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Resumo
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Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação e Diversidade MPED/UNEB – Universidade do
Estado da Bahia. DCH-IV. Pesquisadora Associada ao Grupo Diversidade, formação, educação básica e
discursos (DIFEBA) e ao Grupo de Pesquisa Docência, Narrativas e Diversidade (DIVERSO). E-mail:
alinesilva103@hotmail.com.
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Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2007). Professora Adjunto da Universidade do
Estado da Bahia UNEB. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade -
PPED no Mestrado Profissional em Educação e Diversidade - MPED da Uneb/Jacobina e vice coordenadora do
referido curso. Líder do Grupo Diversidade, formação, educação básica e discursos (DIFEBA) e pesquisadora do
Grupo de Pesquisa Docência, Narrativas e Diversidade (DIVERSO). E-mail: analucias12@gmail.com
ISSN 2176-1396
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Introdução
Neurociência e aprendizagem
Por séculos, o cérebro foi tomado pela ciência como objeto de todo tipo de
investigação. Para Bransford, Brown e Rodney (2007) até recentemente, compreender a
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mente – assim como o pensamento e a aprendizagem possibilitados pela mente – era uma
tarefa árdua, em parte por causa da falta de ferramentas de pesquisas eficazes. Concordam
ainda que atualmente, o mundo vive uma expansão expressiva dos estudos científicos sobre a
mente e o cérebro, sobre os processos do pensamento e aprendizagem, sobre os processos
neurais que acontecem durante o pensamento e a aprendizagem e sobre o desenvolvimento da
competência. Esses pesquisadores afirmam categoricamente que:
a revolução no estudo da mente ocorrida nas últimas três ou quatro décadas tem
consequências importantes para a educação. Está entrando em foco uma nova teoria
da aprendizagem, que conduz a abordagens muito diferentes das encontradas muitas
vezes nas escolas atuais, em relação ao projeto do currículo, do ensino e da
avaliação (BRANSFORD, BROWN E RODNEY, 2007, p.19).
É importante considerar que foi nos últimos cinco anos que a invenção e o
aprimoramento da Ressonância Magnética Funcional, do PET/CT (Positron Emission
Tomography), equipamento que une os recursos diagnósticos da medicina nuclear e da
radiologia e que sobrepõe as imagens metabólicas às imagens anatômicas, produzindo assim
um terceiro tipo de imagem, associando a tomografia por emissão de pósitrons à tomografia
computadorizada de última geração, e da espectroscopia, trouxe a luz novas imagens do
cérebro em atividade.
Argumenta Lent (2010, p. 11), que indiscutivelmente, a neurociência é uma das
disciplinas mais dinâmicas e revolucionarias destas primeiras décadas do século vinte e um.
Novas informações, ideias, conceitos e tecnologias se sucedem vertiginosamente a cada dia.
As descobertas são revolucionárias. Para Buchalla (2004), é como tivéssemos
substituído a rudimentar luneta de Galileu pelo telescópio Hubble e compara o
neurorradiologista Edson Amaro Júnior, do Hospital Albert Einstein e do Hospital das
Clínicas, em São Paulo. Esses exames podem flagrar o cérebro em plena atividade – como se
processam as emoções, a cognição, o pensamento e o raciocínio e até mesmo como se
originam algumas doenças.
O desenvolvimento do cérebro é biológico e, ao mesmo tempo, cultural. Isto é, os
contextos de vida da pessoa desempenham um papel fundamental, tanto para a organização,
como para a reorganização das redes neuronais. Partindo desta constatação da neurociência,
Lima (2013) avalia que temos duas premissas a considerar na educação escolar:
primeiramente que a escola é um dos contextos de desenvolvimento da espécie humana,
contexto no qual a dimensão cultural está fortemente presente. A escola é uma invenção da
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cultura, assim como os conhecimentos que ela deve universalizar para as novas gerações são,
todos, produtos da cultura.
Cosenza e Guerra (2011) concordam que o cérebro é responsável pela forma como
processamos as informações, armazenamos o conhecimento. Dessa forma, compreender o seu
funcionamento e as estratégias que favorecem o seu desenvolvimento é do interesse dos
educadores, incluindo professores, pais e todos os envolvidos no desenvolvimento de outras
pessoas.
A Neurociência para, para os referidos autores, é uma fonte segura de conhecimento
dos fundamentos neurocientíficos do processo de ensino e de aprendizagem, os quais vêm
auxiliar todos os envolvidos nessa atividade a entender o sucesso ou o fracasso de muitas
estratégias pedagógicas.
Aprender é uma capacidade conata a todo ser humano e que é desenvolvida ao longo
de toda a sua vida. Maia (2011, p.21) assinala que o aprendizado escolar é uma etapa
essencial ao desenvolvimento intelectual da criança. Para o autor, o fracasso escolar nas
civilizações industrializadas representa o fracasso social, devendo ser combatido por todos
aqueles interessados na construção de uma juventude saudável.
