Você está na página 1de 11

PRIMEIRO SEMESTRE DE 2020

MT 520/PP 523
TRATAMENTO DE SINAIS DIGITAIS
PROF. LÚCIO T. SANTOS [IMECC, SALA 131]

LISTA 3 TRANSFORMADA DE FOURIER

Dedução Informal

Sejam T > 0, f : [−T /2, T /2] → R e sua série de Fourier


1 T /2
X Z
f (t) = cn e i 2πnt/T
, com cn = f (t) e−i 2πnt/T dt.
T −T /2
n∈Z

Assim, denotando ∆ω = 2π/T , temos que


h Z T /2
i 2πnt/T 1
X i
−i 2πnτ /T
f (t) = e f (τ ) e dτ
T −T /2
n∈Z
Z π/∆ω
i n ∆ω t ∆ω
X h i
−i n ∆ω τ
= e f (τ ) e dτ
2π −π/∆ω
n∈Z
1 X h π/∆ω
Z i
−i n ∆ω τ
= f (τ ) e dτ ei n ∆ω t dω.
2π −π/∆ω
n∈Z

Lembrando que
Z ∞ X
f (x) dx = lim ∆x f (n∆x),
−∞ ∆x→0
n∈Z

tomando o limite T → ∞, o que implica em∆ω → 0, vem


Z ∞ hZ ∞
1 −iωτ
i
f (t) = f (τ ) e dτ eiωt dω
2π −∞ −∞
Z ∞
1
= eiωt fb(ω) dω,
2π −∞

1
em que Z ∞
fb(ω) = f (t) e−iωt dt.
−∞

Dizemos que fb é a Transformada de Fourier de f , e f é a Transformada


de Fourier Inversa de fb. Uma condição suficiente para a existência da trans-
formada de Fourier é que
Z ∞
|f (t)|2 dt < +∞.
−∞

Outra notação para a transformada de Fourier é fb(ω) = F[f (t)] e f (t) =


F −1 [fb(ω)].

Exemplos

1 Seja a > 0 e considere a função “caixa” f : R → R, definida por


 1, |t| ≤ a,
f (t) =
 0, |t| > a.

Para ω = 0 temos que


Z ∞ Z a
−i0t
fb(0) = f (t) e dt = dt = 2a,
−∞ −a

e para ω 6= 0,
∞ a
e−iωt a
Z Z
−iωt −iωt
fb(ω) = f (t) e dt = e dt =
−iω −a

−∞ −a
1 h −iωa i 2
= e − eiωa = sen (ωa).
−iω ω

2
Portanto, 
 2a, ω = 0,
f (ω) =
 2 sen (ωa), ω =
b
6 0.
ω

Definindo a função “seno cardinal”, sinc : R → R,


 1, x = 0,
sinc(x) =
 sen (πx) , x =
6 0,
πx

temos que

fb(ω) = 2a sinc(ωa/π).

Analise o comportamento de f e fb com relação a variação de a.

2 Seja b > 0 e considere fb : R → R, definida por



 1, |ω| ≤ b,
f (ω) =
b
 0, |ω| > b.

Logo,
1 b
f (t) = × 2b sinc(−tb/π) = sinc(tb/π).
2π π
3
3 Seja a > 0 e considere f : R → R, definida por f (t) = e−a|t| . Logo,
Z ∞ Z 0 Z ∞
−a|t| −iωt −iωt
fb(ω) = e e dt = at
e e dt + e−at e−iωt dt
−∞ −∞ 0
t(a−iω) ∞ t(−a−iω) ∞
e e 1 1 2a
= + = + = 2 .

a − iω −∞ −a − iω −∞ a − iω a + iω a + ω2

Analise o comportamento de f e fb com relação a variação de a.

2 2
4 Seja a√> 0 e considere f : R → R, definida por f (t) = e−a t . Então,
π h ω2 i
f (ω) =
b exp − 2 . Observe que f e fb são ambas do mesmo tipo.
a 4a
Analise o comportamento de f e fb com relação a variação de a.

