de
toxinas, acumulada no sangue, por deficiência do
funcionamento de um órgão, como o fígado, o rim ,etc.
Causas Peri-natal
• Falta de oxigênio ao nascer
• Lesão causada por partos difíceis, principalmente os dos fetos
muito grandes de mães pequenas ou muito jovens
• Trabalho de parto demorado;
• Parto de Fórceps - manobras obstétricas violentas;
• Bebês prematuros
Causas Pós-natal
As causas pós natais representam cerca de 10 % a 15%,
destacando-se a meningite, os traumas e a intoxicação gasosa.
• Febre prolongada e muito alta ;
• Desidratação com perda significativa de líquidos ;
• Infecções cerebrais causadas por meningite ou encefalite;
• Ferimento ou traumatismo na cabeça;
• Falta de oxigênio por afogamento ou outras causas;
• Envenenamento por gás - chumbo;
• Sarampo ;
• Traumatismo crânio-encefálico até os três anos de idade
Comprometimentos
• Dependendo do local e magnitude do dano cerebral, os
sintomas podem variar bastante, desde os severos (incapacidade
total de controlar os movimentos corporais) até os muito leves
(somente uma pequena deficiência na fala).

• O dano cerebral contribui para o desenvolvimento de reflexos


anormais (que causam dificuldade de coordenar e integrar
padrões básico de movimento) na maior parte dos indivíduos.

• É raro que o dano esteja restrito a uma pequena parte do


cérebro.
A paralisia cerebral nem sempre vem acompanhada de deficiência intelectual. A
pessoa com PC, pode muitas vezes ter desenvolvimento cognitivo normal.
Comprometimentos
• Contratura:
– Encurtamento adaptativo da unidade
musculotendínea e outros tecidos moles, resultando
em uma resistência fixa ao alongamento e limitação
da ADM (amplitude de movimento).

• Encurtamento:
– Perda parcial ou leve restrição de movimento, porém
a ADM permanece completa à movimentação passiva.
Classificação

Topográfica (ou
Fisiológica (ou quanto
quanto ao lado do
ao tônus muscular)
corpo afectado
• Espástica • Monoparésia # Monoplegia
• Hemiparésia # Hemiplegia
• Atetóica • Paraparésia # Paraplegia
• Atáxica • Tetraparésia # Tetraplegia
Classificação Topográfica
Monoplegia/monoparesia
Acometimento de um único membro
Hemiplegia/hemiparesia
Acometimento de um lado do corpo

Paraplegia/paraparesia
Acometimento do tronco e membros inferiores
Diplegia/diparesia
Membros inferiores mais afetados que os superiores
Quadriplegia/quadriparesia
Quatro membros afetados de forma semelhante

Dupla hemiplegia/dupla hemiparesia


Quatro membros afetados, um lado mais comprometido
BOBATH, K.- Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. São Paulo,
Editora Manole, 1978. 123p
Características quanto a classificação
topográfica
Classificação Fisiológica
PC - Espástica
• Os danos são localizados nas área motoras do cérebro e se
caracteriza pelo aumento do tônus muscular (hipertonicidade)

• Quando há uma desordem no movimento voluntário, o que


faz com que todo o corpo participe de um movimento que,
normalmente, envolveria apenas uma parte do corpo.
PC - Espástica
• São comuns as contrações musculares exageradas e fortes e
deformidades ósseas

Representa cerca de 75% dos casos.


PC - Espástica
• Pode agravar-se conforme o
estado emocional.
• Tônus muscular muito alto
(tenso)
• Em relação ao comprometimento
de membros inferiores , ocorre a
marcha em tesoura, caracterizada
pela flexão de quadril, joelho e
tornozelo, juntamente á rotação
da perna em direção à linha
média
PC - Atetóica
• Os danos são localizados nos gânglios basais.
• Se caracteriza por movimentos lentos,
contorcidos, involuntários e descoordenados.
• O tônus muscular tende a variar da
hipertonicidade à hipotonicidade.
• Os músculos afetados são aqueles que controlam
a cabeça, pescoço, membros e tronco,
dificultando muito o controle da cabeça, que fica
atirada para trás e voltada a um lado.
PC - Atetóica
• Contrações faciais, língua em protusão e dificuldade de controlar
a salivação são comuns. Beber, comer e falar são ações muito
prejudicadas.