Baseando-se nos mais recentes e importantes estudos científicos divulgados,
Bransdsford, Brawn e Coking (2007, p. 19) trazem à reflexão a necessidade do conhecimento
e da transposição diretamente para o cotidiano do ensino contemporâneo. “Conhecer a forma
como ocorre o processo de aprendizagem é fundamental para a existência de um bom
planejamento pedagógico e um resultado positivo entre os alunos”.
A neurociência esclarece como estes mecanismos percorrem a anatomia cerebral, e
descreve graus, variações e anomalias. No entanto, a aquisição do conhecimento não sofre
interferência unilateral. Outros fatores compõem uma rede de influências à inteligência, como
hereditariedade, saúde dos neurônios – aptos para receber, comparar, e agregar novas
informações –, tradução do saber para linguagem oral e escrita e questões fonoaudiológicas.
Fatores como estes são responsáveis pela elaboração do pensamento, pela capacidade de
resolver problemas, de raciocinar.
É preciso que o ensino com crianças menores considere o que estas sabem, de modo a
ampliar suas competências ao proporcionar estruturas de apoio para o seu desempenho. É a
partir desse conhecimento prévio que novas redes neurais são articuladas e armazenadas em
memórias.
A criação de estruturas de apoio envolve diversas atividades e tarefas, tais como:
despertar o interesse da criança pela tarefa; reduzir a quantidade de etapas necessárias para
resolver um problema, simplificando a tarefa, de modo que a criança possa administrar os
elementos do processo e identificar quando conseguiu cumprir as exigências da tarefa; manter
a criança no encalço do objetivo, motivando-a e orientando a atividade; assinalar os aspectos
críticos das discrepâncias entre o que a criança produziu e a solução ideal; controlar a
frustração e o risco na resolução do problema; e demonstrar uma versão idealizada do ato a
ser realizado.
Nesse sentido a criação da estrutura de apoio seguinte à progressão dessas atividades e
tarefas pode ser caracterizada como a atuação baseada no mote: “Onde antes havia um
espectador, deixe agora haver um participante”. (BRANSFORD, BROWN E COCKIMG, op.
cit, p. 144). A esse ponto é pertinente pontuar que o conceito de desenvolvimento é decisivo
para a compreensão das mudanças no pensamento infantil, como o desenvolvimento da
linguagem, o raciocínio causal e os conceitos matemáticos elementares.
A abordagem neurocientífica da aprendizagem enfatiza que as crianças necessitam de
conhecimento e experiência, mas não da capacidade de raciocínio e que desde muito novas e
inexperientes, raciocinam com facilidade com o conhecimento que possuem. Justificam que a
as crianças persistem porque o sucesso e o entendimento são, por si sós, motivadores.
A posição teórica desses autores traz, ainda, explícita a noção de que o adulto é quem
sustenta a curiosidade e persistência infantil ao dirigir sua atenção, estruturar suas
experiências, apoiar suas tentativas de aprendizagem e regular para elas o grau de
complexidade e dificuldade das informações.
Compreendemos que o desenvolvimento e a aprendizagem não são processos
paralelos. São os fundamentos biológicos iniciais que permitem determinados tipos de
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interações, e, por meio de suportes ambientais sistematizados pelo adulto, bem como por
eventos culturais que as experiências e aprendizagens infantis se alargam.
Muitas políticas públicas no Brasil nessa última década foram pensadas para a
formação inicial e continuada dos profissionais de ensino para a Educação Básica. Segundo o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP) à docência corresponde ao
terceiro maior subconjunto das ocupações, ficando atrás apenas das categorias escriturários e
dos trabalhadores dos serviços. O Censo Escolar 2011, disponibilizado por esse Instituto
destaca que o número de funções docentes na Educação Básica é superior a dois milhões.
Fica evidente que, para o atendimento da grande demanda por professores,
principalmente na Educação Básica, o Brasil deve contar com uma grande quantidade de
cursos de graduação para formação específica de professores. É neste cenário que a
licenciatura em Pedagogia torna-se, atualmente, um dos principais cursos de formação
docente para a Educação Básica, notadamente, para a educação infantil e anos iniciais do
ensino fundamental.
O Plano Nacional de Educação (PNE) definido para vigorar de 2011 a 2020 delibera
nos itens objetivos e metas para a Educação Infantil a necessidade de:
desenvolvem o projeto Escrita para todos, o qual foi elaborado com o objetivo de aprimorar a
prática pedagógica dos educadores, utilizando, para tanto, os conhecimentos da neurociência.
Também para Lima (2013) ainda é pequeno o número de professores e pedagogos
dedicados a estudar e pesquisar neurociência no Brasil e que em países como Inglaterra,
França, Estados Unidos a relação entre o conhecimento do cérebro e o que se aprende na
escola está mais avançada.
Em 2000, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
lançou um relatório especial, o qual foi organizado e publicado com o título: “Aprendizagem
Infantil: Uma abordagem da Neurociência, Economia e Psicologia Cognitiva”. Este
documento tinha como objetivo central defender a importância de integrar o conhecimento
gerado pela neurociência às práticas pedagógicas das escolas.
