PROGRAMA DA DISCIPLINA REDES, SOCIABILIDADES E PODER. Professor Breno Augusto Souto Maior Fontes
O fenômeno “redes”, em uma primeira definição, pode ser compreendido a
partir da leitura de processos interativos estruturados em um conjunto de nós (atores) conectados entre si. Diferindo diretamente da noção de interação social (que tem o campo restrito de análise das díades) as redes incorporam noções tanto de práticas dos atores, orientados a partir de seus interesses, como também a partir das posições destes atores na estrutura reticular, que possibilitam chances mais ou menos importantes no processo de alocação de recursos. Esta definição é suficiente ampla para que alguns cientistas incorporem ao fenômeno reticular – com as ressalvas das orientações de ação de atores movimentos por desejos, interesses e paixões, que são restritas a campos reticulares de origem nas interações entre humanos – a uma gama importante de fenômeno, muitos deles não inscritos necessariamente no campo social. Assim, fala-se de estruturas de redes de alimentação, redes neurais, redes de comunicação, redes de transporte.... O curso a ser oferecido pretende oferecer aos inscritos uma visão mais ampla da ideia de redes sociais, a partir da ideia do pensamento relacional, que tem sido objeto de atenção de diversas disciplinas acadêmicas, como a economia, a ecologia, a ciência política. Há alguns que falam em novo paradigma, ou guinada paradigmática – algo como uma abordagem que seja mais competente na análise de fenômenos complexos, principalmente a partir da expansão das redes mediadas pela internet – outros afirmam que, na verdade, esta abordagem já vem sido trabalhada há algum tempo nas ciências sociais. Pretendemos apresentar aos inscritos uma visão retrospectiva da ideia de redes, a partir de três pontos centrais: (a) que as análises que privilegiam o fenômeno reticular não são recentes, e que é importante resgatar algumas mais centrais que existiam antes da grande mudança teórico-metodológica proporcionada pela Análise de Redes Sociais (ARS); (b) que os cientistas sociais que fazem uso do instrumento teórico das redes empregam diversas soluções metodológicas que incluem análises qualitativas (fenomenologia, etnografia, etnometodologia, ground analysis, entre outras), quantitativas (principalmente a partir do instrumental metodológico fornecido pela ARS), ou mistas; (c) que é inegável a grande revolução de pesquisa nas ciências sociais provocadas pelo advento da informática. Relativamente à análise de redes sociais, diversos softwares foram lançados no mercado a partir do final da década de 1990, proporcionando aos cientistas sociais poderosos instrumentos de pesquisa. A partir destas considerações preliminares, propomos o curso sobre redes organizado a partir de três campos principais: (a) Orientações teóricas para a pesquisa em redes sociais. (b) A Análise de Redes Sociais (ARS) (c) Caminhos metodológicos: alguns exemplos de pesquisas empíricas utilizando-se do paradigma das redes sociais. O curso será organizado em seminários semanais, com participação dos alunos na discussão dos temas propostos. Para cada tema será distribuída uma bibliografia básica, norteadora das discussões, e um conjunto de textos suplementares. Serão distribuídas durante o semestre 15 sessões semanais, com carga horária total de 60 horas. As temáticas a serem discutidas estão abaixo descritas:
1. O pensamento relacional na sociologia: primeiras aproximações
2. A sociologia relacional de Georg Simmel 3. Mauss e o fato social total: espaços complexos de campos reticulares 4. O manifesto de Mustafa Emirbayer: entre o ator e a estrutura. 5. A sociologia relacional de C. White 6. Realismo crítico e sociologia relacional 7. Bruno Latour e a sociologia relacional 8. Primeiras aproximações de uma ciência da complexidade – A análise de Redes Sociais 9. A análise de redes sociais: alguns conceitos centrais 10. A análise de redes sociais: alguns conceitos centrais 11. Construindo uma sociologia reticular: aproximações metodológicas 12. Exemplos de pesquisas sobre redes: redes sociais e saúde 13. Exemplos de pesquisa sobre redes: capital social 14. Pesquisa sobre redes: associações voluntárias 15. Pesquisa sobre redes: comunidades virtuais
BIBLIOGRAFIA PRELIMINAR
ARCHER, Margaret. Structure, Agency and the Internal Conversation.