• As pessoas com paralisia cerebral do tipo atetóide ou atetose,


costumam apresentar AFASIA, (comprometimento ou perda de
linguagem)

• Tônus muscular variante (às vezes mais alto – às vezes mais


baixo)
É interessante notar que nos últimos anos, foram diagnosticados muito poucos casos do
tipo atetóide, já que se descobriu que certos problemas de incompatibilidade sanguínea
podem ser controlados.
PC - Atáxica
• A lesão atinge o cerebelo, que controla o equilíbrio e a coordenação
muscular, causando ataxia.
• Os músculos apresentam graus
anormais de tonicidade. Tal
dificuldade normalmente só é
observada quando a criança
tenta andar.
• Tipicamente apresenta uma
marcha com base alargada; o
nistagmo, movimento constante
e involuntário do globo ocular,
também é comum

As pessoas que são capazes de deambular caem com frequência. Normalmente


aqueles que possuem na paralisia atáxica na forma leve são considerados desajeitados
ou atrapalhados.
Resumo – Paralisia Cerebral
CONSIDERAÇÕES PARA A PRÁTICA DA
ATIVIDADE FÍSICA
• Os programas de educação física de maneira geral devem ajudar
a criança a atingir seu potencial máximo de crescimento e
desenvolvimento, já que a PC não é tratável mas sim controlável.

• Podem apresentar dificuldades em atividades de coordenação


motora-visual envolvendo trabalhos com alvos, de habilidades
básicas (correr, saltar, agarrar, arremessar) ou ainda atividades
de reação rápida. Tudo isso devido à maior intensidade de
contração muscular e à limitação na amplitude de movimento.

• A atrofia pode estar presente e dificuldades no controle da


postura.
Implicações no programa de AF
– Jogos com bola devem ser estruturados passo a
passo, desenvolvendo as habilidades de arremessar,
lançar, receber – estático depois em movimento

– Chutar – importante para auxiliar na deambulação

– Progressão individualizada estática e depois


dinâmica quando introduzir jogos coletivos

Observar a postura da cabeça, tronco e


membros da criança
Posicionamento
Quadris aduzidos
- luxação ou subluxação da
cabeça femoral

Decúbito Ventral
–Fortalecimento do extensores
de tronco
– 4 apoios: Descarga de peso,
diminuição do tônus.
–Locomoção
OBS: Liberação de vias aéreas

Sentado
Estimular o controle de tronco
Acidente Vascular Cerebral
Acidente Vascular Cerebral – AVC ou
Acidente Vascular Encefálico (AVE)
• Caracteriza-se pela interrupção da circulação sanguínea de
uma área cerebral provocando danos severos a áreas que
controlam funções vitais.

• Essas funções podem envolver capacidade motora, controle


motor, sensibilidade e percepção, comunicação, emoções e
consciência.

• Pelo fato de que aqueles que sobrevivem a um AVC


apresentam graus variados de deficiência, desde a perda
mínima de função até a dependência total é que o mesmo
está inserido nas deficiências físicas
Tipologias

Causas
Hemorrágica Isquêmica
 Tumor
 Hipertensão  Mal-formação
 Mal-formação  Trauma
 Trombose ou êmbolo
 Aneurisma  Arterosclerose
Comprometimentos
Situações secundárias:
Afeta: • Incontinência urinária e intestinal
• Capacidade e o controle • Perda parcial da memória
motor
• Problemas psicológicos (depressão e
• Sensação e percepção
instabilidade emocional)
• Comunicação
• Hemianopsia – perda de campos visuais
• Emoções
• Problemas perceptivos e
• Estado de consciência
proprioceptivos do lado afetado
Implicações no programa de Atividade física

• Tratamento de recuperação de sequelas motoras pode ser baseado


na cinesioterapia.