4
Função Delta de Dirac

Seja a > 0 e considere a função caixa fa : R → R e sua transformada de


Fourier fba : R → R,
 
 1/2a, |t| ≤ a,  1, ω = 0,
fa (t) = e fa (ω) =
 sen (ωa) , ω 6= 0.
b
 0, |t| > a,
ωa
Z ∞
Observe que fa (t) dt = 1.
−∞

O que acontece quando a → 0? Temos que para todo ω ∈ R, lim fba (ω) = 1.
a→0
Já para fa , a resposta é um pouco mais complexa. Quando a → 0, a função
fa “converge” para o que denominamos “Função” Delta de Dirac ou Impulso
Unitário, denotada por δ,

 +∞, t = 0, Z ∞
lim fa (t) = δ(t) = com δ(t) dt = 1.
a→0  0, t=6 0, −∞

Podemos então interpretar a “função” δ(t) como a transformada de Fourier


inversa da função constante fb(ω) = 1, isto é,
Z ∞
1
δ(t) = eiωt dω e δ(ω)
b = 1.
2π −∞
Observe que também vale o reverso, isto é,
Z ∞
f (t) = 1 e fb(ω) = e−iωt dt = 2πδ(−ω) = 2πδ(ω).
−∞

5
Observe agora que
Z ∞ Z ∞ h1 Z ∞ i
iωt
f (t) δ(t) dt = f (t) e dω dt
−∞ −∞ 2π
Z ∞ h Z ∞ −∞
1 iωt
i
= f (t) e dt dω
2π −∞ −∞
Z ∞
1
= fb(−ω) dω
2π −∞
Z ∞
1
= fb(ω) eiω0 dω = f (0).
2π −∞
Assim, para qualquer a ∈ R,
Z ∞ Z ∞
f (t) δ(t − a) dt = f (t + a) δ(t) dt = f (a).
−∞ −∞

Essa propriedade da função delta é conhecida por “peneira” (sifting, em inglês).

Exercı́cios

1
1 Seja a 6= 0. Prove que δ(at) = δ(t).
|a|
Z b
2 Sejam a < b. Determine δ(t) dt. Analise o caso em que a = 0 ou b = 0.
a

3 Prove que f (t)δ(t) = f (0)δ(t).

6
Funções Degrau Unitário e Sinal

Observe que para t ∈ R,



 0, t < 0,


Z t 
µ(t) ≡ δ(x) dx = 1/2, t = 0,
−∞ 

 1,

t > 0,
denominada Função Degrau Unitário ou Função de Heaviside. Temos também
que 
Z t  0, t < 0,
r(t) ≡ µ(x) dx =
−∞  t, t ≥ 0.
denominada Função Rampa Unitária.

Vamos fazer alguns cálculos com integrais.


Z ∞ Z ∞ Z ∞
ixy
2πδ(x) = e dy = cos(xy) dy + i sen (xy) dy
−∞ −∞ −∞
Z ∞ Z ∞
=2 cos(xy) dy + i sen (xy) dy.
0 −∞
Logo, Z ∞ Z ∞
cos(xy) dy = πδ(x) e sen (xy) dy = 0.
0 −∞
Z ∞
Mas o que podemos afirmar sobre sen (xy) dy? Para x = 0 temos que
Z ∞ 0

sen (xy) dy = 0. Suponha então que x > 0 (para x < 0 o resultado é o


0

7
mesmo, verifique!). Assim,
Z ∞
1 ∞ 1 ∞
Z Z
sen (xy) dy = sen (z) dz = cos(z − π/2) dz
0 x x
Z0 ∞ 0
Z 0 Z ∞
1 1 h i
= cos(u) du = cos(u) du + cos(u) du
x −π/2 x −π/2 0
1h i 1
= 1 + πδ(1) = .
x x
Portanto, 
Z ∞  0, x = 0,
sen (xy) dy = ≡ I(x)
0 6 0.
 1/x, x =

Considere agora a função sinal, s : R → R, definida por



 −1, t < 0,



s(t) = 0, t = 0, = 2µ(t) − 1.


 1,

t > 0.

Então,
Z ∞ Z 0 Z ∞
−iωt −iωt
sb(ω) = s(t) e dt = − e dt + e−iωt dt
Z−∞
∞h i
−∞
Z ∞
0

= − eiωt + e−iωt dt = −2i sen (ωt) dt = −2iI(ω) = 2I(iω).