Camdrige, UK, Cambridge University Press, 2003 BARABÁSI, Albert-László. Linked. How Everything is Connected to Everything Else and What It Means for Business, Science and Everyday Life. New York: Penguin Books Ltd., 2003. BOTT, Elizabeth. Family and Social Network: Roles, Norms, and External Relationships in Ordinary Urban Families. London, Tavistock Publications Limited, 1957. DÉPELTEAU, François. The palgrave Handbook of relational Sociology. Cham, Palgrave, 2018 DONATI, Pierpaolo; ARCHER, Margaret. The relational Subject. Cambridge, UK,Cambridge University Press, 2015 DONATI, Pierpaolo. Relational Sociology: A new Paradigm for the social sciences. London, Routledge, 2012 HARDY, Melissa; BRYMAN, Alan. Handbook of Data Analysis. London, Sage Publications, 2004. BREIGER, R. L. et al. Social control and social networks: a model from Georg Simmel. London, Cambridge University Press, 1990. CASTELLS, Manuel. The rise of the network society. Cambridge, MA, Blackwell, 1997. CHRISTAKIS, Nikolas. Connected: the surprising Power of our social networks and how they shape our lives. New York, Little Brown Co, 2009 COLEMAN, James S. Social Theory, Social Research and a Theory of Action. The American Journal of Sociology, v. 91, n. 06, p. 1309-1335, May 1986. DEGENNE, A.; FORSÉ, M. Les réseaux sociaux. Une analyse structurale en Sociologie. Paris, Armand Colin, 1994 DONATI, Pierpaolo. Teoria Relazionale della Società. Milano, Francoangeli, 2008. EMIRBAYER, Mustafa. Manifest for a relational sociology. The American Journal of Sociology, v. 103, n. 2, p. 281-317 Sep. 1997. EMIRBAYER, Mustafa. Network analysis, Culture and the Problem of Agency. The American Sociological Review, v. 99, p. 411-1454, May 1994. FONTES, B. A. S. M., EICHNER, Klaus. Sobre a Estruturação de Redes Sociais em Associações Voluntárias: Estudo empírico de Organizações Não Governamentais da cidade do Recife. Sociedade e Estado, v. 16, p. 186-221, 2002. FONTES, Breno Augusto; MARTINS, Paulo Henrique. Construindo o conceito de rede de vigilância em Saúde. In: ______Redes Sociais e Saúde. Recife, Editora da UFPE, 2006. FONTES, B. A. S. M. Redes Sociais e enfrentamento Psíquico: sobre como as pessoas reconstroem suas vidas. In: FONTES, Breno; DA FONTE, Eliane. (Orgs.). Desinstitucionalização, Redes Sociais e Saúde Mental: Análise de experiências da Reforma Psiquiátrica em Angola, Brasil e Portugal. Recife, UFPE, 2010. FONTES, Breno Augusto. La formation du capital social dans une communauté à faible revenu cellule. GRIS, n. 10 p. 191-208, 2004 FONTES, Breno Augusto. Redes Sociais e Poder local. Recife, Editora da UFPE, 2012 FONTES, Breno Augusto. Redes, práticas associativas e poder local. Curitiba, Editora Appris, 2011 GRANOVETTER, Mark. Economic Action and Social Strcuture: The Problem of Embeddedness. American Journal of Sociology, v. 91, p. 481-510, Nov. 1985. GRANOVETTER, Mark. The Strength of weak Ties. American Journal of Sociology, v. 78, 1973. HANNEMAN, Introduction to Social Network Methods. [s/d] Disponível em: <:http://faculty.ucr.edu/~hanneman/nettext/Introduction_to_Social_Network_Met hods.pdf>. SCOTT, John; CARRINGTON, John (edts). The Sage Handbook of Social Network Analysis. London, Sage, 2011 STEGBAUER, Christian; HÄUSSLING (Hrsg). Handubuch Netzwerkforschung. VS Verlag, Wiesbaden 2010, STEGBAUER, Christian. Netzwerkanalyse und Netzwerktheorie. Wiesbaden, VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2008. STEGBAUER, Christian (Hrsg) Handbuch Netzwerkforschung. Wiesbaden, VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2010. HOLLSTEIN, Bettina; STRAUSS, lorian. (Hrsg.) Qualitative Netzwerkanalyse. Wiesbaden, VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2006 LAZEGA, E. Réseaux sociaux et structures relationnnelles. Paris, Presses Universitaires de France, 1998. (“Que Sais-Je” Collection, n. 3399 MIZRUCHI, Mark S. Social network analysis recent achievements and current controversies. Acta Sociologica, v. 37, p. 329-343, 1994. LATOUR, Bruno. MOLINA, Jose Luis. El análisis de redes sociales: Una introducción. Edicions Bellaterra, Barcelona, 2000. MOEBIUS, Stephan. (2002) Simmel Lesen Moderne, Dekonstruktive und Postmoderne Lektüren der Soziologie von Georg Simmel. Stuttgart PRECOSOLIDO, Bernice A.; RUBIN, Beth. The web of group affiliation revisited: social life, postmodernism, and sociology. American Sociological Review, v. 5, p. 52-76, Feb. 2000. PUTNAM, Robert D. Bowling alone the collapse and revival of American community. New York, Simon & Schuster, 2000. SCOTT, John. Social Network Analysis: a Handbook. London, Sage Publications, 1997. SIMMEL, Georg. (1988) La tragédie de la Culture et autres essais. Paris, Editions Rivages. SIMMEL, Georg. Philosophische Kultur. Frankfurt am Main, Zweitausendeins SIMMEL, Georg. (1964) Conflict and the Web of Group-Affilitations. New York, The Free Press. SIMMEL, Georg. How society is possible? American Journal of Sociology, v. 16, 1910/1911. SIMMEL, Georg. Sociologie : Etudes sur les formes de la socialisation. Paris, PUF, 1999 VARANDA, Marta; REGO, Raquel; FONTES, Breno. A análise de redes sociais em língua Portuguesa. INSNA – International Network for Social Network Analysis. SUNBELT XXX, Riva Del Garda (TN), Italy, 2010. WELLMAN, Barry. The community question: The Intimate Networks of East Yorkers. American Journal of Sociology, n. 84, p. 1202 – 31, Mar. 1979 WHITE, Harrison. Identity and control. A structural theory of social action. Princeton, NJ, Princeton University Press, 1992