• A participação ajuda a minimizar sintomas secundários como a


depressão

• Educador Físico deve manter contato com o fisioterapeuta para


auxiliar na organização do programa de atividades físicas

•A extensão da lesão determina o grau de paralisia da pessoa


acometida. Portanto algumas podem necessitar trabalhar
intensamente um membro que tem paresia, com o objetivo de ganho
de força, para preensão, arremesso, manipulação de objetos, e etc.
Traumatismo crânio-encefálico
Traumatismo crânio-encefálico - TCE
• É uma lesão cerebral que pode reduzir ou alterar o
estado de consciência

Pode produzir :
– Diminuição ou alteração do estado de consciência
– Resulta em limitações do funcionamento:
• Motor , cognitivo, social, comportamental, emocional
Causas
As principais causas do TCE:

• são acidentes com veículos motorizados, em


esportes ou na recreação;
• por maus-tratos na infância;
• por agressões, violência e quedas.

Além disso pode ser causada por anóxia, ataque


cardíaco ou quase afogamento.
Classificação

Lesões abertas
• causada normalmente por acidente, ferimento a bala ou
golpe com algum objeto, ela é visível e na maioria dos casos
ocorre em uma área mais limitada do cérebro.

Lesões fechadas
• causada por movimentos fortes, falta de oxigênio e
hemorragias cranianas o dano cerebral costuma ser difuso
contundindo ou rompendo fibras nervosas do cérebro.
Limitações motoras - TCE
Os comprometimentos físicos
• Falta de coordenação
• Dificuldade para planejar e estabelecer a sequência de movimentos
• Espasticidade muscular
• Problemas de fala
• Crises convulsivas
• Alterações perceptivas e sensoriais
• Dores de cabeça
• Distúrbios de fala
• Paralisia
• Comprometimentos sensoriais que englobam problemas de visão e
audição
Motricidade
Quadro motor
– Classificação topográfica
– Indicações terapêuticas
1. O professor de educação física pode contribuir e muito para o retorno da pessoa
que sofreu TCE às suas atividades diárias, incluindo a atividade física.
2. Promover atividades flexíveis e criativas que priorizem desenvolver as habilidades
cognitivas, comportamentais e psicossociais que podem ter sido prejudicadas após
a lesão.
3. Muitas vezes o aluno pode apresentar necessidade de apoio, que de acordo com o
seu desenvolvimento deverá ser reduzido progressivamente.
4. Devido a natureza da deficiência os alunos podem apresentar fraqueza muscular e
dificuldades de equilíbrio.
CONSIDERAÇÕES PARA A PRÁTICA DA
ATIVIDADE FÍSICA
• Exercícios que visam aptidão física devem ser implantados
gradualmente, pois estes alunos retornam de um tempo de
grande inatividade e podem se cansar facilmente.

• Alguma dificuldade no controle motor pode ser apresentada,


dificultando planejamento, início e controle de movimentos
grossos e finos.

• Movimentos sequenciados podem representar dificuldade,


sendo necessário maior tempo para algumas atividades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• BOBATH, K.- Desenvolvimento motor nos diferentes tipos
de paralisia cerebral. São Paulo, Editora Manole, 1978. 123p
• GORGATTI, M.G.; TEIXEIRA, L. Deficiência Motora. In:
TEIXEIRA, L. Atividade Física Adaptada e Saúde – da teoria à
prática. São Paulo: Phorte, 2008. cap.17, p.377-399
• GORLA, J.I.; CAMPANA, M.B.; OLIVEIRA, L.Z. Teste e Avaliação
em Esporte Adaptado. São Paulo: Phorte, 2009. 222 p
• FIGUEIRA, Emílio. Caminhando em silêncio: uma introdução à
trajetória das pessoas com deficiência na história do Brasil.
São Paulo: Giz Editorial, 2008

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