Lima (2013) chama atenção para o princípio básico a ser compreendido por
formadores de professores ao expor que a neurociência deixa claro que quem está à frente da
formação de outros adultos, precisa entendê-los como seres de cultura, de emoção e que são,
assim como as crianças e jovens, pessoas em desenvolvimento. Entender o adulto professor
como ser humano em transformação é o que nos permite desafiar, promover, provocar novas
formulações mentais. A formação continuada perde seu caráter estático para envolver o
trabalho pedagógico como ponto de partida, para então, analisá-lo à luz das teorias e da
pesquisa. Não se pode fazer um pacote e impô-lo ao professor, o que precisa é que o professor
seja autor, participe da proposta pedagógica.
Concebendo o professor também como um aprendiz Bransford, Brown e Rodney
(2007) consideram a aprendizagem do professor um tópico relativamente novo no campo da
pesquisa, não existindo, desse modo muitos dados a esse respeito. Mas esses autores chamam
à atenção aqui, para diversos estudos de casos interessantes, que investigaram a aprendizagem
do professor em longos períodos de tempo, e esses casos, junto com outras informações,
forneceram dados sobre as oportunidades de aprendizagem disponíveis para professores, da
perspectiva do que se sabe sobre como as pessoas aprendem.
São esses pesquisadores que trazem à luz a compreensão de que muitos componentes
das abordagens típicas do desenvolvimento profissional formal do professor contrariam o que
as descobertas da pesquisa indicam como sendo favorável à aprendizagem efetiva.
Segundo os autores:
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os seminários típicos tendem a acontecer uma vez, lidam com informações fora do
contexto e, muitas vezes, não refletem as necessidades percebidas pelos professores.
Em comparação, as evidências fornecidas pela pesquisa apontam que as atividades
de desenvolvimento profissional do professor mais bem sucedias são aquelas que se
prolongam pelo tempo e estimulam o desenvolvimento de comunidades de
aprendizagem de professores. Esses tipos de atividades são realizados criando-se
oportunidades de partilhar experiências e discursos em torno de textos, bem como
dados sobre aprendizagem dos alunos, com foco na tomada de decisão conjunta.
(BRANSFORD, BROWN E RODNEY, 2007, p. 261).
outros atores do processo. Não se trata de tornar professores especialistas em áreas da saúde,
mas sim, de torná-los especialistas em educação, na concepção de Ciasca (1994), qual seja,
que tenham capacidade de refletir sobre os processos de ensino e aprendizagem em seus
contextos variados e que podem incluir contribuições das neurociências, dentre outras.
Oliveira (2009) propõe em sua tese de mestrado algumas observações que podem
facilitar a identificação de conhecimentos necessários, em relação à neurociência e educação,
na formação de professores para que se possa compreender e aplicar estratégias que
estimulem e facilitem o desenvolvimento humano.
Muitos estudos apontam contribuições neurocientíficas com implicações específicas
para educação, a exemplo de Bransford, Brown e Rodney, (2007) que publicaram estudos
relacionados a linguagem, leitura, matemática, efeitos relacionados ao que experimentam as
crianças em determinadas situações, relações entre o sono e a capacidade de aprender, etc. A
espera de profissionais específicos capazes de construir pontes entre educação e
neurociências, não deve configurar obstáculo para que se lance mão dessas discussões em
ambientes interessados em promover ensino que utilize prerrogativas neurocientíficas.
Considerações Finais
É pertinente nesta escrita, nada conclusiva, mas com algumas proposições ensaiadas,
considerar a necessidade em utilizarmos os estudos relacionados - às contribuições - das
neurociências na formação de professores. Parece-nos ser imprescindível para as discussões
dos processos de aprendizagem na educação básica, sobretudo no segmento da Educação
Infantil, fase da vida em que muitas das organizações das estruturas cerebrais são definidas
crucialmente.
O texto do Plano Nacional de Educação (PNE) valida os conhecimentos
disponibilizados pelas ciências que se debruçaram sobre a criança nos últimos cinquenta anos,
investigando como se processa o seu desenvolvimento. Os vários ramos da ciência humana
afirmam a importância dos primeiros anos de vida para o desenvolvimento e aprendizagem
posteriores. Estes estudos têm oferecido grande suporte para a educação formular seus
propósitos e atuação a partir do nascimento. A pedagogia é uma das áreas que vem
acumulando considerável experiência e reflexão sobre sua prática nesse campo e definindo os
procedimentos mais adequados para oferecer às crianças, interessantes, desafiantes e
enriquecedoras oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
BROWN, Ann; COCKING, Rodney R.; BRANSFORD, John. Como as Pessoas Aprendem -
Cérebro, Mente, Experiência e Escola. São Paulo: Senac, 2007.
BUCHALLA, Ana Paula. O cérebro devassado. Veja. Editora Abril, Edição 1865. 4 de
agosto de 2004.
PÂNTANO, Telma; ZORZI, Jaime Luiz. Neurociência Aplicada à Aprendizagem. São José
dos Campos: Pulso Editorial, 2009.
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