0 0

Concluindo, como µ(t) = (1 + s(t))/2, temos que


1h i
µ
b(ω) = 2πδ(ω) + 2I(iω) = πδ(ω) + I(iω).
2

8
Tranformada da Derivada
Z ∞
Seja f : R → R tal que |f (t)|2 dt < +∞ e, portanto, lim f (t) = 0
−∞ |t|→∞
(verifique!). Supondo que f seja diferenciável temos que
Z ∞ ∞ Z ∞
0 −iωt −iωt
0
f (ω) = f (t) e dt = e f (t) − f (t) e−iωt (−iω) dt
b
−∞ −∞ −∞
Z ∞
= 0 − 0 + iω f (t) e−iωt dt = iω fb(ω).
−∞

Consequentemente, se f for duas vezes diferenciável, temos que

fc00 (ω) = iω fb0 (ω) = iω(iω fb(ω)) = −ω 2 fb(ω).

Em geral, se f for n vezes diferenciável,

(n) (ω) = (iω)n fb(ω).


fd

Exercı́cios Resolvidos da Lista 3

2 Seja a 6= 0. Compute fb nos seguintes casos:

(a) f (t) = eiat .


Temos que,
Z ∞ Z ∞
iat −iωt
fb(ω) = e e dt = ei(a−ω)t dt = 2πδ(ω − a).
−∞ −∞

Vamos usar esse resultado para computar as transformadas de Fourier das


funções seno e cosseno. Assim,
h eiat − e−iat i F[eiat ] − F[e−iat ]
F[ sen (at)] = F =
2i 2i
2πδ(ω − a) − 2πδ(ω + a)
= = πi[δ(ω + a) − δ(ω − a)]
2i

9
e
h eiat + e−iat i
F[eiat ] − F[e−iat ]
F[cos(at)] = F =
2i 2
2πδ(ω − a) + 2πδ(ω + a)
= = π[δ(ω + a) + δ(ω − a)].
2

3 Seja f : R → R. Prove que:

(a) Se f é par então fb é real e par.


Sendo f uma função par, temos que f (−t) = f (t), para todo t ∈ R. Assim,
Z ∞ Z 0 Z ∞
−iωt −iωt
fb(ω) = f (t) e dt = f (t) e dt + f (t) e−iωt dt
Z−∞∞ Z−∞∞ Z0 ∞
= f (−t) eiωt dt + f (t) e−iωt dt = f (t)[eiωt + e−iωt ] dt
0Z 0 0

=2 f (t) cos(ωt) dt.
0

Logo, fb é claramente real e par.

Z ∞ ∞
m
X am
(e) Se am = t f (t) dt < ∞, m = 0, 1, . . ., então fb(ω) = (−iω)m .
−∞ m=0
m!
Primeiramente, vamos computar as derivadas de fb:
m m hZ ∞ i Z ∞
d d
fb(m) (ω) = n
[fb(ω)] = m
f (t) e−iωt dt = f (t) e−iωt (−it)m dt.
dω dω −∞ −∞

Assumindo que exista a série de Taylor para fb em torno de ω = 0, e usando o

10
resultado acima, temos que (sem cerimônia!),
∞ m ∞ hZ ∞ i ωm
X
(m) ω X
m
f (ω) =
b f (0)
b = f (t) (−it) dt
m=0
m! m=0 −∞ m!
∞ hZ ∞ i (−iω)m X ∞
X
m am
= f (t) t dt = (−iω)m .
m=0 −∞ m! m=0
m!

Z ∞ Z ∞
5 Prove que sinc(t) dt = sinc2 (t) dt = 1.
−∞ −∞

Usando o resultado do Exemplo 2, com b = π, temos que,


Z ∞ Z ∞
1 = fb(0) = f (t) dt = sinc(t) dt.
−∞ −∞

Agora, pela Igualdade de Parseval,


Z ∞ Z ∞ Z ∞
2 2 1
|sinc(t)| dt = |f (t)| dt = |fb(ω)|2 dt
−∞ −∞ 2π −∞
Z π
1 1
= 1 dt = × 2π = 1.
2π −π 2π

11

Você também pode gostar